2012 05 Resenha Globalizacao As Consequencias

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 11

10/11/2017 Mercury Reader

benoliveira.com

Resenha - Globalização: As
Consequências Humanas – Zygmunt
Bauman
Nov. 12th, 2017 Send to Kindle

*Autor: Ben Oliveira - Acadêmico de Jornalismo da UCDB

No livro “Globalização: As consequências humanas”,


escrito pelo professor de sociologia Zygmunt Bauman, o
autor levanta questões e discute problemas relacionados à
globalização, como os efeitos da economia, política,
estruturas sociais e percepções do tempo e espaço.

Além de “Globalização: As consequências humanas”, o


sociólogo polonês possui outras obras onde aborda as
consequências sociais da modernização que privilegia uma
minoria, como “O mal-estar da pós-modernidade”, “Amor líquido”, “Vidas
desperdiçadas” e “Identidade”. Na introdução do livro o autor comenta que a
globalização é vista por uns como algo bom e por outros como algo ruim, mas
para todos é um processo irreversível. Causa de felicidade e infelicidade alheia.
Além de ser algo que afeta a todos na mesma medida e da mesma maneira.
Bauman cita o processo paradoxal da globalização: “A globalização tanto divide
como une; divide enquanto une” (BAUMAN, 1999, p. 8). Bauman explica que
num mundo cada vez mais globalizado a localização é vista como privação e
degradação social, enquanto a globalização deve ser o modelo seguido por
todos. Esta questão é facilmente observável no nosso dia-a-dia quando vemos a
valorização daquilo que faz sucesso pelo mundo, como moda, música,
gastronomia, entre outros produtos culturais, e acabamos desvalorizando
aquilo que é da nossa região. Em tempos de globalização, por exemplo, quem

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 1/11
10/11/2017 Mercury Reader

não tem internet, e não está integrado nas redes sociais, está excluído em
relação aos que possuem. As ferramentas se tornaram uma febre global.

Capítulo 1. Tempo e classe

As grandes corporações são tema do primeiro capítulo do livro de Bauman,


onde ele explica o conflito existente entre funcionários e investidores. Os
investidores são os donos das empresas e tomam as decisões importantes,
mesmo não estando presos à localidade, enquanto os empregados que não têm
voz estão presos ao espaço do trabalho. A preocupação desses investidores é
com o lucro, e quem deve cumprir com as obrigações e tem a mão de obra
explorada são os funcionários. O autor argumenta sobre o fim das distâncias e
da fronteira geográfica. Com a mensagem eletrônica, por exemplo, o tempo de
comunicação tornou-se instantâneo. Algumas palavras como “perto” e “longe”,
“dentro” e “fora”, perderam o sentido que carregavam antigamente referentes à
geografia, e ganharam outra dimensão: certeza e incerteza, autoconfiança e
hesitação, situações problemáticas ou não. Ainda de acordo com o autor, o
progresso dos meios de transporte marcou a história moderna, com o aumento
dos transportes, viagens, invenção e produção em massa de meios de
transporte novos, como trens, automóveis e aviões. A disponibilização desses
novos meios de transporte possibilitou o contato com outros processos sociais
e culturais antigamente locais. O transporte da informação foi um dos grandes
marcos da história: “O tipo de comunicação que não envolve o movimento de
corpos físicos... “(Bauman, 1999, p. 21). Segundo Bauman, a informação que
antes precisava de um mensageiro, alguém que levasse fisicamente, passou por
um processo de desenvolvimento de meios técnicos que permitiu que o
conteúdo viajasse independente dos portadores físicos e do que se tratava. A
rede de computadores (Internet), por exemplo, fez com que o aumento da
velocidade de transmissão da informação aumentasse cada vez mais, podendo
esta ser transmitida mais rápida do que a viagem dos corpos, perdendo a noção
de viagem e distância a ser percorrida. A informação passa a ser
instantaneamente disponível para o planeta. Os custos da comunicação
tornaram-se cada vez mais baratos, deixando de existir ou diminuindo a
http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 2/11
10/11/2017 Mercury Reader

