Editoras Mineiras
Editoras Mineiras
Editoras Mineiras
Juliane Matarelli
Sônia Queiroz
Editoras Mineiras
panorama histórico
v. 1
FALE/UFMG
Belo Horizonte
2009
Sumário
57 Lê:
a editora d’A bonequinha preta
Ernane Oliveira
Gustavo de Oliveira Bicalho
Karla Moreira Bastos
Paula Francioli Souza O objetivo deste texto é buscar entender um pouco da história da edição em
61 Editora Scriptum: Minas Gerais, focalizando a produção do que, comumente, denominamos
a poesia em posição de destaque livro. Alguns bons estudos apontam fatos, datas e personagens respon-
Ana Lívia Resende Gomes sáveis pelo percurso das publicações realizadas no Brasil, no entanto, há
Frederico Claret Freitas Teixeira
poucos trabalhos relativos especificamente à produção editorial no estado
Lucas Sander
de Minas Gerais. Este texto é apenas um apanhado geral sobre o tema,
Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves
uma visão panorâmica dessa ampla paisagem, ainda pouco explorada.
65 Editora UFMG:
De todo modo, estudos preliminares são importantes quando queremos
compromisso com a
nos aproximar de temas que ainda não ganharam olhares mais focados,
difusão do conhecimento científico
Breiller Pires
mais particulares.
Carlos Magno Caetano Atualmente as informações se fazem disponíveis de maneira muito
Gabriel Rezende Faria mais rápida que em épocas anteriores. A maioria das pesquisas realizadas
Joice Costa nas diversas áreas do conhecimento encontra-se acessível a partir de um
73 Educação em foco: simples toque de teclado. Uma enorme cadeia de informações se abre
Zélia Almeida apresenta a Editora Dimensão cotidianamente a nossos olhos, mas, muitas vezes, nos perdemos em
Aline Gonçalves meio a esse excesso de informações.
Brenda Bilman Este ensaio pretende organizar um pouco da história do livro no
81 Casa Editorial C/Arte: estado de Minas Gerais, oferecendo algumas direções para quem quiser se
editando obras-primas aprofundar nos inúmeros temas que aqui serão abordados. Assim, trata-
Jairo Martins Neto se de um roteiro de viagem, com algumas dicas para quem se dispuser à
A imprensa na Europa: os primeiros impressos gentes. Edições que apresentam pensamento editorial bem desenvolvido
costumam atrair mais leitores, logo, esse é um tema que merece atenção
A história da imprensa no Ocidente dá-se como iniciada no século XV, no
da parte dos organismos que se preocupam com a criação de estratégias
momento da criação dos tipos móveis, atribuída a Gutenberg.
para a promoção da leitura.
Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (1398? – 1468)
parece ter sido um leitor voraz de manuscritos na infância e na adolescên- A imprensa na América colonial: os pioneiros do livro
cia. Nascido em Mogúncia, cidade vinícola desde a época dos romanos,
Hallewell esclarece as relações políticas que autorizavam ou não a im-
localizada no Vale do Reno, na Alemanha, Gutenberg trabalhou como
pressão nas colônias do além-mar: a maior ou menor autonomia local
ourives, conhecendo bem a arte de fundição do ouro e da prata. Juntando
era o que definia a existência de impressões nas colônias ultramarinas.2 A
seu gosto pela leitura, sua experiência em ourivesaria (seus tipos eram
impressão era um serviço de utilidade comercial e, quanto mais organiza-
valiosos também artisticamente, já que eram um minucioso trabalho do
das e autônomas as colônias, maior a necessidade de tal serviço. Segundo
ourives) e a tradição vinícola de sua região, Gutenberg inventou, também,
Hallewell, “as cidades que concentravam as trocas comerciais, no leste,
uma liga para os tipos de metal, tintas à base de óleo e uma prensa grá-
que possuíam um grau apreciável de autonomia, e que eram também
fica inspirada nas prensas utilizadas para espremer uvas para o fabrico
centros urbanos de intenso trabalho missionário, imprimiam ativamente
de vinho.
desde o século XVI”. Hallewell continua seu raciocínio argumentando que
A primeira gazeta alemã – Zeitung – surge nessa época, tendo sido
1
É curioso notar que, um pouco antes, Miguel de Cervantes (1547-1616) já havia publicado toda a sua
distribuída, primeiramente, em manuscritos. Aliás, os manuscritos cumpr-
obra e, após várias peripécias, consagrou-se finalmente como grande escritor espanhol.
iram, antes do papel impresso, função importantíssima tanto na Europa 2
HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p.5.
6 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 7
a inexistência de tipografias oficiais no Brasil antes da vinda da família Nacional Mayor de San Marcos, em Lima, no início da década de 1550. A
real, em 1808, deveu-se ao fato de que a administração aqui “era tão ru- primeira publicação impressa da América do Sul foi um catecismo para os
dimentar e a população tão pequena e espalhada por uma área tão vasta, índios quíchuas, o que ocorreu por volta de 1554. No Chile, a impressão
que a indústria impressora não era administrativamente necessária, nem apareceu antes dos movimentos de independência do país, ocorridos entre
economicamente possível”.3 1817 e 1818.
Na América, o primeiro país a ter uma imprensa foi o México; o Na Argentina, como em outros países da América, há indicações de
alemão Cramberger o responsável pelo início das atividades impressoras que os padres jesuítas tenham criado material tipográfico, construído com
naquele país. Em 1535 é publicado, no México, o primeiro livro da América: seus próprios recursos: madeira em pranchas de cobre com gravação a
Escuela Espiritual para llegar al Cielo, de São João Clímaco, traduzida ao buril. O objetivo dessas tipografias improvisadas seria fazer circular textos
espanhol. Por volta de 1775, o México já possuía seis oficinas de impressão
4
de catequização para os índios.
– número elevado para a época –, ao passo que, no Brasil, não há qualquer Esse breve apanhado sobre a imprensa nos países da América nos
registro de atividades de impressão realizadas nos séculos XVI e XVII. servirá de contraponto para levantarmos questões sobre a história das edi
A Guatemala foi o primeiro país da América Central a fundar uma ções de livros em Minas Gerais, nosso objetivo principal. As possibilidades
imprensa. Em 1660, Juán José de Ibarra, procedente do México, fundou de relações históricas são inúmeras, mas, volto a dizer, por ser este um
ali sua primeira oficina tipográfica, financiada pelo bispado, cuja primeira trabalho que se quer panorâmico, o que buscaremos, aqui, será levantar
impressão foi um livro para fins teológicos. pontos que nos pareçam importantes para análise e desenvolvimento pos-
Em 1777, inicia-se a publicação de um semanário na Costa Rica de- teriores. Por isso, a seguir, abriremos mais uma janela que nos mostrará
nominado Agricultura y Arte, que pretendia divulgar os conhecimentos so- um pouco da história da imprensa em Portugal.
bre as matérias. Em 1821 publica-se, também naquele país, a Declaracíon
de Independencia del Pueblo Dominicano. A imprensa em Portugal: os primeiros prelos
Na Nicarágua, o primeiro jornal de cunho oficial apareceu em O primeiro livro impresso em Portugal foi o Pentateuco – os cinco primeiros
1835. Na Venezuela, de 1804 a 1811, aparecem jornais oficiais e outros livros da Bíblia. O Pentateuco ou Torá é, tradicionalmente, o livro sagrado
revolucionários. dos judeus. A obra foi impressa no ano de 1487, em hebraico, na oficina
A Colômbia possui imprensa – fundada por um cubano – desde 1788. tipográfica de D. Samuel Porteiro, um judeu que vivia na cidade portuguesa
O Equador apresenta as primeiras publicações periodísticas em 1792, e em de Faro. Essa obra foi roubada num saqueamento dos ingleses à cidade, em
Porto Rico a imprensa chegou também antes do final do século XVIII. Em 1596. Atualmente, a obra encontra-se na British Library, em Londres.
Cuba, a universidade e a imprensa aparecerão juntas, em fins do século A prática de roubo de livros parece ser algo comum na história da
XVII. É interessante a informação de que uma das primeiras publicações Inglaterra. Robert Devereux, o conde de Essex, roubou mais de 3000
em Havana tenha sido uma Disertación médica sobre que las carnes de livros da cidade de Faro, em Portugal, e doou-os, gentilmente, a Thomas
cerdo son saludables en las islas de Barlavent, escrita por um havanês: Bodley, um erudito diplomata inglês, fundador da famosa Bodleian Library
um tratado científico que discorre sobre algo essencial – a alimentação – a grande biblioteca da universidade de Oxford. Esses livros continuam
de uma nação. fazendo parte do acervo da biblioteca inglesa.
O Peru foi o pioneiro da imprensa na América do Sul; a instalação Os judeus desempenharam um papel importantíssimo no desen-
de sua imprensa deu-se à mesma época da fundação da Universidad volvimento das atividades impressoras em Portugal, bem como em muitos
3
HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p. 5. outros setores da economia. A expulsão dos judeus de Portugal é um dos
4
PASSOS. A imprensa no período colonial, p.8.
8 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 9
absurdos históricos portugueses. O rei D. Manuel, que já havia concedido segundo Alexandre Passos, “viajou por quase toda a Europa procurando o
liberdade a judeus castelhanos escravizados, ao casar-se com a princesa que havia de melhor no continente para ser adotado em seu país”.5
Izabel, filha de reis católicos, tenta obrigar os judeus a se converterem A Impressão Régia de Lisboa, posteriormente Imprensa Nacional,
ao cristianismo, dando-lhes a opção do desterro ou da conversão. A ideia foi criada em 1768, pelo marquês de Pombal.
de D. Manuel é que a maioria dos judeus optaria pela conversão ao cris-
tianismo. O que aconteceu a partir do decreto assinado por D. Manuel em A Imprensa no Brasil até 1808
5 de dezembro de 1496 foi um caos absoluto, com suicídio de judeus que Em seu cuidadoso trabalho sobre os caminhos do livro no Brasile, principal-
antes de se matarem assassinavam os próprios filhos, batismo forçado de mente, sobre a leitura em nosso país, Márcia Abreu explica minuciosamente
crianças que eram arrancadas do colo de suas mães e levadas à pia batis- como ocorriam os procedimentos de importação de livros de Portugal para
mal e outras tantas atrocidades. A partir dessa conduta portuguesa, ocorre o Brasil e a censura existente em Portugal para impedir que títulos “in-
grave desestabilização da economia e grande atraso no desenvolvimento de desejados” fossem lidos pelos colonos de ultramar.6 Abreu pontua, ainda,
vários setores econômicos com a debandada dos judeus de Portugal, o que a existência de suposta “pirataria” que fazia chegar ao Brasil os livros
inclui, é claro, o atraso no desenvolvimento das atividades impressoras. proibidos. Ao fim de sua extensa pesquisa, a autora chega à conclusão
Em 1641, surgia, em Portugal, a primeira gazeta, impressa na cidade de que o Brasil sempre foi um país de leitores. O que ela enfatiza é que
de Lisboa, na oficina de Lourenço de Anveres: Gazeta em que se relatam as pessoas aqui não liam o que se julgava melhor e mais indicado pelos
as novas todas que houve nesta corte, e que vieram de várias partes, no censores e “orientadores” de leitura. As pessoas liam muitos romances
mês de novembro de 1641, com todas as licenças necessárias, e privilégio – gênero considerado “leitura menor” pelos intelectuais da metrópole,
Real ou, mais sucintamente, Gazeta da Restauração. Essa gazeta durou causadores, segundo eles, de excitações desnecessárias. É curioso notar
até 1649. Precedeu-a uma espécie de papel volante, que circulou de 1625 que os poemas de Tomás Antônio Gonzaga – o Dirceu de Marília – foram,
a 1627, com o título de Relação Universal do que sucedeu em Portugal e primeiramente, publicados em Portugal, onde faziam muito sucesso.
