Mercado Valores Mobiliarios - Ebook - 13 - Jun PDF

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Coordenação de Educação Financeira


Superintendência de Proteção e Orientação aos Investidores
Comissão de Valores Mobiliários
Rua Sete de Setembro 111, 5º andar
CEP 20.050-901 – Rio de Janeiro/RJ
[email protected]
www.investidor.gov.br

3ª edição
Data da última atualização:
04/04/2014

O mercado de valores mobiliários brasileiro / Comissão de Valores Mobiliários.


3. ed. Rio de Janeiro: Comissão de Valores Mobiliários, 2014.
376p. : il.

ISBN 978-85-67896-00-7
1.Mercado de valores mobiliários. 2.Comissão de Valores Mobiliários.
I. Título.
CDD – 332.6322
© 2014 - Comissão de Valores Mobiliários

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.

Este livro é distribuído nos termos da licença Creative Commons Atribuição - Uso não comercial
- Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil. Qualquer utilização não prevista nesta licença
deve ter prévia autorização por escrito da Comissão de Valores Mobiliários.

Comissão de Valores Mobiliários

President e
Leonardo Porciúncula Gomes Pereira

Diret ores
Ana Dolores Moura Carneiro de Novaes
Luciana Pires Dias
Roberto Tadeu Antunes Fernandes

Superint endent e Geral


Alexandre Pinheiro dos Santos

Superint endent e de Proteção e Orientação aos Investidores


José Alexandre Cavalcanti Vasco

Coordenador de Educação Financeira


Luís Felipe Marques Lobianco

Equipe Técnica
Anal ist as da Coordenação de Educação Financeira
Júlio César Dahbar
Marcelo Gomes Garcia Lopes

Comit ê Consul tivo de Educação


Associação Brasileira das Companhias Abertas – ABRASCA, Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – ANBIMA, ANCORD – Associação Nacional
das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias,
Associação dos Analistas e Pro ssionais de Investimento do Mercado de Capitais – APIMEC
NACIONAL, BM&FBOVESPA S.A. Bolsa de Valores, Mercadorias & Futuros, Cetip S.A. –
Mercados Organizados, Instituto Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC e Instituto
Brasileiro de Relações com Investidores – IBRI
Col aboradores

Adriane C. S. de Almeida (IBGC), Alexandre Fischer (ABRASCA), Aloisio Vileth Lemos


(APIMEC), Ana Paula Iervolino (IBGC), Ana Paula Marques dos Reis (ABRASCA), André
Celestino Tenório de Oliveira (IBGC), Bruna de Caro (Cetip), Carlos A onso (Cetip), Cássio S.
Namur (ABRASCA), Christianne Bariquelli (BM&FBOVESPA), Daniela Norcia (Cetip), Daniela
Rede Barreto Amaral (IBGC), Eduardo Werneck Ribeiro de Carvalho (APIMEC), Elizabeth
Piovezan Benamor (IBRI), Francisco Dórto (APIMEC), Guilherme Marconi Neto (ANCORD),
Gustavo de Souza e Silva (BM&FBOVESPA), Hélio Darwich (APIMEC), Jennifer Almeida
(IBRI), José Alberto Netto Filho (BM&FBOVESPA), José Alexandre Vasco (CVM), José David
Martins Junior (ANCORD), Júlio César Dahbar (CVM), Leandro Martins (APIMEC), Luis
Felipe Marques Lobianco (CVM), Luiz Fernando Dalla Martha (IBGC), Luiz Fernando Rudge,
Luiz Roberto Cardoso (IBRI), Marcelo Billi (ANBIMA), Marcelo Gomes Garcia Lopes (CVM),
Mariana Botega (Cetip), Patrícia Quadros (BM&FBOVESPA), Ricardo Martins (APIMEC),
Rodney Vergili (IBRI), Rodrigo Jorge de Lima (IBGC), Rodrigo Miguel Trentin (IBGC), Tatiana
Itikawa (ANBIMA), ais Pessoa (ANBIMA) e Vinicius Correa e Sá (APIMEC)

Diagramação e Capa

Leticia Brazil

Agradeciment o
Agradecemos a todos os colaboradores da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, da
Associação Brasileira das Companhias Abertas – ABRASCA, da Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – ANBIMA, da ANCORD – Associação
Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e
Mercadorias, da Associação dos Analistas e Pro ssionais de Investimento do Mercado de
Capitais – APIMEC NACIONAL, da Cetip S.A. – Mercados Organizados, do Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa – IBGC e do Instituto Brasileiro de Relações com Investidores –
IBRI, do Instituto Educacional BM&FBOVESPA, bem como aos professores do 11º Programa
TOP de Treinamento de Professores, realizado entre 28 de janeiro e 1º de fevereiro de 2013, que
colaboraram com valiosas sugestões para a revisão deste material.
Esta obra é disponibilizada de acordo com os termos da licença Creative Commons Atribuição
- Uso não comercial - Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Brasil (by-nc-nd)

Tem o direit o de:

Compart ilhar – reproduzir, distribuir e transmitir o trabalho

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A versão eletrônica deste livro pode ser obtida gratuitamente em:


www.investidor.gov.br
www.cvm.gov.br

Este livro foi elaborado com nalidade educacional. Sua redação procura apresentar
de forma didática os conceitos relacionados aos temas aqui abordados. Os exemplos
utilizados e a menção a serviços ou produtos nanceiros não signi cam recomendação
de qualquer tipo de investimento.

As normas citadas neste livro estão sujeitas a mudanças. Recomenda-se que o leitor
procure sempre as versões mais atualizadas.

As opiniões, conceitos e conclusões existentes nesta publicação e de seus colaboradores


não re etem, necessariamente, o entendimento da Comissão de Valores Mobiliários ou
de quaisquer das instituições integrantes do Comitê Consultivo de Educação.
Realização:
APRESENTAÇÃO

É com grande prazer que apresento o livro sobre mercado de capitais, elaborado pelo
Comitê Consultivo de Educação da Comissão de Valores Mobiliários – CVM.

A edição deste livro vem em um momento extremamente oportuno, no qual enti-


dades do governo e representantes de diversas entidades privadas, representativas
de um amplo espectro de participantes do mercado, discutem alternativas para o
desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro.

Na minha visão, a educação deve gurar como um dos principais pilares de qualquer
iniciativa que vise o desenvolvimento sustentável e sadio do mercado de capitais. É
fundamental que todos os participantes do mercado – reguladores, autorregulado-
res, bolsas, corretoras, administradores de companhias abertas, auditores, para citar
apenas alguns – compreendam adequadamente seus direitos e deveres. Essa compre-
ensão, a meu ver, não pode ser adequadamente construída sem uma visão geral sobre
o que é e como se organiza o nosso mercado de capitais.

Este livro foi desenvolvido com o propósito de servir como material de referência
para um curso sobre mercado de capitais, com duração de um semestre em uma ins-
tituição de ensino superior. A obra também será utilizada no Programa TOP, curso
promovido semestralmente e voltado para a atualização de docentes que já lecionam
disciplinas sobre o mercado de capitais. O livro cobre diversas matérias afeitas ao
mercado de capitais, como, por exemplo, o Sistema Financeiro Nacional, os diferen-
tes valores mobiliários (incluindo capítulos especí cos para discutir os fundos de in-
vestimento e os derivativos), e as regras aplicáveis às companhias abertas (incluindo
uma discussão sobre as melhores práticas de governança corporativa).

O livro vem para se somar a outras importantes iniciativas da CVM que visam ofe-
recer aos participantes do mercado instrumentos de educação. Dentre tais iniciati-
vas, destaco o Portal do Investidor (www.investidor.gov.br), as cartilhas e guias que
apresentam ao público investidor, de forma bastante didática, alguns dos principais
participantes e produtos do mercado de capitais, e as diversas palestras que tem sido
feitas pela CVM.

Este livro foi fruto do trabalho do Comitê Consultivo de Educação da CVM, insti-
tuído pela Deliberação CVM 498/06, e que congrega, além da CVM, a Associação
Brasileira das Companhias Abertas – ABRASCA, a Associação Brasileira das Enti-
dades dos Mercados Financeiro e de Capitais – ANBIMA, a ANCORD - Associação
Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e
Mercadorias, a Associação dos Analistas e Pro ssionais de Investimento do Merca-
do de Capitais - APIMEC Nacional, a BM&FBOVESPA S.A. Bolsa de Valores, Mer-
cadorias & Futuros, Cetip S.A. – Mercados Organizados e o Instituto Brasileiro de
Relações com Investidores – IBRI, e também contou com a participação do Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC. Gostaria de parabenizar a todos os
envolvidos no processo de elaboração desse livro pelo trabalho realizado.

Por m, acho importante destacar que este livro cará disponível na Internet e está
sendo licenciado em Creative Commons, sendo, portanto, autorizada a sua livre im-
pressão, reprodução e utilização, sem necessidade de prévia autorização da CVM,
desde que sem caráter comercial. Esperamos assim poder contribuir para a dissemi-
nação de conhecimento de mercado de capitais, medida salutar para a existência de
um mercado justo e e ciente.

Boa leitura!

LEONARDO P. GOMES PEREIRA


Presidente da Comissão de Valores Mobiliários
INTRODUÇÃO

A ideia da presente publicação foi amadurecida ao longo de sucessivas edições do


Programa de Treinamento de Professores (Programa TOP), que é oferecido pelo Co-
mitê Consultivo de Educação da CVM, como referido na Apresentação. Este pro-
grama começou em 2006 quando o Comitê foi instituído e, logo em sua primeira
reunião, decidiu realizar um curso de atualização para professores universitários em
temas relacionados ao mercado de capitais, tendo sido realizada a primeira edição
em julho daquele ano. Ao longo dos anos, foram introduzidos ajustes nos conteúdos
disseminados, o que levou, nalmente, à consolidação de um conjunto de temas que
forma, atualmente, sua estrutura básica.

O desenvolvimento do livro “Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro” segue a es-


trutura atual do Programa TOP, apresentando conteúdos que abordam, observando o
encadeamento lógico da iniciativa, os principais conceitos e informações sobre a estru-
tura e o funcionamento desse importante Mercado do Sistema Financeiro Nacional.

Evidentemente, o objetivo de apresentar uma visão abrangente de um vasto setor da


vida nacional forçosamente em um único livro requer algumas escolhas, não apenas
dos temas, mas principalmente do grau de aprofundamento em que cada tópico será
explorado. Nesse sentido, os conteúdos de cada capítulo poderão ser estudados de
forma mais detalhada com o apoio de outras publicações e materiais especializados.
Materiais complementares estão previstos para o futuro, de forma que esta publica-
ção, sem perder seu caráter introdutório, progressivamente incorpore novos assuntos
e evolua acompanhando o desenvolvimento do mercado de capitais e os desdobra-
mentos do próprio Programa TOP.

O livro, por essa razão, está estruturado em doze capítulos que dialogam com o con-
teúdo do Programa TOP. No capítulo inicial é apresentada uma visão mais ampla da
intermediação nanceira e do papel dos mercados nanceiros, seguida da estrutura
do Sistema Financeiro Nacional. São realizadas breves referências a essas institui-
ções, antecedendo uma exposição mais detalhada da Comissão de Valores Mobiliá-
rios. Essa introdução é complementada pelo capítulo seguinte, em que são tratados
os valores mobiliários segundo a Lei nº 6.385/76, diploma legal que instituiu a CVM
e disciplinou esse mercado, sendo também apresentadas informações sobre outros
tipos de investimento.
O Capítulo 3 é dedicado aos fundos de investimento, apresentando os principais con-
ceitos e características para, em seguida, detalhar as diferentes classes de fundos.
Algumas informações de interesse do investidor, apesar de não serem matérias de
competência da CVM, foram incluídas pela sua evidente utilidade, como orientações
sobre assuntos tributários.

Os quatro capítulos seguintes exploram, em bloco, com bastante a nidade temáti-


ca, uma introdução às companhias abertas, seguida de um detalhamento de temas
especí cos relacionados.

O Capítulo 4 trata das sociedades por ações que tenham valores mobiliários de sua
emissão admitidos à negociação em mercado. Para abordar tema tão amplo, que
poderia abranger diversos volumes de um livro, foram feitas algumas escolhas, de
modo a apresentar as principais estruturas e conceitos. Priorizou-se, assim, uma
abordagem dos direitos dos acionistas, da disciplina da divulgação de informações,
da administração da companhia, das assembleias e, além disso, uma breve nota sobre
governança corporativa.

Como mencionado, os três capítulos seguintes tratam de temas bastante relaciona-


dos, ainda que não exclusivamente, à vida das companhias abertas. Os Capítulos 5 e
6 tratam de governança corporativa e das relações com investidores, enquanto o Ca-
pítulo 7 explora as ofertas públicas de distribuição de valores mobiliários, tratando
inclusive da abertura de capital, e as ofertas destinadas à aquisição de ações (OPA),
detalhando as principais hipóteses de ocorrência.

O livro é encerrado em um bloco de 5 capítulos que tratam, os três primeiros, da


bolsa de valores, do mercado de balcão organizado e do funcionamento do mercado,
em que são detalhados os participantes e os próprios sistemas e instrumentos que
permitem a negociação de valores mobiliários no mercado. O Capítulo 11 aborda os
mercados derivativos, de extrema importância atual pelo papel que desempenham
na administração de riscos dos participantes e para desenvolvimento de estratégias
mais so sticadas de investimento. Finalmente, o Capítulo 12 discorre, de forma su-
cinta, sobre técnicas de análise de investimentos, apresentando uma introdução aos
principais modelos utilizados, oferecendo um guia que pode ser útil para orientar o
aprofundamento da temática em publicações especializadas.

Pela própria dinâmica do mercado de capitais, o desa o do Comitê Consultivo de


Educação da CVM é manter o livro atualizado e, para alcançar este objetivo, conta-
mos com a participação dos leitores para o envio de comentários e sugestões, que pode-
rão ser encaminhados através do Portal do Investidor (www.investidor.gov.br).

Esperamos que o livro possa colaborar com as discussões e os estudos sobre o mer-
cado de capitais entre professores universitários e alunos, bem como contribuir para
disseminar o conhecimento sobre o Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro para
o público em geral.
1.1. Mercado Financeiro 28
1.1.1. Intermediação Financeira e Mercados Financeiros 28
1.1.2. O Mercado de Capit ais 33
1.1.3. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional 37

1.2 Cr imes cont ra o Sist ema Financeiro Nacional 53

1.3. Comissão de Val ores Mobil iár ios 56


1.3.1. História do mercado de capit ais 56
1.3.2. Estrutura 59
1.3.3. As principais atribuições e competências da CVM 60
1.3.4. A ação ƥscalizadora e os poderes da CVM 61
1.3.5. Direito de ampla def esa 62
1.3.6. Normat ização e Audiência Pública 63
1.3.7. Regulação x Autorregulação 63
1.3.8. Part icipação em organismos internacionais 66

2.1. Tít ul os Emit idos por Companhias 72


2.1.1. Ações 72
2.1.2. Debêntures 74
2.1.3. Bônus de Subscrição 78
2.1.4. Not as Promissórias 78
2.1.5. Letra Financeira 79

2.2. Fundos de Invest iment o 80

2.3. Cl ubes de Invest iment o 80

2.4. Brazil ian Deposit ar y Receipt s 82

2.5. Cer t i Ʃcado de Recebíveis Imobil iár ios 85


2.6. Cer t i Ʃcados de Pot enci al Adicional de Const rução 86

2.7. Cont rat os de Invest iment o Col et i vos 88

2.8. Out ros Invest imentos 89


2.8.1. Poupança 89
2.8.2. CDB 89
2.8.3. Letra de Crédito Imobiliário e Letra Hipotecária 90
2.8.4. Títulos Públicos 90

3.1. Vant agens e Desvant agens 93

3.2. Fundos Aber t os, Fechados e Excl usivos 95

3.3. Negociação em Bol sa de Val ores 96

3.4. Tipos de Fundos 97


3.4.1. Fundos de Curto Prazo 97
3.4.2. Fundos Referenciados 97
3.4.3. Fundos de Renda Fixa 98
3.4.4. Fundos de Ações 98
3.4.5. Fundos Cambiais 98
3.4.6. Fundos de Dívida Externa 98
3.4.7. Fundos Mult imercado 99
3.4.8.Fundo de Invest imento em Direitos Creditórios 99
3.4.9. Fundo de Invest imento Imobiliário (FII) 100
3.4.10. Fundo de Índices (ETF) 102
3.4.11. Fundo de Invest imento em Part icipações (FIP) 103
3.4.12. Outros Fundos de Invest imento 104
3.4.13. Fundos de Invest imento em Cotas (FIC) 105

3.5. Administ rador e Gest or 106

3.6. Assembl eia de Cot ist as 108

3.7. Di vul gação de Inf ormações 110


3.7.1. Regulamento 110
3.7.2. Prospecto 110
3.7.3. Lâmina de Informações Essenciais 111
3.7.4. Informações Periódicas 112
3.8. Ri scos 113

3.9. Cust os e Taxas 115

3.10. Tribut ação 116

3.11. Cl assi Ʃcação dos Fundos 118


3.11.1. Classes de Fundos CVM 118
3.11.2. Classiƥcação Anbima de Fundos 119

4.1. As Sociedades por Ações 122

4.2. O Acionist a e seus direit os 124


4.2.1. Part icipação nos Resultados 124
4.2.2. Os Lucros e Dividendos 124
4.2.3. Ações Pref erenciais e Distribuição de Dividendos 126
4.2.4. O Direito de Preferência para a Subscrição de Ações 128
4.2.5. Boniƥcações 129
4.2.6. Direito de Voto 130
4.2.7. Direito de Convocar Assembleias 132
4.2.8. O Direito de Requerer o Adiamento de Assembleias 133

4.3. Di vul gação de Inf ormações 134


4.3.1. Convergência Internacional de Normas 135
4.3.2. Demonstrações Financeiras 138
4.3.3. Formulário de Referência 138
4.3.4. Informações trimestrais 139
4.3.5. Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) 139
4.3.6. Atos ou f atos relevantes 140
4.3.7. Inf ormações Voluntárias 142
4.4. Governança Corporat i va 142

4.5. Assembl eias 143


4.5.1. Assembleia Eletrônica 144

4.6. Est rut ura de Administ ração 145


4.6.1. O acionista control ador 145
4.6.2. Conselho Fiscal 147
4.6.3. Conselho de Administração 149

4.7. Reorganizações Societ ár ias 152

5.1. A necessidade de Boas Prát icas de Governança 156

5.2. Inst it ucional ização da Governança 158

5.3. Origens do t ema Governança Corporat iva 159

5.4. Desenvol viment o da Governança no Brasil 162

5.5. A rel ação ent re Acionist as e Administ radores 164

5.6. Princípios de Governança Corporat iva 167


5.6.1. Transparência 168
5.6.2. Equidade 168
5.6.3. Prest ação de Cont as (Account abilit y) 168
5.6.4. Responsabilidade Corporat iva 168

5.7. O Sist ema de Governança Corporat i va 169

5.8. O Consel ho de Administ ração 171


5.8.1. Gest ão de Riscos 171
5.8.2. Estratégia 172
5.8.3. Gest ão de pessoas 173
5.8.4. Estrutura de capital 173

5.9. Governança, st akehol ders e sust ent abilidade 174

5.10. Sust ent abilidade Empresar ial 175


5.11. Linha do Tempo 178

6.1. A At ividade de Rel ações com Invest idores 183


6.1.1. O papel dentro da companhia 184
6.1.2. Disseminação da cultura de capital aberto 186
6.1.3. O Porta-voz da Companhia 189
6.1.4. Administração de Crises 191

6.2. O Públ ico da Companhia 192


6.2.1. Buy Side 192
6.2.2. Sell Side 193
6.2.3. Invest idores Inst itucionais 194
6.2.4. Invest idores Pessoas Físicas 195
6.2.5. Relacionamento Internacional 197
6.3. A Est rat égia de Comunicação 199
6.3.1. Reuniões Públicas 200
6.3.2. Reuniões Individuais 202
6.3.3. Teleconferências 203
6.3.4. A Internet como ferrament a de divulgação 204

6.4. Os Pr incípios Ét icos 205


6.4.1. Transparência 206
6.4.2. Equidade 206
6.4.3. Franqueza e Independência 207
6.4.4. Integridade e Responsabilidade 207

7.1. Mot i vação e Objet i vos 211


7.1.1. Acesso a Capit al 211
7.1.2. Liquidez Patrimonial 212
7.1.3. Imagem Inst itucional 213
7.1.4. Reestruturação de passivos 214
7.2. A Caract erização da Of er t a Públ ica 214

7.3. Ti pos de Of er t a 217


7.3.1. Oferta Primária e Oferta Secundária 217
7.3.2. Oferta Inicial e Oferta Subsequente 218

7.4. Prospect o 218

7.5. Model os de Preci Ʃcação 219

7.6. Of er t a Públ ica de Aqui sição de Ações (OPA) 220


7.6.1. OPA para Aquisição de Controle 222
7.6.2. OPA para Cancelamento de Registro 222
7.6.3. OPA por Aumento de Part icipação 225
7.6.4. OPA por Alienação de Controle (Tag Along) 226

8.1. A BM& FBOVESPA 234


8.1.1. Histórico 234
8.1.2. Situação atual 236
8.1.3. Empresas do grupo 237

8.2. At ivos negoci ados 239


8.2.1. Segmento Bovespa 239
8.2.2. Segmento BM& F 242
8.2.3. Câmbio 243

8.3. Funcionament o da Bol sa de Val ores 243


8.3.1. As et apas da negociação 243
8.3.2. Sistemas de negociação da BM& FBOVESPA 244
8.3.3. Formas de acesso à BM& FBOVESPA 245
8.3.4. Compensação e Liquidação 248

8.4. Cent ral Deposit ár ia 249

8.5. Segment os de list agem 251


8.5.1. Novo Mercado 252
8.5.2. Níveis 1 e 2 253
8.5.3. Bovespa Mais 254
8.5.4. Comparat ivo dos Segmentos de List agem 255

8.6. Os Índi ces 256


8.6.1. O Ibovespa 257

9.1. Admini st radores de Mercados de Bal cão Organizado 266

9.2. A Cet ip 267

9.3. Procediment os 269


9.3.1. Registro 270
9.3.2. Deposit ária 270
9.3.3. Negociação 270
9.3.4. Liquidação 272
9.3.5. Gestão de Risco 272

9.4. Inst rument os regist rados na Cet ip 272


9.4.1. Capt ação Bancária 273
9.4.2. Títulos Agrícolas 274
9.4.3. Títulos de Crédito 276
9.4.4. Títulos Imobiliários 277
9.4.5. Contratos de derivat ivos de balcão 278
9.4.6. Outros instrumentos registrados 279

10.1. Par t icipant es do Mercado 282


10.1.1. Corretoras e Distribuidoras 282
10.1.2. Agentes Autônomos de Invest imento 283
10.1.3. Administrador de Carteira 284
10.1.4. Analist a de Valores Mobiliários 286
10.1.5. Consultor de Valores Mobiliário s 287
10.2. Sist emas para Negociação 288
10.2.1. Home Broker 288
10.2.2. Mesa de Operações 289
10.2.3. Registro das Operações 289

10.3. Ti pos de Ordens 290

10.4. Pregão 292

10.5. Af t er Market 292

10.6. Leil ões 293

10.7. Suspensão de Negociações (Circuit Breaker) 294

10.8. Formador de Mercado 295

10.9. Taxas e Cust o das Operações 297

10.10. Avisos e Comunicação com o Invest idor 298

10.11. Emprést imo de Ações 299

10.12. Processo de Recompra de At i vos 301

10.13. Mecanismo de Ressarciment o de Prej uízos 302

10.14. Invest idor não Resident e 304


10.14.1. Represent ante Legal 304
10.14.2. Custodiante 305

11.1. Conceit os Básicos 308

11.2. Final idades 308


11.2.1. Hedge 309
11.2.2. Arbitragem 309
11.2.3. Especul ação 310

11.3. Tipos de Mercados de Der i vat ivos 311


11.3.1. Mercado a termo 311
11.3.2. Mercado f uturo 311
11.3.3. Mercado de opções 312
11.3.4. Mercado de swap 312

11.4. Der i vat ivos não Padronizados e Padronizados 313

11.5. Cl assi Ʃcação dos Der ivat i vos 315

11.6. Funcionament o do Mercado 316


11.6.1. Abertura de Posição 316
11.6.2. Liquidação de Operações 317

11.7. Benef ícios na Ut i lização de Der ivat i vos 319

11.8. Mercado a t ermo 321

11.9. Mercado f ut uro 326


11.9.1. Ajuste Diário 328
11.9.2. Liquidação por Inadimplência 330
11.9.3. Margem de Garant ia 330
11.9.4. O Papel das Câmaras de Compensação 333

11.10. Mercado de opções 334


11.10.1. Tipos de Opções 334
11.10.2. Classiƥcações 335
11.10.3. Titulares e Lançadores 336

11.11. Swap 340


11.11.1. Tipos De Swap 342

11.12. Comparat i vo ent re os Mercados de Der i vat ivos 344

12.1. Análise Fundament al ist a 348


12.1.1. Objet ivos da Análise Fundament alist a 349
12.1.2. Principais Conceitos de Valor 350
12.1.3. Métodos de Análise Fundamentalista 351
12.1.4. Análise de Inf ormações Cont ábeis 353
12.1.5. Modelos de Projeção de Valor Potencial 358
12.1.6. Os Desaƥos da sustentabilidade 360

12.2. Anál ise Técnica 362


12.2.1. Teoria de Dow 363
12.2.2. Teoria de Elliot 364
12.2.3. Tipos de Gráƥcos 365
12.2.4. Figuras 366
12.2.5. Indicadores Técnicos 368
1. Sist ema Financeiro Nacional

1.1. Mercado Financeiro

1.1.1. Intermediação Financeira e Mercados Financeiros

O sistema nanceiro é parte integrante e importante de qualquer sociedade econô-


mica moderna. Portanto, é fundamental introduzir algumas noções básicas sobre o
funcionamento da economia, antes de tratar especi camente do sistema nanceiro,
para que se compreenda melhor as funções e o funcionamento dos mercados.

A ciência econômica, pode-se dizer, preocupa-se com o estudo da alocação de recur-


sos da economia. Esse assunto torna-se relevante devido à constatação de que os indi-
víduos têm necessidades e desejos ilimitados, enquanto os recursos disponíveis para
atendê-los são escassos. De fato, se pensarmos nas economias modernas, os desejos
de consumo das famílias estão em geral acima de sua capacidade econômica. Quando
pensamos em países, é fácil perceber essa noção de escassez dos recursos. A nal, o
número de pessoas disponíveis para trabalhar e os recursos naturais, nanceiros e
tecnológicos existentes são limitados.

O importante aqui é destacar que as decisões dos agentes econômicos (famílias, empre-
sas e governo) que compõem esse sistema econômico moderno, embora individuais,
estão interligadas e impactam o todo. De um lado, as famílias oferecem os insumos
necessários para a produção das empresas, como o trabalho, o capital e os imóveis, em
troca dos rendimentos do salário, juros, lucros e aluguéis, o que em conjunto formam
a renda dessas famílias. Com essa renda, as famílias adquirem os produtos e serviços
ofertados pelas empresas. O governo, por sua vez, recolhe impostos e taxas dessas fa-
mílias e empresas, e devolve para a sociedade em forma de projetos sociais ou serviços
básicos não ofertados pelas empresas. Esse uxo está representado na gura 1.

28 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Figura 1

Entre essas decisões econômicas, uma é de especial importância para a compreensão


do sistema nanceiro e diz respeito ao consumo, poupança e investimento. Deter-
minada família pode decidir consumir menos que sua renda atual, seja para a sua
segurança nanceira, para a aposentadoria ou para a compra futura de bens, for-
mando, assim, poupança. Por outro lado, pode haver famílias que decidam consumir
mais do que sua renda em determinado momento, e, portanto, demandam recursos,
motivadas pelo aparecimento de situações inesperadas, ou mesmo por precisar inves-
tir em mais educação, na expectativa de retorno futuro. As empresas, para realizar
sua produção, precisam investir em máquinas e equipamentos, treinamentos e novas
tecnologias. Para isso, precisam de dinheiro, que pode vir, por exemplo, da poupança
das famílias. O governo, por sua vez, pode, em determinado momento, ter gastos
maiores que as suas despesas, tomando recursos no mercado, e em outros momentos,
gastar menos e contribuir para a formação de poupança.

Sistema Financeiro Nacional 29


Quando os agentes econômicos formam poupança, ou seja, consomem menos do que
ganham, são chamados de agentes superavitários. Quando, por outro lado, conso-
mem mais que sua renda e precisam recorrer à poupança de terceiros, são conhecidos
como agentes de citários.

No entanto, para que um agente de citário possa utilizar os recursos disponíveis dos
agentes superavitários para realizar suas decisões de consumo ou investimento, é
preciso que esse uxo de recursos entre eles seja viabilizado. Isso porque, na maioria
dos casos, as necessidades de poupança e empréstimo individuais diferem em alguns
aspectos, como por exemplo, valor e prazo. Uma família pode querer aplicar R$
10.000,00 por um ano, enquanto outra queira apenas R$ 5.000,00 por seis meses, ou
uma empresa demande R$ 1.000.000,00 em investimentos para pagar em cinco anos.
Se cada poupador tivesse que encontrar um tomador de recursos com as mesmas
necessidades de volume e prazo, para a realização de um empréstimo, seria muito
difícil a efetivação dos negócios.

Foi para suprir essa demanda do mercado que surgiram e desenvolveram-se institui-
ções especializadas em intermediar essas operações. Inicialmente, sua função básica
era pegar emprestado daqueles que poupam, pagando uma remuneração representada
pelos juros, e emprestar para os demais, naturalmente a uma taxa mais alta, ganhando
com a diferença. Essas instituições concentram a poupança e a distribuem aos tomado-
res de recursos, atendendo, ao mesmo tempo, as necessidades de volume nanceiro e
prazo de cada um. Com o passar do tempo, essas instituições foram se especializando e
oferecendo outros serviços, como veremos adiante. Da mesma forma desenvolveram-se
novos instrumentos, sistemas e produtos para organizar, controlar e desenvolver esse
mercado. Chamamos este sistema, como um todo, de Sistema Financeiro.

Sistema Financeiro: conjunto de instituições e instrumentos que viabilizam o


uxo nanceiro entre os poupadores e os tomadores na economia.

Assim, podemos conceituar o Sistema Financeiro como o conjunto de instituições e


instrumentos que viabilizam o uxo nanceiro entre os poupadores e os tomadores
de recursos na economia. Não é difícil perceber a importância desse sistema para o
adequado funcionamento e crescimento econômico de uma nação. Se, por exemplo,
determinada empresa, que necessita de recursos para a realização de investimentos
para a produção, não conseguir captá-los de forma e ciente, provavelmente ela não
realizará o investimento, deixando de empregar e gerar renda. Com o papel desem-
penhado pelas instituições nanceiras, esse problema se reduz.

30 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


É importante compreender, porém, que o modelo tradicional de intermediação
financeira não foi capaz de suprir todas as demandas existentes no mercado. Esse
processo foi sendo aprimorado ao longo da história. Desenvolveram-se novos
ativos financeiros e características operacionais específicas para cada tipo de
demanda. Essas características podem diferir em razão do prazo, tipo de ins-
trumento utilizado para formalizar a operação, assunção de riscos, entre outros
aspectos que delimitam o que se convencionou chamar de mercados financeiros.

Atualmente, essa diferente classificação ajuda a compreender um pouco mais


cada um desses mercados, suas peculiaridades, riscos e vantagens. De forma
geral, como se pode obser var na figura 2, o sistema financeiro segmentou-se em
quatro grandes mercados: mercado monetário, mercado de crédito, mercado de
câmbio e mercado de capitais.

Figura 2

O foco de discussão principal deste livro é o mercado de capitais e abordará em


cada um dos capítulos, diferentes assuntos relacionados. A seguir, abordaremos
apenas de forma resumida a respeito do mercado monetário, de câmbio e de cré-

Sistema Financeiro Nacional 31


dito. Em seguida será feita uma apresentação do mercado de capitais.

Mercado monetário
As transferências de recursos a curtíssimo prazo, em geral com prazo de um dia,
como aquelas realizadas entre as próprias instituições nanceiras ou entre elas e o
Banco Central, são realizadas no chamado mercado monetário. Trata-se de um mer-
cado utilizado basicamente para controle da liquidez da economia, no qual o Banco
Central intervém para condução da Política Monetária. Resumidamente, se o volume
de dinheiro estiver maior do que o desejado pela política governamental, o Banco
Central intervém vendendo títulos e retirando moeda do mercado, reduzindo, assim,
liquidez da economia. Ao contrário, caso observe que a quantidade de recursos está
inferior à desejada, o Banco Central intervém comprando títulos e injetando moeda
no mercado, restaurando a liquidez desejada.

Mercado de câmbio
É o mercado em que são negociadas as trocas de moedas estrangeiras por moeda na-
cional. Participam desse mercado todos os agentes econômicos que realizam transações
com o exterior, ou seja, têm recebimentos ou pagamentos a realizar em moeda estrangei-
ra. Esse mercado é regulado e scalizado pelo Banco Central do Brasil, que dele também
participa para execução de sua Política Cambial.

Mercado de crédito
É o segmento do mercado nanceiro em que as instituições nanceiras captam recur-
sos dos agentes superavitários e os emprestam às famílias ou empresas, sendo remune-
radas pela diferença entre seu custo de captação e o que cobram dos tomadores. Essa
diferença é conhecida como spread. Assim, as instituições nanceiras nesse mercado
têm como atividade principal a intermediação nanceira propriamente dita.

Em geral, são operações de curto e médio prazo, destinadas ao consumo ou capital de


giro das empresas. As operações são usualmente formalizadas por contratos, como por
exemplo, cheque especial, conta garantida e crédito direto ao consumidor, e as institui-
ções nanceiras assumem o risco de crédito da operação. São exemplos de instituições
participantes desse mercado os bancos comerciais e as sociedades de crédito, nan-
ciamento e investimento, conhecidas como nanceiras. O Banco Central do Brasil é o
principal órgão responsável pelo controle, normatização e scalização deste mercado.

O mercado de crédito é fundamental para o bom funcionamento da economia, na

32 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


medida em que as instituições nanceiras assumem dois papéis decisivos. De um lado,
atuam como centralizadoras de riscos, reduzindo a exposição dos aplicadores a per-
das e otimizando as análises de crédito. De outro, elas funcionam como um elo entre
milhões de agentes com expectativas muito distintas em relação a prazos e volumes de
recursos. Quando o sistema inexiste ou existe de forma ine ciente, muitas das neces-
sidades de aplicações e empréstimos de recursos cariam represadas, ou seja, não cir-
culariam no mercado, o que inevitavelmente causaria uma freada brusca na economia.

Entretanto, em alguns casos, o mercado de crédito é insu ciente para suprir as ne-
cessidades de nanciamento dos agentes. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando
determinada empresa necessita de um volume de recursos muito superior ao que
uma instituição poderia, sozinha, emprestar. Além disso, pode acontecer de os cus-
tos dos empréstimos no mercado de crédito, em virtude dos riscos assumidos pelas
instituições nas operações, serem demasiadamente altos, de forma a inviabilizar os
investimentos pretendidos. Isso ocorre, em geral, nos investimentos produtivos de
duração mais longa, de valores mais altos e, que, portanto, envolvem riscos maiores.
Porém, esse tipo de investimento é fundamental para o crescimento econômico. De-
senvolveu-se, assim o Mercado de Capitais, ou Mercado de Valores Mobiliários.

1.1.2. O Mercado de Capitais

O que se pretende quando se estuda o mercado nanceiro é compreender as prin-


cipais características das operações nele realizadas. São assuntos de interesse, entre
outros, conhecer os agentes econômicos envolvidos nas operações, os intermediá-
rios, os ativos e produtos nanceiros que estão sendo negociados, os meios utilizados
para a captação dos recursos, a nalidade da aplicação desses recursos, o prazo da
operação, a formalização, entre outros aspectos.

O estudo dessas características é que permite que os mercados nanceiros sejam classi -
cados em diferentes segmentos, embora possa haver diferentes classi cações, dependen-
do da natureza do que se está estudando. É possível, por exemplo, classi car os mercados
nanceiros quanto ao prazo da operação, quanto aos ativos e produtos nanceiros utili-
zados ou quanto à nalidade da aplicação.

Daí surgem os desa os dessa classi cação. O mercado monetário e o mercado de


câmbio são muito bem delimitados e di cilmente geram alguma confusão. Porém,
dependendo das características consideradas, pode haver dúvida em relação ao
mercado de crédito e o mercado de capitais. Por exemplo: se determinada empresa

Sistema Financeiro Nacional 33


contrata um empréstimo em uma instituição nanceira, para pagamento em longo
prazo, com o objetivo de instalar uma nova planta industrial, a operação ocorre no
mercado de crédito ou de capitais? O que se pretende mostrar é que os conceitos uti-
lizados neste livro consideram essa operação como do mercado de crédito.

Como se pode observar, a característica marcante nesse exemplo não foi o prazo da
operação e nem a nalidade do investimento, mas tão somente as características da
intermediação nanceira propriamente dita, o que envolve o tipo de ativo utilizado,
a maneira utilizada para a captação dos recursos, e em alguns casos até mesmo o
tipo de intermediário. É sob essa perspectiva que o mercado de capitais será apre-
sentado. Portanto, inicialmente serão apresentadas as principais características desse
mercado, destacando exemplos e diferenças, especialmente em relação ao mercado
de crédito, para que, ao nal, se possa chegar a algum conceito que melhor o de na.
É o que será feito nos próximos parágrafos.

No mercado de crédito, as instituições nanceiras captam recursos dos poupadores


e os emprestam aos tomadores, assumindo os riscos da operação. São remunera-
das por uma diferença entre as taxas de captação e de aplicação desses recursos.
No mercado de capitais, por outro lado, os agentes superavitários emprestam seus
recursos diretamente aos agentes de citários. Porém, as operações ocorrem sem-
pre com a intermediação de uma instituição nanceira. No entanto, nesse merca-
do, essas instituições atuam principalmente como prestadoras de serviços, estru-
turando as operações, assessorando na formação de preços, oferecendo liquidez,
captando clientes, distribuindo os valores mobiliários no mercado, entre outros
trabalhos. São remuneradas pelo ser viço prestado. Os diagramas das guras 3 e 4
ilustram essas duas formas de atuação das instituições nanceiras nos mercados de
crédito e de capitais.

34 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Figura 3 – Mercado de Crédito

Figura 4 – Mercado de Capitais

Na relação que se estabelece no mercado de capitais, os investidores, ao emprestarem


seus recursos diretamente para as empresas, adquirem títulos, que representam as
condições estabelecidas no negócio, chamados de valores mobiliários. Podem ser tí-
tulos de dívida, em que se estabelece uma relação de crédito entre as partes tomadora
e poupadora, como é o caso das debêntures, ou podem ser títulos patrimoniais, ou
de capital, em que os investidores se tornam sócios do negócio, com todos os direitos
e deveres inerentes, como é o caso das ações. Os investidores podem adquirir esses
valores mobiliários diretamente, ou indiretamente por meio de estruturas de inves-
timento coletivo, como os fundos ou clubes de investimento. Valores mobiliários,
fundos de investimento e companhias são assuntos que serão abordados em capítulos
especí cos deste livro.

As instituições nanceiras que atuam como prestadoras de serviços não assumem a res-
ponsabilidade pelo cumprimento das obrigações estabelecidas e formalizadas entre os

Sistema Financeiro Nacional 35


emissores dos títulos e os investidores. Assim, a responsabilidade pelo pagamento dos
juros e do principal de uma debênture, por exemplo, é da emissora, e não da insti-
tuição nanceira que a tenha assessorado ou participado do processo de colocação
dos títulos no mercado. São participantes desse mercado, entre outros, os Bancos
de Investimento, as Corretoras e Distribuidoras de títulos e Valores Mobiliários, as
entidades administradoras de mercado de bolsa e balcão, além de diversos outros
prestadores de serviços.

Em síntese, uma empresa que esteja diante da necessidade de novos investimentos


possui três possíveis fontes para captação de recursos. A escolha de uma das alter-
nativas é uma decisão nanceira e estratégica da empresa, que deverá avaliar os
custos e benefícios de cada opção:

. Utilização de recursos próprios, como os lucros acumulados pela companhia.

. Contratação de nanciamento bancário, através das linhas de crédito tradi-


cionais ou linhas de nanciamento governamentais, como o BNDES.

. Utilização do mercado de capitais, por meio de emissão pública de títulos


diretamente aos investidores.

Do ponto de vista dos investidores, o mercado de capitais surge como alternativa às


aplicações tradicionais em produtos oferecidos pelos bancos ou pelo governo. É nesse
mercado que os poupadores têm a oportunidade de participar de empreendimentos
que consideram interessantes, desde que dispostos a assumir os riscos daí decorren-
tes. Espera-se, em especial nos títulos patrimoniais, uma rentabilidade superior aos
investimentos tradicionais, embora com risco também superior. Isso porque, dife-
rente do mercado de crédito, em que o risco das operações é centralizado nos bancos,
no mercado de capitais o risco da operação em que os recursos são aplicados é assu-
mido pelos próprios investidores.

Conceitua-se o mercado de capitais, portanto, como o segmento do mercado nan-


ceiro em que são criadas as condições para que as empresas captem recursos direta-
mente dos investidores, através da emissão de instrumentos nanceiros, com o ob-
jetivo principal de nanciar suas atividades ou viabilizar projetos de investimentos.

36 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O mercado de capitais tem uma grande importância no desenvolvimento do
país, pois estimula a poupança e o investimento produtivo, o que é essencial
para o crescimento de qualquer sociedade econômica moderna.

1.1.3. Estrutura do Sistema Financeiro Nacional

Até o momento, o sistema nanceiro foi estudado considerando a sua função principal
de alocação de recursos na economia, com foco nos diversos segmentos que o com-
põem. Nessa parte, o Sistema Financeiro será analisado sob outro ângulo, consideran-
do a estrutura do Sistema Financeiro Nacional, em que o estudo se direciona para as
instituições que o compõem. O Banco Central do Brasil propõe, conforme tabela a se-
guir, uma subdivisão do sistema nanceiro nacional em três níveis: órgãos normativos;
entidades supervisoras e operadores.

ÓRGÃOS ENTIDADES
OPERADORES
NORMATIVOS SUPERVISORAS

Inst i t ui ções Fi nancei ras Capt adoras


Ban co Cent r al d o
de Depósi t os à v ist a
Br asi l
Out ros int erme-
(BACEN)
CONSELHO MONETÁ- De m ai s I n st i t u i çõ e s Fi n an ce i r as diários ƥnancei-
RIO NACIONAL ros e administ ra-
(CMN) dores de recursos
Comi ssão de
Bolsas de Mercadorias e Futuros de t erceiros
Val or es
Mobi l i ár i os
Bol sas de Valores
(CVM)

Resseguradores
CONSELHO NACIONAL Superint endên-
Sociedades Seguradoras
DESEGUROSPRI- cia de Seguros
VADOS Privados
Sociedades de Capit alização
(CNSP) (SUSEP)

Ent idades Aber t as de Previdência Complement ar

Su p e r i n t e n d ê n -
CONSELHO NACIONAL
ci a Naci onal de
DEPREVIDÊNCIA Ent idades f echadas de previdência complement ar (f undos
Prev i dênci a Com-
COMPLEMENTAR de pensão)
pl ement ar
(CNPC )
(PREVIC)

Sistema Financeiro Nacional 37


Os órgãos normativos são os responsáveis pela de nição das políticas e diretrizes
gerais do sistema nanceiro, sem funções executivas. São entidades governamen-
tais colegiadas, criadas por lei, com atribuições específicas. Em geral, apoiam-se
em estruturas técnicas de apoio para a tomada das decisões, que são regulamen-
tadas e fiscalizadas pelas entidades super visoras. Atualmente, no Brasil, funcio-
nam como órgãos normativos:

. Conselho Monetário Nacional (CMN) - órgão superior do sistema nan-


ceiro nacional;

. Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) - responsável pelas diretri-


zes dos segmentos de seguros, capitalização e previdência complementar aberta;

. Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) - para de nição


das políticas dos fundos de previdência complementar fechados (fundos de pensão).

As entidades supervisoras assumem diversas funções executivas, como a scalização


das instituições sob sua responsabilidade, assim como funções normativas, com o
intuito de regulamentar dispositivos legais ou normas editadas pelos órgãos norma-
tivos. As entidades supervisoras do Sistema Financeiro Nacional são:

. Banco Central do Brasil (BCB ou BACEN);

. Comissão de Valores Mobiliários (CVM);

. Superintendência de Seguros Privados (SUSEP);

. Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC);

Os operadores, por outro lado, incluem as demais instituições, públicas ou privadas,


envolvidas diretamente, ou como instituições auxiliares, nas atividades de captação,
intermediação e aplicação de recursos no sistema nanceiro nacional. É comum, di-
daticamente, subdividi-los em instituições nanceiras monetárias, órgãos o ciais,
demais instituições nanceiras, outros intermediários nanceiros, instituições auxi-
liares e instituições dos segmentos de seguro e previdência.

A seguir serão apresentadas as principais características das principais instituições com-


ponentes do sistema nanceiro nacional.

38 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Órgãos Normat ivos

Conselho Monetário Nacional (CMN)

É o órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional. Foi criado pela Lei
4595/64, conhecida como a Lei da Reforma Bancária, em substituição à extinta Su-
perintendência da Moeda e do crédito, em uma década em que o sistema nanceiro
passou por profundas mudanças estruturais e regulamentares.

O CMN foi criado com a nalidade de formular a política da moeda e do crédito,


para promover o progresso econômico e social do país. A política do CMN tem como
principais objetivos:

. adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da


economia;

. regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio do balanço de


pagamentos;

. orientar a aplicação dos recursos das instituições nanceiras;

. propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos nanceiros;

. zelar pela liquidez e solvência das instituições nanceiras;

. coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida pú-


blica interna e externa.

Atualmente, o CMN é composto por três membros: Ministro da Fazenda (Presiden-


te), Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e Presidente do Banco Central.

Em conjunto com o CMN funciona a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito


(Comoc), que tem como atribuições o assessoramento técnico na formulação da
política da moeda e do crédito do País. As matérias aprovadas são regulamentadas
por meio de Resoluções, normativos de caráter público, sempre divulgadas no Diário
O cial da União e na página de normativos do Banco Central do Brasil. Também
funcionam junto ao CMN diversas comissões consultivas que representam os prin-
cipais setores do mercado.

Sistema Financeiro Nacional 39


Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP)

É o órgão normativo do setor de seguros do país. Inicialmente, sua principal fun-


ção era determinar as normas gerais da política governamental para os segmen-
tos de Seguros Privados e Capitalização. Posteriormente, o CNSP recebeu tam-
bém atribuições relacionadas à previdência privada aberta.

Desde a edição da Lei 10.190/01, o CNSP é composto por seis membros: Ministro de Es-
tado da Fazenda ou seu representante (Presidente), Superintendente da SUSEP (Vice-
Presidente) e representantes do Ministério da Justiça, Banco Central do Brasil, Mi-
nistério da Previdência e Assistência Social e da Comissão de Valores Mobiliários.

O CNSP desempenha, entre outras, as seguintes atribuições:

. Fixar as diretrizes e normas da política de seguros privados;

. Regular a constituição, organização, funcionamento e scalização dos que


exercem atividades subordinadas ao Sistema Nacional de Seguros Privados, bem
como a aplicação das penalidades previstas;

. Fixar as características gerais dos contratos de seguros, previdência privada


aberta e capitalização;

. Estabelecer as diretrizes gerais das operações de resseguro;

. Prescrever os critérios de constituição das Sociedades Seguradoras, de Pre-


vidência Privada Aberta e de Capitalização, com xação dos limites legais e téc-
nicos das respectivas operações;

. Disciplinar a corretagem do mercado e a pro ssão de corretor.

Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)

O CNPC tem a função de regular o regime de previdência complementar operado pelas


entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão).

O CNPC é composto pelo Ministro de Estado da Previdência Social, que é o Presi-


dente, e por representantes da Superintendência Nacional de Previdência Comple-
mentar (Previc), da Secretaria de Políticas de Previdência Complementar (SPPC), da
Casa Civil da Presidência da República, dos Ministérios da Fazenda e do Planeja-

40 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mento, Orçamento e Gestão, das entidades fechadas de previdência complementar,
dos patrocinadores e instituidores de planos de benefícios das entidades fechadas de
previdência complementar e dos participantes e assistidos de planos de benefícios
das referidas entidades.

Ent idades Supervisoras

Banco Central do Brasil (BCB)


O Banco Central do Brasil foi criado em 1964 com a promulgação da Lei da Re-
forma Bancária (Lei nº 4.595 de 31.12.64), mesma Lei que instituiu o Conselho
Monetário Nacional.

É uma autarquia federal que tem como principal missão institucional assegurar a
estabilidade do poder de compra da moeda nacional e um sistema nanceiro sólido
e e ciente.

Entre as competências do BCB destacam-se:

. Assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda nacional e a solidez


do Sistema Financeiro Nacional;

. Executar a política monetária mediante utilização de títulos do Tesouro


Nacional;

. Fixar a taxa de referência para as operações compromissadas de um dia,


conhecida como taxa SELIC;

. Controlar as operações de crédito das instituições que compõem o Sistema


Financeiro Nacional;

. Formular, executar e acompanhar a política cambial e de relações nancei-


ras com o exterior;

. Fiscalizar as instituições nanceiras e as clearings (câmaras de compensação);

. Emitir papel-moeda (a partir da Constituição de 1988, a emissão de moeda


cou a cargo exclusivo do BCB);

. Executar os ser viços do meio circulante para atender à demanda de

Sistema Financeiro Nacional 41


din heiro necessária às atividades econômicas;

. Manter o nível de preços (in ação) sob controle;

. Manter sob controle a expansão da moeda e do crédito e a taxa de juros;

. Operar no mercado aberto, de recolhimento compulsório e de redesconto;

. Executar o sistema de metas para a in ação;

. Divulgar as decisões do Conselho Monetário Nacional;

. Manter ativos de ouro e de moedas estrangeiras para atuação nos mercados


de câmbio;

. Administrar as reservas internacionais brasileiras;

. Zelar pela liquidez e solvência das instituições nanceiras nacionais;

. Conceder autorização para o funcionamento das instituições nanceiras.

O presidente do BCB e os seus diretores são nomeados pelo Presidente da República


após a aprovação prévia do Senado Federal, que é feita por uma arguição pública e
posterior votação secreta.

Sua sede é em Brasília e possui representações regionais em Belém, Belo Horizonte,


Curitiba, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Comissão de Valores Mobiliários (CVM)

A CVM foi criada em 07 de dezembro de 1976 pela Lei 6.385, com a nalidade de
disciplinar, scalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários no Brasil. Con-
siderando que o objeto de estudo deste livro é o mercado de capitais e que a CVM
é a autarquia federal por ele responsável, mais a frente há uma seção especí ca para
tratar do assunto.

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP)

A Susep foi criada em 1966 pelo Decreto-Lei 73/66, que também instituiu o Sistema
Nacional de Seguros Privados, como órgão responsável pelo controle e scalização

42 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


dos mercados de seguro, previdência privada aberta, capitalização e resseguro. É
uma autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, administrada por um Conselho
Diretor, composto pelo Superintendente e por quatro Diretores.

Suas principais atribuições são:

. Fiscalizar a constituição, organização, funcionamento e operação das Socie-


dades Seguradoras, de Capitalização, Entidades de Previdência Privada Aberta e
Resseguradores, na qualidade de executora da política traçada pelo CNSP;

. Atuar no sentido de proteger a captação de poupança popular que se efetua


através das operações de seguro, previdência privada aberta, de capitalização e
resseguro;

. Zelar pela defesa dos interesses dos consumidores dos mercados supervi-
sionados;

. Promover o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos opera-


cionais a eles vinculados, com vistas à maior e ciência do Sistema Nacional de
Seguros Privados e do Sistema Nacional de Capitalização;

. Promover a estabilidade dos mercados sob sua jurisdição, assegurando sua


expansão e o funcionamento das entidades que neles operem;

. Zelar pela liquidez e solvência das sociedades que integram o mercado;

. Disciplinar e acompanhar os investimentos daquelas entidades, em especial


os efetuados em bens garantidores de provisões técnicas;

. Cumprir e fazer cumprir as deliberações do CNSP e exercer as atividades


que por este forem delegadas;

. Prover os serviços de Secretaria Executiva do CNSP.

Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC)


A Previc atua como entidade de scalização e de supervisão das atividades das enti-
dades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) e de execução das
políticas para o regime de previdência complementar operado por essas entidades. É
uma autarquia vinculada ao Ministério da Previdência Social.

Sistema Financeiro Nacional 43


Operadores

Banco do Brasil
O Banco do Brasil é o mais antigo banco comercial do Brasil e foi criado em 12 de
outubro de 1808 pelo príncipe regente Dom João VI. É uma sociedade de economia
mista de capital público e privado. É também uma empresa aberta que possui ações
cotadas na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBOVESPA). O Banco do Brasil opera
como agente nanceiro do Governo Federal e é o principal executor das políticas de
crédito rural e industrial.

Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social


Criado em 1952 como autarquia federal, hoje é uma empresa pública vinculada ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com personalida-
de jurídica de direito privado e patrimônio próprio. É responsável pela política de
investimentos a longo prazo do Governo Federal, necessários ao fortalecimento da
empresa privada nacional.

Com o objetivo de fortalecer a estrutura de capital das empresas privadas e desenvol-


vimento do mercado de capitais, o BNDES conta com linhas de apoio para nancia-
mentos de longo prazo a custos competitivos, para o desenvolvimento de projetos de
investimentos e para a comercialização de máquinas e equipamentos novos, fabrica-
dos no país, bem como para o incremento das exportações brasileiras.

Os nanciamentos são feitos com recursos próprios, empréstimos e doações de enti-


dades nacionais e estrangeiras e de organismos internacionais, como o BID. Também
recebe recursos do PIS e PASEP.

Conta com duas subsidiárias integrais, a FINAME (Agência Especial de Financia-


mento Industrial) e a BNDESPAR (BNDES Participações), criadas com o objetivo,
respectivamente, de nanciar a comercialização de máquinas e equipamentos; e de
possibilitar a subscrição de valores mobiliários no mercado de capitais brasileiro. As
três empresas, juntas, compreendem o chamado “Sistema BNDES”.

Caixa Econômica Federal


Criada em 12 de janeiro de 1861 por Dom Pedro II com o propósito de incenti-
var a poupança e de conceder empréstimos sob penhor, a Caixa é uma empresa
pública vinculada ao Ministério da Fazenda. É a instituição nanceira responsável

44 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


pela operacionalização das políticas do Governo Federal para habitação popular e
saneamento básico.

Além das atividades comuns de um banco comercial, a CEF também atende aos tra-
balhadores formais, por meio do pagamento do FGTS, PIS e seguro-desemprego, e
aos bene ciários de programas sociais e apostadores das loterias.

As ações da Caixa priorizam setores como habitação, saneamento básico, infraestru-


tura e prestação de serviços.

Instituições Financeiras Monetárias


As instituições financeiras monetár ias, ou bancárias, são aquelas autor izadas
a captar depósitos à vista do público. Atualmente, apenas os Bancos Comer-
ciais, a Caixa Econôm ica Federal, as Cooperativas de Crédito e os Bancos
Mú ltiplos com car teira comercial possuem essa autorização.

Bancos Comerciais
Os Bancos Comerciais são as instituições nanceiras mais tradicionais, que operam
uma rede de agências, captam depósitos à vista, de livre movimentação, depósitos a
prazo e disponibilizam recursos para nanciar, a curto e médio prazo, as pessoas fí-
sicas e as empresas. Podem ser instituições públicas ou privadas. Devem ser constitu-
ídos sob a forma de sociedade anônima (sociedade por ações) e na sua denominação
social deve constar a expressão “Banco” (Resolução CMN 2.099/94).

Cooperativas de Crédito
As sociedades cooperativas são uma forma societária, conforme previsto na Lei
5.764/71, em que as pessoas que dela participam comprometem-se a contribuir com
bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum,
sem objetivo de lucro. As cooperativas de crédito, portanto, exploram serviços nan-
ceiros a elas permitidos. Dividem-se em: singulares, que prestam serviços nanceiros
de captação e de crédito apenas aos respectivos associados, podendo receber repasses
de outras instituições nanceiras e realizar aplicações no mercado nanceiro; cen-
trais de cooperativas ou federações de cooperativas, que prestam serviços às singula-
res liadas, e são também responsáveis auxiliares por sua supervisão; e confederações
de cooperativas centrais, que prestam serviços a centrais e suas liadas. As coopera-
tivas de crédito equiparam-se a uma instituição nanceira e, portanto estão sujeitas
à legislação e às normas gerais aplicáveis ao sistema nanceiro, como também à Lei

Sistema Financeiro Nacional 45


Complementar nº 130, de 17 de abril de 2009, que instituiu o Sistema Nacional de
Crédito Cooperativo, à Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que instituiu o re-
gime jurídico das sociedades cooperativas, e à Resolução nº 3.859, de 27 de maio de
2010, que disciplina sua constituição e funcionamento.

Bancos Múltiplos com carteira comercial


Os bancos múltiplos são instituições nanceiras autorizadas a se constituir com, no
mínimo, duas dentre as carteiras comercial, de investimento ou desenvolvimento,
de crédito imobiliário, de crédito, nanciamento e investimento e de arrendamento
mercantil, sendo que uma delas deve ser obrigatoriamente comercial ou de investi-
mento. As atividades realizadas pelos bancos múltiplos estão sujeitas às mesmas nor-
mas legais e regulamentares aplicáveis às instituições singulares correspondentes às
suas carteiras, inclusive no que diz respeito às operações ativas, passivas e acessórias.
Somente bancos públicos podem operar a carteira de desenvolvimento. É vedado ao
banco múltiplo emitir debêntures. Salvo os casos previstos em legislação e regula-
mentação especí cas, não há vinculação entre as fontes de recursos captados e as
aplicações do banco múltiplo. Os bancos múltiplos com carteira comercial podem
captar depósitos à vista.

Demais Instituições Financeiras


Incluem as instituições nanceiras não autorizadas a receber depósitos à vista. Desen-
volvem as operações típicas de um intermediário nanceiro, como captação de recur-
sos e empréstimo, além da prestação de serviços nanceiros. Dividem-se em categorias,
a depender do foco principal de atuação, das formas permitidas de captação e aplicação
dos recursos e da composição e controle societário. Entre elas, podemos citar:

Agências de Fomento

Agências de fomento são instituições criadas por Unidade da Federação que têm
como objeto social nanciar capital xo e de giro associado a projetos na Unidade da
Federação onde tenham sede. São constituídas sob a forma de sociedade por ações de
capital fechado com controle acionário da Unidade da Federação que a instituiu. A
constituição e o funcionamento das agências de fomento dependem de autorização
do Banco Central do Brasil, sendo que cada Unidade só pode constituir uma agên-
cia. Na denominação social da instituição deve constar obrigatoriamente a expressão
Agência de Fomento, acrescida da indicação da Unidade da Federação controladora.
Não podem ser transformadas em nenhum outro tipo de instituição autorizada a

46 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


funcionar pelo Banco Central do Brasil. Além de recursos próprios, é permitido às
agências de fomento empregar em suas atividades recursos provenientes de fundos
e programas o ciais, orçamentos federal, estaduais e municipais, organismos e ins-
tituições nanceiras nacionais e internacionais de desenvolvimento e captação de
depósito nanceiro associados a operações de micro nanças. Essas operações devem
observar regras especí cas da Resolução CMN 2.828, de 2001, que regula a constitui-
ção e o funcionamento dessas instituições e determina as atividades e operações que
podem ser realizadas por esse tipo de instituição. É expressamente vedado às agên-
cias de fomento captar recursos junto ao público, recorrer ao redesconto, ter conta
de reserva no Banco Central, contratar depósitos inter nanceiros na qualidade de
depositante ou de depositária e nem ter participação societária em outras instituições
nanceiras. As agências de fomento devem constituir e manter, permanentemente,
fundo de liquidez equivalente, no mínimo, a 10% do valor de suas obrigações, a ser
integralmente aplicado em títulos públicos federais.

Associações de Poupança e Empréstimo


As associações de poupança e empréstimo são instituições constituídas sob a forma
de sociedade civil e de propriedade comum de seus associados, restritas por região.
Suas operações ativas são, em geral, de nanciamento imobiliário. Elas captam re-
cursos pela emissão de letras e cédulas hipotecárias, depósitos de cadernetas de pou-
pança, depósitos inter nanceiros e empréstimos externos. Os depositantes adquirem
vínculo societário e, por isso, são remunerados pelos resultados operacionais da APE
e não por juros.

Bancos de Câmbio
Os bancos de câmbio são instituições nanceiras especializadas na realização de ope-
rações de compra e venda de moeda estrangeira, transferências de recursos do e para
o exterior, nanciamento de exportação e importação, adiantamento sobre contratos
de câmbio e outras operações, inclusive de prestação de serviços, previstas na regula-
mentação do mercado de câmbio. Podem ainda: atuar no mercado nanceiro nacional,
inclusive em bolsas de mercadorias e futuros, bem como em mercado de balcão, para
realização de operações, por conta própria, referenciadas em moedas estrangeiras ou
vinculadas a operações de câmbio; efetuar depósitos inter nanceiros; e realizar outras
atividades que vierem a ser autorizadas pelo Banco Central do Brasil. Podem captar re-
cursos de repasses interbancários, depósitos inter nanceiros e no exterior. É permitido
aos bancos de câmbio manter contas de depósito não movimentáveis pelo titular, sem
remuneração, cujos recursos sejam destinados à realização de operações ou à contra-

Sistema Financeiro Nacional 47


tação de serviços relacionados a seu objeto social. Na denominação dessas instituições
deve constar a expressão “Banco de Câmbio”.

Bancos de Desenvolvimento

Os bancos de desenvolvimento são instituições nanceiras públicas não federais,


constituídas sob a forma de sociedade por ações, com sede na capital do Estado da
Federação que detiver seu controle acionário. Em sua denominação deve constar
obrigatoriamente a expressão “Banco de Desenvolvimento”, seguida do nome do
Estado em que tenham sede. Os Bancos de Desenvolvimento têm como objetivo
proporcionar os recursos necessários ao nanciamento, a médio e longo prazo, de
programas e projetos que visem a promover o desenvolvimento econômico e social
dos respectivos Estados da Federação onde tenham sede. As principais operações
ativas são empréstimos e nanciamentos, investimentos e arrendamento mercantil,
direcionados prioritariamente ao setor privado. Podem captar recursos de terceiros
provenientes de depósitos a prazo, empréstimos externos, emissão ou endosso de
cédulas hipotecárias, emissão de cédulas pignoratícias de debêntures e de Títulos de
Desenvolvimento Econômico.

Bancos de Investimento

Os bancos de investimento são instituições nanceiras especializadas em operações


estruturadas para empresas. Tais operações podem envolver participação acionária
ou societária de caráter temporário em empresas ou nanciamentos, a médio e longo
prazos, para suprimento de capital xo ou de giro, mediante a aplicação de recursos
próprios ou captados junto ao público. Possuem natureza privada, devem ser consti-
tuídos sob a forma de sociedade por ações e adotar, obrigatoriamente, em sua deno-
minação social, a expressão “Banco de Investimento”. Não possuem contas correntes
e captam recursos via depósitos a prazo, repasses de recursos externos, internos e
venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados. Além de institui-
rem, organizarem e administrarem fundos de investimentos, administram carteiras
de títulos e valores mobiliários, assessoram negócios, realizam lançamentos de ações
de empresas e prestam outros serviços do gênero.

48 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Companhias Hipotecárias

As companhias hipotecárias são instituições nanceiras que têm por objeto social:

. conceder nanciamentos destinados à aquisição, produção, reforma ou co-


mercialização de imóveis residenciais ou comerciais e lotes urbanos;

. conceder empréstimos e nanciamentos, garantidos por hipoteca ou pela


alienação duciária de bens imóveis;

. comprar, vender, refinanciar e adm in istrar créditos garantidos por hi-


poteca ou pela alienação fiduciária de bens imóveis, próprios ou de terceiros;

. administrar fundos de investimento imobiliário, desde que autorizadas pela


Comissão de Valores Mobiliários; e

. repassar recursos destinados ao nanciamento da produção ou da aquisição


de imóveis residenciais ou comerciais.

Devem ser constituídas sob a forma de sociedades por ações e em sua denominação
social deve constar a expressão “Companhia Hipotecária”. Às companhias hipotecá-
rias é facultado emitir letras hipotecárias, cédulas hipotecárias, debêntures e obter
empréstimos e nanciamentos no País e no exterior. As normas do Sistema Financei-
ro da Habitação (SFH) não se aplicam às companhias hipotecárias.

Sociedades Crédito, Financiamento e Investimento

As sociedades de crédito, nanciamento e investimento, ou nanceiras, como são


conhecidas, são instituições nanceiras privadas com o objetivo de prover nancia-
mento para a compra de bens e serviços, e para capital de giro. Foram instituídas
pela Portaria do Ministério da Fazenda 309, de 30 de novembro de 1959.Devem ser
constituídas sob a forma de sociedade anônima (sociedade por ações) e na sua deno-
minação social deve constar a expressão “Crédito, Financiamento e Investimento”.
Captam recursos por meio de aceite e colocação de Letras de Câmbio e Recibos de
Depósitos Bancários.

Sociedades de Crédito Imobiliário

As sociedades de crédito imobiliário são instituições nanceiras especializadas em


operações de nanciamento imobiliário. Foram criadas pela Lei 4.380, de 21 de agos-

Sistema Financeiro Nacional 49


to de 1964, no âmbito do Sistema Financeiro da Habitação (SFH). Devem ser consti-
tuídas sob a forma de sociedade por ações e em sua denominação social deve constar
a expressão “Crédito Imobiliário”. Podem captar recursos por meio de depósitos de
poupança, da emissão de letras e cédulas hipotecárias e de depósitos inter nanceiros.
Operam principalmente em nanciamento para construção de habitações, abertura de
crédito para compra ou construção de casa própria, nanciamento de capital de giro a
empresas incorporadoras, produtoras e distribuidoras de material de construção.

Sociedades de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte


As sociedades de crédito ao microempreendedor e à empresa de pequeno porte são
instituições que têm como objeto social a concessão de nanciamentos a pessoas
físicas, a microempresas e a empresas de pequeno porte, com vistas à viabiliza-
ção de empreendimentos de natureza pro ssional, comercial ou industrial. Foram
criadas pela Lei 10.194, de 14 de fevereiro de 2001. São impedidas de captar, sob
qualquer forma, recursos junto ao público, bem como emitir títulos e valores mobi-
liários destinados à colocação e oferta públicas. Devem ser constituídas sob a forma
de companhia fechada ou de sociedade por quotas de responsabilidade limitada e
devem adotar em sua denominação social a expressão “Sociedade de Crédito ao
Microempreendedor e à Empresa de Pequeno Porte”, vedado o emprego da palavra
“banco” (Resolução CMN 2.874, de 2001).

Outros Intermediários Financeiros

São também intermediários do Sistema Financeiro Nacional:

Administradoras de Consórcio
A administradora de consórcio é uma pessoa jurídica prestadora de ser viços res-
ponsável pela formação e administração de grupos de consórcio. O grupo de con-
sórcio é uma sociedade não personificada, que tem como objetivo a captação de
poupança, em um sistema de autofinanciamento, que permite aos consorciados a
aquisição de bens e ser viços.

Sociedades de Arrendamento Mercantil

As sociedades de arrendamento mercantil são instituições que têm como objeto a reali-
zação de operações de arrendamento mercantil (leasing). Nessa operação, o arrendador
coloca um determinado bem à disposição do arrendatário, para uso, durante um prazo

50 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


especí co, tendo em troca uma contraprestação nanceira. É uma espécie de locação,
em que o arrendatário, ao nal do contrato, pode adquirir o bem por um valor residual,
devolvê-lo ao arrendador ou ainda renovar o contrato.

Sociedades Corretoras de Câmbio

As sociedades corretoras de câmbio são instituições que têm como objeto social
exclusivo a intermediação em operações de câmbio e a prática de operações no
mercado de câmbio de taxas flutuantes. Deverá ser constituída sob a forma de
sociedade por ações ou por quotas de sociedade limitada e em sua denominação
social deve constar obrigatoriamente a expressão “corretora de câmbio”. São su-
per visionadas pelo Banco Central do Brasil.

Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários


São instituições nanceiras com múltiplas funções e, até o início de março de 2009
com a edição da Decisão-Conjunta BACEN/CVM Nº 17 (conforme mencionado no
item abaixo), eram as únicas autorizadas a operar em bolsas de valores. Necessitam
de autorização prévia do Banco Central do Brasil para serem constituídas, estando
sujeitas à scalização da própria bolsa de valores, da CVM e do Banco Central. Sua
principal atividade é a execução de ordens de compra e de venda de ativos para
seus clientes. Podem auxiliar o investidor na medida em que disponibilizam para
seus clientes informações provenientes de seus departamentos técnicos ou de aná-
lises de terceiros. Podem também administrar Fundos de Investimentos. Em geral,
cobram taxas e comissões por seus serviços. As sociedades corretoras de títulos
e valores mobiliários são constituídas sob a forma de sociedade por ações ou por
quotas de responsabilidade limitada.

Sociedades distribuidoras de títulos e valores mobiliários

São instituições nanceiras também autorizadas a funcionar pelo Banco Central do


Brasil e pela CVM, atuando na intermediação de títulos e valores mobiliários. Pos-
suem diversas funções, em especial, atividades relacionadas ao mercado de capitais.
Até o início de março de 2009, as Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores
Mobiliários não estavam autorizadas a operar em bolsas de valores e, quando o fa-
ziam, operavam por meio de uma Corretora de Valores. Contudo, em 02.03.2009, a
Decisão-Conjunta BACEN/CVM Nº 17 estabeleceu que as Sociedades Distribuido-
ras de Títulos e Valores Mobiliários cariam autorizadas a operar diretamente nos
ambientes e sistemas de negociação dos mercados organizados de bolsa de valores.

Sistema Financeiro Nacional 51


Da mesma forma que as Corretoras, as Distribuidoras de Valores cobram taxas e
comissões por seus serviços. São constituídas sob a forma de sociedades por ações ou
por quotas de sociedade limitada e, em sua denominação social, deve constar obriga-
toriamente a expressão “Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários”.

Instituições Auxiliares

Também compõem o Sistema Financeiro Nacional, como operadores auxiliares, as


entidades administradoras de mercados organizados de valores mobiliários, como
Bolsas de Valores, Mercadorias e Futuros, de Balcão Organizado, assunto que será
tratado em capítulo especí co.

Instituições do Segmento de seguros, capitalização e previdência

Além das entidades relacionadas acima, também integram o SFN as sociedades segu-
radoras, as sociedades de capitalização, as entidades abertas de previdência comple-
mentar e os fundos de pensão.

Sociedades Seguradoras

As sociedades seguradoras são especializadas nos contratos de seguros, por meio dos
quais assumem a obrigação de indenizar o contratante (segurado), ou a quem este de-
signar, caso o risco indicado no contrato venha a ocorrer. Recebe, para isso, o prêmio
estabelecido. São constituídas sob a forma de sociedades por ações.

Sociedades de Capitalização

As sociedades de capitalização negociam os contratos ou títulos de capitalização, em


que os contratantes comprometem-se a depositar, periodicamente e durante prazo
estabelecido, prestações pecuniárias, para, ao m do prazo contratado, resgatar parte
dos valores corrigidos por uma taxa estabelecida contratualmente. Quando previsto,
os contratantes têm ainda o direito de concorrer a sorteios de prêmios em dinheiro.
Essas sociedades são constituídas sob a forma de sociedades por ações.

Entidades Abertas de Previdência Complementar

As Entidades Abertas de Previdência Complementar “ EAPCs” têm por objetivo ins-


tituir e operar planos de benefícios previdenciários, direcionados a quaisquer pessoas
físicas. Esses benefícios podem ser concedidos na forma de renda continuada ou de
pagamento único. As EAPCs são constituídas sob a forma de sociedades por ações.

52 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Fundos de Pensão

As entidades fechadas de previdência complementar (fundos de pensão) também têm


por objetivo operar planos previdenciários, porém são acessíveis somente aos empre-
gados de uma empresa ou grupo de empresas ou aos servidores da União, dos Esta-
dos, do Distrito Federal e dos Municípios, ou aos associados ou membros de pessoas
jurídicas de caráter pro ssional, classista ou setorial. São organizadas sob a forma de
fundação ou sociedade civil, sem ns lucrativos. No que diz respeito à aplicação dos
recursos, as entidades de previdência fechada estão sujeitas às regras estabelecidas
pelo Conselho Monetário Nacional, na Resolução 3.121, de 25 de setembro de 2003.
Também são regidas pela Lei Complementar 109, de 29 de maio de 2001.

1.2 Crimes cont ra o Sist ema Financeiro Nacional

Os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional e de lavagem de dinheiro encontram


especí ca previsão no ordenamento jurídico brasileiro que, assim, visa a coibir con-
dutas lesivas que atentem contra o próprio Sistema Financeiro e a economia nacional.
Direta ou indiretamente, protegem também o investidor e o mercado.

Crimes do Colarinho Branco

Em relação aos crimes conhecidos como “crimes do colarinho branco”, endereça-


dos especi camente pela Lei nº 7.492/86, destacamos algumas condutas consideradas
prejudiciais ao regular funcionamento do sistema nanceiro e à con abilidade que
nele deve imperar e que, por isso, são coibidas:

. imprimir, reproduzir ou pôr em circulação, sem autorização, certi cado,


cautela ou outro documento representativo de título ou valor mobiliário;

. emitir, oferecer ou negociar, de qualquer modo, títulos ou valores mobiliá-


rios falsos, sem registro, sem lastro ou sem autorização;

. divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição


nanceira;

. gerir fraudulentamente instituição nanceira;

Sistema Financeiro Nacional 53


. apropriar-se ou desviar em proveito próprio ou alheio, como administrador
de instituição nanceira, dinheiro, título, valor ou qualquer outro bem móvel de
que tenha a posse;

. induzir ou manter em erro sócio, investidor ou repartição pública compe-


tente relativamente à operação ou situação nanceira, sonegando-lhe informa-
ção ou prestando-a falsamente;

. fazer inserir elemento falso ou omitir elemento exigido pela legislação em


demonstrativos contábeis de instituição nanceira, seguradora ou instituição in-
tegrante do sistema de distribuição de títulos de valores mobiliários;

. obter, mediante fraude, nanciamento em instituição nanceira.

Embora a lei faça referência ao Sistema Financeiro Nacional, esta expressão deve
ser entendida em sentido amplo, de mercado nanceiro ou de mercado de capi-
tais, abrangendo os seguros, o câmbio, os consórcios, a capitalização ou qual-
quer outro tipo de poupança.

Crimes contra o Mercado de Valores Mobiliários


Com o objetivo de preencher as lacunas então existentes na “Lei do Colarinho Branco”,
a Lei nº 10.303/01 alterou a Lei nº 6.385/76, passando a prever três delitos especi ca-
mente voltados à tutela do regular funcionamento do mercado de valores mobiliários:

. Manipulação de Mercado: realizar operações simuladas ou executar outras


manobras fraudulentas, com a nalidade de alterar arti cialmente o regular fun-
cionamento dos mercados de valores mobiliários em bolsa de valores, de merca-
dorias e de futuros, no mercado de balcão ou no mercado de balcão organizado,
com o m de obter vantagem indevida ou lucro, para si ou para outrem, ou cau-
sar dano a terceiros.

. Uso Indevido de Informação Privilegiada: utilizar informação relevante


ainda não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva
manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem indevida,
mediante negociação, em nome próprio ou de terceiro, com valores mobiliários.

. Exercício Irregular de Cargo, Pro ssão, Atividade ou Função: atuar, ainda


que a título gratuito, no mercado de valores mobiliários, como instituição inte-

54 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


grante do sistema de distribuição, administrador de carteira coletiva ou indivi-
dual, agente autônomo de investimento, auditor independente, analista de valo-
res mobiliários, agente duciário ou exercer qualquer cargo, pro ssão, atividade
ou função, sem estar, para esse m, autorizado ou registrado junto à autoridade
administrativa competente, quando exigido por lei ou regulamento.

Crime de Lavagem de Dinheiro

“Lavar” dinheiro signi ca ocultar ou dissimular a natureza, origem, localiza-


ção, disposição, movimentação ou a propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de crime. Ou seja, o dinheiro lavado tem,
necessariamente, origem em atividade ilícita (infração penal), qualquer que seja
ela, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 9.613/98, com redação que lhe foi dada
pela Lei nº 12.683/12.

O crime de lavagem de dinheiro caracteriza-se por um conjunto de operações co-


merciais ou nanceiras que buscam a incorporação na economia de cada país, de
modo transitório ou permanente, de recursos, bens e valores de origem ilícita e que
se desenvolvem por meio de um processo dinâmico que envolve, teoricamente, três
fases independentes que, com frequência, ocorrem simultaneamente.

A primeira fase é conhecida como “colocação”, por meio da qual o agente tem o obje-
tivo de colocar, inserir o dinheiro no sistema econômico, o que, muitas vezes, se faz
por meio da movimentação dos recursos em países com regras mais permissivas e
naqueles que possuem um sistema nanceiro liberal.

A segundo etapa é a “ocultação”, que consiste em di cultar o rastreamento contábil


dos recursos ilícitos. O objetivo é tentar romper a cadeia de evidências, de modo a
fazer desaparecer o vínculo entre o criminoso e o bem procedente da sua atuação.

Por m, a terceira etapa é a da “integração”, na qual os ativos são incorporados for-


malmente ao sistema econômico.

O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) é a unidade brasileira de


inteligência nanceira, integra o Ministério da Fazenda e possui um papel central no
sistema brasileiro de combate à lavagem de dinheiro e ao nanciamento ao terroris-
mo. Ele tem a incumbência legal de coordenar mecanismos de cooperação e de troca
de informações que viabilizem ações rápidas e e cientes no combate à lavagem de
dinheiro, disciplinar e aplicar penas administrativas e receber, examinar e identi car

Sistema Financeiro Nacional 55


ocorrências suspeitas. O COAF também coordena a participação do Brasil em várias
organizações internacionais relacionadas a esse tema.

Com relação às medidas preventivas, a legislação brasileira designa autoridades para


supervisionar as instituições nanceiras e garantir maior vigilância de atividades -
nanceiras suspeitas ou incomuns, ou ainda transações envolvendo jurisdições com re-
gimes de cientes de combate à lavagem de dinheiro e ao nanciamento ao terrorismo.

Além do COAF, outras autoridades e instituições, tais como a Polícia Federal, a Re-
ceita Federal, a Controladoria-Geral da União, o Ministério Público, a CVM e o BCB,
dentro do trabalho conjunto da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à
Lavagem de Dinheiro (ENCCLA) e, conforme recomendações expedidas pelo Grupo
de Ação Financeira (FATF/GAFI), têm se engajado de forma sistemática e progressiva
na identi cação, na prevenção e no combate à lavagem de dinheiro, o que pode ser
visto no aumento do número de investigações e condenações. Essas autoridades têm
aumentado suas capacidades de atuação, seja ampliando recursos, seja cooperando
com outros órgãos para o intercâmbio de informações e experiências. Além disso, os
tribunais especializados recém-criados para julgar esses processos aumentaram os
esforços na luta contra o crime de lavagem de dinheiro.

1.3. Comissão de Val ores Mobiliários

1.3.1. História do mercado de capitais

Antes da década de 60, os brasileiros investiam principalmente em ativos reais (imó-


veis), evitando aplicações em títulos públicos ou privados. A partir do nal da década
de 1950 o ambiente econômico de in ação crescente se somava a uma legislação que
limitava em 12% ao ano a taxa máxima de juros (a chamada Lei da Usura) limitando
o desenvolvimento de um mercado de capitais ativo.

Essa situação começa a se modi car quando o Governo que assumiu o poder em abril
de 1964 iniciou um programa de grandes reformas na economia nacional, dentre as
quais gurava a reestruturação do mercado nanceiro, quando diversas novas leis
foram editadas.

