Microbiologia: Módulo
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Microbiologia: Módulo
Microbiologia
Microbiologia
Volume 2 - Módulo 1 Maria Isabel Madeira Liberto
Maulori Curié Cabral
Ulysses Garcia Casado Lins
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Maria Isabel Madeira Liberto
EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
Maulori Curié Cabral
Ulysses Garcia Casado Lins Tereza Queiroz Sanny Reis
COPIDESQUE ILUSTRAÇÃO
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO
INSTRUCIONAL Cristina Maria Freixinho Morvan Neto
Cristine Costa Barreto REVISÃO TIPOGRÁFICA CAPA
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL Elaine Bayma Morvan Neto
E REVISÃO Marcus Knupp PRODUÇÃO GRÁFICA
Luciana Messeder Patrícia Paula Oséias Ferraz
Marta Abdala COORDENAÇÃO DE Patricia Seabra
Roberto Paes PRODUÇÃO
COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM Jorge Moura
Cyana Leahy-Dios
Maria Angélica Alves
COORDENAÇÃO DE AVALIAÇÃO DO
MATERIAL DIDÁTICO
Débora Barreiros Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
AVALIAÇÃO DO MATERIAL eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
DIDÁTICO L695m
Ana Paula Abreu Fialho Liberto, Maria Isabel Madeira.
Aroaldo Veneu Microbiologia. v. 2 / Maria Isabel Madeira Liberto; Maulori Curié
Cabral; Ulysses Garcia Casado Lins. - Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ,
2010.
218p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-256-8
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
Pré-requisitos
Para uma boa compreensão desta aula, você deverá recordar os conteúdos
sobre técnicas assépticas e coloração de Gram (Aula 5); esterilização de
meios de cultura (Aula 6); ação de desinfetantes sobre os micróbios (Aula 7),
composição de meios de cultivo bacteriano (Aula 8) e meios seletivos para
crescimento bacteriano (Aula 9).
Microbiologia | Micróbios na natureza – Aula prática
INTRODUÇÃO Os micróbios são os seres que podem ser encontrados em todos os ambientes
da biosfera. Você já deve ter tomado consciência dessa premissa à medida
que vem avançando no conteúdo desta disciplina. Nesta aula prática, você vai
executar procedimentos para capturar e cultivar micróbios que estão presentes
no ar que você respira e associados à superfície da pele e das mucosas dos
animais. Os da pele serão recolhidos da sua mão e os das mucosas a partir das
guelras ou da cloaca de um peixe marinho fresco.
Para cultivar micróbios você precisa oferecer-lhes nutrientes e condições
ambientais favoráveis para que eles se propaguem. Mas, se eles estão em todos
os lugares, que artifício deve ser feito para que os micróbios que você pretende
capturar não necessitem competir com aqueles que já estão no local que você
escolheu para cultivá-los? Muito simples. Todo material a ser usado deve ser
esterilizado antes. A esterilização dos utensílios e dos meios de cultura pode
ser efetuada por autoclavação (como você viu na Aula 6). Lembre-se de que
certos componentes nutritivos, por serem termolábeis, devem ser esterilizados
por filtração ou exposição à radiação gama e depois adicionados, de maneira
asséptica, ao restante do meio de cultura que já foi autoclavado.
Recordando a diversidade metabólica dos micróbios você deve levar em conta
que, nem sempre, os componentes nutricionais incluídos nos meios são
passíveis de atender às exigências nutritivas de todos os micróbios. Por isso, é
necessário preparar meios de cultura de diferentes composições. Uns podem
ser adicionados de ingredientes que inibam o crescimento de alguns tipos, mas
favoreçam outros. Este tipo de meio de cultura é classificado como seletivo para
o tipo ou tipos microbianos que são favorecidos. Os meios de cultura seletivos
podem ainda servir para diferenciar dois grupos bacterianos. Para isto, são
adicionados de mais um ingrediente químico (lactose, por exemplo) que pode
ser metabolizado ou não pelas espécies bacterianas que suportam a presença
do agente seletivo. Este tipo de meio de cultura é empregado largamente nos
trabalhos de classificação bacteriana (apresentados na Aula 9) e é conhecido
como sendo seletivo-indicador.
Para realizar esta aula prática, que é dividida em três partes, você
vai precisar dos seguintes materiais:
• uma alça metálica para trabalhos bacteriológicos;
• swabs esterilizados por raios gama;
8 CEDERJ
MÓDULO 1
11
• toalhas de papel;
• um frasco com 200 mL de desinfetante (formol/detergente/azul
AULA
de metileno);
• uma cultura de bactéria marinha bioluminescente, em tubo;
• duas placas de Petri com meio de cultura (Triptose-soja-agar-TSA
ou de Agar nutritivo-AN) para demonstração de micróbios no ambiente
e associados às mãos;
• uma ou duas placas de Petri com meio de cultura (Agar Nutritivo
Salgado—ANS) para cultivo de bactérias marinhas;
• um peixe marinho fresco;
• um bico de Bunsen ou uma lamparina a álcool;
• uma proveta ou uma pipeta com bulbo, para medir 15 mL do
desinfetante;
• um aposento ou local escuro ou então um pano preto grosso.
EXECUÇÃO
CEDERJ 9
Microbiologia | Micróbios na natureza – Aula prática
10 CEDERJ
MÓDULO 1
11
o esfregaço secar e promova a fixação expondo a lâmina ao calor da
chama. Prossiga conforme você aprendeu na Aula 5. A coloração de
AULA
Gram é uma técnica rápida e muito elucidativa. Utilizando-a você terá
a oportunidade de visualizar os tipos microbianos que estavam no ar e
que encontraram condições satisfatórias para crescer no meio de cultura
da sua placa de Petri.
Ao terminar esta etapa do experimento, adicione 15 mL do
desinfetante na placa e deixe em repouso por 24 horas, para depois
descartá-la. Você deve estar se perguntando, por quê? É fácil: como
você viu na Aula 7, o desinfetante agirá eliminando os micróbios, mas
para isso é necessário o fator tempo. Após este procedimento, as placas
poderão ser descartadas no lixo, sem perigo de contaminação microbiana
para o ambiente.
Para realizar esta parte da aula, você deve utilizar uma placa
com meio TSA. Inicialmente, você deve usar uma caneta que escreva
em plástico e fazer uma marcação, no fundo da placa, dividindo-a
em quatro quadrantes, identificando-os 1, 2, 3, 4. A seguir, realize as
seguintes etapas:
a) com a placa voltada para baixo, “carimbe” a impressão digital
do seu dedo indicador no quadrante 1, conforme você pode ver na
Figura 11.3.a. ATENÇÃO: a consistência da camada de meio de cultura
é bem frágil, por isso, toque-a delicadamente;
a b c d
CEDERJ 11
Microbiologia | Micróbios na natureza – Aula prática
Alguns comentários
12 CEDERJ
MÓDULO 1
11
AULA
Figura 11.5: Em escala de 10, a topografia da pele da mão é observada, notando-se
as estruturas que a compõem, de acordo com a ampliação utilizada. O quadrado
central de cada imagem representa a área que está sendo ampliada. STAPHYLOCOCCUS
EPIDERMIDIS
É um tipo microbiano
comumente encontrado
Um tipo de micróbio muito comumente associado à pele humana na microbiota da pele
e das mucosas das
é o STAPHYLOCOCCUS EPIDERMIDIS. pessoas. Em face da sua
ampla distribuição pelo
Para se perceber a olho nu a presença de micróbios, em um
corpo, são facilmente
ambiente qualquer, é necessário o fator tempo, do qual dependem detectados em exames
bacteriológicos que
todos os fenômenos biológicos. Neste caso, é necessário o tempo para buscam diagnosticar a
presença de micróbios
que ocorram as divisões sucessivas da célula, que vão aumentando em no ambiente onde há
número, até formar colônias de tamanhos visíveis. Nada diferente de atividade humana. É
comum haver relatos da
um processo de gravidez, onde também o número de células aumenta presença deste tipo de
bactérias em maçanetas,
em função do tempo, até que a célula ovo se transforme num ser visível, corrimões, telefones
quer um exemplo biológico melhor? públicos e cédulas ou
moedas. Agora até dá
Para saber o tipo de micróbios que formam as colônias na placa, para você entender por
que se encontram mais
você só precisa repetir a prática de microscopia com coloração de micróbios nas cédulas de
R$1,00 do que nas de
Gram.
R$100,00, que circulam
Para descartar a placa deste experimento, você deve proceder no comércio!
http://medinfo.ufl.edu/
year2/mmid/bms5300/
bugs/staepid.html
CEDERJ 13
Microbiologia | Micróbios na natureza – Aula prática
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MÓDULO 1
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5- dando continuidade, flambe novamente a alça e, assepticamente,
encoste sua ponta sobre a massa celular da cultura de bactérias
AULA
bioluminescentes que está no tubo. Um simples toque é suficiente. Use
essa alça impregnada de bactérias para semear a placa “B”, repetindo
o processo de espalhamento, conforme descrito no item 4. O objetivo
do espalhamento é distribuir as bactérias de tal maneira que você
consiga separá-las individualmente. Cada bactéria isolada dará origem
a uma colônia, ou seja, a uma população clonada. A Figura 11.6
mostra o resultado de um processo de obtenção de clones microbianos.
Outra opção para o trabalho com bactérias bioluminescentes é usar
um swab para semear as bactérias da suspensão e usando de sua
criatividade, faça desenhos na placa. É uma forma lúdica de trabalhar
em Microbiologia.
CEDERJ 15
Microbiologia | Micróbios na natureza – Aula prática
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MÓDULO 1
11
qualquer fragmento de matéria orgânica, tal como resíduos de animais
mortos afundando, utilizam esses fragmentos como meio de cultura. Com
AULA
o crescimento populacional, a massa microbiana passa a ser detectada
em função da luminescência que emite. No ambiente escuro, esse brilho
atrai peixes, que se alimentam desses resíduos. As bactérias continuam
se multiplicando no intestino desses peixes que, ao defecarem, colocam
mais dessas bactérias no mar, e assim garantem a próxima refeição. Você
já reparou que os pescadores alegam que se pescarem à noite pegam mais
peixes? Depois de jogarem a isca, esperam, esperam e... fisgam! Não
seria mais rápido se banhassem a isca com uma suspensão concentrada
de bactérias bioluminescentes?
A relação peixes abissais x bactérias bioluminescentes é tão íntima
que alguns deles, como o peixe-lanterna, têm colônias dessas bactérias
incorporadas em seu corpo, como órgãos luminosos que acendem e apagam
em função do abrir e fechar da membrana onde estão contidas.Você pode
observar um exemplo dessa interação na Figura 11.9.
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Microbiologia | Micróbios na natureza – Aula prática
CONCLUSÃO
RESUMO
18 CEDERJ
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11
das mãos, os micróbios que não fazem parte da sua microbiota são removidos,
AULA
mas os seus permanecem. No ar também há micróbios, como você pôde constatar
ao caçá-los com uma placa de meio de cultura deixando-a incubando por um
tempo superior a 24 horas. O fenômeno da bioluminescência bacteriana também
foi demonstrado, destacando a influência do mesmo para as áreas afóticas do
ambiente marinho.
CEDERJ 19
12
AULA
Micróbios eucarióticos
Meta da aula
Apresentar a participação dos micróbios eucariontes
na biodiversidade do nosso planeta.
capaz de:
• correlacionar a nomenclatura com a taxonomia adotada para agrupar
os micróbios eucariontes;
• dar exemplos de estruturas peculiares às diferentes classes
de protozoários;
• relacionar os tipos de pigmentação das algas com os nichos ecológicos
que elas podem ocupar no ambiente marinho;
• identificar as fases de desenvolvimento da população de fungos
filamentosos de acordo com o aspecto das suas colônias;
• indicar e dar exemplos de situações que demonstrem as vantagens
das associações celulares para a sobrevivência das espécies na biosfera.
Pré-requisitos
INTRODUÇÃO Você já sabe que as células são as unidades fundamentais dos seres vivos e
que podemos separá-las em eucarióticas e procarióticas, de acordo com suas
características estruturais. Os micróbios são multidões invisíveis que reinam em
nosso planeta. Para eles, nós, os homens, somos intrusos nos seus domínios.
RENÉ JULES DUBOS Pelos cálculos do professor RENÉ DUBOS, da Universidade Rockefeller, a massa
(1901-1982)
totaI dos seres microbianos existente na Terra é, aproximadamente, vinte vezes
Microbiologista,
educador, escritor, maior do que a dos animais. O resultado das atividades microbianas pode ser
filósofo e ambientalista percebido por toda parte: árvores e flores se alimentam dos componentes
francês naturalizado
americano, pioneiro nutritivos liberados pelos micróbios da crosta terrestre; o Mar Vermelho deve
na descoberta dos
antibióticos, foi um o seu nome à cor resultante da alta densidade populacional de micróbios
dos mais influentes
fotossintéticos impregnados de pigmento vermelho que vivem nesse mar.
biólogos do século XX
e um dos responsáveis Também a luminescência das ondas no oceano é devida à abundância dos
pela conscientização da
humanidade sobre as micróbios bioluminescentes.
questões ambientais.
O limite que marca as fronteiras entre o mundo invisível e o visível é a fração do
milímetro que pode ser vista a olho nu. Os seres eucarióticos que se encontram além
desta fronteira podem ser classificados por ordem de grandeza em duas categorias.
A mais numerosa é a dos grandes protistas, que medem 200 µm em média. Estes
são representados pelos protozoários: amebas, ciliados e flagelados.
Na segunda categoria, estão os pequenos protistas que medem, em média,
5 µm. Dentre estes estão incluídos os fungos e as algas unicelulares. Estas
últimas são fotossintéticas em função da clorofila que apresentam. Os fungos
são heterotróficos e se caracterizam por apresentarem células denominadas
hifas, que formam as estruturas filamentosas típicas dos bolores.
Vamos estudar um pouco das características dos micróbios eucarióticos,
classificados no domínio Eukarya. Em face da grande diversidade desses
micróbios, foi feita uma seleção de alguns deles para serem aqui enfocados.
Mas, se ao final desta aula, você sentir curiosidade, poderá pesquisar sobre eles
na internet e encontrará mais detalhes deste fascinante mundo que, agora,
passaremos a apresentar.
22 CEDERJ
MÓDULO 1
12
OS EUCARIONTES
AULA
A principal característica desses seres é que o material
genômico está envolvido por uma membrana denominada carioteca,
cariomembrana ou, simplesmente, membrana nuclear, formando
o núcleo. Além desta estrutura, outras organelas encontradas nos
eucariontes são os cloroplastos e/ou as mitocôndrias, que estão
envolvidas, respectivamente, na fotossíntese e na respiração. Exemplos
desses tipos celulares são as giárdias (veja a Figura 12.1) e as tricomonas
(veja a Figura 12.2).
!
Evidências genéticas e moleculares sugerem
que os cloroplastos e as mitocôndrias foram
originados a partir de relações simbiônticas
envolvendo bactérias. Nos protistas, seres
em que estas duas estruturas estão ausentes,
encontra-se um tipo de organela denominada
hidrogenossomo, que está relacionada à
obtenção de energia em condições anaeróbicas,
a partir do hidrogênio molecular e não do
oxigênio como ocorre nas mitocôndrias.
Flagelos anteriores
Blefaroplasto
Flagelos posteriores
Núcleo
Camada Costa
parabasal
Membrana ondulante
Axóstilo
Figura 12.2: Desenho esquemático
de um tricomonas.
Flagelo posterior livre
CEDERJ 23
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
PROTISTAS
EUKARIA – PROTOZOÁRIOS
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MÓDULO 1
12
por protozoários do gênero Babesia, transmitidas por carrapatos
(Figura 12.4). Plantas, como os tomateiros, podem apresentar lesões
AULA
quando infectadas por protozoários da espécie Phytomonas serpens
(Figura 12.5).
CEDERJ 25
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
26 CEDERJ
MÓDULO 1
12
! INFECÇÕES
Consultando o endereço eletrônico http://www.insp.mx/ OPORTUNISTAS
AULA
cisei/proy_11.html, você encontrará mais detalhes sobre as
amebas, principalmente aquelas de vida livre dos gêneros São aquelas resultantes
Acanthamoeba e Naegleria. Ambos os tipos podem de proliferação de
proliferar no organismo de indivíduos imunodeficientes, seres de vida livre, nos
gerando quadros definidos como INFECÇÕES OPORTUNISTAS. tecidos de animais que
apresentam quadro de
deficiência do
sistema imune.
CEDERJ 27
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
!
Na cadeia alimentar, os foraminíferos são alimento para muitos animais,
principalmente, camarões e alguns tipos de moluscos. A presença de
sedimentos com alto teor de carcaças calcáreas de foraminíferos tem
sido utilizada pela indústria petrolífera como sinalizadora de áreas
onde há grande probabilidade da existência de petróleo. Você pode
encontrar mais detalhes desse fascinante grupo de protozoários se visitar
o endereço eletrônico: http://www.horta.uac.pt/ct/forum/questoes/faq/
invertebrados/foraminiferos.html
ATIVIDADE
28 CEDERJ
MÓDULO 1
12
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Mastigófora
Euglenoides
Protista Protozoa Sarcodina Amebas e Foraminíferos
Eucaria Ciliófora
Apicomplexa
Algas
Fungo
estruturas são extensões dos MICROTÚBULOS e servem tanto para locomoção São estruturas
tubulares, de
quanto para a apreensão de alimentos. Os cílios estão dispostos em natureza protéica,
que constituem o
fileiras pela superfície das células, e executam um movimento ondulatório esqueleto das células.
sincrônico. Uma outra peculiaridade dos ciliados é possuírem duas Os filamentos
do microtúbulo
estruturas nucleares denominadas macronúcleo e micronúcleo. Este têm diâmetro
último é o responsável pelos processos de síntese de DNA (reprodução médio de 24 nm e
comprimento variado.
sexuada). Ao macronúcleo é atribuída a função de síntese de mRNA Estão arranjados
pelo citoplasma,
que, quando traduzida, desencadeará a produção de enzimas e proteínas formando uma
estruturais para atender às necessidades vitais das células. malha denominada
citoesqueleto. Além
Os ciliados são células tão especializadas, que apresentam uma da função esquelética,
reentrância com a função de boca, denominada citóstoma, que tem a os microtúbulos
servem como trilhos
função de iniciar a digestão das células microbianas que são predadas no tráfego intracelular
de vesículas e
por esses protozoários. O alimento é transferido do citóstoma para o na estruturação
vacúolo alimentar, através de uma estrutura denominada citofaringe. dos flagelos nos
eucariontes.
Cílios
Vacúolos digestivos
Citóstoma
Citofaringe
Figura 12.9: À esquerda: microscopia
de contraste de fase mostrando vários
Micronúcleo ciliados. À direita: representação
Macronúcleo esquemática de um Paramecium.
Vacúolo contrátil
CEDERJ 29
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
Pequena estrutura em a razão por que as exigências dos ruminantes em relação ao nitrogênio
forma de bolsa, com são muito mais simples do que nos outros mamíferos. Enquanto os seres
que se inicia o intestino
grosso, e onde se humanos necessitam dos AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS na dieta, os ruminantes se
abrem o íleo, o cólon e
o apêndice vermiforme. satisfazem apenas com amônia ou uréia. Estes compostos nitrogenados
são incorporados pelas populações microbianas procarióticas que são
predadas pelos eucariontes que habitam o rúmen desses animais. Por
MICRÓBIOS
isso, diferente das outras classes de mamíferos, nos ruminantes a maior
CELULOLÍTICOS
Procariontes
parte das vitaminas e dos aminoácidos necessários ao seu metabolismo
anaeróbicos que fazem é oriunda da degradação das células microbianas presentes no rúmen.
a hidrólise da celulose,
liberando glicose.
AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS OU INDISPENSÁVEIS
São aqueles que o organismo de um animal não consegue sintetizar (mas podem
ser sintetizados por outro animal ou por um vegetal). Os aminoácidos essenciais
devem fazer parte da dieta alimentar deste animal, para evitar a desnutrição. Os
principais aminoácidos que o organismo humano não consegue sintetizar são:
treonina, leucina, metionina, valina, fenilalanina, isoleucina, triptofano, e lisina. Um
aminoácido essencial para um animal pode ser dispensável para um outro.
30 CEDERJ
MÓDULO 1
12
Estima-se que existam 50.000 protozoários por cm3 DIGESTÃO BILIAR
do volume do rúmen e que cada 100g da matéria
AULA
É mediada pela bile, que
da pança contém 2,8 g de protozoários, que são tem o efeito detergente,
degradados pelo processo de DIGESTÃO BILIAR dos para dissolver gorduras,
ruminantes. agindo sobre os
lipídios das membranas
plasmáticas dos ciliados.
Os protozoários do grupo Apicomplexa são também chamados Quimicamente a bile é
constituída por sais de
esporozoários. Dentre estes, destacam-se os plasmódios, agentes desoxicolato
(sais biliares).
responsáveis pela malária, doença humana transmitida pela picada de
mosquitos do gênero Anopheles. No corpo dos anofelinos, as células
ESPOROZOÍTO
dos plasmódios sofrem alterações morfológicas até atingirem a forma
Tipo celular resultante
filamentosa denominada ESPOROZOÍTO. É sob esta forma que o protozoário da multiplicação da
pode suportar a mudança do hospedeiro invertebrado PECILOTÉRMICO para célula-ovo (zigoto
formado pela união
vertebrado homotérmico. dos gametócitos) até à
Dentre os esporozoários parasitas dos seres humanos, merecem forma de oocisto, no
corpo dos anofelinos.
destaque, além dos plasmódios, os toxoplasmas (Toxoplasma gondii), Do oocisto maduro
são liberados os
agentes da toxoplasmose, doença infecciosa que assume maior esporozoítos, que
importância quando acomete mulheres grávidas, pois podem se localizar invadem todo o corpo
do mosquito, inclusive
no cérebro do embrião provocando deficiências neuronais, quando não as glândulas salivares.
ocorre aborto espontâneo. Na Figura 12.10, você pode observar um Através da picada,
quando o mosquito
desenho mostrando as estruturas das células dos T. gondii. regurgita a saliva,
que tem ação anti-
coagulante, ocorre a
PECILOTÉRMICO infecção do hospedeiro
vertebrado.
