Direito Empresarial V
Direito Empresarial V
Direito Empresarial V
Tema I
FALÊNCIA. Princípios Gerais. Pressupostos. Caracterização da falência. Visão comparativa entre o Dec-Lei
nº 7.661/45 e Lei nº 11.101/05. Direito intertemporal.
Notas de Aula1
1. Introdução
“Art. 192. Esta Lei não se aplica aos processos de falência ou de concordata
ajuizados anteriormente ao início de sua vigência, que serão concluídos nos termos
do Decreto-Lei no 7.661, de 21 de junho de 1945.
§ 1º Fica vedada a concessão de concordata suspensiva nos processos de falência
em curso, podendo ser promovida a alienação dos bens da massa falida assim que
concluída sua arrecadação, independentemente da formação do quadro-geral de
credores e da conclusão do inquérito judicial.
§ 2º A existência de pedido de concordata anterior à vigência desta Lei não obsta o
pedido de recuperação judicial pelo devedor que não houver descumprido
obrigação no âmbito da concordata, vedado, contudo, o pedido baseado no plano
especial de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte
a que se refere a Seção V do Capítulo III desta Lei.
1
Aula ministrada pelo professor Juan Luiz Souza Vazquez, em 11/3/2010.
2. Principiologia
A otimização dos bens do falido é feita sempre que se primar pela redução do
passivo e incremento do ativo. O núcleo deste princípio é mesmo o dispositivo supra, mas
há outros artigos que tratam do princípio da maximização dos ativos na lei em tela, como o
109 e o 117:
“Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a
execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida
ou dos interesses dos credores.”
“Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
§ 1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90
(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro
de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
§ 2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao
contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.”
Este princípio, por óbvio, não pode ser invocado depois da quebra. Uma vez
encerrada a atividade, não há o que se preservar. Este princípio, no entanto, é forte
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Esta cláusula resolutória expressa na falência é textualmente vedada na legislação estadunidense, no diploma
que trata da falência, o Chapter 11.
Na vigência do Decreto 7.661/73, não havia limite mínimo de valor da dívida para o
credor requerer a falência com base na impontualidade da empresa. Suponha-se que tenha
havido pedido nestes moldes, à época, baseado em pequeno valor, inferior aos quarenta
salários que hoje são o mínimo possível. É possível esta decretação de falência?
Mesmo que não seja possível retroagir este teto do artigo 94, I, da nova lei, para
alcançar os processos que ainda são regidos pelo diploma anterior, a orientação mais
coerente é que não seja possível decretar a quebra com base em valor irrisório do ponto de
vista falimentar, por conta do princípio da preservação da empresa – que, como dito, vige
nesta fase pré-quebra. Assim, este pedido de falência, mesmo regido pela norma anterior,
que não impunha limite mínimo ao crédito inadimplido para requerer falência, deve ser
rejeitado, não pela retroação do limite legal mínimo hoje vigente, o que é impossível, mas
sim pela simples observação deste princípio da continuidade da atividade, muito mais forte
na função social da empresa do que na proteção daquele crédito, nesta ponderação. E este
pedido seria improcedente mesmo que a lei anterior ainda fosse a norma vigente, pois à
época esta já era a orientação.
Neste sentido, veja o seguinte julgado do STJ:
Aqui, nem o protesto nem o valor são requisitos para provimento do pedido de
quebra. Haverá, então, como se aplicar o princípio da preservação da empresa, neste caso?
A decretação de quebra é ultima ratio, como se pode perceber. Antes de tudo, é
fundamental que se constate que a execução é inegavelmente frustrada, porque qualquer
atitude tomada pelo devedor em atenção ao crédito que lhe é exigido já a descaracteriza,
pelo que a nomeação de bens à penhora (ou a localização de tais bens pelo oficial de
justiça) descaracteriza a execução frustrada, impossibilitando a quebra.
Veja julgado do STJ neste sentido:
E mesmo que a execução seja tipicamente frustrada, ou seja, haja completa inércia
do devedor, ainda deve haver cautela na decretação da quebra.
Uma questão se apresenta: se o devedor oferece bens à penhora, mas insuficientes
para cobrir a dívida, a execução é frustrada? Há quem entenda que sim, pois o artigo 94, II,
supra, fala em bens suficientes para evitar a frustração. Contudo, como se pode colher do
julgado acima, o STJ entende que a insuficiência dos bens ofertados à penhora não
configura execução frustrada: se há penhora de bens, mesmo que insuficientes, não há
execução frustrada, para o STJ.
“Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta
pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no
prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.”
O que está sendo mencionado, ali, é que a suspensão da execução fiscal não se dará
pelo deferimento da recuperação judicial, e não pela decretação de falência, o que, para
Leonardo Marques, demonstra que no curso da falência decretada a execução fiscal deve,
sim, ser suspensa, se se observar o texto deste § 7º. Este entendimento do professor
Leonardo Marques, porém, não tem adesão por parte da doutrina ou do STJ, como se pode
notar na seguinte transcrição do informativo 416 desta Corte:
§ 3º O produto dos bens penhorados ou por outra forma apreendidos entrará para a
massa, cumprindo ao juiz deprecar, a requerimento do administrador judicial, às
autoridades competentes, determinando sua entrega.
§ 4º Não serão arrecadados os bens absolutamente impenhoráveis.
§ 5º Ainda que haja avaliação em bloco, o bem objeto de garantia real será também
avaliado separadamente, para os fins do § 1º do art. 83 desta Lei.”
Esta universalidade significa que todos os bens do falido serão arrecadados, mas
não é absoluta, pois as regras de impenhorabilidade devem ser respeitadas, tal como a do
bem de família.
A universalidade subjetiva, por seu turno, está prevista no artigo 115 da Lei
11.101/05:
“Art. 115. A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão
exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócio ilimitadamente
responsável na forma que esta Lei prescrever.”
Assim, todos os credores devem, para receber seus créditos, se dirigir ao mesmo
juízo indivisível para pleitear seu crédito, não havendo exceções: todos devem corre à
massa para receber seus créditos.
Sobre o princípio da universalidade, veja os seguintes julgados do STJ:
“CONFLITO DE COMPETÊNCIA. FALÊNCIA. AÇÃO DE APURAÇÃO DE
RESPONSABILIDADE CIVIL. MASSA FALIDA AUTORA. PRINCÍPIO DA
UNIVERSALIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR. 1. O FATO DE A MASSA
FALIDA SER AUTORA DA AÇÃO SOMENTE DETERMINA A
EXCEPCIONALIDADE DO JUÍZO UNIVERSAL NAS AÇÕES NÃO
REGULADAS PELA LEI FALIMENTAR. 2. O princípio da universalidade tem
como objetivo não só evitar a dispersão do patrimônio da massa falida, como
também permitir que as situações relevantes da falência sejam submetidas a juízo
único, conhecedor da realidade do processo. 3. Conflito conhecido para declarar a
competência do Juízo de Direito da 11ª Vara Cível de Goiânia – GO. (CC
92.417/DF, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES, SEGUNDA SEÇÃO,
julgado em 26/03/2008, DJe 01/04/2008).”
Mas repare que mesmo dentro do quadro de créditos extraconcursais, o par conditio
creditorum é imponível: os créditos de mesma natureza devem ser tratados da mesma
forma, pagos na mesma ordem do artigo 83 da lei em tela, ou seja, espelha-se a ordem geral
na ordem dos créditos extraconcursais. Por exemplo, os créditos deste rol que tenham
natureza trabalhistas (aqueles contraídos após a sentença de falência, em uma eventual
permanência temporária das atividades, por exemplo) serão pagos em primeiro plano, e em
seguida se passará aos créditos extraconcursais com garantia real, e assim por diante.
O artigo 77 desta lei em tela reflete também o par conditio creditorum, pois
comanda o vencimento antecipado de todas as dívidas, a fim de que estes credores tenham a
mesma oportunidade de haver seus créditos no bojo falimentar. Veja:
A execução contra “G” em nada é perturbada pela falência de “E” e F”, porque não
se suspende a execução do devedor solidário dos falidos, posição em que “G” se encontra.
Se “G” pagar o débito, poderá regredir contra “E” e “F”, mas deverá para tanto habilitar seu
crédito nas respectivas falências (sendo que contra “F” só poderá regredir até a metade do
valor, eis que entre os coavalistas há cotas-partes de responsabilidade).
Neste sentido, veja o julgado abaixo, do TJ/RJ:
“RESP 883.889/SC.
(...) DIANTE DISSO, O FATO DO SACADOR DE NOTA PROMISSÓRIA VIR A
TER SUA FALÊNCIA DECRETADA, EM NADA AFETA A OBRIGAÇÃO DO
AVALISTA DO TÍTULO, QUE, INCLUSIVE, NÃO PODE OPOR EM SEU
FAVOR QUALQUER DOS EFEITOS DECORRENTES DA QUEBRA DO
AVALIZADO. (...) MUITO EMBORA O AVALISTA SEJA DEVEDOR
SOLIDÁRIO DA OBRIGAÇÃO AVALIZADA, ELE NÃO SE TORNA, POR
CONTA EXCLUSIVA DO AVAL, SÓCIO DA EMPRESA EM FAVOR DA QUAL
PRESTA A GARANTIA. - MESMO NA HIPÓTESE DO AVALISTA SER
TAMBÉM SÓCIO DA EMPRESA AVALIZADA, PARA QUE SE POSSA FALAR
EM SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO CONTRA O SÓCIO-AVALISTA, tendo por
fundamento a quebra da empresa avalizada, é indispensável, nos termos do art. 24
do DL 7.661/45, que se trate de sócio solidário da sociedade falida. Recurso
especial a que se nega provimento. (Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 10/03/2009, DJe 23/03/2009)”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Esta posição ainda é polêmica, mas a posição do STJ deve ser a orientação a ser
seguida. Seguindo-a, se pedida a suspensão por ambas as partes, não há moratória, e não há
extinção da falência; pedida apenas pelo credor, há moratória, e não mais há
impontualidade – devendo o processo ser extinto.
Questão 3
CIA SUCOS SAUDÁVEIS teve a sua falência requerida em novembro de 2004 por
inadimplemento de obrigação contraída. O processo foi extinto sem julgamento do mérito
por inépcia da petição inicial. O credor recorreu contra a decisão, sob o fundamento de
error in procedendo, com pedido de anulação da sentença. O recurso foi provido com a
deteminação de baixa ao juízo de origem, em dezembro de 2005, para prolação de nova
decisão. Se decretada a falência do devedor, que diploma (s) legal (is) deve (m) ser (m)
aplicado (s)?Resposta justificada.
Reposta à Questão 3
Seguindo-se a regra do § 4º do artigo 192 da Lei 11.101/05, tem que ser aplicada a
norma anterior até o momento da sentença, pois o requerimento de falência se deu na
vigência do Decreto-Lei 7.661/45. Decretada a falência, aplica-se o artigo 99 da nova lei.
Questão Extra
“Súmula 264, STJ: É irrecorrível o ato judicial que apenas manda processar a
concordata preventiva.”
Tema II
FALÊNCIA. Juízo da falência. Legitimidade ativa e passiva na falência. Créditos inexigíveis na falência.
Exclusão da falência.
Notas de Aula3
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Aula ministrada pelo professor Juan Luiz Souza Vazquez, em 11/3/2010.
1.1. Autofalência
“Art. 81. A decisão que decreta a falência da sociedade com sócios ilimitadamente
responsáveis também acarreta a falência destes, que ficam sujeitos aos mesmos
efeitos jurídicos produzidos em relação à sociedade falida e, por isso, deverão ser
citados para apresentar contestação, se assim o desejarem.
§ 1º O disposto no caput deste artigo aplica-se ao sócio que tenha se retirado
voluntariamente ou que tenha sido excluído da sociedade, há menos de 2 (dois)
anos, quanto às dívidas existentes na data do arquivamento da alteração do
contrato, no caso de não terem sido solvidas até a data da decretação da falência.
§ 2º As sociedades falidas serão representadas na falência por seus administradores
ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e, sob as mesmas penas, ficarão
sujeitos às obrigações que cabem ao falido.”
“Art. 105. O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos
requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua
falência, expondo as razões da impossibilidade de prosseguimento da atividade
empresarial, acompanhadas dos seguintes documentos:
(...)”
consequência de não confessar falência quando necessário está prevista no artigo 82 da lei
em tela, que imputa responsabilidade aos incumbidos de fazê-lo:
Ora, se o devedor se percebe em situação de penúria tal que não pode conservar a
atividade empresarial, e insiste em prolongar aquela anomalia, provavelmente contraindo
mais dívidas, está consumindo ativos indevidamente, pois se confessasse a falência desde
logo provavelmente resguardaria mais ativos do que quando sua falência for requerida
adiante por algum credor. Este prejuizo aos credores gera responsabilidade.
Esta tese que defende o dever de confessar falência, inovativa, é baseada no
instituto estadunidense denominado deepening insolvency, (aprofundamento, agravamento
da insolvência, em livre tradução). Esta teoria apregoa justamente esta responsabilidade
pelo prolongamento de uma situação gravosa, majorando ainda mais o passivo da empresa.
Trata-se, mais tecnicamente, de uma causa específica de imputação de responsabilidade
pelos danos gerados em razão do prolongamento artificial da vida da sociedade para além
do início do estado de insolvência, agravando a crise econômico-financeira diante da
inexistência de ativos suficientes e assunção de novas dívidas.
A respeito, veja um julgado da jurisprudência norte-americana, da Corte de
Delaware:
“(...) Delaware law imposes no absolute obligation on the board of a company that
is unable to pay its bills to cease operations and to liquidate. Even when the
company is insolventy, the board may pursue, in good faith, strategies to maximize
the value of the firm”. (Trenwick America Litigation Trust v. Ernst & Young, L. L.
P., 906 A. 2d 168, 204 (Del. CH. 2006)4.”
falência, é necessário que esta responsabilidade seja analisada à luz da regra do business
judgment rule, ou seja, será imputado se contrariar as regras das decisões negociais.
Entenda: a decisão do administrador em dar continuidade ou não aos negócios é
uma decisão negocial, que foge à expertisse do Judiciário. É uma decisão insindicável em
seu mérito, porque apenas ao negociante é dado julgar se há ou não condições de reverter a
dificuldade em que a empresa se encontra (como dispõe o próprio caput do artigo 105,
supra, ao falar que “O devedor em crise econômico-financeira que julgue não atender aos
requisitos para pleitear sua recuperação judicial deverá requerer ao juízo sua falência
(...)”). Sendo assim, a autofalência, para esta corrente, é um dever, e seu descumprimento
gera responsabilidade para o administrador, desde que o prosseguimento das atividades não
seja de boa-fé, não cabendo ao Judiciário se imiscuir no mérito desta decisão de
continuidade, senão quanto ao ânimo do administrador em reverter realmente a situação de
dificuldade5.
Confessada a falência, não necessariamente será esta decretada, porque como em
qualquer outra falência precisam estar presentes seus pressupostos.
Requerida e deferida a autofalência, pode o autor do pedido, o falido, recorrer da
decisão? A resposta é positiva, mas este recurso só poderá atacar elementos acessórios da
sentença de decretação da falência (discordância do termo legal fixado, ou da nomeação do
administrador judicial, etc.). Há quem defende que até mesmo contra a essência da
sentença, ou seja, contra a própria decretação da falência, é possível ao confesso recorrer,
por conta de uma eventual modificação, no ínterim entre a confissão e a decretação da
falência, do estado econômico da empresa. Se porventura a empresa melhorar seu estado de
insolvência e não mais desejar falir, pode recorrer para tanto.
Trata-se da hipótese do artigo 97, II, da Lei 11.101/05, supra: pode requerer falência
o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante. Por óbvio, trata-
se de falência do empresário individual – pessoa jurídica não tem cônjuge sobrevivente.
A idéia desta falência post mortem é possibilitar o resgate moral daquele de cujus, o
que pode ser intentado pelo cônjuge, companheiro, herdeiro ou inventariante, a despeito do
regime de bens.
