Análise Da Influência Do Tipo Seção Transversal No Comportamento de Estacas Isoladas Via Modelagem Numérica

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Análise da Influência do Tipo Seção Transversal no

Comportamento de Estacas Isoladas Via Modelagem Numérica


Douglas Magalhães Albuquerque Bittencourt
Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected]

Thalles Abrão Doehler


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected]

Maurício Martines Sales


Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Brasil, [email protected]

RESUMO: A análise de problemas de fundações em estacas constitui-se em uma tarefa difícil


quando se almeja uma representação mais fiel do comportamento em campo. Este tipo de estudo
pode ser desenvolvido por meio de uma modelagem numérica tridimensional (3-D) empregando-se
o Método dos Elementos Finitos (MEF), o qual permite a consideração de todos os efeitos da
interação solo-estrutura. No entanto, estas análises 3-D usualmente requerem um esforço
computacional substancial, o que pode inviabilizar ou desmotivar a sua aplicação por pesquisadores
e projetistas. Com o intuito de se reduzir o tempo de processamento destes tipos de análises, o
presente trabalho buscou avaliar a influência da aproximação ao se substituir a geometria circular de
uma estaca por quadrados de mesmo perímetro ou de mesma área transversal que as estacas de
seção circular. Para isso, estacas isoladas de atrito e de ponta foram estudadas parametricamente por
meio de modelagens numéricas 3-D em elementos finitos, utilizando-se o programa DIANA. Nestas
análises, compararam-se os valores de recalques no topo das estacas ao se variar algumas
características do problema, como comprimento das estacas, domínio vertical e módulo de
elasticidade do solo. Inicialmente, foi feita a validação da ferramenta numérica comparando-se os
seus resultados com os obtidos em problemas propostos por Lee (1973) e Ottaviani (1975). Depois
de avaliada uma série considerável de casos de estacas isoladas, aplicou-se a aproximação da
geometria em um caso hipotético de um grupo de 16 estacas em solo homogêneo. As análises
mostraram que a aproximação da seção circular das estacas isoladas por um quadrado de mesma
área pode ser feita sem ônus significante ao comportamento do sistema de fundação, uma vez que
os “erros” nos recalques decorrentes desta ação foram muito inferiores do que a magnitude do
deslocamento total. A aplicação em grupos de estacas requer a avaliação de outros parâmetros, e
resultados que possam interferir no comportamento do mesmo quanto a cargas e a recalques.

PALAVRAS-CHAVE: Análise Numérica, Tempo de Processamento, Fundações em Estacas.