diferença entre custo local e global, e esse processo relacionou-se ao excesso e


à chegada veloz de informações. “... a comunicação barata inunda e sufoca a
memória, em vez de alimentá-la e estabilizá-la.” (BAUMAN, 1999, p. 23). A elite
que sempre conseguiu romper as barreiras de localização aproveita-se desta
nova forma de transmissão de informações para se libertarem do espaço físico.
De acordo com Bauman, a elite constrói casas e escritórios supervigiados, livres
da intromissão de vizinhos importunos, isolados da comunidade local e
inacessíveis a quem não esteja dentro deles confinados, uma combinação entre
poder e onipotência. Como formas de evitar o contato com outras pessoas, a
elite escolhe lugares de difícil acesso, espaços defendidos por barras e / ou
espaço com monitoramento constante de tecnologias e seguranças, processos
relacionados à extraterritorialidade e do isolamento corpóreo da nova elite em
reação à localidade. A globalização trouxe uma espécie de desestruturação das
comunidades locais, como é possível conferir nesse trecho: “Longe de serem
viveiros de comunidades, as populações locais são mais parecidas com feixes
frouxos de extremidades soltas” (BAUMAN, 1999, p. 31).

Capítulo 2. Guerras espaciais: informe de carreira

Neste capítulo do livro Bauman fala sobre o espaço social e o espaço físico. As
medidas do espaço físico e do espaço social antes bastante utilizadas, hoje já
não têm mais o mesmo uso. Com a diversificação das medidas, um dos
problemas encontrados pelos detentores de poder foi o de uniformizar o
tratamento a todos pelos impostos. Bauman explica que para facilitar foram
criadas medidas padrão, obrigatórias, de distância, superfície e volume, por
exemplo, e a proibição de medidas locais. O sociólogo também cita os mapas
como uma espécie de batalha para reorganizar o espaço e de controle do ofício
do cartógrafo. Para Bauman, a guerra moderna pelo espaço fez com que o
Estado buscasse um mapa oficialmente aprovado e a desqualificação de outros
mapas e interpretações alternativas, bem como o desativamento de outras
instituições cartográficas que não fossem estabelecidos, licenciados ou
financiados pelo Estado. Bauman menciona e compara a criação dos mapas
pelos poderes modernos ao modelo Panóptico concebido por Michel Foucalt,
http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 3/11
10/11/2017 Mercury Reader

em que o filósofo fala sobre a criação de um espaço artificial com o objetivo de


monitorar os indivíduos e manipular as relações sociais e a relação de poder. Os
observadores viviam no mesmo espaço do que os supervisionados, porém em
situações opostas. “A visão do primeiro grupo não é obstruída, enquanto o
segundo precisa agir num território de névoa, opaco” (BAUMAN, 1999, p. 41). O
autor prossegue explicando que para os poderes modernos não foi possível
criar esse espaço artificial em uma ampla escala, portanto uma solução
encontrada foi o mapeamento do espaço, uma estratégia da moderna guerra
pelo espaço, que confundia os habitantes locais e remodelava os espaços.
“Anteriormente, era o mapa que refletia e registrava as formas do território.
Agora, era a vez do território se tornar um reflexo do mapa, ser elevado ao nível
da ordenada transparência que os mapas se esforçavam por atingir” (BAUMAN,
1999, p. 42). Ainda sobre a questão territorial, Bauman cita o escrior Morelly e a
idéia utópica de uniformidade e homogeneidade dos elementos espaciais das
cidades. Autor de “The Code of Nature”, obra publicada em 1755 na França,
Morelly dividia a cidade em círculos, sendo o central voltado para os edifícios
alternativos; a seguir, um voltado para os distritos urbanos, com ruas iguais e
edifícios idênticos; já os cidadãos que não se adaptassem aos padrões de
normalidade, sejam os doentes, inválidos e senis, segundo o autor, estes
deveriam ser confinados em uma área fora dos círculos. Outro destaque para
não atrapalhar a regularidade das cidades seria o local onde deveriam ficar os
excluídos da sociedade, “mortos cívicos”, que deveriam ser trancafiados em
cavernas, próximo aos cemitérios com os “mortos biológicos”. Toda esta
preocupação com a uniformidade das cidades criou uma espécie de agorafobia
nos cidadãos e de intolerância. “…a uniformidade alimenta a conformidade e a
outra face da conformidade é a intolerância. Numa localidade homogénea é
extremamente difícil adquirir as qualidades de carácter e habilidades
necessárias para lidar com a diferença humana e situações de incerteza; e na
ausência dessas habilidades e qualidades é facílimo temer o outro,
simplesmente por ser outro – talvez bizarro e diferente...” (BAUMAN, 1999, p.
55). Bauman cita Richard Sennet, um analista da vida contemporânea, que
estudou redução do espaço público urbano e a retirada dos habitantes da

