Mãos Que Dançam e Traduzem: Poemas em Língua Brasileira de Sinais

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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/10.

1590/2316-4018547

Mãos que dançam e traduzem:


poemas em língua brasileira de sinais
Lodenir Becker Karnopp1
Renata Heinzelmann Bosse2

Poemas em línguas de sinais3

Esta pesquisa se inscreve no campo dos estudos culturais em


educação e dos estudos surdos, os quais marcam uma virada cultural,
tendo a cultura como conceito central. Hall (1997) afirma que a cultura é
central não porque ocupe um centro, uma posição única e privilegiada,
mas porque perpassa tudo o que acontece em nossas vidas e as
representações que fazemos desses acontecimentos. Hall (1997)
relaciona cultura e educação a partir do circuito da cultura.
Os estudos surdos emergiram no Brasil vinculados ao campo dos
estudos culturais e ampliaram-se, ganhando força em pesquisas que
tematizam os vieses da cultura surda e fazendo circular outras
narrativas dos surdos e do valor cultural da comunidade surda. A
ideia de cultura surda, a partir da valorização das experiências
surdas, vem transformando e diversificando as análises teóricas nos
diversos ambientes acadêmicos em que este tema é analisado e
debatido. No âmbito da literatura, área em que se insere a presente
investigação, envolve a discussão sobre o cânone literário, a partir do
qual se dá um rompimento com a ideia dominante de que certas
produções culturais são válidas e outras não, ampliando-se o
conceito de cultura para as produções de grupos minoritários. Não
apenas a chamada “alta cultura”, como defendida por uma elite
econômica, tem valor a partir de então, mas também as produções

1
Doutora em linguística e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS),
Porto Alegre, RS, Brasil. orcid.org/0000-0002-5370-5587. E-mail: [email protected]
2
Doutoranda em educação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), Porto
Alegre, RS, Brasil. orcid.org/0000-0002-9289-945X. E-mail: [email protected]
3
O presente artigo é um recorte da pesquisa de mestrado intitulada “Pedagogia cultural em poemas
da Língua Brasileira de Sinais” (Bosse, 2014), realizada no Programa de Pós-Graduação em
Educação da UFRGS.
Mãos que dançam e traduzem ––––––––––––

culturais das comunidades minoritárias passam a ser consideradas


válidas como “fenômenos culturais” (Silveira et al., 2012).
Essa mudança de perspectiva causou progressivas mudanças no
âmbito da educação. A pedagogia, que tradicionalmente
privilegiou a chamada “alta cultura”, se vê, no caso da educação de
surdos, desafiada pelas produções culturais surdas, sendo que tais
produções passam, principalmente nas últimas décadas, a serem
valorizadas pelas comunidades surdas. A partir dessa abertura, as
produções culturais e as práticas de bilinguismo começam a se
apresentar como uma questão prioritária na educação de surdos.
Neste sentido pensamos que a poesia surda também passou por
um processo de mudança nos cânones, antes muito vinculados às
traduções das tradições clássicas. Os estudos culturais apontaram
uma mudança de perspectiva, que considera as circunstâncias, os
sentimentos, as histórias e experiências únicas dos sujeitos, na
construção de suas produções poéticas, não se limitando a regras
pré-estabelecidas (Bosse, 2014, p. 32-33).
A literatura surda constitui um artefato cultural, no entanto, segundo
Mourão (2016), tem pouca presença na vida escolar dos surdos. Embora
já houvesse uma prática informal da literatura surda e produções
literárias em línguas de sinais, no contexto das associações de surdos, as
pesquisas sobre este tema são recentes. Para Bosse (2014), a poesia é
uma das produções mais antigas na comunidade surda, embora até hoje
não esteja presente no currículo escolar.
A poesia em sinais é um tipo de texto apropriado para e praticado por
sujeitos surdos, mas isso não é necessariamente uma regra. A experiência
com a poesia é uma parte importante da literatura surda ligada à
produção artística em língua de sinais. A comunidade surda faz o
reconhecimento de sua cultura e compartilha possibilidades artísticas em
línguas de sinais, por meio da literatura surda e de poemas sinalizados.
Sutton-Spence (2014) afirma que as crianças surdas precisam desenvolver
uma compreensão e uma apreciação da língua de sinais que estão
usando, e a poesia pode ser uma maneira de ajudá-las nessa tarefa. Para
que isso ocorra, os espaços escolares devem oferecer oportunidades de
ver e produzir poemas, viabilizando meios para que os surdos possam se
debruçar sobre o modo como a língua de sinais pode ser utilizada em
produções poéticas.