Ser que tem a temperatura de seu corpo regulada pela temperatura ambiente,
enquanto os homotérmicos, também conhecidos como animais de sangue quente,
mantêm o corpo a uma temperatura constante, embora sob condições de doença
possam apresentar-se febris.
Retículo
Apicoplasto
endoplasmático
rugoso
Micronema
Núcleo Conóide
Extremidade
apical
Organela secretora
Mitocôndria (típica dos Apicomplexa)
CEDERJ 31
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
ATIVIDADE
2. Mais uma vez vamos testar a sua sintonia com a nomenclatura utilizada
para identificar as estruturas dos protozoários. Correlacione os termos
listados na coluna da esquerda, com os da direita:
RESPOSTA COMENTADA
EUKARIA – ALGAS
32 CEDERJ
MÓDULO 1
12
No oceano, a população das algas é regulada pela disponibilidade dos íons
inorgânicos, os quais, quando estão presentes em concentrações acima
AULA
dos níveis atróficos, permitem a explosão populacional desses eucariontes,
gerando manchas coloridas em áreas litorâneas ou áreas de ressurgências
oceânicas. A morfologia das células das algas depende da presença de
frústulas ou de tecas (como você verá mais adiante), porém quando estas
estruturas estão ausentes a célula toma um formato amebóide.
!
As algas se caracterizam por executarem o processo de fotossíntese,
pois dispõem de clorofila. Essa é uma molécula que contém em sua
estrutura um núcleo porfirínico. Este núcleo é uma molécula cíclica
que possibilita o livre fluxo de elétrons ao seu redor. Em razão desse
movimento, os elétrons são energizados e, neste estado, são transferidos
para as moléculas que vão formar os carboidratos, em presença de CO2,
água e energia solar.
!
Aqueles seres que parecem algas e têm a tonalidade azul,
tomam essa cor em razão da presença adicional do pigmento
ficocianina que, nessas células, predomina sobre a clorofila. Mas,
preste atenção: são células procarióticas e são denominadas
cianobactérias.
CEDERJ 33
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
β(1 → 3)
CH2OH CH2OH CH2OH CH2OH
CH2OH CH2OH CH2OH O
O O O O O O
O O H2OH OH OH
OH OH OH
HO OH OH O O O O
O
OH OH OH
n OH OH OH OH
n
H OH
OH H O
HO
H OH
H
H
HO O OH H O
H H OH
H
H
HO O OH H O
H H OH
H H
HO O OH H O
H H
H OH
H
O
HO OH H O
H H
H
OH OH OH OH OH HO O OH
H OH H OH H OH H O H H O H H O H O H
H H H H
H H H H
OH H OH H OH H OH H OH H OH H OH H
HO O O O O O O OH
H OH H OH H OH H OH H OH H OH H OH
34 CEDERJ
MÓDULO 1
12
Os dinoflagelados (Figura 12.13) são, na sua maioria, algas
unicelulares diflageladas, classificadas em, pelo menos, 2.100 espécies.
AULA
Muitas destas são extremamente abundantes no fitoplâncton marinho,
garantindo a grande produtividade de biomassa nesse ambiente.
Os flagelos dos dinoflagelados estão localizados no interior de
dois sulcos: um rodeia a célula como um cinto, enquanto o outro é
perpendicular ao primeiro. A movimentação simultânea dos flagelos
faz o dinoflagelado rodopiar como um pião. Estruturalmente, essas
algas apresentam um tipo de elemento rígido, contido em vesículas
situadas abaixo da membrana plasmática, que recebe o nome de teca.
Quimicamente, as tecas são constituídas de celulose. A maneira como
estas estruturas estão distribuídas na célula dão-lhe o aspecto de uma
armadura antiga, como você pode observar na Figura 12.13.
A fotossíntese nos dinoflagelados é mediada pelos cloroplastos
contendo clorofila dos tipos a e c. Entretanto, a presença adicional do
pigmento PERIDININA mascara o verde, dando-lhes a coloração castanha.
PERIDININA
Há autores que acreditam que os cloroplastos dos dinoflagelados Nome do pigmento
são oriundos de algas fotossintéticas, que foram incorporadas como carotenóide dos
dinoflagelados,
simbiontes pelas células de um ser primitivo que se transformou nos semelhante à
fucoxantina.
dinoflagelados, após o estabelecimento de um processo simbiôntico
entre esses dois tipos celulares. Essa hipótese é embasada pelo fato de
o carboidrato de reserva acumulado nos dinoflagelados ser o amido,
próprio dos vegetais.
CEDERJ 35
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
ATIVIDADE
Verdes
Vermelhas
Douradas
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
36 CEDERJ
MÓDULO 1
12
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Característica das algas Pigmentos Carboidrato de reserva
Verdes Clorofila Amido
CEDERJ 37
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
EUKARIA – FUNGOS
38 CEDERJ
MÓDULO 1
12
O conjunto das hifas forma o micélio. Neste, as hifas
Conídio
podem estar separadas por septos ou serem asseptadas. A
AULA
estrutura do micélio pode ser linear ou ramificada. Em relação
à atividade funcional, os micélios podem desempenhar
atividades voltadas para nutrição, sustentação e reprodução, Conidíóforo
tomando a forma de acordo com a função exercida. Na
Figura 12.15, você vê a ampliação de diferentes estruturas
do fungo Penicillium. A reprodução dos fungos pode ser
sexuada ou assexuada. Na sexuada cada esporo recebe um
nome especial dependendo do grupo ao qual o fungo pertence
Figura 12.15: Microscopia de contraste inter-
(veja Tabela 12.1). Nos fungos filamentosos, as hifas com ferencial de um conidióforo de Penicillium.
CEDERJ 39
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
40 CEDERJ
MÓDULO 1
12
Um detalhe interessante dos fungos é que eles são seres que sabem
aproveitar muito bem os diversos ambientes do planeta pois, embora
AULA
sejam heterotróficos, promovem verdadeira obra de arte na sobrevivência
ao se associarem com as algas fotossintéticas. Dessa união profícua têm
origem os liquens, que são os melhores exemplos do modelo de simbiose
que possibilita a sobrevivência dos associados nos mais diferentes
ambientes da biosfera, e que você pode ver na Figura 12.17.
CONCLUSÃO
CEDERJ 41
Microbiologia | Micróbios eucarióticos
ATIVIDADE FINAL
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
RESUMO
42 CEDERJ
MÓDULO 1
12
oceano, onde somente os raios luminosos de comprimento de onda mais curto
AULA
conseguem penetrar. Embora algumas espécies de Protozoa tenham aprisionado
em seus plastos organismos fotossintéticos, os protozoários e os fungos se
caracterizam como seres heterotróficos. Nos protozoários, a heterotrofia envolve
predação de outros organismos ou a ingestão de resíduos de carcaças de seres
mortos. Nos fungos, a heterotrofia se faz pela digestão extracelular de material
orgânico inanimado.
Algumas espécies de protozoários e fungos estão associadas com infecções em
animais ou plantas e, nessa condição, são consideradas parasitas. Entretanto, é
notória a participação dos fungos e protozoários na cadeia alimentar na biosfera,
ao promoverem a degradação da matéria morta, transformando-a em biomassa
para organismos de tamanho maior, funcionando como elo da cadeia alimentar
dos demais seres vivos.
Dentre os fenômenos biológicos que envolvem a participação de elementos
do reino Eukaria, no ambiente marinho, vale ressaltar a participação de alguns
dinoflagelados responsáveis pelo atrativo brilho na água do mar, quando esta é
agitada durante a noite e as marés, vermelhas ou verdes.
Em matéria de sobrevivência, deve-se destacar a profícua associação existente
entre fungos e algas, sob a forma de liquens, que lhes confere versatilidade para
suportar as adversidades de diferentes condições ambientais.
Na próxima aula, você vai estudar várias aplicações práticas dos micróbios em
nossas atividades humanas, que vão desde as mais antigas, como a fabricação de
vinhos, até aplicações microbiológicas modernas. Temos certeza de que você vai
gostar muito do que está por vir.
Sugestão de leitura
http://www.phoenix.org.br/fosseis_sergipe.htm
CEDERJ 43
13
AULA
Microbiologia industrial
Meta da aula
Mostrar que os micróbios podem ser domados e, sob
esta condição, produzem substâncias que beneficiam a
humanidade e garantem a sustentação econômica de
empresas e indústrias.
objetivos
Pré-requisitos
Para o entendimento desta aula, é necessário que você tenha noções de Química
(Orgânica e Inorgânica) do Ensino Médio. Além disso, você vai precisar rever
conceitos apresentados na Aula 4 (produtos microbianos), na Aula 5 (composição
da parede microbiana) e na Aula 6 (exigências nutricionais para o crescimento
populacional microbiano) da nossa disciplina. Também será importante você rever
o ciclo de Krebs, apresentado na Aula 14 do Volume II de Bioquímica II.
Microbiologia | Microbiologia industrial
BIOFÁRMACOS Você já estudou nas outras aulas os princípios que regem as metodologias para
Moléculas cultivo de micróbios, assim como muitos dos produtos metabólicos sintetizados
com atividade
farmacológica, tais
por eles. Alguns desses compostos são de grande utilidade e valor comercial, tais
como insulina e como alguns tipos de enzimas, ou substâncias como etanol, ácidos orgânicos,
interferon, produzidas
por micróbios ou antibióticos e BIOFÁRMACOS. Nesta aula, você vai aprender como os micróbios e
células animais
geneticamente os produtos oriundos de seu metabolismo podem ser utilizados industrialmente.
modificados. Por meio dela, você vai saber como é feita a escolha do micróbio e do meio
de cultura, o tipo de BIORREATOR a ser utilizado e o processo de recuperação do
BIORREATOR OU
FERMENTADOR produto que se deseja obter. Em contrapartida, sabe-se que os micróbios, além
46 CEDERJ
MÓDULO 1
13
Agente da fermentação
AULA
Os micróbios mais utilizados industrialmente são as bactérias, as
PROTEOMA
leveduras e os fungos filamentosos. Totalidade das
A primeira etapa de um processo industrial consiste em selecionar proteínas sintetizadas
por uma célula
o tipo de micróbio que possui a informação genética e o PROTEOMA ou organismo
em determinado
necessários à síntese do produto desejado. tempo e sob
Após a etapa de seleção do tipo microbiano a ser usado na condições ambientes
determinadas.
FERMENTAÇÃO, deve-se considerar, ainda, alguns aspectos, tais como: (a)
o tempo de geração dos micróbios; (b) as exigências nutricionais, ou FERMENTAÇÃO
seja, que tipos de nutrientes devem ser adicionados ao meio de cultura Termo usado em
Biotecnologia para
para permitir a expansão populacional do micróbio “escravizado”; (c) a qualquer processo
manutenção do estado fisiológico dos micróbios durante a fermentação; onde ocorra
transformação de
(d) a utilização de micróbios inócuos para os seres humanos; (e) a compostos orgânicos
em produto de
facilidade de cultivo dos micróbios em larga escala; e (f) a viabilidade interesse econômico,
por meio de agentes
econômica do processo.
microbianos.
Logo após a escolha do agente da fermentação, uma etapa
importante é a conservação dos micróbios. Com este propósito, a
amostra microbiana deve ser mantida congelada. Para manter as células
íntegras durante o congelamento, elas devem ser adicionadas de GLICEROL.
Esse tipo de conservação faz-se necessário pois, ao longo de inúmeras
fermentações, podem acontecer mutações espontâneas, que alteram as
características da variante genética selecionada.
GLICEROL OU GLICERINA
Poliálcool com três átomos de carbono, utilizado comumente como crioprotetor em
técnicas de congelamento de células vivas. Só é possível manter a viabilidade das
células congeladas quando se adiciona um agente crioprotetor à suspensão celular.
A suspensão de glicerol a 25%, em pH alcalino, absorve moléculas de água do interior
das células, e com isto a célula passa a ter o seu conteúdo hídrico reduzido. A água,
expandida pelo processo de congelamento, é a responsável pela morte das células.
CEDERJ 47
Microbiologia | Microbiologia industrial
Inóculo
Etapa industrial
Ar Inóculo
Mosto
500 Refrigeração
a Amostragem
1.000L Vapor
5.000 Vapor Ar
a
Ar 50 a 100L
15.000L
Pré-fermentador
Meio de cultivo
48 CEDERJ
MÓDULO 1
13
Estas matérias-primas podem ser do tipo sacaríneas (caldo de cana ou
melaço, sucos de frutas), amiláceas (milho, arroz, cevada, mandioca),
AULA
ligno-celulósicas (resíduos agroindustriais como bagaço de cana, palha de
arroz, sabugo de milho) e protéicas (fubá, farinha de soja). Estes materiais
podem ser compostos de carboidratos complexos. Neste caso, necessitam
de um pré-tratamento para converter estas substâncias complexas em
açúcares simples de fácil utilização pelos micróbios, como, por exemplo,
materiais ricos em amido e ligno-celulósicos. Os materiais de origem
vegetal possuem a maioria dos nutrientes necessários ao desenvolvimento
dos micróbios em quantidades adequadas. Em alguns casos, pode ser
necessário a adição de alguns sais inorgânicos, assim como de elementos-
traços (Zn e Co, dentre outros), fatores de crescimento (aminoácidos),
vitaminas e indutores (adição de colágeno para produção de colagenase) em
concentrações específicas. Neste último caso, procura-se obter enzimas que
os micróbios só sintetizam quando induzidos, ou seja, quando o substrato
está no meio de cultura.
Esterilização e descontaminação
CEDERJ 49
Microbiologia | Microbiologia industrial
Tipos de biorreatores
50 CEDERJ
MÓDULO 1
13
crescimento mais lenta, prejudicando a produção. Da mesma forma,
quando a temperatura de cultivo está acima da ideal, além do retardo
AULA
do crescimento, pode ocorrer inativação das enzimas que executam as
transformações bioquímicas desejadas, importantes para o metabolismo.
Durante a fermentação, o crescimento microbiano promove a formação
de calor, sendo necessário o controle. Por isso, todos os biorreatores
devem estar acoplados a um sistema que assegure a manutenção da
temperatura.
Há uma enorme variedade de tipos de biorreatores industriais.
O tipo mais comum é o biorreator de tanque agitado, onde o meio é
homogeneizado pelo uso de um sistema interno de pás com agitação
mecânica. O biorreator de coluna de bolhas caracteriza-se pela injeção
de ar pelo fundo do reator com força para criar uma agitação do meio,
suficiente para aerar o sistema. Outro biorreator bastante utilizado é
o airlift, onde o ar é injetado por uma coluna central, proporcionando
uma agitação circular do meio de cultura. Os biorreatores de leito fixo
são preenchidos com uma matriz sólida que segura os micróbios sem
agitação. Na Figura 13.2 estão representados os esquemas dos principais
tipos de biorreatores:
Saída de ar
Agitador Saída de ar
Saída
Sistema de
de água
refrigeração
a b
Entrada de ar
Entrada Dispersor Entrada de ar
de água Dispersor
Saída de ar
Coluna
c d
Figura 13.2: Esquema de biorreatores:
(a) tanque agitado; (b) coluna de
bolhas; (c) airlift; (d) fotografia de
Dispersor um biorreator de bancada do tipo
tanque agitado.
Entrada de ar
CEDERJ 51
Microbiologia | Microbiologia industrial
Sistema de fermentação
Recuperação do produto
52 CEDERJ
MÓDULO 1
13
alimentos ou farmacêutica deverão ter um grau de pureza bastante
superior ao, por exemplo, de enzimas produzidas para tratamento de
AULA
efluentes industriais.
ATIVIDADE
A
RESPOSTA COMENTADA
Separação das
células
Concentração
Purificação
CEDERJ 53
Microbiologia | Microbiologia industrial
PRINCIPAIS PRODUTOS
Alimentos, detergentes,
Enzimas Vários
Biologia Molecular
Micróbios e principalmente
Biofármacos Indústria farmacêutica
células animais
Produção de etanol
54 CEDERJ
MÓDULO 1
13
A síntese de etanol se dá a partir de hidrocarbonetos não-
saturados (como eteno e etino), e de gases de petróleo.
AULA
O etanol sintético é utilizado na produção de bebidas em países
nos quais a legislação permite.
CEDERJ 55
Microbiologia | Microbiologia industrial
56 CEDERJ
MÓDULO 1
13
Para a extração do ácido cítrico, a massa liquefeita é filtrada
para a separação dos micélios. Posteriormente, é feita a neutralização
AULA
do citrato presente no filtrado por meio da adição de hidróxido de
cálcio. Em seguida, o citrato de cálcio formado é filtrado e transferido
para um tanque onde é adicionado ácido sulfúrico (H2SO4). Nesta
etapa são gerados o ácido cítrico e o precipitado de sulfato de cálcio.
O sobrenadante é removido e misturado com carvão ativado, que absorve
o excedente de H2SO4. A seguir, a solução final de ácido cítrico é tratada
para a remoção dos elementos minerais oriundos do carvão e, finalmente,
concentrada por evaporação. Quando seco, o ácido cítrico se apresenta
sob a forma de cristais.
Fermentação em superfície
A fermentação em superfície é um processo em que o material
amiláceo é encharcado até ficar submerso por uma fina camada de água.
O meio de cultura a ser inoculado é distribuído em bandejas rasas,
sendo então adicionados os fungos. Durante a fermentação as bandejas
recebem ar em sua superfície. Após o término da fermentação o líquido
é recolhido, e dele é recuperado o ácido cítrico para ser concentrado e
purificado, como descrito no processo koji.
Fermentação submersa
A fermentação submersa possui algumas vantagens sobre a
fermentação em superfície, em termos de custo de investimento e
operação para produção de ácido cítrico. Neste processo são utilizados
fermentadores onde é feita a aeração de forma permanente, sem
necessidade de agitação.
CEDERJ 57
Microbiologia | Microbiologia industrial
A
ATIVIDADE
2. Você viu que o ácido cítrico pode ser extraído de culturas microbianas.
O processo de extração envolve princípios de Química Orgânica e
Inorgânica. Pergunta-se:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
58 CEDERJ
MÓDULO 1
13
Produção de acetona e butanol
AULA
Tanto a acetona quanto o butanol são produtos usualmente empre-
gados como solventes. Você pode observar tal utilização tanto na indústria
de tintas como no cotidiano (para remoção do esmalte de unhas).
Muitas espécies de bactérias apresentam metabolismo capaz
de produzir acetona ou butanol, porém, nos processos industriais, a
espécie microbiana utilizada é o Clostridium acetobutylicum, cujo nome
é bem representativo do potencial dessas bactérias, pois fermentando a
glicose são capazes de produzir butanol e ainda, em menor proporção,
outros compostos, tais como etanol, ácido acético, dióxido de carbono
e hidrogênio.
Este processo fermentativo é efetuado em duas etapas. Na
primeira, que tem como finalidade promover a expansão populacional
do C. acetobutylicum, utiliza-se como fonte de glicose no meio de cultura
produtos amiláceos ou celulosídicos, ou aqueles ricos em sacarose (melaço
e caldo de cana). Esse cultivo é executado em condições anaeróbicas,
pois o oxigênio molecular é letal para as bactérias do gênero Clostridium
(catalase negativos). Na segunda etapa do processo, a massa celular
obtida depois de centrifugada é transferida para outro biorreator, onde
os nutrientes disponíveis estão em concentração reduzida, o que favorece
a ocorrência do desvio metabólico bacteriano e dá início à síntese do
butanol sem haver multiplicação celular.
A recuperação dos produtos dessa fermentação é realizada por
meio de processos de destilação fracionada, para separação de cada um
dos produtos desejados (acetona → ponto de ebulição 56,5°C; etanol →
78,5°C; butanol → 92°C).
Produção de antibióticos
CEDERJ 59
Microbiologia | Microbiologia industrial
60 CEDERJ
MÓDULO 1
13
mesmo mantidos em geladeira), sobre o crescimento de bactérias do gênero
Staphylococcus, numa clássica demonstração de que, em ciência, descobrir
AULA
significa ver o que todos viram e pensar no que ninguém pensou.
A produção industrial de penicilina constituiu uma nova fase na
qualidade de vida da humanidade e uma das circunstâncias que elevaram
o prestígio do saber microbiano, tanto na comunidade científica quanto
na população leiga.
O processo de produção e a análise química do produto mostram
que a penicilina é uma molécula que estruturalmente se caracteriza
pelo anel β-lactâmico, como você pode ver na Figura 13.3, que parece
a armação do desenho de uma casa. Esta estrutura é análoga aos
componentes da mureína, constituintes da parede celular bacteriana,
que você viu na nossa Aula 5. Por serem análogas, as enzimas bacterianas
envolvidas na construção da parede celular confundem uma molécula
com a outra, porém a incorporação da molécula de penicilina na parede
celular provoca o bloqueio da síntese da parede, com conseqüente parada
do crescimento celular e posterior morte em razão do enfraquecimento
da rigidez da estrutura da parede, levando a célula a explodir, da mesma
forma que uma câmara de ar explode quando o pneu é rasgado.
CH3
CH3 COOH
S
Figura 13.3: Representação da molécula da penicilina.
Note a estrutura cíclica do anel β-lactâmico, que parece O N
o desenho de uma casa.
R C NH CH C O
Emericellopsis e Paecilomyces.
CEDERJ 61
Microbiologia | Microbiologia industrial
62 CEDERJ
MÓDULO 1
13
Durante a fermentação, quando a concentração de penicilina
atinge índices satisfatórios, a suspensão de fungos é recolhida. As células,
AULA
então, são separadas para nova batelada, e o líquido que contém a
penicilina, secretada pelos fungos, é tratado com solventes orgânicos para
extrair o antibiótico, baseado no coeficiente de partição das moléculas de
penicilina. Os solventes orgânicos empregados, geralmente, são acetato
de etila ou acetato de butila.
