Vedas - A Sabedoria Do Oriente

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Vedas

A
Sabedoria
do Oriente
Índice

Autor: Marcos Spagnuolo Souza


Apresentação
Advaita e Vaisnava: Suas Controversias
Atividades Humanas no Pensar Vedanta
Os Mestres do Oriente I - Suta Gosvami
Os Mestres do Oriente II - Suta Gosvami
Os Mestres do Oriente III - Vyasadeva
Os Mestres do Oriente IV - Narada Muni
Os Mestres do Oriente V - Narada Muni
Os Mestres do Oriente VI - Srimati Kunti
Os Mestres do Oriente VII - Bhismadeva
Os Mestres do Oriente VIII - Narada Muni
Os Mestres do Oriente IX - Samika Rsi
Os Mestres do Oriente X - Maharaja Pariksit
Os Mestres do Oriente XI Síntese do Canto 01
Os Mestres do Oriente XII Sukadeva Gosvami
Os Mestres do Oriente XIII Sukadeva Gosvami
Os Mestres do Oriente XIV Sukadeva Gosvami
Os Mestres do Oriente XV - Brahma
Os Mestres do Oriente XVI - Sukadeva Gosvami
Os Mestres do Oriente XVII - Síntese do Canto 02
Os Mestres do Oriente XVIII: Uddhava Muni
Os Mestres do Oriente XIX -Maitreya Muni
Os Mestres do Oriente XX- Kapila Muni
Os Mestres do Oriente XXI- Síntese do Canto 03
Os Mestres do Oriente XXII - Narada Muni
Os Mestres do Oriente XXIII - Maitreya Muni
Os Mestres do Oriente XXIV - Síntese do Canto 04
Os Mestres do Oriente XXV - Brahma
Os Mestres do Oriente XXVI- Jata Bharata
Os Mestres do Oriente XXVII -Rsabhadeva
Os Mestres do Oriente XXVIII - Sukadeva Gosvami
Os Mestres do Oriente XXIX - Síntese do Canto 05
Os Mestres do Oriente XXX - Sukadeva Gosvami
Os Mestres do Oriente XXXI - Síntese do Canto 06
Autor
Marcos Spagnuolo Souza

Sou filho de Ernani Souza e Clélia Spagnuolo Souza, nasci na cidade de


Belo Horizonte – Minas Gerais, no ano de 1945. Sou formado em Administração
de Empresa e História, pós-graduado em Filosofia e História do Brasil e Mestrando
em História na Universidade Federal de Goiânia. Atualmente sou professor de
Filosofia e Filosofia da Educação na Faculdade Noroeste de Minas – Paracatu –
MG. Tenho os seguintes livros publicados: A Doutrina dos Vedas, Vídia Atma,
Os Cátaros, A Gnosis na Mitologia Grega. Especificamente no campo da História,
estão sendo publicados os seguintes livros: Paracatu Sua História, Vidas Vividas,
Siqueira Campos em Paracatu, Anais da Câmara de Jõao Pinheiro. Escrevo
uma coluna sobre política no jornal “Opinião”, uma coluna no jornal “O
Movimento” sobre História de Paracatu, e uma coluna no “Jornal de Paracatu”
a respeito das antigas religiões. Na rádio Boa Vista FM, apresento três programas
diários sobre política/economia, intitulado “Brasil Hoje”. Temos uma empresa
denominada “Instituto de Pesquisa do Noroeste Mineiro LTDA” cujo objetivo
fundamental é o desenvolvimento da pesquisa histórica na região.

“Por mais inconscientes que possam os homens estar do fato de que cada
um possui dentro de si esta suprema natureza, e por mais vis e néscios que
possam ser, Buda nunca perde a fé neles, porque Ele sabe que neles há,
potencialmente, todas as virtudes da natureza de Buda.” A Doutrina de
Buda.
Apresentação
Marcos Spagnuolo Souza

Depois de muitos anos estudando filosofia oriental e ocidental, tendo


especializado em filosofia na Universidade Católica de Brasília e mestrando em
história na Universidade Federal de Goiânia, tenho observado que o modo de
pensar dos mestres orientais podem ajudar muito as pessoas do ocidente, que
desde o século XVII, com o pensar de Descartes passaram a fundamentar o
conhecimento no racionalismo Cartesiano, levando uma vida apegada aos
sentidos.

A existência de uma essência imortal no interior de cada corpo grosseiro


e sutil é amplamente apresentada e discutida pelos antigos mestres orientais,
sendo o assunto colocado com clareza e objetividade. Os mestres do Oriente,
além de mostrarem a razão de ser da entidade viva, esclarecem a respeito da
Suprema Personalidade de Deus, fazendo-nos entender a relação existente
entre alma e Deus.

Com o único objetivo de tentar levar às pessoas o referido conhecimento,


que sem sombra de dúvida é de elevado nível intelectual, preparei inúmeros
artigos que poderão servir de introdução a um estudo mais profundo.

No primeiro momento estou colocando em disponibilidade uma monografia


intitulada “Advaita e Vaisnava: Suas Controvérsias”; um artigo intitulado “
Atividades Humanas no Pensar Vedanta” e também oito artigos sobre os mestres
do oriente, fundamentado no Srimad Bhagavatam.

Pretendo incluir outros artigos a respeito dos mestres do oriente, conforme


o andamento dos meus estudos, assim sendo, vagarosamente teremos a
oportunidade de conhecer os mestres que viveram 5.000 aC na Índia.

Considero a filosofia oriental, principalmente os Vedas, uma cesta repleta


de jóias de todos os quilates e cores. Tomarei apenas uma das pedras preciosas
e procurarei descrever a referida jóia, sabendo das impurezas contidas em
minha mente.

Ofereço este trabalho ao meu mestre espiritual Hridayanand Maharaja


(Acaryadeva) e todas as glórias a Srila Prabhupada.

Marcos Spagnuolo Souza


Krsna Dhyana
ADVAITA E VAISNAVA - SUAS CONTROVÉRSIAS
Marcos Spagnuolo Souza

Paracatu, Setembro 1999.

Resumo

O presente trabalho é uma apresentação da filosofia Advaita e Vaisnava,


ou seja, uma interpretação dualistica e outra monistica do Supremo e da
existência.

-1-

Introdução

Advaita e Vaisnava são temas polêmicos que se divergem em suas


interpretações a respeito do Supremo e da existência.

Advaita é uma filosofia não-dual, indicando que não há diferença entre o


Supremo e a realidade. Tudo é Brahman. O Ser Supremo, o Atman é um Ser
em todos.

O Vaisnava se fundamenta no dualismo personalistico, onde o Atman é


diferente do Supremo e o Absoluto possui uma personalidade própria.

As duas escolas, para muitas pessoas, servem de referências para se


colocarem diante da própria existência. Assim sendo, é de suma importância
pensarmos a respeito do dualismo e do monismo para que tenhamos condições
de elaborar novas interpretações.

Tomamos Sankara como representante da escola Advaita e Caitanya da


escola Vaisnava.

Os seguidores de Caitanya dizem que a linha de pensamento de Sankara


não há nenhuma variedade, individualidade ou personalidade no Ser Supremo,
divergindo de todas as escolas védicas ortodoxas. Afirmam que Sankara
reinterpretou ou rejeitou a maior parte do smrti védica. Ao equiparar Atman a
Brahman, contradisse enfaticamente o Bhagavad-gita e os Purunas.

Os adeptos de Sankara comentam que os Vaisnavas estão na ilusão,


interpretando o Supremo com o auxílio do Ego. O personalismo de Bhagavan é
fruto da jiva, que é o eu inferior, transitório e relativo.

Diante das contradições existentes, iniciamos o nosso trabalho colocando


a biografia de Sankara e dos Vaisnavas Madhva, Ramanuja e Caitanya. Em
seguida fundamentado em ampla bibliografia, apresentamos, o pensar das
duas escolas. Terminamos o trabalho com a necessidade de novas interpretações
baseadas nos pré-conceitos que adquirimos.
Capítulo I

1. Biografia

1.1. Sankara
1.2. Ramanuja
1.3. Madhva
1.4. Caitanya

1.1. Sankara

Na apresentação do livro Sankara, “A Jóia Suprema do Discernimento,”


salienta que Sankara nasceu em ou por volta de 686.ªC., de pais brâmanes
em Kaládi, vilarejo do Malabar Ocidental, no Sul da Índia. Aos dez anos já
tinha lido e decorado todas as escrituras como escrevera comentários sobre
muitas delas e travara discussões com renomados eruditos.

Ainda criança já estava descontente com o vazio do conhecimento livresco


e resolveu fazer de sua vida um exemplo que pudesse reconduzir os homens à
senda da verdade. Por essa época, seu pai faleceu. O menino se viu às voltas
com enigma da morte, e decidiu decifrá-lo. Renunciou tudo para buscar os
significado da existência. Partiu em busca de um mestre.

Às margens do rio Narmanda encontrou Gaudapada, célebre filósofo e


vidente que tinha alcançado o conhecimento da realidade. Sankara pediu ao
velho sábio que se encarregasse de sua iniciação, mas Gaudapada recusou-se
a antendê-lo, pois, tinha voto de permanecer absorto na união com Brahman.
Enviou Sankara ao seu principal discípulo, Govindapa que iniciou e instruiu o
menino na meditação e no processo da Ioga. Em pouco tempo Sankara alcançou
a completa realização mística e começou ele próprio a ensinar.

Em um determinado dia, encontrou com um chandala, membro da mais


baixa das castas, a dos intocáveis. O homem trazia consigo quatro cachorros,
que bloquearam o caminho de Sankara. O Brahmin Sankara ordenou ao
chandala que saísse do seu caminho. O chandala retrucou dizendo: “ Se há um
só Deus, como pode haver muitas espécies de homens?” Sankara encheu-se
de vergonha e reverência, e prostrou-se diante do chandala . Esse incidente
inspirou um dos mais belos poemas de Sankara, O Manisha Panchak.

Sankara começou a ensinar entre os eruditos, convertendo primeiro os


professores, depois os alunos destes. Um deles era o famoso filósofo Mandan
Misra que afirmava que a vida do chefe de família era superior à do monge.
Sankara resolveu discutir com ele e dirigiu-se à sua casa. Ali chegando,
encontrou as portas fechadas. Misra estava celebrando uma cerimônia religiosa
e não queria ser incomodado. Sankara, com o espírito de adolescente, subiu
numa árvore próxima e dali saltou para dentro do pátio. Misra percebeu-o no
meio da multidão. Ele não gostava de monges e perguntou sarcasticamente:
“De onde vem essa cabeça raspada? – “O senhor tem olhos para ver”, respondeu
Sankara. “A cabeça raspada vem do pescoço”. Misra ficou irritado, mas Sankara
continuou a provocá-lo, até que os dois concordaram em travar um debate a
respeito dos méritos concernentes às vidas do monge e do chefe de família.
Ficou assentado que Sankara, se perdesse, se tornaria chefe de família, e que
Misra, se fosse ele o perdedor, se tornaria monge. O debate durou vários dias.
Bharati, a culta esposa de Misra, serviu de árbitro. Sankara conseguiu convencer
Misra da superioridade da vida monástica e Misra tornou-se seu discípulo. Foi
ele quem anotou os comentários de Sankara sobre os Brahman – Sutras.

Sankara terminou seus dias em Kedarnath, no Himalaia. Ao morrer, tinha


apenas 32 anos. Durante esse breve período, fundara vários mosteiros e criara
dez ordens monásticas. A produção literária de Sankara foi enorme. Teceu
comentários sobre os Vedanta – Sutra, os principais Upanishads e o Bhagavad
–Gita como produziu duas importantes obras filosóficas, o Upadeshasahasri e
o Vivekachudamani. Deixou vários poemas, hinos, preces e obras menores
sobre o Vedanta.

No livro Sankara: Viveka – Chudamani, o professor Alberto Brum na


apresentação diz que Sankara viveu em um período de apogeu da criatividade
filosófica da Índia clássica. Foi um dos grandes pensadores do Oriente e a
chama do ensinamento Advaita. Após encontrar Gaudapada, o autor dos
comentários ao Manduya Upanishads foi treinado na Yoga por Govinda Yogi,
que é um outro nome para Patañjali.

Sankara nasceu logo após o período em que viveu Buda. Na essência, sua
filosofia era um complemento metafísico para a ética budista. Revestiu-se de
um corpo humano 51 anos após o Nirvana do Buda.

Satsvarupa Dasa Gosvami no livro Filosofia Védica afirma que Sankara foi
um Sivaista (seguidor de Siva) nascido numa família sul-indiana de brahmanas
ortodoxos. Quando ainda era jovem, tornou-se um asceta.

Advaita – Vedanta é o nome que se dá à interpretação da literatura védica


estabelecida por Sankara. Ao negar a pluralidade do Atman, divergiu de todas
as escolas védicas ortodoxas.

1.2. Ramanuja

Ramanuja (1017 – 1137 d.C) foi um brahmana sul-indiano que ensinou e


viajou extensamente. Por algum tempo, ele foi o sacerdote principal do templo
Vaisnava de Sri Ranga. Escreveu três comentários: o Vedartha - Sangraha
(sobre os Veda), o Sri-bhasya (sobre o Vedanta- Sutra) e o Bhagavad- gita-
bhasya (sobre o Bhagavad-gita). Ele é mais bem conhecido por sua forte
apresentação do vaisnavismo e por sua oposição ao monismo impessoal de
Sankara . Procurou expor as contradições filosóficas de Sankara e o seu desafio
ao Siddhanta Védico.
1.3. Madhva

Madhava (1239 – 1319 d.C) pertencia à tradição vaisnava e dedicou-se a


combater a filosofia impessoal de Sankara. O Purnaprajna-bhasya de
Madhvacarya estabeleceu uma classe de filosofia Vedanta chamada sud-
dhadvaita (dualismo puro). Masndhava garantia que o Supremo e Atman são
eternamente distintos, e que as jivas (Atman) também são diferentes da
matéria, pois elas são a energia superior do Supremo.

1.4. Caitanya

No final do século dezesseis, com o nascimento de Krsna Caitanya, na


Bengala, a filosofia teísta vaisnava de Ramanuja e Madhva atingiu seu clímax.
A filosofia de Caitanya de acintya-bhedabhedahtattva completou a progressão
ao teísmo devocional. Ramanuja concorda com Sankara que o Absoluto é apenas
um, mas ele discordara ao afirmar a existência de variedade individual dentro
dessa unidade. Madhva sublinhara a dualidade eterna do Supremo e da Jiva:
ele garantira que essa dualidade perdura mesmo depois da libertação. Caitanya,
por sua vez, especificou que o Supremo e os Jivas são inconcebível e
simultaneamente iguais e diferente ( acintya-bhedaabheda). Ele opunha-se
frontalmente à filosofia de Sankara, a qual desafiava o Siddhanta de Vyasadeva.

Caitanya (1486 – 1534 d.C) nasceu em Navadvipa, Bengala. Aceitou a


ordem renunciada aos vinte e quatro anos de idade. Isvari Puri, seu mestre
espiritual, era discípulo de Madhavendra Puri, que integrava a linha de Madhva.
Os seguidores imediatos de Caitanya, os seis Gosvamis: Rupa, Sanatara, Jiva,
Gopala, Bhatta, Raghunatha Bhatta e Raghunatha dasa, compilaram um grande
número de textos em sânscrito e, assim, documentaram o sistema filosófico
de Caitanya. Caitanya escreveu apenas oito versos.

Capítulo II

1. Filosofia Advaita

A única verdade é Brahman. Atman e Brahman são idênticos. São nomes


diferente para a mesma realidade.

“Brahman é real”

“Brahman é a realidade”

“Atman e Brahman são um”

“O Atman não é outro senão Brahman”

“Brahman é tudo e Atman é Brahman”

“Tudo o que vemos exteriormente é Brahman. Esse Eu que está no interior é


Brahman”
Brahman ou Atman é infinito, imutável, invisível aos sentidos, é a causa
primordial, é perfeito, pura consciência, a testemunha, realidade eterna,
onipresente, tudo penetra, indivisível, é a própria existência, é o conhecimento,
a bem-aventurança suprema. É o Absoluto.

“Sankara diz que Brahman permanece eternamente infinito e imutável. Brahman


nunca é visível a nossa percepção sensorial do dia-a-dia (...) é a existência, o
conhecimento e a bem-aventurança absoluta.”

“Brahman é a causa primordial do universo”.

“O Atman é eternamente imutável e perfeito”.

“O Atman é pura consciência”.

“O Atman é a testemunha, a consciência infinita (...) é a realidade eterna,


onipresente que a tudo permeia. É o Eu verdadeiro”.

“O Atman é a consciência Suprema, eterna, indivisível e pura.”

“Brahman é pura existência, pura consciência, eterna, bem-aventurança, está


além da ação (...) em Brahman não há diversidade”.

“Atman e o Supremo de onde tudo procede. É ele que energiza todos os veículos
(corpus) em função dos quais atuamos”.

“Este Purusha, Atman essencial, é perpétuo, anterior a todas as coisas, não


condicionado, felicidade absoluta; tem eternamente a mesma forma e
conhecimento de si mesmo e é a força impulsora de todos os órgãos dos
sentidos.”

“Atman é a centelha, a mônoda, o centro mais sutil em torno do qual tudo o


mais se congrega. Atman é idêntico ao Absoluto (Brahman) onde tudo está
enraizado.”

Nos Upanishades vamos encontrar alguns esclarecimentos a respeito do


Supremo:

“O Atman nunca nasce e nunca morre. Nada há em sua frente, e é Único para
todo o sempre. Nunca nascido e eterno, fora do tempo passado ou futuro, ele
não morre quando morre o corpo”.

“Atman não tem som nem forma, não tem tacto, nem gosto, nem perfume. É
eterno, imutável, e sem princípio nem fim: na verdade está fora de qualquer
raciocínio”.

“Brahman é um espírito que está entre as coisas deste mundo e que, contudo,
está acima das coisas deste mundo. Ele é claro e puro na paz de um abismo de
vastidão. Ele está além da vida do corpo e da mente, nunca nasce, nunca
morre, é eterno, é sempre Único na sua própria grandeza. Ele é o espírito cujo
poder dá consciência ao Corpo”.

O Universo fenomênico não é real, não é real nenhuma manifestação


existencial. O nosso próprio corpo também não é real. Tudo não passa de uma
ilusão. O nosso universo físico existe mas não é uma realidade. A única realidade
é Brahman, o Atman.

“Brahman é verdadeiro, o mundo transitório é uma ilusão”.

“O mundo não é inexistente, porém difere da realidade, Brahman. Ele (o mundo)


não é real, visto que desaparece à luz do conhecimento da sua base eterna. Só
o Eu, o Atman, é real”.

“O mundo aparente é produzido pela nossa imaginação na sua ignorância. Ele


não é real. (...) É como um sonho passageiro”.

Existe diferença entre realidade e existência. A realidade é eterna, imutável,


perfeita, verdadeira e indivisível. A existência é uma ilusão relativa, é irreal, é
aparente, é uma projeção. O universo fenomênico é existencial mas não é
uma realidade. O existencial não se origina da realidade Brahman, não é uma
transformação do infinito. Caso o infinito se manifestasse no futuro, o infinito
perderia sua característica de infinitude. O finito só pode ter sua origem na
finitude. O infinito sempre será infinito e o finito nunca será.

“Se acreditarmos que finito tem uma realidade própria absoluta e que ele
origina do Infinito e é uma verdadeira transformação do Infinito, ou se
considerarmos o Infinito transcendental do mundo fenomenal, então teremos
que admitir que o Infinito já não é Infinito”.

No estado de ilusão ou ignorância o mundo é vivenciado e passa a existir


tal como nos aparece. Esta ilusão é devido ao efeito da sobreposição.

Entende-se por sobreposição uma imagem que se apresenta à nossa


consciência falseando a realidade. Toda esta imagem que temos da existência
é uma sobreposição a Brahman.

“O mundo do pensamento e da matéria possui uma existência fenomenal ou


relativa e está sobreposto a Brahman, a realidade única, absoluta. Enquanto
permanecermos na ignorância, continuaremos a experimentar este mundo
aparente, que é o efeito da sobreposição”.

“Sankara diz que sobreposição é a apresentação aparente á consciência, pela


memória, de algo que foi anteriormente observado em alguma outra parte.
Vemos uma cobra. Lembramos dela. No dia seguinte, vemos um rolo de corda.
Sobrepomos a ela a lembrança da cobra e desse modo falseamos a sua
natureza”.

“No momento em que dizemos eu sou eu, sou um ente particular, sou separado,
sou um indivíduo, estabelecemos uma espécie de reação em cadeia que torna
inevitável novas sobreposição. A reivindicação de nossa individualidade implica
a presença da individualidade em toda parte. Ela sobrepõe automaticamente
um mundo múltiplo de criaturas e objetos à realidade única, não dividida”.

A origem da sobreposição está no Ego. A partir do momento que o Ego


existe, outras sobreposições são conseqüências lógicas.
“Sankara fala de dois estágios de sobreposição. Primeiro a idéia do Ego é
sobreposto ao Eu ao profundo, a existência – realidade. Depois a idéia do Ego,
exterioriza-se, identifica-se com o corpo e atributos e as ações físicas e mentais
do corpo (...) De certo modo, identifica-se o nosso Ego com cada objeto do
universo”.

Existe uma grande diferença entre Atman e Ahamkara (Ego). O Atman é


a Consciência Suprema, é o Supremo, eterno, indivisível e puro. O Ahamkara
é uma união das experiências concreta. O Ego também é conhecido como
Vijnana, ou Jnana-atman.

“Esse Ego sujeito ao prazer e experiência é conhecido como ahamkara”.

“Ahamkara sente felicidade ou infelicidade procedentes dos objetos dos sentidos.


Já Atman está acima do dualismo e vive para sempre mergulhado em sua
extrema bem-aventurança”.

“Ahamkara, o Ego, o eu inferior, reflete plenamente essas três qualidades da


matéria (tama, sattva, rajas)”.

“O Ego, o eu inferior, experimenta a realidade através das suas funções e dos


sentidos. O que resulta dessa experiência é agradável (bom) ou desagradável
(mau). Envolvidos por elas, vivemos e somos atados pelos acontecimentos do
mundo externo que nos cerca e envolve”.

“A sensação, a noção da existência de um eu separado decorre da soma de


impressões isoladas procedentes das limitações impostas pelas particularizações
produzidas pelos diversos sentidos. O Ego é a imagem resultante desse
somatório de impressões. Alguns o chamam de eu inferior para diferenciá-lo
de um Eu Superior que é idêntico ao próprio Atman.”

“O Ego não é nada mais do que um pacote das experiências das coisas concretas
mantidas em combinação pelos sentimento de é meu e de mais ninguém. Seu
nome Védico, vijnana, isto é, vários pedaços de experiência jnana, mantidas
juntas como um todo orgânico e unido. Nos escritos Sankhya e na maioria dos
escritos pós-védicos, chama-se Ahamkara, a Ego- Criatura. A Katha – Upanissad
refere-se a ele pelos nomes jnana-atman, isto é, o Atman da experiência
individual limitada”.

Devemos esclarecer que o Atman é único, penetra todas as coisas. Não


existem inúmeros Atman e sim apenas um Atman. O Ego ou Ahamkara é
múltiplo, cada indivíduo possui o seu próprio Ego.

“Atman ou Eu último no indivíduo, esse Ser perdurável eterno, é menor que o


menor, não está em parte alguma, localizado em nenhum ponto definido,
embora, por assim dizer, esteja em todas as partes do corpo. É maior que o
grande. É ao mesmo tempo menor que o pequeno e maior que o grande. Quer
dizer, o Atman está além de todo espaço, em todo lugar e em parte alguma”.

“O Ser último é apenas um Ser, um Atman em todos os indivíduos. Não pode


existir muitos Seres últimos, muitos Atman. A pluralidade só tem sentido quando
há uma divisão no tempo ou no espaço, ou em relação aos atributos”.
“Há um único Ser último que é a base comum, um Atman, um Eu indiviso, em
todos os indivíduos separados e no universo”.

“Esse Ser último todo - consciência, todo alegria, que é então o Atman, o Eu
último, tanto do indivíduo quanto do universo e de tudo que há nele, está além
de todos os predicados e de todos os nomes, dado que está além de toda
formulação estritamente lógica pelo pensamento. Como tal, os textos védicos
se referem a Ele de uma maneira que é indefinida. É mencionado apenas como
esse um e como um ser. Mas quando se lhe dá um nome é chamado de Purusa,
a Pessoa; e na literatura posterior, Uttama-Purusa, ou que dá no mesmo,
Purusottama, o supremo, a pessoa última. Ele também é chamado de Brahman,
embora, estruturalmente falando, esse nome deva ser confinado a um aspecto
particular de Purusa”.

A partir do momento em que o Ego é formado inicia-se o processo contínuo


de sobreposição, e o Atman, o Brahman permanece como espectador.

“O Eu profundo atua como espectador, totalmente dissociado dessas disposições


de ânimos do Ego”.

“O Atman é a imutável testemunha que experimenta o Ego, o intelecto e tudo


o mais, com suas várias formas e mudanças. (...) o Atman é a testemunha, a
consciência infinita, o revelador de todas as coisas, mas difere de todas elas”.

Observamos que temos dois princípios, um real e outro ilusório. O Ego


forma imagens ilusórias, de uma existência não real e o Atman é a própria
realidade.

“Brahman não é nem o universo denso nem o universo sutil. O mundo aparente
é produzido pela nossa imaginação na sua ignorância. Ele não é real. (...) É
como um sonho passageiro.”

Toda a existência se dissolverá a partir do momento em que o Ego tomar


consciência que ele próprio não é real, que não é a alma individual e que tudo
é Brahman.

“No estado de iluminação o mundo não é vivenciado e deixa de existir”.

“O mundo desaparece à luz do conhecimento da sua base eterna”.

“Abandone a idéia do Ego na consciência transcendental, e a aparência de


mundo deve necessariamente desaparecer”.

“A ignorância individual pode terminar a qualquer momento: ela desaparece


quando o homem alcança a iluminação espiritual. Desse modo o mundo pode
desaparecer da consciência do indivíduo e ainda assim continuar a existir para
o resto da humanidade”.

O desaparecimento do Ego é quando decidimos unir a Brahman e


libertarmos da ignorância.

“A medida que um de nós decide se unir à Brahman e se libertar da ignorância,


todos à nossa volta são beneficiados”.
“A libertação somente pode ser alcançada pela percepção direta da identidade
do indivíduo com o Ser Universal”.

