Raciocinio Clinico
Raciocinio Clinico
Raciocinio Clinico
AUTOR-COORDENADOR:
AUTORES-COLABORADORES:
7. “Reduza a distância formal para com o seu paciente, porém não seja seu
familiar.”
• Em regra o paciente está na horizontal e o profissional de saúde está na ver-
tical. O toque médico ajuda a “encurtar” esta distância, porém sempre tenha
em mente que por menor que seja a distância não confunda a relação mé-
9. “As mãos e pés dos pacientes podem te dar mais informações do que uma
ausculta pulmonar.”
• Exemplo 1: Paciente com baqueteamento digital pode indicar um câncer de
pulmão.
• Exemplo 2: Fibrose palmoplantar pode ser pista para tumor de ovário.
• Apesar da ausculta pulmonar ser um passo importante do exame físico, a sen-
sibilidade e especificidade dos seus achados eventualmente são pouco úteis
no estabelecimento de diagnósticos diferenciais, excetuando-se naquelas si-
tuações de emergência médica.
Introdução.............................................................................................................. 9
Glossário............................................................................................................... 15
CASO 01
Mulher de 20 anos com febre e lombalgia........................................................... 23
CASO 02
Homem de 64 anos com hemoptise há 12 anos................................................. 35
CASO 03
Mulher de 75 anos com dispnéia, eritema perimaleolar e macroglossia.......... 47
CASO 04
Homem de 32 anos com febre prolongada e dor ventilatório-dependente...... 61
CASO 05
Mulher de 33 anos com lesões cutâneas bolhosas e nodulares......................... 75
CASO 06
Homem de 65 anos com anasarca há 90 dias..................................................... 87
CASO 07
Mulher 36 anos portadora de Lúpus Eritematoso Sistêmico com poliartrite e
pústulas.............................................................................................................. 101
CASO 09
Mulher de 77 anos com déficit cognitivo e quedas frequentes........................ 121
CASO 10
Homem de 49 anos com poliúria, polidipsia e linfadenopatia generalizada... 133
CASO 11
Homem de 33 anos com mialgia, cefaleia e sudorese noturna intermitentes.145
CASO 12
Homem de 34 anos com dor abdominal e síncope intermitentes................... 155
CASO 13
Mulher de 82 anos com constipação e lombalgia............................................. 167
CASO 14
Homem de 61 anos com angina, turvação visual e ascite................................ 181
CASO 15
Mulher de 29 anos com fraqueza muscular, dispneia e sibilos......................... 193
CASO 16
Mulher de 48 anos com anasarca e úlceras orais de repetição........................ 205
CASO 17
Mulher de 56 anos com poliartrite envolvendo interfalangeanas distais........ 215
CASO 18
Mulher de 45 anos com colestase e desorientação há 10 dias da admissão... 225
CASO 19
Homem de 41 anos com linfadenopatia generalizada há um ano................... 237
CASO 21
Mulher de 39 anos valvulopata com poliartralgia, náuseas e oligúria............. 257
CASO 22
Mulher de 44 anos portadora de Diabetes Mellitus cursando parestesias e púr-
puras.................................................................................................................269
CASO 23
Homem de 59 anos com síndrome do túnel do carpo, acidente vascular encefá-
lico hemorrágico e anasarca.............................................................................. 281
CASO 24
Homem de 58 com síndrome consumptiva e fraqueza muscular.................... 291
CASO 25
Homem de 35 anos com rinossinusite crônica e úlceras dolorosas em membros
inferiores............................................................................................................. 301
CASO 26
Homem de 60 anos com piora da dispneia e hemoptise há dois dias............. 311
CASO 27
Mulher de 39 anos com alopecia e parestesias em bota e luva........................ 323
CASO 28
Mulher de 48 anos com déficit cognitivo, disfagia e edema em membros inferio-
res......................................................................................................................335
CASO 29
Mulher de 26 anos com dispneia, petéquias e linfadenopatia......................... 347
CASO 30
Mulher de 51 anos com dor abdominal e ascite............................................... 357
Mulher de 20 anos
com febre e lombalgia
HÁBITOS DE VIDA: Parceiro sexual fixo, nega tabagismo e etilismo. Negou uso
de leite não pasteurizado e de drogas ilícitas.
Raciocínio Cliníco | 23
Discussão clínica
— MR2: A abordagem diagnóstica desta paciente pode ser feita por três ca-
minhos distintos: pela lombalgia, pela febre prolongada ou pelos sintomas res-
piratórios. Os acadêmicos têm que ter cautela com o diagnóstico presuntivo de
pielonefrite dado na outra instituição, pois não sabemos qual foi o contexto des-
te diagnóstico. Muitas vezes considera-se pielonefrite a simples combinação de
piúria num sumário de urina com picos febris. A presença do Giordano positivo
apenas atrapalha ainda mais o diagnóstico. Piúria pode acontecer em diversas
situações, desde doenças inflamatórias não infecciosas (ex.: nefrite intersticial
aguda) a doenças infecciosas não relacionadas ao trato urinário (ex.: doença
inflamatória pélvica, apendicite supurada). É possível que esta paciente tenha
apresentado piúria sem a concomitante presença de bactéria na urina, ou seja,
tenha apresentado uma piúria estéril. Agora, se considerarmos esta possibili-
dade, TB renal passa a ser uma suspeita plausível para a paciente. Indo mais
adiante, se lembrarmos que um dos esquemas terapêuticos alternativos de TB
envolve uso de quinolônico, sua prescrição pode parcialmente tratar uma infec-
ção pelo Bacilo de Koch (BK), mascarando o quadro clínico do paciente. Algu-
mas pessoas podem estar pensando: ´e o Giordano positivo ao exame físico?´.
