Historia Da Africa
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Historia Da Africa
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História da África e
Relações com o Brasil
Ministério das Relações Exteriores
Instituto de Pesquisa de
Relações Internacionais
Centro de História e
Documentação Diplomática
Conselho Editorial da
Fundação Alexandre de Gusmão
Brasília – 2018
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Fundação Alexandre de Gusmão
Ministério das Relações Exteriores
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Equipe Técnica:
André Luiz Ventura Ferreira
Eliane Miranda Paiva
Fernanda Antunes Siqueira
Gabriela Del Rio de Rezende
Luiz Antônio Gusmão
Projeto Gráfico:
Yanderson Rodrigues
Programação Visual e Diagramação:
Gráfica e Editora Ideal
CDD 327.81916
Prefácio 17
Embaixador Nedilson Jorge
Primeira parte
Brasília, 19 de outubro de 2016
Sessão de abertura 23
Segunda parte
Brasília, 20 de outubro de 2016
Terceira parte
Brasília, 21 de outubro 2016
Quarta parte
Brasília, 22 de outubro 2016
Quinta parte
Brasília, 23 de outubro 2016
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pudemos contar ao realizar o seminário foram determinantes para
o resultado final, que expôs uma miríade de visões diferentes sobre
o continente africano, sobre suas relações com o Brasil e sobre a
própria sociedade brasileira.
O caráter histórico e multifacetado das relações Brasil
‑África reveste-se de especial importância com a necessidade
de constante debate sobre o tema e a participação de distintos
setores da sociedade. Historicamente, recorda-se que o primeiro
país a reconhecer a independência do Brasil, até antes dos Estados
Unidos, foi o Reino do Benin, em 1823. Desde então, com maior ou
menor intensidade, a África exerceu papel distinto na formação e
execução da política externa brasileira, observando-se o nadir, no
final do século XIX e início do XX, e sua retomada, com a Política
Externa Independente de Jânio Quadros e João Goulart, no início
da década de 1960. Nas primeiras décadas do século XXI, no
entanto, podemos identificar o zênite das relações, acompanhado
pela atribuição ao continente de uma prioridade estratégica, desde
então, na política externa brasileira.
A intensificação de iniciativas e de contatos com parceiros
africanos, evidenciada ao longo dos últimos anos, vem ocorrendo de
forma ampla e generalizada, não se restringindo apenas aos países
de língua portuguesa, nem a temas de ordem econômica e comercial.
Tratam-se, ademais, de movimentos simultâneos e recíprocos, uma
vez que se pode observar, igualmente, a tendência do Brasil de
figurar como parceiro estratégico de diversos países africanos.
Indiscutivelmente, pode atribuir-se ao fenômeno, pelo
menos parcialmente, o vertiginoso crescimento econômico do
continente africano ao longo das últimas décadas, o que permitiu
o aproveitamento do potencial de intercâmbio comercial Brasil
‑África, que cresceu substantivamente desde o início do século.
A profundidade das relações do Brasil com o continente
africano, entretanto, ultrapassa os interesses econômicos e
comerciais. Observa-se, na sociedade brasileira, crescente interesse
pela África, em função de diversos vínculos históricos, entre
os quais sublinha-se o mais aparente: a estrutura social do país,
que conta com cerca de 50% de sua população que se autodeclara
afrodescendente. A necessidade patente dos afrodescendentes
brasileiros em se aproximar com o continente africano, ora em
termos acadêmicos, ora em termos pessoais ou comerciais, pode
ser evidenciada, por exemplo, além dos números de comércio
exterior, pelo aumento vertiginoso no número de teses, dis
sertações e artigos sobre temas africanos, em universidade e
centros acadêmicos brasileiros, ao longo da última década.
Outra manifestação da intensificação das relações diz respeito
ao turismo. Observa-se o contínuo crescimento da participação do
continente africano como destino turístico brasileiro na medida
em que se intensifica a conectividade, com o aumento, não apenas
do número de voos diretos para a África, mas também de destinos.
Hoje, realizam-se voos diários para Joanesburgo, bem como voos
regulares para Luanda, Adis Abeba e Casablanca.
É importante ressaltar que a aproximação Brasil-África, com
o adensamento das relações políticas e comerciais ou turismo, é
claramente reciprocada pelo lado africano. Em termos políticos,
os últimos dez anos testemunharam um esforço inédito do
lado africano para o estreitamento das relações com o Brasil.
O movimento de abertura de embaixadas brasileiras na África,
por exemplo, foi bem reciprocado com a criação de representações
de países africanos no Brasil, tornando Brasília uma das capitais
mundiais com o maior número de missões diplomáticas africanas.
Igualmente no turismo, o Brasil cresce constantemente como
opção para viajantes africanos.
A realização do seminário “História da África e as Relações
com o Brasil” foi uma exitosa tentativa de abrir o debate, de forma
democrática e inclusiva, para os diversos setores da sociedade
brasileira, sobre as inúmeras possibilidades de cooperação,
aproximação, troca de conhecimento e cognitivismo mútuo entre
o Brasil e o continente africano. O seminário, buscando fazer a
ponte entre a produção acadêmica e a atuação profissional, no que
diz respeito à África, logrou reunir importantes atores (individuais
e coletivos), que compartilham a atração e o fascínio pelo tema,
em iniciativa que deverá ser repetida no futuro para que se possa
continuar a amadurecer e enriquecer o conhecimento coletivo
sobre tema tão relevante ao nosso país.
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africana, que aos poucos começa a ser mais conhecida pela própria
sociedade civil; começa a sair dos fóruns mais restritos; da própria
discussão diplomática; das discussões comerciais; dos negócios; e
começa a ser melhor entendida, eu diria, pelo cidadão e pela cidadã
comum. Estamos em um processo de avanço nessa questão. E para
fazer essa relação, essa ponte, digamos assim, entre os governos, a
política e a sociedade civil aqui no Brasil, contamos com um potente
ator público, que é o movimento negro na população brasileira, na
organização política dessa população. No Brasil, esse desejo de se
aproximar e de conhecer mais o continente africano, seus países e
suas diferenças tem sido uma iniciativa do governo – do Ministério
das Relações Exteriores – e vem da militância do movimento
negro, que articula a sociedade civil organizada. Digo isso porque,
quando ela surgiu, algumas pessoas não entendiam o porquê de o
Brasil colocar dentro da sua legislação maior o tema do estudo do
continente africano, mas nós entendíamos, tendo em vista nossos
vínculos ancestrais. Sabemos que a chegada dos africanos ao Brasil
não foi fácil: havia um processo de escravização, de colonização; e
também o próprio Brasil, com sua luta dos africanos escravizados,
foi construindo espaços de luta, resistência e liberdade. Hoje há
a figura dos quilombos, que muito nos orgulham e que ainda
simbolizam a resistência dos negros à escravidão. Temos agora
políticas públicas, aprimoradas e direcionadas para as comunidades
quilombolas, que significam o elo de resistência e de libertação,
para além de muitas outras ações que tivemos como exemplo de
resistência, de liberdade, de olhar sobre a natureza, de olhar sobre
o homem e a mulher, vindas dos nossos ancestrais africanos. Então
esse seminário, todo o nosso esforço do Brasil de aproximação com
a África, tem toda uma razão de ser: a razão de ser da existência do
nosso país e de uma população de 53% que se declaram negros no
país; ou afrodescendentes, afro-brasileiros, como algumas pessoas
costumam chamar. Isso possibilitou a aprovação da Lei 10.639/03,
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Painel 1
Os Estados e as culturas da África:
África Austral, os países do Zambeze,
África do Sul, Golfo da Guiné,
Alta Guiné, Guiné Inferior,
Delta do Níger, Haussas, Daomé
Acácio Sidinei Almeida Santos
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mostravam que não eram apenas adornos, mas que eram utilizadas
no cotidiano. A pergunta é: como essas porcelanas chegaram? Eu
faço essa pergunta com um tom meio risonho, porque outro dia
um amigo veio discutir comigo como o coco chegou a todos os
lugares do mundo e aí ele disse: “Saiu da Ásia”. Parece que tudo saiu
da Ásia, hoje já se sabe que não. No Caribe há a Ilha do Coco, de
onde hoje está provado que o coco se dispersou, já que ele consegue
ficar na água por meses sem apodrecimento e depois é de fácil
germinação. Essa teoria vale para cocos, mas não vale para porce
lanas, que afundam e não poderiam ser levadas pelas correntes
marítimas. Quando eu disse do peso que nós temos dessas visões
ainda etnocêntricas e quando falo do dicionário etnocêntrico, volto
então ao meu orientador que insistia em uma metodologia dife
rencial, e essa é a metodologia utilizada pelo Cheikh Anta Diop
e outros pesquisadores, para que não saiamos fazendo meras
traduções daquilo que não pode ser meramente ou facilmente
traduzido. Nós precisaríamos conhecer isso um pouco mais a
fundo. Para conhecer isso um pouco mais a fundo, a linguística é
uma ferramenta importante, a antropologia é uma ferramenta
importante e quem sabe daqui a alguns anos possamos sair daquilo
