Apostila Gênese e Classificação Do Solo
Apostila Gênese e Classificação Do Solo
Apostila Gênese e Classificação Do Solo
O que é solo ?
O termo solo origina-se do Latim solum = suporte, superfície, base. A concepção de solo
depende do conhecimento adquirido a seu respeito, de acordo com o modelo conceptual que ele
representa nas diferentes atividades humanas. A Ciência do Solo desenvolveu-se através da
contribuição de profissionais das mais diversas áreas (Química, Física, Geologia, Biologia, Geografia,
Agronomia e outras). Mas em função da grande ênfase no estudo do solo para a produção de
alimentos, ela passou quase que integralmente ao âmbito das instituições de ensino e pesquisa
ligadas ao desenvolvimento agrícola. Como ciência, entretanto, o conhecimento e o estudo do solo
transcende o modelo agrícola, sendo de importância à todas as atividades humanas. Além de ser um
meio insubstituível para a agricultura, o solo é também um componente vital de processos e ciclos
ecológicos, é um depósito para acomodar os nossos resíduos, é um melhorador da qualidade da
água, é um meio para a recuperação biológica, é um suporte das infra-estruturas urbanas e é um
meio onde os arqueólogos e pedólogos lêem a nossa história cultural (Miller, 1993). Entre os diversos
conceitos de solo destacamos os seguintes: (1) o solo como meio para o desenvolvimento das
plantas; (2) o solo como regolito; (3) o solo como corpo natural organizado; (4) o solo como sistema
aberto.
S = f (mo, cl, r, o, t)
a qual expressa "o solo (S) como função das interações entre os fatores ambientais material de
origem (mo), clima (cl), relevo (r), organismos vivos (o), atuando ao longo do tempo (t)". Neste
contexto, os solos são corpos naturais com características próprias desenvolvidas durante seu
processo de formação, o qual é condicionado pelos fatores ambientais. Essas características podem
ser visualizadas no perfil de solo, que consiste numa seção vertical que se estende da superfície até
uma determinada profundidade do solo (Figura 1.1). Ao conjunto de fatores ambientais naturais (mo,
cl, r, o) deve ser acrescentada a ação humana como fator antropogênico (a) atuante na alteração,
degradação e construção do solo. Isto significa que qualquer material (natural ou artificial), depositado
pela ação humana (por exemplo, um aterro), que seja capaz de suportar o desenvolvimento de
plantas, também é considerado como solo.
Figura 1.2. Interações entre a Litosfera, atmosfera, hidrosfera e a biosfera.
As inúmeras possibilidades combinatórias dos fatores ambientais (mo, cl, r, o) implicam numa
grande diversidade de tipos de solos. Daí a necessidade de agrupá-los em um sistema de
classificação, que possibilite sua identificação no terreno e o mapeamento da sua distribuição
geográfica.
A parte da Ciência do Solo que trata da origem, morfologia, distribuição, mapeamento e
classificação dos solos é chamada de Pedologia (do Grego, pedon = solo ou terra; logos = estudo) e
os profissionais atuantes nessa área são os pedólogos. A raiz pedon é aplicada em vários termos
relacionados ao estudo do solo. Por exemplo, a formação ou gênese do solo é chamada de
pedogênese e os processos de formação do solo são processos pedogenéticos.
O conceito de solo como corpo natural organizado tem uma importância prática muito grande,
pois estabelece relações entre os fatores ambientais e os diferentes tipos de solos, o que permite
mapear a sua distribuição geográfica, avaliar o potencial de uso das terras para diversos fins e
predizer os efeitos da intervenção humana.
O sistema solo é muito complexo e, portanto, difícil de ser analisado na sua totalidade. Para
facilitar sua compreensão usam-se modelos que são simplificações da realidade. Assim, para fins
operacionais e didáticos, o sistema solo pode ser subdividido numa hierarquia de subsistemas, com
limites definidos (diversas escalas) conforme o objetivo pretendido (Figura 1.4; Quadro 1.1).
Quadro 1.1. Exemplo de hierarquia de sistemas para estudo do solo.
Conclusão
Os diversos conceitos de solos podem ser incluídos na seguinte definição, que servirá de base
para o nosso estudo:
Solo é o corpo natural da superfície terrestre, constituído de materiais minerais e orgânicos
resultantes das interações dos fatores de formação (clima, organismos vivos, material de origem e
relevo) através do tempo, contendo matéria viva e em parte modificado pela ação humana, capaz de
sustentar plantas, de reter água, de armazenar e transformar resíduos e suportar edificações.
Figura 1.4. Hierarquia de subsistemas.
Bibliografia e leitura complementar
Curi, N. et al. Vocabulário de Ciência do Solo. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Campinas.
1993.
Miller, F.P. Soil Science: A scope broader than its identity. Soil Sci. Soc. Am. J., 57:299 e 564, 1993.
Reichardt, K. Por que estudar o solo ? In: Moniz, A.C. (ed.) A responsabilidade social da Ciência do
Solo. Campinas, SBCS, 1988. p.75-78.
Ruellan, A. Pedologia e desenvolvimento: A Ciência do Solo ao serviço do desenvolvimento. In:
Moniz, A.C. (ed.) A responsabilidade social da Ciência do Solo. Campinas, SBCS, 1988. p.69-74.
GLOSSÁRIO
Ciência do Solo: é a área da Ciência que se ocupa do estudo do solo quanto à sua formação,
natureza, classificação e comportamento no geoecossistema, de modo a desenvolver tecnologia para
o seu manejo adequado e planejar os resultados econômicos, sociais e ambientais de sua utilização.
Geoecossistema: constitui a interação entre o solo, os organismos que nele vivem, o relevo, a
atmosfera, a hidrosfera e a litosfera.
Terra: compreende, além do solo, todos os elementos do ambiente que abrangem a geologia, o
relevo, o clima, os recursos hídricos, a flora, a fauna e os efeitos da ação humana.
Formação do solo: gênese, desenvolvimento e evolução do solo através de processos
condicionados pelos fatores ambientais (clima, organismos, material de origem e relevo) e pela ação
humana atuando ao longo do tempo.
Levantamento e classificação do solo: mapeamento da distribuição geográfica dos diferentes tipos
de solo, os quais são identificados através de sistemas de classificação organizados com base na
constituição e no comportamento do solo.
Avaliação da terra: é o processo de avaliação ambiental e de estimativa do potencial da terra,
considerando as suas qualidades e limitações para usos agrícola e não agrícola, sem o risco de
danos permanentes ao ambiente.
CAPÍTULO 2 - MORFOLOGIA DO SOLO
INTRODUÇÃO
Morfologia é o estudo das formas de um objeto ou de um corpo natural. Na Ciência do Solo
seu objetivo é a descrição, através de metodologia padronizada, da aparência que o solo apresenta
no campo, segundo características visíveis a olho nú, ou perceptíveis por manipulação. A descrição
morfológica do solo é o primeiro passo para a identificação e a caracterização do mesmo,
constituindo pressuposto fundamental para estudos de gênese, levantamento, classificação e
planejamento do uso dos solos.
A caracterização morfológica do solo compreende duas etapas. Na primeira, é feita a
descrição das características morfológicas internas, correspondendo, portanto, a “anatomia do solo”.
Nesta, leva-se em conta a espessura, cor, textura, estrutura, consistência, cerosidade, porosidade,
distribuição de raízes e transição entre os diferentes horizontes que formam o perfil do solo. Na
segunda etapa é feita a descrição do ambiente onde se encontra o solo, constando do relevo,
drenagem, vegetação, pedregosidade, erosão e uso atual, que constituem as características
morfológicas externas do solo.
Esta caracterização é feita de acordo com a metodologia descrita no “MANUAL DE
DESCRIÇÃO E COLETA DE SOLO NO CAMPO” editado pela Sociedade Brasileira de Ciência do
Solo e pelo Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos.
Figura 2.1. Ilustração do perfil e horizontes do solo (a), pedon (b), e polipedon (c).
Os horizontes O ou H, A, E, B e C são os horizontes genéticos principais de um perfil de solo,
por refletirem a atuação dos processos que podem ocorrer nos diversos estágios de desenvolvimento
do mesmo. A simbologia dos horizontes genéticos principais e suas definições adotadas pelo SNLCS
a partir de 1984 são apresentadas abaixo. Publicações anteriores utilizam a simbologia antiga, cuja
correlação com a atual consta no Quadro 2.1.
O - Horizonte orgânico situado sobre horizonte mineral superficial formado por resíduos vegetais,
folhas, talos, ramos, etc..., acumulados em condições de boa drenagem. Estes resíduos podem
ser bem decompostos ou não decompostos. Ocorre principalmente, sob vegetação florestal.
H - Horizonte orgânico superficial ou não, formado pela acumulação de resíduos orgânicos em
condições hidromórficas. Os resíduos orgânicos apresentam estágios de decomposição
variados.
A - Horizonte superficial mineral, que pode estar sob horizontes ou camada O ou H, e que apresenta
coloração escurecida pelo enriquecimento com material orgânico humificado.
E- Horizonte mineral que ocorre sob o horizonte A, e que apresenta máxima eluviação de argilas,
óxidos ou matéria orgânica, pelo que apresenta textura mais arenosa e coloração mais clara
que os horizontes subjacentes.
B - Horizonte mineral formado sob um A ou E, por intensa alteração do material de origem com
formação de argilominerais, com ou sem produção de óxidos e em conjunção ou não com
iluviação de argilominerais, óxidos e matéria orgânica.
C - Horizonte mineral inconsolidado pouco ou não afetado pela ação de organismos e que pode ou
não corresponder ao material de origem do solo. Pode corresponder a material transportado
que está em alteração ou material resultante da alteração “in situ” da rocha subjacente. O C
também pode representar uma camada de areia quartzosa não alterada pedogeneticamente,
designando neste caso uma camada e não um horizonte genético principal.
O substrato rochoso contínuo ou praticamente contínuo pouco fendilhado, que corresponde a
rocha sã ou, quando já alterada corresponde a material suficientemente coeso, não cortável com a
pá, que ocorre abaixo do horizonte C, não é considerado horizonte mas camada, sendo designado
por R. O R pode ou não corresponder ao material de origem do solo.
A variação das características morfológicas entre dois horizontes poucas vezes se dá
abruptamente. Normalmente as características de dois horizontes principais transicionam de um para
o outro em diferentes graus de nitidez podendo resultar entre eles horizontes nos quais as
características de ambos se fundem em proporções variáveis e são designados como horizontes de
transição miscigenados. Os horizontes de transição miscigenados são representados pela junção das
letras dos horizontes principais entre os quais estão situados por exemplo, AB ou BA, onde o
primeiro apresenta maior semelhança com o horizonte A mas possui características de B, e o
segundo apresenta maior semelhança com o B mas possui características de A.
Também podem ocorrer horizontes de transição mesclados, onde ocorrem partes
identificáveis mas misturadas dos horizontes principais adjacentes, por exemplo, o A/E, que deveria
ser classificado como A, exceto pela inclusão de áreas dentro do horizonte, que constituem menos de
50% do volume, com características de E.
À simbologia dos horizontes são acrescidos sufixos (letras minúsculas), que indicam a
presença de características específicas, originadas pela atuação de processos de desenvolvimento
do solo, genéticos ou não (Quadro 2.2).
Quando a partir de certa profundidade o solo foi desenvolvido de material de origem diferente,
indicando descontinuidade litológica, os horizontes recebem prefixos sob a forma de algarismos
arábicos.
Quadro 2.2. Equivalência da simbologia para notação de características específicas (sufixos) dos
horizontes genéticos principais e de transição, adotada a partir de 1984, com a simbologia antiga.
Características específicas
Simbologia atual (SNLCS, 1984) Simb. antiga
Sufixo Significado Sufixo
a propriedades ândicas -
b horizonte enterrado; ex: Ab b
c concreções ou nódulos endurecidos de Fe, Al, Mn ou Ti; ex: Bc cn
d avançada decomposição do material orgânico; ex: Od, Hd -
e escurecimento da parte externa dos agregados por matéria orgânica não -
associada a óxidos; ex: Ae
f material plintico e/ou bauxítico brando; ex: Bf, Cf -
g glei; ex: Bg, Cg g
h acumulação iluvial de matéria orgânica; ex: Eh h
i incipiente desenvolvimento do horizonte B; ex: Bi -
j tiomorfismo; ex: Bj -
k presença do carbonatos; ex: Ck ca
m extremamente cimentado; ex: Bm m
n acumulação de sódio trocável; ex: Bn -
o material orgânico pouco ou nada decomposto; ex: Oo, Ho -
p aração ou outras pedoturbações; ex: Ap p
q acumulação de sílica si
r rocha branda ou saprolito; ex: Cr -
s acumulação iluvial de óxidos de Fe, Al com matéria orgânica; ex: Bs ir
t acumulação de argila; ex: Bt t
u modificações e acumulações antropogênicas; ex: Au -
v características vérticas; ex: Bv -
w intensa alteração com inexpressiva acumulação de argila, com ou sem -
acumulação de óxidos; ex: Bw
x cimentação aparente, reversível; ex: Bx x
y acumulação de sulfato de cálcio -
z acumulação de sais mais solúveis em água fria que sulfato de cálcio -
CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
Este item apresenta um resumo das características morfológicas. Para efetuar a descrição de
um perfil de solo deve-se utilizar o Manual de Descrição e Coleta de Solo no Campo (SBCS/SNLCS).
