Honora
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INTRODUÇÃO
A inclusão e exclusão social com relação aos indivíduos com alguma deficiência foi
tema proposto com importância ao pensar sobre a trajetória dos denominados deficientes
e como lidaram com essa questão no ambiente escolar brasileiro. Inúmeros fatores
fizeram importância para que este tema fosse tratado de maneira com relação ao
ambiente escolar, pois pelo fato do anseio de uma sociedade mais democrática e
igualitária, foram criados mecanismos para que houvesse uma inclusão escolar daqueles
marginalizados socialmente, pois a educação é pautada como um referencial para um
desenvolvimento e aprimoramento do conhecimento da sociedade humana.
Assim Charlot (2001, p. 56 e 57) exemplifica de que,
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Artigo desenvolvido como atividade do projeto de extensão LENPES (Laboratório de Ensino, Extensão e Pesquisa de
Sociologia).
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Graduada em Ciências Sociais na Universidade Estadual de Londrina. Contato: [email protected].
1 REVISTA ELETRÔNICA PRO-DOCÊNCIA. UEL. Edição Nº. 1, Vol. 1, jan-jun. 2012.
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Refere-se ao sul da Península Itálica, colonizada na Antiguidade pelos Gregos.
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A própria religião, com toda sua força cultural, ao colocar o homem como
“imagem e semelhança de Deus”, ser perfeito, inculcava a idéia de
condição humana como incluindo perfeição física e mental. E não sendo
“parecidos com Deus”, os portadores de deficiências (ou imperfeições)
eram postos à margem da condição humana.
Muitos exemplos de estigma são tratados com normalidade na Bíblia com relação
aos indivíduos com alguma deficiência, mas não podemos nos esquecer do aspecto
histórico e geograficamente localizado. A intenção não seria de retratar aqui sobre uma
esfera de julgamento moral, mas demonstrar como este processo resultou em uma
estigmatização no decorrer da Idade Média e que teve influência na transição para o
capitalismo, dando imersão desta forma à idéia de que os indivíduos com alguma
deficiência deveriam ser colocados no sistema de produção vigente como todos os outros
indivíduos.
O capitalismo reconhecido como processo civilizatório, poderoso sistema que
repercutiu em grandes mudanças nas sociedades, foi um grande divisor de águas,
especificamente no século XVI, com uma forte implementação do ideário liberal,
principalmente no âmbito do trabalho. Voltava-se para uma produção de mercado, uma
grande acumulação de capital, a ciência em grande desenvolvimento, fez com que o
homem tivesse um amplo domínio da natureza, resultando em que a necessidade de
subsistência passasse a uma condição de liberdade.
As necessidades mudam e o homem vê a importância de ser o centro do palco,
passando assim de um Teocentrismo para o Antropocentrismo. Mesmo com essa
mudança de ideal, a igreja não sai de cena assim tão facilmente, fazendo com que a
Revolução Francesa tivesse como intuito a quebra da concepção teológica que até o
momento vigorava sobre a sociedade (BIANCHETTI, 1998, p. 35).
A ciência se torna produtora de conhecimento, sendo esta manipulada pelo
homem, como já dito anteriormente sobre a questão antropocêntrica, o homem detentor
do cenário social. Há um exemplo como o de Isaac Newton, que com ele,
O corpo humano passou a ser visto como uma máquina designando que qualquer
tipo de deficiência era relacionado a uma disfuncionalidade de uma peça, como que se o
computador não funcionasse perfeitamente, por conter uma diferença ou deficiência.
As formas de produção foram drasticamente transformadas com o decorrer dos
séculos. Do artesanato transformou-se em manufatura e desta para a maquinofatura. A
forma de produção artesanal era realizada conforme as necessidades de consumo. Com
a forma de produção pautada na maquinofatura passou a ser produção em série, já que o
mercado era o ditador do ritmo de produção, para atender as necessidades e interesses
de lucro e acumulação, fez com que o especialismo entrasse em vigência. Era necessária
eficiência acima de tudo, como por exemplo, Taylor (1856-1915) e Ford (1863-1947), que
contribuíram em formulações de modelos que facilitassem o processo de produção,
resultando na conhecida divisão do trabalho (BIANCHETTI, 1998, p.38).
Nesta esfera, vemos como o capitalismo contribuiu para que os indivíduos
procurassem especialização para se adequarem às regras do jogo de produção, para
atender as necessidades de mercado, através da educação que ofereceu conforme o
desenvolvimento do capitalismo industrial, um preparo para as sociedades em geral.
Contudo, os indivíduos com alguma deficiência foram colocados no sistema de produção
ou assistidos pela própria sociedade, é desta forma que o próximo passo é entender de
como estes foram tratados no sistema escolar de ensino, sendo a educação como fator
importante para a apreensão de conhecimento para a formação e integração dos
indivíduos no interior das sociedades.
sociedade” (BIANCHETTI, 1995, p.16). Gerando assim uma criação de escolas especiais,
classes especiais com ensinos especializados para estes denominados “diferentes” no
sistema escolar em geral.
