Trecento

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Trecento

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O Trecento (em português, 'trezentos') é o período da História da Arte que segue
a Idade Média na Itália. Sua diferença vem do fato de que este caminho vai
acabar no Renascimento, que transformará todo o panorama artístico europeu.
Refere-se a todo o século XIV, e antecede o que se chama de Quattrocento
(século XV), a primeira fase doRenascimento.[1]

É importante ressaltar que o Trecento é um fenômeno italiano, que ocorreu


principalmente na cidade de Florença, centro político, econômico e cultural do
país. A arte desse período é, em termos gerais, um segmento que passa pelas artes
paleocristã, bizantina e gótica para então chegar ao Renascimento. As pinturas
mostram vários trípticos e usam simples folhas de ouro que representam o caráter Mosaico do Batistério San Giovanni,
de Deus. As paredes dos monastérios da Toscana estão decorados com afrescos sobre o Juízo final - obra de um mestre
florentino, cerca de 1300.
desta época. Entre os florentinos especializados em afrescos, destaca-se o nome
de Giotto, a quem se atribuem as soberbas obras da Cappella degli Scrovegni e a
série sobre a vida de São Francisco de Assis. Giotto inaugura a tridimensionalidade da arte mural, dando assim corte radical com a
arte bizantina e abrindo caminho para oRenascimento.[2]

Índice
Contexto histórico do período
Características da arte no período
Arquitetura
Escultura
Literatura
Música
Pintura e mosaico
Principais artistas do período
Referências
Bibliografia

Contexto histórico do período


As construções e alterações políticas do século XIV trouxeram grande impacto na arte. Em 323 d.C., a capital do Império Romano é
alterada de Roma para Bizâncio, se tornando a chamada Constantinopla (que hoje representa a região de Istambul, Turquia). Depois
de seu estabelecimento, que inicialmente era um ponto estratégico na Europa, o Império Romano acaba por ruir, sendo divido em
Ocidental e Oriental (Bizantino), sendo que a parcela do Ocidente é a primeira a sucumbir devido às invasões bárbaras. O Império
Oriental se mantém sob comando do imperador Justiniano, apenas se fragmentando e caindo em declínio total em 1453 a partir do
[3]
momento em que os turcos tomam posse de Constantinopla.
A ramificação do Império Romano é o principal divisor de águas no que se diz a respeito da religião padrão do Império. A partir do
momento em que se transfere para o Oriente, há um conflito entre a igreja Católica e a igreja Ortodoxa com base em suas origens que
[3]
impedia a união entre elas. O aspecto religioso passa a ser decidido pela vassalagem dos Estados.

Características da arte no período


Como observado pela história do período, pode-se dizer que a arte do Trecento está
diretamente ligada a ideia do sagrado e do religioso. A arte do Trecento está ligada a
estilos artísticos que não são exatamente originários da Itália, porém, a maneira em
como essa arte se manifesta no país é o que confere a ela participação nesse período,
[4].
em especial na região da Florença onde a arte se desenvolve

A narrativa[5] é um dos principais elementos no que se refere a arte do Trecento.


Sabendo que ela é pensada por princípios principalmente de cunho religioso, há uma
necessidade de se fazer uma linear para então representar passagens bíblicas por meio
da arte. Obras como “Entrada de Cristo em Jerusalém” de Giotto e “Cristo Entrando
em Jerusalém” de Duccio são exemplos da propensão ao se buscar falar do religioso,
no caso, o cristianismo que aparece como base religiosa na Europa.

Um fato interessante sobre o período é que o sentimentalismo, em especial, à


compaixão, começa a se perder na arte do século XIV durante o “tardo-Trecento” em
contraste com o aumento de artes mais dinâmicas e expressivas, que ressaltam a
presença da violência e do mundano - ou, em um termo mais simples, humano.[6] É
pela forma em que artistas como Giotto e Masaccio passam a produzir artes que se
"Caminho para o Calvário" de
relacionam com a história cristã que nota-se a transição dessa conjunção de artes
Simone Martini (1340).
religiosas para as temáticas pautadas na antiguidade clássica presentes no
Renascimento.