Depois de extraída e purificada, a penicilina obtida, cuja fórmula
estrutural você viu na Figura 13.3, pode servir como medicamento, porém
de uso parenteral (sob a forma de injeção). As moléculas de penicilina
natural podem ser alteradas quimicamente, com o intuito de torná-las
PENICILINASES
resistentes à acidez estomacal e à ação das PENICILINASES. Dessa forma, a
Enzimas secretadas
penicilina pode ser prescrita como medicamento de posologia oral, capaz pelas células
microbianas
de atuar em bactérias produtoras de penicilinase. naturalmente
resistentes à penicilina.
Esse tipo de enzima
Produção de enzimas
degrada o anel
β-lactâmico do
A produção de enzimas é um processo inerente a todos os seres vivos. antibiótico e, por
isso, também recebe a
A atividade catalítica dessas proteínas, muitas vezes, depende da presença
denominação de
de certos elementos químicos, que recebem a denominação de co-fatores, beta-lactamase.
CEDERJ 63
Microbiologia | Microbiologia industrial
CONCLUSÃO
64 CEDERJ
MÓDULO 1
13
outras. Nas refeições fazemos uso de pão e queijo. Nas doenças contamos
com o auxílio dos antibióticos ou de produtos hormonais elaborados
AULA
por micróbios geneticamente modificados.
O conhecimento da diversidade de processos metabólicos exercidos
pelos micróbios tem sido alvo do interesse da humanidade como base
para a sustentação da qualidade de vida, principalmente nas comunidades
urbanas. Dentre os compostos produzidos pelos micróbios, vários têm
aplicações industriais, como, por exemplo, álcoois ou ácidos orgânicos,
enzimas e antibióticos. Nas indústrias, a produção desses compostos
requer a definição de alguns parâmetros, como a escolha apropriada do
tipo microbiano; do meio de cultura a ser disponibilizado; de condições
que evitem a contaminação do processo; do tipo de biorreator e do tipo
de metodologia a ser usada na recuperação da substância produzida.
A produção industrial envolvendo a participação dos micróbios tem
disponibilizado muitas substâncias essenciais às comunidades humanas.
As metodologias que asseguram a disponibilidade de tais produtos pode
ser considerada como um patrimônio científico-cultural da humanidade.
ATIVIDADE FINAL
Esta atividade teórica vai exigir que você estabeleça uma interdisciplinaridade de
conhecimentos para verificar se você tem dotes de microbiologista industrial. Como
você interpretaria os resultados da experiência, cujos procedimentos obedeceram
à seguinte metodologia:
1. Preparar uma solução de açúcar e nela dissolver uma certa quantidade de massa
(seca ou molhada) de leveduras, que podem ser encontradas em supermercados
ou padarias.
3. Encher um tubo de ensaio fino com a suspensão, cobri-lo com um tubo mais largo
de maneira que um fique dentro do outro e, de forma rápida, posicioná-lo de boca
para baixo. O líquido contido não vai derramar ou derramará muito pouco, como
está apresentado na Figura 13.4.
CEDERJ 65
Microbiologia | Microbiologia industrial
4. Marcar a altura em que estão posicionadas a parte mais alta e a mais baixa da
coluna do líquido, que estão, respectivamente, no tubo fino e no tubo grosso e
incubar esse primeiro tubo na geladeira, durante 15 minutos (tendo o cuidado
de anotar o início da incubação).
7. Com o auxílio de uma régua, medir o espaço que a coluna de líquido deslocou
de cima para baixo, em cada um dos tubos.
a b
a b
Figura 13.4: Imagens e esquema do processo com o aspecto dos tubos antes e depois da
incubação. Note a aparência do conteúdo do tubo que está de cabeça para baixo (a = antes;
b = depois).
66 CEDERJ
MÓDULO 1
13
37°, 2cm (igual a 2mL). Com estes resultados, calcule quantos gramas de CO2 foram
produzidos, quantos gramas de glicose foram consumidos e quantas moléculas
AULA
de glicose participaram nessa fermentação que você acabou de elaborar. Agora,
veja se você é capaz de representar sob a forma de gráfico o processo enzimático,
levando em consideração a quantidade de gás carbônico produzido em função
do tempo e da temperatura de incubação.
oxigênio = 16;
hidrogênio = 1.
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 67
Microbiologia | Microbiologia industrial
Ou seja:
Para cada 180g de glicose, são gerados 92g de álcool e 88g de gás
carbônico.
68 CEDERJ
MÓDULO 1
13
Sem dúvida, você não teve problemas em fazer a representação
gráfica dos eventos que consideramos nesta atividade, e seu gráfico
AULA
ficou parecido com este:
370C
CO2 mol
220C
40C
Tempo (min)
RESUMO
A utilização dos micróbios pelo homem tem permitido que esses minúsculos seres
sejam utilizados em processos industriais. Vários são os produtos comercializados
que têm origem nos processos metabólicos dos micróbios. Destaca-se o álcool
etílico, utilizado tanto em encontros sociais quanto como combustível. A matéria-
prima usada neste caso é representada por carboidratos fermentáveis. Além do
etanol, tem sido alvo de grande interesse econômico a produção de ácido cítrico,
pois este se presta tanto como conservante de alimentos como tem aplicações
na indústria farmacêutica de medicamentos e cosméticos. O rendimento dos
processos de obtenção de ácido cítrico ganha destaque quando se leva em conta o
preço de insumos, a tecnologia adotada e o rendimento alcançado. O uso racional
de antibióticos para fins terapêuticos é outro grande exemplo do domínio da
humanidade sobre os micróbios, haja vista que neste caso emprega-se produtos
de micróbios para combater micróbios. Os micróbios também têm fornecido à
humanidade substâncias usadas como solventes orgânicos, tais como acetona,
propanol e butanol. Mais recentemente, o domínio dos processos de recombinação
genética tem possibilitado “construir” novos micróbios geneticamente modificados
CEDERJ 69
Microbiologia | Microbiologia industrial
para atender à demanda de produtos que vão desde enzimas e hormônios até
componentes protéicos para uso diagnóstico. E assim uma nova era de “escravatura”
tem início, e poderíamos defini-la não como Idade da Pedra, Idade do Bronze ou
Revolução Industrial, mas sim como a era dos micróbios adestrados.
A próxima aula será prática, e você vai ter contato com micróbios hiper-salínicos
ou halofílicos. Esses micróbios, seres terrestres dos mais primitivos, como o
próprio nome sugere, são habitantes naturais de ambientes bem salgados. Eles
são encontrados nas salinas e nas carnes conservadas em sal, como aquelas que
você usa na feijoada. Aquele sabor peculiar da costela ou do pé de porco salgado
é fruto da ação enzimática desses micróbios, em ambiente tão inóspito, onde
conseguem sobreviver.
70 CEDERJ
Micróbios primitivos de
14
AULA
ambientes hipersalínico
– Aula prática
Meta da aula
Mostrar a existência de micróbios do
filo das arqueas na biosfera, em especial, aquelas
do grupo das halofílicas.
capaz de:
• demonstrar o efeito do calor sobre os micróbios halofílicos;
• mostrar que agentes químicos (desinfetantes ou anti-sépticos)
também têm ação sobre os micróbios halofílicos;
• reconhecer os ecossistemas ocupados pelos micróbios do grupo
das arqueas.
Pré-requisitos
Para a compreensão desta aula, é necessário que você reveja alguns
conceitos apresentados na Aulas 1 (micróbios como digestores de matéria
orgânica), na Aula 3 (formas vegetativas das células), na Aula 6 (necessidades
nutricionais microbianas), na Aula 8 (semeadura de micróbios por esgotamento
– ziguezague), na Aula 9 (filogenia microbiana), na Aula 10 (produção de
metano pelas arqueas metanogênicas) e na Aula 11 (ação de anti-sépticos e
desinfetantes sobre micróbios do solo).
Microbiologia | Micróbios primitivos de ambiente hipersalínico – Aula prática
INTRODUÇÃO Nesta aula você vai conhecer um pouco mais sobre um grupo bastante
heterogêneo, de organismos procarióticos, eles são filogeneticamente
distantes das eubactérias, classificados no filo Archaea. Ele inclui seres
anaeróbicos, aeróbicos, autotróficos fotossintetizantes, heterotróficos,
termofílicos, acidofílicos e halofílicos. Os membros desse filo são encontrados
em ambientes hostis à sobrevivência dos outros seres vivos. São ambientes
que, acredita-se, guardem semelhanças com aqueles existentes na superfície de
nosso planeta, em épocas muito primitivas (muito quentes, muito frios, muito
ácidos, muito alcalinos, hipersalínicos, sob alta pressão), ou seja, ambientes de
condições extremas. Por isso, as arqueas também são conhecidas como seres
extremófilos. Uma característica exclusiva de algumas arqueas é o metabolismo
PICOPLÂNCTON
metanogênico: não se conhecem eubactérias nem eucariontes capazes de
Zonas oligotróficas
marinhas dominadas produzir metano como subproduto do metabolismo fermentativo.
por células com
dimensões lineares Cerca de 20% da biomassa do PICOPLÂNCTON marinho se compõem por
menores que 2μm.
arqueobactérias.
Termo que significa aos demais seres vivos, você verá nesta aula que as arqueas de ambiente
“os antigos”. Refere-se hipersalínico também são sensíveis à ação de produtos desinfetantes que fazem
ao heterogêneo filo de
micróbios encontráveis parte do nosso cotidiano.
em ambientes
extremos, daí serem
conhecidos, também,
como extremófilos. CONVERSANDO SOBRE AS ARQUEAS
72 CEDERJ
MÓDULO 1
Eucariontes
Animais Fungos
Plantas
14
AULA
Bactérias
Arqueas
Outras bactérias
Cianobactérias Crenarqueotas Euriarqueotas
Proteobactérias Algas
Ciliados
ue originaram os cloroplastos
ias q
a ctér Outros Eucariontes
B
unicelulares
(outros protistas)
as qu e originaram as mitocôndrias
téri
B ac
Korarqueotas
Bactérias
hipertermofílicas
Figura 14.1: Posição filogenética das arqueas em relação aos outros seres vivos (Modif. Doolittle, 2000).
!
O meio de cultura para as arqueas termo-acidófilas deve ter o pH ácido,
ser adicionado de enxofre inorgânico e os tubos têm de ser mantidos
hermeticamente fechados por dois motivos:
a. a água não pode evaporar;
b. esses micróbios são anaeróbios, ou seja, o O2 lhes é tóxico.
CEDERJ 73
Microbiologia | Micróbios primitivos de ambiente hipersalínico – Aula prática
Figura 14.2: Extração de sal no litoral brasileiro, onde a água do mar é contida
em reservatórios para evaporar.
http://200.156.34.70/IQM/verdeII/cap2_files/fotos/salina.jpg
74 CEDERJ
MÓDULO 1
14
AULA
O prefixo hal significa sal, o que justifica os termos halofílicos para os micróbios e
o termo halogênicos para os elementos químicos. O sufixo ita refere-se a pedra ou
cristal. Então halita quer dizer sal cristalizado, como você pode ver um fragmento
de rocha de sal nesta figura obtida no site http://zdna2.umbi.umd.edu/~haloed/
CEDERJ 75
Microbiologia | Micróbios primitivos de ambiente hipersalínico – Aula prática
76 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADES PRÁTICAS
14
a. Reconhecimento das características fisiológicas dos micróbios
AULA
halofílicos.
Esta questão será respondida de maneira prática e, para isso, você vai
AGAR-HIPERSALÍNICO
testar o efeito do calor sobre as populações microbianas halofílicas.
O meio de cultura definido
como hipersalínico
utilizado nesta prática tem
a seguinte formulação e b. Reconhecimento do impacto dos agentes antimicrobianos, de uso
modo de preparo: corrente pela população humana, sobre os micróbios habitantes de
ambientes hipersalínicos.
Formulação
H2 O 250mL
Nesta etapa do trabalho, você deve ter em mente a seguinte questão:
NaCl 24g
os produtos anti-sépticos e desinfetantes lançados na água, após o
KCl 1g uso, são prejudiciais aos micróbios de ambientes inóspitos? Se forem,
o uso desses produtos pode ser considerado um crime, de efeito
Caldo nutritivo
em pó 10g retardado, contra a Natureza?
Extrato de
levedura 1g
Para execução destas práticas, você utilizará os seguintes materiais:
Agar agar puro 4g
– tubo com amostra de micróbios halofílicos, previamente cultivados
Azul de a partir de carne salgada (pé de porco) e clonados em meio de cultura
bromotimol a 1% 1mL
hipersalínico;
Preparo – tubo de ensaio vazio, com tampa;
Pesar os componentes do – alça metálica;
meio (cada componente
deverá ser pesado – bico de Bunsen ou lamparina;
individualmente sobre um
pedaço de papel alumínio, – fósforos;
portanto, a balança deverá
ser calibrada antes de cada – 1 bulbo de plástico;
pesagem). Juntar todos
os componentes secos no
–2 placas de Petri com meio de AGAR-HIPERSALÍNICO para cultivo dos
Erlemeyer e em seguida micróbios halofílicos;
adicionar a água. Ferver
a mistura até dissolver o – estufa calibrada para 37ºC;
agar-agar e, em seguida,
verter 20mL em cada
– panela para ferver água;
placa de Petri. Deixar à
– fogão ou tripé para colocar a panela na chama do bico de
temperatura ambiente e
aguardar até que o meio Bunsen;
gelifique. Tampar as placas
e identificá-las. Embrulhá- – suporte para tubo (lata estreita);
las com filme plástico, de
– 5 a 7 disquinhos de papel filtro;
forma hermética, para
poder estocá-las, sob – desinfetantes e anti-sépticos;
refrigeração (2-8°C), por
até seis meses.
CEDERJ 77
Microbiologia | Micróbios primitivos de ambiente hipersalínico – Aula prática
– pinça;
– swab;
– régua;
Execução
78 CEDERJ
MÓDULO 1
14
Função dos ingredientes usados na confecção do meio de cultura:
AULA
– caldo nutritivo – o pó para preparo de caldo nutritivo tem em sua
composição 37,5% de extrato de carne e 62,5% de peptona. Entra
na composição do meio como suprimento de fonte de nitrogênio
e carbono.
– extrato de levedura – fonte de vitaminas, principalmente, aquelas
do complexo B.
azul de bromotimol – substância indicadora de pH. Quando o meio
está verde seu pH é neutro, quando amarelo o pH é ácido e quando
alcalino aparece como azul.
Breves comentários
CEDERJ 79
Microbiologia | Micróbios primitivos de ambiente hipersalínico – Aula prática
80 CEDERJ
MÓDULO 1
14
que, se à primeira vista apresentam-se como benéficos, a longo prazo
AULA
prejudicarão o meio ambiente das futuras gerações ou, em particular,
dos nossos descendentes (filhos, netos, bisnetos, tataranetos...). Em qual
cultura humana se pensa em preservar as condições ambientais para os
descendentes que nascerão 400 ou 500 anos à frente?
8. caso sua programação de aulas não coincida com o tempo da leitura dos
resultados, após o tempo de incubação, a borda da placa deve ser vedada
com fita crepe e a mesma colocada na geladeira, para posteriormente
ser analisada com o seu tutor, de acordo com o diâmetro dos halos de
inibição formados.
CEDERJ 81
Microbiologia | Micróbios primitivos de ambiente hipersalínico – Aula prática
Breves comentários
CONCLUSÃO
Você viu nesta aula que as arqueas são células microbianas que
sobrevivem em condições extremas de ambiente físico ou químico.
As arqueas, de acordo com os seus hábitats, podem ser classificadas
como termofílicas, metanogênicas e halofílicas. As primeiras são seres
anaeróbicos que se desenvolvem em ambiente de temperatura variando
entre 65°C a 95°C. As metanogênicas também são anaeróbicas, e são
responsáveis pela produção de gás metano a partir da matéria orgânica.
As halofílicas são aeróbicas, mas têm o metabolismo dependente de íons
sódio para estabelecer o equilíbrio sódio-potássio e para a estruturação
da parede celular, que é protéica. As halofílicas se apresentam como
uma excelente ferramenta para os ensaios microbianos, pois podem ser
82 CEDERJ
MÓDULO 1
14
manipuladas sem necessidade da obediência às manobras assépticas,
embora, para não perder o costume, seja conveniente, quando possível,
AULA
adotar essas manobras. Como representantes dos seres que sobrevivem
em ambientes exóticos, os micróbios halofílicos se prestam como
informantes sobre o efeito de produtos que, se acumulados no ambiente,
podem provocar crimes contra a Natureza.
RESUMO
Na próxima aula, você vai compreender por que os vírus atravessam as membranas
esterilizantes que retêm os micróbios, e também como os fatores fisiológicos,
que garantem as condições vitais dos animais, contribuem para a instalação das
suas viroses.
CEDERJ 83
15
AULA
A descoberta dos vírus
e as viroses em animais
Meta da aula
Descrever vírus como produto celular sob a forma de
arranjos moleculares, que se prestam, também, como
ferramentas para compreensão da fisiologia das células.
objetivos
Pré-requisitos
Para que você possa ter um bom desempenho no entendimento desta
aula é necessário rever os conceitos de Química Orgânica e Bioquímica da síntese
de proteínas e de ácidos nucléicos. Também será muito proveitoso você rever os
produtos das células na nossa Aula 3, bem como fração cristalizável de anticorpos
da Aula 6 de Imunologia. Para desenvolver a Atividade 2, você precisará de
canudinhos de plástico, fita-crepe e papel crepom.
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
86 CEDERJ
MÓDULO 1
15
Até 2005, a Virologia como disciplina era oferecida em apenas 20% das
escolas de Medicina do nosso país, e em percentual muito menor nas outras
AULA
escolas da área biomédica; portanto, orgulhe-se deste privilégio que você
está tendo agora.
MOSAICO DO TABACO
Doença que acomete
BREVE HISTÓRIA DA DESCOBERTA DOS VÍRUS E DAS as plantas da espécie
VIROSES Nicotiana tabacum,
deixando-as com folhas
salpicadas de regiões
Examinando uma doença que ocorria nas plantações de fumo descoradas, o que levou
os antigos a denominar
utilizado na fabricação de cigarros, os fitopatologistas Dmitri Ivanowski mosaico esse aspecto.
(1864-1920), na Rússia, em 1892, e o holandês Martinus W. Beijerinck
TOXINA
(1851-1931), em 1898, mostraram que a doença chamada MOSAICO DO
Veneno de natureza
TABACO estava associada a agentes infecciosos de tamanho tão diminuto protéica, produzido
por bactérias, parasitos
que podiam passar pelos poros dos filtros que retinham os micróbios. e alguns fungos.
Isto porque, quando o sumo extraído de folhas de plantas infectadas
era filtrado, o líquido obtido continuava infeccioso. Este fato levou-os FEBRE AFTOSA
a pensar que se tratava de possíveis TOXINAS produzidas pelos micróbios Doença que acomete
animais domésticos
que haviam sido retidos na filtração. Por isso foi dado a esse produto ou selvagens com
patas biunguladas,
infeccioso o nome de virus, que em latim significa toxina ou veneno.
ou seja, aqueles que
Entretanto, foi na busca para a caracterização do agente etiológico têm duas unhas em
cada pata (bovinos,
de uma doença infecciosa do gado bovino, a FEBRE AFTOSA, que Friedrich ovinos, caprinos,
suínos e outros). Os
Loeffler (1852-1915) e Paul Frosch (1860-1928), em 1898, na Alemanha, sintomas incluem
demonstraram não só que o agente era filtrável, como também que a aftas generalizadas
por todo o epitélio
quantidade desse agente era amplificada no corpo dos novos animais bucal, que resultam
em descolamento da
inoculados. Isso foi notado porque, mesmo se uma ínfima quantidade da camada de mucosa,
baba filtrada de um animal com febre aftosa fosse inoculada num bovino deixando o tecido em
carne viva. Ocorrem
sadio, quando este adoecia era possível recolher dele uma quantidade do também lesões
pustulares nas patas,
agente infeccioso suficiente para inocular em milhões de outros animais. no espaço entre as duas
unhas. Nos países de
Essa situação diferenciava nitidamente o agente causal da febre aftosa das
língua inglesa, essa
toxinas secretadas por micróbios. O mesmo tipo de fenômeno também virose tem o nome de
foot and mouth disease
foi observado por Martinus Beijerinck (1851-1931) com o mosaico do (doença de pé e boca).
Essas lesões fazem com
tabaco. Diante desses novos conceitos, foram caracterizados os vírus, que o animal pare
como nós os concebemos hoje. de comer, beber e se
deslocar, resultando
na sua morte por
inanição. Uma EPIZOOTIA
EPIZOOTIA de febre aftosa provoca
Epi = sobre; zoo = animais (equivalente às epidemias entre os graves prejuízos para o
seres humanos). pecuarista e, por tabela,
para a economia do
país onde surtos dessa
virose ocorram.
CEDERJ 87
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
88 CEDERJ
MÓDULO 1
15
Trabalhos desenvolvidos com os vírus do mosaico do tabaco,
cujo ácido nucléico genômico é do tipo RNA, demonstraram que cada
AULA
molécula de RNA estava coberta por unidades de um mesmo tipo
de proteína, formando um arranjo molecular. H. Fraenkel-Conrat
(1910-1999) e F. Sanger (1918 - ), utilizaram preparações purificadas
de dois tipos de vírus do mosaico do tabaco (TMV) e, a partir destas,
conseguiram construir um novo tipo de partícula viral híbrida, formada
por ácido nucléico de um dos tipos, e proteína do outro.
RNA e proteínas
Figura 15.2: Representação esquemática ilustrando o desmonte dos componentes de uma partícula viral e a
evidência da montagem espontânea, dando origem a uma partícula viral híbrida que se presta para demonstrar
que as moléculas de RNA carreiam informações genéticas. Na micrografia eletrônica, podem ser observadas
partículas de TMV.
