Estudo de Dinânicas

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ESTUDOS RBEP

Dinâmicas de grupo orientadas pelas


atividades de estudo: desenvolvimento
de habilidades e competências na
educação profissional
Taís Fim Alberti
Ilse Abegg
Márcia Rejane Julio Costa
Mauro Titton

Resumo

Explicita resultados de pesquisa sobre dinâmicas de grupo e


sua contribuição para aquisição de conhecimentos teórico-práticos.
Realizamos ações em uma escola pública federal, envolvendo estudantes
do terceiro semestre do Curso Técnico em Administração de Empresas.
Para coleta de dados, planejamos, implementamos e avaliamos sequência
didática centrada em dinâmicas de grupos tematizadas pelos conteúdos
curriculares. Utilizaram-se questionários abertos para avaliar se as
dinâmicas de grupo poderiam se constituir em atividades de estudo
desenvolvimentais. Os resultados sinalizam que dinâmicas de grupo
podem se configurar como uma prática pedagógica inovadora para o
ensino centrado no desenvolvimento de competências e habilidades.
Concluímos que a aprendizagem mediante dinâmicas de grupo pode se
efetivar não apenas no plano teórico, mas também integrada à capacidade
de atuar tanto em situações conhecidas como nas não previstas, desde que
trabalhadas em sintonia com o conteúdo teórico da disciplina, planejada
em ações e finalidades a serem alcançadas.

Palavras-chave: teoria das atividades; dinâmica de grupo; educação


profissional.

346 Rev. bras. Estud. pedagog. (online), Brasília, v. 95, n. 240, p. 346-362, maio/ago. 2014.
Dinâmicas de grupo orientadas pelas atividades de estudo:
desenvolvimento de habilidades e competências na educação profissional

Abstract
Group dynamics guided by activities of study: development of skills
and competencies in professional education

The article shows the research results of group dynamics and their
contribution to the acquisition of theoretical and practical knowledge.
We carried out actions in a federal public school, involving students of
the third semester of the technical course in Business Administration.
We planned, implemented and assessed the didactic sequence, centered
in group dynamics, based on curricular contents. We used open-ended
questionnaires to assess whether the group dynamics could constitute
developmental study activities. The results indicate that group dynamics
can be configured as an innovative pedagogical practice for a teaching
focused on the development of competencies and skills. We conclude
that learning through group dynamics can be realized not only in theory,
but also by integrating the ability to act both in familiar situations as
well as in unforeseen ones, as long as these situations are considered in
harmony with the theoretical content of the course, planned in actions
and objectives to be achieved.

Keywords: activity theory; group dynamics; professional education.

Introdução

Neste artigo, apresentamos resultados de uma pesquisa-ação em que


buscamos desenvolver uma sequência didática por meio de atividades
de dinâmicas de grupo. Para embasar nossa prática com as atividades
de dinâmicas de grupo e, com intuito de superar a visão destas como
brincadeiras, orientamo-nos na construção e na proposta de dinâmicas
de grupo embasados pela Teoria da Atividade (Davidov, 1988). Essa teoria
orienta a construção de atividades de estudo planejadas, monitoradas,
conduzidas e avaliadas para que o sujeito envolvido nelas se desenvolva
tanto em termos intelectuais como sociopsicológicos.
Tendo em vista que a orientação teórica para a construção de
atividades de estudo se aproxima das orientações dos Referenciais
Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (Brasil.
MEC, 2000), no que tange ao entendimento de “competências” elaboramos
um questionário com a intenção de identificar se as atividades de grupo
(dinâmicas de grupo) contribuíram para a aquisição dos conhecimentos
teórico-práticos na formação do Técnico em Administração de Empresas.
As atividades de pesquisa foram implementadas na disciplina de
Desenvolvimento de Pessoas nos Processos de Gestão do referido curso,
em uma Escola Técnica Federal vinculada à Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM).

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Para tal, desenvolvemos atividades de dinâmicas de grupo com o


intuito de dialogar e problematizar conceitos de motivação, criatividade,
trabalho em equipe, liderança, comunicação e persuasão, que fazem parte
da ementa de conteúdos. Estas foram planejadas tendo em vista levar os
estudantes a atuarem em torno de ações e operações, oportunizando a
realização de atividades teórico-práticas, agindo e modificando o objeto
de aprendizagem. As atividades tinham como foco conduzir os sujeitos
ao alcance de novas estruturas em seu desenvolvimento e, ainda, à
mobilização do que aprenderam na realização de novas tarefas, tendo
condições de contextualizarem com seus conhecimentos prévios.
Dessa maneira, a formação profissional e tecnológica poderá
possibilitar o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes, o
raciocínio e o conhecimento da organização conceitual necessária a sua
formação. Com isso, poderemos pensar em um empowerment (Saito,
2001), tornando esses estudantes ativos, críticos, criativos e capacitados
para o domínio do trabalho, não apenas no plano teórico, mas também em
integração à capacidade de atuar tanto em situações conhecidas quanto
nas não previstas, que exigem criatividade e rapidez.
Portanto, a escolarização profissional e tecnológica é um componente
primordial da atividade humana orientada para o desenvolvimento
integral do sujeito. Assim, acreditamos que uma proposta de trabalho
que traga para o escopo da formação articulação entre teoria e prática
mediante dinâmicas de grupo pode melhorar o conteúdo e os métodos
de ensino e de formação, de modo que isso influencie qualitativamente
o desenvolvimento psíquico e intelectual dos envolvidos.
Este artigo organiza-se na discussão teórica sobre os conceitos
de atividade de estudo da perspectiva sócio-histórica, aproximando-a
do conceito de competências discutido nos Referenciais Curriculares
Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico. Na sequência,
apresentamos a metodologia de trabalho, o desenvolvimento e os
resultados da pesquisa. Nas conclusões, apontamos que, ao fazer as
relações do conteúdo da ementa no planejamento e na implementação
das atividades de dinâmicas de grupo, estas se tornaram fundamentais
para desenvolver as competências e as habilidades mentais e socioafetivas
específicas do contexto da profissão.

