Uso Das Aminas Na Flotação2
Uso Das Aminas Na Flotação2
Uso Das Aminas Na Flotação2
RESUMO
Os coletores catiônicos têm sido utilizados na flotação de minerais desde o final dos anos
30 e a química desses compostos é baseada nas aminas e seus derivados. No Brasil, esses
produtos estão entre os principais reagentes utilizados pela indústria mineral. A utilização
dessa classe de produtos como coletores de flotação é mundialmente reconhecida em
processos de concentração de sais solúveis e oximinerais. Mesmo assim, apesar de sua
grande aplicação, existem poucas publicações em português que reúnem e conectam os
conceitos de flotação com as propriedades das aminas. Nesse trabalho, discorreu-se sobre a
química desses compostos discutindo e revisando suas rotas de produção industrial, as
variáveis que afetam a qualidade, as propriedades das aminas como tensoativos e a sua
correlação com os processos de flotação. Além disso, os mecanismos de coleta em sais
solúveis e oximinerais foram detalhados. Ao final do trabalho foram apresentadas
sugestões de usos de moléculas já existentes bem como de novos produtos que têm
potencial aplicação como coletores.
ABSTRACT
Cationic collectors have being utilized in froth flotation since the end of 30´s and their
chemistry are based on fatty amines and their derivatives. In Brazil, those chemicals are
among the most important reagents used by the mineral industry. Their application as
collectors are well known and recognized worldwide in flotation processes of soluble salts,
silicates and other oxidized ores. Despite of the extensive use, the availability of local
publications covering their chemistry and applications are limited. This work primarily
reviews the amine based products used as flotation collectors discussing their industrial
production routes, variables affecting the quality, the properties of the amines as
surfactants and the correlation of those properties with the flotation processes. The
interaction mechanisms of amines and minerals (soluble salts, oxides and silicates) were
discussed in the light of their chemistry and properties. The reminder of the thesis suggests
that some new and existing amines could be exploited by the industry as an option for the
collectors presently in use.
1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Dentre os diversos produtos químicos que são utilizados no processo de flotação, as aminas
e seus derivados são particularmente relevantes porque são responsáveis pela concentração
de importantes minérios brasileiros. Estima-se que aproximadamente 5.500 toneladas de
derivados de aminas sejam utilizados anualmente no Brasil em processos de concentração
de hematita, willemita, calamina, pirocloro, calcita, magnesita, silvita e alguns tipos de
apatita.
Os assuntos de química orgânica e de tensoativos, dos quais as aminas fazem parte, são
pouco explorados pelas ementas dos cursos de engenharia de minas, de modo que os
engenheiros tratamentistas têm limitações para entender a influência dos coletores
catiônicos que são usados na usina de concentração. Para auxiliar na compreensão das
propriedades e características físico-químicas das aminas e seu comportamento enquanto
agentes de flotação, definiu-se alguns objetivos para esse trabalho:
Diversos autores1[1-3] definem as aminas de maneira genérica como sendo uma molécula
de amônia, NH3, ou derivada dela, onde um, dois, ou os três átomos de hidrogênio são
substituídos pôr grupos alifáticos monovalentes. O “Condensed Chemical Dictionary” [2] é
mais abrangente, definindo as aminas graxas como sendo um composto derivado da
amônia, alifático, cujas matérias primas principais são óleos ou gorduras, saturadas ou não,
classificando-se como primárias, secundárias ou terciárias e que possuem cadeia carbônica
com um número par de átomos de carbonos variando entre 8 e 22. Essa definição seria
perfeita, a não ser pela limitação de não incluir os derivados de aminas geradas a partir de
álcoois sintéticos, cuja cadeia não é necessariamente composta por um número par de
carbonos.
