Antologia Poesia Brasileira PDF
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Da Moderna
Poesia Brasileira
REVISTA
ACADÊMICA
1939
Ihe^adó.
No extraordinário surto que ergueu as artes brasileiras
de duas décadas para cá, a arte que mais tem demorado em
afirmar-se talvez seja a Poesia. Pelo menos dentre as artes
literárias, por mais insubmissa ás exigências fatais do pen-
samento e da realidade exterior, mais indecisa em suas li-
mitações, embora não mais livre por tudo isso, a Poesia vê
os seus jardins dizimados pelos seus próprios poetas, e
transformados em vasto campo de experiência. Mil e uma
pesquisas de toda sorte, audaciosas inovações de ordem,
técnica, sistematizdções abusivas tanto de ordem psicológi-
ca como estética, definições interessadas ou meramente di-
letantes e fantasistas, todos os elementos enfim tanto sociais
como individualistas que cooperam no fenômeno da criação
artística, talvez estejam mais servindo de desordem que de
forças definidoras para que a Poesia se reintegre em sua
própria e vaga essência. E de tal caos, era de esperar-se,
os caftens, os demagogos, os restacueras, novos-ricos ou
Jourdains da arte se aproveitaram com volúpia, intervindo
cabotinamente no torneio com suas realizações apressadas,
exclusivamente feitas de ignorância e facilidade. O caos
tornara quase impossível, sem o peneiramento dos anos,,
separar o bom do ruim. Então, alguns chegaram a chorar
ingenuamente a morte da Poesia.
Mas o caso não é para suicídio e muito menos para um
assassinio. Mesmo dentro do enfraquecimento natural das
pesquisas, mesmo no turbilhão poeirento de tamanho con-
fusionismo, sempre é possível tentar uma escolha de nomes
e*de poemas que de alguma torma correspondem mais ge-
nerosamente aos ideais contemporâneos, ou mais sintoma-
ticamente representem as tendências do tempo. E' o que a:
REVISTA ACADÊMICA pretende fazer agora, sem vaidade
nem mancha de partidarismo.
Neste sentido, esta Antologia representará mais um
largo toque de reunir que uma garantia de eternidade. Se-
na vaidade nossa orientar a escolha do futuro e definir-lhe
o gosto.' Sucessivamente, sem prioridade de espcécie algu-
ma nem confissão das nossas preferências secretas, desfila-
rão neste caderno os poetas que, pelo consentimento geral
da nossa crítica e da acolhida pública, mais parecem ca-
racterizar o voto contemporâneo. Entenda-se porem: serão
sistematicamente excluídos desta Antologia os poetas que
nada representam da tragédia estética do nosso tempo, os
que metrificam não porque voltaram á métrica, ou rimam
não porque voltaram á rima, mas porque jamais se preocu-
pam do problema da expressão, isolados filhos-famílias a-
gastar uma herança sem trabalho.
Manuel Bandeira
(Recife, 1886)
Manuel Bandeira estreou tardiamente, aos 31 anos,
com A Cinza das Horas, pequena coleção de poemas onde
se revela ainda a dupla influência parnasiana e simbolis-
ta. Dois anos depois, em 1919, publica nova brochura Car-
naval, em que, a par de alguns sonetos de caráter parnasia-
no, anteriores ou contemporâneos da Cinza das Horas, ma-
nifesta em outras poesias o cansaço das formas gastas, por
êle satirizadas no poema "Os Sapos" Sente-se no poeta
um desejo de novos ritmos, mais livres, mais fluidos ("De-
bussy", "Hiato", "Toante", "Sonho de uma terça-feira gor-
da", "Epílogo"). Em 1924 editou Bandeira as Poesias, em
que reuniu a A Cinza das Horas, aumentada de muitos poe-
mas da mesma época ("Carinho triste" é de 1912) e a Car-
naval alguns poemas novos sob o título de O ííifmo Disso-
luto. Nestes o poeta já aparece na feição mais ou menos
definitiva que lhe é própria e que se confirma em duas
publicações posteriores — Libertinagem (1930) e Estrela da
Manhã (1936). Sente-se nos seus últimos versos uma certa
predileção pelos metros curtos ("Vou-me embora p'ra Pa-
sárgada", "Marinheiro triste", "Canção das Duas índias"
"Trucidaram o rio", etc). Em 1937 fêz o poeta uma seleção
de seus versos — Poesias Escolhidas, Civilização Brasi-
leira .
Além desses volumes de poesias, publicou Manuel
Bandeira um livro de crônicas (Crônicas da Província do
Brasil, Civilização Brasileira, 1937), a Antologia .dos Poetas
Brasileiros da Fase Romântica, a Antoiogia dos Poeías Bra-
sileiros da Fase Parnasiana, ambas editadas pelo Ministé-
rio da Educação, e o Guia de Ouro Preto, com desenhos de
Luís lardim, editado peío Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional.
