Políticas e Planejamento Do Turismo Na Amazônia
Políticas e Planejamento Do Turismo Na Amazônia
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ARTIGO ORIGINAL
Caderno Virtual de Turismo – Rio de Janeiro, v. 13, n. 1, p.105-119, abr. 2013. 105
SANSOLO Políticas e planejamento do turismo na Amazônia
Resumo: : As políticas públicas setoriais no Brasil tem passado por mudanças de paradigmas, de perspectivas
centralizadoras, formuladas de cima para baixo, para descentralizadas e construídas de forma compartilhada
de baixo para cima. Essas mudanças se refletem nas políticas de turismo na Amazônia Brasileira. Buscou-se
analisar as políticas e planos de turismo da esfera federal de governo, incidentes na região amazônica. Nesse
trabalho elencaram-se algumas ações e analisaram-se essas perspectivas diante dos paradigmas do centralis-
mo e da descentralização na proposição das políticas de turismo para a região. Constatou-se que houve avan-
ços na direção de maior participação das localidades no processo de construção de políticas e planos embora
a maior parte das políticas e planos ainda tenham um forte viés centralizador.
Palavras-chave: Política públicas; Planejamento; Turismo; Amazônia; Paradigmas.
Abstract: The public policies in Brazil has experienced paradigm shifts in perspectives centralizing, made
from top to bottom, to constructed a shared bottom-up. These changes are reflected in the policies of tourism
in the Brazilian Amazon. This work presented some actions of the federal government that focused on the
Amazon region and analyzed these perspectives on the paradigms of centralization and decentralization in
the proposition tourism policies for the region. It was found that there was progress toward greater partici-
pation of localities in the process of building policies and plans although most policies and plans still have a
strong centralizing bias.
Keywords:Policy publics; Planning; Tourism, Amazonia; Paradigms.
Resumen: Las políticas sectoriales públicas en Brasil ha experimentado cambios de paradigmas, desde pers-
pectivas centralizadoras, formuladas de arriba a bajo, para descentralizadoras, compartido y construido a
partir de las bases teritoriales. Estos cambios se reflejan en las políticas de turismo en la Amazonia Brasileña.
Este trabajo presenta algunas acciones del gobierno federal que se concentraron en la región amazónica y
analiza estos puntos de vista sobre los paradigmas de la centralización y la descentralización en las políticas
de turismo para la región. Se encontró que hubo un progreso hacia una mayor participación de las localidades
en el proceso de construcción de políticas y planes, aunque la mayoría de las políticas y planes aún tienen un
sesgo centralizador fuerte.
Palavras clave: Políticas públicas; Planificación; Turismo; Amazônia; Paradigmas.
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Introdução
Em um mundo cuja globalização assume a feição do mercado, as normas, as organizações os regi-
mes de regulação se impõem sobre os lugares como organicidade solidária, que conecta o local ao
global (SANTOS, 1993). Em outra perspectiva as demandas pela democratização do Estado, se-
gundo Jacob (2000) está representada pela participação e controle social, pressões pela construção
do espaço público nas relações entre poder público e sociedade civil, o que estariam promovendo
inovações na gestão da coisa pública. Um exemplo que o autor traz é a descentralização nas políticas
de saúde, ocorridas a partir da constituição de 1988.
Essa contradição entre poder centralizado e a construção de políticas de baixo para cima, pode
ser observada nas políticas territoriais de proteção da natureza. Segundo Medeiros et al (2006) as
áreas especialmente protegidas tem sido a principal estratégia de proteção da natureza no Brasil e
dentre elas destacam-se os parque nacionais que, se por um lado, são territórios como um alto grau
de restrição de uso1 , por outro lado. São áreas que possuem entre outros objetivos o uso para recre-
ação e a visitação pública.
Tais objetivos vêm ao encontro dos interesses de um setor crescente no cenário econômico inter-
nacional: o turismo.
No caso da região amazônica, o turismo associado à natureza vem se tornando uma realidade
com múltiplas vertentes: de hotéis de selva (FARIA, 2001), turismo em parques nacionais e turismo
de base comunitária (SANSOLO, 2007). O papel do poder público nesse processo de turistificação
vem se aprofundando por meio de política públicas, muitas vezes contraditórias, visto que convivem
no cenário das políticas públicas, ações lideradas e centralizadas no poder público federal, e, ações
provocadas , lideradas pelo poder público federal , mas voltadas a mobilização regional e local, para
construção de agendas políticas de baixo para cima (bottom- up).
