Cadernos Do CHDD - Ano 11 Número Especial 2012 PDF
Cadernos Do CHDD - Ano 11 Número Especial 2012 PDF
Cadernos Do CHDD - Ano 11 Número Especial 2012 PDF
Ministro de Estado Embaixador Antonio de Aguiar Patriota
Secretário-Geral Embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira
Presidente Embaixador José Vicente de Sá Pimentel
Diretor Embaixador Maurício E. Cortes Costa
A Fundação Alexandre de Gusmão (funag), instituída em 1971, é uma fundação pública vinculada ao Ministério
das Relações Exteriores e tem a finalidade de levar à sociedade civil informações sobre a realidade internacional
e sobre aspectos da pauta diplomática brasileira. Sua missão é promover a sensibilização da opinião pública
nacional para os temas de relações internacionais e para a política externa brasileira.
O Centro de História e Documentação Diplomática (chdd), da Fundação Alexandre de Gusmão / MRE, sediado no
Palácio Itamaraty, Rio de Janeiro, prédio onde está depositado um dos mais ricos acervos sobre o tema, tem por
objetivo estimular os estudos sobre a história das relações internacionais e diplomáticas do Brasil.
Palácio Itamaraty
Avenida Marechal Floriano, 196
20080-002 - Rio de Janeiro, RJ
Telefax: (21) 2233 2318 / 2079
www.funag.gov.br/chdd
[email protected] / [email protected]
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textos: este número, assim, traz a público uma coletânea dos primeiros
artigos escritos por José Maria da Silva Paranhos Júnior de que se tem
notícia, quais sejam os de seu tempo de estudante no Recife.
Complementarmente, foi incluído o texto do folheto de divul-
gação do pavilhão do Brasil na Exposição de Horticultura de São Pe-
tersburgo, em 1884. O original, depositado no Arquivo Histórico do
Itamaraty, foi escrito em francês e agora transposto para o português,
pela mesma equipe que traduziu os textos em língua estrangeira das
Obras. Não faz parte daquela coleção por não ser inteiramente da lavra
do futuro Barão do Rio Branco, então delegado do Brasil e responsável
pelo pavilhão, que tinha no café seu principal item, detalhadamente
apresentado à sociedade russa pelos autores do folheto.
A organização deste Caderno Especial coube ao Embaixador
Manoel Antônio da Fonseca Couto Gomes Pereira, Coordenador Ge-
ral do Comitê Executivo da Comissão para a Celebração do Primeiro
Centenário da Morte do Barão do Rio Branco. O embaixador esteve
à testa de toda a celebração e recolheu, ao longo do ano, os muitos
comentários aparecidos na imprensa sobre a figura e os feitos do pa-
trono da diplomacia brasileira, neste ano do centenário. Como um dos
objetivos do Centro de História e Documentação Diplomática é facili-
tar o acesso à pesquisa, pareceu oportuno reuni-los neste volume, em
benefício dos pesquisadores que venham a debruçar-se sobre o tema.
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Sua visão da história era, sem dúvida, pragmática e tinha implícito o ob-
jetivo de projetar uma determinada imagem do Brasil, que confirmava e
validava os valores e as práticas da ordem saquarema, na qual foi criado
e socializado politicamente. Uma história conservadora, centrada na di-
ferenciação entre o Brasil e seus vizinhos em vista da suposta superio-
ridade em termos de grau de civilização conferida pela monarquia, que
nos aproximava do modelo europeu e nos distanciava da América repu-
blicana. Uma monarquia parlamentar em que prevaleceria o consenso
e a conciliação, traduzidos na ordem e na obediência às hierarquias e
valores tradicionais.
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10 RIO BRANCO, Obras do Barão do. Artigos de Imprensa. Brasília: Ministério das
Relações Exteriores/Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. vol. X. pp. 27 e 28.
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A guerra
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5 João Pedro Dias Vieira (1820-1870), magistrado, professor e político brasileiro, foi
ministro dos Estrangeiros e da Marinha em 1864 (gabinete liberal de Zacarias de Góis
e Vasconcelos), deputado geral, presidente de província e senador do Império de 1861
a 1870. (M.G.P.)
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14 Esta curta mas substanciosa informação sobre o Conselheiro Paranhos, dirigida essen-
cialmente aos leitores estrangeiros da revista, terá sido, muito possivelmente, da autoria
de Juca Paranhos, à época correspondente no Brasil daquela publicação francesa, para
a qual enviou informações e croquis sobre a guerra do Paraguai, durante quase toda a
duração do conflito. (M.G.P.)
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15 Fracassada a missão Saraiva, o Conselheiro Paranhos foi convidado pelo gabinete li-
beral de Francisco José Furtado, sendo Dias Vieira ministro de Estrangeiros, para
chefiar nova missão ao Prata. Chegou a Buenos Aires em 2 de dezembro, já come-
çada a guerra contra Solano López. Inicialmente, Paranhos tentou obter o apoio de
Mitre contra o Paraguai, mas este se recusou, alegando que só entraria na guerra se a
Argentina fosse invadida. As tropas brasileiras de terra e mar, em coordenação com
as forças de Venâncio Flores, combatiam Aguirre. Em 19 jan. 1865, informou ao go-
verno argentino e às representações estrangeiras que o Brasil reconhecia Flores como
beligerante e anunciava a intervenção armada do Brasil para pacificar o Uruguai. As
hostilidades prosseguiram até 16 fev. 1865, dia seguinte ao fim do mandato de Aguirre,
quando Paranhos foi procurado para dar início às negociações. Em vista da invasão
de Mato Grosso por tropas paraguaias, Paranhos comunicara, de Buenos Aires, em 27
jan. 1865, ao governo argentino e ao corpo diplomático estrangeiro, o estado de guerra
entre o Império e o Paraguai. Em 20 fev. 1865, na vila da União, já sob a presidência
interina de Tomás Villalba, foi assinada a Convenção de Paz, pela qual, entre outros,
Venâncio Flores era reconhecido em todo o Uruguai e pelas potências neutras como
o chefe supremo do país. Em 04 mar. 1865, o Diário Oficial publicou a demissão de
Paranhos, “porque o acordo celebrado [em 20 de fevereiro] não atendeu tanto quanto
devia as considerações que fizemos anteriormente”. Apud “Biografia do Visconde do
Rio Branco”, citada. (M.G.P.)
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17 Voltando ao Brasil, Paranhos preparou sua defesa durante meses e, em 05 jan. 1865,
por ocasião da discussão do voto de graças, com que o Legislativo respondia à Fala do
Trono, fez a sua defesa, em discurso que durou cerca de 8 horas. Segundo o Barão do
Rio Branco, na biografia citada, “...maioria do Senado e os espectadores aplaudiram
entusiasticamente o ilustre orador, e ao sair este, depois das 20h30, foi surpreendido
por uma verdadeira ovação do povo, que o esperava na rua”. (M.G.P.)
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A Tríplice Aliança
22 O Tratado da Tríplice Aliança (1º maio 1965), foi negociado em segredo. Um dos
negociadores, Carlos Calvo, ministro das Relações Exteriores do Uruguai, entregou
cópia, sob promessa de reserva, a William Lettson, ministro inglês em Montevidéu,
que o encaminhou a seu governo. Em 02 mar. 1866, o governo inglês tornou-o público
(Doratioto, Francisco. Maldita Guerra, p. 88). Obrigado a renunciar, Carlos Calvo recri-
mina o primeiro-ministro inglês. (cf. Benítez G., Luís. Historia diplomática del Paraguay.
Assunção: El Gráfico S. R. L., 1972, pp. 219-220). Foram negociadores, pelo Brasil, o
Conselheiro Francisco Otaviano de Almeida Rosa e, pela Argentina, Rufino de Elizal-
de. Francisco Otaviano, que secretariara a missão Saraiva, sucedeu Paranhos na missão
ao Prata e negociou o tratado, do qual a Argentina só aceitou participar depois de
invadida Corrientes pelo Paraguai, em 13 abr. 1865. (M.G.P.)
23 N.E. – As letras entre colchetes estão rasuradas no original.
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O artigo 2º não fixa as forças, com que deve cada aliado con-
correr para a guerra; e, assim, cada um é juiz das forças de que pode
dispor. Se entrar na campanha com um batalhão, tem satisfeito a obri-
gação contraída.
O que resultou daí? A guerra é feita por nós e em proveito alheio.
De fato, o exército argentino compõe-se de 4 a 5 mil homens,
que o Brasil sustenta, dividindo, até, com ele as rações dos soldados
brasileiros, como vimos suceder no Passo da Pátria.
O exército oriental é quase nenhum, constando apenas de 1.200
homens; e, para que o general Flores tivesse o24 que comandar, preciso
foi compor-se um exército com divisões brasileiras e argentinas!
A força brasileira é de 50 mil homens e a sua esquadra tem sido
um forte peão, sobre que a guerra tem girado até agora.
Se ela houvesse sido batida em Riachuelo, ou se nós a não tivésse-
mos mandado para as águas do Prata, o ditador López haveria entrado
em Buenos Aires sem encontrar dois batalhões para lhe embargarem
o passo.
O artigo 3º fixa a única obrigação da República Argentina, cujo
presidente obriga-se a comandar os nossos soldados: e achandoisso [sic]
pouco, queria também dispor da esquadra.
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29 “Em 1844, o visconde de Abrantes, em missão na Europa, tentou negociar uma ação
coletiva para pacificar o Rio da Prata, juntando Brasil, Inglaterra e França. Os países
europeus até decidiram agir contra o ditador da Confederação, mas dispensaram a
participação brasileira, alegando que não queriam criar complicações diplomáticas. Em
26 de novembro de 1845, uma esquadra anglo-francesa bloqueou o porto da capital
argentina e ocupou a ilha de Martín Garcia, ponto estratégico para a navegação no
Prata. Em dois meses a vitória foi garantida, e os europeus finalmente atravessaram
as águas dos rios Paraná e Paraguai para vender mercadorias.” Doratioto, Francisco.
Hermanos?, in http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/hermanos, acesso
em 3/9/2012. (M.G.P.)
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30 Nota no original – “Quanto aos meios, diz M. de Brossard, os dois governos repeliram
em princípio a cooperação do Brasil. Pensaram ser mais prudente não empenhar este
Império em sua luta com seus vizinhos, evitando assim, para o futuro, numerosos mo-
tivos de rivalidade entre a corte do Rio de Janeiro e as repúblicas beligerantes.” [Alfred
de Brossard, adido à missão extraordinária da França ao Prata e que publicou, em 1850, a obra
“Considérations historiques et politiques sur les Republiques de la Plata dans leurs rapports avec la
France et l’Angleterre”, diz que, quanto aos meios, os dois governos repeliram em princípio a coopera-
ção do Brasil. Pensaram ser mais prudente não empenhar este Império em sua luta com seus vizinhos,
evitando assim, para o futuro, numerosos motivos de rivalidade entre a corte do Rio de Janeiro e as
repúblicas beligerantes. (M.G.P.)]
31 Nota no original – “Minha firme convicção – dizia ele, em sua carta de 20 de dezembro
de 1845, inserida no Morning Chronicle – é que as partes interventoras não obterão,
com os meios adotados, o fim a que se propõem. Sua intervenção não terá outro efeito,
senão prolongar indefinidamente os males, que querem remediar; não há intervenção
humana que possa assinar um termo a pacificação a que aspiram.”
32 Florencio Valera (1807-1848), escritor e a voz (dos unitários) mais temida por Juan
Manuel de Rosas. Exilado em Montevidéu desde 1828, uniu-se a outros escritores e
intelectuais unitários para opor-se a Rosas. Foi assassinado em 1848, provavelmente
por ordem de Rosas. Cf. http://www.todo-argentina.net/biografias/Personajes/flo-
rencio_varela.htm, acesso em 30/8/2012. (M.G.P.)
33 Possivelmente, Adolfo Alsina (1829- 1877), jurista e político unitário argentino, foi
governador da província de Buenos Aires e vice-presidente da república. (M.G.P.)
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de Rosas por muito tempo o vencedor de India Muerta, mas seu êmulo
se ergueu contra ele em 1848.
O que fazia obrar Urquiza não era, certamente, nem o patriotis-
mo, nem o sentimento da pátria insultada, tiranizada, paralisada em seu
desenvolvimento, mas seu interesse pessoal e, talvez, a perspectiva de
mais vastas operações comerciais, tomando o lugar de Rosas.
Obstáculo por seu caráter à organização futura da república era,
todavia, um poderoso instrumento para derribar a tirania de Rosas.
A Inglaterra e a França afrouxavam, Rosas estava em seu apogeu:
a Inglaterra tratava com ele, a França tinha pressa em desembaraçar-se
deste longo e ruinoso negócio.
Foi então que o Brasil, vendo que a mediação armada da França
e Inglaterra não produzia o fruto que esperava e que a sua política
encontrava sério embaraço na conservação de Rosas, tomou a peito
entrar na luta, fazendo causa comum com os inimigos de Rosas.
Entendeu-se com Urquiza e este com Virazoro34, governador de
Corrientes, e entre si formaram aliança – primeira que fez o Brasil com
Estados do Prata. Com essa aliança, se fez a campanha de 1852.
Sabe-se, geralmente, quais as bases desse tratado.
O Brasil entrava com 12.000 homens, com sua armada e subsídios.
Vencido Rosas em Montevidéu, prosseguiu-se a campanha em
Buenos Aires, que findou pelo glorioso ataque de Monte Caseros.
Em toda essa política, sustentada à custa de seu sangue e de seu
dinheiro, o Brasil prosseguiu na linha de conduta que se tinha traçado.
Pacificado Buenos Aires e durante a efêmera administração de
Urquiza, e após a batalha de Pavon, que firmou o predomínio dos
Unitários, o Brasil pôde ter descanso e aplicar seu cuidado ao engran-
decimento e prosperidade do país.
Prosseguiremos.
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vindicta e pode-se dizer que o desagravo era de cada um, conforme a sua
força e os seus meios, sendo que a intervenção da autoridade, quando
a havia, era mais imprudente ainda pela parcialidade e pela legalidade
aparente de que o ato era revestido.
O Rio Grande atroava o governo com suas queixas e os seus re-
presentantes pediam providência em altos gritos.
Todos sabem, porque os fatos são ainda de ontem, que a missão
Saraiva foi devida a esses clamores. Um fato revoltante e no qual mais
se atacara a dignidade nacional do que os indivíduos que dele foram
vítimas: e a vinda do general Netto35 à corte determinou sobretudo o
pedido de reclamações de que fora incumbido o conselheiro Saraiva.36
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35 Antônio de Sousa Netto (1803- 1866), político e militar, foi o segundo maior líder da
Revolução Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul. Abolicionista ferrenho,
mudou-se para o Uruguai após a revolução, com os negros que decidiram acompanhá-
-lo. Em 1851, entrou na guerra contra Rosas com uma “Brigada de Voluntários Rio-
-Grandenses”, organizada inteiramente à sua custa. Como Brigadeiro Honorário do
Exército, viu seu grupo transformar-se na Brigada de Cavalaria Ligeira. Voltou a com-
bater na guerra contra Aguirre e, depois, na Guerra do Paraguai. À frente da brigada,
fez a vanguarda de Osório na invasão do Paraguai (Passo da Pátria, 16 abr. 1866). Na
batalha de Tuiuti, defendeu o flanco da tropa brasileira; ferido, foi removido para um
hospital em Corrientes, onde faleceu. (M.G.P.)
36 Nota no original – “Veja-se a nota do sr. conselheiro Paranhos ao corpo diplomático
do Rio da Prata em data de...” [sic]
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selheiro Saraiva era uma escolha feliz, porque era no Império a alta
expressão da nova era que se fazia mister também preciso implantar
no Rio da Prata, desde que íamos dispostos a reconhecer em Flores
a qualidade de beligerante e desde que, íamos dispostos a reconhecer
em Flores a qualidade de beligerante, e desde que finalmente mais ou
menos, ia-se a um país estrangeiro pedir satisfação de tropelias e vio-
lências, nas circunstâncias referidas, pronunciando-se o governo pelos
órgãos do seu partido contra a situação ali dominante, contra o gover-
no legal do Uruguai.