€ —
OS S I N O S
Sino de Belém,
Sino da Paixão...
Sino de Belém,
Sino da Paixão.
Sino do Bonfim!..
Sino do Bonfim!..
Sino de Belém,
Sino da Paixão.
Sino da Paixão, pelo meu irmão!
Sino da Paixão,
Sino do Bonfim...
Sino do Bonfim, ai de mim, por mim!.
EVOCAÇÃO DO RECIFE
Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois —
Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
De repente
nos longes da noite
um sino.
Rua da União...
Como eram lindos os nomes das ruas da minha infância
Rua do Sol
(Tenho medo que hoje se chame do dr. Fulano de Tal!)
Atrás de casa ficava a rua da Saudade..
. . . onde se ia fumar escondido..
Do lado de lá era o cais da rua da Aurora...
.. onde se ia pescar escondido.
Capiberibe
— Capibaribe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Novenas
Cavalhadas
Eu me deitei no colo da menina e ela começou a passar
a mão nos meus cabelos
Capiberibe
— Capibaribe
Recife..
Meu avô morto.
Recife morto. Recife bom. Recife brasileiro como a
a casa de meu avô.
PROFUNDAMENTE
ESTRELA DA MANHÃ
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Depois comigo
Te esperarei com mafuás novenas c a v a l h a d a s comerei.
terra e direi coisas de uma ternura tão simples
Que tu desfalecerás
Procurem por toda a parte
Para ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela d a manhã.
MARINHEIRO TRISTE
Marinheiro triste
Que voltas para bordo
Que pensamentos são
Esses que te ocupam?
Alguma mulher
Amante de passagem
Que deixaste longe
Num porto de escala?
Ou tua amargura
Tem outras raízes
Largas fraternais
Mais nobres mais fundas?
Marinheiro triste
De um país distante
Passaste por mim
Tão alheio a tudo
Que nem pressentiste
Marinheiro triste
A onda viril
De fraterno afeto
Em que te envolvi.
Ias triste e lúcido:
Antes melhor fora
Que voltasses bêbedo
Marinheiro triste!
E eu que para casa
Vou como tu vais
Para o teu navio,
Feroz casco sujo
Amarrado ao cais,
Também como tu
Marinheiro triste
Vou lúcido e triste.
Amanhã terás
Quando tu partires
O vento do laiqo
O horizonte imerso
O sal CIT meu alto !
Mas au, marinheiro?
— Antes melhor fora
Que voltasse bêbedo
13
O M A R T E L O
M A Ç Ã
OBRAS PUBLICADAS
C A M A F EU
Já de púrpura e zarcào
Tonalizando-se vão
Moitas, bosquetes e grama.
Uma dríada outras chama
E passam em tropelias
As nudezas alvadías
De nedias ninfas em bando
Galopando.
Os calínicos sensuais.
Animam-se mais e mais,
Helenicamente incautas
Ao ziar das flautas.
Brasil...
Mastigado na gostosura quente do amendoim..
Falado numa lingua curumim
De palavras incertas num remeleixo melado melancólico...
Saem lentas frescas trituradas pelos meus dentes bons..
Molham meus beiços que dão beijos alastrados
E depois semi toam sem malícia as rezas bem nascidas...
Brasil amado não porquê seja minha pátria,
Pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der...
Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventu-
[roso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e dansas.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito en-
[graçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de
[dormir.
"Clan do Jabotí (1924;
18 —
(Campos do Jordão)
Oh heticas maravilhosas
Dos tempos quentes do Romantismo
Maçãs coradas olhos de abismo.
Donas perversas e perigosas,
Oh heticas maravilhosas!
Não vos compreendo, sois de outras eras,
Fazei depressa o pneumotórax,
Mulheres de Anto e de Dumas Filho/
E então seremos bem mais felizes,
Eu sem receio do vosso brilho.
Vós sem bacilos nem hemoptises,
Oh heticas maravilhosas!
ACALANTO DO SERINGUEIRO
Seringueiro brasileiro,
Na escureza da floresta
Seringueiro, dorme.
Ponteando o amor eu forcejo
Pra cantar uma cantiga
Que faça você dormir.
Que dificuldade enorme!
Quero cantar e não posso,
Quero sentir e não sinto
A palavra brasileira
Que faça você dormir...
Seringueiro, dorme. . .
Seringueiro, dorme!
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme
Brasileiro, dorme.
Num amor-de-amigo enorme
Brasileiro, dorme.
Brasileiro, dorme,
Brasileiro... dorme...
Brasileiro.. dorme.
