Macroeconomia

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Bacharelado em

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Macroeconomia
Samuel Façanha Câmara
Bacharelado em
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Macroeconomia
Samuel Façanha Câmara
2016. Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

Esta obra está licenciada nos termos da Licença Creative Commons Atribuição - Não Comercial - Compartilha Igual
3.0 Brasil, podendo a OBRA ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins
não comerciais, que seja atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.

C172m Câmara, Samuel Façanha


Macroeconomia / Samuel Façanha Câmara. – Florianópolis : Departamento de
Ciências da Administração / UFSC; [Brasília] : CAPES : UAB, 2016.
136 p.

Bacharelado em Administração Pública


Programa Nacional de Formação em Administração Pública
Inclui referências
ISBN: 978-85-7988-305-7

1. Macroeconomia. 2. Administração pública. 3. Políticas públicas.


4. Educação a distância. I. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Título.
CDU: 330.101.541

Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB-14/071


Ministério da Educação – MEC
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES
Diretoria de Educação a Distância – DED
Universidade Aberta do Brasil – UAB
Programa Nacional de Formação em Administração Pública – PNAP
Bacharelado em Administração Pública

Macroeconomia

Samuel Façanha Câmara

2016
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR – CAPES

DIRETORIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDÁTICOS


Universidade Federal de Santa Catarina

AUTOr DO CONTEÚDO
Samuel Façanha Câmara

EQUIPE TÉCNICA – UFSC

Coordenação do Projeto
Alexandre Marino Costa
Coordenação de Produção de Recursos Didáticos
Denise Aparecida Bunn
Projeto Gráfico
Adriano Schmidt Reibnitz
Annye Cristiny Tessaro
Editoração e Ilustração
Stephany Kaori Yoshida
Revisão Textual
Sergio Luiz Meira
Capa
Alexandre Noronha

Créditos da imagem da capa: extraída do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.
Sumário

Apresentação............................................................................................ 7

Unidade 1 — Introdução à Análise Macroeconômica


Introdução à Análise Macroeconômica....................................................... 13
Evolução da Macroeconomia................................................................ 14
Problemas e Modelos Macroeconômicos............................................... 19

Unidade 2 — Contabilidade Nacional


Contabilidade Nacional.............................................................................. 27
Modelagem Básica das Variáveis Macroeconômicas.............................. 27
Sistema de Contas Nacionais ................................................................ 36

Unidade 3 — Determinação da Demanda e Oferta Agregada


Determinação da Demanda e Oferta Agregada.......................................... 71
Curva da Demanda Agregada (DA) ...................................................... 45
Curva de Oferta Agregada (OA) ........................................................... 46
Comportamento das Variáveis Macroeconômicas ................................. 48
IS-LM como Base para a Demanda Agregada....................................... 68
Oferta Agregada de Curto Prazo ........................................................... 70

Unidade 4 — A Inflação
A Inflação................................................................................................... 79
Teoria Quantitativa da Moeda .............................................................. 83
Causas da Inflação................................................................................. 85
Inflação e a Taxa de Juros..................................................................... 87
Medidas de Inflação............................................................................... 90
O Plano Real ........................................................................................ 92
Unidade 5 — Economia Aberta
Economia Aberta ...................................................................................... 99
O Processo de Abertura para o Exterior no Brasil ............................... 100
Taxa de Câmbio ................................................................................. 101
Pequena Economia Aberta ................................................................. 106

Unidade 6 — O Papel do Governo e as Políticas Econômicas


O Papel do Governo e as Políticas Econômicas ....................................... 119
Política Fiscal ...................................................................................... 121
Política Monetária ............................................................................... 125
Política Cambial e Comercial (Setor Externo)...................................... 127

Referências............................................................................................... 131

Minicurrículo............................................................................................ 134
Apresentação

A�r��������o

Olá estudante!
Vamos a partir de agora estudar um ramo da Economia
denominado de Macroeconomia. Você já estudou de forma mais
introdutória a Macroeconomia na disciplina Introdução à Economia,
e agora vamos aprofundar alguns temas que se revelam muito importantes
para a Gestão Pública. Você terá a oportunidade de aprender mais
sobre a contabilidade nacional, ou seja, de que modo as contas do
governo são organizadas e contabilizadas; de que modo a demanda
e a oferta do País como um todo se formam; as relações da economia
com a moeda e as taxas de juros; e o comportamento do governo e
como ele formula e aplica suas políticas econômicas.
Você desenvolverá a capacidade de analisar as relações
existentes entre as principais variáveis que representam o estado
da economia do País, como, por exemplo, se as empresas de forma
conjunta estão produzindo mais, ou se estas estão empregando mais,
ou se os preços dos diferentes bens produzidos no Brasil estão se
elevando; assim como o efeito das ações do governo, das famílias
e das empresas diante destas variáveis macroeconômicas, que
são grandezas que servem para representar os diferentes estados da
Economia, tais como: o valor da taxa de juros, os índices de emprego
e de desemprego, o índice de inflação e dos preços dos bens de uma
forma geral. Compreenderá, principalmente, o entendimento desta
relação do governo com a economia, que se dá, normalmente, pelas
chamadas políticas econômicas e seus instrumentos, como a taxa de
juros ofertada pelo governo na emissão de títulos, entre outros, o
que de muitas formas afeta a maneira como as instituições públicas
devem ser geridas.

Módulo 2 7
Macroeconomia

Exemplo da importância de se entender estas políticas é a


quantidade de planos econômicos – que são ações de política
econômica realizadas pelo governo de forma a impactar na economia
do País, normalmente, com o objetivo de retirá-lo de alguma crise,
como por exemplo: inflação elevada e falta de emprego e renda –
que já foram lançados no Brasil e que afetaram a forma com que
os gestores públicos desenvolveram suas atividades. Rapidamente
podemos lembrar do Plano Real de combate à inflação e do Plano
de Aceleração do Crescimento (PAC). Estes são compostos pelas
políticas econômicas mencionadas e afetam variáveis como os gastos
do governo na economia. É o caso do PAC, que se constitui de um
plano voltado, principalmente, para a execução de obras estruturais
(estradas, hospitais, escolas etc.) no País.

Para o desenvolvimento do tema, este livro está estruturado em seis


Unidades. Na Unidade 1 – Introdução a Análise Macroeconômica,
você conhecerá quais são as principais variáveis e como os economistas as
analisam; na Unidade 2 – Contabilidade Nacional, você verá como
os governos mensuram e registram as variáveis macroeconômicas; na
Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada, você
estudará os conceitos de demanda e oferta agregada e entenderá quais
fatores as determinam; na Unidade 4 – Inflação, você saberá como
a inflação é gerada, sob diversos modelos, como ela pode ser medida
e como se dá a sua política de controle; na Unidade 5 – Economia
Aberta, você analisará como a economia nacional se relaciona com

8 Bacharelado em Administração Pública


Apresentação

a economia de outros países, revelando como se dão as trocas entre


estas economias e suas influências sobre variáveis como a renda e o
emprego; e finalmente, na Unidade 6 – O Papel do Governo e
as Políticas Econômicas, você verá qual o papel do governo na
construção das politicas econômicas e quais os principais mecanismos
que os governos utilizam para adotar as políticas que implementam.

Professor Samuel Façanha Câmara

Módulo 2 9
UNIDADE 1

I��ro�u��o � A�á�i��
M��ro��o��mi��
Objetivos Específicos de Aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você deverá ser capaz de:
ff Entender o que é Macroeconomia e do que ela trata;
ff Compreender a evolução do Pensamento Macroeconômico; e
ff Estabelecer a necessidade de entender os fenômenos
Macroeconômicos.
Unidade 1 – Introdução à Análise Macroeconômica

I��ro�u��o � A�á�i��
M��ro��o��mi��

Olá estudante,
Bem-vindo aos estudos desta disciplina.
Você vai conhecer agora os fundamentos da macroeconomia,
seus principais conceitos e sobre quais bases este campo do
conhecimento se ampara. Ao final desta Unidade você terá a
base do conhecimento para começar a entender as análises que
a macroeconomia é capaz de fundamentar, principalmente no
auxílio à tomada de decisão dos gestores públicos.
Preparado? Vamos lá!
Veja mais informações
sobre os agregados

v
econômicos acessando
A macroeconomia é uma parte da Ciência Econômica que o link <http://www.
se dedica a estudar os chamados agregados macroeconômicos, ou fontedosaber.com/
seja, aquelas variáveis que representam de forma agregada toda a administracao/agregados-
macroeconomicos.html>.
economia de um país.
Acesso em: 30 mar. 2016.
Quando ouve falar de agregados, no que você pensa? É claro
que a resposta é: em algo que foi juntado, acumulado, somado, Na Unidade 4 falaremos
agregado. É exatamente isto que ocorre com os tipos de grandezas que mais sobre estes índices e
como eles são calculados,
a macroeconomia trabalha. Por exemplo, quando na macroeconomia
mas, se desejar conhecer

v
falamos de Produto, estamos nos referindo a tudo o que é produzido desde já alguns deles,
de forma agregada no país; e quando falamos em Níveis de Preços, acesse a página do Banco
normalmente estamos tratando de um índice econômico que faz uma Central, disponível em:
<https://www.bcb.
espécie de média de todos os preços do país.
gov.br/?INDECO> ou a
página de indicadores
econômicos do Universe
On Line (UOL), disponível
em: <http://economia.uol.
com.br/cotacoes/indices-
economicos/>. Acesso em:
30 mar. 2016.

Módulo 2 13
Macroeconomia

Índices Econômicos são indicadores que procuram representar


o estado de uma variável econômica. Por exemplo, o índice
de desemprego mensal, que mostra quanto foi o percentual
da taxa de desemprego para o respectivo mês.

Acesse alguns links com


Assim, a macroeconomia tem como variáveis de estudo os
reportagens especializadas
sobre economia que utilizam
agregados que nos acostumamos, em nosso cotidiano, a ouvir nos
frequentemente os termos noticiários da televisão, de jornais e revistas impressos e que influenciam
que denominam os agregados nossas vidas e as decisões que tomamos, por exemplo: quando os
macroeconômicos: TV Globo
preços de uma grande parte dos produtos no supermercado começam
News, disponível em: <http://
a subir e vemos nossos salários comprando cada vez menos produtos,
g1.globo.com/globo-news/>;
Jornal Valor Econômico, ou quando as empresas começam a demitir mais seus empregados

v
disponível em: <http://www. e começamos a pensar se nossos empregos também não estariam
valor.com.br>; e Jornal O ameaçados. Na internet, você pode acessar os sites de diversos órgãos de
Estadão TV, disponível em:
comunicação que divulgam e analisam as variáveis macroeconômicas.
<http://tv.estadao.com.br/
videos-canal,ECONOMIA,254,0. Ao fazê-lo procure identificar vídeos e notícias que tratem dos agregados
htm>. Acesso em: 30 mar. macroeconômicos e procure discutir o quanto você já ouviu falar
2016. deles e quais pontos relacionados com estes indicadores você não
compreende bem. Esperamos que, ao final de nosso estudo, você
esteja com menos dúvidas:

Evolução da Macroeconomia

A macroeconomia é uma
parte importante da Ciência
Saiba mais John Maynard Keynes
Econômica e apresenta uma
Foi um proeminente economista britânico, nascido em Cambridge evolução histórica significativa a
em 1883 e falecido em 1946. Produziu uma importante obra,
partir da década de 1930 com
intitulada A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, na
a contribuição do economista
qual desenvolveu conceitos importantes como a demanda efetiva
inglês John Maynard Keynes,
(agregada) e a recomendação da intervenção do Governo na
que através de seu livro seminal,
Economia, principalmente, por meio de políticas econômicas fiscais
intitulado Teoria Geral do Emprego,
(gastos públicos). Fonte: Elaborado pelo autor deste livro.
do Juro e da Moeda, mostrou a

14 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 1 – Introdução à Análise Macroeconômica

relevância da interferência do governo


na economia e a incapacidade dos Saiba mais Grande Depressão de 1929

mercados de resolverem certos problemas, Período que começou em 1929 e perdurou durante toda a
principalmente, para a saída de crises, década de 30. Esta recessão foi marcada por elevadas taxas

como foi a grande depressão de 1929. de desemprego, falências de inúmeras empresas e colapso

Neste período os Estados Unidos da dos sistemas produtivos. Começou de forma mais aguda nos
Estados Unidos da América e se propagou por todos os países.
América (EUA) mergulharam em uma
Fonte: Elaborado pelo autor deste livro.
grande crise econômica que tomou
proporções mundiais, o que ocorreu
depois de um declínio de consumo dos produtos americanos, após
a Primeira Guerra Mundial, ocasionado pela recuperação dos países

v
europeus, além de uma forte especulação com os valores das ações
das empresas norte-americanas que vinham obtendo lucros elevados
seguidamente.
Quando se deu a crise de 29 houve um descrédito nos valores Assista a esses vídeos
sobre a grande
das ações, inúmeras empresas fecharam e milhões de pessoas nos
depressão de 29,
EUA e no mundo perderam seus empregos. Os governos de diversos
disponíveis em: <https://
países ficaram sem saber o que fazer frente a uma crise tão aguda. www.youtube.com/
Nesta mesma época Keynes escreve sobre a influência dos governos watch?v=sXyKhYQPp1w>;

na economia; e suas ideias se estabelecem como padrão no combate <https://www.youtube.


com/watch?v=P5H_
a essa situação. Os EUA implantam um grande programa de gastos
vSxB54w>; e <https://
do governo e intervenção na economia norte-americana, abrindo a www.youtube.com/
discussão entre os economistas sobre o papel do governo na condução watch?v=2TavnfSVRKg>.
da economia. Acessos em: 31 mar. 2016.

As ideias de Keynes se tornaram uma inflexão na evolução das


teorias econômicas que vinham da teoria clássica e neoclássica e que
tinham como foco central explicar a criação do valor, para explicar
a determinação dos preços dos bens. Neste sentido, as duas teorias
diferiam pela explicação: a clássica se apoiava no valor-trabalho e a
neoclássica na utilidade marginal. Contudo, estas teorias avançavam
em seus pressupostos racionais e em seus modelos matemáticos e
se afastavam da explicação da economia real, o que ficou evidente
na crise de 29, uma vez que o ferramental teórico não era capaz de
dar explicação e muito menos de sugerir como sair da crise. Assim,
a teoria desenvolvida por Keynes se afastou deste racionalismo e da
modelagem matemática, com base em pressupostos pouco realistas,

Módulo 2 15
Macroeconomia

e avançou na direção de explicar os fenômenos econômicos de forma


agregada no país.
Ao desenvolver sua teoria, Keynes acabou colocando por terra dois
pilares da teoria neoclássica: i) a Lei de Say; e ii) o princípio dos salários
flexíveis. No caso da lei de Say, que foi vista na disciplina Introdução à
Economia, ele afirmou que o fluxo de renda tem “vazamentos”. Assim,
uma parte desta renda não retorna à produção, uma vez que as pessoas
podem ter necessidade de reter liquidez (moeda), estabelecendo que o
nível de atividade da Economia depende da demanda e não da oferta.
Keynes advogou também que os sindicatos inviabilizam a redução
nominal dos salários, impedindo
Saiba mais Política Econômica a retomada do nível de emprego.
Consiste em um conjunto de ações executadas pelo Governo
A macroeconomia, a partir
que pretende impactar sobre o funcionamento da Economia. Por de Keynes, se desenvolveu em duas
exemplo, quando o Governo resolve ampliar seus investimentos em direções, igualmente importantes
obras de infraestrutura: construção de estradas, portos etc. Fonte: para o entendimento de como a
Elaborado pelo autor deste livro. economia das nações funciona e
reage às diferentes intervenções

v
dos governos, no formato de
políticas econômicas. Numa dessas direções apostou-se num maior
efeito das chamadas políticas econômicas fiscais, ou seja, o efeito dos
Para saber um pouco mais
gastos do governo sobre a economia. Na outra direção voltou-se para
sobre política econômica,
leia o texto de Giovani Clark, a importância das chamadas políticas monetárias, que se constituem
disponível em: <http://www. em ações do governo que, de várias formas, alteram a quantidade de
scielo.br/pdf/ea/v22n62/ moeda (dinheiro ou liquidez) na economia.
a14v2262.pdf>. Acesso em: 31
mar. 2016.
Depois da publicação e popularização da obra de Keynes, em
1936, ainda com o capitalismo em cheque devido à crise que se iniciou
em 29 e que não mostrava sinais de fraqueza, um outro autor, John R.
Hicks, desenvolveu uma forma mais direta de interpretar e descrever
as principais ideias de Keynes, principalmente, através da construção
de um modelo para explicar e prever os impactos das políticas fiscal
e monetária na economia. Este modelo ficou conhecido como IS-LM
ou como síntese neoclássica. O modelo IS-LM será apresentado de
forma mais completa na Unidade 3, embora você já o tenha visto na
disciplina Introdução à Economia.

16 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 1 – Introdução à Análise Macroeconômica

Avançando até os anos 70, a confiança nas ideias keynesianas


foi diminuindo com o surgimento do fenômeno da estagflação. O dólar
americano, que servia de referência a todas as economias ocidentais
desde a década de 40, foi desvalorizado a 15 de Agosto de 1971 e
perdeu a sua paridade com o ouro. Dois anos depois, no final de 1973, os
países árabes membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores
de Petróleo) aumentaram quatro vezes o preço do petróleo, no espaço
de três meses, numa época em que estes países estavam em guerra
com Israel, e nacionalizaram as instalações ocidentais. Neste cenário a
Europa entrou numa fase denominada de estagflação, vivida por muitos
países, que consistiu em períodos de baixo crescimento econômico e
elevada inflação. Nestes períodos, as
recomendações oriundas da Economia Saiba mais Milton Friedman
Keynesiana passaram a ter pouco efeito, Economista americano nascido em Nova York em 1912. Foi
o que gerou uma nova corrente de Professor da Universidade de Chicago e conselheiro dos
pensamento macroeconômico, liderada presidentes dos Estados Unidos: Richard Nixon, Gerald Ford e
pelo Economista de Chicago, Milton Ronald Reagan. Foi associado ao governo ditatorial do Chile à
Friedman, conhecida como monetarismo, época do Presidente Pinochet, embora tenha sempre negado
a qual apontava a causa das instabilidades seu apoio às práticas violentas deste governante. Ganhou o
econômicas na oferta monetária e prêmio Nobel de Economia em 1976. Fonte: Elaborado pelo
descrevia a importância da estabilidade autor deste livro.
econômica nas expectativas futuras
e racionais dos agentes econômicos,
o que em parte podia explicar a inflação (aumento de preços) com
base no que os agentes econômicos achavam do futuro em relação
aos preços e ao poder de compra da moeda.
A macroeconomia até os dias atuais contou com inúmeras
contribuições, como no caso das diversas escolas de pensadores
que procuraram associar os fundamentos microeconômicos com
as necessidades de entendimento macroeconômico, colocando no
centro dos seus modelos teóricos os agentes econômicos. É o caso de
escolas como os Novos Clássicos e os Novos Keynesianos. Os novos
clássicos, como Robert Lucas, inseriram os princípios microeconômicos
nos modelos teóricos e suas conclusões fizeram o contraponto às
ideias keynesianas; e colocaram as dinâmicas dos mercados como
reguladores da economia e como fonte de sua estabilidade, com base

Módulo 2 17
Macroeconomia

nos denominados ciclos econômicos e nas


Saiba mais Ciclos Econômicos expectativas racionais.
São flutuações Auge
Os Novos Keynesianos, como Nicholas
declinação expansão
de longo prazo Gregory Mankiw, incorporaram os princípios
na atividade
tempo
da microeconomia na construção de
econômica. Estes
seus modelos teóricos, mas procuraram
ciclos alternam recuperação
recessão
manter e defender as ideias keynesianas
períodos de Crise
originais, agora defendidas sobre o prisma
forte crescimento econômico, com períodos de baixo ou
do ferramental teórico da microeconomia,
negativo crescimento. O Brasil em sua história econômica
apresentou diversos ciclos econômicos, tais como, o ciclo
usando o comportamento dos agentes
do Café (1800-1930), da Borracha (1866-1913), entre econômicos individuais como representativo
outros, que em nosso caso estavam associados à dinâmica de todos os agentes da economia. No
de crescimento dos mercados internacionais dessas caso dos novos keynesianos, os modelos
comódites. Fonte: Elaborado pelo autor deste livro. teóricos passaram a incluir imperfeições
de mercado, como a rigidez de preços em
Expectativas Racionais
alguns mercados – por exemplo, o mercado
Foram consideradas primeiro, de forma mais relevante,
de trabalho –, o que afastou as conclusões
pelo trabalho de John Muth em 1961 e dizem respeito à
encontradas, normalmente, pelos modelos
capacidade dos agentes econômicos de entenderem a
dos economistas clássicos e novos clássicos.
dinâmica econômica, inclusive das políticas dos governos,
Estas inclusões aproximaram os modelos
e estimarem como as variáveis macroeconômicas se
comportarão no futuro, influenciando sus decisões no
dos novos keynesianos das conclusões
presente. Fonte: COFECON (2007). keynesianas, a partir dos fundamentos
microeconômicos.
Nicholas Gregory Mankiw
Outras correntes da macroeconomia
Nascido em 03 de fevereiro de 1958, é
surgiram desde a Teoria Geral de Keynes, como
um economista americano e Professor de
o institucionalismo e os Pós-Keynesianos.
Economia na Universidade de Harvard.
Contudo, a teoria macroeconômica em
Foi presidente do Conselho de Assessores
busca de uma base teórica mais consistente,
Econômicos do presidente americano
George W. Bush. Em 2006, foi conselheiro
tendo como base a microeconomia,
econômico do candidato a Presidente dos avançou do ponto de vista de seus modelos,
Estados Unidos da América (EUA), Mitt principalmente, a partir de uma elevada
Romney. É autor de inúmeros artigos e de sofisticação matemática, mas de certa forma
livros de economia, como Princípios de não conseguiu avançar na prescrição e
Macroeconomia. Fonte: Elaborado pelo autor deste livro. previsão das políticas econômicas em relação
às ideias keynesianas e à síntese de proposta
de Hicks, com o modelo IS-LM. Desta forma, existe uma profusão
de novos conhecimentos teóricos nos fundamentos explicativos das

18 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 1 – Introdução à Análise Macroeconômica

variáveis macroeconômicas, mas pouco avanço em novos modelos


analíticos para prescrição das políticas fiscal e monetária, que de fato
tenham se popularizado, principalmente quando se fala do ensino
da macroeconomia para não economistas e no uso de ferramentas
analíticas pelos gestores públicos.