“Conhecendo somente este Atman, que é auto-refulgente, poder infinito, todo


conhecimento é imensurável, o indivíduo torna-se liberto do grilhão (da mutável
existência). Este conhecedor de Brahman é o melhor entre os melhores”.

Capítulo III

2. Filosofia Vaisnava

O Vaisnavismo foi revivido por Sri Krsna Caitanya Mahaparabu no final do


século dezesseis, fundamentado em Ramanuja e Madhva.

“No final do século dezesseis, com o advento de Krsna Caitanya, na Bengal, a


filosofia teísta vaisnava de Ramanuja e Madhva atingiu o seu clímax. A filosofia
de Caitanya completou a progressão do teísmo devocional”.

“Essa escola do Vaisnavismo foi fundada, ou revivida, por Sri Krsna Caitanya
Mahaprabhu (1486 –1533) em Bengala”.

No Vaisnavismo existe uma rejeição ao impersonalismo do Bhagavan


Supremo, que é a fonte de toda existência. O Supremo é o detentor de todas
as qualidades manifestadas em toda sua criação. A multiplicidade existencial é
originária da diversidade contida no próprio Bhagavan. O personalismo, aquilo
que é responsável pela distinção e surgimento do outro, é também uma
característica do Bhagavan, que reflete na existência.

“O vaisnavismo rejeitou o impersonalismo dizendo que obscurece o significado


da literatura védica.”

“O acarya vaisnava deduz que a Verdade Absoluta, a fonte de toda a variedade


cósmica, deve também possuir as qualidades que emanam. Uma de tais
qualidades é a personalidade”.

Salienta o vaisnavismo que o Supremo e o Atman ou jiva (alma individual)


são iguais e diferentes ao mesmo tempo. São iguais porque são constituídas
da mesma energia e são diferentes no conhecimento que possuem. As jivas
não perdem suas personalidades e não existe a possibilidade de se fundir
eternamente no Brahman.

“A filosofia de Caitanya (...) especificou que o Supremo e as jivas são


inconcebíveis e simultaneamente iguais e diferentes”.

“Segundo os teístas vaisnavas, a jiva não pode permanecer eternamente fundida


no Brahman”.

“Os Vaisnavas argumentam que, a jiva tem uma identidade pessoal e eterna”.

As jivas possuem duas alternativas. A primeira é a manutenção de uma


relação com o corpo, uma ligação íntima com as coisas ou pessoas. A segunda
é a relação pessoal da jiva com a Pessoa Suprema.

“A jiva tem uma identidade pessoal. Deve aceitar relações pessoais em corpos
materiais, ou deve transcender a vida material e restabelecer a sua eterna
relação pessoal com o Bhagavan Supremo”.

A jiva em sua relação com o Supremo pratica a devoção que é o ato da


personalidade jiva manter uma ligação direta com o Supremo.

“A devoção é a possibilidade de uma relação entre Deus e o homem”.

“A Escola Gaudya Vaisnava vê a bhakti (devoção), no amor entre o homem e


Deus (...) consiste em se devotar todas as ações à Deidade”.

“O Vaisnava está ocupado em serviço devocional ao Senhor, de acordo com as


regulações pancaratriki, e por isso o vaisnava tem ocupação múltipla no serviço
transcendental ao Senhor”.

O vaisnava ao ler os textos que considera sagrado, procura compreender


como ali está escrito, sem interpretar, sem fugir o significado direto das palavras.

“Os Vaisnavas seguidores do Vedanta abraçam o método filosófico chamado


mukhya – vrtt. Significa a definição exata do dicionário, não degenerando as
palavras. Não existe espaço para interpretação ou para significados indiretos”.

Em síntese, os ensinamentos de Caitanya se resume no pensar em um


Absoluto que possui personalidade específica, nas jivas que são seres eternos
individuais e que devem manter uma relação pessoal com a Pessoa Suprema.
O personalismo vaisnava é uma concepção em que o Bhagavan Supremo é
uma entidade individual, detentora de uma específica individualidade. As jivas
também são imortais e nunca perderão a individualidade. Satsvarupa Dasa
Gosvami ressalta que a raiz verbal jiv significa viver ou permanecer vivo,
sendo que o substantivo jiva trata-se do ser vivo individual ou Atman ou Alma.
Afirma Satsvarupa que a jiva é distinta do corpo. Em cada corpo, incluindo
corpos de homens, feras, pássaros e plantas reside uma alma individual (jiva).
A consciência individual é sintoma da presença da jiva.

Os Vaisnavas afirmam que o corpo é perecível e a jiva é eterna.

“Fica sabendo que aquilo que permeia todo corpo é indestrutível. Ninguém é
capaz de destruir a alma (jiva) imperecível”.

Tentando aprofundar no conhecimento vaisnava a respeito das jivas,


notamos que eles salientam que as jivas são eternas, diferentes dos corpos
físicos, mudam de corpos e são controlados pela Suprema Personalidade que é
o Bhagavan,

“Quanto às entidades vivas, os sastras autorizados afirmam que a entidade


viva não tem nascimento nem morte. No Gita está declarado que a entidade
viva ( jiva) nunca nasce e nunca morre. Ela é eterna e indestrutível e continua
a viver depois da destruição do seu corpo material temporário.”

“A Jiva ( alma) é a parte mais importante deste corpo; sem a presença da


alma, o corpo não tem valor nenhum. Este corpo é perecível e que a alma não
é perecível. A alma espiritual é diferente deste corpo e que sua natureza é
imutável, indestrutível e eterna. Ela é sempre ativa. Se é eterna ela é
eternamente ativa, e suas atividades no reino espiritual são a parte mais
confidencial do conhecimento espiritual”.

“Desde que toda entidade viva (jiva) é uma alma individual, cada uma delas
muda seu corpo a todo momento, manifestando-se às vezes como uma criança,
as vezes como um jovem e as vezes como um velho (...). Esta alma individual,
com a morte, muda finalmente de corpo e transmigra para um outro corpo”.

“Há o isvara (Personalidade Suprema) que significa controlar e há as jivas, as


entidades vivas que são controladas”.

Os Vaisnavas criticam a concepção de que a jiva após separar do corpo


fundir-se-á no Brahman impessoal, perdendo sua existência individual. Não
aceitam também que Brahman ao se manifestar no mundo físico se converte
em almas diminutas.

“A teoria de que após a liberação, a alma individual fundir-se-á no Brahman


impessoal e perderá sua existência individual, não é apoiada pelo Senhor Krsna”.

“Não é possível aceitar que a alma Suprema, enquanto está se manifestando


dentro do mundo material, se converte em inumeráveis almas diminutas, e
que ao liberar-se deste mundo material as almas diminutas e individuais voltam
a converter-se em uma só alma. A Alma Suprema não pode reduzir-se a
pedaços, como uma porção fragmentária. Esta fragmentação em almas
individuais distintas converteria o Supremo em algo seccional ou mutável,
contrariando o princípio de que a Alma Suprema é imutável”.

Satsvarupa Dasa Gosvami, que é um vaisnava, ressalta que a consciência


indica a presença da jiva dentro do corpo. Quando a jiva sai do corpo, a
consciência também sai, e o corpo perece. É a jiva que é o verdadeiro eu,
detentora da consciência. Originalmente as jivas partilhavam, em quantidades
diminutas, as qualidades do Bhagavan Supremo. As jivas, por causa da ilusão
caiu sob o controle da energia material e esqueceu sua relação com o Supremo.
Desejando desfrutar independentemente, as jivas entram no mundo material.
A jiva não tem a ver com o mundo material, mas, por causa da ilusão, ela age
buscando a própria satisfação através dos sentidos materiais. Ao atingir a
liberação, a jiva entra nos planetas espirituais onde, sob sua forma completa e
pessoal, o Supremo reside. A liberação é conseguida quando a jiva obtém a
sua identidade espiritual original, pois, sob sua forma eterna e originária a jiva
pode se associar com Bhagavan, a Suprema Personalidade de Deus.

O Bhagavad-gita ensina que temos que purificar esta consciência


materialmente contaminada. Em consciência pura nossas ações serão
encaixadas com a vontade do Supremo”.

“A consciência falsa se exibe sob a impressão de que eu sou um produto da


natureza material. Isto se chama falso Ego”.
“Aquele que deseja liberar-se, que deseja a emancipação, precisa em primeiro
lugar apreender que não é este corpo material. Mukti ou liberação significa o
libertar-se da consciência material. Mukti significa liberação da consciência
contaminada deste mundo material e situar-se em consciência pura”.

“O Supremo é tanto o criador como o desfrutador, e a jiva não é o criador e


nem o desfrutador, mas uma cooperadora. As jivas foram feitas para cooperar,
para satisfazer o Supremo”.

A individualidade da jiva, estando dentro de um corpo ou liberada da existência


material, é realçada no Bhagavad-gita:

“Para a alma nunca há nascimento nem morte. Nem, uma vez que exista ela
vai deixar de existir. Ela é não nascida, eterna, sempre existente, imortal e
primordial. Ela não morre quando o corpo morre”.

“Assim como uma pessoa se veste com roupas novas, dispensando as velhas,
de forma similar a alma aceita novos corpos materiais, dispensando os velhos
e inúteis”.

“Ele jamais nasceu, e jamais morre, nem tendo sido poderá deixar de ser; não
nascido, eterno, antigo, não morre quando morre o corpo.”

“Tal como um homem despe suas roupas usadas e veste outra novas, assim a
alma encarnada abandona os corpos gastos e passa para outros novos”

A respeito do Supremo, os Vaisnavas defendem a tese que Bhagavan é o


Absoluto, Supremo Repouso, Suprema Morada, Desfrutador Supremo, Não
Nascido, Todo Penetrante, A Causa de Todas as Causas, Causa Primordial,
Pessoa Transcendental e o controlador de todos os outros controladores,
conforme podemos observar:

“Todo ser vivo é Brahman, mas o ser vivo Supremo, ou a Suprema Personalidade
é o Supremo Brahman. Param Dhama quer dizer que Ele’ é o Supremo Repouso
ou a Suprema Morada de tudo. Pavitram Significa que Ele é puro, não
contaminado pela Contaminação material. Purusam quer dizer que Ele É o
Desfrutador Supremo. Divyam mostra que Ele é transcendental. Adi-devan
que é a Suprema Personalidade, o não nascido e todo penetrante”.

“O Supremo é a causa de todas as causas. Ele é a causa primordial e Ele é a


forma mesma da existência”.

“Sua forma verdadeira é sac-cid-ananda-vigraha, isto é, eterna, plena de


conhecimento e bem- aventurança’.

“Bhagavan é o máximo da Verdade Absoluta”.

“O Senhor Supremo é o controlador de todos os outros controladores, e Ele é


o maior de todos os diversos líderes planetários. Todo mundo está sob seu
controle. O Senhor Supremo é o único que delega poderes particulares a todas
as entidades. (...) Ele é o diretor Supremo de todos os diretores. Por isso, Ele
é transcendental a todos os tipos de líderes e controladores materiais e merece
ser adorado por todos. Ele é a Suprema causa de todas as causas”.

“Ele não possui forma corpórea como a de uma entidade viva ordinária. Não
há diferença entre Seu corpo e Sua Alma. Ele é Absoluto”.

O Absoluto para os Vaisnavas possui três aspectos que são denominados


de Bhagavan, Brahman e Paramatma. Os três aspectos do Absoluto são
conhecidos como diferentes potências transcendentais ou três fases de
compreensão e todas elas são idênticas ao Absoluto. Podemos dizer também
que são formas de expansões do Absoluto ou manifestações de Bhagavan. O
Absoluto pode ser percebido através de suas três diferentes energias, aspectos,
potências, expansões ou modo de se compreender.

“O Senhor Supremo tem diversos e inumeráveis energias que estão além de


nossa concepção; entretanto, grandes sábios eruditos ou almas liberadas têm
estudado estas energias e analisaram-nas em três partes. Todas as energias
são visnu-sakti, o que significa dizer que elas são diferentes potências do
Absoluto”.

“A verdade Absoluta é realizada em três fases de comprensão”.

“A verdade Absoluta é realizada em três fases de compreensão e todas elas


são idênticas. Tais fases da Verdade Absoluta se expressam como Bhagavan,
Brahman e Paramatma”.

“Eu adoro a Suprema Personalidade de Deus, Govinda, que é a pessoa original,


absoluta, infalível, sem princípio, embora Se expanda em formas ilimitadas,
ainda assim o mesmo original (...). Estas formas eternas, bem-aventuradas e
plenas de conhecimento do Senhor, são compreendidas dificilmente pelos
melhores eruditos védicos”.

“Nos Vedas também está dito que o Senhor, embora seja único, sem igual, não
obstante Se manifesta em formas inumeráveis. Ele é como um pedra vaidurya
que muda de cor embora se mantenha ainda a mesma”.

O Absoluto se manifesta primeiramente como Bhagavan. É uma concepção


vaisnava em que a Causa primeira é entendida como Pessoa Suprema detentora
de inconcebíveis atributos. É o mais elevado aspecto do Absoluto, possuidor
de inteligência e consciência. É o aspecto pessoal do Absoluto. Bhagavan é
sac-cid-ananda-vigraha. Sat é a sua eternidade. Cid é o seu conhecimento
eterno. Ananda é a sua bem-aventurança. Vigraha a sua forma completa.

“Bhagavan, ou a Suprema Personalidade de Deus, é a última palavra sobre o


Absoluto. Não há nada mais além disso”.

O aspecto Brahman refere-se a manifestação impessoal e onipenetrante


do Absoluto.

“Rahakrishnam escreve que Brahman não pode ser definido por categorias
lógicas nem por símbolos lingüísticos. Ele é o incompreensível Brahman Nirguna,
o Absoluto puro”.
“Quem percebe o Brahman, conhece o espírito impessoal em todas as coisas”.

“Brilhante Ela é, a luz das luzes. Aquilo que os conhecedores da alma conhecem.
O sol não brilha lá, nem a lua ou as estrelas. Estas iluminações não brilham,
muito menos este fogo terrestre. Conforme Ele, como Ele brilha é que tudo
brilha. Este mundo todo está iluminado com a Sua luz, na frente, atrás, à
direita e a esquerda, abaixo e acima”.

A terceira potência do Absoluto se manifesta como Paramatma, a


Superalma ou Hiperalma, dentro da jiva. É o Absoluto no interior de cada jiva.
É o Bhagavan localizado no interior de cada alma individual.

“O Pramatma, a Suprema Personalidade de Deus, vive no coração de todo


mundo como isvara, como controlador, e que Ele dá as direções para a jiva agir
de acordo com o desejo dela”.

“A Superalma está presente em todos os corpos individuais e que é conhecida


como Paramatma, a qual é diferente da jiva individual:.

“Tanto a Superalma (Paramatma) quanto a alma atômica (jiva) estão situadas


na mesma árvore do corpo, dentro do coração do ser vivo”.

“A Superalma, uma representação plenária do Absoluto, chama-se Paramatma


ou adhiyajna. (...) O Paramatma não é diferente do Absoluto. A Superalma, a
Suprema Personalidade, situada na jiva individual, é a testemunha das
atividades da alma. O Paramatma dá a jiva oportunidade de agir livremente, e
Ele testemunha as atividades da alma”.

Absoluto se manifesta como uma Personalidade individual, como energia


impessoal e também no interior de cada jiva. A jiva em si é eterna, ocupa
inúmeros corpos, possuidora de uma personalidade individual e sua razão de
existir é o servir ao Absoluto.

Os Vaisnavas salientam que serviu Absoluto é uma atitude devocional,


isto é, tudo fazer como veículo da Suprema Personalidade.

“Um homem ocupado em serviço devocional se liberta tanto das ações boas
como das más, mesmo nesta vida”.

“A menos que se ocupe no serviço devocional ao Senhor, a mera renúncia das


atividades não pode fazer uma pessoa feliz. Os sábios, purificados por trabalho
de devoção, alcançam o Supremo sem demora”.

“Uma pessoa que aceita o caminho do serviço devocional não está despojada
dos resultados que se obtém através do estudo dos Vedas, da execução de
sacrifícios austeros, da doação de caridade ou da ocupação em atividade
filosóficas e fruitivas. No final ela alcança a morada Suprema”.

Para os Vaisnavas o Senhor Supremo possui três energias responsáveis


por toda a criação.

“O Senhor é descrito como onipotente mediante três energias (tri, Sakti, dhrk).
Suas três energias são a energia interna, marginal e a externa. Esta energia
externa também se exibe nos três modos: bondade, paixão e ignorância. A
potência interna também se exibe em três modos espirituais: Samvt, Sandhini
e Hlandini. A potência marginal, ou as entidades vivas (jivas, atman)”.

Conclusão

O monismo impessoal de Sankara salienta que o Supremo é a causa


primordial do universo, a testemunha onipresente. No Supremo não existe
diversidade, sendo o centro em torno do qual tudo o mais se congrega. No
indivíduo existe o Atman que é o próprio Supremo manifestado no indivíduo. O
Ser Último, o Atman é apenas um Ser em todos, e não existe muitos Atman.
Há um ser único, um Atman, um Eu indiviso no universo. No indivíduo existe o
Ego, ou eu inferior, sendo o resultado das experiências concretas, individuais e
limitadas, sendo que cada indivíduo possui o seu próprio Ego. O universo
transitório, relativo e mutável não é real, sendo uma interpretação do Ego,
uma ilusão originária devido ao efeito da sobreposição que é um falsear a
realidade pelo Ego. O existente, produto da sobreposição do Ego, desaparecerá
a partir do momento em que ocorrer a Iluminação, isto é, pela percepção do
Atman, o Ser Supremo. O homem sábio deve se esforçar para se libertar da
existência condicionada, quando todos os estados mentais são rejeitados. O
ponto fundamental é que nem o Universo grosseiro nem Universo sutil é Atman;
eles não são reais, sendo produto da imaginação do Ego, assim como os sonhos
ou o ver uma serpente em corda. O aspecto essencial do pensar de Sankara é
a dissolução do Ego, o desaparecimento da individualidade, o fundir-se no
Supremo. É como se fosse uma pedra de gelo (individualidade) jogada no mar
e se dissolvesse, tornando-se o oceano (Brahman).

Observamos que o monismo impessoal de Sankara elimina definitivamente


o existencial, colocando-o como falsa percepção do Ego (individualidade). O
próprio Ego, responsável pelas ilusões, deve ser dissolvido.

A interpretação de Sankara é que a única realidade é o Supremo, e tudo


que não seja o Supremo em si é falso.

Esquece Sankara que o Supremo, fundamentado no próprio conceito de


Supremo, está acima de toda capacidade do pensar humano. Não podemos
excluir a possibilidade que o universo seja uma das manifestações de uma de
suas infinitas energias, pois o Supremo é infinito.

Eliminando o existencial como realização ou manifestação do Supremo,


foi imposto por Sankara uma restrição a infinitude do Supremo.

Sankara pensa que a individualidade é uma oposição à unidade, no entanto,


esqueceu Sankara de incluir o conceito de infinito na própria unidade.

A partir do momento em que interpretamos a Unidade Infinita do Supremo,


a individualidade passa a ser uma exigência para caracterizar a ausência de
finitude.

O Supremo é único, indiviso. Sendo infinito não possui limites para suas
qualidades. A individualidade pode ser justamente uma das infinitas qualidades
que caracterizam a Unidade.

Infinitas qualidades do Supremo não o torna dividido, não se perde a


indivisibilidade. São infinitas as qualidades do Supremo, da unidade suprema.

O Supremo não é um nada, é um tudo e o tudo inclui o individual. Nada


está fora da Unidade, sendo que o interpretar o existente como ilusão, não
sendo Brahman, deixou-se de acreditar na Unidade do Supremo.

Dizer que o Supremo não possui qualidades, condição natural pelo qual
algo se individualiza, teremos que eliminar o pensar no “Absoluto”, no “Supremo”
que são qualidades da Causa Primeira. Absoluto e Supremo são qualidades.

O dualismo personalistico de Caitanya, por outro lado, salienta que o


Supremo e as jivas são iguais e diferentes ao mesmo tempo. São iguais na
composição energética e são diferentes em qualidade de conhecimento. O
Supremo é o controlador de todos os outros controladores e possui três aspectos
que são denominados de Bhagavan, Brahman e Paramatma. O Bhagavan é a
Pessoa Suprema possuidor de infinitos atributos. Brahman é o Supremo
impessoal, o Espírito impessoal. Paramatma é o Supremo Personalidade dentro
de cada Atman ou jiva. O Supremo possui além dos três aspectos, três energias
(tri, sakti, dhrk), interna, marginal e externa. A energia marginal dão origem
as inumeráveis jivas. As jivas ou Atman são eternas, entidades pessoais e
muda de corpo a todo momento. As jivas nunca perdem suas personalidades e
não existe a possibilidade de se fundir eternamente em Brahman. As jivas
devem manter uma relação pessoal com Bhagavan. As jivas por causa da
ilusão ficaram presas na energia externa do Supremo, buscando satisfazer o
próprio corpo e se confundindo com ele, esquecendo sua condição de associação
com o Supremo. A liberação ou Iluminação ocorre quando a jiva reconhece a
sua identidade original e sua relação com a Suprema Personalidade. Liberação
significa a jiva agir conforme a vontade do Supremo. Servir ao Supremo é a
realização suprema da jiva.

Observamos que a partir do momento em que a jiva se confunde com o


corpo e procura satisfaze-lo, manifesta-se a condição de ilusão por associar
com o transitório. Para os Vaisnavas é fundamental o desassociar do gozo
existencial, que é um obstáculo ao servir à Bhagavan.

Penso que o modo de interpretar a existência, e o próprio Supremo,


desenvolvido pelos Vaisnavas é mais coerente e lógico do que o sistema Advaita
apresentado por Sankara. Provavelmente, esta tendência pelo pensar vaisnava
se explica por ser mais próximo de entender ocidental, e não é uma teoria
distante da vida. É uma forma de vida, algo que se vive.

Tanto a escola Advaita como a vaisnava procuram resposta para as


perguntas que o homem não cessa de fazer a si mesmo. São perguntas que o
atormentam, que o perseguem, a ponto de provocar o espanto.

Advaita e vaisnava são duas correntes filosóficas que buscam soluções


para questões causadoras do espanto.
As manifestações, sendo ilusões ou não, existem e cabe ao homem
individual interpretar o mundo conforme a sua própria consciência e esta
interpretação dependerá da experiência própria de cada um. Cada ente deve
ser o detentor de uma interpretação única. Nietzche salienta que as existências
(fatos) não existem, apenas existem interpretações. Diante da existência total,
cada existência individual encontra-se como se estivesse diante de um texto
misterioso, ainda não decifrado.

A interpretação é em si uma verdade para a própria existência individual,


não existindo uma verdade universal absoluta. Toda verdade é relativa, devido
a interpretação ser um processo próprio de cada existência.

O indivíduo quando interpreta está recolhendo o sentido do discurso do


criador. A existência em si, nada mais é do que o discurso, a manifestação
factual do pensar da Causa sem Causa.

Hedegger salienta que ser-ai convive com as coisas do mundo e que a


razão hermenêutica está ligada a momentos de reflexão sobre o sentido do
mundo e da existência. O interprete quando está diante do texto ele o interpreta
primeiramente fundamentado em sua pré-compreensão, com as suas pré-
suposições. O trabalho hermenêutico, posteriormente, consiste na revisão
infinita, substituindo por conceitos mais adequados. Cada interpretação se
efetua à luz do que se sabe, e o que se sabe muda. Sempre é possível novas
e melhores interpretações.

Para Heidegger, o homem não é um ser acabado e sim um projeto. Devido


o ser-no-mundo movimentar em direção ao infinito, também os juízos vão
movimentando, vão sendo substituídos por outros e, em decorrência, as nossas
interpretações vão se alterando e com ela a própria existência, porque a
existência é a própria interpretação.

Gadamer diz que o interprete deve propor um sentido após outro, para o
texto. Os nossos conceitos devem ser substituídos por outros melhores e
conforme vão se modificando vamos tendo interpretações diferentes. A mudança
dos nossos conceitos e interpretações são fundamentadas nas experiências.
Por experiência, entende Gadamer, as contradições. A dialética da experiência
é a abertura para a experiência. A experiência autêntica é quando estamos
conscientes da finitude, é o compreender a própria finitude das interpretações.

Assim sendo, a interpretação Advaita e vaisnava são válidas como pré–


conceitos para que possamos substituí-los por outros melhores, pois não existe
uma interpretação imutável. Tudo no universo muda, e devemos ter abertura
para aceitar novas experiências que serão responsáveis por novas
interpretações.

Bibliografia

BHAGAVAD – Gita segundo Gandhi. São Paulo: Editora Ícone, 1992, Trad.
Noberto de Paula Lima, P.173.
CHATTERJI, Jagadish Chandra . A Sabedoria dos Vedas. São Paulo: Pensamento,
1993. P.144.

COSVAMI, Satsvarupa Dasa. Filosofia Védica. São Paulo: The Bhaktivedanta


Book Trust, 1976. P.127.

OS UPANISHADS. São Paulo: Pensamento, 1999, Trad. Swami Prabhavanada


e Christopher Isherwood. P.151.

PRABHUPADA, Bhaktivedanta Swami. O Bhagavad – Gita Como Ele É São Paulo:


The Bhaktivedanta Book Trust, 1976. P,822.

SANKARA. A Jóia Suprema do Discernimento. São Paulo: Pensamento, 1997,


Trad. Swami Prabhvananda e Cristopher Isherwood. P.121.

SANKARA. A Jóia Suprema da Sabedoria. Brasília: Editora Teosófica, 1992.


Comentário Murillo N. de Azevedo. P.203.
Atividades Humanas no pensar Vedanta
Marcos Spagnuolo Souza

Lendo o Bhagavad-Gita observamos uma descrição das atividades humanas


e suas conseqüências, as quais procuraremos apresentá-las com o objetivo de
melhor entendermos o modo de pensar dos vedantas.

É costume no ocidente e especificamente na cultura capitalista que todas


as nossas ações tenham como resultado algum tipo de ganho pessoal. Trabalha-
se para ter o dinheiro, conversa com uma pessoa visando um relacionamento
vantajoso. A ação, que uma pessoa pratica , tendo em mente algum tipo de
ganho é denominada de ação fruitiva. Ação fruitiva é qualquer pensamento ou
comportamento que visa obter alguma coisa. É o agir com predeterminação
para obter alguma coisa em troca. Os Vedas não aceitam este tipo de
comportamento fruitivo e aconselham o desapego ao resultado do trabalho. O
ponto básico, que os vedantas não aceitam é justamente o ato de pensar e
agir visando algum tipo de retorno.