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O movimento e as lutas surdas empreendidas na metade dos anos 1990


em diante resultaram mudanças na educação de surdos, entre elas, a
formação de professores surdos e sua inserção nos espaços escolares.
Muitos desses professores narram experiências escolares como
potencializadoras para uma mobilização e articulação política de resistência
às práticas educacionais vividas por eles (Thoma e Klein, 2010).
Considerando o contexto histórico da educação de surdos no Brasil,
em que o oralismo4 foi o método mais difundido e utilizado por mais de
um século, acreditamos que os espaços educacionais têm a oportunidade
de resgatar os valores culturais que foram suprimidos, dos quais os
surdos foram privados por muito tempo, além de dar visibilidade à
língua de sinais e à literatura surda. Consideramos a escola um lugar de
oportunidades, de formação e de aproximação aos bens culturais
historicamente negados.
Neste sentido, a escola contemporânea precisa de contribuições
mais amplas, de reflexões sobre o que está proposto como
formação, através do currículo. Desta forma, as cenas sobre a
busca de uma identidade, sobre o papel da tecnologia e sobre o
pertencimento a uma comunidade vem favorecendo uma
mudança do universo que antes era silenciado, mas agora
sinalizado, e faz emergir a capacidade reflexiva e poética da
língua de sinais através da literatura surda (Bosse, 2014 p. 31).
A literatura, no âmbito da educação escolar, favorece o uso da língua de
sinais de modos variados: em práticas interlinguais de tradução de poemas
de Libras para o português e do português para Libras; em práticas de uso
dos recursos linguísticos e literários; em práticas literárias diversas que
potencializam o entendimento de emoções e ideias complexas,
desenvolvendo habilidades em fronteiras sociais e linguísticas; e em
práticas de criação literária em língua de sinais que exploram a visualidade,
entre outros. Neste sentido, segundo Karnopp (2006, p. 16):
Assim como em outras línguas, a poesia em língua de sinais explora
os recursos linguísticos para obter efeitos estéticos. A forma como os
poemas são organizados, bem como os sentidos que se abrem a
partir disso, fazem uma quebra com a forma que a linguagem é

4
O oralismo é uma abordagem educacional que objetiva capacitar a pessoa surda a utilizar a língua
na modalidade oral como única possibilidade linguística, de modo que o sujeito surdo utilize a voz
e a leitura labial, tanto nas relações sociais com em todo o processo educacional.

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utilizada no cotidiano. Os poemas podem estar mais próximos ou


mais distantes do uso que se faz com a língua de sinais no cotidiano,
em geral, fazendo uma ruptura com a regularidade e tornando as
formas linguísticas completamente criativas e novas.
Marta Morgado (2011) destaca a importância da literatura surda e
defende que os poemas em línguas de sinais são uma fonte rica de
textos artísticos. A autora destaca que, ao utilizar o termo “textos”, sua
preocupação não é com a estética das palavras escritas em português,
mas com a estética que se manifesta nos gestos, na língua de sinais. Para
que os surdos se apropriem de poemas sinalizados, é indispensável a
aquisição e o desenvolvimento da língua de sinais em diversas práticas
linguísticas, em um ambiente linguisticamente adequado. Morgado
propõe ainda que educadores surdos sejam os modelos linguísticos à
vida da criança surda, pois considera que a experiência visual de surdos
é diferente da dos ouvintes, sendo que a identidade surda favorece a
aquisição da língua de sinais e o convívio entre surdos possibilita à
criança surda ser um usuário nativo dessa língua.
Conforme as autoras citadas anteriormente (Bosse, 2014; Sutton-Spence,
2006; Karnopp, 2006), produzir e fazer circular poemas em língua de sinais,
marcadamente em um gênero poético, é um ato de empoderamento em si
para as pessoas surdas, enquanto membros de uma minoria linguística.
Deve-se considerar que, por longos anos, os surdos foram levados a
acreditar que o português era a única língua a ser estudada na escola, a
única língua que carregava literatura, poemas, narrativas..., e que a língua
de sinais poderia ser usada, apenas, em conversas informais, em momentos
sociais. Desse modo, acreditava-se que a poesia deveria ser escrita e apenas
em português, devido ao prestígio dessa língua. Além disso, a língua de
sinais historicamente assumiu o caráter de “bengala” ao propósito de
ensino do português, ou seja, a língua de sinais era aceita e tolerada nos
contextos educacionais desde que o objetivo final fosse o aprimoramento
da língua portuguesa.
Estudos sobre literatura surda indicam uma inevitável mudança das
práticas escolares para uma valorização da língua de sinais, contemplando
a diferença e a literatura do ponto de vista do reconhecimento da cultura
surda. Tais propostas são potentes para a elaboração de transformações
curriculares e para produção, circulação e consumo da literatura surda no
âmbito escolar.