Problemas e Modelos Macroeconômicos

Você viu com quais variáveis a macroeconomia trabalha e como


ela evoluiu como Ciência. Agora para você se aprofundar mais
neste entendimento é preciso compreender quais problemas
ela se propõe a resolver.

Neste sentido, vamos apresentar alguns dos problemas que os


economistas costumam trabalhar em seus modelos e você vai ver de
forma introdutória como eles constroem seus modelos teóricos usando
abordagens gráficas e matemáticas, através da redução da realidade
econômica, considerando algumas variáveis como mais importantes
para o entendimento do problema abordado.
A macroeconomia se preocupa
com uma série de problemas que dizem Saiba mais Modelos Teóricos
respeito à economia de um país como São reduções da realidade, considerando as variáveis que
um todo e se relaciona com os chamados se denominam mais relevantes, de forma a estabelecer
agregados macroeconômicos. Desta as relações entre elas, permitindo focar o estudo de
forma, um dos seus problemas principais determinadas situações de forma mais sistematizada. Por

é entender as causas dos chamados ciclos exemplo, como você viu em Introdução a Economia, podemos
descrever a demanda de um bem como dependente do preço
econômicos e estabelecer mecanismos que
do próprio bem, da renda do consumidor e do preço de um
possam auxiliar em sua previsibilidade.
bem substituto. Este é um modelo para explicar a demanda,
As economias mundiais costumam
reduzindo sua causa a três variáveis, mas se você pensar no
oscilar entre períodos de crescimento
que leva em consideração na hora de decidir que vai comprar
econômico e de recessão (crescimento algo, será capaz de elencar muito mais variáveis do que só
econômico negativo); e essas oscilações aquelas presentes neste modelo. Fonte: Elaborado pelo autor
deste livro.

Módulo 2 19
Macroeconomia

trazem grandes prejuízos sociais quando o período de recessão se


aprofunda e se prolonga.
Outro problema subjacente à questão anterior, dos ciclos, é se
e como as políticas fiscal e monetária fazem efeito sobre os rumos da
economia colocando-a em níveis de estabilização ou em direção a um
nível desejado do produto. Assim, a macroeconomia se estabelece
como a Ciência que estuda as relações entre as variáveis agregadas de
um país e como estas podem afetar dinamicamente a sua economia.
O que de muitas formas interfere no papel dos gestores públicos que
fazem parte destas políticas, através dos diversos instrumentos de suas
execuções.

Estes problemas descritos anteriormente são entendidos pela


macroeconomia por meio dos chamados modelos teóricos. Você
lembra, quando falamos sobre a evolução da macroeconomia e
comentamos o surgimento de diversas correntes teóricas?

Todas essas correntes teóricas apareceram e se desenvolveram


tendo por base modelos teóricos que, a partir da síntese neoclássica de
Hicks, se notabilizaram pelo uso da linguagem formal da matemática
na sua criação. Nas Unidades seguintes, vamos nos deparar com
modelos dessa natureza. É claro, que muitos deles se apropriam de
ferramentas matemáticas que fogem ao escopo de nosso curso de
macroeconomia, voltado para a formação de gestores públicos em
nível de Graduação; e por isto optamos por abordar aqui modelos
que sejam de mais fácil compreensão, mas que tenham forte poder
de explicação dos fenômenos econômicos.
Contudo, a macroeconomia parte de um modelo muito simples,
que tem uma construção conceitual em uma linguagem gráfica e com
pouco uso da matemática, e por isso pode servir como um pontapé
inicial para o entendimento de um dos modelos da macroeconomia:
o Modelo Circular da Economia. Como em todos os modelos teóricos,
este possui alguns pressupostos, que são as condições básicas e de
redução da realidade, as quais permitem seu entendimento. No caso

20 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 1 – Introdução à Análise Macroeconômica

do Modelo Circular, que iremos apresentar, não existe governo e


nem trocas com outros países. Assim, os agentes envolvidos são as
famílias, detentoras (ofertantes) dos fatores de produção (capital e
trabalho) e compradoras de produtos, e as firmas que produzem e
ofertam os produtos e consomem os fatores de produção, o que gera
um movimento circular da renda e do produto na economia passando
entre as mãos destes dois agentes (Figura 1).

Mercado de Bens
e Serviços

Famílias consomem Firmas ofertam


bens e serviços bens e serviços

Famílias Firmas

Famílias ofertam Firmas consomem


fatores de produção fatores de produção

Mercado dos Fatores


de Produção

Figura 1: Modelo Circular da Economia


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Você pode notar, ainda na Figura 1, que as trocas entre as


firmas e as famílias se dão em apenas dois mercados, outra redução
da realidade. Contudo, esta circularidade serve para entendermos, por
exemplo, que o valor do produto gerado pelas empresas, quando se
considera toda a economia, se aproxima do valor da renda recebida
pelas famílias. Assim, renda e produto em macroeconomia podem ter
o mesmo valor.

Aliás, você verá que em muitos textos de macroeconomia é


comum os autores se referirem a um ou a outro como a mesma
variável.

Módulo 2 21
Macroeconomia

Você verá na Unidade 3 o modelo teórico IS-LM, sobre o qual


faremos uma abordagem gráfica e matemática. Por exemplo, neste
modelo da síntese keynesiana (IS-LM) uma descrição importante é
sobre a variável Consumo, que no caso da macroeconomia refere-se
ao consumo de todas as famílias de um país, e que é representado
pelo modelo como:

C = f (Yd), o consumo como sendo função da renda disponível

Onde:

f C = consumo e depende em uma função de Yd.


f Yd = Renda disponível (renda depois que as famílias
pagam os impostos)

Note que a construção de parte do modelo dependeu de


conhecimentos básicos de matemática, no sentido de ler a função do
consumo como uma variável que depende de outra variável, neste
caso da renda disponível (Yd). É normalmente neste formato que os
modelos teóricos de macroeconomia são apresentados. Você, certamente,
poderá encontrar muita sofisticação matemática em inúmeros modelos,
contudo, vamos tentar ser o mais simples possível daqui por diante.

22 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 1 – Introdução à Análise Macroeconômica

Resumindo
Nesta Unidade você estudou que a macroeconomia é
um campo do conhecimento ligado à Ciência Econômica e viu
como o pensamento da macroeconomia evoluiu desde Keynes
aos dias atuais, passando pelas principais escolas.
Você viu também que a macroeconomia trabalha com
modelos representativos da economia; e conheceu quais os
principais problemas que aquela trata como Ciência e que se
relacionam com a determinação dos agregados macroeconô-
micos.

Módulo 2 23
Macroeconomia

Atividades de aprendizagem
Agora é o momento de você testar seus conhecimentos e verificar
se compreendeu bem os textos apresentados nesta Unidade
realizando as atividades a seguir. Caso tenha alguma dificuldade,
não hesite em contatar seu tutor, que está à sua disposição para
ajudá-lo.

1. O que defendia o economista Maynard Keynes em seu pensamento?


2. Do que se tratou a crise de 1929?
3. O que afirmavam os Monetaristas?
4. O que são modelos teóricos macroeconômicos?
5. Quais os problemas de que trata a macroeconomia e como eles são
importantes para um Gestor Público?

24 Bacharelado em Administração Pública


UNIDADE 2

Co����i�i���� N��io���
Objetivos Específicos de Aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você deverá ser capaz de:
ff Entender as Contas Nacionais;
ff Compreender a importância dos registros e a mensuração das
variáveis macroeconômicas; e
ff Relacionar as contas nacionais com as variáveis dos Modelos
Econômicos.
Unidade 2 – Contabilidade Nacional

Co����i�i���� N��io���

Caro estudante,
Você conheceu na Unidade anterior os fundamentos da
macroeconomia e agora, nesta Unidade, você conhecerá um
ferramental importante usado pelos economistas e pelo governo
para contabilizar as principais variáveis macroeconômicas
do país. Isto será de fundamental importância para que você
desenvolva a capacidade de ler relatórios econômicos e
setoriais, relacionando-os com os conceitos macroeconômicos
e possibilitando que você forme uma base analítica para auxiliar
na tomada de decisão como gestor público.
Preparado para seguir adiante?
Então, vamos lá!

Modelagem Básica das Variáveis


Macroeconômicas

A contabilidade nacional é uma ferramenta de mensuração


dos agregados macroeconômicos que usa os dados coletados em um
determinado período de tempo. Uma das medidas mais importantes a
Bens finais – bens que não
serem mensuradas pela contabilidade nacional é o chamado produto
se destinam a sofrer trans-
agregado, que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no formações pelo processo
País. Para este cálculo é importante sabermos: i) que os produtos produtivo, podendo ser
são somados pelos seus valores, pois não se poderia somar carros consumidos ou usados
como investimento.
com geladeiras; ii) como os valores dos bens finais* da economia
Fonte: Lacombe (2009).
já incluem os valores dos outros bens que foram usados como seus Exemplos: automóvel,
eletrodomésticos etc.

Módulo 2 27
Macroeconomia

insumos, basta somarmos apenas estes últimos bens e teremos todo


o valor produzido contabilizado.
Você verá agora um exemplo simples de como este cálculo
da soma dos valores dos produtos é realizado. Considere um país
que produz, apenas, trigo, farinha e pão; e que o trigo é usado para
produzir a farinha e a farinha é usada para produzir o pão. Veja o
exemplo deste cálculo na Tabela 1, a seguir.

Tabela 1: Soma do Valor do Produto

Pro�u�o V��or �o Pro�u�o V��or �o� I��umo� V��or A�i�io���o


Trigo 100 0 100

Farinha 200 100 100

Pão 250 200 50

TOTAL 250

Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Você pode notar na Tabela 1 que no país do exemplo é


produzido um valor total de trigo igual a 100 unidades monetárias.
Toda a produção da farinha usa estas 100 unidades de valor de trigo e
resulta em 200 unidades de valor; e estas por sua vez são usadas pelos
produtores de pães, que geram 250 unidades em valor de pães. Na
terceira coluna são mostrados os valores adicionados que na verdade
é o que deve ser considerado de cada bem, ou seja, nada mais é do
que o valor gerado pelo produto menos o valor que ele usou de outro
bem. Estes valores, de fato, são os que esses produtos adicionam à
economia, descontando aqueles de seus insumos. Assim, se fôssemos
somar os valores dos produtos, somaríamos os valores adicionados
de cada produto, totalizando 250. Note que é exatamente o valor
total do produto final (pão) o que mostra que o valor dos bens finais
incluem todos os valores produzidos como insumos para eles. Assim,
para sabermos o valor de tudo que é produzido na economia, basta
somarmos os valores dos seus bens finais.

28 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

Com o modelo circular da economia descrito na Unidade


anterior (circularidade), você pode ver que a renda e o valor do
produto são iguais. Pode, ainda, incluir o conceito de Despesa
Agregada, que significa os destinos das rendas auferidas pelos
produtos. Assim, as despesas das famílias e das empresas, pela
circularidade também são iguais ao produto (valor) e à renda.

Você pode entender melhor estas igualdades observando a


Figura 2.
Oferta

Produto Renda Despesa

Recebimento pelas Desembolso pelas


famílias famílias
(proprietárias dos (proprietárias dos
fatores de produção) fatores de produção)

Demanda
Figura 2: Igualdade entre Produto, Renda e Despesa
Fonte: Adaptado de Vasconcelos (2002)

Assim, na Figura 2, o produto gera valor, que é pago pelas


empresas aos proprietários dos fatores de produção (famílias); estes
pagamentos, por sua vez, são recebimentos em forma de renda dessas
famílias. Estas mesmas famílias destinam esses recebimentos para
desembolsos de aquisição dos produtos, denominados de despesas.
Matematicamente, podemos representar esta igualdade da seguinte
forma:

R = Y = DA

Onde:

f R = renda
f Y = renda e produto (valor)
f DA = despesa agregada

Módulo 2 29
Macroeconomia

Podemos, em uma economia sem governo, dizer que a renda


Y se destinará ao consumo C ou à poupança S, como segue:

Y=C+S

Onde:

f C = consumo
f S = poupança
Assim, podemos dizer que as despesas podem podem ter duas
naturezas: o consumo C (famílias) e o investimento I (empresas), como
segue:

DA = C + I

Onde:

f I = investimento
A renda (Y) advém, no caso das empresas, do consumo e, no
caso das famílias, da remuneração da poupança das famílias (Y =
C + S)
A despesa agregada (DA) é a soma do consumo como destino
dos recursos que as famílias têm; e o investimento é o destino dos
recursos das empresas.
Pela circularidade da economia:

Y = DA

Então:

C+S=C+I
S=I

A poupança das famílias será, então, revertida em investimento


nas empresas, garantindo a circularidade da economia.

No modelo anterior você viu que reduzimos a realidade


econômica a dois agentes: as famílias, e as empresas. Agora
vamos ampliar este modelo e vamos incluir o governo.

30 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

Neste caso, teremos que considerar na economia os gastos do


governo e o pagamento dos impostos. Desta forma, teremos novas
funções de renda e despesa agregada:

Y=C+S+T

Onde:

f T = pagamento dos impostos; e passa a ser a renda


auferida pelo governo

DA = C + I + G

Onde:

f G = gastos do governo; e passa a ser parte das suas


despesas

Igualando Y = DA, teremos:

C+S+T=C+I+G
S+T=I+G

Esta igualdade nos diz que quando ocorrer déficit público (G


> T) deverá haver excesso de poupança em relação aos investimentos
para financiar o governo.
Se incluirmos as trocas com o exterior no nosso modelo teremos
as exportações, que são as vendas dos produtos nacionais para o
exterior, e as importações, que são as vendas dos produtos do exterior
ao País; e teremos também as seguintes igualdades:

Y = C + S + T, como a renda, onde a poupança é S = Y – C – T


e DA = C + I + G + X – M
Onde:

f (X – M) = despesas líquidas com o exterior. Exportações


(X) menos Importações (M)

Igualando DA = Y, teremos:
C+S+T=C+I+G+X–M
S+T+M=I+G+X

Módulo 2 31
Macroeconomia

E rearranjando os termos:

(X – M) = (T – G) + (S – I)

Este resultado indica que quando a economia tiver superávit no


mercado externo, ou na chamada balança comercial (X-M)>0, deve
ocorrer superávit público (T-G)>0 ou excesso de poupança em relação
aos investimentos (S-I)>0, ou as duas situações simultaneamente.
Podemos também substituir S = Y – C – T na equação anterior
e teremos:

(X – M) = (T – G) +(Y – C –T) – I

Podemos chamar (T-G) de Poupança do Governo e (Y – C –


T) de Poupança Privada. Assim, (T – G) = SG e (Y – C – T) = SP;
e então:

Stotal = SG + SP, teremos:


(X – M) = Stotal – I
Balança comercial – dife-
rença entre os valores
Assim, mais facilmente os saldos da balança comercial*
exportados e os valores deverão ser financiados pelo excesso de poupança em relação aos
importados pelo país em investimentos, ou seja o comércio com o exterior só é possível se
um determinado período.
houver poupança sobrando.
Fonte: Elaborado pelo
autor deste livro. Outros conceitos importantes, que são inerentes a esta ideia
da contabilidade nacional são:

f A diferença entre Produto Nacional (PN) e Produto


Interno (PI) e Produto Bruto (PB) e Produto Líquido
(PL).
f O Produto Interno (PI) é tudo que é produzido
internamente no país em um determinado tempo.
f O Produto Nacional (PN) é o Produto Interno
descontada a renda líquida paga a fatores de produção
com o exterior:

PN = PI – RLE

Onde:

32 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

f RLE = Renda Líquida dos Fatores com Exterior, ou


seja, é diferença entre a renda enviada ao exterior por
fatores de produção (capital e trabalho) pertencentes
a outros países e a renda paga por outros países aos
fatores pertencentes ao País. Investimento – conside-
rado tudo que foi produ-
O Produto Bruto é o valor produzido que inclui o investimento zido e não foi consumido
(I)*, o qual é constituído de bens de capital que perdem valor no em determinado período,

tempo por desgaste, o que é denominado de depreciação. O Produto o que inclui os estoques
dos bens, inclusive os bens
Bruto não desconta de seu valor total a perda de valor no tempo por
de capital. Fonte: Elabora-
desgaste de uso dos bens de capital (depreciação); então o Produto do pelo autor deste livro
Líquido (PL), será o Produto Bruto menos a depreciação (DEP).

PL = PB – DEP

Você agora pode juntar os conceitos de


Produto Interno e Produto Bruto e entender melhor Saiba mais Depreciação
um importante indicador da economia de um país, Depreciação é o desgaste pelo uso dos
que é o Produto Interno Bruto (PIB). Esta medida bens duráveis ou bens de capital ao longo
é especialmente usada para se identificar qual o do tempo. Por exemplo, depois que um

tamanho da economia de um país e pela sua variação trator é produzido e vendido, a cada ano

ao longo do tempo de quanto esta economia está ele perde valor pelo seu desgaste; este valor
de desgaste é denominado de depreciação.
crescendo.O Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor deste livro.
é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), instituição federal subordinada ao
Ministério do Planejamento, desde 1990.

v
Sugerimos que você acesse o site do IBGE e procure pelo
Sistema IBGE de Recuperação Automática (SIDRA). Ao entrar
na referida página você encontrará o formulário a seguir, que
deve ser preenchido da forma como a Figura 3 mostra para O Banco de Dados SIDRA
está disponível no link:
poder criar uma tabela com os valores dos PIBs disponíveis.
<http://www.sidra.ibge.
gov.br/bda/tabela/
listabl.asp?z=t&o=15
&i=P&c=2072>. Acesso
em: 31 mar. 2016.

Módulo 2 33
Macroeconomia

Figura 3: Tela do formulário para acesso aos dados do PIB no site do IBGE
Fonte: Brasil (2015)

Impostos indiretos – são


Outro conceito importante para você entender melhor como
aqueles cobrados sobre
o valor das vendas dos
as variáveis macroeconômicas são mensuradas é a diferença entre
produtos, diferentemente Produto medido a Preço de Mercado (Ppm) e Produto medido a Custo
dos impostos diretos que de Fatores (Pcf). Quando se usa o valor dos produtos pelos preços
incidem sobre a renda
vendidos em seus mercados na economia, se inclui nestes valores os
paga aos fatores de produ-
impostos indiretos*, que acabam sendo pagos pelos consumidores,
ção, como o imposto de
renda, o IPTU, Impostos ou seja, tais impostos são embutidos nos preços destes produtos, onde
sobre ganhos financeiros. também estão embutidos os subsídios dados pelo governo, que paga
Fonte: Elaborado pelo por parte dos custos de certos produtos considerados estratégicos.
autor deste livro.
Assim, o produto quando é mensurado pelos preços de mercado
é chamado de Ppm; e quando se extraem deste valor os impostos
indiretos e somam-se os subsídios tem-se o Pcf. Desta forma, teremos:

Pcf = Ppm – Impostos indiretos + Subsídios


Inflação – significa o
aumento do nível geral de Uma outra diferença importante na maneira como o produto
preços dos bens da econo-
é mensurado, que você precisa entender, é quando ele é considerado
mia, mensurado como a
média ponderada, destes de forma nominal ou real. A formal nominal é o valor calculado e
preços, pelo consumo divulgado pelo governo para aquele período. O produto real considera
destes bens nas famílias que deve ter descontado de seu crescimento nominal aquilo que se
em um país. Fonte: Elabo-
deveu pela Inflação*. Assim, matematicamente:
rado pelo autor deste
livro.