Não entra em nosso propósito, tampouco, analisar os passos do
diplomata e as suas conferências com Mitre, presidente da República
Argentina, que justa ou injustamente passava ante o mesmo governo
do Uruguai como motor, ou fomentador, do movimento revolucioná-
rio dirigido por Flores.
Tampouco faremos detida análise da mediação inconveniente
em que se intrometeu o nosso plenipotenciário para pacificar o Estado
Oriental: seu primeiro echéc.
E sim, finalmente, nos ocuparemos do modo por que deu por
finda o mesmo conselheiro Saraiva a sua missão e a quase ridícula po-
sição que assumiu, então, o nosso almirante, ao declarar ao corpo di-
plomático estrangeiro o começo das represálias que ia efetuar, dando
como que instruções acerca do seu procedimento e da neutralidade
que deviam guardar; o que deu lugar a uma resposta coletiva, do mes-
mo corpo diplomático, um tanto severa39.
E tudo sem prévia declaração de guerra e sem que explicássemos
ao mundo e às potências ali, altamente interessadas, os nossos motivos
de obrar.
O ultimatum do sr. conselheiro Saraiva e a nota do sr. visconde de
Tamandaré serão sempre um padrão... nos fastos diplomáticos do Rio
da Prata.
Seria longo enumerar todos os desacertos do governo e da missão
Saraiva, que só por socorro da Providência deixaram de nos ser fatais.
Em boa hora, porém, retirou-se o sr. Saraiva do Rio da Prata
para ser substituído pelo sr. senador Paranhos, um dos que, desde o
começo, foi indigitado pela opinião pública como competente para a
falada missão; em boa hora, dizemos, porque a nossa situação ali me-
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IV
40 “Antes de chegar ao mais alto cargo de seu país, o doutor Francia se enamorou de Pe-
trona Rafaela Zavala e a pediu em casamento. Seus pais o recusaram e Petrona se casou
com Juan José Machaín. Nomeado Ditador Supremo, Francia baixou um decreto mal-
dizendo as famílias Zavala e Machaín até a quinta geração e prendeu e, posteriormente,
mandou fuzilar a Juan José Machaín.” Cf. http://ladiaria.com.uy/articulo/2011/5/
la-leccion-de-zabala/, acesso em 3/9/2012. (M.G.P.)
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41 Bernardo de Velasco y Huidobro (c. 1765-c. 1822), militar espanhol e último gover-
nador da Intendência do Paraguai, deposto em maio de 1811, viveu no Paraguai até a
morte. (M.G.P.)
42 Fulgêncio Yegros y Franco de Torres (1780-1821), militar e político paraguaio, é con-
siderado o Pai da Pátria. Militar de maior prestígio entre os envolvidos na Revolução
de Independência, foi o chefe da Junta Governativa, criada em junho de 1811 e com-
posta, ademais, por Francia e Pedro Juan Caballero. Manteve uma posição favorável à
confederação que integrasse o Paraguai, Corrientes, o Uruguai, Entre-Ríos, Santa Fé
e o Rio Grande do Sul, de maneira a enfrentar o afã expansionista do Rio de Janeiro
e de Buenos Aires. Em 1820, implicado em uma conspiração para derrubar Francia,
já Ditador Supremo, foi preso, torturado e fuzilado. Cf. www.biografiasyvidas.com/
biografia/y/yegros.htm, acesso em 3/9/1821. (M.G.P.)
43 Pedro Juan Caballero (1786 -1821), militar e político paraguaio, foi um líder do pro-
cesso de independência do Paraguai. Participou da primeira Junta Governativa do país.
Com a designação de Francia como Ditador Supremo, em 1814, Caballero passou
a engrossar as fileiras da oposição ao isolacionista e autocrático regime. Preso com
outros conspiradores, em 1820, suicidou-se na prisão. Cf. www.biografiasyvidas.com/
biografia/c/caballero_pedro_juan.htm, acesso em 3/9/2012. (M.G.P.)
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50 Nota no original – “Os documentos relativos a esse antagonismo e luta se podem ver
na coleção de tratados celebrado pela República Argentina com os governos estrangei-
ros. “Publicação oficial. Buenos Aires, 1863. Gaceta Mercantil”. “Arquivo Americano”.
“El Paraguay Independiente” (publicação periódica reimpressa em 1859. Assunción. 2
v.). Pode-se também consultar a M. Moussy: “Description de la Confédèration Argen-
tina”. t. 1º e 3º; M. du Graty: “La Republique du Paraguay”; Don José Maria Paz: “Me-
mórias Póstumas”; Bartolomeu Mitre: “Histórias de Belgrano”; Domingues: “História
Argentina”; etc, etc.”
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51 Pedro Fajardo, bispo de Buenos Aires (1716-1729), acordou com José Palos, bispo
do Paraguai, os limites entre ambas dioceses (jun. 1727), aceitando como marco o rio
Paraná e os povoados de Candelária, São Cosme e Santa Ana como subordinados à
atividade pastoral do bispo assuncenho. (M.G.P.)
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Se o Paraguai pretende que os povos das Missões devem seguir sua sor-
te, é lícito à confederação sustentar que é o Paraguai que deve seguir a
destas e, como as províncias das Missões foram representadas nos Con-
gressos Argentinos e formaram parte da República depois da revolução,
segue-se que o Paraguai vem a ser parte integrante da confederação.
É este o último reduto da política Argentina, que não recebeu
solução pelo tratado de 1856.
O tratado de 1852 reconhecia por linha divisória o rio Paraná, ad-
judicando-se ao Paraguai a ilha de Yacyretá e, à confederação, a ilha de
Apipé; concedia ao primeiro plena soberania sobre o Paraguai até sua
confluência com o Paraná, sancionando assim a pretensão do Paraguai
sobre esta vasta porção do Chaco, contra o que reclamou o governo da
Bolívia, mas, como dissemos, esse tratado foi substituído pelo de 1856,
que adiou o regulamento dos limites, salvas as posses das ilhas acima
mencionadas, que ficaram reconhecidas.
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As repúblicas vizinhas
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não fosse esse quem nos excitou à guerra, e quem foi o agressor ousa-
do e sem causa alguma justificável.
Cumpre que nos encaminhemos a ter decidida superioridade nos
meios de força e nos atos de justiça. Cumpre que não ofendamos; mas
cumpre, também, que não toleremos ofensas, que disso estejam certos
os nossos vizinhos.
Assim viveremos em paz com eles, nos engrandeceremos e sere-
mos todos felizes.
A nacionalidade da raça portuguesa, grande pela extensão do solo
e vigor das instituições políticas, pode conciliar-se e viver em harmonia
com a democracia de origem espanhola, grande pelo número dos Es-
tados e forte pela homogeneidade de sentimentos.
É para essa política altamente grande e importante para o país,
que o governo deve volver vistas de prevenção, se quer que o Brasil
seja na América o que os destinos prometem.
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A guerra
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54 Ataque aliado à posição fortificada de Curupaiti (22 set. 1866), às margens do rio Pa-
raguai. Nessa ação, os aliados sofreram a maior derrota da guerra. (M.G.P.)
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A guerra
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As repúblicas do Pacífico
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forma as graças de López, que fazia dizer ser por ele dirigido; sem fa-
larmos na inabilidade com que se houve o sr. Pereira Leal62, que entrou
tanto pela desafeição e antipatia de López 1º, quanto pela simpatia e
afeição houvera entrado o sr. Pimenta Bueno; deter-nos-emos na mis-
são Pedro Ferreira, que foi ao Paraguai pouco mais ou menos como o
sr. Saraiva fora no Estado Oriental.
O Brasil, descontente da política sem franqueza do Paraguai e
decidido a exigir satisfação dos danos que aquela política lhe acarretara,
enviou o chefe de esquadra Pedro Ferreira de Oliveira com sua divisão
naval e, ao mesmo tempo, encarregado de poderes diplomáticos.
No primeiro de fevereiro de 1855, a esquadrilha assomou nas
Três Bocas63 e aí começaram as explicações .
Pedro Ferreira conveio, afinal, em separar-se da esquadrilha e ir,
com um só navio, a Assunção tratar a paz.
Aí, em 27 de abril, foram assinadas duas convenções, sendo rejei-
tadas pelo Brasil a que estipulava a demora de um ano para a conclusão
de um tratado de limites.
Mais tarde, as negociações retomaram curso.
Desta vez, chegou-se a um resultado e um tratado de navegação
e de comércio negociado por d. José Berges foi assinado no Rio de
Janeiro, em 6 de abril de 1836.64
62 Felipe José Pereira Leal (1812-1880), militar e diplomata, foi presidente da província do
Espírito Santo. Sucessor de Pimenta Bueno na República do Paraguai, Pereira Leal não
conseguiu manter as relações diplomáticas no nível alcançado por seu antecessor junto
ao homem forte do país. As relações ficaram complicadas e tensas, pela incapacidade
de chegar-se a um acordo quanto à delimitação das fronteiras e à livre navegação dos
rios Paraná e Paraguai. O encarregado de negócios foi expulso do Paraguai em 1853 e a
nota que comunicou a expulsão ao encarregado de negócios fala apenas em manifesta-
ções públicas do encarregado contra o governo de Assunção. Cf. Relatório da Repartição
dos Negócios Estrangeiros para 1853. (M.G.P.)
63 A data se refere à chegada da divisão naval comandada pelo chefe de esquadra Pedro
Ferreira de Oliveira à confluência dos rios Paraguai e Paraná (as chamadas “Três Bo-
cas”). O oficial estava encarregado de missão diplomática junto ao governo de Assun-
ção, para conseguir: 1º reclamar uma satisfação pela ofensa feita ao Império na pessoa
do seu encarregado de negócios, Felipe José Pereira Leal.; 2º reclamar que o simples
trânsito pelos rios Paraguai e Paraná, na parte em que suas águas pertencem à repú-
blica, fosse franqueado aos navios e súditos brasileiros, como se acha estipulado no
artigo 3º do tratado de 25 de dezembro de 1850; e 3º celebrar, se possível, os ajustes
concernentes aos limites e à navegação e comércio entre os dois países em conformi-
dade do artigo 15 do mesmo tratado. A primeira questão foi resolvida de uma maneira
honrosa para o Brasil. Quanto às outras, celebrou o plenipotenciário brasileiro duas
convenções que o governo imperial julgou não dever ratificar e, em consequência, o
oficial foi exonerado do comando da divisão naval. (M.G.P.)
64 O plenipotenciário brasileiro foi o Conselheiro José Maria da Silva Paranhos, então
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A guerra e o governo65
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67 José da Costa Carvalho, primeiro barão, visconde e marquês de Monte Alegre, (1796-
1860), político, magistrado, membro da Regência Trina Permanente e primeiro-minis-
tro do Império do Brasil (8 out. 1849 a 11 maio 1852, no 5º gabinete do 2º Reinado,
liberal). É desse período a política de intervenção armada do Brasil no Rio da Prata,
contra Oribe e Rosas. (M.G.P.)
68 Manuel Felizardo de Sousa e Melo (1805-1866), militar, professor, jornalista, magistra-
do e político. Conservador, foi ministro da Marinha e da Guerra, entre 1848 e 1853.
Também teve participação nas ações contra Oribe e Rosas. (M.G.P.)
69 Paulino José Soares de Sousa, visconde do Uruguai (1807-1866), político e jurista,
foi ministro dos Negócios Estrangeiros (1843-1844 e 1849-1853), com influência na
extinção do tráfico de escravos e na guerra contra Oribe e Rosas. Chefiou a delegação
brasileira na comissão mista Brasil-França (1855-1856) que negociou, sem sucesso, a
fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa. Essa questão só seria resolvida cinquenta
anos depois, por esse então jovem jornalista, que viria a ser conhecido por Barão do
Rio Branco. (M.G.P.)
70 Joaquim José Rodrigues Torres, visconde de Itaboraí (1802-1872), jornalista e político
filiado ao Partido Liberal, em 1837 transferiu-se para o Partido Conservador. Foi pre-
sidente do Conselho de Ministros. (M.G.P.)
91
92
***
93
Por ter sido publicado com muitos erros de imprensa o presente artigo,
repetimo-lo hoje:
73 N.E. – Este “Estudo sobre a política do Brasil no Rio da Prata...” foi publicado
duas vezes, tendo sido a primeira em 25 de outubro de 1866. Foi transcrita apenas
a segunda que, nessa data, veio sob a advertência que aqui está em negrito. A par da
tradução, possivelmente da autoria de Paranhos Júnior, trata-se, como diz o nome,
de um estudo sobre o artigo, cujo original pode, ainda hoje, ser consultado em:
<http://fr.wikisource.org/wiki/La_Guerre_du_Paraguay_et_les_Institutions_des_
%C3%A9tats_de_la_Plata>. Acesso em: 21 ago. 2012.
74 Nota no original – “Este artigo não entrava no nosso plano, mas a leitura da Revista
nos induziu à tradução competente q ora fazemos – pelo interesse que encontramos
no escrito de M. Bellecourt – precede ao que devia seguir, que será publicado com a
mesma.”
94
diz, basta opor o artigo que acaba de publicar a Revista no seu número
de 15 de setembro.
Vamos fazer dele alguns extratos que, supomos, serão lidos com
interesse.
O artigo está assinado por M. Duchesne de Bellecourt:
A Guerra do Paraguai
95
96
83 Nota no original – “Apesar desse obstáculo, apesar da falta de estradas e de lhe faltarem
quase todos os meios de mobilidade, o Brasil pôde, em tempo mui limitado, apresentar
reunidos muitos elementos de guerra e um exército e esquadra respeitáveis.”
97
98
***
99
Tradução
Marlene da Silva Furtado de Mendonça
1 Até 1918, a Rússia adotou o antigo calendário juliano. Em 1884, 5 de maio naquele
calendário equivalia a 17 do mesmo mês no calendário gregoriano, donde a referência
invariável às duas datas no texto do catálogo.
103
104
4 LINS, Álvaro. Rio Branco. Brasília: FUNAG; São Paulo: Ed. Alfa Ômega, 1996. p. 88-89.
5 Idem, p. 393-394.
6 LINS, op. cit., p. 454.
105
106
107
108
109
De Vossa Excelência
Paranhos Júnior
110
na
EXPOSIÇÃO INTERNACIONAL
de
São Petersburgo
1884
____________
São Petersburgo
Editora Trenké e Fusnot
Maximilianovsky péréoulok,15
1884
do
CATÁLOGO GERAL
da
em
São Petersburgo
Maio de 1884
113
I.
115
II.
O Café
I. Noções Gerais.
Sumário. – O café. – Diferentes espécies de cafeeiros. – O
Brasil é o país em que a cultura do café atingiu a maior ex-
tensão. A produção de todos os outros países reunidos não
chega a igualar a do Brasil. – Como se cultiva o café. – Os ca-
fés do Brasil estudados no Conservatório de Artes e Ofícios
de Paris pelo general Morin, professor Péligot, doutor La-
borie e senhor Heuzé. – Maneira de preparar o café. – Opi-
nião do doutor Pennetier sobre os cafés do Brasil. – Análise
química do café. – O café brasileiro é o mais rico em cafeína.
– Análise dos cafés brasileiros pelo doutor Ludwig, diretor
do laboratório de química da Faculdade de Medicina de Vie-
na. – Opinião do doutor Lucien Martin sobre o emprego
do café nas forças armadas de terra e mar. – A supressão do
alcoolismo só pode ser obtida com a popularização do uso
do café. – O abuso do café não é de se temer como o abuso
das bebidas alcoólicas e do tabaco. – Propriedades terapêu-
ticas do café. – Pode ser empregado como medicamento. –
Suas falsificações na Europa devido às tarifas alfandegárias
incidentes sobre o café. – Medidas tomadas recentemente na
Inglaterra para evitar as falsificações ...................................163
II. O café sob o ponto de vista econômico.
Sumário. – Mercado ascendente da produção e do consumo.