As aminas graxas tem em sua molécula uma parte de origem oleosa, cuja fonte pode ser
tanto animal, vegetal ou mesmo mineral. Essa porção oleosa é hidrofóbica e está ligada ao
nitrogênio, que tem um par de elétrons não compartilhados em sua camada de valência,
apresentando características iônicas. Da mesma forma que a amônia, os compostos
nitrogenados trivalentes, os quais podem ser definidos como amônias substituídas, são
consideradas básicas. Essa definição vem da conceituação de ácido / base de Lewis [3],
onde o nitrogênio e seus compostos, pôr serem doadores de elétrons, seriam classificados
como bases. Com o par de elétrons não compartilhados, a amônia reage com ácidos como
doadoras de elétrons, ou, como receptores de prótons para formar sais.
seguir ilustram essa definição. A estrutura dos grupos R é irrelevante como parte da
exemplificação [4].
N N
H H R H
H H
Amônia Amina primária
R'''
+
N N N
R H R R'' R R''
R' R' R'
Amina secundária Amina terciária Quaternário de amônio
Grande parte das propriedades das aminas graxas advém das características de suas cadeias
carbônicas, que são encontradas nos óleos e gorduras sob a forma de triglicérides cuja
estrutura é mostrada na figura 1.
O
CH2 O C R
O
CH O C R’
O
CH2 O C R”
Figura 1: Estrutura de um triglicéride.
Os álcoois graxos podem ser produzidos por um processo de cisão semelhante àquele
utilizado na obtenção de ácidos graxos, porém utilizando metanol (CH3OH) ou soda
(NaOH) ao invés de água. A reação é denominada intertroca de ésteres e cujo resultado é
um éster metílico do ácido graxo correspondente e glicerina. Posteriormente o éster é
hidrogenado para a obtenção final do álcool.
Caprílico 8 0 7 - 3,5 - - -
Cáprico 10 0 6 - 3,5 - - -
Láurico 12 0 48 - 48,8 - - -
Mirístico 14 0 19 2 16,6 - 3,5 -
Miristolênico 14 1 - - - - 1 -
Pentadecanóico 15 0 - - - - 0,5 -
Palmítico 16 0 9 42 8,5 11 25,3 1
Palmitoléico 16 1 - - - - 4 0,5
Margárico 17 0 - - - - 2,5 -
Esteárico 18 0 3 4 2,5 4 19,4 1,5
Oléico 18 1 6 43 14,6 21 40,8 50,5
Linoléico 18 2 1,5 9 2 55,5 2,5 46,5
Linolênico 18 3 - - - 8,5 - -
Araquídico 20 0 - - - - 0,5 -
O
CH2 O C R
H2C – OH
O O
CH O C R’ + H2O 3 R-C + H C – OH
(Reação 1)
O OH H2C – OH
CH2 O C R”
A partir da obtenção dos ácidos e álcoois graxos, torna-se possível à produção de vários
tipos de aminas, que, por sua vez, também poderão tomar parte em processos de obtenção
de outros derivados nitrogenados. A figura 2 sintetiza rotas de produção das aminas e seus
derivados utilizados como coletores em mineração.
Problemas na composição ou na qualidade dos coletores podem ser gerados por falhas
nos processos de produção ou na matéria prima que os origina. O engenheiro
tratamentista não possui, via de regra, controle algum sobre os processos de
fabricação dos produtos químicos consumidos na usina de concentração, mas pode
fazer uso de procedimentos e dados analíticos para certificar-se de que os coletores que
utiliza estão dentro de certas especificações que asseguram sua composição, qualidade
e desempenho. Na tabela 2, são apresentados os métodos analíticos mais importantes
utilizados para caracterizar uma amina.
O
Amina
Amina C–C
etoxilada
NH3 H2
primária
Ácido Nitrila O
CH2Cl
Aditivos
graxo CH2Cl
Alquil morfolina
O
-C
CH 2=CH-C
OH
Propionato
CH2=CH–C N
Diaminas
Amina
cisão Sarcosinatos
Óleos secundária
Gorduras Amina haletos quaternários
terciária CH3Cl
-H2O
NH2–CH=CH–NH2
-H2O Amidoamida imidazolina
CH2=CH–C N CH2=CH–C N
Éter Éter
amina diamina
Alcool
graxo CH 3
O
HN
CH 3 Amina haletos
terciária quaternários
CH 3Cl
Figura 2: Fluxograma com o resumo das rotas de produção das aminas e seus derivados.
