Sala Do Professor - Morte e Vida Severina

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As linguagens

das imagens

morte e vida severina

PROFESSORES
Bruno Alvarez Língua Portuguesa
Francis Wilker Artes Cênicas
Sinopse do Programa
Morte e Vida Severina é um livro onde a saga
do sertanejo nordestino é contada em dramáti-
cos versos que revelam o duro percurso entre
o sertão e o litoral, entre a morte evidente e a
esperança. É fundamental para os estudantes
de Ensino Médio. Por isso a TV Escola produziu
Morte e Vida Severina em Desenho Animado, o
casamento perfeito entre o texto forte de João
Cabral de Melo Neto e o traço árido do artista
João Falcão. No programa “Sala de Professor”
os convidados reúnem conhecimentos de Língua
Portuguesa e Artes Cênicas para desenvolver um
trabalho que estimula a produção de textos e a
adaptação para diferentes linguagens artísticas.

Apresentação
O filme em linguagem de animação inspirado no
poema Morte e Vida Severina é uma excelente
ferramenta para os professores de Língua Por-
tuguesa e de Artes Cênicas desenvolverem seus
conteúdos em parceria. A Língua Portuguesa
tratará dos aspectos formais do texto e do vídeo,
aprofundando-se na verificação dos usos e das
funções das figuras de linguagem nas duas obras.
O campo da Arte explorará as questões concei-
tuais relacionadas à arte engajada e à construção
de sentido nas diferentes linguagens artísticas a
partir da combinação de signos e elementos pró-
prios de cada linguagem.
Um olhar para o filme
a partir da língua portuguesa

Ao analisar os elementos que compõem o Morte e Seria interessante que, após uma breve análise
Vida Severina em desenho animado e o poema no da letra da música, o professor expusesse, lado a
qual o vídeo foi baseado, podemos considerar, do lado, excertos dos dois textos, como segue:
ponto de vista da Literatura, ao menos dois conteú-
dos a serem trabalhados em sala de aula. Primeiro,
o trabalho poético de João Cabral de Melo Neto e Eduardo e Mônica – Legião Urbana
sua dimensão no panorama literário brasileiro; pos-
teriormente, o papel crucial exercido pelas figuras de [...]
linguagem, tanto na criação das duas obras, quanto Eduardo e Mônica
na transposição de uma produção para outra. um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer
A partir disso, o professor poderá abordar na ati- Um carinha do cursinho do Eduardo que disse
vidade conceitos como figura de linguagem, “Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir”
adaptação literária e comparação intertextual. Festa estranha, com gente esquisita
Nesse sentido, pode-se propor aos alunos do 2º “Eu não tô legal, não aguento mais birita”
ano do ensino médio que comparem as obras, em E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais
um verdadeiro trabalho de Literatura Comparada Sobre o boyzinho que tentava impressionar
(tão prescindido nas escolas brasileiras). O objetivo E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa
é fazê-los conhecer a poesia cabralina, retomar “É quase duas, eu vou me ferrar”
conhecimentos a respeito das figuras de lingua- Eduardo e Mônica trocaram telefone
gem e, por consequência, avaliar os processos Depois telefonaram e decidiram se encontrar
que permitiram a adaptação de uma obra literá- O Eduardo sugeriu uma lanchonete
ria em um desenho animado. Mas a Mônica queria ver o filme do Godard [...]

Como primeira etapa, o professor poderá iniciar


uma discussão sobre poesia: Morte e vida severina
João Cabral de Melo Neto
O que é poesia?
Em que momentos ela ocorre em nossas vidas? Agora afinal cheguei
nesta terra que diziam.
O que é um poema?
Como ela é uma terra doce
Qual a diferença entre os dois termos?
para os pés e para a vista.
Os rios que correm aqui
A fim de aproximar-se com mais facilidade do uni- têm água vitalícia.
verso cultural do aluno, será interessante apresentar Cacimbas por todo lado;
uma música. Preferencialmente uma canção que cavando o chão, água mina.
contenha traços similares aos de Morte e Vida Seve- Vejo agora que é verdade
rina. A música Eduardo e Mônica, da banda Legião o que pensei ser mentira
Urbana, traz uma narrativa característica, que poderá Quem sabe se nesta terra
servir de mote para uma comparação intertextual. não plantarei minha sina?