mais províncias do Ocidente e Oriente. Em 1663 aparece o Mercúrio Por Márcia Abreu menciona alguns pedidos da obra Marília de Dirceu para o
tuguês, com as novas da guerra entre Portugal e Castela – Lisboa, com Brasil; poucos, se comparados com o volume de impressões dos poemas
todas as licenças necessárias, impresso na oficina de Henrique Valente de em Portugal. Segundo a autora:
Oliveira, impressor d’el-rei N. Senhor. A publicação corria sob a coorde- A crer nas informações contidas nos documentos apresentados à
nação do escritor Antônio de Souza de Macedo, secretário de Estado junto censura lusitana, os oito primeiros anos de vida da publicação pas-
saram despercebidos para os cariocas. Publicado pela primeira vez
ao rei Afonso VI. Apesar de ser praticamente uma publicação oficial (o em 1792; somente em 1800 o livro começou a ser remetido ao Rio
jornal era mensal, cada número com oito a dez páginas), não ficou imune de Janeiro. Nesse mesmo período, segundo Hallewell (1985, p. 23),
das críticas do Padre Vieira, que o julgava mal escrito e pouco verídico. O o livro teve 4 edições em Lisboa, uma das quais vendeu dois mil
exemplares em apenas 6 meses. No Brasil, Marília de Dirceu não
jornal circulou até 1667. parece ter sido muito conhecida no século XVIII, pois se registram
Durante o governo de D. João V, nasceu o História anual cronológica apenas 8 pedidos até 1807 – embora o volume de livros remetidos
e política do mundo e especialmente da Europa ou Notícias do estado do possa ser relativamente elevado considerando-se que todas as
requisições de licença foram elaboradas por livreiros.7
mundo, com o primeiro volume datado de 10 de agosto de 1715. O propri-
etário e redator do jornal era José Freire de Montarroios Mascarenhas, que,
5
PASSOS. A imprensa no período colonial, p.14.
6
ABREU. Os caminhos do livro.
7
ABREU. Os caminhos do livro, p. 109.
10 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 11
A troca de ideias no Brasil colonial por meio da palavra escrita notar que, desde as primeiras importações de livros de Portugal para o
acontecia, antes de 1808, através da circulação de manuscritos, que fun- Brasil, já se notava um certo descuido em relação à menção dos tradutores,
cionavam como verdadeiros jornais, espalhando notícias, pensamentos, fato que gerava problemas, tanto de catalogação quanto de identificação
sentimentos. As solicitações de importação de livros acontecia de forma da obra que se pretendia adquirir, já que, segundo Abreu:
constante. Os órgãos censores de Portugal organizavam-se segundo a Os tradutores permitiam-se amplas liberdades em seu trabalho, de
crença do rei D. José, inspirado pelo Marquês de Pombal, de que as três modo que o texto final poderia ser bastante diferente do original,
o que torna relevante considerar cada uma das versões como uma
instituições responsáveis pelo controle da divulgação das ideias (o Santo obra distinta. Por exemplo, a tradução de Arte poética, de Horá-
Ofício, o Ordinário e o Desembargo do Paço) deveriam se reunir “em uma cio, feita por Candido Lusitano e publicada em 1758, apresenta o
só Junta privativa, e composta de Censores Régios, que continuamente texto original em latim, em uma página, e a tradução portuguesa
na página ao lado, o que permitiria supor um desejo de fidelidade
vigiassem sobre esta importante matéria, como se está praticando nas ao original que poderia ser cotejado com a tradução a cada passo.
outras Cortes iluminadas e pias da Europa”.8 Instituía-se, assim, a real Mesa Entretanto, são inseridas notas que ocupam o dobro do espaço do
Censória de Portugal, e, posteriormente, as várias transformações políticas texto e cuja função é promover sua “Illustração” [...] Não satisfeito
com a inserção de comentários nos mais variados pontos do texto,
se encarregariam de manter vivos e atuantes os órgãos responsáveis pelo Candido Lusitano elabora ainda um “Supplemento ás Notas”, em que
controle da circulação de livros em Portugal e em suas colônias. Mesmo em compara os preceitos de Horácio com as artes poéticas de Vida, de
Portugal, qualquer pessoa que, por um outro motivo, precisasse se deslocar Boileau-Despreaux, e com o Ensino sobre a crítica, de Pope.11
e quisesse levar consigo seus livros, deveria dirigir-se aos censores. Abreu menciona, ainda, que não era incomum o tradutor mudar o
Em 1794, as funções de censura eram divididas entre o Santo Ofício final de uma história cujo desfecho não lhe havia agradado, mesmo se tal
(autoridade episcopal) e o Desembargo do Paço. Em 1821, com a extinção história fosse um clássico da literatura grega, por exemplo.
do Santo Ofício, o órgão responsável pela censura passou a ser a Secretaria Em relação às primeiras impressões no Brasil antes de 1808,
da Censura do Desembargo do Paço de Lisboa. Hallewell nos dá notícias sobre uma primeira tentativa de introdução da
O estrangeiro que chegasse ao Brasil nessa época deveria declarar tipografia pelos holandeses em Pernambuco, na época em que ocuparam
os títulos dos livros que portava, assegurando que seriam livros para essa região, entre 1630 e 1655.12 As razões dessa necessidade, no caso
“consumo próprio”. Até 1808, haviam sido enviados para o Rio de Janeiro holandês, seria o fato de que, nessa época, já possuiam um sistema
1328 livros, com 519 títulos diferentes. Além do Rio de Janeiro, Bahia, administrativo bastante sofisticado. De maneira geral, a necessidade de
Pernambuco, Maranhão e Pará eram os maiores solicitadores de livros. Há desenvolvimento de sistemas de impressão na América dever-se-ia, pri-
poucos registros de pedidos para Minas Gerais. 9
meiramente, às práticas de evangelização e, em seguida, à necessidade de
De maneira geral, os livros eram solicitados apenas pelo título da organização administrativa. A tentativa holandesa foi fracassada, já que o
obra, ignorando-se, quase sempre, seu autor. Editor, tradutor, ano e local tipógrafo destinado a assumir a empreitada teria morrido assim que aqui
de edição eram informações quase totalmente ignoradas.10 chegou, supostamente de alguma doença tropical. Embora as informações
O trabalho editorial no Brasil é uma atividade de bastidores. Até não sejam suficientemente comprovadas, supõe-se que os primeiros tra-
mesmo informações imprescindíveis, como, por exemplo, o nome do tradu- balhos de impressão tenham realmente ocorrido em Pernambuco apenas
tor ou revisor da obra são, ainda hoje, muitas vezes omitidas. E é curioso por volta de 1705. Mas há controvérsias.13
8
Rei D. José citado por ABREU. Os caminhos do livro, p. 22.
9
ABREU. Os caminhos do livro, p. 38. 11
ABREU. Os caminhos do livro, p. 217-218.
10
Quiçá seja essa uma explicação histórica para o fato de até hoje, no Brasil, a grande maioria dos 12
HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p. 12.
leitores não se importar com esses “detalhes”. 13
Para maiores informações a esse respeito, ver: HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p. 14.
12 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 13
Como veremos a seguir, em apartado especial, temos notícias de As atividades de impressão em Minas Gerais antes de 1808
uma primeira impressão na então Vila Rica, em Minas Gerais, em 1806. A notícia mais bem documentada que se tem a respeito das atividades
Um arroubo de vaidade do governador da província de Minas Gerais, Pedro impressoras em terras mineiras está registrada num pequeno livro de
Maria Xavier de Athayde e Melo, o visconde de Condeixa, fez com que o autoria de Lygia da Fonseca Fernandes da Cunha, publicado em 1986 pela
padre José Joaquim Viegas de Menezes, um apaixonado por tipografia, Biblioteca Nacional e pela Gráfica Brasiliense Rio de Janeiro/São Paulo.
formado nessa arte no famoso complexo tipográfico da oficina do Arco O livro, intitulado Uma raridade bibliográfica: o canto encomiástico de
do Cego, em Lisboa, imprimisse, artesanalmente – improvisando, dada a Diogo de Vasconcellos impresso pelo Padre José Joaquim Viegas de Mene
carência de materiais em Vila Rica –, pelo método calcográfico, um poema zes em Vila Rica, 1806, é uma edição fac-similar, com estudo histórico
de bajulação ao governador, intitulado Canto Encomiástico, de autoria do biobibliográfico da própria autora. Lygia era, à época, chefe de divisão
poeta Diogo de Vasconcellos. Mais adiante ampliaremos as informações de referência especializada da Biblioteca Nacional. Foram impressos, em
sobre tal evento. calcografia14 (mesmo método empregado pelo padre Viegas para imprimir
o poema), 1320 exemplares, tendo sido os 120 primeiros confeccionados
As atividades impressoras
para bibliófilos e assinados pela diretora geral da Biblioteca Nacional, pelo
de Antônio Isidoro da Fonseca no Rio de Janeiro
impressor calcográfico e pelo editor. A obra marca o início das atividades
Isidoro da Fonseca era um dos principais tipógrafos de Lisboa, responsável da Sociedade dos Amigos da Biblioteca Nacional, cujo presidente era, à
pelas primeiras publicações importantes em Portugal. A existência da época, José Mindlin.
tipografia de Isidoro da Fonseca no Rio de Janeiro em 1747 é algo com- O livro de Lygia Cunha documenta a primeira impressão de que se
provado. Um dos motivos mais prováveis de sua fixação no Rio de Janeiro tem notícia em Minas, reproduzindo, na íntegra, o canto encomiástico de
seria o convite de Gomes Freire de Andrade – o conde de Bobadella –, autoria de Diogo de Vasconcellos para homenagear o então governador
então governador do Rio. Freire de Andrade estaria realmente interessado de Minas Gerais, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, o visconde de
no desenvolvimento intelectual da cidade do Rio de Janeiro. Algumas das Condeixa. De acordo com a documentação existente, o próprio Diogo de
publicações realizadas aqui traziam colofão falso, com o intuito de driblar Vasconcellos considerava-se um poeta medíocre, fato confirmado pelos
a censura da corte, dizendo ter sido a obra publicada em Portugal ou Es- poetas dele contemporâneos. Mas seu pouco talento para os versos não
panha; outras, mais ousadas, assumiam o ato, registrando a cidade do o impediu de realizar um longo poema de louvação ao governador. Parece
Rio de Janeiro como o local de origem da publicação. As impressões de que o estilo bajulador era mesmo a marca de Diogo de Vasconcellos, tendo
Isidoro apresentavam alta qualidade, com boa diagramação e variados ele, à época da morte e esquartejamento de Tiradentes, realizado um
corpos e famílias de tipos trazidos por ele de Lisboa. Tão logo correu essa discurso no qual justificava o assassinato do inconfidente.
notícia em Lisboa, ordenou-se que a tipografia fosse fechada e, segundo Mas não é o pequeno poeta a figura que nos importa no presente
relatos, que tudo fosse remetido de volta a Lisboa: tipos, impressora, papel ensaio, nem o então governador de Minas Gerais. O nosso protagonista
e Isidoro. Temos notícias de que Isidoro voltou para Portugal e, ainda que é o padre Viegas, um amante das artes tipográficas que teria aprendido
solicitasse permissão para voltar ao Brasil, não a obteve.