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Nessa esteira de pensamento, Karnopp, Klein e Lunardi-Lazzarin


(2011) salientam a estreita relação entre o contexto histórico e a produção
da literatura surda, mais especificamente o impacto da oficialização da
Libras, que favoreceu a circulação e o consumo das produções culturais
surdas em espaços que transcendem as fronteiras da comunidade surda.
[...] enquanto a língua brasileira de sinais (Libras) não era
reconhecida ou enquanto era proibida de ser usada nas escolas e
em diferentes espaços sociais, também não existiam publicações
ou o reconhecimento de cultura surda. O ensino priorizava o
aprendizado da fala e da língua portuguesa. Nas escolas, não
havia espaços nem aceitação para as produções em sinais. No
entanto, entre os surdos, circulavam histórias sinalizadas, piadas,
poemas, histórias de vida, mas em espaços que ficavam longe do
controle daqueles que desprestigiavam a língua de sinais.
Especificamente no panorama brasileiro, é possível constatar
ainda que para muitas pessoas torna-se irrelevante e, para outras,
decisivamente incômoda, a referência a uma cultura surda
(Karnopp; Klein; Lunardi-Lazzarin, 2011, p. 18).
Nas comunidades surdas, a literatura ocupa um lugar de destaque, em
que a língua de sinais está em evidência – a arte e a literatura estão
vinculadas. Mourão (2011) trata da visibilidade das produções culturais
da literatura surda e afirma que o movimento político das comunidades
surdas fez com que as produções literárias fossem mostradas e
circulassem em diferentes espaços, principalmente através de vídeos.
Dessa forma, sugere que o movimento político dos surdos favoreceu a
circulação e o consumo de produções culturais de surdos em espaços que
ultrapassam as fronteiras das comunidades surdas, por meio do registros
visuais que fazem emergir a produção de conhecimento sobre os surdos,
a língua de sinais, a literatura surda em espaços mais amplos. Além
dessas questões, Daiane Pinheiro (2011) realiza análises das produções
surdas no site Youtube, onde são publicados vídeos de livre acesso aos
internautas, e investiga de que forma a cultura surda vem sendo
representada no contexto midiático escolhido.
Sutton-Spence (2013) elenca quatro pontos sobre a literatura surda: i)
muito visual; ii) centra-se na linguagem estética; iii) carrega elementos
que nos fazem aprender a partir das coisas ditas; e iv) carrega elementos
que nos fazem aprender a partir da forma como as coisas são ditas. Em
seu artigo sobre poesia em línguas de sinais, Sutton-Spence (2006)

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defende que o folclore surdo (deaflore) e o ser surdo (deafhood) são as bases
que sustentam a poesia em língua de sinais. O folclore surdo abrange o
conhecimento coletivo de comunidades surdas e, em nível linguístico,
refere-se à língua que constitui a herança cultural do povo surdo, o que
significa conhecer e avaliar os elementos culturais e linguísticos que
formam um poema sinalizado. O ser surdo (Deafhood) é um processo por
meio do qual os surdos desenvolvem a identidade surda, enquanto
usuários de uma língua de sinais e enquanto parte de uma comunidade
que compartilha uma experiência visual.
Utilizar a literatura surda e, especificamente, a poesia sinalizada,
significa empoderar os membros da comunidade surda. A poesia em
língua de sinais faz circular representações valorativas da experiência de
ser surdo e das formas artísticas da língua. A análise de poesias que Sutton-
Spence desenvolve mostra como os temas e as línguas usadas na poesia
sinalizada constroem e dão visibilidade à cultura e à identidade surda. A
autora analisa dois poemas em língua de sinais britânica (BSL), “Cinco
sentidos” (“Five senses”), de Paul Scott, e “A escadaria” (“The staircase”), de
Dorothy Miles, para explorar as representações do ser surdo construídas e
propostas nesses poemas em língua de sinais. As representações de ser
surdo em poesia de língua de sinais podem ser consideradas em termos de
uma variedade de temas, incluindo: a surdez como “perda”; a opressão
pela sociedade ouvinte e a resistência de pessoas surdas; a experiência
sensorial de pessoas surdas; a celebração do orgulho surdo e da
comunidade surda; a celebração do ser surdo e das línguas de sinais; o
lugar de pessoas surdas no mundo (Sutton-Spence, 2006).
Esse empoderamento produz novas maneiras de os surdos se
reconhecerem como sujeitos, estando mais abertos à transformação
através da linguagem, seja através do teatro, das narrativas ou outras
formas de texto. Os poemas vêm sendo explorados também como
estratégias pedagógicas, sendo um recurso para alcançar objetivos
pedagógicos. Pelo fato de serem textos mais livres, trabalhados de
maneira estética, os surdos se sentem atraídos pelo que os poemas
dizem e pela forma como dizem.
Peters (2000, p. 53-60) discute o uso das produções literárias pelos surdos
americanos, cujo vernáculo visual ganhou legitimidade recentemente e se
tornou interessante pelo uso fluente da língua e dos valores que transmite.
“Sinalidade” é um neologismo proposto por Mourão (2011) e
utilizado para se referir à herança cultural das produções literárias de

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surdos em língua de sinais que passam de geração a geração. Assim,