O exame físico desta paciente apresenta um forte indício para uma lesão verte-
bral que seria o sinal da campanhia positivo, ou seja, dor à palpação do pro-
cesso espinhoso de uma determinada vértebra. Como Dr. CG sempre comentou:
Giordano positivo não é igual a pielonefrite, e sim a dor em flancos à punho-per-
cussão, portanto, qualquer lesão nesta topografia pode provocar positividade
deste sinal.
Assim, juntando a febre prolongada com a lombalgia e sinal da campanhia
positivo nas vértebras L2/L3/L4, estreitamos nossas suspeitas para osteomielite
piogênica por disseminação hemática ou espondilodiscite tuberculosa associa-
do com tuberculose renal e pleuropulmonar visto que a paciente apresenta tos-
se seca e redução de MV em hemitórax esquerdo. Salientamos aos acadêmicos
Raciocínio Cliníco | 25
— DR. CG: Este caso realmente apresenta muitas formas distintas de ser abor-
dado. Temos a febre prolongada, a lombalgia e os sintomas respiratórios. Prati-
camente todos os comentários se apoiaram, de alguma forma, na presença da
febre e/ou de tosse para corroborar a suspeita de TB. Concordo que a presença
de febre prolongada sempre é um bom ponto de partida para estabelecer um
diagnóstico diferencial, porém ela poderia não estar presente neste caso, e ainda
assim a suspeita deveria ser a mesma. Portanto, faço questão de tecer comen-
tários acerca de lombalgia, especialmente pela paciente ter o achado ao exame
físico de dor à palpação das vértebras lombares.
Não há dúvida que a principal causa de lombalgia é de origem mecânica, seja
por contraturas da musculatura paravertebral, seja por compressões radicula-
res. O principal papel do médico internista será identificar, dentre tantos pacien-
tes com dor lombar, aqueles que podem ter uma causa neoplásica, infecciosa
ou inflamatória não-infecciosa.
Quando falamos de lombalgia, uma das primeiras patologias que vem à men-
te é ciatalgia por hérnia de disco. Alguns pontos são importantes de esclarecer
sobre a relação lombalgia-discopatias. Primeiro, deixemos claro que nem toda
hérnia de disco exercerá efeito compressivo sobre o sistema nervoso (depende
de qual região do disco está herniando); segundo que nem toda radiculopatia
é, necessariamente, compressiva (pode ser metabólica ou iatrogênica); e tercei-
ro que, mesmo nos casos compressivos, nem sempre a causa é uma hérnia de
disco (ex.: lesões expansivas intra-abdominais, fragmentos ósseos, síndrome do
piriforme etc.). Portanto, percebam que exames de imagem feitos indiscrimi-
nadamente num paciente, poderão encontrar hérnias de disco incidentais que
não justificariam a dor relatada por ele. A despeito disto, é comum que diante
de quadros de lombalgia, grande parte dos médicos solicite ressonância nucle-
ar magnética (RNM). Agora pensem: é pouco provável que um paciente idoso
não tenha alterações estruturais degenerativas na coluna; o que não se pode é
atribuir toda e qualquer lombalgia às alterações evidenciadas nos exames ra-
diológicos, principalmente na RNM. O nosso papel enquanto clínicos será de
identificar os ´red flags´ que indiquem necessidade de investigação diagnósti-
ca pormenorizada em busca de doenças graves como metástase óssea, mielo-
ma múltiplo, espondilodiscite etc.) (Tabela 1).
Raciocínio Cliníco | 27
— MR2: O que Dr. CAM, reumatologista que avaliou a paciente, acha da pos-
sibilidade da lombalgia ser secundária à uma fratura por fragilidade decorrente
do uso crônico de corticoide?
— DR. CAM: Bom lembrar desta questão pois é uma situação bastante comum,
especialmente na população idosa. Suponhamos que uma paciente sabidamen-
te osteoporótica evolua com fratura vertebral. Quais seriam as pistas para sus-
Suspeita clínica
Exames complementares
Raciocínio Cliníco | 29
Raciocínio Cliníco | 31
— DR. CG: Estes achados nos permitem iniciar o tratamento empírico para tu-
berculose disseminada. A descrição da lesão em corpo vertebral com abscesso
paravertebral é forte preditor de tuberculose vertebral. Idealmente deve-se isolar
o patógeno, sendo prudente ter a opinião da equipe de neurocirurgia, ortopedia
e/ou cirurgia torácica para obtenção da cultura, bem como deve fazer o exame
de imagem de todo neuroeixo a fim de identificar outros focos de lesão vertebral.
Diagnóstico final
TUBERCULOSE MILIAR
Pitfalls de Dr. CG
Referências
1. Sciatica Allan H. Ropper, M.D., and Ross D. Zafonte, N Engl J Med 2015; 372:1240-1248.
Raciocínio Cliníco | 33