1 INTRODUÇÃO ferramenta bastante eficaz para o estudo de


radiers estaqueados.
A análise numérica de grupos de estacas e de Sales, Farias e Cunha (1998) comentam sobre
radiers estaqueados tem sido objeto de estudo a necessidade de análises numéricas em
de várias pesquisas na Escola de Engenharia problemas de fundações em que não se tem uma
Civil da Universidade Federal de Goiás, solução analítica fechada. Nestes casos, pode-
citando-se, por exemplo, a sua participação nos se, por exemplo, recorrer a abordagens não-
trabalhos de Cunha (2003), Lima (2007), empíricas, as quais podem-se enquadrar em
Bittencourt e Lima (2009) e Souza (2010). quatro categorias (POULOS, 2001):
Nestes trabalhos as análises foram realizadas • Métodos simplificados de cálculo;
utilizando-se o Método dos Elementos Finitos • Método dos Elementos de Contorno;
(MEF), o qual também tem se mostrado uma • Análise simplificada por elementos finitos;
• Análise mais rigorosa por elementos finitos.
A análise tridimensional em elementos finitos comparação de valores de recalques no topo das
é uma abordagem mais rigorosa que possibilita mesmas, ao serem solicitados por uma carga
a consideração de vários modelos constitutivos vertical estática. Dois casos principais foram
para os materiais que compõem o sistema de escolhidos para as análises: estacas de atrito e
fundação, podendo simular, por exemplo, estacas de ponta. Para tanto, adotaram-se perfis
comportamentos lineares, não-lineares, de solo que permitissem que as estacas
elásticos, elastoplásticos, anisotropia, trabalhassem principalmente ora por atrito
heterogeneidade, etc. lateral ora por ponta. Para estacas de atrito
A modelagem de estruturas com seção considerou-se um perfil de solo homogêneo que
transversal circular, como as estacas, pudesse propiciar uma resistência crescente
normalmente requer um maior refinamento da com a profundidade e, para estacas de ponta,
malha, resultando em um aumento na um perfil de solo que oferecesse pouca
quantidade de elementos e de nós. Esse resistência ao longo do fuste, mas com
refinamento acarreta um maior tempo de significante resistência na ponta. Para ambos os
processamento da malha, quando comparado tipos geotécnicos de estaca avaliaram-se seções
com uma estrutura em que se utilizam menos transversais com perímetro correspondente ao
nós e elementos. Isto pode ser conseguido perímetro do círculo, a fim de se simular a
adotando-se geometrias sem curvas, mesma área lateral da estaca padrão, e estacas
substituindo-as por sólidos hexaédricos com com mesma área da seção transversal que a de
faces paralelas. seção circular.
O presente trabalho analisa a influência da
substituição de estacas de seção transversal
circular por outras de seção quadrangular em 2 COMPARAÇÕES PRELIMINARES DE
modelagens numéricas tridimensionais com TIPOS DE SEÇÃO DE ESTACAS
elementos finitos. Para isso, utilizou-se o
programa DIANA, utilizando-se o pré e pós- Verifica-se uma disponibilidade crescente de
processador FX+. ferramentas numéricas que utilizam o MEF para
Uma vez que estas análises podem exigir um análise de problemas de engenharia, as quais
esforço computacional substancial, considerou- também podem ser empregadas para estudos de
se a simetria do problema, o que propiciou a fundações em estacas. Embora a utilização
modelagem de apenas um quarto da malha de destes programas possa ser simples, verifica-se
elementos finitos. Souza (2010) comprova a que os resultados obtidos dependem
eficácia deste artifício utilizando o mesmo substancialmente do processo de modelagem.
programa em análises semelhantes com o Nesta etapa preliminar do processo de análise,
mesmo tipo de elemento. alguns cuidados devem ser tomados com
Inicialmente foi realizada a validação do respeito às dimensões dos domínios dos
programa por meio da comparação dos problemas, condições de contorno, tipos de
resultados de recalques no topo de estacas elementos, formato e dimensão da malha de
isoladas, a partir de análises propostas por Lee elementos finitos. Neste âmbito Sales, Farias e
(1973) e Ottaviani (1975). Foi feita, também, a Cunha (1998) estudaram a importância do
análise de convergência das malhas, avaliando- domínio no comportamento de estacas isoladas
se a influência refinamento da mesma nos por meio de análises paramétricas dos fatores
resultados. Optou-se pela utilização do intervenientes neste processo, como a rigidez
elemento finito CTE30 (TNO, 2008) apud relativa estaca-solo e o tamanho relativo da
Souza (2010) por exigir uma menor quantidade estaca (relação entre o seu comprimento e seu
de nós sem o custo excessivo de tempo. Trata- diâmetro).
se de um elemento isoparamétrico de pirâmide A modelagem numérica 3-D de fundações
de três faces e dez nós, com interpolação estaqueadas tende a exigir um esforço
quadrática e integração numérica. computacional muito grande, uma vez que a
A influência da seção transversal das estacas representação das estacas de seção circular pode
no comportamento da fundação se deu pela exigir uma malha muito refinada, com maior
número de nós, na sua proximidade. Ottaviani Uma vez que as ferramentas computacionais