14
Arte de gravar em metal, que se dá através de vários processos, sendo o mais antigo deles a gravura
a buril ou talho-doce em que a gravação é feita diretamente no metal com um instrumento de aço
chamado buril. Outros gêneros da gravura feita em metal, que fazem parte da calcografia, são aqueles
conhecidos como água-forte, ponta-seca, água-tinta, maneira negra e o verniz mole. O termo também
pode ser usado para nomear o local onde essas impressões são feitas. ITAÚ CULTURAL <http://www.
itaucultural.org.br>. Acesso em: 12 jun. 2008.
14 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 15
seu ofício em Lisboa, na Officina da Casa Literária do Arco do Cego, que do padre Viegas.18 Uma delas, segundo a autora, encontra-se no Arquivo
funcionou entre 1799 e 1801. Público Mineiro, na cidade de Belo Horizonte. No século XX, o local onde
Essa oficina era dirigida por um mineiro, o frei Mariano da Conceição funcionava a oficina do padre Vieira transformou-se no Hotel e Restaurante
Veloso, primo de Tiradentes, e sua produção era voltada para questões Pilão. No ano de 2003, o imóvel foi destruído por um incêndio.
referentes à modernização da agricultura no Brasil, principalmente em
Minas Gerais. Participavam do projeto da oficina mineiros ligados à Incon- A impressão em Minas Gerais no século XIX – após 1808
fidência, bem como Hipólito da Costa e Bocage. Hipólito da Costa foi um Após a vinda da família real para o Brasil, foi criada, na cidade do Rio de
intelectual realmente revolucionário cuja trajetória política e de vida pode Janeiro, a Imprensa Régia, cuja função principal seria a impressão de
ser encontrada em vários documentos, e que mereceu um capítulo inteiro documentos oficiais e livros científicos, como o Tratado de óptica, de La
de Alexandre Passos em seu A imprensa no período colonial. 15
Hipólito da Caille, traduzido por André Pinto, Elementos de Astronomia, compilados
Costa fundou o jornal Correio Brasiliense, que, embora fosse publicado por Araújo Guimarães, Filosofia Química, de A. F. Fourcoy, e tantos outros,
na Inglaterra, é considerado, por muitos, o primeiro jornal do Brasil, cuja todos impressos no Rio de Janeiro.19 Se já havia impressão não autorizada
primeira edição data de 1º de junho de 1808. Segundo Passos, “Através do pela coroa e compra clandestina de livros antes de 1808, após a criação da
seu periódico, Hipólito da Costa combatia a escravidão e concitava os bra- Imprensa Régia o controle começa a ficar ainda mais difícil, principalmente
sileiros a conquistarem a independência pátria o mais cedo possível”.16 depois da abertura dos portos, ocorrida em 28 de janeiro de 1808, apenas
Formado nesse ambiente, o da Officina da Casa Literária do Arco quatro dias depois da chegada da Família Real ao Brasil.
do Cego, podemos imaginar que o tema da impressão destinada aos Em Minas Gerais, temos notícia de que, por volta de 1819, o padre
labores do padre Viegas, por encomenda do visconde de Condeixa, não Viegas, responsável pela impressão do canto encomiástico de Diogo de
lhe seria algo excitante. Entretanto, apesar de advertir o governador de Vasconcellos, a primeira impressão do Estado, se associou a um sapateiro
Minas Gerais sobre o perigo de se imprimir sem a autorização de Portugal, português chamado Manuel José Barbosa Pimenta e Sal, a quem ensinou os
Viegas trabalhou durante três meses para imprimir – já que o governador processos de fundição e moldagem de tipos. Ao que parece, o padre Viegas
garantia assumir a responsabilidade pelo ato –, de maneira artesanal, havia adquirido uma sólida formação como tipógrafo em Lisboa, na Officina
as quatorze páginas do chamado canto panegírico. Jairo Faria Mendes, a da casa Literária do Arco dos Cegos, e também havia estudado outras
esse respeito, diz: línguas, incluindo o francês. Ao se associar com Pimenta e Sal, traduziu
Foram três meses de trabalho duro, aplainando, polindo e abrindo as partes mais relevantes do Dictionnaire des sciences et des arts.
onze chapas de diversos tamanhos. O impresso era composto de Juntos, Viegas e Pimenta e Sal montaram uma tipografia completa
14 páginas, tendo à frente uma ilustração do governador ao lado
da esposa, duas páginas com dedicatória ao estadista, dez con-
com equipamento fabricado em casa. Outros pioneiros da tipografia re-
tendo o poema, e uma com o “Mappa do donativo voluntario que alizaram trabalhos semelhantes em outras regiões do país, como João
ao Augusto Príncipe R.N.S. offerecerão os povos da Capitania de Francisco Madureira, em Belém.
Minas-Geraes, no anno de 1806”. Na dedicatória é utilizado o corpo
8, no poema corpo 12, e no mapa corpos 6 e 7. 17
Em 1821, após o início dos trabalhos da Typographia Patriota de
Barbosa e Silva, em Vila Rica, o padre Viegas já havia se aposentado, e o
Segundo afirma Lygia Cunha no estudo histórico-bibliográfico que
governo provincial havia trazido uma impressora do Rio de Janeiro. A tipografia
acompanha o fac-símile, foram realizadas apenas quatro cópias do trabalho
15
PASSOS. A imprensa no período colonial, p. 56-60. 18
CUNHA. Uma raridade bibliográfica: o canto encomiástico de Diogo Pereira de Vasconcellos impresso
16
PASSOS. A imprensa no período colonial, p. 59. pelo Padre José Joaquim Viegas de Menezes, em Vila Rica, 1806.
17
Disponível em: <http://www.redealcar.jornalismo.ufsc.br/cd/grupos>. Acesso em: 19 maio 2008. 19
HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p. 38-46.
16 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 17
Barbosa e Silva tinha tal nível de excelência que a oficina era convidada a do que de qualquer outra parte, com exceção de Pernambuco, Maranhão
ajudar na melhoria dos tipos da Imprensa Régia, no Rio de Janeiro. e São Paulo, mas, é bom considerar que, à época, Minas era a província
É curioso notar que, nessa época, as publicações científicas e lit- mais populosa do Brasil.24
erárias circulavam por meio de periódicos, volantes e correspondências
manuscritas entre escritores, cientistas e intelectuais. Embora as publi- As primeiras editoras do Estado de Minas Gerais
cações em formato de livro, tal qual o compreendemos atualmente, ainda A primeira editora de Belo Horizonte, a Livraria Itatiaia Editora, fundada
não tivessem se estabelecido nas Minas Gerais, as publicações periódicas na década de 1950 por Pedro Paulo25 e Edison Moreira, tinha, na década
eram de grande importância e utilidade. 20
O Brasil – e Minas Gerais – tem de 1980, uma produção de 70 títulos por ano. A seguir, informação en-
suas primeiras publicações científicas e literárias divulgadas por meio de contrada na página do sítio da editora Itatiaia:
volantes e periódicos rodados nas oficinas tipográficas que começavam a Fundada em 1954, em Belo Horizonte, a editora Itataia possui um
surgir nas diversas regiões brasileiras. catálogo com mais de mil títulos, que inclui os clássicos da literatura
mundial em edições integrais, passando pela zootecnia, etnografia,
Segundo Hallewell, o primeiro livro, propriamente, do qual se tem zoologia, folclore, ciência, entre tantos outros. Destaque para a
notícia em terras mineiras foi impresso na cidade de Vila Rica, atual Ouro Coleção Reconquista do Brasil, uma primorosa coletânea de textos,
Preto, em 1835, “por um impressor chamado Silva”.21 Era uma coleção que que já conta com mais de 200 títulos, que reconstrói e informa os
primórdios do nosso país, sendo fundamental para aqueles que
tinha como título Leis do Império do Brasil. Hallewell aponta, entretanto, buscam uma melhor compreensão do Brasil.26
que o Atlas Cultural do Brasil cita o Diccionario da língua brasileira, de
Em sua história d´O livro no Brasil, Hallewell afirma que a editora
autoria de Luis Maria da Silva Pinto, impresso em 1832, como o primeiro
Itatiaia “destaca-se pela preocupação com o aspecto estético da produção
livro de Minas Gerais. Luís Maria da Silva Pinto era um goiano que residia
de livros”. Segue mencionando a existência de outras editoras em Belo
em Ouro Preto e, segundo estudiosos, seu dicionário apresentaria algo
Horizonte na década de 1980: a Comunicação, a Vega, a Interlivros e a
de revolucionário por tratar da “língua brasileira”, apontando para uma
Livraria Editora Miguilim.
maior independência do Brasil em relação à metrópole.22 Parece ser este
Sobre a Editora Comunicação, há poucas informações disponíveis
dicionário, então, o primeiro livro publicado em Minas Gerais, se não con-
no meio eletrônico. Uma referência a essa editora encontra-se no sítio
siderarmos o Canto Encomiástico trabalhado e impresso pelo padre Viegas
da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), num texto de
um “livro”, mas um livreto ou um opúsculo.
Francisco Aurélio Pinheiro acerca de um livro do mineiro Wander Piroli, Os
As tipografias continuavam a aparecer em Minas Gerais e houve uma
rios morrem de sede:
quantidade considerável de livros publicados nessa época. No catálogo
Há mais de vinte anos, o editor André Carvalho, de Belo Horizonte,
Garraux23 de 1883, havia mais publicações provinciais de Minas Gerais lançava, pela Editora Comunicação, também de Belo Horizonte, uma
20
Para informações sobre as publicações e as tipografias que atuavam em Minas nessa época, consulte-
coleção de livros infanto-juvenis que provocou a maior polêmica na
se o artigo de JINZENJI, M.Y. A instrução e educação das senhoras brasileiras no século XIX, através do época, pela linguagem realista e o inusitado dos temas. A coleção
periódico Mentor das Brasileiras. O periódico O Mentor das Brasileiras era rodado numa tipografia em São passou a ser chamada de “A Coleção do Pinto”, pois o primeiro
João del Rei e é o primeiro periódico devotado às mulheres de que se tem notícia no Brasil. Disponível título da série foi O menino e o pinto do menino, de Wander Piroli.
em: <http://sitemason.vanderbilt.edu/files/foUXAY/Jinzenji.doc>. Acesso em: 13 jun. 2008. Estava-se em época de fim de ditadura militar. Em 1979, veio a
21
HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p. 56. liberdade de imprensa, a anistia e, nos anos oitenta, o movimento
22
Para consultas mais aprofundadas sobre o tema ver artigo de GARCIA,D.A. Discurso lexicográfico: os
dicionários no século XIX. Disponível em: <http://www.iel.unicamp.br/seer/seta/ojs/include/getdoc.php
?id=234&article=7&mode=pdf>. Acesso em: 13 jun. 2008. 24
HALLEWELL. O livro no Brasil: sua história, p. 57.
23
A paulistana Casa Garraux, de Anatole Louis Garraux, foi, na década de 1870, local de encontro de 25
Registramos com pesar o falecimento do Sr. Pedro Paulo, ocorrido meses antes da impressão desse
estudantes da Faculdade de Direito. Fundada em 1827 por fazendeiros de café que eram educados, em nosso livro.
número cada vez maior, na França ou na Alemanha. 26
Disponível em: <http://www.villarica.com.br/itatiaia/index.htm>. Acesso em: 15 jun. 2008.