Isso pode ser confirmado diante de peças como o “Caminho para o Calvário” de Simone Martini, um quadro em que há a figura de
Jesus como central sendo rodeado de pessoas conduzidas por guardas ao que o título indica, caminhando para o calvário. Não só a
imagem é uma representação da marcha para a crucificação de Cristo, o qual passa por um trajeto sofrido, mas a própria construção
do quadro traz uma sensação de sufoco ao se observar as expressões detalhadas das coadjuvantes da obra, retratadas de uma forma
[7].
característica de Martini, “os traços vigorosos e os gestos e as expressões dramáticas”

Arquitetura
A arquitetura do Trecento irá se manifestar principalmente nas catedrais italianas, misturando estilos das artes que compõem esse
período.

Durante a arte paleocristã, o que antes era o impedimento da liberdade de culto e a reunião de fiéis para realizar celebrações religiosas
se transforma completamente, e a arquitetura passa a contribuir como forma de visibilizar a oficialização da fé pelo Estado. Para tal,
são criados os modelos das basílicas, tornando-se referência padrão da arquitetura sacra na Europa Ocidental, sendo a Basílica de São
Pedro (São Pedro de Roma) a mais conhecida[3]. As características desses espaços é similar às basílicas pagãs: a presença de uma
“nave central, flanqueada pelas naves laterais (colaterais) e iluminada pelas janelas do clerestório (janelas altas)”[3] sendo
modificadas de modo em que se criou “um novo ponto de convergência, o altar, colocado à frente da abside, do lado oriental da nave,
[3].
ficando as portas [...] na fachada ocidental, e o edifício orientado segundo o eixo longitudinal”

O principal referencial relacionada à arte bizantina é a Basílica de São Vital (São Vitale de Ravena), igreja do imperador Justiniano,
que inclusive está representado por mosaicos sendo um deles com a imperatriz Teodora e o outro é ele cercado pelo bispo, guardas
reais e diáconos. A basílica é construída a partir da ideia de plano central com uma forma octagonal, coberto por uma cúpula. Sua
construção permite “um efeito espacial mais rico; embaixo das janelas altas, a parede da nave octagonal abre-se em nichos
semicirculares que penetram na colateral, ligando-a ao espaço central de um modo
novo e complexo.”[3] O interior da igreja também inclui um segundo andar, além de
[3].
abóbodas mais leves para melhorar a luminosidade no interior da capela

Devido à suas referências francesas, a arquitetura gótica irá se manifestar, assim


como a arte bizantina, por meio das igrejas e catedrais. Ela irá penetrar na Itália a
partir das ordens monásticas de Assis, a exemplo da Abadia de Fossanova e a Igreja
Santa Croce de Florença. A ordem franciscana se conecta com os monumentos
góticos por eles repassarem uma impressão de simplicidade semelhante ao propósito
da ordem - respectivamente, a falta de torres na fachada, janelas pequenas e
abóbadas de aresta em Fossanova; e a falta de abóbadas nas naves substituídas por
tetos de madeira em Santa Croce[3].