“sem se apegar aos frutos das atividades, deve-se agir por uma questão de
dever, pois trabalho sem apego a pessoa alcança o Supremo”. (BG 3:19)

Os Vedantas consideram que toda pessoa que age para obter um benefício
é um elemento mesquinho, miserável, apegado ao dinheiro e principalmente
estéril.

“liberta-se de todas as atividades fruitivas (...). Aqueles que desejam gozar os


frutos de seu trabalho são ávaros”. (BG 2:49)

Outra ação não aceita pelos Vedantas é ter um comportamento


fundamentado no prazer dos sentimentos, o viver na busca do gozo
proporcionado pela visão, tato, paladar, olfato e audição.

“Uma pessoa que se deleita unicamente nos sentidos, vive em vão‘’. (BG 3:16)

Devemos deixar claro, que os vedantas, focalizam seus ensinamentos


não apenas no comportamento e sim no pensar. Não basta ter uma ação de
afastamento do prazer impulsionado pelos sentidos, o ser humano deve-se
afastar do pensar no deleite dos sentidos.

“Aquele que restringe os sentidos e os órgãos de ação, mas cuja mente fica
nos objetos dos sentidos, certamente se ilude e é chamado um farsante”. (BG
3:6)

O ser humano, afastando da ação fruitiva e do viver em função dos sentidos


corporais, deve trabalhar para o seu sustento. Os vedantas não aconselham o
passar pela vida sem nada fazer, praticando uma não-ação.

“Não é meramente se abstendo do trabalho que uma pessoa pode alcançar a


liberdade da reação, nem somente pela renúncia pode ela alcançar a perfeição”.
(BG 3:4)
Aconselham os Vedantas o trabalho sem se apegar aos resultados que
advirão do ato de trabalhar. O homem deve executar o seu trabalho da melhor
maneira que puder sem se apegar a qualquer tipo de retribuição.

“Aquele que está desapegado dos frutos do seu trabalho e que trabalha de
acordo com sua obrigação, está na ordem renunciada da vida, e é o verdadeiro
místico: não aquele que não ascende nenhum fogo, nem exercita nenhum
trabalho”. (BG 6:1)

Afastando das atitudes não convenientes, o ser humano deve exercer


qualquer ação por si mesma, como ação destituída de recompensas, entrando
assim no círculo daqueles que estão na ordem renunciada da vida.

A renúncia para os Vedantas não é deixar de fazer alguma coisa ou


abandonar as nossas atividades e sim um aspecto mental de desvinculação de
todos os desejos físicos, gratificação dos sentidos e trabalho fruitivo.

“Uma pessoa alcançou a yoga quando, tendo renunciado a todos os desejos


materiais, ela não age para gratificação do sentido nem se ocupa em atividades
fruitivas”(BG 6:4)

Os Vedantas dizem que estamos no mundo para trabalhar, e quando


exercemos uma atividade para o nosso sustento ou de nossa família sem se
preocupar com os resultados, esta ação é denominada de dever prescrito.

“Você tem o direito de executar o seu dever prescrito, mas não tem direito aos
frutos da ação. Nunca se considere a causa dos resultados de suas atividades
e nunca se apegue a não fazer o seu dever”. (BG 2:47)

“Execute o seu dever prescrito, pois a ação é melhor que a inação. Sem trabalho,
um homem não pode nem mesmo manter o seu corpo físico”. (BG 3:8)

A característica do dever prescrito é a ação destituída de qualquer


pensamento de recompensa.

“Lute por lutar, sem considerar felicidade ou tristeza, perdas ou ganhos, vitória
ou derrota e, agindo assim, você nunca incorrerá em pecado”. (BG 2:38)

O importante para os Vedantas é ação vinculada a conscientização de


Deus. Tudo fazer tendo em mente a ligação direta com Deus, a unidade
inseparável entre Atman e Paramatman. Esta atividade em ligação com o Todo
é chamada de trabalho devocional.

“Um homem em serviço devocional se liberta tanto das ações boas como das
más, mesmo nesta vida. Esforça-se pela yoga, que é a arte de todas os
trabalhos”. (BG 2:50)

O trabalho devocional que é justamente o ter consciência da íntima ligação


entre o ente e o Todo é o cerne do pensar vedanta.

“A menos que se ocupe no serviço devocional do Senhor, a mera renúncia das


atividades não pode fazer uma pessoa feliz. Os sábios, purificados por trabalho
de devoção, alcançam o Supremo sem demora”. (BG 5:6)
O homem vedanta é um transcendentalista, consciente da harmonia plena
entre o individual e o Todo. Neste aspecto existem duas linhas filosóficas as
quais faremos um breve comentário.

A escola de Shankara: O ser real (Atman) é, em essência, o supremo


Brahman. A dualidade existe somente através das aparências, na realidade
não há dualidade. O Atman é universal. O Atman é o Todo presente em nós.

A escola de Caitanya: Há o isvara, que significa controlador e há as jivas


(Atman), as entidades vivas que são controladas. Os jivas, ou entidades vivas,
sendo parte e parcelas do Senhor Supremo, são também conscientes.

“Como a alma (Atman) corporificada passa continuamente, neste corpo, da


infância à juventude e a velhice, da mesma forma passa a um outro corpo
depois da morte. A alma auto-realizada não se confunde com tal mudança”.
(BG 2:13)

No Visnu Purana (96.7.61), afirma: A energia do Senhor Supremo divide-


se em três: Paran, Ksetrajna e Avidya. A energia Paran é a energia do próprio
Senhor Supremo; a energia Ksetrajna é a entidade viva, o Atman; e a energia
Avidya é o mundo material.

Diante da corrente personalista e impersonalista, cada pessoa deve ter a


liberdade de opção, conforme ao seu próprio nível de consciência. É muito sutil
a diferença entre as duas escolas como poderemos notar:

Mundaka Upanishades 1 parte Cap. II “Como os rios correndo para o


oceano encontram ai a paz final, e o seu nome e forma desaparecem, assim
também os Santos se libertam do nome e forma e entram no fulgor do Espírito
Supremo (Brahman) que é o maior entre os maiores. Na verdade, quem conhece
a Deus torna-se Deus”.

Mandukya Upanishades : “Brahman é tudo e Atman é Brahman”.

Srinad Bhagavatam (2.7.42): “Quem quer que se refugie sem reservas


aos pés de lotus do Senhor Supremo, será favorecido por Ele, que é ilimitado
e misericordioso. Semelhante pessoa também receberá permissão de cruzar o
oceano da ignorância. Todavia, quem pensa que o ser é este corpo material,
não pode receber a misericórdia imotivada da Suprema Personalidade de Deus”.

Kath Upanisad (1.2.20): “Tanto a Superalma (Paramatman) quanto a alma


atômica (Atman) estão situadas na mesma árvore do corpo dentro do mesmo
coração do ser vivo, e somente aquele que se libertou de todos os desejos
materiais bem como das lamentações pode, pela graça do Supremo,
compreender as glorias da alma”.

Para terminar, escolho uma frase do Katha Upanishades que diz: “O Atman
não é alcançado nem por meio de muitos estudos, nem por meio do intelecto
ou dos estudos sagrados. É alcançado por aqueles por ele escolhidos, porque o
escolhem a ele. Aos seus escolhidos revela o Atman a sua glória”.

As ações pelo sofrimento é denominada de Avidya que significa a ausência


de percepção da unidade, do Todo. O sofrimento deixa de existir a partir do
momento em que vivenciamos que não somos seres separados e individuais e
sim que estamos integrados no Todo.
Os Mestres do Oriente I - Suta Gosvami

Em um local sagrado na floresta de Naimisaranya, 5.000 aC, ocorreu uma


reunião com os grandes sábios da época. O encontro era dirigido pelo sábio
Saunaka que ofereceu o assento de honra ao sábio Suta Gosvami, que era o
mais velho dos eruditos vedantistas, conhecedor dos ensinamentos de
Vyasadeva e possuía consciência de outros sábios versados no conhecimento
metafísico.

Os sábios presentes na reunião fizeram as seguintes perguntas à Suta


Gosvami: Qual o bem último e absoluto para as pessoas? Qual a essência de
todas as escrituras?

Suta Gosvami, antes de iniciar suas explicações, ofereceu reverências à


Suprema Personalidade de Deus e passou a dizer que a ocupação mais nobre
para o ser humano é buscar conhecer Deus, sendo que Deus pode ser conhecido
diretamente pela alma pura.

Salientou Suta Gosvami da necessidade do ser humano aproximar de


Deus, e esta aproximação não é subta. Em primeiro lugar deve-se colocar a
serviço de um Mestre Espiritual, que é uma pessoa liberada. Neste período
não pode usar o ganho material para cultivar o gozo dos sentidos, e todos os
desejos deverão estar voltados unicamente para Deus. Abandonar tudo que é
supérfluo e viver uma vida simples, fundamentada na auto-preservação.

O discípulo, ao lado do Mestre Espiritual, vai ouvi-lo sobre Deus, apreenderá


a glorifica-Lo, a se lembrar Dele e adorá-Lo com toda intensidade. Com o
passar do tempo, o discípulo vai desapegando do mundo físico, livrando das
condições materiais e se libertando do contato com a matéria. Na mesma
proporção em que ocorre o desapego, aumenta à afinidade com tudo que é
eterno. É destruído vagarosamente o que é nocivo à libertação. Acabam as
apreensões e inquietudes da mente, e adquire-se o conhecimento de Deus,
que é a Suprema Personalidade.

Disse Suta Gosvami que este universo material é subjugado por três níveis
de forças: a primeira é denominada de ignorância, a segunda de paixão e a
outra de bondade. A paixão é melhor que a ignorância, mas a bondade é
melhor do que as duas anteriores. O ser humano harmonizado com a energia
da ignorância e paixão não aproxima-se do Mestre Espiritual. Somente no
nível da bondade é que se inicia o caminhar na senda da verdade absoluta.

Suta Gosvami ressaltou para os sábios, que quem está no modo da paixão/
ignorância adora os antepassados, os semideuses e outros seres vivos. O
verdadeiro caminho é o indagar a respeito de Deus, sendo o objetivo último do
conhecimento.

Afirma Suta Gosvami que religião é prestar serviço a Deus, isto é, se


colocar conscientemente sob as emanações da Suprema Personalidade.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam Canto 1 Cap. 1 e 2


Os Mestres do Oriente II - Suta Gosvami

Na floresta de Naimisaranya, Suta Gosvami tornou inteligível o caminho


da conscientização de Deus. Ensinou que a Suprema Personalidade de Deus,
cria todos os universos, os mantém e os extinguem.

Salientou Suta Gosvami que quando Deus cria os universos, Ele é chamado
de Visnu. Quando conserva os universos em atividade é denominado de Brahma
e quando Ele os fazem desaparecer, recebe o nome de Shiva. Disse Suta
Gosvami que Visnu, Brahma e Shiva são atividades de Deus, isto é, são
manifestações da Suprema Personalidade. Ressaltou Suta Gosvami que Deus
é o proprietário de todos os universos, é o único dono de tudo que existe. Ele,
a Suprema Personalidade, está dentro de Sua criação.

Apesar de Deus criar os universos e se colocar dentro de cada coisa criada,


afirmou Suta Gosvami que, a Suprema Personalidade é sempre independente,
não sendo afetado de maneira alguma pela Sua criação. Deus não está sujeito
ao que foi criado por Ele, não está subordinado ao existencial.

Suta Gosvami afirmou que as pessoas que procedem de modo não


inteligente, não entendem a essência ou a condição própria de Deus que é
transcendental a formas, nomes e atividades.

Destacou Suta Gosvami, que quem não possui a faculdade de entender,


pensar, raciocinar e interpretar, e apenas conhece por meio do sentido da
visão, vê Deus como se Ele fosse todo o cósmico físico. Esta concepção da
Suprema Personalidade é chamada de Vispa-rupa. É o ato de visualizar Deus
como se Ele fosse o conjunto de estrelas, planetas, sois, e galáxias.

Suta Gosvami confirmou que somente quem pertence a Deus, quem não
pertence a si mesmo, quem a vontade, os pensamentos e atos são
ininterruptamente reflexos da Suprema Personalidade, pode conhecer o criador
do universo em todo seu esplendor, poder e transcendência.

Observou Suta Gosvami que o início do caminhar para Deus é o fazer


perguntas, inquirindo, interrogando, indagando, pedindo esclarecimentos a
respeito do Supremo. A partir deste momento a energia do mundo físico se
atenua e a pessoa recebe conhecimento puro, é iluminada pela graça do Senhor.

Admitiu Suta Gosvami a existência de um corpo que possui uma forma


grosseira e um corpo que possui uma forma sutil. A forma grosseira é o corpo
físico; a forma sutil não possui configuração, sendo invisível, inaudível e
imanifesta. A alma, ou o ser vivo em si, possui uma forma além da forma
grosseira e sutil.

Suta Gosvami afirmou que quando ocorre a pessoa vivenciar que o corpo
grosseiro e sutil nada tem a ver com a alma, com o eu puro, ela se vê a si
mesma, bem como a Suprema Personalidade de Deus.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam Canto 1 cap. 3


Os Mestres do Oriente III - Vyasadeva

Suta Gosvami narrou para os sábios reunidos na floresta de Naimisaranya


a vida de Vyasadeva.

Disse Suta Gosvami que a mãe de Vyasadeva chamava-se Satyavate,


filha do Vasu (pescador) e o seu pai era o famoso Parasara Muni, sendo que
Vyasadeva nasceu no terceiro sandhya da Treta Yuga.

Comentou Suta Gosvami que certo dia Vyasadeva, logo ao nascer do sol,
sentou-se sozinho para meditar e viu anomalias nos próximos milênios. Tomou
consciência através de sua visão transcendental, da deterioração do pensar
humano, devido a influência da nova era que iria predominar (Kali Yuga). Viu
que a duração da vida seria reduzida e as pessoas seriam impacientes.

Devido as características da era de Kali Yuga, sentiu a necessidade de


facilitar o processo de salvação e dividiu o único Veda em quatro, para que
fosse melhor compreendido.

Após o Veda ser dividido em quatro partes, determinou que Paila Rsi seria
o orientador do Rg Veda; Jaimini do Sama Veda; Vaisampayana obteve a glória
de ensinar o Yajur Veda; ao Sumantu Muni Angira foi confiado o Atharva Veda.

O próprio Vyasadeva ficou responsável por reunir numa obra a grande


narração histórica chamada Mahabharata e o sábio Ramaharsana ficou
encarregado dos Puranas. Os Puranas e o Mahabharata são chamados de quinto
Veda.

Todos estes sábios transmitiram os Vedas que lhes foram confiados a seus
muitos discípulos, bem como aos discípulos de segunda e terceira geração;
surgindo assim os inúmeros seguidores dos Vedas.

Suta Gosvami afirmou que Vyasadeva após todo trabalho desenvolvido, sentiu-
se insatisfeito e incompleto. No momento em que o sábio estava meditando
em sua cabana às margens do Saravasti, chegou Narada Muni. Vyasadeva
levantou-se respeitosamente e o adorou, oferecendo-lhe veneração igual a
que se oferece ao Criador.

Suta Gosvami esclareceu que Vyasadeva disse à Narada Muni que não
estava tranqüilo e indagou ao sábio a causa fundamental de sua insatisfação e
o pediu que descobrisse a deficiência que existia nele. Narada Muni realçou
que os seus estudos foram perfeitos e que não existia dúvida de que tinha
preparado uma grande e maravilhosa obra, o Mahabharata, no entanto, não
tinha difundido as sublimes e imaculadas glórias da Personalidade de Deus.
Narada pediu a Vyasadeva que descrevesse as atividades transcendentais da
Suprema Personalidade, o mais claro possível. Disse que o senhor Supremo é
ilimitado e que somente uma personalidade muito competente, retirada das
atividades materiais, mereceria este conhecimento de valor espiritual.

Após a partida de Narada Muni, Vyasadeva se recolheu em sua cabana e


sentou para meditar. Fixou sua mente, sem mácula alguma de materialismo,
ao serviço devocional a Deus e assim ele pode ver a Absoluta Personalidade de
Deus, em sua presença.

Depois desta experiência de encontro com Deus, disse Suta Gosvami,


que Vyasadeva elaborou a literatura Védica chamada Srimad-Bhagavatam que
a ensinou ao seu filho Sukadeva Gosvami, que já estava ocupado em auto-
realização e se submeteu a compreensão desta maravilhosa narrativa.

Bibliografia: Srimad-Bhagavatan Canto 1 Cap. 4 e 5


Os Mestres do Oriente IV - Narada Muni

Salientou Narada Muni a Vyasadeva, nas margens do rio Saravasti, que


no milênio passado tinha nascido como filho de uma criada que se dedicava a
servir aos brahmanas que seguiam os princípios do Vedanta, e se ocupou
também em servi-los.

Narada era uma criança autocontrolada, não tinha apego a brincadeiras,


não era travessa e não falava mais que o necessário. Apenas uma vez, com a
permissão dos Vedantas, comeu o resto de seus alimentos e todos os seus
pecados foram eliminados. Ocupou-se em servir aos brahmanas, tornando-se
puro de coração.

Narada Muni ouvia aqueles sábios descreverem as atividades do Senhor


Supremo e assim ouvindo, aumentava a cada dia o seu desejo de mais ouvir
sobre o Supremo, e pode compreender que somente pela ignorância havia
aceitado novamente um corpo físico grosseiro e sutil, pois sua essência (alma)
não precisava dos corpos.

Nas estações das chuvas e durante o outono, Narada ficou ouvindo dos
sábios as glórias de Deus, assim foi deixando de viver nos modos da paixão e
ignorância. Durante este período, Narada subjugou os sentidos e seguia
estritamente os conselhos dos brahmanas.

Narada passou a entender as influências das energias emanadas de Deus


e voltou-se inteiramente a Ele, com o objetivo de encontrá-Lo pessoalmente.

Os sábios que transmitiram o conhecimento a Narada partiram para outros


lugares e Narada ficou com sua mãe, que vivia sozinha, com simplicidade em
seu emprego de criada. Certa noite, sua mãe saiu para ordenhar uma vaca, e
foi picada na perna por uma serpente. Narada salientou que o mundo está sob
o completo controle de Deus, portanto, todos são como bonecos de madeira
nas mãos do Mestre das marionetes. Tomou a morte de sua mãe como
misericórdia especial do Senhor e partiu rumo ao norte.

Passou por muitas metrópoles, cidades, aldeias, fazendas, minas, vales,


jardins, florestas e colinas. Depois de muito tempo, debaixo de uma figueira,
numa floresta desabitada, passou a meditar em Deus, que está no interior da
alma, usando a inteligência como aprendera com os sábios.

Logo que começou a meditar em Deus, com a mente transformada pelo


amor transcendental, viu a Suprema Personalidade, no entanto, estando absorto
no êxtase, a imagem de Deus desvaneceu. Ao perder de vista aquela forma,
levantou-se subitamente, ficou perturbado, como é comum quando se perde
aquilo que é desejável.

A Suprema Personalidade, vendo os esforços de Narada Muni naquele


lugar solitário, apareceu-lhe novamente e lhe disse que durante a atual vida
ele, não seria capaz de vê-Lo mais, pois, aqueles que não estão completamente
livres de todas as máculas materiais, dificilmente poderiam vê-Lo.
Narada Muni, depois do encontro com a Suprema Personalidade, passou
a viajar por toda a Terra, completamente satisfeito, humilde e sem inveja.
Absorto em pensar em Deus, livre de todas as máculas materiais, encontrou a
morte. Recebeu um corpo metafísico e abandonou o corpo grosseiro e sutil.

No final do milênio, quando toda existência se recolheu ao interior de


Deus, Narada também foi recolhido.

Após 4.300.000.000 anos solares, no despertar de Brahma, Narada


apareceu juntamente com todos os sábios.

Desde então, Narada Muni, viaja por todos os universos, sem restrição,
ensinando a mensagem transcendental, vibrando a vina, seu instrumento
musical.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam. Canto 1 Cap. 5 e 6


Os Mestres do Oriente V - Narada Muni

Narada Muni em sua conversa com Vyasadeva nas margens do rio


Sarasvati, assinalou vários aspectos importantes do caminho que conduz ao
encontro da Suprema Personalidade.

Ensinou Narada Muni que todo o pensar que não estiver associado
diretamente a Deus é um pensar inútil. A respeito das literaturas que são
divulgadas, a única que possui valor é aquela que provoca uma transformação
nas vidas das pessoas, levando-as na busca de Deus.

Narada Muni considerava que todas ações impulsionadas para a gratificação


dos sentidos, são transitórias e não possuem nenhuma utilidade perante a
eternidade. Afirma o sábio que todas as pessoas desejam desfrutar, e quando
este desfrute está relacionado com os corpos físicos e sutis, a pessoa deve ser
introduzida no caminho da compreensão transcendental.

Disse Narada Muni que muitas pessoas possuem o conhecimento a respeito


da auto-realização, no entanto, o referido conhecimento sem a concepção do
infalível Deus, não produz resultados satisfatórios.

Destacou Narada Muni que praticar simplesmente a restrição dos sentidos,


aliviará os distúrbios originados do desejo e da luxúria, mas, isto não é suficiente
para satisfazer a alma, sendo necessário se dedicar ao serviço devocional
diretamente a Deus.

O caminhar em direção a Deus, no pensar de Narada Muni, exige


veracidade; visão perfeita da transcendência; atitude de afastamento do buscar
a felicidade material; austeridade, caridade, estudo dos Vedas, cantar os hinos;
dedicar todas atividades a Deus e ocupar a inteligência em devoção à Suprema
Personalidade. Realçou que a inteligência que se coloca ao serviço de Deus,
nunca será frustada e que mesmo no momento da criação, bem como no
momento da aniquilação, não perderá a memória.

Disse Narada Muni que uma pessoa ao abandonar as atividades materiais


para ocupar-se no aproximar de Deus, pode às vezes voltar a usufruir os
aspectos físicos, quando está no estágio imaturo. Adverte Narada que esta
pessoa não ficará sujeito a existência material como os outros materialistas,
pois, nunca mais deixará de pensar na Suprema Personalidade, e nunca
esquecerá do êxtase que sentiu ao saborear as emanações do Supremo.

Narada Muni deixou bem claro que qualquer atividade que se faça nesta
vida que possua uma relação com Deus, é chamada de transcendental serviço
amoroso ao Senhor, e quando uma pessoa entende que tudo ocorre conforme
as ordens de Deus, ela constantemente se lembrará dEle.

Narada Muni confirmou a Vyasadeva que o Supremo de imediato se


manifestará, sob a forma de representação sonora, tão logo inicie o cantar
suas santas atividades. Para as pessoas que estão sempre cheias de preocupação
e ansiedades, em decorrência do contato dos sentidos com as coisas do mundo
físico, podem cruzar o oceano da energia material em um barco muito adequado,
que é o constante cantar as atividades transcendentais da Suprema
Personalidade de Deus, explicou Narada Muni.

Bibliografia: Srimad Bhagavatan Canto 1 Cap. 5


Os Mestres do Oriente VI - Srimati Kunti

Srimate Kunti ensinou que a Suprema Personalidade de Deus não é afetada


pelas qualidades do mundo material, e que Deus existe tanto dentro como
fora de tudo. Está além do alcance da limitada percepção sensorial. Não se
envolve com as ações e reações dos modos da ignorância, paixão e bondade.
É o controlador Supremo, sem começo e sem fim. É a alma do universo, a
força vital. É o proprietário da morada transcendental. É invisível apenas para
o materialista, pois, se apresenta como um ator caracterizado, não sendo
reconhecido. É a propriedade daqueles que o buscam e abandonaram os
prazeres dos sentidos. É igual para todos ao distribuir Sua misericórdia. Trabalha,
embora é inativo; nasce, embora é não nascido. É o preceptor de todo o universo
e é o Deus todo poderoso.

Srimati Kunti explicou que em determinados períodos do universo, a


Suprema Personalidade de Deus aparece no universo físico e em planetas
particulares. Surge utilizando aparentemente um corpo físico, no entanto, esse
corpo não é material e sim metafísico. Nenhum ser humano pode entender
plenamente o seu aparecimento que parece ser humano, mas, é transcendental.
Diz Kunti que Deus aparece em pessoa entre os animais, homens, sábios e
seres aquáticos.

Inúmeras são as explicações a respeito do aparecimento da Suprema


Personalidade de Deus entre nós, disse Srimati Kunti. Uns dizem que é para
propagar a ciência transcendental do serviço devocional aos corações
transcendentalistas avançados e especuladores mentais, que estão purificados
por serem capazes de discriminarem entre matéria e espírito. Outros afirmam
que o mundo estando sobrecarregado, o seu filho Brahma, suplica e assim Ele
aparece para diminuir os transtornos. Determinadas pessoas ressaltam que o
surgimento de Deus na Terra é para renovar o serviço devocional, para que as
almas condicionadas que sofrem de dores materiais, aproveitem para obterem
a libertação. No entanto, Kunti afirmou que a Suprema Personalidade de Deus,
aparece entre nós para aliviar as aflições dos animais, dos brahmanes e dos
devotos.

Srimati Kunti disse que Deus pode ser facilmente alcançado, mas, somente
por aquelas pessoas que estão materialmente esgotadas. Ressaltou que o
indivíduo que está no caminho do progresso material, tentando aprimorar-se
com parentesco respeitável, grande opulência, educação elevada e beleza
corpórea, não pode aproximar-se da Suprema Personalidade.

Ensinou Kunti que aqueles que continuamente ouvem, cantam e repetem


a respeito de Deus, ou sentem prazer em que os outros o façam, sem sombra
de dúvida, vêem os pés de lotus de Deus, que por si só, faz cessar as repetições
de nascimento e mortes.

Kunti foi enfática ao dizer que somos completamente dependentes de


Deus.
O ensinamento de Srimati Kunti pode ser resumido nestas poucas palavras:
“Senhor, cortarei meus laços de afeição por meus parentes. Assim como o
Ganges flui perenemente rumo ao mar sem nenhum obstáculo, deixarei minha
atração se dirija constantemente a Vós, sem dirigir para ninguém mais.” (Srimati
Kunti)

Bibliografia: Srimad Bhagavatam. Canto 1 Cap. 5


Os Mestres do Oriente VII - Bhismadeva

Na floresta de Nimisaranya, Suta Gosvami contou aos sábios reunidos a


morte de Bhismadeva no campo de batalha de Kurusksetra.

Disse Suta Gosvami que no final da batalha de Kurusksetra, 5.000 aC,


onde se debateram os Kauravas e Pandavas, o famoso guerreiro Bhismadeva
estava nos seus últimos momentos de vida no corpo físico, pois, tinha sido
atingido por muitas flechas.