18 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 19
pelas eleições diretas para Presidente da República. Acabou-se a A Editora Miguilim foi fundada em 1980 por Maria Antonieta Antunes
27
polêmica, algumas obras sobreviveram por seu próprio mérito. Cunha e Ana Maria Clark Peres, professoras de Literatura da UFMG, e a
Sobre a história da Editora Vega, seguem, abaixo, algumas escritora Terezinha Alvarenga.
informações: Hoje, vinte e três anos após a publicação do livro de Laurence
O desejo de divulgar a produção intelectual dos negros despertou Hallewell, Minas Gerais conta, como era de se esperar, com um número
em Maria Mazzarrello, numa época em que ela se encontrava fora bem maior de editoras. Historicamente, o estado sempre se sobressaiu
do Brasil, na Europa. Ela conta que nos anos 60 começou a trabalhar
nas publicações para o público infanto-juvenil, com várias obras premia-
na área de edição de livros, através da experiência de pequenas,
mas importantes, editoras que existiram em Belo Horizonte. das no Brasil e em outros países. A fertilidade editorial das publicações
“Nesta época, quando ajudava na Livraria e Editora do Estudante, destinadas a tal público lançou nacional e internacionalmente importantes
recordo-me que Chico Buarque lançou o ‘Pedro Pedreiro’. Ficava
escritores e ilustradores. Alguns ilustradores optaram por realizar seus
na rua Tupis, nº 85, e foi fechada pela ditadura. Tempos duros”,
relata Maria Mazzarello. próprios projetos editoriais, criando obras de grande relevância. Ângela
Lago é um dos nomes mais importantes, atualmente, quando o assunto
Após o fechamento da Livraria e Editora do Estudante, Mazza, como
é chamada normalmente por todos, se juntou a um grupo de pes- é livro para crianças e adolescentes. Sua delicadeza e seriedade criam
soas ligadas à Universidade Federal (de Minas Gerais), sendo que obras inusitadas, que revelam o cuidadoso trabalho de pesquisa da autora
muitos tinham sofrido com os rigores da ditadura. A nova proposta
em relação aos textos, às ilustrações e ao projeto gráfico. Acompanhar
era abrir uma editora que veiculasse idéias novas, trabalhasse
com material didático, principalmente na área universitária. Assim os procedimentos gráficos também é uma tarefa com a qual a autora se
surgiu a editora Vega. “Vega é uma estrela em direção à qual o ocupa: obstinada, Ângela Lago acompanha todas as etapas da impressão
sistema solar caminha”, explica. “Quem criou a logomarca da Vega
e acabamento de seus livros.
foi um cidadão que na época a gente chamava de Henriquinho,
que tinha 18 anos, e que depois, Brasil afora, ficou conhecido como Há inúmeros outros nomes importantíssimos no cenário da ilustração
Henfil. O primeiro livro dele, Hiroxima, meu humor, quem publicou de livros para crianças e adolescentes. Citar todos e contar um pouco da
foi a gente.”
história de cada um desses personagens requereria um trabalho inteira-
Segundo Mazza, a Vega lutou para sobreviver por cerca de dez mente dedicado a essa questão. O terreno é tão fértil que apenas citar os
anos, até 1978: “sempre inovando, contestando, com problemas
nomes desses artistas já é uma empreitada de fôlego. Assumindo o risco
com os militares, e por isso muito visada. Um dos mentores da
editora foi Edgar da Mata Machado (advogado, jurista e deputado), da injustiça, cito alguns dos nomes mais conhecidos na área, apenas como
que era pai de José Carlos da Mata Machado, morto pela ditadura estímulo para pesquisas futuras: Claúdio Martins, Marilda Castaña e Nelson
militar. A gente tinha um material muito bom, mas não conseguia
Cruz, Denise Rochael, Luis Maia, Ana Raquel, Humberto Guimarães, Edna
vender, pois nossos livros se encontravam no índex da censura do
governo”, relembra Mazza.28 de Castro, Mário Vale.
20 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 21
escritores, artistas e intelectuais que, muitas vezes, saíam da cidade na Seguindo os ensinamentos de Amílcar de Castro, Mansur aprendeu que
qual era realizado o festival para investimentos coletivos em suas cidades, “uma escola de arte não precisa se preocupar em ensinar as belas-artes
como criação de ateliês, pontos de encontro que, muitas vezes, resultavam a seus alunos, mas deve ensiná-los a dar forma a seus sentimentos”.29 As
em interessantíssimas publicações. edições da Tipografia do Fundo de Ouro Preto já deram belas formas aos
Nas décadas de 1970 e 1980, o então publicitário e escritor Sebastião sentimentos de Paulo Leminsky, Sylvio Back, Régis Bonvicino, Laís Corrêa
Nunes foi uma figura importante no meio editorial mineiro, com a criação de Araújo, Haroldo de Campos, dentre outros. E certamente continuará
do selo Dubolso. Os autores confiavam ao escritor seus textos e pagavam fazendo escola.
pelas edições. Sebastião Nunes elaborou várias edições de autores mineiros Em relação ao registro em livro, no estado de Minas Gerais, de lín-
importantes no cenário literário. Atualmente, Tião Nunes, Sebunes Nião ou guas indígenas e línguas africanas, sabemos que a Fundação João Pinheiro
Tião Nuvens – alguns dos heterônimos do editor – é proprietário de uma publicou, em 2002, uma edição comentada pela etnolinguista Yeda Pessoa
editora que realiza publicações direcionadas ao público infantil e juvenil: de Castro dos manuscritos de Antônio da Costa Peixoto, que registrou,
a Editora Dubolsinho, com sede na cidade de Sabará – MG. em 1741, em Vila Rica, uma língua geral de mina.30 Quanto ao registro de
Tomando-se o eixo Rio–São Paulo como referência, podemos dizer língua indígena em livro, sabe-se que uma das primeiras publicações do
que o estado de Minas Gerais possui pouquíssimas editoras. Muitos autores gênero foi realizada pela Faculdade de Letras da UFMG, sob a coordenação
e ilustradores mineiros são publicados por editoras paulistas e cariocas. da professora Maria Ines de Almeida: Rithioc krenak: coisa tudo na língua
Isso faz com que, historicamente, Minas seja um estado com forte pro- krenak, editado na cidade de Belo Horizonte, no ano de 1997.
pensão para edições independentes, o que acena para a necessidade de
estudos nessa área. Aproximando ainda mais a lente e concluindo o ensaio
Uma iniciativa que merece registro é a coleção Poesia Orbital: Após esse breve panorama, fica evidente que muito ainda há que se
organizada para comemorar os cem anos da cidade de Belo Horizonte, a pesquisar sobre a história da edição de livros em Minas Gerais. O tempo
coleção reuniu, em 1997, 62 poetas mineiros em livretos com cuidadoso disponível para nossa viagem não nos permitiu visitar todos os lugares que
projeto gráfico de Glória Campos. são marcas históricas para nosso tema. Este ensaio é, apenas, um pequeno
roteiro para quem quiser, posteriormente, aprofundar seus conhecimentos
Ousadia e respeito: o registro necessário em viagens mais prolongadas.
Dando sequência à tradição tipográfica iniciada, em Minas Gerais, na cidade Para encerrar, aproximaremos ainda mais nossa lente, num registro
de Ouro Preto, o “tipoeta” mineiro (na definição de Haroldo de Campos) final deste trabalho, mencionando as Edições Viva Voz – publicações da
Guilherme Mansur desenvolve, há 30 anos, um trabalho de grande valor Faculdade de Letras da UFMG, coordenadas, desde a década de 1990,
que mereceria um livro inteiro, dada a importância artística e histórica pela Professora Sônia Queiroz. Além de divulgar parte da produção da
de seu ofício. Faculdade de Letras da UFMG (especialmente a produção dos estudantes),
Guilherme Mansur descende de proprietários de gráficas; sua intimi- o Viva Voz é também um laboratório de aprendizagem dos muitos proces-
dade com tipos, clichês, papéis, chapas e tintas certamente contribuiu para sos envolvidos na edição de um livro. Supervisionados pela professora, os
o surgimento de um artista que cria livros como quem faz nascer poemas. alunos aprendem e exercitam os procedimentos de preparação de originais,
A Tipografia do Fundo de Ouro Preto edita livros com o capricho do artesão
que respeita seu ofício, na contramão da tendência de certas gráficas e 29
Frase atribuída a Amílcar de Castro, exposta no painel externo da escola de Belas Artes da UFMG, no
editoras que entopem o mercado com edições apressadas e sem alma. final do ano de 2007.
30
CASTRO. A língua mina-jeje no Brasil: um falar africano em Ouro Preto do séc. XVIII.
22 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 23
revisão de texto, formatação, encadernação, etc., e aprendem a dar viva
voz a seus talentos editoriais.
Referências
ABREU, Márcia. Os caminhos do livro. São Paulo: Mercado de Letras, 2003.
_________ Impressão Régia no Rio de Janeiro: novas perspectivas. Disponível em: <http://
www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/marciaabreu.pdf>. Acesso em: 11 jun. 2008.
ALMEIDA, Maria Inês. Rithioc krenak: coisa tudo na língua krenak. Belo Horizonte: MEC/
UNESCO/SEE-MG, 1997.
ALMEIDA, Maria Inês; QUEIROZ, Sônia. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no
Brasil. Belo Horizonte: Autêntica/FALE-UFMG, 2004.
CASTRO. A língua mina-jeje no Brasil: um falar africano em Ouro Preto do séc. XVIII. Belo Horizonte:
Fundação João Pinheiro, 2002. (Coleção Mineiriana).
________ O caso da banana ou muita coisa em pouco tempo. Belo Horizonte: Lê, 1990.
CUNHA, Lygia F.F. Uma raridade bibliográfica: o canto encomiástico de Diogo Pereira impresso
pelo padre José Joaquim Viegas de Menezes, em Vila Rica, 1806. Rio de Janeiro: Biblioteca
Nacional, 1986.
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: T.A. Queiroz/USP, 1985.
24 Editoras Mineiras Panorama da edição de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais 25
Breve apanhado sobre
o processo de impressão em Minas Gerais
Henrique Wollny
Laura Márcia Luiza Ferreira
1
ALMEIDA; QUEIROZ. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no Brasil, p. 10-11.
impressão.2 No dia 6 de setembro de 1980, o Suplemento Literário de disponibilizar para crianças e jovens temas polêmicos como sexo e ecologia,
Minas Gerais inaugurou a impressão em offset no estado. 3
por exemplo, em O Menino e o Pinto do Menino e Os Rios Morrem de Sede,
Além do meio jornalístico, as editoras de livros em Minas também ambos de autoria do escritor mineiro Wander Piroli, falecido em 2006. É
foram influenciadas pelo boom do offset. Este sistema permitiu uma melho- possível encontrar no site da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
ria na qualidade gráfica das impressões. Como consequência, Minas Gerais, – FNLIJ – referências a essa coleção, cujos volumes ainda se encontram
que já tinha uma tradição literária – haja vista o Suplemento Literário, a disponíveis no mercado, sob responsabilidade de outras editoras.
Revista de Ensino de Minas Gerais e o sucesso de livros infantis como A A Coleção do Pinto surge no período da ditadura militar e, portanto,
Bonequinha Preta e O Bonequinho Doce, da escritora e educadora Alaíde a discussão de temas polêmicos se fez necessária. A Livraria do Estudante
Lisboa de Oliveira – se consolidou no mercado editorial de livros infantis. e Editora do Professor em Minas Gerais também promoveram intensos
O sucesso da Revista de Ensino de Minas Gerais, cujo ano de lançamento debates durante essa época.