– Baixa acidental dos preços. – Consumo do café na Rússia
e em outros países (nota 44, p. 181). – Média de consumo por
habitante (nota 44, p. 182). – Tarifas alfandegárias incidentes
sobre o café (nota 44, p. 181). – As sociedades contrárias ao
abuso de bebidas alcoólicas deveriam ser as primeiras a exigir
a diminuição das tarifas alfandegárias que pesam sobre o café
..................................................................................................177
III. As exposições de café brasileiro, a associação “Centro da
Lavoura e do Commercio”.
Sumário. – A associação Centro da Lavoura e do Commercio. –
Nomes dos membros do conselho administrativo (nota 48,
p. 182). – Objetivo da associação. – As exposições de café
feitas no Rio de Janeiro pelo Centro da Lavoura e do Commercio
em 1881, 1882, 1883. – Propaganda no exterior. – Exposi-
ções de cafés brasileiros na América e na Europa. – Prêmios
116 obtidos (nota 55, p. 188)..........................................................182
III.
IV.
V.
VI.
VII.
Anexo
Brochura em russo e em francês sobre o café, distribuída aos
visitantes da exposição brasileira..............................................249
117
em
SÃO PETERSBURGO
1884
119
São Petersburgo
1884
––––––––––––
121
A solene abertura teve lugar esta tarde. Pela manhã, o júri interna-
cional havia feito a avaliação suplementar da qual falamos ontem, após
o que os presidentes e os secretários dos dezesseis grupos se reuniram,
sob a presidência de sua excelência o ajudante-de-ordens general Greig para
elaborar a lista das premiações.
Por volta das 14h, os membros da Sociedade Imperial de Hor-
ticultura e os expositores já haviam se agrupado no picadeiro Michel,
e os convidados começavam a afluir. Dignitários da corte e altos fun-
cionários, ministros e seus assessores, generais, inúmeros membros do
corpo diplomático e muitas damas da alta sociedade estavam reunidos
na rampa de entrada da exposição. Suas altezas imperiais os senhores
grão-duques Vladimir, Alexis e Sérgio Alexandrovitch, Nicolau Nico-
laiévitch pai, e Michel Nicolaiévitch, bem como sua alteza real, a se-
nhora grã-duquesa Anastácia de Mecklemburgo-Schwerin e sua alteza
imperial a senhora grã-duquesa Maria Pavlovna chegaram por volta das
15h. Um grupo compacto de convidados, de membros do congresso
de botânica e de horticultura e de expositores encontrava-se ao pé da
rampa.
Suas majestades o imperador e a imperatriz, vindos de Gátchina2,
fizeram sua entrada na exposição por volta das três horas e quinze, ao
som do hino nacional, tocado pela orquestra, e foram recebidos por
sua alteza imperial o senhor grão-duque Nicolau Nicolaiévitch pai, au-
gusto protetor da Sociedade Imperial de Horticultura. Sua majestade a
imperatriz recebeu à sua chegada um magnífico buquê de rosas, ornado
de fitas vermelhas e brancas, com as iniciais de sua majestade e que lhe
foi ofertado pela senhorita de Greig. O soberano e a soberana, acom-
panhados pelos senhores grão-duques e pelas senhoras grã-duquesas,
pelo senhor ajudante-de-ordens general Greig, bem como pelos membros do
comitê organizador, e seguidos pelos convidados e expositores, per-
2 Cidade próxima a São Petersburgo, onde se localizava, nos séculos XIX e XX, o palá-
cio residencial dos imperadores russos. (M.G.P.)
122
123
3 Nicolas Karlovitch de Giers (1820-1895), político e diplomata russo, foi ministro dos
Negócios Estrangeiros de 1882 a 1895. (M.G.P.)
124
(maio de 1884)
––––––––––––
125
Presidente:
Sua Excelência o senhor visconde de São Clemente.
Vice-presidente:
Senhor Ramalho Ortigão, J. C.
Secretários:
Senhores Honório Ribeiro e H. Joppert.
Tesoureiro:
Senhor barão de Quartin.
Membros:
Senhores barão de Araújo Ferraz – Eduardo de Lemos – Miranda
Jordão, C. A. de – Mello Franco, J. de – Araújo Maia, H. de – Bruno
Ribeiro – e Valverde de Miranda.
126
I.
NOTÍCIA SOBRE O BRASIL
____________
Histórico
127
128
Religião
129
5 Nota no original – “O meridiano do Rio de Janeiro fica na longitude de: 73º 27’ 15”
Oeste de São Petersburgo / 45º 27’ 15” Oeste de Paris / 43º 7’ 6” Oeste de Greenwich.”
130
Município da Capital
do Império
e Províncias Capital Superfície População
em km Livre Escrava6 TOTAL
2
6 Nota no original – “Os algarismos entre parênteses indicam o ano do último recense-
amento válido de que dispomos.”
7 Hoje, João Pessoa. (M.G.P.)
8 Salvador. (M.G.P.)
9 Hoje, Florianópolis. (M.G.P.)
10 Nota no original – “A população escrava hoje (1884), não passa de 1.318.978. De
acordo com os últimos dados estatísticos o número de escravos reduziu-se a 1.150.000
e o número da população livre aumentou consideravelmente. Em 1873 o número de
escravos era de 1.540.796. Em dez anos houve, portanto, uma redução de 390.000.”
131
11 [de 1884].
132
133
134
13 O tratado Du climat et des maladies du Brésil (Do clima e das doenças do Brasil) foi publi-
cado em Paris, em 1844. José Francisco foi o prenome adotado pelo francês Joseph-
-François-Xavier Sigaud (1796-1857), naturalizado brasileiro, formado em Estrasburgo
em 1818, e que chegou em 1825 ao país onde viveria por trinta anos. Foi médico do
jovem imperador Pedro II, pioneiro da imprensa nacional, editor de periódicos médi-
cos, fundador e presidente da Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro, membro do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e atuante filantropo (Sacramento-Blake,
1898). Para Luiz Otávio Ferreira (José Francisco Xavier Sigaud: um personagem es-
quecido, uma obra reveladora. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 5, n. 1, p. 125-
126, 1998), na Sociedade de Medicina, Sigaud uniu "a atividade de editor científico
com a de investigador interessado em explicar a situação sanitária brasileira" (p. 125),
considerando-a em sua imensa diversidade e complexidade, sendo o livro Du climat...
resultado desse ambicioso projeto de pesquisa. A obra é extensa e o autor anota cui-
dadosamente suas variadas fontes, obtidas no Brasil e na França, incluindo trabalhos
sobre a história brasileira, obras médicas nacionais e estrangeiras, em especial aquelas
sobre as moléstias tropicais e as doenças dos escravos (Dazille, Levacher, Lind, Rush,
Pinto de Azeredo etc.), e muitos relatos de cronistas, viajantes e naturalistas. Entre
estes, estão Marcgrave, A. de Saint-Hilaire, Spix e Martius, Koster, Lindley, D'Orbigny,
La Condamine e Humboldt, modelo cuja inspiração o médico francês evoca na in-
trodução de seu livro. (Cf.: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid
=S1415-47142008000500004>. Acesso em: 31 jul. 2012).
135
136
137
Riquezas naturais
138
139
Escolas primárias
públicas alunos
1857 ............... 2.595....................70.124
1866 ............... 4.435................. 107.483
1872 ............... 4.653................. 155.058
1878 ............... 5.661................. 175.714
1881 ............... 5.785................. 188.843
140
141
142
Finanças
16 Nota no original – “O mil-réis (1000 réis) do Brasil equivale, de acordo com o câmbio
atual, a mais ou menos 1 rublo moeda. 1.000 réis valem, ao par, 27 pence ou 2 francos
e 81 cêntimos.”
143
Receitas Despesas
mil-réis mil-réis
Alfândega 93.709.800 Ministério do 9.777.309
Taxas de navegação Império
(faróis e docas) 400.000 Ministério da 7.278.461
Receitas internas: Justiça
Ferrovias 13.140.000 Ministério dos 822.907
Telégrafos 900.000 Negócios
Correios 1.500.000 Estrangeiros
Selos 5.000.000 Ministério da 11.202.960
Impostos da Marinha
35.395.600
indústria e das Ministério da 14.657.212
[31.995.600]
profissões 3.500.000 Guerra
Impostos de Ministério da 25.502.106
transmissão de Agricultura
bens imóveis 4.000.000 Comércio e
Impostos diversos 3.955.600 Obras Públicas
Receitas Ministério da 60.944.105
extraordinárias 1.410.000 Fazenda
Receitas especiais 1.200.000 Total das despesas 130.185.060
Total das receitas: 132.115.400
[128.715.400]
144
145
– Infantaria: 21 batalhões em 8
companhias ............................. 8.127
.... 8.624 homens
8 companhias de
guarnição .................................... 497
15.288 homens
146
147
148
149
150
grandes rios cujas margens são povoadas, e nas lagoas dos Patos, Mi-
rim e Mangaba, existem linhas de barcos a vapor, entre as quais várias
são subvencionadas pelo Estado ou pelas províncias.
No que se refere às comunicações com o estrangeiro, há linhas
de paquetes a vapor entre o Brasil e Londres, Southampton, Liverpool,
Bordeaux, Havre, Marselha, Lisboa, Barcelona, Gênova, Nápoles, An-
tuérpia, Hamburgo, Bremen, Estados Unidos, Canadá, as repúblicas
do Uruguai, Argentina, Paraguai, Chile e Peru, São Vicente e Dacar na
África, e Nova Zelândia. Esses paquetes fazem escala em Santos, Rio
de Janeiro, Vitória, Bahia, Maceió, Pernambuco, Ceará, Maranhão, Pará,
Serpa18 e Manaus, esses três últimos portos na bacia do Amazonas.
É de se desejar que um serviço regular de barcos a vapor ligue
em breve os dois impérios da Rússia e do Brasil. O comércio entre os
dois países, estabelecendo relações diretas e suprimindo intermediários
inúteis, trará certamente imensos benefícios.
Docas e diques – Várias concessões de docas foram concedidas
pelo governo. As docas do Rio de Janeiro, já em serviço, são muito
conhecidas pelo comércio estrangeiro. Citemos ainda os magníficos
diques da Marinha de Guerra no Rio de Janeiro, talhados na rocha da
ilha das Cobras, em frente ao arsenal.
Faróis – O sistema de faróis ainda não está completo, mas o go-
verno aumenta seu número dia após dia e ele já existe nas extremidades
de todos os portos frequentados e nos pontos em que a navegação
oferece algum perigo. Bem recentemente, em 2 de dezembro de 1883,
inaugurou-se a luz elétrica, com a iluminação do belo farol da ilha Rasa,
muito conhecido pelos navegadores e que assinala a entrada do porto
do Rio de Janeiro.
Movimentação marítima
151
número número
Ano de navios tonelagem de navios tonelagem
número número
Ano de navios tonelagem de navios tonelagem
152
neste momento, não existem, ou quase isto, relações diretas entre os dois
vastos impérios da Rússia e do Brasil. Todo o comércio, todas as trocas,
ainda se fazem pela via indireta dos portos da Alemanha ou da Inglaterra!
Comércio
Comércio exterior:
Importação Exportação Total
(mil-réis) (mil-réis) (mil-réis)
1870-71 137.264.000 166.949.400 304.213.400
1871-72 158.318.000 193.418.900 351.736.900
1872-73 156.730.600 215.893.100 372.623.700
1879-80 172.744.300 221.928.800 394.673.100
1880-81 180.458.700 233.567.700 414.026.400
1881-82 184.113.300 216.709.800 400.823.100
Comércio interprovincial:
Importação Exportação Total
(mil-réis) (mil-réis) (mil-réis)
1879-80 105.149.500 75.563.300 180.712.800
1880-81 78.953.300 76.890.300 155.843.600
1881-82 91.428.300 83.471.100 174.899.400
153
154
Indústria
155
5/12/2012 14:00:04
Cadernos do CHDD
157
Agricultura
158
159
160
161
____________
162
II.
O CAFÉ
____________
I. Noções Gerais
163
22 Os cafés finos são os arábicas, cujos grãos maduros podem ser vermelhos ou amarelos,
dependendo da variedade (cultivar), ou seja existe o Bourbon Amarelo (que de forma
geral produz as bebidas mais finas) e o Bourbon Vermelho, tão bom quanto aquele,
mas talvez menos fino de paladar. Os amarelos são mais sensíveis às pragas e doenças,
de forma que os vermelhos são mais cultivados. Segundo o Instituto Agronômico de
Campinas – IAC, o nível de cafeína é praticamente o mesmo em grãos amarelos ou
grãos vermelhos, de 0,9 a 1,2, para cafés arábicas. Depois de torrado, o nível de cafeína
no arábica fica em torno de 1,0. Nos cafés africanos (robusta), o nível é de 2,0. (In-
formação prestada, em 27/7/2012, pelo doutor Roberval Corrêa de Rezende Bueno,
fazendeiro de café em Carmo do Rio Claro, MG)
164
certo quinhão, mas a produção de todos esses países somada não chega
a um terço dos cafés fornecidos pelo Brasil23.
Uma subdivisão prática admite dez ou doze cultivares de inúme-
ras linhagens, que diferem entre elas por preços tão diversos quanto
sua qualidade, seu aroma e sua origem.
Essa distinção é essencial e iremos ver a nomenclatura exata das
diferentes linhagens de café entregues ao consumo pelo comércio:
América
23 Nota no original: “A produção total anual é hoje de 666 mil toneladas métricas, a saber:
Produção do Brasil ........................300 mil toneladas
Produção dos outros países .........366 mil toneladas
666 mil toneladas”
24 Nota no original: “Completamos a classificação dos cafés do Brasil de acordo com as
notas que nos foram fornecidas pelo senhor Araújo Maia, que representa na Rússia,
com o doutor Cunha e Souza, o Centro da Lavoura e do Commercio.
– Cafés do Rio: Andaraí, Moca brasileiro, Botucatu, Leroy, Ceilão brasileiro, Maragojipe,
Murta, Bourbon brasileiro, e as 14 qualidades seguintes: fino, superior nº 1, superior nº
2; 1ª boa nº 1; 1ª boa nº 2; 1ª regular (média) nº 1 e 1ª regular nº 2; 1ª comum nº 1 e 1ª
comum nº 2; 2ª boa nº 1 e 2ª boa nº 2; 2ª comum nº 1 e 2ª comum nº 2; Escolha. Esses
diferentes tipos de café se dividem ainda em cafés lavados e não lavados.
– Cafés de Santos (São Paulo): as mesmas variedades do Rio.
– Cafés Capitania: os da província do Espírito Santo.
– Cafés de Minas Gerais: as mesmas variedades do Rio. São exportados via Rio.
– Cafés da Bahia: Bahia, Bahia Caravelas, Bahia Muritiba, Bahia Valença, Bahia Marago-
gipe e as 14 variedades do Rio.
– Cafés do Ceará: as 14 variedades do Rio.”
165
Peru: Carabaya
Huanaca
Bolívia: Yungas
África
África Madeira
Ocidental: Cabo Verde
Senegâmbia (Cazengo, Rio Nunez)
Gabão (Gabão, Benguela, Monróvia)
São Tomé (Príncipe)
Angola (Encoge, Cazengo)
166
Madagascar (Tamatave)
Zanzibar (Moca zanzibar)
Berbera
Ásia
Índia Cochinchina31
Transgangética: Cingapura
167
Taiti
Nova Caledônia
36 Plantação de vegetais (árvores, mudas, arbustos, vides etc.) de modo equidistante, dis-
postos em quadrado, com um no centro. (M.G.P.)
37 Nota no original: “Ver O Império do Brasil na Exposição de Filadélfia. Rio de Janeiro, 1876,
um vol. com mapas.”
168
Data da Densidade N. de
Procedência colheita Estado dos grãos dos grãos grãos por
por litro decilitro
38 N.T. – Região rural sob o ponto de vista de sua produção agrícola, de suas particulari-
dades rurais.
