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Resenha: A Concepção Epistemológica Estruturalista
Eziel G. de Oliveira
O estruturalismo clássico, representado por pensadores como e Claude Lévi-
Strauss e Jean Piaget, compreende que a produção do conhecimento sobre uma dada realidade social é formada por um conjunto de elementos ou partes que são explicadas pelas representações de suas relações a partir da elaboração de modelos expositivos e explicativos.
Sob a influência de Émile Durkheim e Marcel Mauss, o estruturalismo
antropológico de Lévi-Strauss (1970; 1980), que se inicia em meados da década de 1940, enfatiza a reconstrução do fato social em um sistema de relações que busca investigar o inconsciente das representações sociais (simbólicas) que condicionam as interações coletivas e comportamentais dos indivíduos. Aí o autor adota o conceito de cultura como um sistema simbólico que pode ser construído coletivamente.
A fim de estudar a cultura como um sistema de relações simbólicas, e
considerando a linguagem como equivalente à todas as relações dos sistemas de comunicação, Lévi-Strauss passa adotar a análise de linguagem como fenômeno social e como componente determinante da cultura, seus estudos etnológicos buscam afirmar seu rigor metodológico e cientificidade adotando se a aplicação de modelos lingüísticos e algébricos.
Para esse desenvolvimento da antropologia estruturalista é importante citar a
grande influência dos estudos lingüísticos de Ferdinand de Saussure, que propõe uma sistematização lógica dos sinais baseado na concepção de que a relação entre os vocábulos e elementos da realidade se estabelece não de forma natural, mas a partir de operações derivadas de relações estruturais profundas relativas a logicidade da língua e do pensamento, assim, os elementos discursivos e lingüísticos constituem estruturas universais e invariantes formadas por relações de concordância, de ordem e de subordinação (THIRY-CHERQUES, 2006).
Partindo de uma perspectiva não histórica, inerentemente os estudos estruturais
propõe um recorte dos fenômenos isolando os em níveis de significado, nas palavras de Levi-Strauss “cada tipo de estudos estruturais pretende a autonomia, a independência com respeito a todos os outros e também com respeito á investigação dos mesmos fatos, mas baseados em outros modelos” (apud OLIVEIRA; AMANJAS, 2014, p. 13).
No entando, apesar das preocupações investigativas com o campo e com tais
relações contextuais dos modelos explicativos, Lévi-Strauss buscou, sobretudo, identificar nos agrupamentos sociais particulares elementos universais os quais se repetissem em várias sociedades; e ao estudar os mitos e mitologias em diferentes culturas, Levi-Strauss reconhece de fato estruturas culturais semelhantes em diferentes sistemas sociais.
Assumindo o ponto de partida dos esquemas marxistas sobre as relações sociais,
Piaget (1979) faz a consideração de que o estruturalismo antropológico de Lévi-Strauss tem como objeto de estudo e de contribuição teórica a análise da superestrutura social formada pelos elementos culturais, ideológicos e institucionais; e neste ponto o autor lembra a importância das determinações e continuidades históricas da base produtiva e técnica diretamente ligada ao desenvolvimento e organização do trabalho, porém reconhece que a infra estrutura das relações sociais seriam objeto das análises históricas, o que não caberia aos propósitos do estruturalismo.
Ao invés de uma análise histórica, Lévi-Strauss propõe uma “história estrutural”
baseada em uma perspectiva esquemática meramente temporal. O autor considera a existência de estruturas passíveis de observação que aparecem num nível superficial, e por outro lado a configuração de estruturas profundas passíveis de identificação lógica somente em um nível de abstração que vai além da manifestação sensível e aparente.
Enfatizando o estudo das estruturas profundas e não conscientes, o
estruturalismo desconsidera completamente a subjetividade ou possibilidade proativa do sujeito, busca sua ênfase sobretudo à condição humana determinada pelo inconsciente e seus padrões de manifestação nos fatos sociais. O inconsciente é considerado como mediação fundamental entre a sociedade e o sujeito, e é nessa relação que se manifesta as normas externas e o caráter comum das crenças, costumes, comportamentos e instituições.
Assim, a concepção de estrutura é entendida como um conjunto de relações, um
sistema relacional de abstração elaborado como modelo explicativo para um ordenamento lógico de elementos identificados na realidade social e cujas disposições formam um todo ou conjunto relacionamentos idealmente representado. Enquanto modelo abstrato, a estrutura não se refere como correspondência a própria realidade, se trata apenas de uma de suas possíveis representações inteligíveis e explicaticas. A abordagem se contrapõe a análise atomista ou imediata dos fenômenos empíricos, e segundo Thiry-Cherques (2006) aí a forma precede o conteúdo e a relação precede seus termos.
Piaget (1979) esclarece que a concepção estruturalista recusa a primazia da
realidade social sobre o intelecto humano, cuja atividade representativa não pode ser um reflexo suficiente da concreticidade da organização social. Por isso, predomina no estruturalismo um procedimento analítico dedutivo com a finalidade da construção de modelos abstratos explicativos sobre as relações identificadas por trás das manifestações concretas.
A consolidação da epistemologia ou da filosofia metodológica do estruturalismo
chega a influenciar outros importantes pensadores tais como Michel Foucault,, Jacques Lacan, Antony Giddens, Jacques Derrida, Louis Althusser e Pierre Bourdieu. Assim é interessante notar a ampla utilização de concepções e princípios estruturalistas em diversas áreas das ciências humanas e sociais tais como psicologia social, educação, em estudos culturais e sociológicos em geral.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..
LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia estrutural. Rio de janeiro, Tempo Brasileiro,
1970. LÉVI-STRAUSS, Claude. A noção de estrutura em etnologia. São Paulo: Abril Cultural, 1980. Coleção Os Pensadores. OLIVEIRA, Arley Silva; AMANAJAS, Roberto Carlos. Antropológica: investigação estruturalista de Lévi-Strauss. Contribuciones a las Ciencias Sociales. Febrero, 2014. PIAGET, Jean. O estruturalismo. Rio de Janeiro: Difel, Pág. 86-89, 1979. THIRY-CHERQUES, Hermano Roberto. O Primeiro Estruturalismo: Método de Pesquisa para as Ciências da Gestão. RAC, v. 10, n. 2, Abr./Jun. 2006: 137-156