Eros e Psiquê - Quando A Alma É Tocada Pelo Amor
Eros e Psiquê - Quando A Alma É Tocada Pelo Amor
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EROS E PSIQUÊ:
QUANDO A ALMA É TOCADA PELO AMOR
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EROS E PSIQUÊ:
QUANDO A ALMA É TOCADA PELO AMOR
Monografia apresentada ao
UniCEUB – Centro Universitário de
Brasília como requisito básico para
obtenção do título de psicólogo da
Faculdade deorientação
e Saúde, sob Ciências dadaEducação
professora MSc. Cláudia Mendes
Feres.
Brasília,
Dezembro / 2008.
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Profª. MSc. Cláudia Mendes Feres
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Profª. MSc. Tania Inessa Martins de Resende
__________________________________________________________
Profª. Drª. Marcella Marjory Massolini Laureano
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Dedico este trabalho a todos aqueles
que, em algum sentido, contemplam a
sublime união do Amor com a Alma.
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AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Maria Silva e Ademir, pela constante dedicação e carinho para com minha
educação, não somente formal, mas como ser humano. Ao meu irmão Ângelo e aos meus
amigos Thaís, Priscila, Wilton e Cristina com os quais divido minhas aspirações e que de
alguma forma me auxiliaram em mais esta jornada. Aos amigos, grupo forte e coeso que o
especialmente, Joelma por sua companhia e apoio em diversos momentos do curso como
também nesta monografia. À professora Cláudia Feres por sua influência inspiradora e
dedicação na orientação deste trabalho e também ao longo do curso. Aos professores Moacir
Rodrigues, Sandra Baccara, Tania Inessa, Valéria Mori e Ana Maria Beier cujo encontro
nessa caminhada foi entusiasmante.
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Eros e Psiqué (Canova, 1796). Foto de Joelma Pereira (2008).
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SUMÁRIO
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RESUMO
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O amor é um tema que sempre instigou a alma dos grandes pensadores, filósofos,
Típico de como é representado da mitologia grega. Personificado em Eros, o amor ora é visto
como um ser pueril, filho de Afrodite, irrefreável, terror até mesmo dos deuses olímpicos. E,
perpetuação do mito e de seu estudo hoje denominado mitologia, que quase se perdeu no
tempo e desprezado do interesse humano quando em tais momentos históricos houvera uma
Tal característica torna importante também o nosso trabalho que busca se debruçar
relação do passado com o presente da vivência humana baseado nas construções psicológicas
de Sigmund Freud (1856 – 1939) e Carl Gustav Jung (1875 – 1961). A princípio, mestre e
discípulo, depois grandes amigos, rompem tal relação por divergirem teoricamente quanto à
Temos como objetivo nas páginas que se seguem tentar articular as semelhanças e
típica daqueles que como estudiosos se denominam adeptos à psicologia profunda, termo este
cunhado por Bleuler nos primórdios da psicanálise e seu estudo do inconsciente antes das
O tema referencial é o mito de Eros e Psiqué, falamos aqui sobre o amor e como este é
essencial para o desenvolvimento do humano e seu saber, sua cultura. Assim, no capítulo um,
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partimos para o relato do mito de Eros e Psiqué baseado no texto do poeta Lúcio de Apuléio,
pensamento psicanalítico construído por Freud e também, de forma sucinta, desenvolvido por
infantis, das formas de amor humano que perpassam pela clínica psicanalítica até as fundantes
de nossa cultura.
psicologia analítica seguindo o caminho inverso ao citado no parágrafo anterior (do cultural,
para a relação clínica, e por fim, o desenvolvimento) cujos personagens atuam de forma
arquetípica e se atualizam dentro de cada ser, o que é primordial para a formação da cultura e
da influência desta sobre o humano. E apresentamos também neste capítulo, uma pequena
Georges Bizet
1 O amor é um pássaro rebelde/ Que não se pode aprisionar,/ É em vão que o chame,/ Se lhe convém recusar!/ O
amor é criança da boemia,/ Ela nunca, nunca conheceu lei [...] – Ária: Habanera da ópera Carmen. Ato I. (Bizet,
1875).
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Capítulo 1
EROS E PSIQUÉ
Um mito foi, a princípio, uma tradição oral que, de forma mais ampla, funciona como
um ensinamento passado de pai para filho, por meio das experiências que tiveram ao longo da
imaginária. Porém, a forma como os mitos chegaram até nós (apenas escritos) fez com que
muito de sua função se perdesse no tempo. “Um mito escrito está para um mito ‘em função’,
como uma fotografia para uma pessoa viva” (Brandão, 2007, p. 25).
linguagem, uma segunda língua que se fala da primeira (metalinguagem), como oposta à
razão (logos) é a fantasia (mytos), mas tal fantasia nos conta de uma história fictícia e traz
nela verdades humanas e fenômenos naturais quando o homem não tinha muitos recursos para
partir de uma história verdadeira num tempo primordial que teve uma intervenção
sobrenatural, e que por sua vez, engendrou uma nova realidade (total ou parcial). Esta
característica por muito tempo o colocou numa posição entre a fé e a razão como
formas de ação do homem no mundo, muitas vezes metaforizados, aparecem nessas histórias
personificados como deuses e heróis como é o caso do mito grego cuja representação do amor
O mito de Eros e Psiqué é uma história que chegou aos nossos tempos por meio do
relato de Lúcio Apuléio em sua obra Metamorfoses ou O Asno de Ouro. Psiqué é descrita
como possuidora “de beleza tão rara, tão brilhante, tinha tal perfeição que, para celebrá-la
com elogio conveniente, era pobre demais a língua humana.” (Apuléio, n.d., p. 71). Tal beleza
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fez com que Psiqué fosse atribuída como uma nova Afrodite, nascida da Terra, germinada
pelo orvalho. Pessoas de todas as partes do mundo vinham admirá-la e adorá-la. Duas grandes
conseqüências lhe sobrevieram: a primeira, ao contrário de suas duas irmãs mais velhas, que
também eram belas, Psiqué não conseguia se casar, pois todos os homens a olhavam como
uma divindade e não como possível esposa. A outra, é que sem ter consciência, atraiu para si
a ira de Afrodite. A esta os homens deixaram de lhe prestar cultos e seus templos foram
abandonados.
Imensamente ofendida por ter seu nome profanado por uma mortal, a deusa da beleza,
escolhida por Páris por seus atrativos sem par e aprovada com grande justiça por Zeus entre as
deusas mais eminentes. A “antiga mãe da Natureza, origem primeira dos elementos, nutriz do
Universo” (Apuléio, n.d., p. 72), quis usar a beleza de Psiqué para castigá-la. Assim, como
agravando com sua má conduta a moral pública, armado de tochas e flechas, corre
daqui e dali durante a noite, pela casa dos outros, incendeia todos os lares, comete
impunemente os piores escândalos, nunca faz coisa boa. Se bem que ele já fosse
Este era seu filho Eros, o terror dos homens e dos deuses, que com suas armas
deixavam todos a sua mercê, a serviço do Amor. Após beijá-lo longamente com os lábios
entreabertos, Afrodite deu a missão de Eros: encontrar Psiqué e fazê-la apaixonar-se pelo
Enquanto isso, preocupado do porque Psiqué não conseguia se casar, e desta forma,
temeroso com a possibilidade de ter sido amaldiçoada pelos deuses, seu pai resolveu procurar
o famoso oráculo apolíneo em Mileto. Este o informou que sua filha deveria ser entregue
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junto ao precipício de rochedos para um casamento de morte, para uma fera não mortal, que
Acalentando a tristeza de seus pais, Psiqué assumiu seu cruel destino. Houve uma
comoção geral, e uma grande comitiva a acompanhou. Entregue à sua sorte, sozinha naquele
inóspito lugar, foi o momento em que Zéfiro, o Vento, a levou para um jardim. Exausta,
Atendida por Vozes que passaram a servi-la, informaram a Psiqué que aquilo tudo a
partir deste momento lhe pertencia. Psiqué desfrutou de um banho e pôde dormir. À noite, nas
trevas, recebeu a visita daquele que ordenou a Zéfiro que a trouxesse a tal paraíso. A
princípio, ficou temerosa por sua virgindade, mas entregou-se aos braços do seu misterioso
Noutra noite, ao receber nova visita de seu invisível esposo, este lhe falou da
possibilidade de suas irmãs, que ainda não sabiam de nada e que não tinham acompanhado o
tenebroso cortejo, viessem até o rochedo para chorar sua morte. Pediu para que não lhes desse
ouvido. Ela concordou, mas desde o amanhecer, sentindo-se sozinha, aprisionada pela falta de
contato humano e sabendo que sua família sofria por sua morte, passou o dia a chorar, sem
comer e, à tarde, acompanhada apenas pelas serviçais Vozes, retirou-se para dormir.
Seu esposo ao chegar e vê-la marcada pelas lágrimas, admoestou-a novamente, falou
do risco que ela correria em ver suas irmãs. Contudo, com belas palavras Psiqué, dirigiu-se ao
seu misterioso amante e suplicou para que pudesse ver suas irmãs e lhes contasse de sua boa
sussurradas em voz baixa. Cedendo, apesar de lamentar, prometeu tudo quanto ela quis.”