que pesa ainda sobre nós, que é o que foi escrito por Hegel e que de
alguma forma permanece ainda hoje: “A África propriamente dita
é a parte característica deste continente. Começamos pela
consideração desse continente, porque em seguida podemos deixá
‑lo de lado, por assim dizer. Não tem interesse histórico senão o de
que os homens vivem ali na barbárie e na selvageria sem fornecer
nenhum elemento à civilização”. “Por mais que retrocedamos na
história, acharemos que a África está sempre fechada no contato
com o resto do mundo; é um eldorado recolhido em si mesmo, é o
país criança”, vale a pena grifar: “ é o país criança envolvido na
escuridão da noite, aquém da luz da história consciente. Nessa
parte principal da África não pode haver história”. Encontramos
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Mandinga, que no Brasil quer dizer outra coisa, mas é uma região
de povos falantes da língua mandê, os crus e os antigos voltaicos,
porque estão naquela região do Rio Volta, logo ao norte da Côte
d’Ivoire. A população akan é extremamente importante não apenas
numericamente, mas naquilo que diz respeito aos aspectos
jurídicos, políticos e econômicos. Vou destacar aqui um elemento
do que eu estou chamando de aspectos jurídicos. Qualquer um de
nós que vá a uma aldeia do país e queira ali se instalar; pode solicitar
ao chefe de terras autorização para tal. Ao contrário do que se diz
de que existem conflitos étnicos e de que esses conflitos marcam o
subdesenvolvimento do continente africano, Walter Rodney já
negou que os conflitos étnicos levem ao subdesenvolvimento no
livro Como a Europa subdesenvolveu a África. Existe um sistema akan
de tutorado, o que significa que qualquer um de nós pode solicitar
autorização para permanecer na terra e inclusive, segundo as
regras locais, explorá-la. A única coisa que não se pode fazer,
segundo as leis do tutorado, é sepultar, porque o sepultamento cria
ancestralidade, cria o vínculo com a terra. Mesmo com todas as
mudanças ocorridas nesses últimos 50 anos pós-independência de
Côte d’Ivoire, o sistema de tutorado ainda permanece muito vivo e
com grande importância. Depois do golpe de 1999 os burquinenses
ocuparam de forma autorizada as terras de Côte d’Ivoire e depois
passaram a ser acusados por alguns dos problemas do sub
desenvolvimento, principalmente por jovens que diziam que não
tinham mais acesso a terra, porque as terras estavam nas mãos dos
estrangeiros. O conceito de estrangeiro é um conceito também
muito relativo e que precisa ser mais bem compreendido. Tem um
provérbio que diz que não é porque um pedaço de madeira ficou 50
anos dentro de um rio que ele terá se transformado em um
crocodilo; dessa forma, uma vez estrangeiro, sempre estrangeiro.
Boa parte dos reinos e impérios que nós conhecemos são
multiétnicos e sem que necessariamente tenha se destruído nem a
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70, que chama a África de Áfricas, mas não altera em nada. Gostaria
de saber se o senhor acha que muito do vocabulário politicamente
correto não vai passar de papo furado daqui a 40 anos?
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então ler esses livros todos eu acho muito, muito importante, mas
não é tudo. Quero reforçar aqui a minha alegria de vir a essa Casa,
de saber que é nessa Casa que acontecem importantes seminários
como esse. Importante porque nós sabemos que a partir daqui
outros eventos vão acontecendo. Nós estamos em um momento
maravilhoso, quem é mais velho aqui lembra que falar de África
era realmente um objeto político não identificado e, se as pessoas
ficavam em um evento como esse, é porque você tinha prometido
que ia fazer um sorteio de um carro zero quilômetro no final.
Chegamos a um momento que não precisa mais sortear nada
e que as pessoas ficam e se revelam extremamente interessadas
naquilo que diz respeito aos estudos africanos. Nós precisamos
da África com os africanos e se não fizermos isso nós estaremos
transformando a África em simples objeto de pesquisa e a África
tem um papel importante, porque é o berço da humanidade. Se não
tivermos outros argumentos esse já seria suficiente para aquilo que
estamos fazendo. Muito obrigado, foi um grande prazer.
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Painel 2
Do mercantilismo ao capitalismo: as
transformações da economia africana,
as relações econômicas e comerciais da
África com a Europa e com o Brasil
Williams da Silva Gonçalves
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sempre, não vamos aqui entrar no mérito se era uma coisa sincera,
hipócrita, isso não importa, mas os europeus queriam cristianizar
todo esse processo de contato, de busca do ouro, de escravização,
isso era revestido de uma cristianização e combate ao islamismo,
tinha a sua versão de guerra religiosa. Portanto, a chegada dos
europeus e o processo da escravidão criam um outro fator de
pressão, pressão porque muitos povos se deslocavam do litoral
fugindo da escravização, outros participavam da escravização, quer
dizer, a possibilidade da escravização fomentou rivalidades dentro
da África. Ora, tudo isso causou um prejuízo econômico muito
grande, porque esse deslocamento populacional, em que se fugia
da opressão religiosa, e o deslocamento populacional e a guerra
determinada pela escravização praticamente inviabilizavam
qualquer atividade econômica mais estável, reduziram essas
pressões, reduziram além, claro, da sangria populacional sobre a
qual já falamos. Então, essas pressões reduziram a economia
africana, a economia de subsistência. Não havia como pensar em
economia de longo prazo, de ocupação do território, de pesquisa
empírica, de aperfeiçoamento de métodos, de trabalho industrial
manufatureiro, em que alguns pontos, como no noroeste da África,
haviam se desenvolvido bastante, todas essas atividades são
retraídas. Portanto, nós temos aí uma sangria populacional
arrasadora e depois uma desestruturação da produção dentro da
África, quer dizer, não se pensa, os africanos não podiam pensar
em longo prazo, quer dizer, passou-se a ter uma economia que a
qualquer momento podia ser suspensa ou devia ser suspensa para
que houvesse deslocamento, para que houvesse fuga. Aí chegamos
onde eu penso que é o mais interessante dessa reflexão sobre a
passagem do mercantilismo ao capitalismo na África e onde eu
sublinho as ideias que considero mais importantes e que valem a
pena nós refletirmos mais acuradamente sobre elas. Em primeiro
lugar, a chegada dos europeus torna-se um instrumento impor
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e vigilantes para isso. Até os anos 90, toda a violência que havia
no mundo e toda violência suposta, presumida, era decorrente da
Guerra Fria, da oposição entre Estados Unidos e União Soviética.
O mundo soviético se dissolveu, entrou em colapso e, no entanto,
as guerras aumentaram. A OTAN, que foi criada com a finalidade
de impedir a expansão soviética e a expansão comunista, ao invés
de se dissolver, porque perdeu sua razão, pelo contrário, ampliou
‑se, aumentou a sua competência. As forças da OTAN vivem aqui
nas nossas praias. Os ingleses aumentaram a pressão sobre as
Malvinas e, ao arrepio das leis internacionais, estão explorando o
petróleo nas Malvinas e aumentaram o seu efetivo. Os franceses,
a pretexto de proteger as suas Guianas, também metem os seus
navios no Atlântico Sul. Os Estados Unidos recriaram há poucos
anos a quarta esquadra. Estamos falando das forças da OTAN.
Na Europa, no Oriente Médio, elas romperam o perímetro da
Europa e passaram a fazer incursões fora da Europa. As forças
da OTAN no Afeganistão pressionam para que o Brasil se associe
à OTAN. Portanto, a violência aumentou, a pressão das grandes
potências aumentou, e qual é a lógica? Qual é a lógica dessa ação
militar? Porque essa ação militar não se dá no vazio, nem esses
chefes militares são loucos desvairados. Sabem o que estão
fazendo, qual é a lógica? Ter acesso às fontes de energia e de
matérias-primas; a lógica americana não é só ter acesso ao petróleo
e às matérias-primas fundamentais, é garantir o acesso aos seus
aliados, porque petróleo os Estados Unidos até têm, mas os seus
aliados não têm e os seus aliados não podem entrar em colapso
se o sistema financeiro internacional quebra e os Estados Unidos
não podem permitir que isso aconteça. Quem se coloca no meio
do caminho perturbando de alguma maneira deve ser varrido
do mapa. Essa é a lógica no Iraque, no Afeganistão e na Síria.
A questão é garantir o acesso às fontes de energia e matérias-primas
para si e para os seus aliados. Para isso, existem as forças armadas
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Painel 2
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cinismo para proferir ideias como essas, mas eles proferem e tem
muita gente que assimila. Isso é o trágico; tem o lado divertido
e tem o lado trágico. Mais uma das acusações aos chineses é que
eles apoiam ditaduras, governos não democráticos. Vejam só o
que eu afirmava há pouco sobre a tradição diplomática brasileira,
o respeito à autodeterminação dos povos. Não estabelecer
condicionalidades, para os europeus e para os americanos, é apoiar
ditaduras. Eles não falam em respeito à soberania. Uma das ideias
‑chaves dos americanos e dos europeus é de que a democracia deve
prevalecer custe o que custar. Foi assim que fizeram no Iraque.