(1975) infere sobre a necessidade deste “esforço de análise nem sempre utilizam as mesmas
extra” e sugere a substituição da geometria formulações matemáticas e procedimentos de
circular pela quadrangular para as análises de cálculo, é aceitável que não se observem
tensões e de deformações. resultados iguais para um mesmo problema em
Neste sentido, Sales (2000) utilizou o programas diferentes. Entretanto, buscam-se
programa ALLFINE, em elementos finitos, para valores similares e uma tendência comum à
estudar qual seção quadrada representaria resposta, ou seja, não pode haver divergência
melhor a estaca de seção circular. A Tabela 1, entre os resultados. Além disso, conforme
de Sales (2000), apresenta uma comparação dos diversos pesquisadores na área afirmam, a
recalques normalizados (Es.D.w/P) de uma acurácia dos programas com respeito ao
estaca circular, obtidos em uma análise 2-D comportamento real em campo está limitada à
axissimétrica, com outros obtidos em análises qualidade dos dados de entrada, como os
3-D, aproximando-se a geometria da estaca por parâmetros geotécnicos de resistência e de
formas diferentes. “D” é o diâmetro ou lado da deformabilidade.
estaca, “w” é o recalque do topo da estaca, “L” A validação do programa DIANA se deu pela
é o comprimento da estaca e “P” a carga comparação de seus resultados com os de
aplicada. Para os casos analisados, a estaca de análises em elementos finitos propostas por Lee
seção quadrada de mesma área apresentou (1973) e por Ottaviani (1975).
resultados mais próximos aos da de seção
circular. Na Tabela 1, B = 0,786D representa 3.1 Caso 1: Estaca isolada (LEE, 1973)
um quadrado de mesmo perímetro do círculo e
B = 0,886D um quadrado de mesma área do Lee (1973) analisou uma estaca isolada pelo
círculo. MEF em um meio elástico-linear, semi-infinito,
com rigidez relativa igual a 1000 (razão entre o
Tabela 1. Comparação do recalque de uma estaca isolada módulo de elasticidade do material da estaca,
com seção circular e com aproximações por outras Ep, e o do solo, Es) e um coeficiente de Poisson
geometrias, H/L = 5, (modificado de SALES, 2000).
para o solo, υs, de 0,4. Sales (2000) efetuou a
Círculo 2-D Quadrado 3-D
L/D
axissimétrico B=0,786D B=0,886D
mesma análise utilizando o programa
3,5 0,225 0,237 0,221 ALLFINE, também em MEF. Na Tabela 2
5 0,186 0,198 0,184 comparam-se os resultados de recalque
10,5 0,121 0,127 0,120 normalizado (Es.D.w/P) obtidos nesses
15 0,098 0,104 0,098 trabalhos e no presente estudo com o DIANA.
19,5 0,085 0,091 0,085
Tabela 2. Comparação do recalque normalizado de uma
Neste trabalho serão expandidas as análises estaca isolada
desenvolvidas por Sales (2000) de tal sorte que L/D
Lee ALLFINE DIANA
se possa contribuir com interpretações (1973) (H/L=10) (H/L=10)
adicionais no tema em estudo. 3,5 0,267 0,237 0,262
5 0,211 0,196 0,214
10,5 0,115 0,126 0,135
15 0,103 0,102 0,109
3 VALIDAÇÃO DA FERRAMENTA
19,5 0,094 0,089 0,094
NUMÉRICA Lee ALLFINE DIANA
L/D
(1973) (H/L=5) (H/L=5)
A representação de uma fundação estaqueada 3,5 0,267 0,225 0,237
por meio de métodos numéricos deve ser 5 0,211 0,186 0,178
inicialmente verificada e calibrada. Esta etapa 10,5 0,115 0,121 0,129
preliminar de projeto é chamada de validação e 15 0,103 0,098 0,105
consiste na comparação de seus resultados com 19,5 0,094 0,085 0,090
os de outros programas mais aprimorados ou
com os provenientes de monitoramento de De maneira geral os resultados obtidos com o
obras reais. DIANA apresentam concordância satisfatória
com os obtidos por Lee (1973) e por Sales υs = 0,45, sendo o solo homogêneo com
(2000), com o ALLFINE. Observa-se maior Es = Ep/K. As análises se deram pela variação
similitude com os valores de Lee (1973) e, do valor de Es, com a manutenção dos demais
principalmente, para um H/L igual a 10, o qual parâmetros, e comparação dos resultados de
se aproxima mais do meio semi-infinito da recalques adimensionais (Ep.D.w/P) – salienta-
análise original. Por fim, as semelhanças se se que se utiliza Ep na normalização ao invés de
intensificam para maiores comprimentos Es, como efetuado anteriormente.
relativos (L/D), ou seja, para estacas longas – Realizou-se a modelagem de três problemas
situação mais usual de projeto. com as seguintes características:
• L = 20 m, H/L = 4;
3.2 Caso 2: Estaca isolada (OTTAVIANI, • L = 20 m, H/L = 1,5;
1975) • L = 40 m, H/L = 1,5;
As Figuras 2 a 4 apresentam a relação entre a
Um dos principais trabalhos de referência para a rigidez relativa e seu respectivo recalque
análise de fundações em estacas com o MEF foi normalizado para cada problema.
proposto por Ottaviani (1975), o qual efetuou
suas análises utilizando o programa UNIVAC UNIVAC 1108 (Ottaviani, 1975)
1108. As respostas do programa DIANA, em
ALLFINE (Sales, 2000)
avaliação, serão comparadas as apresentadas
por esse autor, por Sales (2000) utilizando o FlexPDE (Bittencourt; Lima, 2009)
programa ALLFINE, e pela solução DIANA
implementada por Bittencourt e Lima (2009)
utilizando o solucionador de equações
diferenciais parciais FlexPDE. A Figura 1 175