é 1939, e a edição do livro A Bonequinha Preta estão relacionados com a Em relação aos procedimentos de impressão, tema deste artigo, o
história da Editora Francisco Alves. mercado editorial do estado de Minas Gerais continua, até os dias atuais, re-
A história da Livraria e Editora Francisco Alves mereceria um longo alizando suas impressões em offset, sistema que, após o desenvolvimento da
capítulo, não fosse este apenas um breve apanhado sobre a história da tecnologia da informática, realizou avanços. Atualmente, não é mais necessário
edição de livros em Minas Gerais. Entretanto, dada a importância dessa o velho e bom fotolito5, já que os DTPs ou CTPs vêm ganhando espaço.
empresa, reservamos aqui algumas linhas sobre sua história, estimulando De acordo com a Wikipédia,
os leitores a realizarem novas buscas sobre o tema. DTP (Direct-to-Plate) ou CTP (Computer-to-Plate) é o processo
A Livraria Francisco Alves foi elemento importante na história do livro de produção das chapas usadas na impressão offset. A chapa é
gravada através de laser, que é controlado por um computador,
no Brasil e em Minas. Fundada no século XIX, na cidade do Rio de Janeiro, de forma similar às impressoras laser. Isto permite que a chapa
estabeleceu parceria com os mineiros, inicialmente na antiga capital, Ouro seja gerada diretamente de um arquivo digital, sem a necessidade
Preto, em 1893. A responsabilidade de levar adiante o projeto editorial da produção de um fotolito intermediário. Este processo também
garante o aumento da qualidade final da imagem gravada. Isso
da Livraria Francisco Alves na província de Minas Gerais ficou a cargo do deixa a imagem perfeita. Existem métodos de gravação de chapas
comerciante, professor e autor Thomaz Brandão. O projeto editorial da mais avançados, como o processo de gravação através de UV (Ultra
Francisco Alves privilegiava publicações destinadas à instrução primária Violeta), dispensando assim o laser.6
e secundária, estabelecendo-se como referência para professores. Em 15 É curioso notar, no entanto, que alguns editores, pesquisadores e
de junho de 1910, foi inaugurada a segunda filial da Livraria Francisco artistas continuam, até os dias atuais, a imprimir seus livretos de maneira
Alves em Minas Gerais, segundo Maciel, “num simpático sobrado na rua artesanal, valorizando antigos procedimentos de edição. É o caso, por
da Bahia, número 1055”, na cidade de Belo Horizonte. 4
exemplo, da Edições Duas Luas, do escritor mineiro Paulinho Assunção.
Outro destaque importante no contexto da implementação do sis- De acordo com seu criador:
tema offset em Minas Gerais, no que se refere aos livros, é a Coleção do EDIÇÕES 2 LUAS – A MENOR EDITORA DO MUNDO
Pinto, da Editora Comunicação, que aponta duas marcas de modernidade: a O que aqui se publica são amostras de livros artesanais feitos pelo
escritor brasileiro Paulinho Assunção. São livros feitos um a um, a
renovação temática e a ênfase nos aspectos gráficos. A renovação temática mão, com os instrumentos os mais rudimentares e atualmente em
desta coleção se deve ao fato de que a Editora Comunicação se propôs a desuso. Por exemplo: o sonho, a nuvem, a lentidão, a paciência,
2
Disponível em: <http://www.iof.mg.gov.br/imprensa/imprensa.htm>. Acesso em: 16 jun. 2008.
3
Um pouco da história do Suplemento Literário será relatada no próximo tópico deste ensaio. 5
Fotolito é um filme transparente, uma espécie de meio plástico, feito de acetato.
4
MACIEL. Livraria Francisco Alves em Minas Gerais, p. 4. 6
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Impress%C3%A3o_offset>. Acesso em: 18 jun. 2008.
Referências
ALMEIDA, Maria Inês de; QUEIROZ, Sônia. Na captura da voz: as edições da narrativa oral no
Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, FALE/UFMG, 2004. p. 10-11.
FUNDAÇÃO NACIONAL DO LIVRO INFANTIL E JUVENIL. Disponível em: <http:// O mercado editorial em Minas Gerais é fruto do grande desenvolvimento
www.fnlij.org.br/principal.asp?texto=PNBE&arquivo=/pnbe/texto/os_rios_morrem_ que vem ocorrendo nessa área, no Brasil, desde o século passado; de
de_sede.htm>. Acesso em: 16 jun. 2008.
forma que podemos ver um novo caminho sendo traçado fora das fronteiras
IMPRENSA OFICIAL DE MINAS GERAIS. Disponível em: <http://www.iof.mg.gov.br/imprensa/
do Rio de Janeiro e São Paulo – reconhecidas bases do mundo editorial
imprensa.htm>. Acesso em: 16 jun. 2008.
brasileiro. Eventos mineiros como a Bienal do Livro e o Salão do Livro são
IMPRESSÃO offset - Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/
wiki/Impress%C3%A3o_offset>. Acesso em: 18 jun. 2008. de grande importância para as editoras e para o público do estado, uma
MACIEL, Francisca Izabel Pereira. Livraria Francisco Alves em Minas Gerais. In: SEMINÁRIO vez que divulgam a produção editorial mineira e promovem importantes
BRASILEIRO SOBRE LIVRO E HISTÓRIA EDITORIAL, 1, 2004, Rio de Janeiro. Disponível em: atividades culturais, aproximando editores, escritores e leitores.
<http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br>. Acesso em: 16 jun. 2008.
Leis de incentivo à cultura, no âmbito municipal, estadual e federal,
PIROLI, Wander. Os rios morrem de sede. Il. Rogério Borges. 16. ed. São Paulo: Moderna, 1994.
possibilitam a realização de projetos culturais por meio de estímulo fiscal,
SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA DE MINAS GERAIS. Disponível em: <http://www.cultura.
dinamizando e consolidando o mercado cultural no estado, e isso inclui
mg.gov.br/>. Acesso em: 18 jun. 2008.
também o livro. Mas, apesar desse crescimento em nosso estado, ainda
SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS. Disponível em: <http://www.letras.ufmg.br/
websuplit>. Acesso em: 7 jul. 2008. há pouca informação disponível sobre a área de edição em Minas. Por isso,
este apanhado das editoras mineiras se faz muito necessário. Esta pesquisa
foi realizada utilizando, como fontes, quatro entidades diferentes:
Câmara Brasileira do Livro – entidade sem fins lucrativos fundada
em 20 de setembro de 1946, que tem como objetivo estimular a leitura no
país, promover a indústria e o comércio do livro e defender os interesses
de seus associados.
Sindicato Nacional dos Editores de Livros – com esse nome desde 6
de julho de 1959, coordena as atividades editoriais, assim como fornece
proteção e representação legal à categoria de editores de livros e publi-
cações culturais no Brasil.
32 Editoras Mineiras
Câmara Mineira do Livro – sociedade civil, com sede em Belo Hori- Editora CBL SNEL CML CEM
zonte, criada em setembro de 1970, e que tem basicamente os mesmos EDITORA A PARTILHA
objetivos da CBL, no âmbito do estado de Minas Gerais. EDITORA ABRIL
Clube de Editoras Mineiras – uma nova organização de editoras que EDITORA ATLAS
foi criada em Minas e que possui apenas seis editoras afiliadas.1 EDITORA BALÃO VERMELHO
supracitadas foram encontradas por meio de pesquisas na web e de con- EDITORA BETANIA
EDITORA BICHINHO GRITADOR
sulta a profissionais da área. A pesquisa realizada utilizando sítios de busca
EDITORA C/ARTE
como o Google encontrou 29 editoras em Minas Gerais, das quais 15 são
EDITORA CRESCER
associadas à Câmara Brasileira do Livro (CBL) e apenas uma é filiada ao
EDITORA CRISÁLIDA
Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Das doze editoras mi-
EDITORA DEL REY
neiras sindicalizadas, encontradas por meio da pesquisa na web, apenas
EDITORA DIMENSÃO
duas são associadas à CBL. EDITORA DUAS LUAS
O sítio da CBL não disponibiliza pesquisa por estado, por isso a pes- EDITORA E DIST. EDUCACIONAL LTDA
quisa teve de ser realizada manualmente. Esta pesquisa revelou 25 asso- EDITORA FAPI
ciados da CBL em Minas, dos quais 20 são editoras, duas são distribuidoras EDITORA FÓCUS LTdA
e livrarias, e três pertencem a categorias diversas (uma ONG, uma insti- EDITORA FORUM
tuição de ensino, uma sociedade empresarial). A Câmara Mineira do Livro, EDITORA FTD
entidade similar à CBL, possui 46 associados, dos quais 18 são editoras. EDITORA INEDE
O Clube de Editoras Mineiras (CEM) reúne 6 editoras, todas elas também EDITORA ITATIAIA
EDITORA LÊ
com afiliações a algumas das instituições citadas anteriormente.
EDITORA LEITURA
Do total de 51 editoras encontradas, 42 estão na capital e nove no
EDITORA MANIFESTO S/A
interior do estado. Algumas poucas que se localizam na capital são filiais
EDITORA MIGUILIM LTDA
de grandes editoras de São Paulo.
EDITORA NANDYALA
Editora CBL SNEL CML CEM EDITORA PUC MINAS
ARMAZÉM DE IDÉIAS EDITORA RHJ LTDA
AUTÊNTICA EDITORA LTDA EDITORA RT
CASA DOS ESPÍRITOS EDITORA EDITORA TESSITURA
CLICK IDÉIAS EDITORA EDITORA UFMG
COOPERATIVA EDITORA E DE CULTURA MÉDICA - COOPMED EDITORA VOZES
CRISTÃ FONTE VIVA FRANCO EDITORA
EDIÇÕES DUBOLSINHO GERAÇÃO EDITORIAL
EDIÇÕES NATUREZA LTDA MARY E ELIARDO FRANÇA PRODUÇÕES
EDIÇÕES SM MAZZA EDIÇÕES
MINAS EDITORA
1
O Clube de Editoras Mineiras não possui sítio na web, o que dificultou a obtenção de mais informações.
Recolhemos esta informação por meio de um volante distribuído no Salão Mineiro do Livro em 2008.
Izabela Federman
Nelson Sá Fortes
Viviane dos Santos Ferreira
Mônica Buccini Siqueira
clubinhos de leitura, cursos de fotografia e cursos de artes plásticas. Quanto à seleção de originais, a qualidade literária sempre foi o
A Livraria da Criança durou um ano e somente depois se tornou, de fato, principal critério para que uma obra fosse publicada. A rentabilidade era
a Editora Miguilim. Sugestão de Maria Antonieta e, segundo Ana Clark, em posta em segundo plano. Uma característica que distingue a Miguilim de
entrevista aos alunos dos Estudos Temáticos de Edição, “era muito interes- outras editoras infantis é o fato de se recusar a encomendar originais,
sante o nome, porque além de ser extraído de uma personagem do Rosa, pela razão de seus editores acreditarem que esta prática não é condizente
era um nome sonoro”. As responsáveis pela transformação da livraria em com a produção literária de qualidade. Eventualmente, algumas sugestões
editora foram as sócias Maria Antonieta, Ana Clark e Terezinha Alvarenga, de tema eram feitas, mas sempre respeitando as singularidades de cada
sendo que a última é escritora e atual editora da Miguilim, transformação autor. Além disso, a Editora Miguilim tinha um cuidado no trato com todos
que teve como intuito oferecer uma produção literária de qualidade para os seus escritores, mesmo quando um trabalho era recusado, os editores
as crianças. Sobre o aspecto da qualidade literária, Ana Clark afirma: enviavam uma carta para o autor apontando as qualidades da obra, o que
Não existia o mercado editorial, não existia nenhuma editora exclusi- precisava ser melhorado e os motivos da recusa.
vamente voltada para a infância, havia outras editoras que publicavam
A Editora Miguilim foi amplamente premiada tanto por seus tex-
livros para adultos e também para crianças [...]. Mas exclusivamente
infantil não existia, a Miguilim foi a primeira, e marcada por esse objetivo tos quanto por suas ilustrações. Seus livros passaram a ser referência e
de tentar oferecer o que a gente achava que era o melhor em termos ganharamdestaque internacional. Alguns exemplos são A mãe da mãe da
literários para criança. Nenhuma de nós era comerciante, todas nós tí
minha mãe, de Terezinha Alvarenga (prêmio Jabuti de melhor livro infantil,
nhamos uma preocupação realmente diferente da de um comerciante.
