Lingua e Nacionalismo - Olavo de Carvalho
Lingua e Nacionalismo - Olavo de Carvalho
Lingua e Nacionalismo - Olavo de Carvalho
Olavo de Carvalho
O Globo, 3 de março de 2001
Todos esses melindres patrióticos são demasiado posados para que cheguem a me
comover. Não vejo neles senão o oportunismo de demagogos que, em vez de cultivar o
idioma, querem usá-lo como pretexto para gerar um estado de alarmismo xenófobo útil
a seus propósitos políticos.
Porém, se você protesta contra esses abusos, quem se levanta para defendê-los,
chamando você de "purista", de "reacionário", de "lusófilo"? Aqueles mesmos que cinco
minutos antes queriam fechar a alfândega às importações de palavras. Sim, porque em
geral essas criaturas não são verdadeiros nacionalistas e sim marxistas, que só defendem
o interesse nacional na medida em que, ecoando uma teoria absurda inventada por
Stálin, enxergam as relações internacionais como luta de classes. Por extensão, são
também adeptos do progressismo lingüístico, segundo o qual toda construção nova é
melhor que a velha, bem como da ideologia da transgressão obrigatória, segundo a qual
toda regra lingüística é imposição tirânica das classes dominantes, odioso mecanismo de
exclusão social contra o qual é preciso lutar com todas as armas, mesmo as da mentira e
do achincalhe.