CEDERJ 89
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Vírus e viroses
Competência Celular para Produzir Vírus – Você já sabia que vírus são produtos celulares! E sabe,
também, que para uma célula fabricar alguma coisa é necessário que ela possua as “ferramentas”
adequadas para tal. As ferramentas celulares são as enzimas. Portanto, quanto mais tipos diferentes
de enzimas uma célula puder expressar, maior é a chance de que, dentro desse repertório enzimático,
estejam presentes as enzimas que são necessárias à síntese dos diferentes elementos codificados pelos
genomas virais. Daí que, quanto maior for a versatilidade metabólica das células, maior será a chance
de elas serem competentes para a produção de vírus. Atente que o corpo de um animal pode ter
células com diferente versatilidade enzimática. No entanto, quanto mais células competentes (para
fazer um determinado tipo de vírus) ele possuir, mais grave será a virose nesse animal.
15
1. No cotidiano das pessoas, embora com pouca freqüência, é
AULA
possível encontrar doentes com CATAPORA. Se você conversar com
várias pessoas que já apresentaram esta virose, poderá classificá-
las em três grupos: a. as que tiveram o corpo intensamente coberto
de vesículas; b. as que tiveram pouquíssimas vesículas; e c. as
intermediárias. Diante desta colocação, construa uma tabela
representativa da quantidade de células com capacidade para
produzir vírus da catapora nos três grupos.
CATAPORA
Do tupi “fogo que
salta”. É a designação RESPOSTA COMENTADA
vulgar para varicela,
que é uma virose,
Você acertou se construiu um quadro semelhante a este.
em geral, benigna,
que, quando expressa Proporção de células competentes Expressão da virose
sintomas, estes se
+++++++++++++++++++++++---------- Grave
caracterizam por
febre acompanhada ++++++++++++++------------------------------ Branda
de máculas (manchas
rosadas), que evoluem Pouco ou nenhum
+++-------------------------------------------------------
para pequenas Sintoma
bolhas ou vesículas
que posteriormente + células envolvidas no processo de infecção de um órgão ou tecido
arrebentam, surgindo – células não envolvidas no processo de infecção.
as crostas. Essas lesões
se espalham, de forma
As células para produzirem os componentes virais precisam ter a
não sincrônica, pelo
corpo, principalmente competência enzimática para tal; portanto, só tem virose quem
no tronco. pode. Esta premissa pode ser facilmente evidenciada quando você
faz uma busca nos jornais sensacionalistas que divulgam casos de
viroses que exterminarão a humanidade. Como exemplo temos os
casos de Ebola, SARS e, até mesmo, os da gripe do frango. Você
já teve a curiosidade de pesquisar quantas foram as pessoas que
entraram em contato com as vítimas, antes que elas morressem?
Inclua nessas os familiares, amigos, colegas de trabalho e colégio,
vizinhos, comerciantes e os profissionais de saúde que cuidaram
delas. Embora seja divulgada uma situação de pânico, os casos
graves só aparecem em quem os pode desenvolver. Com o
Ebola foram 327 indivíduos como você pode constatar lendo o
livro Caçadores de vírus (indicado nas leituras recomendadas).
Com a gripe do frango, desde 1997, não chegaram a 100 casos
humanos fatais. Já em relação à SARS, morreram pouco mais de
100 pessoas, todas de origem asiática (para conferir estes valores,
acesse os endereços eletrônicos que estão indicados nas leituras
recomendadas). Para as vítimas fatais dessas viroses, a infecção se
apresentou como um processo de seleção natural dos elementos
de uma espécie na Natureza.
CEDERJ 91
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Enfermidade que Gripe do frango – infecção pelos vírus da influenza (gripe subtipo H5N1),
está sempre presente de caráter ENZOÓTICO nos países asiáticos, que pode ser disseminada por
em uma comunidade todo o planeta, através das aves silvestres migratórias ou aves comerciais.
de animais; apenas As vítimas humanas foram pessoas que lidavam com aves contaminadas. Em
poucos deles evoluem 2003, na China, foram relatados dois casos hospitalizados, com uma morte.
para doença.
Este fato tem sido motivo de pânico, pois a divulgação da mídia o relaciona
com a pandemia de gripe espanhola que ocorreu em 1918, em que se estima
terem ocorrido 50 milhões de mortes. De acordo com o discernimento que
você adquiriu até agora, de que só tem virose quem pode, dá para perceber
que os responsáveis pelas notícias não são virologistas.
92 CEDERJ
MÓDULO 1
15
Envelope
Capsômero DNA
AULA
RNA
Capsídio
Glicoproteína
Glicoproteína
Figura 15.3: Na parte superior, representação artística de dois tipos de vírus: um não
envelopado à esquerda (Adenovírus) e um envelopado à direita (vírus da influenza).
Embaixo estão micrografias eletrônicas das respectivas partículas.
CEDERJ 93
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
94 CEDERJ
MÓDULO 1
15
ATIVIDADE
AULA
2. As partículas de Adenovírus, quando observadas ao microscópio
eletrônico, se apresentam como arranjos moleculares geométricos.
Procure na web quantas faces triangulares compõem essa estrutura
e, usando sua criatividade, construa uma estrutura geométrica
semelhante.
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_____________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 95
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
da célula;
– reunião dos componentes virais sintetizados e montagem das
partículas.
Esta última etapa acontece no ambiente intracelular, quando se
trata de vírus não envelopados. A montagem dos vírus envelopados se
faz durante o processo de brotamento das estruturas virais para o meio
exterior. Quando o brotamento acontece, as partículas virais liberadas
trazem em sua constituição fragmentos ou porções lipoglicoprotéicas
das membranas das células nas quais foram produzidas.
A primeira parte da interação vírus-célula tem início com a
adsorção dos vírus às células. Este fenômeno acontece no ambiente
aquático onde as células estão imersas. Se neste ambiente existirem
partículas virais, elas estarão em suspensão na água e em constante
movimento (movimento browniano). Por sua vez, a célula viva,
buscando suprir suas necessidades de elementos essenciais (vitaminas
e aminoácidos), expõe receptores com a finalidade de capturar tais
elementos, como você pode ver esquematicamente na Figura 15.5. Com
isto, propositalmente, a célula “espera” capturar os aminoácidos que
lhe são essenciais. Estes, que geralmente estão associados em peptídios,
podem estar fazendo parte de componentes da superfície viral. Dessas
circunstâncias resulta a adsorção ou, em outras palavras, a captura das
partículas virais pela célula.
96 CEDERJ
MÓDULO 1
15
? EPO
TGF β MHC
AULA
ANF
PDGF
Membrana Epinefrina
plasmática
β
Guanil ? γ
Proteína Proteína Tirosina α
Proteína serina tirosina ciclase
cinase Proteína G
Enzimas tirosina treonina fosfatase
cinase tripartida Adenilato
cinase ciclase
CEDERJ 97
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Figura 15. 6: Esquema mostrando o engolfamento de uma partícula viral pela célula,
pelo processo de endocitose mediada por receptores. É dessa maneira que as células
do corpo humano capturam os nutrientes.
Transcrição
98 CEDERJ
MÓDULO 1
15
AULA
Figura 15.7: Esquema mostrando os tipos de áci-
dos nucléicos virais e os processos bioquímicos
a que são submetidos pelas células, até a fase
de RNAm. Esta figura foi adaptada a partir do
modelo apresentado por David Baltimore em
1970. A repercussão dos estudos com o modelo
de replicação de ácidos nucléicos virais consa-
grou os virologistas Howard Martin Temin,
Renato Dulbecco e D. Baltimore, fazendo-os
ganhadores do Prêmio Nobel de 1975, na
categoria de Fisiologia e Medicina.
Figura 15.8: Representação dos vários tipos de vírus agrupados de acordo com
o modelo de replicação de seus genomas. Atente para o fato de que os vírus
de DNA de fita dupla podem ser de classe 1 ou classe 7.
CEDERJ 99
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Tradução
Citoplasma
RNAm
Translocador
fechado
Translocador
aberto
NH3+
Peptídio
Seqüência sinal
nascente
Interior do RE Carboidrato
Término da tradução
ancorada do retículo
Figura 15.9: Produção celular de glicoproteínas. Note que a porção glicosilada está
voltada para o lúmen do retículo. Os ribossomas envolvidos nesta tradução dão à
estrutura do retículo o aspecto rugoso.
100 CEDERJ
MÓDULO 1
15
Espaço exterior (lúmen do Figura 15.10: Representação artísti-
retículo endoplasmático, ou ca dos modelos como as proteínas
do Golgi ou face externa da transmembranas podem estar posi-
AULA
NH3+ COO– membrana plasmática) cionadas em relação à superfície
celular, no que diz respeito a seus
NH3+ COO– COO– terminais aminados ou carboxila-
dos. Glicoproteínas utilizadas pelas
células para a montagem dos vírus
da influenza (gripe), da raiva, da
COO– NH3+ dengue e da varíola, apresentam
NH3+ características estruturais relaciona-
das, respectivamente, aos modelos
1, 2, 3 e 4 desta figura.
Citoplasma
PROTEASSOMAS
Controle de qualidade Estrutura celular cilíndrica
oca, constituída por um
Quando as proteínas codificadas pelo genoma viral são sintetizadas agregado de proteases,
responsável pela
e aprovadas pelo controle de qualidade celular, elas são transportadas para degradação das proteínas
celulares identificadas
sítios específicos das células, de acordo com os sinais de endereçamento
como impróprias ao
que apresentem, dando assim continuidade à formação de novas partículas ambiente citoplasmático.
São aquelas proteínas
virais. Quando a célula, embora contaminada, reprova as proteínas com “prazo de validade
vencido”, ou aquelas que
neoformadas codificadas pelo genoma viral, estas são degradadas para não passaram no controle
reaproveitamento dos aminoácidos, particularmente daqueles essenciais. de qualidade. O controle
de qualidade das proteínas
Esta degradação protéica acontece em estruturas celulares denominadas pelas células segue cinco
parâmetros, a saber: 1. o
PROTEASSOMAS. Quando a degradação é completa, todos os aminoácidos posicionamento das pontes
(por estarem individualizados) são reaproveitados. Lembre-se de que cada dissulfeto formadas; 2. a
conformação das estruturas
RNA transportador carreia apenas um aminoácido correspondente ao seu secundária e terciária
adquirida pela molécula
anticodon. Porém, quando a degradação é incompleta sobram pequenos de proteína; 3. a adição
e o processamento de
peptídios (resíduos com pelo menos três aminoácidos) que, por não poderem
carboidratos; 4. exposição
ser aproveitados pela célula, são exocitados. Esta etapa da fisiologia celular de sítios específicos para
clivagem proteolítica e
é essencial para a compreensão das alterações da HOMEOSTASE corporal 5. compatibilidade das
moléculas das proteínas
decorrentes da virose. Mas isto será mais bem compreendido quando você para serem organizadas
tomar conhecimento do conteúdo da nossa Aula 17. sob a forma de dímeros,
trímeros, tetrâmeros ou
pentâmeros.
Sinais de endereçamento – são seqüências específicas de aminoácidos
encontradas na estrutura das proteínas. Essas seqüências são detectadas HOMEOSTASE
pelos elementos celulares denominados Partículas Reconhecedoras de
Termo criado pelo
Sinal (PRS). As PRS têm a função de reconhecer e carrear as proteínas
fisiologista americano
neoformadas para os diferentes sítios celulares. Por exemplo, sinais de
Walter Cannon (1871-1945)
endereçamento das proteínas para inserção nas membranas do retículo do
para designar o estado
Golgi, das mitocôndrias ou do ambiente intranuclear já foram descritos.
de equilíbrio das diversas
Mais detalhes a respeito você pode ver nos capítulos 17 e 18 sobre síntese
funções e composições
e endereçamento de proteínas, do livro Molecular cell biology, nas
químicas do corpo (por
referências desta aula.
exemplo; temperatura,
pulso, pressão arterial,
taxa de açúcar e elementos
figurados no sangue).
CEDERJ 101
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
ATIVIDADE
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
102 CEDERJ
MÓDULO 1
resíduos para a superfície da célula → reconhecimento
15
desses resíduos por linfócitos citotóxicos (CD8 ) → estímulo
para múltiplas seqüências de mitose → produção de interferon
AULA
gama → seqüestro de insulina e outros hormônios pelos
linfócitos estimulados gerando uma expansão clonal
→ sintomatologia inespecífica das viroses (febre, dores
musculares, dor de cabeça, dentre outros).
Figura 15.11: Apresentação artística das etapas seguidas pela célula para sintetizar os componentes estruturais
e não estruturais das partículas de flavivírus. (Figura gentilmente cedida pelo mestrando do Instituto de Micro-
biologia Professor Paulo de Góes, da UFRJ, Otavio de Melo Espíndola).
CEDERJ 103
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Célula
bacteriana
Célula de levedura
(5000 nm)
Riquétsia
Vírus da vaccínia
vírus da varíola
Vírus do herpes
simples
Vírus da
influenza
Vírus da infecção
das adenóides
Vírus T de bactérias
Vírus do mosaico
do tabaco
RIQUÉTSIA
Vírus da febre amarela
Bactérias
intracelulares Vírus da verruga
obrigatórias, Gram
negativas, da família Vírus da poliomielite
Rickettsiaceae, que
infectam artrópodes,
como os carrapatos.
Estes podem Figura 15.12:Tamanhos comparativos entre uma levedura, uma enterobactéria,
transmiti-las pela uma RIQUÉTSIA e partículas virais de várias dimensões. Note que as maiores partículas
saliva ao picarem virais estão na faixa de 250 nm e que essa dimensão é menor que o comprimento
seres humanos e de onda da luz visível, como você viu na Aula 1. Esta característica faz com que as
outros animais. Nos preparações contendo vírus continuem límpidas e transparentes. Este fato levou à
seres humanos estão denominação de meningites assépticas aquelas resultantes de infecção viral, pois,
associadas a diversos embora o líquido cefalorraquidiano (líquor) dos pacientes infectados esteja cheio
quadros clínicos, de vírus, tem a aparência límpida, em contraste com as meningites microbianas nas
entre os quais o tifo quais o líquor aparece turvo.
exantemático e a
febre maculosa.
104 CEDERJ
MÓDULO 1
15
As características genéticas e estruturais dos vírus relacionados com
infecções humanas podem ser entendidas pela análise da Tabela 15.1.
AULA
Tabela 15.1: Características estruturais dos principais tipos de vírus com exemplos
de viroses associadas
45-50 fs Dengue
Flavivírus
RNA 50-300 fs segmentado Arenvírus Febre junin
Desconhecida Presente Sensível
ou complexa 80-160 fs Coronavírus Pneumonia
Retrovírus
100 fs diplóide AIDS
Legenda: Fs – fita simples; Fd – fita dupla;1- envelope complexo, que confere a esses vírus resistência aos
agentes lipolíticos.
PROPAGAÇÃO DE VÍRUS
CEDERJ 105
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Cavidade alantóica
Cavidade amniótica
Membrana cório-
alantóica (m.c.a.) Embrião
Membrana da casca
Albume
106 CEDERJ
MÓDULO 1
15
Com o desenvolvimento das metodologias de cultura de células in
CPE
vitro, foi possível esclarecer muitos aspectos da dinâmica de produção de
AULA
Sigla do termo em
vírus. Quando células competentes são infectadas e passam a produzir os inglês Citopathogenic
Efect que significa
componentes virais, conseqüentemente mudam de função. A mudança de efeito citopático (em
português ECP, pouco
função implica mudança da forma. Os primeiros virologistas que observaram usado). Os trabalhos
este tipo de alteração morfológica o denominaram efeito citopático (CPE), que permitiram
reconhecer este
conceito decorrente do conhecimento vigente no final da década de 1940. fenômeno levaram seus
autores J. F. Enders
Esse binômio forma-função permite caracterizar a Virologia como uma (1897-1985), T. H.
Weller (1915-) e F. C.
fisiologia celular aplicada. A forma apresentada pelas células, após a infecção
Robbins (1916-2003) a
viral, varia de acordo com o tipo de vírus que elas estão produzindo. Na serem agraciados com
o Prêmio Nobel de
Figura 15.14, você pode ver as alterações morfológicas em células com Fisiologia e Medicina
de 1954.
virose. Dentro deste princípio, genomas virais são usados como VETORES DE
EXPRESSÃO em procedimentos de Biologia Molecular. VETORES DE
EXPRESSÃO
São pequenos
A observação microscópica de células em cultura inoculadas com suspensões
fragmentos de ácido
virais permite, através de comparação com células não inoculadas, estabelecer
nucléico que, quando
as alterações fisiológicas que nelas ocorrem. As partículas virais são utilizadas como
incorporados ao
traçadores. Várias áreas de conhecimento, tais como a Bioquímica e a Imunologia,
genoma das células,
dentre muitas outras, utilizam os vírus como ferramenta para esclarecer vários
suscitam a produção
fenômenos fisiológicos, principalmente aqueles relacionados à síntese e ao
de componentes
endereçamento das proteínas para os vários compartimentos celulares. protéicos. As proteínas
assim formadas
se prestam como
traçadores dos
processos metabólicos
celulares.
Figura 15.14: Dois tipos de células cultivadas in vitro não infectadas (1 e 4) e infectadas. A figura apresenta
as alterações morfológicas (CPE) das células de acordo com a função desempenhada. A cada tipo de vírus
corresponde uma função diferente, que se reflete na forma.
CEDERJ 107
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
VIROSES
Dengue
Herpes simples
Hepatite B
Poliomielite
Febre amarela
Conjuntivite viral
Sarampo
Catapora
Hepatite A
Rubéola
Gripe
Citomegalia
Verruga
Caxumba
Gastrenterite
Zoster
Exantema súbito
Mononucleose infecciosa
108 CEDERJ
MÓDULO 1
15
ATIVIDADE
AULA
4. Como podem ser efetuados os trabalhos de propagação dos vírus
de origem animal no laboratório, e como pode ser evidenciada
essa propagação?
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
__________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CONCLUSÃO
CEDERJ 109
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
ATIVIDADE FINAL
Agora vamos ver se você já está pensando como virologista, ou seja, como alguém
que consegue trafegar por dentro da célula sem esbarrar em nada. Afinal,
viroses só acontecem em células vivas; portanto,os virologistas têm de ter amplo
conhecimento de Fisiologia Celular.
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____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Sem dúvida, tudo começa pela captura dos vírus pelas células. A seguir
ocorrem as fases:
• formação de endossomos;
• fusão dos componentes de superfície virais com a membrana dos
endossomos;
• liberação do genoma viral no citoplasma;
110 CEDERJ
MÓDULO 1
• o genoma dos paramixovírus tem associadas enzimas do tipo RNA
15
polimerase RNA dependente (transcriptase) que transformam o RNA
AULA
de polaridade negativa em RNA mensageiro;
• este, por sua vez, é utilizado pelas células para sintetizar novas
proteínas virais, que são aprovadas no controle de qualidade celular
(visto que estamos tratando de células competentes);
• parte das proteínas neoformadas atuará como transcriptase
amplificando a quantidade de RNAs virais, positivos e negativos,
dentro das células;
• outras proteínas neoformadas serão utilizadas como peças
estruturais na montagem de novas partículas. Para tanto, precisam
ser posicionadas, nas células, de acordo com seus respectivos sinais
de endereçamento;
• aquelas destinadas à formação das espículas virais são traduzidas
por ribossomos que se fixarão ao retículo endoplasmático, dando
origem ao chamado retículo endoplasmático rugoso. A cadeia
peptídica que é transferida para a luz do retículo sofre uma seqüência
progressiva de glicosilação, dando origem às glicoproteínas, que serão
submetidas ao processo de clivagem proteolítica pós-traducional,
quando passam a exibir os sinais de endereçamento que as faz
serem transportadas para a membrana plasmática;
• nesse sítio, essas proteínas transmembrana estão aptas a interagir,
através da porção citoplasmática, com os demais componentes virais
sintetizados pelas células (capsômeros e ácido nucléico), que foram
deslocados para a proximidade da membrana plasmática;
• é nessa região que ocorre a montagem das novas partículas virais,
pelo processo de brotamento.
RESUMO
CEDERJ 111
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
arranjos moleculares que podem ser montados e desmontados tanto in vitro como
in vivo. Neste último caso, as células têm repertório enzimático para sintetizar
todos os componentes codificados pelo genoma viral (ácido nucléico e proteínas)
e condições para montá-los sob a forma de partículas. Essas partículas, assim
formadas, podem conter ou não lipídios derivados das membranas celulares.
LEITURAS RECOMENDADAS
• REGIS, Ed. Caçadores de vírus: a luta contra os vírus desconhecidos que ameaçam
a humanidade. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1997. 248 páginas.
• http://www.who.int/csr/sars/epi2003_04_11/en/
• http://www.who.int/csr/sarscountry/2003_04_12/en/
112 CEDERJ
16
AULA
Vírus e viroses de plantas
e de células procarióticas
Meta da aula
Apresentar fenômenos que envolvem tanto as
viroses de plantas como as de bactérias.
objetivos
Pré-requisitos
Para o entendimento desta aula fluir melhor , você deverá
rever a figura dos comprimentos de onda do espectro da luz,
vistos na Aula 1; as estruturas das células, apresentadas na
Aula 3; a classificação dos micróbios, da Aula 9; o conceito de
competência celular para sintetizar componentes virais, além
da classificação de Baltimore, que você aprendeu na Aula 15.
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
INTRODUÇÃO Nas plantas e nas bactérias, o protoplasma celular está recoberto por uma
estrutura rígida denominada parede. Esta parede é responsável pela morfologia
apresentada pelas células e as impede de executar o processo de endocitose.
Assim, o modelo de internalização do genoma viral nesses tipos celulares
diferencia-se daquele que você aprendeu na aula sobre viroses de animais.
Esta aula apresenta os processos físico-químicos que possibilitam a transferência
dos ácidos nucléicos, que estão dentro dos vírus, para o interior das células
vegetais e bacterianas.
No reino vegetal, a descoberta dos vírus foi decorrente da necessidade de sanear
doenças das principais espécies de plantas cultivadas, merecendo destaque a
doença conhecida como mosaico do tabaco. Posteriormente, o conhecimento
foi ampliado para as lavouras de trigo, arroz, milho e batata. Os efeitos das
infecções virais nas plantas apresentam-se como alterações foliares e resultam
sempre numa redução acentuada na produção agrícola.