34 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

Produto Nominal
Produto Real = × 100
Deflator

O Deflator é um índice usado para se corrigir o efeito da


inflação no tempo sobre determinado valor. Existem vários índices
de inflação no Brasil que são usados como base para os deflatores.
Na Unidade 4 você verá alguns destes índices e quais as diferenças
entre eles.
Veja o exemplo a seguir e entenda melhor, como o conceito
de PIB Real é usado: Vamos supor que o PIB Nominal de um país
em 2000 foi de R$ 1.000,00 e que em 2010 foi R$ 1.500,00.
Se quisermos descobrir de quanto foi a variação do PIB
Nominal nestes 10 anos, faremos:

(1.500 – 1.000)
Variação PIB Nominal = × 100
1.000

Variação PIB Nominal = 50%

Agora vamos supor que durante estes dez anos a inflação


medida pelo Índice Geral de Preços foi de 20%. Sob este índice, o
deflator será 120 para o ano de 2010, considerando a base 100 para
o ano 2000. Assim, o cálculo da variação do PIB Real será:

PIB Real em 2000 = R$ 1.000


1.500
PIB Real em 2010 = × 100
120

v
PIB Real em 2010 = 1.250

Para ver vários arquivos


A variação do PIB real será:
com os dados de algumas
das variáveis (agregados)
(1.250 – 1.000)
Variação PIB Real = × 100 macroeconômicas, como
1.000 por exemplo o PIB, o
Balanço de Pagamentos,
Variação PIB Real = 25% acesse este link do Banco
Central: <http://www.
bcb.gov.br/?conjuntura>.
Acesso em: 31 mar. 2016.

Módulo 2 35
Macroeconomia

Sistema de Contas Nacionais

v
Agora que você já conhece como as variáveis macroeconômicas
Para conhecer a fundamentais se relacionam e são, de forma mais geral,
Metodologia para mensuradas, é hora de ver como, na prática, os países e seus
Sistemas de Contas
governos registram e calculam estas variáveis. Vamos em frente?
Nacionais, acesseo site
do IBGE: <http://www.
ibge.gov.br/home/
estatistica/economia/ Segundo Lopes e Vasconcelos (2000) o modelo dos sistemas
contasnacionais/2008/ de contabilidade nacional, atualmente usados nos países, foi criado
SRM_contasnacionais. por Richard Stone. No Brasil existem algumas diferenças metodológicas
pdf>. Acesso em: 31 mar.
que são específicas de nosso país.
2016.
O modelo desenvolvido por Stone divide a contabilidade em
quatro contas: i) Produto Interno Bruto, que
Saiba mais Richard Stone
representa os níveis de produção no País;
Foi um Economista britânico, nascido a 30 de agosto ii) Renda Nacional Disponível Líquida, que
de 1913, em Londres, e falecido a 6 de representa a apropriação; iii) Transações
dezembro de 1991, em Cambridgeshire. Correntes com o Resto do Mundo, que
Recebeu o Prémio Nobel da Economia, em representa as transações do País com o
1984, por ter desenvolvido um modelo exterior; e iv) Conta de Capital, que representa
de contabilidade que pode ser aplicado à a acumulação da riqueza no País.
identificação de atividades econômicas à escala nacional Você verá nos quadros a seguir como
e, posteriormente, internacional. Fonte: Elaborado pelo estas contas são construídas. Primeiro vamos
autor deste livro.
ver a conta do Produto Interno (Quadro 1).

D��i�o Cr��i�o
Salários Consumo das Famílias
Excedente Operacional Bruto (1) Consumo do Governo
Impostos Indiretos Investimentos em Bens de Capital
(-) Subsídios Variação dos Estoques
Exportações de bens e serviços
(-) Importações de bens e serviços
PIB a Preços de Mercado Despesa Interna Bruta a Preços de Mercado
Quadro 1: Conta Produto Interno Bruto
Fonte: Lopes e Vasconcelos (2000)

36 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

O excedente operacional bruto é o PIB a custo de fatores menos


os salários pagos.
No caso da conta Renda Nacional Disponível Líquida, o Quadro
2 mostra como a apropriação de renda realizada pelos proprietários
dos fatores de produção é contabilizada. Na coluna dos débitos estão
os usos das rendas e na dos créditos as fontes destas rendas.

D��i�o Cr��i�o
Consumo das Famílias Salários
Consumo do Governo Excedente Operacional Bruto
Saldo: Poupança Interna Impostos Indiretos
(-) Subsídios
(-) Depreciação
(-) Rendas Enviadas ao Exterior
Renda Recebida do Exterior
Utilização da Renda Nacional Apropriação da Renda Nacional Disponível
Disponível Líquida Líquida
Quadro 2: Conta Renda Nacional Disponível Líquida
Fonte: Lopes e Vasconcelos (2011)

Segundo Vasconcelos e Lopes (2011), no caso brasileiro, o


governo não calcula a depreciação; e por causa disso esta conta é
chamada no Brasil de Renda Nacional Bruta. No caso das contas de
capital e de transações correntes, você poderá ver, respectivamente,
nos quadros 3 e 4, como elas são registradas e mensuradas.

D��i�o Cr��i�o
Investimento em Bens de Capital Poupança Interna
Variações de Estoque Poupança Externa
(-) Depreciação
Total da Formação de Capital Financiamento da Formação de Capital
Quadro 3: Conta Capital
Fonte: Lopes e Vasconcelos (2011)

Na Conta Capital (Quadro 4), a coluna de débitos mostra


para onde o valor de capital é acumulado; e a coluna de créditos
apresenta as fontes de acumulação de capital.

Módulo 2 37
Macroeconomia

D��i�o Cr��i�o
Exportações de bens e serviços Importações de bens e serviços não fatores
não fatores
Renda Recebida do Exterior Renda Enviada ao Exterior
Utilização dos Recebimentos Recebimentos Correntes
Correntes
Total da Formação de Capital Financiamento da Formação de Capital
Quadro 4: Conta Transações Correntes com o Resto do Mundo
Fonte: Lopes e Vasconcelos (2011)

Na Conta Transações Correntes com o Resto do Mundo


(Quadro 4), a coluna dos débitos revela o fluxo de rendas vindas do
exterior; e a coluna dos créditos representa o fluxo de rendas que
saem do País para o exterior.
As transações com o exterior também podem ser expressas
de forma mais detalhada no balanço de pagamentos. No Quadro 5
você poderá ver como este balanço é construído.

1. Balança de Transações Correntes (A)


1.1. Balança Comercial
1.1.1. Exportações FOB (+)
1.1.2. Importações FOB (-)
1.2. Balança de Serviços
1.2.1. Transportes e Seguros (+ ou -)
1.2.2. Viagens Internacionais (+ ou -)
1.2.3. Juros e Lucros (+ ou -)

2. Balança de Capitais (B)


2.1. Investimentos (+ ou -)
2.2. Empréstimos (+ ou -)
2.3. Amortizações (+ ou -)
2.4. Capitais a Curto Prazo (+ ou -)

3. Erros e Omissões (+ ou -) (C)

4. Saldo do Balanço de Pagamentos (A + B + C)

5. Transações Compensatórias (Financiamento Oficial Compensatório)


Quadro 5: Balanço de Pagamento
Fonte: Lopes e Vasconcelos (2011)

38 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

Observe que o balanço de pagamentos (BP) com o exterior


representa o saldo dos fluxos de entradas e saídas de recursos do
País com o exterior. O BP é formado por duas outras balanças: i)
a de transações correntes, que é composta das balanças comercial
(exportações e importações) e de serviços (fluxos de serviços com o
exterior); e ii) a balança de capitais (fluxo de capitais com o exterior).
Por exemplo, se dissermos que a balança comercial é
superavitária (positiva), significa que as exportações foram maiores
que as importações e entraram mais recursos do que saíram do País,
no comércio de bens com o exterior.
Se a balança de capitais for superavitária significa que o
fluxo de capitais do exterior para o País foi maior do que o fluxo de
capitais do País para o exterior, considerando as diferentes rubricas
mostradas no Quadro 5 (Investimentos, Empréstimos etc).

Módulo 2 39
Macroeconomia

Resumindo
Nesta Unidade você viu como as variáveis macroeconô-
micas podem se relacionar em importantes identidades, como
produto igual à renda, e como estas são mensuradas. Você
conheceu também o Sistema de Contas Nacionais e concei-
tos importantes como o Produto Interno Bruto (PIB) e de que
forma ele é contabilizado.

40 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 2 – Contabilidade Nacional

Atividades de aprendizagem
Estamos propondo a você realizar a seguir alguns exercícios de
fixação do conteúdo estudado nesta Unidade. Caso tenha dúvidas,
retorne ao texto e faça uma segunda leitura. Permanecendo as
dúvidas, não se esqueça de que, se precisar de auxílio, seu tutor
está sempre à sua disposição para ajudá-lo. E então; preparado
para testar seus conhecimentos?

1. Explique por que na macroeconomia consideramos, no agregado


renda, o produto e as despesas iguais?
2. Diferencie os seguintes conceitos: produto nacional e produto
interno.
3. Explique o que deve ocorrer com a economia quando houver superá-
vit e déficit na balança comercial, considerando as identidades vistas
nesta Unidade.
4. Calcule a variação real do PIB, considerando que o PIB Nominal saiu
de R$ 10.000,00 para R$ 20.000,00 no ano e a inflação neste ano foi
de 5%.
5. Descreva o que as contas mensuram no modelo de Stone de Contas
Nacionais.

Módulo 2 41
UNIDADE 3

D���rmi����o �� D�m����
� O��r�� A�r�����
Objetivos Específicos de Aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você será capaz de:
ff Entender como a oferta e demanda agregada são formadas;
ff Compreender o Modelo IS-LM de determinação da renda e dos
juros; e
ff Entender como estes modelos podem ajudar o Gestor Público a
analisar a economia do País.
Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

D���rmi����o �� D�m���� �
O��r�� A�r�����

Você viu na Unidade anterior como os governos tratam e medem


as variáveis macroeconômicas. Agora, nesta Unidade, você será
apresentado à maneira como a Demanda e Oferta Agregadas são
formadas a partir de algumas destas variáveis. Entender estes dois
conceitos é fundamental para a compreensão do funcionamento
da economia dos países e a relação que o poder público pode
ter na influência de seus rumos, o que de muitas formas é uma
competência relevante a ser desenvolvida por gestores públicos,
no auxílio à tomada de decisão, através da formação de modelos
analíticos capazes de interpretar e prever cenários econômicos,
nos quais as instituições públicas afetam e são afetadas, como
instrumentos de execução de políticas econômicas.
Preparado para seguir adiante?
Então, vamos lá!

Curva da Demanda Agregada (DA)

A demanda agregada representa o gasto total com a compra


de bens e serviços que serão adquiridos, para cada nível de preço; e
como tal é composta pela demanda dos quatro setores considerados
nas identidades macroeconômicas (famílias, empresas, governo e
exterior) oriundas do modelo de fluxo circular da renda. Assim, temos:

DA = C + I + G + X – M

Módulo 2 45
Macroeconomia

A curva que representa esta demanda, assim como na


microeconomia, é negativamente inclinada em relação ao nível geral
de preços.
Desta forma, sempre que o nível geral de preços (P) se elevar,
a renda real (demanda agregada) cairá. (Figura 4). Mais à frente, nesta
Unidade, iremos providenciar uma explicação mais robusta para esta
relação.
Nível de
Preços (P) DA4
DA3

DA1 DA2

P*

OA*
Pleno OA
Emprego
Figura 4: Demanda Agregada
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Curva de Oferta Agregada (OA)

A oferta agregada representa tudo o que é produzido de bens


e serviços na economia de um país ou região por um determinado
período de tempo. Assim, esta curva mostra a quantidade que os
produtores desejam vender no mercado em diferentes níveis de preço.
O formato da curva de oferta agregada pode ser representado
a partir de três comportamentos distintos em relação a um aumento
da demanda agregada (Figura 5), a saber:

i) Capacidade ociosa: Com a elevação da demanda


agregada a produção aumenta a oferta via utilização
dos recursos ociosos e os preços permanecerem

46 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

inalterados, todos os preços fixos extremo do que


seria o comportamento de curto prazo (Abordagem
Keneysiana) – parte horizontal da curva de oferta
agregada;
ii) Apenas alguns setores em pleno emprego: Com a
elevação da demanda agregada alguns setores que
estão no pleno emprego elevam seus preços e outros
que não estão elevam sua produção. Assim, tanto
preços quanto quantidade produzida se elevam – parte
positivamente inclinada da curva de oferta agregada;
iii) No pleno emprego: Com a elevação da demanda e
não havendo mais recursos disponíveis para elevar
a produção a reação será a elevação dos preços
(inflação); esta representação da Oferta agregada é
também denominada de Oferta Agregada de Longo
Prazo – parte vertical da curva de oferta agregada.

Nível de
Preços (P)

P*

Pleno OA
Emprego
Figura 5: Curva de oferta agregada
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Assim, relacionando a demanda agregada com oferta agregada,


como nos mercados individuais, o trecho horizontal reflete os resultados
da teoria Keynesiana, no qual a demanda efetiva é quem determina
a oferta; por outro lado, o trecho vertical da oferta agregada reflete o
pensamento da teoria clássica, no qual a oferta é quem determina a
demanda (Figura 6). Na parte horizontal um deslocamento da curva

Módulo 2 47
Macroeconomia

da demanda agregada para a direita, de DA1 para DA2 (aumento da


demanda agregada), causará uma elevação na renda de equilíbrio
(cruzamento da duas curvas) sem que os preços se elevem. Isto ocorre
devido ao fato de que existe muita capacidade ociosa e as empresas
reagem ao aumento da demanda ofertando mais produtos, sem elevar
os preços. A parte vertical da curva de oferta (Figura 6) representa o
pleno emprego; nesta condição um aumento da demanda agregada
de DA3 para DA4 fará com que os preços se elevem, uma vez que
não há como ofertar mais produtos e a renda permanece a mesma.
As empresas reagem a este aumento elevando seus preços, uma vez
que neste cenário elas já não poderiam elevar a produção (excesso
de demanda).
Nível de
Preços (P) DA4
DA3

DA1 DA2

P*

OA*
Pleno OA
Emprego
Figura 6: Demanda e oferta agregada
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Comportamento das Variáveis


Macroeconômicas

Os economistas costumam separar a economia de um país


em dois lados: o real e o monetário. No lado real são consideradas
aquelas variáveis mais diretamente relacionadas à produção de bens e

48 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

serviços, tais como o produto agregado, os investimentos, o consumo


etc. O lado monetário é formado por variáveis que se relacionam com
a moeda, tais como a taxa de juros e a inflação.
Para você entender como o lado real da economia funciona,
precisamos compreender como as varáveis relevantes se comportam
e quais as relações delas com a renda nacional.

Lado Real da Economia

A seguir você conhecerá as variáveis que estão relacionadas


com as atividades produtivas da economia e não com a oferta
e demanda de moeda.

Neste lado real, a economia se estabelece pelo consumo,


investimento, poupança e gastos do Governo. Quando formos estudar
o consumo iremos observar como este é formado, através de sua
função de consumo; assim como os investimentos e a poupança, que
também terão sua formação especificada no formato de função.

Consumo
Keynes mostrou em sua obra que o consumo agregado em uma
nação é uma função direta da renda. Vamos supor que a relação entre
consumo e renda se dê por meio de uma função linear. Assim teremos:

C = a + by

Onde:

f C = Consumo agregado
f y = renda nacional
f a = consumo autônomo
f b = propensão marginal a consumir

Graficamente, podemos ver a representação da função de


consumo na Figura 7.

Módulo 2 49
Macroeconomia

A propensão marginal a consumir (b) representa quanto o


consumo varia dada a variação em uma unidade da renda; e pode
ser expressa da seguinte forma:

C = a + by

y
Figura 7: Curva de consumo agregado
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Segundo a “lei fundamental psicológica de Keynes” : 0 < b < 1.


A ideia por trás desta lei é a de que o consumo aumenta
positivamente com a renda, mas o consumo será sempre um valor
até a própria renda.
O consumo autônomo (a) representa a parte do consumo das
famílias que não depende da renda, ou seja, se a renda for zero (y =
0) o consumo será igual ao autônomo (C = a). O consumo autônomo
é aquele que depende de variáveis como a riqueza e a renda futura.

Poupança
Do ponto de vista da economia, a poupança é parte de uma
renda auferida pelas famílias em um determinado período e que não
foi gasta neste período.

Normalmente, a motivação para a formação da poupança


é a escolha intertemporal do consumo. A ideia é de que a
poupança existe graças a um menor consumo hoje para
que as famílias possam consumir mais no futuro.

50 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Desta forma, vamos considerar que a poupança é a parte da


renda que não é consumida. Assim, matematicamente teremos:

S=y–C

Como:

C = a + by

Então:

S = y – a – by
S = – a + (1 – b)y

Onde:

f S = poupança
f (1 – b) = propensão marginal a poupar
A propensão marginal a poupar mostra o acréscimo que ocorre
na poupança quando a renda aumenta. Graficamente, podemos ver
a função poupança na Figura 8.

S = -a+(1-b)y

(1-b)

0 y

-a

Figura 8: Curva da função poupança


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Você pode perceber que as curvas de consumo e de poupança


estão relacionadas, o que pode ser observado na Figura 9.

Módulo 2 51
Macroeconomia

S C = a + by

a S = -a+( 1-b)y

0
y
(1-b)
-a

Figura 9: Consumo x Poupança


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Investimento
O investimento na demanda é visto como os gastos das empresas.
No modelo que estamos construindo o investimento será considerado
como autônomo em relação à renda, ou seja, o nível de investimentos
realizado pelas empresas na economia de um país não depende do
seu nível de renda.

Gasto do Governo, Impostos, Exportação e Importação


As variáveis gastos do governo, impostos, exportação e
importação serão, para efeito de simplificação do modelo, consideradas
variáveis autônomas em relação à renda nacional. Contudo, no caso
dos impostos sua existência no modelo impacta na determinação do
consumo, pois as famílias só podem consumir a renda disponível, que é
a renda nacional menos o total dos impostos que pagam. Como altera
o consumo, esta variável também irá influenciar na determinação da
poupança. Desse modo, teremos:

C = a + b(Y – T) ou C = a + by d

Onde:

f (Y – T) = yd = Renda disponível
Assim, a poupança será:

S = –a + (1 – b) y d ou S = –a + [(1 – b)(y – T)]

52 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Demanda Agregada Completa e o Equilíbrio (OA = DA)


Podemos, agora, encontrar o equilíbrio deste modelo simplificado,
que representa o funcionamento do lado real da economia. Para tanto,
vamos utilizar a Figura 10. Neste gráfico é traçada uma linha com
um ângulo de 45 graus separando o plano cartesiano em duas partes
iguais. Assim, todos os pontos sobre esta linha de 45 graus apresentarão
valores iguais para as variáveis do eixo horizontal e vertical. Como
em nosso modelo as variáveis serão demanda agregada (DA) e oferta
agregada (OA), os pontos sobre a linha de 45 graus representam o
equilíbrio entre oferta e demanda agregada (OA = DA).
DA
DA = OA

DA = C + I + G + X – M

45º

ye (renda de equilíbrio) y* (pleno emprego) y = OA

Figura 10: Equilíbrio entre oferta e demanda agregada


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Observe, na Figura 10, que a renda de equilíbrio se deu em


um nível aquém do pleno emprego, denotando que esta economia
está com recursos ociosos, inclusive com mão de obra não utilizada,
ou seja, apresenta equilíbrio com desemprego.
Com as funções das variáveis mencionadas anteriormente e com
as equações da oferta e da demanda agregada, podemos encontrar
o mesmo equilíbrio da Figura 10, algebricamente. Assim, teremos:

AO = DA é a condição de equilíbrio, como:


AO = y
e

Módulo 2 53
Macroeconomia

DA = C + I + G + X – M

y = C + I + G + X – M é a condição de equilíbrio.