Mas o interessante é o seguinte: só falam em democracia dentro
dos Estados, mas não falam em democracia entre os Estados. Se
quiserem impor uma ordem democrática à revelia da sociedade, por
princípio não é democrático e está desrespeitando a democracia
entre os Estados. O processo de desenvolvimento é um processo
de esforço do próprio povo; ninguém dá o desenvolvimento para o
outro, é um esforço do próprio povo, que pode ser bloqueado e tem
sido bloqueado. Uma nova ordem internacional pode desbloquear
e tornar mais factível, mais produtivo, o esforço de cada um. Eu
penso assim.
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Segunda parte
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Painel 3
Leituras do Colonialismo*
Marcelo Bittencourt
* Originalmente esse texto foi apresentado na forma de palestra para o painel “Colonialismos: revisão
bibliográfica”. O convite para a publicação implicou a revisão do material transcrito, buscando
resolver problemas como marcas de oralidade, frases truncadas e omissão de referências, a fim de
que o leitor possa melhor acompanhar os argumentos apresentados. Buscou-se, no entanto, manter
seu caráter didático e introdutório ao tema.
Painel 3
Leituras do Colonialismo
Introdução
O tema colonialismo possui um amplo leque de possibilidades
de análise. Poderia começar tratando das alterações nas sociedades
africanas com o fim do tráfico atlântico e terminar com as últimas
independências na África Austral, como seriam os casos de Angola,
Moçambique e Sudoeste Africano, atual Namíbia. Diante da
dimensão do tema, a opção foi abordá-lo a partir de dois tópicos
que considero fundamentais e que sofreram profundas mudanças
na forma de serem estudados.
Primeiro discutirei a própria expansão colonial ou como é
comumente conhecida nos manuais de história da África, ainda
que evidenciando certo eurocentrismo: a partilha da África.
Posteriormente, analisarei as experiências coloniais a partir de uma
visão crítica ao colonialismo genérico ou ao colonialismo observado
a partir das lentes metropolitanas, dos impérios coloniais.
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Leituras do Colonialismo
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Leituras do Colonialismo
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O estudo do colonialismo
O debate acerca da ideia de resistência atravessou também o
segundo tópico elencado para essa discussão. É preciso lembrar,
uma vez mais, que na segunda metade do século XX o continente
passava pelo efervescente processo de construção e fortalecimento
dos nacionalismos e, posteriormente, dos estados nacionais, e
o estudo do colonialismo e da resistência a ele teve implicações
importantes na condução da vida política dos jovens países.
Grupos políticos mais urbanizados tenderam a ter maior
ascendência sobre organizações como sindicatos, partidos
políticos e movimentos de libertação, ainda que isso não tenha
se constituído numa regra, afinal casos como o do Senegal e dos
Camarões, entre outros, com suas lideranças rurais, embaçam essa
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Leituras do Colonialismo
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Concluindo…..
O que podemos perceber por tudo que foi exposto
anteriormente é que, em diferentes níveis, houve uma relação
colonial e que os africanos sempre estiveram presentes na gestão
desse espaço colonial. Dessa forma, é fundamental ter-se em conta
as estruturas políticas e econômicas africanas pré-existentes ao
período de expansão do colonialismo.
Sem desconsiderar a importância do estudo das ideologias
e das legislações coloniais, o que o estudo do colonialismo tem
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Painel 3
Leituras do Colonialismo
Referências bibliográficas
BIRMINGHAM, David. The Portuguese conquest of Angola. Oxford:
Oxford University Press, 1965.
COOPER, Frederick. “Conflito e conexão: repensando a História
Colonial da África”. In: Anos 90, Porto Alegre, v.15, n.27, p. 21-73,
2008.
COOPER, Frederick. “Condições análogas à escravidão:
imperialismo e ideologia da mão-de-obra livre na África”. In:
Além da escravidão: investigações sobre raça, trabalho e cidadania em
sociedades pós-emancipação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2005.
COOPER, Frederick. Plantation Slavery on the East Coast of Africa.
New Haven: Yale University Press, 1977.
DIKE, Kenneth Onwuka. Trade and politics in the Niger Delta
1830-1885: An introduction to the economic and political history of
Nigeria. Oxford: Clarendon Press, 1956.
ILIFFE, John. Os africanos: história dum continente. Lisboa:
Terramar, 1999.
ILIFFE, John. Tanganyika under German Rule, 1905–1912. New
York: Cambridge University Press. 1969.
ISAACMAN, Allen F. Mozambique: the africanization of a European
Institution the Zambesi prazos 1750-1902. Madison: The University
of Wisconsin Press, 1972.
KI-ZERBO, Joseph. História da África negra. Lisboa: Publicações
Europa-América, 1991.
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Painel 3
Leituras do Colonialismo
1 Mantiveram-se algumas das perguntas e respostas realizadas ao final da palestra por estarem
relacionadas diretamente ao tema abordado e por complementarem alguns aspectos tratados de
forma muito rápida. Buscou-se ainda, manter o caráter didático que o evento comportou.
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pagamento em diárias; por jornada e não por mês. Por outro lado,
continuavam tendo acesso à terra, mesmo quando escravos de
outros africanos, enquanto a exploração colonial não permitia essa
possibilidade. Vai-se gerando uma tensão e ao mesmo tempo uma
negociação entre os trabalhadores africanos e esse estado colonial;
os governos coloniais, a administração colonial; uma tensão e uma
negociação de difícil resolução. Daí os poderes coloniais passarem a
falar nas “peculiaridades do trabalhador africano”. O que facilitaria
a defesa do trabalho forçado exercido por parte dos diferentes
impérios coloniais.
Sobre isso, um interessante trabalho é o filme de Jean Rouch,
Jaguar. Esse filme mostra a Costa do Ouro de meados dos anos
de 1950, quando diferentes jovens migram do Níger para a Costa
do Ouro para conquistar a cidade, ganhar dinheiro e voltar à sua
terra natal. O filme é muito interessante por demonstrar o quanto
o colonialismo afeta a vida dos africanos que, por sua vez, vão
africanizando o colonialismo.
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As independências africanas:
violência e diversidade*
Marcelo Bittencourt
* Originalmente esse texto foi apresentado na forma de palestra para o painel “Descolonização”.
O convite para a publicação implicou a revisão do material transcrito, buscando resolver problemas
como marcas de oralidade, frases truncadas e omissão de referências, a fim de que o leitor possa
melhor acompanhar os argumentos apresentados. Buscou-se, no entanto, manter seu caráter
didático e introdutório ao tema.
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As independências africanas: violência e diversidade
Introdução
Ao olharmos para o mapa político do continente africano nos
damos conta da complexidade de se construir uma perspectiva
panorâmica para tratar do tema das independências. Diante
desse desafio, a opção adotada foi a de elencar alguns temas que
atravessam diferentes processos de descolonização, pontuando‑os
com exemplos específicos. Antes, porém, cabe fazer um alerta prévio
no tocante a essa mirada continental. É fundamental perceber que,
da mesma forma que o estudo do colonialismo tem deixado de lado
uma lente de observação metropolitana, também as análises sobre
os processos de luta pela independência na África têm buscado
escapar a modelos ou padrões de embates anticoloniais de acordo
com a potência imperial em questão.
Diversidade de processos
Alguns exemplos pontuais podem nos ajudar a esmiuçar essa
questão. A Argélia e a Guiné‑Conacri foram colonizadas pela mesma
França, mas sofreram processos de colonização muito distintos e
tiveram processos de independência também diferenciados. No
caso argelino, uma longa guerra de libertação, entre 1954 e 1962,
foi levada adiante pela Front de Libération Nationale (FLN) contra o
domínio francês até que o governo de Charles De Gaulle passasse
a discutir a independência argelina. Na Guiné‑Conacri, o processo
seguiu por outro trilho. No plebiscito de 1958, a Guiné, liderada
pelo Parti Démocratique Guinéen (PDG), de Sekou Touré, decidiu
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O contexto internacional
Mantendo a arriscada perspectiva panorâmica de abordagem
das independências africanas, é preciso ter em conta que elas
ocorreram num contexto pós Segunda Guerra, de crescente tensão
entre os EUA e a URSS, que daria lugar à chamada Guerra Fria.
No entanto, as participações mais efetivas dos Estados Unidos e
da União Soviética nos diferentes embates africanos foram mais
evidentes apenas nos últimos anos da década de 1950. Afinal,
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Concluindo....
O balanço do imediato pós‑independência no continente
demonstra que quase todos os países passaram por experiências
ditatoriais, à esquerda ou à direita, com partidos únicos,
perseguições políticas, forte apoio do exército e muitos conflitos
localizados. Golpes de estado e guerras civis também tiveram largo
espaço no continente, frustrando os discursos mobilizadores da
ideia de conquista da independência como primeiro passo para a
melhoria de vida das populações.