Embora o conceito de virose estivesse sendo construído em função das doenças,
o reino vegetal proveu um novo enfoque para a virologia, pois foi demonstrado
que as tulipas – normalmente caracterizadas como flores monocromáticas – ,
quando contaminadas por certos tipos de vírus, passavam a produzir flores
policromáticas. Comercialmente, os bulbos destas plantas têm grande valor
ou, em outras palavras, dão mais lucro àqueles que os plantam.
A partir destas circunstâncias, a virologia passou a ter dois enfoques na
sociedade humana: um associado às doenças que conduzem a prejuízos e
outro associado ao melhoramento vegetal que vem acompanhado de lucros.
A compreensão das viroses de procariontes serviu como modelo para quantificar
partículas virais infecciosas e para esclarecer como se dá a internalização do
genoma viral nas células. Historicamente, a utilização de vírus de bactérias,
como ferramentas nos trabalhos em Genética e Biologia Molecular, serviu
como base para o avanço tecnológico nestes campos.
Com os detalhes aqui apresentados, você sedimentará cada vez mais o
conhecimento de virologia iniciado na Aula 15. O conteúdo desta aula está
acompanhado de um breve histórico, pois a compreensão dos conceitos da
moderna virologia está fundamentada em experimentos efetuados com vírus
de plantas e de bactérias.
Nesta aula serão apresentadas, de maneira sucinta, algumas características
das viroses de plantas e de bactérias, áreas da virologia que têm contribuído
largamente para a compreensão de muitos fenômenos biológicos observados
na Natureza.
114 CEDERJ
MÓDULO 1
16
BREVE HISTÓRICO DA VIROLOGIA VEGETAL – ONDE TUDO
COMEÇOU
AULA
Em 1886, Adolf Mayer (1843-1942), um agrônomo alemão
especializado em FITOPATOLOGIA, trabalhando na Holanda, pesquisava a FITOPATOLOGIA
causa de uma doença da planta do fumo em cujas folhas eram observadas Ciência que estuda as
doenças das plantas.
áreas clorofiladas e aclorofiladas, distribuídas com a aparência de
mosaico, o que deu origem ao nome da doença (“mosaico do tabaco”).
Pensando se tratar de uma doença de origem microbiana, Mayer separou
as folhas afetadas, preparou um extrato aquoso dos componentes dessas
folhas e usou-o para infectar plantas sadias. Em nove de cada dez plantas
contaminadas, foram observados todos os sintomas da doença. Mayer
então tentou cultivar, de forma pura, o “micróbio” responsável pela
doença e, para isso, usou técnicas disponíveis, naquela época, para
cultivo bacteriano. Surpreendentemente, essa pesquisa falhou em isolar
bactérias ou fungos, apesar de a doença poder ser transmitida como
qualquer doença infecciosa. Mayer concluiu que a doença era causada
por uma bactéria de natureza especial incultivável, mas que certamente
seria revelada no futuro.
Nesse meio tempo, foram produzidos os primeiros filtros
esterilizantes (filtros de Chamberland) que tinham os poros de tamanho
tão pequeno (cerca de 0,1 a 0,5 μm), que retinham bactérias (como você
viu na Aula 1, os micróbios têm, em média, 1μm).
Em 1892, um cientista russo, Dmitri Ivanowsky (1851-1920),
que também estudava a doença do mosaico do tabaco, comunicou à
Academia de Ciências de São Petersburgo sua constatação de que a
seiva das folhas de tabaco, apresentando a doença do mosaico, retinha
suas qualidades infecciosas, mesmo após a filtração através do filtro de
Chamberland. Ele acreditava que o agente do mosaico do tabaco – que
não era cultivável em meio inerte, mas “crescia” nas folhas – era menor
do que qualquer outro já descrito. Assim, ele suspeitou de que uma
toxina, secretada por algum tipo bacteriano desconhecido, causasse a
doença. Seis anos mais tarde, o cientista holandês Martinus W. Beijerink
(1851-1931) repetiu o experimento de Ivanovsky e mostrou que um
agente infeccioso, capaz de ser replicado nas folhas, era encontrado
nas soluções filtradas a partir de folhas doentes. O cientista chegou à
seguinte conclusão: este agente invisível ao microscópico e filtrável podia
ser diluído muitas vezes e quando as diluições eram aplicadas nas folhas
CEDERJ 115
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
116 CEDERJ
MÓDULO 1
16
Holanda, século XVII
POTYVIRUS
Tulipas variegadas ou policromáticas,
AULA
Tipo de vírus com
resultantes da infecção por um tipo
genoma de RNA que
de POTYVIRUS pode infectar uma
Preço pago por um único bulbo grande variedade de
infectado: espécies vegetais, tais
como tulipas,
4 toneladas de trigo mamoeiros e batatas.
8 toneladas de cevada No site http://
4 bois gordos www.ncbi.nlm.nih.gov/
8 porcos gordos ICTVdb/ICTVdB/
12 ovelhas gordas 57010000.htm, você
2 barris de vinho obterá mais detalhes
4 barris de cerveja sobre esses vírus e
2 barris de manteiga perceberá que a lista de
450kg de queijo vegetais suscetíveis à
uma cama infecção por eles vai
um traje a rigor completo de A a Z.
uma pulseira de prata
Figura 16.2: Tulipas policromáticas infectadas por potyvirus e a lista dos bens que
equivaliam ao valor de um único bulbo. Fonte: www.ufv.br/dfp/virologia/BIO251_
files/ Aula_teórica_BIO_251_2005.pdf
NEMATÓIDES
Hoje sabe-se que a disseminação das viroses de vegetais está Classe de vermes
cosmopolitas, de vida
relacionada à infecção por uma grande variedade de tipos de vírus, livre, encontrados tanto
que podem ser transmitidos de uma planta para outra. As viroses são em ambientes aquáticos
quanto no solo. São
transmitidas por meio de lesões provocadas por instrumentos cortantes parasitas encontrados
em todos os grupos
contaminados; por esfregaços (abrasão feita na folha da planta com a mão vegetais e animais,
e se distinguem por
ou com auxílio de areia, de modo a lesar as células, permitindo a inserção
possuir corpo delgado
de partículas infecciosas no seu interior), ou através de NEMATÓIDES ou com forma cilíndrica e
disposição radial
artrópodes que, ao se alimentarem destas plantas, disseminam a virose. das estruturas
ao redor da boca.
Estes artrópodes podem ser mosquitos, formigas, pulgões ou moscas.
VÍRUS DA TRISTEZA
VIROSES COMO “VACINAS” Vírus relacionado à
virose da tristeza dos
Um benefício atribuído às viroses de plantas é comumente visto, citros. A infecção
acomete os vasos
nos pomares de laranjeiras, pois cada uma das árvores ao ser preparada lenhosos, diminuindo
o fluxo de água para as
por enxerto, é inoculada com um tipo de vírus que condiciona uma
folhas que murcham,
infecção inaparente, crônica, que as protege da infecção aparente pelos dando a impressão de
que a planta está triste.
VÍRUS DA TRISTEZA. Esse processo é chamado de PREMUNIZAÇÃO e visa a Depois que as folhas
caem, a planta morre.
assegurar a rentabilidade das safras nos pomares.
PREMUNIZAÇÃO
Modelo de infecção de plantas de interesse econômico, desenvolvido, na década de 1950, pelos pesquisadores do setor
de Virologia do Instituto Agronômico de Campinas (IAC)-SP, que consiste em enxertar galhos de plantas que tenham
desenvolvido uma forma branda da virose. As plantas assim infectadas resistem à contaminação por amostras virais
que levam à doença letal e, dessa forma, evitam a tristeza do citros (na verdade, o mais próprio seria dizer tristeza do
citricultor, pois o efeito arrasador leva a um imenso prejuízo).
CEDERJ 117
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
118 CEDERJ
MÓDULO 1
16
Etapas do processo de enxertia Muda formada
AULA
Cavaleiro
Cavalo Enxerto
Na enxertia ocorre a fusão dos tecidos das duas plantas, pois, com
o corte, há a exposição do material citoplasmático do tecido vegetal.
O fenômeno acontece porque, durante o processo de cicatrização, tem
início a síntese dos elementos da parede celulósica e da membrana vegetal,
sendo que, para sobreviverem, o cavalo precisa da seiva elaborada e o
cavaleiro da seiva bruta. Por isso, o segredo para o sucesso da pega do
enxerto é: manipular plantas livres de viroses, usar plantas de um mesmo
gênero e ter o cuidado de unir os elementos da casca e do lenho, conforme
está apresentado no detalhe da Figura 16.3, para possibilitar o fluxo da
seiva. Se você tiver disponibilidade poderá preparar, em seu quintal, uma
árvore que, dependendo do galho, produzirá laranja, tangerina, lima e
tantas outras frutas cítricas quantos forem os enxertos bem-sucedidos
que você conseguir. Atenção! Existem outras formas de enxertia, com
maior nível de eficiência do que esta aqui apresentada, você poderá
descobri-las se pesquisar na web sobre o assunto. Lembre-se, entretanto,
de que a enxertia é a maneira mais eficiente de se transmitir virose de
um tecido vegetal para outro, por isso há a necessidade de se conhecer
o “pedigree” das plantas usadas.
CEDERJ 119
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Figura 16.5: Galhos de laranjeira cujo cavaleiro apresenta o efeito (caneluras) resul-
tante da infecção com os vírus da premunização contra a tristeza dos citros.
120 CEDERJ
MÓDULO 1
16
Embora as plantas de onde foram cortados os galhos mostrados
na Figura 16.5 parecessem normais, o efeito da virose fará com que elas
AULA
sucumbam, após vinte anos. Sem a premunização, poderiam viver mais
de cem, porém, morreriam ao primeiro contágio com os vírus da tristeza
verdadeira. Fazendo-se uma analogia às viroses nos animais, definir-se-ia
como infecção pelos vírus vacinais e selvagens, respectivamente. Para o
citricultor é mais seguro ter o pomar produzindo por duas décadas do
que arriscar e perder todo o investimento de uma vez. Usa-se, pois, a
premunização das plantas para evitar a tristeza do citricultor.
A transmissão das viroses de vegetais só é possível quando a planta
é lesionada, como ocorre nas podas, quando o instrumento cortante
é contaminado numa planta e utilizado em outra. Se esta última for
suscetível, a virose pode se fazer aparente. Como citamos anteriormente,
outras formas de transmissão envolvem a perfuração ou corte de parte
da planta por insetos como pulgões, moscas, mosquitos, besouros ou
outros seres vegetarianos que se alimentam de folhas, raízes ou caules.
A maneira como os vírus de vegetais chegam ao ambiente citoplasmático
é diferente da que ocorre com os vírus de células de origem animal. Estes
últimos têm apenas o material genético internalizado nas células. Nas
SINCÍCIO
viroses de plantas, é necessário que a partícula inteira seja colocada no Massa de
citoplasma. Você já pensou o motivo disso? Muito bem! Você se lembrou protoplasma contendo
muitos núcleos.
de que as plantas têm uma rígida parede de celulose e, portanto, suas
células não fazem endocitose, por isso há a necessidade do corte para PLASMODESMOS
que ocorra a contaminação do tecido vegetal. Se a planta contaminada Tubulações da
membrana plasmática
tiver repertório enzimático para produzir os vírus infecciosos, a infecção
que estabelecem o
poderá se instalar nela, de forma localizada ou disseminada. contato entre os
compartimentos onde
A contaminação do cavalo da planta enxertada ocorre através estão localizados
os núcleos, o
de fluidos do tecido do enxerto contaminado. Para você entender como que constitui o
isto acontece, é necessário lembrar que as plantas superiores têm uma sincício. Por isso,
a transmissão das
estrutura supracelular onde cada planta representa um grande SINCÍCIO, em viroses nas plantas
ocorre quando o
razão da existência dos PLASMODESMOS, que são canais de intercomunicação corpo da planta é
citoplasmática (unem os múltiplos núcleos do corpo da planta). Com lesionado, resultando
na exposição
isso, a unidade da planta é o próprio corpo celular. do ambiente
protoplasmático.
A infecção resultante
pode ser localizada
ou disseminada,
dependendo da
fisiologia do vegetal.
CEDERJ 121
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Plasmodesmos
Microtúbulos
Núcleo
122 CEDERJ
MÓDULO 1
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AULA
Tomate sem valor comercial
Figura 16.7: Vegetais apresentando viroses: acima, à esquerda, tomate com a virose, comparado a um fruto
normal; acima à direita, o aspecto do mosaico da folha do mamoeiro e o fruto apresentando diminuição do
tamanho, anéis de descoloração na casca e formato alterado; abaixo, vemos uma comparação entre um ma-
racujá normal, à direita, e um apresentando virose, à esquerda. Fonte: www.ufv.br/dfp/virologia/BIO251_files/
Aula_teórica_BIO_251_2005.pdf
CEDERJ 123
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
ATIVIDADE
1. O Sr. João tem andado muito triste, pois alguns pés de mamão do seu
quintal em Salvador, na Bahia, começaram a apresentar folhas retorcidas
com manchas amareladas. O crescimento dessas plantas diminuíu e,
além disso, uma delas começou a produzir frutos pequenos e de aspecto
assimétrico. O Sr. João andou comendo o mamão dessa planta e percebeu
que ele estava mais doce do que os outros. Contudo, alguém lhe disse
que o seu mamoeiro devia estar com a virose do mosaico, deixando-o
preocupado com a possibilidade de ficar doente em decorrência de ter
ingerido vírus de mamoeiro. O que você tem a dizer ao Sr. João?
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RESPOSTA COMENTADA
Seria chover no molhado dizer que todos os vegetais podem
desenvolver suas viroses, pois como você já aprendeu, para ter virose
basta estar vivo e ter células competentes. Outra coisa importante é
que se comermos qualquer fruto ou folha infectados, a virose não se
instalará no nosso corpo, uma vez que as células dos seres animais
têm perfis enzimáticos que as diferenciam daquelas dos vegetais.
Portanto, produzem vírus de acordo com suas especificidades
metabólicas. O Sr. João deve procurar nas plantas o vetor e eliminá-
lo. Deve também arrancar e queimar as plantas contaminadas, pois
a virose pode se espalhar para outras plantas, mesmo de espécie
diferente e com isso causar um grande prejuízo ao seu pomar.
124 CEDERJ
MÓDULO 1
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No começo do século XX, com a expansão da agricultura brasileira,
AULA
foram importadas várias espécies de plantas frutíferas, dentre as
quais a nespereira e o pessegueiro. Embora estas aqui chegassem
aparentemente sadias, traziam uma virose que se alastrou como praga
entre os marmeleiros que aqui existiam de maneira nativa. Não sobrou
sequer um! Assim, os pais severos não puderam mais castigar seus filhos
desobedientes com as famosas varas de marmelo. Jovem brasileiro: se
você tem o privilégio de não conhecer a vara de marmelo como corretivo,
agradeça àquelas viroses!
CEDERJ 125
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Figura 16.8: Forma de propagação de virose, utilizando planta indicadora: planta sadia adoece e suas folhas são
trituradas, o suco das folhas é filtrado utilizando filtro esterilizante. Uma planta indicadora, após ter suas folhas
lesadas mecanicamente, é borrifada com o suco filtrado, e desenvolve a virose.
126 CEDERJ
MÓDULO 1
16
espécie, estas também lisariam. Devido a isso, Twort sugeriu que a causa
da lise deveria ser uma virose, mas não prosseguiu com essa linha de
AULA
pesquisa. Dois anos mais tarde, Felix d’Herrelle (1873-1949) descreveu a
existência dos vírus de bactérias atribuindo-lhes o nome de bacteriófago
que, em latim, significa "comedor de bactérias". O termo bacteriófago logo
deu lugar a uma nomenclatura menos complicada, passando esses vírus a
serem conhecidos por fagos. Quer se use a palavra completa ou a forma
reduzida, é claro que você percebeu que o termo não foi apropriado – mas
você deve ter em mente que no início do século XX não havia o conhecimento
do qual você está usufruindo hoje.
Há uma grande diversidade morfológica entre os vários
vírus bacterianos: eles podem ser filamentosos, icosaédricos, não-
envelopados, envelopados (sendo alguns com duplo envelope) ou de
morfologia complexa. Esquemas dessas morfologias você pode observar
na Figura 16.9.
Envelopados Não-envelopados
dsDNA dsDNA
Siphovirus
Podovírus
Microvirus Plectrovirus
Lipothrixvirus
Inovirus
dsRNA ssRNA
RNA
Levivirus
Cystovirus
10 nm
CEDERJ 127
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
100nm
Figura 16.10: Representação artística do fago T4. Como você pode perceber a
estrutura complexa é formada por uma cabeça de 100nm (onde está contido o
DNA), uma cauda retrátil e uma base, na qual estão inseridas fibras que têm ação
enzimática.
128 CEDERJ
MÓDULO 1
16
visualizadas. Isso foi apresentado a você na figura do espectro da luz,
na nossa Aula 1. Nas culturas em meio sólido, depois que as bactérias
AULA
são semeadas pela superfície, para formar um crescimento confluente,
inocula-se a preparação viral. A quantidade de vírus existente nesta
preparação vai ser revelada pelo número de focos de lise que é observado
na superfície da placa após o crescimento da população microbiana. Esses
focos de lise também são chamados “plaques”. A quantidade de plaques
observada corresponde ao número de partículas virais infecciosas,
contido no volume inoculado.
QUANTIFICAÇÃO DE VÍRUS
CEDERJ 129
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Minutos
Figura 16.12: Demonstração da produção de vírus em etapa única, utilizando bactérias com o tempo de gera-
ção igual a trinta minutos.
130 CEDERJ
MÓDULO 1
16
Como diluir vírus de bactérias para quantificá-los
AULA
O arranjo molecular das partículas virais é facilmente desfeito, se não
forem tomados determinados cuidados quando se vai manipular as
preparações. Para a quantificação há necessidade de diluir a suspensão
viral. Os procedimentos a serem seguidos consistem em: tendo-se uma
suspensão de vírus de bactérias, diluí-la em tampão de pH 7.6, contendo
íons Ca++ e Mg++ em concentrações micromolares, junto com um teor
protéico de 0,2%. O pH alcalino assegura a estabilidade conformacional
das proteínas da partícula viral. Os íons alcalino-terrosos se prestam
para ampliar o processo de interação vírus-célula, uma vez que as fibras
dos fagos (que são enzimas) precisam desses íons como co-fatores para
exercer sua ação na parede bacteriana. O teor protéico serve tanto para
proteger as partículas virais da ação de possíveis proteases como para
diminuir a tensão superficial da solução onde as partículas virais estão
suspensas. A tensão superficial diminuída funciona como um acolchoado
para amortecer o choque das partículas virais com a superfície do líquido
onde elas estão sendo diluídas. Se, no momento da diluição, o choque
ocorrer sem esse amortecimento, as partículas serão espatifadas devido
ao impacto, da mesma forma como se alguém caísse, dentro d’água, de
uma altura de 60m.
ATIVIDADE
CEDERJ 131
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
RESPOSTA COMENTADA
Moleza, hein? Você inoculou um volume de 10µL de cada uma
FAGOTIPAGEM das diluições da suspensão viral. No local onde foi inoculada a
(FAGO + TIPAGEM) preparação correspondente à diluição 10-4 (1 em 10.000), você
Processo usado para contou oito plaques. Isto significa que em cada 10 microlitros da
caracterizar clones de uma suspensão original, não diluída, existem 8 X 104 PFU. Mas esta
mesma espécie microbiana,
quanto à capacidade de quantidade encontrada está em 10µL. Como foi perguntada a
evoluírem para lise quando quantidade de vírus por mL e você sabe que 1 mL corresponde a
infectados com determinado
1.000µL, foi só fazer uma regra de três (se em 10 µL tem 8 X 104
tipo de fago. Parte-se de
uma quantidade de fago então, em 1.000 microlitros haverá x PFU). Fazendo a operação:
previamente definida (30 a X = (8 X 104 x 1.000)/10. Logo x será igual a: 8 X 104 x 102. Dessa
70 PFU / inóculo efetuado
sobre a cultura bacteriana, maneira, você encontrou que na sua suspensão original existem
semeada na superfície de um 8x106 PFU/mL.
meio sólido, de composição
Esses cálculos constituem a base para a técnica de FAGOTIPAGEM,
nutricional pobre). As
amostras que forem utilizada pelos microbiologistas na classificação de bactérias
indicadoras para o tipo de associadas às doenças humanas como, por exemplo, Vibrio cholera,
bacteriófago utilizado, são
classificadas como um sub- Salmonella enterica e Staphylococcus aureus e, na indústria de
clone, sensível à infecção laticínios, na identificação dos Lactobacillus utilizados na fabricação
por este fago.
de queijos.
132 CEDERJ
MÓDULO 1
16
Agora que você sabe que tem 80.000 PFU/10µL na sua preparação,
AULA
é preciso diluí-la para a concentração de 50 PFU/10µL, a fim de ser
utilizada no teste de fagotipagem. Como fazer isso? É muito simples:
basta diluí-la na proporção de 1:1600. Por que 1:1600? Porque, se
temos 80.000 PFU/10µL, então, para ter 50 PFU/10 µL basta dividir
80.000 por 50 ou, simplificando, 8.000 por 5, que é igual a 1.600.
Com essa preparação assim diluída, você pode usá-la frente a
diferentes clones microbianos a fim de identificar se são indicadores
ou não do tipo de fago utilizado.
A quantidade de 8 milhões de partículas virais por mL da suspensão
parece muito, mas os números em Virologia são dessa monta para
maior e servem de alerta para obediência às condutas de segurança
no trabalho. Por isso, podemos supor que você, ao manipular as
preparações virais, fará isso de maneira a não formar aerossóis, para
evitar assim a contaminação do seu local de trabalho.
Complexo (rico) + +
Restrito (pobre) + -
CEDERJ 133
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Figura 16.13: Placas com crescimento de bactérias, inoculadas com suspensões virais diluídas. À esquerda, o meio
de crescimento é mínimo essencial (meio pobre); à direita, o meio é suplementado (meio rico).
134 CEDERJ
MÓDULO 1
16
ATIVIDADE
AULA
3. Considerando que as viroses na Natureza são fenômenos característicos
dos seres vivos, explique como a apresentação de uma dada virose está
relacionada com o percentual de células competentes que compõem a
população celular envolvida com a infecção viral, índice este conhecido
como eficiência de infecção (EI).