Entre aquelas que tiveram maior importância para o mercado de capitais, podemos

56 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


citar a Lei nº 4.537/64, que instituiu a correção monetária, através da criação das
ORTN (Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional), a Lei nº 4.595/64, denominada
lei da reforma bancária, que reformulou todo o sistema nacional de intermediação -
nanceira e criou o Conselho Monetário Nacional e o Banco Central e, principalmen-
te, a Lei nº 4.728, de 14.04.65, primeira Lei de Mercado de Capitais, que disciplinou
esse mercado e estabeleceu medidas para seu desenvolvimento.

A introdução dessa legislação resultou em diversas modi cações no mercado acio-


nário, tais como: a reformulação da legislação sobre Bolsa de Valores, a transfor-
mação dos corretores de fundos públicos em Sociedades Corretoras, forçando a sua
pro ssionalização, a criação dos Bancos de Investimento, a quem foi atribuída a
principal tarefa de desenvolver a indústria de fundos de investimento.

Com a nalidade especí ca de regulamentar e scalizar o mercado de valores mo-


biliários, as Bolsas de Valores, os intermediários nanceiros e as companhias de
capital aberto, funções hoje exercidas pela CVM, foi criada uma diretoria no Banco
Central: Diretoria de Mercado de Capitais.

Ao mesmo tempo, foram introduzidos alguns incentivos para a aplicação no mercado


acionário, dentre os quais destacamos os Fundos 157, criados pelo Decreto Lei nº 157,
de 10.02.1967. Estes fundos eram uma opção dada aos contribuintes de utilizar parte do
imposto devido, quando da Declaração do Imposto de Renda, em aquisição de quotas
de fundos de ações de companhias abertas administrados por instituições nanceiras
de livre escolha do aplicador.

Com o grande volume de recursos carreados para o mercado acionário, principal-


mente em decorrência dos incentivos scais criados pelo Governo Federal, houve
um rápido crescimento da demanda por ações pelos investidores sem que houvesse
aumento simultâneo de novas emissões de ações pelas empresas. Isto desencadeou
um “boom” na Bolsa do Rio de Janeiro, sendo o período de maior onda especulativa
entre dezembro de 1970 e julho de 1971, quando as cotações dispararam.

Após alcançar o seu ponto máximo em julho de 1971, iniciou-se um processo de re-
alização de lucros pelos investidores mais esclarecidos e experientes, que começaram
a vender suas posições. O quadro foi agravado progressivamente quando novas emis-
sões começaram a chegar às bolsas, aumentando a oferta de ações, em um momento
em que muitos investidores, assustados com a rapidez e a magnitude do movimento
de baixa, procuravam vender seus títulos.

Sistema Financeiro Nacional 57


O movimento especulativo, conhecido como “boom de 1971”, teve curta duração,
mas suas consequências foram vários anos de mercado deprimido, pois algumas
ofertas de ações de companhias extremamente frágeis e sem qualquer compromisso
com seus acionistas, ocorridas no período, geraram grandes prejuízos e mancharam,
de forma surpreendentemente duradoura, a reputação do mercado acionário. Ape-
sar disso, notou-se uma recuperação das cotações a partir de 1975, devido a novos
aportes de recursos (as reservas técnicas das seguradoras, os recursos do Fundo PIS/
PASEP, adicionais do Fundo 157 e a criação das Sociedades de Investimento “Decre-
to-Lei nº 1401” para captar recursos externos e aplicar no mercado de ações), além do
crescente volume de investimentos por parte dos Fundos de Pensão.

Ao longo do tempo, vários outros incentivos foram adotados visando a incentivar


o crescimento do mercado, tais como: a isenção scal dos ganhos obtidos em bolsa
de valores; a possibilidade de abatimento no imposto de renda de parte dos valores
aplicados na subscrição pública de ações decorrentes de aumentos de capital; e pro-
gramas de nanciamento a juros subsidiados efetuados pelo BNDES aos subscritores
de ações distribuídas publicamente.

Foi dentro desse quadro de estagnação e tentativa de recuperação do mercado acionário


que, em 1976, foram introduzidas duas novas normas legais, ainda em vigor: a Lei nº
6.404/76, nova Lei das Sociedades por Ações, que visava modernizar as regras que re-
giam as sociedades por ações, até então reguladas por um antigo Decreto-Lei de 1940, e
a Lei nº 6.385/76, segunda Lei do Mercado de Capitais que, entre outras inovações, criou
a CVM, uma instituição governamental destinada exclusivamente a regulamentar e de-
senvolver o mercado de capitais, scalizar as bolsas de valores e as companhias abertas.

Apesar de todos esses incentivos, o mercado de capitais não teve o crescimento


esperado, ainda que em alguns momentos tenha havido um aumento na quan-
tidade de companhias abrindo seu capital e um volume razoável de recursos
captados durante a década de 1980.

Na segunda metade da década de 70, a partir do Decreto Lei 1.401/76, foram feitas
as primeiras tentativas para atrair capitais externos para aplicação no mercado de
capitais brasileiro, mas o processo de internacionalização do mercado aconteceu
com mais força a par tir do final da década de 1980, com a edição da Resolução
do CMN nº 1.289/87.

A partir de meados da década de 1990, com a aceleração do movimento de abertura da

58 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


economia brasileira, aumenta o volume de investidores estrangeiros atuando no mer-
cado de capitais brasileiro. Além disso, algumas empresas brasileiras começam a aces-
sar o mercado externo através da listagem de suas ações em bolsas de valores estran-
geiras, principalmente a New York Stock Exchange, sob a forma de ADR (American
Depositary Reciepts), com o objetivo de se capitalizar através do lançamento de valores
mobiliários no exterior.

Ao listar suas ações nas bolsas americanas, as companhias abertas brasileiras foram
obrigadas a seguir diversas regras impostas pela SEC (Securities and Exchange Co-
mission), órgão regulador do mercado de capitais norte-americano, relacionadas
a aspectos contábeis, de transparência e divulgação de informações, os chamados
“princípios de governança corporativa”.

A partir daí, as empresas brasileiras começam a ter contato com acionistas mais exi-
gentes e so sticados, acostumados a investir em mercados com práticas de governan-
ça corporativa mais avançadas. Ao número crescente de investidores estrangeiros
soma-se uma maior participação de investidores institucionais brasileiros de grande
porte e mais conscientes de seus direitos.

Com o passar do tempo, o mercado de capitais brasileiro passou a perder espaço para
outros mercados devido à falta de proteção ao acionista minoritário e a incertezas em
relação às aplicações nanceiras. A falta de transparência na gestão e a ausência de
instrumentos adequados de supervisão das companhias in uenciavam a percepção
de risco e, consequentemente, aumentavam o custo de capital das empresas.

Algumas iniciativas institucionais e governamentais foram implementadas nos


últimos anos com o objetivo de assegurar melhorias das práticas de governança
corporativa das empresas brasileiras, das quais destacamos: a aprovação da Lei nº
10.303/01 e a criação do Novo Mercado e dos Níveis 1 e 2 de governança corporativa
pela BM&FBovespa.

1.3.2. Estrutura

A CVM é uma entidade autárquica, em regime especial, criada com a nalidade de


disciplinar, scalizar e desenvolver o mercado de valores mobiliários.

Sistema Financeiro Nacional 59


CVM: autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, com personalidade jurí-
dica e patrimônio próprios, dotada de autoridade administrativa independente,
ausência de subordinação hierárquica, mandato xo e estabilidade de seus diri-
gentes, e autonomia nanceira e orçamentária.

Com sede na cidade do Rio de Janeiro, é administrada por um Presidente e quatro


Diretores, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovados pelo Senado
Federal. O Presidente e a Diretoria constituem o Colegiado, que de ne políticas e esta-
belece práticas a serem implantadas e desenvolvidas pelo corpo de Superintendentes,
que é a instância executiva da CVM.

Com o objetivo de reforçar sua autonomia e seu poder scalizador, o governo federal edi-
tou, em 2001, a Medida Provisória nº 8, posteriormente convertida na Lei nº 10.411/02)
pela qual a CVM passa a ser uma entidade autárquica em regime especial, vinculada ao
Ministério da Fazenda, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, dotada de au-
toridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato
xo e estabilidade de seus dirigentes, e autonomia nanceira e orçamentária.

1.3.3. As principais atribuições e competências da CVM

Nos termos da legislação, a CVM tem como objetivos:

. Estimular a formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;

. Promover a expansão e o funcionamento e ciente e regular do mercado


de ações e estimular as aplicações permanentes em ações do capital social de
companhias abertas sob controle de capitais privados nacionais;

. Assegurar o funcionamento eficiente e regular dos mercados de bolsa e


de balcão;

. Proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores do mercado


contra emissões irregulares de valores mobiliários, contra atos ilegais de admi-
nistradores e acionistas das companhias abertas, ou de administradores de carteira de
valores mobiliários e contra o uso de informação relevante não divulgada no mer-
cado de valores mobiliários.

. Evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar

60 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


condições arti ciais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários ne-
gociados no mercado;

. Assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários


negociados e as companhias que os tenham emitido;

. Assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de


valores mobiliários; e

. Assegurar a observância no mercado, das condições de utilização de crédito


xadas pelo Conselho Monetário Nacional.

Entre as principais competências atribuídas pela Lei à CVM, cabe destacar:

. Regulamentar as matérias expressamente previstas nas Leis 6385/76 (Lei da


Sociedade por Ações);

. Realizar atividades de credenciamento, registro e fiscalização de audi-


tores independentes, administradores de carteiras, analistas e consultores de
valores mobiliários, agentes autônomos, entre outros;

. Fiscalizar e inspecionar as compan hias aber tas, os fundos de investi-


mento e demais atividades e ser viços do mercado de valores mobiliários;

. Apurar, mediante inquérito administrativo, atos ilegais e práticas não-equi-


tativas de administradores de companhias abertas e de quaisquer participantes
do mercado de valores mobiliários, aplicando as penalidades previstas em lei.

É importante destacar que a CVM não tem competência para determinar o res-
sarcimento de eventuais prejuízos sofridos pelos investidores em decorrência da
ação ou omissão de agentes do mercado.

1.3.4. A ação ƥscalizadora e os poderes da CVM

Ao lado das atribuições, a Lei ofereceu à CVM os meios materiais e institucionais neces-
sários ao cumprimento de sua missão, notadamente: o poder normativo, através do qual
a CVM regula a atuação dos diversos agentes do mercado; e o poder punitivo, através do
qual, assegurado o direito de ampla defesa, permite a penalização de quem descumpre as
normas baixadas pelo órgão ou de quem pratica atos fraudulentos no mercado.

Sistema Financeiro Nacional 61


As penalidades possíveis de serem aplicadas pelo Colegiado da CVM, após consta-
tada, em inquérito administrativo, a prática de irregularidades, correspondem à ad-
vertência, multa, suspensão ou inabilitação para o exercício do cargo e suspensão
ou cassação da autorização ou do registro, além da proibição temporária por prazo
determinado, não só para a prática de atividades ou operações por parte dos inte-
grantes do sistema de distribuição, como também para atuar como investidor, direta
e indiretamente, no mercado.

A Lei 9.457, de 05 de maio de 1997, ao mesmo tempo em que ampliou o leque de


penalidades possíveis de serem aplicadas pela CVM, instituiu também o Termo de
Compromisso, que possibilita a suspensão do procedimento administrativo, desde
que o acusado interrompa a prática do ato ilícito e indenize os prejudicados.

Foi criada, ainda, a gura do atenuante na aplicação de penalidades, quando se veri-


car arrependimento e caz ou arrependimento posterior, mediante circunstância de
qualquer pessoa, espontaneamente, confessar o ilícito ou prestar informações relati-
vas à sua materialidade.

Não pode deixar de ser mencionado que a CVM tem a responsabilidade de denunciar
ao Ministério Público a ocorrência de indícios de ilícito penal nos processos em que
apura as irregularidades no mercado. Mecanismo semelhante permite o encaminha-
mento do processo à Secretaria da Receita Federal quando da ocorrência de indícios
de ilícito scal.

A lei assegura também à CVM o direito de participar de processos judiciais que en-
volvam matéria de interesse do mercado de valores mobiliários. Segundo a legislação,
a Autarquia será sempre intimada a, em querendo, manifestar-se nesses processos,
juntando parecer, ou oferecendo esclarecimentos.

1.3.5. Direito de ampla defesa

O processo de regulação na CVM tem início com o trabalho de normatização, as-


sessorado pelos agentes do mercado e apoiado em seus fundamentos e princípios.
Prossegue na scalização e no acompanhamento das atividades dos participantes do
mercado, resultando, quando da constatação de irregularidades, na punição dos res-
ponsáveis pelas práticas irregulares ou ilegais.

Entretanto, não se aplica qualquer penalidade sem que seja assegurado ao acusado
o amplo direito de defesa. Instaurado o procedimento administrativo para apurar a

62 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


prática de irregularidades no mercado, será o mesmo instruído com a documentação
pertinente, sobretudo as provas de defesa apresentadas pelos indiciados.

Concluído o inquérito, este será julgado pelo Colegiado da Autarquia, cabendo re-
curso da decisão tomada ao Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional.

1.3.6. Normatização e Audiência Pública

As normas baixadas pela CVM estão, inicialmente, vinculadas a uma política de re-
gulação prévia e claramente explicitada ao mercado. As normas, além disso, não são
baixadas sem que o mercado tenha a oportunidade de sobre elas se manifestar e,
inclusive, participar de sua elaboração.

A CVM entende que esses cuidados são indispensáveis à e ciência do processo nor-
mativo. Primeiro, porque não se colocam os entes objetos da regulação em perma-
nente sobressalto. Depois, porque o debate e a participação no processo normativo
não só permitem a elaboração de documentos condizentes com a realidade do mer-
cado, como também comprometem o regulado com a regulação, na medida em que
ele se torna, mais que o cumpridor da norma, um dos seus autores.

A audiência pública é o mecanismo que acompanha quase todo o processo normativo da


CVM. As minutas de projetos de normas da CVM, segundo o rito do processo, são colo-
cadas à disposição dos interessados, para que eles se manifestem sobre o documento e, de
forma complementar, podem ser discutidas em seminários e eventos do gênero até que,
obtido o melhor nível de compreensão e adesão do mercado com relação à matéria, a
norma possa ser baixada.

1.3.7. Regulação x Autorregulação

Para assegurar que o seu trabalho seja coerente com as expectativas da sociedade e
dos entes regulados, a CVM fundamenta a sua atividade regulatória em um conjunto
de princípios extraídos sobre o que se deve esperar da regulação, qual o seu alcance
e suas limitações.

A explicitação desses princípios e a sua divulgação ao mercado permite que seus diver-
sos segmentos entendam como e por que a CVM edita normas. Além disso, essa estru-
tura conceitual é importante também como base para as atividades de autorregulação,
na medida em que estabelece diretrizes para o exercício de iniciativas disciplinadoras
que as entidades do mercado decidam adotar no âmbito de suas atividades.

Sistema Financeiro Nacional 63


O mercado de valores mobiliários precisa ser livre, competitivo e informado, ou seja,
precisa ser e ciente. Além disso, deve ser um mercado con ável, em que haja uma
adequada proteção e harmonização dos interesses de todos os que nele transacionam.
O exercício da atividade regulatória da CVM, portanto, objetiva assegurar essa e -
ciência e essa con abilidade, condições consideradas fundamentais para promover a
expansão e o desenvolvimento desse mercado.

A regulação leva em conta os seguintes fundamentos:

Interesse Público

. A transferência de recursos entre os investidores e os agentes econômicos é


indispensável à contínua formação de capital, quando se contempla uma socie-
dade como a brasileira, baseada na livre iniciativa e na economia de mercado. É
através desse processo de transferência de recursos que se obtém o investimento
e o crescimento das unidades econômicas e, em decorrência, do conjunto da so-
ciedade. Portanto, é do interesse público o bom funcionamento do mercado de
valores mobiliários.

ConƲabilidade

. A existência e o crescimento do mercado dependem da con ança que seus


diversos protagonistas depositem no sistema. Se o propósito do órgão regulador
é favorecer o crescimento do mercado, de modo que ele possa atender sempre
às crescentes exigências da sociedade, torna-se imperativa a observação deste
fundamento. A regulação deve se dar de forma a criar uma base de con ança
que assegure ao detentor de poupança a certeza de que pode atuar no mercado,
incorrendo exclusivamente nos riscos próprios do negócio em que quer operar.

EƲciência do Mercado

. É característica de um mercado livre a sua capacidade de atuar como meca-


nismo apto a direcionar a poupança da sociedade aos projetos econômicos mais
adequados a suas expectativas. Este é um aspecto que se tem de observar e perse-
guir no trabalho de regulação, na medida em que só assim se consegue o melhor
atendimento de anseios da sociedade. Da mesma forma, a minimização dos cus-
tos da intermediação desses recursos responde tanto ao interesse das companhias,
quanto dos indivíduos que nelas investem, e será através da e ciência do mercado
que tais objetivos poderão ser alcançados: e ciência alocacional e operacional.

64 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Competitividade

. A e ciência do mercado depende do grau de competição que se estabele-


ça entre os seus participantes. Portanto, a regulação terá que se manter sempre
atenta a este fundamento, não só evitando ações que venham a inibir a compe-
titividade, mas também assegurando que ela se dê de forma sadia. Além disso, a
competição ativa e sadia minimiza a necessidade de regulação.

Mercado Livre

. A liberdade de atuação no mercado e de acesso a seus mecanismos é pré-


condição de existência de um mercado capaz de desempenhar adequadamente o
seu papel. No processo de regulação do mercado de valores mobiliários, devem
estar presentes, permanentemente, o respeito à livre atuação das forças de merca-
do e o livre acesso ao exercício de atividades e às operações que nele se processem.

A Autorregulação

Para aumentar a e ciência da atividade regulatória, a CVM adota o sistema de autor-


regulação para determinadas atividades no mercado de valores mobiliários, evitando,
assim, a centralização excessiva do poder de editar normas e scalizar seu cumprimento.

A autorregulação está fundamentada nos seguintes pressupostos:

. A ação e caz do órgão regulador sobre os participantes do mercado de valo-


res mobiliários implica em custos excessivamente altos quando se busca aumen-
tar a e ciência e abrangência dessa ação.

. Uma entidade autorreguladora, pela sua proximidade das atividades do mer-


cado e melhor conhecimento das mesmas, dispõe de maior sensibilidade para ava-
liá-las e normatizá-las, podendo agir com maior celeridade e a custos moderados.

. A elaboração e o estabelecimento, pela própria comunidade, das normas que


disciplinam suas atividades fazem com que a aceitação dessas normas aumente e a
comunidade se sinta mais responsável no seu cumprimento, diminuindo a neces-
sidade de intervenção do órgão regulador.

Esses pressupostos re etem a preocupação de reduzir o porte e de tornar a atuação do


órgão regulador mais e ciente, já que este só poderia ter uma ação sensível, ágil e e caz
caso duplicasse inúmeras funções desempenhadas por entidades privadas existentes no

Sistema Financeiro Nacional 65


mercado de valores mobiliários. Além disso, o maior zelo na observância das normas,
decorrente da participação em sua elaboração e da consciência da importância de sua
preservação, implica menor dispêndio de recursos nas tarefas de acompanhamento e
scalização de seu cumprimento.

Por outro lado, na delegação de poderes de normatização e scalização, o órgão regula-


dor conserva competências residuais que lhe permitem evitar possíveis inconvenientes
da autorregulação, como a complacência em relação a assuntos de interesse público, a
tendência à autoproteção dos regulados, a leniência na imposição de sanções e atitudes
tolerantes, decorrentes do desejo de evitar publicidade negativa aos negócios.

1.3.8. Participação em organismos internacionais

Nas suas relações internacionais, a CVM participa das atividades de inúmeras organizações
que congregam reguladores de valores mobiliários, como a IOSCO – International Orga-
nization of Securities Commissions, o COSRA – Conselho de Reguladores de Valores das
Américas, e o IIMV – Instituto IberoAmericano de Mercados de Valores. Participa tam-
bém das atividades de outras entidades internacionais, como o MERCOSUL e o En-
larged Contact Group on the Supervision of Investment Funds – ECG, entre outros.

IOSCO – International Organization of Securities Commissions

A Organização Internacional das Comissões de Valores – OICV - ou IOSCO, como


é conhecida internacionalmente por sua sigla em inglês, é a principal organização
internacional que congrega reguladores de valores. Foi o cialmente criada em 1983 e
tornou-se o principal fórum internacional para as autoridades reguladoras dos mer-
cados de valores e de futuros.

A Comissão de Valores Mobiliários foi uma das fundadoras da IOSCO (a organiza-


ção começou como uma entidade interamericana) e já sediou dus reuniões anuais
desse organismo, que tem entre as suas quatro línguas o ciais o português.

Seus objetivos, de nidos em estatuto, são:

. promover, através da cooperação, altos padrões de regulação, adequados à


manutenção de mercados seguros, e cientes e equitativos;

. intercambiar informações e experiências necessárias ao desenvolvimento de


mercados domésticos;

66 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. unir esforços para estabelecer padrões internacionais de contabilidade e
auditoria e um e caz sistema de supervisão das transações internacionais nos
mercados de capitais;

. proporcionar assistência recíproca em investigações, com a nalidade de ga-


rantir a rigorosa aplicação das leis e punição de seus infratores.

A IOSCO conta com 30 Princípios da Regulação de Valores Mobiliários, baseados em


3 objetivos: Proteção de Investidores; Assegurar Mercados Justos, E cientes e Trans-
parentes; e Redução do Risco Sistêmico.

COSRA - Council of the Securities Regulators of the Americas


O COSRA, Conselho de Reguladores de Valores das Américas, reúne os reguladores
de valores das Américas do Norte, Central e do Sul, assim como do Caribe. Fundado
em 1992, foi presidido pela CVM entre junho de 1995 e junho de 1997.

Seu objetivo é oferecer um foro para estimular a cooperação mútua e o intercâm-


bio de informações com o intuito de fornecer sinergia aos esforços realizados por
cada um dos países da região para desenvolver um mercado de valores eficiente e
justo para todos os investidores.

Instituto IberoAmericano de Mercados de Valores

A Fundação Instituto IberoAmericano de Mercados de Valores – IIMV - é uma ins-


tituição sem ns lucrativos, que tem por objetivo favorecer um melhor conhecimen-
to da estrutura e regulação dos mercados de valores nos países iberoamericanos, o
desenvolvimento de mercados de valores transparentes e íntegros e incrementar a
relação entre os reguladores, a iniciativa privada e os pro ssionais do mercado.

O principal meio para atingir seus objetivos é através da criação de programas,


tais como:

. Programa de Difusão - que inclui difusão de uma newsletter eletrônica, pu-


blicação quadrimestral de uma revista e criação de um website na Internet;

. Programa de Formação e Pesquisa - organização de seminários e ciclos de de-


bate, bem como a organização de um programa de pesquisa na área de regulação;

. Programa de Cooperação - celebração de uma reunião anual de reguladores,

Sistema Financeiro Nacional 67


com o objetivo de incrementar a comunicação e colaboração.

MERCOSUL
O MERCOSUL é um tratado de livre comércio entre os países membros (Brasil, Ar-
gentina, Uruguai, Paraguai e, por último, Venezuela). Sua estrutura básica é com-
posta pelo Conselho de Mercado Comum (órgão deliberativo máximo) e pelo Grupo
do Mercado Comum (órgão executivo), que, por sua, vez, se divide em dez diferentes
subgrupos de trabalho.

A CVM é membro da Comissão de Mercado de Capitais do subgrupo de trabalho 4


(assuntos nanceiros)coordenado pelo Banco Central do Brasil. Essa comissão harmo-
nizou os padrões de regulação mínima para a região. A atuação da CVM se dá também
em outros dois fóruns: Subgrupo de Investimentos (SGT-12) e Grupo de Serviços.

ECG – Enlarged Contact Group on the Supervision of Investment Funds


O ECG é um grupo composto pelos encarregados da supervisão de fundos de inves-
timento nos órgãos reguladores de mercados desenvolvidos, reúnem-se anualmente
com o objetivo de discutir questões que afetam o desenvolvimento e a regulação dos
mecanismos de investimentos coletivos, bem como os avanços da indústria e da re-
gulação de fundos de investimento em cada país-membro.

Os membros originais do ECG são os 12 países da Comunidade Europeia e os países


não europeus membros do G-10, totalizando 17 países (Alemanha, Bélgica, Canadá
(Ontário e Quebec), Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Grécia, Holanda,
Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Portugal, Reino Unido, Suécia e Suíça).

Para ingressar no grupo, a CVM elaborou um extenso estudo sobre a indústria de


fundos brasileira. Após um rigoroso exame desse estudo, e considerando o tamanho,
o grau de regulação e a qualidade da supervisão da indústria de fundos no Brasil,
comparáveis aos dos países membros, a CVM foi aceita como membro do ECG. A
primeira reunião em que a CVM participou ocorreu em 1996.

68 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Sistema Financeiro Nacional 69
2. Valores Mobiliários

Conhecer de antemão as principais características dos ativos nanceiros disponíveis


em um mercado facilita ao investidor planejar a alocação de seus investimentos na-
queles que melhor se ajustem aos seus objetivos, prazo e per l de risco. No mercado de
capitais esses ativos são chamados de valores mobiliários.

Neste capítulo serão apresentados alguns desses valores mobiliários e suas princi-
pais características. Antes, porém, será feita uma introdução sobre o conceito de
valor mobiliário. Essa discussão torna-se importante na medida em que a caracte-
rização de um título como valor mobiliário o submete às regras e à scalização da
CVM, com signi cativa mudança na forma como esses títulos podem ser ofertados
e negociados no mercado.

São valores mobiliários, quando ofertados publicamente, quaisquer títulos ou


contratos de investimento coletivo que gerem direito de participação, de parce-
ria ou remuneração, inclusive resultante da prestação de serviços, cujos rendi-
mentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros.

Originalmente, a Lei 6.385/76 conceituou valor mobiliário de forma bastante res-


tritiva. O legislador simplesmente listou o que se deveria considerar como valor
mobiliário e outorgou ao Conselho Monetário Nacional competência para alterar
a lista, quando necessário.

Com o tempo, a lei e a regulamentação incluíram no rol de valores mobiliários diversos


outros títulos e contratos de investimento. Mesmo assim, embora tenha funcionado
com sucesso durante vários anos, esse conceito mais restrito começava a se mostrar
ine ciente frente à crescente criatividade no lançamento de novos produtos nancei-
ros. Por essa razão, foi editada a Medida Provisória 1.637/98, posteriormente conver-
tida na Lei 10.198/01, que procurou conceituar valor mobiliário de forma mais ampla,
com o intuito de abranger boa parte das modalidades de captação pública de recursos.

De acordo com essa nova de nição, “são valores mobiliários, quando ofertados pu-
blicamente, quaisquer títulos ou contratos de investimento coletivo que gerem direito
de participação, de parceria ou remuneração, inclusive resultante da prestação de
serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros”.

70 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A Lei 10.303/2001 incorporou esse conceito ao artigo 2º da Lei 6.385/76, que atual-
mente vigora com a seguinte redação:

Art. 2o São valores mobiliários sujeitos ao regime desta Lei:

I - as ações, debêntures e bônus de subscrição;

II - os cupons, direitos, recibos de subscrição e certi cados de


desdobramento relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II;

III - os certi cados de depósito de valores mobiliários;

IV - as cédulas de debêntures;

V - as cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de


clubes de investimento em quaisquer ativos;

VI - as notas comerciais;

VII - os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos


subjacentes sejam valores mobiliários;

VIII - outros contratos derivativos, independentemente dos ativos


subjacentes; e

IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou


contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação,
de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de
serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de
terceiros.

§ 1o Excluem-se do regime desta Lei:

I - os títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal;

II - os títulos cambiais de responsabilidade de instituição nanceira,


exceto as debêntures.

Dessa forma, pode-se dizer que são valores mobiliários:

. todos os listados nos incisos I ao VIII do artigo 2º da Lei 6.385/76;

. quaisquer outros criados e assim de nidos por lei ou regulamentação es-


pecí ca, como os certi cados de recebíveis imobiliários - CRI’s, os certi cados

Valores Mobiliários 71
de investimentos audiovisuais e as cotas de fundos de investimento imobiliário
– FII, entre outros; e

. quaisquer títulos ou contratos de investimento coletivo que se enquadrem


no inciso IX da Lei, conforme citado acima.

É importante destacar que a lei expressamente retira da lista de valores mobiliários os


títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal e os títulos cambiais de respon-
sabilidade das instituições nanceiras, exceto as debêntures.

Portanto, se a captação é feita por entes governamentais ou por instituições nan-


ceiras, com a responsabilidade destas, esses títulos não estão sob a tutela da CVM.
Mesmo assim, considerando a importância desses ativos para o mercado nanceiro e
para a indústria de fundos de investimento, optamos por apresentar alguns deles ao
nal deste capítulo.

2.1. Tít ul os Emit idos por Companhias

2.1.1. Ações

Ação é a menor parcela do capital social das companhias ou sociedades por ações. É,
portanto, um título patrimonial e, como tal, concede aos seus titulares, os acionis-
tas, todos os direitos e deveres de um sócio, no limite das ações possuídas.

Como o “acionista” é também “sócio” do negócio, estes dois termos serão utili-
zados como sinônimos neste livro, em relação às sociedades por ações.

Uma ação é um valor mobiliário, expressamente previsto em lei, como já conceitua-


do. No entanto, apesar de todas as companhias ou sociedades por ações terem o seu
capital dividido em ações, somente as ações emitidas por companhias registradas na
CVM, chamadas companhias abertas, podem ser negociadas publicamente no mer-
cado de valores mobiliários.

Atualmente, as ações são predominantemente escriturais, sem emissão de certi ca-


do físico, mantidas em contas de depósito, em nome dos titulares e em instituição
contratada pela companhia para a prestação desse serviço, em que a propriedade é

72 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


comprovada através de extrato de posição acionária. As ações devem ser sempre no-
minativas, não mais sendo permitida, desde 1990, a emissão e a negociação de ações
ao portador ou endossáveis.

O que os acionistas ganham por serem sócios


A principal forma de participação dos acionistas no lucro da companhia é por
meio do recebimento de dividendos, de juros sobre o capital próprio e de boni-
ficações. Esses pagamentos são realizados conforme o desempenho financeiro
da empresa: se ela tem lucro, em geral há a distribuição de parte desses ganhos
para os sócios. O percentual desse lucro e o valor final que será direcionado aos
acionistas varia conforme uma série de fatores, incluindo, entre outros, a necessi-
dade de investimentos para cumprir o plano de crescimento da empresa, o caixa
disponível para a realização desse desembolso financeiro e os valores mínimos
determinados pelo Estatuto Social da compan hia.

Estatuto Social: é o documento que dá origem à sociedade e que a rege durante


toda sua vida. Ele especi ca as principais características da sociedade, como
quali cação, tipo jurídico, denominação, localização, objeto social, forma de in-
tegralização e valor do capital social, data de encerramento do exercício social,
regras que devem ser cumpridas por administradores e acionistas, entre outros.

Um pouco menos conhecida, mas também uma forma de remuneração, é a venda do


chamado “direito de subscrição”, também conhecido como “direito de preferência”.
No caso de emissão de novas ações por parte da companhia, os atuais acionistas rece-
bem o direito1 de subscrever prioritariamente essas ações, pelo preço de emissão e na
proporção das ações já possuídas. Caso não tenha interesse em realizar a subscrição,
é possível vender esse direito no mercado.

Os acionistas podem ganhar também com a possível valorização do preço das ações.
Entretanto, não há garantia de valorização. Ao contrário, o preço está sujeito a uma

1
O artigo 172, da Lei 6404/76 prevê algumas hipóteses de exclusão desse direito, conforme transcrito abaixo:

“Art. 172. O estatuto da companhia aberta que contiver autorização para o aumento do capital pode prever a emissão,
sem direito de preferência para os antigos acionistas, ou com redução do prazo de que trata o § 4o do art. 171, de ações
e debêntures conversíveis em ações, ou bônus de subscrição, cuja colocação seja feita mediante:I - venda em bolsa de
valores ou subscrição pública; ou II - permuta por ações, em oferta pública de aquisição de controle, nos termos dos
arts. 257 e 263.Parágrafo único. O estatuto da companhia, ainda que fechada, pode excluir o direito de preferência para
subscrição de ações nos termos de lei especial sobre incentivos scais.”

Valores Mobiliários 73
série de fatores internos e externos. Ele depende não só do desempenho da própria
companhia, mas também das perspectivas para o setor em que ela atua e para a eco-
nomia de uma forma geral. Em casos extremos, as ações podem, inclusive, perder
totalmente seu valor, como é o caso, por exemplo, da liquidação de uma companhia
(falência), em que todo o patrimônio seja usado para quitar as dívidas existentes.

Como pode ser observado, o resultado de um investimento em ações depende funda-


mentalmente da gestão da companhia e das condições gerais da economia. Portanto,
esse tipo de investimento é considerado como de renda variável e está sujeito ao risco
de mercado inerente aos negócios empresariais e à economia.

A legislação brasileira admite a existência de diferentes espécies e classes de ações e,


por isso, alguns direitos, especialmente os relacionados aos dividendos e direitos de
voto, podem não ser iguais para todos os acionistas. Abaixo, uma breve descrição das
diferentes espécies. Este livro dedica um capítulo a companhias, em que o assunto
sobre ações e acionistas será retomado com mais detalhes.

Espécies de Ações

As ações podem ser de diferentes espécies, conforme os direitos que concedem a seus
acionistas. O Estatuto Social das companhias de ne as características de cada espécie
de ações, que podem ser:

. Ação Ordinária (ON): Sua principal característica é conferir ao seu titular


direito a voto nas Assembleias de acionistas.

. Ação Preferencial (PN): Normalmente, o Estatuto retira dessa espécie de


ação o direito de voto. Em contrapartida, concede outras vantagens, tais como
prioridade na distribuição de dividendos ou no reembolso de capital. As ações
preferenciais podem ser divididas em classes, tais como, classe “A”, “B” etc. Os
direitos de cada classe constam do Estatuto Social.

2.1.2. Debêntures

As debêntures são títulos de dívida emitidos por sociedades por ações e que conferem
aos seus titulares direitos de crédito contra a companhia emissora. Por de nição da
Lei 6.385/76, são valores mobiliários.

São instrumentos de captação de recursos no mercado de capitais que as empresas

74 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


utilizam para nanciar seus projetos ou gerenciar suas dívidas. Os recursos captados
pela empresa por meio da distribuição de debêntures podem ter diferentes usos: in-
vestimentos em novas instalações, alongamento do per l das dívidas, nanciamento
de capital de giro etc.

O investidor que adquire debêntures (ou debenturista), ao disponibilizar seus recur-


sos para serem utilizados pela companhia, faz jus ao recebimento de uma remunera-
ção, conforme condições pré-estabelecidas.

Ao adquirir debêntures, o investidor não está virando sócio da companhia,


como acontece com as ações. Na verdade, o debenturista está emprestando di-
nheiro para a companhia, que se compromete a devolver os valores empresta-
dos e pagar juros por esta operação, conforme prazos e condições previamente
combinados.

Desta forma, a debênture é um título de crédito privado de renda xa em que os


debenturistas são credores da empresa e esperam receber juros periódicos e o paga-
mento do principal – correspondente ao valor unitário da debênture – no vencimento
do título ou mediante amortizações, conforme estipulado em um contrato especí co
chamado “Escritura de Emissão”.

Em regra, a competência para deliberar sobre a emissão de debêntures é privativa da


assembleia geral de acionistas, que deverá xar as condições e critérios da emissão. En-
tretanto, na companhia aberta, o conselho de administração poderá deliberar sobre a
emissão de debêntures não conversíveis em ações, respeitadas as condições estatutárias.
Além disso, o estatuto da companhia aberta poderá autorizar o conselho de adminis-
tração a deliberar sobre emissão de debêntures conversíveis em ações, desde que dentro
do limite de capital autorizado e respeitadas as condições estabelecidas em lei.

Uma mesma emissão de debêntures pode ter várias séries, de forma a adequar o rece-
bimento dos recursos às necessidades da empresa.

Condições
Na emissão de debêntures, é obrigatória a elaboração de um documento cha-
mado “Escritura de Emissão”, onde são especificados os direitos e deveres dos
debenturistas e da emissora.

A escritura de emissão de debêntures distribuídas ou admitidas à negociação no mer-

Valores Mobiliários 75
cado terá obrigatoriamente a intervenção de um “Agente Fiduciário” dos debenturis-
tas, que poderá ser uma pessoa física que atenda aos requisitos para o exercício de
cargo em órgão de administração da companhia, ou instituição nanceira que tenha
por objeto social a administração ou a custódia de bens de terceiros.

O Agente Fiduciário representa os interesses dos debenturistas, veri cando o cum-


primento das condições pactuadas na Escritura, além de ser responsável pela elabo-
ração de relatórios de acompanhamento.

Outros agentes também participam da emissão e distribuição das debêntures, tais


como a instituição líder, os intermediários contratados, um banco mandatário e es-
criturador, auditores independentes e consultores legais.

Nas ofertas públicas de distribuição de debêntures (registradas na CVM), todas as in-


formações relativas à emissão são encontradas no Prospecto de Distribuição, o qual
é disponibilizado aos investidores durante a oferta. Esse Prospecto deve seguir a
Instrução CVM 400/03.

No entanto, as debêntures podem também ser distribuídas na modalidade conhecida


como “distribuição com esforços restritos”, conforme a Instrução CVM 476/09, que
são sujeitas a regras mais simples. Porém, nessa hipótese, a oferta deverá ser dirigida
a no máximo cinquenta investidores quali cados e subscrita por no máximo vinte
desses investidores. Além disso, nessa hipótese, há restrições para as negociações.

São considerados investidores quali cados as instituições nanceiras, as entidades


de previdência, os fundos de investimento destinados a investidores quali cados e
as pessoas físicas e jurídicas que possuam investimentos nanceiros acima de 300
mil reais e atestem por escrito sua condição de investidor quali cado2 .

Direitos e resgate
Os debenturistas são credores da Companhia e são remunerados pelo investimento
(juros xos ou variáveis, participação no lucro da companhia, prêmio etc.), nas con-
dições e prazos de nidos na Escritura de Emissão, além da quantia relativa ao valor
investido, que pode ser recebida no vencimento ou antes, mediante amortização do
valor nominal da debênture.

2
De nição de investidor quali cado dada pela Instrução CVM 409/2004

76 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O vencimento da debênture ocorre na data xada na escritura, que pode variar con-
forme as condições de emissão, podendo a companhia estipular amortizações par-
ciais de cada série, bem como se reservar o direito de resgate antecipado, parcial
ou total, dos títulos de mesma série. No entanto, há um tipo especial de debênture,
chamada de “Perpétua”, que não possui data de vencimento pré-estabelecida e que
paga somente os juros, porém por tempo indeterminado.

Caso previsto na Escritura, e com a concordância dos debenturistas e da Companhia,


as condições de nidas na emissão podem ser repactuadas.

Garantias

A emissão da debênture poderá ser efetuada com ou sem garantias. No caso da emis-
são com garantia, temos:

. Garantia Real: envolve o comprometimento de bens ou direitos que não po-


derão ser negociados sem a aprovação dos debenturistas, para que a garantia não
que comprometida.

. Garantia Flutuante: assegura privilégio geral sobre o ativo da emissora, mas


não impede a negociação dos bens que compõem esse ativo.

Existem dois tipos de emissões sem garantia: as Quirografárias (debênture sem pri-
vilégio) e as Subordinadas. Em ambos os casos, o debenturista não terá nenhuma
garantia ou preferência no caso de liquidação da companhia.

Ressalte-se ainda que, em caso de liquidação da companhia, no pagamento de suas


obrigações com os credores, as quirografárias precedem às subordinadas.

Conversibilidade

É a possibilidade de as debêntures serem convertidas em ações, podendo ser clas-


si cadas como:

. Simples: não podem ser convertidas em ações da companhia emissora;

. Conversíveis: possuem cláusula permitindo que sejam convertidas em ações


ao término de prazo determinado ou a qualquer tempo, conforme estabelecido
na escritura de emissão.

Valores Mobiliários 77
2.1.3. Bônus de Subscrição

Bônus de subscrição são títulos negociáveis emitidos por sociedades por ações, que
conferem aos seus titulares, nas condições constantes do certi cado, o direito de
subscrever ações do capital social da companhia, dentro do limite de capital autori-
zado no estatuto.

Os bônus de subscrição podem ser atribuídos, como vantagem adicional sem custo,
aos subscritores de emissões de ações e debêntures. No entanto, a emissão pode tam-
bém ser alienada, caso em que o investidor terá que pagar um preço por esse direito,
para que, em futuras emissões, possa ter a preferência na subscrição.

Em regra, a decisão pela emissão dos bônus de subscrição compete à assembleia-ge-


ral, mas o estatuto da companhia pode atribuí-la ao conselho de administração. Os
acionistas da companhia têm preferência para subscrever a emissão de bônus.

Os bônus de subscrição não se confundem com os direitos de subscrição. Estes são


os direitos que a Lei confere aos acionistas para subscrever ações (ou títulos conver-
síveis ) em novas emissões. Portanto, em uma nova emissão de ações, debêntures
conversíveis em ações ou mesmo bônus de subscrição, os acionistas têm preferência
para subscrever a emissão por um determinado período. Durante esse período, o
direito pode ser negociado, mas, ao m do prazo estipulado, caso não tenha sido
exercido, ele é extinto.

2.1.4. Notas Promissórias

Nota promissória, ou commercial paper, é um título de crédito que representa uma


promessa de pagamento do emissor (devedor) a determinado favorecido (credor), de
certo valor em certa data. É um documento negociável, representativo de uma dívida
ou direito a receber. Podem ser emitidas como simples promessa de pagamento de
uma dívida, como garantia de contratos de empréstimos, ou também para captação
de recursos nanceiros pelas empresas.

Nesse sentido, o Conselho Monetário Nacional, pela resolução 1723/90, de niu como
valores mobiliários as notas promissórias emitidas por sociedades por ações, des-
tinadas à oferta pública. A Comissão de Valores Mobiliários, por sua vez, editou a
Instrução CVM 134/90, que regulamenta a matéria.

Portanto, como valores mobiliários, as notas promissórias são títulos emitidos por

78 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


sociedades por ações que conferem a seus titulares direitos de crédito contra a com-
panhia. Diferenciam-se das debêntures especialmente no que se refere ao prazo da
emissão: as notas promissórias emitidas por companhias abertas devem ter prazo
entre 30 e 360 dias, enquanto as debêntures costumam ter prazos mais longos.

2.1.5. Letra Financeira

A Letra Financeira é um título de crédito de emissão exclusiva de instituições nancei-


ras que consiste em “promessa de pagamento em dinheiro, nominativo, transferível e
de livre negociação”, como de nido na Lei nº 12.249/2010 e que possui características
de um instrumento de captação de médio e longo prazo, como será adiante detalhado.

A crise nanceira de 2008 evidenciou o fato de que as instituições nanceiras podem


sofrer sérias di culdades de liquidez, capazes de afetar o funcionamento e ciente do
mercado nanceiro e da economia, especialmente em virtude do descasamento exis-
tente entre os seus ativos e passivos. No Brasil, apesar do excelente arcabouço pru-
dencial, isso é ainda mais relevante, uma vez que essas instituições captam recursos a
prazo principalmente pela emissão de Certi cados de Depósito Bancário (CDB), que
na maior parte dos casos possuem liquidez diária. Portanto, na prática, os bancos
captam através de instrumentos de curto prazo (CDB) e emprestam a médio e longo
prazo ( nanciamentos e empréstimos), causando um descasamento de prazos e di-
cultando a gestão da liquidez dos negócios da instituição, sobretudo em momentos
de crise no mercado.

Esse risco poderia ser reduzido com a utilização de instrumento que permita às ins-
tituições nanceiras captar recursos de médio e longo prazo, que lhes propicie ge-
renciar mais adequadamente, e com segurança jurídica, a sua liquidez. Essa foi a
principal motivação para a criação da Letra Financeira, e demonstra a importância
desse novo instrumento para o nanciamento de projetos de longo prazo e para a
promoção da estabilidade do sistema nanceiro.

Estão autorizados a emitir Letra Financeira: os bancos múltiplos, os bancos comer-


ciais, os bancos de desenvolvimento, os bancos de investimento, as sociedades de
crédito, nanciamento e investimento, as caixas econômicas, as companhias hipote-
cárias, as sociedades de crédito imobiliário e o BNDES.

A Letra Financeira não pode ser emitida com valor unitário inferior a R$ 300.000,00
(se contiver cláusula de subordinação) ou R$ 150.000,00 (se não contiver cláusula de

Valores Mobiliários 79
subordinação), e deve ter prazo mínimo de 24 meses para o vencimento, vedado o
resgate, total ou parcial, antes do vencimento pactuado.

Devido às suas características, a Letra Financeira apresenta contornos semelhantes


aos das debêntures, razão pela qual é informalmente chamada de “debênture dos
bancos”, já que essas instituições nanceiras não podem emitir tais títulos.

2.2. Fundos de Invest iment o

Fundos de Investimento são condomínios constituídos com o objetivo de promover


a aplicação coletiva dos recursos de seus participantes. Constituem-se num mecanis-
mo organizado, com a nalidade de captar e investir recursos no mercado nanceiro,
transformando-se numa forma coletiva de investimento, com vantagens, sobretudo,
para o pequeno investidor individual.

Os Fundos, por meio da emissão de cotas, reúnem aplicações de vários indivíduos para
investimento em carteiras de ativos nanceiros disponíveis nos mercados nanceiro e
de capitais. As cotas dos fundos são valores mobiliários, conforme Lei 6.385/76.

Em virtude da diversidade de ativos nanceiros existentes, os fundos de investimento


são divididos em categorias, conforme os tipos de ativos que poderão compor sua car-
teira, o que facilita a identi cação do per l de investimento do fundo. Os fundos são re-
gidos por um regulamento e têm na assembleia-geral seu principal fórum de decisões.

Este livro possui um capítulo dedicado aos fundos de investimento, em que as suas
principais características serão estudadas.

2.3. Cl ubes de Invest iment o

Clube de Investimento é uma comunhão de recursos de no mínimo 3 e no máximo


50 pessoas físicas, para investimento em títulos e valores mobiliários. É, portanto,
um instrumento de investimento coletivo no mercado de capitais, porém mais restri-
to que um Fundo de Investimento.

80 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Os clubes foram planejados para ser uma forma de introdução do pequeno investi-
dor ao mercado de capitais. Para isso, foram desenvolvidas normas de constituição
e funcionamento mais simples e exíveis, como a dispensa de registro na Comissão
de Valores Mobiliários. Além disso, a gestão da carteira do clube pode ser realizada
por um ou mais cotistas, eleitos pela assembleia geral, observadas algumas vedações
da norma. Dessa forma, ao permitirem um maior envolvimento do cotista, os clubes
de investimento facilitam o aprendizado sobre as técnicas de gestão de carteira e da
dinâmica do mercado.

Por outro lado, para evitar que mecanismos de investimento com características mais
parecidas com fundos venham a se constituir como clube exclusivamente para se
eximir de certas exigências regulamentares, o que poderia colocar o investidor em
risco, estabeleceram-se algumas salvaguardas nas normas dos clubes, como o já cita-
do limite ao número de cotistas do clube.

O Clube de Investimento tem critérios para a escolha das ações que farão parte
da sua carteira. Esses critérios são conhecidos como “política de investimento” e
são usados para escolher as ações que comporão a carteira do Clube.

Os clubes são utilizados, em geral, por grupos de amigos, familiares, colegas de tra-
balho ou pessoas com objetivos comuns, como forma de aplicação em conjunto das
suas economias no mercado de capitais. Os grupos podem reunir-se periodicamente
para debater as melhores oportunidades de investimento, permitindo a participação,
o controle e o aprendizado por todos.

O clube deve ser administrado por sociedade corretora, sociedade distribuidora,


banco de investimento ou banco múltiplo com carteira de investimento, que é res-
ponsável pelo conjunto de atividades e de serviços relacionados direta e indiretamen-
te ao seu funcionamento e manutenção.

Assim como nos fundos, o patrimônio do clube de investimento é dividido em cotas.


Essas cotas são valores mobiliários, conforme estabelecido na Lei 6.385/76, estando,
assim, sujeitas à regulamentação da comissão de valores mobiliários.

Ao aplicar seus recursos em um clube, portanto, o investidor se torna um cotista. O


retorno dependerá da valorização das cotas, o que, por sua vez, dependerá da valori-
zação dos ativos que compõem a carteira do clube.

Valores Mobiliários 81
O clube só pode ser constituído sob a forma de condomínio aberto, em que os
cotistas podem requerer o resgate de suas cotas, de acordo com as condições esta-
belecidas no estatuto. O seu funcionamento obedece a normas da CVM, da BM&-
FBOVESPA e a um estatuto social próprio, que determina seus principais aspectos
e só pode ser alterado, salvo algumas exceções, por decisão dos participantes em
assembleia geral, que têm poderes para decidir sobre todas as matérias relativas aos
interesses do clube.

A gestão da carteira do clube pode ser realizada por um administrador membro do


próprio clube, eleito pela assembleia geral, ou por pessoas naturais ou jurídicas con-
tratadas, desde que previamente autorizados a exercer a atividade de administrador
de carteira de valores mobiliários pela CVM.

A carteira dos clubes de investimento deve ser composta por, no mínimo, 67% em
ações, bônus de subscrição, debêntures conversíveis em ações de emissão de compa-
nhias abertas, recibos de subscrição, cotas de fundos de índices de ações negociados
em mercado organizado e certi cados de depósitos de ações, respeitadas as regras
emitidas pela CVM e pelas entidades administradoras de mercados organizados. Ne-
nhum cotista pode ser titular de mais de 40% do total das cotas do clube.

2.4. Brazilian Deposit ar y Receipt s

Brazilian Depositary Receipts (BDRs), ou certi cado de depósito de valores mobiliá-


rios, é um valor mobiliário emitido no Brasil que representa outro valor mobiliário
emitido por companhias abertas (ou assemelhadas) com sede no exterior. A institui-
ção que emite o BDR no Brasil é chamada de instituição depositária.

A regulamentação dos BDRs é dada pela Instrução CVM 332/2000, que classi ca
os programas de BDRs nos níveis I, II e III e determina a necessidade de registro na
CVM. Os níveis são de nidos conforme as características de divulgação de infor-
mações, distribuição e negociação, e a existência, ou não, de patrocínio das empre-
sas emissoras dos valores mobiliários objeto do certi cado de depósito.

. Instituição custodiante: a instituição, sediada no país em que são negocia-


dos os valores mobiliários, autorizada por órgão similar à CVM a prestar servi-
ços de custódia.

82 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Instituição depositária: a instituição que emitir, no Brasil, o correspondente
certi cado de depósito, com base nos valores mobiliários custodiados no exterior.

. Empresa patrocinadora: a companhia aberta ou assemelhada, com sede no


exterior, emissora dos valores mobiliários objeto do certi cado de depósito, e
que esteja sujeita à supervisão e scalização de entidade ou órgão similar à CVM.

O que é um Programa de BDR?


Uma instituição depositária adquire, no exterior, ações de uma companhia
emissora e os mantém em conta de custódia. Em seguida registra na CVM um
programa para distribuição dos BDR, os certi cados de depósito de ações que,
apesar de negociados no Brasil, representam ações de uma empresa no exte-
rior. A instituição depositária deve cumprir as exigências especí cas do tipo de
programa e comprometer-se a divulgar as informações exigidas nas normas,
conforme o nível de classi cação do programa.

Considera-se patrocinado o programa de BDR instituído por uma única instituição


depositária, contratada pela própria companhia emissora dos valores mobiliários ob-
jeto do certi cado. Por outro lado, o programa não patrocinado é aquele instituído
pela instituição depositária sem um acordo com a companhia estrangeira emissora.

BDRNível I

Os BDRs Patrocinados nível I são dispensados do registro de companhia na CVM e


podem ser negociados apenas em mercados de balcão não organizado ou em segmen-
tos especí cos de BDRs nível I em mercados de balcão organizado ou bolsa de valores.

A instituição depositária deve divulgar, no Brasil, todas as informações que a compa-


nhia emissora está obrigada a divulgar em seu país de origem, além de:

. fatos relevantes e comunicações ao mercado;

. aviso de disponibilização das demonstrações nanceiras no país de origem;

. editais de convocação de assembleias;

. avisos aos acionistas;

. deliberações das assembleias de acionistas e das reuniões do conselho de ad-

Valores Mobiliários 83
ministração, ou de órgãos societários com funções equivalentes, de acordo com a
legislação vigente no país de origem; e

. demonstrações nanceiras da companhia, sem necessidade de conversão


em reais ou de conciliação com as normas contábeis em vigor no Brasil.

Os BDRs patrocinados nível I só podem ser adquiridos no Brasil por instituições nan-
ceiras, fundos de investimento, administradores de carteira e consultores de valores
mobiliários autorizados pela CVM (em relação aos seus próprios recursos), entidades
fechadas de previdência complementar, empregados da empresa patrocinadora ou de
outra empresa integrante do mesmo grupo econômico e pessoas físicas ou jurídicas
com investimentos nanceiros superiores a R$ 1.000.000, conhecidos no mercado
como “investidores superquali cados”.

BDRNíveis II e III
Os BDRs patrocinados nível II e III caracterizam-se por exigir registro da companhia
emissora na CVM e serem admitidos à negociação em mercados de balcão organi-
zado ou bolsa de valores. A diferença entre eles é que o BDR patrocinado nível III é
registrado na hipótese de distribuição pública simultânea no exterior e no Brasil.

O emissor estrangeiro que patrocine programa de certi cados de depósito de ações,


BDR Níveis II ou III, deve obter o registro na categoria A, conforme as regras da Ins-
trução CVM 480/2009, que dispõe sobre o registro de valores mobiliários admitidos
à negociação nos mercados regulamentados. Além disso, a mesma norma estabelece
algumas regras especiais para os emissores de ações que lastreiem BDRs.

A mesma estabelece que não são considerados estrangeiros os emissores que tenham
sede no Brasil ou cujos ativos localizados no Brasil correspondam a 50% ou mais
daqueles constantes das demonstrações nanceiras individuais, separadas ou con-
solidadas, prevalecendo a que melhor representar a essência econômica dos negócios
para ns dessa classi cação.

Entretanto, os emissores registrados na CVM como estrangeiros antes de 31 de de-


zembro de 2009 caram dispensados da comprovação desse enquadramento para
ns de registro de oferta pública de distribuição de BDR e programas de BDR.

BDRNão Patrocinado
A regulamentação prevê ainda a existência do BDR não patrocinado, que é o progra-

84 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ma instituído por uma ou mais instituições depositárias emissoras de certi cado no
Brasil, sem um acordo com a companhia estrangeira emissora dos valores mobiliá-
rios objeto do certi cado de depósito, somente admitindo negociação nos moldes do
BDR Patrocinado Nível I.

Depositary Receipts: Outros Mercados

Assim como é possível a emissão e a negociação no Brasil de certi cados representa-


tivos de valores mobiliários de emissores estrangeiros, os BDRs, também é possível a
emissão e a negociação no exterior de certi cados representativos de valores mobili-
ários emitidos por emissores brasileiros.

Os DRs, Depositary Receipts, são certi cados representativos de ações ou outros valores
mobiliários que representem direitos a ações, emitidos no exterior por instituição depo-
sitária, com lastro em valores mobiliários depositados em custódia especí ca no Brasil.
São regulamentados pela Resolução CMN nº 1.289/87 e pela Instrução CVM nº 317/99.

Da mesma forma, diversos emissores no exterior também desenvolvem programas


semelhantes, de maneira que, em cada mercado, os certi cados negociados podem
representar emissores de vários Países. De acordo com o mercado em que são nego-
ciados, os DRs recebem nomenclaturas especí cas. Por exemplo, os ADRs, Ameri-
can Depositary Receipts, são negociados nos Estados Unidos, com lastro em ações de
emissão de empresas não norte-americanas.

2.5. Cert iƩcado de Recebíveis Imobiliários

Os Certi cados de Recebíveis Imobiliários (CRI) são títulos de crédito nominativos,


escriturais e transferíveis, lastreados em créditos imobiliários. Estão previstos na Lei
9.514/97, que disciplina o Sistema de Financiamento Imobiliário.

Conforme a Lei, o CRI é de emissão exclusiva de companhias securitizadoras de re-


cebíveis imobiliários, de nidas como instituições não nanceiras, constituídas sob
a forma de sociedade por ações, que têm por nalidade a aquisição e securitização
desses créditos e a emissão e colocação, no mercado nanceiro, de Certi cados de
Recebíveis Imobiliários, podendo emitir outros títulos de crédito, realizar negócios e
prestar serviços compatíveis com a sua atividade.

Valores Mobiliários 85
Securitizar é transformar créditos a receber – como os provenientes das vendas a
prazo nas atividades comerciais, nanceiras ou prestação de serviços – em títulos
negociáveis no mercado. O Certi cado de Recebível Imobiliário, portanto, é uma
securitização de direitos creditórios originados nos nanciamentos imobiliários.

A securitização pode ser estruturada em diferentes formatos. Em uma possível forma,


o processo se inicia com um nanciamento imobiliário, em que determinado cliente
assume a obrigação de uma dívida. Essa dívida origina direitos creditórios à insti-
tuição nanciadora. Em seguida, cria-se uma estrutura de securitização, como uma
companhia securitizadora, que adquire os direitos creditórios com um desconto e os
vincula à emissão de uma série de CRIs, que são lançados no mercado para captação
de recursos junto aos investidores.

O banco, ao receber os pagamentos dos clientes, repassa esses valores à securitiza-


dora, que, por sua vez, os utiliza para pagamento aos investidores dos CRIs. Todas
as condições, assim como as características da operação, são lavradas em um termo
de securitização.

O Conselho Monetário Nacional, pela resolução CMN 2.517/98, expressamente con-


siderou os CRIs como valores mobiliários e, portanto, sujeição à regulamentação e
scalização da CVM. A Instrução CVM 414/2004 estabeleceu regras para o registro
de companhia aberta das sociedades securitizadoras de créditos imobiliários, assim
como para as ofertas públicas desses valores mobiliários.

2.6. Cert iƩcados de Pot encial Adicional de Const rução

Certi cados de Potencial Adicional de Construção (CEPAC) estão previstos na Lei


10.257/2001, que estabelece diretrizes gerais da política urbana. Tal Lei dispõe sobre
a possibilidade de lei municipal especí ca delimitar área para aplicação de ope-
rações urbanas consorciadas (OUC), de nidas como “conjunto de intervenções e
medidas coordenadas pelo poder público municipal, com a participação dos pro-
prietários, moradores, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo
de alcançar em uma área transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais
e a valorização ambiental”.

86 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Nas OUC poderão ser previstas, como forma de atrair investimentos privados, entre
outras medidas, a modi cação de índices e características de parcelamento, uso e
ocupação do solo e subsolo, bem como alterações das normas de edi cações, con-
siderado o impacto ambiental delas decorrente, ou a regularização de construções,
reformas ou ampliações executadas em desacordo com a legislação vigente. Ou seja,
criam-se direitos de construir ou utilizar imóveis acima dos padrões previstos pela
legislação vigente de uso e ocupação do solo ou regularizar obras em desacordo com
esses padrões. Esses direitos são chamados de Direitos Adicionais de Construção.

Os municípios podem conceder esses direitos a interessados mediante o pagamento


de uma contraprestação, representada pela aquisição de um certi cado, o Certi cado
de Potencial Adicional da Construção, ou CEPAC.

Assim, a emissão de CEPAC é uma alternativa do município para captação de recur-


sos a serem aplicados em investimentos públicos de revitalização ou reestruturação
de determinada área da cidade. Os investidores privados fornecedores dos recursos
recebem, em contrapartida, os direitos adicionais de construção, representados pelo
certi cado e estruturados e delimitados na lei especí ca que instituir as OUC.

Decisão do Colegiado da CVM, em 2003, entendeu que, quando ofertados publica-


mente, os CEPAC são caracterizados como valores mobiliários e, portanto, sujeitos à
regulamentação e scalização da autarquia. No mesmo ano, a CVM editou a Instru-
ção CVM 401, que regulamenta o registro, a distribuição e a negociação dos CEPAC.

Conforme a instrução, nenhum CEPAC pode ser distribuído no mercado sem prévio
registro na CVM da operação a que estiver vinculado. Além disso, deve haver a emis-
são de prospecto, contendo os dados básicos da operação e a quantidade de CEPAC
para alienação. O Município, em conjunto com a instituição líder da distribuição po-
derá requerer o registro de distribuição pública para realização do leilão de CEPAC.

Interessante notar que os CEPAC não geram direito de crédito e nem de participa-
ção contra o município emissor. Geram tão somente o direito inerente ao certi ca-
do, que pode ser repassado ou utilizado dentro das condições do plano que o criou.
Ou seja, não são nem títulos de dívida e nem de capital. Os CEPAC são valores mobi-
liários com características bastante peculiares.

Valores Mobiliários 87
2.7. Cont rat os de Invest iment o Col et ivos

O contrato de investimento coletivo pode ser entendido como o instrumento utiliza-


do para captação de recursos dos investidores, para aplicação em determinado em-
preendimento, a ser implantando e gerenciado exclusivamente pelo empreendedor,
com a promessa de distribuir entre os investidores os lucros do empreendimento.

Conforme inciso IX, artigo 2º, da Lei 6.385/76, são valores mobiliários, “quando oferta-
dos publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que
gerem direito de participação, parceria ou remuneração, inclusive resultante da presta-
ção de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros”.

Esta de nição foi incluída em 2001, pela Lei 10.303. Com essa alteração, pode-se dizer
que os conceitos de valor mobiliário e contrato de investimento coletivo caram bas-
tante próximos, embora não representem a mesma coisa. A adoção de um conceito
mais amplo para valor mobiliário e, especialmente, a citação expressa a contrato de
investimento coletivo, foi realizada justamente para submeter tais contratos ao poder
de regulamentação e scalização da Comissão de Valores Mobiliários.

Essas alterações foram necessárias porque, na falta de clareza na regulamentação para


esses contratos, algumas ofertas de investimentos coletivos vinham sendo realizadas
no mercado sem qualquer tipo de registro ou acompanhamento. Os investidores, cha-
mados de parceiros, aplicavam seus recursos em empreendimentos com a promessa de
receberem parte dos lucros em prazo determinado. Entretanto, por falta de acompa-
nhamento e scalização, vários empreendimentos mostraram-se incapazes de gerar os
lucros inicialmente prometidos, causando prejuízos a milhares de investidores.

A partir da nova regulamentação, os contratos de investimento coletivos passaram


a se sujeitar à regulamentação e à scalização da CVM, que passou a exigir o registro
dos emissores e das distribuições públicas, com todas as regras de divulgação de in-
formações daí decorrentes, permitindo maior transparência para os investidores.

88 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


2.8. Out ros Invest imentos

A seguir serão listados alguns investimentos que, apesar de não serem valores mo-
biliários, são bastante conhecidos. Como eles não estão diretamente ligados ao Mer-
cado de Capitais, estão fora do objetivo principal deste livro, motivo pelo qual serão
abordados de forma bastante breve.

2.8.1. Poupança

A Caderneta de Poupança, ou somente Poupança, é o tipo de investimento conside-


rado mais tradicional e seguro. Permite que investidores mais conservadores apli-
quem seus recursos sem correr grandes riscos, embora eles existam. Quase todos
os bancos comerciais oferecem essa modalidade de investimento e não é preciso ser
correntista para investir.

Tradicionalmente, o rendimento da poupança sempre foi determinado pela variação


da TR (Taxa Referencial) mais juros de 0,5% ao mês. Entretanto, as regras sofreram
alteração em 04 de maio de 2012. Os depósitos realizados a partir dessa data, têm ren-
dimento vinculado à meta da taxa Selic determinada pelo Banco Central do Brasil. Se
a meta para taxa básica de juros da economia for superior a 8,5%, vale a regra antiga.
Por outro lado, se a meta Selic for igual ou menor que 8,5%, os juros da caderneta de
poupança são reduzidos para 70% da Selic mais a TR.

2.8.2. CDB

O Certi cado de Depósito Bancário (CDB) e o Recibo de Depósito Bancário (RDB)


são títulos de renda xa emitidos por bancos, nos quais o investidor “empresta” di-
nheiro para o banco e recebe em troca o pagamento de juros desse empréstimo. Ou
seja, esses tipos de investimento envolvem uma promessa de pagamento futuro do
valor investido, acrescido da taxa pactuada no momento da transação.

A diferença entre o CDB e o RDB é que o primeiro pode ser negociado antes do ven-
cimento enquanto o segundo é inegociável e intransferível.

No caso do CDB, a negociação antes do vencimento implica a perda de parte da


remuneração (devolução com deságio). Já o RDB pode ser rescindido em caráter
excepcional desde que haja concordância com a instituição depositária. Nesse caso

Valores Mobiliários 89
o valor investido é devolvido sem os juros.

2.8.3. Letra de Crédito Imobiliário e Letra Hipotecária

Letras de Crédito Imobiliário (LCI) são títulos de renda xa emitidos por insti-
tuições nanceiras, que conferem aos seus titulares direito de crédito pelo valor
nominal, juros e, se for o caso, atualização monetária. As LCIs devem ser lastreadas
por créditos imobiliários garantidos por hipoteca ou alienação duciária de coisa
imóvel e só podem ser emitidos por Bancos Comerciais, Sociedades de Crédito
Imobiliário, Bancos Múltiplos com carteira de crédito imobiliário, Companhias
Hipotecárias, Caixa Econômica Federal, Associações de Poupança e Empréstimo
e demais espécies de instituições nanceiras que venham a ser autorizadas pelo
Banco Central do Brasil a realizar operações de crédito imobiliário.

Letras Hipotecárias (LH) são títulos de crédito garantidos por créditos hipotecá-
rios, emitidos por instituições nanceiras autorizadas a conceder créditos hipote-
cários, que conferem a seus titulares direito de crédito pelo valor nominal, juros e,
se for o caso, atualização monetária nelas estipulados.

Portanto, a diferença entre esses dois instr umentos financeiros está relaciona-
da às instituições que podem emiti-los e aos créditos que podem ser utilizados
como lastro para as emissões.

2.8.4. Títulos Públicos

Os Títulos Públicos são emitidos pelo Governo Federal com o objetivo de captar
recursos para o nanciamento da dívida pública e das atividades governamentais
(educação, saúde, etc.). O órgão responsável pela emissão e controle dos títulos e pela
administração da dívida mobiliária federal é a Secretaria do Tesouro Nacional.

Há uma grande variedade de títulos públicos, cada um com características próprias


em termos de prazos (vencimentos) e rentabilidade. Atualmente, o investidor conta
com o serviço Tesouro Direto3 através do qual é possível comprar diretamente, pela
internet, Títulos Públicos Federais do Tesouro Nacional.

3
www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto

90 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


3. Fundos de Invest iment o

Fundo de Investimento é uma comunhão de recursos, captados de pessoas físicas ou


jurídicas, com o objetivo de obter ganhos nanceiros a partir da aplicação em títulos
e valores mobiliários. Esses recursos são usados para comprar bens (títulos) que são
de todos os investidores, na proporção de seus investimentos. Seu objetivo, portanto,
é promover a aplicação coletiva dos recursos de seus participantes.

A indústria de fundos no Brasil possui um volume de investimento bastante


signi cativo, com mais de 2 trilhões de reais distribuídos em um total de mais
de 14.000 fundos de investimentos.

As Cotas
Um fundo é organizado sob a forma de condomínio e seu patrimônio é dividido em
cotas, cujo valor é calculado diariamente por meio da divisão do patrimônio líquido
pelo número de cotas existentes. Uma cota é uma fração de um fundo. A soma de todas
as cotas dos investidores resulta no valor do patrimônio de um fundo de investimento.

Quando o investidor aplica seu dinheiro em um fundo, ele está adquirindo uma de-
terminada quantidade de cotas, cujo valor é diariamente apurado pela instituição que
administra o fundo.

Para calcular o quanto você obteve de rendimento, basta dividir o valor atual da cota
pelo valor da cota do dia da aplicação. Para apurar o valor atual do investimento,
multiplique a quantidade de cotas que você possui pelo seu valor no dia.

Portanto, o valor da cota se altera diariamente, conforme o rendimento do fundo,


mas a quantidade de cotas que um investidor possui é sempre a mesma, a menos que:

. Seja feito um resgate pelo investidor (sua quantidade de cotas diminui);

. Seja feita uma nova aplicação (um novo montante de cotas está sendo adquirido);

. Seja recolhido o Imposto de Renda (o sistema “come-cotas”, que será visto


mais à frente). Neste caso, o valor devido de IR é abatido em quantidade de cotas.

92 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A entrada de um novo cotista não altera a posição dos demais cotistas do fundo,
que continuam com o mesmo número e valor das cotas que possuíam antes. A
entrada do novo investidor implica somente a criação de novas cotas e o aumen-
to do patrimônio do fundo.

O cálculo do valor da cota é feito utilizando a seguinte fórmula:

3.1. Vant agens e Desvant agens

Existem alguns motivos que podem levar alguém a investir com a ajuda de um fundo:
você conta com gestão pro ssional para o seu dinheiro, tem acesso à uma estratégia
de diversi cação a custos menores, podendo ter uma carteira de investimento que
você não conseguiria montar sozinho. O investidor tem ainda a vantagem de conse-
guir resgatar rapidamente o seu dinheiro.

Os fundos de investimento possibilitam que investidores de per l similar, com ob-


jetivo, estratégias e tolerância a risco parecidos, concentrem recursos para aumentar
seu poder de negociação e diluir os custos de administração, além de contarem com
pro ssionais especializados, dedicados exclusivamente à gestão dos recursos.

Por outro lado, as desvantagens das aplicações em Fundos de Investimento estão


muito associadas ao fato do investidor delegar a terceiros a administração de seus
recursos: falta de autonomia na tomada de decisão, submissão a regras previamente
estabelecidas e à vontade da maioria dos cotistas, entre outras.

Fundos de Investimento 93
Gestão ProƲssional

Quando você coloca dinheiro no fundo, está entregando suas economias para um
gestor pro ssional. Esses especialistas são treinados para escolher aplicações e mo-
nitorar o mercado diariamente, avaliando as melhores opções de investimento. Para
pessoas que não possuem grande conhecimento do mercado ou que não tenham in-
teresse ou tempo para se especializar no assunto, pode ser uma boa opção contar
com essa ajuda pro ssional.

DiversiƲcação

A maior parte dos fundos possui muitos títulos diferentes em sua carteira. Essa va-
riação depende da classe do fundo. De qualquer forma, ainda que possuam títulos
da mesma natureza, muitas vezes os gestores procuram utilizar diferens prazos de
vencimento e diferentes emissores. É o famoso “evitar colocar todos os ovos em uma
única cesta”. Se acontecer algo errado com alguma aplicação, as outras que derem
certo podem compensar ou minimizar essa perda. Ou seja, o fundo permite que você
diversi que seus investimentos, apesar de estar realizando a aplicação em um único
produto. É claro que você poderia fazer isso sozinho, colocando seus recursos em
vários tipos diferentes de aplicações, mas isso poderia implicar em um custo muito
alto ou ser inviável caso o valor a ser aplicado seja pequeno.

Acesso a Outros Mercados

A aplicação em conjunto pode permitir que o investidor acesse mercados que não
poderiam ser alcançados de forma individual. Alguns investimentos podem exigir
uma aplicação mínima alta. Isso deve-se, principalmente, ao investimento mínimo
exigido por alguns tipos de investimentos.

Custos Menores

O fundo ajuda a reduzir custos de transação. Manter um conjunto grande de aplicações


e ajustar suas escolhas sempre têm custos: você precisa aplicar e resgatar recursos em
vários momentos, comprar e vender ações, títulos e outros tipos de investimentos.

No caso do fundo, assim como acontece no condomínio de um prédio residencial ou


comercial, os custos são diluídos porque são divididos por todos os investidores. Um
exemplo disso é um gestor: um investidor sozinho, provavelmente, não conseguiria
contratar um pro ssional que se dedicasse a cuidar todos os dias dos seus investi-

94 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mentos. Por outro lado, milhares de investidores juntos no fundo conseguem fazer
isso pagando uma taxa que serve, entre outras coisas, para remunerar estes pro ssio-
nais que cuidarão dos recursos.

Facilidade de Resgate

Quando uma pessoa aplica seus recursos, ela normalmente tem um plano para aquele
dinheiro. Imagine que você planejava algo, mas um imprevisto ocorreu e você precisa
do dinheiro antes do que esperava. Dependendo do tipo de investimento que você
fez, você poderá demorar um pouco para conseguir resgatar o dinheiro – imagine
se você tivesse optado por comprar um imóvel e tivesse que vendê-lo, por exemplo.

O fundo oferece a vantagem de você conseguir resgatar seus recursos rapidamente.


O prazo para recebimento pode variar conforme o tipo e o regulamento de cada
fundo, mas na maioria deles o resgate é pago no mesmo dia ou em poucos dias após
o pedido de resgate.

3.2. Fundos Abert os, Fechados e Excl usivos

Os fundos de investimento podem ser organizados sob a forma de condomínios


abertos, normalmente constituídos para existir por tempo indeterminado, ou con-
domínios fechados, que podem ter tempo de duração predeterminado.

Nos fundos abertos é permitida a entrada de novos cotistas ou o aumento da partici-


pação dos antigos por meio de novos investimentos, assim como é permitida a saída de
cotistas, por meio de resgates de cotas, isto é, a venda de ativos do fundo para a entrega
do valor correspondente ao cotista que efetuou o resgate, total ou parcial, de suas cotas.

Já nos fundos fechados, a entrada e a saída de cotistas a qualquer momento não é


permitida. Após o período de captação de recursos pelo fundo, não são admitidos
novos cotistas nem novos investimentos pelos antigos cotistas (embora possam ser
abertas novas fases de investimento, conhecidas no mercado como “rodadas de in-
vestimento”). Ou seja, existem períodos bem de nidos durante os quais o fundo
“abre para captação”.

Como não é admitido o resgate de cotas por decisão do cotista, ele tem que vender

Fundos de Investimento 95
suas cotas a terceiros se quiser receber o seu valor antes do encerramento do fundo.
Por este motivo, diversos fundos fechados passaram a ser negociados em mercados
organizados de bolsa ou balcão, facilitando a “revenda” das cotas a outros investido-
res interessados.

A bolsa de valores, como será visto em capítulo posterior, oferece um ambiente


de negociação que facilita o encontro entre compradores e vendedores de ativos,
além de oferecer transparência nos preços das ofertas e segurança no processo
de liquidação.

Os Fundos Exclusivos são fundos de investimento constituídos para receber aplica-


ções de um único cotista. Oferecem uma gestão bastante personalizada dos recur-
sos e normalmente são disponibilizados pelos administradores apenas a clientes que
possuem alto volume de recursos disponíveis para aplicação. Além disso, o investidor
pode conseguir algumas vantagens tributárias, pois a incidência do imposto de renda
normalmente ocorre apenas no resgate das cotas pelo investidor, ainda que sejam
realizadas diversas operações de compra e venda de ativos pelo fundo. Ou seja, ao
contrário do que acontece com um investidor pessoa física, o fundo pode vender um
ativo e comprar outro sem pagar imposto de renda no momento da operação, ainda
que tenha havido ganho de capital.

3.3. Negociação em Bol sa de Val ores

Os fundos também podem ser negociados em bolsa de valores, de maneira parecida


com o que ocorre com uma ação. Esta situação é comum para fundos fechados, pois
como o investidor não pode solicitar ao administrador o resgate do investimento, a
negociação em bolsa foi uma forma encontrada para que esses investidores pudessem
“sair” do seu investimento.

O exemplo mais comum são os Fundos de Investimento Imobiliário (FII), mas tam-
bém há Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) e Fundos de Inves-
timento em Participações (FIP) negociados em bolsa.

Há outro tipo de fundo que, apesar de não ser um fundo fechado, foi desenhado
especi camente para ser negociado em bolsa de valores: os Fundos de Índice (ou

96 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ETF, Exchange Traded Funds). Todo estes fundos serão vistos com mais detalhes nas
próximas seções.

3.4. Tipos de Fundos

Os fundos de investimento são classi cados principalmente quanto aos ativos nos
quais eles estão autorizados a investir seu patrimônio.

3.4.1. Fundos de Curto Prazo

Devem investir seus recursos, exclusivamente, em títulos públicos federais ou priva-


dos de baixo risco de crédito com prazo máximo a decorrer de 375 dias e prazo médio
da carteira de, no máximo, 60 dias.

Estes fundos têm a rentabilidade geralmente está associada às taxas SELIC ou CDI
e são considerados mais conser vadores quanto ao risco, sendo compatíveis com
objetivos de investimento de curto prazo, pois suas cotas são menos sensíveis às
oscilações das taxas de juros.

3.4.2. Fundos Referenciados

Devem acompanhar a variação do indicador de desempenho (benchmark) de nido


em seu objetivo, mantendo, cumulativamente:

. no mínimo, 95% de sua carteira composta por ativos que acompanhem refe-
rido indicador; e

. 80%, no mínimo, do seu patrimônio líquido, em títulos de emissão do Tesou-


ro Nacional ou do Banco Central do Brasil ou em ativos nanceiros de renda xa
considerados de baixo risco de crédito.

Além disso, podem utilizar derivativos apenas com o objetivo exclusivo de proteção
(hedge), sem permitir alavancagem.

Dentre os referenciados, o fundo mais popular é o DI, cujo objetivo de investimento


é acompanhar a variação diária das taxas de juros no mercado interbancário (CDI).

Fundos de Investimento 97
Como este tipo de fundo procura acompanhar a variação das taxas de juros, pode se
bene ciar de um cenário de alta dessas taxas.

3.4.3. Fundos de Renda Fixa

Os Fundos de Renda Fixa devem ter como principal fator de risco a variação da
taxa de juros e/ou de índice de preços. Devem aplicar pelo menos 80% de seus re-
cursos em ativos relacionados diretamente, ou sintetizados via derivativos, ao fator
de risco que dá nome à classe. Podem utilizar derivativos tanto para proteção da
carteira quanto para alavancagem.

Nos fundos de Renda Fixa a rentabilidade pode ser bene ciada pela inclusão, em
carteira, de títulos que apresentem maior risco de crédito, como os títulos privados.

3.4.4. Fundos de Ações

São também chamados de fundos de renda variável e devem investir, no mínimo,


67% de seu patrimônio em ações negociadas em bolsa ou mercado de balcão organi-
zado e em outros valores mobiliários relacionados a ações. Alguns fundos deste tipo
têm como objetivo de investimento acompanhar ou superar a variação de um índice
do mercado acionário, tal como o Ibovespa.

Como seu principal fator de risco é a variação nos preços das ações que compõem
sua carteira, podem ser compatíveis com objetivos de investimento de longo prazo
e que suportem uma maior exposição a riscos em troca de uma expectativa de ren-
tabilidade mais elevada.

3.4.5. Fundos Cambiais

Devem manter, no mínimo, 80% de seu patrimônio investido em ativos que sejam
relacionados, direta ou indiretamente (via derivativos), à variação de preços de uma
moeda estrangeira, ou a uma taxa de juros denominada cupom cambial. Os mais
conhecidos são os chamados Fundos Cambiais Dólar, que buscam acompanhar a
variação de cotação da moeda americana. Geralmente o crédito do resgate se dá no
dia seguinte ao da solicitação.

3.4.6. Fundos de Dívida Externa

Devem aplicar, no mínimo, 80% de seu patrimônio em títulos representativos da dí-

98 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


vida externa de responsabilidade da União e podem utilizar derivativos, negociados
no Brasil ou não, com o objetivo exclusivo de proteção. Os 20% restantes podem ser
aplicados em outros títulos de crédito transacionados no exterior.

Os títulos componentes de sua carteira são mantidos fora do país. Para o investidor
no Brasil, este fundo é uma forma ágil e de baixo custo operacional para aplicar em
papéis do governo brasileiro negociados no exterior.

3.4.7. Fundos Mult imercado

Devem apresentar política de investimento que envolva vários fatores de risco, sem
o compromisso de concentração em nenhum fator em especial, podendo investir em
ativos de diferentes mercados – como renda xa, câmbio e ações – e utilizar derivativos
tanto para alavancagem quanto para proteção da carteira.