39 Nota no original: “Ver nas Annales du Conservatoire des Arts et Métiers: Note sur les diverses
varietés de café et, en particulier, sur les cafés du Brésil, pelo general Morin.”
169
Venezuela ............................. 1865 ovoides médios ..................... 654 gr. ............. 400
São Salvador ........................ 1873 id. id. ....................................... 662 gr. ............. ----
Ceilão ......................... meio secos finos ........................................ 580 gr. ............. 452
grossos (desidratados
Brasil (Espírito Santo) .......... 1875 artificialmente) ...................... 567 gr. ............. 318
170
171
172
– Glicose dextrina
Ácido cafeico ............ 15 a 16 "
Ácido cítrico e outras matérias
não azotadas
– Matérias azotadas
...................................... 17% em média
Cafeína, legumina
173
As matérias graxas que dão ao café cru seu odor são, portanto,
relativamente pouco numerosas.
A cafeína é o que domina no café. Esse alcaloide foi descoberto
por Runge. Cristaliza-se em filamentos sedosos, brancos, inodoros, li-
geiramente amargos e voláteis. A cafeína é muito rica em azoto. Cons-
titui um excelente nutriente, visto que contém 30 % de seu peso em
azoto.
Por sua composição, esse princípio ativo do café é idêntico à teína
do chá, à teobromina do cacau e à guaranina do guaraná.
O senhor Vandencorput descobriu a presença da cafeína nas fo-
lhas do cafeeiro na proporção de 2 %.
A torrefação modifica a composição química do café. A parte
lenhosa se decompõe em parte e se torna friável, a dextrina e a glicose
se transformam em uma matéria marrom, amarga, solúvel em água, um
princípio oleoso muito aromático, muito volátil, a cafeína se expande
sob a ação do fogo. A maior parte da cafeína permanece, mas uma
porção se decompõe em metilamina.
A quantidade de cafeína varia de acordo com a espécie do café.
Em 500 gramas de café submetidos à análise, encontrou-se:
174
41 Nota no original – “Vide Der Kaffee von Brasilien, Viena, 1883. Citaremos também uma
publicação bem recente do doutor F. da Cunha e Souza: Brasil-Kaffee. Viena, 1884.”
175
42 Nota no original: “Ver Dr. Meplain, Du Café, étude de Thérapeutique Physiologique (Paris,
1868, Louis Leclerc, Livreiro-Editor); Dr. Guégan, Considérations sur l’Emploie du Café
dans le traitement des métrérrhagies (Paris, 1881, A. Parent, Impressor da Faculdade de
Medicina) ; Dr. Villemus, Du Café et de ses principales applications thérapeutiques (Paris, 1875,
A. Derenne) ; Dr.C. Teixeira, Der Kaffee (Viena, 1883) ; Dr. Cunha e Souza, Brasil-Kaffee
(Viena, 1884) ; Barão de Teresópolis, Discurso no 4º Congresso Internacional de Higiene e
Demografia em Genebra (1882).”
176
177
178
179
180
181
Vejamos agora quais são as taxas alfandegárias, em moeda francesa, e a média anual,
em quilogramas, do consumo por habitante em alguns países, começando pela França,
onde as taxas sobre o café são exorbitantes:
182
183
184
185
51 Nota no original – “Diz-se que o café moca foi descoberto em 1285. Dois séculos de-
pois, a cultura dos cafeeiros dessa espécie se desenvolveu no Iêmen, e estende-se hoje
em dia nas encostas das montanhas que ladeiam a vasta planície de 220 quilômetros de
extensão ao longo do mar Vermelho, onde se encontram as cidades de Beih-el-Fakih e
Moca. A produção anual do Iêmen está estimada em 5 milhões de quilogramas. O Egi-
to, a Síria e Constantinopla consomem a maior parte dela. O verdadeiro moca chega à
Europa em quantidade muito pequena.”
52 Nota no original: “A terceira exposição anual de cafés feita no Rio de Janeiro pelo
Centro da Lavoura e do Commercio foi aberta em 8 de dezembro de 1883, na presença de
sua majestade o Imperador. Mais de 2.000 amostras de cafés das províncias do Rio de
Janeiro, São Paulo, Minas, Espírito Santo e Ceará foram apresentadas por 1.400 expo-
sitores.”
53 José Maria da Silva Paranhos Júnior, o futuro barão do Rio Branco.(M.G.P.)
186
54 Trata-se do relatório de 25 de março de 1882, citado por Álvaro Lins em Rio Branco, e
intitulado O café na Grã-Bretanha – Informação apresentada a sua excelência o senhor Conselheiro
Manuel Alves de Araújo, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas, por José Maria da Silva Paranhos, cônsul-geral em Liverpool, 1882. Álvaro Lins
o considera, juntamente com o relatório sobre navegação e comércio entre o Brasil e
Liverpool, os dois principais documentos da atividade consular de Paranhos Júnior.
(M.G.P.)
187
55 Nota no original – “Por essa exposição de café, em Paris, a grande medalha de ouro do
Concurso Agrícola anual foi outorgada em 16 de fevereiro de 1883 à associação Centro
da Lavoura e do Commercio, e nesse mesmo ano de 1883 os cafés do Brasil obtinham na
Exposição Internacional de Amsterdam um triunfo ainda mais brilhante. Nessa cidade,
que é o grande entreposto dos cafés holandeses, tão apreciados na Europa, o Centro da
Lavoura e do Commercio, obteve pela sua exposição de cafés um grande diploma de honra,
distinção que não foi outorgada a nenhum café de outra procedência. Além desse
grande diploma, o júri concedeu 6 medalhas de ouro, 11 de prata, 15 de bronze e 15
menções honrosas a plantadores brasileiros, e o governo holandês enviou ao Brasil um
delegado, o senhor van Delden, para estudar a cultura do café.
Na exposição de Berlim (1882), realizada sob os auspícios da Sociedade Central de Ge-
ografia Comercial de Berlim, o Centro da Lavoura e do Commercio e um plantador da pro-
víncia de São Paulo, obtiveram o mais importante prêmio, o grande diploma de honra.
Sete grandes diplomas, nove diplomas e cinco menções honrosas foram concedidos
aos expositores de cafés brasileiros. O mesmo sucesso foi obtido pelo café do Brasil
nos concursos internacionais de que participou: nas Exposições Universais de 1867 e
1879 em Paris, de 1873 em Viena, de 1876 na Filadélfia e na Exposição Continental de
Buenos Aires, de 1882. Em Paris, em 1867, o júri internacional outorgou a medalha de
ouro ao café brasileiro e não concedeu nenhum prêmio semelhante aos cafés de outras
procedências. Em Viena, na Filadélfia, em todos os lugares, nossos cafés obtiveram os
mais importantes prêmios. Eis aqui as exposições realizadas desde 1882 no exterior
pelo Centro da Lavoura e do Commercio: – Nova York, Boston e Saint-Louis, nos Estados
Unidos; Quebec, Toronto e Montreal, no Canadá; Buenos Aires; Londres; Paris, Nice,
Agen e Villeneuve-sur-Lot, na França; Genebra, Lausanne, Zurique, Amsterdam, Berlim,
Copenhague, Drondjem [provavelmente, Trondheim, hoje a terceira cidade da Noruega em popu-
lação (M.G.P.)], Viena, Trieste, Atenas, e, agora, esta de São Petersburgo.”
188
____________
189
III.
ESTATÍSTICA DO CAFÉ – PREÇOS NO RIO
____________
A) Produção do café.
Java ................85.000.000 kg
Sumatra ..........8.000.000 "
Célebes (Makassar, "
Colônias Manado) ........ 6.000.000 100.200.00
Holandesas: Curaçao .............500.000 " kg
Suriname ...........700.000 "
___________
100.200.000 "
190
B) Produção e consumo
Segundo os senhores Busch e Comt.e do Havre
191
1882 1883
Sacos de 60 kg Sacos de 60 kg
Cafés do Rio
Para os Estados Unidos da América ........... 2.459.132 2.314.650
192
Sacos de 60 kg Sacos de 60 kg
Estoque no Rio em 31 de dezembro 203.000 395.000
" em Santos " 158.000 292.000
D) Últimas colheitas
E) Exportações do Rio
193
1882
Lavado Superior 1ª Bom 1ª regular 1ª comum
3.250 a 6.100 3.450 a 4.750 3.200 a 4.350 2.800 a 3.950 2.400 a 3.600
1883
194
57 Nota no original – “Ver na nota n. 44, p. 181 as informações que completam esses
dados.”
195
196
Estoque:
– no Rio ............... 475.000 sacos de 60 kg
– em Santos ......... 350.000 " "
Do Rio de Janeiro
sacos exportados
Hard Rand & Cia. ...................................................... 346.286
Phipps Irmãos & Cia ................................................. 331.684
Edward Johnston & Cia ............................................ 271.946
Berla, Cotrim & Cia ................................................... 266.325
Mc. Kinnel & Cia ....................................................... 259.181
Arbuckle Irmãos & Cia ............................................. 230.226
Norton, Megaw & Cia .............................................. 201.740
John Bradshaw & Cia ................................................ 182.065
Francisco Clemente & Cia ........................................ 169.293
F. Sauwen & Cia ......................................................... 133.708
Wille Schmilinsky & Cia ........................................... 114.105
C. M. Culloch Beecher & Cia ...................................... 99.541
Gustavo Trinks & Cia .................................................. 94.686
Kern, Hayn & Cia ......................................................... 61.800
Le Cocq, Oliveira & Cia ............................................... 60.493
Karl Valais & Cia .......................................................... 57.887
C. W. Gross & Cia ......................................................... 53.270
E. Pecher & Cia ............................................................. 52.269
Mee, Allen & Darcy ...................................................... 50.429
J. S. Zenha & Cia ........................................................... 42.809
Gaye, Mattos & Cia ...................................................... 41.904
197
198
199
200
De Santos:
........................................................................sacos exportados
R. Wursten & Cia ....................................................... 249.511
J. Bradshaw & Cia ...................................................... 159.199
Carmo & Cia (em liquidação) .................................. 142.589
A. Leuba & Cia ........................................................... 122.470
Helworthy & Filho .................................................... 116.399
Adamezyk & Heinrich .............................................. 114.686
Auburckle Brothers ................................................... 105.457
Zerremer Bullow & Cia. ............................................. 88.925
D. Pezold & Cia. ........................................................... 87.581
Guye Mattos & Cia. ..................................................... 80.196
Lecoq, Gardner & Cia. ................................................ 73.114
Bœttner, King & Cia. .................................................. 65.344
Kern, Hayn & Cia. ....................................................... 63.217
Th. Ville & Cia. ............................................................ 61.109
Ad. Fremmel & Cia. .................................................... 56.105
T. Sauwen & Cia. .......................................................... 47.943
H. Sauwen & Cia. ......................................................... 36.226
J. Foord & Cia. .............................................................. 36.213
Vockerodt & Cia. ......................................................... 32.802
Berla Cotrim & Cia. ..................................................... 25.297
Mathias Costa & Santos .............................................. 22.571
Edw. Johston & Cia. .................................................... 19.317
M. A. Bittencourt ......................................................... 18.448
Mc. Kinnel & Cia. ........................................................ 15.197
F. Krueger ..................................................................... 10.444
F. S. Hampshire & Cia. ................................................... 7.190
D. Leonero & Cia. ........................................................... 5.842
Outras empresas .......................................................... 13.694
Rio e cabotagem ........................................................... 21.256
–––––––––
Total ......... 1.898.638
____________
201
IV.
OPINIÕES DE ALGUNS ESPECIALISTAS SOBRE O CAFÉ
____________
202
porque grande quantidade das melhores linhagens produzidas nas fazendas bra-
sileiras é vendida sob o nome de Java, de Moca, de Martinica ou de Bourbon... 60
(Agassiz – Viagem ao Brasil)
203
____________
62 Francisco Ferreira de Abreu, barão de Teresópolis (Rio Pardo, RS, 1823 – Battignolles,
França, 1885). Médico, catedrático de medicina legal e diretor da Faculdade de Medici-
na do Rio de Janeiro. (M.G.P.)
204
V.
INFLUÊNCIA DO TEMPO SOBRE O CAFÉ
____________
205
____________
206
VI.
CATÁLOGO GERAL
____________
da
EXPOSIÇÃO BRASILEIRA
em
SÃO PETERSBURGO
maio de 1884
____________
207
Cafés do Brasil
(1.000 amostras)
Distritos onde se
N. de encontram as
ordem EXPOSITORES plantações Qualidade64
64 Nota no original – “Ver para a classificação dos cafés brasileiros não lavados a nota
nº 24, na página 165. Quanto aos cafés lavados, eis sua classificação comercial, de
acordo com o senhor Araujo Maia: – lavado especial, lavado fino, lavado superior, lavado
regular, (bom-comum ou médio) e lavado baixo (comum). Os números encontrados no
presente catálogo depois de cada uma destas denominações (quanto aos cafés lavados)
representam somente a classificação feita pelo júri da exposição do Rio em razão da
distribuição de prêmios.”
208
Distritos onde se
N. de encontram as
ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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Distritos onde se
N. de encontram as
ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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Distritos onde se
N. de encontram as
ordem EXPOSITORES plantações Qualidade
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Artigos Diversos
Expositores
____________
247
VII.
ANEXO
____________
EXPOSIÇÃO BRASILEIRA
de
SÃO PETERSBURGO
1884
____________
249
____________
O CAFÉ DO BRASIL
Exposição dos cafés do Brasil
em São Petersburgo
1884
____________
Produção do Café
251
O café
Sua produção
Sua utilidade
65 Café, que torna o político sábio e o faz perceber todas as coisas com os olhos semi-
-cerrados. (M.G.P.)
252
O café fornece, não uma bebida de luxo, mas uma bebida sadia,
tônica e antifebril, que regulariza a digestão, equilibra e mantém as for-
ças do corpo, ao mesmo tempo em que desperta e aguça os sentidos.
Nos países de clima quente, o consumo do café é enorme, porque
neles o café substitui completamente todas as bebidas alcoólicas, cujo
abuso seria mortal.
Nas regiões frias, o consumo do café aumenta e se propaga cada
vez mais, porque o café aquece e fortifica como a aguardente, sem que
se tema pelo seu abuso. Bem ao contrário, consumido com aguardente,
auxilia o efeito útil do álcool e atenua as terríveis consequências que
acompanham o abuso dos licores alcoólicos.
A experiência das últimas guerras confirmou os efeitos úteis do
café e demonstrou o imenso recurso que seu emprego oferece para a
alimentação das forças armadas em campanha.
O café está destinado a ocupar um lugar cada vez mais amplo no
consumo de todos os povos e o Brasil, que possui mais de 3.000.000
km2 apropriados à cultura do café, sempre poderá aumentar sua pro-
dução para colocá-la no mesmo nível do consumo.
Preparação do café
253
aos seus convidados uma xícara de café de seis anos, de oito anos ou
ainda mais.
Quanto à espécie a escolher, a mistura a fazer das diferentes es-
pécies, depende do gosto e da apreciação de cada um, mas devemos
lembrar aqui que o Brasil aclimatou em seu imenso território todas as
variedades conhecidas, antigas ou novas, e que mais da metade dos ca-
fés vendidos sob o nome de Moca, Java, Martinica, Bourbon, etc., são
na realidade cafés brasileiros.
O café, uma vez alcançado o grau de envelhecimento desejado,
deve ser torrado. Essa é uma operação delicada, que exige muita atenção
e muito cuidado. Se for mal conduzida, poderão acontecer os seguin-
tes inconvenientes: ou bem o grão não está suficientemente torrado, e
conserva um gosto desagradável de verde; ou bem o grão está dema-
siadamente torrado, o aroma se perde e parte do café se transforma em
carvão; ou bem a torrefação é mal executada, o exterior fica muito tor-
rado e carbonizado enquanto o interior permanece cru; ou finalmente
a torrefação é desigual em diversos grãos, sendo alguns muito torrados,
enquanto outros não o são suficientemente.