A crise econômica que atingiu o continente de forma
generalizada nas décadas de 1970 e 1980 permite especular o
quanto ela foi fruto de lógicas econômicas que extrapolaram as
possibilidades de ação dos dirigentes africanos, o que não os exime
das críticas quanto às opções tomadas, responsáveis pelo maior
ou menor impacto da crise sobre a vida dos seus povos (Arrighi,
2002).
Foi preciso esperar pelos anos de 1990, com o fim do
Apartheid e a inauguração do multipartidarismo em vários países
africanos, para que uma nova onda de otimismo, tal como nos
anos de luta contra o colonialismo e de conquista das tão sonhadas
independências, voltasse a tocar o continente.
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Referências bibliográficas
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Além da escravidão: investigações sobre raça, trabalho e cidadania em
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M’BOKOLO, Elikia. África Negra. História e civilizações. Do século
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1 Manteve‑se algumas das perguntas e respostas realizadas ao final da palestra por estarem relacionadas
diretamente ao tema abordado e por complementarem alguns aspectos tratados de forma muito
rápida. Buscou‑se ainda, manter o caráter didático e introdutório que o evento comportou.
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Mas isso quer dizer que não existe rivalidade étnica? Que todas
as guerras travadas em função desses embates identitários foram
criadas pela mídia? Não, quer dizer que também as identidades
devem ser analisadas historicamente, também elas sofrem a ação
do tempo e das mudanças de interpretação daqueles que lhe dão
vida. Várias dessas identidades existiam anteriormente à presença
colonial, mas não necessariamente eram conflituosas, até porque
poderiam nem ter uma grande proximidade.
O caso de Ruanda, em função do genocídio acontecido em
1994 naquele país, pode nos ajudar nessa exemplificação. Hutus
e tutsis conviveram durante muito tempo naquela região, antes
da presença alemã e da presença belga. Tinham divergências
e particularidades, que redundavam em diferenças quanto à
concentração populacional, quer na área montanhosa, quer na
planície, ou ainda no que dizia respeito à produção agrícola e
pecuária, mas nada que os impedisse de compartilhar aspectos
religiosos e a mesma língua. Não houve impedimento, por exemplo,
para casamentos entre hutus e tutsis. Aliás, sobre isso, quase todos
os filmes sobre o genocídio do Ruanda valorizam esse ponto. Há
sempre um casal formado por um homem e uma mulher, tutsi e
hutu.
Todavia, a presença alemã e, posteriormente, a colonização
belga, fortaleceram as diferenças, destacaram as particularidades
e construíram um processo de hierarquização social num rígido
ambiente colonial. Parte dos tutsis passaram a ser privilegiados
na administração e no exército, ficando mais próximos da
colonização, obtendo melhor formação. Com a independência,
eles se apresentaram como uma elite letrada e com maiores
conhecimentos técnicos para comandar as principais esferas
governamentais.
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as influências culturais da
África no Brasil e no mundo
Monica Lima
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não só como uma síntese, mas um tanto como provocação para que
possamos discutir aquilo que espero se encaminhe em termos de
reflexões sobre o tema.
Mais uma vez agradeço a presença de vocês. Começo expondo
os fundamentos históricos das heranças africanas, porque, por um
dever de ofício ou por um vício do ofício, não é possível falar sobre
influências culturais africanas no Brasil, das sociedades africanas,
das africanas e dos africanos no Brasil, sem observar a longa
história. Vou mencionar alguns aspectos: para entender melhor
as heranças e contribuições africanas em nossa identidade e na
formação do Brasil contemporâneo, há que se olhar para a história
dos nossos ancestrais. Ela evidencia que muitos povos da África
tinham longa história de contatos com outros povos e culturas
antes de se encontrarem com os europeus no litoral atlântico no
século XV. Essa história faz parte da memória e da identidade
africanas também trazidas ao Brasil – a longa história da África.
A história da humanidade começou na África; no continente
africano surgiram as primeiras instituições gregárias das sociedades
humanas, que mais tarde originaram formas mais básicas de
organização social: as famílias extensas e os clãs. Partiram daquele
continente os primeiros seres humanos a povoar o planeta. Na
África, durante a antiguidade, surgiram, entre outros, os impérios
egípcio e núbio, que deixaram testemunhos de suas riquezas e de
seu poder, além de monumentos e registros escritos. Os estudos
de história geral sobre o período conhecido como História Antiga
muito raramente contemplam o continente africano, ou raramente
revelam a profundidade da contribuição africana. Isso é perceptível
quando se apresenta a história do antigo Oriente Próximo, onde
está inserida a história do Egito. Apesar de todos os mapas e
referências geográficas localizarem‑no no continente africano,
o Egito é descrito como parte de um mundo oriental, sem situar
os povos em seus limites meridionais. Privilegia‑se o enfoque em
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Sra. Monica Lima (Profa. UFRJ) – Posso ficar nas três? Até porque
essas três perguntas dialogam, especialmente a primeira e a
segunda, e a outra também, ao trazer o candomblé. Acho ótimo.
Esse é o meu objeto de estudo: os brasileiros na África. Eu poderia
falar mais cinco horas; combinaremos uma tarde inteira ou um dia
inteiro para a gente conversar sobre os brasileiros na África, mas
aqui vou dar apenas uma pincelada. Primeiro, essa presença
brasileira na África começa a se fazer notar especialmente a partir
do século XVIII. É um século em que se intensificam essas gerações.
O século XIX tem essa coisa muito interessante de contatos e
comunicações, amanhã vou falar disto: do século XIX e das relações
entre Brasil e África. Essa presença brasileira na África se intensifica
no século XIX, até porque, na virada do século XVIII para o XIX, os
brasileiros, se não os brasileiros de nascimento, pelo menos os
residentes no Brasil, vão ser os grandes comerciantes das idas e
vindas do continente africano para o Brasil e haverá alguns que vão
ter famílias de um lado e do outro. Há filhos de chefes africanos
que são enviados ao Brasil para estudar, para se formar e para se
enfronhar no negócio escravista também e que, portanto,
fortalecem essas relações. Eu tenho uma orientanda, por falar
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mão do que nos torturou e que nos tornou mais sofridos e tristes.
Então, para se defender, há os que pegam o cipó de aroeira, mas
acho que existe mais, por quê? Porque nessas religiosidades de
matriz africana, existem divindades e existem as figuras
unificadoras e criadoras que poderiam naturalmente se aparentar
com o deus do catolicismo ou do islamismo. Eu digo aparentar,
nem diria que não é o mesmo. É igual, mas não é o mesmo, podendo
ser muito semelhante. Eu acho que hoje há um terceiro movimento,
já passou da fase do cipó de aroeira. Penso que a ideia é entender as
religiosidades também de formas diversas e complexas; aliás,
muito complexas, e não fazer disso nenhuma maneira de dizer que
temos e não temos muitas. Eu acho que o candomblé por si só é
uma maravilha, uma religião repleta de riquezas e de simbolismos.
Se é uma religião de base monoteísta ou de um deus supremo,
melhor dizendo, os fiéis dirão isso melhor que eu. É um campo em
que fico sempre receosa de me expressar. O que eu faço são essas
reflexões em torno do tempo, obrigada.
