Sala Do Professor - Morte e Vida Severina
Sala Do Professor - Morte e Vida Severina
Sala Do Professor - Morte e Vida Severina
das imagens
PROFESSORES
Bruno Alvarez Língua Portuguesa
Francis Wilker Artes Cênicas
Sinopse do Programa
Morte e Vida Severina é um livro onde a saga
do sertanejo nordestino é contada em dramáti-
cos versos que revelam o duro percurso entre
o sertão e o litoral, entre a morte evidente e a
esperança. É fundamental para os estudantes
de Ensino Médio. Por isso a TV Escola produziu
Morte e Vida Severina em Desenho Animado, o
casamento perfeito entre o texto forte de João
Cabral de Melo Neto e o traço árido do artista
João Falcão. No programa “Sala de Professor”
os convidados reúnem conhecimentos de Língua
Portuguesa e Artes Cênicas para desenvolver um
trabalho que estimula a produção de textos e a
adaptação para diferentes linguagens artísticas.
Apresentação
O filme em linguagem de animação inspirado no
poema Morte e Vida Severina é uma excelente
ferramenta para os professores de Língua Por-
tuguesa e de Artes Cênicas desenvolverem seus
conteúdos em parceria. A Língua Portuguesa
tratará dos aspectos formais do texto e do vídeo,
aprofundando-se na verificação dos usos e das
funções das figuras de linguagem nas duas obras.
O campo da Arte explorará as questões concei-
tuais relacionadas à arte engajada e à construção
de sentido nas diferentes linguagens artísticas a
partir da combinação de signos e elementos pró-
prios de cada linguagem.
Um olhar para o filme
a partir da língua portuguesa
Ao analisar os elementos que compõem o Morte e Seria interessante que, após uma breve análise
Vida Severina em desenho animado e o poema no da letra da música, o professor expusesse, lado a
qual o vídeo foi baseado, podemos considerar, do lado, excertos dos dois textos, como segue:
ponto de vista da Literatura, ao menos dois conteú-
dos a serem trabalhados em sala de aula. Primeiro,
o trabalho poético de João Cabral de Melo Neto e Eduardo e Mônica – Legião Urbana
sua dimensão no panorama literário brasileiro; pos-
teriormente, o papel crucial exercido pelas figuras de [...]
linguagem, tanto na criação das duas obras, quanto Eduardo e Mônica
na transposição de uma produção para outra. um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
A partir disso, o professor poderá abordar na ati- Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
vidade conceitos como figura de linguagem, “Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”
adaptação literária e comparação intertextual. Festa estranha, com gente esquisita
Nesse sentido, pode-se propor aos alunos do 2º “Eu não tô legal, não aguento mais birita”
ano do ensino médio que comparem as obras, em E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
um verdadeiro trabalho de Literatura Comparada Sobre o boyzinho que tentava impressionar
(tão prescindido nas escolas brasileiras). O objetivo E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
é fazê-los conhecer a poesia cabralina, retomar “É quase duas, eu vou me ferrar”
conhecimentos a respeito das figuras de lingua- Eduardo e Mônica trocaram telefone
gem e, por consequência, avaliar os processos Depois telefonaram e decidiram se encontrar
que permitiram a adaptação de uma obra literá- O Eduardo sugeriu uma lanchonete
ria em um desenho animado. Mas a Mônica queria ver o filme do Godard [...]
assonância comparação
aliteração metáfora
onomatopeia metonímia
paronomásia catacrese
sinestesia
anacoluto antítese
anáfora paradoxo
elipse eufemismo
hipérbato ironia
pleonasmo gradação
polissíndeto personificação
Seria importante que o professor avaliasse, ao lado compensam aqui cultivar, quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina (metáfora),
dos alunos, quais as ferramentas utilizadas para a
é tão bela como um sim
construção da imagem e de símbolos nos poemas numa sala negativa (antítese),
de Cabral, dado o papel fundamental que exercem. É
nesse sentido que se estudará a importância do uso entre outros muitos exemplos.
de figuras de linguagem, sobretudo da metáfora, que é
encontrada em Morte e Vida Severina com frequência. É essencial que o professor explicite que o apelo
da imagem e da plasticidade, bem como a multipli-
O professor deverá apontar a importância de cons- cidade de sentidos proporcionada, deve-se ao uso
truções como: constante das figuras de linguagem que reforçam
a temática profundamente associada à miséria, e
Serra
magra e ossuda e paisagem defunta (prosopopeia), principalmente à morte.