Há que se destacar que além de planos estratégicos de médio e longo prazo, contidos nas políticas
públicas, fatos com grande potencial de grande impacto para a região Amazônica passam a influen-
ciar as ações públicas , como é o caso da Copa do Mundo em 2014, pois duas das cidades sedes
no Brasil estão dentro da região amazônica como o caso de Manaus e Cuiabá, haja visto o Projeto
Parques da Copa que segundo o ICMBIO, há uma previsão de investimentos na ordem de R$ 6oo
milhões, que deverão ser aplicados na infraestrutura dos parques para receber os turistas que virão
para os jogos da Copa do Mundo2.
Revisão de literatura
Em nome do interesse público a descentralização do Estado vem sendo defendida sob diferentes
perspectivas ideológicas; a primeira sob o viés neoliberal como meio de diminuir os gastos públi-
cos e transferir a iniciativa privada competências que sejam tidas como oportunidades de negócio.
A segunda a descentralização como parte do paradigma de gestão participativa (JUNQUEIRA et
al,1996).
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Um dos meios de efetivação das políticas públicas tem sido o planejamento governamental. No
Brasil, depois de quase um século de experiências centralizadoras, o país se absteve dessa ferramenta
(COSTA, 1971; IANNI, 1996.). Ao longo da década de 1980, a mesma é retomada, a partir da Cons-
tituição de 1988, no qual foi explicitada a necessidade do desenvolvimento de planos plurianuais
regionalizados.
No planejamento governamental se encontram exemplos da transição de paradigmas: de uma
perspectiva que busca conhecer a realidade para posterior intervenção, para uma visão estratégica
sobre a realidade. Trata-se de uma mudança de enfoques: do totalizante para o regional, o local, o
específico; de uma perspectiva de racionalidade para a intervenção, para uma perspectiva baseada
em consensos (ROBLEDO, 1997).
Todavia a ruptura de paradigmas não é tão nítida e segundo Habermas (apud ROBLEDO 1997)
o projeto de modernidade em si possui valores que não deveriam ser absolutamente rejeitados.
A Constituição Brasileira de 1988 marcou uma mudança de paradigmas na gestão do Estado, ao
dotar os municípios de amplos poderes, antes concentrados no governo federal, não obstante ter
mantido a arrecadação e distribuição de impostos nessa esfera de poder.
Entretanto, o planejamento participativo tem sido foco de críticas como as de Jones & Allmen-
dinger (1998) em alusão à ação comunicativa do filósofo alemão Habermas. Os autores argumentam
que o planejamento participativo visa o consenso em nome da justiça social ou do desenvolvimento
sustentável e que as opiniões divergentes, as oposições e visões divergentes são tolhidas nessa pers-
pectiva (SANSOLO, 2002).
O desenvolvimento do turismo no Brasil, até a década de 1990, permaneceu a mercê das ações
particulares e o Estado absteve-se da condução de políticas e planos estruturantes Com o crescimen-
to da atividade turística no mundo, o poder público, sobretudo, no nível federal, passou a liderar o
desenvolvimento do turismo por meio de políticas públicas centradas na urbanização de espaços,
tidos como potenciais ao desenvolvimento turístico.
Desde então nas políticas de turismo convivem perspectivas centralizadoras com perspectivas
que visam à descentralização do poder.
Nesse trabalho buscou-se expor essas perspectivas nas políticas de turismo do governo federal.
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A região amazônica no Brasil tem sido regionalizada oficialmente como região Norte, Amazônia Le-
gal, ou genericamente em função de suas características de paisagem. Em nosso trabalho adotamos
a Amazônia Legal como referência.
Fonte: http://3.bp.blogspot.com/_6ib77EKBPb0/SWt7lYuQp7I/AAAAAAAAAAo/i3l6rqDp8ww/s400/amz-leg.jpg
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Para a Região Amazônica, uma das primeiras manifestações do poder público de interesse de desen-
volvimento do turismo encontra-se no “Tratado de Cooperação Amazônica (TCA)” assinado em 3
de julho de 1978 por Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela com o
objetivo de promover ações conjuntas para o desenvolvimento harmônico da Bacia Amazônica”3.