“sinalidade” faz uma analogia com “oralidade” e trata das produções
literárias em língua de sinais. Na “sinalidade”, é possível transmitir a
palavra e a imagem ao mesmo tempo, demonstrando uma vantagem da
língua de sinais em relação à língua oral. Essas formas linguísticas –
dada a esteticidade e a forma de construção das produções sinalizadas –
vêm utilizando os recursos da mídia visual para registro, visto que as
filmagens em vídeos são potentes meios para guardar as línguas de
sinais, a fim de que sejam divulgadas e registradas.
Estudos sobre a literatura surda vêm possibilitando que muitos
registros e análises sejam realizados. Há quatro décadas, era comum que
os poemas em língua de sinais se perdessem, devido à falta de registro
em vídeo (ou outras formas de documentação), ficando sua permanência
vinculada ao efetivo compartilhamento entre as comunidades surdas,
com a passagem dessa produção por meio de encontros presenciais entre
surdos. Esse movimento de registro dos poemas (impresso ou digital)
vem favorecendo a criação poética, sendo que as produções de novos
textos em língua de sinais vêm ganhando força em quantidade, em força
estética e temática, servindo como fortaleza para a comunidade surda e
possibilitando que a cultura e a língua sejam registradas e preservadas.
Se considerarmos as traduções literárias de uma língua para outra,
teremos outra produção. A tradução do que é produzido dentro da literatura
surda para a língua escrita pode perder sentido em suas possibilidades
expressivas, imagéticas e rítmicas (Lima, 1995). A tradução pode gerar
impasses/desafios, devido aos aspectos culturais relacionados às línguas.
Na análise de poemas produzidos em Libras, optamos por começar
destacando os aspectos visualmente mais salientes do poema, ou seja,
aqueles que “saltam aos olhos” e não aos ouvidos. Em geral, em poemas
das línguas faladas, está em evidência a sonoridade; ao contrário do que
ocorre nas línguas de sinais, em que a visualidade tem centralidade.
Consideramos que as expressões poéticas em língua de sinais utilizam
recursos da modalidade visual-gestual. Desse modo, a produção de rimas
na poesia em língua de sinais ocorre marcadamente na repetição de
fonemas, morfemas ou sintagmas. No âmbito de rimas que se manifestam
na fonologia das línguas de sinais, podemos destacar a repetição de
configurações de mão, locação, movimentos, orientação da mão e também
em elementos não manuais. As repetições, simetrias e/ou pausas, que
podem ocorrer juntas ou isoladamente, de modo simultâneo ou alternado,

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manifestam-se na fonologia, na morfologia e/ou na sintaxe da língua de


sinais. Esses recursos poéticos presentes em poesias têm um padrão de
regularidade, trazido pela modalidade visual-gestual da língua de sinais.
Certamente, há muitas formas de manifestação poética em língua de sinais
e o que apresentamos são ensaios de análise, com base na identificação de
formas criativas e de marcadores da cultura surda. Desse modo, muito
mais que um ponto de chegada, esse é um ponto de partida para as muitas
formas e possibilidades de análises de poemas em línguas de sinais.
Para realizar a escolha dos poemas sinalizados, inicialmente foram
visualizados 72 poemas, disponíveis nos seguintes “baús”: i) arquivo
pessoal da pesquisadora; ii) banco de dados do projeto “Produção,
Circulação e Consumo da Cultura Surda Brasileira” (Karnopp; Klein;
Lunardi-Lazzarin, 2012); e iii) internet, no site Literatura Surda5 e
no Youtube. A metodologia para o desenvolvimento do trabalho
incluiu a coleta de poemas e posterior tradução e análise, sob o viés
linguístico, pedagógico e cultural, verificando questões relacionadas à
pedagogia cultural (Costa e Andrade, 2013).

Quadro 1 – Acervos e títulos dos poemas analisados na pesquisa

Acervo Título do poema

Projeto Produção,  O modelo do professor surdo (Wilson Santos Silva)


Circulação e  A fase do desenvolvimento do surdo e ouvinte
Consumo da Cultura (Bruno e Wilson Santos Silva)
Surda Brasileira  O balé das mãos (Márcio S. Carrier)

 O cravo e a rosa (Alexandre Dale Couto)


 Mão aberta, mão em garra (Rosana G. Duarte)
Arquivos pessoais  Cachorro (Francielle C. Martins)
 Tartaruga (Daniel Romeu)
 Amig@ natureza (Rosana G. Duarte)

Internet: Literatura  Dia dos intérpretes (Rosani Suzin)


Surda e Youtube  Dia Internacional da Mulher (Rimar R. Segala)

Fonte: Bosse (2014, p. 49).

5
Disponível em: <www.literaturasurda.com.br>.

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Para o desenvolvimento da pesquisa (Bosse, 2014) foram analisados