Considerados os fundos com maior liberdade de gestão, buscam rendimento mais eleva-
do em relação aos demais, mas também apresentam maior risco, sendo, portanto, com-
patíveis com objetivos de investimento que, além de procurar diversi cação, tolerem
uma grande exposição a riscos na expectativa de obter uma rentabilidade mais elevada.

3.4.8.Fundo de Invest imento em Direitos Creditórios

Também conhecido como Fundos de Recebíveis, destina-se exclusivamente a investi-


dores quali cados e pode ser constituído sob a forma de condomínio aberto ou fechado.

São considerados investidores quali cados as instituições nanceiras, as entidades


de previdência, os fundos de investimento destinados a investidores quali cados e as
pessoas físicas e jurídicas que possuam investimentos nanceiros acima de 300 mil
reais e atestem por escrito sua condição de investidor quali cado.1

O FIDC destina parcela preponderante de seu patrimônio líquido para aplicação


em direitos creditórios, que são direitos e títulos representativos de crédito, ori-
ginários de operações realizadas nos segmentos nanceiro, comercial, industrial,
imobiliário, de hipotecas, de arrendamento mercantil e de prestação de serviços.
Ele pode ser constituído sob a forma de condomínio aberto ou fechado. Somente pode
aceitar aplicações de investidores quali cados, em montante mínimo de R$ 25 mil.

1
De nição de investidor quali cado dada pela Instrução CVM 409/2004

Fundos de Investimento 99
O funcionamento do fundo e a distribuição de cotas (esta última, em se tratando de
condomínio fechado) dependem de registros prévios na CVM. Para negociação, as cotas
de fundo fechado deverão ser registradas em bolsa de valores ou em mercado de balcão
organizado, cabendo aos intermediários assegurar a aquisição por investidores quali -
cados, além da aplicação mínima de 25 mil reais por investidor exigida pelas normas.

As cotas do FIDC poderão ter dois níveis de classe – sênior ou subordinada – cuja prin-
cipal diferença é a prioridade na amortização e resgate. Ou seja, em caso de perdas no
fundo decorrentes, por exemplo, de inadimplência proveniente dos direitos creditórios,
as cotas subordinadas funcionam como um colchão, sendo as primeiras a absorver os
prejuízos e protegendo, ao menos em parte, as cotas seniores.

As cotas seniores de fundos fechados, por sua vez, podem ainda ser subdivididas em sé-
ries, diferenciadas por prazos e valores para amortização, resgate e remuneração. Aos
cotistas de uma mesma série, no entanto, deverão ser assegurados os mesmos direitos e
obrigações. Cada classe ou série de cotas destinada à colocação pública deverá ser classi-
cada por agência classi cadora de risco em funcionamento no país.

O fundo não admite afetação do patrimônio, de forma que cada cota corresponderá a
uma fração ideal do patrimônio, não havendo correspondência com nenhum ativo ou
grupo de ativos que compõem a carteira. A remuneração dos cotistas seniores, com
base no benchmark do fundo, poderá ser complementada pelas cotas subordinadas, e
até o limite destas, sendo proibida por legislação a promessa de rendimento predeter-
minado aos condôminos.

3.4.9. Fundo de Invest imento Imobiliário (FII)

O fundo de investimento imobiliário é uma comunhão de recursos destinados à


aplicação em empreendimentos imobiliários, tais como a construção e a aquisição
de imóveis para posterior comercialização ou a aquisição de imóveis prontos para
auferir renda de locação.

Além disso, é também permitido aos fundos imobiliários a aquisição de títulos e


valores mobiliários relacionados a empreendimentos imobiliários, como letras de
crédito imobiliário, certi cados de recebíveis imobiliários, certi cados de poten-
cial adicional de construção, entre outros.

Por ser constituído sob a forma de condomínio fechado, o cotista do FII não pode so-
licitar o resgate de suas cotas, o que só pode ocorrer em caso de liquidação do fundo

100 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


deliberada pela assembleia geral de cotistas ou no término do prazo de duração dos
fundos que funcionam com prazo determinado.

Como as cotas dos FII não são resgatáveis, a única forma de se desfazer do investi-
mento é vender as cotas para outro investidor, de forma semelhante ao que ocorre
quando investimos em ações de companhias abertas. Em virtude disso, quase todos
esses fundos têm as cotas registradas para negociação em mercado de bolsa de valo-
res ou de balcão organizado, com as operações realizadas pelos investidores através
de uma corretora ou distribuidora de valores mobiliários.

Destaca-se que, apesar de ser titular (“dono”) das cotas do fundo, o cotista de um
FII não poderá exercer qualquer direito real sobre os imóveis e empreendimentos
integrantes do patrimônio do fundo. Por outro lado, ele também não responde pes-
soalmente por qualquer obrigação legal ou contratual do administrador ou relativa
aos imóveis integrantes do fundo.

Rendimentos e Tributação dos Fundos Imobiliários

Os principais rendimentos obtidos pelos FII vêm do recebimento de alugueis, dos


juros dos títulos imobiliários investidos e do ganho de capital obtido na venda dos
direitos reais sobre bens imóveis. A maioria dos fundos distribui os rendimentos
mensalmente, em virtude da legislação tributária.

Apesar de muitos FII distribuírem rendimentos mensalmente, não podemos consi-


derar o investimento em FII como de renda xa. Não apenas em função dos riscos do
empreendimento (inadimplência de um inquilino, vacância de um imóvel etc.), mas
também pelo fato de que o valor de suas cotas oscila.

Embora questões tributárias não sejam de competência da CVM, não se pode deixar
de mencionar as regras especí cas de tributação dos cotistas nos investimentos em
FII, matéria relevante à decisão de investimento. A Lei 11.196/05 estabeleceu que os
rendimentos recebidos pelos cotistas pessoas físicas são isentos de Imposto de Renda
quando as seguintes condições forem atendidas cumulativamente:

. o cotista bene ciado tiver menos do que 10% das cotas do Fundo;

. o FII tiver no mínimo 50 cotistas; e

. as cotas do FII forem negociadas exclusivamente em bolsa de valores ou

Fundos de Investimento 101


mercado de balcão organizado.

O investidor deverá prestar atenção a esta regra, pois caso as condições citadas não
sejam atendidas, ocorrerá retenção de 20% do rendimento distribuído a título de Im-
posto de Renda, qualquer que seja o cotista.

A isenção de imposto de renda só é válida para os valores recebidos mensalmen-


te a título de rendimento. Eventuais ganhos de capital obtidos, por exemplo,
quando o investidor vende as cotas do FII, sujeitam-se à incidência do imposto
à alíquota de 20%.

Informações sobre a tributação de FII poderão ser obtidas com a Secretaria da


Receita Federal do Brasil.

3.4.10. Fundo de Índices (ETF)

Conhecidos também como ETFs (Exchange Traded Funds), são fundos de inves-
timento que visam re etir as variações e rentabilidade de um índice de referência
(índice subjacente). Constituído sob a forma de condomínio aberto e com cotas ne-
gociadas em bolsa de valores, os ETF são relativamente novos no Brasil, mas sua
popularidade vem aumentando entre os investidores.

Ao adquirir cotas de um determinado Fundo ETF referenciado em um índice de


ações, o investidor passa a deter todas as ações componentes desse índice sem ter de
comprar separadamente os papéis de cada empresa. Desta forma, os Fundos de Índi-
ces proporcionam praticidade e rapidez no momento de investir, além de facilidade
para acompanhar seu desempenho, que está associado ao do respectivo índice.

Algumas vantagens de se investir em um Fundo de Índice:

. Rapidez e e ciência para participar do mercado brasileiro de ações: O ETF


permite investir indiretamente em várias das principais companhias abertas do
Brasil. O administrador do fundo rebalanceará a composição de sua carteira,
de tempos em tempos, de modo a re etir as mudanças da composição do índice
subjacente sem qualquer intervenção ou investimento adicional por parte de seus
cotistas;

. Diversi cação de investimentos: O fundo de índice proporciona aos seus

102 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


cotistas uma maneira de alcançar um investimento diversi cado no mercado de
ações brasileiro, visto que seu índice de referência é composto por ações de di-
versas companhias;

. Baixo custo de administração: O ETF é um veículo de investimento com


uma baixa taxa de administração, cujo objetivo é buscar re etir a performan-
ce do índice subjacente sem que o investidor precise incorrer em altas despesas
operacionais, signi cativo investimento inicial e constante responsabilidade de
efetuar reajustes na carteira para reproduzir individualmente a performance do
índice subjacente.

. Negociação na Bolsa como se fosse uma ação: Os ETFs são aprovados


para listagem e negociação na Bolsa e podem ser comprados e vendidos da
mesma forma que qualquer ação listada para negociação. Como valores mo-
biliários listados na Bolsa, os ETFs propiciam aos investidores benefícios que
não estão disponíveis a investidores em fundos de investimento não listados.
Por exemplo, os ETFs podem ser usados pelos cotistas como margem para
outras operações por eles realizadas na Bolsa, e podem ser dados em emprés-
timo em operações de mercado.

Quando houver o rebalanceamento da carteira do índice subjacente em função das


recomposições periódicas, o administrador ajustará a composição da carteira do
fundo de forma a re etir a nova composição do índice. Além disso, o administrador
ajustará a composição da carteira do fundo de forma a re etir ajustes feitos na com-
posição da carteira teórica do índice devido à distribuição de proventos por parte das
emissoras que o compõem.

Recebimento de Dividendos
A metodologia de cálculo do índice subjacente assume que quaisquer cupons, recibos
de subscrição, certi cados de desdobramento, dividendos, juros sobre capital próprio,
boni cações ou outros direitos declarados, relativos às ações da carteira teórica, sejam
imediatamente reinvestidas na mesma proporção da composição da carteira teórica,
mesmo que tais Distribuições não sejam imediatamente pagas ou distribuídas.

3.4.11. Fundo de Invest imento em Part icipações (FIP)

Também conhecido como Fundo de Private Equity, é destinado exclusivamente a investido-


res quali cados e deve ser constituído sob a forma de condomínio fechado.

Fundos de Investimento 103


Seus recursos são destinados à aquisição de ações, debêntures, bônus de subscrição e ou-
tros títulos e valores mobiliários conversíveis ou permutáveis em ações de emissão de
companhias abertas ou fechadas. Tais aquisições devem propiciar ao fundo, como regra
geral, participação no processo decisório da companhia investida, com efetiva in uência
na de nição de sua política estratégica e na sua gestão.

3.4.12. Outros Fundos de Invest imento

Fundo Mútuo de Privatização (FI – FGTS)


Constituído sob a forma de condomínio aberto, é uma comunhão de recursos des-
tinados à aquisição de valores mobiliários no âmbito do Programa Nacional de De-
sestatização e de Programas Estaduais de Desestatização. É formado exclusivamente
por recursos de pessoas físicas e provenientes do FGTS.

Fundos de Financiamento da Indústria CinematográƲca Nacional (FUNCINE)


Deve ser constituído sob a forma de condomínio fechado, cujos recursos sejam desti-
nados à aplicação em projetos aprovados pela Agência Nacional de Cinema (ANCINE).

Exemplo:

O fundo adquire Certi cados de Investimento Audiovisual (CAV), que são títulos de
participação em projetos audiovisuais, de forma que a remuneração do FUNCINE
dependerá do desempenho comercial dos projetos investidos.

Fundo de Investimento Cultural e Artístico (FICART)


Deve ser constituído sob a forma de condomínio aberto ou fechado, cujos recursos
sejam destinados à aplicação em projetos culturais e artísticos.

Exemplo:

O fundo investe em um festival de dança e será remunerado de acordo com o desem-


penho do projeto, por exemplo, com a venda de ingressos ou patrocínio.

Fundos Mútuos de Investimento em Empresas Emergentes (FMIEE)


Também conhecido como Fundo de “Venture Capital”, deve ser constituído sob
a forma de condomínio fechado, cujos recursos sejam destinados à aplicação em
carteira diversi cada de valores mobiliários de emissão de empresas emergentes -

104 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


companhia que apresente faturamento líquido anual, ou faturamento líquido anual
consolidado, inferiores a R$ 150.000.000, apurados no balanço de encerramento do
exercício anterior à aquisição dos valores mobiliários de sua emissão.

Fundos MútuosdeInvestimento em EmpresasEmergentes de Capital Estrangeiro

Deve ser constituído sob a forma de condomín io fechado, exclusivo para pesso-
as físicas ou jurídicas estrangeiras (residentes, domiciliadas ou com sede no ex-
terior), fundos ou outras entidades estrangeiras de investimento coletivo, cujos
recursos sejam destinados à aplicação em car teira diversificada de valores mo-
biliários de emissão de empresas emergentes.

Fundos Mútuos de Investimento em Ações de Sociedades Incentivadas


Deve ser constituído sob a forma de condomínio fechado, com recursos destinados à
aplicação em carteira diversi cada de títulos e valores mobiliários, composta, no míni-
mo, de 70% de ações de emissão de sociedades bene ciárias de recursos oriundos dos
incentivos scais, certi cados de investimentos dos Fundos FINOR, FINAM, FISET e
FUNRES e ações de sociedades incentivadas adquiridas no Mercado Secundário.

3.4.13. Fundos de Investimento em Cotas (FIC)

Os fundos que contêm em seu nome a expressão “Fundo de Investimento em Cotas


de Fundos de Investimento”, também conhecidos como FIC ou FICFI, são fundos que ao
invés de investir diretamente nos ativos objetos de seu regulamento, optam por adquirir
cotas de outros fundos de investimento.

Como regra geral, pelo menos 95% do patrimônio do fundo deve ser investido em
cotas de outros fundos. Além disso, os FICFI são divididos nas mesmas classes dos
FI e só podem aplicar em cotas de fundos desta mesma classe, com exceção dos FIC
Multimercado que, por sua própria natureza, podem aplicar em quaisquer outros
tipos de fundos.

Estrutura Master & Feeder


Muitas instituições optam por criar alguns fundos de investimento principais (FI) e
outros diversos FICFI que investem naqueles FI principais. Esta estrutura é conhecida
como “Master & Feeder”.

Como cada fundo só pode oferecer uma única taxa de administração e um único

Fundos de Investimento 105


valor de aplicação inicial para todos os investidores, as instituições precisam criar
diferentes fundos de investimento para atender aos diversos per s de clientes que
possuem. Por outro lado, um grande número de fundos exige maior esforço para a
gestão dos ativos.

Uma das vantagens da estratégia Master & Feeder atua justamente no balanceamen-
to entre a quantidade de fundos e os custos de gestão: cria-se apenas um grande FI
(Master) que centraliza o trabalho mais crítico de gestão e uma grande variedade de
outros fundos FIC (Feeder) que atendam aos diversos per s de investidores.

3.5. Administ rador e Gest or

O administrador é o responsável geral pelo fundo de investimento, devendo estar


identi cado no regulamento. Na constituição do fundo, o administrador aprova tam-
bém o regulamento. Compete também a ele a realização de uma série de atividades
gerenciais e operacionais relacionadas com os cotistas e seus investimentos. Dentre
as suas atribuições, destacam-se:

. Praticar todos os atos necessários à administração da carteira do Fundo, caso


esta não seja terceirizada, bem como exercer todos os direitos inerentes aos ativos
que a integrem, dentro dos limites legais e das regras estabelecidas pela CVM;

. Contratar obrigatoriamente um auditor independente, que deverá ser regis-


trado na CVM, para auditar as demonstrações contábeis do Fundo;

. Contratar, se for o caso, outra pessoa física ou jurídica, devidamente creden-


ciada pela CVM, para gerenciar a carteira do Fundo;

106 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Contratar terceiros, legalmente habilitados, para a prestação dos seguintes
ser viços relativos às atividades do Fundo: tesouraria, escrituração, custódia,
consultoria, distribuição e classi cação de risco.

O administrador do fundo assume diversas obrigações, perante a CVM e os cotis-


tas, como a manutenção do serviço de atendimento ao cotista, que se encarregará de
prestar esclarecimentos e responder às reclamações feitas.

Uma das principais obrigações do administrador de um fundo de investimento


é a divulgação de informações aos investidores, na periodicidade, prazo e teor
de nidos pela regulamentação da CVM. Esta divulgação deve ser feita de forma
imparcial entre todos os cotistas.

A Instrução CVM 522/2012, introduziu ainda a obrigação do administrador em ado-


tar políticas, práticas e controles internos necessários para que a liquidez da carteira
do fundo seja compatível com os prazos previstos no regulamento para pagamento
dos pedidos de resgate e o cumprimento das obrigações do fundo.

É vedado ao Administrador prometer rendimentos predeterminados aos cotis-


tas do Fundo.

Gestor de Carteira do Fundo de Investimento


O Gestor de Carteira é responsável pela gestão pro ssional, conforme estabelecido no
seu regulamento, dos ativos nanceiros integrantes da carteira do fundo. Essa função
deve ser desempenhada por pessoa natural ou jurídica credenciada como administra-
dor de carteira de valores mobiliários pela CVM.

O gestor tem poderes para negociar os ativos nanceiros em nome do fundo de


investimento e exercer o direito de voto decorrente dos ativos nanceiros detidos
por ele, realizando todas as demais ações necessárias para tal exercício, observado
o disposto na política de voto.

Dentre as suas principais atividades, destacam-se:

. Escolher os ativos que irão compor a carteira do fundo, selecionando aque-


les com melhor perspectiva de rentabilidade, dado um determinado nível de
risco compatível com a política de investimento do Fundo; e

Fundos de Investimento 107


. Emitir as ordens de compra e venda com relação aos ativos que compõem
a carteira do Fundo, em nome do Fundo.

Tanto o Administrador do Fundo como o Gestor da Carteira devem estar devida-


mente credenciados na CVM. Se o administrador e/ou o gestor da carteira do fundo
forem descredenciados por decisão da CVM para o exercício de administração de
carteira, eles devem ser substituídos. Nesta hipótese, a CVM nomeará um adminis-
trador temporário até a eleição de nova administração.

Da mesma forma, nos casos de renúncia ou destituição por deliberação da assembleia


geral, o administrador e o gestor também devem ser substituídos.

No caso de renúncia, o administrador ca obrigado a convocar imediatamente uma As-


sembleia Geral para eleger seu substituto, a se realizar no prazo de até 15 dias, devendo
permanecer no exercício de suas funções até sua efetiva substituição, que deverá ocorrer
no prazo máximo de 30 dias, sob pena de liquidação do fundo pelo administrador.

Alguns outros participantes da indústria de fundos:

. Custodiante: Responsável pela guarda dos ativos do fundo. Responde pelos


dados e envio de informações dos fundos para os gestores e administradores.

. Distribuidor: Responsável pela venda das cotas do fundo. Pode ser o pró-
prio administrador ou terceiros contratados por ele.

No capítulo sobre “Funcionamento do Mercado” serão abordados alguns aspectos


adicionais sobre os Administradores de Carteira.

3.6. Assembl eia de Cot ist as

A Assembleia Geral dos Cotistas é a instância máxima de decisão de um Fundo.


Ela é a reunião realizada entre os cotistas do fundo, com objetivo de tomar decisões
importantes, muitas vezes estratégicas, relacionadas à administração ou gestão do
fundo. Entre outras matérias, cabe à Assembleia Geral deliberar sobre:

. Alteração na política de investimento do Fundo;

108 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. As demonstrações contábeis apresentadas pelo administrador;

. Alteração do Regulamento do Fundo;

. Substituição do Administrador, do Gestor ou do Custodiante;

. Transformação, fusão, incorporação, cisão ou eventual liquidação do Fundo; e

. Aumento ou alteração da forma de cálculo das taxas de administração e, caso


existam, das taxas de performance, de entrada e de saída.

Todos os cotistas devem ser convocados por carta para a assembleia geral. Essa carta
deve especi car os assuntos a serem deliberados e o local, a data e a hora da assem-
bleia. O Administrador está obrigado a enviar essa carta com 10 dias de antecedência,
no mínimo, da data da realização da Assembleia.

O resumo das decisões da Assembleia Geral deve ser enviado a cada cotista no
prazo de até 30 dias após a data de sua realização, podendo ser utilizado para
esse m o extrato de conta mensal. A Instrução CVM 409/04 obriga a realização
anual de uma assembleia geral, para deliberar sobre as demonstrações contábeis do
fundo, no prazo de até 120 dias após o término do exercício social.

Entretanto, independente dessa assembleia geral, o administrador, o gestor, o custo-


diante ou o cotista ou grupo de cotistas que detenha, no mínimo, 5% do total de cotas
emitidas, poderão convocar, a qualquer tempo, assembleia geral de cotistas para de-
liberar sobre ordem do dia de interesse do fundo ou dos cotistas.

A Assembleia Geral poderá ser instalada com a presença de qualquer número de co-
tistas. Em regra, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, cabendo a cada
cota um voto, mas o regulamento poderá estabelecer quorum quali cado para as de-
liberações. Entretanto, na hipótese de destituição do administrador de fundo aberto,
esse quorum quali cado não poderá ultrapassar metade mais uma das cotas emitidas.

Os cotistas podem votar por meio de comunicação escrita ou eletrônica, desde que
recebida pelo administrador antes do início da assembleia, observado o disposto no
regulamento, que pode, inclusive, dispor sobre a possibilidade de as deliberações da
assembleia serem adotadas mediante processo de consulta formal, sem necessidade
de reunião dos cotistas.

Fundos de Investimento 109


Não podem votar na Assembleia Geral, a menos que haja anuência expressa da maio-
ria dos demais cotistas, manifestada na própria assembleia, ou em instrumento de
procuração: o administrador, o gestor, e os prestadores de serviço do fundo, incluídos
seus funcionários, gestores e empresas ligadas.

A participação do cotista nas Assembleias do Fundo é muito importante. Caso não


seja possível participar da Assembleia, é altamente recomendável que o cotista que
atento aos temas que serão deliberados e às decisões que foram tomadas.

3.7. Divul gação de Inf ormações

3.7.1. Regulamento

O Regulamento é o documento de constituição do fundo. Nele estão estabelecidas as in-


formações relacionadas a, entre outros: adminsitração, gestão, espécie de fundo (aberto/
fechado), prazo de duração (determinado/indeterminado), prestadores de serviço, classe
do fundo, política de investimento, taxas cobradas (como taxa de administração, perfor-
mance, entrada e saída) e condições para aplicação e resgate de cotas.

As alterações no regulamento dependem de prévia aprovação da assembleia geral de


cotistas e devem ser comunicadas à CVM.

As alterações feitas no regulamento do fundo podem implicar em signi cativas


alterações no seu funcionamento. Portanto, os cotistas devem acompanhar as as-
sembleias e seus resultados, avaliando se as eventuais mudanças são de seu inte-
resse e se o fundo continua atendendo a seus objetivos pessoais de investimento.

3.7.2. Prospecto

O prospecto é o documento que apresenta de forma destacada as principais informações


relevantes para o investidor contidas no regulamento, tais como as relativas à política de
investimento do fundo, às taxas de administração e aos principais direitos e responsa-
bilidades dos cotistas e administradores, assim como quaisquer outras necessárias para
uma tomada de decisão consciente pelos investidores, considerando os riscos envolvidos.

110 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


É um documento de apresentação obrigatória aos investidores, exceto no caso de fun-
dos destinados exclusivamente a investidores quali cados. O prospecto atualizado
deve estar à disposição dos investidores potenciais durante o período de distribuição,
nos locais em que esta for realizada. Quaisquer alterações realizadas deverão ser co-
municadas imediatamente à CVM e colocadas à disposição para consulta pública.

Além disso, o prospecto deve conter, de forma destacada, a informação:

A concessão de registro para a venda de cotas deste fundo não implica,


por parte da CVM, garantia de veracidade das informações prestadas
ou de adequação do regulamento do fundo ou do seu prospecto à
legislação vigente ou julgamento sobre a qualidade do fundo ou de seu
administrador, gestor e demais prestadores de serviços.

Ainda, os fundos que pretendam realizar operações que possam resultar em per-
das patrimoniais ou, em especial, levar à ocorrência de patrimônio líquido negativo,
devem inserir na capa de seu prospecto, de forma clara, legível e em destaque, uma
das seguintes advertências, conforme o caso:

Este fundo utiliza estratégias que podem resultar em signi cativas


perdas patrimoniais para seus cotistas.

Este fundo utiliza estratégias que podem resultar em signi cativas


perdas patrimoniais para seus cotistas, podendo inclusive acarretar
perdas superiores ao capital aplicado e a consequente obrigação do
cotista de aportar recursos adicionais para cobrir o prejuízo do fundo.

Em resumo, o prospecto é documento de leitura imprescindível para os investidores


tomarem conhecimento das principais informações relacionadas ao fundo que pos-
sam de alguma forma in uenciar na decisão de investir ou não em suas cotas.

3.7.3. Lâmina de Informações Essenciais

O administrador de fundo aberto não destinado exclusivamente a investidores quali-


cados deve elaborar uma lâmina de informações essenciais, documento que contém
as principais informações sobre o fundo, como os objetivos, o público-alvo, a política
de investimento, as condições do investimento, entre outras.

Além das informações sobre taxas e despesas, a lâmina traz uma tabela com os retor-
nos dos últimos cinco anos, que enfatiza a existência, caso exista, de anos com ren-

Fundos de Investimento 111


tabilidade negativa, além de outras mudanças, conforme disposto na instrução. Com
o objetivo de facilitar a análise do investidor e a comparação entre fundos, a lâmina
traz informações simples e sempre na mesma ordem.

A lâmina deve ser atualizada mensalmente até o dia 10 de cada mês com os dados
relativos ao mês imediatamente anterior, e enviada imediatamente à CVM. O admi-
nistrador deve entregar a lâmina ao futuro cotista antes do seu ingresso no fundo e
divulgá-la em lugar de destaque na sua página na internet.

3.7.4. Informações Periódicas

Uma das preocupações no processo de regulação do mercado de capitais, incluindo


a indústria de fundos de investimentos, é garantir a transparência das informações
disponíveis aos investidores de forma equânime e justa.

Nesse sentido, a CVM, através da Instrução CVM 409/2004, determina regras para a
divulgação de informações e de resultados dos fundos de investimento. Esse conjun-
to de informações pode ser dividido em:

. informações periódicas;

. informações eventuais;

. informações de venda e distribuição; e

. demonstrativos nanceiros e de auditoria.

As informações relativas ao sistema de distribuição e vendas foram detalhadas no tó-


pico sobre regulamento, prospecto e lâmina. Entretanto, é igualmente fundamental
que os investidores conheçam todo o conjunto de informações a que eles têm direi-
to, caso se tornem efetivamente cotistas de determinado fundo. A nal, constituem
instrumento imprescindível para avaliar a administração e a gestão do fundo, assim
como para se inteirar dos diversos fatos e eventos que possam de alguma forma in-
terferir na rentabilidade futura.

Com respeito às informações periódicas, diariamente os administradores devem di-


vulgar o valor da cota e do patrimônio líquido do fundo aberto. Mensalmente, devem
enviar aos cotistas o extrato da sua conta contendo, entre outras informações, o saldo
e valor das cotas no início e no nal do período e a movimentação ocorrida, além da

112 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


rentabilidade do fundo. Nesse mesmo informativo, os investidores têm acesso, ainda,
aos dados do administrador para acesso ao serviço de atendimento ao cotista. Vale
lembrar que o cotista pode optar pelo não recebimento do extrato.

Desde de janeiro de 2013, , os administradores devem remeter aos cotistas dos fundos
(exceto aqueles destinados exclusivamente a investidores quali cados) a demonstra-
ção de desempenho do fundo, conforme modelo especí co, até o último dia útil de
fevereiro de cada ano. O objetivo dessa nova informação é auxiliar o investidor a
comparar o desempenho de diferentes fundos de investimento, bem como o impacto
de taxas e despesas sobre a rentabilidade.

Além das informações destinadas aos cotistas, os administradores devem remeter


para a CVM outras informações periódicas, como as demonstrações contábeis e o
extrato de informações sobre o fundo.

No site da CVM é possível obter diversas informações sobre os fundos de inves-


timentos registrados, como: patrimônio líquido, número de cotistas, valor da
cota, balancetes, demonstrações nanceiras, regulamento, prospecto, entre ou-
tros. Essas informações são públicas e podem ser acessadas por qualquer pessoa,
mesmo que não seja cotista do fundo.

Com respeito às informações eventuais, o administrador é obrigado a divulgar ime-


diatamente, através de correspondência aos cotistas e de comunicado enviado à
CVM, qualquer ato ou fato relevante ocorrido ou relacionado ao funcionamento do
fundo ou aos ativos nanceiros integrantes de sua carteira. Entende-se por relevante
qualquer ato ou fato que possa in uir de modo ponderável no valor das cotas ou na
decisão dos investidores de adquirir, manter ou vender tais cotas.

3.8. Riscos

Podemos considerar o risco como sendo a possibilidade de não se atingir o retorno


esperado do investimento. E diversos fatores podem concorrer para isso, incluindo
mudanças na política, na economia, nas regras de tributação, etc.

No caso de um fundo de investimento, o principal risco é aquele inerente aos ativos

Fundos de Investimento 113


que compõem a carteira. Porém, há três riscos principais aos quais o investidor está
invariavelmente sujeito: o risco de mercado, o risco de crédito e o risco de liquidez.

. Risco de mercado: decorre das oscilações nos preços dos títulos que com-
põem a carteira do fundo. Uma vez que estes ativos são contabilizados por seu
valor de mercado, quanto maior a oscilação nos preços, maior a oscilação no
valor das cotas e mais difícil estimar o valor de resgate ou de venda das cotas.

. Risco de crédito: se refere à certeza sobre a liquidação do título na data de


vencimento. Quando o fundo adquire um título, está emprestando dinheiro a al-
guém ou aplicando sua quantia em determinado empreendimento e, certamente,
correndo o risco de que o tomador dos recursos não honre a obrigação ou o em-
preendimento não renda o esperado.

. Risco de liquidez: pode ser tanto dos ativos quanto das cotas que compõem o
fundo. No caso dos ativos, o risco de liquidez consiste na eventual di culdade que
o administrador possa encontrar para vender os ativos que compõem a carteira do
fundo, cando impossibilitado de atender aos pedidos de resgate do investimento.
No caso das cotas, o risco de liquidez decorre da di culdade, no fundo fechado, do
investidor encontrar um comprador para as suas cotas, forçando-o a vender por um
valor mais baixo que o esperado, caso sua necessidade de recursos seja imediata.

Por estes motivos, é importante que o investidor se mantenha informado sobre os


ativos que compõem a carteira do fundo, sobre as restrições ao resgate e sobre o mer-
cado para a negociação de cotas de fundos fechados, tanto na hora de investir quanto
periodicamente, para decidir se permanecerá ou não com o investimento.

É importante destacar que investimentos em cotas de fundos não contam com


a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Porém, a regulamentação
prevê completa segregação entre as atividades do fundo e de seu administrador.
Nesse sentido, o patrimônio do fundo não se confunde nem se comunica com
o da instituição administradora. Portanto, se uma instituição nanceira falir,
os ativos dos fundos que estão sob a sua administração não são afetados, com
exceção dos títulos e valores mobiliários de emissão do próprio banco que por
ventura façam parte da carteira do fundo. Nessa hipótese de problemas com
o administrador, a responsabilidade pela administração do fundo deverá ser
transferida para outra instituição.

114 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Usualmente, o retorno de um investimento está associado ao seu grau de risco. Maiores
retornos normalmente estão associados a um maior grau de risco. As aplicações mais
conservadoras costumam apresentar uma menor rentabilidade, mas o seu grau de risco
geralmente também é menor.

Fundos de investimento que apresentem rentabilidade muito superior aos demais


fundos da mesma natureza devem ser bem analisados, pois seu gestor pode estar
incorrendo em um risco muito maior que os demais, o que pode, eventualmente, não
ser adequado ao per l do investidor.

3.9. Cust os e Taxas

Na hora de comparar diferentes fundos é importante considerar seus custos. No Brasil,


por conta das normas da CVM, todos os custos do fundo devem ser obrigatoriamente
descontados do valor da cota e, portanto, da rentabilidade divulgada. Assim, quando se
compara a rentabilidade de fundos, o que se vê é o resultado líquido que o fundo obte-
ve, já descontados os custos. Por isso, um fundo com custos mais altos, mas que tenha
melhor resultado, poderá ser comparado com outro de custos e resultados mais baixos.

A taxa mais conhecida é a taxa de administração, cobrada em praticamente todos os


fundos. Ela é divulgada como uma taxa anual, mas sua cobrança é realizada, propor-
cional e diariamente, descontada do valor da cota. Outra taxa que aparece com certa
frequência é a taxa de performance, que é cobrada quando o resultado do fundo supera
um certo patamar (ou meta) previamente estabelecido no regulamento. Se o resultado
do fundo car abaixo da meta, a taxa de performance não é cobrada.

Além da taxa de administração e da taxa de performance, existem também outras


que podem ser cobradas, apesar de não serem muito comum no mercado brasileiro:
taxa de entrada (devida quando se faz o investimento) e taxa de saída (devida quando
se realiza o resgate).

Fundos de Investimento 115


3.10. Tribut ação

Além das taxas e custos citados anteriormente, os investimentos em fundos estão


sujeitos à cobrança de impostos, conforme de nições legais e legislação da Secretaria
da Receita Federal do Brasil.

É importante que o investidor conheça a tributação incidente sobre cada tipo de


operação e de fundo, pois isso impacta na rentabilidade nal do investimento e
também in uencia na comparabilidade dos diferentes fundos e, principalmente, de
diferentes tipos de investimentos.

Em termos gerais, todas as aplicações nanceiras estão sujeitas à cobrança de dois


tributos: o Imposto de Renda (IR), e o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio
e Seguro, ou relativas a Títulos e Valores Mobiliários (IOF, também conhecido apenas
como Imposto sobre Operações Financeiras).

Imposto de Renda

Os fundos de investimentos são classi cados em três categorias para efeitos de Im-
posto de Renda. O cálculo do imposto depende do período em que você permanecer
com o dinheiro investido no fundo e do tipo fundo.

Além disso, alguns tipos de fundos, como os fundos de investimento imobiliário,


respeitadas determinadas condições, podem oferecer isenção de IR nos rendimentos
pagos a título de aluguel, embora sempre estejam sujeitos ao IR referente ao ganho de
capital eventualmente obtido no momento da venda das cotas do fundo.

. Fundos de Ações

São fundos que devem ter, no mínimo, 67% dos seus recursos em ações negociadas em
Bolsa de Valores. Esses fundos contam com alíquota única de Imposto de Renda, inde-
pendente do prazo em que o investidor permanecer com os recursos investidos. O impos-
to será cobrado sobre o rendimento bruto do fundo, quando você resgatar sua aplicação.

PRAZO DA APLICAÇÃO ALÍQUOTA DEIR

Independentemente do prazo da aplicação 15%

116 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Fundos de Curto Prazo

Para ns de tributação, são considerados fundos de curto prazo aqueles cuja carteira de
títulos tenha prazo médio igual ou inferior a 365 dias. Eles estão sujeitos à incidência de
imposto de renda na fonte conforme as seguintes alíquotas:

PRAZO DA APLICAÇÃO ALÍQUOTA DEIR

Até 180 dias 22,50%

Acima de 180 dias 20%

Mesmo se o investidor permanecer com os recursos investidos por prazo superior a


um ano, nos fundos de curto prazo não há a alíquota abaixo de 20%.

. Fundos de Longo Prazo

Para ns de tributação, são considerados fundos de investimento de longo prazo aque-


les cuja carteira de títulos tenha prazo médio igual ou superior a 365 dias. Eles estão
sujeitos à incidência de imposto de renda na fonte conforme as seguintes alíquotas:

PRAZO DA APLICAÇÃO ALÍQUOTA DEIR

Até 180 dias 22,5%

De 181 a 360 dias 20%

De 361 a 720 dias 17,5%

Acima de 720 dias 15%

Como você pode observar, neste tipo de fundo, se um investidor deixar sua aplicação
por um período superior a dois anos ele pagará 15% de imposto de renda sobre o
rendimento do fundo.

O Sistema Come-cotas

O Imposto de Renda dos fundos de investimentos (exceto fundo de ações e fundos


fechados) é recolhido no último dia útil dos meses de maio e novembro, em um sis-
tema denominado “come-cotas”. Para esse recolhimento é usada a menor alíquota de
cada tipo de fundo: 20% para fundos de tributação de curto prazo e 15% para fundos

Fundos de Investimento 117


de tributação de longo prazo. Dessa forma, a cada seis meses os fundos automatica-
mente deduzem esse imposto de renda dos cotistas, em função do rendimento obtido
pelo fundo nesse período.

Além disso, no momento do resgate da aplicação do investidor, se for o caso, será


feito o recolhimento da diferença, de acordo com a alíquota final devida, con-
for me o prazo de permanência desse investimento no fu ndo.

Imposto sobre Operações Financeiras


O IOF incide sobre o rendimento nos resgates feitos num período inferior a 30 dias. O
percentual do imposto é regressivo e varia de 96% (aplicações com duração de 1 dia)
a 0% (a partir do 30º dia de aplicação, inclusive), dependendo do tempo da aplicação
das cotas vendidas.

3.11. Cl assiƩcação dos Fundos

Os fundos de investimento são classi cados pela CVM, como regulador, e pela Anbi-
ma, como entidade autorreguladora do mercado de fundos.

A classi cação CVM faz uma diferenciação dos grupos mais voltada à separação por
classe de risco, enquanto a classi cação Anbima, desdobra essa divisão, com um maior
detalhamento, visando a uma melhor comparabilidade dos fundos de investimento.

3.11.1. Classes de Fundos CVM

. Fundo de Curto Prazo . Fundo Cambial

. Fundo Referenciado . Fundo de Dívida Externa

. Fundo de Renda Fixa . Fundo Multimercado

118 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Fundo de Ações

3.11.2. Classiƥcação Anbima de Fundos

I. Fundos de investimento

Fundos curto prazo Fundos multimercados


Fundos referenciados Fundos de dívida externa
Fundos de renda xa Fundos de ações
Fundos cambiais Fundos exclusivos fechados

II. Fundos de previdência

Previdência renda xa Previdência data-alvo


Previdência balanceados Previdência ações
Previdência multimercados

III. Fundos o shore

O shore renda xa O shore mistos


O shore renda variável

IV. Fundos de investimento em direitos creditórios

Fomento mercantil Agro, indústria e comércio


Financeiro Outros

V. Fundos de investimento imobiliário

VI. Fundos de índices – ETF

VII. Fundos de participações

Fundos de Investimento 119


120 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
4. Companhias

4.1. As Sociedades por Ações

Duas das principais características das Companhias, também chamadas de Socieda-


des Anônimas, ou Sociedades por Ações, estão claramente de nidas logo no primei-
ro artigo da Lei 6.404/76, popularmente conhecida como “Lei das S.A.”:

Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em


ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao
preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.

Nas companhias, o capital social é dividido em ações que são subscritas pelos sócios,
os acionistas. Elas são consideradas sociedades de capital, pois, ao contrário do que
ocorre, por exemplo, nas Sociedades por Cotas de Responsabilidade Limitada, não há
nenhum contrato que ligue diretamente os sócios. As ações são, a princípio, de livre
negociação, podendo cada um dos acionistas negociar sua participação na sociedade
quando melhor lhe convier, sem necessidade de concordância dos demais sócios.

Em relação à responsabilidade, cada acionista responde apenas pelo preço de emissão


das suas ações, não possuindo nenhuma responsabilidade adicional por compromis-
sos assumidos pela companhia, nem mesmo no caso de liquidação da companhia.

122 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


As companhias podem ser classi cadas em duas espécies:

Companhia Aberta

Companhias cujos valores mobiliários estão admitidos à negociação em mercados


organizados de Bolsa ou Balcão. Para isso, devem ser obrigatoriamente registradas
na CVM.

Art. 4º Para os efeitos desta Lei, a companhia é aberta ou fechada


conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não
admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários.

§1º Somente os valores mobiliários de emissão de companhia registrada


na Comissão de Valores Mobiliários podem ser negociados no mercado
de valores mobiliários.

§2º Nenhuma distribuição pública de valores mobiliários será efetivada


no mercado sem prévio registro na Comissão de Valores Mobiliários.

Companhia Fechada

Por exclusão, a companhia que não possui valores mobiliários de sua emissão ne-
gociados em mercados organizados, será considerada uma companhia fechada, ou
companhia de capital fechado.

Qual o termo correto: Sociedade por Ações ou Sociedade Anônima? Não existe
uma de nição formal e as duas opções podem ser utilizadas. A própria “Lei das
S.A.” utiliza os dois termos: na ementa ela fala em “Dispõe sobre as Sociedades
por Ações” e logo em seguida, no artigo primeiro, aparece: “A companhia ou so-
ciedade anônima terá o capital dividido em ações[...]”. Ressaltamos, entretanto,
que atualmente o termo considerado mais adequado é “Sociedade por Ações”,
sobretudo após a proibição de emissão de ações ao portador, um dos principais
motivos que lhes davam a caracterização de “anônimas”.

Companhias 123
4.2. O Acionist a e seus direit os

4.2.1. Participação nos Resultados

Quando duas ou mais pessoas se dispõem a aplicar seus esforços e capitais em um


determinado empreendimento por meio de uma sociedade, o fazem com o objetivo
de, após determinado tempo, se apropriar dos lucros do negócio, os quais serão re-
partidos entre os sócios empreendedores.

Da mesma forma, quem investe em uma companhia aberta deseja participar dos lucros
que vierem a ser obtidos. Seja subscrevendo ações em um aumento de capital, seja adqui-
rindo-as no mercado, o investidor está buscando aplicar seus recursos em uma empresa
que consiga bons resultados em suas atividades para participar do seu rateio depois.

Por isso, a Lei das S.A. estabelece que um dos direitos essenciais de qualquer acionis-
ta de uma companhia, seja ela aberta ou fechada, é o de participar dos lucros, sob a
forma de distribuição de dividendos.

Nem todos os acionistas participam destes lucros em igualdade de condições,


uma vez que certas espécies e classes de ações podem conferir aos seus titulares
vantagens econômicas diferenciadas em relação aos titulares de outras.

4.2.2. Os Lucros e Dividendos

No exercício de suas atividades, as companhias auferem receita. É o que acontece, por


exemplo, quando a sociedade presta serviços ou vende produtos, recebendo em contra-
partida o valor correspondente. Ao longo de um ano, ou exercício social, estas receitas
vão se acumulando e, ao nal do período, a companhia deve veri car qual o total das
receitas auferidas e diminuí-las do total das despesas incorridas e outros ajustes impos-
tos pela legislação societária e scal, obtendo o denominado “resultado do exercício”.

A Lei das S.A. determina que, do resultado do exercício, deverão ser deduzidos os
prejuízos acumulados em exercícios anteriores, constituída uma provisão para paga-
mento do imposto de renda, participações estatutárias de empregados e administra-
dores, além de outras deduções determinadas ou permitidas pela legislação. O valor
que encontramos após estas operações denomina-se “lucro líquido”.

124 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Ao nal de cada exercício, os administradores devem ouvir o Conselho Fiscal (se estiver
em funcionamento) e posteriormente submeter à Assembleia Geral Ordinária da com-
panhia as demonstrações nanceiras relativas ao período encerrado. Juntamente com
tais demonstrações nanceiras, os administradores devem apresentar uma proposta de
destinação do lucro líquido daquele exercício, se algum lucro tiver sido auferido.

Chamamos de dividendo a parcela do lucro líquido que, após a aprovação da Assem-


bleia Geral Ordinária, será destinada aos acionistas da companhia. O montante dos
dividendos deverá ser dividido entre as ações existentes, para sabermos quanto será
devido aos acionistas por cada ação que eles possuem.

Para garantir a efetividade do direito do acionista ao recebimento de dividendos, a Lei


das S.A. prevê o sistema do dividendo obrigatório, de acordo com o qual as companhias
são obrigadas a, existindo lucro, destinar parte dele aos acionistas, a título de dividen-
do. A lei confere às companhias liberdade para estabelecer, em seus estatutos sociais,
o percentual do lucro líquido do exercício que deverá ser distribuído anualmente aos
acionistas, desde que o faça com “precisão e minúcia” e não sujeite a determinação do
seu valor ao exclusivo arbítrio de seus administradores e acionistas controladores.

O Dividendo Obrigatório

Segundo a Lei 6.404/76, os acionistas têm direito a receber como dividendo uma parce-
la dos lucros obtidos pela sociedade em cada exercício social. É chamada de “Dividendo
Obrigatório” a menor porcentagem do lucro que deve ser distribuída como dividendos.

A decisão sobre a destinação do lucro é tomada a cada ano pela Assembleia Geral.
Qualquer porcentagem dos lucros poderá ser destinada aos acionistas, contanto que
esse valor seja maior ou igual ao Dividendo Obrigatório.

Existem alguns mitos sobre qual o menor valor que o estatuto pode de nir para o di-
videndo obrigatório. Com objetivo didático, podemos considerar três situações, com
a indicação do artigo da lei que dispõe sobre cada caso:

. Como regra geral, o estatuto pode de nir como dividendo obrigatório qual-
quer porcentagem do lucro. Poderia ser de nido, por exemplo, o valor de 1% (um
por cento) do lucro (artigo 202, caput);

. No entanto, se o estatuto for omisso sobre este assunto, o dividendo obriga-


tório será considerado 50% do lucro líquido ajustado (artigo 202, caput e inciso I);

Companhias 125
. Se o estatuto for omisso e posteriormente a Assembleia Geral decidir alterá-
-lo para estabelecer um valor, o dividendo obrigatório não poderá ser inferior a
25% do lucro líquido ajustado (artigo 202, parágrafo segundo).

O valor do dividendo obrigatório estabelecido no estatuto social pode ser reduzido?


Sim, por decisão da assembleia geral. Entretanto, isso não é comum porque, confor-
me estabelecido nos artigos 136 e 137 da Lei 6.404/76, a companhia deve oferecer
ao acionista dissidente (discordante) o direito de retirar-se da companhia, mediante
reembolso do valor das suas ações.

Nos exercícios sociais em que houver lucro, mas a situação nanceira da companhia
for incompatível à distribuição de dividendos, ele poderá não ser distribuído nem
na porcentagem obrigatória. Em tais exercícios, os órgãos da administração deverão
informar tal fato à Assembleia Geral, juntamente com parecer do Conselho Fiscal
(se em funcionamento) e encaminhar à CVM exposição justi cativa da informação
transmitida à Assembleia. Nesta hipótese, os lucros não distribuídos serão registra-
dos como reserva especial e, caso não sejam absorvidos por prejuízos em exercícios
subsequentes, deverão ser pagos como dividendo tão logo a situação nanceira da
companhia o permita.

4.2.3. Ações Preferenciais e Distribuição de Dividendos

A Lei das S.A. permite que uma sociedade emita ações preferenciais, que podem ter seu
direito de voto suprimido ou restrito por disposição do estatuto social da companhia.
Em contrapartida, tais ações deverão receber uma vantagem econômica em relação às
ações ordinárias. A lei permite, ainda, que as companhias abertas tenham várias classes
de ações preferenciais, que conferirão a seus titulares diferentes vantagens.

Os titulares de tais ações poderão comparecer às Assembleias Gerais da compa-


nhia e opinar sobre as matérias objeto de deliberação, mas não poderão votar.

As vantagens econômicas a serem conferidas às ações preferenciais em troca dos di-


reitos políticos suprimidos, conforme dispõe a Lei, poderão consistir em prioridade
de distribuição de dividendo, xo ou mínimo, prioridade no reembolso do capital ou
uma combinação de vantagens.

. Dividendos xos: são aqueles cujo valor encontra-se devidamente quanti -


cado no estatuto, seja em montante certo em moeda corrente, em percentual do

126 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


capital, do valor nominal da ação ou, ainda, do valor do patrimônio líquido da
ação. Nesta hipótese, tem o acionista direito apenas a tal valor, ou seja, uma vez
atingido o montante determinado no estatuto, as ações preferenciais com direito
ao dividendo xo não participam dos lucros remanescentes, que serão distribuí-
dos entre ações ordinárias (e preferenciais de outras classes, se houver).

. Dividendo mínimo: é aquele também previamente quanti cado no esta-


tuto, seja com base em montante certo em moeda corrente, seja em percentual
do capital, do valor nominal da ação ou, ainda, do valor do patrimônio líquido
da ação. Porém, ao contrário das ações com dividendo xo, as que fazem jus
ao dividendo mínimo participam dos lucros remanescentes, após assegurado às
ordinárias dividendo igual ao mínimo. Assim, após a distribuição do dividendo
mínimo às ações preferenciais, às ações ordinárias caberá igual valor. Se ainda
restarem valores a serem distribuídos, eles serão partilhados entre ambas espé-
cies de ações, em igualdade de condições.

O dividendo xo ou mínimo assegurado às ações preferenciais pode ser cumulativo


ou não. Em sendo cumulativo, no caso de a companhia não ter obtido lucros durante
o exercício em montante su ciente para pagar integralmente o valor dos dividendos
xos ou mínimos, o valor faltante será acumulado para os exercícios posteriores.
Esta prerrogativa depende de expressa previsão estatutária.

No caso das companhias abertas, existem algumas opções de vantagens que podem
ser conferidas aos seus titulares das ações preferenciais em troca da supressão do
direito de voto. A mais conhecida é aquela que oferece dividendos pelo menos 10%
maiores do que aquele oferecido às ordinárias, mas não é a única possível. Veja a
seguir opções de vantagens que podem ser oferecidas:

. Direito a participar de uma parcela correspondente a, no mínimo, 25% do lucro


líquido do exercício, sendo que, desse montante, lhes será garantido um dividendo
prioritário de pelo menos 3% do valor do patrimônio líquido da ação e, ainda, o
direito de participar de eventual saldo desses lucros distribuídos, em igualdade de
condições com as ordinárias, depois de a eles assegurado igual dividendo mínimo;

. Direito de receber dividendos pelo menos 10% maiores que os pagos às


ações ordinárias; ou

. Direito de serem incluídas na oferta pública em decorrência de eventual


alienação de controle, como será visto em capítulo posterior.

Companhias 127
4.2.4. O Direito de Preferência para a Subscrição de Ações

Quando alguém adquire ações, passa a ser titular de uma fração do capital social de
uma companhia. Todavia, quando o capital é aumentado e novas ações são emitidas,
as ações até então detidas por tal acionista passam a representar uma fração menor
do capital, ainda que o valor em moeda seja o mesmo.

Diluição de participação: imagine, por exemplo, que você possua 1.000 ações
de uma empresa que tem um total de 10.000 ações. Você é dono, portanto, de
10% da companhia. Em determinado momento, ela está precisando de dinheiro
para investimentos e decide emitir 2.500 novas ações, vendendo esses ativos no
mercado, para outros investidores. Note que você continua dono das mesmas
1.000 ações, mas a companhia agora tem um total de 12.500 ações, e você, então,
passa a ser dono de apenas 8% da companhia. Chamamos de “diluição” essa
redução da participação dos acionistas antigos pela emissão de novas ações.

Para evitar que ocorra essa diminuição na participação percentual detida pelo inves-
tidor no capital da companhia, a lei assegura a todos os acionistas, como um direito
essencial, a preferência na subscrição das novas ações que vierem a ser emitidas em
um aumento de capital, na proporção de sua participação no capital, anteriormente
ao aumento proposto. Dessa forma, se o investidor assim desejar, pode subscrever
essas novas ações, na mesma proporção que já possuía, e manter exatamente a mesma
participação que possuía antes da emissão.

O prazo para o exercício do direito de preferência deverá ser xado pelo estatuto
social da companhia ou na Assembleia em que for deliberado o aumento do capital
social e não poderá ser inferior a 30 dias. Neste período, o acionista deverá manifestar
sua intenção de subscrever as novas ações emitidas no âmbito do aumento de capital.
Caso não o faça, perderá o direito de preferência.

Alternativamente, caso não deseje participar do aumento, o acionista pode ceder ou


vender seu direito de preferência. Esse direito de subscrição pode ser livremente ne-
gociado, inclusive em bolsa de valores.

Da mesma forma como ocorre com as ações, os acionistas também terão direito de
preferência nos casos de emissão de títulos conversíveis em ações, tais como debên-
tures conversíveis e bônus de subscrição.

128 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Exclusão do Direito de Preferência
Apesar do direito de preferência ser considerado um direito essencial do acionista, a
Lei das S.A. permite que nas companhias abertas com capital autorizado1, em certas
situações excepcionais, tal direito seja excluído ou, ainda, que o prazo de 30 dias para
o seu exercício seja reduzido, desde que haja previsão no estatuto social. Estas situa-
ções excepcionais são:

. Emissão de ações para venda em bolsa de valores ou subscrição pública;

. Permuta por ações, em ofertas públicas de aquisição de controle de outras


companhias;

. Aumentos de capital no âmbito de projetos de incentivos scais.

Além disso, os acionistas não terão direito de preferência nos casos de:

. Conversão de debêntures e outros títulos em ações, posto que, nestas hipóte-


ses, o direito de preferência deve ser exercido no momento da emissão do título;

. Outorga e exercício de opção de compra de ações aos administradores, em-


pregados ou outras pessoas naturais que prestem serviços à companhia ou a so-
ciedades sob seu controle.

Em todos os casos acima mencionados, a exclusão ou a redução do prazo do direito


de preferência deverá afetar todos os acionistas, não podendo haver distinção no tra-
tamento de acionistas controladores e minoritários.

4.2.5. Boniƥcações

Ao longo das atividades, a Companhia poderá destinar parte dos lucros sociais para
a constituição de uma conta de “Reservas”. Caso a companhia queira, em exercício
social posterior, distribuir aos acionistas o valor acumulado na conta de Reservas,
poderá fazê-lo na forma de Boni cação, podendo efetuar o pagamento em espécie ou
com a distribuição de novas ações.

1
Companhias com capital autorizado são aquelas que já possuem em seu estatuto social autorização para aumento de
capital até determinado valor.

Companhias 129
4.2.6. Direito de Voto

Nas sociedades por ações, a vontade social forma-se por meio do exercício do direito
de voto, manifestado nas Assembleias Gerais.

O acionista, ao participar e votar nas Assembleias Gerais, exerce uma prerrogativa


fundamental da condição de acionista, visto que o voto por ele manifestado poderá
in uenciar a formação da vontade da sociedade.

Ao exercer tal direito, o acionista, seja minoritário ou controlador, deve sempre ob-
servar o princípio básico de que o voto visa ao atendimento do interesse da sociedade,
e não aos interesses particulares de cada acionista.

A Lei das S.A. estabelece que o voto proferido de forma contrária ao interesse da so-
ciedade poderá vir a ser anulado e que o acionista poderá vir a ser responsabilizado
pelos prejuízos que sua conduta contrária ao interesse social causar à sociedade ou
a terceiros, ainda que seu voto não tenha prevalecido na Assembleia Geral.

O Direito de Voto e as Diversas Espécies de Ações

Todos os acionistas, independentemente da espécie ou classe de ações de que sejam titu-


lares, têm o direito de participar das assembleias, expressar sua opinião sobre as matérias
objeto de discussão e requerer esclarecimentos à mesa ou aos administradores presentes.

Os acionistas poderão também se candidatar e ser votados para integrar os órgãos de


administração e o conselho scal da companhia.

Os acionistas titulares de ações ordinárias têm, necessariamente, o direito de voto nas


deliberações da Assembleia Geral. Por este motivo o voto é considerado um direito fun-
damental dos titulares de ações ordinárias, tanto que a Lei das S.A. estabelece que cada
ação ordinária deve corresponder a um voto nas deliberações da Assembleia Geral.

Por outro lado, a lei admite que o estatuto social preveja a existência de uma ou
mais classes de ações preferenciais sem direito a voto ou com voto restrito. Para
tanto, faz-se necessário que:

. haja disposição estatutária expressa neste sentido; e

. o estatuto social atribua uma vantagem de natureza econômica aos titulares

130 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


de tais ações, observados os requisitos mínimos admitidos pela Lei das S.A., que
compense a privação ou restrição do direito de voto.

Hipóteses em que as Ações Preferenciais podem Votar

Conforme anteriormente mencionado, o direito de voto pode ser restringido ou ex-


cluído dos titulares de ações preferenciais.

No entanto, há casos em que as ações preferenciais, ainda que não possuam direito de
voto, podem votar como qualquer outra ação, entre os quais vale destacar:

. na assembleia de constituição da sociedade;

. na assembleia especial dos titulares de ações em circulação no mercado para


deliberar sobre a necessidade de realização de nova avaliação da companhia para
efeitos de uma oferta pública para cancelamento de registro de companhia aberta;

. nas assembleias especiais dos titulares de ações de espécie ou classe que


forem prejudicadas em decorrência de deliberações tomadas em Assembleia
Geral Extraordinária que versem sobre: a criação de ações preferenciais; o au-
mento de classe de ações preferenciais existentes sem guardar proporção com
as demais classes de ações preferenciais (salvo se tal possibilidade já estiver pre-
viamente autorizada no estatuto); a alteração nas preferências, vantagens e con-
dições de resgate ou amortização de uma ou mais classes de preferenciais; e a
criação de uma nova classe de ações preferenciais mais favorecida;

. na assembleia convocada para aprovar a nomeação dos peritos ou empresa


especializada responsável pela apuração do valor econômico da companhia para
a xação do valor de reembolso devido aos acionistas dissidentes de deliberação
da Assembleia geral extraordinária;

. na eleição, em separado, de um membro do conselho scal ou de adminis-


tração, desde que compareçam à Assembleia Geral titulares de ações preferen-
ciais que representem, no mínimo, 10% do capital social; e

. em todas as Assembleias Gerais, durante o período em que a companhia


permanecer em estado de liquidação;

Companhias 131
Direito de voto por falta de pagamento de dividendos
Por m, os acionistas titulares de ações preferenciais adquirem o direito de voto caso
a companhia deixe de pagar os dividendos xos ou mínimos a que zerem jus pelo
prazo previsto no estatuto social, que não pode ser superior a três exercícios sociais.

Nesta hipótese, os titulares de ações preferenciais passam a ter direito de voto em


todas as matérias submetidas à Assembleia Geral, continuando a exercer este direito
até que a companhia volte a pagar os dividendos assegurados a tais ações ou até que
sejam pagos os dividendos cumulativos em atraso, se for o caso.

Vale destacar que este direito de voto só é concedido caso o estatuto determine
como vantagem, para as ações preferenciais, o pagamento prioritário de divi-
dendos xos ou mínimos. Caso a vantagem atribuída às ações preferenciais seja
o reembolso de capital, como é permitido pela lei, esses acionistas não adquirem
direito de voto, mesmo após três anos sem o pagamento de dividendos.

4.2.7. Direito de Convocar Assembleias

A Lei das S.A. estabelece as regras sobre a competência para a convocação das As-
sembleias Gerais das sociedades por Ações, atribuindo aos órgãos da administração
a competência principal para convocar a Assembleia Geral.

No entanto, a Assembleia Geral poderá ser convocada por iniciativa dos acionistas
minoritários, nas seguintes hipóteses:

Convocação por acionista individual

A convocação pode ser feita por qualquer acionista na hipótese de os administra-


dores retardarem por mais de 60 dias a convocação, nos casos em que a lei ou o
estatuto social impon ham expressamente a realização de Assembleia Geral.

Deste modo, qualquer acionista, ainda que titular de uma única ação, terá a faculda-
de de convocar a Assembleia Geral individualmente, desde que sua realização esteja
prevista em lei ou no estatuto e os administradores tenham se omitido no cumpri-
mento de seu dever de efetuar a convocação.

É o caso, principalmente, da Assembleia Geral Ordinária, que deve ser obrigatoria-


mente realizada nos quatro primeiros meses de cada exercício social. Transcorridos

132 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mais de 60 dias do m deste prazo e não tendo sido convocada a Assembleia Geral
Ordinária, qualquer acionista poderá fazê-lo.

Convocação por acionistas que representem 5% do capital social


A Lei das S.A. assegura aos acionistas minoritários que representem, separadamente
ou em conjunto, pelo menos 5% do capital social, o direito de solicitar a convocação de
Assembleia para deliberar sobre quaisquer matérias que eles considerem de interesse da
sociedade. Para tanto, tais acionistas deverão apresentar aos administradores da socie-
dade um pedido neste sentido, devidamente fundamentado, com indicação dos assun-
tos a serem tratados. Caso o pedido de convocação da Assembleia não seja atendido no
prazo de 8 dias, os próprios acionistas poderão promover diretamente a convocação.

Convocação de Assembleia Geral para deliberar sobre a instal ação do


Consel ho Fiscal
Acionistas que representem, no mínimo, 5% do capital votante, ou 5% das ações
sem direito a voto, poderão convocar a Assembleia Geral com o objetivo especí co
de deliberar sobre a instalação do conselho scal, quando o pedido de convocação
de Assembleia para tal nalidade não for atendido, no prazo de 8 dias, pelos admi-
nistradores da companhia.

Convocação de Assembleia especial para deliberar sobre a proposta de nova


avaliação da companhia
Na hipótese de vir a ser realizada uma oferta pública para a aquisição das ações de
emissão da companhia aberta em circulação no mercado, em decorrência de:

. cancelamento de registro de companhia aberta; ou

. aumento de participação do acionista controlador;

. acionistas representando, no mínimo, 10% das ações em poder dos mino-


ritários, poderão convocar uma Assembleia especial dos titulares das ações em
circulação no mercado, com a nalidade de deliberar sobre a realização de uma
nova avaliação da companhia.

4.2.8. O Direito de Requerer o Adiamento de Assembleias

A Lei das S.A. permite que qualquer acionista solicite à CVM o adiamento da As-

Companhias 133
sembleia, nas seguintes hipóteses:

. o aumento, para até 30 dias, do prazo de antecedência da convocação da


Assembleia Geral, quanto esta tiver por objeto a deliberação sobre operações que,
por sua complexidade, exijam maior prazo para que possam ser devidamente
conhecidas e analisadas pelos acionistas; ou

. a interrupção, por até 15 dias, do curso do prazo de convocação da Assem-


bleia Geral Extraordinária, a m de que a própria CVM possa conhecer e ana-
lisar as propostas a serem submetidas à assembleia e, se for o caso, informar à
companhia as razões pelas quais entende que a deliberação proposta à Assem-
bleia Geral viola dispositivos legais ou regulamentares.

Em qualquer das duas situações, o acionista minoritário deve apresentar tal pedido
à CVM com antecedência mínima de 8 dias úteis da data inicialmente estabelecida
para a realização da assembleia. A CVM, por sua vez, ao receber a solicitação do acio-
nista minoritário, deve ouvir a companhia antes de tomar a decisão sobre o aumento
ou a interrupção do prazo de convocação da assembleia.

4.3. Divul gação de Inf ormações

O modelo regulatório brasileiro ressalta a importância do sistema de divulgação e


disseminação de informações pelos emissores de valores mobiliários. A política de di-
vulgação de informações tem regras bem de nidas pela CVM, de aplicação obrigatória
pelas companhias abertas. O objetivo é permitir aos investidores e potenciais investi-
dores tomar decisões de compra, venda ou manutenção de posições a partir do forne-
cimento de informações completas, iguais e disponibilizadas simultaneamente para
todos, em consonância com o que é conhecido como princípio do full disclosure.

O rigor da regulação da CVM e o surgimento de novos veículos de comunicação,


como a internet, aceleram a velocidade de divulgação de informações e ampliam
o seu alcance a um número considerável de agentes ao mesmo tempo. A qualidade
dos dados divulgados, nesse cenário, precisa ser ainda mais apurada e previamente
debatida dentro da companhia para se adequar às exigências da regulação e dos
padrões de demanda dos investidores.

134 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O debate sobre as melhores práticas de divulgação cresceu nos últimos anos, e deve
ser acompanhado atentamente pelos departamentos de Relações com Investidores
(RI). O sistema deve ser e ciente para impedir a utilização de informação privilegia-
da (inside information) e contribuir para que os preços dos ativos re itam a disponi-
bilização de informações, de modo adequado, a todos os agentes simultaneamente.

O atendimento a todos os públicos estratégicos da companhia passa também, ne-


cessariamente, pela superação de eventuais di culdades de comunicação, buscando
fornecer informações de modo democrático e ágil. Cabe à área de RI organizar seu
trabalho de maneira a atender adequadamente à demanda desses públicos diferencia-
dos: academia, organizações não governamentais, órgãos reguladores, fornecedores,
acionistas, clientes, investidores, analistas, institutos e imprensa, como será visto no
capítulo sobre “Relações com Investidores”.

As informações que as empresas listadas em Bolsa são obrigadas a divulgar ao


mercado, aos acionistas e aos investidores estão de nidas na Lei das Sociedades
por Ações e na regulamentação da CVM, incluindo, entre outras, demonstrações
nanceiras, formulário de referência, formulários de demonstrações nanceiras
padronizadas, formulário de informações trimestrais, atos ou fatos relevantes, edi-
tais de convocação e atas de assembleias.

Com o alinhamento das normas brasileiras aos padrões internacionais, como será
visto a seguir, reforçou-se o princípio da relevância e da representação dedigna
como características qualitativas fundamentais da informação contábil- nanceira.

Relevante é a informação capaz de fazer diferença nas decisões que possam ser
tomadas pelo usuário, enquanto dedigna é a informação que se propõe a retratar
a realidade econômica do fenômeno, de forma completa, neutra e livre de erro.

4.3.1. Convergência Internacional de Normas

O crescente impacto da globalização da economia e a necessidade de captação de recur-


sos nanceiros internacionais levam a uma exigência cada vez maior de uniformidade
na apresentação das informações nanceiras e contábeis. Além disso, com a integração
dos mercados de capitais de todo o mundo, aumenta a cada dia a demanda dos investi-
dores internacionais por transparência e comparabilidade nas informações.

Em um trabalho conjunto da CVM com diversas outras instituições dos setores pú-

Companhias 135
blico e privado, foi realizado, ainda no nal da década de 90, um estudo a respeito dos
principais pontos da legislação que precisavam de modi cações para permitir a conver-
gência internacional das normas contábeis. O estudo resultou em um documento enca-
minhado pela CVM ao Ministério da Fazenda, que se transformou na Lei 11.638/07.

Podem ser citados como principais objetivos dessa lei:

. Adequar os dispositivos contábeis da Lei das S.A. de forma a proporcionar


maior transparência e qualidade às informações contábeis;

. Adequar a lei às melhores práticas contábeis internacionais, conforme dis-


posições do International Accounting Standards Board (IASB);

. Eliminar ou diminuir as di culdades de interpretação e de aceitação das


informações contábeis utilizadas no Brasil;

. Reduzir o custo e o risco provocado por essas di culdades de interpreta-


ção e aceitação.

Ainda em 2007, foi publicada a Instrução CVM 457, que estabeleceu que:

Art. 1º As companhias abertas deverão, a partir do exercício ndo em 2010,


apresentar as suas demonstrações nanceiras consolidadas adotando
o padrão contábil internacional, de acordo com os pronunciamentos
emitidos pelo International Accounting Standards Board – IASB.

O International Financial Reporting Standards (IFRS), ou Padrão Internacional para


Demonstrações Financeiras, é um conjunto de normas publicado pelo International
Accounting Standards Board (IASB) com o objetivo de uniformizar o formato e a
linguagem das informações nanceiras. É comum ouvir o termo “Demonstração Fi-
nanceira no padrão IFRS”, indicando que a referida demonstração foi elaborada de
acordo com as normas de padronização internacional.

A harmonização das normas contábeis é um processo de extrema


relevância e altamente necessário para as empresas no atual cenário
de economia altamente globalizada e competitiva, independentemente
do tamanho e da atividade e que operam em diversos países e que
precisam reportar informações ao exterior, seja para atender às
necessidades de ordem interna (controladoras sediadas no exterior) ou
externa (usuários internacionais).

136 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


As constantes transformações no cenário econômico, principalmente
aquelas decorrentes do poder de investimento de fontes externas de
recursos têm exigido uma padronização e a utilização de um padrão
internacional de normas e procedimentos contábeis, que proporcione
transparência e con abilidade aos usuários. A divulgação de
informações sobre a situação patrimonial e nanceira das empresas
deve estar suportada em normas contábeis de alta qualidade que
facilitem a análise, permitindo a comparabilidade com outras empresas
e facilitando o entendimento por parte dos usuários. A convergência
contábil aos padrões internacionais tornou-se irreversível em um
contexto de inserção do Brasil, na economia global e de fortalecimento
do mercado de capitais nacional, uma vez que, a apresentação de dois
conjuntos de demonstrações contábeis, um de acordo com os padrões
nacionais e outro de acordo com os padrões internacionais, pode
facilitar erros e ensejar confusões de interpretação. Adicionalmente,
a convergência contábil amplia a transparência das empresas para
investidores de vários mercados, tendo potencial para contribuir para
a redução do custo de capital das empresas.

Conselho Federal de Contabilidade

O Comitê de Pronunciamentos Contábeis


O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) é uma entidade autônoma criada
pela Resolução nº 1.055/05 do Conselho Federal de Contabilidade, com o objetivo
de estudar, preparar e emitir Pronunciamentos Técnicos, Orientações e Interpre-
tações sobre procedimentos de contabilidade, visando à centralização e uniformi-
zação do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da
Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Os produtos mais conhecidos do CPC são os Pronunciamentos Técnicos, documen-


tos que visam a esclarecer conceitos e harmonizando a forma de entendimento e
utilização das normas contábeis. Cada Pronunciamento trata de um tema (ou alguns
temas correlatos), com abordagem bastante detalhada, uniformizando conceitos e
orientando sobre a forma de aplicação das normas.

Desde 2009 a CVM vem publicando Deliberações que aprovam os pronunciamentos


técnicos contábeis, referendando seus termos e determinando sua aplicação para as
demonstrações nanceiras das companhias abertas.

Companhias 137
4.3.2. Demonstrações Financeiras

As demonstrações contábeis, também chamadas de demonstrações nanceiras,


acompanhadas do relatório da administração e do parecer do auditor independente,
devem ser elaboradas ao nal de cada exercício e publicadas no Diário O cial da
União ou do Estado e em outro jornal de grande circulação no prazo máximo de três
meses após o encerramento de cada exercício social.

As demonstrações contábeis são uma representação estruturada da posição pa-


trimonial e nanceira e do desempenho da entidade. O objetivo das demonstra-
ções contábeis é o de proporcionar informação acerca da posição patrimonial e
nanceira, do desempenho e dos uxos de caixa da entidade que seja útil a um
grande número de usuários em suas avaliações e tomada de decisões econômi-
cas. As demonstrações também objetivam apresentar os resultados da atuação
da administração, em face de seus deveres e responsabilidades na gestão diligen-
te dos recursos que lhe foram con ados.

Também devem ser encaminhadas para a CVM e para a Bolsa na data de sua publi-
cação ou quando forem colocadas à disposição dos acionistas (o que ocorrer primei-
ro), através de um sistema eletrônico. É importante destacar que as demonstrações
nanceiras aqui mencionadas não devem ser confundidas com eventuais publicações
resumidas do demonstrativo, nem com as Demonstrações Financeiras Padronizadas
(DFP), que serão explicadas ainda neste capítulo.

4.3.3. Formulário de Referência

O Formulário de Referência, que substituiu o antigo IAN (formulário de informa-


ções anuais), segue um modelo de registro em que todas as informações referentes ao
emissor, como atividades, fatores de risco, administração, estrutura de capital, dados
nanceiros, comentários dos administradores sobre esses dados, valores mobiliários
emitidos e operações com partes relacionadas são reunidos em um único documento,
que deve ser arquivado e atualizado regularmente no site da CVM.

Além de arquivá-lo no momento do registro, as companhias precisam entregar o


Formulário de Referência atualizado anualmente, em até 05 meses a contar da data
de encerramento do exercício social, bem como reapresentá-lo na data do pedido de
registro de oferta pública de distribuição de valores mobiliários. Deve também atua-

138 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


lizar campos especí cos na hipótese de ocorrência de alguns fatos citados na norma,
o que o torna um documento bastante dinâmico, além de muito importante para que
os investidores acompanhem a evolução da companhia.

O Formulário de Referência, introduzido pela Instrução CVM 480/09, é consi-


derado hoje uma das mais importantes e completas fontes de informação sobre
as companhias abertas. Nas mais de 20 seções e dezenas de subseções é possível
encontrar, entre outros: capital social, dados de cadastro, auditores independen-
tes, informações nanceiras, fatores de risco, histórico e atividades da compa-
nhia, grupo econômico, controladores e principais acionistas, comentários dos
administradores, projeções, principais ativos, assembleias, remuneração dos
administradores, recursos humanos e planos de recompra de ações.

4.3.4. Informações trimestrais

Importante instrumento de avaliação para os investidores, o formulário ITR contém


as demonstrações contábeis elaboradas trimestralmente e é acompanhado do Relató-
rio de Revisão Especial, emitido por auditor independente registrado na CVM. Estas
demonstrações referem-se aos três primeiros trimestres do exercício social, devendo
ser apresentadas em até quarenta e cinco dias após o término de cada trimestre, ou
quando a empresa divulgá-las para acionistas ou terceiros antes deste período.

Ressalta-se que caso sejam realizadas projeções empresariais, elas devem ter acom-
panhamento sistemático no ITR, que deve apresentar claramente a concretização ou
não das etapas planejadas anteriormente.

4.3.5. Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP)

O Formulário Demonstrações Financeiras Padronizadas (DFP) é um documento ele-


trônico que deve ser encaminhado à CVM pelo emissor nacional em até três meses
contados do encerramento do exercício social (emissor estrangeiro em até quatro
meses) ou na mesma data de envio das demonstrações nanceiras de encerramento
de exercício, o que ocorrer primeiro.

O formulário DFP traz, de uma forma padronizada, as demonstrações nanceiras do


exercício social de referência e dos dois exercícios anteriores. Por seu formato xo e
padronizado, este documento permite fácil comparação com os exercícios anteriores
e até mesmo com os dados de outras companhias.

Companhias 139
Ressalta-se que o envio do formulário DFP, como regra geral, não dispensa o envio
das demonstrações nanceiras que serviram de base para o seu preenchimento e
vice-versa. Ele é um documento complementar que oferece os mesmos dados em uma
forma diferente, uniforme e comparativa.

Caso divulgue projeções, o emissor deverá indicar, no campo “Comentário sobre o


comportamento de projeções empresariais”, as projeções divulgadas no Formulário
de Referência e compará-las com os resultados efetivamente obtidos no trimestre,
indicando as razões para eventuais diferenças.

4.3.6. Atos ou fatos relevantes

Atos ou fatos relevantes devem ser comunicados prontamente. São considerados rele-
vantes todos os atos e fatos ocorridos nos negócios da companhia ou de suas contro-
ladas, inclusive decisões do acionista controlador e deliberações da assembleia geral
ou dos órgãos de administração da companhia, ou qualquer outro ato ou fato de
caráter político-administrativo, técnico, negocial ou econômico, que possa in uir de
modo ponderável:

. na cotação dos valores mobiliários de emissão da companhia aberta ou a


eles referenciados;

. na decisão dos investidores de comprar, vender ou manter aqueles valores


mobiliários;

. na decisão dos investidores de exercer quaisquer direitos inerentes à con-


dição de titular de valores mobiliários emitidos pela companhia ou a eles
referenciados.

Exemplos de atos ou fatos potencialmente relevantes:

. mudança ou transferência no controle da companhia, inclusive através de


celebração, alteração ou rescisão de acordo de acionistas;

. celebração, alteração ou rescisão de acordo de acionistas em que a companhia


seja parte interveniente, ou que tenha sido averbado no livro próprio da companhia;

. ingresso ou saída de sócio que mantenha, com a companhia, contrato ou


colaboração operacional, nanceira, tecnológica ou administrativa;

140 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. autorização para negociação dos valores mobiliários de emissão da compa-
nhia em qualquer mercado, nacional ou estrangeiro;

. decisão de promover o cancelamento de registro da companhia aberta;

. incorporação, fusão, cisão, transformação ou dissolução da companhia ou


envolvendo empresas ligadas;

. mudança na composição do patrimônio ou nos critérios contábeis, renego-


ciação de dívidas e aprovação de plano de outorga de opção de compra de ações;

. aquisição de ações da empresa para permanência em tesouraria ou cancela-


mento e alienação de ações assim adquiridas;

. lucro ou prejuízo da companhia, atribuição de proventos em dinheiro, des-


dobramento ou grupamento de ações ou atribuição de boni cação;

. aprovação, alteração, desistência ou atraso na implantação de projeto;

. descoberta, mudança ou desenvolvimento de tecnologia ou de recursos da


companhia;

. modi cação de projeções divulgadas pela companhia;

. impetração de concordata, requerimento ou con ssão de falência ou propo-


situra de ação judicial que possa vir a afetar a situação econômico- nanceira da
companhia.

Além de comunicar à CVM e à Bolsa, a empresa deve disseminar a informação atra-


vés de seu site de relações com investidores e divulgando nos jornais de grande circu-
lação normalmente utilizados pela companhia para publicações. Neste último caso, é
possível publicar o fato resumidamente, desde que haja indicação de que a informa-
ção completa encontra-se no site da empresa.

No campo da autorregulação, a Associação Brasileira de Companhias Abertas


(ABRASCA) publicou o “Manual de Controle e Divulgação de Informações Relevan-
tes”, que versa sobre práticas a serem adotadas no tratamento de informações privi-
legiadas, objetivando prevenir o seu vazamento. Além da ABRASCA, o Comitê de
Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (CODIM) também realiza

Companhias 141
um trabalho de oferecer orientação e sugestões às companhias abertas e aos pro ssio-
nais do mercado de capitais, através de seus “Pronunciamentos”, sobre as alternativas
mais adequadas de divulgação de informações, buscando aprimorar continuamen-
te a qualidade, a transparência, a tempestividade, a acessibilidade e o detalhamento
dessas informações.

4.3.7. Informações Voluntárias

Oferecer informações voluntárias ao mercado é uma das prioridades na estrutura de


planejamento da área de RI, que deve ser pautada pela busca de um modelo e ciente
de divulgação que consiga abranger não apenas a apresentação de metas corporati-
vas e setoriais, mas também uma série de dados gerados pelas mais diversas áreas
da companhia.

A política de divulgação deve considerar que o mercado demanda, em ritmo crescen-


te, um volume considerável de informações operacionais, técnicas e comerciais, efei-
to da globalização da economia e do interesse mais abrangente dos investidores a res-
peito de todos os indicadores capazes de alterar o desempenho futuro da companhia.

Além do que exige a lei, portanto, a informação adicional de alto valor focaliza fatores
macroeconômicos, dados sobre o setor, as estratégias da empresa, a posição compe-
titiva e a contribuição dos ativos intangíveis. Vale ressaltar que o RI também pode
identi car, por meio de pesquisas e contato direto, quais são as principais demandas
dos participantes do mercado: metas da empresa para os próximos anos, suas expec-
tativas e planos no âmbito operacional e comercial; geração e distribuição da riqueza;
atuação socioambiental vinculada com as operações da empresa e as altruístas.

O mercado reconhece positivamente a postura de algumas companhias de ofe-


recer altos níveis de transparência, com divulgação constante de informações
que vão além daquelas exigidas na legislação.

4.4. Governança Corporat iva

Governança corporativa é o conjunto de práticas que tem por nalidade otimizar o


desempenho de uma companhia e favorecer a sua longevidade ao proteger todas as

142 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores.

Este assunto será tratado com maior profundidade no capítulo “Governança Corpo-
rativa”. Por enquanto, cabe enfatizar que a análise das práticas de governança corpo-
rativa aplicada ao mercado de capitais envolve, principalmente: transparência, equi-
dade de tratamento dos acionistas e prestação de contas.

Para os investidores, a análise das práticas de governança auxilia na decisão de inves-


timento, pois a governança determina o nível e as formas de atuação que estes podem
ter na companhia, possibilitando-lhes exercer in uência no desempenho da mesma.
O objetivo é o aumento do valor da companhia, pois boas práticas de governança cor-
porativa repercutem na redução de seu custo de capital, o que aumenta a viabilidade
do mercado de capitais como alternativa de capitalização.

A adoção de boas práticas de governança corporativa constitui, também, um conjun-


to de mecanismos através dos quais investidores, incluindo controladores, se prote-
gem contra desvios de ativos por indivíduos que têm poder de in uenciar ou tomar
decisões em nome da companhia.

Companhias com um sistema de governança que proteja todos os seus investi-


dores tendem a ser mais valorizadas, porque os investidores reconhecem que o
retorno dos investimentos será usufruído igualmente por todos.

4.5. Assembl eias

A realização de Assembleias Gerais Ordinárias ou Extraordinárias é um instrumento


importante para o processo de participação dos acionistas nas deliberações que afe-
tam a realidade da empresa.