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Algumas das relações possíveis – podendo ser Em uma segunda etapa, deverá ser observado o
acrescentadas outras – vêm na tabela abaixo: papel das figuras de linguagem na construção de
textos com função poética. Para isso, é funda-
formalidade informalidade mental que se pressuponha tal conhecimento, isto
(“está”, “há”) (“tá”, “tem”) é, os alunos já devem ter aprendido as figuras de
linguagem, de modo que agora tal atividade servirá
redondilhas maiores versos livres apenas como revisão, ou ainda como uma prática
da teoria adquirida.
regionalismo temática urbana
Uma revisão das figuras de linguagem, divididas
Ao final desta etapa, sugerimos a exibição do de- nos quatro grupos em que geralmente são sepa-
senho animado. radas, também seria conveniente neste momento.

Figuras sonoras Figuras de palavra

assonância comparação
aliteração metáfora
onomatopeia metonímia
paronomásia catacrese
sinestesia

Figuras DE CONSTRUÇão Figuras de pensameno

anacoluto antítese
anáfora paradoxo
elipse eufemismo
hipérbato ironia
pleonasmo gradação
polissíndeto personificação

Seria importante que o professor avaliasse, ao lado compensam aqui cultivar, quem sabe se nesta terra
não plantarei minha sina (metáfora),
dos alunos, quais as ferramentas utilizadas para a
é tão bela como um sim
construção da imagem e de símbolos nos poemas numa sala negativa (antítese),
de Cabral, dado o papel fundamental que exercem. É
nesse sentido que se estudará a importância do uso entre outros muitos exemplos.
de figuras de linguagem, sobretudo da metáfora, que é
encontrada em Morte e Vida Severina com frequência. É essencial que o professor explicite que o apelo
da imagem e da plasticidade, bem como a multipli-
O professor deverá apontar a importância de cons- cidade de sentidos proporcionada, deve-se ao uso
truções como: constante das figuras de linguagem que reforçam
a temática profundamente associada à miséria, e
Serra
magra e ossuda e paisagem defunta (prosopopeia), principalmente à morte.
Somos muitos Severinos (metonímia),
o sangue O filme – do qual os trechos escolhidos já foram
que usamos tem pouca tinta, ave-bala, apresentados aos alunos – também faz com que se
só os roçados da morte destaquem elementos da narração e, naturalmente

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(uma vez que se trata de uma obra audiovisual), neros: por um lado, o autor do filme recria imagens
dos recursos imagéticos elaborados por Cabral. produzidas por Cabral, como a metáfora da bala-ave
(Figura 1). Por outro lado, o processo de releitura é
Poderá ser feita uma análise do uso das figuras de bastante criativo, já que não se limita a representar
linguagem no filme, tanto com relação à adaptação aquilo que já aparecera no texto original.
daquelas já presentes no poema para o desenho
animado, quanto na criação de novas, basea- É interessantíssimo o procedimento de apro-
das, de modo apropriado, na estética do poema priação da temática do texto com o fim de se
e em suas ideias centrais. Poder-se-á chegar à produzirem novas e belíssimas imagens, como
conclusão de que tais recursos expressivos são se vê na Figura 2, em que se personificam pás
fundamentais para a adaptação da linguagem do utilizadas na escavação de covas, o que está
poema para outra: a do desenho animado. profundamente associado à ideia de morte que
permeia o texto de Cabral. Certamente tal figu-
Ao longo de Morte e Vida Severina em desenho ra de linguagem, associada aos efeitos sonoros
animado são percebidos, principalmente, dois que, ao acompanharem a cena, apelam à dra-
procedimentos básicos no que tange ao uso das maticidade, torna o filme muito mais expressivo,
figuras de linguagem. São eles, possivelmente, as representando de maneira original, visto que tal
principais ferramentas para a transposição dos gê- imagem não se encontra no poema.

Figura 1: Imagem representada da bala-ave. Figura 2: Imagem das pás. Figura de linguagem
criada pelo autor do desenho.

