Portugues Instrumental Aula 10 Volume1
Portugues Instrumental Aula 10 Volume1
Portugues Instrumental Aula 10 Volume1
Português Instrumental
Aula 10
Apoio:
Faperj - Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro
2006/1
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AULA
Da oralidade à escrita II
Meta da aula
Apresentar as molduras (introdução e
desfecho) de textos elaborados para
situações específicas.
objetivos
O ORADOR
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O DISCURSO POLÍTICO: O PALANQUE, O PÚLPITO,
O MICROFONE
AULA
O que seria do político sem o palanque? Em nossos tempos
ultramodernos, o que seria do político sem o microfone? Você, por
acaso, já ouviu falar de algum político mudo? Sem querer “misturar
as bolas”, já conheceu algum padre ou pastor que fosse mudo? Como
ensinou São Paulo, “a fé é pelo ouvir”. Políticos e padres – e cada vez
mais encontramos os dois em uma mesma pessoa – geralmente são hábeis
oradores. Às vezes, até radialistas! Ou seja, comunicam muito bem suas
idéias, seus projetos, seus credos. O que para o padre é o sermão, para o
político é o discurso: um meio de comunicar-se com o público.
Alguns oradores são capazes de discursar de improviso, outros
preferem elaborar um texto com antecedência, para ser lido na ocasião
a que se destinou. Políticos, muitas vezes, não podem escolher entre
as duas opções anteriores, sendo levados a discursar de improviso nas
mais variadas situações – o que acaba lhes conferindo certa experiência
como oradores. Quanto aos discursos de altos dignitários, preparados
para ocasiões especiais – solenidades, aparições televisionadas, visitas ao
estrangeiro etc. –, vale notar que, na maioria das vezes, há intervenções
de terceiros (isto quando os discursos não são inteiramente escritos por
outros que não o orador). O certo é que nenhum discurso proferido
sob as circunstâncias anteriores chega aos ouvintes sem uma revisão
cuidadosa. É praxe haver, junto aos quadros do executivo, alguém
unicamente responsável pela elaboração e/ou revisão dos discursos
presidenciais. Ao longo da história do Brasil, intelectuais e escritores
ocuparam essa posição.
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Para você ter uma idéia do que estamos tratando, leia os trechos
dos discursos políticos que selecionamos. Fique atento à forma como os
oradores iniciam e finalizam os discursos.
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importância no cenário internacional e, ao mesmo tempo, capaz
de abrigar, acolher e tratar com justiça todos os seus filhos.
AULA
Vamos mudar, sim. Mudar com coragem e cuidado, humildade
e ousadia, mudar tendo consciência de que a mudança é um
processo gradativo e continuado, não um simples ato de vontade,
não um arroubo voluntarista. Mudança por meio do diálogo e da
negociação, sem atropelos ou precipitações, para que o resultado
seja consistente e duradouro.
(...)
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Ministério da Cultura
"Meus amigos, minhas amigas,
Estamos, hoje, em meio à nossa segunda semana de trabalho
à frente do Ministério da Cultura. E emprego o verbo no plural não
por formalidade discursiva ou por alguma praxe protocolar. Mas, sim,
porque a equipe que hoje toma posse de seus cargos já vem trabalhando
comigo desde o primeiro dia em que coloquei os pés no MinC – alguns,
até mesmo antes disso, em discussões preliminares sobre o trabalho
que teríamos pela frente, com a minha aceitação ao convite feito pelo
presidente Lula, para que assumisse a função de ministro da Cultura de
seu Governo.
E não por acaso, nesta breve abertura de minha fala, já empreguei
três vezes a expressão trabalho. Quero, mesmo, enfatizar esta palavra.
Quero sublinhar o esforço que está sendo feito diariamente, por todos
nós, para redirecionar o ministério em função de seus novos conceitos,
planos e objetivos, no contexto do novo projeto nacional que hoje
mobiliza a sociedade brasileira. E afirmar, ainda, que este esforço deverá
ser cada vez mais intenso e abrangente.
(…)
No plano interno do Governo, vamos procurar trabalhar sempre
de forma transversal, estabelecendo conexões e parcerias com os
demais ministérios.
No plano interno do MinC, o objetivo é integrar os diversos
departamentos. Promover a sua integração a partir das afinidades
existentes. E evitar as superposições. Já que a estrutura atual do
ministério, infelizmente, permite superposições que não são desejáveis
– e só a futura reforma do Minc irá eliminar tais sombreamentos – vamos,
por enquanto, harmonizar as políticas particulares, fazê-las convergir,
de modo que possamos dar ao ministério a dimensão que ele tem de ter,
hoje, na vida brasileira.