Em um constante processo de aperfeiçoamento, à medida que o número de acionistas


de uma companhia cresce, é desejável que as assembleias contem com um número
cada vez mais expressivo de participantes. Diante disso, o departamento de Relações
com Investidores passa a gerenciar novos desa os na convocação e instalação das as-
sembleias, acompanhando as demandas dos acionistas e buscando formas de facilitar
e estimular a participação de um público mais numeroso.

Companhias 143
Os editais de convocação de Assembleias Gerais Ordinárias ou Extraordinárias
devem enumerar, expressamente, o local, data e hora, a ordem do dia, todas as ma-
térias a serem deliberadas, não se admitindo que sob a rubrica “assuntos gerais” haja
matérias que dependam de deliberação da assembleia. Adicionalmente, as empresas
deverão remeter à Bolsa, na data da publicação da convocação, os documentos colo-
cados à disposição dos acionistas, incluindo propostas a serem deliberadas.

Qualquer deliberação da Assembleia Geral ou da administração que implique a al-


teração da forma de negociação dos valores mobiliários no pregão seguinte deve ser
encaminhada à Bolsa até as 18h30 do dia da realização da assembleia ou da reunião.
São exemplos de deliberações que alteram a forma de negociação: pagamento de pro-
ventos, desdobramento ou grupamento de ações.

Além disso, é fundamental que o resumo das deliberações tomadas em Assembleia


Geral ou em reunião do Conselho de Administração (neste último caso sempre que
forem de interesse do mercado) seja enviado para a Bolsa imediatamente após a sua
realização, ainda que tais deliberações não inter ram na forma de negociação dos
valores mobiliários.

De qualquer forma, a empresa está obrigada a transmitir para a CVM e para a Bolsa,
em formato eletrônico, as atas destas reuniões e assembleias na forma e nos prazos
estipulados pela legislação.

4.5.1. Assembleia Eletrônica

Com objetivo de aperfeiçoar e modernizar as formas de contato com os acionistas, a


Lei das S.A. foi alterada em 2011 para incluir autorização expressa para que os acio-
nistas de companhias abertas possam participar à distância das assembleias gerais,
inclusive votando nas deliberações. Essas são as chamadas “Assembleias Eletrônicas”
ou “Votações Eletrônicas”.

A importância da permissão do uso do voto eletrônico em assembleias gerais aumen-


ta à medida que aumenta no Brasil o número de companhias cujo capital é composto
apenas de ações ordinárias, em vários casos sem acionista majoritário. Nesse cenário,
aumenta a necessidade de uma sistemática simples, que diminua o custo do exercício
do direito de voto pelo acionista e facilite a participação de todos eles na supervisão
dos negócios sociais. Sócios minoritários que antes acabavam não votando pelo alto
custo de deslocamento até a cidade em que se realizaria a Assembleia podem, com a

144 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


adoção dessa sistemática, participar efetivamente das decisões da companhia.

A lei agora dispõe que “o acionista poderá participar e votar à distância em assem-
bleia geral, nos termos da regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários”. Em-
bora a referida regulamentação ainda não tenha sido emitida, ressalta-se que a CVM
já se manifestou no sentido de que não há impedimento para que as companhias
realizem assembleia em que se faça uso do voto à distância. Para tanto, as empresas
devem assegurar que os meios escolhidos para conferir o voto à distância sejam dis-
ponibilizados a todos os acionistas, preservem a segurança das votações (inclusive
possibilitando a veri cação da qualidade de acionista das pessoas que exercerão o
direito de voto), e garantam a possibilidade de posterior veri cação da forma como
cada acionista votou.

4.6. Est rut ura de Administ ração

4.6.1. O acionista controlador

O conceito atual de acionista controlador não mais o associa apenas à pessoa, física
ou jurídica, que detém a maioria das ações com direito a voto. Por outro lado, bus-
ca-se identi car em uma sociedade quem de fato exerce o poder de controle, seja
uma pessoa ou um grupo de acionistas.

Há outras possibilidades para o exercício do poder de controle que não apenas a ma-
joritária, exercida devido à propriedade da maioria absoluta das ações com direito a
voto. Pode haver um controle compartilhado, em que o poder é exercido por diver-
sas pessoas em grupo constituído, por exemplo, em um acordo de acionistas. Pode
ainda existir a gura do controle minoritário, na hipótese de uma companhia com
ações dispersas no mercado, em que um acionista ou grupo de acionistas, mesmo
com menos da metade do capital votante, exerça de fato o poder de controle. E mais,
mesmo em uma estrutura societária com um sócio majoritário, pode não ser este
quem de fato exerça o poder de controle.

A importância em caracterizar o acionista controlador como quem tem efetivamente


o poder de controle na sociedade está relacionada às implicações disso nos rumos
dos negócios. Envolve mais que uma simples questão de direito, ao contrário, torna-

Companhias 145
se uma questão de fato, no sentido de identi car quem realmente tem poderes para
dirigir as atividades sociais e orientar o funcionamento dos demais órgãos. Assim, o
acionista controlador deixa de ser visto como apenas mais um dentre todos os acio-
nistas da companhia e passar a ser visto como se fosse um órgão da sociedade, inte-
grante da estrutura, com objetivos, direitos e deveres.

A Lei das S.A., introduzindo esse conceito moderno, apresenta duas características que
devem estar presentes simultaneamente para a caracterização do acionista controlador:

. ser titular de direitos de sócio que lhe assegurem, de modo permanente,


a maioria dos votos nas deliberações da assembleia-geral e o poder de eleger a
maioria dos administradores da companhia; e

. usar efetivamente seu poder para dirigir as atividades sociais e orientar o


funcionamento dos órgãos da companhia.

O acionista controlador deve usar o poder com o m de fazer a companhia rea-


lizar o seu objeto e cumprir sua função social. Embora tenha condições de fazer
valer suas posições, o controlador não tem poderes ilimitados. Ele tem deveres
e responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela tra-
balham e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve
lealmente respeitar e atender.

A Lei 6.404/76 determina expressamente a responsabilização dos acionistas controla-


dores por atos praticados com abuso de poder, ou seja, o exercício do poder com m
distinto ao determinado na lei e no estatuto da companhia. Indo além, a lei ainda cita
modalidades de exercício abusivo de poder, entre as quais citamos:

. orientar a companhia para m estranho ao objeto social ou lesivo ao inte-


resse nacional, ou levá-la a favorecer outra sociedade, em prejuízo dos acionis-
tas minoritários;

. promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção


de políticas que não tenham por m o interesse da companhia e visem a causar
prejuízo a acionistas minoritários, aos funcionários ou aos investidores;

. eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente;

. induzir, ou tentar induzir, administrador ou scal a praticar ato ilegal;

146 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem, ou de socie-
dade na qual tenha interesse, em condições de favorecimento ou não equitativas;

. aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por favore-


cimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse saber proce-
dente, ou que justi que fundada suspeita de irregularidade.

A de nição de limites para o poder de controle é uma evidente preocupação em pro-


teger os acionistas minoritários de possíveis abusos de poder dos controladores. Três
aspectos fundamentais podem ser considerados como avanços na regulamentação
dessa proteção:

. mudança no foco da de nição do acionista controlador, que passou de um


critério exclusivo da propriedade das ações para a veri cação de quem realmente
exerce o poder de controle nas companhias;

. na compreensão do fato de que o acionista controlador desempenha um


papel especial, como uma unidade própria na organização, com objetivos, direi-
tos e deveres; e

. no reconhecimento de que esse poder, caso mal utilizado, pode ser prejudi-
cial aos acionistas minoritários e que, por isso, precisa da tutela regulamentar.

4.6.2. Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal é um órgão existente em todas as companhias, abertas ou fecha-


das, mas não necessariamente sempre em funcionamento.

Em uma companhia aberta, se por força de seu estatuto social o Conselho Fis-
cal não for permanente, será instalado mediante pedido, em qualquer Assembleia
Geral da companhia, de acionistas que representem, no mínimo, os percentuais
de nidos pela CVM em função do capital social de cada companhia.

O Conselho Fiscal será composto por 3 a 5 membros, indicados pela Assembleia


Geral. Os titulares de ações preferenciais sem direito a voto, ou com voto restrito, têm
direito a eleger um membro em votação em separado. Igual direito cabe aos acionistas
minoritários titulares de ações ordinárias, desde que representem pelo menos 10% do
capital social. Os demais membros serão indicados pelo acionista controlador.

Companhias 147
Não podem ser eleitos para o Conselho Fiscal empregados ou membros dos órgãos
de administração da companhia ou de sociedade do mesmo grupo, nem cônjuges ou
parentes até terceiro grau dos administradores. Também são inelegíveis para o cargo
de conselheiro scal as pessoas impedidas por lei especial, ou condenadas por crime
falimentar, de prevaricação, suborno, concussão, peculato, contra a economia popular,
a fé pública ou a propriedade, ou a pena criminal que vede, ainda que temporariamente,
o acesso a cargos públicos, além daquelas declaradas inabilitadas por ato da CVM.

Deveres e Atribuições do Conselho Fiscal

O Conselho Fiscal é um órgão extremamente importante nas companhias, pois, con-


forme seu próprio nome indica, a ele cabe a scalização da regularidade dos atos prati-
cados pelos administradores. Nas companhias abertas a relevância é ainda maior, pois
os acionistas minoritários, dispersos no mercado, nem sempre são capazes de se orga-
nizar de forma e caz para exercer esta scalização.

Não se inserem no rol das atribuições conferidas ao Conselho Fiscal a com-


petência para avaliar o mérito da gestão da companhia. O Conselho analisa a
regularidade dos atos, mas não opina sobre a conveniência ou a qualidade das
decisões da administração.

O órgão é colegiado, isto é, seus membros se reúnem para analisar os assuntos de sua
competência e emitem pareceres e manifestação a respeito. Todavia, a scalização
pode ser exercida pelos membros individualmente. Embora os pareceres e manifes-
tações sejam, normalmente, do Conselho como um todo, qualquer de seus membros
pode ler suas manifestações individuais nas Assembleias Gerais da companhia.

A competência do Conselho Fiscal inclui:

. scalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e ve-


ri car o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;

. opinar sobre o relatório anual da administração, fazendo constar do seu pa-


recer as informações complementares que julgar necessárias ou úteis à delibera-
ção da Assembleia Geral;

. opinar sobre as propostas dos órgãos da administração, a serem submetidas à


Assembleia Geral, relativas a modi cações do capital social, emissão de debêntures

148 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ou bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamento de capital, distri-
buição de dividendos, transformação, incorporação, fusão ou cisão da companhia;

. denunciar, por qualquer de seus membros, ao Conselho de Administração


e à Diretoria e, se estes não tomarem as providências necessárias para a proteção
dos interesses da companhia, à Assembleia Geral, os erros, fraudes ou crimes que
descobrirem, e sugerir providências úteis à companhia;

. convocar a Assembleia Geral Ordinária, se os órgãos da administração re-


tardarem, por mais de um mês, essa convocação, e a Extraordinária, sempre que
ocorrerem motivos graves ou urgentes, incluindo na agenda das assembleias as
matérias que considerarem necessárias;

. analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações


nanceiras elaboradas periodicamente pela companhia;

. examinar as demonstrações nanceiras do exercício social, e sobre elas opinar.

O Conselho, no exercício de suas funções, poderá requisitar informações aos admi-


nistradores e auditores independentes da companhia. Poderá, também, formular
questões a serem respondidas por peritos indicados pela diretoria da sociedade, para
apurar ou esclarecer fatos relacionados às suas atividades.

4.6.3. Conselho de Administração

O Conselho de Administração é um órgão de natureza colegiada, composto por, no


mínimo, três membros, eleitos pela Assembleia Geral e por ela destituíveis a qualquer
tempo, obrigatório nas companhias abertas e nas de capital autorizado. Seus mem-
bros devem se reunir e deliberar sobre determinadas matérias de nidas em lei e no
estatuto social, tais como eleição dos diretores da companhia, escolha e destituição
dos auditores independentes, orientação geral dos negócios e a prestação de garan-
tias, pela companhia, a obrigações de terceiros.

Outra importante função do Conselho de Administração é scalizar a gestão dos di-


retores, que são responsáveis pela representação da companhia e pela implementação
das deliberações da Assembleia Geral e do Conselho de Administração.

Os membros do Conselho de Administração são eleitos pela Assembleia Geral, cuja


ata, que deverá conter a quali cação e o prazo de gestão de cada um dos eleitos, será

Companhias 149
arquivada no registro do comércio e publicada. O conselheiro eleito deve ter reputa-
ção ilibada, sendo inelegíveis as pessoas impedidas por lei especial, ou condenadas
por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra
a economia popular, a fé pública ou a propriedade, ou a pena criminal que vede, ainda
que temporariamente, o acesso a cargos públicos, bem como as pessoas declaradas
inabilitadas por ato da Comissão de Valores Mobiliários.

Além disso, também não pode ser eleito para integrar o Conselho de Administração,
salvo dispensa da Assembleia Geral, a pessoa que ocupar cargos em sociedades que
possam ser consideradas concorrentes no mercado e que tenha interesse con itante
com a sociedade, presumindo-se ter interesse con itante com a sociedade a pessoa
que, cumulativamente:

. tenha sido eleita por acionista que também tenha eleito conselheiro de ad-
ministração em sociedade concorrente, e

. mantenha vínculo de subordinação com o acionista que o elegeu.

Em regra, as deliberações das Assembleias Gerais são tomadas por maioria dos votos,
isto é, o acionista controlador tem o poder de aprovar matérias postas em votação. A m
de evitar que o acionista controlador sempre indique a totalidade do Conselho de Ad-
ministração, a Lei das S.A. criou alguns mecanismos visando facilitar a eleição de parte
de seus membros por acionistas minoritários: o voto múltiplo e a votação em separado.

O Voto Múltiplo
Como regra geral, cada ação ordinária confere ao seu titular o direito a um voto nas
deliberações da Assembleia (as ações preferenciais também, se não tiverem seu direi-
to de voto suprimido pelo estatuto social). Todavia, nas deliberações para eleição de
Conselheiros, os acionistas podem requerer a adoção do sistema de voto múltiplo,
que facilita a eleição pelos minoritários.

Por este sistema, cada ação passa a ter direito não mais a um único voto, mas sim a
tantos votos quantos forem as vagas no Conselho a serem preenchidas. Os acionis-
tas minoritários podem concentrar seus votos em um ou mais candidatos, e, desta
forma, possibilitar a eleição de seus representantes no Conselho de Administração.

A deliberação por voto múltiplo deve ser requisitada, com antecedência de 48 horas
em relação à data da Assembleia Geral, pelos acionistas que desejarem utilizar tal

150 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


sistema, desde que representem um percentual mínimo do capital, que varia entre
5% e 10%, em função do capital social da companhia. O percentual mínimo de parti-
cipação no capital votante necessário à requisição da adoção do voto múltiplo deverá
constar, obrigatoriamente, no edital de convocação das assembleias destinadas à elei-
ção dos membros do referido conselho.

A Votação em Separado

É facultado aos acionistas da companhia, titulares de ações preferenciais e minoritá-


rios detentores de ações ordinárias, a eleição em separado de membros do Conselho
de Administração. Através desse mecanismo, os minoritários podem se reunir para
eleger os Conselheiros, durante a Assembleia, em votação da qual o controlador não
participará. Poderá ser eleito um membro do Conselho pelos acionistas preferencia-
listas e outro pelos acionistas ordinários minoritários.

Os preferencialistas, para poderem exercer esse direito, devem reunir interessados que,
conjuntamente, detenham pelo menos 10% do capital total da companhia. Já os titula-
res de ações ordinárias interessados deverão deter, pelo menos, 15% do capital votante.

Caso os acionistas preferencialistas e ordinários não consigam reunir os percentuais


mínimos indicados, poderão opcionalmente se reunir para eleger um Conselheiro,
também em separado do acionista controlador. Para isso devem representar interes-
sados que detenham, conjuntamente, pelo menos 10% do capital da companhia.

É importante notar que as ações ordinárias de acionistas minoritários que forem


utilizadas na votação em separado para eleger um integrante do Conselho de Ad-
ministração não conferirão aos seus titulares o direito de votar novamente no pro-
cedimento de voto múltiplo. Portanto, os acionistas minoritários devem re etir
para decidir qual dos procedimentos lhes é mais vantajoso.

A faculdade de eleger um representante no Conselho de Administração por votação


em separado somente poderá ser exercida por acionistas minoritários que detenham
suas ações pelo período mínimo de três meses ininterruptos antes da Assembleia.

Companhias 151
4.7. Reorganizações Societ árias

Reorganizações societárias são operações realizadas pelas companhias para reorde-


nar sua estrutura, propriedade, operações, ativos ou estrutura de capital, com o obje-
tivo de melhorar sua e ciência operacional, obter benefícios tributários e aumentar a
percepção de valor que o público tem da empresa.

Nos últimos anos, as reorganizações societárias estiveram em evidência no cená-


rio econômico brasileiro e mundial. Com a globalização da produção e a redução
de barreiras no comércio mundial, as empresas viram-se obrigadas a aumentar sua
produtividade e sua participação no mercado, na tentativa, principalmente, de obter
ganhos de escala.

Além disso, com objetivo de melhorar seu desempenho, muitas delas decidiram
focar em apenas alguns setores, ou mesmo em apenas um, abrindo mão de atuar
nas demais áreas e repassando parte de suas operações em atividades consideradas
não estratégicas para seu novo direcionamento.

No direito brasileiro, as reorganizações societárias incluem os seguintes instrumentos:

Transformação

A transformação é a reorganização societária pela qual a sociedade passa de um tipo


jurídico para outro, independentemente de dissolução e liquidação. Não se confunde
com modi cação do capital social, mas sim do tipo societário, e deve obedecer aos
preceitos que regulam a constituição e o registro do tipo a ser adotado.

A transformação exige o consentimento unânime dos sócios ou acionistas, salvo se


prevista no estatuto ou no contrato social, caso em que o sócio dissidente terá o direi-
to de retirar-se da sociedade.

Incorporação

A incorporação é a operação através da qual uma sociedade, chamada incorporada,


é absorvida por outra, a incorporadora. A sociedade incorporada deixa de existir ju-
ridicamente e todo seu patrimônio é absorvido pela incorporadora, que a sucede em
todas as obrigações e direitos.

152 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A operação precisa ser aprovada pelas assembleias das duas companhias ou por reu-
nião de sócios, no caso de sociedade empresária. Para a realização da operação deverão
ser providenciadas avaliações do patrimônio por peritos e estabelecidas as relações de
troca das ações, que é a quantidade de ações da incorporadora que os acionistas da in-
corporada receberão por sua parte na sociedade que deixará de existir.

A incorporação não se confunde com a aquisição do controle acionário. Neste caso,


a sociedade continua existindo, apenas passando a ter um novo sócio controlador.
Na incorporação, ao contrário, uma das principais características é, justamente, a
extinção jurídica da sociedade incorporada.

Fusão
Assim como na incorporação, na fusão, duas ou mais sociedades unem seus patri-
mônios. A diferença crucial, entretanto, é que nesta operação todas as sociedades fu-
sionadas deixam de existir juridicamente, e uma nova sociedade é criada, com nova
personalidade jurídica e sucedendo-lhes em todos os direitos e obrigações.

O capital social da nova sociedade é integralizado com o patrimônio das sucedidas,


sendo que as avaliações realizadas determinarão, portanto, a participação de cada
acionista na nova companhia.

Cisão
A operação de cisão é caracterizada pela transferência de partes do patrimônio da
sociedade cindida para uma ou mais sociedades, que podem ter sido constituídas
para este m ou já existirem.

A cisão pode ser classi cada em total ou parcial. Na primeira, a sociedade original
deixa de existir, tendo todo o seu patrimônio sendo dividido em duas ou mais partes.
No segundo caso, a cisão parcial, a sociedade original continua existindo, tendo ape-
nas parte do seu patrimônio subtraído para a operação de cisão.

Companhias 153
154 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
5. Governança Corporat iva

As origens da governança corporativa como teoria remetem a con itos inerentes à pro-
priedade dispersa e à divergência entre os interesses dos diversos sócios – muitas vezes,
pouco organizados – e os interesses dos gestores. Este modelo é comum em sociedades
como os Estados Unidos e Inglaterra. No Brasil, em que a propriedade concentrada
predomina, os con itos de governança ocorrem à medida que a empresa cresce e novos
sócios, sejam investidores ou herdeiros, passam a fazer parte da sociedade.

5.1. A necessidade de Boas Prát icas de Governança

Os fatos descritos a seguir nada mais são do que um exemplo da possível montagem de
um hipotético sistema de governança corporativa em uma empresa. Procura-se ilustrar
que, a despeito de opiniões de que só empresas de grande porte podem adotar tais prá-
ticas, a governança corporativa, na verdade, trata-se de um modelo de administração
aplicado a qualquer empresa, independente de seu porte ou estágio de maturidade.

A empresa geralmente nasce quando alguém, muitas vezes um indivíduo com es-
pírito empreendedor, identi ca uma necessidade dentro da sociedade (produtos ou
serviços que as pessoas desejam), que ele acredita poder atender, em troca de remu-
neração por esta atividade.

No começo, e por algum tempo, o empreendedor desempenha todas as funções ne-


cessárias para que a empresa funcione: além de fundador, ele é o responsável por
confeccionar os produtos ou prestar os serviços, cuida das nanças, do livro caixa,
das vendas e do marketing. É ele quem toma todas as decisões, desde a compra de
novas máquinas e equipamentos à forma como vai levantar recursos para a operação
do negócio e o que vai ser feito com o resultado obtido.

Conforme a empresa cresce ele percebe não ser mais viável que só uma pessoa tome
conta de tudo, e começa a trazer seus familiares (esposa, lhos, irmãos, etc.) para que
lhe ajudem, ou começa a contratar seus primeiros funcionários, para que cuidem de
áreas especí cas do negócio. A partir daí o fundador começa a perder (ou a dividir)
o poder de decisão, e também não tem mais controle absoluto sobre tudo o que acon-
tece na empresa. Seus familiares ou os empregados tomam algumas decisões sem

156 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


comunicá-lo, ele não consegue mais fazer o acompanhamento diário (ou até horário)
do caixa, e para tomar decisões mais importantes precisa consultar seus familiares e
funcionários, que também possuem interesse no futuro do negócio. Inicia-se a divi-
são de poderes e responsabilidades.

Torna-se então necessária a criação de alguns controles formais, para que as informa-
ções sejam transmitidas a quem delas precise e tem o direito de recebê-las. Passam a
ocorrer também reuniões periódicas para a tomada de decisões relevantes, nas quais são
ouvidas as opiniões dos envolvidos. O fundador delimita as alçadas de decisão de cada
uma das pessoas que trabalha no negócio, identi cando em que situações e até que va-
lores nanceiros elas podem tomar decisões sem consultar ou aguardar por sua aprova-
ção. Nesta fase são criados alguns controles internos e uma gestão mais compartilhada.

Aparece então uma oportunidade de ampliação do negócio, mas, sem ter os recursos
necessários, o empreendedor precisa buscar um nanciamento bancário. O banco
exige que ele aprimore sua contabilidade, e é contratado um contador e um auditor,
para preparar e scalizar as contas e demonstrações nanceiras da empresa. O nan-
ciador exige ainda receber periodicamente informações sobre o negócio e sua saúde
nanceira, e trimestralmente a empresa envia esses dados ao gerente da conta. Apri-
moram-se controles internos e adota-se a prática de auditoria dos números.

Vendo o sucesso do negócio, um amigo lhe propõe uma parceria e aporta uma boa
quantia de dinheiro na empresa em troca de parte da sociedade. Com estes recursos,
a empresa pode amortizar boa parte da dívida com o banco, mas o fundador tem que
abrir mão de uma parte dos lucros e também de seu poder de decisão. E a entrada de
um novo sócio amplia a divisão do poder decisório.

Empenhado em ver o negócio prosperar, ele aceita a parceria, capitaliza a empresa


e a torna mais apta para aproveitar boas oportunidades de negócios que surgem. As
decisões passam a ser compartilhadas entre os dois que, cansados de atuar no dia a
dia da organização, decidem pela contratação de um pro ssional externo para tocar
o negócio, enquanto eles se restringem a de nir as principais diretrizes estratégicas
para a empresa, um primeiro passo na separação entre propriedade e gestão.

Com a chegada da idade, e preocupados com o futuro de sua família, os dois sócios
começam a distribuir sua participação no negócio (ações ou quotas) para seus lhos.
De dois sócios a empresa passa a ter vários, e periodicamente todos se reúnem para
serem informados dos rumos do negócio e tomar decisões relevantes para a empresa.

Governança Corporativa 157


Instituem-se as primeiras assembleias de acionistas ou cotistas.

Os dois sócios iniciais continuam próximos do negócio, mas não atuando no dia a dia,
nem nas decisões operacionais, mas apenas aconselhando o pro ssional que gere o ne-
gócio. Eles percebem que precisam de outros conhecimentos para exercer melhor essa
função, e convidam outro empresário da cidade (especializado em algum assunto de
interesse da empresa) para contribuir no processo decisório, em troca de alguma remu-
neração, formando um pequeno conselho de administração para comandar a empresa.

Os negócios continuam prosperando e, para crescer, torna-se necessário captar mais


recursos, e em maior volume, motivo pelo qual os sócios decidem abrir o capital
da empresa. Esse processo é conhecido como Abertura de Capital, e será tratado de
forma detalhada no capítulo “Oferta Pública”. Com um maior número de sócios, a
empresa se vê compelida a adotar políticas de transparência, divulgação e a reforçar
as estruturas já montadas nas fases anteriores, para dar segurança aos seus investido-
res de que a mesma está sendo bem administrada.

5.2. Inst it ucionalização da Governança

Governança nada mais é do que um sistema de administração e exercício do poder


em organizações.

Como todo sistema, é composto de estruturas, relações, processos e um objetivo a


ser alcançado. Entre as estruturas de governança estão a assembleia de sócios (ou
reuniões de sócios), o conselho de administração e a diretoria. As relações referem-
se a toda a interface entre essas estruturas, enquanto os processos são a forma como
as atividades são desempenhadas, avaliadas e monitoradas. E o objetivo do sistema
é gerir a empresa ou organização da melhor forma possível, para que tenha maiores
chances de alcançar seus objetivos com sucesso e favorecer sua longevidade.

Numa de nição mais formal, podemos entender governança corporativa como “o


sistema pelo qual as organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envol-
vendo os relacionamentos entre proprietários, Conselho de Administração, Diretoria
e órgãos de controle”(IBGC, 2009, p. 19).

A necessidade de um sistema de governança estruturado surge conforme a empresa

158 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


vai cando maior e mais complexa, com o aumento do número de sócios, a impos-
sibilidade de assumirem todas as responsabilidades da condução do negócio e a
consequente contratação de executivos para gerir o dia a dia.

Quando incorporadas às leis, algumas práticas de governança corporativa tornam-


se obrigatórias para todas ou determinadas empresas atuantes onde essa legislação
é vigente. Outras práticas são exigidas como instrumentos de autorregulação, ou
seja, tornam-se obrigatórias para empresas que desejam fazer parte de um grupo,
por exemplo, o grupo de empresas com ações negociadas em bolsa de valores, su-
jeitas aos órgãos públicos reguladores e às normas de funcionamento da empresa
responsável pela negociação das ações. Contudo, em grande parte, as boas práticas
de governança corporativa são propostas sob forma de recomendações por organi-
zações nacionais e internacionais e por pesquisadores, podendo ser voluntariamente
adotadas nas empresas, bem como adaptadas a particularidades de suas trajetórias,
culturas e estratégias.

5.3. Origens do t ema Governança Corporat iva

Ao longo do século XX, a economia dos diferentes países tornou-se cada vez mais mar-
cada pelo processo de globalização e pelo crescimento das operações das grandes ins-
tituições nanceiras e de prestação de serviços, ao lado das atividades industriais. A
origem dos debates sobre governança corporativa está intrinsecamente ligada neste con-
texto à estrutura de propriedade dispersa de grandes empresas e da di culdade, nesses
casos, de garantir o alinhamento entre os interesses das empresas e os rumos da gestão.1

Como bem demonstra Paul Frentrop (2002), trata-se de uma preocupação bastante
antiga que já era objeto de re exões no século XVII, época das grandes navegações
protagonizadas pelas companhias de comerciantes estruturadas em ações. Mas as
discussões somente ganharam vulto no século XX, intensi cando-se à medida que
aumentava o papel do sistema nanceiro e do mercado de capitais.

O modelo de propriedade dispersa expandiu-se inicialmente nos Estados Unidos, de-


vido a aspectos econômicos, culturais e políticos. Deve-se ter em mente que, ao con-

1
Cf. MORCK, 2005.

Governança Corporativa 159


trário da grande maioria dos Estados que se envolveram na Primeira Grande Guerra
(1914-1918),2 este país viveu nos anos seguintes um momento de prosperidade econô-
mica, consolidando-se como potência mundial. Seu poder de in uência na época foi
evidenciado pelos efeitos da Grande Depressão 3 que, rapidamente, atingiu pratica-
mente todos os países do globo, ocasionando graves consequências políticas e sociais.

Durante os anos 30, após os efeitos mais severos da crise, novas grandes corpora-
ções continuaram surgindo nos Estados Unidos. Diferenciavam-se, contudo, da
maior parte das empresas que haviam prosperado nas décadas anteriores, nas mãos
de famílias ou de indivíduos que se tornaram mundialmente conhecidos: Du Pont,
Morgan, Rockfeller, entre outros. Na cultura empresarial predominante até este mo-
mento, os proprietários — um ou alguns indivíduos ou famílias — tinham o poder
sobre as decisões administrativas de suas empresas, frequentemente ocupando os
mais importantes cargos da gestão.

No país que continuaria, ao longo do século, a se rmar nas relações de força in-
ternacionais, o capitalismo demonstrava sinais de avanços rumo à complexidade.
A estrutura de propriedade dispersa, com ações negociadas no mercado de capitais
(bolsas de valores), tornava-se característica cada vez mais comum entre suas empre-
sas.4 Paulatinamente, esse tipo de controle passou a caracterizar empresas também
em outros países (SILVA, 2006, p. 5).

A partir do momento em que há um conjunto de vários sócios — ou acionistas —


a interferência direta pelos sócios nas decisões tornou-se impraticável, passando
frequentemente a ser privilégio de controladores majoritários que, a exemplo do
que ocorria nas empresas familiares, muitas vezes ocupavam a função de Presi-
dente do Conselho de Administração (Chairman) e o cargo de principal executivo
(ou CEO, Chief Executive O cer) ou optavam pela contratação de gestores pro s-
sionais para essa função (SILVA, 2006, p. 5).

Em 1976, Jensen e Meckling publicaram seus estudos, focados em empresas norte-a-


mericanas e britânicas, mencionando o que convencionaram chamar de problema de
agente-principal (que deu origem à Teoria da Firma ou Teoria do Agente-Principal).

2
Com a mobilização dos recursos nacionais para os esforços militares, as grandes perdas sofridas e as dívidas assumi-
das, enfrentaram nos anos seguintes sérias di culdades econômicas (Cf. HOBSBAWM, 2007).
3
Grande crise econômica que teve como marco principal a queda da bolsa de Nova Iorque (1929), causada basicamente
por um excesso de produção nos Estados Unidos em relação à capacidade para absorção (compra) de seus produtos pelo
mercado interno e externo, evidente desequilíbrio entre a oferta e a demanda (HOBSBAWM, 2007).
4
Essa estrutura de controle, na época, foi objeto de atenção de estudiosos como Berle e Means (1932).

160 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Segundo esses acadêmicos, o problema agente-principal surgia quando o sócio (prin-
cipal) contrata outra pessoa (agente) para que administre a empresa em seu lugar.

De acordo com a teoria desenvolvida, os executivos e conselheiros contratados pelos


acionistas tenderiam a agir de forma a maximizar seus benefícios (maiores salários,
maior estabilidade no emprego, mais poder, etc.), agindo em interesse próprio, e não
segundo os interesses da empresa e de todos os acionistas e demais partes interessa-
das (stakeholders) 5 . Para minimizar o problema, os autores sugeriram que as em-
presas e seus acionistas deveriam adotar uma série de medidas para alinhar inte-
resses dos envolvidos, objetivando, acima de tudo, o sucesso da empresa. Para tanto,
foram propostas medidas que incluíam práticas de monitoramento, controle e ampla
divulgação de informações. Anos depois, convencionou-se chamar esse conjunto de
práticas de governança corporativa.

As discussões envolvendo acadêmicos, investidores e legisladores, originando teo-


rias e marcos regulatórios, avolumaram-se nos anos 90, após os graves escândalos
contábeis na década anterior com diferentes empresas (IBGC, 2006, p. 59). Em 1992
foi publicado na Inglaterra o Relatório Cadbury, considerado o primeiro código de
boas práticas de governança corporativa.

No mesmo ano, foi divulgado o primeiro código de governança elaborado por uma
empresa, a General Motors (GM) nos Estados Unidos. Sintomas do mesmo movimento
são veri cados pouco depois nos resultados de uma pesquisa realizada por um Fundo
de Pensão denominado Calpers (California Public Employees Retirement System) nos
Estados Unidos, que constatou que mais da metade das 300 maiores companhias da-
quele país já tinham seus manuais de recomendações de governança corporativa6 .

As discussões internacionais foram fortalecidas pelas iniciativas da OCDE (Organiza-


ção para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) que criaram um fórum para
tratar especi camente sobre o tema, o Business Sector Advisory Group on Corporate
Governance. Diretrizes e princípios internacionais passam a ser considerados na ade-
quação de leis, na atuação de órgãos regulatórios e na elaboração de recomendações.

5
De acordo com o Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, “Partes interessadas são indivíduos ou
entidades que assumem algum tipo de risco, direto ou indireto, relacionado à atividade da organização. São elas, além
dos sócios, os empregados, clientes, fornecedores, credores, governo, comunidades do entorno das unidades operacio-
nais, entre outras” (IBGC, 2009, p. 54).
6
Linha do Tempo IBGC, disponível ao nal deste capítulo

Governança Corporativa 161


Na primeira década do século XXI, o tema governança corporativa tornou-se ainda
mais relevante, a partir de escândalos corporativos envolvendo empresas norte-
americanas como a Enron, a WorldCom e a Tyco, desencadeando discussões sobre
a divulgação de demonstrações nanceiras e o papel das empresas de auditoria. O
congresso norte-americano, pouco depois e em reação às fraudes ocorridas nestas
empresas, aprovou a Lei Sarbanes-Oxley (SOX), com importantes de nições sobre
práticas de governança corporativa.

Com o passar do tempo, veri cou-se que os investidores estavam dispostos a pagar
mais por empresas que adotavam boas práticas de governança corporativa e que tais
práticas não apenas favoreciam os interesses de seus proprietários, mas também a
longevidade das empresas.

5.4. Desenvolviment o da Governança no Brasil

No Brasil, as discussões sobre governança corporativa começaram em 1995, a partir


da criação de um instituto privado voltado especi camente para a temática. Inicial-
mente denominado Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA),
com sua denominação alterada em 1999 para Instituto Brasileiro de Governança
Corporativa (IBGC)7. Aos poucos, o IBGC tornou-se reconhecido nacional e inter-
nacionalmente, assumindo a liderança nos debates sobre questões de governança no
país e na América Latina (IBGC, 2006).

7
Inspirado no Institute of Director (IoD), do Reino Unido.

162 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa foi idealizado pelo administra-
dor de empresas sueco Bengt Hallqvist e o consultor João Bosco Lodi, que vislum-
bravam a necessidade da criação de um organismo destinado a colaborar com a
qualidade da alta gestão das organizações brasileiras. Essa foi a crença que levou
um grupo de 36 pessoas, entre empresários, conselheiros, executivos, consultores
e estudiosos, a fundar, em 27 de novembro de 1995, o Instituto Brasileiro de Con-
selheiros de Administração (IBCA). A ideia era fortalecer a atuação desse órgão de
supervisão e controle nas empresas. Com o passar do tempo, entretanto, as preo-
cupações se ampliaram para questões de propriedade, diretoria, conselho scal e
auditoria independente8.
Ainda na década de 90, o IBGC ofereceu o primeiro curso para a pro ssionalização
de conselheiros de administração e publicou o primeiro documento brasileiro com
diretrizes de governança corporativa: o “Código das Melhores Práticas de Gover-
nança Corporativa” (1999), que teve posteriormente outras três edições revistas e
atualizadas. Outras iniciativas foram criadas a partir disto, como a premiação de
estudos e reportagens sobre temáticas relacionadas e de empresas que adotam boas
práticas de governança, o programa de certi cação de conselheiros e a realização de
vários cursos, eventos, publicações e pesquisas.
Em 1999, o Instituto passou a se denominar Instituto Brasileiro de Governança Cor-
porativa (IBGC), e hoje é reconhecido nacional e internacionalmente como a princi-
pal referência na difusão das melhores práticas de Governança na América Latina.
Sua missão é “ser referência em governança corporativa, contribuindo para o de-
sempenho sustentável das organizações e in uenciando os agentes de nossa socieda-
de no sentido de maior transparência, justiça e responsabilidade”.

Algumas discussões sobre os direitos dos acionistas passavam a assumir na época


importância por causa de alguns eventos, entre eles a aquisição, em 1998, por meio
de oferta hostil9, sem tag along10, do controle das Lojas Renner pelo grupo JC Penney,
multado posteriormente pela CVM. Foram muitos os desa os enfrentados para a
difusão do tema, pois a cultura empresarial brasileira não se caracterizava por tradi-
ção no mercado de capitais e não era ainda dedicada expressiva atenção ao papel do
conselho de administração.

8
IBGC.Histórico. Disponível em www.ibgc.org.br
9
Aquisição de uma empresa por outra sem prévia negociação com a administração ou os acionistas, geralmente através
de transação em bolsa.
10
É um mecanismo de proteção que garante aos acionistas minoritários o direito de alienar suas ações por valor similar
àquele pago ao controlador em caso de alienação de ações realizada pelos controladores

Governança Corporativa 163


Como instrumento de autorregulação e incentivo ao mercado acionário, a BM&FBO-
VESPA não tardou em lançar segmentos diferenciados de governança corporativa. A
exemplo do que já havia sido feito em outros países, os segmentos diferenciados de
governança, lançados o cialmente em dezembro de 2000, exigiam patamares de go-
vernança corporativa mais rígidos do que os requeridos pela lei societária brasileira.
No âmbito legislativo, houve avanços com a reforma da Lei das S.A. principalmente
com a aprovação da Lei 10.303/2001.

5.5. A rel ação ent re Acionist as e Administ radores

A Sociedade por ações, um dos tipos de sociedades empresárias previstas pela le-
gislação brasileira, é regida pela Lei 6.404/76, que normatiza, entre muitos outros
aspectos, elementos do sistema de governança corporativa. Como exposto no ca-
pítulo “Companhias”, esse tipo de sociedade caracteriza-se pela divisão do capital
em partes de igual valor nominal — as ações — por meio das quais se materializa
a participação do acionista.

O interesse do governo federal ao acompanhar as sociedades por ações abertas está


relacionado com a proteção aos investidores e às partes interessadas. Nesse sentido,
a lei determina que a estrutura organizacional dessas empresas deva necessariamen-
te ser composta de: Assembleia Geral, Conselho de Administração (obrigatório em
companhias abertas e as de capital autorizado), Diretoria e Conselho Fiscal. Esses
órgãos têm, além das atribuições xadas na Lei das S.A., aquelas determinadas no
Estatuto Social da empresa.

Para abordar a relação entre proprietários (acionistas) e a administração das empre-


sas, cabe nesse momento recapitular os tipos de acionistas presentes no mercado e o
seu poder de in uência nas companhias:

. Acionista majoritário: é um indivíduo ou um grupo que detém o controle


acionário de uma companhia, garantido por meio da propriedade de mais da
metade das ações ordinárias (ON) — ações com direito a voto. Detém, com isso,
o controle administrativo da empresa.

. Acionista controlador: é a pessoa física ou jurídica que não necessariamen-


te possui mais da metade das ações ordinárias da companhia, mas detém ações

164 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


em proporção que lhes assegurem, de modo permanente, a maioria dos votos
nas deliberações da assembleia geral, inclusive para a eleição dos administrado-
res. Também são considerados acionistas controladores aqueles que, por meio de
acordo de acionistas, detêm conjuntamente a maioria dos votos.

. Acionista minoritário: é o detentor de ações ordinárias de uma empresa,


em proporção que não lhe permita o controle acionário e, consequentemente, o
controle administrativo da empresa. Também é considerado acionista minoritário
aquele que detém ações preferenciais (PN) sem direito a voto, em qualquer número.

Cabe expor algumas informações sobre a relação entre proprietário e administração


de uma sociedade anônima, destacando os papéis da Assembleia Geral (ou Reunião
de Sócios) e do Conselho de Administração.

Conforme a Lei das S.A., a Assembleia Geral, convocada e instalada, tem poderes
para decidir todos os negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as resoluções
que julgar convenientes à sua defesa e desenvolvimento. O Artigo 122 dispõe que com-
pete privativamente à Assembleia Geral:

. reformar o estatuto social;

. eleger ou destituir, a qualquer tempo, os administradores e scais da com-


panhia, ressalvado o disposto no inciso II do art. 142;

. tomar, anualmente, as contas dos administradores e deliberar sobre as de-


monstrações nanceiras por eles apresentadas;

. autorizar a emissão de debêntures, ressalvado o disposto nos §§ 1o, 2o e


4o do art. 59;

. suspender o exercício dos direitos do acionista (art. 120);

. deliberar sobre a avaliação de bens com que o acionista concorrer para a


formação do capital social;

. autorizar a emissão de partes bene ciárias;

. deliberar sobre transformação, fusão, incorporação e cisão da compa-


nhia, sua dissolução e liquidação, eleger e destituir liquidantes e julgar-lhes
as contas; e

Governança Corporativa 165


. autorizar os administradores a confessar falência e pedir concordata.

A pergunta sobre quem são os administradores nos termos da lei brasileira não apre-
senta resposta simples. A administração das sociedades por ações compete ao conse-
lho de administração e à diretoria ou só à diretoria, naquelas em que o Conselho não
é obrigatório ou que não tiver sido constituído11.

Cabe à Assembleia Geral eleger os conselheiros e aos conselheiros eleger os diretores.


Nas companhias onde o Conselho não foi constituído, os diretores são eleitos direta-
mente pela Assembleia. Assim, quando menciona os administradores, a lei refere-se
aos conselheiros e diretores eleitos, conforme previsto no Estatuto Social.

A Assembleia Geral ou a Reunião do Conselho que eleger administradores deve obe-


decer a determinados requisitos legais e estatutários quanto à sua convocação, ins-
talação e deliberação, sendo dever do administrador eleito certi car-se de que esses
requisitos legais foram observados.

O Conselho de Administração é encarado como guardião do objeto social e do sis-


tema de governança, com poderes para decidir os rumos do negócio, conforme os
interesses da organização. De acordo com a Lei, os conselheiros são eleitos em As-
sembleia, cabendo aos acionistas controladores o direito de eleger a maioria deles,
sendo assegurado aos minoritários, com participação relevante, o direito de eleger
um membro ou mais e seus suplentes. Uma vez eleito, o conselho presta contas à Assem-
bleia, reportando atos da administração da companhia.

Como órgão deliberativo colegiado, o Conselho atua por meio de reunião devidamente
convocada, da qual resultam deliberações sobre as matérias constantes da pauta. Com-
pete ao Conselho, conforme a Lei das S.A.:

. xar a orientação geral dos negócios da Companhia;

. eleger e destituir os diretores da Companhia e xar-lhes as atribuições, obser-


vado o que a respeito dispuser o Estatuto;

. scalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e pa-


péis da Companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de

11
Nos termos da Lei das S.A., o Conselho de Administração é obrigatório nas sociedades por ações de capital aberto,
nas de capital autorizado e nas de economia mista.

166 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


celebração e quaisquer outros atos;

. convocar a Assembleia Geral Ordinária, nos quatro primeiros meses seguin-


tes ao término do exercício social e outras assembleias quando julgar conveniente;

. manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da Diretoria;

. manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o Estatuto


assim o exigir;

. deliberar, quando autorizado pelo Estatuto, sobre a emissão de ações ou de


bônus de subscrição;

. autorizar, se o Estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do


ativo não circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias e
obrigações de terceiros; e

. escolher e destituir os auditores independentes, se houver.

Os diretores são responsáveis pela gestão e representação ativa e passiva da Compa-


nhia, com o poder de assinar contratos, cheques e outros documentos. O Estatuto pode
ainda estabelecer que determinadas decisões sejam tomadas em Reunião da Diretoria ou
mesmo impor que determinados atos somente possam ser praticados por esta, se previa-
mente aprovados pelo Conselho ou Assembleia.

5.6. Princípios de Governança Corporat iva

Ainda que existam normas impostas por instituições nanciadoras, órgãos reguladores,
bolsas de valores e legislações, a adoção de grande parte das boas práticas de governança
corporativa é voluntária, ou seja, cabe às empresas a decisão de incorporar ou não as
recomendações elaboradas. Além disso, as recomendações de boas práticas desenvol-
vidas nacional e internacionalmente passaram a ser voltadas não apenas a empresas de
propriedade dispersa, mas a empresas familiares e a organizações de naturezas diversas.

As recomendações dos diversos códigos de governança costumam basear-se em prin-


cípios. No Brasil, o código mais reconhecido é o Código das Melhores Práticas de Go-
vernança Corporativa do IBGC, que se norteia por quatro princípios: transparência,

Governança Corporativa 167


equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa.

5.6.1. Transparência

Mais do que a obrigação de informar, o principio da transparência é o desejo de dis-


ponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e
não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. A adequada
transparência resulta em um clima de con ança, tanto internamente quanto nas re-
lações da organização com terceiros. Não deve restringir-se ao desempenho econô-
mico- nanceiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que
norteiam a ação gerencial e que conduzem a criação de valor.

As organizações que baseiam suas ações na transparência propiciam a todos os in-


teressados uma maior aproximação ao seu negócio, seja para investidores ou para
clientes, passando pela atração e retenção de talentos.

A título de exemplo, no Brasil as empresas de capital aberto, através da diretoria de Rela-


ções com Investidores e do Formulário de Referência, instituído pela Instrução CVM nº
480, proporcionam uma maior clareza de suas ações e atividades desenvolvidas, sejam
elas de caráter apenas nanceiro ou incluindo informações de cunho social e ambiental.

5.6.2. Equidade

Caracteriza-se pelo tratamento justo de todos os sócios e demais partes interessadas


(stakeholders). Nas empresas, independentemente das formas de controle e das carac-
terísticas do controlador (estatal, familiar, institucional, etc.), é recomendável que haja
tratamento equânime entre todos os cotistas, seja no conhecimento de informações
importantes para a tomada de decisões, seja nos benefícios ao conjunto de stakeholders.

5.6.3. Prest ação de Contas (Accountabilit y)

Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação, assumindo integral-


mente as consequências de seus atos e omissões.

5.6.4. Responsabilidade Corporat iva

Os agentes de governança devem zelar pela sustentabilidade das organizações, visan-


do a sua longevidade, incorporando considerações de ordem social e ambiental na
de nição dos negócios e operações.

168 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O resultado da empresa não deve basear-se apenas no seu retorno nanceiro. O foco
das ações da empresa deve se pautar na preservação de seu valor como organização,
levando em conta as externalidades — efeitos positivos ou negativos sobre terceiros
— e a in uência na sociedade como um todo.

É natural dentro de empresas que os acionistas, principalmente os majoritários e inves-


tidores institucionais, in uenciem a tomada de decisão do Conselheiro de Administra-
ção buscando a defesa de seus interesses na organização. Porém, o princípio da respon-
sabilidade corporativa indica que o administrador deve tomar suas decisões sempre
pensando na perenidade da empresa, preservando seu valor e os benefícios para todos
os envolvidos com a organização.

Um bom exemplo de Responsabilidade Corporativa são as ações desenvolvidas


pelas empresas para a obtenção de matérias primas para seus produtos sem, no
entanto, destruir ou exaurir os recursos naturais ou prejudicar aspectos sociais
das comunidades onde atua.

Implementação das Melhores Práticas

Os princípios da governança são a base das práticas que podem ser aplicadas por
qualquer organização, independente do porte, natureza jurídica ou tipo de controle.

O conhecimento dos princípios pode tornar-se instrumento útil nas organizações ao


embasar as decisões tomadas quando existirem dúvidas sobre qual caminho seguir
na adoção das boas práticas.

5.7. O Sist ema de Governança Corporat iva

A figura abaixo representa o sistema de governança corporativa ideal e seus


agentes, conforme as recomendações do Código das Melhores Práticas de Go-
vernança Corporativa (IBGC, 2009):

Governança Corporativa 169


Figura 1 – O sistema de governança corporativa

Os sócios ou a assembleia de acionistas são a instância máxima de decisão dentro da


organização. São eles que escolhem e destituem os membros do conselho de adminis-
tração. Em empresas familiares pode ser criado o conselho de família, que irá discu-
tir as questões relativas à família, de forma a separá-las das questões da empresa.

O conselho de administração, de acordo com a legislação brasileira e segundo o Có-


digo das Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC, é considerado o
principal componente do sistema de governança, exercendo o papel de órgão máxi-
mo na xação das diretrizes da companhia.

Em linhas gerais, é ele quem decide o rumo do negócio, sendo responsável por seu di-
recionamento estratégico e pela escolha, orientação e pelo monitoramento dos execu-
tivos. Para questões que demandem um maior aprofundamento de temas especí cos,
o conselho pode fazer uso de comitês para colaborar na e ciência de sua atuação12.

Os executivos ou diretores são responsáveis pela gestão do negócio. São eles que ope-

12
De acordo com Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, “Comitês são órgãos assessórios ao Con-
selho de Administração. Sua existência não implica a delegação de responsabilidades que competem ao Conselho de
Administração como um todo” (IBGC, 2009, p. 43). Podendo constar do estatuto ou não, consistem em grupos de
estudos formados por conselheiros (e convidados, se necessário) que avaliam temas em profundidade e elaboram reco-
mendações com o intuito de fundamentar decisões posteriores do conselho pleno.

170 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


racionalizam e executam as diretrizes estratégicas traçadas pelo conselho, a quem
devem prestar contas de sua atuação. São responsáveis pelo relacionamento com os
diversos públicos que são impactados ou impactam a atuação da companhia.

Conselho scal e auditoria independente são órgãos de controle. O primeiro veri-


ca se conselheiros e executivos estão atuando de forma a cumprir seus deveres e
responsabilidades, enquanto o segundo visa atestar se as demonstrações nanceiras
apresentadas pela empresa re etem, de fato, a realidade constatada na companhia.

5.8. O Consel ho de Administ ração

O conselho de administração, elo entre os sócios e a gestão, é o órgão responsável por


estabelecer as diretrizes da organização e tem o dever de zelar por sua longevidade. Por
este motivo, suas atribuições referem-se a assuntos estratégicos e de monitoramento.

A de nição de quais assuntos são estratégicos e, portanto, da alçada do conselho de ad-


ministração, depende da evolução dos negócios da organização. A compreensão cor-
rente, presente no Código das Melhores Práticas do IBGC, é que entre os assuntos de
responsabilidade do conselho estão estratégia, estrutura de capital, apetite e tolerân-
cia a risco, fusões e aquisições e política de gestão de pessoas (IBGC, 2009, p. 30).

Os quatro macro-temas que serão vistos a seguir (gestão de riscos, recursos huma-
nos, estratégia e estrutura de capital) resumem os aspectos das organizações que são
cruciais para seu bom desenvolvimento e, portanto, requerem envolvimento direto
do conselho de administração. Outros assuntos que merecem destaque são o acom-
panhamento pelo Conselho das práticas de governança adotadas, dentro do seu papel
de guardiões da boa governança e a preocupação com con itos de interesse, que
devem ser endereçados pelas organizações em seus códigos de conduta.

5.8.1. Gestão de Riscos

O tema de gestão de riscos é relevante para a governança corporativa, pois as inicia-


tivas nesse sentido contribuem para a longevidade das organizações, de acordo com
seus objetivos estatutários e estratégicos (IBGC, 2007, p. 10).

Em 2008, durante a crise nanceira internacional, o Brasil foi palco de diversos casos

Governança Corporativa 171


envolvendo empresas com ações negociadas em bolsa de valores que apresentaram di-
culdades nanceiras decorrentes da excessiva exposição a riscos. Assim como casos
semelhantes ocorridos em outros países, chamaram atenção para a importância da ges-
tão de riscos para preservação das organizações.

Os riscos são inerentes à atividade de negócios e devem ser devidamente gerenciados


pelas organizações para subsidiar a tomada de decisão pelos administradores (IBGC,
2007, p. 11). Veri cando a importância da gestão de riscos para a condução dos negó-
cios da companhia, o Código das Melhores Práticas do IBGC recomenda:

“O conselho de administração deve assegurar-se de que a Diretoria identi ca preven-


tivamente – por meio de um sistema de informações adequado – e lista os principais
riscos aos quais a organização está exposta, além de sua probabilidade de ocorrência,
a exposição nanceira consolidada a esses riscos (considerando sua probabilidade de
ocorrência, o impacto nanceiro potencial e os aspectos intangíveis) e as medidas e
os procedimentos adotados para sua prevenção ou mitigação”. (IBGC, 2009, pág. 31)

O conselho de administração, para lograr que a diretoria identi que os riscos pre-
ventivamente, deve agir de forma proativa através de questionamentos e da requisi-
ção de implantação de sistemas.

5.8.2. Estratégia

O código do IBGC recomenda que o conselho deve traçar as diretrizes estratégicas da


organização, deixando o detalhamento e a implementação para os gestores.

A participação ativa do conselho de administração é fundamental na de nição a res-


peito do que se espera do futuro da organização.

Essas diretrizes devem ser repassadas para que a gestão elabore o detalhamento da
estratégia a ser aprovado pelo conselho de administração e, posteriormente, por ele
monitorado.

Mesmo com a estratégia já em execução, o conselho de administração deve estar atento


para eventuais correções de rumo ou necessidade de alteração do plano traçado ante-
riormente, considerando qualquer mudança que tenha impacto signi cativo no negócio.

172 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


5.8.3. Gestão de pessoas

O conselho deve, diretamente ou através de comitês:

. Examinar critérios para contratação e demissão de executivos;

. Avaliar políticas de recursos humanos existentes;

. Avaliar pacotes de remuneração e se o modelo de remuneração prevê mecanis-


mos para alinhar interesse dos administradores aos da organização;

. Analisar mecanismos de remuneração de conselheiros, propondo ao con-


selho os valores para o período, que serão aprovados pela assembleia de sócios;

. Avaliar e supervisionar as práticas e processos de sucessão em todos os ní-


veis da organização;

. Acompanhar com detalhe a sucessão do diretor presidente;

. Apoiar o presidente do conselho da administração na elaboração e revisão


do processo de avaliação anual dos executivos13.

Dada a importância do tema de pessoas para a governança, o Código do IBGC consi-


dera a criação do comitê de recursos humanos (IBGC, 2009, pag. 46).

5.8.4. Estrutura de capital

Como mencionado anteriormente, há fragmentos da Lei das S.A. que estabelecem


responsabilidades do conselho de administração relativas à estrutura de capital das
empresas. Tais temáticas estão relacionadas ao crescimento e preservação da com-
panhia, à medida que propicia sua sustentabilidade nanceira. Além da estrutura
de capital ideal de uma empresa e as decisões para que se mantenha seu patamar
ótimo, as fusões e aquisições são temas frequentes para o ambiente empresarial
mundial, especialmente o brasileiro.

13
Para maiores detalhes sobre sucessão, avaliação e remuneração de conselheiros de administração e diretor presiden-
te, Cf. IBGC, 2011.

Governança Corporativa 173


5.9. Governança, st akehol ders e sust ent abilidade

As questões de governança corporativa, em constante adequação a preocupações


construídas ao longo dos processos políticos, econômicos, culturais e sociais das úl-
timas décadas, passaram, cada vez mais, a incorporar princípios valorizados pela so-
ciedade na conduta individual e coletiva — por exemplo, a transparência, o respeito
ao meio ambiente e a preocupação com aspectos sociais. Enquanto isso, a realidade
do mercado de capitais elevou o patamar das exigências feitas às organizações no
tratamento da governança corporativa, gerando, consequentemente, uma mudança
nos múltiplos relacionamentos e competências para sua administração e preservação.
Neste sentido, a organização — uma entidade que se relaciona com vários agentes
— torna-se objeto de diferentes demandas, que contemplam interesses de sócios e
demais partes interessadas, os stakeholders.

Administradores, gestores, fornecedores, funcionários, comunidade e governo inte-


gram estes múltiplos relacionamentos para os quais os princípios de governança, sobre-
tudo a responsabilidade corporativa, contribuem para assegurar um clima de con ança,
evitando um desequilíbrio no atendimento dos interesses do conjunto de stakeholders.

A evolução das relações econômicas e do ambiente organizacional nos diferentes pa-


íses promoveu, no entanto, mudanças signi cativas no relacionamento entre empre-
sas e stakeholders. Se por um lado, os fatores econômico- nanceiros ganham cada
vez mais destaque na agenda política dos Estados, justamente pela elevada capacida-
de de in uenciar os ritmos de desenvolvimento dos países, crescem, por outro lado,
ações e programas que ampliam o entendimento sobre o papel e as responsabilidades
da empresa e, mais ainda, sobre as partes relacionadas à atividade da organização.

Conforme argumenta Almeida (2003, 25), a moderna empresa passou a incluir em


seus cálculos organizacionais agentes econômicos e partes interessadas sem uma re-
lação clara e imediata com a geração de valor para o acionista.

Para esta nova realidade, em que aspectos de ordem socioambiental, política e -


lantrópica integram as responsabilidades da organização, as boas práticas de gover-
nança assumem grande importância. Para além de oferecer referências de modo a
alinhar interesses com a nalidade de preservar o valor da organização, a governança
corporativa contempla necessariamente a demanda do conjunto de stakeholders que
dependem da longevidade e perenidade das corporações, sejam eles investidores, em-

174 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


pregadores, consumidores, fornecedores, comunidades locais ou governo.

No Brasil, os stakeholders dispõem de mecanismos e instrumentos de governança


corporativa que asseguram sistemas mais bem estruturados e formalizados, con-
tribuindo para a formação de um ambiente organizacional mais transparente, cuja
nalidade é preservar e otimizar o valor da organização. O Código das Melhores Prá-
ticas de Governança Corporativa do IBGC, bem como a reforma da Lei nº 6.404/76
(Lei das Sociedades por Ações), publicada em outubro de 2001, e a criação dos níveis
diferenciados de governança pela BM&FBOVESPA representaram grande impulso
para o ambiente organizacional por reforçar alguns atributos essenciais no relacio-
namento com as partes interessadas, entre os quais: transparência, equidade e, mais
recentemente, a sustentabilidade.

5.10. Sust ent abilidade Empresarial

Nos anos 1980, sustentabilidade foi inicialmente de nida como o processo de “sa-
tisfazer as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações
futuras suprirem suas próprias necessidades” (Relatório Brundtland/ONU). Décadas
mais tarde, ao adotar tal conceito, as organizações incorporaram o triplo alicerce
econômico- nanceiro, social e ambiental à sua estrutura (tripple bottom-line), caben-
do aos administradores a responsabilidade de integrá-lo à estratégia de negócios, por
cujo processo de implementação os gestores devem responder.

Neste sentido, os aspectos intangíveis (ou não nanceiros) como goodwill, marca,
reputação, respeito ao meio ambiente, aos direitos humanos, entre outros, tornaram-
se temas relevantes para as organizações. A partir de diferentes motivações, a Res-
ponsabilidade Corporativa, um dos princípios básicos da governança corporativa,
ganhou relevância, envolvendo noções de longo prazo e impactos globais.

Conforme argumenta Carlos Eduardo Lessa Brandão (2006, 87-88), tais temas têm o
potencial de afetar o ambiente de negócios das empresas, pois estão intimamente liga-
dos ao comportamento de acionistas, clientes, fornecedores, funcionários, legisladores
e comunidades ligadas direta ou indiretamente às atividades da empresa, as chamadas
partes interessadas (stakeholders). Trata-se, portanto, de um entendimento mais abran-
gente dos aspectos que interferem na estratégia de negócios da organização.

Governança Corporativa 175


No plano internacional, uma das primeiras propostas da Organização das Nações
Unidas (ONU) tratando do tema responsabilidade social corporativa foi o Pacto
Global, em 2000. Ainda sob âmbito da ONU, em 2002, a Carta da Terra buscou
a mesma abrangência da Declaração Universal dos Direitos Humanos no que se
refere à sustentabilidade, equidade e justiça.

No Brasil, país importante no cenário internacional sobre meio ambiente e desenvol-


vimento sustentável, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa re etiu a cres-
cente atenção aos aspectos de ordem social e ambiental da agenda contemporânea. O
alinhamento das organizações com as questões de sustentabilidade foi de nido como
agenda temática de 2007, que culminou com o congresso anual sobre o assunto e foi
objeto da publicação, no mesmo ano, do Guia de Sustentabilidade para as Empre-
sas. Em 2009, a publicação A Prática da Sustentabilidade, da série Experiências em
Governança Corporativa, buscou apresentar a experiência dos diferentes agentes da
governança corporativa com o desempenho sustentável das organizações.

Em 2012, o Brasil foi sede da Con ferência das Nações Unidas sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Na opor tun idade, a exemplo
de outras iniciativas de governança corporativa 14 , as diversas entidades e par-
ticipantes do mercado de capitais brasileiro demonstraram estar alinhados com os
temas de sustentabilidade, dos quais são ilustrativos:

. a criação, pela Comissão de Valores Mobiliários, de categoria no Sistema de


Envio de Informações Periódicas e Eventuais - IPE para o arquivamento de “Relató-
rio de Sustentabilidade”;

. a proposta da BM&FBovespa de adoção ao modelo “relate ou explique” para


relatórios de sustentabilidade ou similares;

. a recomendação do Código Abrasca no sentido da divulgação de um relató-


rio de sustentabilidade.

14
A BM&FBOVESPA, em conjunto com várias instituições – ABRAPP, ANBIMA, APIMEC, IBGC, IFC, Instituto
ETHOS e Ministério do Meio Ambiente – decidiram unir esforços para criar um índice de ações que seja um referen-
cial (“benchmark”) para os investimentos socialmente responsáveis, o ISE - Índice de Sustentabilidade Empresarial.
(Disponível em: www.bm ovespa.com.br).

A este esforço soma-se a iniciativa de uma parcela signi cativa dos fundos de pensão brasileiros que adotam em seus
investimentos os Princípios do Investimento Responsável (PRI), onde rea rmam o compromisso com a perenidade das
empresas onde investem.

176 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A experiência recente atesta o adensamento de um modelo que tem como base não
apenas o aspecto econômico- nanceiro (single bottom-line), mas também os aspectos
sociais e ambientais de forma integrada. Trata-se de adotar um plano de gestão que
se de ne pela relação ética com todos os stakeholders com os quais a organização se
relaciona, bem como investir no aperfeiçoamento das ferramentas de administração
e no desenvolvimento pro ssional dos diversos agentes da governança.

Uma vez que a extensão das responsabilidades corporativas ampliaram as fron-


teiras da governança, novas demandas passaram a integrar as estratégias de de-
senvolvimento das empresas. Nesse sentido, um posicionamento mais consistente
relacionado às questões ambientais e sociais passou a corresponder tanto à maxi-
mização do valor da empresa quanto a um gerenciamento eficaz das vulnerabili-
dades e dos riscos corporativos.

Sujeitas a uma nova realidade econômica, social e ambiental, as organizações deve-


rão estabelecer metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade. Para tanto, a adoção das boas práticas de governança corporativa poderá
afetar decisivamente as chances de as empresas satisfazerem as demandas legítimas de
todas as partes interessadas.

Deste modo, a despeito dos rigorosos padrões de governança corporativa no que


tange demonstrações contábeis e transparência nas informações das organizações,
é a partir do despertar para a responsabilidade corporativa, via estratégias para
o desenvolvimento de longo prazo, que as práticas de sustentabilidade poderão
garantir as expectativas dos sócios e demais stakeholders.

Governança Corporativa 177


5.11. Linha do Tempo

Marcos do ambiente regulatório de governança corporativa:

ANO NO MUNDO NO BRASIL

1992 Publicação do Rel at ório Cadbury (Ingl at erra)

Fundação do Inst it ut o Brasileiro de Conse-


1995 Publicação do Rel at ório Vienot (França)
lheiros de Administ ração (IBCA)

Criação Neuer Markt da Bol sa de Frankf ur t


(Alemanha) Ap r ov ação da Lei 9 .4 57, ref or mand o
1997 a Lei das Soci ed ades Anôni mas (Lei
Publicação de rel at ório da Federação Japo- 6 .4 0 4 / 1976)
nesa das Organizações Econômicas (Japão)

Publicação do rel at ório Combined Code


(Ingl at erra)

Publicação do document o Os Princípios


Cr iação do f undo Dynamo Puma no progra-
1998 de Governança Corporat iva - Uma Visão
ma de Val or e Li quidez do BNDESPar
Japonesa(Japão)

Criação do Business Sect or Advisory Group


on Corporat e Governance pel a OCDE

Nova denominação do IBCA, que passou


a se chamar IBGC (Inst it ut o Brasil eiro de
Governança Corporat iva)
Publicação do código Principl es of Corporat e
1999 Governance (OCDE) Lançament o do Código das Melhores Prát icas
de Governança Corporat iva, pelo IBGC

Lançament o da Inst rução 299 da CVM

Realização do 1° Congresso Brasileiro de Go-


vernança Corporat iva, pelo IBGC
Mesa redonda para discut ir quest ões de Go-
2000 vernança na América Lat ina (Brasil)
Lançament o na Bovespa dos segment os
Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado

Criação pela Bovespa do Índice de Governança


Corporat iva (IGC)

Ref orma da Lei das S.A., com a Lei


2001 Revisão do código da OCDE 10.303/ 2001

Lançament o da segunda edição do Código


das Mel hores Prát icas de Governança Corpo-
rat iva, pelo IBGC

178 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Aprovação da Lei Sarbanes-Oxley – SOX
(EUA) Lançament o da car t il ha Recomendações da
CVM sobre Governança Corporat iva, volt ada
Edição de normas complement ares pel a para as companhias aber t as
2002
Securit ies and Exchange Commission (SEC)
a aprovação pel a Bol sa de Valores de Nova Lançament o das inst ruções 358 e 361 da
York de novos requisit os de governança CVM
corporat iva (EUA)

Primeira edição do Prêmio IBGC de


Monograƥas.
Anúncio pel a Nasdaq de normas semel hant es
às da Bol sa de Nova Iorque (EUA)
Lançamento da pesquisa Panorama At ual
2003 da Governança Corporat iva no Brasil (IBGC /
Lançament o do Higgs Report e do Revised
Combined Code, e sujeição das empresas à Booz Allen Hamilt on)
regra do “ comply or expl ain” (Ingl at erra)
Lançament o da i nst rução 3 81 pel a CVM

Criação do Círcul o de Companhias, pel a


OCDE
Lançament o da t er cei ra edi ção do Códi go
2004 Criação de índice int ernacional de Governan- das Mel hores Prát i cas de Gover nança Cor-
ça pel a FTSE e ISS porat i va, pel o IBGC

Criação da Lei AASB 1046 (Aust rália)

Lançament o de diret rizes de boa governança


para empresas de cont role est at al pel a
OCDE 1ª edição do Prêmio IBGC de Governança
2005 Corporat iva.
Lançament o do Global Corporat e Governance
Principles da ICGN (EUA)

Segunda revisão do Combined Code Primeira edição do Prêmio IBGC/ It aú de


(Ingl at erra) Jornalismo
2006
Lançament o do guia Execut ive Remunerat ion Ampliação das regras para os níveis
Guidelines pel a ICGN (EUA) dif erenciados de list agem da Bovespa

Lançament o do guia St at ement of Principles


2007 on Inst it ut ional Shareholder Responsibilit ies,
pel a ICGN (EUA)

Lançament o da Car t a Diret riz 1: Indepen-


dência dos Conselheiros de Administ ração
2008 – Melhores Prát icas e o Art igo 118 da Lei das
Sociedades Anônimas, pelo IBGC

Publicação da quar t a edição do Código das


Conquist a de Prêmio Nobel por Ost rom e Melhores Prát icas de Governança Corpora-
2009 Williamson, com est udos rel acionados à go- t iva, pel o IBGC
vernança
Lançament o da i nst rução 4 8 0 da CVM

IBGC. Histórico. Disponível em: www.ibgc.org.br

Governança Corporativa 179


180 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
6. Rel ações com Invest idores

As Relações com Investidores podem ser de nidas como parte da administração estra-
tégica de uma companhia, uma vez que envolvem atividades em que a comunicação irá
contribuir positivamente para a justa avaliação da companhia. O executivo de Relações
com Investidores (RI) é responsável por uma comunicação de mão dupla, pois fornece
ao mercado e entidades legisladoras e scalizadoras informações sobre dados históricos
e perspectivas da companhia, bem como informa à alta administração da companhia a
percepção e as demandas das partes interessadas em relação à companhia.

Os objetivos do departamento de RI podem ser resumidos de maneira relativamente


simples: fornecer boa informação para analistas e investidores, ampliar e cativar a base
acionária, identi cando os investidores mais adequados ao per l da companhia, mol-
dar a mensagem da companhia de uma forma que claramente represente seu valor e en-
viar informações quali cadas sobre as respostas do mercado para a alta administração.

Embora essas metas sejam relativamente simples de listar, os meios para atingi-las
podem ser complexos, requerendo vários tipos de recursos analíticos e estratégias de
comunicação. O RI, portanto, é um meio de acesso às informações estratégicas, tanto
do lado dos investidores quanto da companhia.

O programa de RI deve ser elaborado e executado sempre a partir de um conhe-


cimento profundo do setor e da organização. Deve, ainda, prestar atendimento a
todo o universo de públicos estratégicos e contar, internamente, com informações
relativas às principais questões que surjam no dia a dia da vida societária.

O leque de ações é extenso e vai desde explicações para justi car critérios de avaliação
de um determinado ativo contábil até informações detalhadas sobre estratégias de
parceria no mercado, passando pelas questões regulatórias e direitos dos acionistas.
Assim, o pro ssional de RI precisa estar muito bem informado. Ele deve conhecer as
estratégias e entender do setor e da legislação pertinente para informar aos agentes
do mercado de capitais, que demandam, entre outras, informações mais detalhadas
sobre o desempenho das companhias e níveis de transparência e equidade.

Dessa forma, as áreas de RI devem estruturar-se para acompanhar as exigências do


mercado, que as obrigam a ir além de itens econômicos, nanceiros, contábeis e regis-
tros gerenciais de produção e comércio. Companhias que dão real valor ao mercado
são pró-ativas em suas ações de RI, estão sempre munidas de bons estudos de targeting

182 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


de investidores atuais e potenciais, antecipam as demandas do mercado e “vendem-se”
para os investidores exatamente como são, conseguindo eliminar as lacunas entre seu
valor justo e o preço em bolsa.

Uma área de RI bem estruturada contribui para integrar as diversas áreas de ati-
vidade da companhia, uma vez que precisa promover uma cultura especí ca de
difusão da informação para todos os públicos estratégicos, inclusive o interno.

Conforme assume suas diretrizes de modo consistente e contínuo, o trabalho de RI


permite que todas as medidas adotadas pela companhia sejam facilmente compreen-
didas pelos investidores e todos os demais públicos envolvidos. Isso promove maior
percepção de segurança em relação à estratégia adotada e ao desempenho da compa-
nhia no longo prazo, o que contribui para agregar valor às ações.

Ao mesmo tempo, funciona como um termômetro do mercado para a alta direção da


companhia, agilizando o acompanhamento das demandas e das perspectivas de inves-
tidores, analistas, imprensa e de outros públicos estratégicos.

6.1. A At ividade de Rel ações com Invest idores

A evolução da área de Relações com Investidores acompanha a crescente relevância


que o mercado de capitais tem exercido na agenda econômica do País. Ela integra um
movimento que já valorizou a área de RI nas companhias em boa parte do mundo e
tem feito com que as companhias brasileiras também ampliem o espaço ocupado por
essa atividade dentro de sua estrutura.

Cabe ao pro ssional de RI atuar simultaneamente em dois sentidos: levando infor-


mações da companhia para seus públicos estratégicos e trazendo para a companhia
o necessário retorno (feedback) que irá mostrar as demandas e necessidades desses
públicos. O resultado desse trabalho é o aperfeiçoamento das práticas internas e o
melhor atendimento das solicitações do mercado.

Sua e cácia depende, em primeiro lugar, da criação e da disseminação da cultura


da companhia de capital aberto junto ao público interno da companhia, desde a alta
administração até o “chão de fábrica” ou seu equivalente fora da área industrial, pas-

Relações com Investidores 183


sando também pelos clientes, consumidores, parceiros e fornecedores terceirizados.

Determinar objetivos estratégicos e, com base nesse planejamento, estabelecer o


tamanho e o status da área de RI dentro da companhia são os passos necessários
para as companhias que chegam ao mercado. Para as que já estão presentes, a rea-
valiação constante de metas e resultados de RI é vital, até porque um programa bem
desenhado no passado pode car defasado diante das novas realidades do mercado,
das eventuais alterações na forma de inserção da companhia junto à comunidade de
investidores, do incessante crescimento dos recursos tecnológicos e conhecimento
humano que surgem a cada ano.

Assim como em outras áreas estratégicas dentro da companhia, a atualização e o apri-


moramento em RI podem signi car um grande diferencial para a reputação corporati-
va da companhia aberta. Isso contribui para que o programa de RI possa esclarecer os
eventuais “ruídos” de comunicação entre a organização e seus diversos públicos.

6.1.1. O papel dentro da companhia

Ao mesmo tempo em que aumenta a percepção das companhias a respeito da im-


portância do mercado de capitais e da adoção dos melhores padrões de governança
corporativa, cresce o papel estratégico e a responsabilidade do RI dentro da estrutura
da companhia, com espaço próprio na gestão e buscando patamares diferenciados de
atuação. O trabalho de Relações com Investidores mudou de per l e já está presente
nas mesas da alta administração de boa parte das companhias abertas brasileiras.

O RI deve considerar investidores e analistas seu alvo de mercado e trabalhar para


conquistar sua con ança. Como num programa de marketing, a comunidade de in-
vestidores é o mercado dos RI e é fundamental que suas demandas sejam correta-
mente identi cadas a cada momento. Esse é um público que não gosta de surpresas
— boas ou más — e, quando surpreendido, considera não ter sido bem informado
pela companhia.

A área de RI deve estar presente no dia a dia das companhias abertas e dos agentes do
mercado, o que tende a se acentuar no caso das companhias que pretendem chegar ou
já estão em níveis mais avançados de Governança Corporativa. A importância hie-
rárquica e a valorização da área de RI estão vinculadas aos objetivos de transparência
e boas práticas de governança como elemento de geração de valor.

A boa circulação da área de RI dentro da companhia é indispensável: o departa-

184 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mento de RI deve obrigatoriamente circular pelas outras áreas e ter acesso efetivo ao
que acontece, receber informações atualizadas e acompanhar diariamente o uxo de
novidades tecnológicas, nanceiras, mercadológicas, jurídicas e de comunicação. A
capacidade de interação com o conjunto da companhia pode fazer toda a diferença
para garantir o sucesso da política de relacionamento com os agentes do mercado e
assegurar o cumprimento, pelo Diretor de Relações com Investidor (DRI), do seu
dever de garantir que sejam imediatamente divulgadas as informações relevantes,
capazes de afetar a cotação dos valores mobiliários emitido pela companhia e de in-
uenciar nas decisões de investimento.

Nos Estados Unidos, por exemplo, segundo dados do NIRI (National Investors Re-
lations Institute), mais de 20% dos pro ssionais de RI já respondem diretamente aos
presidentes executivos, o que signi ca que as companhias mantêm diretorias próprias
dedicadas à atividade, vinculadas diretamente ao principal executivo. Essa posição
re ete o grau de valorização da atividade naquele mercado e estabelece o potencial de
crescimento da área no Brasil.

A de nição das atividades de RI e o grau de responsabilidade atribuído aos pro s-


sionais da área variam de acordo com as características corporativas e com o nível
de excelência que a companhia pretende atingir no mercado de capitais. Em todas
as circunstâncias, o apoio do topo da administração e o engajamento do presidente
executivo em fortalecer as atividades de RI são fundamentais. Colocar essa área na
mesa da alta administração ajuda a minimizar con itos e a reduzir riscos inerentes
ao exercício da atividade de RI, abrindo caminho para melhores resultados.

Atribuições básicas da área de RI

. Atuação como porta-voz da companhia na comunicação com o mercado e


com a imprensa econômica;

. Relacionamento com os órgãos reguladores, entidades e instituições do


mercado, bolsas de valores e mercados de balcão;

. Ampliação da base acionária;

. Avaliação contínua das respostas do mercado à atuação da companhia e


promoção de re exão interna com outras áreas da companhia;

. Contribuição para de nir a estratégia corporativa e ideias que agreguem valor;

Relações com Investidores 185


. Desenvolvimento da cultura de companhia aberta junto ao público interno;

. Integração do programa de comunicações entre as diversas áreas da


companhia;

. Planejamento e execução da divulgação de informações obrigatórias e


voluntárias;

. Acompanhamento das avaliações/análises feitas sobre a companhia, bem como


das condições de negociação dos valores mobiliários da companhia;

. Coordenação e acompanhamento dos serviços aos acionistas e respectivas


assembleias;

. Reuniões públicas e individuais com analistas de investimento, acionistas e


investidores potenciais.

6.1.2. Disseminação da cultura de capital aberto

Tarefa prioritária da área de Relações com Investidores, a disseminação da cultura de


companhia de capital aberto entre os diversos níveis de público interno é reconhecida
internacionalmente como a base da pirâmide para o sucesso no mercado de capitais.
Ela direciona o comportamento de todos no que diz respeito ao ambiente corpora-
tivo, ajudando a xar os conceitos de companhia ética, responsável e transparente.
Consequentemente, contribui para aprimorar o relacionamento da companhia com a
comunidade de investidores, analistas de investimentos e com a sociedade como um
todo, fortalecendo uma reputação saudável entre os públicos estratégicos.

Tanto o público interno quanto o externo precisam ter convicção a respeito das boas
práticas de governança e de seus benefícios para a companhia e para o conjunto dos in-
vestidores. Entre os principais “mantras” de um RI estão as frases: “Diga sempre a ver-
dade” e “Se não souber responder, não tenha dúvida em dizer ‘não sei’, pois é a sua cre-
dibilidade como pro ssional que está em jogo, assim como a imagem da companhia”.

186 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A área de RI tem responsabilidade crescente na estrutura de governança das
companhias e no desenvolvimento da nova cultura de capital aberto. Esses pro-
ssionais, em contato estreito com investidores, acionistas e analistas, podem
representar considerável ganho de valor para a companhia, avaliando as de-
mandas e os caminhos a seguir.

Boa parte das demandas são apresentadas pelos próprios investidores. Para atendê-
-las, as companhias que adotam práticas diferenciadas criam conselhos e comitês
independentes, separam as funções do presidente executivo daquelas do presidente
do Conselho, criam comitês de divulgação de informações (disclosure) e adotam uma
política de remuneração dos executivos, ou seja, reformulam estrategicamente sua
estrutura de governança.

O trabalho de RI deve estar muito próximo ao dos departamentos jurídico, contabili-


dade, controladoria, assessoria de imprensa, de relações públicas, recursos humanos
e da alta administração.

As compan hias que chegam à Bolsa com ofertas públicas iniciais de ações funcio-
nam como vitrine do mercado acionário para os investidores. Nesse contingente
estão incluídos também os seus colaboradores, pois várias companhias destinam
uma fatia do total de ações para esse investidor de varejo. Isso contribui para
ampliar o conceito de aplicação em ações, alinhar os interesses dos trabalhadores
às estratégias da companhia, além de contribuir para o fomento da cultura de
companhia aberta não apenas junto à alta direção.

Ao se tornarem acionistas, os funcionários passam a acompanhar de perto o de-


sempenho dos papéis da companhia, entendem melhor o processo de formação de
preço das ações em relação aos resultados da companhia e do setor do mercado em
que ela atua. E os que ainda não são acionistas aprendem gradualmente a conviver
com essa perspectiva.

