Simone Aparecida Preciozo Figliolino
Simone Aparecida Preciozo Figliolino
Simone Aparecida Preciozo Figliolino
SÃO PAULO
2014
Simone Aparecida Preciozo Figliolino
SÃO PAULO
2014
FIGLIOLINO, Simone Aparecida Preciozo.
CENTRO EDUCACIONAL UNIFICADO (CEU): concepções sobre
uma experiência. Simone Aparecida Preciozo Figliolino.
2014.
194 fls.
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________
_______________________________________________
_______________________________________________
DEDICATÓRIA
À minha família.
AGRADECIMENTOS
This work presents the CEU (Unified Educational Centre) Project, in the city of
São Paulo, established in 2003 during the mayorship of Marta Suplicy, as the
evolution of Popular Education in Brazil, meeting the needs of population in São
Paulo and in Brazil in the 21th Century. More than an Educational Centre, CEU
is a place that assures the right of citizenship to the people. The main conceptions
regarding the CEU Project are analised based on these categories: citizenship,
popular education, integration, participation and architecture. In each of these
categories, this field work reveals CEUs meaning to the people, for it is presented
with a great potential for local development, as it is placed as an oportunity to
improve lives in the community.
Keywords: Unified Educational Centre, Popular Education, School Architecture,
Education in the City of São Paulo
ÍNDICE DAS FIGURAS
1 INTRODUÇÃO..................................................... 16
1.1 Origem do problema............................................. 17
1.2 Objeto de estudo.................................................. 18
1.3 Delimitação da pesquisa....................................... 19
1.4 Objetivos da pesquisa.......................................... 20
1.5 Metodologia da pesquisa...................................... 21
1.6 Relevância acadêmica da pesquisa..................... 23
1.7 Relevância social da pesquisa............................. 25
2 O PROJETO CEU................................................ 28
2.1 O Centro Educacional Unificado........................... 29
2.2 O complexo em seu projeto original..................... 34
2.3 São Paulo, o Projeto CEU e a Associação
Internacional das Cidades Educadoras................ 61
2.4 Iniciativas educacionais brasileiras que podem ter
influenciado o Projeto CEU............................. 63
2.4.1 Influência de experiências brasileiras.................. 64
2.4.2 Influência de experiências paulistanas................. 76
3 EDUCAÇÃO POPULAR...................................... 95
3.1 Revisitando o conceito de educação popular....... 95
3.2 Os sujeitos da educação popular......................... 103
REFERÊNCIAS.................................................................................. 177
APÊNDICES
1 INTRODUÇÃO.
Talvez o primeiro prédio escolar que eu tenha admirado na vida seja o da EMEF
Fábio da Silva Prado (DRE Penha)1, onde iniciei minha vida escolar, em 1974.
Era à época uma escola com projeto arquitetônico diferente do modelo de
escola que predominava na Cidade de São Paulo, com espaços diferenciados,
fruto de um movimento denominado Arquitetura Moderna.
Mais tarde, cursei o Magistério, nível médio, na EMEFM Derville Allegretti (DRE
Jaçanã/Tremembé)2, também da Rede Municipal da Cidade de São Paulo. Os
estágios supervisionados foram quase em sua totalidade realizados em
Unidades Educacionais da mesma rede. A observação dos diversos espaços
onde a educação é realizada nesta cidade, e a admiração por determinadas
iniciativas pode ser uma explicação pela qual a educação em São Paulo seja,
ao mesmo tempo, parte da minha história pessoal e alvo de um grande
interesse pela influência que a arquitetura pode ter sobre o ato educativo.
Desde o meu ingresso na Rede Municipal de São Paulo, em 1991 até hoje,
muitas experiências me levaram a uma relação de admiração pelo Projeto CEU.
A nossa hipótese é a de que o CEU pode ser fruto de uma construção histórica
de Educação Popular no Brasil, que tem na arquitetura um fator primordial para
a oferta de educação com qualidade social para a classe trabalhadora, sendo
ele mesmo um complexo que possibilita uma forma evoluída dessa mesma
educação popular, em atendimento às necessidades da sociedade paulistana
e brasileira, no século XXI. Por essa razão, apesar das descaraterizações
sofridas em relação ao projeto inicial, sobrevive e necessita de um currículo
para o desenvolvimento da educação cidadã, cumprindo, dessa forma, os
objetivos propostos em sua implantação.
Merriam (apud ANDRÉ, 2005) conclui que quatro características são essenciais
no estudo de caso, a saber: particularidade, descrição, heurística e indução,
explicando cada uma delas:
2 O PROJETO CEU.
3Fonte: Cinemabrasilandia.wordpresscom
29
De acordo com Davis (2012, p.31), a partir de 1990 houve uma dissociação
entre a demografia urbana e o desenvolvimento – de empregos e investimento
municipal – sem precedentes na história moderna. E o autor prossegue na
análise: “Nessa época, os novos pobres urbanos (incluindo trabalhadores
formais que perderam o emprego e “imigrantes” da zona rural) tiveram que
resolver o dilema da sobrevivência por si mesmos, com investimento público
mínimo”.
O autor (DAVIS, 2012), adiante, aponta uma solução para o paradoxo entre
garantir o espaço público e o consumo privado ao cidadão, como forma de
igualdade. A abundância pública – representada por grandes parques públicos
urbanos, museus gratuitos, bibliotecas e inúmeras possibilidades, de interação
humana, são apontados como uma rota alternativa para uma vida rica baseada
em uma sociabilidade que não agride a Terra.
