Ficha de Leitura - Corrupção No Sector Da Educação Como Factor Do Deficit Da Qualidade de Ensino em Moçambique
Ficha de Leitura - Corrupção No Sector Da Educação Como Factor Do Deficit Da Qualidade de Ensino em Moçambique
Ficha de Leitura - Corrupção No Sector Da Educação Como Factor Do Deficit Da Qualidade de Ensino em Moçambique
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Concepções sobre a Corrupção
Segundo Biason (2005: 28) “O país pioneiro nos estudos académicos sobre a
corrupção foram os Estados Unidos nos anos 60 e as medidas de controlo adoptadas
tiveram primeiramente como referência a abordagem funcionalista”. Tal abordagem
ocupava-se menos dos juízos de valor sobre a corrupção, pois entendia-se que uma
certa dose de corrupção poderia contribuir para o desenvolvimento de países
burocratizados.
Definição de Corrupção
Uma definição largamente utilizada estabelece que a corrupção é uma transacção
entre os actores dos sectores público e privado, através dos quais os bens colectivos
são ilegitimamente convertidos em ganhos privados (Heidenheimer et al, 1989:6,
citado por Andvig et al, 2000).
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sectores público e privado. O conceito clássico de Colin Nye define a corrupção
como “um comportamento desviante dos deveres formais de um papel público
(eleito ou nomeado) motivado por ganhos privados (pessoais, familiares, etc.) de
riqueza ou status” (Nye 1967:416).
Uma versão mais recente mas contendo os mesmos elementos foi proposta por
Mushtaq Khan citado por MOSSE, Marcelo., e CORTEZ, Eedson, (2006), que diz
que a corrupção é “um comportamento desviante das regras formais de conduta, de
alguém com posição de autoridade pública, por causa de motivos privados como
riqueza, poder, status”.
DESENVOLVI As orientações acima tem um ponto de encontro, pois, comungam a ideia de que
MENTO corrupção é abuso da função pública para ganho privado (individuais, familiares ou
de grupo). Fica também nelas a evidência de que a prática da corrupção viola regras,
no qual o funcionário faz o uso do poder público que foi conferido, pondo assim em
causa a subsistência do bem público.
Ainda que em todos os autores se encontrem elementos de convergência, no âmbito
do presente estudo adoptou-se o conceito apresentado por Klitgaard (1994:40), na
medida em que este traz elementos completos na noção de corrupção e mais
ajustados ao estudo.
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Sistema Nacional da Educação
O Sistema Nacional de Educação (SNE) em Moçambique foi concebido de modo a
tentar proporcionar a educação para todos. Ele foi concebido em 1983 e, desde lá
para cá, sofreu alterações para responder às novas exigências impostas pelas
mudanças ocorridas no País, tendo sido revista em 1992 com a introdução da Lei
6/92, de 6 de Maio. O SNE foi uma tentativa de romper com o sistema herdado com
colonialismo. Mas a sua implementação foi tendo obstáculos, um dos quais a guerra.
De acordo com dados oficiais, em 1990 mais de 50% da rede escolar primária estava
totalmente destruída ou paralisada, agravando a situação na rede urbana.
O SNE está dividido em 3 subsistemas mais o Ensino Técnico Profissional. Um
subsistema complementar ao SNE é aquele que é preenchido pelo Ensino Privado.
Os subsistemas do SNE são os seguintes:
Subsistema de Educação Geral – que apresenta um Ensino Primário
Obrigatório, da 1ª à 7ª Classes; um Ensino Secundário do 1º ciclo da 8ª à 10
Classes e um Ensino Secundário do 2º ciclo da 11ª à 12ª Classes.
Subsistema de Educação de Adultos;
Subsistema de Formação de Professores.
DESENVOLVI
MENTO Factores, Actores e oportunidades para a corrupção no Sector da Educação
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dirigentes superiores, têm uma ligação com as práticas de suborno e extorsão sexual,
com a manipulação das regras de procurement e a distribuição de bolsas de estudo a
familiares”.
Professores de Carreira
Os professores de carreiras – aqueles que recebem formação especializada no
Subsistema de Formação de Professores e entram para o sector para ficar, garantindo o
ensino.
