Cap01 - Introdução A Metodologia Da Pesquisa
Cap01 - Introdução A Metodologia Da Pesquisa
Cap01 - Introdução A Metodologia Da Pesquisa
Orientação
A Parte I deste livro tem dois objetivos. Primeiro, ela busca introduzir a pesquisa social em
geral. Considera o que é a pesquisa social, o que a distingue, que forma ela assume e como
ela pode (e não pode) ser usada. Esses são os tópicos do Capítulo 1.
Em segundo lugar, ela busca criar uma base para o seu próprio projeto de pesquisa.
Em particular, introduz as questões de pesquisa, as hipóteses e a literatura da pesquisa.
O Capítulo 2 se concentra nas questões de pesquisa. Considera o que é uma questão cen-
tral de pesquisa e como essas questões podem ser desenvolvidas. Este capítulo também
considera hipóteses – o que elas são e como e quando são úteis.
O Capítulo 3 considera a literatura da pesquisa, delineando a natureza desta e como
ela pode – e deve – informar o planejamento do seu próprio projeto de pesquisa.
Estes três capítulos juntos também introduzem um tema que percorre todo o livro: a
distinção e a relação entre a pesquisa qualitativa e a quantitativa.
OBJETIVOS DO CAPÍTULO
Conhecimento e
práticas do cotidiano Ciência e pesquisa
Quadro 1.1
Pesquisa social é a análise sistemática das questões de pesquisa por meio de métodos empíri-
cos (p. ex., perguntas, observação, análise dos dados, etc.). Seu objetivo é fazer afirmações de
base empírica que possam ser generalizadas ou testar essas declarações. Várias abordagens
podem ser distinguidas e também vários campos de aplicação (saúde, educação, pobreza, etc.).
Diferentes objetivos podem ser buscados, variando desde uma descrição exata de um fenô-
meno até sua explanação ou a avaliação de uma intervenção ou instituição.
Área de Os estudos
pesquisa Características Objetivos Exemplo se referem a
Pesquisa de ação Análise dos campos Intervenção no Análise e melhoria Pacientes com uma
participatória e sua mudança campo em estudo na assistência a origem étnica
concomitante migrantes específica, que são
(não suficiente-
mente) apoiados
pelos serviços de
cuidado domiciliar
disponíveis
presta da literatura). Para o estudo empíri- esse propósito, instrumentos são testados
co, você vai formular uma (ou várias) hi- para verificação da consistência da sua
póteses que você vai testar (p. ex., que, mensuração, como no caso de aplicações
para os estudantes de humanidades, a uni- repetidas, por exemplo. O objetivo do estu-
versidade é mais estressante do que para os do é atingir resultados generalizáveis: ou
estudantes de ciências naturais). No proje- seja, seus resultados devem ser válidos para
to empírico, o procedimento de mensura- além da situação em que foram mensura-
ção tem alta relevância para encontrar di- dos (os estudantes também sentem o estres-
ferenças entre as pessoas com relação às se ou têm pressão sanguínea elevada antes
características do seu estudo (p. ex., há es- das provas quando não estão sendo estuda-
tudantes com mais e menos estresse). dos para propósitos de pesquisa). Os resul-
Na maioria dos casos, não podemos tados do grupo de estudantes que partici-
expor um conceito teórico imediatamente à pou da pesquisa precisam ser transferíveis
mensuração. Em vez disso, temos que en- para os estudantes em geral. Para isso, você
contrar indicadores que permitam uma vai extrair uma amostra, escolhida segundo
mensuração no lugar do conceito. Podemos critérios de repre sentatividade – o caso
dizer que o conceito tem de ser operaciona- ideal é uma amostra aleatória (ver Capítulo
lizado nestes indicadores. No nosso exem- 5 para isto) – da população de todos os es-
plo, você pode operacionalizar o estresse tudantes. Isso vai significar que você pode
antes de uma prova usando indicadores fi- generalizar a partir da amostra para a po-
siológicos (p. ex., pressão arterial mais ele- pulação em geral. Assim, os participantes
vada) e depois aplicar as mensurações da isolados são relevantes não como indiví
pressão arterial. Mais frequentemente os duos (como o estudante Joe Bauer expe-
pesquisadores operacionalizam a pesquisa riencia estresse antes das provas?), mas sim
usando questões específicas (p. ex., “Antes por suas reações específicas (p. ex., fisioló-
das provas eu me sinto com frequência sob gicas) a alguma condição (uma prova que
pressão”) com alternativas específicas de se aproxima), que são relevantes.
