Representação Da Incerteza
Representação Da Incerteza
Representação Da Incerteza
Representação da Incerteza
“Os valores numéricos da estimativa e da incerteza-padrão, ou da incerteza expandida,
não devem ser fornecidos com um número excessivo de algarismos. É geralmente suficiente
fornecer com até no máximo dois algarismos significativos...” [1]
1- Introdução
A incerteza é uma medida da dúvida que o operador possui dos resultados que obteve
numa certa medição. Portanto, ela é fundamental para identificar diversos aspectos da
qualidade destes resultados. Entre estes aspectos, está o número de algarismos com os quais
deve ser apresentado o resultado.
2- Padronização da representação
Para que o leitor de um mensurando qualquer não seja induzido a crer que haja
significância igual em todos os algarismos apresentados, padronizou-se escrever o número de
algarismos do mensurando de forma compatível com os de sua incerteza associada. Por
exemplo, as representações de um determinado mensurando X são adequadas:
X=(1,7382+/-0,0019)
X=(1,738+/-0,002)
onde o intervalo foi estimado, por exemplo, de forma a que o VVC (valor verdadeiro
convencional) esteja nele contido, com, por exemplo, 95% de probabilidade.
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Métodos Experimentais em Engenharia
Vale lembrar que, em alguns casos, a incerteza é adotada como sendo o desvio padrão
de medidas de uma amostra. Se o número de amostras for significativo frente à população e a
distribuição for suficientemente conhecida, este desvio padrão pode ser determinado com
muitos algarismos significativos.
- caso o objetivo da medição seja indicar o valor do desvio padrão da distribuição, ele deve
utilizar tantos algarismos quantos sejam significativos (este ponto será discutido no próximo
item);
- caso o objetivo seja indicar o valor mais provável desta medição, o desvio padrão da
distribuição é um excelente indicador da incerteza (tipo A) deste valor. Ao adotar o desvio
padrão como incerteza, o número de algarismos deverá ser limitado a dois.
Para concluir, há diversos documentos que propõem uma padronização para o uso de
1 ou 2 algarismos significativos para a incerteza. Com base no intervalo resultante, podem ser
identificados 3 tipos de orientação:
- use um algarismo, quando sua experiência indicar que este algarismo é suficiente para definir
os intervalos nos quais o mensurando tem probabilidade de estar. Este é também o caso no
qual o método escolhido para identificar esta incerteza só permite estimar a sua ordem de
grandeza;
- use dois algarismos, quando o resultado vai ser utilizado para a determinação de outro valor
na sequência do processo. Neste caso, às vezes a propagação desta incerteza com um único
algarismo pode tornar o intervalo resultante de todo o processo muito maior ou muito menor
do que o razoável em face à qualidade das medições. Por questões de conservadorismo, na
dúvida arredonde a incerteza para cima, garantindo intervalos mais confiáveis para a
probabilidade pretendida.;
- use um algarismo, se este for maior que “3” e dois se for menor. O argumento é que, por
exemplo, se um intervalo que garante 95% de incidência for +/- 1,5, arredondá-lo para +/-2
aumenta em demasia a probabilidade de o valor estar neste intervalo. Reduzi-lo para +/- 1, por
outro lado, reduz demais esta probabilidade. Já arredondar +/-8,5 para +/-9 mantém os
intervalos na mesma ordem de grandeza (no item seguinte este ponto será retomado).
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De forma geral, a maior limitação dos métodos estatísticos (métodos tipo A) para se
determinar a incerteza está na falta de conhecimento perfeito do mensurando e de todas suas
grandezas de influência. Como raramente apenas uma grandeza interfere no mensurando,
normalmente não faz sentido conhecer uma das grandezas com um número excessivo de
algarismos significativos.
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Resultado de 7 ensaios,
1,4 cada um com 10 medições.