ilustra as características geométricas do caso, 150


em que “H” representa a extensão do domínio
vertical, o qual representa a profundidade a 125
partir da qual os deslocamentos são
Ep*w*D/P .

100
desconsideráveis. Com relação ao domínio
horizontal, respeitou-se uma distância de três 75
vezes L, tomado a partir do seu eixo, para cada
50
lado.
25

0
0 500 1000 1500 2000
Ep/Es

Figura 2. Comparação de respostas da estaca isolada com


L = 20 m e H/L = 4.

Os gráficos apresentados mostram uma


concordância muito expressiva entre os
resultados obtidos pelas diferentes ferramentas
numéricas. Com L = 2 m e H/L = 4, o DIANA
apresentou resultados praticamente coincidentes
com os de Ottaviani (1975) e os de Bittencourt
e Lima (2009). Já com L = 20 m e H/L = 1,5, o
DIANA mostrou-se menos conservador que o
Figura 1. Estaca isolada em visualização em 3-D.
UNIVAC 1108, mas com boa aproximação com
a solução obtida com o FlexPDE e com o
Para este caso, foram propostos Ep = 20 GPa,
ALLFINE. Por fim, com L = 40 m e H/L = 1,5,
υc = 0,25 (coeficiente de Poisson das estacas) e
o programa em análise apresentou-se mais ponta em solo heterogêneo (com solo mais
conservador que os demais, não representando, resistente a partir da ponta da estaca).
porém, tendência discrepante. Comum a ambos tem-se os seguintes dados:
• Estacas de concreto com Ep = 20 GPa e
150 υc = 0,25 e solo com υs = 0,30;
• Estacas de seção circular com D = 0,5 m
125 (estaca padrão);
• Estacas de mesma “área”: seção quadrada,
100 com mesma área transversal que a padrão (lado
Ep*w*D/P .

igual a 0,443 m);