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eles foram para a Tanzânia e ficaram bom tempo lá. Ritmos que
vão, ritmos que vêm, e Bernardo vem com uma frase que eu acho
fabulosa. Ao conversar com esses músicos no pôr‑do‑sol em
Zanzibar, toca de lá, toca de cá, eles falaram: “Ah, a gente está aqui
compartilhando essas sonoridades”. E aí o jovem músico
tanzaniano, de cujo nome não me lembro agora; mas eu vou
procurar, porque acho fundamental dar os créditos; virou para
Bernardo e disse: “A gente não está compartilhando, a gente está
fazendo mais do que isso, a gente está desenvolvendo, porque
quando a gente faz essas trocas, a gente cresce, eu cresço, você
cresce e a música cresce. Essas relações são para isso”. Quando a
gente fortalece e estuda a complexidade dessas novas culturas no
mundo localizado, desses desenvolvimentos culturais possíveis
no mundo localizado, eu acho uma questão do momento. Tem
pouca gente trabalhando isso na academia, mas tem um grupo
bacana que eu conheço na UFF, sob a coordenação da Professora
Marta Abreu. Eu tenho alguns alunos muito interessados. Acho
que ainda falta acontecer aquilo que também está na letra do “Dia
de Graça”, de Candeia, grande compositor: cantá‑lo na universidade,
porque somente quando se cantar o samba na universidade o negro
e a negra vão ser príncipes de verdade e poder sair do barracão. A
gente está caminhando, a gente está ocupando esses espaços, a
gente somos todos, porque somos nós, todo mundo, para não
deixar a Lei 10.639 virar letra morta, é não permitir que a força
dessa cultura popular vire só um folclore que a gente olha de longe
o que não é nosso, porque esse que é o perigo do “folclore” entre
aspas, porque folclórico é uma palavra bonita, quer dizer uma
cultura popular, mas quando a gente começa a olhar aquilo como
manifestação exótica vira um outro que não é a gente e aquele
outro nunca vai ser igual a gente. Então tem de evitar esses
descaminhos, por isso é importante, como você falou, que se
venha também para ocupar esses espaços. E não deixa de ocupar,
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Terceira parte
Brasília, 21 de outubro 2016
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Verde-Brasil: perspectiva histórica
António Correia e Silva
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sobretudo agora com Cuba, com porto como Baltimore, Nil Castro,
mas de fato há aqui um pacto lento para o Novo Atlântico que
surge. O abolicionismo está como um discurso extremamente
importante, quer em Cabo Verde, quer no Brasil, faz redobrar
tensões sociais. E há uma coisa, um mistério para mim como
historiador, que é a relativa coincidência ou mesmo sincronização
entre as revoltas. As revoltas dos anos 30 em Santiago do Cabo
Verde são muito parecidas com as revoltas baianas no mesmo
período, e ao longo da história a gente vê uma coisa curiosa que
quer os escravos quer os escravocratas têm conhecimento. Por
exemplo, o Zumbi dos Palmares e a Serra da Barriga têm um
impacto enorme no século XVIII em Cabo Verde e também a revolta
dos escravos no Brasil. Mas o Atlântico que vai surgir no meio do
século XIX reorienta os fluxos, a intensificação, sobretudo dos
fluxos nordeste e sudoeste que são compostos não por escravos
mas sobretudo por imigrantes e investimentos europeus a caminho
da América do Sul e matérias-primas sul-americanas em direção à
Europa industrial. Todo esse fluxo vai passar por Cabo Verde, mas
um Cabo Verde ao norte do Porto Grande do Mindelo, como eu vos
falei. E o Porto Grande do Mindelo torna o grande centro Atlântico
a rota dos vapores, isso por razões já não temos o Atlântico da vela,
da navegação veleira, mas o Atlântico do vapor e a partir do carvão,
o carvão é um combustível pesado e vai exigir novas escalas, escalas
de reabastecimento, e Cabo Verde se torna uma estação de
reabastecimento carvoeiro. Produzido pelos ingleses, que dominam o
Atlântico, o Atlântico está sob a praxe britânica claramente e então
permite que todo o fluxo para e do Brasil passe por Cabo Verde e há
rapidamente um grande desenvolvimento desse Porto Grande do
São Vicente mobilizando o cabo-verdiano de todas as ilhas e
compondo um cantinho plural que é a cidade do Porto. O Brasil
nomeia um vice-cônsul em 1837 neste porto, e grande parte das
companhias vão passar por Cabo Verde. É nesta data que se
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século XVIII, e começa com a pesca da baleia com a ilha dos cabo
‑verdianos e depois fixando na região de Nova Inglaterra,
Massachusetts, naquela zona. E, portanto, desde cedo a imigração,
a diasporização, a circulação entre Cabo Verde e o entorno atlântico,
e nós estamos no Atlântico, abraçamos o Atlântico por todos os
lados. Há em Angola uma grande comunidade. O senhor embaixador
foi embaixador também em Angola, no Sul, e estamos até a Noruega
ao norte e do outro lado estamos na Nova Inglaterra; estamos na
Argentina. Há uma grande diáspora cabo-verdiana no Atlântico e
essa diasporização sempre representou uma fonte de críticas
sociais, o conhecimento de outras sociedades cria uma comparação
e cria abertura da sociedade. E outra, a história ainda não fez essa
justiça, nós fomos a Cabo Verde alimentar um nacionalismo cabo
‑verdiano, passa a expressão e a sua ironia. As formas disputaram
um sentimento de revolta, mas uma ideia que outro mundo era
possível. A forma, a experiência da América, a experiência do longe
que deu a Cabo Verde uma unidade cultural, bases de um projeto
político que fazem com que o estado possa desenvolver, com base
na parte civil, continuadamente, suas políticas públicas. Com a
fundação do estado de Cabo Verde, Cabo Verde vivia de ajuda, mas
desde logo adotou esse slogan “ajuda-nos a nos libertarmos da
ajuda”. Minimizar os efeitos da ajuda. Em 1975 houve um primeiro
conflito entre Cabo Verde e o Programa Alimentar Mundial, um
conflito que foi muito interessante. O Programa Alimentar fazia
doações a Cabo Verde, de alimentos, e um belo dia descobriram que
os alimentos não eram doados às pessoas necessitadas, que os
alimentos eram vendidos, e PAM logo ameaçou Cabo Verde de
bloqueio e mandou uma missão a Cabo Verde para verificar isto.
E quando chegaram, o governo de Cabo Verde disse: “Não, a doação
gratuita gera dependência, gera mendicidade, o que nós vamos
fazer com a ajuda é vender sim, fazer com que o alimento seja uma
riqueza, seja a base contrapartida de emissão de moeda, abrir
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não existe isso. Portanto, Cabo Verde tem que construir, tem que
continuar a aperfeiçoar o estado como instrumento fundamental
das políticas públicas, mas dar um salto em matéria de educação.
Tivemos preocupações iniciais de cuidado na educação, educação
para todos foi fundamental e cumprimos as metas todas do México,
que é importante para criar cidadania, para ter um denominador
comum em termos de educação para todos, isso é a base de todas
as outras políticas públicas. Fica mais fácil fazer saúde pública, fica
mais fácil fazer segurança alimentar, todos partilham educação de
base, mas acima dessa exigência de equidade é preciso ter novas
exigências de relevância, de qualidade na educação e isso implica
cada vez mais um investimento na educação avançada, na formação
superior. Eu diria que o desenvolvimento de Cabo Verde assenta
historicamente em três “E”s. O primeiro “E” é o estado ético e
probo, a ética weberiana burocrática no sentido weberiano; o
segundo é educação universal. Cabo Verde não pode ter quadros
medianos, porque é preciso reinventar Cabo Verde; e o terceiro “E”,
como dizem os angolanos, é o “E” que estamos com ele, é fundar
uma Economia com base no conhecimento, a empresa, nós não
temos uma cultura empresarial, herdamos dos portugueses uma
cultura burocrática, estadual, estatal, mas não temos uma economia
baseada no empreendedorismo, em atitudes empreendedoras, mas
ausente no conhecimento. E aí eu vos pergunto e estive ainda
ontem na CAPES discutindo isso, como é que podemos cooperar
com o Brasil no sentido de vencer esse desafio histórico para Cabo
Verde? Muito obrigado.
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Sr. Gustavo – Bom dia, ministro. Meu nome é Gustavo, sou estudante
aqui do Instituto Rio Branco, diplomata. A minha questão é sobre
mudança climática em Cabo Verde. Recentemente foi apresentado
ao plano de contribuição voluntária. Gostaria de saber um pouco
mais do senhor sobre medidas tecnológicas e de inovação que vêm
sendo implementadas no país para buscar adaptação e talvez até
compensação, obrigado. Inicialmente eu queria parabenizar pela
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Sr. Paulo André – Bom dia, ministro. Meu nome é Paulo André,
eu sou diplomata e acompanho os assuntos relacionados com
a CPLP aqui no Ministério. Primeiro eu queria lhe agradecer
pela apresentação. O senhor se referiu à mudança de paradigma
de desenvolvimento em Cabo Verde e fez referência também
ao cumprimento por Cabo Verde dos objetivos do milênio. Há
um mês, no âmbito das Nações Unidas, foram adotados novos
objetivos, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, uma nova
agenda que de certa maneira aponta também para uma mudança
de paradigma de desenvolvimento a nível global. Minha pergunta
é como o senhor enxerga a visão de Cabo Verde de seu próprio
desenvolvimento, de que maneira se harmoniza ou não com esses
objetivos de desenvolvimento sustentável? E qual seria o papel da
cooperação com o Brasil no âmbito da CPLP?
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O Brasil e a África do século XIX:
relações políticas e sociais. A África
na cultura europeia do século XIX
Monica Lima
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levá‑los de volta para uma terra mais próxima de onde haviam sido
retirados.
Nos Estados Unidos, logo após a independência, a história
se revestiu de outros matizes, os libertos de cor eram vistos como
indesejáveis, por colocar em questão um projeto de cidadania
pensado exclusivamente para a porção branca da sociedade. Além
disso, havia o temor de que surgissem lideranças ou articuladores
de ações rebeldes antiescravistas. Para se livrarem do que era
considerado um problema – a população negra liberta – o caminho
da migração de retorno passa a ser pensado como solução.
O exemplo inglês na criação da colônia de Freetown em Serra
Leoa fortaleceu os argumentos dos que viam na transferência
dos libertos para seu continente de origem uma boa saída para
se livrarem da presença de negros livres dos laços de cativeiro
em uma nação que se construía sobre a bandeira da liberdade.
