Teologia Do Prazer Resenha PDF
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TEOLOGIA
DO PRAZER
Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos
Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes
Revisão: Cícera G. S. Martins
Caio Pereira
Diagramação: Dirlene França Nobre da Silva
Capa: Marcelo Campanhã
Impressão e acabamento: PAULUS
Bibliografia
ISBN 978-85-349-3909-6
14-02163 CDD-261.515
1ª edição, 2014
© PAULUS – 2014
Rua Francisco Cruz, 229 • 04117-091 – São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627 • Tel. (11) 5087-3700
www.paulus.com.br • [email protected]
ISBN 978-85-349-3909-6
Sumário
11 Prazeres
13 Introdução
5
94 O prazer de agraciar e de perdoar
97 O prazer de dar a vida
101 Jesus: o prazer do povo
104 3. Os prazeres humanos
106 Vida prazerosa
111 O cultivo do prazer como vocação
114 O prazer sexual
121 Prazer sexual libertador
127 A abstenção do prazer sexual não é virtude
130 O prazer sexual como experiência espiritual
34
1 4. Os prazeres desumanos
136 A mercantilização do prazer
140 Os prazeres que desumanizam
145 Por que esses prazeres desumanizam?
51 III. O tema do prazer na história
1
da Igreja
52 1. Do seguimento prazeroso de Jesus à abolição
1
do prazer
152 A incursão do dualismo grego
155 A maleficência do maniqueísmo
60
1 2. A relação entre prazer, sexo e pecado
160 Pedagogia do “quebra-molas”
165 Resgate do valor do prazer sexual
170 A mulher como símbolo do prazer degenerado
75 3. Um cristianismo triste e assustador
1
176 O resgate da beleza do prazer
178 O atual retorno ao dualismo e maniqueísmo
85 IV. Afirmações teológicas para uma
1
vida prazerosa
86 Prazer: plenamente divino e plenamente humano
1
186 O valor da experiência de vida
6
91 Cristianismo: mística prazerosa
1
196 Cristianismo, prazer e ascese
01 2. Seguir Jesus com prazer
2
201 Prazer, discernimento e responsabilidade
205 Prazer ecologicamente correto
209 Conclusão
7
A Dom Angélico Sândalo Bernardino,
nosso irmão bispo, pastor amoroso, profeta da justiça e
defensor dos pobres, com quem temos o prazer
de saborear uma gostosa amizade.
1*
As citações bíblicas são retiradas da Bíblia Tradução Ecumênica (TEB), São Paulo,
Loyola, 1994, exceto quando optamos por uma tradução mais livre, feita a partir dos
originais ou da indicação de determinados autores.
13
zinho do século passado, que os teólogos pensassem numa
“teologia do prazer”.2
Dom Valfredo Tepe, que foi bispo de Ilhéus (BA), Bra-
sil, e um pastor profundamente identificado com a vida do
povo, lamentava um tipo de cristianismo amarrado a “anti-
gas determinações morais repressivas”, incapazes de apre-
sentar o lado positivo da fé cristã em questões importan-
tes como “a corporalidade, a experiência da satisfação, do
prazer”, as quais não são por si mesmas pecaminosas. Em
seu livro, que acabamos de citar, Tepe discorre com muita
propriedade sobre o tema do sofrimento humano e insiste
muitas vezes na necessidade de se rever certo ascetismo que
tomou conta das Igrejas, especialmente da Igreja Católica
Romana. Denuncia a falácia desse ascetismo que acaba com
a alegria de viver e que nos ensinou a projetar todas as satis-
fações, gozos, prazeres e gratificações para a outra vida. Isso
fez com que o cristianismo se apresentasse sempre como
“estresse ascético”. Por causa da anatematização do prazer,
o cristianismo se tornou a religião dos “rostos tristonhos,
sorumbáticos e macambúzios”.3 Uma religião que não con-
segue mais fascinar as pessoas do mundo de hoje, as quais
estão cada vez mais conscientes do valor do prazer e de uma
vida prazerosa e gozosa.
Nós resolvemos acolher o convite de Dom Valfredo
Tepe e nos atrevemos a refletir sobre o assunto. Depois de
quase dois anos de pesquisas, leituras e estudos, produzi-
mos o presente texto que agora chega às suas mãos. Temos
consciência de que não esgotamos o assunto, mas esperamos
que a nossa iniciativa estimule outros estudiosos cristãos a
aprofundarem ainda mais a questão, ajudando suas Igrejas a
reverem suas posições e a se abrirem mais à positividade da
experiência do prazer.