5
O legislador brasileiro adotou esta teoria da irresponsabilidade pelo prejuízo gerado de boa-fé no artigo 159,
§ 6º, da Lei 6.404/76, a Lei da S/A:
Para ser legitimado ativo na falência, o credor empresário precisa ser regular.
Deverá provar a sua regularidade e, portanto, a sociedade em comum não poderá requerer a
falência de um devedor empresário.
Para ser considerado regular, é preciso que esteja registrado corretamente, para a
maior parte da doutrina e jurisprudência. Contudo, há quem entenda que é regular aquele
empresário que, além de devidamente registrado, também esteja em atividade, em regular
exercício da empresa. Neste sentido, veja o Agravo de Instrumento 2008.002.11120, do
TJ/RJ:
6
Sobre esta lei estadual, há duas Representações de Inconstitucionalidade em curso no TJ/RJ:
2009.007.00020 e 2009.007.00055, pendendes de julgamento. Não há liminar deferida. Há também o REsp.
1.139.774/SP, pendente de julgamento, em que o STJ vai enfrentar a questão.
O argumento principal do Estado, pugnando pela validade da lei, é de que o protesto não tem a única
finalidade de garantir um título executivo extrajudicial; pelo contrário, tem a finalidade principal de impor o
pagamento no prazo de três dias e também de dar publicidade à impontualidade do devedor.
Sobre o argumento de que o ERJ tem que se valer da LEF, defende o Estado que a LEF é muito mais
gravosa ao devedor do que o simples protesto. Além disso, o protesto se dá em fase pré-judicial, sendo
possível ao ERJ se valer de todos meios legais para que o devedor pague o débito. Se não fosse assim, o
Estado não poderia, antes da execução fiscal, transacionar, receber bem em dação em pagamento, conceder
moratória, etc. Tudo, obrigatoriamente, acabaria em execução fiscal.
No mais, há créditos de pequena monta que não justificam a execução fiscal (a execução é mais
dispendiosa financeiramente que o próprio crédito a ser recebido). Em relação a esses créditos, resta latente o
interesse do ERJ em realizar o protesto. No Estado do Rio de Janeiro esse limite é de R$ 300,00 – créditos
abaixo desse valor não são executados. Porém, no âmbito federal, a PFN estabeleceu um limite de
R$10.000,00.
Por fim, há ainda o provimento da Corregedoria do TJ/RJ n.º 31/2009, que literalmente autoriza o
protesto pela Fazenda Pública.
1.3.4. Sindicatos
O credor estrangeiro pode pedir falência do devedor, mas para tanto deverá prestar
caução para garantir o juízo, tendo em vista a possibilidade de ser fixada indenização em
favor do réu, quando for julgado improcedente o pedido e constatado o dolo no
requerimento de falência.
A sociedade estrangeira é identificada, como se sabe, por exclusão: toda aquela que
não for regularmente constituída aqui, segundo a legislação brasileira, é estrangeira.
Credor com garantia real carece de interesse para requerer falência do devedor,
porque a execução da garantia lhe favorece a pretensão, não havendo interesse-necessidade
no pedido de falência.
Contudo, se o credor renunciar à garantia, ganhará este interesse em requerer
falência. Também terá este interesse se comprovar que a garantia não é suficiente para
adimplir todo seu crédito, pois da parte sobejante passa a ser credor quirografário – tendo
perfeito interesse e legitimidade para requerer falência, portanto.
Assim já dizia o DL 7.661/45, no artigo 9º, III, “b”:
Se as empresas estatais não podem falir, não poderiam também requerer falência,
para parte da doutrina, a qual conta com mais um argumento: se o Estado não pode requerer
falência, suas entidades da administração indireta igualmente não poderiam. Contudo, esta
corrente não prevalece, sendo admitida a legitimidade destas estatais no pólo ativo.
O problema, aqui, reside mesmo é no pólo passivo, o que se verá no próximo
tópico.
O artigo 2º, II, da Lei 11.101/2005 diz expressamente que não é possível decretar
falência destas entidades. Contudo, este dispositivo deverá ser interpretado em conjunto
com o artigo 197 do mesmo diploma, que remete à aplicação subsidiária da Lei 6.024/74:
“Art. 197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei
aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-Lei
no 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei no 6.024, de 13 de março de 1974, no
Decreto-Lei no 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei no 9.514, de 20 de
novembro de 1997.”
Com esta remissão, poderão ser aplicados os artigos 1º; 12, “d”; e 21, “b”, todos da
Lei 6.024/74:
“Art . 1º As instituições financeiras privadas e as públicas não federais, assim
como as cooperativas de crédito, estão sujeitas, nos termos desta Lei, à intervenção
ou à liquidação extrajudicial, em ambos os casos efetuada e decretada pelo Banco
Central do Brasil, sem prejuízo do disposto nos artigos 137 e 138 do Decreto-lei nº
2.627, de 26 de setembro de 1940, ou à falência,, nos termos da legislação
vigente.”
3. Competência
prestação alimentícia como crédito extraconcursal – o que não é correto, pois só assumem
este caráter se assumidos tais créditos posteriormente à falência.
A multa tributária hoje é perfeitamente exigível do falido, não permanecendo a
vedação que outrora havia – está prevista no artigo 83, VII, da lei em tela.
As despesas realizadas individualmente para que os credores tomem parte na
falência (viagens, contadores, etc.) não podem ser cobradas do falido – não estando aqui
incluídas as custas e honorários advocatícios, por óbvio.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
A tese que nega legitimidade ao agente fiduciário dos debenturistas com garantia
real, com base no artigo 68, § 3º, “c”, da Lei 6.404/76, é a que prevalece:
“Art. 68. O agente fiduciário representa, nos termos desta Lei e da escritura de
emissão, a comunhão dos debenturistas perante a companhia emissora.
(...)
§ 3º O agente fiduciário pode usar de qualquer ação para proteger direitos ou
defender interesses dos debenturistas, sendo-lhe especialmente facultado, no caso
de inadimplemento da companhia:
(...)
c) requerer a falência da companhia emissora, se não existirem garantias reais;
(...)”
Destarte, o agente fiduciário não tem legitimidade ativa para requerer falência
baseado nas debêntures com garantia real. Além disso, os próprios credores debenturistas
com garantia real não tem interesse em requerer falência, porque a própria execução da
garantia lhes atende, faltando interesse-necessidade na falência.
Vale dizer que se o credor renunciar à garantia, ou provar que é insuficiente para
adimplir o crédito, poderá requerer falência. Neste sentido, se o agente fiduciário
comprovar que a garantia é insuficiente para adimplir o crédito (não pode renunciar, pois o
crédito não lhe pertence), também poderá requerer a falência, eis que esta deve ser a
interpretação do dispositivo supra: se a garantia é insuficiente, passa a parte sobejante a ser
considerada sem garantia real, e por isso cai na regra geral do dispositivo supra.
Tema III
FALÊNCIA. Rito Processual. Requerimento de falência com base na impontualidade, execução frustrada e
atos de falência. Defesas do devedor. Matéria relevante. Depósito elisivo.
Notas de Aula7
7
Aula ministrada pela professora Marcela Maffei Quadra, em 12/3/2010.
Note-se, portanto, que a presunção estabelecida nestas causas pode ser elidida, e a
simples desconstituição da presunção é suficiente para evitar a quebra do devedor. Um bom
exemplo desta dinâmica é quando um devedor se amolda ao inciso I do artigo supra, ou
seja, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida
materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente
a quarenta salários-mínimos – o que gera presunção de que está insolvente. Ocorre que o
artigo 98 da Lei de Recuperação de Empresas e Falências permite que o devedor compareça
em juízo e deposite valor suficiente a quitar tal débito, o que se denomina de depósito
elisivo. Este depósito nada mais faz do que elidir a presunção de insolvência daquele
devedor. Veja:
O artigo 94 da Lei 11.101/05, supra, traz as causas de falência, como dito. Vejamos
cada caso.
1.1.1. Impontualidade
“Art. 96. A falência requerida com base no art. 94, inciso I do caput, desta Lei, não
será decretada se o requerido provar:
I – falsidade de título;
II – prescrição;
III – nulidade de obrigação ou de título;
IV – pagamento da dívida;
V – qualquer outro fato que extinga ou suspenda obrigação ou não legitime a
cobrança de título;
VI – vício em protesto ou em seu instrumento;
VII – apresentação de pedido de recuperação judicial no prazo da contestação,
observados os requisitos do art. 51 desta Lei;
VIII – cessação das atividades empresariais mais de 2 (dois) anos antes do pedido
de falência, comprovada por documento hábil do Registro Público de Empresas, o
qual não prevalecerá contra prova de exercício posterior ao ato registrado.
§ 1º Não será decretada a falência de sociedade anônima após liquidado e
partilhado seu ativo nem do espólio após 1 (um) ano da morte do devedor.
“Súmula 248, STJ: Comprovada a prestação dos serviços, a duplicata não aceita,
mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência.”
A inércia do devedor executado, na forma do artigo 94, II, da Lei 11.101/05, faz
presumir sua insolvência, e justifica o pedido de falência. Na verdade, é presumida uma
impontualidade ainda mais severa, porque já se descumpriu a obrigação, e inclusive já se
iniciou processo executivo, havendo inércia nesta execução por parte do devedor.
Diz o dispositivo que o devedor, executado por qualquer quantia líquida, não paga,
não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal, poderá ter sua
falência requerida. Ao assim se portar, esta dando indícios ainda mais severos de que não
arcará com seu passivo.
Para esta constatação, porém, deve estar clara a inércia do devedor, pois do
contrário não há execução frustrada, a rigor. Neste sentido, veja a seguinte nota do
informativo 412 do STJ:
“EXECUÇÃO INDIVIDUAL. FALÊNCIA. PENHORA.
A Turma decidiu que a nomeação extemporânea de bens à penhora, no juízo de
execução individual, impede o prosseguimento do pedido de falência (art. 652 do
CPC e art. 2º, I, da antiga Lei de Quebra, DL n. 7.661/1945). Com efeito, conforme
a melhor exegese dos supracitados dispositivos legais, a falência não pode ser
requerida antes do cumprimento do prazo processual para pagamento, o que não
significa que, esgotado o prazo, impõe-se a decretação da falência de quem não se
manteve de todo inerte na execução individual. Precedente citado: REsp 136.565-
RS, DJ 14/6/1999. REsp 741.053-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
20/10/2009.”
1.2. Contestação
“Art. 241. Começa a correr o prazo: (Redação dada pela Lei nº 8.710, de
24.9.1993)
I - quando a citação ou intimação for pelo correio, da data de juntada aos autos do
aviso de recebimento; (Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
II - quando a citação ou intimação for por oficial de justiça, da data de juntada aos
autos do mandado cumprido; (Redação dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
III - quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último aviso de
recebimento ou mandado citatório cumprido; (Redação dada pela Lei nº 8.710, de
24.9.1993)
IV - quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou
rogatória, da data de sua juntada aos autos devidamente cumprida; (Redação dada
pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993)
V - quando a citação for por edital, finda a dilação assinada pelo juiz. (Redação
dada pela Lei nº 8.710, de 24.9.1993).”
não será decretada e, caso julgado extinto8 o pedido de falência, o juiz ordenará o
levantamento do valor pelo autor.
Este depósito não impede a decretação da falência nas hipóteses do inciso III do
artigo 94, ou seja, nos casos de prática de atos de falência. O máximo que este depósito
representará é um sinal de que não há a insolvência real, mas não se obsta, neste caso, a
decretação de falência.
A efetuação do depósito elisivo pode ser concomitante à apresentação de matérias
relevantes em contestação. Em verdade, àquele devedor que não é realmente insolvente, e
ainda possui matéria relevante a ser deduzida, mesmo assim, recomenda-se a efetivação do
depósito elisivo – mesmo que sua contestação esteja fadada ao sucesso. Com isso, terá
obstada a decretação de sua falência desde logo, e, ao final, reconhecida a procedência de
sua matéria de defesa, quando então não perderá o depósito em favor do suposto credor.
Se o devedor simplesmente deposita, não contestando, este depósito tem efeito de
pagamento: o credor levanta o valor, a falência não será decretada, e o processo se extingue
sem resolução do mérito. O pagamento satisfaz o interesse individual daquele credor, pelo
que desaparece interesse de agir na falência.
Se o devedor não deposita, nem são procedentes as razões de defesa apresentadas
pelo devedor, o juiz deverá decretar a sua falência.
Casos Concretos
Questão 1
8
O dispositivo legal usa o termo “procedente”, mas na verdade há mera extinção, sentença terminativa por
falta de interesse na ação.
Resposta à Questão 1
O depósito elisivo, na falência, tem por escopo evitar sua decretação. Caso
realizado, a falência não pode ser decretada, passando a ser uma verdadeira ação de
cobrança, na qual o devedor poderá, ainda, discutir todas as matérias relevantes, e, se
procedentes, o credor terá sua pretensão denegada.
Questão 2
Cia. Casa e Jardim teve sua falência requerida por inadimplemento da obrigação
contraída. Citada, contestou o pedido no terceiro dia e pediu recuperação no décimo.
Rejeitadas as razões da contestação e acolhida a preclusão consumativa do pedido de
recuperação, decretou-se a sua falência. Correta a decisão? Resposta fundamentada.
Resposta à Questão 2
O artigo 95 da Lei 11.101/05 tem por ratio permitir que se demonstre ao juiz, como
matéria relevante, a distribuição de pedido de recuperação. É materialmente impossível que
seja o pedido de recuperação deduzido após a peça de defesa, e ainda assim ser considerado
matéria de defesa – não é possível deduzir matéria de defesa se esta já se efetivou. Está
correta a identificação da preclusão consumativa, e por isso está correta a decisão.
Sérgio Campinho é contrário a esta preclusão, entendendo que a recuperação pode
ser considerada sim, e se julgada antes, obstará a falência, não contando, apenas, com o
condão de suspender o curso da falência, como matéria relevante de defesa que não mais é.
Não se trata, porém, de tese acolhida pela jurisprudência.
Tema IV
FALÊNCIA. Sentença de falência: Noções gerais. Natureza jurídica. Conteúdo, publicidade e recursos.
Sentença denegatória.
Notas de Aula9
1. Sentença de falência
9
Aula ministrada pela professora Marcela Maffei Quadra, em 12/3/2010.
O artigo 99 da Lei 11.101/05 trata deste ato. Os efeitos da decisão de quebra são tão
severos que o legislador traz, neste dispositivo, diversos elementos, requisitos a serem
cumpridos pelo magistrado quando assim decidir. Veja:
A gama de efeitos pessoais e patrimoniais desta sentença é enorme. Seus bens, todo
seu ativo, é imediatamente gravado por indisponibilidade, pois a decretação de falência
necessariamente levará à liquidação deste patrimônio positivo, a fim de suportar o passivo
coletivo.
Quanto às dívidas não vencidas, esta sentença promove seu vencimento antecipado,
permitindo que os credores de dívidas vincendas ao tempo da quebra possam, desde logo,
concorrer pelo recebimento de seu crédito total. Já quanto aos contratos bilaterais, esta
sentença não os extingue de plano, devendo ser estes analisados caso a caso, pelo
administrador judicial e pelo magistrado, porque poderão, se continuados, produzir frutos
úteis à massa falida, maximizando os ativos.
A sentença de quebra opera efeitos retroativos, levando os efeitos da falência a fatos
ocorridos no chamado termo legal, na forma do inciso II do artigo supra. Esta retroação se
justifica porque as alegações autorais procedentes demonstram que a presunção de
insolvência que ensejou o pedido de falência era verdadeira, e os atos passados que levaram
a este estado precisam ser alcançados – quer nulificando-os, quer tornando-os ineficazes –
para que o ativo não seja ainda mais depletado, prejudicando ainda mais os credores.
A sentença decreta a falência. Há quem diga que sequer se trata de uma sentença, e
sim de uma decisão interlocutória, pois é proferida em momento intermediário do processo,
que terá continuidade após sua prolação – e a lei estipula recurso de agravo para esta
decisão, e não apelação. Esta mesma corrente ainda reputa-a meramente declaratória.
