Dante. .Livro - Didatico.de - Matematica. .Uso - Ou.abuso
Dante. .Livro - Didatico.de - Matematica. .Uso - Ou.abuso
Dante. .Livro - Didatico.de - Matematica. .Uso - Ou.abuso
Conceitos corretos
Algumas características desejáveis de um livro didático de
matemática de 1* a 4a série A condição primordial para que um livro de matemática seja
considerado bom é que ele esteja matematicamente correto, com
Para um livro didático de matemática desempenhar sua principal níveis de rigor e precisão apropriados à série a que se destina.
função como instrumento auxiliar do processo ensino-aprendizagem
é necessário que ele satisfaça minimamente algumas condições Um conceito errado no livro passa para a lousa pelo professor e,
desejáveis arroladas abaixo. em seguida, para a cabeça dos alunos. Mais tarde, torna-se muito
Os símbolos matemáticos são representações de idéias ou conceitos — contenha material que crie interesse e motive a aprendizagem
matemáticos e, obviamente, devem vir depois que o aluno se do aluno;
apropriou deles. Quando a linguagem matemática é colocada
precocemente antes da exploração da idéia, ela marginaliza a — inclua material que torne possível atender às necessidades de
comprensão da mesma. diferentes níveis de habilidades;
—dê oportunidades para que o aluno descubra idéias matemáticas — inclua problemas, atividades e exercícios que desenvolvam no aluno
através de pensamento reflexivo, solução criativa de problemas, a capacidade de estimar fazendo cálculos mentais. Por exemplo, 19+19
experimentação, estimativas, análises e generalizações; é aproximadamente 40, pois como 19 está próximo de 20, então 19 + 19
está próximo de 40 (20 + 20);
— o conteúdo e a terminologia sejam justificados de tal forma que o
aluno compreenda e perceba como aquilo se relaciona com ele e com —inclua problemas e questões que tenham mais do que uma solução e
seu dia-a-dia. outros que não tenham solução;
— apresente conceitos de forma integrada explorando seus aspectos —inclua atividades que sugiram que os próprios alunos inventem seus
aritméticos, geométricos e métricos; problemas e os resolvam, estimulando sua criatividade;
— proponha problemas e questões interessantes e variadas envolvendo — leve em conta a vivência e a experiência acumuladas do aluno
vários conceitos e técnicas estudadas; em idéias matemáticas, experiência esta adquirida pela observação
e manipulação de objetos. Por exemplo, em geometria experimental,
no estudo do cubo e da esfera, é preciso levar em conta que a criança
----apresente questões e problemas em aberto que estimulem o aluno
já brincou muito com o dadinho e com a bola e já tem experiência
a realizar atividades de exploração e descoberta. Por exemplo, se (a+b). acumulada com essas figuras espaciais, para saber que uma não
(c+d) = 36 , quais são os possíveis valores para a, b, c e d ? rola e a outra, sim. A partir dessa vivência é que devem vir as
atividades do livro e do professor;
— utilize-se de várias formas de linguagem tais como linguagem
numérica, geométrica, tabelas e gráficos como formas de registro; — garanta a participação ativa do aluno na construção do
conhecimento matemático e não dê tudo pronto e acabado através
— use a linguagem usual, coloquial, mais próxima da vivência do de definições e exemplos para depois apresentar questões e
aluno, nas narrativas e explicações, amenizando a árida linguagem problemas que exijam reflexão;
matemática;
—não inclua excesso de operações rotineiras, sem significado para o
—inclua problemas desafiadores, enigmas, quebra-cabeças e jogos que aluno, e nem listas de problemas e questões estereotipadas que possam
estimulem a curiosidade e a criatividade do aluno; ser resolvidas mecanicamente;
Algumas orientações sobre o papel de uma avaliação diagnóstica e Além disso, na seleção final, os vários critérios de escolha devem
contínua devem constar no Manual do Professor para que este, ao ser devidamente ponderados, pois, por exemplo, o livro mais atrativo
detectar uma dificuldade do aluno, possa imediatamente saná-la pode ser totalmente impróprio se seu conteúdo contiver erros
com atividades e metodologias alternativas. conceituais ou se sua abordagem pedagógica não for satisfatória,
— a tendência nos livros didáticos de matemática para enfatizar regras, Como usar adequadamente o livro didático de matemática
procedimentos e algoritmos, ao usá-los unicamente e em sua totalidade,
limita a possibilidade de descobertas por parte do aluno e, também, de Como já vimos, o livro didático de matemática, embora não deva ser o
desenvolvimento de pensamento independente, curiosidade intelectual e único, é um dos instrumentos auxiliares essenciais de aprendizagem na
criatividade. sala de aula. Em geral, ele traz pequenos textos
Concluindo, o ideal é que o livro didático seja mais para inspirar do que
para ser rigidamente seguido. E, à medida que o aluno e o professor
avançam com o livro, eles o completam, suplementam, reorganizam
.recriam, enfim, escrevem o seu próprio livro. Nesse sentido, como
matéria-prima para todos esses desenvolvimentos, o livro didático
torna-se essencial.
