2011 Estudos Oceanográficos

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 465

PÁGINA EM BRANCO

PÁGINA EM BRANCO

PÁGINA EM BRANCO
ESTUDOS
OCEANOGRÁFICOS:
do instrumental ao prático

PROJETO AMAZÔNIA AZUL:


A EXPERIÊNCIA EMBARCADA
CONVÊNIO 045/2006
PROCESSO 00350.002010/2006-11

Ministério da Ministério da
Pesca e Aquicultura Educação
FURG
Foto: Projeto Amazônia Azul
DANILO CALAZANS
ORGANIZADOR

ESTUDOS
OCEANOGRÁFICOS:
do instrumental ao prático

COLABORADORES

André Colling Lauro S. P. Madureira


Antônio C. Duvoisin Luana Portz
Antonio B. Greig Luiz Felipe Dumont
Carlos Bemvenuti Luiz B. Laurino
Denis Dolci Marcos Paulo Abe
Dimas Gianuca Mariele Paiva
Eduardo R. Secchi Natalia Pereira
Erik Muxagata Osmar Möller Jr.
Gilberto Griep Pedro F. Fruet
Jorge P. Castello Raul de Bem Jr.
José H. Muelbert Rogério P. Manzolli
Juliana Di Tullio Santiago Montealegre-Quijano

ILUSTRAÇÕES
Kely Martinato

EDITORA TEXTOS
Pelotas, 2011
© Copyright Danilo Calazans, 2011

E DITORA T EXTOS
www.editoratextos.com.br
E-mail: [email protected]
Fone: (53) 9143-8460
Pelotas, RS

Coordenação Editorial
Etiene Villela Marroni

Conselho Editorial
Marcos Villela Pereira, PUC-RS (Presidente)

Aloysio Pereira da Silva (Faculdade do Povo) • Ana Lucia Eduardo Farah Valente (UNB) • Ana Maria Faccioli Camargo
(UNICAMP) • Beatriz Ebling Guimarães (UFPEL) • Cleber Gibbon Ratto (UNILASALLE) • Fabiane Villela Marroni (UCPEL) •
Fernando Gonzales Placer (Universitat de Barcelona, Espanha) • Humberto Amaral Duarte (ULBRA) • Jeroen Klink
(UFABC) • Lucimar Bello Pereira Frange (UFU) • Marcelo Fernandes Capilheira (UFPEL) • Maria Manuela Reis Amorim
(Universidade dos Açores, Portugal) • Marina De Caro (UBA, Argentina) • Milton L. Asmus (FURG) • Mónica de La Fare
(UNLP, Argentina) • Paulo Roberto Armanini Tagliani (FURG) • Rita Ribes Pereira (UERJ).

Projeto Gráfico e Diagramação: TEXTOS Projetos Editoriais


Capa: Danilo Calazans e Kely Martinato
Ilustrações: Kely Martinato
Revisão: Claudio Gabiatti e Ana Cláudia Pereira de Almeida
Revisão Bibliográfica: Clarisse Pilla de Azevedo e Souza (CRB 10/923)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

E828
Estudos Oceanográficos: do instrumental ao prático / organizador Danilo Calazans;
colaboradores Andre Colling...[et al]. - Pelotas: Ed. Textos, 2011.
464 p.; il.; color; 17,2 x 25 cm.

ISBN: 978-85-99333-06-8

1. Ciências do Mar. 2. Oceanografia. 3. Equipamentos. 4. Instrumentos.


5. Metodologia. 6. Construção de Equipamentos. I. Título. II. Calazans, Danilo.

CDU 551.46

Bibliotecária Responsável:
Clarisse Pilla de Azevedo e Souza
CRB 10/923

Impresso no Brasil / Printed in Brazil


Este livro é dedicado a todos
que trabalharam, trabalham
e trabalharão em Ciências do Mar.
Foto: Anne Massami Nishizaki Rufino
APRESENTAÇÃO

Um cruzeiro de pesquisa oceanográfica caracteriza-se por ser multi e interdisciplinar,


abrangendo levantamentos de dados nos quatro ramos da Oceanografia: a Biológica,
a Física, a Química e a Geológica, em que são utilizados aparatos de coletas desde
aqueles considerados mais simples – como um termômetro – até os mais sofisticados
– como CTD e ecossonda para prospecção pesqueira e geológica. Assim, tendo em
mente essas características e possibilidades, este livro foi elaborado para dar a educa-
dores, pesquisadores, técnicos e estudantes das áreas ligadas aos estudos em Ciências do
Mar uma visão dos instrumentos e equipamentos, suas características, funcionamento
e os cuidados em sua manutenção antes, durante e depois de embarques a bordo de
um navio de pesquisa oceanográfica.

Danilo Calazans
Foto: Lauro Madureira
O ENSINO DE CIÊNCIAS DO MAR NO BRASIL
Luiz Carlos Krug
Instituto de Oceanografia – FURG
Coordenador do Curso de Oceanologia

A expressão Ciências do Mar, de uso corrente junto à comunidade acadêmica e aos


setores governamentais, não dispunha até recentemente de uma definição que fosse
aceita de maneira majoritária pelo conjunto de interessados em temas relacionados ao
mar. A Oficina de Trabalho realizada em outubro de 2006 em Florianópolis, com a
finalidade de elaborar a Proposta Nacional de Trabalho para o período 2007-2010
do Comitê Executivo para a Consolidação e Ampliação dos Grupos de Pesquisa e
Pós-Graduação em Ciências do Mar – PPG-Mar (PNT, 2007-2010), tratou de suprir
essa lacuna, ficando acordado entre os participantes que Ciências do Mar seria entendida
como “a área do saber que se dedica à produção e disseminação de
conhecimentos sobre os componentes, processos e recursos do ambiente
marinho e zonas de transição”. Houve consenso de que se tratava de uma
definição preliminar, sem intenção de esgotar o debate, que servia essencialmente de
ponto de partida para a identificação dos cursos de graduação e dos programas de
pós-graduação que atuariam nesse domínio do conhecimento no Brasil.
Foto: Projeto Amazônia Azul
Em face desse entendimento, e tomando como referência a base de dados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP1 , foi
elaborado o primeiro diagnóstico sobre o estado da arte do ensino de graduação em
Ciências do Mar no Brasil2, o que possibilitou identificar seis modalidades (Biologia
Marinha; Ciências Aquáticas3; Engenharia de Aquicultura; Engenharia de Pesca; Geofísica
Marinha; e Oceanografia), que tinham em comum o objetivo central de formar pro-
fissionais com um perfil direcionado ao conhecimento dos componentes, processos e
recursos do ambiente marinho e zonas de transição.
A criação de cursos de Biologia Marinha foi motivada pela carência de conheci-
mentos sobre os organismos vivos presentes no ambiente marinho, o que despertou
as instituições de ensino superior para a necessidade de investir na formação de
profissionais com capacitação técnico-científica para suprir essa lacuna. A Universidade
Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (Rio de Janeiro/RJ, 1968)4 foi precursora da
modalidade no Brasil. Somente nos anos 1980, por iniciativa das Faculdades
Integradas Maria Thereza – FAMATH (Niterói/RJ, 1982) e da Universidade Santa
Cecília – UNISANTA (Santos/SP, 1987) foram criados novos cursos nesse domínio
do conhecimento.
1
Disponível em: <http://www.inep.gov.br/>
2
O diagnóstico é periodicamente atualizado e está disponível no portal eletrônico do PPG-Mar. Dispo-
nível em: <http://www.cienciasdomarbrasil.furg.br/cdmb>
3
A modalidade Ciências Aquáticas, identificada em 2006, deixou de existir em 2010, uma vez que o
único curso em funcionamento trocou sua denominação para Oceanografia.
4
Neste caso, assim como em todos os demais citados neste texto, a referência é ao ano de ingresso da
primeira turma, não a data de criação formal do curso.

O E NSINO DE C IÊNCIAS DO M AR NO B RASIL 9


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A entrada em vigor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB
(Lei N° 9.394, de 20.12.1996) garantiu autonomia às instituições reconhecidas como
universidades e centros universitários para criar cursos de graduação, desencadeando um
segundo ciclo de abertura de cursos de Biologia Marinha no Brasil. Favorecidas por essa
mudança na legislação, as Universidades Federal Fluminense – UFF (Niterói/RJ, 2000),
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP (Santos/SP, 2002) e a da Região de
Joinville – UNIVILLE (Joinville/SC, 2002) iniciaram seus cursos na modalidade.
O Programa Expandir, lançado em 2005 pelo Governo Federal com o objetivo
de ampliar o acesso da população ao ensino superior, especialmente do interior do
país, propiciou a criação de um curso de Ciências Biológicas, com ênfases em
Biologia Marinha e em Gestão Ambiental Marinha, por ação compartilhada das
Universidades Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS e da do Estado do Rio
Grande do Sul – UERGS (Tramandaí/RS, 2006).
Os cursos de graduação em Engenharia de Pesca surgiram no início dos anos
1970, coincidindo com a intensificação da exploração de recursos do mar e com a
expansão da indústria pesqueira, processos que tiveram sua raiz na criação da Superin-
tendência do Desenvolvimento da Pesca – SUDEPE (Lei Delegada N° 10, de
11.10.1962) e na entrada em vigor de incentivos fiscais à pesca (Decreto-Lei n° 221,
de 28.02.1967). Naquele momento, as autoridades governamentais estavam convictas
de que o mar era um manancial inesgotável de recursos, pesqueiros em particular,
razão pela qual era preciso acelerar a extração dessas riquezas para atender às deman-
das da sociedade. A carência de profissionais com formação técnico-científica para o
desenvolvimento e aplicação de métodos de localização, captura, beneficiamento e
conservação de organismos aquáticos despertou a atenção de instituições de ensino
superior, que trataram de estruturar uma modalidade de formação capaz de suprir
essa demanda. Nasciam os cursos de Engenharia de Pesca, que tiveram como pionei-
ros os das Universidades Federais Rural de Pernambuco – UFRPE (Recife/PE, 1971)
e do Ceará – UFC (Fortaleza/CE, 1972). Somente no final da década de 1980,
quando a indústria pesqueira já enfrentava os primeiros reflexos da sobreexploração
dos estoques marinhos tradicionais, foi criado um terceiro curso da modalidade, agora
na Universidade Federal do Amazonas – UFAM (Manaus/AM, 1989). No entanto,
ao contrário dos anteriores, este foi estruturado e direcionado para a exploração de
recursos aquáticos continentais.
O quadro desalentador que havia se apossado do setor pesqueiro, especialmente
pelo declínio das capturas e pela extinção da SUDEPE, em 1990, não foi suficiente
para evitar um novo ciclo de criação de cursos de Engenharia de Pesca, desencadeado, tal
como ocorreu com a modalidade de Biologia Marinha, pela Lei N° 9.394/96 (LDB).
Assim, foram iniciados cursos nas Universidades Estadual do Oeste do Paraná –
UNIOESTE (Toledo/PR, 1997), do Estado da Bahia – UNEB (Paulo Afonso/BA,
1999) e Federal Rural do Amazonas – UFRA (Belém/PA, 2000). Na raiz desses novos

10 L UIZ C ARLOS K RUG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

cursos estava o crescente desenvolvimento da aquicultura e da exploração de recursos


aquáticos continentais no país.
A Medida Provisória N° 103, de 01.01.2003 (depois, Lei N° 10.683, de 28.05.2003),
que criou a Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca da Presidência da República –
SEAP/PR, origem do Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA (Lei N° 11.958, de
26.06.2009), trouxe alento ao setor pesqueiro, que permanecia sob o impacto negativo da
extinção da SUDEPE. Destinado a assessorar o Presidente da República na formulação
de políticas e diretrizes para o fomento da produção pesqueira e aquícola, o novo
órgão serviu de estímulo a grupos de diferentes instituições de ensino, especialmente
das regiões Norte e Nordeste, que tinham potencial para criar cursos de Engenharia
de Pesca. As condições financeiras e de pessoal para transformar em realidade esse
potencial foram propiciadas pelo Programa Expandir, já citado anteriormente. Assim,
nada menos do que nove cursos da modalidade tiveram início no curto período
compreendido entre 2005 e 2007, a saber: em 2005, nas Universidades Federais do
Recôncavo da Bahia – UFRB (Cruz das Almas/BA) e do Pará – UFPA (Bragança/
PA); em 2006, nas Universidades Federais Rural do Semi-Árido – UFERSA (Mossoró/
RN), do Piauí – UFPI (Parnaíba/PI), Rural de Pernambuco – UFRPE (Serra Talhada/
PE) e na Universidade do Estado do Maranhão – UEMA (São Luis/MA); e, em 2007,
nas Universidades Federais de Alagoas – UFAL (Penedo/AL), de Sergipe – UFS (São
Cristovão/SE) e na Universidade do Estado do Amapá – UEAP (Macapá/AP).
O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (REUNI), proposto pelo Ministério da Educação – MEC, com o objetivo
de criar condições para a ampliação do acesso e permanência de alunos de graduação
nas universidades federais, não teve grande repercussão na Engenharia de Pesca. Como
a maior parte das instituições com potencial para criar cursos da modalidade já tinha
se beneficiado do Programa Expandir, somente a Universidade Federal de Rondônia
– UNIR (Cacoal/RO, 2009) aproveitou estes novos incentivos. Recentemente, à margem
do contexto do REUNI, a Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC
(Laguna/SC, 2010) iniciou seu curso de Engenharia de Pesca.
A criação de cursos de graduação foi decisiva para o avanço da Oceanografia no
Brasil. Sem uma formação profissional específica, seria pouco provável que a ciência
viesse a ser tema de interesse fora do eixo de instituições que já se dedicavam à
pesquisa neste domínio do conhecimento. A Universidade Federal do Rio Grande –
FURG, com a criação do curso de Oceanologia (Rio Grande/RS, 1971), único no
país a adotar essa terminologia, foi pioneira na modalidade. Nesse período inicial, de
predominância do contexto histórico que resultou na implantação dos primeiros cursos
de Engenharia de Pesca, a criação de novos cursos foi lenta, com o surgimento tão
somente dos cursos de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro –
UERJ (Rio de Janeiro/RJ, 1977) e da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI
(Itajaí/SC, 1992).

O E NSINO DE C IÊNCIAS DO M AR NO B RASIL 11


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O segundo ciclo de criação de cursos de Oceanografia, da mesma forma que em
outras áreas, foi desencadeado pela aprovação da Lei N° 9.394/96 (LDB). Na déca-
da de 1990, quando as questões ambientais ganharam mais espaço junto à sociedade,
para o que muito contribuiu a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente
e o Desenvolvimento – CNUMAD (ECO-Rio-92), foi natural o interesse pela cria-
ção de cursos focados na preservação e na exploração sustentável de recursos. Assim,
surgiram os cursos de Oceanografia do Centro Universitário Monte Serrat –
UNIMONTE (Santos/SP, 1998) e das Universidades Federais do Espírito Santo –
UFES (Vitória/ES, 2000), do Pará – UFPA (Belém/PA, 2000), da Bahia – UFBA
(Salvador/BA, 2004) e do Paraná – UFPR (Pontal do Sul/PR, 2004), além daqueles
da Universidade de São Paulo – USP (São Paulo/SP, 2002) e da Faculdade Metropo-
litana de Camaçari (Camaçari/BA, 2006).
O terceiro ciclo foi desencadeado pelo Programa REUNI, já referido anterior-
mente. Aproveitando as condições favoráveis, instituições que trabalhavam com gru-
pos de pesquisa ou que dispunham de pós-graduação na área de Ciências do Mar
propuseram em seus planos de expansão a criação de cursos de Oceanografia. Assim,
em 2008, surgiram cursos nas Universidades Federais de Santa Catarina – UFSC
(Florianópolis/SC) e do Ceará – UFC (Fortaleza/CE) e, em 2009, na Universidade
Federal de Pernambuco – UFPE (Recife/PE). Os planos das Universidades Federais
de Sergipe – UFS (São Cristóvão/SE) e de São Paulo – UNIFESP (São Paulo/SP)
também preveem a implantação de cursos da modalidade.
O curso de Geofísica Marinha da Universidade Federal Fluminense – UFF (Niterói/
ES, 2005) é o único da modalidade com enfoque marinho, muito embora existam
outros cursos de graduação em Geofísica, e se destina à formação de profissionais
para atuarem especialmente junto à indústria do petróleo e gás. Da mesma forma, a
Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
(Florianópolis/SC, 1999) é a única da modalidade, formando recursos humanos para
atuarem no cultivo de organismos aquáticos.
Até o momento, estão em funcionamento 39 cursos de graduação da área de
Ciências do Mar, sendo 17 de Engenharia de Pesca, 13 de Oceanografia, 7 de
Biologia Marinha, 1 de Engenharia de Aquicultura e 1 de Geofísica Marinha. Dos
17 estados costeiros, somente a Paraíba não possui graduação em Ciências do
Mar. Rondônia e Amazonas, embora distantes do mar, possuem cursos de
Engenharia de Pesca, o que se justifica pela vasta bacia hidrográfica neles presente.
O número de vagas para o ingresso de estudantes vem crescendo nos últimos
anos, chegando a 2.220 em 2010. Por modalidade, a maior quantidade foi oferecida
pelos cursos de Engenharia de Pesca (1.052), seguido da Oceanografia (560) e da
Biologia Marinha (498). Engenharia de Aquicultura (80) e Geofísica Marinha (30)
ofertaram em 2010 as menores quantidades de vagas entre as modalidades de graduação
em Ciências do Mar.

12 L UIZ C ARLOS K RUG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A adoção de uma definição para a expressão Ciências do Mar durante a Oficina


de Trabalho do PPG-Mar realizada em 2006, em Florianópolis, da mesma forma que
para a graduação, foi o ponto de partida para a identificação dos programas de pós-
graduação que atuariam neste domínio do conhecimento no Brasil. Para tanto, foi
tomada como referência a base de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior – CAPES e analisados os programas recomendados no
período 1998-20095.
A CAPES não reconhece as Ciências do Mar como área de conhecimento, de
forma que na identificação dos programas de pós-graduação que se enquadrariam na
definição de Ciências do Mar adotada pelo PPG-Mar foram considerados os temas
dos projetos desenvolvidos e as linhas de pesquisa de cada um desses programas,
assim como os temas das dissertações e teses defendidas. Somente aqueles cujas linhas
de pesquisa ou a produção (dissertações e teses) se enquadravam majoritariamente
(mais de 50% do total) na definição de Ciências do Mar foram considerados como
pertencentes a essa área de conhecimento. Com base nestes critérios, foram identifica-
dos 29 programas de pós-graduação que pertencem às Ciências do Mar, incluídos
pela CAPES nas grandes áreas de Ciências Exatas e da Terra (14), Ciências Agrárias
(6), Ciências Biológicas (7), Engenharias (1) e Multidisciplinar (1).
Os primeiros programas de pós-graduação identificados como pertencentes à
área de Ciências do Mar foram criados na década de 1970, como consequência natural da
evolução do trabalho de instituições que já tinham tradição de pesquisa nesse domínio do
conhecimento. Assim, a Universidade de São Paulo – USP criou os programas de
Oceanografia Física (São Paulo/SP, 1972) e de Oceanografia Biológica (São Paulo/SP,
1973), enquanto a Universidade Federal do Rio Grande – FURG deu início ao de
Oceanografia Biológica (Rio Grande/RS, 1979). Nessa mesma década, foi criado pela
Universidade Federal do Paraná – UFPR o programa de Zoologia (Curitiba/PR, 1975) e
pela Federal da Bahia o de Geologia (Salvador/BA, 1976). Estes dois últimos, embora
à primeira vista pareçam não estar relacionados às Ciências do Mar, têm produção
majoritária em temas referentes aos ambientes marinho e costeiro, o que os insere,
face aos critérios de enquadramento adotados, neste domínio do conhecimento.
Na década de 1980, o surgimento de programas identificados como pertencentes
à área de Ciências do Mar foi pequeno, restringindo-se às iniciativas das Universidades
Federais de Pernambuco – UFPE, que criou o de Oceanografia (Recife/PE, 1982),
de Santa Catarina – UFSC, com o de Aquicultura (Florianópolis/SC, 1988) e da
Paraíba – UFPB, com o de Ciências Biológicas – Zoologia (João Pessoa, PB, 1980).
Este último, embora não claramente vinculado às Ciências do Mar, apresenta uma
produção majoritária em temas relacionados com os ambientes marinho e costeiro, o
que o insere neste domínio.

5
Disponível em: <http://www.capes.gov.br/cursos-recomendados>

O E NSINO DE C IÊNCIAS DO M AR NO B RASIL 13


O crescimento na quantidade de programas de pós-graduação em Ciências do
Mar tomou força nos anos 1990, período em que iniciaram os programas de Geolo-
gia e Geofísica Marinha (1991) e de Biologia Marinha (1996) da Universidade Federal
Fluminense – UFF (Niterói/RJ), de Engenharia de Pesca da Federal do Ceará – UFC
(Fortaleza/CE, 1992), de Oceanografia Física, Química e Geológica da Federal do
Rio Grande – FURG (Rio Grande/RS, 1997), de Oceanografia Química e Geológica
da Universidade de São Paulo – USP (São Paulo/SP, 1998) e, ainda, de Biologia
Ambiental da Federal do Pará – UFPA (Belém/PA, 1999). Nessa década também
foram iniciados os programas de Ecologia da Federal do Rio Grande do Norte
(Natal/RN, 1995) e de Engenharia Oceânica da Federal do Rio Grande – FURG (Rio
Grande/RS, 1995), ambos com produção majoritária em temas relacionados aos
ambientes marinho e costeiro, embora sem vinculação nítida com as Ciências do Mar.
Na última década houve forte expansão da pós-graduação em todas as áreas do
conhecimento, como resultado da elevação dos investimentos em ciência e novas tecnologias.
O crescente interesse do governo e de empresas privadas em conhecer e explorar os
recursos naturais presentes na Plataforma Continental Jurídica Brasileira serviu de estímulo
às instituições que, embora com alguma tradição na área de Ciências do Mar, ainda não
dispunham de programas de formação de recursos humanos nesse domínio. Nada menos
do que 13 novos programas foram iniciados nesse período, a saber: de Aquicultura (2001)
e de Gerenciamento Costeiro (2010) na Universidade Federal do Rio Grande – FURG
(Rio Grande/RS); de Ciências Marinhas Tropicais na Federal do Ceará – UFC (Fortaleza/
CE, 2001); de Ciência e Tecnologia Ambiental na Universidade do Vale do Itajaí –
UNIVALI (Itajaí/SC, 2001); de Recursos Pesqueiros e Aquicultura na Federal Rural
de Pernambuco – UFRPE (Recife/PE, 2001); de Sistemas Aquáticos Tropicais na
Universidade Estadual de Santa Cruz (Ilhéus/BA, 2004); de Aquicultura e Pesca no
Instituto de Pesca de São Paulo/IP-SP (Santos/SP, 2004); de Sistemas Costeiros
Oceânicos na Federal do Paraná – UFPR (Pontal do Paraná/PR, 2006); de Ecologia
Aquática e Pesca na Federal do Pará – UFPA (Belém/PA, 2007); de Oceanografia na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ (Rio de Janeiro/RJ, 2007); de
Oceanografia Ambiental na Federal do Espírito Santo – UFES (Vitória/ES, 2007); e
de Aquicultura e Recursos Aquáticos Tropicais na Federal Rural do Amazonas – UFRA
(Belém/PA, 2009). O programa de Ecologia da Federal de Santa Catarina
(Florianópolis/SC, 2008), com produção majoritária em temas relacionados aos
ambientes marinho e costeiro, foi incluído nas Ciências do Mar.
Até o momento, estão em funcionamento 29 programas identificados como per-
tencentes às Ciências do Mar, que estão distribuídos por 12 dos 17 estados costeiros
brasileiros. Alagoas, Sergipe, Piauí, Maranhão e Amapá não têm programas neste
domínio do conhecimento. Embora a quantidade de vagas oferecidas a cada ano
dependa da disponibilidade dos orientadores, esses números não devem estar muito
distantes dos contemplados pelos editais de 2010, que previam 462 vagas para mestrado
e 180 para doutorado.

14 L UIZ C ARLOS K RUG


O Brasil é um país com vocação e patrimônio
marítimos, que tem na sua Plataforma Continental

Foto: Danilo Calazans


Jurídica, que inclui o Mar Territorial, a Zona Econômica
Exclusiva e a área de extensão da Plataforma Continental,
além das 200 milhas, pleiteada junto às Nações Unidas
(ONU), recursos naturais incomensuráveis, vivos e não
vivos, conhecidos ou não, já explorados ou ainda por
serem, que precisam ser protegidos e racionalmente
utilizados. A formação de profissionais capazes de
contribuir para a preservação e exploração ordenada
das riquezas marinhas é uma necessidade que se impõe
com urgência. É preciso, ainda, ter presente que o Brasil,
com seus 8.500 km de costa e seus 395 municípios
costeiros, que concentram aproximadamente 30% de
sua população, precisa cada vez mais de estudos
voltados para a identificação, monitoramento,
proposição e implementação de medidas mitigatórias
para os impactos ambientais decorrentes da atividade
econômica e da ocupação desordenada desses espaços.
Os cursos de graduação e os programas de pós-
graduação da área de Ciências do Mar relacionados
neste texto estão envolvidos diretamente com a
capacitação dos recursos humanos necessários ao
enfrentamento desses desafios. Propiciar os meios para
que esta formação seja de qualidade é responsabilidade
que se impõe não apenas ao governo, em todas as suas
instâncias, mas também à comunidade científica, que
deve produzir material didático atualizado sobre os
diversos temas relacionados com este domínio do
conhecimento. Embora nem todas as modalidades de
cursos de graduação e programas de pós-graduação
contemplem a obrigatoriedade de embarques para sua
integralização, é indiscutível que a disponibilização de
um manual com o conteúdo apresentado a seguir é de
extrema utilidade para qualificar a formação na área. É
essencial que os profissionais que atuarão na coleta e no
processamento de dados em campo disponham de
conhecimentos básicos sobre os diferentes aparelhos
utilizados a bordo de embarcações, os quais, pela
primeira vez, estão disponíveis em uma única publicação
em língua portuguesa.

15
SUMÁRIO
1 EMBARQUES CIENTÍFICOS 18
Jorge P. Castello
2 METEOROLOGIA MARÍTIMA 30
Natalia Pereira

3 SEGURANÇA E SOBREVIVÊNCIA 60
Danilo Calazans e Denis Dolci
4 NAVEGAÇÃO 86
Santiago Montealegre-Quijano e Luiz B. Laurino
5 OCEANOGRAFIA FÍSICA 108
Osmar Möller Jr. e Marcos Paulo Abe
6 OCEANOGRAFIA QUÍMICA 130
Rogério P. Manzolli, Luana Portz e Mariele Paiva
7 OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 156
Gilberto Griep
8 HIDROACÚSTICA 172
Antonio C. Duvoisin, Lauro S. P. Madureira e Antonio B. Greig
9 ORGANISMOS PLANCTÔNICOS 200
Danilo Calazans, José H. Muelbert e Erik Muxagata
10 ORGANISMOS BENTÔNICOS 276
André Colling e Carlos Bemvenuti

11 PESCA E RECURSOS PESQUEIROS 296


Santiago Montealegre-Quijano, Raul de Bem Jr., Denis Dolci e Luiz Felipe Dumont
12 CETÁCEOS 338
Eduardo R. Secchi, Juliana Di Tullio e Pedro F. Fruet
13 AVES 366
Dimas Gianuca
ANEXOS 384
ABREVIATURAS 404
GLOSSÁRIO 410
UNIDADES E CONVERSÕES 444
FABRICANTES E FORNECEDORES 446
AGRADECIMENTOS 461

16
17
Foto: Lauro Madureira
EMBARQUES CIENTÍFICOS
Jorge P. Castello
1
CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

A Terra é possivelmente um planeta único no universo a qual, na verdade,


deveria ser chamada de Planeta Água, uma vez que esta cobre 71% de sua super-
fície. Ou, ainda, se fosse observada desde o espaço, Planeta Azul, já que esta é sua
cor predominante.
Assim, em função da influência marcante do oceano sobre o clima e o tempo,
estudá-lo se torna importante porque:
– é fonte de alimentos, energia, recursos minerais, princípios ativos de medica-
mentos, entre outros recursos;
– proporciona vias de navegação;
– tem importância militar;
– possibilita usos recreacionais;
– é um rico cenário cultural e histórico.
Foto: Sérgio Estima Filho
A superfície do oceano encontra-se em constante movimento, respondendo aos
ventos, às correntes e a uma série de forças físicas que controlam sua dinâmica. Apesar
da agitação da superfície, é possível ao homem observá-la e estudá-la – o que não ocorre
com a água que se encontra em maiores profundidades, que lhe é um meio estranho
devido à limitada capacidade humana de observação direta. Entretanto, é nesse mundo
submerso que se encontra a maior diversidade de ambientes e seres vivos.
Nesse contexto, a Oceanografia é um exemplo de ciência multi e interdisciplinar.
Ou seja, já que cada feição oceanográfica tem uma assinatura física, química, biológica
e geológica, é necessário ter uma abordagem múltipla e articulada. Isso tem levado
cientistas, curiosos e ávidos por entender mais e melhor, conscientes dessa
multidisciplinaridade, a colaborarem para responder a importantes questões.
Para entender o que se sucede no mar, é necessário, na maioria das vezes, estar no
mar e coletar informações que permitam observar o que está na superfície, mas
também o que se encontra na coluna de água e sobre o leito marinho. Para essa
finalidade, o sensoriamento remoto é uma ferramenta importante com a grande van-
tagem da sinoticidade e da larga abrangência de escalas espaciais e temporais. No
entanto, ele ainda é essencialmente limitado a uma lâmina superficial de água. Para
saber mais e examinar com maior detalhe, é necessário aumentar a profundidade das
observações e a maneira de resolver isso é baixar aparelhos e redes ao longo da
coluna de água e/ou posicioná-los sobre o fundo do mar.
Então, o emprego de uma embarcação é fundamental. No entanto, não pode ser
qualquer embarcação. Ela deve reunir um mínimo de requisitos que levem em

EMBARQUES C IENTÍFICOS 19
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
consideração: segurança, autonomia de combustível e água, navegabilidade, capacida-
de de manter posições, meios de comunicação, espaço de convés, potência, velocida-
de média, potência elétrica dos geradores, número de tripulantes, dotação para pes-
quisadores, técnicos e alunos, instrumentação fixa, tipo e número de guinchos para
operar equipamentos, instrumentos e redes, entre outros requisitos.
Assim, quando é proposto um cruzeiro oceanográfico, está intrínseco o compro-
metimento com a procura de respostas para uma série de perguntas e hipóteses, as
quais surgem, por exemplo, do exame dos antecedentes publicados, dos dados preté-
ritos e das necessidades identificadas. Dessa forma, procura-se minimizar o risco de
não obter as respostas procuradas e a consequente dilapidação de recursos. Os custos
operativos de uma embarcação de pesquisa são muito onerosos e, por isso, um
planejamento cuidadoso e adequado é fundamental.

1 PLANEJANDO UM CRUZEIRO OCEANOGRÁFICO


1.1 Considerações básicas

A definição do objetivo do cruzeiro e a metodologia que será utilizada são aspec-


tos cruciais em um evento desse tipo, da mesma maneira que quando se planeja uma
pesquisa no laboratório.
Após ter definido um ou mais objetivos para o cruzeiro, é recomendável pesquisar
os antecedentes. Uma análise dos dados pretéritos costuma revelar que já se sabe mais
do que se imagina. Entre as informações importantes para um bom planejamento
encontram-se as seguintes:
– extensão da área a ser pesquisada;
– principais características batimétricas e topográficas;
– cartas náuticas disponíveis e suas escalas;
– regime meteorológico da região (temperatura média do ar, pressão atmosférica
média, direção e intensidade dos principais ventos, frequência de passagem de
frentes atmosféricas) de acordo com a época do ano. Lembrar que as
diferenças são mais marcadas quanto maior é a latitude;
– regime oceanográfico de acordo com a época do ano, distância da costa,
profundidade e declive da plataforma continental (isso envolve a distribuição
espacial de parâmetros como temperatura, salinidade, teor de oxigênio dissol-
vido, concentração de nutrientes, material em suspensão, transparência e turbidez
da água, penetração da luz, ondas de maré, entre outros). Hoje, existem bancos
de dados detalhados contendo muita informação acumulada e interpretada;
– presença ou ausência de aporte de águas continentais;
– níveis médios de produtividade primária;

20 J ORGE P. C ASTELLO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– principais espécies vegetais e animais e suas inter-relações tróficas;


– disponibilidade e acesso a dados satelitais em tempo quase real (fundamental-
mente, Temperatura da Superfície do Mar (TSM), ventos, ondas e topografia
submarinha).
Em função dessas informações, ou de parte delas, deve-se considerar a questão
das escalas espaciais e temporais.
Determinados componentes do ecossistema e seus processos ou fenômenos abran-
gem escalas temporais da ordem de minutos/horas e escalas espaciais da ordem de
centímetros/metros (plâncton, desenvolvimento de ovos e larvas etc) e outros abran-
gem escalas espaciais de dezenas a centenas ou milhares de quilômetros e escalas
temporais da ordem de dias a meses ou anos (giros oceânicos, frentes termo-halinas,
formação e destruição de termoclinas, migração de plâncton, peixes, mamíferos
marinhos entre outros) (FIG. 1.1). Isso significa que a extensão espacial e a duração de
um evento condicionam as melhores estratégias e escolha de amostragem. Provavel-
mente nem sempre será possível fazer a escolha ideal e o pesquisador deverá adotar
um compromisso viável com conhecimento das limitações inerentes à sua escolha.
Levando em consideração a questão espacial e temporal, definem-se os equipa-
mentos, os instrumentos e todo o material que será utilizado, a frequência de
amostragem e o grau de cobertura.
Foto: Projeto Amazônia Azul

EMBARQUES C IENTÍFICOS 21
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ciclos de duração das
províncias biogeográficas Variabilidade na
abundância
extinção das espécies das espécies

período de glaciação
e deglaciação
Es
pa
ço m po
anual Te
migrações nictemerais
marés
fenômenos
físicos de
mesoescala
3 10
10m
k

2 8
10
km

)
6 (s
P
Log
Lo
gL

14
km 4

12 10o
(cm

4 an
)

10 3
2 10o
8 10 o an
cardumes 2 6

s
ano
an

m
na
uma
4 dia ana
sem
2 h
oH
cm 0 min
Ge raçã
s

Figura 1.1 Ilustração mostrando o espectro de escalas temporais e espaciais dos fenômenos
(escalas logarítmicas) oceanográficos [adaptado de MCGOWAN e FIELD, 2002].

1.2 Escolhendo a rede de amostragem e a cobertura espacial

A escolha da rede de amostragem e o grau de cobertura espacial requerem


equacionar a extensão da área de trabalho, os dias de navio disponíveis, o número de
tripulantes, pesquisadores, técnicos e alunos que executarão o trabalho, o regime de
horas (18-24h), o número de coletas (estações) a serem feitas, o tempo médio de
operação dessas estações, entre outras variáveis.
Normalmente, as estações de amostra são dispostas espacialmente para formar
uma retícula cuja distância linear costuma ser de 20 milhas náuticas (mn) entre elas
(FIG. 1.2A). Por sua vez, as estações costumam ser alinhadas numa transversal perpendicu-
lar à costa (o que, no Rio Grande do Sul, equivale ao rumo 120° no sentido costa-mar).

22 J ORGE P. C ASTELLO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Essas transversais são regularmente separadas por 15-20 mn. A embarcação segue
então um percurso sequencial, visitando cada uma dessas estações e executando as
observações e coletas previstas. Outro planejamento pode usar a batimetria da região
como, por exemplo, 10, 25, 50, 100, 150 e 200 m como base de coleta de dados
(FIG. 1.2B). A embarcação pode seguir também uma rota em ziguezague ou retangular,
o que é conhecido como rota grega.

- 28°

1
Santa Marta 2
10
3
9
11 4
8
12 5
- 29° 7
13
6
14

100
33
32 15 A

200
22 31
23 30
21 24
20 25
19 26
- 30° 18 29
17 28
27

16 B
longitude

1
11 2 3
21 4
5
6
31 7
- 31° 50
41
8
9
10
20
58 30
66 40
49
74 57
74 65
73
1
9 23 73
4 82
5
16 6 91
7
26 8
35 17

- 32°
44

52
25

39
34 C
43
58 51
Rio Grande 64
57
63
69
68

D
72

50
58
66
100

- 33°
74 57
0

74 65
20

73
1
9 2
- 34° 3 73 2
4 8
5
6 6 91

- 53° - 52° - 51° - 50° - 49° - 48° - 47°


latitude

Figura 1.2 Redes de estações oceanográficas tendo a Plataforma Continental do sul


do Brasil como exemplo: (A) com percurso equidistante; (B) em função da batimetria;
(C) em pontos escolhidos aleatoriamente (detalhe no círculo dos números escolhidos);
(D) em um determinado ponto.

EMBARQUES C IENTÍFICOS 23
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Em determinadas circunstâncias, em que seja necessário garantir uma amostragem
aleatória, outro tipo de desenho amostral pode ser adotado. Para isso, a superfície do
mar ou de seu fundo pode ser dividida em subáreas de iguais dimensões e a escolha
da subárea que será amostrada é decidida aleatoriamente ou seguindo uma estratificação,
de acordo com classes de profundidade ou natureza do sedimento do fundo mari-
nho (FIG. 1.2C). A escolha do tipo de percurso tem que levar em conta distância,
tempo disponível e eficiência da cobertura.
Ainda, é possível que seja necessário permanecer em um único local (FIG. 1.2D)
por um tempo prolongado, realizando observações in situ durante 24h ou mais. Nesse
caso, a estratégia é outra e ela é recomendada para acompanhar processos intensiva-
mente em pequena área, mas com alta cobertura temporal.

1.3 Escolhendo os aparelhos

É muito importante listar todo o material necessário antes do início do Cruzeiro


(TAB 1.1, como exemplo). Em função não apenas dos parâmetros escolhidos para
mensurar mas também das coletas de material vivo ou não vivo que seja necessário
recolher, serão feitas as escolhas dos instrumentos de medição, como direção e inten-
sidade do vento, ecossonda, roseta oceanográfica, Conductivity, Temperature and Depth
(CTD), correntômetro, irradiômetro, fluorímetro, turbidímetro entre outros; e equi-
pamentos de coleta, como garrafa, redes de plâncton, busca-fundo (pegadores de
fundo), dragas, rede de barra ou de vara (beam trawl) para sedimentos e organismos de
fundo e redes de arrasto de fundo e de meia água, emalhe, espinhel para peixes de
fundo ou na coluna de água. Cada um desses instrumentos ou equipamentos tem
demandas específicas de guinchos, bitola de cabo, resistência e velocidade de descida/
içado ou arrasto.
Os instrumentos de medição devem estar previamente calibrados e o usuário ter os
respectivos manuais de uso e manutenção sempre disponíveis. Detalhes como baterias
com baixa carga ou sulfatadas, infiltração de água, umidade, conexões USB ou RS 32 defeituosas,
por exemplo, podem provocar leituras erradas, que depois não poderão ser corrigidas, ou ainda
impedir a leitura de um ou mais parâmetros. Ainda, sempre que possível – e se não houver
restrições orçamentárias –, é recomendável ter unidades de reposição a bordo.
Para os equipamentos de coleta, deve-se considerar a possibilidade de avarias ou perda.
Portanto, cabos de segurança, revisão e reforço de manilhas (já que a trepidação provoca
o afrouxamento e a soltura de parafusos), panos de rede para substituição são quase
obrigatórios.

24 J ORGE P. C ASTELLO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tabela 1.1 Exemplo de uma lista de material para um embarque científico.

Aparelhos Quant Material Consumo Quant Material de Escritório Quant


ADPS Abraçadeira de inox Adaptador de tomada
Amostrador Dietz-Lafond Agulha histológica Atilho
Amostrador van Veen Álcool Borracha
Amostrador cilíndrico Balde com tampa 20 L Cabos diversos para informática
Balança pequena Bandeja plástica Calculadora
Balança 300 kg Bomba de ar 110 V Caneta
Balança de precisão Bomba de ar 220 V Cartuchos de tinta
Balança eletrônica Bomba de ar a pilha Clipes
Box corer Bambonas Cola tipo Araldite
Carta náutica Botas de borracha Cola tipo silicone
Clinômetro Cabo de aço de 4 mm DVD
Correntômetro Cabo de náilon seda de 6 mm Envelope pardo
CTD Cabo de náilon seda de 10 mm Estilete
Depressor Camburão 50 L/100 L/200 L Extensão T
Disco de Secchi Caixa de ferramentas Fio de extensão
Draga biológica Caixa de isopor Fita crepe
Ecossonda portátil Caixa plástica Fita isolante
Fluorímetro Capa de chuva Grampeador
Fluxômetro Capacete Hubs
Garrafa coletora de água Compasso Impressora
GPS Conexão plástica p/tubo Lápis
Ictiômetro Copo completo para plâncton Notebook
Irradiômetro Engradado de garrafas plásticas Papel A4
Kit para química Etiqueta Papel toalha
Máquina fotográfica Faca de peixe Pen Drive
Mecanismo fechamento Formol puro Pilha AAA, AA, Média, Grande
Mensageiro Frascos plásticos vários volumes Pilha 9V
Oxímetro Funil Pincel atômico
Ph metro Malhas de náilon para conserto Prancheta
Polia hodométrica Lanterna comum Projetor multimídia
Profundímetro Lanterna de mineiro Régua comum
Refratômetro Luva de pano Saco plástico
Rede de fundo com portas Luva de látex P / M / G Tesoura
Rede meia água com portas Jaqueta boia
Rede de barra (Beam trawl ) Mangueira de látex
Rede Isaacs-Kidd Mangueira plástica
Rede bongo Mangueira de silicone
Rede cônica Manilhas
Rede cilindrocônica Manuais de campo
Rede neustônica Manuais dos equipamentos
Roseta Material de dissecção
Softwares básicos Monobloco
Soluções químicas Pesos de 1 kg
Sonar de varredura lateral Pedra p/ar
Sonda multiparâmetro Pinça
Termossalinômetro Planilha de registro
Termômetro de cubeta Régua paralela
Turbidímetro

1.4 As operações de convés e sua logística

As operações de convés necessitam de ter um bom planejamento. Com esse fim,


o Chefe científico tem que pensar na sequência das operações, quando a embarcação
é posicionada numa estação. É de praxe que os trabalhos na estação comecem estan-
do a embarcação parada, com o lançamento da roseta armada com o CTD, as
garrafas de coleta, um fluorímetro, entre outros equipamentos. Ainda com a embar-
cação parada, são usados os amostradores de organismos bentônicos e sedimento (os
pegadores de fundo ou busca-fundo) e a rede vertical de plâncton. Depois, com a
embarcação em movimento, costumam ser lançadas as redes para coleta de plâncton
horizontais e oblíquas, dragas, side scan sonar e, por último, as operações de pesca, que
variam de acordo com as espécies visadas.

EMBARQUES C IENTÍFICOS 25
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Em todas essas operações o ideal é que uma tripulação permanente trabalhe no
navio lado a lado com os pesquisadores, técnicos e alunos. No entanto, aquelas opera-
ções ou manobras que envolvam guinchos de qualquer natureza são de responsabili-
dade dos tripulantes, após serem instruídos pelo Comandante do navio. Nesse aspec-
to, é necessário ressaltar que o Comandante é a máxima autoridade a bordo, respon-
sável pela segurança das vidas e da embarcação. Por isso, é recomendável que o Chefe
científico do cruzeiro mantenha uma reunião prévia com o Comandante, explicando-
lhe o roteiro de navegação, todas as operações previstas e o pessoal técnico/científico
que será alocado nas diversas tarefas.
A experiência indica que, antes de iniciar um cruzeiro, que pode demandar
15 a 25 dias de navegação, contemple-se a realização de uma saída piloto de apenas
1 ou 2 dias de duração, na qual serão testadas todas as operações, com a finalidade de
verificar a viabilidade, as dificuldades, os riscos e acertar/corrigir detalhes que podem
poupar a ocorrência de problemas não previstos.
Cada embarcação é diferente de outra e, portanto, é difícil indicar um modelo de
operações único. No entanto, com um pouco de experiência, é possível chegar a um
plano de trabalho como, por exemplo, o do Navio de Pesquisa (N/Pq) Atlântico Sul,
onde cada atividade tem um lugar e uma sequência certa no convés (FIG. 1.3).

1.5 O registro das informações

Durante o cruzeiro, muitas informações são geradas. Por isso, organizá-las visando
a sua pronta recuperação e seu uso é algo indispensável. Planilhas de registro bem
elaboradas, de fácil interpretação e uso amigável são fundamentais. Ainda, numa etapa
mais avançada das análises, é preciso realizar diversos testes estatísticos; em função
disso, as planilhas devem estar bem organizadas e sempre à disposição de todos os
participantes do cruzeiro e de outros interessados.
Outra informação importante é a de que cruzeiros oceanográficos requerem a
inter-relação dos dados. Assim, para cada estação de amostragem e as respectivas
coletas de dados ambientais e de material biológico ou geológico, é necessário saber
todos os pormenores que ajudarão na melhor interpretação dos resultados obtidos.
O material biológico ou geológico coletado, que será processado e analisado em
terra, tem que estar devidamente conservado, identificado e etiquetado. Dependendo
da natureza da amostra coletada, as etiquetas têm que ser de material resistente à água
e ao manuseio, como papel vegetal ou mesmo papiro e escritos de forma a conter
informações básicas, como nome do projeto, número da estação e data de coleta.
Também é necessária, para cada tipo de coleta, uma planilha de registro
(ANEXOS 2 a 19), em que serão anotadas todas as observações pertinentes.
Vale a pena lembrar que uma amostra coletada com identificação deficiente equi-
vale a uma amostra perdida, de difícil ou impossível substituição.

26 J ORGE P. C ASTELLO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

BO BE

garrafa
CTD
rede vertical de plâncton
busca-fundo *
*
rede horizontal de plâncton
disco de Secchi rede neustônica
laboratório

água de superfície
* disco de Secchi
rede Bongo * multisonda
rede Multinet plâncton-bomba

box corer *
* side scan sonar
rede Isaacs-Kidd *
rede de meia água*
*
rede de arrasto
*
beam trawl
draga

Figura 1.3 Planta do convés do N/Pq Atlântico Sul, mostrando o arranjo dos guinchos e os
locais indicados para as diferentes operações (* com a embarcação em movimento).

EMBARQUES C IENTÍFICOS 27
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
1.6 Acondicionamento e estocagem

O acondicionamento das amostras em vidros, sacos plásticos, congeladas ou con-


servadas em formalina a 10%, 4% ou 2%, ou álcool 70%, é outro aspecto importante
a considerar. Devido ao balanço do navio, é importante que as amostras sejam esto-
cadas de forma segura até o momento do desembarque, sob pena de comprometer
total ou parcialmente o esforço despendido na coleta.
Para preparar 1 litro de solução de formalina a 4% o procedimento, usando a
equação global de diluição, é:

V1 x C1 = V2 x C2

em que:
V1 é o volume do formoldeído comercial necessário;
V2 é o volume da solução desejada (no caso 1.000 mL);
C1 é a concentração do formoldeído comercial (100%);
C2 é a concentração da formalina desejada (4%).

V1 x 100% = 1.000 mL x 4%

Então, o volume é de 40 mL de formoldeído e 960 ml de água do local para


completar 1.000 mL de solução de formalina a 4%. Para neutralizar o pH dessa
solução utiliza-se 4 g de tetraborato de sódio (Bórax).
Para preparar 1 litro de solução de álcool a 70% o procedimento é:

V1 x C1 = V2 x C2
em que:
V1 é o volume do álcool comercial necessário;
V2 é o volume da solução desejada (no caso 1.000 mL);
C1 é a concentração do álcool comercial (96%);
C2 é a concentração do álcool desejado (70%).

V1 x 96% = 1.000 mL x 70%

Então, o volume é de 729 mL de álcool e 271 mL de água do local para comple-


tar 1.000 ml de álcool a 70%.

28 J ORGE P. C ASTELLO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

1.7 Resultados preliminares e relatórios

Foto: Dimas Gianuca


É recomendável analisar os resultados
obtidos de forma preliminar durante a própria
execução do cruzeiro. As facilidades de
computação presentes, com softwares que
permitem rápida elaboração de gráficos,
constituem-se como uma ferramenta importante
para a análise inicial dos resultados obtidos
numa estação ou num perfil/transversal.
Dessa forma, é possível obter informações
que ajudem a tomar decisões para direcionar
melhor as amostragens ou ainda detectar erros
que podem ser reparados.
Seguindo uma rotina pré-estabelecida, é
importante elaborar um relatório de cruzeiro
que deverá ser distribuído a todos os cientistas
do cruzeiro, sintetizando as principais atividades
e os resultados preliminares.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do planejamento, não se pode
descartar a ocorrência de diversos imprevistos
como, por exemplo, condições meteorológicas
adversas, problemas mecânicos da embarcação,
anomalias nos equipamentos, falhas eletrônicas
nos instrumentos ou, ainda, problemas de saúde
dos tripulantes, pesquisadores, técnicos e alunos.
Para minimizar seus efeitos, pode-se reservar
10% de tempo adicional na programação e no
cálculo de custos.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
McGOWAN, J.A.; FIELD, J.G. Ocean Studies.
In: FIELD, J.G.; HEMPEL, G.;
SUMMERHAYES, C.P. (Ed.). Oceans 2020:
science, trends and the challenge of sustainability.
Washington, DC: Island Press, 2002. p. 9-48.

EMBARQUES C IENTÍFICOS 29
METEOROLOGIA MARÍTIMA
Natalia Pereira
2
CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

A Meteorologia Marítima é um ramo da Meteorologia que procura compreender


e interpretar os fenômenos atmosféricos sobre o mar.
Para conhecer, entender e prever o tempo é necessário estudar alguns conceitos
básicos de Meteorologia e saber quais os instrumentos e ferramentas utilizados nas
embarcações, como cartas sinóticas de superfície, boletins meteorológicos e imagens
de satélites, que auxiliam na previsão do tempo e são utilizados como forma de
comunicação meteorológica entre as embarcações e os centros meteorológicos. Além
disso, também é preciso conhecer a importância dos fenômenos meteorológicos que
podem ser prejudiciais para uma navegação segura, como os ciclones extratropicais,
tropicais, sistemas frontais e complexos convectivos de mesoescala. Por fim, as
instruções sobre navegação em mau tempo e técnicas de prevenção de acidentes, com
um guia de medidas de segurança, que podem ser tomadas pelos navegantes.
Assim, neste capítulo, estão reunidas as melhores informações existentes sobre
Meteorologia Marítima e pretende-se, em uma linguagem clara e objetiva, contribuir
Foto: Dimas Gianuca
tanto para a navegação como para interpretação de dados bióticos e abióticos coletados
durante um cruzeiro científico.

1 CONCEITOS BÁSICOS DE METEOROLOGIA


1.1 Tempo e clima

O tempo meteorológico é a soma total das condições atmosféricas de um dado


local, em um determinado tempo cronológico; já o clima é uma generalização ou a
integração das condições do tempo para certo período, em uma determinada área.

1.2 Atmosfera

A atmosfera é um conjunto de gases, vapor de água e partículas, constituindo o


que se chama ar que envolve a superfície da Terra, constituída de gases permanentes, gases
variáveis, líquidos (água) e sólidos. Estes se dividem em inorgânicos (partículas finas, como
argila, fuligem, cinzas vulcânicas e sal marinho), orgânicos (pelos, esporos, pólen e
fibra vegetal) e organizados (bactérias, fungos, vírus, líquens e algas). Os principais
gases permanentes são: nitrogênio, que preenche 78% da atmosfera, oxigênio, argônio,
hélio e criptônio. Os gases variáveis são: dióxido de carbono, vapor de água e ozônio.
Pode-se dividir e classificar a atmosfera de acordo com pressão, densidade, altitu-
de ou temperatura. A classificação das camadas mais utilizadas é de acordo com a
variação de temperatura, conforme a Figura 2.1.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 31
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
960 km

exosfera

190 km

termosfera

80 km

mesosfera

50 km

estratosfera

10 km

troposfera

- 100 - 80 - 60 - 40 - 20 0 20 40
0
C

Figura 2.1 Divisão da atmosfera de acordo com a variação de temperatura


[adaptado de VIANELLO e ALVES, 1991].

Troposfera (ou baixa atmosfera) é a camada de maior concentração gasosa de


todas e é onde ocorre a maioria dos fenômenos meteorológicos: chuvas, nevoeiros,
neves, furacões, ventos, nuvens, trovoadas, entre outros. É a camada mais agitada da
atmosfera, caracterizada por um decréscimo normal da temperatura com a altitude.
Estratosfera é onde ocorre a difusão mais acentuada da radiação solar. Seu topo
estende-se aproximadamente entre 10 a 50 km acima da superfície e apresenta como
característica a ausência de fenômenos meteorológicos. Dentro dela, entre 25 e 50 km
acima da superfície, forma-se a camada de ozônio (ozonosfera), que tem a função de
absorver os raios ultravioletas (UV).

32 NATALIA P EREIRA
Foto: Dimas Gianuca
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Mesosfera está situada entre


aproximadamente 50 e 80 km de altitude sendo
considerada a camada atmosférica onde há uma
substancial queda de temperatura, chegando a
-90°C em seu topo.
Termosfera está localizada acima da
mesosfera e sua temperatura aumenta com a
altitude por conta da sua proximidade com o
sol. É a camada onde ocorrem as auroras (boreais
e austrais) e se estende desde 80-85 km, até
aproximadamente 900 km de altitude em relação
à superfície do planeta Terra; no entanto, a partir
de 200 km de altitude, a camada pode ser
chamada de Exosfera, região em que o
significado gás não tem mais sentido, pois é muito
rarefeito.

2 VARIÁVEIS E INSTRUMENTOS METEOROLÓGICOS


Atualmente, as embarcações de grande porte
podem contar com estações meteorológicas
automáticas portáteis, instaladas nas paredes
externas da embarcação ou dentro da sala de
controle (FIG. 2.2). Elas informam a pressão
atmosférica, a temperatura do ar, a umidade do
ar, a velocidade e direção do vento, entre outras,
em tempo real, no seu próprio visor ou em um
monitor auxiliar.
Embora essa tecnologia esteja à disposição
de qualquer embarcação, ainda é cara, por isso se
restringe aos navios de grande porte. No entanto,
as embarcações de pequeno porte não deixam
de obter as mesmas informações meteorológicas
necessárias, pois utilizam instrumentos analógicos,
que possuem uma eficácia tão boa quanto os
dados digitais. Todas as informações sobre as
condições meteorológicas no momento de uma
estação de coleta devem ser anotadas numa
planilha (ANEXO 1).

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 33
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B
botão de seleção

menu/retorna
a exibição anterior
PUSH TO OPEN

MENU
ENT ESC

LIST

DIM

PRINT

lista de opções

opções de impressão
impressora
liga/desliga

C confirmação de
registros do menu

Figura 2.2 Estação Meteorológica de sala de controle: (A) unidade de exibição; (B) antena;
(C) unidade de recepção; (D) sistema integrado de navegação
[adaptado do (A) Manual de Operação Navtex Nx-700 a; (B) da FURUNO Electric Co. Ltd.].

2.1 Radiação solar

Radiação solar é o nome dado à energia emitida pelo sol em forma de radiação
eletromagnética. As regiões equatoriais recebem maior quantidade de radiação solar,
enquanto as regiões polares recebem menos.
A radiação solar emite, anualmente, 1,5 x 1018 kWh de energia para a superfície da
Terra, tornando-se a principal fonte de energia e é indispensável para a existência de
vida na Terra. Além disso, é a principal responsável pela dinâmica da atmosfera terres-
tre e pelas características climáticas do planeta.
A radiação solar global é igual à soma da radiação direta mais a radiação difusa. A
primeira é aquela que atinge a superfície terrestre sem sofrer desvio algum, ou seja,
propaga-se sob a forma de raios paralelos, enquanto a radiação difusa é enviada para
a superfície em diversas direções devido às modificações introduzidas pela atmosfera
e pela presença de nuvens, conforme a Figura 2.3.

34 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 2.3 Balanço energético de radiação da Terra


[adaptado de asd <www.larc.nasa.gov/SCOOL/energy_budget.html>].

Os instrumentos utilizados para medir radiação são:


1) Pireliômetros, que medem a intensidade solar direta;
2) Piranômetros, que medem a radiação solar global (direta + difusa);
3) Pirgeômetros, que medem radiação infravermelha;
4) Pirradiômetros, que medem radiação infravermelha.

2.2 Temperatura

Embora os conceitos de calor e de temperatura sejam distintos, eles estão relacio-


nados. A temperatura é a medida da energia cinética média das moléculas ou átomos
individuais, enquanto calor é definido pela energia cinética total dos átomos e molécu-
las que compõem uma substância. A temperatura de uma parcela de ar pode mudar
quando ganha ou perde calor, mas isso não é sempre necessário, pois pode também
haver mudança de fase da água contida no ar ou de volume da parcela de ar, associ-
ada ao ganho ou à perda de calor.
Os gradientes de temperatura determinam o fluxo de calor de um lugar para outro
através da radiação, condução e convecção. Esses processos estão descritos a seguir:

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 35
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
– Radiação: processo de transmissão de calor através de ondas eletromagnéticas
(ondas de calor). A energia emitida por um corpo (energia radiante) propaga-se
até o outro, através do espaço que os separa;
– Convecção: movimento de massas de fluido, trocando de posição entre si.
Note-se que não cabe falar em convecção no vácuo ou em um sólido, isto é,
convecção só ocorre nos fluidos;
– Condução: processo de transmissão de calor, em que a energia térmica passa
de um local para outro através das partículas do meio que os separa. Na
condução, a passagem da energia de uma região para outra se faz da seguinte
maneira: na região mais quente, as partículas têm mais energia, vibrando com
mais intensidade; com essa vibração, cada partícula transmite energia para a
partícula vizinha, que passa a vibrar mais intensamente; esta transmite energia
para a seguinte e assim sucessivamente.
A temperatura do ar é medida através do termômetro (FIG. 2.4A), que pode ser
de álcool ou de mercúrio. Há um termômetro especial denominado de Máxima e
Mínima (FIG. 2.4B), o qual mede as temperaturas máxima e mínima de um local. Já a
temperatura do ar seco e do ar úmido são medidas por instrumentos conhecidos
como Psicrômetro (FIG. 2.4C); existe também o termógrafo (FIG. 2.4D), que registra
em gráficos os valores contínuos de temperatura.

A °c °c B C
60 60
Máxima
Mínima

50 50
5 0 5 0
50
40 40
40
5 5
30
°c
30 30 20 + 30 4 0 4 0
-
10 20
20 20 5 5
0 10

10 10 10 0
zerador 3 0 3 0
20 10 5 5
0 0
30 20 2 0 2 0
40
-10 -10 +- 30
5 5
50

-20 -20 1 0 1 0
5 5

0 0 0 0

D agulha
haste
gaze umedecida
traço da bimetálica
temperatura
frasco

papel no
tambor giratório

Figura 2.4 Instrumentos para medir temperatura: (A) termômetro; (B) termômetro de
máxima e mínima; (C) psicrômetro; (D) termógrafo e seus componentes.

36 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A temperatura do ar indica as propriedades de uma massa de ar presente e sua


alteração brusca pode estar relacionada à chegada de uma frente com uma massa de
ar diferente.

2.3 Pressão atmosférica

Pressão atmosférica é o peso da coluna de ar sobre um determinado ponto, exercida


em todos os sentidos. A pressão atmosférica em nível do mar é aproximadamente
1.013,25 hPa.
Os centros de alta e de baixa pressão geram as configurações de circulação da atmos-
fera, criando as zonas de convergência e divergência, como descritas na Figura 2.5.
A pressão atmosférica indica o grau de aquecimento da superfície e o comporta-
mento da temperatura do ar e, portanto, as características da massa de ar presente. O
navegante aproado ao vento terá, no hemisfério Sul, o centro de baixa pressão a sua
esquerda (bombordo) e o centro de alta pressão a sua direita (boreste).

A B
Divergência Convergência

ar ascendente ar descendente

Convergência Divergência

Figura 2.5 Esquema do movimento de ar convergente e divergente, associados à:


(A) baixa; (B) alta pressão, em superfície.

As variações de pressão a bordo devem ser monitoradas através de um gráfico da


tendência barométrica, ou seja, do aumento ou da diminuição da pressão, para poder
realizar um prognóstico das condições atmosféricas, conforme Figura 2.6.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 37
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
1018.0 hPa pressão
atmosférica

1017.0 hPa

1016.0 hPa

1015.0 hPa

1014.0 hPa

1013.0 hPa

1012.0 hPa
00:00 06:00 12:00 18:00 00:00 06:00 12:00 18:00 00:00
Sábado (23/05) Domingo (24/05) Segunda (25/05)

Figura 2.6 Gráfico de um exemplo de análise da tendência barométrica.

A pressão é medida pelo barômetro (FIG. 2.7A e 2.7B) ou barógrafo (FIG. 2.7C).
O aumento ou diminuição dessa variável indica o afastamento ou a aproximação dos
sistemas ciclônico e anticiclônico, que estão associados à divergência e à convergência
de ar em superfície, conforme as Tabelas 2.1 e 2.2.

Figura 2.7 Instrumentos para medir pressão: (A) barômetro de mercúrio, (B) barômetro
aneróide: (a) mostrador; (b) componentes; (C) barógrafo [(B) adaptado de <www.egu.es>].

38 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tabela 2.1 Dados informativos das condições do tempo relacionadas à leitura do barômetro.

Pressão estacionada nas horas de subida


Não há aproximação de tempestades
(4h 00min às 10h 00min)
Pressão estacionada nas horas de subida e descida
Sinal de tempestade distante
(16h 00min às 22h 00min)
Pressão diminuindo nas horas de subida Tempestade próxima e intensa
Pressão diminuindo bruscamente Presença de vento intenso
Pressão diminuindo bruscamente, porém
Proximidade de mau tempo
de forma gradativa
Pressão baixa com chuva Presença de ventos intensos e por longos períodos
HS: Vento soprando de SE
Pressão aumentando com ventos de leste HN: Vento soprando de NE

Tabela 2.2 Dados indicadores da proximidade dos ciclones, nas regiões tropicais, através da
leitura do barômetro, criada pelo Capitão-de-Fragata M. Bridet, da Marinha da França.

Distância aproximada do centro do Estando - se sobre a direção da


Barômetro ciclone trajetória ou próxima a ela
(mm) Distância do centro
Milhas Horas Baixa em mm
em horas
759,0 270 36
758,5 247 33
758,0 225 30
757,0 202 27
756,0 180 24 0,3 24
754,5 157 21 0,5 21
753,0 135 18 0,6 18
751,0 112 15 0,7 15
748,0 90 12 1,0 12
744,0 67 9 1,5 9
738,0 45 6 2,0 6
729,0 22 3 3,0 3
713,0 0 0 4,5 0

Fonte: MIGUENS, 2000.

2.4 Umidade

A umidade é dada pela quantidade de vapor de água contido na atmosfera, a qual


pode ser expressa como:
– Umidade específica: quantidade de vapor de água contido em uma determinada
massa de ar, medida em g.kg-1 (gramas de vapor por quilograma de ar);
– Umidade relativa: razão entre a umidade específica e a quantidade de vapor
de água que o mesmo ar pode conter na mesma pressão e temperatura.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 39
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O vapor de água atmosférico pode passar para a fase líquida pelo processo de
condensação ou, diretamente, à fase sólida, pelo processo de sublimação com a libe-
ração de calor latente. Esses processos dão origem às nuvens, aos nevoeiros, ao orva-
lho e à geada. O vapor de água, que se condensa nas nuvens, pode dar origem à
precipitação, indo restabelecer os mananciais de água da superfície terrestre.
A umidade relativa presente, sendo elevada, indica que a saturação do ar pode ser
obtida através de um pequeno resfriamento. Nessa situação, o navegante deve estar atento
aos outros parâmetros que favorecem a formação de nevoeiros que, consequentemente,
afetam a visibilidade. A umidade do ar é medida pelo psicrômetro (FIG. 2.4C).

2.5 Vento

O anemômetro (FIG. 2.8) é utilizado para medir a velocidade e a direção do vento.


A mudança gradativa ou brusca, tanto da direção quanto da velocidade do vento, é
um conjunto de informações extremamente importantes para a identificação de siste-
mas de tempo, pois o vento é uma das primeiras variáveis que começa a se modificar
na presença de alteração na atmosfera.

Figura 2.8 Anemômetro: (A) sensor; (B) mostrador


[adaptado do Manual de Operação do Modelo WIND 3100 da NAVMAN].

40 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Para homogeneizar a linguagem náutica sobre os ventos, o Almirante Inglês Francis


Beaufort publicou, em 1806, a Escala Beaufort. Em 1874, essa escala foi adotada
como padrão pelo Comitê Meteorológico Internacional e hoje é amplamente utiliza-
da na meteorologia náutica mundial (TAB. 2.3).

Tabela 2.3 Escala Internacional de Beaufort.

Força Designação Vento (km.h-1 ) Aspecto do Mar


0 Calmaria 0a1 Espelhado
.
1 Bafagem 2a6 Encrespado em pequenas rugas, aparência de escamas.
2 Aragem 7 a 12 Ligeiras ondulações com crista, mas sem arrebentação.
3 Fraco 13 a 18 Grandes ondulações com arrebentação.
4 Moderado 19 a 26 Pequenas vagas de 1,5 metros com carneiros frequentes.
5 Fresco 27 a 35 Vagas moderadas de forma longa com 2,4 metros. Alguns borrifos.
6 Muito fresco 36 a 44 Grandes vagas de até 3,5 metros. Muitas cristas brancas. Borrifos.
7 Forte 45 a 54 Mar grosso. Vagas de até 5 metros. Espuma branca de arrebentação.
8 Muito forte 55 a 65 Vagalhões de 6 a 7 metros. Faixa de espuma branca.
9 Duro 66 a 77 Vagalhões de 7,5 metros com faixas de espuma densa. Muito borrifo.
10 Muito duro 78 a 90 Grandes vagalhões de 9 a 12 metros. Superfície do mar toda branca.
11 Tempestuoso 91 a 104 Grandes vagalhões de 13,5 metros. Navios médios somem nos cavados.
12 Furacão >105 Mar espumoso. Espuma e respingos saturam o ar. Sem visibilidade.

3 FENÔMENOS METEOROLÓGICOS
3.1 Nuvens

Nuvens são conjuntos de partículas líquidas ou sólidas. Existem dez gêneros de


nuvens (cirrus, cirrocumulus, cirrostratus, altocumulus, altostratus, nimbostratus,
stratocumulus, stratus, cumulus e cumulonimbus), além de várias espécies: fibratus,
uncinus, spissatus, castellanus, floccus, stratiformis, nebulosus, lenticulares, fractus,
humilis, mediocris, congestus e capillatus. Uma nuvem observada, pertencente a
um determinado gênero, só pode ser classificada em uma única espécie, o que
significa que as espécies excluem-se mutuamente. Ao contrário, há espécies que podem
pertencer a vários gêneros.
As nuvens são classificadas em relação à altura (TAB. 2.4), e de acordo com sua
estrutura, como:
1) Camada superior (nuvens altas): cirrus, cirrocumulus e cirrostratus;
2) Camada média (nuvens médias): altocumulus;
3) Camada inferior (nuvens baixas): stratocumulus e stratus.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 41
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Tabela 2.4 Classificação das nuvens de acordo com a altura nas diferentes latitudes do globo.

Andar Regiões polares Regiões temperadas Regiões tropicais


Superior de 3 a 8 km de 5 a 13 km de 6 a 18 km
Médio de 2 a 4 km de 2 a 7 km de 2 a 8 km
Inferior da superfície até 2 km da superfície até 2 km da superfície até 2 km

Fonte: VIANELLO e ALVES, 1991.

De acordo com os gêneros das nuvens, elas são descritas como:


A) Cirrus: nuvens isoladas em forma de filamentos brancos e delicados
(FIG. 2.9A);
B) Cirrocumulus: banco de nuvens finas brancas, com aparência levemente
enrugada ou em forma de grãos (FIG. 2.9B);
C) Cirrostratus: nuvens transparentes em forma de véu, com aspecto liso ou
fibroso (FIG. 2.9C);
D) Altostratus: camadas de nuvens brancas ou acinzentadas, em forma de flocos
(FIG. 2.9D);
E) Nimbostratus: nuvens densas, acinzentadas e com aspecto amorfo. Produzem
precipitação (FIG. 2.9E);
F) Stratocumulus: nuvens brancas ou acinzentadas, baixas, em forma de flocos
arredondados (FIG. 2.9F);
G) Stratus: nuvens muito baixas, estratificadas que cobrem grandes áreas
(FIG. 2.9G);
H) Cumulus: nuvens baixas e densas em forma de blocos ou glóbulos brancos
(FIG. 2.9H).

3.2 Nevoeiros

Nevoeiros são formados quando uma massa de ar experimenta resfriamento à


superfície. Trata-se de um tipo de nuvem estratiforme, que se forma na superfície ou
muito próximo a ela, e que afeta seriamente a visibilidade. Por isso, existe muita preocupa-
ção por parte dos órgãos gerenciadores dos meios de transportes aéreos, marítimos e
rodoviários, pois, muitas vezes, o nevoeiro torna-se uma situação precursora de acidentes
graves. Quando uma inversão térmica bem desenvolvida existe, nuvens estratiformes são
características da parte mais baixa da atmosfera. Se o ar localizado abaixo for suficientemente
úmido, uma camada estratiforme irá se formar, com topo à altura da base da inversão.
Para que a formação seja um nevoeiro, a base da inversão deve estar próxima à superfície.
O problema de investigar a formação dos nevoeiros consiste em determinar as circunstâncias
nas quais o resfriamento de massas de ar na superfície, num contexto de alta umidade,
pode ocorrer.

42 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 2.9 Gêneros de nuvens: (A) Cirrus; (B) Cirrocumulus; (C) Cirrostratus;
(D) Altostratus; (E) Nimbostratus; (F) Stratocumulus;
(G) Stratus; (H) Cumulus [Fotos: Natalia Pereira].

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 43
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Os nevoeiros estão classificados de acordo com alguns fatores, para os quais se
deve levar em conta tanto a explicação dos processos de formação como em prover
uma base para poder prevê-los. Do ponto de vista físico, reconhece-se que os nevo-
eiros podem ser formados tanto por resfriamento ao ponto de orvalho como por
adição de vapor de água, até que a temperatura do ponto de orvalho iguale à tempe-
ratura atual. Esses dois tipos são os nevoeiros formados por diminuição da tempera-
tura de uma massa de ar (com exceção de um) e os nevoeiros frontais, formados na
presença de precipitação, frequentemente com o aumento da temperatura do ponto
de orvalho como o fator mais importante.
– Nevoeiro associado à brisa terrestre/marítima: nevoeiros do tipo advectivo
dependem do transporte de ar entre regiões de temperaturas distintas. As
linhas de costa em geral apresentam essas características praticamente todo o
ano. No verão, em localidades onde as condições são favoráveis para o
transporte de ar quente e úmido do continente em direção à água, ocorre o
nevoeiro associado à brisa terrestre/marítima. O ar proveniente do continente
aquecido é resfriado ao passar sobre a superfície fria do oceano. Se os ventos
forem de moderado a forte, a turbulência pode manter uma taxa abrupta de
resfriamento nas camadas inferiores, e nuvens estratiformes formar-se-ão sob
a inversão turbulenta. Entretanto, se o vento for fraco, uma densa superfície de
nevoeiro pode ser desenvolvida sobre o oceano, a qual pode ser trazida de volta
para o continente por uma brisa marítima que se faz sentir no meio da tarde,
podendo voltar para o oceano quando a brisa terrestre prevalecer novamente.
– Nevoeiro de ar marítimo: ocorre através do resfriamento do próprio ar
marítimo sobre uma corrente fria. Sendo assim, o nevoeiro associado ao ar
marítimo pode ocorrer em qualquer lugar do oceano, onde houver significativa
diferença de temperatura. Entretanto, a maioria das águas frias oceânicas é
encontrada em correntes costeiras e, por isso, o nevoeiro de ar marítimo
desenvolve-se mais frequentemente próximo ao continente.
– Nevoeiro de ar tropical: esse tipo de nevoeiro está relacionado ao gradativo
resfriamento do ar tropical, à medida que ele se move de latitudes mais baixas
em direção aos polos sobre o oceano.
– Nevoeiro de vapor: ocorre quando o ar frio, com baixa pressão de vapor,
passa sobre água relativamente quente. É uma simples questão de pressão de
vapor, ou seja, se a água estiver bastante quente, o ar não necessita estar muito
frio para haver evaporação. Em geral, esses nevoeiros são rasos, da ordem de
15 a 30 metros, porém espessos o bastante para interferir na navegação ou
em voos sobre o mar.
– Nevoeiro de superfície: todos os nevoeiros que ocorrem sobre o continente
são causados total ou principalmente por resfriamento radiativo do ar inferior
úmido.

44 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– Nevoeiro de alta inversão: esse é basicamente um fenômeno de inverno e,


como todos os nevoeiros do tipo radiativo, ocorre apenas sobre o continente.
Ele é formado não pelo resultado da perda radiativa de uma só noite, como
no caso do nevoeiro de superfície, mas pela contínua perda de calor por
radiação que caracteriza regiões fora dos trópicos durante o inverno.
– Nevoeiro do tipo advectivo-radiativo: esse nevoeiro forma-se por
resfriamento radiativo noturno sobre o continente do ar oriundo do mar
durante o dia. Ocorre principalmente no fim do verão e do outono, quando
a água está relativamente mais quente.
– Nevoeiro de encosta: forma-se como resultado do resfriamento do ar por
expansão adiabática, à medida que ele se move para altitudes maiores. Esse é
um dos poucos tipos de nevoeiro que se mantém em condições de vento
relativamente forte.
– Nevoeiros pré-frontais (frentes quentes): são formados pelo aumento da
temperatura do ponto de orvalho sem resfriamento da camada de ar inferior.
Essas condições ocorrem no lado frio adiante de uma frente quente. Massas
de ar continental polar de inverno, quando associadas com frentes quentes e
precipitantes, geralmente apresentam nevoeiro ou nuvens estratiformes bem
baixas, por serem bastante estáveis.
– Nevoeiros pós-frontais (frentes frias): também são formados pela umidade
da precipitação frontal. Entretanto, a banda de precipitação associada a uma
frente fria é muito mais restrita do que a de uma frente quente.
– Nevoeiro frontal: a mistura de massas de ar quente e frio na zona frontal
pode produzir nevoeiro, se o vento for bem calmo e se ambas as massas
estiverem perto da saturação antes da mistura.

3.3 Precipitação

A precipitação é medida por um pluviômetro (FIG. 2.10) e pode ser do tipo


frontal, convectiva ou orográfica.
– Precipitação frontal: é originada de nuvens formadas a partir do encontro
de massas de ar frio e quente. A massa quente e úmida (mais leve) tende a se
elevar, resfriando-se adiabaticamente, isto é, sem trocar calor com o meio
adjacente. As chuvas frontais caracterizam-se por larga duração (dias),
intensidade moderada a fraca e sem horário predominante para sua ocorrência.
– Precipitação convectiva: origina-se de nuvens formadas a partir de correntes
convectivas (térmicas), que se resfriam adiabaticamente ao se elevarem, resultando
em nuvens de grande desenvolvimento vertical (cumuliformes). As chuvas
convectivas se caracterizam por forte intensidade, curta duração, por haver descargas
elétricas, trovoadas e granizo, e por predominarem no período da tarde e noite.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 45
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
– Precipitação orográfica: o vento, por sua direção, faz a massa de ar úmido subir
a montanha; eventualmente, a precipitação começa. Depois de passar o topo,
começa a descer e a se esquentar, chegando ao pé da montanha seco e quente.

400cm

funil
metálico

1,50m

torneira

1000 mL

900

800

proveta 700

600

500

400

300

200

100

Figura 2.10 Pluviômetro tipo Ville de Paris


[adaptado de <www.observatoriophoenix.astrodatabase.net>].

3.4 Sistemas frontais

Quando duas massas de ar de diferentes características físicas, como temperatura,


pressão e umidade, encontram-se, dão origem ao chamado sistema frontal, que é
composto, de um modo geral, por uma frente fria, o motor do sistema, e uma frente
quente, que a antecede. As frentes oclusas surgem quando a frente fria, movendo-se
mais depressa, ultrapassa a frente quente e ambas encontram-se à superfície, na fase
final do sistema. Os ventos que ocorrem com a passagem das frentes frias são mais
intensos e mais frios.
Frente fria é a borda dianteira de uma massa de ar frio, em movimento ou
estacionária. Em geral, a massa de ar frio se apresenta na atmosfera como um domo

46 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

de ar frio sobre a superfície. O ar frio, mais denso, desloca-se sob o ar mais


quente e menos denso, provocando uma queda rápida de temperatura junto ao
solo (menos de 5ºC logo na primeira meia hora). Logo, o ar quente é forçado a
subir, formando tempestades e também trovoadas. A chuva para abruptamente
após a passagem da frente.
As frentes frias movem-se até 64 km.h-1 em direção à Linha do Equador e possu-
em trajetória predominante de Noroeste, no hemisfério Norte, e de Sudoeste no
hemisfério Sul. Quando uma frente deixa de se mover, passa a ser chamada de frente
estacionária.
Os ventos altos, soprando nos cristais de gelo no topo dos cumulonimbus, geram
cirrus e cirrostratus, que anunciam a frente que se aproxima. Depois de a frente passar,
o céu acaba por clarear, aparecendo alguns cumulus de bom tempo (cumulus humilis).
Se o ar que se eleva é quente e estável, as nuvens predominantes são stratus e
nimbostratus, podendo-se formar nevoeiro na área de chuva. Se o ar for seco e
estável, o teor de umidade no ar aumentará e aparecerão somente nuvens esparsas,
sem precipitação.
Uma frente fria é representada simbolicamente por uma linha azul sólida com
triângulos que apontam para o ar quente e na direção do movimento, conforme a
Figura 2.11A.
Frente quente é a parte frontal de uma massa de ar quente em movimento, que
tende a ocupar o espaço do ar frio, produzindo uma larga faixa de nuvens e uma
chuva fraca e contínua.
As frentes quentes tendem a se deslocar lentamente e podem ser facilmente
alcançadas por frentes frias, formando frentes oclusas. Muitas vezes, uma camada de
nuvens cirrus é observada a mais de 1.000 km à frente da região da frente quente, em
torno de 48 horas antes de ela chegar. Depois surgem cirrostratus e altostratus. Em
torno de 300 km antes da frente surgem stratus e nimbostratus e eventualmente co-
meçará uma leve precipitação. Depois de a frente passar, observam-se cumulus humilis,
nuvens associadas a bom tempo.
A temperatura se eleva antes da chegada da frente quente, porque as nuvens absor-
vem radiação de ondas longas da superfície terrestre e emitem radiação de volta à
superfície (efeito estufa). Se a temperatura está mais fria, também podem ocorrer
nevoeiros, antecedendo a chegada da frente quente.
As nuvens mais pesadas, cumulus e cumulonimbus, embora sejam mais comuns
nas frentes frias, podem também ocorrer com frentes quentes.
As frentes quentes são representadas por uma linha vermelha com semicírculos na
parte superior, como mostra a Figura 2.11B.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 47
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B

Figura 2.11 Representação gráfica de um sistema frontal: (A) fria; (B) quente.

A aproximação ou o afastamento de um sistema frontal é claramente identificado


pelas mudanças nas condições do tempo, observadas na Tabela 2.5.

Tabela 2.5 Mudanças no tempo pela aproximação ou afastamento dos sistemas frontais.

Frente Fria Frente Quente


Variável Depois Depois
Antes Durante Antes Durante
Pressão Aumenta Aumenta Permanece Permanece
Diminui rapidamente Diminui
atmosférica lentamente constante constante
Constante exceto
Temperatura Diminui Permanece Aumenta Aumenta Permanece
com muita
do ar bruscamente constante gradativamente bruscamente constante
precipitação

Aumenta Aumenta Predomínio de Aumenta Começa a soprar Permanece


Vento velocidade, muda velocidade N/NW S/SE com lentamente a do quadrante N constante
direção para S/SW rajadas intensas velocidade
Diminui Permanece Aumenta Aumenta Permanece
Umidade Constante rapidamente gradativamente rapidamente
constante constante
Presença de Presença de Presença de
Formação de Presença de cirrus,
altocumulus, cumulus humilis Possível formação atratus
Nebulosidade cumulus e cirrostratus
cirrus e (tempo bom) de nimbustratus (nevoeiros)
cumulonimbus altostratus
cirrostratus
Céu claro, com Céu nublado,
Possibilidade de Possibilidade de pequena Precipitação com pouca Chuvas esparsas
Tempo
chuvas esparsas tempestades possibilidade de contínua possibilidade de e contínuas
precipitação precipitação

3.5 Ciclones extratropicais

Os meteorologistas descrevem esse sistema como depressões ou baixas e dão a


eles nomes próprios, que servem para facilitar a comunicação entre os previsores e o
público em geral. Trata-se de fenômenos comuns, que levam as mudanças no tempo
para a maior parte da Terra e, com sua aproximação, poderá se formar nebulosidade,
chuvas leves e até fortes temporais.
São ciclones de médias latitudes e sistemas meteorológicos de baixa pressão e escala
sinótica (de tempo); não são tropicais nem polares. Estão associados a sistemas frontais,
gradientes de temperatura do ar e gradientes de temperatura do ponto de orvalho.
Os ventos mais fortes são encontrados normalmente do lado mais frio das frentes
quentes e frias, onde as forças do gradiente de pressão são maiores. Os ventos fluem

48 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

no sentido horário em torno de um ciclone, no hemisfério Sul, devido ao Efeito


Coriolis. Perto do centro do ciclone, olho, a força do gradiente de pressão e o Efeito
Coriolis devem estar num balanço para evitar o colapso do ciclone sobre ele mesmo.
Ciclones extratropicais inclinam-se em direção às massas de ar frias e se fortalecem
com a altura. Acima da superfície da Terra, a temperatura perto do ciclone é crescentemente
mais fria do que no ambiente em volta e os diagramas espaciais de fase de ciclones são
usados para descobrir se o ciclone é tropical, extratropical ou polar.

3.6 Ciclones tropicais

Ciclone tropical é um sistema tempestuoso, caracterizado pela baixa pressão, por


trovoadas e por um núcleo quente, que produz ventos fortes e chuvas torrenciais.
Esse fenômeno meteorológico se forma nas regiões tropicais, onde constitui uma
parte importante do sistema de circulação atmosférica, ao mover calor da região
equatorial para as latitudes mais altas. Um ciclone tropical se alimenta do calor liberta-
do quando o ar úmido sobe e o vapor de água associado se condensa. Os ciclones
tropicais são alimentados por formas diferentes de libertação de calor do que outros
fenômenos ciclônicos, como os ciclones extratropicais, as tempestades de vento européias
e as baixas polares, permitindo a sua classificação como sistemas de núcleo quente.
No hemisfério Norte, os ciclones tropicais giram em sentido anti-horário e no hemisfério
Sul em sentido horário. Dependendo de sua localização geográfica e de sua intensidade, os
ciclones tropicais podem ganhar vários outros nomes, tais como furacão, tufão, tempestade
tropical, tempestade ciclônica, depressão tropical ou simplesmente ciclone.
Os ciclones tropicais produzem ventos fortes e chuvas torrenciais. Esses sistemas
também são capazes de gerar ondas fortes e a maré ciclônica, uma elevação do nível
do mar associada ao sistema, fatores secundários que podem ser tão devastadores
quanto os ventos e as chuvas fortes. Eles se formam sobre grandes massas de água
morna e perdem sua intensidade assim que se movem sobre a Terra – essa é a razão
por que regiões costeiras são geralmente as áreas mais afetadas pela passagem de um
ciclone tropical; assim, regiões afastadas da costa são geralmente poupadas dos ven-
tos mais fortes. Entretanto, as chuvas torrenciais podem causar enchentes severas e as
marés ciclônicas podem causar inundações costeiras extensivas, podendo chegar a
mais de 40 quilômetros da costa. Seus efeitos podem ser devastadores: em mar aber-
to, causam grandes ondas, chuvas e ventos fortes, perturbando a navegação internaci-
onal e, às vezes, provocando naufrágios por conta da agitação no mar, deixando um
rastro de água fria atrás deles, que tornam a região menos favorável para ciclones
tropicais posteriores. Em terra, ventos fortes podem danificar ou destruir veículos,
edifícios, pontes e outros objetos.
A maioria dos ciclones tropicais se forma em uma região com atividade de tem-
pestades e trovoadas que podem receber vários nomes: Frente Intertropical (ITF),

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 49
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) ou Cavado de Monção. Outra fonte
importante de instabilidade atmosférica é encontrada nas ondas tropicais, que causam
em torno de 85% dos ciclones tropicais intensos no Oceano Atlântico e se tornam a
maioria dos ciclones tropicais na bacia do Pacífico nordeste.
Um ciclone tropical pode se dissipar quando se move sobre águas com tempera-
turas significativamente menores do que 26,5°C. Isso fará a tempestade perder suas
características tropicais (ou seja, tempestades e trovoadas próximas ao centro e ao
núcleo quente) e torna-se uma área de baixa pressão remanescente, que pode persistir
por vários dias.
Além disso, o enfraquecimento ou a dissipação pode ocorrer se o ciclone
experimentar ventos de cisalhamento verticais, causando o afastamento das áreas de
convecção e da máquina de calor que alimenta o centro do sistema; isso normalmente
cessa o desenvolvimento do ciclone tropical.

3.7 Complexos convectivos de mesoescala

Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM) é um conjunto de nuvens


cumulonimbus coberto por densa camada de cirrus, que pode ser facilmente identifi-
cado em imagens de satélite devido a seu formato aproximadamente circular; apre-
senta um ciclo de vida rápido, de 6 a 12 horas.
Com base em características físicas obtidas com técnicas de realce em imageamento
de satélite no canal do infravermelho, os CCMs devem ter temperaturas de -32ºC a
-52ºC, além de cobrir uma área de 50.000 km2 até 1.000.000 km2.
Tempestades individuais maduras, com temperaturas da mesma ordem (ou seja,
-32°C), podem cobrir áreas de aproximadamente 1.000 km2 ou pouco mais. De
qualquer forma, a escala de um CCM é duas ordens de grandeza maior.
Complexos convectivos de mesoescala (escala de comprimento de 250-2.500 km
e escala de tempo de 6h) podem ser classificados de acordo com as suas característi-
cas físicas, seu nível de organização e seus locais de ocorrência. Efeitos de pequena
escala, como topografia e fontes de calor localizadas, podem exercer importante
papel no estágio inicial de desenvolvimento.
A liberação de calor latente pode produzir uma região de aquecimento anômalo,
de modo que eventos extremos (tornados, fortes rajadas) ocorram nessa fase.
Nos níveis médios da atmosfera, como o ar é potencialmente mais frio, ocorre
evaporação e, consequentemente, ventos descendentes, originando rajadas de ar frio
na camada limite superficial. O meio em grande escala começa a responder à presença
de uma região quente anômala e uma camada em níveis médios (750-400 hPa) de
movimento ascendente se desenvolve. Na superfície, frentes com rajadas chegam e

50 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

produzem uma camada alta fria. Isso dá início às tempestades individuais. Continua
uma forte ascendência nos baixos níveis de ar úmido e instável, e o sistema cresce
rapidamente. Em resposta ao aquecimento produzido pela tempestade, o ar na mé-
dia troposfera converge para o sistema e os movimentos ascendentes aumentam; essa
região pode exibir uma estrutura de núcleo quente.
Elementos de convecção intensa continuam a se formar na região, onde os
movimentos ascendentes dos baixos níveis fornecem combustível para essas con-
dições instáveis. Nessa etapa, tempestades severas podem ainda ocorrer; entretanto,
o tipo principal de condição do tempo passa a ser de fortes chuvas localizadas.
As características dominantes do sistema maduro passam a ser uma grande área
de precipitação.
O estágio de dissipação é marcado por uma rápida mudança na estrutura do
sistema, pois elementos de intensa convecção não mais se desenvolvem. Embora
o CCM rapidamente perca sua organização, o ar frio ainda forma alguma nebu-
losidade, de maneira que pequenas pancadas podem persistir por algumas horas.
Provavelmente, a feição mais importante dos CCMs é sua associação com uma
região de convergência na média troposfera. A maioria desses eventos se forma
ao entardecer e nas primeiras horas da noite, o que indica que é necessário um
mecanismo de modulação diurna para acionar o gatilho da convecção.

4 SERVIÇOS METEOROLÓGICOS
Além de todos os instrumentos meteorológicos disponíveis nas embarcações
e de todas as informações listadas e explicitadas anteriormente, os navegantes
dispõem de uma infraestrutura em terra que ampara todos os que estão em alto
mar. Ela é composta de centros especializados em monitoramento e previsão do
tempo, os quais podem ser públicos ou privados.
Dentre tantos serviços oferecidos por essas empresas, os mais importantes
para a navegação são: cartas sinóticas, mensagens codificadas, boletins
meteorológicos e imagens de satélite. Nesse momento, não apenas se mostra
cada um desses serviços, mas principalmente se tentar auxiliar o navegante a
interpretar cada um deles.
Os serviços meteorológicos de apoio ao navegante obedecem às normas da Or-
ganização Meteorológica Mundial. As transmissões das mensagens meteorológicas
obedecem às disposições da União Internacional de Telecomunicações (UIT). A ope-
ração do serviço meteorológico, na área marítima de responsabilidade do Brasil cabe
ao Centro de Hidrografia da Marinha (CHM), órgão subordinado à Diretoria de
Hidrografia e Navegação (DHN) e que abrange a área do Oceano Atlântico delimita-
da conforme a Figura 2.12.

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 51
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
80° 70° 60° 50° 40° 30° 20°

10°

H N

Belém G
Fortaleza
Natal
Olinda F
10°

Salvador

E
Vitória 20°
Trindade
Rio de Janeiro D
Santos
Paranaguá C

B S
30°
Rio Grande
(Junção) A

40°

Figura 2.12 Área do Oceano Atlântico monitorada pelo


Centro de Hidrografia da Marinha [Fonte: DHN].

4.1 Cartas sinóticas

As cartas sinóticas de superfície são disponibilizadas no sítio da Marinha do Brasil


(www.mar.mil.br). Através dessas cartas, é possível identificar o posicionamento dos
centros de alta e baixa pressão, dos sistemas frontais, dos ciclones extratropicais e as
tendências de tempo, pois nelas estão plotados os dados meteorológicos medidos em
superfície, nas estações meteorológicas localizadas em várias cidades do país, como
pressão atmosférica, temperatura do ar, precipitação acumulada, temperatura do ponto
de orvalho, condição do tempo presente, intensidade e direção do vento e nebulosi-
dade. Essas cartas podem ser enviadas para as embarcações por aparelhos de Fax ou
pela Internet e auxiliam na previsão das condições do tempo.

52 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Na carta sinótica, é possível identificar os centros de alta pressão, representados


pelas linhas isóbaras (mesma pressão) fechadas com a letra A maiúscula no centro,
enquanto os centros de baixa pressão são representados pela letra B (FIG. 2.13).

90° 80° 70° 60° 50°W 40° 30° 20° 10° 0°


20° 20°
1012 1016 1016 1016 1020 1020 1016 1012

10°1008 10°
HA D O B R
IN A
AR
SI
M

1006 MARINHA DO BRASIL


H
0° 0°
BRAZILIAN NAVY
CENTRO DE HIDROGRAFIA DA MARINHA G
NAVY HYDROGHAPHIC CENTRE
1008 Escala/Scale: 1:101 200 000
Mercartor

10° F 1012 10°


1012

E 1016
20° 20°
1020
D
1016 1024
C
1020 B
30° 30°
1024 1000
1008

A
1028 1024
40° 1020 40°
1006
1028 1016
1024
1020 1012
1016 1008
1008
50° 1004 50°
1008
1004
1000 1000 1000
996
992
998

988
992
60° 60°
992
996 984

992
980

968 1006

976 980
70° 988 984 980 976 972 972 980 70°
90° 80° 70° 60° 50°W 40° 30° 20° 10° 0°

Figura 2.13 Carta sinótica de superfície do dia 09/03/2010 às 12:00Z [Fonte: DHN].

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 53
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A direção do vento é representada por um traço que aponta para a direção de
onde o vento sopra e a intensidade do vento é representada conforme a Figura 2.14.

5 10 50 65

Figura 2.14 Representação gráfica da velocidade do vento em nós.

As condições de nebulosidade são representadas por símbolos, como mostra a


Figura 2.15.

claro pouco nublado parcialmente totalmente obscurecido


nublado nublado

Figura 2.15 Representação gráfica da nebulosidade do céu.

4.2 Imagens de satélite

Um satélite meteorológico é um tipo de satélite artificial utilizado para monitorar


o tempo e o clima da Terra. Suas imagens permitem identificar nuvens, queimadas,
efeitos de poluição, auroras, tempestades de raios e poeira, superfícies cobertas por neve
e gelo, limites das correntes oceânicas, entre outros fenômenos (FIG. 2.16). Orbitando a
uma altitude de 36.000 km sobre a Linha do Equador, o satélite GOES-12, localizado na
longitude 56° 22’W, é utilizado para monitorar a atmosfera sobre a América do Sul.
Nas imagens de satélite, no canal do visível, é possível identificar as nuvens e os
centros de pressão atmosférica e, consequentemente, a trajetória desses sistemas. Além
disso, identifica-se a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), através da nebulosi-
dade próxima ao Equador e aos Complexos Convectivos de Mesoescala, através das
nuvens arredondadas e bastante brancas.

54 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

4.3 Boletins meteorológicos

Os serviços meteorológicos de interesse do navegante, elaborados pelo Centro de


Hidrografia da Marinha (CHM), são classificados de acordo com a finalidade a que se
destinam. Para a navegação, o boletim de condições e previsão de tempo
(METEOROMARINHA) é o mais importante.

Figura 2.16 Imagem do satélite GOES-E, no canal do visível


[Fonte: CPTEC/INPE].

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 55
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Esse boletim é enviado de acordo com as normas estabelecidas pela Organização
Meteorológica Mundial (OMM) e é destinado à navegação marítima de longo curso
e de cabotagem. É constituído de seis partes, conforme descrito a seguir:
1) Parte I – avisos de mau tempo em vigor;
2) Parte II – resumo descritivo de tempo;
3) Parte III – previsão do tempo;
4) Parte IV – análise e/ou prognóstico do tempo (código IAC FLEET);
5) Parte V – seleção de mensagens meteorológicas de navios (código SHIP);
6) Parte VI – seleção de mensagens meteorológicas de estações terrestres
(código SYNOP).
As Partes I, II e III são transmitidas oralmente, em português, e repetidas em
inglês, após a Parte VI.
A Parte I é divulgada de acordo com os critérios indicados em avisos de mau tempo.
A Parte II é uma sinopse ou sumário da situação atmosférica em um determinado
instante de referência, com indicação das posições das configurações sinóticas existen-
tes na área, seu movimento, desenvolvimento e área afetada. Essa parte começa com
a data-hora (HMG) de referência (hora da análise sinótica).
A Parte III fornece as previsões de fenômenos de tempo significativos, ventos
predominantes, ondas e visibilidade. As previsões são válidas para o período menci-
onado no início do seu texto, para as áreas costeiras (ALFA a HOTEL) e oceânicas
(NOVEMBER e SIERRA).
A Parte IV é constituída por uma análise ou prognóstico, no formato do código
IAC FLEET.
A Parte V é formada pelos sete primeiros grupos de mensagens SHIP (a partir do
grupo da latitude), selecionadas por serem consideradas representativas das configu-
rações sinóticas mais importantes.
As mensagens SHIP são preenchidas com dados meteorológicos observados a
bordo dos navios e nas estações costeiras. Essas informações são extremamente im-
portantes para compor o METEOMARINHA, pois informam as reais condições
atmosféricas da localidade onde a embarcação se encontra. Para formar a mensagem
SHIP, a embarcação deve possuir os seguintes instrumentos: barômetro ou barógrafo,
termômetro (para verificar temperatura da água), pscicrômetro, anemômetro,
anemoscópio, cronógrafo, quadro de nuvens (da DHN) e quadro do estado no mar
(da DHN).
A Parte VI é formada pelos seis primeiros grupos das mensagens SYNOP.

56 NATALIA P EREIRA
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

5 NAVEGAÇÃO COM MAU TEMPO E MEDIDAS DE SEGURANÇA


A navegação com mau tempo é extremamente discutida pelos navegantes e pes-
quisadores da área náutica. Embora as opiniões sejam distintas, todos concordam que
o melhor a fazer é um bom planejamento antes de navegar, no qual se recomenda
conhecer a geografia da região a ser navegada, o clima e principalmente os fenôme-
nos meteorológicos que costumam ocorrer. Partindo desses princípios, o navegante
dificilmente será surpreendido, pois já terá se preparado para a ocorrência de alguns
eventos.
O principal risco que as embarcações podem sofrer está relacionado à formação
de ondas, formadas por grandes tempestades que ocorrem no meio dos oceanos.
Quanto maior a velocidade e a duração do vento, além do comprimento sobre o qual
ele atua na superfície (fetch), maior será a altura das ondas. O efeito das ondas nos
navios depende da velocidade e da dimensão da embarcação.
Chama-se de alquebramento quando o navio encontra-se com a proa e a popa
entre cristas e cavados, causando balanços fortes e constantes, podendo partir a em-
barcação pelo meio. Por isso, em situações de avisos de tempestades com ventos
intensos, devem ser tomadas medidas de segurança para tentar manter a máxima
estabilidade do navio. Primeiramente, devem ser fechados todos os compartimentos,
isolando escotilhas, vigias, portas estanques e agulheiros, deixando aberto apenas o
que for necessário para a continuação da navegação. Os objetos volantes devem ser
fixados e os cabos do navio apeados. Outra medida importante é a verificação das
balsas salva-vidas.
Encontra-se na literatura uma explicação completa e detalhada de todas as mano-
bras que o navegante pode optar por fazer, em caso de mar extremamente agitado.
Aqui será feito um resumo dessas informações: em caso de mar grosso, o navegante
deve optar pela estabilidade da sua embarcação; logo, existem medidas de segurança
para cada situação, conforme descrito a seguir:
Capear é manter o navio com a proa chegada ao vento e ao mar, para aguentar o
mau tempo, com pouco seguimento.
Correr com o tempo significa navegar com o mar de popa, o mais lentamente
possível, pois assim o navio terá menos eficácia no leme (capacidade de governo) e
poderá ficar muito tempo em posições críticas.
Dar adiante toda força consiste em utilizar a velocidade máxima do navio. Na
maioria dos casos, é recomendável guinar para sotavento, para pegar o mar de popa,
porque isso garante ao navio um maior intervalo de tempo até ser alcançado pela
próxima onda que se sucede.
Além dessas manobras, ainda podem-se utilizar outros dois métodos: o das ânco-
ras flutuantes (utilizável apenas em embarcações pequenas e veleiros), que consiste no

METEOROLOGIA M ARÍTIMA 57
seu lançamento pela proa, para manter o navio capeando, com a
proa apontando diretamente para a direção de onde sopra o
vento e de onde vem o mar, tentando manter uma maior
estabilidade. Outra possibilidade é o método de lançamento de
óleo na superfície do mar. Ao jogar óleo no mar, ele se espalha
rapidamente, formando uma camada que impede a aderência
do vento com a água. Assim, o óleo evita a desagregação das cristas
das ondas, obtendo-se uma ondulação mais suave, que passa pelo
navio, em vez de se quebrar sobre ele, em golpes de mar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, G.L.M. Navegar é Fácil. 12.ed. Petrópolis, RJ:
Catedral das Letras, 2006. 655p.
DASHEW, S.; DASHEW, L. Mariner’s Weather Handbook.
S.l.: Beowulf, 1998.
LOBO, P.R.V.; SOARES, C.A. Meteorologia e Oceanografia:
usuário navegante. Rio de Janeiro: FEMAR, 1999. 481p.
KRAUS, E.B. Atmosphere-Ocean Interaction. Oxford:
Clarendon Press, 1972.
MIGUENS, A.P. Noções de Meteorologia para Navegantes. In:
________ Navegação Eletrônica e em Condições
Especiais. Rio de Janeiro: Diretoria de Hidrografia e Navegação,
2000. v. 3, p. 1737-1822 (Navegação: a ciência e a arte).
NASA. The Earth’s Energy Budget. Disponível em: <asd-
www.larc.nasa.gov/SCOOL/energy_budget.html>. Acesso em:
15 outubro de 2010.
SONNEMAKER, J.B. Meteorologia. Guaratingueta, SP: Ed.
ASA, 1991. 208p.
STRAHLER, Alan; STRAHLER, Arthur. Introducing Physical
Geography. 4.ed. New York: John Wiley & Sons, 1997. 567p.
VAREJÃO-SILVA, M.A. Meteorologia e Climatologia. Recife,
PE: Ed. do autor, 2006. 463p.
VIANELLO, R.L.; ALVES, A.R. Meteorologia Básica e
Aplicações. Viçosa, MG: UFV Impr. Univ., 1991. 449p.
WALLACE, J.M.; HOBBS, P.V. Atmospheric Science: an
introductory survey. New York: Academic Press, 1977. 467p

58
59
Foto: Projeto Amazônia Azul
SEGURANÇA E SOBREVIVÊNCIA
Danilo Calazans e Denis Dolci
3
CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

A segurança deve ser a maior preocupação de todos a bordo, principalmente


daqueles que não estão acostumados com a rotina das atividades desenvolvidas num
navio. Mas, como melhor definir segurança no caso de se estar trabalhando a bordo
de uma embarcação? É possível defini-la como sendo condição para exercer qualquer
atividade isenta de risco de acidente à embarcação e ao pessoal, cuidando,
criteriosamente, dos equipamentos e de todo material embarcado.
Para muitos, um cruzeiro é uma nova experiência. Entretanto, o bom senso, em
termos de segurança que se tem em terra firme, pode adequar-se à experiência
embarcada. Sendo assim, é preciso estar sempre alerta para qualquer situação em que
a própria segurança ou a de outros embarcados estejam em risco. Do mesmo modo,
todos os participantes de um embarque devem assumir a responsabilidade de prevenir
riscos de acidentes.
Neste capítulo, serão apresentadas ideias gerais e bastante específicas sobre a
segurança a bordo, enfocando, preponderantemente, um cruzeiro em navio de pesquisa.
Foto: Danilo Calazans
1 POLÍTICAS DE SEGURANÇA, BUSCA E SALVAMENTO
Após o acidente com o Titanic, ocorrido em 1912, a Comissão Internacional Ma-
rítima, em inglês, International Maritime Organization (IMO), realizou, em Londres, no
ano de 1914, uma Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida no Mar
(Safety of Life at Sea - SOLAS), o mais importante tratado sobre segurança em embar-
cações com passageiros, definindo equipamentos de salvamento e de transmissões a
bordo. A partir de então, em reuniões que ocorrem a cada quatro anos, medidas
preventivas para outros transtornos no mar (como incêndio a bordo e em outros
tipos de embarcações) foram sendo incorporadas por conta da evolução dos equipa-
mentos na área de segurança no mar e, também, do terrorismo.
A atual versão da Emenda SOLAS data de 2002. Em vigor desde 2004, suas
resoluções resultaram num extenso documento, com especificações que levam em
consideração aspectos nas seguintes áreas de segurança marítima:
– estruturas, estabilidade, motores e instalações elétricas;
– proteção contra incêndios (meios de detecção e extinção);
– salvamento (treinos, procedimentos, equipamentos, entre outros);
– comunicações (instalações, equipamentos, energia, operadores, entre outras);
– segurança da navegação, carga, transporte de carga perigosa;
– navios nucleares, navios de alta velocidade;
– medidas necessárias e adequadas para melhorar a segurança marítima.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 61
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A agência especializada das Nações Unidas que trata dos assuntos marítimos é a
Organização Marítima Internacional (IMO), criada para padronizar os serviços de
busca e salvamento marítimo e para estreitar, em nível internacional, os laços de
cooperação entre os serviços dos diversos países. Essa organização realizou uma
conferência na cidade de Hamburgo, Alemanha, em 1979, onde foi aprovada uma
Política Internacional de Busca e Salvamento Marítimo (SAR), que entrou em vigor
em 22 de junho de 1985.
A expressão inglesa Search and Rescue (SAR) é traduzida para o português como
Busca e Salvamento. Referente à estrutura relativa à Busca e Salvamento (SAR),
o Brasil conta com o envolvimento de organizações militares: como o
SALVAMAR, da Marinha do Brasil, que tem por finalidade prover o salvamento
de pessoas em perigo no mar, no interior da área marítima de responsabilidade
brasileira; o SALVAERO, da Força Aérea Brasileira, e o Sistema de Alerta do
Ministério das Comunicações. Esse serviço, implementado em 1985, está em
conformidade tanto com os princípios estabelecidos na Convenção Internacional
sobre Busca e Salvamento Marítimo, quanto as suas áreas de jurisdição e o modelo
de organização desse serviço.
A região de Busca e Salvamento Marítimo, sob a responsabilidade do Brasil,
abrange todo o litoral brasileiro, estendendo-se até o meridiano de 010ºW. Tendo em
vista suas grandes dimensões, esta faixa foi dividida em cinco sub-regiões marítimas
e, em cada uma delas, foi instalado um Centro de Coordenação SAR, a saber:
– SALVAMAR Sul (sede em Rio Grande, RS);
– SALVAMAR Sueste (sede no Rio de Janeiro, RJ);
– SALVAMAR Leste (sede em Salvador, BA);
– SALVAMAR Nordeste (sede em Natal, RN);
– SALVAMAR Norte (sede em Belém, PA).
Em fevereiro de 1999 passou a vigorar, em definitivo, o Global Maritime Distress
and Safety System (GMDSS), ou Sistema Marítimo Mundial de Socorro e
Segurança, que faz parte do SOLAS e que vinha sendo implementado desde 1988.
O GMDSS é um sistema de emergência e comunicações para embarcações, que
substituiu o modelo anterior que era baseado no sistema manual de código Morse,
em 500 kHz, o canal de emergência 16 em VHF e 2.182 kHz em MF, alterando o
sistema de comunicações e de emergência em nível mundial.
O GMDSS é um sistema automático, que usa os satélites do sistema COSPAS-
SARSAT e uma tecnologia de chamada digital seletiva. Através de equipamento
apropriado, tem a vantagem da simplificação das operações de rádio (alertas), da
melhoria da busca e salvamento, da exata localização do pedido de socorro e de um
sistema de alerta ao nível mundial, coordenado por centros de salvamento específicos

62 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ao redor do mundo. Permite também uma rápida disseminação das comunicações


de Urgência e Segurança, Avisos aos Navegantes e Informação Meteorológica.
O GMDSS utiliza quatro áreas de cobertura e vigilância:
– A1: área ao alcance de uma estação costeira VHF, preparada para receber
DSC (cerca de 20 a 30 milhas de distância);
– A2: área ao alcance de uma estação costeira MF, preparada para receber
DSC (cerca de 100 milhas de distância);
– A3: área coberta pelo sistema de satélites INMARSAT (fora das áreas A1 e
A2 e entre os paralelos 70°N e 70°S);
– A4: áreas não cobertas pelas anteriores, tipicamente as polares.
Os equipamentos utilizam um sistema digital de identificação, enviando, em cada
comunicação, o seu Maritime Mobile System Identification (MMSI), que identifica e relaciona
as características da embarcação (nome, porto de registro, tamanho, entre outros dados).
Os equipamentos recomendados a bordo, no caso de embarcações de pesquisa,
dependem da legislação do país e da área de navegação, podendo ser constituídos de:
rádio VHF, com Digital Selective Calling (DSC), sistema com receptor NAVTEX,
INMARSAT e EPIRB 406 MHz.
Os rádios VHF, com chamada seletiva digital (DSC), fazem escutas automáticas
no canal 70 e, em caso de recepção de uma chamada de emergência, é possível
identificar o nome da embarcação que chama ou o canal de trabalho (ex: 16 ou outro,
de navio a navio).
O sistema NAVTEX é um serviço internacional de telegrafia, de impressão direta,
para transmissão de avisos náuticos, como o estado do mar, informações sobre marés
e restrições de navegação, além da emissão de boletins e prognósticos meteorológicos
ou informações urgentes de segurança marítima, relativos a águas até 400 milhas da
costa. Esse sistema utiliza uma só frequência (518 kHz) em todo o mundo, com
mensagens em inglês, e uma banda de 490 kHz para as transmissões na língua local. As
estações costeiras de rádio, das autoridades marítimas locais, são as encarregadas de
transmitir as informações.
O Sistema Inter nacional de Comunicação Marítima por Satélites
(INMARSAT), do inglês International Maritime Satellite Organization, é uma compa-
nhia de telecomunicação móvel, aos moldes da Inglaterra, que conta com 11
satélites em órbita geoestacionária para cobertura de todo o planeta (menos dos
polos Sul e Norte), estações terrenas costeiras (CES) e estações terrenas de navio
(SES). Esse sistema permite comunicação via telefone, telex e serviços de Internet
de banda larga, entre navio/terra, navio/navio e terra/navio, sem calcular, no entanto,
a posição da embarcação.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 63
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
2 SALVAMENTO E SEGURANÇA A BORDO
Dentre as principais atividades da segurança a bordo de uma embarcação desta-
cam-se os itens, a seguir relacionados.

2.1 Prevenção de acidentes

– Equipamentos da embarcação: um navio de pesquisa deve ser equipado


com itens obrigatórios de segurança, como rádios, telefone INMARSAT (via
satélite), transponder (via radar), o EPIRBE (localização via satélite), balsa
salva-vidas e um bote homem ao mar. Um quadro informativo dos
ocupantes de cada balsa deve ser fixado em vários locais da embarcação,
como na sala de comando, no refeitório e no laboratório. Também, nos
mesmos locais, deve haver informações sobre sobrevivência no mar,
procedimentos de primeiros socorros, respiração artificial, utilização de salva-
vidas e sinais de salvamento.
– Equipamentos de proteção individuais (EPI): o colete salva-vidas é o
principal EPI de salvamento. De acordo com as regras da Marinha do Brasil,
o colete salva-vidas é obrigatório para todas as classes na navegação em mar
aberto. As embarcações precisam estar equipadas com colete salva-vidas Classe
II em todos os beliches, colocados em local acessível. Além disso, as boias
salva-vidas deverão estar distribuídas pela embarcação, suspensas em suportes
fixos, sem amarras. Capacete, outro importante EPI, é de uso obrigatório
quando uma coleta está sendo realizada.
– Procedimentos a bordo: no momento de embarque em um navio de
pesquisa, antes da saída do cruzeiro, o Comandante deverá informar sobre
o funcionamento dos equipamentos de segurança e o procedimento de
desembarque em caso de necessidade. Nessa explanação, o Comandante
irá reforçar certas regras de conduta e de relacionamento a bordo, a
exemplo de algumas listadas a seguir, as quais deverão ser observadas por
todos:
1) obedecer às instruções dos tripulantes;
2) manter-se atento ao comportamento dos colegas de embarque;
3) tomar cuidado com objetos enrolados, como cabos ou cordas;
4) afastar-se do convés quando redes de pesca estiverem sendo lançadas ou
recolhidas;
5) utilizar capacete durante as coletas no convés e uma vestimenta adequada
para cada ocasião;
6) colocar os coletes salva-vidas quando necessário;

64 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

7) avisar os tripulantes sobre alguma irregularidade como, por exemplo,


óleo ou lixo espalhados no convés, ou tábuas com farpas, pregos e
parafusos com ponta livre;
8) observar áreas e equipamentos pintados de laranja, porque indicam áreas de
risco;
9) descer as escadas de frente para elas.

ATENÇÃO! Não é permitido:


1) correr ou pular a bordo do navio;
2) sentar na borda da embarcação;
3) mergulhar no mar, a não ser em caso de necessidade;
4) permanecer sozinho no convés, principalmente à noite;
5) atirar objetos na água;
6) operar equipamentos, a não ser quando autorizado a fazê-lo;
7) tentar deter um equipamento que está sendo lançado;
8) realizar atividades de coleta por conta própria;
9) amarrar ao corpo qualquer tipo de corda ou cabo manuseado a bordo;
10) alimentar animais na beira do cais.

Além disso, ficar ATENTO e tomar CUIDADO com:


1) animais coletados, como, por exemplo, rabo de arraia e água viva;
2) reagentes químicos utilizados a bordo;
3) a voltagem elétrica, comunicando anomalias, tais como luzes piscando e
fios quentes.

Em caso de abandono do navio, é muito importante para cada um dos embarcados:


1) permanecer calmo e seguir, rigorosamente, as instruções da tripulação;
2) lembrar-se do número do beliche que lhe foi destinado no início da
viagem;
3) pegar seu colete salva-vidas;
4) dirigir-se a sua balsa salva-vidas.

Uma lista dos ocupantes, como a do N/Pq Atlântico Sul, apresentada na Tabela
3.1, estará fixada em vários locais no navio. É prudente seguir o caminho mais curto
para chegar a sua balsa, sem se preocupar em salvar seus pertences e manter a calma,
o quanto possível.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 65
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Tabela 3.1 Lista dos ocupantes das balsas salva-vidas do N/Pq Atlântico Sul.

Balsa 01 (bombordo) Balsa 02 (boreste)


Beliche 01 Beliche 02
Beliche 03 Beliche 04
Beliche 05 Beliche 06
Beliche 07 Beliche 08
Beliche 09 Beliche 10
Beliche 11 Beliche 12
Beliche 13 Beliche 14
Beliche 15 Beliche 16
Beliche 17 Beliche 18
Beliche 19 Beliche 20
Beliche 21 Beliche 22
Beliche 23 Beliche 24
Beliche 25 Beliche 26

Toda a embarcação com mais de 15 m é obrigada pelas Normas da Autoridade


Marítima (NORMAM), da Diretoria de Portos e Costas (DPC) da Marinha do Brasil,
a possuir balsa salva-vidas. Segundo o Capítulo 3 da NORMAM 5, o equipamento
normal da balsa salva-vidas consiste de:
1) um aro de salvamento flutuante, preso a um cabo flutuante com um
comprimento não inferior a 30 m;
2) uma faca do tipo não dobrável, dotada de um punho flutuante e com um
fiel, presa e guardada em um bolso colocado do lado externo da cobertura,
perto do ponto onde a boça é amarrada à balsa; além disso, toda balsa salva-
vidas autorizada a acomodar 13 pessoas, ou mais, deverá ser dotada de uma
segunda faca, não necessariamente do tipo não dobrável;
3) uma cuia flutuante para balsas salva-vidas autorizadas a acomodar 12 pessoas
ou mais ou duas cuias flutuantes para balsas salva-vidas autorizadas a
acomodar 13 pessoas ou mais;
4) duas esponjas;
5) duas âncoras flutuantes, cada uma dotada de um cabo de reboque resistente
a choques, sendo uma sobressalente e a outra presa, permanentemente, à
balsa salva-vidas, de modo que quando a balsa inflar ou estiver na água,
permita-lhe ficar afilada ao vento da maneira mais estável; a resistência de
cada âncora flutuante e do seu cabo de reboque deverá ser adequada para
qualquer estado do mar; as âncoras flutuantes deverão ser dotadas de meios
que impeçam a torção do cabo e do tipo que, dificilmente, vire pelo avesso
entre os seus tirantes; as âncoras flutuantes presas permanentemente às balsas
salva-vidas, lançadas por meio de turcos, e as balsas salva-vidas, instaladas
em navios de passageiros, deverão ser lançadas apenas manualmente; todas
as demais balsas salva-vidas precisam ser dotadas de âncoras flutuantes,
lançadas automaticamente quando a balsa inflar;
6) dois remos flutuantes;

66 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

7) três abridores de lata (quando a ração for fornecida em embalagem metálica)


e um par de tesouras; as facas de segurança, com lâminas especiais para abrir
latas, satisfazem a esta prescrição;
8) uma caixa de primeiros socorros à prova de água, possível de ser
hermeticamente fechada após o uso;
9) um apito, ou um dispositivo equivalente, que emita sinais sonoros;
10) quatro foguetes iluminativos com paraquedas, do tipo homologado;
11) seis fachos manuais do tipo homologado;
12) dois sinais fumígenos flutuantes, do tipo homologado;
13) lanterna portátil à prova de água, adequada para sinalização morse, com um jogo de
pilhas e uma lâmpada sobressalentes, guardadas em um recipiente à prova de água;
14) um refletor radar eficaz, caso não haja um transponder radar para
embarcações de sobrevivência, guardado na balsa salva-vidas;
15) um espelho de sinalização diurna e instruções para a sua utilização com outros
navios e aeronaves;
16) uma cópia dos sinais de salvamento mencionados na regra v/16 do solas, impressa
em um cartão ou guardada em um recipiente fechado, ambos à prova de água;
17) um conjunto de apetrechos de pesca;
18) ração alimentar, contendo não menos do que 10.000 kj para cada pessoa que
a balsa salva-vidas estiver autorizada a acomodar; essas rações deverão ser
saborosas, próprias para consumo ao longo de todo o período de
armazenamento na balsa salva-vidas, e embaladas de modo a poderem ser
rapidamente divididas e facilmente abertas; as rações precisam estar contidas
em embalagens a vácuo e guardadas em um recipiente à prova de água;
19) recipientes herméticos, contendo um total de 1,5 litro de água doce para
cada pessoa que a balsa salva-vidas estiver autorizada a acomodar, dos quais
0,5 litro por pessoa poderá ser substituído por um aparelho de dessalinização
(capaz de produzir uma quantidade igual de água doce em 2 dias) ou 1 litro
por pessoa poderá ser substituído por um dessalinizador por osmose reversa,
acionado manualmente (também capaz de produzir uma quantidade igual de
água doce em 2 dias);
20) um copo inquebrável graduado;
21) medicamentos contra enjoo (suficientes para, pelo menos, 48 horas) e um
saco impermeável para cada pessoa (próprio para vômitos), na quantidade
que a balsa salva-vidas estiver autorizada a acomodar;
22) instruções sobre sobrevivência e ações imediatas a serem empreendidas;
23) meios de proteção térmica, em número suficiente para 10% do número de
pessoas que a balsa salva-vidas estiver autorizada a acomodar.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 67
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Para maior segurança, não se deve embarcar ou desembarcar do navio sem
permissão para fazê-lo. Se for preciso usar a escada para embarcar ou desembarcar,
alguém da tripulação será encarregado de segurar a bagagem, liberando ambas as mãos do
passageiro para apoio. Na hora da atracação, o convés deverá estar livre para que a tripulação
possa cumprir o seu trabalho, portanto todos devem manter-se afastados da borda.

2.2 Salvamento

Em uma embarcação, é muito fácil deixar cair na água qualquer objeto como, por
exemplo, um capacete ou os óculos. O difícil é recuperar esses objetos. Ver alguém
embarcado cair na água é uma situação das mais aflitivas para qualquer Comandante
ou colega de trabalho. Diante de tal situação, o importante é manter a calma e ter
conhecimento apropriado, exato dos procedimentos de uma operação de salvamento.
Este é o primeiro passo para aumentar as possibilidades de êxito nesta atividade.
Evitar o acidente deve ser a primeira regra de segurança. Para isso, é fundamental
o respeito às normas e que não se façam malabarismos a bordo. Além disso, é preciso
que, pelo menos, uma das mãos esteja livre para segurar ou agarrar um ponto fixo do
barco. O uso do cinto de segurança é recomendado à noite, quando se está no convés,
ou durante mau tempo. Vestir a jaqueta salva-vidas (inflável ou não) não deve ser
encarado como sinal de fraqueza ou vergonha, mas como sensatez. Este equipamento
deve ser adequado para quem o está vestindo, além de ter, no mínimo, um apito –
adicionalmente poderá conter um espelho heliográfico, uma lanterna de flash, ou outro
meio de localização noturna. Muitas vezes, o estado calmo do mar faz com que se
dispense a jaqueta. Neste caso, recomenda-se o uso de um apito pendurado ao pescoço.
Caso alguém caia na água, devem ser tomadas as seguintes providências:
1) gritar “HOMEM AO MAR”, para que todos a bordo fiquem atentos ao
início da operação de resgate;
2) de imediato, a tripulação deve ocupar os postos de manobra;
3) acionar o dispositivo eletrônico no GPS ou similar de MOB (Man Over Board);
4) deixar o motor em ponto morto;
5) lançar uma boia de salvamento, o mais próximo possível do náufrago (evitando
acertá-lo) e tentar nunca perdê-lo de vista;
6) se ocorrer à noite, lançar, também, o facho luminoso junto à boia;
7) de dia, com mar agitado, arremessar um dispositivo de fumaça laranja próximo
ao náufrago, para que se consiga visualizar sua posição;
8) é importante destacar um tripulante somente para vigiar a posição da vítima. Desta
forma, o restante da tripulação poderá se concentrar nas manobras de bordo;
9) preparar um cabo, preferencialmente flutuante, com uma laçada ou um nó no
chicote, que será lançado à vítima;
10) iniciar uma manobra de resgate adequada à situação.