Nesta última etapa, caberá ao professor analisar com os alunos como são trabalhadas as figuras de
linguagem no filme, tanto as que são originadas no texto, quanto aquelas criadas especialmente para
o desenho animado. É possível, para que se tenha uma visão mais objetiva desta atividade, construir
coletivamente uma tabela como a seguinte:

figuras de linguagem
trechos
Metáfora Comparação Personificação Metonímia Antítese
Morte e Vida Severina x
serra/ magra e ossuda x
paisagem defunta x
Somos muitos Severinos x
o sangue/
x
que usamos tem pouca tinta
ave-bala x
tão bela como um sim/
x
numa sala negativa

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MATERIAL ETAPAS

Caderno ou folhas de fichário; Leitura comparativa de trechos selecionados de


Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo
Neto, e de Eduardo e Mônica, da Legião Urbana;
Lápis, caneta, borracha;
Apresentação de trechos do documentário;
Livros com o poema ou equipamento para
reprodução de cópias; Estudo da importância das figuras de linguagem
– especialmente as figuras de palavra – na constru-
Equipamento para exibição do documentário. ção dos sentidos do texto e do desenho animado.

veja mais

Aula A linguagem figurada dos textos poéticos, de Mirian Chaves Carneiro. Disponível em: <portaldopro-
fessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=21853>.

Um olhar para o filme


a partir das artes cênicas

A obra Morte e Vida Severina, tema do filme em ques- com competências e habilidades propostas na
tão, pode ser “olhada” de diferentes perspectivas a Matriz de Referência para o ENEM 2011 para a
partir das Artes Cênicas. Do ponto de vista da história área de Linguagens, destacamos a competência
do teatro brasileiro, a montagem desse texto feita pelo de área 4 - “Compreender a arte como saber
TUCA -Teatro da Universidade Católica de São Paulo, cultural e estético gerador de significação e in-
em 1965, com coordenação de Roberto Freire e mú- tegrador da organização do mundo e da própria
sicas de Chico Buarque alcançou bastante sucesso identidade”, e a sua habilidade H12. Sugerimos a
e representou o Brasil no festival de Teatro de Nancy, seguir três exemplos de atividades que podem ser
na França, onde foi agraciada com o primeiro lugar. desenvolvidas pelo professor de Arte.
Depois disso, realizou temporadas em outras cidades
da Europa. Pesquisar um pouco da encenação dessa
obra de João Cabral já coloca em discussão questões Atividade 1
como: arte e engajamento social; recursos de ence- As muitas maneiras de dizer
nação; relação entre a poesia e a cena, entre outras.
Iniciaremos o trabalho da disciplina com a música
O filme proposto é uma excelente oportunidade Eduardo e Mônica, do grupo Legião Urbana. A par-
para o professor de Arte desenvolver os conceitos tir da letra da música, sugerimos que o professor
de: paisagens sonoras, estruturas corais e mo- experimente com os alunos outras possibilidades
nológicas, dimensão acústica e arte engajada. sonoras e de registro vocal para expressar a histó-
As atividades aqui propostas são convergentes ria dos jovens Eduardo e Mônica.

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Algumas possibilidades práticas Algumas possibilidades práticas

Experimentar dizer o texto da música como Realizar uma leitura coletiva do texto Morte e
quem conta uma história; como quem diz um Vida Severina procurando incorporar o trabalho
poema; como quem está dando uma aula; realizado na atividade anterior. Desse modo,
como quem está lendo uma receita culinária; um grupo pode ler e o outro tem como objeti-
como quem está dando ordens a um exército; vo criar a atmosfera sonora da passagem que
como quem está rezando uma missa, etc.; está sendo lida. Ex.: coro de rezadeiras; sertão
durante a noite; homens trabalhando na terra;
Criar paisagens sonoras (utilizando recursos chegada de Severino na cidade, etc.
vocais, corpo, objetos) a partir das imagens
que a letra da música sugere. Ex.: “festa es- Realizar uma leitura procurando explorar as
tranha” - quais sons poderiam ajudar a com- possibilidades de monólogo e coro que o tex-
por essa imagem sugerida pela música? to apresenta. Nesse caso, dependendo do
interesse do professor é possível fazer uma
discussão sobre a função de um coro, como
O que está em jogo nessa atividade? esse recurso coral aparece no teatro, onde os
alunos já viram ações de um coro, etc.
Trabalho com diferentes registros vocais para
a cena; Após essas atividades, é fundamental que o
professor possa conversar com os alunos sobre
Discussão sobre as possibilidades de inten-
ção com que um texto é dito; aspectos do texto: quem, quando, onde, o quê.
Seguem alguns exemplos:
Reflexão sobre a dimensão acústica da cena e
os diversos recursos sonoros que podem “atuar” • Quais personagens podemos identificar?
quando criamos/analisamos um trabalho cênico.
• Onde se passa a ação?
Ao final da proposta, você encontrará na bibliogra- • Quais as principais ações narradas?
fia mais sugestões de leituras que podem contribuir
na discussão desse3s temas. • Há diferentes vozes na narrativa?
• Que aspectos sociais estão presentes no texto?