O bloco didático:
Este espaço atende ao público infantil de 0 a 3 anos. Com 600 metros de área
construída, totalizando um raio de 11 metros, é um espaço circular, nomeado
‘redondo’ pela comunidade educativa e composto por grande saguão iluminado
por uma claraboia (demonstra uma preocupação ambiental de uso de recursos
naturais na iluminação). As salas são modulares e se comunicam por meio de
portas de correr com função de paredes móveis. As classes apresentam
mesinhas e mobiliário planejado para atender ao público da melhor forma,
respeitado o seu tamanho. De acordo com Dória (2007), no planejamento de
equipamentos, foi pensado em muito brinquedo, na apropriação dos espaços,
nas áreas livres, como espaço de crescimento a céu aberto (DÓRIA, 2007, p.
147).
7
Fonte: acervo pessoal da pesquisadora, 2014.
36
Essa concepção de respeito à infância, hoje parece óbvia, mas é fruto de uma
construção histórico-conceitual, que, desde Jean-Jacques Rousseau8,
passando pelas descobertas de Jean Piaget9, culminam no que Faria (1999)
teria identificado como pedagogia da educação infantil, inaugurada em São
Paulo por meio dos Parques Infantis criados por Mario de Andrade:
Por meio dos croquis representados na figura 15, nesta seção, podemos
encontrar a presença de uma preocupação arquitetônica favorecendo a essa
pedagogia da educação infantil.
Naturais aos 21 anos, tendo-se doutorado no ano seguinte, passando a se interessar então
pela psicologia. Foi professor desta matéria nas Universidades de Neuchâtel, Lausanne e
Genebra, e de psicologia genética em Sorbonne em 1952. Jean Piaget é um inovador.
Consagrou suas pesquisas, de uma originalidade e de um rigor excepcionais, à descoberta da
evolução mental da criança e aos problemas da epistemologia. (PIAGET, 2008, N.E.)
37
10
Fonte: Página oficial do CEU Paz. Disponível no site:
https://www.facebook.com/CEUPAZ2004, acesso em 17/07/2014.
38
A EMEI, que ocupa o bloco didático, assim como a Escola Municipal de Ensino
Fundamental (EMEF), teria sido comparado por Alexandre Delijaicov, um dos
arquitetos que assinou o projeto inicial, a um grande navio atracado no cais:
“Tem-se uma proa e uma popa, que são recreios cobertos da EMEI e da EMEF.
A circulação a esse bloco é possível tanto pela área central como pelas escadas
laterais.
Em seu trabalho, Lima (1979) manifesta a preocupação com o que foi feito
historicamente na construção de prédios escolares em São Paulo,
especialmente após a década de 1950: a padronização, o rompimento da
relação cuidar/educar, a racionalização econômica que marcaram as plantas
dos equipamentos escolares, especialmente durante os anos de ditadura
militar, demonstrando menos uma preocupação com as descobertas no campo
da psicologia e mais a presença do estado mínimo.11
era levar a toda a Rede Municipal de Educação (RME) esse conceito. O cuidado
na ocupação do espaço, segundo Silva (2012), no projeto dos móveis e na
delicadeza em dar significado aos ambientes permitiu que o projeto
arquitetônico recebesse a comunidade de forma acolhedora e ainda pudesse
estabelecer vínculos próprios de pertencimento, tornando o espaço
significativo.
Pensamos se, para essas duas modalidades atendidas pela EMEF, o benefício
trazido pelo Complexo é maior, uma vez que nessa idade se concentram as
maiores necessidades quanto à educação integral, inexistente até o ano de
2003 na Cidade de São Paulo. Os CEUs são locais onde a educação ocorre de
maneira interdisciplinar, menos pela atuação curricular ainda e mais pela
possibilidade de formação integral do ser humano, oferecida no contraturno.
12
Fonte: Página oficial do CEU Paz. Disponível no site.
https://www.facebook.com/CEUPAZ2004> acesso em 17/07/2014.
42
Nessa faixa etária as crianças e jovens atingem maior autonomia para uso dos
espaços destinados ao esporte, à cultura e à inclusão digital. Em 2014, com a
adesão ao Programa Mais Educação do Ministério da Educação (MEC), a
EMEF Teotônio Vilela (EMEF do CEU Paz), por exemplo, inclui um número
crescente de crianças e adolescentes a atividades que, ampliando o tempo de
permanência destes na escola, têm propiciado educação com qualidade
sociocultural.
A biblioteca:
A estrutura organizacional das bibliotecas dos CEUS foi definida por LEMOS
(2012, p. 62):
O telecentro:
14
Acervo pessoal da pesquisadora, em: 02-08-14.
45
Com a mudança de governo, quando o então prefeito José Serra tomou posse
em 2005, a política pública de inclusão digital iniciada em São Paulo na gestão
anterior sofreu transformações conceituais importantes. Dentre as
transformações se operaram em toda a cidade, incluindo-se os que funcionam
nos CEUs podemos destacar:
A padaria-escola:
O teatro:
Quando tinha algum evento no teatro lotava, podia anunciar que tinha
gente batendo cadeira no teatro que lotava, quatrocentos e cinquenta
pessoas dentro e mais umas cem pessoas querendo entrar. (...) O CEU
O foyer:
19
Fonte: Acervo pessoal da pesquisadora.
54
Os estúdios:
A pista de skate:
Segundo esporte preferido entre os jovens brasileiros, antes dos CEUs de São
Paulo, tinha poucos lugares onde pudesse ser realizado. Especialmente pelos
jovens da periferia, que, estando afastados dos grandes e belos parques
tradicionais da cidade, tinham suas chances diminuídas para exercer a sua arte
corporal por meio do esporte realizado com o skate.
Atividades Esportivas:
Área externa: O CEU Paz conta com uma área extensa, onde são
realizadas as atividades de caminhada, de segunda a sexta-feira das
8h00 às 9h00. É uma atividade livre, da qual a comunidade pode
participar, independentemente da idade. Uma das entrevistas realizadas
neste trabalho com pessoas da comunidade ocorreu durante esta
atividade.