os poemas apresentados no Quadro 1, entretanto, para a construção
deste artigo optamos pela análise de dois poemas: “O balé das mãos”
(Carrier, 2012) e “Dia dos Intérpretes” (Suzin, 2011).6
Em grande parte das produções poéticas analisadas aparecem as
narrativas de si, em que são valorizadas as experiências e vivências
dos surdos, como um modo expressar o orgulho assumido. Segundo
Sutton-Spence (2006, p. 330) “usar a poesia para empoderar os
membros da comunidade surda por meio da criação de formas de
língua para descrever as imagens positivas da experiência de pessoas
surdas é uma forma de ser surdo”.
Não há um conceito geral de poesia que seja totalmente satisfatório
e contemple uma visão única, mas há diferentes definições de poesia.
É preciso investigar sua forma, função e contexto social, ampliando o
entendimento das possibilidades estéticas dos textos, tanto escrito
como sinalizado. Assim, a análise de poemas sinalizados inspirou-se
no conceito de bricolagem: modo de realização de pesquisas em
educação, em que “uma dimensão central da bricolagem envolve o
ato interpretativo, compreendendo a complexidade da vida cotidiana
e os dados que ela constantemente nos lança” (Kincheloe e Berry, 2007,
p. 101). Esse foi o caminho investigativo trilhado nesse trabalho, ou
seja, através das análises dos aspectos temáticos, buscamos apresentar
as poesias como parte da literatura surda e como uma pedagogia
cultural (Andrade e Costa, 2015) que ensina por meio de poemas
sinalizados o que é dito e como é dito. Assim, não há uma única
forma de se produzir os poemas, mas analisá-los é uma tarefa de
compreensão da história literária da língua de uma comunidade.

Mãos que dançam: o que os poemas narram?

Para o desenvolvimento do presente artigo selecionamos “O balé das


mãos”, realizando uma breve apresentação e análise das experiências
narradas nesse poema. “O balé das mãos” trata do curso de Letras-
Libras, mostrando que esse curso “salvou” a língua de sinais.

6
Ambos os poemas foram traduzidos da língua brasileira de sinais para língua portuguesa por
Luciane Bresciani Lopes.

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A respeito da salvação que o curso de Letras-Libras representa para


os surdos, Perlin e Strobel (2008) afirmam que o curso de Letras-Libras
representou uma importante política educacional implantada no Brasil,
sendo uma iniciativa de extrema importância social e histórica, pois foi
uma ação concreta de educação voltada aos surdos.
O poema “O balé das mãos” está registrado em vídeo, com duração
de 1’40”, foi realizado por Márcio Stein Carrier e Ellery em uma aula do
curso de Letras-Libras (2008), mas sinalizado apenas por Márcio.
Operacionalmente, para fins de análise no presente artigo, o poema foi
traduzido de Libras para o português.
O balé das mãos

O mundo das palavras


Alimenta as mãos
Cria... transforma a língua de sinais
Cria expressões... expressões faciais

A língua circula
Atravessa mundos
Modifica os ouvintes
Ganha espaço

A língua de sinais é pobre?


Não, a língua é importante
Ela se modifica

As mãos sinalizam
Uma letra
Outra letra
Letras-Libras

Os surdos se desenvolvem
Ampliam seus horizontes
São reconhecidos...
Admirados

As mãos refletem
As mãos sentem
Nunca esqueçam:
Elas criam mundos!

132 estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 123-141, maio/ago. 2018.


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Márcio sinaliza, no poema, como o mundo das palavras pode


contribuir para o enriquecimento da língua de sinais, indicando que as
trocas linguísticas trazem fluência e beleza à sinalização. Mostra que,
às vezes, alguns pensam que a língua de sinais é uma língua pobre,
mas isso é um equívoco, já que as mãos dançam, criam novas formas,
significados múltiplos e produzem efeitos políticos e poéticos. Além
disso, ele cria um poema por meio de brincadeiras com as
configurações de mãos em “L” e produz o sinal de Letras-Libras,
mostrando com isso que o surdo teve a oportunidade de desenvolver-
se e ampliar seus horizontes, de chamar a atenção para si, de se sentir
orgulhoso e de nunca esquecer que as mãos são capazes de criar o
mundo a seu redor.
Um poema semelhante é analisado por Sutton-Spence (2006). Ela
analisa o poema “A escadaria”, de Dorothy Miles, apresentado pela
primeira vez em 1987, na cerimônia de graduação da primeira turma
surda britânica a receber um título em ensino de língua de sinais
britânica na universidade. O curso que essa turma frequentou foi
ministrado em língua de sinais e conduzido por pessoas surdas. O
poema exalta e celebra a conquista não apenas dos graduandos, mas
também de seus tutores. Esse poema possibilita uma mudança
significativa na maneira de se ver as línguas de sinais. É um ato de
empoderamento simplesmente por se usar a língua de sinais, e uma
expressão implícita do orgulho de ser surdo. Em suas investigações,
Sutton-Spence constatou que os surdos, mesmo estando em países
diferentes, com línguas de sinais diferentes, revelam semelhanças em
suas identidades surdas. A temática dos poemas, em sua maioria, é
sobre experiências de vida, espelhando os sentimentos dos surdos
como membros de uma mesma comunidade, que partilham uma
cultura surda. Assim, a poesia aparece como um momento de partilha
de experiências pessoais e de valores de uma comunidade.
No poema “O balé das mãos”, observamos a valorização do ser
surdo (deafhood), na direção em que Perlin e Miranda (2003),
pesquisadores surdos, propõem: “Se vocês nos perguntarem aqui: o
que é ser surdo? Temos uma resposta: ser surdo é uma questão de
vida” (Perlin e Miranda, 2003, p. 218). Não se trata de uma deficiência,
mas de uma experiência visual. Dessa experiência visual surge a
cultura surda marcada pela língua de sinais, pelo modo diferente de

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ser, de se expressar, de conhecer o mundo, de entrar nas artes, no


conhecimento científico e acadêmico. Nessa direção, o poema “O balé
das mãos” vai sendo proposto ao público.
Na próxima seção apresentamos o segundo poema analisado “Dia dos
Intérpretes”, com foco na pedagogia cultural, ou seja, o que os poemas
nos ensinam através do que é sinalizado e do modo como é sinalizado.