Para a maior parte da doutrina, no entanto, esta decisão é sentença, e é constitutiva,
mesmo que a lei estabeleça que desta decisão caberá agravo. O raciocínio é que, em razão
da enorme gravidade e gama de efeitos desta decisão, está claro que se cria uma situação
jurídica diversa da que existia até então, criando a condição de falido – e não meramente
declarando esta situação.
O termo legal é um período ao qual o legislador reconheceu que os atos do devedor
são suspeitos de terem contribuído para a sua quebra. Com isto, a sentença fixa este período
restrito, e os atos que neste foram praticados serão analisados em sua validade e eficácia, a
fim de perscrutar se contribuíram ou não para a insolvência daquele devedor falido.
Outrora, na vigência do DL 7.661/45, a fixação de termo legal era uma faculdade do
juiz. Hoje, não há dúvidas de que a sentença de quebra deve, obrigatoriamente, determinar
este termo legal, na forma do artigo 99, II, da Lei 11.101/05, supra.
O juiz fixará o termo legal da falência começando de noventa dias contados do
pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do primeiro protesto por falta de
pagamento, excluindo-se, para esta finalidade, os protestos que tenham sido cancelados. O
termo a quo pode variar, a depender do fato eleito como marco.
Decretada a falência pela sentença, a liquidação dos ativos é irreversível. Não há
mais qualquer possibilidade de continuidade da empresa, senão por tempo limitado, a
critério do administrador judicial e do juiz, como forma de maximizar ativos. De qualquer
forma, a empresa, mesmo que em momento futuro determinado, findará suas atividades.
Em regra, o lacre do estabelecimento é providência imediata, mas a continuidade provisória
pode ser recomendável, no caso concreto – e o inciso XI do artigo supra permite esta
providência.
O Ministério Público, bem como as Fazendas Públicas, serão intimados da sentença
de quebra. Também será publicado edital com a íntegra da decisão, a fim de dar a máxima
publicidade ao fato.
“Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na
sentença que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as
perdas e danos em liquidação de sentença.
§ 1º Havendo mais de 1 (um) autor do pedido de falência, serão solidariamente
responsáveis aqueles que se conduziram na forma prevista no caput deste artigo.
§ 2º Por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar indenização
dos responsáveis.”
É claro que isto é matéria de prova, pois a improcedência, em regra, não gera esta
responsabilidade ao autor de uma ação. Havendo a responsabilidade, a liquidação será
necessária quanto aos danos materiais, porque não se discutiu este elemento no rito
falimentar. Já os danos morais podem ser fixados na própria sentença, e se forem puros, não
precisará haver liquidação.
1.1. Recursos
“Art. 100. Da decisão que decreta a falência cabe agravo, e da sentença que julga a
improcedência do pedido cabe apelação.”
O regramento destes recursos é colhido do CPC. O agravo, aqui, por óbvio, só pode
ser de instrumento, e geralmente terá efeito suspensivo – pois, do contrário, todos os efeitos
da sentença, vistos no artigo 99 desta lei, serão produzidos.
Casos Concretos
Questão 1
Com apoio no art. 1º, da Lei de Falências (Decreto-Lei nº 7.661/45), certo credor
requereu a falência de sociedade, com base em título vincendo. O primeiro protesto por
falta de pagamento ocorreu em 27/01/1990, advindo, em 17/05/2005, sentença de
procedência da quebra. O autor opôs embargos de declaração, pleiteando a fixação do
termo legal da falência. O juiz não acolheu o pedido, sob o fundamento de ainda não ter
elementos necessários para cumprimento do 14, parágrafo único, III do citado diploma
legal. Correta a decisão? Resposta fundamentada.
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Vê-se, neste julgado, que somente se poderá cogitar de dolo quando a sentença da
falência for de improcedência, porque é só nestes casos que se poderá aferir má-fé. A
sentença terminativa, sem incursão no mérito, não permite avaliar esta conduta do autor – e
o depósito elisivo, desacompanhado de contestação, leva à extinção sem resolução do
mérito, impossibilitando a indenizatória por dolo do autor.
Tema V
DOS EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DE FALÊNCIA. Em relação aos credores do falido. Prazo
Prescricional. Dívidas vincendas. Fluência dos juros. Suspensão das ações e execuções em face do falido e
sócio solidário. Continuação da atividade do falido.
Notas de Aula10
10
Aula ministrada pelo professor Juan Luiz Souza Vazquez, em 15/3/2010.
1.1. Prescrição
Contudo, o falido não vai precisar, necessariamente, aguardar estes cinco anos (ou
os dez anos, do inciso IV), pela seguinte situação: se as obrigações impagas deste falido
prescreverem em tempo menor, desde quando retomado o curso depois da sentença de
encerramento da falência, bastará ao falido alegar simplesmente a extinção de todas as
obrigações pela prescrição, e com este argumento será reabilitado desde logo.
A regra é que todas as ações e execuções que correm em face do falido sejam
suspensas desde a decretação da falência, como indica o caput do artigo 6º da Lei
11.101/05, supra. Há exceções, porém.
As ações que demandem quantia ilíquida, ajuizadas anteriormente à sentença de
quebra, continuarão seu curso no juízo de origem. Isto porque sequer se tem a certeza de
que o credor é realmente credor, e tampouco por qual valor (uma ação por danos morais,
por exemplo). Este pretenso credor deverá, no juízo de origem em que corre a ação,
requerer a reserva de quinhão no processo falimentar, a fim de resguardar seu potencial
crédito em eventuais rateios que venham a ser promovidos.
É claro que, proposta a ação posteriormente à sentença de quebra, ela deverá ter
curso no juízo falimentar, que é indivisível, mesmo sendo por quantia ilíquida.
As reclamações trabalhistas também não são atingidas pela sentença de quebra,
quer tenham sido propostas antes ou depois da quebra. Não serão suspensas, e seu curso
continuará no juízo laboral até findar-se, igualmente podendo o trabalhador credor requerer
reserva de quinhão ao juízo falimentar. A execução trabalhista, no entanto, não poderá ser
procedida: estando certificado o crédito trabalhista na sentença, este deverá ser habilitado
no processo falimentar, a fim de integrar o quadro geral de credores.
As execuções fiscais também não serão suspensas, na forma do § 7º deste artigo 6º,
supra. Leonardo Marques, minoritariamente, entende que devem ser suspensas, na forma da
regra geral, porque este § 7º se refere unicamente à recuperação de empresas – não sendo a
posição do STJ, como já se pôde ver na transcrição de trecho do informativo 416 desta
Corte. Para a maioria, então, o juízo fazendário leva a cabo a execução, e inclusive os atos
expropriatórios, mas o pagamento não pode ser feito à Fazenda, em respeito ao par
conditio creditorum: seu crédito também deverá ser habilitado na falência, remetendo-se o
produto da execução à massa falida, para compor o bojo dos ativos.
O artigo 29 da Lei de Execuções Fiscais, e o artigo 187 do CTN, também reforçam
a não suspensão do curso da execução:
Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e
entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua
falência, se ainda não alienada.”
“Súmula 417, STF: Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder
do falido, recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse
ele a disponibilidade.”
Acerca da execução dos demais sócios, esta não é possível, de plano, com a CDA
emitida contra a sociedade, pelo fato de que o mero inadimplemento, a mera insuficiência
de ativos da falida não leva à responsabilização dos sócios, porque, segundo o STJ, a
falência é uma forma de dissolução regular da sociedade – não podendo os sócios responder
sem que haja fraude à lei, atos ultra vires ou dissolução irregular, na forma do artigo 135 do
CTN:
Vale ressaltar que, até 2009, a Lei 8.620/93 trazia no seu artigo 13 a solidariedade
irrestrita, ex lege, dos sócios e da sociedade para com as contribuições para a seguridade
social – pelo que esta execução do INSS seria válida. Ocorre que este dispositivo já era
inaplicável, por ser reputado formalmente inconstitucional – por ser lei ordinária tratando
de matéria reservada à lei complementar (obrigação tributária) –, e por isso violador do
artigo 146, III, “b”, da CRFB. Hoje, atento a esta inconstitucionalidade, o legislador
revogou expressamente este artigo 13. Veja os artigos:
“Art. 13. O titular da firma individual e os sócios das empresas por cotas de
responsabilidade limitada respondem solidariamente, com seus bens pessoais,
pelos débitos junto à Seguridade Social. (Revogado pela Medida Provisória nº 449,
de 2008) (Revogado pela Lei nº 11.941, de 2009).
Parágrafo único. Os acionistas controladores, os administradores, os gerentes e os
diretores respondem solidariamente e subsidiariamente, com seus bens pessoais,
quanto ao inadimplemento das obrigações para com a Seguridade Social, por dolo
ou culpa. (Revogado pela Medida Provisória nº 449, de 2008) (Revogado pela Lei
nº 11.941, de 2009).”
“Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a
decretação da falência, previstos em lei ou em contrato, se o ativo apurado não
bastar para o pagamento dos credores subordinados.
Parágrafo único. Excetuam-se desta disposição os juros das debêntures e dos
créditos com garantia real, mas por eles responde, exclusivamente, o produto dos
bens que constituem a garantia.”
A regra, portanto, é que não se cobram juros após a decretação da falência, senão
quando tudo mais houver sido pago. Sobrando ativos para suportar os juros, estes serão
pagos.
O parágrafo único do artigo supra traz exceções, bastante pontuais: os juros das
debêntures e dos créditos com garantia real são exigíveis. Ocorre que, quanto às debêntures,
é preciso se identificar de que tipo destas se está tratando aqui. Há quatro tipos de
debêntures: com garantia real; com garantia flutuante; quirografárias; e subordinadas. O
legislador, neste dispositivo supra, a todo ver, quis se referir às debêntures com garantia
real, pois somente esta leitura guarda lógica com o dispositivo, eis que menciona que os
juros são pagos pelo produto de bens que constituem a garantia – ou seja, é claro que se
refere à debênture com garantia real.
Assim, se o bem gravado para garantir a debênture ou qualquer outro crédito não for
suficiente para pagar, com seu produto, os juros, estes não serão pagos, pois não podem
recair sobre a massa – senão quando restarem ativos após todos os pagamentos, conforme a
regra geral do caput.
As cláusulas penais de contratos unilaterais, quando antecipadamente vencidos em
razão da falência, não podem ser executadas. Se houve vencimento impago antes da
falência, no entanto, a cláusula penal é exigível, como indica o artigo 83, § 3º, da lei em
comento:
Credores por obrigações a título gratuito não podem exigir seus créditos na falência,
pois as liberalidades praticadas pelo falido não lhe podem prejudicar agora, em época de
extrema penúria econômica. Estes credores não poderão exigir seus créditos do falido, na
forma do artigo 5º, I, da Lei 11.101/05:
Veja que este dispositivo ainda diz expressamente que esta retenção pode ser oposta
à massa falida. Que ordem legal prevalece, a do artigo 116, I, da Lei 11.101/05, ou a do
artigo 14 do Decreto 1.102/1903?
Entende-se que prevalece a lei de falências, porque tratou expressamente do tema
em momento posterior, e por isso a retenção não pode ser oposta à massa falida. A questão
ainda é controvertida, porém.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Decisão judicial se cumpre, pelo que a orientação é absurda, só por isso. Ademais, o
direito de retenção garantido pelo artigo 708 do CC, mesmo que exista, de fato, não se
aplica à falência, pois o artigo 116, I, da Lei 11.101/05 determina a suspensão de tal direito.
Veja os dispositivos:
“Art. 708. Para reembolso das despesas feitas, bem como para recebimento das
comissões devidas, tem o comissário direito de retenção sobre os bens e valores em
seu poder em virtude da comissão.”
A lei regente deste crédito é o CC, que é especial em relação à Lei 11.101/05. Por
isso, aplica-se o artigo 707 do CC, pela especialidade.
Questão 2
Resposta à Questão 2
De início, é preciso traçar uma premissa básica para a resposta à questão: o termo
sacado deve ser lido tecnicamente, ou seja, é aquele que não aceitou ainda a ordem de
pagamento que lhe apontou como devedor – e o sacado não tem obrigação cambiária.
Sendo assim, o sacado não é devedor, e contra ele não pode correr ação de
execução. Quanto aos demais, avalistas do sacado, surge uma controvérsia: se o sacado não
é devedor, seus avalistas podem continuar a sê-lo? Trata-se, a hipótese, do chamado aval
antecipado, prestado a alguém que ainda não assumiu a obrigação cambiária, ainda não é
aceitante. Neste caso, em que o avalizado não é devedor, podem os seus avalistas serem
demandados?
Há duas correntes sobre as responsabilidades, neste aval antecipado: a primeira
defende que o aval antecipado não tem qualquer efeito se o avalizado não é devedor. É um
aval condicionado ao aceite do sacado, e se ele não aceita, não há qualquer obrigação
cambiária para seus avalistas antecipados.
Do outro lado, há corrente que defende que os avalistas antecipados são, sim,
responsáveis pelo débito, pelo simples fato de que a obrigação cambiária é autônoma e
independente, ou seja, a eventual falta de aceite do avalizado, que leva à sua configuração
como não devedor, não perturba a responsabilidade do avalista: ele responde pela sua
própria obrigação cambiária, assumida de forma autônoma e independente da do avalizado
– não há, como se diz, assinatura em vão no título de crédito.
Dito isto, se se adotar a primeira corrente, ninguém pode ser executado, pois não há
responsabilidade cambiária, e por aqui finda o problema. Outrossim, se se adotar a segunda
corrente, de que os avalistas antecipados respondem pela obrigação, deve se passar à
análise do pedido em questão, que é a suspensão da execução.
No caso, faliram o sacado, “E”, e um dos avalistas, “F”. A execução de “E”, como
dito, é indevida, porque sacado não é devedor; a execução singular de “F”, porém, é devida,
mas se suspende por sua falência, devendo o seu credor se habilitar na sua falência. Já a
execução singular de “G”, o outro co-avalista antecipado, que também é devida à luz desta
segunda corrente, não será suspensa, pela simples razão de que ele não faliu, e em nada lhe
importa a falência dos demais envolvidos na relação.
Prosseguindo a execução de “G”, se ele paga a obrigação, ele poderá tomar duas
providências: poderá habilitar ó crédito que pagou (pois se sub-roga na posição de credor)
na falência do co-avalista, “F”, porque este é devedor solidário – mas só poderá haver a
metade do crédito, que é a cota-parte que incumbe ao co-avalista.
Analisando a questão, agora, sob outra premissa – a de que o enunciado não foi
técnico, e disse “sacado” quando queria dizer “aceitante”, a resposta se altera: o aceitante é
devedor cambiário, e por isso não mais subsiste qualquer discussão quanto ao aval
antecipado – há aval simples, todos sendo devedores solidários. Neste caso, a execução de
“E” e de “F” se suspendem, mas a de “G” prossegue. Pagando, “G” se sub-roga como
credor, e deverá habilitar seu crédito integralmente na falência de “E”, avalizado, e pela
cota-parte na falência de “F” – devendo comunicar à outra massa quando receber em uma
delas.
Note que, qualquer que seja o enfoque, a execução de “G” não se suspende jamais.
O máximo que poderá acontecer é, se se considerar o uso do termo “sacado” tecnicamente,
e se adotar a primeira corrente sobre o aval antecipado – que reputa que não respondem os
avalistas se o sacado não aceita a posição de devedor –, a execução de “G” é indevida, e,
mesmo assim, a solução não é a suspensão pretendida, e sim a extinção.
Questão 3
Resposta à Questão 3
“Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a
execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida
ou dos interesses dos credores.”
Tema VI
DOS EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DE FALÊNCIA. Em relação aos contratos do falido. Noções
gerais. Contratos unilaterais. Contratos bilaterais. Regras gerais e especiais.
Notas de Aula11
11
Aula ministrada pelo professor Juan Luiz Souza Vazquez, em 15/3/2010.
“Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
§ 1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90
(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro
de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
§ 2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao
contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.”
“Art 43. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
executados pelo síndico, se achar de conveniência para a massa.