O processo de difusão interna da cultura de companhia aberta exige algumas mudan-


ças importantes em relação a questões de governança corporativa, transparência e co-
municação das informações ao mercado e aos órgãos reguladores.

A questão cultural ganha maior dimensão para companhias que estão abrindo o ca-
pital. Essa mudança cultural precisa ser absorvida no dia a dia da companhia, con-
forme a nova estrutura é implantada.

Relações com Investidores 187


Quanto maior a dispersão da base acionária, maior será a complexidade do trabalho
do pro ssional de RI na implementação dessa nova postura corporativa. É necessário
administrar esse processo de mudança, uma vez que os funcionários devem com-
preender como funciona a estrutura com um Conselho de Administração, quais são
as atribuições e responsabilidades dos conselheiros, como se realiza o processo de
prestação de contas, como é a scalização, a nova regulamentação, nacional e inter-
nacional, que orienta a atuação da companhia no mercado e quais as sanções a que
companhia, executivos e conselheiros estão sujeitos.

Apenas a partir da compreensão integral do conceito e da importância de uma


compan hia aber ta será possível alinhar o conjunto da companhia às práticas de
colaboração e prestação de informações.

. O RI é um dos principais interlocutores responsáveis pela reputação da


compan hia, agregação de valor e grau de liquidez dos papéis;

. Cabe ao RI atuar como embaixador da companhia e do País, estimulando


os investidores estrangeiros a conhecer a economia brasileira e criando oportu-
nidades de negócios;

. É função do RI destacar junto ao público externo a evolução da infraestru-


tura e do ambiente regulatório nacional;

. O pro ssional de RI deve ressaltar os avanços em governança corporativa


no país e uso de referenciais (índices) que re etem a fase em que se encontram as
companhias e agentes do mercado.

Decisão consciente
A partir do momento em que a companhia decide abrir seu capital e ter o mercado
acionário como parceiro, encerra-se obrigatoriamente uma etapa de baixo disclosure.
Isso signi ca tomar um caminho sem volta enquanto estiver no mercado, porque
diante das normas societárias e da nova realidade global não é possível ser uma com-
panhia “meio aberta” ou “relativamente transparente” sem prejudicar sua credibili-
dade e sujeitar seus administradores a possíveis punições pelo órgão supervisor.

Programas efetivos
Para disseminar essa cultura é importante adotar programas realistas e bem direcio-
nados de educação e treinamento interno a todos os funcionários. A grade curricular

188 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


precisa conter informações sobre a regulamentação do mercado no Brasil, direitos e
deveres dos acionistas e dos administradores, diferenças de tratamento na regulamen-
tação para acionistas majoritários e minoritários, composição acionária, normas para
divulgação de resultados e comunicação de informações à imprensa etc. Os cursos
ministrados dentro das companhias são um exemplo de como agilizar esse tipo de
programa, mas precisam ser ministrados por especialistas reconhecidos pelo mercado.

Atualização e informação

A companhia deve incluir alguns aspectos ligados à área de RI nos critérios para
avaliação de seu pessoal em determinados escalões da estrutura hierárquica, cer-
ti cando-se, por exemplo, de que acompanhem as notícias divulgadas sobre a
sociedade e suas operações no mercado. Elaborar cartilhas internas e programas
especiais de recursos humanos é uma alternativa utilizada com bons resultados em
diversas companhias.

Valor da governança

A cultura de companhia aberta implica obrigatoriamente na divulgação das boas


práticas de governança corporativa adotadas pela empresa, assim como a explicação
didática de seu impacto, utilizando todas as ferramentas de comunicação interna dis-
poníveis. Respeito ao investidor e ao mercado são os conceitos que estão relacionados
a essa ideia e devem ser disseminados junto ao público interno. O objetivo é estabe-
lecer a noção de que boas práticas de governança alinham os interesses de todos os
públicos e fortalecem a companhia.

6.1.3. O Porta-voz da Companhia

A atuação do RI como porta-voz da companhia é peça-chave para criar e consolidar a


reputação corporativa em vários níveis de comunicação. Ele é o porta-voz da compa-
nhia para todo o público interessado, nanceiro ou não nanceiro (acionistas, analis-
tas, investidores, bolsa, órgãos reguladores e imprensa), e deve estar preparado para
atuar tanto em tempos de calmaria como em crises ou adversidades. Precisa compre-
ender o que a comunidade espera, identi car demandas presentes e potenciais.

Relações com Investidores 189


O RI precisa conhecer todos os fatos da companhia — institucionais, adminis-
trativos, nanceiros, operacionais, comerciais, internacionais, relacionamento
com funcionários, responsabilidade social e ambiental, ética, relacionamento
com a mídia e com o conjunto dos públicos externos — antes de falar publica-
mente sobre qualquer ponto.

Cabe ao porta-voz, também, compreender como funciona o setor em que a compa-


nhia está inserida, como ela participa desse setor em termos relativos e absolutos,
sua participação de mercado e liderança, concorrência e vantagens competitivas nos
mercados interno e externo e a posição da companhia e do setor em termos de gover-
nança corporativa. É essencial conhecer os principais concorrentes da companhia,
estar atualizado em relação ao desempenho dessas empresas e do setor e de todos os
aspectos que podem representar ganho ou perda de vantagens competitivas.

Essa diversidade de conhecimento é indispensável porque o porta-voz assume a res-


ponsabilidade de fornecer informação de qualidade, assegurar o uxo necessário de
informações e identi car os momentos em que a con dencialidade é exigida. Para
garantir esse quesito, o porta-voz tem necessariamente de conhecer em profundidade
o mercado de capitais e ter conhecimento multidisciplinar envolvendo as áreas de -
nanças, marketing, comunicação e legislação nacional e internacional. Ele tem ainda
de estar preparado para responder sobre os pontos fracos e fortes da empresa, o que
resulta em informações mais consistentes.

Informação é a matéria-prima básica de trabalho do analista e ele precisa de informações


tempestivas para fazer sua recomendação de investimento. Avaliar a reação dos analistas,
acionistas e jornalistas especializados após reuniões públicas para apresentação de re-
sultados e perspectivas, ou após reuniões individuais, é um bom termômetro do de-
sempenho do pro ssional de RI.

Cabe ao porta-voz não apenas a tarefa de comunicar informações, mas participar


ativamente do processo de melhoria da qualidade dessas informações. A monta-
gem e o planejamento desta tarefa exigem tempo e critérios rigorosos de prepa-
ração para que os pro ssionais estejam familiarizados com todas as divisões da
companhia antes de assumir a posição.

A capacidade de identi car as reações do mercado frente às estratégias e às iniciati-


vas da companhia representa um poderoso instrumento de informação a ser captada

190 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


pela área de RI. Um dos desa os mais preocupantes e ao mesmo tempo mais es-
timulantes desse trabalho consiste em acompanhar continuamente essas respostas,
antecipar reações e aprender a identi car o “recado” enviado pelos diversos agentes
do mercado, sejam eles analistas, acionistas, investidores institucionais, imprensa,
bolsa ou órgãos reguladores.

As reuniões públicas, individuais, teleconferências, entrevistas coletivas ou simplesmente


o contato diário com analistas e investidores são oportunidades para obter essa resposta
e analisar as avaliações e expectativas do mercado em relação à companhia. Uma das
atribuições do departamento de RI é identi car o melhor caminho para estimular essa
resposta. Um trabalho conjunto com as áreas de relações públicas e comunicação permite
delimitar todas as oportunidades para pesquisar a imagem da companhia junto aos di-
versos agentes do mercado.

Além de detectar demandas do mercado, o RI é fundamental na articulação de linhas


de ação que ajudarão a companhia a atender essas demandas. A partir da visão trans-
mitida pelo RI, a companhia ganha uma oportunidade estratégica para observar a
reação do mercado à sua performance. Uma das principais vantagens desse retorno é
a agilidade para antecipar demandas e oferecer aos investidores aquilo que eles espe-
ram receber da companhia — maior transparência, novas táticas de relacionamento,
melhor comunicação e, eventualmente, alteração dos projetos e mudança de rumos.
Desse modo, o mercado de capitais passa a ser compreendido pela companhia tam-
bém como uma consultoria valiosa para aperfeiçoar suas estratégias.

6.1.4. Administração de Crises

A companhia deve estar preparada para administrar eventuais crises que envolvam
os mais variados tipos de problemas. É importante que pro ssionais da companhia
saibam lidar com casos de vazamento de informação privilegiada (inside informa-
tion), divulgação incorreta de dados, con itos regulatórios ou con itos societários,
incidentes que envolvam o meio ambiente, questões sindicais e trabalhistas, entre ou-
tras. Há diversos outros exemplos que podem con gurar crises, como a apresentação
de resultados negativos no ano ou no trimestre, mudanças na política de distribuição
de dividendos e outros episódios que podem causar um desgaste para a imagem da
companhia e prejudicar o valor de suas ações no mercado.

Esses fatos também devem ser incluídos como vetores de risco no planejamento de
administração de crises. Mas, sobretudo, não podem nem devem, nos termos da re-

Relações com Investidores 191


gulamentação, ser omitidos no caso de se mostrarem relevantes.

Para contornar esses momentos e minimizar a perda de valor para a companhia,


é indispensável contar com uma política de transparência e com um trabalho pre-
viamente estruturado. Será preciso divulgar imediatamente a informação vazada,
tornando-a acessível ao público em geral ou, em caso de crise, informar ao mercado
como ela está sendo enfrentada pela alta direção da companhia, quais os exatos mo-
tivos que a geraram e quais as expectativas de equacionamento dentro de um deter-
minado período de tempo.

Transparência, respeito às normas de conduta ética e disponibilidade para fornecer


explicações devem ser um princípio rigoroso dentro da companhia. Se a imagem
corporativa estiver fortalecida junto ao mercado por esse comportamento aberto e
ético, a administração de crises será uma tarefa bem mais simples para a área de RI
gerenciar.

Admitir um problema e reconhecer suas dimensões é o primeiro passo para uma es-
tratégia e caz em momentos de crise, abrindo caminho para que a companhia, seus
administradores e executivos consigam manter a con ança do investidor.

6.2. O Público da Companhia

Possuir sólidos relacionamentos com a comunidade de investimentos é uma das mais


valiosas responsabilidades do RI, ajudando a criar con ança na companhia. A comu-
nicação com públicos que têm interesses diversos exige uma linha de trabalho que dê
ênfase diferenciada para cada tópico tratado. Também há uma razoável variação nos
graus de profundidade e so sticação na abordagem de cada tema.

6.2.1. Buy Side

Analista buy side é uma de nição que abrange os analistas e os gestores de fundos de
investimentos. São pro ssionais que atuam na ponta das negociações e cujos movi-
mentos de compra ou venda, quando associados a grandes fundos, podem afetar as
oscilações e tendências do mercado. Cabe à área de RI suprir esses analistas com in-
formações adequadas às suas demandas. Embora as informações sobre a companhia
sejam as mesmas, analistas buy side e sell side têm necessidades diferenciadas.

192 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


No caso da ponta buy side, o foco é nas tendências de mais longo prazo e, em geral, há
maior ênfase nas informações relativas à governança corporativa da companhia, um item
que pode in uenciar as decisões de investimento. Além disso, esses pro ssionais exigem
contato direto com a alta gerência da companhia e podem atuar como representantes dos
acionistas. Para esse público, o RI deve focar as informações sobre tendências setoriais,
avanços nos negócios e fatores de risco, lembrando que a meta é reduzir o grau de incer-
teza sobre a companhia.

Cabe ao RI informar ao gestor e ao analista buy side sobre os fatores mais relevantes
para agregar valor às ações da companhia, suas vantagens competitivas, fundamen-
tos da companhia, resultados nanceiros e operacionais e o progresso, que estão in-
timamente relacionados aos interesses de informação por parte desse pro ssional,
com base no fundo que ele administra. Uma informação importante é que fatores não
nanceiros (governança corporativa, reputação, marca, capital intelectual, liderança,
responsabilidade social e ambiental, transparência, comunicação, inovação) têm im-
portância crescente na avaliação de uma companhia. A estratégia para a sustentabi-
lidade do negócio é outro tema preponderante, altamente valorizado pelos gestores.

Diversos fatores chamam a atenção dos analistas, como os planos de expansão da com-
panhia, o comportamento das sociedades que passaram por processo de fusão e a ela-
boração de relatórios separados para cada unidade de negócios ou linha de produtos.

6.2.2. Sell Side

Analistas sell side são pro ssionais que atuam em bancos e corretoras de valores fazen-
do a prospecção de investimentos e recomendando a compra ou venda das ações. Eles
acompanham de perto o comportamento das ações e das companhias e suas demandas
de informação, portanto, estão focadas na necessidade de dados pontuais e mais deta-
lhados, o que signi ca maior exigência de contato constante com a área de RI.

Os analistas que atuam como sell side buscam o máximo possível de disclosure (ca-
pacidade de divulgar informações com transparência) da companhia e, assim como
acontece no buy side, também exigem contato com a alta gerência.

A informação de qualidade é fundamento essencial para que o analista recomende as


ações da companhia. Além das informações básicas, como o desempenho econômi-
co- nanceiro, os analistas sell side querem dados sobre o plano estratégico da compa-
nhia, desenvolvimento de novos produtos, melhorias de processos de produção, pro-

Relações com Investidores 193


grama de redução de custos, fortalecimento das relações com clientes, ou atividades
de treinamento que tornem os colaboradores mais produtivos. Informações sobre a
posição da companhia em relação à concorrência também são solicitadas, o que in-
clui a sua participação de mercado, assim como o que a companhia está fazendo para
manter ou melhorar a sua posição no mercado.

Também são informações de interesse, os investimentos direcionados para melho-


ria ou implantação de novas plantas, expansão global, pesquisa e desenvolvimento
(P&D) de novos produtos ou possíveis avanços tecnológicos, e a descrição das van-
tagens competitivas.

A par tir dessas discussões, o analista tem condições de comparar e avaliar quais
compan hias possuem as tecnologias mais for tes, os produtos com as melhores
características, os melhores custos de fabricação, a maior lealdade por par te
dos clientes. É impor tante que as compan hias consigam combinar os aspectos
quantitativos e qualitativos ao fornecer essas informações.

Para atuar adequadamente junto ao sell side, o pro ssional de RI pode fazer uma
avaliação preliminar para identi car a in uência desses analistas no mercado. É im-
portante estudar o seu trabalho, pelo menos durante um período su ciente para de-
terminar a qualidade e a abrangência de suas pesquisas, seus interesses especí cos e
as possibilidades de cobrirem a companhia em questão.

6.2.3. Invest idores Inst itucionais

Investidores institucionais (fundos de pensão e fundos de investimento, por exem-


plo) precisam dispor de um uxo de informações bem aberto pela companhia, para
atender à sua necessidade permanente de dados para basear estratégias de médio
e longo prazos. Esse segmento do público tem por obrigação satisfazer as deman-
das criadas por seus modelos de alocação de recursos, o que signi ca maior volume
de informações quali cadas divulgadas pela companhia. Esses acionistas detêm um
elevado patrimônio e são candidatos a comprar volumes mais expressivos de ações,
compartilhando algumas vezes do controle do capital.

Independente de serem acionistas controladores ou não, sua confiança é obtida


e mantida com informação de qualidade e atendimento a boas práticas de go-
vernança corporativa. Nesse aspecto o programa de RI tem papel decisivo, tra-
balhando para detectar as demandas desses investidores e transmiti-las correta-

194 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mente aos executivos e conselheiros da companhia. Cabe aos profissionais de RI,
na outra ponta, corresponder à exigência de transparência e dar atendimento ágil
às necessidades dos investidores institucionais.

Assim como os gestores pro ssionais de recursos e os analistas que operam nesse
mercado — no cenário nacional ou internacional — os investidores institucionais
precisam contar com canais de comunicação ágeis, uentes, e cientes e desimpedi-
dos, de modo integral. Atendimento telefônico e audioconferências são instrumentos
fundamentais e devem ser oferecidos pela área de RI como parte de sua rotina.

Reuniões constantes entre o departamento de RI e os investidores institucionais são


um caminho importante de abertura e atendimento. A equipe de RI deve estar bem
informada sobre aspectos que dizem respeito a esses investidores. Isso signi ca cons-
tante atualização sobre as exigências regulatórias, tendências e novas demandas.

6.2.4. Investidores Pessoas Físicas

Os investidores individuais são uma presença crescente e relevante no mercado de ca-


pitais brasileiro. Sua participação é essencial para ampliar a base acionária da compa-
nhia e a consistência do mercado. Eles são sensíveis a informações sobre dividendos
e ao noticiário sobre a companhia em que investem. Exigem atenção especial, prin-
cipalmente em momentos de turbulência no mercado acionário ou notícias adversas,
quando sua delidade a esse tipo de aplicação é posta à prova.

Uma das funções do pro ssional de RI é criar e estimular as companhias a in-


vestir em canais de comunicação e cientes com esse público, que tem necessi-
dades especí cas e sabe cobrar um bom atendimento. O investidor pessoa física
costuma focar seu interesse na política de distribuição de dividendos da compa-
nhia, que precisa ser bem explicada.

Os meios de comunicação clássicos são a participação em reuniões periódicas para


apresentação dos resultados da companhia, encontros formatados para o varejo, di-
vulgação de informações no site da companhia na internet, chats, boletins impressos
e comunicações via e-mail. A internet assume papel primordial nesse segmento e
cabe ao RI orientar a criação e manutenção de sites que “falem” com o varejo.

Reuniões desen hadas de modo especial para esse público são muito impor tan-
tes, até para que a companhia possa aferir com maior grau de precisão quais são

Relações com Investidores 195


as demandas existentes.

Embora o investidor pessoa física seja bastante receptivo à comunicação por


meio de sites e e-mail, ele não dispensa o contato pessoal para aumentar sua
percepção de segurança em relação ao investimento feito ou aos planos de apli-
cação de seu din heiro. É imprescindível, por tanto, organizar e estimular reu-
n iões que sigam um modelo específico para esse público e que demonstrem ao
investidor sua impor tância para a compan hia.

A participação do investidor individual nas reuniões com analistas é um canal pro-


dutivo de comunicação. Elas devem ter periodicidade no mínimo anual e utilizar
todos os recursos técnicos disponíveis para que a informação tenha uência adequa-
da, detalhada e didática.

Embora a clareza e a objetividade sejam necessárias em toda a política de RI, no caso


do varejo essas duas qualidades ganham ainda maior valor. São, em geral, investido-
res que não dispõem de outros canais de acesso ao que acontece na companhia a não
ser o da área de RI e o trabalho da imprensa. Aqui, portanto, são duplamente valori-
zados o atendimento direto do RI aos acionistas e a comunicação impecável com os
jornalistas que abastecem o público com informações.

Algumas companhias já possuem divisões especialmente dedicadas ao investidor


de varejo. Entre os mecanismos mais e cazes de comunicação com esse público,
quatro merecem destaque:

. O site de RI, que por sua natureza, é uma ferramenta de comunicação de-
mocrática, equânime e tempestiva e deve garantir que as informações públicas
estejam disponíveis e apresentadas de maneira didática e de fácil acesso;

. Os informativos periódicos que, com linguagem sintética e adequada às ne-


cessidades dos acionistas e investidores individuais, são importantes canais de
delização e atração da base acionária. Geralmente, o investidor de varejo quer
receber informações sobre política de dividendos;

. Reuniões especí cas para os investidores individuais, organizadas de


modo a estimular o acesso e a frequência de participação e com um roteiro
didático de apresentação;

. Reuniões com analistas de mercado, bancos e instituições gestoras de in-

196 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


vestimentos ou outro tipo de organização. Elas oferecem ao investidor um pa-
norama mais completo graças à opinião e às questões levantadas pelos analistas.

6.2.5. Relacionamento Internacional

A transformação do panorama internacional nos mercados de capitais acontece em


ritmo acelerado e uma das suas principais vertentes é a conscientização de compa-
nhias, acionistas, bolsas de valores, pro ssionais do mercado e órgãos reguladores de
todo o mundo a respeito de valores como sustentabilidade, governança corporativa,
transparência, responsabilidade corporativa, ética e novas práticas de gestão.

Essa onda transformadora se intensi cou após os escândalos contábeis e nancei-


ros norte-americanos do início deste século. Cada vez mais, as regulamentações
em diversos países buscam inibir a fraude e aprimorar o uxo de informações das
companhias para o mercado de investimentos, restaurando e consolidando a con-
ança dos mercados nas companhias.

O ambiente internacional impõe práticas saudáveis a todos os participantes de


mercados de capitais relevantes, incluindo os emergentes, como o Brasil. Ele
afeta direta e indiretamente as estratégias das companhias brasileiras e exige
que os departamentos de RI conheçam cada vez mais a legislação internacional
e o comportamento do investidor global.

O aumento do flu xo de capitais internacionais para o Brasil, assim como a pre-


sença de compan hias brasileiras junto aos mercados globais, torna indispensá-
vel um relacionamento estreito e qualificado com as normas vigentes em outros
países e as expectativas desses investidores em relação à divu lgação de resu lta-
dos das compan hias brasileiras nas quais investem.

Na área de RI, esse contato representa um desa o que deve crescer em importância.
Ao atuar como porta-voz da companhia junto aos agentes do mercado internacional,
o RI aprimora o relacionamento da companhia com esses investidores e analistas em
diversos aspectos ligados ao desempenho e perspectivas da companhia, governança
corporativa, responsabilidade social e ambiental, assim como às perspectivas da eco-
nomia brasileira, fatores políticos, questões jurídicas e tributárias, regulamentação
local, problemas setoriais, práticas de gestão e culturais.

Além dos requisitos básicos de objetividade e clareza nas informações — com o máxi-

Relações com Investidores 197


mo possível de transparência —, o RI deve assegurar sua completa atualização sobre
tendências e demandas que possam afetar a decisão de investimentos, como medi-
das regulatórias internacionais (por exemplo, Lei Sarbanes-Oxley), uniformização
de normas contábeis, acompanhamento dos principais índices de sustentabilidade
empresarial e as tendências globais de governança.

Sua interface será com os principais bancos de investimento, corretoras, hedge funds,
instituições depositárias, analistas e administradores de fundos de investimentos. Isso
exige uma dose elevada de informação sobre tendências da economia mundial e prin-
cipais expectativas em relação aos mercados emergentes. É preciso conhecer a cultu-
ra desses investidores, suas necessidades e características próprias, assim como saber
administrar o relacionamento da companhia com os órgãos reguladores e a imprensa
especializada internacional.

Dependerá em grande parte da quali cação pro ssional e da percepção dos pro s-
sionais de RI o sucesso das iniciativas das companhias brasileiras e a valorização dos
ativos nacionais frente ao novo ciclo de sustentabilidade econômica, preocupações
sociais e ambientais e práticas empresariais éticas.

Diferenciais de atuação global na área de RI

. Contribuir para aperfeiçoar a cooperação e troca de informações entre


a compan hia e os investidores e analistas dos mercados globais;

. Acompanhar e avaliar tendências e questões de natureza regulatória, -


nanceira e operacional dos mercados, mantendo contato com entidades, con-
sultorias, agências reguladoras e autorreguladoras de outros países e participar
do debate mundial sobre os temas relevantes;

. Participar ativamente de eventos internacionais para promoção das compa-


nhias brasileiras e dos investimentos no mercado local;

. Manter programas de intercâmbio para atualização dos pro ssionais de RI


em países que são relevantes para os negócios da companhia.

198 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


6.3. A Est rat égia de Comunicação

O acesso democrático às informações, seja para investidores individuais ou insti-


tucionais, é uma exigência legal. A CVM deixa bem claro em sua regulamentação
que todos devem ser informados ao mesmo tempo e com a mesma qualidade de in-
formação, seja por meio da mídia, reuniões públicas, sites de RI etc. O fundamental
é que o princípio do acesso igual e simultâneo seja respeitado e todos os públicos
recebam o mesmo tratamento.

Para a companhia aberta isso não deve ser apenas uma exigência da regulamentação
ou uma “grande evolução”, mas precisa ser compreendido como uma decorrência
normal da rotina no mercado. Entretanto, embora os recursos tecnológicos permi-
tam que as informações sejam divulgadas em tempo real para todos, é preciso levar
em conta as diferentes demandas dos públicos.

A mesma informação que está disponível para um investidor institucional, para um


gestor pro ssional, um analista e outros interessados que disponham de tempo e
condições teóricas e técnicas para avaliar seu impacto, pode não ter signi cado rele-
vante para um investidor individual.

Cabe ao RI, nesse aspecto, organizar a oferta de material para que a informação esteja
disponível de modo aberto e democrático a todos, porém oferecendo sempre uma
abordagem mais atraente para cada tipo de público.

Além dos investidores, a comunicação da companhia deve ser tratada pela área de RI
como um instrumento estratégico de contato com seus diversos públicos — pro ssionais
do mercado, órgãos reguladores, bolsas de valores, academia, entidades e instituições.

O pro ssional de RI tem como responsabilidade assegurar que esse contato traga
o máximo de transparência e transmita segurança ao mercado, cuidando também
de resguardar as grandes estratégias da companhia sem prejudicar a divulgação de
sua real situação. Cabe ao RI programar e conduzir os contatos com o mercado de
maneira equilibrada.

Relações com Investidores 199


6.3.1. Reuniões Públicas

As reuniões públicas para apresentação de informações aos analistas de mercado e


aos investidores ganham cada vez mais destaque como alternativa de contato entre
a companhia e o mercado. A apresentação pública da companhia pode ser organi-
zada também por instituições nanceiras ou pela própria empresa.

Ela pode ser realizada várias vezes ao ano, de acordo com os critérios estabelecidos
pela área de RI, sendo que no mínimo deve ser realizada uma vez ao ano, envidan-
do seus melhores esforços para realizar apresentações em diferentes localidades.

Mais dinâmicas e concorridas por conta da crescente dispersão de capital, das


ofertas públicas de ações e da presença de um número crescente de novas com-
panhias no mercado, essas reuniões ganham várias opções de modelagem. Um
dos modelos e cazes adotados pelas sociedades tem sido a organização de
visitas às suas instalações como uma atividade complementar à reunião. Esse
modelo proporciona um conhecimento mais completo sobre a companhia.

Durante as reuniões públicas, os pro ssionais de RI devem providenciar uma apre-


sentação detalhada, objetiva e impecável dos resultados da companhia; suas princi-
pais iniciativas nas diversas áreas; lançamentos de produtos; mudanças de estratégia;
tendências setoriais; questões regulatórias e de legislação; dados sobre governança
corporativa; responsabilidade social e ambiental; investimentos; política de distri-
buição de dividendos e demais aspectos conjunturais e institucionais que tenham
contribuído para o desempenho, bem como suas perspectivas.

As reuniões públicas abrem espaço para o questionamento sobre os diversos aspectos


apresentados, permitindo que analistas e investidores perguntem diretamente aos
pro ssionais de RI e demais diretores da companhia detalhes sobre as informações
divulgadas e discutam a política de dividendos da companhia, entre outros aspectos.
Assim, o RI atende ao público e, ao mesmo tempo, pode levar para a companhias as
dúvidas e críticas recebidas. A participação nessas reuniões é um importante fator de
governança e conta pontos junto ao mercado.

O Comitê de Orientação para Divulgação de Informações ao Mercado (CODIM),


após submeter a matéria à audiência pública, aprovou o Pronunciamento de Orienta-
ção sobre o tema “Apresentações Públicas Periódicas”. De acordo com esse pronun-
ciamento, as reuniões devem ser realizadas no âmbito de um cronograma prévio e

200 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


especí co determinado pelas companhias abertas, exclusivamente com o objetivo de
divulgar e esclarecer o mercado acerca de suas informações periódicas, fora do con-
texto de uma oferta pública.

As diretrizes do CODIM para as reuniões públicas são:


. A companhia deve anunciar com antecedência de 30 dias, e de maneira
ampla, as seguintes informações sobre suas apresentações: data, local e horário
de sua realização; a qual público se destina; eventuais regras de acesso para os
interessados, consignando limite numérico de participantes presenciais em fun-
ção do tamanho do auditório; se haverá a transmissão pela Internet, através de
sistema webcast (transmissão de vídeo via internet), informando ostensivamente
o endereço eletrônico para acesso;

. No anúncio da apresentação deverá ser previamente informada a política da


companhia no que diz respeito à forma de registro de reuniões, no caso de serem
gravadas, e como acessar as gravações e/ou transcrições, sem prejuízo de outras
condições julgadas necessárias de serem explicitadas;

. A companhia deve realizar ao menos uma apresentação pública durante cada


exercício social devendo envidar seus melhores esforços para realizar apresenta-
ções em diferentes localidades, sendo sempre representada pelos seus mais altos
executivos e, em ao menos uma delas, ter a presença de seu principal executivo;

. Toda reunião deve contar com a presença de um representante da área de Re-


lação com Investidores da companhia, que será o responsável pela apresentação
e pelas informações nela prestadas, desde que emitidas em nome da companhia;

. A apresentação, mesmo quando direcionada a um público especí co, sem-


pre se revestirá do caráter de aberta ao público em geral e se restringirá à divul-
gação, explicação ou abordagem de fatos previamente comunicados aos órgãos
reguladores e autorreguladores;

. Por se tratar de apresentação desenvolvida para o esclarecimento de deter-


minado público, a reunião deverá privilegiar a forma de comunicação mais ade-
quada aos participantes;

. A apresentação deve ter início com uma sessão expositiva, cujas informações
devem ser escritas em slides, e terminar com uma sessão de perguntas e respostas;

Relações com Investidores 201


. Com relação à sessão de perguntas e respostas, devido ao caráter público
da reunião, nenhuma pergunta relacionada, direta ou indiretamente, aos temas
previamente comunicados aos órgãos reguladores e autorreguladores poderá ser
ltrada, ou seja, todas devem ser respondidas. No caso de transmissão via web-
cast, a companhia deve divulgar, amplamente, e-mail para os participantes rea-
lizarem perguntas com total interatividade. Caso não haja tempo su ciente para
responder a todas as perguntas recebidas durante a reunião, a companhia deve
alocá-las junto com as demais perguntas e respostas no seu site;

. A companhia disponibilizará, concomitantemente, a apresentação dos sli-


des utilizados em seu inteiro teor no seu site na internet e, também, os enviará
para os órgãos reguladores e autorreguladores, através do sistema IPE (Infor-
mações Periódicas e Eventuais) e, posteriormente, deve alocar o áudio e/ou a
transcrição do evento em seu site. Caso a companhia realize outra apresentação
pública com o mesmo conteúdo, não haverá necessidade de disponibilizar todo
o evento no site. Entretanto, deve disponibilizar em seu site o áudio da sessão de
perguntas e/ou sua respectiva transcrição;

. Caso ocorra, no decorrer de uma reunião, a divulgação de informação rele-


vante, não pública, que possa modi car as expectativas em relação à companhia
e, especialmente, in uir na cotação de seus valores mobiliários ou a eles refe-
renciados, ou na decisão dos investidores de comprar, vender ou manter aqueles
valores mobiliários; ou na decisão dos investidores de exercer quaisquer direitos
inerentes à condição de titular desses valores, o representante da área de RI deve-
rá providenciar de imediato a divulgação da informação anteriormente mencio-
nada aos órgãos reguladores e auto-reguladores, disseminá-la junto ao mercado e
disponibilizá-la no site da companhia nos termos da Instrução CVM 358/02.

6.3.2. Reuniões Individuais

As reuniões individuais — também chamadas de reuniões restritas — assim


como as teleconferências, são contatos indispensáveis entre a área de RI e os in-
vestidores. Esses encontros dão opor tunidade de um diálogo ágil para identificar
as eventuais dúvidas e esclarecê-las. Se os porta-vozes da companhia, inadver-
tidamente, divulgarem informação não pública, é dever do RI comunicar o fato
imediatamente aos órgãos reguladores.

Nas reuniões individuais, o contato é feito sempre pessoalmente com o gestor de

202 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


recursos, com o analista ou o próprio investidor. Nessas reuniões, a periodicidade e
a forma de organização variam bastante, de acordo com a necessidade dos interlocu-
tores e sua demanda por informações. Caso uma divulgação involuntária sobre fato
relevante não público tenha ocorrido, no Brasil ou no exterior, durante uma reunião
restrita, deve ser feita a sua divulgação “imediata, homogênea e simultânea” aos ór-
gãos reguladores, às bolsas de valores em que os valores mobiliários da companhia
sejam listados, ao mercado em geral — inclusive para as agências especializadas em
comunicação nanceira —, bem como no site da companhia, nos termos da Instru-
ção CVM 358/02.

A companhia deve manter um registro dos porta-vozes autorizados e informar os


interessados em obter as suas informações. Além disso, deve analisar a viabilida-
de do registro do teor das informações trocadas com os pro ssionais de investi-
mentos e imprensa nas reuniões restritas. Os representantes da área de RI deverão
estar capacitados para identi car perguntas capciosas, feitas a m de provocar o
vazamento de uma resposta relevante, e recusar a respondê-las. Todos os roteiros
e eventuais materiais a serem utilizados nas reuniões restritas, tais como apresen-
tações, yers, hand-outs etc. devem ser revistos periodicamente pelos responsáveis
da companhia para opinarem sobre a sua validade, sugerirem eventuais alterações
ou mesmo bloquearem o seu uso.

6.3.3. Teleconferências

As companhias têm utilizado a teleconferência de maneira crescente, como ferra-


menta para divulgar seus resultados e fatos relevantes em reuniões públicas com in-
vestidores e pro ssionais.

Segundo orienta o CODIM, a teleconferência é um meio de comunicação eficien-


te e deve ser utilizado para dar acesso e gerar interatividade, de maneira ampla e ir-
restrita, entre os administradores e os públicos estratégicos da companhia. Por meio
desse instrumento, é possível divulgar informações e esclarecimentos da companhia,
privilegiando a tempestividade, a equidade e a transparência.

Esse tipo de comunicação pode ser feito tanto por meio de telefone (audioconferência),
como pela internet (webcast, transmissão do áudio ao vivo, acompanhado de apresen-
tação de slides ou de vídeo), sendo preferível a utilização simultânea dos dois meios
para garantir maior disseminação e a equidade na divulgação das informações.

Relações com Investidores 203


Pelas diretrizes do CODIM, toda teleconferência deve ser pública e a companhia deve
divulgar o telefone e/ou endereço eletrônico de acesso. Ela também deve utilizar os
sistemas de comunicação formais dos órgãos reguladores e autorreguladores para
ampliar a divulgação da realização da teleconferência, bem como para entidades,
instituições e os portais econômico- nanceiros.

A teleconferência deve ser realizada, no menor prazo possível, após a divulgação


de fato que possa ter impacto material, visando à disseminação das informações de
forma plena, uniforme e simultânea. Entre os fatos que afetam a percepção do mer-
cado de capitais constam, por exemplo, aquisições, incorporações, fusões, reestrutu-
rações administrativas, perdas e ganhos não esperados.

A teleconferência para o mercado brasileiro deve ser feita em português e, especi ca-
mente aquela sobre divulgação de resultados, seguindo a legislação societária brasilei-
ra. A companhia que zer teleconferência em quaisquer outros idiomas deve dispo-
nibilizar em seu site, o mais breve possível, a transcrição completa da apresentação,
incluindo a sessão de perguntas e respostas traduzida para os idiomas utilizados,
dando acesso a todos os públicos que acompanharam as teleconferências.

Ainda pelas diretrizes do CODIM, devido ao caráter público da teleconferência, ne-


nhuma pergunta pode ser ltrada, ou seja, todas devem ser respondidas.

Todas as informações que possam modi car as expectativas em relação à compa-


nhia devem ser entregues à CVM e amplamente divulgadas antes de uma telecon-
ferência. Se, eventualmente, ocorrer a divulgação de alguma informação que possa
interferir materialmente nas expectativas dos investidores durante a teleconferência,
esta deve ser informada imediatamente aos órgãos reguladores e autorreguladores e
disseminada ao mercado, bem como ser disponibilizada no site da companhia.

A política de arquivamento de teleconferência deve ser divulgada no site da companhia,


devendo constar o período e formas de arquivamento do áudio, da apresentação, da
transcrição da exposição e da sessão de perguntas e respostas. A teleconferência deve
também ser utilizada em reuniões públicas com investidores e pro ssionais de investi-
mentos, com transmissão ao vivo e com total interatividade para perguntas e respostas.

6.3.4. A Internet como ferramenta de divulgação

Os diversos mecanismos de comunicação com o público por meio da internet garantem


à companhia um meio rápido, e ciente, e caz e democrático de difusão de informações.

204 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A evolução constante da Tecnologia da Informação permite que os pro ssionais de RI
avancem a cada dia nesse campo, encontrando soluções novas para atingir seus públicos.

Para as companhias emissoras de ações, é obrigatória a manutenção de uma pá-


gina na internet com o histórico de todas as informações periódicas e eventuais
divulgadas ao mercado.

Os sites de RI na internet têm evoluído de tal modo que chegam até a ocupar, em
alguns casos especí cos, o papel de site institucional da companhia. É fundamental
que haja permanente atualização das informações, que devem ser acompanhadas por
seu histórico completo, especialmente no caso das informações nanceiras.

O uso de sites requer critérios bastante rigorosos de qualidade. O conteúdo das in-
formações nanceiras é requisito fundamental e deve ter su ciente profundidade. A
versão eletrônica dos comunicados, anúncios de dividendos, relatórios e outros dados
deve ser interativa, até porque não há limites de capacidade.

O site precisa conter informações da companhia, como relatórios anuais, demonstra-


ções nanceiras trimestrais e press releases; deve trazer também informações de ter-
ceiros, como oscilações do mercado, preços de ações, opinião de analistas, informa-
ções setoriais e principais indicadores. O material deve ser organizado em menus de
fácil acesso, atendendo também às necessidades dos investidores menos experientes
nesse tipo de navegação. Além de manter sites em português e inglês, uma tendência
importante e que já tem sido adotada por diversas companhias brasileiras, é a seg-
mentação de acordo com o per l do investidor, oferecendo sites diferenciados para
pessoas físicas, jurídicas, analistas e investidores institucionais, entre outros.

6.4. Os Princípios Ét icos

Os princípios éticos adotados pelo Instituto Brasileiro de Relações com Inves-


tidores são:

Relações com Investidores 205


Transparência

Equidade

Franqueza e Independência

Integridade e Responsabilidade

É extremamente importante que todos analisem esses princípios e que os incorporem


em suas atitudes diárias. Os princípios devem valer tanto perante o público externo
quanto nas atividades cotidianas dentro da companhia, uma vez que o pro ssional de
RI deve ser responsável por prover inteligência de mercado para a alta administração,
mantendo-a informada:

. sobre o que é divulgado ao público, para que todos estejam em sintonia


com a consistência, tempestividade e melhores práticas;

. sobre o que o mercado pensa da companhia em relação a cada um dos


itens a seguir.

6.4.1. Transparência

A prática da transparência é indispensável para que se construa um clima de con ança


no mercado de capitais. Ela é um traço bastante distintivo da cultura da companhia,
quando tem o caráter de espontaneidade e continuidade. Sua matéria-prima são
todas as informações — nanceiras e não nanceiras — relacionadas à companhia e
à sua atividade, a serem divulgadas para permitir que o investidor tenha um entendi-
mento e faça uma avaliação bem fundamentada sobre a companhia.

O pro ssional de RI é, em primeiro lugar, um guardião da transparência. Portanto, é seu


dever conhecer em profundidade a organização à qual está vinculado, bem como o setor
econômico, visando esclarecer as dúvidas de todos os agentes do mercado de capitais.

6.4.2. Equidade

A disseminação de informações deve observar, além dos requisitos de clareza, ampli-


tude e atualidade, o princípio básico da equidade, segundo o qual nenhum usuário de
informação (seja no âmbito interno da companhia, seja no mercado) possa ser bene -
ciado por tratamento privilegiado. Cabe ao pro ssional de RI assegurar-se, por todos

206 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


os meios a seu alcance, de que qualquer informação seja disponibilizada ao mesmo
tempo a todos os públicos interessados.

6.4.3. Franqueza e Independência

O pro ssional de RI deve zelar pela veracidade da informação que distribui, para que
seja completa e con ável, sem meias-verdades ou distorções que enfatizem o lado po-
sitivo do fato ou que soneguem ou atenuem os aspectos menos favoráveis. Deve estar
convicto de que a informação completa e sincera só trabalha em favor da reputação
da companhia, fortalecendo a credibilidade da organização e do pro ssional.

Em sentido inverso, deve o RI levar para a administração da companhia todas as


informações, críticas e avaliações que conseguir captar no mercado, para que sirvam
de ferramenta no processo decisório. Deve ter, ademais, a independência necessária
para comunicar aos demais órgãos da companhia, notadamente à Diretoria e ao Con-
selho de Administração, qualquer descumprimento de disposições previstas em lei,
na regulamentação da CVM ou mesmo da política interna.

6.4.4. Integridade e Responsabilidade

Princípio essencial a ser observado pelo RI é o respeito total pelas leis do país e pela
regulamentação oriunda dos órgãos que disciplinam seu mercado de trabalho (CVM,
Banco Central, Bolsa de Valores etc.). Nenhuma ação deve ser iniciada antes que a in-
dagação sobre legalidade tenha sido respondida a rmativamente. O uso de qualquer
informação, para vantagem pessoal, con gura transgressão grave desse princípio.

Embora pro ssionalmente vinculado à organização, o RI é o maior responsável pelo


seu próprio conceito pro ssional, o que equivale dizer que, em eventual situação de
con ito — ainda que aparente — entre os interesses da organização e sua reputação
pro ssional, deve prevalecer esta última.

Relações com Investidores 207


208 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
7. Of ert a Pública

Para ter suas ações negociadas na Bolsa, as empresas precisam abrir o capital. A le-
gislação de ne como companhia aberta aquela que pode ter seus valores mobiliários
negociados de forma pública, tais como ações, debêntures e notas promissórias. Em
outras palavras, somente empresas que abriram o capital podem ter seus valores mo-
biliários negociados publicamente, por exemplo, em bolsa de valores.

O primeiro procedimento para a empresa abrir o capital é entrar com o pedido de


registro de companhia aberta na CVM, que é o órgão regulador e scalizador do
mercado de capitais brasileiro.

É comum que, junto com esse pedido, as empresas também solicitem à CVM a auto-
rização para realizar venda de ações ao público, tecnicamente conhecida como dis-
tribuição pública de ações. Por ser a primeira colocação pública de títulos da compa-
nhia, é chamada de Oferta Pública Inicial ou IPO (do inglês, Initial Public O ering).

Além do pedido de registro de companhia aberta e de oferta pública na CVM, a em-


presa deve solicitar também o pedido de listagem na Bolsa de Valores ou no Mercado
de Balcão Organizado. É através deste pedido que ela vai ser autorizada pela bolsa a
utilizar o ambiente de negociação e receberá o nome de pregão e o código pelo qual a
ação será conhecida na bolsa.

A distribuição realizada pela companhia pode ser primária (ações serão emitidas,
ou “criadas”, e em seguida vendidas aos investidores), secundárias (ações que já
eram de algum sócio, normalmente sócio-fundadores, serão vendidas aos investi-
dores), ou mista. A diferença básica é que na distribuição primária o dinheiro da
venda irá para o caixa da companhia, pois é ela quem está emitindo e vendendo
as ações, enquanto na distribuição secundária o dinheiro vai para o sócio que está
vendendo as ações, não para a companhia.

Independentemente de a distribuição ser primária ou secundária, ao fazê-la a com-


panhia amplia seu quadro de sócios. Os compradores das ações, ou investidores, pas-
sam a ser parceiros e proprietários de uma parte da empresa.

Ainda neste capítulo serão abordados com mais detalhes os tipos e as classi cações
das Ofertas Públicas.

210 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


7.1. Mot ivação e Objet ivos

Na Bolsa, há companhias listadas desde 1910. Por que abriram o capital? Qual
foi a motivação que as levou a tomar essa decisão tão importante? Quais são as
vantagens desse processo?

Para essas perguntas, não existe resposta única, uma vez que a realidade das empresas
difere muito entre si. Muitas vezes, uma mesma companhia realiza diversas colocações
de ações após a abertura de capital, tendo cada uma delas um objetivo especí co.

A seguir, listamos alguns dos benefícios que a abertura de capital pode trazer para o
empreendedor e sua empresa.

7.1.1. Acesso a Capital

Dentre as motivações, sem dúvida a mais comum é o acesso a recursos para nanciar
projetos de investimento. Existem algumas maneiras para a empresa se nanciar, como:

Recursos gerados pelo negócio

Essa alternativa restringe os projetos da empresa ao montante de recursos que ela é


capaz de gerar, o que pode levar ao desperdício de oportunidades e à limitação das
perspectivas de crescimento. É o reinvestimento dos lucros na própria sociedade.

Capital de terceiros

A empresa pode também recorrer ao capital de terceiros. Além da forma mais tradi-
cional, como empréstimos bancários, há outras opções: a emissão de títulos de renda
xa (debêntures ou notas promissórias) e a securitização de recebíveis (Fundos de
Investimento em Direitos Creditórios).

Embora muitas vezes seja interessante nanciar-se por meio de dívida, nem sempre
essa oportunidade está disponível ou pode não ser adequada às necessidades da em-
presa. Muitos projetos de investimento sofrem com a ausência de fontes de crédito de
longo prazo, que seria o per l mais compatível para esta nalidade.

A utilização de capital de terceiros, entretanto, quando utilizada em excesso, aumen-


ta a vulnerabilidade da empresa aos humores da economia e a expõe a um maior nível

Oferta Pública 211


de risco. Como consequência, o custo do nanciamento é maior, podendo, em alguns
casos, inviabilizar o negócio.

Abertura de capital
Uma terceira alternativa é o nanciamento por meio da emissão de ações, ou seja,
do aumento do capital próprio e admissão de novos sócios. É uma fonte de recursos
que não possui, teoricamente, limitação. Enquanto a empresa tiver projetos viáveis e
rentáveis, provavelmente os investidores terão interesse em nanciá-los.

A abertura de capital usualmente representa uma redução de risco e de custo de ca-


pital para a empresa. Os recursos dos sócios investidores, da mesma forma que o
dinheiro que o próprio empresário colocou no empreendimento no início das ativi-
dades, não têm prazo de amortização ou resgate. Também, diferentemente de em-
préstimos, não exigem um rendimento pré-de nido: o retorno dos investidores (na
forma de dividendos, por exemplo)depende do desempenho da empresa.

Quando a companhia tem certo grau de endividamento, a abertura de capital pode ser
uma forma de buscar um equilíbrio na estrutura de capital, balanceando o uso do cré-
dito e do capital próprio, reduzindo o custo total do endividamento. O menor custo de
capital, pode viabilizar projetos cujo retorno não seria atrativo anteriormente, abrin-
do um leque muito maior de oportunidades de investimento e de crescimento.

Além do nanciamento de novos projetos e expansão dos negócios, a abertura de capi-


tal pode também ser utilizada para aquisições, que podem ser realizadas com diversos
objetivos: ganhos de escala; diversi cação e complementação de linhas de produto,
clientes e regiões de atuação; oportunidades como concorrentes subavaliados/mal ad-
ministrados; e interesse em ativos especí cos utilizados por outra organização.

Entretanto, como essas aquisições podem exigir grande volume de recursos, nem sem-
pre disponíveis, a captação de recursos através da abertura de capital pode ser uma
alternativa de realizar a operação sem que seja necessário descapitalizar a empresa.

7.1.2. Liquidez Patrimonial

A abertura de capital também pode proporcionar liquidez patrimonial, que nada mais
é do que a possibilidade de empreendedores e/ou seus sócios transformarem, a qual-
quer tempo, parte das ações que possuam na empresa em dinheiro. É possível vender
algumas dessas ações no ato da abertura de capital ou no futuro, negociando na Bolsa.

212 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Dar alguma liquidez ao patrimônio é uma forma muito razoável de protegê-lo. Os
sócios podem também querer diversi car seus investimentos, seguindo o princípio
que aconselha a não colocar todos os ovos numa única cesta.

Além disso, se a empresa tiver recebido investimentos de algum fundo de venture capi-
tal ou private equity, a abertura de capital pode representar a saída que esses sócios de-
sejam. Geralmente, tais investidores atuam em empresas de capital fechado de menor
porte, proporcionando-lhes estrutura, condições nanceiras e, muitas vezes, apoio ad-
ministrativo. Em contrapartida, só se tornam sócios de empresas em que possam ter
uma posição relevante no capital e desde que vislumbrem a possibilidade de vender,
com lucro, sua participação societária, de preferência por meio da abertura de capital.

Outra situação que ilustra o benefício que a liquidez patrimonial pode trazer é o mo-
mento do processo sucessório e de partilha da herança. Muitas empresas brasileiras
já estão na segunda ou terceira geração da família fundadora. Os fundadores, como
empreendedores, têm o sonho de viver o dia a dia da empresa, mas nem sempre o
mesmo ocorre com os herdeiros ou, pelo menos, com todos os herdeiros. Adicione-se
a esse fato a impossibilidade de todos os herdeiros permanecerem no comando.

São casos de potencial con ito que, se não forem bem administrados, poderão afetar
e paralisar as atividades e projetos da empresa, ameaçando sua competitividade e até
sua sobrevivência. Uma solução preventiva é, desde o início, facilitar a partilha e o
processo sucessório por meio da abertura de capital, proporcionando uma saída fácil
para os que não desejarem permanecer na sociedade, vendendo sua parte na Bolsa.

7.1.3. Imagem Inst itucional

Uma grande vantagem da companhia de capital aberto em relação às demais é que


ela tem muito mais projeção e reconhecimento de todos os públicos com os quais
se relaciona. Isso acontece porque ela passa a ganhar visibilidade, ser regularmente
mencionada na mídia e acompanhada pela comunidade nanceira.

Apesar de ser muito difícil mensurar o valor agregado à imagem em função da aber-
tura de capital, não são poucos os casos em que empresas listadas em bolsa melhora-
ram as condições de negociação com fornecedores, passaram a contar com maior ex-
posição de suas marcas, ganharam competitividade e elevaram o comprometimento
de seus funcionários, abrindo-lhes a oportunidade de também se tornarem acionistas.

Além disso, a partir da abertura de capital, a credibilidade da empresa aumenta peran-

Oferta Pública 213


te a sociedade como um todo, pois, para atender às necessidades de seus acionistas in-
vestidores e oferecer-lhes condições para que acompanhem seu desempenho de perto,
a companhia terá de ser muito mais transparente no fornecimento de informações.
Pela mesma razão, a empresa pode ganhar no relacionamento com as instituições -
nanceiras, que passam a ter maior con ança na avaliação e na concessão de crédito.

Outro efeito interessante, nesse caso associado à postura ativa e vigilante dos inves-
tidores e dos pro ssionais de investimentos no relacionamento com a companhia,
é o ganho de e ciência que tende a ocorrer em toda a organização, à medida que a
empresa passe a se disciplinar e se organizar melhor para garantir os resultados pro-
jetados e justi car sua estratégia.

7.1.4. Reestruturação de passivos

Algumas empresas, para garantir sua sobrevivência e, eventualmente, recolocar-se


na rota de crescimento, são motivadas a pensar na abertura de capital em função da
necessidade de reestruturar seus passivos.

Embora esta seja uma razão forte e legítima, nem sempre os investidores aceitam
confortavelmente participar de uma operação de reestruturação nanceira, em par-
ticular no caso de uma empresa nova que ainda não apresente histórico na Bolsa.
Para fazer a captação de recursos com esse objetivo, a companhia deve justi cá-la
muito bem para o mercado, explicando seus planos e a mudança na estrutura de
capital que o ingresso desses recursos representará.

O ideal é que a empresa mantenha sempre uma estrutura nanceira equilibrada e, se


tiver a abertura de capital como estratégia, procure fazê-la antecipando-se ao surgi-
mento de qualquer sinal de as xia nanceira.

7.2. A Caract erização da Of ert a Pública

Oferta pública de distribuição, primária ou secundária, é o processo de colocação,


junto ao público, de certo número de títulos e valores mobiliários para venda. En-
volve desde o levantamento das intenções do mercado em relação aos valores mobi-
liários ofertados até a efetiva colocação junto ao público, incluindo a divulgação de
informações, o período de subscrição, entre outras etapas.

214 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


As ofertas públicas, uma vez que envolvem a captação de poupança pública, são dis-
ciplinadas por lei e regulamentadas pela CVM. A intenção é permitir que todos os
investidores participem da oferta em igualdade de condições e que possam tomar
suas decisões de investimento de forma consciente.

A legislação estabelece que nenhuma emissão pública de valores mobiliários poderá


ser realizada sem prévio registro na CVM, apesar de lhe conceder a prerrogativa de
dispensar o registro em determinados casos.

Algumas situações de nidas na legislação e que caracterizam a oferta como pública são:
a utilização de listas ou boletins, folhetos, prospectos ou anúncios destinados ao público;
a negociação feita em loja, escritório ou estabelecimento aberto ao público, entre outros.

A Instrução CVM 400/03, que disciplina as ofertas públicas de valores mobiliários


nos mercados primários ou secundários, estabelece situações de obrigatoriedade
do registro, casos de dispensas e aspectos relacionados à informação, ao sistema
de distribuição, ao recebimento de reservas e às normas de conduta, entre outros.

Entre os casos de oferta pública que podem ser dispensadas de registro, destacamos
a oferta pública de valores mobiliários de emissão de empresas de pequeno porte e
de microempresas. Para este caso especí co, são dispensadas automaticamente do
registro para ofertas de até R$ 2.400.000,00 em cada período de 12 meses, observa-
da a regulamentação.

As ofertas públicas são intermediadas por instituições integrantes do sistema de distri-


buição de valores mobiliários, como os bancos de investimento, corretoras ou distribui-
doras. Essas instituições poderão se organizar em consórcios para distribuir os valores
mobiliários no mercado e/ou garantir a subscrição da emissão, sempre sob a organiza-
ção de uma instituição líder, que assume responsabilidades especí cas. Para participar
de uma oferta pública, o investidor precisa ser cadastrado em uma dessas instituições.

Adicionalmente, a Instrução CVM 400/03, dispõe sobre diversas outras etapas do


processo de emissão pública de valores mobiliários, como a coleta de intenções, for-
mação do preço, os avisos de início e encerramento, as hipóteses de cancelamento
e suspensão, a possibilidade de lote suplementar e colocação parcial, além de casos
especiais em que elas podem ocorrer.

Em resumo, em um processo de registro de distribuição pública de valores mobiliá-

Oferta Pública 215


rios existem várias etapas indispensáveis, tais como:

. Protocolo do pedido de registro da operação na CVM;

. Formação do consórcio de instituições que vão coordenar e distribuir a


operação;

. Estabelecimento de garantia (se houver);

. Conteúdo da oferta, incluindo lote e forma de preci cação;

. Distribuição do prospecto preliminar e de nitivo (material publicitário);

. Coleta, junto aos investidores, de intenções e reserva (quantidade e preço


máximo);

. Recebimento de reservas (quando contemplado no prospecto e no anúncio


de início de distribuição);

. Divulgação do período de distribuição;

. Resultado da oferta, incluindo o preço nal da ação;

. Publicação do Anúncio de Início de Distribuição;

. Publicação do Anúncio de Encerramento da Distribuição.

216 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


7.3. Tipos de Of ert a

As ofertas podem ser classi cadas como:

7.3.1. Oferta Primária e Oferta Secundária

Quando a empresa vende títulos novos, operação conhecida como “emissão de


ações”, os recursos dessa venda são destinados ao caixa da empresa e as ofertas são
chamadas de primárias, constituindo um aumento de capital social. Neste caso, os
recursos serão utilizados pela própria companhia para, por exemplo, ampliar seus
negócios, criar novas unidades de negócio ou mudar seu per l de endividamento.

Por outro lado, quando não envolvem a emissão de novos títulos, caracterizando
apenas a venda de ações já existentes — em geral dos sócios que querem desinvestir
ou reduzir a sua participação no negócio — elas são chamadas de ofertas secundá-
rias. Neste caso, os recursos serão destinados aos proprietários que estão vendendo as
ações, e não ao caixa da empresa.

Oferta Pública 217


7.3.2. Oferta Inicial e Oferta Subsequente

Além disso, quando a empresa está realizando a sua primeira oferta pública, ou seja,
quando está abrindo o seu capital, a oferta recebe o nome de oferta pública inicial ou
IPO (do inglês Inicial Public O ering).

Quando a companhia já tem o capital aberto e já realizou a sua primeira oferta an-
teriormente, as emissões são conhecidas como ofertas subsequentes ou, no termo
em inglês, follow on.

7.4. Prospect o

Prospecto é o documento elaborado pelo ofertante em conjunto com


a instituição líder da distribuição, obrigatório nas ofertas públicas
de distribuição de que trata esta Instrução, e que contém informação
completa, precisa, verdadeira, atual, clara, objetiva e necessária,
em linguagem acessível, de modo que os investidores possam formar
criteriosamente a sua decisão de investimento.
Instrução CVM 400/03

Documento essencial em uma Oferta Pública, o prospecto disponibiliza informações


essenciais para que o investidor entenda a proposta da companhia e tome sua decisão
de investimento. Entre outras, encontram-se no prospecto as seguintes informações:

. Perspectivas e planos da companhia;

. Situação do mercado em que ela atua;

. Os riscos do negócio;

. O quadro administrativo da empresa.

Com o objetivo de padronizar os prospectos e facilitar sua análise, existe uma estru-
tura pré-estabelecida para o documento, que deve ser seguida pelos ofertantes tanto
em relação à forma quanto ao conteúdo. Em síntese, esse documento contém dois
grandes grupos de informações: relativas ao emissor, cujo conteúdo provém do for-

218 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mulário de referência, e relativas à oferta propriamente dita, sobre os valores mobili-
ários oferecidos e as condições da oferta.

Uma seção muito importante do prospecto e que deve ser analisada com muita
atenção pelos investidores é a que trata sobre os “Fatores de Risco”. Nesta seção
são explicitados os riscos relacionados ao valor mobiliário ofertado, à compa-
nhia, ao ambiente econômico de uma forma geral e à própria oferta em questão.

Considera-se, portanto, que um prospecto adequado deve proporcionar ao investidor


as informações necessárias para a tomada de decisão quanto ao investimento que lhe
está sendo apresentado.

7.5. Model os de PreciƩcação

Os valores mobiliários oferecidos em uma oferta primária ou secundária têm seus


preços estabelecidos de forma xa ou, como acontece na maioria dos casos brasilei-
ros, resultam de um processo chamado bookbuilding.

A formação de preço pelo mecanismo de bookbuilding considera a demanda apresen-


tada pelos investidores (quantidade que cada um deseja comprar) e o preço máximo
por ativo que cada um está disposto a pagar. Além disso apura as ofertas de intenções
de compra de investidores, auxiliando a companhia na de nição do preço inicial das
ações, pois permite que ela tenha uma melhor percepção das condições do mercado.

O bookbuilding é, portanto, o processo através do qual o preço de lançamento de uma


oferta pública é determinado, levando em consideração a demanda dos investidores
institucionais. Este procedimento permite que o emissor tenha uma percepção ante-
cipada da receptividade da oferta pelo mercado, xando, assim, um preço adequado
para os valores mobiliários ofertados.

e-Bookbuilding

É uma ferramenta para a apuração de intenções de compra de ativos via Internet, que
facilita a interligação virtual dos participantes do sistema de distribuição de títulos e
valores mobiliários na BM&FBOVESPA.

Oferta Pública 219


Ele permite a realização de bookbuilding de colocações iniciais ou subsequentes de
ações ou quaisquer outros valores mobiliários. Têm acesso ao sistema as instituições
nanceiras, os emissores e os investidores.

Toda a comunicação entre os participantes é feita eletronicamente, inclusive o envio


de convites para a participação nos eventos, o controle de senhas de acesso, envio das
ofertas e até a divulgação dos resultados.

Por meio do sistema, os investidores podem veri car as características do ativo e do


evento, enviar suas ofertas de interesse de compra, com quantidade e preço, além de
consultar, a qualquer tempo, as ofertas inseridas.

Os coordenadores, ao término do período determinado para a inserção de ofertas, ve-


ri cam o resultado apurado, de acordo com os parâmetros previamente estabelecidos
para a apuração, de nindo então o preço de lançamento da oferta pública.

7.6. Of ert a Pública de Aquisição de Ações (OPA)

A Oferta Pública de Aquisição de Ações (OPA) é a oferta na qual um determinado


proponente manifesta o seu compromisso de adquirir uma quantidade especí ca de
ações, a preços e prazos determinados, respeitando determinadas condições.

O objetivo das OPAs é oferecer a todos os acionistas, em igualdade de direitos, a


possibilidade de alienar as suas ações em situações que normalmente envolvem
mudanças na estrutura societária da companhia.

As OPAs podem ser obrigatórias ou voluntárias. As obrigatórias são aquelas expressa-


mente previstas na Lei 6.404/76. Diz a legislação societária brasileira que, nas hipóte-
ses de cancelamento de registro de companhia aberta, de aumento de participação de
acionista controlador que impeça a liquidez de mercado das ações remanescentes e de
alienação de controle, a realização da OPA é obrigatória e deve seguir algumas regras.

As OPAs voluntárias, por outro lado, são aquelas realizadas sem que nenhuma norma
especí ca tenha obrigado a sua realização. Elas são realizadas unicamente por von-
tade do ofertante de realizar a aquisição por oferta pública. A própria Lei prevê a

220 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


OPA por aquisição de controle acionário. Além disso, há a possibilidade de uma OPA
concorrente a outra em curso, como será visto a seguir.

Independente de ser obrigatória ou voluntária, as OPAs devem observar procedi-


mentos estabelecidos pela CVM, como formas de liquidação nanceira, interme-
diação, avaliação, instrumento de OPA, publicação, leilão, entre outros.

A OPA será sempre dirigida indistintamente aos titulares de ações de mesma espécie
e classe daquelas que sejam objeto da OPA e deve ser realizada de maneira a assegu-
rar tratamento equitativo a todos os destinatários. O ofertante da OPA deve guardar
sigilo até a sua divulgação ao mercado.

Quanto à liquidação nanceira, a OPA pode ser: de compra, quando a proposta é o pa-
gamento em moeda corrente; de permuta, quando o proponente oferece o pagamento
em valores mobiliários; ou mista, na hipótese de o pagamento prometido ser parte
em dinheiro e parte em valores mobiliários. Há ainda a possibilidade de uma oferta
pública alternativa, em que aos destinatários é dada a escolha da forma de liquidação.
Somente estão sujeitas a registro na CVM as OPAs obrigatórias, em qualquer hipótese,
e as voluntárias, quando envolverem permuta por valores mobiliários.

A OPA deve ser intermediada por instituição corretora ou distribuidora de títulos e


valores mobiliários ou instituição nanceira com carteira de investimentos, que se
responsabiliza pelas informações prestadas ao mercado e à CVM.

No que diz respeito à avaliação da companhia para determinação do preço da OPA,


sempre que a oferta for realizada pela própria companhia, pelo acionista controlador
ou por pessoa a ele vinculada, ou ainda por administrador ou pessoa a ele vinculada
(exceto na hipótese de OPA por alienação de controle) deverá ser elaborado laudo de
avaliação da companhia objeto.

As condições gerais de nidas para a OPA serão formalizadas em um documento, o


Instrumento de OPA, que será rmado conjuntamente pelo ofertante e pela institui-
ção intermediária e deverá ser publicado sob a forma de edital. A efetivação é reali-
zada em leilão realizado na bolsa de valores ou no mercado de balcão organizado
em que as ações objeto da OPA sejam admitidas à negociação.

Além dos procedimentos gerais que abrangem todos os tipos de OPA, cada uma, seja
obrigatória ou voluntária, possui regras especí cas, conforme detalhadas na Instrução
CVM 361/2002. A seguir, um breve resumo das características de cada uma delas.

Oferta Pública 221


7.6.1. OPA para Aquisição de Controle

A OPA para aquisição de controle é aquela em que um ofertante, voluntariamente,


com o intuito de adquirir o controle de companhia com capital pulverizado, realiza
uma oferta para aquisição de ações no mercado.

Companhia com capital pulverizado é aquela que não possui um acionista majoritá-
rio ou grupo controlador especí co. Nesse tipo de companhia, a oferta pública para
aquisição do controle é uma alternativa para adquirir o controle, já que não há um
único acionista majoritário com quem negociar privadamente. Além disso, represen-
ta um processo mais transparente e justo para todos os acionistas. Este tipo de OPA
está previsto no artigo 257 da Lei 6.404/76.

OPA Concorrente
É a OPA voluntária realizada por um terceiro que não o ofertante ou pessoa a ele vin-
culada e que tenha por objeto as ações de OPA já apresentada para registro perante
a CVM (ou por OPA não sujeita a registro) que esteja em curso. A OPA concorrente
deve observar as mesmas regras da OPA com que for concorrer.

7.6.2. OPA para Cancelamento de Registro

O cancelamento de registro de companhia aberta, também conhecido como fecha-


mento de capital, envolve uma decisão da assembleia de acionistas ou, o que é mais
comum, uma decisão dos acionistas controladores. Assim como na abertura de capi-
tal, há uma ponderação entre vantagens e desvantagens de se manter uma empresa
com capital aberto.

Entretanto, no caso de fechamento de capital, há um detalhe muito importante: os


acionistas minoritários passariam a ser, involuntariamente, sócios de uma empresa
de capital fechado. E qual o problema disso?

Como uma companhia fechada não pode negociar suas ações em bolsa nem em bal-
cão organizado, os acionistas minoritários, quando quisessem vender suas ações,
teriam que procurar, por conta própria, alguém interessado nas ações ou, alternati-
vamente, oferecê-las ao próprio acionista controlador. Entretanto, como não haveria
a formação de preço do mercado de bolsa, seria difícil de nir o valor justo para a
transação. Aproveitando-se dessa situação, o acionista controlador poderia, eventu-
almente, oferecer ao minoritário um valor muito abaixo do valor justo.

222 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Como proposta de proteção a esses acionistas minoritários, a legislação societária
brasileira introduziu a obrigação da realização de uma oferta pública para aquisição
da totalidade das ações em circulação no mercado como condição para o fechamento
de capital da companhia. Assim, todos os acionistas não interessados em se manter
sócios de uma sociedade de capital fechado têm a oportunidade de alienar as suas
ações antes do fechamento do capital e da retirada dos papéis da companhia dos
mercados organizados de bolsa ou balcão.

Acionistas minoritários: todos os acionistas titulares de ação em circulação que


não estejam ligados ao acionista controlador.

Princípios Gerais da OPA para cancelamento de registro

A OPA para cancelamento de registro de companhia aberta, a ser realizada pela pró-
pria companhia ou pelo seu acionista controlador, direto ou indireto, deverá observar
os seguintes princípios gerais:

. Dirigir-se indistintamente a todos os acionistas minoritários, assegurando


tratamento equitativo aos destinatários;

. Registro prévio na CVM e intermediação por sociedade corretora ou distri-


buidora de títulos e valores mobiliários ou instituição nanceira com carteira de
investimento;

. Laudo de avaliação da companhia e preço uniforme, salvo possibilidade de


xação de preços diversos conforme a classe e a espécie das ações objeto da OPA,
desde que justi cada a diferença no laudo de avaliação;

. Leilão em bolsa de valores ou em entidade de mercado de balcão organizado; e

. Deve ser imutável e irrevogável após a sua publicação, salvo expressa e pré-
via autorização pela CVM.

O fechamento do capital deverá ser aceito expressamente ou aprovado por mais de


dois terços das ações detidas pelos acionistas que:

. Tenham expressamente concordado com o cancelamento de registro; e

. Tenham se habilitado a participar do leilão de OPA

Oferta Pública 223


É importante ressaltar que o cálculo dos dois terços para de nir o fechamento
do capital é realizado em relação apenas àquelas ações cujos proprietários te-
nham se habilitado no leilão da referida OPA. Aqueles que não se manifestarem
para tal não serão computados na contagem do atingimento do quorum neces-
sário, embora estejam, vinculados ao resultado do procedimento e não percam
nenhum direito por não terem se manifestado.

Observe-se que a opção entre aderir ou não à OPA, bem como quanto a concordar
ou não com o fechamento de capital, é exclusiva do acionista minoritário, não po-
dendo o responsável pela realização da OPA obrigá-lo em qualquer caso. Portanto,
caso pre ra, o acionista minoritário poderá continuar a integrar o capital social da
companhia fechada. Não terá à sua disposição, porém, um mercado onde as ações de
emissão da companhia são negociadas, o que pode di cultar a alienação das ações
quando ele desejar se desfazer do investimento.

Resgate Compul sório de Ações Remanescente


Adicionalmente, é importante frisar que a Lei das S.A. permite que, caso remanes-
çam em circulação, após a realização da OPA, menos de 5% do total das ações emi-
tidas pela companhia, a Assembleia Geral delibere o resgate destas ações detidas por
acionistas minoritários. Por força do resgate, tais minoritários receberão o mesmo
valor pago na OPA por suas ações, que serão retiradas de nitivamente de circulação.

Determinação do Preço

De forma a assegurar que os acionistas minoritários não sejam prejudicados, a Lei


das S.A. e a regulamentação da CVM exigem que o preço a ser pago por ação no
âmbito de uma OPA seja determinado por empresa especializada e com experiência
neste tipo de avaliação. Busca-se, assim, garantir ao acionista minoritário um preço
justo por suas ações.

Na determinação do preço, poderão ser utilizados, conjunta ou isoladamente, os cri-


térios: patrimônio líquido contábil, patrimônio líquido avaliado a preços de mercado,
uxo de caixa descontado, comparação por múltiplos, cotação das ações no mercado,
todos xados pela Lei das S.A.. Pode ser utilizado, ainda outro método aceito pela CVM.

O avaliador prepara o laudo com pelo menos três referências de preço (utilizando
três critérios diferentes) e informa aquele que entende ser o justo para os efeitos da

224 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Lei 6.404/76. Normalmente o ofertante acata a sugestão do avaliador, mas ele tem a
liberdade para ofertar com base em outro critério, se assim desejar.

Pedido de revisão do Preço da Oferta Pública para Cancelamento


Na hipótese de um ou mais acionistas minoritários titulares de pelo menos 10% das
ações em circulação não concordarem com o preço oferecido na OPA, poderão requerer
a realização de assembleia, exclusiva para acionistas minoritários, a m de deliberar
sobre a realização de nova avaliação.

É importante destacar que, caso o resultado da nova avaliação seja igual ou menor do
que o preço por ação utilizado na OPA, os acionistas que tiverem tomado a iniciativa
ou que votaram favoravelmente a requerer a realização da Assembleia deverão arcar
com os custos incorridos pela companhia referentes à nova avaliação, incluindo os
custos do avaliador e da convocação e realização da assembleia.

Se o resultado da nova avaliação for melhor que o preço utilizado na OPA, este novo
valor prevalecerá, facultando-se ao ofertante desistir do processo de cancelamento
de registro.

7.6.3. OPA por Aumento de Part icipação

Em determinadas condições, caso o controlador aumente sua participação adquirin-


do novas ações, ele pode ser obrigado a promover uma oferta pública de aquisição das
ações dos minoritários.

O objetivo da OPA por Aumento de Participação é proteger os acionistas mino-


ritários contra a redução excessiva de liquidez das ações no mercado.

As ações detidas pelos controladores usualmente não estão disponíveis para nego-
ciação no mercado. Portanto, na prática, quando o controlador aumenta sua partici-
pação na companhia, ele retira ações de circulação. Com um menor número de ações
circulando no mercado, pode haver uma redução no número de negócios realizados,
prejudicando a correta preci cação dos papéis da companhia no mercado e, no limi-
te, di cultando a saída do investidor quando ele desejar se desfazer das suas ações.
Considerando que isso seria um prejuízo ao minoritário, o legislador decidiu estabe-
lecer algumas hipóteses de obrigatoriedade de realização dessa modalidade de OPA.

Primeiramente, a oferta por aumento de participação será obrigatória quando o acio-

Oferta Pública 225


nista controlador adquirir, por outro meio que não uma OPA, ações da companhia
que representem mais de um terço do total das ações em circulação de uma mesma
espécie/classe na data do início da vigência da Instrução CVM 345/2000, o que ocor-
reu em 4 de setembro de 2000.

A CVM poderá, ainda, determinar a realização da OPA por aumento de participação


quando o acionista controlador que detinha, na data da entrada em vigor da Instru-
ção CVM 345, mais da metade das ações de emissão da companhia de determinada
espécie ou classe, adquirir participação igual ou superior a 10% daquela mesma es-
pécie e classe em período inferior a 12 meses. Tal determinação somente será exigida
pela CVM caso se veri que que tal aquisição teve o efeito de impedir a liquidez das
ações da espécie e classe adquirida.

No primeiro caso, o requerimento de registro da Oferta deverá ser apresentado à


CVM no prazo de 30 dias, contados da data em que for veri cado o aumento de parti-
cipação do acionista controlador, enquanto que, na segunda hipótese, caberá à CVM
determinar o prazo para a aludida apresentação.

O acionista controlador poderá, no entanto, adotar procedimento alternativo à realiza-


ção da OPA. Para tanto, deverá solicitar à CVM autorização de dispensa de realização
da Oferta por Aumento de Participação, comprometendo-se, em contrapartida, a alie-
nar o excesso de participação no prazo de três meses, contados da aquisição das ações.

Decorrido o referido prazo e não tendo o acionista controlador alienado o excedente


de ações, deverá apresentar à CVM requerimento de registro de Oferta por Aumen-
to de Participação. Nesta modalidade de oferta pública, que deve seguir os mesmos
princípios gerais da OPA para cancelamento de registro, os titulares de mais de 10%
das ações em circulação no mercado podem requerer a convocação de uma assembleia
especial, na qual somente os acionistas minoritários terão direito a voto, para deliberar
sobre a realização de uma nova avaliação das ações de emissão da companhia.

Na hipótese da realização desta nova avaliação ser aprovada pelos acionistas mino-
ritários e o valor dela resultante ser superior ao preço originalmente ofertado pelo
acionista controlador, este somente poderá desistir da OPA caso se comprometa a
adotar o procedimento alternativo anteriormente descrito, alienando as ações exce-
dentes no mercado.

7.6.4. OPA por Alienação de Controle (Tag Along)

226 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Nos casos em que car caracterizada a alienação de controle de companhia aberta,
o novo controlador tem a obrigação de realizar oferta pública para adquirir as ações
pertencentes aos acionistas minoritários titulares de ações com direito a voto.

A Lei das S.A. confere aos acionistas minoritários com participação no capital votan-
te o direito ao tag along. Além disso, os regulamentos dos segmentos diferenciados
da BM&FBOVESPA e, em alguns casos, os próprios estatutos sociais das companhias
preveem situações que conferem direito ao tag along.

Tag along é o direito atribuído ao minoritário de alienar suas ações ao novo con-
trolador por ocasião da transferência do controle de companhia aberta.

Nos termos da Instrução CVM 361/2002, os destinatários da oferta pública por alie-
nação de controle são apenas os minoritários titulares de ações com direito a voto
pleno e permanente. Ou seja, os titulares de ações preferenciais sem direito a voto ou
com voto restrito não têm direito de exigir que o novo controlador também adquira
as ações por eles detidas1.

Nada impede, porém, e muitas companhias já vêm procedendo desta forma, que seja
incluído no estatuto social um dispositivo estendendo expressamente o direito ao tag
along aos titulares de ações sem direito a voto. Neste caso, eles também poderiam
vender as ações de sua propriedade na oferta pública por alienação de controle.

O preço a ser pago na oferta pública aos acionistas minoritários deve corresponder a,
no mínimo, 80% do valor por ação pago aos acionistas que alienaram o bloco de con-
trole. Essa porcentagem, entretanto, pode ser majorada por determinação estatutária,
aumentando ainda a essa proteção conferida aos acionistas minoritários.

Além disso, alguns níveis diferenciados de governança corporativa da BM&FBO-


VESPA exigem que as companhias assumam compromissos adicionais no que se
refere ao tag along. É o caso das companhias participantes do Novo Mercado e do
Nível 22, que devem estender a todos os acionistas as mesmas condições obtidas pelos
controladores na alienação do controle.

1
Conforme entendimento da CVM, ainda que tais acionistas tenham adquirido o direito de voto em função do não
pagamento de dividendos, eles não passam a ter direito de participar da oferta pública por alienação de controle, uma
vez que o direito a voto por eles adquirido não tem caráter permanente.
2
Até 09/05/2011, no Nível 2, a obrigação era de 100% do preço para as ações ON e 80% para as ações PN.

Oferta Pública 227


228 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
8. Bol sa de Val ores

O desenvolvimento do mercado primário de valores mobiliários depende da solidez do


mercado secundário existente, ou seja, da possibilidade de os investidores subscritores
das emissões conseguirem negociar posteriormente os valores mobiliários entre si. Isso
é relevante porque, por diversas razões, os investidores podem precisar se desfazer de
seus investimentos antes do prazo de vencimento. Além disso, no caso das ações, os
títulos sequer têm vencimento, já que as companhias não têm obrigação de resgatá-las.

Poucos investidores se interessariam em adquirir ações em uma oferta pública, se


não existisse um mercado organizado em que pudessem se desfazer de seus investi-
mentos a qualquer tempo. Evidentemente, cada investidor poderia negociar direta-
mente com outro, mas esse sistema seria ine ciente no que diz respeito ao encontro
de propostas, à de nição de preços, transparência e divulgação das informações,
segurança na liquidação, entre outros. Os mercados de bolsa e balcão buscam jus-
tamente eliminar essa ine ciência.

A principal função dos mercados de bolsa e de balcão é organizar, manter, con-


trolar e garantir ambientes ou sistemas propícios para o encontro de ofertas e a
realização de negócios com formação e ciente de preços, transparência e divul-
gação de informações e segurança na compensação e liquidação dos negócios.

Essas funções aumentam a con ança dos investidores no mercado secundário, de


maneira a fomentar o mercado primário e, portanto, as captações públicas de recur-
sos pelas companhias, função econômica principal do mercado de capitais.

Todo esse conjunto resulta em benefícios gerados pelas bolsas de valores para a eco-
nomia e a sociedade, entre os quais cabe destacar:

. Financiamento para a capitalização das empresas através da venda de ações;

. Estímulo à aplicação de poupanças em ações de companhias, com benefícios


para os diferentes setores da Economia;

. Facilidade nos processos de fusões e aquisições de companhias;

. Estímulo à redução da desigualdade na distribuição de rendas da sociedade;

230 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Aprimoramento da governança corporativa, com signi cativas melhoras
nos padrões de administração e e ciência das empresas;

. Abertura de oportunidades de participação no mercado de ações para pe-


quenos e médios investidores;

. Atuação como termômetro da economia do país;

. Veículo e caz para o nanciamento das iniciativas públicas de desenvolvi-


mento, pela capacidade de colocação de títulos públicos.

Com o passar do tempo, os mercados de bolsa e balcão assumiram também, além das
funções acima descritas, a responsabilidade pela autorregulação dos seus ambientes,
sistemas e operadores, com autonomia su ciente para normatizar, scalizar e punir
as operações realizadas em seus mercados. A função estatal, nesse modelo, se reduz
à supervisão e orientação do sistema, estabelecendo requisitos mínimos necessários,
objetivos a serem atingidos e controles necessários.

Mercados Regulamentados

Na legislação brasileira há três tipos previstos de mercados:

. mercado de bolsa;

. mercado de balcão organizado; e

. mercado de balcão não organizado.

Entretanto, não há conceito explícito de cada um deles. Os mercados de balcão não


organizado, por exemplo, são considerados aqueles em que as negociações são rea-
lizadas com participação de instituições integrantes do sistema de distribuição, que
não seja realizada em mercados de bolsa ou balcão organizado. Um conceito residual,
embora não se de na o que é um mercado de bolsa ou de balcão.

A regulamentação da CVM, especi camente a Instrução CVM 461/07, tentou es-


clarecer essas de nições. Em primeiro lugar, a instrução aplica-se ao que se cha-
mou de mercados regulamentados de valores mobiliários, assim compreendidos os
mercados de bolsa, de balcão organizado e de balcão não organizado. Manteve-se,
portanto, a estrutura prevista na legislação.