1,2
1,0
Valor da medição
0,8
0,6
0,4
0,2
Número do Ensaio
0,0
1 2 3 4 5 6 7
De forma numérica, esta avaliação pode ser vista na Figura 2, onde o esperado para o
mensurando foi adotado com sendo o valor médio e está representado por um ponto. A barra
simétrica em relação ao valor médio representa o desvio padrão das 10 medições em cada
ensaio.
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0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
1 2 3 4 5 6 7
O valor mais provável do desvio padrão pode ser estimado a partir do desvio padrão
de qualquer uma das amostras. No entanto, haverá uma dúvida nesta estimativa. De acordo
com as propriedades da distribuição normal e da amostragem, o ISO GUM apresenta a Tabela
1, na qual a variação do desvio padrão determinado a partir da amostra de N medições está
indicada em % do desvio padrão obtido. Associando o desvio padrão à incerteza, podemos
dizer que a tabela indica a “incerteza da incerteza” (grau de dúvida no desvio padrão da
população), em função do número de medições da amostra.
Tabela 1: Desvio-padrão do desvio-padrão experimental da média de n observações independentes de uma variável aleatória
normalmente distribuída q, relativamente ao desvio-padrão da média [2]
N incerteza da
incerteza (%)
2 76%
3 52%
4 42%
5 36%
10 24%
20 16%
30 13%
50 10%
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De forma aproximada, esta estimativa pode ser calculada pela expressão [2]:
1
2( − 1)
Ou seja, quanto maior o número de medições, maior será a exatidão do desvio padrão
da população obtido a partir das medições. Entretanto, mesmo para um número grande de
medições, como 50, a estimativa que pode ser feita do desvio padrão possui uma incerteza de
cerca de 10% do valor real.
Além disso, ao escrever a incerteza com 2 algarismos, sabendo que a dispersão desta
incerteza é de, por exemplo 10%, poderíamos escrever que a incerteza obtida pelo desvio
padrão de 50 medições seria (0,10 +/-10%). Isto significa que, se diversos grupos refizerem o
ensaio com outras 50 medições, apenas cerca de 68% dos grupos obteria valores da incerteza
dentro deste intervalo. Lembre-se que, em uma distribuição normal, um intervalo de +/- um
desvio padrão em torno de um valor médio representa apenas cerca de 68% dos resultados
obtidos.
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Assim sendo, a dúvida sobre o valor da incerteza da média obtida pelo desvio padrão
de 50 medidas não possui mais do que dois algarismos significativos, mesmo em uma
distribuição perfeitamente conhecida e simples. Se um algarismo extra já é inútil na
distribuição normal, em um mensurando para o qual há diversas grandezas de influência com
distribuições não perfeitamente normais ou conhecidas, este algarismo extra é ainda menos
significativo.
100,00%
80,00%
60,00%
40,00%
Probabilidade do VVC estar no
intervalo
20,00% x
Fator de abrangência
0,00%
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00
com a incerteza “u” sendo adotada como o desvio padrão de um número suficientemente
grande de medidas (por exemplo, n “infinito”, ou “muito maior que 50”). Ou seja, neste caso
extremo, há um conhecimento praticamente perfeito do desvio padrão, com tantos algarismos
significativos quantos desejados.
Ao se observar essa curva, percebe-se que quanto maior o fator de abrangência, maior
a probabilidade do valor verdadeiro estar dentro do intervalo desejado. Nota-se também que a
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- k=1, para o qual o intervalo obtido possui cerca de 68,3% (é um número irracional) de incluir
o valor verdadeiro. Este intervalo normalmente é utilizado para trocar informações entre
grupos de mesma competência técnica, pois facilita a conversa (a amplitude do intervalo é
numericamente igual à incerteza). Observe que deste intervalo estão excluídos 32,7% (cerca
de 1/3) dos valores obtidos experimentalmente.
- k=2, que determina um intervalo com probabilidade de 95,4% (cerca de 95%) Este intervalo é
muito bom para representar um valor aceitável para os valores obtidos, sendo aquele
normalmente utilizado para representar resultados em engenharia. Provavelmente, como em
todo intervalo de uma distribuição normal, parte dos resultados obtidos estarão fora do
intervalo proposto.