Substituindo C = a + b(y–T), ou C = a + by – bT, teremos:

y = by – bT + A, onde A = a + I + G + X – M

y – by = –bT + A, ou y(1–b) = –bT + A

Teremos:

b 1
y= T+ A . Esta é a renda de equilíbrio.
(1– b) (1– b)

A partir da equação de determinação da renda, você será capaz


de encontrar os Multiplicadores da renda, que revelam quanto a renda
irá variar quando uma das variáveis que a determina (G, I, X, M e
T) se elevar de uma unidade. Por exemplo, quanto irá variar a renda
quando os investimentos, gastos do governo ou gastos autônomos
que compuseram a variável “A” sofrerem mudanças?
O multiplicador keynesiano dos gastos é encontrado pela razão
da variação da renda (y) em relação à variação dos gastos (A):

∆y 1
=
∆A (1– b)

A expressão do multiplicador dos gastos mostra que a relação


entre a variação dos gastos e a renda se dá, no exemplo deste modelo
simplificado, pela magnitude do valor da propensão marginal a consumir
(b). Neste caso, quanto maior o valor desta propensão a consumir
de uma nação, maior será o impacto de uma variação nos gastos em
relação à renda nacional.

Curva IS – Eq Curva IS – Equilíbrio do Lado Real

A seguir você irá conhecer o modelo IS-LM, que surgiu a partir


da chamada síntese keynesiana de Hicks, como mencionamos
na Unidade 1. Vamos entender a primeira parte do modelo, a
chamada curva IS, que representa o equilíbrio da economia no
lado real, das atividades produtivas.

54 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Considerando que, como já foi mostrado, os investimentos são


iguais à poupança, teremos matematicamente:

I = S = Condição de equilíbrio

Para a poupança:
S = –a +(1 – b).y ou – a + s.y, e s = (1–b) = propensão
marginal a poupar
e
Para o Investimento:

I = Ia - k.i (investimento dependente da renda)

Neste caso, estamos considerando o investimento dependente


da renda. Esta dependência aparece de forma indireta na equação do
investimento. A lógica é a seguinte: auferindo renda (por exemplo em
forma de lucro) as famílias podem decidir investir parte desta renda nas
empresas. Esta decisão dependerá do nível da taxa de juros, uma vez
que o investimento compete com outros tipos de aplicação da renda
que oferecem juros por este recurso. Assim, quanto maiores forem esses
juros menos propensas estarão as famílias em investir nas empresas.

Ia = Investimento autônomo e k = Propensão marginal a investir

Assim:

–a + s.y = Ia – k.i

Colocando tudo em função de i, teremos:

i =(Ia + a – s.y, )/k

Fazendo (Ia + a) / k = Aai, teremos:


s
i = Aai – .y
k
O resultado obtido na equação que relaciona taxa de juros (i)
e renda nacional (y) é denominado equação IS e pode ser expresso
graficamente na Figura 11. Observando a curva IS , percebemos que
sua inclinação (s/k) é a relação entre a propensão marginal a poupar
(s) e a propensão marginal a investir (k), ou seja:

∆i s
=–
∆y k

Módulo 2 55
Macroeconomia

Assim, quanto maior a propensão marginal a poupar em relação


à propensão marginal a investir, maior será o impacto negativo dos
juros sobre a renda.

i1

i2
IS

y1 y2 y

Figura 11: Curva IS


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

A curva IS pode se deslocar e mudar o patamar de relações


entre taxa de juros (i) e renda, ou seja, se a curva IS se desloca para
a direita significa que aos mesmos níveis das taxas de juros anteriores
determinam-se novos níveis de renda, como mostra a Figura 12. Nestes
casos, as variáveis responsáveis por estes deslocamentos são os outros
gastos da demanda agregada: gastos do governo, consumo, exportação
e importação (G, C, X e M). A elevação destas variáveis desloca a
IS para a direita e a diminuição desloca a curva IS para a esquerda.
Observe, na Figura 12, que a IS se deslocou para a direita,
fruto, por exemplo, de um aumento dos gastos do governo. Neste
deslocamento da IS1 para IS2, os juros no nível i1, na curva IS1, causam
um nível de renda y1; na curva IS2 o mesmo nível de juros i1 causa um
nível maior de renda y2. Assim, este deslocamento da curva causa o
efeito de elevar os níveis de renda para todos os níveis possíveis de
juros.

56 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

i1
IS2

IS1

y1 y2 y

Figura 12: Deslocamento da curva IS


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Lado Monetário da Economia

Você viu no item anterior uma abordagem (IS e Demanda


Agregada) que explica o comportamento de algumas variáveis
importantes do setor produtivo da economia de um país. Agora você
verá como a economia funciona influenciada pela moeda, considerando
suas relações com variáveis importantes e principalmente o seu efeito
sobre a renda.

A Moeda
A moeda está presente na história da humanidade desde que

v
o escambo não foi mais capaz de atender às necessidades das vendas
dos excedentes produtivos, para além da necessidade de sobrevivência
de quem produziu o excedente. A moeda evoluiu desde a moeda
mercadoria, quando algumas mercadorias de grande aceitação passaram
Conheça um pouco mais
a intermediar as trocas, até a moeda de metal, principalmente quando
da história da moeda
passou a ser cunhada por alguma autoridade governamental que acessando: <http://www.
garantiu seu peso e valor. Este processo de cunha da moeda relacionou bi.cv/upl/%7Bc5925144-
a autoridade dos governos à moeda, o que acabou por estabelecer o 318c-462f-8da0-

surgimento da moeda de papel como a conhecemos hoje. cb6fd1dc6f66%7D.pdf>


Acesso em: 31 mar. 2016.

Módulo 2 57
Macroeconomia

De uma forma geral, nos países a autoridade sobre a moeda


é exercida pelo Banco Central, que procura garantir sua
produção e ao mesmo tempo proteger o seu poder de
compra; em outras palavras, evitar que ela se desvalorize.

Assim, a moeda nas economias contemporâneas cumpre uma


série de funções fundamentais para as relações econômicas das nações
(interna e externamente). Podemos observar estas funções a seguir:

f Meio de Troca: a moeda facilita a troca entre as


mercadorias. Se ela não existisse, as trocas teriam que
ser diretas, do tipo escambo.
f Unidade de Medida: a moeda serve para quantificar o
valor dos bens e para compará-los.
f Reserva de Valor: a moeda representa um direito que
seu possuidor tem sobre outra mercadoria.

Demanda por Moeda

Você verá nesta abordagem sobre a demanda por moeda, que,


ao contrário da teoria clássica, a moeda não será considerada
apenas como meio de troca. Na verdade, a demanda por moeda
aqui descrita tem como base a teoria Keynesiana e parte do
princípio de que uma porção da riqueza se manterá em forma
de dinheiro.

A demanda Keynesiana por moeda foi adotada, principalmente,


por procurar explicar quais variáveis determinam a parte da carteira
mantida em forma de moeda. Assim iremos considerar que a demanda
por moeda advém de três motivos, a saber: motivo transação; motivo
precaução; e motivo especulação.

58 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Demanda por Moeda por Motivos de Transação e de


Precaução
A demanda por moeda advém do fato de que as pessoas
precisam dela para fazerem frente a seus pagamentos e obrigações
financeiras (transação) e para se precaverem quanto às incertezas de
pagamentos inesperados (precaução), ou seja, a população retém parte
da quantidade de moeda da economia para esta finalidade. Podemos
afirmar ainda que a demanda por moeda, ou encaixes monetários,
depende do nível de renda nacional, pois quando a renda aumenta
a quantidade de moeda deve acompanhar a elevação da renda para
garantir o fluxo de mercadorias. Assim, a função da demanda moeda,
considerando os motivos transação e precaução, possui a seguinte
expressão:

Mdt + p = Kt × y

Onde:

f Mdt+p = demanda por moeda retida (transação e


precaução)
f Kt = coeficiente marshalliano ou coeficiene de
cambridge, que mostra a relação existente entre a renda
e a quantidade de moeda retida pela população

Demanda por Moeda por Motivo de Especulação


A moeda, além de ser retida pela população para transações e
precaução, também serve para que as pessoas invistam no mercado
de títulos ou de imóveis ou em outras opções de aplicações. Assim,
a demanda por moeda depende da taxa de juros, uma vez que com
taxas de juros maiores as pessoas estão menos dispostas a reter moeda
e se sentem atraídas pelos ganhos dos juros que rendem os títulos.
Assim, teremos:

Mdx = f (i)

Onde:

Módulo 2 59
Macroeconomia

f Mdx = demanda de moeda por especulação


f i = taxa de juros
Sendo que:
∆Mdx
f < 0 , esta razão mostra a relação inversa entre
∆i
a taxa de juros e a demanda por moeda

A Demanda Total por Moeda


A demanda total por moeda é a soma das demandas por
transação, precaução e especulação. Assim, teremos:

MdT = k T y + f (i)

Graficamente a curva de demanda total por moeda pode ser


vista na Figura 13.

i parte vercal:
demanda por
transação e
precaução
parte
negavamente
inclinada:
demanda por
especulação

Md
Figura 13: Demanda total por moeda
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Na Figura 13, você pode perceber que a curva de demanda total


por moeda, mostra ao longo da curva a soma dos dois comportamentos
da demanda. Em relação à taxa de juros, a curva é vertical no início
(transação e precaução), ou seja, independe da taxa de juros; em
seguida assume uma inclinação negativa de acordo com a demanda por
especulação, na qual a demanda é negativamente inclinada, mostrando
uma relação inversa entre taxa de juros e demanda por moeda.

60 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Equilíbrio do Lado Monetário


Em nosso modelo de equilíbrio do lado monetário da economia,
a oferta de moeda é proporcionada, principalmente, via políticas
monetárias, ou seja, normalmente é fruto da decisão do Banco Central.
Assim, a oferta de moeda é apresentada como independente da taxa
de juros, mas considera os saldos monetários reais (M/P), denominados
também de encaixes reais, e se revela graficamente como uma linha
vertical, como mostra a Figura 14.

i
MS = M/P (oferta monetária)

Md (demanda a um dado
nível de renda)

Figura 14: Equilíbrio Monetário


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Considerando a contribuição de Keynes para a análise dos


efeitos da política monetária sobre o nível de renda, podemos dizer
que a elevação da oferta de moeda, passando a moeda de M1 para
M2 e sendo M2 > M1 (política monetária expansionista), mantendo o
nível dos preços (P) rígidos, leva a taxas de juros menores, por que os
emissores de títulos passam a ter uma oferta maior de encaixes reais
monetários e então podem ofertá-los a taxas menores, como pode
ser observado na Figura 15.

Módulo 2 61
Macroeconomia

i MS1=M1 / P MS2=M2 / P

i1

i2
Md

M
Figura 15: Política monetária e Taxa de juros
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Perceba, na figura, que quando a oferta de moeda aumentou


de Ms1 para Ms2 (política monetária expansionista) a taxa de
juros caiu.

Keynes estabeleceu que a queda da taxa de juros se dá pela


expansão da base monetária com a determinação da renda. Segundo
ele, a queda na taxa de juros ocorrida no lado monetário da economia
leva as empresas, no lado real, a investirem mais, elevando a demanda
agregada. Se a economia está com desemprego de recursos, a renda
nacional irá crescer (efeito Keynes).

Curva LM – Equilíbrio do Lado Monetário


No lado monetário da economia o equilíbrio é exposto da
seguinte forma:

f Md = Ms = condição de equilíbrio (demanda igual a


oferta monetária)
f Ms = M / P = oferta monetária de encaixes reais (fixada
pelo governo)
f Md = k . y + f(i),

62 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Fazendo f(i) = – ki . i
Dado que teremos: M / P = k . y – k i . i,
Colocando em função dos juros (i):
(Equação da curva LM)
Assim, teremos:

∆i k
= >0
∆y ki
Esta última razão mostra que há uma relação direta entre taxa
de juros (i) e renda nacional (y).
Graficamente, a curva LM é representada na Figura 16. É
positivamente inclinada, representando a relação direta entre taxa de
juros e renda nacional.

LM

i1

y1 y

Figura 16: Curva LM


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

A curva LM pode se deslocar para a direita ou a esquerda,


impulsionada pela quantidade de saldos reais de moeda (M/P). Assim,
quando a quantidade de saldos monetários reais se eleva a curva LM
se desloca para a direita e quando os encaixe reais decrescem a LM se
desloca para a esquerda (Figura 17), o que pode ocorrer por variação
na oferta da moeda pelo banco central e os preços permanecendo fixos
(modelo keynesiano). Os deslocamentos da curva LM mostram, por
exemplo, que o efeito da elevação dos saldos reais da moeda impacta
na relação da renda com a taxa de juros em todos os níveis, ou seja, a

Módulo 2 63
Macroeconomia

cada nível possível de juros se relaciona com níveis maiores da renda.


Na Figura 17, percebe-se que, com o deslocamento da curva LM de
LM1 para LM2, a taxa de juros no nível i1 passa a se relacionar com a
renda do nível y1 para y2.

i
LM1 LM2

i1

y1 y2 y

Figura 17: Deslocamento da Curva LM


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Equilíbrio IS-LM
As curvas IS e LM coexistem no mesmo plano cartesiano e
podem, assim, representar graficamente a possibilidade de equilíbrio
entre o lado real e o monetário da economia. Desta forma, podemos
observar na Figura 18, que a taxa de juros (ie) e a renda (ye) de equilíbrio
se formam a partir do encontro das duas curvas, revelando o ponto
onde os dois lados estabelecem a mesma taxa de juros para a mesma
renda (produto). Neste caso, denominamos estes valores de taxa de
juros e de renda como de equilíbrios, pois satisfazem às condições e
comportamentos dos agentes econômicos nos dois lados.

64 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

i
LM

ie

IS

ye y

Figura 18: Equilíbrio IS–LM


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Política Fiscal
A representação da política fiscal expansionista (aumento dos
gastos do governo) se dá no modelo IS-LM por meio do deslocamento
da curva IS para a direita e o consequente deslocamento do ponto de
equilíbrio, como mostrado na Figura 19.

i
LM

ie2

ie1 IS1

IS2

ye1 ye2 yp (pleno emprego) y

Figura 19: Política Fiscal Expansionista


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Assim, no caso da política fiscal expansionista com o objetivo de


levar a economia ao pleno emprego (Yp), conforme a Figura 19, a taxa
de juros se eleva, pois o governo precisa captar recursos no mercado

Módulo 2 65
Macroeconomia

aberto e para isso aumenta as remunerações de seus títulos, o que afeta


para cima as taxas de juros da economia. Com a elevação dos gastos
do governo a demanda agregada se eleva e a renda nacional também.
Se a curva LM for vertical (caso dos economistas clássicos)
o efeito de uma política fiscal expansionista terá o chamado efeito
crowding out, ou seja, com a elevação da taxa de juros os investimentos
das empresas cairão na mesma proporção que os gastos do governo,
ocorrendo apenas a troca de um pelo outro sem que haja, portanto
impacto sobre a renda nacional. Assim, o governo ocupará um espaço
na economia antes ocupado pelo setor privado.
No outro extremo, se a LM é horizontal ou inclinada positivamente
o efeito da política fiscal expansionista possui efeito sobre a renda.

Para a execução da política fiscal os governos lançam mão


de uma série de mecanismos, que serão discutidos com mais
propriedade na Unidade 6.

Política Monetária
A política monetária também pode ser expressa no modelo
IS-LM através dos deslocamentos da curva LM. Neste caso, uma política
de expansão da moeda desloca a curva LM para a direita (Figura 20)
e causa diminuição da taxa de juros e elevação da renda nacional.

i LM2
LM1

ie2

ie1
IS

ye1 ye2 yp (pleno emprego) y

Figura 20: Política Monetária


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

66 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Considerando o exemplo da LM vertical (caso dos economistas


clássicos), a política monetária possui efeito máximo sobre a renda
e mostra, nesse caso, que a demanda por moeda não tem nenhum
efeito sobre a renda.
Outro exemplo extremo ao do caso dos economistas clássicos
é aquele no qual a curva LM é horizontal, chamado de armadilha da
liquidez. Neste caso, as pessoas estariam dispostas, a uma dada taxa
de juros, a manter toda a moeda retida em mãos.

Considerando essa hipótese, a política monetária realizada


através de mercado aberto não influenciará a taxa de juros
ou o nível de renda.

Este é um caso proposto pelo economista John Maynard Keynes,


e seus seguidores alegam a possibilidade da existência deste caso à
baixa taxa de juros, embora o próprio Keynes tivesse afirmado não
conhecer nenhuma situação real equivalente.
Os mecanismos de política monetária que estão a serviço dos
governos, como as operações em mercado aberto (venda e compra
de títulos pelo governo), serão mostrados e discutidos com mais
detalhamento na Unidade 6.

IS-LM como Base para a Demanda


Agregada

Você viu que o Modelo IS-LM, apresentado anteriormente, se


aplicava às condições em que os preços eram mantidos constantes. Isto
se revela, principalmente, pelo fato de que as curvas não se alteraram
a partir de um movimento feito pelos preços, que apareceu na equação
da LM, corrigindo a moeda pelo nível de preço, encaixes reais = M/P,
onde M = Moeda e P = Nível de Preços da Economia.

Módulo 2 67
Macroeconomia

Agora vamos flexibilizar os preços no modelo IS-LM. Neste


caso, uma variação em P causará uma alteração nos encaixes reais.
Por exemplo, uma elevação nos níveis de preço irá reduzir o valor dos
encaixes reais, ou redução dos saldos monetários reais, e considerando
a curva LM, o que deslocará essa curva para a esquerda, reduzindo
o nível da renda (produto) e elevando as taxas de juros (Figura 21).
Taxa de
Juros LM2
LM1

ie2

ie1
IS
M/P2
M/P1

ye2 ye1 Nível de Renda


Figura 21: Deslocamentos da Curva LM, por variação de preços
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Na Figura 21, você pode ver que os níveis de preço se elevaram


de P1 para P2, reduzindo o valor dos encaixes reais de M/P1 para
M/P2, deslocando a LM para a esquerda, diminuindo a renda (produto)
de equilíbrio de Ye1 para Ye2 e elevando a taxa de juros de equilíbrio
de ie1 para ie2.
Relacionando os níveis e preços do exemplo anterior
(P1 < P2) com os respectivos níveis de renda Ye1 > Ye2 , a Figura 22
revela a demanda agregada, que descreve esta relação inversa entre
preços e renda. Este choque de política monetária retracionista com
base na variação apenas da base monetária (M), agora é considerado
pela variação nos preços.

68 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Preços

P2

P1

DA

ye2 ye1 Nível de Renda

Figura 22: Demanda Agregada


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Perceba que, diferentemente do que se viu no início desta


Unidade, agora temos uma explicação mais completa para a relação
entre preços e renda, expressa na demanda agregada. Neste modelo,
essa relação se deu pelo efeito ocasionado, de início, no lado monetário
da economia com a elevação dos preços, fazendo os encaixes reais
reduzirem e as taxas de juros se elevarem (com menos encaixes reais,
maiores precisam ser as taxas de juros para que os agentes financeiros
captem esta moeda); e do lado real, com as taxas de juros mais
elevadas, ocorreu a redução da demanda agregada pela queda nos
investimentos das empresas.

Oferta Agregada de Curto Prazo

Você viu anteriormente nesta Unidade como a oferta agregada


pode ser representada, considerando cenários diferentes
relacionados à capacidade ociosa dos setores da Economia.
Neste modelo a relação positiva (direta) entre preços e renda
não foi devidamente considerada e explicada. Agora vamos
mostrar um modelo, dentre muitos outros que explicam esta
relação de preço e renda na perspectiva da oferta agregada no
curto prazo, com alguns preços com maior rigidez.

Módulo 2 69
Macroeconomia

Segundo Mankiw (2010), a oferta agregada é uma área de


pesquisa e possui inúmeros modelos. O autor chama a atenção para
quatro destes modelos, a saber: i) o Modelo dos Salários Rígidos: que
se baseia no fato de os salários serem rígidos por questões contratuais
ou de impactos sociais; ii) O Modelo da Percepção Equivocada do
Trabalhador: se baseia no fato de que as percepções dos salários
futuros podem não se concretizar; iii) O Modelo dos Preços Rígidos:
se fundamenta na hipótese de que os preços de uma forma geral
possuem certa rigidez, por questões de mercado e contratuais; e iv) O
Modelo da Informação Imperfeita: tem como base a percepção futura
equivocada dos preços, incluindo os salários, percepções advindas dos
trabalhadores, mas também das empresas.
Nesta Unidade vamos detalhar um destes modelos: o modelo
dos salários Nominais rígidos, o qual tem os seguintes princípios:

f Os Salários nominais possuem rigidez, dada pelos


contratos legais feitos com os trabalhadores ou pela
imposição social que a empresa sofre sobre sua imagem
quando há redução dos ganhos dos trabalhadores;
f Quando os preços se elevam os salários nominais ficam
fixos e os salários reais irão cair, matematicamente.

Quando P aumenta (P 5) passa de P1 para P2.