resposta (como no exemplo da Figura 1.1). A ênfase na mensuração, assim como
A coleta de dados é projetada de uma nas ciências naturais, está relacionada a um
maneira padronizada (p. ex., todos os parti- importante objetivo de pesquisa, a replica-
cipantes de um estudo podem ser entrevis- bilidade – isto é, a mensuração tem princi-
tados sob as mesmas circunstâncias e da palmente que poder ser repetida, e então,
mesma maneira). O ideal metodológico é o contanto que o objeto sob exame não tenha
tipo de mensuração científica alcançada nas sido modificado, produzir os mesmos re-
ciências naturais. Por meio da padroniza- sultados. No nosso exemplo: se você men-
ção da coleta dos dados e da situação da surar repetidas vezes a pressão arterial do
pesquisa, os critérios de confiabilidade, va- mesmo estudante antes do exame, os valo-
lidade e objetividade (ver Capítulo 11) res mensurados devem ser os mesmos – ex-
podem ser satisfeitos. ceto se houver boas razões para uma dife-
A pesquisa quantitativa está interessa- rença, como se a pressão arterial se eleva à
da em causalidades – por exemplo, em mos- medida que se aproxima o momento da
trar que o estresse antes de uma prova é prova, por exemplo.
causado pela prova e não por outras cir- A pesquisa quantitativa trabalha com
cunstâncias. Por isso, você vai criar uma si- números. Voltando ao nosso exemplo, como
tuação para a sua pesquisa em que, na me- a mensuração produz um número específico
dida do possível, as influências de outras para a pressão arterial, as alternativas para a
circunstâncias possam ser excluídas. Para resposta na Figura 1.1 podem ser transfor-
Figura 1.1
Alternativas para resposta na escala de Lickert.
menos, não só) que você aplica os métodos lhe dar a chance de superar seus preconcei-
da ciência social para o estudo (o uso) da tos e perspectivas limitadas sobre a maneira
internet, mas, principalmente, que você a como as pessoas vivem e trabalham. Além
usa a fim de aplicar seus métodos para res- disso, você vai aprender muito sobre como
ponder suas questões de pesquisa. As novas se desenvolvem as histórias de vida ou sobre
formas de comunicação no contexto da In- o que acontece no trabalho prático em ins-
ternet 2.0, em particular, proporcionam tituições ou no campo.
novas opçõespara a comunicação em e Na maior parte dos processos de pes-
sobre a pesquisa social. Elas também facili- quisa, você vai aprender muito não apenas
tam a realização colaborativa da pesquisa sobre os participantes, mas também sobre
(ver Capítulo 9 para detalhes). você mesmo – especialmente se você traba-
lha com questões como saúde, estresse na
universidade, problemas existenciais em
casos de discriminação social, etc. em situa-
A pesquisa social entre
ções concretas de vida. Em particular no
a frustração e o desafio: contexto de estudos teoricamente ambicio-
sos e seus conteúdos, trabalhar com dados
por que e como a empíricos pode constituir não apenas uma
pesquisa pode ser alternativa instrutiva ou complementar
para a teoria, mas também um vínculo con-
divertida creto entre ela e os problemas e situações de
vida cotidianos.