Diante da morte, conta suta Gosvami, que Bhismadeva salientou que


aquela batalha se devia ao tempo inevitável, sob cujo controle todas as pessoas
em todos os planetas são arrastadas, assim como as nuvens são levadas pelo
vento.

Disse Bhismadeva que o tempo é irreversível e ninguém pode conhecer o


plano de Deus, sendo que tudo ocorre conforme a vontade do Supremo.
Bhismadeva destacou que a partir do momento em que se tem consciência da
existência do plano divino, devemos nos subordinar ao referido plano, mesmo
que não o compreendemos.

Ressaltou Bhismadeva que a Absoluta Personalidade de Deus está presente


no coração de todos, sendo bondoso e está livre do falso ego, responsável
pelas diferenciações. A Personalidade de Deus, dentro do coração de cada ser
vivo, aparece na mente daquele que se dedica a devoção e a meditação. Afirmou
que o cantar os santos nomes de Deus, libera o ser humano do cativeiro material,
no momento em que se abandona o corpo físico.

Ensinou Bhismadeva que Deus desfruta do prazer transcendental em vir


a este mundo material e que aparece nesta Terra em Seu corpo metafísico.

Bhismadeva comentou que naquele momento podia meditar com plena


concentração em Deus, porque tinha transcendido as falsas concepções de
dualidade a respeito da presença de Deus no coração de todos, mesmo nos
corações dos especuladores mentais. Afirmou que o sol pode ser percebido de
formas diferentes, mas o sol é um só.

Nos seus últimos momentos de vida, Bhismadeva disse que esperava que
a suprema Personalidade de Deus estivesse diante dele, no instante do seu
abandono do corpo material.

Suta Gosvami esclareceu que Bhismadeva parou de falar e, estando


completamente livre de todo cativeiro material, retraiu sua mente e a fixou na
Suprema Personalidade de Deus, que estava diante dele. Através da meditação
pura, olhando para Deus, ele se livrou imediatamente de todas as dores
corpóreas causadas pelas lesões das flechas. Desse modo, todas as atividades
externas de seus sentidos pararam de imediato, e ele orou ao controlador dos
seres vivos enquanto abandonava o seu corpo material.

Suta Gosvami ressaltou que Bhismadeva imergiu na Suprema


Personalidade de Deus, ficou silencioso e sua respiração parou.

Sabendo que Bhismadeva havia mergulhado na eternidade ilimitada do


Supremo, todos ali presentes ficaram silenciosos como pássaros ao final da
tarde, disse Suta Gosvami.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam. Canto 1. Cap. 9


Os Mestres do Oriente VIII - Narada Muni

Após a partida de Vidura, Dhrtarastra e de sua esposa Gandhari do palácio,


o rei Yudhisthira desejou saber o destino dos seus três parentes, que viviam
sob sua proteção. Diante da aflição de Yudhisthira, apareceu o sábio Narada
Muni que foi recebido adequadamente.

Narada Muni salientou que o rei não deveria lamentar por ninguém, pois
todos estão sob o controle de Deus, sendo unicamente Ele que une e separa.
Observou que assim como uma vaca amarrada pelo nariz com uma longa
corda, está limitada, da mesma forma, os seres humanos estão atados pelos
diferentes preceitos védicos e são condicionados a obedecerem às ordens da
Suprema Personalidade de Deus. Lembrou Narada, que assim como uma criança
monta e dispersa seus brinquedos conforme a sua livre vontade, da mesma
forma a vontade suprema do senhor, reúne os homens e os separa. Disse
Narada que os sentimentos de separação são devidos unicamente à afeição
ilusória e a nada mais.

Ensinou Narada Muni que todas as pessoas deveriam ater-se apenas ao


Senhor Supremo, controlando as posturas sentadas e o processo respiratório
e fixando na Absoluta Personalidade de Deus, desse modo, tornasse-a imune
as contaminações dos modos da natureza material (ignorância, paixão,
bondade).

Ressaltou Narada Muni da necessidade de amalgamar a inteligência no


inteligível e imergir no Supremo, com o conhecimento da unidade qualitativa,
livrando-se do céu limitado e elevando-se ao céu espiritual.

É necessário, disse Narada Muni, no processo meditativo suspender todas


as ações dos sentidos e não se deixar se levar pelas interações dos sentidos,
que são influenciados pelos modos da natureza material. É essencial e
indispensável a renúncia a todos os deveres materiais e estabelecer-se
permanentemente no caminho, apesar de todos os fortes obstáculos.

Comentou Narada Muni que este corpo grosseiro, feito de cinco elementos,
já está sob o controle do tempo eterno (Kala), da ação (Karma) e dos modos
da natureza material (Guna), estando preso nas mandíbulas da serpente, não
podendo proteger ninguém.

Narada Muni, depois de explicar ao rei Yudhisthira o destino dos seus


parentes, ascendeu ao espaço exterior.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam. Canto 1 Cap. 13


Os Mestres do Oriente IX - Samika Rsi

Suta Gosvami contou aos sábios reunidos na floresta de Naimisaranya,


5.000 aC, que determinado dia o rei Maharaja Pariksit estava caçando na
floresta, com arco e flecha, quando sentiu-se fatigado, faminto e com muita
sede. Ao procurar água, encontrou o eremitério do famoso sábio Samika Rsi
que se encontrava em profunda meditação. Os órgãos sensoriais do sábio, a
respiração, a mente e a inteligência estavam retraídas de todas as atividades
materiais. Samika estava em transe, tendo alcançado a posição transcendental
de igualdade qualitativa com a Absoluta Personalidade de Deus.

O rei não respeitou o momento de meditação do sábio, e pediu água.


Samika Rsi estando em transe, nada escutou e nada viu, não atendendo ao rei
Pariksit. O rei ficou irado, e para aliviar sua fúria, pegou uma serpente morta
e a colocou sobre o ombro de Samika Rsi, que continuava meditando.

Salientou Suta Gosvami que o filho do sábio, ao tomar conhecimento da


atitude do rei, amaldiçoou o soberano, dizendo que o rei deveria morrer no
final do sétimo dia, picado por uma serpente alada, devido ao insulto que
cometeu.

Samika Rsi não aprovou a pesada maldição lançada contra o rei por tão
insignificante ofensa. Ressaltou que a Suprema Personalidade de Deus é
representada pelo regime monárquico, e quando esse regime é abolido, todo o
país se enche de ladrões, que passam aniquilar os súditos desprotegidos como
se fossem cordeiros dispersos. Devido ao termino dos regimes monárquicos,
ocorrerá grandes conturbações sociais, devido o saque na riqueza do povo por
ladrões e salteadores. As pessoas serão mortas e injuriadas. Os animais e as
mulheres serão maltratadas. As pessoas em geral se desviarão do caminho de
uma civilização progressista com respeito às ocupações das castas e preceitos
védicos. Os indivíduos serão atraídos pelo desenvolvimento econômico e gozo
dos sentidos, o que resultará numa civilização indesejada ao nível de cães e
macacos. O sábio orou a Deus para que perdoasse o seu filho imaturo, que
ainda não tinha inteligência e que cometeu o pecado de amaldiçoar um rei que
estava completamente livre de pecado.
Os Mestres do Oriente X - Maharaja Pariksit

Maharaja Pariksit era um rei que foi amaldiçoado por um filho de um


sábio. A maldição previa que o rei morreria dentro de sente dias, picado por
uma cobra alada. Suta Gosvami contou aos sábios que estavam reunidos na
floresta, 5.000 aC, que o rei Maharaja Pariksit reconheceu o erro de ter ofendido
o sábio Samika e logo que tomou conhecimento de sua iminente morte, aceitou
passivamente os fatos. Passou o reinado para seu filho, livrou-se de todos os
tipos de ocupações e apegos. Iniciou o jejum que duraria até a sua morte e foi
sentar em meditação, nas margens do Ganges, com o objetivo de concentrar
sua mente na conscientização de Deus.

Quando o rei Pariksit estava meditando nas margens do Ganges, lá


chegaram as grandes mentes e pensadores acompanhados por seus discípulos.
De diferentes planetas do universo, chegaram sábios como Atri, Cyavana,
Saradvan, Aristanemi, Bhrgu, Vasistha, Parasara, Narada, Devala, Gautama,
Maitreya, Angira e muitos outros. Também muitos semideuses santos, reis e
ordens reais especiais chamadas aruandayas (um gênero especial de Rajarsis)
que foram ficar ao lado do meditativo rei Pariksit.

Suta Gosvami contou que Maharaja Paraksit disse aos presentes que o
controlador tanto do mundo metafísico quanto do mundo material,
bondosamente o dominou sob a forma da maldição de um brahmana, por ser
ele demasiado apegado à vida familiar. Disse que Deus, para o salvar, o fez
ficar irado contra o sábio para desapegá-lo do mundo. Salientou que aceitava
os fatos como uma alma completamente rendida e que a serpente alada, ou
qualquer coisa mágica que o brahmana tivesse criado, o picasse logo. Somente
desejava que todos os presentes continuassem cantando as glórias de Deus.
Suta Gosvami contou que o rei Pariksit orou pedindo que se tivesse que nascer
novamente no mundo material, que Deus permitisse que ele tivesse apego
somente à Suprema Personalidade, tivesse também a companhia dos devotos
e uma relação amistosa com todos os seres vivos. Todos os semideuses dos
planetas superiores louvaram as ações do rei.
Os Mestres do Oriente XI - Síntese do Primeiro Canto do
Srimad Bhagavatam

Deus é chamado de Visnu quando cria o universo material, é chamado de


Brahma quando o conserva em atividade e Shiva quando o destroi. Ele é o
único proprietário de todo o universo. No momento da criação, Deus se coloca
dentro de cada coisa criada, mas, não é afetado pela sua criação. Ele está
alem do alcance da percepção sensorial, é o controlador supremo, sem começo
e sem fim. É a alma do universo, a força vital. Aparece no universo físico e em
planetas particulares. Surge utilizando aparentemente um corpo físico, mas, o
corpo utilizado por Ele não é material e sim metafísico. O seu aparecimento é
justamente para aliviar as aflições dos animais, dos brahmanas e dos que
lembram Dele. Ninguém pode conhecer os planos de Deus, tudo ocorre conforme
a vontade do Supremo. Tudo é dependente Dele. Estando no coração de todos,
aparece na mente daquele que se dedica a devoção e a meditação. Não devemos
lamentar por ninguém, pois, todos estão sob o controle de Deus, sendo
unicamente Ele que une e separa. Ele é o único controlador do mundo metafísico
e do mundo material.

O universo material é subjugado por três tipos de energias, que são


denominadas de ignorância, paixão e bondade. Na época atual, estamos em
um período denominado de Kali Yuga, onde predomina o modo da ignorância,
surgindo anomalias, deterioração do pensar humano, a duração da vida é
reduzida e as pessoas são impacientes.

No início da Kali Yuga o Veda foi dividido em quatro partes, Rg Veda,


Sama Veda, Yajur Veda, Atharva Veda. O Mahabharata e os Puranas são
conhecidos como o quinto Veda. O sábio Vyasadeva escreveu o Srimad-
Bhagavatam em 5.000 aC.

O melhor tipo de governo é a monarquia, sendo que a Suprema


Personalidade de Deus é representado pelos monarcas. Na eliminação da
monarquia, durante o período da Kali Yuga, os países encherão de ladrões, os
súditos ficarão desprotegidos e serão aniquilados. Ocorrerá conturbações sociais
devido ao saque na riqueza do povo por ladrões e salteadores. Os animais e
mulheres serão maltratadas. Ocorrerá o desvio de uma civilização progressista,
os indivíduos serão atraídos pelo desenvolvimento econômico e gozo dos
sentidos. A civilização será formada ao nível de cães e macacos.

Todos os seres vivos possuem um corpo grosseiro e um corpo sutil. A


alma utiliza os dois corpos. Somente pela ignorância se aceita um corpo grosseiro
e sutil. A alma pode receber um corpo metafísico e abandonar os dois corpos,
no entanto, a alma em si, não precisa de nenhum tipo de corpo.

Quem não é inteligente não conhece a essência das coisas, pois, se baseia
tudo na visão e nos outros sentidos, pensando que Deus é este cósmico físico.
Todo o pensar que não estiver associado diretamente a Deus é um pensar
inútil. Quem está no caminho do progresso material não consegue aproximar-
se de Deus.

Quem não pertence a si mesmo pode conhecer o criador. A Suprema


Personalidade pode ser conhecida por uma alma pura. O primeiro passo para
se conhecer Deus, é o aproximar-se de um Mestre e servi-lo. Vai ouvi-lo sobre
Deus, aprenderá a glorificá-lo, a se lembrar Dele e adorá-Lo com toda
intensidade. Com o passar do tempo, ocorre o desapego do mundo físico e se
liberta do contato com a matéria. Na mesma proporção que ocorre o desapego,
aumenta a afinidade com o eterno. A restrição do gozo dos sentidos não é
suficiente para satisfazer a alma, sendo necessário o dedicar-se ao serviço
devocional a Deus. O caminhar em direção a Ele exige veracidade, visão perfeita
da transcendência, afastamento das coisas materiais, austeridade, caridade,
estudo dos Vedas, cantar os hino de glorificação, dedicar toda atividade a
Deus e ocupar a inteligência em devoção ao Supremo. Para se lembrar de
Deus é necessário que a pessoa entenda que tudo ocorre conforme as ordens
Dele. Deus é facilmente alcançável, mas somente por aqueles que estão
materialmente esgotados. A partir do momento em que se tem consciência da
existência do plano divino, devemos nos subordinar ao referido plano, mesmo
que não o compreendamos. Devemos aceitar os acontecimentos sempre com
uma alma completamente rendida a Deus.

Um dos processos para se chegar a Deus é ater-se apenas ao Supremo,


controlando a postura do sentar-se para meditação, regular a respiração e se
fixar na Absoluta Personalidade de Deus, ficando imune aos modos da
ignorância, paixão e bondade. Amalgamar a inteligência no inteligível e emergir
no Supremo. Na meditação deve-se suspender as ações dos sentidos e não
deixar-se levar pelas interações da mente, que são influenciadas pelo modo da
natureza material.

A ocupação mais nobre na vida é buscar conhecer Deus e religião é o


prestar serviço a Ele.

Ao aproximar a morte, o ser humano deve passar o que possui para os


filhos e esposa, livrar-se de todos os relacionamentos, iniciar o jejum, sentar-
se para meditar, concentrando a mente na conscientização de Deus.

O nascimento desejável é quando ocorre o apego a Deus, possui companhia


dos devotos e possui uma relação amistosa com todos os seres vivos.

Bibliografia: Primeiro Canto do Srimad Bhagavatan.


Os Mestres do Oriente XII - Sukadeva Gosvami

Quando o rei Maharaja Pariksit estava meditando nas margens do rio


Ganges, sentado num assento de palha, esperando a chegada da morte,
apareceu ali o poderoso filho de Vyasadeva, Sukadeva Gosvami.

Sukadeva tinha apenas dezesseis anos. Viajava pela Terra totalmente nu,
desinteressado, satisfeito consigo mesmo. Não manifestava qualquer sintoma
de pertencer a alguma ordem social ou status de vida. Ele era anegrado e
muito belo. Quando Sukadeva chegou, todos os sábios que estavam presentes
e também o rei, levantaram de seus assentos e prostraram-se para receberem
o visitante principal. Sukadeva Gosvami foi cercado pelos sábios santos e
semideuses, assim como a lua é cercada pelas estrelas, planetas e outros
corpos celestes. Ele era respeitado por todos.

O sábio Sri Sukadeva Gosvami sentou-se e o grande devoto, Maharaja


Pariksit aproximou-se dele, prostrou-se de mãos postas e perguntou: “o que
um homem deve ouvir, cantar, lembrar, adorar e também, o que não deve
fazer?”

Sukadeva Gosvami salientou que a pergunta era gloriosa porque


beneficiaria todas as classes de pessoas. Disse que os materialistas estão cegos
do conhecimento da verdade, pois, passam a vida dormindo ou se entregando
aos prazeres sexuais durante a noite e durante o dia estão trabalhando, fazendo
dinheiro para sustentarem os membros de suas famílias. As pessoas desprovidas
de conhecimento não indagam a respeito dos verdadeiros problemas da vida,
pois, estão demasiados apegados ao corpo, aos filhos e a esposa. Embora
tenham experiência, não observam que o desaparecimento do corpo é inevitável.
Aquele que deseja se livrar de todas as penúrias, deve procurar ouvir, glorificar
e se lembrar de Deus, que é a Superalma, o controlador e aquele que nos
salva do estado indecoroso em que estamos. Lembrou Sukadeva que o cantar
constantemente o santo nome de senhor, seguindo o exemplo dos santos
homens, é o caminho do sucesso garantido para todos. De que valeria vivermos
uma vida prolongada se a desperdiçamos, passando os anos neste mundo
sem nenhum conhecimento da verdade? Disse que o melhor seria um momento
de consciência plena, porque tal momento faz com que comecemos a buscar
nosso interesse transcendental. Comentou Sukadeva que no último período
de nossa vida, não devemos ter medo da morte, mas, devemos cortar todo o
apego ao corpo material e a todas as coisas que se relacionam com ele, inclusive
todos os desejos. Devemos abandonar o lar e praticar o autodomínio, banharmos
regularmente num lugar sagrado e sentar solitariamente para meditar em um
lugar santificado. Após sentar em meditação, fazer com que a mente lembre
das três letras transcendentais, regulando o processo respiratório, controlando
a mente de modo a não esquecer a semente transcendental. Gradualmente, à
medida que a mente se torna progressivamente espiritualizada, ela se afasta
das atividades dos sentidos.
Os Mestres do Oriente XIII - Sukadeva Gosvami

O sábio Sukadeva Gosvami quando chegou nas margens do rio Ganges


para acompanhar a morte do rei Maharaja Pariksit que seria picado por uma
cobra alada, disse que no final da Dvapara-yuga, seu pai, Srila Dvaipayana
Vyasadeva, ensinou-lhe o grande suplemento da literatura védica chamada
Srimad-Bhagavatam, que está à altura de todos os Vedas. Realçou Sukadeva
que iria recitar o Bhagavatam perante os que estavam ali nas margens do rio
sagrado e afirmou que aquele que ouve o Srimad-Bhagavatam com respeito e
atenção alcança fé inabalável em Deus, o qual outorga a salvação. A meditação
deve ser feita na concentração dos membros de Deus, um após outro, sem se
deixar desviar da concepção do corpo completo. Desta maneira, a mente se
livra de todos os objetos dos sentidos. Não se deve pensar em mais nada, a
não ser no corpo de Deus. Adotando este sistema e fixando na concepção
pessoal completa de Deus, podemos alcançar muito brevemente o serviço
devocional, sob a direta proteção do Supremo.

Salientou Sukadeva que este cósmico material como um todo, é o corpo


pessoal de Deus, no qual se experimenta o passado, o presente e o futuro.
Esta gigantesca forma de Deus (concepção virat-rupa), é coberta pelas sete
espécies de elementos materiais. Os planetas conhecidos como Patala são as
solas dos pés do senhor; os planetas Rasatala são os calcanhares e os dedos
dos pés; os planetas Mahatala são os tornozelos; os planetas Talatala são as
canelas. O sistema planetário Sutala são os joelhos; o sistema planetário Vitala
e Atala são as duas coxas. O sistema Mahitala são os quadris; o espaço é a
depressão do Seu umbigo. O sistema planetário luminar é o peito de Deus; os
planetas Mahar é o pescoço. Os planetas Janas é a Sua boca; o sistema
planetário Tapas é a testa. O sistema planetário mais elevado, Satyaloka é a
sua cabeça. Os braços Dele são os semideuses. Os globos oculares são os sois.
A religião é o peito e a irreligião é as costas. Brahmaji, aquele que gera todos
os seres vivos é o órgão genital. Os Mitravarunas (Mitra e Varuna) são seus
dois testículos. O oceano é a cintura Dele; as colinas e montanhas são as
saliências de seus ossos. Os rios são as veias; as arvores são seus cabelos; o
ar a Sua respiração. As nuvens que transportam água são os cabelos de sua
cabeça. As variedades das aves são o senso artístico Dele, a humanidade é a
Sua residência. Todas as espécies celestiais de seres humanos e os anjos,
representam o rítmico musical Dele, e os soldados demoníacos são
representantes da maravilhosa intrepidez Dele. Sukadeva Gosvami explicou a
gigantesca concepção material grosseira de Deus. Salientou que aquele que
deseja a liberação deve concentrar a mente nesta forma do Senhor, porque no
mundo material não existe nada mais do que isso. Comentou que Deus se
manifesta em infinitas formas.
Os Mestres do Oriente XIV - Sukadeva Gosvami

Ensina Sukadeva Gosvami que o ser humano deve satisfazer apenas as


necessidades mínimas da vida. Deve perceber que todos os esforços materiais
não passam de mero trabalho duro, sem nenhuma finalidade para a existência
eterna. A pessoa vivendo com o mínimo para manter sua vida deve se dedicar
ao processo meditativo. Existem inúmeras técnicas de meditação, as quais
variam conforme o objetivo que se quer atingir.

Para evitar o envolvimento com a vida material e não se degradar a pessoa


deve concentrar nas inúmeras manifestações de Deus.

Com o objetivo de eliminar as raízes que alimentam o aprisionamento da


alma ao corpo grosseiro e sutil, a meditação é prestar constantemente serviço
em devoção a Deus.

Querendo purificar a inteligência para entender com clareza o propósito


da vida e ter consciência das causas sensíveis, a pessoa deve meditar em
Deus situado dentro do coração.

Tomar consciência do passado, presente e futuro a meditação deve ser a


concentração no cósmico material, como se fosse o corpo de Deus.

Visitar outros planetas, saindo do corpo físico e utilizando o corpo sutil, a


meditação deve ser feita nos sons védicos.

Para se fundir na energia impessoal de Deus, a pessoa deve buscar um


lugar solitário, eliminar todo tipo de perturbação, regular a respiração, os
sentidos e a mente. Neste estado de silêncio absoluto, a mente deve-se fundir
na alma e a alma na energia divina. Desaparece o tempo e os modos da
natureza material( ignorância, paixão, bondade). Desaparece também o ego e
tudo o que é físico.

Querendo viajar pelo espaço, ir ao planeta superior no mundo físico ou


atingir os planetas eternos fora do mundo tridimensional a pessoa deve obstruir
mentalmente todos os orifícios de saída do ar vital. Em seguida deve elevar
mentalmente o ar vital através do abdome, peito, palato, sobrancelhas e liberá-
lo pelo alto da cabeça. Para viajar no espaço a alma leva a mente e os sentidos.
Para ir aos planetas materiais superiores a alma entra no eixo luminoso chamado
de Sisumara, em torno do qual gira todo o universo. Passando pelo Sisumara
pode-se atingir o planeta Vaisnavara (feito de fogo) onde se purifica de todas
as contaminações. Depois que a alma se purificou pelo fogo ela pode ir ao
planeta superior chamado de Bramaloka. Quando a alma quer ir ao planeta
metafísico, que está fora do universo físico, a alma deve abandonar a mente,
os sentidos e os corpos sutis.

Sukadeva Gosvami ensina que todos aqueles que estão vagando no


universo material, devem-se libertar de todos os condicionamentos. Esta
libertação só é possível quando a pessoa passa a prestar serviço devocional
diretamente a Deus. Salienta Sukadeva que Deus não está distante, mas ao
lado de cada alma a individual.

Sukadeva diz que no planeta Satyaloka a duração da vida é de


15.480.000.000.000 anos e que neste planeta não há privações físicas, nem
velhice e nem morte, não existe dor e por isso não há ansiedades. Existem os
seres humanos que estão totalmente afastados de todo processo de
aproximação de Deus, sendo que neste caso, Sukadeva diz o seguinte: Uma
pessoa que nunca ouviu as mensagens de Deus, não cantou as canções sobre
o senhor absoluto, possui os orifícios auriculares como os das cobras e a língua
semelhante a das rãs. Quem não se curva perante Deus, a cabeça é um fardo
pesado. Quem não se ocupa no serviço a Deus, suas mãos estão mortas.
Quem não olha para as representações simbólicas de Deus, os seus olhos são
como os olhos das plumas do pavão. Quem não peregrina aos lugares santos,
suas pernas são comparadas a um tronco de árvore. A pessoa que jamais se
rendeu a um devoto puro é um cadáver. Quem não se altera diante das Deidades,
possui um coração de aço.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam: segundo canto cap. 1 a 4.


Os Mestres do Oriente XV - Brahma

Brahma foi o primeiro ser vivo criado por Deus e ensina que nasceu de
uma flor de Lótus surgida do abdome da Suprema Personalidade. Explica que
se agarrou totalmente à Deus, assim sendo, jamais o progresso de sua mente
foi detido, seus sentidos jamais degradaram pelo apego à matéria, e nunca
disse algo falso. A respeito de Deus, Brahma ressalta que embora ele, Brahma,
seja conhecido como o grande mestre, perfeito na sabedoria védica, tenha se
submetido a todas austeridade, seja um grande conhecedor dos poderes
místicos, apesar de elevados antepassados lhe ofereçam respeitosas
reverências, ainda assim, não compreende totalmente a Suprema Personalidade
de Deus. Afirma Brahma que nem ele, nem todos os sábios conhecem
profundamente a onipotência de Deus. Diz que nem mesmo Sesa, a primeira
encarnação de Deus no mundo físico é capaz de alcançar os limites desse
conhecimento, apesar de que Sesa esteja descrevendo as qualidades do Senhor.
Ele, Deus, não pode ser totalmente conhecido, tal como é.

Brahma ensina que além dele só existe Deus, que é a verdade última. O
supremo possui uma pura forma espiritual que é transcendental a todas as
qualidades materiais, sendo o reservatório supremo de todas as opulência. É o
controlador de todos, inclusive do próprio Brahma e de todas as energias. Ele
tudo vê e está além da percepção dos sentidos materiais das entidades vivas.
Tudo que existe, seja como causa, seja como efeito, tanto no mundo material
quanto no mundo espiritual, depende totalmente da Suprema Personalidade
de Deus. O Supremo é o Senhor de todas as coisas, porque, os resultados das
ações que são realizadas pelo ser vivo, tanto na existência material quanto na
espiritual, são concedidas pelo Senhor.