Atividade 2 • Que imagens apareceram na cabeça de vocês


As muitas vozes do texto / da cena durante a leitura?
• Alguém fez uma associação entre o texto e
algum fato ocorrido no país?
Analisar uma obra de arte envolve reconhecer as
diferentes “vozes” ali presentes. No caso do teatro, • Alguém fez uma associação entre o texto e
poderíamos pensar na “voz/traços” da cenografia, alguma história bíblica?
das sonoridades, do texto, da ação dos atores, do
ponto de vista da encenação do diretor, etc. No Professor, esse é o momento de abordar a relação
caso de um texto que é utilizado para uma cena, entre o poema de João Cabral e os Autos, como
várias são as variáveis que precisamos compre- o Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna.
ender, como: conhecer o seu contexto; identificar Embora com características formais diferentes, os
os diferentes personagens; perceber as princi- dois textos apresentam questões relacionadas ao
pais ações presentes; visualizar as paisagens/ regionalismo (Nordeste) e uma dimensão trans-
cenários descritos; distinguir as características cendente/religiosa que talvez possa ser notada
desses personagens; destacar a citação de ou- no próprio “triunfo da vida” diante de um cenário
tras obras e referências, etc. social bastante desafiador.

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O que está em jogo nessas atividades? Talvez possa ser interessante contar para a turma um
pouquinho sobre a primeira montagem desse texto e
Reconhecer características textuais; as reverberações provocadas por ele. Não deixe de
trazer nos momentos de avaliação outras percepções
Análise de um texto para a cena; que possam ir além das competências cognitivas. Ex.:
a turma está conseguindo trabalhar em grupo? Estão
Perceber o funcionamento de estruturas co- exercitando a capacidade de falar e ouvir? Conseguem
rais e monológicas dentro na cena;
ouvir e respeitar os diferentes pontos de vista trazidos
pelos colegas? Descobriu algo sobre você nas ativi-
Identificar como um texto pode fornecer “pis-
dades e discussões que fizemos até agora? Alguma
tas” para todos os criadores envolvidos em uma
discussão que fizemos se relaciona com o conteúdo
montagem teatral (atores, diretor, cenógrafo, fi-
gurinista, sonoplasta/músico, iluminador, etc.); de outra disciplina que vocês estão estudando?

Refletir sobre o contexto social de uma obra Nosso papel é sempre o de buscar e em uma
artística. oportunidade educativa, dar luz para o desenvol-
vimento das quatro competências!

Atividade 3 – Os universos da arte e os sentidos gerados

O objetivo aqui é ajudar os alunos a perceber como Depois disso, mostre uma pintura de Cândido Por-
um tema pode ser tratado de diferentes modos tinari e explore as impressões e percepções deles.
no rico universo da arte. Como cada linguagem Como essa obra dialoga com tudo o que foi discu-
artística se expressa a partir de uma “gramática tido até agora? Que características encontramos
própria”? Como um discurso pode ser transposto nessa pintura? O que chama a atenção de vocês?
para outra linguagem? Que sentidos podem ser
gerados? Como a produção artística dialoga com
a realidade social e política que a cerca?

Algumas possibilidades práticas

Mostre três cenas do filme em desenho e dis-


cuta as características que eles percebem. Su-
gestões de perguntas para fomentar a conver-
sa: Qual a diferença entre ler o texto e ver esse
desenho? Que elementos a equipe que criou o
desenho utiliza? Como se dá a relação com o
espaço no desenho? Com luz e sombra? Com
a voz e a sonoridade? Como o corpo é traba-
lhado no desenho? Como o leitor/espectador
é “demandado” no texto e aqui no desenho?
Depois de ter explorado um pouco a linguagem
do desenho, mostre uma cena da série feita em
1981 pela TV Globo a partir do poema Morte
e Vida Severina, disponível em: <http://www.
youtube.com/watch?v=REbI_nS_12M>. Retirantes (1944) – Cândido Portinari
Que diferenças vocês percebem entre o texto,
o desenho e a série para a TV? O que está em Após a conversa sobre a obra de Portinari, mostre
primeiro e segundo plano? Como a câmera guia um trecho do espetáculo “Sebastião”, da companhia
o nosso olhar? Onde encontramos mais subje-
tividade e abstração, no desenho ou na série? brasiliense de dança contemporânea baSiraH, criado
a partir de fotos do fotógrafo Sebastião Salgado.