Na verdade, o MinC ganhou muito em visibilidade nesses últimos
dias em todo o Brasil, provocando um redespertar do debate sobre
política cultural no país. Mas devo advertir aos meus companheiros de
equipe, neste momento, que esta nova visibilidade do ministério só terá
conseqüência se ela, de fato, se desdobrar e se traduzir em ação.
Figura 10.3: Gilberto Gil,
ministro da Cultura. Muito obrigado.”
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E então, o que achou? Não transcrevemos os discursos na íntegra,
mas apenas destacamos seus inícios e finais. Se você leu com cuidado,
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percebeu que, embora tenham sido pronunciados, ambos os discursos
parecem ter sido escritos. E, de fato, o foram. Imagine um discurso de
posse de um presidente, diante do Congresso Nacional, que não fosse
previamente preparado! O improviso, naquela situação, não é nem um
pouco recomendável!
Mesmo em acontecimentos aparentemente menos importantes,
isto é, situações em que nós, professores, podemos ser chamados a
discursar – seminários, debates, aulas inaugurais em escolas –, é de muito
bom proveito preparar um texto. Alguns mais íntimos do palanque, mais
confortáveis com a posição de orador, não sentem necessidade de redigi-
lo. Outros, mesmo que se sintam seguros diante da platéia, preferem se
garantir, preparando o que vão dizer sob a forma de um texto escrito.
Você pode indagar: “Mas, se vou falar, como poderei usar o texto que
escrevi?” Vamos trabalhar isso em nossa primeira atividade de hoje e
nas subseqüentes.
Se você tiver interesse em conhecer mais sobre esse e outros discursos políticos,
vá ao site oficial da Presidência da República (www.brasil.gov.br).
ATIVIDADE
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COMENTÁRIO
Se você não compreendeu o que estamos chamando molduras,
lembre-se das “epístolas” citadas na Aula 6. Assim como a carta, o
discurso também merece alguns cuidados. Começar agradecendo,
além de ser simpático, pode servir para conectar-se com o público:
“Gostaria de começar a minha fala agradecendo a presença dos pais
e familiares de nossos alunos, de meus colegas, de todos aqueles
envolvidos no dia-a-dia da escola, e de dar as boas-vindas àqueles
que são os protagonistas desta história que recomeça hoje – nossos
alunos e alunas!”. Você pode optar por agradecer ao convite que lhe fora
feito para discursar na aula inaugural: “Gostaria de dizer que me sinto
muito honrado pelo convite que me foi feito, pela direção da escola,
para abrir a aula inaugural deste ano...” Não fique preso aos exemplos
anteriores, escreva a seu modo.
O final do discurso também é muito importante. Se você não se
lembra, alguém vai substituí-lo, logo após a sua fala, e, portanto,
você é responsável por chamá-lo e apresentá-lo ao público: “Quero
agradecer a atenção com que todos vocês me ouviram e a confiança
que depositam nesta escola. Passo a palavra à professora fulana de
tal. Muito obrigada(o)”. No momento de passar a palavra a seu colega,
você pode tecer algum elogio: “Quero chamar agora a minha querida e
ilustre colega, professora fulana de tal!” Tudo isso fica a seu critério, mas
lembre-se: é muito importante saber como começar e como terminar
um discurso; para isso, exercitar a escrita ajuda muito. Imagine se você
esquecesse o nome de seu colega ou, no calor da emoção de discursar,
esquecesse que depois de você alguém o substituiria. Lá estaria o papel
com o texto escrito por você, para lembrá-lo dessas coisas.
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entre textos que foram escritos para serem, única e exclusivamente,
lidos para si mesmo e aqueles que foram feitos para serem lidos para os
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outros. Muitas experiências cotidianas entram em contradição com o
que estamos falando, embora não tornem falsas nossas afirmações.