Brahma diz que para Deus criar, Ele se manifesta em uma forma
denominada de Karanarnavasaya, a qual cria todos os universos. Os universos
depois de criados, permanecem por milhares de anos dentro do oceano causal.
A segunda etapa da criação é quando Karanarnavasaya se divide e entra em
cada universo e também em cada planeta em particular. O Senhor entrando
em cada planeta, faz com que ele se torne animado, tenha vida. No processo
criativo, Deus trabalha com sua própria energia externa, gerando os universos,
mas, não se confunde com a sua criação, permanecendo à parte de todas as
manifestações físicas. A criação ocorre Nele, sendo que todas as manifestações
e substâncias não deixam de ser Ele Mesmo. Por um tempo, Deus, mantém a
sua criação, no entanto, depois absorve tudo em Si Mesmo novamente. O
tempo e o destino são criações de Deus.

Diz Brahma que os grandes filósofos imaginam que todos os sistemas


planetários são os diferentes membros do corpo de Deus. Os sistemas
planetários inferiores são suas pernas, os intermediários são o abdome, os
planetas mais elevados são a cabeça da Suprema Personalidade.

Brahma ensina que além dos três sistemas planetários, existe o reino de
Deus, onde a morte não se manifesta. É o lugar do destemor, da ausência de
ansiedade, onde a velhice e a doença não existem. Brahma explica que ¼ da
energia de Deus é utilizada para toda criação material e os ¾ está relacionada
com o mundo divino, além do mundo material. O reino de Deus destina-se à
aqueles que jamais renascerão no mundo material. O cósmico material existe
para todos que estão apegados à vida familiar e que não seguem o celibato.

Brahma ensina que a Suprema Personalidade de Deus, aparece inúmeras


vezes no mundo material. Estes aparecimentos de Deus no mundo físico é
conhecido como “Lila-avatares”, sendo que Ele surge em sua forma plena, no
entanto, a aparência das formas pode variar conforme o objetivo de sua missão.
Diz Brahma, que no fim da Kali-yuga ninguém mais vai falar a respeito de
Deus, o governo será exercido pela classe dos sudras e nesta época a Suprema
Personalidade aparecerá como o Supremo Castigador.

Brahma esclarece que as almas que levam vida pecaminosa podem


conhecer a ciência de Deus e se libertarem das garras da energia ilusória,
quando se rendem aos devotos puros do senhor e seguindo-lhes os passos no
serviço devocional. Salienta que toda entidade viva individual, após a aniquilação
do corpo material, continua existindo.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam. Canto 2 Cap. 5 a 8.


Os Mestres do Oriente XVI - Sukadeva Gosvami

Ensina Sukadeva Gosvami que Deus é tudo e por ser tudo, possui uma
forma, não sendo estritamente impessoal. Devido a infinitude de Deus, Ele,
Deus, é também um “nara’ ou uma pessoa. A Suprema Personalidade de Deus
existia antes da criação, quando não havia nada além Dele, quando não havia
natureza material. A Suprema Personalidade de Deus, depois que criou os
universos, passou a ser o único mantenedor do sistema material e aparece em
diferentes formas nos planetas para regenerar todos os tipos de almas
condicionadas entre os humanos, os não-humanos e entre os semideuses. O
ser humano que só possui sentidos materiais não pode ver o corpo
transcendental de Deus, que é inteiramente metafísico. No entanto, devido a
sua misericórdia, Ele inspira os seres humanos a fazer Deidades, ou seja,
imagens de Deus, e Ele, a Suprema Personalidade, as aceitam como se fossem
Ele mesmo, passando a ser as imagens, uma manifestação direta de Deus,
conhecida como “arca-vigraha”. Embora sejam feitas de elementos materiais,
como pedra ou terra, as Deidades deixam de ser estes elementos para ser o
próprio Deus. No final do milênio, o próprio Deus, em pessoa, sob a forma de
Rudra, o destruidor, aniquilará toda criação, assim como o vento desfaz as
nuvens.

Salientou Sukadeva que os órgão dos sentidos estão ligados diretamente


a natureza material e não tem sentido uma relação da alma em consciência
pura com a natureza material, inclusive com o próprio corpo físico. A relação
da alma com a natureza física é como uma visão que temos em sonho. A alma
presa ao corpo, só pensa erroneamente em termos de “eu” e “meu”. No entanto,
tão logo a alma começa a desfrutar da transcendência divina, abandona as
concepções errôneas e passa a manifestar-se como alma pura. A posição correta
da alma é obedecer às leis do senhor e permanecer na perfeita paz sobre a
proteção direta do Supremo. Os Manus e suas leis destinam-se a dar orientação
correta na vida.

Sukadeva salienta que quando Brahma foi criado por Deus, passou a
meditar na Suprema Personalidade, e estando absorto em meditação, ouviu
um som. Brahma tentou encontrar quem tinha emitido o referido som,
procurando por todos os lados. Não vendo ninguém além de si mesmo, ele
sentou no seu assento de lótus e aceitou o som como se tivesse originado de
Deus. Brahma então continuou a sua meditação no som que tinha ouvido,
buscando a Suprema Personalidade, controlando a mente e os sentidos. Deus,
diante do sacrifício de Brahma, desvelou sua Morada (Vaikuntha) para Brahma.
Nesta morada, os modos materiais não se manifestam e não existe o tempo.
Os moradores de Vaikuntha tem uma cor azul brilhante, seus olhos parecem
flores de lótus, suas roupas são de cor amarela. Todos eles são jovens, tem
quatro braços, estão bem decorados com colares de pérolas e possuem um
aspecto refulgente. Brahma viu em Vaikuntha a Suprema Personalidade de
Deus e diante Dele, se prostrou. Sukadeva diz que o estar diante de Deus é a
perfeição máxima para um alma. Deus, ao ver Brahma presente diante Dele,
aceitou-o com sendo digno de criar todos os seres vivos. O Supremo disse que
a benção última, ou seja, a mais elevada, é ver-Lhe por meio da realização. A
mais elevada perfeição é a percepção da Morada Divina e também disse que
foi Ele quem mandou que Brahma se submetesse à meditação. Devido a
Suprema Personalidade ter ficado satisfeita com Brahma, apresentou Sua forma
transcendental, com o objetivo de purificar Brahma totalmente. Brahma falou
para Deus, que Ele (Deus) está localizado no coração de cada alma como
diretor supremo e que ele (Brahma) passaria a se ocupar em criar os diferentes
tipos de entidades vivas, se ocupando em servir a Suprema Personalidade. Ao
desaparecer a Suprema Personalidade de Deus, Brahma, com as mãos postas,
começou a recriar as entidades vivas, tal como tinha sido antes da destruição
total do universo.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam Canto 2 Cap. 9 e 10


Os Mestres do Oriente XVII - Síntese do Segundo Canto do
Srimad Bhagavatam

Deus existia antes da criação do universo material e para criar o cósmico


físico Ele se manifestou em uma forma denominada de Karanarnavasaya criando
todos os sistemas planetários. Os planetas ficaram durante milhões de anos
mergulhados no oceano causal. Em determinado tempo o Karanarnavasaya se
divide e entra no interior de cada planeta, dando-lhe vida. Na criação dos
universos, Deus, utilizou sua energia externa, mas, tudo ocorreu Nele, e
nenhuma manifestação está fora Dele. Por um tempo, Deus matem sua criação,
mas, depois absorve tudo em si mesmo.

Deus em si, possui um forma espiritual, não sendo estritamente impessoal.


É o único mantenedor e controlador do todo. Ele tudo vê e está além da
percepção dos sentidos materiais. Tudo que existe, todos os efeitos e causas,
dependem totalmente da Suprema Personalidade de Deus. Assim sendo, Deus,
é o Senhor de todas as coisas. É a Superalma que nos salva do estado indecoroso
em que estamos. Ele não está distante, mas no interior da cada alma individual.
Ninguém conhece profundamente a onipotência de Deus, ninguém é capaz de
alcançar os limites do conhecimento a respeito de Deus. Ele não pode ser
totalmente conhecido tal como é. Ele aparece inúmeras vezes no mundo
material, surge em sua forma plena, no entanto, a aparência das formas varia
conforme o objetivo de sua missão. O objetivo de Seu aparecimento no mundo
físico é para regenerar todos os tipos de almas condicionadas entre os humanos,
os não-humanos e entre os semideuses. No final da Kali-yuga (idade do ferro)
ninguém mais vai falar a respeito de Deus, o governo será exercido pela classe
dos sudras e nesta época, a Suprema Personalidade de Deus, aparecerá como
o Supremo Castigador.

Além dos três sistemas planetários (inferior, intermediário, superior), existe


o Reino de Deus, onde a morte não se manifesta. É o lugar de todos aqueles
que jamais renascerão no mundo material, sendo que o cósmico físico é para
todos aqueles que estão apegados aos sentidos. O ser humano que só possui
sentidos materiais não pode ver o corpo transcendental de Deus. Diante desta
impossibilidade do ser humano em ver Deus, Ele inspira aos humanos a fazerem
Deidades, ou seja, imagens de Deus, e o Supremo aceita estas imagens como
Se fosse Ele Mesmo, passando a ser uma manifestação direta de Deus,
conhecida como “arca-vigraha”.

Brahma foi o primeiro ser vivo criado por Deus. Nasceu de uma flor de
lótus surgida do abdome do Supremo. Agarrou-se totalmente a Deus, assim
sendo, jamais o progresso de sua mente foi detido e seus sentidos jamais
degradaram. Logo depois que foi criado, passou a meditar no som védico que
o conduziu ao planeta de Deus, denominado de Vaikuntha. Em Vaikuntha não
existe os modos da natureza material (paixão, ignorância, bondade), não existe
o tempo, os moradores tem uma cor azulada, quatro braços, seus olhos parecem
flor de lótus, suas roupas são de cor amarela, todos são jovens, estão decorados
com pérolas e possuem um aspecto refulgente. Brahma viu Deus e se prostrou
aos seus pés. O Supremo o aceitou como sendo digno de criar todos os seres
vivos.

Os materialistas estão cegos do conhecimento da verdade, pois, passam


a vida dormindo, ou se entregando aos prazeres. Não indagam a respeito dos
verdadeiros problemas da vida, pois, estão apegados ao corpo, aos filhos e a
esposa. Não observam que o desaparecimento do corpo é inevitável. Quem
não ouve a mensagem de Deus, quem não se curva perante Deus, quem não
peregrina a lugares santos e quem não se rende a um devoto puro, é comparado
à cobra, rãs, carregador de pesado fardo, olhos como os da pluma do pavão,
troncos de árvores e finalmente estão motos.

Os órgãos dos sentidos estão ligados unicamente a natureza material. A


relação da alma com a natureza física é considerada uma ilusão, levando ao
pensamento errôneo em torno do “eu” e “meu”. O ser humano que deseja se
livrar de todas as penúrias, deve procurar ouvir, glorificar e se lembrar de
Deus. Cantar constantemente o santo nome de Deus é o caminho de sucesso
garantido para todos. O ser humano não deve ter medo d morte, mas, devemos
cortar todo o apego ao corpo material e a todas as coisas que se relacionam
com o físico, inclusive os desejos. O homem deve satisfazer apenas as
necessidades mínimas da vida, deve perceber que todos os esforços materiais
não passam de mero trabalho duro, sem nenhuma finalidade para a existência
eterna. Todos que estão vagando no universo material, devem se libertar de
todos os condicionamentos, prestando serviço devocional a Deus. As Almas
que levam uma vida pecaminosa, pode conhecer a ciência de Deus, quando se
rende aos devotos puros. Toda entidade viva após o aniquilamento do corpo
material, continua existindo. A alma que consegue se colocar diante de Deus,
atinge a perfeição máxima.

A meditação pode variar conforme o objetivo que se quer atingir: afastar


do mundo material, deve meditar nas manifestações divinas; cortar as raízes
do aprisionamento ao mundo físico, prestar serviço devocional; entender o
objetivo da vida, meditar em Deus dentro do coração; ter consciência do
passado, presente e futuro, meditar como se o cósmico fosse Deus; visitar
outros planetas, meditar nos sons védicos; para ir aos planetas metafísicos,
quem medita deve abandonar a mente, os sentidos e os corpos sutis.

O Srimad Bhagavatam foi primeiramente falado por Deus a Brahma, que


ensinou a seu filho Narada e Narada instruiu a Vyasadeva.
Os Mestres do Oriente XVIII - Uddhava Muni

Uddhava, desde a infância era um devoto, absorto em adorar a Deus.


Servia ao Absoluto desde ao nascer e esta atitude de serviço devocional não
esmoreceu na velhice. Ensinava que todo ser vivo é controlado por um força
sobrenatural e, em decorrência, o gozo dos sentido também está sob o controle
desta força sobrenatural, originária da Suprema Personalidade de Deus.

O mestre Uddhava narrou o aparecimento de Deus no planeta terra,


dizendo que Ele (Deus) nasceu na prisão em que Vasudeva estava vivendo e
posteriormente afastou da proteção do Seu pai, indo viver incógnito em Vraja,
por temor ao inimigo que queria matá-Lo, tendo que fugir para Mathura,
amedrontado. O rei de Bhoja, Kamsa, utilizou os grandes magos, que eram
capazes de assumir qualquer forma, para mata-Lo, no entanto, Krsna (Deus)
os matou tão facilmente como uma criança despedaça os seus bonecos.

O aparecimento de Deus, aqui na terra, foi devido a uma oração de Brahma,


pedindo-lhe que trouxesse prosperidade ao planeta terra, assim sendo, Ele foi
gerado por Vasudeva no ventre de sua esposa Devaki, na prisão do rei de
Bhoja. Depois do nascimento, Seu pai, temendo Kamsa, O levou para a
residência de Maharaja Nanda e, ali Ele viveu por onze anos com Seu irmão
mais velho, Baladeva. Em Sua infância, o Senhor Absoluto, andava rodeado
por vaqueirinhas e bezerros, passeava pelas margens do rio Yamuna, que era
coberto de árvores e cheio das vibrações dos pássaros. As vezes Ele chorava e
as vezes ria, tal como uma criança. Enquanto apascentava os touros, o Senhor
costumava tocar Sua flauta.

Uddhava sentia grande prazer em contar algumas passagens da vida de


Deus, no período em que esteve aqui em nosso planeta. Dizia que os habitantes
de Vrndavana ficaram perplexos, porque, uma certa parte do rio Yamuna tinha
sido envenenada por Kaliya (o chefe dos répteis) e o Senhor tirou o veneno da
água e castigou Kaliya (rei serpente). Certa época o rei Indra derramou água
incessantemente sobre Vrndavana e seus habitantes ficaram aflitos, mas, Ksna
(Deus) os salvou do perigo. Memorizou também todos os Vedas com as suas
diferentes ramificações, simplesmente por ouvi-los uma única vez do seu mestre
espiritual, Sandipani, a quem Ele recompensou, fazendo seu filho morto
regressar da região de Yamaloka. Atraídos pela beleza e fortuna de Rukmini, a
filha do rei Bhismaka, inúmeros príncipes e reis reuniram-se para tentar casar
com ela, no entanto, o Deus Krsna, ultrapassou todos os candidatos. Em outra
época, o Deus na terra, subjugou sete touros conseguindo a mão da princesa
Nagnajiti na competição aberta para a escolha do seu noivo. Apesar de Deus
ter saído vitorioso, Seus rivais pediram a mão da princesa, o que provocou
uma grande luta. Bem equipado com armas, o Senhor feriu todos eles, mas
Ele mesmo não ficou ferido. Só para agradar a sua esposa querida, o Deus
Krsna trouxe o pé de flor parijata do céu. Indra, o rei do céu, correu atrás do
Senhor com toda a força, para lutar com Ele. Narakasura, filho de Dharitri (a
terra), com o próprio Senhor Absoluto, tentou agarrar todo o céu e, em
decorrência foi morto pelo Senhor em uma luta. A mãe de Narakasura orou ao
Senhor e Este devolveu o reino da terra ao filho de Narakasura. Anteriormente,
Narakasura raptou muitas filhas de grandes reis e as manteve aprisionadas
em seu palácio, foi quando a Suprema Personalidade de Deus, entrou na casa
dele e o matou, liberando todas as princesas. Elas ficaram alegres e se
ofereceram para se tornarem Suas esposas. Deus, simultaneamente assumiu
diferentes expansões corpóreas que combinavam exatamente com cada
princesa. O Senhor gerou em cada uma delas, dez filhas, com exatamente as
mesmas qualidades que Ele. Kalayavana, o rei de Magadha e Salva, atacaram
a cidade de Mathura. Quando a cidade foi cercada pelos soldados, o Senhor
deixou de matá-los pessoalmente, só para demonstrar o poder de Seus próprios
homens. Os reis Sambara, Dvivida, Bana, Mura, Balvala e muitos outros
demônios, tais como Dantavakra, foram mortos pessoalmente por Deus e pelos
devotos do Senhor. Na batalha de Kuruksetra, Deus fez com que todos os
participantes fossem mortos. Deus desfrutava Seus passatempos, tanto neste
mundo quanto em outros mundos, especificamente na companhia da dinastia
Yadu. Nas horas de lazer, oferecidas pela noite, Ele, Deus, desfrutava da amizade
do amor conjugal com as suas dezesseis mil esposas. Deus costumava
apresentar-Se perante o rei Ugrasena e dizia: “Ó meu senhor, deixa-Me
informar-te o seguinte”. Enquanto Maharaja Yudhisthira era o imperador da
terra, o Senhor Krsna (Deus), era o rei de Dvaraka. Ele gozava a vida na
cidade e ao mesmo tempo estava numa situação de desapego e conhecimento.
Deus, sempre esteve na terra com o seu corpo transcendental. Os descendentes
de Deus, aqui na terra, eram em grande número e ninguém era capaz de tirá-
los a vida. Não havia nenhuma possibilidade de que eles morressem
naturalmente, sob a influência das leis da natureza. A única forma deles
desaparecerem foi de uma batalha entre eles. Lutaram influenciados pela
embriagues, com os olhos vermelhos, devido à bebida madhu. Só assim que
eles desapareceram do planeta terra. Deus manifestou Sua forma eterna aos
olhos de todos aqui no nosso planeta e fez desaparecer Sua forma da vista
daqueles que não eram capazes de vê-Lo, tal como Ele é. Antes de abandonar
o planeta terra, Deus refugiou-se às margens do rio Saravasvati, sentou sozinho,
recostado a um fiqueira-de-bengala e ficou absorto em pensamento. Neste
momento chegou naquele local o sábio Udddhava e a Suprema Personalidade
de Deus o recebeu e lhe disse: “Tu particularmente deseja obter Minha
companhia. Isto é muito difícil de ser obtido, mas, Eu o concedo a ti. Tua visita
a Mim neste local solitário só está ocorrendo devido a teu serviço devocional
puro e inabalável, assim, este acontecimento é uma grande benção para ti.
Esta tua vida atual, é a última. Após abandonar este corpo, tu iras para Minha
morada transcendental, chamada Vaikuntha, e deixará eternamente este
universo das entidades vivas condicionadas.”

Depois que Uddhava ouviu as palavras de Deus, enxugou as lágrimas e


com as mãos postas, falou assim: “’O meu Senhor, os devotos que se ocupam
no transcendental serviço amoroso a Teus pés de lótus, não possuem
dificuldades em obter nada dentro da esfera dos quatro princípios (religiosidade,
desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e liberação), mas, quanto a
mim, prefiro ocupar-me apenas no serviço amoroso a Teus pés de lótus. Os
eruditos, ficam perturbados ao presenciarem que Tu, em Tua grandeza, Te
ocupas em trabalho fruitivo aqui na terra, apesar de seres livre de todos os
desejos, que nasces apesar de seres não-nascido, que foges por temor ao
inimigo e Te refugias em um forte, embora sejas o controlador do tempo
invencível e, que gozas da vida familiar rodeado por muitas mulheres, embora
desfrutes contigo mesmo. O Teu Eu eterno nunca é dividido pela influência do
tempo e Teu conhecimento perfeito não tem limites. Chamaste-me para Te
consultares comigo, como se estivesse desorientado, embora nunca Te
desorientes. E este Teu agir me desorienta.”

No momento em que Deus desapareceu desse mundo físico e mortal,


confiou diretamente o conhecimento sobre Ele, a Uddhava, o mais notável de
Seus devotos. Deus disse antes de partir para Sua morada eterna que Uddhava
não era de forma alguma inferior a Ele, porque nunca era afetado pelos modos
da natureza material e, por esse motivo, poderia ficar neste mundo e disseminar
o conhecimento específico a respeito da Personalidade de Deus, até o dia em
que penetrasse definitivamente em Vaikuntha.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam. Terceiro Canto. Capítulo um e dois.