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 4/11
10/11/2017 Mercury Reader

cidade. Segundo o autor, esta busca pela homogeneização e remodelação das


cidades  levaram à desintegração dos laços humanos, abandono, solidão e vazio
interior. Estas tentativas de busca pela transparência fizeram com que os
habitantes da cidade enfrentassem um problema de identidade. “A experiência
das cidades americanas analisadas por Sennett aponta para uma regularidade
quase universal: a suspeita em relação aos outros, a intolerância face à
diferença, o ressentimento com estranhos e a exigência de isolá-los e bani-los,
assim como a preocupação histérica, paranóica com a “lei e a ordem”, tudo isso
tende a atingir o mais alto grau nas comunidades locais mais uniformes, mais
segregadas dos pontos de vista racial, étnico e de classe” (BAUMAN, 1999, p.
54). As pessoas procuram morar em lugares onde não hajam vizinhos com
diferentes pensamentos, atitudes e aparências dando uma ilusão de igualdade,
porém essa uniformidade também pode ser vista como intolerância. Em
tempos pós-modernos, o medo urbano é uma das constantes na vida dos
cidadãos e o isolamento e fortificação do próprio lar são características
marcantes. Se em outras épocas as cidades se preparavam para guerras com
outras regiões, atualmente as pessoas vivem como se estivessem em guerra na
própria cidade. Além da preocupação com o bairro e indivíduos da região em
que moram, há os que preferem evitar total contato com os vizinhos, deixando
menos uma preocupação: a de amá-los ou odiá-los. “Em vez da união, o
evitamento e a separação tornaram-se as principais estratégias de sobrevivência
nas megalópoles contemporâneas” (BAUMAN, 1999, 56).

Capítulo 3. Depois da Nação-Estado, o quê?

No terceiro capítulo do livro, Bauman fala sobre o rompimento da economia e


do Estado. Se antigamente as nações controlavam as riquezas, nos dias de hoje
observa-se uma ruptura entre Estado e economia. O autor cita como exemplo
empresas globais que demitem pessoas de diversas localidades sem terem
prejuízos econômicos, deixando as consequências para o Estado. Além do
desemprego, o sociólogo cita as empresas que estão construindo empregos em
outros países e acabam se esquecendo da população local. Um exemplo são as
fábricas de tênis instaladas em países como a China, onde o custo de produção
http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 5/11
10/11/2017 Mercury Reader