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RESPOSTA COMENTADA
Quando a EI é alta, o comprometimento da população celular do
organismo é acentuado, gerando a forma de infecção aparente
ou sintomática. Quando se trata, de populações bacterianas, esse
efeito pode ser representado sob a forma de gráfico, relacionando
a proporção de células comprometidas em função do tempo. Como
você pode ver no exemplo a seguir:
CEDERJ 135
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
136 CEDERJ
MÓDULO 1
16
b) em um deles os cientistas inocularam a preparação de vírus
marcados com 32S e no outro os vírus marcados com 35P;
AULA
c) após o período de cinco minutos, a mistura vírus-bactérias foi
agitada fortemente de maneira a dissociar toda e qualquer partícula viral
que estivesse adsorvida às bactérias;
d) as preparações foram centrifugadas, para sedimentar as células
bacterianas;
e) foram recolhidos o sobrenadante e o sedimento de cada um
dos dois tubos;
f) o grau de radiatividade existente nas diferentes amostras foi aferido;
g) os resultados das aferições encontram-se na Tabela 16.3.
CEDERJ 137
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Bacteriófago
Proteína do capsídio DNA marcado com
marcada com fósforo radiativo
enxofre radiativo
1.Infecção
2.Liberação
3.Centrifugação
Pouco enxofre detectado nas células Muito fósforo detectado nas células
138 CEDERJ
MÓDULO 1
16
As conclusões formuladas por Hershey & Chase permitiram
o estabelecimento das bases moleculares que regem os processos de
AULA
transformação celular.
Fazer chegar DNA no protoplasma de uma célula é o princípio
básico da E NGENHARIA G ENÉTICA . São várias as maneiras de fazer ENGENHARIA
GENÉTICA
recombinação genética em células bacterianas: transformação, transdução,
Ramo da Biologia
conjugação e eletroporação. As três primeiras podem ser observadas na Molecular que trata
Natureza e a última, desenvolvida pelos biologistas moleculares, consiste dos processos de
transformação celular
em empregar corrente elétrica para induzir a formação de poros nas pela introdução de
DNA exógeno.
membranas celulares. Através desses poros, o DNA do exterior pode
chegar ao interior da célula. As células microbianas usadas neste processo
devem estar sob a forma de protoplasto, ou seja desprovidas de parede
celular.
!
Da mesma forma que você viu para as células animais e vegetais, a expressão
de uma virose, em culturas bacterianas, está intimamente relacionada com o
repertório enzimático destas células, que é expresso de acordo com o meio
no qual as bactérias ou outro tipo de células se desenvolvem. Quanto menos
rico em nutrientes for o meio, maior terá de ser a versatilidade metabólica
das células e, conseqüentemente, maior é a probabilidade dessas células
desenvolverem virose. É fácil entender o motivo: em meio pobre a célula
tem de “tirar suco de pedra”, por isso, precisa ter uma expressão enzimática
mais ampla para poder sobreviver e, as que têm um repertório mais amplo,
também têm maior chance de possuir as enzimas necessárias para síntese dos
componentes necessários à construção de novas partículas virais.
CEDERJ 139
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
140 CEDERJ
MÓDULO 1
16
e inocular o fluido filtrado em uma nova cultura bacteriana constituída
em 100% de células competentes para a produção dos vírus. Quando
AULA
estas forem infectadas, a virose evoluirá para lise. Assim, podemos dizer
que o sobrenadante da primeira cultura bacteriana (profago positiva) é
capaz de gerar lise na população da segunda. As populações que evoluem
para lise são chamadas indicadoras e aquelas que geram a lise nestas,
são denominadas lisogênicas para as indicadoras.
Dessa maneira, só pode ser caracterizada uma cultura lisogênica
se existir a indicadora para ela e vice-versa.
Na Figura 16.16 você pode observar uma representação artística
envolvendo o fenômeno de lise e de lisogenia.
Ocasionalmente, o prófago
é liberado do cromossoma
Adsorção do fago à parede bacteriano, e a célula inicia
celular e injeção do DNA a produção de vírus
DNA do fago Muitas divisões
celulares produzem
uma colônia de
bactérias infectadas
Cromossoma como prófago
bacteriano
Produção Integração
Prófago
ou
CEDERJ 141
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
SISTEMA OPERON
É constituído por uma seqüência de genes estruturais que são controlados por produtos dos genes reguladores, sendo
um o gene operador que, por sua vez, é controlado por um gene promotor. Esse controle pode ser efetuado de maneira
positiva ou negativa. A regulação positiva faz com que os produtos dos genes estruturais sejam traduzidos em enzimas
efetoras, quando a bactéria encontra o substrato. Essa situação é verificada quando culturas de E. coli são cultivadas
em presença de lactose, que resulta na expressão de lactase. A regulação negativa é verificada quando as células que
estão expressando as enzimas para síntese de determinado aminoácido o recebem como suplemento alimentar. A partir
desse momento, as células reprimem a tradução das enzimas envolvidas na síntese do mesmo e as que estão prontas
são encaminhadas para a digestão proteassomal. Em ambas situações, cessado o aporte do substrato, o processo é
revertido. Este fenômeno fisiológico recebe o nome de feedback ou retro-alimentação.
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Já se considerando virologista, certamente você respondeu assim:
Seu clone Æ cultivado em meio de cultura pobre Æ centrifugado
e se recolhe o sobrenadante Æ passado em filtro esterilizante Æ
inocula-se o material filtrado em clones microbianos da mesma
espécieÆ espera-se o aparecimento de plaques no(s) clone(s)
de bactérias para os quais sua cultura é lisogênica. Para saber se
seu clone é indicador, você deve ter utilizado diferentes amostras
de bacteriófagos que infectam a espécie microbiana do seu clone.
A infecção fágica que resultar em plaques corresponde ao tipo viral
para o qual o seu clone microbiano é indicador. A literatura utiliza
os termos “ciclo lítico” e “ciclo lisogênico”, para definir as situações
que acabamos de apresentar, os quais guardam uma semântica
que não expressa a verdadeira fenomenologia do processo.
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MÓDULO 1
16
Os aspectos das viroses de plantas e de bactérias, aqui abordados,
não esgotam o assunto. Como você já está ciente, todos os seres vivos
AULA
podem desenvolver suas viroses, dependendo da competência metabólica
das suas células. Se você fizer uma pesquisa na web, vai se deparar com
os aspectos peculiares das viroses em fungos, protozoários, insetos,
lagartas, peixes, camarões, répteis, cetáceos e ao que mais lhe permitir
a sua imaginação em relação aos diferentes tipos de seres vivos.
CONCLUSÃO
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MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
ATIVIDADE FINAL
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____________________________________________________________________________
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__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
De forma simplificada, toda infecção em tecido vegetal tem início
quando a partícula viral (mono ou polipartite) é introduzida por processo
mecânico no âmago do tecido vegetal, fazendo com que os vírus
144 CEDERJ
MÓDULO 1
sejam depositados no ambiente citoplasmático do corpo sincicial da
16
planta. Este ambiente corresponde àquele onde os componentes dessa
AULA
partícula viral foram sintetizados e endereçados para uma determinada
área protoplasmática, onde foram montados sob a forma de um arranjo
molecular. Esse mesmo tipo de arranjo é desfeito quando se encontra
no local onde ocorreu a síntese. Sendo assim, deixa livre o genoma que
é processado pelo metabolismo do vegetal, para a síntese de novo, de
componentes virais para a construção de novas partículas.
Nas bactérias, a internalização do genoma dos fagos se dá por um
processo de injeção no qual as partículas dos fagos, particularmente
aqueles da série T par, se comportam como uma espécie de seringa
especial para “engenheirar” células.
RESUMO
CEDERJ 145
MICROBIOLOGIA | Vírus e viroses de plantas e de células procarióticas
Viroses na Natureza são fenômenos característicos dos seres vivos que, contaminados,
podem sobreviver ou sucumbir à infecção, dependendo da quantidade de células
competentes para tal que eles possuam. Nos animais, a maneira de expressão das
viroses e a forma como se recuperam espontaneamente destas são temas a serem
abordados na próxima aula.
146 CEDERJ
MÓDULO 1
16
SITES RECOMENDADOS
AULA
http://www.geocities.com/RainForest/2038/envmicro/envmicrop.htm
http:// www.micro.msb.le.ac.uk/Labwork/grow/grow1.htm
http://www.iac.sp.gov.br
http://www.embrapa.br:8080/aplic/bn.nsf/ Noticias?OpenView
CEDERJ 147
17
AULA
Cura espontânea
nas viroses de animais
Meta da aula
Evidenciar que as viroses são desenvolvidas por
organismos que apresentam células competentes
à produção de componentes virais e que a cura
nas viroses depende de mecanismos próprios da
comunicação celular.
objetivos
Pré-requisitos
Para que a sua compreensão desta aula flua melhor, você deve recordar
a Aula 4 onde foram apresentados os produtos celulares. Precisa ter
sedimentados os conceitos de viroses aprendidos nas Aulas 15 e 16, que
devem estar à mão para eventuais consultas. Você vai precisar também
recordar os tipos de sinalização celular apresentados nas Aulas 13 e 14 de
Biologia Celular. Além disso, será muito proveitosa a releitura das Aulas
31, 32 e 33 de Bioquímica II, para você relembrar os hormônios e sua
importância na fisiologia orgânica.
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
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MÓDULO 1
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Ciclina A
Fase G1
CDK2 Fase G0
AULA
Crescimento celular
Repouso celular e surgimento de
Ciclina A novas proteínas
Ciclina E
CDK1
CDK2 S
G2
Fase M
Ciclina B A célula se divide
G1 CDK1 (mitose)
Ciclina D M
CDK6
Ciclina D
CDK4
Fase G2 Fase S
A célula prepara-se A célula replica
G0 para a divisão seu DNA
Figura 17.1: Resumo das fases do ciclo mitótico de um tipo celular, mostrando os
momentos de ação das diferentes QUINASES e CICLINAS. QUINASES
Enzimas que promovem
a ativação ou a
Você deve estar pensando: se a multiplicação celular é um inativação das moléculas
ao fosforilá-las.
processo normal de diferenciação, então, as células devem passar por
uma atividade anabólica. É verdade! Para poderem se multiplicar, CICLINAS
Proteínas envolvidas
as células têm de crescer e para crescer têm de comer. Para isso, a nas diferentes etapas
célula precisa capturar elementos energéticos e nutrientes, presentes do ciclo mitótico.
CEDERJ 151
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
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MÓDULO 1
17
(somáticas), leucocitárias (monócitos, macrófagos e células dendríticas)
INSULINA E
e linfoblastóides (linfócitos B). Já o interferon do tipo γ é produzido SOMATOTROFINA
AULA
por linfócitos T e, por isso, também é denominado interferon Hormônios de natureza
protéica, originários,
imune. Fisiologicamente, os interferons do tipo β atuam de forma respectivamente, das
ilhotas de Langherans
parácrina, enquanto os dos tipos α e γ exercem seus efeitos de forma
(pâncreas) e da hipófise
endócrina, semelhante às ações dos hormônios peptídicos, como a INSULINA (cérebro). O primeiro
participa do metabolismo
e a SOMATOTROFINA. dos carboidratos e o
segundo, do crescimento
O efeito biológico dos interferons tem início quando essas corporal. Embora a
moléculas interagem com os receptores celulares. De acordo com o tipo origem glandular dos
hormônios seja fato
de receptor, com o qual pode se ligar, são classificados apenas dois tipos sacramentado pela
literatura médica, a
de interferons: no tipo I estão incluídos todos aqueles que compartilham o maioria dos hormônios
mesmo receptor (α, β e outros a estes assemelhados) e no tipo II encontra- peptídicos presentes
no corpo é produzida
se o γ, que tem receptor privativo. No interior das células, com as quais os pelos leucócitos, que
também apresentam
interferons interagem, verifica-se uma seqüência de eventos enzimáticos, receptores para eles. Se
isto é novidade para você,
que resulta na inibição da síntese protéica celular. Na Figura 17.2 você
procure a fonte: Brown,
pode perceber como ocorre esse mecanismo de ação dos interferons. S.L. and Blalock, J,
1990, obra citada
nas referências
Ligação dos interferons aos receptores celulares desta aula.
Figura 17.2: Efeito da sinalização dos IFNs sobre as células não linfocitárias: o blo-
queio da síntese protéica nas células sinalizadas com interferon se faz por duas
vias: pela degradação dos RNA m e por inibição do alongamento dos peptídios
em formação.
CEDERJ 153
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
154 CEDERJ
MÓDULO 1
17
Quando, após a sensibilização com interferon, as células do
corpo evoluem para o estágio de catabolismo, ficam impossibilitadas
AULA
de sintetizar novos produtos protéicos.
Sob esse estado de interferose, qualquer animal fica lerdo e
desatento. Essa situação é diretamente proporcional à quantidade de
interferon presente no organismo e tende a desaparecer após três a quatro
dias do início da interferose.
ATIVIDADE
____________________________________________________________
____________________________________________________________
_____________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
CEDERJ 155
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
ACTH Hipófise
Hormônio
adenocorticotrófico
produzido pela
ol
estimula a produção
ACTH
de hormônios
corticosteróides pelo
córtex das supra-
Renovação celular
renais.
l
so
rti
Co
Supra-renal
Cortisol ACTH
AULA
16
Cortisol plasmático (μg/dl–1)
12
0 h
0 4 8 12 16 20 24
Dormindo Acordado
Período de tempo
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Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
ATIVIDADE
______________________________________________________
______________________________________________________
_______________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
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MÓDULO 1
17
2. Transmissão vertical – aquela que ocorre de indivíduo que já nasceu
para um não-nascido. Nesta categoria, encontram-se as viroses transmitidas
AULA
da gestante para o feto, e a infecção é dita “adquirida in utero”. Como
sempre tem de haver exceções, a infecção transmitida pelo aleitamento
também é considerada como uma forma de transmissão vertical.
3. Transmissão tangencial – relacionada a acidentes, envolvendo
mordida de animais; picada de artrópodes vetores; injeções com
agulhas contaminadas; terapia sangüínea ou por hemoderivados
contaminados; hemodiálise com equipamento contaminado; inalação
de excretas de roedores.
a
tiv
un
Boca e nariz
nj
Co
Perfuração
Transfusão
Capilares
Trato respiratório
Trato alimentar
Picada de Mordida
artrópodos
Pele
Pele
Trato urogenital
Ânus
CEDERJ 159
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
ATIVIDADE
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
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MÓDULO 1
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Virose de transmissão Vetor
AULA
tangencial
Cão, gato, morcego
Raiva hematófago, sagüi
guaxinim.
Dengue Mosquitos Aedes aegypti.
Hemoderivados e
AIDS instrumentos perfuro-
cortantes contaminados.
Mosquitos Aedes aegypti
Febre amarela (no ambiente urbano) e
Haemagoggus spegazzini
(ambiente silvestre).
Hemoderivados e
Hepatite B instrumentos perfuro-
cortantes contaminados.
Hemoderivados e
Hepatite C instrumentos perfuro-
cortantes contaminados.
Hemoderivados e
Hepatite B/D instrumentos perfuro-
cortantes contaminados.
Excretas de roedores
Hantaanvirose silvestres.
CEDERJ 161
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
Endocitose
Partícula viral
Receptor
Clatrinas
Reciclagem
dos receptores
Reciclagem
das clatrinas
≤ 0,2 μm
Endossoma
162 CEDERJ
MÓDULO 1
17
As células competentes são responsáveis pela produção
VIROSE APARENTE OU
de virions e, conforme você pode observar na Figura 17.7, a produção de SINTOMÁTICA
AULA
vírus é tanto maior quanto maior for a quantidade de células competentes É aquela com
apresentação de sinais
comprometidas. A produção de vírus vai aumentando até atingir o ápice e sintomas, que podem
ser brandos (moderados)
e depois decai. Esse decaimento é diretamente proporcional à redução
ou intensos (graves,
do número das células produtoras. A redução do número destas células podendo inclusive ser
fatais). Essa gradação
deve-se às seguintes situações: nos níveis de sinais e
sintomas guarda relação
1. morte dessas células que esgotam seus componentes vitais na direta com a extensão
produção dos vírus; da lesão nos tecidos
comprometidos. Quanto
2. bloqueio parcial ou total do processo de renovação delas pelo maior o número de
células envolvidas no
efeito dos interferons sobre as células precursoras. processo de produção
dos componentes virais,
maior será a lesão e,
conseqüentemente, a
Quantidade ou intensidade
disfunção orgânica
responsável pelo
aparecimento dos sinais
e sintomas. Na virose
inaparente, o número de
células comprometidas
não é suficiente para que
se instale a disfunção.
Por isso, lembre-se de
Infecção primária Tempo que só tem virose
quem pode.
Carga viral
Interferons
Sintomas
Anticorpos
Figura 17.7: Eventos que ocorrem durante uma virose, após a infecção primária.
CEDERJ 163
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
LB
Monócito
IFN∝ IFN∝
Plasmócito
Macrófago
LT CD+4
IFNγ
Anticorpos
Figura 17.8: Cooperação celular na
resposta do organismo às viroses.
164 CEDERJ
MÓDULO 1
17
No quadrante superior esquerdo da Figura 17.8, estão
representadas as células precursoras, responsáveis pela renovação
AULA
natural dos tecidos nos seres vivos. Quando esta renovação atende às
células competentes para a produção de virions, possibilita a expansão
da virose. Esta expansão continua enquanto existirem células com esta
característica no órgão ou tecido comprometido. Se a proporção destas
no indivíduo for muito grande (entenda-se alta eficiência de infecção),
a disfunção gerada poderá levar à completa destruição das células do
órgão comprometido, levando-o à falência, da mesma forma como é
observado nas culturas indicadoras bacterianas que evoluem para lise,
como você viu na Aula 16.
Nos casos onde se observa a cura espontânea, a eficiência de
infecção é menor graças à menor proporção dessas células competentes
em relação às células não-competentes, no corpo do indivíduo. Na figura
que estamos analisando, as células não-competentes estão representadas
de forma retangular. A contaminação destas é acompanhada pela
produção de componentes virais que, ao serem reprovados no controle de
UBIQUITINAÇÃO
qualidade, são submetidos à UBIQUITINAÇÃO para depois serem degradados Fenômeno resultante
pela ação proteassomal das células. Por se tratar de componentes não da reação da
ubiquitina com as
codificados pelo genoma celular, a degradação se faz de forma incompleta. proteínas que não
passam no controle de
Os resíduos resultantes são exocitados em associação com as moléculas qualidade ou aquelas
do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) da classe I, pois que gastaram a meia
vida e precisam ser
os MHC desta classe somente expõem resíduos dos componentes que retiradas de circulação.
As proteínas marcadas
foram produzidos pela própria célula. com ubiquitina são
encaminhadas para
os proteassomas mas,
Ubiquitina - proteína de 76 aminoácidos, cujo nome deve-se à sua presença antes da degradação,
em todos os tipos de células. Para as proteínas, a marcação da proteína com a ubiquitina é
a ubiquitina pode ser considerada como um “beijo da morte”, pois a partir removida para ser
desse contato são encaminhadas para serem fragmentadas em pequenos reutilizada. Para mais
pedaços, até a total digestão, quando esta for possível. A descoberta detalhes, o endereço
das ubiquitinas e a participação destas na atividade proteassomal deve- eletrônico http:
//www.medterms.com/
se às pesquisas efetuadas por Aaron Ciechanover e Avram Hershko no
script/main/
Instituto de Tecnologia de Israel, na cidade de Haifa, e por Irwin Rose na
asp?articlekey=26110
Universidade da Califórnia, na cidade de Irvine, EUA, cujo reconhecimento
pode ser consultado.
os fez ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2004.
CEDERJ 165
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
166 CEDERJ
MÓDULO 1
17
Dentre a população de linfócitos B, alguns daqueles que aumentam
de tamanho, ao invés de seguir o caminho da mitose, diferenciam-se em
AULA
fábricas secretoras de imunoglobulinas (anticorpos), conhecidas como
plasmócitos. Estes linfócitos B diferenciados secretam anticorpos durante
um certo período de tempo e, depois, entram em apoptose. Seus resíduos
servem de nutrientes para outras células, também contribuindo para a
manutenção do estado vital do organismo.
Sempre que células entram em estado de anabolismo (obrigatório
para que elas cresçam e entrem em mitose), elas secretam IFNs, haja
vista que precisam da insulina, como você aprendeu na parte inicial onde
foram abordadas as bases fisiológicas nas viroses.
O efeito inibidor mediado pelos IFNs secretados vai ser exercido
sobre as células não-linfáticas, principalmente aquelas responsáveis
pela renovação basal dos tecidos, atingidas de maneira parácrina ou
endócrina. A inibição ocorre no processo de diferenciação, conforme
foi abordado na Atividade 1. Você se recordou? Sem diferenciação, a
renovação celular deixa de ser feita e, com isso, instala-se a escassez das
células produtoras de vírus, o que leva à redução da carga viral. Sem
as células competentes para manterem a virose, a conseqüência natural é
a cura que, como você viu, foi promovida pelos mecanismos fisiológicos
do indivíduo acometido. No conjunto de células não-competentes,
algumas são contaminadas e, embora a infecção viral seja abortada, estas
células são penalizadas com a morte mediada por linfócitos citotóxicos.
O dano tecidual resultante deste processo será diretamente proporcional à
carga viral que foi produzida. Desta maneira, você pode perceber que os
sinais e sintomas, nos casos de viroses, aparecem quando se inicia a cura.
CEDERJ 167
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
168 CEDERJ
MÓDULO 1
17
Como artimanha para sobrevivência, as população de linfócitos
penalizadas passam a produzir ACTH e outros hormônios peptídicos, em
AULA
substituição à hipófise, que foi bloqueada em suas funções, em virtude
da interferose. Reinstala-se, assim, o processo de renovação celular, com
o restabelecimento da higidez, acompanhada dos anticorpos produzidos
pelos plasmócitos que estiveram envolvidos no processo de cooperação
celular para a limpeza do corpo.