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Pesquisar no youtube A partir dessa conversa procure traçar uma refle-
xão sobre a produção artística e o contexto social
baSiraH dança Sebastião
e político onde ela é produzida.
baSiraH dança Sebastião (parte 2)
Além disso, essa pode ser uma rica oportunidade
Após o vídeo, comente as características verificadas para falar sobre arte engajada. Que característi-
na linguagem da dança. cas têm essa produção? Uma relação possível
é com a própria época em que o TUCA montou
• O que os movimentos dos intérpretes nos Morte e Vida Severina, no contexto da ditadura
provocam? militar no Brasil. Este momento trazia forte par-
• O que somos capazes de “ler” nas imagens ticipação do movimento estudantil e de artistas,
propostas por esses corpos?
onde os CPC - Centros Populares de Cultura, da
• Como se dá a relação com o espaço?
UNE – União Nacional dos Estudantes procura-
• E com a luz?
vam criar espaços de discussões e produções
• Que demandas são postas ao espectador
nesse tipo de trabalho? artísticas mais politizadas. Talvez seja importante
• Como as sonoridades estão presentes? não firmar um juízo de valor entre a produção
• Em que superfície os bailarinos estão dançando? artística de caráter engajado e aquela de cará-
ter mais “essencialista”. Mesmo sem trazer um
Depois desse “passeio” feito por diferentes lingua- discurso social explícito, tendo como objetivo a
gens, procure discutir com a turma que questões “arte pela arte”, a produção de uma obra de arte
sociais estão presentes em todas as obras analisadas: nunca está “descolada” de um contexto histórico,
social, político e psicológico ao qual foi criada.
• De qual povo e país elas estão falando? Para alimentar essa discussão com temas sociais
• Que discurso esses artistas estão colocando mais atuais, o professor pode mostrar as duas
nos seus trabalhos? imagens abaixo e perguntar como elas dialogam
• Como essas obras nos afetam? com o texto de João Cabral de Melo Neto.

Pergunte aos alunos sobre o tema dessas duas fotos. O que elas dizem? Alguém sabe a que se referem?
Depois disso, revele que são imagens encontradas na internet sobre o massacre de Eldorado do Cara-
jás, ocorrido em 1996, no Pará.

Relacione as fotos ao trecho de Morte e Vida Severi- que uma obra de arte é feita de escolhas e de um
na: “É a terra que querias ver dividida, é a parte que discurso que vai sendo elaborado processualmen-
te cabe deste latifúndio”. O que significa olhar para te, um processo que está cheio de referências, de
essas fotos e ler a frase? O que essa nova combi- idas e vindas, de elementos mais objetivos e outros
nação de elementos produz para quem lê? Vejam mais subjetivos e de influências de toda ordem.

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Para concluir esse momento, pergunte aos alunos:
Como a arte dialoga com as questões sociais de
nosso tempo? Vocês conhecem alguma música,
MATERIAL
filme, livro que aborde essas questões? Procure
ouvi-los, deixe que tragam para a sala de aula o seu TV e vídeo;
repertório; tente gerar análises sobre essas referên-
cias tendo como foco elementos da linguagem e não Vídeos da internet previamente gravados;
juízo de valor (se é uma obra de arte maior ou menor, Cópias do texto Morte e Vida Severina.
boa ou ruim). Por fim, o professor pode mostrar o tra-
balho de um artista chamado Rapadura Xique Chico,
que faz uma inovadora combinação entre elementos
da cultura popular nordestina e o rap.

veja mais
Pesquisar no youtube

RAPadura (Norte Nordeste me Veste) A série “Salto para o futuro” apresenta cinco pro-
gramas dedicados à linguagem teatral e práticas
pedagógicas. Disponível em: <http://tvescola.
mec.gov.br/index.php?option=com_zoo&view=i-
O que está em jogo nessas atividades? tem&item_id=4770>.
Especificidades das diferentes linguagens ar-
tísticas;
As diversificadas possibilidades artísticas para
tratar um tema;
A relação entre arte e contexto social e político; ETAPAS
Arte engajada;
As muitas maneiras de dizer;
A combinação de diferentes signos para a
As muitas vozes do texto / da cena;
elaboração de um discurso;
Os universos da arte e os sentidos gerados.
Dimensão processual da criação artística.