Fundamentação teórica

Atividades de estudo e competências

Na perspectiva sócio-histórica, para que o sujeito se desenvolva
precisa realizar atividades. Para que o sujeito esteja em atividades, requer
que sejam realizadas ações e operações direcionadas a um fim, as quais
visam à produção de instrumentos que possibilitam estabelecer relação
entre motivo e objetivo da atividade em si.

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Para Davidov (1988), a aprendizagem e a educação escolar são


momentos de mudança essenciais na vida dos estudantes, pois nesse
processo vivenciam obrigações que influenciam diretamente seu
desenvolvimento. No processo de escolarização, o estudante assimila
os fundamentos das formas mais desenvolvidas da consciência social,
ou seja, a ciência, a arte, a moral, o direito, que estão ligados com a
consciência e o pensamento teórico das pessoas. A assimilação dessas
formas de consciência social e as formações espirituais correspondentes
pressupõem que os escolares realizem uma atividade adequada – a
atividade humana historicamente encarnada nelas –, a qual é chamada
de atividade de estudo.
Conforme Davidov (1988), no processo de resolução de atividades de
estudo, os estudantes aprendem os conhecimentos (competências) e as
habilidades correspondentes aos fundamentos das formas de consciência
social, como também desenvolvem as capacidades surgidas historicamente
que estão na base da consciência e do pensamento teórico, ou seja, a
reflexão, a análise e o experimento mental. Isso significa dizer que os
conteúdos da atividade de estudo são os conhecimentos teóricos ou
científico-tecnológicos.
A atividade de estudo é, portanto, o movimento de formação do
pensamento teórico, assentado na reflexão, na análise e no planejamento,
que conduz ao desenvolvimento psíquico (Davidov, 1988). Para que ocorra
esse movimento de formação do pensamento teórico, é preciso que no
processo de dinâmicas de grupo se criem motivos cognoscentes para que
os estudantes desenvolvam a atividade de estudo, tendo em vista seus
pressupostos.
A partir desses pressupostos da teoria sócio-histórica, a atividade de
estudo é composta por um conteúdo específico dirigido ao objeto. Já que
se tem uma preocupação em relação à aquisição do conhecimento teórico,
este precisa ser organizado, sistematizado e intencional. Esse conteúdo
tem uma estrutura especial, a qual requer planejamento definido com as
finalidades a serem alcançadas, ou seja, as atividades de estudo não estão
disponíveis de forma aleatória. Em seu planejamento, contemplamos ações
de estudo (estudante) e ações de ensino (docente) para que se alcance
desenvolvimento dos sujeitos em processos de formação. Na composição
de uma atividade de estudo, trabalhamos com tarefas dialógico-
problematizadoras, a fim de que nesse processo busquemos o ser mais
(Freire, 1987). Nesse contexto, o professor planeja, de forma sistematizada,
a organização conceitual que será trabalhada na dinâmica de grupo e
problematiza o objeto de ensino-aprendizagem, levando os estudantes a
desenvolverem ações e operações para a apropriação do conhecimento
teórico necessário a sua formação psicointelectual, configurando-se uma
atividade de estudo desenvolvimental, ou seja, gerando transformações
nos sujeitos atuantes desse processo.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de
Nível Técnico (Brasil. CNE/CEB, Resolução nº 4, 1999) destacam entre
os princípios norteadores da educação profissional de nível técnico, o

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desenvolvimento de competências para a laborabilidade. Tais competências


são classificadas em três: básicas, profissionais gerais e profissionais
específicas. Assim, as atividades de estudo organizadas na forma de
dinâmicas de grupo precisam gerar desenvolvimento que perpassa por
tais competências, propiciando habilidades para o mundo do trabalho.
O conceito de competências articula conhecimentos, habilidades e
valores/atitudes. De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais
da Educação Profissional de Nível Técnico, competência é entendida da
seguinte forma:

As competências enquanto ações e operações mentais articulam os


conhecimentos (o saber, as informações articuladas operatoriamente),
as habilidades (psicomotoras, ou seja, o saber fazer elaborado
cognitivamente e socioafetivamente) e os valores, as atitudes (o saber
ser, as predisposições para decisões e ações, construídas a partir
de referenciais estéticos, políticos e éticos), constituídos de forma
articulada e mobilizados em realizações profissionais com padrões de
qualidade requeridos, normal ou distintivamente, das produções de
uma área profissional. (Brasil. MEC, 2000, p. 10).