68 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Se o náufrago estiver inconsciente, é necessário que um dos tripulantes salte para a


água (com colete e boia com retinida) para auxiliar o resgate do náufrago. A próxima
manobra será içar para bordo o acidentado e o tripulante que saltou na água. Mesmo
sabendo que a colaboração do náufrago é difícil, a calma e a frieza são importantes na
tomada de decisões preconcebidas para o sucesso do salvamento. Atitudes incorretas
e desesperadas podem dificultar o ato ou pôr em risco a própria vida. Assim, é de
suma importância, para qualquer pessoa embarcada, o conhecimento das
recomendações descritas a seguir:
1) no mar, o náufrago precisa chamar atenção sobre si com gritos ou com um
apito, se dispuser dele;
2) se não for visto pela tripulação, o acidentado deve procurar não se afastar do
percurso feito pela embarcação. Notada a sua falta, o Comandante retornará
pelo mesmo percurso;
3) se estiver de colete, o acidentado precisa certificar-se de que ele esteja bem
posto (FIG.3.1). Tratando-se de um colete inflável, é necessário acionar o
dispositivo automático ou assoprá-lo para enchê-lo;
4) a todo homem ao mar recomenda-se que se aproxime da boia, que certamente
será arremessada da embarcação, e que evite nadar em direção ao barco, o
que, além de ser perigoso, o fará desperdiçar energias;
5) manter o contato visual com o barco;
6) o náufrago deve entender que, apesar de estar próximo à embarcação, a
tripulação poderá não estar conseguindo contato visual com ele, devido,
principalmente, às ondulações e seus períodos. Assim, apenas quando o
náufrago tiver contato visual com os tripulantes é que deve agitar os braços
acima da água, de modo a chamar a atenção, lembrando-se de que, a bordo,
haverá, sempre, o maior empenho para resgatá-lo;
7) para se proteger do frio, recomenda-se que o acidentado mantenha-se em
posição fetal (joelhos junto ao peito e braços abraçados aos mesmos),
poupando energia, porque, mesmo no verão, é possível entrar em hipotermia
antes de uma hora ao mar;
8) dependendo das condições do mar, uma das manobras mais seguras – e
talvez a mais fácil para se aproximar de um náufrago – é a embarcação
portar um cabo flutuante preso pela popa e com uma boia no seu extremo.
A navegação deve ser feita em círculo, afastada do náufrago para evitar
colisão, mas de modo que o cabo passe próximo à vítima, que se agarrará
a ele e colocará a boia (que deverá ser do tipo ferradura), fechando-a pela
abertura;
9) recomenda-se, por fim, que o acidentado não se mova, espere que o puxem,
guardando sua força para subir a bordo.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 69
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Em todos esses momentos, que acontecerão num espaço de tempo muito curto,
é importante que todos mantenham a calma, fator essencial para o sucesso da operação.

A B C D

Figura 3.1 Instruções para colocação do colete salva-vidas: (A) desamarrar os cintos, deixando-
os livres; (B) separar os gomos e enfiar a cabeça entre os mesmos, puxando para baixo até
senti-los acomodar-se à nuca; (C) passar a parte solta do cinto inferior por trás das costas e
atravessar pelo passador; (D) amarrar os cintos, primeiro o inferior e depois o superior,
pressionando até os gomos se encontrarem.

Qualquer manobra que envolva homem ao mar visa uma aproximação rápida ao
náufrago e depende do tipo de embarcação, do estado do mar e das condições
meteorológicas. É ao Comandante que cabe a decisão da forma mais adequada para cada
situação. Em quaisquer circunstâncias, a calma é imprescindível para o controle da situação,
pois uma manobra mal feita pode fazer a diferença entre o sucesso e o desastre.
Com embarcações a motor a manobra é de fácil execução. Caso não seja possível
visualizar o náufrago ou encontrá-lo, deve-se retornar pela esteira do barco. Nessas
ocasiões, pode-se usar:
1) Volta de Anderson ou guinada única: a manobra mais rápida quando o
náufrago está visível, realizando uma guinada total do leme (manobra de 270°)
em direção ao bordo de onde a pessoa caiu. Próximo ao náufrago, parar a
embarcação e colocar o leme a meio (FIG. 3.2A);

A B

20°

270°
60°

Figura 3.2 Manobras de salvamento de náufragos: (A) Curva de Anderson;


(B) Curva de Butakov [adaptado de FONSECA, 2002].

70 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

2) Curva de Butakov: nessa manobra, o leme é inclinado até a embarcação


desviar-se 60º do rumo inicial, acertando novamente o leme para atingir o
rumo contrário do inicial. Se a manobra for bem feita, a embarcação regressa
quase exatamente pelo caminho que estava percorrendo (FIG. 3.2B). Esta manobra
é recomendada para os casos em que o náufrago não está à vista, seja pelo o
navio ter se afastado em demasia, seja pelo fato do acidente ter ocorrido à noite.
É importante salientar que, para qualquer método utilizado, deve-se considerar o
abatimento provocado pelo vento ou pela corrente.
Se o náufrago conseguir chegar a bordo por sua própria conta, a equipe de
salvamento deve certificar-se de que ele está calmo e respondendo, de forma correta,
aos estímulos. A operação tornar-se-á muito mais difícil caso o náufrago não consiga
subir a bordo por seus próprios meios, usando, por exemplo, uma escada (alguns
degraus abaixo da linha de água seriam ideais) ou uma plataforma à ré. Neste caso,
alguns procedimentos podem ser úteis, como os descritos a seguir:
1) se tiver outro bote, este deverá ser usado como uma espécie de plataforma.
O náufrago, primeiro, subirá para bordo desse outro bote, para, depois, subir
a bordo;
2) para facilitar, é possível içar o náufrago com a ajuda de um cabo em uma roldana.
Neste caso, é necessário vestir um colete no náufrago e prender o cabo ao ponto
de fixação do colete, de modo a não feri-lo, quando trazido a bordo;
3) se o náufrago tiver algum tipo de ferimento ou estiver inconsciente, será necessário
que um ou mais tripulantes entrem na água, para ajudar na operação de salvamento.
Já a salvo no convés, é tempo de analisar o seu estado físico, verificar se houve ferimento
externo e se está consciente, respondendo coerentemente às perguntas, pois é possível que
tenha desfalecido por algum tempo dentro da água ou, até mesmo, perdido a consciência.
Portanto, alguns procedimentos específicos devem ser utilizados, tais como:
1) trocar as roupas molhadas por roupas secas;
2) envolver a vítima num cobertor ou manta térmica, colocando-a próximo a
uma fonte de calor. Manter sua cabeça quente, pois, nesse momento, é
necessário calor externo, que a pessoa não consegue gerar;
3) providenciar comida energética e bebidas quentes, que devem ser tomadas
lentamente (evitar chocolate muito quente);
4) bebidas alcoólicas não podem ser ingeridas;
5) controlar a pulsação e o ritmo respiratório;
6) solicitar assistência médica, o mais rapidamente possível.
É importante ficar atento aos possíveis sinais de hipotermia como, por exemplo: tiritar
descontrolado, dificuldade em respirar, irritação, fala enrolada, falta de coordenação motora,
abrandamento da pulsação e da respiração, perda de consciência e arritmia cardíaca.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 71
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Seguir os procedimentos próprios de reanimação se a vítima estiver inconsciente e
com sinais de água nos pulmões. São eles: método boca a boca e massageamento
cardíaco. Os dois procedimentos deverão ser aplicados quando ocorrer parada
cardíaca repentina, em indivíduo aparentemente normal. É importante observar que
o simples fato de se colocar ar nos pulmões não ativa a respiração, sendo, apenas, a
primeira fase.
A respiração será normalizada quando o oxigênio for levado aos tecidos pelo
sangue, o que só ocorrerá com o massageamento cardíaco. Preferencialmente, estas
providências deverão ficar ao encargo de dois homens (FIG. 3.3): um, responsável
pela primeira fase da respiração (boca a boca); outro, pela massagem cardíaca,
procurando a melhor posição para evitar cansaço, esforço desnecessário, cãibras e
dores. O fator tempo é de suma importância, portanto, são urgentes todas as iniciativas
e procedimentos corretos.

Procedimento boca a boca:

– deitar o paciente de costas, em superfície plana e dura;


– desobstruir-lhe a boca e a garganta, sem o que não chegará ar aos seus pulmões
(FIG. 3.3A);
– ajoelhar-se ao seu lado, próximo à cabeça; com uma das mãos, suportar seu
pescoço e, com a outra, tapar-lhe as narinas (FIG. 3.3B), pois isso fará com que a
cabeça caia para trás, desobstruindo-lhe as vias aéreas, fechadas pela língua;
– Soprar boca a boca, de 10 a 12 vezes por minuto (FIG. 3.3C).

Há situações em que a boca do paciente está traumatizada, não havendo condições


para o procedimento boca a boca. Nesses casos, fazer boca-nariz é uma alternativa
válida, contanto que se tape a boca. Para evitar natural repulsa, recomenda-se o uso de
um lenço entre as partes, evitando o contato direto.

Massageamento cardíaco:

– posicionar-se ao lado ou sobre o paciente, na altura do tórax (FIG. 3.3D);


– evitar o esforço desnecessário, aproveitando o peso do corpo de quem aplica
a messagem;
– fazer pressão com a palma das mãos sobre o terço inferior do osso esterno
(FIG. 3.3E), cerca de 50 vezes por minuto, e cuidar para não traumatizar mais
o paciente com pancadas ou pressão dos dedos. Este procedimento requer
que o massageador encaixe bem os próprios cotovelos, não deixando os
braços fazerem ângulos. A cada cinco massagens cardíacas deve-se realizar
uma ou duas respirações artificiais.

72 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A B C

D E

Figura 3.3 Método boca a boca e massageamento cardíaco: (A) abertura das vias aéreas;
(B) preparação para ventilação; (C) ventilação boca a boca; (D) local da compressão torácica
externa para massagem cardíaca; (E) procedimento padrão de pressão com a palma da mão
[adaptado da OMS, 1988].

No caso da respiração artificial, o Método Holger Nielsen pode não ser o mais
eficiente, mas é muito usado como alternativa, caso não seja possível realizar o método
boca a boca e a vítima não apresente fraturas (FIG. 3.4). Este método consiste em
alternar uma pressão nas costas do paciente com movimentos de braços, conforme
os procedimentos descritos a seguir:
1) deitar a vítima de bruços, com a cabeça apoiada nas mãos e o rosto voltado
para o lado, a fim de facilitar a respiração (FIG. 3.4A);
2) juntar seus joelhos, deitando a cabeça da vítima entre eles, e espalmar as mãos
em suas costas (FIG. 3.4B);
3) devagar, movimentar-se para frente, até que seus braços estejam quase verticais,
aumentando a pressão sobre as costas da vítima, gradativamente (FIG. 3.4C);
4) finalmente, segurar-lhe pelos cotovelos, levando os braços para trás, até sentir
a resistência máxima dos ombros (FIG. 3.4D).
Regular o ritmo dessa sequência para 12 vezes, até que a respiração esteja
restabelecida. Se a vítima começar a respirar por si, mas ainda necessitar de ajuda,
ajustar a velocidade dos movimentos à velocidade da respiração do paciente, sem
forçar o seu ritmo. Não interromper esse procedimento até que a respiração da vítima
volte ao normal. Quando houver ajuda disponível, ou o acidentado estiver respirando
sem auxílio, afrouxar, logo, suas roupas e aquecê-lo.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 73
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B C D

Figura 3.4 Procedimentos no Método Holger Nielsen [adaptado da OMS, 1988].

Já reanimado e aparentando bom estado de saúde, é prudente navegar até o porto


mais próximo, conduzindo a vítima a um hospital, para que se submeta a uma avaliação
médica.

2.3 Incêndio a bordo

Um incêndio a bordo pode ser considerado o pior dos sinistros de uma embarcação.
Os navios mais antigos tinham um grande potencial de inflamação, pois não
costumavam se precaver ao utilizarem equipamentos que mais pareciam “bombas
flutuantes”. Várias medidas de segurança conseguiram minimizar a frequência de
incêndios de maiores proporções a bordo, como a substituição do gás no uso de
fogões de cozinha, a utilização de uma fiação elétrica mais segura e até a proibição de
fumar em ambientes fechados do navio. A partir de tais cuidados, os incêndios a
bordo, apesar de ainda acontecerem, têm sido menos frequentes.
Antes de usar um equipamento para apagar ou abafar o fogo, é preciso saber em
que tipo de material está ocorrendo o sinistro, para que seja possível combatê-lo. Por
esse motivo, é bom saber que um incêndio é classificado pelo tipo de material em
combustão e pelo estágio em que se encontra. Há cinco classes de incêndio, identificadas
pelas letras A, B, C, D e K.
– Classe A: fogo em materiais sólidos comuns, como madeira, borracha, papel
e tecido, que queimam na superfície e em profundidade, deixando
resíduos de cinzas e brasas. O método mais comum para extingui-
lo costuma ser o resfriamento por água e, nesse caso, pode ser
usada, perfeitamente, a água bombeada do mar.
– Classe B: fogo em líquidos inflamáveis e combustíveis, como gás de cozinha,
gasolina, querosene e álcool, que queimam, apenas, na superfície e
não deixam resíduos. Para apagá-lo, é possível abafar, quebrar a
reação em cadeia com areia ou, ainda, promover o resfriamento.

74 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– Classe C: é a Classe de incêndio em equipamentos eletroeletrônicos. A extinção


deve ser feita por agente extintor, que não conduza eletricidade.
Vale lembrar que a maioria dos incêndios dos equipamentos da
Classe C, ao ser eliminado o risco de choques elétricos, torna-se um
incêndio Classe A.
– Classe D: é a Classe de incêndio em que o combustível é metal pirofórico e,
por isso, queima em altas temperaturas, como magnésio, selênio,
antimônio, lítio, potássio, alumínio fragmentado, zinco, titânio, sódio,
urânio e zircônio. Para apagá-lo, são necessários agentes extintores
específicos (como os pós), que separam o incêndio do ar
atmosférico por abafamento.
– Classe K: classificação do fogo em óleo e gordura em cozinhas, cujos agentes
extintores controlam rapidamente o fogo, formando uma camada
protetora na superfície em chamas. Possuem efeito de resfriamento
por vapor de água e de inertização resultante da formação do vapor,
que extinguem o fogo interrompendo a reação química de
combustão.
Hoje, as embarcações já são desenhadas e construídas com a preocupação de
montar as instalações elétricas e de combustível de forma mais segura. Fios elétricos
de medidas adequadas e longe de fontes de combustão, quadros de fusíveis de acordo
com a aparelhagem que será utilizada, depósitos de combustível longe do motor e
tubos de condução de combustível têm sido feitos com material adequado e
corretamente instalados. Uma revisão periódica das condições do material deve fazer
parte da manutenção regular da embarcação. Há pequenos detalhes que convém
observar para a prevenção de sinistros com fogo, como os listados a seguir:
1) ao abastecer a embarcação, não ligar nenhum tipo de aparelho elétrico e
evitar acender qualquer tipo de chama nas cercanias;
2) informar aos fumantes que é permitido fumar somente no convés e que o
cigarro deverá ser apagado em um frasco com água e não lançado ao mar;
3) é importante o cuidado com as frituras a bordo, porque óleos muito quentes
inflamam-se facilmente;
4) os extintores não são elementos decorativos nem servem apenas para serem
mostrados durante a inspeção, por isso devem ser colocados em locais
estratégicos e mantidos sempre dentro dos prazos de validade.
O tanque de combustível e as tubulações, especialmente as de borracha, não podem
apresentar vazamentos. No caso das tubulações metálicas, é preciso atenção às dobras.
Outro ponto importante são as manchas de óleo no caminho das tubulações ou
abaixo do motor, que podem indicar vazamentos. As junções têm tendência a ficar
mais soltas devido à vibração, especialmente junto ao motor. Também é necessário

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 75
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
atenção à ocorrência de cheiro de óleo, que indica, também, a presença de pequenos
vazamentos. Nestes casos, pode-se colocar uma bandeja sob o motor, para recolher
as pequenas fugas. Como prevenção, é importante, também, dispor de uma válvula
de segurança, de fácil acesso, próxima ao tanque de combustível, mais um extintor
(em prazo de validade) próximo ao motor.
Nas embarcações mais modernas, os fogões a gás estão sendo substituídos pelos
elétricos, que são mais seguros. Entretanto, caso a embarcação ainda utilize fogão a gás,
um cuidado importante é o de posicionar os cilindros de gás num local bem arejado,
afastados de fontes de ignição (motor e quadros elétricos), além de verificar regularmente
a tubulação. Quando da mudança dos cilindros, fechar a torneira de segurança. No fogão,
ficar atento se os bicos se encontram devidamente fechados e a torneira de segurança
cortada. Sempre que o fogão não estiver em uso, é aconselhável fechar a torneira no
regulador, junto à garrafa. O gás, por ser mais pesado do que o ar, não escapa facilmente
para a atmosfera, tendo uma tendência para se acumular na embarcação. Caso não exista
a bordo um detector de gás – o que é desaconselhável – a atenção ao cheiro a gás precisa
ser redobrada. As pequenas fugas podem ser detectadas pincelando-se com água e sabão
os locais suspeitos. Certificar-se de que o cozinheiro de bordo está atento não apenas a
todos os indícios de escape de gás, mas, também, às frituras, que elevam temperaturas e,
literalmente, explodem em chamas, espirrando labaredas em todos os sentidos.
A instalação elétrica deve estar em perfeitas condições, pois fios desencapados, más
ligações ou maus contatos são potenciais causadores de curtos-circuitos. Os circuitos devem
estar ligados a fusíveis independentes, adequados à potência utilizada pelos equipamentos.
Também, os componentes usados na instalação elétrica devem ser resistentes às condições
adversas do ar marítimo. A estrutura deve ser pensada de forma que, em caso de curto-
circuito, seja possível cortar, facilmente, a corrente, à saída das baterias.
Para combater um incêndio, de forma eficaz, é necessário, primeiro, entender o
vulgarmente chamado “triângulo do fogo”, composto de três elementos básicos: a
temperatura (adequada ao material); o combustível (madeira, papel, gasolina, gás e
outros combustíveis) e o comburente (oxigênio). Eliminando um desses três
componentes do triângulo, é possível eliminar o fogo.
Ao primeiro sinal de um incêndio, é preciso combatê-lo de imediato, não apenas
para evitar a sua propagação, que pode ser rápida devido aos materiais de que as
embarcações são construídas, mas também impedir o aumento da temperatura, que
dificulta o combate e alimenta o incêndio. O tripulante que detectar o primeiro sinal de
um sinistro deverá avisar e afastar a tripulação do seu foco, solicitando a alguém para
cortar o combustível e o gás, para que se inicia o combate. A situação de incêndio deve ser
comunicada às demais embarcações, via rádio ou através de outras formas de sinalização.
Se o sinistro ocorrer no exterior da embarcação, convém, primeiramente, orientar
a embarcação, de modo que o fogo fique a sotavento. Depois, é preciso eliminar um

76 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

dos fatores que alimentam o fogo, pois a rapidez no combate permite que a temperatura
não se eleve, diminuindo, desta forma, a gravidade do fato. Caso o incêndio ocorra
no interior da embarcação e o combate se torne quase impossível, é preciso tentar
fechar todas as vigias, as portas interiores e outras aberturas, de modo a eliminar, ao
máximo, o oxigênio existente no interior, fator que alimenta as chamas. É preciso não
hesitar em jogar na água um colchão, por exemplo, ou outro objeto que esteja em chamas.
Recomenda-se vestir roupas que cubram o corpo, com mangas compridas e gorro,
para evitar queimaduras, bem como adotar o meio de extinção mais adequado ao
tipo de fogo a bordo, tomando cuidado com os gases resultantes da combustão,
extremamente tóxicos e venenosos. Caso não seja possível debelar o fogo, é necessário
iniciar, de imediato, os procedimentos de abandono do barco.
Em uma embarcação, os meios usados para combater incêndios estão resumidos
ao uso de extintores, de água e de cobertores. Quando a fonte do incêndio é óleo
combustível, o uso da água deve ser evitado, porque a utilização desta tende a propagar
o combustível em chamas pela embarcação. Dos muitos tipos de extintores portáteis
existentes no mercado para embarcações, é recomendável os de pó seco, por serem
eficientes em praticamente todos os tipos de incêndio. Os principais tipos de extintores
e suas indicações estão relacionados a seguir:
– extintor de água: extingue o fogo por resfriamento; é utilizado para combate
a princípios de incêndio da Classe A (madeira, papel e cabos);
– extintor de CO2: indicado para o combate a princípio de incêndio Classes B
(líquidos e gases inflamáveis) e C (equipamentos energizados). Extingue o fogo
por resfriamento e abafamento. Devido à sua propriedade de não deixar
resíduos, é indicado, por exemplo, para uso em praças de máquinas;
– extintor de pó químico seco (PQS): é eficiente em fogos de Classes A, B, C
e D (desde que o pó químico seja específico para cada material), extinguindo o
fogo por abafamento. Por não se dispersar tanto na atmosfera como um gás,
permite atacar as chamas de modo rápido e eficaz, mas tem a desvantagem da
contaminação que produz após a sua utilização. Muitas vezes escolhe-se outro
tipo de extintores, quando se entende que esse tipo de agente extintor representa
um risco para o equipamento a proteger;
– extintor de espuma: existe atualmente um tipo de espuma física, obtida por
um processo mecânico de mistura de um agente espumífero, ar e água. Essa
espuma é indicada para extinguir incêndios das Classes A, B e K (óleos de
cozinha) por abafamento e resfriamento.
Para qualquer tipo de extintor, o modo de operação é, basicamente, o mesmo:
este equipamento para a base das chamas, em disparos mais ou menos curtos, sem
pressionar a válvula continuamente, evitando o desperdício.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 77
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A água é um agente extintor de incêndio por excelência, sendo indicada no combate
ao fogo de sólidos, como redes, cabos, madeiras, colchões e roupas. Como redutor
da temperatura pode-se (e até se deve) usar a água salgada, que atua na combustão,
sobretudo por arrefecimento, cuja eficiência é resultante de um elevado calor latente
de vaporização. A água é mais eficaz quando usada sob a forma de chuveiro, uma vez
que pequenas gotas vaporizam mais facilmente que uma massa de líquido, absorvendo,
com rapidez, o calor da combustão. Entretanto, este agente nunca deve ser usado
para combater um incêndio causado por gorduras, porque o óleo combustível e os
que se utilizam na cozinha são menos densos que a água e, por isso, é possível que se
espalhem, logo, pela embarcação. Da mesma forma, deve-se evitá-lo em equipamentos
ou elementos elétricos, como baterias, por exemplo, pelo risco de causar curtos-
circuitos, que darão início a novos focos de incêndio.
Junto do fogão deve haver uma manta térmica (cobertor) para abafar uma possível
inflamação de óleo numa frigideira. Uma tampa ou uma toalha fazem o mesmo
efeito, pois a razão disso é abafar o fogo. Assim, a frigideira, quando inflamada, deve
ser coberta, enquanto alguém providencia um extintor. Acionado este instrumento, é
possível retirar o abafador da frigideira, mesmo que já não seja necessário o seu uso,
o que normalmente ocorre.

2.4 Tópicos essenciais de prevenção

1) Ler as instruções sobre meios de combate ao fogo, para saber como usá-los.
2) Acionar o alarme de incêndio.
3) Tomar providências, imediatamente, por menor que seja o incêndio.
4) Informar a tripulação do incêndio, já que a mesma saberá combatê-lo
prontamente.
5) Desligar o motor. Se o fogo tiver origem elétrica, cortar a energia junto às baterias.
6) Cortar de imediato o combustível e o gás.
7) Fechar todas as entradas de ar para o interior, como ventiladores, portas e vigias.
8) Pedir ajuda via rádio ou através de sinais.
9) Preparar o eventual abandono da embarcação.
10) Lembrar-se de manter sempre a calma nesse momento, pois embora difícil,
é necessária para uma rápida intervenção de combate ao fogo.
Por último, é importante salientar que a prevenção é a medida mais indicada. O
treinamento da tripulação é essencial, para que cada integrante assuma, logo, sua função
específica, evitando a propagação do incêndio a bordo.

78 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

3 PROMOÇÃO DA SAÚDE
3.1 Roupas a bordo

É preciso ter em mente que uma estação de coleta pode demorar algumas horas
para ser completada, podendo iniciar durante o dia e terminar à noite, ou ser feita
durante toda a madrugada. Por esse motivo, é muito importante que se observem
determinados cuidados com as vestimentas escolhidas para o embarque. É aconselhável
o uso de roupas mais velhas, que possam ser utilizadas em meio à graxa, lama ou
muco de peixe. Uma boa indicação é o uso de roupas leves, de algodão, como
abrigos, camisetas de manga curta e longa, moletons e uma jaqueta, de preferência de
náilon. Dessa forma e, se necessário, as roupas poderão ser utilizadas com várias outras
ao mesmo tempo como camadas deixando, assim, uma pessoa mais confortável
mesmo quando molhada.
Chapéu ou boné são recomendáveis para proteção do frio e do sol. Uma capa e
uma calça especiais para chuva, as chamadas “roupas de oleado”, poderão ser utilizadas
durante um cruzeiro, assim como luvas de algodão especiais para o trabalho a bordo.
São altamente recomendadas as botas (de preferência de borracha e de cano longo),
e tênis de couro com solado de borracha. Sandálias podem ser utilizadas, mas não são
recomendadas. Os chinelos ditos “de dedo” podem ser usados na hora do banho ou
no interior do navio, mas não no convés no momento das estações, ou quando as
condições do mar estiverem desfavoráveis (acima de Mar 3). A chuva não impede o
trabalho a bordo; ao contrário, pode até acalmar o mar.
No mar, em geral, é mais frio e ventoso do que em terra, principalmente se as estações
forem realizadas durante a madrugada. Por esses motivos, é recomendável o uso de
roupas para várias situações (sol forte, noite fria, vento e chuva) e em quantidade suficiente
para que sejam trocadas durante o cruzeiro. Um navio de pesquisa normalmente não
possui lavanderia, o que não impede que roupas leves possam ser lavadas a bordo.
As roupas de cama e travesseiro geralmente fazem parte da logística de bordo. A
utilização de sacola ou mochila para as roupas e pertences pessoais facilita a acomodação
dos mesmos, tendo em vista os pequenos espaços comumente destinados para tal
num barco de pesquisa.

3.2 Lixo a bordo

Segundo o Anexo V do Tratado de MARPOL 73/78 (Convenção Internacional


para a Prevenção da Poluição Proveniente de Embarcações), é ilegal, para qualquer
navio, descarregar plásticos, sacos plásticos para lixo, cordas sintéticas e redes de pesca
nas águas de qualquer porto ou durante a navegação. A violação dessas normas pode
resultar em pena civil, em forma de multa ou prisão aos violadores, determinadas
pelos órgãos competentes.

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 79
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O lixo deve ser depositado conforme descrito no plano de administração de lixo
do navio, com detalhes de todos os seus depósitos mantidos no livro de anotações.
De acordo com o Tratado, a legislação determina que:
– até 3 milhas da costa no entorno de 500 m de plataformas fixas ou flutuantes,
não é permitido atirar qualquer tipo de lixo para fora do navio;
– de 3 a 12 milhas náuticas da costa, não é permitido atirar para fora do navio
papel, louças quebradas, trapos, metais, copos, plásticos e materiais
embrulhados. Podem ser atirados para fora do navio restos de comida
menores que 25 mm;
– de 12 a 25 milhas náuticas da costa, não é permitido atirar nada que flutue para
fora do navio, como plásticos, pedaços de madeira e material embrulhado. Podem
ser atirados papel, louças quebradas, trapos, metais, copos e restos de comida;
– além das 25 milhas náuticas da costa, é permitido atirar para fora do navio até
plásticos, exceto cordas sintéticas, redes e sacos plásticos para lixo.
Não podem ser lançados ao mar, em hipótese alguma, substâncias químicas como,
por exemplo: formaldeído em qualquer concentração, xilol ou infectantes; resíduos
radioativos; resíduos não recicláveis misturados ou contaminados.

Quadro 3.1 Procedimentos de remoção e alojamento de lixo.

COR RECIPIENTE MATERIAL GRAU DE ADVERTÊNCIA


Permitido acima de 3 milhas
MARROM Restos de comida
da costa
Vidros, garrafas, louças quebradas Permitido acima de 12 milhas
VERDE
e afins da costa
Latas, metais e afins Permitido acima de 12 milhas
AMARELO
da costa
Permitido acima de 12 milhas
AZUL Papeis, trapos, estopas e afins
da costa
Permitido acima de 12 milhas
PRETO Madeiras
da costa
Plásticos, materiais sintéticos Proibido lançar no mar
VERMELHO
e afins
Resíduos não recicláveis,
CINZA Proibido lançar no mar
ou misturados, ou contaminados

LARANJA Resíduos perigosos Proibido lançar no mar

ROXO Resíduos radioativos Proibido lançar no mar

BRANCO Substâncias infectantes Proibido lançar no mar

80 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

O lixo que contém óleo deverá estar acondicionado em sacos plásticos reforçados,
com etiqueta identificando-o e, posteriormente, colocado em recipiente apropriado.
As lixeiras e outros recipientes devem ser mantidos limpos e descontaminados.
Os resíduos recolhidos a bordo precisam estar em recipientes identificados pela
cor correspondente ao seu tipo, conforme o Quadro 3.1, com tampa que impeça a
entrada de insetos, dispostos em local de fácil acesso e abrigados do sol e da chuva. Todo
o pessoal embarcado é responsável por esta prática, organizando-o adequadamente.
No porto, o lixo deverá ser recolhido para instalações de terra, etiquetado, sempre
sob a orientação do Imediato. Jamais se deve lançar ao mar qualquer objeto ou
substância sem que, anteriormente, seja consultado o Comandante ou Chefe do
Cruzeiro. Em áreas específicas é proibido o lançamento de lixo ao mar, independente
da distância da costa. Todo o material descartável recolhido e desembarcado deverá
ser registrado no caderno destinado a este tipo de controle.

3.3 Higiene pessoal

Em um cruzeiro, os produtos pessoais de higiene, como toalha, sabonete, escova


e pasta de dentes, pente, xampu, desodorante e aparelho de barba são individuais e
ficarão sob a responsabilidade de seus donos.
Salitre, sol e vento combinam muito bem para criar um ambiente severo e seco para a
pele e o cabelo. Por isso, loção para a pele, batom de manteiga de cacau, protetor solar e
condicionador para os cabelos também devem ser lembrados.
Uso do banheiro: as embarcações de pesquisa são diferentes de navios de cruzeiro
ou de carga e, em geral, têm autonomia limitada de 20 dias ou menos. Por esse
motivo, economia de água doce é prioridade e o banho deve demorar o mínimo
possível, levando-se em consideração que existem outras pessoas a bordo. Assim,
algumas regras devem ser seguidas: a) nunca deixar torneiras abertas; b) ler as instruções
de operação da válvula de descarga antes de usá-la; c) não jogar no vaso sanitário
comida, bebida, papel ou qualquer objeto que possa causar seu entupimento. Enfim,
utilizar os equipamentos conforme as instruções de uso.

4 PRIMEIROS-SOCORROS A BORDO
É possível definir primeiros socorros como um tratamento emergencial de alguém
doente ou ferido, com a finalidade de manter-lhe os sinais vitais até que receba ajuda
médica especializada. Os primeiros socorros geralmente acontecem por causa de
estado de choque, choques elétricos, queimaduras, envenenamento químico ou
biológico, contusões, fraturas e hemorragias.
Na maioria dos casos, é possível pedir socorro a um tripulante que estará mais
qualificado para ajudar a vítima, mas, em casos graves, com asfixia ou hemorragia, a

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 81
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
primeira ajuda poderá significar a diferença entre a vida e a morte e, por isso, o papel
de médico poderá estar nas mãos de qualquer pessoa a bordo, cabendo-lhe, então, a
responsabilidade de realizar os primeiros socorros.
De uma forma geral, com calma, é possível determinar as prioridades a seguir, em
caso de um acidente a bordo:
1) ter o cuidado com sua própria segurança;
2) afastar a vítima do local de perigo;
3) pedir ajuda;
4) dar atenção à vítima.
A atenção à vítima implica iniciar propriamente os ditos primeiros socorros, até a
chegada de ajuda especializada, nos casos em que seja necessário:
1) restabelecer a respiração e a pulsação;
2) cessar hemorragias;
3) impedir o agravamento da lesão;
4) prevenir o estado de choque;
5) proteger áreas queimadas;
6) manter áreas de fraturas ou luxação imobilizadas.
É parte da atenção dada à vítima mantê-la confiante e consciente; portanto, durante
os primeiros socorros, é importante falar com segurança e, se a vítima estiver consciente,
perguntar-lhe nome, endereço, nome de familiares para mantê-la atenta.
Toda a embarcação com mais de 15 pessoas é obrigada pelas Normas da
Autoridade Marítima (NORMAM) da Diretoria de Portos e Costas (DPC) da Marinha
do Brasil a possuir uma pequena central de primeiro socorros e de remédios (TAB.
3.2) mais populares. Não existem a bordo remédios prescritos. Portanto, é indispensável
que cada um se responsabilize por seus remédios usuais.
Existem a bordo os remédios mais populares para enjoo, ficando a cargo de cada um
os remédios mais específicos. Alguns medicamentos causam sonolência e desidratam o corpo,
por isso, é aconselhável tomar muito líquido. É importante, no momento do embarque, relatar
ao Comandante ou ao Chefe do cruzeiro qualquer tipo de problema de saúde.

4.1 Enjoo

É a pior sensação experimentada em uma viagem de navio, variável de pessoa para


pessoa. Se alguém já teve enjoo em viagens de carro, ônibus, avião ou em uma montanha-
russa, é muito provável que também o sinta no navio. Independentemente disso, a maioria
das pessoas sente algum tipo de desconforto ou fraqueza quando embarcado pela primeira
vez; portanto, enjoar a bordo não deve ser encarado como uma situação vexatória. Ninguém
a bordo estará com 100% de suas condições, por várias razões.

82 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tabela 3.2 Componentes da caixa de primeiros socorros para embarcações com mais
de 15 tripulantes a bordo.

Fonte: NORMAM-03/DPC.

O enjoo é o resultado de um conflito no ouvido interno, onde se localiza o


mecanismo de equilíbrio humano. É causado pelo movimento errático do navio devido
às ondas do mar: quanto maior a onda, maior será o balanço. Todas as mudanças de
movimentos lineares e angulares feitas pelo navio são detectadas pelo ouvido interno,
ainda que os olhos possam estar registrando uma cena mais ou menos estabilizada.
Abalado por essa incompatibilidade perceptiva, o cérebro responde com uma bateria
de hormônios relacionados com estresse, que podem causar náuseas ou vômito. Esse
efeito pode ser aumentado por cheiros fortes, como óleo de máquina queimado,
cheiro de fritura e de peixes que fazem parte do dia a dia de um navio de pesquisa.
A sensação de se estar enjoado geralmente ocorre nas primeiras 24 horas do
embarque, desaparecendo quando o corpo se torna acostumado com o movimento

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 83
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
do navio. Raramente alguém fica enjoado mais do que dois dias depois do início do
embarque, independente do estado do mar. Assim, se, uma pessoa sentir enjoo deve
saber que sua recuperação é uma questão de tempo e que a taxa de sobrevivência
nesse caso é de 100%. Para que a recuperação seja acelerada é possível tomar algumas
providências, tais como:
1) permanecer de pé, agasalhar-se muito bem e procurar ficar no convés sempre
acompanhado por alguém;
2) fixar o olhar no horizonte, respirando o ar puro o mais calmamente possível;
3) tomar muita água, chá, suco com baixa acidez; evitar leite e café;
4) fazer esforço para manter o estômago com algum alimento;
5) comer bolachas tipo água e sal, torradas e frutas; evitar comidas com gordura
e doces;
6) fazer algum tipo de atividade, pois manter a mente ocupada ajuda a não
pensar no desconforto do enjoo;
7) não desanimar e jamais pensar em deitar-se, pois geralmente isso piora a
situação.

4.2 Estresse no mar

A situação de desconforto causado por barulho e movimento do navio, espaço


limitado e ritmo de trabalho é identificada como causadora de estresse e de uma
desordem no sono que pode causar cansaço. Para pessoas que, pela sua própria natureza,
já tenham problemas de insônia, é bom considerarem o que segue:
1) usar protetores de ouvidos e de olhos para diminuir o barulho e a luz;
2) com mar revolto, utilizar os salva-vidas para calçar-se na cama;
3) fazer exercícios para relaxar os músculos;
4) prestar atenção na sua dieta: carnes são mais difíceis de digerir e devem ser
evitadas antes de dormir; também evitar o que tem cafeína.
Estresse no mar também está relacionado com relações de convívio humano.
Alguns dias no mar, trabalhando constantemente com um pequeno número de pessoas
sob condições difíceis podem gerar situações de conflito e tensão. Comunicação é,
em geral, a solução e os mais experientes de bordo podem ser os conciliadores.
Assim como os casos de enjoo, as situações de estresse também são temporárias e
fazem parte da vida no mar. Muitos pensam que ter que lidar com isso e superar o
estresse é um estimulante e recompensador aspecto de sua experiência embarcada.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FONSECA, M.M. Sobrevivência no Mar. In: ________. Arte Naval. 6.ed. Rio de
Janeiro, RJ: Serviço de Documentação Geral da Marinha, 2002. v.2, p. 815-834.

84 D ANILO C ALAZANS E D ENIS D OLCI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

BRASIL. MINISTÉRIO DA
MARINHA. Normas das Autoridades
Marítimas. Material de Segurança para
Embarcações. In: NORMAN 1:
embarcações empregadas na navegação de
mar aberto. Disponível em:
<www.dpc.mar.mil.br>. Acesso em: 27 de
setembro de 2009.
BRASIL. MINISTÉRIO DA
MARINHA. Normas das Autoridades
Marítimas. Dotação de medicamentos e
materiais de primeiros socorros. In:
NORMAN 3: amadores, embarcações de
esporte e/ou recreio e para
cadastramento e funcionamento das
marinas, clubes e entidades desportivas
náuticas. Disponível em:
<www.dpc.mar.mil.br>. Acesso em: 29 de
setembro de 2009.
BRASIL. MINISTÉRIO DA
MARINHA. Normas das Autoridades
Marítimas. Material de Salvatagem. In:
NORMAM 5: Homologação de Material.
Disponível em: <www.dpc.mar.mil.br>.
Acesso em: 29 de setembro de 2009.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL
MARÍTIMA. Regras para a Prevenção da
Poluição causada pelo lixo dos Navios. In:
Convenção Inter nacional para a
Preservação da Poluição por Navios
– MARPOL 73/78, Anexo V, p. 197-207.
GENEBRA. ORGANIZAÇÃO
MUNDIAL DA SAÚDE. Guia Médico
Internacional para Barcos. S.l: Instituto
Nacional de Emergência Médica, 1988.
Foto: Danilo Calazans

SEGURANÇA E S OBREVIVÊNCIA 85
NAVEGAÇÃO
4

Santiago Montealegre-Quijano e Luiz B. Laurino


CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

Navegação, no campo da Oceanografia, pode ser definida como o ato de conduzir


com segurança e precisão uma embarcação desde um ponto de origem até um ponto de
chegada e tem despertado interesse e fascínio no homem desde o início da sua história.
Não se sabe ao certo quando, na evolução da humanidade, o homem aventurou-se pela
primeira vez a realizar incursões no ambiente marinho. No entanto, uma informação
conhecida é a de que já durante a era glacial o homem, vindo da Ásia, usou balsas para
migrar e povoar a Oceania há cerca de 50 mil anos, o que representa um dos indícios mais
antigos da navegação, a qual permitiu a conquista de novos territórios e a expansão das
civilizações. Mais tarde, trouxe benefícios econômicos, ao permitir a exploração de recursos
das novas regiões colonizadas e, em seguida, a realização de intercâmbios comerciais. No
campo da Oceanografia, os avanços no conhecimento provêm em grande medida dos
dados obtidos in situ a bordo de navios de pesquisa, oceanográficos ou hidrográficos.
A navegação pode ser classificada em quatro tipos: na costeira, o posicionamento
é definido por marcações em terra; na estimada, como seu nome indica, o
Foto: Danilo Calazans
posicionamento é estimado com base em rumos, velocidades, distâncias e tempos; na
eletrônica, o posicionamento é definido com o uso de todos os instrumentos
eletrônicos desenvolvidos ao longo da história; por fim, na astronômica, o
posicionamento é definido com base na observação dos corpos celestes, tais como o
sol, a lua, os planetas e as principais estrelas.
Numerosos tratados e livros acerca dessa atividade abordam os mais diversos aspectos.
No Brasil, a Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) aprovou, como Manual de
Navegação, as obras de Miguens (1996, 1999 e 2000), que descrevem em detalhe a navegação
costeira, estimada, eletrônica, astronômica e em condições especiais. Com base nessas
obras, no presente capítulo é apresentada uma breve descrição dos instrumentos e métodos
necessários para navegação em navios de pesquisa oceanográfica.

1 EMBARCAÇÃO
As embarcações são construções que flutuam, utilizadas para o transporte, pela
água, de pessoas, animais ou qualquer outra carga. Construídas de diversos materiais,
tais como madeira, ferro, aço, alumínio, fibra ou qualquer combinação desses, rece-
bem diferentes denominações, dependendo principalmente do tamanho das mesmas:
os navios têm mais de 30 m de comprimento; os barcos têm de 10 a 30 m; os botes
ou chalanas possuem menos de 10 m (BARROS, 2001). Para realizar estudos oceano-
gráficos, o tamanho das embarcações está diretamente relacionado à área geográfica
que poderá ser estudada. Assim, barcos são restritos a regiões costeiras, enquanto
navios também podem ser usados em áreas oceânicas.

N AVEGAÇÃO 87
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Estando na embarcação, é de fundamental importância saber como se posicionar
e se localizar, nos diferentes espaços do navio. Para resolver isso, foi convencionado
dividi-los basicamente nos seguintes setores: a extremidade anterior é denominada
proa; a posterior, popa. Além dessas, as duas partes resultantes da linha imaginária
que une a proa e a popa são os bordos da embarcação; olhando de popa para proa,
o bordo da direita é o estibordo ou boreste; o da esquerda é o bombordo. O ponto
no qual a linha longitudinal popa-proa é dividida em duas partes iguais por um plano
perpendicular é denominado de través e o local onde ocorre a maior parte das
coletas é chamado de convés. Ainda, existem as bochechas, que são os setores loca-
lizados entre a proa e o través, e as alhetas, que são os setores localizados entre a
popa e o través (FIG. 4.1). Dessa forma, ao informar sobre a alheta de bombordo ou
a bochecha de boreste, por exemplo, qualquer pessoa a bordo saberá exatamente qual
o setor da embarcação que está sendo referido.
A embarcação também pode ser descrita em termos dimensionais. O compri-
mento total é a distância entre a proa e a popa; a boca é a largura máxima da
embarcação, normalmente sobre o través; o pontal é a distância vertical medida do
convés até um plano horizontal que passa pela quilha da embarcação; o calado é a
distância vertical entre a superfície da água e a parte mais baixa da embarcação no
ponto considerado. Outras medidas lineares, tais como: contorno e comprimento de
arqueação, permitem maior detalhamento da morfologia das embarcações.

2 INSTRUMENTOS DE NAVEGAÇÃO

Segundo Miguens (1996), os instrumentos de navegação podem ser classificados


de acordo com as seguintes finalidades:
1) medida de direção;
2) medida de velocidade e de distância percorrida;
3) medição de distância no mar;
4) medição de profundidade;
5) desenho e plotagem;
6) ampliação do poder de visão;
7) outros.

No presente capítulo, esses instrumentos são apresentados sem fazer uma classifi-
cação explícita das finalidades, mas destacando-as na descrição de cada um deles.

88 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


proa

1
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

bochecha bochecha
de bombordo de boreste

bordo de bordo de
bombordo través boreste

alheta de alheta de
bombordo boreste

convés

popa
Figura 4.1 Esquema dos setores de uma embarcação, ilustrados na planta do N/Pq Atlântico Sul.

N AVEGAÇÃO 89
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
2.1 Carta náutica

A carta náutica é uma representação em dois planos de uma parte da Terra (FIG.
4.2) e pode ser considerada um instrumento de trabalho que permite o cálculo de
posicionamentos, rumos, direções e distâncias. Além disso, nas cartas são colocadas
informações úteis para a navegação, tais como: o título (que indica país, parte do
litoral, trecho coberto e escala), a profundidade, a altitude, a rosa dos ventos, os
perigos e os auxílios, entre outros dados. A escala de uma carta varia em função do
seu nível de detalhamento: quanto menor a escala, maior o nível de detalhes, por
exemplo, a de escala 1:20.000 possui maior detalhamento do que a de 1:50.000.

cartas de detalhamento longitude


número título Ex: Cartas N° 2112 e 2110
N 2 200

H A D O BR
IN A
AR
SI
M

BRASIL - COSTA SUL


DO RIO GRANDE AO
ARROIO CHUÍ
Levantamento efetuado pela Marinha do Brasil em 1964

SONDAGENS EM METROS
reduzidas aproximadamente ao nível da baixa-mar média de sizigia

ALTITUDES EM METROS ACIMA DO NÍVEL MÉDIO

Para símbolos e abreviaturas ver carta N0. 12 000


Escala natural 1:266 812 na lat. 32°48’
Projeção Mercator 32°S
INFORMAÇÕES SOBRE A MARÉ
Altura sobre o N.R
Lugar HWF&C
MHWS NM

Rio Grande Maré mista 22 cm

32°03´
350 010
340 020

0 03
33 0

0 04
32 0
0

05
31

0
0

06
30

0
Rosa

070
290

dos
280

080
Decl. mag. 11’30W (1990)
270

090
Aumento anual 8’

Ventos
260

100
250

110
24

0
12
0

23

0
13
0

22 0
0 14

21 0
0 15
200 160
190 170
180

61
51

NOTA
ÁGUA DESCORADA: é comum surgirem zonas de água descorada,
51 normalmente próximo à costa quando sopra vento SE. Este
49 fenômeno é temporário e não significa existência de baixa
profundidade.

CORRENTE
51 A intensidade e direção da corrente variam de acordo com a
49
48 intensidade e direção da corrente variam de acordo com a
alcançando dois (2) nós ou mais.

48
VENTO CORRENTE

NE S
49 E SSW
53
SE puxa para a costa mar grosso
S NW
49
SW N
54

49 48

45

47
ESCALA LOGARÍTMICA DE VELOCIDADE

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 15 20 25 30 40 50 60

Para encontrar o valor da VELOCIDADE em nós, coloque uma das pontas do compasso em cima do número que corresponde à
distância percorrida em milhas e a outra ponta em cima do valor correspondente ao tempo gasto em minutos. Sem variar a
abertura do compasso, coloque uma das pontas sobre o N° 60 da escala; a outra ponta indicará a velocidade em nós,
Exemplo: com 4.0 milhas percorridas em 15 minutos a velocidade é 16 nós.

30°

N 2 200

longitude profundidades isóbata informações adicionais


edição e data
053° 3 053°W

Figura 4.2 Carta Náutica, da qual se destacam algumas partes.

90 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Para a elaboração das cartas náuticas, o processo consiste em transferir pontos da


superfície da Terra para uma figura, que pode ser representada sem distorções em um
plano, como o de um cilindro ou de um cone. Para transformar as dimensões de uma
esfera em um plano, são utilizadas as projeções, entre as quais a mais conhecida e
usada, é a de Mercartor (FIG. 4.3). Imagine-se uma esfera perfeita dentro de um
cilindro; considerando que o eixo de rotação dessa esfera esteja paralelo às bordas
longitudinais do cilindro, os dois pontos tangenciais da esfera, os quais tocam o cilin-
dro, definem a posição do plano equatorial na esfera – círculo de máxima – e, com
isso, são formados os hemisférios Norte e Sul (FIG. 4.3A). Cortes paralelos a esse
plano definem as latitudes; ao seccionar a Terra perpendicularmente em planos ao
longo do eixo de rotação são obtidos os meridianos ou longitudes – sendo o que
atravessa a cidade de Greenwich, na Inglaterra, convencionado como o Meridiano
Zero. Quando colocadas latitudes e longitudes na esfera, é obtida uma retícula que
varia de 0 a 90° da Linha do Equador para o norte e para o sul (FIG. 4.3B) e de 0 a
180° do meridiano de Greenwich para o leste e para o oeste (FIG. 4.3C).

A B

latitude
Linha do Equador

80°
75° C
60°
longitude

45°
30°
15°

15°
30°
45°

60°

75°
80°
180°
165°
150°
135°
120°
105°
90°
75°
60°
45°
30°


15°

15°
30°
45°
60°
75°
90°
105°
120°
135°
150°
165°
180°

Figura 4.3 Representação da projeção de Mercartor: (A) esfera perfeita; (B) latitudes ou planos
paralelos; (C) longitudes ou planos perpendiculares [adaptado de MIGUENS, 1999].

N AVEGAÇÃO 91
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Essa retícula é representada nas cartas náuticas, permitindo obter as coordenadas
geográficas de qualquer ponto na superfície da Terra, em graus, minutos e segundos.
Dessa forma, na circunferência de 360°, cada grau tem sessenta minutos (60’) e cada
minuto é formado por sessenta segundos (60’’). A Terra tem uma circunferência de
40.000 km que, se dividida por 360°, tem como resultado a distância que equivale ao arco
de 1° (111,1 km). Ao dividir esta por sessenta minutos (60’), é obtida a distância de um
minuto ou milha náutica, que equivale a 1.852 metros. Dessa forma, uma milha náutica,
por definição, é a distância de um arco de um minuto de um grau (1.852 m), de um
círculo de máxima, que são os círculos da esfera perfeita, representados na Terra pela
Linha do Equador e por todos os meridianos.
Os dois instrumentos básicos para trabalhar nas cartas náuticas são a régua para-
lela e o compasso (FIG. 4.4A). A primeira, usada para traçar a linha de navegação a
ser seguida – a derrota, constitui-se de duas réguas que são mantidas juntas lado a
lado de tal forma que, ao manter fixa uma das réguas, a outra pode ser movimentada
para frente ou para trás, o que permite transferir retas sobre a carta, enquanto o
mesmo ângulo é mantido (FIG. 4.4B). Para determinar o rumo entre duas posições, a
régua paralela deve ser alinhada entre elas e, depois, deslocada por movimentos si-
multâneos até a rosa dos ventos mais próxima. Uma vez que a régua esteja posicionada
no centro da rosa dos ventos, a direção do rumo pode ser lida. É aconselhável fazer
a leitura no lado da rosa em que se deseja navegar. Para traçar uma derrota desde a
posição atual, é necessário começar a deslocar a régua paralela desde a rosa dos
ventos. Para tanto, uma das bordas externas da régua é alinhada no centro da rosa,
sendo projetada através da direção ou rumo que se pretende navegar. A seguir, a
régua é deslocada até a posição atual e a linha da rota é traçada. Dessa forma, é
possível demarcar uma rota com um ângulo específico de navegação.
O compasso – instrumento diferente do compasso magnético – é formado por
duas hastes articuladas no vértice, que serve para delimitar curvas regulares, medir
distâncias e determinar as coordenadas geográficas de um ponto (FIG. 4.4C). Para
medir distâncias, utiliza-se um compasso de duas pontas secas; dessa forma, a escala
de latitude é também usada como escala de distância, pois está traçada sobre um
círculo de máxima. Para a leitura da distância, coloca-se uma das pontas do compasso
em um dos extremos da distância a ser medida e a outra ponta no extremo oposto. A
abertura do compasso obtida é transportada para cima de um círculo de máxima na
mesma altura da distância que está sendo medida para que seja efetuada a leitura (FIG.
4.4C). Quando a carta náutica que está sendo utilizada não inclui a Linha do Equador,
as leituras de distância devem ser realizadas nos meridianos.

2.2 Sextante

Um dos primeiros instrumentos utilizados no transporte náutico foi o sextante (FIG.


4.5A), o qual permite medir com precisão o ângulo formado entre as linhas de visão de

92 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

dois objetos. Seu nome deriva do fato de que seu arco é aproximadamente um sexto de
um círculo. Esse instrumento é muito utilizado na navegação astronômica, pois, ao permitir
estimar a altura relativa de corpos celestiais em relação ao horizonte, o posicionamento é
calculado. Hoje, na época da eletrônica, o sextante está praticamente em desuso.

Figura 4.4 Equipamentos básicos de trabalho em navegação: (A) carta náutica, compasso e
régua paralela; (B) régua paralela sendo utilizada para transferir uma linha reta desde a rosa dos
ventos na carta náutica; (C) compasso sendo utilizado para medir uma distância
[Fotos: Santiago Montealegre-Quijano].

Figura 4.5 (A) Sextante; (B) Bússola


[adaptado de (A) <www.infovisual.info>; (B) MIGUENS, 1996].

N AVEGAÇÃO 93
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
2.3 Agulhas náuticas

As agulhas náuticas são instrumentos para a medida de direções, utilizadas para


definir rumos, (ângulo horizontal entre uma direção de referência e a direção para a
qual aponta a proa da embarcação) e marcações (pontos de referência em terra, que
auxiliam na localização da embarcação no mar). É possível destacar dois tipos de
agulhas náuticas: as agulhas magnéticas e as giroscópicas.
A agulha magnética (bússola) é um dos mais antigos instrumentos presentes em
uma embarcação e consiste de um círculo graduado de 0 a 360º (FIG. 4.5B), apoiado
no seu centro, livre para girar em torno de um eixo vertical – o estilete – e que flutua
em uma cuba cheia de um líquido (varsol ou uma mistura de água e álcool). As
embarcações podem possuir duas agulhas magnéticas: uma localizada no passadiço,
denominada agulha de governo; e outra, no tijupá (em local mais livre de influências
magnéticas), chamada agulha padrão, pela qual se determinam os rumos e marcações.
A agulha de governo serve, basicamente, para manobrar o navio e tem o rumo
obtido por comparação com a agulha padrão. O procedimento consiste em colocar
a embarcação na direção da agulha padrão e, nessa situação, ler-se o rumo indicado,
pelo qual se passa a governar a embarcação.
A agulha magnética é um instrumento simples, que opera independente de qual-
quer fonte de energia elétrica, requer pouca manutenção, dificilmente sofre avarias e é
de baixo custo. Entretanto, esse tipo de agulha tem uma série de desvantagens tais
como: indicar o norte magnético, em lugar do norte verdadeiro ou geográfico; ser
afetada por material magnético ou aparelhos elétricos; não ser tão precisa e fácil de usar
como uma agulha giroscópica; suas informações não podem ser transmitidas para outros
sistemas; e é mais afetada por altas latitudes do que a giroscópica. A diferença angular entre
o norte magnético e o verdadeiro denomina-se declinação magnética.
Devido aos muitos magnetismos existentes nas embarcações, criados por apare-
lhos elétricos ou por peças de ferro ou outros metais, a agulha magnética sofre altera-
ções que afetam a sua orientação natural com relação ao campo magnético terrestre.
Portanto, para não obter leituras erradas, é necessário que as 360 proas possíveis,
sejam compensadas, o que é realizado por um técnico. Contudo, essa compensação
não é perfeita e, por isso, é deixada a bordo uma tabela de desvios da agulha, na qual,
para cada proa, é estimada uma variação de 0 a 3° leste ou oeste, utilizada para
determinar a diferença angular entre o norte magnético e o da agulha.
A agulha giroscópica ou bússola giroscópica é, essencialmente, um giroscópio
busca-meridiano, cujo eixo de rotação permanece alinhado com os meridianos ter-
restres e que é capaz de oscilar em torno de seu eixo vertical e de medir o ângulo entre
a proa do navio e a rotação do giroscópio, definido como rumo verdadeiro do
navio. As agulhas giroscópicas são cada vez mais utilizadas a bordo das embarcações
modernas, não apenas como referência para obtenção de rumos e de marcações, mas

94 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

também como componentes básicos dos sistemas de navegação inercial e integrado.


O giroscópio tem dois princípios físicos fundamentais, a inércia e a precessão. Isso
determina que, se colocado apontando para o norte verdadeiro, pela inércia giroscópica,
o giroscópio permanecerá apontando para esse norte.
Em comparação com a agulha magnética, a giroscópica tem as seguintes vanta-
gens: é independente do magnetismo terrestre; é mais simples na sua utilização; per-
mite maior precisão de governo/observação de marcações; pode ser usada em latitu-
des mais altas; não é afetada pela presença de aparelhos elétricos; pela facilidade e
precisão na transmissão de dados, o sinal da agulha giroscópica pode ser utilizado junto a
radares, repetidoras, equipamentos de posicionamento por satélite, registradores de rumo,
pilotos automáticos, equipamentos de derrota estimada e sistemas de navegação. As
desvantagens da agulha giroscópica são a exigência de uma fonte constante de energia
elétrica, a sensibilidade às flutuações de energia, as avarias próprias de equipamentos
complexos e a necessidade de manutenção adequada, executada por técnicos especializados.

2.4 Hodômetro

Esse instrumento é utilizado para a determinação da distância percorrida e da


velocidade; em navegação, pode ser do tipo de superfície, de fundo, ou Doppler. Os
de superfície e de fundo medem a velocidade da embarcação na superfície em rela-
ção à massa de água circundante (depois a velocidade é integrada em relação ao
tempo e transformada em distância percorrida). O Doppler mede a velocidade e a
distância em relação ao fundo, sendo o de maior precisão.
O hodômetro de superfície consta de um hélice, um volante, uma linha de rebo-
que e um contador (FIG. 4.6A). Durante o seu funcionamento, com o deslocamento
da embarcação, o hélice adquire um movimento de rotação que é transmitido pela
linha de reboque ao contador, onde é registrada a distância navegada. Embora quase
em desuso, os hodômetros de superfície ainda são utilizados por alguns navegadores
tradicionais. Citam-se como vantagens do hodômetro de superfície: instalação sim-
ples e possibilidade de substituição rápida de peças danificadas. Já as desvantagens são
a necessidade de remoção quando a embarcação dá marcha à ré, sofrer a influência de
mar grosso em portos movimentados, enroscar-se em algas e em outros objetos
flutuantes, não estar sempre pronto para o uso, devendo ser preparado e lançado,
indicar a distância navegada na superfície, além de não fornecer diretamente a velocidade.
O hodômetro de fundo, ou tubo de Pitot, é um instrumento que obtém a infor-
mação a partir da diferença entre a pressão estática da água, resultante da profundida-
de na qual está mergulhado o elemento sensível do equipamento abaixo da quilha, e a
pressão resultante do movimento da embarcação através da água – pressão dinâmica
(FIG. 4.6B). Assim, quanto maior for a velocidade do navio sobre a água, maior será
a diferença entre essas duas pressões. O aparelho consiste de uma haste, que é proje-

N AVEGAÇÃO 95
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
tada através do casco, por uma válvula de mar. Dentro da haste sensora, existe um
tubo de Pitot que, na realidade, é constituído por dois tubos: um que abre para avante
e outro que abre para ré. Quando a embarcação se movimenta, a parte de avante da
haste é exposta à pressão total; o tubo que abre para ré fica exposto apenas à pressão
estática. Assim, conhecidas as duas pressões, determina-se a pressão dinâmica e, então,
a velocidade é transmitida ao indicador, integrada em função do tempo por meios
elétrico e mecânico, é convertida em distância navegada (MIGUENS, 1996). As vantagens
do hodômetro de fundo são: não existem elementos exteriores móveis; permite a
obtenção de indicações diretas de velocidade. Como desvantagesns cita-se: possibilidade
de entupimento da haste; indicações pouco precisas a baixas velocidades e dificuldade
de alterar erros após a calibração do equipamento.
O hodômetro Doppler é o único instrumento que mede a velocidade da embar-
cação em relação ao fundo. As medições obtidas com os outros tipos de hodômetros
estão influenciadas pelos movimentos devidos às correntes marinhas; entretanto, o
princípio de funcionamento deste instrumento baseia-se no efeito Doppler, que é a
mudança da frequência de uma onda quando a fonte de vibração e o observador
estão em movimento, um relativamente ao outro (MIGUENS, 1996). No hodômetro
Doppler, há dois transdutores no casco da embarcação, um de emissão e outro de
recepção de pulsos acústicos; um sinal de frequência ultrassonora é emitido e o recep-
tor capta o sinal refletido pelo fundo do mar ou por pequenas partículas na água. Se
o navio estiver em movimento, a frequência recebida será levemente diferente daquela
emitida; assim, o aparelho mede essa diferença, que também é diretamente proporcional
à velocidade do navio obtendo-se a distância navegada (MIGUENS, 1996). Outra
informação importante é a de que a velocidade das embarcações é expressa em
milhas náuticas por hora ou nós. Um nó equivale a uma milha náutica por hora;
portanto, dizer nós por hora é uma redundância e está errado.

A B

contador da
distância

linha
pressão estática
volante

hélice

Figura 4.6: Hodômetros: (A) de superfície; (B) de fundo (Pitot) [adaptado de MIGUENS, 1996].

96 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

2.5 Radiogoniômetro

A radiogoniometria é o método que tem por objetivo determinar, mediante o


emprego de sinais radioelétricos, a direção entre duas estações, uma transmissora e
uma receptora. O instrumento utilizado a bordo para efetuar essa determinação de-
nomina-se radiogoniômetro, método cuja origem data da primeira década do século
XX e cujo emprego se mantém até hoje (MIGUENS, 2000).
O radiogoniômetro é um receptor de rádio que capta sinais específicos emitidos
por radiofaróis, cujas antenas se localizam ao longo da costa dos países e cujo
posicionamento é identificado nas cartas náuticas, assim como a frequência de emis-
são e o código do sinal. Dessa forma, o radiogoniômetro é sintonizado na frequência do
radiofarol mais próximo, para receber o sinal em código Morse e permitir a medição do
ângulo em que essa onda eletromagnética está sendo captada pela embarcação.
Os instrumentos desse tipo instalados a bordo das embarcações permitem a ob-
tenção de sinais de radiofaróis, de transmissores de outros navios, de aviões e até
mesmo de emissoras de radiodifusão comerciais. As marcações radiogoniométricas
adquirem um grande valor em ocasiões de visibilidade restrita, quando não podem
ser realizadas observações astronômicas ou visuais. Nessa situação, um radiofarol ou
uma estação transmissora irradia um sinal circular e, por meio de um receptor acoplado
a uma antena direcional a bordo, obtém-se o sinal irradiado, ou seja, determina-se a
direção da estação transmissora. O ângulo entre a direção segundo a qual se recebe a
onda eletromagnética e a proa do navio constitui a marcação radiogoniométrica da
estação transmissora. Combinando-se esta marcação com o rumo do navio e aplican-
do-se algumas correções, obtém-se o ponto verdadeiro do radiofarol ou da estação
transmissora. Se duas ou mais marcas diferentes forem determinadas, a posição do
navio ficará definida. Assim, na radiogoniometria é usado o método direcional para
obtenção das marcações radiogoniométricas (MIGUENS, 2000).
Um radiogoniômetro pode ser classificado em manual – aquele cujo operador
deve girar a antena e efetuar a determinação do mínimo de sinal em uma saída de
áudio (fones ou alto-falantes), a fim de obter a direção e o sentido das ondas
radioelétricas; ou automático – aquele cujo operador seleciona a posição Automatic Direction
Finding (ADF) e o instrumento executa por si a busca da direção e do sentido das ondas de
rádio determinando, assim, a marcação radiogoniométrica (MIGUENS, 2000).

2.6 Sistemas de detecção sonora

O termo sonar inclui todos os sistemas acústicos subaquáticos utilizados para a


detecção e localização de objetos na água. A utilização de sistemas passivos (auditivos)
permite apenas a captação de ruídos subaquáticos; nos sistemas ativos, uma onda
acústica é emitida e os ecos produzidos, ao entrarem em contato com objetos na
água, são usados como fonte de informação acerca desses objetos (FIG. 4.7). As

N AVEGAÇÃO 97
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
frequências usadas nos sistemas de detecção sonora variam desde o espectro infrassônico
até o ultrassônico. Os instrumentos usados em navegação que utilizam sistema de
detecção acústica são o sonar e a ecossonda, ambos ativos.

onda refletida

transmissor /
receptor objeto

distância do objeto
onda original

Figura 4.7 Princípio da propagação do som de um sonar ativo


[adaptado de <www.enchova.com/sonar.html>].

Sonar é a sigla em inglês de Sound Navigation and Ranging ou “navegação e determi-


nação de distância pelo som”. É um instrumento que utiliza a propagação do som,
principalmente no plano horizontal para detectar outras embarcações ou objetos, o
que o diferencia da ecossonda, em que o pulso sonoro é emitido no plano vertical. Os
sonares podem ser usados como um meio de localização acústica e de medição das
características dos ecos de alguns alvos na água ao redor da embarcação.
Ecossonda é um instrumento que também utiliza a propagação do som, mas
diferentemente do sonar, o pulso sonoro é emitido no plano vertical sendo, portanto,
útil para a detecção e a localização de objetos na coluna de água abaixo da embarca-
ção. O tempo transcorrido entre a emissão do pulso e a recepção do eco permite
calcular a distância em que se encontra o objeto. Dessa forma, a ecossonda é indispen-
sável em navegação para medir a profundidade da coluna de água e, assim, evitar
encalhamento (FIG. 4.8A). Maiores detalhes sobre sua operação e função na pesquisa
de prospecção pesqueira serão dados no Capítulo 8.
Radar é a sigla em inglês de Radio Detection And Ranging ou “detecção e determina-
ção de distância pelo rádio”. Trata-se de um sistema que permite descobrir a presença
e a posição de corpos fixos, e também do rumo e da velocidade daqueles móveis que
não são facilmente enxergados, mediante a emissão de ondas eletromagnéticas ou
radioelétricas no meio aéreo (FIG. 4.8B). Esse aparelho possui um transmissor que
emite ondas eletromagnéticas em todas as direções que, ao entrarem em contato com

98 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

objetos localizados ao redor, são enviadas de volta ao ponto de origem, onde são
recebidas e transformadas em sinal elétrico por um receptor posicionado junto ao
transmissor. Embora o sinal de retorno seja sempre mais fraco que o enviado, pode
ser amplificado através do uso de técnicas eletromagnéticas no receptor. Isso permite
que o radar possa detectar objetos em amplitudes de distância que outros sistemas de
emissão de ondas não conseguem. O radar tem uma grande utilidade na segurança da
embarcação e na prevenção de acidentes, ao identificar possíveis obstáculos e tam-
bém por permitir a obtenção de duas linhas de posição: a distância ao objeto visado
e a marcação a esse ou a outro objeto obtendo, assim, a posição da embarcação.

2.7 Sistemas de Posicionamento Global

O GPS, sigla de Global Positioning System, é um sistema eletrônico de informação


em que um satélite NAVSTAR fornece, via rádio, a um aparelho receptor, coordena-
das de posicionamento, com precisão de 100 m (95% de probabilidade) e o rumo da
embarcação (FIG. 4.8C), sendo considerado indispensável em embarcações de pes-
quisa, tendo substituído integralmente a navegação astronômica. Esse sistema está
dividido em três componentes: espacial, controle e utilizador (FIG. 4.9). O segmento
espacial é composto pela constelação de satélites; o de controle é formado pelas
estações terrestres dispersas pelo mundo ao longo da Linha do Equador, e que são
responsáveis pelo monitoramento das órbitas dos satélites, sincronização e atualização
dos dados transmitidos; o terceiro componente, o utilizador, consiste num receptor
que capta os sinais emitidos pelos satélites.
Cada satélite transmite uma sequência de código digital único de “uns e zeros” –
precisamente cronometrado por um relógio atômico – o que é captado pela antena
do receptor é conferido com a sequência do mesmo código gravado no receptor
para determinar o tempo que os sinais levaram para viajar desde o satélite.
Estas medidas de tempo são convertidas para distâncias usando a velocidade da
luz (aproximadamente 300.000 km por segundo), a mesma velocidade com que as
ondas de rádio viajam. Medindo as distâncias de pelo menos quatro satélites simultanea-
mente e sabendo a localização exata de cada um deles (incluída nos sinais transmitidos
pelos satélites), o receptor pode determinar as coordenadas da posição – latitude,
longitude e altitude – método de trilateração (não triangulação, que envolve a medição
de ângulos) coordenadas geodésicas referentes a sistemas, sendo o WGS84 o de uso
no Brasil.
O GPS foi declarado operacional em 1995 e consiste de 32 satélites e mais
4 sobressalentes, em 6 planos orbitais. Estes satélites foram lançados entre outubro de
1990 e agosto de 2009 e cada um circunda a Terra duas vezes por dia, a uma
altitude de 20.350 km (12.645 milhas) e a uma velocidade de 11.265 km.h-1 (7.000
milhas por hora).

N AVEGAÇÃO 99
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Figura 4.8 Instrumentos de navegação instalados no N/Pq Atlântico Sul: (A) ecossonda;
(B) radar; (C) GPS, onde são apresentados os três tipos de informações fornecidas pelo
equipamento; (D) piloto automático [Fotos: Danilo Calazans].

Existem diferentes receptores GPS, desde diversas marcas que comercializam so-
luções tudo-em-um, até os externos, que são ligados por cabo, geralmente categorizados
em termos de demandas de uso em geodésicos, topográficos e de navegação. A
diferenciação entre essas categorias que, a princípio, pode parecer meramente de pre-
ço, está principalmente na precisão alcançada, ou seja, a razão da igualdade entre o
dado real do posicionamento e o oferecido pelo equipamento tendo, os mais acurados,
valores na casa dos milímetros; ainda, os receptores geodésicos são capazes de captar as
duas frequências emitidas pelos satélites (L1 e L2) possibilitando, assim, a eliminação dos
efeitos da refração ionosférica. Os topográficos, que têm características de trabalho
semelhantes à categoria anterior, diferenciam-se pelo fato de somente captarem a
portadora L1; também possuem elevada precisão, geralmente na casa dos centímetros.
Ambas as categorias têm aplicações técnicas e características próprias, como o pós-
processamento, o que significa que não costumam informar o posicionamento
instantaneamente (exceto os modelos de navegação cinética em tempo real – RTK).

100 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

estação de
monitoriamento
estação
principal

estação de
envio

Figura 4.9 Sistema operacional do GPS com 4 satélites e seus componentes:


(A) espacial; (B) controle; (C) utilizador [adaptado de GETTING, 1993].

O aperfeiçoamento do GPS resultou no Sistema de Posicionamento Global


Diferencial, DGPS, da sigla em inglês Differential Global Positioning System que, além
de utilizar o sistema de satélites, também usa uma rede de estações fixas em terra,
para transmitir a diferença entre a posição indicada pelos satélites e as posições
fixas conhecidas. Na prática, essas estações transmitem a diferença entre as pseudo-
amplitudes medidas pelos satélites, que são aproximações da distância entre o
satélite e o receptor do GPS, com as pseudo-amplitudes reais. Dessa forma, os
receptores DGPS podem corrigi-las, dando uma precisão de 15 m (95% de
probabilidade) no posicionamento.
Há também em atividade, além do GPS, o sistema de posicionamento russo de-
nominado Glonass, cobrindo o território russo com 22 satélites operacionais a uma
altitude de 19.100 km. A cobertura global desse sistema está sendo esperada para
2011. Existem mais três em implantação: o Galileo, da União Européia, com 27 saté-
lites operacionais e mais 3 sobressalentes, a uma altitude de 22.220 km com início de
cobertura global previsto para 2014; o Compass, da China, que terá 35 satélites em 5
órbitas, a 21.150 km de altitude, mas ainda sem previsão de início de funcionamento;
e o indiano IRNSS, com 7 satélites posicionados a 24.000 km, com previsão de
começo de atividade em 2014, cobrindo apenas a Índia. O início de operação de
outros sistemas de cobertura mundial é importante e necessário porque tanto o GPS

N AVEGAÇÃO 101
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
como o Glonass são controlados pelos respectivos Departamentos de Defesa dos
Estados Unidos e da Rússia. Ambos são abertos e gratuitos para uso civil, mas existe
pouca garantia de que em tempo de guerra continuem emitindo sinais, o que resultaria
em sério risco para a navegação.

2.9 Piloto automático

O piloto automático ou giropiloto é o instrumento que executa uma derrota pré-


estabelecida (FIG. 4.8D), através de giroscópios, controlando e mantendo a embarca-
ção no rumo escolhido. Esse recurso permite uma navegação mais precisa e econômica,
já que se encarrega do comando do leme de direção, emitindo sinais de correção de
uma bússola giroscópica. O primeiro piloto automático para embarcações foi instala-
do no início da década de 1920.
Os pilotos automáticos atuais podem obter não apenas o rumo a seguir, mas
também as informações necessárias vindas de sistemas determinadores de posição
que mantêm o barco sobre a derrota planejada. Nesses equipamentos, os controles
são usualmente incorporados para limitar o ângulo de leme à quantidade de
cabeceio (movimento horizontal da proa), antes que uma ação corretiva seja
aplicada, além de um amortecedor que permita à agulha manter-se firme em
mares agitados.

2.10 EPIRB

Os transmissores de localização usados em situações de emergência, denominados


EPIRBs, do inglês Emergency Position-Indicating Radio Beacons, operados através do con-
sórcio de satélites COSPAS-SARSAT, são equipamentos modernos de auxílio em
situações de naufrágio ou outros acidentes. Quando ativado, esse aparelho envia sinais
intermitentes, com dados que possibilitam a localização de pessoas ou de embarca-
ções que necessitam de resgate. O propósito básico dessa tecnologia é possibilitar o
resgate mais rápido possível das vítimas (FIG. 4.10).
Quando acionado, o sinal de 406 MHz é captado por satélites que localizam a
posição de origem do sinal de socorro e retransmitem a informação para estações em
terra, em inglês Local User Terminal (LUT). O sinal do EPIRB contém também a
identificação da embarcação e seu código. A estação em terra recebe o sinal e o
repassa para o Centro de Controle de Missão Brasileiro (CCMBR), o qual combina a
informação recebida com as de outras recepções de satélite, refina a localização, adi-
ciona detalhes do registro do transmissor e gera uma mensagem de alerta. Esta, então,
é transmitida ao SALVAMAR BRASIL – Centro de Coordenação de Salvamento
que coordena aparato disponível para as ações de busca e salvamento que, no Brasil,
incluem helicópteros, embarcações, aeronaves de asas fixas, pessoal especializado e
até recursos comerciais ou privados enviados pela Marinha e pela Força Aérea.

102 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

satélite
(COSPAS-SARSAT)

centro de
controle
da missão

resgate naval

antena

resgate aéreo
EPIRB
H

centro de
controle
de resgate

Figura 4.10 EPIRB: esquema de operação dos transmissores de localização usados em


situações de emergência [adaptado do Instituto de Ciências Náuticas, 2009].

Existem dois tipos de EPIRBs: os de ativação manual e os automáticos, que são


instalados de maneira a se soltarem de imediato da embarcação.

3 SINALIZAÇÃO NÁUTICA
A sinalização náutica é a parte que permite normatizar e indicar a navegação em
áreas ou águas restritas. Até a Segunda Guerra Mundial, cada país tinha seus próprios
sistemas de sinalização para deslocamento em águas restritas, o que causava vários
problemas. Para resolver essas questões, foi criada, em 1957, a Associação Internacio-
nal de Sinalização Maritíma, em inglês International Association of Marine Aids to Navigation
and Lighthouse Authorities (IALA), com objetivo principal de regulamentar e uniformi-
zar a sinalização náutica internacional. Em 1980, foi adotado o Sistema de Balizamento
Marítimo, denominado IALA em alusão à associação internacional, uniformizando não
apenas os sinais que permitem orientar a navegação em áreas restritas, mas também como
estes devem ser lidos. Assim, o mundo foi dividido em duas áreas: IALA A, para a
maioria dos países, e IALA B, para as Américas, a Coréia, as Filipinas e o Japão.

N AVEGAÇÃO 103
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Nesse sistema, tem-se a seguinte convenção de balizamento: quando se navega do
mar para a terra, no sistema IALA A, deixam-se os sinais encarnados (vermelhos) a
bombordo, enquanto no sistema IALA B, estes são deixados a boreste.

3.1 Balizamento

O Sistema de Balizamento Marítimo – IALA consiste de cinco sinais, que permi-


tem orientar a navegação restrita ou em águas com limitação ou sob jurisdição. Os
cinco sinais são: os laterais – os quais informam as bordas de um canal e são utiliza-
dos para indicar os lados de boreste e bombordo. No Brasil, por estar em área B do
sistema IALA, os sinais vermelhos ou encarnados indicam o lado de boreste e os
verdes indicam o de bombordo, para quem vem no sentido convencional de
balizamento, ou seja, quem vem do mar para a terra; os cardinais – que são utilizados
para indicar ao navegador qual a direção a seguir para encontrar águas seguras; os de
perigo isolado – que informam lugares limitados de perigo, mas avisam que as águas
ao redor do ponto de perigo são seguras; os de águas seguras – que são utilizados
para indicar que em torno de tais sinais as águas são seguras; e os especiais – os quais
são usados para salientar áreas ou características especiais mencionadas nas cartas náuticas,
não estando obrigatoriamente ligados à navegação.

3.2 RIPEAM

O Regulamento Internacional para Evitar Abalroamento no Mar (RIPEAM) é um


conjunto de regras e procedimentos que, tendo a força da lei, prescreve como devem
ser conduzidas as embarcações na presença de outras. São definidos também no
RIPEAM os sinais de apito, luzes ou marcas diurnas que permitem informar às outras
embarcações das intenções ou ações planejadas, de maneira que possam ser desenvolvidas
manobras corretas e seguras afastando, assim, o perigo do abalroamento (colisão). Existem
duas formas prováveis de abalroamento: uma ocorre quando as duas embarcações estão
navegando proa-a-proa; outra, quando estão em rumos cruzados. Para existir risco de
colisão, têm-se duas premissas: a primeira é que a distância entre as embarcações tem que
estar diminuindo; a segunda é que a marcação entre as embarcações permanece constante.
Nessa situação, a manobra deve ser feita pela embarcação que visualiza a outra por
boreste, num ângulo de 112,5° a partir da proa (FIG. 4.11A). Os sinais luminosos são
utilizados para auxiliar as preferências à noite, por isso as embarcações devem apresentar
luz branca de topo, com ângulo de visualização de 225° pela proa, luzes de segmento
encarnadas a bombordo e verde a boreste, com ângulo de visualização de 112,5° por
cada bordo a partir da proa, além de luz de alcançado pela popa com ângulo de visualização
de 135° pela popa (FIG. 4.11B). No RIPEAM existem, no entanto, várias classificações de
privilégio em águas interiores ou abertas, dependendo da velocidade, do porte e da operação
que a embarcação está por realizar, entre outras variáveis.

104 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 4.11 (A) zonas de privilégio e de manobra em caso de risco de albaroamento;


(B) setores de visibilidade das luzes padrões de navegação; (e) luz encarnada; (v) luz verde;
(b) luz branca [adaptado de MIGUENS, 1996].

4 EQUIPAMENTOS DE COMUNICAÇÃO
Os rádios para comunicação são um dos principais equipamentos de segurança no
mar pois, em caso de emergência, é possível contatar outra embarcação ou uma
estação terrestre para obtenção de apoio.

4.1 Rádio VHF

Os rádios de frequência muito alta, ou VHF – do inglês, Very High Frequency – são
ideais para comunicações de curta distância, com alcance geralmente além da linha de
visada do transmissor. Esses rádios podem ser operados em qualquer lugar na faixa
de frequência entre de 30 a 300 MHz, embora alguns trechos dessa faixa sejam de uso
exclusivo para alguns setores e, portanto, restritos. O rádio VHF, de uso comum, opera
de 156 a 163 MHz, em que 156,6 MHz é designada como frequência internacional de
socorro, para a qual todas as embarcações e estações costeiras devem manter escuta
(BARROS, 1995). O rádio VHF é o mais usado em embarcações costeiras e seu alcance
pode ir a 20 milhas, dependendo da potência do aparelho e das condições atmosféricas.
O custo reduzido e a comunicação livre de ruído são algumas das suas vantagens.
A fim de facilitar as comunicações, os canais usados em VHF são numerados de 1
a 88, com as chamadas utilizando o Canal 16. Esses canais marítimos são internacio-
nalmente reconhecidos, porém as frequências de trabalho são de uso local, devendo ser
estabelecidas entre as estações envolvidas logo após o contato inicial (BARROS, 1995).

N AVEGAÇÃO 105
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Os rádios VHF podem ser operados em símplex ou em duplex. No modo
símplex apenas uma parte do canal de mão dupla pode falar de cada vez devendo, ao
término da fala, ser transferida a voz para o interlocutor mediante o comando “câm-
bio”, uma vez que o equipamento não pode transmitir e receber simultaneamente;
essa é a forma mais comum nos rádios VHF. A conversação em duplex é usada
principalmente no sistema telefônico: dois canais, um para transmissão e outro para
recepção, que são normalmente selecionados de forma automática através de um
determinado número de canal; alguns dos números mais altos dos canais VHF desti-
nam-se geralmente à operação duplex.

4.2 Rádio HF

Os rádios de frequência alta, ou HF – do inglês High Frequency – são ideais para


comunicações de longo alcance, tanto entre embarcações como destas com estações
em terra, utilizando frequências de 4 a 22 MHz. Já que a largura da banda para trans-
missão é estreita, a qualidade da comunicação é bastante reduzida, por isso as trans-
missões de rádio HF utilizam-se das propriedades refletoras da ionosfera para expan-
dir seu alcance: o sinal transmitido reflete na ionosfera, volta à superfície terrestre, é
irradiado novamente podendo, nesse vai e vem atingir distâncias de até 6.000 milhas.
A altura e intensidade da camada refletora variam em função da hora do dia, bem
como da estação do ano e de outros fatores, o que pode tornar a frequência selecionada
crítica para o estabelecimento de boas comunicações.

4.3 Sistemas de comunicação por satélite

Os sistemas de comunicação por satélite (SATCOM) são sinais irradiados em


todo o mundo através de uma rede de estações baseadas em terra e retransmissoras
em órbitas estacionárias no espaço. As comunicações são estabelecidas via estações
costeiras terrestres, que constituem o elo para o segmento espacial da rede (BARROS,
1995). Empresas privadas provêm o acesso aos satélites de comunicações de âmbito
mundial, fornecidos pela International Maritime Satellite Organization (INMARSAT), sis-
tema o qual permite tanto comunicações por telex, como por voz, bem como trans-
missões fax em seus canais telefônicos.

4.4 Telefone celular de bordo

A possibilidade de comunicação via rádio em frequência ultra alta, ou UHF – do


inglês Ultra High Frequency – permite fazer chamadas telefônicas diretas através do
sistema telefônico de terra: o telefone celular, sistema que opera em 800 MHz e com
uma faixa de 50 MHz, o qual envolve centenas de canais que podem ser distribuídos
das mais diferentes maneiras. Esse equipamento elimina a necessidade de se fazer um

106 SANTIAGO MONTEALEGRE -Q UIJANO E L UIZ B. LAURINO


Foto: Danilo Calazans
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

contato através de um operador e reduz


as perdas de tempo. O sinal rádio de
bordo é enviado a uma antena em terra e,
se o barco se move para fora do alcance de
um transreceptor em terra, o sinal passa
automaticamente para outro equipamento
do sistema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, G.L.M. Navegando com a
Eletrônica. S.l.: Ed. Catau, 1995.
BARROS, G.L.M. Navegar é Fácil.
11.ed. S.l.: Ed. Catau, 2001.
GETTING, I.A. The Global Positioning
System. Spectrum, IEEE. New York,
1993, (30):36-38;43-47.
MALONEY, E.S. Dutton´s Navigation &
Plotting. Annapolis: Naval Institute Press, 1978.
MIGUENS, A.P. Navegação Costeira,
Estimada e em Águas Restritas In:
________. Navegação: a ciência e a arte.
Rio de Janeiro: Diretoria de Hidrografia
e Navegação, 1996. v. 1.
MIGUENS, A.P. Navegação Astronômica
e Derrotas. In: ________. Navegação:
a ciência e a arte. Rio de Janeiro: Diretoria
de Hidrografia e Navegação, 1996. v. 2.
MIGUENS, A.P. Navegação Eletrônica e
em Condições. In:________. Navegação:
a ciência e a arte. Rio de Janeiro: Diretoria
de Hidrografia e Navegação, 1996. v. 3.

N AVEGAÇÃO 107
OCEANOGRAFIA FÍSICA
Osmar Möller Jr. e Marcos Paulo Abe
5
CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

Oceanografia Física pode ser definida de várias maneiras. De acordo com Stewart
(2008), compreende o estudo das propriedades físicas e da dinâmica dos oceanos. Já
para Tomczak e Godfrey (2003), trata de entender os princípios físicos que dirigem
os movimentos oceânicos. Se as duas definições forem combinadas, pode-se dizer
que Oceanografia Física é a área da Oceanografia (ou da Geofísica), cujo objetivo é o
estudo dos movimentos das águas oceânicas, das forças que os causaram e das
consequências que esses acarretam em termos de transporte de propriedades, sobre-
tudo de salinidade e temperatura.
Assim, a área de Oceanografia Física ocupa-se do estudo de fenômenos que podem
ter uma escala temporal da ordem de segundos, no caso de ondas geradas por ven-
tos, até processos cuja escala pode exceder centenas de anos, como a circulação termo-
halina ou de densidade. Em termos de escala espacial, essa varia de micro até
macrodimensões, podendo atingir milhares de quilômetros.
Foto: Christian Florian Göbel
Se forem excluídas as ondas de curto período, geradas por efeito do vento e as de
maré, causadas por forças resultantes das interações Terra, Sol e Lua, que pouco efeito
têm sobre o transporte de propriedades, pode-se dizer que a circulação oceânica é devida
a três fatores externos: fricção do vento; aquecimento e esfriamento; e evaporação e
precipitação (TOMCZAK e GODFREY, 2003). Todos esses processos estão, em última análise,
ligados à incidência diferencial da radiação solar sobre a superfície da Terra, sem falar, é
claro, que as diferenças térmicas entre uma região e outra afetam o campo de ventos.
O efeito combinado desses fatores gera condições para que a água circule tanto em
superfície, na forma de correntes geradas por ventos, como em camadas mais profundas,
na chamada circulação termo-halina. Esses movimentos tendem a transportar grandes
volumes de águas, denominados de massas de água, que apresentam valores de
temperatura e salinidade característicos de sua área de formação, trazendo consequências
que se refletem no clima, na composição química das águas e, em última instância, na
estrutura da flora e da fauna. Dessa maneira, a determinação precisa de temperatura e
salinidade é imprescindível para os estudos da formação dessas massas, de seus movimentos
e velocidades e das misturas que podem sofrer ao longo de seu deslocamento.
Desde o início das investigações oceânicas, têm-se buscado métodos para coleta
de dados que procurem resolver as grandes questões oceanográficas relativas às esca-
las espaciais e temporais próprias de cada tipo de movimento oceânico. Diversos
tipos de instrumentos foram, aos poucos, desenvolvidos, com o intuito de se obser-
var e registrar os fenômenos oceanográficos e caracterizar a estrutura da coluna de
água em termos de propriedades físicas, notadamente salinidade e temperatura, e dos

OCEANOGRAFIA FÍSICA 109


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
movimentos oceânicos. As primeiras medições destas propriedades ficaram restritas à
camada superficial com coleta de água, sendo que a temperatura era medida por
termômetros simples e a salinidade determinada por titulação. Aos poucos, foram
sendo desenvolvidos termômetros de máxima e mínima e garrafas de amostragem,
até se chegar à possibilidade de se obter valores discretos de temperatura e salinidade,
isto é, espaçados de dezenas ou mesmo de centenas de metros.
As necessidades navais decorrentes da guerra submarina contribuíram para o de-
senvolvimento de sensores contínuos de temperatura da água do mar e de perfis de
velocidade de propagação do som. A partir deles, chegou-se a registradores que
combinam medições contínuas em profundidade, de temperatura e salinidade, e ser-
vem de plataforma para sensores de outras propriedades. A instalação desses sensores
em veículos rebocados por embarcações abre maiores possibilidades no estudo da
distribuição espacial dessas variáveis e de propriedades associadas.

1 INSTRUMENTOS DE MEDIÇÃO OU DE COLETA


Neste capítulo, serão abordados os instrumentos mais utilizados em cruzeiros de
pesquisa para medições de temperatura, salinidade, e direção e velocidade de corren-
tes, levando-se em conta aspectos da evolução histórica desses aparelhos. Antes de se
passar a essas abordagens, é importante ter em mente dois conceitos relativos ao
desempenho de instrumentos: acurácia e precisão. Segundo Stewart (2008), acurácia
é a diferença entre o valor obtido através de medições e o valor verdadeiro de uma
determinada variável. Precisão é a diferença entre medições sucessivas.
As primeiras determinações de temperatura nos oceanos consistiram de medições
feitas através de um termômetro de mercúrio em amostras superficiais, coletadas
com um balde. O desenvolvimento de garrafas dotadas de isolamento térmico, para
medições em grande profundidade, possibilitou as primeiras evidências de que a capa
de água abaixo dos 1.000 m de profundidade era fria, mesmo em regiões tropicais.
A tecnologia empregada nos termômetros utilizados em Oceanografia também evoluiu,
passando por termômetros de máxima e mínima, até chegar aos termômetros de
inversão, que começaram a ser construídos em 1874 pela companhia Negretti & Zambra.
Esses eram baseados no princípio da reversão descrito por George Aimé, em 1845. O
modelo de 1874, que é composto de dois termômetros no mesmo corpo: um principal
com dois bulbos que contorna o secundário, o qual ocupa a parte central do instrumento
(FIG. 5.1A). Esse modelo foi utilizado na expedição do HMS Challenger, realizada de
1872 a 1876, sendo o primeiro instrumento a determinar de forma acurada a temperatura
em grandes profundidades e a reter os valores ao ser trazido para a superfície.
Termômetros de inversão têm uma acurácia que pode atingir +/– 0,01ºC, dependen-
do da escala. A maioria deles utiliza escalas divididas em intervalos de 0,1ºC (EMERY e
THOMSON, 1997). A versão mais moderna do termômetro de inversão (FIG. 5.1B-E) é

110 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

constituída, também, de dois termômetros, sendo um para medir a temperatura do mar


(termômetro principal) e um menor (termômetro secundário) para registrar a temperatura
do ambiente, onde serão feitas as leituras do termômetro principal. As leituras do
termômetro secundário são utilizadas para as correções devidas à dilatação do sistema
vidro-mercúrio. O termômetro principal (FIG. 5.1B e 5.1C) tem dois bulbos, sendo o maior o
reservatório de mercúrio e o menor, um tubo de vidro que apresenta uma constrição
(FIG. 5.1D), onde a coluna de mercúrio é cortada no momento da inversão, e um giro de
360º, rabo de porco, para impedir que qualquer quantidade de mercúrio passe para o
restante do tubo após a inversão. A posição de descida é a mesma apresentada na Figura 5.1E.
Ao ser colocado na profundidade escolhida para a determinação da temperatura,
espera-se de 3 a 4 minutos para que o aparelho estabilize e, nesse período, a quantida-
de de mercúrio que passa do bulbo principal para o tubo de vidro é proporcional à
temperatura desse local. Na inversão, a coluna é cortada na constrição e todo o mer-
cúrio situado acima dessa, vai em direção ao bulbo menor. O rabo de porco (FIG.
5.1D) impede que o mercúrio do bulbo maior, que agora está acima, passe para o
restante do tubo de vidro. Assim, após a inversão, o bulbo menor torna-se a base da
escala de leitura, onde os valores aumentam em direção ao bulbo maior. Uma vez que
os termômetros estejam no laboratório, espera-se pela estabilização desses para a
realização da leitura, a qual é atingida quando os termômetros secundários marcarem
a mesma temperatura ambiente do laboratório do navio. A leitura é normalmente
feita com o uso de uma lupa, por dois observadores, de forma independente. Even-
tuais diferenças nas leituras remetem a uma nova rodada.

A B C D E
a
& ZAMBRA
NEGRETTI

PATENT

9717 2230
termômetro secundário
110
100
90
80
3 2 2 0
70
60
50 4 2
40
30 b
5 2 3 0

termômetro primário

Figura 5.1 Termômetro de inversão: (A) fabricado em 1874 por Negretti & Zambra; (B)
protegido; (C) desprotegido; (D) detalhes do estrangulamento do tubo capilar: (a) antes e (b)
depois da reversão; (E) detalhe do termômetro na posição de descida
[(A) adaptado de <www.photolib.noaa.gov>; (B-D) de VON ARX 1962].

OCEANOGRAFIA FÍSICA 111


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Existem dois tipos de termômetros de inversão: o protegido (FIG. 5.1B) e o desprotegido
(FIG. 5.1C). Normalmente, ambos são colocados num mesmo suporte constituído de
dois protegidos e um desprotegido. O primeiro é totalmente envolvido por uma jaqueta
de vidro, que evita o efeito da pressão hidrostática sobre o bulbo maior; esse termômetro
mede somente a temperatura in situ. No termômetro desprotegido, o bulbo maior está
em contato direto com a água, sofrendo os efeitos da pressão. A diferença de temperatura
entre os dois tipos fornece, através de uma equação, a profundidade onde os mesmos
foram invertidos, já que a diferença para cada 100 m de coluna de água é de aproximada-
mente um grau centígrado. Por fim, as leituras feitas pelos termômetros são corrigidas a
partir de informações fornecidas num certificado dado pelo fabricante e em função da
dilatação do sistema vidro-mercúrio.
Os termômetros de inversão ainda são utilizados em garrafas de coleta de água
tipo Nansen ou Niskin e, apesar do desenvolvimento de termômetros de inversão
eletrônicos, continuam sendo usados na calibração de instrumentos como o Conductivity,
Temperature and Depth (CTD) (EMERY e THOMSON, 1997).
Da mesma forma que os termômetros, as garrafas para coleta de água também
passaram por uma evolução para obtenção de amostras em grandes profundidades
(histórico: www.photolib.noaa.gov/brs). Partindo-se de aparelhos isolados termicamente para
que a temperatura fosse determinada a bordo, chegou-se às garrafas de inversão que, combinadas
com os termômetros de Negretti & Zambra, permitiram que os primeiros perfis verticais
de temperatura fossem obtidos. Dois tipos estão entre as mais usadas: a de Nansen e a de
Niskin, descritas a seguir, embora existam outros como as de van Dorn e Kammerer.
A garrafa de Nansen (FIG. 5.2) foi desenvolvida em 1910 pelo oceanógrafo Fridtjof
Nansen. É um dispositivo utilizado para coletar amostras de água do mar em uma
determinada profundidade. Basicamente, trata-se de um cilindro de metal ou plástico,
onde são instalados os suportes para colocação de termômetros de inversão, que é
baixado no mar através de um cabo (FIG. 5.3A). A garrafa desce aberta e, ao atingir a
profundidade desejada, um peso de latão, chamado mensageiro, é lançado pelo cabo.
Ao atingi-la, o peso dispara um gatilho de um dispositivo de molas, que faz com que
inverta sua posição (FIG. 5.3B), girando quase 180° ao longo do cabo e, ao mesmo
tempo, feche as válvulas de suas extremidades, retendo a amostra de água (FIG. 5.3C)
Um segundo mensageiro, instalado na parte da garrafa que fica fixa no cabo, pode ser
posicionado para ser liberado pelo mecanismo de inversão. Assim, colocando-se várias
garrafas de Nansen e mensageiros ao longo de um cabo, é possível coletar amostras em
diversas profundidades. Conforme explicado anteriormente, os termômetros de inversão
protegidos e desprotegidos permitem a determinação da temperatura na profundidade
de inversão da garrafa. Uma das desvantagens das garrafas de Nansen estava no volume
de água, que variava de 1,4 a 1,6 litro. No início da década de 1970, esse tipo de amostrador
deu lugar à garrafa desenvolvida por Shale Niskin, no final da década de 1960.

112 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 5.2 Garrafa de Nansen: (A) com os suportes onde estão os termômetros de inversão;
(B) invertida; (C) coleta de água; (D) observação de temperatura [Fotos: Danilo Calazans].

A B C

mensageiro

garrafa

suporte
do termômetro
de inversão

mensageiro

Figura 5.3 Esquema de fechamento de uma garrafa de Nansen. (A) um mensageiro desce e
dispara o mecanismo superior, que se abre liberando a garrafa do cabo. Como essa está fixa pela
borboleta da base, ela gira; (B) liberando o mensageiro, que irá disparar a garrafa seguinte;
(C) a garrafa está totalmente invertida [adaptado de DIETRICH et al., 1980].

OCEANOGRAFIA FÍSICA 113


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A garrafa de Niskin (FIG. 5.4A), de forma semelhante à sua antecessora, é constituída
de um cilindro feito de plástico, equipada com uma tampa em cada extremidade, que são
tencionadas por um elástico. Diferentemente da garrafa de Nansen, é fixa nas duas
extremidades, não havendo possibilidades de inversão (FIG. 5.4B). O fechamento da garrafa
ocorre pelo impacto de um mensageiro, que aciona também o giro de um disco, se
necessário, que causa a inversão dos termômetros colocados em suportes de plástico.
Esse modelo apresenta algumas vantagens em relação à de Nansen, tais como: ser
de plástico, mais leve e seu volume pode variar de 1,6 L a 30 L – possibilitando um
número maior de propriedades a serem medidas. As garrafas de Niskin também podem
ser instaladas em sistemas múltiplos de coleta de água (FIG. 5.4C), chamados segundo
o fabricante, de Rosette (General Oceanics) ou Carousel (Sea-Bird Electronics Inc.).

cabo real sistema eletro-mecânico de


fechamento de garrafas
A B C
cabo gaiola

mensageiro
tampa de
fechamento
liberador

coletor

alça
pino de
segurança
CTD

bico
coletor

Figura 5.4 Garrafa de Niskin de 5 L presa em um cabo. (A) aberta; (B) fechada; (C) sistema
múltiplo para coleta de água [adaptado do Catálogo da Hydro-Bios].

Modelos mais modernos de garrafas de Niskin podem ser instalados em sistemas


automáticos para coleta de água (FIG. 5.4C). Os primeiros desses equipamentos fo-
ram desenvolvidos pela General Oceanics Inc. e receberam a denominação de Rosette.
O nome pode mudar de acordo com o fabricante, mas no Brasil são indistintamente
chamados de Roseta. Estes sistemas utilizam válvulas, cujo acionamento para o fe-
chamento das garrafas pode ser feito de dois modos: 1) no caso mais direto, esse
comando é dado por uma unidade de bordo, fornecida pelo fabricante através de
um cabo condutor conectado diretamente à roseta. Assim, o operador, que observa

114 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

os dados sendo transmitidos para o computador de bordo pelo CTD, pode selecionar
as profundidades de fechamento que sejam mais interessantes para o trabalho em
andamento; 2) quando a embarcação não apresenta uma estrutura de guincho com cabo
condutor, deve-se ter, acoplado ao CTD, uma unidade de fechamento de garrafas que
será programada através de um computador. Um programa fornecido pelo fabricante
permite que se faça toda a comunicação com esse módulo, selecionando o número de
garrafas, as profundidades de fechamento e se esse dar-se-á na descida ou na subida da
roseta. O primeiro sistema que possibilitou esse tipo de procedimento foi desenvolvido
pela Sea-Bird Electronics Inc., denominado Auto Fire Module (AFM), módulo de autodisparo.
O aparelho conhecido como CTD – do inglês, Conductivity, Temperature and Depth,
é o instrumento-padrão utilizado em Oceanografia para a obtenção de perfis verticais
de profundidade, condutividade (salinidade) e temperatura (FIG. 5.5). O primeiro
CTD foi desenvolvido pelo oceanógrafo neozelandês Neil Brown, professor emérito do
Woods Hole Oceanographic Institute. Hoje, vários fabricantes produzem esse instrumento com
precisão variável e com limitações diversas na profundidade máxima atingida. Alguns
podem atingir profundidades superiores a 10.000 m em função de possuírem uma carapaça
de titânio; outros já são mais limitados, para águas mais rasas (< 600 m).
De acordo com Tomczac (2000), o funcionamento dos CTD baseia-se no princí-
pio de medições elétricas. Uma vez que a resistência de um termômetro de platina
altera-se com a temperatura, se for incorporado um oscilador elétrico, a mudança na
sua resistência produz uma alteração na frequência desse oscilador, a qual pode ser
medida. Some-se a isso o fato de que a condutividade da água do mar pode ser
medida a partir de um segundo oscilador e variações na pressão produzem alterações
num terceiro oscilador; esse sinal combinado é enviado por cabo condutor ao computa-
dor de bordo ou é armazenado na sua memória interna, enquanto o mesmo é baixado
ou içado durante a estação oceanográfica. O CTD é dotado de uma bomba que faz a
passagem rápida da água pelos sensores, em função da diferença entre as constantes de
tempo dos sensores de temperatura e condutividade. O sensor de condutividade é mais
lento do que o de temperatura; assim, para evitar que cada sensor meça essas propriedades
em diferentes níveis da coluna de água e, por isso, amostrar águas diferentes, fez-se necessário
instalar essa bomba. Em instrumentos que não tenham este aparato, o fabricante reco-
menda utilizar os dados coletados na subida do aparelho.
O CTD tem capacidade para fazer uma leitura contínua de temperatura e
condutividade, como função da profundidade, numa taxa de até 30 linhas de dados
por segundo. Essa combinação de pares de valores de temperatura e condutividade é
transformada pelos programas de processamento fornecidos pelo fabricante, em
salinidade e densidade, havendo opções para o cálculo de perfis de velocidade do
som ou outras variáveis. Quando se tem a opção de transmissão direta para um
computador, essas variáveis aparecem na tela sob a forma de um gráfico, possibilitan-
do uma análise direta da situação durante a estação.

OCEANOGRAFIA FÍSICA 115


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
cabo conector
marinho
conectores de
sensor auxiliar

caixa
principal
válvula de
liberação
de ar

95 cm
gaiola

bomba
sbe 5t

sensor de
temperatura
sensor de
condutividade
duto tc
conectores de
t,c, bomba & fundo
33 cm

Figura 5.5 CTD SBE 9 plus [adaptado do Catálogo da Sea-Bird’s Electronics Inc.].

Quando não existe a opção de transmissão dos dados em tempo real, a informa-
ção fica registrada na memória interna do instrumento, o qual, ao chegar a bordo, é
conectado a um computador e a comunicação entre ambos é feita através de um
programa fornecido pelo fabricante. O arquivo resultante de uma estação oceanográ-
fica é extraído no formato hexadecimal e, através do programa de conversão, é
transformado em um arquivo de texto, com as variáveis medidas, separadas em
colunas. Os dados passam por um controle de qualidade, no qual filtros matemáticos
são utilizados para a remoção de valores espúrios, gerados por oscilações elétricas no
equipamento (spikes).

116 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Frequentemente, outros sensores podem ser acoplados ao CTD, tais como:


turbidímetros que, quando devidamente calibrados, podem ser usados para perfilar a
concentração de sólidos em suspensão na coluna de água; oxímetros; fluorímetros,
utilizados para a determinação da concentração de clorofila-α; medidores de pH; e
sensores que determinam perfis de nutrientes. Perfiladores acústicos de correntes por
método Doppler também podem utilizar a roseta como suporte e a comunicação
com o computador de bordo é feita pelo cabo condutor.
Além de ser instalado em cabos para obtenção de perfis verticais, o CTD pode ser
instalado em veículos rebocados e, com isso, permitir a obtenção de um perfil dessas
propriedades ao longo da derrota seguida pela embarcação.
BT é a sigla para um aparelho chamado batitermógrafo, ou seja, um registrador
de temperatura em profundidade. O BT foi desenvolvido para atender exigências
ligadas à guerra submarina e, posteriormente, adaptado à pesquisa oceanográfica.
Para obter o perfil vertical de velocidade do som, função da temperatura, da salinidade
e da pressão, era necessário um equipamento que registrasse, de forma rápida, um
perfil vertical de temperatura. Assim, o primeiro tipo de BT, idealizado pelo sul-
africano Athelston Spilhaus, era totalmente mecânico, com o registro feito por uma
agulha de metal em uma lâmina de vidro impregnada de uma substância dourada. Os
valores eram lidos contra uma grade impressa em um visor calibrado para cada BT
fabricado. A pouca precisão e o fato de requerer reduções da velocidade da embar-
cação para dois ou três nós, fizeram que esse equipamento entrasse em desuso tendo
sido substituído, a partir do início da década de 1970, pelo XBT.
O XBT, sigla em inglês para Expendable Bathythermograph, ou batitermógrafo
descartável, foi desenvolvido no final da década de 1960, pela Sippican Corporation,
hoje Lockheed Martin Sippican. Assim como seu equivalente mecânico, é utilizado na
obtenção de dados de temperatura da camada superior do oceano, sem a necessidade
de reduções de velocidade da embarcação utilizada no lançamento. Esse instrumento
é uma sonda com formato de torpedo (FIG. 5.6), cujo princípio de funcionamento
é baseado na relação negativa existente entre a resistência elétrica de um termistor
de metal e a temperatura do meio onde o sensor se propaga. O torpedo contém
uma bobina de cobre na parte inferior (bobina do sensor) e, na parte superior, está
a bobina que se desenrola no tubo. O pino de retenção, em forma de gancho, coloca-
do no meio do tubo, tem que ser retirado para que o torpedo caia na água. Os dados
são transmitidos para o computador através de um fio de cobre bastante fino, que se
desenrola de duas bobinas, uma situada no torpedo e outra no tubo que contém
o sensor e que é conectado, através de um lançador, a um computador. O fato
do fio de cobre se desenrolar a partir de duas bobinas com giros em sentidos
opostos é o que garante a queda livre do torpedo e a base para a determinação da
profundidade do sensor.

OCEANOGRAFIA FÍSICA 117


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
bobina de bordo

medidor de
temperatura

aleta
direcional
pino de
retenção
bobina
do sensor

cápsula
de pressão

compartimento
cartão
de sensores
eletrônico

ogiva

Figura 5.6 Batitermógrafo descartável (XBT) [adaptado de MARCELLI et al., 2007].

De acordo com o fabricante, a acurácia do equipamento é de +/– 0,1ºC. O XBT,


por isso tem sido usado de forma regular em navios (plataformas) de oportunidade,
possibilitando a repetição de secções transoceânicas de temperatura em linhas mer-
cantes regulares. Assim, a partir da curva TS para a região de interesse, a salinidade
pode ser calculada, o que permite avaliar fluxos através da equação do equilíbrio
geostrófico. Miranda (1982) e Caspel (2009) estabeleceram os polinômios para cálcu-
los de salinidade a partir de temperatura para as águas da região Sudeste do Brasil.
O ADCP – do inglês, Acoustic Doppler Current Profiler é um perfilador acústico (FIG.
5.7) que mede a direção e a velocidade de correntes através da transmissão de um
sinal sonoro de alta frequência, que é refletido de volta para o aparelho pelas partículas
em suspensão na água. A velocidade e a direção são determinadas pelo desvio Doppler
da frequência do sinal que retorna ao aparelho (EMERY e THOMSON, 1997). Devido ao
efeito Doppler, a onda sonora transmitida pelo transdutor, ao ser refletida pelas par-
tículas, sofre uma ligeira mudança de frequência, proporcional à velocidade com que

118 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

as partículas se afastam ou se aproximam do instrumento, diminuindo ou aumentan-


do a frequência. O ADCP utiliza-se dessa diferença de frequência para calcular a
velocidade das partículas em intervalos de profundidade, denominados células, cujas
dimensões são determinadas pelo operador, no momento de regular o aparelho. A
suposição básica desse método é que as partículas em suspensão deslocam-se com a
mesma velocidade do fluxo da água.

Figura 5.7 Perfiladores acústicos de correntes (ADCPs) em diferentes tipos de atividades:


(A) numa boia; (B) num navio; (C) no fundo.

De forma bem simples e geral, a velocidade é dada por:

FD = -2 FS ( V / c )

em que:
V é a velocidade relativa entre fonte e alvo;
C é a velocidade de propagação do som;
FS é a frequência de transmissão do som;
FD é a mudança na frequência de transmissão (Efeito Doppler).

OCEANOGRAFIA FÍSICA 119


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Os perfiladores acústicos por Doppler funcionam transmitindo disparos (pings)
sonoros na água, através de transdutores cerâmicos em uma frequência constante e
são divididos de acordo com a frequência do som emitido, que é o fator predomi-
nante no alcance máximo do instrumento – operam na faixa de 75 kHz até 3,0 MHz.
Aparelhos de 75 kHz medem correntes até 500 m de profundidade; os de 300 kHz
atingem profundidades em torno de 150 m; enquanto os de 1.200 a 1.500 kHz ope-
ram até aproximadamente 20 metros. A finalidade principal, e a maior vantagem
desse tipo de instrumento, é o fato de possibilitar a obtenção de perfis verticais de
velocidade de correntes. Os produtos principais dependem do modo de instalação
do perfilador acústico: estático quando é instalado em pilares de pontes, paredões,
margens de rio, lagos, canais, ou ainda fundeados os produtos são séries temporais de
nível (sensor de pressão), e velocidade e direção de correntes em vários níveis; dinâ-
mico quando é instalado no casco ou lateral de embarcações, ou inserido em flutuadores
e rebocado, os produtos são perfis verticais, transversais ou horizontais de velocidade
de correntes. Para áreas profundas, utiliza-se o Lowered Acoustic Doppler Current Profilers
(L-ADCP), com o perfilador instalado numa roseta.
Quando instalado no casco da embarcação ou em flutuadores rebocados, o
perfilador precisa ser dotado de um sistema rastreador de fundo (bottom tracking),
para descontar a velocidade da embarcação ou utilizar um GPS acoplado ao compu-
tador de aquisição de dados. Na Figura 5.8, são mostrados um perfilador instalado
em um flutuador, sendo rebocado por embarcação e o exemplo de um perfil trans-
versal de velocidade longitudinal de correntes medidas no canal de entrada da Lagoa
dos Patos. No caso de ser instalado em embarcações, como navios oceanográficos, é
importante que o perfilador esteja conectado a um complexo sistema de
posicionamento para um perfeito controle dos movimentos da embarcação (caturro
e movimento de través – pitch and roll).

Figura 5.8 Perfilador acústico de correntes: (A) instalado em um flutuador;


(B) perfil transversal do componente longitudinal ao canal de entrada da Lagoa dos Patos
[Fotos: Osmar Möller Jr.].

120 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Na Figura 5.9, obtida de Marin (2009), tem-se um exemplo dos dados tratados de
um ADCP RDI, de 75 kHz, instalado no casco do Navio Oceanográfico (N/Oc)
Antares, obtido durante a Comissão Nordeste I. Em áreas muito profundas, utiliza-se
o L-ADCP, que pode ser instalado na roseta e, usando a conexão com o CTD, ser
baixado por um cabo a partir da superfície. O L-ADCP usa como referencial o
posicionamento dado por um GPS acoplado ao computador de bordo e possibilita
que se obtenham perfis verticais de velocidade e direção de correntes. O tratamento
dos dados é realizado em laboratório e, portanto, não será abordado neste capítulo.

3°S
Fortaleza

Natal
6°S

João Pessoa

Recife

9°S 32 m
Maceió
50 cm.s-1

Aracaju

12°S

40°W 38°W 36°W 34°W 32°W


Figura 5.9 Vetores de velocidade de correntes para o nível de 32 m de profundidade através da
análise dos dados do ADCP instalado no N/Oc Antares durante a Operação Nordeste I
[Fonte: MARIN, 2009].

OCEANOGRAFIA FÍSICA 121


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O termossalinógrafo (T-S) é um instrumento essencial em cruzeiros oceanográficos,
pois possibilita que sejam registrados, de forma contínua, valores de temperatura e salinidade
superficiais. O termossalinógrafo (FIG. 5.10) é instalado na rede de água do mar bombeada
para uso no sistema de refrigeração dos motores da embarcação. Normalmente, o ponto
de captação está situado no casco, a alguns metros abaixo da superfície, e seu princípio de
funcionamento é o mesmo dos sensores termo-halinos do CTD. O T-S deve estar
conectado ao sistema de posicionamento da embarcação e a taxa de aquisição de dados
pode ser regulada, fato que garante a vantagem de se obterem dados praticamente contí-
nuos de temperatura e salinidade, enquanto a embarcação se desloca, os quais são
importantes no momento de se interpolar as informações de superfície obtidas através de
estações oceanográficas distantes, por vezes, de mais de 10 mn (18 km).

Figura 5.10 Termossalinógrafo Sea-Bird instalado na praça de máquinas do ARA Puerto Deseado
durante o cruzeiro do projeto La Plata de inverno [Foto: Carlos Balestrini].

Os primeiros salinômetros de laboratório foram desenvolvidos para determinar


a salinidade das amostras de água coletadas por garrafas. Eram instrumentos que
mediam salinidade através da determinação da chamada razão de condutividade (R15)
determinada para uma temperatura ambiental de 15ºC. Assim,

C 5 ,15, 0
R15
C 35,15, 0

122 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

em que:
C5,15,0 é a condutividade de uma amostra de água com salinidade 5, temperatura de
15ºC e pressão ao nível do mar
C35,15,0 é a condutividade de uma amostra de água padrão tendo salinidade de 35,
temperatura de 15ºC e nas mesmas condições de pressão
O valor de C35,15,0 é 1,0 e o salinômetro apontava diretamente para o valor de R15,
após a calibração. A chamada água padrão era vendida em ampolas, por um centro
oceanográfico determinado pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI),
para calibrar o salinômetro utilizado em cruzeiros; através de um polinômio, o valor
de R15 era transformado em salinidade. A partir de 1978, com a alteração do padrão
para uma solução de KCl com concentração conhecida, trabalha-se com K15, que
guarda as mesmas proporções com a definição de R15.
A partir da adoção de registradores tipo CTD, os salinômetros tornaram-se refe-
rência para calibração desses instrumentos, estando os seguintes tipos desses aparelhos
disponíveis no mercado: o modelo RS10 da Beckman e o chamado Autosal
(FIG. 5.11) desenvolvido pela Guildline. O princípio de funcionamento de ambos é
descrito por Emery e Thomson (1997), e Muller (1999). Pela maior precisão e
confiabilidade, o Autosal acabou tornando-se o equipamento padrão na determina-
ção de salinidade, para fins de calibração de CTDs.

Figura 5.11 Autosal Guildline instalado no laboratório do ARA Puerto Deseado durante o
cruzeiro do projeto La Plata de inverno [Foto: Carlos Balestrini].

OCEANOGRAFIA FÍSICA 123


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
2 ESTAÇÕES OCEANOGRÁFICAS
A realização de estações oceanográficas é a base de um cruzeiro de pesquisa. O número
de estações, a forma dos perfis e os instrumentos a serem utilizados devem ser determinados
no planejamento do cruzeiro, com a finalidade de responder às principais questões científicas,
respeitando também eventuais limitações orçamentárias, como já discutido no Capítulo 1.
Na Figura 5.12, tem-se o exemplo do cruzeiro oceanográfico de verão do Projeto La
Plata com 90 estações (MÖLLER e PIOLA, 2004), realizado em 15 dias entre Mar del Plata
(Argentina) e Itajaí (Bombinhas/SC). Todas as atividades realizadas em cada estação estão
mencionadas na legenda superior da Figura.
O fato de essa área de mais de 1.000 km de extensão ter sido amostrada em tão
pouco tempo leva-nos à questão da sinopticidade, ou seja, à cobertura de uma região
no menor tempo possível, para que se tenha um instantâneo das condições oceano-
gráficas para aquele período. Pode-se dizer que, nessa condição, o cruzeiro anterior-
mente descrito cumpriu com esse requisito, sendo cada propriedade observada e sua
distribuição espacial analisada em uma razão quase sinóptica. Em cruzeiros muito
longos, variações na direção e velocidade dos ventos, por exemplo, podem perturbar
de tal maneira as condições oceanográficas, que se torna difícil estabelecer uma condi-
ção média representativa de uma estação do ano.
O procedimento com as estações oceanográficas foi sempre o mesmo durante
todo o cruzeiro. Em termos da embarcação, normalmente antes da parada dos mo-
tores para o início das coletas, o barco é orientado a dar o bordo – onde está situado
o guincho oceanográfico – para o vento, evitando a deriva sobre o cabo. No caso do
N/Oc Antares, um arco rebatível de popa (A-frame) altera essa situação. Após a para-
da da embarcação, são iniciados os procedimentos para o lançamento do sistema
roseta/CTD, com a preparação das garrafas e a comunicação entre computador e
esse sistema. Também são obtidas todas as informações relativas ao posicionamento
da embarcação – latitude e longitude – e a hora da estação (Hora Média de Greenwich,
HMG), para evitar problemas com trocas de horários, como o horário de verão,
profundidade, velocidade e direção do vento, temperatura do ar e da água, salinidade,
turbidez, entre outras, que vão para uma planilha de registro (ANEXO 1, 2 e 3).
Estando o sistema CTD/roseta pronto, esse é colocado na água a poucos
metros da superfície e fica em estabilização por dois a três minutos. Isso faz que
os sensores se equilibrem com as propriedades da água e dá o tempo necessário
para que a bomba de água do instrumento comece a funcionar. Nos sistemas
onde há comunicação direta com um computador, uma mensagem aparece na
tela, informando o status da bomba; normalmente, esse início leva em torno de
um minuto. Passado esse tempo, o sistema é arriado a uma velocidade da ordem
de 1 m.s -1 até o nível mais próximo do fundo. Quando se conta com cabo
eletromecânico, é possível instalar um alarme que avisa quando o aparelho está a

124 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

uma determinada distância do fundo, ou um transdutor que forneça diretamente a


distância da roseta ao fundo. Quando não se dispõe dessa possibilidade, pode-se
trabalhar com uma distância de 5 m do fundo, dependendo do estado do mar, como
segurança para evitar toques e entrada de sedimentos na bomba e nos sensores. Uma
polia hodométrica é necessária para medir a quantidade de cabo lançada. O aparelho
é içado para bordo na mesma velocidade de descida (na ordem de 1 m.s-1), sendo
retirado da água e desligado.

26 Estação CTD
Trajeto vertical de plâncton
Trajetos horizontais de plâncton Bombinhas
Trajeto horizontal Motoda, 2 níveis
28 Cabo Sta.
Radiômetro Marta Grande
Bentos
Torres
Corrente de superfície
30

Solidão
32

Rio Grande
34 Albardão

Punta del Diablo

36
Punta del Este

Rio de la Plata

38 Punta Médanos

Mar del Plata


40
58 56 54 52 50 48 46

Figura 5.12 Esquema de estações do cruzeiro de verão do Projeto La Plata, realizado a bordo
do N/Oc Antares, da Marinha do Brasil [adaptado de MÖLLER e PIOLA, 2004].

OCEANOGRAFIA FÍSICA 125


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Se os dados forem transmitidos em tempo real, tem início o processamento dos
mesmos. Se não, é feita uma comunicação entre o CTD/AFM e os dados são descar-
regados através de um programa fornecido pelo fabricante. Inicialmente eles são
transmitidos num formato hexadecimal e convertidos para texto (.cnv) por outro
utilitário. Nesse caso, tendo sido verificado que os dados estão preliminarmente cor-
retos e a profundidade máxima desejada tenha sido atingida, pode-se iniciar outra
atividade da estação, ou liberar o navio para seguir viagem. Iniciada a navegação, a
fase de processamento dos dados pode ser retomada e, nesse caso, a recomendação
é a da utilização de filtros para a remoção de eventuais picos. Um exemplo de perfis
antes e depois de filtragem é dado na Figura 5.13, com dados de temperatura e
salinidade medidos na Plataforma do Rio Grande do Sul, durante o Cruzeiro AM 11
do Projeto Amazônia Azul: a Experiência Embarcada.

28/08/2007(-32.58 -51.23) 28/08/2007(-32.58 -51.23)


0 0

-10 -10

-20 -20

-30 -30

-40 -40

-50 -50
Profundidade (m)

-60 -60
10 10.5 11 11.5 12 10 10.5 11 11.5 12
Temperatura °C

0 0

-10 -10

-20 -20

-30 -30

-40 -40

-50 -50

-60 -60
32 32.5 33 33.5 34 32 32.5 33 33.5 34
Salinidade

Figura 5.13 Perfis verticais de temperatura e salinidade antes (painéis à esquerda) e depois
(painéis à direita) da aplicação de filtros [Fonte: Osmar Möller Jr.].

O processamento individual de cada estação, após a aplicação de filtro, leva a uma


análise da distribuição de densidade para verificação de eventuais erros de medidas
que podem gerar situações irreais de instabilidade, ou seja, águas de maior densidade
sobre águas menos densas. Após essa fase, os dados estão prontos para serem anali-
sados por vários métodos, entre os quais estão: confecção de diagramas de distribui-
ção; análises de massas de água através dos clássicos diagramas TS ou TSV; análise do
percentual de mistura com os métodos propostos por Mamayev (1975); e cálculos de

126 O SMAR M ÖLLER J R . E M ARCOS P AULO A BE


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

velocidade geostrófica através do método dinâmico detalhado por Fomin (1964). Na


literatura, há um farto material com exemplos dessas aplicações e, por essa razão, não
são detalhadas aqui. Alguns desses métodos, sobretudo os ligados ao diagrama TS,
foram desenvolvidos para dados coletados abaixo da camada de mistura (~100 m de
profundidade), onde temperatura e salinidade são consideradas como propriedades
conservativas. Nesse caso, as variações são ligadas somente à mistura entre águas e não
a processos externos como radiação solar, evaporação ou precipitação, que atuam na
camada mais superficial do oceano.
É importante que todo o cuidado deva ser tomado na parte de geração de diagra-
mas de distribuição de propriedades, processo que envolve interpolação de dados;
para isso, existe uma gama de programas para computador e de métodos de
interpolação, que podem trazer resultados conflitantes ou a geração de feições irreais,
se determinados cuidados não forem tomados. Um deles é o do pesquisador ter a
sua própria interpretação dos dados e regular seu programa de interpolação até que
esse reproduza a mesma situação. Normalmente, programas de interpolação são ela-
borados para trabalhar com uma grade de dados regularmente espaçada e esse não é
o caso de um cruzeiro oceanográfico, conforme pode ser visto na Figura 5.12.
Como recomendação final, dados oceanográficos têm um custo altíssimo, em
função de envolverem uma estrutura de instrumentos sofisticados, para que possam
ser coletados; por isso, devem ser muito bem tratados e utilizados ao limite. Além
disso, devem ser armazenados e disponibilizados em um banco de dados indepen-
dente, para que possam ser utilizados por outros pesquisadores. No Brasil, o Banco
Nacional de Dados Oceanográficos, do Centro de Hidrografia da Marinha, é o ór-
gão responsável por essa atividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASPEL, M.R.; MATA, M.M.; CIRANO, M. Sobre a relação TS na porção central
do Atlântico sudoeste: uma contribuição para o estudo da variabilidade oceânica no
entorno da cadeia submarina Vitória-Trindade. Atlântica, Rio Grande, v. 32, n. 1, p.
95-110, 2010.
EMERY, W.J.; THOMSON, R.E. Data Analysis Methods in Physical
Oceanography. New York: Pergamon, 1997.
FOMIN, I.M. The Dynamic Method in Oceanography. Amsterdan: Elsevier, 1964.
(Elsevier Oceanographic Series; 2).
MAMAYEV, O.J. Temperature-Salinity Analysis of World Ocean Waters.
Amsterdan: Elsevier, 1975. (Elsevier Oceanographic Series; 11).
MARCELLI, M.; DI MAIO, A.; DONIS, D.; MAINARDI, U.; MANZELLA, G.M.R.
Development of a new expendable probe for the study of pelagic ecosystems from
voluntary observing ships. Ocean Science, Germany, v. 3, p. 311-320, 2007.