Somos muitos Severinos (metonímia),
o sangue O filme – do qual os trechos escolhidos já foram
que usamos tem pouca tinta, ave-bala, apresentados aos alunos – também faz com que se
só os roçados da morte destaquem elementos da narração e, naturalmente
Figura 1: Imagem representada da bala-ave. Figura 2: Imagem das pás. Figura de linguagem
criada pelo autor do desenho.
Nesta última etapa, caberá ao professor analisar com os alunos como são trabalhadas as figuras de
linguagem no filme, tanto as que são originadas no texto, quanto aquelas criadas especialmente para
o desenho animado. É possível, para que se tenha uma visão mais objetiva desta atividade, construir
coletivamente uma tabela como a seguinte:
figuras de linguagem
trechos
Metáfora Comparação Personificação Metonímia Antítese
Morte e Vida Severina x
serra/ magra e ossuda x
paisagem defunta x
Somos muitos Severinos x
o sangue/
x
que usamos tem pouca tinta
ave-bala x
tão bela como um sim/
x
numa sala negativa
veja mais
Aula A linguagem figurada dos textos poéticos, de Mirian Chaves Carneiro. Disponível em: <portaldopro-
fessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=21853>.
A obra Morte e Vida Severina, tema do filme em ques- com competências e habilidades propostas na
tão, pode ser “olhada” de diferentes perspectivas a Matriz de Referência para o ENEM 2011 para a
partir das Artes Cênicas. Do ponto de vista da história área de Linguagens, destacamos a competência
do teatro brasileiro, a montagem desse texto feita pelo de área 4 - “Compreender a arte como saber
TUCA -Teatro da Universidade Católica de São Paulo, cultural e estético gerador de significação e in-
em 1965, com coordenação de Roberto Freire e mú- tegrador da organização do mundo e da própria
sicas de Chico Buarque alcançou bastante sucesso identidade”, e a sua habilidade H12. Sugerimos a
e representou o Brasil no festival de Teatro de Nancy, seguir três exemplos de atividades que podem ser
na França, onde foi agraciada com o primeiro lugar. desenvolvidas pelo professor de Arte.
Depois disso, realizou temporadas em outras cidades
da Europa. Pesquisar um pouco da encenação dessa
obra de João Cabral já coloca em discussão questões Atividade 1
como: arte e engajamento social; recursos de ence- As muitas maneiras de dizer
nação; relação entre a poesia e a cena, entre outras.
Iniciaremos o trabalho da disciplina com a música
O filme proposto é uma excelente oportunidade Eduardo e Mônica, do grupo Legião Urbana. A par-
para o professor de Arte desenvolver os conceitos tir da letra da música, sugerimos que o professor
de: paisagens sonoras, estruturas corais e mo- experimente com os alunos outras possibilidades
nológicas, dimensão acústica e arte engajada. sonoras e de registro vocal para expressar a histó-
As atividades aqui propostas são convergentes ria dos jovens Eduardo e Mônica.
Experimentar dizer o texto da música como Realizar uma leitura coletiva do texto Morte e
quem conta uma história; como quem diz um Vida Severina procurando incorporar o trabalho
poema; como quem está dando uma aula; realizado na atividade anterior. Desse modo,
como quem está lendo uma receita culinária; um grupo pode ler e o outro tem como objeti-
como quem está dando ordens a um exército; vo criar a atmosfera sonora da passagem que
como quem está rezando uma missa, etc.; está sendo lida. Ex.: coro de rezadeiras; sertão
durante a noite; homens trabalhando na terra;
Criar paisagens sonoras (utilizando recursos chegada de Severino na cidade, etc.
vocais, corpo, objetos) a partir das imagens
que a letra da música sugere. Ex.: “festa es- Realizar uma leitura procurando explorar as
tranha” - quais sons poderiam ajudar a com- possibilidades de monólogo e coro que o tex-
por essa imagem sugerida pela música? to apresenta. Nesse caso, dependendo do
interesse do professor é possível fazer uma
discussão sobre a função de um coro, como
O que está em jogo nessa atividade? esse recurso coral aparece no teatro, onde os
alunos já viram ações de um coro, etc.
Trabalho com diferentes registros vocais para
a cena; Após essas atividades, é fundamental que o
professor possa conversar com os alunos sobre
Discussão sobre as possibilidades de inten-
ção com que um texto é dito; aspectos do texto: quem, quando, onde, o quê.
Seguem alguns exemplos:
Reflexão sobre a dimensão acústica da cena e
os diversos recursos sonoros que podem “atuar” • Quais personagens podemos identificar?
quando criamos/analisamos um trabalho cênico.