Tendo como base esses referenciais, aproximam-se os conceitos de


atividade de estudo e competências, pois as duas têm como princípio a
aquisição dos conhecimentos teóricos (conhecimento – ações mentais),
que devem envolver os estudantes em ações e operações na resolução da
atividade (habilidades – saber fazer), e, ao final do processo, espera-se que
uma atividade de estudo gere não apenas a aquisição dos conhecimentos
teóricos, mas uma transformação do próprio sujeito atuante, ou seja, uma
transformação em relação aos valores e atitudes do sujeito (saber ser).
Assim, podemos sistematizar as relações entre a atividade de estudo e
as competências (Quadro 1).

Quadro1 – Relações entre Atividades de Estudo e Competências

Conhecimento Habilidades Valores e atitudes


Competência
(saber) (saber fazer) (saber ser)

Atividade de Conhecimento Ações e Transformação do


estudo teórico operações sujeito
Fonte: Sistematização teórica da pesquisa.

Dinâmica de grupo como uma atividade de estudo na educação


profissional

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dinâmica de Grupo (2006,


p. 1), “dynamis é uma palavra de origem grega que significa força,
energia, ação”. A expressão dinâmica de grupo teve sua origem em um
artigo publicado por Kurt Lewin, em 1944, ano em que passou a integrar
o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), onde criou o Centro de
Pesquisa em Dinâmica de Grupos (Research Center for Group Dynamics).
Para Lewin (apud Coltro, 2006, p. 24), a dinâmica de grupo é o "estudo

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das forças que agem no seio dos grupos, suas origens, consequências e
condições modificadoras do comportamento do grupo". Assim, caracteriza
um grupo como sendo "um todo dinâmico" (p. 33), em que mudanças em
uma das partes do grupo interferem nos comportamentos dos demais
participantes.
Segundo Perpétuo e Gonçalves (2005, p. 2),

a dinâmica de grupo constitui um valioso instrumento educacional que


pode ser utilizado para trabalhar o ensino-aprendizagem quando opta-
se por uma concepção de educação que valoriza tanto a teoria quanto a
prática e considera todos os envolvidos neste processo como sujeitos.

Dessa forma, a aprendizagem acontece em um processo coletivo,


em que o encontro de pessoas promove a construção do saber em
conjunto, estimula a capacidade criadora, mexe com a desenvoltura
dos participantes, melhora sua produtividade, mostra a possibilidade
de transformações, estimula o trabalho em equipe e pode melhorar as
relações interpessoais e intrapessoais, possibilitando um caminho para
se interferir na realidade, modificando-a (Sociedade..., 2006). Em cursos
técnicos de administração de empresas, busca-se exatamente isso: ensinar
comportamentos novos relacionados com o desenvolvimento dos processos
de gestão de pessoas.
Nesse mesmo sentido, Kolb (apud Silva, 2008, p. 9) observa que
dinâmica de grupo é “uma situação simulada, desenvolvida para se
criar experiências para aqueles que aprendem, serve para iniciar o
seu próprio processo de investigação e aprendizado”. Dessa forma,
propomos dinâmicas de grupo no processo de ensino-aprendizagem no
âmbito da disciplina de “Desenvolvimento de pessoas nos processos de
gestão” no Curso Técnico em Administração, pois a dinâmica de grupo
é um instrumento em que se torna possível vivenciar uma experiência
significativa para os sujeitos envolvidos no grupo de trabalho.
Por outro lado, Perpétuo e Gonçalves (2005, p. 2) ponderam que a
dinâmica de grupo no processo coletivo não deve ser absolutizada ou
subestimada. Para as autoras, sua utilização deve responder a

objetivos específicos de uma determinada estratégia educativa, no


sentido de estimular a produção do conhecimento e a recriação deste
conhecimento tanto no grupo/coletivo quanto no indivíduo/singular,
uma vez que a técnica da dinâmica não é um fim, mas um meio – é
uma ferramenta a ser usada.

Para que a dinâmica de grupo atinja esses objetivos, faz-se necessário


um planejamento daquilo que se pretende trabalhar em aula com os
estudantes (modalidade de dinâmica que se utilizará), considerando o
conhecimento que se tem intenção de que o estudante aprenda. Além
de ter presente no planejamento intenção, organização e sistematização
dos conceitos, as atividades de estudo com dinâmica de grupo devem
primar por espaços que levem o estudante a expressar-se socialmente,
dialogando com os demais integrantes, ouvindo seus pontos de vista,