Lá longe no sul,
Lá nos pés da Argentina,
Marulham" temíveis os mares gelados,
Não posso fazer mesmo um gesto!
Tu me adivinhas meu amor,
Porém não queres ser escrava!
22 —
Flores!
Apaixonadamente meus braços desgalham-se,
Flofés!
Flores amarelas do pau-darco secular!
Eu me desgalho sobre teu corpo manso.
As flores estão caindo sobre teu corpo manso.
Te cobrirei de flores amarelas!
Apaixonadamente
Eu me defenderei!
M O M E N T O
Inédito.
Réul Bõpp
Tupaceretan, R. G. do Sul, 1899
T A P U Y A
DE "COBRA NORATO"
Pouquinho só chega lá
Uê ! Então vamos :
Vamos lá pô putirum
Purirúm Putirum
Vamos lá comer tapioca.
Putirum Putirum
28 —
Casão das farinhadas grandes
Mulheres trabalham nos ralos
mastigando cachimbo
Chia a caroeira nos tachos
Mandioca puba pelos tipitís
Amor chovia
Choveriscou
Tá lavando roupa maninha
quando o Boto me pegou
DE "COBRA NORATO"
Na beira do charco
arvoresinhas sujas levantam os vestidos
como cachos de lama pingando
JAVELA N.° 3
(QUINTAL)
ÁFRICA
Aratabá-becúm.
NEGRO
DE "COBRA NORATO"
Acordo
Aí cumpadre
Tinha vontade de ouvir uma musica mole
que se estirasse por dentro do sangue
Musica com gosto de lua
e do corpo da filha da rainha Luzia
Q u e me fizesse ouvir de novo
aquelas vozes escondidas surradas de aí aí aí
e a queixa daquelas raízes sem nome condenadas a traba-
[lhar sempre
sempre
Atravessei o Trême-Trême
Passei perto da casa do Minhocão
Tive que dar minha sombra pro bicho do fundo comer
N a d a ajudou Cumpadre
D I A B O L U S
VACA CRISTINA
CANTO DO NOIVO
P E N T E C O S T E S
(Tempo- e Eternidade)
36 —
CARTA MARÍTIMA
VIVER MORRENDO
O E M I G R A N T E
(Parábola)
E S T U D O
(Parábola)
Felippe d Oliveira
Santa Maria, R.G. do Sal (1891-1932)
("Vida Extinta")
DESAFINAMENTOS
("Vida Extinta")
("Lanterna Verde")
PRESTIDIGITAÇAC
("Lanterna Verde")
Adalgisa Nery
Rio de Janeiro, 1905
E Ú E M TI
1937
1939
— 47
F R A G M E N T O
CÂNTICO DE MULHER
Quando eu te beijo
E' na tua boca que eu encontro o cheiro do meu filho
E olhando as tuas carnes
Eu penso no mistério da fecundação.
Quando passo minha mão em tua cabeça
E faço escorrer os teus cabelos como água entre os meus
[dedos
E' pensando no filho do meu filho
E no mistério da continuação.
Quando te aperto nos meus braços,
Que encho o meu peito dos teus hombros
Eu sinto a grandeza de dois corpos,
E no misterioso das almas
Eu me assombro.
Quando falas coisas de amor
E a tua voz se torna impetuosa, vibrante,
^(A^-c Ò Vduu^sS
49
A UM H O M E M
Em fôrma de pensamento
Te subir ao ouvido
Deixa escorrer a derradeira lagrima pelo teu rosto
Nascida do extremo alento do coração
E pensa então amado meu
Que ainda é um suave carinho da minha mão!
Rio, 1939
Carlos Drummond de Andrade
Itabíra (Minas Gerais), 1902
NO MEIO DO CAMINHO
I N F Â N C I A
A Abgar Renault
CABARÉ' MINEIRO
POEMA PATÉTICO
C A S T I D A D E
OS MORTOS DE SOBRECASACA
BOLERO DE RAVEL
CONVITE DE SALOMÃO
(Tempo e Eternidade)
A ESTRELA E O POETA
ALINE
O avô tinha sido um ancião convencional
que se enterrou de redingote e polainas;
e a avó — uma menina pálida que morreu ao pari-la;
o pai fez algumas baladas,
e contam que tinha uma luneta para olhar ao longe.
Daí, — a mão dobra a pagina do livro,
e a historia da tataraneta fecha com uma estocada no
[ ventre:
ha destinos travados, lenços quentes de lagrimas,
algum incesto, uma violação sobre um sofá antigo...
Quando a mão dobra a pagina, ha rastros de sangue no
[soalho.
Esta é a mais nova das cinco.
Veja que os seios são como a neve que nós nunca vimos
e ninguém nunca viu o pai que lhe fez um filho;
e o filho desta menina é este moço de luto.