W
Os Salários Reais dados por diminuem, pois w fica fixo.
P
W W
>
P1 P2

Um salário real mais baixo induz as empresas a contratarem


mais trabalhadores e a produzirem mais.
Assim, as empresas e trabalhadores ajustam os salários nominais
(W) pelo salário pretendido (Wp) e pelas expectativas futuras dos
preços (Pe). Matematicamente teremos:

W = Wp × Pe

70 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Depois que os preços (P) passam a ser conhecidos, os salários


reais são de fato sentidos pelos trabalhadores, uma vez que os salários
nominais foram contratados. Assim, teremos:

W Wp Pe
= ×
P P P

Onde:

f W = Salários contratados reais


P

f W = Salários pretendidos reais


p

f P = Relação entre nível de preço e nível de preço


e

P
esperado

Deduz-se que: se os preços esperados (Pe) forem iguais aos


preços (P) efetivos e assim as expectativas tenham sido corretas, então
os salários contratado reais serão iguais aos salários objetivados reais.
Se as os preços esperados (Pe) forem menores que os preços
Pe
efetivos (P), então <1, e os salários contratados reais serão menores
P
que os salários objetivados reais. No caso oposto, os salários contratados
serão maiores do que os salários reais objetivados.
Os empresários decidem quanto de mão de obra contratar
dependendo do valor do salário real (W/P). Assim, suas decisões são
influenciadas pelos níveis de preço. Quanto maior forem os níveis
de preço, permanecendo constante os salários nominais (W), menor
serão os salários reais. Por exemplo, quando o nível de preços aumenta
de P1 para P2, os salários reais irão diminuir de W/P1 para W/P2,
onde W/P1 > W/P2. Como os salários reais diminuíram as empresas
aumentaram suas contratações de mão de obra, passando de L1 para
L2, sendo L1 < L2. Com a elevação das contratações as empresas
produzirão mais passando de Y1 para Y2, o que é evidenciado pela
função de produção. Desta forma, podemos relacionar a mudança
dos preços P1 para P2 (aumento) com a variação na produção de Y1
para Y2 (aumento). Estas diferentes transições e relações podem ser

Módulo 2 71
Macroeconomia

representadas pelo conjunto das Figuras 23, 24 e 25, que mostram,


respectivamente, a demanda por mão de obra, a função de produção
e, finalmente, a oferta agregada.
W/P

W/P1
W/P2

L=L(W/P)

L1 L2 Nível de Renda
Figura 23: Demanda de mão de obra
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Y=f(L)
Y2

Y1

L1 L2 L

Figura 24: Função de Produção


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Saiba mais Função de Produção


É a representação matemática ou gráfica da relação
entre o uso dos fatores de produção, como a mão
de obra, e os diferentes níveis de produção. De uma
forma geral, se o capital está fixo e a mão de obra se
eleva, a produção irá se elevar também até um certo
limite. Fonte: Elaborado pelo autor deste livro.

72 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

P2
P1
Y=f(P)

Y1 Y2 Nível de Renda

Figura 25: Oferta Agregada


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Módulo 2 73
Macroeconomia

Resumindo
Você viu nesta Unidade que: i) o formato da curva de
oferta agregada depende de três comportamentos: capacidade
ociosa, pleno emprego e apenas alguns setores possuem capa-
cidade ociosa; ii) a demanda por moeda advém de três motivos:
transação; precaução; especulação; iii) a queda na taxa de juros
ocorrida no lado monetário da economia, leva as empresas,
no lado real, a investirem mais, elevando a demanda agrega-
da. Se a economia está com desemprego de recursos, a renda
nacional irá crescer (efeito Keynes), e se a economia estiver em
pleno emprego haverá elevação dos preços (efeito clássico); iv)
os efeitos das políticas fiscal e monetária podem ser represen-
tados pelos deslocamentos das curvas IS e LM; v) a demanda
agregada pode ser explicada pelo modelo IS-LM; e vi) a oferta
agregada pode ser explicada por, entre outros modelos, o dos
salários rígidos.

74 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 3 – Determinação da Demanda e Oferta Agregada

Atividades de aprendizagem
1. Qual o formato da curva de oferta agregada e por que esta curva
possui segmentos com formatos diferentes?
2. Mostre gráfica e matematicamente como é a função consumo e expli-
que o que são: consumo autônomo e propensão marginal a consumir.
3. Mostre graficamente e explique o equilíbrio no lado real da econo-
mia.
4. Qual a expressão matemática do multiplicador da renda e o que este
multiplicador representa?
5. Mostre graficamente: como se dá o equilíbrio no Mercado monetá-
rio?
6. Mostre graficamente e explique como se dá o equilíbrio entre o lado
real e o monetário no modelo IS-LM.
7. Descreva o efeito de uma política monetária expansionista, grafica-
mente, usando o modelo IS-LM.
8. Descreva o efeito de uma política fiscal expansionista, graficamente,
usando o modelo IS-LM.
9. Explique como a demanda agregada é formada, usando o modelo
IS-LM.
10. Explique como os salários rígidos explicam a formação da oferta
agregada.

Módulo 2 75
UNIDADE 4

A I������o
Objetivos Específicos de Aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você deverá ser capaz de:
ff Reconhecer os diferentes processos de formação de inflação; e
ff Identificar como as políticas econômicas podem ser usadas para
reduzir a inflação.
Unidade 4 – A Inflação

A I������o

Na Unidade anterior você viu como a demanda e a oferta agregada


se formam e como as políticas fiscal e monetária possuem
influência sobre a renda. Contudo, nesta dinâmica das relações
das variáveis macroeconômicas, os preços dos bens e serviços
podem ser alterados, gerando o fenômeno da inflação, que nada
mais é do que uma elevação do nível geral de preços, mensurado
pela variação da média ponderada pelos seus consumos nas
famílias Nesta Unidade você irá estudar com mais detalhes esse
fenômeno, que é motivo de preocupação em todas as economias.
Preparado para ir em frente?

É importante você estudar a inflação, como parte de sua


formação de gestor público, uma vez que, no caso brasileiro, a sociedade
conviveu, sofreu e gerou mecanismos de combate e convivência com
este fenômeno em níveis, considerados extremos, com efeitos sociais
negativos e relevantes sobre o povo brasileiro. Veja na Figura 26 a
evolução da inflação em nosso país.

Módulo 2 79
Macroeconomia

Figura 26: Evolução da inflação no Brasil (1995 a 2015)


Fonte: Exame (2015)

Podemos notar que durante o século XX, a partir da década


de 70 até o início dos anos 90, portanto 20 anos, nosso país conviveu
com elevadas taxas de inflação, acima dos 10% ao ano, culminando

v
no final do Governo do Presidente José Sarney, com uma inflação de
80% ao mês (taxa considerada como hiperinflação).

Conheça um pouco mais


sobre esse fenômeno A hiperinflação é um processo inflacionário com taxas
acessando: <http://www. muito elevadas. Alguns autores falam em taxas acima de
infoescola.com/economia/ 50% ao mês, o que, quase sempre, revela um descontrole
hiperinflacao/>. Acesso
do poder público.
em: 30 mar. 2016.

A partir da implantação do Plano Real (Governo do Presidente


Itamar Franco), no início dos anos 90, a inflação foi controlada para
níveis internacionalmente aceitos.

80 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

A inflação tem, normalmente, efeitos negativos sobre a sociedade.


Entendê-los é importante para situar os gestores sobre a relevância das
políticas de combate e/ou controle da inflação. Alguns dos principais
efeitos negativos da inflação sobre a economia são descritos a seguir:

i) Na Distribuição de Renda: com inflação elevada,


os assalariados que ganham de forma fixa tendem
a perder poder de compra pelo aumento dos
preços sem o correspondente aumento dos seus
salários, enquanto, por exemplo, os empresários,
que se apropriam de rendas oriundas dos lucros das
vendas dos seus produtos, quase sempre tendem a
acompanhar o aumento geral dos preços. Tal situação
causa, normalmente, um acirramento na desigualdade
de renda entre diferentes classes sociais.
ii) No Balanço de Pagamentos: quando os preços
nacionais sobem de forma mais acentuada do que os
preços internacionais, podem levar o país a acumular
déficits na balança de pagamentos, pela consequente
perda de competitividade de seus produtos e serviços
no mercado internacional.
iii) Na Formação de Preços: com índices de inflação
elevados, como os vivenciados no Brasil durante o
século XX, nas décadas de 70, 80 e início dos anos 90,
os agentes econômicos tendem a perder a capacidade
de comparação entre os diferentes preços da economia;
e a formação menos racional dos preços pode levar
a distorções relevantes na alocação de recursos. Por
exemplo, no Brasil, naquele período, era comum os
donos de automóveis acharem que poderiam lucrar
vendendo estes bens depois de alguns anos de uso.
iv) Nas Expectativas: no processo inflacionário os
agentes perdem capacidade de previsão e elevam-
se as incertezas na economia, principalmente, dos
empresários, que comumente deixam, por exemplo, de
investir, frente às incertezas com as vendas, acrescidas
da decisão de realizar investimentos.

Módulo 2 81
Macroeconomia

v) No Mercado de Capitais: a
Saiba mais Mário Henrique Simonsen
deterioração da moeda em um processo
Sua carreira política começou em 1964, início da
inflacionário, normalmente, leva a menores
ditadura militar. Nesta época, passou a colaborar com
investimentos no mercado de capitais,
o então ministro do Planejamento, Roberto Campos.
dadas às fortes incertezas com o futuro e
Com pouco tempo na atividade, Simonsen ganhou
um consequente estímulo aos investimento
a antipatia das centrais sindicais, ao apresentar um
novo cálculo salarial, pelo qual os vencimentos dos
de bens de raiz, como imóveis e terras,
trabalhadores deveriam ser baseados na média por conta de serem uma segurança para
dos dois anos anteriores, o que reduziu o poder os valores futuros. Este desestímulo ao
aquisitivo dos empregados. Em 1974, ele atingiu mercado de capitais pode reduzir a dinâmica
o ápice de sua carreira política, ao assumir o de intermediação entre poupadores e
Ministério da Fazenda. Sua gestão foi marcada pela demandadores de recursos financeiros.
racionalidade econômica e contenção de gastos.
No governo do general João Figueiredo, Simonsen
trocou o Ministério da Fazenda pela Secretaria do
Estes efeitos negativos na economia foram
Planejamento. Ao deixar a vida pública, em 1979,
voltou a fazer o que mais gostava: dar aulas. Fonte:
sofridos no Brasil, em um período extenso,
UOL Biografias (2015). mas que mostrou sua face mais grave nos
anos 1980 e início dos anos 1990. Nesta
época foram tentados muitos planos econômicos de combate à
inflação, que não funcionaram de forma definitiva e levaram o
Saiba mais sobre a vida
País a crises econômicas sucessivas, até a implantação do plano

v
e obra desta conceituada
economista acessando Real.
a página do CNPq,
disponível em: <http://
www.cnpq.br/web/guest/ Durante os diferentes períodos inflacionários brasileiros, duas
pioneiras-view/-/journal_
escolas de economistas com pensamentos contrários criaram um
content/56_INSTANCE_
a6MO/10157/902909>.
debate em que propunham ações diferentes para o combate à inflação
Acesso em: 26 jun. 2015. porque discordavam na essência de suas causas. Estas escolas são a dos
Economistas Monetaristas, como o Prof. Mário Henrique Simonsen, e a
Complete suas
dos Economistas Estruturalistas, como a Professora Maria da Conceição
informações lendo o texto
Tavares. Os monetaristas argumentavam que a causa da inflação
“Inflação: Monetaristas e
Estruturalistas”, publicado era o descontrole da oferta monetária pelo governo, enquanto os
na Revista Ensaios FEE, estruturalistas defendiam que a inflação advinha da elevação de alguns
disponível em: <http:// preços da economia, principalmente, por problemas de distribuição da
revistas.fee.tche.br/index.
riqueza, como no caso, à época, da elevação dos preços do petróleo
php/ensaios/article/
viewFile/131/434>. pelos países produtores em formato de Cartel na década de 1970, ou
Acesso em: 28 mar. 2016.

82 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

a elevação dos preços dos produtos agrícolas brasileiros, pela queda


de suas ofertas frente à urbanização e à concentração na posse de
terras, todos ocorrendo por problemas estruturais das economias
brasileira e mundial.
A inflação, embora hoje no pós plano Real seja um problema
menor, já foi um grande problema econômico e por sua proximidade
histórica assombra a memória dos economistas e brasileiros que
viveram nesta época e sabem que o País não pode voltar a vivenciar
movimentos de elevação acentuada de preços, como já aconteceu.

Teoria Quantitativa da Moeda

Os economistas desenvolveram uma equação que relaciona a


quantidade de moeda disponível na economia com o seu efetivo uso.
A ideia por detrás desta equação foi denominada de teoria quantitativa
da moeda. Matematicamente temos:

M × V = P × T, onde:

f M = quantidade de moeda na economia em determinado


período no tempo
f V = Velocidade da moeda: quantidade de operações
que cada real realiza em um determinado período no
tempo
f P = Preços dos bens
f T = Número de transações
Esta equação nos mostra que M × V é a capacidade que a
moeda existente em uma economia tem para suprir as necessidades
transacionais do respectivo país. Os termos P × T, representam as
necessidades de moeda nas transações, calculadas pelo preço das
coisas (P) vezes a quantidade que estas coisas são transacionadas (T).
Assim, a lógica da equação é a de que a disponibilidade da moeda (M
× V) seja igual às necessidades transacionais da economia (P × T).

Módulo 2 83
Macroeconomia

Os economistas perceberam que a variável transação (T) é de


difícil mensuração, e foi proposta sua substituição pelo produto (Y),
de mais fácil mensuração e que representa muito proximamente o
comportamento da transação. Assim, a equação da teoria quantitativa
da moeda ficaria da seguinte forma:

M × V = P × Y, onde:

f Y = produto.
Vamos considerar a velocidade da moeda como constante, o
que é fácil de fazer, uma vez que as maneiras com as quais as pessoas
realizam trocas na economia, usando um mesmo real, não muda de
forma rápida.

Contudo, saiba você que isto já aconteceu, como por exemplo,


quando as máquinas de saques automáticas passaram a ser
mais comuns e espalhadas, o que tornou mais fácil o acesso
à moeda. Veja que a mudança nas condições da economia
precisou ser muito importante para alterar a variável velocidade
de circulação.

Assim, quando a quantidade de moeda (M) se elevar, por


maior oferta do governo (Política monetária expansionista), ocorrendo
em um cenário no qual o produto esteja fixo, por exemplo, no pleno
emprego, ou de alguma forma com restrição de prazo para que esta
variação ocorra, você pode notar que, para manter a igualdade da
equação da teoria quantitativa da moeda, os preços deverão subir,
gerando inflação. Podemos expressar esta situação da seguinte forma:
M×V= P×Y

A expressão mostra que, se V (velocidade) e Y (produto) são fixos,


quando houver uma elevação de M (moeda), para manter a igualdade,
P (preço) deverá se elevar (inflação). Uma das principais conclusões
deste modelo é que a elevação da base monetária (quantidade de

84 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

moeda na economia) gerará inflação se o produto estiver fixo. Neste


caso, o fenômeno da inflação é considerado tipicamente de longo
prazo, horizonte de tempo no qual o produto pode ser considerado de
certa forma mais constante, quando os setores da economia tenham
atingido o pleno emprego.

Inflação gerada pela elevação da base monetária na


economia, ocasionada pelo Governo, estabelece uma
relação de apropriação de parte da renda das famílias
pelo próprio Governo. Este fenômeno é chamado pelos
economistas de Senhoriagem.

A senhoriagem, termo, segundo


Mankiw (2000), derivado do francês seignior Saiba mais Base Monetária
(senhor feudal), gera o que a economia Quantidade básica de moeda (meios de pagamento) na
denomina de imposto inflacionário, assim economia de um País. Esta base pode ser mensurada de
chamado porque quando o governo eleva a diversas formas. No caso do Brasil, as medidas da moeda
oferta de moeda (imprimindo mais moeda) podem ser:
para pagar suas contas, ele gera, como visto • Meios de Pagamento Restritos (M1): M1 = papel
pela teoria quantitativa da moeda, inflação, moeda em poder do público + depósitos à vista;
ou seja, elevação dos preços da economia. • Meios de Pagamento Ampliados (M2 e M3):
Este aumento de preços de certa forma retira M2 = M1 + depósitos especiais remunerados +
mais renda das famílias (imposto inflacionário) depósitos de poupança + títulos emitidos por
quando estas precisam de mais recursos instituições depositárias; M3 = M2 + quotas de

para comprar os bens e serviços, agora mais fundos de renda fixa + operações compromissadas

caros. Assim, quanto mais senhoriagem registradas no Selic (operações compromissadas


lastreadas em títulos públicos federais);
(impressão de moeda para pagar contas
do governo) maior será a inflação e mais • Poupança financeira (M4): M4 = M3 + títulos

caros os bens ficarão para os consumidores públicos de alta liquidez.

(imposto inflacionário). Fonte: Elaborado pelo autor deste livro

Módulo 2 85
Macroeconomia

Causas da Inflação

v
A teoria quantitativa da moeda, embora estabeleça a sua relação
com a moeda é bastante criticada pelos economistas por vários motivos,
Sugerimos a você a entre eles: que as quantidades de coisas diferentes não poderiam ser
leitura do texto Uma somadas, que a igualdade da equação não se estabelece quando se
análise crítica da teoria
considera o valor das coisas nas trocas e que a teoria, de fato, não
quantitativa da moeda,
que pode ser acessado
explica os mecanismos de causa entre moeda e variação nos preços.
no link: <ojs.c3sl.ufpr.br/ Contudo, na macroeconomia há duas explicações básicas para as
ojs/index.php/ret/article/ causas da inflação: i) A inflação ocasionada pela demanda agregada;
download/26836/17801>. e ii) a inflação de custo causada pela oferta agregada.
Acesso em: 30 mar. 2016.

A inflação de demanda foi mencionada no momento em que


você viu o modelo que relaciona demanda e oferta agregada
em diferentes cenários, na Unidade 3.

Neste momento você aprendeu que se a curva de oferta


agregada for positivamente inclinada ou vertical, respectivamente
quando a economia tem alguns setores sem ociosidade e quando
todos os setores estão plenamente ocupados (pleno emprego), e a
demanda agregada se deslocar para a direita, fará com que os preços
subam; e esta elevação será tanto maior quanto mais vertical for a
oferta agregada, ou seja, com proximidade ao pleno emprego (Figura
27). Na Figura 26 a demanda DA1 se deslocou para DA2 e os preços
de equilíbrio da economia subiram de Pe1 para Pe2.
No combate a este tipo de inflação, que se dá pela demanda,
há fortes aspectos de curto prazo, uma vez que as políticas também se
concentram em retrair a demanda agregada; e estes efeitos se dão em
um prazo muito menor do que os efeitos sobre a oferta, que demora
mais a reagir às políticas a ela direcionadas.

86 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

Preços
OA

Pe2

Pe1
DA 2

DA 1

y e1 y e2 Renda

Figura 27: Inflação de Demanda


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Por outro lado, a oferta agregada pode também ser a causa


da inflação. Neste caso, quando a curva da oferta se deslocar para
a esquerda (Figura 27) por um efeito retracionista, ocasionado pela
elevação dos custos de determinados fatores de produção, como por
exemplo, aumentos salariais provocados por pressão de sindicatos
e não pela elevação da produtividade do trabalho, o fato impacta
negativamente nos custos de produção dos bens da economia, fazendo
a oferta desses bens retrair.
Outro motivo de elevação de custos dos fatores de produção
pode estar associado à estrutura de mercado das empresas fornecedoras
de insumos, com características de monopólio ou oligopólio, que
poderiam elevar seus preços e aumentar os custos das demais empresas
compradoras, o que faria a oferta se retrair. Na Figura 28, a oferta
agregada OA1 desloca-se à esquerda, para OA2, e os preços de equilíbrio
se elevam de Pe1 para Pe2

Módulo 2 87
Macroeconomia

Preços
OA 2
OA 1

Pe2
Pe1

DA

y e2 y e1 Renda
Figura 28: Inflação de Custos
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Inflação e a Taxa de Juros

v
Você já deve ter ouvido falar que o Banco Central brasileiro
reúne um comitê, denominado Comitê de Política Monetária (COPOM)
para decidir se eleva ou não a taxa básica de juros (Taxa SELIC) com
Na página do COPOM o objetivo de controlar a inflação.
você poderá encontrar
uma tabela com os
valores da inflação
e das taxas de juros A Taxa Básica de Juros, conhecida também como Taxa
praticadas. Disponível
SELIC (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) é
em: <http://www.bcb.
gov.br/?COPOMJUROS>.
aquela que o governo utiliza para negociar seus títulos.
Acesso em: 30 mar. 2016. Trocando em miúdos, é a taxa que ele oferece pagar a
quem compra seus títulos.