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compartilhando ideias e administrando conflitos que fazem parte desse


processo. A sala de aula é um espaço privilegiado para a construção do
conhecimento com o outro, inclusive problematizando situações que
conduzam ao desenvolvimento de competências e habilidades requeridas
na prática profissional.
Nessa perspectiva, está o ensino técnico de nível médio, pois “objetiva
garantir ao cidadão o direito ao permanente desenvolvimento de aptidões
para a vida produtiva e social” (Brasil. CNE/CEB, Resolução nº 4, 1999,
p. 1). Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Profissional de Nível Técnico, a laborabilidade ou a trabalhabilidade é
entendida como componente da dimensão produtiva da vida social e,
portanto, da cidadania, sendo objetivo primordial da educação profissional
(Brasil, 2000). Assim, as dinâmicas de grupo nos cursos técnicos podem
potencializar a relação teoria-prática do mundo do trabalho dos estudantes.
Nesse contexto, precisávamos trabalhar habilidades referentes à
compreensão do caráter estratégico do comportamento e aos principais
elementos facilitadores das relações interpessoais do futuro Técnico em
Administração. As bases tecnológicas referentes a essas habilidades
estavam alicerçadas no trabalho relativo à importância das pessoas nas
organizações e ao comportamento das pessoas e suas relações com o
trabalho e com a produtividade. Além dessas bases, ainda tínhamos
que desenvolver os conceitos, já citados anteriormente, de motivação,
criatividade, trabalho em equipe, liderança, comunicação, persuasão,
confiança. Considerando esses componentes curriculares, e embasados
pela perspectiva teórica das atividades de estudo, optamos pelo trabalho
com dinâmicas de grupo para que os estudantes experienciassem situações
em que pudessem criar, dramatizar, resolver problemas, argumentar,
persuadir, levando a situações que se aproximassem das questões
reais dos profissionais técnicos em administração, como também a um
autoconhecimento para discernir sobre suas questões subjetivas e sobre
de que modo essas questões pessoais influenciam sua vida no trabalho.
Além dessas questões, a dinâmica de grupo traz um componente
de ordem motivacional, especialmente no momento que oportuniza aos
estudantes vivenciarem situações próximas a sua atuação como futuro
profissional da área de administração (em que dinâmicas de grupo são um
componente, não só da ordem de seleção e recrutamento, mas também
como opção de trabalho para muitas empresas que queiram melhorar
questões de clima organizacional, motivação, relações humanas e outros).
Ou seja, na área de administração, é possível explorar aspectos lúdicos
do ser humano em confronto com as rotinas do cargo/profissão. Além
disso, a dinâmica oportuniza a simulação de realidades organizacionais
em situações diferenciadas, ocupando lugar especial na formação e na
gestão de pessoas (Balbinot et al, 2005). Segundo Alberto et al (2011, p.
2), as dinâmicas de grupos levam os

indivíduos a participarem e terem responsabilidades e a desenvolverem


o espírito de iniciativa. É também um veículo de socialização à medida

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que proporciona a convivência. Contribui para a formação e, sobretudo,


para expressão de ideias lógicas, objetivas e coerentes.

Assim, concordamos com Silva (2008, p. 91), quando diz que

a dinâmica de grupo se torna uma atividade essencialmente educativa,


uma vez que esteja, desde logo, inserta em um contexto que
contemple propósitos educacionais e que tome em conta não apenas as
necessidades dos participantes, mas também e, sobretudo, a identidade
do grupo em que é aplicada.

Além desses propósitos, não podemos deixar de considerar que, em


se tratando de um processo educacional, a dinâmica a ser trabalhada não
pode perder de vista a organização conceitual que faz parte da formação
escolar.
Esses pressupostos têm a intenção de superar a visão em relação
a práticas com dinâmicas de grupo como apenas uma “brincadeira”.
Portanto, para que seja efetivamente superada essa visão banalizada
do trabalho do professor com dinâmica de grupo, esta deverá ser
compreendida como uma atividade de estudo e, necessariamente, ser
planejada, orientada, monitorada e avaliada, atribuindo um significado
ao que é experienciado no trabalho.
Tavares e Lira (2001) classificam as dinâmicas de grupo em quatro
tipos: a) dinâmicas de apresentação: são aquelas que visam eliminar as
tensões e proporcionar um ambiente de cordialidade e aceitação mútua; b)
dinâmicas de descontração: são aquelas que têm o objetivo de descontrair,
eliminando a monotonia e proporcionando o despertar do interesse do
grupo por temas específicos com devida liberdade em seus comentários;
c) dinâmicas de aplicação: são as que contribuem para a aquisição do
conteúdo, potencializando a assimilação deste pelos participantes; d)
dinâmicas de avaliação: é o tipo que contribui para que, após as atividades,
os participantes avaliem o desenvolvimento do estudo, assim como a
apresentação de sugestões para possíveis melhoramentos.
Trabalhamos com dinâmicas de apresentação e de aplicação, haja
vista que no início do semestre era preciso desenvolver um clima de
descontração e eliminar as tensões, compartilhando nossas expectativas,
apresentando-nos aos colegas e contando a história dos nossos nomes.
Cabe destacar que atividades de estudo com dinâmicas de apresentação
também são tematizadas por conteúdos pertinentes à formação de
competências profissionais gerais, no âmbito de cursos técnicos em
administração, uma vez que se tem como objetivo formativo problematizar
conceitos de motivação e comunicação, assim como questões relacionadas
ao desenvolvimento sociopsicológico, ou seja, a relações interpessoais.
Na sequência, as dinâmicas de aplicação nos possibilitaram a
articulação entre as dinâmicas e os conteúdos referentes às competências
específicas, configurando-se em atividades de estudo, pois buscamos nos
planejamentos contemplar cada uma das bases tecnológicas necessárias
à formação do estudante, aproximando-as da prática profissional. Os
estudantes envolveram-se em ações e operações motivados pelos