Mãos que traduzem: o que os poemas nos ensinam?

Para desenvolver o presente artigo, selecionamos o poema “Dia dos


Intérpretes” (Suzin, 2013), articulando a análise com um gênero textual,
em sinais, conhecido como produções sequenciais, tais como ABC/123.
Inicialmente ilustraremos como a sequencialidade se aplica a esse poema.
Os poemas sequenciais consistem em utilizar as letras do alfabeto
(ou números) para compor formas que exploram a língua e a
experiência visual dos surdos. A ordem alfabética é uma maneira de
fazer um arranjo, em língua de sinais, propondo uma ordenação por
meio das possibilidades de uso das configurações de mão ou da
soletração manual. Além da utilização de letras e números, encontramos
também poemas que se organizam em forma de acróstico, que consiste
em composições poéticas na qual certas letras ou configurações de mão,
quando lidas em outra direção e sentido, compõem uma palavra ou frase.
Poemas ABC, 123 e acrósticos podem ser considerados como produções
de fronteira, pois a palavra é da língua portuguesa, mas produzida
manualmente. Assim, podemos considerar essa forma linguística como
uma fronteira entre as duas línguas, resultado de criações poéticas com
elementos de ambas. Poemas em forma de acróstico produzem uma ideia
diferente, a partir de cada letra que compõe o nome escolhido. O poema
“Dia dos Intérpretes” se organiza em forma de acróstico e tal criação
utiliza a soletração de cada letra que compõe essa frase.
O poema produziu um significado para cada uma das letras das
palavras D-I-A D-O-S I-N-T-E-R-P-R-E-T-E-S, tendo como foco temático
os intérpretes de Libras que atuam em comunidades surdas. Está ligado
à proposta de explorar datas comemorativas e celebra o valor dos
intérpretes de Libras para os surdos.
O vídeo é feito por Rosani Suzin (surda), disponível no YouTube,
com duração de 3’35”. A poetisa quer mostrar como os intérpretes são
importantes para os surdos. Ela começa o vídeo com a sinalização da

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–––––––––––– Lodenir Becker Karnopp e Renata Heinzelmann Bosse

datilologia D-I-A D-O-S I-N-T-E-R-P-R-E-T-E-S, no plano superior do


espaço de enunciação. Em seguida, ela vai trazendo as mãos para o
espaço neutro, em frente ao corpo,digitando manualmente cada uma
das letras que compõem essa frase, criando expressões, brincando com
as configurações de mãos e as composições. A seguir, explicamos as
imagens visuais que o acróstico apresenta:
D – Surd@ e intérprete se encontram, se reconhecem, se
cumprimentam felizes e seguem caminhando juntos.
I – Importante, você é importante!
A – Seguimos juntos em uma relação de afeto!
D – Surdo e intérprete seguem... porque....
O – no passar dos dias brindamos, compartilhamos e saboreamos
esse...
S – afeto que pulsa na sinalização, na língua de sinais, nas mãos.
I – Você é importante, não pense que é menos importante, é muito
importante, então entenda esse valor.
N – Caminhe! Sonhe ... traduza...
T – a dor no pulsar do coração.
E – Impressione-se!
R – Respeitando a si mesmo, aos surdos e recebendo o respeito de
ser intérprete. Espero...
P – Fale sobre a paz... paz para todos... amor para as pessoas...
paz.
R – Esperança que ilumina!
E – Coração que brilha, sinaliza e se expande como um sopro que
carrega a língua de sinais e ilumina.
Que todos esses significados sejam entregues em sinal de amor e
agradecimento aos intérpretes.
A poetisa exalta o trabalho dos intérpretes e destaca a parceria
“Surd@ e intérprete se encontram, se reconhecem, se cumprimentam
felizes e seguem caminhando juntos”. Afirma (direcionando seu poema
ao intérprete): “você é importante” e mostra a relação de “afeto que
pulsa na sinalização, na língua de sinais, nas mãos”. Incentiva e defende
o respeito, a paz, o sonho, a tradução. Deseja ao final que todos os
significados, construídos ao longo do poema “sejam entregues em sinal
de amor e agradecimento aos intérpretes”.
O poema segue a sequência das letras que compõem o título “Dia dos
Intérpretes”. Esse recurso sequencial, na narrativa básica em sinais, é
muito utilizado. Por exemplo, há três poemas da mesma autora, Rosani

estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 123-141, maio/ago. 2018. 135