Bol sa de Valores 231


Da mesma forma, o conceito de mercado de balcão não organizado se manteve. No
que diz respeito aos mercados de bolsa e de balcão organizado, ou mercados orga-
nizados, como cita a norma, a instrução não criou conceitos, mas estabeleceu certas
características que de niriam um mercado como de bolsa ou de balcão organizado.
Nesse sentido, determinou, inclusive, características somente admissíveis ao merca-
do de balcão não organizado, considerando, para isso, elementos que poderiam criar
situações de risco para os investidores. Procurou, assim, deixar a cargo do mercado a
escolha pela utilização da estrutura de um ou outro mercado.

De acordo com a instrução, consideram-se mercados de bolsa aqueles que:

. funcionam regularmente como sistemas centralizados e multilaterais de ne-


gociação e que possibilitam o encontro e a interação de ofertas de compra e de
venda de valores mobiliários;

. ou permitem a execução de negócios tendo como contraparte formador de


mercado que assuma a obrigação de colocar ofertas rmes de compra e de venda,
respeitadas as condições estabelecidas na norma.

Entendem-se como sistemas centralizados e multilaterais de negociação aqueles em


que todas as ofertas relativas a um mesmo valor mobiliário são direcionadas a um
mesmo canal de negociação, cando expostas a aceitação e concorrência por todas as
partes autorizadas a negociar no sistema.

Nos ambientes de bolsa, todas as informações sobre os negócios, como os preços, as


quantidades e horários, entre outras, devem ser publicadas continuamente, com no
máximo 15 minutos de atraso. As entidades administradoras de mercados de bolsa
devem manter sistemas de controle de riscos e, especialmente, manter mecanismo
de ressarcimento de prejuízos, para assegurar aos investidores o ressarcimento de
prejuízos decorrentes de erros ou omissões das instituições intermediadoras ou seus
administradores e empregados.

Nos mercados de balcão organizado, além das negociações em sistemas centralizados


e multilaterais ou da participação de formador de mercado, admite-se ainda o regis-
tro das operações previamente realizadas. Nesse mercado, a negociação ou o registro
das operações pode ocorrer sem a participação direta de integrante do sistema de
distribuição, desde que a liquidação da operação seja assegurada contratualmente
pela entidade administradora do mercado de balcão organizado ou que seja realizada
diretamente entre as partes.

232 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Além disso, nos mercados de balcão organizado, as informações sobre os negócios,
como os preços, as quantidades e os horários podem ser diferidas, não sendo obriga-
tória a divulgação contínua, dependendo das características do mercado.

Assim, um mercado é considerado de bolsa ou de balcão organizado conforme apre-


sentem uma ou outra característica acima cita. Ainda, o volume operado e o público
investidor visado são também considerados para classi cação de um mercado como
de bolsa ou de balcão organizado, pois, quanto maior o volume e maior a participa-
ção de investidores de varejo, maior o impacto no mercado e a maior a necessidade de
intervenção regulatória. Destacando que a possibilidade de realizar apenas o registro
das operações previamente negociadas, o diferimento da divulgação de informações
e a possibilidade de atuação direta, sem intermediário, são características aplicáveis
exclusivamente aos mercados de balcão organizado.

Entidades Administradoras de Mercados Organizados

Os mercados organizados de valores mobiliários devem ser estruturados, mantidos


e scalizados por Entidades Administradoras, autorizadas pela CVM, que podem se
constituir como sociedade anônima ou associação, embora boa parte da estrutura
exigida pela norma assemelhe-se muito à organização de uma sociedade anônima.

A esse respeito, tradicionalmente as bolsas se organizavam sob a forma de uma as-


sociação de corretoras, detentoras de títulos patrimoniais, as únicas habilitadas a
operar nos seus recintos. Com o desenvolvimento do mercado, essa forma de or-
ganização evoluiu para um modelo em que as bolsas se constituem sob a forma de
sociedades por ações, com ns lucrativos, em que a habilitação para operar em seus
recintos independe da posse de ações ou qualquer outro vínculo, estando vinculada
apenas a quesitos estruturais, tecnológicos e formais.

Desmutualização é o nome dado ao processo de transformação das Bolsas de


Valores, que passaram de associações civis sem ns lucrativos, com títulos pa-
trimoniais detidos pelas corretoras, para sociedades com ns lucrativos, com
seu capital dividido em ações.

Essa mudança gerou certa descon ança do mercado sobre a capacidade de uma socie-
dade com ns lucrativos criar estrutura independente e e ciente de autorregulação.
Nesse sentido, a Instrução CVM 461/07 determina que, entre os órgãos necessários
na estrutura de uma Entidade Administradora, deve constar um Conselho de Autor-

Bol sa de Valores 233


regulação, um Departamento de Autorregulação e um Diretor do Departamento de
Autorregulação, que terão a competência exclusiva sobre as atividades autorregula-
doras da entidade. Entre elas, a scalização e supervisão das operações cursadas nos
mercados organizados que estejam sob sua responsabilidade. Além disso, a CVM
se preocupou no estabelecimento de diversas regras que garantem a autonomia das
decisões dos órgãos autorreguladores.

Atualmente no Brasil, temos a BM&FBOVESPA como principal entidade administra-


dora de mercado de bolsa para as negociações de ações. Ela é a única bolsa de valores
do país nesse segmento, embora a legislação não impeça a criação de outras bolsas.
Administra também outros sistemas, de bolsa e de balcão, como o BovespaFix, para ne-
gociação de títulos de dívida corporativa, e o Sisbex, para negociação de títulos públicos
de renda xa, contratos de câmbio, títulos privados, contratos de energia e derivados.

Além da BM&FBOVESPA, a Cetip também atua como entidade administradora de


mercados organizados. Oferece serviços de registro, central depositária, negociação
e liquidação de ativos e títulos, é líder no registro e depósito de ativos de Renda Fixa e
Derivativos de Balcão, além de concentrar grande parte das negociações eletrônicas
de títulos públicos e privados.

8.1. A BM& FBOVESPA

8.1.1. Histórico

Longe vai o ano de 1890, quando Emílio Rangel Pestana cria uma Bolsa Livre para
operar valores nanceiros na cidade de São Paulo. A iniciativa frustra-se no ano
seguinte por causa dos percalços do Encilhamento1, resultando no fechamento da
Bolsa. Só em 1895 a iniciativa paulista cria a Bolsa de Títulos de São Paulo, que
reúne os corretores de títulos e de câmbio.

A cronologia da estrutura patrimonial da Bolsa segue esta série de eventos:

1
Política nanceira de estímulo á indústria, criada pelo Ministro Ruy Barbosa, baseada no aumento do
meio circulante com a criação de bancos emissores, trocando o lastro-ouro por títulos da dívida pública,
que resultou em espiral in acionária e grande número de falências.

234 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ANO EVENTO

Transforma-se em Bolsa Oƥcial de Valores de São Paulo, entidade oƥcial


1934 corporativa vinculada à Secretaria de Finanças do Estado de São Paulo, com
corretores oƥciais de f undos públicos nomeados pelo governo.

Deixa de ser oƥcial, passa a chamar-se Bovespa - Bolsa de Valores de São Paulo,
1967 e corretores oƥciais se transformam em sociedades corretoras (ou empresas
individuais com o mesmo objeto social).

Cri a-se a BM& F – Bol sa Mercant i l e de Fut uros, com a Bovespa como
1986
i nst i t ui dora.

Acordo entre a BM&Fe a BMSP– Bolsa de Mercadorias de SP, com troca de nome
1991
para BM&F – Bolsa de Mercadorias e Futuros.

1997 Acordo entre a BM&F e a BBF – Bolsa Brasileira de Futuros, do Rio de Janeiro.

1999 Uniƥcação das operações de pregão com as demais bolsas de valores do país

2007 Desmutualização da Bovespa e da BM&F

2008 Integração das bolsas que passam a chamar-se BM&FBOVESPA

Mudanças organizacionais justificam esses eventos, com a Bolsa dando os se-


guintes passos:

. Como Bolsa O cial de Valores, torna-se uma associação civil, sem ns lucra-
tivos, que congrega os corretores o ciais de fundos públicos, caracterizados como
pro ssionais autônomos ou rmas individuais, que dirigem seus negócios para a cor-
retagem de ações e obrigações, e exclusividade na intermediação de câmbio o cial.

. Ainda nessa estrutura, em outubro de 1966, o Banco Central do Brasil cria


novas regras para a formação de sociedades corretoras, em substituição aos cor-
retores de fundos públicos, mantendo-se reguladas pela Bolsa de Valores. Com
isso, a Bolsa O cial de Valores de São Paulo passa a funcionar como Bolsa de
Valores de São Paulo, sem alterar sua condição de associação civil, agora consti-
tuída por diversas sociedades corretoras, que detêm títulos patrimoniais da enti-
dade, cuja soma equivaleu ao patrimônio da Bolsa.

. Em ns de 1976, cria-se a Comissão de Valores Mobiliários, e a normatização das

Bol sa de Valores 235


atividades das Bolsas e das sociedades por ações passa ao âmbito daquela entidade.

. Em 2007, a con guração da Bolsa modi ca-se por completo: deixa de ser uma
associação civil e transforma-se numa companhia, e os títulos patrimoniais das
corretoras integralizam o capital da nova companhia. Ocorre a desmutualização2,
ou transformação da associação civil integrada exclusivamente pelos membros re-
gistrados em sociedades por ações, e da abertura do capital das companhias resul-
tantes de referida transformação para a negociação das respectivas ações em bolsa
de valores. A desmutualização da Bovespa envolve duas etapas, realizadas no
mesmo dia: cisão parcial da Bovespa, com a versão de parcelas de seu patrimônio
em duas sociedades (Bovespa Holding e Bovespa Serviços S.A.); e incorporação
das ações da Bovespa Serviços ao capital da Bovespa Holding. Desmutualizando,
as sociedades corretoras detentoras de títulos patrimoniais da Bovespa passam a
proprietárias de ações representativas do capital da Bovespa Holding.

. A desmutualização da BM&F se processa da mesma forma. Menos de um


mês depois, há a cisão parcial da BM&F, com a versão das parcelas de seu pa-
trimônio e outros direitos associativos em duas sociedades: BM&F Holding e
BM&F Serviços S.A. (“Bovespa Serviços”), e incorporação das ações da BM&F
Serviços ao capital da BM&F Holding.

. Finalmente, em maio de 2008, a BOVESPA e BM&F se integram, formando,


então, a BM&FBOVESPA S.A.

. Com a desmutualização, uma sociedade corretora passa a poder usar os ser-


viços da Bolsa, sem a exigência de possuir um título patrimonial.

8.1.2. Situação atual

A BM&FBOVESPA é atualmente uma companhia de capital aberto formada a partir


da integração das operações da Bovespa e da BM&F. Sua principal função é propor-
cionar um ambiente transparente e líquido, adequado à realização de negócios com
valores mobiliários. Somente através das corretoras, os investidores têm acesso aos sis-
temas de negociação para efetuarem suas transações de compra e venda desses valores.

Como principal instituição brasileira de intermediação para operações do mercado

2
Associações civis sem ns lucrativos são entidades de benefício mútuo destinadas a proporcionar bens ou serviços a
um círculo restrito de associados ou sócios. Ao deixar de ser uma associação, a Bolsa promoveu a sua desmutualização
e consequente transformação em sociedades por ações.

236 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


de capitais, a companhia desenvolve, implanta e provê sistemas para a negociação de
ações, derivativos de ações, títulos de renda xa, títulos públicos federais, derivativos
nanceiros, moedas à vista e commodities agropecuárias.

Por meio de suas plataformas de negociação, realiza o registro, a compensação e a


liquidação de ativos e valores mobiliários transacionados e a listagem de ações e de
outros ativos, bem como divulga informação de suporte ao mercado. A companhia
também atua como depositária central dos ativos negociados em seus ambientes,
além de licenciar so wares e índices.

A Bolsa brasileira desempenha também atividades de gerenciamento de riscos das


operações realizadas por meio de seus sistemas. Para tanto, possui uma estrutura de
clearing de ações, derivativos, câmbio e ativos, que atua de forma integrada com o
Banco BM&FBOVESPA, de maneira a assegurar o funcionamento e ciente de seus
mercados e a consolidação adequada das operações.

Atualmente a única bolsa de valores, mercadorias e futuros em operação no Brasil, a


BM&FBOVESPA ainda exerce o papel de fomentar o mercado de capitais brasileiro.
Também gerencia investimentos sociais, com foco no desenvolvimento de comuni-
dades que se relacionam com seu universo.

Tendo em vista sua área de atuação, a BM&FBOVESPA está sujeita à regulação e à


supervisão da CVM e do Banco Central do Brasil. É ainda uma entidade autorregu-
ladora, por meio da BM&FBOVESPA Supervisão de Mercados (BSM), que opera sob
a supervisão da CVM.

A Instrução CVM 461/07 determina que a BM&FBOVESPA deve estabelecer mecanismos


e procedimentos e cazes para que a BSM scalize a observância das regras e normas de
conduta da Bolsa, bem como da regulamentação vigente. Assim a BSM pode identi car
violações anormais de negociação ou comportamentos suscetíveis de colocar em risco a
regularidade de funcionamento, a transparência e a credibilidade do mercado.

A BSM atua em duas frentes: supervisão de mercado e auditoria de participantes.


Como medidas disciplinares, a BSM pode aplicar as seguintes penalidades: advertên-
cia, multa, suspensão (até 90 dias) ou inabilitação temporária (até 10 anos).

8.1.3. Empresas do grupo

Completada a reestruturação das diversas empresas que resultaram da desmutuali-

Bol sa de Valores 237


zação, a BM&FBOVESPA tem atualmente as seguintes empresas subsidiárias:

GRUPO BM& FBOVESPA

Const it uído como subsidiária int egral da ant iga BM& F


t em como ƥnalidade f acilit ar a compensação e a li -
quidação ƥnanceira das operações realizadas em seus
BANCO BM&FBOVESPA ambient es de negociação e f uncionar como import ant e
mecanismo de mit igação de risco e de suport e opera-
cional .

Responsável pel a ƥscalização das operações e das at i -


BM& FBOVESPA vidades dos part icipant es do mercado e dos agent es de
SUPERVISÃO compensação e/ ou cust ódia perant e a Cl earing , bem
DEMERCADOS como pel a administ ração do Mecanismo de Ressarci -
ment o de Prejuízos (MRP).

Associação civil sem ƥns lucrat ivos que reúne, além da


BM& FBOVESPA, as bol sas de mercadorias dos est ados
de Goiás, Mato Grosso do Sul , Ceará, Minas Gerais, Para-
ná e Rio Grande do Sul e da cidade de Uberl ândia (MG).

BBM - BOLSA BRASILEIRA O objet ivo da BBM é desenvolver e prover o f unciona-


DEMERCADORIA ment o de sist emas para negociação de mercadorias,
bens, serviços e t ít ul os, nas modalidades a vist a, a pra-
zo e a termo, viabilizando a f ormação de grande merca-
do nacional para commodit ies agropecuárias, com me-
canismos modernos de f ormação de preços e sist ema
organizado de comercialização.

Escri t ório de represent ação da Companhia em Nova


Iorque (EUA) e of erece inf ra-est rut ura e suport e às
corret oras de valores e mercadorias que desenvolvem
at ividades junt o a client es est rangeiros.

Out ras at ividades do escri tório de Nova Iorque en-


BM& F USA INC.
volvem o rel acionament o com órgãos regul adores e
governament ais est rangeiros, bem como com bol sas
est rangeiras para anal isar o pot encial de alianças est ra-
t égicas, a dif usão de inf ormações sobre at ividades da
BM& FBOVESPA para invest idores est rangeiros e a cap-
t ação de inf ormações int ernacionais relevant es.

A BM& FBOVESPA é det ent ora de 99 t ít ul os pat ri mo-


BVRJ - BOLSA DEVALORES
ni ais da Bol sa de Val ores do Ri o de Janeiro (BVRJ),
DO RIO DEJANEIRO
com par t i ci pação correspondent e a 86,09% do seu
pat ri môni o soci al .

238 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


8.2. At ivos negociados

Por questões estruturais, os ativos negociados na BM&FBOVESPA dividem-se nos


segmentos Bovespa e BM&F.

8.2.1. Segmento Bovespa

MERCADOS OPERADOS NO SEGMENTO BOVESPA

• Ações
• Direit os de subscrição de ações
• Recibos de ações
AÇÕES
• RCSA – Recibos de Cart eira Sel ecionada de Ações
• BDRs pat rocinados
• Opções

• Fundo PIBB (Papéis Índice Brasil BM& FBOVESPA – 50)


• Fundos ETF (f undos de índice)
OUTROS VALORES • POP – Prot eção de Invest iment o com Part icipação
MOBILIÁRIOS DE • bônus de subscrição
RENDA VARIÁVEL • opções não padronizadas (warrant s) de compra e
venda sobre valores mobil iários
• out ros aut orizados pel a CVM

• Debênt ures
• Not as promissórias
• CRIs (Cert i ƥcados de recebíveis Imobiliários)
TÍTULOS DE
• FIDCs (Fundos de Recebíveis)
RENDA FIXA
• FII (Fundos de Invest iment o Imobiliário)
• Fundos de investimento em direitos creditórios (FDIC)
• Fundos de invest iment o em quot as de FDIC

Formas de negociação

As negociações de ações no mercado podem ser realizadas de duas formas: à vista e a


prazo. As operações à vista são aquelas em que os negócios são realizados e liquida-
dos à vista. As operações a prazo são aquelas realizadas para liquidação em data futu-
ra. As operações a prazo podem ser realizadas em três diferentes mercados: mercado
a termo, futuro e de opções, conforme características especí cas de cada um deles.

Mercado à Vista

No mercado à vista, o comprador realiza o pagamento e o vendedor entrega as ações

Bol sa de Valores 239


objeto da transação em D+3, ou seja, no terceiro dia útil após a realização do negócio.
Nesse mercado, os preços são formados em pregão em negociações realizadas no sis-
tema eletrônico de negociação PUMA Trading System.

Mercado a termo
No mercado a termo são negociados contratos para compra ou venda de quantidade
especí ca de ações, para liquidação em uma data futura, em prazo determinado, a
um preço xado. Geralmente, os prazos dos contratos a termo podem variar entre 16
e 999 dias corridos. Nesse mercado, os preços dependem do valor da ação no mercado
à vista e da taxa de juros esperado para o período do contrato.

Nos negócios a termo, o sistema de compensação e liquidação da bolsa exige um


depósito de garantia, que podem ser oferecidas na forma de cobertura ou margem. A
cobertura é o depósito, pelo vendedor a termo, do ativo objeto da operação como ga-
rantia. Margem é um valor depositado, conforme regras do sistema de compensação,
que procura reduzir os riscos de liquidação da operação.

Nesse mercado, a liquidação pode ser por decurso de prazo, ou seja, no vencimento
do contrato, ou antecipada, antes da data do vencimento do contrato. Somente o com-
prador pode liquidar a operação antecipadamente, se assim desejar, em um modelo de
contrato conhecido como “à vontade do comprador”. A liquidação pode ser somente
nanceira, podendo ser solicitada até V-3, terceiro dia útil anterior ao vencimento do
contrato, mediante venda à vista, pelo comprador, das ações compradas a termo.

Mercado Futuro

Assim como no mercado a termo, no mercado futuro são negociados contratos para li-
quidação em data futura, a preço xado. O preço é função do valor do ativo no merca-
do à vista e da taxa de juros esperada para o período. Porém, os dois mercados diferem
em aspectos operacionais, especialmente no que diz respeito à garantia e à liquidação.

Também no mercado futuro, há exigência de depósito de garantia, como cobertura ou


margem. Porém, os contratos sujeitam-se ao ajuste diário de perdas e ganhos. Nesse
processo, todas as posições em aberto são avaliadas diariamente em relação a um
preço de referência, conhecido como preço de ajuste diário. O preço de ajuste diário é
calculado pelo preço médio dos negócios realizados com o papel no mercado futuro
no período da tarde. Assim, a diferença, positiva ou negativa, entre os preços de ajuste
diário de dois pregões consecutivos ou entre o preço de ajuste e o preço do contrato

240 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


fechado no dia, será paga ou recebida pelos investidores com posição em aberto.

A liquidação dos contratos futuros é calculada pelo preço médio dos negócios rea-
lizados com o ativo objeto no mercado à vista na data de vencimento. Entretanto, o
investidor que desejar pode sair de sua posição por meio de uma operação oposta
envolvendo o mesmo ativo objeto e mês de vencimento. Com isso, o investidor “zera”
a sua posição e não precisa ir para a liquidação física. Assim, a data de vencimento é
a última data em que os negócios podem ser encerrados por meio da realização dessa
operação inversa. Do contrário, a liquidação deverá ser obrigatoriamente física. Os
contratos têm vencimentos todos os meses, sempre na terceira segunda-feira.

Mercado de Opções

No mercado de opções são negociados contratos que garantem o direito de compra


ou de venda de uma determinada ação dentro de um prazo estipulado, a um valor
pre xado. Esse valor pre xado é conhecido como preço de exercício ou, na sua ex-
pressão em inglês de strike price. Já o valor do contrato negociado entre as partes, ou
seja, o preço para fechamento do contrato, é chamado de prêmio. Então, prêmio é o
preço pago pelo comprador da opção para ter o direito de comprar (opção de com-
pra, ou call) ou vender (opção de venda, ou put) determinada quantidade de ações
ao preço estipulado em contrato (preço de exercício) durante um certo período de
tempo (até o vencimento da opção) ou em uma data especí ca.

Os compradores dos contratos de opção são conhecidos como titulares da opção. Em


uma opção de compra, ele adquire o direito de comprar e em uma opção de venda ele
tem o direito de vender, conforme as demais características do contrato e, para isso,
pagam o prêmio. Por outro lado, os vendedores dos contratos recebem esse prêmio e
assumem a obrigação de, caso o comprador exerça o seu direito, vender ou comprar
o ativo nas condições previamente estipuladas.

As opções sobre ações têm vencimento na terceira segunda-feira de cada mês. A liqui-
dação da negociação é realizada em D+1, no primeiro dia útil subsequente à negociação
e a liquidação do exercício é feita em D+3, no terceiro dia útil após o dia do exercício.

As garantias podem ser depositadas na forma de cobertura ou margem, conforme


padrões estabelecidos pela bolsa.

Bol sa de Valores 241


8.2.2. Segmento BM& F

No segmento BM&F, operam-se os mercados derivativos de Mercadorias e Futuros


referenciados em:

DERIVATIVOS AGROPECUÁRIOS DERIVATIVOS FINANCEIROS

Açúcar Ouro

Boi Gordo Índi ces (Ibovespa, IBrX-50, S& P, FTSE, et c)

Caf é Arábica Taxa de Câmbio (dól ar, euro, libra, etc)

Et anol Taxas de Juro (cambi al , IGP-M, IPCA, DI, et c)

Soja Tít ul os da Dívida Ext erna

Os minicontratos disponíveis hoje são:

MINICONTRATOS FINANCEIROS MINICONTRATOS AGROPECUÁRIOS

Mini de Dól ar Mini de Boi Gordo

Mini de Euro Mini de Caf é Arábica

Mini Ibovespa

Créditos de carbono

Conforme esclarecimentos fornecidos pela BM&FBOVESPA, o Brasil é um dos pa-


íses comprometidos com a causa da redução das emissões de gases do efeito estufa
(GEE). É também signatário do MDL — Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
instrumento de exibilização estabelecido pelo Protocolo de Kyoto3 para facilitar o
alcance das metas de redução de emissão de GEE de nidas para os países que rati -
caram aquele Protocolo.

Resulta daí a criação do mercado de carbono na BM&FBOVESPA, ambiente eletrôni-


co de negociação desenvolvido para viabilizar, de forma ágil, segura e transparente,

3
O conceito surgiu a partir de acordos ambientalistas internacionais, como o Protocolo de Montreal, Eco92, Protocolo
de Kyoto e Rio+10. Em 1997, em Kyoto, as reduções voluntárias de CO2 se transformaram em obrigatórias. O Protocolo
de Kyoto estabelece que a emissão de CO2 deve ser reduzida em torno de 5% ao que era emitido em 1990.

242 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


o fechamento de negócios com créditos gerados por projetos de MDL e no âmbito do
mercado voluntário. As operações são realizadas por meio de leilões eletrônicos, via
web, e agendados pela BM&FBOVESPA a pedido de entidades — públicas ou priva-
das — que desejem ofertar seus créditos de carbono no mercado.

8.2.3. Câmbio

As operações de câmbio (Pronto Eletrônico) no âmbito da BM&FBOVESPA são regi-


das pelo Sistema de Negociação de Operações de Câmbio em Bolsa, que é desenvolvi-
do, implantado e gerido pela bolsa, em ambiente de pregão eletrônico.

Participam deste mercado os bancos e instituições autorizadas a operar em câmbio,


e suas normas são regulamentadas pelo Regulamento da Câmara de Registro, Com-
pensação e Liquidação das Operações de Câmbio.

8.3. Funcionament o da Bol sa de Val ores

8.3.1. As etapas da negociação

O processo que envolve a compra e a venda, tanto no mercado primário como no secun-
dário, pode ser dividido em três fases: pré-negociação, negociação e pós-negociação.

Pré-negociação (Pré-trading)

Compreende os serviços de informação ao mercado e as vendas de sinais e cotações.

Negociação (Trading)
Ocorre quando os investidores, representados pelas Corretoras ou Distribuidoras,
enviam ordens de compra e venda para o pregão eletrônico - sistema de negociação.
Para que a efetivação desse negócio seja concluída, é necessária uma terceira fase,
conhecida como pós-negociação.

Pós-negociação (Pós-trading)
Ocorre com as seguintes etapas da compensação, liquidação e custódia (guarda
dos ativos).

Bol sa de Valores 243


Essas etapas serão mais bem detalhadas nos tópicos seguintes.

8.3.2. Sistemas de negociação da BM& FBOVESPA

Introduzido recentemente pela BM&FBOVESPA, o novo sistema de negociação


PUMA Trading System foi desenvolvido em parceria com o CME Group e substi-
tuiu o antigo sistema Mega Bolsa. Considerado tecnologicamente muito superior, o
PUMA trouxe uma série de benefícios, entre eles: melhor desempenho em processa-
mento e velocidade de execução de ofertas; simpli cação do acesso, com a uni cação
do cadastro de operadores para todos os segmentos; e negociação de diferentes clas-
ses de instrumentos em uma mesma plataforma.

No modelo atual de negociação, representantes de corretoras, distribuidoras de va-


lores e bancos de investimento que pleitearem seu cadastramento e forem aceitos,
podem intermediar operações na BM&FBOVESPA. Pessoas físicas e jurídicas podem
também acessar diretamente os pregões, desde que devidamente cadastrados junto
a um intermediador, que será responsável pelas operações dos seus clientes. Desde
2009, inclusive, clientes podem atuar no modelo de DMA para colocar ordens auto-
matizadas (algorithmic trade) e fechar negócios nos pregões.

244 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Os usuários habilitados acessam o sistema de negociação da Bolsa para registro de
ordens de compra e de venda, bem como para receber outras informações. As ordens
de compra ou de venda dos clientes são exibidas seguindo critérios especí cos (me-
lhor preço e sequência cronológica de registro no sistema, nessa ordem), em tempo
real, aos demais participantes conectados no sistema. Ofertas de compra e de venda
são instantaneamente divulgadas ao mercado por meio do sistema de informações.
Uma vez fechado o negócio a informação sobre quantidade negociada da ação, o
preço praticado e horário do evento também é veiculada no sistema.

A Bolsa também esta trabalhando no aprimoramento do seu sistema de registro e


gerenciamento de operações de balcão, ao desenvolver um novo sistema, junto com
a Calypso Technology, considerado um dos sistemas mais exíveis e completos do
mundo para registro, preci cação, avaliação de risco e gerenciamento do ciclo de
vida destes produtos. O objetivo deste desenvolvimento é modernizar, aperfeiçoar e
expandir esse serviço de registro de operações de derivativos de balcão, oferecendo
qualidade e agilidade aos clientes e informações completas aos órgãos reguladores.

8.3.3. Formas de acesso à BM& FBOVESPA

Acesso pelos Intermediários

O sistema de negociação é acessado diretamente por pro ssionais de operações das


corretoras para envio de ofertas em nome de clientes e para carteira proprietária.

Fluxo da ordem

O cliente envia sua ordem ao intermediário e este insere a oferta no sistema de nego-
ciação, por meio de uma tela (terminal) de negociação, fornecida ou não pela BVMF.

Acesso via mesa

Destinado exclusivamente ao envio de ordens por pro ssionais de operações das


mesas das corretoras, via tela de negociação, seja fornecida pela Bolsa ou não.

Repassador

Pode ser Intermediário autorizado pela CVM e/ou Banco Central (não corretoras parti-
cipantes), vinculado à corretora do segmento Bovespa, ou Agente autônomo, vinculado
à corretora do segmento Bovespa e não sicamente lotado nas dependências destas.

Bol sa de Valores 245


Acesso direto patrocinado

O sistema de negociação é acessado diretamente pelo investidor/cliente nal para o


envio de suas ordens à Bolsa (acesso direto ao mercado – DMA)

Fluxo da ordem

O cliente envia sua ordem para o sistema de negociação por meio de tela de negociação
fornecida pelo ISV (Independent So ware Vendor) ou desenvolvida pela corretora.

O acesso direto do cliente nal deve ser autorizado/patrocinado por sua corretora.

O Direct Market Access (DMA) é um modelo de negociação que permite que o cliente
nal tenha acesso direto ao ambiente eletrônico de negociação em Bolsa, representado
e sob a responsabilidade do participante. Desta forma, o investidor pode enviar suas
próprias ofertas ao sistema de negociação e recebe, em tempo real, as informações de
mercado, incluindo o livro de ofertas.

A negociação via Conexão Direta proporciona aos clientes importantes benefícios,


dentre os quais podemos destacar:

. Maior autonomia operacional: o cliente detém maior controle sobre o uxo


de envio, alteração, cancelamento e con rmação de suas ordens.

. Maior velocidade com relação ao modelo tradicional de acesso indireto:


com consequente aumento da e ciência no fechamento de negócios e na captura
de oportunidades de mercado.

. Redução de erros: de execução, operacionais e demais riscos associados à


emissão de ordens para o participante de Negociação, uma vez que as ordens pas-
sam a ser inseridas nos sistemas da BM&FBOVESPA diretamente pelos clientes.

. Utilização de Automated Trading Systems (ATS): o cliente obtém a possi-


bilidade de desenvolver estratégias de negociação baseadas em programas de
computador ou algorithmics trading, como também são conhecidos.

É importante mencionar que a maior autonomia do participante pode re etir em uma


maior possibilidade de risco operacional ao enviar a ordem para o sistema. A nova plata-
forma, PUMA, fortaleceu alguns elementos para agregar maior segurança para o mercado.

246 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


DMA Tradicional (Modelo 1)
O DMA Tradicional consiste no roteamento de ofertas via infraestrutura tecnológica
(física) da corretora, admitindo duas con gurações: conexão direta do cliente à in-
fraestrutura da corretora e conexão do cliente a uma empresa provedora de serviço
de roteamento de ordens. Exemplo: homebroker.

Via provedor (Modelo 2)

O cliente conecta-se à empresa provedora de DMA, enquanto esta se conecta à


BM&FBOVESPA. O vínculo lógico entre o cliente e a corretora é controlado pelos
sistemas da BM&FBOVESPA e da empresa provedora de DMA, uma vez que as men-
sagens enviadas pelo cliente não trafegam pela infraestrutura tecnológica da correto-
ra, mas sim pela infraestrutura da empresa provedora de DMA.

Conexão Direta (Modelo 3)

Conexão direta do cliente a um data center externo à BM&FBOVESPA. Na Co-


nexão Direta, as ofertas são enviadas por meio de conexão direta do cliente à
BM&FBOVESPA, sem a utilização da infraestrutura tecnológica da corretora ou de
uma empresa provedora de DMA. Assim como nos demais modelos da DMA, é
mantido o vínculo lógico do cliente com a corretora que lhe concede o acesso, esta-
belece limites operacionais e monitora suas operações.

Co-Location (Modelo 4)

Conexão direta do cliente com um data center na BM&FBOVESPA, sem a utilização


da infraestrutura tecnológica da corretora ou de uma empresa provedora de DMA.
O acesso via Co-Location está disponível nas modalidades Corretora e Investidor.
Entenda as diferenças:

. Co-Location Corretora: Modalidade de contratação do acesso pela corretora,


cabendo somente a ela acessar a unidade de hospedagem e os equipamentos de
negociação instalados na Bolsa para manuseio, administração, gestão e controle. A
corretora poderá instalar em seus servidores so wares para envio de ordens tanto
para carteira própria como para carteiras de clientes. Caso sejam compartilhadas
por diversos clientes, deverão ser distribuídas entre eles a critério da corretora.

. Co-Location Investidor: Modalidade de contratação do acesso pelo inves-


tidor e seu participante de negociação (corretoras, distribuidoras etc), cabendo

Bol sa de Valores 247


somente ao primeiro acessar a unidade de hospedagem e os equipamentos de ne-
gociação instalados na BM&FBOVESPA para manuseio, administração, gestão
e controle. O cliente poderá instalar em seus servidores so wares para envio de
ordens exclusivamente em nome de carteiras sob sua gestão.

8.3.4. Compensação e Liquidação

No mercado de valores mobiliários, o processo de compra e venda envolve, além da


negociação, a etapa pós-negociação de entrega dos ativos e o correspondente paga-
mento. Essa etapa é realizada por intermédio dos sistemas de compensação e liquida-
ção de títulos e valores mobiliários, das Câmaras de Compensação e Liquidação, que
se constituem em importante mecanismo de segurança para os investidores.

As câmaras de compensação e liquidação de títulos e valores mobiliários integram o


sistema de pagamentos brasileiros — SPB — e, portanto, sujeitam-se as suas normas
e regras operacionais. O SPB foi planejado de forma a garantir a entrega dos ativos e
o seu correspondente pagamento, a m de reduzir os riscos das operações e, conse-
quentemente, garantir a segurança do sistema como um todo.

Compensação: cálculo das obrigações ou direitos líquidos dos participantes do


sistema, de forma que apenas os resultados líquidos de suas operações em rela-
ção aos outros participantes do mercado, tanto dos ativos quanto dos valores
nanceiros, é que constituem de fato um direito ou obrigação contra o sistema.
Liquidação: processo nal de extinção dos direitos ou obrigações (calculados na
fase de compensação), em que a transferência dos ativos e dos recursos nancei-
ros efetivamente ocorre.
Para viabilizar o uxo dessas operações, os sistemas de compensação e liqui-
dação atuam interligados a sistemas de custódia de valores mobiliários, para a
liquidação dos ativos, como também a contas de liquidação no Banco Central do
Brasil, para a liquidação nanceira da operação.

Caso um sistema de compensação e liquidação seja considerado pelo Banco Central


do Brasil como sistemicamente importante, ele deverá assumir a posição de contra-
parte central das operações e contar com mecanismos e salvaguardas que lhes permi-
tam assegurar a certeza da liquidação das operações nele compensadas e liquidadas.

O sistema de compensação e liquidação de ações, derivativos de ações e títulos cor-

248 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


porativos da BM&FBOVESPA, como exemplo, é considerado sistemicamente impor-
tante e, por isso, cumpre o seu papel de contraparte central das operações, como
também possui salvaguardas para o correto funcionamento do sistema.

Como contraparte central, a instituição se interpõe entre operações e contratos, tor-


nando-se a compradora para todos os vendedores e a vendedora para todos os com-
pradores. Como mecanismo de proteção do sistema, desenvolveu uma hierarquia de
distribuição de responsabilidades e alocação de garantias, que envolve uma estrutura
composta pelos investidores, corretoras, agentes de compensação e a própria câmara.

Nesse mecanismo, somente os agentes de compensação são os participantes diretos


do sistema de compensação. Assim, os investidores são responsáveis pelas suas obri-
gações perante as corretoras, que são as responsáveis perante os agentes de compen-
sação com que operam (caso não desempenhem também essa função), que, por m,
são responsáveis perante a Câmara.

Em cada etapa, há também exigências de garantias das operações cursadas, além de


fundos de proteção. Criou-se, assim, uma estrutura moderna e con ável para a com-
pensação e liquidação dos títulos e valores mobiliários.

Esse processo pode se dar das seguintes formas:

. Liquidação por saldo bruto: A liquidação das operações ocorre para cada
operação por agente.

. Liquidação por saldo líquido: A compensação e a liquidação das operações


ocorrem por saldo líquido entre os agentes.

. Compensação e Liquidação Multilateral: A compensação e a liquidação


das operações ocorrem por saldo líquido de cada agente com a clearing. Este é
o principal método utilizado pela BM&FVOBESPA.

8.4. Cent ral Deposit ária

A custódia de valores mobiliários compreende o serviço de guarda e de exercício dos


direitos relacionados, tais como recebimento de dividendos e boni cações, resgate,

Bol sa de Valores 249


amortização ou reembolso, e exercício de direitos de subscrição. As centrais depositá-
rias são as instituições nanceiras autorizadas pela CVM a prestar esse serviço.

A instituição nanceira depositária adquire a propriedade duciária dos valores mobi-


liários sob sua custódia, de forma a poder exercer determinados direitos em nome e por
conta do real proprietário que os deixou depositados. Porém, elas não podem alienar
os valores mobiliários depositários ou reaplicar as importâncias recebidas, salvo auto-
rização expressa em cada caso. Da mesma forma, salvo mandato expresso com prazo
não superior a um ano, as centrais de custódia não podem exercer o direito de voto que
couber às ações sob sua custódia.

Nas negociações realizadas nos mercados do Segmento Bovespa da BM&FBOVESPA


(à vista, derivativos, balcão organizado, renda xa privada etc), os ativos são custo-
diados na Central Depositária de Ativos da própria instituição.

Nesse sistema, a Central Depositária mantém uma estrutura de contas individua-


lizadas em nome de cada investidor nal, mas não estabelece uma relação direta
com ele. Cada investidor deve procurar um Agente de Custódia (uma instituição
nanceira, geralmente a própria corretora) que abrirá uma conta em seu nome na
custódia da Central Depositária.

Os serviços da Central Depositária são descritos segundo esta classi cação:

CENTRAL DEPOSITÁRIA

Todos os regist ros de propriedade dos at ivos, bem como as suas


moviment ações, são f eit os de f orma escrit ural e elet rônica em
DESMATERIALIZAÇÃO E um processo conhecido como “ book ent ry” . Os at ivos são regis-
REGISTRO ELETRÔNICO t rados em cont as individualizadas e mant idos sob a responsabi -
lidade de uma inst it uição ƥnanceira escol hida pelo invest idor.

Todos os at ivos mant idos na Cent ral Deposit ária de At ivos pos-
suem codiƥcação ISIN (padronização int ernacional para a codiƥ -
CODIFICAÇÃO ISIN cação de t ít ulos ƥnanceiros, que at ribui a cada at ivo um código
único de ident iƥcação), o que permit e sua perf eit a ident iƥcação
em qualquer part e do mundo.

A Cent ral Deposit ária possui a propriedade ƥduciária dos at ivos


perant e os emissores com at ivos list ados na BM& FBOVESPA.
PROPRIEDADEFIDUCIÁRIA
Esse t ipo de regist ro nos livros dos emissores assegura que a
DEATIVOS
Cent ral Deposit ária não t em nenhum direit o de propriedade so-
bre os at ivos mant idos sob sua guarda.

250 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


CONCILIAÇÃO DIÁRIA COM OS Para assegurar a int egridade dos at ivos sob sua guarda, a Cent ral
EMISSORESECOM OS AGENTES Deposit ária de At ivos realiza uma série de processos de conci -
DECUSTÓDIA liação diária.

ESTRUTURA DECONTAS Est e procediment o viabiliza a prest ação de vários ser viços, mas
INDIVIDUALIZADAS EM NOME não implica em um relacionament o diret o ent re a inst it uição e o
DOS INVESTIDORESFINAIS invest idor ƥnal . O represent ant e do invest idor perant e a Cent ral
Deposit ária é sempre o agent e de cust ódia.

A conta de custódia do investidor pode ser movimentada por vários motivos. As


principais movimentações são os créditos de ativos comprados, os débitos de ativos
vendidos e as provisões e créditos relativos aos direitos desses ativos (dividendos,
juros sobre capital próprio, resgates, boni cações, desdobramentos, subscrições etc.).
Adicionalmente, a conta pode ser movimentada por depósito, transferência e retirada
de ativos. A responsabilidade pela movimentação da conta de custódia do investidor
é do Agente de Custódia do qual o investidor é cliente. Entretanto, a Central Deposi-
tária informa diretamente aos investidores nais o estoque de ativos deles mantidos
sob sua responsabilidade.

A partir do cadastro, os investidores já podem acessar pela internet a sua conta na


Central Depositária, através do Canal Eletrônico do Investidor — CEI, onde podem
consultar, entre outros, o saldo diário e o extrato mensal de custódia dos ativos. Além
disso, o investidor recebe um extrato mensal quando há algum tipo de movimenta-
ção em sua conta de custódia e um extrato anual no mês de fevereiro.

8.5. Segment os de list agem

O alinhamento das companhias brasileiras aos princípios e boas práticas da go-


vernança corporativa conduziu a BM&FBOVESPA a desenvolver segmentos de
listagem destinados à negociação de empresas que se comprometessem, volunta-
riamente, a adotar as boas práticas de governança corporativa e disclosure — adi-
cionais em relação ao exigido pela legislação brasileira.

Essas regras, consolidadas sem um Regulamento de Listagem da Bolsa, ampliam os


direitos dos acionistas, melhoram a qualidade das informações usualmente prestadas

Bol sa de Valores 251


pelas companhias e, ao determinar a resolução dos con itos por meio da Câmara de
Arbitragem do Mercado, em alguns casos obrigatória, oferecem aos investidores a
segurança de uma alternativa mais ágil e especializada em caso de litígio.

Este novo ambiente de gestão pro ssional faz com que o investidor veja os segmentos
de listagem diferenciadoscomo um criador de valor na empresa, in uenciando posi-
tivamente os resultados que espera obter com seu investimento.

8.5.1. Novo Mercado

A principal inovação do Novo Mercado, em relação à legislação, é a proibição de


emissão de ações preferenciais.

Resumidamente, a companhia aberta participante do Novo Mercado tem como obri-


gações adicionais:

. realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de mecanis-


mos que favoreçam a dispersão do capital;

. manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações representando


25% do capital;

. extensão para todos os acionistas das mesmas condições obtidas pelos con-
troladores quando da venda do controle da companhia;

. estabelecimento de um mandato uni cado de até dois anos para todo o


Conselho de Administração;

. introdução de melhorias nas informações prestadas trimestralmente, entre


as quais a exigência de consolidação e de revisão especial;

. obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas as ações


em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do capital ou
cancelamento do registro de negociação no Novo Mercado;

. cumprimento de regras de disclosure em negociações envolvendo ativos de


emissão da companhia por parte de acionistas controladores ou administrado-
res da empresa.

Além de presentes no Regulamento de Listagem, alguns desses compromissos deverão

252 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ser aprovados em Assembleias Gerais e incluídos no estatuto social da companhia.
Um contrato assinado entre a Bolsa e a empresa, com a participação de controladores
e administradores, fortalece a exigibilidade do seu cumprimento.

8.5.2. Níveis 1 e 2

Na adoção das normas dos segmentos de listagem, além do Novo Mercado a Bolsa
criou ainda dois outros níveis diferenciados de governança corporativa, que apresen-
tam nível crescente de obrigações: Nível 1, Nível 2 e Novo Mercado.

O comparativo completo dos segmentos de listagem será visto nas próximas páginas,
mas destacamos a seguir alguns dos principais pontos dos Níveis 1 e 2:

Nível 1:

. Empresas adotam práticas que favoreçam a transparência e o acesso às in-


formações pelos investidores. Para isso, devem divulgar informações adicionais
àquelas exigidas por lei, como relatórios nanceiros mais completos, informa-
ções sobre negociação feita por diretores, executivos e acionistas controladores e
sobre operações com partes relacionadas;

. Companhias listadas nesse segmento devem também manter um free oat mí-
nimo de 25% (ou seja, pelo menos 25% das ações não devem estar nas mãos do grupo
de controle da companhia, mas sim disponíveis para negociação no mercado);

. No caso de venda de controle da empresa, é assegurado aos detentores de


ações preferenciais o direito de tag along, no mínimo, de 80% do preço pago
pelas ações ordinárias do acionista controlador (para efeito de comparação, a
legislação não exige tag along para ações preferenciais).

Bol sa de Valores 253


Nível 2:
Neste segmento, as exigências são maiores do que no Nível 1. Além daquelas citadas
anteriormente, devem ser observadas:

. No caso de venda de controle da empresa, é assegurado aos detentores de


todas as ações, preferenciais ou ordinárias, o direito de tag along de 100% do
preço pago ao acionista controlador (para efeito de comparação, a legislação não
exige tag along para ações preferenciais e para as ações ordinárias o valor míni-
mo é de 80%).

. As ações preferenciais ainda darão o direito de voto aos acionistas em situa-


ções críticas, como a aprovação de fusões e incorporações da empresa e contratos
entre o acionista controlador e a companhia, sempre que essas decisões estiverem
sujeitas à aprovação na assembleia de acionistas.

8.5.3. Bovespa Mais

O Bovespa Mais é o segmento de listagem do mercado de balcão organizado administra-


do pela BM&FBOVESPA idealizado para tornar o mercado acionário brasileiro acessível
a um número maior de empresas, em especial àquelas que sejam particularmente atrati-
vas aos investidores que buscam investimentos de médio e longo prazo e cuja preocupa-
ção com o retorno potencial sobrepõe-se à necessidade de liquidez imediata.

As empresas candidatas ao Bovespa Mais são aquelas que desejam ingressar no mer-
cado de capitais de forma gradativa, ou seja, que acreditam na ampliação gradual da
base acionária como o caminho mais adequado à sua realidade, destacando-se as de
pequeno e médio porte que buscam crescer utilizando o mercado acionário como
uma importante fonte de recursos.

No Bovespa Mais, os investidores encontrarão companhias com rme propósito e


compromisso de se desenvolver no mercado, o que é re etido na adoção de elevados
padrões de governança corporativa, na busca da liquidez das suas ações e na postura
proativa para conquista de investidores. O ambiente de negociações de lançamento
serve para empresas com porte de oferta pública de até R$ 150 milhões. O desa o é
tornar essa alternativa uma porta de entrada no mercado de capitais para pequenas e
médias empresas, oferecendo-lhes incentivos para que passem a negociar suas ações
na Bolsa. O Bovespa Mais tem custos reduzidos para a oferta de ações e a produção
periódica de análises independentes é custeada pela própria Bolsa.

254 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


8.5.4. Comparat ivo dos Segmentos de Listagem

NOVO MERCADO NÍVEL 2 NÍVEL 1 BOVESPA MAIS TRADICIONAL

Permit e a
Permit e a Soment e ações ON
CARACTERÍSTI-
exist ência Permit e a exis-
Permit e a exist ên- exist ência de podem ser nego-
de ações ON t ência de ações
CAS DAS AÇÕES cia soment e de ações ON e ciadas e emit idas,
e PN (com ON e PN (conf or-
EMITIDAS ações ON PN (conf orme mas é permit ida a
direit os me legisl ação)
legislação) exist ência de PN
adicionais)

PERCENTUAL MÍNI- 25% de f ree Ʀoat


at é o 7 0 ano de
MO DE AÇÕES EM
No mínimo 25% de f ree Ʀoat list agem, ou con- Não há regra
CIRCULAÇÃO (f r ee
dições mínimas de
f l oat ) liquidez

DISTRIBUIÇÕES PÚ-
Esf orços de dispersão acionária Não há regra
BLICAS DE AÇÕES

VEDAÇÃO A DISPO- Limit ação de vot o inf erior a 5%


SIÇÕES ESTATUTÁ- do capit al , quorum qualiƥcado e Não há regra
RIAS * “ cl áusul as pét reas”

COMPOSIÇÃO DO
Mínimo de 5 membros, dos quais
pelo menos 20% devem ser inde-
CONSELHO DE Mínimo de 3 membros (conf orme legisl ação)
pendent es com mandat o uniƥcado
ADMINISTRAÇÃO
de at é 2 anos

President e do conselho e diret or president e ou


VEDAÇÃO À ACUMU-
principal execut ivo pel a mesma pessoa (carência de Não há regra
LAÇÃO DE CARGOS *
3 anos a part ir da adesão)

OBRIGAÇÃO DO Manif est ação sobre qualquer of ert a


CONSELHO DE AD- pública de aquisição de ações da Não há regra
MINISTRAÇÃO * companhia

DEMONSTRAÇÕES
Traduzidas para o inglês Conf orme l egisl ação
FINANCEIRAS

REUNIÃO PÚBLICA
ANUAL E CALENDÁ-
Obrigat ório Facult at ivo
RIO DE EVENTOS
CORPORATIVOS

DIVULGAÇÃO
Polít ica de negociação de valores mobiliários e
ADICIONAL DE Não há regra
INFORMAÇÕES * código de condut a

Bol sa de Valores 255


80% para
100% para 80% para ações
CONCESSÃO DE TAG 100% para ações ações ON 100% para ações
ações ON e ON (conf orme
ALONG ON (conf orme ON
PN * * legisl ação)
legislação)

OFERTA PÚBLICA Obrigat oriedade


DE AQUISIÇÂO DE Obrigat oriedade em caso de em caso de f echa-
Conf orme Conf orme l egis-
AÇÕES NO MÍNIMO f echament o de capit al ou saída do ment o de capit al
PELO VALOR ECO-
legislação l ação
segment o ou ou saída do
NÔMICO segment o

ADESÃO À CÂMARA
DE ARBITRAGEM DO Obrigat ório Facult at ivo Obrigat ório Facult at ivo
MERCADO

* a partir de 10/05/2011
* * para ações PN, passou de 80% para 100% a partir de 09/05/2011

8.6. Os Índices

Os índices são indicadores de desempenho de um conjunto de ações, ou seja, mos-


tram a valorização de um determinado grupo de papéis ao longo do tempo. Como
eles contemplam um grupo de ações, o desempenho do índice é, na realidade, uma
média do desempenho das ações que o compõem, ponderadas conforme os fatores
de nidos no seu regulamento.

Os índices cumprem três funções principais:

. São indicadores de variação de preços do mercado;

. Servem de parâmetros para avaliação de performance de portfolios;

. São instrumentos de negociação no mercado futuro.

Em cada mercado de ações existem inúmeros índices, cada um com objetivos dife-
rentes. Alguns procuram fazer uma média geral do mercado, outros de determinado
setor da economia, ou ainda medir, por exemplo, o desempenho das menores empre-
sas que estão na bolsa.

256 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


As características dos índices são de nidas em seu regulamento, que de ne, entre
outros, como as ações são selecionadas para entrar no índice, qual o tipo de média
utilizada para o cálculo, qual a ponderação de cada ação para o cálculo e qual a pe-
riodicidade de atualização da carteira do índice.

A lista a seguir apresenta alguns dos principais índices do mercado de ações brasi-
leiro. A lista completa, a descrição detalhada e a metodologia de cálculo de cada um
deles podem ser obtidas no site da BM&FBOVESPA. O Ibovespa, por ser o principal
deles, será analisado detalhadamente.

ÍNDICES BM& FBOVESPA

ÍNDICES • Índice Bovespa - Ibovespa


AMPLOS • Índice Brasil 50 - IBrX 50
• Índice Brasil 100 - IBrX 100

• Energia Elét rica - IEE


ÍNDICES • Imobiliário - IMOB
SETORIAIS • Financeiro - IFNC
• Ut ilidade Pública - UTIL

ÍNDICES DE • Sust ent abilidade Empresarial - ISE


SUSTENTABILIDADE • Carbono Eƥcient e - ICO2

• MidLarge Cap - MLCX


ÍNDICES DE • Small Cap - SMLL
SEGMENTO • Valor BM& FBOVESPA 2ª Linha - IVBX 2
• Dividendos - IDIV

• Governança Corporat iva Dif erenciada - IGCX


ÍNDICES DE
• Tag Al ong Dif erenciado - ITAG
GOVERNANÇA

• BDRs Não Pat rocinados - BDRX


OUTROS ÍNDICES
• Fundos de Invest iment o Imobiliários - IFIX

8.6.1. O Ibovespa

O índice Bovespa, ou Ibovespa, é considerado o principal índice do mercado de ações


brasileiro. Mantido pela BM&FBOVESPA, tem como objetivo ser um indicador do
desempenho médio das cotações dos ativos de maior negociabilidade e representati-
vidade do mercado de ações brasileiro.

Bol sa de Valores 257


Ele é um índice de retorno total. Portanto, procura re etir não apenas as variações
no tempo nos preços dos ativos integrantes do índice, mas também o impacto que a
distribuição de proventos por parte das companhias emissoras desses ativos teria no
retorno do índice.

A seleção das ações para a carteira teórica do índice


Sua composição inclui as ações de companhias listadas na BM&FBOVESPA que
atendam, cumulativamente, aos seguintes critérios:

. Estar entre os ativos elegíveis que, no período de vigência das três carteiras
anteriores, em ordem decrescente de Índice de Negociabilidade4 (IN), represen-
tem em conjunto 85% do somatório total desses indicadores;

. Ter presença em pregão de 95% no período de vigência das três carteiras


anteriores;

. Ter participação em termos de volume nanceiro maior ou igual a 0,1% no


período de vigência das três carteiras anteriores; e

. Não ser classi cada como Penny Stock5.

Um ativo que seja objeto de oferta pública realizada durante o período de vigência
das três carteiras anteriores ao rebalanceamento será elegível, mesmo sem estar lista-
do todo o período, desde que:

. A oferta pública de distribuição de ações tenha sido realizada antes do reba-


lanceamento imediatamente anterior;

. Possua 95% de presença desde seu início de negociação;

. Atenda cumulativamente aos critérios 1, 3 e 4.

4
Índice de Negociabilidade é uma média geométrica entre a participação de uma ação no número de negócios (peso de
1/3) e em volume nanceiro negociado (peso de 2/3), sempre em relação ao total do mercado.
5
São ações cuja cotação seja inferior a R$ 1,00. Para detalhes sobre o enquadramento como penny stock para as metodo-
logias dos índices, consulte o Manual de De nições e Procedimentos dos índices da BM&FBOVESPA.

258 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A ponderação
A ponderação de cada ação é feita pelo valor de mercado de seus ativos em circulação,
o chamado free oat, na espécie pertencente à carteira, com limite de participação
baseado na liquidez.

Free oat é o percentual das ações que estão “disponíveis para negociação no
mercado”, também chamadas de “ações em circulação”. Neste caso, entende-se
como “disponíveis” as ações que não pertencem ao controlador, às pessoas a ele
vinculadas, nem aos administradores e que não estão em tesouraria.

Se um ativo deixar de atender a dois dos critérios de inclusão citados, forem classi -
cados como Penny Stocks, entrarem em situação especial ou ainda se enquadrarem
em outros critérios estabelecidos pela BM&FBOVESPA, será excluído do índice.

A cada quatro meses é feita uma reavaliação do índice, alterando-se a composição e o


peso da carteira, para que a sua representatividade se mantenha ao longo do tempo.

Companhias em situação especial


Ações de companhias que estejam em situação especial (recuperação judicial ou extra-
judicial, regime especial de administração temporária, intervenção ou qualquer outra
hipótese de nida pela Bolsa) não são elegíveis para compor a carteira do Ibovespa.

Caso a companhia entre em situação especial quando já estiver na carteira teórica


do índice, a ação será retirada do índice ao nal do primeiro dia de negociação
nesta condição.

Bol sa de Valores 259


260 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
9. Mercado de Balcão Organizado

Em nossa legislação há três tipos previstos de mercados regulamentados de valores


mobiliários: mercado de bolsa, mercado de balcão organizado e mercado de balcão
não organizado.

Tradicionalmente, o mercado de balcão, também conhecido pela expressão em inglês


over-the-counter market (ou OTC market ), é compreendido como aquele em que as
entidades ou instituições autorizadas a nele operar estabelecem relações negociais
diretamente entre si, executando as operações de interesse, ou mesmo fazendo mera-
mente o seu registro após a transação ter sido fechada entre as partes.

Também nessa visão tradicional, tal ambiente é normalmente percebido como uma
organização menos formal (ainda que isso não signi que informalidade) de redes
de negociação em torno de alguns participantes e sem um local especí co (como os
antigos pregões de viva voz dos mercados de bolsa) para a realização das negociações,
muitas vezes fechadas por telefone ou mensagem eletrônica entre as partes, sendo
apenas registradas, posteriormente, junto à entidade administradora.

Principalmente em outros mercados, no exterior, as características e a regulação des-


ses mercados trouxe, em especial após a crise de 2008, a percepção de um grau menor
de transparência, mas é certo que, no contexto do mercado de capitais brasileiro,
sempre existiu a preocupação com o tema na regulação. Já em 1988, a CVM estabe-
lecia regras que, ao tratarem dos requisitos para autorização de funcionamento da
entidade administradora (no início uma associação dos intermediários do próprio
mercado com poderes de scalização e autorregulação), visavam a assegurar a plena
transparência das operações.

262 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A Instrução CVM 461/07, atualmente em vigor, procura esclarecer as de nições dos
mercados regulamentados de valores mobiliários, assim compreendidos os mercados
de bolsa, de balcão organizado e de balcão não organizado. Entretanto, não há con-
ceito explícito de cada um deles.

No que diz respeito aos mercados de bolsa e de balcão organizado, ou mercados orga-
nizados, como cita a norma, a instrução não criou conceitos, mas estabeleceu certas
características que de niriam um mercado como de bolsa ou de balcão organizado.
Nesse sentido, determinou, por exemplo, características que poderiam criar situa-
ções de risco para os investidores e que somente são admissíveis ao mercado de bal-
cão não organizado.

De acordo com a instrução, consideram-se mercados de bolsa aqueles que funcionam


regularmente como sistemas centralizados e multilaterais de negociação e que possibi-
litam o encontro e a interação de ofertas de compra e de venda de valores mobiliários
ou que permitem a execução de negócios tendo como contraparte um formador de
mercado que assuma a obrigação de colocar ofertas rmes de compra e de venda, res-
peitadas as condições estabelecidas na norma. Entendem-se como sistemas centraliza-
dos e multilaterais de negociação aqueles em que todas as ofertas relativas a um mesmo
valor mobiliário são direcionadas a um mesmo canal de negociação, cando expostas à
aceitação e concorrência por todas as partes autorizadas a negociar no sistema.

Nos ambientes de bolsa, todas as informações sobre os negócios, como os preços, as


quantidades e horários, entre outras, devem ser publicadas continuamente, com no
máximo 15 minutos de atraso. As entidades administradoras de mercados de bolsa
devem manter sistemas de controle de riscos e, especialmente, manter mecanismo
de ressarcimento de prejuízos para assegurar aos investidores o ressarcimento de
prejuízos decorrentes de erros ou omissões das instituições intermediadoras ou seus
administradores e empregados.

Por ser muito tênue a separação em bolsa e balcão, a CVM optou por não enunciar
conceitos distintos para mercados de bolsa e de balcão, propondo alguns critérios
para que seja possível classi car em um tipo ou em outro:

. existência de sistema ou ambiente para o registro de operações realizadas


previamente;

Mercado de Balcão Organizado 263


. possibilidade de atuação direta no mercado, sem a intervenção de inter-
mediário;

. possibilidade de diferimento da divulgação de informações sobre as opera-


ções realizadas;

. regras adotadas em seus ambientes ou sistemas de negociação para a forma-


ção de preços;

. volume operado em seus ambientes e sistemas;

. público investidor visado pelo mercado.

Para chegar à forma que tem hoje, a regulamentação dos mercados passou por di-
versas alterações ao longo do tempo. A informação sobre esses movimentos regu-
latórios, como veremos a seguir, pelo menos desde a instituição da CVM em 1976,
serve como um guia sobre as diferentes concepções e o caminho que se percorreu
para chegar à atual estrutura.

Desde 1985, reconhecendo que os títulos e valores mobiliários poderiam ser negociados
de forma privada, diretamente entre investidores (ou seja, sem a presença de institui-
ções nanceiras intermediárias), a CVM determinou que a simples presença de um
intermediário (sociedade ou pro ssional) na operação já a tornaria pública, no que se
entendeu como o mercado de balcão não organizado. Foi apenas em 1997 que uma
alteração na Lei nº 6.385/76 trouxe a distinção entre os dois mercados balcão, organi-
zados ou não, ainda que com conceito residual para este último: são aqueles em que as
negociações são realizadas com participação de instituições integrantes do sistema de
distribuição, que não seja realizada em mercados de bolsa ou balcão organizado.

Em 1996, a CVM editou nova norma substituindo a Instrução CVM nº 93/88 que até
então regulava os mercados de balcão organizado, xando regras para as entidades
que tivessem interesse de estabelecer tais sistemas organizados para negociação de
títulos e valores mobiliários de renda variável em mercado de balcão. Tais entidades
passaram a se constituir como órgãos autorreguladores, auxiliando a Comissão de
Valores Mobiliários a scalizar os seus respectivos participantes e as operações nelas
realizadas. Naquele mesmo ano, foi criada a então chamada Sociedade Operadora
do Mercado de Acesso (SOMA), que tinha por modelo mercados de balcão norte-
-americanos. Uma das principais características desse sistema informatizado que
conectava diversas instituições nanceiras era a existência de formadores de mercado

264 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


(instituições que deviam colocar permanentemente ofertas de compra e venda), gura
tratada pela Instrução CVM nº 244/96, com a nalidade de estimular a liquidez dos
ativos negociados.

Como já mencionado brevemente, em 1997, a Lei nº 6.385/76 foi alterada para passar
a prever expressamente o mercado de balcão não organizado, bem como atribuindo
poder à CVM para expedir normas gerais sobre esse tema.

Em 2007, com a edição da Instrução 461, a CVM atualizou o marco normativo dos mer-
cados de valores mobiliários, modernização necessária para eliminar diversas lacunas
normativas então existentes e reduzir a rigidez da regulamentação, lidando, ao mesmo
tempo, com dois desa os do contexto mais amplo de mercado no Brasil e no mundo: o
movimento de desmutualização, como já visto no capítulo sobre Bolsa de Valores, e o
aumento da concorrência entre os mercados de bolsa e outros ambientes de negociação.

O Registro de Valores Mobiliários

Antes de tratar especi camente dos mercados de balcão existentes no Brasil, não se
pode deixar de mencionar uma atualização importante nas regras relacionadas à in-
fraestrutura do mercado de capitais. Em 2013, a Lei nº 12.810, ao dispor sobre algu-
mas atividades, tratou das atividades de depósito centralizado e de registro de opera-
ções e valores mobiliários. Portanto, o registro do valor mobiliário é uma atividade
diferente da sua custódia em uma instituição nanceira ou do depósito centralizado
em uma central depositária.

O registro de operações e valores mobiliários já era previsto na regulamentação do


sistema nanceiro, que normalmente obriga o registro de diversos ativos nanceiros
ou de operações em uma instituição autorizada pelo Banco Central do Brasil ou pela
Comissão de Valores Mobiliários. Não se trata propriamente de uma inovação, mas
a norma dá ainda mais relevância a essa importante atividade, de nindo o registro
de ativos nanceiros e de valores mobiliários como compreendendo a escrituração,
o armazenamento e a publicidade de informações referentes a transações nanceiras
(ressalvando, evidentemente, as hipóteses de sigilo legal).

O registro ou a comunicação junto a uma entidade registradora da titularidade ou


da emissão de ativo nanceiro, ou mesmo da realização de operação é, muitas vezes,
considerado como condição para a própria validade do negócio/ato, mas sua impor-
tância vai além dessa questão individual. Ele tem um claro caráter informacional de

Mercado de Balcão Organizado 265


interesse público, ao centralizar informações que são importantes para os agentes de
mercado, para os reguladores e para todo o mercado. Essa utilidade foi ainda mais
percebida após a crise nanceira de 2008, especialmente quando envolvidos produtos
nanceiros mais complexos, onde é ainda mais necessária uma clara compreensão
das autoridades governamentais quanto a riscos potencialmente relevantes, inclusive
para a própria estabilidade do sistema nanceiro.

Reconhecendo o papel desempenhado pelas entidades administradoras de mercado


de balcão organizado, que exercem não apenas funções exclusivamente de natureza
informacional, mas também de redução de certos riscos operacionais, ao veri car
a existência dos ativos registrados ou da documentação de suporte desse registro, a
CVM colocou em audiência pública, em 2013, proposta de alteração normativa es-
tipulando que a autorização para atuar como entidade administradora de mercado
de balcão organizado seja equivalente à autorização para desenvolver o registro de
valores mobiliários, como de nido pela Lei nº 12.810/13. Independente da solução
que será implantada pela CVM, a crescente demanda dos agentes econômicos por
instrumentos nanceiros adequados às suas necessidades, inclusive de proteção con-
tra certos riscos, com recurso a soluções de mercado (ex. derivativos), e a evolução
tecnológica apontam, potencialmente, para uma maior importância comparativa
desses mercados e para a possibilidade de novos sistemas de negociação que desa em
e reescrevam as distinções tradicionais.

9.1. Administ radores de Mercados de Bal cão Organizado

Atualmente, existem diversos mercados de balcão organizado no País, surgindo por


iniciativa das entidades administradoras autorizadas pela CVM. No âmbito do mer-
cado de capitais, a origem mais comumente mencionada é a instituição da Sociedade
Operadora do Mercado de Acesso (SOMA) em 1996, ano em que, como mencionado,
a Comissão de Valores Mobiliários reformulou as normas aplicáveis à matéria. Várias
mudanças ocorreram a partir de então.

A BM&FBOVESPA, apesar de ter como sua principal e mais conhecida atividade


a administração do mercado de bolsa, também oferece um mercado de balcão or-
ganizado para ações, com o segmento “tradicional” e o “Bovespa Mais”, segmento
especí co para negociação de ações de companhias abertas com regras diferenciadas.

266 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Em relação a títulos de renda xa, pode-se mencionar o BOVESPA FIX e o SOMA
FIX, também administrados pela BM&FBOVESPA. Para outras informações sobre
a BM&FBOVESPA e os segmentos especiais de listagem, veri que o capítulo “Bolsa
de Valores”.

A CETIP, por outro lado, tem na administração de um mercado de balcão organiza-


do sua principal atividade. Nas próximas páginas estudaremos com mais detalhes a
CETIP e os mercados por ela administrados.

9.2. A Cet ip

A Cetip S.A. – Mercados Organizados é uma empresa de serviços nanceiros na qual


a função de entidade administradora de mercado de balcão organizado, o chamado
mercado OTC (do inglês Over-the-counter), é a principal atividade. Está dividida em
duas unidades de negócios: Títulos e Valores Mobiliários e Financiamentos.

Utilizam os serviços da Cetip: fundos de investimento; bancos comerciais, múlti-


plos e de investimento; corretoras e distribuidoras; nanceiras; consórcios; empresas
de leasing e crédito imobiliário; cooperativas de crédito e investidores estrangeiros;
além de empresas não nanceiras, tais como fundações e seguradoras.

No segmento de nanciamentos, a empresa oferece serviço de entrega eletrônica das


informações necessárias para o registro de contratos e anotação dos gravames pelos
órgãos de trânsito. Opera o Sistema Nacional de Gravames (SNG), que centraliza as
informações de restrições nanceiras incidentes sobre veículos, fornecendo dados
para bancos usuários do sistema.

Histórico

A Cetip foi criada com a missão de garantir segurança e transparência a operações


nanceiras, provendo um sistema para custódia e liquidação das operações com tí-
tulos privados e também para títulos públicos não registrados no SELIC (sistema
criado na década de 70 para simpli car a negociação e custódia de títulos públicos
no mercado). Foi instituída pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 1984 e
iniciou as atividades dois anos depois, atendendo a necessidades de maior segurança

Mercado de Balcão Organizado 267


das instituições de mercado, em uma década marcada por grandes transformações
no campo econômico.

Fundada por conta da necessidade do registro de títulos privados – os Certi cados de


Depósitos Bancários (CDB) – a Cetip atualmente registra mais de 50 tipos de instru-
mentos de renda xa, destacando-se, no universo da captação bancária, ativos como
Letras Financeiras (LF), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras do Agronegócio
(LCA) e as Compromissadas (também chamadas de “Operações Compromissadas”).

Operação Compromissada: é uma operação em que o vendedor assume o com-


promisso de recomprar o título em data prede nida e por uma remuneração
preestabelecida, e o comprador assume o compromisso de revendê-lo nas referi-
das condições. É utilizada pelo vendedor como uma forma de obter crédito com
taxas menores, funcionando o título como uma espécie de garantia da operação.

Em 1994, o registro das operações no mercado de derivativos de balcão passou a


ser mandatório, assim como a identi cação pelo intermediário do bene ciário nal
junto às entidades que realizam o registro das operações, um marco importante na
história do sistema nanceiro brasileiro. Essas e outras medidas contribuiriam para
o reconhecimento internacional quanto ao grau de transparência no mercado bra-
sileiro, especialmente após a crise nanceira de 2008/2009, cujos efeitos no Brasil
foram certamente mitigados pela existência dessa e de outras regras e controles lo-
cais. Como já mencionado anteriormente, a partir daquele período, houve grande de-
bate internacional sobre a necessidade de mais transparência quanto a determinados
instrumentos nanceiros, juntamente com adoção de mecanismos de mitigação de
riscos voltados às operações de derivativos de balcão (OTC).

Em 2002, a Cetip vivenciou outro marco na história do Sistema Financeiro Nacional:


a reestruturação do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), fato reconhecido como
divisor de águas para bancos, instituições nanceiras e pessoas físicas, ao incorporar
modernizações que tornaram o nosso sistema ainda mais comparável aos melhores
do mundo. As operações registradas no SPB passaram a ser liquidadas no mesmo
dia, de modo que, a liquidação que se processava em D+1, passou a ser realizada em
D0, com a introdução do conceito de DVP (Delivery Versus Payment - entrega contra
pagamento), por meio do qual os participantes do mercado poderiam se proteger de
eventuais falhas na entrega de títulos ou no pagamento. Dessa forma, as operações
passaram a ser nalizadas somente se os títulos estivessem efetivamente disponíveis

268 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


na posição do vendedor e se o comprador possuísse os recursos integrais para o pa-
gamento, tudo no mesmo dia, praticamente em tempo real.

No âmbito tecnológico, o novo SPB proporcionou a interligação dos sistemas dos


participantes do mercado, que também participaram da formulação do novo SPB.
Pessoas físicas, empresas, governos e instituições nanceiras passaram a poder rea-
lizar transferências de dinheiro para pagamentos, cobertura de saldos, aplicações e
outras nalidades com muito mais segurança e rapidez.

Em 2008, a Cetip, seguindo a tendência internacional de desmutualização, foi trans-


formada em uma sociedade por ações e, no ano seguinte, passou a ter capital aber-
to, com ações negociadas no segmento “Novo Mercado” da BM&FBOVESPA. Em
dezembro de 2010, a Cetip adquiriu a empresa, brasileira, que era responsável pelo
processamento e custódia das informações de transações de nanciamento de veícu-
los em todo o país, que passou a representar a Unidade de Financiamentos da com-
panhia. Com esta operação, a Cetip dobrou de tamanho e fortaleceu sua estrutura. A
entidade também estreitou sua atuação junto aos clientes, parceiros e órgãos regula-
dores, consolidando sua abrangência e capilaridade no mercado nanceiro.

Nesses 27 anos de história da Cetip, os mercados de renda xa e de derivativos de


balcão cresceram, acompanhando o processo de desenvolvimento da economia bra-
sileira. Ainda existem desa os a ser superados no setor, mas o montante superior a
R$ 4 trilhões depositado na companhia em 2011 é um indicador do amadurecimento
pelo qual vem passando este mercado.

9.3. Procediment os

A Unidade de Títulos e Valores Mobiliários da Cetip oferece serviços de registro, cen-


tral depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos. Analisa também as po-
tenciais emissões, realiza o registro desses títulos e faz a guarda eletrônica dos ativos.

A negociação de papéis de renda xa pode se dar por telefone ou plataforma ele-


trônica. As operações são liquidadas, transferindo a titularidade dos instrumentos
negociados do vendedor para o comprador, bem como creditando e debitando o valor
correspondente em suas respectivas contas.

Mercado de Balcão Organizado 269


9.3.1. Registro

Em sua atividade como registradora, realizada desde o início de sua atuação, desta-
cam-se ativos como CDBs, DIs, cotas de fundos, debêntures e derivativos. São ofere-
cidos ao mercado nanceiro módulos de suporte à distribuição de valores mobiliários
que possibilitam o registro eletrônico da colocação, o depósito e a liquidação nan-
ceira em benefício da segurança e da transparência. As instituições podem realizar a
operação em um mesmo ambiente, contemplando desde a distribuição primária até a
negociação em mercado secundário.

9.3.2. Depositária

O depósito de todos os ativos registrados na Cetip é feito de forma escritural, por


meio de registro eletrônico em conta aberta em nome do titular. Cada ativo está su-
jeito a uma norma especí ca e possui diferentes maneiras de pagamento de juros,
amortizações e resgates, o que exige procedimentos diferenciados para cada instru-
mento, assegurando tratamento adequado a cada um.

As movimentações são integradas aos sistemas de liquidação nanceira, registro e


negociação, sendo processadas de acordo com o conceito DVP (Delivery Versus Pay-
ment – entrega contra pagamento). As instituições que utilizam esse serviço podem
consultar saldos em tempo real, bloquear a quantidade negociada na posição do ven-
dedor até a efetivação da liquidação nanceira pelo comprador (DVP) e contar com o
controle e a liquidação dos eventos (juros, amortizações, prêmios).

9.3.3. Negociação

A plataforma de negócios da Cetip começou a operar em fevereiro de 2013 e foi de-


senvolvida em parceria com a ICE (Intercontinental Exchange), uma das maiores
bolsas de futuros e de derivativos de balcão do mundo, também acionista da Cetip.

Essa plataforma reúne em uma única ferramenta os serviços de negociação eletrô-


nica, pré-registro e consulta a negócios e preços, uma solução alinhada às melhores
práticas internacionais, em benefício da transparência, automação operacional, me-
lhor disponibilidade de dados e formação de preços.

As transações do mercado secundário de renda xa brasileiro ocorrem, essencial-


mente, por telefone. Respeitando as características desse ambiente, a plataforma per-

270 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mite a integração de todas as negociações — sejam elas eletrônicas ou por voz. Cabe
mencionar, quanto ao mercado de voz, que o sistema oferece ferramenta que viabiliza
con rmações de negócio em linha com práticas internacionais, propiciando infor-
mações em tempo real e com potencial de estimular a liquidez.

Em termos operacionais, o tempo máximo para o registro na plataforma, a partir do


momento de realização do negócio, é de 30 minutos para envio da boleta e mais 30
minutos para a con rmação da contraparte. Nesse ambiente seguro, o mecanismo
realiza a con rmação da operação fechada por telefone. O operador que efetuou a
venda preenche a boleta e o que comprou apenas con rma, exceto nos casos de ope-
rações com corretoras, nas quais é sempre o intermediador que envia a boleta (esteja
na ponta de compra ou venda) para a con rmação de seu cliente. Uma vez con r-
mada a operação pelo comprador, o negócio fechado por telefone está validado e os
preços são disponibilizados ao mercado.

Essa solução traz ainda link de integração ao sistema da Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), permitindo que os par-
ticipantes que precisam reportar suas operações a essa entidade possam fazê-lo dire-
tamente a partir do sistema da Cetip. Para isso, basta ter uma autorização do parti-
cipante do mercado.

Dividida em módulos e serviços, a plataforma de negociação oferece alternativa eletrô-


nica para as instituições nanceiras realizarem operações, como a negociação de ativos
de captação bancária como Certi cado de Depósito Bancário (CDB), Depósito a Prazo
com Garantia Especial (DPGE) e Letra Financeira (LF), bem como Compromissadas.

Entre os diversos módulos e serviços destacam-se negociação, cotação, leilão e Se-


cretaria do Tesouro Nacional (STN), este especí co para títulos públicos. Por inter-
médio do módulo de leilão é possível realizar colocações primárias e secundárias
de quaisquer ativos, custodiados ou não na Cetip. Os leilões podem ser de taxa ou
Preço Unitário (PU), com a quantidade de ativos de nida em lotes ou por unidade.
Por meio dessa ferramenta é possível ter a divulgação imediata e o acompanhamen-
to on-line de todas as fases do leilão, com o lançamento de ofertas através das mesas
de operação das instituições nanceiras. Todos têm acesso a relatórios dos negócios
fechados no sistema.

Mercado de Balcão Organizado 271


9.3.4. Liquidação

Débitos e créditos são lançados nas contas dos bancos liquidantes no Sistema de
Transferência de Reserva (STR) do Banco Central. Com o DVP, as operações são
nalizadas somente se os requisitos a seguir forem atendidos: os títulos devem estar
efetivamente disponíveis na posição do vendedor; e o comprador deve possuir os re-
cursos integrais para seu pagamento. Também são realizados o processamento de
TEDs e a liquidação de DOCs e de boletos bancários, garantindo segurança em tran-
sações interbancárias.

9.3.5. Gestão de Risco

A gestão de risco é uma das tarefas mais importantes em uma entidade administra-
dora de mercado organizado de valores mobiliários. Nesse sentido, diversas soluções
são oferecidas, entre elas o Agente de Cálculo, que visa calcular diariamente o valor
marcado a mercado (Mark to the Market ) do portfólio de cada bene ciário nal
junto a uma instituição nanceira, o que pode ser realizado devido à centralização
e à padronização dos registros e à identi cação do bene ciário nal junto à Cetip.
Também pode ser mencionada a administração de colateral para cobertura das ex-
posições dos derivativos de balcão registrados, implementado em julho de 2011 e
atualmente utilizado por outras instituições no exterior.

Outra solução que propicia mitigação de riscos é a funcionalidade Cetip | DRRC, que
possibilita de nir um limite de risco diferente para cada parte, oferecendo facilidade
e custo operacional mais baixo quando comparados a outras formas de mitigação. Sua
principal vantagem é a mitigação do risco de crédito. É exível, pois as partes da opera-
ção estabelecem a periodicidade de apuração e um limite de risco. O limite pode ser uni-
lateral, em favor apenas de uma das partes da operação, ou bilateral, em favor das duas.

9.4. Inst rument os regist rados na Cet ip

Como mercado de balcão organizado, a entidade registra ativos nanceiros sujeitos


a normas do Banco Central do Brasil e a regras da Comissão de Valores Mobiliários,
conforme a competência legal de cada órgão regulador. Considerando a interligação
dos diferentes segmentos e a importância de compreender as diferentes atividades e

272 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


funções desempenhadas, todos serão brevemente referidos adiante.

9.4.1. Captação Bancária

CertiƲcado de Depósito Bancário (CDB)


Registrado pela Cetip desde 1986, o CDB é um dos ativos mais conhecidos no Brasil
e um dos instrumentos mais registrados na integradora do mercado nanceiro. Esse
título de renda xa é transferível e negociável e destina-se às aplicações de pesso-
as físicas e jurídicas. Possui prazo predeterminado, rentabilidade de nida no ato da
negociação, podendo ser pré ou pós- xado e pode ser emitido por bancos comer-
ciais, múltiplos, de desenvolvimento e de investimento. Existe também a modalidade
de CDB escalonado, que permite de nir taxas por um determinado período para o
papel, sendo o resultado nal a composição dessas taxas prede nidas.

Depósito InterƲnanceiro (DI)


É um dos ativos com maior estoque registrado na Cetip e tem, na instituição, uma
importância também histórica, pois sua fundação, na década de 1980, tinha o objetivo
de prover mais segurança ao mercado, por intermédio do registro eletrônico de títu-
los. Sendo um dos principais instrumentos de renda xa do País desde aquela época,
é emitido por instituições nanceiras e lastreia operações do mercado interbancário,
possibilitando transferência de recursos por um dia ou por prazos mais longos entre
as instituições, garantindo liquidez ao mercado. . Ela também registra diversas mo-
dalidades do ativo, como Depósito Inter nanceiro vinculado a Micro nanças – DIM,
Depósito Inter nanceiro Rural – DIR, e Depósito Inter nanceiro Imobiliário – DII.

Diariamente, a Cetip apura a Taxa DI, índice de extrema relevância para o setor,
utilizado como indexador de inúmeras operações do mercado nanceiro.