Agora vire a pagina e veja o anjo que ele possuiu,
veja esta mantilha sobre este ombro puro,
vejaAestes olhos que parecem contemplar as nuvens
atravez da luneta avoenga. Veja que sem o fotografo querer
as cortinas dão a impressão de caras impressionantes
por detrás da gravura: um estudante de cavanhaque é ou-
[tro de capa.
E olhe bem o braço que ninguém sabe de onde
circumda o busto da moça e a quer levar para um logar
[esconso.
Fixe bem o olhar com o ouvido á escuta
para perceber a respiração grossa,
os gritos, os juramentos..
A saia negra parece um sino de luto,
e o decote é a náu que a levou para sempre.
E este fundo de água pode ser o mar muito bem,
mas pôde ser as lagrimas do fotografo.
(Inédito)
O DOCE VALE
Os grandes poemas ainda permanecem intactos,
e as grandes palavras musicais dormem nas línguas gagás.
Foram ouvidas apenas algumas lamentações
mas precisamos de blasfêmias que estremeçam o Senhor
ou de delírios da mais incruenta febre
— 61
(Inédito)
MIRA C E LI
(Inédito)
DIABO BRASILEIRO
Capitão-mor, capitão-mor,
quereis me dizer onde é que fica
a ilha de S. Brandão?
('Tempo e Eternidade")
NA CARREIRA DO VENTO
{"Tempo e Eternidade")
LÂMPADA MARINA
O N O M E DA M U S A
OUTONO
O ANIVERSÁRIO
(Inédito).
Onestaldo de Pennafort
Distrito Federal, 1902
A CANÇÃO DA FELICIDADE
SUA MA O
SILÊNCIO
Ao crepúsculo, misteriosamente...
INTERIOR
ARTE POÉTICA
O. de F.
VIGÍLIA
A L BA
("Forma e Exegese")
S ONETO D E I N T I M I D A D E
("Novos Poemas")
A MASCARA DA NOITE
Mario de Andrade
("Novos Poemas")
O SONETO DE K A T H E R I N E M A N S F I E L D
("Novos Poemas")
— 89
O FALSO MENDIGO
Minha mãe, manda comprar um kilo de papel almasso
[na venda
Quero fazer uma poesia
Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
E me trazer muito devagarinho.
Não corram, não falem, fechem todas as portas á chave
Quero fazer uma poesia.
Se me telefonarem, só recebo amanhã
Se for o Ministro, só recebo amanhã
Se for um trote, me chama depressa
Tenho um tédio enorme da vida.
Diz a Amélia para procurar á Patética no radio
Se houver algum grande desastre vem logo contar.
Se o aneurisma de dona Angela arrebentar, me avisa
Tenho um tédio enorme da vida.
Liga para vovó Nenem, pede a ela uma idéia bem inocente
Quero fazer uma grande poesia.
Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da
[tarde
Se eu dormir, pelo amor de Deus me acordem
Não quero perder nada da vida.
Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
Puzeram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
Tenho um tédio enorme da vida.
Minha mãe, estou com vontade de chorar.
Estou com taquicardia, me dá um remédio
Não, antes me deixa morrer, quero morrer, a vida
Já não me diz nada.
Tenho horror da vida.quero fazer a maior poesia do mundo
Quero morrer imediatamente.
Fala com o Presidente para fecharem todos os cinemas
Não agüento mais ser Censor.
Ah, pensa uma coisa, minha mãe, para distrair teu filho
Teu falso, teu miserável, teu sórdido filho
Que estala em força, sacrifício, violência, devotamento
Que podia britar pedra alegremente
Ser negociante cantando
Fazer advocacia com o sorriso exato:
Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
Sabe ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua
[puríssima caricia.
("Novos Poemas")
90 —
TRECHO
(Inédito)
Tasso da Silveira
Curitiba -1895
Preparatórios em Curitiba, capital do Paraná, e no
Rio (Pedro II). Bacharel em Direito pela Universidade do
Brasil. Lecionou Historia de Filosofia no Pedro II, Histo-
ria da Literatura Brasileira e Portuguesa no Colégio Sa-
cré-Coeur, Português e Literatura na Escola Wenceslau
Braz. E' catedratico de Literatura Luso Brasileira do Ins-
tituto Santa Ursula. Fundou e dirigiu, com outros, o "Diá-
rio da Manhã" (Curitiba) e as revistas Fanal, Atenéia, em
Curitiba, America Latina (aparecida em 1919, e na qual
repontam os primeiros traços da polêmica modernista),
Terra do Sol, Arvore Nova, e Festa, no Rio. Nesta ultima,
em artigos de doutrinação estética, depois reunidos no
volume: "Definição do Modernismo Brasileiro" bateu-se
por um modernismo equilibrado, expresso aliás pela sua
própria arte. Tem exercido constantemente a critica lite-
rária nacional e estrangeira, e participado do ainda tênue
movimento de pensamento fiiosófico no Brasil.