Parágrafo único. O contraente pode interpelar o síndico, para que, dentro de cinco
dias, declare se cumpre ou não o contrato. A declaração negativa ou o silêncio do
síndico, findo êsse prazo, dá ao contraente o direito à indenização, cujo valor,
apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário.”
econômico. Nesta análise, portanto, se constata que esta cláusula produz uma vantagem
ilícita para a parte beneficiada, já que a libera da prestação, sem que tenha a obrigação de
ressarcimento ou de pagamento de perdas e danos. Ainda que houvesse o pagamento de
uma indenização, esta não impediria os efeitos negativos da rescisão: o crédito seria
ilíquido, e não seria possível encontrar um substituto para o fornecimento. O prejuizo para a
massa de credores seria tremendo. O contrato não está, hoje, limitado apenas às partes que
o pactuaram: a função social do contrato relativiza a relatividade contratual, e os efeitos
negativos do contrato (no caso, de sua resolução) sobre terceiros devem ser prevenidos –
trata-se da função social exógena do contrato.
Na lei de falências norte-americana, esta cláusula resolutória simplesmente não é
admitida. Esta cláusula é conhecida como bankruptcy clause, ou ipso facto. O artigo 365 do
Bankruptcy Code de 1978 invalida todo e qualquer dispositivo previsto em acordo ou
legislação não falimentar que imponha uma cláusula resolutiva ipso facto da insolvência. A
jurisprudência alienígena sobre o tema sempre considerou ser a cláusula ineficaz, pois
inviabilizaria o processo de recuperação ou a otimização dos ativos do falido.
No Brasil, a matéria ainda é controvertida, havendo duas orientações básicas: a
corrente de Carvalho de Mendonça e Fábio Ulhoa Coelho, que entendem que deverá
prevalecer a cláusula e, neste caso, o administrador judicial não poderia dar prosseguimento
do contrato bilateral. Diz Carvalho de Mendonça, ainda à época da Lei 7.661/45, que:
A regra geral para estes contratos, no sistema anterior, quando o falido fosse o
devedor destes contratos, era que ocorreria o vencimento antecipado da dívida.
Hoje, é preciso ter cautela ao ler o artigo 77 da Nova Lei de Falências, pois o
referido dispositivo deverá ser analisado em conjunto com o artigo 118 deste diploma:
Diz o inciso I do artigo 119 da Nova Lei de Falências que pode haver a sustação da
entrega de coisa vendida e em trânsito, o chamado direito de stoppage:
III – não tendo o devedor entregue coisa móvel ou prestado serviço que vendera ou
contratara a prestações, e resolvendo o administrador judicial não executar o
contrato, o crédito relativo ao valor pago será habilitado na classe própria;
IV – o administrador judicial, ouvido o Comitê, restituirá a coisa móvel comprada
pelo devedor com reserva de domínio do vendedor se resolver não continuar a
execução do contrato, exigindo a devolução, nos termos do contrato, dos valores
pagos;
V – tratando-se de coisas vendidas a termo, que tenham cotação em bolsa ou
mercado, e não se executando o contrato pela efetiva entrega daquelas e
pagamento do preço, prestar-se-á a diferença entre a cotação do dia do contrato e a
da época da liquidação em bolsa ou mercado;
VI – na promessa de compra e venda de imóveis, aplicar-se-á a legislação
respectiva;
VII – a falência do locador não resolve o contrato de locação e, na falência do
locatário, o administrador judicial pode, a qualquer tempo, denunciar o contrato;
VIII – caso haja acordo para compensação e liquidação de obrigações no âmbito
do sistema financeiro nacional, nos termos da legislação vigente, a parte não falida
poderá considerar o contrato vencido antecipadamente, hipótese em que será
liquidado na forma estabelecida em regulamento, admitindo-se a compensação de
eventual crédito que venha a ser apurado em favor do falido com créditos detidos
pelo contratante;
IX – os patrimônios de afetação, constituídos para cumprimento de destinação
específica, obedecerão ao disposto na legislação respectiva, permanecendo seus
bens, direitos e obrigações separados dos do falido até o advento do respectivo
termo ou até o cumprimento de sua finalidade, ocasião em que o administrador
judicial arrecadará o saldo a favor da massa falida ou inscreverá na classe própria o
crédito que contra ela remanescer.”
O artigo 119, supra, apresenta a solução para estes contratos, no inciso VI: este
determina que seja aplicada a legislação especial às promessas de compra e venda de
imóveis celebradas pelo falido.
Diz Sérgio Campinho que:
Se a incorporação não seguir o regime da afetação, esta regra não será observada.
Ainda sobre a incorporação, a jurisprudência tem admitido aos condôminos dar
prosseguimento ao contrato, finalizando a obra e pagando o que houver de ser pago à massa
falida.
“Art. 120. O mandato conferido pelo devedor, antes da falência, para a realização
de negócios, cessará seus efeitos com a decretação da falência, cabendo ao
mandatário prestar contas de sua gestão.
§ 1º O mandato conferido para representação judicial do devedor continua em
vigor até que seja expressamente revogado pelo administrador judicial.
§ 2º Para o falido, cessa o mandato ou comissão que houver recebido antes da
falência, salvo os que versem sobre matéria estranha à atividade empresarial.”
Veja que a lei determina que as contas correntes do devedor falido deverão, com a
decretação da falência, ser encerradas, apurando-se o respectivo saldo. Assim sendo,
conclui-se que o administrador judicial não poderá optar pela continuação de tais contratos,
“Art. 123. Se o falido fizer parte de alguma sociedade como sócio comanditário ou
cotista, para a massa falida entrarão somente os haveres que na sociedade ele
possuir e forem apurados na forma estabelecida no contrato ou estatuto social.
§ 1º Se o contrato ou o estatuto social nada disciplinar a respeito, a apuração far-
se-á judicialmente, salvo se, por lei, pelo contrato ou estatuto, a sociedade tiver de
liquidar-se, caso em que os haveres do falido, somente após o pagamento de todo o
passivo da sociedade, entrarão para a massa falida.
§ 2º Nos casos de condomínio indivisível de que participe o falido, o bem será
vendido e deduzir-se-á do valor arrecadado o que for devido aos demais
condôminos, facultada a estes a compra da quota-parte do falido nos termos da
melhor proposta obtida.
“Art. 1.030. Ressalvado o disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, pode o
sócio ser excluído judicialmente, mediante iniciativa da maioria dos demais sócios,
por falta grave no cumprimento de suas obrigações, ou, ainda, por incapacidade
superveniente.
Parágrafo único. Será de pleno direito excluído da sociedade o sócio declarado
falido, ou aquele cuja quota tenha sido liquidada nos termos do parágrafo único do
art. 1.026.”
Estes contratos serão extintos, na forma do artigo 35, VI, da Lei 8.987/95.
Consoante a regra disposta no parágrafo segundo deste artigo, o poder concedente irá
assumir o serviço público. Veja:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
O administrador judicial deve, primeiro, manifestar que não quer dar continuidade
ao contrato, pois se quiser este terá prosseguimento – a cláusula resolutória expressa, para a
melhor doutrina, não se opõe à intenção de continuar o pacto. Se definir que o contrato vai
se resolver, somente então, o pedido de restituição seria sequer cogitável. Observa-se o
artigo 117 da Lei 11.101/05.
Assim, o bem será restituído in natura apenas se o administrador judicial não
pretender cumprir o contrato. Alienado o bem extrajudicialmente, como autoriza o Decreto
911/69, o credor satisfará seu crédito, e se restar algum saldo a ser pago a ele, este será
habilitado como quirografário. Se, ao contrário, restar saldo em favor do devedor falido,
deverá ser devolvido para compor o ativo da massa.
Vale dizer que se o bem não for arrecadado, a corrente majoritária entende que não
cabe pedido de restituição: a prova da arrecadação é essencial para tal pedido. Neste caso,
deverá habilitar-se, por todo o crédito, como credor quirografário. Contudo, há quem
entenda que se se provar a posse do bem pelo falido, a restituição também poderá ser
requerida, mesmo que não haja arrecadação, baseada na alternativa aparente do artigo 85 da
Lei 11.101/05:
Questão 3
Resposta à Questão 3
Questão Extra
Tema VII
DA INEFICÁCIA DOS ATOS PRATICADOS PELO DEVEDOR ANTES DA FALÊNCIA. Atos ineficazes. Atos
revogáveis. Ação revocatória. Legitimidade. Prazo. Recursos.
Notas de Aula12
12
Aula ministrada pelo professor Leonardo Araújo Marques, em 16/32010.
Na nova lei não há previsão expressa desta nulidade, mas ela resulta diretamente da
absoluta incapacidade de praticar qualquer ato relativo a seu patrimônio que se abate sobre
o falido. Quem pode praticar atos sobre os bens é o administrador judicial da massa falida,
e não mais o falido. Decretada a falência, os bens passam automaticamente à massa, e à
representação desta pelo administrador judicial, sendo nulos os atos que venham a ser
praticados pelo falido.
“Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não
intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo
legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do
próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal,
por qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo
legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca
forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber
ao credor da hipoteca revogada;
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da
falência;
O caput deste artigo é muito claro quanto à sua objetividade, dispensando sem
margem de dúvidas os elementos subjetivos possivelmente suscitáveis. Há ineficácia,
mesmo não havendo estes elementos, mesmo não havendo prova do consilium fraudis.
Outro muito relevante aspecto sobre esta ineficácia objetiva é a tipicidade dos atos
que a ensejam: só há ineficácia objetiva se o ato for descrito neste artigo, não comportando
este interpretação ampliativa de seu rol. O rol é taxativo.
Na lei anterior, como dito, já havia os dois sistemas de ineficácia, e em qualquer dos
casos o meio para declarar a ineficácia era o emprego da ação revocatória: esta era
obrigatória para suscitar a ineficácia. Veja, a este respeito, o seguinte teor do informativo
426 do STJ:
No sistema atual, há uma diferença: se a ineficácia for objetiva, o juiz não precisa
decretá-la nos autos de uma revocatória, podendo declará-la incidentalmente no próprio
processo de falência, e mesmo que não haja requerimento, como indica o parágrafo único
do artigo supra.
Há muito questionamento acerca da constitucionalidade desta atuação oficiosa do
juízo da falência, porque supostamente violaria a inércia judiciária, mas prepondera a
corrente de que é uma opção válida do legislador. Isto porque a atuação do juízo da falência
é atípica em muitos aspectos, exercendo o juiz uma verdadeira superintendência processual
sobre aqueles atos, e não mera solução de lides: é um verdadeiro administrador, auxiliado
pelo próprio administrador judicial – e por isso a inércia não é imposta como o é no
processo comum.
Sequer o contraditório é afastado quando ocorre esta ineficácia declarada de ofício,
porque o prejudicado pode discutir a matéria, seja por agravo de instrumento, sejas por
embargos de terceiro – o contraditório é diferido, apenas.
Mesmo sendo declarável incidentalmente, nada impede que o prejudicado ajuíze
ação revocatória contra ato incidente neste artigo 129, supra. Esta ação é admissível porque,
muitas vezes, há necessidade de produção de prova sobre a existência de um ato daquele
rol. Nestes casos, a ação revocatória pode ser interessante, ou melhor, recomendável. É
claro que, provada de plano a situação incidente no artigo em questão, a revocatória
(também chamada de ação declaratória de ineficácia relativa) não será necessária.
Vejamos, então, cada um dos incisos que revelam atos de ineficácia objetiva.
Diz o inciso I que é ineficaz o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo
devedor dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que
pelo desconto do próprio título. Esta ineficácia é muito lógica: se há títulos vencidos e
impagos, não pode o devedor privilegiar um outro credor cujo título sequer venceu,
pagando-o adiantadamente13.
No inciso II deste artigo supra, diz o legislador ser ineficaz o pagamento de dívidas
vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por qualquer forma que não seja a
prevista pelo contrato. Um bom exemplo é o de uma dívida paga pelo devedor por meio de
dação em pagamento: não é admissível o pagamento feito de forma diversa daquela que o
contrato impunha originalmente, sendo este um ato objetivamente ineficaz. A recíproca
seria também ineficaz: se a obrigação contratual era de dar coisa certa, o pagamento em
dinheiro é também ineficaz.
O inciso III deste artigo diz ser ineficaz a constituição de direito real de garantia,
inclusive a retenção, dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente;
se os bens dados em hipoteca forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a
parte que devia caber ao credor da hipoteca revogada. A constituição de gravame, no termo
legal, sem qualquer justificativa plausível (quando o crédito já existia, por exemplo), não
pode ser mantida – é ineficaz, porque claramente visa a burlar a classificação dos créditos.
Sendo ineficaz, o crédito será classificado como originalmente o seria, ignorada a garantia
claramente fraudulenta.
Estes incisos I a III do artigo 129, supra, se referem ao termo legal como período de
causa destas ineficácias. Reveja o dispositivo que traça o termo legal, o artigo 99, II, da Lei
11.101/05:
13
Há quem defenda que o pagamento antecipado, mas em dia muito próximo do vencimento, não seria caso
de ineficácia, porque o dispositivo deve ser interpretado com alguma razoabilidade. Porém, é corrente
inexpressiva e, a todo ver, inacatável.
A prática de atos a título gratuito, ou a renúncia a herança ou legado 14, desde dois
anos antes da decretação da falência, são atos objetivamente ineficazes, segundo os incisos
IV e V do artigo 129 da Lei 11.101/05, respectivamente. Esta ineficácia vige para os atos de
dois anos antes da sentença, que são o que se denomina de período suspeito, não se
confundindo com o termo legal. Havendo esta ineficácia, os bens excluídos por conta
destes atos retornarão ao patrimônio do falido, agora à massa falida.
O inciso VI deste artigo 129 em tela diz que é ineficaz a venda ou transferência de
estabelecimento feita sem o consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores,
a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens suficientes para solver o seu
passivo, salvo se, no prazo de trinta dias, não houver oposição dos credores, após serem
devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro de títulos e documentos.
Este dispositivo trata do trespasse realizado pelo devedor, que o leva a ficar com ativos
remanescentes inferiores ao passivo, operação esta que só será eficaz se os credores,
notificados, permitam-na (mesmo que tacitamente, pela não oposição). Caso contrário, é
ineficaz. É claro que, se o trespasse não representar insolvência real, ou seja, se a venda do
estabelecimento não representar a diminuição do ativo a patamar inferior do que o passivo
do alienante falido, a alienação é válida.
No caso do trespasse, não se condiciona sua eficácia a qualquer período, ao termo
legal ou ao período suspeito – é revogável qualquer que tenha sido o momento em que
levou à insolvência contábil. Há quem sustente que há, porém, um limite temporal se impõe
à declaração de ineficácia do trespasse – o prazo prescricional da ação pauliana, de quatro
anos. Contudo, é tese inacatável, eis que o legislador não impôs qualquer limite temporal
intencionalmente, porque todo credor prejudicado deve poder obter esta solução judicial da
ineficácia, qualquer que tenha sido o tempo de seu prejuízo.
Veja que no trespasse, muito provavelmente uma ação revocatória será necessária,
porque a complexidade em se verificar a insolvência é evidente, sendo difícil sua
constatação incidental no rito falimentar.
O inciso VII do artigo 129 diz serem ineficazes os registros de direitos reais e de
transferência de propriedade entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação
relativa a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação
anterior. Este dispositivo deve ser lido com enorme atenção, pelo seguinte detalhe: não é o
negócio, o contrato de compra e venda ou instituição de direito real, que está sendo
declarado ineficaz, e sim o seu registro.
Veja um exemplo: o devedor aliena um bem imóvel há mais de dez anos atrás, mas
o comprador não o transfere para si no registro, por meio da escritura pública. Para todos os
efeitos, então, este bem ainda está no patrimônio do devedor-vendedor. Vindo este a falir, o
administrador judicial arrecadará aquele bem imóvel, e qualquer registro feito após tal
momento será ineficaz (a rigor, sequer poderia ter sido feito, e se o foi certamente houve
alguma fraude cartorária). A arrecadação, porém, poderá ser contestada pelo comprador,
que se dirigirá ao juízo da falência e requererá a lavratura da escritura definitiva, provando
que o bem não pertence ao devedor falido, e portanto não pode ser arrecadado. Restando
14
Vale dizer que o ato do inciso V deste artigo 129 é normalmente aplicável a empresários individuais, eis que
sociedades raramente são herdeiras de qualquer coisa.
provado isto, o juízo permitirá que a escritura seja lavrada, e somente então o registro será
admitido.