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desafios que cada dinâmica trazia aos processos de criação. Assim,


implementamos sequência didática de ensino-aprendizagem centrada
no desenvolvimento de competências e habilidades. Se as competências
são caracterizadas pela capacidade de, por meio de esquemas mentais
ou de funções operatórias, mobilizar, articular e colocar em ação valores,
conhecimentos e habilidades, isso requer, necessariamente, “adotar uma
prática pedagógica que propicie, essencialmente, o exercício contínuo e
contextualizado desses processos de mobilização, articulação e aplicação”
(Brasil. MEC, 2000, p. 31). Nesse contexto, as atividades de dinâmica
de grupo podem sim ser consideradas uma abordagem metodológica
diferenciada para o desenvolvimento de competências específicas e gerais
do técnico da área de administração de empresas.

Metodologia e desenvolvimento

O trabalho foi desenvolvido como prática de estágio supervisionado III


do curso especial de graduação para formação de professores para o ensino
profissional, cumprindo 30 horas/aula. As dinâmicas de grupo foram
planejadas juntamente com a professora da disciplina e supervisionadas
pela orientadora de estágio. A experiência com a qual nos envolvemos
quando da elaboração e da execução de dinâmicas de grupo aconteceu no
âmbito da disciplina “DES030 – Atuar no desenvolvimento dos aspectos
comportamentais da gestão de pessoas”. As dinâmicas foram trabalhadas
com a turma do curso Técnico em Administração de Empresas, conforme
referido anteriormente. O curso era noturno e constavam matriculados
61 estudantes; porém, compareceram às aulas 50 alunos. A faixa etária
predominava entre 20 e 30 anos e o público era bem diversificado:
tínhamos estudantes trabalhadores, outros cursando concomitante ao
curso técnico o ensino superior. Alguns se encontravam na faixa etária
dos 40 aos 50 anos, e predominavam estudantes do sexo feminino.
O objetivo da pesquisa era investigar se as atividades de dinâmica
de grupo poderiam contribuir para aquisição dos conhecimentos teórico-
práticos na formação de técnicos em administração de empresas,
desenvolvendo as competências necessárias aos profissionais dessa
área. A metodologia empregada para esse trabalho foi a pesquisa-ação,
pois nos envolvemos no processo de ação-reflexão-ação, diante de cada
situação abordada nas dinâmicas de grupo, trabalhando a tomada de
decisão, visando à transformação dos sujeitos envolvidos no processo e
à compreensão de seus comportamentos, atitudes e valores diante do
que concerne ao profissional da área e problematizando os conceitos
trabalhados em cada dinâmica.
De acordo com Franco (2005), a pesquisa-ação teve suas origens
nos trabalhos de Kurt Lewin, em 1946, num contexto de pós-guerra,
dentro de uma abordagem de pesquisa experimental, de campo. Suas
pesquisas iniciais tinham por finalidade a mudança de hábitos alimentares
da população e também de atitudes dos americanos em face dos grupos
éticos minoritários. Segundo a autora suas pesquisas pautavam-se por
um conjunto de valores, tais como:

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a construção de relações democráticas; a participação dos sujeitos; o


reconhecimento de direitos individuais, culturais e étnicos das minorias;
a tolerância a opiniões divergentes; e ainda a consideração de que os
sujeitos mudam mais facilmente quando impelidos por decisões grupais.
Suas pesquisas caminhavam paralelamente a seus estudos sobre a
dinâmica e o funcionamento dos grupos. (Franco, 2005, p. 485).

Optamos por essa metodologia posto que pesquisa e ação podem


caminhar juntas, quando se pretende a transformação da prática,
especialmente nesse momento em que estamos vivenciando a prática
de estágio docente e precisamos refletir, também, em torno de nossa
atuação. No entanto, de acordo com Franco (2005), a direção, o sentido e
a intencionalidade dessa transformação serão o eixo da caracterização da
abordagem da pesquisa-ação. Essa metodologia proporciona e enriquece
o processo de pesquisar, transformar e construir conhecimento coletivo. O
ponto central é a preocupação com o processo em si e não com o produto.
Para tanto, torna-se essencial a interação entre o pesquisador e o grupo
pesquisado, proporcionando espaço onde os sujeitos falem por si mesmos,
desvelando a sua realidade, interagindo e ensinando-se mutuamente
(Franco, 2005).
Com o objetivo de estimular a participação ativa e consciente e de dar
suporte ao processo educativo, vários métodos e técnicas, dinamizadoras
e motivadoras, foram utilizadas para o envolvimento do grupo. Dessa
forma, desenvolvemos os seguintes passos: planejamento das dinâmicas
de grupo; ação (desenvolvimento das dinâmicas de grupo envolvidas por
ações e operações no contexto de formação de técnicos em administração);
observação, acompanhamento e orientação no desenvolvimento das
dinâmicas; reflexão (diálogo com todos os envolvidos em torno das
questões trazidas nas dinâmicas de grupo, buscando interpretar a forma
como se deu o desenvolvimento de toda a prática).
Esses passos partiam de um problema – implementar dinâmicas de
grupo que gerassem desenvolvimento psíquico e intelectual nos sujeitos
em processos de formação profissional e tecnológica – em que instrumentos
e técnicas foram usados para que essas dinâmicas se configurassem em
atividades de estudo. Posteriormente, foi delineado um plano de ação (que
se baseava em objetivos, em um processo de acompanhamento e controle
da ação planejada e no relato concomitante desse acompanhamento).
Buscamos com o grupo solucionar o problema, com o intuito de que
os envolvidos desenvolvessem um aprendizado de pesquisa da própria
realidade para conhecê-la melhor e vir a atuar mais eficazmente sobre ela,
transformando-a. Assim, esses passos contemplaram um ciclo espiralado
para desenvolver o processo de ensino-aprendizagem, pois orientavam
desde o planejamento até a avaliação, produzindo um movimento no
contexto da ação-reflexão-ação.
No Quadro 2, especificamos as atividades de dinâmicas de grupo
trabalhadas e os conteúdos contemplados em cada uma delas, tendo em
vista o desenvolvimento profissional do técnico em administração em
suas habilidades e competências:

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Quadro 2 – Bases tecnológicas contempladas com as atividades


de dinâmicas de grupo

Atividades de estudo Bases tecnológicas


O comportamento das pessoas e suas relações
com o trabalho e com a produtividade.
Dinâmica de apresentação Observamos os comportamentos nas falas dos
– significados dos nomes estudantes, na forma de se expressar e ouvir
o outro e debatemos essas circunstâncias no
desenvolvimento profissional.
A importância das pessoas nas organizações.
Observar e expressar as qualidades dos colegas
em termos de habilidades pessoais e profissionais
Técnica da sanfona
(relacionadas com a área da administração);
comentar tais qualidades e sua importância no
desempenho da profissão.
Avaliação do comércio varejista de rua e shopping
centers em Santa Maria.
Levantar e discutir as problemáticas do
Resolução de problemas
comércio de Santa Maria e construir formas de
intervenção nessas problemáticas em grupos para
apresentação e defesa aos demais colegas.
Criatividade; trabalho compartilhado, colaboração,
Desenho compartilhado
trabalho em equipe.
Características pessoais Elementos facilitadores das relações interpessoais.
Heurística de resolução de problemas;
Dramatização de trabalho em equipe, criatividade, pensamento
resolução de problemas crítico, avaliação de soluções tomadas e suas
consequências.
Confiança, criatividade, persuasão, comunicação,
Vendendo o impossível
argumentação, trabalho com objeções.
Propósito de vida Valores, atitudes, relações interpessoais.
Fonte: Dados da pesquisa.

Portanto, por meio da pesquisa-ação, investigamos e desenvolvemos


com os estudantes dinâmicas de grupo que permitissem a apropriação da
cultura social vigente no tocante à sua formação e o desenvolvimento no
âmbito da formação profissional técnica. Ao final do estágio, os estudantes
foram convidados a responder um questionário aberto, que foi construído
tendo como base a ementa da disciplina, os referenciais da Teoria da
Atividade que embasa o conceito de atividade de estudo (Davidov, 1988;
Leontiev, 1978) e os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação
Profisisonal de Nível Técnico (Brasil. MEC, 2000), que também nos
proporcionaram a investigação do significado de competência.
A construção do questionário primou por investigar se as dinâmicas
de grupo se configuravam em atividades de estudo desenvolvimentais
no âmbito da formação profissional e sua análise levou em consideração
as categorias que orientam o conceito de competências: conhecimento,
habilidades e valores/atitudes.

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desenvolvimento de habilidades e competências na educação profissional

Análises e resultados

Realizamos o questionário durante o horário da aula e todos os alunos


presentes o responderam, totalizando 37 participantes. Os estudantes
foram informados sobre o objetivo do questionário, bem como orientados
de que não precisariam identificar-se. Antes da aplicação, realizamos
a leitura para verificar se existiam dúvidas em relação a algum termo
usado, esclarecendo-as.
Dos 37 participantes, apenas 9 nunca haviam participado de
atividades de dinâmicas de grupo em aula. Ao questionarmos de qual
dinâmica de grupo teve mais interesse em participar e a que considerou
mais significativa para a aprendizagem, 12 estudantes responderam
que foi a dinâmica “Vendendo o impossível”; em seguida, apareceu a
dinâmica do “Desenho compartilhado”, com 6 menções, e em terceiro,
com 3 citações cada uma, as dinâmicas de: “Dramatização de resolução de
problemas”, “Técnica da sanfona” e “Relaxamento e concentração”. Por
fim, com apenas duas menções, aparecem as técnicas de apresentação:
“Significado do nome” e “Apresentação de cada colega”.
Na análise das categorias, relacionamos cada uma delas com uma
determinada pergunta do questionário (Quadro 3):

Quadro 3 – Relação categoria x questionário

Categorias Pergunta relacionada


Que conteúdos (das bases tecnológicas) necessários
à formação do técnico em administração você
Categoria 1 =
considera que foram trabalhados durante a disciplina
conhecimento
de “Desenvolvimento de pessoas nos processos de
gestão”?