OBRAS PUBLICADAS
Poesia:
Pio d'agua — 1918 — Rio.
A alma heróica dos homens — 1924.
Canto do Cristo do Corcovado — 1931 e 1933.
Alegorias do homem novo — 1926.
Discurso ao povo infiel — 1933.
Descobrimento da vida — 1986.
Prosa:
Jackson de Figueiredo — 1918.
Kòmaln Kolland — 1919.
A Igreja silenciosa — 1922.
92 —
Alegria criadora — 1928.
Definição do modernismo brasileiro - • 1931.
Tendências do Pensamento ccmtemoprtaeo - 1936.
O Sagrado esforço do homem — 1986.
Os caminhos do Espirito — 1937.
Estado Corporativo — 1937.
30 Espirltos-fontes — 1937.
O Canto Absoluto — 1940.
GÊNESE
como um Deus!
HUMILDADE
O POTE D'ÁGUA
BALLADA DE
EMILY BRONTE
CANÇÃO
Na alcova fresca,
sobre o linho alvo,
teu corpo é Um monte de rosas desfolhadas.
O MOMENTO DIVINO
E então sonhaste
que o sangue te batia nas artérias
ainda sob o impulso primordial
do Instante da Criação...
E que o teu peito offegava
ainda sob o cansaço
das migrações dos povos ancestraes...
AS MULTIDÕES
As multidões, allucinadas,
tremem na angustia enorme... O poente é de ouro.
Braços que se contorcem... Mãos crispadas,
cavando a terra, allucinadas,
em busca desse occulto e intangível thesouro...
As multidões desesperadas,
na cidade phantástica, em tumulto,
rolam como ondas, de roldão...
Os palácios da Dôr erguem o estranho vulto!
E as ruas são caudaes humanas, agitadas,
aos ventos doidos do desejo e da ambição...
A RENUNCIA DE DANTE
A' porta humilde do convento franciscano
Dante, cansado e succumbido, vae bater...
Vinha de longe, sim: — do amargo desengano...
Vinha da estrada longa e poeirenta... Deixara
na ultima curva, além, o orgulho a esfallecer..
Que trazia da vida? O amor, frustro desejo,
o amor fôra-lhe como uma lâmpada clara
que o destino apagou. Da existência ao sol-pôr,
tinha aos lábios, ainda, esse primeiro beijo
que guardara, a sonhar, para uma boca em flor..
LIVROS PUBLICADOS
"A Galera" — 1917.
"Carrilhões" — idem.
-98-
"Arias de Muito Longe" — 1921.
' A Cidade de Ouro" — idem.
"A Iluminação da Vida" — 1927.
"As Sete Cores do Céo" — 1932.
"A Estrela Azul" — 1940.
LIBERTAÇÃO NOTURNA
Ao longe as crateras
se mudam agora
em papoulas fulgurantes.
VOZES HUMILDES
Vozes humildes...
leves
como o rumor da queda de uma lágrima ou um adeus.
Vozes humílimas —
que mal se ouvem na terra..
e sobem, voam, chegarão primeiro a Deus!
Leves, mais leves que um cicío
silenciando;
do que a aragem que cala;
do que a alma das águas
pelas fontes
rezando...
ah mais leves que os passos de uma ovelha a pascer;
que o pio doce de uma andorinha no ninho,
pio que os astros vêm ouvir sem entender..
mais leves que uma folha em murmurinho
ou do que o orvalho gotejando o seu cristal;
mais leve do que um som de sino, longe,
na pelúcia de um vale vesperal.
Os suspiros da criança no começo do sono;
os sussurros da queixa no completo abandono;
os ais dos que, já fora do destino e de tudo,
adormecem a memória afinal
num extertor.
A macumba zabumba.
^Noite velha, no matto, as estrellas acordam...
— 100
Um coro plangente
entoa em um só tom:
— "Ya-mã-já!
A nossa Mãe 'tá no fundo do m á . . .
Eh-nhor! Eh-nhá!
Eh-nhá! Eh-nhòr!"
E erepita na ehamma
a alma chã do meu povo —
o verdòr de sua ânsia,
toda a sua expressão de innocencia que canta
todo o seu coração ainda bárbaro e novo
na alegria florida e selvagem da infancja!
-101
A SUAVE ESPERANÇA
Uma noite virás dum céo distante
como uma noiva real em regias frotas.
No mar, illuminado, flammejante,
oscillarão, ornadas, galeotas...
A VIDA BRILHA
A vida brilha.
A vida maravilha
com a ardencia de um incêndio num paiol
A vida brilha.