é menor e os trabalhadores vivem em condições lamentáveis, porém os


produtos não deixam de ser vendidos em outras regiões por preços bem
diferentes dos utilizados na sua confecção. Esta falta de fronteiras geográficas
fez com que as empresas pudessem se utilizar de mão de obra barata, e não se
preocupassem com a população local, somente com o seu lucro próprio. Mestre
em Ciências Sociais, Leonardo Betemps Kontz comenta que no livro o
sociólogo fala a respeito de uma “desordem mundial” – não sabemos quem está
no controle, e não existe consenso global. “A nova desordem mundial é uma
seqüência de ações, que parte da falta de definição dos rumos a serem tomados
e quem está no controle, assim como, a falta um centro que una os interesses
da civilização. Portanto, globalização nada mais é do que o processo de
desordem da economia e das relações sociais”, explica Kontz. Outro ponto
levantado neste livro pelo sociólogo é a falta de controle. Bauman fala sobre
Kenneth Jowitt e sua obra “A Nova Desordem Mundial”, onde o autor fala
sobre a necessidade de estar no controle, mesmo de forma ilusória, que as
pessoas sentem falta. Se em tempos modernos as pessoas deveriam respeitar a
ordem das coisas, através dos blocos de poder, atualmente faltam iniciativas e
ações locais que possam falar em nome da humanidade e impor a concordância
global. A questão do Estado soberano em tempos de globalização trouxe alguns
paradoxos. Existem aqueles que tentam impor ordem dentro do seu espaço, os
que tentam desistir dos direitos soberanos e estados que estavam esquecidos e
pretendem se tornar um Estado. Todavia, no contexto geral, aconteceu uma
morte da soberania dos estados, onde estes não têm recursos suficientes e
liberdade para evitar um colapso. Bauman fala sobre a fragmentação política e a
globalização econômica. Em tempos de comunicação mundial, por exemplo, a
economia e crescimento de um país são ressaltadas na mídia e a pobreza acaba
caindo em esquecimento. Ser pobre torna-se sinônimo de passar fome, e outros
complexos são ignorados, como as condições de vida, analfabetismo, agressão,
famílias desestruturadas, e outros problemas condicionados à pobreza.

Capítulo 4. Turistas e vagabundos

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 6/11
10/11/2017 Mercury Reader

Para Bauman, o espaço que antes era um obstáculo agora só existe para ser
anulado. As pessoas estão sempre em movimento, mesmo quando não se
movem fisicamente, pela internet, por exemplo, onde é possível percorrer a
rede de computadores mundial e trocar mensagens com pessoas do mundo
todo. Ainda de acordo com o autor, somos viajantes, nós nos tornamos
nômades que estão sempre em contato. O turista e o vagabundo, os dois são
consumistas, e suas relações com o mundo são puramente estética. um turista.
De ter a liberdade de estar onde desejar e de comprar o que quiser. Para os
habitantes do primeiro mundo viajar é algo sedutor, "são adulados e seduzidos
a viajar" como diz o autor. Já para os integrantes do segundo mundo, existem
os muros da imigração, as leis de residência e a política das "ruas limpas".
Muitas vezes são obrigados a viajarem sem autorização e ao chegarem ao local
desejado são forçados a retornarem. O sociólogo acredita que só há razão para
ficar imóvel quando o mundo também está parado, o que não acontece em
tempos pós-modernos, onde os pontos de referências estão sobre rodas e
quando chega-se perto de entender algo, eles já sumiram de vista. “Não se pode
ficar parado em ‘areia movediça’” (BAUMAN, p. 86, 1999). Outra consequência
da globalização bastante notada é a do consumo e competitividade. “Para abrir
caminho na mata densa, escura, espalhada e ‘desregulamentada’ da
competitividade global e chegar à ribalta da atenção pública, os bens, serviços e
sinais devem despertar desejo e, para isso, devem seduzir os possíveis
consumidores e afastar seus competidores” (BAUMAN, p. 86, 1999). Esse
processo de “tentação” e “atração” acontece para manter os possíveis
consumidores interessados, mas para a indústria não parar, assim que o
consumidor é fisgado, abre-se para outros objetos de desejo, de forma que haja
crescimento econômico. Um exemplo dessa necessidade de consumo fica
evidente na produção e comercialização dos aparelhos tecnológicos, que
possuem determinada “prazo de vida”. O que será produzido amanhã precisa
substituir o aparelho de hoje. Bauman argumenta no livro que vivemos em uma
sociedade de consumo. Todavia, ele explica que sociedade de consumo não
significa necessariamente a existência de consumidores, já que estes existem
desde outros tempos. Quando o sociólogo se refere à sociedade de consumo,