- k=3, que determina um intervalo de cerca de 99,7%. Muitas vezes este intervalo é
considerado suficiente para afirmar que um resultado fora dele é “praticamente” impossível.
Naturalmente se milhões de medições forem realizadas, muitas estarão fora deste intervalo.
97,0%
Probabilidade do VVC estar no intervalo
x
96,0%
Fator de abrangência
94,0%
k (fator de abrangência)
93,0%
1,80 1,90 2,00 2,10 2,20
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Suponha que seja suficiente, para uma determinada aplicação, afirmar que o valor
verdadeiro se encontra no intervalo indicado com aproximadamente 95% de chance. Suponha
ainda, que, por exemplo, “aproximadamente” signifique qualquer ponto da figura 5, algo entre
93% e 97%. Neste caso, a exatidão deste intervalo não precisa ser perfeita. Se ao invés de usar
k=2,0, for usado k=1,8 ou k=2,2 (os limites da figura são k=2 mais ou menos 10%) para a
determinação do intervalo, a afirmação “aproximadamente com 95% de chance” significa que
a precisão de 10% na determinação do intervalo está adequada.
73,0%
Probabilidade do VVC estar no intervalo
71,0% x
Fator de abrangência
69,0%
1; 68,3%
67,0%
65,0%
63,0%
0,90 0,95 1,00 1,05 1,10
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99,9%
99,8%
3; 99,7%
99,7%
99,6%
99,5%
Probabilidade do VVC estar no intervalo
99,4%
x
Fator de abrangência
99,3%
2,70 2,80 2,90 3,00 3,10 3,20 3,30
Pode-se concluir que conhecer o intervalo com muito mais do que 10% de precisão é
pouco útil para a tomada de decisões, quando é suficiente afirmar que “o valor verdadeiro
possui aproximadamente 68% (ou 95% ou 99,7%) de chance de estar no intervalo declarado”.
Uma vez que o intervalo é determinado tanto pelo valor de k, como pelo valor da incerteza u,
conhecer o valor desta incerteza com muito mais do que 10% de precisão raramente será útil
para efeitos práticos. Naturalmente se, para a tomada de decisões, for necessário afirmar que
“a probabilidade do VVC encontrar-se no intervalo indicado é de exatamente 95,000%” o
número de medições e de algarismos significativos para a declaração da incerteza tenderia a
infinito.
Por exemplo, a resolução de 1 algarismo para uma incerteza de valor “1”, produz 100%
de dúvida (1 em 1). Já a resolução de 2 algarismos na mesma incerteza, reduz a dúvida para
10%. A resolução de dois algarismos numa incerteza igual a 5 produz uma dúvida de 2% (0,1
em 5,0, com 5,0 possuindo 2 algarismos significativos).
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Figura 8- Incerteza percentual da incerteza versus valor da incerteza, em função do número de algarismos significativos
em sua representação.
100,0%
número de
algarismos
10,0% significativos
1
2
3
1,0%
0,1%
0 2 4 6 8 10 12
Por outro lado, a representação com apenas um algarismo significativo para o valor
resultante do intervalo, deverá ser restrita a intervalos que representem altas probabilidades
de abranger o Valor Verdadeiro Convencional (por exemplo, 95% ou 99,7%), ou para incertezas
cujo primeiro algarismo seja 3 ou maior.
4- Conclusão
Propor um número de algarismos significativos para a incerteza é uma tarefa que exige
um excelente conhecimento do mensurando. Mas mesmo neste caso, a utilidade da incerteza
e o rigor estatístico raramente permitirão conhecer a incerteza com mais do que dois
algarismos significativos.
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5- Referências
[2] “Fundamentos da teoria de Erros”, J.H. Vuolo, Editora Edgard Blücher, 2ª. Edição, 1996
Autor
Apostila elaborada pelo prof. Julio Carlos Teixeira e revisada pela profa. Denise Consonni.
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