Se por um lado havia um alto investimento em relação ao livro como EDITORA MIGUILIM. Disponível em: <http://www.editoramiguilim.com.br/>. Acesso em: 29
produto, por outro, o processo de divulgação das obras publicadas pela maio 2008.
Miguilim era feito de maneira modesta. Ao sair um novo livro, o responsá- MACIEL, Francisca Izabel Pereira. Livraria Francisco Alves em Minas Gerais. In:I SEMINÁRIO
Brasileiro sobre o Livro e História Editorial, I. Rio de Janeiro: Casa Rui Barbosa, 2004. Ensaio.
vel pela divulgação pegava o caderno de endereços de críticos literários e Arquivo em PDF. Disponível em: <http://www.livroehistoriaeditorial.pro.br/pdf/franciscamaciel.
visitava um por um, entregando em mãos os exemplares. Depois, enviavam pdf>. Acesso em:12 jun. 2008.
feita a escolha por um formato menor dos livros, numa tentativa de fornecer Andrette Ferraz
Daniel Soares Silva Ramiro
aos compradores uma alternativa mais econômica, visto que geralmente
Larissa Berti
livros infantis são feitos em formato maior, especialmente para crianças
Maria Amélia Mello
pequenas. Sebastião Nunes relata sua experiência inicial: Natália Pereira
Quando fundei a Dubolsinho, coloquei diante de mim uns 50 livros
de formatos e papéis diferentes e fiquei estudando. Depois de muito
tempo, e um pouco em razão de nossa pobreza financeira, optei
por formatos menores. Mas como temos de competir com editoras
muito grandes, inclusive multinacionais, escolhemos o melhor pa-
pel e a melhor gráfica. Quando se trata de adolescentes, estamos
fazendo livros em preto e branco, em papel creme, pois eles não
gostam muito de livros grandes e muito coloridos. Acham, com Localizada no edifício Maleta, um dos mais famosos e tradicionais de Belo
razão, que “é coisa de criança”. Horizonte, a editora Crisálida vem se firmando cada vez mais no mercado
A escolha das ilustrações acontece de acordo com a afinidade de editorial mineiro e, até mesmo, no mercado nacional. Conhecida pelos
estilo entre ilustrador e autor, e, geralmente, elas são selecionadas pelo intelectuais belo-horizontinos, a Crisálida marcou sua identidade pela
próprio Sebastião Nunes. Outras vezes ele mesmo faz as ilustrações, porém publicação de obras clássicas de difícil acesso e procuradas por leitores
prefere trabalhar com outros desenhistas para que os livros não fiquem bem-informados.
muito parecidos uns com os outros. No intuito de facilitar a leitura, são A empresa, que começou a funcionar em 1999, nasceu como livraria
usadas fontes comuns. Sejam livros para crianças ou para adolescentes, e editora, a partir do desejo de Oséias Silas Ferraz, que almejava possuir
a editora Dubolsinho norteia sua direção sempre pela qualidade literária, uma livraria cujo acervo fosse voltado para quem gosta de ler o que não
garante o próprio editor. se encontra nas livrarias em geral. Em outras palavras, o empreendimento
nasceu a partir da colocação de Oséias – hoje proprietário da Livraria e
Este texto reproduz trechos da entrevista concedida por Sebastião Nunes aos alunos da disciplina Estudos
Editora Crisálida – na posição de leitor. Sem desconsiderar obras famosas e
Temáticos de Edição: o Impresso e os Meios Eletrônicos, ministrada pela professora Sônia Queiroz, na
Faculdade de Letras da UFMG, no ano de 2008. populares, a Crisálida prima por editar livros de grande peso intelectual.
Queria fazer uma livraria voltada para o leitor formado, que já sabe
o que quer ler, alguém que já gosta de ler e às vezes precisa se
informar um pouco mais sobre o que está lendo. Ele irá encontrar
na Crisálida um acervo mais coerente, complementar. A ideia é
esta: complementaridade. Por isso é que eu não trabalho com livro
técnico, nem esotérico, nem de autoajuda, nem com livros da moda,
(embora não tenha nada contra o livro da moda).
54 Editoras Mineiras
trabalha com produção ou recuperação de obras clássicas. Com relação Lê:
aos projetos gráficos, a empresa utiliza-se dos serviços de uma gráfica a editora d’A bonequinha preta
paulista, Palas Atenas, pela garantia dos bons trabalhos prestados. A prin-
cípio, era a livraria que mantinha a editora, tratada como uma espécie de
Ernane Oliveira
hobby para Oséias, entretanto, atualmente a Editora Crisálida consegue
Gustavo de Oliveira Bicalho
se manter. Este mérito pode ser devido ao grande envolvimento de seu
Karla Moreira Bastos
dono em todas as suas atividades: Paula Francioli Souza
Eu quero me manter pequeno, manter a estrutura mais enxuta.
O problema é que não é apenas um negócio, quer dizer, é um
negócio também, senão eu morreria de fome... Mas é um negó-
cio que eu estou envolvido desde o começo. Todo o processo da
escolha dos títulos, das etapas da revisão, a preparação de texto,
eu faço. Faço com o maior prazer! Pode até acontecer de o negó-
cio se expandir, crescer, eu contratar, terceirizar, mais faixas do
trabalho. Mas, eu quero me manter envolvido com o processo. O
A Editora Lê surgiu há quatro décadas, em Belo Horizonte, com o intuito de
mercado editorial cresceu muito nos últimos tempos, bem como publicar, inicialmente, apenas livros didáticos. Foi em 1975 que a editora
a publicação acadêmica, hoje, é um mercado muito forte. Profes- mudou seu foco, passando a publicar reedições de clássicos da literatura
sores, pesquisadores têm muita necessidade de divulgação. Além
do mais, há a pontuação da CAPES, do CNPq... isso aí é uma
infantil. Destacam-se as edições de A bonequinha preta e O bonequinho
indústria de publicações. doce, da escritora Alaíde Lisboa de Oliveira.
O desejo da Crisálida é manter a sua identidade, tendo como prin- A partir de então, a editora apresentou considerável crescimento,
cipal interesse os textos de literatura antiga. chegando, em 2003, a cerca de 500 títulos em catálogo, quando decidiu
dedicar-se exclusivamente à publicação de literatura infantil e juvenil e à
Este texto reproduz trechos da entrevista concedida por Oséias Silas Ferraz aos alunos da disciplina Es-
distribuição, em conjunto com a Editora Compor, de livros de sete editoras
tudos Temáticos de Edição: o Impresso e os Meios Eletrônicos, ministrada pela professora Sônia Queiroz,
na Faculdade de Letras da UFMG, no ano de 2008. de outros estados, cuja linha editorial é semelhante. A formação de público
leitor é apresentada pela editora como sua principal preocupação.
Pretendemos, aqui, realizar um traçado do perfil da Editora Lê a
partir dos dados coletados em entrevista realizada no dia 02 de maio de
2008, com o diretor José de Alencar Mayrink.
Sendo a Editora Lê voltada, atualmente, para livros infantis e juvenis,
é inevitável não pensar em acabamentos mais cuidadosos, que atraiam
mais o público consumidor, o que nos leva a questionar sobre processos
artesanais de produção. José de Alencar nos explica que, apesar de a
edição artesanal do livro agradar mais ao público infantil e tornar os livros
mais vendáveis, raramente vale a pena usá-la e, portanto, a editora tem
evitado esse processo. Isso porque, além de encarecer muito a edição,
é um processo muito mais demorado. De acordo com o editor, um livro
que seria impresso em duas horas e meia numa gráfica por um processo
56 Editoras Mineiras
industrial, ficaria três dias sendo impresso pelo outro processo e, depois passos, o resultado só poderá ser satisfatório. No entanto, havendo algum
disso, passaria ainda por acabamentos demorados e caros. problema, o diretor aconselha ir à gráfica e acompanhar o processo de
Quanto aos processos industriais da Lê, José de Alencar explica que produção e, assim, controlar a qualidade.
as máquinas usadas são planas e não rotativas. Estas últimas ocupam um Dentro da Editora Lê apenas duas pessoas compõem o processo
espaço enorme por seu tamanho e a qualidade da impressão não é satisfató- de produção, fazem diagramação, trabalham com a imagem, juntam as
ria, a ponto de serem notadas as falhas por qualquer pessoa que entenda um ilustrações com o texto e, depois de tudo pronto, passam o arquivo para
pouco de edição. Além disso, o editor comenta como alguns avanços tecno- CD e direcionam para a gráfica. Porém, no meio de todo o processo há
lógicos tornaram o processo industrial mais rentável e de melhor qualidade. intervenções de outros profissionais que não se localizam na editora, como
O fato de os fotolitos terem sido substituídos por arquivos em CD’s trouxe os revisores (geralmente os livros passam por três ou quatro revisões).
um grande avanço, na medida em que quaisquer retoques, intervenções, Há também os ilustradores que são escolhidos em função do texto. Se a
resoluções de problemas podem ser feitos no próprio computador, não sendo editora acredita que um texto seria bem representado pelos desenhos de
mais necessário refazer o fotolito e repetir todo o processo. um determinado ilustrador, o texto será encaminhado para ele, que fará
De acordo com Alencar, a tecnologia auxiliou muito para agilizar o o projeto. Se a editora gostar, as ilustrações serão usadas, se não gostar
processo de produção das editoras. Na parte de produção, a Internet de a editora entra em contato com o ilustrador e este faz as devidas modifi-
banda larga proporcionou um grande avanço na edição, pois permite que a cações. O projeto gráfico, geralmente, é o próprio ilustrador que faz e por
editora e os ilustradores, por exemplo, se localizem em cidades diferentes, isso também acontece fora da editora.
mas possam enviar o trabalho já pronto no instante em que este foi feito, A editora também trabalha com mais de uma gráfica, pois desta
aumentando a velocidade na troca de informações e, com isso, possibilitando forma é possível a produção simultânea de vários livros, não sendo neces-
mais agilidade no serviço e mobilidade daqueles que o executam. sário esperar o término da impressão de um livro para iniciar outro.