Planta apresentando a arte bizantina


na construção da Basílica de São
Escultura
Vitale A escultura bizantina do Trecento
representa uma inauguração da arte
cristã, cujas primeiras obras são os sarcófagos destinados a membros da congregação
que possuíam um status social e econômico superior. A considerada primeira obra
cristã e, consequentemente, o melhor exemplo da escultura pela arte bizantina é
Sarcófago de Júnio Basso, destinado ao prefeito de Roma Júnio Basso. Essa imagem
cunhada em mármore mistura momentos do Velho e Novo Testamento. O intuito da
obra é demonstrar a tranquilidade e sabedoria, além do conceito de redenção pela
religião.[7] Sarcófago de Junio Basso, escultura
representativa da arte paleocristã
Apesar de existirem referências grandes incluídas na arte bizantina, a escultura do
período tem maior destaque na arte gótica, cujas características incluem peças que
possuem como foco principal a questão da profundidade. Geralmente, a natureza das esculturas italianas são caracterizadas por
possuir “uma atmosfera espaçosa, até mesmo imprecisa, que envolve as cenas romanas”[7]. Em “A Natividade”, de Nicola Pisano, no
entanto, contrário a esse padrão, observa-se “uma espécie de caixa pouco profunda, abarrotada de imagens sólidas que não apenas
contam a história da Natividade, mas também todos os episódios a ela associados”[7]. É interessante ressaltar que essa fuga do padrão
é o que dá o valor de representação à essa obra, algo que não possui semelhante.

Com características diferentes, porém com importância semelhante, “O Sacrifício de Isaac” de


Lorenzo Ghiberti, possui o conceito da
“profundidade espacial”, sendo um fenômeno inédito na história da arte devido a seu “fundo plano e sem relevos” é visto como “um
espaço vazio do qual figuras emergem em direção ao espectador”.[7] É possível dizer que essa arte seja o ponto de introdução ao
Renascentismo por conta de suas características que se assemelham quanto a representação de figuras de uma forma mais profunda e
aberta.[7]

Literatura
Durante o período do Trecento, manifesta-se na literatura florença três tipos textuais: a biografia, autobiografia e crônica. A
importância desses gêneros na época seria para fins de registro e arquivação de feitos de homens que “procuraram interpretar as suas
[8].”
ações e os seus gestos com um profundo senso histórico

A biografia durante o Trecento pode ser caracterizada por uma mudança em um estilo que já era comum entre os autores italianos - os
textos simples descritivos tornam uma proporção maior e passam a ser “um impulso biográfico, intimamente ligado à paixão dos
homens pela fama, perpassado por um profundo senso histórico, observa a importância da ação humana no mundo, ao mesmo tempo
em que não descuida de apresentar os meandros de sua vida interior.”[8] Dentre esses trabalhos, o mais importante e considerado
sendo a primeira biografia autêntica é “Trattatello in laude di Dante” escrita por Giovanni Boccaccio em 1364 sobre o poeta Dante
Alighieri, incluindo alguns estudos sobreA Divina Comédia.
Também trabalhadas com relação à Dante, as autobiografias trazem novamente o conceito dos feitos do homem na história. “Vita
nuova” é uma obra na qual Dante escreve sobre uma paixão e dialoga com si mesmo. A primeira autobiografia de fato dorecento
T no
entanto, será “Lettera ai posteri” escrita por Francesco Petrarca, discorrendo sobre sua vida e seu significado durante sua velhice,
, sendo uma obra de referência para autobiografias[8].
reavaliando conceitos de sua vida como a noção de riqueza e poder

Por fim, as crônicas surgem para narrar eventos de destaque e significação em Florença. As “Croniche” de Matteo Palmieri e
“Decadi” de Biondo da Forli são as principais referências neste segmento. A ótica destes autores em relação ao dia-a-dia de Florença
tornam-se aspectos importantes de estudo para entender o comportamento da época, como a obra “Vite degli uomini illustri
fiorentini” por Filippo Villani se propõe a analisar[8].

Observando o ímpeto de se ter registrado o que é histórico, a literatura acaba sendo complementar ao propósito da arte do Trecento
[8].
em geral, visando a questão da narrativa para retratar a existência e grandeza do homem

Música
A música do Trecento está presente dentre 1325 à 1420 que entre suas 600 composições que sobreviveram ao tempo, excluindo peças
instrumentais e de músicas sagradas, das quais não existe muito registro. A música italiana do Trecento pode ser caracterizada com
“um ritmo que geralmente segue uma escala para baixo mas que infusa vida para suas linhas por meio de parceiros de um
embelezamento florido”[9], sendo um tipo de música que é “mais fracionada do que a música francesa”[9] que por sua vez “se retinha
à frases balanceadas”[9].