(Apuléio, n.d., p. 79). Permitiu também que Psiqué entregasse a elas todo o ouro e colares que
desejassem. E advertiu que ela não ousasse ver seu rosto mesmo que suas irmãs assim lhe
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aconselhassem, pois certamente o perderia para sempre. Surgiu o dia e seu invisível esposo se
Quando suas irmãs foram aos rochedos prestar homenagens a jovem Psiqué, Zéfiro
sob ordens de seu senhor arrebatou-as até o jardim onde Psiqué aguardava por elas. Esta as
contou de sua felicidade, que estava casada, morando naquele belo palácio e tinha tudo quanto
desejasse. Invejadas da vida de sua irmã caçula, quiseram elas saber quem era tal esposo. E
Psiqué em breves palavras falou que se tratava de um jovem que passava o dia a caçar. Para
não aprofundar o assunto, Psiqué após repartir algumas de suas riquezas com as irmãs
Em casa, as irmãs ardendo-se de inveja, julgavam que Psiqué, cheia de orgulho, quis
fazer pouco delas ao ostentar tamanha riqueza, indignadas com a sua felicidade e ao comparar
os casamentos que tiveram em relação ao de Psiqué. As bruxas resolveram não falar para os
pais sobre o ocorrido para que a história de seu regozijo não se espalhasse, voltaram a chorar
Ao mesmo tempo em que era informada por seu esposo que em seu ventre carregava
um filho, Psiqué novamente recebeu outra advertência sobre a desgraça que lhe viria, e agora
também à criança. Eros falou novamente do risco que sua ingênua esposa sofria em receber
suas invejosas irmãs, pois fariam Psiqué conhecer-lhe o rosto, mas caso não atentasse para a
sua advertência, ele a abandonaria para sempre. Mas mais uma vez, com doces palavras,
Psiqué solicitou que seu amado permitisse vê-las novamente, pois já não tinha a felicidade de
conhecer o marido e a presença de suas irmãs lhe trazia alegria, e pelo fato de recebê-las
disse-lhe: “De teu rosto, de hoje em diante, não quero mais saber. As próprias trevas da noite
não têm mais sombra para mim: eu tenho a ti, que és a minha luz.” (Apuléio, n.d. p. 82). E
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Mal saíram de casa, as duas irmãs foram para o rochedo e confiantes se lançaram no
precipício onde Zéfiro, contra a vontade, mas sob ordem de seu senhor as sustentou até o
jardim. Ao encontrarem Psiqué, esta lhes as contou da felicidade de ser mãe. E ao ser
questionada novamente pelas irmãs sobre o marido, Psiqué não se lembrando da descrição
anterior, o descreveu como um homem da província vizinha, de meia idade e que tinha
entregou-as ao Vento.
suspeitaram que quem a desposou fosse um deus e ficaram horrorizadas com a possibilidade
que o filho que Psiqué carregava fosse divino. Desta forma, já pensavam em voltar na
suntuosa casa de Psiqué com o plano em vista. Mal passaram a noite na casa dos pais, em que
estiveram insones, voltaram para os rochedos e novamente com o auxílio do Vento foram até
a irmã.
Fingindo temer por sua vida, e em lágrimas, falaram a Psiqué que ela corria perigo,
que uma serpente era vista durante a noite rastejando e nadando nos rios daquela região.
Desconfiada, Psiqué confessou às irmãs que não conhecia o rosto do marido. Deduziram que
tal esposo seria uma vil serpente, como a besta descrita pelo oráculo do deus de Delfos, e que
certamente tal monstro esperava que o seu filho ficasse maior para devorar a ambos.
Assim, depois de terem ido as suas irmãs de volta para casa, que lhe prometeram
proteção após tomasse a providência de matar o marido. À luz de um candeeiro e com uma
navalha na mão, Psiqué, acompanhada pelas Fúrias, esquecendo-se de todas as promessas que
Psiqué, débil, por natureza, de corpo e de alma, o fado cruel fortaleceu. Ela foi
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audácia. Mas assim que a oblação da luz revelou, no seu clarão, os segredos do
leito, ela viu a mais feroz de todas as feras selvagens, o dulcíssimo, o adorável
n.d., p. 85)
Ficou tão surpresa frente tal imagem que, se não tivesse escorregado de suas mãos,
usaria a navalha para tirar a própria vida. Recuperando o ânimo, quis esquadrinhar com a luz
toda a beleza de teu esposo, o rosto jovial, os cabelos dourados e cacheados repletos de
ambrosia, as plumas brancas de suas asas repousadas sobre as costas e todo seu corpo liso e
brilhante.
tirou uma flecha do carcaz, provou a ponta no polegar, com um dedinho trêmulo,
apoiou-a um pouco mais forte, picou-se apenas o bastante para que algumas
gotinhas de sangue rosado perolassem a superfície da pele. Foi assim, que, sem
saber, Psiqué se tomou ela própria de amor pelo Amor. (Apuléio, n.d., p. 86)
Tomada de desejo pelo marido, Psiqué debruçou-se sobre ele o beijou intensamente,
mesmo com medo de acordá-lo, mas sem perceber, uma gota de óleo fervente do candeeiro
pingou sobre as costas de seu amado, que ferido pela dor, acordou e subitamente alçou voou.
Desesperada para não perdê-lo Psiqué agarrou-se em sua perna direita, mas não agüentando
caiu ao solo.
Eros antes de sumir no céu e punir Psiqué com sua ausência voltou e do alto de um
cipreste falou a ela dos planos de sua mãe Afrodite. Explicou que antes de cumpri-los foi
ferido com suas próprias flechas, e assim, a tomou como esposa. Depois de tantos feitos,
questionou como Psiqué poderia ter acreditado que ele era uma besta e quereria matá-lo.
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Como pôde ignorar suas palavras e escutar os conselhos pérfidos de suas irmãs. Estas
Desesperada, em prantos se jogou no rio, mas este temeroso ao deus do Amor num
redemoinho a lançou para fora. Veio então a sua presença Pã que lhe deu conselhos em buscar
se reconciliar com o marido. Saindo dali com o objetivo de encontrar seu esposo, viu que
estava próxima às terras do marido de uma de suas irmãs e foi ter como ela. Explicou a ela o
que lhe sucedera após ter visto o rosto de Eros e queimado sua pele com o óleo, disse também
que ele pediu o divórcio e despedindo-se dela falou que desposaria sua irmã, esta com quem
ela falava.
Sua irmã avidamente deu uma desculpa a seu marido, falou a ele que seus pais haviam
morrido, pegou um navio e foi para o rochedo, clamando por Eros saltou na primeira brisa e
precipitou-se nas pedras. Contando Psiqué a mesma história para sua outra irmã, esta fez o
mesmo que a primeira.
Eros havia voltado para a casa de Afrodite, mas ela estava no reino de Posídon. Uma
gaivota sabendo de toda história procurou Afrodite no reino das águas e lhe contou tudo o que
havia sucedido e que o seu filho sofria moribundo em casa por ter escolhido por esposa a
jovem e bela Psiqué. Ressaltou Brandão (2008, p. 214) que “A mãe, que não quer nora, mas o
filho apenas para si, mãe que beija ‘com os lábios entreabertos’, deixou o palácio ardendo em
fúria e em ciúmes.”
O velhaquete me tomou por uma alcoviteira, e imaginou que eu lhe mostrei essa
Voltando ao seu palácio de ouro procurou por Eros e o encheu de insultos. Deixando o
menino, encontrou-se com Deméter e Hera, solicitou a ajuda das grandes deusas para
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encontrar Psiqué, mas estas com receio das flechas inflamadas de Eros procuraram suavizar a
Contrita, orou e pediu ajuda, na sua presença veio Deméter, repetindo as preces por socorro,
implorou para que a deusa a abrigasse ali por alguns dias, para evitar a ira da mãe de seu
amado, mas Deméter, contudo, não querendo suscitar mais ira em Afrodite, não atendeu o
pedido da moça, mas também por pena, não a entregou à fúria da deusa da beleza. A jovem
moça saindo dali e continuando sua caminhada se deparou com outro templo, percebendo que
o mesmo pertencia a Hera lhe prestou adoração pedindo refúgio. A própria deusa apareceu e
também por consideração a Afrodite não lhe concedeu auxílio. Mas a aconselhou que
procurasse logo por Afrodite e, desta forma, buscasse resolver logo tal litígio.
Afrodite havia ido até Zeus pedir o auxílio do mensageiro Hermes para que desse
cumprir as suas ordens, porém, Psiqué já estava resoluta a se entregar à ira de Afrodite e se
aproximava de seu palácio quando a serva da deusa, Hábito, a encontrou e arrastando-a pelos
cabelos a levou até sua senhora. Vendo tal cena Afrodite em meio a gargalhadas, entregou
Psiqué às suas também servas a Tristeza e a Inquietação. Depois considerou seu casamento
ilegítimo por julgo desigual e o filho que carregava no ventre como bastardo, rasgou suas
Deu então Afrodite a Psiqué uma tarefa que deveria realizar até o final da tarde. Um
monte de grãos contendo trigo, papoula, cevada, milho, ervilha, lentilha e fava, todos
misturados, ela deveria separá-los conforme sua espécie. Então, a deusa se retirou para uma
festa de casamento. Psiqué ficou silente e estupefata frente à impossibilidade da tarefa, foi que
surgiu uma formiga que teve compaixão da jovem e convocou seu exército para ajudar, assim,
Psiqué cumpriu a primeira tarefa. Quando Afrodite chegou, furiosa, pensou que sua decadente
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nora teria sido auxiliada por seu filho Eros. Mas este estava encarcerado recuperando-se de
seu machucado.