1
AOCS é a sigla para “American Oil Chemists Society”.
2
ASTM é a sigla para “American Society for Testing Materials”.
Assim como o IA, o IAc, é uma forma de expressar o teor de ácido presente na amostra de
derivado de amina, após sua neutralização. Sua determinação acontece de forma análoga
ao IA. A diferença é que a amostra de derivado de amina neutralizada, é titulada com uma
solução de base forte, como o hidróxido de sódio ou de potássio, onde se determina a
quantidade de base necessária para neutralizar o ácido presente em um grama de amostra,
cuja grandeza também é expressa em mg KOH/g. A mesma exemplificação feita em 2.1
também pode ser realizada no IAc e os cálculos são realizados de maneira análoga.
Portanto, a amostra de 1,0 grama de amina neutralizada, titulada com solução de hidróxido
de sódio 0,2 M, cujo volume gasto da solução de ácido clorídrico foi de 15,33 ml, fornece
um IAc de 172 mgKOH/g.
O índice de neutralização é expresso através da relação entre o índice acidez dividido pelo
índice de aminas e fornece um número que multiplicado por 100 indicará a porcentagem de
neutralização da amostra.
Industrialmente se usam produtos com graus de neutralização que variam entre 30% e
100%. O conhecimento desses valores é particularmente importante porque as frações que
não estiverem na forma de sais tenderão a se comportar como tensoativos não iônicos
tendo uma enorme influência na formação do filme hidrofóbico que se forma na superfície
das partículas de minério.
Esses dois parâmetros são importantes de serem avaliados pelo engenheiro tratamentista
porque a turvação de uma solução contendo um coletor ou qualquer outro reagente mostra
a existência de duas fases, caracterizando que não existe uma completa dissolução do
composto químico no meio aquoso.
Uma amina oléica, por exemplo, tem um IV ~ 90 cg I / grama enquanto que uma amina
esteárica, tipo octadecilamina, esse valor é < 3 cg I / g [10]. Observando-se a tabela 1
pode-se notar que o ácido oléico apresenta uma insaturação enquanto a esteárica é
totalmente saturada3, comprovando a diferença entre esses valores.
3
Se as aminas fossem 100% saturadas o IV seria zero e não < 3 como citado. Industrialmente não se
consegue obter produtos com pureza de 100 % gerando essa pequena discrepância de valores.
c
80
60 a
Temperatura o C
b
40
20
0
C8 C 10 C 12 C 14 C 16 C 18 C20
Comprimento de cadeia
Figura 3: Temperaturas aproximadas de fusão de aminas primárias lineares: (a) pares; (b)
ímpares e (c) seus respectivos acetatos [12].
O conhecimento do "flash point" é acima de tudo uma condição de segurança para aqueles
que trabalham com produtos químicos.
A carga elétrica que compõe a parte hidrofílica e as inúmeras variações dos tipos de
cadeias carbônicas que podem compor a parte hidrofóbica, permitem que se tenham um
grande número de combinações gerando produtos distintos e com propriedades únicas. Por
conta disso, os tensoativos podem ser classificados de diversas formas. A mais usual e
clássica agrupa os produtos enquanto sua carga iônica, dividindo-os em catiônicos
(positivo), aniônicos (negativo), não iônicos (sem carga) e anfotéricos (positivos em pH
ácido e negativo em pH alcalino).
Para definir o conceito de tensão superficial considere-se um líquido em equilíbrio com seu
vapor conforme ilustrado na figura 5. Uma molécula no interior do líquido é solicitada
radialmente pelas forças de atração das moléculas vizinhas de modo que estas forças
estejam perfeitamente balanceadas e cujo somatório seja zero. Na superfície, entretanto, a
atração intermolecular gera uma resultante não nula porque que o hemisfério inferior está
preenchido totalmente com moléculas que a atraem, e o hemisfério superior, por se
estender além da superfície do líquido, está preenchido apenas parcialmente com
moléculas que a atraem.