Para muitos estudantes, a realização de cur- Trabalhar com outras pessoas pode
sos sobre métodos de pesquisa e estatística ser uma experiência enriquecedora, e se
parece ser nada mais que um dever desagra- você tiver a chance de realizar sua pesquisa
dável; como se você fosse obrigado a passar em meio a um grupo de pessoas – uma
por isso, mesmo não sabendo por que e equipe de pesquisa ou um grupo de estu-
com que propósito. Aprender métodos dantes – essa será uma boa saída do isola-
pode ser exaustivo e doloroso. Se todo o mento que os estudantes às vezes experien-
empreendimento conduz a um difícil teste ciam. Para muitos estudantes, o trabalho
escrito no fim, às vezes qualquer excitação com dispositivos técnicos, computadores,
fica submersa pelo estresse causado pela programas e dados pode ser satisfatório e
prova. Aplicar métodos pode consumir bastante divertido. Usar as formas de comu-
tempo e ser desafiador. nicação proporcionadas pela Internet 2.0
Entretanto, a natureza sistemática dos para seus propósitos de pesquisa, por exem-
procedimentos e o acesso concreto a ques- plo, vai lhe proporcionar novas experiên-
tões práticas na pesquisa empírica nos estu- cias de rede social e experiências práticas
dos e no trabalho profissional posterior com o que há de mais moderno no contexto
(como sociólogo, assistente social e afins) do uso de novos meios de comunicação de
podem proporcionar novos insights. Você uma maneira profissional. E, ao final disso,
pode se dar conta de novas questões na aná- você terá produtos concretos na mão: exem-
lise de seus dados. Entrevistas, histórias de plos, resultados, o que eles têm em comum
vida ou observação de um participante e como são diferentes para uma variedade
podem proporcionar percepções sobre as de pessoas, assim por diante.
situações de vida concretas ou sobre como Finalmente, trabalhar em um projeto
as instituições funcionam. Às vezes esses in- empírico requer trabalhar em uma questão
sights chegam como surpresas, o que pode de maneira sustentada. Esta é uma boa ex-
periência, pois as experiências de muitos es- quisa existente e talvez para que você seja
tudantes hoje são mais caracterizadas por capaz de criar um argumento acerca desta
um trabalho fragmentado. A pesquisa em- pesquisa. Para ambos podemos formular
pírica em nossos campos de estudo pode várias perguntas norteadoras, que vão per-
ser também um teste do quanto você gosta mitir uma avaliação básica da pesquisa (no
desses campos. Se este teste terminar positi- planejamento do seu próprio estudo ou na
vamente, isso pode tranquilizá-lo em sua leitura de estudos de outros pesquisa
decisão de se tornar, por exemplo, um assis- dores). Essas estão explicitadas no Quadro
tente social ou um psicólogo. 1.2.
Essas perguntas norteadoras podem
ser formuladas independentemente da me-
Marcos no campo todologia específica escolhida e podem ser
aplicadas a várias alternativas metodológi-
da pesquisa social cas. Elas são relevantes tanto para os estu-
dos qualitativos quanto para os quantitati-
O conhecimento sobre a pesquisa social vos e podem ser usadas para avaliar um
ajuda de duas maneiras. Ele pode propor- estudo de caso e também para uma pesqui-
cionar o ponto de partida e a base para você sa de levantamento representativa da popu-
realizar seu próprio estudo empírico, como lação de um país. Oferecem uma estrutura
no contexto de uma tese ou de um trabalho para as observações e também para as en-
profissional posterior em sociologia, edu trevistas, ou para o uso dos dados e docu-
cação, assistência social, etc; sendo também mentos existentes (ver Capítulo 7 para mais
necessário para entender e avaliar a pes detalhes a respeito).
Quadro 1.2
Pontos principais
O primeiro e o último textos listados a se- Flick, U. (2009) Introdução à Pesquisa Qualitativa,
3. ed. Porto Alegre: Artmed.
guir proporcionam mais detalhes acerca da
pesquisa quantitativa, além de incluírem al- Flick U., Kardorff, E. v. e Steinke, I. (eds.) (2004) A
guns capítulos sobre métodos qualitativos. Companion to Qualitative Research. London: Sage.
O segundo e o terceiro livros apresentam Neuman, W.L. (2000) Social Research Methods:
mais insights sobre a variedade dos métodos Qualitative and Quantitative Approaches, 4. ed.
da pesquisa qualitativa. Boston: Allyn and Bacon.