Observa-se que esse tratado expõe nitidamente uma política territorial para o desenvolvimento
regional, e tem como preocupação essencial a conjugação do desenvolvimento econômico com a
conservação ambiental.
O artigo XIII deixa claro que o turismo é uma das atividades de interesse dos países da região e
dá destaque à proteção da natureza e das culturas indígenas conforme segue,
“As Partes Contratantes cooperarão para incrementar as correntes turísticas, nacionais e de terceiros
países, em seus respectivos territórios amazônicos, sem prejuízo das disposições nacionais de proteção
às culturas indígenas e aos recursos naturais”.
Torna-se deveras interessante perceber que são colocados no mesmo patamar de idéias a na-
tureza e as culturas indígenas. Ambas aparecem como externalidades, pois segundo o tratado, o
desenvolvimento econômico é prioridade, mas a natureza e as populações indígenas não deveriam
sofrer prejuízos. Todavia também não indicam que terão os benefícios, os lucros desse desenvolvi-
mento. Mais grave ainda é que somente as populações indígenas não sofreriam prejuízos, posto que
o tratado não considera as populações ribeirinhas, os caboclos e os migrantes que se enraizaram na
região.
Parece-nos que o tratado é coerente com as posições que até hoje prevalecem nas políticas de
turismo no Brasil e para a Amazônia conforme apresentaremos adiante.
Durante a mesma década (de 1970), a Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SU-
DAM) projetou o Plano de Desenvolvimento do Turismo para Amazônia I (PTA 1) (PROSHNIK,
2008).
O PTA continha como premissas: a proteção da natureza, os benefícios à participação e o respei-
to às culturas locais e o desenvolvimento econômico.
Com base no mapeamento do RADAM Brasil e da interpretação de imagens de satélites e ima-
gens de radar correlacionou-se diversas informações inicialmente para determinação das fronteiras
da floresta equatorial e dos campos cerrados. O passo seguinte foi a identificação de grandes regiões
florísticas o que orientou a definição de regiões com aptidão para o desenvolvimento do turismo a
partir dos seguintes critérios:
• Que a região estivesse perto de algum ponto de possível acesso de um centro urbano, para
aquela áreas que se desenvolveriam a curto prazo;
• Que tivesse características naturais destacadas e abranjam mais do que um ambiente diferente;
• Que oferecesse a possibilidades de acesso terrestre ou fluvial, presentes ou futuras;
• Que já existisse antecedentes ou recomendações que justifiquem sua criação;
• Que não conflitasse com outro uso não compatível com a conservação e a exploração turística;
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Tais critérios serviram para definir a criação de polos de turismo associados a presença de áreas
protegidas como se apresenta na figua 2:
Fonte: http://portalsaofrancisco.com.br/alfa/brasil/imagens/mapa-do-brasil-4.gif
Adaptado por SANSOLO 2012.
O PTA I destaca-se pelos critérios fisionômicos da natureza como principais fatores para delimi-
tação de regiões para o desenvolvimento do turismo.
Seguindo a tradição do planejamento até então desenvolvido no Brasil, tratou-se de um plano
ortogonal idealizado na estância federal e executado pelos estados com apoio da Superintendência
para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM).
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4 Conforme dados do IBGE, somente 14,5 dos municípios Brasileiros em 2005 possuíam Planos Diretores. Http://www.
ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=744&id_pagina=1 acessado em novembro
de 2012
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Em 1995, o governo brasileiro criou uma política de desenvolvimento integrado para a Amazônia
Legal e forneceu uma estratégia com princípios, definição de metas, métodos e meios de ação que
seriam viabilizados por meio de planos, programas e projetos5 .
O Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo na Amazônia – Proecotur tem como meta via-
bilizar o desenvolvimento do ecoturismo na região da Amazônia brasileira. O propósito é estabe-
lecer a estrutura apropriada e implementar as condições necessárias para os estados se prepararem
para administrar suas áreas selecionadas para o ecoturismo com a finalidade de induzí-lo e gerar
benefícios sociais, econômicos e ambientais para população das áreas selecionadas.