OCEANOGRAFIA FÍSICA 127


MARIN, F.O. A Subcorrente Norte
do Brasil ao Largo da Costa do
Nordeste. 115 f. Dissertação (Mestrado
em Oceanografia). Instituto
Oceanográfico, Universidade de São
Paulo, 2009.
MIRANDA, L.B. Análise de Massas
de Água da Plataforma Continental
e da Região Oceânica Adjacente:
Cabo de São Tomé (RJ) a Ilha de São
Sebastião. 123 f. Tese de Livre-
Docência, Instituto Oceanográfico,
Universidade de São Paulo, 1982.
MÖLLER, O.O.; PIOLA, A. R. The
Plata Summer Cruise 2004. Technical
Report, 2004.
MULLER, J.T. Deter mination of
salinity. In: GRASSHOFF, K.;
KREMLING, K.; EHRHARDT, M.
(Ed.). Methods of Sea Water
Analysis. Toronto: Wiley-VHC, 1999.
STEWART, R. Introduction to
Physical Oceanography. S.l.: s.n., 2008.
Disponível em <http://
oceanworld.tamu.edu>. Acesso em: 12
de maio de 2009.
TOMCZAK, M. Introduction to
Physical Oceanography. S.l.: s.n., 2000.
Disponível em <http://
es.flinders.edu.au>. Acesso em: 10 de
maio de 2009.
VON ARX, W.S. An Introduction to
Physical Oceanography. Reading,
MA: Addison-Wesley, 1962.

128
129
Foto: Rafael Thompson de Oliveira Lemos
OCEANOGRAFIA QUÍMICA
6

Rogério P. Manzolli, Luana Portz e Mariele Paiva*


CAPÍTULO

Instituto de Geociências – UFRGS *Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande do Sul *Universidade Federal do Rio Grande

Devido às dificuldades de amostragem inerentes ao próprio meio, a Oceanografia


é uma das ciências que mais tem se beneficiado dos avanços tecnológicos para o
aprimoramento de seus métodos de pesquisa. A partir do início do século XX, houve
uma enorme evolução dos equipamentos de coleta de dados oceanográficos, desde o
surgimento de engenhos mecânicos e eletrônicos até, mais recentemente, a
popularização de instrumentos digitais de medição e o uso de informações geradas
por satélites em órbita ao redor do planeta (BONETTI, 2009).
A coleta de dados oceanográficos, tanto em oceano aberto, quanto na Plataforma
Continental ou, ainda, em mares interiores e estuários, é muito onerosa. Isso se deve
ao fato de que a realização da coleta de dados em corpos hídricos requer,
necessariamente, a utilização de uma embarcação, excetuando-se os dados obtidos
através de sensoriamento remoto.
Nos estudos relacionados à Química Marinha, um cruzeiro deve ser feito de tal
forma que, sob qualquer adversidade, seja possível ter uma solução imediata para
Foto: Projeto Amazônia Azul
fazer a amostragem. Cada amostra requer metodologia, equipamentos, instrumentos
e reagentes distintos. Nesse sentido, é necessário estabelecer os objetivos do cruzeiro,
metodologia de coleta e definir os tipos de análises a serem realizados, como já
explicados no Capítulo 1 deste livro.
Um aspecto muito importante de um cruzeiro oceanográfico ocorre antes do
embarque propriamente dito, pois a preparação do material necessário deve seguir
passos corretos, desde a escolha dos aparatos de coleta e de todo o material de
preservação e acondicionamento dentro da embarcação. Dessa forma, de maneira a
facilitar o entendimento, este capítulo está dividido de modo a orientar as coletas dos
dados por parâmetros químicos, indicando o método analítico usado e os equipa-
mentos que podem substituir os métodos tradicionais de laboratório.
A coleta de amostras, embora possa parecer uma tarefa simples, pode representar
o sucesso ou não de uma pesquisa ou de um monitoramento. As recomendações e
cuidados na preperação, na coleta e na preservação da amostra devem ser considera-
dos para o bom desenvolvimento nos trabalhos quando embarcado.

1 PREPARAÇÕES
Antes de uma saída é preciso verificar a quantidade e as condições dos frascos
disponíveis; selecionar itens de laboratório como pipeta, proveta e béquer de plástico;
examinar as soluções-padrão de calibração e as soluções de preservação ou fixadoras
das amostras quanto aos prazos de validade, presença de materiais em suspensão ou
precipitados; checar todos os instrumentos eletrônicos quanto a bateria, pilhas, solu-

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 131


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ções de calibração e, aqueles que necessitam de energia externa, conferir a voltagem,
confirmar o estado físico do equipamento de coleta de água e proceder a calibração
dos instrumentos de medição antes da chegada no navio; providenciar água destilada
para lavagem do material utilizado; e separar planilhas de registro (ANEXO 3) para
anotação dos dados e observações.
O material de coleta destinado às análises físico-químicas deve ser descontaminado
existindo, para isso, métodos que utilizam soluções ácidas ou uma combinação dessas
com agentes oxidantes, proporcionando limpeza eficiente da superfície interna do
recipiente de vidro ou de plástico.
Os frascos e tampas devem ser lavados em banhos de soluções de detergentes que
garantam a limpeza total e a inexistência de resíduos (ex: Extran), sendo enxaguados
com água corrente. Após esse procedimento, os mesmos deverão ser colocados em
solução de ácido nítrico a 10% por, no mínimo, 48 horas seguido de enxágues com
água ultrapura. O material colorido deve ser lavado separadamente e os frascos para
análise de macronutrientes, como os sais dissolvidos de nitrogênio e fósforo, devem
ser descontaminados com uma solução de ácido clorídrico a 5%.

2 CUIDADOS COM A COLETA


No momento da coleta, os seguintes cuidados devem ser tomados: evitar partícu-
las grandes, folhas, detritos ou outro tipo de material estranho, exceto no caso de
sedimento de fundo; proceder à calibração dos instrumentos de medição in situ com as
respectivas soluções-padrão de referência; utilizar reagentes preservantes ou fixadores de
grau analítico1 ; evitar a contaminação dos frascos e equipamentos de coleta, impedindo a
exposição a fontes como: óleo, fumaça de exaustão e cigarros; utilizar, luvas de látex não
coloridas, preferencialmente cirúrgicas. No caso de análise de metais, estas últimas
podem causar contaminação com zinco – neste caso, substituir por luvas plásticas.
Após a coleta, as amostras deverão ser acondicionadas imediatamente, até a chegada
ao laboratório designado para as análises, conforme Tabela 6.1. As amostras que exigirem
refrigeração, para manutenção de sua integridade física e química, devem ser acondicionadas
em caixa térmica com gelo, valendo ressaltar que alguns parâmetros dispensam esse
tipo de procedimento, como é o caso do Oxigênio Dissolvido (OD), fixado em
campo. As ações biológicas podem ocasionar mudanças como: a alteração da valência
dos elementos; a incorporação de substâncias dissolvidas à matéria orgânica e a ruptura
das células liberando substâncias intracelulares para o meio exterior. As transformações
mediadas por microrganismos podem ser perfeitamente sentidas no caso dos ciclos
biogeoquímicos do nitrogênio e do fósforo, quando as formas inorgânicas e orgânicas
dissolvidas podem ser interconvertidas de acordo com as condições ambientais.

1
Grau Analítico – significa que os reagentes devem ser de “Pureza Analítica” (PA), ou seja, com alto grau
de pureza.

132 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Mudanças nas condições físico-químicas da amostra podem resultar em grandes


alterações na sua composição inicial através da precipitação de metais dissolvidos ou
da formação de complexos com outros constituintes, mudança no estado de oxida-
ção de cátions e ânions, dissolução ou volatilização com o tempo, possibilidade de
adsorção de íons pelas paredes dos frascos ou perda através de mecanismos de troca
iônica (HÉRLON e PAULINO, 2001).

Tabela 6.1 Resumo dos métodos analíticos utilizados para cada parâmetro.

Volume Preservação Tempo máximo


Análise Método analítico
Necessário Armazenamento

Temperatura 50 mL - Medido no local Termossalinômetro / Multiparâmetro

Refratômetro/Salinômetro/
- Condutivímetro/Termossalinômetro
Salinidade 50 mL Medido no local /Multiparâmetro/Titrimetria de
precipitação

- pH-metro (Potenciômetro)
pH 50 mL Medido no local /Multiparâmetro

Transparência - - Medido no local Disco de Secchi


No escuro, sem
Turbidez 200 mL variação térmica 24 horas Turbidímetro

Oxigênio dissolvido Fixar a amostra com Oxímetro / Método químico de


(OD) 300 mL 24 horas
R1 e R2 volumetria
Fixar 1 frasco como
2 X 300 mL para OD e incubar 24 horas/ Método químico de volumetria
DBO 5
um outro por 5 dias. 5 dias

Material Particulado Filtrar a amostra -


500 mL Gravimetria de Volatilização
em suspensão imediatamente

Nutrientes inorgânicos Filtrar a amostra - Espectrofotometria na faixa


250 mL
imediatamente de luz visível

3 TEMPERATURA
A temperatura é considerada um parâmetro físico importante na avaliação da
qualidade da água não apenas por representar as variações locais e sazonais do ambi-
ente, mas também por influenciar a velocidade das reações químicas e biológicas.
Além disso, a variação da temperatura afeta diretamente a densidade da água e, como
consequência, altera os processos de transporte. Um exemplo importante dos efeitos
da temperatura sobre a química da água é o seu impacto sobre o oxigênio que, em
temperaturas mais elevadas, tem sua solubilidade na água afetada, diminuindo-a e
prejudicando diversas formas de vida aeróbicas aquáticas.
Alguns compostos também se tornam mais tóxicos para a vida aquática em tem-
peraturas mais elevadas. Além disso, o impacto da variação térmica exerce um efeito
particularmente nocivo para os organismos estenotérmicos, que são aqueles não tole-
ram grandes variações de temperatura, como o salmão e a truta. A temperatura pode
variar em função de fontes naturais, como a energia solar e fontes antropogênicas,

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 133


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
como os despejos industriais. Portanto, a temperatura é um dos parâmetros mais
importantes na obtenção de dados oceanográficos devido a sua grande influência
sobre outros parâmetros.
Em um cruzeiro oceanográfico, a temperatura pode ser medida utilizando-se um
termômetro comum, de cubeta, ou através de instrumentos digitais, tais como:
termossalinômetros, termopotenciômetro (pH-metro) ou sensores multiparâmetros.
O método mais simples é o de coletar água em um balde ou béquer e introduzir
um termômetro com precisão de 0,1°C, deixar 30 segundos para a estabilização da
temperatura, retirar da água e ler o resultado o mais rápido possível para não haver
alteração. É possível medir diretamente no ambiente, protegendo o termômetro com
um compartimento metálico ou de plástico – cubeta – para que o bulbo permaneça
imerso numa espécie de copo com cerca de 200 mL de capacidade, permitindo a
leitura da temperatura mesmo com ele fora da água. Esses instrumentos, além de
serem simples de operar, oferecem ótima precisão, sendo utilizados para leituras de
águas superficiais.
A utilização de instrumentos como, por exemplo, termossalinômetro ou sensores
multiparâmetros, têm como base o mesmo princípio do termômetro comum, po-
rém é um sensor que é descido até o corpo hídrico ou introduzido em um recipiente
que contenha a amostra coletada, em que a leitura é direta no aparelho, depois de 30
segundos para a estabilização. Normalmente, esses instrumentos devem ser calibra-
dos antes de começar a amostragem. Eles facilitam a coleta de dados, pois realizam a
leitura de mais de um parâmetro, em profundidades superficiais e subsuperficiais.
Para a coleta da temperatura em profundidades abaixo da subsuperfície, são utili-
zados instrumentos como o CTD, descrito no Capítulo 5, com seu protocolo de coleta.

4 SALINIDADE
A salinidade é a quantidade total de material dissolvido na água do mar. Essa é
uma convenção que se aproxima à massa, em gramas, dos sólidos obtidos a partir de
1 kg de água do mar, quando os sólidos tenham sido secados a 480°C até peso
constante e, nessa secagem, a matéria orgânica tenha sido completamente oxidada e
os brometos e os iodetos da amostra substituídos por uma quantidade equivalente de
cloretos, além de os carbonatos convertidos a óxidos (AMINOT e CHAUSSEPIED, 1983).
A salinidade é uma grandeza química adimensional por ser a relação proporcional
entre outras grandezas. Por essa razão, geralmente os valores são medidos em termos
de partes por mil (ppm) ou parts per thousand (ppt). Com a mudança da sua definição
(relação entre a condutividade da água do mar e a de uma solução balanceada de
cloreto de potássio), foi estabelecida uma relação definitiva entre a condutividade da
água do mar e a sua salinidade, chamada Escala Prática de Salinidades ou Practical
Salinity Scale (S). Como a salinidade prática é definida como sendo uma razão, isto é,

134 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

uma divisão de dois termos com mesma unidade, não existe nenhuma unidade (que
se cancelam na divisão).
A partir de dados da salinidade, da temperatura e da pressão, é possível determinar a
densidade da água. Essa diminui quando a temperatura aumenta, e cresce com o aumento
da salinidade e da pressão. A densidade é importante, porque o oceano tende a mover-se
de maneira que a água mais densa esteja no fundo e a menos densa, na superfície.
Até 1950, eram usados métodos químicos de laboratório para estabelecer a
salinidade, como o método clássico de Mohr (titrimetria de precipitação), embora já
se soubesse da possibilidade do emprego de métodos eletrométricos. A utilização de
refratômetros também era – e ainda é – bastante utilizada. Porém, com o desenvolvi-
mento de técnicas para medir a condutividade elétrica, foram adotados por serem
muito mais rápidos e práticos. Como a condutividade elétrica é diretamente propor-
cional à salinidade, conversões algorítmicas são empregadas para a sua determinação.
A densidade é importante no entendimento dos processos de circulação oceânica.
Os refratômetros utilizam o princípio da refração da luz. Como a salinidade é
diretamente proporcional à refração da luz provocada pelos cristais de sal, é possível
estimá-la, com uma precisão razoável, através do ângulo de mudança de direção da
luz ao passar pela amostra.
O refratômetro (FIG. 6.1) de mão é simples de ser utilizado, porém não possui
uma boa precisão, variando em torno de 0,2 de salinidade. Para realizar a medição da
salinidade utilizando um refratômetro, é importante seguir o protocolo a seguir descrito:
1) abrir a tampa;
2) lavar a janela e a tampa com água destilada;
3) secar a janela com papel macio;
4) pôr uma amostra de água sobre a janela, cobrindo-a completamente;
5) realizar a leitura, olhando contra a luz;
6) lavar a janela e a tampa, novamente, com água destilada;
7) secar com papel macio.
Os aparelhos digitais, tais como os salinômetros, termossalinômetros, sonda
multiparâmetros e até mesmo os CTDs, são dotados de um sensor que, internamen-
te, possui pares de eletrodos, que medem a corrente e a diferença de voltagem entre
eles. A voltagem medida é convertida em um valor de condutância em mili-Siemens
(ou mili-Mhos) e, para converter esse valor para o valor de condutividade (condutância
específica) em mili-Siemens por cm (mS.cm-1), a condutância é multiplicada pela cons-
tante da sonda, que tem unidades em cm (cm-1). Todo esse processo é realizado
automaticamente pelo aparelho fornecendo, no visor, o valor da condutividade e da
salinidade.

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 135


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B
100
parafuso ajuste de foco 1.070
de ajuste do visor 1.060 80
1.050
60
1.040
1.030 40

1.020
20
tampa leitura 1.010
segurador
janela 1.000 0

visor SALINITY

Figura 6.1 Refratômetro de salinidade: (A) componentes; (B) leitura


[adaptado de <www.iepa.ap.gov.br>].

Muitas vezes, associados aos salinômetros, existem sensores de temperatura, pH,


OD, entre outros, e alguns de pressão, que coletam esses parâmetros, simultaneamen-
te, para a correção do valor da salinidade, que é bastante influenciada pela temperatu-
ra e pela pressão.
Para a obtenção de resultados mais precisos é importante efetuar a calibração e a
medição das amostras de acordo com as instruções do fabricante do aparelho, pro-
curando sempre utilizar padrões com valores mais próximos do esperado no ambi-
ente em estudo; transferir uma alíquota da amostra coletada para um frasco, em um
volume que mantenha o(s) eletrodo(s) totalmente imerso(s); introduzir o(s) eletrodo(s)
na amostra e esperar até o estabelecimento do equilíbrio; proceder à leitura da salinidade
ou da condutividade; lavar o(s) eletrodo(s) antes e entre as medições de cada amostra,
com água destilada e secar com papel macio; realizar a medição in situ, mergulhando
o(s) eletrodo(s) diretamente na água, na profundidade desejada, controlada através de
marcas em um cabo.
O termossalinômetro modelo 30 fabricado pela YSI Inc. pode servir como exemplo
de operação, uma vez que já vem calibrado de fábrica, o que garante medições preci-
sas (aproximadamente 0,5%) sem que calibrações periódicas sejam efetuadas. Para
iniciar a leitura basta inserir seis pilhas alcalinas AA no compartimento na parte inferior
do aparelho e seguir os seguintes procedimentos:
1) ligar o aparelho no botão on/off e aguardar até que a tela permaneça constante
e a temperatura seja mostrada na parte inferior do visor;
2) inserir o sensor no líquido a ser analisado até uma profundidade em que o
orifício lateral do sensor seja completamente coberto;
3) agitar de maneira que possíveis bolhas sejam removidas dos sensores;
4) fazer a leitura, cuidando para que o sensor não toque em nenhum objeto
sólido, incluindo a parede do recipiente que contenha a amostra;

136 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

5) o instrumento oferece três modos de leituras: condutividade + temperatura,


condutância específica + temperatura e salinidade + temperatura sendo que,
para alternar entre os modos, basta pressionar o botão mode. Para condutividade,
o valor na tela aparecerá em µs.cm-1 ou em ms.cm-1, e a temperatura aparecerá
piscando; para condutância específica, os valores aparecem na mesma unidade,
porém a temperatura permanecerá constante, já para salinidade, o valor será
mostrado em ppt;
6) realizadas as leituras, lavar o sensor com água destilada, secar com papel macio
e guardá-lo no compartimento apropriado.

5 POTENCIAL HIDROGENIÔNICO (PH)


O potencial hidrogeniônico, pH, é um índice que indica a acidez, a neutralidade ou
a alcalinidade de um determinado meio. A sua escala varia de 0 a 14, sendo um pH 7
considerado neutro. Substâncias com valores inferior a 7 são ácidas e as substâncias
superiores a 7 são básicas.
O termo pH foi obtido a partir do modo como a concentração de íons de hidrogênio
é calculada – é o logaritmo negativo da concentração do íon hidrogênio (H+), ou seja, em
pH mais elevado, há menos íons de hidrogênio livre, e uma mudança de uma unidade
reflete uma mudança de dez vezes a concentração do íon hidrogênio. Por exemplo, há dez
vezes mais íons de hidrogênio disponíveis em um pH 7 do que em um pH 8.
O pH da água influencia na solubilidade de constituintes químicos (montante que
pode ser dissolvido na água) e a disponibilidade biológica (montante que pode ser
utilizado pela vida aquática), como nutrientes (fósforo, nitrogênio e carbono) e metais
pesados (chumbo, cobre, cádmio, entre outros).
Os métodos disponíveis para determinação do pH são fundamentalmente
colorimétricos e eletrônicos. Apesar de esse último ser o mais comum hoje em dia, os
métodos colorimétricos foram usados empiricamente durante décadas. O método
colorimétrico se baseia na mudança de cor de compostos químicos quando estes
entram em contato com um meio ácido ou alcalino. A partir de 1920, os procedimen-
tos eletrométricos começaram a ganhar espaço, pois superavam as deficiências dos
métodos colorimétricos. Em 1934, Beckman desenvolveu o primeiro medidor de
pH bem sucedido. Com o passar dos anos, foram introduzidas grandes melhorias
nos medidores, até sua forma atual, incluindo eletrodos de vidro de alta estabilidade.
O princípio dos pH-metros (FIG. 6.2) atuais é a determinação da força eletromotriz
(FEM) de uma célula eletroquímica constituída por uma solução, cujo pH deseja-se
medir, e dois eletrodos. Um deles é o eletrodo de referência, cujo potencial independe
do pH da solução. O outro é o eletrodo indicador, o qual adquire um potencial
dependente do pH da solução sob exame. O eletrodo de vidro é o modelo mais
usado para as medidas.

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 137


conector

D ANILO C ALAZANS (O RG .)
entrada sensor de pH
sonda do eletrodo
temperatura BNC
NN
Charging
sensor de temperatura

pH
visor
temperatura

seletor iluminação
pH ou mV HI 9126 pH/ORP Meter
do visor
Calibration Check

liga/desliga armazenamento
ON/OFF RANGE LIGHT
de memória ou
limpar calibração
calibração
setup ou CAL MEM CLR

confirmar chamar memória ou


calibração SETUP MR
entrada de valores
CMF CUST BUF
manuais de
solução-tampão

ajuste manual de temperatura,


entrar no menu de parâmetros
ou mudar o valor do solução-tampão

Figura 6.2 pH-metro e seus componentes


[adaptado do Manual do mod. Hi 9126 da Hanna Instruments].

Material necessário:

– frasco de polietileno com tampa rosqueada (50 mL) ou frasco de vidro com
tampa esmerilhada (um para cada amostra);
– béquer de 50 mL (um para cada amostra e para cada solução-tampão);
– soluções-tampão com pH 7 e 4;
– solução de KCl 3M;
– lenço de papel absorvente macio;
– termômetro de mercúrio (caso o pH-metro não tenha registro e compensa-
ção automática de temperatura).
A calibração e a medição das amostras devem ser efetuadas de acordo com as
instruções do fabricante do aparelho. Para a maioria dos instrumentos, existem dois
controles importantes: o controle de desvio lateral e o de inclinação. O primeiro é
usado para corrigir desvios laterais da curva potencial do eletrodo em função do pH,
com relação ao ponto isopotencial. A calibração do instrumento com soluções-tam-
pão é uma aplicação prática de correção desse desvio lateral. O controle de inclinação
é usado para corrigir desvios de inclinação, devido, por exemplo, à influência da
temperatura, que promove uma rotação da curvatura do eletrodo em torno do pon-
to isopotencial (pH = 7 e E = 0). Na prática, para evitar a inclinação da curva, para
uma dada temperatura deve-se também calibrar o eletrodo com soluções-tampão.

138 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A maioria dos pH-metros usados são os de eletrodo de vidro. Trata-se, portanto,


de um instrumento frágil, que necessita de cuidados e manipulação cautelosa. Antes de
realizar as leituras ele deve ser ligado e calibrado, com 30 minutos de antecedência, da
seguinte forma: conectar cabo do eletrodo e do sensor de temperatura no aparelho;
posicionar o botão de funções no modo pH; inserir os sensores no padrão de pH 4
e girar o botão da esquerda até que o visor mostre o valor do pH desejado; lavar o
eletrodo com água destilada e retirar o excesso de água com papel macio; inserir os
sensores no padrão de pH 7 e com o botão da direita ajustar o valor desejado; lavar
os sensores e secá-los.
O aparelho, depois da calibração, fica pronto para realizar as leituras das amostras,
devendo ser mantido ligado durante todo o período de análise, e os sensores lavados
cada vez que for inserido em uma nova amostra.
Para medir o pH é necessário transferir uma alíquota da amostra coletada para um
frasco, evitando o borbulhamento e a exposição prolongada da amostra ao ar, man-
tendo-a em local sem a presença da luz até a análise por um período não superior a
uma hora. Ao serem introduzidos na amostra o(s) eletrodo(s) devem ser agitados
levemente para a retirada de possíveis bolhas de ar, mantendo-os imersos por alguns
segundos até o estabelecimento do equilíbrio e fazer a leitura do pH. Ao término do
procedimento e antes da próxima leitura, deve-se lavar o(s) eletrodo(s) com água
destilada entre as medidas e secá-lo(s) com papel absorvente macio.
Três fatores que interferem na análise são o aumento da temperatura, o equilíbrio
químico e a atividade do sódio. O aumento da temperatura causa um aumento da
inclinação da curva potencial do eletrodo versus pH, sendo que a 0°C a inclinação é de
54 mV/unidade de pH e aumenta cerca de 5 mV/unidade de pH a cada 25°. Os
efeitos químicos causados por mudanças no equilíbrio químico, como a variação de
temperatura e a concentração de reagentes, agem por exemplo, sobre tampões de pH
padrão. Por último, em pH maior que 10, ocorre a interferência da atividade do sódio
(causando resultados mais baixos), a qual pode ser contornada com o uso de um
eletrodo de vidro projetado para minimizar esse erro. Também, em meios com
pH < 1, o eletrodo de vidro padrão produz resultados maiores que os reais, havendo
necessidade de especificação de um eletrodo próprio.
Para guardar, o eletrodo deve ser limpo com água destilada em abundância evitando,
assim, formação de fungos no mesmo. A extremidade do sensor nunca pode secar,
sendo aconselhado que seja guardado em solução de KCl.

6 TURBIDEZ
A turbidez de uma amostra de água é o grau de atenuação de intensidade que um
feixe de luz sofre ao atravessá-la. Essa redução ocorre devido à absorção e ao
espalhamento da luz, causado pelas partículas em suspensão e demais materiais presentes

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 139


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
na água. Os principais fatores que afetam a turbidez da água são: presença de matérias
sólidas em suspensão como silte, argila, sílica e colóides; matéria orgânica e inorgânica;
e organismos microscópicos e algas.
Concentrações elevadas de partículas em suspensão em águas rasas, como em lagos e
em baías, podem interferir na fotossíntese, levando a um decréscimo da produtividade
nesses habitats aquáticos. Material fino pode também obstruir ou causar danos sensíveis às
estruturas de alguns organismos como, por exemplo, os bivalvos filtradores.
A turbidez pode ser medida por um instrumento chamado de turbidímetro,
baseado em um sistema óptico que compara a intensidade de luz dispersa pela
suspensão encontrada na amostra com a dispersa por uma suspensão considerada
padrão. Quanto maior a intensidade da luz dispersa maior será a turbidez da
amostra analisada. Esse instrumento também denominado Nefelômetro, consta
de uma fonte de luz, para iluminar a amostra, e um detector fotoelétrico, com um
dispositivo para indicar a intensidade da luz dispersa em ângulo reto ao caminho
da luz incidente, sendo a turbidez expressa em Unidades Nefelométricas de
Turbidez (UNT).
A determinação pode ser feita diretamente no ambiente ou pode-se recolher
amostras a serem analisadas em frascos de vidro ou plástico, para a determinação
posterior. É aconselhado que as amostras sejam armazenadas em local escuro, à
temperatura ambiente, e as análises realizadas em um período máximo de 24 horas. É
importante tomar o cuidado de verificar a presença de partículas ou materiais estranhos.
O aparelho deve detectar diferenças de 0,02 unidades para águas com turbidez
menores que um como, por exemplo, em águas oceânicas e uma máxima de 40
UNT, sendo necessário realizar diluições se as amostras apresentarem valores
superiores a este.
Alguns interferentes podem se fazer presentes nesse processo como, por exemplo,
a presença de detritos e materiais grosseiros em suspensão que se depositam
rapidamente, o que levará a resultados subestimados; a cor que, devido à sua
propriedade de absorver luz, interfere negativamente nos resultados; e bolhas pequenas
na amostra que provocarão resultados superestimados.
Para a determinação da turbidez é necessário que se use o seguinte material:
– turbidímetro com nefelômetro;
– tubo para amostra, de vidro incolor;
– água destilada, para diluição; se necessário, passar a água destilada através de
um filtro de membrana, de porosidade de 0,45 ìm, para a garantia de que não
existe material em suspensão;
– solução para calibração.

140 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Procedimentos:
1) ligar o aparelho;
2) limpar o tubo contendo o padrão de 10 UNT com papel absorvente macio
antes e introduzir o mesmo na câmara. Fechar a tampa;
3) calibrar o aparelho de acordo com instruções do fabricante;
4) colocar a amostra a ser analisada na cubeta, evitando a formação de bolhas;
5) limpar a cubeta com papel absorvente macio;
6) inserir o tubo na câmara e fechá-la;
7) anotar o valor em UNT, assim que a primeira leitura estabilizar (ao aguardar
muito tempo para leitura, o material presente pode sedimentar, subestimando
o resultado);
8) manter o aparelho ligado enquanto realizar as leituras;
9) fazer nova calibração se o aparelho for desligado.
Alguns equipamentos podem ter uma faixa de leitura reduzida, sendo necessário
realizar uma diluição da amostra. Quando este procedimento for necessário deve-se
utilizar água destilada tendo como base a formula a seguir:

Turbidez ( UNT ) = A x F

em que:
A é a leitura da amostra;
F é o fator da diluição.

7 TRANSPARÊNCIA DA ÁGUA
Do ponto de vista óptico, a transparência da água pode ser considerada o oposto
da turbidez, uma vez que aquela se trata de uma medida de extinção da luz, indicando
a distância que um raio de luz consegue penetrar na coluna de água, variando de
poucos centímetros a dezenas de metros.
A transparência da água é afetada basicamente por algas, material em suspensão e
matéria orgânica. Quando há muitos nutrientes na água, as algas multiplicam-se, dimi-
nuindo a transparência. Do mesmo modo, quanto mais material em suspensão estiver
presente, maior será a turbidez e, consequentemente, menor será a transparência. Além
disso, a presença de matéria orgânica pode interferir no resultado, já que essa aumenta
a absorção de luz na coluna de água.
A medida da transparência da água pode ser obtida de maneira muito simples,
através de um instrumento denominado disco de Secchi. Esse disco foi inventado

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 141


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
pelo padre italiano Pietro Ângelo Secchi, sendo utilizado pela primeira vez em 1865,
para medir a transparência da água do Mar Mediterrâneo. Era, na época, constituído
de um pesado disco de metal, preso por uma corda graduada, afundado na água até
seu desaparecimento. Inicialmente, foram utilizados discos de diâmetro variável, tendo
atingido até 2 metros. Atualmente, são utilizados discos padronizados com 20-30 cm de
diâmetro, podendo ser inteiramente brancos, como os utilizados por muitos grupos
de pesquisa no Brasil; podem, ainda, ter alternadas partes brancas e pretas (FIG. 6.3A).
Segundo a literatura, este último oferece melhor possibilidade de ser contrastado com
a água, sendo mais bem relacionada com a transparência da água (FIG. 6.3B).
A B
observador

0m

1m

cabo de náilon
50 cm

graduado 2m

disco de ferro
ou acrílico anel 3m

4m

peso

Figura 6.3 Disco de Secchi: (A) instrumento; (B) observação da transparência da água.

Mesmo não fornecendo dados qualitativos e quantitativos sobre a radiação


subaquática, é possível calcular o coeficiente de atenuação vertical (Kds) da luz, através
das medidas da profundidade do disco de Secchi. A transparência do disco de Secchi
(Zds) é basicamente função da reflexão da luz na superfície do disco, sendo também
dependente da intensidade luminosa subsuperficial (Io) e da intensidade luminosa na
profundidade do desaparecimento visual do disco de Secchi (Ids) e, de acordo com
a lei de Lambert-Bouguer, temos:
Zds = ln(Io/Ids) / Kds (equação 1)
Como a relação Io/Ids é de aproximadamente 1,7, pode-se calcular Kds através
da seguinte relação:
Kds = 1,7/Zds (equação 2)
Dessa forma, a partir das equações 1 e 2 podem ser calculados fatores que, quan-
do multiplicados pela profundidade do disco de Secchi, permitem a obtenção de
profundidades correspondentes a percentuais da luz incidente na coluna de água
subsuperficial. Para calcular a profundidade na massa de água, cuja intensidade lumi-

142 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

nosa corresponda a 1% do valor da subsuperfície, deve-se multiplicar a profundidade


do disco de Secchi por um fator fz de 2,709.
As vantagens do disco de Secchi são: simplicidade, baixo custo, facilidade de trans-
porte e, por ser de uso universal, permite comparações entre as informações obtidas.
Para medir a transparência da água é preciso posicionar-se no lado da sombra
projetada por um dos lados da embarcação e mergulhar o disco de Secchi preso por
um cabo graduado em centímetros de forma a visualizar o disco de cima para baixo.
As profundidades de desaparecimento que ocorrem quando o observador perde de
vista o instrumento, bem como a de reaparecimento quando é içado, devem ser
anotadas em uma planilha de registro (ANEXO 3) e então, utilizar-se uma média dessas
como a profundidade de extinção da luz na coluna de água.
Preferivelmente, as medidas devem ser realizadas entre as 10 e 16 horas, já que
nesse período os raios solares incidem em ângulo similar e todas as leituras devem ser
realizadas pelo mesmo observador, uma vez que a sensibilidade da visão varia para
cada pessoa.

8 OXIGÊNIO DISSOLVIDO
O Oxigênio Dissolvido (OD) é o elemento principal no metabolismo dos
microrganismos aeróbios. No ambiente aquático, o oxigênio é indispensável também
para outros seres vivos, como peixes, sendo que a maioria das espécies não sobrevive
a concentrações de OD inferiores a 4,0 mg.L-1.
Um corpo aquático, em condições normais, contém OD, cujo teor de saturação
depende da profundidade e da temperatura. Nesse sentido, quanto maior a pressão,
maior a dissolução, e quanto maior a temperatura, menor a dissolução desse gás.
Corpos com baixos teores indicam que podem estar recebendo matéria orgânica,
pois a decomposição dela por bactérias aeróbicas é, geralmente, acompanhada pelo
consumo e, consequentemente, pela redução do OD. Dependendo da capacidade de
autodepuração do ecossistema, a concentração de oxigênio pode alcançar valores
muito baixos, ou zero, propiciando até mesmo a extinção dos organismos aquáticos.
A determinação da concentração de OD também se faz necessária para a determinação
da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que representa o potencial de matéria
orgânica biodegradável nas águas naturais ou em esgotos sanitários e efluentes industriais.
A determinação do OD pode ser realizada pelo método químico, que está baseado
no método clássico de Winkler (titrimetria de oxidação e redução), ou por instrumentos
digitais, como oxímetros.
O método químico é uma determinação indireta da real concentração de oxigênio
no meio aquoso. A quantidade equivalente de oxigênio molecular dissolvido na água
é titulada com tiossulfato de sódio (Na2S2O3) usando-se como indicador uma suspensão

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 143


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
de amido na forma de iodo (I) molecular. Para a determinação do oxigênio dissolvido
OD pelo método químico, é necessária a utilização dos seguintes materiais:
– frascos de DBO;
– frascos Erlenmeyer;
– reagentes R1 e R2;
– ácido sulfúrico;
– pipetas;
– bureta para titulação;
– solução de tiossulfato de sódio;
– suspensão de amido.
Após coletar a amostra com, por exemplo, uma garrafa de Niskin ou um balde, uma
subamostra deve ser retirada para um frasco de DBO, utilizando uma mangueira acoplada
à torneira da garrafa introduzindo-a até o fundo do frasco para evitar a formação de
bolhas de ar. Ainda no local de amostragem, é preciso adicionar 1 mL do reativo R1
(solução de sulfato manganoso monohidratado {MnSO4.H2O}), agitar e após adicionar
1 mL do R2 (solução alcalina de iodeto de potássio e hidróxido de sódio {KI + NaOH}),
logo após a transferência da subamostra para o frasco de DBO, tomando o cuidado de
colocar a ponta da pipeta abaixo da superfície da amostra. O frasco, então, deve ser
fechado com cuidado evitando a formação de bolhas de ar e homogeneizar a amostra
até o precipitado marrom ficar disperso, podendo ser estocado por até 24 horas com o
cuidado para não sofrerem trocas térmicas.
Para a titulação, deve-se adicionar 1 mL de ácido sulfúrico concentrado, fechar o
frasco com cuidado e misturar até que o precipitado se dissolva. As amostras acidificadas
são estáveis por muitas horas ou dias, quando não apresentarem muita matéria orgânica,
e podem ser mantidas a temperatura ambiente. Porém, é melhor não retardar a titulação
em mais de 1 hora, já que o iodo formado na acidificação pode ser lentamente
consumido na oxidação da matéria orgânica.
Após deve-se transferir 50 mL da amostra acidificada para um frasco de
Erlenmeyer, utilizando uma pipeta volumétrica e adicionar 1 mL do indicador de
amido; o amido forma com o iodo molecular um complexo de cor azul. Em seguida
titular com solução-padrão de tiossulfato de sódio, gota a gota, até a cor azul se tornar
incolor. Anotar o volume gasto do tiossulfato e repetir a titulação para obter um
volume médio.
Para o cálculo da concentração de oxigênio dissolvido utiliza-se a seguinte fórmula:

em que:

144 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

V é o volume médio (mL) da solução de tiossulfato gasto na titulação da amostra;


b é o volume (mL) do tiossulfato gasto na prova em branco;
M é a concentração exata em M da solução de tiossulfato;
50 é o volume em (mL) da alíquota da amostra titulada.
O fator 4 do denominador = para titular 1 mol de O2 é preciso 4 moles de S2O32-
que reage com 2 moles de I3.
O número 1.000 no numerador é o fator de conversão de mililitro para litro, ou
fator de conversão de molar para milimolar.
Preparação dos reagentes e soluções:
– reagentes (R1) sulfato de manganês: dissolver 365 g de sulfato manganoso
monoidratado (MnSO4H2O) em água destilada e aferir o volume a 1 litro. A
solução deve ser guardada em frasco escuro;
– reagentes (R2) iodeto alcalino de potássio: dissolver 500 g de hidróxido
de sódio (NaOH) em 500 mL de água destilada. Dissolver 300 g de iodeto
de potássio (KI) em 450 mL de água destilada e misturar as duas soluções.
Como esta reação libera calor, deve-se esperar o resfriamento para após aferir
a 1 litro. Armazenar a solução em frascos de plástico;
– ácido sulfúrico: Utiliza-se ácido sulfúrico (H2SO4) P.A;
– suspensão de amido: dissolver de 2 a 3 g de amido em 100 mL de água
destilada, aquecendo a suspensão até ebulir. Esfria-se e adiciona-se 1 mL de
clorofórmio para preservar a suspensão.
Os modelos digitais de oxímetros (FIG. 6.4) existentes no mercado possuem
diferentes métodos de determinação variando, de acordo com o fabricante, desde os
de membranas permeáveis até os de emissores de luz. Os mais utilizados na
determinação de oxigênio dissolvido na água são os de membranas permeáveis sobre
um sensor potenciométrico. O oxigênio que atravessa a membrana encontra o sensor
sob tensão polarizante e reage no cátodo, fazendo fluir uma corrente elétrica, que é
medida num galvanômetro. A força que faz que o oxigênio se difunda através da
membrana é proporcional à pressão absoluta do oxigênio fora da membrana (do
lado do ambiente em estudo) uma vez que, do outro lado (no sensor), a pressão do
oxigênio pode ser considerada nula já que o seu consumo é muito rápido.
Os oxímetros encontrados no mercado, em sua maioria, possuem um sensor de
temperatura acoplado ao seu sistema, facilitando a obtenção desse parâmetro, que
está diretamente associado à concentração de oxigênio dissolvido na água. Para os
que não possuem o sensor de temperatura, deve-se realizar a determinação do OD, no
mesmo momento da leitura da temperatura, para ser feita uma correção se necessária.

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 145


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
conexão de entrada
A do terminal RS-232 B
conexão de entrada

visor conector do
sensor de
oxigênio

sonda de
ajuste de contraste oxigênio
liga/desliga °C/°F
chamada de memória gravação de dados
gravação de memória ajuste de fator
botão zero DO/O 2
ajuste da salinidade
calibração do O2 sensor de
botão do efeito montanha temperatura
terminal do sensor
com diafragma

cobertura
compartimento de bateria protetora do
sensor

Figura 6.4 Oxímetro: (A) instrumentos e componentes; (B) sonda


[adaptado do Manual da Digital Instruments].

Para a obtenção de resultados mais precisos é necessário que se tome os seguintes


cuidados: verificar a presença de contaminantes na membrana porque é comum o
surgimento de fungos, caso essa não tenha sido acondicionada adequadamente; conferir
o nível correto da solução eletrolítica no sensor; lavar a sonda com água destilada;
secar com papel macio; efetuar a calibração e a medição das amostras de acordo com
as instruções do fabricante do aparelho; transferir uma alíquota da amostra coletada
para um frasco (é preciso ter cuidado para não gerar bolhas); introduzir a sonda na
amostra, agitando levemente, para realizar um fluxo contínuo de água na membrana
(também prestar atenção para não gerar bolhas); e realizar a leitura.
Como exemplo de operação de um oxímetro, foi escolhido um modelo dotado
de membrana permeável, com sensor de temperatura acoplado (FIG. 6.4), usando a
concentração de oxigênio atmosférico da maneira descrita a seguir:
1) ligar o aparelho (sem que sensor esteja conectado) no botão on/off;
2) posicionar o seletor O2/DO na posição O2;
3) pressionar o botão zero. A tela mostrará o valor zero;
4) conectar o cabo do sensor de oxigênio no aparelho e aguardar até que a tela
mostre um valor estável;
5) pressionar o botão O2 cal buttom. A tela deverá mostrar um valor entre 20,8%
a 20,9%, referente à porcentagem real de oxigênio no ar atmosférico;

146 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

6) completado o procedimento de calibragem, o aparelho estará pronto para


realizar a leitura das amostras. É importante que durante a leitura seja garantida
a movimentação do sensor com velocidade em torno de 0,3 m.s-1 Além
disso, a tela deverá mostrar o valor constante por um período de cinco segundos;
7) lavar o sensor com água destilada e secá-lo com papel macio entre as medições
de cada amostra.

9 DEMANDA BIOQUÍMICA DE OXIGÊNIO (DBO)


A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é a quantidade de oxigênio necessá-
ria à oxidação da matéria orgânica por ação de bactérias aeróbias. Representa, portan-
to, a quantidade de oxigênio que seria necessário fornecer às bactérias aeróbias para
consumirem a matéria orgânica presente em um líquido. Esse teste bioquímico empírico
está baseado na diferença de concentração de OD em amostras integrais ou diluídas
durante um período de incubação de cinco dias a 20°C.
A estabilização ou decomposição biológica da matéria orgânica, lançada ou pre-
sente no ambiente aquático, envolve o consumo de oxigênio (molecular) dissolvido na
água, nos processos metabólicos desses organismos aeróbicos. Em função disso, a
redução da taxa de OD em um recurso hídrico pode indicar atividade bacteriana
decompondo matéria orgânica.
Logo surge o conceito da demanda de oxigênio em relação à matéria orgânica,
sendo muito utilizada a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que é a quantida-
de de oxigênio molecular necessária à estabilização da matéria orgânica carbonada,
decomposta aerobicamente por via biológica. A Demanda Química de Oxigênio
(DQO) é a quantidade de oxigênio molecular necessária à estabilização da matéria
orgânica por via química.
Os processos oxidativos, dentre os quais ocupam lugar preponderante os respira-
tórios, podem causar um grande consumo de oxigênio nas águas de um manancial.
Microrganismos e vegetais, quando em grande número, podem reduzir o OD em
nível zero, sendo que a proliferação de tais organismos depende das fontes de alimen-
to, ou seja, de matéria orgânica.
A DBO5 é um teste padrão, no qual é medida a diferença do oxigênio dissolvido
antes e depois do período de incubação de cinco dias. Esse teste é questionado, prin-
cipalmente porque as condições ambientais de laboratórios não reproduzem aquelas
dos corpos de água (temperatura, luz solar, população biológica e movimentos das
águas); mesmo assim, é ainda considerado um parâmetro significativo para avaliação
da carga orgânica lançada nos recursos hídricos.
As coletas das amostras devem seguir o protocolo descrito no parâmetro de
oxigênio dissolvido. Para as análises de DBO, em cada local de amostragem serão

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 147


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
necessárias duas subamostras em que uma deverá passar pelo procedimento de fixa-
ção do oxigênio e acidificação, como citado anteriormente, para se determinar o
oxigênio dissolvido no momento da coleta (OD1), e a outra deverá ser incubada, em
ambiente escuro a 20°C, por cinco dias. É aconselhado envolver os frascos estocados
em papel alumínio para evitar a exposição à luz durante eventuais aberturas da incuba-
dora. Após os cinco dias, proceder à fixação e acidificação da amostra, como descri-
to anteriormente, para se determinar o oxigênio dissolvido de incubação (OD5).
Quando a amostra a ser analisada é de natureza desconhecida, é necessário que se
preparem diluições, de modo que se consiga uma depleção do OD, em cinco dias, de
aproximadamente 2,5 mg.L-1. Após ter os dois valores de oxigênio dissolvido, realizar
o cálculo da DBO5.
Para o cálculo de amostra sem diluição utiliza-se a seguinte fórmula:

DBO5 (mg.L-1 ) = (OD 1 – OD5 )

em que:
OD1 é o oxigênio dissolvido no momento da coleta;
OD5 é o oxigênio dissolvido depois de cinco dias de incubação.
Antes de utilizar-se o cálculo para amostras com diluição é necessário realizar um
preparo que inclui quatro procedimentos distintos: o preparo da água, a DBO da
amostra, a diluição e a escolha do percentual.
No preparo da água de diluição, saturar com ar a água deionizada utilizando um
compressor de ar comprimido, por aproximadamente 12 horas, de maneira a obter
um elevado teor de oxigênio dissolvido. Após a saturação, manter a água 30 minutos
em repouso, para a estabilização. A cada litro de água deionizada, adicionar 1 mL de
cada uma das soluções: tampão fosfato, sulfato de magnésio, cloreto de cálcio e
cloreto férrico.
Para a DBO da amostra de diluição, o processo é o mesmo da análise de DBO
sem diluição, com a finalidade de verificar a qualidade dessa água em termos de
matéria orgânica biodegradável. A água de diluição com um padrão aceitável, não
deverá ter, após cinco dias, uma depleção de oxigênio superior a 0,2 mg.
Caso a diluição não possa ser feita em campo, conservar a amostra a ser diluída
em ambiente sem presença de luz e refrigerada até a chegada no laboratório, onde se
deve adicionar o volume de amostra correspondente ao percentual de diluição previ-
amente determinado em um balão volumétrico de 1 L completando o volume com
a água de diluição, homogeneizar e encher os dois frascos de DBO com esta amostra,
evitando a criação de bolhas. Uma subamostra deverá passar pelo procedimento de
determinação de OD1, descrito anteriormente.

148 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Sabendo que em cinco dias a percentagem de demanda de oxigênio é de aproxi-


madamente 68% e, considerando que, para a análise da DBO é recomendado um
mínimo de 1mg.L-1 de oxigênio ao final da incubação (MACEDO, 2001), pode-se apli-
car o seguinte raciocínio:

[OD 1 ] mg.L-1 original da amostra 100 %


x mg.L -1 de OD 68 %

1 mg.L -1 OD 100 % da amostra


[OD 1 ] mg.L- 1 original da amostra - x mg.L -1 de OD Y % da amostra

em que:
X é o OD que teoricamente é consumido em cinco dias;
Y é a percentagem da amostra que deverá ser usada para obter no final da incuba-
ção, um mínimo de 1mg.L-1 de oxigênio.
Após esse preparo, é possível realizar o cálculo para a amostra com diluição atra-
vés da seguinte fórmula:

(DBO5 AD) – (DBO5 BR x % da água de diluição usada )


DBO5 (mg.L -1)
% da amostra na diluição
em que:
DBO5 AD é OD1 – OD5 da amostra com diluição;
DBO5 BR é OD1 – OD5 da água de diluição;
OD1 é o oxigênio dissolvido no momento da coleta;
OD5 é o oxigênio dissolvido depois de cinco dias de incubação.
Se ocorrer algum imprevisto na análise do OD dentro dos cinco dias, por exem-
plo, antecipando-se ou atrasando-se a análise do OD, utilizar a Tabela 6.2 para correção
do cálculo da DBO.

Tabela 6.2 Interferência do fator tempo na incubação.

TEMPO DE INCUBAÇÃO (dias) FATOR (F)


3 1,360
4 1,133
5 1,000
6 0,907
7 0,850

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 149


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
10 MATERIAL PARTICULADO EM SUSPENSÃO
Material particulado em suspensão são partículas pequenas, com diâmetro maior
que 0,45 µm, que se encontram presentes na água. Pode ser composto de uma fração
mineral ou inorgânica (material mineral ou resíduo fixo em suspensão) e outra, orgâ-
nica (material orgânico ou volátil em suspensão).
As concentrações na água dependem da hidrodinâmica do sistema, da constitui-
ção do substrato e das margens, de fatores metereológicos, entre outros. Em geral, as
águas oceânicas profundas são pobres em material particulado em suspensão, varian-
do em média 50 ìg.L-1, enquanto as continentais, principalmente as estuarinas, são mais
enriquecidas (IVANOFF, 1972 apud BAUMGARTEN et al., 1996). Quando presente em alta
concentração, sua distribuição pode ser usada para inferir os padrões de circulação e
os locais de maiores descargas de drenagem ou esgotos, responsáveis pelo aporte de
sedimento para os corpos de água.
O princípio da determinação é o de gravimetria de volatilização, através do método
de Strickland e Parsons (1972), descrito em Baumgarten et al. (2010) e consiste na filtragem
de um volume conhecido de amostra por filtros de membrana de 0,45 ìm de porosidade.
Os equipamentos e materiais necessários para o estudo do material particulado em
suspensão são: água destilada; filtros de acetato de celulose ou de ésteres com poro de
0,45 µm; pinça de ponta chata; bomba de vácuo; Kitasato; funil de Büchner ou assemelha-
do; e mangueira.
Antes de um cruzeiro, os filtros devem ser preparados de acordo com o seguinte
procedimento: lavar os filtros com água destilada, segurando-os com uma pinça;
colocar o filtro em uma placa de Petry previamente limpa e tampar parcialmente;
levar para a estufa a 30°C, por 2 horas; deixar as placas contendo os filtros, em
dessecador, por 2 horas; e pesar o filtro em balança analítica de precisão, manusean-
do-o sempre com uma pinça, anotando os pesos em uma planilha de registro (ANEXO
5) e no recipiente de acondicionamento dos filtros.
Todos os filtros devem passar pelas etapas de lavagem e pesagem. Mas de cada
dez filtros, três deverão ser reservados, sendo guardados para o teste branco, en-
quanto os outros sete serão utilizados no processo de filtragem. Os que foram reser-
vados para o teste branco deverão ser repesados junto com o lote das amostras, para
a obtenção da diferença do peso entre as etapas. A média da diferença para os filtros
do teste branco será o valor descontado dos resultados da segunda pesagem daqueles
utilizados para as amostras.
A filtragem das amostras deve ser realizada segundo esse procedimento: montar o
sistema (FIG. 6.5); colocar o filtro pré-pesado, com o auxílio da uma pinça, sobre o
suporte poroso do equipamento e o funil cuidadosamente sobre o filtro, juntando-os
com garras ou rosca apropriadas; homogeneizar a amostra e separar em uma proveta

150 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

250 mL (caso esteja turva, poderá ser utilizado um volume menor e caso a amostra
seja de água marinha, pode-se utilizar um volume maior, até 2 L); ligar o vácuo com
pressão de 0,2 a 0,4 atmosferas; e lentamente ir derramando a amostra dentro do funil.

amostra funil

filtro
garra
suporte poroso

manômetro vacuômetro
1,0 1,2
40 30
0,8
1,

50
4
0,6

15 15
20

20
1,6

10 20 VACUÔMETRO 10
60

MANÔMETRO
0,4

5 25 25 5
1,8

10

30 0
0,2

0 30
70

pol Hg
lbf/pol²
2

cm Hg
76
0

kgf/cm

bomba de vácuo Kitasato

Figura 6.5 Esquema de montagem do sistema para filtração a vácuo.

O procedimento de lavagem do filtro é realizado nas amostras de ambientes marinho


e estuarino, com o objetivo de remover os sais como o cloreto de sódio (NaCl), que são
cristalizados no filtro após a secagem, super-estimando os resultados da análise. Tal
procedimento consiste em: filtrar a amostra e caso sejam necessárias amostras para nutrientes,
desligar o vácuo e retirar a amostra de água do Kitasato, enchendo os frascos das
subamostras destinadas às análises de nutrientes dissolvidos; lavar o Kitasato com água
destilada e recolocá-lo no equipamento de filtração; ligar a bomba de vácuo e passar pelo
filtro 5 mL de água destilada, para remoção dos cloretos do filtro, repetindo esse
procedimento três vezes; e, no caso de amostras com alta salinidade, deve-se fazer uma
verificação para identificação química no momento do fim da lavagem.
Para testar a presença de cloretos é necessário, após a terceira lavagem do filtro,
colocar em uma placa de Petry a água destilada armazenada no frasco Kitasato e
pingar algumas gotas de solução de nitrato de prata. Se, como resultado, ocorrer a
formação de um precipitado branco – teste positivo – é preciso repetir os procedi-
mentos de lavagem do filtro. Se não houver a formação deste precipitado, permane-
cendo a amostra incolor – teste negativo – fica determinado o fim da lavagem.

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 151


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Após a remoção dos cloretos do filtro, deve-se retirá-lo com a pinça do suporte
do equipamento de filtração e colocá-lo envolto em papel alumínio calcinado e, após,
em embalagem individual previamente identificada. É necessário manter as amostras
a -18°C até a análise final.

11 NUTRIENTES INORGÂNICOS
Os nutrientes no meio aquático são elementos biologicamente significativos, que
compõem estruturas e tecidos de organismos vivos, como esqueletos de diatomáceas,
aminoácidos, matéria-prima para a formação de hemoglobina, entre outros. São es-
senciais para a manutenção da produtividade primária especialmente o nitrogênio, o
fósforo e o silício.
Nos ecossistemas aquáticos, os nutrientes estão disponíveis para a utilização dos
organismos na forma inorgânica dissolvida. Em mares e oceanos, eles ocorrem em baixas
concentrações, atuando como limitantes da produtividade primária do fitoplâncton.
Para a análise de nutrientes dissolvidos, é utilizada uma subamostra da água já
filtrada para a determinação do material particulado em suspensão com um filtro de
acetato de celulose de 0,45 µm (o de fibra de vidro não é recomendado por contami-
nar a amostra com silício), para que haja a separação das formas solúveis e dos mate-
riais particulados em suspensão, diminuindo as interferências nas análises
espectrofotométricas. Esta subamostra filtrada deverá ser subdividida em cinco fras-
cos, de preferência com as tampas de cores distintas, para as análises dos nutrientes,
com os seguintes volumes: 25 mL para nitrito, fosfato, silicato e amônio; e 100 mL
para nitrato.
A estratégia de utilizar frascos individuais para cada parâmetro apresenta as seguin-
tes vantagens: eliminação das alterações da composição química original da amostra,
causadas pelas sucessivas etapas congela/descongela, necessárias a cada vez que
cada parâmetro tenha que ser analisado, caso uma única amostra seja congelada
para as análises dos cinco nutrientes; diminuição da possível contaminação, tendo
em vista que, com as análises feitas diretamente nos frascos de armazenamento,
evita-se o uso de vidraria de laboratório, mais especificadamente das provetas,
para o desenvolvimento das reações colorimétricas; aumento na otimização do
tempo gasto para as análises, principalmente porque elimina o preparo das provetas,
caso a reação fosse nelas desenvolvida; e diminuição da quantidade de material de
laboratório nas análises.
É preciso, ainda, lembrar-se de realizar a identificação do local, da data, da pro-
fundidade e do parâmetro a ser analisado. As amostras para a determinação dos
nutrientes inorgânicos devem ser congeladas a -18°C.

152 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

12 SONDA MULTIPARÂMETROS YSI MODELO 556


O medidor portátil marca YSI modelo 556 (FIG. 6.6) possui uma sonda que tem
sensores que fazem a medição de oxigênio dissolvido, condutividade, condutância
específica, salinidade, total de sólidos dissolvidos, pH, potencial oxidação-redução e
temperatura. Pode ser utilizado para medições nos mais variados ambientes e, se
manipulado adequadamente, fornece dados com excelente precisão.

12.1 Calibração

Todos os sensores, com exceção do de temperatura, necessitam de calibração


diária, ou sempre que os mesmos forem utilizados. O procedimento de calibração
pode ser realizado com o uso de soluções-padrão dos diferentes parâmetros seguindo,
basicamente, o mesmo processo para todos:
1) ligar o aparelho no botão on/off;
2) pressionar a tecla esc para entrar em menu;
3) selecionar com a tarja preta calibrate; pressionar enter;
4) selecionar da mesma forma o sensor a ser calibrado (pH, OD, Conductivity);
5) selecionar o parâmetro a ser usado para calibragem;
6) colocar a solução-padrão no copo de calibração/transporte em quantidade
suficiente para cobrir o sensor;
7) agitar o sensor de maneira a remover dele possíveis bolhas;
8) usar o teclado para digitar o valor do padrão;
9) pressionar a tecla enter e esperar 60 segundos para a estabilização da
temperatura;
10) pressionar novamente a tecla enter, quando a leitura não mostrar variação
significativa durante 30 segundos; se o medidor aceitar calibração, a tela
mostrará a palavra calibrated na parte superior;
11) pressionar a tecla enter para voltar ao menu de calibragem do parâmetro em
questão;
12) pressionar a tecla esc para voltar ao menu principal;
13) proceder da mesma maneira para cada um dos sensores e o equipamento
ficará pronto para realizar a leitura das amostras.

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 153


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B

Log one sample


Run
Sample logged cabo da sonda
Start logging

21.84°C visor
4 c
µS/cm

98.2DO%
7.93pH
-2450.0ORP
744.8mmHg
01/15/2001 14:55:01 +
-

liga/desliga luz de fundo


mudança de linha

negar comando Esc aceitar comando


ABC DEF

1 2 3
GHI JLK MNO

4 5 6 teclas alfanuméricas
PQRS TUV WXYZ

7 8 9

0
sensor pH/OPR
sensor de oxigênio
entrada do dissolvido
cabo da sonda
sensor de condutividade
sensor de temperatura

protetor dos sensores

cabo da sonda

Figura 6.6 Sonda multiparâmetros YSI mod. 556 e seus componentes: (A) instrumento;
(B) sonda [adaptado do Manual da Yellow Spring Instruments].

12.2 Leitura das amostras

Após o procedimento de calibragem, é aconselhável que o recipiente protetor de


aço inox seja mantido durante o uso, a fim de evitar acidentes com os sensores. As
leituras podem ser realizadas em um recipiente de subamostragem tipo béquer ou
diretamente no ambiente de maneira mais rápida e prática (o instrumento pode ser
equipado com cabo graduado de 4, 10 ou 20 m de comprimento). Entretanto, a
realização da leitura diretamente no corpo hídrico pode fornecer medidas não tão
precisas, devido ao contato com possíveis sólidos que estejam na coluna da água e à
derivação do sensor causada pela corrente. O resultado da leitura deve ser anotado
em uma planilha de registro (ANEXO 3).
O protocolo de leitura é dado a seguir:
1) inserir o sensor no líquido a ser analisado e ligar o aparelho;
2) ler, na tela inicial, os valores obtidos e as respectivas unidades de medida;
3) agitar o sensor, durante a leitura de OD, para garantir um fluxo no sensor;
4) desligar o aparelho antes de retirar os sensores de cada amostra;
5) lavar todos os sensores, após o uso, com água destilada;
6) secar com papel macio;

154 ROGÉRIO P. M ANZOLLI , L UANA P ORTZ E M ARIELE P AIVA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

7) Colocar o protetor do sensor de pH contendo

Foto: Projeto Amazônia Azul


solução de KCl 2M;
8) Estocar o sensor no copo de calibração/
transporte com uma esponja úmida no fundo
do mesmo.
Se, o período de estocagem, for superior a uma
semana, é aconselhável a retirada das baterias e do
sensor de pH do sensor, devendo este ser armazenado
na solução de estocagem separadamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMINOT, A.; CHAUSSEPIED, M. Manuel des
Analyses Chimiques en Milieu Marin. Brest:
CNEXO, 1983. 395p.
BAUMGARTEN, M.G.Z.; WALLNER-
KERSANACH, M.; NIENCHESKI, L.F.H. Manual
de Análises em Oceanografia Química. Rio
Grande: Ed. da FURG, 1996.
BAUMGARTEN, M.G.Z.; WALLNER-
KERSANACH, M.; NIENCHESKI, L.F.H. Manual
de Análises em Oceanografia Química. 2.ed. Rio
Grande: Ed. da FURG, 2010. 170p.
BONETI, J. Medições oceanográficas de campo e por
satélites. In: Curso de Difusão Cultural “Noções
sobre Oceanografia”, 1995/1996, São Paulo: USP/
IO, 2009.
HÉRLON, R.F.; PAULINO, W.D. Recomendações e
cuidados na coleta de amostras de água. In: Informe
Técnico N.2. Ceará: Companhia de Gestão de
Recursos Hídricos do Estado do Ceará, 2001. 19p.
MACEDO, J.A.B. Métodos Laboratoriais de
Análises Físico-Químicas & Microbiológicas:
águas & águas. Juiz de Fora, MG: Ed. Universidade
Federal de Juiz de Fora, 2001.
STRICKLAND, J.D.H.; PARSONS, T.R. A Practical
Handbook of Seawater Analysis. 2.ed. Ottawa:
Queen’s Printer, 1972.

OCEANOGRAFIA QUÍMICA 155


OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA
Gilberto Griep
7
CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

Existem várias razões para coleta de amostras de sedimentos e uma variedade de


estratégias para diferentes situações amostrais. É muito importante que o objetivo da
amostragem e os requisitos de qualidade amostral sejam identificados antes do traba-
lho de campo ser iniciado. Assim, o seu objetivo pode ser, por exemplo, apenas o de
confirmar uma litologia existente em uma determinada área ou obter amostras para
fins de defini-la na área do trabalho.
Ao longo dos últimos 40 anos, a Plataforma Continental Brasileira tem sido
amostrada em escala variada, o que faz com que já haja conhecimento bastante razoável
da litologia do fundo oceânico sobre determinadas áreas. No entanto, outras áreas
mostram claramente uma carência na identificação das diferentes fácies que
compreendem a cobertura superficial da nossa Margem Continental, inclusive da própria
Plataforma Continental Brasileira. Diante disso, Instituições como o Centro de Estu-
dos Costeiros e Oceânicos (CECO/UFRGS), o Instituto Oceanográfico (IO-USP),
o Laboratório de Geologia Marinha (LAGEMAR/UFF), o Laboratório de
Foto: Rafael Thompson de Oliveira Lemos
Oceanografia Geológica (LOG/UFBA), o Laboratório de Oceanografia Geológica
(LOG/UNIVALI) e o próprio Laboratório de Oceanografia Geológica (LOG/
FURG), entre outras, desenvolveram programas e projetos de pesquisa para
mapeamento da cobertura superficial da Margem Continental Brasileira.
A maioria das instituições concentrou seus esforços sobre a Plataforma Con-
tinental Brasileira por razões óbvias, já que se trata de uma região onde predominam
as atividades do homem, seja para a pesca, seja para outras atividades. Outro
motivo fundamental para esse maior interesse envolve a questão operacional,
visto que as embarcações disponíveis são adequadas para a condução de estudos
em águas rasas.
O primeiro mapa de distribuição de fácies sedimentares da Margem Continental
Brasileira foi apresentado pelo Projeto Reconhecimento da Margem Continental Bra-
sileira (REMAC), em 1974. Posteriormente, para a Margem Continental Sul Brasileira,
foi elaborado um mapa de distribuição de fácies sedimentares, pelo CECO/UFRGS.
Recentemente, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais, vinculada ao Ministé-
rio de Minas e Energia, lançou uma publicação que consolida o conhecimento de
diferentes aspectos da Oceanografia Geológica e da Geologia Marinha da Margem
Continental Brasileira. Esse documento – Geologia da Plataforma Continental Jurídi-
ca Brasileira (PCJB) e áreas oceânicas adjacentes em ambiente de Sistema de Informa-
ção Geográfica (SIG) – traz, para a comunidade, um capítulo sobre o estado da arte,
no que se refere à cobertura sedimentar da nossa Amazônia Azul, e pode ser acessado
pelo sítio <www.cprm.gov.br>.

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 157


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Dadas as dimensões territoriais da nossa PCJB, sempre serão necessárias atividades de
amostragem geológica, seja para confirmar uma determinada litologia, ou para definir
vácuos existentes no conhecimento. Também, sempre haverá necessidade de amostragem
para atender a outras demandas do campo geológico, como geoquímica,
micropaleontologia, mineralogia, entre outras. Assim, tem-se que essa demanda sempre
será alvo das atividades do oceanógrafo, pois caracteriza a área de interface entre a camada
superior da crosta oceânica (camada sedimentar) e a porção líquida dos oceanos.
Dessa forma, neste capítulo, serão descritos equipamentos que podem ser utilizados
para as diferentes finalidades e que vão ter enfoque na aplicação da Oceanografia Biológi-
ca – sem que deixem de ser caracterizados também para outras aplicações nessa área.

1 ESCOLHA DO TIPO DE AMOSTRADOR


Em um trabalho de Geologia ou de Sedimentologia estão envolvidos os aspectos
voltados para a obtenção de amostras de fundo. Sabe-se que as amostragens de
sedimentos em corpos de água apresentam-se como difíceis, em especial, em área
oceânica. Para o trabalho de coleta de amostras superficiais, é possível utilizar dois
diferentes tipos de equipamentos: o busca-fundo (pegador de fundo) e a draga de
arrasto; e, subsuperficiais: o box corer (caixa amostradora) e o testemunhador (TAB. 7.1).

Tabela 7.1 Classificação dos amostradores segundo suas características de amostragem.

Classe de Equipamento Área Amostrada Penetração no Sedimento


Dragas de arrasto Não pontual Superficial
Busca-fundos Pontual Superficial
Caixas amostradoras Pontual Subsuperficial
Testemunhadores Pontual Subsuperficial

Adaptado de FIGUEIREDO e BREHME, 2001.

A escolha correta do equipamento depende de uma série de fatores, por isso a


classificação acima define muitas vezes as aplicações que vão ser dadas às amostras coletadas
em uma operação oceanográfica. Em muitas atividades de pesquisa do fundo oceânico,
procedeu-se – e continua se procedendo – ao aumento do número de coletas (densidade
amostral superficial). Esta é uma regra comum em processos de amostragem de sedimentos
superficiais, principalmente quando não são antecedidas por levantamentos geofísicos
como, por exemplo, o uso do Sonar de Varredura Lateral. Definem-se como amostra
superficial aquelas que não ultrapassem os primeiros 20 a 30 cm da cobertura sedimentar,
onde são mais usados os busca-fundos; e subsuperficiais as com mais de 2 m de profun-
didade para as quais são utilizados os testemunhadores.
Quando são coletadas amostras subsuperficiais, os objetivos já mostram outra
aplicação ou outros objetivos definidos para o cruzeiro oceanográfico. No entanto,
tem sido muito comum o uso de equipamentos que representam uma interface entre

158 GILBERTO GRIEP


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

a coleta superficial e subsuperficial. Essa amostragem ocorre com o uso de um box


corer, na qual a superfície e os primeiros 100 cm são amostrados e cuja aplicação pode
atender a diversos campos da Oceanografia.
É necessário ponderar outros critérios para a definição do equipamento a ser
utilizado, como os fatores físicos, a exemplo de correntes, ondulações, profundidades
e tipo de sedimento. A capacidade de recuperação do equipamento é outro fator a ser
considerado: um amostrador completamente cheio, por exemplo, resulta em 100%
de recuperação, ao passo que recuperações menores muitas vezes podem demonstrar
inadequação ou mau funcionamento ou ainda problemas operacionais com o equipa-
mento escolhido, problemas esses comuns em uma operação oceanográfica. Esse
aspecto tem fundamental importância na questão da integridade da amostra, uma vez
que um amostrador com recuperação parcial pode ter sido submetido à lavagem da
amostra e, como decorrência, ter diminuído a sua fração de finos, impedindo assim,
que analiticamente a amostra retrate a realidade.
Outro aspecto importante a ser considerado diz respeito ao material do qual é
construído o sistema amostrador. Dependendo do tipo de análise a ser conduzida, o
equipamento deve ser construído com material inerte e que não contamine a amostra,
como no caso de análises geoquímicas.
Também é importante considerar se o processo de amostragem vai ser realiza-
do com o navio em movimento ou parado: o primeiro processo, se não utilizado
com muita frequência, torna-se interessante em cruzeiros com programação de derrotas
contínuas em que uma simples redução da velocidade permite usar os equipamentos
de coleta. Já, o mais comum, é a embarcação parada ou fundeada, em um ponto de
coleta possibilitando a escolha de um maior número de equipamentos.

2 EQUIPAMENTOS DE AMOSTRAGEM
Com o navio em movimento, amostradores pontuais são equipamentos empre-
gados principalmente para confirmar um determinado fundo geológico. Como são
de pequena capacidade volumétrica, são de grande valia para confirmação litológica,
mas não para fins analíticos laboratoriais, pois normalmente trazem para bordo uma
amostra lavada causando erros analíticos. São úteis, por exemplo, quando do empre-
go de um instrumento de aquisição de dados indiretos, como o Sonar de Varredura
Lateral (SVL), o qual necessita de uma informação sobre o tipo de fundo que está
sendo sonografado. Podem ser também importantes quando do emprego de deter-
minadas redes de arrasto, quando é necessário o conhecimento da cobertura sedimentar.
Para esta amostragem pontual, podem ser usados três tipos básicos: draga de Gibbs, e
os amostradores Phipps Under Way Sample e Emery Bottom Sampler.
A draga de Gibbs é um equipamento simples e dos mais eficazes. Figueiredo e
Brehme (2001) o descrevem como sendo constituído de um tubo de metal com

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 159


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
diâmetro variável, em que uma das extremidades está presa a um saco de lona ou
tecido para recolher a amostra e a outra apresenta uma abertura com borda cortante,
na qual é fixo o cabo de arrasto (FIG. 7.1A).
Pelas suas características, pode ser empregado em qualquer tipo de embarcação,
sendo preciso apenas uma quantidade de cabo da ordem de duas a três vezes a
profundidade do local a ser amostrado. É lançado na água e, após alguns minutos de
arrasto sobre o fundo, é iniciado o seu recolhimento. A amostra vai sofrer o proble-
ma da lavagem durante o seu recolhimento, levando a uma falsa informação. No
entanto, tem sido útil, quando utilizado de maneira adequada.
Se a sua utilização for feita a partir de embarcações maiores e com a finalidade de
coletar material em águas mais profundas, os procedimentos são idênticos. Apenas a
quantidade de cabo pode ser quatro a cinco vezes a profundidade, aliada ao uso de
pesos, que passa a ser uma necessidade.
O Phipps é um amostrador utilizado com o navio em movimento, em baixa velocida-
de (1 a 4 nós) para profundidades inferiores a 80 m, sendo constituído de um tubo de
4 polegadas (10 cm) de diâmetro, com 70 a 80 cm de comprimento e munido de aletas
que o direcionam para o fundo. A sua parte terminal encontra-se vedada com um pano
ou lona (FIG. 7.1B). Ao tocar no fundo, o cabo de arrasto é liberado da posição que
direciona o equipamento para baixo e ele, então, adquire a posição ascendente.
Apresenta capacidade máxima de amostragem em torno dos 5 L, com recupera-
ção média de 2 L; seu peso pode alcançar cerca de 5 kg. Entretanto, há a desvantagem
da amostra sofrer um processo de lavagem durante a sua recuperação. Esse equipa-
mento pode amostrar fundos arenosos, lamosos e biodetríticos.

A B C

Figura 7.1 Amostradores com navio em movimento: (A) Gibbs; (B) Phipps; (C) Emery
[adaptado de FIGUEIREDO e BREHME, 2001].

O Emery é um amostrador utilizado com o navio em movimento, em baixa velo-


cidade (2 a 3 nós) em profundidades menores que 100 m (FIG. 7.1C), sendo constitu-

160 GILBERTO GRIEP


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ído de um tubo com aletas direcionadoras, que lhe dá aspecto de uma flecha, e uma
tampa que se fecha ao toque de fundo. É também conhecido como Skoopfish.
Antes de chegar ao fundo, o equipamento é tracionado por um ponto, de maneira
que tenha uma orientação descendente e, após o toque de fundo, é modificado, de
modo que adquira uma orientação ascendente. Sua capacidade volumétrica é de 69 cm3
e pesa aproximadamente 3 kg. Pode amostrar fundo arenoso, lamoso e biodetrítico.
Também com o navio em movimento são utilizadas as dragas de arrasto, empre-
gadas em fundos duros e envolvem uma gama de tipos, com formatos cilíndricos,
triangulares e retangulares. Não se diferenciam muito das dragas de arrasto utilizadas
na coleta de amostras para fins de estudos bentônicos, mas sim daquelas para pesca
comercial. No entanto, são estruturas mais reforçadas, pois atuam sobre fundos du-
ros, nos quais há necessidade de arrancar a amostra do fundo como, por exemplo,
afloramentos rochosos do próprio embasamento e beach-rock, rocha muito comum
na nossa Plataforma Continental.
Na categoria de amostradores com o navio parado, está a maioria dos equipa-
mentos de amostragem geológica, os quais vêm sendo utilizados ao longo dos anos
A escolha de um equipamento de amostragem das camadas superficial e
subsuperficial da crosta oceânica – sejam sedimento, rochas ou recursos minerais –
depende dos objetivos da pesquisa ou do trabalho a ser realizado. Considerando que
a amostragem, em especial em águas profundas, apresenta-se como um dos fatores
que consomem muito tempo de navio (normalmente de custo elevado), a escolha do
equipamento deve ser realizada com o máximo cuidado, a fim de alcançar eficiência
no processo e minimizar o tempo de navio.
Ao longo do tempo, desde que começaram as atividades de amostragem geológi-
ca, vários tipos de amostradores foram desenvolvidos e aperfeiçoados, fato que não
impede a permanência ativa da utilização de equipamentos mecânicos relativamente
simples. Na categoria com capacidade amostral da camada superficial, dois tipos
fundamentais prevalecem: o primeiro que toca o fundo e apanha uma amostra é
chamado de busca-fundo (pegador de fundo), como por exemplo, o Shipeck, o Dietz-
Lafond, o van Veen e o Ekmann, formados por duas ou mais pás (conchas ou mandí-
bulas). Com as pás abertas, o equipamento é mergulhado na água e, após penetrar no
fundo, com o processo de içamento para superfície, um mecanismo apropriado –
braço ou dobradiça – fecha as pás retendo, assim, o sedimento coletado. O segundo
tipo definido como draga que é arrastada pelo navio, em baixa velocidade (da ordem
de 1 nó), o tempo necessário para tocar o fundo, será abordado no Capítulo 10.
O Shipeck é um amostrador com peso de aproximadamente 45 kg e um volume
de 3 L, podendo amostrar fundos lamoso, arenoso e biodetrítico (FIG. 7.2A).
Para armar o equipamento, é utilizada uma alça que força a tampa até atingir o
engate, o qual é liberado pelo peso ou lastro quando o conjunto toca no fundo. Esse

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 161


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
amostrador tem formato de um semicilindro, tendo no seu topo o peso (FIG. 7.2A).
Nas laterais estão duas molas utilizadas para armar o equipamento, mantendo abertas
as pás. Uma vez armado, o equipamento é arriado por um cabo de aço e, ao tocar o
fundo, o peso do lastro desliza sobre um eixo que, ao bater em uma trava, libera as
molas laterais que forçam o seu fechamento, coletando o sedimento. Para a retirada
da amostra de seu interior, devem ser puxados opostamente os pinos que seguram a
tampa, desengatando o semicilindro, o que torna a operação fácil e sem risco de
acidentes. Não se deve tentar retirar amostra do equipamento armado, mesmo que
esteja com o pino de segurança.
Apresenta problema de lavagem da amostra quando lançado a grandes profundi-
dades. Num levantamento estatístico da GEOMAR IV E VI (Projeto REMAC), o
Shipeck recuperou 100% até 3.000 metros. Ainda assim, segundo Figueiredo e Brehme
(2001), o aparelho tem a vantagem de ser utilizado com grande eficácia quando as
estações são muito próximas, com a simples substituição dos semicilindros.

A alça B
aletas

peso
pá (concha) coletora peso
trava de fechamento

trava

disparador
pino de desengate
pá coletora

Figura 7.2 Modelo de amostradores com navio parado: (A) Shipeck; (B) Dietz-Lafond
[adaptado de FIGUEIREDO e BREHME, 2001].

O Dietz-Lafond é um amostrador com peso de cerca de 30 kg e volume de 0,4 L,


o qual pode amostrar fundo lamoso, arenoso e biodetrítico (FIG 7.2B). O equipamen-
to desce até o fundo com o sistema de pás abertas e travadas por uma barra lateral –
o disparador. Assim que tocar o fundo, esse disparador libera a trava de segurança,
ocasionando o seu fechamento retendo, assim, a amostra. Para retirá-la, o equipamen-
to deve ser colocado em uma bandeja plástica, armado novamente e travado. Retira-
se a amostra com o auxílio de pá ou espátula, nunca com a mão.
Pode ser lançado em profundidades que vão de poucos metros até 3.500m, em
condições excepcionais. Num levantamento estatístico da GEOMAR IV E VI, o

162 GILBERTO GRIEP


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Dietz-Lafond recuperou 100% até 3.000 metros. Sua forma hidrodinâmica e seu peso,
o tornam de grande rendimento, mas de pequena capacidade volumétrica. Pode apre-
sentar problemas se, material tipo fragmentos de rocha ou de conchas, ficarem reti-
dos no fechamento das pás, o que levará a uma lavagem da amostra.
O van Veen é um busca-fundo utilizado quando existe interesse em amostrar gran-
de volume de material. Tem peso de aproximadamente 70 kg, capacidade volumétrica
de 36 L (FIG. 7.3A) e deve ser usado preferencialmente em águas rasas (menos de 50 m),
podendo coletar lama, areia e biodetritos.
A partir do modelo original do van Veen foram desenvolvidos diferentes versões que
apresentam mecanismo semelhante de funcionamento, sendo seus dois braços ou barras
o ponto básico de abertura e fechamento das pás e são responsáveis pela passagem do
cabo de aço usado no equipamento. Na abertura das pás, os dois braços são mantidos
abertos e horizontalizados; e mantida através de uma trava entre elas; o equipamento, ao
tocar no fundo, alivia a tensão do cabo de aço e a trava é liberada. Ao iniciar-se o içamento
do van Veen, os braços são verticalizados e as pás fechadas.
Num levantamento estatístico da GEOMAR IV E VI, o van Veen recuperou até
500m de profundidade; no Projeto Talude, realizado pela FURG em 1996, recupe-
rou amostras na profundidade de 700 metros. Devido ao seu formato não muito
hidrodinâmico, exige uma descida cuidadosa a baixa velocidade, para que não desarme
antes de tocar o fundo. Outro problema que normalmente surge é o fato do
equipamento não conseguir tocar o fundo a profundidades elevadas.

A B
mensageiro
liberador

pino

cabo da pá tampas
coletora
braço

trava

mola
pá coletora tensora
pá coletora

Figura 7.3 Modelo de amostradores com navio parado: (A) van Veen; (B) Ekmann
[adaptado de FIGUEIREDO e BREHME, 2001].

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 163


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O Ekmann é um busca-fundo construído em formato de caixa e é um dos melho-
res para sedimentos lamosos/areia fina, em águas rasas (FIG. 7.3B). No entanto, materiais
como fragmentos de conchas e fragmentos de rochas, tipo grânulo ou seixos, podem
impedir o perfeito fechamento das duas pás. Durante a descida, as pás encontram-se
abertas e as duas tampas na parte superior permitem a passagem da água. Assim que
o equipamento toca no fundo, um mensageiro – este muito comum em outras
operações de amostragem – é lançado pelo cabo com a função de fechar a caixa.
Durante a ascensão, as tampas são fechadas, ficando pressionadas pela coluna de
água. Segundo Figueiredo e Brehme (2001), uma das grandes vantagens desse
amostrador é a capacidade de preservar a interface água-sedimento, o que permite
que essa seja subamostrada.
No mercado, existem disponíveis equipamentos de vários volumes e inclusive pe-
sos adicionais podem ser colocados para melhoria do processo de amostragem.
Em outra categoria com capacidade amostral de subsuperfície também são en-
contrados dois tipos de equipamentos: box corer (caixas amostradoras) e os
testemunhadores.
O box corer foi desenvolvido por Hessler e Jumars (1974), é um dos mais eficazes
para o trabalho de amostragem de sedimentos em regiões submersas. Deve ser em-
pregado quando se quer obter uma amostra não perturbada das primeiras camadas
do sedimento (30 a 100 cm) e busca-se um volume de material apropriado.
O box corer consiste de uma caixa metálica encaixada em uma estrutura metálica,
que sustenta o seu mecanismo de fechamento na descida (FIG. 7.4A). Estruturas com-
plexas contemplam uma base que assenta sobre o fundo; quando isso acontece, a tensão
do cabo é aliviada, o que libera o braço que sustenta a caixa amostradora, permitindo sua
penetração na camada sedimentar. Uma vez iniciado o processo de subida, a alavanca, que
passa a sustentar o equipamento, provoca o seu fechamento (FIG. 7.4B). Por suas
características de construção, seu grande volume e peso, o box corer necessita de uma
infraestrutura na embarcação, como guinchos, pau-de-carga ou um munk. Assim, somente
embarcações de maior porte apresentam-se capacitadas a empregar esse tipo de
equipamento. Ainda, a utilização de um box corer é facilitada se a embarcação possuir
uma estrutura tipo A-Frame, com capacidade de afastamento da borda de pelo menos
uma vez e meia a largura da estrutura de base do equipamento
A forma como o equipamento trabalha pode ser visualizada na Figura 7.5. O
primeiro estágio mostra o modo como ele é baixado na coluna de água (FIG. 7.5A).
O segundo mostra o equipamento sobre o fundo, com a caixa amostradora enterra-
da no sedimento (FIG. 7.5B), mas com o sistema de fechamento horizontalizado. No
terceiro estágio está o início do processo de içamento em que a pá (FIG. 7.5C), que
fecha a caixa amostradora, já se encontra verticalizada, atuando como apoio para
todo o sistema. No último, ocorre o processo final de içamento (FIG. 7.5D).

164 GILBERTO GRIEP


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A B
cabo real

pesos

caixa coletora

base

Figura 7.4 Amostrador box corer e seus componentes: (A) descida; (B) subida.

~ ~
A~ D~

~
~
B~
~ C

Figura 7.5 Mecanismo de coleta através de um box corer


[adaptado de <www.kc-denmark.dk>].

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 165


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O box corer pode ser considerado uma mescla entre um busca-fundo e um pequeno
testemunhador. Tem a capacidade de obtenção de uma amostra com dimensões e volume
adequados para atender os especialistas no estudo da cobertura sedimentar do fundo dos
oceanos. Um box corer de 30 x 30 cm de largura por 50 cm de altura tem a capacidade de
coletar material suficiente para atender a uma demanda de amostra para diferentes campos
da Oceanografia. Volumes maiores são empregados em estudos de monitoramento
ambiental, podendo alcançar 50 x 50 cm de largura por 100 cm de altura. Assim, com o
processo de subamostragem na caixa amostradora podem ser obtidas amostras menores
(FIG. 7.6), para atender estudos na área da micropaleontologia, geoquímica, mineralogia,
sedimentologia, entre outras. Na Figura 7.6A observa-se que seringas de grande volume
são usadas como uma forma barata de subamostrar o topo ou suas laterais, se a caixa
amostradora permitir a retirada de uma delas (FIG. 7.6B e 7.6C).

Figura 7.6 Visão da parte superior do box corer com as subamostragens


[Fotos: (A) e (B) FIGUEIREDO, 2000 e (C) Gilberto Griep].

Dependendo do tipo de caixa amostradora utilizada, o equipamento tem como


vantagens: a visualização da sequência estratigráfica superficial (FIG. 7.6B); e a capaci-
dade de preservar a superfície amostrada (FIG. 7.6C).
Por fim, o box corer é um equipamento com capacidade de amostrar a camada superior
do fundo oceânico, destinado a coletas em profundidades de até um metro. Já para
amostrar uma maior camada do fundo submarino, recomenda-se a utilização de outra
família de amostradores pontuais, chamados rotineiramente de testemunhadores.
Na categoria de equipamentos de amostragens pontuais e com capacidade de
penetração na camada sedimentar superior do fundo oceânico estão os do tipo
testemunhadores ou corers. Essa categoria de equipamento tem sua utilidade quando são
necessárias coletas de secções estratigráficas dos pacotes sedimentares que formam o
fundo e subfundo oceânico. Tem grande aplicabilidade em estudos estratigráficos,
cujo interesse são os processos responsáveis pela formação da geologia submarina
em uma determinada área. É também fundamental para o entendimento da

166 GILBERTO GRIEP


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

sismoestratigrafia superficial obtida por instrumentos como os perfiladores sísmicos


rasos de alta resolução e baixa penetração (ex: 3.5 kHz ou CHIRP´s).
Existem diversos modelos desse tipo de equipamento, sendo que a maioria pode
ser classificada como: por gravidade; e a pistão. Segundo Figueiredo e Brehme (2000),
as principais características desses dois tipos de testemunhadores são descritas abaixo.
O testemunhador por gravidade (FIG. 7.7A) é usado na obtenção de amostras de pe-
queno tamanho, máximo 2 m em lama e 60 a 70 cm em fundo mais duro, como areia.
O testemunhador Phleger é um exemplo desse tipo e pode ser utilizado como peso-
piloto em testemunhadores a pistão.
É constituído por um cilindro de ferro com um peso na parte posterior onde é preso
o cabo de sustentação e por uma ponta cortante – cone – que penetra no sedimento. Esse
cilindro pode ser substituído diretamente por um tubo de PVC marrom, utilizado para
encanamento de água, com 75 mm de diâmetro (FIG. 7.7B). Quando é de ferro é utilizado,
na parte interna é inserido um tubo de PVC de diâmetro compatível e um dispositivo,
antes do cone, de lâminas na extremidade inferior, os quais impedem a perda do material
amostrado, funcionando como uma válvula retentora, denominada aranha.

A B C cinta do cabo

aletas mecanismo
válvula
de liberação
dispositivo
de segurança

peso
pesos
mecanismo
de parada
do pistão
cano de cilindro
plástico

junção

cilindro
pistão

cone
cortador

cone aranha
cortador peso ou testemunhador-piloto

Figura 7.7 Exemplo de testemunhadores: (A) por gravidade; (B) tubo coletor de PVC;
(C) a pistão [adaptado de FIGUEIREDO e BREHME, 2000].

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 167


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O testemunhador a pistão (FIG. 7.7C) contempla todos os itens do testemunhador por
gravidade, acrescidos alguns itens, como um braço lateral onde pode ser colocado
um peso ou um testemunhador tipo Phleger, que serve de mecanismo de disparo do
testemunhador a pistão.
Outras características desse equipamento são o seu tamanho, o qual permite que
sejam coletados testemunhos de 6 a 10 m, e seu peso na cabeça, que pode variar de
800 a 1.500 kg. Já existem embarcações com capacidade de usar testemunhadores que
amostram até 50 m de espessura sedimentar.
Sua denominação é devida ao fato de possuir um pequeno pistão, que serve como
mecanismo auxiliar de sucção do sedimento, enquanto o mesmo está penetrando na
camada sedimentar. Quando o topo da tubulação é alcançado, serve como mecanis-
mo de içamento de todo conjunto. A Figura 7.8 mostra a configuração do sistema.
Equipamentos com esse peso e envergadura necessitam de embarcações de mé-
dio ou grande porte, por necessitarem de guinchos oceanográficos com volume e
dimensões de cabos necessários para sua utilização em ambiente oceânico.

Figura 7.8 Esquema operacional de um testemunhador a pistão


[adaptado de <www.mnhn.fr>].

168 GILBERTO GRIEP


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

3 COLETA DA AMOSTRA
Com a utilização de um guincho oceanográfico, colocado lateralmente na embar-
cação e com o navio devidamente posicionado, o amostrador é baixado até tocar o
fundo. Através de contagem de metragem de cabo (o ideal e o aconselhável é o uso
de uma polia hodométrica) e com uma cuidadosa análise do comportamento do
cabo de aço, uma vez que o amostrador toque o fundo, procede-se à reversão do
guincho para trazer o equipamento para bordo. É possível visualizar o momento da
batida do equipamento no fundo pelo alívio na tração do cabo.
Muito importante é a presença de um operador de guincho com prática nessa
etapa do trabalho, já que o emprego de pessoal não habilitado pode levar à perda
instrumental. O conhecedor das atividades de guincheiro, em especial, quando da
utilização de guinchos oceanográficos mais antigos, ou aqueles adaptados para serem
oceanográficos, minimiza, em muito, os problemas que podem ocorrer quando da
descida do equipamento e no seu recolhimento. Na fase de descida, um guincheiro
habilitado tem a capacidade de sentir o seu toque no fundo, podendo imediatamente
dar início ao processo de recolhimento. Essa sensibilidade evita, por exemplo, que o
cabo de aço enrosque no amostrador, evitando que suba de forma inadequada.
No momento da abertura do equipamento para a retirada do material coletado,
algumas observações devem ser feitas como, por exemplo, a presença de material que
possa ter sofrido lavagem durante a sua ascensão. Essa lavagem pode ser detectada
pela presença de partículas de granulometria mais selecionada, sobre ou separada da
lama. Outra forma de identificar o problema é a presença de fragmentos de conchas
ou de rochas, que possam ter mantido o aparelho aberto durante a subida do cabo.
Nesse caso, o processo torna-se bastante facilitado na observação, já que normalmen-
te volta vazio ou com pouca amostra. Nesta situação, caso seja necessário subdividir a
amostra obtida, o procedimento recomendável é a separação equitativa para viabilizar
análises geoquímicas ou réplicas de análises sedimentológicas.
Outro aspecto importante e que merece muita atenção é o fato da oscilação do
navio, durante mau tempo, poder posicionar o cabo abaixo do casco da embarcação,
levando o equipamento a prender ou sofrer um esforço de tensão que pode lhe
causar avaria ou até a sua perda.
A etapa seguinte à da coleta é a de armazenar as amostras em sacos plásticos, bem
fechados com atilhos, fitas ou nós e etiquetados com informações (escritas com cane-
ta de tinta à prova de água) como data, local, número da amostra, responsável pela
coleta e nome da operação. Quando o material inconsolidado é coletado, o melhor é
proteger o rótulo com um segundo saco plástico, a título de precaução. Em caso de
coleta de amostra para análise geoquímica, logo após a sua etiquetagem é sugerido
que a mostra seja imediatamente acondicionada em um freezer, para não sofrer alte-
ração de suas características.

OCEANOGRAFIA GEOLÓGICA 169


Concomitantemente ao
trabalho de armazenamento da
amostra, procede-se ao
preenchimento da planilha da
amostra geológica. Sugere-se a
utilização do modelo do Progra-
ma de Geologia e Geofísica
Marinha (PGGM), do Plano In-
tegrado Brasileiro de
Oceanografia (PIBO), ou adap-
tação do mesmo (ANEXO 4). O
preenchimento do Formulário de
Informações Geológicas (FIG) do
Banco Nacional de Dados
Oceanográficos – BNDO torna-
se uma necessidade em função da
legislação existente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FIGUEIREDO, A.G. Seminário
sobre Recursos Minerais
Marinhos. Departamento de
Geologia da Universidade Federal
Fluminense, 2000.
FIGUEIREDO, A.G.; BREHME,
I. Amostragem geológica na
pesquisa mineral. Brazilian
Journal of Geophysics, São
Paulo, v. 18, 2000, p. 269-280.
HESSLER, R.R.; JUMARS, P.A.
Abyssal community analysis from
replicate box cores in the central
North Pacific. Deep-Sea
Research, New York, v. 21, p.
185-209, 1974.

170
171
Foto: Danilo Calazans
HIDROACÚSTICA
8

Antonio C. Duvoisin, Lauro S. P. Madureira e Antonio B. Greig


CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

O estudo da distribuição, abundância e interações entre espécies no oceano


apresenta-se, de forma geral, mais complexo do que nas pesquisas com organismos
terrestres. Basicamente, o ambiente marinho é hostil à presença humana, por isso a
própria sobrevivência de quem coleta dados depende, no mínimo, de uma embarca-
ção adequada à área geográfica onde será realizado o estudo, assim como de tripulação
e equipe experientes.
O ambiente pelágico, para citar um exemplo, é aberto e, devido à ocorrência de
transporte contínuo, à mescla de comunidades e às migrações periódicas e incessantes do
nécton, raramente atinge um estado estável ou maturo. Os métodos tradicionais de estudo
desse ambiente são indiretos, por meio de amostradores, que nem sempre representam a
realidade, o que pode ser prejudicial quando se trata da avaliação de um recurso pesqueiro,
ou das condicionantes que o influenciam (LAEVASTOU, 1996). Nesse sentido, a intensa
amostragem horizontal e vertical da coluna de água em um curto período de tempo, por
meio da utilização de som, representa um avanço para a compreensão desse ambiente.
Foto: Danilo Calazans
1 TEORIA DA ACÚSTICA BÁSICA
O som é uma onda mecânica que necessita de um meio elástico para propagar-se.
O processo de transmissão de som é caracterizado por uma sequência de perturba-
ções no meio em que se movimenta, as quais geram zonas de expansão e contração
das partículas. Se a transmissão ocorre a partir de uma fonte pontual e num ambiente
homogêneo, a onda sonora irá se espalhar de maneira onidirecional, criando frentes
de pressão esféricas (FIG. 8.1).
A passagem por um mesmo ponto de duas zonas de contração (ou expansão)
consecutivas deter mina um ciclo, e a distância entre elas é denominada
comprimento de onda, representado pela letra grega λ (lambda). O tempo ne-
cessário para que um ciclo ou λ ocorra define o período de onda (T). O número
de ciclos ou λ que passam pelo mesmo ponto no período de tempo de um
segundo determina a frequência da onda, em hertz (Hz). Por definição, 1 Hz
expressa a frequência de uma onda acústica com 1 λ .s-1, 100 Hz serão 100 ciclos
e 20 kHz serão 20.000 ciclos. O gradiente entre as zonas de expansão e contração
indicará a amplitude de onda.
Em acústica, denomina-se um pulso o “pacote” que compreende a sequência de
ondas emitidas durante um intervalo fixo de tempo. O comprimento desse pacote se
dará de acordo com a velocidade de propagação do som no meio. Considere-se que
a velocidade do som na água do mar é de aproximadamente 1.500 m.s-1, variando de
modo diretamente proporcional à temperatura, à salinidade e à pressão.

HIDROACÚSTICA 173
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
frente de
pressão
fonte

Figura 8.1 Propagação do som em meio homogêneo formando frente de pressão esférica.

O comprimento físico de um pulso está, portanto, associado à duração de pulso,


representado pela letra grega τ (tau) através da relação:

L = cτ
em que:
L é o comprimento do pulso;
c é a velocidade do som no meio;
τ é a duração do pulso acústico.
Para obter sucesso na localização de um alvo distante da fonte de som, é necessá-
rio direcionar a propagação acústica para este alvo, ou onde mais provavelmente ele
deva se encontrar. Em acústica pesqueira, hidrográfica ou geológica, o trabalho geral-
mente é feito em barcos ou navios, por isso os alvos localizam-se abaixo da embarca-
ção. O direcionamento da energia transmitida é possível mediante o uso de um
transdutor, constituído internamente de um elemento ou vários deles justapostos que
emitem pulsos acústicos sincronizados e que converte energia elétrica em energia me-
cânica (acústica) ou vice-versa. A interação dos pulsos forma uma estrutura com
lóbulo principal, no qual a energia é máxima (feixe acústico), e lóbulos secundários
(componentes indesejáveis), separados por regiões onde a intensidade de energia pro-
pagada é nula (FIG. 8.2).

174 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

transdutor

lóbulos secundários
regiões nulas

lóbulo principal

Figura 8.2 Padrão de diretividade do feixe acústico a partir de um transdutor.

A trajetória descrita pela propagação do pulso direcionado descreve um feixe


acústico com gradiente de intensidade cujo valor máximo no eixo longitudinal dimi-
nui em direção às bordas. Foi convencionado que o padrão de diretividade gerado
possui o valor máximo um (1,0).
Aproximadamente 99% da energia é transmitida dentro do lóbulo principal (FOOTE,
1980; MACLENNAN e SIMMONDS, 1992). Assim, somente são considerados relevantes os
ecos recebidos de alvos detectados dentro desse lóbulo. Dessa maneira, a largura do
feixe (beam width) é definida como sendo o ângulo entre o eixo principal e o ponto
onde o padrão de diretividade atinge certa intensidade. Normalmente, o valor adotado
é de 3 dB em relação à intensidade no eixo ou metade da intensidade do centro. Para
fins de análise da energia refletida, é adotado um modelo de feixe ideal cônico, cujo
vértice possui um ângulo sólido denominado ângulo do feixe equivalente (equivalent
beam angle), representado pela letra grega ψ (Psi). Esse ângulo descreve o volume
efetivamente coberto pelo feixe (FIG. 8.3).

HIDROACÚSTICA 175
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
pulso

Figura 8.3 Feixe acústico cônico, com representação esquemática do pulso.

Como a propagação acústica ocorre originalmente de forma esférica, sua intensi-


dade é dispersada com a expansão da área superficial, proporcionalmente ao quadra-
do da distância da fonte de emissão. Essa forma de atenuação do som é denominada
perda por espalhamento geométrico. No entanto, a diminuição de energia no am-
biente aquático também ocorre através do espalhamento por partículas que se encon-
tram na coluna de água ou por absorção, devido à viscosidade do meio e a reações
químicas geradas em íons, como o sulfato de magnésio. Essas perdas devem ser
compensadas quando se tem por objetivo medir a intensidade de ecos retornando de
refletores que estão a diferentes distâncias da fonte. Para isso, é incorporado o ganho
crono-variável – TVG, do inglês Time Varied Gain nas ecossondas. Essa função com-
pensa a atenuação da intensidade acústica sofrida ao longo do trajeto de ida e volta,
entre o transdutor e o alvo detectado. Nominalmente, segundo Johannesson e Mitson
(1983), o TVG possui o formato:
40logR + 2αR
quando se realizam estudos de ecos individuais; ou

20logR + 2αR

176 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

quando se utilizam ecointegradores, em que:


R é a distância entre o transdutor e o alvo;
α é o coeficiente de absorção, expresso em dB por quilômetro.
Para estudar a coluna de água de maneira qualitativa e quantitativa, é necessário
primeiro definir uma unidade básica de volume dentro da qual será medida a intensi-
dade de energia. O volume amostral (VA) é estipulado de acordo com a equação:

em que:
ψ é o ângulo do feixe equivalente;
R é o raio;
c é a velocidade do som no meio;
τ é a duração do pulso acústico.
Embora a sonda possa ser configurada para captar dados a um intervalo de até 10
cm, sua acurácia não é inferior à da metade do comprimento de pulso, pois essa é a
distância vertical mínima que deve separar dois alvos para que eles sejam discriminados,
caso contrário, a contribuição energética dos dois é medida como sendo a de um alvo só.
A intensidade do som (I) é definida como a quantidade de energia acústica que
passa por uma determinada área dentro de uma unidade de tempo. Essa medida é
utilizada para descrever pulsos longos ou contínuos, porém, nos mais curtos, é utiliza-
da a integral da energia transmitida durante o seu intervalo. Assim, o fluxo de energia
por tempo (J) é obtido através da integração de I; e a energia total por unidade de
área (E) é obtida pela integração de J. Esse método de quantificar a energia é utilizado
na técnica de ecointegração, que será descrita a seguir. Como os valores encontrados
podem cobrir um espectro grande, foi convencionado usar um equivalente logarítmico
da razão entre as duas medições denominado decibel (dB).

2 ECOINTEGRAÇÃO
O método de ecointegração foi introduzido por Dragesund e Olsen na década
de 1960, sendo aperfeiçoado em meados da década de 1970 (T HORNE , 1983;
MACLENNAN e HOLLIDAY, 1996). Esse método – passível de aplicação em Águas Con-
tinentais – é utilizado para estimar a densidade de alvos na coluna de água e quantificar
a abundância de peixes, lulas ou crustáceos, como o krill, em uma área do Oceano.
Possui duas premissas principais: 1) os alvos devem estar distribuídos de ma-
neira aleatória para refletir energia acústica de forma linear, ou seja, existe igual

HIDROACÚSTICA 177
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
probabilidade para qualquer diferença de fase entre os ecos; e 2) a energia acústica
não pode sofrer extinção ou espalhamento múltiplo, efeitos que podem ocorrer
em cardumes muito densos (FOOTE, 1983). Isso torna possível integrar a energia captada
mantendo a proporcionalidade com a biomassa. À medida que a embarcação se
desloca, os ecos recebidos dos volumes amostrais (VA) são integrados verticalmente
dentro de camadas de integração pré-estabelecidas. Ao final de uma denominada
unidade elementar de distância amostral, em inglês, Elementary Sampling Distance
Unit (ESDU) e que normalmente representa uma milha náutica, é calculada a média
aritmética dos valores integrados (FIG. 8.4).

Y
Y

Y YY Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y Y

Y
Y Y Y

Y
Y
Y
Y

Y Y Y Y
Y Y Y

Y Y YY
Y YY Y Y
Y Y

Y Y
Y

Y
Y

YY Y Y Y

YY Y Y YY
Y

Y Y Y Y
Y

Y Y Y YY

Y Y
Y Y Y Y Y Y Y

Y YY Y
Y
Y

cardume
Y
Y
Y
Y
Y

Y
Y

Y
Y
Y Y
Y

Y Y
Y

Y Y
Y
Y

Y
Y

Y
Y
Y Y

Y
Y Y

Y
Y Y
Y
Y

Y
Y

Y
Y
Y
Y
Y
Y Y
Y

Figura 8.4 Pulso acústico detectando porção de um cardume.


A energia total refletida será ecointegrada.

A quantidade de energia integrada num VA é representada por sv e, quando ex-


pressa em dB (10log(sv)), por SV. Em cruzeiros de ecointegração, é aplicado um valor
de limiar de SV para diminuir a quantidade de dados captados, reduzindo a porção
correspondente ao ruído de reverberação. Ao longo de uma ESDU, é obtido o valor
médio de retroespalhamento por volume ou, em inglês, Mean Volume Backscattering
Strength (MVBS), média aritmética dos valores integrados verticalmente, que podem
ser convertidos de volume para área, sendo obtido o coeficiente de dispersão da área

178 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

náutica, em inglês, Nautical Area Scattering Coefficient (NASC), parâmetro que representa
a soma das seções acústicas transversais dos alvos detectados medida em m2.mn-2. A
energia obtida por área é integrada verticalmente e, feito isso, é estimada a média
aritmética por mn2.
Para converter o NASC à densidade numérica, é necessário conhecer as caracterís-
ticas de reflexão individual da(s) espécie(s) que está(ão) sendo detectada(s). Essas são
descritas através da equação do índice de reflexão acústica teórico ou TSteórico, que
relaciona, linearmente, o comprimento e/ou o peso dos indivíduos com um índice
de reflexão, ou TS. Para obter o valor de TS de determinado indivíduo, é essencial
que ele esteja isolado num VA fornecendo, assim, a intensidade de energia refletida pela
sua seção acústica transversal.

σbs (m ) 2

TS = 10 log σbs
σbs = 10
TS/10

Figura 8.5 O índice de reflexão acústica é a expressão em dB da área da seção acústica


transversal de um alvo e é medido através da quantidade de
energia acústica retroespalhada (azul-escuro).

O parâmetro TS representa a quantidade de energia acústica refletida por um alvo


individual, sendo expresso em decibéis, representado pela sigla dB, através da fórmula:

TS = 10log(σbs)

em que:
σbs é a área da seção transversal responsável pelo retroespalhamento de energia
acústica do alvo detectado.

HIDROACÚSTICA 179
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Sua expressão matemática é representada por:
2
σ bs = R *( I b / I i )
em que:
R é a distância entre o transdutor e o alvo;
Ib é a intensidade de energia retroespalhada;
Ii é a intensidade de energia incidente sobre o alvo.
A função logarítmica transforma os valores para dB e é introduzida para simplifi-
car os valores a serem trabalhados (MACLENNAN e SIMMONDS, 1992) (FIG. 8.5). É im-
portante notar que as leituras de TS e a ecointegração são dois processos independen-
tes. Nos instrumentos científicos de hidroacústica existe o canal para dados via TVG
40logR (alvos isolados) e via TVG 20logR (ecointegração). Um alvo isolado no volume
amostral (Va) será processado pelos dois canais, resultando num dado de TS e num
dado de sv. Enquanto o primeiro expressa a intensidade com que o alvo reflete energia,
o segundo expressa a densidade energética dentro do volume amostral (FIG. 8.6).

Figura 8.6 Alvos detectados isoladamente num volume amostral podem ser interpretados
pelo canal 40logR ou pelo canal 20logR na ecossonda EK500.
No primeiro caso, o dado de TS; no segundo, o valor de sv ecointegrado.

180 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

3 INSTRUMENTOS DE LEVANTAMENTO HIDROACÚSTICO


3.1 Ecossonda científica

Representa uma linha das ecossondas de precisão e com aplicações específicas


dedicadas a avaliações pesqueiras, geofísicas ou hidrográficas. O primeiro modelo de
ecossonda científica foi fabricado com tecnologia analógica para avaliação pesqueira,
os modelos da série EK, fabricados a partir de 1968 pela Simonsen Radio A/S – hoje,
Kongsberg Company (SIMRAD). Com a implementação do ecointegrador, em 1970, foi
lançado o modelo EKS, seguido pelos EK400, EK500 e EK60. Após a EKS, surgi-
ram algumas iniciativas na fabricação de outros modelos por parte da Furuno (Japão),
da Biosonics and Hydroacoustic Technology (USA) e da Micrel (França).
A ecossonda científica EK500 é um sistema eletrônico digital da geração 1989
para levantamento subaquático, seja batimétrico, feições de fundo ou biológico, com
capacidade para ecocontagem de alvos individuais ou integração volumétrica. Os
resultados podem ser georeferenciados disparo a disparo (ping to ping) e com correção
de movimento da embarcação. A configuração com seus periféricos está representa-
da na Figura 8.7.

monitor

impressora
joystick

navegador

SIMRAD

sensor de onda

unidade de
instrumento processamento armazenador
da rede e pós processador de dados

transdutor

Figura 8.7 Esquema da Ecossonda EK500 e seus componentes


[adaptado do Manual de Operação da Ecossonda EK500 da SIMRAD Inc.].

HIDROACÚSTICA 181
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Essa ecossonda representa uma grande mudança na concepção de levantamentos
hidroacústicos de recursos pesqueiros, principalmente pela capacidade de fornecer
saídas digitais dos dados e pela impressão de ecogramas coloridos que ampliam
significativamente a capacidade de diferenciar as concentrações detectadas. Também
possibilita armazenar os ecogramas em forma digital, além da tradicional impressão
em papel. A EK500 não possui recurso interno para armazenamento de dados. Todos
os resultados de cálculos referentes a cada pulso de transmissão são transmitidos às
portas de saída de dados e zerados. Esses dados farão parte da computação de
integração por milhas navegadas, que a sonda emite em forma de tabela a cada milha
completada, mas as informações individuais de cada pulso são perdidas logo que o
pulso seguinte é emitido. Atualmente existem alguns softwares para o pós-processamento
dos ecogramas digitais, o que permite simular o cruzeiro em laboratório e analisar os
dados sobre diferentes configurações de ganho ou de camadas.
Dados de ecointegração, índice de reflexão acústica e fundo são armazenados em
mídias externas, automatizando esse processo e facilitando o pós-processamento e
análise. A possibilidade de associar informação de posição (georeferenciamento dos
dados) para praticamente cada pulso emitido, permite uma análise espacial bem mais
precisa dos dados.
A ecossonda científica EK500 possibilita a divisão da coluna de água em nove
camadas fixas, definidas antes do cruzeiro, e uma dinâmica denominada Super Layer,
que pode ser reconfigurada durante o desenrolar da navegação para observar algum
estrato da coluna que interessar ao operador. Essa camada permite visualizar os dados
de maneira concomitante à sua coleta, enquanto as informações das demais camadas
são armazenadas sem visualização. A estratificação permite analisar a coluna da água
em maior detalhe.
As configurações da ecossonda são acessadas através dos menus, os quais permitem
que sejam visualizadas pelo monitor e escolhidas por joystick; algumas são estabelecidas
previamente e mantidas durante todo o cruzeiro, como os ajustes da calibração, os
limites das camadas de integração, as características do pulso e os telegramas
armazenados. Outras configurações podem ser alteradas ao longo do cruzeiro como,
por exemplo, os limites da Super Layer. A EK500 possui um menu principal composto
de 16 itens (FIG. 8.8), cada um com submenus que podem apresentar, ainda, um
terceiro nível.
A explanação de todas as funções e utilidades desse menu pode ser encontrada no
manual de operação da ecossonda, mas algumas dessas funções serão parcialmente
explicadas para que seja possível entender as possibilidades do equipamento. É possí-
vel classificar as ativações (settings) de funções nos menus, como ativações permanen-
tes e variáveis ao longo de um cruzeiro. As ativações permanentes ou fixas são aquelas
resultantes da calibração acústica, a qual deve ser realizada no início ou no final do

182 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

cruzeiro, com o objetivo de aferir determinados parâmetros que são de grande influ-
ência nos resultados da ecointegração. É aconselhável que os parâmetros definidos no
início de uma campanha não sejam alterados e, caso seja necessária alguma modifica-
ção, que seja a mínima possível e anotada no diário de bordo para auxílio em caso de
dúvidas no período de pós-processamento.

MAIN MENU

OPERATION MENU
DISPLAY MENU
PRINTER MENU
TRANSCEIVER MENU
BOTTOM DETECTION MENU
LOG MENU
LAYER MENU
TS DETECTION MENU
ETHERNET COM. MENU
SERIAL COM. MENU
ANNOTATION MENU
NAVIGATION MENU
SOUND VELOCITY MENU
MOTION SENSOR MENU
UTILITY MENU
TEST MENU

Figura 8.8 Menu principal da ecossonda EK500,


conforme aparece no monitor de trabalho.

O ecograma apresentado no monitor é o principal recurso, não somente para


monitorar o comportamento do equipamento, mas também para acompanhar o que
se passa na coluna da água. O ecograma é apresentado de forma totalmente particular
no monitor (display) a partir das ativações que são feitas no seu menu (FIG. 8.9). Pode
ser apresentado com o máximo de informações ou com apenas os ecos resultantes
dos pulsos. As modificações que forem feitas na apresentação do ecograma, no monitor,
não serão transferidas para nenhuma saída.

HIDROACÚSTICA 183
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Figura 8.9 Monitor da EK500
[Foto: Manual de Operação da Ecossonda EK500 da SIMRAD Inc.].

O ecograma (FIG. 8.10) é um dos dados passível de armazenamento em forma de


impressão, a qual poderá ser feita com ativações totalmente próprias, através de seu
menu. A ativação deverá atender às necessidades futuras de interpretação de tal ima-
gem, da mesma forma como não interferirá nos dados das outras saídas.
A EK500 é construída para operar com até três transceptores, cada um com seu
transdutor correspondente à frequência de trabalho. Os parâmetros descritos abaixo,
em fundo azul, são conferidos e calibrados na operação de calibração que deve ocor-
rer no início ou no fim de cada cruzeiro. Cada transceptor tem a sua tabela de parâmetros
(FIG. 8.11) e deverá ser aferido separadamente.

184 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

data / hora tabela do integrador


anotação
distribuição TS marcador de eventos
texto de texto de
milha náutica navegação

P R I N T E R L AY O U T E X A M P L E

6315,50,N,00510,50,E
0845

0850

6315,50,N,00510,60,E
- 80

NM
NM

494 11 . 9
3 . 0 15 . 0
0
10

11
- 14

2152
2151

1 Sur .
0
0
0
900823

900823
0
0
0
- 17

- 80
15 . 0 30 . 0
334 14 . 9
0
0
0
0
0
0
2 Sur .
- 20
0
0
0
- 80
0
0
0

45 . 0
14 . 9
- 23
0
0
0
linhas

- 80 3 Sur .
30 . 0
69
de nível

0
0
0
- 26
0
0
0

6.3
10 . 5
0
0
0
- 29

4 Bot .
8.5
69
0
0
0
super layer

0
0
0
- 32
0
0
7
0
0
0
- 35
0
1
0
5
linha de fundo

0
1
4
- 38

11
1
0 0
3
0
6
- 41
2
9
4
4
0
4
- 44
55
46
48
7
4
8

7 15
linha de escala
- 47
23
34
9
0
0
- 50

8
23
70
27

linha do
TS - step = 1 . 5 d8

integrador
2152 . 0 38 2 Sur . 15 . 0 30 . 0
90 / 08 / 23 khz 3 Sur . 30 . 0 45 . 0
0 . 5 10 . 5
9

amplitude
4 Sur .

do fundo
TS - max = - 14.. 0 d8

2152 . 0 38 10
1S70

90 / 08 / 23 khz
08 . 47 . 28

08 . 47 . 29
100

identificação
amplitude
mais baixa

Figura 8.10 Ecograma


[adaptado do Manual de Operação da Ecossonda EK500 da SIMRAD Inc.].

Transceiver -# Menu 38 kHz

Mode Active
Transducer Type ES38B
Transd. Sequence Off
Transducer Depth 0.00m
Absorption Coef. 10 dBkm
Pulse Lenght Medium
Bandwidht Auto
Max. Power 2000 W
2-Way Beam Angle -20.6 dB
Sv Transd. Gain 26.50 dB
TS Transd. Gain 26.50 dB
Angle Sens. Along 21.9
Angle Sens. Athw. 21.9
3 dB Beamw. Along 7.1 dg
3 dB Beamw. Athw 7.1 dg
Alongship Offset 0.0 dg
Athw.ship Offset 0.0 dg

Figura 8.11 Tabela de parâmetros de um transceptor.

HIDROACÚSTICA 185
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A ecointegração realizada pela EK500 fornece um parâmetro que representa a
área de retroespalhamento detectada por milha quadrada navegada, denominado Sa.
Na realidade, nada mais é do que o retroespalhamento médio por unidade de volume
transformado em retroespalhamento médio por unidade de área. Isso é feito dentro
de cada camada definida cujo número é escolhido pelo operador. Os valores de Sa
correspondentes às camadas estão mostrados na Figura 8.12, em destaque.

2152 . 0 38 10 9 8 7 6 5 4 Bot . - 80 3 Sur . - 80 2 Sur . - 80 1 Sur . - 80


90 / 08 / 23 khz 8 . 5 10 . 5 30 . 0 45 . 0 15 . 0 30 . 0 3 . 0 15 . 0
08 . 47 . 29 69 6 . 3 69 14 . 9 334 14 . 9 494 11 . 9

Figura 8.12 Valores da ecointegração das camadas.

A ecocontagem na EK500 fornece uma tabela dividida em dez classes de valores de


TS, contados ao longo de uma milha navegada. Essa tabela (FIG. 8.13) é apresentada
como dado impresso junto com os ecogramas, sendo mostrada, em destaque a coluna
que se refere a um valor de TS e a correspondente quantidade de alvos por camada.

TS - max = - 14.. 0 d8 TS - step = 1 . 5 d8 - 50 - 47 - 44 - 41 - 38 - 35 - 32 - 29 - 26 - 23 - 20 - 17 - 14


2152 . 0 38 2 Sur . 15 . 0 30 . 0 23 9 23 8 55 4 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
90 / 08 / 23 khz 3 Sur . 30 . 0 45 . 0 70 0 34 4 46 0 9 3 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
08 . 47 . 28 4 Sur . 0 . 5 10 . 5 27 0 7 15 48 4 4 0 11 4 0 0 7 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Figura 8.13 Tabela de ecocontagem da EK500.

A EK500 possui duas portas para saída (output) de dados. Uma porta serial do
tipo RS232 e outra de rede local, a Porta LAN (Local Area Network), que funciona
através de entradas ethernet (FIG. 8.14). Pela porta LAN, podem ser conectados pro-
gramas de aquisição e pós-processamento, como BI500 (SIMRAD), Movies
(IFREMER), Echoview (Miriax), para plataforma Windows, os quais permitem aqui-
sição dos ecogramas e de todos os parâmetros relacionados aos mesmos.

Figura 8.14 EK500 conectada ao programa Movies (IFREMER). Imagem da área de trabalho
do Movies [adaptado do Manual de Operação da Ecossonda EK500 da SIMRAD Inc.].

186 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A Porta Serial permite a aquisição de dados no formato RS232-ASCII bastando,


para isso, que o equipamento esteja conectado a um computador e que seja ativado o
aplicativo Hyperterminal do Windows. A saída de dados por essa porta é feita de
modo contínuo e limitar o tamanho do arquivo é uma incumbência do pesquisador.
As informações obtidas através dessa porta poderão fornecer todas as informações
admissíveis, desde que antecipadamente ativadas; elas são distribuídas em três tipos de
telegramas mostrados a seguir: 1) assíncrono; 2) baseado em pulso de transmissão; e
3) baseado na contagem de milhas (Log). Nas Figuras 8.15 e 8.16 são apresentadas as
informações contidas em cada telegrama, conforme é fornecido pela porta serial da
EK500.
– Telegrama de saídas assíncronas: essas saídas são definidas pelo operador
ou um GPS e/ou perfilador de velocidade do som.

Figura 8.15 Telegrama de saída assíncrona.

– Telegramas de saídas baseadas em pulso: essas saídas ocorrem sempre


que houver um novo pulso de transmissão. São dependentes da escala (range)
de profundidade ativada.

Figura 8.16 Telegrama de saída baseada em pulso.

– Telegramas de saídas baseadas em milhagem: essas saídas ocorrem cada


vez que for completada uma milha navegada. Essas informações são compu-
tadas a partir de cada pulso e zeradas logo que completada a milha.
A porta serial permite acesso a alguns dados que não se encontram explícitos nas
aquisições feitas com programas baseados em ecogramas (porta LAN). O inconveni-
ente é que para usar determinados parâmetros haverá a necessidade de confecções de
filtros específicos para extrai-los dos telegramas.

HIDROACÚSTICA 187
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A ecossonda científica EK60 é o sistema eletrônico digital da geração 2000 para
levantamento subaquático, seja batimétrico, de feições de fundo ou biológico. Sua
característica modular permite a montagem com uma ou até no máximo sete fre-
quências de operação. Seu processamento e comunicação baseiam-se na plataforma
Windows e suas habilidades principais são a ecocontagem de alvos individuais e a
integração volumétrica. Os resultados podem ser georeferenciados disparo a disparo,
com correção de movimento da embarcação. A configuração de um sistema básico
para operar de forma fixa é apresentada na Figura 8.17.

unidade de RAD
SIM
processamento monitor

transceptor
(GPT)

SIMRA
D mouse
teclado

transdutor

Figura 8.17 Configuração do sistema da EK60 com seus componentes principais


[adaptado do Manual de Operação da Ecossonda EK60 da SIMRAD Inc.].

Essa ecossonda é uma transformação de um instrumento compacto, na qual a


unidade de comando e a de processamento estão instalados juntos em uma única
caixa, que se conecta com transdutores, através de cabos especiais e blindados para evitar
a indução de ruídos eletromagnéticos. A EK60 é um instrumento modular cujo transceptor
é oferecido individualmente para cada frequência, admitindo até sete deles para operação
simultânea. Essa característica modular permite que os transceptores possam também
operar em modo portátil sem modificações específicas. Apenas o comando e o
processamento são realizados por computador através de software dedicado.
Os ecos detectados são processados como individuais (TS) ou como
retroespalhamento volumétrico (Sv). A possibilidade de associar informação de posi-

188 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ção (georeferenciamento dos dados), para


praticamente cada pulso emitido, permite uma
análise espacial bem mais precisa dos dados.
A ecossonda científica EK60 possibilita a
divisão da coluna de água de modo idêntico a
EK500. Suas configurações são acessadas através
dos menus que podem ser encontrados na parte
superior da tela do monitor; algumas são
estabelecidas previamente e mantidas durante todo
o cruzeiro como, por exemplo, os ajustes da
calibração, os limites das camadas de integração, as
características do pulso, entre outros. A explicação
de todas as funções e utilidades do Menu de
Operação pode ser encontrada no manual de ope-
ração da ecossonda. Inicialmente, podem-se clas-
sificar as ativações nos menus como permanentes,
ou seja, aquelas resultantes da calibração acústica, e
variáveis. Tal qual na EK500, é aconselhável que se
modifique o mínimo possível os parâmetros defi-
nidos no início de uma campanha e, caso seja ne-
cessário fazê-lo, que sejam anotadas no diário de
bordo, para auxílio em caso de dúvidas no período
de pós-processamento.
A EK60 possui uma barra de Menu, na
mesma configuração do Windows, composto
de 7 itens, cada um com submenus que podem
apresentar um terceiro nível. A estrutura do Menu
Principal está representada na Figura 8.18 confor-
me é visto no monitor de trabalho da ecossonda.
Os comandos de operação e ativações estão
baseados em barras de Menu Principal, de Status
e de Atalho (acessado pela tecla esquerda do
mouse). A barra de Menu Principal encontra-se na
parte superior da janela do monitor e é dividido
em Operation, View, Options, Install, Output, Window
e Help, cada um com seus submenus (FIG. 8.18A).
A de Status encontra-se na parte inferior da janela
(FIG. 8.18B) e se refere ao ecograma que está
sendo apresentado na tela. O Menu de Atalho
(FIG. 8.18C) é acessado pelo submenu View ou
Foto: Projeto Amazônia Azul

pela tecla direita do mouse.