P UREZA
Céu divino
tão bom —
que entra em minha conciencia
e jne torna — meu Deus — outra vez pequenino.
Meu espirito salta as silhuetas das arvores,
transpõe rindo montanhas,
rola, acrobata, os globos coloridos das n u v e n s . . .
vae num Ímpeto colhê-las
doido de liberdade e alegria e perfumes...
DEANTE DA VIDA
T E O R I A
CRISTAL MARINHO
"Toda a America"
li R 0 A D W A Y
(A MARIO DE ÁXDRADE)
Chato, pardo-cinzento. o chão
flutua, lento, mole,
o chão escorre vagaroso,
contrae-se em blocos súbitos,
estica-se em flechas longas, trepidantes,
dispara, de repente, em risos elásticos,
gira,
rodopia,
turbilhona e ferve num vapor sutil de linhas e movi-
[mentos.
— 112
Mercado de Trinidad
na tem'dez molhada da manhã!
Por trás dos mastros e cordames pardos
na cinta elástica das bananeiras e dos limoeiros,
espiam cottages e bungalows.
E, sobre as livres solidões selvagens,
entre araras, tucanos, goiabeiras e coqueirais,
passeia gravemente, de capacete branco,
;a ruiva sentinela do Forte colonial...
"Toda a America"
A D V E R T E N CI A
Europeu!
Nos taboleiros de xadrez da tua aldeia,
na tua casa de madeira, pequenina, coberta de hera,
ma tua casa de pinhões e beirais, vigiada por filas de
[cercas paralelas, com trepadeiras
moles balançando e florindo;
na tua sala de jai^ar. junto do fogão de azulejos, chei-
r a n d o a resma de pinheiro e faio
na tua sala de jantar, em que os teus avós leram a Bi-
[blia e discutiram casamentos co-
lheitas e enterros,
•entre as tuas arcas bojudas e pretas, com lãs felpudas e
[linhos encardidos, colares, gravu-
ras, papeis graves e moedas rouba-
das ao inutfl maravilhoso;
•deante do teu riacho, mais antigo que as Cruzadas,
[desse teu riacho serviçal, que en-
gorda trutas e carpas;
Europeu!
Europeu!
TALVEZ
D E L Í R I O
(Inédito)
SILÊNCIO NOTURNO
(Inédito)
VENTOS DA TARDE
E aos meus lábios sobe esta reza que vem dos longes da
[minha infância
E canto um embalo que uie alivia, canção serena de
navegantes.
EVASÃO
Ele dizia:
Fugir! Largar a vela da saudade!
Jogar sobre as pupilas cansadas das insônias
a paisagem das ilhas e dos m a r e s . .
corrigir emquanto é tempo e o sangue corre célere nas
"veias
Ele dizia:
eu não quero essa felicidade corriqueira dos bons
[hábitos.
Eu não quero morrer na minha cama!
Alma nômade
formada na solidão e no mistério
me repugna o comadrismo satisfeito
Eu quero o ar o mar as ilhas
a violência das dedicações malucas e o estouro das aven-
t u r a s ofegaates.
Ele dizia:
-123.—
Fugir! Abrir as portas pesadas dias preconceitos
e respirar. .
E rir meu riso de criança ingênua e sentimental.
Oh resto de honestidade herdada
tara qüe me legaram antepassados portugueses
és tu que ainda me amarras á madrasta vida
me dás paciência
e me sugeres a satisfação maltrapilha do trabalho!
Fugir 1 Destruir em mim esse estigma do'passado.
Afogar nas ondas melodiosas a melancolia dos dias re-
[petidos!
Olho a janela
Ela se abre para a evasão.
Não a quero fechar sobre a existência
covardemente
por ser mais cômodo sentar-se á mesa patriarcal.
As arvores hão de mostrar-me a estrada
ti os rios matar-me a sede
e.o mar embalar-me as maguas
e serei livre e louco como o vento.
SEQUESTROS
Oh valsa latejante.
Dor recalcada
inveja mesquinha
perversidades impotentes
todo o fracassso e a sub angustia
O espesinhamento usa bãton
Oh valsa latejante...
—124 -
ARS AMANDI
FRUTO PERMITIDO
ESTRELA VESPERTINA
EU SOU FAMÍLIA
Você está enganado
TEU RETRATO
Agora
si descanço os meus olhos em seu rosto
logo cresce e toma vulto essa saudade
que eu já tenho de você.
-127-
13' como si nos tivéssemos separado
e você vivesse longe
tão longe que nem siquer o seu sorriso
chegasse até perto de mim..
E nem é mesmo o seu retrato
o que contemplo no seu rosto
mas tão somente o retrato de alguém
que se parece com você.
OH BEM DA GENTE
Oh bem da gente
arisço bem da gente !