Menisco Æ
água Æ
Na fronteira líquido - ar, o desbalanceamento das forças é máximo, existindo uma forte
tendência das moléculas que se encontram dentro de uma camada superficial serem
puxadas para o interior do líquido havendo uma contração espontânea da superfície nesta
direção. Por outro lado, as moléculas da camada superficial estarão se movendo também
para o interior do líquido, aumentando a superfície à medida que um trabalho positivo é
realizado. Dessa forma, a superfície de um líquido pode ser aumentada ou diminuída à
medida que se realiza trabalho e um certo número de moléculas passa do interior do
líquido para a camada superficial. Dessa relação de variação de área superficial se obtém o
coeficiente de tensão superficial (γ), cujos valores para algumas substâncias são
apresentados na tabela 3.
ar
ar ar
------
------
molécula de água
óleo
água água tensoativo
água ------
------
pontes de hidrogênio
dipolo
Figura 6: Posicionamento dos tensoativos na interface de um sistema bifásico (ar-água) e multifásico
(ar-água-óleo) e efeito da adição de tensoativos na redução da tensão superficial da água.
A “American Chemical Association” [15] tem vários ábacos com os valores de γ para
diferentes tipos de n-alquilaminas, cujos valores estão ilustrados na figura 7.
45
y - dynas / cm
40
35
30
25
8 10 12 14 16 18 20 22
Núm ero de atom os da cadeia
Figura 7: Tensão superficial de N-alquil aminas, com grupos alquil variando de C8 a C22. Dados
obtidos a 20 oC [17].
A geometria das micelas pode variar de acordo com os tipos de tensoativos e de acordo
com o meio no qual estão solubilizados. Como regra geral, os tensoativos formam micelas
quase esféricas de raio praticamente equivalente ao do comprimento do radical
hidrocarbônico [17] sendo que micelas com outras geometrias (cilíndricas ou placas)
também são possíveis de ser formadas [18].
Figura 8: Curva típica de tensão superficial x quantidade de tensoativo. O ponto de inflexão da curva é
definido como o CMC.
Para os coletores catiônicos, como regra geral, o valor de CMC diminui à medida que
aumenta o tamanho da cadeia carbônica, sendo que a presença de eletrólitos também faz
com que a CMC seja reduzida. O conceito de CMC é bastante importante nos processos de
flotação. Quando se utilizam quantidades de coletores muito abaixo da CMC pode-se
esperar um fraco resultado de recuperação por não haver tensoativo suficiente para aderir
na superfície do mineral e ligar-se à bolha. Por outro lado, um excesso de coletor pode
induzir à formação de micelas aprisionando os coletores. Na tabela 4 são fornecidos alguns
valores de CMC para vários tipos de aminas.
WALTSON e MANSER [20] observaram que próximas a CMC as aminas primárias, tipo
dodecilamina, simplesmente perdem sua propriedades de flotar silicatos devido aos fatores
comentados anteriormente e, portanto, a otimização da quantidade de tensoativos é uma
das chaves para o sucesso do processo de flotação.
O ponto Kraft (PK), é definido como sendo a temperatura acima da qual ocorre uma
abrupta mudança na solubilidade de um tensoativo, ilustrado na figura 9. A solubilidade
das aminas está relacionada ao tamanho, tipo de grupo funcional, número e saturação de
cadeias carbônicas. Como regra geral, pode-se dizer que os compostos de cadeia linear são
menos solúveis em água que seus pares ramificados com equivalente número de carbonos
na cadeia. A solubilidade aumenta com o aumento de grupos funcionais, hidroxilas, por
exemplo, e com as insaturações. Quanto mais longo é o grupo lipofílico menor será a
solubilidade em água.