• Onde se passa a ação?
Ao final da proposta, você encontrará na bibliogra- • Quais as principais ações narradas?
fia mais sugestões de leituras que podem contribuir
na discussão desse3s temas. • Há diferentes vozes na narrativa?
• Que aspectos sociais estão presentes no texto?
Refletir sobre o contexto social de uma obra Nosso papel é sempre o de buscar e em uma
artística. oportunidade educativa, dar luz para o desenvol-
vimento das quatro competências!
O objetivo aqui é ajudar os alunos a perceber como Depois disso, mostre uma pintura de Cândido Por-
um tema pode ser tratado de diferentes modos tinari e explore as impressões e percepções deles.
no rico universo da arte. Como cada linguagem Como essa obra dialoga com tudo o que foi discu-
artística se expressa a partir de uma “gramática tido até agora? Que características encontramos
própria”? Como um discurso pode ser transposto nessa pintura? O que chama a atenção de vocês?
para outra linguagem? Que sentidos podem ser
gerados? Como a produção artística dialoga com
a realidade social e política que a cerca?
Pergunte aos alunos sobre o tema dessas duas fotos. O que elas dizem? Alguém sabe a que se referem?
Depois disso, revele que são imagens encontradas na internet sobre o massacre de Eldorado do Cara-
jás, ocorrido em 1996, no Pará.
Relacione as fotos ao trecho de Morte e Vida Severi- que uma obra de arte é feita de escolhas e de um
na: “É a terra que querias ver dividida, é a parte que discurso que vai sendo elaborado processualmen-
te cabe deste latifúndio”. O que significa olhar para te, um processo que está cheio de referências, de
essas fotos e ler a frase? O que essa nova combi- idas e vindas, de elementos mais objetivos e outros
nação de elementos produz para quem lê? Vejam mais subjetivos e de influências de toda ordem.
veja mais
Pesquisar no youtube
RAPadura (Norte Nordeste me Veste) A série “Salto para o futuro” apresenta cinco pro-
gramas dedicados à linguagem teatral e práticas
pedagógicas. Disponível em: <http://tvescola.
mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=i-
O que está em jogo nessas atividades? tem&item_id=4770>.
Especificidades das diferentes linguagens ar-
tísticas;
As diversificadas possibilidades artísticas para
tratar um tema;
A relação entre arte e contexto social e político; ETAPAS
Arte engajada;
As muitas maneiras de dizer;
A combinação de diferentes signos para a
As muitas vozes do texto / da cena;
elaboração de um discurso;
Os universos da arte e os sentidos gerados.
Dimensão processual da criação artística.
UMA CONVERSA
ENTRE AS DISCIPLINAS
A proposta aqui apresentada traz um trabalho cola- em um exercício concreto no qual terão de trabalhar
borativo entre os professores de Língua Portuguesa em equipe, planejar, executar e avaliar suas ações.
e Arte (Artes Cênicas). O principal objetivo é criar
um espaço privilegiado para que os jovens possam Na perspectiva da disciplina de Língua Portugue-
colocar em prática os conhecimentos e habilidades sa, eles serão convidados a produzir textos e a
trabalhadas nas aulas anteriores, em que o filme fazer uso das figuras de linguagem. Já nas Artes
Morte e Vida Severina foi o “disparador temático”. Cênicas, encenarão os textos produzidos fazendo
Desse modo, nas próximas atividades os alunos po- uso de diversificados signos na busca de constru-
derão aplicar suas aprendizagens e descobrir outras, ção de sentidos.
Livros e Revistas
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 12ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.
BOGARTE, Anne. A preparação do diretor: sete ensaios sobre arte e teatro. Tradução Anna Viana. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2011.
CORADESQUI, Glauber (org.). Teatro na Escola: experiências e olhares. Brasília: Fundação Athos Bulcão, 2010.
DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. São Paulo: Editora Hucitec: edições Man-
dacaru, 2006.
MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro. São Paulo:
Hucitec, 2004.
SALLES, Cecilia Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. 2ª ed. São Paulo: Editora Horizonte, 2008.
SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998.
SEABRA, Aline, et al. (org.). Concreto em 7 atos. Brasília: Organização Cultural Filhos do Beco, 2011.
SPOLIN, Viola. O jogo teatral no livro do diretor; tradução Ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos. São Paulo:
Perspectiva, 2008.
SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro; tradução Ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos; 4ª ed. São Paulo:
Perspectiva, 2003.
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