2
Cf. Valfredo TEPE, Para que tanto sofrimento?, Petrópolis, Vozes, 1996, p. 24-25.
3
Cf. ibid., p. 25-27.
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O presente estudo começará com uma análise do con-
ceito e do sentido do prazer. Consideramos fundamental
iniciar nossa reflexão apresentando as bases científicas do
prazer. Uma teologia do prazer precisa começar com a cons-
tatação de que tal sensação ou experiência foi colocada no
ser humano pelo Criador. As ciências, de modo particular
a Psicologia e a Neurociência, ao desvendarem o mistério
do prazer, nos revelaram a criatividade divina que, ao “mo-
delar” (cf. Sl 139,13-15) a pessoa humana, dotou-a de tão
complexo dinamismo. As ciências nos ajudam a perceber
que o prazer faz parte da natureza humana, assim como foi
pensada, sonhada e criada por Deus. A partir dessa perspec-
tiva, fazemos um estudo de algumas dimensões do prazer,
com a finalidade de ajudar os leitores e as leitoras a perce-
berem ainda mais a bonita complexidade desse fantástico
estado emocional humano.
Na segunda parte do nosso texto apresentaremos o
ensinamento bíblico sobre o prazer. Não foi fácil abordar
esta questão, dada a escassez de pesquisas e publicações es-
pecíficas sobre o assunto, especialmente aqui no Brasil. As
pesquisas que fizemos apontam inicialmente que há na Bí-
blia uma concepção positiva do prazer, embora não faltem
textos que alertam sobre o risco de uma busca de prazer que
desumaniza. Porém, como veremos mais adiante, a Palavra
de Deus não demoniza a experiência prazerosa. Pelo con-
trário, convida o ser humano a viver prazerosamente sob a
guia e proteção divinas. Para evidenciar esse aspecto positi-
vo, antes de mencionar os prazeres humanos recomendados
pela Bíblia, falamos dos “prazeres divinos”. Algo muitas ve-
zes inédito, já que o cristianismo do “ascetismo mórbido”
(TEPE) nos acostumou com a imagem de um Deus sempre
irado e irritado com a possibilidade de um ser humano ale-
gre e feliz. Somente ao final desse capítulo apresentamos
algumas indicações bíblicas acerca de um tipo de prazer que
pode alienar e desumanizar.
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Após apresentar as bases científicas do prazer e a visão
bíblica sobre o tema, faremos uma reflexão sobre a forma
como o prazer foi visto ao longo da história da Igreja. Nesse
capítulo, mostraremos como o cristianismo, de seguimento
prazeroso de Jesus, se transformou na religião da abolição
do prazer. Veremos que isso se deu pela incursão do dualis-
mo grego e do maniqueísmo maledicente nas comunidades
cristãs. Além disso, refletiremos sobre a relação que se criou
entre prazer, sexo e pecado, fazendo com que as Igrejas
introduzissem regras bem rígidas a esse respeito, as quais
passaram a funcionar como verdadeiros “quebra-molas” que
visam frear o gozo e o prazer. Depois dessas observações
mostraremos que, em toda essa história, a mulher pagou um
preço amargo, uma vez que ela foi considerada o símbolo do
prazer degenerado. Concluiremos o capítulo afirmando que
todas essas coisas transformaram o cristianismo em uma
experiência triste e assustadora e que precisamos continuar
vigilantes, uma vez que no atual contexto estão retornando
formas cristãs dualistas e maniqueístas.
No último capítulo, apresentaremos algumas afirma-
ções teológicas acerca de uma vida cristã prazerosa. Insisti-
remos na necessidade de ver o prazer como uma realidade
plenamente divina e plenamente humana e, em consequên-
cia, olhar para o cristianismo como mística prazerosa. Mas,
para que isso aconteça, será indispensável repensar a relação
entre seguimento de Jesus, prazer e ascese. Embora parte es-
sencial do discipulado, esta precisa ser revista, de tal modo
que não tire do cristianismo a sua dimensão gozosa. Isso
significa que a vivência cristã do prazer inclui um processo
de discernimento e uma educação para a responsabilidade,
de modo que se possa falar de uma vida prazerosa ecologica-
mente correta, entendo por ecológico um estilo de existência
que humanize sempre e cada vez mais.
