Mapeamento e Caracterização Dos Remanescentes de Dunas No Muncipio de Natal RN
Mapeamento e Caracterização Dos Remanescentes de Dunas No Muncipio de Natal RN
Mapeamento e Caracterização Dos Remanescentes de Dunas No Muncipio de Natal RN
Carolina Maria Cardoso Aires Lisboa1; Uilton Magno Campos2; Simon Klecius Silva de Souza3
RESUMO
A duna é um ecossistema especial, constituído por areias quartzosas que, quando depositadas
pela ação do vento dominante, formam montes móveis que são posteriormente colonizados por
plantas e animais típicos de regiões com baixo índice de pluviosidade. São excelentes
reservatórios de água doce, sobretudo para a recarga dos aquíferos, uma vez que as águas
pluviais que penetram acumulam-se facilmente no solo. Esses espaços são bastante frágeis,
especialmente em áreas urbanas, sujeitos a formar áreas de risco pela movimentação de areia
caso não sejam devidamente conservados. Em Natal – RN foi realizado o levantamento e a
caracterização dos remanescentes de dunas não inseridos em Zonas de Proteção Ambiental –
ZPAs, utilizando-se ferramentas de geoprocessamento e estudos de campo. Constatou-se que
Natal possui 46 remanescentes, a maioria sujeita à grande pressão urbana, cobrindo
aproximadamente 2,5% de seu território e distribuídos proporcionalmente em relação à
dimensão das Regiões Administrativas. Desses, 25 estão no entorno de Zonas de Proteção
Ambiental – ZPAs e mantêm características semelhantes a elas, devendo ser incorporados.
Ações para manutenção deste ecossistema nativo são necessárias e urgentes. Para tanto,
foram elaboradas recomendações de uso e ocupação para cada área como metas de
planejamento urbano e ambiental.
1
. Bióloga, mestre em Ciências Biológicas pela UFRN. Setor de Projetos e Planejamento Urbano e
Ambiental da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo – SEMURB, Natal, RN,
[email protected].
2
. Tecnólogo em Gestão Ambiental pelo IFRN. Setor de Projetos e Planejamento Urbano e Ambiental da
SEMURB, Natal, RN, [email protected].
3
. Tecnólogo em Gestão Ambiental pelo IFRN. Especialista em Geoprocessamento e Cartografia Digital
pela UFRN, Setor de Projetos e Planejamento Urbano e Ambiental da SEMURB, Natal, RN,
[email protected].
Soc. Bras. de Arborização Urbana REVSBAU, Piracicaba – SP, v.6, n.3, p.64-83, 2011
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ABSTRACT
The dune is a special ecosystem, consisting of quartz sand which, when deposited by action of
dominant winds, shapes moving mounds that are later colonized by plants and animals typical of
regions with low rainfall. They are excellent freshwater reservoirs, especially for aquifers
recharge, once the rainwater easily penetrates the soil. These spaces are quite fragile,
especially in urban areas, because they form risk areas caused by the moving sands, if not
properly maintained. In Natal municipality, Brazil, a survey was carried out with the remnants of
dunes which were not included in municipal Zones of Environmental Protection – ZPAs, using
GIS tools and field studies. Natal has 46 remnants, most under great urban pressure, covering
approximately 2.5% of its territory and distributed proportionally to the size of the administrative
regions. Of these, 25 are in the vicinity and have similar characteristics of Zones of
Environmental Protection – ZPAs, therefore should be incorporated. Actions to maintain this
native ecosystem are necessary and urgent. To this end, recommendations were made for use
and occupancy of each remnant as targets for urban and environmental planning.
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INTRODUÇÃO
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como reservatórios naturais de recursos hídricos para a manutenção do meio natural e demais
necessidades da população; entretanto, esse tipo de solo torna-as extremamente frágeis em
áreas de adensamento urbano. Assim, este trabalho visa a identificar os remanescentes de
dunas do Município do Natal, excluindo-se as que estão protegidas por ZPAs, por meio de
mapeamento, caracterização das intervenções antrópicas e elaboração de estratégias de
preservação e de uso e ocupação desse recurso natural característico do município de Natal.