UMA CONVERSA
ENTRE AS DISCIPLINAS

A proposta aqui apresentada traz um trabalho cola- em um exercício concreto no qual terão de trabalhar
borativo entre os professores de Língua Portuguesa em equipe, planejar, executar e avaliar suas ações.
e Arte (Artes Cênicas). O principal objetivo é criar
um espaço privilegiado para que os jovens possam Na perspectiva da disciplina de Língua Portugue-
colocar em prática os conhecimentos e habilidades sa, eles serão convidados a produzir textos e a
trabalhadas nas aulas anteriores, em que o filme fazer uso das figuras de linguagem. Já nas Artes
Morte e Vida Severina foi o “disparador temático”. Cênicas, encenarão os textos produzidos fazendo
Desse modo, nas próximas atividades os alunos po- uso de diversificados signos na busca de constru-
derão aplicar suas aprendizagens e descobrir outras, ção de sentidos.

10 morte e vida severina sala de professor


Etapa 1: Aquecendo passo será expressar a frase em movimentos e inte-
os motores poéticos grar a frase escolhida no texto.

Outros dois exercícios podem ser realizados ainda


O professor de Língua Portuguesa pedirá para que nesta etapa: no primeiro, os jovens criam improvi-
os alunos tentem responder a questão abaixo por sações a partir das imagens, experimentando os
meio de uma fotografia – a ser trazida na aula se- diferentes tipos de falas e situações. No segundo,
guinte – que pode ser tirada com o próprio celular. eles trabalham com objetos em uma roda. Nesse
Caso prefira, o aluno poderá desenhar ou fazer último exercício o professor colocará uma garra-
uma colagem: fa com água ou qualquer outro objeto no centro
da roda, e os alunos precisam ir ao centro e criar
um uso diferente para esse objeto. Por exemplo,
Onde vejo encanto e espanto
o objeto pode ser um sapato e alguém pode de-
nas ruas por onde ando?
monstrar sua utilização como se fosse um celular.

Na aula seguinte, todos apresentarão suas ima-


gens e comentarão o que motivou suas escolhas. Etapa 2: Grupos de trabalho
Em seguida, o professor perguntará quais as cinco em processo de criação
imagens que foram mais instigantes, e mais sensi-
bilizaram a turma. A partir das escolhas, os alunos
formarão cinco times de trabalho. Nessa etapa os grupos criam um experimento cê-
nico a partir do texto produzido, experimentando
Dentro do time, cada aluno terá cinco minutos criar uma encenação do mesmo. Será fundamental
para produzir um breve texto sobre o que ele sente a participação dos dois professores que circularão
quando olha para essa imagem. O professor preci- pelos grupos lançando perguntas, ajudando-os a
sa orientar o compartilhamento dos textos dentro planejarem o que pretendem fazer.
de cada time. O próximo passo será a produção
de um único texto para todo time, com os pontos Os professores precisam saber reconhecer os
mais importantes dos textos e as figuras de lingua- diferentes potenciais presentes no grupo. Por
gem de cada integrante do grupo.
exemplo, um aluno pode não desejar participar
da atividade como ator, mas trabalharia, por
Importante frisar que os alunos devem guardar
exemplo, na trilha sonora da apresentação. O
todo esse material que está sendo produzido, pois
será utilizado na aula de Artes Cênicas também. grupo deve se atentar para os diferentes ele-
mentos que compõem a cena: texto, figurino,
Após um breve aquecimento físico, o professor de cenário, objetos, maquiagem, trilha sonora, ilu-
Artes Cênicas pedirá para que os alunos experimen- minação, atuação, coreografias, etc.
tem movimentos a partir das fotos escolhidas na aula
de Língua Portuguesa. Durante o trabalho, o pro- É importante o incentivo a cada grupo, estimulando o
fessor poderá sugerir comandos que afetem ritmo, aprofundamento na linguagem que se deseja expres-
velocidade, peso, deslocamentos, etc. A seguir, cada sar. Desse modo, pode ser que um grupo prefira fazer
aluno escolherá os três movimentos mais importan- um vídeo, outro trabalhe apenas com movimentos
tes durante sua pesquisa de movimento e criará com corporais, outro com manipulação de objetos, etc.
eles uma “frase de movimentos”, um em seguida do
outro. O ideal é que todos possam mostrar sua “frase
de movimentos”. O professor poderá dar retornos, Etapa 3: O encontro com o público
destacando qualidades de movimento e sugerindo
outras variantes para os alunos melhorarem a quali-
dade do trabalho. Em seguida, o professor orientará Sugerimos que os professores combinem com o
os alunos na escolha de uma frase do texto que pro- colégio uma data para a apresentação dos grupos.
duziram na aula de Língua Portuguesa. O próximo Essa pode ser uma atividade que envolva toda a