Você pode muito bem ler uma história de Machado de Assis para
seu filho, ainda que ela tenha sido escrita com um apuro formal e estilístico
que a afastasse da língua falada, principalmente da cotidiana, que é mais
informal. No entanto, você, ao lê-la para uma criança, pode lançar mão
de muitos recursos para torná-la interessante e compreensível: encurtar
os períodos com pausas que não estão marcadas graficamente pela
pontuação; enfatizar esta ou aquela palavra; substituir verbos, adjetivos
e substantivos difíceis por outros que a criança possa compreender;
em vez de substituir as palavras difíceis, explicá-las à criança; modular
a voz, de modo que ela perceba as diferenças entre as personagens;
alterar a expressão facial e a voz, para enfatizar o sentimento de alguma
personagem que talvez não estivesse bem definido ao ouvinte, entre
outros. Esses mesmos recursos podem e devem ser utilizados para a
elaboração e posterior apresentação de um texto que foi escrito para
ser lido em voz alta.
Vamos avançar um pouco além da moldura do texto. Leia os dois
trechos abaixo e perceba como seus oradores introduziram o assunto
de que trataram.
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ATIVIDADE
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RESPOSTA COMENTADA
AULA
Se prestar atenção aos trechos que transcrevemos, você poderá
perceber que seus autores “adiantaram” aos ouvintes o conteúdo de
suas falas. Esse modo de iniciar uma palestra não é o único nem o mais
certo, mas nos parece proveitoso tomá-lo como modelo. Em situações
do tipo palestra, comunicação em congresso, apresentação de trabalhos
etc, o público geralmente tem acesso aos títulos e aos resumos dos
trabalhos dos oradores. Mesmo nesses casos, é muito comum que os
oradores introduzam seus assuntos de maneira cuidadosa e de modo
a situar os ouvintes em sua fala. Você pode argumentar que isso em
muito se parece com o que fazemos em um texto escrito para ser lido
silenciosamente. E você está certo. Aquilo que em textos escritos recebe
o nome de introdução pode e deve ser usado nesse tipo de contexto.
Como sua platéia não teve acesso ao texto que você escreveu, é natural
que não saiba do que se trata. O que você escreveu deve servir como
introdução ao seu discurso. Você pode ter iniciado comentando o título
de sua palestra: “Quando dei esse título, tinha em mente que..." Também
é possível e recomendável, nesses casos, tecer algumas considerações
de ordem geral sobre o evento e localizar a sua fala naquele contexto:
“Neste momento, em que estamos todos reunidos em torno do início de
mais um ano letivo, parece-me pertinente abordar a questão da..."
Uma dica: leia sempre em voz alta o que escreveu, seja um texto
para ser lido em uma aula inaugural, seja uma monografia de fim de
curso. Quando lemos em voz alta, adquirimos noção de como o texto
está soando e fluindo. Se você empacar em alguma passagem, pode
ser que ela não esteja bem escrita. Reescreva-a. Lembre-se, ainda, de
que uma palestra, por sua natureza mesma, admite certas marcas de
oralidade. Deste modo, não se preocupe se você estiver aparecendo
muito no texto; permanecer em evidência é uma atitude natural nesse
tipo de situação.
Aula inaugural
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CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
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COMENTÁRIO
O que você escreveu para as Atividades 1 e 2 pode ser aproveitado
neste momento. Mas como você já deve estar farto de escutar, toda
atividade de escrita requer um trabalho de reescrita. Portanto, se a
introdução que escreveu não estiver adequada ao resto do texto,
reescreva-a. Aliás, mais uma dica: comumente deixamos a introdução
para ser escrita depois que tivermos todo o texto pronto; isso evita que
anunciemos na introdução algo que, por falta de tempo ou devido ao
desenvolvimento do trabalho, não abordamos em nosso texto. Outra
razão não menos importante é a de que só sabemos, em parte, o que
e como vamos escrever ou falar, depois de tê-lo feito.
Nesse texto, você pode alternar entre a primeira e a terceira pessoa
do singular e a segunda pessoa do plural. Exemplo: “O que vejo no
cotidiano da escola é que nós, professores, somos levados a refletir
constantemente sobre nossa prática. Tal reflexão é indispensável, uma
vez que se tem em mente que não apenas os conhecimentos das
disciplinas estão em constante mudança, mas, também os métodos
de ensino são postos em cheque de tempos em tempos.” Tenha
cuidado com essas alternâncias e evite expressões do tipo “eu acho”
(substitua-as por “eu acredito que”, “a mim parece que” e outras
equivalentes). Evite, o quanto possível, as frases muito longas; elas
costumam dificultar a compreensão. Leia seu texto para alguém, de
preferência um colega de faculdade. Isso serve para que você saiba
se seu texto está cumprindo a sua função: a de comunicar uma idéia
a outra pessoa.
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RESUMO
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