20
Fonte: http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/ceus/Anonimo/detalhes/prog/prog_paz.aspx
57
A piscina:
Todos os CEUs, apesar das diferenças nas dimensões entre as piscinas que
foram construídas no governo da Prefeita Marta Suplicy e as que foram
construídas durante a gestão dos seus sucessores Serra-Kassab, contam com
piscina semiolímpica e uma ou duas destinadas ao lazer.
22 Recreio nas Férias, estabelecido pela Lei 10.949/91 é um programa de educação informal
desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo nos períodos em que os
alunos estão em férias, atende às crianças e adolescentes das Unidades Educacionais do CEU
e de outras escolas, mediante inscrição prévia.
23 Fonte: Disponível no site: https://www.facebook.com/CEUPAZ2004> Acesso em 17/07/2014.
59
As piscinas são limpas todo dia. A gente sabe porque faz aeróbica.
(MARIA).
O Projeto CEU, implantado em 2003, em São Paulo, foi concebido também com
a intenção de inserir São Paulo em um projeto mais amplo idealizado pela
Associação Internacional das Cidades Educadoras, organização surgida em
Barcelona, na década de 1990, a partir da necessidade de proteger o cidadão
dos efeitos da economia neoliberal. A Carta das Cidades Educadoras,
documento apresentado em 2004 em sua versão definitiva, apresenta vinte
princípios da Cidade Educadora, dos quais destacamos o primeiro, que
expressa a sua concepção de educação:
Gadotti (2013, p.1) enquanto argumenta por que São Paulo pleiteava fazer
parte das Cidades Educadoras em 2004, define os objetivos do Projeto CEU,
de uma forma amplificada, como profissional da educação, à frente do Instituto
Paulo Freire, consultoria responsável pela implantação do Projeto CEU em São
Paulo:
62
24Telecentro – espaço destinado à inclusão digital através do uso de softwares livres. Por
ocasião da pesquisa (2014), estes estiveram fechados a partir de abril por problemas na
documentação apresentada pela prestadora de serviços que administrou os espaços a partir
do governo Serra-Kassab (2005-2012), o IDORT (Instituto de Organização Racional do
Trabalho).
25Espaço construído nos CEUs a partir da planta original, teve o projeto de funcionamento
abandonado pela gestão Serra-Kassab (2005-2012).
64
O documento, que pode ser considerado sob dois aspectos, tanto como
documento doutrinário quanto como um documento de política educacional
(SAVIANI, 2010), assumiu sua filiação ao Movimento da Escola Nova. Era
intenção do Manifesto a promoção de uma escola pública única, laica,
obrigatória e gratuita. As ideias presentes no Manifesto iriam inspirar, dois anos
mais tarde, a Constituição Federal promulgada em 18 de setembro de 1946,
que absorveria boa parte do conteúdo do manifesto, defendendo como principal
obrigação do Conselho Nacional de Educação a elaboração de um Plano
Nacional de Educação. (LIBÂNEO, 2012).
O Centro Educacional Carneiro Ribeiro foi uma iniciativa que se destacou tanto
no plano arquitetônico, quanto no pedagógico e foi um projeto que marcou a
superação dos ideais liberais do movimento escolanovista pelo seu autor. A
principal evidência dessa ruptura, segundo Nunes (2009) foi o fato de que
enquanto a educação para a sociedade industrial preconizava uma diminuição
nos tempos escolares para atender a um grande número da população a se
alfabetizar, o modelo criado por Anísio Teixeira idealizava a educação integral
em tempo integral. No discurso de inauguração, Teixeira deixou claro o seu
objetivo:
Por seus ideais e por sua iniciativa política, foi Anísio Teixeira aposentado da
vida pública definitivamente em 1964, chegando a responder a inquéritos
policiais, dos quais foi inocentado. O Centro Educacional Carneiro Ribeiro
permanece, em Salvador, em 2014, como uma prova de que os ideais do
educador popular podem não ter alcançado plenamente os objetivos
pretendidos, mas permanecem como um importante centro de educação
popular.
70
Por suas ideias, Darcy Ribeiro conheceu a intolerância dos opositores políticos,
na mesma proporção em que seu inspirador, Anísio Teixeira , anos antes,
recebera as mais duras críticas. Em tempos de sociedade complexa, com o
aumento crescente da criminalidade no país, as críticas encontraram eco no
próprio povo a quem o projeto era dirigido, pois as pessoas passaram a sentir
medo de manterem seus filhos no mesmo ambiente de crianças que, tinham a
infância negada pela vida difícil a que estavam submetidas.
Referência arquitetônica:
27
Fonte: Disponível no site: www.brasiliaguaiba.com.br> Acesso em 10/03/2013.
75
O projeto que deu origem aos CIACs tinha um enfoque arquitetônico, enquanto
o que os transformou em CAICs tinha um caráter mais curricular. Era o
lançamento de um modelo curricular de educação em tempo integral. Com o
final do Governo de Itamar Franco, o projeto de expansão dos CAICs foi
abandonado. Mais uma vez, o Brasil viu o retrato da descontinuidade dos
programas de governo, que não chegam a se concretizar como políticas de
Estado.
76
Segundo Silva (2012), o projeto dos Parques Infantis teve início em 1934,
quando o então prefeito Antonio Carlos Assumpção assinou o Ato nº 590, que
criava a comissão de Recreio Municipal. Essa comissão tinha o intuito de
organizar um sistema de recreio para as crianças da cidade de São Paulo,
tendo como modelo a experiência realizada com o Parque Pedro II e sua praça
de jogos infantis. A elite paulistana da época demonstrava, pelo teor do texto
do ato nº 590, o interesse em utilizar esse projeto com o objetivo de formação
moral e espiritual dos futuros cidadãos.
Em 1935, pelas mãos do então prefeito Fábio Prado é criado o Serviço de Jogos
e Recreios para Crianças. Portanto, a criação dos Parques Infantis é anterior à
criação do Departamento de Cultura.