Antes de o dia amanhecer, Afrodite procurou novamente Psiqué e lhe deu a segunda
tarefa, deveria ir até o bosque banhado pelo rio e das ovelhas selvagens que possuíam lã de
ouro, trazer-lhe um floco. Ao chegar às margens do rio e como forma de se livrar de seus dias
ruins pensou em se jogar, mas um caniço que ficava ali sussurrou a ela que não fizesse isso.
Explicou que o rebanho atacava os seres humanos com mordidas envenenadas para matá-los
devido à irritação que o calor do sol provocava, e aquecia demasiadamente sua lã dourada.
Mas eis o truque: se Psiqué esperasse o sol baixar, as ovelhas iam se refrescar na beira do rio
e ficavam mais calmas, ao entrar no bosque a esta hora ela poderia colher nos ramos e folhas,
Afrodite não acreditou que Psiqué tivesse conseguido novamente e não contente lhe
deu uma nova tarefa. Entre outras ameaças entregou uma ânfora de cristal a Psiqué, e pediu
para que ela colhesse no cume dos rochedos escarpados as águas escuras que compõe o rio
Estige e que se encaminha para o Cocito. Ao começar a caminhada, viu Psiqué que era
impossível alcançar tal fonte, o rochedo era íngreme e liso, a fonte era guardada por dragões e
as águas bramavam para que ela se afastasse se não morreria. “Mas as penas da alma inocente
não escaparam aos olhos graves da boa Providência.” (Apuléio, n.d., p. 97).
A águia de Zeus que certa vez sob as ordens de Eros trouxe até seu soberano o jovem
Ganimedes, resolveu ajudar a esposa do deus alado. Pegou das mãos de Psiqué a ânfora de
cristal e voou até as águas escuras, anunciou que estava a serviço de Afrodite e conseguiu
realizar suas provas. E como não bastava, na intenção de recuperar a beleza que perdera ao
cuidar do filho enfermo, a deusa lhe passou mais uma tarefa. Entregou-lhe uma pequena caixa
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para que fosse ao inferno pedir, em seu nome, que Perséfone depositasse nela o
correspondente a um dia de beleza, e advertiu Psiqué que não demorasse, pois teria que usar o
realmente a sua morte. Como forma de alcançá-lo rapidamente subiu numa alta Torre para se
jogar, mas esta a interrompeu e disse que não poderia voltar ao mundo dos vivos se fosse por
este caminho. Então, lhe ensinou acessar o Tártaro, por meio de um caminho que há na
Lacedemônia, uma cidade da Acácia, que não ficava muito distante dali e onde ela encontraria
a entrada do Inferno, no Tênaro. A Torre lhe deu várias instruções, como levar bolos de
cevada amassados com vinho e mel em cada uma das mãos e duas moedas na boca, assim
como, no caminho disse a ela que encontraria um coxo com seu burro e que ele lhe pediria
Ao passar pelo coxo, avistaria o barqueiro Caronte que lhe cobraria uma das moedas
para fazer a travessia para outra margem do rio da morte. Ele deveria pegar com a própria
mão a moeda na sua boca. No rio, um velho lhe estenderia a mão para que ela o puxasse para
o barco, mas da mesma forma, não deveria lhe prestar ajuda. E já na outra margem avistaria
três senhoras tecendo um pano e que também lhe pediriam auxílio, mas da mesma forma, não
deveria ajudá-las. Explicou a Torre que tudo isto seriam armadilhas de Afrodite para que
Psiqué soltasse um dos bolos que levava e, assim sem um deles, jamais poderia voltar para o
Às portas da casa de Perséfone havia Cérbero, o cão de três cabeças que ladrava como
trovão, a ele deveria lançar um dos bolos que levava, pois o deixaria quieto e ela poderia
passar para a casa da deusa do inferno. Ela a receberia e com bondade convidaria Psiqué para
um banquete, mas ela não deveria aceitar, sentaria no chão e pediria um pão grosseiro.
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Pegaria o que lhe foi encomendado e voltaria, entregando o outro bolo para Cérbero e a outra
Desta mesma maneira prosseguiu Psiqué em todas as instruções que a Torre lhe deu.
De volta ao mundo dos vivos e com a caixinha com um dia de beleza nas mãos teve grande
curiosidade e quis abri-la para tirar um pouco de beleza para ela e ao encontrar Eros pudesse
agradá-lo. Destacou Brandão (2008): “Como no mito de Pandora, as mazelas sempre estão
guardadas em jarras e caixinhas! E a da esposa de Eros não continha beleza imortal alguma,
Eros, que havia se recuperado de seu ferimento, com saudades de sua amada e
suspeitando do que estaria se sucedendo a ela, fugiu do palácio de sua mãe e foi procurar
Psiqué, quando a achou, a pegou em seus braços, recolheu o sono e o encerrou na pequena
caixa novamente. Com uma de suas flechas picou levemente Psiqué para que despertasse,
entregou a caixa a ela e pediu para que terminasse de cumprir a missão que sua mãe a
determinou, pois as demais coisas para alcançar a felicidade deles, ele faria. Cheio de amor
por Psiqué, Eros temendo sua mãe voltou às suas atividades, e voou até o Céu para encontrar-
se com Zeus e lhe contou sua história e a ele fez o pedido para que pudesse oficialmente
desposar Psiqué. O deus-dos-deuses consentiu desde que ele passasse a respeitá-lo (o que
nunca tinha feito antes) e que também em troca deste ato, caso Eros encontrasse pela Terra
Zeus então ordenou que Hermes anunciasse a todos os deuses, sob pena de multa, que
viessem ao anfiteatro do Céu. Assim, todos se fizeram presentes e do seu alto trono anunciou,
aqui está um adolescente que criei com as minhas mãos, como vós todos sabeis.
Achei que é preciso por um freio aos impetuosos ardores de sua primeira
juventude. Assim, ele tem dado o que falar, pelo escândalo cotidiano de seus
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uma moça e tirou-lhe a virgindade. Que a conserve, que a guarde para si, e unido a
Psiqué, possa fruir para sempre o seu amor. (Apuléio,, n.d., p. 100)
Depois consolou Afrodite, disse que não deixaria seu filho casar com uma desigual.
Solicitou a Hermes que buscasse Psiqué. A ela ofertou a taça de ambrosia tornando-a imortal
e com Eros a casou pronunciando a este casal que os laços que se fizeram a eles jamais se
desfariam. Houve uma grande festa, aos deuses sentados em sua ordem de importância, foi
servido o néctar por Ganimedes. Afrodite, ao som do canto e da cítara de Apolo, dançou. “Foi
assim que Psiqué passou, conforme os ritos, para as mãos de Eros. Chegado o momento,
O relato do mito de Eros e Psiqué como descrevemos nas últimas páginas, e como
todos os outros, estão longe de ser considerados uma história verossímil do ponto de vista
deve dar crédito, que não é digno de confiança, mas isso não é privilégio dos tempos
modernos, que com o advento do positivismo científico deu primazia à razão, se ocorre nos
dias atuais, é porque houve uma tentativa principalmente dos Pré-Socráticos em eliminar o
mito ou diminuí-lo quanto seu caráter sagrado em favor da razão já naquela época. Como
assinalou Brandão (2007, p. 27): “se em todas as línguas européias o vocábulo ‘mito’ denota
mito é paradoxal na sua construção em diversos aspectos. Elegemos dentre eles exatamente a
questão de que a história mítica apresenta uma verdade implícita. Tal característica permitiu
que Freud, por meio do pensamento psicanalítico, abordasse questões profundas do ser
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humano e de seu desenvolvimento que é tão paradoxal quanto o mito, tornando-o seu grande
E assim Freud, como também Jung, Neumann, Von Franz, entre outros, (com algumas
seriedade que sempre tivera no passado. Perceberam a importância do mito como constituinte
da cultura por meio da experiência humana no passado e com o que lhe era desconhecido,
desta maneira, encontraram a razão de sua produção e uniram por meio de seus trabalhos com
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Umberto Giordano
2 [...] Em meio àquela dor que o amor veio a mim!/ E com voz cheia de harmonia murmurou: Vive ainda! Eu sou
a vida!/ Nos meus olhos o teu Céu! Não estás sozinha!/ Recolho as tuas lágrimas! Sigo o teu caminho e te
amparo./ Sorri e espera! Eu sou o amor! Tudo ao redor é sangue e lodo?/ Eu sou divino! Sou o esquecimento!
Sou o deus que reina o mundo/ desce do Império, faz da terra um paraíso!/ Ah! Eu sou o amor, Eu sou o amor, O
amor [...] – Ária: La mamma morta da ópera Andrea Chénier. Ato III. (Giordano, 1896).