Cor do solo
A cor do solo é uma característica facilmente perceptível e determinável, por isso utilizada
para identificar, descrever e diferenciar solos a campo. Apesar de ter pequena influência no
comportamento do solo, a cor permite a avaliação indireta de propriedades importantes, além de
refletir a ação combinada dos fatores de formação do solo. Assim, as cores podem ter os seguintes
significados:
-cores escuras: indicam acumulação ou presença de matéria orgânica e estão relacionadas
com o horizonte A, a não ser que a matéria orgânica tenha sido translocada, sob a forma dispersa
e/ou solúvel, para os horizontes inferiores. Cores pretas em horizontes B e C podem indicar a
presença de óxidos de manganês, sob forma de revestimentos ou nódulos;
-cores vermelhas: indicam condições de boa drenagem e aeração do solo e estão
relacionadas com a presença de hematita (Fe2O3);
-cores amarelas: podem indicar condições de boa drenagem, mas um regime mais úmido e
estão relacionadas com a presença de goethita (FeOOH);
-cores acinzentadas: indicam condições de saturação do solo com água e estão relacionadas
à redução de ferro. Em condições anaeróbias, podem formar-se cores azuladas ou esverdeadas,
devidas a compostos de Fe (II) e sulfeto;
-cores claras ou esbranquiçadas: normalmente se relacionam com a presença de minerais
claros como caulinitas, carbonato de cálcio, quartzo, calcedonia e outros, porém podem significar
perda de materiais corantes. Estas cores são comuns em horizontes E e Ck;
-horizontes mosqueados ou variegados: são caracterizados pela presença de manchas
amarelas, vermelhas, pretas ou de outras cores, em uma matriz ou fundo normalmente acinzentado.
São encontrados em horizontes onde ocorrem oscilações do lençol freático ou podem ser herdados
do material de origem do solo.
Numa catena (veja fatores de formação do solo: relevo) as cores vermelhas são encontradas,
normalmente, em solos de superfícies convexas, elevadas e bem drenadas; as cores amarelas e
horizontes mosqueados, em solos de superfícies côncavas, do terço inferior das elevações, com
drenagem imperfeita; e as cores cinzentas, escuras e horizontes mosqueados, nas partes baixas mal
drenadas.
A determinação da cor se processa por simples comparação da cor do solo com as cores da
Escala de Munsell. Nesta escala as cores são arranjadas com base no matiz, no valor e no croma,
que têm os seguintes significados:
-matiz (hue): corresponde à cor do espectro de cores, varia em função de uma escala radial
(Figura 2.2) e esta relacionada com o comprimento de onda da luz. Cada página da escala de
Munsell corresponde a um matiz, cuja simbologia se encontra no canto superior direito da página,
conforme ilustra a Figura 2.3.
-valor ou tonalidade (value): refere-se a luminosidade relativa da cor. Assim, em cada página o
valor varia verticalmente, no sentido descendente de um máximo (branco = 8) até o mínimo (preto =
0), passando pelo acinzentado (valor 5) (Figura 2.3).
-croma ou intensidade de saturação (chroma): é a pureza relativa do espectro de cores, em
relação ao cinza e, em cada página, aumenta da esquerda (croma = 0) para a direita (croma = 8), na
medida em que diminui a proporção de cinza, tornando a cor mais pura (Figura 2.3).
A notação da cor de um horizonte de solo, determinada por comparação com as cores da
Escala de Munsell, é registrada na seqüência: nome da cor, matiz, valor e croma. Por exemplo:
vermelho escuro, 2,5YR 3/6 (úmido).
Figura 2.2. Símbolos dos matizes (hue) na Escala Munsell de classificação de cores.
Figura 2.3. Nome das cores para as diversas combinações de valor e croma, no matiz 5YR, que
constitui uma página da Escala de Munsell.
Como as cores de um solo podem variar com a umidade do mesmo, é necessário especificar
a condição de umidade (seco, úmido, e úmido amassado) em que a cor foi determinada. É necessário
determinar sempre a cor em condição úmida, pois, caso um solo esteja seco, é fácil umedecê-lo. Nos
horizontes superficiais, além da cor do solo úmido, determina-se a cor do solo seco; para horizonte B
é descrita a cor também em amostra seca triturada.
Quando o horizonte de um solo se apresenta mosqueado, determina-se, inicialmente, a cor de
fundo ou matriz, e, depois, as cores das manchas ou dos mosqueados. Uma descrição completa dos
mosqueados inclui a quantidade de manchas, o tamanho e, o contraste das cores dos mosqueados
com a cor de fundo.
Quando o horizonte não apresentar predominância de uma determinada cor (cor de fundo),
ele será descrito como tendo coloração variegada. Na descrição do variegado, simplesmente se
caracterizam uma por uma as cores que o compõem. Por exemplo: coloração variegada, composta
de vermelho (2,5YR 4/6 úmido), bruno (10YR 5/3 úmido), etc.
Textura do solo
Desagregando uma porção de solo seco na palma da mão, pode-se observar que ele é
composto por partículas sólidas de diferentes tamanhos. A Proporção relativa destas partículas com
diversos tamanhos que compõem a massa do solo denomina-se textura do solo. Quanto ao tamanho,
estas partículas são agrupadas entre limites definidos de diâmetro, formando as frações texturais ou
granulométricas, denominadas areia, silte e argila (Quadro 2.3).
A determinação quantitativa destas frações pode ser executada em laboratório, utilizando-se
métodos que se baseiam nas diferentes velocidades de sedimentação que partículas de diferentes
tamanhos apresentam, depois de dispersas em líquidos e associadas ao uso de peneiras com
aberturas de diferentes diâmetros.
No campo, a textura é estimada, de maneira empírica, através do tato, trabalhando-se uma
amostra de solo úmida e amassada entre o dedo polegar e o indicador.
Este método baseia-se nas diferentes sensações que as diversas frações (areia, silte e argila)
oferecem ao tato, conforme descritas no Quadro 2.3.
É importante considerar que a sensação ao tato pode ser mascarada pela presença de
elevado teor de matéria orgânica ou devido ao tipo de argilominerais que compõe a fração coloidal do
solo, o que dificulta o estabelecimento mais preciso de sua textura. Assim, a matéria orgânica tende a
tornar os solos argilosos menos plásticos e, inversamente, mais plásticos e mais pegajosos os solos
arenosos. Em solos com argilominerais do tipo 2:1, a sensação de pegajosidade e plasticidade é mais
intensa do que em solos com argila 1:1. Os óxidos de ferro, em alta proporção, tendem a diminuir a
plasticidade do solo. A presença de mica torna o solo mais macio, “micáceo” ao tato.
Quadro 2.3. Diâmetro de partículas e sensação ao tato das frações areia, silte e argila, utilizadas na
determinação da textura do tato.
Figura 2.4. Triângulo utilizado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, mostrando as treze
classes texturais em relação as percentagens de areia, silte e argila do solo.
Estrutura do solo
Em condições naturais, na maioria dos solos, as partículas sólidas (areia, silte, argila e matéria
orgânica) estão ligadas entre si formando agregados. As forças que tendem a manter estas partículas
ligadas entre si, dentro de um mesmo agregado, são mais intensas do que as forças de ligação entre
agregados adjacentes, definindo, assim, planos de fraqueza onde os agregados podem ser
separados. O conjunto destes agregados forma a estrutura do solo. Agregados naturais individuais
também são denominados peds, ou unidades estruturais.
A estrutura do solo é uma característica morfológica que varia de um solo para outro e
também entre os horizontes de um mesmo solo, constituindo um critério usado para separação de
horizontes do perfil do solo. Para a descrição da estrutura são levados em conta o grau de
desenvolvimento das unidades estruturais, a classe e o tipo de estrutura.
O grau expressa a intensidade das ligações dentro e entre os agregados e é determinado pela
nitidez com a qual os agregados se apresentam no perfil e pela resistência que oferecem à
desagregação quando são removidos e manipulados.
A classe refere-se ao tamanho dos agregados. O tipo refere-se a forma dos agregados. Os
diferentes tipos de agregados que podem ocorrer no solo estão representados na Figura 2.5.
Figura 2.5. Tipos de agregados estruturais. (a) prismática; (b) colunar; (c) bloco angular; (d) bloco
subangular; (e) placas; (f) granular.
Porosidade do solo
A porosidade é o espaço existente entre as partículas sólidas do solo. Ela serve para
circulação do ar e retenção e circulação da água do solo. Aproximadamente 50% do volume total de
um solo corresponde ao seu espaço poroso.
A porosidade é determinada a campo pelo exame de unidades estruturais, onde são avaliados
o tamanho e a quantidade de poros. Para sua determinação usa-se lupa ou estima-se a porosidade
com base na absorção de água pelo solo.
Figura 2.6. Determinação da friabilidade do solo.
Superfícies de compressão
São superfícies lisas e lustrosas, sem estrias, formadas pela compressão entre as unidades
estruturais durante a contração resultante da secagem e umedecimento. Normalmente não se
apresentam inclinadas por não haver deslocamento entre as unidades. São características de solos
com textura argilosa.
Raízes
É difícil uma definição satisfatória de termos para quantificar as raízes por observação do perfil
do solo. Entretanto, o objetivo principal é a descrição relativa da quantidade de raízes nos diferentes
horizontes. A distribuição anômala das raízes em relação à seqüência de horizontes pode indicar
camadas compactadas, cimentadas ou outras condições físicas ou físico-químicas que impeçam o
livre desenvolvimento das mesmas.
CARACTERÍTICAS AMBIENTAIS
As características ambientais, a seguir relacionadas, são avaliadas e relatadas na descrição
dos perfis de solos:
Localização
Registra os detalhes necessários para permitir a identificação do local.
Situação e Declive
Descreve a situação na paisagem em que foi descrito o perfil. Por exemplo: área plana,
encosta, topo de morro, etc.
Altitude
Registra a altitude em que o solo ocorre.
Litologia
Formação geológica da qual se originou o solo.
Vegetação
Indica o tipo de cobertura vegetal característica do solo (mato, cerrado, campo, pastagem,
etc), designando os respectivos gêneros predominantes.
Atividade biológica
Registra a ação de termitas, formigas, minhocas e outros.
Relevo
O relevo é a configuração da superfície local ou regional onde o solo se encontra. Ele é
importante porque condiciona o processo evolutivo do solo, ou seja, a remoção de partículas por
erosão, o movimento de massas do solo, a drenagem, etc.. (veja fetores de formação do solo).
Drenagem
A drenagem indica a capacidade de absorção e/ou velocidade de remoção de água do solo.
Erosão
Erosão significa o movimento físico de partículas de solo de um lugar para outro pela água
(erosão hídrica) ou vento (erosão eólica). Em relação a erosão hídrica são distinguidos os seguintes
tipos: a) erosão laminar: tende a rebaixar uniformemente a superfície do solo, pela perda gradativa
das camadas superficiais; b) erosão em sulcos: consiste na perda de material do solo no caminho
preferencial das águas de escorrimento, causando a formação de sulcos; c) erosão em voçorocas:
ocorre quando a perda nos sulcos é tão intensa que estes se alargam e aprofundam, atingindo o
horizonte C e mesmo a camada R.
Pedregosidade e Rochosidade
Pedregosidade e rochosidade referem-se ao número de pedras (matacões) com mais de 20
cm de diâmetro ou de afloramentos de rochas, que ocorrem numa determinada área. Sua
determinação é importante, pois influem nas práticas de manejo de solos e culturas, principalmente
impedindo o uso de máquinas e implementos agrícolas.
Uso atual
O uso atual do solo consiste na descrição de como o mesmo está sendo usado. Por exemplo:
pastagem, culturas anuais, etc...
A 0-30; bruno escuro (10YR 3/3, úmido), bruno amarelado escuro (10YR 3/4, seco); franco
arenosa; fraca pequena granular; muito poroso e poros médios; ligeiramente dura, friável,
ligeiramente plástica e não pegajosa; transição gradual e plana.
AB 30-42; bruno (10YR 4/3, úmido); franco arenosa; fraca pequena blocos subangulares; poroso
e poros médios; ligeiramente dura, friável, ligeiramente plástica e ligeiramente pegajosa;
transição clara e plana.
BA 42-58; bruno avermelhado (5YR 4/4, úmido), mosqueado grande e comum, bruno (10YR 4/3,
úmido) e grande pouco, bruno forte (7,5YR 5/6, úmido); franco argilosa; fraca pequena e
média subangulares; poroso e poros pequenos; ligeiramente dura, friável, plástica e pegajosa;
transição clara e plana.
Bt1 58-90; vermelho amarelado (5YR 4/6, úmido); argila; moderada média blocos subangulares;
cerosidade forte e pouca; dura, plástica e pegajosa; transição difusa e plana.
Bt2 90-120; vermelho amarelado (5YR 4/8, úmido); argila; moderada média blocos subangulares;
cerosidade forte e pouca; pouco poroso; dura, firme, plástica e pegajosa; transição gradual e
plana.
BC 120-150+; vermelho amarelado (5YR 4/8, úmido); argilo arenosa ; moderada grande blocos
subangulares; grande quantidade de grãos de quartzo; pouco poroso; dura, firme, ligeiramente
plástica.
Raízes- Abundantes no A e AB; raras no BA, Bt1 e Bt2 e ausentes no BC.
Observações- Presença de minerais primários intemperizados.
CAPÍTULO 3- ROCHAS E MINERAIS PRIMÁRIOS
Composição mineral
Os compostos minerais do solo são herdados e/ou originam-se a partir dos constituintes
minerais das rochas (Figura 3.1). As rochas são, portanto, o material de origem dos solos e a fonte
primária da maioria dos nutrientes das plantas. Desta forma, para melhor compreender certas
diferenças entre os solos e as suas potencialidades agrícolas é fundamental conhecer-se alguns
aspectos básicos sobre rochas e seus minerais componentes. As rochas são definidas como
agregados naturais formados de um ou mais minerais. Por sua vez, os minerais são sólidos que
possuem uma composição química característica ou composições variáveis dentro de certos limites.
Figura 3.1. Representação esquemática da alteração (a) da rocha em solo e (b) de minerais primários
em minerais secundários.
(a) (b)
(c) (d)
Figura 3.2. Representação esquemática de (a, b) estrutura cristalina (c, d) estrutura não cristalina.
Minerais
A composição química da crosta terrestre (litosfera) indica que os minerais mais comuns
devem conter silício e oxigênio (Quadro 3.1), constituindo o grupo de minerais denominados silicatos.
A estrutura fundamental dos silicatos é condicionada pelo arranjo geométrico entre silício e
oxigênio: o silício, devido ao seu raio iônico menor (= 0,40 Å), está rodeado por quatro oxigênios (raio
iônico = 1,40 Å), originando uma configuração tetraédrica, cuja composição é SiO 44- (Figura 3.3 a).
Quadro 3.1. Abundância de elementos químicos na crosta continental.
(a) (b)
Figura 3.3. Configuração tetraédrica do Si4+ e O2- (a) e configuração octaédrica do Al3+ e O2- (b).
A carga negativa (-4) resultante desse arranjo tetraédrico é compensada por ligações com
íons positivos (Si4+,Fe2+ ,Mg2+, etc), restabelecendo o equilíbrio eletrostático. A união dos tetraedros
SiO44- entre si, com adição ou não de outros cátions, forma os vários tipos de minerais silicatos.
Alguns silicatos, denominados filosilicatos devido sua morfologia em camadas, apresentam além da
configuração tetraédrica, uma outra denominada octraédrica, onde um íon central (A13+,Mg2+ ,Fe2+
,Fe3+) está rodeado por 6 oxigênios ou hidroxilas (Figura 3.3 b).
O Quadro 3.2 relaciona os principais silicatos encontrados na litosfera.
Quadro 3.2. Principais minerais silicatos e sua proporção média na litosfera.
O quartzo é um mineral incolor, sendo o silicato com a composição química mais simples:
SiO2; o arranjo estrutural compacto dos tetraedros lhe confere uma grande resistência à alteração;
não contém nutrientes essenciais para as plantas, mas tem participação importante na formação do
esqueleto do solo.
Os feldspatos são minerais de cores claras, nos quais parte dos tetraedros contém A13+ em
lugar do Si4+ do que resulta uma deficiência de carga positiva que é compensada pela presença de
cátions como Ca2+, Na+ e K+. Os principais feldspatos são o ortoclásio (KAlSi3O8), a albita (NaAlSi3O8)
e anortita (CaAl2Si2O8). Na alteração dos feldspatos há liberação de nutrientes essenciais às plantas
(K+, Na+, Ca2+) e de A13+, Si4+ e O2- para a formação de novos minerais.
Os anfibólios e piroxênios são minerais escuros, onde também há substituição parcial de Si4+
por A13+, compensando-se a carga pela presença de Ca2+, Mg2+ e Fe2+. São minerais facilmente
alteráveis, liberando nutrientes (Ca2+, Mg2+, Fe2+) e/ou elementos (Fe2+, Al3+, Si4+, Mg2+, O2-) para
formação de novos minerais.
As micas são silicatos onde os tetraedros estão unidos formando lâminas, cujo empilhamento
forma camadas; por isso, as micas tem um aspecto plano estratificado. As micas mais comuns são a
muscovita KAl2(Si3Al)O10(OH)2 de cores claras, e a biotita K(Fe,Mg)3Si3All0(OH)2 de cores escuras. As
micas contém de 5 a 9% de K, constituindo uma fonte potencial desse nutriente para as plantas.
Outros minerais (não-silicatos) importantes são: os carbonatos, onde se destaca a calcita
(CaCO3) e a dolomita (CaMg(C03)2) como fontes de Ca2+ e Mg2+ para as plantas e como corretivos da
acidez do solo; as apatitas Ca5(PO4)3(OH, F, Cl) como a principal fonte natural de fosfatos nos solos.
Devido a sua maior importância nos solos os argilominerais e os óxidos serão tratados em um item
específico.
Rochas
As rochas são agrupadas quanto à sua origem em: (a) rochas ígneas ou magmáticas, (b)
rochas sedimentares e (c) rochas metamórfïcas.
Figura 3.4. Representação esquemática da formação de rochas ígneas extrusivas (a) por
extravasamento de magma em vulcões, (b) em fissuras da crosta; (c) de rochas ígneas
intrusivas e (d) seu afloramento por soerguimento e erosão.
Quadro 3.3. Relação entre o local, a velocidade de resfriamento, as características dos cristais, a
textura e o tipo de rocha ígnea.
O principal constituinte das rochas ígneas é o silício, e conforme o seu teor (expresso como %
SiO2), essas rochas são classificadas em: ácidas (> 65% SiO2), intermediárias ou neutras (55 a 65%
SiO2), básicas (35 a 55% SiO2) e ultrabásicas (< 35% SiO2). Em rochas ígneas com baixo conteúdo
de silício são, geralmente abundantes, minerais escuros contendo ferro e magnésio, como olivinas,
piroxénios e anfibólios; essas rochas são denominadas máficas. Em rochas ígneas com mais de 60%
de silício em peso, ocorre quartzo associado com feldspatos alcalinos, com pequena quantidade de
minerais ferro-magnesianos; essas rochas tem coloração clara e são denominadas félsicas.
A denominação específica das rochas ígneas baseia-se na sua composição mineral efetiva. O
Quadro 3.4 resume a classificação das rochas ígneas conforme a origem, a textura, o teor de SiO2, a
cor e a composição mineral.
Quadro 3.4. Classificação de rochas ígneas conforme a origem, a textura, o teor de SiO2, a cor e a
composição mineral.
Composição Mineral
Origem Textura
Piroclástica ou
Tufo vulcânico ou brecha
Fragmental
Escuras e
Propriedades Claras e leves Intermediárias
pesadas
Rochas sedimentares
As rochas sedimentares constituem apenas 5% do volume da litosfera, mas recobrem 75% da
sua superfície. Sedimentos são deposições de materiais que resultam da decomposição,
desagregação e retrabalhamento de rochas existentes e de várias origens. Os sedimentos
depositam-se estratificadamente, camada sobre camada, na superfície da litosfera, em temperaturas
e sob pressões relativamente baixas. Cada camada de sedimento vai se enterrando sempre mais
profundamente quando as camadas que se sucedem depositam-se sobre sua parte superior. Assim,
as rochas sedimentares podem acumular-se em espessuras de muitos milhares de metros (Figura
3.5).
Figura 3.5. Erosão, transporte e deposição estratificada de sedimentos
Quadro 3.5. Classificação das rochas sedimentares levando em conta o tipo, composição e textura
dos sedimentos.
CLÁSTICAS
Grãos finos
Quartzo e argilas Siltito
(1/256 a 1/16 mm)
Grãos muito finos
Quartzo e argilas Folhelho ou argilito
(1/256 mm)
QUÍMICA-ORGÂNICAS
Grãos médios a
Calcário
grossos
Fósseis em matriz
Calcita (CaCO3) Calcário fossilífero
de calcário
Grãos médios a
Dolomita (CaMg(CO3)2) Dolomita
grossos
Quadro 3.6. Classificação das rochas metamórficas de acordo com a sua estrutura, textura e
composição.
Grãos muito
Ardósia
finos
Qz
Cl
Sem camadas
Fd
Foliadas Pi
Mi
Grãos
Xisto
grossos
An
Grãos
Com camadas Gnaisse
grossos
O Estado do Rio Grande do Sul apresenta quatro grandes províncias geológicas, relacionadas
abaixo, cuja área de ocorrência consta na Figura 3.7.
- Escudo Sul-rio-grandense, situada na metade sul do RGS, é constituída por granitos,
gnaisses, xistos, arenitos, quartzitos e andesitos.
- Depressão Periférica ou Central, situada numa faixa que separa o Escudo do Planalto; é
constituída por arenitos, siltitos, argilitos e folhelhos.
- Planalto, situada na metade norte e no sudoeste do RGS; é constituída por basaltos, riolitos-
dacito e localmente por arenitos.
- Planície costeira, abrangendo o litoral do RGS e a área entre o escudo e a lagoa dos patos;
é constituída por sedimentos arenosos e argilosos.
Porto Alegre
Planície Costeira
Planalto
Depressão Periférica
Escudo Sulriograndense
A origem dessas províncias será descrita resumidamente, com base na Figura 3.8. A província
mais antiga é o Escudo Sulriograndense, cujas rochas mais antigas (granitos, gnaisse) datam do Pré-
Cambriano, com mais de 600 milhões de anos de idade. Estas rochas, através de sucessivos ciclos
de alteração e erosão, originaram no sentido sul-norte um espesso pacote de sedimentos diversos
(arenitos, siltitos, folhelhos), depositados em longos períodos geológicos. Esses sedimentos
constituíram a província da Depressão Periférica ou Central. A pressão desse pacote sedimentar
sobre a crosta foi aliviada pelo extravasamento de magma através de fissuras, recobrindo grande
parte dos sedimentos. Estes derrames vulcânicos são do período Cretáceo, datando de 112 a 135
milhões de anos atrás (são, portanto, anteriores à separação entre América e África), e formam a
província do Planalto que está localmente recoberta por sedimentos arenosos mais recentes. A
província da Planície Costeira é do período Quaternário, sendo a mais jovem de todas; originou-se da
deposição de sedimentos erodidos principalmente dos arenitos subjacentes aos derrames vulcânicos
do Planalto e depositados no mar com as regressões marinhas os sedimentos afloraram à superfície,
constituindo o atual litoral do RGS.
Escudo Depressão
Sulriograndense Periférica Planalto
Figura 3.8. Seção Sul-Norte do RGS, ilustrando a disposição das formações geomórficas.
CAPÍTULO 4- GÊNESE DO SOLO
INTRODUÇÃO
A gênese do solo (pedogênese) estuda a origem e o desenvolvimento dos solos, suas
relações com o ambiente atual e a influência de características herdadas do passado no seu
comportamento. Esse conhecimento não tem apenas interesse científico, mas tem também aplicação
prática pois auxilia no entendimento da distribuição dos solos na paisagem e portanto, permite o seu
mapeamento. Além disso, o conhecimento dos processos que levaram o solo a sua presente
condição e que estão agindo atualmente, auxiliam na predição do comportamento do solo à
mudanças resultantes do seu manejo.
Na transformação de um material original em um solo, ocorrem modificações morfológicas,
químicas, físicas e mineralógicas. Estas modificações resultam da atuação do intemperismo e dos
processos de formação do solo, também denominados processos pedogenéticos. A ação dos
processos pedogenéticos é condicionada pelos fatores ambientais denominados de fatores
pedogenéticos, que compreendem o material de origem, o clima, o relevo, os organismos vivos, além
do tempo de atuação dos processos pedogenéticos.
A intensidade da intemperização varia de acordo com as condições de equilíbrio
prevalescentes nas diferentes regiões do globo terrestre. Este equilíbrio depende da constituição
mineralógica do material de origem e das condições ambientais (representada pelos demais fatores
pedogenéticos) que regulam a ação dos processos pedogenéticos.
INTEMPERISMO
As rochas situadas na superfície terrestre são vulneráveis a processos físicos, químicos e
biológicos que podem transformá-las em produtos muito diferentes do material original. Assim, por
exemplo, o arenito pode ser transformado num material arenoso, constituído de quartzo; o basalto,
em caulinita e óxidos de ferro; o calcáreo pode desaparecer em solução deixando um resíduo
insolúvel constituído de quartzo, argila e óxidos de ferro. Como a decomposição das rochas resulta
do seu contato direto com as condições atmosféricas ou o “tempo” no sentido climático, usa-se a
expressão intemperismo para designar esses processos.
O intemperismo pode ser físico, isto é, as rochas são fragmentadas ou desintegradas por
processos físicos; ou, pode ser químico, isto é, os constituintes da rocha sofrem reações químicas
que os decompõem.
O intemperismo físico consiste na fragmentação das rochas sem mudança significativa na
composição química.
O intemperimo químico consiste no conjunto de reações que alteram quimicamente
(transformação, dissolução/neoformação) a estrutura dos minerais que compõem a rocha, formando
novos minerais.
INTEMPERISMO FÍSICO
O intemperismo físico inicia com a exposição das rochas à superfície da crosta terrestre.
Rochas ígneas plutônicas, por exemplo, sofrem um alívio de pressão, quando expostas à superfície,
através do soerguimento ou por erosão, que provoca a sua expansão e conseqüente fendilhamento.
A fragmentação das rochas aumenta a área superficial disponível para os processos de alteração
subseqüentes. Assim, a penetração e o crescimento de raízes vegetais provocam o alargamento das
fendas (pressões de 10-15 kg/cm2), facilitando o acesso e a alteração da rocha pela água e pelos
compostos orgânicos.
Devido a baixa condutividade térmica das rochas, a variação diária da temperatura e o
aquecimento diferencial da superfície da rocha em relação ao interior produz tensões que levam ao
fraturamento. Na superfície de rochas expostas em regiões tropicais foram medidas durante o dia
temperaturas de até 84 oC, que diminuíram rapidamente para 20-30 oC após uma chuva, originando
assim diferenças de pressão de até 500 kg/cm2. As diferenças em cor e no coeficiente de expansão
dos minerais constituintes das rochas aceleram esse processo.
Nas regiões temperadas e frias, o congelamento da água aumenta seu volume em,
aproximadamente 10%, gerando pressões de até 2200 kg/cm2. Nas regiões áridas, a evaporação da
água provoca a concentração de sais na superfície das rochas. Com a cristalização dos sais, a partir
de soluções supersaturadas, a soma dos volumes da solução saturada e dos cristais é maior do que
a da solução supersaturada, produzindo pressões de várias centenas de kg/cm2.
Após a desagregação das rochas, os fragmentos são reduzidos em tamanho e arredondados
quando transportados pela água, vento ou gelo, devido ao desgaste dos minerais. Disto resulta um
aumento na área superficial do material, que favorece a ação dos processos químicos e biológicos.
INTEMPERISMO QUÍMICO
Os minerais primários constituintes das rochas, formados sob condições de alta temperatura e
pressão, tornam-se potencialmente instáveis quando expostos às condições de baixa temperatura e
pressão da superfície terrestre. Além disso, são vulneráveis ao ataque pela água, oxigênio e CO2, e
as reações tendem a ocorrer espontaneamente em busca do equilíbrio.
A intemperização química conduz à alteração e à desintegração dos minerais, resultando na
formação de novos minerais (neoformação) e na liberação de íons.
A ação da intemperização química aumenta diretamente com a área superficial dos minerais,
pelo fato de iniciar na superfície dos mesmos.
A água é o principal agente da intemperização química; sua ação é reforçada pela presença
de ácidos orgânicos e pela elevação da temperatura.
As principais reações no intemperismo químico são descritas a seguir:
Solução e Dissolução
A penetração de água nos poros e nas microaberturas dos minerais resulta na dissolução dos
componentes mais solúveis, como exemplifica a reação simplificada do ácido carbônico dissolvido na
água, com o mineral calcita (CaCO3):
Esta reação solubiliza o cálcio, isto é, o cálcio é envolto em moléculas de água, tornando-se
transportável em solução. A solubilidade é muito variável entre os íons e depende do pH da solução;
por exemplo, o Na+, K+, Ca2+, Mg2+ são mais solúveis do que o Al3+, Fe3+, Si4+, Ti4+. O Quadro 4.1
mostra a concentração relativa de alguns íons em solução nas águas de drenagem. Estes valores
representam uma média de amostragens efetuadas em diferentes locais, fornecendo, por isso, uma
visão geral da mobilidade relativa de alguns íons nos solos.
Quadro 4.1. Concentração relativa de alguns íons em solução, nas águas de drenagem coletadas em
diferentes locais e a mobilidade relativa dos mesmos.
Hidrólise
A ação mais importante da água sobre a estrutura de um mineral é através dos seus íons H+ e
OH-, numa reação denominada hidrólise. Esta é a principal reação na formação e transformação de
argilominerais, particularmente sob condições tropicais e subtropicais úmidas; ela envolve a remoção
de cátions básicos (Ca2+, Mg2+, Na+, K+) e de Si4+ (dessilicação).
O mecanismo desta alteração consiste na reação do H+ da solução com o mineral, alterando
sua composição e estrutura. Na reação são rompidas as ligações entre os metais (M= Al3+, Fe2+,
Ca2+, Mn2+, Mg2+, K+, etc...) e Si4+ do silicato, conforme a seguinte reação:
Si-O-M + H+ → Si-OH + M+
Nesta reação são liberados Si4+ na forma de ácido silícico (H4SiO4) e íons metálicos livres
(M+). A intensidade de alteração aumenta com o decréscimo do pH da solução, ou seja, com o
aumento da concentração de H+. Assim, sob o ponto de vista do intemperismo, as reações ácidas são
mais eficientes do que as reações neutras.
A hidrólise dos silicatos pode ser exemplificada com um feldspato potássico como o mineral
ortoclásio (KAlSi3O8), mas é válida para outros como plagioclásios, piroxênios, anfibólios, etc... Numa
primeira etapa, os íons K+ superficiais são substituídos por íons H+. Na etapa seguinte, a presença do
próton H+ provoca o rompimento da ligação Si-O-Al, formando um grupo SiOH e um grupo AlOH.
O íon K+ liberado poderá ser utilizado na formação de outro mineral (ex. ilita), ser absorvido
pelas plantas, ficar adsorvido nas cargas negativas do solo ou ser lixiviado. A continuidade do
processo de alteração pela hidrólise leva à decomposição completa do mineral. A intensidade da
alteração depende da água disponível e da remoção dos produtos solubilizados (íons e silício), para
que o equilíbrio químico não seja alcançado. Assim, a alteração do feldspato pode fornecer como
produto final: (1) ilita, (2) caulinita ou (3) gibbsita, dependendo da intensidade de dessilicação e da
permanência ou não do K+ no sistema:
Oxidação
Reações de oxidação (doação de elétrons) são importantes na intemperização de minerais
com elevado teor em Fe2+ ou Mn2+, como os minerais ferromagnesianos (ex. piroxênios CaFeSi2O6).
A água, a pH 7 e em equilíbrio com o ar atmosférico, tem um potencial redox de 0,81V, que é
suficiente para oxidar Fe2+ a Fe3+ e Mn3+ a Mn4+. Assim, a oxidação pode ocorrer em solução aquosa.
Quando a oxidação ocorre na estrutura do mineral, o aumento na carga positiva é
compensado com a liberação do cátion oxidado ou de outros cátions (H+, K+, Mg2+) da estrutura. Os
cátions oxidados liberados da estrutura precipitam na forma de hidróxidos ou óxidos de ferro (goethita
e hematita) e manganês, dando respectivamente colorações bruno ou avermelhadas (Fe3+) ou pretas
(Mn3+, Mn4+) ao material. Com este processo, a estrutura residual do mineral fica instável, facilitando
sua posterior decomposição pela reação de hidrólise. As cores vermelhas e amarelas no solo indicam
ambiente de oxidação, isto é, uma boa drenagem.
A ação conjunta de hidrólise e oxidação é verificada também quando da drenagem de solos
ácidos-sulfatados (solos tiomórficos), que ocorrem, por exemplo, na Bacia da Lagoa Mirim-RS e nas
áreas de mangue do litoral brasileiro. Estes solos contêm compostos de ferro e enxofre (pirita), que
oxidam quando expostos pela drenagem, conforme as seguintes reações:
4 FeS2 + 15 O2 + 2 H2O → 2 Fe2(SO4)3 + 2 H2SO4
Redução
Em solo naturalmente saturado por água (solo hidromórfico), a difusão do oxigênio do ar para
o solo diminui drasticamente; isto porque a difusão de oxigênio na água é cerca de 10.000 vezes
menor do que no ar. Assim, após o consumo das reservas de oxigênio do solo pelos
microorganismos aeróbios atuando na decomposição da matéria orgânica, passam a dominar
microorganismos anaeróbios facultativos ou obrigatórios. Estes também utilizam a matéria orgânica
disponível como doadora de elétrons e, como receptor de elétrons, em vez do oxigênio livre, utilizam
combinações inorgânicas como óxidos de ferro, manganês e/ou combinações orgânicas oxidadas.
Desta forma, pela atividade dos microorganismos ocorrem as reduções de NO3- para N2; de N2 para
NH4+, de Mn3+ e Mn4+ para Mn2+; de Fe3+ para Fe2+; de SO42- para H2S; de CO2 para CH4.
Solos mal drenados tendem a apresentar cores acinzentadas, devido a redução dos
compostos de ferro (Fe3+ + e- → Fe2+) e sua posterior remoção do solo. Na forma de Fe2+, o ferro é
solúvel e facilmente removido ou transferido de um local para outro do solo. A presença de
mosqueados amarelos e/ou vermelhos em solos hidromórficos pode indicar oscilação do lençol
freático, pela qual o Fe2+ em solução oxida nos poros onde há oxigênio, formando concentrações de
óxidos de ferro (Fe3+), na forma de nódulos ou concreções. Nas lavouras de arroz irrigado ou em
canais de drenagem observa-se manchas ferruginosas, formadas pela oxidação de Fe2+ a Fe3+,
produzindo concentrações locais de ferrihidrita e lepidocrocita. Essas acumulações de ferro podem
ter efeito tóxico no arroz.
Complexação
Na decomposição do material orgânico originam-se substâncias orgânicas, como, por
exemplo, ácido cítrico e ácido fúlvico, que podem ligar-se com íons metálicos como Al3+, Fe2+, 3+
,
Mn2+, Cu2+, Zn2+, originando complexos organo-metálicos estáveis, solúveis ou insolúveis. Complexos
são definidos como a combinação de um cátion metálico central com um ou mais ânions ou
moléculas denominadas ligantes. O complexo que apresenta o cátion metálico central combinado
com dois ou mais ligantes denomina-se quelato.
Os complexos ou quelatos solúveis podem ser translocados no solo. A continuidade deste
processo pode originar, na parte superior do solo, um horizonte eluvial E (álbico), e sua acumulação,
na parte inferior, um horizonte iluvial Bh, Bs ou Bhs (espódico).
(d) (e)
(f) (g)
Figura 4.1. Arranjo estrutural (a) nesossilicato; (b) sorossilicato; (c) ciclossilicato; (d) inossilicato
simples; (e) inossilicato duplo; (f) filossilicato; (g) tectossilicato.
µm)
Tamanho (µ Solubilidade (%)
1000 0,0006
100 0,0007
10 0,0028
5 0,012
2 calcita calcáreo
6 quartzo neossolos
9 esmectita vertissolos
INTRODUÇÃO
Como se formam os solos?
Na Ciência do Solo, a área de Gênese do Solo trata da origem e do desenvolvimento dos
solos, suas relações com o ambiente atual e a influência de características herdadas do passado no
seu comportamento. Esse conhecimento tem interesse científico e aplicação prática, pois auxilia no
entendimento dos diferentes tipos de solos, da distribuição dos solos na paisagem, permitindo o seu
mapeamento. Além disso, o conhecimento dos processos que levaram o solo à sua presente
condição e que estão agindo atualmente, auxiliam na predição do comportamento do solo à
mudanças resultantes do seu manejo. Quando são tratados aspectos relacionadas com formação
natural do solo usa-se o termo pedogênese (do Grego, pedon = solo, genesis = gênese, origem,
produção) para expressar formação do solo ou gênese do solo, bem como o termo pedogenético para
expressar o efeito, ou o produto de um processo de formação do solo. A pedogênese abrange todas
as ações que resultam na formação natural de um solo. Por exemplo, no perfil do solo os horizontes
A e B são horizontes pedogenéticos, pois são um produto da pedogênese. Os minerais constituintes
do solo podem ou não ser pedogenéticos: o quartzo e os feldspatos são minerais primários herdados
do material de origem, portanto, não são pedogenéticos; os minerais secundários caulinita, gibbsita,
hematita, goethita, quando formados no solo são considerados minerais pedogenéticos. A ação
humana no solo ou na formação de um solo constitui um efeito antropogênico (do Grego anthropos =
humano), ou seja originado pela ação humana.
S = f(mo, cl, r, o, t)
que expressa “o solo (S) como função das interações entre os fatores ambientais material de origem
(mo), clima (cl), relevo (r), organismos vivos (o), atuando ao longo do tempo (t)”. Ao conjunto de
fatores ambientais naturais (mo, cl, r, o) deve ser acrescentada a ação humana como fator
antropogênico (a) atuante na alteração, degradação e construção do solo. No seguimento serão
abordados aspectos referentes à influência de cada um dos fatores de formação do solo.
Material de origem
O termo material de origem identifica o material do qual um determinado solo se desenvolveu.
Pode ser a rocha subjacente ao perfil de solo, ou material coluvial ou aluvial, ou sedimentos diversos.
Os solos desenvolvidos in situ da rocha ou do material consolidado subjacente são considerados
autóctones e os solos sem relação com a rocha subjacente são alóctones, isto é, formados em
material transportado proveniente de outra rocha. Em regiões tropicais e subtropicais, o solo pode
estar separado da rocha inalterada subjacente por algumas dezenas de metros de regolito. Neste
caso, o regolito é o material de origem do solo. As características do material de origem que influem
na formação do solo são: o grau de consolidação, a granulação ou textura, a composição química e
mineralógica e a estrutura da rocha.
O grau de consolidação da rocha condiciona a velocidade da intemperização. Rochas pouco
consolidadas (por ex., arenito) favorecem o desenvolvimento de solos mais profundos em
comparação às rochas consolidadas (por ex., granito). A granulação da rocha, associada à
mineralogia, determina a textura do solo. Materiais com elevado teor em quartzo (por ex., arenito e
granito) originam solos de textura mais arenosa em comparação às rochas básicas ricas em minerais
ferromagnesianos (por ex., basalto, gabro). Solos originados de folhelhos (alta proporção de silte e
argila) tendem a apresentar textura siltosa e argilosa. Alguns efeitos da composição química e
mineralógica da rocha nas características do solo são exemplificados no Quadro 5.1.
Quadro 5.1. Exemplo de relações entre a composição das rochas e de solos derivados, no RS.
Com relação à composição mineralógica dos solos (Quadro 5.1), excetuando os minerais
neoformados (caulinita, goethita e hematita) comuns nos três solos, os demais minerais são herdados
da rocha. No solo desenvolvido de arenito, o predomínio de quartzo confere a textura arenosa e a
baixa reserva em nutrientes. No solo desenvolvido de granito, além do quartzo que contribui para a
presença da fração cascalho e areia, as micas conferem uma alta reserva de potássio. No solo
desenvolvido de basalto, a textura é mais argilosa e o teor em óxidos de ferro é mais elevado.
Geralmente, quanto menos intemperizado for o solo, maior é a sua relação com a composição
química e mineralógica da rocha que lhe deu origem. A medida em que o solo se desenvolve, o
intemperismo e as perdas de constituintes por lixiviação diminuem esta relação. Entretanto, mesmo
em solos em estádio de intemperismo muito avançado pode persistir alguma relação. O Quadro 5.2
exemplifica a relação entre o material de origem e as várias formas de potássio em Latossolos do
Brasil Central, em função da presença de muscovita (mineral primário resistente ao intemperismo).
Devido ao intemperismo avançado destes solos, não há relação com o potássio facilmente disponível
às plantas.
Quadro 5.2. Relação entre o teor de potássio total (Kt), potássio disponível a médio prazo (Km) e
facilmente disponível (Kd) com o material de origem de Latossolos de Goiás.
Material de Kt Km Kd
Solo
origem mg/kg
Latossolo Vermelho-amarelo
Gnaisse 5230 487 64
(CPAC)
Latossolo Vermelho
Gnaisse 6717 306 44
(Uruana)
Latossolo Vermelho (Rialma) Gabro 610 125 43
Latossolo Vermelho
Gabro 714 240 32
(Anápolis)
Clima
O fator clima é constituído por vários componentes, como a precipitação pluviométrica, a
temperatura, o vento, a insolação, a umidade relativa do ar, a evaporação, que atuam na formação do
solo. As precipitações pluviométricas determinam a disponibilidade de água para as reações químicas
e a remoção dos constituintes solúveis. A temperatura afeta a velocidade das reações químicas e,
juntamente com o vento, acelera a evapotranspiração.
As chuvas que atingem o solo podem ser: (1) retidas pelas forças matriciais do solo, (2)
percolar através do solo, translocando ou removendo partículas (eluviação, iluviação) ou elementos
(lixiviação), ou (3) escorrer superficialmente, causando erosão. Para avaliar a influência da
quantidade de chuvas na pedogênese de um solo, considera-se a diferença entre a precipitação
pluviométrica e a evapotranspiração (P – EVT) como sendo a água excedente disponível para a
intemperização e lixiviação.
A influência do clima pode ser exemplificada comparando-se os solos originados de rochas
vulcânicas similares (riolito e basalto), das regiões dos Campos de Cima da Serra e da Campanha no
RS (Quadro 5.3). A diferença na água disponível para a intemperização entre estas regiões reflete-se
na composição química e mineralógica dos respectivos solos. Nos Campos de Cima da Serra
predominam os Cambissolos Húmicos extremamente ácidos, com elevados teores de Al trocável e
baixos teores de cátions básicos (soma de bases); a mineralogia é constituída principalmente por
minerais dos últimos estádios de intemperização (caulinita, gibbsita), sem vestígios de minerais
primários (exceto quartzo). Por sua vez, na Campanha ocorrem Vertissolos Ebânicos com pH
próximo à neutralidade e alto teor de bases; na sua mineralogia predomina esmectita, além de
minerais primários pouco resistentes (plagioclásios) e nódulos de CaCO3. A menor quantidade de
água disponível para intemperismo na região da Campanha reflete-se no menor grau de alteração
dos minerais e menor lixiviação dos cátions básicos, permitindo inclusive a preservação dos
plagioclásios e a formação de carbonato de cálcio.
O clima, além de influir diretamente na alteração das rochas e minerais, bem como na erosão
dos materiais alterados, também atua no desenvolvimento dos organismos vivos, que por sua vez,
afetam o solo. Assim, o tipo de formação vegetal sobre um solo está relacionado ao clima
(quantidade e distribuição de chuvas, temperatura, insolação, etc.), bem como ao solo. Por isso, a
descrição da vegetação é um complemento importante na descrição das condições climáticas locais.
Quadro 5.3. Comparação da influência do clima da região dos Campos de Cima da Serrra (Bom
Jesus) e da Campanha (Uruguaiana) nas características de solos originados de rochas vulcânicas.
Figura 5.1. Relação entre temperatura do ar e o teor de C orgânico em solos do Planalto do RS.
(a) (b)
Figura 5.2. Relação entre temperatura do ar (a) e o excesso de água (b) e a proporção de goethita
(Gt) e hematita (Hm) em solos do Planalto do RS.
Assim, nas regiões mais frias e úmidas como os Campos de Cima da Serra (Bom Jesus,
Cambará, São Fco. de Paula), os solos tem coloração bruno-amarelada, enquanto que nas regiões
mais quentes e menos úmidas como no Planalto Médio (Passo Fundo) e Missões (Santo Angelo, São
Borja), predominam os solos de coloração mais avermelhada. Uma seqüência de solos vermelhos
(Nitossolos Vermelhos, anteriormente Terra Roxa Estruturada) e solos bruno-amarelados
(Cambissolos Húmicos), também relacionada ao aumento da pluviosidade e o decréscimo da
temperatura, pode ser observada no trajeto de Três Corôas à São Francisco de Paula. Também
nesta situação, o teor de C orgânico é maior no ambiente mais frio e úmido de São Francisco de
Paula.
De maneira global, com o aumento da precipitação pluviométrica, observa-se nos solos um
aumento no teor de matéria orgânica, da lixiviação das bases, da atividade biológica, do conteúdo de
argila, da acidificação e da alteração dos minerais.
Muitas feições dos solos podem não ser compatíveis com as condições climáticas atuais. Isto
significa que foram produzidas sob condições climáticas diferentes vigentes no passado
(paleoclimas). Por exemplo, durante os períodos glaciais ocorrentes no hemisfério norte, as áreas
não afetadas por glaciação no hemisfério sul apresentavam regimes climáticos com baixa
pluviosidade e rarefação da vegetação; nos episódios chuvosos concentrados ocasionais dominava o
processo erosivo dos solos, transportando materiais. Nos períodos interglaciais (entre glaciações,
pois foram várias nos últimos cem mil anos) a melhor distribuição das chuvas favorecia o
desenvolvimento da vegetação, bem como o intemperismo químico e a pedogênese. Existem muitas
evidência dessas variações climáticas. Por exemplo, durante as glaciações, a floresta amazônica
ocupava apenas pequenos refúgios, expandindo após o término da última glaciação há 10 mil anos
atrás, passando a ocupar a atual extensão. As áreas de vegetação campestre na região dos Campos
de Cima da Serra no RGS também são testemunhos do clima mais seco vigente durante a última
glaciação, sendo que o clima atual mais úmido está favorecendo a expansão natural da floresta de
pinheiros; esta expansão, entretanto, é limitada pela ação humana.
Organismos vivos
O fator organismos vivos compreende a flora e a fauna desenvolvida no solo. O seu efeito no
solo pode ser visualizado em várias etapas. Num estádio inicial, líquens e musgos povoam as rochas,
extraindo elementos pelo contato direto, produzindo uma alteração incipiente das rochas que serve
de substrato para os colonizadores seguintes. O processo de colonização chega ao auge quando
houver substrato (= solo) capaz de sustentar espécies vegetais superiores. Parte dos nutrientes
retirados pelas plantas retorna ao solo através dos resíduos orgânicos. Este processo de biociclagem
pode ser identificado pela maior concentração de certos elementos nos horizontes superficiais do
perfil de solo. Nesta interação solo-planta, os resíduos orgânicos são metabolizados pelo fauna do
solo, liberando ácidos orgânicos e compostos diversos que atuam na dissolução de minerais, na
complexação de elementos, na formação de agregados estruturais, etc., contribuindo para o
desenvolvimento do solo.
Assim como a vegetação atua como fator de formação do solo, o solo (juntamente com o
clima) é um condicionador do tipo de formação vegetal que nele se estabelece. Por isso, desde há
muito tempo, a vegetação nativa tem sido usada pelos agricultores para avaliar o potencial dos solos
para agricultura. Por exemplo, no RS até quase o final da decada de 1960, a preferência para o
cultivo eram as ”terras de mato”, ficando as “terras de campo” como última opção. Apenas com a
difusão do uso de corretivos da acidez e fertilizantes as áreas de campo foram incorporadas ao uso
agrícola.
Microorganismos, como bactérias, fungos, actinomicetos, bem como minhocas e térmitas,
contribuem para a formação de agregados estruturais estáveis no solo, unindo partículas individuais
através de secreções e micélios. A bioturbação do solo é outro efeito dos organismos, principalmente
de minhocas, térmitas, roedores, transferindo materiais do subsolo para a superfície e misturando
horizontes. Nas regiões tropicais, a uniformidade dos perfis de solos (por exemplo, nos Latossolos) é
atribuída às atividades da fauna do solo.
Relevo
Os solos ocupam segmentos de uma paisagem, a qual tem diferentes formas de relevo (plano,
ondulado, montanhoso, etc.). As formas de relevo condicionam os fluxos de água através da
paisagem, favorecendo a infiltração da água nas posições menos íngremes e o escorrimento
superficial erosivo nas posições mais íngremes. Lembrando que a água é necessária para as reações
químicas (hidratação, hidrólise, oxi-redução, etc.), atua no transporte de partículas e na lixiviação de
íons, e é essencial aos organismos que vivem no solo, entende-se o efeito do relevo como fator de
formação do solo. Existe, portanto, uma relação solo-relevo ou solo-paisagem, cuja compreensão é
facilitada quando se subdivide a paisagem em vários segmentos. Assim, numa paisagem bem
desenvolvida podem ser visualizados, da porção mais elevada à mais baixa, os segmentos
representados na Figura 5.3. O interflúvio é a porção convexa ou relativamente plana, situada na
parte mais elevada da paisagem; o ombro é a porção convexa, normalmente estreita, situada entre o
topo e a encosta; a encosta é uma superfície erosional situada entre o ombro e o sopé, podendo ser
subdividida em superior, média e inferior; o sopé é uma superfície deposicional-erosional situada
entre a encosta e o plano colúvio-aluvial, apresentando uma certa concavidade e uma declividade
decrescente; o plano colúvio-aluvial é uma superfície deposicional relativamente plana, situada entre
o sopé e o canal de drenagem dos cursos de água, e está ausente nos vales em V.
Figura 5.3. Segmentos de uma paisagem.
Os solos que ocupam os diferentes segmentos numa paisagem estão interligados através dos
fluxos da água, os quais atuam no deslocamento de materiais, suspensões e soluções ao longo das
paisagens, ecossistemas e solos. Desta maneira, os processos que ocorrem naqueles solos situados
nas partes mais altas da paisagem também irão afetar os solos das cotas mais baixas. Este
encadeamento de solos numa paisagem é definido pelo termo catena (do Latim, catena = cadeia de
elos) ou toposeqüência, na qual os solos (“que ocupam os diferentes elos da cadeia”) diferem em
função da erosão, do transporte e da deposição superficial de material, bem como pelos processos
subsuperficiais que atuam ao longo do declive (lixiviação, translocação, deposição de materiais). Por
isso, a observação (ou prospecção) dos solos ao longo de uma catena é uma maneira prática de se
captar a diversidade dos solos de uma área que apresente variação de relevo. Através da observação
de várias catenas pode ser efetuado o mapeamento dos solos de uma área.
Existe alguma relação entre os tipos de solos e os diferentes segmentos de uma paisagem ou
de uma catena? Algumas generalizações podem ser feitas, mas deve ser estabelecido um modelo
para cada situação em particular. Quando o interflúvio é amplo e a infiltração da água foi favorecida
durante o intemperismo, os solos podem ser profundos e uniformes; por outro lado, em interflúvios
estreitos (espigões) tendem a ocorrer solos rasos e afloramentos de rochas. Na posição de ombro
predominam os processos erosionais, pelo qual os solos tendem a ser rasos (perfis A-R, com
presença de afloramentos de rocha). Na encosta predomina o transporte lateral de material e da
água, tanto em superfície como em subsuperfície, por isso, a profundidade do solo varia com a
declividade da encosta. Nas encostas íngremes predominam solos rasos (perfis A-C-R) e
afloramentos de rocha, enquanto que nas posições menos íngremes os solos tendem a ser mais
profundos (perfis A-Bi-C e A-B-C). O sopé, por ser uma zona de deposição coluvial, pode apresentar
solos mais profundos (perfis A-B-C), heterogêneos em função do material depositado e da drenagem
variável, presença de linhas de pedras e solos enterrados. O plano colúvio-aluvial é uma zona
deposicional tanto de materiais provenientes das cotas mais altas como de sedimentos trazidos pelas
inundações. Em função disso, os solos tendem a ser heterogêneos quanto à textura e a drenagem
(perfis A-B-C, A-Bg-C, A-Cg, etc.).
O efeito do relevo, condicionando a drenagem e a distribuição dos óxidos de ferro, pode ser
observado em toposeqüências com solos vermelhos (hematita + goethita) nos interflúvios bem
drenados, solos amarelos (goethita) nas encostas moderadamente drenadas e solos cinzentos (com
ou sem mosqueados) nos sopés mal drenados. O Quadro 5.4 exemplifica algumas toposeqüências
observadas no RGS.
Luvissolo ou
Missões Nitossolo Vermelho Gleissolo
Plintossolo
Argissolo ou Plintossolo e/ou
Depressão Central Gleissolo
Chernossolo Planossolo
Neossolo Litólico Planossolo
Escudo Argissolo
Cambissolo Gleissolo
Vertissolo ou
Campanha oeste Neossolo Litólico Chernossolo
Planossolo
Tempo
Pouco se sabe a respeito da velocidade de formação dos solos, a não ser que é muito lenta.
Nas zonas temperadas do hemisfério norte submetidas à glaciação, a pedogênese recomeçou nos
sedimentos deixados pelas geleiras entre 10.000 e 20.000 anos atrás. É portanto possível estimar
taxas de formação para os respectivos solos a partir destas datações. Ao contrário destas regiões, a
ausência de glaciações nos trópicos e subtrópicos permitiu a continuidade do intemperismo e da
pedogênese. Isto explica o intemperismo avançado, a baixa reserva em nutrientes e a elevada acidez
da maioria dos solos tropicais e subtropicais. Estimativas indiretas (baseadas em geomorfologia e
geoquímica) sugerem idades de dezenas de milhares a centenas de milhares de anos para os
Latossolos e Argissolos do Brasil Central. Com base na datação de fósseis soterrados na região da
Campanha do RS são indicadas idades inferiores a 20.000 anos para os Chernossolos
(anteriormente Brunizem) e Vertissolos locais (Bombin & Klamt, 1977). Organossolos (solos
orgânicos, turfeiras) da planície costeira do RS tem idade estimada em 4.000 anos (Villwock et al.,
1980).
Uma estimativa global sugere taxas de formação de solo variando de 370 a 1290 kg/ha/ano
(Geoderma, 52:251, 1992), o que equivaleria, respectivamente, em cerca de 27 a 8 anos para a
formação de uma camada de 1 mm de solo/ha. Tomando-se a taxa menor como referência, a
formação de um hectare de um solo não especificado com 100 cm de espessura levaria 27 mil anos.
Este tipo de estimativa não pode ser generalizado, pois a formação do solo depende das interações
dos fatores de formação de cada local. Assim, a formação de um Latossolo com um metro de
espessura a partir do intemperismo de granito na África, foi estimada em 22 mil a 77 mil anos (Leneuf
& Aubert, 1960); na Austrália, a formação dos horizontes A e B de um Argissolo foi estimada em 29
mil anos (Butler, 1958). Considerando-se o longo tempo necessário para formar um solo e que o
processo erosivo de uma única chuva pode acarretar uma perda equivalente à vários centímetros de
espessura em um perfil, fica evidente a necessidade de manejar este recurso natural com extremo
cuidado.
S = f(a)mo, cl, r, o, t
INTRODUÇÃO
As diversas combinações dos fatores de formação do solo (material de origem, clima, relevo,
organismos vivos) agindo ao longo do tempo criam condições para o desenvolvimento de diversos
processos pedogenéticos (= processos de formação do solo). Os processos pedogenéticos consistem
numa combinação de reações químicas, biológicas e físicas cuja ação e intensidade é condicionada
pelos fatores ambientais. Desta maneira são produzidos diferentes tipos de solos. Portanto, os fatores
criam as condições para a ação dos processos, os quais são os mecanismos de formação do solo:
Ferralitização
Nas regiões tropicais e subtropicais úmidas, a abundância de chuvas e altas temperaturas
favorecem um intemperismo químico intenso e rápido, onde predominam as reações de hidrólise e
oxidação. Com a disponibilidade de água e boa drenagem há intensa lixiviação dos cátions básicos
(Ca, Mg, K, Na) e do silício (dessilicação) liberados na alteração dos minerais. O ambiente oxidante
favorece a formação de óxidos de ferro (goethita e hematita) e de alumínio (gibbsita), que tendem a
acumular. O silício remanescente no sistema pode combinar-se com alumínio formando caulinita.
Devido a acumulação de Fe e Al no resíduo final (= solo), esse processo é chamado de ferralitização.
Os principais solos formados nestas condições são os Latossolos e os Nitossolos (antigamente Terra
Roxa Estruturada).
Os solos resultantes do processo de ferralitização são, geralmente, muito lixiviados e ácidos,
tem baixa CTC e são pobres em nutrientes. Devido a sua constituição mineralógica apresentam boa
porosidade e permeabilidade, proporcionada pela floculação das partículas de caulinita e óxidos,
formando agregados estáveis. Pelo fato das partículas estarem floculadas, não há dispersão de argila
e, conseqüentemente, a iluviação-eluviação é pouco significativa. Os horizontes que apresentam
estas feições são identificados como Bw.
No RGS, os Latossolos e Nitossolos ocorrem principalmente nas regiões dos Campos de
Cima da Serra (Vacaria e Lagoa Vermelha), do Planalto Médio (Passo Fundo, Erexim, Santo Angelo),
e das Missões (São Borja). Nitossolos ainda ocorrem na Encosta Inferior do Nordeste e parte da
Depressão Central.
A laterização consiste na acumulação de óxidos de ferro que promovem a cimentação da
massa do solo, dando origem à laterita ou ferricrete ou petroplintita. Os solos que apresentam esta
cimentação por ferro são identificados como Plintossolos Pétricos.
Lessivagem
O processo de lessivagem (também chamado de eluviação-iluviação) consiste na
translocação de minerais, principalmente da fração argila fina (<0,2 µm), da parte superior do solo
para uma maior profundidade. Em decorrência, os horizontes superfíciais são empobrecidos em
argila (isto é, tornam-se mais arenosos) e os horizontes subsuperficiais são enriquecidos em argila
(isto é, tornam-se mais argilosos). O horizonte que perde argila é chamado de eluvial, enquanto que o
horizonte que acumula argila é chamado de iluvial. Na descrição morfológica do perfil de solo, um
horizonte de máxima perda de argila é simbolizado pela letra E (não está necessáriamente presente
no perfil) e o horizonte de máximo ganho de argila é o Bt. Os solos submetidos à lessivagem
apresentam, portanto, um gradiente textural. Os principais solos que apresentam estas feições são os
Argissolos (anteriormente Podzólicos) e os Planossolos, podendo ocorrer também nos Alissolos
(anteriormente Podzólicos), Luvissolos (anteriormente Podzólicos), Plintossolos e outros. Devido ao
acúmulo de argila, o horizonte subsuperficial tende a apresentar uma densidade do solo mais elevada
(= menor proporção de macroporos), com uma menor condutividade hidráulica saturada, ou seja,
menor permeabilidade. Conseqüentemente, a água infiltrada no solo pode acumular-se acima do
horizonte Bt, originando, temporariamente, um lençol freático suspenso.
Gleização
A gleização se desenvolve em ambiente com excesso de água e deficiência de oxigênio, onde
as condições anaeróbicas favorecem as reações de redução, que são promovidas por
microorganismos anaeróbicos utilizando como receptores de elétrons principalmente óxidos de Fe3+
(goethita, hematita, ferrihidrita, lepidocrocita), mas também óxidos de Mn4+. No processo, os óxidos
de Fe3+ (ou Mn4+) são reduzidos e dissolvidos, liberando íons Fe2+ (ou Mn2+) que migram na solução
até alcançarem sítios oxidados onde precipitam novamente como óxidos de Fe3+ (ou Mn4+).
Conseqüentemente, no solo formam-se zonas desbotadas (de coloração cinzenta) devido a perda de
óxidos de Fe3+ e zonas de acumulação destes óxidos na forma de mosqueados (vermelhos,
amarelos), nódulos e concreções (plintita). As zonas de acumulação dos óxidos de Mn apresentam
cor preta na forma de revestimentos em agregados ou nódulos. Os horizontes que apresentam
feições de gleização são identificados como Ag, Bg ou Cg. Os principais solos resultantes do
processo de gleização são os Gleissolos, mas também pode ocorrer gleização com menor
intensidade nos Planossolos, Plintossolos e outros.
Carbonatação
A carbonatação consiste na formação e enriquecimento de minerais carbonato secundários
(CaCO3) no solo. Estes carbonatos podem estar finamente distribuídos na massa do solo ou na forma
de nódulos e crostas. A formação de CaCO3 secundário ocorre quando aumenta a concentração de
CaHCO3 (bicarbonato de cálcio) na solução do solo devido a retirada de água pela vegetação, ou
quando a pressão parcial de CO2 (pCO2) do ar do solo diminui pela sua difusão para os macroporos
ou a atmosfera. A profundidade de ocorrência do CaCO3 secundário no solo aumenta com o
crescimento da pluviosidade, até ser totalmente removido por lixiviação. Por isso, o processo de
carbonatação é mais comum em regiões semiáridas (onde a EVT>P), ou em solos com baixa
permeabilidade que contenham argilominerais esmectíticos. No RGS, efeitos do processo de
carbonatação são observados na forma de nódulos de CaCO3 em alguns Chernossolos (antigamente
Brunizens), Vertissolos, Planossolos e Gleissolos.
Salinização e Sodificação
A salinização consiste na acumulação de sais solúveis no perfil ou na superfície do solo,
podendo ser natural ou induzida pela irrigação mal conduzida (ação humana). A salinização tende a
ocorrer em regiões semiáridas e áridas, onde houve acumulação de sais (fundo de mar) em épocas
geológicas passadas, ou a acumulação é atual devido a migração de sais dissolvidos provenientes de
áreas situadas em cotas mais altas. Assim, nos perídos secos os sais ascendem com a água capilar,
acumulando-se na parte superior ou na superfície do solo na forma de crostas salinas
(eflorescências). A cada chuva os sais são solubilizados e transferidos para o subsolo, para ascender
novamente nos períodos secos. A salinidade é determinada através da condutividade elétrica (CE),
onde valores ≥ 4 dS/m, podem ser prejudiciais para o desenvolvimento das plantas sensíveis. Os
horizonte com salinidade são idEntificados como Az e Cz. Este processo origina os Gleissolos Sa
inos.
A salinização artificial pode ocorrer pelo uso dE água d irrigação com alto teor de sódio, ou
quando a área sob irrigaçÃo não tem um sistema de drenagem eficiente. Neste último caso, água
de irrigação (ao longo de alguns anos) entra em contato c m os sais acumulados (naturalmente) em
profundidade, que ascendEm com a água capilar quando a irrigação é interrompida. Para evItar a
salinização é necessário a drenagem da água de irrigação para fora do sistema, evitando seu contato
com os sais profundos. Muitas áreas irrigadas em regiões áridas e semiáridas foram e estão em
processo de degradação por salinização.
A sodificação consiste na concentração de sódio (saturação por sódio = 100Na/T ≥ 15%) no
solo, que promove a dispersão da argila e sua eluviação, originando um horizonte B textural sódico
(Btn). Deste processo originam-se os Planossolos Nátricos (anteriormente Solonetz-solodizado).
Podzolização
A podzolização consiste na transferência de compostos orgânicos, complexados ou não com
ferro e alumínio, da parte superior do solo até uma determinada profundidade. O resultado é um
horizonte eluvial (E) de perda de material e um horizonte espódico de acumulação (Bh, Bs ou Bhs).
Para o desenvolvimento deste processo é necessário a acumulação de material orgânico com
capacidade complexante na superfície do solo, cujo material de origem deve apresentar uma fração
grosseira quartzosa (areia grossa, cascalho), para facilitar a migração dos complexos nos
macroporos. Este processo origina os Espodossolos.
Paludização
A paludização consiste na acumulação de materiais orgânicos em áreas alagadiças,
originando turfeiras e Organossolos (solos orgânicos). Restos de plantas aquáticas acumulados em
alagadiços podem alcançar até vários metros de espessura, pois a oxidação do material orgânico é
inibida pela ausência de oxigênio (ambiente anaeróbico). Os solos apresentam horizontes hísticos
(H). Áreas extensas de Organossolos são encontradas na Planície Costeira do RS, nas proximidades
de lagoas.
Turbação
A turbação consiste na mistura dos materiais do solo pela atividade da fauna do solo
(bioturbação) ou pela alternância de regimes úmidos e secos (hidroturbação). Pequenos mamíferos,
formigas, térmitas e minhocas transportam materiais, promovendo a mistura de horizontes. Na
hidroturbação, as alternâncias de períodos úmidos e secos promovem a expansão e contração do
solo, contribuindo para a homogeneização dos horizontes.
CAPÍTULO 7- CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DE SOLOS
Dependendo da finalidade para o qual foi produzido, o levantamento de solos terá diferentes
características. Assim, por exemplo, o planejamento de uma propriedade rural exige um levantamento
mais detalhado de solos, enquanto que um planejamento regional pode ser efetuado com base em
mapas mais genéricos de solos. Portanto, para um uso mais eficiente das informações contidas nos
relatórios é necessário conhecer a finalidade para a qual o levantamento foi produzido (veja adiante:
tipos de levantamentos de solos).
Unidade de mapeamento
A representação gráfica da ocorrência e da distribuição geográfica das unidades taxonômicas
no mapa de solos constitui as unidades de mapeamento. As unidades de mapeamento mostram no
mapa a localização, a extensão, o arranjo e a disposição das unidades taxonômicas no terreno. Na
legenda do mapa, a unidade de mapeamento é identificada pelo nome da unidade taxonômica; no
caso do Levantamento de Reconhecimento de Solos do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil, 1973)
foram adotados nomes regionais para facilitar o seu uso, pois na época o conhecimento de
classificação de solos era pouco difundido.
As unidades de mapeamento podem ser formadas por uma ou mais unidades taxonômicas.
Quando formada por uma única unidade taxonômica dominante tem-se uma unidade de mapeamento
simples. Conforme o tipo de levantamento de solos (veja adiante), a unidade de mapeamento simples
deve apresentar uma determinada proporção mínima de uma única taxonômica (Quadro 8.1). O
restante da área da unidade de mapeamento é constituída por inclusões de outras unidades
taxonômicas ou variações (de profundidade, textura, etc.) da unidade taxonômica dominante.
Quadro 8.1. Proporção mínima da unidade taxonômica para constituir uma unidade de mapeamento
simples conforme o tipo de levantamento.
O complexo de solos é uma associação de duas ou mais unidades taxonômicas cujo arranjo
geográfico intrincado impossibilita sua separação mesmo em levantamentos mais detalhados. Os
complexos são comuns em áreas de várzeas (por exemplo, Complexo Gleissolos-Organossolos) ou
muito acidentadas (por exemplo, Complexo Neossolos Litólicos-Cambissolos-Afloramentos
rochosos).
Os grupos indiferenciados de solos são constuídos pela combinação de duas ou mais
unidades taxonômicas com semelhanças morfogenéticas e, portanto, pouco diferenciadas, permitindo
práticas de uso e manejo similares. Por exemplo, Grupo indiferenciado Argissolo Vermelho Distrófico
típico e Argissolo Vermelho Distrófico latossólico.
Nos mapas de solos ainda são assinaladas as unidades de mapeamento chamadas tipos de
terreno, que não são reconhecidas como solos. Por exemplo: áreas de empréstimo e de despejo de
entulhos, aterros, áreas urbanas, cascalheiras, escarpas rochosas e afloramentos de rochas.
TIPOS DE MAPAS
O mapa de solos é constituído de unidades de mapeamento que representam a localização, a
extensão, o arranjo e a disposição das unidades taxonômicas no terreno. Os mapas podem ser
baseados em observações de campo (mapas autênticos) ou em informações obtidas de outros
mapas (mapas compilados).
Os mapas autênticos são produzidos através dos diferentes tipos de levantamentos de solos
(veja acima) e são denominados de acordo com o respectivo levantamento: mapas exploratórios,
mapas de reconhecimento, mapas detalhados, etc. Por serem baseados em informações e estudos
diretos do solo no terreno, estes mapas são mais confiáveis do que os mapas compilados. Convém
lembrar que entre os mapas autênticos o grau de confiabilidade depende do tipo de levantamento que
lhes deu origem.
Os mapas compilados são obtidos a partir de mapas e informações pré-existentes (de solos,
geologia, relevo, clima, etc.) da região de interesse. Esses mapas são diferenciados em
esquemáticos e generalizados. Os mapas compilados esquemáticos são preparados no escritório
através da previsão das classes de solos e de seus limites, por correlação das informações existentes
e interpretação de mapas geológicos, topográficos, climáticos, de vegetação e outros. Este tipo de
mapa é confeccionado para regiões amplas, por exemplo, de um estado, país, continente ou do
mundo. Os mapas compilados generalizados são confeccionados a partir de informações de mapas
autênticos, através da eliminação de detalhes que não são relevantes para o objetivo do mapa. As
generalizações podem ser cartográficas ou taxonômicas. As generalizações cartográficas
compreendem a eliminação de detalhes do mapa original, tornando-o mais simples. As
generalizações taxonômicas consistem na fusão de unidades taxonômicas (por exemplo, Latossolo
Vermelho Distroférrico e Latossolo Vermelho Aluminoférrico) em classes de nível categórico mais
elevado (por exemplo, Latossolo Vermelho) ou na associação de duas ou mais unidades
taxonômicas. Em ambos os casos, a unidade de mapeamento resultante é menos homogênea.
Quadro 8.3. Escala do mapa e área do terreno representada pela área mínima mapeável (AMM) de
0,4 cm2.
(2) Erodibilidade: (a) características intrínsecas do solo: textura, teor de MO, estrutura e
permeabilidade do solo, presença de argilas expansivas; (b) características extrínsecas: grau de
declive, comprimento de declive, sistemas de cultivo, distribuição de chuvas.
(3) Descarte de resíduos líquidos: profundidade do solo, teor de argila, CTC, pH, permeabilidade ou
condutividade hidráulica, mineralogia, umidade, temperatura, relação C/N, textura, gradiente
textural e aeração.
Bibliografia
BRASIL. Ministério da Agricultura. Levantamento de reconhecimento de solos do Estado do Rio
Grande do Sul. Recife, MA/DPP, SA/DRNR, INCRA/RS, 1973. 431p. (Boletim Técnico, 30)
EMBRAPA. SNLCS. Procedimentos normativos de levantamentos pedológicos. Brasília, EMBRAPA-
IBGE. Levantamento de recursos naturais. Folha SH.22 Porto Alegre e parte das folhas SH.21
Uruguaiana e SI.22 Lagoa Mirim. Pedologia, levantamento exploratório de solos, p.405-540. Rio de
Janeiro, 1986.
Pötter, R.O. Caracterização de solos da região dos Campos de Cima da Serra. I. Levantamento de
solos da Estação Experimental de Vacaria. Porto Alegre, UFRGS, 1977. Dissertação de Mestrado.
CAPÍTULO 9- CLASSIFICAÇÃO TÉCNICA OU INTERPRETATIVA DO SOLO
Estas classificações podem ser feitas para diversos objetivos. Por exemplo, os solos podem
ser classificados em função da sua adaptabilidade para (1) o uso de mecanização agrícola, (2) para
determinadas culturas (arroz, soja, macieira, etc.) para fins de irrigação (inundação, aspersão, etc.), e
outras finalidades. Entretanto, as classificações técnicas para fins agrícolas mais freqüentemente
utilizadas são bem mais abrangentes e visam estabelecer a capacidade de uso da terra ou a aptidão
agrícola da terra ou ainda o potencial de uso da terra.
Antes de fazer considerações sobre este tipo de classificação é necessário estabelecer a
distinção entre os termos solo e terra. No presente contexto, o solo pode ser definido como “corpo da
superfície terrestre, constituído de materiais minerais e orgânicos, contendo matéria viva e em parte
modificado pela ação humana, capaz de sustentar plantas, de reter água, de armazenar e transformar
resíduos”. O conceito de terra é mais amplo, pois, “além do solo, inclui todos os elementos do
ambiente que abrangem a geologia, o relevo, o clima, os recursos hídricos, a flora, a fauna e os
efeitos da ação humana”. Parcelas de terra onde estas características são uniformes constituem
glebas.
As classificações de capacidade de uso, com base nas qualidades e limitações da terra, tem
como objetivo central: (1) indicar as possibilidades de uso agrícola e (2) recomendar as práticas de
manejo necessárias para manter ou elevar a produtividade, sem degradação. Estas classificações
são fundamentais para o planejamento de programas de desenvolvimento regional ou estadual, bem
como em nível de propriedade rural, no planejamento das atividades agrícolas e de conservação do
solo.
A classificação de capacidade de uso da terra baseia-se (a) na interpretação das
características do solo; (b) na interpretação das características do ambiente onde ocorre; e (c) no
nível tecnológico do agricultor. Aspectos econômicos podem ou não ser levados em conta. Através da
interpretação das características da terra, são identificados e avaliados os graus de limitação que
apresenta para o uso agrícola, sendo previstos os seguintes tipos de limitações:
(1) limitações que resultam de impedimentos ou dificuldades à execução das práticas de manejo do
solo. Por exemplo: declividade acentuada, pequena profundidade do solo, presença de sulcos de
erosão, presença de pedras, consistência inadequada, presença de argilas expansivas, etc.
(2) limitações relacionadas com riscos de degradação da terra. Por exemplo: declividade acentuada,
textura muito arenosa ou muito argilosa, estrutura fraca, baixa macroporosidade, baixa
permeabilidade à água, etc.
(3) limitações que comprometen a capacidade produtiva da terra. Por exemplo: deficiência de ar ou
de água, baixa CTC, toxidez elevada (Na, Al, etc.), alta resistência à penetração de raizes,
salinidade, etc.
Observa-se que uma mesma característica pode impor diferentes tipos de limitações. Por
exemplo, a declividade acentuada pode dificultar o tráfego de máquinas e ao mesmo tempo favorecer
a erosão, aumentado assim os riscos de degradação da terra.
Um critério importante na classificação da capacidade de uso das terras é que são
consideradas apenas as limitações permanentes da terra. As limitações permanentes são limitações
não-corrigíveis ou cuja correção é tão difícil que o agricultor não pode adotá-la. Por exemplo:
declividade, pedras não removíveis, presença de argilas expansivas, baixa CTC, caráter alumínico no
horizonte B. Limitações, como a presença de tocos, pedras removíveis, deficiência de nutrientes, que
são mais facilmente corrigíveis, não são consideradas na classificação. [Veja exceção no sistema de
avaliação da aptidão agrícola das terras, mais adiante].
O princípio básico na classificação da capacidade de uso das terras é “a medida em que
aumentam as limitações permanentes da terra, diminui a intensidade de uso agrícola”. Isto está
representado a Figura 9.1.
Aumento da intensidade de uso >>>>
flora e fauna
Região de
de
Silvicultura
Cap.
Moderada
Moderada
Limitada
Limitada
de Uso
Intensa
Intensa
intensa
Muito
da
Terra
<<<< Aumento das limitações
Figura 9.1. Relação entre intensidade de uso possível e graus de limitações da terra.
A intensidade de uso exprime uma maior ou menor mobilização imposta ao solo. Por exemplo,
culturas de ciclo curto, como milho, soja ou batatinha, podem exigir intensa mobilização do solo para
seu cultivo. Entretanto, isto pode ser impedido pela presença de limitações permanentes que
dificultem as práticas culturais, como pequena profundidade do solo, pedregosidade intensa, riscos
de inundação, etc; ou, por limitações que determinam riscos de degradação da terra, como
declividade acentuada, textura arenosa, baixa permeabilidade, etc., que aumentam a suscetibilidade
do solo à erosão. Os impedimentos e os riscos de erosão causados por estas limitações são menores
quando a terra é utilizada com culturas permanentes, como pastagens, fruticultura, florestamento,
etc., que exigem pouca ou nenhuma mobilização do solo e, por isso, o mantém protegido da erosão.
A ausência ou a presença, em menor ou maior grau, de limitações como estas, é que serve de
base para o enquadramento das terras em classes de aptidão ou de capacidade de uso agrícola. Os
parâmetros que definem cada classe são estabelecidos em tabelas, chamadas quadros-guia. Um
exemplo hipotético bastante simples de quadro-guia, onde apenas o parâmetro declive é considerado
para a definição de classes, esta representado no Quadro 9.1.
Quadro 9.1. Exemplo de quadro-guia simples hipotético, considerando apenas a declividade.
Classe
Declividade do terreno (%) Uso recomendado
Neste exemplo, para enquadrar uma terra em uma das três classes basta verificar o seu
declive. Na realidade os quadros-guia tendem a ser mais complexos, pois podem envolver um grande
número de características e propriedades da terra, tais como a textura do solo, a permeabilidade,
profundidade, pedregosidade, risco de inundação, drenagem, suscetibilidade à erosão, etc. Um
exemplo de quadro-guia com maior número de variáveis está representado no Quadro 9.4.
O quadro-guia deve ser elaborado ou adaptado para cada situação, pois, as variáveis a serem
selecionadas dependem da sua importância local. Por exemplo, a variação do declive é obviamente
um fator importante em áreas de relevo acidentado, mas é irrelevante em áreas planas. Da mesma
forma, a pedregosidade e a profundidade do solo não são consideradas quando não há
pedregosidade e os solos são todos profundos. A elaboração de um quadro-guia é um processo
subjetivo que requer habilidade e bom senso, exigindo uma expectativa sobre o comportamento de
cada gleba de terra quando submetida a diferentes usos e sistemas de manejo. Esta expectativa
baseia-se em dados de pesquisa, em observações feitas no local e na experiência dos agricultores e
técnicos que atuam na região.
Um quadro-guia é construído por aproximações, isto é, ele é aperfeiçoado na medida em que
aumenta o conhecimento a respeito das relações entre as características do solo, uso e manejo, e o
comportamento da terra que está sendo classificada. Com o quadro-guia final (definitivo), as terras do
local ou região podem ser classificadas de forma objetiva por diferentes técnicos, obtendo-se
resultados consistentes. A seguir serão tratados sistemas formais de classificação de uso das terras.
SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO DE USO DAS TERRAS
No Brasil são usados dois sistemas de classificação de uso das terras para fins agrícolas: (1)
o sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras (EMBRAPA) e (2) o sistema de avaliação da
capacidade de uso das terras (USDA). Seus objetivos e características são apresentados a seguir.
Metodologia do sistema
A classificação da aptidão agrícola é feita em três níveis de manejo distintos, visando
diagnosticar o comportamento das terras em diferentes níveis tecnológicos:
Nível de manejo A (primitivo): é baseado em práticas agrícolas que refletem um baixo nível técnico-
cultural. Praticamente não há aplicação de capital para manejo, melhoramento e conservação das
condições das terras e lavouras. As práticas agrícolas dependem fundamentalmente do trabalho
braçal e ocasionalmente de tração animal com implementos simples. Este nível é raro no sul do
Brasil.
Nível de manejo B (pouco desenvolvido): é baseado em práticas agrícolas que refletem um nível
tecnológico médio. Caracteriza-se pela modesta aplicação de capital e de resultados de pesquisa
para manejo, melhoramento e conservação das condições das terras e lavouras. As práticas
agrícolas incluem o uso de insumos, mecanização com tração animal e motorizada. Este nível é
comum na região colonial do RGS e SC.
Nivel de manejo C (desenvolvido): é baseado em práticas agrícolas que refletem um alto nível
tecnológico. Caracteriza-se pela aplicação intensiva de capital e de informações de pesquisa para
manejo, melhoramento e conservação das condições das terras e lavouras. As operações agrícolas
baseiam-se na motomecanização.
Os tipos de utilização considerados no sistema são: lavouras com culturas anuais, previstas
nos níveis de manejo A, B e C; pastagem plantada e silvicultura, no nível B; pastagem natural, no
nível A; e refúgio de flora e fauna.
As classes de aptidão são designadas como boa, regular, restrita e inapta, para cada tipo de
utilização. A representação das classes em mapas de aptidão obedece a simbologia apresentada no
Quadro 9.2. As classes expressam a aptidão agrícola das terras para um determinado tipo de
utilização, refletindo a intensidade das limitações que afetam as terras.
Quadro 9.2. Simbologia correspondente às classes de aptidão agrícola das terras, de acordo com o
tipo de utilização.
Tipo de utilização
Classes
de Pastagem
Lavoura Pastagem Silvicultura
aptidão natural
agrícola Nível de manejo
A B C B B A
Boa A B C P S N
Regular a b c p s n
Restrita (a) (b) (c) (p) (s) (n)
Inapta
As classes de aptidão são estabelecidas com base nos seguintes fatores de limitação:
deficiência de fertilidade (f); deficiência de água (h); deficiência de oxigênio ou excesso de água (o);
suscetibilidade à erosão (e); impedimentos à mecanização (m). Na avaliação de cada fator são
considerados os seguintes graus de limitação: nulo, ligeiro, moderado, forte e muito forte. Estes graus
são descritos por Ramalho Filho & Beek (1995) e estão resumidos no Quadro 9.3. Para os níveis de
manejo B e C, os graus de limitação são estabelecidos com base nas limitações que o solo continua
a apresentar após a aplicação de melhoramentos; para o nível de manejo A, que não adota
tecnologia e melhoramentos, os graus de limitação são baseados nas condições naturais do solo.
Aptidão agrícola Graus de limitação das condições agrícolas das terras – Região subtropical
Tipo de
Deficiência de Suscetibilidade à Impedimentos à utilizaçã
Sub- Deficiência de água Excesso de água
Grupo Classe fertilidade erosão mecanização o
grupo A indicado
A B C A B C A B C B C A B C
1 1ABC Boa N/L N/L1 N1 L L L L L1 N2 L/M N/L1 N1 M L N
Lavoura
2 2abc Regula L L1 L2 M M M M L/M1 L2 M L1 N2/L M/F M L
r 1 s
3 3(abc) Restrit M L/M1 L2 M/F M/F M/F M/F M1 M2 F* M1 L2 F M/F M
a
4P Boa M1 M F1 M/F1 M/F Pastage
Regula m
4 4p M/F1 M/F F1 F1 F
r plantad
4(p) Restrit F1 F MF MF F a
a
5S Boa M/F1 M L1 F1 M/F
5s Regula F1 M/F L1 F1 F Silvi-
r cultura
5(s) Restrit MF F M1 MF F
a e/ou
5
5N Boa M/F M M/F F MF Pastage
m
5n Regula F M/F F F MF natural
r
5(n) Restrit MF F MF F MF
a
Sem Preserv
aptidã a-ção
6 6 o - - - - - da flora
agrícol e da
a fauna
Grau de limitação: N – nulo F – forte L – ligeiro MF – muito forte M – moderado / – intermediário
Interpretação da simbologia nos mapas de aptidão agrícola das terras
Este sistema permite a representação da classificação da aptidão agrícola das terras, para
os diversos tipos de utilização nos diferentes níveis de manejo, em um único mapa. Para isto, a
aptidão agrícola é estabelecida em 4 níveis categóricos: grupos, subgrupos, classes e subclasses.
Inapto para qualquer tipo de exploração agrícola. Serve para refúgio de flora
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e fauna ou para fins de recreação
Subgrupo de aptidão agrícola: é o conjunto das classes de aptidão que indicam o uso mais
intensivo possível para cada nível de manejo. Utiliza a simbologia conforme o Quadro 9.2. Por
exemplo, uma terra pode ter características que a classificam como restrita para lavoura no nível
de manejo A, regular para lavoura no nível B e boa no nível C; a representação no mapa será
1(a)bC. O sistema pressupõe que uma terra que apresenta aptidão para lavoura em um dos três
níveis de manejo, também tem aptidão para outros usos menos intensivos, como pastagem
plantada, silvicultura e pastagem natural. Por isto, nestes casos, os usos menos intensivos não
são representados no mapa.
Classe de aptidão agrícola: expressa a aptidão agrícola das terras de um determinado tipo
de utilização, num nível de manejo definido. O fator de limitação que impõe o maior grau de
limitação é que determina a classe. A classe é expressa em termos de: boa, regular, restrita ou
inapta.
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Subclasse de aptidão agrícola: indica o fator ou fatores que apresentam o maior grau de
limitação, expresso por letras após o subgrupo: f – deficiência de fertilidade; h – deficiência de
água; o – dificiência de oxigênio ou excesso de água; e – suscetibilidade à erosão; m –
impedimentos à mecanização.
Quadro 9.6. Exemplos de grupos, subgrupos e classes de aptidão representados nos mapas de
aptidão agrícola das terras.
Este sistema, amplamente usado no Brasil, foi originalmente proposto nos EUA (Klingebiel
& Montgomery, 1961). É uma classificação interpretativa que se baseia no efeito combinado de
características permanentes da terra sobre os riscos de degradação, limitações de uso,
produtividade e necessidades de manejo do solo.
O sistema pressupõe a existência de levantamentos detalhados de solos, onde a unidade
de mapeamento é a base (= fonte de informação) para os agrupamentos interpretativos. Desta
maneira, o sistema pode ser utilizado para o planejamento agrícola a nível de propriedade rural.
Outro pressuposto deste sistema é a existência de um único nível tecnológico avançado, onde as
práticas de cultivo se baseiam em motomecanização. Este aspecto e a carência de levantamentos
pedológicos detalhados restringem a utilização do sistema na sua concepção original para as
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condições brasileiras. Assim, sua aplicação exige uma adaptação às condições locais, implicando
na elaboração de quadros-guia específicos para cada situação.
A estrutura do sistema apresenta os seguintes níveis categóricos: classe, subclasse e
unidade de capacidade de uso.
Classe de capacidade de uso: agrupa as terras com os mesmos graus de limitação ao uso
e/ou riscos de erosão e degradação das terras. Na sua conceituação considera o grau de
complexidade das práticas de manejo e de controle da erosão. São definidas 8 classes (I a VIII),
que formam três grupos quanto à intensidade de uso ou tipo de utilização possível.
Bibliografia
BRASIL. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Rio Grande do Sul. Ministério
da Agricultura, DNPEA, DPP, Recife, 1973. p.418-425.
BRASIL. Aptidão agrícola das terras. Estudos básicos para o planejamento agrícola. No 1 – Rio
Grande do Sul. Ministério da Agricultura, SUPLAN, Brasília, 1978.
Klingebiel, A.A. & P.H. Montgomery. Land-capability classification. Soil Conservation Service,
USDA, Washington DC, 1960. Agriculture handbook n.210. 21p.
Ramalho Filho, A. & K.J. Beek. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das terras. Rio de
Janeiro, EMBRAPA-CNPS, 1995. 65p.
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