Os Parques Infantis podem ser definidos, segundo Faria (1999, p.32), como
Um fator pode ter contribuído para a valorização de uma experiência, por parte
de Mario de Andrade, voltada à humanização das crianças atendidas: o flerte
com o marxismo, que fica claro quando, em verso e prosa, o escritor passa a
tecer duras críticas à burguesia da época, sendo ele próprio originário de uma
família burguesa. “Mário chega a romper parcialmente com o catolicismo, e
demonstra uma proximidade visceral com o povo” (SILVA, 2012, p. 53).
FIGURA 17: Biblioteca Tatuapé, 1950, arquiteto Hélio Duarte (TAKIYA, 2009).
Em sua segunda e mais expressiva fase, o Convênio Escolar existiu entre 1948
e 1954, e tinha na sua primeira equipe os arquitetos Eduardo Corona, José
Roberto Goulart Timbau, Ernest Robert de Carvalho Mange, Oswaldo Correa
Gonçalves e Hélio de Queiroz Duarte como chefe de projetos. O engenheiro
José Amadei era o presidente da comissão, que era ligada diretamente ao
gabinete do Prefeito. Segundo Takiya (2009), o Convênio Escolar tinha por
propósito inicial a construção de escolas, bibliotecas, teatros e postos de saúde
em quantidade para atender as crianças em fase escolar. A Prefeitura construía
os edifícios e o Governo do Estado se responsabilizava pela parte pedagógica
para os Grupos Escolares e os Ginásios, em um plano quinquenal até 1954.
O Convênio Escolar não era ligado a uma secretaria ou órgão específico, mas
diretamente ao gabinete do Prefeito. Em 1953, ao assumir a Prefeitura de São
Paulo, Jânio da Silva Quadros teria sido o único entre os prefeitos a cercear
(ainda que indiretamente) a liberdade com que os arquitetos planificavam e
executavam as suas obras. O arquiteto Hélio de Queiroz Duarte, que já havia
então deixado a subcomissão de planejamento da Comissão Executiva do
Convênio Escolar, demitiu-se afinal em 1954.
FIGURA 18: Foto da maquete do Espaço Criança, desenvolvida pela equipe da EDIF,
sob a coordenação de Mayumi de Souza Lima, entre dezembro de 1989 e janeiro de
1990 (LIMA, 1995, p. 182).
O projeto não sairia do papel, por uma negligência assim definida pela autora
(LIMA, 1995, p.179) em obra de sua autoria:
A relação do Espaço-Criança com o Projeto CEU pode ser identificada por meio
dos objetivos anunciados, sob diversos aspectos. A preocupação assumida por
Mayumi com a ocupação dos espaços públicos pelo cidadão revela que essa
prática não é mais possível de forma espontânea em São Paulo. Atualizando
essa preocupação para 2014, quando a ocupação urbana ainda é maior e a
necessidade de garantir o espaço para a cidadania nem sempre garantido,
temos um panorama em que se faz necessária uma atuação efetiva do poder
público nessa direção.
3 A EDUCAÇÃO POPULAR.
(Bertold Brecht)
Segundo Brandão (in STRECK e ESTEBAN, 2013, p.11): “(...) uma vocação da
educação que existe, persiste e se renova para seguir presente como uma
alternativa não domesticável de segmentos e movimentos da sociedade,
através da cultura e da educação.”
Paulo Freire orienta e ensina aos educadores, por meio de sua obra, que uma
educação emancipadora não pode atuar com os mesmos mecanismos da
educação opressora, pois, segundo Pacheco e Torres (in ASSUNÇÃO, 2009,
p.31), a educação emancipadora,
32Colonialismo aqui compreendido como violência matricial imposta pelos países culturalmente
hegemônicos. A esse respeito, ver Santos (2007, p. 59).
97
Segundo o autor, ainda, por meio da imprensa e dos meios culturais, assim
como a ocupação de cargos públicos dos intelectuais da época. São os liberais,
movidos por um projeto de desenvolvimento urbano-industrial em bases
democráticas, que vão debater a escola pública com bases democráticas
(LIBÂNEO, 2012, p. 163). O conceito de educação popular, para a época, era
equivalente à promoção da educação escolar das massas. Desta forma,
podemos compreender o posicionamento de intelectuais como Anísio Teixeira
e Mario de Andrade, que, na busca pela educação do povo, faziam educação
popular no contexto em que essa se consolidava, assim definido por Silva ((in
STRECK e ESTEBAN, 2013, p.135):
Anísio Teixeira, fortemente influenciado por seu mestre John Dewey enquanto
secretário de educação em Salvador deu forma ao seu sonho da escola-
parque, que, mesmo não atingindo numericamente o objetivo proposto,
permanece até os dias de hoje atendendo à população de baixa renda em um
complexo educacional ricamente construído para essa finalidade.
Acreditamos que o Projeto CEU possa ser herdeiro de todas essas iniciativas.
E, mais ainda, acreditamos que o CEU possa ser considerado a
concretização dos ideais construídos por tantos, na Cidade de São Paulo e no
Brasil, e que se imponha como experiência exitosa, aprovada pela população
da cidade. A maior comprovação é a retomada do Projeto durante as gestões
de José Serra e Gilberto Kassab, que, anteriormente, em época eleitoral
(durante o horário eleitoral e nos debates para as eleições em 2004),
demonstraram rejeição pela ideia, e posteriormente assumiram a retomada
construção das vinte e quatro unidades que foram deixadas licitadas no
governo de Marta Suplicy.
33Texto para debate: a Educação Popular como política pública, Rede de Educação Cidadã –
Equipe Talher Nacional, 2009.
102
Mas a outra gestão que tinha sentava na cadeira e não saia para nada,
para nada. Eu conheci a outra gestão que teve aqui. A gente nem falava
com a dona * (gestora). A gente nem falava com ela. Ela cruzava os
braços e ai daquele que fosse falar com ela. Cruzava os braços e lá ela
ficava (EDNA).