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Capítulo 2
possibilidade de Freud ter se baseado no mito de Psiqué pelo fato dela ter descido ao Inferno
antes de alcançar sua realização. Analogamente, Freud desceria às profundezas da alma para
revelá-la.
Esta tentativa de desvendar o que está velado aproxima, mais uma vez, o mito da
psicanálise. Como relatou Azevedo (2004), é exatamente este jogo do coberto e encoberto, de
não têm conhecimento delas ou se têm, não sabem por que as apresenta, ou seja, do grande
poder que o inconsciente exerce sobre o homem, instigou Freud a se debruçar no estudo da
alma.
Seu trabalho partiu da busca pela etiologia da neurose (1898/1997) no qual já via
traços fortes de questões que envolviam a sexualidade. Mas sua obra ganha espaço apenas
com a publicação de seu texto A Interpretação dos Sonhos (1900/1997), que vai revelar
Academia e a sociedade de sua época quando nos Três Ensaios Sobre a Teoria da
sexualidade infantil.
É exatamente neste ponto que voltaremos nossos olhares para o mito de Eros e Psiqué
como co-participante para o desenvolvimento de sua teoria. Comecemos pelo final do mito: o
enlace de Eros e Psiqué, o casamento destes em cada ser humano que nasce, é o que gera a
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vida. Nasce a Volúpia (o Prazer) simboliza o momento em que vivemos direcionados pelo
princípio de prazer, porém, a forma como nos damos com essa união frente à realidade gera a
grande distinção entre os homens e os demais animais, pois é o cerceamento do prazer que
seja, da cultura.
bases ainda na infância. Assim quando nasce, a criança, como uma extensão do corpo materno
deixada, da mesma forma, frágil e desamparada, a espera de seu casamento de morte, mal
sabe ela que tal casamento lhe traria grande prazer na vida.
Esta alma para poder sobreviver precisa ser alimentada, cuidada, assim, desde os
primeiros momentos do pequeno ser no mundo, devido o contato com sua mãe, inicia-se a
diferenciação. Eis o poder do Amor: ao satisfazer a fome o bebê, ele não apenas é saciado
com o leite materno e elimina assim uma demanda corporal, mas também é invadido pelo
cuidado da mãe, do desejo dela sobre ele e o faz sentir grande prazer nesta relação.
O que no mito de Eros e Psiqué nos aponta para a noite de núpcias do casal onde a
jovem Alma não conhecia ainda a face do Amor. Mas cuja relação a faria trazer em seu ventre
a criança que ao nascer seria chamada Prazer (Apuléio, n.d.).
O que era apenas instinto de sobrevivência, de ordem genética, agora é pulsão, tem um
sentido, ainda que precário formado apenas por restos de sensações, mas que evoluíram. Tais
representações por meio do cuidado materno se alinhavam, como uma rede cujas tramas
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passam a ser construídas. Desta relação com a alteridade o eu do bebê começa a diferenciar-
O corpo da criança erotizado pela mãe é marcado por grandes satisfações e então ele
passa a ser uma Psiqué, uma alma pulsante, desejante, tocada pelo amor, e que a partir deste
instante vai à busca de novas satisfações tão intensas quanto às primeiras. A pulsão ávida pela
busca da satisfação do desejo passa a ser a força motriz do corpo, ou melhor, a pulsão é a
A pulsão é o processo dinâmico que consiste numa pressão ou força que faz o
organismo tender para um objetivo. [...] tem sua fonte numa excitação corporal
(estado de tensão); o seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina
na fonte pulsional; é no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir a sua
É este amor que traz sentido a alma na busca pela vida. E tal amor primeiramente será
vivenciado pelo bebê pelo que Freud denominou como auto-erotismo que abordaremos nas
fases a seguir.
É o amor da mãe que banha o corpo do bebê marcando-o por todas as partes e todas
elas se tornam além, muito além, que mera fonte de satisfação somática, mas também, de
prazer. Um grande exemplo disto está no mito quando Afrodite ao insultar Eros fala de sua
relação com o jovem deus e os cuidados que teve para com ele quando pequenino: “essa
cabeleira que amiúde, com minhas próprias mãos, acariciei e fiz brilhar como ouro [...] essas
asas que sobre meu seio inundei de néctar.” (Apuléio, n.d., p. 90).
Assim, todo o corpo se torna fonte de prazer, porém, Freud elege e nomeia as
principais zonas erógenas que são mais investidas pela criança, as pré-genitais: oral, anal e
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Importante lembrarmos que a teoria de Freud sobre a sexualidade infantil não tem
caráter desenvolvimentista no sentido que as fases são abandonadas conforme a idade avança,
apenas leituras rasas sobre sua obra geram críticas neste sentido. Não há um abandono de uma
fase para outra e muito menos idades exatas que as delineiam. Tais divisões possuem uma
questão meramente didática, cada fase vai depender da outra, se comunicam. Como um
movimento em espiral, em torno do mesmo ponto, mas cada retorno sob uma ótica e
experiências diferentes.
O simples ato de sugar do bebê outrora instintual torna-se chupar – agora de caráter
descobre ao se alimentar que sua boca é a fonte desse grande prazer, não é mais apenas o
órgão da alimentação, traz satisfação de cunho sexual. Sexualidade esta, como citamos,
Neste período a criança com fome mesmo na ausência da mãe consegue por meio da
auto-satisfação (chupar o dedo, por exemplo) manter-se por algum tempo distanciada dela até
que a fome seja mais implacável e a sua presença se torne imprescindível. Tal prazer frente à
ausência materna traz à tona a possibilidade de fantasia e é esta de fato que permite resistir a
tal ausência por algum tempo. Assim, por ser a parte mais estimulada nesse período no bebê, a
boca, nomeou a primeira fase da sexualidade infantil: fase oral. A criança passa a conceber o
mundo pela boca, a exemplo, objetos a sua volta são levados à boca.
Como abordaremos, mais a frente, o bebê da relação simbiótica com a mãe começa a
desenvolvimento das fases descritas por Freud passa a conceber o outro, a realidade e o
mundo. E suas escolhas perante estas novas perspectivas vão estar intrinsecamente
relacionadas com a forma pela qual passou por cada fase de seu desenvolvimento.
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principalmente as fezes, estas são carregadas de grande valor simbólico em relação à ação da
criança no mundo (Laplanche & Pontalis, 2004). O que levou Freud a considerar o caráter
ativo-passivo desta fase. Mas como base do desenvolvimento pré-genital, nesta fase o amor da
mãe pela criança não é mais tão incondicional quanto na primeira, vai representar que a partir
desse ponto suas ações dependem da aceitação social. E assim, ela passa a renunciar o prazer
frente a tais demandas, suas atitudes voltam-se na tentativa de agradar a mãe e obter seu amor
novamente. Como exemplo, citou Freud em História de uma Neurose Infantil (1918/1997):
valorização cultural do pênis, este se torna o grande representante do falus (poder, o ter e o
não ter) isto leva as crianças a diferenciarem-se sexualmente entre a dicotomia fálico-
castrado: quem tem e quem não tem o pênis. Nesta fase se completa a relação triangular
busca do amor desta mãe, o que por sua vez, torna-se uma relação ambivalente de amor e
ódio.
As fases pré-genitais são guiadas pelo princípio de prazer, ou seja, busca pela descarga
da pulsão. Assim, concebidas como período de auto-erotismo, são ao mesmo tempo fonte e
erógenas. Essas pulsões parciais por serem marcadas por uma desorganização procuram a
descarga das tensões por meio das zonas erógenas como relatadas em cada fase supracitada e
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que no bebê estão ligadas às funções vitais, desta maneira, Freud definiu a sexualidade
E por não haver a primazia de um órgão que contemple a sexualidade e também por
não ter uma finalidade específica, Freud passou a denominar a criança como polimorfo-
perversa. Desta maneira, a perversão não nos é tão estranha como julgamos, ela está na raiz
do nosso desenvolvimento, ou seja, somos segundo Freud, originalmente perversos, o que faz
da perversão extremamente familiar, tão familiar, que a grande maioria das pessoas passam a
rejeitá-la devido às demandas culturais. Assim, cabe lembrar que há distinções: na criança a
perversão não tem um centro ou primazia pelo órgão genital, por exemplo. Enquanto na
perversão adulta há uma organização em torno de um objeto ou finalidade sexual, mas que
fogem às normas de obtenção de prazer com o sexo oposto e que não tem vistas para a
procriação.
Em seu artigo A Organização Genital Infantil (1923/1997) Freud fez um acréscimo
aos Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (1905/1997). Neste último a organização
sexual sob o primado do órgão genital se daria apenas a partir da puberdade e da sua escolha
A organização genital infantil equivale à fase fálica na qual uma atenção especial é
dada ao órgão sexual masculino cuja atenção abordaremos posteriormente e que conforme
Freud, em sua nova contribuição à teoria sexual infantil (1923/1997), pouco se difere da
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em relação aos objetos com vistas aos sentimentos como pudor e aspirações morais por meio
da fundação do recalque que, por sua vez, torna o desejo infantil inconsciente (amnésia
infantil).