Depósito a Prazo com Garantia Especial (DPGE)


O DPGE é um título de renda xa representativo de depósito a prazo, utilizado por
instituições nanceiras de pequeno e médio portes para captar recursos de pesso-
as físicas e jurídicas. Assim, confere ao seu detentor um direito de crédito contra o
emissor, com uma garantia especial do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de até
vinte milhões de reais. Criado em abril de 2009 por resolução do Conselho Mone-
tário Nacional (CMN), teve uma nova modalidade instituída em 2012, conhecida
como DPGE II.Podem remunerar a taxas pré ou pós- xadas, sendo o prazo de resgate

Mercado de Balcão Organizado 273


determinado no momento da contratação, mas não podendo ser inferior a 12 meses
nem superior a 36. Não podem ser resgatados antecipadamente nem parcialmente.

Letra Financeira (LF)


As LFs foram criadas em 2009, e regulamentadas pelas Resoluções do CMN nº
3.836/2010 e nº 4.123/2012, representam hoje um relevante instrumento de captação
das instituições nanceiras. Por ser emitida com prazos maiores (mínimo de 2 anos,
prazo longo quando comparado com o prazo médio dos CDBs) e sem possibilidade
de resgate antecipado, permite que as instituições nanceiras gerenciem melhor os
prazos de seus ativos e passivos.

Recibo de Depósito Bancário (RDB)


O RDB pode ser emitido por bancos comerciais, múltiplos, de desenvolvimento e de
investimento e por sociedades de crédito, nanciamento e investimento. Por ser um
título nominativo e intransferível, não é admitida sua negociação em mercado secun-
dário. O papel, no entanto, pode ser resgatado junto à instituição emissora antes do
prazo contratado, desde que decorrido o prazo mínimo de aplicação. Antes do prazo
mínimo não são auferidos rendimentos.

9.4.2. Títulos Agrícolas

CDA e WA
O Certi cado de Depósito Agropecuário (CDA) foi regulamentado para substituir o
“conhecimento de depósito” enquanto o Warrant Agropecuário (WA), por sua vez, é
um título de crédito que confere direito de penhor sobre a mercadoria descrita no CDA
correspondente. Ambos são títulos de execução extrajudicial. O CDA e o WA podem
ser garantidos por aval bancário ou seguro e negociados em conjunto ou isoladamente.

CertiƲcado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA)


O CDCA é um título de crédito nominativo, de livre negociação e representativo de
promessa de pagamento em dinheiro, vinculado a direitos creditórios originários de
negócios realizados entre produtores rurais (ou suas cooperativas) e terceiros, inclusive
nanciamentos ou empréstimos. Emitido exclusivamente por cooperativas de produ-
tores rurais e outras pessoas jurídicas que exerçam atividades de comercialização, be-
ne ciamento ou industrialização de produtos e insumos agropecuários ou de máquinas
e implementos agrícolas, pode ser distribuído por meio de oferta pública e é também

274 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


utilizado como lastro nas operações com Letra de Crédito do Agronegócio (LCA).

Cédula de Produto Rural (CPR)

É uma promessa de entrega futura de produtos rurais (CPR de Produtos). Por meio
desse instrumento, seus emitentes — produtores rurais, suas associações e coopera-
tivas — recebem pagamento à vista relativo à venda de mercadorias. As CPRs têm
sido utilizadas como instrumento de nanciamento, proporcionando a negociação
da safra agrícola sem endividamento referenciado em taxas de juros e com redução
das pressões sazonais de preços das mercadorias. Trata-se de um título cambial nego-
ciável em mercado de balcão e em bolsa de mercadorias, nas seguintes modalidades,
com liquidação física ou nanceira.

CertiƲcado de Recebíveis do Agronegócio (CRA)

O CRA é emitido exclusivamente por companhias securitizadoras de direitos credi-


tórios do agronegócio e vinculado a direitos creditórios originários de negócios entre
produtores rurais (ou suas cooperativas) e terceiros, inclusive nanciamentos ou em-
préstimos. O título pode conter cláusula expressa de variação do seu valor nominal,
desde que seja a mesma dos direitos creditórios a ele vinculados.

Cédula Rural Pignoratícia (CRP)

A CRP é uma modalidade de cédula de crédito rural com promessa de pagamento em


dinheiro. É emitida pela pessoa física ou jurídica tomadora do nanciamento rural. É
extraída com base no penhor rural e passa a valer como título de crédito autônomo e
negociável. Trata-se de um título de ampla utilização na concessão do crédito rural,
especialmente pelas instituições nanceiras o ciais.

Letra de Crédito do Agronegócio (LCA)

A LCA é um título emitido por instituições nanceiras utilizado para captar recursos
para o agronegócio. Criados em 2004, esses papéis têm como um de seus atrativos,
atualmente, o fato de que, para investidores pessoa física, os rendimentos são isentos
de Imposto de Renda. O registro do título na Cetip exige também o registro do las-
tro, que pode abarcar, neste caso, um rol de diferentes garantias, como soja, café, boi
ou outra mercadoria.

Mercado de Balcão Organizado 275


9.4.3. Títulos de Crédito

Cédula de Crédito Bancário (CCB)

Pode ser emitida por empresas ou pessoas físicas, tendo instituição bancária como
contraparte, con gurando um instrumento de crédito ágil, que pode ser emitido com
ou sem garantia, real ou dejussória. A remuneração da CCB pode ser baseada em
uma taxa pre xada, taxa utuante (DI, Selic), índice de preços e variação cambial.

Em 2008, o Colegiado da CVM concluiu que as CCBs serão valores mobiliários caso a
instituição nanceira em favor das quais elas foram emitidas realize uma oferta pública
de CCBs e exclua sua responsabilidade nos títulos. Dessa forma, não estariam sujeitas
ao regime imposto pela Lei nº 6.385/76 caso não sejam objeto de oferta pública e a insti-
tuição nanceira permaneça responsável pelo seu adimplemento, hipótese em que po-
derão circular no mercado sem estar sujeitas à regulamentação e scalização da CVM,
assim como os demais títulos de emissão de instituições nanceiras, como os CDBs.

Cédulas de Crédito à Exportação (CCE)


A CCE é um título emitido por pessoas físicas e jurídicas para operações de nancia-
mento à exportação, à produção de bens para exportação, bem como às atividades de
apoio e complementação da exportação realizadas por instituições nanceiras. Tem
garantia real, cedularmente constituída, e pode ser emitida com remuneração pré ou
pós- xada, sendo colocada no mercado diretamente pelas instituições nanceiras
credoras do nanciamento.

Export Note
São títulos representativos de créditos em moeda estrangeira a serem recebidos futu-
ramente, originados da venda de mercadorias ou serviços para o exterior. Lastreiam
contratos de compra e venda entre o exportador e as empresas estrangeiras importa-
doras. A presença do contrato mercantil de compra e venda é fundamental para asse-
gurar legalidade à operação. O comprador pode ser qualquer investidor, instituição
nanceira ou não, sem que haja necessidade de estar ligado ao comércio exterior. Já o
vendedor, necessariamente, terá de ser exportador.

Nota de Crédito à Exportação (NCE)


Representa operação de crédito que pode ser negociada por quem a detém em posição
de custódia. Sua emissão deve, obrigatoriamente, estar lastreada por exportações. O

276 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


cronograma de embarques deve ser informado ao banco. Com remuneração pré ou
pós- xada, nancia operações nanceiras de exportação, produção de bens desti-
nados à exportação, bem como atividades de apoio e complementação integrantes e
fundamentais da exportação.

9.4.4. Títulos Imobiliários

Cédula de Crédito Imobiliário (CCI)

Instrumento originado pela existência de direitos de crédito imobiliário com paga-


mento parcelado. A cédula é emitida pelo credor, com o objetivo de facilitar e sim-
pli car a cessão do crédito. Pode contar ou não com garantia e possui remuneração
por taxa pré ou pós- xada, inclusive por índices de preços, de acordo com o direito
creditório nela representado. Como a cessão pode ser feita mediante o endosso no
próprio título, sem necessidade de formalização com um contrato de cessão, inde-
pendentemente de autorização do devedor, a negociação dos créditos é mais ágil.

CertiƲcado de Recebível Imobiliário (CRI)

Emitido exclusivamente pelas companhias securitizadoras, pode ser adquirido tanto


por pessoas físicas quanto jurídicas, e sua remuneração é garantida por taxa pre xa-
da, utuante (DI, Selic), TR, TJLP ou índice de preços. Uma importante característica
desse ativo, atualmente, é a isenção de imposto de renda para investidores pessoa física.

O CRI transforma um uxo de recebíveis de médio ou longo prazo em ativos nan-


ceiros negociáveis à vista, propiciando novas alavancagens nanceiras para empresas
incorporadoras, construtoras, imobiliárias, instituições nanceiras — todas aquelas
que possuem créditos com lastro imobiliário e que possam atrelar a eles uma garantia
também imobiliária.

Letra de Crédito Imobiliário (LCI)

Emitidas por instituições nanceiras e lastreados em nanciamentos habitacionais ou


empréstimos garantidos por hipoteca ou alienação imobiliária de bens imóveis, podem
ser remuneradas por taxa pré ou pós- xada. Esse ativo não pode ser resgatado a qual-
quer momento, mas é possível negociá-lo no mercado secundário. Seu prazo mínimo
de vencimento varia de acordo com o indexador que possui, sendo 36 meses quando o
título for atualizado mensalmente por índice de preços, 12 meses caso atualizado anu-
almente por esse indexador, ou de 60 dias, se não utilizar índice de preços.

Mercado de Balcão Organizado 277


Letra Hipotecária (LH)

Emitida por instituições nanceiras que atuam na concessão de nanciamentos com


recursos do Sistema Financeiro da Habitação e companhias hipotecárias, como as-
sociação de poupança e empréstimo, bancos múltiplos com carteira de crédito imo-
biliário, companhia hipotecária e sociedades de crédito imobiliário. É garantida pela
caução de créditos hipotecários, podendo contar ainda com garantia dejussória adi-
cional de instituição nanceira.

9.4.5. Contratos de derivat ivos de balcão

Com a crise de 2008, as operações envolvendo derivativos de balcão registraram re-


tração de dois dígitos em termos percentuais. Este mercado, contudo, é extremamente
importante para a proteção das empresas brasileiras, ganhou novos mecanismos de mi-
tigação de riscos e, em 2013, voltou a demonstrar sua relevância, recuperando espaço.

Em 2013, o acentuado movimento de alta do dólar fez crescer a procura das empre-
sas por mecanismos de proteção contra oscilações da moeda norte-americana. Uma
mostra desse movimento foi o incremento do volume das operações de Termo de
Moedas, contrato usado como hedge por importadores e exportadores.

Por ser um contrato de balcão, a modalidade Termo de Moeda é uma das mais pro-
curadas especi camente pelas empresas em momentos de oscilação cambial. É um
produto simples e fácil de ser contratado e utilizado para quem quer mitigar o risco
de oscilações. Como não é um derivativo padronizado, detalhes como vencimento
e valor podem ser ajustados de acordo com as necessidades de cada cliente, além de
terem sempre um banco como contraparte.

Os principais instrumentos postos à disposição do mercado são: box de duas pontas,


contrato de swap, contrato a termo de moeda, opção da conab, opções exíveis de
ações, opções exíveis de mercadorias, opções sobre exíveis de mercadorias, opções
sobre taxas de câmbio, swap uxo de caixa, termo de índice DI, termo de mercadoria
e termo de moedas com uxo de pagamentos .

278 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


9.4.6. Outros instrumentos registrados

Títulos Públicos
Por força da Lei nº 6.385/76, os títulos públicos não se enquadram na de nição de
valor mobiliário, sendo aqui citados apenas para informação quanto aos produtos
negociados no mercado de balcão.

. Título de Alongamento da Dívida Agrícola (ADA)

. Certi cado de Dívida Pública (CDP)

. Certi cado Financeiro do Tesouro (CFT)

. Contrato de Crédito contra Terceiros

. Certi cado do Tesouro Nacional (CTN)

. Cota do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS)

. Título da Secretaria do Tesouro Nacional Indexado à Taxa Selic (JSTN)

. Letra Financeira do Tesouro, de Estados e Municípios (LFT-E e LFT-M)

. STN – Crédito Securitizado

. Título da Dívida Agrária (TODA)

Valores Mobiliários Registrados


Citamos abaixo os valores mobiliários negociados na CETIP. Mais informações sobre
o tema podem ser encontradas no capítulo “Valores Mobiliários”.

. Certi cado de Investimento Audiovisual (CIA)

. Debêntures

. Nota Comercial

. Cotas de Fundos

Mercado de Balcão Organizado 279


Outros instrumentos de renda Ʋxa
. Cédula de Debêntures

. Certi cado a Termo de Energia Elétrica (CTEE)

. Letra de Arrendamento Mercantil (LAM)

. Letras de Câmbio (LC)

280 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


10. Funcionamento do Mercado

10.1. Part icipant es do Mercado

10.1.1. Corretoras e Distribuidoras

As corretoras são instituições nanceiras com múltiplas funções. Sua principal ati-
vidade é a execução de ordens de compra e de venda de ativos para seus clientes, mas
podem também auxiliar o investidor por meio da disponibilização de informações
de análise de investimentos, provenientes de seus departamentos técnicos ou de ter-
ceiros. Outra atividade que as Corretoras e Distribuidoras podem realizar é a admi-
nistração de Fundos de Investimentos. Elas são remuneradas através da cobrança de
taxas pelos serviços prestados.

Até o início de março de 2009, as Corretoras eram as únicas autorizadas a ope-


rar em bolsas de valores. A partir de então, pela Decisão-Conjunta Bacen/CVM
nº 17, as Distribuidoras também passaram a ter a possibilidade de operar dire-
tamente na bolsa de valores. Enquanto não estavam autorizadas a operar em
bolsas, elas realizavam suas operações por meio de uma Corretora.

As corretoras e distribuidoras normalmente oferecem aos seus clientes:


. Suporte para entender o funcionamento da Bolsa e para de nição do per l
do investidor;

. Fornecimento de informativos sobre o mercado e relatórios de recomendação


de ações, como forma de auxiliar na escolha de ações ou de tipos de investimentos;

. Disponibilização de ferramentas e serviços facilitadores, como o home


broker (investimento via Internet) e ferramentas de análise grá ca;

. Assessoria de especialistas;

. Aviso sobre novos produtos no mercado, possibilitando a diversi cação de seus


investimentos;

282 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Informação sobre o recebimento de dividendos e outros valores que as em-
presas pagam aos acionistas.

10.1.2. Agentes Autônomos de Invest imento

Os agentes autônomos de investimento são pessoas físicas que atuam como prepostos
dos integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários, especialmente as
corretoras. Como opção, podem também exercer as suas atividades sob a forma de
sociedade ou rma individual, desde que constituídas exclusivamente para esse m.

As suas atividades são eminentemente comerciais: de prospecção e captação de clien-


tes; de recebimento e registro de ordens; e de prestação de informações acerca dos
produtos e serviços oferecidos pelas corretoras.

Eles apresentam o mercado para os investidores, explicam as principais característi-


cas dos produtos, cadastram os clientes, recebem as ordens e as transmitem para os
sistemas de negociação, tiram dúvidas operacionais, entre outros. Em um mercado
em franca expansão como o brasileiro, o papel dos agentes é tido como fundamen-
tal para o crescimento da base de investidores no mercado de capitais, ao constitu-
írem um importante elo entre os investidores e os produtos e serviços disponíveis.

É importante ressaltar, porém, que os Agentes Autônomos não possuem autoriza-


ção para administrar a carteira dos investidores. Eles não podem, portanto, operar
de forma autônoma em nome do cliente, sendo necessária a autorização expressa
do investidor para cada uma das ordens e operações a serem executadas.

Essas vedações estão elencadas em diversos artigos da Instrução CVM 497/2011


que regulamenta a atividade dos agentes autônomos de investimento. Nesta norma,
a CVM exige que o agente autônomo, para exercer a atividade de administração de
carteiras ou de consultoria e análise de valores mobiliários, seja registrado para
isso e requeira a suspensão de seu credenciamento como agente autônomo de
investimento. Ou seja, mesmo que um agente seja registrado na CVM como ad-
ministrador de carteira, terá que optar por apenas uma dessas duas atividades. A
norma proíbe também, expressamente, que os agentes utilizem senhas ou assinatu-
ras eletrônicas de seus clientes.

Para exercer suas atividades, os agentes autônomos devem ser credenciados por en-
tidade autorizada pela CVM, que mantenha uma estrutura de autorregulação, ado-
tando, entre outros, código de conduta pro ssional para a atividade. Para o creden-

Funcionamento do Mercado 283


ciamento, essas entidades devem garantir que os agentes se enquadrem em um per l
mínimo requerido.

10.1.3. Administrador de Carteira

A administração de carteira de valores mobiliários consiste na gestão pro ssional


de recursos, sujeitos à scalização da Comissão de Valores Mobiliários, entregues
ao administrador, com autorização para que este compre ou venda títulos e valores
mobiliários por conta do investidor.

Esses pro ssionais se responsabilizam pela gestão dos recursos de seus clientes, e
podem assumir, por exemplo, a gestão da carteira de fundos ou clubes de investimen-
tos. Eles são responsáveis pelas decisões sobre os tipos de ativos nanceiros que farão
parte da carteira que administram, e em que proporção, considerando, entre outros
fatores, os riscos e as políticas de investimentos pré-de nidas.

A atividade de administração de carteiras é uma profissão em que se estabelece


um vínculo de confiança entre o gestor e o investidor, uma vez que este confia
àquele a administração de seus investimentos. Em vir tude disso, e considerando
o taman ho e a relevância dessa indústria, a CVM regulamentou a atividade por
meio da Instrução CVM 306/1999, que estabelece as regras a serem cumpridas
pelos administradores.

Registro e cancelamento
A administração de carteira só pode ser exercida por pessoa natural ou jurídica auto-
rizada pela CVM. A obtenção do registro depende da comprovação de certos requisi-
tos. As pessoas físicas devem ter reputação ilibada, curso superior e comprovada ex-
periência. As pessoas jurídicas devem, entre outras exigências, manter departamento
especializado em análise.

O que se busca ao conceder a autorização apenas para pro ssionais e empresas que
atendam aos requisitos é assegurar que os administradores de carteira tenham as com-
petências mínimas necessárias e a reputação desejada para o desempenho da função.

A CVM pode cancelar a autorização de administrador de carteira na constatação


de irregularidades ou descumprimento de obrigações.

Além disso, os próprios administradores podem solicitar o cancelamento do seu registro.

284 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


A CVM disponibiliza para consulta, em seu site, relação completa dos administradores
de carteira, com informações sobre a data do registro, situação do cadastro e
informações de contato.

Informações

Outro aspecto importante na regulamentação da atividade é a transparência das in-


formações prestadas. O administrador de carteira de valores mobiliários deve enca-
minhar à CVM, até o dia 31 de maio de cada ano, informações relativas às carteiras
que administra, com base nas posições de 31 de março do mesmo ano.

Além disso, sempre que divulgar publicamente dados com base em desempenho his-
tórico das carteiras administradas ou de valores mobiliários e índices de mercado de
capitais, o administrador de carteira de valores mobiliários deve acrescentar, com des-
taque, a seguinte mensagem: “A ADMINISTRADORA ALERTA QUE RESULTADOS
OBTIDOS NO PASSADO NÃO ASSEGURAM RESULTADOS FUTUROS”.

O material de divulgação de desempenho deve incluir informações sobre todas as


carteiras que o administrador tenha sob sua gestão e não apenas sobre algumas delas,
englobando, no mínimo, os últimos seis meses.

Segregação de atividades
Para reduzir potenciais con itos de interesse, a gestão de carteira deve estar comple-
tamente segregada das demais atividades desempenhadas pelo administrador de car-
teira. Para isso, procedimentos operacionais devem ser adotados, como a segregação
física de instalações.

Porém, o conceito vai além. É preciso garantir a con dencialidade de informações


entre áreas e pessoas, estabelecer políticas e regras para negociação de ativos em de-
terminadas situações, entre outros.

Em essência, devem ser adotados procedimentos necessários para que se garanta a


efetiva independência das decisões tomadas na gestão da carteira em relação aos de-
mais interesses do administrador.

Responsabilidades do administrador
A pessoa física ou jurídica, no exercício da atividade de administração de carteira
de valores mobiliários, é responsável, civil e administrativamente, pelos prejuízos

Funcionamento do Mercado 285


resultantes de seus atos dolosos ou culposos e pelos que infringirem normas legais,
regulamentares ou estatutárias, sem prejuízo de eventual responsabilidade penal e
da responsabilidade subsidiária da pessoa jurídica de direito privado que a contra-
tou ou a supervisionou de modo inadequado.

Da mesma forma, os integrantes de comitê de investimento, ou órgão assemelhado,


que tomem decisões relativas à aplicação de recursos de terceiros, têm os mesmos
deveres do administrador de carteira.

Mudanças a caminho
A CVM estuda algumas alterações, debatidas em audiência pública, nas normas que
regem a atividade de administrador de carteiras. Uma das mudanças propostas, diz
respeito aos requisitos para obtenção da autorização, que poderá exigir a aprovação
em exame de certi cação em substituição ao critério “experiência” atualmente exigi-
do. As vantagens dessa possível mudança são a maior objetividade do critério e a pos-
sibilidade de exigência de uma manutenção periódica da certi cação, que garantirá
a constante atualização de conhecimentos desses pro ssionais.

Outra proposta diz respeito à gestão de riscos. Nas regras atuais não há exigência
de informação da política de gestão de riscos do administrador. A nova proposta
pretende introduzir uma seção especí ca sobre o assunto, estabelecendo requisitos
mínimos, como os procedimentos para identi car e acompanhar a exposição das
carteiras aos variados tipos de riscos, os métodos de preci cação dos ativos, os
pro ssionais envolvidos e a periodicidade de revisão da política.

Ainda, considerando o taman ho da indústria de fundos e o fato de que gran-


de par te dos administradores de car teiras estão vinculados a essa atividade, a
CVM pretende introduzir nas regras, capítulo com atribuições adicionais para o
administrador de carteira de valores mobiliários, pessoas jurídicas, que também
atuam na indústria de fundos de investimento.

10.1.4. Analist a de Valores Mobiliários

Os analistas de valores mobiliários são profissionais que elaboram relatórios de


análise destinados à publicação, divulgação ou distribuição a terceiros, ainda que
restrita a clientes, e que possam auxiliar ou influenciar investidores no processo
de tomada de decisão de investimento. Tais relatórios podem ser de análise geral,
relatórios de acompanhamento, estudos ou análises específicas sobre um valor

286 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mobiliário ou sobre um emissor.

O exercício da atividade, pela sua importância, é objeto de regulação pela CVM


e, desde 2010, de autorregulação pela Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais (APIMEC).

O Analista, além de ser aprovado em prova de quali cação técnica, deve obedecer ao
código de conduta pro ssional da entidade que o credenciou. Deve evitar situações
de con ito de interesses, buscando informações idôneas e dedignas, para usar
como base em suas análises e recomendações.

A atividade pode ser exercida de forma autônoma ou vinculada. O analista deve agir
com integridade e ética pro ssional e manter independência em relação à pessoa ou
instituição a que estiver vinculado.

10.1.5. Consultor de Valores Mobiliários

Consultor de valores mobiliários é a pessoa física ou jurídica que assessora os in-


vestidores interessados em fazer aplicações no mercado de valores mobiliários.
Orienta seu cliente na busca do produto que melhor atenderá a seus objetivos e
necessidades pessoais.

Assim como ocorre com outros prestadores de ser viços do mercado de valores
mobiliários, os consultores devem ser credenciados na CVM para desempenhar
suas atividades. O objetivo é criar mecanismos de proteção ao investidor, de
forma a impedir situações de potencial conflito de interesses, manipulação de
mercado ou uso de informações privilegiadas.

Na regulamentação da atividade são estabelecidos requisitos de credenciamento,


obrigações e vedações. O consultor deve, também, possuir comprovada experiência
em atuação no mercado de valores mobiliários.

A norma que regulamenta a atividade é a Instrução CVM 43/85. O colegiado da CVM


detalhou também alguns critérios exigidos para o credenciamento, como comprovação
de experiência e declaração da idoneidade.

Funcionamento do Mercado 287


10.2. Sist emas para Negociação

A intermediação de operações com valores mobiliários em mercados regulamen-


tados é privativa de instituições habilitadas a atuar como integrantes do sistema
de distribuição.

Portanto, os investidores não podem acessar diretamente a BM&FBOVESPA, deven-


do realizar suas operações por intermédio de instituições habilitadas: as corretoras
ou as distribuidoras de títulos e valores mobiliários.

A lista de todas as corretoras autorizadas a operar está no site da CVM e da Bolsa.

10.2.1. Home Broker

O home broker é uma ferramenta de acesso aos mercados da bolsa, oferecida por
quase todas as corretoras, por meio da qual os investidores podem negociar di-
retamente pela internet, enviando ordens de compra e venda. Pelo home broker,
os investidores podem também verificar a execução das ordens e ter acesso às
cotações dos ativos negociados.

As ofertas enviadas pelo cliente trafegam pela infraestrutura tecnológica da corretora


antes de alcançarem as plataformas de negociação da bolsa. Ou seja, nas operações
via home broker o cliente conecta o sistema da corretora, que recebe as informações e
faz a conexão com os sistemas da bolsa.

Algumas corretoras oferecem pacotes, que podem incluir acesso via web, aplicativos
para dispositivos móveis ou programas especiais para análises dos ativos. As ferra-
mentas e os custos de utilização, podem variar entre as instituições e até entre dife-
rentes pacotes de tarifas oferecidos por uma mesma corretora.

Principais Vantagens do Home Broker

. Acesso às cotações dos ativos;

. Programação e envio de ordens e recebimento de con rmações de aceitação,


de execução ou de cancelamento;

288 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Acompanhamento e realização de operações a partir de qualquer local
com acesso à internet e, muitas vezes, inclusive de dispositivos móveis, ofere-
cendo agilidade aos investidores.

Problemas de Conexão em Negociações via Internet

Apesar do acompanhamento do regulador e do autorregulador do mercado, que


determinam níveis mínimos de qualidade no serviço prestado, a negociação
de valores mobiliários pela internet está sujeita a riscos de conexão, da mesma
forma que outras operações que envolvem acesso remoto a serviços via web.

Esses problemas podem impedir a transmissão pontual de uma ordem ou,


ocasionalmente, suspender totalmente o acesso ao home broker. Para minimi-
zar os problemas causados ao investidor durante esses períodos, a corretora
disponibiliza outros meios de acesso de contingência, normalmente via telefo-
ne, como será visto a seguir.

10.2.2. Mesa de Operações

Além do home broker, as instituições oferecem outras formas para envio de or-
dens, como a mesa de operações. Esse ser viço coloca um grupo de profissionais
à disposição dos clientes, para orientação e execução de ordens.

Esses pro ssionais executam ordens, disponibilizam informações sobre os mercados,


produtos e riscos e informam sobre análises e recomendações realizadas pelos ana-
listas. A mesa de operações pode agir sob demanda ou de forma ativa, entrando em
contato com o cliente para informar sobre preços ou dar sugestões.

Além de chat e email, o acesso à mesa de operações é realizado por telefone, o que
torna esse meio de acesso uma contingência para o investidor do home broker em
caso de falha das conexões via internet.

10.2.3. Registro das Operações

Desde a entrada em vigor da Instrução CVM 505/2011, a transmissão de ordens pelos


clientes aos intermediários só pode ser realizada por:

. Escrito;

Funcionamento do Mercado 289


. Telefone e outros sistemas de transmissão de voz; ou

. Sistemas eletrônicos de conexões automatizadas.

Além disso, a instrução passou a exigir que o intermediário mantenha registro com-
probatório de todas as ordens solicitadas pelos clientes, inclusive gravação de voz,
quando realizada por telefone.

10.3. Tipos de Ordens

Quando um investidor deseja realizar a compra ou a venda de um valor mobiliário,


ele o faz através do envio de uma ordem ao intermediário contratado.

Ordem é a instrução dada por um cliente à sociedade corretora para a execução de


compra ou venda de um ativo. Através dela o cliente determina que um intermediário
negocie ou registre a operação em seu nome e nas condições que especi car.

As ordens somente poderão ser executadas se transmitidas por escrito, por telefone
ou outros sistemas de transmissão de voz, ou ainda sistemas eletrônicos de conexões
automatizadas. Independente da forma de transmissão, todas as ordens devem ser
registradas, identi cando o horário do recebimento, o cliente que as tenha emitido e
as condições de execução.

Conheça os principais tipos de ordens

. Ordem a mercado: especi ca somente a quantidade e as características dos


ativos ou direitos a serem comprados ou vendidos, devendo ser executada a partir
do momento em que for recebida, pelo melhor preço disponível para negociação;

. Ordem limitada: é aquela que deve ser executada somente a preço igual ou
melhor do que o especi cado pelo cliente (esta é a modalidade de ordem mais
utilizada);

. Ordem on stop: também conhecida como “ordem stop”, é aquela que espe-
ci ca um nível de preço que, se atingido, criará uma nova ordem, essa sim de
compra ou venda, com características previamente de nidas pelo investidor.

290 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Exemplos:

Uma ordem on-stop de compra deve ser executada a partir do momento em que, no
caso de alta de preço, ocorra um negócio a preço igual ou superior ao preço especi-
cado. Somente neste momento será disparada a ordem de compra.

Uma ordem on-stop de venda deve ser executada a partir do momento em que, no
caso de baixa de preço, ocorra um negócio a preço igual ou inferior ao preço especi-
cado, o que disparará a criação da ordem de venda.

. Ordem casada: é aquela constituída por uma Ordem de Venda de determi-


nado ativo e uma ordem de compra de outro, que só pode ser efetivada se ambas
as transações puderem ser executadas, podendo o comitente especi car qual das
operações deseja que seja executada em primeiro lugar.

Quanto ao prazo de validade das ordens

. Validade para o dia: só é válida para o dia em que foi encaminhada (inclusi-
ve no a er market, se o ativo estiver disponível para negociação neste período);

. Validade até a data especi cada: a oferta terá validade até a data especi -
cada (até 30 dias);

. Validade até cancelar: a oferta terá validade até que o investidor a cancele
(até 30 dias);

. Validade tudo ou nada: a oferta só tem validade no momento em que é en-


caminhada, sua execução é feita integralmente ou o sistema a cancelará;

. Validade execute ou cancele: a oferta só tem validade no momento em que é


encaminhada, o sistema executará a quantidade possível e cancelará o saldo rema-
nescente automaticamente.

Nas negociações via home broker, o investidor deve veri car o tipo de ordem que po-
derá ser executada. Para algumas modalidades, pode ser necessário o contato direto
com a mesa de operações da instituição.

Funcionamento do Mercado 291


10.4. Pregão

Como foi visto no capítulo sobre bolsa de valores, o pregão é o ambiente em que efeti-
vamente ocorrem as negociações. É o espaço que permite o encontro de compradores
e de vendedores que, após analisarem as ofertas de compra e venda, poderão realizar
o fechamento das operações.

Por muito tempo, o pregão era realizado em um espaço físico nas instalações da bolsa,
onde os corretores se encontravam pessoalmente, com cadernetas e telefones através
dos quais recebiam ordens, encontravam contrapartes e registravam operações.

A partir de 2005 na Bovespa e de 2009 na BM&F (que na época eram sociedades dife-
rentes) o pregão presencial, chamado de pregão viva-voz, foi extinto, passando as ne-
gociações a serem realizadas única e exclusivamente através dos sistemas eletrônicos.

As negociações, no entanto, seguem o mesmo conceito: a bolsa oferece o ambiente de


negociação (eletrônico) em que as ordens de compra e venda são lançadas e os negó-
cios fechados pelo melhor preço. Além disso, existe uma grande vantagem em relação
ao pregão viva-voz: a velocidade de execução das operações e, portanto, o volume de
negócios que podem ser realizados por dia.

10.5. Af t er Market

O a er market (conhecido simplesmente como “a er”) é um período adicional de ne-


gociação aberto no nal do dia, após o pregão regular. É uma ótima ferramenta para
aquelas pessoas que, por diversas razões, não podem operar durante o pregão normal.

Por ser um período adicional, existem restrições e particularidades para as operações


do a er market, entre as quais:

. Só podem ser negociados papéis que estejam no índice Ibovespa e/ou IBrX-
100 e que tenham sido negociados durante o pregão regular do dia;

. As negociações são apenas no mercado à vista, não sendo permitidas opera-


ções com opções e derivativos em geral;

292 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. O preço do ativo é limitado por uma variação máxima positiva ou negativa
de 2% em relação ao preço de fechamento do pregão regular.

Para os papéis que estejam sendo negociados no after market, as negociações são
consideradas como realizadas no próprio dia. Portanto, as ordens com validade
para o dia podem ser executadas no período adicional. Da mesma forma, uma
compra no pregão normal e uma venda no after market caracterizam uma ope-
ração de day trade1.

10.6. Leil ões

O objetivo dos leilões é evitar variações bruscas nas cotações dos ativos por situa-
ções ou ordens consideradas atípicas. Ao ser atingido algum dos parâmetros esti-
pulados, a negociação do ativo é suspensa e ele entra em processo de leilão por um
prazo determinado. Durante o leilão, os participantes e investidores têm a oportu-
nidade de analisar a situação e, se for o caso, ajustar sua posição.

As regras de negociação dos mercados de bolsa devem estabelecer as variações


de preços e quantidades ofer tadas em seus sistemas de negociação que exigem a
adoção do procedimento de leilão, bem como as regras operacionais necessárias
para quando essas variações forem alcançadas.

Os parâmetros analisados para determinar o procedimento de leilão levam em con-


sideração a quantidade, cotação e negociabilidade dos ativos.

Com respeito à quantidade, os limites são determinados em relação à média negocia-


da nos últimos 30 pregões ou em relação ao capital social da empresa. Se a quantidade
atingir valores entre 5 e 10 vezes a média, haverá leilão de 5 minutos. Se os lotes supe-
rarem 10 vezes a média, o leilão será de 1 hora.

Em relação à cotação, os procedimentos estipulam limites para as variações dos ati-


vos considerando o último preço negociado, e os percentuais mudam conforme os
papéis fazem parte de carteira de índices da bolsa ou não. Para oscilações positivas

1 Operações de compra e venda realizadas em um mesmo dia, de um mesmo título, pela mesma sociedade corretora
(distribuidora), de um mesmo comitente, cuja liquidação é exclusivamente nanceira.

Funcionamento do Mercado 293


ou negativas de 3% a 8,99%, no caso de papéis que fazem parte de carteira de índices
da bolsa, o leilão deverá ser de 5 minutos. para os demais papéis, há previsão para
variação superior a 100%, caso em que o leilão deverá ser de 1 hora.

A bolsa estabelece também limites com relação à negociabilidade. Assim, para uma
ação não negociada nos últimos 5 pregões ou na hipótese de ação estreando, a opera-
ção deverá se realizar em leilão de 15 minutos.

Além da determinação dos limites e tempo de duração, os procedimentos da bolsa


estabelecem regras para a determinação do preço, sistema de prioridade para o fecha-
mento dos negócios, hipóteses de prorrogação, entre outros.

10.7. Suspensão de Negociações (Circuit Breaker)

O mecanismo conhecido como circuit breaker suspende o pregão da bolsa por um


determinado período em caso de oscilação muito brusca dos preços de negociação.
Ele permite que as ordens de compra e de venda sejam rebalanceadas e amortecidas
durante o período de suspensão da negociação. Trata-se de uma proteção à varia-
ção exacerbada dos preços em momentos atípicos do mercado.

Nesse sentido, de “oferecer um tempo para que o mercado se ajuste”, o circuit breaker
tem objetivo semelhante ao do leilão, com a diferença que o leilão considera ativos
isolados, enquanto que no circuit breaker todo o pregão da bolsa é suspenso.

Por esse mecanismo, a bolsa impõe limites para a variação negativa do índice boves-
pa que, se atingidos, interrompem as negociações. Dependendo da força da queda do
índice2, as regras de interrupção dos negócios mudam.

Se o Ibovespa cair 10%, os negócios serão interrompidos por 30 minutos. Reaber tos
os negócios, se a queda atingir 15%, a interrupção passa a ser de uma hora. Se,
novamente após a reaber tura dos negócios, a oscilação negativa chegar a 20%, a
bolsa poderá suspender os negócios em todos os mercados, por prazo definido a
seu critério. Nessa hipótese, a decisão deverá ser comunicada ao mercado.

2
Sempre considerada em relação ao fechamento do dia anterior.

294 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Na última meia hora de funcionamento do pregão, as regras acima não serão acio-
nadas. Caso haja interrupção dos negócios na penúltima meia hora de negociação,
quando reabertos, o horário será prorrogado em no máximo mais 30 minutos, sem
qualquer outra interrupção, de maneira que se garanta um período nal de negocia-
ção de 30 minutos corridos.

10.8. Formador de Mercado

Formador de Mercado, agente de liquidez, facilitador de liquidez, market maker e


liquidity provider são algumas designações atribuídas àqueles que se propõem a ga-
rantir liquidez mínima e referência de preço para ativos previamente credenciados,
fator que contribui para uma maior e ciência no mercado de capitais.

O papel de Formador de Mercado pode ser desempenhado por corretoras, distribui-


doras de valores, bancos de investimento ou bancos múltiplos com carteira de inves-
timentos, que, ao se credenciarem para exercer essa função, assumem a obrigação de
colocar no mercado, diariamente, ofertas rmes de compra e de venda para uma quan-
tidade de ativos predeterminada e conhecida por todos.

Ao registrar ofertas, o Formador de Mercado proporciona um preço de referência para


a negociação do ativo. Essa é uma tarefa importante porque envolve prévio conheci-
mento da companhia, atualização constante sobre suas condições econômico- nancei-
ras, acompanhamento do valor de seus ativos e também de perspectivas de longo prazo,
fatores essenciais para o estabelecimento de um preço justo.

DeƲnição da Quantidade Mínima e do Spread Máximo

A quantidade mínima de ativos de cada oferta do Formador de Mercado é estabelecida


pela bolsa, em função da quantidade média diária negociada, no caso de ações, e carac-
terísticas da emissão e distribuição, no caso de debêntures.

A oscilação nos preços das ofertas de compra e de venda do Formador de Mercado


deve respeitar um intervalo máximo (denominado spread) calculado para cada ativo
com base na volatilidade veri cada ao longo de um determinado período de tempo.
As ações menos voláteis, que têm um spread menor, costumam ser mais líquidas.

Funcionamento do Mercado 295


Situações Extraordinárias
Sempre que o mercado apresentar comportamento atípico, com oscilações fora dos pa-
drões regulares, o Formador de Mercado ou terá seus parâmetros alterados ou será libe-
rado de suas obrigações até que o mercado reencontre um novo nível de normalidade.

Abrangência e Competitividade
Cada Formador de Mercado poderá se credenciar para representar mais de uma ação
ou mais de uma debênture de empresas diferentes, podendo também representar
mais de um ativo por empresa. Deverá, entretanto, solicitar à bolsa credenciamento
especí co para cada ativo em que desejar atuar.

Além disso, uma mesma ação ou debênture poderá ter mais de um Formador de
Mercado, em um modelo competitivo. No entanto, a bolsa estabelecerá o limite
máximo de formadores para cada ativo.

Formador de Mercado Independente ou Contratado


O Formador de Mercado poderá desempenhar suas funções de duas formas: inde-
pendente ou contratado.

Quando independente, o Formador de Mercado não possui qualquer vínculo com a


empresa emissora dos ativos nem com seus controladores ou grandes detentores de
ações. Devem, portanto, desempenhar suas funções de forma autômoma.

Já o Formador de Mercado contratado, rma um contrato com a empresa emissora dos


ativos que representa, com um grupo controlador ou com qualquer detentor dos ativos.

Por esse contrato, o Formador de Mercado poderá ser remunerado. Poderá, ainda, re-
ceber, com o objetivo exclusivo de proporcionar suporte operacional ao seu trabalho,
numerário para a liquidação de operações.

Regras de Negociação
As ofertas de um ativo que conta com Formador de Mercado competem em condi-
ções de igualdade com as demais ofertas do mercado. A bolsa, como forma de incen-
tivar a atividade, poderá conceder vantagens de custo.

O Formador de Mercado desempenhará suas atividades dentro de princípios éticos e da


mais elevada probidade. Nesse sentido, visando manter o mercado sempre justo e

296 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ordenado, foram estabelecidas vedações à sua atuação que, se infringidas, poderão
resultar em sanções ou ainda, levar ao seu descredenciamento.

Além disso, para garantir transparência ao mercado, a bolsa mantém uma lista atuali-
zada com a relação de formadores credenciados, os respectivos ativos e as característi-
cas principais da operação.

10.9. Taxas e Cust o das Operações

Antes de avaliar a expectativa de retorno dos investimentos e realizar negócios no


mercado de valores mobiliários, os investidores devem analisar os custos relacio-
nados aos diferentes estágios do negócio, como a compra e a venda, o registro, a
liquidação e a custódia.

Entre eles, destacamos a taxa de corretagem, taxa de custódia, emolumentos e taxa


de liquidação.

A taxa de corretagem incide no momento da compra ou venda, é livremente pactua-


da entre o cliente e a corretora e incide sobre o valor total do movimento nanceiro.
Pode ser cobrada como um valor xo, percentual do valor negociado ou de forma
mista. Além disso, pode haver cobrança diferenciada conforme o canal utilizado
(mesa de operações ou home broker), o “pacote de serviços” contratado e o nível de
relacionamento entre cliente e corretora.

Há também os emolumentos e a taxa de liquidação. Esses são valores cobrados pela


entidade administradora de bolsa ou de balcão no qual os ativos foram negociados e in-
cidem sobre o volume das operações realizadas, com objetivo de remunerar os serviços
oferecidos pelo ambiente de negociação e de liquidação.

Por m, o serviço de custódia dos ativos também é taxado. Há dois tipos de cobrança.
Uma de manutenção de conta, mensal, variável dependendo da conta estar com ou
sem movimentação e do tipo de ativo custodiado. Outra sobre o valor em custódia,
que é uma taxa mensal e calculada regressiva e cumulativamente sobre o valor da
carteira no último dia útil do mês de forma pro rata, com isenção para até determi-
nada faixa de valor. Essas taxas são cobradas dos intermediários, mas alguns deles
optam por não repassar esse custo ao cliente, como diferencial comercial.

Funcionamento do Mercado 297


Além dos custos citados, no caso dos mercados de opções ou a termo pode haver a
cobrança de taxa de registro da operação.

As entidades administradoras de mercados de bolsa e balcão disponibilizam tabela


completa com os percentuais e valores das taxas e dos custos das operações cursa-
das nos ambientes por ela administrados, com exceção das taxas de corretagem, que
devem ser negociadas diretamente com o intermediário escolhido pelo investidor.

Tributação das Operações

É muito importante lembrar que, além das taxas e custos incidentes sobre as opera-
ções, os investidores estão sujeitos à cobrança de impostos, conforme determinação
da Secretaria da Receita Federal do Brasil.

10.10. Avisos e Comunicação com o Invest idor

Os investidores que negociam nos mercados de bolsa e balcão organizado e man-


têm seus ativos em custódia têm o direito de receber informações sobre as nego-
ciações realizadas, a ocorrência de eventos e a posição dos seus investimentos. As
corretoras ou distribuidoras, como intermediárias das operações, e os agentes e
prestadores de serviços de custódia são os principais responsáveis pelo envio e dis-
ponibilização dessas informações.

Nas negociações de compra e venda, as corretoras enviam e disponibilizam ao inves-


tidor a nota de corretagem. Nesse documento, estão todas as informações a respeito
da operação, como a data, o código e a descrição do ativo, a quantidade e o preço ne-
gociado, as taxas e o mercado no qual foi negociado. Nas corretoras, os investidores
têm acesso também ao extrato de movimentação da sua conta nanceira.

Além disso, a Central Depositária disponibiliza ao investidor o extrato da conta de


custódia. Nele há a relação completa da posição dos ativos em custódia, com quanti-
dade e preço de mercado, além da relação dos proventos distribuídos no período e das
movimentações realizadas, caso existam.

Na hipótese de o investidor ter alugado ativos, o extrato do Banco de Títulos e


Contratos (BTC) é disponibilizado com as posições em aberto e o aviso de movi-

298 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


mentação. O investidor tem acesso também às garantias oferecidas em operações
especí cas, caso haja.

A BM&FBOVESPA oferece aos investidores o serviço do Canal Eletrônico do In-


vestidor (CEI), com acesso via internet, pelo qual eles têm acesso às informações,
de forma centralizada e continuamente disponível. Quando o agente de custódia
cadastra o cliente na bolsa, a senha de acesso ao sistema é gerada automaticamente
e enviada ao investidor.

10.11. Emprést imo de Ações

O empréstimo de ações, também conhecido como aluguel de ações é uma operação


em que investidores doadores emprestam aos investidores tomadores, por prazo de-
terminado, e mediante a cobrança de uma taxa livremente pactuada, certa quantidade
de ações. Geralmente, os doadores são investidores de longo prazo, sem interesse em
se desfazer das ações pelo menos durante o prazo do contrato, e ganham um rendi-
mento adicional com a operação. Os tomadores, por outro lado, são investidores que
demandam o ativo temporariamente, seja para uma estratégia, como uma venda a
descoberto, seja para liquidar outra operação já realizada.

As negociações realizadas devem ser necessariamente intermediadas por sociedades


corretoras ou distribuidoras. Os investidores titulares de ações objeto do empréstimo
devem autorizar a operação previamente por escrito. Os tomadores precisam oferecer
como garantia, em caução, ativos aceitos pelo regulamento em valor su ciente para
assegurar a certeza da liquidação de suas operações. A bolsa só autorizará a operação
após o depósito das garantias.

A BM&FBOVESPA oferece os serviços de empréstimo de valores mobiliários por meio


do Banco de Títulos (BTC). A bolsa atua como contraparte e garante as operações,
sendo que qualquer agente de custódia pode disponibilizar os ativos para empréstimos,
tanto próprios como de clientes que tenham autorizado a operação.

Remuneração das Operações de Empréstimo


O doador recebe a remuneração pactuada deduzida dos impostos incidentes mais um
valor adicional de 0,05% ao ano sobre o volume emprestado. O custo do tomador en-

Funcionamento do Mercado 299


volve, além da taxa combinada, os emolumentos pagos à bolsa e a corretagem, que pode
também ser cobrada do doador, dependendo da política de cada instituição.

Propriedade das ações durante o empréstimo


É importante destacar que o processo de empréstimo de ações envolve a transferência
temporária da propriedade para o tomador. Assim, direitos, como o de voto, passam
a ser exercidos pelo tomador, caso não tenha vendido a ação.

Com respeito aos proventos, como os dividendos e os juros sobre capital próprio, o
Banco de Títulos se encarrega de reembolsar o doador, na mesma data e no mesmo
montante, e debita os valores do tomador. No que se refere aos eventos realizados em
ativos, como as boni cações, grupamentos e desdobramentos, o investidor doador
recebe os ativos objeto do empréstimo com as quantidades ajustadas.

Na hipótese de subscrição, o sistema BTC garante a possibilidade de o doador subscre-


ver as ações a que tinha direito, caso estivesse com elas em custódia. Durante o emprés-
timo, os direitos de subscrição não serão gerados em sua conta de custódia. O tomador
deverá optar em devolver os direitos ou recibos de subscrição ou ações correspondentes
à subscrição. No caso do recibo de subscrição ou novas ações, o doador arcará com os
custos relativos à subscrição.

Ainda sobre o assunto, é importante destacar decisão do colegiado da CVM no que


diz respeito ao direito de recesso. Pelo entendimento, como é condição necessária
para o exercício do direito de recesso a propriedade ininterrupta das ações entre a
véspera da data da publicação do fato relevante que ensejou o direito e a data da deci-
são da assembleia que deliberou sobre o assunto, os acionistas que tivessem transfe-
rido, ainda que temporariamente, a propriedade de suas ações, em virtude de opera-
ções de empréstimo de ações, não fariam jus ao exercício do direito.

Portanto, o aluguel de ações pode ser uma operação vantajosa tanto para o doador,
desde que conheça as informações completas sobre a operação, incluindo os direitos
que perderá durante o prazo do contrato, quanto para o tomador, que pode utilizar
do mecanismo para suas estratégias de operação.

Importante destacar também que as operações de empréstimo aumentam a liqui-


dez do mercado, aprimorando sua eficiência. Além disso, o BTC possui um siste-
ma automático, que monitora a compensação em busca de possíveis vendedores a
descoberto e de disponibilidades de oferta dos mesmos ativos. Se possível, fecha

300 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


automaticamente operações de empréstimo, conforme as regras estipuladas. Por
esse mecanismo, o aluguel de ações passa a desempenhar também um importante
papel na melhoria do sistema de compensação e liquidação de ações.

10.12. Processo de Recompra de At ivos

Após o encerramento das operações nos ambientes de negociação, os sistemas de


compensação e liquidação iniciam o processo de pós-negociação. Nesse sistema, a
câmara de compensação e liquidação de ativos da bolsa assume a posição de contra-
parte central para garantir a efetiva liquidação de todos os negócios. Para isso, adota
uma estrutura de responsabilidades e mecanismos gerenciadores de risco, de modo a
aumentar a segurança do processo.

Ainda assim, podem ocorrer falhas no sistema de entrega dos ativos. Com o in-
tuito de saná-las, a bolsa realiza operações especiais, de modo a permitir que os
vendedores faltantes cumpram com suas obrigações e os compradores recebam o
que compraram. Uma dessas operações consiste na realização de uma operação de
empréstimo, na qual o vendedor assume a posição de tomador do empréstimo no
BTC, por meio de um sistema conhecido como BTC automático. Porém, para que
essa operação se concretize, o ativo desejado deve estar disponível para emprésti-
mo no Banco de Títulos.

Se não houver ativo disponível para aluguel, inicia-se operação de recompra do ativo. A
ordem de recompra, como é chamada, é uma operação em que a Bolsa autoriza o par-
ticipante representante do investidor comprador da operação, a realizar a recompra do
ativo que havia sido adquirido na data da operação e não recebido por falta de entrega.

Como o prazo de liquidação normal da operação se encerra em D+3, considerando-


se D+0 a data da operação original, a câmara de compensação e liquidação envia a
ordem de recompra ao participante em D+4, caso o ativo objeto da operação de venda
não seja entregue até a manhã desse dia.

A ordem tem até 2 dias para ser realizada pelo intermediário, ou seja, de D+4 até
D+6. O participante tem até D+7 para con rmar a execução da ordem de recompra.
Uma vez realizada a recompra, a liquidação obedece aos procedimentos normais do
mercado. Assim, na hipótese de a recompra ter sido realizada em D+6 e, pelo fato

Funcionamento do Mercado 301


de a liquidação ser realizada em D+3, pode-se chegar a um prazo de liquidação de
D+9 em relação à operação original, chamado de ciclo ampliado de liquidação em
caso de falha na entrega.

Importante destacar que o Agente de Compensação responsável pela falta da entrega as-
sume todas as despesas da operação, como também possíveis diferenças entre os valores
da compra e da recompra.

Se o participante não con rmar a recompra, a câmara considera que a ordem não foi
executada e a operação ca sujeita às regras de reversão de operações, a menos que a
ordem não tenha sido executada pelo fato de o ativo objeto da recompra estar, duran-
te o período da recompra, com as negociações suspensas. Nessa hipótese, a ordem
de recompra será válida pelos 3 dias subsequentes ao reinício dos negócios do ativo.

A reversão é feita em D+8 e o valor é o maior entre o valor da operação original e a


última cotação média do ativo objeto da operação, veri cada no mercado principal,
até D+7, atribuindo os correspondentes débitos e créditos aos agentes de compensa-
ção participantes.

O processo de recompra pode ser também cancelado, havendo concordância das par-
tes, desde que o ativo objeto da operação seja entregue pela parte faltosa à câmara de
compensação e liquidação da bolsa, observadas as condições do regulamento da bolsa.

10.13. Mecanismo de Ressarciment o de Prejuízos

Na hipótese de os investidores, nas negociações realizadas em bolsa, ou nos serviços


prestados, como o de custódia, sofrerem algum tipo de prejuízo decorrente de erros
operacionais, eles podem recorrer ao mecanismo de ressarcimento de prejuízos (MRP),
administrado pela Bovespa Supervisão de Mercados (BSM).

Observa-se, portanto, que não se trata de indenização por prejuízos decorrentes da


variação de preços de ativos, mas sim de prejuízo causado por erros dos participantes
da BM&FBOVESPA (a própria bolsa, as corretoras, os agentes de compensação) na
execução das operações ordenadas pelos clientes.

O MRP tem nalidade exclusiva de assegurar aos investidores o ressarcimento de

302 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


prejuízos decorrentes da ação ou omissão dos participantes da BM&FBovespa ou de
seus administradores, empregados ou prepostos, em relação à intermediação de ne-
gociações realizadas na bolsa, especialmente nas seguintes hipóteses:

. Inexecução ou in el execução de ordens;

. Uso inadequado de numerário e de valores mobiliários, inclusive em re-


lação a operações de nanciamento ou de empréstimos de valores mobiliários;

. Entrega ao investidor de valores mobiliários ou outros ativos ilegítimos ou de


circulação restrita;

. Inautenticidade de endosso em valores mobiliários ou outros ativos, ou ilegiti-


midade de procuração ou documento necessário à sua transferência; e

. Encerramento das atividades.

Ressarcimento de prejuízos

O objetivo do sistema é cobrir prejuízos causados por erros dos participantes do


mercado na execução das operações ordenadas pelos clientes. Prejuízos decorren-
tes de oscilações de preços são riscos inerentes ao investimento e não podem ser
objeto de ressarcimento.

É importante ressaltar que as transações realizadas no mercado de balcão organizado


também não estão cobertas pelo MRP, que engloba apenas operações realizadas no
ambiente da bolsa.

O ressarcimento dos prejuízos pelo MRP é limitado ao valor de R$ 70.000,00 por


ocorrência. Para solicitar o ressarcimento, o investidor não precisa de advogado e não
há cobrança de taxas. O investidor tem até 18 meses para apresentar as reclamações,
a contar da data do fato que tenha gerado o prejuízo.

No caso do pedido de ressarcimento ser negado, o investidor reclamante poderá


recorrer da decisão à CVM.

Funcionamento do Mercado 303


10.14. Invest idor não Resident e

O que caracteriza essa categoria de investidor é o fato de ele não possuir residência ou
sede no Brasil, independente de sua nacionalidade. Apesar de grande parte dos inves-
tidores não residentes serem estrangeiros, um brasileiro também pode ser investidor
não residente caso esteja domiciliado no exterior. Portanto, o termo “Investidores
não Residentes” é mais preciso que o termo “Investidor Estrangeiro”, embora este seja
mais popular no mercado.

No Brasil, o acesso de investidores não residentes (ou estrangeiros) ao mercado nan-


ceiro e de capitais é regulamentado pelas Resoluções 2689 e 2687 de 26/01/2000, do
Conselho Monetário Nacional, que garantem a essa categoria de investidores acesso
aos mesmos mercados disponíveis ao investidor residente.

A Instrução CVM 419/2005 criou a possibilidade de utilização do cadastro simpli-


cado do investidor não residente, facilitando e agilizando o acesso ao mercado de
capitais brasileiro. Com base nessa instrução, as corretoras (e os custodiantes) podem
efetuar o cadastro simpli cado de seus clientes não residentes desde que atendidos
pré-requisitos estabelecidos na norma.

10.14.1. Representante Legal

O representante legal é responsável pelo registro do investidor não residente e pelo


envio de todas as informações às autoridades brasileiras. Quando esse representante
for uma pessoa física ou uma empresa não nanceira, o investidor deverá indicar
uma instituição nanceira devidamente autorizada pelo Banco Central para ser o
responsável solidário pelas obrigações desse representante, devendo comunicar qual-
quer irregularidade que chegue a seu conhecimento.

O representante deve conhecer muito bem o investidor não residente, pois ele deve
evitar a intermediação de operações que envolvam recursos oriundos de atos ilícitos,
devendo adotar práticas, procedimentos e condutas a serem observados, seguidos e
aplicados por seus colaboradores e dirigentes.

304 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Representante Fiscal
Existe ainda o “Representante Fiscal”, que é responsável, perante as autoridades bra-
sileiras, pelo cumprimento das obrigações tributárias do investidor estrangeiro. Essa
função normalmente também é realizada pelo Representante Legal.

10.14.2. Custodiante

O investidor não residente, diretamente ou através do seu representante legal, deverá


rmar um acordo com um custodiante local no Brasil, que deve ser uma instituição
ou entidade autorizada à prestação desses serviços, e será responsável pelo controle
de todos os ativos em contas segregadas, fornecendo relatórios atualizados aos inves-
tidores e às autoridades.

Funcionamento do Mercado 305


306 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro
11. Mercados de Derivat ivos

11.1. Conceit os Básicos

Derivativos é o nome dado à família de mercados em que operações com liquidação


futura são realizadas, tornando possível a gestão do risco de preço de diversos ativos.
Quatro modalidades de contratos são negociadas nesses mercados: termo, futuro,
opções e swaps.

A origem do termo “derivativos” está associada à ideia de que os preços desses contratos
possuem estreita ligação, ou seja, derivam dos preços do ativo subjacente ao contrato.

Os derivativos, em geral, são negociados sob a forma de contratos padronizados,


previamente especi cados (quantidade, qualidade, prazo de liquidação e forma de
cotação do ativo-objeto sobre os quais se efetuam as negociações), em mercados or-
ganizados, com o m de proporcionar, aos agentes econômicos, oportunidades para
a realização de operações que viabilizem a transferência de risco das utuações de
preços de ativos e de variáveis macroeconômicas.

É importante mencionar que as negociações com derivativos podem ocorrer no mer-


cado de balcão ou em bolsas organizadas.

11.2. Finalidades

O mercado de derivativos é utilizado com diferentes propósitos:

Hedge (Proteção)

Arbit ragem

Especul ação

308 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


11.2.1. Hedge

É como um seguro de preço. Tem como objetivo proteger o valor de um ativo contra
possíveis variações futuras. Uma empresa com dívida em dólar, por exemplo, pode
comprar contratos futuros desta moeda, se protegendo contra perdas que poderiam
ser causadas por aumento na cotação da moeda. Da mesma forma, um pecuaris-
ta pode assumir uma posição vendedora no mercado futuro, garantindo o preço de
venda e se protegendo contra queda no preço da arroba do boi gordo.

Hedge é a operação realizada no mercado derivativo que visa xar antecipada-


mente o preço de uma mercadoria ou ativo nanceiro de forma a neutralizar o
impacto de mudanças no nível de preços.

O hedger busca proteção contra a oscilação de preços. A principal preocupação não é


obter lucro em derivativos, mas garantir o preço de compra ou de venda de determina-
da mercadoria em data futura. Por exemplo: o importador que tem passivo em dólares
compra contratos cambiais no mercado futuro, porque teme alta acentuada da cotação
dessa moeda na época em que precisará comprar dólares no mercado à vista.

11.2.2. Arbitragem

Signi ca tirar proveito da diferença de preços de um mesmo produto negociado em


mercados diferentes. O objetivo é aproveitar as discrepâncias momentâneas que
eventualmente acontecem no processo de formação de preços dos diversos ativos e
mercadorias e entre vencimentos.

O arbitrador é o participante que tem como meta o lucro, mas praticamente não assu-
me riscos. A estratégia do arbitrador é comprar no mercado em que o preço está mais
barato e vender no mercado em que está mais caro, lucrando um diferencial de compra
e venda praticamente imune a riscos, porque sabe exatamente por quanto irá comprar e
vender. Normalmente o diferencial de preços utilizado pelo arbitrador para realizar suas
operações é muito pequeno, e os lucros vêm da quantidade e do volume das operações.

As estratégias partem do pressuposto de que mercados e contratos são afetados pelas


mesmas circunstâncias econômicas. Em consequência, a expectativa é de que os
preços das duas (ou mais) posições oscilem em sincronia. Se, por algum motivo, os
preços estiverem desalinhados ou não se moverem em conjunto, poderá surgir uma
oportunidade de lucro.

Mercados de Derivativos 309


À medida que os arbitradores compram no mercado A e vendem no B, au-
mentam a procura no mercado A (e, consequentemente, os preços) e a oferta
no mercado B (causando queda de preços). Em determinado momento, os dois
preços tendem a se equilibrar no valor intermediário entre os dois preços ini-
ciais. O arbitrador acaba agindo exatamente como um árbitro, pois elimina as
distorções de preços entre mercados diferentes.

11.2.3. Especulação

O especulador é um participante cujo propósito básico é obter lucro. Diferentemente


dos hedgers, os especuladores não têm nenhuma negociação no mercado físico que
necessite de proteção. Sua atuação consiste na compra e na venda de contratos futu-
ros apenas para ganhar o diferencial entre o preço de compra e o de venda, não tendo
nenhum interesse pelo ativo-objeto.

O especulador pode manter posições em aberto de um dia para o outro, por períodos
mais ou menos longos, como pode, também, fazer uma aposta direcional de preços
ao longo de um mesmo dia, realizando uma compra e uma venda não simultâneas
para o mesmo vencimento, na mesma sessão de negociação, executando o chamado
day-trade. Ao nal daquele dia, seu resultado será a diferença apurada entre preço de
venda e preço de compra.

A Importância do Especulador

O conceito de especulador tem recebido conotação muito depreciativa, talvez devido


ao fato de o participante visar apenas o lucro. Todavia, a presença do especulador é
fundamental no mercado futuro, pois é o único que toma riscos e assim viabiliza a
outra ponta da operação do hedger, fornecendo liquidez ao mercado.

Quando os hedgers entram no mercado futuro, não estão propriamente elimi-


nando o risco de variações adversas de preços e, sim, transferindo esse risco a
outro participante, que frequentemente é o especulador.

Como já foi demonstrado, o arbitrador também não assume riscos. O único partici-
pante que assume risco é o especulador, que entra no mercado arriscando seu capital
em busca de lucro. Dessa forma, o fato de os especuladores abrirem e encerrarem

310 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


suas posições a todo o momento faz com que o volume negociado aumente, trazendo
liquidez para o mercado.

Como as posições assumidas pelos especuladores são muito arriscadas e eles não
precisam do ativo-objeto, não costumam permanecer por muito tempo no mercado e
di cilmente carregam suas posições até a data de liquidação do contrato. A operação
de especulação mais conhecida é a day-trade, que consiste na abertura e no encerra-
mento da posição no mesmo dia.

A especulação não deve ser confundida com “manipulação”, que é a compra ou venda
de ativos em mercado com a nalidade de criar falsa aparência de negociação ativa e,
assim, in uenciar a ação dos demais investidores. A BM&FBOVESPA, assim como
todas as bolsas, bem como a Comissão de Valores Mobiliários, monitoram as nego-
ciações de forma a coibir, identi car e punir a manipulação, que é sujeita a sanções
administrativas e até penais.

11.3. Tipos de Mercados de Derivat ivos

Os mercados de derivativos são quatro: a termo, futuro, de opções e de swap. Alguns


analistas não consideram os swaps uma modalidade de derivativo devido a sua seme-
lhança com o mercado a termo. De uma forma bem sintética, temos:

11.3.1. Mercado a termo

Como comprador ou vendedor do contrato a termo, você se compromete a comprar


ou vender certa quantidade de um bem (mercadoria ou ativo nanceiro) por um preço
xado ainda na data de realização do negócio, para liquidação em data futura. Os con-
tratos a termo somente são liquidados integralmente no vencimento. Podem ser nego-
ciados em bolsa e no mercado de balcão.

11.3.2. Mercado f uturo

Deve-se entender o mercado futuro como uma evolução do mercado a termo. Você se
compromete a comprar ou vender certa quantidade de um bem (mercadoria ou ativo
nanceiro) por um preço estipulado para a liquidação em data futura.

Mercados de Derivativos 311


A de nição é semelhante, tendo como principal diferença a liquidação de seus com-
promissos somente na data de vencimento, no caso do mercado a termo. Já no mercado
futuro, os compromissos são ajustados nanceiramente às expectativas do mercado re-
ferentes ao preço futuro daquele bem, por meio do ajuste diário (mecanismo que apura
perdas e ganhos). Além disso, os contratos futuros são negociados somente em bolsas.

11.3.3. Mercado de opções

No mercado de opções, negocia-se o direito de comprar ou de vender um bem por


um preço xo numa data futura. Quem adquirir o direito deve pagar um prêmio ao
vendedor. Este prêmio não é o preço do bem, mas apenas um valor pago para ter a
opção (possibilidade) de comprar ou vender o referido bem em uma data futura por
um preço previamente acordado.

O objeto de negociação pode ser um ativo nanceiro ou uma mercadoria, negociados


em pregão, com ampla transparência. O comprador da opção, também chamado ti-
tular, sempre terá o direito do exercício, mas não obrigação de exercê-lo. O vendedor
da opção, também chamado lançador, terá a obrigação do exercício caso o titular
opte por exercer seu direito.

11.3.4. Mercado de swap

No mercado de swap, negocia-se a troca de rentabilidade entre dois bens (mercado-


rias ou ativos nanceiros). Pode-se de nir o contrato de swap como um acordo, entre
duas partes, que estabelecem a troca de uxo de caixa tendo como base a comparação
da rentabilidade entre dois bens.

Exemplo: swap de ouro x taxa pre xada

Se, no vencimento do contrato, a valorização do ouro for inferior à taxa pre xada
negociada entre as partes, receberá a diferença a parte que comprou taxa pre xada
e vendeu ouro. Se a rentabilidade do ouro for superior à taxa pre xada, receberá a
diferença a parte que comprou ouro e vendeu taxa pre xada.

Você deve observar que a operação de swap é muito semelhante à operação a termo,
uma vez que sua liquidação ocorre integralmente no vencimento.

312 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


11.4. Derivat ivos não Padronizados e Padronizados

Os contratos negociados em balcão, cujas especi cações (como preços, quantidades,


cotações e locais de entrega) são determinadas diretamente entre as partes contratan-
tes, não são intercambiáveis.

Di cilmente o participante conseguirá transferir sua obrigação a outro, porque esse


contrato foi negociado para satisfazer as necessidades especí cas das partes que o
celebraram, de modo que as partes cam amarradas umas às outras até a data de
vencimento do contrato.

Já os contratos padronizados e negociados em bolsa são muito líquidos porque,


sendo uniformes, atendem às necessidades de todos os participantes do mercado.
Tais contratos são intercambiáveis, isto é, podem ser repassados a outros partici-
pantes a qualquer momento.

No quadro comparativo abaixo, você poderá notar as diferenças dos ambientes de


negociações de um derivativo não padronizado: a opção.

Tradicionalmente, as opções eram negociadas em ambiente de over the counter


(OTC), isto é, em balcão. Os negócios eram bilaterais, sendo o risco de contrapartida
(risco de inadimplência) assumido por ambas as partes. Com o surgimento dos mer-
cados organizados de opções, na década de 1970, a câmara de compensação passou a
interpor-se entre as partes e assumir esse risco.

MERCADO DEBALCÃO
MERCADO ORGANIZADO
CARACTERÍSTICAS NÃO ORGANIZADO
(BOLSA)
(OTC)

Est ipulado a par t ir da


LIQUIDAÇÃO DO CONTRATO Padronizado
necessidade das part es

AMBIENTEDENEGOCIAÇÃO Qualquer Em ambient e comum de negociação

FIXAÇÃO DEPREÇOS Negociação Cot ação abert a

FLUTUAÇÃO DEPREÇOS Livre Limit es de preços (alt a e baixa)

Mercados de Derivativos 313


MERCADO DEBALCÃO
MERCADO ORGANIZADO
CARACTERÍSTICAS NÃO ORGANIZADO
(BOLSA)
(OTC)

RELAÇÃO ENTREAS PARTES Diret a Por meio da câmara de compensação

GARANTIA Não exist e Sempre para o vendedor

Assumida pel a câmara


RISCO DECONTRAPARTIDA Assumida pelo comprador
de compensação

LIQUIDEZ Baixa Ampl a nos mercados consolidados

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

O diferencial mais importante entre esses dois mercados é a existência da câmara de


compensação que, ao se interpor entre os negociantes, reduz o risco de inadimplên-
cia. Nos mercados organizados de derivativos, as opções são negociadas no mesmo
ambiente. Consequentemente, esses contratos têm alguns pontos em comum, como
vencimento, preço de exercício, tipo de opção (call ou put).

O diagrama a seguir ilustra esses tipos de ambiente de negociação e os riscos envol-


vidos nesses dois mercados.

Derivativos do tipo taylor made: derivativos nos quais as partes envolvidas


podem ajustar livremente os itens do contrato. No swap, de ne-se: taxa, per-
centuais, valor inicial, prazo e, até mesmo, a carência para início de valorização.

Mercado de Balcão (OTC)

314 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Mercado Organizado (Bol sa)

Fonte: Opciones Fin ancier as, Un En foque Fu ndamental. Prosper Lamonte. Editor a
Macgr aw-H ill, 1993, retir ado de Sér ie Int rodutór ia – Mercados de Der ivativos – BM&F.

11.5. Cl assiƩcação dos Derivat ivos

Existem três principais categorias de derivativos:

. Derivativos agropecuários: têm como ativo objeto commodities agrícolas,


café, boi, milho, soja;

. Derivativos nanceiros: têm seu valor de mercado referenciado em alguma


taxa ou índice nanceiro de juro, taxa de in ação, taxa de câmbio, índice de ações;

. Derivativos de energia e climáticos: têm como objeto de negociação energia


elétrica, gás natural, créditos de carbono.

Mercados de Derivativos 315


11.6. Funcionament o do Mercado

11.6.1. Abertura de Posição

Em todas as modalidades de derivativos, compradores e vendedores assumem com-


promissos de compra e de venda, respectivamente. Os contratos em aberto re etem a
posição líquida em determinada data de todas as operações ainda não liquidadas pelo
investidor, isto é, a natureza do compromisso (compra ou venda) de um participante
por contrato e vencimento.

Uma posição em derivativos pode ser de nida como o saldo líquido dos contratos ne-
gociados pelo mesmo contratante para a mesma data de vencimento. O participante
abre uma posição quando assume uma posição comprada ou vendida em determina-
do vencimento que anteriormente não possuía.

Classi ca-se um participante em vendido (short) ou comprado (long) de acordo com sua
posição líquida em determinado vencimento. Se o número de contratos vendidos for maior
que o número de contratos comprados, sua posição será vendedora (short); caso contrário, a
posição será compradora (long). É importante frisar que a posição líquida é xada para um
único vencimento do mesmo contrato.

Exemplo 1

Suponha que o participante tenha comprado 30 contratos futuros de taxa de câmbio


reais por dólar para vencimento em abril e vendido a mesma quantidade de contratos
para maio.

Qual é sua posição líquida?

Esse participante assumiu posição comprada para abril em 30 contratos e vendida


para maio em 30 contratos.

Se esse participante tivesse comprado 30 contratos de dólar para março e vendido 20 con-
tratos de dólar para esse mesmo vencimento, qual seria sua posição líquida?

A posição líquida seria comprada em 10 contratos para março.

O encerramento da posição em derivativos ocorre por meio de uma operação de na-

316 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


tureza inversa à original (compra ou venda). Dessa forma, o participante transfere
seus direitos e suas obrigações a outro participante. O quadro a seguir sintetiza os
procedimentos de abertura e encerramento das posições.

Fonte: Série Introdutória – Mercados de Derivativos – BM&F.

Exemplo 2

Suponha que o participante tenha assumido posição comprada em 30 contratos de Ibo-


vespa futuro para março e que deseja encerrar sua posição antes da data do vencimento.

Como esse participante deve proceder?

O participante deve vender 30 contratos de Ibovespa para março. Sendo a posição


igual ao saldo líquido do número de contratos comprados e vendidos para o mesmo
vencimento, sua posição será igual a zero.

11.6.2. Liquidação de Operações

As operações com derivativos não padronizados são liquidadas diretamente entre as


partes contratantes, sendo os riscos de não cumprimento das obrigações dos contra-
tos assumidos por ambas as partes, sem o amparo de sistema de garantia que assegu-
re o cumprimento do contrato.

As operações com derivativos padronizados são liquidadas em câmaras de compen-


sação ligadas às bolsas ou aos sistemas de negociação cuja estrutura de garantias ga-
rante o cumprimento de todas as obrigações assumidas pelas partes.

Independentemente de a operação ser padronizada ou não, há duas formas de liqui-


dação: nanceira e física.

. Liquidação nanceira: é feita por diferença nanceira. Utilizando-se o preço

Mercados de Derivativos 317


de referência, no dia de vencimento do contrato, registram-se uma venda para o
comprador original e uma compra para o vendedor original. A diferença apurada é
liquidada entre as partes, sem que haja entrega física do ativo negociado.

. Liquidação física: o negócio é liquidado mediante a entrega física do ativo


negociado.

A liquidação física, mais comum nos mercados agropecuários e de energia, consiste


na entrega física do ativo em negociação na data de vencimento do contrato. Em mui-
tas situações, a liquidação física pode ser muito dispendiosa ou, ainda, indesejável,
pois o participante pode não ter nenhum interesse pelo ativo-objeto, sendo seu único
intuito a obtenção do valor do diferencial entre a compra e a venda desse ativo (espe-
culador). Nesses casos, opta-se pela liquidação nanceira.

Alguns contratos admitem ambas as formas de liquidação, mas a maior parte


admite apenas a liquidação nanceira. Atualmente a BM&FBOVESPA tem a
maioria absoluta das liquidações na modalidade nanceira.

Exemplo de liquidação por diferença nanceira

Negociação de dez contratos de compra e venda a termo de café a R$100,00/saca. O


tamanho do contrato é de 100 sacas de 60kg e a cotação da saca no nal da safra,
de R$90,00.

a) Qual é o resultado da operação para o comprador e para o vendedor?

Para o comprador: 10 × (100 × R$90,00) – 10 × (100 × R$100,00) = –R$10.000,00


Para o vendedor: 10 × (100 × R$100,00) – 10 × (100 × R$90,00) = +R$10.000,00

Portanto, o comprador pagaria R$10.000,00 ao vendedor.

b) Se a cotação (preço de referência) no mercado à vista fosse de R$110,00, qual seria


o resultado?

Para o comprador: 10 × (100 × R$110,00) – 10 × (100 × R$100,00) = +R$10.000,00


Para o vendedor: 10 × (100 × R$100,00) – 10 × (100 × R$110,00) = –R$10.000,00

Portanto, o vendedor pagará R$10.000,00 ao comprador.

318 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


11.7. Benef ícios na Ut ilização de Derivat ivos

Derivativos agrícolas
O mercado de derivativos responde a uma necessidade genuína da comercialização de
determinadas mercadorias. Por exemplo, nos Estados Unidos, a colheita de trigo é re-
alizada apenas durante algumas semanas, enquanto o consumo do cereal ocorre o ano
todo. Então, alguém precisa carregar a mercadoria, até que seja consumida por inteiro,
arcando com os custos de aquisição, armazenagem e transporte, e sujeitando-se aos
riscos das variações de preço.

Somente o mercado de derivativos pode oferecer ao agricultor (que pretende vender sua
produção, assim que efetuar a colheita, pelo melhor preço) e ao processador ou usuário
do produto (que espera comprar o produto no decurso do ano, pelo melhor preço) os
meios de garantir sua necessidade de xação de preço, por meio de operações de hegding.

O mercado de derivativos possibilita mecanismos e cientes para que os especulado-


res forneçam o capital indispensável à absorção das mudanças nos níveis de preços
das mercadorias. Embora as alterações nos preços futuros das mercadorias sejam
rápidas e contínuas, a interação permanente de compradores e vendedores, em um
mercado competitivo e aberto, estabelece velozmente quanto cada mercadoria vale, a
todo o momento. Como os preços são disseminados instantaneamente para a socie-
dade, o menor usuário do mercado sabe tanto quanto seu maior concorrente qual o
valor exato da mercadoria que pretende vender ou comprar.

O custo da mercadoria para o público diminui. O hedge permite ao produtor e ao


processador da mercadoria operar com custos mais baixos. Esse ganho operacional,
na maioria das vezes, é repassado ao consumidor.

O custo de nanciamento dos estoques cai. As instituições nanceiras preferem -


nanciar estoques a taxas menores a quem faz hedge.

Derivativos Ʋnanceiros
A principal aplicação dos derivativos nanceiros diz respeito à possibilidade de
proteção (hedge). Empresas que tenham contratos de exportação, importação ou
que, de alguma forma, possuam créditos a receber ou obrigações a cumprir em
moedas estrangeiras podem se proteger contra variações adversas na moeda que

Mercados de Derivativos 319


impactem negativamente seus ativos e passivos.

A mesma situação ocorre com empresas que estejam sujeitas às taxas de juro interna-
cionais ou que queiram se proteger da volatilidade dessas taxas. Investidores indivi-
duais e fundos de investimento nanceiro, possuidores de carteiras de ações, podem
utilizar os derivativos de índice de ações para proteger o valor de suas carteiras diante
das oscilações de preço das ações.

Os derivativos também podem ser utilizados para investimento. Sobre isso, é bom
lembrar que os derivativos são ativos de renda variável e devem ser considerados
como investimentos de risco.

Gerenciamento de Riscos

A partir dos conceitos de nidos, pode-se concluir que derivativos são instrumentos
nanceiros utilizados, em essência, para gerenciar riscos, uma vez que seu valor de-
pende de outros ativos aos quais se referem. Como já visto, os derivativos podem ser
utilizados de quatro formas: como mecanismo de proteção, elevação de rentabilidade
(alavancagem), especulação e arbitragem.

Essas quatro formas de utilização se confundem, pois não é muito fácil distinguir
as fronteiras que as separam. Com o avanço das comunicações, o crescimento das
relações comerciais e a globalização, o capital adquiriu grande mobilidade e os deri-
vativos, sem dúvida, tornaram-se importantes veículos para o aumento da e ciência
em uma economia altamente competitiva em âmbito mundial.

320 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Principais diferenças entre as modalidades de derivativos

MERCADO A MERCADO MERCADO DE MERCADO DE


CARACTERÍSTICAS
TERMO FUTURO OPÇÕES SWAP

ONDESENEGOCIA Balcão ou bol sa Soment e bol sa Balcão ou bol sa Balcão ou bol sa

Compromisso de Compromisso de Os compradores Compromisso


comprar ou vender comprar ou vender adquirem o direit o de t roca de um
O QUESENEGOCIA um bem por preço um bem por preço de comprar ou de bem por out ro.
ƥxado em dat a ƥxado em dat a vender por preço Trocam-se Ʀuxos
f ut ura f ut ura ƥxo em dat a f ut ura ƥnanceiros

Ausência de Ausência de
POSIÇÕES Int ercambialidade Int ercambialidade
int ercambialidade int ercambialidade

Presença de ajust e Liquidam-se os


A est rut ura mais
diário. Comprado- prêmios na cont ra-
comum é a liqui-
res e vendedores t ação da operação. Soment e no
dação soment e
t êm suas posições No venciment o, venciment o ou
no venciment o.
LIQUIDAÇÃO ajust adas ƥnan- apura-se o valor ant ecipadament e,
Há cont rat os em
ceirament e t odos da liquidação a com a concordância
que o comprador
os dias, com base part ir do exercício das part es
pode ant ecipar a
no preço de f echa- do direit o dos
liquidação
ment o da bol sa compradores

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

11.8. Mercado a t ermo

O contrato a termo foi a primeira modalidade de derivativo conhecida pela socieda-


de. Aqueles contratos, ainda primitivos, já apresentavam o conceito básico das ne-
gociações a futuro – contrate agora e acerte o pagamento depois. Atualmente, os
contratos a termo são negociados sobre mercadorias, ações, moedas, títulos públicos,
dentre outros. A seguir, são apresentadas suas características e aplicações.

Como comprador ou vendedor de um contrato a termo, você se compromete a com-


prar ou vender certa quantidade de um bem (mercadoria ou ativo nanceiro) por um
preço xado, ainda na data de realização do negócio, para liquidação em data futura.
No mercado a termo, as partes se obrigam a liquidar, em uma data de nida entre elas,
no futuro, a operação combinada no presente.

Mercados de Derivativos 321


No vencimento (t n), o vendedor entrega a commodity negociada, conforme de nido
no contrato, e o comprador paga o valor combinado em t 0. Note que a mercadoria não
troca de mãos até a chegada da data de entrega acertada entre as partes.