Quando a participação social não pôde ser percebida, a atuação do gestor foi
criticada.
A formação inicial dos gestores dos CEUs foi desenvolvida pela Fundação
Instituto de Administração (doravante FIA), vinculada à Faculdade de Economia
e Administração (doravante FEA) da Universidade de São Paulo (USP), em
convênio com a Prefeitura de São Paulo.
O CEU não se confunde com uma escola de tempo integral, nem com
uma escola para pobres ou clube recreativo;
Os CEUs não podem ser idealizados ou politizados.
Referindo-se a Paulo Freire e sua produção durante os anos 1990, Gohn, (in
STRECK e ESTEBAN, 2013), afirma que a cidadania ganhou centralidade na
obra deste autor de forma especial. De acordo com ela, Paulo Freire
contestava a cidadania liberal e neoliberal e defendia a cidadania como uso
pleno dos direitos e deveres pelos cidadãos (GOHN, in STRECK e ESTEBAN,
2013, p.37).
que a cidadania ainda não seja realidade. Dessa forma pode-nos ser possível
acreditar na educação popular enquanto política pública.
4 UNIVERSO DA PESQUISA.
Hoje, fala-se em uma ‘fronteira paulistana’, que pode ser identificada com as
novas periferias, mais distantes ainda do centro da cidade do que as periferias
desenhadas anteriormente pela ocupação desordenada que a sobrevivência
impõe. Neste início de século XXI, a expansão da urbanização em áreas
periurbanas é fruto da lógica excludente socioterritorial sob a qual a cidade
de São Paulo tem sido planejada ao longo dos anos, e que, segundo
110
Toda vez que o helicóptero passava aqui ó... era correria... vai demolir
todo mundo, vai todo mundo ter que sair do Paraná, é área de despejo,
porque era área verde, área não sei o que lá, área ambiental, é que todo
mundo tinha que sair, muita correria (PIRI).
SUPERIOR
ATÉ 2
SALÁRIOS
MÍNIMOS
34
Fonte Folha (2008).
114
Muitas pessoas dizem “aquele lugar cheio de barro, não. Meu filho estuda
na...” prefere sair pagando escola. Meu filho não, vou lá no CEU? Eu
vou atrás. Aí preferem Genésio, preferem Yadoia, e as mães vão pra fora,
pagam cem reais, cento e vinte reais, preferem o filho lá fora tendo o
CEU (PIRI).
Com um alto índice de rejeição pelo bairro onde moram, os 34% citados na
pesquisa DNA Paulistano com desejo de mudar de bairro parecem coerentes
com a desvalorização em relação ao CEU e ao bairro em geral citada pelos
sujeitos da pesquisa.
remete a uma possibilidade de que esta região possa construir um novo viés
de cidadania, uma vez que, um pouco distanciados da lógica do consumo, de
acordo com Santos (2012), mulheres e homens da periferia têm condições de
recriar a sua cultura popular, pois,
priori, definir por completo a trajetória percorrida após a imersão na vida dos
participantes das entrevistas. As entrevistas, de acordo com Szymanski (2011),
assim como todas as atividades relacionais humanas, trazem questões
importantes como a interação face a face, a relação de poder e desigualdade
entre entrevistador e entrevistado, a construção do significado na narrativa e a
presença de uma intencionalidade. Neste trabalho, especificamente, as
entrevistas assumiram papel preponderante. Stake (apud, ANDRÉ, 2005, p.16)
esclarece as razões para nossa escolha metodológica:
35
Fonte: Acervo pessoal.
121
Nossa escolha pode ser justificada pelo fato de que a entrevista possibilita o
contato face-a-face, o que um questionário não possibilita. Coletiva porque,
sabendo-se que a entrevista é uma interação definida como uma “arena de
conflitos e contradições” que se dá no “espaço relacional do conversar”
(MATURANA, apud SZYMANSKI, 2011, p 11). Estão em jogo, numa entrevista,
as percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e
interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado
(SZYMANSKI, 2011). A opção pelo diálogo tecido de forma coletiva deu-se
como forma de proteger cada participante emocionalmente de uma exposição
excessiva.
P2 22 M Superior publicitário
2 Menos de um ano
8 Dez anos
PARTICIPAÇÃO:
13 Todos os dias
2 Ocasionalmente
5.1 Cidadania.
Chamado de Operação Urbana CEU, o Projeto tinha por objetivo mais do que
a construção de um equipamento de serviços públicos. Era uma forma
integrada de intervenção no território, buscando reduzir as diferenças entre as
regiões da cidade, e por consequência, entre as pessoas que moram nas
diferentes regiões da cidade.
Para Santos (1996/1997) ser cidadão é ser dotado de direitos que lhe permitem
não só se defrontar com o Estado, mas afrontar o Estado. O cidadão seria tão
forte quanto o Estado. E sobre a construção da necessária cidadania, o autor
nos apresenta uma espécie de porvir da cidadania: “O indivíduo completo é
aquele que tem a capacidade de entender o mundo, a sua situação no mundo,
e que, se ainda não é cidadão, sabe o que poderiam ser os seus direitos.”
(SANTOS, 1996/1997, p.133).
36
Mora em uma ocupação na encosta que faz limite com o CEU Paz. É funcionária da
empresa que presta serviços terceirizados de limpeza no Complexo. Também é mãe
de dois alunos do CEU.
132
Quando se refere a ser espremida pelo Estado, pelo governo e pela sociedade,
Piná, participante da entrevista coletiva, está expondo a sua percepção de um
fenômeno que se refere aos processos espaciais que definem a problemática
urbana nas metrópoles. A cada solução em relação às condições do território,
se impõe um novo problema.
37
Moradora do Jardim Paraná desde a década de 1990, quando a localidade ainda
fazia parte do Jd. Damasceno. Viu as transformações no bairro.