HIDROACÚSTICA 189
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A

Figura 8.18 Menu de entrada da EK60: (A) principal; (B) barra de status;
(C) menu de atalho [Fonte: Manual de Operação da Ecossonda EK60 da SIMRAD Inc.].

As imagens da Figura 8.19 apresentam os submenus correspondentes ao menu


principal.

Figura 8.19 Submenus correspondentes a cada operação do menu principal


[Fonte: Manual de Operação da Ecossonda EK60 da SIMRAD Inc.].

190 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

O ecograma (FIG. 8.20) mostrado no visor é o principal recurso para monitorar,


em tempo real, o comportamento do instrumento e para acompanhar o que se passa
na coluna de água. Ecograma no monitor é apresentado de forma totalmente parti-
cular, a partir das ativações que são feitas no seu menu. As modificações que forem
feitas no aspecto do ecograma no monitor não serão transferidas para nenhuma saída
dos dados que serão utilizados nos cômputos de densidade.

Figura 8.20 Aspecto dos ecogramas da EK60, com apresentação em colunas de informações:
Círculo indicador de alvos individuais e histograma de tamanho (esquerda), barra de cores de
valores de Sv, ecograma (centro), sinal do eco na função osciloscópio, coluna de parâmetros de
setagem [Fonte: Manual de Operação da Ecossonda EK60 da SIMRAD Inc.].

Na Figura 8.21 são observadas, em maiores detalhes, as duas colunas laterais do


ecograma. Na esquerda superior, o círculo que indica a localização dos alvos individu-
ais em referência ao centro do transdutor. Na esquerda inferior, é apresentada a esta-

HIDROACÚSTICA 191
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
tística do tamanho em função da ocorrência dos alvos detectados. Na direita são
apresentados alguns parâmetros físicos e ativados do transdutor, dados ambientais,
profundidade e camadas ativas. A tela do monitor pode conter o ecograma com as
duas, uma ou nenhuma das colunas.

Figura 8.21 Colunas laterais do ecograma em detalhe


[Fonte: Manual de Operação da Ecossonda EK60 da SIMRAD Inc.].

Ao ligar a unidade de controle e os transceptores (GPT), para operar a EK 60, se


o usuário estiver cadastrado com senha é preciso fazer o acesso login ao sistema de
controle. Para acionar a sonda, no Menu Principal acessa-se Operation e em seguida
Normal. Na barra de comando surgirá uma seta () que, quando pressionada, dará
início à transmissão. Em caso de não haver transceptor instalado, esse procedimento
deverá ocorrer via Menu Install e Transceiver Installation. Para desativar a sonda, no
Menu File selecionar Exit. As operações básicas são descritas a seguir.
Um ecograma poderá ser escolhido pelo operador, quando instalados mais de
um GPT (cada um estará operacional para uma frequência), bastando pressionar o
comando Echogram com a tecla direita do mouse, e escolher a frequência desejada. Para

192 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

cada frequência, quatro modos de ecograma poderão ser apresentados, a saber: po-
tência retroespalhada, Sv, TS ou potência retroespalhada do alvo individual.
Para troca da escala de profundidade, basta posicionar o cursor sobre o ecograma,
pressionar a tecla direita do mouse e selecionar a função Range. Será aberta uma janela na
qual deverá ser feita a escolha entre Bottom Detection ou Surface Range, conforme a
necessidade do momento. Após eleger a adequada, teclar OK.
A resolução vertical do ecograma aumenta com a redução do tempo de trans-
missão do pulso, o que gera pulsos mais curtos e que definem melhor a coluna de
água. Para a troca de comprimento de pulso, teclar Operation no Menu Principal e
selecionar Normal. Será aberta uma janela de diálogo denominada Normal Operation.
Fazer a escolha do novo comprimento de pulso e teclar OK.
A definição de profundidades mínima e máxima habilita a ecossonda a localizar
o eco verdadeiro do fundo (bottom lock). Para selecionar esses limites, colocar o cursor
sobre o indicador de profundidade, clicar a tecla direita do mouse, selecionar o Bottom
Detector, executar a troca de valores necessária e teclar OK.
Para gravar os dados da prospecção, teclar Output no Menu Principal e selecionar
File. Na janela que se abre, selecionar Directory e Browse, se for preciso mudar o destino
do arquivo a ser criado.
Teclar em Raw Data para definir como os dados brutos serão gravados:
– Save Raw Data: inicia e termina a gravação de dados brutos;
– Range: seleciona a profundidade até onde ocorrerá gravação; independe se a
profundidade no ecograma for maior;
– Echogram Data: definido pelo operador, sendo a extração dos dados amostrais
processados (dados do pixel) correspondente ao valor de retroespalhamento
do alvo. Os ecogramas são armazenados como arquivos, em separado, de
apêndice de tempo; nesse caso, o arquivo corrente será fechado e será gerado
um novo automaticamente, quando for atingida a distância máxima navegada
(Max. Vessel Distance) ou o tamanho máximo do arquivo (Max. File Size).
Como operação final e fechamento da janela de diálogo, teclar OK;
– Iniciar e finalizar gravação: para dar início ou encerrar uma gravação poderá ser
usada a seta vermelha da barra de funções (Toolbar) ou a função Save Raw
Data na janela de diálogo da tecla File Output.
Esse arquivo .raw poderá ser lido e processado por programas e aplicativos
existentes no mercado, dedicados a processamento de dados de ecossondas científicas.
Para reproduzir arquivos individuais, proceder da seguinte forma:
1) no menu principal, teclar Operation e selecionar Replay, que abrirá uma janela
de diálogo;

HIDROACÚSTICA 193
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
2) se houver arquivo na listagem, basta selecioná-lo; caso contrário, teclar Add
para buscar o arquivo desejado; observar que nesse momento poderá ser
transferido apenas um arquivo individual;
3) teclar Loop se desejar reprodução do arquivo indefinidamente;
4) teclar OK;
5) teclar Play (seta preta) na barra função.
Durante a reprodução, a razão de disparo não é limitada pela velocidade do som
na água; então, é possível selecionar uma razão de disparo maior do que a aplicada na
operação normal.
Para a reprodução de arquivos múltiplos, agir da seguinte maneira:
1) no Menu Principal teclar Operation, e selecionar Replay, que abrirá uma janela de
diálogo;
2) se houver arquivos na listagem, basta selecionar o arquivo inicial desejado;
caso contrário, teclar Add para buscar os arquivos desejados; observar que
neste caso poderá ser transferido qualquer número de arquivos;
3) para dar início à reprodução, teclar no primeiro arquivo da sequência;
4) é possível teclar em Loop se for o caso de reproduzir a sequência
indefinidamente;
5) teclar OK para concluir a seleção;
6) para apresentar o ecograma, teclar Play na barra de funções.
A EK60 permite imprimir apenas uma página por vez, ou seja, aquela presente no
monitor. A imagem será de todo o conteúdo da tela, isto é, não somente o ecograma,
mas também as colunas laterais. A função de impressão de múltiplas folhas não está
ativa no software da EK60.
A ecointegração fornece o parâmetro NASC, que representa a área de
retroespalhamento detectada por milha navegada e estrapolada para uma milha quadrada,
ou seja, o retroespalhamento médio por unidade de volume transformado em
retroespalhamento médio por unidade de área. A ecointegração e a ecocontagem são
feitas dentro de cada camada definida pelo observador, que pode escolher avaliações por
distância, por tempo ou por número de disparos ou pulsos. Os resultados podem ser
apresentados na forma de ecogramas ou armazenados em arquivos no computador,
usando as portas de saída, porque esta ecossonda pode operar como cliente ou servidor
em uma rede LAN com IP específico. Como servidor, o programa que a controla
transmitirá dados e receberá instruções ou comandos de um programa específico.
Alguns dos programas de pós-processamento para plataforma Windows são: BI500
(SIMRAD), Movies (IFREMER), Echoview (MYRIAX), os quais permitem aquisição
Foto: Projeto Amazônia Azul

dos ecogramas e todos os parâmetros necessários.

194 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Podem ser montadas rotinas específicas


para aquisição de dados ou parâmetros, de
acordo com as preferências do operador.
Outra informação importante é a de que a
porta serial só é usada para conectar-se a
sensores do tipo: GPS, Hodômetro
Doppler e sensor de movimentos da
embarcação.
Um fator variante – que em muitas
oportunidades confunde o observador
menos atento – é a ativação do limiar dos
registros, uma vez que dois ecorregistros
temporal e espacialmente iguais poderão ter
diferentes densidades, caso seus limiares
sejam diferentes. O limiar ou, em inglês,
threshold, é uma linha de corte na escala (FIG.
8.22) de amplitude dos ecos, fazendo que
sejam apresentados nos ecorregistros
somente os que tiverem sua amplitude acima
do valor do limiar mais baixo. Por exemplo,
se for ativado um limiar de -70dB (FIG.
8.22B), somente serão apresentados nos
ecorregistros os ecos mais fortes do que esse
valor. Isso é um alerta para o fato de que é
importante saber o TS ou Sv do menor alvo
de interesse, para selecionar um limiar. A
forma mais simples de entender essa questão
é, por exemplo, em uma pesquisa cujo
objetivo é a quantificação de peixes, alvos
menores, como os organismos planctônicos,
são considerados ruídos, ou seja, o limiar define
quais valores mais baixos do zooplâncton não
serão processados no cômputo de Sv e NASC.
Por fim, também é relevante a informação de
que o limiar selecionado para os ecorregistros
não afeta outras funções da ecossonda e pode
ser alterado durante o cruzeiro. Além disso,
os programas de processamento também
dispõem de seletor de limiar para eliminar alvos
com valores abaixo do limiar escolhido.

195
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A

Figura 8.22 Ecogramas com limiar de (A) -60; (B) -70; (C) -80 dB. Quanto mais vermelha a
variação na intensidade de registro, mais intenso se apresenta o eco
[Fonte: Manual de Operação da Ecossonda EK60 da SIMRAD Inc.].

196 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

3.2 Sonar de Varredura Lateral (SVL)

Sonar de Varredura Lateral (SVL), em inglês, Side Scan Sonar, é um instrumento


que utiliza o método acústico para investigar o fundo dos oceanos (FIG. 8.23A). Seus
princípios baseiam-se nos mesmos métodos utilizados em hidroacústica. Entretanto,
a diferença está no fato de ser um instrumento de investigação da interface água/
sedimento que inicialmente foi utilizado para localizar obstáculos à navegação de
navios e submarinos. A partir da década de 1960, vem sendo utilizado com o feixe
acústico direcionado para o fundo e lateralmente, fazendo que seja possível construir
uma imagem do fundo.

As frequências do sinal acústico usadas nos SVL variam de poucos kHz até
1.200 mHz. Os primeiros são utilizados em mapeamentos de grande escala, normal-
mente em águas profundas com área de varredura lateral da ordem de dezenas de
km. Os instrumentos de frequência intermediária são os mais comuns no emprego
em Oceanografia Geológica e os de maior frequência são úteis onde há necessidade
de estudar objetos de pequeno tamanho e com alta resolução. O esquema de trabalho
pode ser visto na Figura 8.23B

A B
sistema

peixe

SCROLL
CAPS
Wake NUM -
Power
Sleep Up
Num / *9 +
F12 Pause
Lock
F11 8 PgUp
Scroll Break 7
F10 Print Lock .
F9 Screen Page Home 6
SysRq
Up 5
F8 Back
Space Home 4 Enter
F7 Insert 3
F6 _ + § I
Page
2 PgDn
F5 ) = { End
Down 1
F4 ( - `` ª Delete End
I

0 [
F3 * 9 P { 0
F2 & 8 O ^ º
I

[ Ins
F1
%
¨6
¬
7 I Ç ~
Esc ¢ U L ?
$ 5 Y K : Ctrl
# 4 £
T J / º
@
3 3
R H < ;
!
2 2
E < . TM

1 1 G M , Alt Gr
“ W F
Q D N
’ S B
I I V
A C

ecos
Lock X
Caps Z
|
|

\
TM
Alt
Ctrl

peixe

ura
red
e var
ad
áre

Figura 8.23 Sonar de Varredura Lateral: (A) instrumento; (B) esquema de funcionamento
mostrando o peixe (tow vehicle), o feixe de abertura e a área de varredura obtida
[(B) adaptado de MAZEL, 1985].

A imagem proveniente de um SVL é formada a partir de variações litológicas e/


ou morfológicas do fundo oceânico. Igualmente, durante a trajetória do feixe a partir
da unidade de emissão/recepção do sinal ao longo da coluna de água, há possibilida-

HIDROACÚSTICA 197
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
de de que qualquer objeto, ser detectado, como por exemplo, cardumes de peixes ou
exalações gasosas. Outra utilidade no emprego do SVL é o mapeamento do tipo de
fundo com aplicação direta na biota demersal. Diferentes espécies demersais relacio-
nam-se diretamente com o tipo de fundo o que permite uma avaliação indireta na
prospecção bentônica.
Na pesquisa oceanográfica, a integração do registro do SVL, junto com uma son-
da hidroacústica, permite que objetos sejam visualizados com maior detalhe. Assim, o
SVL pode ser considerado o instrumento de maior aplicação na Oceanografia Geo-
lógica, pois atende às necessidades de avaliação do tipo e da morfologia do fundo ao
mesmo tempo em que faz a integração com a biota existente. Para complementar,
entre outras aplicações, pode ser utilizado para avaliação de objetos na coluna de água
próxima ao fundo, seja na prospecção pesqueira, na arqueologia submarina ou na
prospecção mineral.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DRAGESUND, O.; OLSEN, S. On the possibility of estimating yearclass strength by


measuring echo abundance of O-group fish. Fiskeridir Skr, Havunders, v. 13, n. 8, p.
47-71. 1965.
FOOTE, K.G. Averaging of fish target strength functions. Journal of the Acoustical
Society of America, New York, v. 67, n. 2, p. 504-515, 1980.
JOHANNESSON, K.A.; MITSON, R.B. Fisheries acoustics: a practical manual for
aquatic biomass estimation. FAO Fisheries Technical Paper, Roma, n. 240, 249 p.,
1983.
LAEVASTU, T.; ALVERSON, D.L.; MARASCO, R.J. Exploitable Marine
Ecosystems: their behaviour and management. Fishing News Book, Oxford, UK.
1996.
MACLENNAN, D.N.; SIMMOND, E.J. Fisheries Acoustics. London: Chapman
& Hall, 1992.
MACLENNAN, D.N.; HOLLIDAY, D.V. Fisheries and plankton acoustics: past,
present and future. ICES Journal of Marine Science, London, v. 53, n. 2, p. 513-
516, 1996.
MAZEL, C. Side Scan Sonar: training manual. New York: Klein Associates, 1985.
THORNE, R.E. Hydroacoustics. In: NIELSEN, L.A.; JOHNSON, D.L. (Ed.)
Fisheries Techniques. Bethesda: American Fisheries Society, 1983

198 A NTONIO C. D UVOISIN , L AURO S. P. M ADUREIRA E A NTONIO B. G REIG


Foto: Projeto Amazônia Azul

199
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO
ORGANISMOS PLANCTÔNICOS
9

Danilo Calazans, José H. Muelbert e Erik Muxagata


CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

O plâncton (do Grego Πλανκτοξ = errante) é constituído de organismos que


estão na coluna de água e que não possuem poder de locomoção suficiente para
evitar o transporte passivo pelas massas de água. Por esse motivo, sua distribuição é
controlada por processos físicos, como corrente, maré, vento e turbulência. Os animais
que constituem o plâncton são conhecidos como zooplâncton; as plantas, fitoplâncton;
as bactérias e algas cianobactérias, bacterioplâncton; os vírus aquáticos, virioplâncton.
Em sua maioria, os organismos planctônicos são muito pequenos (de alguns
micrômetros a 5 mm de comprimento), embora alguns possam chegar a mais de
20 cm de comprimento, como as medusas. Alguns organismos com boa capacidade
de locomoção, tais como eufausiáceos, misidáceos, larvas de peixes e de crustáceos,
também pertencem ao plâncton. Embora sem muita locomoção horizontal, algumas
dessas espécies podem deslocar-se verticalmente por centenas de metros, entre o dia
e a noite (comportamento denominado migração nictimeral). É importante
mencionar que, na prática, não existe um limite rígido entre um organismo planctônico
Foto: Danilo Calazans
ou nectônico – vejam-se as lulas, os peixes pequenos e os camarões pelágicos, com
comprimento total maior do que 20 mm, que podem ser definidos como organis-
mos micronectônicos, mas, também, como macroplanctônicos.

1 CLASSIFICAÇÃO DOS ORGANISMOS PLANCTÔNICOS


Classificam-se os organismos planctônicos de várias maneiras como, por exem-
plo, em relação ao seu tamanho ou em função dos aspectos ecológicos, como o seu
habitat, sua distribuição vertical ou seu ciclo de vida.

1.1 Classificação por tamanho

Embora artificial por se basear no tamanho, esta classificação tem um importante


significado para determinar a melhor abertura de malha a ser utilizada no equipamen-
to coletor, para capturar um grupo de organismos.
Dussart (1965) propôs algumas categorias de tamanho para classificar os organis-
mos planctônicos, levando em consideração os organismos que passam ou não atra-
vés de uma rede com malha muito fina, de 20 µm – destaque-se o fato de que o
símbolo “µm” significa micrômetro, correspondente a 1/1.000 de um milímetro. Tais
categorias são: Ultrananoplâncton (<2 µm); Nanoplâncton (2-20 µm); Microplâncton
(20-200 µm); Mesoplâncton (0,2-20 mm) e Megaplâncton (>2.000 µm).
Considerando a coleta com redes de abertura de malha de 200 µm e o aumento
do conhecimento nos estudos dos vírus e das bactérias marinhas, Nibakken (1993)

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 201


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
dividiu os organismos planctônicos em sete categorias a seguir relacionadas:
Fentoplâncton (0,02-0,2 µm); Picoplâncton (0,2-2 µm); Nanoplâncton (2-20 µm);
Microplâncton (20-200 µm); Mesoplâncton (0,2-20 mm); Macroplâncton (2-20 cm) e
Megaplâncton (20 a 200 cm). A Tabela 9.1 lista as categorias propostas por Nybakken
(1993) e seus principais grupos de organismos.

Tabela 9.1 Classificação de categorias de organismos planctônicos por classe de tamanho.

1.2 Classificação por aspectos ecológicos

Os organismos planctônicos também podem ser agrupados segundo aspectos


naturais e ecológicos.
Classificação relacionada ao habitat:
– Haliplâncton: organismos planctônicos marinhos, incluindo os oceânicos,
os neríticos e os estuarinos;
– Limnoplâncton: organismos planctônicos de águas continentais.
Segundo Lalli e Parsons (1993), em função de sua distribuição vertical, os orga-
nismos planctônicos classificam-se como:
– Plêuston: vivem na superfície do oceano, com parte de seu corpo projetada
para fora da superfície; são transportados mais pelo vento do que pelas
correntes. Ex. Velella sp. (Hydrozoa);
– Nêuston: vivem nos primeiros centímetros da camada superficial dos
oceanos;
– Plâncton Epipelágico: organismos que, durante o dia, vivem em, até, 200
ou 300 m da coluna de água;
– Plâncton Mesopelágico: ocorrem em profundidade variável de 200 ou
300 a 1.000 m durante o dia;
– Plâncton Batipelágico: vivem entre 1.000 e 4.000 m;

202 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– Plâncton Abistopelágico: encontram-se entre 4.000 e 6.000 m;


– Plâncton Hadopelágico: ocorrem em profundidades superiores a 6.000 m;
– Plâncton Epibêntico: mantêm-se próximo ou, temporariamente, em contato
com o fundo do mar.
É possível classificar os organismos segundo o tempo de sua existência planctônica,
durante seu ciclo de vida, como:
– Holoplâncton: organismos que vivem, permanentemente, como planctônicos.
Exemplos: copépodos calanóides, eufausiáceos, chaetognatos, pterópodos e
os crustáceos decápodos, do gênero Lucifer;
– Meroplâncton: organismos que vivem, apenas, parte da vida como
planctônicos. Exemplos: larvas de invertebrados bentônicos, como moluscos,
equinodermos, poliqueta, crustáceos decápodos bentônicos, e ovos e larvas
de peixes.

2 ADAPTAÇÕES À VIDA PELÁGICA


Existe uma grande diversidade de formas planctônicas, mas é possível distinguir
algumas características comuns desses organismos, principalmente em relação à pig-
mentação e as suas dimensões.
Ao contrário dos organismos bentônicos e nectônicos, os planctônicos são pouco
pigmentados, em sua maioria até transparentes e com tamanho que dificilmente
ultrapassa poucos milímetros – no caso de organismos zooplanctônicos – e de dezenas
ou poucas centenas de micrômetros – no caso do fitoplâncton.
Os organismos planctônicos (FIG. 9.1) desenvolveram diversas adaptações para
melhor viverem na coluna de água, tais como: elementos de sustentação do corpo
(em geral, exoesqueletos) menos densos; composição química específica; tecidos com
maior quantidade de água e com substâncias gelatinosas; presença de gotas de gordu-
ra; presença de espinhos e cerdas; desenvolvimento de apêndices flutuadores.
Com o auxílio de um aparelho de vídeo, ou simplesmente mergulhando, é possí-
vel observar a difícil tarefa de capturar, adequadamente, organismos com sentido de
natação e que tendem a formar agrupamentos.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 203


D ANILO C ALAZANS (O RG .)

Figura 9.1 Exemplo de organismos planctônicos: (A) espinhos em Asterionellopsis glacialis;


(B) exoesqueleto em Diatomus sp.; (C) substâncias gelatinosas em Palau stingless;
(D) gotas de gordura em Megalopa de Neograpsus altimanus; (E) espinhos
em Sergestes sp.; (F) apêndices flutuadores em Veliger de Gastropoda
[Fotos: (A) Jan Rines; (B) Lab. Zooplâncton FURG; (C) Graeme;
(D) Danilo Calazans; (E) e (F) imagequest 3D].

3 AMOSTRAGEM DO PLÂNCTON
Amostras planctônicas (FIG. 9.2), através de um equipamento coletor, principal-
mente rede, são feitas desde 1828, quando Thompson utilizou uma rede para coletar
larvas de crustáceos e de cracas.

204 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 9.2 Trajeto de uma rede planctônica horizontal, em profundidade.

O grande número de amostradores desenvolvidos para estudos de organismos


planctônicos deve-se a vários fatores, porém nenhum equipamento pode ser conside-
rado ideal para a coleta da diversidade de organismos planctônicos, presentes em
uma massa de água. Considere-se, por exemplo, o fato de que poucos litros de água
coletados podem ser suficientes para se obter uma amostra representativa de
fitoplâncton e que muitos metros cúbicos de água filtrada ainda não seriam suficientes
para um bom resultado, em se tratando de organismos megaplanctônicos, da mesma
área estudada. Atualmente, para coletar organismos planctônicos, utilizam-se garrafas,
bombas de sucção, redes, armadilhas e instrumentos ópticos para observação in loco.
O conteúdo informativo de uma amostra é medido pela exatidão ou pela preci-
são, ambas definidas de acordo com a observação da composição ou abundância
das espécies existentes no meio natural. A exatidão reflete as características verdadei-
ras da população e da comunidade, pelo aumento da quantidade de informações
alcançadas por procedimentos amostrais bem elaborados. Por outro lado, a precisão
é definida como uma medida de dispersão ao redor de uma abundância ou compo-
sição média. Portanto, não implica uma descrição verdadeira das características da
população e da comunidade estudadas através das amostras e das análises realizadas.
Por esse motivo, os conceitos são distintos e não devem ser confundidos.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 205


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Nas primeiras tentativas de interpretação de estudos quantitativos, a análise dos
dados fundamentou-se nas leis básicas da estatística, segundo Omori e Ikeda (1984),
ou seja: a coleta não deve ser seletiva; a coleta deve ser feita ao acaso; as coletas devem
ser consideradas independentes entre si.
Tais assertivas são praticamente impossíveis de serem controladas em estudos com
organismos planctônicos, pelos vários fatores externos que influenciam a coleta. Entre
as principais razões, uma é que nenhum dos coletores serve para todos os organismos
planctônicos, sendo, então, necessário selecionar um amostrador. Outro importante
motivo é que as coletas de organismos planctônicos são feitas em um ambiente dinâ-
mico, como é, por exemplo, uma região marinha costeira ou um estuário, além de
ocorrerem através de um meio móvel, como uma embarcação. A combinação desses
fatores viola as três regras básicas mencionadas acima e dificulta a análise dos dados.
Para evitar qualquer tipo de interferência, seria necessário realizar todas as coletas
previstas simultaneamente, o que é impossível. Logo, é óbvio que nos estudos com
organismos planctônicos existem erros sistemáticos, independentes da estratégia de
amostragem utilizada. Estes são menos sentidos quando uma grande área ou, então,
vários anos são estudados, para que os acontecimentos ecológicos dominantes sejam
reconhecidos facilmente. Por outro lado, os erros costumam ocorrer com mais fre-
quência em áreas menores ou em um menor período de tempo, porque os aconteci-
mentos ecológicos são variáveis e, por isso, mascaram os resultados.
A estimativa precisa da abundância de organismos planctônicos em uma região
demanda não apenas muito tempo, mas, também, pessoas envolvidas no processo de
coleta e observação das amostras. Mesmo assim, apesar dos recursos necessários, é
difícil saber se as decisões tomadas sobre os procedimentos de coletas e de análises
permitem o conhecimento preciso sobre uma população e comunidade planctônica.
Logo, é importante fazer um programa de amostragem para maximizar o tempo e
os recursos gastos para completar as coletas e minimizar os problemas causados
pelos equipamentos e pelas análises das amostras.

3.1 Desenho amostral

O desenho amostral é tão importante quanto a análise e as técnicas usadas no


laboratório. Portanto, é necessário ser planejado com muita atenção, observando-se as
etapas listadas a seguir: propósito do estudo; tipo de organismo e suas características
biológicas; características físicas do local de estudo, como velocidade de corrente e
relevo de fundo; tipo de embarcação; coletor apropriado; forma de coleta; frequên-
cia de amostra e número de amostra. Além disso, é preciso considerar que o volume
de água amostrado representa o todo da área pesquisada. Ao fazê-lo, várias amostras
de um volume limitado serão necessárias para estimar a abundância e a composição
de uma espécie em particular; ou, ainda, um grupo de espécies de toda uma área pode
ser considerado.

206 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Amostra qualitativa é realizada para estudar o número de espécies de uma região,


suas distribuições e flutuações sazonais. Em função disso, torna-se importante selecionar
áreas em que amostras possam ser realizadas durante todo o ano, sempre utilizando a
mesma metodologia, onde os fatores ambientais de cada área já sejam conhecidos. Ao
coletar o maior número possível de espécies de certa região, talvez se faça necessário o uso
de uma grande variedade de aparatos de coleta, em especial para amostrar organismos
que tendem a uma distribuição agrupada ou que ocorram muito raramente, quando,
possivelmente, se aumentará o volume de água filtrada por coleta.
A amostra quantitativa é o número ou a abundância de organismos que vivem
em um determinado lugar, em certo intervalo de tempo. Inúmeras variações de abun-
dância ocorrem em um amplo espectro de escalas espaciais e temporais no plâncton.
Algumas variações podem ser devidas a processos biológicos, como o crescimento, a
reprodução, a morte ou a migração nas populações, outras podem estar relacionadas
a processos físicos de mistura ou transporte. A estimativa da abundância pode variar,
também, devido a problemas amostrais, como o escape ou a distribuição agrupada
(heterogeneidade espacial em densidade e composição) da comunidade planctônica.
A influência dos ritmos diários e de maré nessa variação pode significar um proble-
ma, quando a interpretação dos dados de plâncton for proveniente de amostras feitas
em intervalos regulares de um dia ou mais – o que pode gerar um vício. Por exemplo,
quando efeitos de maré ou lunares são importantes, amostras regulares mensais po-
dem perder eventos biológicos importantes, causados pelos ritmos de maré/lunar.

4 EQUIPAMENTOS DE AMOSTRAGEM
O sucesso de amostragem é dependente da estratégia, da seleção do equipamento
coletor, da abertura de malha utilizada e do tempo de coleta. O equipamento deve ser
utilizado levando-se em consideração os objetivos da investigação.
A captura de organismos planctônicos em ambientes aquáticos envolve, em geral,
cinco procedimentos: coleta por meio de garrafas; sucção através de bombas; filtragem
por redes; observação através de sistemas ópticos e armadilhas.

4.1 Garrafas

Amostradores utilizados, principalmente, para coletar organismos muito peque-


nos ou com pouca mobilidade, são mais frequentes em estudos do Fento, Pico, Nano
e Microplâncton. É importante que a garrafa seja feita de material não tóxico, como
cloreto de polivinila (PVC), polietileno de alta densidade (PEAD), polimetilmetacrilato
(PMMA) ou acrílico, politetrafluoretileno (PTFE) ou teflon, para não contaminar a
amostra. A capacidade do volume coletado depende da dimensão da garrafa, poden-
do variar de 1 até 30 litros. As garrafas com capacidade de 5 ou 10 L são as mais
comuns e são classificadas em abertas e fechadas.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 207


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Garrafas dos tipos Niskin (FIG. 9.3A), van Dorn (FIG. 9.3B) ou Kammerer
(FIG. 9.3C) são as mais utilizadas para coleta, tanto em superfície como em profundi-
dade, quando é descida, aberta até a profundidade desejada, e, depois, fechada através
de um mensageiro. Em geral, essas garrafas são compostas por um cilindro com
ambas as extremidades abertas, normalmente feitas de PVC, possuindo uma capaci-
dade que varia de 1,7 a 20 litros. As tampas dos seus extremos são ligadas por mangueira
(em maioria de látex) bem esticada, que passa pelo cilindro. Para coletar a mostra,
essas tampas são presas, do lado de fora do cilindro, por fios de náilon enganchados
num liberador, permitindo a livre passagem da água pelo cilindro. Através de um
mensageiro, lançado contra o liberador, as tampas fecham as extremidades, coletando
uma porção de água da profundidade desejada, de acordo com sua capacidade. O
plâncton coletado, por ser muito pequeno, é concentrado por sedimentação,
centrifugação ou filtragem da amostra.
mensageiro

A B C liberador

cabo tampa
mensageiro
mensageiro
tampa de tampa liberador
fechamento
liberador suspiro
suspiro

coletor
alça
pino de
segurança coletor

bico de
bico de
drenagem
bico drenagem
coletor

Figura 9.3 Garrafas de coleta de água: (A) Niskin; (B) van Dorn; (C) Kammerer
[(A) adaptado do Catálogo Hydro-Bios].

A garrafa do tipo Go-Flow apresenta uma operação do tipo fechada-aberta-


fechada: ela desce fechada por, aproximadamente, 10 m, quando é aberta por um
mecanismo ativado por pressão hidroastática para a coleta da água. Um mensageiro
é lançado para fechar a garrafa na profundidade escolhida. Evita-se, dessa forma, a
contaminação da água com o filme superficial.
É possível dispor várias garrafas abertas em série, conseguindo-se, desta forma,
amostrar várias profundidades simultaneamente: quando o 1º mensageiro é libertado

208 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

à superfície fecha-se a 1ª garrafa, acionando um mecanismo que liberta o 2º mensageiro,


que fechará a 2ª garrafa e, assim, sucessivamente.
O uso de garrafas tem as seguintes vantagens: normalmente pequena, é de fácil
manuseio; o volume de água é conhecido; executa coleta não seletiva, capturando
todos os organismos planctônicos existentes no volume de água amostrado; coleta
amostras isoladas, não integrando toda ou uma porção da coluna de água; não danifica
os organismos coletados; inexiste problema de colmatação; possibilita coleta simultânea
de amostras para análise de parâmetros físico-químicos; oportuniza operar vários
coletores simultaneamente.
As desvantagens das garrafas são: baixo conteúdo amostral; escape de organismos
maiores; organismos em densidades muito pequenas não são recolhidos suficientemente
pelas garrafas de 5-10 L, para estudos de abundância total e garrafas de maior volume
são pesadas e de difícil manuseio, sobretudo em embarcações pequenas.
Material necessário:
– planilha de coleta;
– garrafa;
– mensageiro;
– lastro de 15 kg;
– balde de 20 litros;
– frasco coletor;
– reagentes.
O protocolo de amostragem para uma garrafa tipo van Dorn (veja FIG. 9.4)
corresponde a:
1) parar a embarcação;
2) escolher uma profundidade;
3) preencher a planilha de registro (ANEXO 5), com dados da estação;
4) verificar se o suspiro da garrafa está fechado;
5) armar a garrafa (não segurar a garrafa posicionando os dedos entre sua abertura
e as válvulas de fechamento);
6) prender a garrafa (com firmeza) no cabo do guincho, a uma distância de
1,5 m a 2 m do lastro;
7) baixar a garrafa, até a profundidade desejada;
8) lançar o mensageiro;
9) verificar o fechamento da garrafa, tocando o cabo;
10) içar a garrafa até a superfície;

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 209


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
11) trazer a garrafa para o convés da embarcação;
12) abrir o suspiro da garrafa;
13) despejar a água em um balde ou frasco coletor;
14) fechar novamente o suspiro;
15) armar novamente a garrafa;
16) baixar a garrafa até a próxima profundidade desejada.

A B

mensageiro

tampa liberador

suspiro

coletor

bico de
drenagem

Figura 9.4 Garrafa tipo van Dorn horizontal: (A) aberta; (B) fechada.

Quando a coleta estiver sendo feita, deve-se evitar, ao máximo, qualquer tipo de
distúrbio na água, prevenindo reações de fuga dos organismos planctônicos.
Se o cabo que prende a garrafa não permanecer na vertical, devido ao desloca-
mento da embarcação, será necessário recorrer à determinação indireta da profun-
didade, para ajuste da correta profundidade (A NEXO 6). A coleta com garrafa
(FIG. 9.4, 5.4A e 5.4B) é mais utilizada em zonas rasas, particularmente em estuários e
lagoas calmas. Entretanto, o uso de garrafas montadas em rosetas (FIG. 5.4C) é comum
em regiões oceânicas.
Após a coleta, no caso de uma garrafa com capacidade de 5 L, as amostras quan-
titativas devem ser acondicionadas em um frasco de 500 mL, com tampa de rosca,
fixada em formalina 2%, neutralizada. Para o caso de análise de clorofila á, as amos-

210 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

tras devem ser filtradas imediatamente, utilizando-se um equipamento de sucção com


protocolo similar ao descrito no Capítulo 7. Um volume de 50 a 500 mL, dependen-
do da qualidade da água, deverá passar por um filtro tipo GF/F da Whattman. Após
a filtragem, os filtros deverão ser envoltos, cuidadosamente, em papel alumínio, iden-
tificados, com os dados da coleta descritos na planilha de registro (ANEXO 5) e, final-
mente, colocados num freezer até o momento do desembarque.

4.2 Bombas de sucção

A captura de organismos planctônicos por bombeamento é conhecida desde 1887,


quando Hensen utilizou uma bomba manual movida a vapor, com capacidade de
30 L.min-1, para suas coletas (ARON, 1958).
Em uma retrospectiva sobre os sistemas de bombas coletoras de organismos
planctônicos, Powlik et al. (1991) relatam que o sistema de bombeamento na coleta é
limitado pela potência do equipamento e pelas forças físicas e biológicas, que podem
reduzir a performance do equipamento a níveis críticos. Neste caso, a eficiência da
captura é o resultado entre a capacidade e as restrições de coleta.
Solemdal e Ellertsen (1984) listaram considerações para amostrar larvas de peixes
capturadas pelo sistema de bomba, o que pode ser generalizado para todos os orga-
nismos planctônicos. As considerações são as seguintes:
– o tamanho da bomba/filtro precisa corresponder ao tamanho dos organis-
mos que estão sendo amostrados;
– a taxa de fluxo deve fornecer uma amostra de volume adequado num período
de tempo adequado;
– os organismos coletados devem estar em boas condições;
– é necessário impedir o escape de organismos das proximidades da boca da
mangueira;
– facilidade na operacionalização, independente das condições do tempo ou da
superfície do mar.
No sistema de bomba externa, situada no convés da embarcação, um obstáculo a
ser superado é o início do bombeamento, uma vez que a bomba está acima do nível
da superfície, enquanto a ponta da mangueira está abaixo deste nível. A dificuldade é
causada pela resistência, devido à fricção da mangueira, e pela altura que a água atinge
em seu percurso, até passar pela bomba e ser descarregada. Uma das alternativas de
solução é encher a mangueira com água e baixá-la o mais rápido possível; outra é
utilizar uma pequena bomba a vácuo, à prova de água, submersa e próxima do termi-
nal da mangueira.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 211


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A potência requerida para operar a bomba é dependente do diâmetro da man-
gueira, da capacidade de vazão e da profundidade de amostragem. As bombas são
utilizadas para coleta de nano, micro e mesoplâncton e suas vantagens são:
– conhecimento exato da profundidade de coleta, quando a embarcação está
parada;
– coleta simultânea de amostra de plâncton e dados ambientais;
– volume de água conhecido;
– separação dos organismos por tamanho, com a utilização de telas de tama-
nho variável;
– controle direto do aparelho (as falhas são detectadas rapidamente).
Desvantagens das bombas:
– médio volume de água filtrada;
– causam danos em algumas espécies;
– dificuldade de coleta em maiores profundidades;
– difíceis de manobrar com barco em andamento;
– permitem o escape de organismos maiores;
– sistema complexo.
Independente da categoria, o sistema é composto, basicamente, por uma bomba
de sucção, de mangueiras flexíveis com entrada e de saída de água e de um recipiente
com tela para filtrar a água. Miller e Judkins (1981) dividiram os sistemas de bombas
em duas categorias: externa, situada no convés da embarcação (FIG. 9.5A) e submersa,
próxima do terminal da mangueira (FIG. 9.5B).
A bomba externa é mais utilizada para amostragem em locais de baixa profundi-
dade ou, então, para amostrar até uma profundidade não maior do que 10 m da
superfície. Nesse sistema, a bomba própria para a sucção é geralmente do tipo centrí-
fuga, operada por um motor elétrico ou à gasolina. Quanto maior a potência do
motor, maior será o seu poder de sucção, podendo operar em grande profundidade.
A mangueira de sucção deve ter, no mínimo, 5 cm de diâmetro e um comprimento
não inferior à máxima profundidade que se queira amostrar. Além disso, deve estar
presa por um cabo de aço, de 3 ou 4 mm, a um guincho manual, com um lastro de
10 a 15 kg na sua extremidade. Um medidor de vazão de água pode ser colocado na
mangueira de saída de água, para cálculo do volume de cada amostra.
O sistema de bomba submersa requer uma bomba à prova de água e não tem
limitação de profundidade de coleta. As mangueiras desse sistema, preferencialmente,
devem ser secionáveis para tornar seu uso mais fácil.

212 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

medidor
medidor de fluxo
A de fluxo
B mangueira
bomba
de sucção mangueira

filtrador

filtrador

sugador
sugador bomba
de sucção

lastro

Figura 9.5 Esquema de utilização de uma bomba de sucção: (A) externa; (B) submersa
[adaptado de OMORI e IKEDA, 1984].

A bomba com coletor múltiplo, desenvolvida por Yamazi (1960) é um sistema


de bomba submergível, montada em um aro circular, em forma de bacia. O fluxo de
água é direcionado a um disco achatado, no qual estão presos de 16 a 24 pequenos
coletores. Um mecanismo dentado roda o disco, permitindo a mudança das redes
para o caminho do fluxo. Esse sistema tem sensor de temperatura e de luz. Beers et al.
(1967) desenvolveram um sistema mais simples, em que a saída de água passa por um
complexo de peneiras, similares ao utilizado por geólogos para separar o sedimento
por tamanho granulométrico. No caso, o número de bacias pode ser variável, mas,
sempre, a que fica em cima deverá ter a malha maior que a de baixo, para que possa
separar os organismos por tamanho, na hora da coleta.
Material necessário:
– bomba centrífuga de, no mínimo, 1 HP elétrica trifásica ou à gasolina;
– dois pedaços de mangueira com 5 cm de diâmetro;
– recipiente com malha filtrante.
Material de apoio:
– medidor de volume de água;
– guincho manual com cabo de 3 ou 4 mm;
– polia hodométrica para cabo de 4 mm;
– lastro.
Protocolo de amostragem:
1) parar a embarcação;
2) preencher planilha;

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 213


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
3) selecionar profundidade de coleta;
4) encher de água a mangueira de entrada;
5) posicionar boca de entrada na água;
6) ligar a bomba;
7) esperar algum tempo (30 segundos), para que a água passe pela mangueira de
saída;
8) posicionar a boca da mangueira na profundidade desejada;
9) colocar a mangueira de saída antes do aparato com tela filtrante e de acordo
com a estratégia.
Sem medidor de volume:
– marcar o tempo de filtração;
– desligar a bomba ao término do tempo de coleta estabelecido.
Com medidor de volume:
– verificar o número inicial do marcador;
– desligar a bomba quando o volume estabelecido for alcançado.
O passo final do processo de amostragem com sistema de bomba é a saída da
água, passando por um sistema de filtragem. A água que sai pelo final da mangueira
deve ser filtrada por uma malha menor ao tamanho do organismo objeto do estudo
ou, então, pode passar por uma série de redes com malhas diferenciadas, o que pos-
sibilita a separação dos organismos por tamanho no momento da filtragem.

4.3 Redes coletoras

Müller (1844) utilizou uma pequena rede cônica, com um corpo de malha muito
fina fixada num aro, para coleta de organismos aquáticos muito pequenos. Desta
forma, foi inventada uma rede cônica para coletar organismos planctônicos, desco-
berta que proporcionou o estudo de um novo e, até então, pouco explorado grupo
de organismos. Embora essa rede de forma cônica, simples, tenha sido adotada como
um padrão de amostragem até hoje, vários outros tipos de redes, de usos mais espe-
cíficos, foram desenvolvidos, sempre baseados no princípio de filtração da coluna de
água, com três características básicas (FIG. 9.6):
– abertura ou boca: em geral rígida na porção anterior, por onde entra a água
durante o trajeto feito, delimitada por um aro que dá forma à rede, com os
seguintes tipos de estrutura: circular; quadrada ou retangular e pentagonal;
– corpo: elemento principal da rede, composto de uma malha filtrante (em
geral fina), que pode variar em comprimento, conforme a espessura da malha
utilizada;

214 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– coletor: local onde fica depositada a amostra coletada; encontra-se no extre-


mo posterior, fixo em um encaixe preso à rede por uma abraçadeira.

corpo abertura
(boca)
coletor

Figura 9.6 Esquema de uma rede coletora cilindrocônica.

O tamanho de abertura de malha do corpo de uma rede é a principal decisão a ser


tomada durante o desenho amostral, uma vez que irá determinar os organismos que
serão coletados. A abertura de malha, no caso, varia de 20 µm a 500 µm.
As redes são os coletores mais utilizados para micro, meso e macroplâncton, po-
dendo variar em forma e tamanho, e serem específicas para um determinado fim.
Porém, lembrando, para a escolha correta do aparato de coleta é preciso considerar
vários fatores, tais como: propósito do estudo, características biológicas e ecológicas
dos organismos, geografia da área de estudo, tipo de embarcação, entre outros.
Comumente, as redes são mais utilizadas para coletas em que se necessite de uma
grande quantidade de água filtrada e, como resultado, uma amostra representativa
dos organismos em um determinado volume. Por isso, servem tanto para amostras
qualitativas como para as quantitativas.
Certos problemas estão associados ao uso das redes como coletores, tais como:
organismos maiores que fogem das redes, perda ou fuga de organismos menores
através da malha e o entupimento da malha, causando variação na eficiência de filtra-
ção durante o arrasto. Tal situação varia conforme os diferentes tipos de redes, os
tipos de organismos presentes na região e, também, com a velocidade com que se
arrasta a rede. No caso de uma amostra quantitativa, filtrar um grande volume de
água pode diminuir o efeito da raridade ou do agrupamento de organismos, o que,
em pequeno volume, seria quase impossível acontecer. Em outras palavras, pela
amostragem com rede é possível medir a densidade média (geralmente subestimada
por causa do escape) de organismos presentes numa área significativa, impossibilitan-
do o conhecimento da abundância ou distribuição em áreas muito pequenas.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 215


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Vantagens da rede:
– filtração rápida de grande volume de água;
– probabilidade de captura de espécies raras;
– dependendo da malha utilizada, ela poderá ser seletiva, capturando, apenas,
os organismos-alvo do estudo;
– modelos diversificados;
– fácil manuseio;
– baixo custo.
Desvantagens da rede:
– colmatação, o que altera a sua eficiência;
– volume de água estimado;
– contaminação, por misturar organismos estranhos à camada de água prefe-
rencial quando a rede é içada;
– extrusão, ou seja, a fuga de organismos menores pela abertura de malha
escolhida, devido à velocidade de coleta;
– evitamento, fuga de organismos maiores ou a baixa velocidade de arrasto;
– dificuldade de amostrar estratos específicos;
– não detecta a distribuição agrupada dos organismos em pequena escala.
Sabe-se que não existe rede ou coletor ideal para todos os organismos
planctônicos. Por esse motivo, é muito importante considerar alguns elementos, como:
variação de tamanho do organismo ou organismos-alvo; concentração dos organis-
mos da área em estudo; tempo dos arrastos; porosidade da malha. Portanto, a malha
de rede deve ser muito bem escolhida e, por isso, merece destaque.
No passado, as malhas multifilamento de seda foram muito usadas em redes.
Entretanto, por serem caras e se deteriorarem facilmente em contato com a água
salgada, foram substituídas pelas malhas monofilamento de poliéster ou, preferencial-
mente, de poliamida (náilon) (FIG. 9.7), que são mais resistentes ao arrasto. A resistên-
cia e a porosidade da malha estão relacionadas com o diâmetro do fio e a abertura do
poro, e as melhores malhas para coletar organismos planctônicos devem ser incolo-
res, duráveis, com fios finos, alta porosidade e que não deformem ao sofrerem a
pressão do arrasto. As malhas foram padronizadas em 1989, pelo ISO 9.354 ou
Deutsches Institut für Normung (DIN) 16.611. Para compreender as especificações da
malha, é necessário definir os seguintes termos:
– abertura de malha (w): distância entre os fios contíguos da trama;
– número de fios (n): quantidade de fios por cm;
– diâmetro do fio (d): espessura do fio antes de ser tecido;

216 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– superfície livre: quantidade, em percentagem, de todas as aberturas de malhas


em relação à superfície total do tecido. O cálculo é feito a partir dos valores
médios correspondentes às aberturas de malha e às larguras efetivas do fio.

α = w ² x 100/(w +d ²) d(µm) = (10.000/n) – w

A B C

D E

Figura 9.7 Malhas de poliamida (náilon), de acordo com a abertura de malha (w), em
micrômetros, com aumento de 50X: (A) 20; (B) 140; (C) 200; (D) 300; (E) 500
[Fotos: Danilo Calazans].

As características principais das malhas de poliamida (náilon) monofilamento dis-


poníveis para serem utilizadas estão especificadas na Tabela 9.2. Como exemplo, é
possível citar três fornecedores, no Brasil, que vendem telas para fabricação das redes:
Tegape, Sefar Latino America Ltda e Cemyc.

Tabela 9.2 Características das malhas monofilamento de poliamida (PA) (náilon) mais usadas
nas redes para coleta de organismos planctônicos.

Abertura de malha Número de fios Diâmetro do fio Superfície livre


( µm ) (± n/in ) ( µm ) (%) Código do tecido do fornecedor
1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3
22 25 21 420 450 508 39 30 30 13 19 17 165 HD 30 W TW 21 TW
38 40 40 330 350 330 39 35 38 25 27 26 130 HD 130-35 W PW 40 TW
90 88 90 156 150 158 70 70 70 32 29 30 61 HD 61-70 W PW 90 PW
140 141 140 115 110 110 83 90 90 40 36 36 45 HD 43-90 W PW 140 PW
200 210 215 76 100 74 145 120 140 34 40 46 30 HD 30-120 W PW 215 PW
300 330 300 54 50 58 200 220 140 36 35 46 21 HD 18-220 W PW 300 PW
500 521 500 30 50 30 300 220 300 39 39 38 12 HD 12-300 W PW 500 PW

Fornecedores: (1) Tegape; (2) Sefar Latino America Ltda.; (3) Cemyc. (HD) Alta Densidade;
(W) Transparente; (PW) Armação Tela; (TW) Armação Sarja.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 217


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Uma rede com abertura de malha muito fina (FIG. 9.7A), em geral, entope (colmata),
prejudicando a sua capacidade de filtração, porém, uma malha com grande abertura
(FIG. 9.7E) permite a passagem de muitos organismos. Por esse motivo, é aconselhá-
vel não utilizar redes com abertura de malha inferior a 140 µm em mar aberto
(FIG. 9.7B) e de 200 µm (FIG. 9.7C) em ambientes costeiros. As redes também podem
perder organismos por extrusão, isto é, organismos menores ou pouco maiores do
que a abertura da malha que, ao serem pressionados, passam pela abertura da malha
e não são capturados. Organismos de 320 µm de comprimento serão coletados por
uma rede de 200 µm (FIG. 9.7C), mas podem não ser por uma rede de 300 µm
(FIG. 9.7D). Na prática, é recomendável utilizar uma rede com abertura de malha 75%
menor do que o tamanho do organismo-alvo. Redes pequenas, de 20 µm (FIG. 9.7A)
e 40 µm, são usadas para coletas superficiais qualitativas de fitoplâncton, feitas no
convés, com o barco parado.
O comprimento da rede é uma característica importante para capturar, por exem-
plo, organismos que tenham entre 250 e 350 µm de tamanho. Em uma área
medianamente rica em material em suspensão, o comprimento de uma rede
cilindrocônica, com aro de 60 cm (diâmetro de boca), pode ser calculado pelo proce-
dimento descrito a seguir.
A primeira etapa consiste na escolha da abertura da malha que, neste caso, deve ser
de 200 µm (FIG. 9.7C), equivalente ao menor tamanho apresentado pelo organismo.
Geralmente, a porosidade da malha (β) é dada pelo fabricante. Suponha-se que seja
0,40 (40%): a boca da rede é 60 cm (r1 = 0,30 m), o diâmetro do recipiente coletor é
12 cm (r2 = 0,06 m) e a relação de área livre filtrante (R) é 8 (R = 8). Conhecidos os
dados, é possível calcular a superfície total da rede e o comprimento (altura) da parte
cilíndrica anterior e cônica, posterior. A cilíndrica deve ter, por exemplo, 3/8 da su-
perfície filtrante total (a) e a cônica os 5/8 restantes. De acordo com a relação exposta:

R = β x a/A
em que:
a = R x A/β, onde A = π x r12; logo:
a = R x π x r12/β que, nesse caso, é
a = 8 x 3,1416 x 0,302/0,40 = 5,65 m2,

que é a superfície total do corpo da rede.


Três oitavos dessa superfície é a parte cilíndrica anterior, ou seja, a1 = 2,12 m2 e seu
comprimento (altura) (h1) será:

a1 = 2π x r1 x h1, então h1= a1/2π x r1;


h1 = 2,12 / 2 x 3,1416 x 0,30 = 1,00 m.

218 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Cinco oitavos da superfície total é a parte cônica posterior, ou seja, a2 = 3,53 m2.
a2 = π (r1 + r2) x [ h2 + (r1 - r2) ] ;
2 2 1/2

e seu comprimento (h2) será:


2 2 2 1/2
h2 = [ a2 / π (r1 + r2) - (r1 - r2) ] ;
então:

h2 = [ 3,53 / 3,1416 x (0,30 + 0,06) – (0,30 – 0,06) ] ;


2 2 2 1/2

h2 = 2,04 m.
Portanto, para satisfazer os requisitos, a porção cilíndrica da rede deve ter 1 m e a
cônica 2,04 m de comprimento. Redes de comprimento muito grande podem ser
incômodas para operar a bordo. A realização de um lance mais breve, ou o uso de
tela de maior porosidade, ou o menor diâmetro da boca, permite reduzir a relação de
superfície filtrante (R) e, em consequência, o comprimento da rede.
É possível comprar redes prontas no Brasil (ver, como exemplo de fornecedores,
os sítios de Milan Equipamentos Científicos, Lunus Comércio e Representação e
Okeanus Ltda. Representações de Equipamentros Oceanográficos). Basta saber qual
é a melhor para contemplar o objetivo do estudo. Geralmente, as redes prontas são
importadas e de custo elevado; porém as convencionais, como as cônicas e as
cilindrocônicas, são de fácil confecção.
Uma rede de fechamento com malha de 200 µm, diâmetro da boca de 60 cm e
comprimento da parte cilíndrica de 100 cm, e a cônica de 204 cm, com coletor de
12 cm de diâmetro, pode ser elaborada da seguinte forma:
O aro é a boca da rede feita de aço inoxidável ou de ferro galvanizado (que deve
ser pintado com zarcão) de 3/8” de espessura. Para o diâmetro de 60 cm, é necessária
uma vara de 188 cm (para os outros diâmetros-padrão de 30 cm, 50 cm e 100 cm,
são necessários 94 cm, 157 cm e 314 cm de vara, respectivamente). O aro deve ter três
anéis distribuídos de forma equidistante, de onde saem três cabos de 6 mm, que serão
unidos ao cabo de reboque por manilha reta e destorcedor.
Material de consumo:
– 188 cm de vara maciça 3/8” de aço inoxidável ou de ferro galvanizado;
– 3 elos de corrente de 3/8” do mesmo material;
– 3 manilhas 3/8”.
Procedimento de construção em serralheria:
1) encurvar a vara até formar um aro de exatos 60 cm de diâmetro interno;
2) soldar;
3) cortar ao meio os três elos de corrente;

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 219


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
4) soldar os elos ao aro, de forma equidistante, ou seja, a cada 63 cm do círculo.
Na confecção do corpo da rede a malha filtrante é o elemento de maior impor-
tância. Em geral, é feita de náilon monofilamento importada, fácil de ser encontrada
em fornecedores já citados.
Material de consumo:
– 600 cm de tela de náilon de 200 µm;
– 200 cm de lona encerada Locomotiva, de 180 cm de largura;
– linha de costura de náilon Setanil 40 (para lona) e 60 (para malha);
– 600 cm de fita de náilon gorgorão, de 25 mm de espessura;
– 20 ilhoses de latão n°0;
– 6 argolas de latão de 23 mm;
– 3 manilhas 3/8”.
Procedimento de construção feito em correaria
Traçar um molde do corpo da rede com a porção inicial (cilíndrica) de 63 cm de
largura e 100 cm de comprimento, e uma porção cônica com comprimento de
204 cm, finalizando com 13 cm de largura:
1) deixar mais 2 cm, além das medidas do molde da rede em todo o contorno,
para a costura que deve ser feita;
2) cortar 3 partes da tela de náilon, conforme o molde;
3) emendar as partes, com a linha de costura em ziguezague;
4) não costurar as duas últimas partes, que devem ficar abertas;
5) cortar 192 (188+4) x 22 (10+10+1+1) cm da lona, para a boca da rede;
6) cortar 192 (188+4) x 12 (10+2) cm da lona, para a tira de fechamento;
7) cortar 15 (11+4) x 22 (10+10+1+1) cm da lona, para porção final da rede;
8) prender as argolas na tira de fechamento, usando um pedaço de lona como
suporte;
9) costurar a tira de fechamento (de 10 cm de largura) nas 3 partes da rede;
10) deixar cerca de 4 cm livres no final de uma das partes da rede, para arrematar
a costura quando a rede for totalmente fechada;
11) fechar totalmente a rede, unindo as partes;
12) na porção menor, a do coletor, colocar a lona dobrada e costurar;
13) na porção maior, correspondente à boca da rede, colocar a lona por cima,
aproximadamente a 8 cm da borda da rede, e costurar;
14) passar a lona para o lado de dentro da boca da rede;
15) costurar, novamente, as duas dobras da lona (a de fora e a de dentro);

220 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

16) colocar os ilhoses distantes de 8 a 10 cm um do outro e, mais ou menos, a


1 cm da borda da lona da rede.
O coletor é constituído de um copo e de um encaixe que prende o copo na rede.
O mais comumente usado é feito de material rígido, em geral PVC de 70 ou 110 mm
de diâmetro. A capacidade do copo deve ser de 300 a 500 mL, por isso possui duas
janelas laterais, com malha filtrante, para liberar o excesso de água. O coletor tipo
bolsa de malha tem a vantagem de permitir a passagem da água por toda a sua
superfície, mas é incômodo no manuseio, podendo danificar os organismos coletados.
Na coleta de fitoplâncton não necessita de um copo propriamente dito, mas de um
coletor com torneira na extremidade, para facilitar a transferência da amostra para o
recipiente de armazenagem. Um problema apresentado por esse tipo de coletor é
que, frequentemente, entope, em especial quando na área de coleta são encontrados
organismos gelatinosos.
Material de consumo:
– 260 mm de cano hidráulico, com 110 mm de diâmetro externo;
– um cap hidráulico, com 110 mm de diâmetro interno, para o fundo do copo;
– uma luva hidráulica, com 110 mm de diâmetro interno, para o encaixe do
copo à rede;
– um tubo pequeno de cola para cano hidráulico;
– uma abraçadeira de aço inoxidável, com 15 mm de largura e diâmetro
114-133 mm;
– dois parafusos de aço inoxidável, tamanho 35 mm e diâmetro 3/16”;
– duas borboletas de aço inoxidável para o parafuso;
– cola tipo Araldite 24 horas (a de secagem rápida não é adequada).
Procedimento em serralheria ou funilaria
Os procedimentos devem seguir essa ordem, para facilitar a confecção do copo:
1) no cano de 260 mm, abrir duas janelas equidistantes, aproximadamente, a
60x90 mm, a uma altura aproximada a 80 mm do fundo, para que permitam
a saída da água pelas laterais do coletor;
2) acima da janela, fazer dois furos equidistantes, a 20 mm do extremo;
3) colocar os parafusos com a cabeça de dentro para fora, podendo ser
atarraxados ou colados;
4) usinar o cap para diminuir o tamanho e o peso;
5) para o encaixe do copo: luva hidráulica de 110 mm de diâmetro interno;
6) usinar a junção, o que diminuirá o diâmetro externo e o peso, deixando uma
pequena elevação numa das extremidades para fixar a abraçadeira; a outra
extremidade deve ser lisa;

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 221


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
7) na extremidade lisa, abrir duas frisas de 7 mm de largura com o formato da
letra “L” virada, equidistantes e opostas, para o encaixe dos parafusos.
Os procedimentos para colar a tela nas janelas do copo e finalizar o coletor, são
os seguintes:
1) cortar dois pedaços de 80x110 mm da mesma tela de malha do corpo da rede;
2) passar cola em 1,5 a 2 cm do entorno interno das janelas;
3) posicionar o pedaço de tela sobre a cola, com auxílio de uma pinça;
4) esticar a tela, o máximo possível;
5) deixar secar bem;
6) passar cola PVC na parte externa do cano;
7) passar cola PVC na parte interna do cap;
8) empurrar o cano contra o cap, até chegar ao fundo.
Para a montagem da rede (FIG. 9.8) é necessário:
– 1 corpo da rede com 60 cm de boca e 304 cm de comprimento;
– 1 aro de 60 cm;
– 1 encaixe do copo;
– 1 copo coletor com borboletas;
– 3 manilhas retas, de 3/8”;
– 2 manilhas retas de 1/2”, para fixar o destorcedor ao cabo de reboque na rede;
– 1 destorcedor de 1/2”;
– 4 cabos de aço inoxidável 4 mm, com 1 m cada e com laços nas extremidades;
– 10 m de cabo de náilon seda trançado, de 4 ou 6 mm;
– uma abraçadeira inoxidável, com 15 mm de largura e diâmetro de 114-133 mm;
– 1 fluxômetro (optativo);
– 1 profundímetro (optativo);
– 1 lastro (optativo para trajetos de superfície, obrigatório para os de fundo).
Procedimento para a montagem da rede:
1) abrir o corpo da rede ao redor do aro;
2) passar o cabo de náilon seda, em ziguezague, pelos ilhoses e aro;
3) apertar bem o corpo da rede contra o aro e dar um nó;
4) cortar o excesso de cabo de náilon;
5) introduzir o encaixe do copo coletor na porção final da rede;
6) prender com abraçadeira;
7) inserir o copo nas frisas do encaixe e girá-lo;

222 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

corpo da rede fluxômetro

encaixe do aro
coletor destorcedor
manilha

coletor

abraçadeira cabos
profundímetro

15 kg
lastro

Figura 9.8 Rede coletora de plâncton e seus componentes.

8) apertar, firmemente, as borboletas;


9) passar os 3 cabos de aço nos elos da rede;
10) prender os 3 cabos numa manilha reta de 1/2” (13 mm);
11) passar a manilha no destorcedor conectado ao cabo de reboque;
12) colocar lastro na manilha de 1/2” do cabo de reboque ou no aro da rede
(opcional).
As redes foram desenvolvidas como uma solução, na tentativa de melhorar o
conhecimento sobre biologia, abundância, distribuição e dispersão dos organismos
planctônicos. Os tipos de redes podem ser divididos em: simples; com mecanismo de
fechamento; com mecanismo de abertura e fechamento simples; com mecanismo de
abertura e fechamento múltiplo; de alta velocidade; e contínuos.
Redes Simples
O modelo de rede mais simples é composto por uma boca (abertura) rígida, onde
entra a água, por malha filtrante e por um recipiente coletor. Este modelo possui
várias formas, sendo as mais comuns as de boca arredondada cônica (FIG. 9.9A);
cilindrocônica (FIG. 9.9B) ou cônica com boca reduzida (FIG. 9.9C). Algumas redes
são quadradas, retangulares ou, ainda, pentagonais e não apresentam abertura rígida.
São arrastadas a uma velocidade de 1 a 2 nós e por tempo não superior a 5 minutos.
Existem vários modelos de redes, muito semelhantes entre si, e a maioria leva o
nome do autor que as idealizou. As especificações das mais utilizadas serão descritas
em detalhe, seguindo as características dadas pelos autores que as descreveram, o que
não impede que alterações em tamanho de abertura, da malha e do coletor sejam
feitas, em conformidade com as necessidades e objetivos da coleta.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 223


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B C

Figura 9.9 Formas de redes mais comuns arredondadas: (A) cônica; (B) cilindrocônica;
(C) cônica com boca reduzida [adaptado de OMORI e IKEDA, 1984].

Tipos de redes cônicas:


– ICITA: rede-padrão utilizada durante o International Cooperative Investigations of
the Tropical Atlantic. Idealizada por Jossi (1966), possui 100 cm de diâmetro de
boca, corpo de rede cônico, com uma curta secção de 18 cm de lona e
330 cm de comprimento e malha de 280 µm (FIG 9.10A). É comum usá-la
em trajetos horizontais e oblíquos;
– CalCoFI: é a mais simples das redes empregadas em trajetos horizontais,
independente do tipo de ambiente aquático. Seu nome origina-se do progra-
ma California Cooperative Fisheries Investigation. Desenvolvida por Ahlstrom (1948),
possui abertura de 100 cm de diâmetro, 500 cm de comprimento e malha de
330 µm (FIG. 9.10B). Uma variação muito utilizada tem abertura de boca
com aros de 50 ou 60 cm, comprimento de 180 cm ou 250 cm e malha de
200 ou 330 µm. O coletor pode ser de 70 mm ou 110 mm de diâmetro.

A B

C D

Figura 9.10 Redes simples cônicas: (A) ICITA; (B) CalCoFi e cilindrocônicas; (C) WP-2;
(D) IOSN [adaptado de OMORI e IKEDA, 1984].

Tipos de redes cilindrocônicas:


– WP-2: é a rede-padrão recomendada pelo Working Party n° 2, da UNESCO
(FRASER, 1966), para o estudo quantitativo, comparativo e de biomassa do

224 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

meso e macroplâncton, até a profundidade de 200 metros. Possui uma boca


com 57 cm de diâmetro; corpo com uma secção cilíndrica com 95 cm de
comprimento; e cônica, com 166 cm e malha de 200 µm; mais um copo
coletor de 110 mm de diâmetro (FIG. 9.10C). A porção cilíndrica aumenta a
eficiência de filtragem, permitindo que a rede seja menor em tamanho, sem
alterar a área de filtração. É utilizada para arrasto vertical e horizontal;
– IOSN: a Indian Ocean Standard Net foi desenvolvida por Currie (1963), com
boca de 113 cm de diâmetro e 500 cm de comprimento. O setor cilíndrico
da rede tem 3 malhas diferentes, sendo os primeiros 70 cm com tela de
12,5 m, seguidos de uma cinta de lona de 30 cm e, na porção final, uma malha
de 330 µm com 100 cm de comprimento. A porção cônica dessa rede possui
300 cm de comprimento, com malha de 330 µm (FIG. 9.10D). Utilizada para
trajetos horizontais e oblíquos, é recomendada pela FAO como padrão para
coletas em mar aberto;
– Bongo (MARMAP): a rede Bongo (FIG. 9.11) foi desenvolvida por Posgay
e Marak (1980), para utilização no programa Mid-Atlantic Resources Mapping
(MARMAP). É uma rede em aço inoxidável ou fibra de vidro, composta de
duas bocas unidas entre si por um eixo central, com 60 cm de diâmetro por
30 cm de profundidade, onde é conectado ao cabo de reboque, não existindo
qualquer tipo de material que atrapalhe o fluxo da água na frente da boca da
rede; um corpo filtrante com 147 cm de comprimento na secção cilíndrica e
153 cm na cônica e; na porção final da rede, um coletor, com 110 mm. Cada
cilindro corresponde a uma boca de rede, permitindo fazer arrastos com
redes de malhas diferentes, o que é uma vantagem. Pode ser arrastada a velo-
cidades de até seis nós, sendo usada, preferencialmente, para trajeto oblíquo,
porém, serve para qualquer tipo de trajeto. Um depressor hidrodinâmico
ajuda a alcançar a profundidade desejada.

cinta metálica
corpo filtrante eixo central

coletores
cabo real

bocas

depressor hidrodinâmico

Figura 9.11 Rede Bongo [adaptado de POSGAY e MARAK, 1980].

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 225


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Tipos de redes retangulares:
– Tucker: rede com formato quadrado, incomum até Tucker (1951)
desenvolvê-la com 183x183 cm de boca flexível e 914 cm de comprimento,
mais os primeiros 457 cm da rede com malha de abertura de 1,8 cm e depois
com 1,3 cm. No final, uma malha de náilon de 1 mm com 152 cm de comprimento
serve como coletor (FIG. 9.12A). Essa rede é equipada com um sistema de registro
mecânico de tempo e profundidade e foi projetada para coletar organismos
associados a grandes dispersões em relação à profundidade, como eufausiáceos,
scifonóforos e peixes de meia água. A Tucker deu início ao desenvolvimento de
uma série de redes com sistemas de abertura/fechamento;
– Neustônica: redes construídas para coletas de fauna superficial, sobre a película
de água até alguns poucos centímetros de profundidade. A importância desse
ambiente, de condições ecológicas muito particulares, foi ignorada até a década
de 1960, quando foram desenvolvidos coletores especiais para o seu estudo.
Zaitzev (1959) foi pioneiro na construção de uma rede para amostrar
organismos neustônicos. A rede original possui uma boca retangular
metálica de 60x20 cm e 250 cm de comprimento, com uma rede de
malha de 500 µm (FIG. 9.12B). Nas laterais, foram colocados dois flutuadores de
20x10x4 cm para manter a rede na superfície. Por isso, é possível mantê-la com
velocidades entre 1 a 2 nós na lateral da embarcação ou em embarcação fundeada;
– Neustônica com catamarã: o amostrador de nêuston, com catamarã
acoplado, foi apresentado por David (1965) como forma de se amostrar,
eficientemente, a camada superficial dos oceanos nas velocidades de 5-6 nós.
A rede foi projetada para ser arrastada a boreste ou bombordo, a fim de
evitar perturbações no filme superficial causado pela hélice da embarca-
ção. O equipamento consiste de uma rede de boca retangular de 30 cm
de largura por 15 cm de altura, com 3 m de comprimento e malha de
330 µm, atrelada a um catamarã que mantém a rede em uma posição fixa
em relação à superfície do mar. Hempel e Weikert (1972) aprovaram a
sugestão de David e adicionaram na versão original uma segunda rede,
logo abaixo da primeira, tornando possível amostrar dois estratos simultane-
amente. Na atualidade, essa rede é conhecida como rede de nêuston de David/
Hempel (FIG. 9.12C);
– Manta: Brown e Cheng (1981) desenvolveram uma modificação da rede de
nêuston tradicional, com 100x20 cm de abertura de boca, equipada com duas
asas acima da linha de água e um par de aletas para guiar a rede fora do navio.
Este modelo foi denominado Manta. Originalmente, havia sido utilizada uma
rede com 240 cm de comprimento e 505 µm (corpo de uma rede Bongo).
Um lastro de 100 kg serviu para manter o cabo de reboque abaixo da boca
da rede (FIG. 9.12D).

226 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A B

C D

Figura 9.12 Redes retangulares: (A) Tucker; (B) Neustônica; (C) Neustônica com Catamarã;
(D) Manta [adaptado de (A) TUCKER, 1951; (B) ZAITZEV, 1959; (C) DAVID, 1965 e
(D) BROWN e CHENG, 1981].

– A rede Isaacs-Kidd desenvolvida por Isaacs e Kidd (1953) para coletar


organismos pelágicos rápidos, como larvas de peixes, peixes pequenos, lulas
e camarões pelágicos (macroplâncton ou micronécton). Possui forma
pentagonal, com uma armação fixa em forma de V, que serve como um
depressor. Essa armação possibilita manter a boca da rede aberta e exerce
uma força hidrodinâmica, que permite alcançar a profundidade desejada
durante o arrasto. A rede original tem 304x457 cm de abertura de boca e
745 cm de comprimento. O corpo da rede é composto da seguinte forma:
4 malhas diferentes – uma externa, de 5 cm entre nós, que serve, apenas,
para sustentar as outras 3 internas – a porção anterior com malha de 5
mm entre nós e comprimento de 270 cm, a mediana com 3 mm entre
nós, com 330 cm de comprimento, e a posterior com uma malha náilon
de 1 mm ou 500 µm com 145 cm de comprimento. Dois círculos são
colocados para amarrar as malhas internas entre si e para manter a forma
arredondada da rede durante a coleta (FIG. 9.13). As redes mais utilizadas,
atualmente, têm a possibilidade de escolha entre quatro tamanhos de abertura
de boca: 91 cm, 183 cm, 304 cm e 457 cm. A velocidade de arrasto pode ser
maior do que 8 nós no trajeto oblíquo. Este tipo de rede pode ser usado, em
conjunto com ecossonda, como um amostrador-teste, antes de arrastos com
redes de meia água comercial.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 227


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
malha de 1mm
malha de 3mm

malha de 5mm barra de sustentação

depressor
hidrodinâmico

Figura 9.13 Rede Isaacs-Kidd [adaptado de ISAACS e KIDD, 1953].

Tal como na superfície, o fundo do oceano pode ser considerado um habitat


especial, de difícil acesso para coletar organismos planctônicos. Hutchinson (1967)
definiu esses organismos como planctonbentos. Poucos são os amostradores desen-
volvidos para coleta próximo do fundo e o seu princípio é, basicamente, o mesmo
das outras redes planctônicas. Russel (1928) foi um dos primeiros a desenvolver uma
rede retangular típica para amostrar o planctonbentos, com boca de 122 cm de largu-
ra, 30 cm de altura e 240 cm de comprimento, montada em uma armação de rede
tipo trenó, a 20 cm acima do fundo (FIG. 9.14). Nenhum mecanismo de abertura e
fechamento foi empregado. Utilizando um equipamento similar, Bossanyi (1951) co-
locou mecanismos que permitiram a abertura e o fechamento na boca da rede, que
passou a ter 90 cm de largura, 50 cm de altura e 210 cm de comprimento, com uma
tela de 15,7 malhas por cm.
Em maiores profundidades, o plâncton próximo ao fundo pode ser coletado em
pequenas redes, com malha de 233 µm, montadas na frente dos submergíveis, contendo
mecanismos de abertura e fechamento da boca da rede.
Para amostrar próximo ao fundo em recifes de corais, onde a corrente é fraca,
Rützeler et al. (1980) desenvolveram o Horizontal Plankton Sampler (HOPLASA), que
cria sua própria corrente. Esse amostrador é composto de um cilindro de 18,5 cm de
diâmetro e 40 cm de largura, feito de fibra de vidro, que abriga um motor elétrico e
uma hélice para provocar o fluxo. Presa no final do cilindro há uma rede de 80 cm de
comprimento, com malha de 250 µm. Possui autonomia de 5 a 8 horas de operação,
com fluxo de 20 a 30 cm por segundo.

228 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 9.14 Rede de Planctonbentos [adaptado de RUSSEL, 1928].

Redes com mecanismo de fechamento


Para o estudo de distribuição e migração vertical dos organismos planctônicos, é
necessário coletar amostras de várias camadas de profundidade, separadamente. Com
esse propósito, vários tipos de amostradores foram desenvolvidos para fechar a abertura
da boca, estrangular o corpo da rede e, até mesmo, fechar o coletor.
Tipos de redes com fechamento simples
O sistema de fechamento mais simples e mais eficiente é o feito por estrangula-
mento da porção anterior da rede. Outros modelos utilizam uma rampa, deslizável
ou giratória, na frente da abertura da rede, com resultados nem sempre satisfatórios.
Os requisitos fundamentais para reunir um mecanismo disparador adequado e versá-
til são: fácil manuseio; baixa complexidade de construção; bom funcionamento (em,
pelo menos, 90% dos casos) e ser utilizado com redes de tamanho considerável e de
alta capacidade de filtração. As redes mais apropriadas são:
– Nansen: rede cônica, desenvolvida por Nansen (1915), de 35 a 100 cm de
diâmetro de boca, com a porção inicial de 40 cm e abertura de malha de
500 µm. Logo a seguir, possui uma cinta de lona de 10-20 cm de comprimento,
em que são fixadas várias argolas de 2 cm de diâmetro, por onde passa um
cabo resistente, como um laço, pela volta desse cinturão. A porção filtrante
mede 150 cm de comprimento e o corpo da rede pode ter malha com
abertura de 140 ou 200 µm (FIG. 9.15A). Ao final da porção cilíndrica, vai
uma cinta de lona de, aproximadamente, 10 cm de espessura. O lastro

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 229


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
(de, mais ou menos, 15 kg) e o copo coletor também são atados ao aro da
boca, através de três cabos. A rede é presa ao mecanismo de fechamento por
dois elos: um móvel, para as amarras da boca da rede, e um fixo, para o cabo
de fechamento, que passa pelo cinturão de lona. Alcançada a base do estrato
que se queira amostrar, a rede começa a ser içada, lentamente, (próximo a
1 m.s-1), até atingir a profundidade desejada. Findo este trajeto, o mensageiro
é lançado da superfície, através do cabo de reboque, para liberar os três cabos
da boca da rede do elo móvel, de modo que a tensão feita pelo lastro seja
transferida ao cabo que passa pelo cinturão de lona, preso no elo fixo, detendo
a entrada de material pela boca da rede (FIG. 9.15A);

mensageiro
A mecanismo de B C D
fechamento
a b
cabo de
fechamento
boca

lona

corpo

coletor

lastro

Figura 9.15 Redes de Fechamento: (A) Nansen: (a) aberta e (b) fechada; (B) WP-2;
(C) Hensen; (D) Juday [adaptado de FRASER, 1966].

– WP-2: já citada e descrita, é muito utilizada para trajetos verticais (FIG. 9.15B);
– Hensen: desenvolvida por Hensen (1887), com uma boca inicial de 38 a 70 cm
de diâmetro, conectada a um anel interno de 100 cm de diâmetro por uma peça
sólida (de fibra de vidro), com 30 cm de comprimento, de onde sai um corpo de
rede de 130 cm de comprimento e malha de 300 ou 500 µm (FIG. 9.15C);
– Juday: desenvolvida por Juday em 1916, possui uma boca de 37 a 80 cm de
diâmetro, uma porção de lona de 120 a 160 cm de comprimento, atada a um
anel interno de 50 a 110 cm de diâmetro, um corpo de rede de 150 a 370 cm
de comprimento e malha de 500 µm (FIG. 9.15D).

230 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tipos de redes com mecanismo de abertura e fechamento simples


Redes com mecanismos de abertura e fechamento são mais utilizadas para trajetos
horizontais e oblíquos.
– Kofoid: Kofoid (1911) desenvolveu uma rede cônica, com um aro de 37 cm
de diâmetro de boca e 200 cm de comprimento total em malha de seda. É
utilizada em trajetos horizontais de profundidade da seguinte forma: o sistema
envolve duas placas semiesféricas, onde a rede é presa (FIG. 9.16A). O primeiro
mensageiro libera a semiesfera de baixo, que se dobra para frente e desce
180°, abrindo a rede; o segundo mensageiro libera a segunda semiesfera, que
se dobra para baixo, fechando a rede. Este modelo não foi muito aceito em
pesquisas oceânicas, porque a rede deve ser presa ao final do cabo de rebo-
que, em função do seu mecanismo de abertura/fechamento. Sua forma ori-
ginal compromete a eficiência do arrasto.
– Clarke-Bumpus: Clarke e Bumpus (1950) desenvolveram uma rede com
duplo mensageiro, 12,7 cm de diâmetro de boca, um tubo de 16 cm de
comprimento e uma rede com 61 cm de comprimento no final desse tubo
(FIG. 9.16B). Além disso, há uma armação presa acima e abaixo do cabo de
reboque que suporta a rede. O tubo é equipado com uma tampa giratória na
boca do coletor, que lhe permite descer fechada. Quando o primeiro mensageiro
é lançado, a placa gira 90º, abrindo a rede e permitindo o fluxo de água. O
segundo mensageiro gira a placa outros 90º e fecha a rede. Um medidor, no final
do tubo, mede o fluxo de água que passa por ele. Pelo fato da rede ser pequena,
é possível ter várias redes trabalhando ao mesmo tempo, em níveis de profundidade
diferentes. Por isso, ainda é muito utilizada nos dias de hoje.
– Bongo com fechamento: McGowan e Brown (1966) desenvolveram uma
rede de abertura e fechamento com dois cilindros metálicos de 70 cm de
diâmetro, unidos entre si por meio de um eixo, onde é conectado ao cabo de
reboque quando arrastado. A rede tem uma porção cilíndrica de 81 cm e uma
porção cônica de 420 cm, com tela de náilon de 505 µm. Uma porta de
dracon cobre as duas bocas da rede, ao baixá-la até a profundidade desejada.
Um mensageiro dobra as portas de dracon acima dos cilindros, liberando a
boca da rede para filtragem da água. Um medidor de fluxo, após um deter-
minado número de rotações, libera as duas redes dos cilindros metálicos,
sendo, então, estranguladas por cabos e içadas até a superfície. Este modelo
não é muito utilizado, pela dificuldade de se armar o sistema a cada lance.
– Tucker modificada: Sameoto e Jaroszynski (1976) modificaram uma rede Tucker
quadrada, de 100 cm de lado, com um duplo mecanismo de abertura e fechamento
mecânicos (FIG. 9.16C). A rede tem malha de lona e possui um depressor retangular
na sua porção inferior. A velocidade de arrasto pode ser entre 2 e 4 nós.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 231


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B

C
1 2 3
1 2 3

Figura 9.16 Redes de abertura e fechamento simples: (A) rede Kofoid; (B) Clarke-Bumpus;
(C) rede Tucker modificada: (1) fechada em cima; (2) aberta; (3) fechada embaixo
[adaptado de (A) e (B) NOAA Photo Llibrary e (C) BAKER et al., 1973].

Tipos de redes com mecanismo de abertura e fechamento múltiplo


– Multiple Plankton Sampler: o primeiro sistema de redes múltiplas foi
desenvolvido por Bé (1959), tendo em vista trajetos verticais. Este sistema é
composto de três redes quadradas, com 50 cm de lado, colocadas em um aro
para serem abertas e fechadas em sequência, por 4 mensageiros. A rede tem
300 cm de comprimento, com uma cinta de náilon de 50 cm da porção
anterior e 240 cm do corpo da rede com malha de 200 µm, além de uma
cinta de 100 cm para atar o coletor. Posteriormente, foi novamente modificada
por Bé (1962) e denominada MPS, para trajetos horizontais e oblíquos, sendo
utilizado um mecanismo de abertura e fechamento à base de pressão pré-
estabelecida de 0-100 m, 100-250 m, 250-500 metros. Redes com 100 cm de
lado também foram construídas.
– Rectangular Mouth Opening Trawl: Clarke (1969) descreveu esta rede,
conhecida como RMT, de boca flexível retangular, com 200x400 cm (8 m²),
1.200 cm de comprimento e 5 mm de abertura de malha. A rede é aberta e
fechada por pulsos acústicos. A profundidade de arrasto é determinada por
um profundímetro. Variações dessa rede são a RMT 1+8 (BAKER et al., 1973)
(FIG. 9.17A) e a RTM 8.
– MOCNESS: Wiebe et al. (1976) modificaram a rede de meia-água Tucker,
colocando um mecanismo de abertura e fechamento controlado eletronica-
mente, para amostrar e coletar dados em diferentes profundidades. Tal
mecanismo é conhecido como Multiple Opening/Closing Net and Environmental
Sampling System (MOCNESS). Trata-se de um sistema de abertura de boca
rígida, de 100x141 cm, com até nove redes de 600 cm de comprimento,

232 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

corpo com malha de 330 µm e com sinal de comando remoto a partir da


embarcação (FIG. 9.17B). Além das amostras de plâncton em diferentes
profundidades, sensores como os de pressão, temperatura, condutividade e
turbidez podem ser acoplados ao sistema, permitindo coletas simultâneas de
dados bióticos e abióticos. Todos os sinais de comando são enviados por um
computador de bordo, através de um cabo. Comercialmente, existem várias
versões desse sistema de redes com aberturas de boca, que podem variar de
0,25; 1,0; 2,0; 4,0; 10,0 e 20,0 m² e inúmeros sensores de fatores abióticos.
Esta é uma das redes mais utilizadas atualmente, porque permite replicar amos-
tras na mesma profundidade durante a investigação. Pode ser aberta ou fechada,
quando certas condições físicas de interesse (por exemplo, termoclina) ou
químicas são detectadas, relacionadas com a distribuição dos organismos
planctônicos.
– BIONESS: a Bedford Institute of Oceanography Net and Environmental Sensing
System (BIONESS) é constituída de dez redes e foi desenvolvida por Sameoto
et al. (1980), a partir da rede múltipla de Bé (1962). O sistema eletrônico
consiste de um cabo elétrico de reboque, controlado a partir de uma unidade a
bordo para medições em tempo real. Um sistema mecânico alternativo armazena
os dados no próprio equipamento. Dados de profundidade, volume, temperatura
e condutividade também são coletados através de sensores. Dois medidores de
fluxo estão acoplados: um externo, para medir a velocidade de arrasto e outro
interno à armação da rede, para medir o volume filtrado da amostra. A rede
funciona bem até 1.000 m de profundidade e pode ser arrastada a uma velocidade
entre 1 e 5 nós. Dois modelos são oferecidos no mercado, um de 100x100 cm
(1 m²) e outro de 50x50 cm (0,25 m²) de abertura de boca.

A B

Figura 9.17 Redes múltiplas de fechamento: (A) RMT 1+8; (B) MOCNESS; (C) LOCHNESS
[adaptado de (A) BAKER et al., 1973; (B) WIEBE et al., 1976 e (C) DUNN et al., 1993b].

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 233


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
– LOCHNESS: versão melhorada da BIONESS, a Large Opening Closing High
Speed Net and Environmental Sensing System (LOCHNESS) foi desenvolvida por
Dunn et al. (1993b). Neste caso, a armação tem 300 cm lateral e 200 cm de
profundidade, com cinco redes de 230x230 cm de boca e 1.400 cm de
comprimento, com malha poliéster de 2 mm. Uma asa estabilizadora está
presente na porção posterior da armação (F IG . 9.17C). Um sistema,
acusticamente enviado, controla a abertura e o fechamento da rede e monitora
a pressão, o fluxo e o estado da bateria. Um registrador de dados (data logger)
é montado na armação para registrar dados de profundidade, condutividade
e temperatura. Outros dados podem ser coletados, dependendo da montagem
de diferentes registradores. A velocidade de arrasto pode ser superior a 6 nós;
– Multinet: Weikert e John (1981) desenvolveram esta rede múltipla (FIG. 9.18),
oferecida no mercado pela Hydrobios, modificando a MPS. O sistema coletor
é composto de uma armação quadrada, em aço inoxidável, podendo levar
de cinco a nove redes, com abertura de malha variável ou não, dependendo
do objetivo da coleta. As redes são atadas à lona da armação por meio de um
zíper, permitindo troca rápida de rede se a operação exigir redes com corpos
de malhas diferentes, como, por exemplo, 300 µm e 200 µm (FIG. 9.18A). As
redes são abertas e fechadas eletronicamente via cabo condutor simples ou
múltiplo, conectado a uma Unidade de Comando a bordo (FIG. 9.18B). Os
sistemas podem ter tamanhos de 35x35 cm, 50x50 cm e 71x71 cm.

A B

000m
KIEL ets/6
-BIOS m2/9n
HIDRO R 0.5 9.0 V
MPLE Y
ON SA TTER m/s
ANCT 0 BA out: 0.0
R

NET
POWE

I PL
MULT 00 m 0.0 m/s
N
ACTIO

H 00 0 m3
DEPT in: 0000
FLOW _
+
ENTER

MENU
UTER
COMP
ONAL PORT
PERS L
SERIA

ER
RWAT
UNDE
UNIT

Figura 9.18 Multinet: (A) amostrador; (B) unidade de comando


[adaptado do Catálogo Hydro-Bios].

Dois medidores de fluxo eletrônicos podem ser colocados no sistema coletor: um


interno, para medir o volume, e outro externo, para medir o entupimento da rede.
Transmite, também, os dados de pressão, possibilitando que se conheça a profundi-
dade de arrasto. Vários outros sensores podem ser acoplados ao sistema, inclusive
uma garrafa coletora de água. Para trajetos horizontais e oblíquos, é necessário o uso
de um depressor hidrodinâmico.

234 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Uma grande vantagem desse sistema é que o mecanismo, idealizado para abrir e
fechar redes, também favorece o uso seriado de dois ou mais equipamentos ao mes-
mo tempo. Esta operação, apesar de delicada, permite a realização de várias coletas
simultâneas, diminuindo o tempo total de operação em relação à coleta com rede
convencional, que precisa descer e subir várias vezes para realizar o mesmo trabalho.
Pela sua versatilidade, esse sistema é também muito utilizado em conjunto com a
observação hidroacústica, na identificação de aglomerações formadas por organis-
mos planctônicos, sendo o padrão atual para coletas em todos os tipos de trajetos. A
seguir, detalhes de sua operação.
Protocolo de operação em um trajeto oblíquo entre estratos. Observação: a equipe
de pesquisadores do N/Pq Atlântico Sul teve a oportunidade de constatar que, para a
estabilização do sistema, a estratégia mais adequada foi a de abrir a primeira rede antes
da linha da água, ao contrário do indicado pelo manual do fabricante, o qual instrui que
seja liberada a primeira rede na profundidade estabelecida. Por esse motivo, neste
protocolo de uso da Multinet com cinco redes, orienta-se para a seguinte possibilidade:
1) conectar o sistema na Unidade de Comando;
2) proceder à observação hidroacústica de concentração de organismos
planctônicos (por exemplo, observação de dois estratos de aglomeração, um
de 80 a 120 m e outro de 20 a 40 m de profundidade);
3) estabelecer estratos de coleta de acordo com essa observação como, por
exemplo, de 120 a 80 m, de 80 a 60 m, de 40 a 20 m, de 20 m até a superfície;
4) completar planilha com dados da estação e de observação hidroacústica
(ANEXO 9);
5) ligar a Unidade de Comando;
6) testar o sistema;
7) armar as redes;
8) levar o sistema até a linha da água;
9) abrir a primeira rede;
10) baixar o sistema em trajeto oblíquo, até a maior profundidade estabelecida
(no caso, 120 m);
11) anotar o volume filtrado da primeira rede;
12) disparar a segunda rede, que fecha a primeira após atingir a maior profundi-
dade estabelecida, e içar o sistema, vagarosamente, em trajeto oblíquo até a
segunda profundidade estabelecida (no caso, 80 m);
13) anotar o volume filtrado da segunda rede;
14) repetir o procedimento para as redes 3 e 4, respeitando as profundidades
pré-estabelecidas;
15) manter a rede 5 aberta, da última profundidade até a superfície;

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 235


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
16) içar o sistema para o convés;
17) lavar as redes;
18) concentrar as amostras nos coletores;
19) liberar, cuidadosamente, o coletor;
20) despejar a amostra na garrafa plástica numerada, com o auxílio de um funil;
21) anotar o número da garrafa para a rede correspondente;
22) guardar a garrafa;
23) recolocar o coletor na sua respectiva rede.
No protocolo de operação em um trajeto horizontal no estrato, as instruções que
seguem se referem ao mesmo exemplo de observação hidroacústica, acima descrita:
1) estabelecer estratos de coleta em conformidade com esta observação (por exemplo,
de 120 a 80 m, de 80 a 60 m, de 40 a 20 m e de 20 m até a superfície);
2) completar planilha com dados da estação e de observação hidroacústica;
3) ligar a Unidade de Comando;
4) testar o sistema;
5) armar as redes;
6) levar o sistema até a linha da água;
7) baixar o sistema até a profundidade estabelecida (que, nesse caso, pode ser 100 m);
8) abrir a primeira rede;
9) manter um trajeto horizontal, até alcançar o volume de 100 m³ de água filtrada;
10) disparar a segunda rede, que fecha a primeira após atingir o volume estabele-
cido, e içar o sistema, vagarosamente, em trajeto oblíquo, até a segunda
profundidade estabelecida (no caso, 70 m);
11) anotar o volume filtrado da segunda rede;
12) repetir o procedimento para as redes 3 e 4, respeitando a profundidade e o
volume pré-estabelecidos;
13) manter aberta a rede 5, da última profundidade até a superfície;
14) içar o sistema para o convés;
15) lavar as redes;
16) concentrar as amostras nos coletores;
17) liberar, cuidadosamente, o coletor;
18) despejar a amostra na garrafa plástica numerada, com o auxílio de um funil;
19) anotar o número da garrafa para a rede correspondente;
20) guardar a garrafa;
21) recolocar o coletor na sua respectiva rede.

236 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

O protocolo de operação em um trajeto vertical nos estratos é semelhante ao


apresentado no trajeto oblíquo, diferindo, apenas, no sentido vertical.
Redes de alta velocidade
Estes amostradores surgiram no início do século XX, sendo desenvolvidos para
arrastos a velocidades acima de 10 nós. Trata-se de pequenos tubos, com 5-12 cm de
diâmetro e comprimento variável de 25 a 50 cm. Assemelham-se a um torpedo, com
abertura de boca de, no máximo, 4 cm e são arrastados através de um cabo reboque,
colocado na porção frontal do equipamento. As vantagens sobre as redes convencio-
nais são:
– arrastam com mau tempo;
– a embarcação pode estar em velocidade de cruzeiro;
– podem ser arrastados entre as estações de coleta;
– reduzem o efeito de escape dos organismos planctônicos maiores e mais
rápidos.
A desvantagem dos amostradores de alta velocidade é a abertura da boca da rede,
geralmente menor do que 5 cm de diâmetro, o que pode causar danos aos organismos
maiores.
Tipos de redes de alta velocidade
– HPI: o Hardy Plankton Indicator (FIG. 9.19A) foi desenvolvido por Hardy
(1926), para permitir aos pescadores amostrarem e relacionarem a qualidade
e a quantidade de plâncton com o número de peixes capturados, quando a
embarcação encontra-se em velocidade de cruzeiro. Tem 17,8 cm de diâmetro
e 91,4 cm de comprimento, com um filtro circular para reter os organismos
planctônicos. Em 1936 esse equipamento foi modificado, seu tamanho reduziu
para 7,6 cm de diâmetro e 56 cm de comprimento e, por isso, ficou conhecido
como Small Plankton Indicator (SPI). Glover (1953) modificou o SPI, colocando
uma pequena rede (3,2 cm de diâmetro e 8,9 cm de comprimento) dentro de
um torpedo. Este equipamento foi denominado de Small Plankton Recorder
(SPR).
– Gulf IA: Arnold (1952) desenhou um amostrador de alta velocidade, o
Gulf 1-A (FIG. 9.19B), também parecido com um torpedo. É de um cilindro
externo de 151 cm de comprimento com 11,7 cm de diâmetro e uma abertura
de boca, no nariz do torpedo, de 2,4 cm de diâmetro. Internamente, um aro
de 7,6 cm de diâmetro, 91 cm de comprimento e um corpo de rede com
malha de 380 µm. É possível arrastá-lo a, aproximadamente, 10 nós e tem
um medidor de fluxo.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 237


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B
filtro

aleta

cilindro protetor
C D

boca

corpo da rede

Figura 9.19 Amostradores de alta velocidade: (A) HPI; (B) Gulf 1-A; (C) Gulf III;
(D) MAFF [adaptado de WIEBE e BENFIELD, 2003].

– Gulf III: outro amostrador desse tipo foi descrito por Gehringer (1952) e
denominado Gulf III (FIG. 9.19C). Possui um cilindro externo de 152 cm de
comprimento e 50 cm de diâmetro, uma rede cônica de malha de 380 µm e
diâmetro de boca de 49,5 cm. Pode ser arrastado a 5 nós e dispõe de um
medidor de fluxo. O amostrador Gulf V foi desenvolvido por Arnold (1959),
sendo, basicamente, o mesmo Gulf III sem o cilindro externo.
– Gulf V, Gulf VII/Pro e a MAFF: tanto o Gulf III como o Gulf V são
utilizados, até hoje, como amostradores-padrão de alta velocidade, embora
tenham recebido várias modificações e melhorias. Nash et al. (1998)
descreveram o Gulf VII/Pro e a MAFF (FIG. 9.19D) para velocidades de
5 a 7 nós, sistema que consiste de uma armação rígida de 275 cm de comprimento
e 76 cm de diâmetro, com ponteira cônica de fibra de vidro e abertura de boca
de 40 cm de diâmetro. Uma rede cônica, de 230 cm de comprimento com
abertura de malha de 270 µm, encontra-se colocada na porção final da armação.
Esses amostradores possuem sensores de pressão, temperatura e condutividade,
e a medição do fluxo é realizada por dois medidores, podendo ser lida a
bordo do navio ou armazenada na armação da rede.
Coletores contínuos
– O Continuous Plankton Recorder (CPR): pode ser considerado como
uma classe de coletores de alta velocidade. Desenvolvido por Hardy (1926), é
um amostrador hermético, que pesa 87 kg, com 50 cm de largura, 50 cm de
altura e 100 cm de comprimento (FIG. 9.20A). A abertura quadrada, por
onde entra a água, tem 1,27 cm de lado, expandindo-se em um túnel de fluxo

238 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

de água. O túnel passa através da porção mais baixa do amostrador e sai por
trás. Abaixo do túnel há um carretel de 15,25 cm de largura, com gaze de seda
e 270 µm de abertura de malha, que atravessa o túnel, capturando os organismos
planctônicos. Um segundo carretel com gaze de seda fica acima do túnel e é
apertado contra a gaze filtradora, comprimindo os organismos coletados
entre elas. As gazes são enroladas em um carretel, colocado em um tanque
acima do túnel de fluxo de água com formalina, que preserva o plâncton
capturado (FIG. 9.20B). O carretel coletor é movimentado por uma hélice
localizada na porção posterior do amostrador, atrás dos estabilizadores. Hoje,
esse amostrador é utilizado como padrão para arrastos de até 500 mn e
lances de cerca de 10 mn (18,52 km) a uma velocidade de cruzeiro de 20 nós,
em profundidades entre 6 e 10 metros.
Vantagens do CPR:
– avaliação, quase contínua, de séries espaciais e temporais;
– definições de manchas;
– variações horizontais bem definidas;
– sistema de coleta em uso há mais de 70 anos.
Desvantagens do CPR:
– método de processamento complicado;
– perda de organismos;
– alto custo operacional;
– não explica o que acontece acima ou abaixo do amostrador.
– LHPR: o Longhurst-Hardy Plankton Recorder foi uma modificação inovadora
do CPR, idealizada por Longhurst et al. (1966). Um par de redes de 50 cm de
diâmetro foi montado, lado a lado, em uma armação. Junto ao copo coletor
de uma das redes encontra-se um registrador de plâncton, com um túnel
entrando no centro e dividindo-se em duas secções, que passam pelas laterais
da caixa e saem pela sua porção posterior. Dois rolos com tiras de náilon
(330 e 500 µm de abertura de malha) são passados através do túnel logo após
a divisão, filtrando os organismos planctônicos. As tiras de náilon são enroladas
em um carretel simples, localizado entre a divisão do túnel. O carretel coletor
avança, de acordo com um tempo programado (15-60s), por um sistema
elétrico montado na armação, comprimindo os organismos entre as duas
tiras de náilon. Dados de pressão, temperatura e volume são também
armazenados. O LHPR é arrastado entre 1,5 e 2,5 nós e pode coletar até
100 amostras. Foi idealizado para recolher dados precisos de distribuição
vertical e, depois de algumas modificações, também foi utilizado para análise
de distribuição horizontal do plâncton.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 239


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A
engrenagem de movimentação

abertura

carretel

B aleta
engrenagem
de movimentação carretel de gaze cabo real
de cobertura
tanque
hélice coletor

abertura
0
0 0

0
0

0
0
0 0 0 0
0 0 00 0 0
00 00 00 0 0 0 0 0
00 0 0 0
0
00 00 00 0
00
0 0
0
0

00 0
0

0 00
00
0 00
0 0

00 0
00

carretel de
gaze filtrante
túnel
depressor

Figura 9.20 Coletor contínuo de plâncton (CPR): (A) carcaça protetora e carretel; (B) partes
componentes [(A) foto Danilo Calazans e (B) adaptado de HARDY, 1926].

– ARIES: uma evolução do LHPR é o Autosampling and Recording Instrumental


Environmental Sampler (ARIES), desenvolvido por Dunn et al. (1993a). Esse
amostrador de plâncton tem 35 cm de diâmetro, com um cone que se expande
a 76 cm de diâmetro. Incluindo-se a armação, há três sistemas de coleta. Uma
rede de plâncton, na porção posterior do cone, antecede o sistema coletor
múltiplo, que consiste em uma rede de 200 cm de comprimento, equipado
com um cinto de 16 cm de largura com 110 pequenos coletores de 6 cm de
diâmetro, com malha de 200 µm. Um motor, periodicamente, aumenta o
cinto, movendo as redes para um alimentador na posição de coleta, com 60
garrafas de 250 mL, postas em um carrossel semelhante a um amostrador
tipo roseta. Temperatura, condutividade, pressão, volume e tempo de amostra,
que varia de 1 s a 60 min, são registrados. A informação sobre a profundidade
do arrasto é transmitida acusticamente em tempo real, para o monitoramento
da coleta. A velocidade de arrasto é de 4 a 5 nós.
– UOR: como o CPR tem a desvantagem de coletar, apenas, horizontalmente
as camadas mais superficiais do oceano, Bruce e Aiken (1975) desenvolveram

240 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

o Undulating Oceanographic Recorder (UOR), baseado no CPR, com forma


hidrodinâmica de 98 cm de largura, 75 cm de altura, 156 cm de comprimento
e 180 kg de peso. Pode ser programado para ondular entre 7 e 15 a 70 m
(comprimento de onda de 3 a 30 km), a uma velocidade de arrasto de
7 a 15 nós. O UOR pode levar sensores programados para medir temperatura,
salinidade e profundidade, armazenando os dados coletados em intervalos
de, até, 2 segundos. Cada lance de coleta pode aproximar-se a 12 horas.

4.4 Sistemas ópticos

Foram desenvolvidos para quantificar a abundância e identificar organismos


planctônicos e outras partículas na coluna da água. As primeiras tentativas de quantificar
o plâncton com o auxílio óptico ocorreram durante a década de 1950 (JAFFE, 2005).
Recentemente, a revolução tecnológica e a fácil aquisição de componentes ópticos
modernos permitiram que engenheiros ópticos desenvolvessem uma nova geração
de sistemas de amostragem, entre os quais dois são identificados de maneira básica: os
sistemas de imagem ativos e passivos. No caso dos passivos, o objeto não é ilumina-
do pelo sistema. Assim, alguma fonte alternativa de luz – ambiental ou de outra
natureza – é necessária. No caso de sistemas ativos, a fonte de luz é própria. Embora
sistemas passivos possam ser menos invasivos do que os ativos, apenas em casos de
águas muito transparentes esses sistemas podem ser utilizados para produzir imagens
de zooplâncton. Isso é um problema comum na maioria dos casos, uma vez que esses
organismos valorizam o fato de serem transparentes ou difíceis de serem percebidos,
evitando predadores. Consequentemente, os sistemas óticos submersos de amostragem
de zooplâncton, identificados neste Capítulo, usam uma fonte ativa de iluminação (flash,
luz estroboscópica ou algum tipo de laser) emitida de forma contínua ou em pulsos.
A propagação de luz na água pode ser descrita de maneira simplificada, através do
conceito de Radiância, ou seja, a intensidade direcional, em três dimensões, da pro-
pagação da luz em um dado instante e local. Uma vez que a radiância é a variável de
estado para a radiação óptica, a distribuição radiante descreve tudo o que é conhecido
em um experimento óptico. Por exemplo, câmeras medem a energia radiante através
da integração da radiância de um pixel na câmera.
Os parâmetros ambientais que descrevem a propagação da luz determinam sua
qualidade. Trata-se da absorção e do espalhamento da água e da reflectividade do
objeto. Embora esses parâmetros tenham sido medidos, os detalhes de cada situação
ambiental desempenham um papel fundamental na determinação do resultado da
aquisição de uma imagem óptica submarina. Isso ocorre devido ao fato de os ocea-
nos manterem fortes gradientes de substâncias absorventes e espalhantes, que tam-
bém variam com o tempo. Absorção é um escalar, porém a situação mais complica-
da do espalhamento deve ser descrita por um vetor que indica o grau de espalhamento
da luz, em função do ângulo incidente e do ângulo do observador (FIG. 9.21).

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 241


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
componente espalhado de pequeno ângulo
componente não espalhado

luz retroespalhada

imagem fonte de
iluminação

espalhamento comum

Figura 9.21 Esquema de um sistema óptico de imagem submarino e os componentes de uma


imagem que resultam da categorização da luz recuperada [adaptado de JAFFE, 2005].

O desenvolvimento de sistemas ópticos submersíveis eficientes também é auxiliado


pela utilização de modelos computacionais, os quais podem mimetizar a propagação da
luz na água e prever o resultado de uma determinada situação. Os modelos permitem ao
usuário colocar câmeras e iluminação em locais diferentes, com várias orientações em
relação ao objeto de estudo. Os modelos variam desde simulações Monte Carlo até o uso
de formulação semianalítica, utilizando conceitos da teoria de sistemas lineares.
Os sistemas de detecção de partículas medem e transmitem a secção transversal de
cada partícula que passa através de um feixe de luz. O princípio básico do contador
óptico de partículas ou do contador óptico de partículas a laser é praticamente o mesmo,
ou seja, a área de uma secção transversal bloqueada pela partícula no feixe é medida
relativamente à área do fotodiodo, que detecta a oclusão. O contador óptico mede a
seção transversal de partículas no seu feixe entre um tamanho de 250 a 25.000 mm. O
contador a laser divide esse intervalo em duas partes, através: da medida da seção
transversal da área das partículas no seu feixe entre tamanhos de 10 a 1.500 mm,
convencionalmente designado elemento singular do plâncton ou, em inglês, Single
Element Plankton (SEP); da medida da forma do perfil (duas dimensões) da partícula
entre os tamanhos de 1.500 e 35.000 mm, o que se convencionou chamar multielemento
do plâncton ou, em inglês, Multi-element Plankton (MEP). Através da soma de SEPs e
MPEs, a distribuição de tamanho do plâncton fica mais completa, enquanto os perfis do
MEP podem ser utilizados para fins de identificação taxonômica (HERMAN et al., 2004).
Os sistemas ópticos podem ser divididos em duas categorias: os que produzem uma
imagem de organismos planctônicos, como o Video Plankton Recorder (VPR) – os que
usam interrupção de uma fonte de luz para detectar e estimar o tamanho de uma partícula,
como o Optical Plankton Counter (OPC) e o Laser Optical Plankton Counter (LOPC).

242 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Sistemas que produzem imagem


Estes instrumentos permitem uma ótima informação sobre a distribuição de par-
tículas, gerando, também, informações para identificação e tamanho de seus alvos,
além dos seus movimentos. Nas primeiras vezes em que foram utilizados, ainda sendo
desenvolvidos, esses instrumentos eram acoplados às redes de coleta, porém, atualmente,
são usados sem a necessidade da conferência dos dados, porque já provaram sua eficiência.
O uso de sistemas ópticos, que produzem imagem para a observação de zooplâncton
in situ, obteve sucesso em muitas situações, e uma variedade de sistemas tem sido utilizada
tanto para levantamentos de rotina como para identificação dos organismos.
O registrador de vídeo de plâncton, em inglês, Video Plankton Recorder (VPR),
vem sendo adotado em campo para captar imagens do zooplâncton (DAVIS et al.,
1992). Várias câmeras filmam diferentes volumes de água simultaneamente, proporci-
onando informação em diferentes escalas. O VPR é um microscópio submarino,
montado com um sistema de vídeo (FIG. 9.22A), que pode fazer um trajeto na coluna
da água para observar pequenos organismos de, aproximadamente, 0,2 a 20 mm,
como copépodos e medusas. A qualidade das imagens gerada é suficiente para distin-
guir entre espécies, e as imagens podem ser classificadas automaticamente, através de
programas específicos (FIG. 9.22B). O VPR foi desenvolvido durante o Programa
Regional para “Georges Bank”, um componente do “US GLOBEC” (DAVIS et al.,
1996; BENFIELD et al., 1996; ASHJIAN et al., 2001).

câmeras caixa LHPR flash

A CCD 1 B
CCD 2

3
CCD

D4
CC
fluxômetro

temperatura condutividade

telemetria
fibra ótica

pressão
caixa eletrônica

aleta direcional

Figura 9.22 Registrador de vídeo de plâncton: (A) estrutura e componentes; (B) imagem de
copépodo obtida com esse sistema [adaptado de (A) DAVIS et al., 1992 e (B) coml.org].

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 243


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Vantagens do VPR:
– avaliação em tempo real;
– armazenamento de imagens (banco de dados digitais);
– possibilidade de aquisição de dados ambientais em tempo real;
– pouco invasivo;
– uso em qualquer ambiente.
Desvantagens do VPR:
– baixa capacidade de resolução taxonômica;
– alto custo (de aquisição, operacional e de manutenção);
– nem sempre é possível identificar as espécies através do software de análise.
O ZooVis é um sistema de visualização utiliza um plano de luz estroboscópica
branca (BENFIELD et al., 2001). O instrumento é um perfilador dimensionado para
coletar imagens quantitativas do zooplâncton, a uma profundidade de até 250 m
(FIG. 9.23A). A câmera aponta para baixo, em um plano de 12 cm de largura e 3 cm
de profundidade. Com a profundidade do campo de visão igual ou superior ao
campo do plano de luz, somente alvos que estão focalizados são iluminados e
registrados na imagem. O sistema produz imagens de zooplâncton em um plano de
visão de 12 cm, com uma resolução de 50 µm (FIG. 9.23B).

A B
telemetria

câmera
transmissômetro

CTD

transmissor
e receptor
acústico

sistema acústico feixe de luz estroboscópica


multifrequência

Figura 9.23 Sistema ZooVis: (A) estrutura e componentes; (B) imagem de zooplâncton obtida
com esse sistema. Importante notar a escala de tamanho do volume relativo amostrado
[adaptado de DATTATREYA REDDY, 2004].

244 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

O perfilador submarino de vídeo, em inglês, Underwater Video Profiler (UVP), é


um sistema de imagem composto de uma câmera de vídeo Hi-8 (resolução de
512 x 512) capaz de detectar o tamanho a partir de 100 µm. Possui uma unidade de
controle e aquisição de dados, baterias e sistemas de iluminação (GORSKY et al., 1992).
O UPV pode ter dois sistemas de iluminação: 1) um campo de luz colimado na frente
da câmera, que visualiza 0,28 L através da iluminação de um plano de 1,5 cm, utiliza-
do para estudo da distribuição de partículas; 2) um sistema que usa quatro holofotes
para visualizar um volume de 70 L de água (FIG. 9.24). No ano de 1992, esse equipa-
mento foi desenvolvido por Gorsky e colaboradores para registrar informação sobre
zooplâncton e neve marinha, mas tem sido utilizado, com sucesso, para outros animais,
em especial no Mediterrâneo (BAUSSANT et al., 1993; STEMMANN et al., 2000; GORSKY
et al., 2000; GORSKY et al., 2002). Em um uso típico, o sistema desce com uma taxa de
1 m.s-1 através de um cabo, resultando em uma amostragem vertical a cada 4 cm.
O observatório 3D de zooplâncton foi desenvolvido por Strickler e Hwang
(2000), objetivando conseguir informações sobre a trajetória, em três dimensões, do
zooplâncton. Para isso, utilizaram visualização Schlieren em conjunto com um sistema
múltiplo de câmeras, tendo em vista obter projeções ortogonais de organismos em
um volume de 1 L e, desta forma, observar desde fitoplâncton até peixes, além de
proporcionar informações sobre o comportamento do zooplâncton em laboratório.

baterias

vídeo-câmeras
fluorômetro
unidade de controle
de gravação das câmeras
CTD

estroboscópio
nefelômetro

luz contínua holofotes


dos holofotes

Figura 9.24 Perfilador submarino de vídeo: estrutura e componentes


[adaptado de PICHERAL et al., 1998].

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 245


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
O lançamento mais recente para observação de organismos planctônicos in situ é a
câmera holográfica submarina eletrônica, eHolocam (FIG. 9.25A), desenvolvida por
Sun et al. (2007). Foi utilizada em conjunto com o amostrador ambiental AIRES a
uma velocidade de 4 nós, com a obtenção de imagens de vários organismos
planctônicos, em especial, de copépodos Calanus (FIG. 9.25B). A eHoloCam usa um
pulso de laser de Nd-YAG para paralisar quadros de partículas, movendo-se rapida-
mente, além de um sensor semicondutor de metal oxidado (CMOS) (FIG. 9.25C)
para capturar as imagens. Hologramas digitais em três dimensões e vídeos holográficos
são capturados em taxas de 5 a 25 Hz por várias horas, com o registro de todos os
organismos, em um volume de 36,8 cm3 (FIG. 9.25D). A adoção desse sistema inten-
sificou-se nos últimos anos, em função da dificuldade de implementação e utilização
de sistemas baseados em fotografias ou vídeos ópticos. Além da velocidade, conveni-
ência e independência do uso de produtos químicos, uma vantagem particular do
registro eletrônico é a habilidade de gravar vídeos holográficos (eHoloVideo), o que
introduz, na análise, uma quarta dimensão: o tempo.

A B
conectores subaquáticos feixe de luz 9,5

compartimento primário 9

8,5

7,5

6,5
direção do fluxo
1 2 3 4 5 6 7
compartimento secundário

sistema de sistema
C resfriamento computadorizado Computador

bateria

compartimento
primário

volume
gravado
compartimento
secundário
sistema
do laser
janela com
feixe do óptica vidro de óptica câmera
laser safira CMOS
D
filtros
colimador

janelas ópticas

feixe do câmera
laser CMOS

comprimento de gravação na água

Figura 9.25 eHoloCam: (A) compartimento protetor dos componentes; (B) imagem
holográfica do copépodo Calanus; (C) esquema dos compartimentos primário e secundário;
(D) componentes eletrônicos e ópticos de gravação [adaptado de SUN et al., 2007].

246 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Sistemas de interrupção de luz


No final da década de 1980 e começo de 1990, surgiram os sistemas ópticos de
interrupção de luz como o contador óptico de plâncton, em inglês, Optical Plankton
Counter (OPC) (FIG. 9.26A). Para contar os organismos marinhos, o novo dispositivo
produz medidas instantâneas de abundância de zooplâncton ao longo do tempo e
profundidade, nos quais as coletas são realizadas. Outros instrumentos acompanham
esse dispositivo para registrar temperatura e salinidade da água, bem como todo o
fitoplâncton associado. As informações são transmitidas para a embarcação em tem-
po real, onde podem ser revisadas, enquanto o cruzeiro está em andamento. Ao
mesmo tempo, devem ser coletados dados hidrográficos, para contribuir com os
dados coletados pelo OPC.
Originalmente, o OPC foi desenvolvido no Bedford Institute of Oceanography
(Canadá), como um sensor remoto (FIG. 9.26B), rebocado por uma embarcação capaz
de fornecer informação, em tempo real, sobre o tamanho do zooplâncton (HERMAN et al.,
2004). A intenção, quando de sua utilização inicial, era complementar a informação obtida
por redes de plâncton, fornecendo medidas sobrepostas e de alta resolução. O OPC foi
desenhado com o objetivo de ser uma ferramenta para separar o zooplâncton por classes
de tamanho, que pudessem ser associadas a grupos taxonômicos.
Entretanto, o OPC passou a ser utilizado com uma ampla variedade de platafor-
mas e redes como: SeaSoar, AquaShuttle, Batfish, Scanfish, MOCNESS, BIONESS,
V-fins, ARIES, LHPR, ROV e integrado a rede Bongo. Muitos estudos oceanográfi-
cos fizeram uso do OPC como, por exemplo: investigação sobre o macrozooplâncton
na Corrente da Califórnia (CHECKLEY, 2001; MULLIN et al., 2003; BEAULIEU et al., 1999);
estudos sobre a distribuição vertical e horizontal de Calanus finmarchicus, durante sua
invernada no Atlântico Norte (HEATH, 1995, 1999); estudos sobre o espectro da
biomassa do plâncton em sistemas de água doce (SPRULES et al., 1998; SPRULES, 2002);
modelagem do espectro normalizado da biomassa do zooplâncton e estudos da
dinâmica de populações de zooplâncton estruturadas por tamanho (ZHOU e HUNTLEY,
1997; ZHOU et al., 2001); medidas da distribuição de tamanho do zooplâncton ao
longo das estações do programa CalCoFi, ao leste da Baía de Monterey (HOPCROFT et
al., 2002) e medidas da abundância de zooplâncton e biovolume em águas com alta
quantidade de detrito (ZHANG et al., 2000).
O contador óptico de plâncton a laser, em inglês, Laser Optical Plankton Counter
(LOPC) (FIG. 9.27A), utiliza um laser de alta qualidade, em conjunto com instrumentos
ópticos de grande precisão, para criar um feixe de laser ou plano, utilizado para detec-
tar mudanças na trajetória do feixe ou bloquear a luz, indicando que uma partícula está
se deslocando através do túnel (HERMAN et al., 2004). A banda de detecção é muito
estreita (1 mm) e a taxa de medição extremamente rápida (35 µs) (FIG. 9.27B). Essa
combinação permite ao LOPC operar em altas concentrações de plâncton (FIG. 9.27C)
e manter os níveis de “limite de coincidência” muito baixos.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 247


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Figura 9.26 Contador óptico de plâncton (OCP): (A) compartimento protetor dos
componentes; (B) componentes eletrônicos e ópticos de gravação
[adaptado de MACKAY et al., 1997].

feixe de luz feixe de laser


prisma de emitida
direção de arrasto espelho lente sistema
A B reflexão (1x35 mm)
cilíndrica de laser

le
tro
role
con a
cont
saíd dos
da
de
s
dado
caixa pressurizada os
feixe de luz dad
de ópticos eletrônicos computador
de retorno
(1x35 mm)
filtro fotodiodo
janela de de 35 elementos
túnel de coleta interface
ar/água

C 0 2 4 6 mm

Figura 9.27 Contador óptico de plâncton a laser (LOPC): (A) compartimento protetor dos
componentes; (B) componentes eletrônicos e ópticos de gravação; (C) perfis de
multielementos do plâncton (MEPs) obtidos com o LOPC [adaptado de HERMAN et al., 2004].

A grande vantagem dos sistemas ópticos, em relação às redes coletoras, é o au-


mento de informação da distribuição tanto vertical como horizontal dos organismos
planctônicos, através das suas imagens. Além de integrar a abundância de uma espécie
em particular que está sendo capturada durante um arrasto com uma rede de plâncton,
os sistemas ópticos têm o potencial de informar dados sobre a abundância, por
pequenos intervalos de tempo, no caminho da rede. Essa informação pode ser dada
para qualquer tipo de organismo ou classe de tamanho de interesse. Outra vantagem
é que os organismos mais frágeis, passíveis de dano pela rede, podem ser detectados
por instrumentos ópticos sem serem danificados. Alguns instrumentos ópticos, utili-

248 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

zados em conjunto com programas de identificação, permitem a classificação auto-


mática e reduzem a enorme quantidade de dados necessários para a descrição de
padrões de concentração do zooplâncton (TANG et al., 1998).
Talvez a principal vantagem dos OPCs seja a sua habilidade em medir, de modo
contínuo, uma ampla gama de distribuições de tamanho rapidamente, em tempo real
e simultâneo com outros parâmetros ambientais. Os OPCs também oferecem alta
resolução espacial e temporal, enquanto são rebocados em áreas grandes, sem a ne-
cessidade de paradas para recuperação de dados e para manutenção. Com o advento
do LOPC foi reduzida a principal desvantagem desses tipos de instrumentos, pois
com a utilização de um diodo a laser se obtém maior precisão, sendo que a capacidade
de identificação de zooplâncton maior do que 1 mm é aumentada através da medida
da forma do plâncton.
A principal desvantagem dos sistemas ópticos é sua dependência de luz alternativa,
uma vez que os chamados ativos são mais invasivos e, com isso, alteram o comporta-
mento dos organismos. Fontes ativas de luz também podem criar “fantasmas” em
águas com muitas partículas em suspensão, o que dificulta o seu uso em regiões cos-
teiras. Aqueles baseados em fotografias ou vídeos ópticos também produzem um
aumento significativo de dados, que, geralmente, necessitam de sistemas com grande
capacidade de armazenamento. Quando não são usados sistemas de análises de ima-
gens automatizados, o processamento do que é obtido requer muito tempo e dedica-
ção do pesquisador. Esses equipamentos ainda são muito caros e compostos por
constituintes sofisticados, que requerem pessoal altamente treinado na sua utilização.
O sistema automatizado denominado Flow Cytometer with image aquisition (FlowCAM)
foi desenvolvido pela Fluid Imaging Technologies, em 1998. Trata-se da aquisição e
processamento de imagem digital para análises rápidas de partículas ou organismos
planctônicos suspensos em fluidos, que combina a Citometria de fluxo, a aquisição de
imagens ampliadas e detectores de fluorescência (FIG. 9.28).
Essas características tornam possível uma rápida análise do tamanho, formato e
fluorescência de partículas, graças à riqueza de informações das imagens microscópi-
cas. O exclusivo sistema de análise permite a aquisição de imagens de cada partícula
detectada, que são automaticamente identificadas, diferenciadas e quantificadas.
Tal equipamento foi desenvolvido, originalmente, para estudos de microplâncton, abran-
gendo partículas e organismos com tamanho entre 5 e 1.000 µm, podendo ser utilizado
para monitorar, continuamente, o ponto fixo de um corpo de água ou, de forma contí-
nua, uma área através de embarcação em movimento. Além disso, opera bombeando um
pequeno volume de amostra, através de um compartimento (câmera de fluxo) com
iluminação incidente e instrumentação óptica de alta resolução na parte inferior. O fato de
conter um pequeno volume passando pelo compartimento permite que a óptica seja
constantemente otimizada, para captar uma imagem de resolução adequada.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 249


luz led
A

D ANILO C ALAZANS (O RG .)
câmara de fluxo

fluxo
refrigeração do laser
objetiva
filtro de excitação
lente cilíndrica
espelho dicróico

filtro de emissão
laser 15-mw 532-nm
verde
profundidade do foco

câmera CCD
filtro de banda larga 0.590 -nm

detector de fluorescência
(pmt) 550-590 nm

detector de fluorescência
B (pmt) 590-700 nm

Figura 9.28 Sistema automatizado de contagem de partículas ou organismos planctônicos


(FlowCAM): (A) componentes eletrônicos e ópticos de gravação; (B) aquisição e processamento de
imagens com detalhe [adaptado de SIERACKI et al., 1998].

O sistema tem duas versões: a primeira é um modelo de bancada de laboratório,


usado para analisar amostras coletadas e levadas ao laboratório para análise; a segunda
é um modelo portátil, proveitoso na embarcação, podendo analisar partículas de 5 µm a
1 mm, com uma taxa de processamento de até 10 mL. min-1. O fabricante também
comercializa um conjunto de softwares que pode ser usado tanto para analisar como para
pesquisar, em uma base de dados, as características dos organismos em tempo real.
Vantagens do sistema:
– disponibilidade de modelos de bancada e portáteis;
– curto tempo de análise;
– alta velocidade na captação de imagens;
– aquisição de, até, 26 parâmetros diferentes, para caracterização de cada
partícula;

250 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– reconhecimento e classificação semiautomática;


– análise quantitativa e qualitativa de partículas e organismos;
– construção de bibliotecas para reconhecimento de partículas e/ou espécies;
– classificação por características de fluorescência e espalhamento.
Desvantagens do sistema:
– alto custo do instrumento e das atualizações do software;
– fragilidade da câmera de fluxo, causando frequentes avarias;
– limitação do tamanho mínimo das partículas ou organismos, que podem ser
identificados com resolução adequada.