CEDERJ 169
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
170 CEDERJ
MÓDULO 1
17
AULA
Figura 17.11: À esquerda, baleia fazendo evoluções em alto mar; à direita, representação
artística de uma baleia com interferose.
CEDERJ 171
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
172 CEDERJ
MÓDULO 1
17
Na Figura 17.14 está representado o gráfico da evolução do crescimento
populacional da humanidade, com a projeção até o ano 2040.
AULA
2040 12
(Bilhões habitantes)
10
População mundial
2020 8
Figura 17.14: Aumento populacional humano ao longo dos anos, com a projeção
até 2040.
CEDERJ 173
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
ATIVIDADE
• O curso natural da evolução das infecções com HIV aponta para uma
menor virulência numa determinada população (p. 114).
__________________________________________________________
__________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________________________
174 CEDERJ
MÓDULO 1
17
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Você notou a conotação direta ou indireta do efeito das viroses como
elemento de seleção? Em todos os relatos você pode perceber a referência
à proporção de indivíduos que resistem à infecção ou a desenvolvem de
forma assintomática.
As descrições mencionam a situação a que estavam submetidos os seres
humanos, independente da época e da região geográfica. Considerando os
fenômenos como um processo de seleção, é possível prever que, geração
após geração, a população humana vinha sendo selecionada para o
predomínio de indivíduos resistentes, o que é uma tendência natural.
CONCLUSÃO
CEDERJ 175
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
ATIVIDADE FINAL
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
176 CEDERJ
MÓDULO 1
17
RESPOSTA COMENTADA
Latas vazias, água parada, tudo armado para fazer dos mosquitos os bichinhos de
AULA
estimação dos sitiantes. Mosquitos de cor escura e vôo silencioso, com manchas
brancas nas patas e o desenho de uma lira no tórax, que gostam da sombra:
é claro que você se lembrou de que estas características são dos Aedes aegypti,
os mosquitos vetores da dengue, pois isto todo dia sai na mídia. Os sinais e
sintomas apresentados também eram compatíveis com uma interferose, ou seja,
inibição de síntese protéica, com conseqüente lentidão na renovação celular e
tecidual do organismo, cujo desgaste normal não é compensado. Com isso você
justificou as dores do corpo. A febre e o mal-estar geral mostram um organismo
sob o efeito da interferose. A coceira é sinal de linfócitos citotóxicos em grande
atividade, atacando células que estão exocitando resíduos via MHC de classe
I. Monócitos estão recolhendo os despojos das células mortas. Leucopenia e
plaquetopenia mostram que a medula óssea não está fazendo a reposição
adequada dos elementos sangüíneos. Isso é uma das conseqüências do nível
elevado de interferon no organismo, que também se reflete na diminuição do teor
de cortisol circulante. Com pouco cortisol, o tempo do ritmo circadiano é encurtado
e, com isso, o indivíduo fica cansado e com sono mais cedo, pois a disfunção fica
mais evidenciada no final da tarde. Com a renovação tecidual bloqueada, decai
o aparecimento de novas células competentes e, sem elas, não há produção de
novos virions. Sem novas células infectadas, o nível de interferons, volta ao normal
e as funções orgânicas são restabelecidas, uma vez que o indivíduo se curou
espontaneamente. E, assim, termina o martírio de uma dengue. Aleluia!!!
RESUMO
CEDERJ 177
Microbiologia | Cura espontânea nas viroses de animais
178 CEDERJ
18
AULA
Epidemiologia: prevenção
e controle das infecções
Meta da aula
Apresentar o papel seletivo das infecções
microbianas e virais sobre a espécie humana.
objetivos
Pré-requisitos
Para ter um bom desempenho no aprendizado, você deve rever na
Aula 1 os tipos e quantidades de células que compõem o corpo
humano; da Aula 4 você deve se lembrar da parede celular presente
nos micróbios e deve relembrar a curva de crescimento celular
apresentada na Aula 6. Reveja a forma como as bactérias fazem a
digestão protéica, extracelularmente, comprovada na Aula 8.
As Aulas 15,16 e 17 são essenciais para o entendimento desta aula
e é aconselhável que você faça uma revisão das mesmas.
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
INTRODUÇÃO A seleção natural na espécie humana vem sendo exercida, desde o seu
surgimento, há cerca de 100 mil anos, pelas doenças infecciosas que atuam
como barreiras seletivas. Dessa forma, essa seleção estabelece que somente os
aptos sobrevivam. A história da humanidade é repleta de relatos, registrados em
documentos, esculturas e pinturas, que nos contam parte desse desenvolvimento.
Uma observação mais atenta desses registros históricos, artísticos ou não, nos
fornece uma visão das heranças genética e social das populações humanas. Essas
heranças, durante séculos, vêm superando os elementos microbianos garantindo
à humanidade a capacidade de sobreviver às doenças infecciosas.
Ao longo das gerações, a espécie humana vem procurando compreender e
diagnosticar as doenças, na tentativa de se prevenir delas ou, ainda, de buscar a
cura para os que por elas são acometidos. Assim, das mais diferentes maneiras, o
homem foi pesquisando, transmitindo e ampliando esses conhecimentos através
dos tempos. Parafraseando Confúcio (551–479 a.C.), “se quiseres prever o futuro,
estuda o passado” pois, conhecendo a história fica mais fácil entender vários
aspectos da ciência, em particular, da Microbiologia. Além do mais, a base de
qualquer conhecimento científico é reforçada quando se dispõe de percepções
antagônicas para, a partir delas, se construir a própria conclusão.
Nesta aula, você vai estudar o papel dos micróbios e dos vírus em algumas
doenças que acometem os seres humanos e verá que, muitas vezes, ao invés
de vilões, os agentes infecciosos são meras desculpas usadas pela população
para encobrir os hábitos que adotam e a falta de condições sanitárias do
ambiente em que vivem.
Ao aprender alguns dos fatores que regem a interação dos micróbios ou dos
vírus com os seres humanos, você vai compreender a influência das doenças
EUGENIA infecciosas na EUGENIA humana, e descobrir o mínimo múltiplo comum das
Processo baseado na ciências microbianas.
seleção de caracteres
genéticos que
busca promover o
aperfeiçoamento nas BREVE HISTÓRICO SOBRE AS DOENÇAS INFECCIOSAS
espécies.
Durante milhares de anos, as doenças foram consideradas
como punições divinas e, os sacerdotes, por meio de rituais, tentavam
TRIQUINOSE
aplacar a fúria dos deuses. Os ensinamentos sagrados ditavam regras de
Parasitose, decorrente
da infestação pelos comportamento (coletivo ou individual), de alimentação e de obrigações
nematelmintos
Trichinella spiralis, religiosas que deviam ser cumpridas pela sociedade, a fim de não despertar
que é transmitida aos
seres humanos através
a ira dos deuses. Podemos citar, como exemplo, a tradição judaica e sua
da ingestão de carne proibição à ingestão da carne de porco. O cumprimento desta abstinência
de porco crua.
fez desaparecer a doença TRIQUINOSE entre os judeus.
180 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Por volta do ano 600 a.C., os filósofos gregos naturalistas
começaram a questionar esta submissão aos deuses, pois consideravam as
AULA
doenças como fenômenos naturais e, por isso, estes deveriam ser explicados
por meio da observação e da lógica. Hipócrates (460-370 a.C), considerado
o pai da Medicina moderna, aos quarenta anos de idade, ensinava que
as doenças eram conseqüências do desequilíbrio dos “humores” do
corpo. Tais humores eram o sangue, o muco, a bile amarela (de fígado)
e a bile negra (do baço). Estes, por sua vez, estavam associados aos
quatro elementos da Natureza (água, terra, ar e fogo). O uso de sangrias,
vomitórios e purgativos tinha por finalidade restabelecer o equilíbrio entre
os humores, pois retiravam aquele que estivesse em excesso.
Os médicos da Grécia antiga, bem como seus sucessores do Oriente
e de toda a Europa, utilizavam, como medicamentos, apenas produtos de
origem animal ou vegetal. Foi somente no início do século XVI que, por meio
das idéias de Paracelsus (1493-1541), teve início a utilização de elementos
minerais como o mercúrio e o antimônio para o tratamento de doenças.
Ele acreditava que, apesar de serem tóxicos, tais elementos possuíam
“forças astrais” que contribuíam para a cura. Entretanto, para o paciente,
muitas vezes, a busca pela cura era pior que a doença, pois resultava em
morte imediata, devido aos métodos adotados no tratamento.
Como forma de prevenção, medidas sanitárias simples e eficientes
podem ser encontradas na história da humanidade. Desde o século IV
a.C. a cidade de Roma eliminava seu esgoto através de uma canalização
denominada “cloaca máxima”. Nessa época, apesar dos esforços, a
humanidade não se livrava das doenças contagiosas. Por isso, passou a
atribuí-las à ação dos “maus espíritos” e dos MIASMAS. MIASMAS
Por volta do ano 1000, o médico árabe Avicena (980-1037) Emanações exaladas
pelos corpos em
aventou a hipótese de que, em certas doenças contagiosas, substâncias decomposição
ou pelas águas
nocivas, excretadas pelos doentes, penetravam no solo, contaminavam a estagnadas, às
água de beber, e assim, faziam novos doentes. Infelizmente, esta e outras quais, antes da
descoberta dos
visões, bastante óbvias para os dias de hoje, não eram levadas a sério. micróbios, atribuía-se
a contaminação das
Já no século XVI as idéias sanitaristas para prevenção de doenças doenças infecciosas.
contagiosas começaram a ser estabelecidas nos países nórdicos, porém
só foram generalizadas por toda a Europa no século XIX. Em 1842, na
Inglaterra, Edwin Chadwick (1800-1890), com seu trabalho sobre as
condições sanitárias dos trabalhadores, estabeleceu uma relação direta
entre a falta de higiene e as doenças.
CEDERJ 181
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
182 CEDERJ
MÓDULO 1
18
A batalha contra os agentes infecciosos ainda parece estar longe
ESTREPTOMICETOS
de ser vencida, porém, os exemplos das gerações que nos antecederam,
AULA
Designação comum dada
levam-nos a estabelecer a idéia de que, mais importante do que curar às bactérias do gênero
Streptomyces, imóveis,
os doentes, é prevenir que eles adoeçam e, para isso, a manutenção de aeróbicas e Gram-positivas,
que crescem sob a forma
padrões sanitários é a forma mais econômica de assegurar o bem-estar
de micélio ramificado.
da população. Incluem formas que vivem
no solo. São notáveis pela
Ao longo de várias gerações, as comunidades humanas têm produção de antibióticos,
como a estreptomicina e a
demonstrado preocupação com as pessoas que morrem acometidas de tetraciclina.
doenças contagiosas (microbianas ou virais), principalmente, quando se
defrontam com situações epidêmicas. Nestes casos, o grande desafio é MICOPLASMAS
saber o que diferencia os indivíduos susceptíveis dos resistentes. Bactérias diminutas do
gênero Mycoplasma. São
Em relação às infecções por agentes microbianos, sejam elas Gram-negativas, imóveis,
e se caracterizam como
relacionadas com protozoários, fungos, bactérias, ESTREPTOMICETOS ,
sendo o único tipo de
MICOPLASMAS, RIQUÉTSIAS ou CLAMÍDIAS, a possibilidade de evoluir ou não células procarióticas
desprovido de parede
para doença, depende do indivíduo contaminado. A espécie humana celular (veja a Aula 4).
CEDERJ 183
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
Microbiota Humana
Número total Relação
de bactérias Anaeróbios:
por/mL ou por/g Aeróbios
Trato respiratório superior
lavado nasal 103-104 3-5:1
6 9
saliva 10 -10 1:1
10 11
superfície dentária 10 -10 1:1
11 12
sulco gengival 10 -10 1000:1
Trato gastrintestinal
estômago 102-105 1:1
intestino delgado 102-104 1:1
4 7
íleo 10 -10 1:1
11 12
cólon 10 -10 1000:1
trato genital feminino
endocérvice 108-109 3-5:1
8 9
vagina 10 -10 3-5:1
1
Em algumas cavidades do corpo, essa relação pode ser de 1000 .
As bactérias têm, em média, um tempo de geração que varia entre 30 e 60
minutos, enquanto as células não-microbianas levam, em média, 24 horas
para completarem o ciclo mitótico, como você pode ver na Figura 18.1.
Taxa de renovação:
5 – 20 bilhões de células/
hora;
Figura 18.1: À esquerda: composição celular do corpo humano, quanto à proporção, ao tempo de geração e à taxa de
renovação. À direita: imagem de esfregaço de sulco gengival, corado pelo método de Gram, conforme executado na
Aula 5. Note que as bactérias estão aderidas às células epiteliais.
184 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Qualquer célula, para crescer e se multiplicar, precisa de alimentos.
No caso das bactérias, em razão da parede celular rígida, a digestão dos
AULA
substratos é feita no ambiente externo, ou seja, elas precisam, primeiro,
hidrolisar os produtos do meio exterior para, depois, poderem absorver
os nutrientes. Para isto, se estão vivas, estão continuadamente secretando
as proteases, lipases, glicosilases e DNAses do seu repertório, conforme
foi explicado na Aula 8.
As células fagocitárias do corpo humano fazem a digestão do
material que fagocitam por meio de suas enzimas lisossomais, conforme
representado na Figura 18.2.
Fagócito emite
pseudópodos para
engolfar a partícula
Fagossoma
Lisossoma
Enzimas lisossomais
(hidrolases acídicas)
Fagolisossoma (digestão
pelas enzimas lisossomais)
MHCII
Digestão
incompleta
Digestão
completa
Exocitose dos resíduos
Figura 18.2: Representação esquemática do modelo de fagocitose e digestão por enzimas lisossomais,
do material contido no fagossoma, e exocitose dos resíduos.
CEDERJ 185
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
186 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Como conseqüência da exocitose dos resíduos da digestão, estes
são aproveitados principalmente por linfócitos T CD4+, como você
AULA
viu na Aula 17. Quando sobram para os linfócitos B, estes passam
a secretar anticorpos reativos para os respectivos resíduos. Dessa
forma, examinando a Figura 18.3 e a Tabela 18.2, você pode verificar,
respectivamente, a rota bioquímica da síntese dos polissacarídios que
caracteriza os grupos sangüíneos dos tipos “0”, “A”, “B” e “AB”, os
elementos genéticos e a expressão sorológica nos indivíduos dos referidos
grupos. Um detalhe interessante deste processo é que, ao nascer, os seres
humanos não apresentam os anticorpos anti-B, anti-A ou anti-A e B. Eles
só os fazem à medida que vão se alimentando. Assim, os indivíduos “A”
fazem anti-B; os anti-A aparecem nos indivíduos do grupo sangüíneo “B”
e os indivíduos “0” fazem tanto anticorpos anti-A como anti-B. Desta
forma, você pode perceber que este fenômeno imuno-hematológico está
diretamente relacionado com o repertório enzimático envolvido na síntese
e degradação dos constituintes celulares durante as fases de anabolismo
e catabolismo, relacionadas diretamente com a renovação celular dos
tecidos do indivíduo.
Elementos basais
Síntese Degradação
Fucose
Enzima “A”
Enzima “B”
Componente “A” NAcgal Componente “B” gal
Prot - NAc gal - gal - Nac glu - gal Prot - NAc gal - gal - Nac glu - gal
Fucose Fucose
CEDERJ 187
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
Tabela 18.2: Características genotípicas, proteômicas e sorológicas dos grupos sangüíneos ABO.
188 CEDERJ
MÓDULO 1
18
que os habilita a proceder à digestão lisossomal de qualquer resíduo
celular contendo elementos expressos a partir do genoma das populações
AULA
celulares dos indivíduos.
Essa versatilidade metabólica dos monócitos, também encontrada
nas CÉLULAS DENDRÍTICAS, dá ao indivíduo a possibilidade de manter a íntima CÉLULAS DENDRÍTICAS
associação com a microbiota, assim como protegê-lo de infecções por agentes Células do Sistema
Monocítico
microbianos que detenham versatilidade enzimática inferior à dele. Fagocitário que,
como os macrófagos,
Essas características são atributos genéticos passados de geração exercem funções
fagocíticas.
para geração. Dessa forma, pais que possuem repertório enzimático
capaz de debelar infecções por MICOBACTÉRIAS de origem vacinal, VACINA
BCG, passam essa característica, de forma mendeliana, para seus filhos MICOBACTÉRIAS
e, assim, quando essas crianças são inoculadas com BCG, demonstram Bactérias, em forma
de bastonetes retos ou
essa herança ao se curar espontaneamente da infecção vacinal.
encurvados, imóveis.
O inóculo de BCG consiste de 106 destes bacilos vivos, que se São aeróbicas, do
gênero Mycobacterium
espera sejam mortos e degradados quando forem fagocitados. Na e largamente
distribuídas no solo
maioria das vezes, os micróbios perdem. Porém, o tempo desse embate e na água; entre elas
pode ser rápido ou demorado e a conseqüência dessa demora é a marca encontram-se os
bacilos da tuberculose
representativa do confronto que as pessoas exibem. Há crianças que (Mycobacterium
tuberculosis) e os da
evoluem sem marca, ou seja, são muito versáteis quanto à digestão hanseníase (M. leprae).
lisossomal. Com isto, livram-se da infecção sem danos teciduais.
Na Figura 18.4 você vê algumas marcas resultantes do processo VACINA BCG
de vacinação com BCG, em pessoas que demonstraram possuir as (BACILOS DE
CALMETTE &
características genéticas do repertório enzimático que lhes confere a GUÉRIN)
resistência. Embora resistam, levam mais tempo para se livrarem das Vacina preparada a
micobactérias. O tempo que demora para a cura será diretamente partir de um clone de
bacilos da tuberculose
proporcional à extensão da lesão. Por isso, há os que têm marcas bovina, obtido pelos
pesquisadores Albert
pequenas e outros com marcas maiores, que variam em tamanho, desde Calmette e Camille
Guérin, no Instituto
2mm até 3cm.
Pasteur de Paris.
Há ainda aqueles nos quais a agressão tecidual é tão extensa que
precisam de tratamento médico para se livrar da infecção vacinal.
CEDERJ 189
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
4000
3500
Identificação
3000 do bacilo da
TAXA DE MORTALIDADE ANUAL
tuberculose
2500
2000
Início da
1500 antibioti- Introdução
coterapia da vacina
BCG
1000
500
0
1838 1850 1880 1870 1880 1890 1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970
190 CEDERJ
MÓDULO 1
18
A ETERNA BATALHA DO HOMEM CONTRA OS MICRÓBIOS
O termo BUBÔNICA
é referência aos
AULA
bubões, isto é,
A peste bubônica gânglios linfáticos
horrivelmente
inchados, que
Desde eras remotas, o caráter de resistência dos seres humanos
aparecem como
às infecções microbianas vem sendo aperfeiçoado. Como exemplo, no um dos primeiros
sintomas da peste e
flagelo mediado pela PESTE BUBÔNICA, enquanto não se conheciam medidas que, quando tocados,
fazem os pacientes
profiláticas nem tratamento com antibióticos, os indivíduos suscetíveis urrar de dor. São
eram ceifados da população. resultantes da infecção
por Yersinia pestis,
São muitos os relatos de epidemias de peste associada com a que são cocobacilos
Gram- negativos,
presença de roedores, principalmente o rato doméstico (Rattus rattus), imóveis. As células
cujas pulgas eram as responsáveis pela transmissão aos seres humanos. desses cocobacilos
apresentam uma
Em um ambiente sujo, sem as atuais noções de higiene, é de se prever tendência de
coloração acentuada
que à medida que aumentava a população de roedores em torno das nos pólos.
residências, a chance de ocorrer a peste aumentava. Acreditava-se,
inclusive, que os ratos eram anunciadores da peste. YERSINIA PESTIS
Essa aproximação dos roedores ocorria, geralmente, quando havia Bactérias Gram-
negativas, classificadas
longos períodos de estiagem. Com a diminuição da disponibilidade de na família
grãos nos campos, os ratos se aproximavam das residências. Quando Enterobacteriaceae.
São encapsuladas,
os ratos morriam, as pulgas contaminadas iam buscar alimento nas crescem em condições
de aerobiose
pessoas. Como poderiam as pessoas imaginar que os ratos estavam ou anaerobiose
contaminados? O agente microbiano da peste é a YERSINIA PESTIS. Nas (facultativos).
A cápsula dessas
comunidades humanas atingidas, os susceptíveis morriam, sobrando bactérias é composta
por moléculas de
apenas os resistentes ao final das epidemias. lipopolissacarídeo
(LPS), que atuam
como uma potente
Relatos descrevem que, no final do ano de 542 e no início de 543, em toxina nos indivíduos
Constantinopla, ocorreu uma epidemia de peste em que o número de susceptíveis.
mortes chegou a 10 mil por dia. Em cinco anos a população foi reduzida
em 25% e a infecção esteve presente, de forma endêmica, durante 25
anos. A população da China foi reduzida de 123 milhões, no ano de 1200,
para 65 milhões em 1393. Na Europa, durante o século XIV, essa seleção
dizimou um terço da população, e, em algumas cidades, o efeito foi ainda
mais catastrófico: Florença, Veneza, Siena e Oviedo, cidades florescentes na
Renascença, chegaram a perder 60% dos seus habitantes. O escritor italiano
Giovanni Boccaccio (1313-1375), ao descrever esse pandemônio, relatou que
ele influiu na destituição da ordem social em todos os níveis, da família ao
Estado. No ano de 1570, a peste chegou a Lisboa, durante o reinado de Dom
Sebastião (o Desejado), e dizimou 90% de seus moradores. Em Paris, a taxa
de mortalidade chegou a 800 por dia. Entre agosto e setembro de 1665,
sete mil pessoas morriam por semana em Londres. No início do século XX, a
Índia perdeu 10 milhões de habitantes. Desde então, os surtos de peste neste
país têm sido limitados. Destes relatos deduz-se que os sobreviventes eram
pessoas com repertório enzimático diversificado o suficiente para suplantar
o potencial digestor das Yersinias, no ambiente fagolisossomal.