134
Antes do CEU Paz, o Jardim Paraná não contava com serviços públicos de
asfaltamento, transporte público, água, esgoto, iluminação. Era uma ocupação
irregular, embora boa parte dos participantes da entrevista alegue já ter
comprado casa ou terreno das mãos de segundos ou terceiros, conforme relato
acima.
Segundo Santos (2012, p.98), como os pobres ainda estão muito longe de
possuir todos os bens que a sociedade de consumo lhes comanda, e como a
sociedade de consumo está sempre a lhe criar novas necessidades de
consumo:
38
Líder comunitário. Representa o Movimento de Alfabetização de Jovens e
Adultos na Vila Brasilândia.
136
39
Pé-de-barro, entre os participantes do grupo, é uma expressão que, ao mesmo tempo em
que suscita risos, é lembrada como referência ao sentimento de inadequação social
experimentado por aqueles que residem em regiões sem asfalto. Em uma cidade onde o nível
de urbanização é símbolo para o país e toda a América Latina, trazer os pés sujos de barro é
sinônimo de exclusão social.
40
Moradora antiga do bairro. Joga futebol feminino desde a adolescência. Inicialmente,
na quadra onde está hoje o CEU Paz. Com a inauguração do CEU, continuou jogando
em horário destinado ao esporte que pratica.
138
Tem uma mãe que mora na encosta, ela veio pedir para a gente abrir
aquele portãozinho que dá acesso ao lado de trás da pista de skate
porque ela falou que no dia de chuva as crianças chegam cheias de lama.
Na biblioteca a gente tem um banheiro com uma torneirinha lá para o
pessoal da limpeza limpar o banheiro. As crianças vão até lá, lavam os
pés para irem à sala de aula. A coordenadora da biblioteca perguntou “O
que eu faço?” dentro da biblioteca, que é um lugar protegido, né?
Limpinho, aconchegante, fica cheio de lama... Eu falei “Paciência, pede
para as meninas (da limpeza terceirizada), depois que as crianças vierem
lavar aqui o pezinho, elas virem limpar o banheiro. Porque nós não vamos
proibir a criança de lavar o pé para chegar na sala de aula e não passar
vexame. Deixa ela lavar o pé”. (Anatália – Gestora do CEU Paz).
41
Idosa, mora em um bairro vizinho e cuida do marido permanentemente acamado.
140
42
Idosa, sentiu benefícios a sua saúde a partir da participação nas atividades esportivas do
CEU Paz.
142
Nesse aspecto, vale ressaltar que, ainda que a presença dos pais nas unidades
educacionais ainda possa estar limitada a dias de reunião de professores,
festas, assinatura de cheques para a APM, o CEU, possibilitando formas de
participação social inéditas, pode romper com a cultura presente nas escolas
que limita a forma desejável de participação dos pais no cotidiano, pois, de
acordo com Abranches (2003):
Como afirma Gadotti (2004), desde o início, o Projeto CEU nasceu com a
intenção de se constituir em espaço para a educação popular em São Paulo.
Segundo o autor, “os CEUs se inspiram na concepção de equipamento urbano
agregador da comunidade, com uma visão de educação que transcende a sala
de aula e o espaço escolar.” (GADOTTI, 2004, p.3.). É possível inferir o quanto
a descontinuidade conceitual do Projeto, sofrida pela descontinuidade política
durante oito anos tenha descaracterizado o aspecto popular da educação que
se fez no CEU a partir de 2005.
45
Moradora antiga do bairro.
147
(...) e a professora, tudo o que ela puder fazer para o nosso bem, ela faz
para ajudar a gente. (MARIA).
Não se pode desconsiderar o fato de que muitas vezes o opressor está dentro
do oprimido, que passa a incorporar o seu discurso, e, segundo Assumpção
(2009, p. 84) a Educação Popular, identificada com o conceito de educação
libertadora tem essa importância no processo de conscientização no encontro
entre as pessoas:
Ao planejar a formação dos gestores dos CEUs, o Instituto Paulo Freire (IPF),
tendo à frente os professores Moacir Gadotti e Roberto da Silva, buscou
superar o modelo empresarial sugerido pela Fundação Instituto de
Administração (FIA), que buscou uma formação pautada nos princípios da
teoria geral da administração.
De acordo com Silva e Padilha (2004), defendendo que o CEU não era uma
empresa os professores Moacir Gadotti e Roberto da Silva coordenaram um
47
Gestora do CEU Paz.
150
Gestão democrática;
Integração das secretarias envolvidas;
Formação para os gestores dos CEUs;
Formação dos formadores dos quadros que iriam compor os CEUs;
Formação dos Conselhos Gestores.
5.3 Integração.
Um ano depois, uma das primeiras iniciativas desse governo que sucedeu ao
que criou o Projeto CEU, foi transformar o texto do Regimento Comum na
Portaria 7356/05 – SME, que alterou o Art. 4º como segue:
Como era nossa hipótese, pouco encontramos sobre esse aspecto na fala dos
participantes de atividades destinadas à comunidade, portanto, de educação
não-formal. Encontramos com mais força esse conceito, de integração, na fala
das duas gestoras participantes: Anatália, do CEU Paz e Elza, do CEU Vila
Atlântica. Provavelmente por conhecerem o projeto inicial do CEU e
reconhecerem as ausências de trabalho intersetorial ou de integração, apontam
para possibilidades, mais do que para realizações, no trabalho de integração
entre os blocos didático, esportivo e cultural.
