Aikido Final
Aikido Final
Aikido Final
BRAZIL AIKIKAI
SEIGAN DOJO
Niterói, RJ
2017
Introdução
Nada é por acaso, e nesse pensamento que carrego em mim desde que me
entendo por gente, muitas coisas são explicadas, inclusive minha trajetória no Aikido.
Se bem me lembro, desde criança busquei encontrar minha fé e Deus em todo
lugar, porém, quanto mais procurava, mais longe parecia estar.
Frequentei igrejas protestantes com minha prima, pedi para ir ao centro espírita
com amigos que conhecia, frequentei a organização Sri Sathya Sai Baba junto com minha
tia, cheguei a começar a primeira comunhão na igreja católica. O que mais me agradou
foi a organização Sri Sathya Sai Baba, pois não se tratava de uma religião, e sim dos
ensinamentos que um homem lá do outro lado do mundo, na Índia, pregava sobre amor
e comunhão da humanidade.
Nada que as outras organizações que visitei também não fizessem, porém, a
faziam de maneira formal e ritualizada, o que não me agradava nem um pouco quando
mais jovem, sem falar da maneira como a palavra Deus era exposta para mim, como se
fosse um ser pensante que por livre e espontânea vontade estabeleceu o mundo e todas
as criaturas como conhecemos.
Eu, sendo uma criança voltada para as ciências exatas, e consequentemente com
raciocínio bastante lógico, não conseguia entender de jeito nenhum o que era esse Deus
que ajudava tanto na vida das pessoas.
Lembro-me de estar na aula da catequese, e não saber o porquê daquilo, afinal,
tudo que a professora falava não fazia o menor sentido para mim. Mas ao mesmo
tempo, sabia que era indelicado fazer certos tipos de pergunta.
Com toda essa confusão e decepção em minha busca por Deus, acabei virando
atéia.
E assim permaneci por toda minha adolescência, não me recordo muito bem de
quando deixei de ser, porque meu caminho espiritual foi se revelando aos poucos para
mim. Sem eu notar, minha busca verdadeira me guiou por caminhos que me levaram a
Deus, e o Aikido, sem dúvidas, foi um deles.
Capítulo I – Meu Caminho
“A pedra preciosa não pode ser polida sem fricção, nem o homem
aperfeiçoado sem provação”
― Confúcio
Essa frase me fez compreender hoje a importância dos treinos, dos momentos
em que senti dificuldade, seja tecnicamente, ou com situações em que somos colocados
à prova. Somente com a superação de nossos limites, e enfrentamento de nossas
dificuldades, é que nos aperfeiçoamos.
Com uma frase do querido “Seu João” em sua monografia de Shodan, resumo o
que mudou em minha vida após o envolvimento com a arte:
Alguns anos atrás escrevi um pouco sobre o Aikido para um trabalho de inglês, e
lendo ele hoje, coincide com as palavras do Seu João em sua monografia. Dizia nele as
mudanças por mim observadas após um período de treinamento, que foram: “ Sinto
meu corpo mais forte e centrado, demoro muito mais para perder a calma, a cada dia
faço mais amigos e me sinto melhor preparada para lidar com todos os tipos de
problemas que tenho em minha vida. ”
Quem lê isso e não conhece o Aikido, pode até se perguntar, mas que tipo de
arte marcial é essa que traz tantas mudanças positivas na vida de uma pessoa? O que é
Aikido afinal? Lembro-me que no começo essa era a pergunta que mais me dava medo
de responder, caso fosse feita em algum exame de faixa. Não entendia, não era óbvio?
É uma arte marcial! Não saberia o que falar, além disso.
Hoje, não temo mais essa pergunta. Não por saber respondê-la exatamente, mas
por entender que é uma pergunta tão complexa, tão além do óbvio, que não existe
resposta certa ou errada. Existe a busca, o caminho, mas no começo, esse caminho
estava escuro para mim, não conseguia enxergá-lo. Atualmente posso dizer que o vejo
se clareando, e com isso entendo também quando os Senseis diziam que a faixa preta é
o primeiro degrau, é quando você começa a enxergar alguma coisa.
Capítulo II – Caminho de Kannagara
Acredito eu que Sensei Ueshiba, assim como Buda, Jesus e outros mestres,
atingiu uma espiritualidade muito alta, despertando para outro nível de consciência, o
chamado Satori. Como Sensei Wagner disse no prefácio de Ensinamentos Secretos do
Aikido:
“Todo mundo possui um espírito que pode ser refinado, um corpo que
pode ser treinado de alguma maneira, um caminho adequado a seguir. Você
está aqui para realizar sua divindade interior e manifestar sua iluminação
inata.”
― Morihei Ueshiba
O treinamento do Aikido visa a tudo o que foi dito nessa frase, através das
técnicas físicas forja o corpo, unindo-o aos padrões universais da Natureza; após, com
as técnicas mentais aprendemos a unir nossa mente com as verdades do Universo, e
finalmente entendemos como unificar corpo, mente e ki com o Universo, como um ser
único e integrado.
– William Gleason
Como dito acima, o treinamento faz uma limpeza, o chamado Misogi, limpeza de
pensamentos impuros, movidos pelo ego, para criar espaço para acontecer a conexão
(Mussubi) com o divino, a fusão da vontade de uma pessoa com a do espírito universal.
Assim, a prática desta arte marcial, nos leva ao autoconhecimento, mesmo que
essa não seja a primeira intenção do praticante ao iniciá-la. Porém, a partir de um certo
ponto, depende de nós mesmos a busca pela evolução espiritual dentro e fora do
tatame, para o progresso conjunto com o físico.
Conclusão
“Quando você se curva para o universo, ele se curva para você; quando você
invoca o nome de Deus, ele ecoa dentro de você.”
― Morihei Ueshiba
Enfim, o Aikido não é o único caminho, assim como a religião tal não é melhor nem mais
verdadeira que outra. Todos as diferentes crenças e práticas levam a uma só verdade, a
do amor. Ame todas as coisas e todo mundo.
Agradecimentos