Mãos Que Dançam e Traduzem: Poemas em Língua Brasileira de Sinais
Mãos Que Dançam e Traduzem: Poemas em Língua Brasileira de Sinais
Mãos Que Dançam e Traduzem: Poemas em Língua Brasileira de Sinais
1590/2316-4018547
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Doutora em linguística e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Porto Alegre, RS, Brasil. orcid.org/0000-0002-5370-5587. E-mail: [email protected]
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Doutoranda em educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Porto
Alegre, RS, Brasil. orcid.org/0000-0002-9289-945X. E-mail: [email protected]
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O presente artigo é um recorte da pesquisa de mestrado intitulada “Pedagogia cultural em poemas
da Língua Brasileira de Sinais” (Bosse, 2014), realizada no Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRGS.
Mãos que dançam e traduzem ––––––––––––
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O oralismo é uma abordagem educacional que objetiva capacitar a pessoa surda a utilizar a língua
na modalidade oral como única possibilidade linguística, de modo que o sujeito surdo utilize a voz
e a leitura labial, tanto nas relações sociais com em todo o processo educacional.
defende que o folclore surdo (deaflore) e o ser surdo (deafhood) são as bases
que sustentam a poesia em língua de sinais. O folclore surdo abrange o
conhecimento coletivo de comunidades surdas e, em nível linguístico,
refere-se à língua que constitui a herança cultural do povo surdo, o que
significa conhecer e avaliar os elementos culturais e linguísticos que
formam um poema sinalizado. O ser surdo (Deafhood) é um processo por
meio do qual os surdos desenvolvem a identidade surda, enquanto
usuários de uma língua de sinais e enquanto parte de uma comunidade
que compartilha uma experiência visual.
Utilizar a literatura surda e, especificamente, a poesia sinalizada,
significa empoderar os membros da comunidade surda. A poesia em
língua de sinais faz circular representações valorativas da experiência de
ser surdo e das formas artísticas da língua. A análise de poesias que Sutton-
Spence desenvolve mostra como os temas e as línguas usadas na poesia
sinalizada constroem e dão visibilidade à cultura e à identidade surda. A
autora analisa dois poemas em língua de sinais britânica (BSL), “Cinco
sentidos” (“Five senses”), de Paul Scott, e “A escadaria” (“The staircase”), de
Dorothy Miles, para explorar as representações do ser surdo construídas e
propostas nesses poemas em língua de sinais. As representações de ser
surdo em poesia de língua de sinais podem ser consideradas em termos de
uma variedade de temas, incluindo: a surdez como “perda”; a opressão
pela sociedade ouvinte e a resistência de pessoas surdas; a experiência
sensorial de pessoas surdas; a celebração do orgulho surdo e da
comunidade surda; a celebração do ser surdo e das línguas de sinais; o
lugar de pessoas surdas no mundo (Sutton-Spence, 2006).
Esse empoderamento produz novas maneiras de os surdos se
reconhecerem como sujeitos, estando mais abertos à transformação
através da linguagem, seja através do teatro, das narrativas ou outras
formas de texto. Os poemas vêm sendo explorados também como
estratégias pedagógicas, sendo um recurso para alcançar objetivos
pedagógicos. Pelo fato de serem textos mais livres, trabalhados de
maneira estética, os surdos se sentem atraídos pelo que os poemas
dizem e pela forma como dizem.
Peters (2000, p. 53-60) discute o uso das produções literárias pelos surdos
americanos, cujo vernáculo visual ganhou legitimidade recentemente e se
tornou interessante pelo uso fluente da língua e dos valores que transmite.
“Sinalidade” é um neologismo proposto por Mourão (2011) e
utilizado para se referir à herança cultural das produções literárias de
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Disponível em: <www.literaturasurda.com.br>.
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Ambos os poemas foram traduzidos da língua brasileira de sinais para língua portuguesa por
Luciane Bresciani Lopes.
A língua circula
Atravessa mundos
Modifica os ouvintes
Ganha espaço
As mãos sinalizam
Uma letra
Outra letra
Letras-Libras
Os surdos se desenvolvem
Ampliam seus horizontes
São reconhecidos...
Admirados
As mãos refletem
As mãos sentem
Nunca esqueçam:
Elas criam mundos!
Referências
resumo/abstract/resumen
and which are its preferred themes? In other words, what do the poems say and
how? Using these questions, the objective is to analyze the use of sign language and
the privileged themes in selected poems. The methodology used for the
development of the research is qualitative analysis. The essay considers the use of
sign language by the hearing-impaired in sign-language poems. For this, we analyze
two poems recorded on videos, with subsequent translation from Libras to
Portuguese, in order to facilitate the description and analysis of the material and the
register recurrences found in the poems. The essay shows that the poems analyzed
relate to important themes in the deaf community, such as the training of the deaf
(in “O balé das mãos” [The Hands Ballet]) and Libras interpreters (in “Dia dos
intérpretes” [Interpreters’ Day]) and linguistically highlight forms of artistic
production in sign language.
Keywords: deaf literature, poems in sign language, deaf, cultural studies in
education.