A Afetividade e A Aquisicao de Uma Segunda Lingua
A Afetividade e A Aquisicao de Uma Segunda Lingua
A Afetividade e A Aquisicao de Uma Segunda Lingua
Resumo: O lado afetivo da aquisição de uma língua atrai a cada dia mais a atenção de
pesquisadores. Resultados de pesquisas sobre a afetividade na aquisição de uma língua mostraram
relações substanciais entre variáveis afetivas e proficiência. Variáveis afetivas como motivação,
autoconfiança e ansiedade afetam a aquisição de uma segunda língua, tendo como efeito o aumento
ou a diminuição da penetração de qualquer insumo compreensível que é recebido. Krashen acredita
que professores podem fazer a diferença na motivação, nos níveis de ansiedade e na autoconfiança
do alunos através de um ensino afetivo, mantendo assim o filtro afetivo baixo. O ensino afetivo,
então, representa a esperança de aperfeiçoar as atitudes, a motivação, a autoconfiança e os níveis de
ansiedade, e conseqüentemente, o empenho tanto de alunos como de professores em fazer de uma
aula boa, uma aula ainda melhor.
O lado afetivo da aquisição de uma língua tem atraído a cada dia mais a atenção de
pesquisadores nos últimos anos.(Hurd, 2002) Resultados de pesquisas com aprendizes universitários
de línguas no final dos anos 90 sobre a afetividade na aquisição de uma língua mostraram relações
substanciais entre variáveis afetivas e proficiência (Gardner, Tremblay e Masgoret, 1997) e
destacaram o papel interdependente que a línguística, a cognição e o afeto têm na aquisição de uma
segunda língua. (Yang, 1999) Essas pesquisas, na sua maioria, foram realizadas em contextos de
sala de aula.
O afeto, como é definido pelos psicólogos, refere-se a emoções "e a uma variedade
até mesmo mais ampla de fenômenos relacionados a emoções, estados de espírito, disposição e
preferências". (Arnold, 1999)
Dulay, Burt e Krashen afirmam que o afeto de um indivíduo com relação a algo, uma
ação ou uma situação em particular, se expressa através de como este algo, ação ou situação,
preenche as suas necessidades e objetivos, e através dos efeitos resultantes nas suas emoções.
Dentre as investigações realizadas no campo da aquisição de L2 e LE que
consideram o aluno, as suas diferenças individuais e a importância do domínio afetivo, o modelo de
Stephen Krashen ocupa um lugar proeminente. Especialista no campo da linguística, sua
reconhecida teoria de aquisição de segunda língua teve grande impacto em todas as áreas de
pesquisa e ensino de segunda língua desde os anos 80.
Para Krashen (1987), professores deveriam almejar pessoas com um monitor ideal,
que “usam o monitor quando é apropriado e quando este não interfere na comunicação.” Eles não
usam seu conhecimento consciente da gramática em conversações normais, porém o usarão ao
escrever e planejar um discurso. Pessoas com um monitor ideal podem, portanto, usar sua
competência aprendida como um suplemento para sua competência adquirida.
O pesquisador não acredita que apenas uma alta freqüência de exposição a certas
estruturas fará com que as mesmas sejam adquiridas mais rapidamente. Segundo ele,
Para Krashen, o filtro afetivo é o primeiro obstáculo com que o insumo se depara
antes de ser processado e internalizado. O filtro afetivo parte do processo interno no qual
configuram os estados emocionais, as atitudes, as necessidades, a motivação do aprendiz ao
aprender uma língua, e que regula e seleciona modelos de língua a serem aprendidos, a ordem de
prioridade na aquisição e a velocidade nesta aquisição.
A motivação é uma das mais importantes dentre as variáveis afetivas, pois ela é a
chave para a aprendizagem. Brown (1997) a encara, de uma maneira geral, como um impulso, uma
emoção ou um desejo interno que direciona uma pessoa para uma determinada ação e, portanto, se
percebemos um objetivo, e este objetivo é suficientemente atraente, ficaremos fortemente
motivados a fazer o que for necessário para alcançá-lo.
Pesquisas apontaram que aprendizes com motivação integrativa mais alta recebiam melhor
as perguntas dos professores, respondiam voluntariamente à perguntas com mais freqüência, davam
respostas mais corretas e também recebiam reforços mais positivamente. Porém, apesar da
motivação integrativa ser considerada mais eficiente do que a instrumental, também se descobriu
que em países onde se tem pouco contato com falantes nativos, mas onde a língua é necessária para
negócios e objetivos profissionais, a motivação instrumental pode ser mais poderosa do que a
integrativa.