Observe que:

. t 0 é o momento atual no qual se desenvolve a negociação a termo;

. t n é a data do vencimento, data em que as partes estão obrigadas a cumprir


o contrato;

. Comprador é quem se obriga a pagar, em t n , o preço negociado no presente,


nas condições de nidas pelo contrato a termo;

. Vendedor é quem se obriga a entregar o(s) produto(s) no vencimento do


contrato, nas condições nele determinadas;

. Operação é o ato de negociação em que as partes de nem os itens do con-


trato (quantidade, qualidade, condições de entrega e de liquidação nanceira).
O preço da operação é resultado da barganha entre compradores e vendedores.

Características Importantes do Mercado a Termo

. Negociação: os contratos a termo podem ser encontrados em bolsa, mas são


mais comumente negociados no mercado de balcão (contratos bilaterais negocia-
dos fora das bolsas).

322 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Ausência de mobilidade de posições: em geral, os contratos a termo são li-
quidados integralmente no vencimento, não havendo possibilidade de sair da po-
sição antes disso. Essa característica impede o repasse do compromisso a outro
participante. Em alguns contratos a termo negociados em bolsa, a liquidação da
operação a termo pode ser antecipada pela vontade do comprador.

Entre os principais contratos a termo negociados no mercado internacional e no Bra-


sil, destacam-se os de moedas. Numa operação desse tipo, dois agentes acertam, na
data zero, a cotação pela qual liquidarão a operação de câmbio entre duas moedas, na
data do vencimento do contrato.

Na BM&FBOVESPA podem ser realizadas operações a termo de ações, de ouro e


com títulos do Tesouro Nacional. Também podem ser registradas negociações no
mercado de balcão com contratos a termo de metais e de moedas.

As operações a termo recebem a denominação NDF (Non Deliverable Forward) quando,


no dia do vencimento, as partes somente liquidam a diferença entre o preço negociado no
contrato a termo e o observado, nesse dia, no mercado à vista.

Exemplos de Utilização

Para que você possa entender as aplicações e as funcionalidades do mercado a termo,


utiliza-se o exemplo de um cafeicultor e de um torrefador de café.

Imagine a situação do cafeicultor ainda no início da produção. Ele não tem ne-
nhuma garantia do preço que poderá ser praticado ao nal da safra. Examine duas
hipóteses possíveis:

Hipótese A: as condições climáticas favoreceram muito o cultivo de café. Além disso,


houve superprodução no período. O excesso de oferta levará à queda acentuada de
preços de venda, reduzindo a margem de lucro do produtor. Algumas vezes, o valor
de venda é insu ciente para cobrir os custos de produção. Nesse caso, o produtor
pode preferir destruir o café a colocá-lo no mercado, pois minimizará seus custos
com armazenagem e transporte e, ao mesmo tempo, conterá a pressão da oferta.

Hipótese B: registrou-se a ocorrência de pragas, geadas ou outras intempéries que di-


cultaram o cultivo de café, provocando escassez da mercadoria. Neste caso, haverá
alta nos preços do café e o produtor conseguirá vender sua produção por preço mais

Mercados de Derivativos 323


elevado do que imaginava anteriormente.

Imagine agora a situação em que o torrefador compra o café do produtor e vende ao


consumidor nal. Ele também não sabe por qual preço poderá negociar o café no nal
da safra, pois, no caso da hipótese B, os preços podem elevar-se drasticamente e atingir
nível superior ao que sua atividade lhe permite.

Você já percebeu que, neste exemplo, o cafeicultor correrá o risco de queda acentu-
ada nos preços, enquanto o torrefador correrá o risco de alta nos preços do café no
mercado à vista.

Agora que você entendeu a natureza do risco de cada participante do exemplo, monta-
se uma operação a termo de maneira a eliminar os riscos associados às atividades de
cada um. Para eliminar os riscos de variações adversas de preço, o cafeicultor e o
torrefador podem realizar uma operação a termo, tendo como base os pressupostos
do exemplo a seguir.

Suponha que, pelo preço de R$100,00/saca de 60kg, o cafeicultor consiga pagar todos
os custos de produção e ainda obter lucro razoável em sua atividade. Considere tam-
bém que R$100,00 seja o preço máximo que o torrefador poderá pagar para auferir
lucro e não ter prejuízo em sua atividade.

Para ambos, R$100,00 é um preço de negociação razoável. Logo, poderão rmar um


compromisso de compra e venda em que o produtor se compromete a vender o café
por esse preço no nal da safra e o torrefador se compromete a adquiri-lo pelo mesmo
preço na data predeterminada.

Observe que, independentemente do resultado da safra e dos preços estabelecidos no


mercado à vista no período da entrega, ambos terão seus preços de compra e de venda
travados em R$100,00/saca.

Resultados da operação

Hipótese A: safra recorde e consequente queda nos preços. Suponha que o preço esta-
belecido no nal da safra seja de R$90,00/saca. O produtor obterá êxito nessa operação,
pois conseguirá vender sua produção por R$100,00, preço superior ao estabelecido pelo
mercado (R$90,00). Os custos de produção serão cobertos e a lucratividade, garantida.

O torrefador pagará preço mais alto do que o estabelecido pelo mercado a vista, mas que

324 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ainda lhe convém, posto que R$100,00 é preço que considera razoável para sua atividade.

Hipótese B: escassez de café no mercado e consequente alta nos preços. Suponha que
o preço estabelecido pelo mercado à vista no nal da safra seja de R$120,00/saca.

Neste caso, quem obterá êxito será o torrefador, que comprará por R$100,00 uma
mercadoria cujo valor de mercado é de R$120,00. O produtor venderá a mercadoria
ao torrefador por preço inferior ao estabelecido pelo mercado, mas que cobre todos os
seus custos de produção e garante lucratividade razoável para sua atividade.

Conclusão

Tanto para o comprador como para o vendedor no mercado a termo, e em ambas as


situações (alta ou queda de preços), o prejuízo não será visto propriamente como preju-
ízo e, sim, como algo que se deixou de ganhar, como um prêmio de seguro.

No exemplo, pelo preço de R$100,00/saca, o cafeicultor e o torrefador tinham seus


custos cobertos e a lucratividade garantida. Quando o participante entra no mercado
com a nalidade de obter proteção, abre mão de possível ganho para não incorrer em
prejuízo efetivo.

Os participantes do mercado preferem os contratos futuros, dadas algumas di cul-


dades apresentadas pelos contratos a termo, dentre elas:

. Impossibilidade de recompra e revenda. Os contratos a termo não ofere-


cem a possibilidade de intercambialidade de posições, isto é, nenhuma das partes
consegue encerrar sua posição antes da data de liquidação, repassando seu com-
promisso a outro participante;

. Risco de inadimplência e de não cumprimento do contrato. Os contratos


a termo exigem garantias mais altas do que as que são exigidas para os futuros.

Com objetivo de aprimorar os negócios para liquidação futura e sanar os pro-


blemas mencionados, surgiu o mercado futuro, cuja sistemática será apresenta-
da no próximo tópico.

Além de ser um importante instrumento para a gestão do risco de mercado, os con-


tratos a termo frequentemente são utilizados em operações nanceiras assemelhadas
a operações de renda xa. Por meio da negociação de contratos a termo, simulta-

Mercados de Derivativos 325


neamente com o ativo-objeto desse contrato, as partes promovem a troca de uxos
nanceiros no momento da negociação e quando da liquidação. O valor da diferença
desses uxos, conhecido desde o início da operação, constitui os juros da transação
(aplicação ou captação de recursos).

No mercado de ações, operações a termo são bastante frequentes, admitindo diversas mo-
dalidades: comum (em reais); em dólares ou em pontos (naqueles em que o preço a termo
é indexado) e exível (quando se admite a troca do ativo objeto depositado em garantia).

O comprador a termo usualmente vende ações que estavam em sua carteira para
aplicar o resultado da venda em papéis de renda xa (ou em outros ativos de risco).
No vencimento, resgata sua aplicação original e reconstitui sua posição em ações li-
quidando a operação a termo (comprando as ações). Já o vendedor a termo, quando
faz uma operação nanceira, geralmente toma dinheiro emprestado para comprar
ações no mercado a vista e usá-las como garantia em vendas a termo. No vencimento,
com o dinheiro da venda de ações paga o empréstimo inicial. Em ambos os casos, os
agentes têm condições de precisar o resultado nal da estratégia em termos de taxa
de juro. Há muitas variantes dessas operações envolvendo empréstimo de ações e
liquidações antecipadas, todas realizadas dentro dos parâmetros (de prazos, preços e
tipos de ativos) admitidos pela bolsa.

11.9. Mercado f ut uro

Há duas coisas muito importantes para entender o funcionamento do mercado futuro:

. O mercado futuro é uma evolução do mercado a termo;

. Os contratos futuros são negociados somente em bolsa.

Tal como no contrato a termo, você se compromete a comprar ou a vender certa quanti-
dade de um bem (mercadoria ou ativo nanceiro), por um preço estipulado, para liqui-
dação em data futura. A principal diferença é que, no mercado a termo, os compromissos
são liquidados integralmente nas datas de vencimento; no mercado futuro, esses compro-
missos são ajustados nanceiramente às expectativas do mercado acerca do preço futuro
daquele bem, por meio do procedimento de ajuste diário (que apura perdas e ganhos).

326 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O mecanismo de funcionamento do mercado futuro imprimiu característica impor-
tante na negociação para liquidação futura: a competitividade. A homogeneidade dos
produtos, a transparência e a velocidade das informações e a livre mobilidade de re-
cursos permitem que os preços se ajustem conforme as leis de mercado, ou seja, de
acordo com as pressões de oferta e procura. Como os participantes podem entrar e sair
do mercado a qualquer momento, os futuros tornaram-se muito importantes para as
economias em face de sua liquidez.

Padronização dos contratos

Contratos padronizados são contratos que possuem estrutura previamente padroni-


zada por regulamentação de bolsa, estabelecendo todas as características do produto
negociado, como data de vencimento, tipo de liquidação e outras.

A padronização dos contratos é condição imprescindível para que a negociação possa ser
realizada em bolsa. Imagine um pregão no qual cada um dos participantes negociasse
determinado tipo de boi ou café com cotações e unidades de negociação diferentes. A ne-
gociação de pregão seria impraticável. Graças à padronização, os produtos em negociação
se tornam completamente homogêneos, tornando indiferente quem está comprando ou
vendendo a mercadoria. Todas as condições sob as quais os ativos serão transferidos de
uma contraparte para outra são estabelecidas por meio das especi cações do contrato,
de nidas pela bolsa. Apenas dois itens podem variar na BM&FBOVESPA: o número de
contratos ofertados e o preço negociado entre as partes.

Os contratos padronizados por regulamentação de bolsa são muito mais líquidos,


pois, sendo uniformes, atendem da melhor forma às necessidades de um maior nú-
mero de participantes do mercado. Assim, nenhum participante precisa carregar sua
posição até a data de vencimento, podendo encerrar sua posição a qualquer momen-
to, desde a abertura do contrato até a data de vencimento. Esse encerramento é feito
por meio de uma operação inversa à original, que é o mesmo que transferir sua obri-
gação a outro participante.

Novos tipos de contratos futuros

Diversas commodities e ativos nanceiros servem como base para contratos futuros.
Veri ca-se, no entanto, que muitas outras commodities ou ativos nanceiros não têm
contratos futuros. Você poderia, por exemplo, questionar a razão pela qual produtos
como arroz e feijão não possuem contratos futuros.

Mercados de Derivativos 327


Não existem fórmulas precisas para indicar quais commodities ou ativos nanceiros
podem ou não ter contratos futuros negociados. Na verdade, as bolsas têm maior
interesse em ter um maior número de contratos futuros negociados.

O grande problema, no entanto, não está em desenhar ou lançar novos contratos.


O problema é se há interessados em negociá-los, com a frequência e o volume que
lhes deem um mínimo de liquidez. Estima-se, com base na experiência de bolsas no
mundo inteiro que, de cada dez novos contratos lançados, apenas um tem êxito.

Principais Características dos Contratos Futuros

. Objeto de negociação: é a descrição do ativo cuja oscilação de preços está


em negociação. Exemplo: café, dólar, boi.

. Cotação: é a unidade de valor atribuída a cada unidade física da mercadoria


em negociação. Exemplo: reais por saca, reais por dólares.

. Unidade de negociação: é o tamanho do contrato. Exemplo: o tamanho do


contrato de café é de 100 sacas de 60kg, o do dólar é de US$50.000,00.

. Meses de vencimento: meses em que serão liquidados os contratos.

. Liquidação: forma pela qual o contrato será liquidado.

11.9.1. Ajuste Diário

É o mecanismo de equalização de todas as posições no mercado futuro, com base no


preço de compensação do dia, resultando na movimentação diária de débitos e cré-
ditos nas contas dos clientes, de acordo com a variação negativa ou positiva no valor
das posições por eles mantidas.

Assim, os participantes recebem seus lucros e pagam seus prejuízos de modo que o
risco assumido pela câmara de compensação das bolsas se dilua diariamente até o
vencimento do contrato. O ajuste diário é uma das grandes diferenças entre os mer-
cados futuro e a termo. Neste, há um único ajuste na data de vencimento, de maneira
que toda a perda se acumula para o último dia. Logo, o risco de não cumprimento do
contrato é muito maior do que nos mercados futuros, em que os prejuízos são acerta-
dos diariamente. O mecanismo de ajuste diário será mais bem ilustrado adiante, com
exemplos de operações no mercado futuro.

328 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


O ajuste diário no mercado futuro corresponde ao mecanismo por meio do qual as
posições mantidas em aberto pelos clientes são acertadas nanceiramente todos os
dias, segundo o preço de ajuste do dia. Trata-se da diferença diária que a parte ven-
dedora recebe da parte compradora quando o preço no mercado futuro cai, e paga
quando o preço sobe. Esse mecanismo implica a existência de um uxo diário de
perdas ou ganhos na conta de cada cliente de forma que, ao nal do contrato, todas as
diferenças já tenham sido pagas. Contribui, assim, para a segurança das negociações,
já que, a cada dia, as posições dos agentes são niveladas.

. Preço de ajuste: cotação apurada diariamente pela bolsa, segundo critérios


preestabelecidos, utilizada para o ajuste diário das posições no mercado futuro.
Em geral, o preço de ajuste é determinado no call de fechamento.

. Call de fechamento: representa alternativa de de nir o preço de ajuste com


base no último preço praticado (no fechamento) do mercado. A concentração de
operações no call facilita a obtenção de preço representativo e visível ao mercado.
Além do call de fechamento, alguns mercados realizam outros calls, na abertura
ou no meio da sessão.

O ajuste diário é uma das grandes diferenças entre os mercados futuros e a


termo. Nesse último, há um único “ajuste” na data do vencimento. Dessa forma,
toda a perda acumula-se para o último dia. Com isso, o risco de não cumpri-
mento do contrato é muito maior do que no mercado futuro, no qual os prejuí-
zos são acertados diariamente.

A bolsa pode usar a margem de garantia para pagar o ajuste diário?

A margem de garantia não substitui o ajuste diário. Porém, se o cliente não


pagar o ajuste diário, ele cará inadimplente e a bolsa executará suas garantias.

E se o cliente não pagar um ajuste diário?

A pedido do participante intermediador interveniente, a bolsa o declara ina-


dimplente, executa suas garantias e proíbe que ele opere em seus mercados até
saldar suas dívidas. Para resguardar outros participantes e os próprios inter-
mediadores, a bolsa inclui o nome da pessoa (física ou jurídica) em uma lista de
inadimplentes distribuída para todos os participantes do mercado.

Mercados de Derivativos 329


11.9.2. Liquidação por Inadimplência

Caso o pagamento do ajuste diário negativo devido não seja efetuado, a BOVESPA
intervém, utilizando a margem depositada em garantia para saldar o prejuízo e en-
cerrar a posição inadimplente, de forma a evitar o risco de acumulação de perdas que
possam afetar a segurança do mercado.

A liquidação compulsória da posição do cliente devedor junto ao mercado aciona


uma estrutura de salvaguardas que compreende, sucessivamente, e caso necessário, a
execução de garantias prestadas:

. Pelo cliente inadimplente;

. Pela corretora através da qual ele operou; e

. Pelo membro da compensação que liquida para essa corretora.

Caso estas garantias sejam insu cientes, atinge o patrimônio:

. Do fundo especial dos membros de compensação;

. Do fundo de liquidação de operações; e

. Da própria BM&BOVESPA.

É importante destacar que a bolsa não assume a posição do cliente inadimplente,


mas simplesmente encerra a posição compulsoriamente, assinalando o fracasso
da estratégia originalmente estabelecida pelo investidor.

11.9.3. Margem de Garant ia

É um dos elementos fundamentais da dinâmica operacional dos mercados futuros,


pois assegura o cumprimento das obrigações assumidas pelos participantes. Você
aprendeu que os preços futuros são in uenciados pelas expectativas de oferta e de-
manda das mercadorias e de seus substitutos e complementares. Tais expectativas al-
teram-se a cada nova informação, permitindo que o preço negociado em data presente
para determinado vencimento no futuro varie para cima ou para baixo diariamente.

Para mitigar o risco de não cumprimento do contrato futuro gerado por eventual di-

330 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ferença entre o preço futuro negociado previamente e o preço à vista no vencimento
do contrato, os mercados futuros desenvolveram o mecanismo do ajuste diário, em
que vendedores e compradores acertam a diferença entre o preço futuro anterior e o
atual, de acordo com elevações ou quedas no preço futuro da mercadoria. A margem
de garantia requerida pela câmara de compensação é necessária para a cobertura do
compromisso assumido pelos participantes no mercado futuro. Para que você en-
tenda o conceito de ajuste diário, toma-se como exemplo uma posição vendida no
mercado futuro de dólar.

Exemplo

Considere um exportador que irá receber, em março, a quantia de US$30.000,00 e


que acredita em possível baixa da moeda norte-americana. Com o intuito de não car
exposto a essa variação cambial até o vencimento, vende minicontratos futuros em
uma bolsa qualquer. Do lado do importador, a operação seria exatamente inversa à
do exportador (compra).

A operação ocorre da seguinte maneira:

. Tamanho do minicontrato: US$5.000,00;

. Número de contratos: 6 contratos (US$30.000,00/US$5.000,00);

. Taxa de câmbio de abertura de posição no mercado futuro: R$2.622/


US$1.000;

. Taxa de câmbio de ajuste do dia em que a operação foi realizada: R$2,621/dólar;

. Suposição da taxa de câmbio no mercado a vista no dia do vencimento igual


a R$2,400/dólar.

Mercados de Derivativos 331


VENDEDOR COTAÇÃO COMPRADOR
DATA DE
AJUSTE SALDO AJUSTE AJUSTE SALDO

D+0 2.621

D+1 30,00 30,00 2.605 (30,00) (30,00)

D+2 480,00 510,00 2.593 (480,00) (510,00)

D+3 360,00 870,00 2.579 (360,00) (870,00)

D+4 420,00 1.290,00 2.591 (420,00) (1.290,00)

D+5 (360,00) 930,00 2.629 360,00 (930,00)

D+6 (1.140,00) (210,00) 2.624 1.140,00 210,00

D+7 150,00 (60,00) 2.586 (150,00) 60,00

D+8 1.140,00 1.080,00 2.574 (1.140,00) (1.080,00)

D+9 360,00 1.440,00 2.546 (360,00) (1.440,00)

D + 10 840,00 2.280,00 2.528 (840,00) (2.280,00)

D+n 60,00 6.660,00 2.400 (60,00) (6.660,00)

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

No vencimento do contrato (D+n), o resultado líquido da operação foi de R$6.600,00.

Análise do resultado no caso do exportador:

Resultado no mercado futuro

(R$2,622/dólar – R$2,400/dólar) x US$5.000,00 x 6 = R$6.660,00

Resultado da exportação

R$2,400/dólar x US$30.000,00 = R$72.000,00

Resultado geral

R$6.660,00 + R$72.000,00 = R$78.660,00

332 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Taxa de câmbio da operação

R$78.660,00/US$30.000,00 = R$2,622/dólar

Caso ocorresse alta na taxa cambial, o resultado do mercado futuro para o exportador
seria negativo e, ao mesmo tempo, o resultado da exportação seria maior. No entanto,
o resultado geral seria o mesmo, mantendo, assim, a taxa de câmbio da operação. O
inverso ocorreria para o importador. Portanto, para ambas as partes, as cotações do
dólar foram pre xadas, contendo perdas de preço em suas operações comercias.

11.9.4. O Papel das Câmaras de Compensação

Como visto, um dos principais motivos pelo qual os contratos futuros somente são
negociados em bolsa é a necessidade de controle e de garantias. É neste ponto que
se destaca a importância da câmara de compensação, ou clearing house, no cumpri-
mento das obrigações assumidas pelos participantes, pois ela se torna compradora de
todos os vendedores e vendedora de todos os compradores, controlando as posições
em aberto de todos participantes e realizando a liquidação de todas as operações.

Esse sistema de liquidação diária e de garantias não só permite que os hedgers utili-
zem os mercados futuros com e ciência, mas também que outros investidores com
objetivos distintos, como especuladores e arbitradores, participem desse mercado por
meio de grande variedade de estratégias operacionais. Com a atividade das clearing:

. Desenvolveu-se um sistema de garantias adequado, formando mercado


seguro a seus participantes. Todas as transações são registradas e as entregas
da commodity dos vendedores para os compradores e o pagamento destes pas-
saram a ser documentados e supervisionados pela Clearing;

. A liquidação nanceira dos contratos futuros foi facilitada, já que estes eram
padronizados e podiam ser trocados facilmente. Se, como consequência de su-
cessivas operações, um participante é, simultaneamente, comprador e vendedor,
sua posição na câmara de compensação é liquidada. As contrapartes de cada um
desses negócios mantêm seus direitos e suas obrigações originais. A vantagem
adicional é que se tornou possível a entrada no mercado de pessoas que não têm
interesse de entregar ou de receber a commodity. Ou seja, viabilizou a participa-
ção de especuladores e investidores, aumentando a liquidez das operações.

. Cada transação possui uma terceira parte, pois a Clearing passa a ser o com-

Mercados de Derivativos 333


prador para cada vendedor e o vendedor para cada comprador. Na realidade, o
vendedor vende para a câmara de compensação e o comprador compra da mesma
câmara. Isso assegura a integridade dos negócios realizados.

11.10. Mercado de opções

Atualmente, há opções negociadas sobre uma in nidade de ativos e bens, como ações
de uma empresa, índices de preços, contratos futuros, títulos do Tesouro e mercado-
rias. As opções são negociadas tanto em bolsa quanto no balcão.

Pode-se de nir opção como o direito de comprar ou de vender certa quantidade de


um bem ou ativo, por preço determinado, para exercê-lo em data futura pre xada.
Devido a sua relativa complexidade, o mercado de opções apresenta vocabulário todo
particular, que visa representar as características de cada opção. Por esse motivo,
você deve conhecer alguns termos importantes:

. Ativo-objeto: é o bem, mercadoria ou ativo que se está negociando;

. Titular: é o comprador da opção, aquele que adquire os direitos de comprar


ou de vender a opção;

. Lançador: é o vendedor da opção, aquele que cede os direitos ao titular, as-


sumindo a obrigação de comprar ou de vender o objeto da opção;

. Prêmio: é o valor pago pelo titular ao lançador da opção para ter direito de
comprar ou de vender o objeto da opção;

. Preço de exercício: preço pelo qual o titular pode exercer seu direito;

. Data de exercício: último dia no qual o titular pode exercer seu direito de
comprar ou de vender, conhecido como data de vencimento da opção.

11.10.1. Tipos de Opções

. Opção de compra (ou call): o titular/comprador adquire o direito de com-


prar o ativo-objeto do contrato, mas não a obrigação, por preço xo (preço de

334 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


exercício), em data futura acordada pelas partes (data de exercício ou vencimen-
to). Para obter o direito de comprar, paga ao lançador/vendedor um valor cha-
mado de prêmio.

. Opção de venda (ou put): o titular adquire o direito de vender o objeto do con-
trato, mas não a obrigação, por preço xo (preço de exercício), em data futura acor-
dada pelas partes (data de exercício ou de vencimento). Para ceder o direito de venda
ao titular/comprador, o lançador/vendedor recebe um valor chamado de prêmio.

POSIÇÃO CALL PUT

Direit o, mas não a Direit o, mas não a


Tit ul ar / comprador
obrigação, de comprar obrigação, de vender

Lançador / vendedor Obrigação de vender Obrigação de comprar

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

11.10.2. Classiƥcações

Quanto ao Modelo
. Modelo americano: a opção pode ser exercida a qualquer momento, até a
data de vencimento acordada entre as partes.

. Modelo europeu: a opção somente pode ser exercida na data de vencimento


acordada entre as partes.

. Modelo asiático: quando o direito se refere a uma média de preços durante


certo período. Por exemplo: um banco pode vender a uma empresa importadora
o direito de comprar dólares a um preço médio observado em um determinado
período (ou em um número preestabelecido de operações de câmbio).

Quanto ao Objeto
. Opção sobre mercadoria a vista ou disponível: quando o objeto da opção é
um ativo ou uma mercadoria negociada no mercado a vista.

. Opção sobre contrato futuro: quando o objeto da opção é o contrato futuro.

. Opção sobre contrato a termo: quando o objeto da opção é um contrato a termo.

Mercados de Derivativos 335


11.10.3. Titulares e Lançadores

Titular de Opção de Compra

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

O titular acredita que o preço a vista do ativo-objeto (PV) vai subir e que, na data de ven-
cimento, será maior que o preço de exercício (PE) mais o prêmio pago. Caso isso ocorra,
exercerá seu direito de comprá-lo pelo preço de exercício, quando poderá vendê-lo por
preço maior no mercado à vista, obtendo lucro na operação.

Observe que, se o preço à vista atingir 125, exercerá seu direito de comprar por 100 e
venderá o ativo-objeto no mercado à vista por 125, obtendo lucro de 25 (125 – 100).
Como ele gastou 10 com o prêmio, seu lucro líquido será de 15.

Quando se deve usar esse t ipo de operação?

Quando você acredit ar no movimento de alt a de preços, pois a posição


em opção de compra representa uma posição alt ista.

Quais são suas característ icas?

Essa operação apresent a prejuízo limit ado ao prêmio pago pelo t itular
da opção, ou seja, seu risco est á limit ado ao prêmio da opção. Os lucros,
porém, são ilimitados, uma vez que, quanto mais o preço a vista (PV)
subir além do nível determinado por PE + prêmio, maior será o ganho do
t itular da opção.

336 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Lançador De Opção De Compra

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

A expectativa do vendedor, evidentemente, é oposta à do comprador. O vendedor acre-


dita que o preço à vista do ativo-objeto (PV) não vai subir e que, na data de vencimento,
não será maior que o preço de exercício (PE) mais o prêmio (PR). Caso isso ocorra, ele
cará com o valor do prêmio pago pelo comprador da opção. Por outro lado, se o preço
à vista subir e alcançar valores maiores que PE + PR, o vendedor poderá ser exercido.

Quando se deve usar esse t ipo de operação?

Quando a expect at iva f or de queda para os preços do at ivo-objeto, pois


esta é uma posição baixist a.

Quais são suas característ icas?

Essa operação tem prejuízo ilimit ado para o l ançador. Quanto mais o
preço a vist a subir para além do nível determinado por PE + prêmio,
maior será a perda para o l ançador da opção.

Mercados de Derivativos 337


Titular De Opção De Venda

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

O comprador da put acredita que o preço à vista do ativo-objeto (PV) vai cair e que,
na data de vencimento, será menor que o preço de exercício (PE) menos o prêmio pago
(PR). Caso isso ocorra, exercerá seu direito de vender pelo preço de exercício e recom-
prará o ativo-objeto pelo preço menor no mercado à vista, obtendo lucro na operação.

Observe que, se o preço à vista atingir 50, exercerá seu direito de vender o ativo-objeto
por 100 e o recomprará no mercado à vista por 50, obtendo lucro de 50 (100 – 50). Como
ele gastou 10 com o prêmio, seu lucro líquido será de 40.

Quando se deve usar esse t ipo de operação?

Quando a expect at iva f or de queda para os preços do at ivo-objeto, pois


esta é t ambém uma posição baixista.

Quais são suas característ icas?

Essa operação apresent a prejuízo limit ado ao prêmio pago pelo t it ul ar


da opção, ou seja, seu risco est á limit ado ao prêmio da opção. Os lucros,
contudo, são ilimit ados, uma vez que, quanto mais o preço a vist a (PV)
cair além do nível determinado por PE – prêmio, maior será o ganho do
t it ul ar da opção.

338 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Lançador De Opção De Venda

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F.

O lançador da put acredita que o preço à vista do ativo-objeto (PV) vai subir e que, na
data de vencimento, será maior que o preço de exercício (PE) menos o prêmio (PR). Caso
isso ocorra, cará com o valor do prêmio pago pelo comprador da opção. Por outro lado,
se o preço à vista cair e alcançar valores menores que o PR, poderá ser exercido.

Quando se deve usar esse t ipo de operação?

Quando a expect at iva f or de elevação ou est abilidade para os preços


do at ivo-objeto, pois est a é uma posição alt ist a.

Quais são suas característ icas?

Essa operação apresent a prejuízo ilimit ado para o l ançador. Quanto


mais o preço à vist a cair para níveis inf eriores a PE – prêmio, maior será
a perda para o l ançador da opção. Seu lucro é limit ado ao prêmio rece-
bido do t it ul ar da opção.

Mercados de Derivativos 339


11.11. Swap

Swap consiste em um acordo entre duas partes para troca de risco de uma posição
ativa (credora) ou passiva (devedora), em data futura, conforme critérios preestabele-
cidos. As trocas (swaps) mais comuns são as de taxas de juro, moedas e commodities.

No mercado de swap, você negocia a troca de rentabilidade entre dois bens (mercado-
rias ou ativos nanceiros), a partir da aplicação da rentabilidade de ambos a um valor
em reais. Por exemplo: swap de ouro × Ibovespa.

Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F

Se, no vencimento do contrato, a valorização do ouro for inferior à variação do Ibovespa,


receberá a diferença a parte que comprou Ibovespa e vendeu ouro. Nesse exemplo, será a
instituição A. Se a rentabilidade do ouro for superior à variação do Ibovespa, receberá a
diferença a parte que comprou ouro e vendeu Ibovespa. No caso, a instituição B.

Considere o exemplo de um swap muito comum no mercado brasileiro: dólar × taxa


pré. Sua forma de cotação é a diferença entre a taxa de juro doméstica e a variação
cambial – o cupom cambial. O valor dos indexadores incide sobre o valor de referên-
cia comum acordado entre as partes.

340 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Fonte: Série Introdutória – Merca dos de Derivativos – BM&F

Se, no vencimento do contrato, a valorização do dólar for inferior à variação da taxa


pre xada negociada entre as partes, receberá a diferença a parte que comprou taxa
pre xada e vendeu dólar. Nesse exemplo, será a instituição A.

Exemplo

Imagine que a empresa GHY possui ativo de R$10.000.000,00 pre xado a 17% ao ano
para receber em 21 dias úteis e que quer transformar seu indexador em dólar + 10% sem
movimentação de caixa. Para isso, contrata um swap, cando ativo em dólar + 10% e
passivo em 17%, ao mesmo tempo em que o banco X, que negociou o swap com a em-
presa, ca ativo a uma taxa pre xada em 17% ao ano e passivo em dólar + 10% ao ano.

A empresa GHY está exposta ao risco de alta na taxa de juro pre xada no swap. No
vencimento do contrato, serão aplicadas as variações dos indexadores sobre o valor
referencial, conforme demonstrado a seguir. Suponha que, no período, a variação
do câmbio foi de 2%.

Posição original: ativo em taxa pré

10.000.000,00 × (17/100 + 1)21/252 = R$10.131.696,11

Swap passivo em taxa pré

10.000.000,00 × (17/100 + 1)21/252 = R$10.131.696,11

Mercados de Derivativos 341


Ativo em dólar

10.000.000,00 × 1,02 × [(10/100 × 30/360) + 1] = R$10.285.000,00

Como a variação cambial mais 10% cou acima dos 17% estipulado pela taxa pré,
pode-se concluir que a empresa GHY receberá do banco X o valor líquido de

R$153.304,00 (resultado de R$10.285.000,00 – R$10.131.696,00),

A palavra swap signi ca troca, ou seja, ao fazer uso de um contrato de swap as contra-
partes trocam uxo de caixa baseado em prazo, valor de referência e variáveis. É na
regra da formação de parâmetros que ocorre a valorização de um contrato de swap.

Os swaps são contratos negociados no mercado de balcão, não são padronizados e


os tipos mais comuns são os swaps de taxa de juro. Por serem negociados em balcão,
não existe a possibilidade de transferir posição a outro participante, o que obriga o
agente a carregá-la até o vencimento. Nos swaps, como nos demais contratos a termo,
não há desembolso de recursos durante sua vigência (ajustes diários). A liquidação é
essencialmente nanceira e feita pela diferença entre os uxos no vencimento.

Conceitos Importantes

. Contraparte: agente que negocia o swap.

. Variável: preço ou taxa que será apurada ao longo de um período para va-
lorizar o parâmetro.

. Valor de referência: valor inicial sobre o qual incidirá a valorização do pa-


râmetro. Pode ser chamado de principal ou notional.

. Parâmetros: fórmulas para cálculo dos uxos; formam o conjunto de infor-


mações responsáveis pela valorização do contrato.

. Prazo: período de duração do contrato de swap.

11.11.1. Tipos De Swap

Swap de taxa de juro

Contrato em que as contrapartes trocam indexadores associados aos seus ativos ou

342 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


passivos e que uma das variáveis é a taxa de juro.

Exemplos:

. Swap taxa de DI × dólar: trocam-se uxos de caixa indexados ao DI por


uxos indexados à variação cambial mais uma taxa de juro negociada entre as
partes.

. Swap pré × taxa de DI: trocam-se uxos de caixa indexados a uma taxa
pre xada por uxos indexados à taxa de DI.

Swap de moeda

Contrato em que se troca o principal e os juros em uma moeda pelo principal mais
os juros em outra moeda.

Exemplo:

. Swap xed-for- xed de dólar × libra esterlina: trocam-se os montantes iniciais


em dólares e em libras. Durante o contrato, são feitos pagamentos de juros a uma
taxa pre xada para cada moeda.

Swap de índices

Contrato em que se trocam uxos, sendo um deles associado ao retorno de um


índice de preços (como IGP-M, IPC-Fipe, INLPC) ou de um índice de ações (Ibo-
vespa, IBrX-50).

Exemplo:

. Swap Ibovespa × taxa de DI: trocam-se uxos de caixa indexados ao re-


torno do Ibovespa mais uma taxa de juro negociada entre as partes por uxos
indexados a uma variação ao DI, ou vice-versa.

Swap de commodities

Contrato por meio do qual duas instituições trocam uxos associados à variação de
cotações de commodities.

Mercados de Derivativos 343


11.12. Comparat ivo ent re os Mercados de Derivat ivos

Principais características dos contratos a termo, futuro, de opção e de swap

MERCADO A MERCADO MERCADO DE


CARACTERÍSTICAS SWAPS
TERMO FUTURO OPÇÕES

Comprador paga
para t er o direit o As part es se
Comprador e vendedor são obrigados a de comprar (ven- obrigam a t rocar o
NATUREZA DO comprar ou a vender cert a quant idade de der) e vendedor result ado líquido
CONTRATO uma commodit y a det erminado preço e em ƥca obrigado a das dif erenças
det erminada dat a f ut ura vender (comprar) ent re dois Ʀuxos
se a cont rapart e de rendiment os
exercer seu direit o

Preços são det er- Admit e negociação


Preços são det er- Preços são nego-
MÉTODO DE minados em pregão em pregão de bol sa
minados ent re as ciados ent re as
NEGOCIAÇÃO em uma bol sa de ou no mercado de
part es part es
f ut uros balcão

ITENS DO Geralment e padro-


Negociáveis Padronizados Negociáveis
CONTRATO nizado

Exist ência de um
Exist ência de sist ema de garan- Exist e a opção de
Assumido pel a
RISCOS um sist ema de t ias para opções t er um sist ema de
cont rapart e
garant ias negociadas em garant ias
bol sas

Comprador e
vendedor depo- Soment e o vende-
Dependent e das sit am margem de dor (chamado l an-
Dependent e das
rel ações de crédit o garant ia na bol sa. çador) é obrigado a
DEPÓSITO DE rel ações de crédit o
ent re as par t es. As variações diá- deposit ar margem
SEGURANÇA ent re o comprador
Inexist e mecanis- rias de preços são de garant ia. Mas
e o vendedor
mo de ajust e diário compensadas no não há ajust es
dia seguint e pelo diários
ajust e diário

Muit o baixa (predo-


FREQUÊNCIA DE
Muit o alt a mínio de liquida- Muit o baixa Muit o baixa
ENTREGA FÍSICA ção ƥnanceira)

Impossibilidade de
encerrar a posição Em geral , não exis-
Int ercambialidade Int ercambialidade
POSIÇÕES ant es da dat a da t e int ercambialida-
de posições de posições
liquidação do de de posições
cont rat o

CVM e aut orregul a- CVM e aut orregula- CVM e aut orregul a-


REGULAÇÃO Leis comerciais
ção das bol sas ção das bol sas ção das bol sas

344 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


12. Análise de Invest imentos

A análise de investimentos tem por objetivo de nir expectativas de preços futuros ba-
seado em um conjunto de técnicas, que podem ser usadas de forma integrada, ou sepa-
radamente, dependendo da especialização do analista e da forma como os diversos pro-
ssionais interagem no processo de recomendação, escolha e decisão de investimentos.

Os principais processos de análise e modelagem são:

. Análise Fundamentalista e Financeira de Empresas

. Seleção de Portfolios

. Análise Técnica

. Modelos Quantitativos de Operação

De uma forma geral essas técnicas estimam:

Valor Presente

O valor presente das empresas baseado em expectativas de uxos de caixa futuro e


cenários macroeconômicos e setoriais. Para esses cálculos deve ser considerado o
nível adequado de retorno–risco do investimento.

Combinação de Ativos

A combinação ótima da carteira, a forma como o investimento será alocado entre os


diversos ativos nanceiros disponíveis, baseado no princípio da diversi cação.

Melhor Momento

O melhor momento para adquirir as ações ou títulos. Para isso podem ser utilizadas
séries temporais de preços, ltros e outras referências estatísticas.

Existem técnicas de modelagem mais so sticadas, como os modelos quantitativos


para Operações de Alta Frequência. Também chamados de High-frequency trading,
visam a modelar operações de compra e venda sequenciais, normalmente em frações
de segundo, e que são realizadas durante todo o pregão.

346 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Já os investidores institucionais, como os Fundos de Pensão, trabalham com uma
visão de longo prazo, utilizando análises sistemáticas de comportamento de mercado
baseadas em testes, como a avaliação value-at-risk e os testes de stress.

ClassiƲcação dos Investidores


Existe uma grande variedade de investidores no mercado, com características e ob-
jetivos próprios. Há os investidores individuais, como a maioria das pessoas físicas
e jurídicas, investidores institucionais, como os fundos de investimento e fundos de
previdência, além de investidores estrangeiros, apenas para citar alguns.

Os objetivos de investimento são variados. Uns investem com foco no curto prazo,
outros pensam em um horizonte de tempo mais longo. Há investidores mais conser-
vadores com relação ao risco, outros mais moderados, enquanto alguns são agressivos.

Em relação aos objetivos, há os investidores do tipo buy and hold, que compram e
mantêm os ativos com objetivos bem de nidos, e os buy and sell, que compram e
vendem com base na rentabilidade esperada para um período.

Vejam no quadro abaixo alguns exemplos que combinam o tipo de investidor, o per l
provável e o objetivo de investimento.

PADRÕES DE PERFIL
HORIZONTEDO OBJETIVO DE
INVESTIDORES EMPRESAS OU RETORNO-RISCO
INVESTIMENTO INVESTIMENTO
ATIVOS

Compra e mant ém,


FUNDOS DE Empresas condicionado ao
Longo Prazo Moderado
PENSÃO sust ent áveis cumpriment o da
met a at uarial

HTF Cur t íssimo Prazo Qual quer At ivo Muit o Agressivos Compra e Vende

Compra e Mant ém
Pagadoras de
Conser vadores ou para objet ivos de
PESSOA FÍSICA Longo Prazo Dividendos ou de
moderados aposent adoria ou
boa Governança educação dos ƥl hos

Compra e Venda
depois de cumprido
PESSOA FÍSICA Médio Prazo Não t em pref erência Agressivos
o objet ivo de rent a-
bilidade

Desejável período Variável dependen- Variável - consult ar


FUNDO DEIN- Depende do
superior a seis do do objet ivo do a polít ica de invest i -
VESTIMENTO perƥl do Fundo
meses f undo ment o do Fundo

Análise de Investimentos 347


As combinações não param por aí. É possível usar outras variáveis para de nir um plano
de investimento pessoal ou institucional. Não existe uma receita única de modelagem.

Portanto, a análise de investimento deve ser exível. O analista deve construir mode-
los que considerem o per l do investidor e suas expectativas.

ClassiƲcação dos Analistas

Os analistas são pro ssionais que elaboram relatórios de análise, com opiniões e re-
comendações que auxiliam os investidores no processo de tomada de decisão de in-
vestimento. A atividade pode ser exercida de forma autônoma ou vinculada.

Esses pro ssionais geralmente são classi cados em duas categorias: os analistas sell
side, que emitem parecer de avaliação em relatórios para investidores e usualmente
trabalham em departamento de research em instituições nanceiras; e os analistas
buy side, que avaliam empresas como apoio a administradores de portfólios e geral-
mente trabalham em gestoras de ativos, independentes ou não.

12.1. Análise Fundament alist a

Não existe uma referência exata de quem foi o precursor da Análise Fundamentalista.
Ela está muito associada ao crash da bolsa de valores nos Estados Unidos em 1929 e
à depressão econômica que se seguiu, e durou praticamente por toda a década de 30.

Nessa época, começou a car claro que os investidores não podiam prescindir de
informações econômicas e nanceiras das empresas. Apesar de já existirem análises
baseadas em grá cos, cada vez mais era necessário avaliar o desempenho nanceiro
e contábil das empresas para veri car , por exemplo, sua capacidade de crescimento
e de geração de lucros. Os primeiros livros a tratar do assunto foram Graham(1934),
com o livro Security Analysis, e Williams(1938), e eory of Investment Value.

A análise fundamentalista tem como base a noção de que o valor real de uma empre-
sa está relacionado às suas características nanceiras – perspectivas de crescimento,
uxos de caixa e risco.

É uma loso a de investimento que busca objetivos de médio e longo prazo. Pressu-

348 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


põe que a relação entre o valor e os fatores nanceiros pode ser medida e se mantém
estável ao longo do tempo. Desvios são corrigidos dentro de um período de tempo
razoável e, portanto, é possível determinar se os preços estão sub ou sobre avaliados.

12.1.1. Objetivos da Análise Fundamentalista

O principal objetivo da análise fundamentalista é determinar o valor potencial de


uma empresa ou portfólio. Relacionado a este, há também o objetivo de determinar
o valor justo, real ou intrínseco.

Considerações sobre Valor Potencial e o Valor de Mercado

Damodaran (1999) estabelece, como um dos importantes objetivos da análise funda-


mentalista, evitar a compra de ações a um preço superior ao seu valor potencial ou
valor justo. Por essa razão, o investidor deve analisar antecipadamente as alternativas
de investimento disponíveis.

Apesar do enorme número de compradores e vendedores nas bolsas de valores, as in-


formações do mercado têm um forte componente assimétrico. Os agentes têm opini-
ões diversas referentes ao ambiente macroeconômico, setorial e corporativo, e a fatos
relevantes, o que leva à seleção de diferentes premissas e variáveis para projeção futura.

A percepção de risco do mercado e da ação também difere entre os agentes, em fun-


ção dos diferentes padrões de investimentos e horizontes. Por exemplo, a compra
isolada de uma ação é diferente da compra para um portfolio, pois cada um avaliará
o risco segundo seus objetivos de investimento e considerando toda sua carteira de
investimento.

Tudo isso acarreta distorções entre o valor de mercado e o valor potencial, o que
refuta o princípio da racionalidade de que o mercado sempre preci ca corretamente
o valor das ações.

Portanto, segundo a Análise Fundamentalista, o preço das ações utua independen-


temente do valor potencial, raramente havendo coincidência. Dessa forma, o analista
fundamentalista deve efetuar uma avaliação criteriosa e aprofundada da empresa,
visando identi car as que estão sendo negociadas acima ou abaixo de seu valor po-
tencial para efeito de recomendação de compra ou venda.

Análise de Investimentos 349


12.1.2. Principais Conceitos de Valor

Valor Potencial
Valor calculado em função das expectativas do uxo de Caixa, considerando o ho-
rizonte temporal da análise, potencial de alavancagem, a taxa de desconto e risco
associado ao retorno exigido, intenções de investimentos e de fusões e aquisições e a
taxa de crescimento no período e na perpetuidade.

Valor Justo ou Intrínseco


Calculado a partir do comportamento dos fundamentos quantitativos, expectativas
de geração de uxo de caixa, padrões de desconto e risco e dos fundamentos quali-
tativos associados aos padrões de gestão, governança e sustentabilidade, tecnologia e
construção da imagem e marca dos produtos.

Valor Terminal ou na Perpetuidade


Esse conceito é importante por representar, não raro, a maior parcela do valor da em-
presa, em que o comportamento em termos de crescimento potencial de longo prazo
é relevante. A subavaliação ou sobreavaliação desse fator pode representar distorções
na previsão do valor potencial ou do valor intrínseco da empresa. Quanto maior o
grau de maturação da companhia, maior a importância da taxa de desconto e do
crescimento na perpetuidade.

Valor de Mercado
É o valor re etido pela cotação de mercado ao longo do tempo.

Vários Conceitos sobre Valor de uma Ação


. Williams, Ross e Gordon (DDM): “o valor de uma ação é igual ao valor
presente de seus dividendos futuros esperados”.

. Gitman (2001): “o valor de uma ação, (...), é igual ao valor atual de todos os
benefícios futuros que se espera que ela ofereça. Esses benefícios são vistos como
uma série de dividendos distribuídos durante um horizonte temporal in nito”.

. Damodaran (1999): um ativo deve ser avaliado tomando por base seu uxo
de benefícios futuros, considerando a in uência do ambiente interno e externo
à empresa.

350 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Reilly & Brown (1997): “o Analista Fundamentalista tem que olhar para
frente e identi car quais são as variáveis chaves para fazer um trabalho superior
e identi car oportunidades”.

12.1.3. Métodos de Análise Fundamentalista

Existem duas vertentes de análise que diferem basicamente pela importância na or-
denação de fatos que interferem no valor da empresa.

Análise Top Down


Baseia-se na tese de que o valor de uma ação é in uenciado predominantemente por
fatores macroeconômicos que afetam o desempenho da empresa em análise, como
in ação, juros, risco político, desemprego, entre outros.

Além disso, as decisões de compra ou venda são tomadas a partir de informações


mais amplas, antes de qualquer tipo de projeção mais detalhada.

Análise Bot tom Up


Nesse tipo de análise, a estratégia é estudar os fundamentos individuais de cada em-
presa. Fatores como o modelo de negócio, padrões de governança, perspectivas de
crescimento, entre outras questões, tornam-se relevantes. Para os analistas, quanto
melhores as características individuais da companhia, melhor ela superaria condi-
ções macroeconômicas adversas.

Análise econômica
O desempenho das empresas e dos ativos nanceiros está intimamente ligado ao de-
sempenho da economia. Este, por sua vez, pode ser in uenciado pelo ambiente polí-
tico, por valores éticos e pelo cenário internacional.

Além disso, um ambiente econômico mais instável, menos previsível, sujeito a


intervenções e a uma estrutura regulatória incerta, cria um ambiente mais avesso
ao risco, que pode impactar as decisões gerenciais e, consequentemente, o desem-
penho das companhias.

Portanto, o ambiente macroeconômico deve ser constantemente monitorado e ana-


lisado. No quadro a seguir, destacamos algumas informações relevantes que devem
ser acompanhadas.

Análise de Investimentos 351


Polít ica Cambial , Fiscal e Monet ária no Brasil e nas Economias Internacionais

Bal ança Comercial e de Pagamentos

PIB e Nível de At ividade Econômica na Indústria, Comércio e Serviços

InƦação, Taxa de Desemprego e comport amento dos Sal ários

Nível de Estabilidade Polít ica, Econômica e Social

Mudanças Tecnológicas de caráter global , etc

A análise das variáveis consideradas relevantes permite realizar a simulação de cená-


rios para o curto, médio e longo prazos em conjunto com a área econômica.

A de nição das premissas macroeconômicas permite o prosseguimento da análise


setorial e de empresas e fornece informações importantes para a adequada de nição
das taxas de crescimento da economia e ameaças de risco sistêmico.

Nesse contexto, é importante o estreito contato com institutos de pesquisa, universi-


dades, órgãos governamentais, instituições e empresas internacionais, acompanhar
o cenário global e manter contatos sistemáticos através de reuniões de empresas, se-
minários, congressos, etc.

Análise Setorial

Um setor é caracterizado por agrupar empresas que possuem uma estrutura produ-
tiva semelhante ou que oferecem bens e serviços similares. A análise setorial é uti-
lizada para determinar o posicionamento e o potencial de desenvolvimento de uma
empresa em relação ao seu setor de atuação.

Para isso, são analisados fatores, conhecidos como forças competitivas, tais como o
nível de concorrência, a ameaça de novos entrantes ou de produtos substitutos e o
poder de barganha dos consumidores e fornecedores.

Essas forças permitem identi car se existem mais oportunidades ou ameaças para a
empresa. A análise setorial busca quanti cá-las, para a realização de projeções quanto
a preços praticados, estrutura de demanda, estrutura de oferta, estrutura mercadoló-
gica, concorrência, fornecimento, tecnologia empregada e qualidade da mão de obra.

352 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Análise de Empresas
Para a análise de empresas, os analistas costumam se apoiar em diversas fontes de
informações. Fazem reuniões com a diretoria de relações com investidores e com
outras diretorias relacionadas ao processo de avaliação. Estudam as informações
econômico- nanceiras, analisam as notas explicativas e os relatórios de sustentabi-
lidade e de auditoria. Acompanham fatos relevantes e as informações do formulário
de referência. Avaliam quantitativa e qualitativamente os padrões de governança e
sustentabilidade. Buscam informações em jornais e revistas. Fazem pesquisa sobre
concorrentes, fornecedores e clientes.

Para o processo de de nição de premissas, dividem a empresa em quatro grandes


funções: marketing e vendas, produção, recursos humanos e econômico- nanceira.

12.1.4. Análise de Informações Cont ábeis

É o ponto de partida da análise de empresas.

Relatórios e Informações Contábeis

Relatório da Administração: fornece informações qualitativas e quantitativas sobre


os resultados do exercício, o guidance e outras informações relevantes sobre expan-
são via investimento ou fusões e aquisições.

Relatórios de Sustentabilidade: fornecem informações relevantes de ordem econô-


mica, ambiental e social. Outra forma de divulgação refere-se ao desempenho eco-
nômico associado aos fatores ESG (meio ambiente, sociedade e governança, do inglês
environmental, social and corporate governance).

Balanço Patrimonial: retrata a situação econômico-financeira da companhia


em um determinado instante no tempo. De um lado, apresenta os ativos, de que
forma a empresa aplica seus recursos para o desenvolvimento de sua atividade.
De outro, registra os passivos, as obrigações, as fontes de financiamento utiliza-
das pela companhia.

Análise de Investimentos 353


No quadro abaixo, segue como exemplo um resumo das principais informações
extraídas do balanço patrimonial de uma empresa de cosméticos nos períodos de
2011 e 2012.

Em R$ milhões

APLICAÇÃO ATIVO PASSIVO CAPTAÇÃO

Caixa e aplicação
ƥnanceira Passivo Circul ant e Fornecedores
At ivo Circul ant e:
2012: 2.415 Emprést imos
Cont as a receber no 2012: 3.378
curt o prazo Sal ários a pagar
2011: 2.203 2011: 1.275
Impost os a pagar
Estoques

At i vo Não Circul ante:


Passi vo Não Circul ant e:
Realizável a Longo
Cont as a receber Exigível a Longo Prazo. Cont as a pagar
Prazo.
no l ongo prazo 2012: 1.503 no longo prazo
2012: 756
2011: 1.158
2011: 627

Invest iment os Demais At ivos Demais Passivos Não


não Circul ant e Circul ant es
Imobil izado Provisões
2012: 1.241 2012: 152
Int angíveis
2011: 963 2011: 110

Capit al social
Pat rimônio líquido
Reservas
2012: 1.306
2011: 1.250 Lucros e Prejuí-
zos acumul ados

At i vo Tot al Passivo Tot al


2012: 5.375 2012: 5.375
2011: 3.793 2011: 3.793

As informações do balanço patrimonial permitem o cálculo de indicadores muito


úteis para a análise nanceira da companhia. Os principais são:

. Solvência: Compara o desempenho do ativo circulante com o passivo circu-


lante. Representa a capacidade de pagamento de passivos de curto prazo;

. Giro do Ativo: Representa a capacidade da empresa transformar ativos


em receita;

. Estrutura do Capital: Representa a relação entre o capital próprio e de ter-

354 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


ceiros ou o grau de alavancagem da empresa. É importante para o cálculo do
custo de capital (WACC, em inglês).

. Endividamento ou Grau de Alavancagem Financeira: Representa o com-


portamento do endividamento de curto prazo e de longo prazo e sua relação com
as operações ativas e patrimônio líquido;

. Retorno ou Rentabilidade: Relação do lucro líquido com o patrimônio lí-


quido das empresas (verdadeiramente dos acionistas).

. Demonstrativo de Resultados: representa o uxo nanceiro das ati-


vidades da empresa no exercício. No quadro abaixo, segue um exemplo
dos resultados de uma empresa de cosméticos referentes a 2011 e 2012:

R$ milhões

2012 2011

RECEITA LÍQUIDA 6.345,67 5.591,37

CUSTO DOS PRODUTOS VENDIDOS (1.868,05) (1.666,30)

LUCRO BRUTO 4 .477,62 3.925,07

+/ -RECEITAS(DESPESAS) OPERACIONAIS (3.108,07) (2.610,00)

LUCRO OPERACIONAL 1.369,55 1.315,07

RECEITA(DESPESAS) FINANCEIRAS (93,45) (77,34)

LUCRO ANTES DO IMPOSTO DERENDA 1.276,10 1.237,73

IMPOSTO DERENDA ECONTRIBUIÇÃO SOCIAL (414 ,88) (406,83)

LUCRO LÍQUIDO 861,22 830,90

O demonstrativo de resultados permite uma avaliação de comportamento das mar-


gens de lucro da companhia:

Análise de Investimentos 355


. Margem Bruta: Representa o lucro bruto = receita líquida menos o custo dos
produtos vendidos;

. Margem Operacional: Representa o lucro bruto menos as despesas opera-


cionais. Os indicadores correlatos estão geralmente associados com as receitas e
despesas operacionais;

. Margem Líquida: Representa o lucro líquido da empresa;

. LAJIDA (EBITDA, em inglês): Signi ca a capacidade de geração de valor para


a rma. É igual ao resultado antes dos juros, impostos, depreciação e amortizações.

Em síntese, os dados econômicos e nanceiros das informações contábeis devem ser


úteis para orientar decisões de investimento, nanciamento e estrutura de capital e
decisões de dividendo e retenção de lucros. Portanto, é muito importante a compre-
ensão conceitual de seus componentes.

BALANÇO PATRIMONIAL DEMONSTRATIVO DERESULTADOS

OPERAÇÕES ATIVAS OPERAÇÕES PASSIVAS LUCRO

Decisões de Decisões de Financiament o Decisões de Dividendo


Invest iment o e Est rut ura de Capi t al e Ret enção de Lucros

Demonstração do Fluxo de Caixa: Representa os ajustes operacionais, de investi-


mento e nanciamento para cálculo do aumento ou diminuição de caixa.

Evidencia as transações ocorridas em determinado período e que provocaram mo-


di cações nas disponibilidades da empresa (caixa, bancos e aplicações imediatas).

. Método Direto (MD): apresenta as principais classes de pagamentos e rece-


bimentos que entraram no caixa (disponibilidades);

. Método Indireto (MI): é calculado após sucessivos ajustes do lucro líquido.


É conhecido também como método da reconciliação.

A diferença do MI para o MD está apenas na evidenciação dos fluxos gerados


pelas operações. Não há diferença no que diz respeito aos fluxos gerados pelos
financiamentos e investimentos.

356 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Em continuidade ao exemplo anterior, o demonstrativo do uxo de caixa da empresa
teve o desempenho apresentado no quadro abaixo:

ATIVIDADES OPERACIONAIS R$ MILHÕES

2012 2011

LUCRO LÍQUIDO 861,22 830,90

AJUSTES OPERACIONAIS 701,98 558,50

AUMENTO (REDUÇÃO) DEATIVOS (24,6) (414,04)

AUMENTO (REDUÇÃO) DEPASSIVOS 247,04 100,14

OUTROS FLUXOS DECAIXA DE


(443,62) (411,04)
ATIVIDADES OPERACIONAIS

CAIXA LÍQUIDO GERADO DE


1.342,01 663,84
ATIVIDADESOPERACIONAIS

CAIXA LÍQUIDO GERADO PELAS


(965,64) (250,30)
ATIVIDADES DEINVESTIMENTO

CAIXA LÍQUIDO GERADO PELAS


255,27 (460,07)
ATIVIDADESDEFINANCIAMENTO

EFEITO DEVARIAÇÃO CAMBIAL SOBRE


2,86 1,94
O CAIXA EEQUIVALENTES DECAIXA

AUMENTO (REDUÇÃO) DECAIXA


628,78 (44 ,62)
OU EQUIVALENTEDECAIXA

Em síntese, a demonstração do uxo de caixa visa a calcular o aumento ou diminui-


ção do caixa ou equivalente de caixa e é fruto do lucro líquido ajustado pelas ativida-
des operacionais, de investimento e nanciamento.

Demonstrativo de Valor Adicionado: este demonstrativo apresenta a distribuição


do valor criado entre os agentes econômicos. Essa demonstração, desconsideradas
as diferentes perspectivas, já era contemplada nos Relatórios de Sustentabilidade
padrão Global Reporting Initiative (GRI). Desde 2010, faz parte das informações
econômico- nanceiras.

O Valor Adicionado é um conceito econômico que representa a criação de valor para


a empresa e seus agentes econômicos, sob a forma de remuneração do trabalho e do

Análise de Investimentos 357


capital e pagamento de impostos para o Governo. É calculado a partir do faturamen-
to, deduzido o custo de todos os insumos, mercadorias e serviços adquiridos. Como
exemplo, segue a tabela abaixo.

R$ milhões

VALOR ADICIONADO À ECONOMIA 2012 % 2011 %

3.699,28 100,00 3.148,99 100,00

TRABALHO - PESSOAL E
802,97 21,71 634,26 20,14
ENCARGOS SOCIAIS

GOVERNO - IMPOSTOS,
1.743,40 47,13 1.472,35 46,76
TAXAS ECONTRIBUIÇÕES

CAPITAL DE TERCEIROS - DESPESAS


291,69 7,89 211,48 6,72
FINANCEIRAS EALUGUÉIS

CAPITAL PRÓPRIO - DIVIDENDOS 796,54 21,53 762,56 24,22

CAPITAL PRÓPRIO - JUROS


58,34 1,58 61,13 1,94
SOBRECAPITAL PRÓPRIO

CAPITAL PRÓPRIO -
6,33 0,17 7,2 0,23
LUCROS RETIDOS

12.1.5. Modelos de Projeção de Valor Potencial

Existem vários padrões de modelagem para a projeção do valor potencial de uma


ação. Não há uma receita rígida para determinação do modelo mais apropriado. Vai
depender do per l da empresa, de suas estratégias de crescimento e planos de fusão
ou aquisição que envolvam sinergias relevantes.

Fluxo de caixa descontado

. Modelos em dois estágios: para empresas em estágio de crescimento nor-


mal, geralmente de médio ou grande porte, que tenham um horizonte previsível
para atingir a maturidade.

358 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


. Modelos em três estágios: na maioria dos casos, são apropriados para em-
presas em “estágio inicial” de pequeno ou médio porte. Em geral, essas empresas
estão longe do ciclo de maturação, sendo, por isso, fundamental a avaliação dos
padrões de gestão e governança em seus planos de negócios. A participação em
índices de tag along, governança e de sustentabilidade reforçam a con ança de
uma avaliação em três estágios.

Modelos de dividendos descontados


. Dividendos com crescimento em dois ou três estágios: considera que a em-
presa pode ter dois ou três ciclos de crescimento, tal qual os conceitos colocados
para os modelos de uxo de caixa descontado.

. Dividendo com crescimento constante: Modelo de Gordon. Leva em consi-


deração o lucro por ação e o payout /Custo de capital próprio (Ke) menos taxa de
crescimento (g) dos dividendos.

. Dividendos sem crescimento: sua fórmula baseia-se no recebimento de um


dividendo constante, descontado o custo do capital.

Modelos baseados no valor adicionado


. Economic Value Added - EVA: foi desenvolvido pela Stern Stewart e repre-
senta o lucro operacional menos impostos (A) comparado com o custo de capital
total da empresa (B). A empresa terá valores adicionados positivos no caso de
A>B e, portanto, um valor de mercado maior no curto prazo.

. Market Value Added - MVA: sua visão é de médio e longo prazo. Pode ser
representado pelo valor presente da soma dos EVA´s futuros, cuja periodicidade
vai depender do grau de maturação dos investimentos no tempo. Empresas de
energia devem ter seu MVA medido para períodos de 10 anos. Empresas com
maior giro de ativos podem ter seu MVA medido para períodos de 5 anos.

A sustentação do valor adicionado positivo, no longo prazo, vai depender em grande


parte do plano de investimentos, programas consistentes de treinamento em recursos
humanos, investimentos em P&D, desenvolvimento de imagem e marcas competitivas.

Outras variáveis relevantes para projeções de uxo de caixa:

. Per l de pagamento de dividendos ou juros próprios das empresas.

Análise de Investimentos 359


. Custo do capital próprio via modelo CAPM.

. Custo de capital de terceiros: obtido através do custo médio ponderado pelas


condições de nanciamento de todas as operações.

. Custo médio ponderado de capital - WACC de nido pelo custo de capital


próprio e pelo custo médio de capital de terceiros, utilizando-se como pondera-
ção a estrutura de capital.

. Objetivos de investimento.

. Taxa de crescimento a ser usada nas fases de crescimento e perpetuidade.

. Outras que forem necessárias para o enriquecimento dos modelos.

A taxa de desconto deve ser calculada levando em consideração os interesses da rma


e do acionista.

Para comparação entre companhias, podem ser utilizados conceitos e projeções,


como por exemplo:

. P/L (Preço/Lucro): preço de mercado em relação ao Lucro – representa a


expectativa do número de anos que o investidor deve esperar para recuperar o
investimento;

. P/VPA (Preço de Mercado/Valor Patrimonial): representa o quanto o in-


vestidor está disposto a pagar acima ou abaixo do valor patrimonial;

. DY (Dividend Yield): dividendo pago/Preço de Mercado da Ação;

. EBITDA/Receita Líquida: geração de caixa da rma em relação à receita


líquida.

12.1.6. Os Desaƥos da sustent abilidade

A história da análise fundamentalista valorizou sempre as variáveis quantitativas


econômicas, sem considerar questões relevantes relacionadas ao meio ambiente, so-
ciedade e de governança conhecidos como fatores ESG (meio ambiente, sociedade e
governança, do inglês environmental, social and corporate governance).

360 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Exemplos desses fatores de alimentação de modelos:

Meio Ambiente

. Água

. Minérios

. Manejo Florestal

. Emissão de Gases de Efeito Estufa

. E ciência Energética

. Aproveitamento ou Descarte de Resíduos

Sociedade e seus Interesses

. Saúde e Segurança do trabalhador

. Satisfação do Consumidor

. Direitos Humanos

. Direitos Trabalhistas

. Governança

. Relações com Stakeholders: clientes e consumidores, público interno, acio-


nistas e investidores, ONG´s, e outras partes interessadas.

A inserção dos fatores ESG, integrado aos fatores econômicos, nos modelos de valua-
tion pode mudar o conceito de agregação de valor, pela incorporação progressiva
das externalidades provocadas pelo processo circular de produção e consumo e que
podem representar novas percepções quanto à reputação das empresas.

Esse novo ambiente em curso implica em prováveis mudanças estruturais na aná-


lise de valores mobiliários no mercado de capitais através da rediscussão das vari-
áveis de entrada dos modelos, em especial para aqueles investidores com per l de
investimento de longo prazo.

Análise de Investimentos 361


Isso exigirá que revisitemos as metodologias de valuation, em especial, quanto ao
cálculo do custo de capital, pela incorporação dos riscos e oportunidades associados
à consideração dos fatores ESG na análise.

Esses serão os grandes desa os para o futuro.

12.2. Análise Técnica

As primeiras informações sobre o uso de indicadores de comportamento de mercado


remontam a 250 anos atrás no mercado de arroz japonês, quando um produtor e
operador local criou um sistema de bandeiras: branca se a produção de arroz caísse
(preços subiriam); e preta se a produção de arroz subisse (preços cairiam). Atribui-se
ao produtor e trader Munehisa Honma o desenvolvimento das primeiras regras que
acabaram resultando na técnica Candlestick, trazida para o ocidente por Steve Nison.

Foi, entretanto, Charles Dow que formulou, no século XIX, os princípios fundamentais
para o desenvolvimento da análise técnica, inicialmente chamada de Teoria da Grá ca
e depois de Teoria Dow. Ele morreu em 1902, sem ter visto o crash de 1929, depois de
ter fundado o Wall Street Journal e o Dow Jones Industrial Average (o nome Jones vem
de Edward Jones, sócio fundador da Dow Jones & Company), que servia de base para
suas pesquisas sobre evolução dos preços das ações. Dow jamais escreveu um livro,
apenas artigos e cartas que, em 1922, foram transformadas em um livro, compilado por
William Peter Hamilton, chamado “ e Stock Market Barometer” .

A premissa básica da análise técnica é que todas as informações estão representadas


nos grá cos, na medida em que este traduz o comportamento do mercado (analistas
fundamentalistas, insiders, gra stas, investidores pro ssionais, pessoas físicas).

O mais prudente é usar o método de análise técnica, que indica o momento mais ade-
quado de compra ou venda, combinado com a análise fundamentalista, que indica o
que comprar e qual o seu valor potencial.

Investidores de curtíssimo prazo usam grá cos intraday, enquanto investidores de


curto prazo costuma usar grá cos diários, e investidores com planos de investimen-
tos de prazo maior usam grá cos semanais e mensais.

362 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


12.2.1. Teoria de Dow

A Teoria Dow está voltada para a interpretação dos movimentos de mercado. Dow
criou o Dow Jones Industrial Average, composto de 12 empresas industriais e do
setor de transporte. A partir do comportamento do índice, ele desenvolveu vários
princípios relacionados a tendências e sinais de reversão.

“A con guração grá ca dos preços tende a se relacionar com a direção que eles
tomarão no futuro”.

Dow foi o primeiro a enunciar que as ações do mercado se movem juntamente, se-
guindo a trajetória das empresas mais representativas, o que tornava possível medir a
intensidade das oscilações através de uma média. Foi, assim, o precursor da metodo-
logia de formulação de índices de comportamento das bolsas.

A Teoria Dow foi a primeira semente de um conjunto de estudos de grá cos de preços e
volumes, que evoluiu e se so sticou, e que medem as forças de oferta e procura nos mer-
cados de ações. Dow identi cou quatro fases que se repetem na formação dos preços:

. Acumulação: investidores especialmente bem informados compram


ações, baseado em um processo de sustentação de preços no nal de um ciclo
de queda anterior.

. Mark Up: compradores melhor informados aderem ao mercado, compran-


do a ação e elevando seu preço.

. Distribuição: a um preço que permite ganhos compensadores, a ação des-


perta a atenção da massa. O mercado ca ativo, e os investidores que estavam
comprando ações na fase de acumulação vendem para a massa, que entra em
processo de euforia.

. Liquidação: quando os investidores emocionais descobrem que pagaram


caro, procuram vender a ação gerando um desejo de saída simultânea, o que
pode gerar pânico.

Nesses períodos existem sinais que caracterizam a mudança de uma fase para outra
e que se mostram através de guras.

Esse comportamento de multidão comanda as oscilações de preços através das pres-

Análise de Investimentos 363


sões de compra e de venda que exerce sobre o mercado.

Os princípios de Dow gerados a partir dessas fases descrevem as principais tendên-


cias de mercado:

. Primária: tendência de longo prazo de alta ou de baixa

. Secundária: reversão da Tendência Primária

. Terciária (Menor): tendência de curto prazo, que representa realização de


lucros ou apostas de reversão de tendência não con rmada.

Os demais princípios são em essência o volume e nova tendência.

12.2.2. Teoria de Elliot

Ralph Elliot desenvolveu este método de análise em seu livro “ e Wave Principles”,
em que diz que o mercado de ações funciona baseado em um padrão de cinco ondas
nas tendências de alta e três ondas nas tendências de baixa.

As ondas 1, 3 e 5 são movimentos de alta neutralizados por duas ondas de baixas, 2


e 4. Nos ciclos de baixa, as ondas 6 e 8 são neutralizadas por um movimento ascen-
dente da onda 7.

A complexidade dessa teoria ou método de avaliação de tendências se apresenta pela


di culdade de identi car corretamente cada uma das ondas, que podem estar conti-
das em movimentos intermediários.

Frost & Pretcher (1990) mostram que, em um ciclo completo de alta, existe o ciclo
completo do mercado de ações.

NÍVEL DO CICLO MERCADO DEALTA MERCADO DEBAIXA CICLO COMPLETO

TENDÊNCIA PRIMÁRIA 1 1 2

ONDAS PRIMÁRIAS 5 3 8

ONDAS INTERMEDIÁRIAS 21 13 34

ONDAS MENORES 89 55 144

364 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Os princípios de Elliot são basicamente os seguintes:

. Toda ação é seguida de reação;

. Movimentos na direção da tendência primária podem ser subdivididos em


ciclos menores de 5 ondas de alta e 3 de baixa;

. A terminação do oitavo ciclo completa um ciclo;

. O ciclo completo não obedece a padrões temporais.

Finalmente é interessante veri car que os números na tabela acima (1,1,2,3,5,8,13,21,


34,55,89,144,233) estão contidos na famosa série de Fibonacci, em que cada número
representa a soma dos dois anteriores, tendendo a relação entre eles ser próxima de
1,615. A partir da relação 8/5, sucessivamente, as relações estão contidas entre 1,6 e
1,625. As séries de Fibonacci são muito usadas para descrever o comportamento das
ondas e fazer análise comparada entre médias móveis.

12.2.3. Tipos de Gráƥcos

GráƲco em Linha

Cada dia ou período é um ponto que pode ser o preço médio, o preço de fechamento
ou uma média móvel.

GráƲco de Barras

Cada dia ou período é descrito por uma barra que mostra os preços de abertura, má-
xima, mínima e fechamento. É o padrão mais usado pelos analistas atualmente e serve
como referência para análise de guras de continuidade e reversão de tendências.

GráƲco tipo Candlestick

É igual ao grá co de barras com a diferença que as barras são re etidas em cores,
contendo as mesmas referências de preços de abertura, máxima, mínima e fechamen-
to. As cores geralmente são branca e preta, podendo, alternativamente, serem verde
e vermelha dependendo das características do sistema grá co em que é analisado.
A cor é branca quando o preço de fechamento é maior do que o de abertura, e preta
quando ocorre o contrário.

Análise de Investimentos 365


O método Candlestick é representado por uma série de guras ou barras típicas que
têm signi cados de alta ou de baixa. Ele é muito útil para avaliação de reversão de
tendência após oscilações de alta intensidade.

Informações adicionais sobre comportamento dos gráƲcos

Escala: a apresentação dos grá cos pode ser feita em escala aritmética ou logarít-
mica. Esta tem a vantagem de amortecer movimentos atípicos e costuma mostrar a
tendência primária com mais nitidez, facilitando a análise comparada com as linhas
de tendências e indicadores técnicos.

Gaps de Preços: ocorrem quando o preço mínimo de mercado em um dia está acima
do preço máximo do dia anterior. No caso de o mercado estar em tendência de baixa,
o comportamento é inverso. Quando os movimentos estão contidos dentro de ten-
dências primárias de alta ou baixa, os gaps de preço devem ser fechados no futuro,
mas no caso de reversão de tendência, o fechamento do Gap pode não acontecer.

Linhas de Tendência: a tendência de alta re ete, em essência, uma pressão compra-


dora maior que a vendedora. No caso da tendência de baixa, predomina a pressão
vendedora. As fases de acumulação e distribuição representam um jogo de forças,
em que, no período de acumulação, a pressão compradora acaba prevalecendo. No
período chamado de distribuição, acaba predominando a pressão vendedora.

Suporte: representa uma linha de preços em que a pressão compradora é maior, seja
nas referências de tempo intraday, diária, semanal, mensal, etc.

Resistência: representa uma linha de preços em que a pressão vendedora é maior do


que a compradora.

As linhas de suporte e resistência, quando combinadas, indicam a tendência domi-


nante no mercado: de alta, de baixa, ou de lado. Existem outras formações de suporte
e resistência, como as linhas chamadas pá de ventilador, que representam ajustes,
geralmente em três fases, na linha de tendência.

12.2.4. Figuras

Representam os sinais ou formações de continuidade, inde nição ou reversão de ten-


dência das séries temporais.

366 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Formações de continuidade ou indeƲnição
As guras desse tipo costumam ser sinais de tendência terciária descrita na teoria
de Dow

. Triângulos: simétricos ou indicação de alta ou de baixa;

. Bandeiras e Flâmulas: representam guras de inde nição de curto prazo ,


indicativas de posterior continuidade da tendência principal;

. Retângulos: são típicos sinais de inde nição de tendência dos preços, geral-
mente con rmando as tendências do período.

Formações de reversão
Ombro Cabeça Ombro de topo

Em um movimento de alta, há a formação de um topo (ombro esquerdo), seguido por


um mais alto (cabeça). Após essa formação, há um enfraquecimento e a formação de
um terceiro topo (ombro direito), abaixo do anterior, e semelhante ao outro (ombro
esquerdo). Abaixo desses três topos, há um suporte respeitado (reta pescoço), que, se
rompido após o terceiro topo, dará inicio à consolidação da formação que alcançará
o objetivo da amplitude do segundo topo (cabeça). Vale ressaltar que a formação ape-
nas é con rmada com o rompimento da linha de pescoço.

Ombro cabeça ombro invertido de fundo

O conceito se inverte, começando sua formação a partir de uma tendência de baixa.

Topo ou Fundo duplo

Formação de dois topos (fundos), consecutivos no mesmo nível, identi cados pela
letra M (W). A formação é con rmada após rompimento do último topo (fundo), e o
objetivo é calculado projetando para cima (para baixo) a amplitude da última perna
de baixa (alta), de forma que a formação seja simétrica com sua porção anterior. A
gura ombro cabeça ombro pode ser caracterizada como um caso especial de topo
ou fundo Triplo.

Formações mais avançadas

Essas formações serão apenas citadas pela maior complexidade de sua descrição:

Análise de Investimentos 367


. Cup and Handle

. Deriva

. Diamante

12.2.5. Indicadores Técnicos

Representam linhas de oscilação ou tendência, construídas com base em fórmulas


matemáticas ou estatísticas, com o objetivo de antecipar, con rmar ou descrever ten-
dências. No caso dos índices de volatilidade representam importantes instrumentos
de avaliação dos movimentos de preços em relação à tendência principal.

Existe na realidade uma grande quantidade de indicadores. Isso sugere que, no mo-
nitoramento das operações, os analistas façam uma análise de correlação entre eles,
para evitar que re itam exatamente o mesmo comportamento, evitando consultas
desnecessárias.

Indicadores tipo osciladores

Indicam o comportamento relativo entre compradores e vendedores, isto é, qual a


medida de força dentro do período analisado.

Índice de Força Relativa

Mede, para um determinado período, a quantidade de altas em relação à soma das


altas e baixas. Flutua entre 0 e 100. Indica, para valores superiores a 70, que o mer-
cado está sobre comprado, e para índices abaixo de 30, que o mercado está sobre
vendido. Pode ser usado como instrumento de análise de convergência e divergência,
ou combinado com o MACD, por exemplo.

Outros indicadores muito usados no mercado, relacionados a comportamento e va-


riação de preços, são:

. Índice Estocástico;

. Momentum.

368 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


Indicadores baseados em médias
Re etem a tendência média do mercado comparada aos preços. Existem vários indi-
cadores de médias. As médias móveis são linhas de preços amortecidas, dependendo
do período relativo ao objetivo do investimento.

A média móvel simples representa a média dos preços médios ou de fechamento in-
dicados no grá co de barras e posicionados ao nal do período, que pode ser de
curto, médio e longo prazo. A média mais usada costuma ser de 21 dias, que re ete o
número de dias úteis do mês.

Indicadores de Volatilidade
Re etem as bandas em que as tendências de mercado se movimentam. São muito im-
portantes para detectar mudanças atípicas de volatilidade que podem indicar maior
nervosismo do mercado ou reversão de tendência.

. Bandas de Bollinger

. Keltner Channel

Volume
Analisar tecnicamente o mercado não é possível sem que se faça o acompanhamento do
volume de negócios nas bolsas. Todas as análises baseadas em tendências, guras, in-
dicadores e médias são mais próximas da realidade quando con rmadas pelo volume.

A comparação entre preço e volume re ete em essência o mais importante funda-


mento da economia, a “lei da oferta e da procura”.

Movimentos de preços devem ser con rmados pelos movimentos de volume, ainda
mais em um mundo globalizado. Isso é mais importante nos momentos de acumula-
ção de preços, no nal de ciclos de baixa, ou de distribuição, no nal de ciclos de alta,
em especial para investidores comuns.

Se o investidor investe em ações baseado em fundamentos sólidos de longo prazo ou


para ganhos de dividendos, sua preocupação deve se relacionar com períodos maio-
res de comportamento de preços e volume.

Investidores com objetivos orientados para períodos menores devem olhar com aten-
ção o comportamento dos volumes das ações, analisando preço e volume sob a máxi-

Análise de Investimentos 369


ma de que “movimentos de preços são correlatos com movimentos de volume”.

Para ilustrar o comportamento de preços e volumes, segue um quadro referencial,


com base na tendência primária ou principal.

VOLUME PREÇO PRESSÃO BOLSA

sobe sobe compradora em alt a

sobe cai vendedora em baixa

cai oscil a respeit ando um preço mínimo compradora bol sa em f ase de acumulação

sobe oscil a respeit ando um preço máximo vendedora bol sa em f ase de dist ribuição.

370 Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro


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NISON, STEVE. Japanese Candlest ick Chart ing Techniques. New York Inst itute 1991
VENDA PROIBIDA

Este livro foi desenvolvido pelo Comitê Consultivo de Educação da


CVM, que também conta com a participação da Associação Brasileira
das Companhias Abertas – ABRASCA, da Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais – ANBIMA, da ANCORD
– Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e
Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias, da Associação dos Analistas
e Proƥssionais de Investimento do Mercado de Capitais – APIMEC
NACIONAL, da BM&FBOVESPA S.A. Bolsa de Valores, Mercadorias &
Futuros, da Cetip S.A. – Mercados Organizados, do Instituto Brasileiro
de Governança Corporativa – IBGC e do Instituto Brasileiro de Relações
com Investidores – IBRI. A ideia da presente publicação foi amadurecida
ao longo de sucessivas edições do Programa TOP (Treinamento de
Professores), que desde 2006 oferece cursos de atualização para
professores universitários que lecionam disciplinas relacionadas com o
mercado de valores mobiliários.

A educação é uma necessidade para o desenvolvimento sustentável


e sadio do mercado de valores mobiliários e o objetivo deste livro é
contribuir para o processo de disseminação de conhecimento sobre
este mercado. O livro foi estruturado em doze capítulos, que tratam
sobre: Sistema Financeiro Nacional, Valores Mobiliários, Fundos de
Investimento, Companhias Abertas, Governança Corporativa, Relações
com Investidores, Oferta Pública, Bolsa de Valores, Mercado de Balcão
Organizado, Funcionamento do Mercado, Derivativos e Análise de
Investimentos.

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