Algumas pessoas pensam, erradamente, que a taxa de juros


praticada na economia brasileira, é aquela que o Banco Central decide
determinar. Contudo, esta taxa diz respeito apenas às operações do
governo, mas devido à importância deste no mercado de títulos, ela
passa a influenciar todo o mercado de títulos do País, embora tais
taxas no mercado se estabeleçam de forma livre.

88 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

Assim, uma das importantes políticas monetárias praticadas pelo


governo é influenciar as taxas de juros da economia para cima, por
exemplo, o que poderá reduzir a quantidade de moeda e pressionar
os preços para baixo; ou, pelo lado real da economia, reduzir os
investimentos e retrair a demanda agregada e reduzir os preços.

Esta relação entre inflação e taxa de juros pode também ser


entendida a partir do modelo que iremos apresentar a seguir.
Para tanto você precisa entender dois conceitos importantes: o
de taxa de juros real e o de taxa de juros nominal.

A taxa de juros nominal é aquela, por exemplo, cobrada aos


tomadores de empréstimos e paga sobre o montante tomado. Desta
forma, se uma pessoa emprestou R$ 100,00 para serem pagos depois
de um mês a uma taxa nominal de 5%, ao final deste mês essa pessoa
terá que receber R$ 105,00 ou seja, o total do empréstimo (R$ 100,00)
acrescido dos juros nominais (R$ 5,00).
Contudo, se a inflação neste mês foi de 3%, podemos dizer que
na verdade a pessoa que emprestou não ficou R$ 5,00 mais rica, uma
vez que ele perdeu 3% de poder de compra pela inflação, neste caso
R$ 3,00. Assim, os juros reais, que são os juros nominais descontados
da inflação, representam os reais ganhos durante este mês 5% – 3%
= 2%. Desta forma, do ponto de vista dos juros reais a pessoa ficou
R$ 2,00 mais rica; e não R$ 5,00. Matematicamente, teremos:

r = i – π, onde:

f r = taxa real de juros


f i = taxa nominal de juros
f π = taxa de inflação
Reordenando os termos da equação e colocando-a em termos
dos juros nominais, teremos:

i=r+π

Módulo 2 89
Macroeconomia

v
Esta equação é chamada de equação de Fisher, em homenagem
ao economista Irving Fisher, e mostra que os juros cobrados dependem
da inflação. Nesse caso, podemos avançar neste modelo substituindo
Conheça mais sobre a inflação pela inflação esperada, ou seja, os agentes ofertam crédito/
Irving Fisher e sua obra
títulos a uma determinada taxa de juros nominais considerando as
acessando o link: <http://
pt.cyclopaedia.net/wiki/
expectativas futuras da inflação. Matematicamente, teremos:
Irving-Fisher>. Acesso em:
30 mar. 2016.
i = r + πe, onde:

f πe = inflação esperada
Observe que esta equação nos diz que as taxas de juros
nominais são formadas a partir da percepção de quanto será a inflação
futura. Assim, se os agentes financeiros, como os bancos, têm uma
percepção de que a inflação irá aumentar no futuro, eles irão elevar
na mesma proporção seus juros nominais, o que é possível por conta
deste mercado. Há certa assimetria a favor dos bancos, que acabam
tendo mais poder sobre os preços, neste caso os juros.
Considerando, a relação entre os juros nominais e a inflação
esperada, podemos mudar a função de demanda monetária para
incluir esta lógica no mercado monetário. Matematicamente, teremos:

Md = L(i, Y), substituindo i = r + πe

Md = L(r + πe,Y), onde:

f Md = demanda monetária

No mercado teremos equilíbrio de demanda e oferta monetária


Ms = Md
M
Como: M S = , então, no equilíbrio do mercado, teremos:
P

M
= L (r + πe,Y)
P

90 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

Você pode ver que esta equação de equilíbrio do mercado


monetário, que dá origem à função da curva LM, como vista na
Unidade 3, agora insere a inflação esperada. Assim, os níveis de
preços, além de se relacionarem com a quantidade monetária,
possuem uma relação positiva com a inflação esperada.

Isto nos diz que, se os agentes econômicos vislumbram inflação


futura, esta percepção impactará na formação dos níveis de preço (P)
no presente. Em outras palavras, os preços podem subir hoje pela
simples perspectiva de que eles subirão no futuro.

Medidas de Inflação

Em quase todos os países existem índices para mensurar as


elevações de preço da economia, contudo, no Brasil não há um índice
oficial para medir a inflação; e assim há diversos deles, divulgados por
instituições tais como: i) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE); ii) a Fundação Getúlio Vargas (FGV); e iii) a Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas (FIPE).
Essas instituições utilizam diversos índices que captam a
variação dos preços de forma diferente. Alguns índices, por exemplo,
se preocupam mais com os preços dos setores atacadistas, enquanto
outros, com uma determinada cesta de bens que mede a inflação para
uma específica classe social. No quadro 6, você pode conhecer alguns
destes indicadores, suas composições, instituições e finalidades.

Módulo 2 91
Macroeconomia

I��i���or I���i�ui��o Com�o�i��o Fi���i����


IGP – Índice Geral de FGV
Preços
IGPM – Índice Geral de FGV Tem como base os mes- Criado para ajustar
Preços do Mercado mos preços e a mesma contratos bancários, em
Produtos no atacado, ponderação do IGP, mas data mais conveniente
baseados numa mos- é calculado do dia 20 do
tragem de cerca de 500 mês anterior ao dia 20
mercadorias, com 60 do mês em questão
por cento de peso no
índice final; Preços ao
consumidor, com base
nas compras de famílias
com renda de 1 a 33
salários mínimos, com
30 por cento; preços da
construção civil, com 10
por cento de peso, ba-
seado em planilhas de
custo de empresas de
engenharia. Medir de
forma ampla a variação
de preços da Economia
INPC – Índice Nacional IBGE Com base nos preços Mede a varação dos
de Preços ao Consu- dos bens variados em preços para pessoas
midor cestas adequadas às que ganham de 1 a 8
rendas de 1-6 salários salários mínimos
mínimos
IPCA – Índice de Preços IBGE Com base nos preços Mede a variação de pre-
ao Consumidor Am- dos de alimentação e ços de uma grande faixa
pliado bebidas; artigos de re- da população, incluindo
sidência; comunicação; aquela que ganha ren-
despesas pessoais; edu- das mais elevadas
cação; habitação; saúde
e cuidados pessoais de
famílias com rendas de
até 40 salários mínimos
Índices de Custo de DIEESE Com base em preços de Mede a inflação com
Vida bens para três classes muita amplitude de
de renda, 1-3 salários faixas de renda e inclui
mínimos, 1-5 e 1-30. itens de lazer e cultura
Esse índice se distingue
dos demais por incluir
como itens essenciais
do custo de vida, des-
pesas com recreação,
comunicação, cultura
e lazer
Quadro 6: Indicadores de Inflação
Fonte: Elaborado pelo autor a partir de informações coletadas nos sites do IBGE, DIEESE,
FGV e UOL Economia

92 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

O Plano Real

O Plano Econômico que de fato teve sucesso em mudar o


patamar da inflação brasileira, de forma significativa e, parece,
permanente foi o Plano Real. Por isso, você precisa conhecer
mais sobre este plano, que “quebrou” a trajetória inflacionária
brasileira e mudou a maneira como os brasileiros se relacionam
com os preços e sua moeda.

O cenário econômico no qual o plano Real foi implantado, em


1994, se desenvolveu sobre duas dimensões: a questão fiscal e a chamada
inércia inflacionária, que ainda não discutimos nesta Unidade. Assim,
vale a pena você conhecer este conceito. A inércia inflacionária diz
respeito ao mecanismo de “autoalimentação” da inflação: os agentes, ao
perceberem as constantes elevações de preços, imaginam que no futuro
esta tendência irá continuar e então reagem no presente aumentando
seus preços. Este processo envolve mecanismos de defasagem nas
elevações de preços. Por exemplo, os salários nominais eram sempre
reajustados por pressão dos trabalhadores de forma defasada, mas
estes aumentos eram antecipados pelos empresários em seus reajustes
de preços, e tais defasagens fortaleciam e alimentavam a dinâmica
inflacionária. No caso da economia brasileira esse componente era
muito importante e de difícil combate.

No Plano Real houve a criação, em março de 1994, de um


índice-moeda chamado de URV (Unidade Real de Valor).
Este era um índice de inflação que tinha uma paridade
com a moeda corrente, mas foi usado para indexar de
uma só vez todos os preços, ou seja, o Brasil de uma dia
para o outro teve todos os seus preços relacionados à URV.

Módulo 2 93
Macroeconomia

Assim, os preços podiam variar na moeda corrente à época, mas


eles continuavam os mesmos em URVs, com o objetivo de mudar o
comportamento da sociedade brasileira, a qual considerava o aumento
de preços como certo, e criar uma referência de valor mais estável
(preços em URV). Em junho de 1994 a URV então se transformou
na nova moeda, o Real, quebrando a inércia de aumento dos preços,
pois todos já tinham uma referência fixa de valores das coisas em
URV, agora chamada de Real. Esta lógica foi fundamental e foi uma
contribuição genuinamente brasileira para a macroeconomia, na qual

v
participaram, principalmente, os economistas André Lara Rezende,
Francisco Lopes, Edmar Bacha e Pércio Arida.
Associado à quebra da inércia inflacionária, o plano Real atacou
a questão fiscal e gerou o que os economistas chamaram de “âncora
Complemente sua leitura cambial” congelando, inicialmente, o câmbio em Um Real para Um
sobre o Plano Real lendo Dólar, ao mesmo tempo agregando mais credibilidade à nova moeda
um texto do Prof. Bresser
e combatendo o aumento de preços internos pela possibilidade da
Pereira publicado na
Revista de Economia
concorrência dos bens importados, facilitados pela nova realidade
Política, disponível em: cambial e por uma política de abertura comercial de redução de
<http://www.rep.org.br/ alíquotas para a importação desses bens.
pdf/56-10.pdf>. Acesso
Essa política cambial sofreu variações ao longo do primeiro
em: 30 mar. 2016.
ano do plano. No correr do tempo tais políticas promoveram um forte
déficit na balança comercial e o Real teve que ser desvalorizado frente
ao Dólar. A âncora cambial foi substituída pela de juros no segundo
biênio do Plano, o que abriu espaço para uma flexibilização significativa
da política cambial a partir de então. O câmbio migrou de semifixo
com viés de controle de preços para flutuante sujo, determinado pelo
mercado, mas com forte presença do governo vendendo e comprando
divisas.

94 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

Complementando...
Para ampliar seus conhecimentos a respeito das temáticas estudadas nesta
Unidade, recomendamos que você assista a alguns vídeos:
 Documentário TV Câmara: Laboratório Brasil – este documentário
aborda a história da inflação no brasil e os diferentes planos
econômicos tentados, até o Plano Real. O vídeo está dividido
em 4 partes e está disponível nos seguintes links: <https://www.
youtube.com/watch?v=o9c_WDXXcOI>, <https://www.youtube.
com/watch?v=TQE00R-ecrM>, <https://www.youtube.com/
watch?v=3CiKdMtyFNE>, e <https://www.youtube.com/watch?v=-
DnjO2bLYd0>. Acesso em: 29 abr. 2016.
 Economia Monetária: Moeda e Bancos – do professor João Sayada, da
Universidade de São Paulo (USP). O vídeo trata da inflação brasileira.
Ele está dividido em 3 partes e está disponível nos seguintes links:
<https://www.youtube.com/watch?v=w3EouXGSVko&list=PLD500C
47EA36C36C3&index=1>, <https://www.youtube.com/watch?v=w
OhOXFFvt4A&index=2&list=PLD500C47EA36C36C3>, e <https://
www.youtube.com/watch?v=Zd0GqbbAnng&index=3&list=PLD500
C47EA36C36C3>. Acesso em: 29 abr. 2016.

Módulo 2 95
Macroeconomia

Resumindo
Nesta Unidade você viu que: i) a inflação pode ser um
processo de grande impacto para a sociedade; ii) a inflação
pode ser explicada pela teoria quantitativa da moeda; iii) que
existe uma relação entre inflação e taxa de juros; e iv) que
existem inúmeros índices para medir a inflação, como o IGP, o
INPC e o IPCA, com finalidades diferentes. E viu também como
foi estruturado o único Plano de Combate à Inflação que real-
mente funcionou no Brasil, o Plano Real.

96 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 4 – A Inflação

Atividades de aprendizagem
Se você realmente entendeu o conteúdo desta Unidade,
acreditamos que não terá dificuldade para responder às questões
a seguir, mas, caso tenha, retorne aos pontos que ficaram em
dúvida, releia o texto e procure discuti-lo com seu tutor, que está
à sua disposição.

1. Explique, através da Teoria Quantitativa da moeda, o que ocorre com


os preços quando a oferta de moeda se eleva.
2. Mostre como a inflação esperada pode ser inserida na demanda por
moeda.
3. Diferencie inflação de custo de inflação de demanda.
4. Qual a diferença nas finalidades dos índices de inflação IGO e INPC?
5. Explique: qual o papel da URV no Plano Real?

Módulo 2 97
UNIDADE 5

E�o�omi� A��r��
Objetivos Específicos de Aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você será capaz de:
ff Identificar a importância das relações de transações do País com
o exterior para a economia;
ff Entender o processo que relaciona as trocas internacionais de
bens, serviços e capital com a economia interna do País; e
ff Relacionar as políticas econômicas com as variáveis que
determinam as trocas internacionais.
Unidade 5 – Economia Aberta

E�o�omi� A��r��

Nesta Unidade você será levado a conhecer as relações das


variáveis macroeconômicas já estudadas até aqui com as variáveis
agregadas que representam e causam as trocas de um país com o
setor externo. Entender estas relações é importante para o gestor
público, uma vez que inúmeras instituições públicas se envolvem
na dinâmica das trocas internacionais. Além destas instituições
públicas, o ambiente onde todas as demais instituições, das
diversas esferas de governo, atuam acaba sendo influenciado
pelo ambiente macroeconômico proporcionado pelas trocas
internacionais, permitindo este entendimento auxiliar os gestores
a tomarem decisões mais acertadas, ao interpretarem, de forma
mais correta, os sinais que este segmento passa para a economia.
Está preparado para seguir em frente?
Então, vamos prosseguir!

Existem na macroeconomia dois tipos básicos de modelo de


uma economia aberta: i) o modelo da grande economia aberta: que
se caracteriza por representar países com grande economia e que
são capazes de estabelecer suas taxas de juros sem ou com pouca
influência do mercado internacional; e ii) o modelo da pequena
economia aberta: que se caracteriza por representar economias que
sejam abertas ao mercado internacional, mas que sejam pequenas o
bastante para terem suas taxas de juros convergentes ou fortemente
influenciadas pelas taxas internacionais.

Módulo 2 101
Macroeconomia

O Processo de Abertura para o Exterior no


Brasil

O Brasil começou a sofrer o que os economistas costumam


chamar de processo de abertura comercial com o exterior desde de
1990. Esta abertura incluiu a eliminação de inúmeras barreiras não
tarifárias e uma redução gradual nas tarifas de importação. Veja no
gráfico da Figura 29, que mostra o índice de abertura comercial
do Brasil.
O índice de abertura comercial é um indicador que revela em
quanto o país está aberto às trocas comerciais. Matematicamente
teremos:

f IAC = Índice de Abertura Comercial em determinado


período
f X = Exportações em determinado período
f M = Importações em determinado período

v
Complemente sua leitura
com este texto de Benetti,
publicado no site da FEE,
sobre abertura comercial
brasileira. Disponível em:
<http://cdn.fee.tche.br/
jornadas/2/E13-15.pdf>.
Figura 29: Evolução da Abertura Comercial no Brasil
Fonte: Benetti (2016)

Se você observar o IAC, na Figura 29, a abertura comercial do


Brasil com o mundo se manteve relativamente estável nos dez anos
Acesso em: 30 mar. 2016.
(1989 a 1998) que se seguiram à liberalização e abertura comercial,

102 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

com valores em torno de 13% a 14%. Depois de 1998, o indicador


quase dobrou, passando para 26% em 2004. Estes dados revelam
que, em um primeiro momento, a abertura coincidiu com um forte
crescimento do PIB (89,4%) e com um crescimento expressivo das
importações e mais acanhado das exportações. Considerando o
início do Plano Real em 1994, neste período o PIB e as importações
sofreram uma queda expressiva, enquanto as exportações cresceram
significativamente. Assim, no primeiro período, a abertura comercial
se deu pelas importações e no segundo momento pelas exportações.
Neste último caso, o Brasil elevou de 0,86% para 1,08% a participação
das exportações brasileiras no quadro total das exportações mundiais.

Taxa de Câmbio

Agora você verá o que é a taxa de câmbio e como ela serve de


instrumento de política econômica. A taxa de câmbio é um mecanismo
extremamente relevante nas transações internacionais, uma vez que
ela representa a relação entre a moeda do país e uma moeda de
referência para estas transações, normalmente o dólar. Define-se a
taxa de câmbio “e” como sendo o preço, em moeda nacional, de uma
unidade de moeda estrangeira. Alternativamente, pode-se defini-la
como o preço da moeda estrangeira em termos da moeda nacional.
Desta forma, matematicamente, teremos para uma taxa de
câmbio “e”:

f e = R$/US$, expressa quantos Reais valem um dólar.


Assim, se e =1/2,5, significa que Um real equivale a R$ 2,50.
Para mostrar como um preço em dólares é transformado em
reais pela taxa de câmbio, podemos usar a seguinte questão, como
exemplo: se um exportador brasileiro vender um bem qualquer a US$
10.000,00 no mercado internacional, quanto ele receberá em dólares,
se o câmbio for e = 1/2,5: US$?
PUS$ = 10.000
e = 1/2,5

Módulo 2 103
Macroeconomia

PR$ = ?
e = PRR$/PUS$
1/2,5 = PRR$ / 10.000,00
PR$ = 10.000,00 * 2,5
PR$ = 25.000,00 (vinte e cinco mil reais)

Nos noticiários é comum vermos os comentaristas de


economia ou apresentadores de telejornais afirmarem
que a taxa de câmbio subiu, por exemplo foi de 2,00 para
3,00 dólares. Este é um erro comum, pois na verdade o
valor do dólar em reais foi que subiu e a taxa de câmbio
(e) caiu; ou ocorreu uma desvalorização cambial do real
em relação ao dólar.

A taxa de câmbio pode também ser expressa de forma real, ou


seja, considerando uma correção pelos níveis de preço dos produtos
transacionados no país de origem (no caso o Brasil) e dos preços do
país da moeda referência para a troca, no caso o dólar dos Estados
Unidos da América (EUA). Desta maneira, matematicamente, teremos:
E . P* , onde:
E=
P

f E = Taxa de Câmbio Real


f P* = Nível de preço do país estrangeiro (moeda de
referência – US$ EUA)
f P = nível de preço no país de origem (Real - Brasil)
Por exemplo: suponha que um exportador vendeu o mesmo
bem do exemplo anterior, mas sabemos que o preço deste bem no
Brasil é R$ 20.000. Assim. o câmbio real será de:
2,5 × US$ 10.000,00
E=
R$ 20.000,00
E = 1,25, metade do câmbio nominal

104 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

Significa que, como o exportador poderia ter vendido em reais


pelo dobro do valor em dólares, o câmbio nominal é depreciado pela
metade.
Se considerarmos os fortes pressupostos de que: i) todos os
produtos são homogêneos e que ii) os mesmos produtos têm o mesmo
preço em países diferentes, expressos na mesma moeda (lei do preço
único), o que só é possível se não houver nenhuma diferença de custos
e ausência de barreiras entre os dois mercados, a taxa de câmbio
seria igual à unidade. Neste caso, a explicação é dada pela teoria do
Poder de Paridade de Compras (PPC) ou, em inglês, Power Purshasing
Parity (PPP), pois:
R$
P BR R$ R$
e= R$ , se os preços forem iguais P BR = PEUA , então e = 1
PEUA

Onde:

f P BR
R$
= preço do Brasil em reais
R$
f PEUA = preço dos EUA em reais

Um produto que a literatura quase sempre se refere como aquele


que expressa estas diferenças de preços entre os países é o sanduíche
Big Mac, da rede de lanchonetes McDonald’s. Como ele seria igual
em todos os países deveria custar a mesma coisa, expresso seus preços
em dólares. Quando estes preços não são iguais esta diferença se dá
pelo valor da taxa de câmbio diferente de um dos países, ou seja, pela
PPP a taxa de câmbio expressa a diferença entre os preços de duas
economias. Podemos extrapolar esta conclusão para uma fórmula
geral na qual a taxa de câmbio será a razão entre os níveis de preços
de dois países. Matematicamente:

P*
e(ppp) =
P

Você pode perceber que a PPP é uma teoria que na verdade


é uma extensão da lei do preço único, a qual, para que de fato seja
verdadeira, precisa de pressupostos muito fortes, como: produtos
homogêneos, não ocorrência de custos de transação, não existência

Módulo 2 105
Macroeconomia

de barreiras nos mercados. Desta forma, a PPP sofre uma crítica como
teoria preditora e serve como cálculo do desvio para a taxa de câmbio
praticada, influenciada por outros fatores que não a relação de preços.