A fase genital adulta então é a centralização das pulsões parciais sob o primado das
zonas genitais que se iniciou na fase fálica, barrada temporariamente pelo período de latência
e cujo objetivo não é apenas o prazer pelo prazer, mas a procriação. Nesta fase o púbere
rompeu definitivamente com o auto-erotismo das fases pré-genitais e escolhe para si um outro
objeto que não é mais seu primeiro objeto de amor, porém, seguirá conforme os moldes
vivenciados nas fases anteriores da sua relação parental. Define-se aqui a dicotomia
masculino-feminino.
A passagem da libido pelas zonas erógenas, como ilustra o mito de Eros e Psiqué, vai
evocar outro mito: Édipo Rei, que Freud teorizou sobre o complexo que traz o seu nome. Não
social. Mais uma vez, vemos a importância e a fusão do mito para com a psicanálise e desta
Voltemos à passagem da fase anal para a fálica em relação ao conflito outrora citado.
Neste momento a criança tem a mãe não apenas como objeto de amor mais como de poder,
como um grande falus e procura agradá-la para conseguir sua atenção, admiração e amor a
todo custo, muitas vezes, como citamos, abrindo mão de suas satisfações auto-eróticas. Mas
neste instante a criança sofre com a chamada “visão do horror”, percebe que sua mãe não é
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tão poderosa assim, ela não tem o poder que imaginava, ela não tem o falus, representado pelo
Mais uma vez podemos evocar, como Freud o fez, o mito. Em seu texto A Cabeça de
Medusa (1922/1997) ele relata sobre o olhar petrificante que tão bem caracteriza a então
Constitui fato digno de nota que, por assustadoras que possam ser em si mesmas,
A percepção de que a mãe é castrada faz com que o menino tenha receio de perder seu
pênis e venha a se tornar tão desprovido, castrado, como a mãe. Esta presente ameaça o faz
recuar do desejo pela mãe e, como já citamos, o recalque atinge seu auge, a fase fálica se
encerra e inicia-se o período de latência no qual o desejo pela mãe é deslocado para o
inconsciente, de forma que, futuramente, na fase genital adulta, promova a escolha de novos
objetos de amor. Este medo da perda do pênis tão ligado ao Complexo de Édipo, Freud o
pela mãe na relação, este sim tem o poder que a criança antes atribuía a mãe. O menino passa
a disputar o amor da mãe com o pai e que lhe causa um grande sentimento de ambivalência,
ao mesmo tempo em que o ama, o odeia. O ódio da criança em relação ao pai é por interditá-
lo de seu grande objeto de amor (a mãe), o mais precioso e que nunca mais poderá dele
desfrutar, porém, o ama por este lhe mostrar o mundo e outras possibilidades de amar (outros
objetos).
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Em seu texto Totem e Tabu (1914/1997) Freud construiu uma alegoria que propõe a
herança cultural da idéia do tabu do incesto que, por sua vez, ligam os complexos de Édipo e
de Castração no caso masculino. Nesta história há uma horda humana primitiva cuja liderança
segue um modelo patriarcal centrada numa figura extremamente ciumenta, forte, violenta e
dominante, que expulsava os filhos em crescimento e mantinha as mulheres da horda sob seu
poder. Invejado e odiado este pai é vitima de seus filhos que o matam e o devoram almejando
seu lugar.
Após o ato sentiram-se culpados, então, por meio da instituição do totem eles mesmos
passaram a proibir o que a presença de tal pai sempre evitara e negaram também para si
mesmos as mulheres que foram libertadas. “Assim, criaram dois tabus fundamentais de
totemismo a partir da sensação de culpa do filho, e exatamente por essa razão os tabus tinham
de corresponder aos dois desejos reprimidos do Complexo de Édipo.” (Freud, 1914/1997, Ed.
Eletrônica)
No menino conforme tais explicações são muito claras, mas o mesmo não pode ser
momento ela percebe que não tem pênis, ou melhor, que é diminuto – pois tem a esperança
que cresça – o que caracteriza a inveja do pênis, ao passar pela “visão do horror” e constatar
que ela é tão castrada quanto à mãe e que seu pênis não vai crescer, faz com que ela busque
no pai o poder perdido e a relação ambivalente se realiza com a mãe na disputa pelo amor do
pai.
Assim, enquanto o Complexo de Castração permite com que o menino rompa com o
de Édipo e sua permanência nessa relação, assim, como, na eterna busca pelo segredo da
feminilidade. Fica fadada a repetir nas suas relações futuras a sua experiência edipiana, mais
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Bettelheim (1982) cita que grandes semelhanças se dão entre o mito de Eros e Psiqué
e Édipo Rei. Este último conta-nos de um pai, que temeroso ao receber do oráculo a profecia
que seu filho tomaria seu lugar, para impedi-lo, tenta destruir o filho ao nascer. Em Eros e
Psiqué vemos a tentativa de uma deusa-mãe, percebendo que, como a humanidade, seu
próprio filho sairia de teu seio para amar outra jovem, e por isso, tenta destruí-la como forma
de vingança.
ditoso. O que nos traz um fato bastante significativo: é perfeitamente claro e aceito que uma
mãe torne-se irada e enciumada da jovem que faz com que seu filho a deixe. Que seja nas
preferências do filho seu amor suplantado pela beleza da mais jovem, e esta ter que lidar com
o ciúme do primeiro objeto de amor do filho. No mito Afrodite, então convencida por Zeus,
acaba aceitando as núpcias de seu filho e fica em paz com Psiqué que também se torna uma
imortal.
No caso de Édipo matar o pai e desposar a mãe não é uma atitude que pode ser
concebida socialmente, esta é uma fantasia infantil e assim deve permanecer. Ao realizar a
fantasia Édipo agiu contra a cultura, que por sua vez, dita que o jovem se case com uma
mulher de sua geração e não com a própria mãe e faça as pazes com seu pai. Que rompa com
a relação simbiótica e direcione seu desejo e amor a novos objetos. Por desrespeitar estes
constatação de que o pênis lhe falta, no feminino, que surge com a imposição da realidade,
dita que somos seres incompletos e inconscientemente desejantes em voltar à plenitude dos
cuidados maternos. Este vazio, o falta-a-ser como disse Lacan, em busca de preenchimento,
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Freud, a distinção entre a pulsão sexual e a pulsão do eu, a distinção entre amor e fome.
Apesar das pulsões do eu surgirem a partir das pulsões sexuais, frente às limitações do
desejo do incesto (pulsão sexual), a criança recua para preservar-se (pulsão do eu). A
oposição de tais pulsões e o atraso das pulsões sexuais em relação à realidade são um dos
Mas é quando Freud se depara com um caso de psicose por meio do livro biográfico
Memórias de um Doente dos Nervos (1903), que sua metapsicologia começa a sofrer
Narciso, concebe uma nova apresentação ao conceito de narcisismo, o amor pela imagem de
si mesmo, que noutro momento, em Leonardo Da Vinci e Uma Lembrança da Sua Infância
(1910/1997), fora abordado em relação às escolhas de objeto por parte dos homossexuais,
passa a ser entendido como um investimento libidinal no próprio eu, e assim, primordial para
fundamental para entender como na passagem pelo Complexo de Édipo a pessoa estabelece
sua forma de escolha do objeto de seu amor. O narcisismo primário “designa um estado
precoce em que a criança investe toda a sua libido em si mesma”. (Laplanche & Pontalis,
2004, p. 290). Paralelo à fase oral, tem como base a auto-erotização, todo investimento da
somos capazes de investir energia em outros objetos que não o próprio eu, porém, de forma
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indireta, visamos o retorno deste investimento ao próprio eu novamente. Isto passa a
caracterizar na teoria psicanalítica duas formas de escolher e investir nossa libido no objeto
externo.
indivíduo ama a si mesmo por meio do desejo do outro por ele. Na segunda, ama-se o outro
da forma como no passado a pessoa foi amada nas suas relações parentais. Ambas são ideais,
Ferreira (2004):
escolhas, o que está em jogo é o amor como sentimento de paixão, que tem como
O Complexo de Édipo permite nestas circunstâncias utilizarmos mais uma vez o mito
de Eros e Psiqué, para exemplificar, ilustrar, a escolha do objeto de amor. Percebemos que no
mito, Psiqué é tão bela, ou mais bela, que a própria deusa da beleza e do amor, Afrodite. Esta
nascida a partir da castração de Urano cujo sêmen cai sobre o mar e das espumas do oceano
nasce a deusa. Enquanto Psiqué é concebida pelos homens não como mortal mais como uma
nova deusa de beleza irradiante, mas que nasce da Terra fecundada pelo orvalho.
Eros, o filho da deusa da beleza, ao se apaixonar por Psiqué talvez nem tivesse
consciência o quão esta era semelhante a sua mãe, pelo menos no que diz respeito ao atributo
da beleza, que é apenas um exemplo. Podemos observar que o mito é uma grande alusão à
vida humana, que nas mais diversas histórias de amor que envolve a humanidade. Escolhas
como estas são feitas a todo o momento. Não é de se admirar o quanto também esta
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pelos grandiosos conflitos engendrados por elas pelo amor deste e que até hoje alimenta o
imaginário popular.