0,08
0,07
0,06
0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0
Te mpe ratura (o C )
Figura 9: Comportamento típico de surfactantes catiônicos e não iônicos mostrando a variação da
solubilidade x temperatura. A inflexão da curva é chamada de ponto Kraft.
Como a solubilidade dos coletores sofre grande variação em uma faixa de temperatura
estreita (menor que 5º), deve-se sugerir que os engenheiros tratamentistas busquem
informações sobre tal propriedade com relação ao coletor que está sendo usado e tenham o
cuidado de avaliar a temperatura de seu processo de flotação ao longo do tempo, visando
compreender as possíveis variações na temperatura da polpa e sua influência no
desempenho dos reagentes de flotação.
3.3 - HLB
A preocupação com o impacto ambiental das atividades de mineração sempre foi um tema
bastante debatido pela indústria. O uso de produtos químicos em processos de flotação se
insere nesse contexto porque a maior parte dos compostos usados na etapa de concentração
acaba, de alguma forma, sendo carreados para uma unidade de tratamento ou para as
barragens de rejeitos.
A biodegradabilidade rápida é comumente usada para fins regulatórios porque ela define
com clareza os riscos de uma substância. Nesse teste a biodegradação é monitorada através
da medição do consumo de oxigênio ou pela produção de dióxido de carbono durante um
período de 28 dias em um teste chamado garrafa fechada (closed bottle test). O produto
que se deseja avaliar é fechado em uma garrafa com uma solução de água e
microorganismos onde são monitorados constantemente o oxigênio e/ou o dióxido de
carbono. O resultado da avaliação é expresso como a % de CO2 formado em relação ao
teórico ou pela relação entre o consumo biológico de O2 versus a demanda teórica desse
composto. Um resultado positivo nesse teste indica que a substância é degradada
rapidamente. Entretanto, os resultados de biodegradabilidade imediata tendem a subestimar
o potencial de biodegradação com relação ao ambiente. Quando o resultado desse teste é
negativo ou dúbio, a avaliação da biodegradabilidade natural ou os testes de simulação são
usados como uma certificação [22].
Tabela 5: Classificação da biodegradação de vários compostos catiônicos com seus respectivos radicais
hidrofóbicos e hidrofílicos [24].
Composto Catiônico Cadeia carbônica “Moieties”
(Radical Alquil)
Sal de alquil trimetil amônio (C10-C18) Rapidamente Rapidamente
Sal de dialquil dimetil amônio (C10-C12) Rapidamente Rapidamente
Polioxietileno alquil amina 4EO (C12) Rapidamente Natural
Alquil dimetil aminas (C12 – C18) Rapidamente Rapidamente
Sal de alcoxi propano amina ( C10-C13) Rapidamente Rapidamente
Acetato de alquil amina primária (C12-C18) Rapidamente Rapidamente
Acetato de alquil, 1-3 propano amina (C12-C18) Rapidamente Rapidamente
4
FISPQ – Ficha de informação de segurança de produtos químicos. De acordo com as normas do programa
de atuação responsável da Associação Brasileira da Indústria Química – ABIQUIM, esse documento deve
sempre acompanhar os produtos químicos e têm que conter todas as informações sobre procedimentos de
emergência em caso de incidentes.
destino. Todo e qualquer manuseio de produtos químicos deve ser feito com o uso dos EPI5
apropriados.
Os minerais, com algumas exceções6, são facilmente molháveis pela água, sendo, portanto,
hidrofílicos por natureza. Os óxidos e silicatos requerem coletores que sejam ionicamente
fortes e que tenham grandes grupos hidrofóbicos (baixo HLB). Esses dois requisitos são
atingidos quando se usa um tipo de coletor que tenha em sua estrutura uma cadeia
carbônica proporcionalmente mais longa que a do grupo iônico e que deve se ionizar com
facilidade. Os derivados de aminas graxas preenchem esses requisitos e por isso seu uso é
tão difundido em processos de flotação de óxidos, silicatos e outros minerais hidrofílicos.