Agora que você já conhece alguns conceitos importantes


relacionados à taxa de câmbio, vamos ver como ela pode servir
como instrumento de política Econômica, principalmente
analisando os chamados regimes de câmbio.

Os regimes de câmbio são os diferentes formatos que os Governos


utilizam para que a taxa de câmbio seja formada. Dornbusch (2000)
distingue dois sistemas cambiais básicos: o sistema de taxas fixas, em
que os Bancos Centrais ficam a postos para ações de compra e venda
de suas moedas a um preço fixo em termos de dólares; e o de taxas
flexíveis, em que os Bancos Centrais permitem que a taxa de câmbio
se ajuste para equilibrar a oferta e a demanda por moeda estrangeira.

Entre estes dois tipos básicos existem outros tipos mais


específicos ou regimes ajustados às condições e aos diferentes
objetivos das políticas econômicas e características das
Economias

Veja no Quadro 7 diferentes tipos de regimes que foram


implantados em países da América Latina.
R��im�� Pri��i��i� C�r����r���i���
1–Flutuação “Suja” Exemplos (Dirty Intervenções esporádicas do Banco Cen-
Float). tral na taxa de câmbio do mercado.
Intervenção ativa (esterilizada e não
esterilizada) resulta em mudanças nas
reservas internacionais.
2 – Crawling Band. O México adotou um Um sistema de banda onde a paridade
sistema similar a este após a crise de central desliza no tempo.
1994 – 95.
Quadro 7: Diferentes regimes cambiais implantados nos países da América Latina
Fonte: Adaptado de Oliveira, Andrade e Holland (2003)

106 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

R��im�� Pri��i��i� C�r����r���i���


3 – Crawling peg. O Chile teve um siste- A taxa de câmbio nominal é ajustada pe-
ma de banda bem larga desde 1986 até riodicamente de acordo com uma série
meados de 1998. de indicadores.
4 – Taxa de Câmbio Fixo, mas ajustável. A taxa de câmbio nominal é fixa, mas o
O sistema tornou-se popular nas décadas banco central não é obrigado a manter a
de 60 e 70 no Chile, Colômbia e Brasil. paridade indefinida.
Aconteceu por um período maior na Os ajustamentos da paridade (desva-
Colômbia. lorizações) são instrumentos políticos
poderosos.

5 – Comitê de moeda. É o regime Sistema muito rígido de taxa de câmbio


mais popular do século. Muitos países fixo.
emergentes continuam a se submeter ao A autoridade monetária pode interferir
sistema, a exemplo do México, 1983-93 somente quando houver entrada de
(Currency Board). divisas.
6 - Dolarização plena - Historicamente, Nome genérico dado a uma forma
um número pequeno de países tem tido extrema do sistema de comitê de moeda
um sistema deste tipo. Alguns deles, en- (currency board system), onde o país
tretanto, não obtiveram sucesso. Quando abandona completamente sua autono-
enfrentaram grandes choques externos, mia monetária e adota a moeda de outro
esses países foram forçados a abandonar país.
o regime (Full Dollarization). A Argenti-
na tem estruturas de “quasi– currency
boards”. Existem poucos episódios de
dolarização plena. Um regime similar a
esse tem dado relativamente certo no
Panamá.
Quadro 7: Diferentes regimes cambiais implantados nos países da América Latina
Fonte: Adaptado de Oliveira, Andrade e Holland (2003)

A partir dos diferentes regimes, os governos estabelecem sua


política cambial que irá influenciar na relação que o País terá com o
restante do mundo. A taxa de câmbio, por exemplo, influenciará na
balança comercial favorecendo ou não as exportações e importações;
também poderá ter influência sobre os preços internos, deixando os
produtos e serviços nacionais mais ou menos expostos à concorrência
de produtos e serviços estrangeiros; e afetará também o fluxo de
divisas no país, o que pode influir na capacidade de pagar as dívidas
contraídas com o exterior e na proteção do valor da moeda nacional
frente a movimentos especulativos contra ela.

Módulo 2 107
Macroeconomia

Pequena Economia Aberta

Neste tópico você conhecerá um modelo de economia aberta,


mais especificamente o modelo da pequena economia aberta. Ele
representa o caso mais próximo de países que são pequenos o suficiente
para não influenciarem individualmente na formação da taxa de juros
internacional.

Conta de Capital e Conta-Corrente

Você agora será apresentado à relação importante entre a conta


de capital e a conta-corrente. Na Unidade 2 vimos um pouco desta
relação sem a ênfase nas transações internacionais. Lembre-se de que
a poupança total, chamada aqui simplesmente de poupança menos os
investimentos, deverá ser igual à balança comercial. Matematicamente:

S – I = X –I, sendo X – I = NX

Assim, teremos:
S – I = NX
(I – S) + NX = O

f NX = saldo na conta-corrente
f (I – S) = saldo da conta de capital
Esta igualdade mostra que há um fluxo de capitais internacionais,
contabilizado na balança de pagamentos, que equilibra estas contas.
Assim, quando (I – S) for positivo e NX for negativo, é porque o País está
tomando capital emprestado no mercado internacional para financiar
seu déficit na balança comercial. Ao contrário, se NX>0 e (I-S)<0,
o país com os saldos da balança comercial está emprestando capital
para o restante do mundo. Neste modelo, estamos desconsiderando
o acúmulo de reservas cambiais, o que ocorre, frequentemente, nos
países como recurso de segurança cambial, mas que pode, também,
ser considerado apenas uma escolha intertemporal para o País, que
utilizará depois estes saldos.

108 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

Você verá agora como podemos explicar melhor esta relação


entre conta-corrente e de capital em um modelo para uma
pequena economia aberta. Esta expressão diz respeito a modelos
para países que são abertos às transações internacionais, mas
que não são grandes o suficiente para influenciar nos preços
internacionais, inclusive na taxa de juros internacionais.

Desta maneira, vamos voltar à condição de igualdade entre as


contas mencionadas e vamos relacioná-las de forma mais clara com
as variáveis que formam a poupança. Matematicamente, teremos:

NX = S – I, onde:
S = (Y – C – G) – I , substituindo na equação anterior
NX = (Y – C – G) – I, considerando que I = I(r*), ou seja,
investimentos é função dos juros internacionais.

Neste modelo a taxa de juros internacional


Saiba mais Arbitragem Internacional
é quem equilibra investimentos e poupança. Na
Arbitragem internacional é o processo de
hipótese de uma pequena economia aberta, o
convergência entre preços em mercados
país é capaz de pegar empréstimos no mercado
internacionais diferentes, pelo processo de compra e
internacional à taxa de juros internacionais. venda de um para o outro. Por exemplo, se os juros no
Se o país for aberto, a taxa de juros nacional mercado internacional estiverem menores do que no
será a mesma internacional pelo mecanismo Brasil os agentes econômicos brasileiros irão pegar
de arbitragem internacional de preços. Desta empréstimos neste mercado e irão emprestar a um
forma, matematicamente, teremos: juros maior no Brasil tendo lucro.Este movimento irá
r = r* aumentar a oferta de crédito no Brasil e fará a taxa
de juros no Brasil cair; e continuará até que as taxas
f r = taxa de juros reais no País tenham convergido. Fonte: Elaborado pelo autor
f r* = taxa de juros reais no deste livro.
mercado internacional

NX = (Y – C – G) – I(r*), fazendo C = C(Y – T), onde


(Y – T) = renda disponível, então:

NX = (Y – C(Y – T) - G) – I(r*)

Módulo 2 109
Macroeconomia

Como a taxa de juros internacional é determinada exogenamente,


ou seja, sem influência do país analisado, ela irá determinar o valor
dos investimentos e este será fundamental para estabelecer como será
o fluxo de capitais no país. Assim, quando a poupança interna (S) não
atende aos investimentos determinados pela taxa de juros internacional,
os agentes econômicos do País recorrerão a empréstimos externos.
Neste modelo não estamos, ainda, considerando a influência das taxas
de câmbio sobre a balança comercial. Contudo você pode entender
melhor observando o gráfico deste modelo na Figura 30.
r S

NX1
r*1

r
r*2 I(r*)
NX2

I,S I,S
Figura 30: Poupança e Investimento e a Taxa de Juros Internacional
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Na Figura 30, você pode perceber que na interseção da curva de


investimentos com a da poupança nacional, os juros aplicados seriam
os praticados se a economia fosse fechada. Com os juros internacionais
r*, maiores que este nível, como em r*1, os investimentos serão
menores do que a poupança nacional e teremos superávit na balança
comercial NX1 (o país emprestará para o resto do mundo). Para um
taxa de juros internacional, menor que o nível de economia fechada
r*2, os investimentos serão maiores do que o nível de poupança
interna (país pegará empréstimo no exterior) e a balança comercial
NX2 será negativa ou deficitária.
Estas relações podem ser influenciadas pelas políticas econômicas
que afetem os investimentos. Assim, políticas que provoquem um
aumento ou diminuição dos investimentos a qualquer nível de taxa de
juros farão a curva de investimento se deslocar para a direita ou para
esquerda, alterando o fluxo de capital e a balança comercial associada.

110 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

Podemos acrescentar ao nosso modelo de economia pequena e


aberta a taxa de câmbio (E) influenciando a balança de pagamentos.
A ideia é a seguinte: se a taxa de câmbio se elevar, ou seja, ∆E>0,
haverá um estímulo à exportações e um desestímulo às importações;
e NX se elevará.

Modelo Mundell-Fleming

v
Você verá neste outro modelo, denominado de Mundell-Fleming
em homenagem aos economistas Robert Mundell e Marcus Fleming,
como a taxa de câmbio se relaciona com as curvas IS-LM já estudadas Conheça a vida e o
na Unidade 3. Vamos considerar que este país do modelo é ainda uma pensamento de Robert
economia pequena e aberta, e que as três equações que estabelecem Mundell, economista

o modelo são as seguintes: canadense nascido em


1931 que recebeu o

f Y = C ( Y – T ) + I( r ) + G + NX(e) , (Equação da IS) prêmio Nobel de Economia


em 1999, principalmente

f M = L (r,Y) , (Equação da LM) pela sua proposta de unir


P economias numa única
moeda, acessando: o link:
f r = r*
<http://www.eumed.net/
cursecon/economistas/
Desta forma, esse novo modelo inclui o modelo IS-LM,
Mundell.htm>. Acesso em:
da Unidade 3, a balança comercial que depende da taxa de juros 30 mar. 2016.
nominais. Assim, quando a taxa de câmbio se eleva há um estímulo
às exportações e um desestímulo às importações; então NX cairá.
O contrário também será verdadeiro. Além disto, a taxa de juros no
país r, por ser uma economia pequena, será igual à taxa de juros no
mercado internacional r*. Podemos expressar este
modelo de forma gráfica nas Figuras 31, 32 e 33. Saiba mais Marcos Fleming
Nasceu em 1911 e foi Diretor de Pesquisa
do Fundo Monetário Internacional (FMI); ao
mesmo tempo que Mundell apresentou um
estudo sobre estabilização cambial e acabou
sendo referido nos modelos futuros que se
basearam no conjunto destas ideias, embora
a contribuição para o referido modelo tenha
sido, inegavelmente maior de Mundell. Fonte:
Elaborado pelo autor deste livro.

Módulo 2 111
Macroeconomia

e2

e1

NX2 NX1 NX

Figura 31: Balança comercial em função da Taxa de Câmbio


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

DA
DA = OA

DA = C + I + G + NX(e 1)

DA = C + I + G + NX(e 2)

45º

Y2 Y1 Y

Figura 32: Deslocamento da Demanda Agregada em função do Câmbio


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

112 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

e2

e1

IS

Y2 Y1 Y
Figura 33: Curva IS em função da Taxa de Câmbio
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Você pode notar pela sequência das Figuras 31, 32 e 33, que,
primeiro, na Figura 31, há uma relação inversa entre taxa de câmbio
e balança comercial (NX). Como já foi explicado, esta relação se
revela também na Figura 32, na qual a demanda agregada se desloca
e é retraída com a diminuição de NX, efeito da elevação da taxa
de câmbio (e1 para e2). Esta retração da demanda agregada fará a
renda de equilíbrio cair de Y1 para Y2. A conclusão destas relações
pode ser vista na Figura 33, representando a curva IS, só que agora
relacionando as rendas de equilíbrio com as taxas de câmbio. Pois
quando e1 passou para e2 (elevação) a renda de equilíbrio, pelo efeito
da demanda agregada, passou de Y1 para Y2 (diminuição).
Do lado da moeda, ou da curva LM, no modelo Mundell-
Fleming, a oferta de saldos monetários reais não se relaciona com a
taxa de câmbio, mas com a decisão discricionária do governo. Assim,
graficamente a curva LM é vertical, considerando o plano que relaciona
renda e oferta monetária. Desta maneira, as curvas IS-LM podem ser
apresentadas neste novo formato na Figura 34, a seguir.

Módulo 2 113
Macroeconomia

Taxa de Câmbio

e2

e1
IS2

IS

Y Nível de Renda

Figura 34: Curva IS e Taxa e Câmbio (Política Fiscal)


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Você pode notar na Figura 34 que o deslocamento da curva


IS, por exemplo, por uma política fiscal expansionista, como já visto
na Unidade 3, deslocará a curva IS para a direita e neste modelo fará
a taxa de câmbio se elevar (e1 para e2). Veja que as conclusões desse
modelo diferem muito das do modelo IS-LM de uma economia fechada,
pois neste último um deslocamento da IS para a direita faria a taxa
de juros se elevar e a renda também. No caso da pequena economia
fechada a explicação está no fato de que, com o aumento das taxas
de juros internas, mais capitais entrariam no país e subiria a oferta de
moeda externa aumentando a taxa de câmbio e a diminuindo o saldo
da balança comercial (NX), o que anularia o efeito da elevação dos
investimentos e a renda não se alteraria. Note que no nosso modelo
a taxa de câmbio segue o chamado regime de câmbio flutuante.

É importante você notar que o modelo considerado admite


uma economia realmente pequena sem nenhuma influência
individual nos mercados internacionais e por isto a total
divergência do efeito da política fiscal para o modelo das
economias fechadas (IS-LM). Assim, podemos dizer que o
modelo, como tal, é um orientador dos efeitos das variáveis no
mundo real.

114 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

No caso do efeito da política monetária no modelo Mundell-


Fleming, ele pode ser visto no gráfico da Figura 35, no qual você pode
notar que, por exemplo, a política monetária expansionista, como
discutido na Unidade 3, deslocará a curva LM para a direita e a taxa
de câmbio irá cair.

Taxa de Câmbio
LM1 LM2

e1

e2

IS

Y1 Y2 Nível de Renda

Figura 35: Curva LM e a Taxa de Câmbio (Política Monetária)


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

No caso do modelo estudado de economias pequenas abertas, a


política monetária expansionista gerará mais renda, contudo o processo
é diferente, neste modelo: o aumento da oferta monetária diminui a
taxa de juros e incentiva a saída de capitais nacionais, aumentando
a oferta de dólares no mercado cambial, reduzindo a taxa de câmbio
e elevando as exportações líquidas ou a balança comercial (NX), o
que eleva a renda.

Módulo 2 115
Macroeconomia

Resumindo
Nesta Unidade você viu: i) que o IAC (índice de Abertura
Comercial) calcula a abertura comercial e que o Brasil avançou
neste processo; ii) que existem os conceitos de câmbio nominal
e real; iii) um modelo que explica a relação entre conta-corrente
e conta de capital, ou seja, que os saldos na balança comercial
dependem do fluxo de capitais internacionais; iv) como funcio-
na o modelo Mundell-Fleming, explicando como se compor-
tam as políticas fiscal e monetária em uma pequena economia
aberta.

116 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 5 – Economia Aberta

Atividades de aprendizagem
É muito importante que você tenha compreendido bem o
tema desta Unidade, que trata das relações das variáveis
macroeconômicas com as variáveis agregadas que representam
e causam as trocas de um país com o exterior. Entender estas
relações é importante para o gestor público, uma vez que
inúmeras instituições públicas se envolvem na dinâmica das
trocas internacionais. Para testar seus conhecimentos realize as
atividades que estamos propondo e, caso tenha alguma dúvida,
não hesite em entrar em contato com o seu tutor, que está ao seu
dispor para ajudá-lo.

1. Se em dois anos as trocas comerciais, de um país qualquer, se apre-


sentaram da seguinte forma: no ano 1 foram US$ 100.000,00 de
exportações e US$ 100.000,00 de importações e no ano 2 as importa-
ções cresceram para US$ 200.000,00, considerando que a Economia
deste país não cresceu, podemos afirmar que o país está mais aberto
comercialmente? Explique sua resposta.
2. Explique graficamente a relação entre conta corrente (NX) e os saldos
de capitais em um modelo de economia pequena e aberta.
3. Explique: como a curva IS pode se relacionar com a taxa de câmbio
para uma economia pequena e aberta?
4. Explique: como serão os efeitos da política fiscal e monetária para
uma economia pequena e aberta, usando o modelo IS-LM?
5. Descreva os diferentes tipos de regimes cambiais.

Módulo 2 117
UNIDADE 6

O P���� �o Go��r�o � ��
Po���i��� E�o��mi���
Objetivos Específicos de Aprendizagem
Ao finalizar esta Unidade, você deverá ser capaz de:
ff Entender como o Governo pode construir as Políticas Econômicas;
e
ff Reconhecer os diferentes processos das Políticas Fiscal e
Monetária.
Unidade 6 – O Papel do Governo e as Políticas Econômicas

O P���� �o Go��r�o � ��
Po���i��� E�o��mi���

Você viu até aqui uma série de modelos que foram criados pelos
Economistas no âmbito da macroeconomia, que nos ajudam
a entender como a economia de um país funciona e como o
Governo, através das políticas econômica, fiscal e monetária, por
exemplo, afeta estas variáveis. Nesta Unidade, você verá como
as políticas econômicas são formatadas, quais mecanismos são
usados e quais os efeitos que estas políticas podem surtir na
economia, principalmente na economia brasileira, onde os planos
econômicos de diversos tipos foram implantados ao longo de
nossa história econômica. Este entendimento para a formação
dos gestores públicos é de fundamental importância uma vez que
as instituições públicas fazem parte desta dinâmica econômica,
ligada à implantação dessas políticas.
Preparado? Podemos seguir adiante?
Vamos lá!

Os estados e os governos realizam ações na economia procurando


suprimir as falhas que os mercados no mundo real apresentam.
Assim as políticas econômicas, normalmente, cumprem os seguintes
objetivos: i) crescimento econômico; ii) combate à inflação; e iii)
distribuição de renda. Neste contexto, do papel do governo na Política
Econômica, surge um debate sobre o quanto de fato as chamadas
políticas econômica, fiscal e monetária são significativas na tentativa
de condução e estabilização da economia.
Você deve ter percebido que, segundo os modelos que vimos até
aqui, os governos devem agir ativamente na economia. Por exemplo,
os modelos como IS-LM e da Demanda e Oferta Agregada, nos levam

Módulo 2 121
Macroeconomia

a crer na necessidade de intervenção dos governos na economia toda


vez que suas flutuações, tanto do ponto de vista do emprego como
da inflação acontecem de forma negativa para a sociedade. Contudo,
uma corrente de economistas afirma que o governo deveria ter uma
postura passiva em relação a estas políticas; e segundo Mankiw (2002),
este pensamento tem os seguintes argumentos:

i) Defasagens na Implantação das Políticas: as


políticas perdem de muito sua eficácia, pois são
normalmente realizadas na perspectiva ex-post, ou
seja depois do fenômeno a ser corrigido ou afetado já
ter ocorrido;
ii) Difícil Tarefa de Fazer Previsões: o argumento
anterior se associa a este, pois as políticas possuem
defasagem na implantação, principalmente devido à
baixa capacidade preditiva dos modelos econômicos
atuais. Esta imprevisibilidade, normalmente, vem
acompanhada do erro de previsão e da adoção errada
das políticas econômicas;
iii) A Ignorância e as Expectativas (a crítica de
Lucas): a economia ainda é uma ciência jovem e
ainda há muito a se conhecer. Os economistas, como
assessores das decisões de políticas, devem assumir
posturas mais cautelosas. O economista Robert Lucas
sugeriu certa ignorância através do desconhecimento
dos mecanismos que formam as expectativas futuras
dos agentes econômicos e que de fato fazem grande
diferença em como as políticas terão efeito sobre a
economia;
iv) Registro Histórico: os formuladores de políticas
econômicas, invariavelmente, se baseiam nos registros
históricos sobre os efeitos das políticas econômicas.
Contudo, é uma forte hipótese considerar que o
comportamento passado dos agentes econômicos em
relação à dada política venha a se repetir da mesma
forma em outros momentos e contextos futuros.