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 7/11
10/11/2017 Mercury Reader

ele quer dizer que nos tempos modernos, na fase industrial, era a época da
“sociedade de produtores”. Segundo Bauman, existe uma diferença de ênfases,
se antes as pessoas deveriam ser produtores, hoje o papel que elas devem
desempenhar na sociedade pós-moderna é o de consumidores. Essas mudanças
fazem diferença nos aspectos da sociedade, da cultura e individual. Esta
sociedade de consumo, segundo o sociólogo, pode ser distinta das outras, já que
o consumidor é diferente. Bauman comenta que se os filósofos da antiguidade
refletiam se o homem trabalha para viver ou vive para trabalhar, o dilema de
hoje em dia é: “é necessário consumir para viver ou se o homem vive para poder
consumir”. A fácil perda do interesse, a impaciência são algumas das
características da sociedade de consumo. Além do desejo de consumir, os
produtos são cada vez menos duráveis. Nesse jogo de necessidades e satisfação,
Bauman diz que a promessa de satisfação é mais intensa do que a necessidade
efetiva. Segundo Bauman, os consumidores da sociedade de consumo estão
sempre em movimento, procurando objetos de desejo e não se sentem mal,
pois é uma espécie de aventura. Para manter o movimento, os consumidores
devem estar em um estado de excitação incessante e também de insatisfação.
“Todo mundo pode ser lançado na moda do consumo; todo mundo pode
desejar ser um consumidor e aproveitar as oportunidades que esse modo de
vida oferece. Mas nem todo mundo pode ser um consumidor” (BAUMAN, p. 94,
1999). O sociólogo explica que todos estão sujeitos à uma vida de opções, mas
nem todos tem a opção de escolher como viver. A globalização possibilitou às
pessoas a conhecerem diversas regiões do mundo, saindo de casa fisicamente
ou não, mas também fez com que estas perdessem suas raízes. Como Bauman
lembra existem pessoas que viajam pelo mundo à trabalho, fala diversas línguas
e possui casas em países diferentes. “O tipo de cultura de que participa não é a
cultura de um determinado lugar, mas a de um tempo. É a cultura do presente
absoluto” (BAUMAN, p. 99, 1999). Apesar de estar sempre em lugares
diferentes, o indivíduo que vive viajando consegue conversar sobre filmes,
músicas e moda, por exemplo, por conta da globalização, sem falar na
possibilidade de poder comer algo de uma cultura estando em outra região. “O
significado mais profundo transmitido pela idéia da globalização é o do caráter

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 8/11
10/11/2017 Mercury Reader

indeterminado, indisciplinado e de autopropulsão dos assuntos mundiais; a


ausência de um centro, de um painel de controle, de uma comissão diretora, de
um gabinete administrativo” (BAUMAN, 1999, p. 67).