Eu tive a estrela vespertina
ao alcance da boca apressada
eu tive a estrela desmaiada
mais de uma vez...
Mas quem segura a estrela vespertina?
Fica a pele a carne o perfume
apertando dentro da gente..
Mas a estrela já brilha longe
para outros olhos dementes..
(inédito)
AUSÊNCIA
Terei ainda esse grito de vitória
Tão duramente conquistado
ou essa ausência me fará tão tênue
na intimidade de teu corpo
que já não sobre de mim quando voltar
mais que a importuna recordação?
(inédito)
EMÍLIO MOURA
Dores do Indaiá (Minas Gerais) 1902
C. D. A.
MISTICISMO
O céu lindo da vila pobre!
E a igreja pequenina, que se espicha toda na torre,
com vontade de vêr o céu.
E o céu tão alto, e o céu tão alto!
("Ingenuidade")
IRMAZINHA
Meus amigos, vocês não sabem
que eu penso tanto em vocês.
Passei a noite inteirinha
pensando: Se eu fosse Deus,
eu dava um Anjo da Guarda
fino, esperto, carinhoso
a cada um de meus amigos.
(Mas, o mais puro de todos
eu te mandava... mandava
para teu lado, Irmãzinha...)
("Ingenuidade")
14T
O POETA E A MUSA
E' preciso que eu sinta, uma vez ainda, que nada disso me
[pertence.
(Esta paz em que me envolvi, de repente, só por engano é
[que poderia ter-se instalado dentro de minha alma.)
E' preciso, que, diante de todas as cousas, eu me sinta, ain-
[da agora, tal como me sentia antes de teu aparecimento.
(Este olhar que poisou de repente sobre o meu olhar, este
[sentimento que mudou o sentido de meu olhar, e
[que é um sentimento vivo de plenitude,
nada disso deve ser meu).
E' preciso, pois, que' eu siga.
•(As estradas desertas já estão chamando pela minha pre-
[sença.
Já vejo as ladeiras que ainda terei de galgar e que, de
[uma em uma, penosamente, se acendem no
[fundo dos horizontes).
E' preciso que eu me convença de que tu não existes.
•(Esta integração de meu ser, desintegrado desde sua ori-
[gem, por certo que se destruirá mal eu acredite
no advento de minha libertação).
Mas, tú existes, eu sei. Vieste para mim como a luz ou a
[vida.
Os poetas já sabem que tú existes: os eternos enfermos já
[sabem que tú existes.
MATINAL
Sobre as ondas mansas brincam os barcos
í yiante de meus olhos matinais,
as cousas se ordenam simples e perfeitas:
o céu, o mar, teu corpo.
Ah! o teu corpo!
Meus olhos brincam sobre o teu corpo.
Nenhuma nuvem na mübha alma.
("Canto da hora amarga")
POEMA PATÉTICO
Como a voz de um pequeno braço de mar perdido dentro
[dentro de uma caverna,
como um abafado soluço que irrompesse de súbito de um
[quarto fechado,
ouço-te, agora, a voz, ó meu desejo, e instintivamente
[recuo até às origens de minha angústia,
DA HUMILDE ALEGRIA
Senhor, eles me disseram que a vida era um ritmo selvagem,
como de borés bárbaros:
— lábios retesos para a agonia ríspida,
— músculos retesos para a luta áspera.
E, falando das cousas,
eles distilavam um veneno pérfido,
que anoitecia o mundo íntimo; das creautras
e punha uma voz trêmula
nos lábios murcho sdos homens graves.
Senhor, eles caluniaram todas as cousas:
A vida e a morte.
No entanto,
foi por amor deles que a alma do primeiro poeta se abriu
[em música:
foi por amor deles
que S. Francisco de Assis viveu as formas mais puras do
[nosso espirito.
Senhor, eles caluniaram todas as cousas:
— as creaturas, as pedras, e os bichos inofensivos.
E dos lábios deles não voaram nunca as palavras luminosas
[que têm asas.
("Ingenuidade")
ABGAR RENAULT
Barbacena, 1901
Abgar Renault figura nesta antologia de poesia mo-
derna como poderia figurar em uma antologia dos últimos
parnasianos. Nâo esquecer que começou modelando "so-
netos antiguos" num tempo em que Bilac se despedia com
a "Tarde" e a poesia chamada modernista era apenas um
poema de Manuel Bandeira no " M a l h o " : "Quando perde-
res o gosto humilde da tristeza..." A guerra acabara provi-
soriamente no mundo, mas outra guerra, esta literária, ia
começar no Brasil.