CEDERJ 191
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
A FEBRE TIFÓIDE
Mary Mallan, uma cozinheira, atraiu a atenção da imprensa pela primeira vez em 1906, quando o
General William Henry Warren, ao alugar uma casa de praia para passar o verão com a família na
baia de Oyster, a contratou. Em três semanas, seis das onze pessoas da casa apareceram com febre
tifóide. O fato chamou a atenção das autoridades sanitárias para aquela casa, pois a febre tifóide é
uma doença de notificação compulsória e não havia sido descrito nenhum outro caso na região. As
investigações provaram que o foco da infecção estava na senhora Mallan e que esta estava envolvida
em 14 outros casos por onde havia trabalhado durante os cinco anos precedentes. Os jornalistas da
época cunharam para a Mary o codinome Mary Tifóide. Ela morreu de derrame, mas, investigações
posteriores indicaram que ela esteve envolvida diretamente com 53 casos de febre tifóide, sendo três
fatais. E você pensa que esse é um evento raro? Pois saiba que os jornais ingleses, em 1976, noticiaram
uma matéria semelhante envolvendo uma cozinheira de um navio de cruzeiro do Mediterrâneo.
Estima-se que, só nos EUA, existam, pelo menos, duas mil pessoas que carreiam S. typhi como elementos
da microbiota intestinal. Antes da disponibilidade de antibióticos para o tratamento, a salmonelose
exercia um efeito seletivo sobre as grandes aglomerações humanas, favorecendo aos resistentes.
A antibioticoterapia na salmonelose teve seu apogeu quando o cloranfenicol foi descoberto. Este
antibiótico, embora altamente eficiente contra S.typhi, mostrou-se tóxico para as mitocôndrias das
células humanas, principalmente para aquelas da medula óssea, causando APLASIA. Assim como este
antibiótico, a tetraciclina também tem efeito adverso no tecido ósseo dos dentes em formação, dando,
aos da segunda dentição, uma cor escura.
192 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Graças à seleção natural, a predominância de indivíduos resistentes
à febre tifóide na população cresceu ao longo das gerações, conforme você
AULA
pode perceber analisando a Figura 18.5. Além do mais, o saneamento
básico dos centros urbanos tem contribuído para a higienização do
ambiente, fato que diminui, ainda mais, a probabilidade de um suscetível
ser contaminado.
FEBRE TIFÓIDE
600
400
habitantes
300
200
100
1960
1950
1970
1910
1940
1930
1920
Figura 18.5: Taxa de mortalidade da febre tifóide nos EUA, no período de 1910 a 1970.
DOENÇA VENÉREA
Relativa a Vênus, a
A SÍFILIS deusa do amor. Mais
apropriadamente
denominada como
DOENÇA VENÉREA que começou a ser relatada a partir de 1530. doença sexualmente
O micróbio envolvido só foi reconhecido em 1905. Os relatos de sífilis, transmissível (DST).
A sífilis, ou lues, é
na época em que não existia tratamento com os antibióticos, descrevem relacionada com
a infecção por
que a infecção evoluía em três estágios. O primeiro, quando aparece a Treponema pallidum,
lesão primária no órgão genital. Esta lesão regride espontaneamente. bactérias de forma
espiralada, com
Em 60% a cura é completa, sendo que, metade das pessoas curadas 200nm de espessura
e 10.000nm de
apresentam resposta imune, com presença de anticorpos reativos para comprimento.
A estrutura fina e
os componentes dos treponemas e a outra metade não. Os outros 40%
o ágil movimento
evoluem para os estágios secundário e terciário. giratório destas
bactérias permitem
que elas penetrem
no corpo, através da
mucosa íntegra.
CEDERJ 193
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
194 CEDERJ
MÓDULO 1
18
ATIVIDADE
AULA
1. No que diz respeito à convivência das populações humanas com os
micróbios, observe a figura a seguir, onde são mostrados, de forma gráfica,
os dados estatísticos referentes à taxa de mortalidade por COQUELUCHE, durante
o período de 1880 a 1970. Levando em consideração que a vacina contra a
COQUELUCHE só foi disponibilizada em 1939 e, mesmo após a descoberta dos
900
contagiosa, resultante 600
da infecção por 700
bactérias da espécie 500
habitantes
Bordetella pertussis,
400
também conhecidas 1939 Introdução da vacina
300
como bacilos de Bordet
200
& Gengou. Outra
denominação para a 100
doença é tosse comprida 0
ou pertussis (em latim Ano
Per tussis = super tosse).
1940
1950
1930
1920
1910
1960
1970
1890
1900
1920
1920
1880
Os doentes apresentam
fortes ataques de tosse
espasmódica, devido _________________________________________________________________
à irritação provocada
_________________________________________________________________
pela toxina do corpo
bacteriano sobre as
células do epitélio RESPOSTA COMENTADA
da traquéia e dos
Seleção de resistentes. Observe que durante o período de 1880 até
brônquios. Em alguns
acometidos, ocorre a 1939 a população humana não dispunha de recursos terapêuticos.
morte decorrente da A doença é altamente contagiosa e acomete de forma mais grave
evolução da doença
para pneumonia. as crianças com menos de um ano de vida. Portanto, aqueles que
dispunham de repertório enzimático capaz de digerir os agentes
microbianos e as suas toxinas, ao serem selecionados, passavam essa
característica para a geração seguinte. Para reforçar essa conclusão,
você pode acessar o site http://www.vaclib.org/basic/history.htm.
Até aqui, você está percebendo que o potencial dos seres humanos
para resistirem às infecções bacterianas, quaisquer que sejam elas,
depende da amplitude do repertório enzimático que expressem. Quanto
mais amplo este for, maior será a chance de superar essas infecções. Como
foi mencionado, nos casos de cura espontânea da sífilis, há, inclusive,
CEDERJ 195
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
196 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Muitas vezes, as coisas se passavam assim: viajantes chegavam
às cidades com saúde, pouco tempo depois, tombavam subitamente
AULA
doentes, ficavam acamados com dores por todo o corpo, febre muito alta
e delírios. Dois a três dias depois, o mal-estar cessava e os doentes pareciam
estar em convalescença, mas eis que, em seu rosto e por todo o corpo,
apareciam máculas que se transformavam em pápulas que intumesciam,
virando vesículas e depois pústulas que supuravam. A região supurada
inchava e a febre voltava. Quando não morriam, ficavam com as marcas
das pústulas. Mesmo assim, consideravam-se felizes, pois havia aqueles
que ficavam surdos ou cegos ou com lesões cardíacas. Se os homens já se
importavam em ter a face cheia de marcas, imagine o desespero das moças
estigmatizadas pela virose!
No que tange ao processo de seleção, uma EPIDEMIA de varíola que
EPIDEMIA
atingiu o Oriente Médio, no ano de 165, ceifou a vida de, pelo menos, um
Incidência, em curto
terço dos súditos do Império Romano. Na Europa, as epidemias de varíola período de tempo,
coincidiram com o retorno dos soldados das Cruzadas. Da Europa, foi de grande número de
casos de uma doença,
levada pelos espanhóis para o Novo Mundo. Como conseqüência, grande com rápida difusão
que decresce após
parte da população dos astecas, maias e incas foi dizimada. Só em relação
um certo período
aos astecas, em 1520, metade da população sucumbiu à varíola. de tempo. Difere
do termo endemia,
Os europeus, como já haviam passado pela varíola, ao chegarem o qual corresponde
para colonizar os EUA, tiveram nessa virose seu principal aliado para a uma situação de
ocorrência de uma
reduzir a população indígena, nativa da América do Norte. doença infecciosa, com
baixa freqüência numa
As epidemias de varíola continuaram a ocorrer ao longo dos séculos.
determinada região,
Os relatos da Islândia mostram que, em 1707, um terço da população do porém se mostra
perene ao longo
país foi dizimada. Em 1717, na cidade de Boston, dos seis mil habitantes dos anos.
que contraíram a doença, 900 morreram. Na Rússia, estima-se que o
número de vítimas em 1776 tenha chegado a dois milhões de pessoas.
A última década do século XVIII foram anos dramáticos em relação
à varíola. Em certas regiões da Alemanha, um sexto da população foi
dizimado. Na Prússia, só em 1796, foram 26.646 vítimas letais. Na França,
um quarto dos habitantes sucumbiu à doença ou ficou desfigurado.
CEDERJ 197
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
198 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Vírus da varíola humana, provenientes de crostas, continuam guardados
em laboratórios dos EUA e da Rússia, o que gera um sentimento de
AULA
intranqüilidade face à possibilidade de esse material ser utilizado como
arma de guerra. Entretanto, essa possibilidade esbarra na seguinte questão:
onde estão os suscetíveis, se as gerações do presente são os descendentes
dos sobreviventes do passado?
Taxa de mortalidade
1867 início
da vacinação
obrigatória
Ano
Figura 18.6: Eventos alusivos à vacinação antivariólica. À esquerda, uma tela mostrando uma cena de vacinação
antivariólica em crianças. À direita, uma gravura de Edward Jenner com a ordenhadora ao fundo. No centro,
a representação gráfica dos casos de morte com varíola.
ATIVIDADE
RESPOSTA COMENTADA
Você sabe que para existir a doença é preciso que existam as pessoas
suscetíveis e, os suscetíveis para as viroses são aqueles que têm
repertório enzimático compatível para a produção dos vírus.
Considerando que a preparação vacinal era constituída por partículas
virais infecciosas, era de se esperar que na população existissem
pessoas portadoras de maior ou menor proporção de células
competentes. Estes últimos eram aqueles indivíduos descendentes
das gerações resistentes. Nos indivíduos com proporção intermediária
CEDERJ 199
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
A GRIPE
200 CEDERJ
MÓDULO 1
18
O efeito dessa gripe foi devastador e estima-se que 5 a 7% da
população mundial sucumbiu com essa virose. Em números, isso
AULA
correspondeu a 50 milhões de pessoas. As situações mais dramáticas
ocorreram nas cidades de Londres, Nova York e Rio de Janeiro.
A onda epidêmica causou verdadeiros pandemônios. Imagine uma cidade
onde 50% de seus habitantes estão com gripe e a doença evolui para
pneumonia, deixando suas vítimas moribundas, acamadas e sem poder
contar com a solidariedade de outras pessoas.
Figura 18.7: À esquerda- fotografia com máquina de alta velocidade (1/2000 de segundo), e com ilumi-
nação indireta, mostrando as gotículas de muco eliminadas num espirro. À direita – forma educada de
se adquirir gripe, ao inspirar o ar para dizer saúde.
CEDERJ 201
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
AULA
Este é outro tipo de infecção viral transmitida facilmente, de pessoa
a pessoa, principalmente em conglomerados urbanos. A transmissão é
do tipo horizontal. As pessoas contaminadas, inicialmente, disseminam
os vírus através de perdigotos, tosse ou espirro e depois continuam
eliminando vírus infecciosos nas fezes, por um período de até dois
meses. Os indivíduos que desenvolvem poliomielite são aqueles nos
quais a infecção compromete células da porção cinzenta da medula
espinhal, posicionada na base do cérebro. A lesão neuronal se reflete BULBO RAQUIANO OU
RAQUIDIANO
sobre a função das fibras nervosas responsáveis pela atividade muscular
Segmento do sistema
motora. Essa disfunção muscular é responsável pela paralisia dos nervoso central
que, em direção
membros afetados. Sem estímulo para funcionar, o músculo atrofia.
ascendente, continua
Quando o comprometimento atinge o BULBO RAQUIANO, a paralisia se faz a medula espinhal
e se comunica com
sobre os músculos respiratórios. Sem respirar, a morte era certa mas, se o encéfalo, estando
os pacientes fossem mantidos respirando com o auxílio de um pulmão situado adiante do
cerebelo.
de aço, os que se recuperavam ficavam sem seqüelas.
Pulmão de Aço era um “respirador” utilizado na terapia intensiva de pessoas com poliomielite bulbar.
O paciente ficava dentro da câmara, apenas com a cabeça do lado de fora. No interior da câmara,
a pressão aumentava e diminuía de forma rítmica, contraindo e dilatando o tórax alternadamente.
Desta maneira era mantida a respiração do paciente. O inconveniente era que as pessoas não podiam
ser retiradas em hipótese alguma, sob pena de pararem de fazer as trocas gasosas dos tecidos. Você
já imaginou a situação, durante uma semana ou mais? Na figura a seguir você vê uma criança sendo
acomodada no pulmão de aço (à esquerda) e lendo um gibi para passar o tempo (à direita).
CEDERJ 203
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
45
40
A Figura 18.9 mostra a taxa
de mortalidade de poliomielite na
Taxa de mortalidade por 100.000
35
30 população dos EUA num período
25
anterior e posterior às campanhas
habitantes
Vacinação
20
Preparação Preparação
de vacinação contra esta virose,
15
vacinal inativada vacinal infecciosa
10
iniciadas em 1956, usando
5 preparações com infecciosidade
0 inativada (vacina de Salk) e, em
1958
1950
1954
1956
1962
1960
1952
1964
204 CEDERJ
MÓDULO 1
18
ATIVIDADE
AULA
3. Em relação às viroses transmitidas de pessoa a pessoa de forma horizontal
ou tangencial, descreva as atitudes que devem ser tomadas pela população
a fim de evitar o contágio por viroses de transmissão respiratória, fecal-oral
ou veiculada por vetores. Busque, além do texto desta aula, as informações
necessárias para realizar a atividade. Lembre-se de que você pode encontrá-
las nas aulas anteriores e na web.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
_________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter respondido que, de forma geral, a transmissão das
viroses, como nas demais doenças contagiosas, está relacionada às
atitudes comportamentais de uma sociedade, sendo, portanto, fruto
dos seus padrões de Educação, seus usos e costumes.
Para as viroses de transmissão respiratória e/ou fecal-oral (gripe,
sarampo, rubéola, hepatites A e E, poliomielite e outras viroses
respiratórias e entéricas), a prevenção se alicerça nas práticas de
higiene do corpo e dos alimentos, recomendando-se, também, evitar
aglomerações e, ainda, que sejam executadas ações de saneamento
básico para a população.
A lavagem das mãos, para se livrar dos micróbios dos outros;
educação ao falar ou espirrar, evitando lançar perdigotos no
ambiente; a higienização dos ambientes, utensílios e roupas e
o tratamento de verduras cruas com solução de hipoclorito de
sódio, são procedimentos essenciais, na prevenção desses tipos de
infecções virais.
Para as viroses de transmissão tangencial como, por exemplo,
hepatites B, C, B/D e infecção por HIV, dentre outras, a prevenção
tem seu ponto chave na vigilância do sangue e hemoderivados
a serem utilizados em transfusões; na prevenção de relações
sexuais promíscuas; no uso de agulhas, seringas, lancetas e outros
instrumentos pérfuro-cortantes descartáveis, ou devidamente
esterilizados. Devem ser observados cuidados para não se criar
vetores, tais como mosquitos transmissores da dengue e da febre
amarela, bem como evitar o contato com animais silvestres, como
raposas, morcegos, sagüis, roedores, cães e gatos vadios, em vista
dos mesmos serem, dependendo da espécie, potenciais portadores
de infecções virais, tais como raiva, hantavirose, arenavirose ou por
outras viroses de caráter antropozoótico.
CEDERJ 205
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
206 CEDERJ
MÓDULO 1
18
A presença de anticorpos
a b
gerados a partir de uma primeira
AULA
infecção pode agravar a evolução
de uma próxima infecção por um
dos outros tipos de vírus da dengue.
Por isso, uma segunda dengue tem c
Infecção efetiva
hemorrágica. Esse agravamento se
deve ao fato da interação vírus-
anticorpo ocorrer sem agregação
das partículas. O complexo vírus-
anticorpo assim formado pode ser
d
mais facilmente capturado pelos
Infecção neutralizada
monócitos pois, estes possuem
receptores para a porção cristalizável
das moléculas de anticorpos. Esta
característica possibilita a captura
dos vírus, preferencialmente,
pelos monócitos. Ao endocitar as
Figura 18.11: Modelo de interação de moléculas de anticorpos com
partículas individualizadas, cobertas partículas virais. (a) formação de agregados; (b) partículas cobertas
por anticorpos, individualizadas; (c) endocitose; (d) fagocitose.
de anticorpos, os monócitos se
contaminam. Por outro lado,
quando a interação vírus-anticorpos se faz com agregação das partículas,
esse agregado é fagocitado e imediatamente digerido, evitando, desta forma,
que a célula seja contaminada, conforme você viu na Aula 17. A Figura 18.11
mostra, de forma esquemática, como pode ocorrer a interação.
No que diz respeito à infecção pelos vírus da imunodeficiência humana
adquirida (HIV), a OMS estima que até o final de 2010 existirão 70 milhões
de infectados (http://www.who.int/hiv/strategic/surveillance/pptneeds/en/),
podendo a transmissão ser tanto vertical como horizontal ou tangencial.
A transmissão horizontal está diretamente relacionada ao comportamento de
risco de pessoas que, esclarecidas, ou não, por meio da mídia oficial, ficam
suscetíveis ao contágio. Uma vez contaminada, a pessoa passa a conviver
com a virose de forma crônica. A disfunção tecidual decorrente da virose é a
AIDS ou SIDA (síndrome da imunodeficiência adquirida) que pode aparecer
entre 5 a 20 anos após o contágio. Embora existam quimioterápicos, estes
apenas retardam a morte, mas a qualidade de vida dos indivíduos com
AIDS, submetidos à quimioterapia, é regida pelos efeitos adversos dos
medicamentos ingeridos.
CEDERJ 207
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
CONCLUSÃO
Curva de Gauss
Área
99.7 %
Freqüência de ocorrência do
95.4 %
68.2 %
fenômeno
208 CEDERJ
MÓDULO 1
18
Considerando a distribuição dentro de um, dois ou três desvios
padrões, esses valores abrangem, respectivamente, 68,2%, 95,4% e
AULA
99,7% da população. Estes valores, quando diminuídos de 100%, geram
proporções de aproximadamente 1/3 (33%), 1/20 (5%) e 1/1000 (0,1%).
Quando extrapoladas para os relatos epidêmicos encontrados ao longo
da história da humanidade, a distribuição gaussiana espelha, de forma
gráfica, as múltiplas situações em que nossos antepassados mostraram-se
aptos a usufruir do ambiente terrestre.
ATIVIDADE FINAL
O ser humano, como outros animais, tem os seus tecidos originados a partir da
célula-ovo, cujas características genéticas determinam o potencial metabólico das
células do indivíduo. A Natureza, no processo de eugenia positiva, seleciona os
seres aptos à sobrevivência. Esta aptidão é atribuída ao repertório enzimático. Este
repertório atua tanto nos processos de síntese como de degradação (proteassomal
e lisossomal). Considere a tabela a seguir como um jogo de probabilidades, no qual
se busca definir qual a chance de indivíduos que possuem células com capacidade
para expressão de repertório enzimático mais amplo ou menos amplo (restrito)
desenvolverem: infecções por agentes microbianos; resposta imune com produção
de anticorpos e desenvolverem viroses. Diante dessas condições, substitua as
interrogações pelos símbolos + ou –.
Desenvolver Desenvolver
Fazer resposta
Categoria infecções quadros de
imune
microbianas viroses
Repertório
enzimático
das células do Amplo ? ? ?
indivíduo
Restrito ? ? ?
CEDERJ 209
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
RESPOSTA COMENTADA
Restrito + + –
210 CEDERJ
MÓDULO 1
18
RESUMO
AULA
O papel seletivo das infecções de etiologia microbiana e viral tem contribuído
para a eugenia positiva dos elementos da população humana. Desta feita, muitos
tipos de infecções que, no passado, dizimavam grande parte das comunidades,
também atuavam como barreira que beneficiava aqueles naturalmente resistentes.
Ao longo das gerações, a transferência das características genéticas propiciou a
existência do ser humano com o perfil metabólico atual.
Convivemos cotidianamente com os micróbios do meio ambiente e do nosso
próprio corpo. Proporcionalmente temos dez vezes mais células procarióticas do
que eucarióticas descendentes da célula-ovo. Uma demonstração do potencial
metabólico do ser humano para devorar micróbios pode ser observada nos
indivíduos de acordo com a característica de seu grupo sangüíneo.
Por outro lado, a resistência às viroses vai ser tanto maior quanto menor for
a versatilidade metabólica das células do indivíduo. Estudos recentes têm
mostrado que esse fenômeno é marcado pelas enzimas proteolíticas celulares,
que são necessárias à fabricação de diferentes componentes virais. A falta de
uma destas aborta a infecção viral, porém no corpo humano as células onde isto
acontece são lisadas por linfócitos citotóxicos. Os resíduos destas células, contendo
componentes virais são removidos por células fagocitárias profissionais (monócitos
e células dendríticas) que, ao exocitar resíduos destes componentes, possibilitam
a ANTICORPOGÊNESE, quando os resíduos chegam aos linfócitos B.
ANTICORPOGÊNESE O bem-estar da humanidade deve-se também à gradual
Produção de anticorpos.
compreensão das noções de higiene e de nutrição, que
contribuem para o equilíbrio fisiológico do organismo. As
conseqüências das infecções microbianas e virais são disfunções que, dependendo
do grau de comprometimento, podem resultar em doença.
As doenças infecciosas como tuberculose, sífilis, peste bubônica e febre tifóide,
mediadas por agentes bacterianos, assim como aquelas de etilogia viral como a
varíola, a gripe, a poliomielite, a dengue e a AIDS, foram destacadas em razão
do impacto que têm exercido nas comunidades humanas. O estudos epidêmicos
dessas doenças têm demonstrado que a distribuição das mesmas na população
se faz obedecendo uma distribuição gaussiana, que reforça a remoção natural
de indivíduos da categoria metabólica posicionada nos extremos do repertório
enzimático. Assim, pode-se considerar o repertório enzimático como o fator que
representa o mínimo múltiplo comum das ciências microbianas.
CEDERJ 211
MICROBIOLOGIA | Epidemiologia: prevenção e controle das infecções
CONSIDERAÇÕES FINAIS
212 CEDERJ
Microbiologia
Referências
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218 CEDERJ
I SBN 85 - 7648 - 256 - 8
9 788576 482567