Mãos que dançam e traduzem ––––––––––––

Suzin, também disponíveis no Youtube, em que ela apresenta datas


comemorativas, com um formato diferente, pois sinaliza o alfabeto ao
contrário, tendo como referência a visão do espectador, e não de quem
está sinalizando. Da mesma forma, brinca com as configurações de mão e
com a criação de frases, utilizando esse recurso poético.
Consideramos que os poemas nos ensinam e atuam como pedagogias
culturais. A pedagogia cultural articula as questões da educação e da
cultura, permitindo transformar as experiências em conhecimento – o
mesmo ocorre com os surdos, em relação à comunidade surda. É na
comunidade que se desenvolvem as experiências, as produções poéticas e
as narrativas; essa produção na comunidade pode ser caracterizada como
pedagogia cultural. Na comunidade, ocorrem as construções de
significados, emoções, prazeres, identidade, argumentação e planejamento
do futuro, é um lugar de luta e relações de poder.
Os poemas em língua de sinais apresentam a resistência da
comunidade e fortalecem o processo pedagógico, a partir dos
recursos poéticos e estéticos das línguas de sinais. Nesse sentido,
Hall (1997, p. 40-41) adverte que:
Todos nós queremos o melhor para nossos filhos. Mas o que é a
educação senão o processo através do qual a sociedade incute
normas, padrões e valores - em resumo, a “cultura” – na geração
seguinte na esperança e expectativa de que, desta forma, guiará,
canalizará, influenciará e moldará as ações e as crenças das
gerações futuras conforme os valores e normas de seus pais e do
sistema de valores predominante da sociedade? O que é isto
senão regulação – governo da moral feito pela cultura?
Os surdos que constroem os poemas, tanto os descritos neste
artigo, quanto tantos outros que circulam na comunidade surda, produzem
significados que representam sujeitos, relações com outros e com o
ambiente. A comunidade surda também apresenta diversidade cultural
que compõe essa pedagogia cultural, não existe uma única cultura na
comunidade surda, e a literatura surda demonstra isso na forma como são
apresentados os poemas e o que cada um propõe e ensina.

Baú está prestes a ser fechado... temporariamente

A produção poética em Libras é muito recente, então, inicialmente,


neste trabalho, foi necessário explicar como e onde ocorre essa produção.

136 estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 123-141, maio/ago. 2018.


–––––––––––– Lodenir Becker Karnopp e Renata Heinzelmann Bosse

Como resultados das análises, consideramos os objetivos elencados e


destacamos que, no uso dos sinais, nas análises das experiências narradas,
os temas mais frequentemente destacados estavam relacionados às
experiências de ser surdo (deafhood). Nesse sentido, os poemas tratam do
sofrimento vivenciado no processo histórico da comunidade surda, das
lutas realizadas pelos surdos para constituir-se como povo surdo, bem
como a defesa da língua de sinais. As produções poéticas, sob o viés da
pedagogia cultural, possibilitaram a identificação dos poemas ABC e 123
como meios de expressão da celebração da comunidade surda, por meio
da riqueza estética dos poemas em língua de sinais, com foco nas
produções manuais e de fronteira.
De um modo mais específico, os dois poemas selecionados para a
presente análise, evidenciam a leveza das mãos, a produção de
significados em forma poética e na Libras. O poema “O balé das
mãos” liga-se à dança e à beleza que as mãos produzem, convertendo
a junção de duas configurações de mão, em L, à produção de um novo
sinal (Letras-Libras), com foco na celebração do curso de Letras-Libras
e na formação de surdos em curso de graduação. O poema “Dia dos
Intérpretes” destaca a importância dos intérpretes de Libras e atua
pedagogicamente no sentido de valorizar o trabalho em parceria,
priorizar o respeito, a tradução, paz e amor entre surdos e intérpretes,
pois trata-se de um poema dedicado aos intérpretes.
Quanto à escolha dos sinais que compõem os poemas, constatamos
que eles colaboram para interpretar o texto. A interpretação
dificilmente será única, já que o poema sugere múltiplos sentidos,
dependendo de como se percebe o entrelaçamento dos fios que o
organizam, ou seja, geralmente ele possibilita mais de uma
interpretação. Metodologicamente, trabalhamos com a tradução e
identificação de elementos poéticos e temas que são apresentados.
Além disso, destacamos a riqueza estética dos poemas, e sobre isso há
muito a ser explorado no sentido de investigar o modo como à língua
de sinais é utilizada nas produções poéticas.
O baú de poesias está prestes a ser fechado. Mas espere! Não
podemos fechá-lo! É preciso mantê-lo entreaberto, para que esses
poemas continuem nos provocando sensações, leituras e vivências
diferentes, além de muitos outros estudos que podem ser desdobrados
futuramente!

estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 123-141, maio/ago. 2018. 137


Mãos que dançam e traduzem ––––––––––––

Referências

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estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 123-141, maio/ago. 2018. 139


Mãos que dançam e traduzem ––––––––––––

Recebido em 26 de maio de 2017.