Categoria 2 = Descreva como as atividades de dinâmicas contribuíram


habilidades para o seu desenvolvimento profissional.
Como foi para você vivenciar esse tipo de prática de
ensino? Você gostou? Por quê? Das dinâmicas que
Categoria 3 =
foram propostas, de qual você teve mais interesse
valores/atitudes
em participar? Qual foi mais significativa para a sua
aprendizagem? Por quê?
Fonte: Dados da pesquisa.

Assim, para saber se os conhecimentos foram contemplados,


analisamos a questão do questionário relacionando-a com as categorias.
No entanto, não deixamos de contemplar a leitura do todo, uma vez que
as categorias também poderiam ser encontradas em outras questões.
Para melhor visualizar os dados coletados, optamos por evidenciá-
los no Quadro 4. Apresentamos os resultados demonstrando as relações
entre as categorias de análise emergidas dos conceitos de atividade de
estudo e competências (conforme Quadro 1). No Quadro 4, apresentamos
os questionários com os elementos que contemplam todas as categorias
analisadas. Ainda, apontamos que os estudantes conseguiram fazer a

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relação teoria-prática (apropriação do conhecimento), demonstrando


desenvolvimento psíquico-intelectual, não apenas no âmbito profissional,
mas também no pessoal (transformação do sujeito em termos de valores
e atitudes). Diante disso, as análises nos mostram que as dinâmicas de
grupos tornaram-se atividades de estudo desenvolvimentais.

Quadro 4 – Questionários com as categorias conhecimento,


desenvolvimento profissional e pessoal

Categoria 2 –
Categoria 1 – Resolução da Categoria 3 – valores e
Questionários Conhecimento (ações e atividade – habili- atitudes1 (saber ser)
operações mentais) dades (saber fazer)
Comportamento das Desenvoltura ante os
Autoconhecimento; relações
Q2, Q6 pessoas nas organizações, colegas;
interpessoais.
criatividade, persuasão. argumentação.
Q3, Q5, Q9, Q10, Criatividade, motivação,
Trabalho em equipe; Relações interpessoais;
Q12, Q15, Q16, comunicação, persuasão,
argumentação. comprometimento.
Q19, Q20, Q21 liderança.
Comportamento das Tomada de decisões;
Postura social,
pessoas nas organizações; planejamento e
Q4, Q7, Q11, Q14, espontaneidade, confiança
comunicação, persuasão, empreendedorismo;
em si.
criatividade, liderança. resolução de problemas.
Concentração Valorização do grupo a que
Q8, Q17 Comunicação e persuasão. e agilidade, pertence, autoconhecimento,
argumentação. reflexão pessoal x profissional.
Comportamento das Relações interpessoais;
Q18 Trabalho em equipe.
pessoas nas organizações. autoconhecimento.
Fonte: Dados da pesquisa.
Nota: (1) Autoconhecimento: superação da timidez, exposição de ideia e críticas, confiança em si,
espontaneidade, autorreflexão diante de novas situações;
Relações interpessoais: disposição para o diálogo, respeito à opinião do outro, convívio com as
diferenças;
Comprometimento: valorização do grupo, disposição para realizar a atividade, colaboração,
determinação;
Postura social: ser tolerante, respeitar o outro, rever atitudes no trabalho.

Na sequência, apresentamos o Quadro 5, em que conseguimos


identificar apenas as categorias de conhecimento e valores/atitudes. Na
análise dos questionários, percebemos que os estudantes não conseguiram
descrever como os conteúdos citados geraram desenvolvimento
profissional. Apenas descreveram como os conteúdos ajudaram em
situações de ordem pessoal, referentes ao relacionamento com o outro,
à autoavaliação do comportamento e à superação da timidez, conforme
demonstra o Quadro 5.
Embora não identifiquemos as habilidades referentes ao saber fazer no
Quadro 5, verificamos em ambos (Quadros 4 e 5) que, além dos conteúdos
das bases tecnológicas, desenvolveram-se atitudes para o trabalho em
equipe. Atualmente, esse tipo de prática é fundamental nos processos
educacionais, tendo em vista a necessidade de superar atitudes e práticas
individualistas e trabalhar de forma mais colaborativa, compartilhando
ideias, projetos e propostas com o outro. Acreditamos que nesse aspecto
conseguimos levar os estudantes a uma reflexão-ação em relação a essa

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desenvolvimento de habilidades e competências na educação profissional

prática, pois, nos questionários, muitos mencionaram que tiveram que


trabalhar a disposição (querer) para o diálogo com o outro, ouvindo as
diferentes opiniões para se chegar a um acordo que fosse comum a todos
os integrantes do grupo, na hora de resolver uma determinada situação
colocada pela dinâmica e que deveria ser debatida no grupo.

Quadro 5 – Questionários com as categorias conhecimento


e desenvolvimento pessoal

Conhecimento (ações e operações


Questionário Valores e atitudes (saber ser)
mentais)
Comportamento das pessoas nas
Q1 organizações; trabalho em equipe; Relações interpessoais e autoconhecimento.
criatividade.
Q13, Q26 Comunicação; liderança, motivação. Autoconhecimento.
Q22, Q24 Criatividade. Relações interpessoais.
Comportamento das pessoas nas
Q23 Autoconhecimento.
organizações; comunicação; criatividade.
Q27 Comunicação. Relações interpessoais.
Comportamento das pessoas nas
Q28 Relações interpessoais.
organizações; criatividade; persuasão.
Fonte: Dados da pesquisa.