MATERIAIS E MÉTODOS
A cidade de Natal está localizada na zona homogênea do Litoral Oriental do Rio Grande
do Norte, entre os paralelos 36°42’53" e 37°15’11" de latitude sul e entre os meridianos 38°
35’52” e 34°58’03" de longitude oeste. Abrange uma área total de 16.263,8 hectares e está
subdividida nas regiões administrativas norte, sul, leste e oeste. Limita-se ao norte com o
município de Extremoz, ao sul com os municípios de Parnamirim e Macaíba, a oeste com o
município de São Gonçalo do Amarante, a leste com o Oceano Atlântico.
A delimitação das áreas de dunas foi realizada com base nos seguintes mapas em
projeção UTM: Mapa IBGE do Estado do Rio Grande do Norte, escala 1:500.000; Mapa
Geológico do Estado do Rio Grande do Norte, escala 1:500.000; Mapa de Unidades
Fitoecológicas; Mapa de Uso Atual; Mapa IBGE de Zoneamento Geoambiental do Estado do
Rio Grande do Norte em escala 500.000; Mapas Temáticos RADAMBRASIL dos Recursos
Naturais, folhas SB. 24/25 Jaguaribe/Natal em escala 1:100.000. A partir desse documento,
foram recolhidas assinaturas espectrais onde se identificavam as feições dunares. Então,
utilizando-se de fotografia aérea vertical do ano de 2006 do município de Natal, delimitaram-se
áreas semelhantes próximas às do mapa anterior. Pelas fotografias, foi possível avaliar
parâmetros como textura e reflectância espectral dos alvos.
No geoprocessamento, foram utilizados os softwares ArcGIS, versão 9.2 da ESRI, e as
versões 3.4 e 3.5 do software SPRING - Sistema de Processamento de Informações
Georreferenciadas, desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram mapeadas 104 áreas passíveis de serem dunas pelo SIG, baseando-se na
reflectância espectral dos alvos identificados. Após visitação in loco, verificou-se que apenas 46
preservavam características de feição dunar (Figura 1), enquanto 58 não conservavam esse
tipo de feição.
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Para cada duna mapeada, foi elaborada uma ficha de identificação, conforme exemplo
da Figura 2. Ao final do trabalho, foi elaborado um atlas cartográfico com todas as áreas,
disponibilizado ao município para auxiliar nas ações de fiscalização ambiental.
Verificou-se que Natal possui apenas 2,5% de seu território composto por dunas
preservadas não protegidas por ZPAs. As dunas mapeadas estão proporcionalmente
distribuídas em relação à dimensão das regiões administrativas do município, conforme se
observa na Tabela 1.
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Do total de feições confirmadas como dunas, 13 são fixas, 31 são semifixas e duas são
móveis. Em relação à vegetação, 15 possuem vegetação nativa bastante preservada; 16
possuem uma vegetação nativa pouco preservada associada a gramíneas e exóticas; e em três
a vegetação nativa foi totalmente desmatada e sucedida por gramíneas.
Do total de dunas mapeadas, 25 estão no entorno de ZPAs e mantêm características
semelhantes a elas (Figura 3). A fragmentação de habitats é uma das principais causas do
declínio da biodiversidade no Brasil, causando desertificação e incremento da erosão de solo,
vulnerabilidade dos habitats às alterações climáticas ou a extinção de espécies (PEREIRA et
al., 2007). Sabe-se que fragmentos de mata maiores e com mais corredores de conexão têm
maior capacidade de suporte à vida selvagem, uma vez que provêem mais espaço físico,
mobilidade, segurança e alimentos à biodiversidade (CÂMARA, 1996; ZAÚ, 1998). Assim, a
incorporação destes remanescentes às zonas de proteção é um aspecto fundamental para a
sua manutenção e das próprias ZPAs.
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Observa-se, assim, que algumas das áreas estão ocupadas e/ou sujeitas à grande
pressão de adensamento, fazendo que o comprometimento da feição seja evidente e, dessa
forma, seja necessário sugerir atribuições de usos para essas áreas. Com o objetivo de
elaborar estratégias de preservação e/ou de uso e ocupação dos remanescentes de dunas
como metas de planejamento urbano e ambiental, foram elaboradas recomendações de uso
para cada área, conforme Tabela 2.
Tabela 2. Recomendações de uso do solo para cada remanescente de dunas por Região
Administrativa do Município de Natal – RN
Table 2. Land use recommendations for each of the remnants of dunes by Administrative
Region of Natal – RN, Brazil
REGIÃO Nº DA
RECOMENDAÇÕES
ADMINISTRATIVA DUNA
NORTE 1 CONSERVAÇÃO, CRIAÇÃO DE PARQUE LINEAR.