A motivação pode ter várias fontes. Uma delas pode estar no próprio ato de aprender e,
nesse caso, o estímulo e a motivação seriam o interesse inato de aprender porque as situações de
aprendizagem são atrativos por si só. Outra fonte ainda seria o próprio aluno que “traz” consigo
motivação para a situação de aprendizagem e, finalmente, deve haver influências e incentivos
externos, como por exemplo, do grupo social e da família.
Outra variável da afetividade, a atitude, segundo Gardner (1990) está enraizada no contexto
social e influencia a motivação que, por sua vez, influencia o desempenho em todos os contextos de
aquisição. A atitude é, portanto, um componente essencial da motivação. É difícil medir e superar as
variáveis do domínio afetivo, o que evidencia a intrincação entre elas.
Uma atitude é um estado mental organizado através de experiências vividas pela pessoa que
traz uma influência direta e dinâmica em sua resposta individual para todos os objetos e situações
com as quais está relacionada. As atitudes do aluno em relação aos falantes da língua alvo, à língua
alvo, ao professor, ao material didático e àmetodologia de ensino utilizados no curso, assim como à
aprendizagem de línguas estrangeiras em geral, atuam de forma favorável ou desfavorável no
processo de aprendizagem.
O professor, por sua vez, pode trabalhar para mudar as atitudes dos alunos, redirecionar
expectativas e substanciar ou alterar os preconceitos desses em relação ao estudo da língua. Brown
(1997) alerta os professores sobre a necessidade de estarem conscientes de que todos possuem
atitudes positivas e negativas e que as atitudes negativas podem ser transformadas, freqüentemente,
pela exposição à realidade, pois que geralmente emergem de estereótipos falsos.
Assim, a motivação do aluno para estudar uma língua será determinada por suas atitudes,
prontidão para se identificar com a cultura-alvo e pela orientação para com o processo de aprender
uma língua estrangeira.
Krashen (1987), MacIntyre e Gardner (1994), Aida (1994), Ehrman e Oxford (1995) e
Horwitz (1986, 2000) destacam o papel da ansiedade como preponderante no processo de
aprendizagem de línguas, e para a qual pesquisadores e educadores têm voltado cada vez mais a
atenção como “um dos mais importantes fatores a prever sucesso na língua estrangeira.”
(Onwuegbuzie, Baley e Daley, 2000).
Na opinião de Jersil (1978), a ansiedade que afeta a educação pode ser definida como um
estado de desordem e embaraço, uma espécie de perturbação, um sentimento difuso, indefinido,
geralmente inconsciente que causa no indivíduo uma reação desproporcional à sua causa. Talvez a
reação mais significativa seja a resistência que pode tomar várias formas, entre elas a recusa de
aprender algo, não ouvir, não entender, não lembrar, não tentar, não aceitar.
Young (1991), em suas investigações, aponta que os três principais fatores geradores de
ansiedade anteriormente citados são acompanhados de outros fatores, tais como ansiedades
pessoais, crenças dos professores e dos alunos sobre como ensinar e aprender línguas, interação em
sala de aula, procedimentos de ensino e experiências de aprendizagem anteriores.
Krashen acredita que, para que o filtro afetivo seja mantido baixo, “ os aprendizes não
deveriam ser colocados na defensiva” e, portanto, professores podem fazer a diferença na
motivação, nos níveis de ansiedade e na autoconfiança do alunos, através de um ensino afetivo que
pode variar do tradicional e das metodologias centradas no aluno à estratégias de orientação
humanística. Charles Curran defende um conceito unificado de homem, e diz que fatores físicos,
intelectuais, psicológicos e emocionais influenciam na aquisição de uma língua. Afeto e uma
relação amigável entre professor e aluno proporcionam a estrutura necessária na qual o professor
tem um papel não-autoritário e não-diretivo, e as atividades são centradas no aluno.
“The best methods are therefore those that supply comprehensible input in low anxiety
situations, containing messages that students really want to hear. These methods do not
force early production in the second language, but allow students to produce when they are
“ready”, recognizing that improvement comes from supplying communicative and
comprehensible input, and not from forcing and correcting production. “ (Stephen
Krashen)
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