Os sonetos camoneanos de Abgar, entretanto, não i n -
dicavam no poeta uma disposição especial para defender
os cânones da linguagem e do verso clássico. Eram mais
uma experiência pessoal do autor, que se rtutria de sólidas
humanidades e sentia prazer em exercitar-se no idioma dos
anos 500. A presença bilaqueana, por sua vez, estava bem
próxima, e intervinha em certos fechos de sonetos que
Abgar adolescente compunha mais para satisfação sua e
de amigos do que por ambição literária. Esto, de resto, pa-
rece ausente da obra desse poeta, que chega à madureza
sem haver publicado um livro — um só — , exceção feita
das traduções de poemas ingleses das guerras de 1914 e
1939, recentemente editados (à traição) por um grupo de
conspiradores amigos.
Mas vem o modernismo, e Abgar Renault é situado
nele sem perder sua característica fundamental, o cul-
to às formas decorosas de expressão. Nessa imensa falta
de respeito que foi o modernismo Abgar conservou o res-
peito próprio e o respeito aos outros. Quebrou os moldes
acadêmicos, mas só raramente se permitia liberdades de
linguagem "brasileira" Ha uns versos em que se lastima:
" A h ! se eu pudesse me embebedar — e cambalear cam-
balear. . " Mas não se embriaga nem cambaleia. E' de
seu habitual, sereno, sóbrio, policiado. Qualidades que não
invalidam, antes projetam sob uma luz fria o seu incurável
pessimismo. Essa constante pessimista já aparecia naquele
soneto antigo em que o poeta manifesta o receio de que
c morte, a f i n a l , seja apenas, e "por nosso maior dano",
"outra forma de ser da mesma vida". Em outro soneto, o
"fantasma sombrio" isto é, Deus, está colocado "mais alto
que a nossa humana desesperação" e "alheio ao nosso h u -
mano sobressalto" Com o tempo, o pessimismo se torna
— 146 —
C. D. A .
B I B L I O G R A F I A
A D TE C L A M A M U 5
F E L I C I D A D E
S A U D A D E
SELVA OSCURA
A h ! si eu pudesse me embebedar
e cambalear . cambalear
cahir, e accordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe.
Todo mundo vae rir destes meus versos,
mas eu juro por Deus, si fôr preciso,
que eu estou hoje inhabitavel.
NOTURNAMENTE
P A S T O R A L
N O I T E
TRANSPORTE DE GUERRA
N ã o . Não é a morte
— s e m um Paraíso —
de quem foi roubado
da vida e seu riso;
é este sorriso
vão como a ilusão,
tão d é b i l . tão vão !
na boca morta de um menino.
PANORAMAS ALÉM.
POEMA DO PERDÃO
Eleva
O' minha alma,
O teu perdão
A esses remotos léus,
Que te viram sofrer,
— 156 —
Transe a transe,
A tua dôr,
Sem que uma estrela tombasse,
Para te vir socorrer...
Baixa,
O' minha alma,
O teu perdão
Até a alma sombria
Da terra,
Que te viu chorar,
Lagrima por lagrima,
A tua amargura,
Sem te fechar nos braços.
Sem te apertar ao peito,
Sem te guardar dentro dela...
Extende,
0 ' 0 ' minha alma,
O teu perdão
Como um tapete de rosas brancas,
— Extende-o sobre a vida,
E dorme,
E aquieta-te no teu sono
Como num perfume...
Eleva,
O' minha alma,
O teu perdão
A esses remotos céus ..
(1923).
(Poemas dos Poemas).
(Criança do meu amor...)
C A N T I L E N A
Bonequinha, bonequinha,
Dorme, dorme socegada,
Dorme, dorme, filha minha !
Bonequinha muito amada,
Oxalá que embalem crianças
Como tu és embalada !.
De palavras mansas, mansas,
Faço a minha cantilena,
Com pedaços de lembranças
Dos meus tempos de pequena...
Era assim, á mesma toada,
Que eu dormia, bem serena...
- 157 -
Bonequinha muito amada,
Ninguém no mundo adivinha
Como tu és embalada !
Dorme, dorme, filha minha,
Dorme, dorme, socegada,
Éonequinha, dorme, socegada,
Bonequinha, bonequinha,
Bonequinha muito amada !...
(Criança do meu amor...).
1924 — 2 a edição.
S U A V Í S S I M A
(1925).
(Baladas para El-Rei).
PARA M I M MESMA
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nêm estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
(Vaga Música).
1942.
N E V A A M O R
Estrela fria
da tua mão.
Tênue cristal,
exígua flor.
A i ! Neva amor.
Lua deserta
do teu olhar.
Puro, glacial
fogo sem côr.
A i ! Neva amor.
Imenso inverno
de coração.
Gelo sem f i m
a deslisar.
Pus-me a cantar
na solidão :
A i ! Neva amor.
(Inédito).
BRASILIANA DIGITAL
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