Ao longo das duas primeiras décadas do século XIX, religiosos
norte‑americanos associados a figuras proeminentes na política
buscaram caminhos para viabilizar a fundação de uma colônia, para
onde enviariam os libertos dos Estados Unidos da América. Foi
criada a American Colonization Society (ACS) que se preocupava em
repatriar os libertos, mas de uma forma que não fossem abaladas
as estruturas da escravidão. Entre os membros da sociedade
estavam escravocratas convictos, como John Randolph, secretário
do Tesouro, e Henry Clay, porta‑voz da Assembleia dos Deputados
em 1816. A posse de James Monroe como presidente dos EUA em
1820 trouxe o apoio que o projeto precisava e se conseguiu verba
aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos e o compromisso de
defesa de território. Ainda assim a maior parte do capital investido
veio de financiadores privados.
Em 1822, o ano da Independência do Brasil, fundou‑se peque
na colônia no Cabo Mesurado, que se tornou o polo irradiador de
assentamentos e recebeu o nome em homenagem ao presidente que
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O Brasil e a África do século XIX
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O Brasil e a África do século XIX
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O Chifre da África e a África Oriental:
Somália e Abissínia. Norte da África:
o Império Otomano e sua herança, o
Sudão. Região dos Grandes Lagos
Arlene Elizabeth Clemesha
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O Chifre da África e a África Oriental.
Norte da África. Região dos Grandes Lagos
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aqui. Menos do que uma palestra, acho que o espaço vai permitir
uma boa conversa.
O que eu pesquiso e é o que espero trazer um pouco para
vocês é a história árabe que tem tudo a ver com o norte da África,
especificamente o legado otomano no norte da África, que já não é
mais árabe: os árabes chegaram antes dos otomanos e os otomanos
vieram bem depois.
Para começar passando por toda essa história: quando os
árabes chegaram à África? Após o advento do islamismo no ano
632 d.C. O islamismo, comparativamente a outras religiões, é uma
religião bastante recente. Antes do advento do islamismo, as tribos
árabes ou os povos árabes, como quiserem, não eram uma formação
homogênea (por isso usa-se o plural). Habitavam a Península
Arábica. Não tinham muito trânsito fora dessa península, apenas
circulavam um pouco por rotas comerciais, mas não chegaram a
expandir sua língua e cultura muito além do que seria o sul da
atual Síria e Jordânia, para além da península.
Os árabes estavam na península desde o século XXII antes de
Cristo, mais ou menos. A historiografia data a origem dos árabes ao
processo de domesticação do dromedário, que permitiu que esses
povos conquistassem os terrenos áridos e semiáridos e vivessem
de maneira seminômade de oásis em oásis, levando suas ovelhas
e cabras para pastar, com uma atividade mercantil importante,
inclusive em caravanas. Havia alguma agricultura também. Por
exemplo, Medina – que antigamente se chamava Yatribe – era uma
cidade de agricultores. Meca não era uma cidade de comerciantes,
era um ponto importante de atração de comerciantes por causa da
Kaaba, o monumento para onde os muçulmanos peregrinam no
Rage.
Antes do islamismo, a Kaaba era um local para adoração de
300 deuses pagãos, tópicos da cultura árabe pré-islâmica. Nesse
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Quarta parte
Brasília, 22 de outubro 2016
Painel 9
A África no mundo bipolar:
Relações Internacionais e
construção do Estado-Nação
Introdução
A maioria esmagadora dos países da África obteve a
independência na passagem da década de 1950 para a de 1960.
Este breve período, contudo, foi marcado por um intenso processo
histórico, com seus golpes de Estado, conflitos internos e externos,
projetos políticos frustrados, bloqueio do desenvolvimento
econômico‑social e intensa intervenção das grandes potências,
particularmente das antigas metrópoles, bem como de algumas de
porte médio. Essa terrível, mas riquíssima história tem, por outro
lado, sido marcada também por guinadas espetaculares, além de
contrariar determinadas tendências previamente anunciadas.
Na esteira do fracasso de vários modelos impostos a partir de
fora, bem como de tentativas de traçar uma via totalmente original,
o chamado continente negro vai produzindo, dolorosamente,
uma síntese rumo ao desenvolvimento. Trata‑se da retomada
de uma evolução histórica local, distorcida pelo tráfico escravo e
pela dominação colonialista direta, vinculada agora às grandes
transformações universais. Assim, depois da “década perdida”
do desenvolvimento, de conflitos caricaturizados pelos meios de
comunicação e da marginalização inicial dentro do processo de
reordenamento mundial que acompanha a globalização, a África
vai se reafirmando na cena internacional.
Considerando a realidade africana contemporânea em suas
múltiplas dimensões, o continente pode ser dividido em três
subsistemas geopolíticos, definidos mais por suas interações
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Cooperação entre o Brasil e a África
no contexto das relações Sul-Sul
Carlos Milani
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são estados; não existe estado altruísta. Ele deixa de ser estado,
vira ONG. O estado é um bicho político sui generis, evidentemente
se não tiver interesse próprio, vai ter de se justificar perante seus
cidadãos, que não estão ali só para fazer altruísmo, mas também
para defender seus próprios interesses, as empresas, etc.
Onde Maurits van der Veen busca metodologicamente esses
marcos interpretativos? Ele faz quatro estudos de caso: Noruega,
Itália, Bélgica e Holanda, todos democracias parlamentares. Ele
vai buscar esses marcos interpretativos no debate legislativo e
parte de duas premissas: A primeira é a de que o representante
é mais bem informado do que o representado. Ele está pegando
os quatro estudos de caso que eu mencionei anteriormente.
A segunda é que eles têm de aprovar orçamentos, então eles têm
de justificar por que estão aprovando ou votando em direção A e
não em direção B. Ele faz uma seleção metodológica que me parece
bastante interessante e pertinente para quem tem interesse em
fazer pesquisa. Promover bens públicos globais, porque haverá
deputados que vão justificar seus votos em nome disso. Digamos
que a expressão empírica da categoria é essa, e é no debate
legislativo que se debate por reputação e autoafirmação, perdão,
obrigação e dever, dever moral, por valores humanitários. Vejam
que há uma gradação desde o interesse mais próprio do leviatã,
a segurança, até uma vertente mais cosmopolita sobre a visão do
estado nas relações internacionais. Mas o que tem de interessante
nesse modelo de análise que ele propõe? Ele vai tentar estabelecer
correlações, a pesquisa dele é quantitativa e depois qualitativa.
A primeira parte da pesquisa dele é toda quantitativa em relação
a correlações podem existir entre volumes e para onde vai essa
cooperação – volumes e distribuição geográfica de acordo com o
marco interpretativo. No marco interpretativo da segurança, ele
vai definir que existe uma correlação positiva com os volumes
alocados para aquela cooperação, diretamente proporcionais aos
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Isso revela que não existe uma carreira estruturada dentro da ABC,
não existe uma política de cooperação bem montada no Brasil
para torná-la um efetivo, do meu ponto de vista, instrumento de
política externa do Brasil. Acho que esse exemplo é revelador dessa
disfuncionalidade.
Outra dimensão importante é a chamada diplomacia presi
dencial. É claro que a cooperação sul-sul brasileira não nasceu com
o presidente Lula. A cooperação africana, a cooperação do Brasil
com a África nasce nos anos 60; as primeiras tentativas de diálogo
com o continente africano vêm da Política Externa Independente.
Ganharam relevo no pragmatismo responsável, foram retomados
os diálogos com o continente africano a partir da Nova República.
A fundação da CPLP se dá no governo Fernando Henrique
Cardoso, porém é nítida a densidade maior que foi dada à agenda
de cooperação sul-sul no governo Lula. Ao mesmo tempo, a perda
ou certa perda de relevância dessa agenda no governo Dilma. Isso é
para dizer que a política externa muda de acordo com os governos.
Há uma continuidade na política externa, mas ela também é uma
política governamental, uma política pública sui generis. É normal
que ela tenha colorações de coalizões partidárias que estejam gover
nando. Essa coloração do governo Lula, com a ênfase na agenda
sul-sul foi o que despertou tanto a atenção da academia brasileira
internacional sobre o papel do Brasil nas agendas de cooperação
sul-sul.
Outra variável complicadora é a internacionalização das
empresas brasileiras, paralelo ao processo da cooperação pública;
gera atenções, contradições, em alguns casos pode gerar benefícios.
A Vale, por exemplo, financiou com cinco milhões de dólares o
projeto da FIOCRUZ para criação da Sociedade Moçambicana de
Medicamentos em Maputo. Não significa que a Vale seja desin
teressada do minério de carvão em Moçambique, mas ela deu
seu aporte de responsabilidade social. Mas existem evidentes
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Sr. Rafael – Bom dia. Meu nome é Rafael. Eu queria fazer uma
pergunta relacionada ao BRICS. Na verdade, eu queria saber se esse
novo banco do BRICS e o Banco de Investimento de Infraestrutura
da Ásia, liderado pela China trariam mudanças nesse aspecto da
cooperação sul-sul, já que o aporte de investimentos previstos é
de 50 bilhões, o que aumentaria bastante. Essas novas instituições
trariam mudança no parâmetro da cooperação para, pelo menos
em termos quantitativos, um aumento da cooperação sul-sul em
relação à cooperação norte-sul?