5
EPI – Equipamento de proteção individual
6
Algumas das exceções são o talco, grafite, carvão, pirofilita, enxofre, molibdenita dentre outros.
7
Silvita ( KCl ), carnalita ( KCl.MgCl2.6H2O ), schoenita ( K2SO4.MgSO4.6H2O ), etc.
Para que ocorra a adsorção das aminas por atração eletrostática é necessário que o pH da
suspensão seja maior que o pH onde o PZ é zero ( > IEP). A tabela 6 indica o pH onde
ocorre o PZC (ponto de zero carga) de diversos oximinerais. Assumindo que o PZC e o
IEP são valores muito próximos, a interpretação dos dados dessa tabela, indicam que para
valores de pH menores que do PZC, a carga superficial será positiva enquanto para valores
de pH maiores a carga será negativa. Faz sentido, portanto, utilizar essa regra para
selecionar que tipo de coletor poderá ser usado em uma dada faixa de pH, mas alguns
cuidados devem ser tomados na generalização do conceito.
LEAL FILHO [26], sumarizou o PZC em faixas de variação para grupos de minerais como
silicatos, óxidos e sais semi-solúveis, com algumas poucas exceções como o quartzo. O
resultado é ilustrado na figura 10.
16
14
12
10 Silicatos
8 Oxidos
6 Sais Semi Solúveis
4
2
0
0 2 4 6 8 10 12
pH
Figura 10: Faixas de pH onde se concentram os pontos de zero carga (PZC) dos principais silicatos,
óxidos e sais semi-solúveis [28].
Segundo LEAL FILHO [28], além da atração eletrostática existirão também atrações de
Van der Walls que seriam responsáveis pelas interações laterais entre as cadeias
Alguns fatores muito importantes estão associados ao tipo de adsorção que a amina realiza
sobre os oximinerais e estão ilustrados na figura 24, cujas explicações são apresentadas a
seguir [29]:
a c
- + + - +
- +
+ +
-
- - +
- +
+
+ +
+ -
- + - +
+
+ +
- + - - + +
+
+
+
+
-
+
- + - +
+ + +
+ - + - Contra íon
+ + -
- + - + Íon determinador de potêncial
+ Coletor catiônico
Figura 11: Representação esquemática da adsorção de coletores catiônicos (aminas) com a dupla
camada elétrica até a formação de hemi-micelas [31].
Existem diversos autores que têm estudado o mecanismo de flotação de sais solúveis,
[26;30–3132] mas ainda existe um grande hiato na compreensão exata desse mecanismo. A
teoria mais atual que busca explicar o mecanismo [26;34], sugere que a estrutura da água
interfacial e os diferentes estados de hidratação dos sais solúveis seriam os parâmetros
mais importantes a serem considerados e as propriedades eletrostáticas da superfície não
estariam governando o mecanismo de adsorção.
A importância da formação das pontes de hidrogênio entre coletor e mineral salino também
seriam confirmadas quando se tenta flotar KCl com aminas secundárias ou terciárias. Esses
compostos são menos capazes de formar ligações de hidrogênio, e, por isso, são péssimos
agentes de flotação para a silvita.
KI (θ = 25O)
Figura 12: Estrutura da água interfacial na superfície de KI, KCl e NaCl. Força relativa do íon Na+
em estruturar as moléculas de água NaCl comparativamente ao KCl e KI [26].
Essa teoria é complementada por TITKOV [34], que postula que os íons Na+ reduzem a
mobilidade da fase aquosa no leito de hidratação enquanto que os íons K+ apresentam um
efeito contrario. Também por isso, as aminas teriam facilidade de adsorver na superfície da
silvita preferencialmente à halita. A principal causa desse efeito advém do sódio ter um
tamanho iônico menor que do potássio e a energia de hidratação do primeiro ser também
maior que do segundo. A tabela 7 mostra os raios iônicos e as energias de hidratação para
vários íons.