Desta maneira, conforme Freud, o inconsciente age de forma econômica, e por isso,
temos a tendência de repetir nossas ações e diversos contextos. Mesmo em situações distintas,
falamos das mesmas coisas. Essa repetição será observada por Freud no contexto da análise
quando se depara com o fenômeno da transferência que em seu texto Observações sobre o
amor transferencial (1915/1997) não hesita em denominá-la como amor a partir de impulsos
sexuais recalcados que produzem esse efeito de apaixonamento. Freud passa a se utilizar em
sua clínica dessa forma de amor que é o que o analisando tem por seu analista, forma esta, que
nada mais é que a maneira que aprendemos a nos relacionar a partir de nossas experiências
Assim a transferência pode ser definida “como a reedição de fantasias que se dirigem
ao analista, na medida em que ele passa a ocupar o lugar de outras pessoas.” (Ferreira, 2004,
p. 33). A análise deve exatamente se utilizar dessa transferência para obter sucesso. A escuta
do analista, diferenciada (escuta flutuante), deve perceber em que lugar o analisando está
colocando o analista (paterno, materno e/ou fraterno), pois as palavras do paciente nunca
Mas a transferência é um fenômeno ambíguo, pois tal amor pelo analista pode ser
também uma forma de resistência à análise por parte do paciente, ao se falar do analista, não
se fala dele (analisando). O que caracteriza a transferência com a mesma estrutura da paixão,
porém, com uma característica a mais que o analista tem um saber a mais sobre o paciente,
que por sua vez, traz a tona o caráter ambivalente desse amor, no excesso o amor e o ódio
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endereçada a Jung, Freud sublinha “a psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor.”
(Bettelheim, 1982). Ao paciente perceber (insights) por meio de sua fala as suas repetições ele
que outrora era o grande sujeito de suposto saber, torna-se apenas mais um.
Podemos dizer que ao paciente se deparar com cisão entre o que é de ordem sexual, do
funcionamento neurótico, podem criar novas saídas, não mais presas as antigas repetições
(plasticidade pulsional).
A partir de uma breve síntese de seu trabalho com a psicanálise Freud em seu artigo
(autoconservação) como pulsão de vida ou Eros, e também, discorreu sobre o dualismo com a
Tânatos na mitologia grega é a personificação da morte, assim como seu oposto Eros,
também é um deus alado. É filho de Nix, a noite, com Ébero, a noite eterna do Hades.
ato de amor (fechar os olhos, e estender os membros). É a bruma que desce sobre a face do
Irmão gêmeo de Hipno, o Sono, ambos habitam os campos Elíseos. Vemos aqui a
proximidade do ato de dormir com a morte. Assim como Hades, e muitas vezes por este
deixado à sua sombra, Tânatos não é agente da morte é apenas sua personificação, apresenta a
descontinuidade da vida, por isso, assim também como Hades, nunca foram cultuados. Era
responsável por introduzir as almas nos mundos desconhecidos das trevas ou às luzes do
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Assim, enquanto a pulsão de Eros é aquela que nos impulsiona à vida, à ligação, à
satisfação. Tânatos almeja a destruição de Eros, busca cessar essa intensa motivação na
como citou Brandão (2000, p. 399): “A morte e o amor são dois aspectos de um mesmo
No mito de Eros e Psiqué, a Alma por cinco momentos, frente as suas dificuldades
plenitude, e que na verdade só é possível com o retorno ao estado inorgânico, o retorno a mãe
terra. Contemplamos, nessa odisséia, a incessante busca da Alma pelo Amor, vemos o quanto
ela é frágil e facilmente suscetível em cair nos braços de Tânatos. Desta forma, o que segundo
Bettelheim (1982), Freud considerou a Alma humana como algo que deve ser cuidado com
muito zelo. O trabalho dedicado a ela deve ser feito com muito esmero. Somente alguém que
Neste sentido Freud, que concebeu a alma e seu desenvolvimento por meio do estudo
funcionamento humano, uma forma então de compreendê-lo mais globalmente e que assim,
Síntese (1928/1987), que sua tentativa de dar outra explicação para a origem das neuroses
que fez em Totem e Tabu (1914/1997) cria uma nova alegoria, hipótese esta, historicamente
realizadas, semelhante ao que vivenciamos enquanto regidos pelo princípio de prazer, mas
com a “era glacial a humanidade em geral tornou-se angustiada” (Freud, 1928/1987, p. 75).
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Frente aos riscos eminentes devido os difíceis tempos glaciais passaram a se organizar em
hordas isoladas sob um domínio patriarcal forte, e passada pela grande lição da interdição do
humanidade teve que conter sua libido e direcioná-la primeiramente ao eu e depois para
objetos outros, por exemplo, o viver livremente substituído pela constituição familiar que
gerou as bases do modelo de cuidados parentais e de amor atuais e que também proporcionou
[...] como a primeira luta leva para a fase cultura patriarcal, a segunda leva à
80).
Como podemos observar esse cerceamento libidinal, assim como, trouxe benefícios
também faz a humanidade pagar um alto preço. É deste ônus que Freud abordou quando
escreveu da relação dialética entre Tânatos e Eros. Tânatos que procura silenciosamente
eliminar a presença de Eros e possuir a Alma por meio de suas fraquezas e Eros para conter o
enlace destrutivo e vazio da pulsão de morte usa de seu grande poder unificador para
se distinguir o amor como paixão imaginária do amor que se constitui como dom ativo, como
por exemplo, o amor divino, da Paixão de Cristo e o amor voltado ao próximo. Em relação ao
mito de Eros e Psiqué, aqui podemos inferir uma grande evolução do Amor, antes entregue
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aos desígnios de sua vaidosa mãe Afrodite, era um ser infantil, imaturo e irresponsável.
Depois, sob os encantos e enamorado pela jovem Psiqué, torna-se maduro, sublime e
incondicional. O amor não como idealização, mas como sublimação. Lacan que se debruçou
mais sobre este aspecto da concepção do amor, na relação de antítese sujeito - objeto (amado -
amante), acrescentou um terceiro elemento que está para além do objeto de amor: o nada.
amor que aprendemos em nossas relações parentais e que obedecem às escolhas de objeto de
que seu bem está no outro. É característica de um amor e, do objeto amado, de forma
idealizada.
satisfazer o pedido do sujeito para ser amado. Mas o apaixonado quer ser amado
por tudo. Suas súplicas não têm limite. Suas dores também não. No século em que
a paixão é um dos temas preferidos pelos poetas românticos, amar abre as portas
No amor como dom ativo, sublimado, o outro não é apenas um objeto como na paixão,
mas um ser. Intermediado pela palavra, o amor aceita o amado mesmo nos seus defeitos e nas
suas fraquezas. Porém, este ser para o qual o amor se dirige é uma fantasia, quando esta se
desfaz, numa situação como traição do ser amado, o amor acaba. Pois amava aquilo que lhe
faltava.
O amor que não visa a satisfação como na paixão diz daquele que ama além do objeto
amado. A troca é o nada por nada. Lacan denominou esta forma de “o milagre do amor”
baseado em sua teoria da dialética do desejo. Quando o amado passa para a qualidade de
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Pátroclo e Aquiles, o primeiro morto em combate por Heitor na guerra de Tróia faz com que
Aquiles passe da posição masculina de amado para a feminina de amante. Mesmo sabendo da
possibilidade de ser morto, como predito pelo oráculo, vinga a morte de Pátroclo matando
em desejante. “E o que fez Aquiles senão escolher a morte, sacrificando seu ser para se vingar
do ser que ele acreditava existir em Pátroclo, já morto? O que se trocou aqui senão nada por
Ferreira (2004) relatou que Lacan também aponta para o amor cortês, típico das
poesias do medievo, como outra forma sublimada de amar, nas quais o poeta se colocava num
intenso sofrimento de amante em relação à indiferença da amada. Por diversas questões como,
por exemplo, diferenças sociais, o amante não poderia cortejar a Dama, ou seja, sempre se
O amante, então, se coloca a serviço da amada, mas não busca conquistá-la e sim
travar uma batalha sobre a qual já perdeu, mas que não pode dela desistir. Assim, é pela
privação que existe o amor cortês, pela inibição da sexualidade. Pelo regime da frustração, do
sofrimento. Não se renuncia o amor, mas o objeto amado. A Dama como uma jóia tem o valor
Podemos ilustrar o amor cortês pelos célebres e belos versos do poeta Luís Vaz de
Camões (1595):
é um contentamento descontente,
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É da falta que o amante se torna desejante e a amada ao não corresponder a esse amor
abre a desarmonia entre a relação amante-amado demonstrando que o que falta ao amante não
é o que o amado tem. Por isso o amor cortês para Lacan é expressão do amor verdadeiro, pois
amar é dar o que não se tem.
Por fim, outro exemplo é o amor trágico como o que é vivido por Antígona, o mito
que dá origem ao do Édipo Rei. Antígona é filha de Édipo, depois de sua morte em Colono,
ela retorna para Tebas. Os dois irmãos de Antígona (Polince e Etéocles) na briga pelo poder
de Tebas morrem e Creonte, irmão de Jocasta assume o trono, determinando que não
enterrassem Polinice por trair Tebas com a ajuda de um exército de Argos no litígio pelo
Antígona se posiciona a favor do perdão para o irmão Polinice para que este não
ficasse com a imagem ligada à vilania. “Em vez de ódio, o amor. E amar implica em perdoar.