Para evitar todos esses inconvenientes, basta ter a precaução de
instalar o torrador de café em um fogo que não seja muito forte, a fim
de que o calor tenha tempo de penetrar no interior do grão e torrá-lo,
sem carbonizar o exterior, mexer o torrador em um movimento contí-
nuo e regular, para que o calor se reparta e torre por igual toda a porção
do café; e finalmente, abrir o torrador de tempos em tempos para se
assegurar do grau de torrefação. Assim que o grão atingir a cor marrom
escuro, a operação está terminada e o café está torrado.
O café torrado deve ser consumido imediatamente, ou pelo menos
não deve ser conservado por mais de dois ou três dias. Além desse tem-
po, libera um óleo essencial, que se oxida em contato com o ar e fica ran-
çoso como a manteiga. Também aconselhamos às pessoas que torram
o café em casa, de só fazer pequenas quantidades de cada vez, e àquelas
que compram o café torrado no negociante, de só se dirigirem às casas
que têm grande comercialização e nunca vendem café velho e queimado.
Se o café não deve ser torrado com muita antecedência, maior
razão ainda para só ser moído exatamente no momento necessário, pois
uma vez em pó, perde rapidamente seu aroma. Aliás, jamais se deve
comprar café moído no merceeiro, não somente por causa da perda
do aroma, mas também e principalmente por causa das falsificações de
todo tipo a que se prestam os cafés em pó. É preciso que cada família
254
255
muito mais. Quase todo o café vendido sob essas denominações, algu-
mas vezes mesmo sob a de Java, provêm do Brasil, e o assim chamado
Moca frequentemente nada mais é que os pequenos grãos redondos dos
cafeeiros brasileiros.
Professor Agassiz, dos Estados Unidos da América do Norte
(Viagem ao Brasil).
256
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Dilma Rousseff
261
263
264
265
266
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268
269
da benévola, paternal e erudita figura de d. Pedro II, tão viva até hoje
ainda no imaginário brasileiro.
•
270
O Brasil tem dado mais de uma prova de que não abriga os planos de
271
conquista que lhe têm sido atribuídos (...) O que desejamos sinceramen-
te é que os nossos vizinhos nos deixem em paz. Território, temo-lo de
sobra.
272
273
274
275
276
277
* Artigo publicado no Boletim da Associação dos Diplomatas Brasileiros (ADB), ano XVII, n.
75, p. 13-15, out.-dez. 2011.
279
280
Sem dúvida, o Barão, por seu aspecto físico, alto, corpulento, cal-
vo e de grandes bigodes, por suas qualidades intelectuais e pelo res-
peito e apreço que granjeou na opinião pública, foi óbvia fonte de
inspiração para nossos caricaturistas.
Trata-se de exposição de indiscutível apelo popular, tanto mais
que as caricaturas a serem apresentadas, cerca de 100, foram contex-
tualizadas, de maneira que o visitante poderá entender facilmente os
desenhos e diálogos do início do século XX.
A reedição das “Obras do Barão do Rio Branco” é outra iniciativa
que se impõe. Publicados originalmente por ocasião do centenário do
seu nascimento, no período 1945-1948, os nove volumes das “Obras”
só são encontrados hoje em bibliotecas e em livrarias antiquárias.
Como se sabe, aquela edição contém os seguintes títulos: I – Ques-
tões de Limites: República Argentina; II – Questões de Limites: Guiana Britâni-
ca; III – Questões de Limites: Guiana Francesa, 1ª Memória; IV – Questões de
Limites: Guiana Francesa, 2ª Memória; V – Questões de Limites: Exposição de
Motivos; VI – Efemérides Brasileiras; VII – Biografias; VIII – Estudos Histó-
ricos e; IX – Discursos. Esses volumes foram precedidos da “Introdução
às Obras do Barão do Rio Branco”, do embaixador A. G. de Araújo
Jorge.
A reedição de 2012 difere, em alguns pontos, da anterior.
As memórias das questões de limites com a França e a Grã-
-Bretanha serão publicadas integralmente em português. Nos outros
volumes, fez-se levantamento detalhado dos trechos em idiomas es-
trangeiros, com idêntica finalidade.
Cada tomo será precedido de introdução, destinada a apresentar
ao leitor do século XXI os textos de há mais de cem anos. Em certos
casos, como nos Discursos, sentiu-se a necessidade de contextualização,
em benefício do leitor atual.
Para a reedição, foi criado um volume X, Artigos de Imprensa, que
281
282
283
1 Respondendo às perguntas de: OSSAMU, Carlos; SANTOS, José Maria dos. Um barão
que valeu milhões. Digesto Econômico, São Paulo: Associação Comercial de São Paulo,
ano LXVII, n. 466, p. 56-61, jan.-fev. 2012.
285
Rio Branco desfrutou das duas condições que, segundo Maquiavel, são
indispensáveis para o êxito do estadista: virtù e fortuna, isto é, compe-
tência e sorte. Em realidade, pode-se dizer que sua virtù é que tornou
possível a sua boa fortuna. Após estudos de direito sem distinção parti-
cular e começo frouxo como promotor, professor e deputado em duas
legislaturas, levou existência obscura, vivendo 26 anos esquecido na
Europa, a maior parte do tempo como cônsul-geral em Liverpool. Só
lembravam dele como filho do visconde do Rio Branco. Durante esse
período, dedicou-se a suas paixões intelectuais: a história militar e naval
do Brasil, a história colonial, a geografia colonial das Américas, o estu-
do dos mapas e de documentos de velhos arquivos. Acumulou, assim,
a erudição assombrosa de especialista, que lhe serviu para vencer, em
nome do Brasil, a questão de Palmas – ou Missões – com a Argentina,
submetida à decisão arbitral do presidente Cleveland, dos EUA (1895).
De um dia para o outro, alcançou a notoriedade, quando tinha 50
anos, idade avançada para a época (só teria a viver ainda 17 anos). Sua
reputação se consolidou com novo triunfo, contra a França dessa vez,
na questão da fronteira do Amapá com a Guiana Francesa, entregue
ao julgamento do presidente da Confederação Suíça, Walter Hauser
(1900).
286
287
288
289
Rio Branco estava convencido de que, por ocasião dos choques ar-
mados nos garimpos do Calçoene, com mortos e feridos, a França
não havia ocupado militarmente a zona litigiosa apenas por temer a
eventual reação dos Estados Unidos, guardiães da Doutrina Monroe.
Pouco antes do arbitramento sobre o Amapá, o presidente Cleveland,
dos EUA, o mesmo que fora o juiz da questão de Palmas, se referira de
forma quase ameaçadora à Grã Bretanha, que mantinha um dissídio de
fronteira com a Venezuela na região do Essequibo, limite com a Guia-
na Inglesa. Os britânicos, envolvidos na Guerra dos Boers, na África
do Sul, aceitaram submeter o problema a um tribunal arbitral, tendo
posteriormente ganho a pendência.
Julgava também o Barão que os franceses receavam a interferên-
290
cia inglesa, pois era aguda naquele momento a rivalidade entre França
e Grã-Bretanha na luta por colônias e por zonas de influência. Aliás,
para que o leitor de hoje possa compreender na sua justa importância
a gravidade das questões limítrofes contra potências europeias, como
eram as vizinhas do Brasil, é preciso recordar que se estava no auge do
imperialismo europeu, que não hesitava em recorrer à sua esmagadora
superioridade militar para dividir a África entre diversos países da Euro-
pa, ao mesmo tempo em que impunha concessões humilhantes à China
imperial, colonizava a Indochina e enfraquecia o Império Otomano.
Para Rio Branco, Joaquim Nabuco e seus contemporâneos, a
ameaça ao Brasil não provinha dos Estados Unidos do presidente Te-
ddy Roosevelt, o homem que brandia o big stick, o “cacetão”, na tra-
dução de Oliveira Lima. Isso seria problema para o México, a América
Central, o Caribe. Para o Brasil, longe dos EUA, mas vizinho territorial
de possessões europeias, o perigo vinha da França e do Reino Unido.
Daí a racionalidade da diplomacia de Rio Branco e Nabuco, ao buscar
a aliança norte-americana como proteção contra potências extraconti-
nentais. Para isso, estavam dispostos a oferecer a Washington o apoio
do Brasil na política ianque no hemisfério, em especial na fundação da
União Pan-Americana, início do pan-americanismo.
291
O “excepcionalismo” do Acre
292
293
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295
296
Estados Unidos para que a princesa regente dona Isabel, que a prin-
cípio também recusou, finalmente assinasse o decreto. Isso apenas se
fez por insistência de Caxias, presidente do Conselho de Ministros,
do barão de Cotegipe, ministro dos Negócios Estrangeiros, ambos do
Partido Conservador, colegas de partido e amigos do visconde do Rio
Branco.
Ao chegar à Europa, instalou a família em Paris, cidade que visi-
tava com frequência, vindo de Liverpool, em licença regular ou muitas
vezes excedendo os prazos. Conta-se que, temeroso “das línguas afia-
das da rua do Ouvidor”’, cada vez que encontrava na rua por acaso
algum brasileiro conhecido, tinha uma fórmula pronta para explicar
sua presença na “Capital do século XIX”: “Cheguei ontem e volto
amanhã...”
Viveu longe do Brasil mais de um quarto de século. Quando ga-
nhou a arbitragem de Palmas e se tornou uma celebridade, da noite
para o dia, grupos de patriotas desejavam que ele viesse ao Rio de
Janeiro para receber as homenagens da pátria, alguns cogitando até de
fazê-lo candidato a presidente da República. Prudentíssimo como sem-
pre, o Barão escusou-se delicadamente, afirmando que a vitória tinha
sido dos dois países e retornou à Europa diretamente. Antes, escreveu
em seu diário esta frase de Hofmann: “A inveja é a sombra da glória”.
Regressou, afinal, ao Rio de Janeiro em 2 de dezembro de 1902
,para tomar posse como ministro das Relações Exteriores do governo
Rodrigues Alves. Nesse começo da República, a posse do novo gover-
no era em 15 de novembro. Diziam os maledicentes que o Barão havia
deliberadamente decidido chegar sozinho para colher a glória de suas
vitórias passadas. O fato é que teve uma das maiores, se não a maior
manifestação de triunfo jamais tributada pelos cariocas a um dos seus
conterrâneos, como teria o mais consagrador dos enterros públicos.
A festa foi deslumbrante, desde o transporte do navio na galeota real
de d. João VI, conduzido por dezenas de remadores da Marinha de
Guerra. Rio Branco escreveu: “Suei doze lenços” e tomou depois o
trem para Petrópolis, pois receava pernoitar no Rio de Janeiro, devido
ao perigo de febre amarela.
A partir de certo momento, o Barão passou a viver exclusiva-
mente no seu gabinete de trabalho no Itamaraty, onde dormia num
austero leito de ferro. Trabalhava de forma desordenada, mas intensa,
dedicando-se às tarefas dia e noite. Cobria as mesas de papéis e livros,
não permitindo que ninguém pusesse ordem na barafunda. Os colabo-
297
298
Paulo Brossard*
* Jurista, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal. Texto publicado em: Zero
Hora, Porto Alegre, 3 fev. 2012. Artigos, p. 13.
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306
Introdução
* Historiador e diplomata. Autor de vários livros sobre a história da política externa bra-
sileira, entre os quais, O dia em que adiaram o carnaval (São Paulo: UNESP, 2010). Texto
publicado em: Revista Brasileira, Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, fase VII,
ano XVIII, n. 69, p. 11-44, out.-dez. 2011.
1 Em novembro de 1866, Paranhos Júnior foi proposto para membro do Instituto His-
tórico e Geográfico Brasileiro. No ano seguinte, com apenas 22 anos, ele foi aceito,
tendo apresentado para sua admissão seu “Esboço Biográfico do General José de
Abreu, Barão do Cerro Largo”, publicado em 1868 na Revista do IHGB, vol. XXXI,
parte segunda, p. 62-135, 3º trimestre. O trabalho de Rio Branco pode ser lido, ainda
hoje, no sítio da revista. Disponível em: <http://www.ihgb.org.br/rihgb.php>. Acesso
em: 9 out. 2012.
2 VIANA FILHO, Luís. A vida do Barão do Rio Branco. 8. ed. São Paulo: UNESP; Salva-
dor: EDUFBA, 2008. p. 34.
307
Nessa cidade, ele começou a unir aos estudos de História uma outra
vocação que o acompanharia por toda a vida, ainda que ambas tenham
acabado obscurecidas por seu sucesso estrondoso como diplomata
e estadista. Sua inteligência banhada de luz tinha, desde cedo, muitas
facetas. Em Pernambuco, começou a auxiliar o monsenhor Pinto de
Campos na edição do hebdomadário O Vinte Cinco de Março, que nessa
época publicou, em partes, um longo ensaio de nome “Estudo sobre
a política do Brasil no Prata”, cuja autoria certamente foi do futuro
barão. Essa atividade jornalística, engajada na defesa da visão brasileira
sobre a guerra, extravasava as fronteiras nacionais e o jovem Paranhos
colaborou também na imprensa europeia. Ele enviou informações,
artigos e, mesmo, desenhos sobre a guerra do Paraguai para revista
francesa L’Illustration.
Depois, como deputado e já tendo participado como secretário
de seu pai em duas missões diplomáticas no Prata, em 1873, Para-
nhos assumiu junto com seu amigo jornalista Gusmão Lobo a direção
do jornal A Nação, porta-voz da opinião do Partido Conservador, ao
qual ele pertencia. Os dois mantiveram-se à frente do jornal até 1875,
época em que Paranhos dedicou-se também a anotar e criticar o livro
publicado por L. Schneider, A Guerra da Tríplice Aliança contra o governo
da República do Paraguai, que trazia uma versão antibrasileira e permeada
de erros. Em pouco tempo, antes de sair do Brasil em 1876, havia im-
presso dois volumes de sua edição comentada, e faltava apenas o ter-
ceiro3. Depois, em 1891, Rio Branco voltaria a escrever regularmente
na imprensa, no Jornal do Brasil, de seu amigo Rodolfo Dantas. Nele, o
então já barão do Rio Branco manteve uma coluna regular, “Efemé-
rides Brasileiras”, pequenos artigos que comentavam fatos históricos
que aniversariavam na data em que saíam publicados os comentários.
Essa indissociação entre o historiador, o jornalista, o publicista e
o agente político é, desde logo, uma das marcas de Rio Branco. Mas,
vale dizer, trata-se também de uma característica de seu contexto his-
tórico. Como relembra Alonso,4 no “Brasil da segunda metade do XIX
3 Essa situação assim permaneceu, pois na bibliografia do D. Pedro II, Imperador do Brasil,
de 1889, consta a observação de que a obra de Schneider estava “anotada por J. M. da
Silva Paranhos, Barão do Rio Branco. 1º e 2º volumes, Rio de Janeiro, 1875-1876; 3º
volume, Paris, 1889. Esta tradução ainda não foi terminada”. Luís Viana Filho (op. cit.,
p. 200, nota 12) afirma que se concluiu a impressão do terceiro volume, mas que “dele
não se conhece um só exemplar”. Para ele, trata-se de “um dos enigmas da bibliografia
brasileira”.
4 ALONSO, Angela. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São
Paulo: Paz e Terra, 2002. p. 30.
308
5 OLIVEIRA LIMA, Manuel de. Memórias: estas minhas reminiscências... Rio de Janeiro:
José Olympio Editora, 1937. p. 184.
6 RIO BRANCO, Raul do. Reminiscências do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro: José
Olympio Editora, 1942. p. 146.
7 Luís Viana Filho (op. cit., p. 200) relata que, “por intermédio de Homem de Melo, che-
gou até a remeter, em junho [de 1891], um exemplar ao gen. Floriano Peixoto, ministro
da Guerra, cuja figura misteriosa começava a crescer entre os republicanos. Rio Branco
o conhecera ao tempo do Paraguai, quando, não passando de um obscuro major, tivera
a oportunidade de prestar-lhe pequenos obséquios”.