Capítulo 5. Lei Global, ordens locais

No quinto capítulo do livro Globalização: As consequências humanas, Bauman


cita Pierre Bourdieu e o “Estado Beneficente”, dos Estados Unidos, onde as leis
que garantem segurança para as classes médias e são repressivas em relação à
precária grande massa da população. A lei e a ordem são limitadas, enquanto
alguns possuem uma existência ordeira e segura, para outros a força da lei é
ameaçadora e espantosa. Outro ponto levantado neste capítulo é o mercado de
trabalho. Apesar de rígido, a necessidade de investimento para torna-lo mais
maleável não é pensada somente por conta da variável econômica, mas também
como uma forma de conduzir a mão-de-obra,  flexibilizar as relações sociais,
redistribuir o poder e diminuir a resistência. Para Bauman a globalização
transformou as leis e cita como exemplo o isolamento dos presidiários. O
sociólogo faz uma crítica ao sistema dizendo que com tantas restrições e
isolamento, as prisões só não podem ser consideradas caixões porque os
prisioneiros ainda comem e defecam. Ainda de acordo com Bauman, o
encarceramento e os trabalhos a que eles são submetidos acabam sendo uma
forma de correção em uma espécie de fábrica de trabalho disciplinado. O
trabalho é útil e lucrativo. Para Bauman, esses internos trabalham em funções
que os trabalhadores livres não gostam de exercer por livro e espontânea
vontade por mais atraentes que fossem as recompensas. De acordo com
Bauman, diversos pesquisadores acreditam que as casas de correção e
reabilitação de internos, onde eles são submetidos a um confinamento
supervigiado não contribuem com o propósito. O número cada vez maior de
indivíduos nas prisões é um dos reflexos da globalização. Existem países que
tem mais gastos com segurança e isolamento, do que com a educação. A prisão
tornou-se um método eficiente de neutralizar a ameaça à ordem social e
expulsão social para acalmar a ansiedade. No livro é citado, por exemplo, o
estado da Califórnia, nos Estados Unidos, lugar considerado por alguns
http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 9/11
10/11/2017 Mercury Reader

sociólogos europeus como um “paraíso da liberdade”, todavia os gastos com a


construção e a manutenção das prisões ultrapassam os fundos estatais para
educação superior. “A prisão é a forma última e mais radical de confinamento
espacial. Também parece ser a maior preocupação e foco de atenção
governamental da elite política na linha de frente da “compressão espaço-
temporal” contemporânea” (BAUMAN, 1999, p. 114). Bauman descreve o
confinamento especial como uma forma de lidar com setores difíceis de
controlar e problemáticos. O autor dá como exemplo os escravos, leprosos,
loucos, que deveriam ficar isolados fisicamente e tinham a comunicação
suspensa, e quando tinham permissão para andar fora das áreas, estes
indivíduos deveriam levar sinais mostrando que pertenciam a outro espaço. “O
isolamento é a função essencial da separação espacial. O isolamento reduz,
diminui e comprime a visão do outro” (BAUMAN, 1999, p.114). Sobre a prisão e
o isolamento, o autor argumenta que a intimidade pessoal diária com os
indivíduos punidos pela lei poderia fazer com que as pessoas mudassem de
ideia, mesmo com raiva das ações cometidas. Todavia, segundo Bauman, na
atualidade as pessoas vivem entre si, não se conhecem e provavelmente jamais
conhecerão. A quantidade cada vez maior da densidade populacional e a
tendência da sociedade moderna consideram diversos atos indesejados em
crimes e com consequente punição com a prisão. O aumento da densidade
física da população não corresponde ao aumento da densidade moral,
extrapolando a “capacidade de absorção da intimidade humana e o alcance da
rede de relações pessoais” (BAUMAN, 1999, p. 115).

Conclusão

Apesar de escrito em 1998-1999, o livro “Globalização: As Consequências


Humanas” mostra os resultados do fenônemo da globalização nas sociedades
contemporâneas e possibilita o melhor entendimento e reflexão das
consequências para o indivíduo e para a vida social. A preocupação das grandes
empresas com o lucro e com o modelo global acentuam o contraste já existente
desde outros tempos. Já dizia aquela frase: “O rico cada vez mais rico e o pobre
cada vez mais pobre”. O crescimento da pobreza e a diminuição das condições
http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 10/11
10/11/2017 Mercury Reader

de vida são algumas características marcantes da globalização, porém ignoradas


pela sociedade.

Entender a globalização é fundamental para entender a sociedade pós-moderna


em que vivemos, tanto como futuros profissionais de imprensa, quanto como
cidadãos.

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html

http://www.benoliveira.com/2012/05/resenha-globalizacao-as-consequencias.html 11/11

Você também pode gostar