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A construção dos estados modernos
africanos. A crise e conflitos
pós-independência e suas origens.
As distintas realidades econômicas do
continente africano pós-independência
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A construção dos estados modernos africanos
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esposa, não sei quem. Aí eles vão fazer uma homenagem a minha
referência, aos anos em que ele foi o maestro, o organizador da
banda. Andaram o mundo todo, foi aí que eu conheci o mundo, e
foi assim que eu voltei à minha sanfona nordestina, meu sonho. Eu
também estou voltando para o nordeste. Daqui a pouco eu vou
embora, mas eu apresentei Blyden, por isso eu estou feliz. E nesta
sala, que para mim é sagrada, o Mourão sabe bem das minhas
paixões, da admiração pela nossa diplomacia, pela história
brasileira de construção de importante profissionalização nos
negócios externos. Essa é uma força profunda do Brasil que se
admira: a escola, e aqui é a escola, em que hoje ele é o diretor.
Tenho muita estima e essa reunião tem uma transcendência: é uma
semana da África; com essa vida e com tanta gente. Claro, um mais
partidário, outro menos, outro mais independente, e outro mais
prático, outro mais filosófico, outro mais nas lidas, outros mais
interessados em outras coisas. Essa diversidade de percepções e de
defesas; sei que disse um bocado de coisa dura aqui, mas eu aprendi
com minha mãe: diga docinho quando for apertar.
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Painel 11
A construção dos estados modernos africanos
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História da África e Relações com o Brasil
estar aqui hoje. Minha pergunta vai ser um pouco mais objetiva,
e se refere aos anos Lula, dos quais o senhor – lembro seus
artigos no Correio Braziliense e em outras fontes – de forma um
tanto entusiástica com a aproximação com a África, e de fato é
reconhecida pelos governos africanos aquela aproximação. E o
senhor mencionou também duas coisas importantes nesse samba
meio do crioulo doido, mas que deu para perceber alguma coisa:
o senhor falou duas coisas que eu poderia destacar: não pensar a
África no singular, mas sempre no plural, isso é fundamental.
A segunda menção é não isolar tanto as variáveis. Às vezes o
fazemos por conta da didática e por conta da análise, mas sempre
tem de ver o que está ao redor.
A questão dessa aproximação que o senhor saudou tanto,
apresenta uma variável: a questão dos direitos humanos. Fomos
muito criticados pelo fato de se aproximar de governos ditatoriais;
violadores dos direitos humanos, conhecidos mundialmente; e de
uma forma um tanto pragmática, pergunto ao senhor, não como
um mero amigo do Instituto Rio Branco, mas como um intelectual,
como o senhor avalia esse pragmatismo? É válido se aproximar
mesmo em situações em que os fins justificariam os meios?
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Painel 11
A construção dos estados modernos africanos
entrevistas com quem veio e com quem voltou, com quem não sei
mais o quê; tudo foi a minha tese de doutorado. Essa tese tinha
esse movimento desde o período da política externa independente,
espécie de ir e vir, inclusive demonstrando que em determinado
momento do regime militar, sobretudo a fase do ministério Geisel,
de Gibson a Azeredo. Houve um ativismo muito importante de
busca da África. Quando emergem as proposições de um retorno
mais ativo, e como é que eu uso? Escrevendo sobre isso, estudando
sobre isso, eu desejo, é óbvio, o desenvolvimento da África. Então,
fiquei muito contente e produzi papéis, livros, artigos, e mandei
um caderninho de umas 15 páginas para o Lula, dizendo o que ele
tinha de fazer. Claro! Eu sou um intelectual do Brasil, um estudante
da matéria, sou respeitado internacionalmente por essa matéria,
então não vou me esconder, podia ser Lula, podia ser Joaquim,
podia ser Maria, podia ser João Raimundo Saraiva, meu pai, podia
ser dona Alice, minha mãe, professor, não interessa. Não abraço
muito o poder, mas ele existe, precisa. Se eu sou, já que tem esse
negócio, então vamos lá. Eu achei isso muito importante, essa
aproximação, retomada, de forma estrutural. Isso é um ponto. Os
direitos humanos, eu também sou dos direitos humanos, é óbvio,
eu sinceramente não gostei das aproximações com esses governos
que maltratam a vida humana. Como classificar? Como comprovar?
Escrevi tantos artigos de entusiasmo de uma retomada da linha
Atlântica com a África, como também escrevi artigos, um dos
últimos foi já nesse ano de 2015. O senhor pode abrir o Correio
Braziliense de fevereiro ou março, eu apertando os financiamentos
daquela escola de samba que ganhou no Rio de Janeiro, como
chama? A primeira classe, com recursos que vinham de um desses
países. Estava lá o sujeito, aparentemente, eu digo, não foi essa
a retomada, os objetivos da retomada da política brasileira da
África do Brasil. Eu escrevi também, quer dizer, tanto estimulei
e defendi a reanimação da política africana. Os livros do Amorim,
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Painel 11
A construção dos estados modernos africanos
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História da África e Relações com o Brasil
coisa desse negócio. Então eu vou ficar mais uns 15 minutos com
o senhor aqui. Presta atenção, porque eles andaram um bocado aí,
mas eu sei mais, e aí o presidente entendeu. Aí ele ficou quietinho,
digamos que fez 70% ou 80% do que eu disse. Claro que os outros
30% eu não gostei. Está bom.
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Painel 11
A construção dos estados modernos africanos
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História da África e Relações com o Brasil
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Quinta parte
Brasília, 23 de outubro 2016
Painel 12
Passado e Presente nas
Relações África-Brasil
Kabengele Munanga
Painel 12
Passado e Presente nas Relações África-Brasil
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Painel 12
Passado e Presente nas Relações África-Brasil
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Sr. Carlos Ivair (Professor) – Bom dia, sou o professor Carlos Ivair,
parceiro, amigo de tantas e tantas batalhas. Essa conversa contigo
seria longa, se a gente pudesse falar de cada parágrafo. Nós teríamos
assunto para conversar durante muito tempo. Você tocou em um
ponto muito delicado: a figura do Raimundo de Souza Dantas. Se
você perguntar para qualquer estudante do Rio Branco quem foi
Raimundo de Souza Dantas, ninguém vai saber. O Raimundo de
Souza Dantas foi um jornalista importante e deixou várias obras de
literatura. Entre os livros que ele escreveu, há um em que ele relata
a passagem que teve em Gana. É um livro amargo, sofrido, porque
ele não recebeu apoio do Brasil para poder efetivamente realizar
seu trabalho como embaixador. Quando você falava, eu sentia na
sua fala um olhar pan-africanista, quase que poético em relação
aos africanos no mundo. Você acredita de fato que possa existir
essa solidariedade entre os povos da diáspora e os povos africanos?
Você acredita mesmo que esse lado de solidariedade pan-africanista
pode sobreviver à relação do capitalismo tão selvagem como está
instalado hoje? Você não pode ignorar que as grandes empreiteiras
têm uma presença na África pelo Brasil, como a Vale e a Odebrecht,
que essa conversa de pan-africanismo não chega nem perto? O que
interessa ali é negócio. Obrigado.
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Sra. Deise Moura – Bom dia, meu nome é Deise Moura, eu sou
da Universidade Federal de Pernambuco. Queria aproveitar para
parabenizar pela excelente aula; é sempre bom reencontrá-lo. Sua
fala reafirma o desejo de continuar lutando contra o racismo no
Brasil e pela afirmação da identidade negra entre outras questões.
Minha pergunta vai nessa direção. Eu gostaria que o senhor falasse
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A Nova África:
Crescimento Econômico e
Estabilidade Política.
Neocolonialismo: Dependência e
Interdependência Africana
Pio Penna Filho
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acham que é normal, mas ainda não consegui entender pelo ponto
de vista dos princípios.
A CPLP diz que tem de respeitar os direitos humanos. A CPLP diz
lá que é uma questão democrática, e sem contar que tem de falar
português. Ainda tem isso, que é uma comunidade de países de
língua portuguesa. A Guiné Equatorial não segue esses critérios.
O Obiang está no poder há 40 anos. Ele está ganhando do José
Eduardo. Esses estados como a Guiné Equatorial eram como se
cada cidadão fosse fazer uma distribuição de renda, ganhando na
Mega-Sena, entendeu? Com prêmio acumulado. Mas é claro que
isso não se reflete na vida de muitas pessoas; por isso a questão de
acusar o regime do Obiang de violação dos direitos humanos,
manter ainda parte da população em uma situação de muita
restrição econômica. Esse é um aspecto. A questão da agricultura,
por exemplo, que é estratégica, mas ainda é muito pouco
privilegiada no contexto africano. Aliás, há até abordagens
problemáticas com a agricultura, porque existem basicamente
duas perspectivas: alguns que pregam a entrada do agronegócio
para produzir commodities, e inserir naqueles países agricultura em
escala no mercado internacional agrícola. Existe outra visão menos
radical, que considera mais importante dar ênfase à agricultura
familiar – fazer programas que permitam que os africanos
aumentem a produção e a produtividade agrícola, que ainda são na
maior parte muito rudimentares no continente, onde há pouco
investimento estatal e pouca técnica também. De toda forma, em
um ou em outro caso, a agricultura ainda é um setor que merece
atenção no contexto africano. Uma coisa não exclui a outra; pode e
deve continuar a exploração dos recursos energéticos e minerais,
mas a agricultura precisa ter uma atenção maior. Outro aspecto
também que nos faz refletir sobre o afrootimismo tem a ver com a
questão da infraestrutura, muito precária na maior parte da África.