122 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 6 – O Papel do Governo e as Políticas Econômicas

De qualquer forma, vamos ver a seguir os diferentes mecanismos


de execução das políticas fiscal, monetária, cambial/comercial e entender
melhor a operabilidade destas ações de Governo.

Política Fiscal

v
Você viu quando mostramos o modelo IS-LM e quando falamos
sobre a relação de equilíbrio da demanda e oferta agregada, que a
política fiscal, que a política fiscal foi representada pela alteração
discricionária nos gastos do Governo, representada nos modelos pela Veja este texto sobre
letra G. Lembre-se, por exemplo que a curva IS se desloca para a políticas fiscais no Brasil
no endereço: <http://
direita quando os gastos do governo se elevam, aumentando a renda
www.rep.org.br/pdf/93-5.
de equilíbrio e a taxa de juros da economia. No caso de deslocamento pdf>. Acesso em: 30 mar.
para a direita da curva de demanda agregada, por efeito da política fiscal 2016.
expansionista, no curto prazo, os preços da economia tenderão a subir,
gerando inflação. Por outro lado, quando consideramos a Economia
Aberta no modelo Mundell-Fleming o efeito é o mesmo na renda, mas
teremos uma elevação na taxa de câmbio. Outro ponto importante na
política fiscal é o chamado equilíbrio fiscal que estabelece que não se
deve gastar mais do que se arrecada. Assim, as decisões discricionárias
e gastos pelos governos se relacionam com a fonte destes recursos a
partir da arrecadação realizada pelos impostos.
No Brasil, ao longo do tempo, diferentes
políticas fiscais foram implementadas e Saiba mais Lei de Responsabilidade Fiscal
alguns mecanismos legais de diminuição da A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar
discricionariedade destas políticas foram criados. nº 101, de 04/05/2000) estabelece, em regime

Como exemplo de mecanismos de redução nacional, parâmetros a serem seguidos relativos


ao gasto público de cada ente federativo (união,
de discricionariedade, o país adotou a Lei
estados e municípios) brasileiro. Veja mais detalhes
de Responsabilidade Fiscal; e como exemplo
sobre a lei visitando a página do Tesouro Nacional,
mais recente de política fiscal podemos citar o
no endereço: <https://www.tesouro.fazenda.gov.br/
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC1
pt/responsabilidade-fiscal/lei-de-responsabilidade-
e o PAC2), que objetiva destinar os gastos
fiscal>. Fonte: Elaborado pelo autor deste livro.
públicos para investimentos em infraestrutura
no país, gerando um forte impacto positivo

Módulo 2 123
Macroeconomia

sobre o nível de renda. Embora outras variáveis tenham impedido o


sucesso esperado deste programa, no PAC2 mais de 500 bilhões de
Reais foram aplicados em obras, de 2011 a 2013.
Vale ressaltar, que a política fiscal se equilibra entre a variação
dos gastos públicos e a correspondente carga tributária para garantir
as fontes das receitas do governo. Neste sentido, embora os modelos
usados neste curso não tenham enfatizado esta questão, é importante

v
chamar a atenção para o equilíbrio entre gastos e receitas do
governo, o que é fonte de discussão entre economistas e políticos.
Nesta dimensão orçamentária se estabelece o debate sobre de onde
Acesse este link virão os recursos do governo e como este executará seus gastos. No
do Ministério do
Brasil, uma importante ferramenta de execução orçamentária é a Lei
Planejamento para
conhecer um pouco de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que define as fontes e usos dos
mais sobre Orçamento recursos públicos e é votada todo ano pelo congresso nacional. Esta
Público: <http://www. Lei é um canal que garante a influência da democracia representativa
planejamento.gov.br/
nas diretrizes orçamentárias do governo.
servicos/faq/orcamento-
da-uniao/conceitos- Você viu que a política fiscal foi constantemente mencionada
sobre-orcamento/o-que- até aqui como a ação do governo para alterar seus gastos e suas
e-orcamento-publico>. receitas (impostos) no sentido de fazer a renda/produto aumentar ou
Acesso em: 30 mar. 2016.
diminuir e/ou no combate à inflação, ou ainda para transferir renda
e melhorar a sua distribuição no País. Contudo, não ficou tão claro
como esta política pode ser implantada, do ponto de vista operacional
do governo. Assim, indaga-se: Quais os mecanismos que o governo
utiliza na sua condução?
Uma maneira de compreender melhor estes mecanismos é
conhecendo os conceitos de déficit público e da dívida pública. Para
tanto, você precisa saber que a carga tributária bruta representa o total
de impostos arrecadados no País; quando é subtraída das transferências
governamentais (juros da dívida pública, subsídios e gastos com
assistência social) chega-se ao conceito de carga tributária líquida; e
com base nesta carga é que o governo financia seus gastos correntes.
A diferença entre a receita líquida e o consumo do governo é chamada
de Poupança do Governo em Conta-Corrente.
O Déficit/Superávit Fiscal é encontrado subtraindo-se da
Poupança do Governo as suas despesas de capital , denominadas de
investimentos do governo, que incluem, por exemplo, as construções

124 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 6 – O Papel do Governo e as Políticas Econômicas

de estradas, hospitais, escolas etc. Veja na Figura 36, o resumo destes


conceitos.

Receitas com Impostos – Transferências (Juros e Subsídios) = Carga


Tributária Líquida
Carga Tributária Líquida – Consumo do Governo = Poupança do
Governo em Conta Corrente
Poupança do Governo em Conta Corrente – Investimentos = Déficit/
Superávit Fiscal

Figura 36: Variáveis Fiscais


Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

A análise que você pode fazer quando um governo apresenta


déficits fiscais em suas contas é a de que ele está elevando seus gastos ou
reduzindo sua arrecadação (impostos). Nos dois casos, o governo ativa
estes dois importantes mecanismos de política fiscal; contudo, quando
as suas contas são deficitárias é preciso lançar mão de instrumentos
de financiamento destes déficits. Este financiamento pode ser de dois
tipos, segundo Lopes e Vasconcelos (2011):

i) Venda de títulos públicos ao Saiba mais Déficit/Superávit público


setor privado: o que representa Quando chamado de primário é o resultado da

transferência de poupança do setor arrecadação do governo menos os gastos, exceto

privado para o setor público; e juros da dívida. A grosso modo, é a geração de


caixa do governo; já quando é chamado de
ii) Venda de títulos públicos ao Banco
nominal equivale à arrecadação de impostos
Central: na verdade é considerada
menos os gastos, incluindo os juros da dívida,
emissão de moeda.
revelando a relação mais direta entre receitas
Os dois mecanismos mostrados anteriormente e despesas do Governo. Fonte: Elaborado pelo
autor deste livro.

v
de financiamento do déficit público levam ao
endividamento do Setor Público; e quanto maior
for o estoque desta dívida maior será a conta de pagamento de juros. Veja o vídeo que mostra
a análise feita por Maria
Lúcia Fatorelli sobre a
dívida pública brasileira
no seguinte link: <http://
www.youtube.com/
watch?v=PmRpA88E9gg>.
Acesso em: 30 mar. 2016.

Módulo 2 125
Macroeconomia

Os Impostos

A arrecadação do governo se dá pela cobrança dos impostos.


A manipulação das alíquotas dos diferentes tipos e modalidades de
impostos faz parte dos mecanismos de política fiscal, impactando sobre
a geração de déficit ou superávit fiscal. Desta forma, é importante para
o gestor público entender como os impostos são cobrados e quais as
diferenças de suas modalidades.
Com relação à maneira como os impostos são cobrados, eles
podem ser diretos e indiretos. A diferença é que os impostos indiretos
podem ser repassados a outro agente econômico diferente do agente
pagador, como por exemplo, o ICSM (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Prestação de Serviços) que é cobrado dos prestadores
de serviços ou de varejistas. Estes pagam (recolhem) os impostos e
os repassam aos consumidores nos preços das mercadorias. Já os
impostos diretos não podem ser repassados a outros agentes, como
por exemplo, o imposto de renda.
O economista norte-americano Artur B. Lafer, que participou
ativamente do governo do presidente dos Estados Unidos, Ronald
Reagen, e teve como principal contribuição para a ciência econômica
a chamada Curva de Lafer, chamou a atenção para o fato de que

v
a elevação de impostos não pode ser benéfica para o governo em
qualquer nível. Na verdade, a curva de Lafer (Figura 37) mostra que
o governo, em sua política fiscal, aumenta as alíquotas dos impostos e
suas receitas aumentam, até um ponto chamado de imposto máximo
Veja vídeo sobre o Papel (tmax), onde as receitas do Governo atingem o máximo e a partir
do Estado e a Política do qual elas começam a cair; e deste ponto em diante só diminuem.
Fiscal no seguinte link:
A explicação é que a partir de certo ponto os agentes econômicos
<https://www.youtube.
com/watch?v=yaqi34-
começam a escolher trabalhar menos, pois pagam muito impostos e
mmGY>. Acesso em: 30 trocam trabalho por lazer, ou, por outro lado, deste ponto máximo
mar. 2016. em diante os agentes, pressionados por alíquotas que passam a ser
consideradas injustas, passam a sonegar os impostos ou a procurar
atividades que pagam menores alíquotas.

126 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 6 – O Papel do Governo e as Políticas Econômicas

Receita Tributária

Receita
Máxima

tmax Taxa de Impostos


Figura 37: Curva de Lafer
Fonte: Elaborada pelo autor deste livro

Política Monetária

Assim, como no caso da Política Fiscal, você pode notar que


os modelos aqui discutidos apresentaram as possíveis reações da
economia quando o governo adota uma determinada política monetária.
Por exemplo, quando mostramos o modelo IS-LM, vimos que se o
governo estabelece um política de expansão da base monetária, que
chamamos de “M”, provocará um deslocamento desta curva para a
direita elevando a renda e diminuindo a taxa de juros no país. No
modelo Mundell-Fleming adiciona-se o efeito sobre a redução da taxa
de câmbio, ou quando mostramos existir uma relação entre elevação
da base monetária e elevação no nível dos preços da economia.
No Brasil, por exemplo, a política monetária foi muito utilizada
com o viés de combate à inflação. Como já apresentado, no Século
XX na década de 90, o Plano Real lançou mão da política monetária,
realizada pela influência do Banco Central na taxa de juros do mercado
através de constantes elevações da taxa de juros básica de seus títulos,
buscando metas inflacionárias estabelecidas pelo governo no Comitê
de Política Monetária (COPOM), que também se reúne para decidir
os níveis da taxa básica (SELIC). Este regime de metas inflacionárias,

Módulo 2 127
Macroeconomia

base da política monetária brasileira a partir do Plano Real, se pauta


em 5 pilares: i) predominância da taxa de juros como instrumento de
politica monetária; ii) comprometimento institucional com a estabilidade
de preços; iii) ausência de dominância fiscal e maior foco na política
monetária; iv) independência do instrumento de política monetária; e
v) transparência das políticas com prestação de contas por parte das
autoridades monetárias.
Para você entender melhor os mecanismos usados pelo
governo na execução da política monetária é preciso entender como
atua o Banco Central, o verdadeiro operador desta política, usada,
normalmente, para o controle da inflação e/ou para alterar os níveis
de renda do país, através da manipulação da liquidez ou quantidade
de moeda na economia.
O Banco Central tem um importante papel na economia,
regulando o poder de compra da moeda nacional (política monetária) e
regulando o mercado financeiro. Veja alguns dos seguintes instrumentos
para executar a política monetária:

i) A emissão de títulos públicos: corresponde à


atratividade da taxa de juros básica (SELIC) que o
governo paga nos seus títulos emitidos pelo tesouro
nacional, reduzindo a quantidade de moeda na
economia;
ii) A taxa de redesconto: a taxa de juros que os bancos
pagam quando recorrem à ajuda do Banco Central.
Se esta taxa se eleva os bancos se arriscam menos na
oferta de créditos e se reduz a liquidez na Economia;
iii) Os Depósitos Compulsórios: são os valores que os
bancos são obrigados a depositar no Banco Central
em função dos valores dos depósitos à vista em
suas carteiras. Assim, quando o governo eleva esta
obrigatoriedade os bancos passam a emprestar menos
e se reduz a liquidez na economia.

128 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 6 – O Papel do Governo e as Políticas Econômicas

Política Cambial e Comercial (Setor


Externo)

O governo atua influenciando as variáveis macroeconômicas


do mercado externo, uma vez que as relações de troca do País com
o exterior, como já vimos anteriormente na Unidade 5, é de extrema
importância para os objetivos das políticas econômicas.
Tanto a política cambial quanto a comercial afetam essas relações
de troca. A cambial diz respeito às ações do governo, influenciando
a taxa de câmbio; o que pode ocorrer com abordagens diferentes,
dependendo do tipo de regime cambial que possua o país. No regime
fixo o governo simplesmente estabelece qual taxa de câmbio lhe é
interessante para atingir seus objetivos de incentivar as transações
correntes ou de entrada e saída de capitais e a consequente formação
ou diminuição de reservas cambiais. No regime flexível (adotado
atualmente pelo Brasil) o governo atua no mercado cambial como
player importante (por possuir a maior quantidade de reserva de
moeda estrangeira - dólares) vendendo ou comprando dólares e
afetando substancialmente o valor do câmbio. Na verdade, o poder
do governo neste mercado é tanto que basta a autoridade monetária
anunciar as operações que o câmbio é afetado.
A política comercial se estabelece na perspectiva, controversa,
de que os governos podem e devem interferir no comércio internacional
para salvaguardar os interesses nacionais, ao contrário da tese do
chamado livre comércio.
Assim, os instrumentos de política comercial são utilizados,
normalmente, como forma de proteger os setores nacionais da Subsídio – é qualquer
concorrência internacional. Entre os mecanismos mais usados estão: forma de incentivo
extra mercado vindo do
i) Determinação de tarifas diferenciadas de governo para um determi-
nado setor. Por exemplo,
importação: quando o governo as impõe a certos
quando o governo oferece
produtos, cujo setor nacional ele quer proteger, empréstimos a juros
diminuindo a competitividade do importado; muito baixos (subsidiados)
aos produtores agrícolas
ii) Fornecimento de Subsídios*: ao produtor nacional:
do semiárido nordestino.
ocorre quando o Governo eleva a competitividade de
Fonte: Elaborado pelo
autor deste livro.

Módulo 2 129
Macroeconomia

um determinado setor interno fornecendo subsídios a


ele;
iii) Determinação de Cotas de Importação: quando
o governo estabelece uma quantidade máxima que
pode ser importada de um determinado bem, para
proteger setores nacionais da exposição exagerada à
concorrência de importados; Barreiras Não Tarifárias:
muito usadas no agronegócio e ocorrem quando o
governo estabelece impeditivos à entrada de certos
produtos, alegando a proteção dos produtos nacionais
contra pragas e doenças. Por exemplo, o Brasil sofreu
uma sanção da Rússia em 2013, com relação à
sanidade da carne bovina.

A política comercial, normalmente, é controversa e invariavelmente


se torna objeto de discussão e contendas internacionais, que são
levadas, quase sempre, para a Organização Mundial do Comércio
(OMC) como fórum de julgamento destas desavenças comerciais entre
países. O Brasil, já esteve envolvido em inúmeros episódios desta

v
natureza, tanto acusando como sendo acusado de práticas abusivas de
comércio. Você pode se lembrar do caso de disputa comercial entre a
EMBRAER (empresa brasileira que produz aviões) e a BOMBARDIER
Para conhecer mais a
(empresa canadense deste setor). A Bombardier acusava a EMBRAER
fundo o caso Embraer de praticar preços abaixo dos que seriam os de mercado, por conta
versus Bombardier acesse dos inventivos (subsídios) que recebia do governo brasileiro, o que
o link: <http://www.
estabelecia uma concorrência desleal com seus aviões.
comciencia.br/comciencia/
handler.php?section=8&e
dicao=21&id=223>. Acesso
em: 30 mar. 2016. Complementando...
Aprofunde seus estudos, consultando a leitura indicada:
 Política Monetária – disponível em:<http://politicamonetaria.webnode.
com.br/o-que-e-politica-monetaria-/>. Acesso em: 29 abr. 2016.
 Política Monetária: instrumentos, objetivos e a experiência brasileira –
de Fernando de Holanda Barbosa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Recomendamos também que você assista ao vídeo sugerido:


 O que é o Banco Central – disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=LC2wnNRKOgQ>. Acesso em: 29 abr. 2016.

130 Bacharelado em Administração Pública


Unidade 6 – O Papel do Governo e as Políticas Econômicas

Resumindo
Nesta Unidade você viu que: i) as políticas públicas
possuem objetivos bem definidos, como o crescimento econô-
mico e o combate à inflação: ii) os Governos contam com as
políticas monetária, fiscal e cambial/comercial; iii) cada uma
desta políticas possui seus mecanismos próprios de atuação,
como no caso da política fiscal, que lança mão da variação na
alíquota dos impostos, ou da política monetária, que emite
títulos públicos ou da política cambial/comercial, que oferta
dólares no mercado cambial.

Módulo 2 131
Macroeconomia

Atividades de aprendizagem
Chegamos ao final desta Unidade, na qual você pôde conhecer
como o governo constrói as suas Políticas Econômicas; e conhecer
também os diferentes processos de efetivação das Políticas Fiscal,
Monetária e Cambial/Comercial. Para testar seus conhecimentos
sugerimos que você realize os exercícios propostos a seguir. Caso
tenha alguma dúvida, retorne ao texto, releia os pontos que você
não compreendeu, e se precisar de auxílio, não hesite em contatar
o seu tutor, que está à sua disposição.

1. Descreva os motivos pelos quais as políticas econômicas podem não


ser tão efetivas.
2. Descreva os principais mecanismos de execução da política fiscal.
3. Como os depósitos compulsórios dos bancos se constituem em
instrumento de política monetária?
4. Descreva como o governo afeta a taxa de câmbio, no regime de
câmbio flutuante.
5. Faça uma análise do caso da contenda internacional entre a empresa
brasileira EMBRAER e a empresa canadense BOMBARDIER, à luz da
política comercial.

132
Considerações Finais

Co��i��r����� Fi��i�

Você viu ao longo de nossa trajetória de aprendizado sobre


macroeconomia que os Economistas interpretam as diferentes
questões econômicas por meio de modelos que utilizam de variáveis
mais relevantes e suas relações. É importante, que os gestores das
organizações compreendam estes modelos e a forma de interpretar
que a ciência econômica utiliza, uma vez que os diferentes atores
econômicos são afetados pelas escolhas de política econômica que
usam esta estrutura de organização mental. Desta forma, este material
poderá ajudá-lo a entender e interpretar a evolução da Economia
do país em aspectos como a dinâmica da inflação, os efeitos dos
investimentos privados e públicos, o efieto da variação no consumo
das famílias e os determinantes do crescimento econômico.
Assim, espero que você tenha aproveitado este conhecimento
e que ele de fato seja útil na sua vida cotidiana e em sua carreira de
gestor.

Módulo 2 133
Macroeconomia

Referências
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brasileira ao comércio internacional. Ao final, cabe comemorar? PDF.
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134 Bacharelado em Administração Pública


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em: 31 mar. 2016.

VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: Micro e Macro. 3. ed. São Paulo:


Atlas, 2002.

Módulo 2 135
Macroeconomia

Mi�i�urr��u�o
Samuel Façanha Câmara

Graduado em Agronomia pela Universidade Federal


da Bahia (1989), Mestre em Economia Rural pela
Universidade Federal do Ceará (1993) e Doutor em
Economia pela Universidade Federal de Pernambuco
(2002), Pós Doutorado em Gestão da Inovação na
FGV-EBAPE (2013). Foi Pró-Reitor da Universidade Estadual Vale do Acaraú-
UVA; Foi diretor de articulação institucional do Instituto de Tecnologia da
Informação - INSOFT (2005 a 2008) e Professor Adjunto da Universidade
Estadual do Ceará. Tem experiência na área de Administração, com ênfase
em Estratégia empresarial, atuando principalmente nos seguintes temas:
administração financeira, análise econômica, risco, série

136 Bacharelado em Administração Pública


Este livro compõe o material didático do Curso de Bacharelado
em Administração Pública, integrante do Programa Nacional de
Formação em Administração Pública, oferecido na modalidade
a distância.

ISBN 978-85-7988-305-7

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