• Estacas de mesmo “perímetro”: seção
75

50
quadrada, com mesma área lateral que a padrão
(lado igual a 0,393 m);
25 • Carga vertical de 1000 kN, aplicada sob a
forma de pressão uniformemente distribuída no
0 topo da estaca.
0 500 1000 1500 2000 Em todos os casos adotou-se um domínio
Ep/Es horizontal de três vezes o comprimento da
Figura 3. Comparação de respostas da estaca isolada com estaca, tomado a partir do eixo desta.
L = 20 m e H/L = 1,5. Trabalhou-se com três comprimentos de estaca:
5, 10 e 20 m, o que corresponde a valores de
100
L/D de 10, 20 e 40, respectivamente. Por fim,
para cada caso considerou-se duas
possibilidades para a extensão (H/L) do
75 domínio vertical: igual a 5 ou igual a 10.
Uma vez que a tendência dos resultados
Ep*w*D/P .

observados foi idêntica para os casos de solo


50 homogêneo e de solo heterogêneo, ambos serão
comentados em conjunto.
25
4.1 Resultados

0
No primeiro caso, para as estacas de atrito em
0 500 1000 1500 2000 solo homogêneo, adotou-se dois valores de Es
Ep/Es nas análises: 15 MPa e 50 MPa.
A Figura 5 apresenta uma comparação entre
Figura 4. Comparação de respostas da estaca isolada com
L = 40 m e H/L = 1,5.
os recalques no topo da estaca para cada caso,
sendo que a estaca padrão é simbolizada pela
Portanto, como se pôde verificar, o DIANA legenda “Círculo”, a de mesma área lateral
foi validado com eficácia para a modelagem como “Perímetro” e a de mesma área
numérica de fundações em estacas isoladas. transversal como “Área”. Esta nomenclatura foi
seguida em todas as demais análises
apresentadas a seguir.
4 ANÁLISES Essa ilustração permite observar que a
substituição da estaca de seção circular por uma
O estudo da influência da substituição do tipo de quadrada, seja esta com o mesmo perímetro
de geometria da seção da estaca nos recalques ou com a mesma área transversal, tem-se
se deu pela análise linear e elástica de dois valores de recalques semelhantes,
conjuntos de casos. O primeiro foi escolhido principalmente no caso de um solo com maior
com o intuito de representar estacas de atrito em resistência (Es = 50 MPa).
solo homogêneo e o segundo o de estacas de Na Figura 6 é apresentada a comparação de
20 Estacas de atrito - Es = 15 MPa
Círculo
18 Perímetro
16 Área
H/L = 5 H/L = 10
14
.
)
m12 Estacas de atrito - Es = 50 MPa
(m
e 10
u
q
l 8
ac H/L = 5 H/L = 10
e
R6

4
2
0
10 20 40 10 20 40 L/D 10 20 40 10 20 40

Figura 5. Comparação de respostas da estaca de atrito em solo homogêneo.

resultados do caso de estacas de ponta em sendo, por exemplo, o erro máximo


solo heterogêneo. Neste caso, trabalhou-se observado de 0,09 mm.
com uma relação Eb/Es igual 10. “Eb” Ainda com relação às estacas de ponta, a
representa o módulo do solo a partir da base presença de um solo mais resistente ao longo
da estaca e “Es” o módulo da camada de solo do fuste, propiciou que as estacas de mesmo
ao longo do fuste. No primeiro caso adotou-se perímetro apresentassem recalques mais
um Es igual a 15 MPa e no segundo caso Es próximos ao da estaca padrão, quando
igual a 50 MPa. comparado com o caso de um solo menos
resistente. Além disso, estacas longas
4.2 Comentários (maiores valores de L/D) apresentaram,
também, recalques mais semelhantes ao da
Com relação ao caso com Es = 15MPa, estaca padrão. Assim, pode-se inferir que no
nota-se que as de mesmo perímetro caso de haver uma maior quantidade de carga
apresentaram maiores recalques, de 2 a 11 %, possivelmente resistida por atrito ao longo do
em média 6 %, o que corresponde a um erro fuste, possibilitam-se comportamentos
máximo da ordem de 0,65 mm. Já as de idênticos entre estacas de diferentes seções,
mesma área apresentaram recalques muito como as analisadas neste trabalho.
próximos, pouco inferiores à estacas padrão, De maneira geral, a influência da extensão
de 0,99 % a 1,69 %, em média 1,25 %, o que do domínio vertical é insignificante nas
corresponde a um erro máximo da ordem de respostas dos casos analisados.
0,12 mm. No segundo caso, com um maior
valor de Es e, consequentemente, uma maior 4.3 Aplicação em um grupo de estacas
parcela da carga resistida por atrito lateral no
fuste, observou-se a mesma tendência com Em casos pequenos, como os de estacas
relação ao caso anterior: recalques superiores isoladas, seções quadrangulares têm,
ao da estaca padrão para estacas de mesmo geralmente, pouca influência no tempo de
perímetro e recalques inferiores ao da padrão processamento do problema, uma vez que este
para as de mesma área. O primeiro tipo tipo de caso não costuma exigir grandes
demonstrou maiores deslocamentos da ordem quantidades de elementos e de nós. No
de 3 a 13 %, em média 9,5 %, o que entanto, em grupos de estacas, as análises
corresponde a um erro máximo da ordem de podem levar muitas horas, ou até mesmo dias.
0,38 mm. Os de mesma área apresentaram Desta maneira, as interpretações deste
resultados idênticos ao da estaca padrão, trabalho poderiam ser aplicadas a grupos de
8 Estacas de ponta - Es = 15 M Pa
Círculo
7 H/L = 5 H/L = 10 Perímetro
Área
6
Recalque (mm) .