154
I-Gestor(a);
II-Coordenador(a) do Núcleo Educacional;
III-Coordenador(a) do Núcleo de Ação Cultural;
IV-Coordenador(a) do Núcleo de Esportes e Lazer;
V-Diretor(a) de CEI;
VI-Diretor(a) de EMEI;
VII-Diretor(a) de EMEF;
VIII-Coordenador do Telecentro.(PMSP, 2004)
De acordo com o texto legal, ao Colegiado de Integração eram atribuídas ações
com vistas a garantir a integração entre os diversos equipamentos, no âmbito
do CEU, e entre secretarias, no âmbito da cidade, buscando a atuação
intersetorial, em especial nos Artigos 48 e 49:
Esse fato pode ser explicado a partir de uma reflexão, importante, sobre o papel
do poder público enquanto referência na promoção da participação
democrática. Em governos mais centralizadores, a participação popular não
parece desejável, e isso acaba se refletindo na vida escolar. De acordo com
Abranches (2003, p.45):
Por essa razão, a integração, tão buscada no início do projeto CEU pode ter
sido a categoria que mais apresentou problemas no trabalho de campo. Ao
buscar caracterizar o CEU como “escolão”, os governos que sucederam o que
criou os CEUs, acabaram por ser uma referência negativa nesse aspecto.
157
O relato da gestora demonstra que o CEU tem se organizado numa lógica que
sobrepõe os diferentes equipamentos e blocos, e não os tem integrado. A
participação das Unidades Educacionais pode ser entendida, aqui, como uma
participação a partir da ótica liberal, ou neoliberal, seguindo, de acordo com
Gohn (2011), os pressupostos básicos de uma ordem social que assegure a
liberdade individual, reproduzida ao nível de instituição:
52
Foi diretora de equipamento educacional do CEU Paz.
160
5.3 Participação.
Segundo Gadotti (2004, p.2), o CEU teria por objetivo “fortalecer a escola
pública, associando-a ao desenvolvimento comunitário”. Adiante, o autor
resume a conceitualização do Projeto CEU enquanto um projeto de Educação
Popular:
53
Participa das atividades esportivas do CEU Paz.
162
54
Participa das atividades esportivas do CEU Paz.
163
O campinho a que se refere Ariane era o que existia no local onde hoje é o CEU
Paz. Assim como em muitos outros locais da Cidade de São Paulo, o terreno
foi negociado com as lideranças do bairro, conforme relatos de quem viveu o
processo:
55É antiga moradora, mãe de aluno e funcionária da empresa terceirizada de merenda no CEU
Paz.
165
5.4 Arquitetura.
O Projeto CEU, conforme citado neste trabalho, tem na arquitetura uma de suas
características principais. Herdeiro de outras iniciativas brasileiras e
paulistanas que atribuíam à arquitetura importância como espaço onde se
educa o cidadão, pode ser considerado a evolução desse modo de promover a
56
Jovem, realiza trabalho voluntário com alunos jovens do CEU Paz.
166
De acordo com Gadotti (2004, p.2), com a inauguração dos CEUs em São
Paulo:
58Mora em uma ocupação na encosta que faz limite com o CEU Paz. É funcionária da
empresa que presta serviços terceirizados de limpeza no Complexo. Também é mãe de
dois alunos do CEU.
169
O relato de Karen demonstra o impacto positivo que o Projeto CEU pode ter na
comunidade. Conforme já foi citado na seção 2 deste trabalho, a piscina do
CEU assume simbolicamente a importância da promoção de um direito até
então exclusivo da elite das grandes cidades: o direito ao lazer em piscinas. De
acordo com Dória e Perez (2007, p.132) o Projeto dos CEUs tem o objetivo de:
59
Mora no bairro vizinho e não estudou no CEU Paz.
170
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.
Cidadania.
No relato de quem morava ‘na mata’, como era conhecido o Jardim Paraná no
início dos anos 2000, encontramos o encantamento exercido pelo equipamento
sobre a criança que mudou de escola, e passou a contar com as possibilidades
do Projeto CEU.
Ser chamado de ‘pé de barro’ era uma consequência sentida pelo cidadão que
ocupava a porção não urbanizada do bairro, e é lembrada com um misto de
humor e tristeza pelos antigos moradores. Assim como pé de barro ainda é
quem chega ao CEU subindo a encosta, na nova ocupação do bairro.
Educação Popular.
É principalmente por meio das associações, que podem ser identificadas com
os movimentos sociais, que os participantes da pesquisa apontam caminhos
para a educação popular. Colegiado de integração, conselho gestor,
associações de bairro, grupo de jovens, grupo de mães. Este último, uma
proposta surgida durante a entrevista, demonstrando o quanto a riqueza das
relações possibilita novas ideias.
Integração.
Participação.
Arquitetura.
REFERÊNCIAS.
______ apud SILVA, Roberto da. Uma mesma teoria geral para a educação
popular e a educação social? Aproximações empíricas, teóricas e
metodológicas. In: STRECK, Danilo, ESTEBAN, Maria Teresa, orgs. Educação
popular: lugar de construção social coletiva. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
FARIA, Ana Lúcia Goulart de. A contribuição dos parques infantis de Mário de
Andrade para a construção de uma pedagogia da educação infantil. Campinas,
SP: Revista Educação e Sociedade vol.20 n.69. Dezembro de 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1987.
IBGE, Habitantes cidade São Paulo: número e habitantes por m2, referente a
2014. Disponível no site www.ibge.gov.br. Acesso em 22/10/14.
KOGA, Dirce. São Paulo: entre tipologias territoriais e trajetórias sociais. In:
SPOSATI, Aldaíza e KOGA, Dirce (org.). São Paulo: sentidos territoriais e
políticas sociais. São Paulo: Editora Senac, 2013a.
PEREZ, Maria Aparecida, FARIA, Ana Beatriz Goulart de, SEIXAS, Luiz Carlos.
Os CEUs e a sua proposta para a educação. In: CAMPOS, Candido M, GAMA,
Lucia H. e SACCHETA, Vladimir. São Paulo: metrópole em trânsito. São Paulo:
SENAC Editora, 2004.
______. O espaço do cidadão. 7ª. ed. 1ª reimpr. São Paulo: EDUSP, 2012.
SUPLICY, Marta. Minha vida de prefeita: o que São Paulo me ensinou. Rio
de Janeiro: Agir, 2008.