“O Governo estima que a falta de professores qualificados (de carreira) vá piorar, por
várias razões: pensa-se que o crescimento económico tenha criado novas oportunidades
e muitos professores deixam a Educação para procurarem empregos melhor
remunerados (ou consideram o seu trabalho como um trabalho temporário),
particularmente ao nível do secundário; e pensa-se também que muitos professores,
incluindo os recentemente formados, aceitam postos que não são para leccionar dentro
do próprio sistema de Educação, nomeadamente em áreas administrativas nas direcções
provinciais e distritais” (MOSSE e CORTEZ. 2006:13).
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Os professores secundários (de carreira, qualificados), dado a importância já referida
deste nível de ensino, são aqueles que, de acordo com as percepções colhidas pelos
autores (MOSSE e CORTEZ. 2006:13), mais se envolvem em esquemas de
corrupção. O professor começa a preparar, logo no início do ano, as condições para
exigir pagamentos aos alunos. Uma das armadilhas é elaborar testes considerados
difíceis, os quais tornam o aluno dependente; depois de dois ou três avaliações, o
aluno apercebe-se que está tecnicamente chumbado e vê como única solução a
negociação com o professor. A partir daqui o professor tem o controlo da situação e
vai cobrando rendas pela troca de favores com os alunos. Outros preferem favores
sexuais, como explicamos mais adiante. Outros ainda preferem que os alunos lhes
DESENVOLVIE paguem bebidas alcoólicas nas barracas.
MNTO
Professores Contratados
Uma das características dos professores contratados é que eles não têm formação
pedagógica. Mas o Estado terá sempre de recorrer a estes professores,
maioritariamente jovens estudantes universitários, dado a já referida tendência de
alguns professores de carreira abandonarem o ensino à procura de outros empregos
melhor remunerados.
Estes professores contratados, que anualmente têm de renovar os seus contractos em
função de uma avaliação de desempenho que reside na obtenção de um aproveitamento
de 40% também entram facilimamente nos esquemas de corrupção. Os contratados
envolvem-se mais na corrupção no início do contrato, reduzindo as práticas mais tarde.
Há quem pense que os contratados são mais corruptos que os de carreira pelo facto de
não terem nada a perder. Mas também se pensa que os contratados envolvem-se na
corrupção a um nível mais reduzido pelo facto de que receiam não renovar os seus
contractos.
Seja qual for o caso, há um aspecto marcante que importa realçar: a percentagem
mínima de aproveitamento que as direcções das escolas estabelecem para que um
contratado renove o contrato, os tais 40%, pode ser um incentivo à corrupção; pode
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acabar “legitimando” o negócio das notas pois o professor-contratado, para ter uma
boa classificação, não hesita em facilitar a passagem de estudantes menos bons, mas
exigindo sempre um valor de troca.
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O pressuposto de base é de que a descentralização tem como objectivos o
aprofundamento da democracia, garantir a participação dos cidadãos na solução dos
problemas próprios das comunidades e promover o desenvolvimento local.
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Segundo Mosse (2002:68), as consequências políticas, económicas e sociais da
corrupção repercutem-se na capacidade dos governos prestarem serviços públicos de
forma eficaz nos países em vias de desenvolvimento como Moçambique. Os
Governos estão suficientemente preocupados, receando que a corrupção possa
comprometer a legitimidade das reformas políticas, económicas e até ameaçar a
democracia.
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ANDVIG, Jens Chr. et al (2000): “Research on Corruption A policy oriented
survey”. Commissioned by NORAD, final report, Oslo.
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Documentos Oficias
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE. Governo Distrital De Boane, Serviços Distritais
de Educação, Juventude e Tecnologia, Boane, Campanha nacional de combate a
corrupção no sector da Educação / Plano de Palestra nas Escolas, Boane 2010.
Legislação
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Lei nº 6/2004 de 17 de Junho, I serie, nº 24,
Imprensa Nacional de Moçambique 2004, Maputo
Internet
BIASON, Rita de Cássia, Novas dimensões da corrupção no Brasil, UNESP-
Campus Franca, disponível em: httt://www.fafich.ufmg.br/atendimento/ciencias-
sociais/monografia/at/file, acesso em 02/05/2015.
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