Pintura e mosaico
Em relação à pintura do Trecento, pela arte paleocristã, a pintura se manifestava mais na forma de mosaicos, devido a necessidade de
decoração que surge com o crescimento da arquitetura cristã monumental, ainda que o mosaico seja uma arte mais cara,
aproximadamente o quádruplo da pintura de afresco em si[10], com a aplicação feita de tesselas de pasta de vidro colorido, que tem
como objetivo criar uma ilusão visual para quem observa a obra. O mosaico também irá se manifestar na arte bizantina, com a
[3]
permanência dos mesmos temas e sendo feitos para igrejas majoritariamente.

O mosaico é um elemento artístico essencial para se tratar das basílicas que surgem
no Trecento, ao ponto em que a presença do mosaico pode ser tratado até como uma
"exigência".[7] Pela arte paleocristã, há uma abundância de mosaicos que ilustram
passagens bíblicas do Antigo e Novo Testamento. As obras são construídas por
cubos de tessela feitos de vidro com cores brilhantes, cujo objetivo é agir como um
refletor da luz.[7] A Basílica de Santo Apolinário de Classe é o principal reduto para
se observar o mosaico paleocristão. Já na arte bizantina, se retoma às obras em
homenagem aos imperadores, sendo a principal a arte de Justiniano e seu séquito
presente na Basílica de São Vital.[7]

A partir do movimento gótico, a pintura passa a ser fortemente representada pelos


afrescos e retábulos. As pinturas aparecem na forma de painéis, mosaicos e murais,
A Cúpula de "Gênesis" na Basílica também conhecidos pelos italianos como “maneira grega”. Partindo do conceito de
de São Marcos (São Marcos de
se passar uma história através da arte do período, “a Bíblia estava sendo recontada
Veneza).
de uma forma que convidava a empatia do leitor e oferecia não só detalhes, mas
[5].
também estimulava participação simpática e afetiva”

Ao final do Trecento, se torna reconhecível que a pintura inaugurada principalmente por Giotto deu nascimento à uma nova era da
pintura no mundo. Elementos da pintura gótica a serem destacados nesse período estão presentes ao se observar os principais artistas
desse momento[5]. Giotto se destaca entre os artistas por sua audácia e emoção: as paisagens de suas obras são reduzidas o mínimo
possível; “as formas amplas e simples, o forte agrupamento das figuras, a profundidade limitada do ‘palco’” trazem à tona os
personagens da obra, fazendo com que haja um impacto envolvido que traga o sentimento de drama presente nos seus trabalhos.[7]
Duccio por sua vez é especializado em técnicas do ilusionismo helenístico-romano e
isso lhe confere a capacidade de criar profundidade em suas obras, “os corpos, faces
[7]
e mãos começam a ganhar volume como uma sutil vida tridimensional.”

Observando em um quadro geral, a pintura do Trecento pode então ser caracterizada


pela sua temática de cunho religioso e pelas obras que geram um grande
aprofundamento emotivo[7]. A arte pictórica desse período também é evidenciada
em estudos como uma forma de estabelecer uma conexão entre a audiência e as
figuras espirituais representadas.[11]

Principais artistas do período


"Entrada de Cristo em Jerusalém" de
Giotto di Bondone Giotto, uma das obras mais
Duccio conhecidas feita pelo artista que
Simone Martini melhor representa este período.
Pietro e Ambrogio Lorenzetti (Irmãos Lorenzetti)
Cimabue

Referências
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f?AWSAccessKeyId=AKIAIWOWYYGZ2Y53UL3A&Expires=1505593191&Signature=RMBKLe92jpNlQ5Qdq22gotM
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Bibliografia
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