4.5 Armadilhas

As armadilhas de plâncton são consideradas como um tipo especial de garrafa de


boca larga, designada, especificamente, para a coleta de plâncton.
Na sua maioria, as armadilhas são construídas de acrílico, policarbonato ou outro
material plástico transparente no formato retangular, com duas extremidades móveis.
É praxe baixá-las até a profundidade desejada, com ambas as extremidades abertas,
quando serão fechadas através de um mensageiro ou pela simples interrupção do
movimento. Na parede inferior da armadilha encontra-se, anexada, uma rede de
plâncton, que filtra o conteúdo da caixa no momento que o equipamento está sendo
recolhido. Desta forma, é possível construí-las, praticamente, com qualquer volume;
sendo que, comercialmente, são encontradas com 10, 15, 20 e 30 L (FIG. 9.29A).
tampa de
acrílico

furo

30 cm
27,5 cm

prendedores
30 cm

da tampa
caixa de
acrílico

ímãs boca
tampa de opostos
plástico removível
com tela de náilon ganchos argolas

pino praia mar

rede de plâncton

Figura 9.29 Armadilhas para captura de plâncton: (A) Schindler; (B) para coleta de plâncton
em costões rochosos [adaptado de (A) SCHINDLER, 1969 e (B) SETRAN, 1992].

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 251


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
As armadilhas são utilizadas em coletas pontuais em diferentes estratos, principal-
mente em ambientes calmos, com poucas correntes. Entretanto, armadilhas especiais,
tal como proposta por Setran (1992), permitem a coleta de plâncton em costões
rochosos (FIG. 9.29B).
Existem também armadilhas passivas, equipadas com chamarizes luminosos
(FIG. 9.30), destinadas à coleta de organismos mais ágeis, como larvas de peixes e
invertebrados, sendo utilizadas, principalmente, em áreas rasas, corais e estuários.

disco de flutuação

suporte

bastão de discos de
luz química polietileno

tubos de
acrílico

funil de
polietileno

coletor

furos de
filtração

Figura 9.30 Armadilha flutuante para coleta de larvas de peixes e invertebrados


[adaptado de FLOYD et al., 1992].

5 INSTRUMENTOS E EQUIPAMENTOS AUXILIARES


O fluxômetro é um instrumento munido de um rotor, que gira durante a passa-
gem da água. Logo, as revoluções decorrentes são transmitidas a um contador por
meio de um jogo de engrenagens. Desta maneira, é possível estimar a distância per-
corrida durante o trajeto da rede e calcular a volume de água filtrada, o que é impor-
tante para estudos de abundância e distribuição de organismos planctônicos numa
região.

252 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Existem vários modelos de fluxômetro, sendo os mais utilizados os do tipo TSK


(FIG. 9.31A) e os do tipo torpedo (FIG. 9.31B). A partir da década de 1980, começa-
ram a ser usados os modelos eletrônicos, com Unidade de Comando instalada a
bordo da embarcação.
Amostragem com rede, no entanto, só pode ter seu volume calculado de maneira
aproximada, através do volume de um cilindro delimitado pela abertura da boca da
rede, quando rebocado na água por certa distância. Nesse cálculo, alguns fatores rela-
tivos à rede utilizada devem ser levados em consideração, como forma e eficiência de
filtragem (por vezes, o volume calculado é diferente do real). O fluxômetro, ao medir
a quantidade de água que entra pela abertura da boca da rede, é o equipamento
auxiliar que permite minimizar a diferença do valor calculado do valor real do volume.

A B
hélice
hélice
20000

30000
8000

7000
200

300

10000

40000
9000

6000
80

70

100

400
90

60

9 9 9 9 9 9
50000

000000
5000
500
50
0
10

40

4000

60000
900

1000

90000
600
20
30

800

2000

80000
700

3000

70000

contadores de giro
trava contadores de giro

Figura 9.31 Instrumentos auxiliares – fluxômetros: (A) tipo TSK; (B) tipo torpedo
[adaptado do (A) Catálogo Kalshico e (B) Catálogo General Oceanics].

O valor que se obtém com um fluxômetro, após um lance de plâncton, é o núme-


ro de revoluções proporcional à distância percorrida pela rede. Esse número deve ser
transformado em um valor de volume e essa transformação requer um conhecimen-
to da relação revoluções/volume, que é obtida na curva de calibração. Cada fluxômetro,
inclusive os de idêntica construção, tem características próprias e independentes: cada
um vem com um número de série original, para marca e modelo, e com uma curva
de calibração correspondente, que é dada pela empresa construtora e que é utilizada
para o cálculo do volume filtrado.
No caso de um fluxômetro torpedo, marca General Oceanics, Mod. 2030, com
hélice padrão, o volume de água filtrado por uma rede de 60 cm de diâmetro é
calculado através da seguinte fórmula:

Vol (m³) = π x r² x h

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 253


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
em que:
π = 3,1416
r = 0,30 m
h é a distância percorrida em metros, determinada por: LF – LI do fluxômetro x
constante do rotor/999999
em que:
constante do rotor = 26.873 (dada pelo fabricante)
leitura inicial (LI) = 67.384
leitura final (LF) = 81.759
h = 14.375 x 26.873/999999 ou
h = 386,299 m

Vol (m³) = 3.1416 x 0,09 m² x 386,299 m = 109,22 m³

Com o tempo de uso, o fluxômetro pode apresentar desajustes, sendo necessária


uma recalibragem periódica. O método mais simples para essa recalibragem consiste
em submergir o aparelho (fixado num aro com bóias) numa piscina, com compri-
mento conhecido, realizando em torno de 20 percursos em tempos diferentes. Tal
procedimento também pode ser feito num canal artificial, com fluxo controlado. A
diferença entre a leitura inicial e a final do aparelho equivale ao número de rotações do
fluxômetro para a distância percorrida naquele tempo, obtendo-se um parâmetro
rot.s-1. Ao dividir a distância da piscina (12,2 m) pelo número de rotações por segun-
do (rot.s-1), tem-se a distância percorrida a cada rotação (m.rot-1). A planilha de
calibração do fluxômetro β fabricado na Universidade Federal do Rio Grande, rebo-
cado ao longo de uma piscina de 12,2 m, apresentou os resultados visíveis na Tabela
9.3. A média de m.rot-1 (TAB. 9.3 coluna X) é chamada constante de calibração do
fluxômetro que, no caso, é 0,1173076.
O fluxômetro β, cuja leitura inicial (LI) foi 8.735, foi rebocado em uma rede de
1 m de diâmetro de boca, por 11 minutos e 45 segundos (705 segundos), apresentan-
do uma leitura final (LF) de 11.767.
(LF) – (LI) = rotações no tempo do trajeto.
11.767 – 8.735 = 3.032 rotações no tempo do trajeto correspondente a 3.032/
705 ou 4,30 rot.s-1.

254 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


Tabela 9.3 Dados correspondentes à tabela de calibração do fluxômetro β para 12,2 m
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

percorridos (1 e 2 = primeiro e segundo ensaios).

Segundos(s) Rotações(rot) rot.s-1 m.rot -1


1 2 Média 1 2 Média
1 2 1 2 (III/I) (IV/II) (V+VII/2) (12,2/III) (12,2/IV) (VIII+IX)/2
I II III IV V VI VII VIII IX X
14,2 14,7 105 102 7,39 6,94 7,16 0,116 0,119 0,117
16,7 16,0 106 101 6,35 6,31 6,33 0,115 0,121 0,118
18,8 17,5 105 107 5,58 6,11 5,84 0,116 0,114 0,115
19,7 20,6 107 107 5,43 5,19 5,31 0,114 0,114 0,114
21,7 24,3 106 105 4,88 4,32 4,60 0,115 0,116 0,115
23,5 21,1 105 103 4,47 4,88 4,67 0,116 0,118 0,117
25,8 22,7 107 102 4,14 4,49 4,31 0,114 0,119 0,116
28,4 30,2 103 101 3,63 4,34 3,48 0,118 0,121 0,119
29,4 29,3 105 100 3,57 3,41 3,49 0,116 0,122 0,119
31,8 31,8 104 101 3,27 3,18 3,22 0,117 0,121 0,119
34,0 31,2 103 101 4,29 3,24 3,76 0,118 0,121 0,119
35,5 36,1 106 100 2,98 2,77 2,87 0,115 0,122 0,118
38,0 39,4 104 101 2,74 2,56 2,65 0,117 0 ,121 0,119

Na Tabela 9.3, o valor de 4,30 rot.s-1 corresponde, aproximadamente, 0,116 m.rot-1.


Então, 0,116 x 3.032 = 351,71 m (distância percorrida no trajeto pela rede).
O volume do cilindro de 1 m de diâmetro (boca da rede) por 351,71 m (distância
que equivale à altura) (h) é:

πxr xh
2

então:

3,1416 x 0,5 x 351,71 = 276,23 m ,


2 3

é o volume de água filtrada pela rede nesse trajeto.


Em geral, o fluxômetro é posicionado ao centro da abertura da boca da rede. A
montagem é feita através de dois (FIG. 9.32A) ou três (FIG. 9.32B) cabos finos, atados
ao aro da rede. A exata posição do medidor na boca é um problema bastante inves-
tigado no passado. Nas redes em que os cabos de tração encontram-se à sua frente, o
posicionamento do fluxômetro deve estar deslocado na posição 3/4 em relação ao
centro. Já em redes rebocadas por cabos, que não estão diretamente em frente à boca,
o fluxo da água é, mais ou menos, uniforme em todos os pontos e o fluxômetro
pode ser colocado em qualquer posição da boca da rede. Em geral, é centralizado.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 255


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B

000000
9 9 9 9 9 9

Figura 9.32 Posição do fluxômetro na rede: (A) com duas amarras; (B) com três amarras.

Clinômetro é um instrumento também conhecido como inclinômetro e utilizado


para observar, em graus, os ângulos de inclinação do cabo de reboque. Serve, portan-
to, para calcular a quantidade de cabo a ser lançado, a fim de ser alcançada a profun-
didade pré-estabelecida. Este instrumento pode ser manual (FIG. 9.33A), digital
(FIG. 9.33B) ou preso ao cabo (FIG. 9.33C) perto de uma polia.

A B C
0
10 20 30 40 5

0
10
06

20

70
0

80 30
90 80 40
70 60 50

ANG

Figura 9.33 Clinômetros: (A) manual; (B) digital; (C) presa ao cabo.

O depressor é um equipamento, geralmente, em forma deltóide (FIG. 9.34A),


como os utilizados em coletores da rede Bongo e da Multinet; ou em forma de uma
lâmina, como no caso da rede Isaacs-Kidd. Não são pesados, mas, mesmo assim,

256 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

permitem reduzir o ângulo de inclinação do cabo de reboque, mantendo o coletor


numa profundidade constante durante o trajeto de coleta, com a menor quantidade de
cabo possível. Trata-se de um equipamento que admite ajustes de ângulo de ataque à água.

A B C

0 1
9
8 2
7 X100 3
6 5 4

0 1
9
8 2
7 X10 3
6 5 4

0 1
9
8 2
7 X1 3
6 5 4

Figura 9.34 Instrumentos e equipamentos auxiliares: (A) depressor tipo deltóide;


(B) mecanismo de fechamento e mensageiro; (C) polia hodométrica mecânica
[adaptado do (A) Catálogo Hydro-Bios e (B) HART, 1935].

A polia hodométrica é um instrumento usado para determinar, de maneira acurada,


o alcance da profundidade pré-estabelecida pelo coletor, medindo o cabo que passa
pela polia. Dois modelos básicos são utilizados: 1) mecânico, com um contador geral-
mente acoplado à própria polia e marcação em metros (FIG. 9.34B) ou em pés (a cada
novo lançamento é necessário zerá-lo); 2) eletrônico, com várias unidades a escolher (metros,
pés). Este pode ser colocado em qualquer parte da embarcação e facilita sua leitura à noite.
O mecanismo de fechamento é um equipamento que possui uma (FIG. 9.34B)
ou duas (FIG. 9.35) presilhas móveis, onde são presas as amarras da boca da rede, e
outra fixa, onde é presa a amarra que está em volta do corpo da rede (FIG. 9.15). No
caso do mecanismo de uma presilha móvel, ao finalizar o trajeto de coleta, um men-
sageiro, mecanicamente, libera as amarras da boca da rede (presa pela amarra em
volta do corpo da rede), não permitindo mais a filtração do coletor.
O mecanismo de fechamento duplo, desenvolvido pela firma americana General
Oceanics, pode ser utilizado para operações como coletas horizontais de fundo, em
que é necessária a descida da rede fechada (FIG. 9.35A). O primeiro mensageiro
(FIG. 9.35B) abre a rede na profundidade desejada e o segundo (FIG. 9.35C) fecha
novamente a rede, para o içamento até a superfície.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 257


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Há, também, liberadores ativados por eletricidade, por acústica ou por pressão.
São utilizados, principalmente, nos trajetos verticais, para manter a rede aberta durante
o percurso de descida e fechada no percurso de subida, após o trajeto entre os estratos.

A B C

a
mensageiro de operação
da primeira rede b
a
a

rede fechada na descida

1
rede aberta em operação
bb 1
b 1

a 1 rede fechada na subida

mensageiros de operação
da segunda rede b 1

a 1

Figura 9.35 Mecanismos de fechamento duplo e seu funcionamento


[adaptado do Catálogo General Oceanics].

6 LISTA DE INSTRUMENTOS E EQUIPAMENTOS


Quando se dá início a um cruzeiro científico, todo instrumento, equipamento e
material que será usado deve estar a bordo, tendo-se em conta que é impossível
retornar ao porto se algo for esquecido. Sendo assim, é muito importante relacionar
todo o material necessário que será utilizado antes do início do cruzeiro. Também é
impossível retornar ao porto quando um aparelho deixa de funcionar ou é danifica-
do. Logo, todos os instrumentos e equipamentos devem ter, pelo menos, um outro,
sobressalente. Uma lista de todos os aparelhos utilizados em coleta de organismos
planctônicos encontra-se na Tabela 9.4, que deverá ser preenchida durante a prepara-
ção do cruzeiro.

258 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tabela 9.4 Planilha com lista do material necessário para coleta e armazenagem de plâncton.

Material Quant. Retirada Devolução


Set completo* de rede(s)
Fluxômetro
Polia hodométrica
Depressores
Clinômetro
Disco de Secchi
Tabela de ângulos
Mecanismo de fechamento
Mensageiro
Profundímetro
Termosalinômetro
Planilha
Material de escritório**
Balde
Bandeja plástica
Formol puro
Funil
Engradado de garrafas plásticas
Papel toalha
Luvas
Lanterna
Set de pilhas
Notebook
GPS
Chave de fenda
Alicate
Parafusos
Borboletas
Pedaços de tela (=corpo da rede)
Cola silicone
Cola araldite 24h
Cabos trançados de náilon
Cabos de aço
Tesoura
Para material vivo
Bombas de ar
Bombas de ar a pilha
Caixa de isopor
Conecção plásticas p/espagueti
Espagueti plástico
Extensão T
Fio de extensão
Frascos plásticos
Monobloco
Pedra p/ar
Pilhas para bombas de ar
Frascos de vidro de 30 e 100 mL
Pipetas
Pinça

* Set completo da(s) rede(s) a ser(em) utilizada(s) compreende: aro, corpo da rede, coletor completo, abraçadeira,
manilhas, cabos para as amarras.
** Material de escritório compreende: envelopes A4, papel A4, caneta esferográfica, lápis, apontador, borracha,
atilho, régua, prancheta, etiquetas adesivas, fita adesiva tipo crepe, pincel atômico, clipes, grampeador, grampos,
CDr, DVDr.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 259


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
7 MÉTODOS DE TRAJETO
7.1 Vertical

O trajeto vertical (FIG. 9.36) é útil em estudos de variações dia/noite de abundân-


cia, entre a superfície e determinada profundidade, pois determina a presença de
organismos planctônicos em diferentes intervalos de profundidades na coluna da
água. Os estratos de coleta podem ser escolhidos previamente, como, por exemplo,
de 200 a 100 m, de 100 a 50 m e de 50 m até a superfície. Entretanto, se o foco do
estudo estiver direcionado para certos aspectos físicos, como, por exemplo, a presen-
ça de termoclinas, conhecidas pouco antes, os estratos não poderão ser pré-estabele-
cidos, mas escolhidos, praticamente, no momento da coleta.

Figura 9.36 Tipos de trajeto vertical.

Como neste tipo de arrasto é possível saber, exatamente, a distância percorrida, ou


seja, o intervalo entre as profundidades, calcula-se o volume de água filtrada através
do volume de um cilindro, cuja fórmula é:

V=Axh

260 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

em que:
A é a área da boca da rede;
h é o intervalo entre as profundidades de coleta (FIG. 9.37);
A área da boca da rede é calculada assim:

A = π x r²
em que:
π = 3,1416
r é o raio da boca da rede.
Em um trajeto vertical entre as profundidades de 100 e 50 m, utilizando-se uma
rede cilindrocônica, com 60 cm de diâmetro de boca, o volume é:

V = 3,1416 x 0,302 x 50 = 14,14 m³

Figura 9.37 Cálculo do volume de água filtrada num arrasto, com distâncias
percorridas conhecidas.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 261


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Material utilizado:
– planilha de registro (ANEXO 6);
– rede cônica ou cilindrocônica;
– mecanismo de fechamento;
– mensageiro;
– lastro;
– garrafas plásticas, com 35 mL de formol;
– clinômetro;
– tabela de ângulos.
Protocolo de coleta do trajeto vertical:
1) no ponto da estação, com a embarcação parada, preencher dados da estação
na planilha de amostragem vertical de zooplâncton;
2) escolher os intervalos de profundidade a serem amostrados;
3) verificar se o coletor está bem preso;
4) baixar, lentamente, a rede, até a superfície;
5) afundar a rede, até a maior profundidade do intervalo;
6) observar a inclinação do cabo, para ajustar profundidade;
7) parar a descida;
8) observar, novamente, a inclinação do cabo;
9) içar a rede, até a menor profundidade do intervalo;
10) passar o mensageiro no cabo;
11) soltar o mensageiro;
12) sentir, no cabo, o disparo do mecanismo de fechamento;
13) subir a rede, até a superfície;
14) lavar com água do mar o corpo da rede, cuidadosamente, de fora para dentro;
15) colocar a rede no convés;
16) lavar bem o final da rede e o coletor;
17) abrir o coletor;
18) colocar amostra na garrafa plástica, com o auxílio de um funil;
19) agitar a garrafa, lateralmente, para fixar bem a amostra;
20) anotar o número da garrafa na planilha;
21) guardar a garrafa;
22) repetir os procedimentos tantas vezes quantos forem os intervalos amostrados.

262 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

7.2 Horizontal

O trajeto horizontal, embora possa realizar-se em profundidade, normalmente é


utilizado em zonas pouco profundas, nas quais os outros tipos de arrasto não conse-
guem. Amostra apenas uma determinada camada de água, normalmente superficial
ou subsuperficial, porém é o preferido para amostra qualitativa de organismos planctônicos
de uma região. No trajeto horizontal, a rede é arrastada com o barco em movimento de,
aproximadamente, 2 a 3 nós, por um tempo não superior a 5 minutos, sendo utilizados
para o conhecimento qualiquantitativo dos organismos planctônicos de uma região.
No arrasto de superfície (FIG. 9.38A) é possível acompanhar o trajeto da rede e
observar seu funcionamento. Para evitar a turbulência causada pela hélice da embarca-
ção, é aconselhável navegar em curva aproximada de 20°. Neste arrasto, nenhum tipo
de peso é necessário.
No horizontal de meia água ou próximo ao fundo (FIG. 9.38B), é necessário um
depressor (lastro) que afunde a rede o mais rápido possível (é conveniente baixar a
rede com a embarcação iniciando a navegação), para evitar o efeito de catenária
(barriga no cabo). O reboque de uma rede leve, através de grandes comprimentos de
cabo, pode dificultar a descida do equipamento até a profundidade necessária, devido
às forças de arrasto.
Ao término do tempo de arrasto, içar a rede rapidamente, com a embarcação já parando.

Figura 9.38 Trajetos horizontais: (A) de superfície; (B) de profundidade.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 263


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Uma preocupação nesse tipo de trajeto é ter que monitorar, constantemente, a
profundidade exata de arrasto, para impedir que a rede toque no fundo. Uma alterna-
tiva simples e menos onerosa, porém não muito exata, é calcular a profundidade de
arrasto, através da seguinte fórmula trigonométrica de um triângulo retângulo (FIG. 9.39):

cos α = cateto adjacente/hipotenusa

em que:
α é o ângulo do cabo medido por um clinômetro na hora do arrasto;
cateto adjacente é a profundidade de arrasto desejado;
hipotenusa é o comprimento do cabo lançado para atingir a profundidade de
arrasto.

Figura 9.39 Esquema de cálculo de quantidade de cabo a ser lançado para alcançar
a profundidade desejada.

Para arrasto de fundo, a profundidade-base para o cálculo sempre são dois me-
tros a menos do que a profundidade de fundo. Mantendo a velocidade de arrasto
constante e a mesma rede de coleta, a inclinação do ângulo varia pouco e obedece aos

264 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

mesmos intervalos. Por exemplo, para uma embarcação a 2 nós de velocidade, uma
rede cilindrocônica, de 60 cm de abertura de boca e 200 µm de abertura de malha,
com um lastro de 15 kg, o intervalo varia entre 60° (cosseno = 0,5) e 70° (cosseno = 0,34).
Então, para alcançar 30 m de profundidade, a quantidade de cabo lançado deverá ser
de 60 m e 88 m, respectivamente. É recomendável, ao içar a rede, também parar o
barco, para que a rede filtre o menor volume possível no caminho de volta. Na Tabela
9.5, como um exemplo, indica-se a quantidade de cabo que deve ser lançada para
alcançar a profundidade de arrasto desejada.
Como segunda alternativa, indica-se utilizar um profundímetro na abertura da
boca da rede, que informa o correto trajeto da rede durante o arrasto, além de coletar
dados sobre temperatura, condutividade e oxigênio dissolvido.
Material utilizado:
– planilha de registro (ANEXO 7);
– rede cônica ou cilindrocônica;
– fluxômetro;
– profundímetro (opcional);
– lastro (para lance em profundidade);
– clinômetro (para lance em profundidade);
– tabela de ângulo (TAB. 9.5);
– garrafas plásticas, com 35 mL de formol;
– funil.
Foto: Projeto Amazônia Azul

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 265


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Tabela 9.5 Quantidade de cabo lançado (em metros) para alcançar a profundidade detalhada
até 100 m, com diferentes inclinações de cabo.
α 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 75 80 α
10 13 13 13 14 14 15 16 17 17 18 20 21 22 24 26 29 38 57 10
12 15 16 16 17 17 18 19 20 21 22 24 25 27 29 32 35 46 69 12
14 18 18 19 20 20 21 22 23 25 26 28 29 31 34 37 41 54 80 14
16 20 21 22 23 23 24 25 27 28 30 32 34 36 39 42 47 61 92 16
18 23 24 25 25 26 28 29 30 32 33 36 38 41 44 48 53 69 103 18
20 26 26 27 28 29 31 32 34 35 37 40 42 45 49 53 58 77 115 20
22 28 29 30 31 32 34 35 37 39 41 44 46 50 54 58 64 85 126 22
24 31 32 33 34 35 37 38 40 42 45 48 51 54 63 64 70 92 138 24
26 33 34 36 37 38 40 42 44 46 49 52 55 69 65 69 76 100 149 26
28 36 37 38 40 41 43 45 47 50 52 56 59 63 68 74 82 108 161 28
30 39 40 41 43 44 46 48 51 53 56 60 63 68 73 80 88 115 172 30
32 41 43 44 46 47 49 51 54 57 60 64 68 72 78 85 94 123 184 32
34 44 45 47 48 50 52 55 57 70 64 68 72 77 83 90 99 131 195 34
36 46 48 50 51 53 56 58 61 64 67 72 76 82 88 96 105 139 207 36
38 49 51 52 54 56 59 61 64 67 71 76 80 86 93 101 111 146 218 38
40 52 53 55 57 59 62 64 68 71 75 80 85 91 98 106 117 154 230 40
42 55 57 58 60 63 65 68 71 75 79 84 89 95 103 112 122 162 241 42
44 57 59 61 63 66 68 71 74 78 83 88 94 100 108 117 129 170 253 44
46 60 62 64 66 69 72 74 78 82 86 92 98 105 113 122 134 177 265 46
48 63 65 67 69 72 75 77 81 85 90 96 102 109 118 128 140 185 275 48
50 65 67 70 72 75 78 81 85 89 94 100 107 114 123 133 146 193 289 50
52 67 70 72 75 78 81 84 88 92 98 104 110 118 127 138 152 200 299 52
54 70 73 75 78 81 84 87 91 96 101 108 115 123 132 144 157 208 310 54
56 73 75 78 81 84 87 90 95 100 105 112 119 127 137 149 163 216 322 56
58 76 78 81 83 87 90 94 98 103 109 116 123 132 142 154 169 224 334 58
60 78 81 83 86 90 93 97 102 107 113 120 127 136 147 160 175 231 345 60
65 84 87 90 93 97 101 105 110 116 122 130 138 148 159 173 190 251 374 65
70 91 94 97 101 105 109 114 119 125 132 140 149 160 172 187 205 270 403 70
80 104 108 111 115 119 124 130 136 143 151 160 170 182 197 214 234 309 461 80
90 117 121 125 130 134 140 146 153 161 170 180 192 205 221 240 263 347 518 90
100 130 135 139 144 149 155 162 170 179 189 200 213 228 246 267 292 386 576 100
Prof. 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 66 68 70 75 80 Prof.

Protocolo de coleta para trajetos horizontais de superfície:


1) verificar se a rede está bem presa ao cabo de reboque;
2) certificar-se de que o fluxômetro encontra-se bem amarrado à abertura boca
da rede;
3) conferir se o coletor mantém-se preso à rede;
4) preencher dados da estação, na planilha de amostragem horizontal de
zooplâncton;
5) escolher as profundidades a serem amostradas;
6) anotar número inicial do fluxômetro;
7) iniciar a navegação a até 2 nós, em movimento semicircular;
8) baixar, lentamente, a rede até a superfície;
9) liberar cabo reboque, até a rede desaparecer da superfície;
10) anotar tempo inicial do trajeto;
11) observar, constantemente, se a rede está submersa; caso contrário, liberar um
pouco mais de cabo reboque;
12) anotar tempo final do arrasto;

266 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

13) trazer a rede até a borda da embarcação;


14) içar a rede;
15) lavar o corpo da rede com água do mar, cuidadosamente, de fora para dentro;
16) puxar a rede para o convés;
17) anotar número final do fluxômetro;
18) ter em mãos uma garrafa identificada e o funil, para despejar a amostra;
19) bater, com cuidado, a lateral do coletor (nunca, diretamente, na tela);
20) diminuir o volume, até abaixo das janelas;
21) desatarraxar as borboletas;
22) liberar, cuidadosamente, o coletor;
23) despejar amostra na garrafa;
24) girar a garrafa, lateralmente, para fixar bem a amostra;
25) anotar na planilha o número da garrafa;
26) guardar a garrafa;
27) recolocar o coletor na rede, apertando bem as borboletas.
Protocolo de coleta para trajeto horizontal de profundidade:
1) as verificações e anotações iniciais são as mesmas do arrasto de superfície;
2) o lastro deve estar preso na manilha do cabo de reboque;
3) lançar a rede, imediatamente, após o início da navegação;
4) observar a inclinação do cabo, para ajustar profundidade;
5) diminuir a velocidade de descida;
6) observar inclinação do cabo (novamente);
7) anotar inclinação do ângulo a cada 20-30 m de cabos liberados;
8) parar a descida, quando alcançada a profundidade de arrasto desejada;
9) marcar o tempo inicial de arrasto;
10) anotar tempo final de arrasto;
11) içar a rede, rapidamente;
12) elevar a rede até a superfície;
13) a partir da lavagem da rede, os passos são os mesmos do arrasto de superfície.
É possível calcular o volume de água filtrado sem a utilização do fluxômetro. Tal
como foi explicado no arrasto vertical, o cálculo é o de volume de um cilindro. A
diferença é que, no trajeto horizontal, a embarcação encontra-se em movimento. A

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 267


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
distância percorrida (a altura da fórmula) é calculada, multiplicando-se a velocidade
da embarcação pelo tempo de arrasto. A velocidade da embarcação é dada em nós,
ou seja, milhas por hora, havendo necessidade de se multiplicar 1.853 m pela veloci-
dade em nós, para saber a velocidade em metros por hora. Se o tempo de arrasto foi
de alguns minutos, é preciso dividir esse tempo de arrasto por 60 min., tendo, assim,
o tempo em fração de hora. O uso de GPS resolve o problema, dando a distância
percorrida in loco.

7.3 Oblíquo

O trajeto oblíquo é muito utilizado, principalmente com rede Bongo, em zonas


profundas, que, normalmente, se caracterizam por menor abundância de organismos
(FIG. 9.40). Assim, numa mesma camada de água se consegue filtrar maior volume,
além de servir para trabalhos sobre distribuição e abundância dos organismos na
coluna de água, independente do efeito dia e noite. Esse tipo de trajeto pode ser
realizado, inclusive, com mau tempo.

Figura 9.40 Trajeto oblíquo.

268 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Material utilizado:
– planilha de registro (ANEXO 8);
– rede Bongo;
– fluxômetro;
– depressor de 40-50 kg, a 1,5-2 m abaixo da rede;
– clinômetro, preso ao cabo de reboque;
– tabela de ângulo (TAB. 9.5);
– garrafas plásticas, com 35 mL de formol;
– funil.
Protocolo de coleta para trajetória oblíqua
Com a embarcação parada:
1) prender o clinômetro no cabo de reboque;
2) preencher a planilha com dados da estação;
3) ter em mãos a tabela de profundidade;
4) separar duas garrafas numeradas e funil.
Checar:
1) a profundidade local;
2) se a rede Bongo permanece bem presa no cabo de reboque;
3) os cintos que prendem as redes: se estão bem colocados e apertados;
4) o fluxômetro: se está bem preso;
5) os copos coletores bem presos às redes;
6) o depressor: se está bem preso à rede;
7) o número inicial do fluxômetro.
Ao iniciar navegação:
1) içar a rede ao costado da embarcação;
2) baixar a rede, até a linha da água;
3) checar velocidade de arrasto de 2 nós;
4) zerar a polia hodométrica;
5) liberar o cabo reboque, a uma velocidade de, aproximadamente, 50 m/min;
6) iniciar a marcação do tempo de descida;
7) checar ângulo de inclinação do cabo;
8) checar a quantidade de cabo a cada 30 m lançados, até alcançar a profundida-
de desejada;

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 269


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
9) anotar o tempo de descida;
10) iniciar, imediatamente, a elevação da rede;
11) anotar o ângulo final;
12) anotar a quantidade de cabo liberado;
13) anotar o tempo de chegada da rede à superfície;
14) anotar tempo de subida;
15) içar rede;
16) lavar rede de cima para baixo e de fora para dentro;
17) concentrar a amostra no coletor;
18) baixar a rede no convés;
19) anotar número final do fluxômetro;
20) lavar rede, próxima do coletor, de dentro para fora;
21) bater, com cuidado, a lateral do coletor da rede n° 1;
22) diminuir o volume, até abaixo das janelas;
23) desatarraxar as borboletas do coletor;
24) liberar, cuidadosamente, o coletor;
25) despejar a amostra na garrafa plástica, com o auxílio de um funil;
26) girar a garrafa, lateralmente, para fixar bem a amostra;
27) anotar número da garrafa para rede n° 1;
28) guardar a garrafa;
29) recolocar o coletor na rede n° 1, apertando bem as borboletas;
30) repetir o procedimento para coleta da rede n° 2.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AHLSTROM, E.H. A record of pilchard eggs and larvae collected during surveys
made in 1939 to 1941. Special Scientific Report, Washington, n. 54, p. 1-76, 1948.
ARNOLD, E.L. High speed plankton samplers I: a high speed plankton sampler (Model
Gulf 1-A). Special Scientific Report Fisheries, Washington, n. 88, p. 1-6, 1952.
ARNOLD, E.L. The Gulf V plankton sampler. Circular Fish and Wildlife Service,
Washington, n. 62, p. 111-113, 1959.
ARON, W. The use of a large capacity portable pump for plankton sampling, with notes
on plankton patchniess. Journal of Marine Research, Connecticut, v. 16, n. 2,
p. 158-173, 1958.
BAKER, A.D.; CLARKE, M.R.; HARRIS, M.J. The N.I.O. combination net (RMT
1 + 8) and further developments of rectangular midwater trawls. Journal of the

270 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Marine Biological Association of the United Kingdom, Cambridge, v. 53,


p. 167-184, 1973.
BÉ, A.W.H. A method for rapid sorting of foraminifera from marine plankton samples.
Journal of Paleontology, Tulsa, v. 33, p. 1-5, 1959.
BÉ, A.W.H. Quantitative multiple opening-and-closing plankton samplers. Deep-Sea
Research, New York, v. 9, p. 144-151, 1962.
BEERS, J.R.; STEWART, J.L.; STRICKLAND, J.D. A pumping system for sampling
small plankton. Journal of Fisheries Research Board of Canada, Ottawa, v. 24,
p. 1811-1818, 1967.
BERNARDI, R. Methods for the estimation of zooplankton abundance. In:
DOWNING, J.A.; RIGLER, F.H. (Ed.). A Manual on Methods for the
Assessment of Secondar y Productivity in Fresh Waters – IBP Hand
Book 17. Oxford: Blackwell Scientific, 1984. p. 59-86.
BOLTOVSKOY, D. Atlas del Zooplancton del Atlántico Sudoccidental y
Métodos de Trabajo com el Zooplancton Marino. Mar del Plata, Publicación
Especial del Instituto Nacional de Investigación y Desarrollo Pesquero, 936 p., 1981.
BOSSANYI, J. An apparatus for the collection of plankton in the immediate vicinity
of the sea-bottom. Journal of the Marine Biological Association of the United
Kingdom, Cambridge, v. 30, n. 2, p. 265-270, 1951.
BROWN, D.M.; CHENG, L. New net for sampling the ocean surface. Marine
Ecology Progress Series, Amelinghausen, v. 5, n. 2, p. 225-227, 1981.
BRUCE, R.H.; AIKEN, J. The undulating oceanographic recorder: a new instrument
system for sampling plankton and recording physical variables in the euphotic zone
from a ship underway. Marine Biology, Berlin, v. 32, n.1, p. 85-97, 1975.
CHECKLEY, D.M.Jr.; ORTNER, P.B.; SETTLE, L.R.; CUMMINGS, S.R. A continuous,
underway fish egg sampler. Fisheries Oceanography, Cambridge, v. 6, n. 2, p. 58-73, 1997.
CLARKE, G.L.; BUMPUS, D.F. The plankton sampler: an instrument for quantitative
plankton investigations. American Society of Limnology and Oceanography, Special
Publication n. 5, p. 1-8, 1950.
CLARKE, M. A new midwater trawl for sampling discrete depth horizons. Journal of
the Marine Biological Association of the United Kingdom, Cambridge, v. 49,
p. 945-960, 1969.
CURRIE, R.I. The Indian Ocean standard net. Deep-Sea Research, New York,
v. 10, p. 27-32, 1963.
DAVID, P.M. The neuston net: a device for sampling the surface fauna of the ocean. Journal of the
Marine Biological Association of the United Kingdom, Cambridge, v. 45, p. 313-320, 1965.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 271


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
DUNN, J.; HALL, C.D.; HEATH, M.R.; MITCHELL, R.B.; RITCHIE, B.J. ARIES:
a system for concurrent physical, biological, and chemical sampling at sea. Deep-Sea
Research I, New York, v. 40, n. 4, p. 867-878, 1993.
DUNN, J.; MITCHELL, R.B.; URQUHART, G.G.; RITCHIE, B.J. LOCHNESS: a
new multi-net midwater sampler. ICES Journal of Marine Science, London, v. 50,
n. 2, p. 203-212, 1993.
DUSSART, B.H. Les différentes catégories de plâncton. Hydrobiologia, Dordrecht,
v. 26, p. 72-74, 1965.
FRASER, J.H. Zooplankton sampling. Nature, London, v. 211, p. 915-916, 1966.
GEHRINGER, J.W. High-speed plankton samplers: an all-metal plankton sampler
(model Gulf III). United States Fish and Wildlife Service Special Scientific
Report Fisheries, Washington, n. 88, p. 7-12, 1952.
GLOVER, R.S. The Hardy plankton indicator and sampler: a description of the various
models in use. Bulletin Marine Ecology, Plymouth, v. 4, p. 7-20, 1953.
HARDY, A.C. A new method of plankton research. Nature, London, v. 118, p. 630-632, 1926.
HEMPEL, G.; WEIKERT, H. The neuston of the sub-tropical and boreal North-
eastern Atlantic Ocean: a review. Marine Biology, Berlin, v. 13, p. 70-88, 1972.
HERMAN, A.W.; BEANLANDS, B.; PHILLIPS, E.F. The next generation of Optical
Plankton Counter: the Laser-OPC. Journal of Plankton Research, Oxford, v. 26,
n. 10, p. 1135-1145, 2004.
HUTCHINSON, G. Evelyn. Introduction to lake biology and the limnoplankton, In:
________. A Treatise on Limnology. New York: John Wiley, 1967. v. 2.
ISAACS, J.D.; KIDD, L.W. Isaacs-Kidd midwarter trawl: final report. Scripps Institute
of Oceanography, California, Ref. 53-3, p. 1-18, 1953. (Oceanographic equipment ;1)
JAFFE, J.S. Sensing plankton: acoustics and optical imaging. Marine Physical Laboratory,
Scripps Institution of Oceanography, University of California, San Diego, La Jolla.
2005. Disponível em: <jaffeweb.ucsd.edu> Acesso em: 12 de junho de 2006.
JOSSI, J.W. The ICIRTA one-meter plankton net: description and evaluation.
Limnology and Oceanography, Kansas, v. 11, p. 640-642, 1966.
KOFOID, C.A. On a self-closing plankton net for horizontal towing. University of
California Publications in Zoology, v. 8, p. 312-340, 1911.
LALLI, C.; PARSONS, T. Biological Oeanography: an Introduction. Oxford:
Butterworth & Heinemann, 1993.
LONGHURST, A.R.; REITH, A.D.; BOWER, R.E.; SEIBERT, D.L.R. A new system
for the collection of multiple serial plankton samples. Deep-Sea Research, New
York, v. 13, p. 213-222, 1966.

272 D ANILO C ALAZANS , J OSÉ H. M UELBERT E E RIK M UXAGATA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

MCGOWAN, J.A.; BROWN, D.M. A new opening-closing paired zooplankton net.


Scripps Institute of Oceanography Reference, California, 66/23, p. 1-56, 1966.
METHOT, R.D. Frame trawl for sampling pelagic juvenile fish. CalCoFi Report,
California, v. 27, p. 267-278, 1986.
MILLER, C.B.; JUDKINS, D.C. Design of pumping systems for sampling
zooplankton, with descriptions of two high-capacity samplers for coastal studies.
Biological Oceanography, v. 1, p. 29-56, 1981.
NANSEN, F. Closing-nets for vertical hauls and for horizontal towing. Conseil
Permanent International pour l’Exploration de la Mer, Copenhague, v. 67,
p. 1-8, 1915. (Publications de Circonstance).
NASH, R.D.M.; DICKEY-COLLAS, M.; MILLIGAN, S.P. Descriptions of Gulf-
VII/PRO-NET and MAFF/Guildline unencased high-speed plankton samplers.
Journal of Plankton Research, Oxford, v. 20, n. 10, p. 1915-1926, 1998.
NIBAKKEN, J.W. Marine Biology: an ecological approach 3rd. ed. New York:
Harper Colling College, 1993.
OMORI, M.; IKEDA, T. Methods in marine zooplankton ecology. New York:
Wiley-Intercience, 1984.
POWLICK, J.J.; ST. JOHN, M.M.S.; BLAKE, R.W. A retrospective of plankton
pumping systems, with notes on the comparative efficiency of towed nets. Journal
of Plankton Research, Oxford, v. 13, n. 5, p. 901-912, 1991.
POSGAY, J.A.; MARAK, R.R. The MARMAP bongo zooplankton samplers. Journal
of Northwest Atlantic Fisheries Science, Canada, v. 1, p. 91-99, 1980.
RUSSELL, F.S. A net for catching plankton near the bottom. Journal of the Marine
Biological Association of the United Kingdom, Cambridge, v. 15, p. 105-108, 1928.
RUTZELER, K.; FERRARIS, J.D.; LARSON, R.J. A new plankton sampler for coral
reefs. Marine Ecology, Berlin, v. 1, n. 1, p. 65-71, 1980.
SAMEOTO, D.D.; JAROSZYNSKI, L.O. Some Zooplankton net Modifications and
Developments. Canada: Canadian Fisheries and Marine Service, 1976. (Technical Report , 679).
SAMEOTO, D.D.; JAROSZYNSKI, L.O.; FRASER, W.B. BIONESS, a new design
in multiple net zooplankton samplers. Canadian Journal of Fisheries and Aquatic
Sciences, Ottawa, v. 37, n. 4, p. 693-702, 1980.
SETRAN, A.C. A new plankton trap for use in the collection of rocky intertidal
zooplankton. Limnology and Oceanography, Kansas, v. 37, n. 3, p. 669-674, 1992.
SIERACKI, C.K.; SIERACKI, M.E.; YENTSCH, C.S. An imaging-in-flow system
for automated analysis of marine microplankton. Marine Ecology Progress Series.
Amelinghausen, v. 168, p. 285-296, 1998.

ORGANISMOS P LANCTÔNICOS 273


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
SOLEMDAL, P.; ELLERTSEN, B. Sampling fish
larvae with large pump, quantitative and qualitative
comparisons with traditional gear. In: DALL, E.;
DANIELSSEN, D. S.; MOKNESS, E.; SOLEMDAL,
P. (Ed.). The propagation of cod Gadus morhua L.
Arendal. Norway: Institute of Marine Research, 1984,
p. 335-363.
SUN, H.; HENDRY, D.C.; PLAYER, M.A.; WATSON,
J. In situ underwater electronic holographic camera for
studies of plankton. IEEE Journal of Oceanic
Enginnering, New Jersey, v. 32, n. 2, p. 373-382, 2007.
THOMPSON, J.V. On the metamorphoses of the
Crustacea, and on zoea, exposing their singular structure
and demonstrating that they are not as hasa been
supposed, a peculiar Genus, but the larvae of Crustacea.
Zoology Research, v. 1, p. 1-67, 1828.
TUCKER, G.H. Relation of fishes and other organisms
to the scattering of underwater sound. Journal of
Marine Research, Connecticut, v. 10, p. 215-238, 1951.
UNESCO. Zooplankton Samples. Paris:
UNESCO, 1979. (Monographs on Oceanographic
Methodology, v. 2)
WEIKERT, H.; JOHN, H.C. Experiences with a
modified Bé multiple opening-closing plankton net.
Journal of Plankton Research, Oxford, v. 3, n. 2,
p. 167-176, 1981.
WIEBE, P.H.; BURT K.H.; BOYD, S.H.; MORTON,
A.W. A multiple opening/closing net and environmental
sensing system for sampling zooplankton. Journal of
Marine Research, Connecticut, v. 34, n. 3, p. 313-326,
1976.
YAMAZI, I. Automatic plankton sampler with multiple
nets. Publications of the Seto Marine Biological
Laboratory, Wakayama, v. 8, n. 2, p. 451-453, 1960.
ZAITZEV, Y.P. On the methods of collecting of pelagic
eggs and fish larvae in the regions of the sea unexposed
to considerable freshening. Zoologicheskii Zhurnal,
Moskva, v. 38, p. 1426-428, 959.

274
Foto: Danilo Calazans

275
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO
ORGANISMOS BENTÔNICOS
10

André Colling e Carlos Bemvenuti


CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

O ambiente marinho pode ser dividido em dois grandes domínios: o bentônico,


que compreende a totalidade do substrato oceânico, e o pelágico, que corresponde as
massas de água situadas acima do leito submarino.
A palavra “bentos” origina-se do grego ( β^νθο ς = fundo do mar), sendo
considerados organismos bentônicos aqueles que vivem em relação direta com o
fundo. Os organismos bentônicos desempenham um importante papel ecológico,
uma vez que grande número de espécies de peixes, aves e invertebrados, durante pelo
menos parte de suas vidas, necessitam alimentar-se do zoobentos representando, assim,
não apenas um item alimentar fundamental, mas também um importante elo na trama
trófica. Destaca-se, ainda, o papel desempenhado na aeração e remobilização dos
fundos marinhos, acelerando os processos de remineralização de nutrientes, assim
como processos de produção primária e secundária. Além disso, muitas espécies
bentônicas são de importância econômica, através da atividade pesqueira, da aquacultura,
de espécies ornamentais, na produção de produtos farmacêuticos, entre outros. Por
Foto: Danilo Calazans
fim, as populações ou comunidades bentônicas podem ainda ser utilizadas no
monitoramento de contaminação ou poluição ambiental.
A diversidade e abundância das espécies bentônicas são influenciadas pela amplitu-
de e flutuações da temperatura, salinidade e hidrodinâmica (ondas, marés e correntes),
entre outras. O substrato marinho, por sua vez, oferece uma grande variedade de
habitats, cada qual determinando condições ambientais e características biológicas
próprias. Os tipos de fundo podem variar desde consolidados (rochosos) e compos-
tos por pedregulhos, até fundos moles com composições de areia, silte e argila em
diferentes proporções (WALLER et al., 1996) disponibilizando, assim, uma grande vari-
edade de nichos aos organismos bentônicos.
Dependendo do tipo de alimentação, as espécies bentônicas podem ser caracteri-
zadas como comedoras de depósito, suspensívoras, carnívoras, herbívoras ou
necrófagas. A inclusão de uma determinada espécie em uma categoria não significa,
entretanto, que ela não utilize outro modo de alimentação. Existem vários organismos
que apresentam uma sobreposição quanto às diferentes formas de obtenção de ali-
mento (SOARES-GOMES et al., 2009).

1 CLASSIFICAÇÃO DOS ORGANISMOS BENTÔNICOS


Além da classificação taxonômica, os invertebrados bentônicos podem ser classi-
ficados de modo funcional quanto ao tamanho e tipo de relação com o substrato.
Em relação ao tamanho, os organismos podem ser classificados de acordo com a
abertura da malha que os retém, conforme a Tabela 10.1.

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 277


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Tabela 10.1 Classificação dos organismos bentônicos de acordo com a abertura da malha.

Classe de tamanho Poro da malha Principais grupos de organismos


Microfauna < 63 µm Ciliados, rotíferos, sarcodíneos
Meiofauna 63 - 500 µm Nematodos, oligoquetas, ostracodos
Macrofauna 500 µm - 5 cm Poliquetas, moluscos, crustáceos peracáridos
Megafauna >5 cm Equinodermos, crustáceos decápodos

Adaptado de SOMERFIELD et al. (2005), GRAY e ELLIOT (2009).

Outro sistema de classificação divide o zoobentos conforme o habitat preferenci-


al que ocupa, considerando o tipo de relação dos organismos com o substrato, as
guildas. Esse atributo ecológico reúne grupos de organismos que utilizam um deter-
minado recurso de forma similar. Dessa forma, as espécies macrofaunais podem ser
classificadas como: epifaunais, que vivem sobre o substrato e possuem hábitos sésseis,
sedentários ou de grande mobilidade; e os infaunais, que vivem enterrados no interior
do substrato e possuem comportamento cavador, perfurante ou construtor de tubo.
Para os epifaunais sésseis o período larval é um momento de extrema importância
por ser responsável pela dispersão das populações. Durante a fase de transição entre os
períodos planctônico e bentônico, é fundamental encontrar e garantir um local em substratos
duros adequado para o assentamento, uma vez que a maioria dos organismos sésseis
adota uma condição passiva para a obtenção de alimento através de hábitos suspensívoros.
A vida agregada em bancos parece uma estratégia bem sucedida para a vida séssil
em relação à reprodução e à proteção contra predadores. Nessas condições, é mais
provável o encontro dos produtos sexuais dos machos e fêmeas ou até a fecundação
direta por cópula como, por exemplo, cirripédios (cracas). O assentamento em ban-
cos aumenta também sua resistência ao batimento das ondas, até um ponto em que a
aglomeração e formação de estratos tornam os organismos mais suscetíveis ao
arrancamento pelo efeito da hidrodinâmica.
Alguns exemplos de organismos sésseis são ostras, cirripédios, esponjas, ascídias,
briozoários, poliquetas Serpullidae, anêmonas, mexilhões (os dois últimos podem
realizar certos movimentos no substrato sendo, às vezes, denominados de semi-sésseis)
(FIG. 10.1A e 10.1B).
Os epifaunais sedentários são capazes de realizar pequenos deslocamentos (es-
cala de metros), tanto em fundos consolidados como inconsolidados. Existe uma
estreita relação entre o tipo de movimentação, estrutura geral e ecologia das espécies.
Com a possibilidade de locomoção, o espectro alimentar se torna maior pela capaci-
dade de buscar ativamente o alimento; assim, os organismos não apenas podem
evitar os predadores, mas também existe maior variabilidade no tipo de fecundação
– e, consequentemente, maior possibilidade de encontro entre os machos e fêmeas,
uma vez que os estímulos visuais se ampliam e o comportamento se altera.

278 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Entre os sedentários, é comum o movimento de reptação. Os equinodermos, cuja


maioria é composta por espécies sedentárias, reptam utilizando pés ambulacrais e, no
caso de estrelas e de ofiúros, esses utilizam também a flexão dos braços. Os gastrópodos
(FIG. 10.1C e 10.1D) movimentam-se, principalmente, através de ondas de contração
muscular, que percorrem o pé – por exemplo, Acmaea, Thais. Poliquetas da família
Nereididae reptam através de movimentos ondulatórios do corpo, efetuando a
contração dos metâmeros e a movimentação dos parapódios. Espécies de platelmintos
e nemertinos ondulam o corpo sobre secreções mucosas.

Figura 10.1 Exemplos de organismos sésseis: (A) Mollusca (Perna perna); (B) Crustacea (Balanus
improvisus); exemplos de organismos sedentários: (C) Mollusca (Nacella sp.); (D) Mollusca
(Olivancillaria urceus); exemplos de organismos de grande mobilidade: (E) Crustacea (Neohelice
granulata); (F) Crustacea (Ocypode quadrata) [Fotos: André Colling].

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 279


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Alguns organismos sedentários realizam movimentos semelhantes à natação, como
os poliquetas da família Nereididae durante o fenômeno da epitoquia. Nesses a loco-
moção ocorre através da movimentação do corpo, parapódios e cerdas. Em regiões
estuarinas são comuns, entre os sedentários, espécies de isópodos, anfípodos e
tanaidáceos que utilizam as extremidades articuladas para locomoção.
Entre os epifaunais de grande mobilidade (vágeis), a distribuição numa ampla
escala, além da efetuada pelas larvas, passa a ser feita também pelos adultos. Esses
podem realizar migrações tróficas e reprodutivas.
Os crustáceos decápodos representam um importante grupo do macrozoobentos
de grande mobilidade (FIG. 10.1E e 10.1F). Os caranguejos – como os Majidae, com
patas longas e fortes – são espécies marchadoras, capazes de realizar deslocamentos
por longas distâncias. Os caranguejos Portunidae realizam movimento natatório pró-
ximo ao fundo, auxiliados pelo último par de apêndices torácicos e pelo formato
hidrodinâmico do corpo. Os camarões Penaeidae e Caridae nadam com grande efi-
ciência, utilizando o movimento dos pleópodos, auxiliados pelos pereiópodos.
Existem espécies capazes de realizar rápidos deslocamentos, como os caranguejos
Ocypode sp. (FIG. 10.1F), que possuem um exoesqueleto leve, as patas longas e olhos grandes
com visão bem desenvolvida. Observa-se que, mesmo as formas com maior mobilidade,
não prescindem da proteção do substrato, obtida através de esconderijos ou pela escavação.
Esse é o caso dos caranguejos de marismas Neohelice granulata (FIG. 10.1E), Uca uruguayensis
e de mangues Cardisoma guanhumi, Ucides cordatus, Aratus pisoni que, apesar de passarem
grandes períodos do dia em suas tocas, não são considerados formas infaunais.
Após o assentamento, os infaunais cavadores passam sua vida quase exclusiva-
mente no interior do sedimento, construindo tocas ou galerias. A vida no interior do
substrato é favorecida pelo tamponamento do estresse físico-químico do meio ambi-
ente e pela proteção contra os predadores. A movimentação de apêndices, como o
pé em bivalves, a probóscide em poliquetas e as patas em crustáceos, é fundamental
para a escavação, ao aumentar a fluidez do substrato.
Ocorrem cavadores em um grande número de famílias de bivalves, poliquetas e
em vários outros grupos de invertebrados bentônicos. Os poliquetas cavadores da
família Nephtyidae, Glyceridae e Arenicolidae cavam utilizando a faringe e contrações
do corpo. A faringe incha como um balão e ancora o animal; então o corpo é puxa-
do. O mesmo ocorre em Echiuridos e Priapulidos. Os bivalves utilizam o pé para
escavação e, através da dilatação da base do pé no interior do sedimento, ocorre a
ancoragem no substrato, quando os músculos contratores puxam o corpo do bivalve.
Os anfípodos Corophium e Bathyporeiapus cavam superficialmente o substrato, utilizan-
do suas patas articuladas.
Cavadores superficiais, como Emerita e Donax (FIG. 10.2A e 10.2B), e cavadores
profundos, como Mesodesma, realizam migrações mareais aproveitando a dinâmica de

280 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

praias arenosas. Em ambientes protegidos, como enseadas ou baías costeiras, o bivalve


Tagelus plebeius, que escava profundamente no substrato (mais de 50 cm de profundi-
dade), em fundos dominados por sedimentos finos, possui o manto “selado” para
evitar a entrada de lama no interior do corpo.
Os infaunais construtores de tubos reúnem os organismos cujos tubos se so-
bressaem na superfície do sedimento. Diferenciam-se dos cavadores pela função eco-
lógica de seus tubos que, em densas concentrações, não apenas alteram a circulação da
água e modificam a sedimentação, aumentando a deposição de finos, mas também
criam microhabitats em volta dos tubos para onde são atraídas bactérias e integrantes
da meiofauna, além de comedores de depósito e predadores pertencentes à macrofauna.
Alguns exemplos de construtores de tubo são os poliquetas Diopatra sp. (FIG. 10.2C),
Eunice e Clymenella.

Figura 10.2 Exemplos de organismos cavadores: (A) Mollusca (Donax hanleyanus);


(B) de organismos construtores de tubos: Polychaeta (Owenia fusiformis); (C) de organismos
perfurantes de material inorgânico: Mollusca (Litophaga patagonica); (D) de perfurante de
madeira: Mollusca (Bankia fimbriatula) [Fotos: (A-C) André Colling e (D) Carlos Bemvenuti].

Os infaunais perfurantes podem ser classificados – de acordo com o tipo de


substrato preferencial – como perfurantes de material inorgânico e perfurantes de
madeira.

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 281


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Os perfurantes de material inorgânico habitam rochas calcárias, lama endurecida e
arenitos como, por exemplo, os moluscos Pholadidae (FIG. 10.2D). Os bivalves
perfurantes iniciam a escavação após o assentamento larval e aumentam suas tocas à
medida que crescem. A perfuração do substrato se dá a partir de movimentos rotató-
rios das valvas. Esses organismos ficam enterrados de modo permanente e, caso
sejam retirados, não conseguem escavar outra toca. As esponjas do gênero Clyona, por
exemplo, emitem pseudópodos que, introduzidos no substrato calcário – o qual pode
ser uma concha de molusco –, liberam enzimas de elevada acidez, com pH semelhan-
te ao ácido clorídrico. Causam grandes prejuízos aos criadores de ostras.
Organismos perfurantes de madeira utilizam esse tipo de substrato como alimen-
to e habitat, por meio de escavação superficial, sem danos severos ou prejuízos
econômicos, como os isópodos do gênero Limnoria e anfípodos do gênero Chelura.
Os bivalves perfurantes da família Teredinidae (gêneros Teredo, Lyrodus, Bankia,
entre outros), por outro lado, têm um efeito devastador sobre madeiras submersas
(FIG. 10.2E). Nos Teredinidae, a concha está reduzida a duas valvas anteriores peque-
nas, com as quais inicia a perfuração da madeira, enquanto o extremo posterior do
corpo é fixado no furo através do pequeno pé. Possuem sifões longos e finos, que se
sobressaem na superfície da madeira, sendo a entrada da toca fechada pelas paletas
quando os sifões se retraem. Esse grupo utiliza a madeira escavada como alimento,
uma vez que o estômago possui um ceco para o armazenamento da celulose e uma
seção da glândula digestiva especializada para tratar partículas de madeira. A impor-
tância da celulose e do fitoplâncton na alimentação reflete-se no tamanho do ceco e
das brânquias nos diversos grupos dessa família. Devido à reserva de glicogênio que
possuem, os Teredinidae podem sobreviver anaerobicamente por um longo período,
retirando energia desse composto na ausência de oxigênio. Essas características possi-
bilitam sua persistência em distintas situações de alagamento ou exposição ao ar, sen-
do necessário manter os organismos por vários dias expostos para sejam extintos.

2 AMOSTRAGEM
Os estudos em Ecologia Aquática visam principalmente conhecer não apenas a
distribuição e abundância de espécies, mas também aos fatores ambientais responsá-
veis pelos mesmos. Dentre as distintas etapas que envolvem os trabalhos nesse ramo
da ecologia, a obtenção de dados ou amostras, a amostragem, é considerada fundamen-
tal. A eficácia de um plano amostral está relacionada com a possibilidade que se ofereça
uma generalização satisfatória da população, a partir da obtenção dessas amostras.
A qualidade dos dados obtidos através da amostragem determinará o nível dos
resultados alcançados pelo trabalho. Tratamentos estatísticos refinados ou uma redação
elegante não poderão qualificar dados ou amostras incorretas ou de baixa confiabilidade.
Assim, um embasamento teórico sobre amostragem é necessário, para evitar um
excessivo esforço amostral ou a obtenção de dados praticamente sem utilidade ou

282 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

inconclusivos. Para o desenvolvimento de um plano amostral, deve haver a preocupa-


ção com: o que amostrar; o quanto amostrar; como e onde amostrar.
Em geral, um maior número de pequenas amostras traz mais vantagens que um
pequeno número de grandes amostras. Assumindo que há um esforço similar para
triagem do material e quantificação dos organismos, com a tomada de um maior
número de amostras é possível cobrir uma maior variedade de habitats e também
aumentar o número de graus de liberdade (n – 1) para as análises estatísticas reduzin-
do, assim, a variância. Elliot (1993) mostra uma compreensiva noção de problemas
estatísticos decorrentes da amostragem, além de indicar como determinar um N
amostral apropriado.
Um importante aspecto a ser considerado na determinação do tamanho da amos-
tra é o grau de mobilidade dos organismos, suas dimensões e o tipo de distribuição.
Com o pressuposto de que o amostrador ideal é o de menor tamanho, desde que
ocorra a representatividade dos organismos, não se pode desconsiderar que, quando
as amostras tornam-se muito pequenas, vícios de amostragem serão mais significati-
vos (GRAY e ELLIOT, 2009). Quando a distribuição dos organismos é do tipo unifor-
me, as distâncias que os separam são aproximadamente regulares. Nesse caso, o tama-
nho mínimo da amostra deve ser semelhante ao espaçamento médio dos organismos.
Em distribuições ao acaso, qualquer tamanho de amostrador fornecerá estimativas
eficientes. Já nas distribuições do tipo agrupadas, menores unidades amostrais são
mais eficientes que as maiores.
Geralmente os detalhes de operação, assim como as especificações da embarca-
ção, tipo de arte utilizada na obtenção das amostras, a natureza da estratégia das
coletas e processamento devem ser determinados, considerando-se as questões que a
atividade proposta visa a investigar. Entretanto, para trabalhos dessa natureza, é neces-
sário levar em conta as limitações impostas, assim como as facilidades disponibilizadas
pelos equipamentos envolvidos (ELEFTHERIOU e MCINTYRE, 2005). Trabalhos desen-
volvidos em águas profundas ou em mar aberto exigem procedimentos distintos
daqueles requeridos em ambientes costeiros, principalmente no que se refere a inter-
valos de tempo ou distância entre pontos de coleta, técnicas e equipamentos de
amostragem empregados.
No planejamento amostral, é importante avaliar as características das embarcações
necessárias para o trabalho, visando a correta execução da amostragem nos diferentes
habitats e tipos de organismos que são objeto de estudo. Tão essencial quanto esses
aspectos são o conhecimento das técnicas e dos equipamentos empregados, bem
como a forma como essas podem não representar ou subestimar os resultados. Por
exemplo, algumas espécies da megafauna ou macrofauna de grande mobilidade po-
dem apresentar capacidade de escape da arte de captura empregada ocorrendo, as-
sim, subestimação de suas densidades ou captura seletiva dos menores tamanhos, que
possuem menor capacidade locomotora.

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 283


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A escolha por um determinado método de amostragem deve estar relacionada
aos propósitos e objetivos de trabalho estabelecidos, os quais podem ser classificados
em três classes, que possuem demandas progressivamente maiores no que diz respei-
to ao esforço amostral, à triagem e às classificações taxonômicas. A proposta mais
simples de um planejamento de campo é o levantamento de espécies ou taxa sem
avaliações de abundância, que é considerada qualitativa. Para esses estudos, as
amostragens devem tentar cobrir o maior número de habitats e situações possíveis,
buscando intencionalmente a coleta do maior número de exemplares. Alguns índices
biológicos podem ser obtidos nesse tipo de levantamento, que se tornam mais preci-
sos de acordo com o nível taxonômico alcançado nas atividades de identificação.
Uma segunda proposta é a da amostragem semiquantitativa, que contempla levan-
tamentos de dados de abundância relativa de espécies, permitindo avaliações de índi-
ces biológicos baseados no ranquemento das unidades amostrais. Para o correto le-
vantamento de dados nesse tipo de amostragem, é necessário que o amostrador
possua um desempenho padronizado por unidade de tempo ou espaço. Já a terceira
categoria é a amostragem quantitativa, que visa a estimar a densidade ou biomassa por
unidade de área, o que pode ser usado na comparação espacial ou temporal das
populações sob diferentes abordagens. Quando o propósito da investigação visa à
coleta de dados quantitativos, somente alguns tipos de amostradores são adequados
como, por exemplo, os pegadores de fundo ou busca-fundo (grabs) e os cilindros
extratores (corers). Além do tipo de equipamento, a replicação amostral no tempo e no
espaço é fundamental, uma vez que permite uma correta exploração estatística dos
dados, a posteriori. Dessa forma, há um evidente ganho na qualidade dos resultados,
mas o esforço requerido nesse tipo de amostragem é consideravelmente maior, quan-
do comparado aos métodos qualitativos ou semiquantitativos.

3 EQUIPAMENTOS DE AMOSTRAGEM
O tipo de aparelho utilizado para a execução da amostragem deve ser escolhido
de acordo com os objetivos do trabalho, área de estudo, operacionalidade, eficiência
e custo do amostrador e da amostragem (tempo, pessoal, embarcação, entre outras
variáveis). Em algumas situações, a amostragem por equipamentos convencionais, como
por exemplo, aqueles de arrasto ou pegadores de fundo é praticamente impossível; nesses
casos, o emprego de câmeras ou de submersíveis se constitui como alternativa.

3.1 Equipamentos de arrasto

Estes equipamentos são projetados para realizar a coleta percorrendo o fundo


através da tração de cabos. São desenhados para obter o melhor desempenho, sendo
rebocados de forma que trabalhem mantendo-se paralelos ao fundo. Dessa maneira,
recomenda-se que o comprimento do cabo corresponda pelo menos entre 3 e 4

284 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

vezes à profundidade do local do lance. Esses aparelhos são considerados


semiquantitativos, por permitirem a comparação da abundância dos organismos en-
tre diferentes locais a uma mesma unidade de esforço de amostragem.
Para validar as comparações, é recomendável que os lances de cada local de coleta
sejam efetuados sob as mesmas condições operacionais: uma relação apropriada en-
tre o comprimento do cabo e a profundidade; a utilização do mesmo tempo de
arrasto; e a manutenção de uma mesma velocidade, por exemplo, 1 nó. Os principais
tipos de aparelhos são: 1) rede de arrasto de barra ou vara (beam trawl); 2) trenó
epibêntico (bottom sledge); 3) draga de arrasto (dredge).
As redes de pesca de fundo com portas podem ser empregadas para capturas de
organimos sedentários de grande porte como, por exemplo, gastrópodos do gênero
Adelomelon ou macrofauna de alta mobilidade, como caranguejos e camarões, assim
como de espécies pouco abundantes, por possuírem grandes aberturas de boca. Caso
seja necessário, tanto para as redes de fundo com portas como para algumas redes de
arrasto de barra, existem recursos para aumentar sua capacidade de escavação, utili-
zando correntes na tralha inferior.
A rede de arrasto de barra ou vara (beam trawl) é um equipamento empregado
em coletas qualitativas e semiquantitativas da epifauna de grande porte. Possui uma
barra transversal metálica de 2 a 10 m, que mantém a boca do equipamento aberta
(FIG. 10.3), fixa ao corpo da rede por alças. Nas extremidades da barra, dois deslizadores
laterais funcionam como esquis, evitando o seu enterramento. São muito utilizados na
pesca comercial de macroinvertebrados e peixes bentônicos.

saco

vara

patim

Figura 10.3 Exemplo de rede de arrasto de barra com patins em ambos os lados.

O trenó epibêntico (bottom sledge) proporciona somente amostragens


semiquantitativas, mas é considerado uma eficiente ferramenta para investigação da
epifauna (ENGLISH et al., 1997). Desenhado para evitar o enterramento no substrato, é
mais eficiente na captura de pequenos organismos que vivem na camada superficial,

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 285


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
como crustáceos peracáridos e formas juvenis de várias espécies. Possui deslizadores
laterais e boca com uma moldura metálica larga, podendo conter mecanismos de
abertura, fechamento e fluxômetros (FIG. 10.4A) (HOLME, 1964). Existem modelos
desenhados para fazer coletas múltiplas na interface coluna de água-sedimento, possu-
indo sacos com diferentes tamanhos de malha, hodômetro e câmeras fotográficas
(ELEFTHERIOU e MCINTYRE, 2005).
Uma versão modificada de trenó epibêntico foi construída por Fossa et al. (1988),
para amostragem da epifauna a profundidades de 40-120 metros. O trenó, com
desenho padrão, é equipado com dispositivos de abertura e fechamento, que assegu-
ram amostragens somente quando o equipamento entra em contato com o substrato
(FIG. 10.4B). Esse tipo de equipamento possui uma armação relativamente pesada em
volta da rede, o que possibilita que também seja utilizado em amostragens do bentos
profundo (ELEFTHERIOU e MCINTYRE, 2005).

Figura 10.4 Exemplo de trenó epibêntico: (A) destaque para a boca com estrutura metálica e
deslizadores laterais; (B) em operação.

286 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A draga de arrasto (dredge) e a draga-âncora são equipamentos para amostragens


semiquantitativas da epifauna sedentária e infauna. A draga de arrasto pode ser dividi-
da em três tipos: a) draga de arrasto retangular simples, cuja profundidade de escava-
ção depende do grau de compactação do substrato; b) draga-âncora, desenhada para
escavar profundamente no substrato através de lâminas inclinadas; c) draga para
substratos consolidados, reforçada e desenhada para raspagem ou retirada de frag-
mentos rochosos.
As dragas, em geral, possuem uma armação de metal pesada construída com uma
boca metálica bastante resistente, que podem operar em fundos de areia, lama,
biodetríticos e até semiconsolidados. Possuem um saco de malha na sua parte poste-
rior, cuja abertura será dependente dos objetivos da coleta. No caso de amostragens
em fundos mistos, com seixos ou pedaços de rochas, são utilizados anéis metálicos no
saco da draga. A profundidade de escavação do aparelho depende da orientação das
lâminas da boca. Muito usada, a draga tipo Piccard é um exemplo desse tipo de
amostrador (FIG. 10.5A).
Uma desvantagem desses equipamentos é a de que, em fundos arenosos
compactados, o seu preenchimento efetua-se após um percurso maior de arrasto em
relação aos fundos lamosos, devido aos distintos níveis de escavação da draga. Essas
condições determinam diferenças consideráveis na avaliação da abundância de orga-
nismos entre locais que apresentam tipos diferentes de substrato. Esse inconveniente
pode ser atenuado modificando o desenho ou incorporando estruturas que limitem a
excessiva profundidade de escavação em fundos lamosos. Essas mudanças são mais efetivas
nas chamadas dragas-âncora (FIG. 10.5B), que são desenhadas para escavar o substrato
através de lâminas inclinadas. Sua eficiência de escavação depende do tamanho, peso,
largura das lâminas e ângulo de inclinação. Além disso, torna-se necessária a utilização de
embarcações potentes para melhor performance em substratos inconsolidados.

A B

Figura 10.5 Exemplos de dragas de arrasto: (A) tipo Piccard; (B) tipo âncora de Sanders
[(B) adaptado de CAREY e HANCOCK, 1965].

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 287


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Na draga-âncora, placas metálicas horizontais na boca podem apresentar um ân-
gulo inclinado em relação à superfície do sedimento, provocando a penetração no
substrato de forma irregular. É bastante utilizada por sua versatilidade na obtenção de
amostras em diferentes substratos. Em geral, é baixada com a embarcação à deriva
ou em baixa velocidade e não é arrastada por longas distâncias.
Em regiões de plataforma, é indicada a utilização de comprimento de cabo de 2,5
a 3 vezes a profundidade da coluna de água, mas em regiões profundas, um fator de
1,5 é possível, utilizando-se pesos ou portas nos cabos de arrasto, e um sonar acústico
para controlar o momento do contato com o substrato (ELEFTHERIOU e MCINTYRE,
2005). Além disso, é importante padronizar o tempo e a velocidade de arrasto e evitar
o entupimento do aparelho pelo sedimento, que ocasiona a colmatação da amostra.

3.2 Pegadores de fundo

O pegador de fundo ou busca-fundo (grab) é lançado verticalmente, através de


um cabo, a partir da embarcação parada. No momento em que o amostrador toca o
substrato, é acionado um mecanismo de desengate e a força exercida pelo cabo, ao
ser tensionado, ativa seu sistema de fechamento. Esse equipamento é considerado
quantitativo, por permitir a coleta dos organismos epifaunais e infaunais correspon-
dentes a uma determinada unidade de área ou volume.
A penetração da maioria dos pegadores de fundo no sedimento é de aproxima-
damente 10 a 15 cm; entretanto, alguns são projetados para alcançar profundidades
maiores otimizando, assim, a amostragem dos organismos infaunais de camadas infe-
riores. Dessa forma, dependendo da compactação do substrato, alguns são mais
adequados, enquanto outros podem subestimar a densidade ou abundância de espé-
cies com distribuição mais profunda, devido à sua menor penetrabilidade.
Para amostragem do macrozoobentos marinho, é comum a utilização de pegadores
de fundo com superfície de 0,1 a 0,2 m2 que, com um número adequado de réplicas,
cobrem aproximadamente 1 m2 por estação. Amostras que compreendam tais unida-
des de área são consideradas apropriadas para avaliações quantitativas da densidade e
biomassa das espécies mais frequentes. Entretanto, não são as mais indicadas para
coleta de organismos escassos, com distribuição mais dispersa, assim como animais
de grande mobilidade (ELEFTHERIOU e MCINTYRE, 2005).
O modelo de pegador de fundo tipo Petersen (FIG. 10.6A) apresenta uma aber-
tura na parte superior de cada pá e proporcionam o fluxo de água durante o seu
deslocamento e quando penetra no substrato, facilitando seu enterramento. Possui um
melhor sistema de fechamento em fundos pouco compactados e apresentam proble-
mas em locais mais firmes, pois dependem do peso do aparelho para o enterramento.
Além disso, pode ocorrer o fechamento prematuro do sistema durante a descida,
devido à oscilação da embarcação, ou à inclinação do amostrador, quando esse en-

288 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

contra o substrato, não amostrando adequadamente a área integral do equipamento


(ELEFTHERIOU e MCINTYRE, 2005).

A B C

Figura 10.6 Exemplos de tipo de pegadores de fundo: (A) Petersen; (B) van Veen; (C) Smith-
McIntyre; (D) funcionamento de um amostrador tipo van Veen.

O pegador de fundo tipo van Veen (FIG. 10.6B) tem o funcionamento facilitado
por braços fusionados a cada pá, que atuam como um sistema de alavancas, facilitan-
do seu fechamento. É de simples manipulação e boa penetrabilidade, mesmo em
sedimentos arenosos, e mantém a camada sedimentar estruturada (FIG. 10.6D). Testes
indicaram que o amostrador van Veen apresenta uma maior eficiência de captura que

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 289


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
o de Petersen. Mesmo com essa vantagem, os dois pegadores apresentam problemas
de eficiência de captura em substratos arenosos muito compactados, onde os equipa-
mentos têm menor penetração. A capacidade de penetração desses modelos pode ser
melhorada com o uso de lastros de chumbo, que aumentam o peso do equipamento.
O pegador de fundo tipo Smith-McIntyre (FIG. 10.6C) foi desenvolvido para
minimizar os problemas encontrados na amostragem decorrentes da deriva das em-
barcações. Possui seu sistema montado no interior de uma estrutura metálica, que
aumenta a sua estabilidade, com as pás sendo enterradas no substrato através do
disparo de duas molas. Este amostrador, em sedimentos arenosos, penetra numa
profundidade semelhante ao pegador van Veen, mas sua estabilidade a torna mais
adequada para utilização em regiões oceânicas.
O Box-corer é uma caixa ou cilindro, vazados nas extremidades, que penetram
no sedimento pela força gravitacional ou através de um mecanismo de disparo
(FIG. 7.4 e 7.5) mantendo a estrutura vertical do sedimento e por conseqüência a
distribuição da macro e da meiofauna. É um equipamento bastante eficiente, mas seu
grande tamanho e peso dificultam o manuseio a bordo, sendo necessária uma embar-
cação de grande porte para sua utilização. Apesar da difícil operacionalidade, sua área
amostral, a profundidade de penetração e a manutenção da estratificação tornam seu
uso bastante comum em amostragens oceanográficas na investigação das associações
de organismos bentônicos (ELEFTHERIOU e MCINTYRE, 2005). Seu custo elevado é
compensado por ser raramente perdido e bastante resistente.
Com o objetivo de resolver problemas de efetividade da amostragem e de
replicação amostral, questões essenciais na descrição de associações bentônicas, uma
nova geração de corers múltiplos tem sido desenvolvida. Barnett et al. (1984) foram
os pioneiros no desenvolvimento deste tipo de equipamento, coletando de 4 a 12
amostras de diversos tamanhos e pesos simultaneamente.
O amostrador de sucção é operado manualmente desde áreas rasas até onde é
possível o mergulho autônomo. A aspiração realiza-se por injeção de água (FIG. 10.7A)
ou ar comprimido (FIG. 10.7B) no extremo inferior de um tubo, de maneira que as
bolhas arrastam a água através dele, aspirando o substrato junto com os organismos.
A ponta do tubo possui um cilindro amostrador, que o operador enterra para
delimitação da amostra a ser aspirada. A amostra é recolhida no extremo superior,
em um recipiente de malha fina (0,5 a 1 mm) conectado em um saco, onde os orga-
nismos ficam retidos. A utilização desse método não permite a estratificação da amostra.
O tubo amostrador (corer) é um amostrador cilíndrico simples e de baixo custo,
geralmente confeccionado em PVC (cloreto de polivinila) ou em metal com diâmetro
conhecido (FIG. 10.8). A partir de seu formato básico, pode ser acoplada uma tampa
de mesmo diâmetro em sua extremidade superior para facilitar a retirada da amostra
por sucção, uma vez que suas duas extremidades são abertas.

290 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A B

ar

5 cm
sucção

sucção
Figura 10.7 Exemplos de amostradores de sucção. (A) com injeção de água; (B) com injeção
de ar comprimido [adaptado de (A) VAN HARKEL e MULDER, 1975 e (B) EMIG, 1977].

As principais vantagens são a coleta de amostras quantitativas e estratificadas do


substrato, baixo custo, seu fácil manuseio e a versatilidade de sua utilização em diferentes
ambientes de águas rasas, sendo assim amplamente utilizado em estudos de organismos
de praias arenosas, baías e planos rasos estuarinos. Também pode ser usado em regiões
mais profundas através do mergulho. Para investigações dos organismos da macrofauna,
é indicada a utilização de um tubo de 10 cm de diâmetro em regiões estuarinas, ou de
20 cm para amostragens em praias, este último devido às menores densidades dos orga-
nismos habitantes de praias arenosas. Para amostragens de organismos da meiofauna é
recomendado um amostrador de 2 cm de diâmetro, que também pode ser utilizado
quando o objetivo é a tomada de amostras para análises granulométricas.

Figura 10.8 Exemplo de um tubo amostrador.

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 291


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
3.3 Submersíveis tripulados e autônomos

Os submersíveis são classificados em tripulados, os quais são pilotados a partir de


sua própria estrutura por um ou mais tripulantes, e em veículos não tripulados. Os
veículos subaquáticos não tripulados possuem duas classes, conforme seu modo de
operação: os Veículos Operados Remotamente, em inglês, Remotely Operated Vehicles (ROV),
e os Veículos Subaquáticos Autônomos, em inglês, Autonomous Underwater Vehicles (AUV).
Os submersíveis tripulados possuem vantagens em relação aos veículos não tripu-
lados, por levarem cientistas ou técnicos ao ambiente subaquático, podendo desen-
volver observações, coletas, captura de imagens e vídeos de acordo com o objetivo
de estudo. Desde o primeiro mergulho profundo com submersível tripulado execu-
tado com o batiscafo Trieste em 1960, a 10.916 m de profundidade na Fossa das
Marianas, e a descoberta de fontes hidrotermais pelo submersível Alvin em 1977, o
crescente interesse motivado por fins científicos, militares e econômicos pelo ambien-
te oceânico induziu o desenvolvimento de diferentes modelos desses equipamentos,
cada qual adaptado a sua finalidade.
Dos veículos subaquáticos não tripulados, o operado remotamente – ROV, é um
equipamento subaquático que possui propulsão mecânica, com sensores para captura
de fotografias e vídeos. É conectado à superfície através de um cabo umbilical para
fornecimento de energia e gerenciamento das atividades de coleta e observação. A
partir de sua estrutura básica, pode ser equipado com acessórios como braços mecâ-
nicos para raspagem de estruturas sólidas, coleta de amostras geológicas e biológicas.
Os modelos utilizados comercialmente variam desde pequenas estruturas para obser-
vação subaquática de 1-2 kW de potência, operados desde a superfície até 600 m de
profundidade, a equipamentos maiores utilizados na montagem e supervisão de es-
truturas na indústria do petróleo com 50-100 kW de potência, capazes de submergir
a 3.000 m de profundidade (SMITH e RUMOHR, 2005).
O veículo subaquático autônomo – AUV não possui cordão umbilical que os
conecte à superfície. Sua fonte de energia e central de gerenciamento encontra-se
no próprio veículo, o que permite maior liberdade para locomoção a maiores
distâncias.
O advento dos veículos subaquáticos proporciona avanços nas investigações e
amostragens do bentos. Entre suas principais vantagens estão a maior facilidade de
acesso a locais profundos, a possibilidade de coleta em condições perigosas – como
fontes hidrotermais ou de organismos venenosos –, maior segurança em relação ao
mergulho no que se refere à temperatura da água, condições de corrente e tempo
disponível às atividades. Para a avaliação da eficiência dos diferentes tipos de
amostradores, algumas características específicas de cada equipamento precisam ser
avaliadas para a escolha do mais indicado: a capacidade de captura do amostrador
(profundidade de penetração, volume de sedimento, grau de perturbação); a eficiên-

292 A NDRÉ C OLLING E C ARLOS B EMVENUTI


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

cia da captura através da representatividade das densidades e distribuição dos organis-


mos; a facilidade de manipulação, peso do equipamento, facilidades mecânicas.

4 PROCESSAMENTO DAS AMOSTRAS


A maior parte dos estudos sobre bentos compreende a coleta de macro ou
meiofauna de fundos inconsolidados. Usualmente, as amostras consistem em um
volume considerável de sedimentos, de onde devem ser retirados os organismos, o
que é realizado por peneiramento.
Na maior parte dos casos, o processamento das amostras inicia no campo, com o
preenchimento de uma planilha de registro (ANEXO 10). A bordo, um dos problemas
que se apresenta é a necessidade de efetuar o lavado das amostras. A tarefa, em geral,
é demorada e dificultosa, devido às condições instáveis que geralmente se apresentam
no convés. Para facilitar a tarefa e evitar perda de material, é recomendado o uso de
cavaletes especiais, com estruturas de suporte para acondicionamento das peneiras e
aparelhos projetados para a lavagem do sedimento.
Em geral, é recomendado que seja utilizada a malha de 0,3 mm para a separação
da macrofauna, principalmente quando os objetivos da pesquisa também incluem a
avaliação de exemplares juvenis. Entretanto, nas amostras de plataforma, cujo volume
é considerável e podem ocorrer sedimentos grosseiros, a operação de peneiramento
com malha de 0,3 mm pode prejudicar operacionalmente as tarefas, por exigir uma
considerável demanda de tempo e esforço. Nesse caso, podem ser utilizadas malhas
com 0,5 mm ou 1 mm de abertura e, então empregadas subamostras peneiradas com
malha de 0,3 mm para avaliar as possíveis perdas ocasiona das pelo uso da malha de
maior tamanho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARNETT, P.R.O.; WATSON, J.; CONNELLY, D. A multiple corer for taking virtually
undisturbed samples from shelf, bathyal and abyssal sediments. Oceanologica Acta,
Paris, v. 7, p. 399-408, 1984.
CAREY, A.G; HANCOCK, D.R. An anchor-box dredge for deep-sea sampling.
Deep-Sea Research, New York, v. 12, p. 983-984, 1965.
ELEFHTERIOU, A.; MCINTYRE, A. (Ed.). Methods for Study of Marine
Benthos. 3.ed. Oxford: Blackwell Science, 2005.
ELEFTHERIOU, A; MOORE, D.C. Macrofauna Techniques. In: ELEFHTERIOU,
A.; MCINTYRE, A. (Ed.). Methods for Study of Marine Benthos. 3.ed. Oxford:
Blackwell Science, 2005. Cap. 6.
ELLIOTT, J.M. Statistical Analysis of Samples of Benthic Invertebrates. Ambleside,
United Kingdom: Freshwater Biological Association, 1993. (Publication n. 25).

ORGANISMOS B ENTÔNICOS 293


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
EMIG, C.C. Un nouvel aspirateur sous-marin, à air
comprimé. Marine Biology, Kiel, v. 43, p. 379-380, 1977.
ENGLISH, S.; WILKINSON, C.; BAKER, V. Survey
Manual for Tropical Marine Resources. 2.ed.
Townsville, Australia: Australian Institute of Marine Science.
1997.
FOSSA, J.H.; LARSSON, J.; BUHL-JENSEN, L. A
pneumatic, bottom-activated, opening and closing device
for epibenthic sledges. Sarsia, v. 73, p. 299-302, 1988.
GRAY, J.S.; ELLIOT, M. Ecology of Marine
Sediments. Oxford: Oxford University Press, 2009.
HESSLER, R.R.; JUMARS, P.A. Abyssal community
analysis from replicate box cores in the central North Pacific.
Deep-Sea Research, New York, v. 21, p. 185-209, 1974.
HOLME, N.A. Methods of sampling the benthos. In:
Advances in Marine Biology. London: Academic, 1964.
v. 2, p. 171-260.
SMITH, C. J.; RUMOHR, H., Imaging Techniques. In:
ELEFTHERIOU, A.; MCINTYRE, A. (Ed.), 2005.
Methods for the Study of Marine Benthos. 3.ed.
Oxford: Blackwell Science, 2005. Cap. 3.
SOARES-GOMES, A.; PITOMBO, F.B.; PAIVA, P.C.
Bentos de sedimentos não-consolidados. In: PEREIRA,
R. C.; SOARES-GOMES, A. (Ed.). Biologia Marinha.
Rio de Janeiro: Interciência, 2009. Cap. 13.
SOMERFIELD, P.J.; WARWICK, R.M.; MOENS, T.
Meiofauna Techniques. In: ELEFHTERIOU, A.;
MCINTYRE, A. (Ed.). Methods for Study of Marine
Benthos. 3.ed. Oxford: Blackwell Science, 2005. Cap. 6.
WALLER, G.; DANDO, M.; BURCHETT, M. Sealife:
a complete guide to the marine environment. Washington:
Smithsonian Institution Press, 1996.
VAN ARKEL, M.A.; MULDER, M. A device for
quantitative sampling of benthic organisms in shallow
water by means of a flushing technique. Netherlands
Journal of Sea Research, Texel, v. 9, p. 365-370, 1975.
Foto: Projeto Amazônia Azul

294
295
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO
PESCA E RECURSOS PESQUEIROS
11

Santiago Montealegre-Quijano, Raul de Bem Jr., Denis Dolci e Luiz Felipe Dumont
CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG


Universidade Federal do Rio Grande

A pesca pode ser definida como toda atividade desenvolvida pelo homem para a
extração de organismos aquáticos, do seu meio natural, para diversos fins, tais como
a alimentação humana, a recreação, a ornamentação, a aquicultura ou com fins industriais
Embora usados frequentemente como sinônimos, os termos pesca e pescaria
não devem ser confundidos. Enquanto a pesca é o próprio ato de capturar e retirar
animais aquáticos do seu meio, uma pescaria é o conjunto do ecossistema e dos meios
que nele atuam para capturar uma espécie ou um grupo de espécies, como os barcos
e as artes de pesca. Assim, o termo pescaria aplica-se à atividade pesqueira que é
exercida em um determinado lugar como, por exemplo, a pescaria do Mar do Norte
e a pescaria do sul do Brasil. Também o termo pescaria é utilizado para distinguir as
operações de barcos que se especializam na captura de uma espécie ou de um grupo
de espécies como, por exemplo, pescaria de atuns, pescaria da lagosta e pescaria de
camarões. A palavra pode ainda indicar o sistema de pesca empregado como, por
exemplo, pescaria de arrasto, pescaria de espinhel ou pescaria de cerco (GIMENEZ et al.,
Foto: Diogo Ramos Tavares
1993). Logicamente, essas conotações estão todas interligadas e, nesse sentido, o termo é
suficientemente versátil para definir e caracterizar a pescaria de um determinado recurso
em uma área em particular ou com um aparelho de pesca específico.

1 CLASSIFICAÇÃO DAS PESCARIAS


A definição de alguns conceitos é importante para que as atividades pesqueiras
possam ser classificadas e, dessa forma, melhor compreendidas. De acordo com seu
objetivo final, a pesca pode ser classificada em três categorias: pesca de subsistência,
esportiva e comercial.
A pesca de subsistência é a forma original da atividade pesqueira, a qual perma-
neceu sendo única durante longo tempo, até dar origem às pescarias comercial e
esportiva. Nas pescarias de subsistência, o objetivo é prover recursos alimentícios às pessoas
que as desenvolvem e às suas famílias, uma vez que o pescado é dividido e consumido
entre as famílias dos pescadores, ao invés de ser comercializado. Pescarias de subsistência
puras são raras, pois o produto normalmente é vendido ou trocado por serviços ou bens
e, provavelmente, é mais frequente em lugares longínquos, de difícil acesso como, por
exemplo, o interior da Amazônia ou pequenas comunidades litorâneas isoladas.
A pesca esportiva é uma atividade de lazer ou esporte. Atualmente, representa um
importante segmento econômico, com a indústria de equipamentos (varas, carretilhas,
iscas artificiais e acessórios), os clubes de pesca e com uma literatura especializada. Nesse
tipo de pesca, a explotação do recurso tem como fim o uso pessoal, o lazer ou o desafio
em si, já que não inclui como fim a venda, a troca ou qualquer negociação do produto.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 297


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A pesca comercial envolve as atividades pesqueiras exercidas com a finalidade
exclusiva do comércio. Nesse tipo de pescarias, as pessoas que exercem a atividade
geralmente têm na pesca sua atividade profissional e é a partir dela que auferem sua
renda. Dependendo do nível de investimentos e da capacidade de explotação pes-
queira, pode acontecer em escala industrial ou artesanal.
As pescarias industriais caracterizam-se principalmente pelo intenso capital
econômico envolvido. São usados barcos relativamente grandes, com alto grau de
mecanização, que incluem dispositivos de procura por cardumes e de navegação.
Nessas pescarias, o nível de produção e a captura por unidade de esforço são nor-
malmente altos.
Nas pescarias artesanais, os próprios pescadores administram a atividade.
Usa-se pouco capital e o esforço de pesca é comparativamente reduzido, pois as
operações de pesca são geralmente viagens de curta duração, com embarcações rela-
tivamente pequenas e com restrita capacidade de navegação. O produto, em geral, é
destinado ao consumo local. Embora essa pescaria tenha como objetivo principal a
comercialização do pescado, frequentemente tem fins também de subsistência, sendo
parte da captura consumida pelos próprios pescadores e familiares ou usada como
moeda de troca por outras mercadorias.

2 ASPECTOS TÉCNICOS DAS ARTES DE PESCA


As fibras têxteis podem ter origem inorgânica como vidro, quartzo, basalto e
amianto; natural como animal ou vegetal; ou química como polímeros naturais ou
sintéticos. Na confecção das artes de pesca, as fibras naturais de origem vegetal como
algodão, linho, cânhamo, juta e manila, na atualidade, estão sendo amplamente substi-
tuídas por polímeros sintéticos como poliéster, poliamida, polipropileno, polietileno e
cloreto de polivinil.
A diferença de características entre as fibras naturais e as químicas sintéticas eviden-
cia as vantagens e desvantagens para o seu uso na pesca (TAB. 11.1). Pontos de discre-
pância quanto à durabilidade e à resistência entre esses dois tipos de fibras ficaram
manifestos em um teste de imersão em um porto de água salobra e alto poder de
deterioração, que demonstrou que uma rede de algodão se destruía em sete dias
enquanto redes de fibras sintéticas permaneceram imersas durante 550 dias.

Tabela 11.1 Características das fibras naturais e sintéticas.

Fibras naturais Fibras sintéticas


Peso específico em torno de 1,5 g cm- 3 Peso específico de 0,91 a 1,70 g cm- 3
Permeáveis Fraca absorção de água
Pouco resistentes à abrasão (atrito) Resistentes à abrasão e à tração
Pouca elasticidade Boa elasticidade
Pouco resistentes ao apodrecimento Resistentes ao apodrecimento
Perdem resistência quando submetidas a altas temperaturas Boa resistência às altas temperaturas.

298 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Diferentes agentes atmosféricos afetam a resistência das fibras sintéticas usadas na


pesca, tais como a luz, a chuva, os ventos, a fumaça industrial, os gases e a radiação
ultravioleta. Não é possível distinguir os efeitos de cada um desses fatores separada-
mente, mas sabe-se que a radiação ultravioleta é o mais danoso. Para minimizar a ação
desse tipo de radiação proveniente do sol, os fabricantes adicionam substâncias
antioxidantes e absorventes da radiação prolongando, assim, o tempo de vida útil dos
materiais de pesca elaborados com fibras sintéticas. Os fabricantes também recomen-
dam não expor ao sol as redes, costume que antigamente era procedimento padrão,
no intuito de secar as redes fabricadas com fibras naturais, para diminuir a umidade e
retardar a ação dos micro-organismos que danificam esse tipo de fibras têxteis.

2.1 Classificação das fibras sintéticas conforme a estrutura

As fibras têxteis usadas na pesca podem ser classificadas, conforme a sua estrutura,
em contínuas, descontínuas ou cortadas, monofilamentos e desdobradas. As fibras
contínuas apresentam comprimento indeterminado, com diâmetro menor que
0,05 mm, e pesam não mais de 0,2 g a cada 1.000 metros. A união de várias fibras,
torcidas ou não, forma os denominados multifilamentos. Uma característica das fi-
bras contínuas é a de que todas as fibras têm o comprimento igual ao do produto
final, o multifilamento. As fibras descontínuas são semelhantes às contínuas, porém com
comprimentos entre 40 e 120 mm, e devem ser retorcidas para formar o fio final, fazendo
que as fibras primárias cortadas mantenham-se juntas e formem um filamento contínuo –
multifilamento. A superfície desses filamentos retorcidos é rústica devido à quantidade de
fibras soltas que sobressaem da superfície, assemelhando-se, por seu aspecto, às fibras
naturais. As fibras descontínuas são menos resistentes e possuem maior extensibilidade
em relação às fibras contínuas. Os monofilamentos são fibras com diâmetro acima de
0,07 mm, suficientemente fortes para que uma única fibra possa ser utilizada como
produto final, sem passar por outros processos. No entanto, os monofilamentos
podem retorcer-se para formar um fio final, como é o caso do polietileno. As fibras
desdobradas são produzidas a partir de cintas que se estendem de tal forma durante
o processo de fabricação que, ao serem torcidas, desdobram-se em fios de diferentes
espessuras os quais, por sua textura, assemelham-se às fibras naturais.
A partir desses quatro tipos descritos, caracterizados como fibras primárias, são
confeccionados os fios utilizados na pesca. Dependendo da forma como são fabrica-
dos, esses fios podem ser monofilamentos (já definidos) ou multifilamentos, os
quais podem ser trançados ou torcidos: nos primeiros, como o próprio nome
indica, as fibras se entrelaçam quando confeccionados, adquirindo forma tubular; nos
segundos, as fibras são torcidas em conjunto, para formar filamentos que, ao serem
torcidos em feixes, formam os denominados cordonéis que, por sua vez, quando
retorcidos, formam cordas ou cabos (FIG. 11.1A). A direção da torção pode ser em
S quando o filamento, cordonel ou cabo, ao ser colocado em posição vertical, os

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 299


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
espirais inclinam-se à esquerda – direção da letra S, ou a torção em Z quando, na
mesma posição anterior, os espirais inclinam-se à direita – direção da letra Z
(FIG. 11.1B). Os fios torcidos geralmente retorcem-se alternadamente nas direções S e
Z, à medida que vão sendo confeccionados. A quantidade de torções tem grande
influência na resistência à ruptura e na extensibilidade do fio. A quantidade de torções
necessárias para dar a um fio determinada resistência depende de seu diâmetro. Os
fios mais finos precisam de maior número de torções por unidade de comprimento
para alcançarem o mesmo efeito de um fio mais espesso. O grau de torção desejado
depende das exigências da arte de pesca que se está construindo.

A fibras
B
primárias

filamentos

cordonéis

cabo ou corda S Z
Figura 11.1 Confecção dos fios utilizados na pesca: (A) estrutura; (B) tipos de torção dos fios
em S ou Z, segundo a sua direção [adaptado de KLUST, 1983].

2.2 Sistemas de numeração dos fios

Os fios utilizados na confecção de materiais de pesca são identificados pela sua


natureza química e pelo seu título. A primeira indica a substância com a qual o fio
é confeccionado, bem como suas respectivas características físico-químicas (mencio-
nadas anteriormente). Já o título é uma medida da espessura do fio, que pode ser
expressa tanto em massa por unidade de comprimento – densidade linear do fio –
como em comprimento por unidade de massa.
Existem várias maneiras para expressar a numeração de um fio: aqueles que indicam
o comprimento por unidade de massa são sistemas indiretos; e os que expressam a
sua massa por unidade de comprimento são chamados de sistemas diretos.
Os principais sistemas de numeração indiretos são: o Métrico (Nm), com infor-
mação do comprimento, em quilômetros, de um quilograma da fibra; o Inglês (Nec),
que expressa a quantidade de fibras primárias com 840 jardas de comprimento, ne-
cessárias para pesar uma libra; e o Runnage, que é utilizado na relação metros por
quilograma, ou jardas por libra, do produto final.

300 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Os principais sistemas de numeração diretos são: o Tex, que expressa o peso, em


gramas, de uma fibra de 1.000 m de comprimento, sendo recomendado pela
Organização Internacional para Padronização, em inglês, International Organization for
Standardization (ISO) e adotado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO); e o Denier, que informa o peso, em gramas, de uma fibra de 9.000 m
de comprimento, sendo muito utilizado em todo o mundo, especialmente pelos fabricantes
brasileiros. Por serem os mais usados estes sistemas serão detalhados nesse capítulo.
O Sistema Tex de numeração é decimal empregando unidades métricas. A uni-
dade é denominada tex e, como já mencionado, expressa a massa em gramas de
1.000 m de fibra primária de um fio. Por exemplo, 1 tex indica uma fibra primária, da
qual 1.000 m pesam 1,0 g; 10 tex indica uma pesando 10,0 g; 23 tex, uma fibra, da
qual 1.000 m pesam 23,0 g. Quanto mais alto é o valor tex, mais denso (pesado) é o
fio. Estes valores referem-se a uma única fibra. A indicação do fio final é feita pela
letra R, que é colocada antes do numeral que informa o valor da massa, por exemplo,
R 75 tex indica que 1.000 m de produto final desse fio pesam 75,0 g.
Este sistema deve designar o título da fibra primária, o número de fibras primárias
na primeira torção, o número de filamentos torcidos no produto final, o Rtex do
produto final e a direção da torção no produto final. As três primeiras características
são ligadas pelo sinal de multiplicação “x” e, as duas últimas, separadas da parte
precedente por “ponto e vírgula”. Por exemplo, na numeração: “23 tex x 4 x 3;
R 320 tex Z”, o título da fibra primária é 23 tex, o número de fibras primárias na
primeira torção é 4, o número de filamentos torcidos no produto final é 3, o título do
produto final é R 320 tex e a direção da torção no fio final é Z. Isso significa que 12
fibras primárias com título 23 tex (1.000 m pesam 23,0 g) são torcidas 4 a 4, formando
3 filamentos, que são torcidos em Z, formando um cordonel, do qual 1.000 m pesam
320,0 g. A densidade linear do fio final (Rtex) inclui o aumento de massa por unidade
de comprimento decorrente do processo de torção ou trançado, não devendo ser
confundido com a soma dos valores de tex dos fios primários. No exemplo dado,
essa soma seria equivalente a 23 x 4 x 3 = 276, enquanto o resultado é R 320 tex. O
processo de torção diminui o comprimento do cabo final em relação ao comprimen-
to das fibras primárias, resultando num fio com maior quantidade de massa por
unidade de comprimento.
O Sistema Denier de numeração é o mais utilizado em todo o mundo. A sigla D
ou Td indica o peso em gramas da fibra primária de 9.000 m de comprimento. O
título do fio é representado por um numeral seguido da unidade den. Assim, 1 den
indica uma fibra primária, da qual 9.000 m pesam 1,0 g; 10 den indicam que pesam
10,0 g; e 210 den, 210,0 g. No produto final, o título é seguido do número de fibras
primárias como, por exemplo, a numeração: “210 den x 48”, informa que o fio final
está composto por 48 fibras primárias, cada uma com densidade linear de 210,0 g
por 9.000 m de comprimento.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 301


2.3 A malha e o pano de rede

D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A malha é a unidade de construção da rede de pesca; tem a forma de um losango,
cujos quatro lados iguais são unidos por quatro nós. O lado da malha, designado pelo
símbolo a, é definido pela medida entre dois nós ou vértices consecutivos. O tama-
nho da malha pode ser designado de várias formas como: 1) a soma dos quatro lados
(4a); 2) o comprimento do lado da malha entre dois nós consecutivos, denominada
(a), que é a medida adotada pelos fabricantes brasileiros; 3) a distância entre dois nós
opostos, tomada por dentro da malha totalmente esticada na direção em que se está
medindo (2a), que é adotada e recomendada pela FAO (FIG. 11.2A).
Denomina-se pano ou panagem de rede uma secção de rede constituída por um
determinado número de malhas. Ao tecer um pano de rede, define-se como a direção
dos nós aquela em que, aplicando-se uma força de tração, tenderá a apertá-los. Por
outro lado, a direção contra os nós é aquela em que, ao aplicar a força de tração, tende
a afrouxá-los. A importância dessa diferenciação entre as duas direções do pano está
relacionada com a montagem da rede, pois a direção dos nós deve sempre coincidir
com a direção em que a rede será tensionada quando estiver operando (FIG. 11.2B).
As dimensões de um pano de rede são definidas como comprimento e altura,
sempre medidas em número de malhas. O primeiro é determinado pelo número de
malhas na direção horizontal (direção do fio ou contra os nós), enquanto a segunda
pelo número de malhas na vertical (direção da rede ou dos nós). Ao ser tecida uma
série de nós consecutivos, é formada uma carreira, que corresponde a uma sequência
de nós na direção de trabalho, ou do comprimento da rede. O comprimento do
pano é estabelecido pelo número de nós da primeira carreira, enquanto a altura do
pano é definida pelo número de carreiras tecidas.

A B
lado da
malha
a

direção
dos nós

2a

direção contra os nós

Figura 11.2 Panagem: (A) malha e suas dimensões; (B) direção dos nós na confecção dos
panos de rede [(B) adaptado de GARNER, 1986].

302 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

O losango formado pela malha num pano de rede possui duas diagonais, uma vertical,
representada pelo símbolo Y e uma horizontal, representada por X (FIG. 11.3A). Essa
malha pode estar mais ou menos esticada na direção de qualquer um de seus dois
eixos (X e Y). Se a malha estiver totalmente esticada na direção horizontal, sua abertura
horizontal será máxima (X = 2a), enquanto a abertura vertical da malha será zero (Y = 0)
(FIG. 11.3B). Se a malha estiver totalmente esticada na direção vertical, sua abertura vertical
será máxima (Y = 2a) e, nesse caso, a abertura horizontal da malha será zero (X = 0)
(FIG. 11.3C). Em ambos os casos, a malha estará totalmente fechada e, por consequência,
a rede não funcionará. Para que a rede possa trabalhar satisfatoriamente, é preciso que
haja um equilíbrio entre as aberturas vertical e horizontal das malhas.

O valor da abertura da malha, tanto na direção horizontal como na vertical, é


expresso como uma relação entre uma das diagonais e o seu lado, e recebe a denomi-
nação de coeficiente de abertura, o qual representa o percentual de abertura na
direção considerada, tendo-se como 100% a malha completamente esticada nessa
direção. Os coeficientes de abertura horizontal e vertical são representados, respecti-
vamente, por n1 e n2, ou por ì1 e ì2, e seus valores são expressos pelas equações: n1 =
X/2a e n2 = Y/2a. O coeficiente de abertura vertical, por exemplo, representa o
percentual de abertura da malha na direção vertical, tendo-se como 100% a malha
completamente esticada nessa direção (Y = 2a; n2 = Y/2a). Ao expressar a abertura
vertical pela relação Y/2a, é obtido o valor 1, quando a malha estiver totalmente
esticada nesta direção (Y=2a), ou zero, quando a malha estiver totalmente esticada na
horizontal (Y=0). Dessa forma, o coeficiente de abertura vertical da malha expresso
pela relação Y/2a varia entre 0 e 1.

A B C

X X Y Y X
a

Y a a

X Y

Figura 11.3 Abertura da malha: (A) diferentes graus de abertura nas diagonais horizontal (X) e
vertical (Y); (B) malha totalmente esticada na direção horizontal (X = 2a; Y = 0);
(C) malha totalmente esticada na direção vertical (Y = 2a; X = 0).

2.4 Cortes de panos de rede

As panagens para redes de pesca são vendidas em fardos com comprimentos


variados, porém com alturas fixas definidas pela largura do telar, variando apenas no

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 303


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
número de malhas em função do tamanho das mesmas. Portanto, as panagens de
redes têm formas retangulares e verifica-se que suas extremidades são formadas
alternadamente por pontas e por nós intermediários (FIG. 11.4A). As pontas observa-
das nas extremidades ao longo da direção dos nós ou da direção da rede são chama-
das de pontas normais e são representadas por N; e as observadas nas extremidades
ao longo da direção contra os nós ou da direção do fio são chamadas de pontas
transversais e são representadas por T (FIG. 11.4B). Ao recortar uma peça de forma
retangular ou quadrada, do meio de um pano de rede maior, com o mesmo formato, são
reproduzidas, nas suas extremidades, a mesma sequência de pontas e de nós intermediários.
Nos cortes que dão origem às pontas, são sempre cortados os dois fios que se seguem a
um nó. Assim, quando são cortados os dois fios que se seguem a um nó na direção
vertical, forma-se uma ponta normal, e quando são cortados os dois fios que se seguem
a um nó na direção horizontal, forma-se uma ponta transversal (FIG. 11.4B). Um terceiro
tipo de corte é possível, quando se corta apenas um dos fios que se seguem ao nó. Esse
corte é chamado de bar ou barra, identificado pela letra B (FIG. 11.4C). Assim: o corte
N é paralelo à direção da rede; o corte T forma um ângulo de 90º; e o corte B é
paralelo ao lado da malha, com o qual o ângulo que forma com a direção da rede vai
depender do valor do coeficiente de abertura horizontal da malha n1.
Na construção de várias das artes de pesca que utilizam redes, faz-se necessária a
união de panagens com diferentes formatos, os quais são obtidos combinando-se os
tipos de cortes 2 a 2. Cada combinação entre cortes resulta numa extremidade do
pano, que forma um determinado ângulo em relação à direção da rede. Quando a
extremidade do pano é formada por uma sequência de cortes idênticos, esta é repre-
sentada pelo símbolo A, do inglês all (tudo), seguida da letra que identifica o corte. O
processo tradicional de confecção de redes, tanto manual como industrial, tem, como
produto final, uma panagem retangular ou quadrada, mas a construção de certas artes
de pesca exige panagens de diferentes formatos, principalmente trapezoidais e trian-
gulares. Para tanto, utilizam-se os cortes de panos, que são técnicas que permitem dar
à panagem o formato desejado (FIG. 11.4D). Combinando-se os tipos de cortes 2 a
2, é indicado o número de malhas que devem permanecer nas respectivas bordas.
Os cortes, feitos sempre na extremidade lateral do pano, permitem diminuir ou
aumentar a largura na direção horizontal (comprimento da rede), podendo ser de
aumento ou diminuição, conforme a largura do pano em relação ao ponto onde
foram iniciados. Ao fazer uma série de cortes N, observa-se que a largura do pano
não varia, em relação ao ponto onde se iniciou. Diz-se que a cada corte em N, o pano
avança uma malha na direção vertical e mantém sua largura na horizontal. O corte T,
quando executado, reduz ou aumenta de uma malha a largura do pano (horizontal) e
não avança na direção vertical. Numa sequência de cortes B, pode-se observar que a
cada corte a largura do pano perde ou ganha 1/2 malha em relação à largura anterior,
ao mesmo tempo em que avança 1/2 malha na direção vertical.

304 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

nós
pontas intermediários Ponta transversa ou T
T T
A B
Ponta normal
ou N

C D
AT 1T3B 1T2B 1T1B T

1N1B

1N2B
B
B
B
B 1N3B
B
B AB

AN

Figura 11.4 Cortes de panos de rede: (A) identificação das pontas e dos nós intermediários;
(B) identificação das pontas transversais (T) e das normais (N);
(C) exemplo de corte em barra (B); (D) exemplo de combinação de cortes T, N e B.

Resumindo, pode-se afirmar que cada um dos três cortes altera a largura do pano
em relação a sua altura, da seguinte forma:
N – não altera a largura enquanto avança uma malha na altura;
T – diminui uma malha de largura, sem avançar na altura;
B – diminui 1/2 malha de largura, enquanto avança 1/2 malha na altura.
Em outras palavras, para cada corte há um determinado número de malhas per-
didas ou acrescidas na direção horizontal, para cada malha considerada na direção
vertical do pano.

2.5 Plantas

A maioria das artes de pesca industrial é construída com base em plantas ou


planos, em que são colocadas todas as especificações técnicas do apetrecho, tais como:

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 305


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
tipo de materiais, diâmetros dos fios, comprimento das panagens ou dos cabos,
número e tamanho das malhas e número de boias. Sempre que possível, as plantas são
elaboradas em escala, que é indicada no sistema métrico; porém, quando as redes são
muito grandes, não é possível aplicar essa regra sem perder detalhes, sendo necessário
fazer um desenho adicional. Todas as dimensões são em metros e milímetros: o
metro usa-se para dimensões maiores e se expressa por um número inteiro seguido
de dois decimais; o milímetro é usado para as dimensões menores e é representado por
um número inteiro, sem ponto ou vírgula. A massa e o peso são expressos em kg. Forças
como carga de ruptura dos fios ou flutuabilidade dos flutuadores são dadas em quilogramas-
força (kgf) ou gramas-força (gf). Os materiais são expressos por suas respectivas
abreviaturas. As dimensões dos fios são expressas no sistema Tex. O diâmetro dos
monofilamentos é indicado em milímetros entre parênteses. As dimensões dos panos
ou seções da rede, em comprimento e largura, são definidas pelo número de malhas
escrito ao longo do bordo correspondente. As dimensões das malhas são indicadas
em milímetros e referem-se à malha esticada (2a).
A montagem ou entralhamento da rede é a forma de unir os panos às tralhas,
que são os cabos de sustentação dos flutuadores e lastros (pesos). O coeficiente de
entralhamento, representado pela letra E, relaciona os comprimentos da tralha e do
pano de rede a ser sustentado, e é expresso pela fração decimal resultante de dividir o
comprimento da tralha pelo do pano de rede esticado, sendo este último o produto
da dimensão da malha esticada multiplicado pelo número de malhas em uma fila reta
(FAO, 1978). Portanto, o coeficiente de entralhamento é uma medida que permite
definir o grau de abertura que as malhas devem ter quando a rede estiver em opera-
ção. Nas plantas, esse coeficiente é indicado apenas quando considerado essencial (por
exemplo, E = 0,85). Na Tabela 11.2, é apresentada uma síntese das abreviaturas e
símbolos de uso mais frequente nas plantas dos apetrechos de pesca.

3 EQUIPAMENTOS DE COLETA DOS RECURSOS PESQUEIROS


Para fins científicos, os equipamentos de coleta dos recursos pesqueiros são os
mesmos disponíveis nas pescarias comerciais ou esportivas, os quais podem ser clas-
sificados em passivos e ativos: na pesca passiva os aparelhos não são movimentados
pelo homem ou por máquinas, nos quais os peixes ou outros recursos pesqueiros ficam
enredados ou presos (HUBERT, 1983); já na ativa há captura de peixes ou invertebrados,
“peneirando-os” do meio aquático por meio de redes que são ativamente movimentadas
pelo homem ou por máquinas (HAYES, 1983). Entretanto, essa classificação não é de
uso comum e pode ser controversa, uma vez que a FAO estabeleceu, em julho de
1980, a classificação internacional padronizada dos métodos de pesca (ISSCFG), na
qual os principais métodos de pesca são agrupados em 13 categorias, sem fazer
distinção entre métodos passivos e ativos. Dessa forma, as instruções aqui contidas
atendem à proposição da FAO no que se refere aos métodos de pesca.

306 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tabela 11.2 Abreviaturas e símbolos usados nas plantas das artes de pesca.

Abreviatura /Símbolo Português Inglês


AL alumínio aluminium
BR cobre brass
CEM cimento cement
CHAIN corrente chain
COC coco coco
D profundidade depth
FAC facultativo facultative
FE ferro iron
GALV galvanizado galvanized
L comprimento length (mm)
MAT material material
MONO monofilamento monofilament
PA poliamida polyamide
PB chumbo lead
PE polietileno polyethylene
PES poliéster polyester
PL plástico plastic
PP polipropileno polypropylene
PVA álcool polivinil polyvinyl alcohol
PVC cloreto de polivinil polyvinyl chlotide
PVD cloreto de polivinilideno polyvinylidene chloride
RUB borracha rubber
SIS sisal sisal
SST aço inoxidável stainless steel
ST aço steel
SW destorcedor swivel
SYN fibra sintética synthetic fibre
WD madeira wood
WIRE cabo de aço steel wire rope
Ø diâmetro diameter
painel superior upper panel
painel inferior lower panel
I I painel lateral side panel
anilha / argola purse ring
direção N na rede N-direction in netting
II espessor thickness
/ opcional optional
malha dupla double braided
aproximadamente approximately

De acordo com Sainsbury (1996), vários fatores devem ser considerados para a
escolha do método de coleta, em especial: 1) a especificidade do grupo de peixes ou
recurso pesqueiro a ser coletado, pois as espécies variam nos seus padrões de atividade,
nas suas necessidades ecológicas e nos seus hábitos e comportamento; 2) as caracterís-
ticas do ambiente a ser amostrado, pois a eficiência dos métodos de pesca está
diretamente relacionada a esse fator; 3) a profundidade de coleta, pois diferentes
métodos de pesca estão desenhados para atuar em determinadas camadas de profun-
didade; e 4) aspectos técnicos, como a seletividade dos aparelhos de pesca. É de
fundamental importância definir a priori os objetivos do estudo, pois com base nisso
pode ser delineada a melhor estratégia de amostragem.
O estudo dos recursos pesqueiros está principalmente dirigido à avaliação do po-
tencial de explotação dos estoques naturais das diferentes espécies, no intuito de gerar
o conhecimento necessário para uma administração consciente, que permita o seu
aproveitamento sustentável. Para tanto, os recursos pesqueiros podem ser estudados nos

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 307


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
portos de desembarque das pescarias comerciais ou esportivas ou diretamente no ambiente,
através de cruzeiros científicos de prospecção pesqueira ou a bordo das frotas comerciais.

3.1 Rede de cerco

A rede de cerco é uma arte de pesca ativa, que captura o pescado cercando-o pelos
lados e por baixo, lançada em torno dos cardumes e imediatamente recolhida. Essa arte
de pesca possui dimensões que permitem a captura massiva – ainda que não seletiva – de
espécies pelágicas que formam cardumes. O comportamento de formação de cardumes
torna essas espécies particularmente vulneráveis à pesca com redes de cerco (KING, 1995).
A rede de cerco é desenhada para ser puxada, formando um arco ao redor dos
peixes, e pode ser sem ou com carregadeira. A rede de cerco sem carregadeira –
também conhecida como lampara (FIG. 11.5A) – possui duas mangas laterais, tam-
bém denominadas de asas, e um ensacador na região central, formado por malhas de
menor tamanho, onde se concentra o pescado ao final da operação de pesca. A tralha
inferior é mais curta do que a superior, o que lhe confere uma forma de concha. O
içamento das duas mangas é feito simultaneamente e o peixe, que se concentra na parte
central da rede, pode ser retirado com o auxílio de saricos (FIG. 11.5B). A lampara, em
geral, é operada por um único barco de pequeno porte, entre 9 e 18 metros. É utilizada
para captura de peixes que se localizam próximos da superfície, especialmente sardinha,
manjuba e anchoíta. É bastante comum no Mediterrâneo, nos Estados Unidos, na
Argentina, na África do Sul e no Japão.
A rede de cerco com carregadeira caracteriza-se pela presença de um cabo na
parte inferior da rede – carregadeira – que permite fechá-la, impedindo a fuga dos
peixes por baixo. Essa rede consiste, basicamente, de um longo painel, estendido vertical-
mente pelo poder de flutuação das boias, da tralha superior e pelo peso do lastro e das
argolas da tralha inferior, por onde passa a carregadeira (FIG. 11.5C e 11.5D). A pesca de
cerco com rede de carregadeira pode se destinar a peixes de superfície ou a espécies
pelágicas que alcançam maiores profundidades. A rede é transportada na popa da embar-
cação, juntamente com uma pequena embarcação, denominada panga. Quando os peixes
são localizados, visualmente para espécies de superfície ou com ajuda de instrumentos
hidroacústicos para espécies que se deslocam em camadas mais profundas, a panga é
lançada com dois ou três pescadores, mantendo presa uma das extremidades da rede.
O barco realiza rapidamente um círculo em torno do cardume, enquanto a rede é
lançada. Concluído o cerco, os pescadores da panga passam para o barco a ponta da
rede, que é fechada por baixo, puxando-se a carregadeira; a rede é recolhida por uma
das extremidades, manualmente ou com o auxílio de um power block (FIG. 11.5D). O
círculo vai gradativamente diminuindo e sendo recolhido, até permanecer na água
apenas o ensacador, de onde os peixes são retirados por meio de um sarico.
Normalmente, a tralha superior flutuante sustenta a rede desde a superfície, porém
existe um tipo de rede de cerco em que a tralha superior fica submersa a meia água,

308 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

sustentada por boias através de cabos. Existem variações na rede de cerco, conforme
as espécies-alvo da pescaria, mas, em linhas gerais, segue o padrão anteriormente
descrito e as plantas são de modo amplo similares. Algumas espécies capturadas com
redes de cerco de carregadeira das respectivas frotas são: sardinha, enchova e tainha –
Brasil/Estados Unidos/Europa/Rússia; anchoveta – Chile/Peru; anchoíta – Argentina/
Brasil; savelha – Estados Unidos; bonito e atum – Estados Unidos/Japão/Noruega/
Rússia; e salmão – Estados Unidos/Japão/Rússia.
A B

C
E 0,80
1400 PL 64 L 64 (150gf) 168,00 PA 10
10120 20mm PA R 250 tex
8
200 x 200 5,00
AB

1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 1000 2000 10
40 mm 10 8 mm
1400
2400

PA R 500 tex mm PA R 125


AB

2600

tex
2500

2700

2800

2900

2800

2700

2600

2500
3000
3000
2900

3100

400 x 20
3000

3200
3200

3300
3100

AB
300 x 700
AB

20 mm
20 mm PA R 250 tex
PA R 250 tex PA
R
75
tex

10120
20 20 mm PA R 250 tex 20

176 00 PA 10
700 PB 100gf - 400gf/m
200,00 PA 14
6,50
E = 0.84

20 BR 100

BR
8 0 8 - 10
PA
0
10

100
1.50
D
tralha superior

panga

panagem
de rede

tralha inferior

carregadeira

Figura 11.5 Rede de Cerco: (A) sem carregadeira (lampara); (B) sarico utilizado na despesca;
(C) planta de uma rede com carregadeira; (D) esquema de um barco utilizando a rede com
carregadeira [adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 309


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
3.2 Redes de arrasto

As redes de arrasto são usadas para capturar diversas espécies de animais bentônicos,
demersais e pelágicos. Assim, cada arte de pesca tem as características de formato e
método de captura específica para cada espécie ou grupos de espécies com compor-
tamentos semelhantes e são rebocadas por uma ou duas embarcações. Essas redes
têm formas cônicas, cujo extremo de maior diâmetro é a abertura anterior da rede,
denominada de boca, pela qual penetram os peixes, ao serem direcionados pelas asas,
ficando confinados na parte posterior do corpo da rede, denominada de saco ou
ensacador. O volume das capturas é determinado pelas dimensões e conformação da
rede e pelo tempo do arrasto. A eficiência da arte de pesca de arrasto depende do
poder de tração das embarcações e do tipo e formato da rede.
Existem numerosas modificações nas redes de arrasto, mas basicamente estão
agrupadas como rede de arrasto de fundo, o qual normalmente é efetuado para
capturar espécies bentônicas e demersais, ainda que espécies pelágicas, que habitam na
coluna de água até 10 m acima do fundo, também possam ser capturadas; ou rede de
arrasto de meia água para a captura de espécies pelágicas (FAO, 1980). Os peixes,
quando assustados por algum componente do conjunto de arrasto, podem fugir em
todas as direções, porém normalmente para frente. Dependendo do formato e da
capacidade natatória, as diferentes espécies conseguem manter-se à frente da boca da
rede de arrasto por tempos variados, até um ponto no qual, por exaustão, a velocida-
de de natação diminui e acabam sendo capturadas.
Ao dimensionar uma rede de arrasto para ser rebocada por uma embarcação,
deve-se procurar o equilíbrio perfeito entre a rede e o barco, pois dessa harmonia
redundará melhor eficiência de captura, economia na sua construção, perfeita opera-
ção e diminuição do consumo de combustível (GAMBA, 1994). As redes de arrasto
possuem formato de cone, composto por um painel superior, que constitui o céu da
rede e um painel inferior, que é o fundo – ou podem ter mais dois painéis laterais – o
que proporciona maior altura à boca da rede. A construção dessas redes é guiada por
plantas, ou plano da rede, onde são especificadas as dimensões de cada painel, o
número de panagens utilizadas, o tamanho das malhas nas diferentes partes da rede, o
material e outras informações técnicas necessárias.
Em linhas gerais, a rede é lançada ao mar e rebocada a uma velocidade que pode
variar de 2.0 a 5.0 nós, dependendo da espécie-alvo; a qual também determina o
diâmetro do fio e o tamanho da malha no pano da rede. Assim, as redes destinadas à
captura de camarão possuem fios mais finos e malhas menores do que as redes de
arrasto destinadas à captura de peixes. Durante o arrasto, as condições ambientais de
mar (vento e correntes) determinam aspectos técnicos da manobra de pesca, como a
velocidade de arrasto, a direção de navegação e a quantidade de cabo que deve ser
solta para atingir a profundidade de pesca. No entanto, o valor da relação entre cabo

310 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

que puxa a rede (cabo real) e a profundidade é em torno de cinco para um; assim, a
uma profundidade de 30 m, soltam-se 150 m de cabo real.
Quando uma embarcação é usada para rebocar a rede, sem que haja dispositivo
de abertura, a tendência da rede é a de fechar horizontalmente, diminuindo a sua
eficiência. É preciso, portanto, um dispositivo para mantê-la aberta na direção hori-
zontal permitindo, assim, a entrada do pescado; esses dispositivos podem ser: a) uma
vara estendida entre as suas duas extremidades anteriores (arrasto com vara ou barra
– beam trawl); b) uma estrutura hidrodinâmica que, rebocada, sob ação da água, per-
mita que a rede fique aberta horizontalmente (portas); ou c) uma estrutura rígida ou
armação que permita que a rede fique aberta na horizontal (dragas). Nas situações em
que dois barcos são usados para rebocar redes de arrasto (arrasto em parelha), cada
um puxa uma das asas da rede; a distância entre as embarcações e o comprimento do
cabo que as une à rede são os determinantes da abertura horizontal.
A abertura vertical da boca da rede de arrasto depende do habitat e comporta-
mento das espécies-alvo da pescaria. Assim, para a captura daquelas com formato
achatado, que se afastam até 1 m acima do fundo, é conveniente o uso de redes com
pouco mais de 1 m de abertura vertical. Para espécies de peixes com formato pisciforme
e que vivem até 5 m acima do fundo, é conveniente o uso de redes com abertura
vertical em torno de 5 m ou mais. O arrasto de meia água é efetuado para capturar
espécies pelágicas, que formam cardumes.
Alguns aspectos operacionais e de conformação dos aparelhos são utilizados tan-
to em redes de arrasto de fundo como nas de arrasto de meia água. Portanto, apre-
sentam-se aqui os tipos básicos de redes de arrasto, salientando se o uso é exclusivo de
um dos dois ambientes ou se, pelo contrário, a rede pode ser utilizada em ambos.
A rede de vara ou barra, do inglês beam trawl, é usada para capturar pequenos
peixes e crustáceos no fundo. O seu uso data do século VII, tendo sido a primeira
rede de arrasto a ser rebocada por barcos, e continua a ser utilizada em escala comer-
cial. As embarcações para arrasto de beam trawl podem trabalhar com dois ou três
aparelhos de pesca, que são arrastados pelos costados ou pela popa do barco.
Como as outras redes de arrasto, o corpo é confeccionado em formato de cone,
caracterizando-se pela presença de uma vara de madeira ou barra de metal na boca da
rede e nas extremidades dessa vara, dois patins de ferro que formam um ângulo reto
com a vara que permitem a abertura vertical e o deslocamento sobre o fundo
(FIG. 11.6A). Dessa forma, no beam trawl não é necessária a força hidrodinâmica para
manter a rede aberta.
O corpo é composto por duas panagens relativamente curtas, costuradas uma à
outra; o tamanho da malha e dos fios depende do porte dos peixes a serem captura-
dos. O pano superior é costurado diretamente à vara horizontal, enquanto a panagem

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 311


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
inferior é um pouco mais longa do que a superior e, com frequência, lastrada com
correntes (FIG. 11.6B). A rede é puxada desde um cabo único, que é unido aos extre-
mos da vara horizontal por meio de dois cabos curtos e mais finos, as quais são
relativamente fáceis de construir e podem ser operadas em tamanhos convenientes
para diversos objetivos de amostragem, uma vez que podem ser facilmente mano-
bradas para evitar obstáculos (HAYES, 1983; GAMBA, 1994).
saco

corrente para vara


dar peso à tralha inferior

patim

B MAT 3.60 PP 10
FAC
R tex mm ~ 4.80
95 MAT
3 3 mm R tex
0.70
~4
~1

12
.20
.80
3N 28

8
34
MB
CO

PA / PP
CO
MB

3N 2B

28
A8

.80
12

~1

1.20
PA 70 80 24 24 PA
700 - 870 70
80 700 - 870
( 32 )
1N

4B
4B

1N
PA /

38
PP

38
8

( 30 ) 30
10
25
30 30

( 25 )
C
20
870 - 1315 70 25 5 25 70 870 - 1315
20
30 30
2B
~1N

20

Figura 11.6 Rede de arrasto de vara: (A) formato geral da rede com as suas partes principais;
(B) representação de uma planta para a construção de uma rede de vara; (C) saco
[adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

Em um estudo de prospecção de um molusco bivalve no sul do Brasil, Pezzuto e


Borzone (2001) incorporaram modificações de peso e comprimento no beam trawl,
no intuito de padronizar a eficiência da rede. A rede com melhor desempenho tinha
abertura de boca da rede de 2 m de largura por 0,45 m de altura; o peso da armação
foi modificado pela adição de chapas de ferro, variando de 40 a 140 kg. A tralha
inferior, de cabo de sisal de 10 mm ou de cabo de aço de 8 mm, teve comprimentos
de 2,2 a 3,5 metros. A malha da rede era de náilon seda (poliamida) de 5 cm entre nós
opostos. Os patins foram colocados nos dois lados da extremidade permitindo a

312 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

deslocamento da rede independente do lado que tocasse no fundo. O beam trawl, é um


apetrecho utilizado na pesca comercial de linguados, crustáceos – em especial o camarão
– e moluscos (FIG. 11.7).

vara

saco

patim

Figura 11.7 Rede de vara.