CONSERVAÇÃO (SE ÁREA PÚBLICA) / ADENSAMENTO CONFORME
NORTE 13
LICENCIAMENTO (SE ÁREA PRIVADA).
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OESTE 6 ADENSAMENTO.
OESTE 7 CONSERVAÇÃO/RECUPERAÇÃO/ANEXAR À ZPA-4.
CONSERVAÇÃO/ÁREA DE RISCO/REMOÇÃO/RECUPERAÇÃO/ NOVOS
OESTE 8 ESTUDOS E INTERVENÇÕES VISANDO A MINIMIZAR OS RISCOS E
ESTABILIZAR A DUNA.
CONSERVAÇÃO/ÁREA DE RISCO/REMOÇÃO DAS CASAS À
OESTE 28
NORDESTE/RECUPERAÇÃO/ ANEXAR À ZPA 4.
GARANTIR A CONSERVAÇÃO DE FAIXA DE DOMÍNIO DE 10 METROS DA
OESTE 29
LINHA FÉRREA.
ADENSAMENTO (SE ÁREA PRIVADA) /EQUIPAMENTO PÚBLICO (PRAÇA, SE
OESTE 34
ÁREA PÚBLICA).
OESTE 36 CONSERVAÇÃO / ANEXAR À ZPA-4/RECUPERAÇÃO VEGETAL.
CONSERVAÇÃO E INSTALAÇÃO DE EQUIPAMENTO PÚBLICO COM
OESTE 38
RECOMPOSIÇÃO VEGETAL (SE ÁREA PÚBLICA).
OESTE 73 ADENSAMENTO.
CONSERVAÇÃO/EQUIPAMENTO PÚBLICO (ÁREA VERDE) /RECOMPOSIÇÃO
OESTE 75
VEGETAL.
OESTE 76 ADENSAMENTO.
ADENSAMENTO COM RESTRIÇÕES (CONSERVAÇÃO DAS FEIÇÕES
OESTE 77/78
EXISTENTES, OBSERVANDO PLANO MUNICIPAL DE ARBORIZAÇÃO).
OESTE 79 ADENSAMENTO.
REMOÇÃO DE CASAS EM ÁREA DE RISCO/ PRESERVAÇÃO DA ÁREA DE
DOMÍNIO DA REDE ELÉTRICA/ RECOMPOSIÇÃO VEGETAL PARA ESTABILIZAR
OESTE 99
ENCOSTAS/AMPLIAÇÃO DO CEMITÉRIO DO BOM PASTOR NA ÁREA PLANA
AO LESTE.
ADENSAMENTO COM RESTRIÇÕES (REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA DAS
OESTE 104 ÁREAS PLANAS /CONSERVAÇÃO DAS FEIÇÕES EXISTENTES, PODENDO
FAZER PARTE DE UM PLANO MUNICIPAL DE ARBORIZAÇÃO).
OESTE 105 ADENSAMENTO.
EQUIPAMENTO PÚBLICO (SE ÁREA PÚBLICA) / ADENSAMENTO (SE ÁREA
OESTE 106
PRIVADA).
ADENSAMENTO (SE ÁREA PRIVADA)/EQUIPAMENTO PÚBLICO (PRAÇA, SE
OESTE 108
ÁREA PÚBLICA).
LESTE 80 RECOMPOSIÇÃO VEGETAL/CONSERVAÇÃO.
LESTE 102 CONSERVAÇÃO, COM OCUPAÇÃO DA SEDE DO IDEMA.
CONCLUSÕES
Soc. Bras. de Arborização Urbana REVSBAU, Piracicaba – SP, v.6, n.3, p.64-83, 2011
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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CÂMARA, I.G. Plano de ação para a Mata Atlântica. Roteiro para a conservação de sua
biodiversidade. Série Cadernos da Reserva da Biosfera, Caderno n°4, São Paulo, 1996. 34 p.
Disponível em: <http://www.cprh.pe.gov.br/rbma/downloads/CadernosRB/n4.pdf>. Acesso em:
16 dez. 2010.
COSTA, W.D.; SALIM, J. Aspectos estruturais da faixa sedimentar costeira da região de Natal –
RN. Revista de Estudos Sedimentológicos, v.2, n ½, p.133-143, 1972.
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