TODOS PELA EDUCAÇÃO. Após dez anos, CEUs ainda precisam trabalhar
em rede e integrar comunidade. Disponível no site:
http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/27698/apos-
dez-anos-ceus-ainda-precisam-trabalhar-em-rede-e-integrar-comunidade/.
Acesso em 14/09/2014.
APÊNDICES
186
Testemunha:________________________________________________
Testemunha:________________________________________________
187
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
1- Idade: ___________
3- Escolaridade:
( ) não estudou
( ) ensino fundamental
( ) ensino médio
( ) ensino superior
4- Profissão: ____________________________________
6- Mora:
( ) sozinho
( ) com uma pessoa
( ) com duas pessoas
( ) com três pessoas
( ) com mais de três pessoas
7- Sua casa é:
( ) alugada
( ) própria
( ) emprestada
188
12- Qual meio de transporte você usa para se deslocar do bairro em que mora?
_____________________________________________________________________
13- Quanto tempo leva em média para se deslocar do bairro em que mora?
_________________________________________________________________
189
1º Encontro.
Síntese
Pergunta desencadeadora: O que o CEU representa para o bairro? E para você?
O Jardim Paraná é um bairro que se formou na década de 90 a partir de uma ocupação
na encosta da Serra da Cantareira, e por muito tempo as pessoas tinham medo de
terem que desocupar suas casas, muitas vezes compradas de segundos ou terceiros.
Não havia água encanada, rede de esgoto, iluminação e asfaltamento.
A vida no Jardim Paraná era muito difícil antes do CEU. O CEU trouxe iluminação,
asfaltamento das ruas, comércios, que deixaram a vida do bairro melhor. Várias
pessoas do bairro passaram a trabalhar no CEU.
A maioria das pessoas do bairro não conhecem o CEU, não valorizam as
possibilidades que ele traz. É preciso fazer a divulgação das atividades esportivas e
culturais do CEU.
Há pessoas que veem o CEU como escola para pobre, e por isso fazem questão de
não participar. O equipamento público muitas vezes não é valorizado. Outras,
acreditam que o CEU não é para elas, pois se consideram muito pobres para participar
das atividades do CEU.
A proposta inicial do CEU foi abandonada ao longo dos oito anos que sucederam a
sua criação.
A gestão atual encontrou problemas estruturais que inviabilizavam o trabalho com a
comunidade.
Foi apontada pelo grupo uma importante diferença entre as gestões do CEU, havia um
tempo em que as pessoas não tinham acesso à administração.
O CEU acolhe os participantes com dignidade.
O trabalho desenvolvido pelos profissionais da Educação Física do CEU Paz é muito
importante para os participantes. Vários relatos dão conta da qualidade de vida que
esse trabalho oferece. O CEU tem funcionado também como centro de acolhimento e
de relacionamento.
O CEU Paz irá receber uma reforma importante para reforçar a estrutura do
equipamento.
O CEU Paz será polo da Universidade Aberta do Brasil: um sistema de colaboração
entre governo federal e municípios que deverá trazer cursos de universidades federais
na modalidade semipresencial: uma parte através da internet, outra em aulas que
acontecerão no CEU. Outros CEUS de são Paulo já receberam a UAB. Essa novidade
foi recebida pelo grupo com alegria.
190
Houve uma associação de bairro no Jardim Paraná. Sua atuação teve falhas, mas a
falta de uma associação é um problema para os moradores. O grupo acredita ser
importante haver uma nova associação e aponta o CEU como local possível para essa
associação. C.V. trabalha com os jovens e adolescentes do bairro no sentido de fazer
com que eles sejam no futuro essa força de participação na região.
O Rodoanel mudou a história do bairro: remoção das famílias é vista com tristeza.
Várias pessoas estão deixando suas casas e morando de aluguel. Outras estão indo
embora. Lembramos o caso da família que sofreu um acidente indo embora para o
Nordeste do Brasil.
O Rodoanel tentou um diálogo com a comunidade, para trazer alguma compensação
para as transformações ocorridas no bairro. Por falta de uma associação de moradores
organizada, não trouxe nenhuma benfeitoria.
Várias pessoas do grupo desconheciam as dificuldades que os moradores da
ocupação recente na região enfrentam. Foi relatado que muitas crianças da ocupação
estão fora da escola, outras faltam com frequência.
Há crianças que vêm às escolas do CEU com os pés sujos de barro. Isso provoca
desconforto para elas, e muitas vezes são alvo de gozação. Vários participantes
lembram que isso já aconteceu com outros moradores no passado, antes de haver
asfaltamento.
Há alunos que não conheceram o teatro do CEU. Saíram da escola sem participar de
atividades culturais.
O CEU no início era um espaço aberto, onde as pessoas circulavam. Com o passar
dos anos, os espaços foram fechados.
A estrutura do CEU é vista pelo grupo de maneira bastante positiva. O ex-aluno da
antiga EMEF Teotônio Vilela descreve o encantamento quando houve a mudança para
dentro do CEU.
O sistema de transportes do bairro é muito deficitário. As pessoas sofrem muito para
tomar condução e chegar ou sair do bairro. Especialmente nos horários em que o fluxo
de trânsito e movimento de pessoas é contrário.
Depende de cada um dos participantes fazer o CEU ser ainda melhor.
2º Encontro.
Questão disparadora: Para vocês, que são participantes de atividades no CEU, ele
já foi apontado como importante. Como o CEU Paz pode ser ainda melhor?
Questões auxiliares:
Você conhece tudo o que o CEU oferece?
Você conhece a biblioteca do CEU Paz?
Você conhece o telecentro do CEU Paz?
191
3- SER ALUNO DE ESCOLA DO CEU É DIFERENTE DE SER ALUNO DE OUTRA ESCOLA FORA
DO CEU?
61
Fonte: Acervofolha. Disponível no site: http://acervo.folha.com.br/. Acesso em 14/03/2012.