A rede de arrasto de fundo com portas possui formato cônico ou afunilado e


termina em um saco, onde os organismos são retidos (FIG. 11.8A). Além disso, é prolon-
gada lateralmente em sua parte dianteira por painéis de rede chamados de asas ou mangas
que são posicionados na abertura. A tralha superior é dotada de flutuadores, que ajudam
na abertura vertical da boca da rede; na tralha inferior são colocados pesos de chumbo ou
corrente, os quais ajudam a manter o fundo da rede sobre a superfície do leito marinho.
Existem muitas modificações na confecção das redes de arrasto de fundo com
portas que dependem, principalmente, do alvo das capturas, mas em termos gerais,
nas asas, o tamanho de malha é maior, e esse vai diminuindo à medida que se aproxi-
ma do saco da rede. A planta da rede de arrasto com portas, para a captura de
camarão utilizada por Vooren (1983) no N/Pq Atlântico Sul durante o projeto de
seletividade, realizado nos anos 1980 e 1981, está descrita nas Figuras 11.8A e 11.8B.
Na pesca de arrasto de fundo com portas, estes dispositivos hidrodinâmicos fa-
zem com que a rede trabalhe aberta na horizontal. São duas pranchas de madeira –
canela ou grápia – ou de ferro, que variam em tamanho, peso e formato, segundo: o
tipo de pesca; o tipo de fundo; as dimensões da rede; e a potência do motor propulsor
da embarcação (GAMBA, 1994). Seus principais formatos são: 1) retangulares planos,
confeccionados em geral de madeira e com sapata larga, usados na pesca do camarão,
normalmente em fundos de lama (FIG. 11.8C); 2) ovais, confeccionados em ferro,

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 313


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
usados geralmente em pesca de peixes demersais em fundos de lama e/ou areia;
3) retangulares em V, confeccionados em ferro, usados principalmente na pesca de
peixes demersais para fundos duros. Em função da força de reboque da embarcação,
a rede e as suas portas podem ser desenhadas de modo a não sobrecarregar o motor
do barco, tornando a operação da rede mais eficiente e menos dispendiosa.

A túnel ou
tralha superior
corpo da rede

mangas ou asas

saco
tralha inferior

portas
malhetes

B
31,32 m 52,90 m
=
10 20 150 mm 3,00 m
1N 3
12,0

3,00 m 150 mm 20 a 42
b
0m
B

CA

40
c
BO

11,25 m
DE
1N 1B

9,00 m 150 mm 60 d 75 150 mm


O

mm

B
A-B
Ø1

18
15
2m

1N
Ø
m

12,0 7,32 m 24
BO
CA

362
m
1N

A-B 23,25
13B

11,25 m 150 mm 75 75 150 mm 11,25 m


B
18

f
1N

e
232 6,40 m 62
232
150 mm
2B

4,50 m 30
1N

202
202
4,20 m 140 mm 30
2B
1N

172
172
2B

3,90 m 130 mm 30
1N

142
142
2B

3,60 m 120 mm 30
1N

112 25 25
3,00 m 100 mm 30 112 6 6
112
112
C
100
2150
492,5 492,5 40 80
40
7N 1B

90 mm 200 100
18,00 m
180
11
130 8 5,6
865

7 40
840

180
180
40
92
103 1/2 100 40
25 80
150 312,5 180
9,60m 80 mm 120
100

25
140
103 1/2

h i j

Figura 11.8 Rede de arrasto de fundo: (A) a rede e suas partes com portas retangulares planas para
captura de camarão; (B) representação de uma planta da rede de arrasto; (a) comprimento do painel
superior; (b) comprimento do painel inferior; (c e d) comprimento, material e diâmetro das tralhas
superior e inferior, respectivamente; (e) número de malhas; (f) tipo de corte; (g) malha dupla;
(h, i e j) comprimento, tamanho de malha e número de malhas de cada seção da rede; (C) porta
plana para rede camaroneira de madeira (medidas em mm) de uma vista lateral e do perfil
[adaptado de (A) NÉDÉLEC e PRADO, 1999; (B) VOOREN, 1983 e (C) planta de Mosemar Inc.].

314 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Quando o objetivo é a captura de peixes – e não apenas camarões –, longos


cabos, denominados de malhetes, são posicionados à frente das asas, entre as portas e
os brincos – cabos que unem os extremos das tralhas às portas ou aos malhetes –,
para ajudar a direcionar os peixes para a abertura do corpo principal da rede ou
túnel (FIG. 11.9).

ATLÂNTICO RIO GRANDE


SUL

cabo real

portas
asas ou brincos
corpo mangas
saco ou da rede
ensacador

área malhetes
arrastada

Figura 11.9 Rede de arrasto de fundo com portas planas para captura de peixes
sendo operada por um único barco.

As redes de arrasto de meia-água com portas são projetadas e construídas para


operar na coluna da água, sendo utilizadas em diferentes profundidades para capturar
peixes pelágicos pequenos, formadores de cardumes.
Esse apetrecho de pesca, quando operado por uma única embarcação, também
requer o uso de portas hidrodinâmicas que fazem a rede trabalhar aberta na horizon-
tal. Para manter a abertura vertical, alguns modelos de redes usam flutuadores na
tralha superior, além dos lastros (pesos) na tralha inferior, mas as redes modernas são
montadas de forma que dispensam o uso dos flutuadores, ficando a abertura vertical
da boca sob o efeito dos lastros, em torno de 400 kg, colocados nos extremos dos
brincos inferiores e da corrente da tralha inferior (FIG. 11.10A). As redes de arrasto de
meia água, com frequência, são mais longas ou compridas do que as de fundo. Possu-
em formato cônico, compostas, geralmente, por quatro painéis, e com brincos longos,
que auxiliam na estabilidade. A boca é aproximadamente quadrada, com largura em
torno de 14 m, e a altura em torno de 10 metros. As partes da frente dos painéis são

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 315


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
feitos com malhas grandes, ou cordas, que ajudam no direcionamento do cardume
para o interior, onde é retido, na parte traseira, que possui malhas menores
(FIG. 11.10B). As portas se caracterizam por serem exclusivamente de ferro, verticais,
de seção curva ou suberkrub, desenhadas para auxiliar na estabilidade e na manobra da
rede e com um peso de 380 a 450 kg (FIG. 11.10C).
cabo real
A

portas

saco
corpo pesos

brincos
B
1.6
1.6

13.30

0
60

MAT
1.6
0
0

1.

R tex mm 2 2 3 3

1.6
PA
1.6

.5
0

8
1.6

1.6

ø7

ø8
AB

0
5

0
7.

21 21 17 17
ø

24 21 21
IRE
7.2

6.3

24
E
IR
0

AB
0

0W
W
20

3N2B
4B

6.3

AB

24
7.

1N1
1N

5 5
2
1.60 0.70
PA 52 52 39 39
1310 200
136 2 92
(32) (14)
1N1B

39
B
1N3

89 66
111 82
1N1B
1N2B

160 21

940
90
120
68 C
90
1N1B
1N1B

120 27
1.30
102 72
153 107
1N1B

1N1B

645 80 60

113 67
226 144
3N2B

40 120

166 75
280 124
3N2B

240
3N2B

450 160
160 4
2.98

24
0
15
0
30

400
0

1T 4B
15

160
160

645 24 200 80
35 80 mm R 3700 tex
160 80

Figura 11.10 Rede de arrasto de meia água com portas: (A) partes e funcionamento da rede de
arrasto de meia água; (B) planta da rede de arrasto de meia água usada no N/Pq Atlântico Sul;
(C) porta vertical curvada, ou suberkrub para arrastos de meia água medidas em mm
[(B) adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999 e (C) do Catálogo da NET systems].

316 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A operação de pesca de meia água está condicionada ao uso de duas ecossondas:


1) a do barco para determinar a localização e a profundidade do cardume na coluna
de água; e 2) a da rede posicionada na tralha superior (FIG. 11.11) para verificar a
abertura vertical da boca da rede e o registro da entrada do cardume (GAMBA, 1984)
permitindo também observar a profundidade em que a rede está sendo rebocada.
No intuito de que a profundidade da rede coincida com a do cardume, pode ser
alterado o comprimento do cabo real ou a velocidade de arrasto.

Figura 11.11 Rede de arrasto de meia água.

No arrasto em parelha, a rede é rebocada por duas embarcações, podendo ser


de fundo ou de meia água. Diferencia-se do arrasto de portas por possuir asas mais
longas e maior abertura vertical da boca da rede. Durante a operação, os dois barcos
devem manter a velocidade de navegação e a distância entre eles constante, no intuito
de manter a abertura horizontal da boca da rede e para uma melhor eficiência do
arrasto. Entretanto, nessa arte de pesca também podem ser utilizadas portas, princi-
palmente para a captura de peixes.
Na pesca de arrasto de fundo, o principal alvo são as espécies demersais e bentônicas,
onde se destacam os camarões e algumas espécies de peixes de importância comerci-
al. Alguns exemplos para o sul do Brasil são a corvina, a pescada, a castanha, o papa-
terra, a abrótea, entre outros. Na pesca de arrasto de meia água, os alvos são peixes
pelágicos que formam cardumes, como por exemplo, o engraulídeo Engraulis anchoita,
na Argentina e, recentemente, no sul do Brasil.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 317


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
3.3 Linha e anzol

É um apetrecho de pesca usado para capturar peixes, fisgando-os pela boca ou,
com menor frequência, por outra parte do corpo com um anzol, confeccionado em
ferro ou aço, constituído por uma extremidade pontiaguda, com ou sem farpa, ou
barbela, com a função de fisgar. A outra extremidade no final de uma haste, com
argolas ou palhetas, serve para puxar o instrumento e retirar o peixe da água
(FIG. 11.12). Para capturar animais aquáticos com o uso de anzóis, na maioria dos
métodos, há necessidade de fio têxtil (linha) para prender o anzol, além de iscas como
chamariz para as espécies a serem capturadas.
Existem vários tipos de anzol, podendo ser classificados como: 1) simples, com
uma ponta; 2) duplos, com duas pontas; ou 3) triplo, com três pontas (garatéia, com
farpas externas ou internas). Não existe um consenso em relação ao sistema de nume-
ração dos anzóis em relação ao tamanho. Em linhas gerais, são divididos em dois
grupos, pequenos e grandes, sendo que, nos ditos pequenos, a numeração aumenta
com a diminuição do tamanho – de #1 a #22, isto é, um anzol #1 é maior que um
anzol #22. Nos anzóis ditos grandes, a numeração aumenta com o tamanho do anzol
de 1/0 a 20/0. O material normalmente é aço ou aço inoxidável; no entanto, alguns
fabricantes acrescentam carbono, obtendo maior resistência e menor diâmetro, o que
melhora a qualidade do equipamento. Muito importante nos anzóis é a sua resistência
à deformação por forças provenientes dos peixes ou da manobra de pesca.
Os anzóis são utilizados de forma individual ou em grupos. Os apetrechos que os
usam de forma individual são a pesca com linha, a pesca com vara e molinete ou a
pesca com vara e isca viva. No entanto, nessas modalidades, é possível aumentar o
número de anzóis para melhorar a probabilidade de captura dos peixes. Os que usam
os anzóis de forma agrupada são conhecidos com o nome de espinhéis, que serão
descritos mais adiante.
Para a pesca com linha de mão e com vara ou caniço, existe uma variedade de
apetrechos, desde a simples linha de pesca até o uso de varas; incluem-se nesse grupo
a pesca com isca viva e a maioria das pescarias praticadas por lazer. Na pesca com
linha de mão, utiliza-se linha de náilon, com um ou vários anzóis colocados na sua
extremidade, na qual podem ser utilizados flutuadores próximos ao anzol, quando o
objetivo é capturar peixes ao longo da coluna de água. Para capturar peixes no fundo
ou em águas com correnteza, usam-se chumbadas de diferentes pesos. A pesca com
vara é a prática mais comum na pesca esportiva, que pode ser realizada desde
embarcações, ou às margens de rios, portos e praias. Esse método de coleta é
amplamente usado na pesca de espécies costeiras e de águas interiores, apropriada
para capturar peixes em ambientes rochosos ou coralinos. Quando realizada desde
embarcações com o barco em movimento, é conhecida como pesca de corrico
(FIG. 11.13A), e destina-se à captura de dourados, cavalas e alguns atuns, que são
atraídos pelas iscas em movimento (FIG. 11.13B).

318 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

argola

olho

haste
ponta

comprimento total
abertura

garganta ou mordida
comprimento frontal

barbela

curvatura

Figura 11.12 Anzol com as suas partes e dimensões.

Basicamente, em qualquer uma das modalidades, o aparelho de pesca consiste de


uma vara ou caniço, linha e anzol. Nas comunidades pesqueiras artesanais, são usadas
varas de bambu e, na pesca esportiva na atualidade, são usadas varas de materiais mais
sofisticados, como fibra de vidro ou titânio; as varas são equipadas com molinetes que
facilitam o lançamento e o recolhimento dos anzóis, ainda que muitos pescadores dispensem
o uso de vara e operem as linhas e os anzóis diretamente com as mãos.
A pesca com isca viva também é realizada com vara e anzol. O apetrecho de
captura é semelhante à pesca de vara apresentada anteriormente, mas difere na
metodologia de atração dos peixes: primeiro, ocorre o lançamento de pequenos peixes
vivos ao mar (geralmente sardinhas), que servem como atratores das espécies-alvo; as
iscas vivas movimentam-se na superfície da água, provocando turbulência, o que atrai
os cardumes-alvo. Para manter a concentração de espécies-alvo, lança-se no mar jatos
de água em forma de chuva, imitando a turbulência das iscas-vivas ao se movimentarem
na superfície da água. Os anzóis são desprovidos de farpa e isca (quando possuem
iscas, estas são artificiais), presos às varas por meio de linha de náilon de 0,1 a 0,2 mm
de diâmetro. As varas de pesca, de fibra de vidro ou de bambu, com 3 a 5 m de

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 319


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
comprimento, são levantadas pelos pescadores (cada vara é operada por um tripulan-
te) e os peixes, ao caírem no convés, soltam-se dos anzóis facilmente. No desloca-
mento até os locais de pesca, é necessário garantir alta taxa de sobrevivência das iscas
– geralmente pequenas sardinhas, capturadas em baías ou enseadas – que são
acondicionadas em tinas nas embarcações. Essa metodologia de captura é utilizada
principalmente para atuns, mas também são capturados dourados.

12,00 Alu Ø 100

RUB Ø 460
PA
PA

MO
MON
PA MO

NO
FAC

O Ø
PA MONO Ø

Ø2
NO

-2,5

B
2-2,5

PA MONO Ø 1,6
Ø 2-2,5
2-2,5

X
XX
XX 3 - 4 PL
PA Ø

~ 68
~ 35

Pb
PA XXXXX Ø 3 - 4

~ 1.6 kg
FAC

BR

PL
RED
SW

PA MONO Ø 1,6
~ 1.80

Figura 11.13 Pesca com anzóis do tipo corrico: (A) barco em movimento rebocando anzóis;
(B) tipos de anzóis [adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

O equipamento de pesca denominado espinhel, conhecido também pela sigla


inglesa long-line, consiste basicamente em uma linha principal (linha mestra), na qual são
conectadas linhas secundárias a intervalos constantes, que possuem anzóis iscados nas

320 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

suas extremidades. Os espinhéis podem ser fixos ou de deriva, horizontais ou verticais,


e são utilizados para capturar peixes pelágicos ou demersais. Esse aparelho de pesca
não causa impactos negativos no ambiente físico e é relativamente seletivo; entretanto,
nas pescarias com espinhel, são capturadas muitas espécies que não são o alvo da
pescaria, motivo pelo qual essa modalidade pesqueira causa grande polêmica na
atualidade: pela incidência de aves, tartarugas e mamíferos nas capturas.
O espinhel horizontal de superfície é o mais usado na atualidade na pesca oceânica
e destina-se principalmente à captura de atuns, espadartes e tubarões; é composto de
linha principal de mono ou polifilamento, cujo comprimento pode variar desde umas
centenas de metros até 80 ou 100 km. A quantidade de anzóis colocados varia em
relação à capacidade do barco e ao comprimento da linha mestra, podendo ser de
umas centenas até 3.000 ou mais anzóis. O tamanho de anzol e a isca variam também,
dependendo da espécie-alvo e da pescaria.
No início das atividades de pesca com espinhel de superfície no Brasil, entre as
décadas de 1960 e 1980, o utilizado era o do tipo japonês, desenvolvido para a
captura de atuns. Caracterizava-se por sua linha principal de multifilamentos e pelo
sistema de rolos em que era recolhido, armazenado e lançado. Na atualidade, o espinhel
de superfície, de uso comum no Brasil, é o do tipo americano, que consta de uma
linha principal de monofilamento de poliamida, com 4 mm de diâmetro e que pode
variar entre 80 e 200 km de comprimento. O espinhel de superfície é suspenso por
boias, cujos cabos de poliamida com 3 mm de diâmetro possuem entre 10 e 20 m de
comprimento (FIG. 11.14). Um número variado de linhas secundárias é disposto entre
cada duas boias, o que constitui a unidade básica do espinhel, o samburá (FIG. 11.14A).
As linhas secundárias são conectadas à principal, por meio de presilhas de aço, a
intervalos de tempo constantes (FIG. 11.14B), os quais são definidos em função das
condições ambientais em torno de 15 a 20 segundos (FIG. 11.14C). Com uma veloci-
dade de navegação de sete nós durante o lançamento, as linhas secundárias ficam
distanciadas a intervalos aproximados de 50 a 60 m na linha principal. Essas linhas
secundárias, também de poliamida, possuem 1,8 mm de diâmetro e de 10 a 20 m de
comprimento; são equipadas com ponteiras adicionais, compostas por destorcedor
de 20 g, linha de poliamida de 1,8 mm de diâmetro e 2,5 m de comprimento e anzol
tipo J No. 9/0. Quando é pretendida a captura de tubarões, nas extremidades das
linhas secundárias são colocadas linhas de aço, de 1,5 mm de diâmetro e 0,5 m de
comprimento, conhecidas como estropo, às quais são presos os anzóis iscados. Esses
estropos de aço evitam que os tubarões escapem, pois, no caso das linhas de náilon,
esses animais podem facilmente cortar a linha com os dentes.
Quando o objetivo é captura de peixes próximos à superfície, a linha principal é
lançada com a mesma velocidade de navegação, para obter pequena curvatura catenária
da linha mestra entre flutuadores. Quando o objetivo é capturar peixes a maiores
profundidades, além de modificar os comprimentos dos cabos-de-boia, das linhas

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 321


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
secundárias e do número de anzóis nos samburás, alguns barcos utilizam um disposi-
tivo conhecido como line-setter, que permite lançar a linha principal a uma velocidade
maior que a de navegação, o que acentua a curva catenária entre duas boias consecu-
tivas. Entre as características operacionais na pesca com espinhel de superfície, desta-
ca-se: 1) o uso de bastões luminosos (light sticks), que são colocados próximos aos
anzóis, com a finalidade de atrair as espécies-alvos, aumentando assim a probabilida-
de de captura; 2) as iscas utilizadas, sendo as mais comuns lulas, bonitos e sardinhas; 3)
os horários de lançamento do espinhel que, para atuns, é durante o dia e, para espa-
dartes e tubarões, à noite.

A
boia de plástico boia rádio
400 - 450 PL Ø 300

8.00 - 25.00
cabo PA Ø 5 - 6
de boia
50.0
0-6
0.00

linha
principal 10.00 - 20.00
PA Ø 2 - 4

1600 - 2000 ST 9/0 1.50 - 2.50


B linha
WIRE/PES Ø 6 - 8

linha secundária
principal C rincipa
l
PES (~PA) Ø 6 - 7 linha p
rias
undá
ha s sec
n tre lin
ST 0.3 nto e
presilha çame
de aço espa

anzol

isca
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa
aaaaaaaaa

Figura 11.14 Estrutura do espinhel derivante de superfície: (A) samburá de um espinhel


pelágico de superfície; (B) sistema de fixação das linhas secundárias; (C) unidade básica
de todo espinhel [adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

No espinhel de tipo vertical, a linha principal possui, em uma das suas extremidades,
um flutuador com um sinalizador, que pode ser uma bandeira ou uma luz intermitente

322 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

e, na outra extremidade, um peso, que faz a função de manter a linha principal


verticalmente esticada. Esse tipo de espinhel é usado na pesca de pequenos peixes de
recife, como pargos e garoupas. Contudo, os dois tipos de espinhel mais comuns são
os horizontais, de superfície (FIG. 11.15A) e de fundo (FIG. 11.15B).

Figura 11.15 Tipos básicos de espinhéis: (A) espinhel derivante de superfície;


(B) espinhel fixo de fundo.

3.4 Covos

Na pesca com covos, o seu formato deve permitir o fácil acesso ao seu interior e
dificultar o escape. Existem diversos formatos, tipo garrafa, ovóide, tubular, afunilado,
hexagonal, quadrado, retangular, losangular, triangular, em Z e circular (FIG. 11.16). As
entradas podem ter também os mais variados formatos: circulares estreitando-se em
forma de V; semicirculares e retangulares. As aberturas normalmente estão localizadas
nas laterais e na parte superior, porém podem se localizar na parte inferior, como no
caso das garrafas. O espaço interior do compartimento de cada covo depende de
cada espécie; deve ser o menor possível, para evitar custo desnecessário, e grande o
suficiente para prevenir canibalismo ou predação. Para polvos, a armadilha tem em
torno de 600 cm3; para camarão, de 4.000 a 7.000 cm3; para caranguejo real, de 2.500
a 4.500 cm3; para siri, 20.000 cm3; e para pargo, 4 m3.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 323


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
1350
1050
A 780 B
500

200
280

350
320

aaa
aaa
aaa
aaa
aaa

C D

Figura 11.16 Exemplos de covos de uso comum na pesca artesanal: (A) covo circular de
panagem (medidas em mm); (B) covo semicircular com arame ou panagem; (C) covo
retangular com panagem; (D) covo retangular de madeira [adaptado de FAO, 1987].

Para construir um covo, a armação é a responsável pela forma do mesmo, que


dependerá da espécie a ser capturada, das condições ambientais e do custo. O mate-
rial da armação deve ser liso, para não causar danos ao pescado, além de ser forte,
resistente ao tempo e ter baixo teor de corrosão. Os materiais utilizados compreen-
dem bambu, ferro, alumínio, plástico, PVC e fibra de vidro; o de confinamento é
compreendido de panos de redes de poliamida, de polietileno, de polipropileno ou
de poliéster. O pano de rede pode ser com ou sem nós (FIG. 11.17).
Esses métodos de captura podem ser usados em águas costeiras ou oceânicas. São
mecanismos de pesca usados com a finalidade de confinar animais aquáticos num
compartimento com livre acesso e de difícil retorno (FIG. 11.18). Muitos peixes, crus-
táceos e polvos procuram tocas para se esconder; por esse motivo, os covos coloca-
dos pelo homem atuam como falsos esconderijos, permitindo a captura desses animais.
Além disso, estímulos como odor e luz podem também servir como atrativos.

324 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

isca
entrada

entrada

lastro

B C D
50 70mm
PE R 320 tex 585
25
aaa
aaa
isca aaa
aaa
aaa
310

405
120

Ø 25
lastro 3 kg
25
90
405

Figura 11.17 Medidas para construção de um covo semicircular: (A) covo finalizado;
(B) vista frontal; (C) vista lateral; (D) vista de cima [adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

Figura 11.18 Pesca com covos.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 325


3.5 Redes de emalhar

D ANILO C ALAZANS (O RG .)
As redes de emalhar são artes de pesca que capturam peixes ao constituírem uma
barreira física ao seu deslocamento natural; consistem basicamente em uma longa
parede de pano-de-rede, que pode ser lançada em qualquer profundidade. As tralhas
constituem a estrutura básica na qual se sustenta a armação da rede; a tralha superior é
constituída por um cabo resistente, que sustenta o pano da rede na vertical através de
um conjunto de flutuadores, os quais podem ser constituídos de diversos materiais
como madeira, isopor, vidro e plástico e de diversas formas como cilíndricas, ovais,
globulares variando em tamanho e número, conforme as necessidades. Os flutuadores
normalmente devem possuir dimensões que não permitam que eles penetrem nas
malhas, evitando que fiquem emaranhados com o pano (geralmente maiores do que
as malhas), e a distância entre eles deve ser de, no máximo, 75% da altura da rede
(FRIEDMAN, 1986). Os flutuadores devem ser resistentes para suportar a pressão da
água e de boa qualidade para não perderem, total ou parcialmente, o poder de flutuação
em grande profundidade. Já a tralha inferior é constituída por um cabo resistente e de
material pesado (mais denso que a água), tracionando o pano na vertical para baixo;
os lastros utilizados podem ser de diversos materiais (chumbo, ferro, cerâmica, tijolo,
saco de areia, entre outros) e de várias formas (tubular, cilíndrica, em elos, retangular,
por exemplo). Esses pesos devem ser colocados na direção dos flutuadores, em
quantidade proporcional ao empuxo da tralha superior, conforme o tipo de rede. A
tralha inferior também influi na tensão dos lados das malhas, no caso, de redes de
superfície (FIG. 11.19).
O fio que prende a panagem às tralhas é denominado de fio de entralhe. A panagem
é fixada às tralhas em distâncias fixas, denominadas de encala, ou arcala, sendo que a
cada encala coloca-se um número determinado de malhas, que será responsável pela
forma de armação da rede. O fio de entralhe deve ser mais forte do que o da
construção do pano. No entralhamento, os cabos das tralhas devem estar bem estica-
dos e não podem torcer-se depois de presos à panagem.
A confecção de redes com monofilamento apresenta algumas vantagens em rela-
ção a custos e algumas propriedades físicas, como transparência, resistência, elasticida-
de, flexibilidade, estabilidade dos nós e diâmetro do fio. A superfície do pano de rede
é um dos parâmetros que, relacionado com sua altura e com o comportamento do
peixe, influi significativamente na eficiência do apetrecho de pesca, já que as redes
podem ser confeccionadas para a faixa de profundidade de localização da espécie
que se quer capturar. Redes com mesma superfície podem ter rendimento de captura
por m² diferente para a mesma espécie, se houver variação no parâmetro de altura.
Redes para captura de espécies pelágicas, que possuem maior poder de migração na
vertical, necessitam ser de maior altura, cobrindo por vezes toda coluna vertical de
água. No Rio Grande do Sul, as redes para espécies pelágicas, geralmente enchovas,
cobrem toda coluna da água, pois grande captura é efetuada nas zonas costeiras.

326 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Redes para espécies de fundo, com forma achatada, e também para camarões, não
devem ter mais do que 1,5 a 2 m de altura. A captura de bagre, pescada, castanha,
pescada olhuda e de corvina, exige redes com 4 a 5 m e até 7 m de altura.

A 26 PL
200
45
0,45 450
SIS Ø 5 Rtex
950

700

450

320

450

27 Ø
PP
,5 16
530

5
700
950
1150
27,50 PP Ø 16 0,45
450
sis Ø 6

165 15 CEM 3,5 kg


54,00 + 2,00 PP Ø 10

5,30 PP Ø 10
600
32 180 mm PA Rtex 320 32
600

54,00 + 2,00 PP Ø 16

B PL Ø 254 PL Ø 102 L 152


1,00 PVC
PL Ø ~220 Ø8

x 15 - 70
3,00 - 4,00
PA Ø ~ 6

CEM 0,65 kg
30 PL 100 gf 21.00 PA Ø 5 - 6 x 2 (1S + 1Z) 0,90

600
8,00 PA Ø 4 FAC

8,00 PA Ø 4 FAC
200 (175 - 250)

200 (175 - 250)

PA
53 mm
R 150 tex

½ ½
600

0,25 ~31,00 Ø 4 - 5 73 - 95 g / m 0,25

140
R 700 tex

100
PP

x2

Figura 11.19 Plantas de redes de emalhar: (A) rede de emalhar de fundo; (B) rede de emalhar
de meia água [adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 327


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
As redes de emalhar são dispostas verticalmente na água, desde a meia-água até a
superfície, quando é desejada a captura de espécies pelágicas (FIG. 11.20A) ou sobre o
fundo do corpo de água, quando o objetivo é capturar espécies demersais (FIG. 11.20B).
Essas redes podem ser deixadas fixas, geralmente em regiões próximas ao litoral em
águas rasas, sendo colocadas âncoras em seus extremos, ou podem também ser dei-
xadas à deriva, sendo o seu deslocamento determinado pelas marés e pelos ventos.
A captura é determinada pelo encontro fortuito dos peixes com a rede que, por
sua forma hidrodinâmica, deslocam-se por movimentos ondulatórios do corpo e,
quando tentam passar por entre os espaços das malhas, estas se amoldam e tomam a
forma do perímetro do peixe, penetrando na pele ou pressionando nas reentrâncias e
nas saliências do corpo (opérculos, nadadeiras peitoral e dorsal) (FIG. 11.20C). Os
peixes podem também se enredar na panagem ou prenderem-se pelos dentes; dessa
forma, esse tipo de apetrecho é eficiente na seletividade de indivíduos, pois os meno-
res podem nadar através da abertura das malhas, enquanto os peixes maiores não
conseguem ultrapassar o pano, ou seja, não entram no interior da malha.
As redes de tresmalho ou feiticeiras são apetrechos de pesca semelhantes às redes
de emalhar quanto à construção e metodologia de lançamento, recolhimento e fixa-
ção, mas diferenciam-se pelo método de prender os peixes. Diferentemente das redes
de emalhar, que possuem um único pano, as redes de tresmalho são constituídas por
três panos de rede: os externos – denominados de alvitanas – possuem malhas maio-
res e fios mais fortes; o pano interno é denominado de morto e possui malhas meno-
res, fios mais finos e flexíveis e altura do pano de 30 a 60% maior que as alvitanas,
geralmente 40%. Nessas redes, os peixes podem ser permeáveis aos três panos: po-
dem passar através do primeiro pano (primeira alvitana) e ficar emalhados no pano
central (morto); ou, ainda, podem passar através da primeira alvitana e, ao entrar em
contato com o pano central, empurrar esse pano para frente, o qual penetrará em
uma malha do terceiro pano (segunda alvitana), ficando o peixe totalmente ensacado
pela panagem central (FIG. 11.20D).

3.6 Draga

É um equipamento de pesca usado principalmente para a captura de moluscos


bivalves do fundo marinho, tais como ostras e vieiras (FIG. 11.21A), mas também
para a coleta de ouriços-do-mar e crustáceos (FIG. 11.21B). Esse apetrecho tem evo-
luído por séculos, desde o simples mecanismo acionado à mão até sofisticadas dragas
com sistemas de esguichos de água para desenterrar moluscos. Basicamente, a draga é
um cesto de metal, moldado sobre uma armação de aço, com o fundo composto
por anéis de aço conectados ou por redes de arame. A borda dianteira inferior da
armação possui uma barra, que pode ser dentada ou não, dependendo das caracterís-
ticas das espécies a serem capturadas. Uma pesada rede de aço, posicionada logo atrás

328 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

da barra dianteira, serve para reter a captura; a barra dentada é enterrada no fundo e,
ao ser puxada pela embarcação, a draga arrasta os mariscos da areia ou lama, deposi-
tando-os na rede. As embarcações de maior capacidade arrastam várias dragas em
ambos os lados (FIG. 11.21C). Nas dragas de sucção e hidráulicas, jatos de água são
direcionados aos sedimentos, deslocando os mariscos, que são coletados em uma
rede (draga hidráulica) ou aspirados da superfície através de um tubo (draga de sucção).

Figura 11.20 Redes de emalhar posicionadas: (A) na superfície; (B) no fundo.


São ilustradas as duas formas como os peixes são capturados neste
tipo de arte de pesca: (C) emalhados; (D) ensacados.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 329


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Figura 11.21 Exemplos de dragas utilizadas na pesca. (A) de moluscos; (B) de crustáceos;
(C) ilustração de várias dragas sendo arrastadas de forma simultânea para maior
eficiência da operação de pesca [adaptado de NÉDÉLEC e PRADO, 1999].

4 PROSPECÇÃO PESQUEIRA
No estudo de avaliação do estado de exploração de recursos pesqueiros, as prin-
cipais fontes de dados são as próprias pescarias. A composição específica das captu-
ras e os seus respectivos volumes e estruturas de tamanhos permitem obter um retra-
to do que está acontecendo na pescaria. Cruzeiros oceanográficos de prospecção de
recursos pesqueiros também são vantajosos para a coleta desse tipo de dados, pois
em desembarques comerciais, parte da captura que não possui interesse é descartada
no mar.
Nos cruzeiros científicos, o ambiente marinho que será prospectado determina os
métodos de coleta. Para recursos demersais de fundos arenosos, por exemplo, a
principal estratégia de coleta de peixes são as redes de arrasto de fundo; para fundos
rochosos, são armadilhas ou anzóis, entre outros. Esses tipos de estudos
cuidadosamente planejados, permitem obter estimativas de: 1) biomassa total e taxas
de captura; 2) biomassas de determinadas espécies; 3) coleta de dados biológicos para
estudos dos parâmetros populacionais; 4) coleta de dados ambientais, entre outras
importantes informações. Um primeiro passo é, com base nos objetivos do estudo,

330 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

definir a área que será prospectada, o método de amostragem que será utilizado e o
desenho amostral da prospecção (número de lances e estratificação da amostragem,
por exemplo). Os dados que são registrados em cada estação de coleta são:
1) especificações sobre o método de coleta que dizem respeito aos dados técnicos da
conformação da arte de pesca; 2) especificações sobre as estações de coleta que se
referem à posição, hora, profundidade, temperatura, salinidade, ao tempo de arrasto,
e comprimento do cabo real lançado; e 3) registros da captura que se referem à
amostragem biológica.
Em prospecções com redes de arrasto as capturas podem ser volumosas, o que
faz necessário dividir ou quartear a captura em pequenas subamostras para a coleta
dos dados. Para tanto, toda a captura é pesada em cestos ou monoblocos, enchidos
com todas as espécies misturadas e apanhadas de forma aleatória. Uma subamostra
considerada representativa do total capturado é de aproximadamente 20% em peso
desse total (SPARRE e VENEMA, 1993). Assim, depois de pesada toda captura, escolhe-
se o número de monoblocos que somam 20% do peso da captura, para determinar
a sua composição específica, o percentual em peso representado por cada espécie e
outros dados biológicos. Se a captura for muito grande, a subamostra pode ainda ser
subdividida, com as respectivas proporções, para a estimativa do total da espécie.
Todo esse processo deve ser executado seguindo um roteiro rigoroso de segurança
no mar que pode ser descrito da seguinte forma:
1) extrair os peixes perigosos, como bagres com espinhos, raias elétricas ou outros;
2) extrair dejetos inorgânicos, já que isso é um dado interessante de ser quantificado
em separado;
3) separar os peixes maiores, que podem introduzir erros na pesagem dos
monoblocos;
4) lavar e misturar a captura;
5) colocar a captura misturada em cestos ou monoblocos;
6) contar e registrar o número de cestos ou monoblocos;
7) coletar e processar a subamostra (triar, pesar, medir e coletar amostras
biológicas das espécies);
8) estimar a proporção entre a subamostra e a captura total por espécie;
9) contar e pesar os peixes maiores, previamente separados e, em caso de
sobreposição das espécies, somar os pesos;
10) estimar a densidade.
Para obter estimativas de densidade e da biomassa nos arrastos de fundo, utiliza-se
o método de área varrida, o qual consiste em quantificar a cobertura do arrasto e
estimar o volume em peso ou o número de indivíduos por espécie obtendo-se, assim,
uma medida de densidade populacional das diferentes espécies. Para dimensionar a

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 331


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
área varrida (FIG. 11.6), é preciso conhecer a largura da boca de rede de arrasto, que
define a largura do retângulo varrido e a velocidade e o tempo de navegação durante
o arrasto (ANEXO 11). O comprimento desse retângulo varrido é estimado por:

D=VxT
em que:
D é a distância arrastada;
V é a velocidade de navegação;
T é o tempo de arrasto.

4.1 Amostragem biológica

A amostragem biológica dos recursos pesqueiros fornece informações extrema-


mente valiosas sobre a população estudada, uma vez que permite que se obtenham
dados de morfometria, estrutura de idade ou tamanho, maturação, épocas e áreas de
desova, identificação de estoques, crescimento e mortalidade. É fundamental que as
informações sejam anotadas de maneira clara nas planilhas de registro (ANEXO 12 a 15).
Para determinar a estrutura de tamanhos, realiza-se primeiro a triagem das espéci-
es na subamostra. Os indivíduos de cada espécie são medidos, com o uso de um
“ictiômetro” (FIG. 11.22) e pesados individualmente com balança de precisão de 0,1 g.

Figura 11.22 Régua utilizada para medição de peixes (ictiômetro).

As medidas de comprimento de uso comum em peixes são: o comprimento total


(CT), o comprimento furcal (CF) e o comprimento padrão (CP). O CT é medido da
ponta do focinho do peixe ao extremo distal da nadadeira caudal. O CF é medido
desde o focinho ao vértice do ângulo formado entre os lobos superior e inferior da
nadadeira caudal. O CP é medido desde o focinho até o extremo distal da coluna
vertebral nos peixes ósseos, ou até o início da nadadeira caudal nos tubarões. Nas
raias, além do comprimento total, usam-se também o comprimento e a largura do
disco. Todas as medidas estão representadas na Figura 11.23.

332 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

A 1 2 3 B 1 3

C 1 2 3 D 5 3

Figura 11.23 Medidas de comprimento de uso comum em peixes ósseos e elasmobrânquios.


(1) comprimento padrão; (2) comprimento furcal; (3) comprimento total;
(4) largura máxima; (5) comprimento do disco; (6) largura do disco
[Fotos: (A, B e D) Danilo Calazans e (C) Santiago Montealegre-Quijano].

Entretanto, algumas das medições podem ser mais precisas em algumas espécies e
menos, em outras: em peixes ósseos, por exemplo, os raios das nadadeiras caudais de
muitas espécies, frequentemente se quebram ou danificam, devido à sua fragilidade.
Dessa forma, o CT ou o CF deixam de ser medidas precisas, sendo aconselhado o
uso do CP. Em peixes cartilaginosos, o posicionamento da nadadeira caudal dos tubarões,
em relação ao eixo longitudinal do corpo, pode variar – em função disso, o comprimento
total também não é a medida mais precisa e, por isso, a opção pelo comprimento furcal
ou padrão torna-se o procedimento mais adequado. Em algumas espécies de raias, observa-
se uma maior variação no crescimento na largura do que no comprimento do corpo,
sendo, portanto, essa medição a mais indicada ao tamanho do espécime.
Em crustáceos, as principais medidas utilizadas para os camarões são: compri-
mento da carapaça (CC), medido com um paquímetro, como a distância entre o
limite posterior da órbita ocular e a margem posterior da carapaça; comprimento
total (CT), considerado como a distância da ponta do rostro ao final do telson;
comprimento do abdome (CA), distância entre o final da carapaça e a ponta do
telson; e comprimento do rostro (CR), distância entre a ponta anterior e a margem
pós-orbital da carapaça. Para estas últimas três, utiliza-se um “camaronômetro”
(FIG. 11.24). Todas as medidas estão representadas na Figura 11.25.
Nos siris e caranguejos, as principais medidas utilizadas são: o comprimento da
carapaça (CC), medido entre os espinhos anteriores e o final da carapaça; a largura da

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 333


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
carapaça (LC), medida entre as extremidades dos últimos espinhos laterais. Também
é medido, como um segundo comprimento de largura da carapaça (LC2), a medida
entre as bases dos últimos espinhos laterais, para o caso de um deles estar quebrado;
ainda, o comprimento da quela (CQ), medido no própodo, desde a extremidade
posterior, na articulação com o carpo, até a extremidade anterior (FIG. 11.26). Um
paquímetro é utilizado para realizar essas medidas.

Figura 11.24 Régua utilizada para medição de camarões (camaronômetro).

No estudo da reprodução, coletam-se as gônadas dos indivíduos, que são avalia-


das quanto ao grau de desenvolvimento, para poder definir o ciclo reprodutivo da
espécie, identificar áreas e épocas críticas a esse ciclo e, ainda, estimar o tamanho em
que 50% dos indivíduos da espécie atingem a maturação sexual. Coletam-se as gônadas
de ambos os sexos, que são fixadas em formol a 10%, classificadas em escala
macroscópica ou microscópica em relação ao estado de maduração (referência cro-
mática da gônada ou tratamento histoquímico – Hematoxilina/Eosina). Adicional-
mente, é estabelecida uma razão entre o peso da gônada e o peso total do indivíduo,
o chamado Índice Gonadossomático (IGS). A variação sazonal desse índice pode
refletir evidência da época reprodutiva para uma determinada espécie, já que a im-
portância relativa do peso da gônada desenvolvida é maior durante esse período.
Conhecendo a proporção de indivíduos maduros por classe de comprimento, é pos-
sível estabelecer o comprimento em que 50% dos indivíduos estão maduros.
No estudo do crescimento, além de registrar o comprimento dos indivíduos, o
sexo e a data da captura, nos peixes são coletadas também estruturas rígidas, tais
como espinhos, otólitos, escamas ou vértebras, para determinação da estrutura etária,
isto é, a composição por idades da população. Devido ao padrão de crescimento,
essas estruturas de aposição deixam registradas marcas que podem ser relacionadas
ao tempo e, com isso, permitem estimativas de idade. Todas essas informações cons-
tituem a base do manejo e uso racional dos recursos pesqueiros e o seu conhecimento
permite propor medidas para um uso sustentado dos mesmos.

334 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

2
4

Figura 11.25 Medidas utilizadas em estudos de biometria de camarões: (1) comprimento total;
(2) comprimento da carapaça; (3) comprimento do abdome; (4) comprimento do rostro
[Foto: Danilo Calazans].

4
3

Figura 11.26 Medidas utilizadas em estudos de biometria de caranguejos: (1) largura da


carapaça entre as extremidades dos espinhos laterais; (2) largura da carapaça entre as bases dos
espinhos laterais; (3) comprimento da carapaça; (4) comprimento da quela
[Foto: Danilo Calazans].

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 335


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
4.2 Distribuição e abundância

No estudo dos recursos pesqueiros, um dos aspectos mais importantes é a identi-


ficação do padrão de distribuição e abundância sazonal e espacial dos mesmos. Para
tanto, são utilizados dados de captura por unidade de esforço (CPUE) – índice utili-
zado para obter estimativas de abundância relativa das espécies – obtidos em cruzei-
ros de prospecção científica ou a partir da pesca comercial. A abordagem hidroacústica,
que é, quiçá, o método mais acurado para obter estimativas de biomassa para algu-
mas espécies, é tratada no capítulo 8 do presente livro.
A coleta de dados de captura e esforço a partir da pesca comercial tem o inconve-
niente de refletir a abundância relativa dos recursos apenas nos locais onde os pesca-
dores realizam suas fainas, o que sugere que, nessas áreas, os recursos devem ser
encontrados em abundância, portanto os dados não necessariamente vão refletir a
verdadeira abundância populacional. A coleta de dados a partir de amostragem
desvinculada da pesca comercial, além de solucionar esse inconveniente, é o método
sugerido para diagnosticar flutuações na abundância relativa dos recursos pesqueiros a
partir de dados de CPUE. Para tanto, cruzeiros científicos, nos quais são planejados a
priori os pontos de coleta e o desenho amostral para guiar o estudo no intuito de obter
amostras aleatórias, permitem a obtenção de dados ótimos para análises estatísticas,
que podem refletir a real situação na população do recurso pesqueiro em questão.
Infelizmente, esse tipo de estudo requer um enorme esforço logístico e econômico
que, frequentemente, limita não apenas a abrangência do mesmo, mas também o
número de pontos de coleta, de réplicas desses pontos de amostragem, da variação
sazonal das amostragens, entre outras dificuldades que não raro ocorrem.
Contudo, independentemente do método de coleta dos dados, o estudo dos pa-
drões de distribuição e abundância dos recursos pesqueiros é de fundamental impor-
tância para o diagnóstico do nível de explotação dos estoques o que, eventualmente,
permite a implantação de medidas de manejo e controle para um aproveitamento
sustentável dos mesmos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAO. FAO Catalogue of Fishing Gear Designs. Rome: FAO Fisheries and
Aquaculture Department, 1980.
FAO. Small-Scale Fishing Gear. Rome: FAO Catalogue. 1987.
GAMBA, M.R. Guia Prático de Tecnologia de Pesca. Itajaí: CEPSUL, 1994.
GARNER, J. How to Make and Set Nets. Oxford: Fishing News Books. 1986.
GIMENEZ, C.; MOLLINET, R.; SALAYA, J.J. La Pesca Industrial de Arrastre.
Venezuela: Ed. Grupo Carirubana, 1993.

336 S ANTIAGO M ONTEALEGRE -Q UIJANO , R AUL DE B EM J R ., D ENIS D OLCI E L UIZ F ELIPE D UMONT
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

HAYES, M.L. Active fish capture methods. In:


NIELSEN, L.A.; JOHNSON, D.L. (Ed.).
Fisheries Techniques. Bethesda: American
Fisheries Society, 1983. Cap. 7, p. 123-145.
HUBERT, W.A. Passive capture techniques. In:
NIELSEN, L.A.; JOHNSON, D. L. (Ed.).
Fisheries Techniques. Bethesda: American

Foto: Projeto Amazônia Azul


Fisheries Society, 1983. Cap. 6, p. 95-122.
KING, M. Fisheries Biology, Assessment
and Management. Oxford: Blackwell, 1995.
KLUST, G. Fibres, Ropes for Fishing Gear.
FAO Fishing Manuals. Oxford: Fishing News
Books. 1983.
LALLI, C.M.; PARSONS, T.R. Biological
Oceanography: an introduction. Oxford:
Butterworth Heinemann, 1993.
LERMAN, M. Marine Biology: environment,
diversity and ecology. Menlo Park, California:
The Benjamin/Cummings Publishing, 1986.
NÉDÉLEC, C.; PRADO, J. Definition and
Classification of Fishing Gear Categories.
Rome: FAO Fisheries Technical Paper n. 222.
1999.
PEZZUTO, P.R.; BORZONE, C.A.
Padronização das eficiências de captura de
diferentes equipamentos utilizados na
prospecção da vieira Euvola ziczac (Linnaeus
1758) (Bivalvia: Pectinidae) no sul do Brasil.
Atlântica, Rio Grande, v. 23, p. 27-38, 2001.
SAINSBURY, J.C. Commercial Fishing
Methods: an introduction to vessel and gears.
Oxford: Fishing News Books, 1996.
VOOREN, C.M. Seleção pela malha na pesca
de arrasto de castanha, Umbrina canosai, e pescada
Cynoscion striatus e pescadinha Macrodon ancylodon
no Rio Grande do Sul. Documentos Técnicos
em Oceanografia, Rio Grande, v. 4, 1983.

P ESCA E RECURSOS P ESQUEIROS 337


CETÁCEOS
12

Eduardo R. Secchi, Juliana Di Tullio e Pedro F. Fruet*


CAPÍTULO

Instituto de Oceanografia – FURG *Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de Carvalho Rios”


Universidade Federal do Rio Grande *Universidade Federal do Rio Grande

Os cetáceos são mamíferos que ingressaram no ambiente aquático há cerca de


55 milhões de anos de maneira bem-sucedida devido a marcantes adaptações
morfológicas e fisiológicas. Esse sucesso na ocupação do ambiente aquático pode ser
comprovado pela alta diversidade, ampla distribuição e variedade de ambientes que
ocupam – as 88 espécies de cetáceos atuais (Neoceti) estão divididas em duas subordens:
os Odontoceti (odontocetos), ou cetáceos providos de dentes, entre os quais estão
todos os golfinhos, as baleias-bicudas e o cachalote; e os Mysticeti (misticetos), ou
cetáceos com cerdas bucais, que incluem todas as grandes baleias filtradoras. As cerdas
bucais são estruturas de queratina, dispostas paralelamente sob a maxila, especializadas
para filtragem, principalmente de crustáceos zooplanctônicos.
A abertura do Oceano Austral, resultante da separação dos continentes no
Hemisfério Sul há aproximadamente 30 milhões de anos (Ma) remodelou os padrões
de circulação oceânica global. Uma das consequências foi a formação da capa de gelo
Antártico, que desencadeou mudanças nos padrões climáticos globais, além do
Foto: Luciano Dalla Rosa
surgimento de novas correntes marinhas de águas profundas ricas em nutrientes, que
são trazidos por ressurgências até a superfície dos oceanos, elevando a produtividade
local. Esse processo de enriquecimento dos oceanos favoreceu a radiação dos
odontocetos e misticetos, os quais divergiram, a partir de um ancestral comum,
arqueoceto, há cerca de 30-35 Ma. Com o surgimento da Corrente Circumpolar
Antártica e mais glaciações, a temperatura do mar caiu ainda mais, aumentando a
disponibilidade de nutrientes e produtividade primária. Essa elevada produtividade
desencadeou uma imensa biomassa de zooplâncton nas camadas superficiais do Oceano
Austral pois, devido ao seu minúsculo tamanho, o era “indisponível” para os cetáceos
com dentes, fato que permitiu que apenas estruturas altamente especializadas, como
as cerdas bucais, fossem capazes de capturar grandes concentrações desse zooplâncton,
tornando as baleias os principais predadores daquele ecossistema.
De uma maneira geral, as estratégias e histórias de vida das baleias são parecidas.
Com exceção de apenas duas espécies, a baleia-da-Groenlândia – Balaena mysticetus,
que realiza todo seu ciclo vital em regiões árticas e subárticas; e a baleia-de-Bryde –
Balaenoptera edeni, que se restringe a regiões tropicais e subtropicais, os misticetos mi-
gram entre as áreas de acasalamento nas regiões tropicais, onde permanecem durante
o inverno, e áreas de alimentação nas regiões polares durante todo o verão.
As espécies de odontocetos, por outro lado, apresentam uma grande diversidade
de estratégias e histórias de vida, alimentam-se de presas maiores, mas não formam
grandes agregações e, em muitos casos, estão dispersas e/ou habitam ambientes de
baixa ou nenhuma visibilidade, como regiões costeiro-estuarinas ou zonas marinhas

C ETÁCEOS 339
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
profundas. Para compensar a ausência ou insuficiência de luz e a diminuição da eficiência
da visão, os odontocetos desenvolveram o sistema de ecolocalização ou biossonar. Sons
de alta frequência, produzidos nas vias aéreas, são conduzidos para o meio externo através
do melão, uma estrutura de tecido adiposo localizado na frente da cabeça. O som propa-
ga-se na água até atingir uma barreira, que pode ser o fundo do mar ou o alimento. O eco
refletido é captado, principalmente através da mandíbula, também preenchida por um
tecido gorduroso, e transmitido para o ouvido interno, onde é transformado em impulsos
nervosos, que chegam ao cérebro. Através da ecolocalização, o cetáceo identifica a forma,
a textura, o tamanho e a distância de suas presas ou de qualquer outro objeto.

1 O PAPEL DOS CETÁCEOS NO ECOSSISTEMA MARINHO


A especialização alimentar das espécies ou populações determinará, em parte, o
seu papel no ecossistema. Os cetáceos estão presentes em todos os oceanos, desde
zonas tropicais a polares, tanto em ambientes costeiros e rasos como em regiões
profundas, longe da costa. Há ainda espécies de água doce, como o boto-cor-de-rosa
– Inia geoffrensis, da bacia Amazônica e o quase extinto golfinho-do-Rio-Amarelo –
Lipotes vexillifer, na China. Algumas espécies são cosmopolitas, enquanto outras são
endêmicas e de distribuição restrita. Esses mamíferos ocupam uma ampla variedade
de níveis tróficos, ou seja, estão em diferentes posições na teia alimentar; podem ser
consumidores secundários, como algumas grandes baleias e golfinhos que se alimen-
tam de espécies herbívoras, ou predadores do topo da teia alimentar dos oceanos,
como a orca – Orcinus orca. Independentemente da posição na teia alimentar, exercem,
potencialmente, uma função crucial para o equilíbrio do ecossistema.
Entretanto, a compreensão sobre o papel dos cetáceos na dinâmica e estrutura dos
ecossistemas marinhos é limitada, o que se deve, em parte, à vastidão e às complexas
conexões entre os diversos ambientes, bem como ao deficiente conhecimento cientí-
fico a respeito das relações de tróficas e de fluxo energético entre os diversos compo-
nentes desses ecossistemas. O nível de interferência de uma espécie, na estrutura do
ecossistema, depende, em parte, da abundância, da demanda energética e do consu-
mo, do nível trófico e da extensão de sua área de vida. Os cetáceos, dado o seu
grande tamanho e abundância de muitas espécies, incontestavelmente, consomem
grandes quantidades de alimento. Porém, o quanto esse grande consumo influencia na
estrutura e no funcionamento do ecossistema depende de outros aspectos que au-
mentam a complexidade dessas relações. As variações espaço-temporais da produtivida-
de e o consumo por outros componentes do ecossistema, inclusive a pesca, são aspectos
que devem ser considerados na tentativa de compreender esse processo dinâmico.

2 DIVERSIDADE NO MAR BRASILEIRO


Ao menos 42 espécies, representando seis famílias de odontocetos e duas de
misticetos, ocorrem no mar brasileiro com diferentes padrões: algumas são raras,

340 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

outras sazonais, aparecendo apenas em certas estações do ano, enquanto muitas habi-
tam nossa costa durante o ano todo. A maioria das grandes baleias filtradoras alimen-
ta-se, durante o verão, nas produtivas regiões polares e migram para as águas tropicais
e subtropicais para acasalamento e reprodução, no inverno. Parte da população de
baleias-franca – Eubalaena australis, da família Balaenidae, e baleias-jubarte – Megaptera
novaeangliae, da família Balaenopteridae, reproduzem-se em águas rasas do litoral bra-
sileiro. A baleia-franca, antes de ser intensamente caçada no litoral brasileiro, reprodu-
zia-se desde a Bahia até o Rio Grande do Sul; a espécie está lentamente se recuperan-
do dos efeitos da caça, porém a população ainda é pequena e sua área de reprodução
está concentrada no litoral catarinense, embora alguns indivíduos se reproduzam mais
ao norte e também no litoral gaúcho. A baleia-jubarte, caçada até a beira da extinção
em águas antárticas e subantárticas, vem se recuperando satisfatoriamente, como re-
sultado da moratória da caça comercial. Assim, sua área de reprodução parece estar
se expandindo além dos locais preferenciais, as águas rasas do litoral baiano e capixaba,
especialmente o Banco dos Abrolhos. Outros balaenopterídeos, incluindo a baleia-
azul, maior vertebrado que habita a Terra, reproduzem-se em águas profundas, mais
afastadas da costa nordeste. A baleia-de-Bryde – Balaenoptera edeni, único balaenopterídeo
que não realiza migrações sazonais, é frequentemente observada na costa sudeste do
Brasil durante o verão, alimentando-se de sardinhas, em zonas de ressurgência, especi-
almente na região de Cabo Frio, no Rio de Janeiro.
Os odontocetos, com exceção do cachalote macho, não realizam migrações sazo-
nais. Entre eles, destacam-se os delfinídeos (família Delphinidae), grupo ecologica-
mente mais diversificado entre os mamíferos marinhos. Com 37 espécies, os delfinídeos
ocupam uma ampla variedade de ambientes e posições tróficas. Estão presentes des-
de regiões polares até mares tropicais, ocorrendo tanto em águas oceânicas profundas
como em áreas costeiras e em ambientes fluviais – muitas dessas espécies ocorrem o
ano todo na costa brasileira, ocupando diferentes ecossistemas. Algumas são consu-
midoras secundárias, alimentando-se de pequenos peixes filtradores; outras ocupam
níveis tróficos mais elevados, como a orca, o maior predador dos mares, ocupando
o topo da teia alimentar dos oceanos. Essa espécie alimenta-se de uma ampla varieda-
de de presas, desde pequenos peixes, lulas, até grandes baleias e tubarões, dependen-
do da população; todas as demais famílias são altamente especializadas.
As baleias-bicudas – família Ziphiidae e o cachalote – Physeter macrocephalus, da
família Physeteridae, alimentam-se quase exclusivamente de lulas de águas profundas
além da plataforma continental; as baleias-bicudas apresentam adaptações ecológicas
extremas: a maioria delas tem um único par de dentes, que emerge apenas na mandí-
bula dos machos adultos, os quais não têm função de capturar presas, que é feito por
sucção. Essa elevada especificidade trófica das baleias-bicudas e dos cachalotes limita
seu papel no ecossistema marinho e determina seu padrão de distribuição. Apesar das
baleias-bicudas serem a segunda família mais diversificada entre os cetáceos, com

C ETÁCEOS 341
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
21 espécies, raramente são avistadas no mar, provavelmente por ocorrerem muito
longe da costa, em águas profundas, além da plataforma continental e por, geralmente,
andarem solitárias ou em pequenos grupos.

3 ESTUDOS EMBARCADOS
A pesquisa com cetáceos, devido à maior acessibilidade, é desenvolvida com mais
frequência com espécies costeiras, uma vez que cruzeiros de pesquisa em águas distan-
tes da costa são caros e logisticamente mais complexos. Por isso, a ecologia das espé-
cies mais pelágicas é menos conhecida e, parte do que se sabe sobre suas distribuições,
provém de observações oportunistas a partir de embarcações turísticas, mercantes,
de lazer ou mesmo de cruzeiros de pesquisa oceanográfica não dedicada ao estudo
dos cetáceos, as quais são consideradas plataformas de oportunidade para coleta
de dados de cetáceos – para as quais há um protocolo mínimo de coleta de dados,
descrito no item 3.6 deste capítulo. Embora os dados coletados de forma oportunis-
ta gerem, muitas vezes, informações novas, principalmente de espécies pouco conhe-
cidas ou de regiões remotas, aspectos ecológicos mais relevantes, para compreender
o papel dos cetáceos no ecossistema, tais como diversidade, distribuição, extensão da
área de vida e abundância, são possíveis apenas por meio de cruzeiros dedicados. As
atividades de campo desenvolvidas para o estudo de cetáceos a bordo de um navio
oceanográfico são realizadas principalmente durante o dia; apenas estudos que utili-
zam detecção acústica podem ser conduzidos à noite. Um dos métodos mais utiliza-
do para estimativas de abundância é o de transecções lineares para amostragem de
distâncias (BUCKLAND et al., 2001), porém modelos de marcação-recaptura (MR) são
bastante utilizados, especialmente para pequenas populações costeiras (SEBER, 1982).

3.1 Transecções lineares

Esse método permite a obtenção de estimativas de densidade e abun-


dância e é baseado na amostragem de partes da área de estudo; é utilizado quando
não é possível realizar uma contagem de toda a população (censo). Além disso, o
uso desse método normalmente requer, ao menos, dois observadores posicionados
nas partes elevadas do navio, por exemplo, no tijupá (FIG. 12.1A) ou nas asas do
passadiço (FIG. 12.1B), um deles procurando cetáceos num campo de 90 graus
de amplitude a bombordo e o outro, a boreste da embarcação. Os observadores
devem buscar pelos animais, alternando entre olho nu e binóculos graduados
com retículas. A duração do uso de binóculos durante a varredura não é fixa e depende
de cada protocolo. Uma terceira pessoa deve permanecer na cabine de comando e
registrar as observações em um computador portátil, conectado ao GPS do navio,
através do programa de computador Logger (IFAW, 1994) ou Wincruz1 .

1
Disponível em: <http://swfsc.noaa.gov/textblock.aspx?Division=PRD&id=1446&ParentMenuId=147>

342 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Os observadores alternam suas posições, geralmente a cada meia hora e no senti-


do horário. Quando possível, um mínimo de quatro pessoas deve embarcar para
aplicar esse método. Um quarto pesquisador deve ser responsável por auxiliar os
observadores na identificação das espécies e tirar fotografias das avistagens, quando
essas estiverem próximas.

Figura 12.1 Observadores procurando cetáceos. (A) a partir dos pontos elevados da
embarcação, como o tijupá; (B) uso de binóculo reticulado e do medidor de ângulo horizontal
[Fotos: (A) Dimas Gianuca e (B) Projeto Baleias-Proantar].

Quando um indivíduo (ou grupo) de cetáceo é avistado, tomam-se o ângulo ho-


rizontal deste em relação à proa do navio e a distância entre a avistagem e o observa-
dor, utilizando medidores de ângulo horizontal (angle-boards) e as retículas do binóculo,
respectivamente (FIG. 12.1). Cada modelo de binóculo tem suas especificações para
transformar o número de retículas entre o indivíduo (ou grupo) e o horizonte
(FIG. 12.2) em distância. Vale lembrar que essa contagem não deve ser arredondada.
Deve-se tentar estimar as frações entre retículas: por exemplo, 2,5 retículas seria mais
correto que 2,0. Para o cálculo dessa distância radial, deve-se também registrar a altura
dos olhos do observador até a superfície do mar, pois essa altura é usada no cálculo
da distância da linha do horizonte (d), o qual leva em consideração, além da altura do
observador, a curvatura da Terra (FIG. 12.2B). Quando o horizonte é obstruído por
ilhas, icebergs ou linha de costa, a distância até essas feições deve ser obtida pelo radar
ou por meio de cartas náuticas.
Os medidores de ângulos, que são transferidores graduados de 0 a 360o, providos
de duas hastes para observar o grupo avistado (FIG. 12.3), devem ser fixados na
frente de cada um dos observadores e posicionados de modo que o ângulo zero (0º)
esteja direcionado paralelamente à proa do navio. Para a tomada do ângulo horizontal
(x), o observador deve alinhar as duas hastes do transferidor e o animal (ou centro do
grupo) observado. O ângulo horizontal e o número de retículas entre o grupo (ou

C ETÁCEOS 343
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
indivíduo) avistado e o horizonte, o rumo e a posição geográfica do navio são infor-
mações que devem ser tomadas imediatamente após a avistagem. Com essas infor-
mações, o ponto exato do indivíduo (ou grupo), bem como sua distância do triângu-
lo retângulo até a linha de transecção do navio, pode ser obtido por simples
trigonometria, uma vez que a distância perpendicular x – do grupo até a transecção –
é igual à distância radial r (do indivíduo ou grupo até o observador – obtida pela
leitura do número de retículas entre a o grupo e o horizonte) multiplicada pelo seno
do ângulo horizontal (α), obtido pelo transferidor (FIG. 12.4).

Figura 12.2 Leitura do número de retículas do binóculo entre o animal e o horizonte.


Nesse exemplo, o número de retículas é aproximadamente 2,5.

344
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 12.3 Transferidor utilizado para medir o ângulo horizontal do grupo avistado.
As setas vermelhas indicam as duas hastes, que devem ser alinhadas com a avistagem
[Foto: Juliana Di Tullio].
Foto: Luciano Dalla Rosa

345
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B
transecção

x
avistagem

r
α

baleia

horizonte
d
r

Figura 12.4 Esquema de tomada de ângulos e distâncias necessários para estimar a distância:
(A) perpendicular (x). O ângulo horizontal (α) do grupo em relação à proa do navio é tomado
com o transferidor; (B) distância radial (r) a partir da leitura do número de retículas do binóculo
e a perpendicular (d) são obtidas, por trigonometria.

Com esses dados, obtêm-se a distribuição de frequência das distâncias entre o


grupo avistado e a transecção do navio. A probabilidade de detecção (p) diminui, à
medida que a distância à transecção aumenta. Portanto, modelos matemáticos dispo-
níveis no programa Distance são usados para se estimar a largura efetivamente amostrada
(µ), a qual representa a área que vai desde a transecção até a distância na qual a
probabilidade de se perder um grupo é a mesma de se detectar um grupo além dela.
A abundância para toda área é obtida a partir da densidade de animais avistados
dentro dessa área, como demonstram as equações:
Proporção de animais detectados:
pˆ = μˆ / w
Proporção da área de estudo amostrada:
α = a/A = 2wL/A
Estimativa de abundância:
n n n
Nˆ = = = Ax = A x Dˆ
pˆ α μˆ 2 w L 2 ˆ
μ L
x
w A
ou

em que:
A é a área de estudo;
n é o número de avistagens;

346 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Ê(s) é a estimativa do tamanho médio dos grupos observados;


L é o comprimento total da transecção;
µ^ é a estimativa da largura efetivamente amostrada;
^
g(0) é a estimativa da probabilidade de detecção sobre a transecção (muitas vezes
assumida como sendo 1).
Outros dados necessários incluem a espécie avistada, número de grupos, número
de indivíduos por grupo, esforço de observação, data, hora, estado do mar, visibili-
dade, reflexo do sol, profundidade, velocidade do navio; as condições ambientais
podem ser usadas como covariáveis para ajustar melhor os modelos. Quando há
disponibilidade de tempo, as observações devem ser realizadas com condições de
mar variando de 0 a 5 na escala Beaufort (preferencialmente abaixo de 5, quando o
trabalho é realizado com pequenos cetáceos) e sob condições de boa visibilidade. A
coleta desses dados, além de permitir estimar densidade (abundância), fornece infor-
mações sobre diversidade e distribuição na área de estudo.
A distribuição de cetáceos é influenciada principalmente pela disponibilidade de
suas presas que, por sua vez, têm uma dinâmica que depende das relações tróficas e
das características ambientais. Porém, existe uma grande dificuldade de compreender
e identificar os processos que determinam a concentração dos organismos marinhos
em águas oceânicas e como os predadores se adaptam às variações espaciais e tempo-
rais dos recursos. Portanto, quando dados ambientais bióticos (clorofila-α, zooplâncton,
biomassa de peixes ou cefalópodos) ou abióticos (temperatura superficial da água,
dados de CTD, feições batimétricas) e geográficos (distância da costa e da quebra de
plataforma) são coletados nesses cruzeiros, é possível usá-los como variáveis explicativas
em modelos que procuram descrever os padrões de uso do habitat. Nesses modelos,
tais como os Lineares Generalizados, os Aditivos Generalizados ou os Mistos, procu-
ra-se determinar a(s) variável(is) que melhor explica(m) o(s) padrão(ões) de distribui-
ção dos cetáceos (variável-resposta).
O método de transecções lineares para amostragem de distâncias é baseado
em algumas premissas.
As linhas são distribuídas de forma aleatória em relação à distribuição dos animais
o que:
– permite a extrapolação dos resultados da área amostrada para a área de estudo
como um todo;
– valida o pressuposto de que os animais são distribuídos de maneira uniforme
em relação à linha (necessário para estimar p no caso de transecção linear);
– dispensa a premissa de que os animais são distribuídos de forma aleatória na
área de estudo.

C ETÁCEOS 347
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Se, por acaso, as transecções lineares estiverem distribuídas, por exemplo, sobre
feições batimétricas, onde haja uma alta concentração de animais, a abundância pro-
vavelmente será sobreestimada. Da mesma forma, se as linhas estiverem sistematica-
mente em áreas de baixa densidade, a abundância total será subestimada.
Todos os animais localizados na linha são detectados (i.e. g(0) = 1)
– Se violada, resultará em abundância subestimada (p é subestimado).
– Pode ser relaxado se:
– detecção a uma pequena distância da linha for certa;
– for possível obter uma estimativa da proporção dos animais detectados
na linhaþ (g(0)).
Os esforços de observação devem ser maiores sobre a linha da transecção. Isso é
obtido naturalmente quando a área de varredura dos observadores em direção à
proa da embarcação se sobrepõe.
Os animais são detectados na sua posição inicial
– Movimento na direção do observador (atração) resulta em superestimativa
de densidade ou abundância.
– Movimento na direção contrária ao observador (repulsão) resulta em
subestimativa de densidade ou abundância.
Essa premissa é dificilmente alcançada, especialmente para animais menores (pe-
quenos cetáceos) ou que realizam mergulhos longos (baleias bicudas). O uso de binó-
culos de longo alcance, como os big-eye (25x50), ajuda a satisfazer essa premissa, po-
rém, na prática, é eficiente apenas em condições de bastante calmaria, pois qualquer
balanço ou trepidação do navio dificulta a estabilização da imagem.
As medidas (distâncias e ângulos) são tomadas sem erro
– Erros nas distâncias e ângulos podem dificultar a estimativa da função de detecção.
– Distâncias próximas à linha devem ser tão exatas quanto possível.
– As distâncias mais longes da linha são menos importantes para o ajuste da
função de detecção do que as mais próximas.
Nesse caso, devem-se evitar arredondamentos e o observador deve ser rigoroso
para tentar fazer a melhor leitura possível dos ângulos e distâncias em quaisquer con-
dições de mar.
Uma alternativa para o método de transecção linear para amostragem de distânci-
as é o de amostragem por faixa, o qual assume que a probabilidade de detecção
dentro desta faixa não varia com a distância. Além disso, a abundância de algumas
populações pode ser estimada por métodos de Marcação-Recaptura de animais
fotoidentificados.

348 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

3.2 Fotoidentificação

O uso da fotografia para a identificação individual de cetáceos (fotoidentificação) foi


inicialmente empregado para estudar populações de golfinhos-nariz-de-garrafa – Tursiops
truncatus, por meio das marcas naturais de longa duração presentes na nadadeira dorsal –
como cortes profundos e deformidades – como elemento principal para diferenciar os
indivíduos. Atualmente, várias espécies de pequenos e grandes cetáceos vêm sendo estudadas
com o auxílio dessa ferramenta. Na maioria dos casos, pequenos cetáceos são diferenciados
por marcas naturais nas nadadeiras dorsais, enquanto os grandes podem ser reconhecidos
individualmente por diferentes padrões de forma e pigmentação da nadadeira caudal
(baleia-jubarte e cachalotes, por exemplo), de calosidades na cabeça (baleia-franca), ou até
mesmo de coloração do dorso (baleia-azul) (FIG. 12.5).

Figura 12.5 Exemplos de marcas naturais utilizadas para fotoidentificação de algumas espécies
de cetáceos: (A) golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus); (B) golfinho-de-Hector
(Cephalorhynchus hectori); (C) baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae); (D) baleia-franca-austral
(Eubalaena australis) [Fotos: (A) Pedro Fruet; (B e C) Eduardo R. Secchi e (D) Glauco Caon].

Uma vantagem particular do uso da fotoidentificação é a possibilidade de investi-


gar de modo pouco invasivo a história de vida e outros aspectos da ecologia dos
animais, incluindo estimativas do tamanho das populações, área de vida, organização

C ETÁCEOS 349
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
social, taxas de sobrevivência e fecundidade, idade de primeira reprodução, intervalos
de nascimento e sazonalidade reprodutiva. Caso fotografias de animais sejam obtidas
em mais de uma área, podem-se determinar a distribuição, os padrões de movimen-
tos de curto prazo e até mesmo migrações. Quando os indivíduos são seguidos ao
longo de vários anos, aplicando-se modelos de marcação-recaptura aos dados coletados
por meio da fotoidentificação, pode-se alcançar maior compreensão da dinâmica
populacional; assim, essas abordagens vêm sendo utilizadas com êxito para estimar a
abundância de diversas espécies de cetáceos, especialmente de populações de hábitos
costeiros, devido a sua maior acessibilidade.
Todavia, a robustez e validade dessas estimativas estão diretamente relacionadas à
qualidade dos dados coletados, a qual depende da nitidez das fotos e de uma estraté-
gia de amostragem (esforço e cobertura espaço-temporal) apropriada. Por isso, deve-
se tentar adquirir imagens que permitam identificar com confiabilidade o maior nú-
mero possível de indivíduos. Normalmente isso é alcançado através de fotografias
tiradas a partir de pequenas embarcações (botes infláveis, por exemplo), as quais
permitem maior agilidade para a aproximação do grupo-alvo, na busca do
posicionamento adequado do fotógrafo em relação ao animal e à luminosidade; além
disso, pequenas embarcações possuem plataformas baixas, deixando o fotógrafo em
um nível próximo da altura do animal. Isso favorece a aquisição de imagens da nadadeira
dorsal ou caudal do animal sem eventuais distorções causadas por grandes angulações
entre a altura/posicionamento da lente fotográfica e o animal, o que pode mascarar
marcas de longa duração (FIG. 12.6). Sendo assim, deve-se procurar manter o fotógrafo,
sempre que possível, o mais próximo da altura média da nadadeira do animal e sempre
perpendicular ao mesmo. A contraluz também deve ser evitada, pois as fotografias
adquiridas acabam inviabilizando a utilização de outros tipos de marcas (como
arranhões profundos) que ajudam na identificação dos indivíduos. Embora a utiliza-
ção de embarcações de pequeno porte seja ideal, resultados razoáveis, para algumas
espécies, podem ser alcançados a partir de embarcações de médio/grande porte.
No caso de grandes embarcações, que possuam botes infláveis a bordo, é reco-
mendado a utilização destes para fins de fotoidentificação, salvo em condições desfa-
voráveis de mar – escala Beaufort 3 ou mais é inadequada para pequenos cetáceos. A
procura por estes animais deve ser realizada a partir das plataformas altas do navio,
pois aumentam as chances de detecção: ao avistar um grupo, ao menos um pesquisa-
dor deve manter-se nesses locais de observação para monitorá-lo e instruir os pesqui-
sadores a bordo do inflável, através de comunicação por rádio, sobre a posição do
grupo no mar. Para uma boa coleta de dados, recomendam-se, além do piloto, duas
pessoas a bordo do bote inflável: uma, para fotografar os indivíduos e outra para
anotar os dados relativos à estimativa do tamanho e da composição do grupo (núme-
ro de filhotes, juvenis, adultos), além da hora de início/término das observações e do
número de fotografias tiradas. Sugere-se também o registro de outras informações

350 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

potencialmente úteis para estudos ecológicos, tais como profundidade, posição geo-
gráfica, dados oceanográficos e comportamento. Indica-se que o fotógrafo seja sem-
pre o mesmo, a fim de evitar a introdução de mais uma fonte de variação nas proba-
bilidades de captura.

Figura 12.6 Exemplos de limitações na identificação individual a partir de fotografias


resultantes de várias angulações entre o fotógrafo e a nadadeira do animal. As imagens em (A) e
(B) retratam dois indivíduos marcados e de fácil reconhecimento. Em (C) e (D) os indivíduos
tiveram suas marcas obstruídas ou distorcidas por serem tomadas em diagonal ou em
diferentes alturas e nestes casos são excluídas das análises de marcação-recaptura
[Fotos: Pedro F. Fruet].

Uma variedade de modelos de máquinas digitais pode ser utilizada, desde que as
mesmas possuam boa resolução de armazenamento de imagem e alcancem altas velocidades
de disparo: são recomendadas entre 600-1000 uma vez que, principalmente os pequenos
cetáceos, são animais muito ágeis e, se utilizadas velocidades baixas, a nitidez da foto
poderá ser comprometida. De uma maneira geral, mesmo em dias claros, deve-se optar
pela utilização da ASA 400 pois, na maioria dos casos, a lente estará apontada para a água,
causando perda de luminosidade. Assim, em casos de fotografias tomadas da proa do
navio, a fotometragem deve ser realizada com a máquina apontada para água e não
para o horizonte. Em ocasiões de pouca luz (início de manhã/final de tarde), ASAs

C ETÁCEOS 351
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
maiores podem ser utilizados (entre 600-800), para que seja possível alcançar altas
velocidades sem causar grandes prejuízos à nitidez da foto. Mesmo que câmeras
relativamente simples possam ser utilizadas para esse propósito, recomenda-se o uso
de câmeras com lentes intercambiáveis; preferencialmente, devem-se utilizar lentes com
teleobjetivas com magnificação de 100-300 mm ou 70-200 mm, que permitem ao
fotógrafo lidar com as rápidas mudanças nas distâncias, ocasionadas pelas aproximações
ou afastamento inesperados dos animais em relação à embarcação. Embora vários formatos
para o armazenamento de arquivos fotográficos possam estar disponíveis em câmeras
digitais mais avançadas, sugere-se, de maneira geral, regular a câmera para arquivar a
imagens no formato RAW ou JPEG, com resoluções acima de 2 Mb.
Os arquivos fotográficos obtidos através de máquinas digitais devem ser transfe-
ridos para um computador, em que a análise deve ser realizada: o primeiro passo
consiste em selecionar as fotografias a serem utilizadas nas análises de identificação
individual, excluindo aquelas que não atingirem os critérios mínimos exigidos para o
que se considera uma fotografia de boa qualidade. Os critérios básicos utilizados para
a seleção das fotografias devem sempre considerar: 1) nitidez; 2) proximidade;
3) ausência de brilho ou espuma; 4) proporção da superfície da nadadeira dorsal
exposta e 5) ângulo em relação ao animal. Uma foto de boa qualidade é aquela na qual
a nadadeira está no foco e completamente exposta, próxima, sem brilho ou espuma
e que esteja perpendicular ao fotógrafo. Somente fotos de boa qualidade devem ser
utilizadas na identificação dos animais e, por conseguinte, na estimativa de abundância.
A restrição na utilização de imagens de boa qualidade visa a evitar erros de identifica-
ção individual causados por distorções ou encobrimento das marcas. O uso de ima-
gens de baixa qualidade pode ocasionar erros graves, como assinalar o mesmo animal
como sendo dois animais distintos (falso negativo) ou, então, dois animais distintos
como sendo o mesmo animal (falso positivo), os quais resultam em vieses nas estima-
tivas de tamanho populacional. Esses erros também afetam outros estudos que usam
marcação-recaptura como, por exemplo, migrações, uso de habitat, estimativas de
taxas de sobrevivência e reprodutivas; por isso, recomenda-se grande rigor na seleção
das fotos. Para facilitar a comparação das fotografias, podem-se utilizar softwares de
manipulação de imagens que permitam visualizar diferentes arquivos simultaneamente,
por exemplo, Picasa e Photoshop. Em casos nos quais as populações são grandes,
existem softwares gratuitos disponíveis na internet, desenvolvidos exclusivamente para
auxiliar na identificação individual, por exemplo, FinBase, FinScan e Darwin.
A partir do momento em que se inicia a análise das fotos selecionadas e os animais
marcados vão sendo identificados individualmente, deve-se dar início à elaboração de
um catálogo de referência de fotoidentificação. Cada indivíduo fotoidentificado
deve receber um código individual contendo o local, seu número no catálogo e a data
em que foi fotografado, por exemplo, LP001-10/11/09, em que, LP são as iniciais de
Lagoa dos Patos. Sempre que um indivíduo marcado é detectado, devem-se compa-

352 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

rar suas marcas com as dos indivíduos previamente catalogados; caso o mesmo não
tenha sido fotografado anteriormente em uma determinada ocasião amostral, deve
receber um novo código e ser adicionado ao catálogo – caso contrário, deve-se
considerá-lo como uma reavistagem (ou recaptura).
Cada ocasião amostral deve, então, ser analisada separadamente em uma planilha
específica. Para cada grupo amostrado registrar-se-ão os seguintes dados: identifica-
ção dos animais marcados (tomando como referência o catálogo), o número total de
indivíduos fotografados no grupo, de animais marcados, de animais sem marca, nú-
mero total de fotografias, de fotos de boa qualidade, de fotos de animais marcados e
sem marca. Para facilitar a análise de dados, uma matriz contendo o histórico de
capturas dos animais fotoidentificados deverá, então, ser elaborada: na primeira colu-
na, estarão contidos os códigos dos animais e, na primeira linha, o número da ocasião
amostral. Essa matriz deve ser assinalada com o número 1, quando o animal foi visto
em uma determinada ocasião amostral, e com 0, caso contrário.

3.3 Estimativa de animais marcados na população

Os modelos convencionais de marcação-recaptura operam sobre suposições da


natureza das populações estudadas e a forma como foram amostradas. Assim, é
importante definir previamente se a população é considerada fechada ou aberta,
considerando-se que a primeira é aquela cujo tamanho permanece constante ao longo
do período de investigação, ou seja, recrutamento (nascimentos e imigração) e perdas
(mortes e emigração) não ocorrem nesse período. Já nas seguintes, um ou mais desses
processos acontecem (OTIS et al., 1978). Para estudos de curta duração, nos quais as
amostragens são realizadas em um curto espaço de tempo, normalmente utilizam-se
modelos para populações fechadas. As análises de marcação-recaptura para populações
fechadas geralmente supõem (SEBER, 1982):
1) perda da marca: as marcas não são perdidas durante o estudo;
2) respostas comportamentais: os animais não respondem à captura de for-
ma que afete sua probabilidade subsequente de serem recapturados;
3) fechamento demográfico: nascimentos e mortes não ocorrem durante o
estudo;
4) fechamento geográfico: imigração ou emigração não ocorrem durante o
estudo;
5) reconhecimento das marcas: as marcas são reconhecidas corretamente nas
recapturas;
6) homogeneidade na probabilidade da captura: dentro de uma ocasião
amostral todos os animais da população têm igual probabilidade de serem
capturados.

C ETÁCEOS 353
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A validade da suposição de fechamento populacional é comumente verificada
através das curvas cumulativas de descobrimento dos indivíduos fotoidentificados e
da porcentagem de reavistagens dos indivíduos entre os experimentos (WILLIAMS et
al., 1993). Essa curva mostra como o número de animais “marcados” aumenta a cada
ocasião amostral. Se o esforço amostral é suficiente, eventualmente alcança-se uma
assíntota, que representa uma aproximação da abundância total dos “marcados”
(FIG. 12.7) e supõe-se que a população está fechada a eventos de imigração. Caso seja
detectada uma alta taxa de reavistagem dos indivíduos entre as amostragens, pode-se
assumir que a população esteja fechada a eventos de emigração.

70

60
número de botos fotoidentificados

50

40

30

20

10

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
número de saídas

Figura 12.7 Exemplo de curva cumulativa de descobrimento de botos (Tursiops truncatus)


fotoidentificados durante um estudo realizado em 2007 no estuário da Lagoa dos Patos, RS.
Notar que a curva estabiliza-se, sugerindo que praticamente toda a população de animais
marcados na população foi amostrada.

Diversos são os métodos de marcação-recaptura que podem ser utilizados para


estimar abundância de populações de cetáceos. Contudo, apenas o estimador de
Petersen com a modificação de Chapman (1951) será abordado neste Capítulo, por
ser de fácil manipulação, além de se adequar bem aos dados de fotoidentificação.
Este estimador considera duas ocasiões amostrais, um período de marcação e outro
de recaptura, em que:
1) todos os indivíduos têm a mesma probabilidade de serem capturados na
primeira ocasião;
2) a segunda amostra é aleatória e há uma mistura completa da população entre
as amostras;
3) a marcação não afeta o capturabilidade do animal;
4) as marcas não mudam entre amostras e são corretamente identificadas pelo
investigador.

354 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Tomando como exemplo um trabalho que tenha um esforço de 18 ocasiões


amostrais, as primeiras nove ocasiões devem ser agrupadas como período de marca-
ção (captura) e as últimas nove como de recaptura. A estimativa do número de ani-
mais com marcas de longa duração na população é, então, calculada como:

e sua variância dada por:

em que:
n1 é o número de indivíduos com marca permanente capturado na ocasião 1;
n2 é o número com marca permanente capturado na ocasião 2;
m2 é o número recapturado na ocasião 2.
A construção dos intervalos de confiança deve ser baseada em uma aproximação
log-normal (BURNHAM et al., 1987). Assim, o limite inferior do intervalo de confiança
é dado por:

I = r e o limite superior por S= xr

Para um intervalo de 95%, r é calculado como:

em que:

é uma aproximação da var(ln Nˆ T ).

É conhecido que nem todos os indivíduos de uma população apresentam marcas


identificáveis; entretanto, a abundância total pode ser estimada através do número de
animais marcados na população e sua proporção em amostras subsequentes (SEBER,
1982). A proporção de animais com marcas de longa duração pode ser calculada
como:

com sua variância expressa como:

C ETÁCEOS 355
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
k
Oi (1 Oi) 2
var ( O ) = Ti k
i=1

em que:
Ii é o número de botos com marcas permanentes no grupo i;
Ti é o número total de botos fotografados no grupo i;
k é o número de grupos fotografados.
O tamanho total da população (NT) é, então, estimado pela razão:

T =
O
em que:
N^ é a estimativa do número de animais marcados na população calculado através
dos métodos de marcação-recaptura;
^
θ é a estimativa da proporção de animais com marcas de longa duração na popu-
lação, obtida através da média aritmética da proporção de animais marcados esti-
mada para cada grupo durante cada experimento.
^
A variância de N T
deve ser calculada pelo “método delta” (SEBER, 1982) como
sendo:

var ( )
var ( T )= T
2
+1 O
nO
em que:
^
n é o número total de animais a partir do qual (θ ) foi estimado;
^
θ é a proporção de animais marcados na população.
O coeficiente de variação para o tamanho total da população CV ( Nˆ T ) pode ser
^
expresso como CVs de N^ e θ :

O intervalo de confiança para a estimativa do tamanho total da população deve ser


construído assumindo a mesma distribuição da estimativa de animais marcados (log-normal).

3.4 Biópsias

As biópsias (pele e gordura) são coletadas com o uso de dardos modificados, os


quais são disparados com uma balestra ou rifle de ar comprimido (FIG. 12.8A), a

356 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

partir de botes infláveis ou, de forma oportunística, a partir de navios (FIG. 12.8B).
Quanto à amostragem, é feita a partir do navio: o dardo deve estar preso por um
cabo à embarcação ou ser recolhido por meio de uma carretilha; quando feita desde
um bote inflável, não há necessidade de prender o dardo, pois este tem um flutuador
na extremidade anterior, o qual também serve como bloqueador para que apenas a
ponteira coletora penetre no animal (FIG. 12.8C). Essa ponteira é de aço inoxidável e
tem tamanhos que variam conforme o tamanho da espécie-alvo: para pequenos e
grandes cetáceos, os são de aproximadamente 3 e 5 cm, respectivamente.

Figura 12.8 Coleta de biópsia: (A) disparo de dardo coletor com uma balestra; (B) disparo a
partir de um navio; (C) porção de gordura presa na ponta do dardo
[Fotos: (A e B) Projeto Baleia-Proantar e (C) Alexandre Azevedo].

A pele pode ser utilizada para análises genéticas, isótopos estáveis e elementos-
traço, enquanto a gordura é utilizada para análises de ácidos graxos e poluentes orgâ-
nicos e metais-traço. Para otimizar a coleta, os animais são procurados a partir de
pontos elevados do navio com auxílio de binóculos. Em áreas de alta densidade de
cetáceos, um bote inflável é lançado ao mar para permitir maior poder de manobra
para a aproximação do indivíduo ou grupo e, portanto, proporcionar maior eficiên-
cia de coleta. Para minimizar as duplicadas, isto é, coletas e análises de um mesmo

C ETÁCEOS 357
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
animal, os indivíduos biopsiados podem ser discriminados individualmente por meio
da fotoidentificação. Para isso, um pesquisador fica responsável pela coleta de biópsias,
enquanto outro fotoidentifica os animais, enquanto um terceiro registra os dados.
Eventualmente, amostras podem ser coletadas em duplicata, porém, se os indivíduos
foram foto ou vídeoidentificados, o controle para evitar análises duplicadas pode ser
feito a posteriori, em laboratório. Essas biópsias, independentemente de haverem sido
coletadas sistemática ou oportunisticamente, podem gerar trabalhos ecológicos relevantes
para a pesquisa e conservação das espécies estudadas, como nos exemplos a seguir.
A partir de 1980, as concentrações de isótopos estáveis de carbono e de nitrogênio
começaram a ser usadas para estudos de ecologia trófica; a partir de então, têm se
mostrado cada vez mais uma ferramenta muito útil e versátil para caracterizar os
hábitos alimentares dos mais diversos grupos de animais marinhos, desde invertebrados
até grandes mamíferos. O princípio fundamental da técnica é que as razões de isótopos
estáveis dos consumidores refletem aquelas encontradas no seu alimento. A razão
entre a concentração de nitrogênio-15 e nitrogênio-14 (δ15N), tipicamente apresenta
um incremento entre níveis tróficos permitindo, dessa forma, comparar a posição
trófica de vários consumidores dentro de um mesmo ecossistema. Outros elementos,
como o carbono, não sofrem mudanças drásticas na sua relação de isótopos entre os
níveis tróficos. Porém, a razão entre o 13C e o 12C (δ13C) indica o nível de produti-
vidade primária ou dos substratos inorgânicos que sustentam essas redes, podendo
diferenciar a procedência dos recursos alimentares (água doce vs. marinha, costeira vs.
oceânica, bentônica vs. pelágica) e, portanto, serem potencialmente úteis para entender
parte dos padrões de uso do habitat. Nos últimos anos, a caracterização química de
diferentes tecidos como ferramenta para determinar a estrutura populacional em
cetáceos tem aumentado. O uso de razões de isótopos estáveis para caracterizar po-
pulações baseia-se na variação da abundância natural dos elementos no ambiente, a
qual também é determinada por processos biogeoquímicos e que resultam em mu-
danças nas concentrações dos elementos na base da rede trófica, sendo essas diferen-
ças repassadas aos consumidores de níveis tróficos mais altos. Dessa forma, as popu-
lações animais de diferentes regiões geográficas podem ser bioquimicamente
“marcadas”, mesmo tendo dieta parecida. Sendo assim, a estrutura populacional pode
ser investigada através da análise de sinais químicos, da mesma forma como as assina-
turas isotópicas refletem o ecossistema nos quais os organismos se alimentaram. Esses
elementos podem também indicar diferenças ontogenéticas e sexuais da ecologia trófica
de indivíduos de uma mesma população.
Entre as vantagens da técnica sobre as abordagens convencionais de estudos de
dieta, por exemplo, conteúdo estomacal, fezes e lavagem estomacal, que dão infor-
mação apenas sobre a última refeição, está a facilidade de poder realizar o estudo
utilizando uma ampla variedade de tecidos (por exemplo, pele, músculo, osso, dente e
sangue), os quais oferecem informações sobre a dieta por períodos de tempo diver-

358 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

sos, desde dias, como no plasma, até a vida inteira do animal, como nos dentes (em
cetáceos, a dentição é única ao longo da vida). Amostras de pele para análise de
isótopos estáveis devem ser envoltas em papel alumínio ou colocadas diretamente em
recipientes de vidro sendo, o quanto antes, congeladas a -20oC.
Em se tratando de estudos relacionados à genética, tanto o DNA mitocondrial
(mtDNA) como o DNA nuclear têm sido amplamente empregados, entre outros,
em estudos voltados à determinação dos níveis de diversidade genética e à identifica-
ção de populações discretas de cetáceos. A ampla utilização do mtDNA em pesquisas
envolvendo relações filogenéticas e na identificação de subdivisões populacionais está
relacionada, fundamentalmente, às suas altas taxas evolutivas e à herança predominan-
temente matrilinear. Esta característica, embora importante, é também uma das limi-
tações desse marcador molecular, visto que subdivisões geográficas detectadas a par-
tir do mtDNA não garantem a ausência de fluxo gênico entre as populações, o qual
pode ocorrer por meio da dispersão dos machos. Os microssatélites (DNA nuclear)
são amplamente utilizados em estudos de estruturação populacional devido a suas
altas taxas de mutação. As amostras de pele para análises genéticas de populações
atuais devem ser preservadas em álcool 96%, em solução de dimetil sulfóxido (DMSO)
saturada com NaCl ou congeladas a -20oC.
Nos cetáceos, a maior parte das reservas energéticas está armazenada na camada
de gordura, sendo esse o mais importante local de estoque de energia nesses animais,
uma vez que possui uma grande variedade de ácidos graxos poli-insaturados devido
à sua dieta baseada em alimentos provenientes da cadeia alimentar marinha. A com-
posição de ácidos graxos presentes nessa camada permite a observação de “assinatu-
ras de ácidos graxos”, as quais formam padrões característicos para cada espécie,
população ou ecótipo. Essa abordagem demonstrou-se eficiente para a discriminação de
populações com a vantagem dos baixos custos e da rapidez na obtenção dos resultados.
Alguns contaminantes – como os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs),
os quais são lipofílicos, ou seja, têm afinidade por lipídeos – bioacumulam ao longo
da vida do animal e podem ser investigados a partir de biópsias da camada de gordu-
ra. A limitação da coleta a partir de biópsias é que a idade do animal é desconhecida
e, portanto, dificultará uma análise mais detalhada do processo de acumulação do
poluente. Entretanto, a análise de material coletado, de diferentes espécies e em regi-
ões diversas, pode fornecer informações importantes sobre os níveis relativos de
contaminação e composição relativa, que serve como ferramenta auxiliar na separa-
ção de estoques, por exemplo. A partir da sexagem molecular, realizada com frag-
mentos da pele, sendo possível também comparar a composição relativa do conjunto
de poluentes, entre machos e fêmeas.
Os elementos-traço como, entre outros, o selênio, o cobre e o zinco (chama-
dos elementos essenciais) e o cádmio e o mercúrio (tidos como não essenciais) tendem a

C ETÁCEOS 359
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ser bioacumulados predominantemente no fígado e nos rins, o que não impede que
também sejam detectados na pele dos cetáceos. Dessa forma, níveis relativos das
concentrações desses e de outros elementos podem ser investigados a partir da pele
coletada nas biópsias. Assim como no caso dos poluentes orgânicos, a análise de
elementos-traço fornece informações importantes sobre os níveis relativos de contami-
nação e composição relativa, servindo também como ferramenta auxiliar na separação de
estoques. Em função disso, as amostras devem ser armazenadas com cuidado logo
após a coleta; a pele deve ser armazenada, preferencialmente, em recipientes plásticos e a
gordura deve ser envolvida em papel alumínio ou vidro e congeladas a -20oC.

3.5 Telemetria satelital

O uso da tecnologia satelital tem possibilitado avanços em estudos da ecologia


dos cetáceos que, por meio de outras técnicas, não seriam possíveis ou levariam muito
tempo para obterem-se os resultados esperados. Dessa forma, dados sobre o padrão
de uso do habitat, tanto horizontal (deslocamentos e migrações) como verticalmente
(padrões de mergulho), evoluíram com o desenvolvimento de técnicas de fixação de
transmissores satelitais no corpo de pequenos e de grandes cetáceos, aderido a um
sistema de ancoragem (FIG. 12.9A) responsável pela permanência do transmissor no
animal e inserido no dorso dos cetáceos.
Existem vários sistemas de ancoragem, devido, em parte, aos diferentes dispositivos
para a inserção do transmissor e por ainda não haver consenso sobre o método mais
eficiente: a colocação de transmissores satelitais pode utilizar uma vara de fibra de
carbono, rifles ou balestras, a partir de embarcações pequenas e rápidas como os
botes infláveis com fundo rígido (FIG. 12.9B).
A aproximação ao animal para inserir o transmissor é semelhante à realizada para
a fotoidentificação; em geral, ao realizar saídas de campo para esse fim, devem em-
barcar no bote o piloto, uma pessoa treinada para realizar a colocação do transmissor
no animal, um fotógrafo e um anotador dos dados. A fotoidentificação do animal
que receberá o transmissor deve ser realizada; além disso, devem-se tirar fotos durante
e após a colocação do transmissor no corpo do animal para que os pesquisadores
possam avaliar se o aparelho foi bem inserido (FIG. 12.9C).
Esses transmissores permitem acompanhar, em tempo quase real, os movimentos
dos animais que os carregam por meio de sinais de rádio, que são captados por
satélites em órbita ao redor da Terra, processados e convertidos em posições geográ-
ficas. Essas coordenadas são transmitidas, via sistema ARGOS, a estações receptoras
e disponibilizadas aos pesquisadores por meio da internet. O tempo de duração do
transmissor varia em função da eficiência da colocação no corpo do animal e dos
objetivos do estudo: quando se pretende estudar rotas migratórias (FIG. 12.10A), são
transmitidos sinais em intervalos de tempo mais longos (alguns dias) para que a bate-

360 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ria do equipamento dure um tempo maior (vários meses ou mais de ano). Porém,
quando se pretende entender o uso do habitat em escala espaço-temporal menor
(FIG. 12.10B), o sinal é programado para ser emitido diariamente, consumindo mais
rapidamente a bateria e reduzindo a vida útil do transmissor para alguns poucos
meses. As informações da posição geográfica dos animais são bastante precisas e
podem ser relacionadas com outras características ambientais como a morfologia do
fundo marinho e variáveis oceanográficas, como temperatura superficial da água,
clorofila-α, os quais também são obtidos remotamente.
Um bom banco de dados com essas informações permite identificar as principais
rotas migratórias, as áreas críticas para esses animais, bem como algumas das variáveis
ambientais que determinam esse padrão de uso do habitat. Informações como essas
são cruciais para estabelecer estratégias de conservação desses grandes vertebrados
marinhos.

Figura 12.9 Marcação de baleia-jubarte com transmissor satelital em águas antárticas:


(A) sistema de ancoragem com detalhe ao transmissor e sistema de fixação; (B) colocação do
transmissor com vara de fibra de carbono; (C) transmissor fixado na parte dorso-lateral
do corpo [Fotos: (A) Alexandre Zerbini e (B e C) Luciano Dalla Rosa].

C ETÁCEOS 361
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A B

Figura 12.10 Exemplos de estudos de movimentos de baleias-jubarte com uso de telemetria


satelital: (A) rotas migratórias entre as áreas reprodutivas na costa nordeste do Brasil e as Ilhas
Geórgias do Sul e Sandwich do Sul; (B) movimento nas áreas de alimentação na região da
Península Antártica [Fonte: (A) ZERBINI et al., 2006 e (B) DALLA ROSA et al., 2008].

3.6 Protocolo de observação de cetáceos em plataformas de oportunidade

As observações de cetáceos a partir de cruzeiros não dedicados a esse fim,


isto é, plataformas de oportunidade, podem ser bastante úteis tanto para registros
inéditos de espécies para certas regiões, sazonalidade reprodutiva, predação, mas
também podem brindar informações de cunho ecológico como, por exemplo,
taxas de encontro – como um índice de abundância relativa. Para as primeiras,
basta registro da espécie, preferencialmente com material comprobatório – foto;
porém, para se obter informações ecológicas úteis, existe a necessidade de se ter
um rigoroso controle do esforço de observação. Para tal, recomenda-se os
passos a seguir:
1) quanto à procura: fazer varredura – com binóculo ou olho nu – 90o a
bombordo e a boreste da proa do navio; não há uma regra de como deva ser
essa varredura em cruzeiros do tipo “plataformas de oportunidade”, mas
recomenda-se concentrar mais tempo de procura à proa. O mais importante
é manter certa consistência; vale lembrar que, quanto mais elevado o ponto de
observação, maior o campo de visão – porém, é importante que o observador
esteja próximo ao sistema de navegação do navio para registrar os dados de
posição, profundidade, temperatura, entre outros;

362 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

– no momento da avistagem: deve-se marcar a posição e outros da-


dos relevantes na planilha; feito isso, identificar a espécie por meio de,
pelo menos, uma fotografia de boa qualidade; o ideal é que o fotógrafo
e o observador não sejam a mesma pessoa para que este possa voltar
rápido à varredura; se for o caso, resgatar a fotografia e relacioná-la à
avistagem. Nos passos seguintes, estima-se o tamanho de grupo e volta-
se à varredura. Um importante procedimento é o de que caso o obser-
vador permaneça muito tempo observando e tentando fotografar os
animais, é preciso que coloque a coordenada de avistagem como final
de esforço e reinicie outra sessão de observação; o mesmo serve se o
navio mudar de rumo para seguir os animais;
2) quanto ao esforço: registrar hora e coordenadas de início e fim dos perío-
dos dedicados exclusivamente à observação de cetáceos; cada sessão de
observação deve ter um número associado e registrado no campo “No.
Transecção”; é preciso finalizar esforço e dar início a novo número de transecção
a cada mudança brusca de rumo do navio e também quando houver estações
oceanográficas. Um procedimento importante se refere às avistagens ocasionais,
as quais ocorrem fora dos momentos de procura: estas devem ser registradas
como “fora de esforço”; por isso, na planilha de avistagem (ANEXO 16) marca-se
“N”, no campo “Esforço”. O registro detalhado do esforço de observação, em
planilhas específicas (ANEXO 17), é fundamental para as análises posteriores.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BASTIDA, R.; RODRÍGUEZ, D.; SECCHI, E.R.; SILVA, V. Mamíferos Acuáticos
de Sudamérica y Antártida. Buenos Aires: Vazquez Mazzini, 2007.
BERTA, A.; SUMICH, J.L.; KOVACS, K. M. Marine Mammals: evolutionary biology.
2.ed. Amsterdan: Elsevier, 2006.
BUCKLAND, S.T.; ANDERSON, D.R.; BURNHAM, K.P.; LAAKE, J.L.;
BORCHERS, D.L.; THOMAS, L. Introduction to Distance Sampling: estimating
abundance of biological populations. London: Oxford University Press, 2001.
BURNHAM, K.P.; ANDERSON, D.R.; WHITE, G.C.; BROWNIE, C.; POLLOCK,
K.H. Design and Analysis Methods for Fish Survival Experiments Based on
Release-Recapture. Bethesda: American Fisheries Society, 1987. (American Fisheries
Society Monograph; 5).
CHAPMAN, D.G. Some properties of the hypergeomtric distribution with applications
to zoological censuses. University of California Publications in Statistical, 1:
131-160, 1951.

C ETÁCEOS 363
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
DALLA ROSA, L.; SECCHI, E.R.; MAIA, Y.G.; ZERBINI, A.N.; HEIDE-
JORGERSEN, M.P. Movements of satellite-monitored humpback whales on their
feeding ground along the Antarctic Peninsula. Polar Biology, Berlin, v. 31, n. 7,
p. 771-781, 2008.
ESTES, J.A.; DEMASTER, D.P.; DOAK, D.F.; WILLIAMS, T.M.; BROWNELL
JR., R.L. (Ed.). Whales, Whaling and Ocean Ecoystems. California: University of
California, 2006.
GALES, N.; HINDELL, M.; KIRKWOOD, R. (Ed.). Marine Mammals: fisheries,
tourism and management issues. Australia: CSIRO Publishing, 2003.
HOELZEL, A.R. (Ed.). Marine Mammal Biology: an evolutionary approach. Oxford:
Blackwell Science, 2002.
INTERNATIONAL FUND FOR ANIMAL WELFARE. Logger Software.
Yarmouth Port, MA: International Fund for Animal Welfare, 1994.
OTIS, D.L.; BURNHAM, K.P.; WHITE, G.C.; ANDERSON, D.R. Statistical
Inference from Capture Data on Closed Animal Populations. Washington: Wildlife
Society, 1978. (Wildlife Monographs; 62).
SEBER, G.A.F. The Estimation of Animal Abundance and Related Parameters.
2nd.ed. New York: Macmillan, 1982.
THOMAS, L.; LAAKE, J.L.; STRINDBERG, S.; MARQUES, F.F.C.; BUCKLAND,
S.T.; BORCHERS, D.L.; ANDERSON, D.R.; BURNHAM, K.P.; HEDLEY, S.L.;
POLLARD, J.H.; BISHOP, J.R.B.; MARQUES, T.A. Distance 5.0. Release 2. Research
Unit for Wildlife Population Assessment. United Kingdon: University of St. Andrews,
2006. Disponível em: <http://www.ruwpa.st-and.ac.uk/distance> Acesso em:
10 de abril de 2010.
WILLIAMS, J.A.; DAWSON, S.M.; SLOOTEN, E. The abundance and distribution
of bottlenosed dolphins (Tursiops truncatus) in Doubtful Sound, New Zealand. Canadian
Journal of Zoology, Ottawa, v. 71, p. 2080-2088, 1993.
WURSIG, B.; WURSIG, M. The photographic determination of group size,
composition, and stability of coastal porpoises (Tursiops truncatus). Science, n. 198,
p. 755-756, 1977.
ZERBINI, A.N.; ANDRIOLO, A.; HEIDE-JØRGENSEN, M.P.; PIZZORNO,
J.L.; MAIA, Y.G.; VANBLARICOM, G.R.; DEMASTER, D.P.; SIMÕES-LOPES,
P.C.; MOREIRA, S.; BETHLEM, C. Satellite-monitored movements of humpback
whales Megaptera novaeangliae southwest Atlantic Ocean. Marine Ecology Progress
Series, Amelinghausen, v. 313, p. 295–304, 2006.

364 E DUARDO R. S ECCHI , J ULIANA D I T ULLIO E P EDRO F. F RUET


365
C ETÁCEOS
Foto: Luciano Dalla Rosa
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO
AVES
13

Dimas Gianuca
CAPÍTULO

Projeto Albatroz

As aves tradicionalmente consideradas como marinhas (FIG. 13.1) são aquelas


pertencentes às ordens Spheniciformes (pinguins), Procellariformes (albatrozes e
petréis), Pelecaniformes (pelicanos, atobás, fragatas, cormorões e grazinas) e às
subordens Lari (gaivotas, gaivotas-rapineiras e trinta-réis) e Alcae (araus, papagaios-do-
mar e tordas) da Ordem Charadriiformes (BROOKE, 2002). De maneira geral, os integrantes
dessas ordens são aves que essencialmente passam grande parte do tempo de suas vidas
no mar, e têm nele sua única fonte de alimento, as quais são capazes de pousar sobre a
água, nadar ou mergulhar, salvo algumas exceções, como as fragatas. Todos os
Spheniciformes, os Procellariformes e os membros da subordem Alcae (Charadriiformes)
são aves exclusivamente marinhas; entretanto, na ordem Pelecaniformes há um gênero
exclusivamente de água doce (biguatingas – Anhinga spp.) e diversas espécies de biguás
podem ser mais comuns e abundantes em ecossistemas dulcícolas e em estuários do
que em praias e águas costeiras (Phalacrocorax brasilianus, P. carbo, P. sulcirostris), assim
como algumas espécies de gaivotas (Croicocephalus spp.), trinta-réis (Sterna superciliaris e
Phaetusa simplex) e talha-mares (Rynchops spp).
Foto: João Paulo
As espécies de Charadriiformes (maçaricos, batuíras e afins) e Ciconiiformes (gar-
ças, socós, guarás e afins), embora habitem praias e estuários e exerçam forte influên-
cia sobre esses ecossistemas, não são consideradas verdadeiras aves marinhas.
Atualmente existem 76 gêneros e 331 espécies, distribuídas por todos os mares do
mundo, habitando desde regiões tórridas das baixas latitudes, até as condições extre-
mas dos invernos polares de ambos os hemisférios. A utilização do ambiente marinho e
o tempo de permanência no mar variam, entre os diferentes grupos e espécies de aves
marinhas. Há espécies que são restritas a regiões costeiras e águas de plataforma, as quais,
exceto nas proximidades de ilhas ou em regiões onde plataforma continental é muito
estreita, raramente são observadas em águas oceânicas. Essas aves, em geral, dormem em
terra firme, exceto durante deslocamentos migratórios, agrupando-se para passar a noite
em ambientes ao longo da linha de costa como as praias, os estuários e as falésias rochosas
ou em ilhas costeiras e oceânicas. Os Pelecaniformes e a maioria dos Charadriformes
das Subordens Lari e Alcae são aves que se enquadram nessa categoria. Já os
Procellariformes, vivem em alto mar durante o ano todo, dia e noite, procurando
terra firme apenas para a reprodução, quando nidificam em ilhas remotas ou em
trechos isolados de costa, mesmo durante o período reprodutivo, as viagens ao mar
para obtenção de alimento para o filhote e para a nutrição da própria ave adulta podem
durar dias. O albatroz-gigante – Diomedea exulans é um exemplo extremo, o qual realiza
viagens de alimentação de até 13 dias (PRINCE et al., 1992), durante os quais pode percorrer
mais de 8.000 km; os indivíduos jovens dessa espécie passam anos vagando sobre o
oceano antes de atingiram a maturidade sexual (aproximadamente aos 10 anos de vida),
quando retornam à colônia onde nasceram em busca de um par para se acasalar.

A VES 367
D ANILO C ALAZANS (O RG .)

Figura 13.1 Exemplos de aves marinhas do mar do sul do Brasil: (A) Albatroz-errante
(Diomedea exulans); (B) Albatroz-de-nariz-amarelo (Thalassarche chlororynchos); (C) Pardela-de-
sobre-branco (Puffinus gravis); (D) Fura-buxo-de-barriga-branca (Pterodroma incerta);
(E) Gaivota-de-capuz-negro (Chroicocephalus maculipennis); (F) Fragata (Fregata magnificens);
(G) Trinta-réis-do-norte (Sterna hirundo); (H) Pinguim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus)
[Fotos: (A-F) Dimas Gianuca; (G) Andros Gianuca e (H) Rodolfo P. Silva].

368 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

1 ADAPTAÇÃO AO MEIO MARINHO


Entre as aves marinhas ocorre uma grande variedade de comportamentos e estra-
tégias de alimentação e cada espécie apresenta adaptações morfológicas e fisiológicas
relacionadas principalmente à maneira como elas obtêm seu alimento. Glândulas su-
pra-orbitais de excreção de sal, sistemas renais eficientes, plumagem impermeável e
patas com membranas interdigitais, são algumas das adaptações fisiológicas e
morfológicas que permitem às aves marinhas habitarem o mar e dele retirarem seu
alimento, permanecendo sem ingerir água doce durante toda a vida.
Os pinguins, os araus, e os papagaios-do-mar são altamente especializados em
mergulhos, por possuírem asas curtas (transformadas em nadadeiras nos pinguins) e
corpo fusiforme, o que lhes permite mergulhar e nadar agilmente debaixo da água,
perseguindo suas presas. O pinguim-imperador, por exemplo, é capaz de mergulhar
a até 500 m de profundidade. Essa habilidade de mergulho entre as diversas espécies
de albatrozes e petréis varia bastante e, embora algumas mergulhem muito bem,
geralmente apanham seu alimento na superfície ou próximo dela. Para tanto, possuem
asas longas e estreitas, o que lhes permitem planar por longas distâncias à procura do
alimento na superfície do mar, gastando pouca energia. Outras espécies de pequeno
porte, como o petrel-das-tormentas (Oceanites oceanicus), alimentam-se de zooplâncton,
enquanto os trinta-réis pescam nas águas superficiais, sem realizarem mergulhos; já a
maioria das gaivotas prefere buscar seu alimento na beira da praia, onde peixes,
moluscos e crustáceos mortos, são encontrados facilmente.
As aves marinhas consomem milhares de toneladas de peixes, camarões, lulas e
outras presas, sobretudo durante a estação reprodutiva. Em contrapartida,
disponibilizam grandes quantidades de nutrientes através das fezes, contribuindo não
apenas para o enriquecimento das águas costeiras, mas também para a produtividade
primária das regiões próximas às colônias e dos dormitórios, desempenhando, dessa
maneira, um importante papel no fluxo energético e nos ciclos biogeoquímicos dos
ecossistemas costeiros e insulares. Wiens e Scott (1975), por exemplo, estimaram que
4.395.000 indivíduos de 13 espécies de aves marinhas consumiam cerca de 39.700
toneladas de presas durante os quatro meses de estação reprodutiva, na costa do
estado do Oregon, EUA.

2 AS AVES MARINHAS NO MAR DO BRASIL


No Brasil já foram registradas 92 espécies de aves marinhas (27% das espécies do
mundo). Dessas, 65 são residentes, que podem ser observadas ao longo do ano inteiro
na costa, nas ilhas ou sobre o mar territorial brasileiro; ou migratórias, que ocorrem
regularmente no Brasil, apenas em determinadas estações do ano. As outras 27 são
espécies consideradas vagantes, ou seja, registradas fora de sua área normal de distribuição,
e conhecidas no Brasil através de apenas um, ou poucos registros (CBRO, 2007).

A VES 369
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A comunidade de aves marinhas das regiões mais frias, como no Sul, é dominada
por albatrozes e petréis em alto mar e por gaivotas nas áreas costeiras, embora algu-
mas espécies de trinta-réis (Sterna hirundo e S. hirundinacea) possam ser observadas em
grande número em algumas épocas do ano (BUGONI e VOOREN, 2005). Já as comuni-
dades de aves marinhas de regiões tropicais e equatoriais do Brasil, de forma geral,
são domínio dos atobás, fragatas, trinta-réis e viuvinhas (Anous spp.), os quais formam
grandes colônias em ilhas costeiras e oceânicas do Sudeste e Nordeste, embora as
gaivotas Chroicocephalus maculipenis e C. cirrocephalus, também ocorram em áreas costei-
ras até a região Nordeste, assim como algumas espécies de petréis nas águas oceânicas.
As águas sobre a plataforma continental e talude do sudeste sul do Brasil são uma
importante área de alimentação para albatrozes e petréis, que se reproduzem em
ilhas do Atlântico Sul-central, Ilhas Sub-Antárticas, região da Nova Zelândia e Hemis-
fério Norte. Embora apenas três espécies de petréis nidifiquem em território brasilei-
ro (Pterodroma arminjoniana e P. neglecta em Trindade, e Piffinus lherminieri em Fernando de
Noronha e em Ilhas do Espírito Santo), pelo menos 40 espécies já foram registradas
no Brasil (OLMOS et al., 2006), e cerca de 25 delas ocorrem regularmente no mar do
sudeste-sul do país (NEVES et al., 2000). A área mais importante, na qual se observa a
maior abundância e riqueza de albatrozes e petréis, é a de águas sobre a plataforma
continental e o talude do Rio Grande do Sul, região que recebe nutrientes da descarga
de água doce da Lagoa dos Patos e do Rio da Prata e das águas frias da Corrente das
Malvinas, as quais penetram sobre a plataforma continental do litoral gaúcho no in-
verno. A alta disponibilidade de nutrientes faz que essas águas sejam altamente produ-
tivas, concentrando importantes estoques de peixes, lulas e zooplâncton, que com-
põem a dieta de aves desse tipo.
Devido a essa elevada produtividade, a região sudeste-sul do Brasil também concentra
um grande esforço pesqueiro e a maioria das espécies de Procellariformes, que freqüentam
as águas brasileiras, se associam a barcos de pesca, cujos descartes constituem uma fonte
de alimento abundante e de fácil acesso para essas aves (FIG. 13.2). Entretanto, albatrozes
e petréis também são fisgados acidentalmente pelos espinhéis, quando tentam pegar as
iscas, e essa mortalidade tem causado sérios declínios populacionais em algumas espécies
– tanto que, atualmente todos os albatrozes e cinco espécies de petréis, que freqüentam
águas brasileiras, encontram-se ameaçados de extinção.

3 ESTUDOS EMBARCADOS
A maior parte do conhecimento sobre a biologia, a ecologia, o comportamento e a
conservação de aves marinhas, são provenientes de estudos conduzidos em terra, seja em
colônias ou em locais de descanso e dormitório nas áreas de invernagem. No caso dos
Procelariformes, os quais passam a vida toda no mar, buscando terra firme apenas para
se reproduzir, a quase totalidade dos estudos em terra foi realizada nas colônias, e, portanto,
são referentes ao que ocorre durante apenas durante o período reprodutivo.

370 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Figura 13.2 Aglomeração de albatrozes e petréis alimentando-se de descarte da pesca de uma


embarcação de espinhel pelágico no sul do Brasil [Foto: Dimas Gianuca].

Estudos embarcados contribuem para um melhor conhecimento sobre a vida das


aves marinhas no oceano, particularmente sobre a distribuição e a biologia, não só
durante a temporada reprodutiva, mas também nos períodos de invernagem. Essas
informações são obtidas através de contagens sistemáticas de aves marinhas no ocea-
no, feitas principalmente em embarcações científicas, e através de diversos procedi-
mentos após a captura das aves em alto mar (coleta de informações biológicas,
acoplamento de dispositivos eletrônicos e anilhamento), feitas tanto em embarcações
científicas, como em barcos de pesca comercial que representam importantes plata-
formas de oportunidade para a realização dos estudos. Neste caso as contagens de
animais dispersos no mar são realizadas enquanto o barco se desloca.
O simples registro qualitativo das aves associadas ao barco, por exemplo, gera
importantes informações sobre a área de distribuição das espécies. Além disso, conta-
gens sistemáticas das aves associadas às embarcações pesqueiras, fornecem informa-
ções sobre as abundâncias relativas das espécies e sobre as variações sazonais na com-
posição da assembléia de aves, de determinadas regiões. Na hora de avaliar os resul-
tados de contagens desses animais associados a embarcações de pesca, é sempre
importante levar em consideração que algumas espécies são mais propensas a segui-
rem embarcações do que outras e consequentemente, a terem sua ocorrência e abun-
dância relativa superestimadas.
Existe, ainda, uma série de estudos voltados especificamente para as interações das
aves com as embarcações e as diferentes artes de pesca, os quais são fundamentais

A VES 371
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
para quantificação das capturas incidentais e para a elaboração de estratégias de con-
servação. Há grande variedade de métodos e procedimentos que são aplicados nos
diversos estudos sobre interações de aves com pescarias, dependendo da arte de
pesca e da informação que se deseja obter.
Os dados levantados através de estudos embarcados são fundamentais para subsidiar
estratégias de conservação das aves marinhas, pois ajudam a evidenciar áreas importantes
para as populações, a compreender os fatores que governam suas distribuições e a planejar
medidas de mitigação dos impactos causados pelas capturas incidentais.