Os Mestres do Oriente XIX - Maitreya Muni

A Suprema Personalidade de Deus existe antes da criação. A manifestação


cósmica não estava presente, a energia material estava adormecida, sendo
que a energia interna estava manifestada. A energia material ou externa, é
conhecida como maya e funciona como causa e efeito da manifestação material.
Somente através da atuação da energia externa se tornou possível o surgimento
de todo o cósmico. O Ser Vivo Supremo, Deus, fecundou a natureza material,
semeando as sementes da manifestação universal, geradas de Seu próprio
corpo. A junção da semente com a energia material, resultou o Mahat-tattva
ou a grande verdadeira causa. Esta causa passou a ser, ao mesmo tempo, a
causa, o efeito e o executor de toda manifestação material. O primeiro elemento
produzido foi o som, que gerou o céu (espaço). O céu ou espaço, passou a ser
a representação simbólica da Alma Suprema. O Supremo lançou um olhar
para o espaço e produziu o ar. O ar, interagindo com o espaço, transformou-se
em luz (fogo). A luz condensou-se no ar, sob o olhar de Deus, que criou a
água. A água sob o olhar de Deus, transformou-se em terra. Todos os elementos
físicos, começando do espaço e descendo até a terra, devem-se ao olhar da
Suprema Personalidade. As deidades controladoras de todos os elementos físicos
são expansões de Deus Visnu ou Deus Criador. São partes integrantes de
Deus. Da totalidade dos elementos materiais produzidos, se combinaram com
a ajuda da energia do Senhor Supremo e produziram um ovo reluzente. O ovo
brilhante pairou sobre as águas do Oceano Causal, no estado inanimado. A
Suprema Personalidade de Deus entrou no ovo e o Supremo passou a ser
chamado de Garbhodakasayi Visnu. Dentro deste mundo material (ovo), foi
criado pelo Supremo, infinitos universos, que estão colocados em três dimensões
de desenvolvimento. Dentro do ovo cósmico existe o universo superior, o
intermediário e o inferior. Este ovo cósmico possui cinco camadas, sendo que
cada uma é dez vezes mais espessa que a antecedente. Estas camadas são
constituídas dos elementos terra, água, fogo, ar e éter. A primeira cobertura é
de terra, a qual é dez vezes mais espessa que o próprio universo. Os universos
dentro do ovo, também são cobertos pelas cinco camadas. Todos os universos
reunidos dentro do ovo, parecem átomos em um combinação imensa, formando
a gigantesca forma Visva-Rupa de Deus. Nesta forma estão inseridos todos os
universos e sistemas planetários. Assim sendo, os planetas de cada universo
estão situados dentro destes grandes átomos. Fora do ovo cósmico, existe o
universo chamado Vaikuntha, ou céu espiritual. Neste mundo transcendental
existem planetas espirituais que são residências da Suprema Personalidade de
Deus e de Seus devotos puros. Nos planetas Vaikunthas, todos os residentes
tem sua forma semelhante à da Suprema Personalidade de Deus. Todos eles
ocupam-se em serviço devocional ao Senhor. Existem muitas florestas onde as
árvores vivem cheias de flores e frutos. Este reino está acima dos universos
materiais. No mundo Vaikuntha há total harmonia entre os residentes e a
Suprema Personalidade de Deus, assim como dentro do espaço há total
harmonia entre o céu grande e pequeno. Nestes planetas, o Supremo manifesta
Sua forma transcendental no modo incontaminado da bondade pura. Esta forma
só pode ser entendida pela misericórdia de Deus. As pessoas desventuradas e
menos inteligentes não podem ver Vaikuntha e também a forma suprema e
eterna de Deus. O grande ovo ou mundo material e também cada universo
dentro do ovo, não são eternos, possuem um período de existência e depois
desaparecem. Cada período é denominado de yuga e temos quatro yugas. A
duração da Satya-yuga é de 1.728.0000 anos, a duração da Treta-yuga é de
1.296.000 anos, a Dvapara-yuga é de 864.000 anos e a Kali-yuga dura 432.000.
Os períodos de transição antes e após cada yuga, são conhecidos como yuga-
sandhyas, ou conjunções de dois milênios. As quatro yugas multiplicadas por
mil compreendem um dia de Brahma, um período igual é a noite de Brahma.
Na noite de Brahma os mundos deixam de existir. Durante um dia de Brahma
existem 14 Manus (pais da humanidade). Após a dissolução da cada Manu,
surge o Manu seguinte, juntamente com seus descendentes, que governam
os diferentes planetas. Em cada mudança de Manu, a Suprema Personalidade
de Deus aparece nos planetas. Quando se segue a noite de Brahma, todos os
três mundos desaparecem. No começo da devastação, todos os mares
transbordam, e ventos ciclônicos sopram violentamente. Em poucos instantes
os três mundos ficam cobertos pelas água. Quando ainda os três mundos
(superior, intermediário e inferior) estavam submersos na água, existente dentro
do ovo cósmico, o Garbhodakasayi Visnu, deitado no oceano dentro do ovo,
deixou brotar do seu umbigo uma flor de lótus. Essa flor é o reservatório de
todas as almas condicionadas. A primeira entidade viva que surgiu da flor de
lótus foi Brahma. A Suprema Personalidade de Deus que estava deitada no
oceano, entrou no coração de Brahma, despertando sua inteligência e com
esta inteligência desperta, começou a criar as entidades vivas. Em primeiro
lugar, Brahma criou de sua sombra as coberturas de ignorância das almas
condicionadas que são justamente o desejo de desfrutar, a busca do desfrute
(tamisra), a condição de finitude de tudo que se relaciona com o mundo material
(andha-tamisra), total desconhecimento da alma (tamas), estado de consciência
em que a alma se confunde com o corpo (moha), impulso para acumular bens
materiais (moha-moha). Em seguida, Brahma gerou os demônios (seres
luxuriosos, apegados ao sexo ), os fantasmas, duendes, sadhyas, pitas, siddhas,
vidyadharas, Kimprurusas, Kinnaras, serpentes e nagas. Gerou os brahmans,
que são avessos ao gozo dos sentidos. Para proteção dos Brahmanas, criou os
Ksatryas a partir de seus braços. Criou quatro grandes sábios chamados Sanaka,
Sananda, Sanatana e Sanat-Kumara. Nenhum deles tinham desejos de adotar
atividades materialistas porque eram altamente elevados e, não geraram
nenhuma progênie. Brahma ficou irado, e da sua ira, irrompeu dentre suas
sobrancelhas uma criança de cor mista, azul e vermelha, que recebeu o nome
de Rudra. Brahma deu a Rudra onze esposas, chamadas Rudranis e, elas
geraram muitos filhos e filhas, semelhantes a Rudra em aspecto, força e
natureza furiosa. Brahma, criou também dez filhos para aumentar as gerações.
Teve uma filha, que nasceu de seu corpo e que atraiu sua mente para o sexo.
Assim, vendo seu pai iludido num ato de imoralidade, os sábios e todos os
filhos de Brahma, o chamaram atenção. Brahma ficou envergonhado e
imediatamente abandonou o corpo que tinha aceito. Em seguida, aceitou outro
corpo, no qual a vida sexual não era proibida. Duas outras formas manifestaram-
se de seu corpo. Aquele que tinha forma masculina tornou-se conhecido como
o Manu Svayambhuva, e a mulher chamava Satarupa. Os dois corpos recém-
separados uniram-se numa relação sexual e procriaram populações, uma após
outra. Existe dentro dos universos um oceano, da mesma maneira em que
dentro do ovo cósmico existe também um oceano. O próprio ovo cósmico
flutua dentro de um outro oceano. No nosso universo, ouve uma época que o
planeta terra estava mergulhado dentro do oceano ao fim do dia de Brahma.
Vendo a Terra mergulhada na água, Brahma concentrou sua atenção e
subitamente uma pequena forma de javali surgiu de sua narina. O javali situou-
Se no céu e numa questão de instantes, ficou muito grande. Os grandes sábios
e pensadores que habitavam Janaloka, Tapoloka e Satyaloca, compreenderam
que aquela forma de Javali era a própria Suprema Personalidade de Deus.
Viram o Javali entrando no oceano e resgatando a terra com suas presas. Os
sábios dizeram que a encarnação de javali manifestou-se em dois milênios –
Svayambhuva e Caksusa. Em ambos os milênios, houve uma encarnação de
Javali do Senhor, mas, no milênio Svayambhuva, Ele ergueu a terra de dentro
da água do universo, ao passo que no milênio Caksusa, Ele matou Hiranyaksa,
o primeiro demônio. No milênio Svayambhuva, Ele assume a cor branca, e no
milênio Caksusa, a cor vermelha. As duas diferentes encarnações descritas
são a mesma Suprema Personalidade de Deus. A respeito do demônio
Hiranyaksa, conta-se que os Kumaras foram barrados pelos dois principais
porteiros da sétima porta de Vaikunthas e os puniram. O Supremo confirmou
a punição dada pelos Kumaras e, por isso, tendo a beleza e brilho diminuídos
pela maldição dos brahmanas, ficaram taciturnos e caíram de Vaikuntha, a
morada do senhor Supremo, e entraram no ventre de Didi, tendo sido cobertos
pelo poderoso sêmen de Kasyapa Muni. Ela deu à luz aos filhos gêmeos apôs
um período de gravidez. Esses dois demônios apareceram em épocas remotas
e manifestaram aspectos corporais incomuns. O que nasceu primeiro chamou
Hiranyaksa e ao segundo foi denominado de Hiranyakasipu. Eles alcançaram
Vibhavari, a capital de Varuna. Varuana é uma deidade das águas, e sua capital
é conhecida como vibhavara, está dentro do reino aquático. Foi então no período
em que o demônio viu a Suprema Personalidade na forma de um javali e
entrou em luta com Ele, sendo morto pelo Supremo. As almas que vivem
dentro do ovo cósmico, em um dos três níveis de mundos ( inferior, intermediário
e superior), estão embaraçadas nas ansiedades materiais, querendo proteger
a riqueza, o corpo e os amigos; baseiam seus compromissos nas concepções
de “eu” e “meu”; desfrutam o gozo dos sentidos, desprovidos de bom senso;
são torturados pela fome, sede, frio, secreções de bílis, inverno, chuva, verão
insuportável, fortes desejos sexuais e ira infatigável. Ocupam seus sentidos
em trabalho muito penoso, sofrem de insônia e, especulam mentalmente. É
somente a alma condicionada que vive dentro deste universo material. A única
maneira de se unir a Deus, é praticar o serviço devocional. Quem aceita o
serviço em devoção a Deus, jamais estará separado Dele. Os devotos podem
ver a Deus, mesmo estando dentro do ovo cósmico, pois, o Supremo está
situado dentro de cada alma como Superalma. A transcendência Suprema é
distinguida por meio de Sua potência interna. Seu aspecto impessoal é
compreendido pela inteligência que busca a auto-realização. Deus, desfruta
da criação, manutenção e dissolução da manifestação cósmica. Suas
encarnações, qualidades e atividades são imitações misteriosas dos assuntos
mundanos. Quem invoca Seus nomes, mesmo que inconsciente, no momento
que deixa esta vida é purificado dos pecados de muitos e muitos nascimentos
e O alcança sem falta. A Suprema Personalidade de Deus é a raiz primordial da
árvore que penetra o sistema planetário com seus três troncos. O Supremo
aparece nas variadas espécies de entidades vivas, como também entre os
semideuses para executar suas atividades, sem ser contaminado pelos três
modos da natureza (ignorância, paixão, amor). Deus é o único amigo de toda
entidade viva e mantém a todos, para a sua felicidade última. O ser humano,
que é uma alma corporificada, deve situar-se na prática da penitência, da
meditação e seguir os princípios védicos. Quando a alma estiver absorta em
serviço devocional, verá a Deus no seu próprio interior e, também verá que
ela, os universos e todas as entidades vivas estão todas em Deus. Somente
neste estado de visão transcendental é que será capaz de livrar-se de todos os
tipos de ilusões. Quando a alma estiver livre da concepção dos corpos grosseiros
e sutil, quando os sentidos estiverem livres de todas as influências da natureza
material, a alma compreenderá a sua própria forma pura, e neste estado,
estará também em consciência pura. Deus é a Superalma de todos os indivíduos,
é o diretor Supremo. Os seres humanos estão erroneamente apegados aos
corpos materiais, no entanto, deveriam se apegar somente a Deus.
Os Mestres do Oriente XX - Kapila Muni

A Suprema Personalidade de Deus nasceu no planeta terra com o nome


de Kapila Muni. Veio a este mundo para disseminar o conhecimento
transcendental visando o benefício de toda raça humana. Ensinou que o sistema
de yoga que provoca o relacionamento mais estreito entre Deus e a alma
individual, gerando o desapego a toda felicidade e aflição do mundo material,
é o sistema mais elevado. Quando a consciência da alma é atraída pela natureza
material, chamamos de vida condicionada. Quando esta mesma consciência
se apega a Deus, a alma se situa no nível da liberação. A alma, no momento
em que se livra inteiramente das impurezas , denominadas de luxúria e cobiça,
que são resultados da identificação da alma com o corpo, a consciência se
purifica, transcendendo as supostas felicidades e aflições materiais. A alma,
quando possui consciência pura, pode se ver e sabe que é transcendental à
existência material, é auto-refulgente, diminuta em tamanho e é não
fragmentada. Quando a alma não está mais identificada com o corpo, ela passa
a ver tudo corretamente e fica indiferente a tudo que se relaciona com o
mundo físico. A auto-realização é conseguida pela renúncia, e ao mesmo tempo,
praticando serviço devocional fundamentado no conhecimento védico. Nenhuma
alma alcança a perfeição se não ocupar em serviço devocional a Suprema
Personalidade, sendo este o único caminho. O apego a matéria é a maior
prisão para a alma. A alma quando se apega a matéria, não é livre, perde toda
sua liberdade. A alma ao se apegar à Deus, consegue a liberdade, livrando-se
de todo cativeiro imposto pela matéria. O Sadhu é uma denominação quando
a alma é apegada a Deus, sendo tolerante, misericordiosa, amiga de todas as
entidades vivas, é pacífica e orienta-se pelas escrituras. O Sadhu é aquele que
está sempre ocupado em serviço devocional, renunciou a todas as relações
familiares e ligações amistosas com o mundo material. Uma alma que se ocupa
constantemente em cantar e ouvir sobre a Suprema Personalidade, não padece
das misérias materiais, porque está sempre próxima de Deus. Uma alma
condicionada, deve em primeiro lugar, apegar-se a uma alma santificada,
neutralizando, assim, os efeitos do apego material. Quando uma alma
condicionada ao mundo físico passa a usufruir a companhia de devotos puros,
conversando a respeito das passagens de Deus pelo planeta terra,
vagarosamente vai avançando no caminho da liberação e posteriormente se
liberta totalmente da matéria, iniciando a verdadeira devoção. Estando a alma
ocupada conscientemente em devoção a Deus, ela perde o gosto pela satisfação
e gozo dos sentidos. Quando a alma se situa neste caminho, é capaz de se
controlar diante da energia do mundo material. A partir do exato momento em
que a alma deixa de se ocupar com a energia material, inicia o desenvolvimento
de uma nova consciência que permitirá alcançar a associação com a Suprema
Personalidade. A natureza da alma é servir e quando este impulso de servir é
centrado no ato de servir a Deus, sem nenhuma motivação material, dissolve
a falsa compreensão da alma de que ela é o corpo. A alma em devoção não
deseja tornar-se una com Deus, perdendo sua individualidade. A individualidade
da alma não pode ser perdida, pois, o maior desejo de uma alma liberada da
energia material é ver a forma de Deus, conversar com Ele e tomar consciência
das infinitas formas transcendentais de Deus. A alma ao ver as formas de
Deus e ouvir Suas palavras, perde a consciência material e atinge a liberação.
A alma em estado de devoção a Deus, não possui o desejo de ir aos sistemas
planetários superiores, não quer possuir as perfeições materiais e também
não deseja ir ao reino de Deus, só quer servir a Deus. Está alma liberada,
mesmo sem nada desejar, recebe todas as bênçãos de Deus. A alma que adora
a Deus com o serviço devocional, abandona todas as aspirações materiais,
inclusive em ser feliz neste mundo. Esta alma é levada para o outro lado do
nascimento e da morte. O terrível medo que uma alma possuir do nascer e do
morrer, nunca pode ser eliminado, a não ser, quando se busca a Deus. O único
meio de alcançar a perfeição final é fixar a consciência em Deus e se ocupar
em serviço devocional. Por causa do esquecimento da alma, de sua ligação
eterna com Deus, é que ela aceita a influência da energia material como seu
campo de atividade, se prendendo, erroneamente, as atividades físicas e ao
seu próprio corpo. A consciência material é a causa da vida condicionada,
devido a energia material se impor à alma. Embora a alma seja em si
transcendental às atividades materiais, é afetada pela energia material. A
natureza material é a causa do corpo físico e dos sentidos da alma condicionada.
O temor da morte é devido o medo de perder a ligação com a energia física. O
ego material, ou consciência material, é justamente este estado de consciência
fundamentado na ignorância (ausência de conhecimento da verdadeira natureza
da alma e suas eternas ligações). O ego material é o estado de consciência
que faz com que a alma viva totalmente subordinada ao mundo material, à
energia física. É o sentimento de apego ao finito. É a partir do falso ego que se
desenvolve a memória física, os sentidos físicos, os órgãos de ação e os
elementos grosseiros (terra, ar, água, fogo éter). O falso ego é idêntico aos
elementos, aos sentidos e à memória. O favorável e desfavorável para o ego é
guardado na memória. A inteligência nasce no ato da alma buscar a sua
satisfação na natureza material, selecionando o mais favorável para satisfazer
seus desejos. Quando a alma deixa de ser afetada pelos modos da natureza
material, ela permanece à parte da natureza, apesar de residir num corpo
material. A alma sob os encantos da energia material, passa a se identificar
com o corpo físico e consequentemente, passa a viver em atividades materiais,
pensando que é proprietária de tudo. A alma condicionada, transmigra por
diferentes espécies de corpos. Na verdade, a alma é transcendental à existência
material e somente por causa do apego a energia física é que sua existência
condicionada não cessa. É dever de toda alma condicionada a se ocupar em
serviço devocional em desapego. Para executar o serviço devocional, a alma
precisa ter uma visão equânime de todas as entidades vivas, viver sem
inimizade, sem nenhuma ligação com as pessoas, observar o celibato, executar
o trabalho, oferecendo o trabalho e o resultado do trabalho a Deus. A alma
condicionada que busca se libertar pelo serviço devocional, não deve comer
mais que o necessário, viver num lugar retirado, ser meditativo, aumentar o
seu poder de visão, não se identificando com o corpo para não atrair relações
corpóreas. Deve colocar a parte, todas as outras concepções de vida e ver a
própria alma situada numa posição transcendental. Uma alma liberada da
energia material percebe Deus que Se manifesta no falso ego. Sabe que Deus
penetra tudo e percebe Deus, assim como se percebe o sol, primeiramente
como um reflexo na água, embora o sol esteja situado no céu. A alma que não
está condicionada pela energia física, reflete-se primeiramente no ego tríplice
(o ego que nada sabe, que busca algo e se apega), no corpo, nos sentidos e na
memória. A influência da natureza material não pode prejudicar uma alma
iluminada, mesmo que ela se ocupe em atividades materiais, porque ela sabe
a verdade sobre o que é o infinito, e está fixa em Deus. A meta da perfeição é
atingida quando a alma abandona o corpo físico e progride rumo à morada que
está diretamente sob a proteção de Deus. Ao atingir a morada transcendental,
jamais retorna ao plano material. A respeito dos deveres prescritos, isto é, os
deveres que temos que cumprir na sociedade, devemos executá-los da melhor
maneira possível e, evitar a execução de deveres que não nos são atribuídos.
O ser humano deve contentar-se com aquilo que foi obtido pela graça de
Deus. Cada pessoa deve parar de executar práticas religiosas convencionais e,
se dedicar a libertação de sua própria alma da influência da energia material.
A alma deve entender que ela e seu corpo não são as mesmas coisas. Existem
múltiplos caminhos de serviço devocional, em decorrência da multiplicidade
da qualidade de executores. Serviço devocional executado por uma pessoa
invejosa, orgulhosa, violenta e irada, é serviço no modo da escuridão. Adoração
das Deidades, motivada pelo desejo de gozo material, fama e opulência é
devoção no modo da paixão. Quando adora a Suprema Personalidade de Deus
e lhe oferece os resultados de suas atividades com o objetivo de livrar-se das
atividades fruitivas, a devoção está no modo da bondade. O serviço devocional
perfeito, ocorre quando a alma sente atraída naturalmente por ouvir o nome e
as qualidades transcendentais do Supremo, que reside no coração de todos. O
devoto deve ir constantemente ao templo para ver as Deidades, tocar-lhes os
pés e oferecer-lhes adoração e orações com a consciência situada em renúncia.
O devoto deve ver todo ser vivo como um ser espiritual. Evitar a companhia de
pessoas que não sejam espiritualmente avançadas. Quem se ocupa
constantemente em serviço devocional pode perceber a Alma Suprema em
toda a parte. Quem adora o Supremo, mas não sabe que Ele está no coração
de todas as manifestações, está no modo da ignorância. Quem oferece respeito
a Deus, mas, tem inveja dos outros, jamais alcança a paz espiritual. Quem
ignora a presença de Deus em todos os seres vivos, jamais satisfaz a Deus.
Cada alma deve percebe a presença de Deus dentro de si e dentro de outros
seres vivos. Qualquer coisa que o materialista produz em troca da felicidade, a
Suprema Personalidade de Deus destroi e, a alma condicionada, sem nada
saber, se lamenta. O materialista não sabe que seu próprio corpo é finito e que
os atrativos do lar, da terra e da riqueza, que estão relacionados a este corpo
são temporários. O materialista pensa que tudo é permanente, sente satisfeito
com o corpo material que ocupa e não possui nenhuma inclinação em deixa o
corpo material, mesmo que seja um corpo decrépito, pois, sente deleite no
gozo infernal. O chefe de família, deformado pela velhice, permanece em casa
como um cão de estimação, tem dificuldade no respirar e produz um ruído
dentro da garganta que incomoda todos os familiares. É atacado por muitos
males, se alimenta precariamente e se torna um inútil por não mais trabalhar.
Acaba morrendo em grande aflição, vendo seus parentes chorando. No momento
da morte, ele vê os mensageiros da morte chegando perto dele e, devido ao
medo ele defeca e urina. É então capturado pelos Yamadutes e conduzido por
uma estrada, sendo mordido pelos cães. Sob um sol escaldante, a alma
condicionada tem que passar por estradas de areia quente com florestas em
chamas dos dois lados. Neste caminhar, conduzido pelos Yamadutes, a alma
condicionada é chicoteada nas costas pelos carrascos e é afligida pela fome,
sede e, outras necessidades do corpo físico. Enquanto o ser condicionado pela
energia física passa por esta estrada, rumo a morada de Yamaraja, ele cai de
fatiga e, as vezes perde consciência, mas, é forçado a levantar-se. Solitário,
ele é conduzido às mais escuras regiões do inferno, após abandonar o corpo de
carne e osso. Depois da morte do corpo, a alma condicionada passa por etapas
infernais e, ocupa os corpos das mais baixas formas de vida animal. Depois de
um longo período, inicia o processo de renascer novamente em um corpo
humano. Então, a alma é forçada a entrar novamente no ventre de uma mulher,
através da partícula do sêmen masculino. Na primeira noite, o esperma e o
óvulo se misturam e, na quinta noite a mistura fermenta-se, transformando-
se numa bolha. Na décima noite a bolha assume uma forma parecida com a
ameixa e, depois disso, transforma-se num pedaço de carne. Obtendo-se
nutrição da comida e da bebida tomada pela mãe, o feto cresce e permanece
naquela residência abominável de fezes e urina. A alma, nesta condição devida,
ora com as mãos postas, recorrendo a Deus, que a colocou naquela condição.
A alma, atada pelas suas próprias necessidades e atividades, encontra-se agora
no interior do ventre materno. Esta alma está separada do Senhor pelo corpo
material que é feito de cinco elementos. Ao nascer, inicia uma vida, influenciada
novamente pela natureza material, continuando sua árdua luta pela vida no
caminho de repetidos nascimentos e mortes. Esta alma, mergulhada dentro
de um corpo físico, vai dedicar-se a diferentes atividades, presa às três espécies
de misérias da vida condicionada. Devido a ignorância, a alma aceita o corpo
material como sendo ela mesma. Devido a essa falsa compreensão, a alma
também vai aceitar as coisas impermanentes como verdadeiras, caindo cada
vez mais no mundo das trevas, até atingir a mais escura região. O objetivo da
investigação filosófica deve culminar com a compreensão do Supremo, para
evitar este mergulho ao abismo sem fim da escuridão infernal. A partir do
momento em que a alma condicionada possui uma compreensão da realidade,
inicia a fase do serviço devocional, atingindo a Suprema Personalidade de
Deus. A Suprema Personalidade de Deus é a Alma Suprema, que não teve
começo e é transcendental aos modos materiais da natureza. O Supremo está
além da existência do universo físico, mas, é perceptível em toda parte, porque
é auto-refulgente. É a Alma Suprema que fecunda a energia material com sua
potência interna e, a natureza material dá a luz ao somatório da inteligência,
que é conhecida como Hiran-maya O universo material é como se fosse um
ovo, que é a manifestação da energia material fecundada. O universo físico é
coberto pelas seguintes camadas: água, ar, fogo, céu, ego e terra. Cada camada
é dez vezes maior que a anterior. O Supremo situou-Se dentro deste ovo. A
Alma Suprema está presente em todo ser vivo como Superalma, isto é, a Alma
Suprema dentro de cada alma individual. Para meditar na Suprema
Personalidade de Deus, o devoto deve sentar em um lugar calmo , controlar a
respiração, inalando profundamente, mantendo o ar dentro do corpo e
finalmente exalar. A mente deve ficar estabilizada e afastada de todas as
perturbações externas. Em seguida, pensar no Supremo dentro do coração.
Não deve manter uma visão coletiva de todos os membros do Supremo, isto é,
não deve tentar visualizar todo o corpo transcendental de Deus. Deve fixar a
mente em cada membro da Suprema Personalidade. A mente vincula-se a
mente do Supremo e passa a ter uma experiência de ser uno com Ele.

Bibliografia: Srimad Bhagavatam Canto 3 Cap 25


Os Mestres do Oriente XXI - Síntese do Terceiro Canto

A Suprema Personalidade de Deus possui duas energias, uma interna e


outra externa. A energia interna é sempre ativa e a externa, apesar de sempre
existir, possui um período de repouso e outro de manifestação plena. Assim
sendo, a energia interna se manifesta na realização dos universos
transcendentais e a energia interna é a causa dos universos materiais. O
universo material pode ser comparado a um grande ovo, a um ovo cósmico.
No interior deste ovo, existem uma infinidades de átomos gigantes, dentro
dos quais, estão os sistemas planetários e, consequentemente, os planetas.
Estes átomos gigantes se ordenam hierarquicamente em três níveis, os quais
são denominados de superiores, intermediários e inferiores. O ovo cósmico, os
átomos gigantes, os sistemas planetários e, os planetas, estão flutuando, ou
envolvidos pela energia externa de Deus, que é denominada de oceano causal.
A Suprema Personalidade de Deus penetra no interior de cada manifestação
salientada, inclusive no interior da alma individual. A partir do momento em
que o Supremo se interioriza dentro de cada manifestação, é denominado de
Superalma. O ovo cósmico não é infinito, possuindo um tempo determinado de
existência e não existência. Fora do ovo cósmico existe o universo eterno e
infinito, onde residem as almas liberadas e, a Suprema Personalidade de Deus.
O Supremo possui uma forma original e infinitas outras formas que servem
para se relacionarem com as almas individuais, nos dois universos. As almas
que estão dentro do ovo cósmico, são denominadas de almas condicionadas à
energia externa ou material. Este condicionamento faz com que a alma não
tenha um conhecimento verdadeiro, mas, um saber fragmentado e inverídico,
por se basear no que é transitório. Outra característica da alma condicionada
é o impulso de sempre buscar alguma coisa, está sempre buscando, sem nunca
encontrar. O terceiro aspecto da alma que está inserida no mundo material, é
o ato de se apegar a tudo que possui uma determinada forma, inclusive, se
apega ao próprio corpo, chegando ao ponto de pensar que é o próprio corpo,
perdendo a consciência de sua própria existência como alma em si. Enquanto
a alma possuir estes níveis de consciência, ela ficará girando dentro do ovo
cósmico, transmigrando em todos tipos de corpos, inclusive, passando pelos
universos superiores, intermediários e inferiores. A única maneira da alma
sair do ovo cósmico é tomar consciência que Deus está dentro de cada alma e,
a partir deste momento, buscar uma união, um relacionamento pessoal, entre
alma e superalma. Este encontro entre alma individual e alma universal é
denominado de serviço devocional puro, pois, é o encontro entre duas energias
eternas. A alma condicionada pensa que possui livre vontade e capacidade de
agir por si mesma, pensa que é soberana e senhora de todos os seus atos.
Devido a este pensar independente, é necessário, que ela mesma,
fundamentada nesta sua verdade de soberania, se entregue, a si mesma, ao
Supremo. Deus não interfere neste livre pensar da alma, mas, à mantém
dentro do ovo cósmico. A alma, por si mesma, deve tomar consciência que é
controlada por uma força sobrenatural e por conseguinte o seu gozo dos
sentidos, também está sob o controle desta força. Em outras palavras, Deus é
o controlador supremo, fazendo ocorrer tudo aquilo que é desejo da alma
individual, inclusive, satisfazendo o sentimento de apego à energia material. A
realização da alma, ocorre quando ela se coloca como escrava da Suprema
Personalidade. Servir a Deus é o objetivo supremo da alma individual.
Os Mestres do Oriente XXII - Narada Muni