A possibilidade de uma rápida e eficiente formatação tornou o O processo de produção de um livro envolve muitos profissionais,
computador um instrumento fundamental. Antes, não era possível fazer mas, no caso da Lê, estes profissionais se encontram dispersos, fora da
as várias modificações que são feitas hoje para valorizar o trabalho; prova- editora. A editora prefere trabalhar desta forma, pois assim há a possilibi-
velmente, para isso, seria necessário um dia inteiro. No entanto, com a dade de pluralidade na produção. O próprio diretor afirma: “A gente tem,
tecnologia computacional é possível corrigir e melhorar a diagramação do teoricamente, pouca gente trabalhando aqui na produção editorial”.
livro ou da capa, por exemplo, em apenas quinze minutos. O trabalho de divulgação da Editora Lê é feito por uma equipe de
Em relação à impressão, Alencar admite: “Eu não tenho maiores três pessoas, que percorrem escolas apresentando matérias. São enviados
empolgações com relação à impressão”, pois, em uma gráfica, o importante é também, via mala direta, catálogos para um público bem direcionado.
quem opera as máquinas. Há maquinário de elevado valor que, no entanto, De acordo com José de Alencar, “não adianta você colocar um anúncio
muitas vezes é manuseado por quem não tem capacidade ou sensibilidade, e no horário nobre na mídia, ninguém vai comprar um livro ou outro porque ele
são esses pontos que irão interferir na produção final, ou seja, grande parte é da Lê; ‘Olha lá, tá vendo, é um livro da Lê, vamos comprar! Olha, tem um
das falhas que ocorrem nas gráficas são humanas, porque atualmente todas livro sobre duendes da Martins Fontes!’”, relata Alencar. De fato, normalmente,
as máquinas de impressão possuem uma boa tecnologia; mesmo aquelas uma pessoa não compra um livro por causa da editora que o publicou, e sim
que foram produzidas há mais tempo são muito boas. pelo autor ou pelo próprio título. Além disso, fazer marketing de um livro
A boa produção de um livro depende de a editora mandar um bom é bastante caro, pouco viável, avaliando a relação custo/benefício. José de
arquivo para uma boa gráfica e utilizar um bom papel; seguindo estes Alencar acrescenta que ”se fosse um produto – o livro – que fosse vender
que faleceu em 2006 aos 102 anos. “A bonequinha preta é uma referência, Frederico Claret Freitas Teixeira
Lucas Sander
sempre vai à bienal e ao salão do livro. As mães compram para as filhas,
Mário Vinícius Ribeiro Gonçalves
as avós compram pras netas. Além disso, muitas escolas trabalham com
esses livros”, diz o editor. Outro livro de Alaíde Lisboa que também se
tornou um clássico para a editora é O bonequinho doce. O livro já passou
por várias edições, com mudanças das ilustrações.
A editora acredita bastante no livro, o que quer dizer que valoriza
mais o material impresso que o material digital. De acordo com José de
Alencar, os livros podem acompanhar as pessoas em todos os lugares, seja “Uma coisa é você editar Machado de Assis, outra coisa é você editar [os
numa sala, seja na cozinha, na cama ou até mesmo no banheiro! O material poetas contemporâneos] Adriano Menezes, Kiko Ferreira, Carlos Brito... A
digital depende de um computador, que depende de energia e que é muito Scriptum acredita que vale a pena editar autores vivos: poetas, escritores...
mais difícil de ser transportado. Trabalhando com essa ideia comparativa Arriscar em alguns nomes pode dar certo.” Esta proposta resume a política
entre um livro e um e-book, José de Alencar acrescenta: “Como é que você editorial da Scriptum, editora vinculada à tradicional livraria homônima
faz uma anotaçãozinha em uma página? Já cheirou um e-book? Cheira localizada no coração da Savassi, em Belo Horizonte.
um livro e cheira um e-book para você ver a diferença.” Porém, José de A livraria Scriptum, conhecida pelo tratamento diferenciado que
Alencar abre exceções, para livros de cunho informativo, ou que tenham dispensa aos seus clientes, vem, há mais de dez anos, suprindo as neces-
volumes muito grandes, como enciclopédias e dicionários. sidades literárias de um público fiel e exigente. Tendo a poesia como seu
Além das questões ditas acima, José de Alencar leva em conside- principal foco, a livraria oferece o que há de melhor no gênero: em suas
ração outras questões, como, por exemplo, a concorrência do meio digital e prateleiras encontram-se obras clássicas e contemporâneas, selecionadas
eletrônico. Atualmente, produções japonesas, estúdios da Disney, pessoas através de um rigoroso padrão de qualidade.
fenomenais, como Steven Spielberg, fazem filmes infantis. É normal que uma Pouco depois de fundar a livraria, seu proprietário, Welbert Belfort
criança prefira ver uma grande produção – com tantos recursos de grandes (Betinho), insatisfeito com o pequeno enfoque que as editoras mineiras
estúdios – a ver Bonequinha preta em CD. Ao passo que, normalmente, quem vinham dando à poesia, decide dar um passo à frente no tocante à produ-
quer ler, opta em pegar um livro no papel e vai ler o livro, muito mais prático ção e distribuição de obras literárias contemporâneas, criando assim, em
que pegar um CD, ligar o computador, esperar o programa abrir, etc. sociedade com os editores Mário Alex, Vagner Moreira e Rogério Barbosa,
José de Alencar finaliza a entrevista num tom irônico e risonho: a Editora Scriptum. “A livraria apoiava muitos eventos culturais na cidade:
“roubar um livro é muito mais interessante que roubar um computador.” música, dança, artes plásticas, teatro... Esse apoio era interessante, mas
Sabe-se, assim, qual dos dois o editor prefere. chegou um momento em que eu queria vincular [o nome da livraria] a
Este texto reproduz trechos da entrevista concedida por José de Alencar Mayrink aos alunos da disci alguma coisa mais permanente”, comenta Betinho sobre o momento em
plina Estudos Temáticos de Edição: O Impresso e os Meios Eletrônicos, ministrada pela professora Sônia que surge a editora.
Queiroz, na Faculdade de Letras da UFMG, no ano de 2008.
60 Editoras Mineiras
Apesar do pouco tempo de existência da Editora Scriptum e da os nossos lançamentos fazemos coquetel, às vezes leitura de poesia...
dificuldade ainda presente de se consolidar o nome independentemente da Ou seja, há toda uma cobertura para que esse lançamento crie um clima
livraria, Betinho e Mário Alex alegram-se com os frutos que vêm colhendo cultural”, diz Betinho. A editora também promove lançamentos em outras
desde o início desta empreitada: embora tenham lançado somente 20 tí- cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo.
tulos até a presente data, vários poetas, tanto de Minas Gerais quanto de Embora cientes da crescente presença dos meios eletrônicos no
outros estados, já vêm procurando a editora para publicar seus livros. Digno meio editorial, Betinho e Mário Alex comentam ainda não ser a hora cer-
de nota é o caso do poeta e crítico literário mineiro José Maria Cançado ta para a Scriptum se inserir neste nicho: a editora ainda é pequena e
(1952 – 2006), que já tendo obras de sua autoria publicadas por grandes não tem um corpo técnico especializado para se colocar no meio virtual.
editoras, como a Globo e a Editora UFMG, escolheu a Scriptum para a Além disso, o foco da editora, no momento, continua sendo editar livros
publicação de seu livro O transplante é um baião de dois, em 2004. Outra impressos de qualidade, tendo sempre em vista, conforme Betinho, “o
feliz surpresa para os editores foi a indicação de três de suas publicações tempo do possível”.
para o prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira. Para finalizar, Betinho e Mário Alex falam de planos da Scriptum de
Em relação ao crivo de seleção de originais para serem publicados, editar livros na área da psicanálise, além de compartilharem a vontade
a Scriptum opta por realizar uma minuciosa – e, se necessário, demorada de editar também um título inédito de um autor que já desfrute de um
– análise da publicação em potencial em todos seus aspectos: adequação nome de peso. Entretanto, ambos salientam o grande prazer de se colocar
à linha editorial, linguagem, etc. Uma vez aprovado um texto, seu autor novos nomes no mercado. A este respeito, comenta Mário Alex: “Se [um
e os editores acompanham juntos todo o processo de publicação: são dis- escritor de peso] vier, ótimo. É fruto desse trabalho que vem sendo feito
cutidos os valores, possíveis alterações na obra (que podem ocorrer desde de forma lenta, pensada, cuidada, com sensibilidade, carinho... E com as
o título ao corpo do texto) são propostas, acompanha-se a elaboração pretensões, evidentemente.”
do design, preparação do original e impressão (sendo estes três serviços
Este texto reproduz trechos da entrevista concedida por Welbert Belfort e Mário Alex aos alunos da
terceirizados), e debate-se como será feita a divulgação do livro. Quanto disciplina Estudos Temáticos de Edição: o Impresso e os Meios Eletrônicos, ministrada pela professora
à maneira como é estabelecido o contrato com os autores cujas obras são Sônia Queiroz, na Faculdade de Letras da UFMG, no ano de 2008.
Breiller Pires
Carlos Magno Caetano
Gabriel Rezende Faria
Joice Costa
A editora
A Editora UFMG foi criada em 1985, pela própria Universidade, trazendo
como base do seu projeto a difusão do conhecimento científico desenvolvido
nas mais diversas áreas de pesquisa da instituição, bem como a edição de
obras de autores nacionais ou estrangeiros que tenham relevância para o
meio acadêmico da UFMG.
Dirigida por Wander Melo Miranda, coordenador do Centro de Estudos
Literários da Faculdade de Letras da UFMG e Professor Titular da mesma
faculdade, que é também editor chefe, e por Silvana Coser, socióloga,
que é vice-diretora, a editora integra a Associação Brasileira de Editoras
Universitárias – ABEU, a Câmara Brasileira do Livro – CBL, e a Câmara
Mineira do Livro – CML. O diretor é escolhido pelo reitor da Universidade,
a partir de uma lista tríplice indicada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa
e Extensão – CEPE – com mandato de dois anos. O vice-diretor é eleito do autor indo-britânico Homi Bhaba, como uma publicação bem-sucedida
pelo Conselho Editorial e tem o mesmo tempo de mandato do diretor. da editora, de um autor estrangeiro.
O Conselho editorial é constituído, atualmente dos seguintes membros: Perguntada sobre o que diferencia a editora que ela dirige das ou-
Carlos Antônio Leite Brandão, Juarez Rocha Guimarães, Márcio Gomes tras editoras universitárias, Silvana disse que a editora tem “um padrão
Soares, Maria das Graças Santa Bárbara, Maria Helena Damasceno e Silva de qualidade que é bastante reconhecido” e relata um evento no Rio de
Megale, Paulo Sérgio Lacerda Beirão (titulares), Antônio Luiz Pinho Ribeiro, Janeiro em que o trabalho da editora foi muito elogiado. “Era voz corrente
Denise Soares Ribeiro, Marcos Von Sperling, Maria Angélica Melendi, Maria que hoje a Editora UFMG é, senão a melhor, uma das mais qualificadas
Aparecida Paiva dos Santos, Miriam Chrystus de Melo e Silva (suplentes), editoras universitárias do Brasil”, disse a diretora. Silvana mencionou o
Wander Melo Miranda (presidente). cuidado com o conteúdo, com a preparação e a escolha dos títulos, além
No total, a editora possui 57 funcionários: 18 são servidores da UFMG dos cuidados com a parte gráfica, como sendo fatores que possibilitam
(funcionários técnico-administrativos e professores) e 39 são contratados o trabalho da editora ser reconhecido no mercado editorial universitário.
pela Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa – Fundep (funcionários “Hoje, por exemplo, poucas editoras continuam trabalhando com duplas
e estagiários), Fundação Mendes Pimentel – Fump (estagiários) e Cruz de revisores, com três, quatro versões de provas. O composto que reúne
Vermelha (office boy). qualidade e preciosismo faz com que nosso trabalho seja muito bem ava-
liado no meio editorial”, explica ela.