4 AMOSTRAGEM
4.1 Contagem

A contagem de aves marinhas dispersas no mar durante os cruzeiros gera impor-


tantes informações sobre as áreas de ocorrência e sobre variações sazonais e espaciais
da distribuição e da densidade das espécies, inclusive dos Procellariformes nas áreas
de invernagem. Essas informações, quando analisadas em conjunto com dados oce-
anográficos, biológicos e de esforço pesqueiro, ajudam a compreender a maneira
como esses animais se relacionam com o mar e com as atividades de pesca.
O método para quantificação das aves dispersas no mar a partir de embarcações
envolve a contagem desses animais dentro de unidades amostrais com área definida,
nas quais o pesquisador normalmente consegue contar e identificar todos os indivídu-
os observados.
Embora seja possível gerar resultados através desse método, estimativas de abun-
dância baseadas em extrapolações de densidade para áreas maiores não são recomen-
dadas devido alguns fatores que podem interferir na detectabilidade das aves pelo
observador: o tamanho, a cor e o comportamento da ave, bem como o estado do
mar e a experiência do observador são considerados os principais fatores que podem
afetar a acurácia e a precisão dos resultados obtidos. Além desses, é importante con-
siderar que a distribuição das aves marinhas sobre o mar não é uniforme, mas sim
influenciada por condições meteorológicas, oceanográficas e pela disponibilidade de
alimento.
A metodologia que será apresentada baseia-se na proposta por Heinneman (1981),
Tasker et al. (1984) e Van Franeker (1994), recomendada como padrão e largamente
utilizada para a contagem de aves marinhas em cruzeiros científicos (BEGG e REID,
1997; WHEICHLER et al., 2004; YEN et al., 2004; GARTHE et al., 2009). Esse método
consiste na contagem das aves associadas à embarcação (aves seguidoras), das aves se
deslocando em voo e das aves “estacionárias” (pousadas na água realizando voos de
forrageio, como o dos petréis-das-tormentas e dos trinta-réis), aplicando-se procedi-
mentos diferentes para cada uma dessas situações. Para a aplicação deste método, a

372 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

embarcação deve estar navegando com velocidade constante (preferencialmente


10 nós) e rumo fixo. As contagens devem ser realizadas somente durante o dia, com
luz suficiente para a detecção e identificação das aves a uma distância de 300 m (com
auxílio de binóculo), sem chuva ou neblina, de maneira que o horizonte esteja visível e
com condições de mar abaixo de Beaufort 6. Outro pré-requisito muito importante
que deve ser cumprido é o de não lançar ao mar restos de comida e descartes de
pesca durante o dia, a fim de minimizar o efeito da atração do navio sobre as aves.
No início de cada estação de contagem deve-se anotar na planilha (ANEXO 18) a data,
o horário de início das contagens, os dados abióticos (de acordo com a proposta de
cada estudo) e a posição (latitude e longitude), além do rumo e da velocidade da
embarcação.
O método de Heinemann (1981) permite a determinação de distâncias no mar
pelo observador utilizando um paquímetro, posicionado entre o observador e a linha
do horizonte. Para a aplicação deste método é preciso conhecer a altura dos olhos do
observador em relação à linha da água e a distância entre o paquímetro e os seus olhos
(FIG. 13.3). Além disso, é preciso visualizar o horizonte, portanto esse método tam-
bém não poderá ser aplicado em dia de chuva ou de neblina.

olho do observador

ponta superior b
do paquímetro ?

c h

horizonte visível
ponta inferior
do paquímetro

d
v

Figura 13.3 Esquema do método de Heinemann (1981) para determinação de distâncias a


partir de embarcações, utilizando a abertura do paquímetro
[adaptado de NEVES et al., 2006; Foto: Dimas Gianuca].

A distância dos 300 m utilizada, a qual delimita a área das contagens é calculada
através da equação:
bh (v d )
c=
(h 2+ vd )

A VES 373
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
em que:
c é a abertura do paquímetro (em milímetros) que se deseja saber;
b é a distância entre o paquímetro e os olhos do observador;
h é a altura dos olhos do observador em relação à linha da água;
d é a distância que se deseja determinar, neste caso, 300 m;
v é a distância do horizonte visível, calculada através da equação: .
Dentro da faixa de 300 m, determinada através do método de Heinemann (1981),
as aves são detectadas a olho nu e utiliza-se o binóculo para a identificação das espé-
cies – o mais indicado deve possuir magnitude de ampliação entre 7x e 10x e diâmetro
da objetiva de 50 mm.
A contagem das aves seguidoras, associadas à embarcação, deve ser realizada
antes dos demais cômputos e o pesquisador deve tomar o cuidado de não recontar
essas aves durante as contagens contínua e instantânea seguintes. Embora seja relativa-
mente fácil identificar as aves seguidoras, quando o bando é pequeno (<20) e voa
próximo ao navio, essa tarefa não será simples quando houver dezenas ou centenas,
muitas delas acompanhando a embarcação a muitos metros de distância.
As aves seguidoras, durante seu comportamento mais óbvio, passam a maior par-
te do tempo seguindo o navio de perto, voando sobre a esteira da embarcação (rastro
deixado na superfície do mar) e cruzando-a de um lado para o outro. Elas também
voam paralelamente ao navio e ao redor dele. Durante as contagens contínuas e ins-
tantâneas, aves que executam esse comportamento de voo, aparecem subitamente na
área de estudo, vindas da popa ou da proa, e o observador pode distingui-las facil-
mente das aves em trânsito, as quais geralmente são avistadas a centenas de metros,
antes de entrarem no perímetro de 300 m da transecção (NEVES et al., 2006). Porém,
é comum algumas aves seguidoras distanciarem-se algumas centenas de metros e
continuarem voando atrás, paralelamente ou ao redor da embarcação. Algumas ve-
zes, elas pousam na água na frente do navio, aguardando a aproximação do mesmo
para levantarem voo e voltarem a segui-lo. Essas situações exigem muita atenção e
experiência do observador, pois uma ave associada à embarcação, mas que tenha se
afastado centenas de metros pode ser considerada, equivocadamente, como uma ave
em trânsito, quando retornar voando para a área da transecção; também é possível
que seja considerada como uma estacionária, caso ela pouse na água no curso do
navio. O lançamento de restos de comida ou rejeitos de pesca durante o dia precisa
ser evitado, caso contrário poderá haver um número tão grande de aves circulando
pela área de estudo e seu entorno, que tornará praticamente impossível a distinção das
aves associadas à embarcação daquelas que não estão (FIG. 13.4).

374 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

160

140 contagens influenciadas pelo


número de aves seguidoras

descarte de restos de peixe


120

100

80

60

40

20

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43
estações de contagem

Figura 13.4 Sequência de 44 contagens de aves seguidoras realizadas ao longo de cinco dias,
em águas oceânicas do sul do Brasil em maio de 2010, mostrando o efeito do descarte
de restos de peixe atirados no mar.

A contagem contínua de aves “estacionárias” deve ser realizada a partir de um


ponto elevado do navio (por exemplo, tijupá, ou “asas” do navio) em um dos bor-
dos da embarcação; além disso, deve ser escolhido o bordo oposto ao sol para evitar
o reflexo, o qual prejudica a visualização das aves pelo observador. Durante 10 minu-
tos devem ser contadas todas as aves pousadas na água dentro de uma faixa de
300 metros a partir do bordo da embarcação com o navio navegando em um rumo
fixo e, preferencialmente, a 10 nós (FIG. 13.5A). As aves realizando voos de forrageio,
como trinta-réis “peneirando” e pescando, petréis-das-tormentas “sapateando”, tam-
bém devem ser contadas de forma contínua.

A
300 m

3087 m

contagem contínua
navio

1' 2' 3' 4' 5' 6' 7' 8' 9' 10'
B
300 m

300 m

contagem instantânea
navio

Figura 13.5 Esquema da área a ser coberta durante uma sequência de dez contagens
instantâneas e durante uma contagem contínua de 10 minutos com o navio navegando a 10 nós
[adaptado de NEVES et al., 2006].

A VES 375
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Uma seção de contagem instantânea das aves em vôo é composta por
10 censos instantâneos (snapshots), com intervalos de 1 minuto entre eles, dentro de
uma área com raio de 300 metros, e limitada por um ângulo de 90° entre a proa e um
dos bordos do navio, formando 1/4 de circunferência (FIG. 13.5B). Durante os censos
instantâneos são contados somente os indivíduos realizando voos de deslocamento,
dentro da área amostral, no instante da contagem. E assim como na contagem contí-
nua, deve-se tomar o cuidado para computar aves associadas à embarcação.

4.2 Captura

Como já foi comentado, a maior parte do conhecimento a respeito da biologia


das aves marinhas, principalmente dos Procellariformes, resulta de estudos conduzi-
dos durante o período reprodutivo, quando os pesquisadores têm a oportunidade de
capturar as aves para realizar medições, coletar material biológico ou acoplar disposi-
tivos eletrônicos para coleta de dados diversos. Portanto, a captura das aves no mar
representa a única forma de obtenção de informações refinadas sobre a vida das aves
pelágicas, durante o período de invernagem, quando permanecem longe da costa.
Embora já tenham sido utilizados outros tipos de redes para a captura de aves no
mar, como diferentes modelos de puçás, a forma mais eficiente para se capturar aves no
mar é a utilização de tarrafas (FIG. 13.6), conforme apresentado por Bugoni et al. (2008).
A captura de aves com tarrafas deve ser feita preferencialmente a partir de embar-
cações, nas quais a pessoa que manuseia a rede possa se posicionar entre 1,5 e 3 m
acima da linha da água; além disso, e a embarcação deve estar à deriva ou navegando
o mais devagar possível. As aves devem ser atraídas para próximo do barco com o
uso de iscas; para essa finalidade, a utilização de fígado de tubarão é recomendada,
por ser grande, boiar e se pode ser amarrada a uma linha, que permite que seja
puxada perto do barco a fim de atrair as aves para o alcance da tarrafa. Dependendo da
habilidade de quem manuseia a tarrafa, as aves podem ser capturadas a distâncias entre
4 e 8 m do barco; as tarrafas utilizadas por Bugoni et al. (2008) possuíam entre 3,5 e 5 m
de diâmetro, 25 a 35 mm de malha e pesavam entre 2.4 e 4 kg. A utilização de tarrafas
com as especificações apresentadas é eficiente, tanto para a captura de espécies muito
pequenas, como petréis-das-tormentas – Oceaniates oceaniates, como de espécies de
grande porte (Diomedea spp.). Entretanto, espécies que não costumam pousar na água
ou que não são atraídas facilmente para perto da embarcação ou, ainda, as que mer-
gulham muito bem, são pouco vulneráveis a este método de captura.
Durante o manuseio da ave é importante segurar sua cabeça por trás, evitando
levar bicadas, que poderiam causar sérios ferimentos; para tal, as asas devem ser
mantidas fechadas junto ao corpo (na posição em que a ave normalmente fica). Nun-
ca se deve segurar a ave apenas por uma asa, pois o animal se debaterá e poderão
ocorrer contusões ou fraturas. Recomenda-se que o bico seja imobilizado (mantido

376 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

fechado) com fita adesiva, tomando o cuidado de não obstruir as narinas. Para dimi-
nuir o estresse do animal durante o manuseio, também pode ser colocado um pano
sobre a sua cabeça, a fim de tirar-lhe a visão do que ocorre à volta. Para minimizar
danos à plumagem, após cada captura, os animais devem ser acomodados em uma
caixa forrada com jornal, papelão ou outro material absorvente para que fiquem
secos. Caso a ave acabe se molhando durante o manuseio, antes de ser liberada, tam-
bém deve ser mantida nessa caixa até que esteja seca; esse material absorvente deve ser
trocado quando estiver muito umedecido. Também se recomenda não capturar aves
em condições de vento acima de moderado (força 4 da Escala de Beaufort) ou em
dias de chuva, a fim de evitar liberar aves molhadas e com as penas desorganizadas, o
que compromete a impermeabilização da plumagem e a capacidade de voo.

Figura 13.6 Tarrafa lançada para capturar aves a partir de um barco espinheleiro
[Foto: Marcel Oliveira].

4.3 Coleta de material biológico e análise do indivíduo

Diversas informações importantes dos pontos de vista específico, populacional,


ecológico e conservacionista, podem ser obtidas a partir de indivíduos capturados no
mar, as quais resultam da coleta de tecido (principalmente sangue e penas), da análise
dos indivíduos (padrões morfométricos e da plumagem) e através do acoplamento
de dispositivos para rastreamento por satélite.
Através da coleta de tecidos - como sangue e penas - é possível obter informações
genéticas, realizar sexagem através de métodos moleculares (BUGONI e FURNESS, 2009a),
verificar os níveis de contaminação por poluentes metais-traço e organoclorados per-
sistentes (PÉREZ et al., 2008; BOND e DIAMOND, 2009) e realizar estudos complexos sobre
dieta e relações tróficas através da análise de isótopos estáveis (BUGONI et al., 2010).

A VES 377
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
A obtenção de informações biométricas é importante para a correta identificação
de algumas espécies muito parecidas, cuja identificação precisa não pode ser realizada
visualmente (por exemplo, Diomedea exulans x D. dabbenena, e juvenis de Thalassarche
chlrorhynchos e T. carteri) e para a sexagem das espécies com pouca diferença de tama-
nho entre machos e fêmeas, como em albatrozes e petréis e cujas medidas são, em
geral, bem conhecidas (BUGONI e FURNESS, 2009a). As medidas morfométricas básicas
que costumam ser tomadas quando uma ave é capturada são: na cabeça, o compri-
mento do cúlmen (bico) exposto, desde a ponta do bico até o início das plumas, e a
profundidade (altura) do bico, medida na sua base (FIG. 13.7A); na pata, o compri-
mento do tarso, desde a articulação intertarsal até o ponto de inserção dos dedos
(FIG. 13.7B); na asa, o comprimento desde a curva da asa até a extremidade da pena
de voo mais longa (FIG. 13.7C); e 5) na cauda, medida do comprimento da pena mais
longa da cauda, desde o local de inserção na pela até a ponta (FIG. 13.7D).

A comprimento
B
cúmen exposto

profundidade
do bico comprimento
do tarso

C comprimento
da asa

comprimento
da cauda

Figura 13.7 Medidas morfométricas básicas em aves: (A) na cabeça; (B) na pata; (C) na asa;
(D) na cauda [Fotos: (C) João Paulo e (D) Dimas Gianuca].

378 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Através da análise do padrão de muda das penas (rêmiges primárias) é possível


determinar a idade de albatrozes e petréis, pois o padrão com que as penas antigas vão
sendo substituídas pelas novas, varia à medida que a aves envelhecem. A determinação da
idade de albatrozes e petréis através do estudo dos padrões de muda, quando correlacionada
com o padrão de coloração do bico e da plumagem, geram uma importante base teórica
para a posterior determinação da idade das aves no mar, apenas através da visualização
dessas características (PRINCE et al., 1993; PRINCE et al., 1997; BUGONI e FURNESS, 2009b).

5 RASTREAMENTO POR SATÉLITE


O estudo da distribuição de albatrozes e petréis através de rastreadores por satélite
é um avanço para o entendimento da ecologia dessas aves. Do ponto de vista
conservacionista, são geradas informações para definir áreas importantes para a con-
servação e, em conjunto com dados oceanográficos e de esforço pesqueiro, para
investigar, por exemplo, as relações entre a distribuição das aves e as características
oceanográficas e as sobreposições entre a distribuição das espécies ameaçadas e das
atividades pesqueiras. Embora estudos utilizando rastreamento por satélite venham
sendo realizados desde a década de 1980, a maior parte dos dados são referentes à
distribuição das aves durante o período reprodutivo; rastreamentos da distribuição
aves durante o período de invernagem vêm sendo realizados principalmente através
de geolocalizadores, os quais são fixados na colônia – através de anilhas – e recupera-
dos no ano seguinte, quando a ave retorna ao ninho. Apesar de serem mais baratos,
menores e necessitarem de menos energia que os transmissores satelitais (possibilitan-
do o rastreamento de uma ave por até seis anos), geolocalizadores só registram duas
posições por dia e possuem baixa acurácia, com erro de 150-200 km, resultando em
posições pouco precisas (PHILLIPS et al., 2004); além disso, é preciso recapturar a ave
para recuperar o dispositivo.
O transmissor satelital PTT’s (do inglês, Plataform Transmiter Terminal) (FIG. 13.8A)
envia sinais de rádio para satélites em órbita, os quais repassam os sinais para antenas
em terra que, por sua vez, enviam os dados para estações de processamento, geral-
mente do sistema ARGOS. Após esta etapa, as informações são disponibilizadas para
os pesquisadores, através da internet. Para cada posição registrada são fornecidas a
latitude, a longitude, a altitude, a hora e o nível de acurácia. Com base nessas e em
outras informações, é possível determinar a distância percorrida, a velocidade de
deslocamento, a área de vida, além da elaboração de mapas de densidade de Kernel
(WOOD et al., 2000; CANDIA-GALLARDO et al., 2010) (FIG. 13.8B). A captura de aves no
mar para a colocação de transmissores satelitais, nas próprias regiões de invernagem,
é uma técnica recente, a qual pode fornecer informações detalhadas sobre a distribui-
ção e a movimentação de albatrozes e petréis fora do período reprodutivo. O pri-
meiro estudo de rastreamento por satélite de aves capturadas no mar, no Atlântico
Sudoeste, foi desenvolvido por Bugoni et al. (2009).

A VES 379
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Para o rastreamento de aves marinhas, é recomendado que o transmissor seja
fixado nas penas do dorso do animal com fita especial à prova de água (cloth tape)
(FIG. 13.8A) e que o mesmo não possua mais do que 3% da massa corporal do
animal, a fim de evitar o comprometimento de suas atividades (PHILLIPS et al., 2003).
O peso do equipamento se deve principalmente ao tamanho da bateria e, atualmente,
os transmissores disponíveis no mercado variam de 8 a 60 g. Os transmissores po-
dem ser programados para transmitirem sinais (posições do animal rastreado) em
intervalos de horas ou dias – quanto menor o intervalo entre as transmissões de sinais,
menos, tempo durará a bateria. A programação dos intervalos entre as transmissões
será definida pelo pesquisador, de acordo com o objetivo da pesquisa; se a intenção
for obter informações detalhadas sobre os deslocamentos da ave em uma determi-
nada região e período, serão fornecidas várias posições por dia (10-15) e o animal,
rastreado por um curto período de tempo – 2-3 meses (FIG. 13.8C). Se o objetivo for
estudar, por exemplo, rotas migratórias, os sinais podem ser transmitidos uma vez
por dia (ou intervalos maiores) e o animal será rastreado por um período de vários
meses, sem a necessidade de um alto nível de detalhamento de seus deslocamentos ao
longo do dia. Para maiores detalhes sobre a utilização de telemetria satelital em estu-
dos com aves, ver Candia-Gallardo et al. (2010).

B C

Figura 13.8 Rastreamento por satélite. (A) posição do transmissor de satélite em uma
pardelas-de-óculos (Procellaria conspicillata); (B) distribuição de densidade com base no método
de Kernell; (C) movimentação das aves rastreadas a partir da localização dos pontos de
transmissão de sinal para o satélite [Fotos: Leandro Bugoni. Fonte: (B e C) BUGONI et al. 2009].

380 DIMAS G IANUCA


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEGG, G.S.; REID, J.B. Spatial variation in seabird density at a shallow sea tidal mixing
front in the Irish Sea. Journal of Marine Science, Copenhagen, v. 54, p. 552-565, 1997.
BOND, A.L.; DIAMOND, A.W. Total and methyl mercury concentrations in seabird
feathers and eggs. Archives of Environmental Contamination and Toxicology,
Springer, v. 56, p. 289-291, 2009.
BROOKE, M.L. Seabird systematic and distribution: a review of current knowledge.
In: SCHERIBER, E.A.; BURGUER, B. (Ed.). Biology of Marine Birds. Boca Raton:
CRC Press, 2002. p. 57-85
BUGONI, L.; VOOREN, C.M. Distribution and abundance of six tern in Southern
Brazil. Waterbirds, Wako, Tx, v. 28, p. 110-119, 2005.
BUGONI, L.; D’ALBA, L.; FURNESS, R.W. Marine habitat use of wintering
spectacled petrels Procellaria conspicillata and overlap with longline fishery. Marine
Ecology and Progress Series, Amelinghausen, v. 374, p. 273-285, 2008.
BUGONI, L.; NEVES, T.S.; PEPPES, F.V.; FURNESS, R.W. An effective method
for trapping scavenging sea birds at sea. Journal of Field Ornithology, v. 79, n. 3,
p. 308-313, 2009.
BUGONI, L.; FURNESS, R.W. Age composition and sexual size dimorphism of
albatrosses and petrel off Brazil. Marine Ornithology, Ottawa, v. 37, p. 253-260, 2009a.
BUGONI, L.; FURNESS, R.W. Ageing immature Atlantic Yellow-nosed Thalassarche
chlororhynchos and Black-browed T. melanophrys Abatrosses in wintering grounds using
bill colour and moult. Marine Ornithology, Ottawa, v. 37, p. 249-252, 2009b.
BUGONI, L.; McGILL, R.A.R.; FURNESS, R.W. The importance of pelagic longline
fishery discards for a seabird community determined through stable isotope analysis. Journal
of Experimental Marine Biology and Ecology, Amsterdam, v. 391, p. 190-200, 2010.
CANDIA-GALLARDO, C.; AWADE, M., BOSCOLO, D.; BUGONI, L.
Rastreamento de aves através de telemetria por rádio e satélite. In: VON MATTER,
F.; STRAUBE, F.C.; CÂNDIDO JR., J.F.; PIACENTINI, V.; ACCORDI, I. (Ed.).
Ornitologia e Conservação: ciência aplicada, técnicas de pesquisa e levantamento.
Rio de Janeiro: Techinical Books Editora, 2010. p. 255-280.
COMITE BRASILEIRO DE REGISTROS ORNITOLÓGICOS. Lista das Aves
do Brasil. 10.ed. São Paulo: Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos, Sociedade
Brasileira de Ornitologia, 2011. Disponível em: <http://www.cbro.org.br> Acesso
em: 24 de maio de 2011.
COULSON, J.C. Colonial breeding in seabirds. In: SCHERIBER, E.A.; BURGUER,
B. (Ed.). Biology of Marine Birds. Boca Raton: CRC Press, 2002. p. 87-113.

A VES 381
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
GARTHE, S.; MARKONES, N.; HUPPOP, O.; ADLER, S. Effects of hydrographic
and meteorological factors on seasonal seabird abundance in the southern North Sea.
Marine Ecology Progress Series, Amelinghausen, v. 391, p. 243-255, 2009.
HEINEMANN, D., A rangefinder for pelagic bird censusing. Journal of Wildlife
Management, Bethesda, v. 45, p. 489-493, 1981.
NEVES, T.; VOOREN, C.M.; BUGONII, L.; OLMOS, F.; NASCIMENTO, L.
Distribuição e abundância de aves marinhas na região sudeste-sul do Brasil. In: NEVES,
T.; BUGONI, L.; ROSSI-WONGTSCHOWSKI, C.L.B. (Ed.). Aves Oceânicas e
suas Interações com a Pesca na Região Sudeste-Sul do Brasil. São Paulo: USP,
2006. p. 11-35. (Série documentos Revizee: Score Sul).
OLMOS, F.; BUGONI, L.; NEVES, T.; PEPPES, F. Caracterização das aves oceânicas
que interagem com a pesca de espinhel no Brasil. In: NEVES, T.; BUGONI, L.;
ROSSI-WONGTSCHOWSKI, C.L.B. (Ed.). Aves Oceânicas e suas Interações
com a Pesca na Região Sudeste-Sul do Brasil. São Paulo: USP, 2006. p. 37-67.
(Série documentos Revizee: Score Sul).
PHILLIPS, R.A.; SILK, J.R.D.; CROXALL, J.P.; AFANASYEV, V.; BRIGGS, D.R.
Accuracy of geolocation estimates for flying seabirds. Marine Ecology Progress
Series, Amelinghausen, v.266, p. 265-272, 2004.
PRINCE, P.A.; WOOD, A.G.; BARTON, G.; CROXALL, J.P. Satellite tracking of
wandering albatrosses (Diomedea exulans) in the South Atlantic. Antartic Science,
Cambridge, v. 4, n. 1, p. 31-36, 1992.
SCHREIBER, E.A.; BURGUER, B. Seabird in the marine environment. In: SCHREIBER,
E.A.; BURGUER, B. Biology of Marine Birds. Boca Raton: CRC, 2002. p. 1-15
WARHEIT, K.I. The seabird fossil record and the role of Paleontology in understanding
seabird community structure. In:________. Boca Raton: CRC, 2002. p. 17-55.
WIENS, J.A.; SCOTT, J.M. Model estimation of energy flow in Oregon coastal seabird
populations. The Condor, California, v. 77, p. 439-452, 1975.
WEICHLER, T.; GARTHE, S.; LUNA-JORQUERA, G.; MORAGA, J. Seabird distribution
on the Humboldt Current in northern Chile in relation to hydrography, productivity, and
fisheries. Journal of Marine Science, Copenhagen, v. 61, p. 148-154, 2004.
WOOD, A.G.; NAEF-DAENZER, B.; PRINCE, P.A.; CROXALL, J.P. Quantifying
habitat use in satellite-tracked pelagic seabirds: application of kernel estimation to
albatross locations. Journal of Avian Biology, Lund, v. 31, p. 278-286, 2000.
YEN, P.W.P.; SYDEMAN, W.J.; HYRENBACH, K.D. Marine bird and cetacean
associations with bathymetric habitats and shallow-water topographies: implications
for trophic transfer and conservation. Journal of Marine System, Rostock, v. 50,
p. 79-99, 2004.

382 DIMAS G IANUCA


383
Foto: Projeto Amazônia Azul
ANEXOS

PLANILHA DE REGISTRO
A planilha de registro é o histórico dos acontecimentos de uma coleta e deve ser
elaborada para ser preenchida de uma maneira simples e em sequência lógica, a fim de
relatar os acontecimentos da amostragem. O responsável pelas anotações deve ser
identificado para, se necessário, esclarecer fatos. É muito importante que todas as
informações referentes à coleta, não apenas estejam bem relatadas, mas também de
maneira clara. É bom lembrar que uma amostra científica faz parte do acervo de uma
instituição, ficando à disposição por anos, servindo para diversos tipos de análise. Por
esse motivo, várias pessoas poderão usá-la e, por isso, as planilhas com os dados
coletados deverão ser as mais completas possíveis, devendo ser incluídos também
aqueles fatos que, no momento da coleta, possam não parecer importantes. Alguns
exemplos de planilhas de registro de diferentes tipos de trabalhos feitos a bordo de
uma embarcação, são detalhados a seguir.
Foto: João Paulo
ANEXO 1

DADOS DE POSICIONAMENTO E METEOROLÓGICOS DA ESTAÇÃO

Temperatura do ar: _______ °C Pressão atmosférica: ___________ mmHg

Umidade relativa: ________ %

Condições do tempo: claro ( ) parcialmente nublado ( ) com chuva ( ) trovoadas ( )

Nuvens: Altas ( ) Médias ( ) Baixas ( )

Vento: Dir: N ( ) NE ( ) E( ) SE ( ) S( ) SW ( ) W( ) NW ( )

Velocidade: _________ m.s-1 ____________ nós

Ver Escala Beaufort

Altura de Ondas

Estado do Mar: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
(continua)

ANEXOS 385
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
(continuação Anexo 1)

Escala Beauford

Força Designação Vento (km.h-1 ) Aspecto do Mar


0 Calmaria 0a1 Espelhado
.
1 Bafagem 2a6 Encrespado em pequenas rugas, aparência de escamas.
2 Aragem 7 a 12 Ligeiras ondulações com crista, mas sem arrebentação.
3 Fraco 13 a 18 Grandes ondulações com arrebentação.
4 Moderado 19 a 26 Pequenas vagas de 1,5 metros com carneiros frequentes.
5 Fresco 27 a 35 Vagas moderadas de forma longa com 2,4 metros. Alguns borrifos.
6 Muito fresco 36 a 44 Grandes vagas de até 3,5 metros. Muitas cristas brancas. Borrifos.
7 Forte 45 a 54 Mar grosso. Vagas de até 5 metros. Espuma branca de arrebentação.
8 Muito forte 55 a 65 Vagalhões de 6 a 7 metros. Faixa de espuma branca.
9 Duro 66 a 77 Vagalhões de 7,5 metros com faixas de espuma densa. Muito borrifo.
10 Muito duro 78 a 90 Grandes vagalhões de 9 a 12 metros. Superfície do mar toda branca.
11 Tempestuoso 91 a 104 Grandes vagalhões de 13,5 metros. Navios médios somem nos cavados.
12 Furacão >105 Mar espumoso. Espuma e respingos saturam o ar. Sem visibilidade.

ANEXO 2
NAVEGAÇÃO

Embarcação: ____________________________________________________________

Cruzeiro: ______________________________________________________________

Data Início: ___/___/_____ Data Final: ___/___/_____

(RV) rumo verdadeiro; (Rmg) rumo magnético; (Rag) rumo da agulha.

386 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 3

DADOS FÍSICOS E QUÍMICOS COM EQUIPAMENTOS ELETRÔNICOS OU MULTIPARÂMETRO

Embarcação: ____________________________________________________________

Cruzeiro: ______________________________________________________________

Data: ___/___/_____

Instrumento

Multiparâmetro: ___________ Termo-Salinômetro: _________________

Refratômetro: _________________

Termômetro de Cubeta: ______________

Disco de Secchi: _____________________

pH: _____________________ OD: ______________________

Temperatura Salinidade Cond Secchi


# Lance Prof. pH OD
Cubeta Multi Refra Multi Multi Bb Bo

/ /

ANEXOS 387
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 4
AMOSTRA GEOLÓGICA

Embarcação: ____________________________ Área: _________________________

Cruzeiro: _____________________________ Estação: ________________________

Pernada: _____________ Posição: Lat: _________________ Long: _______________

388 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 5
α OU MATERIAL EM SUSPENSÃO
COLETA DE CLOROFILA-α

Embarcação: ____________________________________________________________

Cruzeiro: ______________________________________________________________

ANEXO 6
COLETA VERTICAL DE ZOOPLÂNCTON

Embarcação: ____________________ Projeto: _________________________________

Cruzeiro: __________________ Estação: _______________ Data: ____/____/_______

Posição: Lat ______________ Long ____________ Prof: _________m

Hora local: ___________ Hora GMT: ___________

REDE

Tipo: _____ Cônica _____ Cilindrocônica

Aro (cm): _____30 _____50 _____60 _____100

Malha (µm): _____20 _____40 _____90 ____140 ___200 _____300 _____500

Peso (kg): ____2 ____5 ____10 ____20

Arrasto

Lance 1 2 3 4 5 6 7

Intervalo de prof.

Garrafa

(continua)

ANEXOS 389
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
(continuação Anexo 6)

FLUXÔMETRO: ___________Usado ___________Não usado

Tipo: ______________________________ N° de Série: ___________

Leitura: Inicial: _______________ Final: _________________ Diferença: __________

Cálculo do volume (de um cilindro): π x r2 x h em que:

π = 3,1416; r = raio do aro e h = distância percorrida Volume Filtrado: _________ m³

Frasco n° ______________

Tabela de cabo a ser lançado (prof/cosα)

Prof► 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
5 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50
10 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 49 50
12 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 37 39 41 43 45 47 49 51
14 10 12 14 16 18 20 22 24 26 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 50 51
16 10 12 14 16 18 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 48 50 52
18 10 12 14 16 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 40 42 44 46 48 50 52
20 10 12 15 17 19 21 23 25 27 29 32 34 36 38 40 42 44 47 49 51 53
22 10 13 15 17 19 21 23 25 28 30 32 34 36 38 41 43 45 47 49 51 54
24 11 13 15 17 19 21 24 26 28 30 32 35 37 39 41 43 45 48 50 52 54
26 11 13 15 17 20 22 24 26 28 31 33 35 37 40 42 44 46 48 51 53 55
28 11 13 15 18 20 22 24 27 29 31 33 36 38 40 42 44 47 50 52 54 56
30 11 13 16 18 20 22 25 27 29 32 34 36 38 41 43 45 48 51 53 55 57
α▲ 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50

390 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 7
COLETA HORIZONTAL DE ZOOPLÂNCTON

Embarcação: _____________________ Projeto: _______________________________


Cruzeiro: __________________ Estação: ________________ Data: ____/____/_______
Posição: Lat _________________ Long _________________ Prof: _____________m
Hora local: ___________ Hora GMT: ___________ Coleta: ____/____ (ver códigos abaixo)
REDE: _____ Cônica _____ Cilindrocônica
Aro (cm): _____30 _____50 _____60 _____100
Malha (µm): ____140 ___200 _____300 _____500
FLUXÔMETRO: _____Usado ______ Não usado
Tipo: ______________________________ N° de Série: ___________
Horizontal de Superfície
Tempo de arrasto: ____ min _____ s
Fluxômetro: Inicial: _________ Final: _________ Diferença: ______ Dist. Perc.: _____m
Cálculo do volume: π x r² x h em que: π = 3,1416; r = raio do aro e h = distância percorrida
(constante do fluxômetro x diferença da leitura)
Volume Filtrado: __________ m³
Armazenagem das coletas - Frasco(s): ________ ________ _________
Horizontal de Fundo
Tempo de Descida: ___ min ___s de arrasto: ___ min ___ s de subida: ___ min __ s
Fluxômetro: Inicial: _________ Final: _________ Diferença: ______ Dist. Perc.: _____m
Cálculo do volume: π x r² x h em que: π = 3,1416; r = raio do aro e h = distância percorrida (cte.
do fluxômetro x diferença da leitura)
Volume Filtrado: _________ m³
Armazenagem das coletas - Frasco(s): ________ ________ _________
Leitura do ângulo (ver também tabela de ângulos)

Cabo=Cabo Lançado

Quant. Final de Cabo Lançado: _____m Âng Final: ____° Prof. do Arrasto: ______m
Profundímetro: _____ Sim Prof.: _________m ___Não
Códigos da Coleta: 0/0 Amostra feita/ Fluxômetro lido
1/0 Parte da amostra perdida/ Fluxômetro lido
0/9 Amostra feita/ Fluxômetro não lido ou com defeito
1/9 Parte da amostra perdida/ Fluxômetro não lido ou com defeito

ANEXOS 391
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 8
COLETA OBLÍQUA DE ZOOPLÂNCTON COM REDE BONGO

Cruzeiro: ___________________ Estação: __________ Data: ____/____/_______

Posição: Lat ________________ Long ________________ Prof: _________m

Hora local: ___________ Hora GMT:___________ Coleta: ____/____ (ver códigos abaixo)

FLUXÔMETRO 1: _____Usado ______ Não usado

Tipo: ______________________________ N° de Série: _________________________

Leitura: Inicial: _______________ Final: _________________ Diferença: ___________

FLUXÔMETRO 2: _____Usado ______ Não usado

Tipo: ______________________________ N° de Série: _________________________

Leitura: Inicial: _______________ Final: _________________ Diferença: _____________

Cálculo do volume (de um cilindro): π x r² x h em que:


π = 3,1416; r = raio do aro e h = distância percorrida (constante do fluxômetro x diferença da leitura)

Volume Filtrado: _________ m³

Tempo de Descida: _______ min _________s de subida: _______ min _________s

Leitura do ângulo (ver também tabela de ângulos)

Quant. Final de Cabo Lançado: _______m Âng Final: _____° Prof. do Arrasto: ________m

Profundímetro: ___ Sim __________m _____Não

Armazenagem da coleta

Frasco(s) Rede 1: __________ __________ _________ __________

Frasco(s) Rede 2: __________ __________ _________ __________

Códigos da Coleta: 0/0 Amostra feita/Fluxômetro lido


1/0 Parte da amostra perdida/Fluxômetro lido
0/9 Amostra feita/ Fluxômetro não lido ou com defeito
1/9 Parte da amostra perdida/ Fluxômetro não lido ou com defeito

392 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 9
COLETA REDE MULTINET DE ZOOPLÂNCTON

Cruzeiro: ________________________ Estação: __________ Data: ____/____/_______

Posição: Lat ___________________ Long __________________ Prof: __________m

Hora local: ___________ Hora GMT: ___________

Tempo de descida: _______ min ______s de subida: _______ min ______s

Lance n°: ____________________ Hora: ____________ Coleta: ____/____

Rede 1: Vol. Filt.: _______m³ Prof: _____________ Frasco(s): _____ ____

Obs: __________________________________________________________

Rede 2: Vol. Filt.: _______m³ Prof: _____________ Frasco (s): _____ ____

Obs: __________________________________________________________

Rede 3: Vol. Filt.: _______m³ Prof: _____________ Frasco (s): _____ ____

Obs: __________________________________________________________

Rede 4: Vol. Filt.: _______m³ Prof: _____________ Frasco (s): _____ ____

Obs: __________________________________________________________

Rede 5: Vol. Filt.: _______m³ Prof: _____________ Frasco (s): _____ ____
Obs: __________________________________________________________

Códigos da Coleta: 0/0 Amostra feita/Fluxômetro lido


1/0 Parte da amostra perdida/Fluxômetro lido
0/9 Amostra feita/ Fluxômetro não lido ou com defeito
1/9 Parte da amostra perdida/ Fluxômetro não lido ou com defeito

ANEXOS 393
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 10
COLETA DE ORGANISMOS BENTÔNICOS

Embarcação: ___________________________________________________________

Equipamento de coleta: ___________________________________________________

Data: ____/____/_______ Hora: ___________________

Posição:

Latitude: _____________________ Longitude: _____________________

Estação: ___________________ Amostra n°: __________________

Profundidade: ______________ Transparência (Secchi): __________

Salinidade: ___________________ Temperatura: _____________

pH: ______________________ Eh: _____________________

Características do sedimento: ________________________________________________

_____________________________________________________________________

Profundidade da camada anóxica: _____________________________________________

Observações: ___________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

394 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 11
DADOS DE NAVEGAÇÃO NOS LANCES DE COLETA

Cruzeiro: ______________________________________________________________

Posição inicial Posição final Dist OBS


Lance RV RPM VEL CABO
Lat (S) Long (W) Lat (S) Long (W) Perc

/ /

Tipo Lance: (CP) Camaroneira; (MA) Meia-água; (BT) Beam Trawl; (BC) Box Corer; (DP) Draga;
(HS) Plancton Horiz. Sup; (HF) Plâncton Horiz. Fundo; (BO) Bongo; (MT) Múltipla; (RN) Neutônica.

ANEXOS 395
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 12
LANCE DE PESCA

Rede: ________________________________________________________________

Cruzeiro: _______________________________________________________________

Estação: ____________________________ Prof. ______ m Data: ___/___/_____

Hora Inicial: ________ Hora GMT: _________ Hora Final : ________ GMT: ________

Tempo de Arrasto: ________min

Cabo Lançado: _________ m Rumo Verdadeiro (RV) _______°

Veloc. Arrasto: _______ nós Rotação do Motor: ________ rpm

Posição do Arrasto

Latitude: ________________ Latitude: ________________

Longitude: _______________ Longitude: ______________

Distância Percorrida: __________mN __________ m

Abertura da rede: Horizontal_______m Vertical _______ m

Área de coleta: ____________ m²

N° Espécies: Peixes ________ Elasmobrânquios _______ Crustáceos ________

Moluscos ______ Equinodermos ________ Outros ___________

396 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 13
ESPÉCIES CAPTURADAS

Cruzeiro: _________________________________ Estação: ______________________

Método de Coleta: _____________________________________ Data: ___/___/_____

ANEXOS 397
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 14
DADOS DE FREQUÊNCIA DE ESPÉCIE CAPTURADA

Cruzeiro: ________________________________ Estação: _______________________

Método de Coleta: _____________________________________ Data: ___/___/_____

Espécie: _______________________________________________________________

Tamanho Frequência N° Total


0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0

Na coluna das classes de tamanho, são indicadas sequências de 0 a 9, no intuito de viabilizar o uso da
planilha para qualquer intervalo de dezenas.

398 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 15
DADOS BIOLÓGICOS

Cruzeiro: ________________________________ Estação: _______________________

Método de Coleta: _____________________________________ Data: ___/___/_____

GON = Desenvolvimento Gonadal: (1) Imaturo; (2) Em desenvolvimento; (3) Desenvolvido; (4) Desovado;
IR = Índice de Repleção do Estômago: 1 = Vazio; 2 = Pela metade; 3 = Cheio.

ANEXOS 399
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 16
AVISTAGEM DE CETÁCEOS

o o
Avistagem Data Hora Coordenadas Espécie N Grupos N Ind.

Filhote Profundidade Binóculo/Lado Retículas Ângulo Esforço Filme - Fotos Rumo Verd. Temp. H2 O
No:

Visibilidade: Observações / Comportamento Dir. Natação

Local:
o o
Avistagem Data Hora Coordenadas Espécie N Grupos N Ind.

Filhote Profundidade Binóculo/Lado Retículas Ângulo Esforço Filme - Fotos Rumo Verd. Temp. H2 O
No:

Visibilidade: Observações / Comportamento Dir. Natação

Local:
o o
Avistagem Data Hora Coordenadas Espécie N Grupos N Ind.

Filhote Profundidade Binóculo/Lado Retículas Ângulo Esforço Filme - Fotos Rumo Verd. Temp. H2 O
No:

Visibilidade: Observações / Comportamento Dir. Natação

Local:
o o
Avistagem Data Hora Coordenadas Espécie N Grupos N Ind.

Filhote Profundidade Binóculo/Lado Retículas Ângulo Esforço Filme - Fotos Rumo Verd. Temp. H2 O
No:

Visibilidade: Observações / Comportamento Dir. Natação

Local:

400 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 17
ESFORÇO DE OBSERVAÇÃO PARA CETÁCEOS

No. R R # Esforço Esforço


Data Hora Coordenadas Beauf Reflexo Mag. Veloc. avista (horas) (MN)
Transecto Verd.

Visibilidade Observações:

No. R R # Esforço Esforço


Data Hora Coordenadas Beauf Reflexo Mag. Veloc. avista (horas) (MN)
Transecto Verd.

Visibilidade Observações:

No. R R # Esforço Esforço


Data Hora Coordenadas Beauf Reflexo Mag. Veloc. avista (horas) (MN)
Transecto Verd.

Visibilidade Observações:

No. R R # Esforço Esforço


Data Hora Coordenadas Beauf Reflexo Mag. Veloc. avista (horas) (MN)
Transecto Verd.

Visibilidade Observações:

No. R R # Esforço Esforço


Data Hora Coordenadas Beauf Reflexo Mag. Veloc. avista (horas) (MN)
Transecto Verd.

Visibilidade Observações:

No. R R # Esforço Esforço


Data Hora Coordenadas Beauf Reflexo Mag. Veloc. avista (horas) (MN)
Transecto Verd.

Visibilidade Observações:

ANEXOS 401
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
ANEXO 18
CONTAGEM DE AVES NO MAR

Estação de contagem: _____________ Salinidade: _________________________

Observador: ___________________ Nebulosidade: _______________________

Data: ___/___/_____ Hora de início:_________ Visibilidade: _______________________

Posição: Lat _________ Long _________ Temp. do ar: ______ Temp. da água: _______

Rumo Verdadeiro: __________________ Velocidade do Vento (nós): ______________

Velocidade da Embarcação(nós): _________ Direção do Vento: ____________________

Profundidade: ______________________ Estado do Mar: _____________________

1. Contagem das aves seguidoras 2. Observações


Espécie N

3. Contagem instantânea

Aves Aves em voo / Blocos


Espécie
estacio. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

402 ANEXOS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

ANEXO 19
CONTAGEM DE AVES ASSOCIADAS A BARCOS ESPINHELEIROS

Cruzeiro: ___________________ Data: ___/___/_______ Toriline: Sim ( ) Não ( )

Posição: Lat _____________ Long _____________ Isca azul: Sim ( ) Não ( )

Lance:______________ Horário pôr-do-sol: _____ Observador: ____________________

Contagem 1 2 3 4 5
Hora:
Total
Jovem
Thalassarche melanophrys
Adulto
Jovem
Thalassarche chlororynchos
Adulto
Diomedea exulans
Diomedea epomophora
Diomedea sanfordi
Diomedea spp.
Macronectes giganteus
Macronectes halli
Macronectes spp.
Fulmarus glacialoides
Pterodroma incerta
Procellaria aequinoctialis
Procellaria conspicillata
Puffinus gravis
Calonectris diomedea
Daption capense

Esses são os procedimentos de coleta e armazenagem a bordo. Vale salientar que o transporte e as
metodologias de laboratório referentes à armazenagem, a observação, a triagem e o tratamento de
dados, também são muito importantes, mas não foram abordados neste livro.

ANEXOS 403
ABREVIATURAS

A
AFM – Auto Fire Module (Módulo de Auto
AA – Alma de Aço
Controle de Fogo)
AACI – Alma Constituída de Cabo de Aço
AP – Água da Plataforma Continental
Independente
ASA – Água Subantártica
AC – Água Costeira
ASA – American Standard Association
ACAS – Água Central do Atlântico Sul
(Classificação da Sensibilidade dos Filmes
ADCP – Acoustic Doppler Current Profilers
Fotográficos)
(Perfiladores Acústicos de Corrente)
ASCII – American Standard Code for Information
ADF – Automatic Direction Finder (Localizador
Interchange (Padrão Americano para
de Direção Automática)
Intercâmbio de Informações)
AF – Alma Constituída de Fibra Natural
AST – Água Subtropical
AFA – Alma Constituída de Fibra Artificial
AT – Água Tropical
Foto: Projeto Amazônia Azul
B D
BNDO – Banco Nacional de Dados DBO – Demanda Biológica de Oxigênio
Oceanográficos DGPS – Differential Global Positioning System
BT – Batitermógrafo (Sistema de Posicionamento Global
Diferencial)

C DHN – Diretoria de Hidrografia e Navegação


DIN – Deutsche Industrien Normen (Padrões de
Normas Industriais da Alemanha)
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento DNA – Deoxyribonucleic acid (Ácido
de Pessoal de Nível Superior Desoxirribonucleico)
CCM – Complexo Convectivo de Mesoescala DPC – Diretoria de Portos e Costa
CECO – Centro de Estudos de Geologia DQO – Demanda Química de Oxigênio
Costeira e Oceânica DSC – Digital Selective Calling (Chamada
CHN – Centro de Hidrografia da Marinha Seletiva Digital)
CIRM – Comissão Interministerial para os
Recursos do Mar
CNUMAD – Conferência das Nações Unidas E
para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento
COI – Comissão Oceanográfica EPI – Equipamento de Proteção Individual
Intergovernamental EPIRB – Emergency Position Indicating Radio
CPUE – Captura por Unidade de Esforço Beacons (Posição de Emergência Indicado por
CTD – Conductivity Temperature and Depth Sinal de Rádio)
(Condutividade, Temperatura e Profundidade) ESDU – Elementary Sampling Distance Unit
(Unidade Elementar de Distância Amostral)

A BREVIATURAS 405
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
INMARSAT – International Maritime Satellite
F Organization (Organização Internacional de
Satélites Marítimos)
IO – FURG – Instituto Oceanográfico da
FAO – Food and Agriculture Organization
Universidade Federal do Rio Grande
(Organização das Nações Unidas para
IO – USP – Instituto Oceanográfico da
Agricultura e Alimentação)
Universidade de São Paulo
FAMATH – Faculdades Integradas Maria
IP – Internet Protocol (Protocolo de Internet)
Thereza
IP – SP – Instituto de Pesca de São Paulo
FIG – Formulário de Informação Geológica
ISO – International Organization for
FURG – Universidade Federal do Rio Grande
Standardization (Organização Internacional
para Padronização)
G ITF – Frente Intertropical

GEOMAR – Geologia Marinha


GMDSS – Global Maritime Distress and Safety
J
System (Sistema Marítimo Global de
JPEG – Joint Photographic Experts Group
Salvamento)
GPS – Global Positioning System (Sistema de
Posicionamento Global)
GPT – General Purpose Transceiver (Transceptor
L
de Propósito Geral)
L – Litro
LAGEMAR – UFF – Laboratório de
H Geologia Marinha da Universidade Federal
Fluminense
LAN – Local Area Network (Rede de Área
HF – High Frequency (Alta Frequência)
Local)
HMG – Hora Média de Greenwich
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
HMS – Her Majesty Ship (Navio de Sua
Nacional
Majestade)
LOG – UFBA – Laboratório de Oceanografia
Geológica da Universidade Federal da Bahia
I LOG – FURG – Laboratório de Oceanografia
Geológica da Universidade Federal do Rio
IALA – International Association of Marine Grande
Aids to Navigation and Lighthouse Authorities LOG – UNIVALI – Laboratório de
(Associação Internacional de Sinalização Oceanografia Geológica da Universidade do
Marítima) Vale do Itajaí
IEEE – Instituto de Engenheiros, Eletricistas LUT – Local User Terminal (Terminal de
e Eletrônicos Usuário Local)
IFREMER – Institut français de recherche pour
l’exploitation de la mer (Instituto Francês de
Pesquisa para a Exploração do Mar).
M
IMO – International Maritime Organization
MARPOL 73/78 – Marine Pollution.
(Organização Marítima Internacional).
Convenção Internacional para Prevenção de
IMSO – International Mobile Satellite
Poluição de Navios, de 1973 (modificado pelo
Organization (Organização Internacional de
protocolo de 1978)
Satélites Móveis)
MEC – Ministério da Educação
INEP – Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

406 ABREVIATURAS
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

MEP – Multi-Element Plankton REMAC – Programa Reconhecimento da


(Multielemento do Plâncton) Margem Continental Brasileira
MMS – Maritime Mobile System (Sistema REUNI – Programa de Apoio a Planos de
Móvel Marítimo) Reestruturação e Expansão das Universidades
MOB – Man overboard (Homem ao Mar) Federais
MPA – Ministério da Pesca e Aquicultura RIPEAM – Regulamento Internacional para
MR – Marcação-Recaptura Evitar Abalroamento no Mar
MT – Medium frequency (Frequência Media) RTK – Real Time Kinematic (Navegação
mtDNA – Mitocondrial DNA Cinética em Tempo Real)
MVBS – Mean Volume Backscattering Strength
(Média Aritmética dos Valores Integrados
Verticalmente) S
N S – Practical Salinity Scale (Escala Prática de
Salinidade)
SAR – Search and Rescue (Busca e Salvamento)
NASC – Nautical Area Scattering Coefficient SEP – Single Element Plankton (Elemento
(Coeficiente de Dispersão da Área Náutica) Singular do Plâncton)
NORMAN – Normas da Autoridade SI – Sistema Internacional de Unidades
Marítima SIG – Sistema de Informação Geográfica
SIMRAD – Simonsen Radio A/S

O SOLAS – Safety of Life at Sea (Convenção


Internacional para a Salvaguarda da Vida no
Mar)
OD – Oxigênio Dissolvido SONAR – Sound Navigation and Ranging
OMM – Organização Meteorológica Mundial (Navegação e Determinação de Distância pelo
Som)

P SUDEPE – Superintendência do
Desenvolvimento da Pesca
SVL – Sonar de Varredura Lateral
PCJB – Plataforma Continental Jurídica SYNOP – Surface Synotic Observations
Brasileira (Observações Sinóticas de Superfície)
PEAD – Polietileno de Alta Densidade
PGGM – Programa de Geologia e Geofísica
Marinha
PIBO – Plano Integrado Brasileiro de
T
Oceanografia T–S – Diagrama de Temperatura e Salinidade
PMMA – Polimetilmetacrilato (acrílico) TSK – Tsurumi-Seiki Company
PPG – Mar – Comitê Executivo para a TSM – Temperatura da Superfície do Mar
Consolidação e Ampliação dos Grupos de TVG – Time Variable Gain (Ganho de Tempo
Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências do Mar Variado)
PPT – Parts Per Thousand (Partes Por Mil)
PTFE – Politetrafluoretileno (teflon)
PVC – Cloreto de polivinila U
R UDESC – Universidade do Estado de Santa
Catarina
UEAP – Universidade do Estado do Amapá
RADAR – Radio Detection and Ranging (Detecção UEMA – Universidade do Estado do
e Determinação de Distância pelo Rádio) Maranhão

A BREVIATURAS 407
UERGS – Universidade do Estado do Rio
Grande do Sul
UFERSA – Universidade Federal Rural do
V
Semi-Árido
VHF – Very High Frequency (Frequência
UFAL – Universidade Federal de Alagoas
Muito Alta)
UFAM – Universidade Federal do Amazonas
UFC – Universidade Federal do Ceará
UFES – Universidade Federal do Espírito
Santo
X
UFF – Universidade Federal Fluminense XBT – Expendable Bathythermograph
UFPA – Universidade Federal do Pará (Batitermógrafo Descartável)
UFPB – Universidade Federal da Paraíba
UFPR – Universidade Federal do Paraná
UFPI – Universidade Federal do Piauí
UFRA – Universidade Federal Rural do
Z
Amazonas ZCIT – Zona de Convergência Intertropical
UFRB – Universidade Federal do Recôncavo
da Bahia
UFRGS – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul
W
UFRJ – Universidade Federal do Rio de www – World Wide Web (Rede de Alcance
Janeiro Mundial)
UFRPE – Universidade Federal Rural de
Pernambuco
UFS – Universidade Federal de Sergipe
UFSC – Universidade Federal de Santa
Catarina
UHF – Ultra High Frequency (Frequência Ultra
Alta)
UIT – União Internacional de
Telecomunicações
UNEB – Universidade Estadual do Estado
da Bahia
UNESP – Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho
UNIFESP – Universidade Federal de São
Paulo
UNIMONTE – Centro Universitário Monte
Serrat
UNIOESTE – Universidades Estadual do
Oeste do Paraná
UNIR – Universidade Federal de Rondônia
UNISANTA – Universidade Santa Cecília
UNT – Unidades Nefelométricas de Turbidez
UV – Ultraviolet (Raio Ultravioleta)
Foto: Dimas Gianuca

UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí


UNIVILLE – Universidade da Região de
Joinville
USP – Universidade de São Paulo

408 ABREVIATURAS
409
GLOSSÁRIO

A número de organismos de todos os outros taxa


somados, por unidade de área ou volume.
Ação Bioquímica Modificação química resultante
Abdome Porção final segmentada do corpo de um do metabolismo de organismos vivos.
crustáceo, entre o tórax e o telso, coberta pela pleura. Acasalamento Ato de reunir um par de organismos
Abiótico Ver Meio Abiótico. dos sexos masculino e feminino com o objetivo de
Abissal Ver Zona Abissal. reprodução.
Abraçadeira Peça de aço inox ou ferro galvanizado, Acidez de um Líquido Capacidade que um meio
para fixação ou conexão de aparelhos de coleta. aquoso possui de reagir quantitativamente com uma
Absorção Em acústica, é a perda de energia do base forte a um pH definido.
feixe acústico do sonar, à medida que esse se propaga Acidez Mineral Livre Capacidade das águas
na coluna de água. reagirem com íons hidroxilas até um pH = 4,3 (para
Abundância Número total de organismos de uma valores de pH entre 4,3 e 14,0, não existe acidez
espécie em uma área ou volume. mineral).
Abundância Absoluta Número preciso de Acoustic Doppler Current Profilers (ADCP)
organismos de uma espécie em uma determinada Perfilador acústico, que mede a velocidade e a direção
área ou volume. Sin. Censo. de correntes através da transmissão de um sinal
Abundância Relativa Número total de sonoro de alta frequência, que é refletido de volta
organismos de um táxon comparado com o total do para o aparelho pelas partículas em suspensão na água.
Foto: Projeto Amazônia Azul
Acurácia Exatidão de uma operação ou de uma Água Central do Atlântico Sul (ACAS) Formada
tabela. na Convergência Subtropical, resultante da mistura
Acústica Submarina Ver Hidroacústica. entre a Água Tropical e a Água Subantártica, fluindo
Adaptação (1) Processo de adequação de um no sentido norte sob a Corrente do Brasil e, no
organismo a um estresse ambiental; (2) Qualquer verão, também sobre a Água da Platafor ma
aspecto morfológico, fisiológico, sensorial ou de Continental.
comportamento alcançado por um organismo para Água Continental Água que corre ou se acumula
o sucesso na sobrevivência e na reprodução. na superfície da Terra, representada pelos rios
Adernar Inclinar uma embarcação para um dos (fluviais), lagos (lacustres) e geleiras (glaciares). Sin.
bordos. Água da Plataforma Continental.
Adulto Fase do desenvolvimento em que o Água Costeira (AC) Caracterizada por elevadas
organismo está completo e maturo sexualmente. temperaturas e baixa salinidade, mistura da AT, ASA
Adsorção Processo de interação de uma substância e AST com aportes do Rio da Prata e da Lagoa dos
com uma superfície, sem que haja penetração. Patos.
Advecção Processo de transferência de calor ou de Água da Plataforma Continental (AP) Ver Água
matéria, devido ao movimento horizontal das massas Continental.
de água ou de ar. Água Doce Ver Limnético.
Adversidade Contratempo. Água Potável Água de qualidade adequada ao
Aeração Processo natural ou artificial de ventilação consumo humano, que deve satisfazer aos padrões
da água, solo ou sedimentos, visando à oxigenação de potabilidade.
ou à oxidação aeróbica dos materiais presentes. Água Residuária Despejo ou resíduo aquoso que
Aerador Dispositivo mecânico que promove a podem causar poluição hídrica. Sin. Esgoto.
aeração de um líquido. Água Salobra Água com salinidade intermediária
Aeróbico (1) Processo que necessita ou que ocorre entre a doce e a salina, isto é, aproximadamente 15
na presença de oxigênio; (2) Organismo que vive, a 30 de salinidade.
cresce ou metaboliza apenas em presença do oxigênio. Água Subantártica (ASA) Ramo costeiro da
Afótica Ver Zona Afótica. Corrente das Malvinas, caracterizada por temperaturas
Água Substância química, essencial à vida, formada entre 4° a 15°C e salinidade entre 33,7 e 34,15.
de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio, que Água Subtropical (AST) Caracterizada por
se encontra na superfície terrestre nos estados sólido, temperaturas entre 10° e 20°C e salinidade entre 35
líquido ou gasoso. e 36.

GLOSSÁRIO 411
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Água Superficial Encontrada na parte mais rasa Altura de Onda Distância vertical entre a crista e
de uma coluna de água, caracterizada, em geral, por a calha precedente de uma onda.
densidade mais baixa do que a água de fundo, Altura do Peixe A distância entre o equipamento
principalmente em virtude da temperatura mais alta. rebocado e o fundo, normalmente medido em pés
Água Tropical (AT) Caracterizada por temperaturas ou metros.
acima de 20°C e salinidades acima de 36. Alvitanas Panos de rede externos nas redes
Agudez da Onda Relação entre a altura e o feiticeiras, caracterizados por possuir malhas maiores
comprimento da onda. e fios mais fortes que o morto.
Agulha de Marear Ver Bússola. Alvo Em Hidroacústica, é um objeto ou organismo
Agulha Giroscópica Também denominada capaz de emitir de volta as ondas em forma de ecos
bússola giroscópica, essencialmente é um giroscópio transmitidas pelos sonares, ecossondas e radares.
cujo eixo de rotação permanece alinhado com os Ambiente Ver Meio Ambiente.
meridianos que mede o ângulo entre a proa do navio American Standard Association (ASA)
e o norte verdadeiro. (Associação Americana de Normas Técnicas)
Agulha Magnética Tipo de agulha náutica que Entidade que rege padrões técnicos nos EUA e em
opera sem fonte de energia elétrica e que busca o alguns países da América Latina e da Europa.
Norte Magnético em lugar do Norte Verdadeiro American Standard Code for Information
(ou Geográfico). Interchange (ASCII) Esquema de codificação de
Agulha Náutica Instrumento para a medida de caracteres com base na ordenação do alfabeto inglês.
direções, utilizado para definir rumos e marcações. Amido Tipo de carboidrato, formado por várias
Albatroz Ave marinha da família Diomedeidae. moléculas de glicose juntas.
Aves de grandes, movem-se de forma muito eficiente Amostra (1) Atividade que consiste em retirar, para
no ar, cobrindo grandes distâncias com pouco fins de análises ou meditação, uma fração
esforço. Alimentam-se de moluscos, como lulas, representativa de um conjunto ou de uma região,
peixes e krill. cujas propriedades são estudos a fim de generalizá-
Alcalinidade Característica que consiste na las ao conjunto ou à região; (2) No caso da água,
capacidade de as águas neutralizarem compostos significa uma ou mais porções, com volume ou massa
ácidos devido à presença de bicarbonatos, carbonatos definida, coletada em corpos receptores, efluentes
e hidróxidos, quase sempre de metais alcalinos ou industriais, redes de abastecimento público, estações
alcalinos terrosos (sódio, potássio, cálcio, magnésio, de tratamento de água e esgoto, entre outras fontes,
entre outros) e, ocasionalmente, boratos, silicatos e com o fim de inferir as características físicas,
fosfatos. É expressa em miligramas por litro de químicas, físico-químicas e biológicas do ambiente
carbonato de cálcio equivalente. de onde foi retirada. Sin. Coleta.
Algas Denominação geral aplicada a organismos Amostrador Aparelho ou recipiente destinado a
de vida aquática, uni ou e multicelulares, capazes recolher alguma substância. Nas redes de arrasto, o
de realizar a fotossíntese. Formam parte na amostrador é a parte posterior da rede onde ficam
composição do fitoplâncton e da flora bentônica. retidos os organismos. Sin. Coletor.
Alheta Setor de uma embarcação localizado entre Amostragem Processo ou ato de construir uma
a popa e o través. amostra.
Alma Núcleo do cabo em torno do qual as pernas Amphibia (Anfíbio) Classe de organismos
são dispostas em forma de hélice; pode ser vertebrados que normalmente repartem o seu tempo
constituída em fibra natural ou artificial ou, ainda, entre a terra e a água. Conhecidos vulgarmente como
ser formada por uma perna ou um cabo de aço sapos, rãs e lagartixas.
independente. Amphipoda (Anfípodo) Ordem de pequenos
Alma de Aço Núcleo de um cabo constituído de crustáceos de olhos sésseis, que têm patas de dois
aço. tipos, natatórias e saltatoriais, em sua maioria são
Alma de Aço de Cabo Independente Núcleo marinhos, embora existam poucos que vivam em
de um cabo constituído de aço independente. água doce ou sejam terrestres. Sin. Anfípode.
Alma de Fibra Núcleo de um cabo constituído de Amplitude de Onda Distância vertical máxima
fibra natural. da superfície do mar a partir do nível da água em
Alma de Fibra Artificial Núcleo de um cabo repouso. Equivale à metade da altura da onda.
constituído de fibra artificial. Amuras a Bombordo Quando o lado de
Altura da Maré Altura do nível da água do mar, Bombordo é o que recebe o vento.
acima do zero hidrográfico, em determinado Amuras a Boreste Quando o lado de Boreste é o
momento. que recebe o vento.

412 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Analog Inputs Ver Entrada Analógica. fortes. Para evitar que as forças da natureza
Anemômetro Instrumento meteorológico usado empurrem o seu ovo para o mar, os pais fixam-no às
para medir a direção e a velocidade do vento. rochas com guano. Ao longo de 40 dias, revezam-
Anfípode Ver Amphipoda. se na incubação e, depois, ambos alimentam o
Ângulo de Incidência Ângulo que o pulso pinto. Com apenas 25 dias de vida e sem poderem
acústico faz com a normal à superfície, de voar, os pequenos araus lançam-se corajosamente
fundamental importância no retroespalhamento da ao mar durante a noite, para evitarem a predação
energia: se a altitude de operação do sonar é muito das gaivotas. Durante os 2 primeiros meses no mar,
baixa em longas distâncias, o ângulo de incidência são protegidos e alimentados pelo pai.
com o fundo do mar se torna alto e grande parte da Área (1) Em Ecologia, região ocupada por uma
energia incidente não é devolvida ao transdutor; comunidade, população ou espécie; (2) Em
por outro lado, se o ângulo de incidência se torna Matemática, extensão de um espaço bidimensional
menor, mais energia será devolvida, podendo gerar (comprimento e largura) limitado, expressa em m2.
anomalias nos dados. Área de trabalho Espaço que se tem para
Animal Qualquer membro do Reino Animália trabalhar.
multicelular, cujas células formam tecidos Areia Sedimento detrítico não consolidado,
biológicos, com capacidade de responder ao composto essencialmente de partículas minerais de
ambiente que os envolve. diâmetros variáveis entre 0,062 e 2 mm.
Annelida (Anelídeo) Filo de organismos Argila Sedimento com 0,004 mm de diâmetro.
invertebrados de corpo segmentado e vermiformes. Argolas Anel metálico onde se enfia ou se amarra
Existem em praticamente todos os ecossistemas qualquer objeto.
terrestres, marinhos e de água doce; são conhecidos Arrasto Ver Trajeto.
vulgarmente como minhocas, poliquetas e Arribar Girar a proa no sentido de afastá-la da
sanguessuga. linha do vento (contrário de Orçar).
Anomura (Anomuros) Infraordem de crustáceos Arte de Pesca Equipamento utilizado para coletar
decápodos que apresentam a posição dos olhos organismos do meio aquático.
internos às antenas, último par de patas muito Asa Na rede de arrasto, as asas são os painéis
reduzido e dobrado para acima, podendo seu abdome localizados à frente da boca que ajudam no
ser assimétrico ou mole; comumente representados direcionamento dos organismos para o interior da
pelos ermitões dotados de um abdome longo e mole. rede. Sin. Manga.
Antepraia Superfície côncava com um gradiente Atenuação Processo de enfraquecimento ou
na ordem de 1:200 que se inicia a partir da área de redução da amplitude do sinal de um sonar, causada
arrebentação. Sin. Shoreface. por vários fatores, incluindo quantidade de material
Antrópico Tudo o que resulta de ações humanas. em suspensão, espalhamento e absorção do feixe
Anzol Gancho farpado utilizado para a pesca. acústico. A atenuação de um sinal de sonar torna
Aparelho Objeto necessário para um determinado sua detecção mais difícil.
uso. Sin. Apetrecho ou Petrecho. Atlântico Nome dado a um dos três maiores
Apêndice Qualquer extensão periférica do corpo oceanos, ao lado do Pacífico e Índico.
de um animal. Atmosfera Porção gasosa que envolve um planeta.
Apetrecho Ver Aparelho. Atobá Aves da família Sulidae, de médio a grande
Aquecimento Foco calorífico que eleva a porte, com comprimento de 64 a 100 cm e peso até
temperatura de um ambiente. Ato ou efeito de 3,6 kg.
aquecer. Autodepuração Processo natural em um corpo de
Aquisição Em Hidroacústica, processo de detectar água, que resulta na redução de demanda biológica
e reconhecer uma anomalia no leito do mar usando de oxigênio (DBO), estabilização dos constituintes
sonar. orgânicos, renovação de oxigênio dissolvido (OD)
Aquisição de Dados Sistema que adquire e utilizado e retorno às características normais do
armazena um ou vários dados podendo ser corpo de água, pela ação dos organismos vivos
autônomo ou acoplado a um computador. existentes na água e por reações químicas nas quais
Arame Fio de aço obtido por trefilação. é utilizado o oxigênio do ar. Sin. Depuração Natural.
Arau Aves da familia Alcidae, que passam o Inverno Avaria Dano causado a uma embarcação ou à sua
no mar, para evitar o gelo, e só se deslocam a terra carga.
no Verão. Nesta altura, acasalam e cada par põe um
único ovo em escarpas apinhadas de aves e
frequentemente fustigadas por ventos e chuvas

GLOSSÁRIO 413
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
naquela região durante o verão, que é muito curto,
B e depois migram para o outro lado da Terra.
Beach Rock Exemplo de Substrato Consolidado,
comum no litoral do Rio Grande do Sul.
Babor Ver Bombordo. Beam Trawl Ver Rede de Barra.
Bacia Área extensa e deprimida para onde correm Bentônico Organismo que vive no fundo de um
os rios que drenam das áreas adjacentes. corpo de água.
Bactéria Microorganismo unicelular capaz de Bentos Em Oceanografia Biológica, um dos três
crescer e se reproduzir à custa de um meio orgânico grandes grupos ecológicos em que os organismos
ou inorgânico. aquáticos são classificados, composto por
Bactéria Aeróbica Bactéria que necessita de organismos que vivem fixos ao substrato duro
oxigênio livre para viver. (sésseis), enterrados no substrato mole (infaunais)
Baía Aberta Ver Enseada. ou sobre os sedimentos (sedentários ou vágeis) de
Balanus Ver Cirripedia. fundo do mar ou de água doce.
Baliza Boias ou estacas que permitem orientar a Biguá Ave aquática de plumagem escura.
navegação em águas restritas. Biguatinga Aves da família Anhingidae, conhecido
Balizamento Ato de pôr balizas. também como carará (Amazônia), calmaria (Rio
Banco Elevação do fundo submarino rodeado por Grande do Sul), mergulhão-serpente, anhinga, arará,
águas mais profundas tipicamente encontradas sobre meuá, miuá e muiá.
a Plataforma Continental ou nas proximidades de Binária Representação numérica, composta de
uma ilha. “zeros” e “uns”, usada para representação interna
Bar Tipo de corte de um pano de rede, quando se de informação nos computadores.
corta apenas um dos fios que se seguem ao nó. É Binóculo Instrumento de óptica, com lentes, que
identificado pela letra B e é paralelo ao lado da possibilita um grande alcance da visão.
malha. Sin. Barra. Biodegradação Decomposição ou estabilização
Barco Embarcação costeira de 10 a 30 metros de da matéria orgânica ou sintética, através de ações
comprimento, com cabine coberta. complexas, por microorganismos existentes no solo,
Barlavento Direção de onde vem o vento na água, ou em um sistema de tratamento de água
(contrário de Sotavento). residuária.
Barômetro Instrumento para determinar a pressão Biodegradável Substância que se decompõe pela
atmosférica, altitudes e para indicar de antemão as ação de seres vivos.
variações prováveis do tempo. Biodetrítico Substrato composto por fragmentos
Barra Ver Bar. de origem biológica, como restos de conchas de
Barreira Nome atribuído a uma unidade moluscos.
litoestratigráfica de sedimentação em ambiente Biodiversidade (1) Variedade e variabilidade dos
continental, composto de argilas variegadas e lentes organismos considerados em todos os níveis,
arenosas localmente conglomeráticas. Sin. Formação. incluindo o número de espécies, diversidade
Barreira Ecológica Conjunto de mecanismos ou genética, arranjados em níveis taxonômicos bem
processos que impedem o fluxo gênico. como os ecossistemas em que habitam as
Barreira Geográfica Qualquer acidente comunidades dos organismos e as condições físicas
geográfico que impede o fluxo gênico. onde eles vivem; (2) Totalidade da diversidade
Barriga do Cabo Ver Catenária. biológica; (3) Condição de haver diferenças em
Basalto Rocha ígnea resultante do resfriamento relação a uma característica. Sin. Riqueza de Espécies;
rápido e em superfície de silicatos em fusão (magma). Diversidade.
Bate-estaca Equipamento usado para cravação de Biofilm Película ou cobertura na superfície de um
estacas. substrato em ambientes aquáticos composto por
Batimetria Ato de medição ou informações microorganismos como bactérias, protozoa e algas.
derivadas das medidas de profundidade da água em Sin. Film.
oceanos, mares rios e lagos, geralmente usando Biogeografia Estudo dos organismos vivos em
sistemas acústicos de baixa frequência. relação a sua distribuição geográfica.
Batimétrica Determinação do relevo do fundo Biologia A ciência da vida, o estudo de organismos
em oceanos, mares rios e lagos. vivos e os seus sistemas.
Batuíras Aves migrantes de pequeno porte que Biologia Marinha Ver Oceanografia Biológica.
fazem seus ninhos no hemisfério Norte, na tundra Biomassa Massa total composta de organismos
ártica (no Canadá e Groenlândia); permanecem vivos, geralmente expressa em peso, úmida ou seca,

414 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

por unidade de área (m²) ou de volume (m³) em um e dobrado por baixo do cefalotórax. São
determinado momento. vulgarmente conhecidos como caranguejos e siris.
Biópsia Retirada de material celular ou de um Busca e Salvamento (SAR) Divisão das Forças
fragmento de tecido de um ser vivo para Armadas Brasileiras responsável pela procura e o
determinação de um diagnóstico. salvamento de pessoas que estão em perigo ou perigo
Biosfera (1) Conjunto de todas as partes da Terra iminente.
onde é possível, pelo menos a algumas espécies de Busca-Fundo Equipamento utilizado para
organismos, viverem permanentemente, amostrar sedimento e organismos bentônicos
alimentarem-se e se reproduzirem; (2) Conjunto de infaunais. Sin. Pegador de fundo.
todos os ecossistemas do Planeta. Bússola Instrumento para determinar direções sobre
Biota Conjunto de seres vivos animais e vegetais de a superfície terrestre, mediante uma agulha
um ecossistema ou de uma área. magnética livremente suspensa sobre um ponto de
Biótico Ver Meio Biótico. apoio, dentro de uma caixa, e cujas pontas estão
Bioturbação Perturbação de sedimentos por permanentemente voltadas para os polos magnéticos
organismos que perfuram e constroem tubos ou da Terra. Sin. Agulha de Marear.
revolvem os detritos, causando a destruição parcial Byte (1) Conjunto de oito bits; cada byte corresponde
ou total das estruturas sedimentares primárias como, a um caractere gráfico (letra, número, sinal de
por exemplo, a estratificação. pontuação, acentuação, entre outros.); (2). Unidade
Bit Menor unidade de dados em um computador; de quantidade de informações usada na especificação
um bit tem um valor único binário. da capacidade de memória de computadores,
Bitola (1) Distância entre dois eixos; (2) Medida tamanho de arquivos, por exemplo, geralmente na
do diâmetro de uma barra cilíndrica. forma de seus múltiplos: kilobyte, megabyte e gigabyte.
Bivalvia (Bivalvo) Classe de organismos, em sua
maioria marinhos do Filo Mollusca, que se
caracterizam pela presença de uma concha
carbonatada formada por duas valvas.
C
Boca (1) Largura máxima de uma embarcação, Cabo de Aço Conjunto de pernas dispostas em
normalmente medida sobre o través; (2) Em forma de hélice, podendo ou não ter uma alma de
equipamento de coleta, é a parte anterior por onde material metálico ou de fibra.
penetram os organismos. Cabo de Aço Galvanizado Constituído por
Bochecha Setor de uma embarcação localizado arames galvanizados na bitola final (sem retrefilação
entre a proa e o través. posterior) ou em uma bitola intermediária e
Boletim Meteorológico Contém a previsão do retrefilados posteriormente.
tempo. Cabo de Aço Polido Constituído por arames de
Bombeamento Ação de bombear. aço sem qualquer revestimento.
Bombordo Área de uma embarcação localizada à Cabo Pré-formado Constituído de pernas, nas
esquerda dessa, quando olhando da popa em direção quais a forma helicoidal é dada antes do fechamento
à proa. Sin. Babor. do cabo.
Bordo Parte resultante da divisão de uma Cabo Real Utilizado para rebocar uma rede ou um
embarcação por uma linha imaginária que une a equipamento, cujo comprimento total lançado está
proa e a popa. relacionado com a profundidade da amostra.
Boreste Área de uma embarcação localizado à Cabos Compostos com Arames de Diâmetro
direita, quando olhado da popa em direção à proa. Diferentes Designação utilizada para indicar que
Sin. Estibordo. na composição das pernas existem arames com
Bote Embarcação costeira com menos de 10 metros diâmetros diferentes; as composições mais
de comprimento, com, no máximo, um mastro e conhecidas são Seale, Filler e Warrington.
sem cobertura. Cabos Compostos com Arames de Mesmo
Box Corer Equipamento utilizado para amostrar Diâmetro Designação utilizada para indicar que,
uma porção conhecida de sedimento. Sin. Caixa na composição das pernas, os diâmetros são
Coletora. aproximadamente iguais. O processo de fabricação
Brachyura (Braquiúro) Infraordem dos desse cabo envolve normalmente uma ou mais
crustáceos decápodos, caracterizada por terem o operações de fechamento da perna.
corpo totalmente protegido por uma carapaça, cinco Cadeia Alimentar Sequência de seres vivos, na
pares de patas, sendo o primeiro normalmente qual um serve de alimento para o seguinte. Sin.
transformado em fortes pinças; o abdome é reduzido Cadeia ou Rede Trófica, Rede Alimentar.

GLOSSÁRIO 415
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Cadeia Trófica Ver Cadeia Alimentar. de arraste da água no cabo, a catenária é um fator
Caixa Coletora Ver Box Corer. complicante significativo para definição da distância
Calado Distância vertical entre a superfície da água horizontal entre o equipamento de amostragem e o
e a parte mais baixa de uma embarcação no ponto bloco de reboque. Sin. Barriga do Cabo.
considerado. Caturro Balanço do navio no sentido de proa para
Camada de Ozônio Faixa da atmosfera (15-30 km) popa, ou seja, no sentido longitudinal da embarcação.
localizada na troposfera, com alta ocorrência de reações Cefalotórax Parte do corpo de um crustáceo que
das moléculas de oxigênio com os fótons da radiação agrupa a cabeça e o tórax, em geral, coberto por
ultravioleta (UV) do Sol, gerando uma concentração uma carapaça.
de ozônio acima daquela no nível do solo. Célula Menor porção viva dos seres vivos.
Camada Superficial Porção do oceano desde a Censo Ver Abundância Absoluta.
superfície em direção ao fundo, acima da qual o Cerda (1) Estrutura com uma base flexível de
oceano é homogêneo devido à ação do vento. origem epidérmica, que auxilia na locomoção de
Canal Um dos dois ou mais sinais em um sistema organismos; (2) Fibra natural ou sintética usada em
de multissinal; a área no monitor ou gravador de escovas, pincéis, entre outros aparelhos.
dados do sonar, onde esse sinal é mostrado. Cetacea (Cetáceo) Ordem de alguns mamíferos
Capear (1) Manter a embarcação em posição, com marinhos, que inclui baleias, botos e golfinhos,
pouca velocidade, com a proa chegada ao vento e adaptados à vida aquática, que têm os membros
ao mar, para aguentar o mau tempo, com pouco anteriores transformados em nadadeiras.
segmento; (2) Executar um conjunto de manobras Chaetognatha (Quetognato) Filo de organismos
que permita à embarcação resistir a um temporal. holoplanctônicos em forma de um torpedo ou uma
Captura Fração de um total de organismos que é flecha. Conhecido vulgarmente como verme-flecha.
coletado por um equipamento. Charneira (1) Parte que une as valvas de uma
Captura por Unidade de Esforço (CPUE) concha; (2) Dobradiça.
Índice que relaciona a captura pela unidade de Chefe Cozinheiro de uma embarcação.
esforço de pesca ou amostral, utilizado para obter Chefe Científico Responsável por um cruzeiro de
estimativas da abundância relativa das espécies. pesquisa.
Carapaça Cobertura óssea, córnea ou quitinosa Chumbo Metal pesado, de efeitos tóxicos, por ser
que, como um escudo, protege o dorso ou parte do contaminante cumulativo.
dorso de um animal. Ciclo Biogeoquímico Sequência de processo
Carbono Elemento químico, metalóide, através do qual qualquer elemento químico é
encontrado na natureza em substâncias gasosas, transferido periodicamente entre componentes
minerais ou orgânicas. bióticos e abióticos ou compartimentos ambientais.
Carga Orgânica Quantidade de matéria orgânica Ciclo de Nutrientes Padrão de transferência de
transportada ou lançada num corpo receptor, ou nutrientes entre os componentes de uma cadeia
sistema de tratamento de águas residuárias. alimentar.
Caridea (Carídeo) Infraordem de pequenos Ciclo de Vida (1) Todas as fases e estágios através
camarões pertencentes aos crustáceos decápodos, dos quais os organismos passam durante o seu
de água doce ou salgada, que têm cuidado parental desenvolvimento; (2) Sequência de eventos desde
com seus ovos. o nascimento até a morte de um organismo.
Carregadeira Cabo localizado na parte inferior Ciclone Circulação atmosférica típica de centros
da rede de cerco que permite fechar a rede impedindo de baixas pressões, com circulação no sentido
a fuga dos peixes por baixo. horário, para o hemisfério Sul, frequentemente
Carta Náutica Representação em dois planos de responsável por eventos de precipitação de violenta
uma parte da Terra utilizada como instrumento de tempestade, caracterizada por ventos em forma de
trabalho em navegação que permite o cálculo de turbilhão e fortes chuvas. Sin. Sistemas Frontais.
posicionamentos, rumos, direções e distâncias. Ciclone Extratropical Qualquer ciclone de
Carta Sinótica Identifica o posicionamento dos origem não tropical, geralmente associado às frentes
centros de alta e baixa pressão, dos sistemas frontais, frias e encontrado nas médias e altas latitudes –
dos ciclones extratropicais e as tendências de tempo estas descritas como “depressões” ou “baixas”,
observadas na superfície, auxiliando na previsão das trazem nebulosidade, chuvas leves e até fortes
condições do tempo. Pode ser enviada para temporais.
embarcações por aparelhos de Fax ou pela Internet. Ciclone Tropical Sistema tempestuoso de baixa
Catenária Formato curvo do cabo de reboque que pressão, de núcleo quente, que se desenvolve sobre
se desloca na água. Tipicamente induzido pelas forças águas tropicais; nas vezes em que ocorre em águas

416 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

subtropicais, se caracteriza por trovoadas e por um na vertical, expresso como uma relação entre uma
núcleo morno, que produz ventos fortes e chuvas das diagonais e o lado da malha. Esse coeficiente
torrenciais. representa o percentual de abertura da malha na
Ciência Interdisciplinar Comum a duas ou mais direção considerada, tendo-se como 100% a malha
disciplinas ou ramos de conhecimento. completamente esticada nessa direção.
Ciência Multidisciplinar Que aborda várias Coeficiente de Entralhamento Fração decimal
disciplinas. resultante de dividir o comprimento da tralha pelo
Científico Relativo à ciência; conduzido ou comprimento do pano de rede que vai sustentar,
preparado estritamente de acordo com os princípios sendo este último o produto da dimensão da malha
e práticas das ciências exatas. esticada multiplicado pelo número de malhas em
Circulação Movimento ou fluxo de massas de água uma fila reta. Assim, o coeficiente de entralhamento
nos oceanos ou de massas de ar na atmosfera. é uma medida que permite definir o grau de abertura
Circulação Atmosférica Circulação do ar gerada que as malhas devem ter quando a rede estiver em
por diferenças de pressão, temperatura ou densidade. operação; nas plantas, esse coeficiente é indicado
Circulação Marinha Circulação ou movimento pela letra E.
de massas de água resultante de densidades Coleta Ver Amostra.
diferentes. A temperatura e a salinidade são os Colete Salva-vidas Principal equipamento
principais contribuintes para a densidade das massas individual de salvatagem, obrigatório para todas as
de água. Sin. Circulação Oceânica. classes na navegação em mar aberto.
Circulação Oceânica Ver Circulação Marinha. Coletor Ver Amostrador.
Cirripedia (Cirripédio) Crustáceo bentônico séssil Coluna de água Coluna vertical de água no oceano
que inicia sua vida como uma larva meroplanctônica ou lago, que se estende desde a superfície até o
e que, após sofrer uma metamorfose, assenta-se fundo.
permanentemente numa superfície. Vulgarmente Comandante Autoridade máxima de uma
conhecido como Craca. Sin. Balanus. embarcação.
Cladocera (Cladócero) Classe de pequenos Comedor de Depósito Organismo que obtém
crustáceos normalmente planctônicos, comuns em alimento consumindo frações de sedimentos
águas dos rios e lagos. Vulgarmente conhecidos inconsolidados.
como Pulga d’água. Comedor de Detritos Ver Detritívoro.
Classe de Comprimento Intervalo de tamanho Compasso Instrumento formado por duas hastes
utilizado em estudos de dinâmica de população para articuladas no vértice, que serve para traçar curvas
descrever classes etárias. regulares, medir distância entre dois pontos na carta
Classe de Incêndio Em função do material em náutica ou determinar as coordenadas geográficas
combustão e do estágio em que se encontra o de um ponto.
incêndio, possibilita a identificação do tipo do Complexo Convectivo de Mesoescala (CCM)
incêndio em uma das cinco classes: A, B, C, D e K. Definido por características observadas em imagens
Classe Etária Método utilizado em estudos de de satélite, são sistemas de longa duração, noturnos
dinâmica de população para determinar um processo e, normalmente, contêm chuvas torrenciais, ventos,
de recrutamento. granizo, relâmpagos e possivelmente até tornados.
Clima Conjunto de condições atmosféricas que Composição dos Cabos Maneira como os arames
caracteriza uma região. estão dispostos nas pernas.
Clinômetro (1) Instrumento para medir as Comprimento Extensão de um objeto considerado
inclinações de um plano em relação ao horizonte; na sua maior dimensão; a unidade padrão é o metro,
(2) Em Navegação, é o instrumento destinado a representado por m.
medir a inclinação da quilha de uma embarcação, da Comprimento da Carapaça Extensão demarcada
proa à popa. Sin. Inclinômetro. pela medida do ângulo orbital até a extremidade
Clorofila Substância corante verde das plantas, mediana dorsal posterior de um camarão.
essencial para realização da fotossíntese. Comprimento de Cabo Extensão total de cabo
Cobertura (1) Em Hidroacústica, área descrita pela utilizada para realizar uma amostragem.
largura da faixa de fundo coberta pelo sonar de Comprimento de Onda Distância horizontal entre
varredura lateral e pela distância percorrida pela qualquer ponto de uma onda e o ponto
embarcação em sua rota; (2) Também corresponde correspondente da próxima onda.
à repetição de levantamento de uma área. Comprimento de Pulso Tempo de transmissão
Coeficiente de Abertura da Malha Valor da de um pulso por parte do sonar, geralmente expresso
abertura da malha, tanto na direção horizontal como em milissegundos. Comprimento de pulso mais

GLOSSÁRIO 417
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
longo permite maior poder de deslocamento na água Core Núcleo do cabo de aço que pode ter diversas
em detrimento da resolução. construções; entre elas, as mais conhecidas são:
Comprimento do Abdome Extensão demarcada núcleo de fibra, núcleo de arame e núcleo de plástico.
pela medida da porção anterior do primeiro somito Cormorão Aves da família Phalacrocoracidae. De
abdominal à extremidade do telso de um camarão. origem tropical, parecem mal-adaptados ao clima
Comprimento Total Extensão demarcada pela ártico: sua plumagem retém água e seu isolamento
medida da extremidade do rostro à extremidade do térmico é limitado; presente em todos os
telso de um camarão. continentes, sobretudo nas regiões costeiras, mas
Comunidade Conjunto de populações que também nas interiores, essa família agrega cerca de
coabitam e interagem em um determinado habitat, 30 espécies; alimenta-se de peixes vivos capturados
diferindo por critérios funcionais, taxonômicos ou durante rápidos mergulhos.
estruturais. Correção Em Hidroacústica, processo de
Concentração Razão entre a quantidade ou a massa eliminação de erros causados por velocidade,
de uma substância e o volume do solvente em que amplitude de inclinação ou outras distorções no
esse composto se encontra dissolvido. sonar. A maioria dos sistemas de sonar permite a
Conservação Conceito amplo, que pode ser eliminação de erros de dados ou distorções de forma
pensado como termo que abrange pelo menos três simples e automática.
ideias: preservação, proteção e manutenção. Corrente (1) Em Física, movimentação horizontal
Concha (1) Exosqueleto, em geral, composto por de massas de água, determinada por diferenças de
carbonato de cálcio (CaCO 3 ), de alguns densidade, efeito de atração gravitacional, oscilações
invertebrados, tais como os moluscos; (2) Parte de do nível do mar, marés ou ventos; (2) Em
equipamentos oceanográficos. Ver Pá. Navegação, uma série de elos, em geral, de ferro,
Condução Processo de transmissão de calor em entrelaçados um com o outro, de modo a moverem-
que a energia térmica passa de um local para outro se livremente formando um ligamento flexível; usada
através das partículas do meio que os separa. principalmente para suspensão e tração.
Conductivity, Temperature and Depth (CTD) Corrente das Malvinas (das Falkland) Corrente
Instrumento-padrão utilizado em Oceanografia oceânica originada como um braço da Corrente
Física para a obtenção de perfis verticais de Circumpolar Antártica com direção sul-norte ao
condutividade (salinidade) e temperatura. longo do litoral argentino. Em torno da latitude
Condutividade Capacidade de condução de 35°S encontra-se com a Corrente do Brasil, as duas
eletricidade por uma solução. voltam-se para o leste e cruzam o oceano como a
Consolidado Substrato duro formado por rochas; Corrente do Atlântico Sul.
costões. Corrente de Maré Movimento horizontal
Construção Termo genérico usado em tecnologia alternativo de água gerado pela variação regular das
pesqueira para indicar o número de pernas, de arames marés.
de cada perna, a disposição e o tipo de alma. Corrente do Atlântico Sul Encontro das correntes
Convecção Movimento de massas de fluido, do Brasil e das Malvinas, em torno da latitude 35ºS.
trocando de posição entre si. Corrente do Brasil Corrente oceânica de águas
Convergência Subtropical Região de mistura da quentes com direção norte-sul ao longo do litoral
Água Tropical (AT) e da Água Subantártica (ASA), brasileiro. Em torno da latitude de 35 °S encontra a
resultando a Água Central do Atlântico Sul (ACAS). Corrente das Malvinas, as duas voltam-se para o
Convés Estrutura horizontal que forma o teto do leste e cruzam o oceano como a Corrente do
casco de uma embarcação, que serve como sua área Atlântico Sul.
principal de trabalho. Correntômetro Instrumento para medir a direção
Coorte Grupo ou grupos de organismos definidos e a velocidade das correntes.
com base na presença ou ausência de um ou mais Corrosão Desgaste ou modificação química ou
atributos e seguidos através de um período estrutural de um material, provocado pela ação de
estabelecido de tempo. agentes do meio ambiente.
Copepoda (Copépodo) Subclasse dos Crustáceos, Costa Faixa de terra de largura variável, que se
em sua maioria planctônicos, microscópicos ou estende da linha de praia para o interior do continente
muito pequenos; alguns são parasitos. Sin. Copépode. até as primeiras mudanças significativas nas feições
Cordão Litorâneo Feição sedimentar alongada, fisiográficas.
em geral, de composição arenosa ou, por vezes, Covo Equipamento de pesca usado como armadilha
cascalhosa ou conchífera, disposta paralelamente a a fim de confinar animais aquáticos num
paleolinhas praiais e separadas entre si por depressões. compartimento com livre acesso e de difícil retorno.

418 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Craca Ver Cirripedia. Decomposição Transformação de um material


Crista de Onda Porção mais superior da onda. complexo em substâncias mais simples, por meios
Crosta Terrestre Camada mais externa do planeta químicos ou bioquímicos.
e é a parte superior da litosfera, com uma espessura Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) (1)
variável de 5 a 70 km. Quantidade de oxigênio requerida na oxidação
Crustacea (Crustáceo) Invertebrados, em sua bioquímica da matéria orgânicaexistente na água, o
maioria animais do Filo Arthropoda, bastante qual se processa pela ação de bactérias que
numeroso e diversificado com mais de 50.000 estabilizam essa matéria orgânica, em condições
espécies descritas. A maioria dos crustáceos são aeróbicas, num determinado período de tempo, a
organismos marinhos, como os camarões, os certa temperatura e sob condições específicas; (2)
copépodos, o krill e as cracas. Tecnologia que consiste na injeção de oxigênio puro
Cruzeiro Científico Período de tempo em que em sistemas de tratamento de efluentes biológicos.
uma embarcação realiza amostras para um projeto Demanda Química de Oxigênio (DQO)
de pesquisa. Quantidade de oxigênio consumido na oxidação
Cruzeiro-piloto Período de tempo anterior ao química da matéria orgânica existente na água,
Cruzeiro Científico, em que uma embarcação realiza medida em teste específico. Não apresenta
testes de equipamentos e instrumentos de necessariamente correlação com a DBO. É expressa
amostragem. Sin. Saída-piloto. em miligramas de oxigênio por litro de água. Usada
Cunha Salina Intrusão de água salgada do mar, geralmente como indicadora do grau de poluição de
em forma de cunha, dentro de um estuário ou de um corpo de água, de uma água residuária ou do
um rio. efluente do seu tratamento.
Curva Batimétrica Resultante da união dos pontos Demersal Organismo que permanece no fundo
com igual profundidade de um corpo de água. marinho, mas nada e se alimenta na coluna de água.
Curva de Butakoff Manobra de salvamento em Densidade (1) Abundância de organismos por
que o bote desvia 60º do rumo inicial; recomendada unidade de área ou volume; (2) Relação entre a
para os casos em que o náufrago não está à vista. massa e o volume de um corpo.
Curva de Captura Gráfico logarítmico do número Depleção Redução de qualquer matéria ou
coletado de organismos de diferentes idades ou elemento armazenado em um corpo ou líquido.
tamanhos. Depressor Peso inerte que, conectado ao cabo de
Curva T-S Ver Diagrama T-S. reboque, serve para aumentar a profundidade do
Custo Operativo Valor necessário para operação instrumento ou equipamento de amostra. Sin. Lastro.
de uma embarcação. Depuração Natural Ver Autodepuração.
Cyanobacteria (Cianobactéria) Filo de Derrota Ver Rota.
organismos aquáticos procariontes e fotossintéticos, Descontinuidade Alteração dos parâmetros de
em forma de filamento, denominados “algas azuis”, um corpo de água, que provoca mudança na
formando capas de matéria verde-azulada em águas velocidade ou na direção da propagação do som;
paradas e eutróficas. por exemplo: termoclina e mudanças de salinidade.
Desenho Amostral Importante item do planejamento
de um cruzeiro científico: deve ser levada em
D consideração uma série de questões, que vão desde o
objetivo do estudo até o tipo de amostrador.
Desenvolvimento Em Biologia, diferenciação
Dado Abiótico Informação amostrada do meio morfológica e o crescimento em tamanho e volume
ambiente. dos seres vivos através das fases e estágios do seu
Dado Biótico Informação amostrada de seres vivos. ciclo de vida.
Decapoda (Decápodo) Ordem dos crustáceos Desova Liberação de óvulos ou ovos pela fêmea.
que, em sua maioria, possui cinco pares de patas Destorcedor Peça, em geral, de aço inox ou ferro
caminhantes, incluindo os camarões, caranguejos, inoxidável, que se aplica em cabos ou linhas de
ermitões e lagostas. Sin. Decápode. pesca para evitar a torção.
Decápode Ver Decapoda. Detrítico Composto por fragmentos minerais,
Decibel Unidade utilizada para expressar a rochas ou restos orgânicos (conchas), transportados
intensidade de uma onda sonora. da área fonte até a bacia sedimentar.
Declinação Magnética Diferença angular entre Detritívoro Organismo que se alimenta de frações
o norte magnético e o norte geográfico/verdadeiro. ou partículas de matéria orgânica retiradas do
Declive Inclinação de terreno. interior ou sobre o substrato. Sin. Comedor de Detritos.

GLOSSÁRIO 419
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Deutsche Industrien Nor men (Padrão de Distribuição Espacial Arranjo dos organismos
Normas Industriais da Alemanha) Padrão de normas numa determinada área.
industriais utilizado no segmento de engenharia em Distribuição Uniforme Padrão de dispersão de
vários países, inclusive no Brasil. uma população com valor menor do que 1.
Diagrama de Temperatura e Salinidade Distúrbio Alteração dos fatores bióticos ou
Gráfico com temperatura como ordenada e abióticos de um ecossistema ameaçando sua
salinidade como abscissa, em que os pontos organização.
observados em uma série de estações oceanográficas Diurno (1) Que ocorre durante o dia; (2)
são juntados por uma curva. Sin. Curva T-S. Organismos com atividade somente durante o dia.
Diagrama T- S Diagrama de Temperatura e Diversidade Ver Biodiversidade.
Salinidade. Drag Forças hidrodinâmicas exercidas sobre os
Diatomácea Classe de algas unicelulares ou como componentes de um conjunto sendo rebocado e
cadeia de células microscópicas e planctônicas com que tendem a reduzir o seu movimento. O arrasto
parede de sílica; são importante parte da cadeia sobre o cabo é o fator de maior influência quando
trófica, como produtores primários. se trabalha em colunas de água com centenas ou
Dieta Itens que integram a alimentação de um milhares de metros.
organismo. Draga Equipamento de arrasto utilizado para
Dinoflagelado Divisão Pyrrophyta, segundo os amostrar sedimento e organismos bentônicos.
botânicos, ou Filo Dinoflagellata, para os Dragagem (1) Método de amostragem de fundo;
protozoologistas, são um grande grupo de (2) Método de exploração de recursos minerais;
protozoários flagelados. A maior parte das espécies (3) Método de aprofundamento de vias de
pertence ao fitoplâncton marinho, mas são também navegação (rios, baías, estuários, entre outros) ou
comuns em água doce. de zonas pantanosas, por escavação e remoção de
Direção Contra os Nós Aquela em que, ao aplicar materiais sólidos de fundos subaquosos.
a força de tração, tende a afrouxar os nós. Drenagem (1) Ato ou efeito de drenar;
Direção dos Nós Aquela em que, ao aplicar a (2) Conjunto de operações em instalações destinadas
força de tração, aperta os nós. a remover sedimento.
Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) Duração de Pulso Tempo, em milissegundos,
Divisão da Marinha do Brasil responsável por estudos transcorrido durante o disparo de um pulso acústico.
hidrográficos e oceanográficos feitos pela Marinha
na costa brasileira.
Dispersão (1) Em Ecologia, locomoção, voluntária
ou involuntária, vantajosa para os organismos desde
E
a sua área de origem e o seu retorno a essa área ou Echinoder mata (Equinodermo) Filo de
para ocupar novas áreas; (2) Em Estatística, padrão invertebrados marinhos, geralmente com simetria
espacial de distribuição de organismos ou penta radiada, cujo corpo é coberto por uma delicada
populações; (3) Em Hidroacústica, difusão do sinal epiderme ciliada, envolvendo um esqueleto
de sonar em muitas direções através de refração, constituído por placas calcárias fixas ou móveis.
difração e reflexão, principalmente devido às Suas larvas têm simetria bilateral. São incluídos nesse
propriedades do material das áreas insonificadas. grupo a estrela-do-mar, o dólar-do-mar, o ouriço-
Dissolução (1) Ato ou efeito de dissolver; (2) do-mar e o pepino-do-mar.
Decomposição de um organismo pela separação dos Eco Retorno de som, que chega pouco tempo
elementos constituintes. depois de o som localizar os alvos na coluna de
Distribuição (1) Arranjo dos organismos de uma água.
população; (2) Área ou amplitude geográfica de Ecobatímetro Ver Ecossonda.
ocorrência de uma espécie ou população. Ecograma Gráfico que registra a configuração do
Distribuição Agrupada Padrão de dispersão de fundo oceânico, medindo-se continuamente as
uma população com valor maior do que 1. profundidades de água ao longo de um perfil com
Distribuição ao Azar Padrão de dispersão de uma um ecobatímetro.
população com valor igual a 1. Ecologia Ciência que estuda as relações entre os
Distribuição de Frequência (1) Agrupamento seres vivos e o meio ambiente em que vivem, bem
de dados em classe, cada uma com a frequência de como as suas recíprocas influências.
ocorrência; (2) Distribuição da percentagem do Ecologia Marinha Estudo da fauna e da flora
número total de espécies de uma amostra em classes dos oceanos e suas interações com o ambiente.
de frequência.

420 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Ecossistema Unidade ecológica composta pelos Época do Ano Ver Estação do Ano.
organismos, populações ou comunidades, além dos Equipamento Aparelho utilizado para realizar um
fatores abióticos (físicos e químicos) que influem trabalho em particular como, por exemplo, amostra
no ambiente. de organismos.
Ecossonda Instrumento que utiliza a propagação Escala (1) Relação entre dimensões reais e as
do som no plano vertical, útil para a detecção e representadas graficamente; (2) Nível de resolução
localização de objetos na coluna de água abaixo da espacial percebido ou considerado; (3) Instrumento
embarcação. Sin. Ecobatímetro. que consiste em uma tira de madeira, metal ou
Eficiência Capacidade de produzir um efeito. material plástico com uma ou mais séries de
Efluente Substância líquida, sólida ou gasosa graduações numeradas, usado para medir distâncias
descarregada em um sistema devido a processo ou dimensões; (4) Graduações de certos
doméstico, industrial ou lagoa de estabilização. instrumentos, como termômetros e barômetros, por
Eh Ver Potencial Redox. onde se leem as suas indicações.
Elasmobranchii (Elasmobrânquio) Classe de Escala Beaufort Escala-padrão do Comitê
vertebrados marinhos cujo endoesqueleto é Meteorológico Internacional, para calcular e
composto de cartilagem com um par de barbatanas informar a velocidade do vento, um termo descritivo
e uma mandíbula inferior. São incluídos nesse grupo para o efeito e os efeitos visíveis sobre as superfícies
os tubarões e as raias. da terra ou do mar.
Embarcação (1) Construção que flutua, utilizada Escala de Comprimento (1) Razão constante
para o transporte, pela água, de pessoas, animais ou entre qualquer medida do comprimento em um
qualquer outra carga; (2) Construção que flutua, desenho e a medida correspondente no objeto real
utilizada em estudos na área de Oceanografia, para representado pelo desenho, ambas tomadas na
o transporte de pessoas que realizam amostragens mesma unidade de medida; (2) Uma das aplicações
com equipamentos e instrumentos. da razão entre duas grandezas de mesma espécie.
Emergency Position-Indicating Radio Escala Espacial Dimensão geográfica dos
Beacons (EPIRB) Equipamento de transmissão processos.
de localização, usado em situações de emergência; Escala Gráfica Representação gráfica de várias
auxilia em situações de naufrágio ou outros distâncias sobre uma linha reta graduada, que
acidentes, ao enviar sinais intermitentes, com dados permite realizar as transformações de dimensões
que possibilitam a localização das pessoas ou gráficas em dimensões reais sem efetuar cálculos.
embarcações que necessitam de resgate. Escala Granulométrica Escala para classificação
Encala Distância fixa no entralhamento de uma de sedimentos clásticos (ou detríticos).
rede de pesca: a cada encala coloca-se um número Escala Prática de Salinidade (S) (1) Medida de
determinado de malhas, que será responsável pela razão da salinidade contida na água do mar, baseada
forma de armação da rede. na condutividade elétrica de referência da água
Energia (1) Capacidade dos corpos para produzir marinha, que vem a ser um composto de referência
um trabalho ou desenvolver uma força; (2) Modo de água do mar diluída com salinidade conhecida
como se exerce uma força. do Atlântico Norte; (2) Razão de condutividade
Enseada Setor côncavo do litoral, delineando uma (K15) que é igual à razão da condutividade de uma
baía muito aberta, em forma de meia-lua. A enseada amostra de água do mar e a de uma solução de KCl
desenvolve-se frequentemente entre dois cuja concentração é igual a 32,4356 g por kg solução,
promontórios e penetra muito pouco na costa. Sin. estando ambas as soluções a 15°C e pressão
Baía Aberta. atmosférica (P = 1 atm). O valor K15 = 1
Entrada Analógica Interfaces de hardware que corresponde, por definição, ao valor exatamente
não aceitam sinais digitais. Sin. Analog Inputs. igual a S = 35. É baseada na água do mar-padrão.
Entralhamento Procedimento de unir uma Escala Temporal Relativo à duração dos
panagem às respectivas tralhas na construção de processos.
uma arte de pesca. Escape Organismos que não são coletados.
Entralho Fio que prende a panagem às tralhas nas Esforço de Pesca (1) Total de equipamentos de
artes de pesca com redes. amostragem por um período específico de tempo;
Eólica Energia que tem o vento como agente. (2) Quantidade de operações ou de tempo de
Epifauna Fauna ou flora bentônica que vive à operação das artes de pesca em uma determinada
superfície do substrato. pescaria, durante um período determinado.
Epitoquia Fenômeno reprodutivo característico Esfriamento Ato ou efeito de esfriar;
de muitos poliquetas. arrefecimento, refrigeração.

GLOSSÁRIO 421
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Esgoto Ver Água Residuária. Estatocisto Órgão de equilíbrio dos invertebrados.
Eslora Comprimento total de uma embarcação, Esteno Prefixo para amplitude estreita de
entendido como a distância entre a proa e a popa. tolerância.
Espécie (1) Conjunto de organismos semelhantes Estenohalino Usado para definir organismos que
entre si e os seus ancestrais, que se entrecruzam habitam águas que estão sujeitas a pequenas
originando descendentes férteis; (2) Em sistemática, variações de salinidade.
é a unidade básica da classificação. Estibordo Ver Boreste.
Espécie Dominante Aquela que predomina em Estoque Parte de uma população, em geral, com
uma comunidade devido à sua abundância, um padrão particular de migração.
biomassa, tamanho ou cobertura. Estratégia (1) Plano, método ou estrutura utilizada
Espécie Filtradora Aquela que se utiliza de por um organismo ou grupo de organismos para
filtração para recolher partículas ou conseguir uma condição em especial; (2) Plano ou
microorganismos suspensos na água. Sin. Filtrador. método utilizado para realizar uma amostragem.
Espécie Indicadora (1) Aquela usada como Estratificação (1) Separação – em camadas ou
indicadora de atividade física, química, biológica ou estratos – de qualquer formação natural ou artificial
da composição de um ecossistema; (2) Aquela que que se encontrava em forma homogênea; (2)
vive exclusiva ou preferencialmente em um ambiente Estruturação vertical de uma comunidade ou um
sendo, portanto, capaz de caracterizar as propriedades habitat com camadas horizontais sobrepostas; (3)
físicas e químicas desse ambiente. Sin Indicador Biológico. Agrupamento de organismos de uma comunidade
Espécie Migratória Aquela que é registrada ou habitat em classes de peso.
regularmente apenas em determinada estação do Estratificação Aquática Estruturação da
ano em uma área. densidade vertical resultante do balanço entre o
Espécie Residente Aquela que é registrada calor da atmosfera, troca da água superficial, frio,
durante todo o ano em sua área normal de atividade e difusão do calor, e os movimentos
distribuição. horizontal (advecção) e vertical das águas com
Espécie Vagante Aquela que é registrada diferentes características de temperatura e
raramente fora de sua área normal de distribuição. salinidade.
Espécime Organismo de uma espécie tomado como Estratificação Bentônica Presença de diferentes
amostra. espécies da infauna nos seus respectivos níveis
Espermatozóide Célula germinativa masculina abaixo da interface sedimento-água.
dos animais. Estratificação Sedimentar Estrutura dos
Espinhel Equipamento de pesca, que usa anzóis sedimentos, caracterizada por lâminas paralelas, ou
de forma agrupada; uma série de anzóis é colocada não, horizontais ou inclinadas, evidenciadas por
ao longo de uma linha horizontal ou vertical. aspectos texturais, mineralógicos, coloração e outros,
Espinho Estrutura fixa, de origem epidérmica, com dentro de processo deposicional.
a função protetora de organismos. Estratosfera Região da atmosfera terrestre onde
Esporos Estruturas produzidas por fungos e ocorre a difusão mais acentuada da radiação solar;
algumas bactérias, que tem a finalidade de resistir a seu topo se estende entre 60 a 70 km acima da
condições ambientais extremas e reproduzir, superfície. Tem como característica a ausência de
germinando e criando um novo organismo. fenômenos meteorológicos.
Estação de Amostragem Local onde é realizada Estresse Qualquer fator ambiental que restrinja o
a amostra de um ou de vários parâmetros e dados. crescimento ou a reprodução de um organismo ou
Sin. Ponto de amostragem. população ou que potencialmente cause uma
Estação do Ano Cada uma das quatro partes mudança adversa em um organismo.
(primavera, verão, outono e inverno) em que o ano Estresse Ambiental Qualquer fator que atue para
está dividido. Sin. Época do ano. perturbar o equilíbrio de um ecossistema.
Estacional Ver Sazonal. Estuarino (1) Pertencente a um estuário; (2) Usado
Estacionalidade Ver Sazonalidade. para definir uma espécie, população ou comunidade
Estágio No desenvolvimento dos crustáceos é a que habita áreas que suportam grandes variações de
denominação dada para períodos, depois de uma salinidade causadas pela mistura da água doce e
muda, em que um organismo irá apresentar apenas marinha.
algumas pequenas modificações na morfologia e Estuário Corpo de água costeira, semifechado, que
nenhuma diferença no comportamento. Os estágios tem uma conexão com mar aberto, sendo
do desenvolvimento pertencem a uma mesma fase influenciado pela ação da maré e dos ventos; no seu
do desenvolvimento. interior, a água do mar é misturada com a água doce

422 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

proveniente de drenagem terrestre produzindo um Extinção Termo empregado para designar o


gradiente de salinidade com flutuações cíclicas. desaparecimento de uma espécie.
Ether net Tecnologia de interconexão de Extrapolação Método matemático que permite
computadores em redes de alta velocidade, a qual encontrar o valor de uma função num ponto fora
define os tipos de cabos, conectores, sinais elétricos da zona conhecida.
e ópticos e os protocolos de comunicação; foi
padronizada pelo IEEE como 802.3.
Etiqueta Pequeno pedaço de papel vegetal para
identificação de uma amostra com, no mínimo, o
F
nome do projeto, número da estação da amostra e Fácies Repetição de uma unidade fisionômica em
data. Sin. Rótulo. unidades isoladas de menor categoria ou magnitude.
Eu Prefixo que expressa a ideia de bom. Faixa Configuração do sonar que representa a
Euhalino Referido à zona com valores da salinidade distância máxima do reboque que o sonar irá
da água entre 30 a 40g. L-1, de acordo com o sistema mostrar, geralmente medida em metros (a definição
de classificação de águas salinas do Sistema de da Faixa determina o tempo entre os pulsos do
Veneza (1958). sonar). Uma vez definida a Faixa do sistema, quando
Eupelágico Depósito marinho originário do os ecos dentro dessa distância chegam ao transdutor,
alto mar e sedimentado em isóbatas maiores de o ciclo de ping começa novamente e um novo pulso
1.000 m. acústico é transmitido para a água. Sin. Range.
Euphausiacea (Eufausiáceos) Ordem de Faixa de Resolução Capacidade de o sistema
crustáceos holoplanctônicos marinhos, com grandes acústico discernir dois objetos distintos próximos.
brânquias filamentosas e expostas nos apêndices A resolução de alcance é determinada, em parte,
torácicos. Conhecido vulgarmente como Krill. pela largura de pulso do sonar; a largura de pulso
Euri Prefixo que significa que um organismo tem estreita irá exibir dois alvos próximos como
ampla capacidade de preferência ou tolerância. anomalias distintas e separadas; os mesmos dois
Eurialino Organismo que tem capacidade de alvos, quando insonificados por um pulso com
suportar grande variação de salinidade. largura maior, podem ser envolvidos pelo pulso ao
Evaporação Fenômeno físico da transformação mesmo tempo. Isso resulta em dois objetos
de um estado líquido em vapor, efetuada pela aparecendo como um só no visor do sonar.
temperatura. Faixa Litorânea Ver Zona Costeira.
Evento Anotação inserida no registro de um sonar Falésia Terra ou rocha alta e íngreme à beira-mar.
ou incorporada aos dados armazenados, a qual Família Categoria dentro da hierarquia de
representa o momento de uma correção de classificação sistemática entre Ordem e Gênero. O
navegação ou outra ocorrência durante uma nome científico termina geralmente com idea em
pesquisa. Marcas de evento são importantes para zoologia e aceae para botânica.
avaliar o progresso de um cruzeiro. Fase No desenvolvimento dos crustáceos, é a
Exatidão Rigor máximo no grau de concordância denominação dada para períodos depois de uma
entre o resultado de uma medição e o valor muda, em que o organismo irá apresentar uma grande
verdadeiro a ser medido. modificação não apenas morfologia (metamorfose)
Excreção Processo de eliminação de produtos do mas também no comportamento. Uma fase tem
metabolismo que devem ser eliminados do vários estágios de desenvolvimento.
organismo, a fim de atingir um estado de equilíbrio Fator (1) Qualquer agente casual; (2) Qualquer
interno, ou homeostase. Como exemplo, tem-se o coisa que é responsável pela independência
gás carbônico, a água, sais minerais e excretas hereditária de um caractere; (3) Em Estatística,
nitrogenadas (amônia, uréia ou ácido úrico). qualquer variável suspeita de influenciar a variável
Exoesqueleto Cutícula resistente, mas flexível, que que está sendo investigada.
cobre o corpo de muitos animais e protistas, a qual Fator Abiótico Fator que caracteriza as propriedades
protege os órgãos internos, além de fornecer suporte físicas e químicas do ambiente, como luz, umidade e
para os músculos e de evitar a perda de água. temperatura que atuam sobre uma comunidade.
Exploração (1) Retirada e utilização de recursos Fator Ambiental Ver Fator Ecológico.
naturais de uma determinada área sem levar em Fator Biótico Fator resultante direta ou
conta sua capacidade de regeneração ou reposição; indiretamente pela atividade de um organismo vivo.
(2) Interação entre organismos na qual um se Fator Ecológico Qualquer condição do ambiente
beneficia à custa do outro; (3) Pesquisar, investigar. capaz de interferir na forma ou função de seus
Explotação Exploração econômica de um recurso. componentes. Sin. Fator ambiental.

GLOSSÁRIO 423
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Fator Limitante Qualquer condição que se Física Marinha Ver Oceanografia Física.
aproxima dos limites de tolerância de determinado Fitoplâncton Comunidade vegetal microscópica,
organismo. que flutua livremente no meio aquático. Sua
Fauna Conjunto de animais de uma determinada distribuição vertical está restrita à zona eufótica, a
área ou habitat. qual – graças à presença de energia luminosa –
Fecundação Processo de união das células sexuais promove o processo fotossintético, um dos
masculina e feminina para o surgimento de um ovo; responsáveis pela base da cadeia alimentar do meio
quando ocorre fora do corpo, é dita externa e nas aquático, como produtores primários.
vezes em que se dá no interior do corpo é chamada Flora Conjunto das espécies vegetais de uma
interna. determinada região.
Fecundidade (1) Número de ovos produzidos por Fluorímetro Instrumento utilizado para a
uma fêmea por unidade de tempo; (2) Capacidade determinação da concentração de clorofila-α.
potencial reprodutiva de um organismo ou de uma Fluxômetro Instrumento utilizado para medir o
população; medida da capacidade reprodutiva dos fluxo que quantifica o volume de água que passa
organismos, expressa pelo número. através de determinada área ou abertura. Sin. Medidor
Feiticeira Rede de emalhar que se caracteriza por de fluxo.
possuir três panagens sustentadas por uma tralha Fonte de Alimentos Local onde são
superior e uma inferior, nas quais os peixes são disponibilizados o pólen e o néctar, as principais
capturados por ensacamento. Sin. Rede de transmalho. fontes de alimento de um organismo.
Fêmea Organismo de espécie dióica que produz Foraminifera (Foraminífero) Ordem de
óvulos, simbolizado por . protozoários rizópodos, de corpo provido de
Fibra Contínua Fibra de comprimento pseudópodos finos, ramificados e pegajosos, dentro
indeterminado, com diâmetro menor do que de uma carapaça calcária, quitinosa ou de substâncias
0,05 mm e que pesa não mais de 0,2 g a cada 1.000 m. externas, que contém uma ou mais câmaras, com
A união de varias fibras forma os denominados uma ou várias aberturas. Constitui-se, na maior parte,
multifilamentos. de seres marinhos, bentônicos, alguns planctônicos e
Fibra Descontínua Fibra semelhante à contínua, importantes indicadores de massas de água.
porém com comprimento entre 40 e 120 mm; deve Força de Coriolis Força que faz que partículas
ser retorcida para formar o fio final, fazendo que as em movimento sobre a superfície da Terra
fibras primárias cortadas se mantenham juntas e apresentem uma tendência para serem desviados
formem um filamento contínuo (multifilamento). para a direita no Hemisfério Norte e para a esquerda
Fibra Vegetal Termo genérico utilizado para no Hemisfério Sul.
designar todas as células longas e estreitas dos Formação Ver Barreira.
vegetais. For malina Solução aquosa a 37% do gás
Filler Designação utilizada para indicar que na formaldeído (HCHO), altamente tóxico, que é
composição das pernas existem arames principais e amplamente utilizada na fixação e conservação de
arames finos, que servem de enchimento para a boa organismos.
acomodação dos outros arames. Os arames de Formol Ver Formalina.
enchimento não entram no cálculo da carga de Formulário Ver Planilha.
ruptura dos cabos, nem estão sujeitos ao atendimento Forrageio Conjunto de comportamento realizado
de requisitos a que os arames principais devem para obtenção de suas presas.
satisfazer. Fotossíntese Processo de produção de matéria
Film Ver Biofilm. orgânica a partir da fixação do gás carbônico do ar
Filo (1) Principal categoria da hierarquia sistemática através da ação dos raios solares executada por
imediatamente abaixo do Reino Animália (Animal) plantas e por alguns seres unicelulares.
ou Plantae (Vegetal); (2) Conjunto de classes de Fragata Aves marinhas da família Fregatidae.
animais ou vegetais intimamente relacionados. Apresentam grande porte, asas compridas e estreitas,
Filogenia Descrição e explicação de uma sequência plumagem é geralmente preta ou preta e branca; os
temporal de mudanças morfológicas, ecológicas e macho são dotados de um com saco gular vermelho,
biogeográficas de um táxon. Sin. Filogênese. não conseguem andar em terra, nadar nem levantar
Filtração Ato de separar um sólido de um líquido voo de uma superfície plana.
ou fluido que está suspenso através de um meio Frente Limite entre duas massas de ar diferentes
poroso capaz de reter as partículas sólidas. que tenham se encontrado.
Filtrador Ver Espécie Filtradora. Frente Fria Massa de ar frio que avança na direção
Filtrante Aquele que filtra. da massa do ar quente. Geralmente, com a passagem

424 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

de uma frente fria, a temperatura e a umidade de saída do sonar. Devido à atenuação do feixe
diminuem, a pressão sobe e o vento muda de direção. acústico, o ganho do receptor deve ser aumentado à
Precipitação geralmente antecede ou sucede a frente medida que aumenta o tempo de retorno dos sinais
fria e, de forma muito rápida, uma linha de tormenta acústicos mais distantes do transdutor. Esses
pode antecipar a frente. retornos são recebidos em um tempo previsível e
Frente Oclusa Frente complexa que se forma consistente, assim o ganho pode ser aumentado
quando uma frente fria se encontra com uma frente através de uma curva de tempo.
quente. Sin. Oclusão. Garatéia Tipo de anzol caracterizado por possuir
Frente Quente Parte frontal de uma massa de ar três ou mais pontas, especialmente utilizado para a
quente em movimento. O ar quente tende a ocupar captura de lulas.
o espaço do ar frio, produzindo uma larga faixa de Garça Aves da família Ardeidae, a qual vivem em
nuvens e uma chuva fraca e contínua. As frentes regiões tropicais e subtropicais de todos os
quentes tendem a se deslocar de maneira lenta e continentes, exceto Antártida. Possui penas brancas,
podem ser facilmente alcançadas por frentes frias, pescoço longo e bico grande; alimenta-se de peixes,
formando frentes oclusas. pequenos anfíbios e crustáceo.
Frequência (1) Quantidade de vezes que ocorre Garrafa de Amostra Equipamento muito
um evento periódico; (2) Em Estatística, número utilizado para coletar uma quantidade exata de água
de ocorrências em relação ao total de amostras para medir parâmetros abióticos ou fitoplâncton.
analisadas, expressa em percentagem; (3) Em Gás Substância muito fluida e em estado de
Hidroacústica: número de ciclos de uma onda sonora agregação aeriforme, que enche uniformemente
por unidade de tempo, mais frequentemente medido qualquer espaço em que se encerre.
em Hertz. Frequências comumente utilizadas em Gás Permanente Gás que possui um ponto de
sonares de varredura lateral convencionais estão na condensação muito baixo (próximo ao zero
faixa entre 25 a 450 kHz. Embora a largura de absoluto). Está sempre presente na atmosfera, como
pulso e ângulos de feixe varie entre diferentes sonares oxigênio, nitrogênio, argônio, entre outros.
e em diferentes frequências dentro do mesmo Gás Variável Gás que não está presente em todas
sistema, as frequências maiores geralmente fornecem as partes da atmosfera, como dióxido de carbono,
um nível maior de resolução. vapor de água e ozônio.
Frequência de Amostragem Número de vezes Gastropoda (Gastrópodo) Classe de moluscos que
em que se faz uma amostra. apresentam uma concha univalva, em geral,
Fuligem Substância negra que o fumo dos espiralada e um pé constituído por uma massa
combustíveis deposita nas chaminés. muscular situada sob a região ventral, com o qual o
Fundear Em navegação, tocar o fundo com uma organismo se apoia sobre os substratos e se arrasta.
âncora ou ferro. Maioria marinha. Sin. Gastrópode.
Fundo Marinho Porção do substrato Gastrópode Ver Gastropoda.
permanentemente submersa, em que a água e o Gênero Categoria da classificação biológica,
sedimento estão intimamente relacionados. incluindo uma ou mais espécies morfologicamente
Fungo Organismo vegetal heterotrófico, saprófito similares e filogeneticamente relacionada. Categoria
ou parasita, cujas células organizadas em filamentos, entre Família e Espécie.
ditos hifas, carecem de cloroplastos e possuem Geologia Ciência natural que, através das ciências
paredes comumente não celulósicas. exatas e básicas (Matemática, Física e Química) e
de todos os seus aparelhos, investiga o meio natural
do planeta, interagindo inclusive com a Biologia em
G vários aspectos.
Geologia Marinha Ver Oceanografia Geológica.
Geológico Relativo à Geologia.
Gaivota Ave marinha da família Laridae, tipicamente Geoquímica Estudo das causas e das leis que regem
cinzenta ou branca, muitas vezes com marcas pretas a frequência, a distribuição e a migração dos
na cabeça ou asas. A maior parte pertence ao Gênero elementos químicos no Globo terrestre,
Larus. Deve ser evitado chamá-las de gaviotas. principalmente da crosta terrestre.
Ganho Medida do aumento da amplitude do sinal Girino Larva de anfíbio anuro (sapos e rãs) que se
produzido por um amplificador. desenvolve em ambiente aquático.
Ganho de Tempo Variável (Time Variable Gain) Giropiloto Ver Piloto Automático.
(TVG) Processo em que o ganho do amplificador é Glândulas supra orbitais Nas aves, são usadas
alterado com base no tempo de retorno dos pulsos para a rápida excreção do sal do sangue.