309
8 MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema. São Paulo: HUCITEC, 1987.
9 Álvaro Lins comenta: “Abolicionista ele o era com certeza, desde os tempos acadêmi-
cos, desde a época do gabinete de 7 de março, como colaborador do pai, mas achava
que fora incompleta e precipitada a solução do problema nos termos lacônicos da Lei
de 13 de maio [de 1888]. Ao seu temperamento conservador, as mudanças radicais
pareciam sempre germes de reação ou revolução, e por isso julgava mais sábia a Lei de
28 de setembro [de 1871], pelo que continha de prudência e objetividade. Por que não
se fala, em toda essa campanha de princípio de [18]88, no problema da indenização
dos proprietários? Que providências vai tomar o Estado para fazer a integração dos
escravos na sociedade livre pela educação e pelo trabalho? Era o que ele indagava ao
pensar que o direito da escravidão era um direito imoral, mas contudo em vigência na
legislação brasileira. A lei de 13 de maio tomou assim aos seus olhos o caráter de medida generosa
e nobre, sob o ponto de vista humano, mas de erro sob o ponto de vista social e político.” (LINS,
Álvaro. Rio Branco. Biografia. São Paulo: Alfa-Ômega; Brasília: FUNAG, 1996. p. 155-
156. Grifo nosso).
310
A obra historiográfica
10 Paranhos tinha planos de escrever uma História da guerra do Paraguai, em francês, nos
moldes do História da guerra do Pacífico, de Barros Arana, que dava a versão chilena da-
quela guerra. Depois disso, viria a projetada História militar e diplomática no Rio da Prata,
desde a fundação de Colônia até a separação da Cisplatina em 1828.
11 O que, em si, não invalida a análise das proposições de seu discurso em termos concei-
tuais, vale dizer.
311
der a que esteve condenado por sua relação com Marie Stevens, com
quem só se casaria formalmente em 1889. Por outro, no entanto, essa
reconciliação vinha em um momento em que a Monarquia já estava
claramente em crise. A escravidão praticamente desmoronou por si e
o ato assinado a 13 de maio apenas deu um golpe de graça na terrível
instituição, já moribunda. Custou, no entanto, o apoio dos setores mais
reacionários, sem produzir o efeito desejado de dar à princesa – e, por-
tanto, à continuidade da dinastia – o reconhecimento dos amplos seto-
res que lutavam por modernizações, entre as quais (mas, é necessário
frisar, não apenas) o fim do trabalho escravo.
O Imperador havia chegado a receber a extrema-unção no início
de 1888, em sua viagem à Europa para tratamento de saúde, mas recu-
perou-se e voltou ao Brasil. De todo modo, não escapava a ninguém a
possibilidade de que não resistisse a nova crise. A continuidade da Mo-
narquia dependia, portanto, do carisma de uma princesa casada com
um estrangeiro, a quem se quis popularizar no comando das tropas na
Guerra do Paraguai, depois do conflito já ter sido declarado terminado
por Caxias. O jubileu do reinado de d. Pedro, em 1890, seria, portanto,
uma grande ocasião para celebrar o Imperador e mostrar à população
as virtudes da Monarquia, do velho Imperador, da jovem princesa e, se
possível, até de seu príncipe consorte.
Paranhos, um fervoroso monarquista, participou com empenho
nesse esforço para combater o progressivo descrédito da Monarquia,
em um momento em que sua situação pessoal junto ao regime mostrava-
-se especialmente promissora. Assim, aceitou prontamente a oferta de
Émile Levasseur para colaborar na elaboração do verbete relativo ao
Brasil na Grande Encyclopédie. Ademais de Rio Branco, também partici-
param da obra o visconde de Ourém,12 Eduardo Prado, Henri Gorceix,
Paul Maury, E. Trousserat e Zaborwski. O trabalho também foi publi-
cado em uma separata, sob o título de Le Brésil, sob os auspícios da Co-
missão Franco-Brasileira para a Exposição Universal de Paris de 1889.
Essa edição esgotou-se antes mesmo do encerramento da exposição e
uma nova edição foi impressa. Nesse esforço, Rio Branco, segundo a
apresentação de Levasseur à primeira edição da separata:
312
giu, e pela correção que fez, diversas vezes, nas provas, tem uma grande
participação também na composição de toda esta obra.13
13 LEVASSEUR, Émile et al. O Brasil. Rio de Janeiro: Letras & Expressões, 2001. p. 10.
14 Barão de Santa Anna Néry (1848-1901).
313
314
20 RIO BRANCO, Barão do (José Maria da Silva Paranhos Júnior). Esboço da História do
Brasil. Brasília: FUNAG, 1992.
21 LEVASSEUR, Émile. et al. O Brasil. Rio de Janeiro: Editora Letras & Expressões,
2001.
22 O livro de Gaffarel, Histoire du Brésil français au seizième siècle (Paris: Maisonneuve et
Libraires, 1878), insere-se no contexto de um debate, não por simples acaso travado
na época dos imperialismos do século XIX, sobre a precedência da descoberta do Bra-
sil. Ao lado das pretensões portuguesas e espanholas, começaram a aparecer também
“pretensões francesas”. Gaffarel defende que Jean Cousin teria antecedido Cabral e
mesmo Colombo, ao aportar em terras brasileiras em 1488. Rio Branco simplesmente
ignora essa hipótese (que já havia sido refutada por Capistrano de Abreu), não dando
margem para o debate, mas dedica-se a corrigir outros erros no livro citado do autor
francês, o que serve para, de certo modo, desqualificar a obra como um todo.
315
23 Ver página 111 do Esboço. Na Enciclopédia (p. 65), o texto é quase idêntico. No D. Pedro
II, a redação dada é bastante diferente (p. 38): “Depois disto, até os nossos dias, como
na Inglaterra os tories e os whigs, liberais e conservadores se alternaram no poder”. As
referências ao partidos Conservador e Liberal como os “grandes partidos constitucio-
nais” também existe, mas está em outro contexto.
24 Rio Branco, op. cit., 1992, p. 131.
316
25 MOSSÉ, Benjamin. D. Pedro II, Imperador do Brasil. São Paulo: Edições Cultura Brasilei-
ra, 1890. p. 23).
26 MOSSÉ, op. cit., p. 24-25.
27 Ibidem, p. 26.
28 MOSSÉ, op. cit., p. 32.
29 Ibidem, p. 33.
317
318
319
320
321
Política
Política externa
externa ee temas
temas militares
militares
A
A obra
obra historiográfica
historiográfica de de Rio
Rio Branco
Branco éé especialmente
especialmente interes-
interes-
sante quando ele trata dos temas militares
sante quando ele trata dos temas militares e da política e da política externa,
externa, que que
capítulos específicos no D. Pedro II:
merecem três capítulos específicos no D. Pedro II: “A guerra de 1851 aa
merecem três “A guerra de 1851
1852”, “Política
1852”, “Política externa”
externa” ee “A “A guerra
guerra do do Uruguai
Uruguai ee do do Paraguai”.
Paraguai”. O O Ba-
Ba-
rão, por seus laços familiares e de amizade, teve um acesso privilegiado
rão, por seus laços familiares e de amizade, teve um acesso privilegiado
aos principais atores brasileiros (militares, diplomatas e estadistas) das
aos principais atores brasileiros (militares, diplomatas e estadistas) das
relações internacionais do Segundo Reinado. Seu pai foi um dos mais
relações internacionais do Segundo Reinado. Seu pai foi um dos mais
influentes estadistas e diplomatas da época. Caxias era um dos grandes
influentes
amigos dosestadistas
Paranhos,e diplomatas
pai e filho, ada época.
quem Caxiastrata
o duque era um dos grandes
carinhosamente
amigos dos Paranhos, pai e filho, a quem o duque trata
de “meu Juca”. Seu tio, Antônio Paranhos, esteve na frente de batalha. carinhosamente
de “meucedo,
Desde Juca”.o Seu
jovem tio,Rio
Antônio
Branco Paranhos, esteve na frente
se correspondeu de batalha.
com muitos dos
Desde cedo, o jovem Rio Branco se correspondeu
participantes dos eventos e, por meio dessas cartas, colheu dados, cor- com muitos dos
participantes dos eventos
rigiu informações, e, por meio dessas
obteve depoimentos cartas,Buscou
exclusivos. colheu edados, cor-
consultou
rigiu informações,
com grande empenho obteve depoimentos
os relatórios exclusivos.
e outras Buscou e impressas.
fontes primárias consultou
com
Tambémgrande empenho
teve cuidadooscom relatórios
as fontese outras fontes primárias
secundárias e não se impressas.
limitou às
Também
publicações teve cuidado Um
brasileiras. combom as fontes
exemplo secundárias e não em
é seu trabalho se limitou
comentar às
publicações brasileiras. Um bom exemplo é seu trabalho
e refutar as informações que considerava parciais ou incorretas na obra em comentar
ederefutar as informações
Schneider sobre a guerra que considerava
do Paraguai.parciais ou incorretas
O resultado, em todos na obra
seus
de Schneider
textos, é uma sobre
narrativaa guerra
sempre dorica
Paraguai. O resultado,
em detalhes, em todoseseus
fatos, números seu
trabalhoé persiste
textos, como uma
uma narrativa sempre fonte
ricaprimária de grande
em detalhes, fatos,valor até hoje.
números e seu
trabalhoAs análises
persiste de Rio uma
como Branco são,primária
fonte sem sombra de dúvida,
de grande parciais.
valor até hoje. A
justificativa das intervenções
As análises de Rio Branco brasileiras
são, semgira sempre
sombra deem tornoparciais.
dúvida, da defesaA
de sua “honra
justificativa das eintervenções
interesses” brasileiras
e de sua “missão
gira sempre em torno 41daOs
civilizadora”. ini-
defesa
migos,
de sua Rosas
“honrae eLópez, são bárbaros
interesses” e de suae “missão
seus motivos sempre derivados
civilizadora”. 41
Os ini-
do ódio e da ambição. Em sua análise não há, no
migos, Rosas e López, são bárbaros e seus motivos sempre derivados entanto, espaço para
o xenofobismo, racismo 42
ou para ataques aos argentinos
do ódio e da ambição. Em sua análise não há, no entanto, espaço para e aos para-
oguaios enquanto racismo
xenofobismo, nacionalidades
42
ou para ou ataques
pessoas:aos “essas guerrasenão
argentinos aosforam
para-
dirigidas contra povos, mas contra tiranos da pior
guaios enquanto nacionalidades ou pessoas: “essas guerras não foram espécie que ousavam
dirigidas contra povos, mas contra tiranos da pior espécie que ousavam
39 Ibidem, p. 80.
40 MOSSÉ, op. cit., p. 82.
40
41
39 MOSSÉ,p.op.
Ibidem, 80.cit., p. 66.
42
41 Naturalmente,
MOSSÉ, nãop. é66.
op. cit., de se esperar que o discurso e as práticas de Rio Branco estejam
82.
isentos de referências raciais. Ele certamente partilhava valores e usos de seu extrato
322
Cadernos do CHDD
A crítica recorrente
intitular-se é contra
governadores ou opresidentes
sistema político das repúblicas
de repúblicas vizinhas
imaginárias”. 43
A crítica
(que, porrecorrente é contra da
aí, se distinguiriam o sistema político
“civilizada” das repúblicas
monarquia vizinhas
brasileira):
(que, por aí, se distinguiriam da “civilizada” monarquia brasileira):
Nas repúblicas hispano-americanas, os partidos da oposição não têm
senão um meio hispano-americanas,
Nas repúblicas de chegar ao poder: aosrevolução, a guerra
partidos da civil.não
oposição Nãotêm
há
possibilidade
senão um meio dede
vencer umaogoverno
chegar poder: anas eleições ae guerra
revolução, o presidente, queháé
civil. Não
sempre um homem
possibilidade de partido,
de vencer prepara
um governo nasa eleição
eleiçõesdee oseupresidente,
sucessor.44que é
sempre um homem de partido, prepara a eleição de seu sucessor.44
A defesa da civilização não se faz, portanto, em bases raciais e
A defesa do
as deficiências da civilização
“outro” estão nãoconcentradas
se faz, portanto, em bases
no sistema raciaisnae
político,
as deficiências
anarquia do “outro”
que suas estãoe concentradas
instituições no sistema Fazer
seus líderes provocam. político, na
dessa
anarquia que suas
contraposição baseinstituições
do discursoe seussobrelíderes provocam.
as relações Fazerservia,
exteriores dessa
contraposição
também, base do
para alertar paradiscurso sobre
os perigos do as relações exteriores
republicanismo, servia,
do federalis-
também,
mo paraa alertar
e realçar ordem,para os perigosinterna
a conciliação do republicanismo,
e a civilizaçãodo dofederalis-
Império,
mo e realçar
afinal vitoriosoa ordem,
em seusa conciliação interna e a civilização
embates internacionais do Império,
contra os inimigos as-
afinal vitorioso
solados por essesemmales.
seus embates internacionais contra os inimigos as-
solados As por essesserviam
guerras males. também para reforçar o patriotismo e o sen-
tido deAsunidade
guerras doserviam
Império.também para reforçar
As narrativas o patriotismo
são, nesse diapasão, eépicas
o sen-e
tido de unidade
o conflito é palcodopara
Império.
a açãoAs dosnarrativas
heróis dasão, nesse diapasão,
nacionalidade: épicas
Osório, Ta-e
o conflito Caxias,
mandaré, é palcomasparatambém
a ação dos heróisd’Eu,
o conde da nacionalidade:
que assumiu Osório,
o comando Ta-
mandaré,
das tropasCaxias, masna
brasileiras também o conde
fase final d’Eu,Aque
da guerra. assumiumilitar
campanha o comando
é de-
das tropas
talhada embrasileiras na fasee batalhas.
suas manobras final da guerra. A campanha
Os exércitos militar
nos dois ladosé são
de-
talhada
descritosememsuas manobras
número e batalhas. Os
de combatentes e osexércitos
encontros, nosnos
doisdetalhes
lados sãode
descritos em número
mortos, feridos, de combatentes
armamentos e os encontros,
conquistados, nos detalhes
posições tomadas. Depois,de
mortos, feridos, armamentos
a historiografia republicana iriaconquistados,
minimizar posições
e, mesmo, tomadas. Depois,a
ridicularizar
aparticipação
historiografia republicana
do conde iria Rio
d’Eu, mas minimizar
Brancoe,esforçou-se
mesmo, ridicularizar
por realçá-la.a
participação do conde d’Eu,
Francês de nascimento, mas era
o conde RiooBranco
consorteesforçou-se
da futura por realçá-la.
Imperadora,
Francês de nascimento,
Isabel. Era urgente a tarefao conde era o consorte
de popularizá-lo e odaBarão
futuranão
Imperadora,
deixou de
elogiá-lo em sua narrativa:
42 Naturalmente, não é de se esperar que o discurso e as práticas de Rio Branco estejam
isentos de referências raciais. Ele certamente partilhava valores e usos de seu extrato
social e momento histórico. De fato, por exemplo, ao explicar o sucesso dos Esta-
dos Unidos, uma república e uma federação como os países hispano-americanos, ele
atribui que o “segredo da prosperidade dos Estados Unidos da América do Norte se
encontra na energia, no senso prático deste povo e na grande corrente emigratória que
desde muito se dirige para aquele país” (MOSSÉ, op. cit., p. 35, nota 4). São muitas,
também, as referências aos cabelos louros, olhos claros, etc. de d. Pedro II, obviamente
com intenção de sinalizar com algum tipo de superioridade pessoal. O ponto aqui, no
entanto, é outro: a alteridade com os países hispano-americanos, elemento muito im-
portante na construção da identidade que se pretendia, não se baseava em argumentos
raciais, muito comuns na época, mas em aspectos políticos.