É claro que o negócio efetivado após a falência é nulo de pleno direito, mas não é
disso que trata o dispositivo: este comina ineficácia objetiva ao registro do ato praticado
anteriormente, mas o ato persiste válido e eficaz – precisando apenas ser provado ao juízo
falimentar, como medida preventiva de fraudes, para poder ser registrado eficazmente.
A exceção a esta ineficácia é a existência de prenotação anterior à quebra: havendo
este início de registro, não será o registro realizado após a quebra considerado ineficaz.
O artigo 215 da Lei 6.015/73 se refere a este caso, cominando nulidade. Porém, este
dispositivo não tem vida própria autônoma, devendo ser lido em consonância com a Lei de
Falências, e por isso onde escrito que são “nulos” estes registros, leia-se “ineficazes”:
“Art. 215 - São nulos os registros efetuados após sentença de abertura de falência,
ou do termo legal nele fixado, salvo se a apresentação tiver sido feita
anteriormente. (Renumerado do art. 216 com nova redação pela Lei nº 6.216, de
1975).”
“Art. 131. Nenhum dos atos referidos nos incisos I a III e VI do art. 129 desta Lei
que tenham sido previstos e realizados na forma definida no plano de recuperação
judicial será declarado ineficaz ou revogado.”
Esta exceção é muito lógica, porque seria contraditório declarar ineficácia de ato
aprovado pelos credores.
Este dispositivo também não comina prazo para reconhecimento desta ineficácia,
podendo atingir atos que se enquadrem naqueles termos mesmo que tenham sido praticados
há muito tempo.
Veja que há atos que escapariam à ineficácia objetiva justamente por estarem
alheios ao período em que esta se constata, mas que podem ainda padecer de ineficácia
subjetiva. Por exemplo, uma doação realizada há três anos antes da falência: não está mais
no período suspeito de dois anos que torna-a objetivamente ineficaz, mas se o credor provar
consilium fraudis e prejuízo, será declarada subjetivamente ineficaz.
Para a declaração de ineficácia subjetiva, é imperativo o manejo de ação
revocatória, pois a matéria demanda prova da fraude e do prejuízo. A sentença da ação
revocatória será desconstitutiva do ato revogado.
Repare que o ato alvejado pela revocatória, ou melhor, qualquer ato considerado
ineficaz, não é retirado do ordenamento: o ato é existente e válido, só não é oponível à
massa falida. Assim, pode acontecer de, utopicamente, não ser necessária a sua extinção
para quitação dos débitos falimentares, se o ativo suprir todas as dívidas do falido. Neste
caso, o ato restará vigente, não sendo perturbado, porque o ato é existente, válido e eficaz
contra o falido – só sendo ineficaz contra a massa falida, que pode arrecadar aquele bem ali
negociado.
O artigo 132 da Lei de Falências traz prazo decadencial para o direito de revogar o
ato subjetivamente ineficaz:
“Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta
pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no
prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.”
Por conceito, a revocatória é a ação pelo meio da qual se retira a eficácia de certos
atos praticados pelo devedor antes da declaração da falência, em relação à massa falida.
A competência para esta ação é do juízo falimentar, ante sua indivisibilidade. Veja o
artigo 134 da Lei 11.101/05:
Esta ação difere da ação pauliana, a qual também ataca a eficácia de atos, mas
apenas em relação ao credor que a ajuíza: na revocatória, todos os credores se beneficiam
da revogação do ato; na pauliana, apenas o credor quirografário é legitimado, enquanto na
revocatória, todos são legitimados ativos.
A legitimidade ativa é peculiar, pois realmente assiste a todos os envolvidos: MP,
credores, massa falida representada pelo administrador judicial, todos têm legitimidade –
menos o próprio falido, por óbvio, eis que ele praticou o ato que seria alvejado.
Todavia, o STJ, em recente julgado, entendeu, indiretamente e por via oblíqua, que
poderia haver provimento a revocatória proposta pelo próprio falido, ao seguinte
argumento: ela trará mais ativos à massa, e esta orientação deve prevalecer sobre a
ilegitimidade do falido. Na verdade, o que o STJ fez foi dar provimento a um REsp. em
uma rescisória ajuizada pelo falido, que alvejava decisão que denegara uma revocatória
ajuizada por um credor, e por isso a obliquidade do suposto reconhecimento de
legitimidade ao falido. A doutrina unânime rejeita esta possibilidade, mas o STJ tem esta
decisão paradigmática.
Discussão que envolve o falido é se este será ou não posto no pólo passivo da
revocatória. Há corrente que defende que ele tem que ser posto no pólo passivo, em
litisconsórcio necessário com os envolvidos no ato. Outra corrente defende que basta ser
intimado do processo, para, se quiser, integrar o pólo passivo para defender a higidez do
ato. O STJ, no informativo 414, se posicionou pela desnecessidade de sua presença no pólo
passivo:
O termo “pode”, do caput, para parte da doutrina deve ser interpretado como
“deve”, sendo necessário o litisconsórcio. Por todos, Rubens Requião. Todavia, a
jurisprudência tem entendido que não é esta a leitura, pois o litisconsórcio passivo seria
realmente facultativo.
A avaliação casuística da legitimidade passiva é mais técnica, na verdade, a
depender do ato alvejado. Isto porque há casos, por exemplo, em que o terceiro adquirente,
por ser de boa-fé, nada tem que responder perante o juízo falimentar.
O efeito da sentença de procedência da revocatória é o retorno dos bens à massa
falida, e dela cabe apelação. Veja os artigos 135 e 136 da lei em comento:
“Art. 138. O ato pode ser declarado ineficaz ou revogado, ainda que praticado com
base em decisão judicial, observado o disposto no art. 131 desta Lei.
Parágrafo único. Revogado o ato ou declarada sua ineficácia, ficará rescindida a
sentença que o motivou.”
Veja que a causa de pedir da ação revocatória não tem qualquer correlação com a
que foi enfrentada na coisa julgada que gerou o ato atacado. Por isso, não é uma violação à
coisa julgada, e este dispositivo é perfeitamente constitucional.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“Art. 45. O reembolso é a operação pela qual, nos casos previstos em lei, a
companhia paga aos acionistas dissidentes de deliberação da assembléia-geral o
valor de suas ações.
§ 1º O estatuto pode estabelecer normas para a determinação do valor de
reembolso, que, entretanto, somente poderá ser inferior ao valor de patrimônio
O que este dispositivo faz é adicionar mais uma hipótese de ineficácia objetiva,
perfeitamente válida e que deve ser observada, ao rol do artigo 129 da Lei 11.101/05.
Questão 2
ineficácia do ato foi decretada de ofício pelo juiz. O adquirente recorre da decisão,
dizendo-se terceiro de boa-fé, além do que a decretação de ineficácia depende da
propositura de ação revocatória. Correta a decisão? Resposta fundamentada.
Resposta à Questão 2
Pelo sistema anterior, a ação revocatória era necessária, mas não no sistema atual –
pode haver declaração de ineficácia incidental ao próprio processo falimentar, sendo
legalmente admitida esta medida oficiosa no artigo 129, parágrafo único, da Lei 11.101/05.
O terceiro pode defender seu bem através de instrumentos como o agravo de instrumento e
os embargos de terceiro.
Questão 3
"A" requereu a falência de "B". No prazo para defesa, este requereu e efetuou o
depósito elisivo, que foi levantado pelo requerente, após o juiz ter verificado a
improcedência das alegações da requerida. Posteriormente, outro credor requereu a
falência de "B", vindo ela a ser decretada. No prazo do art. 132 da Lei de Falências, o
administrador propôs ação revocatória objetivando a anulação do levantamento ocorrido
na ação anterior, ao fundamento de conluio entre o requerente e o falido, que concertaram
o pedido de falência, com o objetivo de fraudar os direitos dos demais credores, sendo
certo que, àquela altura, já era inequívoco o estado de insolvência do devedor, que,
inclusive, tinha título protestado. Você julgaria procedente o pedido? Fundamente.
Resposta à Questão 3
Ficando comprovado o conluio entre as partes, sim, o pedido deve ser julgado
procedente. Isto porque a decisão judicial que deu origem ao ato não impede a declaração
de sua ineficácia, a teor do artigo 138 da Lei 11.101/05 – as causas de pedir são diferentes,
não sendo ofendida a coisa julgada, pois a sentença, em si, não será atacada, e sim o próprio
pagamento.
Tema VIII
DOS EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DE FALÊNCIA. Em relação à pessoa do falido e dos sócios.
Direitos do falido. Deveres do falido. Prisão do falido. Efeitos em relação aos bens do falido. Arrecadação
dos bens e documentos do falido. Auto de arrecadação. Bens de terceiros.
Notas de Aula15
“Art. 102. O falido fica inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a
partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações,
respeitado o disposto no § 1º do art. 181 desta Lei.
Parágrafo único. Findo o período de inabilitação, o falido poderá requerer ao juiz
da falência que proceda à respectiva anotação em seu registro.”
15
Aula ministrada pelo professor Leonardo Araújo Marques, em 16/32010.
No inciso III do artigo supra, vê-se que o falido tem um pouco limitado seu direito à
locomoção, mas note-se que o que se impõe é a comunicação de que se ausentará ao juízo,
e não o pedido de autorização para tanto (como ocorria na vigência do DL 7.661/45). Sobre
isso, veja o seguinte julgado, constante do informativo 349 do STJ:
O artigo 99, VII, da Lei 11.101/05 prevê a prisão do falido, a qual em nada se
confunde com a prisão civil: trata-se de prisão preventiva, processual penal, perfeitamente
constitucional. Veja:
“Art. 109. O estabelecimento será lacrado sempre que houver risco para a
execução da etapa de arrecadação ou para a preservação dos bens da massa falida
ou dos interesses dos credores.”
“Art. 110. O auto de arrecadação, composto pelo inventário e pelo respectivo laudo
de avaliação dos bens, será assinado pelo administrador judicial, pelo falido ou
seus representantes e por outras pessoas que auxiliarem ou presenciarem o ato.
§ 1º Não sendo possível a avaliação dos bens no ato da arrecadação, o
administrador judicial requererá ao juiz a concessão de prazo para apresentação do
laudo de avaliação, que não poderá exceder 30 (trinta) dias, contados da
apresentação do auto de arrecadação.
§ 2º Serão referidos no inventário:
I – os livros obrigatórios e os auxiliares ou facultativos do devedor, designando-se
o estado em que se acham, número e denominação de cada um, páginas
escrituradas, data do início da escrituração e do último lançamento, e se os livros
obrigatórios estão revestidos das formalidades legais;
II – dinheiro, papéis, títulos de crédito, documentos e outros bens da massa falida;
III – os bens da massa falida em poder de terceiro, a título de guarda, depósito,
penhor ou retenção;
IV – os bens indicados como propriedade de terceiros ou reclamados por estes,
mencionando-se essa circunstância.
§ 3º Quando possível, os bens referidos no § 2o deste artigo serão individualizados.
§ 4º Em relação aos bens imóveis, o administrador judicial, no prazo de 15
(quinze) dias após a sua arrecadação, exibirá as certidões de registro, extraídas
posteriormente à decretação da falência, com todas as indicações que nele
constarem.”
“Art. 112. Os bens arrecadados poderão ser removidos, desde que haja necessidade
de sua melhor guarda e conservação, hipótese em que permanecerão em depósito
sob responsabilidade do administrador judicial, mediante compromisso.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Há uma discussão, ainda, sobre se há falência de fato ou de direito dos sócios com
responsabilidade ilimitada, mas a Lei 11.101/05 fala expressamente em falência de direito
destes sócios, no artigo 81. Esta literalidade deve ser observada. Contudo, pela severidade
da discussão, seguem as posições.
Parte da doutrina o admite, como Fabio Ulhoa, que defende que deve ser feita
interpretação literal, e o dito artigo 81 demanda apenas um requisito para que o sócio possa
falir: a sua responsabilidade ilimitada. Assim, debalde qualquer variação na atividade do
sócio, se este tem responsabilidade ilimitada, vai incidir em falência, se a sociedade que
integra vier a falir.
Sérgio Campinho, por sua vez, mitiga esta interpretação literal, propondo
interpretação sistemática do dispositivo: o artigo 1° da própria Lei de Falências só admite
que venha a falir devedor que seja empresário:
Assim, se não for empresário, não pode incidir em falência. Conjugando-se este
dispositivo com a previsão do artigo 81, o sócio com responsabilidade ilimitada somente
poderá ter sua falência decretada se for também considerado empresário, per si. Isto
significa que, se o sócio for uma pessoa natural, com responsabilidade ilimitada, deverá ser
também caracterizado como empresário individual, por qualquer atividade paralela que
desempenhe. E se o sócio for uma pessoa jurídica, deverá igualmente ser sociedade
empresária com responsabilidade ilimitada, para poder falir quando da falência da
sociedade maior a qual integra.
Segundo a tese de Campinho, se a sociedade for do tipo em nome coletivo, todos os
sócios são pessoas naturais, e se a sociedade vier a falir, aqueles que se configurarem como
empresários individuais também falirão; aqueles que não forem, além de sócios
ilimitadamente responsáveis, empresários individuais, não terão sua falência decretada, mas
se sujeitarão aos efeitos da falência da sua sociedade (tal como era na vigência do DL
7.661/45, a tal falência de fato).
Há ainda uma terceira corrente, de Mônica Gusmão, que entende, contra legem, que
não é razoável a falência de direito destes sócios de responsabilidade ilimitada, em qualquer
caso. Assim se posiciona por três fundamentos: o devedor das obrigações inadimplidas é a
sociedade, e não os sócios, mesmo que ilimitadamente responsáveis; a personalidade da
sociedade não se confunde com a dos sócios, em razão da autonomia da personalidade
jurídica; e, por fim, pelo próprio escopo do novel diploma falimentar: esta lei não prima
pela quebra, mas sim pela continuidade da atividade de empresa, fomentando a sua
subsistência pela atenção à função social da empresa, sua preservação, e à própria
razoabilidade. Neste diapasão, aos sócios ilimitadamente responsáveis serão impostos os
efeitos da falência, sendo eles empresários per si ou não, mas não a decretação da falência
de direito. Assim, esta corrente simplesmente mantém o regime como era na vigência do
artigo 5°, do DL 7.661/45.
Questão 3
Resposta à Questão 3
A marca é propriedade industrial, bem imaterial com valor econômico, por vezes,
extremamente vultoso. Não só pode, como deve ser arrecadada, gravando-a no INPI.
Já o nome empresarial, por seu turno, não pode ser arrecadado. Este é um atributo
identificador da personalidade jurídica da sociedade, e como tal não é um bem
economicamente valorável. É impossível se admitir a arrecadação de tal elemento da
personalidade, mesmo porque é providência inútil, eis que este não poderá ser alienado
posteriormente, na forma do artigo 1.164 do CC:
“Enunciado 72, CJF: Art. 1.164: suprimir o art. 1.164 do novo Código Civil.”
Tema IX
Notas de Aula16
1. Pedido de restituição
16
Aula ministrada pela professora Marcela Maffei Quadra, em 25/3/2010.
pois o administrador judicial não tem atribuição para decidir sobre a restituição do bem ao
seu proprietário
Trata-se de instituto da falência, não cabendo pedido de restituição na recuperação
judicial ou extrajudicial.
A fase investigativa da falência, após a decretação da quebra, consiste na verificação
do ativo e do passivo do falido. Na investigação do ativo, a lei impõe como dever do
administrador judicial que ele promova a arrecadação dos bens que sejam propriedade do
falido, ou que estejam na posse do falido. A arrecadação é o ato pelo qual se materializa a
indisponibilidade dos bens do falido.