Nosso estudo se concluirá com uma reflexão acerca
da necessidade de que as Igrejas renunciem à pretensão de
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querer controlar, a todo custo, a vida das pessoas. Elas pre-
cisam mudar de pedagogia, uma vez que a atual pedagogia
do controle e da imposição não funcionou e terminou por
lançar os fiéis nas mãos da indústria do prazer. Propomos
que as Igrejas sejam mais propositivas e educadoras, em vez
de funcionarem como agências de controle dos crentes. Edu-
quem seus fiéis para a autonomia, para a condição de pes-
soas adultas, para a responsabilidade e, sobretudo, para a
sensibilidade à voz da consciência, tida como a voz de Deus
dentro do ser humano.
Este texto destina-se a todos os cristãos e a todas as cris-
tãs de todas as Igrejas, sem exceção, e que queiram aprofun-
dar essa temática tão vital e tão marcante para a vida humana.
Destina-se também a todos os homens e a todas as mulheres
de boa vontade que, embora não professem a fé cristã, dese-
jam ter uma compreensão mais positiva do tema do prazer na
perspectiva do cristianismo. Mesmo conscientes de que não
exaurimos a temática proposta, optamos por manter o simples
título Teologia do prazer, sem mais substantivos ou adjetivos
qualificativos. Com isso queremos ressaltar o caráter teológico
do tema, diante de todo o desgaste a que foi submetida a ques-
tão do prazer dentro do cristianismo e ao longo dos séculos.
Afirmamos, pois, que o conteúdo deste texto que você
está para estudar é de ordem teológica, ou seja, uma reflexão
lógica e metódica sobre um tema que está relacionado com a
fé cristã e que associa o crer e o pensar. Está fundamentado
na Palavra de Deus, centrado na pessoa de Jesus Cristo, o
Filho revelador do Pai, e busca ser fiel a uma inspiração do
Espírito Santo. Embora o próprio tema, o seu conteúdo e as
suas propostas pareçam dizer o contrário, nosso objetivo é
submeter a questão do prazer à razão dialética,4 argumen-
4
Por razão dialética entendemos aqui uma reflexão conduzida de forma racio-
nal e processual e que leva em conta a possibilidade de argumentações e reflexões
diferentes que precisam ser ouvidas, acolhidas e profundamente consideradas. Na
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tando segundo os princípios racionais, mas sempre à luz da
fé que aceita Jesus Cristo como o Salvador do mundo (cf.
Jo 4,42). Desde os tempos das primeiras comunidades cris-
tãs foi ficando sempre mais evidente que os discípulos e as
discípulas de Jesus não só devem crer, mas precisam crer de
maneira inteligente. O ato de crer não é, como costumam
afirmar alguns, um simples “salto no escuro”, como se Deus
quisesse a nossa adesão à sua vontade sem nenhum questio-
namento e sem nenhum pedido de compreensão. Ao criar o
ser humano à sua imagem e semelhança, o Criador o dotou
de razão e de inteligência. Por isso é mais do que normal
querer compreender enquanto se busca crer. A pregação so-
bre a renúncia a tentar compreender os mistérios da fé cristã
é mais uma dessas terríveis falácias inventadas pelo sistema
eclesiástico com a simples finalidade de manter o povo cris-
tão subjugado e resignado aos seus caprichos.5
Como pensamos este texto para todos os cristãos e para
todas as cristãs e para as pessoas de boa vontade, decidimos
por incluir várias notas de rodapé, visando ajudar aqueles e
aquelas que não estão familiarizados com certos termos teo-
lógicos e científicos a compreender melhor o seu conteúdo.
Pedimos desculpas aos irmãos e às irmãs iniciados ou espe-
cialistas no assunto por esse detalhe, mas estamos conven-
cidos de que vocês saberão compreender essa necessidade,
solidarizando-se com as pessoas que não estão acostumadas
com o linguajar teológico e técnico.
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Fazemos votos de que este livro toque o coração de
muitas pessoas, desperte-nos para a beleza do prazer, esti-
mule em todos nós uma vida prazerosa, responsável e soli-
dária e suscite em muitas outras pessoas o desejo e a vontade
de aprofundar ainda mais essa temática tão bonita e profun-
damente cristã.
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