[...] até o final do século XIX diversas expressões eram utilizadas para
referir-se ao atendimento educacional aos portadores de deficiência:
Não muito diferente Kassar (1999, p. 19) evidencia em seu estudo também de que;
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Segundo o dicionário escolar da língua portuguesa Michaelis de 2002, a palavra Teratológica corresponde a
Teratologia: Estudo das deformações ou monstruosidades orgânicas.
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“A expressão ensino emendativo, de emendare (latim), que significa corrigir falta, tirar defeito, traduziu o sentido
diretor desse trabalho educativo em muitas das providências da época” (JANNUZZI, 2006, p.70).
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onde José Álvares de Azevedo juntamente com o doutor Xavier Sigaud, este último
médico do paço, conseguiram convencer o imperador a criar o decreto para
institucionalização definitiva para o atendimento de deficientes visuais em 1854. O
Instituto dos Surdos-Mudos (Instituto Nacional de Educação de Surdos, Ines) criado em
1857, foi por influência do professor Eduard Huet, que logo após instalação foi nomeado
presidente da Comissão Organizadora do Instituto, pois fora recomendado pela Instrução
Pública da França para tal atividade no Brasil, ambos os institutos oficialmente instalados
na cidade do Rio de Janeiro (JANNUZZI, 2006, p. 11-12).
Além das iniciativas com os cegos e surdos no período Imperial, também se iniciou
o trabalho para deficientes mentais, hoje considerados deficientes intelectuais. A iniciativa
teve origem na Bahia em 1874 na cidade de Salvador, com o nome atualizado de Hospital
Juliano Moreira. O atendimento prestado aos deficientes mentais deste Hospital ficou em
vias de falta de qualificação quanto ao seu tipo de atendimento para deficientes, pelo fato
de estar em vias pedagógicas e médicos-pedagógicos (MAZZOTTA, 2005, p.30).
Após iniciativas isoladas, vemos que o poder público toma para si a
responsabilidade em criação e manutenção de instituições para atendimento aos
indivíduos com necessidades especiais. Até 1950 o número de instituições passava de
cinqüenta existentes, entre eles sobre domínio de poder público, tanto federais como
estaduais e também as instituições privadas. Sendo em destaque algumas delas, como o
Colégio dos Santos Anjos em Santa Catarina de 1909 ao atendimento de deficientes
mentais, a Sociedade Pestalozzi do Rio de Janeiro, de cunho particular criada em 1948, a
Escola Estadual Instituto Pestalozzi criada em 1935, por influência dos trabalhos da
professora Helena Antipoff, também a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais
conhecida APAE na cidade do Rio de Janeiro datada de 1954, entre outras instituições
que se destacam nesta época promissora (MAZZOTTA, 2005, p. 31).
O atendimento educacional em vias de ensino público e privado como vimos acima,
após 1957, fora visto a emergência que iniciativas oficiais foram criadas em decorrência
de um maior atendimento para os indivíduos com alguma necessidade educacional
especial, denominadas de Campanhas Nacionais, com ênfase às questões sociais e suas
problemáticas. Com isto surgiram decretos que viabilizassem oportunidades e melhoria ao
ensino dos alunos com alguma necessidades educacional especial. A primeira a ser
instituída foi a campanha para a Educação do Surdo Brasileiro, denominada CESB,
datada de 1957, pelo Decreto Federal nº 42.728. Logo após em 1958, foi criado outro
decreto, mas com relação aos deficientes visuais, chamada de Campanha Nacional de
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A partir dos anos 60, outras campanhas foram instituídas como a Campanha
Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais a CADEME, que foi criado e
liderado por iniciativa da Sociedade Pestalozzi e Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais. Destaque para a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
em que a lei n.4.024/61, regulamentando oficialmente a educação com a afirmação de
uma política educacional específica. (JANNUZZI, 2006, p.68).
Para regulamentar a política educacional especial, cria-se o órgão Centro Nacional
de Educação Especial (CENESP), que visava uma maior efetividade de uma ação política
para a problemática da educação especial em nível governamental. Metas estabelecidas
para efetivação de pontos essenciais para a educação especial com relação às escolas,
instituições para ensino especializado desse alunado, formação para o trabalho, aos que
eram pouco ou bastante integrados no sistema regular de ensino, percepção da família,
Vemos que com o decorrer das décadas, foram criados dispositivos para maior
atendimento dos considerados deficientes na sociedade brasileira. Mesmo com interesses
como vimos desde a época do Império, até os dias atuais do governo brasileiro de se
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Desta forma, ao longo da história, a educação foi vista como um meio que
proporcionasse uma integração, inclusão ou uma socialização dos indivíduos ao meio
social em que viviam e no comprometimento ao desenvolvimento do conhecimento para
estes.
Visto que para Candido (1955, p. 11),
É desta forma, em que atributos são designados a certos tipos de indivíduos pelas
suas diferenças, que José Saramago (1922-2010) questiona,
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“Janela da Alma”, filme de João Jardim e Walter Carvalho, Brasil, 2001.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS