Trabalho Acadêmico de Tanatologia
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Tema: Suicídio
Existe, nos dias atuais, uma preocupação cada vez maior com a relação de depressão
com os riscos reais e potenciais do suicídio, pois tem-se estudado que os estados
depressivos têm uma grande variedade de manifestações clínicas, que apresentam
diferentes formas de desenvolvimento, e podem se relacionar a casos de suicídio.
O suicídio figura entre as três principais causas de morte de pessoas que têm de 15 a
44 anos de idade. Segundo os registros da Organização Mundial de Saúde (OMS), ele
é responsável anualmente por um milhão de óbitos (o que corresponde a 1,4% do total
de mortes).
Essas cifras não incluem as tentativas de suicídio, de 10 a 20 ve- zes mais frequentes
que o suicídio em si (World Health Organization [WHO], 2014). A cada 45 segundos
ocorre um suicídio em algum lugar do planeta. Há um contingente de 1.920 pessoas
que põem fim à vida diariamente.
Atualmente, essa cifra supe- ra, ao final de um ano, a soma de todas as mortes
causadas por homicídios, acidentes de transporte, guerras e conflitos civis (Värnik,
2012; WHO, 2014). O coeficiente de mortalidade por suicídio representa o número de
suicídios para cada 100.000 habitantes, ao longo de um ano. De modo geral, os
coeficientes mais altos encontram-se em países da Europa Oriental; os mais baixos,
em países da América Central e América do Sul. Os coeficientes nos Estados Unidos,
Austrália, Japão e países da Europa Central encontram-se numa faixa intermediária
suicídios oficialmente registrados no país, o que representa, em média, 27 mortes por
dia (Brasil, 2013).
Enquanto a população aumentou 17,8% entre 1998 e 2008, o número de óbitos por
suicídios cresceu 33,5% (Marín-León, Oliveira, & Botega, 2012). Do total de óbitos
registrados no Brasil, 1% decorre de suicídios. Em pessoas que têm entre 15 e 29
anos de idade, essa proporção atinge 4% do total de mortes (Brasil, 2013).
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Causas
• Desemprego;
• Perda de status sócio-econômico;
• Profissão;
• Migração;
• Sexo;
• Idade;
• Estado civil.
Fatores Familiares
MITOS
Comportamento suicida
Grito de dor
Pedido de socorro
Depressão
Transtorno de personalidade (impulsividade, agressividade
variação súbitas do humor).
Esquizofrenia
Dependência de álcool / drogas
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Inquérito Epidemiológico
Informações sociodemográficas
Problemas da comunidade
História de tentativa de suicídio
Dados sobre a família
Saúde geral, utilização de serviços
de saúde geral e mental
Álcool e drogas
Principais questões
PENSAMENTOS
PLANOS
faria isso?
TENTATIVAS
suicídio?
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A incidência de suicídios em hospitais gerais é alta. Estima-se que seja 3 a 5 vezes
maior que na população geral (Martelli, Awad, & Hardy, 2010). Ausência de redes de
proteção, janelas em andares elevados, falta de preparo ou atenção da equipe,
banheiros com trancas, bem como acesso indevido a medicações e a instrumentos
perfurocortantes são fatores que aumentam o risco.
Além dos fatores ligados à estrutura ambiental, deve-se considerar que pacientes
internados em pronto-socorros e hospitais gerais estão sujeitos a diversas causas
situacionais de aumento de ansiedade e depressão, como: reações agudas ao
diagnóstico, agravamento de condições clínicas preexistentes, discussões sobre
prognóstico, espera por resultados de testes, antecipação de procedimentos temidos
ou dolorosos, medo de recorrência após a completude de um determinado tratamento
e eventuais conflitos com família e equipe.
Histórico
A palavra suicídio surgiu do século XVII, na Inglaterra, na obra do Inglês Sir Thomas
Browne, chamada Religio Médici, publicada em 1642. Na França, em 1734, foi
utilizada pelo abade francês Desfontaines, que havia visitado a Inglaterra
anteriormente, para significar “o assassinato ou a morte de si mesmo”. (LOUZÃ NETO,
2007, p. 475).
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De acordo com Dutra (2002) ao longo da história das civilizações, o suicídio tem sido
circundado de tabus, mitos e como também preconceitos das mais diversas naturezas,
principalmente os de ordem moral e religiosa. As definições teóricas e as suas causas
variam, agregam-se, contestam-se, permanecendo sem uma resposta definitiva e
exata a respeito de tal fenômeno
Nos dias atuais existe uma maior autonomia em relação ao suicídio, não tendo mais
os castigos que existiam anteriormente. É importante contextualizar o suicídio, levando
em consideração a inserção social deste ato na comunidade em que este indivíduo faz
parte, pois sabe-se que existem diversas culturas, e que os valores são diferentes em
várias localidades. (KÓVACS, 1992).
Falando de Suicídio
O suicídio atualmente é considerado como todo caso de morte que procede direta ou
indiretamente de uma ação, positiva ou negativa, realizado pela própria pessoa, como
uma expressão inequívoca implicando assim em sofrimento e impacto profundo nos
familiares. Esse fenômeno implica em sofrimento individual intenso, necessitando
assim de cuidados especializados. (DURKHEIM, 1982 apud KÓVACS, 1992).
Durkheim (1982 apud KÓVACS, 1992) em seu livro “O suicídio” define o suicídio como
um ato pessoal com características da sociedade que o produz, através dos valores,
das normas sociais que podem influenciar o nível de interesse do indivíduo pela vida.
É um homicídio com intenção de matar a si próprio e também uma ação com
desespero de uma pessoa que não deseja mais viver, ou seja, esta decide por fim a
sua vida e a forma que ela encontra é através do suicídio. O suicídio pode ser causado
por uma insatisfação interior e profunda na qual o indivíduo no momento não está
encontrando solução para seus problemas.
Esse mesmo autor classifica o suicídio em: Egoísta, Altruísta e Anômico. O suicídio
egoísta procede de uma individualização excessiva. Pode ocorrer entre os indivíduos
que perderam o sentido de integração com seu grupo social, não mais se encontrando
sob a influência da sociedade, da família e da religião. No suicídio altruísta, o indivíduo
pode se matar quando está muito integrado num grupo, ocorrendo principalmente em
sociedades coletivas, onde os indivíduos suicidam-se para o bem comum, se
sacrificando pela comunidade. O suicídio anômico, é observado nos indivíduos que
vivem em uma sociedade em que está num momento de crise, quando lhes faltam os
modelos de ordem e de uma conduta habitual.
Segundo Fukumitsu (2005 apud ODDONE, 2005 p. 166) “o suicida não procura a
morte, mas a vida. O ato suicida trata-se de um derradeiro grito de confirmação da sua
própria existência, embora ele aparente extremo desespero e desistência”. Segundo
esta autora é importante entender o que está por trás desta tentativa, qual a
mensagem que precisa ser passada e a intencionalidade pode ser consciente ou não,
e nem sempre compreendido pela própria pessoa que tenta o suicídio.
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É importante ressaltar a diferença ente o ato suicida e suicídio. O ato suicida “ocorre
quando o indivíduo causa uma lesão a si mesmo, qualquer que seja o grau de
intenção letal”. (OMS, 2000- 2001) No ato suicida a pessoa está ferindo e causando
danos a si mesmo, compreendendo todas as tentativas de suicídio, e o suicídio
acontece quando o ato é realmente consumado.
Toda pessoa que decide por fim a sua vida, necessariamente tem representação
antecipada da própria morte, levando as pessoas a planejarem diversas vezes como
deseja morrer.
Cassorla (1984) ainda afirma que indivíduos que de forma consciente ou não, optam
por viver enfrentando perigos, como os que participam de corridas automobilísticas, os
que realizam a roleta russa paulista, os policiais ao enfrentar perigos constantemente,
o soldado voluntário que se dispõe para uma função que pode colocar a sua vida em
risco também podem ser considerados suicidas.
Segundo Louzã Neto (2007, p.476) “a condição sine qua non do suicídio é a morte em
que o sujeito é, ao mesmo tempo, o agente passivo e ativo, a vítima e o assassino, o
desejo de morrer e ser morto e o desejo de matar”. Portanto a dificuldade de se
suicidar reside na determinação da qualidade impulsiva ou voluntária da atividade
suicida, ou seja, é uma decisão pessoal de cometer o suicídio. Por exemplo, quando
um paciente pula de um local elevado quando ouve vozes alucinatórias, ele se torna o
agente ativo e ao mesmo tempo vítima.
Botega et. al. (2006, apud VIEIRA, 2008) aponta alguns fatores de risco para o suicídio
como: transtornos mentais (como por exemplo, a depressão), perdas recentes, perdas
de figuras parentais na infância, dinâmica familiar conturbada, personalidade com
fortes traços de impulsividade de agressividade, certas situações clínicas (como
doenças crônicas incapacitantes, dolorosas, desfigurantes), acesso fácil a meios
letais.
Baptista (2004) aponta outros fatores de risco para o suicídio como: isolamento social,
transtorno de ansiedade ou pânico, uso de álcool ou outras drogas, estresse,
problemas econômicos que causem crises financeiras, migrações, dor física intolerável
e prolongada decepção amorosa.
Os motivos mais comuns relacionados aos desejos de suicídio são: fantasias de uma
outra vida, de um paraíso, de um encontro com Deus, de outro mundo de riquezas e
delícias de reencontro com pessoas queridas que morreram, de retorno ao seio
materno; desejo de punição, de castigo, de destruição de impulsos assassinos ou de
impulsos sexuais culposos etc.
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Estudo do Comportamento Suicida
Mann e Arango (1992 apud BAPTISTA, 2004) ressaltam que o comportamento suicida
abarca a ideação suicida, as tentativas frustradas e também a efetivação do suicídio.
Segundo Berman; Farberon apud Maris (2002 apud BAPTISTA, 2004) alguns
comportamentos destrutivos podem aumentar a probabilidade de autolesão, como o
jogo patológico, esportes de risco ou radicais, sexo desprotegido com diversos
parceiros, entre outros.
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É importante se pensar na prevenção do comportamento suicida, pois isso não
pressupõe apenas evitar a morte das pessoas e sim alertar as implicações que o
suicídio desencadeia na sociedade, como o mal estar e estado de perturbação que é
gerado nesta. Assim acredita-se que com a prevenção possa ser oferecido ao
indivíduo possibilidades de enfrentar as dificuldades que levam ao comportamento
suicida. Com a prevenção do comportamento suicida visa-se aspectos como promover
a qualidade de vida, criar estratégias de comunicação e sensibilização relacionada a
este fenômeno. (BOTEGA et. al, 2006).
“Assim como a depressão, o suicídio vem sendo considerado como um sério problema
de Saúde Pública, despertando interesse de pesquisadores no campo das mais
diferentes ciências”. (VIEIRA, 2008, p. 1).
Conforme Nierenberg, Stephen; Grandin (2001 apud BAPTISTA, 2004, p.8) apontam
que “muitas pessoas que apresentam transtornos de humor, principalmente depressão
maior e transtorno bipolar, podem pensar se matar, ainda que decidam viver na última
hora além do que muitas pessoas que se suicidam sofrem de transtornos do humor e,
de diversas formas, estas mortes poderiam ser prevenidas.
Malone (2000 apud BAPTISTA, 2004) afirmou que pessoas depressivas que tentaram
suicídio relatam maior desesperança e ideação suicida do que depressivos que nunca
tentaram suicídio.
De acordo com o Ministério da Saúde (Brasil, 2006 apud VIEIRA, 2008) é importante
estar atento a alguns sinais que compõem a história de vida e o comportamento das
pessoas que possam ter risco para o comportamento suicida como: cartas de
despedida, doença física crônica, menção repetida de morte ou suicídio, desejo súbito
de concluir os afazeres pessoais como organizar documentos e escrever um
testamento, ansiedade ou pânico, mudança de personalidade.
Como afirma Lewinsohn, Rohde e Seeley (1994 apud BAPTISTA, 2004) um preditor
de uma posterior tentativa de suicídio é já ter tentado suicídio anteriormente.
De Man; Leduc (1995 apud BAPTISTA, 2004) relacionam a ideação suicida com baixa
auto-estima, depressão, estresse, percepção de saúde, uso de drogas, baixo status
familiar, performance acadêmica ineficiente, suporte social inadequado.
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De acordo com Louzã Neto (2007, p. 230):
Segundo Brasil (2006 apud VIEIRA, 2008) que existem quatro sentimentos que
indicam o risco para a consumação e a tentativa de suicídio que são: depressão,
desesperança, desamparo e desespero.
Estácio 2018.1
De acordo com Vieira (2008) não existe uma patologia ou algum acontecimento que
possa prever o suicídio, e sim há certas fragilidades que indicam que algumas
pessoas estão mais vulneráveis a cometer esse ato do que outras. Nesse contexto a
depressão é destacada como um fator de risco para o comportamento suicida. O
transtorno depressivo é destacado entre as doenças vulneráveis ao suicídio e de
acordo com a OMS (2000 apud Vieira 2008) esta é causadora de 30% da ocorrência
de suicídio no mundo.
De acordo com alguns dados da autópsia psicológica a metade dos indivíduos que
morreram por suicídio estava sofrendo de depressão, mesmo considerando os
indivíduos com outros transtornos mentais, a sintomatologia depressiva era central.