Muitos desses investimentos vêm de fora para construir
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nosso parâmetro é mil reais. Com mil reais se está na classe média.
Tiramos todo mundo da pobreza com um decreto. Então você
tem, no caso da África, um número inflacionado da classe média,
porque muitos deles não têm uma renda elevada, mas para os
governos é bom dizer que têm classe média. A questão é que nem
todos os 300 milhões são de classe média, mas boa parte deles é de
classe média. Como aqui no Brasil, classe média quer consumir.
Isso é algo que ativou muito o consumo nas cidades africanas e
atraiu para lá muitos interesses externos de que vamos explorar o
mercado de consumo – está crescendo a África. Motocicleta,
televisão, telefone celular, eletrodomésticos, automóvel; estão
chegando também, vai ser uma desgraça. Eles vão ter os mesmos
problemas que nós temos. A única diferença ainda com relação à
África, e que acho uma grande vantagem para eles, é que ainda não
entraram naquela vida a crédito. No Brasil, há um ano e meio
entrava-se em uma revenda de automóvel e era difícil sair de lá
com um carro na mão, entendeu? Não havia dinheiro, mas o crédito
estava ali: é a vida a crédito. Aqui no Brasil mudou, mas nos anos
1970 não era assim. Quando eu era criança tinha a história da
poupança: tinha-se que juntar o dinheiro para depois comprar.
Agora não, compra-se para depois pagar, e aí fica-se atrelado à vida
a crédito que Zygmunt Bauman fala como uma das características
desse mundo que vivemos nos anos 90. O comportamento
africano ainda não é assim, talvez porque falte crédito. O africano
é igual a qualquer outro ser humano e também tem interesse
legítimo de consumo, qualquer um tem. Por enquanto, estão
salvos disso aí. São interessantes também as diferenças da África
em relação ao Brasil. Meus alunos africanos me ensinam muita
coisa. Lá na África tem vários países, o professor enquadra os
alunos, palmatória, puxão de orelha, solavanco ainda existem. Eles
vêm para cá e ficam achando a coisa mais estranha do mundo,
porque aqui o aluno bate no professor. E eles falam assim: “Que
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nem por Facebook ou essas redes sociais, foi SMS. Você tem nas
principais cidades africanas uma insatisfação cada vez mais clara
por parte dos jovens. Isso é interessante; começam a protestar
contra aquele estado de coisas. Esse de Angola é fantástico.
E essa notícia tem repercutido mundialmente, e também no
âmbito do continente africano, entendeu? Na Nigéria eu já vi
manifestações de jovens quebrando o pau na rua contra a situação,
contra a insatisfação; eles são reprimidos, mas estão começando
a se colocar. Acho que a África está entrando em um ciclo novo,
principalmente com a juventude. E isso contamina, ela espalha.
É claro que tem repressão, que é pesada, os africanos ficam ainda
presos a regimes brutais e têm medo e receios. Eles conversam
assim, quase cochichando com relação a determinados assuntos,
entendeu? Mas isso vai mudando devagarzinho. Agora não é sem
razão, porque sobre Angola, eu estava comentando com o Ivair
ontem. Há pouco tempo eu li um livro chamado Purga em Angola.
Eu não sabia daquela história, o governo do Agostinho Neto
matou de 30 a 60 mil pessoas em um verdadeiro massacre, um
extermínio. E sabe qual era a acusação? Eles eram pró-soviéticos,
olha só, eram pró-soviéticos, não era nem acusando os caras de
serem colonialistas, de serem de direita. Depois disso também a
violência continua em Angola e Moçambique; tem ainda a ditadura
lá na Nigéria. A memória deles é muito mais fresca do que a nossa
em relação à ditadura que terminou há 30 anos. A imprensa não é
tão livre; o que tem contribuído muito para a liberdade são as redes
sociais, alternativas de organização social: internet e redes sociais.
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Política Externa:
Relações Brasil-África
Nedilson Jorge
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Política externa: relações Brasil-África
com o fim da Guerra Fria, também havia sido superada uma das
principais causas de conflitos bélicos dentro da própria África. De
modo geral, as interferências externas raramente ajudaram a trazer
estabilidade e paz. Na prática, geralmente acabavam trazendo mais
conflitos e mais guerras do que estabilidade.
Desde o início do ano 2000, havia uma avaliação da diplomacia
brasileira de crescente estabilidade política na África, crescente
avaliação positiva das instituições locais e governamentais e da
própria participação da sociedade. Eu trago aqui um dado que,
normalmente, não se utiliza oficialmente no Itamaraty, porque
não reconhecemos o direito de uma ONG, muito menos de um
governo, de avaliar os outros governos, mas a Mo Ibrahim é
uma fundação que tem uma boa reputação de fazer avaliação do
índice de governança. O índice Mo Ibrahim, menos econômico
e mais político e de desenvolvimento humano, é composto por
quatro elementos: desenvolvimento humano, participação nos
direitos humanos, segurança do estado de direito e oportunidades
econômicas sustentáveis. Um aumento no índice reflete uma
melhoria em vários sentidos. Entre 2000 e 2003, houve uma
evolução positiva na média de todos os índices da África. E entre
2003 e 2008, até o início da crise financeira internacional, houve
uma evolução positiva ainda maior, muito significativa. Havia sim,
portanto, a avaliação de que o momento político na África era um
momento de estabilidade e favorável para uma maior presença
brasileira.
Havia também uma avaliação muito positiva sob a perspectiva
econômico‑comercial, e não é preciso procurar muito para
encontrar. Em primeiro lugar, o índice de crescimento dos países:
dos dez países que mais crescem no mundo, sete são africanos,
em qualquer dado momento – pode‑se ter de um ano para o outro
apenas uma variação de países. Eu costumava brincar dizendo
que não sabia por que no Brasil se falava tanto de taxa chinesa de
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outro; quer dizer, essa é uma visão que se tem naturalmente, nem
precisava estar na Constituição, mas que é muito importante. Não
se pode pensar em relações internacionais com um país achando
que sabe mais do que o outro, e que diz ao outro o que é melhor
para ele. Do nosso ponto de vista isso não existe, muito menos
é compatível com a Constituição Federal. Se há igualdade entre
os estados, também há igualdade entre as opiniões, quer dizer,
precisam ser respeitadas as opiniões dos outros estados, precisa
ser respeitado o ponto de vista deles e não pensar que estamos
certos e que eles têm de alguma maneira de fazer o que se quer. Esse
entendimento é muito importante. Outra derivação do princípio da
igualdade entre os estados é o princípio da reciprocidade, ou seja:
se os estados são iguais é natural que procurem agir e se tratar de
maneira igual, ou seja, de forma recíproca. Isso tem sido utilizado
também como uma das bases da política externa brasileira – o
tratamento da reciprocidade – tanto no que se refere à emissão de
vistos, mas em uma série de outras questões envolvendo política
externa.
“Defesa da paz” e “solução pacífica dos conflitos” são dois
itens que praticamente se juntam. Isso está em parte por trás de
toda a política brasileira de sempre favorecer o diálogo e de não
acreditar na visão de que às vezes as pessoas têm de levar a paz
por meio da guerra. Esses dois princípios são muito importantes
também do nosso ponto de vista: defesa da paz e solução pacífica
dos conflitos, bem como o princípio seguinte, de “repúdio ao
terrorismo e ao racismo”. Mais do que natural e também não
chega a ser nenhuma surpresa. E a “cooperação entre os povos
para o progresso da humanidade”, aí já vem uma primeira dica da
importância da cooperação, prevista na própria Constituição e que
indica que o País vai cooperar para o progresso da humanidade,
mas sem desrespeitar nenhum daqueles princípios. Então não
se pode cooperar entre desiguais. Há ali a igualdade entre os
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Por isso, elas acabam tendo boa aceitação no mercado africano, que
pede essa presença.
Essa falta de capacidade de resposta às demandas não é só
do setor público, é também muitas vezes do setor privado, que
percebe o interesse africano e não tem muitas vezes condição,
por uma série de questões, ou por ignorância, ou por ter outras
prioridades, de dar uma resposta imediata.
Tentei responder a algumas perguntas mais comumente
feitas sobre esse tipo de assunto, mas eu estou aberto a novas
perguntas, em particular da sociedade civil, que nem sempre tem
a oportunidade de dialogar com o Itamaraty. Estou à disposição de
todos. Muito obrigado.
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Formato 15,5 x 22,5 cm