5 Estacas de ponta - Es = 50 M Pa

4 H/L = 5 H/L = 10

0
10 20 40 10 20 40 10 20 40 10 20 40
L/D

Figura 6. Comparação de respostas da estaca de ponta em solo heterogêneo.

estacas a fim de se reduzir o tempo das análises Adotou-se uma camada única de solo com
sem o comprometimento dos resultados. Es = 35 MPa, υs = 0,3, domínio vertical de
Apresenta-se a seguir um exemplo de um grupo 100 m e horizontal (a partir do centro do bloco)
com 16 estacas, em que se avaliou a influência de 60 m. Utilizou-se um bloco com 1,5 m de
nos recalques ao se substituir suas estacas de altura e com as mesmas propriedades que as
seção circular por outras quadradas de mesmo estacas. A carga vertical total aplicada foi de
perímetro ou com mesma área transversal. 16000 kN, uniformemente distribuída em um
A Figura 7 apresenta a geometria em planta pilar fictício quadrado de 0,50 m de lado.
do bloco de 16 estacas com diâmetro “D” igual Neste problema foram comparados os
a 0,50 m, Ep = 20 GPa e υc = 0,2. Assim como recalques máximos e os nos topos das estacas
nas análises de estacas isoladas, utilizaram-se “A”, “B” e “C” (Figura 7). Apresentam-se na
estacas quadradas de mesma área lateral Tabela 3 os recalques obtidos em cada análise.
(denominadas “Perímetro”, lado B = 0,786D) e
de mesma área transversal (denominadas Tabela 3. Recalques máximos no grupo e nas estacas
“Área” lado B = 0,886D). “A”, “B” e “C” do grupo de 16 estacas. Unidade: mm.
Caso Circular Área Perímetro
Rec. Máximo 25,28 25,18 25,87
Estaca A 23,00 22,95 23,61
Estaca B 22,72 22,68 23,34
Estaca C 23,00 22,95 23,61

Observa-se na Tabela 3 que a aproximação da


seção original da estaca por um quadrado de
mesma área ou de mesmo perímetro conduz a
resultados satisfatórios em termos de recalque.
Novamente, a escolha por um quadrado de
mesma área que a seção transversal conduziu a
recalques mais próximos aos da estaca padrão.
A aproximação da geometria estudada em
problemas de grupos de estacas requer outras
análises para que se possa melhor avaliar a
Figura 7. Vista em planta do bloco de 16 estacas. eficácia desta simplificação. Para tanto, em
Unidades em metro. outros artigos pretende-se efetuar uma
comparação de comportamento de grupos não
apenas com respeito ao recalque, mas também O primeiro autor agradece a CAPES pela
em termos da quantidade de carga suportada por bolsa de estudos para o desenvolvimento do
cada estaca, a qual depende significativamente mestrado.
da rigidez e da inércia da mesma e do bloco.