Uma editora universitária
Sendo uma editora universitária, sabíamos que encontraríamos diferenças Títulos e coleções
desta para as editoras comerciais. Essas diferenças foram esclarecidas por Atualmente, a média de publicação anual da editora é de 60 títulos novos,
Silvana, que ressalta que “essa é uma questão filosófica” e que a grande além de reedições e reimpressões. Na história da editora, já foram pu
diferença “é que a editora universitária tem o compromisso de divulgar o blicados mais ou menos 800 títulos, sendo que alguns já estão esgotados
conhecimento que se produz na universidade e torná-lo mais acessível”. Ela e fora de catálogo. Atualmente, cerca de 400 títulos estão em catálogo,
continua, dizendo: “Normalmente publicamos obras que dificilmente seriam disponíveis para comercialização. A questão da definição dos títulos a serem
publicadas no mercado. Podemos dizer que as editoras universitárias têm lançados pela editora foi outro assunto importante da entrevista com a
o compromisso com a universidade, com a difusão do conhecimento.” vice-diretora. Segundo ela, as responsabilidades são divididas entre os
Segundo ela, para se sustentar financeiramente, uma editora uni- membros do conselho editorial, que compartilham, também, as decisões.
versitária precisa equilibrar as finanças de alguma maneira e, no caso da Coser nos relatou que “uma editora universitária não edita o que o dono dela
Editora UFMG, a escolha das obras a serem publicadas em cada momento quer, até porque ela não tem dono” e que não está nem mesmo atrelada
específico é a grande estratégia para viabilizar a manutenção da editora. aos comandos de uma reitoria que determina que direção seguir. O que
Silvana Coser comenta que, apesar de privilegiar os autores que ela cha- acontece, de acordo com ela, é que todo o trabalho passa pela avaliação
mou de “da casa”, ou seja, os pesquisadores e pensadores da UFMG, a do conselho editorial que vai aprovar ou reprovar determinada publicação.
editora também publica “pensadores nacionais e estrangeiros cujas linhas “No entanto, a gente não pode deixar de aproveitar as oportunidades”,
de reflexão interagem com o que se produz aqui na UFMG”. E ela cita diz ela se referindo ao que chama de feeling do professor Wander Melo
exemplos de autores da área de Letras, como Walter Mignolo, Lawrence Miranda, editor chefe, porque ele, além de ter um conhecimento profundo
Summers, Homi Bhaba, Stuart Hall, entre outros, que foram traduzidos e de sua área de atuação que é a literatura comparada, também está atento
publicados pela editora. Ela dá como exemplo o livro O Local da Cultura,
72 Editoras Mineiras
Não por acaso, ao falar da editora, Zélia usa quase sempre os ver- que tenham uma boa formação na área, que estejam dispostos a escrever
bos em primeira pessoa. A história da Dimensão se confunde com a dela. e que tenham feeling para isso. A maioria deles são acadêmicos, mas já
No início, a Dimensão contava apenas com cinco funcionários. “Eu, como estiveram na sala de aula ou ainda estão. Aí eles enviam o material para
editora, ajudava a compor o material, fazia revisão e tive também muita a análise. Depois de aprovado o estilo e o conhecimento, é que fazemos
ajuda dos meus ex-professores do curso de Letras, que fiz depois da gra- a proposta de trabalho.”
duação em Pedagogia.” Hoje, são mais de 50 pessoas, mas a editora ainda No final, para que este processo dê certo, é essencial que editores
guarda ares de ambiente familiar. O marido de Zélia, Gilberto Gusmão, e autores convivam bem. Era sobre isso que Zélia ia comentar quando nos
divide com ela a presidência e trabalha logo na sala em frente. pegou observando um quadro grande, imponente, fixado de frente para a
Comentamos sobre as dificuldades em agendar a entrevista e Zélia sua mesa. Imediatamente, ela começa a falar emocionada sobre a quem
logo explicou que viemos na “pior” época. O ano letivo ainda demora para se refere a imagem do jovem bonito e sorridente: seu filho único, falecido
ter início, mas o trabalho com os didáticos começa muito antes. “É nesse há pouco mais de um ano, vítima de aneurisma cerebral. “Essa foto foi
período que temos que inscrever no MEC as obras prontas e acabadas, tirada no dia do casamento dele”, conta com os olhos cheios de lágrimas.
no formato boneca.” Zélia não esconde as vantagens em se vender para o Rapidamente, o semblante muda, como que afastando os pensamentos de
governo, e daí a dedicação total (com direito até a contratação de alguns saudade, ela continua: “Mas a convivência é muito boa e os autores são
funcionários temporários). “Quando você faz uma tiragem pequena, de muito acessíveis. Além disso, a Antonieta [Cunha] é uma editora muito
mais ou menos cinco mil exemplares, o preço vai à estratosfera. Além disso, completa. Quando os textos de literatura chegam, ela mesma faz a leitura
você tem que divulgar, esperar o pagamento e ainda assim corre risco de crítica e aprova o texto já sabendo como quer o projeto gráfico e qual vai
algum tombo. Antes, o comércio das escolas particulares era certo, mas ser o ilustrador. De vez em quando ela vem aqui trazendo uma série de
hoje elas estão muito apostiladas. O governo compra muito e o pagamento coisas pra ver se eu aprovo, e é claro que eu aprovo de olhos fechados.
é certo. Uma coleção que não for aprovada pelo MEC nós não editamos. Já A Neuzinha [Neuza Botelho], de didáticos, como é da área de História, às
aconteceu de editarmos. Ficamos com o prejuízo e quebramos o contrato, vezes precisa mais de consultor. Mas ela é muito cuidadosa. Além do leitor
porque se a coleção foi condenada, pra quem que nós vamos vender?” E o crítico, ela escolhe três escolas de lugares diferentes para testar o material.
prejuízo não é pequeno: “Só pra você ter ideia, atualmente os herdeiros dos Mesmo se o autor for Doutor ele terá um leitor crítico e essa recepção é
direitos autorais de escritores como Drummond, Clarice Lispector e Manuel muito tranquila. Raramente acontece de não darem certo, quando isso
Bandeira estão exigindo quantias fabulosas para reproduzir um texto no acontece, aí é óbvio, o autor é quem manda.” Atenciosa, Zélia percebe
livro didático. A Graça Paulino, que foi uma das editoras aqui, sempre me que olhamos para alguns exemplares de livros sobre a mesa, e explica que
disse que, como era muito pobre, quando criança não tinha acesso a livros aqueles livros são da coleção de maior sucesso da editora: Fazer e Aprender,
de literatura e que só aprendeu a gostar de literatura porque podia ler direcionada para crianças de três a seis anos de idade, aborda conteúdos
textos literários nos livros didáticos. Nós temos uma coleção de 5º ao 8º das áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Integração Social
ano que só de direitos autorais pagos já está em 300 mil reais. Ora, esse e Inglês. Aproveitamos para perguntar qual o livro de literatura da editora
é o preço que deveria ficar uma coleção inteira. Então, numa coleção não que alcançou maior vendagem e ela responde rapidamente um “não sei”,
aprovada pelo MEC, esse seria o valor mínimo que teríamos de prejuízo. revelando talvez suas preferências como editora e professora.
Muito dinheiro.” Além dos valores monetários, uma rejeição pelo MEC indica Foi em 1996 que a Dimensão lançou um projeto diferente: a revista
que tempo foi desperdiçado, já que o processo de produção dos didáticos Presença pedagógica. “Na época, a minha intenção era criar um instrumento
é dos mais demorados. “O editor de didáticos primeiro procura professores que fosse ajudar principalmente o professor do ensino fundamental, que é o
em qualquer parte do mundo. Segundo Fernando, “isso foi uma coisa que
mudou muito nos últimos anos, e facilitou a chegada do livro a um público
mais amplo também”.
A C/Arte desperta interesse em Portugal e em outros países de
língua portuguesa: “Estamos até num processo de negociação para con-
tratarmos uma pessoa que cuide da distribuição lá fora, para termos uma
presença maior em algumas livrarias de maior destaque em Portugal”,
conta Fernando.
A dificuldade para esse movimento é a burocracia, pois há o custo
para colocar material fora do país. “O custo dos Correios para a distribuição
Juliane Matarelli
100 Editoras Mineiras Mazza Edições: “Essa história eu não conhecia” 101
Mazza Edições tem autores excelentes e que os governos ainda optam Anexo
por comprar títulos de grandes grupos estrangeiros, como a Santillana,
por exemplo, tirando o dinheiro do país para privilegiar grandes grupos Contatos de editoras
estrangeiros, enquanto somos nós quem pagamos os impostos no Brasil. Autêntica Editora – http://www.autenticaeditora.com.br/
“Assim é esse país!” conclui Mazza. Casa dos Espíritos Editora – www.casadosespiritos.com.br
Mazza diz que não tem medo de citar nomes e que até a data da Click Idéias Editora – [email protected]
entrevista (23/06/2008) não havia recebido nenhuma resposta a sua COOPMED – www.coopmed.com.br
carta, dirigida à Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, na Crisálida – http://www.crisalida.com.br
qual solicita esclarecimentos sobre a compra de vários títulos da Compa- Cristã Fonte Viva – http://www.fonteviva.com.br/
nhia das Letras e Companhia das Letrinhas (os dois selos pertencentes à Edições Natureza – www.edicoesnatureza.com.br
mesma empresa – da qual foram comprados, por esse programa, nove Edições SM – www.edicoessm.com.br
livros), a compra pela enésima vez, de Meu pé de laranja lima, e nenhum Editora A Partilha – www.editoraapartilha.com.br
dos títulos da Mazza Edições, por exemplo. Editora Abril – [email protected], [email protected]
Mazza retoma: Editora Atlas – www.editoraatlas.com.br
Todo mundo sabe o caminho da minha porta quando alguém precisa Editora Balão Vermelho – http://www.editorabalaovermelho.com.br
de palestra sobre negritude. Mas na hora de contemplar a gente, que faz Editora Bertolucci – [email protected]
um trabalho sério... Nada! Ninguém me respondeu nada. Eles ficam espe- Editora Betânia – www.editorabetania.com.br
rando que eu esqueça. Mas acontece que eu não esqueço. E eu não posso Editora Bichinho Gritador – R. Padre Lourival, 200 – 36320-00. Vitoriano
deixar barato. Toda vez que me chamarem pra palestras, eu vou falar, e Veloso – Prados.
perguntar por que não compram meus títulos, meus autores, que são bons. Editora C/Arte – www.comarte.com
E ainda compram Meu pé de laranja lima... não tenho nada contra Meu pé Editora Crescer – http://www.crescer.com.br
de laranja lima, mas por que não comprar nenhum dos meus títulos? Editora Del Rey – http://www.editoradelrey.com.br/
Mazza prossegue justificando a qualidade de suas publicações, me Editora Dimensão – http://www.editoradimensao.com.br/
avisando da importância de entrevistar Ana Lúcia Baptista, para ampliar Editora Duas Luas – http://edicoesduasluas.blogspot.com
o panorama da História da Edição em Minas Gerais. Editora Dubolsinho – www.dubolsinho.com.br
Fica a sugestão: quem sabe para uma próxima publicação! Editora Educacional – [email protected]/[email protected]
Editora FAPI – www.editorafapi.com.br
Entrevista concedida por Maria Mazzarello Rodrigues, fundadora da Mazza Edições, a Juliane Matarelli,
aluna da disciplina Estudos Temáticos de Edição: o Impresso e os Meios Eletrônicos, ministrada pela Editora Fócus – www.portalfocus.com.br
professora Sônia Queiroz, na Faculdade de Letras da UFMG, no ano de 2008. Editora Forum – [email protected]
Editora FTD – www.ftd.com.br
Editora INEDE – www.inede.com.br
Editora Itatiaia – http://www.villarica.com.br/itatiaia/index.htm
Editora Lê – http://www.le.com.br/
Editora Leitura – http://www.editoraleitura.com.br/
Editora Manifesto – www.oficinainforma.com.br
Sônia Queiroz (Org.) foi usada a fonte Verdana, corpo 11. A arte-
final foi impressa a laser e a reprodução foi
feita em fotocópia, em papel polén rustic areia
Estilo FALE 85 g/m2 (miolo) e kraft 200 g/m2 (capa).
Sônia Queiroz (Org.)
O que é editora:
3a edição revista e ampliada
Wolfgang Knapp