Mas aqui o amor, em vez de assegurar a vida, conduz a morte.” (Ferreira, 2004, p. 52). A
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marca do seu desejo é a falta do objeto. Que traduz seu desejo como puro. Um desejo sem
[...] se não há ninguém para assumir o crime, Antígona aos se colocar como
guardiã do criminoso, assume não só o crime de seu irmão (traição), mas de toda a
entre Creonte e Antígona: perdoar ou não perdoar o crime eis a questão! [...] Amar
então torna-se a proeza de um ato que anuncia a morte do amante que perdeu para
Estes três exemplos demonstram que na sublimação ama-se o próprio amor e não o
objeto (paixão). Lembramos mais uma vez que no mito, quando Psiqué revela à luz do
candeeiro que seu esposo é Eros e, ao mexer em suas armas fura-se com uma de suas flechas,
é o momento em que a Alma é tomada de amor pelo Amor (Apuléio, n.d.).
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The Abduction of Psyche (Bouguereau, 1895)
3 Ao discorrer sobre o amor em carta aos Coríntios (I Coríntios, capítulo 13, verso 11).
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Capítulo 3
origem do amor parental, e por sua vez, do funcionamento humano, seja das neuroses de
final de sua obra e a dicotomia entre Eros e Tânatos se aproxima da concepção junguiana de
libido, das leis dos opostos e das compensações também desenvolvidas por ele.
Importante frisar que mesmo com a unificação da pulsão realizada por Freud, esta
nunca deixou de ter como origem a base sexual, e que Jung conceituou como energia psíquica
em geral, que pode assumir formas diversas e transmitir-se a qualquer área de atividade como
ao poder, à fome, ao ódio, à religião, tal como à sexual tão considerada por Freud. Também é
o motor de total manifestação natural e cultural humana. É o desejo, a tendência para, toda a
psíquico. Mas em ambas as teorias a libido é a força motriz do humano, porém, foi
exatamente a distinção quanto à forma de concebê-la que gerou a grande cisão entre os dois
Para Jung o mito também tem grande importância, pois por meio dele podemos
estudar os motivos recorrentes presentes em nossa cultura ocidental como também em outras
por meio do seu método comparativo como as questões relacionadas com a vida, a morte, o
incesto, a salvação, a criação, entre muitos outros. O mito tem vida própria, revela sobre o
fazer humano. É composto por imagens que ele definiu como primordiais, os chamados
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assim como o mito, a relação evolui de acordo com a vivência da pessoa e esta tende a deixar
de amar de uma forma imatura, típica do funcionamento infantil, para uma forma mais
sublime.
O mito é uma das explicações que nos são ofertadas para explicar como essas imagens
são ativadas dentro de nós. O mito é a metáfora do arquétipo, é inerente à estrutura da psique
e que o homem reencena (Jung, 1934/1995), principalmente, se um mito constela em um
complexo, o indivíduo influenciado por ele pode ser possuído de forma compulsiva e
manifesta caráter patológico ou pode dele se libertar, neste caso, com a ajuda dos deuses, o
consciente amplia o seu campo de visão, integrando o complexo à personalidade. Toda vez
Mas Jung preferiu à alquimia para sustentar sua teoria. Com manuseio dos sagrados
metais o alquimista buscava a pedra filosofal, um fim pleno para o opus, a vida eterna, a
permutação de qualquer metal em ouro, mas ao realizar tal obra, era dentro do alquimista que
as transformações ocorriam, era a alma que se transmutava de vil metal para puro ouro.
e energias que jorraram nas origens. A ação ritual realiza no imediato uma
forma com a qual o individual lida com suas imagens internas e, que são ativadas pelo social,
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(primeiramente na relação parental e depois pela vivência no mundo), define o fazer cultural
de psique. Segundo, como a personificação da mente, mas mente como aspectos cognitivos,
responsável pelas funções cognitivas e com a finalidade de estudo. Terceiro como a forma que
a pessoa se porta em relação a seu mundo interior, a atitude que o consciente toma em relação
Destes, o primeiro aspecto nos chama mais atenção, pois ele é o mais abrangente de
todos os que foram citados. Psique, na psicologia analítica, é marcadamente uma atividade
funcional cuja dinâmica dialética é constituída, como também constitui, os pares de opostos e
outros, ativados pela libido, funcionam como órgãos psíquicos e se relacionam por meio de
signos, símbolos, complexos e outros arquétipos e, que por sua vez, corroboram para a
Quanto a Eros, este também se difere da forma em que é abordado em Freud pela
espiritual, dá forma cognitiva ao mundo dos objetos externos e internos. (Pieri, 2002)
A relação Eros-Logos que traz à psique a luz da transformação, o que Jung denominou
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os opostos. Mas isso não quer dizer meramente que o inconsciente torna-se consciente, ao
contrário, ao lançar luz sobre determinado aspecto inconsciente, novas articulações,
rearranjos, entre as imagens ali presentes se fazem. Nas palavras de Jung "até onde podemos
discernir, o único propósito da existência humana é acender uma luz na escuridão do mero
Jung por meio do trabalho com a psicose juntamente com Bleuler percebeu que seus
pacientes traziam nos delírios e alucinações, um conhecimento, imagens, que não apenas
representam a história do sujeito, mas de toda a humanidade. Esta percepção trouxe para ele,
como citamos, o conceito de arquétipo, uma imagem primordial de idéias inatas (Brandão,
2007), assim como temos um herança genética que determina o biológico do humano,
também em essência, nascemos com uma herança cultural impregnada em nossa alma. Essa
herança é composta por imagens primordiais (arquétipos) que ganham força conforme
atuamos na vida.
carvalho. Neste livro ele exemplifica que dentro da semente do carvalho estão todas as
atribuições necessárias para que a semente germine e se torne exatamente um carvalho e não
qualquer outra planta, ela traz dentro de si o destino de ser um carvalho. Por mais tortos ou
retos que venham a se tornar seus galhos, mais claras ou escuras venham a ser suas folhas seja
pela influência do solo ou da mudança das estações, por mais diferente que seja dos demais de
sua espécie, ele será sempre um carvalho. Assim, temos o destino de sermos humanos, que
tipo de humanos seremos, depende de nossa vivência, ou seja, depende das imagens
arquetípicas que serão ativadas na nossa relação, interação com o mundo, com o outro e à
O passado para Jung não é mais importante a não ser que se torne presente no discurso
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humano é chegar à individuação, à plenitude do ser. Somente o social pode impedir que um
funcionamento indesejado, mas como formador do que a pessoa realmente é e deve se tornar.
Ao chegar a determinado período de nossa vida e olharmos para trás, podemos contemplar
que determinadas experiências tanto agradáveis como desagradáveis corroboraram para nos
tornamos exatamente quem somos no exato momento que paramos para contemplar a vida
No mito de Eros e Psiqué podemos observar que Alma no seu primeiro contato com
Amor é inconsciente, dada às suas próprias paixões conforme seu contato com os complexos
parentais. No momento em que Psiqué ilumina o rosto do amado e percebe que ele é o Amor e
toma-se de amor por ele, há uma grande mudança. Ela passa a amá-lo conscientemente
(Neumann, 1997).
Assim como, tal mudança também pode ser vista em Eros e de sua postura divina, ao
se encontrar com a Psiqué é tomado de si próprio por ela, mas quando este é desvelado por
Psiqué a união entre o inconsciente e consciente eleva Eros para uma condição humanizada,
como também, torna a alma deificada. Em Eros o seu contato com a Alma permitiu que este
deixasse sua caracterização de puer aeternus, de deixar também a casa da Grande Mãe
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Podemos observar de forma clara como se dá esta relação por meio do esquema
construído a seguir.
remete a um elemento inconsciente ativado que procura expressão. Desta forma, não tem
natureza necessariamente sexual. “Minha experiência não confirmou que se trate sempre
desse plano, ou de projeção de conteúdos infantis. Pelo que vi qualquer coisa é possível de ser
projetada, e a translação erótica é apenas uma das muitas possibilidades” (Jung, 1935b/1991,
pp. 324.).
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O que contribui para Jung desenvolver esta afirmativa é sua posição frente ao tabu do
incesto desenvolvida por Freud. Em muitas culturas o incesto não é um tabu e, pelo contrário,
a realização do mesmo como rito de passagem permite que o neófito torna-se responsável de
sua própria individualidade. O incesto também na alquimia abre fundamentação para o hieros
exemplo, da projeção do salvador ao analista. Este deve devolver tal valor ao paciente a
análise não termina enquanto o paciente não integrar todas as projeções à sua própria
personalidade.
importância de seus conteúdos para o sujeito. Se houver um caso que ela seja
vez extraídos e tornados conscientes, provarão ser tão importantes para o para o
declínio, isso não quer dizer que simplesmente tenha se evaporado. Sua
paciente. Quando a translação se resolve, toda aquela energia projetada recai sobre
o sujeito, que então fica de posse de um tesouro que antes, durante a transferência,
em suas relações o Eros como forma de não cair na armadilha do lugar de saber e até mesmo
se livrar dela para aqueles que se deixaram seduzir por essa visão distorcida do processo
terapêutico.