Neste momento, não cabe ao administrador judicial realizar qualquer juízo de valor
sobre os bens que estão na posse do falido, sob pena de responder pessoalmente por
eventuais prejuízos aos credores. É por isso que pode acontecer de bens que não devam
estar contabilizados como ativo do falido acabem sendo arrecadados, indevidamente, por
precaução. E é para solucionar esta constrição errônea que se presta o pedido de restituição.
Veja o artigo 85 da Lei de Recuperação de Empresas:
As hipóteses dos incisos II e III do artigo supra são as tais causas especiais que, ao
lado do caso do parágrafo único do artigo 85, legitimam o pedido de restituição. A hipótese
do inciso II é bastante específica e literal, referindo-se a uma modalidade contratual
determinada; a do inciso III, por seu turno, é a restituição oriunda do desfazimento do
contrato por revogação ou ineficácia, e aponta para o artigo 136 do mesmo diploma, que
trata justamente do desfazimento do negócio:
As restituições do artigo 86, na forma do seu parágrafo único, só serão feitas após o
pagamento dos créditos trabalhistas apontados pelo artigo 151 do mesmo diploma:
A interpretação sistemática destes três dispositivos – 86, parágrafo único, 149 e 151
– leva à conclusão de que, tão logo verificada a disponibilidade de caixa, pagará os créditos
do artigo 151, desde que não prejudique aquilo que deve ser restituído. Deve haver
pagamento destes créditos do artigo 151 antes das restituições, como dispõe o artigo 86,
parágrafo único, mas tais créditos não podem ser quitados com os valores destinados à
restituição, porque deles não dispõe a massa falida – não lhe pertencem. A questão é apenas
temporal, ou seja, os créditos dos trabalhadores serão pagos com precedência, mas não em
prejuizo dos credores de restituições, nem dos credores extraconcursais.
Assim, a ordem natural é que sejam pagas as restituições, os créditos
extraconcursais e os créditos do artigo 151, mas estes serão pagos primeiro se não
prejudicar o demais mencionados.
Assim, ao arrecadar, apenas cumpriu dever legal, e por isso não pode a massa ser
punida com ônus de sucumbência.
Sendo denegada a restituição, na sentença, o crédito, se existir, será enquadrado na
classe pertinente do concurso de credores, na forma do artigo 89:
“Art. 89. A sentença que negar a restituição, quando for o caso, incluirá o
requerente no quadro-geral de credores, na classificação que lhe couber, na forma
desta Lei.”
“Art. 90. Da sentença que julgar o pedido de restituição caberá apelação sem efeito
suspensivo.
“Art. 92. O requerente que tiver obtido êxito no seu pedido ressarcirá a massa
falida ou a quem tiver suportado as despesas de conservação da coisa reclamada.”
Quem quer que não tiver legitimidade para pedir restituição, poderá opor embargos
de terceiros, na forma do artigo 93 da Lei 11.101/05 – outra medida que não se confunde,
em absoluto, com o pedido de restituição, e que será alvo de estudo logo adiante.
“Art. 93. Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o
direito dos credores de propor embargos de terceiros, observada a legislação
processual civil.”
2. Embargos de terceiro
O que há de mais relevante a ser ressaltado, aqui, é o fato de que não pode, o
pretendente, escolher entre o pedido de restituição e os embargos de terceiro: como se viu
no artigo 93 da Lei 11.101/05, supra, ou há legitimidade para um ou para outro instrumento.
Além do exemplo clássico do cônjuge, mencionado, vale dizer que em caso de
turbação se um terceiro pelo auto de arrecadação, somente caberá embargos de terceiro, e
não pedido de restituição.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Para Sérgio Campinho, neste contrato bilateral, o credor fiduciário apenas terá
direito à restituição se não houver cumprimento do contrato de alienação fiduciária pelo
devedor falido. O administrador deve interpelar o administrador judicial para saber se ele
irá dar prosseguimento ao contrato, conforme artigo 117 da Lei 11.101/05:
“Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser
cumpridos pelo administrador judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o
aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e preservação
de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
§ 1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90
(noventa) dias, contado da assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro
de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.
§ 2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao
contraente o direito à indenização, cujo valor, apurado em processo ordinário,
constituirá crédito quirografário.”
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema X
Notas de Aula17
1. Administração da falência
Com natureza jurídica de órgão auxiliar do juízo, e com papel de suma importância
no processo falimentar, há a figura do administrador judicial, bastante semelhante ao
antigo síndico da falência, na vigência da lei anterior. Este administrador é nomeado pelo
juiz, e deve aceitar o encargo.
O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado,
economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. neste
último caso, ser nomeada uma pessoa natural para presentá-la. Não há mais a necessidade
de que o administrador seja um dos credores da massa, como havia outrora. Hoje, só
prevalece a capacidade técnica do administrador.
17
Aula ministrada pela professora Marcela Maffei Quadra, em 25/3/2010.
Vale dizer que, por mais extenso que seja este artigo 22, não é rol taxativo das
atribuições do administrador, podendo haver outras.
O artigo 24 trata da remuneração do administrador:
O MP atua na forma do artigo 82, III, do CPC, e 127 da CRFB. Veja os dispositivos:
O comitê de credores é órgão facultativo que tem como principal função fiscalizar a
atuação do administrador judicial. Os membros do comitê poderão fazer jus a remuneração,
se a massa comportar e a complexidade do processo demandar.
A assembléia geral de credores, por seu turno, é orgão deliberativo, que reúne os
credores das diversas classes para o fim de aprovar determinados atos no curso da falência.
É órgão obrigatório, tanto na recuperação quanto na falência, mas não é permanente, sendo
instalada por convocações específicas, e depois decomposta.
É a assembléia que aprova o plano de recuperação da empresa, denotando a
natureza contratual deste plano, hoje.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
“RESP 971.215/RJ
(...)
II - A Súmula 99, ao declarar a legitimidade do Ministério Público para recorrer
nos processos em que oficia como fiscal da lei, refere-se estritamente à defesa de
interesses indisponíveis. Não alcança, pois, a concordata, onde se envolvem apenas
interesses disponíveis do comerciante e de seus credores quirografários.
III - No moderno Direito falimentar, o interesse social preponderante é manter a
empresa em atividade (L. 11.101/05, Art. 1º). Por isso o Ministério Público carece
de interesse para pleitear a desconstituição da concordata.
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Notas de Aula18
temporais em relação às fases do processo, o que significa que após a sentença de quebra,
naturalmente, haverá a fase investigativa, mas sem óbice à liquidação paulatina dos bens,
de acordo com a demanda que se impuser.
A falência, portanto, hoje é um processo de execução coletiva irreversível, e por isso
a liquidação se dilui pela fase investigativa, não havendo mais partição estanque desses
momentos. Se não foi possível a recuperação, sendo imposta a sentença de quebra, nada
mais assiste ao falido para se reerguer, enquanto não pago o passivo.
Dito isso, a verificação de créditos é o passo inaugural deste momento investigativo
da falência, tendo início tão logo haja a sentença de quebra. A verificação dos créditos foi
bastante simplificada na nova lei; a partir do artigo 7º, como se verá, nota-se que se
desdobra em duas sub-fases distintas, a administrativa e a judicial.
A fase administrativa da verificação é levada a cabo pelo administrador judicial, por
óbvio. É ele quem vai elaborar uma lista preliminar de créditos componentes do passivo do
falido.
Posteriormente, é possível que haja uma fase litigiosa, judicial, da verificação, que
surgirá quando e se houver impugnações de créditos constantes da listagem preliminar
elaborada pelo administrador. Esta fase é apenas eventual, porque se não houver
impugnações, não haverá fase contenciosa.
Vale ainda dizer que o procedimento de verificação e habilitação dos créditos é
comum à falência e à recuperação: o legislador previu procedimento geral para estes atos,
quer na falência, quer na recuperação judicial, variando apenas os marcos temporais dos
atos em cada instituto.
Rubens Requião ressalta o quão importante é o procedimento de verificação dos
créditos para todo o processo falimentar, porque é nesse momento que se apura o passivo,
que se reconheça o quantum reclamado do falido, e que se define as classes dos credores da
massa, a fim de implementar corretamente o par conditio creditorum19.
Vejamos os artigos mais relevantes:
“Art. 7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com
base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos
documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o
auxílio de profissionais ou empresas especializadas.
§ 1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1o, ou no parágrafo único do art. 99
desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao
administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos
relacionados.
§ 2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na
forma do caput e do § 1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de
credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1º
deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas
indicadas no art. 8º desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a
elaboração dessa relação.”
“Art. 9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7o, § 1o,
desta Lei deverá conter:
I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de
qualquer ato do processo;
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido
de recuperação judicial, sua origem e classificação;
III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a
serem produzidas;
IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo
instrumento;
V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.
Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser
exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro
processo.”
“Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7º, § 1º, desta Lei, as
habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias.
§ 1º Na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados os
titulares de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a voto nas
deliberações da assembléia-geral de credores.
§ 2º Aplica-se o disposto no § 1º deste artigo ao processo de falência, salvo se, na
data da realização da assembléia-geral, já houver sido homologado o quadro-geral
de credores contendo o crédito retardatário.
§ 3º Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios
eventualmente realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se
computando os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do
pedido de habilitação.
§ 4º Na hipótese prevista no § 3o deste artigo, o credor poderá requerer a reserva
de valor para satisfação de seu crédito.
§ 5º As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da homologação
do quadro-geral de credores, serão recebidas como impugnação e processadas na
forma dos arts. 13 a 15 desta Lei.
§ 6º Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram
seu crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto
no Código de Processo Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação
judicial a retificação do quadro-geral para inclusão do respectivo crédito.”
Os credores que se habilitam de forma atrasada perdem alguns direitos, como o voto
em assembleias gerais de credores, a não ser que, na falência, o quadro geral de credores
contendo o retardatário seja homologado antes da assembleia.
Perdido o prazo de habilitação, e também o prazo de habilitação retardatária, ou
seja, após a homologação do quadro geral de credores, é possível somente mais uma
medida a socorrer este credor, qual seja, a do § 6º do artigo 10, supra: o pedido de
retificação do quadro, promovido em rito ordinário.
A partir do artigo 11 da Lei 11.101/05, o legislador trata dos procedimentos da
impugnação a créditos. Os dispositivos, de 11 a 20, são bastante claros, demandando alguns
poucos comentários pontuais:
“Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para
contestar a impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que
tiverem e indicando outras provas que reputem necessárias.”
“Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os
documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas
necessárias.
Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos
a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre
o mesmo crédito.”
“Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de
credores, a relação dos credores constante do edital de que trata o art. 7o, § 2o,
desta Lei, dispensada a publicação de que trata o art. 18 desta Lei.”
“Art. 15. Transcorridos os prazos previstos nos arts. 11 e 12 desta Lei, os autos de
impugnação serão conclusos ao juiz, que:
I – determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de créditos
não impugnadas, no valor constante da relação referida no § 2o do art. 7o desta
Lei;
II – julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas
alegações e provas apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crédito, o
valor e a classificação;
III – fixará, em cada uma das restantes impugnações, os aspectos controvertidos e
decidirá as questões processuais pendentes;
IV – determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução
e julgamento, se necessário.”
“Art. 16. O juiz determinará, para fins de rateio, a reserva de valor para satisfação
do crédito impugnado.
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em
garantia;
V – créditos com privilégio geral, a saber:
a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo disposição contrária
desta Lei;
VI – créditos quirografários, a saber:
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens
vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excederem o
limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis penais ou
administrativas, inclusive as multas tributárias;
VIII – créditos subordinados, a saber:
a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício.
§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado como valor do
bem objeto de garantia real a importância efetivamente arrecadada com sua venda,
ou, no caso de alienação em bloco, o valor de avaliação do bem individualmente
considerado.
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio ao
recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade.
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se as
obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência.
§ 4º Os créditos trabalhistas cedidos a terceiros serão considerados quirografários.”
Alguns comentários sobre esta classificação são fundamentais. O primeiro é que não
há mais gradação legal entre créditos trabalhistas propriamente ditos e créditos oriundos de
acidentes do trabalho, como outrora havia. São todos da primeira classe, com a só diferença
que os créditos decorrentes da relação trabalhista em si são limitados a cento e cinquenta
salários, sendo seu excedente lançado como crédito quirografário, enquanto os créditos
acidentários não sofrem limitação de valor, nessa classe. A limitação a cento e cinquenta
salários tem por objetivo impedir que empregados com salários astronômicos venham a
exaurir, com seus créditos, o ativo da massa, prejudicando as demais classes.
Na classe dos créditos tributários, há que se observar a ordem de preferência
federativa – primeiro recebe a União, depois os Estados (em rateio entre si), e depois os
Municípios (também em rateio interno). Vale ressaltar que, apesar de constar como terceira
classe, os créditos tributários são extraconcursais, não se sujeitando à verificação e
habilitação, servido esta previsão de classe como indicativo da ordem em que o crédito
tributário será pago – mas a Fazenda receberá pela via própria, na execução fiscal, e não
pelo procedimento de habilitação aqui narrado. A execução fiscal terá curso e fim, mas o
crédito fazendário nunca será satisfeito antes das classes anteriores deste dispositivo.
As multas que são consideradas subquirografárias, na forma do inciso VII do artigo
supra, são as moratórias, porque as compensatórias são consideradas como quirografárias,
eis que se tratam de penas antecipatórias de perdas e danos, se enquadrando no inciso VI
desse artigo.
O artigo 84 da Lei 11.101/05 trata dos créditos extraconcursais:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O título de crédito é autônomo e abstrato, e por isso não poderia ser exigida a prova
contratual daquele crédito: apenas o título já bastaria para provar o crédito, pois este é o
preceito conceitual do direito cambiário, a regra geral dos títulos de crédito. Todavia, a
jurisprudência tem privilegiado a segurança contra fraudes, e exigido a prova da relação
que originou o título. Assim, a decisão que indefere a habilitação deste cheque está correta.
Veja o REsp. abaixo:
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XII
Notas de Aula20
1. Liquidação na falência
“Art. 139. Logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do respectivo auto ao
processo de falência, será iniciada a realização do ativo.”
“Art. 140. A alienação dos bens será realizada de uma das seguintes formas,
observada a seguinte ordem de preferência:
I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;
II – alienação da empresa, com a venda de suas filiais ou unidades produtivas
isoladamente;
20
Aula ministrada pelo professor Marcela Maffei Quadra, em 26/3/2010.
III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do
devedor;
IV – alienação dos bens individualmente considerados.
§ 1º Se convier à realização do ativo, ou em razão de oportunidade, podem ser
adotadas mais de uma forma de alienação.
§ 2º A realização do ativo terá início independentemente da formação do quadro-
geral de credores.
§ 3º A alienação da empresa terá por objeto o conjunto de determinados bens
necessários à operação rentável da unidade de produção, que poderá compreender
a transferência de contratos específicos.
§ 4º Nas transmissões de bens alienados na forma deste artigo que dependam de
registro público, a este servirá como título aquisitivo suficiente o mandado judicial
respectivo.”
Veja que o legislador se oriente pela maior valorização dos bens para estabelecer a
ordem de preferência na venda: a venda preferencial é a do ativo em bloco, do
estabelecimento e da azienda, porque esta alienação agrega mais valor ao ativo do que a
venda fracionada de bens, que é a última opção na ordem de alienação.
No § 2º do artigo supra se vê a mencionada regra de que a liquidação se dá de forma
não condicionada ao fim da fase investigativa.
O artigo seguinte delimita as peculiaridades da alienação conjunta de ativos:
Nada impede que haja combinação de alienações conjuntas e isoladas dos ativos do
falido. A dinâmica casuística seguir-se-á por uma só orientação: o melhor interesse da
massa e dos credores.
O inciso II do caput do artigo supra é altamente relevante, porque é esta previsão
que alterou profundamente o artigo 133 do CTN, que trata da sucessão universal dos
débitos fazendários pelo adquirente, altamente mitigada na falência. Veja o artigo citado:
“Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por
qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou
profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão
social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo
ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato:
I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou
atividade;
O leilão a que alude o legislador no inciso I do caput desse artigo supra engloba
também a alienação de bens imóveis, que se daria tecnicamente em praça.