O Proecotur atua nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Para, Rondônia, Ro-
raima e Tocantins e é financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID e governo
federal.
O programa foi estruturado em duas fases. Na Fase I, entre 2000 e 2005, as principais ações reali-
zadas foram: planejamento do ecoturismo na Amazônia, gerenciamento do ecoturismo nas áreas se-
lecionadas, fortalecimento do segmento ecoturístico e gerenciamento do programa. Porém, existem
outras ações como a realização do diagnóstico da oferta turística efetiva e potencial da Amazônia,
estudos de mercado do turismo sustentável para a Amazônia, elaboração da estratégia de turismo
sustentável para a Amazônia e a realização de 45 cursos de capacitação nos polos da Amazônia.
Consta no relatório do Proecotur, que ele foi concebido e organizado por meio de um processo
participativo, em que os representantes de organizações da sociedade civil, do setor privado (turís-
tico, trabalhadores de hotéis e restaurantes) e membros das mais variadas esferas do governo, foram
mobilizados e integrados em grupos de trabalhos de âmbito local (Grupos Técnicos Operacionais
– GTO) e em grupos técnicos de coordenação interdisciplinar (Grupo Técnico de Coordenação da
Amazônia – GTC – Amazônia)6
Para a tomada de decisões foram selecionados critérios hierarquizados e seqüenciados, baseados
no nível e na quantidade de informações disponíveis, possibilitando a identificação de atividades e
investimentos que podem prosseguir por conta da cooperação técnica proposta, assim como identi-
ficar as necessidades específicas e os períodos de referência para estudos posteriores de acompanha-
mento de investimentos.
Em 2003 o novo governo federal criou o Ministério do Turismo e o Plano Nacional de Turismo.
Dentre outras ações criou o Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil (Brasil,
2007).
Como estratégias para implementação do programa foram definidas as seguintes premissas:
• Consolidação de uma estrutura de coordenação municipal, regional, estadual e nacional;
• Aplicação de instrumentos metodológicos que possam responder às necessidades nacionais e
às particularidades de cada realidade: inventário da oferta turística;
5 BID (s/d)
6 Relatório do Projeto ( Programa de Cooperação Técnica para O Desenvolvimento do Ecoturismo na região Amazônica)
PROECOTUR
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Municípios
Estado Regiões
envolvidos
Acre 01 10
Amazonas 04 19
Amapá 04 06
Pará 06 34
Rondônia 03 04
Roraima 03 06
Total 21 79
Fonte: Ministério do Turismo
Não se pode negar a importância do programa, sobretudo com relação à mobilização dos Estados
da Federação para incluírem em suas agendas políticas, o turismo.
A estrutura do programa, e os investimentos alocados para seu desenvolvimento indicam um
aprofundamento nas políticas públicas de turismo descentralizadoras, ainda que as instâncias locais
não estejam devidamente preparadas ou mesmo integralmente mobilizadas para se articularem as
propostas do governo federal, no sentido de construírem suas agendas e essas se articularem as
agendas regionais, estaduais e federais. Mesmo porque, sendo tratado como um setor, o turismo está
em uma posição distante das prioridades e urgências locais.
Como um dos resultados dessa reunião, no dia 04 de junho de 2008, o Ministério do Turismo
publicou no Diário Oficial da União a chamada pública MTUR Nº 001/2008 de Apoio às Iniciativas
de Turismo de Base Comunitária. Foram enviadas 518 propostas e aprovadas por uma banca com-
posta por representantes das universidades e de alguns ministérios, 50 projetos sendo 25 a seriam
apoiados em 2008 e 25 em 2009, com um valor máximo por projeto de 150.000,00 Reais.
Trata-se de uma iniciativa inovadora, e talvez mais uma quebra de paradigma. Contudo, o Mi-
nistério do Turismo com essa ação entra, ainda que de forma preliminar, em sincronia com as ideias
que vem sendo desenvolvidas pela Secretaria Especial de Economia Solidária e pelo Programa Ter-
ritórios da Cidadania, que dentre outros critérios, privilegiam as populações e regiões de maior
carência no Brasil.