Outro fator importante que diz respeito às características da amina é o seu grau de
saturação, ou índice de iodo (IV). Como já discutido em 2.4, quanto menor o IV menor
será o grau de saturação do derivado nitrogenado e quanto maior o IV pior será o resultado
da flotação para esses sais solúveis. Aminas insaturadas são mais facilmente solubilizadas
que suas congêneres saturadas o que dificulta a flotação [32].
32
30
o
28
Ângulo de contato
26
Silvita
24
Halita
22
20
18
16
10
14
22
30
18
26
34
2
Temperatura oC
Figura 13: Efeito do aumento da temperatura na hidrofilicidade da halita e da silvita [34].
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma sugestão para outros pesquisadores, é que seja investigado o desempenho de outros
tipos de aminas que não os quaternários de amônio ( tipo brometo de cetil trimetil amônio
ou brometo de dodecil dimetil amônio ) e as aminas primárias tipo dodecilamina. Com
poucas exceções, quase toda literatura disponível baseou seus estudos e conclusões na
avaliação desses produtos. Atualmente existem ácidos graxos ramificados, que podem ser
usados na síntese de derivados de aminas também ramificados e cujo desempenho na
flotação é imprevisível e uma incógnita. Além do mais, o tema de saturação das cadeias é
praticamente inexplorado pela literatura.
Tabela 8: Minas e minérios que utilizam coletores amínicos e sua respectiva dosagem.
Minério Mina Usina Tipo de Coletor Dosagem g/t
Hematita Alegria CVRD Eteramina 100
Conceição CVRD Eteramina 44
Timbopeba CVRD Eteramina 40
Capitão do Mato MBR Eteramina 44
Casa da Pedra CSN Eteramina 55
Cauê CVRD Eteramina 44
Germano Samarco Eteramina e 100 16
eterdiamina
Willemita Vazante CMM Aminas primárias 130
Calamina Vazante CMM Aminas primárias 350
Pirocloro Araxá CBMM Diamina 140
Catalão Anglo American Eteramina e 150 (finos) e
diamina 300 (grossos)
Calcita Mogi da Cruzes Imerys Mistura de 180
polietileno aminas
com sais de amônio
quaternário
Magnesita Brumado Magnesita Mistura de 80
polietileno aminas
com sais de amônio
quaternário
Apatita Cajati Bunge Alquil Sarcosinato 200 (finos) e
50 (grossos)
Silvita taquari-vassouras CVRD Amina primária 200-220
Tabela 9: Possíveis problemas de qualidade que podem ocorrer com os derivados de aminas e sua
esperada interferência na flotação.
Compostos Possíveis problemas Como controlar a Possíveis problemas no
de fabricação ocorrência dos desempenho da
problemas flotação
Aminas Alto teor de aminas IA total e IA aminas Alteração na
primárias secundárias e alto secundárias solubilidade e queda na
índice de iodo IV recuperação
Diaminas Índice de iodo baixo IV, IA Alteração na
solubilidade e queda na
recuperação
Eteraminas e Alto teor de amina IA total e IA aminas Maior estabilidade da
eterdiaminas secundária, presença secundárias espuma (ACN), queda
de álcool livre e na recuperação
presença de ACN
Sais Alto teor de sais de IA Possível variação de pH
quaternários sódio, aumento do pH no condicionador
de amônio e amina livre alta
Alquil Presença indesejada de IA, IN Perda de seletividade
sarcosinato aminas primárias e
secundárias
dialquilicas
O tema das aminas utilizadas em flotação, apesar de ter mais de 60 anos, ainda pode ser
considerado bastante vasto e longe de estar esgotado. Espera-se que esse texto auxilie para
melhor compreender esses compostos químicos e ajude a aproximar ainda mais os usuários
e produtores para o constante desenvolvimento de novos produtos.
REFERÊNCIAS
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chemical technology, 3.ed. New York: John Wiley& Sons, 1978 v.2, p.283 – 293.
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9 – METCALF, L.D. Recent advances in the analytical chemistry of fatty acids and
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