(BOTEGA, 2006)
Segundo Sadock (2007, p. 975) “mais pessoas com transtornos depressivos cometem
suicídio no começo da doença do que mais tarde”. A depressão está associada tanto
ao suicídio consumado como às tentativas de suicídio e o aspecto clínico associado
com mais freqüência à gravidade da intenção de morrer é um diagnóstico de um
transtorno depressivo.
Ainda citando este autor, os transtornos de humor estão dentre os diagnósticos mais
comuns associados ao suicídio, pois os pacientes sentem-se deprimidos, tristes,
instáveis de tempos e tempos, quando estes sentimentos persistem interfere na vida
do paciente O isolamento social entre pacientes depressivos aumenta as tendências
suicidas.
A lida com o suicídio exige do profissional de saúde um olhar atento aos fatores de
risco e aspectos relacionados à morte e ao desespero humano. Embora o ato de se
matar deva ser visto como problemática de saúde pública, considera-se que uma das
maneiras de se prevenir o suicídio é compreender e enxergar a pessoa como um ser
singular e suas inúmeras motivações para tal comportamento.
Para lidar com clientes que perceberam o suicídio como uma solução, primeiramente,
o trabalho deve ser realizado em parceria com a família e outros profissionais
envolvidos, tais como psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas,
massoterapeutas, nutricionistas.
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Algumas estratégias podem ser adotadas para a lida com o suicídio: Sigilo no
acompanhamento do cliente, desde que, não haja risco de vida. Pede-se que o cliente
escolha duas pessoas, deixando seus números de telefones. Os escolhidos pelo
cliente poderão ser considerados como rede de apoio no trabalho profissional de
saúde e em crise suicida, tanto o cliente quanto o profissional de saúde poderão tentar
acesso aos indicados.
• Religiosidade
• Proximidade com a família
• Percepção otimista da vida
• Gravidez e maternidade
• Ter uma ocupação/emprego
• Rede social (interdependência)
• Capacidade de enfrentamento (coping)
Para os profissionais
1.Ouvir atentamente
FRASES DE ALERTA
SENTIMENTOS
4 D:
Desesperança
Desamparo
Desespero
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PORTARIA 1.876 - 14/08/06
ESTRATÉGIAS
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Conclusão
Com base no conhecimento prévio dos fatores de risco, seja possível conhecer os
fatores de proteção, prevenção e recuperação da saúde, para que as mortes por
suicídios sejam minimizadas.
Na prevenção do suicídio, deve se dar prioridade as ações que busquem evitar o que
pode ser evitado.
Reflete-se que o manejo com aqueles que pensam no suicídio requer respeito,
disponibilidade, trabalho constante com dores, tolerância às frustrações e trabalho
interdisciplinar.
Uma tentativa de suicídio é o principal fator de risco para sua futura concretização.
Após uma tentativa, estima-se que o risco de suicídio aumente em pelo menos cem
vezes em relação aos índices presentes na população geral (Owens, Horrocks, &
House, 2002).
Várias ações podem ser realizadas no âmbito da saúde pública, entre elas: elaboração
de estratégias nacionais e locais de prevenção do suicídio, conscientização e
questionamento de tabus na população, detecção e tratamento precoces de
transtornos mentais, controle de meios letais (redução de armas de fogos, regulação
do comércio de agro- tóxicos, arquitetura segura em locais públicos) e treinamento de
profissionais de saúde em prevenção de suicídio.
Outro aspecto clínico a ser lembrado é que uma tentativa de suicídio é o principal fator
de risco para uma futura efetivação desse intento. Por isso, essas tentativas devem
ser encaradas com seriedade, como um sinal de alerta a indicar a atuação de
fenômenos psicossociais complexos. Dar especial atenção a uma pessoa que tentou
se suicidar é uma das principais estratégias para se evitar um futuro suicídio.
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Referências:
BOTEGA et al. Prevenção do comportamento suicida. Psico, 37, Porto Alegre (2006).
DIAS, M. L. Suicídio testemunho de adeus. 1 ed, São Paulo: Editora Brasiliense 1991.
FEIJÓ, M. Suicídio entre a razão e a loucura. São Paulo: Lemos Editorial, 1998.
LOUZÃ N. MARIO R. HELIO E. Psiquiatria básica. 2 ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Estácio 2018.1
MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2005. Disponível em: http://www.saude.gov.br; Acesso em
15 Ago. 2009.
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