43
43 MOSSÉ, op. cit., p. 92.
44 Ibidem, p. 104-105.
44
323
ano 11 • número especial • 2012
Discutindo a abolição
324
325
326
seu querido amigo e aliado, que ele próprio, na voz de Émile Levasseur
na Grande Enciclopédia, proclamou como o Buxton52 brasileiro. O capí-
tulo intitulado “Papel de d. Pedro II e da princesa imperial na reforma
emancipadora” é quase literalmente uma longa citação do Abolicionismo,
de Nabuco, com ênfase na tese da lei de 1871 como preparação para
abolição e na ação pessoal de d. Pedro e da princesa, com a clara con-
clusão de que a “parte que cabe ao Imperador em tudo que se executou
pela causa da emancipação, é muito grande, é essencial”.53
Mas, se era importante associar a Monarquia à abolição, era cru-
cial também não perder o apoio dos setores mais reacionários, que
figuravam, até então, como seu mais forte sustentáculo. As questões da
esperada indenização aos antigos senhores, da possível desorganização
da lavoura, da possibilidade de anarquia e desordens promovidas pelos
ex-escravos foram enfrentadas no texto de Rio Branco de modo a pre-
servar a Monarquia e mostrar a reforma como inevitável.
O Barão descreve o crescente movimento abolicionista como
uma tendência irresistível, com crescentes vagas de alforrias espontâ-
neas por parte dos senhores. A família Prado de São Paulo (de seu ínti-
mo amigo Eduardo) foi tomada como exemplo. Os escravos estariam,
também, deixando as fazendas por sua conta e, nessa narrativa idílica,
ao confrontar-se com polícias e soldados que tentavam detê-los, eles
responderiam altivamente:
Atirai sobre nós, se quiserdes; não temos armas e não queremos nos
defender. Mas somos homens como vós e queremos que nos restituam
a liberdade que todo homem recebe de Deus. Vamos procurar trabalho
onde nos receberem como homens livres!54
327
55 Em carta aos bispos brasileiros, depois da abolição, o Papa Leão XIII deu os seguintes
“conselhos” aos escravos, que Rio Branco citou como mais uma forma de tranquilizar
seus leitores contra o perigo de desordens ou incompreensão dos ex-escravos sobre o
“benefício” recebido: “Que eles guardem religiosamente o sentimento de gratidão e se
esforcem para prová-lo com cuidado àqueles a quem devem a liberdade. Que não se
tornem jamais indignos de tão grande benefício e que não confundam nunca a liberda-
de com a licença de paixões; que usem dela, como convém a cidadãos honestos, para
o trabalho de uma vida ativa, para o progresso e para o bem da família e do Estado.
Que cumpram sempre o dever de respeitar a majestade dos príncipes, de obedecer aos
magistrados e observar as leis, não pelo medo, mas pelo espírito da religião. Que se abste-
nham de invejar a riqueza e a superioridade dos outros, porque é muito para se lamentar
que grande número de pobres se deixem dominar pela inveja, origem de tanto mal”.
328
procedentes.56
329
Cremos que a única lei razoável e justa neste assunto seria a que conce-
desse uma compensação aos antigos senhores de escravos comprados
depois da lei de 28 de setembro de 1885, desde que ficasse provado
que esses escravos não eram africanos importados depois da lei de 4 de
novembro de 1831.61
330
Fé na continuidade da Monarquia
331
Conclusão
332
333
referências
334
335
Não foi uma tarefa muito fácil para Nabuco, porque Machado não
era inicialmente muito favorável ao Barão, argumentando que ele não
era um escritor propriamente dito: não tinha um só livro publicado
e ainda por cima era famoso por sua desorganização familiar e por
sua desordem funcional, com processos, papéis, jornais, documentos e
anotações em seu tumultuado gabinete. Mas Nabuco insistiu:
– Você, Machado, já se imaginou na presidência de uma reunião
da Academia, tendo um homem da importância e da estatura do Barão
lá no meio dos acadêmicos, como um dos seus presididos?
337
Pai e filho
José Maria Júnior, o Barão, era filho de José Maria da Silva Paranhos,
o Visconde do Rio Branco, patrono da cadeira 40 na nossa Academia,
que também foi ministro do Exterior no gabinete do visconde de Ita-
boraí e presidente do próprio Conselho de Ministros.
O barão do Rio Branco participava das reuniões da Academia
sempre que estava no Rio, exercendo as suas funções de chanceler ao
longo dos vários governos de Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Pe-
çanha e Hermes da Fonseca.
Nos debates acadêmicos, tinha uma gesticulação toda especial,
que mais parecia um cacoete. Costumava levantar o braço, apontando
com o dedo em riste para o alto e explicando-se:
– Ao perceber que as minhas opiniões não estavam conseguindo
convencer muito, eu resolvia suspendê-las na ponta dos dedos.
Boêmio e notívago
338
A política e o jornalismo
A política nunca havia sido a profissão ideal do moço José Maria. Ain-
da chegou a tentá-la, quando se elegeu e se reelegeu como deputado
provincial em Mato Grosso.
Porém, mais cedo do que imaginava, desiludiu-se e afastou-se
dela, logo depois que seu pai renunciou à presidência do conselho mi-
nisterial, chefiado pelo visconde de Itaboraí.
Também com relação ao jornalismo, limitou-se a uma ou duas
colaborações esparsas, sem nenhuma importância.
Resolveu, então, abraçar a carreira diplomática, que o consagraria
depois para sempre. Iniciou-a no cargo de cônsul brasileiro na cida-
de de Liverpool, cumulativamente com o escritório de Imigração em
Paris.
Escreveu então um livro sobre os problemas fronteiriços do Bra-
sil com a Argentina.
Problemas agravados
339
Mas esta seria apenas o começo de várias outras vitórias. Pois, logo a
seguir, aconteceria a questão do Amapá, reivindicado pela França, com
os olhos voltados para as suas imensas riquezas de ouro, numa área de
5 mil km².
Terminava o governo de Campos Sales e começava o quadriênio
de Rodrigues Alves, que convidou Rio Branco para o Ministério do
Exterior e teve de insistir muito para o seu convite ser aceito.
Sua equipe, constituída pelo almirante Guilhobel e por Domício
da Gama, era substancialmente reforçada por mais três membros: Gra-
ça Aranha, Hilário de Gouveia e Joaquim Nabuco.
Transferindo sua residência para Berna, Rio Branco desdobra-se
em gestões importantes e prepara a defesa dos interesses brasileiros em
seis alentados volumes, até que é convidado para ir à Villa Trautheim e
aí ouvir do Departamento Político a leitura do laudo francês que reco-
nhecia os direitos brasileiros sobre a área do Amapá.
340
Um inteligente diplomata
341
Rubens Barbosa*
343
344
Defesa do Brasil
345
346
347
Integração regional
348
tinha nítida percepção de que o Brasil era diferente dos demais países
na América do Sul, sobretudo pensando na instabilidade política e in-
solvência financeira que afligia a quase totalidade dos demais países.
Nesse sentido, Rio Branco procurou atuar com vistas a diferenciar o
Brasil, mas não isolá-lo do seu entorno geográfico.
O Brasil tinha virado a página da política de intervenções (1851-
70) sobretudo no Prata, baseada na teoria do equilíbrio de poder e da
defesa de nossas fronteiras, prevalecente nos tempos da colônia e do
Império. Com a República, a prioridade passou a ser o movimento de
integração regional. Liquidados os contenciosos territoriais com nos-
sos vizinhos, a política externa voltou-se para o esforço de buscar a
união dos países sul-americanos, no que alguns historiadores chama-
ram de “separação amistosa”.
Rio Branco tinha a percepção das rivalidades e reservas, em re-
lação ao Brasil, mantidas pelos vizinhos, especialmente da Argentina.
Os continuados esforços do Barão visando à modernização e ao rear-
mamento da Marinha e do Exército, e a iniciativa de aproximação com
os EUA, por ele patrocinada, reforçaram as desconfianças contra o
Brasil. Essa percepção vinha sobretudo da Argentina, que considerava
a política externa brasileira como imperialista e favorável a uma hege-
monia delegada pelos EUA, a principal potência hemisférica. Apesar
disso, Rio Branco manteve sua firme visão dos interesses brasileiros e
levou adiante as principais linhas de sua atuação no sentido da maior
aproximação com nossos vizinhos. O grau de desconfiança era tanto
que a Argentina liderou a formação da Liga das Repúblicas Hispano-
-Americanas contra os EUA, para fazer frente à aproximação do Brasil
contra Washington.
Como um gesto positivo em relação a nossos vizinhos, Rio Bran-
co aceitou iniciar a negociação do Pacto ABC, com a Argentina e o
Chile, com vistas a uma “influência compartilhada” na região. O pacto,
que acabou nunca tendo sido formalizado, poderia ter caracterizado o
que, nos tempos atuais, se convencionou chamar de parceria estratégi-
ca. Influência compartilhada e parceria estratégica são rótulos vistosos,
que pouco significam na prática. No fundo, o que Rio Branco desejava
era que o Brasil não fosse perturbado pelos nossos vizinhos.
Ao contrário do que tem caracterizado a política externa brasilei-
ra nos últimos anos, Rio Branco não só tinha a percepção, como atuava
no sentido de reforçar a posição do Brasil, sobretudo por considerá-
-lo diferente dos demais países da América do Sul. Por isso, procurou
349
Interesse nacional
Celso Lafer*
-I-
Escrevi dois textos com alguma ambição sobre Rio Branco. Eviden-
temente, não foi por acaso, como ficará claro mais adiante, que foram
elaborados nas duas ocasiões em que chefiei o Itamaraty.
O primeiro data de 1992. É o prefácio a uma edição daquele ano
ao Esboço da História do Brasil - que data de 1889 – publicado, sob os
auspícios do Itamaraty, pela FUNAG e pelo IPRI. Foi elaborado por
instigação do embaixador Synesio Sampaio Goes Filho, meu amigo e
colega desde os bancos acadêmicos da Faculdade de Direito do Largo
de São Francisco, que, na época, era meu chefe de gabinete. Resul-
tou do nosso diálogo em torno da concepção de história do grande
chanceler e, em alguma medida, sobre como a erudição previamente
acumulada foi relevante para a ação diplomática.
Trata-se, em síntese, de uma reflexão sobre Rio Branco histo-
riador, que, como tal, se preocupou essencialmente com a acurada
apuração dos fatos. Não é por acaso que se dedicou à elaboração das
Efemérides brasileiras. O prefácio explicitava o que diferencia Rio Branco,
no campo da história, do Joaquim Nabuco de Um estadista do Império e
do Oliveira Lima de D. João VI no Brasil – seus ilustres contemporâne-
os. Destacava o extraordinário domínio que tinha dos fatos históricos e
geográficos do nosso país, domínio que era admirado por um historia-
dor tão rigoroso como foi Capistrano de Abreu. Concluía chamando
a atenção, a propósito do desafio do intelectual confrontado com a
ação, sobre como a competência de erudito de Rio Branco foi da maior
relevância no encaminhamento das questões de fronteiras das quais
se ocupou com grande sucesso, primeiro como advogado do Brasil e,
depois, como chanceler.
Aprimoraria hoje o que disse no prefácio, observando que Rio
Branco, como historiador, estava interessado em lidar minuciosamente
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Matias Spektor*
resumo
Figura maior da diplomacia brasileira, José Maria Paranhos Jr., o barão do Rio
Branco (1845-1912), morreu ungido por tal unanimidade que só começou a ser
visto sem ufanismo nas últimas décadas. Este ensaio esquadrinha criticamente a
trajetória do chanceler e os mitos que há um século se forjam em torno dele.
Toda nação vive, em parte, de seus mitos. Poucos têm tanta força
entre nós quanto o do barão do Rio Branco, morto há cem anos.
Ele merece seu lugar no panteão, porque expandiu o território
nacional sem recurso às armas e sem grandes alianças. O país que re-
presentava estava enfraquecido, desarmado e isolado, e sua performan-
ce fez toda a diferença.
Mais, Rio Branco fez de si o elo entre o Império derrotado e a
República vitoriosa. Com pai ministro, senador, diplomata e chanceler
de d. Pedro II, ele assistiu à queda da Monarquia, mas evitou o exílio
típico de muitos de sua classe e serviu a quatro presidentes, como mi-
nistro das Relações Exteriores, sem compunção (1902-12).
Sua adesão à República foi total: pôs a política externa a serviço
dos novos-ricos da burguesia agroexportadora e não hesitou em entrar
para a vitrine da nova ordem, a Academia Brasileira de Letras. Mas,
com estilo todo próprio, manteve o título de barão e fomentou a mi-
tologia segundo a qual a diplomacia republicana bebia da fonte de um
suposto passado imperial de glórias.
Habilidoso jogador para uns, inescrupuloso camaleão para ou-
tros, enfrentou desafetos e inimigos. Para os monarquistas, era um trai-
dor. Para os republicanos, potencial líder da restauração monarquista.
Sua política externa foi fustigada na Câmara, no Senado e na imprensa.
Mais de uma vez a boataria previu sua queda. Só virou unanimidade
depois de morto.
* Colunista da Folha de São Paulo. Texto publicado em: Folha de São Paulo, São Paulo, 22
jul. 2012. Ilustríssima.
359
Biografias
Em muitos países, uma figura desse naipe seria objeto de ricas e diver-
gentes biografias. Não aqui. A literatura sobre o barão é escassa, ignora
a farta documentação disponível sobre ele em arquivos estrangeiros e
mantém-se irritantemente laudatória.
Álvaro Lins, Jarbas Maranhão, Afonso de Carvalho e Renato Sê-
neca Fleury lançaram hagiografias no centenário de seu nascimento
(1945). Quinze anos depois, Luis Viana Filho publicou trabalho um
pouco mais rigoroso. O conjunto faz do barão um herói irretocável.
Nos anos 2000, começou a aparecer algum questionamento, ainda que
tímido. Rubens Ricupero, em seu Rio Branco, o Brasil no Mundo (2000),
abre avenidas de investigação em brevíssimas 70 páginas. Cristina Pa-
triota faz o mesmo no também breve Rio Branco, a Monarquia e a Repú-
blica (2003).
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Equilíbrio
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EUA
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Usos e abusos
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3 Jornal do Commercio, 21 abr. 1909 (apud VIANNA FILHO, op. cit., p. 492).
4 “Tenho gostado de vê-lo apontado por todos como o presidente normal do Brasil.
Mas não se deixe convencer e eleger presidente. A sua posição é única: conserve-a.”
(Domício da Gama, em Carta de Buenos Aires, 21 maio 1909. Inédita. Arquivo Rio
Branco. Apud VIANNA FILHO, op. cit., p. 493).
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13 Conta-nos Rio Branco em seu diário: “Jantei no restaurante Brahma. Comigo, Er-
nesto Sena, Araújo Jorge e meu sobrinho Gastão. Manifestação no restaurante em
favor da minha candidatura. Ao sair, iguais manifestações na Avenida. Segui na direção
da Avenida Beira-Mar. Perto do Teatro Municipal, encontro com Quintino Bocaiúva,
recém-chegado. Voltando para a Secretaria, procurei evitar parte da Avenida. O auto-
móvel tomou a Rua da Carioca. Havia muita gente. Seguimos na direção do Largo de
São Francisco de Paula. Foi pior. Procuramos ganhar depressa a Rua do Teatro. Os
estudantes, operários e outras pessoas que ali estavam correram a cercar o automóvel
e, cercado pelo povo, foi levado pela Rua da Carioca, Avenida Central e Rua Floriano
Peixoto até o Itamarati. Vários oradores se fizeram ouvir. Respondi agradecendo e afir-
mando de novo que não sairia do círculo que me tracei, só me ocupando de questões
de política exterior.” (Apud VIANNA FILHO, op. cit., p. 498).
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Clodoaldo Bueno*
1. A visão do estadista
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4 Censuras platinas. O Paiz, Rio de Janeiro, 18 jan. 1905. Editorial que, pelos seus
termos, identificamos como sendo da autoria de Rio Branco. Foi publicado, também,
no Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, 19 jan. 1905, “A Pedido”. Veja-se, também:
CONDURU, Guilherme Frazão. A política externa de Rio Branco: os tratados do ABC.
Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, 1998. p. 83.