Aprovado em 7 de janeiro de 2018.

resumo/abstract/resumen

Mãos que dançam e traduzem: poemas em língua brasileira de sinais


Lodenir Becker Karnopp
Renata Heinzelmann Bosse
O presente artigo apresenta uma pesquisa que buscou explorar um baú de poemas
em língua brasileira de sinais (Libras) que fizeram e fazem parte da história da
comunidade surda brasileira. Utilizamos a imagem de um baú como forma de
trazer os poemas e selecionar as preciosidades e antiguidades que são guardadas no
baú, relacionando os poemas sinalizados com a ideia de riquezas dessa
comunidade. O problema de pesquisa que acompanhou o desenvolvimento da
investigação foi: de que modo a língua de sinais é utilizada em poemas e quais os
temas mais frequentes? Em outras palavras, o que dizem os poemas e de que modo?
A partir desses questionamentos, o objetivo foi analisar o uso da língua de sinais e as
temáticas privilegiadas nos poemas selecionados. A metodologia utilizada para o
desenvolvimento da pesquisa consistiu em uma análise qualitativa, considerando a
utilização da bricolagem em pesquisas na área da educação, com ênfase no uso da
língua de sinais por surdos em poemas sinalizados. Para isso, foram analisados dois
poemas registrados em vídeos, com posterior tradução de Libras para o português, a
fim de viabilizar a descrição e análise do material e registrar recorrências
encontradas. Como resultado, apontamos que os poemas analisados têm relação
com temas da comunidade surda, tais como a formação de surdos (em “O balé das
mãos”) e os intérpretes de Libras (em “Dia dos intérpretes”) e linguisticamente
salientam formas de produção artística em língua de sinais.
Palavras-chave: literatura surda, poemas em língua de sinais, surdos, estudos
culturais em educação.

Hands that dance and translate: poems in Brazilian sign language


Lodenir Becker Karnopp
Renata Heinzelmann Bosse
This research explores the poetry chest in Brazilian Sign Language (Libras) that has
been a part of the history of the Brazilian deaf community. We use the chest as an
image that alludes to a collection of treasures and antiques. In this framework, the
sign-language poems reference the richness of the hearing-impaired community.
The research question that guides this essay is how is sign language used in poems

140 estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 54, p. 123-141, maio/ago. 2018.


–––––––––––– Lodenir Becker Karnopp e Renata Heinzelmann Bosse

and which are its preferred themes? In other words, what do the poems say and
how? Using these questions, the objective is to analyze the use of sign language and
the privileged themes in selected poems. The methodology used for the
development of the research is qualitative analysis. The essay considers the use of
sign language by the hearing-impaired in sign-language poems. For this, we analyze
two poems recorded on videos, with subsequent translation from Libras to
Portuguese, in order to facilitate the description and analysis of the material and the
register recurrences found in the poems. The essay shows that the poems analyzed
relate to important themes in the deaf community, such as the training of the deaf
(in “O balé das mãos” [The Hands Ballet]) and Libras interpreters (in “Dia dos
intérpretes” [Interpreters’ Day]) and linguistically highlight forms of artistic
production in sign language.
Keywords: deaf literature, poems in sign language, deaf, cultural studies in
education.

Manos que danzan y traducen: poemas en lengua brasileña de señales


Lodenir Becker Karnopp
Renata Heinzelmann Bosse
El presente artículo hace parte de la investigación de maestría que buscó
explorar un baúl de poemas en lengua de señas brasileña (Libras), que hicieron
y hacen parte de la historia de la comunidad sorda brasileña. Utilizamos la
imagen de un baúl como forma de traer los poemas y seleccionar las
preciosidades y antigüedades que son guardadas en un baúl, relacionando los
poemas señalados con la idea de riqueza de esa comunidad. El problema de
investigación que acompañó el desarrollo del proceso fue el siguiente: ¿de qué
modo la lengua de señas es utilizada en los poemas y cuáles son los temas más
frecuentemente privilegiados? En otras palabras, ¿qué dicen los poemas y cómo
lo dicen? A partir de esos cuestionamientos, el objetivo fue analizar el uso de la
lengua de señas y las temáticas privilegiadas en los poemas seleccionados. La
metodología utilizada para el desarrollo de la pesquisa se constituyó en un
análisis cualitativo, considerando el uso de la lengua de señas por sordos en los
poemas señalados. Para eso, fueron analizados dos poemas registrados en
videos, con posterior traducción de Libras para el portugués, con el objetivo de
viabilizar la descripción y análisis del material y registrar recurrencias
encontradas. Como resultado, señalamos que los poemas analizados tienen
relación con temas de la comunidad sorda tales como la formación de sordos
(“El ballet de las manos”), y de intérpretes de Libras (“Día de los intérpretes”) y
lingüísticamente destacan las formas de producción artística en lengua de señas.
Palabras clave: literatura sorda, poemas en lengua de señas, sordos, estudios
culturales en educación.

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