As impugnações à alienação são admitidas na forma e tempo do artigo subsequente:
“Art. 143. Em qualquer das modalidades de alienação referidas no art. 142 desta
Lei, poderão ser apresentadas impugnações por quaisquer credores, pelo devedor
ou pelo Ministério Público, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas da arrematação,
hipótese em que os autos serão conclusos ao juiz, que, no prazo de 5 (cinco) dias,
decidirá sobre as impugnações e, julgando-as improcedentes, ordenará a entrega
dos bens ao arrematante, respeitadas as condições estabelecidas no edital.”
É mais uma facilidade dada ao falido para que a alienação seja fomentada. Note-se
que esta dispensa de certidão para alienação do ativo não alcança o momento final em que o
falido precisará, para requerer a extinção de suas obrigações, apresentar tais certidões.
Os artigos 147 e 148 da Lei de Recuperação de Empresas traçam as previsões finais
acerca da liquidação dos ativos, permitindo que se passe para a fase de pagamento efetivo
aos credores.
“Art. 147. As quantias recebidas a qualquer título serão imediatamente depositadas
em conta remunerada de instituição financeira, atendidos os requisitos da lei ou das
normas de organização judiciária.”
“Art. 148. O administrador judicial fará constar do relatório de que trata a alínea p
do inciso III do art. 22 os valores eventualmente recebidos no mês vencido,
explicitando a forma de distribuição dos recursos entre os credores, observado o
disposto no art. 149 desta Lei.”
O artigo 149 da Lei 11.101/05 estabelece a forma dos pagamentos aos credores da
massa:
O artigo 152 da lei em tela trata da restituição em dobro pelos credores que
receberam de má fé. Esta má fé deverá ser provada em procedimento específico, as há
quem entenda que seja possível que o juiz reconheça, ele próprio, na sentença de
procedência da impugnação, que rejeita o crédito, esta má fé.
O artigo 153 da Lei 11.101/05 trata da óbvia restituição ao falido daquilo que, ao
final da apuração e pagamento, reste no seu ativo – o que é hipótese remotíssima na prática.
“Art. 153. Pagos todos os credores, o saldo, se houver, será entregue ao falido.”
3. Encerramento da falência
“Art. 156. Apresentado o relatório final, o juiz encerrará a falência por sentença.
Parágrafo único. A sentença de encerramento será publicada por edital e dela
caberá apelação.”
Veja também que pode o falido, quando o relatório demonstrar que todos os
credores foram pagos, requerer que esta mesma sentença supra declare extintas todas as
suas obrigações. A regra da declaração de extinção das obrigações é a traçada no artigo 158
desta lei, e a primeira hipótese é justamente o pagamento de todos os credores:
Havendo um dos casos do artigo supra, pode a declaração de extinção ser requerida,
como dispõe o artigo 159 da Lei 11.101/05:
“Art. 159. Configurada qualquer das hipóteses do art. 158 desta Lei, o falido
poderá requerer ao juízo da falência que suas obrigações sejam declaradas extintas
por sentença.
§ 1º O requerimento será autuado em apartado com os respectivos documentos e
publicado por edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação.
§ 2º No prazo de 30 (trinta) dias contado da publicação do edital, qualquer credor
pode opor-se ao pedido do falido.
§ 3º Findo o prazo, o juiz, em 5 (cinco) dias, proferirá sentença e, se o
requerimento for anterior ao encerramento da falência, declarará extintas as
obrigações na sentença de encerramento.
§ 4º A sentença que declarar extintas as obrigações será comunicada a todas as
pessoas e entidades informadas da decretação da falência.
§ 5º Da sentença cabe apelação.
§ 6º Após o trânsito em julgado, os autos serão apensados aos da falência.”
“Art. 160. Verificada a prescrição ou extintas as obrigações nos termos desta Lei, o
sócio de responsabilidade ilimitada também poderá requerer que seja declarada por
sentença a extinção de suas obrigações na falência.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
Notas de Aula21
se viu necessária a formação de uma consolidação normativa, o que se fez nos moldes do
Comitê da Basiléia, que traçou as diretrizes organizacionais mundiais para o funcionamento
dos SFN.
Outra característica do direito bancário é o dirigismo, que faz ser percebido um
contraponto entre o princípio da informalidade do direito empresarial e a formalidade das
regras do SFN. Isso porque esta área é de tal relevância que se faz imperativa a intervenção
estatal mais tensa, a fim de que as relações sejam bem conduzidas.
Decorrendo do dirigismo, as instituições financeiras trabalham com a chamada
moeda escritural, ou bancária, o que significa que as transações internas de todo o SFN é
feita de forma a não se valer do papel-moeda, o que empresta segurança ao sistema, e mas
impõe maior fiscalização. Sendo assim, demandando maior fiscalização, é fundamental que
haja a criação de um fundo de custeio de todo o SFN, fundo que é formado por uma parte
de cada valor que entra no sistema. Também há uma limitação da base de empréstimos, em
prol da segurança: a cada real que é creditado na instituição, ela passa a dispor de quatro
para emprestar – impondo-se à instituição, portanto, a manutenção de um lastro de ao
menos um quarto dos empréstimos no mercado.
Outra característica do SFN é o caráter sigiloso de suas operações. O sigilo
bancário só pode ser quebrado em quatro hipóteses, na forma da LC 105/01: a requerimento
do MP; por ordem judicial de ofício; na CPI; e no processo administrativo tributário.
O spread bancário é mais uma característica relevante do SFN: trata-se do “custo
do dinheiro”, por assim dizer, e é a diferença do valor que o banco paga pelo dinheiro que
nele é depositado para o valor que recebe daqueles a quem empresta este dinheiro.
As instituições financeiras precisam de autorização para funcionar, e são
constantemente fiscalizadas e reguladas pelo Banco Central. Como dito, há até mesmo
condutas criminalizadas específicas do SFN, tratadas pela Lei 7.492/86. Veja o artigo 16
desta lei:
“Art. 16. Fazer operar, sem a devida autorização, ou com autorização obtida
mediante declaração (Vetado) falsa, instituição financeira, inclusive de distribuição
de valores mobiliários ou de câmbio:
Pena - Reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
Mais uma regra especial das instituições do SIF se refere a seu capital inicial e
escrituração. Veja os artigos 26 e 27 da Lei 4.595/64:
“Art. 26. O capital inicial das instituições financeiras públicas e privadas será
sempre realizado em moeda corrente.”
A regra é que toda instituição financeira privada seja na forma de S/A. Veja também
o artigo 80 da Lei 6.404/76, que é a regra geral excepcionada pelos artigos supra:
2. Estrutura do SFN
direto pelo Banco Central da República do Brasil, das operações de crédito com o
Tesouro Nacional, nos termos do artigo 49 desta Lei.(Vide Lei nº 8.392, de
30.12.91)
O Conselho Monetário Nacional pode, ainda autorizar o Banco Central da
República do Brasil a emitir, anualmente, até o limite de 10% (dez por cento) dos
meios de pagamentos existentes a 31 de dezembro do ano anterior, para atender as
exigências das atividades produtivas e da circulação da riqueza do País, devendo,
porém, solicitar autorização do Poder Legislativo, mediante Mensagem do
Presidente da República, para as emissões que, justificadamente, se tornarem
necessárias além daquele limite.
Quando necessidades urgentes e imprevistas para o financiamento dessas
atividades o determinarem, pode o Conselho Monetário Nacional autorizar as
emissões que se fizerem indispensáveis, solicitando imediatamente, através de
Mensagem do Presidente da República, homologação do Poder Legislativo para as
emissões assim realizadas:
II - Estabelecer condições para que o Banco Central da República do Brasil emita
moeda-papel (Vetado) de curso forçado, nos termos e limites decorrentes desta Lei,
bem como as normas reguladoras do meio circulante;
III - Aprovar os orçamentos monetários, preparados pelo Banco Central da
República do Brasil, por meio dos quais se estimarão as necessidades globais de
moeda e crédito;
IV - Determinar as características gerais (Vetado) das cédulas e das moedas;
V - Fixar as diretrizes e normas da política cambial, inclusive quanto a compra e
venda de ouro e quaisquer operações em Direitos Especiais de Saque e em moeda
estrangeira; (Redação dada pelo Del nº 581, de 14/05/69)
VI - Disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias
em todas as suas formas, inclusive aceites, avais e prestações de quaisquer
garantias por parte das instituições financeiras;
VII - Coordenar a política de que trata o art. 3º desta Lei com a de investimentos
do Governo Federal;
VIII - Regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exercerem
atividades subordinadas a esta lei, bem como a aplicação das penalidades previstas;
IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos comissões e
qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou
financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil,
assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover:
- recuperação e fertilização do solo;
- reflorestamento;
- combate a epizootias e pragas, nas atividades rurais;
- eletrificação rural;
- mecanização;
- irrigação;
- investimento indispensáveis às atividades agropecuárias;
X - Determinar a percentagem máxima dos recursos que as instituições financeiras
poderão emprestar a um mesmo cliente ou grupo de empresas;
XI - Estipular índices e outras condições técnicas sobre encaixes, mobilizações e
outras relações patrimoniais a serem observadas pelas instituições financeiras;
XII - Expedir normas gerais de contabilidade e estatística a serem observadas pelas
instituições financeiras;
XIII - Delimitar, com periodicidade não inferior a dois anos o capital mínimo das
instituições financeiras privadas, levando em conta sua natureza, bem como a
localização de suas sedes e agências ou filiais;
XIV - Determinar recolhimento de até 60% (sessenta por cento) do total dos
depósitos e/ou outros títulos contábeis das instituições financeiras, seja na forma de
subscrição de letras ou obrigações do Tesouro Nacional ou compra de títulos da
Dívida Pública Federal, seja através de recolhimento em espécie, em ambos os
concentrações. Compatibilizando as duas regras, tem-se que a Lei 4.595/64 é especial, e foi
recepcionada como lei complementar, enquanto a Lei 8.884/94 é lei ordinária e geral –
sendo que esta matéria é reservada a lei complementar. Por isso, a AGU tem um parecer
reputando competência privativa do Bacen esta fiscalização das concentrações de
instituições financeiras.
Todavia, há julgados em que se entende que a competência do Cade é concorrente
com a do Bacen, e há um projeto de lei em que se pretende positivar esta atuação
concorrente desses entes, de forma contrária ao que a doutrina defende.
O Bacen tem autonomia funcional, mas a doutrina entende que deveria haver até
mais independência desta entidade, a fim de se afastar de influências políticas. Há,
entretanto, quem defenda que a autonomia funcional é prejudicial ao Bacen, eis que se esse
ente é o cumpridor das metas econômicas de governo, deveria estar mais intimamente
vinculado ao próprio governo eleito.
Os bancos de desenvolvimento, seja ele o BNDES – Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e Social – ou os bancos regionais de desenvolvimento, são
bancos financiadores de projetos dedicados ao estímulo da atividade econômica. É possível
que haja também a criação de bancos de desenvolvimento privados, mas o que se vê na
prática são bancos comuns com linhas de crédito econômicas.
Veja que mesmo os bancos regionais de desenvolvimento são instituições
financeiras federais. Os bancos estaduais de desenvolvimento, por seu turno, não mais
persistem, havendo apenas algumas agências estaduais de fomento, em alguns Estados.
Sociedades de crédito, também chamadas casas bancárias, são instituições
financeiras que emprestam ao mercado com recursos próprios, o que é uma exceção ao
sistema de intermediação das instituições financeiras.
Bancos múltiplos são aqueles bancos que contam com linhas próprias, específicas,
de crédito, não trabalhando com depósitos à vista. Em regra contam com linhas de crédito
real (hipotecários), industrial e agrícola.
Bancos comerciais são aqueles que captam valores em depósitos à vista,
tipicamente. São aqui que se enquadram os bancos comuns, como conhecidos pelos leigos.
“Banco”, na verdade, é termo usado de forma errônea tal como empresa, banco é atividade,
e tal como o empresário exerce empresa, o banqueiro exerce o banco.
O Banco do Brasil é um banco público, mas equiparado a privado. É uma sociedade
de economia mista, com atribuições de banqueiros públicos, como a intermediação de
valores internacionalmente. A Caixa Econômica Federal idem, quanto à natureza pública,
porque é a responsável pelas operações públicas especialmente no que tange ao sistema de
habitação.
As cooperativas de crédito são as únicas instituições financeiras que não só não
precisam adotar a forma de S/A, como não podem. A cooperativa pura, como se sabe, é
necessariamente uma sociedade simples, e a cooperativa de crédito idem, mesmo que seja
uma instituição financeira. A cooperativa de crédito é parcialmente excluída do alcance da
lei falimentar, na forma do artigo 2º, II, da Lei 11.101/05:
Não pode, portanto, requerer recuperação judicial, mas pode ter sua falência
decretada.
A cooperativa de crédito teria por função colher contribuições dos associados, e
com o fundo formado empresta aos próprios associados, a juros baixos. A LC 130/09,
porém, trouxe a possibilidade de a cooperativa de crédito emprestar valores também a quem
não é associado, inserindo-se no grande mercado.
As administradoras de cartão de crédito, tecnicamente, não são instituições
financeiras, mas são equiparadas a tais, o que fundamenta a redação da súmula 283 do STJ:
Por não serem instituições financeiras, mas apenas equiparadas, podem assumir
forma de LTDA; não precisam de autorização para funcionamento pelo Bacen; e não
padecem de regras especiais de constituição do capital. Mas, mesmo assim, podem cobrar
juros acima do limite da Lei de Usura. Há, de fato, um bônus sem ônus para estas
instituições.
Há ainda que se mencionar as instituições financeiras não bancárias, quais sejam:
sociedades de crédito imobiliário e associações de poupança e empréstimo, regradas no DL
70/66; companhias hipotecárias, regidas na Resolução 2.122/94 do Bacen; agências de
fomento, da MP 1.514/96; e sociedades de crédito ao microempreendedor, da Lei
10.194/01.
3. Operações bancárias
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O Ministério Público Federal ajuizou ação civil pública em face do Banco Central
do Brasil e de Alvarenga Administradora de Consórcios Ltda. com o fim de: a) determinar
ao primeiro que efetive fiscalização em todos os administradores de consórcios de veículos
que operam no Estado de Santa Catarina e b) condenar a segunda e, subsidiariamente, o
Banco Central do Brasil à multa de 10% sobre o valor dos bens com entrega em atraso e a
tomar providências no sentido da imediata satisfação dos direitos dos contemplados. Em
contestação, o Banco Central do Brasil invocou a sua ilegitimidade passiva para
responder por alegada insuficiência na fiscalização relativamente ao período em que a
autarquia não tinha tal poder, eis que os artigos 7º e 8º da Lei nº 5.768/71 atribuíam ao
Ministério da Fazenda o poder de fiscalizar as administradoras de consórcios. Tal
competência foi transferida ao Banco Central do Brasil apenas a partir de 1º de maio de
1991, pelo artigo 33, da Lei nº 8.177/91. A ação foi julgada procedente e o Banco Central
do Brasil apelou. O Tribunal de Justiça manteve a decisão monocrática, acolhendo e
incorporando ao acórdão as razões contidas no parecer do Ministério Público Federal
como fonte do convencimento. Em sede de embargos de declaração, o Banco Central alega
violação ao art. 535 do CPC por não ter o Tribunal apreciado a alegação de que a
autarquia somente seria responsável pela fiscalização a partir de 1º de maio de 1991,
devido à competência que lhe foi transferida pela Lei nº 8.177/1991.Devem ser providos os
embargos? Analise o caso em todos os aspectos.
Resposta à Questão 2
Questão 3
Resposta à Questão 3
O receptor dos valores não foi o Bacen, e por isso não pode ser imputado pelo
débito que se alega.
Veja o julgado abaixo:
Tema XIV
Notas de Aula22
Para se tratar dos regimes especiais de administração, é preciso antes trazer uma
breve explanação sobre os riscos de crises econômico-financeiras que podem acontecer
com as instituições bancárias.
O risco de liquidez consiste na incapacidade de o banco cobrir os saques realizados.