5 AHI, Rio de Janeiro. Carta de Rio Branco ao barão Homem de Mello, 13 set. 1889.
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(...) interveio no Prata (...) para dirimir pelas armas e pela diplomacia de-
savenças sanguinárias (...); foi o agente de paz e de liberdade e à sombra
da aliança com o Brasil, realizou Mitre seu grande sonho político, que é a
unidade nacional da República Argentina. Quando se acabou a sua mis-
são histórica no Prata, o Brasil deixou ali nações organizadas e o nosso
território não foi aumentado pela fácil incorporação de províncias des-
governadas. (...) Há muito a nossa intervenção no Prata está terminada.
O Brasil nada mais tem que fazer na vida interna das nações vizinhas
(...). O seu interesse político está em outra parte. É para um ciclo maior
que ele é atraído. Desinteressando-se das rivalidades estéreis dos países
sul-americanos, entretendo com esses Estados uma cordial simpatia, o
Brasil entrou resolutamente na esfera das grandes amizades internacio-
nais, a que tem direito pela aspiração de sua cultura, pelo prestígio de sua
grandeza territorial e pela força de sua população.10
9 AHI, Rio de Janeiro. Rascunho de carta de Rio Branco a Nabuco, 23 jul. 1902.
10 Apud VIANA FILHO, Luiz. A vida do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro: José Olym-
pio, 1959. p. 393.
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11 AHI, Rio de Janeiro. Telegrama para Washington, 22 nov. 1909 (apud VIANA FILHO,
op. cit., p. 421).
12 AHI, Rio de Janeiro. Carta de J. F. de Assis Brasil a Rio Branco. Buenos Aires, 24 jul.
1905. Na Argentina ainda existe a visão de que a gestão de Rio Branco foi um prolon-
gamento do Império em plena República. Veja-se: FERRARI, Gustavo. La Argentina
y sus vecinos. In: _______; GALLO, Ezequiel (Comp.). La Argentina del Ochenta al
Centenario. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 1980. p. 65.
13 Heinsfeld afirma que “de fato, em momento algum Rio Branco, seja em seus escritos
ou em pronunciamentos verbais, fez qualquer referência aos pensadores geopolíticos.
No entanto, (...) dos quatro próceres do pensamento geopolítico – Ratzel, Mahan,
Mackinder e Kjellén –, somente deste último não temos fortes indicativos de que Rio
Branco tenha entrado em contato direito com seus escritos ou suas ideias”. (HEINS-
FELD, Adelar. As ações geopolíticas do Barão do Rio Branco e seus reflexos na Argentina. Tese
(Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2000. p. 22. Vejam-se, ainda, p. 16, 42-3, 52, 48-9, 81 e 195). Miyamoto sustenta que
não se encontrou nos escritos de Rio Branco “referências explícitas sobre o papel da
geopolítica. Outro motivo que pode corroborar essa afirmação é que, sendo a ge-
opolítica ainda tão recente, o barão do Rio Branco certamente mal tivera tempo de
conhecê-la, concebida como tal, pois encerrou suas atividades no Ministério das Re-
lações Exteriores em 1912. Além disso, Kjellén, Ratzel e Mackinder elaboravam ainda
suas teorias”. (MIYAMOTO, Shiguenoli. Geopolítica e poder no Brasil. Campinas: Papirus,
1995. p. 47). Segundo Backheuser, senão o maior, dos geopolíticos brasileiros, pois
que mais do [que] qualquer outro cidadão dilatou conscientemente o ‘espaço’ de sua
Pátria.” (Backheuser, E. Rio Branco, geógrafo e geopolítico. Revista da Sociedade de
Geografia, n. 52, 1945, p. 28).
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44 AHI, Rio de Janeiro. Carta de Rio Branco a Domício da Gama, 15 dez. 1908. Discurso
proferido no Clube Militar, em 15 de outubro de 1911 (RIO BRANCO, op. cit., p. 279).
45 RIO BRANCO, op. cit., p. 103.
46 RIO BRANCO, op. cit.
47 LINS, op. cit., 1965, p. 415.
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48 AHI, Rio de Janeiro. Ofício de Buenos Aires, 7 abr. 1910 (Souza Dantas a Rio Branco).
49 National Arqchives and Records Administration (NARA), Washington. Dudley ao Se-
cretário de Estado, Petrópolis, 25 e 27 ago. 1910.
50 Frase parecida pronunciara Julio A. Roca na sua visita a São Paulo, em 1907: “Nada nos
divide y todo nos aproxima”. (RUIZ MORENO, Isidoro. Historia de kas relacionesexterio-
res argentinas, 1810-1955. Buenos Aires: Editorial Perrot, 1961. p. 91. FRAGA, op. cit.,
p. 53).
51 NARA, Washington. Dudley ao Secretário de Estado, Petrópolis, 27 ago. 1910. SMITH,
Joseph. Unequal giants: diplomatic relations between the United States and Brazil, 1889-
1930. University of Pittsburgh Press, 1991. p. 67.
52 Anais da Câmara dos Deputados. Sessões de 20 e 22 ago. 1906. (A Comissão de Diploma-
cia e Tratados desincumbiu-se da missão no dia 21).
53 República Argentina. Diario de Sesiones – Cámara de Deputados, 22 ago. 1910.
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72 LINS, op. cit., 1965, p. 415. (Este trecho encontra-se à p. 613 da edição de 1945).
73 AHI, Rio de Janeiro. Ofício de Buenos Aires, 22 nov. 1904.
74 AHI, Rio de Janeiro. 34.6-I, A-4, G-1, M-74. Veja-se, também, CONDURU, op. cit., p. 96.
75 FRAGA, op. cit., p. 44. Salvador de Mendonça criticou o ato de Rio Branco: “(...) Pois
o sr. Rio Branco não reconheceu com açodamento a independência da República do
Panamá, que ele sabia tão bem como o Sr. Roosevelt, haver sido roubada à Colôm-
bia?”. (MENDONÇA, Salvador. A situação internacional do Brasil. Rio de Janeiro; Paris:
Garnier, 1913. p. 29).
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76 Apud LINS, op. cit., 1965, p. 391. Em Lins consta que a carta é de 1904. Trata-se, evi-
dentemente, de um lapso, comum em obras desse porte. El Diario, de Buenos Aires (23
out. 1905), transcreveu a citada carta de Rio Branco a Gorostiaga, datada de Petrópolis
em 3 set. 1905.
77 AHI, Rio de Janeiro. Despacho reservado para Washington, 31 mar. 1906. (Parte desse
despacho foi transcrita por COSTA, 1968, p. 249-50).
78 AHI, Rio de Janeiro. Despacho reservado para Washington, 29 dez. 1907 (transcrição
do telegrama).
79 Cf. CONDURU, op. cit., p. 106-10.
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Artigo 9 – Cada uma das três altas partes contratantes obriga-se a im-
pedir, por todos os meios a seu alcance, que no seu território se armem e
reúnam imigrados políticos ou se organizem expedições para promover
ou auxiliar desordens ou guerras civis no território de alguma das outras
duas ou no de qualquer Estado não signatário do presente acordo.
Artigo 10 – No caso de insurreição contra o governo de uma das três
repúblicas contratantes, as outras não consentirão nenhuma espécie de
comércio com os insurgentes e, sem faltar aos deveres de humanidade
e aos que lhes ditem tanto as suas instituições livres como a sua própria
dignidade, tratarão de colocar os insurgentes que entrarem ou se asila-
rem no território de cada uma delas em posição inteiramente inofensiva,
desarmando-os, se estiverem armados, e entregando as armas e quais-
quer elementos de guerra ao governo legal que eles estejam combatendo
ou tenham combatido.
Artigo 11 – Sempre que se dê qualquer perturbação da ordem públi-
ca, insurreição política ou levante militar em país que confine com al-
guma das três repúblicas contratantes, tratarão elas, imediatamente, de
assentar entre si as providências a tomar, de acordo com os princípios
de Direito Internacional, combinando sobre as instruções que devam
mandar às suas autoridades civis e militares na fronteira, assim como aos
seus representantes diplomáticos, cônsules e comandantes de navios de
guerra no país em que tais perturbações se produzirem, de modo a que
se evitem atritos ou desinteligências entre os seus respectivos agentes no
teatro dos acontecimentos.86
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digna que temos guardado. Esse governo já terá percebido, pela firme-
za com que procedemos no caso da pretendida equivalência naval, que
não perdemos a calma nem nos intimidamos com as ameaças dos seus
partidários e sustentadores na imprensa. Tal atitude, porém, não nos im-
pede de acolher, sem precipitação, mas também sem esquecimento dos
grandes interesses dos três países, os temperamentos ou soluções que
nos sejam amigavelmente propostos e se conformem com um plano ou
pensamento político que, todos sabem, é muito nosso, manifestado por
escrito e publicamente desde 1905, muito antes da tempestade de insul-
tos, mentiras e falsificações levantada em Buenos Aires por desafetos
nossos e por uma chusma de vis ganhadores.
Pois bem, o que os nossos amigos do Chile nos propõem neste momen-
to não é o tratado que o sr. Zeballos imaginara pensado arrancar-nos, a
chamada equivalência naval, ou separar o Chile do Brasil. O que eles nos
propõem e à Argentina é a entente cordiale, ou pacto de cordial inteligência
que havíamos concebido e insinuado para assegurar a paz e as boas rela-
ções entre os três países, evitando possíveis desinteligências e conflitos
oriundos de interesses ou intrigas de outros vizinhos.
Se o atual governo argentino quiser aceitar o projeto brasileiro apresen-
tado como proposta chilena, teremos todos a ganhar, e muito especial-
mente o Chile e o Brasil, porque assim impedimos que, despeitada, a
Argentina busque de novo a aliança do Peru, país com que o Brasil e o
Chile têm de resolver proximamente questões da máxima importância.
É melhor que, mais ou menos ligada pelo projetado acordo, a Argentina
se conserve neutra e não procure embaraçar-nos na questão do Territó-
rio do Acre nem ao Chile na de Tacna e Arica.
Suponhamos que o atual governo argentino não deseje o acordo ou que,
aceitando-o, o não execute lealmente. Nesse concerto das três potên-
cias estaremos sempre em maioria o Brasil e o Chile. Procedendo com
tato, poderemos talvez, pelo conselho amigável, conter sempre ou quase
sempre os desvios inamistosos que premedite o governo argentino. Na
pior das hipóteses, com a negociação do tratado – promovida pelo Chile
e não por nós –, ou com a desleal execução do mesmo pela Argentina,
teremos a vantagem relativa de ir ganhando tempo para reconstituir as
nossas forças de terra e mar e colocar-nos em um pé respeitável de
defesa.
O nosso amor-próprio nacional deve estar e sente-se ofendido com os
insultos e provocações de tantos argentinos nestes últimos tempos; mas
cumpre atender a que o governo argentino nos não dirigiu, até aqui,
401
87 AHI, Rio de Janeiro. Despacho reservado para Buenos Aires, 26 fev. 1909. Rio Branco
a Domício da Gama.
88 RICUPERO, op. cit., p. 93. Veja-se, também, CONDURU, op. cit., p. 94.
402
Peça ao meu eminente amigo Sáenz Peña que subscreva o ABC, e o Bra-
sil garante que não haverá discórdia na América do Sul, nem protestos
do Peru, e que o presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt,
e seu ministro, mr. Root, convidarão especialmente os presidentes do
89 La Nación, Buenos Aires, 26 jul. e 9 ago. 1906. AHI, Rio de Janeiro. Despacho para
Washington, 10 mar. 1906, apud LINS, op. cit., 1945, p. 757-61.
90 AHI, Rio de Janeiro. Carta de Joaquim Nabuco ao Dr. Cardoso. Roma, 20 mar. 1904.
91 AHI, Rio de Janeiro. Ofício de Buenos Aires, 19 abr. 1906. (Assis Brasil a Rio Branco).
403
4. Conclusão
92 Apud LINS, op. cit., 1965, p. 461-2. Veja-se, também: FRAGA, op. cit., p. 59-60.
93 AHI, Rio de Janeiro. Ofício confidencial de Francisco Xavier da Cunha a Rio Branco.
Montevidéu, 20 dez. 1907.
94 AHI, Rio de Janeiro. Despacho para Washington, 29 dez. 1907.
404
referências
405
2. Fontes impressas
3. Jornais
406
5. Bibliografia
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408
409
Álvaro Lins*
411
RIO BRANCO, Raul do. Reminiscências do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro:
1
Livraria José Olympio Editora, 1942.
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416
417
- II -
Rio Branco foi um homem de Estado a quem o seu país fez a jus-
tiça de retribuir, em glória e prestígio, as vitórias que conquistou para o
Brasil. Ele obteve, ainda em vida, um reconhecimento exato e unânime
para os seus serviços. Mas acho que bem melhor se pode avaliar a sua
obra, nas questões territoriais, utilizando um processo dialético inver-
so, isto é: imaginando o que resultaria de uma derrota. A respeito do
problema das Missões [Palmas] e Amapá não se dirá que o Brasil tinha
em vista apenas um acréscimo do seu território, mas a salvaguarda de
um direito secular, com a importância de definir, de uma maneira lógica,
natural e histórica, [sua] configuração geográfica.
A chamada questão das Missões não era complicada em si mes-
ma, em face da clareza do direito do Brasil; mas, ao chegar às mãos de
Rio Branco, havia se tornado difícil e complexa. E como se transfor-
mara de uma causa simples em uma causa complicada? Pelo acúmulo
de negociações, de argumentos, de sofismas, de mapas, de papéis que
se acumulavam de um lado e do outro. O que a causa do Brasil, ainda
neste caso, estava a exigir de Rio Branco era o exercício da sua compe-
tência. Era a capacidade de fazer surgir os elementos verdadeiros que
se achavam em mistura com inúmeros outros elementos duvidosos
ou falsos; a tarefa de entregar ao julgador uma argumentação e uma
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419
Não tenho podido responder às suas cartas porque ainda estou debaixo
da ressaca das noites mal dormidas e da agitação do último mês. O Raul
passou comigo sem dormir as noites de três e quatro. No dia cinco
fiquei com medo de arriar a carga de uma vez. A fadiga cerebral pôs-
-me, então, incapaz mesmo de rever provas. Falando ou escrevendo, eu
trocava as palavras, invertia as sílabas. Consultei o Hilário sobre isso.
(Arquivo de Joaquim Nabuco, Ministério das Relações Exteriores).
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convite de Rodrigues Alves, em 1902, veio dar nova forma à sua obra
de homem de Estado; era uma nova etapa que se abri – como as ou-
tras – inesperadamente. A sua correspondência dessa época revela que
empregou todos os argumentos e todos os recursos para se ver dispen-
sado do convite. Não era uma manobra, uma recusa estratégica, mas
escrevia a todos os seus amigos como quem pede socorro contra um
perigo. Dava razões de todas as espécies: as de saúde, as de dinheiro, as
de família, as da sua ausência de gosto pela atividade política. Receava
sobretudo a luta de uma organização nova para o Itamaraty, cujo estado
conhecia através de uma exposição particular que lhe fizera Carlos de
Carvalho. A sua ideia era de ver Joaquim Nabuco no ministério como
um caminho para a Presidência da República, conforme lhe escrevia,
em [carta] de 1902, depois de receber o convite de Rodrigues Alves:
Você é que deve ser o ministro das Relações Exteriores na nova admi-
nistração. É o homem mais completo que temos para a pasta, não só
pela preparação especial, mas também pelas qualidades brilhantes que
possui e pela coragem de reformador. Tem, demais, amor à vida política,
e nessa posição, pelos serviços que sem dúvida prestaria, subiria no fim
do quadriênio ao posto em que poderia fazer muito mais pela nossa ter-
ra. (Arquivo de Joaquim Nabuco, Ministério das Relações Exteriores).
422
423
4 e 11 de julho de 1942.
424
Capa
Ingrid Erichsen Pusch
C122
Cadernos do CHDD. – Ano XI, n. especial (dez. 2012)- . Rio de Janeiro: CHDD; FUNAG,
2012.
v. ; 23 cm.
Semestral.
ISBN: 978-85-7631-416-5
CDU: 341.7(81)(0.91:05)