REFERÊNCIAS
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
BITTENCOURT, D.M.A.; LIMA, B.E.A. Análise dos
O presente trabalho apresentou um estudo fatores de interação em radier estaqueado:
comparação entre duas abordagens numéricas, 2009.
paramétrico realizado para se avaliar a 136 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação
influência na substituição da seção circular de em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia Civil,
estacas por outras mais simples, no caso Universidade Federal de Goiás, 2009.
CUNHA, F. R. L. da. Análise numérica da interação
quadradas de mesmo perímetro ou quadradas de solo-estrutura em fundações estaqueadas. 2003.
mesma área transversal, com o intuito de se 125 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
reduzir o tempo de processamento em análises Escola de Engenharia Civil, Universidade Federal de
numéricas 3-D que utilizam o Método dos Goiás, Goiânia, 2003.
LIMA, B. S. Otimização de fundações estaqueadas.
Elementos Finitos. 2007. 118 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Depois de realizada a validação da Civil), Publicação G.DM-151A/07, Departamento de
ferramenta numérica do programa DIANA, Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de
análises de estacas isoladas em estacas de atrito Brasília, Brasília, 2007.
SALES, M. M. Análise do comportamento de sapatas
e de ponta e a aplicação em um grupo de 16 estaqueadas. 2000. 229 f. Tese de Doutorado,
estacas mostraram que a substituição não afeta Publicação G.TD/002A, Departamento de Engenharia
significativamente os recalques da fundação. Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília.
Ambos os tipos de estacas quadradas foram 2000.
SALES, M. M.; FARIAS, M. M.; CUNHA, R. P. da.
eficazes na aproximação, porém as de mesma Importância do domínio na análise numérica do
área transversal apresentaram resultados recalque de estacas isoladas. In: 11º CONGRESSO
bastante próximos ao caso padrão de estaca com BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E
seção circular. Assim, até que outros estudos ENGENHARIA GEOTÉCNICA, 1998, Brasília.
Anais... Brasília: ABMS, 1998, v. 1, p. 237-252.
mais abrangentes não sejam desenvolvidos, SOUZA, R. da. Análise dos fatores de interação entre
pode-se empregar esta simplificação em grupos, estacas em radiers estaqueados: comparação entre
como feito por Bittencourt e Lima (2009) e duas ferramentas numéricas. 2010, 205 f. Dissertação
Souza (2010). Nestes casos, conseguiu-se de Mestrado. Publicação D0019G10, Escola de
Engenharia Civil, Universidade Federal de Goiás,
efetuar as modelagens com tempos de Goiânia. 2010.
processamento razoáveis. LEE, I. K. Application of Finite Element Method in Geot.
Por fim, recomenda-se a realização de outras Eng. – Part I – Linear Analysis. Chapter 17 in Finite
análises do tipo de aproximação estudado em Element Techniques – A Short Course of
Fundamentals and Application. Univ. of New South
grupos de estacas e em radiers estaqueados para Wales. Australia. 1973.
que se possa avaliar a influência desta nos OTTAVIANI, M. Three-dimensional finite element
mecanismos de interação radier-solo-estacas e, analysis of vertically loaded pile groups.
consequentemente, no comportamento global Géotechnique, London, v. 25, n. 2, p. 159-174, 1975.
POULOS, H. G. Methods of analysis of piled raft
do sistema de fundação. foundations. A Report Prepared on Behalf of
Technical Committee TC18 on Piled Foundations. Ir
W.F. van Impe (chairman). International Society of
AGRADECIMENTOS Soil Mechanics and Geotechnical Engineering. 2001.
46 p.

Os autores agradecem ao Prof. Dr. Ademir


Aparecido do Prado, da Universidade Federal
de Goiás, pela colaboração no aprendizado da
ferramenta numérica.

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