GLOSSÁRIO 425
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Glaucothoe Segunda fase do desenvolvimento dos de biomassa em prospecção pesqueira. Sin. Acústica
Anomuros. Ver Megalopa. Submarina.
Global Maritime Distress and Safety System Hidrodinâmica Parte da hidromecânica que
(GMDSS) Sistema de emergência e comunicações investiga o movimento de fluidos incompressíveis e
para embarcações, que substitui o anterior, o qual as interações dos fluidos em movimento com a
era baseado em código Morse. fronteira do domínio onde se movem.
Global Positioning System (GPS) Sistema de Hidrofone Receptor acústico que funciona
informação eletrônico que fornece, via rádio, a um transformando sinais sonoros subaquáticos (ondas
aparelho receptor, as coordenadas da posição do de pressão) em sinais elétricos.
mesmo, com muita acurácia; baseado em um Hidrografia Estudo das características físicas e
conjunto de, pelo menos, quatro satélites. químicas dos corpos aquáticos, como correntes e
Gradiente Inclinação ou ângulo de declive. massas de água.
Gradiente Ambiental Ver Gradiente Ecológico. Hiper Prefixo que significa posição superior, excesso.
Gradiente de Diversidade Mudança regular Hiperhalino Referido à zona com valores da
correlacionada com um espaço geográfico ou salinidade da água acima de 40g. L-1, de acordo com
gradientes de algum fator do ambiente. o sistema de classificação de águas salinas do Sistema
Gradiente de Salinidade Qualquer variação de de Veneza (1958).
salinidade em uma área. Hipo Prefixo que significa mais baixo do que (efeito
Gradiente de Temperatura Qualquer variação ou quantidade), abaixo de, sob (posição).
de temperatura em uma área. Hipótese (1) Conjunto de ideias que apresenta a
Gradiente Ecológico Designação genérica da provável explicação para um dado fenômeno; (2)
variação espacial contínua de qualquer conjunto de Enunciado formal das relações esperadas entre, pelo
organismos ou de seus caracteres, ou de um ou mais menos, uma variável independente e outra
fatores abióticos. Sin. Gradiente Ambiental. dependente; (3) Nas pesquisas, as hipóteses se
Grânulo Sedimento com 4-2 mm de diâmetro. tornam perguntas a serem respondidas com clareza
Granulometria Método de análise que visa a através do trabalho efetuado.
classificar as partículas de uma amostra pelos Hodômetro (1) Instrumento utilizado para a
respectivos tamanhos e a medir as frações determinação da distância percorrida e da
correspondentes a cada tamanho. velocidade da embarcação; (2) Equipamento que
Guará Ave da família Threskiornithidae, com cerca mede a distância percorrida por um instrumento
de 50 a 60 cm, bico fino, longo e levemente curvado de amostra.
para baixo; a plumagem é de um colorido vermelho Hodômetro de Fundo Ver Tubo de Pitot.
muito forte, por causa de sua alimentação à base de Hodômetro de Superfície Mede a velocidade da
um caranguejo que possui um pigmento que tinge embarcação na superfície em relação à massa de
as plumas. São conhecidas como íbis-escarlate, guará- água circundante (depois a velocidade é integrada
vermelho, guará-rubro e guará-pitanga. em relação ao tempo e transformada em distância
Guildas Grupos que desempenham funções percorrida).
ecológicas similares. Exemplo: Guilda trófica: os Hodômetro Doppler Mede a velocidade e a
comedores de depósito. distância em relação ao fundo, sendo o de maior
Guincho Equipamento para levantamento, vertical precisão.
ou por tração, de um equipamento ou instrumento de Holograma Chapa ou filme fotográfico em que
amostra, por um cabo que se enrola em um tambor. é fixada a figura de interferência tirada por
holografia.

H Holoplâncton Organismo que é membro


permanente do plâncton.
Hz Unidade de frequência igual a um ciclo por
Habitat (1) Espaço utilizado por um organismo para segundo.
viver; (2) Total de características ecológicas do lugar
específico habitado por um organismo ou população.
Halino Relativo à salinidade.
Hemoglobina Substância que dá cor ao sangue
I
dos vertebrados e transporta gases, principalmente Icebergs Grande massas de gelo flutuantes que se
gás oxigênio e gás carbônico. desprenderam de um glacial e sobressaem da
Hidroacústica Estudo da propagação do som na superfície do mar, onde flutuam arrastadas pelas
água e sua interação. Utilizada para obter estimativas correntes.

426 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Ictioplâncton Parte do meroplâncton comunidade: (1) Riqueza ou o número de espécies


representada por ovos e larvas de peixes. presentes; (2) Qualidade ou uniformidade da
Idade (1) Número de anos de vida completados; distribuição dos organismos entre as espécies; (3)
(2) Período de tempo que um grupo de organismos Abundância ou número total de organismos presentes.
existe; (3) Espaço de tempo geológico desde a Indivíduo Simples criatura viva constituída de
formação de uma rocha, seja por solidificação ou muitas partes, com funções separadas dependentes
por derretimento ou sedimentação. umas das outras para que todo o corpo funcione.
Identificação Reconhecimento de organismos por Podem ser simples células ou constituídas de um
semelhança de estrutura. grupo de células.
Igualdade Componente da diversidade responsável Infauna Organismos que vivem e se movimentam
pelo grau com que todas as espécies são iguais em no interior do sedimento podendo construir tubos.
abundância, como o oposto da dominância de uma Infra Prefixo que significa abaixo.
só espécie. Infraestrutura Condições indispensáveis para a
Ilhos Orifício geralmente guarnecido de aro realização de um trabalho.
metálico, feito de inox ou latão, por onde se enfia Infralitoral Ver Zona Infralitoral.
um cordão ou cabo, para prender um aro ao corpo Infraordem Categoria da hierarquia de classificação
de uma rede de plâncton. abaixo da Subordem.
Imagem de Satélite Foto digital captada, Inlet Braço de mar, canal largo de mar que penetra
registrada e enviada por um sistema sensor a bordo terra adentro, sem relação com as suas dimensões
de um satélite. Sin. Imagem Orbital. absolutas, podendo-se aplicar essa denominação a
Imigração (1) Processo de incorporação de um golfo ou a um rio.
organismos ou de espécies provenientes de outra INMARSAT Companhia de telecomunicações
área geográfica ou de outra população; (2) britânica que oferece serviços de telefonia móvel
Movimento de um organismo ou grupo para uma global.
nova área geográfica. Inorgânico Relativo aos, ou próprio, dos
In Loco Ver In Situ. compostos de qualquer elemento, exceto os de
In Situ (1) No local; (2) Na sua posição original; carbono.
(3) Medida feita no local original do objeto ou Instituto de Engenheiros, Eletricistas e
material medido. Sin. In Loco. Eletrônicos (IEEE) Organização profissional sem
Inclinômetro Ver Clinômetro. fins lucrativos que estabelece os padrões para
Inconsolidado Substrato mole composto por grãos formatos de computadores e dispositivos.
de areia, silte e argila. Instrumento Aparelho utilizado para fazer
Indicador Biológico Ver Espécie Indicadora medição de parâmetros físico-químicos, observação
Indicador Ecológico Organismo que, devido as de partículas ou organismos em ambientes aquáticos.
suas exigências ambientais bem definidas, pode Inter Prefixo que significa entre.
constituir indício ou sinal da presença daquelas Interferência Exibição de sinais errôneos
condições, para ele, necessárias. provenientes de fontes acústicas ou elétricas. Sin. Ruído.
Índice (1) Relação entre os valores de qualquer International Maritime Organization (IMO)
medida; (2) Relação ou razão de uma quantidade Organização filiada à ONU – Organização das
ou dimensão para outra; (3) Fórmula que expressa Nações Unidas – responsável por padronizar, manter
essa relação ou razão. e controlar as regras de navegação, segurança
Índice Absoluto Informação obtida de amostras (SOLAS) e o meio ambiente marítimo e poluição
ou observações e utilizada como uma medida de no mar (MARPOL).
número ou peso dos organismos que compõem um International Maritime Satellite
estoque. Organization (IMSO) Organização responsável
Índice de Dispersão Medida de dispersão de uma pelas comunicações de satélite de segurança provida
população baseada em uma razão da variância da pelos satélites INMARSAT.
média. Consiste em um valor = 1 para o padrão de International Organization for Standardization
distribuição ao azar ou aleatório; valor > 1 para (ISO) Entidade não governamental que promove no
distribuição agrupada; e < 1 para distribuição mundo o desenvolvimento de normas que
uniforme. representam o consenso dos diferentes países, por
Índice de Diversidade Retrata a distribuição das meio da cooperação no âmbito intelectual, científico,
categorias taxonômicas e também a importância tecnológico e de atividade econômica, com a intenção
numérica de cada espécie no ecossistema. Relação de facilitar o intercâmbio internacional de produtos
que utiliza três componentes da estrutura da e serviços.

GLOSSÁRIO 427
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Internet Rede de computadores de alcance vertebrados, como os alevinos (peixes) e girinos
mundial, conectados entre si através do protocolo (anuros).
Internet Protocol (IP). Lastro Ver Depressor.
Intra Prefixo que significa dentro. Latitude Distância do Equador a um lugar na Terra,
Invertebrados Animais que não possuem coluna quer no Hemisfério Norte, quer no Hemisfério Sul,
vertebral. medida em graus, minutos e segundos.
Íon Átomo ou grupamento de átomos carregados Lei Regra, norma ou princípio constante e invariável.
eletricamente. Leito Marinho Ver Substrato Marinho.
Irradiômetro Aparelho utilizado na checagem Limite (1) Em Ecologia, área máxima de
diária da irradiância. distribuição de uma espécie; (2) Em Estatística,
Iso Prefixo que significa igual. medida de variação de um grupo de dados.
Limnético Referido à zona com valores da

J salinidade da água abaixo de 0,5, de acordo com o


sistema de classificação de águas salinas do Sistema
de Veneza (1958). Sin. Água Doce.
Jarda Unidade de comprimento nos sistemas de Line-setter Dispositivo utilizado na pesca com
medida utilizados nos Estados Unidos e no Reino espinhel de superfície, que permite lançar a linha
Unido. Uma jarda é equivalente a 0,9144 metros e principal a uma velocidade maior que a de
é representada por yd. navegação, o que acentua a curva catenária entre
Juvenil Fase do desenvolvimento em que o duas boias consecutivas.
organismo está completo, apesar de imaturo. Linha Cordel com anzol preso a uma das
extremidades, que serve para a pesca.
Linha Secundária Na pesca com espinhel
L de anzóis, é cada uma das linhas que possui
na sua extremidade um único anzol iscado.
Liquen Seres vivos muito simples que constituem
Lagoa Termo genérico aplicado a uma porção de uma simbiose de um organismo formado por um
água que ocupa uma depressão da superfície terrestre. fungo (o micobionte) e uma alga ou cianobactéria
Sin. Lago. (o fotobionte).
Laguna Corpo de água que se comunica com o Litologia Ciência que tem por objeto a formação
mar ficando separado por uma barreira de recifes das rochas sedimentares, sua constituição e
ou restingas arenosas. distribuição pelo globo terrestre.
Lampara Rede de cerco sem carregadeira. Litológico Relativo à Litologia.
Lancha Embarcação com comprimento entre 10 e Litoral Região marinha compreendida entre o
20 metros, com cabine coberta. limite da preamar e os 200 metros de profundidade.
Largura Medida de uma distância que é menor Sin. Região Litorânea.
que o comprimento. Como ocorre com todas as Litosfera Camada externa e rígida do globo
medida de distância sua unidade no Sistema terrestre, formada pela crosta e por uma parte do
Internacional de Unidades é o metro. manto superior. A sua espessura média é de cerca de
Largura de Feixe Ângulo, em graus, que define o 300 km, mas varia entre apenas alguns quilômetros,
arco entre os pontos de intensidade máxima e 50% de sob os oceanos, e 300 km sob os continentes.
energia do feixe acústico, para ambos os lados do centro. Litro Unidade de medida de volume ou capacidade
Largura de Pulso Distância, em metros, entre os do Sistema Métrico Decimal. É representado por L.
limites inicial e final do pulso, definido como o Lixo Qualquer material considerado inútil,
produto entre a duração do pulso e a velocidade do supérfluo, repugnante ou sem valor, gerado pela
som no meio em que se propaga. atividade humana e que precisa ser eliminado. O
Largura Total Medida entre os dois espinhos mais conceito de lixo é uma concepção humana, porque
externos da carapaça de um crustáceo braquiúro. em processos naturais não há lixo, apenas produtos
Larva Período imaturo, em geral, zooplanctônico, inertes. Sin. Resíduo.
diferente do adulto, num período pós-embrionário Local Relativo ou pertencente a um determinado lugar.
do desenvolvimento do organismo. No meio Longitude Distância ao longo do Equador entre o
marinho, existem fases larvais em vários grupos de Meridiano Zero e o Meridiano do lugar considerado,
invertebrados, como trocóforas (anelídeos); medido em graus, minutos e segundos.
náuplios, cípris, copepódito, zoé (crustáceos); Lugar (1) Espaço, independente do que possa
véliger (moluscos); plúteus (equinodermos) e conter; (2) Espaço ocupado por um organismo.

428 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Luz Energia irradiada visível que faz parte do Mapeamento Criação de vistas 1:1 de largas seções
espectro eletromagnético, na escala de comprimento do fundo marinho a partir de registros de sonar ou
de onda que vai de 4.000 a 7.000 A. a criação de imagens de alta resolução de alvos
submarinos.

M Marcação (1) Em Biologia, ato de marcar um


organismo; (2) Em navegação, constitui a observação
de pontos em terra que auxiliam na localização da
Maçarico Aves da família Scolopacidae. A embarcação no mar.
designação agrupa aves de médio porte, de patas Marcação-Recaptura Método de estimativa
altas e bico longo, com plumagem geralmente populacional utilizada para espécies de grande
acastanhada e branca. Os maçaricos vivem em mobilidade, como no caso de peixes em que são
regiões costeiras e muitas espécies são migratórias; coletados, marcados e soltos novamente ou,
podem transferir plantas de um continente para outro marcados no próprio ambiente como no caso de
por intermédio de sementes vivas nas suas dejeções. cetáceos. Quando os indivíduois marcados e os não
Macho Organismo que produz esperma. marcados estão misturados uma nova amosta ou
Simbolizado por . observação é feita para determinação do número de
Macro Prefixo que significa grande. marcados presentes. São úteis também para
Macrobentos Organismos bentônicos (animais = entender a dinâmica populacional das espécies.
macrofauna, ou vegetais = macroflora) com Marcas de escala Marcas regulares equidistantes
tamanho acima de 0.5 mm. na tela de sonar, usadas para auxiliar na mensuração
Macroplâncton Organismos planctônicos grandes de metas e de anomalias além de fornecer
com diâmetro entre 20 mm e 200 mm. informações sobre o deslocamento e alcance.
Magma Material pastoso, de temperatura elevada, Maré Movimento oscilatório periódico das águas do
existente no interior da Terra, logo abaixo da litosfera. mar, pelo qual elas se elevam ou se baixam em relação
Malha Unidade básica de construção de uma rede a uma referência fixa no solo. É produzida pela atração
de coleta de organismos aquáticos. conjunta da Terra, Sol e Lua. Sin. Maré Astronômica.
Malhete Cabos de aço localizados atrás das portas Maré Astronômica Ver Maré.
de uma rede de arrasto, cuja função é a de aumentar Marine Pollution (MARPOL 73/78) Elaborada
a largura da área varrida no arrasto e direcionar os para minimizar a poluição dos mares, é a Convenção
organismos para a boca da rede. Internacional para a prevenção da poluição
Mamífero Marinho Mamífero que habita proveniente de embarcações. A versão vigente foi
primariamente o oceano ou depende do oceano para elaborada em 1973 e protocolada em 1978.
se alimentar. Marinho Pertencente ou relativo ao mar.
Mammalia (Mamíferos) Classe de organismos Marismas Ecossistemas costeiros intermareais
homeotérmicos, vertebrados que secretam leite dominados por vegetação herbácea halófita, com
através das glândulas mamárias, geralmente com desenvolvimentos anuais e perenes, providos de
pelos em seu corpo e com respiração pulmonar, estruturas anatômicas e adaptações fisiológicas para
mesmo sendo aquáticos. Exemplos: Baleias e suportar o alagamento e a variação de salinidade.
Morcegos. Massas de Água Corpos de água oceânica com
Mandíbula Ver Pá. características físicas (como a temperatura) e
Manejo Programa de utilização dos ecossistemas, químicas (como a salinidade) específicas, que são
naturais ou artificiais, baseado em teorias ecológicas determinadas pela região de sua formação.
que contemplem a manutenção da biodiversidade e o Massas de Ar Fenômenos que provocam
aumento da produção de insumos necessários à vida mudanças temporárias de temperatura, trazendo frio
na região (produção agrícola, energética, pecuária), ou calor por um curto ou longo período de tempo
além de propiciar o conhecimento científico e em uma determinada região, dependendo das
atividades de lazer. condições climáticas.
Manejo Sustentável Uso racional dos recursos Matéria (1) Aquilo de que os corpos físicos são
naturais visando à preservação e à perpetuação de compostos; (2) Qualquer substância sólida, líquida
condições ecológicas equilibradas. ou gasosa que ocupa lugar no espaço e possui massa.
Manga Ver Asa. Matéria Inorgânica Compreende principalmente
Manilha Peça de aço inox ou ferro galvanizado, água e sais minerais.
em forma de U, com extremidades furadas para Matéria Orgânica (1) Fração orgânica, incluindo
receber um pino, usada para nela prender uma resíduos animais e vegetais que sofreram
corrente, um cabo ou uma corda. decomposição ou passiveis de decomposição;

GLOSSÁRIO 429
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
(2) Substância química de origem animal ou vegetal, sistema intersticial e com tamanho menores do que
ou, mais genericamente, substância que possui 0,5 mm, mas maiores ou iguais do que 0,1 mm. Sin.
estrutura basicamente carbônica. Sin. Matéria Viva. Meio Fauna e Meio Flora.
Matéria Viva Ver Matéria Orgânica. Meio Biótico Complexo de condicionantes gerados
Material (1) Em Biologia, amostra disponível para pelos organismos que atuam sobre organismos ou
o estudo; (2) Designação genérica para qualquer populações. Sin. Biótico.
item usado direta ou indiretamente para a fabricação Meio de Comunicação Equipamento ou forma
de um produto ou prestação de um serviço. de conteúdo, utilizado para a realização do processo
Material em Suspensão Partículas que não foram comunicacional.
dissolvidas, existentes na coluna de água. Mensageiro Equipamento de latão ou aço inox,
Mau Tempo Condições atmosféricas desfavoráveis lançado pelo cabo para disparar o dispositivo de
para determinada atividade. fechamento de garrafas e redes de plânton, horizontal
Maxila Nos mamíferos, o maxilar é a estrutura da e vertical.
região frontal do crânio, que suporta os dentes Mensuração Definição das dimensões físicas e o
superiores e forma uma parte do palato, da cavidade volume de um objeto presente no registro de sonar.
nasal e da órbita. Mercúrio Elemento químico de número atômico
Mecanismo de Fechamento Equipamento que 80; metal pesado, líquido, prateado, denso e tóxico.
possui duas presilhas, uma móvel, na qual são presas Meridiano Linha imaginária que resulta de um
as amarras da boca da rede, e outra fixa, em que é corte efetuado num modelo geométrico da Terra
presa a amarra que está em volta do corpo da rede. por um plano que contém o seu centro contendo os
Média (1) Igual à soma de todas as observações pólos e é perpendicular a todos os paralelos e ao
dividida pelo número de observações; (2) Propriedade Equador.
estatística numa distribuição, em que o valor que se Mero Prefixo que significa parte, incompleto.
determina segundo uma regra estabelecida, a priori, Meroplâncton Organismos que são planctônicos
representa todos os valores da distribuição. apenas parte do seu ciclo de vida. São principalmente
Mediana Valor de uma variável em um arranjo as larvas dos invertebrados bentônicos, como
ordenado que tenha um número igual de observações crustáceos, estrelas-do-mar, moluscos e poliquetas.
acima e abaixo. Meso Prefixo que significa meio, intermediário.
Medidor de Fluxo Ver Fluxômetro. Mesohalino Referido à zona onde valores da
Medusas Forma sexuada e campanulada dos salinidade da água estão entre 5 e 18, de acordo
celenterados em feitio de guarda-sol aberto com o sistema de classificação de águas salinas do
transparente. Sistema de Veneza (1958).
Mega Prefixo que significa grande ou maior que o normal. Mesosfera Região situada entre 50 e 85 km de
Megalopa Última fase larval do desenvolvimento altitude é a camada atmosférica onde há uma
dos crustáceos decápodos. Fase de transição entre o substancial queda de temperatura, chegando a -90°C
período planctônico e o demersal com os exópodos em seu topo.
abdominais natatórios e os três primeiros apêndices Meta Prefixo que significa depois, mudança.
torácicos relacionados com alimentação. Sin. Pós- Metabolismo Totalidade dos processos
larva em camarões; Glaucothoe em anomuras; Puerulus bioquímicos de síntese e de degradação de
em lagostas. substâncias químicas nos organismos vivos.
Megaplâncton Organismos planctônicos maiores Metâmeros Segmentos estruturais que compõem
ou iguais de 2.000 micrômetros em tamanho. o tronco de anelídeos.
Meio (1) Totalidade dos fatores externos suscetíveis Meteorologia Ciência que estuda o tempo ou as
de influência aos organismos; (2) Corpo ou ambiente condições atmosféricas locais. Inclui a compreensão
em que se passam fenômenos especiais; (3) O que de aspectos atmosféricos para fazer a previsão do
indica metade de um todo. tempo.
Meio Abiótico Complexo de condicionantes não Meteorológico Trata dos fenômenos atmosféricos
biológicos (estruturais, energéticos, químicos e (temperatura, umidade, entre outros).
outros) do meio, que atua sobre organismos, espécies Metodologia Conjunto de etapas que devem ser
ou populações. Sin. Abiótico. seguidas em ordem cronológica, a fim de serem
Meio Ambiente Conjunto de condições de ordem concluídas teorias ou leis que disponham sobre
física, química e biótica que atuam sobre os fenômenos que ocorrem na natureza. Estudo
organismos. Sin. Ambiente. científico dos métodos.
Meiobentos Organismos bentônicos (animais = Metro Unidade de comprimento, adotada como
meio fauna, ou plantas = meio flora) que vivem no base do sistema métrico decimal, calculada como a

430 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

décima milionésima parte de um quarto do meridiano de certos parâmetros ambientais ou populacionais,


terrestre. É representada pela letra m. indicadores de funcionamento e dinâmica de um
Micro Prefixo que significa pequeno. Usado para ecossistema, que permitem a pesquisadores entender
designar unidade X10-6. mudanças futuras.
Microbentos Organismos bentônicos (animais ou Monofilamentos Fibras com diâmetro acima de
vegetais) cujas dimensões são menores do que 0,1 mm. 0,07 mm, suficientemente fortes para que uma única
Microfauna (1) Pequeno animal que não é visível fibra possa ser utilizada como produto final sem
a olho nu; (2) Animais de um microhabitat. passar por outros processos.
Microhabitat Pequeno habitat especializado. Morfologia Estudo da forma e estrutura dos
Micrômetro Unidade de medida correspondente organismos, com especial ênfase nas suas
à milésima parte de um milímetro. Representado características externas.
por µm. Mortalidade Ver Taxa de Mortalidade.
Microorganismo Organismo vivo microscópico Morto (1) Em Biologia, total e irreversível perda de
não visível a olho nu. Exemplos: bactérias, algas todos os processos vitais; (2) Na Pesca, pano-de-rede
azuis e copépodo. interno nas redes feiticeiras, caracterizado por possuir
Microplâncton Organismos planctônicos malhas menores, fios mais finos e flexíveis, além de
pequenos com tamanho entre 20 a 200 micrômetros. altura do pano de 30 a 60% maior que as alvitanas.
Migração Locomoção voluntária de um organismo Mosaico Conjunto de registros do sonar
de uma área para outra, com ou sem volta para a área combinados de tal forma a mostrar, de modo preciso
original, que envolve uma finalidade específica devido e contínuo, uma área do fundo marinho.
a fatores como clima, alimentação ou reprodução. Móvel Ver Vágil.
Migração Mareal Locomoção de organismos Mysidacea (Misidáceo) Ordem de crustáceos
acompanhando os regimes de subida e descida das geralmente marinhos, com carapaça sobre quase todo
marés em praias arenosas. o tórax. Possuem urópodos com estatocistos em
Migração Nictemeral Locomoção em alternância sua base, formando um leque caudal.
dos organismos na coluna da água entre o dia e a
noite.
Milha Náutica Distância de um arco de um
minuto, de um grau, de um círculo de máxima, que
N
são os círculos da esfera perfeita que possuem os
40.000 km, ou seja, todos os meridianos e o Náilon Denominação comercial das fibras e fios
Equador. É representada por mn e corresponde a sintéticos constituídos de poliamidas produzidas de
exatos 1.852 metros. ácido dicarboxílico.
Mixo Prefixo que significa mistura. Nano Prefixo que designa unidade X10-9.
Mixoeuhalino Referido à zona onde valores da Nanoplâncton Organismo planctônico com
salinidade da água estão acima 30 e abaixo da tamanho entre 2-20 micrômetros.
salinidade do mar adjacente, de acordo com o sistema Náufrago Aquele que naufragou ou padeceu
de classificação de águas salinas do Sistema de naufrágio. Sin. Naufragado.
Veneza (1958). Náuplio Primeira fase larval do desenvolvimento
Mixohalino Usado para definir organismos que de crustáceos, com os exópodos cefálicos natatórios.
habitam águas que estão sujeitas a grandes variações Navegabilidade Qualidade de navegável.
de salinidade pela mistura entre águas oceânicas e Navegação Ato de conduzir com segurança e
continentais, como as que ocorrem nos estuários. precisão uma embarcação, desde um ponto de origem
Modem Dispositivo de transmissão de dados digitais, até um ponto de chegada.
em geral, sobre fios de telefone, modulando os dados Navegação Astronômica Determinação da
em um sinal de áudio para enviá-lo e desmodulando posição através de observações dos astros.
um sinal de áudio em dados para recebê-lo. Navegação Costeira Navegação mais próximo
Mollusca (Molusco) Filo de invertebrados em da costa, em distâncias que, normalmente, variam
sua maioria aquáticos, com conchas (no caso das entre 3 e 50 milhas da costa.
lulas no interior do corpo). O sistema digestivo é Navegação Eletrônica Determinação da posição
aberto, podendo ou não ter rádula. A circulação é através de informações eletrônicas obtidas de Radar,
aberta, com coração, a respiração em geral é Radiogoniômetro ou GPS, que dão indicações
branquial. Exemplos: Marisco, Lesma, Lula e Polvo. relativas à posição e rumo.
Monitoramento Processo de obser vação, Navegação Estimada Método aproximado de
mensuração ou gravação de informações contínuas navegação, através do qual é executada a previsão

GLOSSÁRIO 431
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
da posição futura da embarcação, partindo de um Nêuston Organismos planctônicos que vivem nos
ponto conhecido e obtendo a nova posição primeiros centímetros da camada superficial dos
utilizando o rumo, a velocidade e o intervalo de oceanos.
tempo entre elas. Nevoeiro Massa de gotículas de água suspensas na
Navegação Oceânica Navegação ao largo, em atmosfera, próximas ou junto à superfície da Terra,
alto-mar, normalmente praticada a mais de 50 milhas que podem reduzir a visibilidade horizontal.
da costa. Nicho Papel ecológico de uma espécie em uma
Navio Embarcação com mais de 30 metros de comunidade. Gama de condições sobre as quais o
comprimento. organismo ou população vive e se reproduz.
Navio de Pesquisa (N/Pq) Projetado para realizar Nictemeral Qualquer variação associada ao
qualquer tipo de estudo, inclusive a pesca; para tanto, período dia-noite, compreendendo tanto variações
exige popa aberta capaz de realizar qualquer tipo de comportamentais dos organismos (migração vertical
arrasto de pesca. Além disso, precisa não apenas estar do plâncton) como variações dos fatores abióticos.
apto a fazer amostra planctônica, bentônica, Nitrogênio Constituinte universal da matéria viva
geológica e físico-química, como também coletar (proteínas), principal gás do ar (78%), o nitrogênio
amostras de água em qualquer profundidade e contar intervém na biosfera através de um complexo ciclo
com instrumentos de hidroacústica para prospecção que envolve trocas entre atmosfera/solo/seres vivos.
pesqueira para navegação. Normalmente esses navios Nó Unidade de velocidade em navegação equivalente
são pesqueiros adaptados para fazer investigação, com a uma milha náutica por hora (mn/h) ou 1.852 metros
um espaço destinado a laboratório. Um exemplo de por hora ou 1,852 quilômetro/hora.
um N/Pq é o “Atlântico Sul”, da FURG. Norte Geográfico Ver Norte Verdadeiro.
Navio de Oportunidade Ver Plataforma de Norte Verdadeiro Direção tomada à superfície
Oportunidade. da Terra que aponta para o Polo Norte geográfico.
Navio Hidrográfico (N/H) Projetado para É um termo usado em navegação e relaciona-se
realizar investigação e pesquisa hidrográfica, com o posicionamento e a orientação do navegador.
levantamentos sísmicos do leito do mar e sua Sin. Norte Geográfico.
proximidade, estudos sobre os parâmetros físicos, Noturno (1) Que ocorre durante a noite; (2)
químicos e meteorológicos. Um exemplo de um Organismo com atividade somente durante a noite.
Navio Hidrográfico é o N/H “Sirius”, da Marinha Nutriente (1) Em Química, substância ou
do Brasil. elemento que fornece matéria ou energia necessária
Navio Oceanográfico (N/Oc) Projetado para para um organismo; (2) Em Oceanografia,
realizar estudos sobre os parâmetros físicos, geralmente se referem aos componentes minerais
químicos, biológicos da água assim como geológicos; das massas de água (sílica, carbono e nitrogênio).
para tal, é equipado para recolher amostra de água Nuvem Conjunto de partículas de água ou gelo em
principalmente com garrafas em várias suspensão na atmosfera, de formas e cores variadas.
profundidades, bem como algum tipo de busca-
fundo e instrumentos para leitura dos parâmetros in
loco. Também são equipados com instrumentos de
hidroacústica para pesquisa do leito do mar e outros
O
sensores ambientais. Esse tipo de navio não consegue Oceânico Associado com o ambiente marinho além
desempenhar trabalhos relacionados com a pesca. da quebra da Plataforma Continental e com os
Exemplos de Navios Oceanográficos são o N/Oc organismos que habitam essas águas.
“Prof. Besnard”, da USP e o N/Oc. “Cruzeiro do Oceano Corpo de água global interconectado, de
Sul”, da Marinha do Brasil. água salgada, é dividido pelos continentes e grandes
Necrófago Organismo que se alimenta de espécimes arquipélagos, cobre quase três quartos (71%) da
mortos, ou parte deles. superfície da Terra.
Nécton Em Oceanografia Biológica, um dos três Oceanografia Estudo dos oceanos, abrangendo e
grandes grupos ecológicos em que os organismos integrando todos os conhecimentos pertinentes à
aquáticos são classificados, com habilidades biologia, geologia, física e química marinha.
natatórias que lhes permitem moverem-se Oceanografia Biológica Ramo que estuda os
ativamente na coluna de água em qualquer direção, organismos vivos nos diversos ecossistemas
inclusive contra corrente. Exemplos: Peixes, baleias, marinhos, estuarinos e de transição, além de suas
tartarugas e lulas. relações com o meio ambiente. Como trata mais
Nerítico Organismo que vive em águas da Zona com organismos que passam toda ou quase toda
Nerítica.

432 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

vida nos oceanos, a sua classificação é baseada mais líquido, medida em teste específico. É expresso em
no ambiente em que vivem do que na taxonomia. miligramas de oxigênio por litro de água.
Sin. Biologia Marinha. Ozônio Gás azulado, muito oxidante e reativo, de
Oceanografia Física Ramo que estuda os aspectos composição molecular (O3), forma-se quando as
físicos do oceano, tais como correntes, ondas, moléculas de oxigênio (O2) rompem-se devido à
marés e temperatura, entre outras características. radiação ultravioleta e os átomos separados se
Sin. Física Marinha. combinam, individualmente, com outras moléculas
Oceanografia Geológica Ramo que estuda a de oxigênio.
geologia das porções cobertas ou em contato com
os oceanos, bem como os processos resultantes de
sua interação com as variáveis físicas, biológicas e
químicas. Sin. Geologia Marinha.
P
Oceanografia Química Ramo que estuda o Pá Em Oceanografia, parte do busca-fundo que
comportamento dos elementos químicos no coleta o sedimento. Sin. Concha ou Mandíbula.
oceano, tais como o ciclo desses elementos no Padrão Organização repetitiva, que não é ao acaso.
oceano e também com outros sistemas. Sin. Padronização Procedimento de manutenção de
Química Marinha. métodos e equipamentos de amostragem, observação
Oclusão Ver Frente Oclusa. e análise dos dados o mais constante possível.
Olhal Argola fixa de metal num ponto da amurada, Panagem Secção de rede constituída por um
usada para um determinado fim. determinado número de malhas.
Oligohalina Referido à zona com valores da Panga Pequena embarcação utilizada na pesca com
salinidade da água estão entre 0,5 e 5, de acordo redes de cerco com carregadeira, utilizada na operação
com o sistema de classificação de águas salinas do de pesca para cercar o cardume com a rede.
Sistema de Veneza (1958). Parâmetro (1) Constante ou medida numérica que
Onda Deformação da superfície do oceano, causada descreve alguma característica físico-química de um
principalmente pela ação da energia causada pelo vento. ambiente; (2) Todo elemento cuja variação de valor
Orçar (1) Em Navegação, girar a proa na direção modifica a solução de um problema sem lhe alterar
do vento (contrário de arribar); (2) Em Economia, a natureza.
calcular despesas. Parapódios Projeção lateral carnosa dos anelídeos,
Ordem (1) Categoria dentro da hierarquia de composta por feixes de cerdas.
classificação sistemática entre Classe e Família; (2) Parts Per Thousand (PPT) Medida de sal
Arranjo ordenado que possam ser de forma crescente contido na água do mar em termos de miligramas de
ou decrescente. sal por litro de água.
Orgânico Relacionado a coisas vivas, tais como Passo do Cabo Comprimento correspondente a
animais e vegetais. uma volta completa de uma perna ao redor da alma.
Organismo Qualquer ser vivo, seja animal, vegetal, Pé Medida equivalente a 12 polegadas ou 30,48 cm.
fungo ou protista. Pegador de fundo Ver Busca-fundo.
Oscilação (1) Mover-se para um lado e para o Peixe (1) Em Biologia, animal vertebrado, aquático,
outro; balançar-se; (2) Variação. com os membros transformados em barbatanas e
Otólito (1) Concreções de carbonato de cálcio com respiração branquial. Ver Pisces; (2) Em
presentes dentro de câmaras do ouvido interno dos Oceanografia, equipamento rebocado.
peixes e que têm a função de controlar a posição do Pelágico Organismo que vive na Zona Pelágica,
corpo do animal; (2) Nos estudos de dinâmica durante toda ou a maior parte de sua vida, sem
populacional, são usados para obter estimativas da dependência do substrato marinho, tal como as
idade dos individuos. formas planctônicas e nectônicas.
Output Qualquer coisa que sai de um computador Pelecypoda (Pelecípodos) Classe de moluscos
ou sistema, seja eletrônica ou fisicamente. que apresentam o corpo revestido por concha de
Ovo Resultado da fecundação do óvulo pelo duas valvas laterais, com charneira dorsal, sola
espermatozóide. pediosa em forma de machado, protaída do lado
Óvulo Célula germinativa feminina dos animais. ventral quando o animal está em movimento, e
Oxigênio Elemento químico que constitui a massa desprovido de cabeça. Exemplo: Ostras e Mexilhões.
principal das águas, dos seres vivos e das rochas de Sin. Pelecípodes.
superfície, e cerca de 20% da massa atmosférica. Pelicano Ave marinha da família Pelecanidae. A
Oxigênio Dissolvido (OD) Quantidade de sua principal característica é o longo pescoço que
oxigênio dissolvido, em água residuária ou em outro

GLOSSÁRIO 433
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
contém uma bolsa na qual armazena o alimento; possui com várias adaptações à vida no meio aquático: o
os dedos unidos por membranas. Pode ser encontrado corpo é fusiforme; as asas atrofiadas desempenham
em todos os continentes, exceto na Antártida. a função de barbatanas, e as penas são
Pelos Filamento composto, em grande parte de impermeabilizadas através da secreção de óleos.
ceratina que cresce na pele, cutícula ou epiderme de Pinnipedia (Pinípedes) Subordem de mamíferos
alguns animais e dos humanos. marinhos, com membros curtos e achatados, com
Perda (1) Extravio; (2) Fuga de um líquido. os dedos ligados por membranas. Exemplo: Focas e
Pereiópodos Apêndice torácico (ou do Leões marinhos.
cefalotórax) dos crustáceos decápodos. Pisces (Peixes) Classe de vertebrados marinhos
Perfilador Instrumento que mede uma secção poiquilotérmico, corpo fusiforme em geral coberto
vertical do corpo aquático através da transmissão por escamas; possuem endoesqueleto com ossos,
de um sinal sonoro de alta frequência, que é refletido pares de nadadeiras e um opérculo cobrindo as
de volta para o aparelho, podendo registrar brânquias.
velocidade e direção de correntes, partículas em Plâncton Em Oceanografia Biológica, um dos três
suspensão na água e tipos de sedimentos de fundo. grandes grupos ecológicos em que os organismos
Outros tipos de perfiladores acústicos de maior aquáticos são classificados. Conjunto dos seres vivos
frequência mostram apenas o contorno da topografia que flutuam passivamente nas massas de água de
dos fundos marinhos. lagos ou oceanos, não possuindo os meios para nadar
Período de Onda Tempo que leva para uma onda ativamente. A parte vegetal é chamada fitoplâncton
completar um comprimento de onda para passar e ocorre em profundidades onde possam chegar os
por um ponto estacionário. raios do sol. A parte da fauna é chamada de
Perna Conjunto de arames torcidos em forma de zooplâncton e é constituída principalmente por
hélice, podendo ou não ter um núcleo ou alma minúsculos crustáceos como os copépodos. O
constituído por um arame ou outro material metálico plâncton é a principal reserva alimentar dos
ou fibra. ecossistemas, a base das cadeias tróficas dos oceanos.
Pesquisador Quem ou o que pesquisa. Planctonbentos Organismos planctônicos que
Petrecho Ver Aparelho. vivem associados com o substrato.
Petrel Ave da família Procellariidae, de ampla Planctônico Relativo ou pertencente ao Plâncton.
distribuição nos oceanos do mundo, mas com sua Planctonte Organismo planctônico.
maior diversidade no Hemisfério Sul. Raramente se Planejamento (1) Ato de projetar um trabalho ou
aproxima da terra, exceto para a reprodução. serviço; (2) Determinação dos objetivos ou metas
pH Logaritmo decimal do inverso da atividade dos de um trabalho, como também da coordenação de
íons hidrogênio numa solução. Parâmetro usado para meios e recursos para atingi-los.
medir a acidez de um meio líquido ou substância. Planejamento de Rota Estudo prévio, detalhado,
Pico Prefixo usado para designar unidade X10-12. da direção que se deseja seguir, utilizando,
Picoplâncton Organismo planctônico com 0,2 e principalmente, as Cartas Náuticas da área em que
2,0 µm de diâmetro. se vai transitar e as publicações de auxílio à
Piloto Automático Equipamento que navegação (Lista de Auxílios-Rádio, Tábuas das
automaticamente guia embarcações. Contém Marés, Cartas-Piloto, Cartas de Correntes de Marés,
giroscópios que comandam a embarcação, entre outras). Sin. Roteiro de Navegação.
controlando as posições e mantendo a embarcação Planilha Apresentação gráfica padronizada para
em determinada rota, permitindo uma navegação registro de informações. Sin. Formulário.
mais precisa e econômica. Sin. Giropiloto. Planta de Pesca Plano utilizado para a construção
Ping (1) Em Hidroacústica, o disparo ou pulso das artes de pesca, no qual são colocadas todas as
único de saída de um sistema acústico, o qual especificações técnicas do apetrecho.
transmite muitos pings no ambiente subaquático. O Plataforma Continental Zona imersa que declina
conjunto de pings forma a imagem que pode ser suavemente, a começar da praia até o Talude
visualizada; (2) Em Informática, utilitário para Continental; por convenção, estende-se até a isóbata
determinar se um endereço IP específico está de 200 m.
acessível; funciona através do envio de um pacote Plataforma de Oportunidade Embarcação
para o endereço especificado e da espera por uma utilizada de favor para coleta de dados científicos.
resposta. Sin Navio de Oportunidade.
Pinguim Ave marinha da família Spheniscidae. Não Pleópodos Apêndices abdominais dos crustáceos,
voadora, é característica do Hemisfério Sul, em responsáveis pela natação, escavação, ventilação,
especial, na Antártida e ilhas dos mares austrais, transporte de ovos na fêmea e por vezes trocas gasosas.

434 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Plumagem Conjunto de penas que cobre o corpo Pontal Distância vertical de uma embarcação,
de uma ave. Também refere-se ao padrão, cor e medida do convés até um plano horizontal, que
arranjo que caracteriza esse conjunto. passa pela quilha da embarcação.
Pluviométrico Relativo ao ramo da climatologia; Ponto de Amostragem Ver Estação de Amostragem.
que se ocupa da distribuição das chuvas em Popa Extremidade posterior de uma embarcação.
diferentes épocas e regiões. População Conjunto de organismos de uma mesma
Pluviômetro Instrumento meteorológico utilizado espécie que ocupa uma determinada área.
para medir a quantidade de água precipitada em Porta Equipamento hidrodinâmico na pesca de
dado lugar e em um determinado tempo. arrasto-de-fundo fazendo que a rede trabalhe aberta
Polegada Unidade de comprimento usada no na horizontal.
sistema imperial de medidas britânico; equivale a Pós Prefixo que exprime a ideia de depois.
2,54 centímetros. Pós-larva Ver Megalopa.
Pólen Grânulos pequenos produzidos nas flores, Potência Elétrica Trabalho realizado pela
representando o elemento masculino da sexualidade corrente elétrica em um determinado intervalo de
da planta, cuja função na reprodução é fecundar os tempo.
óvulos das flores. Potencial Redox Medida que expressa a tendência
Polia Hodométrica Instrumento necessário para de receber, ou seja, ganhar elétrons numa
medir a quantidade de cabo lançada. determinada reação química. Sin. Eh.
Polihalina Referido à zona onde valores da Practical Salinity Scale (S) Ver Escala Prática de
salinidade da água estão entre 18 e 30, de acordo Salinidade.
com o sistema de classificação de águas salinas do Praia Ambiente dinâmico distinto situado num
Sistema de Veneza (1958). setor de transição entre ambiente marinho e
Polo Geográfico Termo empregado para designar terrestre, dentro da dinâmica da zona proximal da
cada uma das extremidades do eixo imaginário da Terra. costa. Sin. Sistema Praial.
São duas: Polo Norte ou Ártico, está num ponto onde Pré Prefixo que significa antes, na frente, mais cedo do que.
o oceano tem 4.087 m de profundidade; e Polo Sul ou Precipitação Diferentes formas pelas quais o vapor
Antártico, que está a 2.992 m acima do nível do mar. de água, depois de condensado na atmosfera, chega
Polo Magnético Ponto variável na superfície até a superfície terrestre (neve, chuva ou gelo).
terrestre para o qual convergem (norte magnético) Precisão Em estatística, é a proximidade de
ou de onde divergem (sul magnético) as linhas de repetidas medidas uma das outras em relação a uma
fluxo magnético terrestre e onde a agulha da bússola quantidade. Uma medição pode ser precisa, mas
mostra inclinação magnética vertical. não exata.
Poluentes Detritos sólidos, líquidos ou gases Predação (1) Consumo de um organismo por outro
nocivos à saúde, de origem natural ou de espécie diferente; (2) Relação alimentar entre
industrializada, lançados no ar, na água ou no solo. organismos de espécies diferentes, benéfica para um
Poluição Efeito que um poluente causa no deles (o predador) à custa da morte e consumo do
ecossistema. outro (presa).
Polychaeta (Poliqueta) Classe de organismos Predador Organismo que consome outro
geralmente marinhos pertencentes ao Filo Annelida organismo vivo de espécie diferente (carnívoros e
(Anelídeos) com segmentação distinta, anéis com herbívoros são ambos predadores por essa definição).
pequenas proeminências carnosas laterais Presa Organismo que é passível de ser morto e
denominadas parápodes e numerosas cerdas; outra consumido por outro de espécie diferente.
característica é a região cefálica evidente, além de Pressão Atmosférica Peso da coluna de ar sobre
tentáculos e sexos, em geral, separados. um determinado ponto; ao nível do mar, é
Ponta Nor mal Pontas obser vadas nas aproximadamente 1013,25 hPa.
extremidades de uma panagem ao longo da direção Previsão do Tempo Descrição detalhada de
dos nós ou da direção da rede, as quais são ocorrências meteorológicas futuras; inclui a modelagem
representadas pela letra N. Quando cortados os dois numérica e a habilidade e experiência de um
fios que se seguem um nó na direção vertical, forma- meteorologista. Sin. Prognóstico de Tempo.
se uma ponta N. Primeiros Socorros Tratamento emergencial de
Ponta Transversal Pontas obser vadas nas alguém doente ou ferido, com a finalidade de manter
extremidades ao longo da direção contra os nós ou seus sinais vitais até que receba ajuda médica
da direção do fio, as quais são representadas pela letra especializada.
T. Quando cortados os dois fios que se seguem um nó Princípio Ativo Em um medicamento, é a
na direção horizontal, forma-se uma ponta T. substância que deverá exercer efeito farmacológico.

GLOSSÁRIO 435
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Um medicamento, alimento ou planta pode ter
diversas substâncias em sua composição, porém
somente uma ou algumas dessas conseguirão ter ação
Q
no organismo.
Proa Extremidade anterior de uma embarcação. Queratina Proteína sintetizada por muitos animais
Probe Ver Sonda. para formar diversas estruturas do corpo.
Probóscide Prolongamento da estrutura bucal dos Quilha Peso sob a forma de uma barbatana, fixado
poliquetas, auxiliar nas atividades de alimentação. na parte de baixo do casco da embarcação, que serve
Processo Biológico É o processo natural que para impedir o seu abatimento lateral e contribui
ocorre na estrutura física de um ser vivo como o para a sua estabilidade.
crescimento, a reprodução, a morte. Química Marinha Ver Oceanografia Química.
Produção (1) Ato ou efeito de produzir; (2)
Geração.
Produção Primária Produção de material vivo por
organismos fotossintetizadores ou por organismos
R
quimiossintetizadores. Geralmente expressa em Radar Sistema que permite descobrir a presença,
gramas de carbono por metro quadrado por ano. posição, rumo e velocidade de corpos fixos ou
Produção Secundária Produção de material vivo móveis que não são facilmente enxergados, mediante
por unidade de área (ou volume) por unidade de a emissão de ondas eletromagnéticas ou
tempo pelos herbívoros. radioelétricas no meio aquático.
Produtividade Termo utilizado para descrever a Radiação (1) Qualquer dos processos físicos de
taxa de produção e a quantidade de matéria orgânica emissão e propagação de energia, seja por intermédio
num corpo de água; frequentemente aumentanda de fenômenos ondulatórios, seja por meio de
por nutrientes. partículas dotadas de energia cinética; (2) Energia
Profundidade Em Física, é uma referência da que se propaga de um ponto a outro no espaço ou
distância do topo até o fundo. no meio material.
Prognóstico de Tempo Ver Previsão do Tempo. Radiação Solar Energia emitida pelo sol em forma
Propagação Movimento das ondas sonoras ou de radiação eletromagnética.
luminosas através da água; base para a formação de Radiância Intensidade direcional em três
imagens de qualidade usando sistemas acústicos. dimensões da propagação da luz em um dado
Prospecção Método de avaliação de um recurso instante e local.
em uma área. Rádio Equipamento elétrico que recebe sinais
Prospecção Hidroacústica Método de prospecção emitidos por ondas eletromagnéticas e os transforma
pesqueira baseado na utilização de sinais acústicos e em sons.
equipamentos de pesca para detecção e identificação Radiogoniômetro Receptor de rádio utilizado
de espécies, além de aferição de biomassa pesqueira. para determinar, mediante o emprego de sinais
Prospecção Pesqueira Método aplicado às radioelétricos, a direção entre duas estações, uma
ciências pesqueiras que se fundamenta na transmissora e uma receptora.
determinação da existência de recursos pesqueiros Rádio HF Equipamento de comunicação com faixa
por meio de técnicas exploratórias. de radiofrequência de 3 a 30 MHz.
Protocolo Documento no qual se definem os Rádio VHF Equipamento de comunicação com
procedimentos relativos a uma atividade e os deveres faixa de radiofrequência de 30 a 300 MHz.
do pessoal nela envolvido. Raio Ultravioleta UV Radiação solar com
Pseudópodo Estrutura auxiliar da locomoção e comprimento de onda menor que 400 nm.
alimentação em esponjas. Range Ver Faixa.
Pteropoda (Pterópodos) Grupo de gastrópodos Receptor NAVTEX O sistema NAVTEX é um
holoplanctônicos. Sin. Pterópodes. serviço internacional de telegrafia, de impressão
Puerulus Segunda fase larval do desenvolvimento direta, para transmissão de avisos náuticos, inclusive
das lagostas. informações urgentes de segurança marítima,
Pulso Breve explosão de sonar, geralmente medido relativos a águas até 400 milhas da costa.
em função do tempo, distância ou potência. Cada Recife Agregado de organismos vivos e material
pulso de sonar também é conhecido como um ping. calcário de esqueletos de animais e algas. Sin. Parcéis.
No entanto, o pulso é um termo mais formal e é Recrutamento Processo de chegada de organismos
usado para descrever a duração do ping do sonar em jovens de uma população na área explotada, por
tempo e largura em metros. mudança de comportamento ou imigração.

436 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Recurso Qualquer componente do ambiente que Rio Curso de água natural, de extensão às vezes
pode ser utilizado e potencialmente esgotado por considerável, que se desloca de uma área mais elevada
um organismo. Exemplo: Alimento. para outra mais baixa, aumentando progressivamente
Recurso Mineral Qualquer recurso natural que seu volume até desaguar no mar, em um lago ou em
seja de origem mineral. outro rio. Suas características dependem do relevo,
Rede (1) Entrelaçamento de cordas, fios, arames, clima local e regime das águas.
barbantes, entre outros, que formam uma malha, Riqueza de Espécies Ver Biodiversidade.
utilizada para capturar organismos; (2) Em Ritmos Série de fenômenos que ocorrem com
Informática, conjunto de computadores interligados, intervalos regulares.
compartilhando dados. Ritmos Biológicos Periodicidade biológica exibida
Rede Alimentar Ver Cadeia Alimentar. em um processo biológico.
Rede de Barra Rede de arrasto caracterizada pela Ritmos Diários Fenômenos baseados em
presença de uma barra de madeira ou de metal na periodicidade diária.
boca da rede (do Inglês, beam = barra ou vara; trawl Roseta Equipamento que permite a instalação de
= arrasto). Sin. Rede de vara. diversas garrafas de amostra de água, com
Rede de Vara Ver Rede de Barra. acionamento de fechamento, além de instrumentos
Rede de Transmalho Ver Feiticeira. como CTD e o fluorímetro.
Rede Trófica Ver Cadeia Alimentar. Rostro Projeção anterior do corpo de um crustáceo
Refração Mudança de direção de propagação de decápodo, em geral, uma rígida extensão mediana
feixe sonoro ao passar obliquamente de um meio da carapaça entre os olhos ou pedúnculo ocular.
para outro, no qual a velocidade de propagação é Rota Caminho por que passa uma embarcação.
diferente. Roteiro de Navegação Ver Planejamento de Rota.
Região Ver Zona. Rotiphera (Rotífero) Filo de pequenos organismos
Região Estuarina Ver Zona Estuarina. planctônicos, a maioria de água doce e poucos
Região Litorânea Ver Litoral. marinhos, que nadam e se alimentam por meio de
Região Nerítica Ver Zona Costeira. bandas ciliadas. São multicelulares com simetria
Região Pelágica Ver Zona Pelágica. bilateral e não segmentados. Não possuem sistema
Régua Paralela Equipamento usado para traçar de circulação nem órgão respiratório.
rotas nas cartas náuticas. Constitui-se de duas réguas, Rótulo Ver Etiqueta.
que são mantidas juntas lado a lado, de tal forma Ruído Ver Interferência.
que, ao manter fixa uma delas, a outra pode ser Ruído Ambiental Sinal acústico detectado pelo sistema
movimentada, para frente ou para trás, o que permite de sonar, proveniente de uma variedade de fontes no
transferir retas sobre a carta, enquanto o mesmo ambiente subaquático, tais como: o movimento da hélice,
ângulo é mantido. o ruído do motor, fontes biológicas, ou mesmo ambientais,
Regulador Organismo que pode manter constante como vento, ondas e chuva.
algum aspecto de sua fisiologia como, por exemplo, a Rumo Ângulo horizontal entre uma direção de
temperatura do corpo constante, apesar de diferenças referência e a direção para a qual aponta a proa da
e mudanças das propriedades no meio externo. embarcação.
Regulamento Internacional para Evitar Rumo Verdadeiro Direção que o navegador deseja
Abalroamento no Mar (RIPEAM) Conjunto de realmente seguir.
regras e procedimentos que, tendo a força da Lei,
prescreve como devem ser conduzidas as
embarcações na presença de outras.
Relatório Descrição minuciosa, sobre a sequência
S
dos fatos ocorridos durante um cruzeiro científico. Saco Parte posterior da rede onde são retidos e
Rendimento Razão entre o produto e o que foi armazenados todos os organismos capturados na
gasto para produzi-lo. operação de pesca.
Reptação Atividade lenta de locomoção dos Safety of Life at Sea (SOLAS) Importante
organismos bentônicos, típico de organismos Tratado sobre segurança em embarcações com
sedentários. passageiros, o qual define equipamentos de
Resíduo Ver Lixo. salvamento e de transmissões a bordo.
Retroespalhamento Retorno de energia a partir Saída Piloto Ver Cruzeiro Piloto.
do fundo do mar para o receptor em um sonar. Salinidade Medida da quantidade de sais
Reverberação Sinal acústico proveniente de dois dissolvidos em massas de água naturais: um oceano,
ou mais alvos. um lago, um estuário ou um aquífero.

GLOSSÁRIO 437
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Salobra Água com a salinidade intermediária entre a Sistema Frontal Ver Ciclone.
do oceano e maior que água doce. Pode ser classificada, Sistema Inglês Sistema de numeração dos fios
como mesohalina, oligohalina e polihalina. que expressa a quantidade de fibras primárias, com
Samburá Unidade básica do espinhel, que consiste 840 jardas de comprimento, necessárias para pesar
de um número variado de linhas secundárias uma libra.
dispostas entre duas boias. Sistema Internacional de Unidades (SI)
Sazonal (1) Relativo às estações do ano; (2) Próprio Conjunto padronizado de definições para unidades
de, ou o que se verifica em uma estação do ano. Sin. de medidas.
Estacional. Sistema Métrico Sistema de unidades baseada no
Seale Designação utilizada para indicar que na metro, no qual os múltiplos e submúltiplos de cada
composição das pernas existem pelo menos duas unidade de medida estão relacionados entre si por
camadas adjacentes com mesmo número de arames. múltiplos ou submúltiplos de 10.
Todos os arames de uma mesma camada possuem o Sistema Praial Ver Praia.
mesmo diâmetro. Sistema Runnage Sistema de numeração dos
Search and Rescue (SAR) Ver Busca e Salvamento. fios utilizado para expressar a relação metros
Sedentário Ver Séssil. por quilograma, ou jardas por libra, do produto
Sedimentos Partículas minerais, químicas ou final.
biológicas, depositadas pela ação da gravidade, na Sistema Tex Sistema de numeração dos fios que
água ou no ar. expressa o peso em gramas de uma fibra de 1.000 m
Segurança Estado do que se acha seguro ou protegido. de comprimento.
Seixo Sedimento com 64-4 mm de diâmetro. Sistemática Ramo da Biologia que se ocupa com a
Sensoriamento Remoto Conjunto de técnicas que classificação dos organismos em séries de grupos
permite obter informações de um ecossistema, de hierárquicos enfatizando suas inter-relações
uma comunidade, de uma população ou mesmo de filogenéticas. Sin. Taxonomia.
uma espécie sem a necessidade de amostragem in situ. Site Ver Sítio.
Serviço Meteorológico Voltado à previsão e Sítio (1) Local ou Sin. Lugar; (2) Em computação,
monitoramento do tempo que ampara todos os que endereço da rede mundial na Internet; cada endereço
estão em alto mar. Dentre os tantos serviços é representado por um prefixo único e um sufixo
oferecidos, os mais importantes são: cartas sinóticas, que corresponde a sua identidade. O endereço deve
boletins meteorológicos e imagens satélite. refletir ao máximo sua identidade ou o tipo de
Séssil Organismo permanentemente fixo a um negócio que representa.
substrato duro. Exemplo: craca, esponja. Sin. Sizígia Duas posições na órbita lunar, quando a
Sedentário. Lua se encontra em conjunção ou em oposição ao
Sexo Conjunto de caracteres estruturais e funcionais Sol em relação à Terra, isto é, eles estão alinhados
que classificam um organismo em macho ou fêmea. correspondendo às luas nova e cheia no início das
Sextante Instrumento utilizado na navegação, que fases lunares.
permite medir com precisão o ângulo formado entre Sobrepesca Captura de exemplares de uma espécie
as linhas de visão de dois objetos. Em desuso. em quantidade maior do que a sua capacidade de
Sexual Relativo ao sexo. reprodução.
Shoreface Ver Antepraia. Sociedade Associação entre organismos de uma
Side Scan Sonar Ver Sonar de Varredura Lateral. mesma espécie, na qual há certa independência física
Sílica Dióxido de Silício (SiO 2). Importante e divisão do trabalho entre si.
componente de muitas rochas e minerais, pode ser Solução Sistema homogêneo com mais de um
encontrado em várias formas incluindo quartzo e componente.
carapaças de diatomáceos. Somito Divisão do corpo de um crustáceo
Silte Sedimento com 0,062 a 0,004 mm de diâmetro. decápodo, incluindo o exoesqueleto, geralmente com
Simbiose Relação mutuamente vantajosa entre dois um par de apêndices.
ou mais organismos vivos de espécies diferentes. Sonar Equipamento que consiste, basicamente, de
Sistema Junção de elementos inter-relacionados um emissor e um receptor, respectivamente para
formando um todo único. transmitir e receber sinais acústicos capazes de
Sistema de Posicionamento Global Ver Global detectar outras embarcações ou objetos. Diferencia-
Positioning System se da ecossonda porque o pulso sonoro é emitido no
Sistema Denier Sistema de numeração dos fios plano horizontal.
que expressa o peso em gramas de uma fibra de Sonar de Varredura Lateral Sistema de sonar
9.000 m de comprimento. para busca e detecção de objetos embaixo da água,

438 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

realizando uma varredura lateral através da


transmissão de sinais de retorno.
Sonda Instrumento análogo com que se determina
T
ou observa in situ fatores abióticos das águas. Sin.
Probe. Talha-mar Ave da família Rincopidae. Pesca
Sondagem Exploração local e metódica de um geralmente durante o crepúsculo e à noite, voando
meio abiótico por meio de instrumentos e processos rente à água e com a parte inferior do bico
técnicos especiais. mergulhada, como se estivesse arando. Captura
Sotavento Direção para onde vai o vento (contrário peixes e camarões próximos à superfície, sem jamais
de barlavento). mergulhar a cabeça; habita praias de grandes rios e
Status Estado ou situação em que o organismo se lagos, estuários e praias ao longo da costa.
encontra no ecossistema. Exemplo: Abundante, Talude Continental Porção da margem
Raro, Ausente. continental com gradiente superior a 1:40, delimitada
Sub Prefixo que significa abaixo ou menor do que em entre a porção externa de plataforma continental e a
estrutura ou significância. parte que exibe um rápido incremento na declividade,
Substrato (1) Em Ecologia, é a superfície, situada entre 1.300 e 3.000 m.
sedimento, base, meio ou ainda qualquer superfície Tamanho Comprimento ou volume de um
que possa servir de suporte a organismos vivos; (2) organismo.
Em Geologia, é o subsolo ou qualquer das camadas Tamanho Amostral Número de observações em
mais profundas em relação às mais superficiais. Sin. uma amostra. É representado pela letra n.
Fundo. Tamanho Crítico Tamanho médio de um
Substrato Arenoso Base formada por areia. organismo em uma classe anual no momento em
Substrato Biodetrítico Base formada por material que a taxa de mortalidade natural instantânea é
de origem animal como, por exemplo, fragmentos igual à taxa de crescimento instantâneo em peso
de conchas. para a classe como um todo. Sin. Tamanho Ótimo.
Substrato Consolidado Base formada por Tamanho Ótimo Ver Tamanho Crítico.
fragmentos cimentados de rochas que formam os Tamponado Sistema capaz de resistir às alterações
costões, matacões e praias rochosas, de seixos e no pH, consistindo de um par conjugado ácido-
fragmento de conchas como, por exemplo, Beach base, em que o quociente do aceptor de prótons
Rock. pelo doador de prótons seja próximo de 1.
Substrato Duro Base formada por rochas. Tarrafa Rede de pesca circular, de malha fina, com
Substrato Lamoso Base formada por lama. pesos na periferia e um cabo fino no centro, pelo
Substratos Não Consolidados Formados pelas qual é puxada.
areias e lodos. Taxa de Explotação Fração, em número, de
Sucessão (1) Em Biologia, exprime a sequência de organismos de uma população, num dado período
modificações que ocorrem numa comunidade; (2) de tempo, que é capturada ou morta pelo homem
Em Ecologia, acréscimo ou substituição sucessiva durante o ano imediatamente seguinte.
de espécies numa determinada área, resultando em Taxa de Mortalidade Número ou proporção de
um gradativo aumento ou diminuição do número e organismos de uma população que morre, por
da complexidade dos organismos que compõem a unidade de tempo. Sin. Mortalidade.
comunidade. Táxon Unidade de classificação dos seres vivos dentro
Superfície Parte externa dos corpos. de um sistema de categorias hierárquicas que constituem
Supra Prefixo que significa acima ou maior do que a sistemática. Táxon (ou, no plural, Taxa) pode estar
em estrutura ou significância. em qualquer nível de um sistema de classificação: um
Suspensão Tipo de mistura formada por duas ou reino é um táxon, assim como um gênero é um táxon,
mais fases, ou mistura heterogênea constituída por assim como uma espécie também é um táxon.
uma fase sólida de partículas grosseiras imersas numa Taxonômica Ver Sistemática.
fase líquida. Pode ser mole ou dura. Teleostei (Teleósteo) A principal das três Classes
Suspensívoro Organismos que capturam como dos peixes de esqueleto ósseo.
alimento, partículas suspensas na coluna da água. Telso Porção terminal do corpo de um crustáceo
Sustentabilidade Manejo do ambiente e seus (não é considerado como um verdadeiro somito)
recursos de modo a que seu uso possa ser contínuo geralmente apresenta o ânus, algumas vezes faz parte
sem diminuição num futuro indefinido. do leque caudal juntamente com os urópodos.
Temperado Tipo de clima no qual as quatro
estações do ano são bem marcadas.

GLOSSÁRIO 439
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
Temperatura Propriedade física que implica as comprimento como em comprimento por unidade
noções comuns de “quente” ou “frio”. Em geral a de massa.
matéria com a temperatura maior é dita mais quente. Topografia Ciência que estuda todos os acidentes
Temperatura do Ar Temperatura em um ponto geográficos definindo a situação e a localização de
da atmosfera. uma área em geral.
Tempo (1) Em Biologia, medida de duração dos Torção Lang Designação utilizada quando o sentido
seres sujeitos à mudança da sua substância; (2) Em da torção da camada externa dos arames nas pernas
Ecologia, mudanças acidentais e sucessivas da sua é igual ao do torcimento das pernas no cabo. O
natureza, apreciáveis pelos sentidos orgânicos; (3) sentido de torção das pernas pode ser tanto da
Em Meteorologia, conjunto de condições esquerda para a direita (Torção Lang à direita) como
atmosféricas e fenômenos meteorológicos que da direita para a esquerda (Torção Lang à esquerda).
afetam a biosfera e a superfície terrestre em um Torção Regular Designação utilizada quando o
dado momento e local. torcimento dos arames da camada externa da perna
Tempo Real Tempo cronológico instantâneo. tem sentido oposto ao torcimento das pernas do
Teoria Conjunto de proposições ou princípios cabo. O sentido de torção das pernas pode ser tanto
fundamentais que explicam um fato científico da esquerda para a direita (Torção Regular à direita)
devidamente demonstrado e comprovado. como da direita para a esquerda (Torção Regular à
Terminal RS-232 Entrada óptica, de 9 pinos, esquerda).
usada para conectar um amostrador de dados e o Tordas Ave da familia Ciconiformidae integrada
computador. nos larídeos pela taxonomia de Sibley-Ahlquist. O
Termoclina Camada de descontinuidade entre duas grupo inclui as tordas e araus.
massas de água, na qual a temperatura sofre uma Tóxico Ver Substância Tóxica.
variação abrupta. Trajeto Espaço percorrido por um equipamento
Termo-halinas Camada de descontinuidade entre para recolher uma amostra. Sin. Arrasto.
duas massas de água, na qual a salinidade sofre uma Trajeto Horizontal Amostragem de organismos
variação abrupta. planctônicos realizada em linha reta, imediatamente
Termômetro Instrumento usado para medir a abaixo da superfície oceânica ou em alguma
temperatura. profundidade planejada.
Ter mômetro de Inversão Instrumento de Trajeto Oblíquo Amostragem de organismos
medição de tempo, constituído de dois termômetros, planctônicos realizada, obrigatoriamente, em um
sendo um para medir a temperatura do mar ângulo desde o fundo até a superfície, ou até alguma
(termômetro principal) e um menor (termômetro profundidade planejada.
secundário) para registrar a temperatura do Trajeto Vertical Em amostragem de organismos
ambiente, onde serão feitas as leituras do planctônicos, são feitos em vários intervalos de
termômetro principal. profundidade como, por exemplo, 0-10 m,
Termosfera A termosfera está localizada acima da 10-20 m, 20-30 m, sempre com um mecanismo de
mesopausa e sua temperatura aumenta com a fechamento.
altitude por conta da sua proximidade com o Sol. Tralha Na arte de pesca em que se utiliza rede, as
É a camada onde ocorrem as auroras (boreais e tralhas são os cabos de sustentação dos flutuadores
austrais). Essa camada se estende desde 80, 85 km, e dos lastros.
até aproximadamente 640 km de altitude em Trama Trófica Relações das cadeias tróficas que
relação à superfície do planeta Terra. Nessa região, ocorrem entre seres vivos de um mesmo ecossistema,
o significado gás não tem mais sentido, pois é muito ilustrando suas relações de produção e consumo.
rarefeito. Transdutor Componente eletromecânico de um
Termossalinógrafo Instrumento que registra de sistema acústico, que é montado sob a linha da água
forma contínua valores de temperatura e salinidade e converte a energia elétrica em acústica e vice-
superficiais ou logo abaixo da superfície. versa.
Textura (1) Em Pesca, estrutura interior de um Transecção Ver Transecto.
produto; (2) Em Geologia, aspecto menor inerente Transecto Linha que serve como unidade amostral
à rocha, que depende do tamanho, da forma, do da população ou comunidade que está sendo
arranjo e da distribuição dos seus componentes. observada. Sin. Transecção.
Time Variable Gain (TVG) Ver Ganho de Tempo Transparência Medida de extinção da luz,
Variável. indicando a distância que um raio de luz consegue
Título do Fio Medida da espessura do fio que pode penetrar na coluna da água, variando de poucos
ser expresso tanto em massa por unidade de centímetros a dezenas de metros.

440 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

Transporte (1) Ação de mover algo de um lugar do que dois micrômetros em comprimento ou
para o outro; (2) Em Ecologia, locomoção diâmetro.
desvantajosa, causada pelas massas de água, dos Umidade Quantidade de vapor de água contida na
organismos desde um ponto de origem para regiões atmosfera.
impróprias ao seu desenvolvimento. Umidade Absoluta Quantidade de vapor de água
Transversal Que passa de través; que segue direção contida na unidade de volume de ar.
transversa ou oblíqua. Não reto; colateral: Parentes Umidade Específica Quantidade de vapor de
transversais. água contido em uma determinada massa de ar,
Través Ponto de uma embarcação no qual a linha medida em g/kg (gramas de vapor por quilograma
longitudinal popa-proa é dividida em duas partes de ar).
iguais por um plano perpendicular. Umidade Relativa Relação existente entre a
Tripulante Cada pessoa que faz parte da tripulação umidade absoluta e o ponto de saturação.
de uma embarcação. Unidade de Amostragem Unidade de habitat
Trinta-réis Ave da família Laridae. Submergem padronizada espacial, temporal ou qualitativamente
não mais que um metro e sobe rapidamente à com a finalidade de realizar medidas quantitativas.
superfície. Urópodos Apêndice birreme do sexto somito
Trófico Sufixo o qual designa alimentação, obtenção abdominal de todos os crustáceos decápodos menos
de alimento. os braquiúros verdadeiros. Junto com o telso,
Troposfera Camada de maior concentração gasosa formam o leque caudal.
de todas, onde ocorre a maioria dos fenômenos
meteorológicos: chuvas, nevoeiros, neves, furacões,
ventos, nuvens, trovoadas, entre outros. É a camada
mais agitada da atmosfera, caracterizada por um
V
decréscimo normal da temperatura com a altitude. Vaga Cada uma das compridas elevações da
Túnel Parte central da rede de arrasto, posicionada superfície do oceano ou mar, que se propagam em
entre a boca e o saco, a qual ajuda no direcionamento sucessão uma as outras, produzidas, em geral, pela
da captura para o interior do saco. ação do vento.
Turbidez Opacidade de um corpo de água devido Vágil Organismo bentônico que se desloca no
à presença de partículas como argila, silte, substâncias
ambiente por seus próprios meios. Sin. Móvel.
orgânicas finamente divididas e organismos Vale de Onda Depressão entre duas cristas.
microscópicos em suspensão. Também chamada de calha ou cava.
Turbidímetro Instrumento baseado na Valor de Importância Utilizado na análise de
comparação da intensidade de luz espalhada pela comunidades, sendo a soma da densidade relativa e
amostra, em condições definidas, com a intensidade frequência relativa de uma espécie.
da luz espalhada, por uma suspensão considerada Valva Cada uma das duas estruturas calcárias
padrão, constituído de um nefelômetro; a turbidez que compõe a estrutura corpórea dos moluscos
é expressa em UNT (Unidades Nefelométricas de bivalvos.
Turbidez). Variância Medida que permite avaliar o grau de
Tubo de Pitot Equipamento que obtém a dispersão dos valores da variável em relação à média.
informação a partir da diferença entre a pressão Representada por σ2.
estática da água, resultante da profundidade na qual Variável (1) Que pode apresentar vários valores
está mergulhado o elemento sensível do equipamento distintos; (2) Que pode ter ou assumir diferentes
abaixo da quilha, e a pressão resultante do valores ou diferentes aspectos.
movimento da embarcação através da água (pressão Variável Aleatória Medição de algum parâmetro
dinâmica). Sin. Hodômetro de fundo. ou dado que pode gerar um valor diferente a cada
Turbulência Fluxo de um líquido em que as medida.
partículas se misturam de forma não linear, isto é, Variável Dependente Em estatística ou em
de forma caótica com redemoinhos. modelagem numérica, é aquela cujo valor muda
como uma função de outra variável.

U Variável Independente Em estatística ou em


modelagem numérica, é aquela cujo valor não muda
como uma função de outra variável.
Ultra Prefixo que significa mais do que, além do que. Varredura Ato de fazer um feixe emitido de um
Ultraplâncton Organismos planctônicos menores sonar ou de uma ecossonda percorrer de forma

GLOSSÁRIO 441
D ANILO C ALAZANS (O RG .)
contínua determinado setor, ou de um radar ao redor
da embarcação à procura de um alvo.
Vazão (1) Quantidade de água que passa pelo
X
equipamento de coleta por unidade de tempo; (2) Num
rio ou estuário, é a quantidade de água que passa numa XBT Equipamento utilizado na obtenção de dados
secção transversal ao leito por unidade de tempo. de temperatura da camada superior do oceano, sem
Vegetal Termo usado na Botânica para caracterizar a necessidade de reduções de velocidade da
os seres vivos pertencentes ao Reino Plantae. Pode embarcação, utilizada no lançamento.
também significar o mesmo que planta ou hortaliça,
mas é utilizado mais frequentemente como adjetivo
que se aplica às estruturas e a outros conceitos
relacionados com as plantas (células vegetais, órgãos
Z
vegetais, por exemplo). Ver Produto Primário. Zarcão Tetróxido de chumbo (Pb3O4) é um composto
Véliger Segunda fase larval de certos moluscos em utilizado, na pintura, como primeira demão para
que o organismo desenvolve uma ou duas proteger partes e peças metálicas contra a ferrugem.
membranas ciliadas para nadar. A fase Véliger é Zona Território que se distingue dos demais por
intermediária entre a fase larval trocófora e o possuir características próprias. Sin. Região.
organismo juvenil. Zona Abissal Região do oceano com profundidades
Velocidade Medida da rapidez com a qual um corpo superiores a 1.000 m, com sedimentação péltica,
altera sua posição. temperaturas baixas e vida escassa. Sin. Abissal.
Velocidade da Onda Velocidade na qual uma onda Zona Afótica Região profunda dos oceanos ou
individual avança sobre a superfície da água. lagos onde não se faz sentir a ação direta da luz
Velocidade Média Razão entre um deslocamento solar. Sin. Afótica.
e o intervalo de tempo levado para efetuar esse Zona Costeira Zona de transição entre o domínio
deslocamento. continental e o marinho, que se encontra sob influência
Vento Aparente Velocidade e direção do vento das marés e onde a luz pode penetrar até ao fundo,
anotado por um observador que se move em uma promovendo a fotossíntese. Sin Faixa Litorânea.
embarcação. Zona Estuarina Zona de transição (baías, lagunas,
Vento Verdadeiro Velocidade e direção do vento águas interiores, canais, áreas inundadas pela maré e
anotado por um observador estático. áreas costeiras entre marés), sob influência direta
Vertebrados Que têm vértebras. Grande divisão ou indireta do estuário. Sin. Região Estuarina.
do reino animal, que compreende todos os animais Zona Eufótica Região do oceano ou lago que
caracterizados pela divisão da coluna em uma série recebe luz solar suficiente para que ocorra a
de peças distintas, as vértebras. fotossíntese.
Vírus Organismos microscópicos cristalizáveis Zona Nerítica Região do oceano que corresponde
acelulares que podem causar inúmeras doenças aos ao relevo da Plataforma Continental e à camada de
animais e às plantas. água situada sobre ela e que não sofre a influência
Volume (1) Em Ecologia, região da coluna de água das marés. Região Nerítica.
ocupada por uma comunidade, população ou Zona Pelágica Região do oceano onde vivem
espécie; (2) Em Matemática, medida do espaço normalmente seres vivos que não dependem dos
ocupado por um corpo tridimensional definido fundos marinhos. Sin. Região Pelágica.
(comprimento, largura e altura). Há unidades de Zona Temperada Região térmica onde os valores da
tamanho cúbicas, por exemplo, m3. biotemperatura compensada oscilam entre os 15 e 20°C.
Zona Tropical (1) Região ao redor da Terra, entre

W os 23°N (Trópico de Câncer) e os 23°S (Trópico de


Capricórnio); (2) Província térmica onde os valores
da biotemperatura compensada são maiores de 24°C.
Warrington Designação utilizada para indicar que, Zoobentos Organismo que compõe uma fauna que
na composição das pernas, existe pelo menos uma habita o substrato límnico, costeiro e marinho.
camada constituída de arames de dois diâmetros Zooplâncton Parte do Plâncton que trata dos
diferentes e alternados. animais e suas relações com o ecossistema. Muitos
World Wide Web (www) Rede internacional de passam toda a sua vida como organismos
computadores na Internet que fornece informação planctônicos e outros apenas parte, como os
em forma de hipertexto. moluscos, equinodermos e crustáceos decápodos.

442 GLOSSÁRIO
E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACADEMIA DE CIÊNCIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO. Glossário de Ecologia. 2.ed. São Paulo:
ACIESP: FINEP: CNPq, 1997.
MICHAELIS MODERNO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo: Melhoramentos, 1998.
LINCOLN, R.; BOXSHALL, G.; CLARK, P. A. Dictionary of Ecology, Evolution and Systematics.
2nd. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
SOARES, J. L. Dicionário Etimológico e Circunstanciado de Biologia. São Paulo: Scipione, 1993.
Foto: João Paulo

GLOSSÁRIO 443
UNIDADES E CONVERSÕES

ÁREA
1 m2 = 100 dm2 = 10.000 cm2 = 1.000.000 mm2
1 km2 = 1.000.000 m2
1 acre (acre) = ~ 4046 m2
1 are (a) = 100 m2
1 hectare (ha) = 104 m2
COMPRIMENTO
1 metro (m) = 10 decímetros (dm) = 100 centímetros (cm) = 1.000 milímetros (mm)
1 mm = 10 µm = 100 nm
1 quilômetro (km) = 1.000 m
1 pé = 0,305 m
1 jarda (jd) = 3 pés = 0,914 m
1 milha = 1760 jd = 1609,344 m
1 milha náutica = 1.852 (m)
1 braça = 1,828 m
1 polegada (“) = 2,54 x 10-2 m
1 angström (Å) = 1010 m
ENERGIA E POTÊNCIA
1 Joule (J) = 1 N.m = 1 kg.m2.s-2
1 caloria (cal) = 4,184 J
Foto: João Paulo
1 Watt (W) = 1 J.s-1 = N.m.s-1 = kg.m2.s-3
1 cavalo de força (hp) = 745,7 W
FORÇA
1 quilograma força (kgf) = 1.000 gramas-força (gf)
1 N = 1 kg.m.s-2
1 kgf = 9,806 newtons (N)
1 decanewton (daN) = 10 newtons (N)
MASSA
1 quilograma (kg) = 1.000 gramas (g)
1 tonelada (t) = 1.000 kg
1 libra (lb) = 0,453 kg
1 onça (oz) = ~ 28,3495 g
PRESSÃO
1 pascal (Pa) = 1 N.m2 = kg.m-1.s-2
1 atmosfera (atm) = 101.325 Pa = 101.325 N.m-2
1 bar (bar) = 105 Pa
TEMPERATURA
Grau Celsius (°C) = (°F – 32) / 1,8
Grau Fahrenheit (°F) = 1,8 x °C + 32
TEMPO
1 minuto (min) = 60 segundos (s)
1 hora (h) = 3 600 s
1 dia = 86 400 s
1 ano = 31 556 952 s
VELOCIDADE
1 metro por segundo (m.s-1)
1 nó (n) = 1 milha náutica por hora = 1852 m.h-1 = 051 m.s-1
Aceleração da gravidade (G) = 9,80665 m.s-2
VOLUME
1 metro cúbico (m3) = 1.000 dm3 = 1.000.000 cm3
1 litro (L) = 1.000 cm3 = 1 dm3
1 m3 = 1.000 L

U NIDADES E C ONVERSÕES 445


FABRICANTES E FORNECEDORES

A lista, a seguir, foi elaborada para facilitar a consulta para informação e levanta-
mento de preço. Essa lista, por assunto, cita os fabricantes e fornecedores de instru-
mentos, equipamentos e produtos utilizados em trabalho de campo e de laboratório
em ambientes aquáticos e de criadores de softwares mais conhecidos na área de
Ciências do Mar assim como os melhores fornecedores e representantes do Brasil.
Foto: Juliana Beltramin De Biasi
REPRESENTANTES NO BRASIL DE FABRICANTES E MACARTNEY DO BRASIL
FORNECEDORES [Tel: (21) 8394-1852] MacArtney
MARINE EXPRESS
AMBIDADOS [www.marinexpress.com.br] Raymarine, Navisystem,
<www.ambidados.com> Sea-Bird Eletronics Glomex, Cumming Onan
ANALÍTICA OKEANUS
<www.analiticaweb.com.br> Thermo Scientific <www.okeanus.com.br> Hydrobios
BRASIL HOBBY PROOCEANO
<www.brasilhobby.com.br> Garmin <www.prooceano.com.br> Metocean Data
C&C TECHNOLOGIES DO BRASIL LTDA RADCROM
[Tel: (21) 2172-4000] C&C Technologies <www.radchrom.com.br> DPS Instruments, Fluid
CAMPBELL SCIENTIFIC DO BRASIL Imaging, Gerstel, Horiba Scientific, Horizon
<www.campbellsci.com.br> Campbell Scientific Technology, Midac, Lab Alliance, Thermo Scientific
DASLIK DO BRASIL RADIOHAUS
[Tel: (21) 2103-7804] Flotation <www.radiohaus.com.br> Garmin, Icom, Kenwood,
ELECTRA SERVICE Teiko, Yaesu
<www.electraservice.com.br> SIMRAD e Northstar RADIOMAR
EQUINÁUTICA <www.radiomar.com.br> Furuno, Icom, Garmim,
<www.equinautic.com.br> Northstar e Naveman Orbit Marine, Pacifc Crest, McMurdo
GEOMET REALMARINE
<www.geomt-ltda.com.br> Valeport <www.realmarine.com.br> Naveman
HANNA INSTRUMENTS DO BRASIL SEFAR LATINO AMERICA LTDA
<www.hannabrasil.com> Hanna Instruments [Tel: (11) 3814-1030] Sefar
HEXIS SIGHTGPS
<www.hexis.com.br> YSI, Thermo Scientific e Sartorius <www.sightgps.com.br> Teledyne Odom
INTELLIGENT MARITIME SOLUTIONS Hydrographic e Hypack
<www.ims-consulting.com.br> Odim Brooke US BIOSOLUTIONS BRASIL LTDA
Ocean e Knudsen Engineering <www.usbio.com.br> Ocean Optics
LABMATRIX
<www.labmatrix.com.br> Eureka, Horiba APARELHOS OCEANOGRÁFICOS
LUNUS
<www.lunus.com.br> General Oceanics., General AQUATIC RESEARCH
Acoustics; RBR, Ocean Instruments, Coastal <www.aquaticresearch.com>
Envoronmental

FABRICANTES E F ORNECEDORES 447


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
COASTAL ENVIRONMENTAL DEL NORTE
<www.coastalenvironmental.com> <www.del-norte.co.uk>
GENERAL OCEANICS FARSOUDER
<www.generaloceanics.com> <www.farsounder.com>
HYDROBIOS FURUNO
<www.hydrobios.de> <www.furunousa.com>
HYDRO-OPTICS, BIOLOGY & INSTRUMENTATION (HOBI) GLOBAL WATER
<www.hobilabs.com> <www.globalw.com>
IGP MARINE HYDROACOUSTIC TECHNOLOGY
<www.igp.de> <www.htisonar.com>
KC-DENMARK IMAGENEX
<www.kc-denmark.dk> <www.imagenex.com>
LUNUS INTERPHASE FORWARD LOOKING TECHNOLOGY
<www.lunus.com.br> <www.interphase-tech.com>
MCLANE RESEARCH LABORATORIES KNUDSEN
<www.mclanelabs.com> <www.knudsenengineering.com>
MILAN LINKQUEST
<www.milan-ec.com.br> <www.link-quest.com>
OCEAN INNOVATIONS MACARTNEY
<www.o-vations.com> <www.macartney.com>
OCEAN INSTRUMENTS MARIMATECH
<www.oceaninstruments.com> <www.marimatech.com>
OCEAN SCIENTIFIC INTERNATIONAL MARINE DATA
<www.osil.co.uk> <www.marine-data.co.uk>
OKEANUS MARINE ELECTRONICS
<www.okeanus.com.br> <www.marine-electronics.co.uk>
OPEN SEAS MARSCHALL ACOUSTICS INSTRUMENTS
<www.openseas.com> <www.hydrophones.com>
SEA AND LAND TECHNOLOGIES MERIDATA
<www.sea-landtech.com.sg> <www.meridata.fi>
SEABED TECHNOLOGY OCEANSCAN
<www.seabed.nl> <www.oceanscan.net>
SEA-BIRD ELETRONICS OHMEX
<www.seabird.com> <www.ohmex.com>
SOUND OCEAN SYSTEMS OKTOPUS
<www.soundocean.com> <www.oktopus-mari-tech.de>
SPARTEL RAYMARINE
<www.spartel.u-net.com> <www.raymarine.com>
TELEDYNE MARINE RBR
<www.teledynemarine.com> <www.rbr-global.com>
SEABED TECHNOLOGY
“A” FRAME <www.seabed.nl>
SEASCAN
ALL OCEANS <www.seascan.net>
<www.alloceans.co.uk> SIGHTGPS
MACGREGOR <www.sightgps.com.br>
<www.macgregor-group.com> SIMRAD
SEAEYE <www.simrad.com>
<www.seaeye.com> SOUND METRICS
SMD HYDROVISION <www.soundmetrics.com>
<www.smd.co.uk> VALEPORT
<www.valeport.co.uk>
ACÚSTICA - EQUIPAMENTOS
ACÚSTICA - PEÇAS
AQUATEC
<www.aquatecgroup.com> CETACEAN RESEARCH
BIOSONICS <www.cetaceanresearch.com>
<www.biosonicsinc.com> CHELSEA TECHNOLOGIES
CETACEAN RESEARCH <www.chelsea.co.uk>
<www.cetaceanresearch.com> ELECTRONIC DEVICES
CHELSEA TECHNOLOGIES <www.dsts.com>
<www.chelsea.co.uk>

448 FABRICANTES E F ORNECEDORES


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

GEOSPECTRUM TECHNOLOGIES SEABED TECHNOLOGY


<www.geospectrum.ca> <www.seabed.nl>
INTEROCEAN SYSTEMS SOUND OCEAN SYSTEMS
<www.interoceansystems.com> <www.soundocean.com>
ITC TECHNICAP
<www.itc-transducers.com> <www.technicap.com>
MARSCHALL ACOUSTICS INSTRUMENTS
<www.hydrophones.com> BOIAS
MATERIALS SYSTEMS
<www.matsysinc.com> AXYS ENVIRONMENTAL
NEPTUNE SONAR <www.axystechnologies.com>
<www.neptune-sonar.co.uk> BRIGHTWATERS
RESON HIDROFONES <www.brightwaters.com>
<www.reson.com> COASTAL ENVIRONMENTAL
SENSOR TECHNOLOGY <www.coastalenvironmental.com>
<www.sensortech.ca> FLOTATION
VEMCO <www.flotec.com>
<www.vemco.com> IDRONAUT
<www.idronaut.it>
ADCP INTEROCEAN SYSTEMS
<www.interoceansystems.com>
FLOTATION LIGHTHOUSE R&D
<www.flotec.com> <www.lighthousehouston.com>
OCEANSCIENCE LUNUS
<www.oceanscience.com> <www.lunus.com.br>
OPEN SEAS METOCEAN DATA
<www.openseas.com> <www.metocean.com>
RD INSTRUMENTS MOORING
<www.rdinstruments.com> <www.mooringsystems.com>
SONTEK/YSI OCEANOGRAPHIC COMPANY OF NORWAY (OCEANOR)
<www.sontek.com> <www.oceanor.no>
TELEDYNE RD INSTRUMENTS OCEANSCIENCE
<www.rdinstruments.com> <www.oceanscience.com>
PACIFIC GYRE
ALTÍMETRO <www.pacificgyre.com>
PRECISION MEASUREMENT ENGINEERING
IMAGENEX <www.pme.com>
<www.imagenex.com> SAIV
MARINE ELECTRONICS <www.saivas.no>
<www.marine-electronics.co.uk> SATLANTIC
OCEANSCAN <www.satlantic.com>
<www.oceanscan.net> SiS
<www.sis-germany.com>
BENTOS - EQUIPAMENTOS DE COLETA SOUND OCEAN SYSTEMS
<www.soundocean.com>
Husky Duck TECHNICAP
[Contato: [email protected]] <www.technicap.com>
IDRONAUT
<www.idronaut.it> BOMBAS AQUÁTICAS
LABMATRIX
<www.labmatrix.com.br> CDL
MCLANE RESEARCH LABORATORIES <www.crown-cdl.com>
<www.mclanelabs.com> MASTER PUMP
MILAN <www.masterpump.com.br>
<www.milan-ec.com.br> YOKOTA MANUFACTURING
OCEAN INSTRUMENTS <www.aquadevice.com>
<www.oceaninstruments.com>
OKTOPUS CABOS E CONEXÕES SUBAQUÁTICOS
<www.oktopus-mari-tech.de>
OPEN SEAS AK INDUSTRIES
<www.openseas.com> <www.ak-ind.com>

FABRICANTES E F ORNECEDORES 449


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
HYDRO BOND COLETA DE ÁGUA
<www.hydrogroup.plc.uk>
JDR MARINE CABLES HORIBA SCIENTIFIC
<www.jdrcables.com> <www.horibalab.com>
MACARTNEY LABMATRIX
<www.macartney.com> <www.labmatrix.com.br>
MARSHALL UNDERWATER LUNUS
<www.marshallunderwater.com> <www.lunus.com.br>
NATIONAL WIRE & CABLE MCLANE RESEARCH LABORATORIES
<www.nationalwire.com> <www.mclanelabs.com>
PACIFIC CREST MILAN
<www.pacificcrest.com> <www.milan-ec.com.br>
SEA CON GLOBAL PRODUCTION OKTOPUS
<www.seacon-usa.com> <www.oktopus-mari-tech.de>
SEABED TECHNOLOGY RADCHROM
<www.seabed.nl> <www.radchrom.com.br>
SOUTH BAY CABLE SEA-BIRD ELETRONICS
<www.southbaycable.com> <www.seabird.com>
SUBCONN TECHNICAP
<www.subconn.com> <www.technicap.com>
TELEDYNE IMPULSE TURNER DESIGNS
<www.teledyneimpulse.com> <www.turnerdesigns.com>
YSI
CAIXA HERMÉTICA <www.ysi.com>

AMPHIBICO COLETA DE PARÂMETROS QUÍMICOS


<www.amphibico.com>
BELLAMARE AANDERAA
<www.bellamare-us.com> <www.aanderaa.com>
PREVCO BIOSPHERICAL
<www.prevco.com> <www.biospherical.com>
D&A
CÂMERA FOTOGRÁFICAS E DE VÍDEO <www.d-a-instruments.com>
DIGILAB
BELLAMARE <www.digilablaboratorio.com.br>
<www.bellamare-us.com> DPS INSTRUMENTS
DEEPSEA POWER & LIGTH <www.dpsinstruments.com>
<www.deepsea.com> GERSTEL
DEEPSEA SYSTEMS INTERNATIONAL <www.gerstel.com>
<www.deepseasystems.com> HORIBA SCIENTIFIC
DESERT STAR <www.horibalab.com>
<www.desertstar.com> HORIZON TECHNOLOGY
EDGE <www.horizontechinc.com>
<www.edgetech.com> IDRONAUT
INSITE PACIFIC <www.idronaut.it>
<www.insitetritech.com> LAB ALLIANCE
JW FISHERS <www.laballiance.com>
<www.jwfishers.com> LUNUS
OCEANSCAN <www.lunus.com.br>
<www.oceanscan.net> MACARTNEY
OKTOPUS <www.macartney.com>
<www.oktopus-mari-tech.de> MODAC
OUTLAND <www.midac.com>
<www.outlandtech.com> OCEAN OPTICS
SHARK MARINE TECHNOLOGIES <www.oceanoptics.com>
<www.sharkmarine.com> SATLANTIC
TRITECH INTERNATIONAL <www.satlantic.com>
<www.tritech.co.uk> SEQUOIA SCIENTIFIC
VECTOR DEVELOPMENTS <www.sequoiasci.com>
<www.seamoon.co.uk> SIS
<www.sis-germany.com>

450 FABRICANTES E F ORNECEDORES


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

SUBCHEM RBR
<www.subchem.com> <www.rbr-global.com>
TURNER DESIGNS SATLANTIC
<www.turnerdesigns.com> <www.satlantic.com>
US BIOSOLUTIONS BRASIL SEABED TECHNOLOGY
<www.usbio.com.br> <www.seabed.nl>
YSI SEA-BIRD ELETRONICS
<www.ysi.com> <www.seabird.com>
SIS
COLETORES DE PARÂMETROS FÍSICOS E QUÍMICOS <www.sis-germany.com>
STAR-ODDI MARINE DEVIDES
AANDERAA <www.star-oddi.com>
<www.aanderaa.com> TECHNICAP
AMT <www.technicap.com>
<www.amt-gmbh.com> TECHWORKS MARINE
APPLIED MICROSYSTEMS <www.techworks.ie>
<www.amloceanographic.com> THERMO SCIENTIFIC
AQUAMATIC <www.thermo.com>
<www.aquamatic.dk> VEMCO MINIDAT ALOGGER
AQUAREAD <www.vemco.com>
<www.aquaread.co.uk> Woods Hole Group
AQUATEC <www.whgrp.com>
<www.aquatecgroup.com> WTW
BRIGHTWATERS <www.wtw.com>
<www.brightwaters.com> YSI
COASTAL ENVIRONMENTAL <www.ysi.com>
<www.coastalenvironmental.com>
D&A COLETORES DE TEMPERATURA
<www.d-a-instruments.com>
EPC INSTRUTHERM
<www.epclabs.com> <www.instrutherm.com.br>
GLOBAL WATER SAIV
<www.globalw.com> <www.saivas.no>
HANNA INSTRUMENTS DO BRASIL SIS
<www.hannabrasil.com.br> <www.sis-germany.com>
HEXASYSTEMS THERMO SCIENTIFIC
<www.hexasystems.com.br> <www.thermo.com>
HEXIS
<www.hexis.com.br> COMUNICAÇÃO
HORIBA
<www.horiba.com> ICOM
HYDRO-OPTICS, BIOLOGY & INSTRUMENTATION (HOBI) <www.icomamerica.com>
<www.hobilabs.com> KVH
INSTRUTHERM <www.kvh.com>
<www.instrutherm.com.br> MCMURDO
LUNUS <www.mcmurdo.co.uk
<www.lunus.com.br> FALMOUTH
METOCEAN DATA <www.falmouth.com>
<www.metocean.com> INTEROCEAN SYSTEMS
OCEANOGRAPHIC COMPANY OF NORWAY (OCEANOR) <www.interoceansystems.com>
<www.oceanor.no> JFE ALEC
OHMEX <www.jfe-alec.com>
<www.ohmex.com> LOCKHEED MARTIN SIPPICAN
PACIFIC CREST <www.sippican.com>
<www.pacificcrest.com> MACARTNEY
PACIFIC GYRE <www.macartney.com>
<www.pacificgyre.com> NOBSKA
Pelago <www.nobska.net>
<www.pelago.co.uk> NORTEK
PRECISION MEASUREMENT ENGINEERING <www.nortekusa.com>
<www.pme.com> OCEANSCIENCE
<www.oceanscience.com>

FABRICANTES E F ORNECEDORES 451


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
OCEANWAVES. WAMOS® EDGE
<www.oceanwaves.org> <www.edgetech.com>
OHMEX EIVA
<www.ohmex.com> <www.eiva.dk>
RBR GEOACOUSTICS
<www.rbr-global.com> <www.km.kongsberg.com>
SAIV MARINE SONIC
<www.saivas.no> <www.marinesonic.us>
SEABED TECHNOLOGY TECNADYNE
<www.seabed.nl> <www.tecnadyne.com>
SEA-BIRD ELETRONICS TRITECH INTERNATIONAL
<www.seabird.com> <www.tritech.co.uk>
SEA-IMAGE
<www.sea-image.com> ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS
SONTEK/YSI
<www.sontek.com> CAMPBELL SCIENTIFIC
VALEPORT <www.campbellsci.com>
<www.valeport.co.uk> COASTAL ENVIRONMENTAL
<www.coastalenvironmental.com>
CTD FURUNO
<www.furunousa.com>
AANDERAA INCOTERM
<www.aanderaa.com> <www.incoterm.com.br>
AMT LUNUS
<www.amt-gmbh.com> <www.lunus.com.br>
APPLIED MICROSYSTEMS NAVMAN
<www.amloceanographic.com> <www.navmanmarine.net>
FALMOUTH OCEANOGRAPHIC COMPANY OF NORWAY (OCEANOR)
<www.falmouth.com> <www.oceanor.no>
HYDROBIOS
<www.hydrobios.de> GEOLOGIA - EQUIPAMENTOS DE COLETA
JFE ALEC
<www.jfe-alec.com> D&A
MACARTNEY <www.d-a-instruments.com>
<www.macartney.com> GEOMETRICS
MARSCHALL ACOUSTICS INSTRUMENTS <www.geometrics.com>
<www.hydrophones.com> HUSKY DUCK
OCEAN SENSORS [Contato: [email protected]]
<www.oceansensors.com> JTCM
OCEANSCAN <www.jctm-hidromet.com.br>
<www.oceanscan.net> MARINE MAGNETICS
OCEANSCIENCE <www.marinemagnetics.com>
<www.oceanscience.com> MARSCHALL ACOUSTICS INSTRUMENTS
RBR <www.hydrophones.com>
<www.rbr-global.com> MCLANE RESEARCH LABORATORIES
RD INSTRUMENTS <www.mclanelabs.com>
<www.rdinstruments.com> MILAN
SAIV <www.milan-ec.com.br>
<www.saivas.no> OCEAN INSTRUMENTS
SEA-BIRD ELETRONICS <www.oceaninstruments.com>
<www.seabird.com> OKTOPUS
SIS <www.oktopus-mari-tech.de>
<www.sis-germany.com> OPEN SEAS
TECHNICAP <www.openseas.com>
<www.technicap.com> SEABED TECHNOLOGY
VALEPORT <www.seabed.nl>
<www.valeport.co.uk>
GERADOR MARINHO
EQUIPAMENTOS PARA AUV
CUMMINS ONAM
BOWTECH <www.cumminsonan.com>
<www.bowtech.co.uk>

452 FABRICANTES E F ORNECEDORES


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

GUINCHOS OCEANOGRÁFICOS E DE PESCA INTEROCEAN SYSTEMS


<www.interoceansystems.com>
AGO ENVIRONMENTAL IXSEA
<www.agoenvironmental.com> <www.ixsea.com>
ALL OCEANS MARINE ELECTRONICS
<www.alloceans.co.uk> <www.marine-electronics.co.uk>
CARRAL MARINE SEA-BIRD ELETRONICS
<www.carralmarine.com> <www.seabird.com>
DOWNHOLE SIS
<www.downholesystems.com> <www.sis-germany.com>
DT MARINE PRODUCTS SOUND OCEAN SYSTEMS
<www.dtmarineproductsinc.com> <www.soundocean.com>
HAWBOLDT INDUSTRIES
<www.hawboldt.ca> MEDIDOR PORTÁTIL MULTISENSOR
INTEROCEAN SYSTEMS
<www.interoceansystems.com> AANDERAA
JADEN <www.aanderaa.com>
<www.jaden.com> AQUAREAD
MACARTNEY <www.aquaread.co.uk>
<www.macartney.com> HANNA INSTRUMENTS DO BRASIL
MACGREGOR <www.hannabrasil.com.br>
<www.macgregor-group.com> HEXASYSTEMS
MARKEY MACHINERY <www.hexasystems.com.br>
<www.markeymachinery.com> HEXIS
OCEANTOOLS <www.hexis.com.br>
<www.oceantools.eu> HORIBA
ODIM BROOKE OCEAN <www.horiba.com>
<www.brooke-ocean.com> THERMO SCIENTIFIC
REEL EASY <www.thermo.com>
<www.easyreeling.com> TURNER DESIGNS
ROLLS-ROYCE <www.turnerdesigns.com>
<www.rolls-royce.com> VALEPORT
SEAEYE <www.valeport.co.uk>
<www.seaeye.com> WET LABS
SHARK MARINE TECHNOLOGIES <www.wetlabs.com>
<www.sharkmarine.com> WTW
SOUND OCEAN SYSTEMS <www.wtw.com>
<www.soundocean.com> YSI
<www.ysi.com>
ILUMINAÇÃO AQUÁTICA
MONITORAMENTO E MARCAÇÃO DE ANIMAIS
BIRNS
<www.birns.com> AQUATEC
DEEPSEA POWER & LIGTH <www.aquatecgroup.com>
<www.deepsea.com> CETACEAN RESEARCH
DEEPSEA SYSTEMS INTERNATIONAL <www.cetaceanresearch.com>
<www.deepseasystems.com DESERT STAR
INTERNATIONAL LIGHT <www.desertstar.com>
<www.intl-lighttech.com> FARSOUDER
JW FISHERS <www.farsounder.com>
<www.jwfishers.com> HYDROACOUSTIC TECHNOLOGY
NIGHTSEA <www.htisonar.com>
<www.nightsea.com> NORTHWEST MARINE
OUTLAND <www.nmt-inc.com>
<www.outlandtech.com> STAR-ODDI MARINE DEVIDES
<www.star-oddi.com>
LIBERADORES ACÚSTICOS
NAVEGAÇÃO
DESERT STAR
<www.desertstar.com> ELECTRA SERVICE
EDGE <www.electraservice.com.br>
<www.edgetech.com>

FABRICANTES E F ORNECEDORES 453


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
EQUINÁUTICA CASA CAÇA E PESCA
<www.equinautic.com.br> <www.casacacaepesca.com.br>
FARSOUDER CASA DAS REDES
<www.farsounder.com> [Tel: (53) 3231-3994]
FURUNO CIA DA PESCA
<www.furunousa.com> <www.ciadapesca.com>
IMAGENEX CIA DOS CABOS
<www.imagenex.com> <www.ciadoscabos.com.br>
INTERPHASE FORWARD LOOKING TECHNOLOGY CIMAF
<www.interphase-tech.com> <www.cimafbrasil.com.br>
IXSEA FALMAT
<www.ixsea.com> <www.falmat.com>
KONGSBERG MARITIME FERRAMENTAS GERAIS
<www.km.kongsberg.com> <www.fg.com.br>
KVH MILLENIUM ARTIGOS PARA PESCA
<www.kvh.com> [Tel: 3261-2076]
MAGELLAN MOSERMAR
<www.magellangps.com> <www.mosermar.com.br>
MARIMATECH POLYMER MARINE
<www.marimatech.com> <www.polymermarine.com>
MARINE DATA REALMARINE
<www.marine-data.co.uk> <www.realmarine.com.br>
NAVMAN SEA-GEAR
<www.navmanmarine.net> <www.sea-gear.net>
NORTHSTAR YALE CORDAGE
<www.northstar.com> <www.yalecordage.com>
OCEAN EQUIPMENT
<www.oceanequipment.com> PESCA - CONFECÇÃO DE REDES
OCEANTOOLS
<www.oceantools.eu> EMBRASMAR
ORE OFFSHORE DIVISION [Contato: [email protected]]
<www.ore.com> Swan Net USA
RADIOHAUS <www.swannetusa.com>
<www.radiohaus.com.br>
RADIOMAR PESCA - FARDO PARA REDES
<www.radiomar.com.br>
RAYMARINE BKT PESCA
<www.raymarine.com> <www.bktpesca.com.br>
RD INSTRUMENTS CASA DAS REDES
<www.rdinstruments.com> [Tel: (53) 3231-3994]
REALMARINE EQUIPESCA
<www.realmarine.com.br> <www.equipesca.com.br>
Saturn Solutions LIRIO PESCA
<www.saturnsea.co.uk> <www.liriopesca.com.br>
SIGHTGPS MAZZAFERRO
<www.sightgps.com.br> <www.mazzaferro.com.br>
SIMRAD PORTAL DAS REDES
<www.simrad.com> [Tel: (13) 3261-6364]
SONARDYNE INTERNATIONAL
<www.sonardyne.com> PLÂNCTON - EQUIPAMENTOS DE COLETA
TELEDYNE TSS
<www.teledyne-tss.com> BELLAMARE
TRUE NORTH. REVOLUTION®. <www.bellamare-us.com>
<www.tntc.com> CYTOBUOY
Velamar <www.cytobuoy.com>
<www.velamar.com.br> FLUID IMAGING
<www.fluidimaging.com>
PESCA - CABOS E ACESSÓRIOS HYDROBIOS REDE MÚLTIPLA DE PLÂNCTON
<www.hydrobios.de>
ATLAM JFE ALEC CONTADORES DE PARTÍCULAS
<www.atlam.com.br> <www.jfe-alec.com>

454 FABRICANTES E F ORNECEDORES


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

LUNUS SEA SCIENCES. ACROBAT®


<www.lunus.com.br> <www.seasciences.com>
MCLANE RESEARCH LABORATORIES. ZPS SOUND OCEAN SYSTEMS
<www.mclanelabs.com> <www.soundocean.com>
MILAN SYQUEST
<www.milan-ec.com.br> <www.syqwestinc.com>
OCEAN INSTRUMENTS YSI
<www.oceaninstruments.com> <www.ysi.com>
ODIM BROOKE OCEAN. LOPC
<www.brooke-ocean.com> POLIA HODOMÉTRICA
OPEN SEAS. RTM, TUCKER, BIOMESS
<www.openseas.com> HUSKY DUCK
SEA-GEAR [Contato: [email protected]]
<www.sea-gear.net> KC-DENMARK
<www.kc-denmark.dk>
PLÂNCTON - MALHAS DE REDES ODIM Brooke Ocean
<www.brooke-ocean.com>
SEFAR
<www.sefar.com> POSICIONAMENTO
TEGAPE
<www.tegape.com.br> AQUAREAD
<www.aquaread.co.uk>
PLÂNCTON - MEDIDOR DE FLUXO/VAZÃO DEL NORTE
<www.del-norte.co.uk>
FLUID DO BRASIL DESERT STAR
<www.fluidbrasil.com.br> <www.desertstar.com>
GENERAL OCEANICS GARMIN
<www.generaloceanics.com> <www.garmin.com>
GLOBAL WATER HEMISPHERE GPS
<www.globalw.com> <www.hemispheregps.com>
HYDROBIOS IXSEA
<www.hydrobios.de> <www.ixsea.com>
KC-DENMARK KONGSBERG MARITIME
<www.kc-denmark.dk> <www.km.kongsberg.com>
TURNER DESIGNS MAGELLAN
<www.turnerdesigns.com> <www.magellangps.com>
OCEANSCAN
PLATAFORMA DE REBOQUE <www.oceanscan.net>
ORE OFFSHORE DIVISION
AANDERAA. SEAGUARD® <www.ore.com>
<www.aanderaa.com> RADIOHAUS
AMT. BIOFISH <www.radiohaus.com.br>
<www.amt-gmbh.com> RADIOMAR
CHELSEA TECHNOLOGIES <www.radiomar.com.br>
<www.chelsea.co.uk> RAYMARINE
EIVA. SCANFISH <www.raymarine.com>
<www.eiva.dk> RBR
HYDRO FORCE. CATFISH <www.rbr-global.com>
<www.hft.no> SEABED TECHNOLOGY
HYDROACOUSTIC TECHNOLOGY <www.seabed.nl>
<www.htisonar.com> SERCEL
MARSCHALL ACOUSTICS INSTRUMENTS <www.sercel.com>
<www.hydrophones.com> SONARDYNE INTERNATIONAL
OCEAN SENSORS. (APV®) <www.sonardyne.com>
<www.oceansensors.com> SOUND OCEAN SYSTEMS
OCEANSCIENCE <www.soundocean.com>
<www.oceanscience.com> TRIMBLE
ODIM BROOKE OCEAN <www.trimble.com>
<www.brooke-ocean.com>
PREVCO
<www.prevco.com>

FABRICANTES E F ORNECEDORES 455


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
PRODUTOS PARA AMOSTRAGEM DE CAMPO E LABORATÓRIO SEASCAN
<www.seascan.net>
COLE-PARMER SIMRAD
<www.coleparmer.com> <www.simrad.com>
DIGILAB SOUND METRICS. DIDSON
<www.digilablaboratorio.com.br> <www.soundmetrics.com>
G. GOTUZZO SYQUEST
<www.ggotuzzo.com.br> <www.syqwestinc.com>
HEXASYSTEMS TELEDYNE ODOM HYDROGRAPHIC
<www.hexasystems.com.br> <www.odomhydrographic.com>
HEXIS
<www.hexis.com.br> REVISTAS
INCOTERM
<www.incoterm.com.br> HYDRO INTERNATIONAL
INSTRUTHERM <www.hydro-international.com>
<www.instrutherm.com.br> INTERNATIONAL OCEAN SYSTEMS
ITASUL <www.intoceansys.co.uk>
<www.itasul.com.br> MARINE TECHNOLOGY REPORTER
LIDER <www.mtronline.net>
<www.liderequip.com.br> OCEAN NEWS & TECHNOLOGY
PRÓ-ANÁLISE <www.ocean-news.com>
<www.pro-analise.com.br> SEA TECHNOLOGY
SAMMAR <www.sea-technology.com>
<www.sammar.com.br>
SARTORIUS SEGURANÇA
<www.sartorius-mechatronics.com>
THERMO SCIENTIFIC CASA CAÇA E PESCA
<www.thermo.com> <www.casacacaepesca.com.br>
WF CIENTÍFICA CIA DA PESCA
[Contato: [email protected]] <www.ciadapesca.com>
WHEATON DO BRASIL EQUINÁUTICA
<www.grupowheaton.com.br> <www.equinautic.com.br>
FURUNO
PROCESSADOR DE IMAGEM <www.furunousa.com>
GLOMEX
IMAGENEX <www.glomex.it>
<www.imagenex.com> INTEROCEAN SYSTEMS
SEA-IMAGE <www.interoceansystems.com>
<www.sea-image.com> LIRIO PESCA
TRITECH INTERNATIONAL <www.liriopesca.com.br>
<www.tritech.co.uk> MARINE ELECTRONICS
<www.marine-electronics.co.uk>
PROSPECÇÃO PESQUEIRA MCMURDO
<www.mcmurdo.co.uk>
BIOSONICS NAVMAN
<www.biosonicsinc.com> <www.navmanmarine.net>
ELECTRA SERVICE NORTHSTAR
<www.electraservice.com.br> <www.northstar.com>
HYDROACOUSTIC TECHNOLOGY RADIOHAUS
<www.htisonar.com> <www.radiohaus.com.br>
KNUDSEN RADIOMAR
<www.knudsenengineering.com> <www.radiomar.com.br>
KONGSBERG MESOTECH RAYMARINE
<www.kongsberg-mesotech.com> <www.raymarine.com>
RESON REALMARINE
<www.reson.com> <www.realmarine.com.br>
SCANMAR SETON
<www.scanmar.no> <www.seton.com.br>
SCANTROL SUBSALVE USA
<www.scantrol.no> <www.subsalve.com>
SCIENTIFIC FISHERY SYSTEMS
<www.scifish.com>

456 FABRICANTES E F ORNECEDORES


E STUDOS O CEANOGRÁFICOS : DO I NSTRUMENTAL AO P RÁTICO

VELAMAR EPC
<www.velamar.com.br> <www.epclabs.com>
IMAGENEX
SENSOR DE PRESSÃO <www.imagenex.com>
IXSEA
DESERT STAR <www.ixsea.com>
<www.desertstar.com> JW FISHERS
RBR <www.jwfishers.com>
<www.rbr-global.com> MACARTNEY
TRITECH INTERNATIONAL <www.macartney.com>
<www.tritech.co.uk> MARINE ELECTRONICS
<www.marine-electronics.co.uk>
SENSORIAMENTO REMOTO MARINE SONI
<www.marinesonic.us>
SATURN SOLUTIONS OPEN SEAS
<www.saturnsea.co.uk> <www.openseas.com>
REEL EASY
SOFTWARE <www.easyreeling.com>
SHARK MARINE TECHNOLOGIES
CHESAPEAKE TECHNOLOGY. SONAR <www.sharkmarine.com>
<www.chesapeaketech.com> SONATECH
ECOVIEW HIDROACÚSTICA <www.sonatech.com>
<www.echoview.com> TELEDYNE ODOM HYDROGRAPHIC
EIVA. SCANFISH <www.odomhydrographic.com>
<www.eiva.dk>
HYPACK. SONAR. SONAR DE VARREDURA LATERAL E SISTEMA DE IDENTIFICAÇÃO AUTOMÁTICO (AIS)
ECOSSONDA
<www.hypack.com> CNS
IMAGENEX <www.cns.se>
<www.imagenex.com>
INTEROCEAN SYSTEMS TECNOLOGIA PESQUEIRA
<www.interoceansystems.com>
MAGELLAN. NAVEGAÇÃO IMAGENEX
<www.magellangps.com> <www.imagenex.com>
MERIDATA MARELEC
<www.meridata.fi> <www.marelec.com>
NAVIONICS. CARTAS NÁUTICAS ELETRÔNICAS SCANMAR
GEOREFERENCIADAS <www.scanmar.no>
<www.navionics.com> SCANTROL
OCEAN DATA VIEW. DADOS OCEANOGRÁFICOS <www.scantrol.no>
GEORREFERENCIADOS
<www.odv.awi.de> TERMÓGRAFOS, SALINÓGRAFOS E TERMOSALINÓGRAFOS
PRIMER-E. PACOTE ESTATÍSTICO MULTIVARIÁVEL
<www.primer-e.com> EPC
SEASPACE. PROCESSAMENTO TERASCAN <www.epclabs.com>
<www.seaspace.com> GUILDLINE INSTRUMENTS
SEQUOIA SCIENTIFIC <www.guildline.com>
<www.sequoiasci.com> LOCKHEED MARTIN SIPPICAN
SIGHTGPS <www.sippican.com>
<www.sightgps.com.br> OCEAN SENSORS
TELEDYNE RD INSTRUMENTS <www.oceansensors.com>
<www.rdinstruments.com>
VEÍCULO REMOTAMENTE OPERADO (ROV)
SONAR DEVARREDURA LATERAL
AC-CESS
C-MAX <www.ac-cess.com>
<www.cmaxsonar.com> ALL OCEANS
EDGE <www.alloceans.co.uk>
<www.edgetech.com> ARGUS REMOTE SYSTEMS
EIVA. SCANFISH <www.argus-rs.no>
<www.eiva.dk> BENTHOS
<www.benthos.com>

FABRICANTES E F ORNECEDORES 457


D ANILO C ALAZANS (O RG .)
BLUE VIEW INNOVA
<www.blueviewtech.com> <www.innova.no>
DEEPSEA SYSTEMS INTERNATIONAL IXSEA
<www.deepseasystems.com> <www.ixsea.com>
EIVA. SCANFISH MARINE SONIC
<www.eiva.dk> <www.marinesonic.us>
IGP MARINE OCEANTOOLS
<www.igp.de> <www.oceantools.eu>
JW FISHERS OHMEX
<www.jwfishers.com> <www.ohmex.com>
MACARTNEY ROVSCO
<www.macartney.com> <www.rovsco.com>
MARINSPECT SEABOTIX
<www.marinspect.com> <www.seabotix.com>
NOVA RAY. NOVA RAY® SEATRONICS. TRAWLCAM®
<www.novaray.com> <www.trawlcam.net> <www.seatronics-group.com>
OCEAN SCIENTIFIC INTERNATIONAL SHARK MARINE TECHNOLOGIES
<www.osil.co.uk> <www.sharkmarine.com>
OCEANSCIENCE SMD HYDROVISION
<www.oceanscience.com> <www.smd.co.uk>
OUTLAND SUB-ATLANTIC
<www.outlandtech.com> <www.sub-atlantic.co.uk>
PERRY SLINGSBY SYSTEMS TECNADYNE
<www.perryslingsbysystems.com> <www.tecnadyne.com>
SEABOTIX TELEDYNE ODI
<www.seabotix.com> <www.odi.com>
SEAEYE TRITECH INTERNATIONAL
<www.seaeye.com> <www.tritech.co.uk>
SHARK MARINE TECHNOLOGIES
<www.sharkmarine.com> VEÍCULO SUBAQUÁTICO AUTÔNOMO (AUV)
SIS
<www.sis-germany.com> C&C TECHNOLOGIES C-NAV®
SMD HYDROVISION <www.cctechnol.com>
<www.smd.co.uk> EIVA SCANFISH
SUB-ATLANTIC <www.eiva.dk>
<www.sub-atlantic.co.uk> FALMOUTH
SUBMERSIBLE SYSTEMS <www.falmouth.com>
<www.ssirovs.com> GEOACOUSTICS
TRITECH INTERNATIONAL <www.km.kongsberg.com>
<www.tritech.co.uk> IROBOT CORPORATION
VIDEORAY <www.irobot.com>
<www.videoray.com> KONGSBERG MARITIME
<www.km.kongsberg.com>
EQUIPAMENTOS PARA ROV OCEAN SCIENTIFIC INTERNATIONAL
<www.osil.co.uk>
APPLIED ACOUSTIC ENGINEERING OCEAN SENSORS. APV®
<www.appliedacoustics.com> <www.oceansensors.com>
BENNEX TRANSMARK NORGE OCEANSCAN
<www.bennex.com> <www.oceanscan.net>
BOWTECH OCEANSCIENCES
<www.bowtech.co.uk> <www.oceanscience.com>
CYGNUS SIS
<www.cygnus-instruments.com> <www.sis-germany.com>
DEEPSEA SYSTEMS INTERNATIONAL SOUND OCEAN SYSTEMS
<www.deepseasystems.com> <www.soundocean.com>
EDGE TELEDYNE WEBB RESEARCH. APEX
<www.edgetech.com> <www.webbresearch.com>
EIVA
<www.eiva.dk>
HAWBOLDT INDUSTRIES
<www.hawboldt.ca>

458 FABRICANTES E F ORNECEDORES


Foto: Danilo Calazans

459
460
AGRADECIMENTOS

Aos Comandantes Paulo Renato Correa Borges, Alejandro Gamberali, José de Anchieta Rio
Pinto e Homero Poujeaux Alvariza e a todos que, desde 1978 um dia fizeram parte da tripulação
do N/Pq Atlântico Sul da Universidade Federal do Rio Grande – FURG nosso mais sincero
respeito e reconhecimento.
Ao prof. Dr. João Carlos Brahm Cousin Reitor da FURG pelo apoio ao Projeto de Pesquisa
Amazônia Azul: a Experiência Embarcada.
Ao Coordenador do Curso de Oceanologia da FURG, prof. Luiz Carlos Krug pelo apoio acadêmico
e administrativo ao Projeto de Pesquisa Amazônia Azul: a Experiência Embarcada.
Aos Coordenadores dos Cursos de Oceanografia das Universidades brasileiras.
Ao Ministério de Pesca e Aquicultura (MPA), pela liberação dos recursos para a realização dos cruzeiros do
Projeto Amazônia Azul: a Experiência Embarcada e pelo incentivo à realização deste livro.
Ao Comitê Executivo para Consolidação e Ampliação dos Grupos de Pesquisa e Pós-Graduação
em Ciências do Mar (PPG-Mar), da CIRM, pelo apoio financeiro à produção deste livro.
Ao Biólogo Eric Routledge do MPA pelas sugestões e críticas construtivas ao Projeto e pela
eficiente e sempre cordial atenção ao esclarecer nossas dúvidas.
Ao colega Denis Dolci, responsável pelos embarques dos alunos por muitos anos e um apaixonado
pela arte de pesca e também de fazer amigos.
Aos colegas André Colling, Antônio C. Duvoisin, Antonio B. Greig, Carlos Bemvenuti, Denis
Dolci, Dimas Gianuca, Eduardo R. Secchi, Erik Muxagata, Gilberto Griep, Jorge P. Castello, José
H. Muelbert, Juliana Di Tullio, Lauro S. P. Madureira, Luana Portz, Luiz Felipe Dumont, Luiz B.
Laurino, Marcos Paulo Abe, Mariele L. de Paiva, Natalia Pereira, Osmar Möller Jr., Pedro F. Fruet,
Raul de Bem Jr., Rogério P. Manzolli, Santiago Montealegre-Quijano, autores dos capítulos deste
livro, pela disposição em escrevê-los.
Às professoras Mônica Wallner Kersanach e Maria da Graça Z. Baugarten, pelas contribuições e
críticas ao Capítulo 6, Virginia Tavano Garcia pela contribuição ao Capítulo 9 e ao professor
Vanildo Souza de Oliveira, da UFRPE, pelas contribuições e críticas ao Capítulo 11.
À Divisão da Frota pelo tratamento atencioso referente à logística das saídas dos cruzeiros no Navio.
A todo o pessoal da FAURG pelo constante esforço empreendido no sentido de disponibilizar de
maneira rápida todos os pedidos para que os Cruzeiros pudessem ser realizados a contento.
À Neiva das Neves pelo apoio logístico para a realização do livro e à Kely Martinato responsável
pelas excelentes ilustrações e amizade.
Aos professores, técnicos e alunos monitores que embarcaram durante os cruzeiros.
Finalmente a todos os alunos que passaram pela experiência de embarcar no N/Pq Atlântico Sul.

461
462
463
Este livro foi composto em
Garamond e Californian FB.

Você também pode gostar