Deus é o único ser Supremo e que através de suas diferentes energias,


aparece de modo diferente nos mundos materiais e espirituais. É o único criador
de toda energia material e depois que cria o universo, entra em cada mundo
material como Superalma. A Superalma é o único refúgio de todas as pessoas
que desejam liberação, sendo o amigo de todos que estão aflitos. Deus é como
se fosse uma árvore dos desejos, satisfazendo a vontade de todas as pessoas.
Deus conhece o desejo dentro do coração de cada ser vivo, e apesar do desejo
ser ambicioso, o Supremo concede à alma a realização de todos os seus desejos.
O Supremo é todo poderoso e concede os resultados de nossas atividades
fruitivas. Deus cria este mundo material, o mantém e o aniquila no devido
curso do tempo. Apenas com a benção do Supremo, pode-se cruzar o oceano
de ignorância da existência material, que está envolta em ondas de perigo
ardente, semelhante ao fogo. Deus fica satisfeito com aquele que acolhe todas
as pessoas com tolerância, misericórdia,amizade e equanimidade. Parece que
Deus age, mas Ele não é o ator. Ele mata, mas não é o matador. Ele existe
eternamente, mas, sob a forma de tempo eterno. Ele não tem começo, embora
seja o começo de tudo. Ele nunca se esgota, embora tudo acaba no devido
curso do tempo. O Supremo, no Seu aspecto de tempo eterno está presente
no mundo material e é neutro em relação a todos. Ninguém é seu aliado,e
ninguém é Seu inimigo. Deus é o Senhor de variedades de energias e ninguém
pode entender Seus planos e ações; portanto, deve-se concluir que embora
Ele seja a causa original de todas as causas, ninguém pode conhece-lo através
da especulação mental. O nascimento e a morte de cada alma corporificada
são causados pelo Supremo, que é a causa de todas as causas. Deus é a
Superalma de todas as entidades vivas. Ele é o controlador e mantenedor de
todos. Deus é a fonte original de toda auto-realização. Tudo emana de Deus,
e,com o transcorrer do tempo, tudo entra Nele outra vez. Todos devem se
render a Suprema Personalidade de Deus, que é a meta última do
desenvolvimento. Para agradar Deus é necessário misericórdia para com todas
as entidades corporificadas, controlar o gozo dos sentidos, purificar-se de todos
os desejos materiais, libertar-se de todas as contaminações mentais, deve-se
pensar sempre em Deus e dirigir-se a Ele com muito sentimento. Todos, incluindo
os semideuses trabalham sob Seu controle, assim como o Touro, puxado por
uma corda amarrada em seu focinho, é controlado por seu dono. Todas as
práticas transcendentais que não nos ajudam a compreender Deus são inúteis,
quer sejam práticas de yoga mística, quer estudos analíticos, quer rigorosas
austeridades, quer aceitação de sannyasis,quer estudo da literatura védica.
Todos esses aspectos podem ser importantes no avanço espiritual, mas, a
menos que compreendamos o Supremo todos esses processos são inúteis.
Todas as almas corporificadas são controladas por suas ações anteriores e por
isso existem diferentes variedades de corpos,de prazeres e de sofrimento. A
alma ao entrar dentro do corpo fica presa ao gozo dos sentidos, esquecendo
completamente a vida espiritual e em conseqüência é colocada em várias
condições miseráveis. A alma apegada ao corpo,transmigra por diferentes
classes de corpos. A alma em si, por natureza, tem independência diminuta
para escolher sua própria boa ou má fortuna, mas quando perde consciência
da Superalma, ela se entrega aos modos da natureza material. Na natureza
material ela fica sob a influência do modo da ignorância, outras vezes,sob a
influência do modo da paixão e, outras vezes, sob a influência do modo da
bondade. Os que estão situados no modo da bondade agem piedosamente e
se elevam aos sistemas planetários superiores onde vivem os semideuses.
Quem está no modo da paixão ocupa-se das atividades produtivas nos sistemas
planetários onde vivem os seres humanos. Os influenciados pelo modo da
escuridão ficam sujeitos a várias classes de misérias e vivem no reino animal.
A alma que não possui consciência da Superalma é exatamente como um cão,
o qual, dominado pela fome,vai de porta em porta em busca de alguma comida.
Conforme o seu destino, às vezes ele é castigado e enxotado e outras vezes
recebe um pouco de alimento para comer. Analogamente, a alma, sob a
influência de tantos desejos, passa a vagar por diferentes espécies de corpos,
conforme o seu destino. Às vezes ela está no alto e, às vezes,está embaixo.
Ora ela vai aos planetas celestiais, ora ao inferno, ora, aos planetas
intermediários. A existência material da alma deve-se somente a ignorância e
a ilusão. As variedades de vida e suas condições de sofrimento e prazer são
explicadas por alguns como sendo resultado do Karma, outros dizem que se
deve à natureza, outros ao tempo, outros ao destino, e ainda outros dizem
que tudo se deve ao desejo. Assim sendo, inúmeras e diferentes são os corpos
das almas, tais como animais, árvores, pássaros, répteis, semideuses e seres
humanos, todos espalhados por todo o universo, sendo que as vezes elas, as
almas, estão corporificadas e outras vezes imanifestas. A menos que desperte
para o ter consciência de Deus, a alma não pode se livrar da natureza material.
O único remédio é o render-se ao Supremo. Quando a alma passa a ter
consciência de Deus, abandona todas as atividades materiais e funções
ritualísticas. A alma atua em um corpo grosseiro e este corpo é movimentado
pelo corpo sutil da alma,composto de mente, inteligência e ego. Depois que o
corpo grosseiro morre, o corpo sutil continua a existir para desfrutar ou sofrer.
A alma corporificada trabalha sob a influência do conceito de corpo: “Eu sou
isso, eu sou aquilo. Esse é meu dever, e por isso devo cumpri-lo”. Essas
impressões são todas mentais, e essas atividades são todas temporárias, mas,
pela graça de Deus, a alma tem oportunidade de realizar todas as suas invenções
mentais. A alma que tem uma cobertura mental sutil, desenvolve toda a espécie
de pensamento e imagens devido a seu corpo anterior, não tendo possibilidade
nenhuma de inventar qualquer coisa mentalmente sem que isso tenha sido
percebido em uma vivência no corpo anterior. É a mente que faz a alma obter
determinada espécie de corpo. Segundo a composição mental de cada alma,
podemos saber o que ela foi à vida passada, bem como que espécie de corpo
terá no futuro. É a mente que indica os corpos passados e futuros. Ter
consciência de Deus é o associar-se ao Supremo. Quando uma alma nasce
para ocupar-se em serviço devocional a Deus, o seu nascimento, as suas
atividades, a duração de sua vida, sua mente e suas palavras são perfeitas.
Uma alma pode ter três espécies de nascimentos: o primeiro é através de pai
e mãe, e este nascimento chama-se nascimento através do sêmen. O segundo
nascimento ocorre quando alguém é iniciado pelo mestre espiritual. O terceiro
nascimento, ocorre quando alguém tem oportunidade de adorar a Deus. A
Superalma é o próprio Deus localizado e está ao lado da alma e uma vez que
ambas estão juntas não existe a necessidade dos dois agirem separadamente.
A alma e a Superalma são como dois cisnes vivendo juntos no mesmo coração.
Quando a alma abandona a Superalma, a alma fica presa aos sentidos, tornando-
se cada vez mais materialista. A partir do momento em que a alma perde o
contato com a Superalma, ela passa a viajar sob diferentes formas de corpos
por este mundo material. As almas e a Superalma não são qualitativamente
diferentes, não existem diferenças qualitativas entre a alma e a Superalma. O
ato de seguir o serviço devocional a pessoa consegue atingir a religiosidade,
desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos e finalmente a liberação.
Qualquer pessoa que desse modo se ocupe em serviço devocional com mente,
palavra e corpo é abençoado pelo Senhor de acordo com o seu desejo. Deve-
se ocupar no processo as vinte e quatro horas do dia, afastando de todas as
atividades de gozo dos sentidos. A pessoa deve também se associar com os
devotos de Deus. Quando existe esta associação, a pessoa não se apega em
absoluto ao corpo material, a uma relação corpórea, a progênie, a amigos, ao
lar, à riqueza e a esposas, que são queridas pelos materialistas. O serviço
devocional é o único meio pelo qual podemos satisfazer o Supremo. A meditação
também é um serviço devocional, neste caso, a pessoa deve sentar no seu
assento numa posição calma e silenciosa. Controlar o ar vital, a mente e os
sentidos. Liberar inteiramente de toda associação material e com paciência
começar a meditar na Suprema Personalidade de Deus. Aquele que medita na
forma do Senhor, liberta-se de toda contaminação material. Deve-se cantar o
mantra “On namo bhagavate vasudsevaya” ao praticar este processo meditativo.
A pessoa que canta este mantra por sete noites pode ver os seres humanos
perfeitos que voam no céu. O devoto que tem pleno controle sobre si mesmo
deve ser muito sóbrio e pacífico. Deve contentar em comer apenas frutas e
vegetais. Além de adorar as deidades e cantar o mantra, deve também meditar
nas atividades transcendentais do Supremo. Para meditar, deve-se ir para um
lugar retirado, fixar-se em postura sentada e, mediante a prática da yoga,
controlar o processo respiratório e o ar vital; dessa maneira recolher seus
sentidos completamente. Concentrar sua mente na forma de Deus e meditando
nele, entrar em transe. No transe,a alma esquece completamente a sua
existência corpórea e desse modo libertar-se do cativeiro material. Verá seres
descendo do céu, seres que são sevos diretos do Supremo. É a energia ilusória
do Supremo que cria os três modos da natureza responsáveis pela criação,
manutenção e aniquilação. Deus por meio de sua inconcebível energia suprema,
o tempo, provoca a interação dos três modos da natureza material, e assim as
variedades de energias se manifestam. Devemos entender que esta
manifestação cósmica é como um sonho por ser uma criação da energia externa
ilusória de Deus. O nosso corpo, esposas, filhos, amigos, exército, tesouro e
palácios são criações da energia ilusória. Quem permanece sob o controle da
energia material é igual a um animal de estimação, obedecendo às ordens do
seu dono, neste caso, os dias e as noites passam, fazendo com que a duração
da vida se escoe sem nenhum proveito. Sob o controle da energia material, a
pessoa deve entender que a sua vida está acabando e que dia a dia, está
chegando às portas da morte. Coberta pela energia ilusória a alma às vezes é
um ser masculino, às vezes, um ser feminino, às vezes, um semideus, às
vezes um pássaro, um animal, e assim por diante. Dessa maneira a alma vaga
dentro do mundo material. Sua aceitação de diferentes classes de corpos é
provocada por suas atividades sob a influência dos modos da natureza. Apenas
para exemplificar a nossa vida: um veado, ocupado em comer grama num
belo jardim florido, junto com sua coça. Mal sabe ele que diante dele há um
tigre, acostumado a viver às custas da carne alheia. No encalço do veado há
também um caçador, ameaçando trespassá-lo com afiadas flechas. Assim a
morte do veado está iminente. O homem leva uma vida de gozo dos sentidos
e considera-se muito feliz na vida familiar. Sente prazer em ouvir as conversas
de sua esposa e de seus filhos, esquecendo que diante dele está o tempo, que
reduz a duração de sua vida dia por dia, noite por noite. Ele não vê a diminuição
gradual de sua vida, nem liga para a morte que se aproxima. Procure ter
consciência de ti mesmo e abandone o prazer conseguido mediante atividade
fruitiva. Abandone a vida familiar, que é cheia de sexo e procure refugiar em
Deus. Abandone toda atração pela existência material. A largata passa de
uma folha a outra, agarrando-se uma folha antes de abandonar a outra. De
modo semelhante, de acordo com seu trabalho anterior, a alma é forçada a
assumir outro corpo antes de abandonar aquele que tem. Enquanto desejarmos
desfrutar os prazeres dos sentidos, criaremos atividades materiais. O homem
que abandona o conceito corpóreo de vida, tanto grosseiro, como sutil, torna-
se uma alma individual. Devemos saber que tudo que acontece dentro do
tempo, que consiste em passado, presente e futuro, não passa de mero sonho.
Em síntese, nunca devemos aceitar o corpo como se ele fosse o eu e também
não podemos matar corpos alheios. Existe um planeta conhecido como Estrela
Polar, o qual continuará a existir mesmo após a dissolução, no final do milênio.
Esta estrela planeta é cercada por todos os sistemas solares, planetas e estrelas.
Os Mestres do Oriente XXIII - Maitreya Muni.

A Suprema Personalidade de Deus não negligencia ninguém, nem sequer


as pessoas inúteis e desqualificadas. Deus é transcendental a todas as posições
especulativas, totalmente espiritual, desprovido de todo temor, sempre livre
de toda contaminação material. É o reflexo exclusivo para todos os que estão
situados nesta vida terrena, onde o elemento tempo, como uma serpente,
está sempre procurando uma oportunidade de atacar. Deus é a fonte de todas
as bênçãos e satisfações de todos os desejos. A forma eterna de Deus não
pode ser compreendida por pessoas que estão tentando conhece-lo utilizando
os sentidos. A Suprema Personalidade de Deus possui múltiplas energias e
essas energias manifestam-se sob múltiplas formas perturbando as entidades
vivas. Quando a Sua energia material é agitada surgem as três qualidades
materiais (bondade, paixão e ignorância). As três deidades (Visnu, Brahma,
Shiva) são a mesma pessoa, a Suprema Personalidade de Deus. Grandes yogis
e místicos que são avançados, em virtude das austeridades não podem alcançar
o limite das glórias divinas. Todavia, eles oferecem orações de acordo com
suas próprias capacidades. A respeito da alma individual, ela é una, pura, não
material e auto-refulgente. Ela é o reservatório de todas as boas qualidades e
é onipresente. O nirvana é uma posição em que a alma está plenamente
satisfeita e desapegada do mundo, vendo tudo repousando na Superalma.
Quando a alma está no estado de nirvana, ela fica em bem aventurança
transcendental, e continua nesta existência bem aventurada e este estado se
expande cada vez mais. Não devemos desejar a benção de fundir-se na energia
pura do Supremo, que é uma benção que carece de existência. Devemos querer
a benção de pelo menos ter ouvidos sensíveis para ouvir sobre as glórias de
Deus das bocas dos devotos puros. Somente através do serviço devocional
pode alguém se livrar das ilusões da existência material. A pessoa que se
torna bruta devido ao cultivo materialista, se envolve somente em atividade
fruitiva, permanecendo no ciclo de repetidos nascimentos e mortes. A pessoa
que se orgulha de possuir educação, austeridade, riqueza, beleza, juventude
e hereditariedade, torna-se cego, perde o bom senso, e não aprecia as glórias
de Deus. Mente perturbada é justamente o apego às coisas finitas, não sendo
permitido ir à casa de parentes e amigos, quando estas pessoas estão com a
mente perturbada. Uma pessoa conduzida pelo falso ego é sempre aflita, tanto
mental quanto sensorialmente, não aceitando o comportamento de pessoas
auto-realizadas. Os indivíduos que estão apegados às coisas do mundo relativo,
incapazes de se elevarem ao nível da auto-realização, invejam as pessoas que
buscam o Supremo. Invejam tanto quanto os demônios invejam a suprema
Personalidade de Deus. Se alguém ouve uma pessoa blasfemar a um mestre
espiritual, deve tapar os ouvidos e ir embora se for incapaz de puni-la. É
contraditório uma pessoa se apegar as coisas finitas e ao mesmo tempo buscar
o Supremo. Pessoas que se dedicam a atividades fruitivas, estão interessadas
em satisfazerem as necessidades do corpo. Todas as almas
corporificadas,começando da mais elevada, descendo até a formiga, estão
todas sob a influência do insuperável encanto da energia ilusória, submersos
na escuridão da ilusão, não conseguem compreenderem como Deus pode viver
no interior de toda alma como Superalma. O corpo humano possui todos os
meios para que a alma consiga alcançar o mais elevado objetivo da perfeição,
mas, atraída pela energia externa,a entidade viva identifica com o corpo e
com a energia material, buscando a felicidade no gozo material. Assim, a
entidade viva se desorienta e fica sempre atraída pela felicidade fundamentada
nas coisas finitas. Quem não tem conhecimento adequado pensa que Brahma
e Siva são independentes, ou pensa que as almas são também independentes.
Devido à energia ilusória, todos os seres vivos neste mundo material, esquecem
da verdadeira posição da alma imortal e pura, e, por ignorância,vivem buscando
a felicidade material, desejando amizades, amor e o viver em sociedade. Devido
a nossos atos passados e por arranjo do Supremo, estamos emaranhados
numa rede de atividades fruitivas e perdemos o destino da vida, assim sendo,
estamos vagando dentro do universo sem nenhum rumo.Para as pessoas
apegadas à relatividade, existem diferentes espécies de inferno que são horríveis
e sórdidos. O amante do relativo e finito vê diferença em tudo,mas, já está
morto pela providência divina, pois,está confundido pela energia ilusória do
Supremo. A alma corporificada e perdida no oceano da ignorância, deve
concentrar a mente nos santos pés de Deus, que é o mestre espiritual supremo,
para que possa ocorrer a purificação de todas as manchas de pecado. As pessoas
que amam a Deus,observam que Ele é o paramatma, a Superalma, dentro de
cada ser, não diferenciando um ser vivo do outro,tratando todos os seres
igualmente. A alma que busca Deus não diferencia a onipresença Personalidade
de Deus, de alguma coisa ou de alguma entidade viva, e também, não deseja
nada de ruim para uma outra pessoa, pois, todo aquele que infringe dor aos
outros sofre ele mesmo esta dor. As pessoas que buscam liberação do ciclo de
nascimento e mortes, refugiam sempre no Senhor Supremo. A alma
corporificada que possui determinado avanço, nunca é malvada com os outros
e aqueles que são dotados de inteligência avançada, são sempre conscientes
de que este corpo material é diferente da alma. Os que possuem pleno
conhecimento a respeito do corpo, sabem o que ele é composto de ignorância,
desejos e atividades resultantes da ilusão, devido a isto, não se inclinam para
o corpo. A meta ultima para o bem estar é o desapego do conceito corpóreo da
vida e o crescente apego a Deus. É possível aumentar o apego ao Supremo,
praticando atividades devocionais, indagando a respeito de Deus, ouvindo e
cantando as glórias do Supremo. Quem quer avançar na vida espiritual deve
evitar a companhia de pessoas interessadas apenas em gozo dos sentidos e
em fazer dinheiro. Devemos moldar nossa vida de tal maneira que não possamos
viver em paz sem beber o néctar da glorificação da Suprema Personalidade de
Deus. Um candidato ao avanço espiritual deve ser não-violento, deve seguir
os passos dos grandes mestres, lembrar dos passatempos de Deus,evitar
blasfemar os outros, levar uma vida simples e não se deixar perturbar pelos
elementos opostos. Ao tornar-se fixo o apego a Deus,os envolvimentos materiais
são queimados, como o fogo queima a madeira. Quem se despega de todos os
desejos materiais e liberta-se de todas as qualidades materiais, transcende as
distinções entre ações realizadas externamente e internamente. Nesta altura,a
diferença entre alma e Superalma, que existia antes da auto-realização,
extingue-se. Quando a alma vive para o gozo dos sentidos,ela cria inúmeros
desejos, porem, quando está na posição transcendental, já não interessa por
nada,exceto em satisfazer os desejos do Senhor,que é Deus. Dentre os quatro
princípios: religião,desenvolvimento econômico,gozo dos sentidos e liberação,
a liberação deve ser levada muito a sério. Toda alma corporificada deve se
esforçar para entender a Suprema Personalidade de Deus, que vive no interior
de cada alma individual. A nossa recomendação é que apenas se refugie aos
pés de Deus, que são como barcos para cruzar o oceano da vida material.
Os Mestres do Oriente: XXIV - Síntese do Quarto Canto

Deus é o Supremo e depois que cria o universo material, Ele penetra no


interior das almas planetárias e de todas as outras almas, sendo denominado
de Superalma. O único caminho para as almas se desprenderem do mundo
finito é o refugiar-se na Superalma, que é o Deus interior. Todos os desejos da
alma são realizados pela Superalma, quer estes desejos sejam referentes ao
mundo finito ou infinito. Deus é a causa de tudo que acontece, pois é Ele que
realiza as vontades das almas. Tudo emana somente de Deus. A meta última
do desenvolvimento é ter consciência do Supremo. Todas as atividades e
pensamentos que não possuem a finalidade de compreender Deus são inúteis.
Quando a alma penetra dentro do corpo ela fica presa ao gozo dos sentidos e
esquece totalmente a sua ligação com Deus. Devido ao apego da alma ao
corpo, ela transmigra por diferentes tipos de corpos. A condição de alma
corporificada é devido somente à ignorância e ilusão de que o finito é real,
esquecendo que a própria condição de finitude demonstra a relatividade e
transitoriedade. O render-se ao Supremo é o único caminho que a alma possui
para libertar-se do mundo dos limites. Uma alma pode ter três nascimentos: o
primeiro é originado do sêmen, o segundo é quando a alma é recebida por um
mestre e o terceiro se manifesta quando a alma se rende totalmente a Deus.
A meditação também é um serviço devocional e meditar no Supremo ocorre a
limpeza de todas as contaminações. Tudo que acontece neste universo material
é ilusório, inclusive todas as manifestações corpóreas. Deus e seus inúmeros e
infinitos universos eternos não podem ser conhecidos pelos sentidos. Quando
uma alma tem consciência que tudo repousa em Deus,ela fica situada em uma
condição denominada de nirvana,que é um estado de bem aventurança. Uma
mente perturbada é quando existe o apego a tudo que é transitório e finito.
Dois são os caminhos existentes para a alma corporificada: continuar
satisfazendo o corpo ou buscar Deus,ter consciência de outras infinitas
combinações energéticas emanadas do Supremo. A alma satisfaz a Deus a
partir do momento em que desenvolve uma consciência vivencial de que todas
as causas residem no Supremo. Deus possui infinitas energias que se combinam,
formando infinitas manifestações, perturbando a alma corporificada que aceita
apenas algumas limitadas combinações energéticas. A alma corporificada torna-
se bruta e cega, quando aceita o fato de que possuir uma boa
educação,austeridade, riqueza, beleza,juventude e hereditariedade são os
limites do pensar divino,esquecendo de tornar-se receptivo à Deus, para
compreender e viver as outras infinitas combinações energéticas que partem
do Supremo. O corpo humano possui todos os meios para que a alma possa
atingir o mais elevado nível de desenvolvimento em determinado grau de
evolução,no entanto, devido a ilusão, a alma se concentra em apenas no querer
gozar os sentidos do corpo, esquecendo de continuar a ampliação de sua
consciência. O ato da alma se ligar apenas às coisas finitas,faz com que ela
perca o objetivo da vida, fazendo-a vagar dentro do universo material.
Os Mestres do Oriente XXV - Brahma

Deus está além dos nossos pensamentos e Ele instituiu as suas ordens,
as suas regras, os deveres que temos que cumprir. Deus normatizou e definiu
a Sua própria verdade. Não podemos desviar de suas ordens,de suas
determinações e de tudo aquilo que foi estabelecido por Ele. Nenhuma alma
consegue ir contra o que foi estabelecido pela Suprema Personalidade de
Deus.Devido as leis emanadas da consciência Divina, todas as almas são
conduzidas a diferentes espécies de corpos, sujeitando-se ao nascimento, a
morte, a ilusão, ao medo,a felicidade e aos perigos. Estamos todos atados a
determinada classe social em decorrência dos nossos desejos e uma das leis
do Supremo é Ele satisfazer os desejos mais profundos da alma. Temos que
cumprir com os nossos deveres porque eles são determinações do Supremo. A
alma possui desejos, mas quem realiza os desejos da alma é Deus.O corpo
que temos ou que recebemos está intimamente ligado com os deveres que
temos que cumprir. O primeiro dever da alma é respeitar a posição que temos
nesta vida. Esta vida atual que temos foi estabelecida por nossas ações passadas
e também em todas as existências anteriores. Foi o passado da alma que
gerou a nossa atual posição conforme as determinações de Deus. A grande
verdade é que a alma deve deixar-se conduzir por Deus,exatamente como um
cego é guiado por alguém que possui o dom da visão. Todo o nosso passado
nos colocou dentro de determinadas regras emanadas de Deus e devemos
deixar-nos conduzir pelas leis Divinas, aceitando o corpo decorrente do viver
passado, sem agir no sentido de querer outro tipo de corpo material. A alma
deve se refugiar no Supremo e saber que o viver no corpo físico é o resultado
da aplicabilidade da lei Divina. Nenhuma alma consegue ir contra as ordens de
Deus, nenhum ser possui o poder de desobedecer a Suprema Personalidade
Divina.
Os Mestres do Oriente XXVI - Jata Bharata

O corpo físico é o veículo que transporta a alma no mundo material. O


corpo não pertence à alma,pois a alma é feita de outra energia. Toda a felicidade
que o corpo material desfruta,quer nessa vida ou na próxima, nesse nosso
planeta ou em planetas superiores, é insignificante em relação ao desfrute da
alma em si, no mundo transcendental. A mente é a responsável pelo
aprisionamento da alma no corpo material, pois ela é influenciada pela energia
do modo da bondade,do amor e da paixão. A mente quando está contaminada
pela energia material é igual a um elefante solto e descontrolado. É a mente a
causa fundamental do nascimento da alma em diferentes espécies de corpos,
entre os semideuses, os seres humanos, os animais e os pássaros. É a mente
que busca o seu próprio desfrute,conduzindo a alma para diferentes espécies
de vida material. Estando a mente comprometida com a energia material ela
cria atividades no modo da bondade, da paixão e da ignorância, condicionando
a alma. É a mente que faz a alma vagar por diferentes espécies de vida,dentro
do mundo material,executando diversos afazeres. Os eruditos afirmam que o
cativeiro no corpo material e a liberação são causados pela mente. Quando a
mente se deixa absorver no gozo dos sentidos,coloca a alma em uma vida
condicionada, prolongando o seu sofrimento dentro do mundo material. O pensar
da alma influenciada pela mente contaminada com a energia material, faz o
pensamento girar em torno do corpo, do ter, do espaço,do tempo e do apego
ao mutável. A energia material é muito forte e conduz a mente da alma,
levando-a a fazer com que a alma pense dentro dos limites da energia material.
A alma liberada de todo condicionamento pode ver com clareza todas essas
coisas que estamos comentando.
Os Mestres do Oriente XXVII - Rsabhadeva

Entre as almas que aceitaram corpos materiais neste mundo material, a


alma que especificamente recebeu um corpo humano não deve viver para
satisfazer os sentidos e sim procurar se libertar do universo material. Para que
a alma atinja a liberação,ela deve se ocupar em fazer penitências e austeridades
para que possa atingir um nível de conscientização que lhe permita executar
serviço devocional. Através do serviço devocional, a alma conseguirá a
purificação,obtendo uma vida bem-aventurada e eterna; uma vida que
transcende todas as felicidades materiais. O caminho da libertação só é possível
quando a alma presta serviço devocional às pessoas espiritualmente elevadas.
Estes mestres podem ser personalistas ou impersonalistas, mas são pessoas
pacíficas e vivem com o objetivo de se ocuparem no serviço devocional a
Deus. A alma que está interessada em ter consciência do Supremo,só gosta de
fazer coisas que estão relacionadas com Deus e com a sua libertação do mundo
físico. A alma que busca Deus não está apegada a seu lar,a sua família, aos
seus pais,aos amigos e riquezas. A alma que busca Deus não está interessada
na satisfação dos sentidos. A partir do momento em que a alma considera que
a satisfação dos sentidos é a meta da vida,ela fica apegada totalmente a esse
mundo material. A alma em si não precisa de nenhum corpo material, no
entanto, busca esse corpo físico para usufruir a energia transitória e finita de
Deus. Não é inteligente a alma que sempre está buscando satisfazer os sentidos,
pois terá como conseqüência o viver unicamente dentro dos corpos físicos. A
satisfação dos sentidos está diretamente relacionada ao corpo material.
Enquanto a mente for impura a alma estará sempre apegada ao mundo dos
limites. Mente impura é o pensar que a meta da vida é a satisfação dos sentidos.
A mente é uma faculdade da alma e enquanto a mente estiver voltada para
satisfazer a necessidade do corpo material, a alma não se voltará para o
Supremo, para Deus. A alma é considerada louca quando ela executa atividade
visando satisfazer os sentidos do corpo. A alma está presa a energia material
porque não entende que o gozo material é um desperdício de tempo. O querer
ser feliz centralizando seus interesses no lar,no ato sexual,ou em qualquer dos
sentidos do corpo,a alma não passa de um animal obtuso. A atração entre
macho e fêmea é o princípio básico da existência material. Esta atração sexual
é a materialização do apego ao corpo. A alma deve ter consciência da
necessidade de afastar do gozo dos sentidos e tolerar a dualidade de prazer e
dor. A alma deve procurar ver a condição miserável que é o viver dentro do
corpo físico. O primeiro passo para a libertação é iniciar as indagações filosóficas
a respeito da alma e se submeter a toda espécie de austeridade e penitência.
Não podemos querer identificar a alma com o corpo, pois são energias diferentes.
Para conseguir a liberação é necessário viver em um lugar recluso, praticar o
controle do ar vital que circula em nosso corpo e controlar também a mente e
os sentidos. Devemos ser celibatários e não podemos perder tempo com
conversas desnecessárias. Devemos ter consciência que a busca pela satisfação
dos sentidos fez com que aparecesse uma sociedade onde prolifera a inveja.
Existe um corpo transcendental e esse corpo possui uma forma idêntica a
forma humana, mas não possui nenhuma relação com a energia física. A alma
deve utilizar o corpo transcendental e não o corpo físico. Devemos saber que
os nossos desejos são os responsáveis por utilizarmos determinado tipo de
corpo. A natureza não força a alma aceitar um tipo de corpo, sendo que tudo
ocorre devido ao desejo da própria alma. Tudo acontece devido ao desejo da
alma. A alma que não está liberada do caminho de repetidos nascimentos e
mortes,significa que o seu desejo está ligado ao corpo físico e neste caso, esta
alma corporificada não pode ser um mestre espiritual. As almas que utilizam
os corpos que possuem força vital (vegetais) são superiores as que utilizam
corpos de matéria bruta (pedra). As almas das plantas são inferiores as almas
que utilizam os corpos dos vermes e das serpentes que podem mover. Superiores
aos vermes são as almas que utilizam corpos que possibilitem o desenvolvimento
da inteligência. Superiores as almas que utilizam corpos dos animais,são as
almas que utilizam corpos de seres humanos, e superiores a essas almas, são
as almas que não utilizam nenhum tipo de corpo material. Os Vedas são
encarnações sonoras de Deus, os mestres espirituais são os Vedas
personificados. Os mestres espirituais praticam e desenvolvem o controle da
mente,o controle dos sentidos e são verídicos. Deus está em todas as almas e
quando oferecemos respeito a qualquer alma corporificada estamos oferecendo
respeito a Deus.A verdadeira atividade da mente,das palavras e dos sentidos
deveria ser o ocupar-se plenamente em serviço a Deus. Uma alma nunca se
libertará se não estiver ocupada em servir a Deus.
Os Mestres do Oriente XXVIII - Sukadeva Gosvami