Outro aspecto relevante na prática do técnico em administração diz


respeito às questões mais subjetivas referentes à comunicação (timidez)
que está relacionada ao autoconhecimento. Tivemos diversos relatos
que esse tipo de prática ajudou a superar essa dificuldade que muitos
de nossos estudantes apresentam para falar e se expressar em público.
Observamos isso na prática da venda do produto impossível, que não
tinha como intenção a dramatização, mas em que surpreendentemente
os estudantes se organizaram de forma a não só criar slogan do produto,
mas também dramatizar a venda desse produto com fotos, declaração de
pessoas que haviam comprado, gerentes de vendas, gerente de marketing
e outras situações que eles criaram para tornar o produto impossível algo
familiar e aceito pelos clientes, que eram seus colegas de turma.
Cabe ressaltar que não foi possível classificar dez questionários
em nenhuma das categorias, pois não identificamos indícios de
desenvolvimento pessoal ou profissional que correspondessem à
concepção de competências trabalhada. Percebemos nesses questionários
que os sujeitos não compreenderam o que as questões solicitavam, fugindo
do foco das perguntas.

Conclusão

Concluímos que para a construção de competências (conhecimento,


habilidades e valores/atitudes) a preocupação com a metodologia de

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trabalho, por parte do professor, é fundamental no momento de planejar


as ações e as finalidades a serem alcançadas no processo de ensino-
aprendizagem. De acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais
da Educação Profissional de Nível Técnico, a metodologia não é artifício,
mas questão essencial. Isso porque, a metodologia deverá identificar-se
com as “ações ou o processo de trabalho do sujeito que aprende, processo
este desencadeado por desafios, problemas e/ou projetos propostos pelo
professor e por este monitorado, orientado e assessorado” (Brasil. MEC,
2000, p. 31).
Segundo Barbosa, Gontijo e Santos (2004), pensar a educação
profissional numa perspectiva de formação de competências requer
inovações pedagógicas. Assim, torna-se possível o desenvolvimento de
um processo de formação cuja finalidade seja,
além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão
global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico,
a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores
necessários à tomada de decisões. (Brasil. CNE/CEB. Parecer nº 16,
1999, p. 8).

Para isso, torna-se necessário optarmos por estratégias de ensino


que possibilitem alcançar tais pressupostos.
Portanto, o planejamento de situações de aprendizagem que envolvem
a realização de atividades de estudo com objetivos claros e que têm
relações com o mundo do trabalho torna-se essencial em todos os níveis de
ensino. No nosso caso, tais atividades foram planejadas tendo como base
metodológica as dinâmicas de grupos. Isso possibilitou o desenvolvimento,
na educação profissional técnica de nível médio, de ações e operações pelos
estudantes envolvendo conhecimentos, habilidades e valores/atitudes
dos futuros profissionais, de maneira direta com o mundo do trabalho.
Em síntese, as atividades de dinâmicas de grupo realizadas trouxeram
nelas agregadas saberes cognitivos, psicomotores e socioafetivos. Nesse
sentido, para que sejam desenvolvidas habilidades e competências
que reflitam na atuação profissional, tais competências devem trazer
como condição a possibilidade de os estudantes alocarem esses saberes
(cognitivos, psicomotores e socioafetivos) como recursos que os permitam,
por meio de análises, sínteses, inferências, generalizações, analogias,
associações e transferências, se envolverem em ações próprias de um
contexto profissional específico, gerando um desempenho mais eficaz na
prática profissional (Brasil. MEC, 2000).

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Taís Fim Alberti, doutora em Educação pela Universidade Federal


do Rio Grande do Sul (UFRGS), é professora adjunta 2 do Núcleo de
Tecnologia Educacional (NTE) da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM) e professora-pesquisadora I da Universidade Aberta do Brasil
(UAB/UFSM). Compõe a equipe multidisciplinar da UAB/UFSM, Santa
Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
[email protected]

Ilse Abegg, doutora em Informática na Educação pela Universidade


Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é pesquisadora da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), professora-
pesquisadora II da Universidade Aberta do Brasil (UAB/UFSM) e professora
colaboradora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSM, Santa
Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
[email protected]

Márcia Rejane Julio Costa, doutoranda em Educação em Ciências:


Química da Vida e Saúde na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), é professora do Colégio Politécnico da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM), Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.
[email protected]

Mauro Titton, doutor em Educação pela Universidade Federal da


Bahia (UFBA), é professor do curso de Pedagogia no Departamento de
Metodologia de Ensino/Centro de Ciências da Educação da Universidade
Federal de Santa Catarina(UFSC), Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.
[email protected]

Recebido em 25 de junho de 2013.


Aprovado em 11 de março de 2014.

362 Rev. bras. Estud. pedagog. (online), Brasília, v. 95, n. 240, p. 346-362, maio/ago. 2014.

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