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Assim, não podemos deixar de apontar aqui para a contratransferência que é muito
importante, pois ela fala sobre o encontro dos dois inconscientes: do paciente e do analista. A
influência ocorre em mão dupla e não há como dela esquivar-se. Se bem conduzida à
dinâmica da relação gera transformações nas duas almas envolvidas, o que geralmente
acontece é que a personalidade mais estável e mais forte seja menos influenciada, o que não
impede que a personalidade de muitos profissionais seja assimilada pela dos seus pacientes
(Jung, 1935b/1991)
Dessa maneira, Jung foi um dos que defendiam que o analista deveria se dedicar a
própria análise objetivando o seu crescimento, “[...] a arte da psicoterapia exige, portanto, que
provas de eficácia, inclusive pelo fato de ter resolvido ou evitado dissociações neuróticas em
transferência por meio do opus na alquimia. O caminho que a alma do paciente em relação
consciente. Desde o início, na entrega que Psiqué faz em busca do seu destino, quando a
jovem e bela alma caminha para o deserto de rochedos e logo depois de contemplar a face de
seu amado Eros, a odisséia que perfaz para retornar aos seus braços, demonstra um forte
sofrimento, como também observamos neste mito. Muitas vezes quando alguém procura a
análise é porque se defronta com algum tipo de crise e não porque busca o autoconhecimento
e/ou crescimento individual.
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seus deuses inconscientes. No mito de Eros e Psiqué podemos observar a evolução da Alma
mortal para imortalidade no seu casamento final com o Amor. Alcançado sua individuação,
A crise nos apresenta duas faces: sinaliza perigo devido à negligência, por parte do
mesmo tempo, abre espaço para a possibilidade de mudança. Se não vivemos com a alma, o
corpo traduz esta negligência. E na dor não há como evitá-la algo tem que ser feito.
Muitos vêem o adoecer como um mal e tentam se livrar dele, mas Jung propôs que
olhássemos com atenção para o significado do que pode estar implícito no sintoma, é
necessário que as imagens psíquicas, que se apresentam através dele, sejam levadas em
consideração.
O caráter finalista da psicologia de Jung nos leva à individuação, que em síntese leva a
uma diferenciação dos padrões coletivos externos e internos, impelindo a sermos quem
realmente somos. (Silveira, 2001) É a transformação pessoal, esse processo exige que haja
relação entre eu e Self, na qual o Self move e o eu é o movido. Entretanto, há perigos comuns,
como a inflação e a rigidez do eu, que cheio de certezas assume uma postura unilateral não
torna possível a função transcendente, seja por medo, insegurança ou ignorância em relação às
que é prejudicial, que impede a necessidade de manifestação das imagens inconscientes não
lhes permitindo a assimilação por parte do consciente. Como conseqüência deste entrave
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dispôs, inconscientemente passa a projetar nos objetos externos imagens que lhe pertence. Tal
limitação de percepção do eu gera projeções que, por sua vez, favorecem condições perigosas
desenvolvimento da alma na psicologia analítica. Pois como já nos referimos, este é fim para
o qual o homem se dirige. Quando nascemos o eu está potencialmente dentro do Self, este é a
Somente devido ao Self que o consciente pode existir. O eu vivencia o Self como outro e
como seu subordinado é desta forma, que o consciente é formado. O que é diferente funciona
como ponto de reflexão, assim, para adquirir autonomia do eu precisa se separar da totalidade
identidade entre o eu e seus objetos. É o estado original das coisas não há distinções e nem
diferenças.
direcionada, o que serve como base para entendermos o funcionamento psicótico na teoria
junguiana.
Quando o eixo Self-eu vai se desenvolvendo, o eu tende a se tornar independente do
Self e passa a funcionar como o intermediador entre a realidade objetiva e subjetiva. O eu que
operacionaliza as funções psicológicas e os símbolos que habitam o eixo ente ele o Self. Se
durante o desenvolvimento do eixo houver algum dano, pode ser que o indivíduo tenha
problemas como baixa auto-estima ou de não aceitação de si mesmo, se for um dano maior,
terá o sentimento de que não merece viver e que não pode afirmar-se.
O eixo é formado na primeira metade da vida quando chega ao clímax com a máxima
diferenciação que é denominada como metanóia. A segunda metade visa o retorno ao Self,
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que procura atingir um estado de sabedoria e onde o ciclo se completa com a morte. Como a
trajetória do Sol, que surge no horizonte, chega ao zênite ao meio-dia e depois faz o seu
retorno.
instintiva; da puberdade a meia idade, que como adulto, firma sua autonomia quanto
Humano – A Traição da Alma na Psicoterapia (1999), uma postura crítica frente às duas
O sentido que nossa alma tem de se restaurar à própria unidade só é possível por meio
do amor, é ele que gera a alma, mas também ele precisa da alma. Geralmente as feridas
nascem pela falta do amor. Por isso da necessidade de amar nossa alma realmente como ela é
e não querer buscar apenas explicações psicopatológicas para os nossos sofrimentos e feridas.
É a busca do viver com alma. Mas para isso há a necessidade de uma nova visão de homem:
que traga à tona sua existência cotidiana, mas dentro de seu contexto cultural.
ao valorizar a figura do incesto como representante simbólico da união suprema dos opostos
não explorou como fez Freud o tabu que este tem sobre nossa cultura efetivamente.
Enquanto Freud, ao ser atraído pela parte mais objetiva valorizou de forma intensa o
corpo por meio da sexualidade e para a relação parental. Nos termos junguianos, uma obra
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que enquanto o primeiro seguia o caminho da Alma o segundo perscrutava as vias do Amor.
A ferida do incesto como é nomeado o complexo de Édipo em Stein (1999), abre uma
ferida na alma humana em relação ao desejo e a realidade, o afeto e a razão. Isto promove as
mais diversas incongruências nas ações humanas, sem objetivo, sem um fim. A proposta de
Stein (1999), é que o contado do espírito com a alma se dê pela via do amor na relação
velho sábio ou bruxo), não devem ser apenas interpretadas ao longo do processo terapêutico,
mas encaradas como forma de desenvolvimento. Por via delas é possível voltar à ferida do
incesto e integrar o homem no qual tais funções estão dissociadas, integrando o inconsciente
ao consciente como almeja o processo de individuação:
espiritual. Quando dizemos que o homem tem espírito livre, queremos dizer que
cultura? Acho que não. Mas significa a liberdade de fazer qualquer coisa ou ir a
qualquer lugar que deseje na esfera da imaginação... Sabe que pode deslocar com
198).
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com que o amor é rejeitado para vermos que há algo errado com essa premissa.
Não será por que aquele que dá o amor é vivenciado como ameaçador para aquele
maneira ameaçado.
A alma nua e exposta sempre evoca o amor. É por isso que é tão fácil amar as
pessoa estiver sento encoberta ou protegida da outra de alguma forma, o amor não
pode ser evocado. Dar amor sem que nossa alma não esteja exposta é sempre
ameaçador para o outro. Mas quando duas pessoas se encontram sem barreiras, o
amor flui automaticamente em ambas as direções. Não é ato de vontade, e sim
fluxo espontâneo. E isso não ocorre por causa do ato de dar ou receber amor, e
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pudemos observar que o mito tem fundamental importância na Psicanálise assim como
esta também é de fundamental importância para a perpetuação do mito nos tempos atuais,
como propõe Azevedo (2004) e Brandão (2007). Observamos que não apenas Eros e Psiqué,
mas também, sucintamente, outros personagens mitológicos como Édipo, Narciso e Medusa,
Mas é o mito de Eros e Psiqué, objeto deste nosso trabalho, conforme a teoria de
Freud, que nos permite conceber a forma como a Alma (se) move – desenvolve: na relação
com o Amor. Na infância, a partir da relação simbiótica mãe-bebê, que gera prazer e como
este perpassa pelas zonas erógenas quanto libido. Na análise, por meio das repetições que
apontam para as regressões infantis que o paciente faz na relação com o analista e na
produção cultural.
teoria junguiana, o mito de Eros e Psiqué aponta para a necessidade, em contexto terapêutico,
do encontro da alma do analista com a do analisando que, por sua vez, influencia a ambos e
visa o desenvolvimento pessoal final que é a individuação, o retorno do eu para o Self, que se
Nas duas teorias o estudo aprofundado dos mitos traz muitas revelações sobre o fazer
humano, são muito esclarecedores, expressam bases constituintes do ser e da ação do homem
desde os tempos primordiais de nossa cultura. O tema é inesgotável. O que torna nosso
trabalho apenas uma pequena ilustração do que a partir do mito pode ser interpretado. Como
Mas na busca pelas semelhanças entre Freud e Jung, ou melhor, em articular as duas
obras, apresentamos Stein (1999), que expressa em seu livro a possibilidade de integrar a
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tentativa de articular a obra de Freud e Jung depois da grande cisão entre os dois pensadores
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