sala de professor morte e vida severina 11


escola no exercício da apreciação estética. Apoie os três materiais produzidos e tentem responder a
os grupos no tão esperado momento da apresen- questão: O que eu aprendi nesse processo?
tação. É fundamental contextualizar na reunião de
coordenação pedagógica qual foi o ponto de par- Os integrantes precisarão escolher um relator para
tida do trabalho e as aprendizagens em questão. responder a pergunta do grupo e durante o processo é
Para a avaliação, sugerimos que os professores importante que anotem em uma folha todas as outras
fotografem as apresentações. questões que surgirem. Após cerca de vinte minutos
de conversa, abra novamente para uma plenária com
Propomos que a avaliação das atividades seja os relatores de cada grupo as questões levantadas.
realizada em uma aula que reúna os dois profes- Nesse processo, é fundamental que os professores
sores e os grupos. Para iniciar, peça para que os valorizem as conquistas de cada grupo, ajude-os a
grupos se reúnam e coloque no centro da roda a identificar as diferentes aprendizagens e habilidades
foto escolhida pelo grupo, o texto produzido e a exercitadas e também aponte os desafios para que os
foto da apresentação. Peça para que observem alunos saibam onde podem e devem avançar.

SUGESTÕES DE LEITURA E OUTROS RECURSOS

Livros e Revistas
BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. 12ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008.

BOGARTE, Anne. A preparação do diretor: sete ensaios sobre arte e teatro. Tradução Anna Viana. São Paulo:
Editora WMF Martins Fontes, 2011.

CORADESQUI, Glauber (org.). Teatro na Escola: experiências e olhares. Brasília: Fundação Athos Bulcão, 2010.

DESGRANGES, Flávio. A pedagogia do teatro: provocação e dialogismo. São Paulo: Editora Hucitec: edições Man-
dacaru, 2006.

MARTINS, Marcos Bulhões. Encenação em jogo: experimento de aprendizagem e criação do teatro. São Paulo:
Hucitec, 2004.

SALLES, Cecilia Almeida. Redes da criação: construção da obra de arte. 2ª ed. São Paulo: Editora Horizonte, 2008.

SALLES, Cecília Almeida. Gesto inacabado: processo de criação artística. São Paulo: Annablume, 1998.

SEABRA, Aline, et al. (org.). Concreto em 7 atos. Brasília: Organização Cultural Filhos do Beco, 2011.

SPOLIN, Viola. O jogo teatral no livro do diretor; tradução Ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos. São Paulo:
Perspectiva, 2008.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro; tradução Ingrid Dormien Koudela e Eduardo Amos; 4ª ed. São Paulo:
Perspectiva, 2003.

12 morte e vida severina sala de professor


Um documentário da TV Escola. Um ponto
de partida para grandes trabalhos com os
alunos. Assim é o Sala de Pofessor. O progra-
ma incentiva os professores de Ensino Médio
a desenvolverem projetos que mudem a roti-
FOTO na em sala de aula. Em cada programa, dois
professores convidados criam um projeto a
partir de documentários exibidos na TV Es-
cola. São sempre propostas e experimentos
inovadores, que podem ser reaplicados em
qualquer escola do país.

Os trabalhos apresentados são detalhados


em dicas pedagógicas como essa e ficam
disponíveis no site da TV Escola. Os profes-
sores também podem usar as artes criadas
para o programa: são animações, tabelas,
mapas e infográficos que tornam os con-
teúdos mais visuais e interativos. As dicas
pedagógicas e as computações gráficas fo-
ram transformadas em fascículos interativos
para tablets. E o professor também pode
navegar pelo material extra do programa no
blog do Sala. Para ter acesso a esses pro-
dutos, acesse o site tvescola.mec.gov.br ou
curta a fan page da TV Escola no Facebook.

FOTO

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