No caso da Região Norte foi aprovado 06 propostas de projetos para o período 2008/2009. Um
número muito tímido ao se considerar a diversidade de culturas, a extensão territorial e a potencia-
lidade existentes na Amazônia. Pode-se interpretar que por um lado o turismo não seja ainda uma
prioridade para as comunidades amazônicas por outro lado, uma eventual falta de aptidão para
elaboração de projetos de turismo de base comunitária.
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Conama-001.Contudo, não houve qualquer especificidade para a atividade turística, embora qual-
quer empreendimento com potencial de impacto ambiental passasse a ter de atender às demandas
de controle, como, por exemplo, a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental (EIA/Rima). Recen-
temente, as políticas públicas de turismo têm ressaltado a importância da questão ambiental, como
se pode observar no Plano Nacional de Turismo 7 .
No entanto, a importância citada refere-se quase que exclusivamente ao aspecto econômico da
natureza, isto é, à natureza como recurso, como mercadoria para o turismo. Em outras palavras,
não se encontra nas políticas públicas o incentivo à adoção, pelos empreendimentos privados, de
soluções conservacionistas e ainda mais graves, percebe-se nas iniciativas governamentais – como
na implementação de infraestrutura – a falta de atenção às tecnologias ambientalmente compatíveis
com as características da tropicalidade equatorial Amazônica, em termos de transporte, energia e
saneamento.
No que se refere aos aspectos sociais, é frequente nas políticas de turismo o discurso voltado à di-
minuição das desigualdades sociais. Entretanto, há explicitamente, entre os objetivos, pressupostos
e estratégias das políticas públicas mais recentes, a indicação do setor empresarial como principal
protagonista do desenvolvimento, o que então proporcionaria maior equilíbrio social em função do
aumento de emprego gerado pelos empreendimentos. Não aparecem nas políticas as classes popula-
res como agentes sujeitos ativos da inclusão, e sim somente como uma parte passiva, como mão de
obra a ser qualificada, exceto nas recentes ações voltadas ao apoio ao turismo de base comunitária.
Considerações Finais
Analisando-se o planejamento como ferramenta de políticas públicas e a matriz dos paradigmas
adotados, constatou-se que na maior parte dos documentos está presente uma perspectiva ortogo-
nal do planejamento, visto de cima para baixo.
Mais recentemente se vem buscando novos caminhos que possibilitem uma inversão do sentido
do planejamento, isto é, da base para as instâncias superiores. O Programa Nacional de Municipali-
zação do Turismo (PNMT) foi exemplo de uma tentativa de se possibilitar a participação no plane-
jamento do turismo a partir das localidades. Recentemente, o Programa de Regionalização do Tu-
rismo também propõe uma metodologia que possibilita a participação no processo de planejamento
do desenvolvimento do turismo. Contudo, ainda não existem estruturas normativas que amparem e
regulem os fluxos no processo de planejamento e nas tomadas de decisão assim como no programa
de regionalização do turismo.
Os programas como o PROECOTUR e o de o Programa de Regionalização do Turismo corres-
pondem às principais ações do poder público federal voltadas ao desenvolvimento do turismo na
Amazônia Brasileira. Constata-se que há um fluxo coerente entre os níveis federal e estadual, como
se pode observar nos planos plurianuais dos Estados e do governo federal, mas no que se refere a
escala municipal encontram-se ainda algumas dificuldades para a articulação programática.
7 Disponível em www.turismo.gov.br
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Sugere-se que não se artificialize, não se espetacularize a Amazônia em nome de uma demanda
internacional, mas que se proporcionem condições ao mercado nacional, e internacional infraes-
trutura e estrutura de apoio ao turismo, tendo com referência as características sócias culturais e
ambientais da região. Mas sobretudo, se dê voz às necessidades locais para que o turismo possa ser
um meio de intercâmbio entre os habitantes da região, com visitantes de outras realidades.
Portanto, para tornar possível esse intercâmbio, que se viabilizem condições de vida dignas a
quem vive na Amazônia, por meio de políticas integradas de desenvolvimento regional, de forma
que tenham orgulho de receber dignamente os visitantes tanto da própria região quanto os visitantes
externos sejam do Brasil ou de outras regiões.
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