A Suprema Personalidade de Deus é bondade pura. Deus ilumina o universo


inteiro e outorga todas as bênçãos aos Seus devotos. Com Sua própria potência
espiritual o Senhor criou este universo de acordo com o Seu desejo. Depois de
criar todos os universos, Deus se fez presente no interior de todos eles, inclusive
dentro de todas as almas e dentro de tudo que existe. É Deus que mantêm
todas as almas desejosas de usufruir a vida material. É Ele também que elimina
nossos desejos demoníacos responsáveis por nossas atividades fruitivas. É
Deus que pode eliminar toda nossa ilusão e nossa ignorância. Devemos rogar
a Deus para que Ele elimine o nosso apego, responsável pela prisão da alma
na vida familiar. É somente Deus o responsável por destruir o nosso desejo de
ficar preso ao lar, a esposa, aos filhos,aos amigos, ao dinheiro, aos parentes e
assim por diante. A Suprema Personalidade de Deus é o controlador dos sentidos
e a origem de tudo. A criação, a manutenção e a destruição desse mundo
material são originárias do Supremo. Deus possui infinitas energias e uma
delas é utilizada para criar esse mundo material. Tudo ocorre devido às infinitas
energias de Deus. Ele é a causa da causa, é a causa de todas as coisas. A
Suprema Personalidade é a controladora de todas atividades corporais,mentais
e intelectuais.Os cinco objetos dos sentidos e inclusive a mente,são
manifestações parciais do Supremo. Tudo é energia do Supremo, não sendo
nada diferente Dele, sendo a causa de toda atividade mental e corporal. Ele é
o esposo, é aquele que provê as necessidades da alma. Todos os sentidos
estão sob o controle do Supremo. O tempo e os modos da natureza estão
subordinados a Deus. O Supremo não a atende a ninguém,a nenhuma alma,
por mais desenvolvida que ela seja,a menos que ela esteja ocupada em servir
a Deus, só favorecendo a alma que presta serviço devocional a Ele. Deus é
transcendente a tudo e Dele se origina a vida,a força corpórea,o poder mental
e as sensações. Assim como o titereiro controla seus fantoches dançarinos,o
Supremo controla todas as entidades vivas do universo,tais como os brâmanes,
Ksatriyas, vaisyas e sudras. Somente com ajuda de Deus é possível manter as
entidades vivas nesse universo,sendo o Supremo o único mantenedor de todos
os seres humanos. Deus é a causa única de todas as entidades vivas e o
reservatório de todas as qualidades transcendentais,estando presente em todas
as partes e em todos os lugares. A variedade de formas existentes nesse
universo material é uma simples manifestação da energia externa de Deus.
Deus manifesta suas diferentes energias em formas incontáveis: como entidades
vivas, plantas, árvores, espaço sideral, sistema planetário, colinas, rios, mares,
oceanos, ilhas e tudo o que existe. Todas as estrelas e planetas são simples
manifestações da energia do Supremo. Nada existe a não ser Deus. Toda a
manifestação cósmica material não é falsa,mas é uma manifestação temporária.
O Supremo é também o ritual e o sacrifício. Não é através de processos que
envolvem atividades mentais ou físicas que alguém irá compreender o Supremo.
Deus é automanifesto e Se revela ao perceber que alguém está o coração
ocupado em busca-Lo. Deus não está sujeito a visão material,e só em
consciência pura é que a alma pode perceber a forma transcendental do Senhor.
O Supremo é a origem de todos os resultados auspiciosos e inauspiciosos. O
Supremo é o reservatório de todas as qualidades transcendentais. Quando
uma alma quiser livrar-se da vida material, o Supremo aniquila toda a
contaminação dos modos da natureza material, Ele desmancha o nó que foi
feito, unindo a alma à matéria. Enquanto a alma não receber a misericórdia de
Deus, não descobrirá o meio de escapar da energia material. A alma que está
no caminho da libertação possui uma mente controlada e fica satisfeita apenas
em satisfazer as necessidades básicas da vida e não fica correndo em satisfazer
os sentidos. A alma que se entrega a Deus adora o Supremo e Deus abençoa
esta alma. A alma que caminha em direção ao Supremo, possui uma consciência
pura, não contaminada com a natureza material, não estando apegada a
nenhuma coisa desse mundo físico,sendo apenas uma testemunha do que
acontece no mundo da finitude. A perfeição da alma está em colocar a mente
no Supremo,é o apego ao Supremo,é fixar em Deus,é o desapego a tudo
relacionado com o corpo. A alma que busca a libertação deve ultrapassar o
alcance da mente e das palavras,ficando livre de todo tipo de apego ao mundo
material. Existem algumas indicações para conseguir a libertação: 1) Saber
que a alma é diferente do corpo. 2) Ocupar-se em atividades que gerem o bem
estar para todas as entidades vivas. 3) Nunca pensar em fazer o mal a alguém.
4) Refugiar-se somente em Deus. 5) Manter o controle dos sentidos e da
mente. 5) Procurar livrar-se da falsa consciência de que “eu sou o corpo” e
“essa propriedade é minha”. 6) Livrar do desejo do gozo material. 7) Saber
que a mente é a causa de todas as tribulações no mundo material, pois é a
mente que cria cativeiros e a falsa sensação de intimidade dentro do mundo
material. 8) Ter consciência de que a mente é por natureza muito inquieta e
por causa da inquietude da mente não devemos fazer amizade com ela. É a
mente que conduz a alma para a luxúria,a ira,a cobiça, o orgulho,as
lamentações, ilusões e ao medo, que combinados aprisionam a alma neste
mundo. 9) Não desenvolver conceitos corpóreos. 10) Não devemos confiar na
mente.11) Saber que a mente descontrolada é o maior perigo que existe.
Devemos saber que uma alma condicionada sempre está ocupando um tipo
específico de corpo, e fica vagando pelos inúmeros planetas que existem dentro
do universo material.O aprisionamento da alma ao universo físico e ao corpo é
devido a especulação da mente. A alma quando utiliza a mente e os sentidos
para adquirir conhecimento, ela fica presa ao mundo material. É a mente que
aprisiona a alma dentro da energia material. A alma que se ocupa em servir a
energia externa do Supremo não desenvolve boas qualidades e perde todas as
qualidades espirituais.
Os Mestres do Oriente XXIX - Síntese do Quinto Canto

Deus está além dos nossos pensamentos e Ele normatizou a Sua Verdade
e não podemos desviar de suas ordens ou de suas determinações. O corpo que
temos ou que recebemos está ligado com os deveres que temos que cumprir.
Devemos deixar-nos conduzir pelas leis Divinas e nos refugiar em Deus. Nenhum
ser possui o poder de desobedecer a Suprema Personalidade de Deus. O corpo
físico não pertence à alma,apenas transporta a alma no mundo material. A
mente é a responsável pelo aprisionamento da alma no corpo material, pois
mente busca o seu próprio desfrute no universo físico. A mente faz a alma
vagar por diferentes espécies de vida. A alma que está dentro do corpo humano
deve aproveitar essa oportunidade e conseguir a liberação do mundo material.
A liberação é o desapegar de tudo que se refere ao mundo físico,inclusive o
desapego total da família, dos amigos e da riqueza. A alma no processo de
liberação, centra todos os seus pensamentos e atitudes em Deus. Devemos
ter consciência que a alma não precisa de nenhum corpo material, mas o
utiliza devido ao apego da mente à energia material ou externa de Deus. A
satisfação dos sentidos é um falso desejo da mente. O desejo que mais aprisiona
a alma ao corpo é o desejo sexual. O ponto mais importante na liberação é o
controle dos sentidos e da mente. Nada existe a não ser Deus e Ele é a origem
de todos os resultados auspiciosos e inauspiciosos. Quando uma alma quiser
se livrar do mundo material, o Supremo aniquila todas as contaminações e
desmancha o nó que foi feito pelo desejo, ligando a alma ao mundo da
mutabilidade. Para atingir a liberação à alma deve se transformar em apenas
uma testemunha do que acontece no mundo da finitude. Deve ultrapassar o
alcance da mente das palavras, ficando livre de todo tipo de apego ao mundo
material. A alma quando utiliza a mente e os sentidos para adquirir
conhecimento, fica presa no mundo da mutabilidade.
Os Mestres do Oriente XXX - Sukadeva Gosvami

Deus é a única causa de tudo que existe

A Suprema Personalidade de Deus é a causa de todas as causas, é o


controlador de toda manifestação cósmica. Todas as entidades vivas recebem
do Supremo diferentes qualidades, diferentes corpos, diferentes deveres e
diferentes designações. Acima de todos os semideuses existe um Supremo
controlador. As manifestações parciais de Sua pessoa são Brahma, Visno e
Siva,que estão encarregadas da criação, manutenção e aniquilação deste
universo. O mundo inteiro é controlado por Ele. A alma não pode definir Deus
através dos sentidos,através da mente, através do pensamento ou através
das palavras. Deus é o mestre de todos o de tudo, os seus mensageiros, os
vaisnavas, vivem percorrendo este mundo.A Suprema Personalidade de Deus
está situada no âmago dos corações de todos os seres vivos. Todos os corpos
são residências ou templos de Deus. Deus é o lugar de repouso e a fonte de
tudo. Ele é o autor final e o objetivo ultimo. Ele é a causa de todas as causas.
Ele é único e não existe outra causa a não ser Ele. A Suprema Personalidade
de Deus observa tudo o que ocorre em toda parte. A suprema Personalidade é
o responsável pela causa e pelo efeito. As entidades vivas, a energia material,
a energia espiritual e a criação inteira são todas entidades individuais e juntas,
elas constituem o Supremo Único, a Personalidade de Deus. Aqueles que são
avançados em conhecimento espiritual vêem a unidade na diversidade. Para
essas pessoas avançadas, os ornamentos corpóreos, o nome, a fama, os
atributos e as formas são, manifestações da força de Sua potência. A Alma
Suprema embora manifesta de diferentes maneiras, é, de fato, o princípio
básico de tudo. A totalidade da energia material é a causa da manifestação
material, mas a energia material é causada por Ele. Portanto, Deus é a causa
de todas as causas, aquele que manifesta a inteligência e os sentidos. Ele é
percebido como a Superalma de tudo. Sem Ele, tudo estaria morto. Todos os
seres vivos em todos os planetas deste Universo, incluindo as deidades que
presidem a todos os planetas, estão sob o completo controle do Senhor. Todos
os seres vivos agem como pássaros apanhados numa rede, que não podem se
mover independentemente. Nossa aptidão sensória, poder mental, força física,
força viva, imortalidade ou mortalidade estão todos sujeitos à superintendência
da Suprema Personalidade de Deus. Todos nós dançamos de acordo com o
desejo do controlador supremo, a Personalidade de Deus. Ninguém é
independente. Se alguém pensa que de acordo com as ações fruitivas
anteriores,o corpo material é criado pelo pai e pela mãe,e o mesmo corpo é
aniquilado por outro agente, assim como um animal é devorado por um
tigre,esta compreensão é incongruente. Através de outros seres vivos, a
Suprema Personalidade de Deus cria e devora os seres vivos. Já que tudo
depende da vontade suprema de Deus,devemos ser equânimes na fama ou na
difamação,na vitória ou na derrota, na vida ou na morte. Na felicidade ou
infelicidade devemos manter-nos em equilíbrio e livres de ansiedade.
Alma

Acima do corpo estão os sentidos,acima dos sentidos está a mente e


acima da mente está a alma que é o próprio ser vivo. A alma deve saber o que
é matéria e o que é espírito,conhecer atividades de cativeiro e atividades de
liberação. Assim como as pequenas centelhas de fogo não podem executar as
ações de todo o fogo, nós,centelhas de Deus não podem executar as atividades
do Supremo. A alma pura é uma simples observadora das ações e reações do
corpo. A alma pura não está atada a qualidades da natureza. As três qualidades
- bondade, paixão, ignorância - não são qualidades da alma, mas qualidades
da natureza material. A alma que se atém ao conceito de vida corpórea esta
absorta no corpo,que é uma combinação dos elementos físicos. A alma
transmigra de um corpo a outro, às vezes, indo às espécies dos semideuses,
às vezes aos corpos dos animais inferiores, às vezes aos vegetais, e às vezes
à espécie humana, dependendo de suas atividades anteriores. A alma deve
perceber que o mundo material parece um rio que arrasta a alma,fazendo com
que todas as pessoas tornem-se amigas, parentes ou inimigas no decorrer do
tempo, e também faz com que a alma fique na neutralidade, ou cultiva muitas
outras relações. A alma em si é eterna. Ninguém deve aceitar que a alma
nasce ou morre. A alma não tem relação com aqueles que são chamados pais
e mães. Quando aparece como filho de um certo pai e mãe, a alma tem um
veiculo com o corpo dado por esse pai e essa mãe. A alma deve eliminar a
falsa idéia de que é filho deles. Quando o corpo morre toda relação familiar
desaparece. A alma é eterna e imperecível,porque,de fato, não tem começo
nem fim. Ela nunca nasce ou morre. Ela é o princípio básico de toda classe de
corpos, mas nunca pertence à categoria corpórea. A alma é tão sublime que
no aspecto energético é igual a Deus, sendo diferente de Deus na quantidade
de conhecimento.

A Alma não pode ver Deus

A Suprema Personalidade de Deus,que nos criou através de Sua potência


externa, sempre está situado diante da alma como Superalma, mas a alma
não pode ver a forma de Deus. A alma é incapaz de vê-Lo porque todos nós
ficamos pensando que somos deuses separados e independentes.

Individualidade

As categorias gerais ou específicas,tais como nacionalidade e


individualidade, são imaginações de pessoas que não são avançadas em
conhecimento.
Universo Material

Toda alma que está dentro do universo material está sobre a influência
direta da energia material, tendo que agir conforme os três modos da energia
material. A energia material faz com que a alma tenha um comportamento
ditado pela energia material. É muito difícil a alma sair depois que tenha entrado
no sistema planetário inferior. A natureza material funciona através da criação
e da dissolução. Todas as escrituras ensinam que as pessoas devem acabar
com o seu modo de vida material.

O Tempo

Assim como pequenas partículas de areia às vezes se agrupam e outras


vezes se separam devido à força das ondas, as almas que aceitaram corpos
materiais às vezes se unem e outras vezes se separam devido a força do
tempo. Todas as coisas móveis e imóveis existentes em todo o cosmo neste
momento, estão numa situação temporária. Antes do nosso nascimento,essa
situação não existia,e,após nossa morte,ela deixará de existir. Portanto, nossa
situação atual é temporária,embora não seja falsa. A esposa, o lar, a opulência
do reinado e varias outras opulências e objetos de percepção sensorial são
todos iguais,no sentido de que são temporários.

Universo Espiritual

A alma que entra no reino espiritual não retorna a este mundo material.

O corpo,sentidos, desejo, gozo, mente e inteligência

A mente é muito dispersa e a cada segundo ela fixa sua atenção em um


ponto, não conseguindo concentrar sua atenção somente em Deus. Para
concentrar a mente em Deus a alma deve abandonar voluntariamente o gozo
dos sentidos, deve ser verdadeira, deve fazer caridade, abandonar todo tipo
de violência e cantar os santos nomes de Deus. Devido ao desejo intenso da
alma em viver dentro da energia material, a alma recebe um corpo e nasce
numa família particular. O corpo grosseiro e sutil é criado de acordo com o
desejo da alma. Todas as almas ocupadas em atividades para satisfazer o
corpo físico e os sentidos estão sujeitas a serem punidas de acordo com os
seus atos pecaminosos. Todas as almas que estão presas neste mundo material
são pecaminosas, estejam elas praticando ações piedosas ou pecaminosas. A
alma que aceitou um corpo material não pode permanecer inativa e é inevitável
a ação pecaminosa para a alma que utiliza o corpo físico. A alma que utiliza um
corpo físico está mergulhada na materialidade, podendo ser pacífica, inquieta,
tola, feliz, infeliz, religiosa, irreligiosa ou semi-religiosa. A alma corporificada é
incapaz de controlar a sua mente e os sentidos,sendo forçada a agir de acordo
com os modos da natureza material. A alma corporificada pode ser comparada
com o bicho-da-seda, que usa a sua própria saliva para criar um casulo no qual
depois fica preso sem possibilidade de escapar. A alma aprisiona-se na rede de
suas próprias atividades e depois não encontra meios de se libertar. Devido ao
fato da alma identificar-se com o corpo, ela fica subordinada ao gozo dos
sentidos, ocupando-se em diferentes espécies de ações impiedosas, ficando
presa ao cativeiro material. Qualquer coisa comprovada pela inteligência
material, experimentada pelos sentidos e pensada pela mente não passa de
um resultado dos modos da natureza material e nada tem a ver com a verdadeira
natureza da Suprema Personalidade de Deus.O corpo material é a raiz que
deixa a alma cativa no mundo material. O corpo que uma alma utiliza foi
adquirido devido às ações que praticou em vidas passadas. A inteligência se
mistura com o mundo material aprisiona a alma, sendo uma inteligência poluída.
O gozo material é de fato a causa de toda a infelicidade, mas só pode abandona-
lo quem experimentou pessoalmente o sofrimento que ele traz. Aquele cuja
mente é mudada por outrem não se torna tão renunciado como aquele que
tem experiência pessoal. Este corpo que após a morte, é pasto para cães e
chacais,não faz nenhum bem a alma. O corpo é útil apenas por pouco tempo e
pode morrer a qualquer momento. Todas as almas que estão utilizando corpo
material, perderão seus corpos. Existe todo um esforço para manter seu corpo
e tudo se faz para protege-lo, sacrificando inclusive,todas as suas posses.
Alguém que não sente compaixão pelo sofrimento da humanidade e que não
sacrifica seu corpo temporário em prol de causas superiores, tais como os
princípios religiosos ou a glória eterna, não é digno entre os seres humanos.
Os objetos visíveis, tais como esposa, filhos e propriedades, são como sonhos
e invenções mentais. Às vezes torna-se visível e, outras vezes, não. Através
da mente, a alma sofre as três classes de tribulações, assim sendo o corpo é a
fonte de todas as misérias.

Processo de Purificação da Alma

Antes de abandonar o corpo físico a alma deve anular todos os atos


pecaminosos que tenha praticado com sua mente, palavra e corpo. Caso não
consiga anular todos os seus pecados a alma irá para os planetas infernais,onde
terá que submeter a terríveis sofrimentos. Antes que a morte venha, enquanto
o corpo ainda está forte, a alma deve adotar o processo de expiar todos os
seus pecados. Neste mundo material existem tantas entidades vivas quantos
são os átomos. Entre essas entidades vivas, pouquíssimas são seres humanos,e
entre estes, poucos estão interessados em seguir os princípios religiosos. Entre
um grande número de pessoas que seguem os princípios religiosos, poucas
são as que deseja libertar-se do mundo material. Entre muitos milhares que
desejam a libertação, talvez uma realmente alcança a libertação,abandonando
o apego material à sociedade, à amizade, ao amor, ao país, ao lar, à esposa e
aos filhos. Entre muitas milhares dessas pessoas liberadas, é raríssimo aquela
que pode entender o verdadeiro significado da libertação. Entre as pessoas
liberadas talvez uma se torne devoto de Deus. Procure entender em primeiro
lugar se você é o corpo, a mente ou a alma. Procure investigar de onde vieste,
para onde vais após abandonar este corpo, e por qual motivo está sob o controle
da energia material. Realizando este esforço para entender a verdadeira posição
da alma, terás capacidade de abandonar o apego desnecessário. Perderá a
crença de que este mundo material e tudo que se relaciona a ele é
eterno,obtendo a paz.

Serviço Devocional

Exercer pleno controle da vida, sentidos e mente, ocupando-se no serviço


devocional, evita que a alma caia novamente na profunda escuridão e ignorância
da vida material Apenas a alma que pratica serviço devocional a Deus pode
eliminar as ações pecaminosas. O canto do Santo nome do Senhor é o melhor
processo de expiação para todas as almas pecaminosas. Pelo simples fato de
cantar o santo nome do Senhor Visno, os maiores pecadores podem atrair a
atenção da Suprema Personalidade de Deus. Se a alma canta uma só vez o
santo nome e rende-se por completo aos pés de lótus do Senhor, o Supremo
imediatamente a põe sob Sua tutela e passa a proteger sempre a alma que se
rendeu a Ele. Cantando o Santo nome do Senhor e cantando Suas qualidades
e atividades, a pessoa livra-se facilmente de todas as reações pecaminosas. A
alma que não compreende o Supremo, busca apenas a felicidade temporária.

Contra os Processos de Purificação da Alma

Não são atos de expiação que anularão os pecados. A alma que se sujeita
a regras e regulamentações para anular os seus pecados está situada no modo
da ignorância e não é inteligente. A verdadeira expiação é adquirir um
conhecimento cada dia mais perfeito da Suprema Personalidade de Deus. Não
existe purificação através da austeridade, penitência e outros métodos de
expiação. Assim como um pote que conteve bebida alcoólica não pode ser
purificado mesmo que seja lavado nas águas de muitos rios,a alma não pode
purificar pelos processos de expiação. O único processo de expiação é a alma
se render a Deus e quando a alma se rende ao Supremo ela fica livre de todas
as reações pecaminosas.

A Morte

Na hora da morte,severas e insuportáveis dores tiram a consciência da


alma que aceitou um corpo material. Neste mundo material, toda alma está
muito apegada ao seu corpo material. Todas as almas que estão utilizando
corpo material, perderão seus corpos. O fato é que, neste mundo
material,ninguém jamais encontrou algum meio de livrar-se da morte. Sendo
a morte inevitável,se alguém pode ganhar promoção aos sistemas planetários
superiores ou fama perpetuas devido a uma morte heróica, qual alma não
aceitará tal morte. Existem duas maneiras de obter morte gloriosa. Uma delas
consiste em morrer após executar yoga mística, controlando a mente e a força
vital, morrer com o pensamento absorto em Deus. A segunda consiste em
morrer no campo de batalha não dando às costas ao inimigo.
Os Mestres do Oriente XXXI - Síntese do Sexto Canto

A Suprema Personalidade de Deus é a causa de todas as causas, é o


controlador de toda manifestação cósmica. O mundo inteiro é controlado por
Ele. Todos os corpos são residências ou templos de Deus. Aqueles que são
avançados em conhecimento espiritual vêem a unidade na diversidade. Para
as pessoas avançadas, o corpo, o nome, a fama, os atributos e as formas são
manifestações das potências de Deus. A alma não pode definir Deus através
dos sentidos,através da mente, do pensamento, da inteligência, ou através
das palavras. Ninguém é independente,todos nós vivemos de acordo com o
desejo do controlador Supremo, a Personalidade de Deus. A alma está acima
do corpo, dos sentidos, da mente e da inteligência. A alma é o próprio ser vivo.
A alma deve ser uma observadora de todas as ações do corpo e não pensar ou
se confundir com o corpo. A alma que se confunde com o corpo passa a sofrer
as influências da vida material. A alma deve perceber que a vida material é
como se fosse um rio que arrasta a alma, provocando encontros e desencontros,
alegrias e tristezas. A alma no aspecto energético é igual a Deus, mas em
conhecimento é inferior a Deus. A alma não pode ver Deus, pois, pensa que é
o próprio corpo físico e que está separada de Deus, tendo vida independente.
A alma deve saber que todas as categorias gerais ou específicas,como
individualidade, são imaginações da mente. O universo material é regido pela
lei da ignorância, paixão e bondade. A alma que está dentro do universo material
possui um comportamento ditado pela própria energia do mundo material. O
elemento tempo, que é uma realidade dentro do universo físico, faz com que
tudo, dentro do referido universo, seja temporário. A esposa, os filhos, os
pais, amigos e todas as opulências possuem existências por um pequeno espaço
de tempo. O corpo material é criado conforme os desejos da alma,sendo o
corpo a raiz que deixa a alma cativa no mundo físico. A alma que utiliza um
corpo material está mergulhada na materialidade,sendo incapaz de controlar
sua mente e sua inteligência,ficando subordinada ao gozo dos sentidos. A
alma deve, antes de abandonar o corpo físico,anular todos os atos pecaminosos
que tenha praticado com sua inteligência e mente, caso contrário será conduzida
para os planetas infernais. A alma deve em primeiro lugar tomar consciência
que não é o corpo, os sentidos, a mente e a inteligência. Deve procurar investigar
qual a sua origem e para onde vai depois que abandonar o corpo físico. A alma
deve procurar entender Deus. O único processo de expiação, consiste na alma
se render a Deus e quando a alma se rende a Deus ela fica livre de todas as
contaminações pecaminosas.

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