Esse risco pode acabar acarretando o chamado risco sistêmico, que é a crise que contamina
todo o sistema financeiro. O artigo 2º, II, da Lei 11.101/05, afasta a aplicação desta lei às
instituições financeiras em geral, e o artigo 197 do mesmo diploma estabelece que a Lei
6.024/74 é aplicável enquanto não vier novo regramento especial para tais instituições:
“Art. 197. Enquanto não forem aprovadas as respectivas leis específicas, esta Lei
aplica-se subsidiariamente, no que couber, aos regimes previstos no Decreto-Lei
no 73, de 21 de novembro de 1966, na Lei no 6.024, de 13 de março de 1974, no
Decreto-Lei no 2.321, de 25 de fevereiro de 1987, e na Lei no 9.514, de 20 de
novembro de 1997.”
1.1. Intervenção
A Lei 6.024/74 introduziu este regime, instaurado de ofício pelo Bacen, mas
também tendo por legitimada para pedir a intervenção a própria instituição financeira em
situação de anormalidade.
A decretação deste regime especial é possível nas hipóteses do rol taxativo do artigo
2º da Lei 6.024/74:
1.2. RAET
Este regime foi criado pelo DL 2.321/87, originalmente, para sanar as crises dos
bancos estaduais, e é mais brando que outros regimes. Para Nelson Abrão, o RAET teria
revogado a intervenção, pois é bastante similar, mas é posição isolada.
O RAET pode ser decretado de ofício ou a pedido da instituição. As suas hipóteses
de cabimento vêm no artigo 1º do DL 2.321/87, em rol exemplificativo:
O RAET é regime que não conta com prazo determinado na lei. É o conselho diretor
que fixa o prazo deste regime, caso a caso, sempre prorrogável por igual período.
Este conselho diretor é nomeado pelo Bacen, e é o orgão que faz as vezes de
interventor, promovendo o regime especial.
O RAET não promove qualquer efeito sobre as obrigações da instituição, mas gera a
perda do mandato dos administradores. Veja o artigo 2º do DL em tela:
“Art. 2° A decretação da administração especial temporária não afetará o curso
regular dos negócios da entidade nem seu normal funcionamento e produzirá, de
imediato, a perda do mandato dos administradores e membros do Conselho Fiscal
da instituição.”
O primeiro ponto comum dos regimes especiais é que todos objetivam evitar a crise
financeira maior, e, mais além, evitar a falência. Estão em consonância com o interesse
social na continuidade destas empresas.
A maior diferença entre o RAET e a intervenção diz respeito ao mandato dos
administradores: o RAET gera perda, enquanto a intervenção somente gera suspensão.
Outra diferença entre estes regimes é que o RAET não gera efeitos sobre as obrigações e
depósitos, enquanto a intervenção gera.
A intervenção extrajudicial é promovida pelo interventor; o RAET, pelo conselho
diretor.
O RAET permite a intervenção estatal na estrutura acionária da instituição
financeira (desapropriação). A intervenção, não.
A intervenção tem prazo legal determinado. O prazo do RAET é estabelecido pelo
conselho diretor.
A liquidação extrajudicial, que será estudada adiante, por seu turno, difere dos
outros regimes em praticamente tudo. É uma forma de extinção da sociedade. O artigo 34
da Lei 6.024/74 determina a similitude entre esta liquidação e a falência:
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
Tema XV
Notas de Aula23
1.1. Introdução
23
Aula ministrada pelo professor José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque, em 22/3/2010.
Fabio Ulhoa Coelho entende que seria possível o requerimento de falência durante a
vida normal dessas sociedades, e também no curso da vigência de algum regime especial,
lastreando-se na inafastabilidade constitucional do Judiciário.
Haroldo Malheiros Duclerc Verçosa, por seu turno, entende que se a instituição
financeira estiver em situação que provocaria regime especial, e o Bacen nada fizer,
qualquer credor poderia requerer a falência, já que o regime especial não foi fixado. No
curso do regime fixado, porém, defende que poderia ser requerida falência se o regime se
demonstrar ineficaz para sanar o problema em que a instituição se encontra.
Terceira e última corrente defende que a falência destas entidades é possível apenas
e tão somente quando a instituição estiver sob um regime especial, e o condutor desse
regime – interveniente, conselho diretor ou liquidante – perceber que a falência é a melhor
solução. A Lei 6.024/74 parece corroborar esta corrente, pois só autoriza expressamente o
pedido de falência pelo condutor do regime, ou de ofício.
No curso de um regime, vale dizer que já há jurisprudência deferindo o
processamento da falência.
Passemos agora ao estudo específico da liquidação extrajudicial, este terceiro
regime especial.
do primeiro protesto por falta de pagamento ou, na falta deste do ato que haja
decretado a intervenção ou a liquidação.”
A alínea “a” é flexibilizada pelo STJ, porque nem todas as ações ficam suspensas:
apenas aquelas executivas são suspensas, e não as de conhecimento. Estas prosseguirão até
a obtenção do título judicial, e de então se suspenderão, não podendo o credor executar seu
título. Todas as execuções, se suspendem, mesmo aquelas que já haviam sido iniciadas, à
exceção das que já se encontravam em fase final, de extinção, já havendo excussão de bens
realizada.
Além dessa mitigação, há três exceções a esta alínea “a” do artigo supra. A primeira
é a do artigo 21, “b”, do mesmo diploma, adiante transcrito.
Segunda exceção é a do artigo 27 desta Lei 6.024/74:
Uma última exceção vem da Lei de Execuções Fiscais, Lei 6.830/80, no artigo 29:
A alínea “b” do artigo 18 da Lei 6.024/74, supra, fala que é efeito da liquidação
extrajudicial o vencimento antecipado das obrigações da liquidanda, e a mens aqui é
bastante lógica: tal efeito coloca os credores da liquidanda em pé de igualdade, porque os
que têm créditos vincendos restariam prejudicados no concurso, se seus créditos não se
tornassem desde logo exigíveis.
Os demais efeitos são bastante literais, bastando a leitura das demais alíneas do
artigo 18, supra, para que se os depreenda.:
A liquidação extrajudicial cessará na forma do artigo 19 da Lei 6.024:
O liquidante publica aviso aos credores para que declarem os respectivos créditos, e
é ele quem decide quanto à legitimidade, valor e classificação destes.
Os credores de depósitos à vista estão dispensados de se habilitarem no concurso da
liquidação, bem como os detentores de letras de câmbio com aceite da instituição
liquidanda.
Os credores são notificados por escrito da decisão do liquidante acerca de seus
créditos, e poderão recorrer ao Bacen, em dez dias, de tal decisão; declarados e julgados os
créditos, o liquidante publicará aviso sobre a disponibilização do quadro geral de credores.
Dentro de dez dias da publicação do quadro geral de credores, qualquer interessado
poderá impugnar a legitimidade, valor ou classificação dos créditos. Formalizada a
impugnação, o titular do crédito terá vista para defender-se, contando com prazo de cinco
dias.
Formado este contencioso administrativo, o liquidante encaminha a impugnação
com seu parecer ao Bacen, o qual julgará tais impugnações. Após o julgamento, o
liquidante publicará avisos sobre eventuais modificações no quadro geral. A partir deste
momento, o quadro geral de credores será considerado definitivo.
Veja os artigos 23 a 27 da Lei 6.024/74, que tratam deste processo:
“Art . 26. A impugnação será apresentada por escrito, devidamente justificada com
os documentas julgados convenientes, dentro em dez dias, contados da data da
publicação de que trata o artigo anterior.
§ 1º A entrega da impugnação será feita contra recibo, passado pelo liquidante,
com cópia que será juntada ao processo.
§ 2º O titular do crédito impugnado será notificado pelo liquidante e, a contar da
data do recebimento da notificação, terá o prazo de cinco dias para oferecer as
alegações e provas que julgar convenientes à defesa dos seus direitos.
§ 3º O liquidante encaminhará as impugnações com o seu parecer, juntando os
elementos probatórios, à decisão do Banco Central do Brasil.
§ 4º Julgadas todas as impugnações, o liquidante fará publicar avisos na forma do
artigo 22, sobre as eventuais modificações no quadro geral de credores que, a partir
desse momento, será considerado definitivo.”
É com base neste artigo 27, supra, que os credores que ainda se sentirem
prejudicados pela formação do quadro geral poderão se insurgir judicialmente contra tal
ato.
Os artigos 34 e 35 da Lei 6.024/74 são dispositivos remetidos, que apontam para a
revogada lei de falências (devendo serem lidos com as devidas correções, portanto):
“Art . 35. Os atos indicados ,os artigos 52 e 53, da Lei de Falências (Decreto-lei nº
7.661, de 1945) praticados pelos administradores da liquidanda poderão ser
declarados nulos ou revogados, cumprido o disposto nos artigos 54 e 58 da mesma
Lei.
Parágrafo único. A ação revocatória será proposta pelo liquidante, observado o
disposto nos artigos 55, 56 e 57, da Lei de Falências.”
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
Questão 2
Resposta à Questão 2
As execuções não têm seguimento, mesmo tendo ela se iniciado antes da liquidação.
O credor deve habilitar seu crédito perante a instituição liquidanda junto ao liquidante.
Veja os julgados abaixo:
Questão 3
Resposta à Questão 3
Tema XVI
Notas de Aula24
24
Aula ministrada pelo professor José Eduardo Cavalcanti de Albuquerque, em 22/3/2010.
Acionista controlador é aquele que se enquadra no artigo 116 da Lei 6.404/76, e sua
responsabilidade ordinária, fora dos regimes especiais, está no artigo 117 do mesmo
diploma:
“Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos
praticados com abuso de poder.
§ 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:
a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao interesse
nacional, ou levá-la a favorecer outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em
prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos lucros ou no acervo da
companhia, ou da economia nacional;
b) promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação,
incorporação, fusão ou cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou para
outrem, vantagem indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos que trabalham
na empresa ou dos investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
c) promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de
políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia e visem a
causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na empresa ou aos
investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
d) eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente;
e) induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou,
descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto, promover, contra o
interesse da companhia, sua ratificação pela assembléia-geral;
f) contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem, ou de sociedade
na qual tenha interesse, em condições de favorecimento ou não equitativas;
g) aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por
favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse saber
procedente, ou que justifique fundada suspeita de irregularidade.
h) subscrever ações, para os fins do disposto no art. 170, com a realização em bens
estranhos ao objeto social da companhia. (Incluída dada pela Lei nº 9.457, de
1997)
§ 2º No caso da alínea e do § 1º, o administrador ou fiscal que praticar o ato ilegal
responde solidariamente com o acionista controlador.
§ 3º O acionista controlador que exerce cargo de administrador ou fiscal tem
também os deveres e responsabilidades próprios do cargo.”
“Art. 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter reserva
sobre os seus negócios, sendo-lhe vedado:
I - usar, em benefício próprio ou de outrem, com ou sem prejuízo para a
companhia, as oportunidades comerciais de que tenha conhecimento em razão do
exercício de seu cargo;
II - omitir-se no exercício ou proteção de direitos da companhia ou, visando à
obtenção de vantagens, para si ou para outrem, deixar de aproveitar oportunidades
de negócio de interesse da companhia;
III - adquirir, para revender com lucro, bem ou direito que sabe necessário à
companhia, ou que esta tencione adquirir.
§ 1º Cumpre, ademais, ao administrador de companhia aberta, guardar sigilo sobre
qualquer informação que ainda não tenha sido divulgada para conhecimento do
mercado, obtida em razão do cargo e capaz de influir de modo ponderável na
cotação de valores mobiliários, sendo-lhe vedado valer-se da informação para
obter, para si ou para outrem, vantagem mediante compra ou venda de valores
mobiliários.
§ 2º O administrador deve zelar para que a violação do disposto no § 1º não possa
ocorrer através de subordinados ou terceiros de sua confiança.
§ 3º A pessoa prejudicada em compra e venda de valores mobiliários, contratada
com infração do disposto nos §§ 1° e 2°, tem direito de haver do infrator
indenização por perdas e danos, a menos que ao contratar já conhecesse a
informação.
§ 4º É vedada a utilização de informação relevante ainda não divulgada, por
qualquer pessoa que a ela tenha tido acesso, com a finalidade de auferir vantagem,
para si ou para outrem, no mercado de valores mobiliários. (Incluído pela Lei nº
10.303, de 2001).”
Por fim, o dever de informar é literalmente impresso no artigo 157 da Lei 6.404/76:
Mas repare que o artigo 40, supra, não pode ser invocável em situações de
normalidade: apenas quando estiver instaurado um regime especial haverá incidência deste
dispositivo, desta responsabilidade.
A responsabilidade incide para os administradores e acionistas controladores que
estiverem nestas respectivas posições, quando quer que o administrador tenha assumido sua
função, e quando quer que o acionista tenha se tornado controlador. Ocorrido o dano na
gestão destas pessoas, elas respondem solidariamente.
O artigo 36 da Lei 6.024/74 trata da indisponibilidade de bens, e cria uma situação
peculiar: a indisponibilidade estendida a quem não tenha sido administrador ou controlador,
como se vê no § 2º, “b”, desse artigo:
“Art . 45. Concluindo o inquérito pela existência de prejuízos será ele, com o
respectivo relatório, remetido pelo Banco Central do Brasil ao Juiz da falência, ou
ao que for competente para decretá-la, o qual o fará com vista ao órgão do
Ministério Público, que, em oito dias, sob pena de responsabilidade, requererá o
seqüestro dos bens dos ex-administradores, que não tinham sido atingidos pela
indisponibilidade prevista no artigo 36, quantos bastem para a efetivação da
responsabilidade.
§ 1º Em caso de intervenção ou liquidação extrajudicial, a distribuição do inquérito
ao Juízo competente na forma deste artigo, previne a jurisdição do mesmo Juízo,
na hipótese de vir a ser decretada a falência.
§ 2º Feito o arresto, os bens serão depositados em mãos do interventor, do
liquidante ou do síndico, conforme a hipótese, cumprindo ao depositário
administrá-los, receber os respectivos rendimentos e prestar contas a final.”
Veja que, mesmo terminado o regime, a ação reparatória intentada deverá ter curso
até seu fim, ou mesmo ter início após o termo final do regime.
Esta Lei 9.447/97 ainda trouxe uma imputação especial: os auditores independentes
que tenham atuado em instituições financeiras também responderão, na forma do artigo 3º:
Vale traçar uma síntese no que pertine aos efeitos dos regimes especiais e as
responsabilidades dos administradores e acionistas controladores de instituições
financeiras: há indisponibilidade dos bens das figuras que, nos últimos doze meses,
exerceram estas posições; a natureza da responsabilidade civil, na forma do artigo 40 da Lei
6.024/74, há pouco transcrito, conta com três correntes, sendo a majoritária pela natureza
objetiva, a minoritária pela subjetiva, e uma terceira, recentemente encampada pelo STJ,
mas ainda minoritária, pela subjetiva com culpa presumida; e é possível o arresto dos bens
das figuras que ocuparam estas posições nos últimos cinco anos, mesmo se já indisponíveis.
Casos Concretos
Questão 1
Resposta à Questão 1
O juiz errou, pois mesmo após a extinção do regime especial o MP tem legitimidade
para permanecer na ação, ou mesmo iniciá-la, na forma do artigo 7º da Lei 9.447/97.
Veja, nesse sentido, o REsp. 444.948:
Questão 2
Proposta pelo Ministério Público ação cautelar de arresto dos bens particulares de
ex-administradores de instituição financeira em regime de liquidação extrajudicial, por
atos irregulares de gestão apurados em inquérito pelo Banco Central do Brasil, um dos
réus alega, em contestação, a falta de interesse processual do parquet , vez que incidentes
os efeitos da indisponibilidade de bens prevista no art. 36 da Lei nº 6.024/74. Analise a
questão sob todos os aspectos.
Resposta à Questão 2
Pela literalidade legal, o arresto não teria cabimento, mas o STJ é pacífico em
admitir tal providência mesmo para bens indisponíveis.
Veja o REsp. abaixo:
Questão 3
Resposta à Questão 3