A crença mais difundida, entre os críticos e os que trabalham Os manuais deveriam sintetizar e simplificar parcelas do conhecimento,
diretamente com alunos do lº e 2º graus, é a de que o chamado livro além de abrir caminhos para estudos mais profundos. Transformados em
educativo tem grande importância no trabalho nas salas de aula, mas a produtos de primeira necessidade, em razão da complexidade crescente
sua utilização tem pelo menos dois graves problemas: a necessidade de da vida moderna, era necessário produzi-los com melhor qualidade e
melhoria na qualidade do produto e o fato de que, freqüentemente, ele menores custos. Esta produção deveria estar voltada para a educação e
se torna quase que o único instrumento do trabalho didático. ter um sentido ideológico bastante amplo, o que significava distanciá-la
de interesses partidários imediatos e identificá-la com a construção de
A crença na importância do manual iniciatório é antiga, mas se uma humanidade nova.
acentuou na sociedade de massas do século XX com o aumento das *
necessidades de conhecimentos específicos e iniciatórios para a vida em A produção em massa e o caráter iniciatório do manual obrigavam os
geral. autores, mais do que nunca, a selecionar e simplificar os conhecimentos
e, no caso do livro escolar, a ter como outras referências os programas
Logo depois da Revolução de 1917, um grande crítico da cultura como de ensino e a relação professor-aluno na sala de aula. Dessa forma, o
Leão Trotsky tratou da importância dos manuais na vida moderna, manual didático já aparecia muito distanciado do livro de literatura
numa de suas obras menos conhecida intitulada Questões da vida infanto-juvenil, onde predominavam os fatores estéticos e lúdicos, além
cotidiana, livro que era uma tentativa de pensar as mudanças culturais de o leitor ser visto principalmente em termos individuais e não tanto
que estavam ocorrendo na sociedade soviética, visando à superação como parte de um grupo que contaria com a orientação de um professor.
daquilo que o autor chamava de "barbárie russa", para a construção da
modernidade no novo país. O manual escolar, na segunda metade do século XX, guarda algumas
dessas características. Ele se propõe a função pragmática de iniciação
Trotsky tratou da utilização do cinema, do rádio e da imprensa escrita numa disciplina científica e possui um conteúdo ideológico, que tende a
como instrumentos de vulgarização da cultura e da educação, mas ser amplo, no sentido de pensar criticamente a sociedade a partir de
dedicou também muitas páginas à necessidade de obras didáticas valores considerados universais.
escritas como instrumentos para superar o atraso russo. Segundo ele, à
semelhança dos países capitalistas avançados, era necessário produzir Na produção dos manuais, os aspectos didáticos tendem a ser
manuais sobre assuntos os mais diversos, e, pensando como editor, ele predominantes. Os autores têm como público-alvo os grupos-classe,
mostrava como deveria ser organizada
Os quatro manuais foram muito utilizados por militantes políticos Algumas das interpretações dos fatos são conhecidas e bastante
de esquerda e, principalmente, por estudantes do 2a que pretendiam criticadas hoje, pois faziam da história um jogo de cartas marcadas:
ingressar em faculdades de ciências humanas. as etapas obrigatórias do processo histórico — o comunismo
primitivo, o escravismo, o feudalismo, o capitalismo e finalmente
O que atraía nesses manuais não eram tanto as interpretações da o socialismo-comunismo; as mudanças materiais como as únicas
história, alinhadas até certo ponto com as novas orientações do P C parteiras da história; a onipresença da luta de classes; a tendência
soviético depois do XX Congresso, uma vez que, no Brasil do início dos da classe trabalhadora no sentido da construção de uma sociedade
anos 60, a linha partidária do PC já estava sendo objeto de amplas igualitária; a perversidade inata das classes dominantes; a
contestações, especialmente nos meios intelectuais e estudantis. necessidade de um partido-guia da classe operária para movimentar
as rodas do processo histórico e a inevitabilidade do triunfo do
Os manuais soviéticos, não obstante a sua ortodoxia política, eram socialismo que já podia ser vista na história do Egito Antigo, onde,
muito procurados porque eram baratos, escritos numa linguagem numa revolta, os trabalhadores não tomaram o poder por lhes faltar
Os livros do Editorial Vitória, no entanto, possuíam um A partir dos anos 50, e durante muitos anos, o Burns e os soviéticos
concorrente, estabelecido no mercado brasileiro desde o início dos surgiram como novidades no mercado brasileiro do livro didático, que
anos 50, que era a História da Civilização Ocidental, do conhecido vivia uma fase de estagnação. Essas obras possuíam um conteúdo
Burns, um acadêmico norte-americano. Esta obra, depois publicada bastante extenso, bases metodológicas mais visíveis, além de
em dois grossos e bem cuidados volumes pela Editora Globo de possibilitarem maior conhecimento da história econômica e social.
Porto Alegre, custava bem mais caro que os quatro manuais No entanto, não foram adotadas pelas escolas de 2a grau em geral,
soviéticos de edição extremamente simples e sem ilustrações. O onde continuavam a predominar livros didáticos bem mais elementares
livro de Burns foi também muito utilizado pelos vestibulandos de assinados por nomes conhecidos: Hadock Lobo, Borges Hermida ,
ciências humanas, principalmente pela sua riqueza de fatos, Souto Maior e, o mais antigo de todos, Joaquim Silva. Neles
chegando a ser indicado no programa dos vestibulares da predominava o velho pensamento positivista, que resultava no apego
Universidade de São Paulo. à enumeração dos fatos e em um distanciamento das interpretações.
Nos anos 70, o governo, como grande comprador de livros, ajudou A maioria das novas obras didáticas representou um certo avanço no
decisivamente a expansão do mercado do livro didático e o crescimento tratamento das relações entre o estudo da história e as ideologias.
e a renovação de novas e velhas editoras que trabalhavam no ramo. Procurando desvendar o papel dos elementos ideológicos nas relações
Também neste período começava a surgir, principalmente em nível de sociais, um tema freqüente nas discussões políticas e acadêmicas, os
22 grau, um novo grupo de autores, geralmente jovens professores novos autores não puderam deixar de estar atentos aos traços
ideológicos presentes em seus próprios escritos que, pelo