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Ficha Técnica
“A D I S TÂ N C I A E N T R E O PA S S A D O E O P R E S E N T E
É A M E S M A” Direcção
Trevenen Morris-Grantham
Nesta edição usamos o passado como alavanca para o futuro. [email protected]
Fomos ver as motas de fabrico nacional feitas no último século, Editora
agarrámos o volante de dez(!) Cadillacs, ouvimos os Lavoisier a Marta González
[email protected]
lembrar-nos que tudo se transforma e nada se cria, os bonecos do
Design Gráfico
Tiago Galo recordam-nos técnicas de impressão antigas, o editorial Eva Gonçalves
masculino teve como inspiração o Bronx do final dos anos 70 que www.unfinishedinventory.com
a fotógrafa Martha Cooper imortalizou e no editorial feminino os Colaboradores desta edição
acessórios são artesanato das Caldas da Rainha, emblemáticos António Medeiros, Hugo Filipe Lopes, João Moura,
João Pedro Fonseca, Maria Rita, Miguel Afonso,
falos com mais de 100 anos. Será que andamos todos obcecados Miguel Silva Veiga, Nuno Miguel Dias, Rafael Vieira,
pelo passado? O proeminente crítico Simon Reynolds no seu livro Rita Castro, Sandra Alves, Sérgio Onze,
Tiago Franco dos Reis, Tiago Loureiro,
“Retromania: Pop Culture’s Addiction to its Own Past” estudou a Tom Perdigão.
produção musical das últimas décadas para chegar a uma teoria
Redacção e Departamento Comercial
muito interessante: com o advento da internet, o passado é tão [email protected]
visitável como o presente. Basta ir ao Youtube para ter acesso ao www.difmag.com
maior arquivo que alguma vez esteve ao serviço da Humanidade. facebook www.fb.com/difmag.pt
Bandas de hoje poderiam deixar-se influenciar por movimentos Propriedade
Publicards, Publicidade Lda.
contemporâneos, como especifica o autor “buscar referências
no grime da Inglaterra ou no funk carioca. Mas existe a mesma Distribuição
Publicards
probabilidade destas bandas se basearem em música obscura dos [email protected]
anos 70 ou funk e blues pré-Segunda Guerra porque a distância Registo ERC 125233
entre o passado e o presente é a mesma.” Estimulante perspectiva. Número de Depósito Legal
185063/02 ISSN 1645-5444
Esta ida ao passado não trava o futuro, não cheira a mofo, não é
saudosista é, pela primeira vez na História, simplesmente possível. Copyright
Publicards, Publicidade Lda.
FREDPERRY.COM
Watch the film at
pepejeans.com
THE ELEMENT
O Studio E.O foi estabelecido pelo designer Erik Olovsson em Estocolmo, dedicado ao design de FALL 2017
Estabeleceste como objectivo para o Studio E.O o Precisas de estar completamente embrenhado naquilo
«sair da zona de conforto»? que fazes, o que é sempre bom quando se projecta al-
Refiro-me especificamente à minha zona de conforto guma coisa. Espero que esta forma de trabalhar e de
mas também às normas da indústria. O meu objectivo gerir um gabinete possa ser mais habitual, para mim
é abdicar das velhas regras de como fazer um objecto esta é a visão [ideal] de como podes viver e trabalhar
e em que material. Se começo um novo projecto acho como designer.
interessante não saber exactamente como fazer uma
determinada peça, gosto de ir tacteando, permite-me Como é que te relacionas com os artesãos ao fazer
ter disponibilidade mental e confiar na minha intuição um objecto?
à medida que o trabalho avança. A minha formação Nalguns dos meus projectos o craft (ofício/especializa-
é em design gráfico, motion design e fotografia; tento ção) tem um papel fundamental, como no «Afternoon
assim aplicar o meu conhecimento transversal destas Sculptures», em que criei pequenos objectos com
áreas quando desenvolvo novos trabalhos em design desperdícios do meu gabinete. O craft e o acaso são
de produto. elementos cruciais para traçar descobertas que possa
utilizar. Tento estar o máximo de tempo que posso
Acreditas que o design deva ser mais político ou com os artesãos, para falar e para aprender com as
interventivo? pessoas com quem trabalho. Ao fazer os «Indefinite
Bem, sim, muito disto era o que eu queria trazer para Vases» estou sempre presente com os vidraceiros
o projecto do «Erik Design Bus». Ser mais engajado, porque cada peça que dali sai é única.
próximo das pessoas e dos materiais que utilizo. Gosto
do papel activo que este projecto te obriga a ter. studioeo.se
06 Design
DULCEY JACKET / BLAZIN CREW / DUSK BEANIE #MADETOENDURE @ELEMENTBRAND
ELEMENTBRAND.COM
A cada dia que passa surge um novo “Super Alimento”: abacate, açaí, batata-doce ou chia todos já
tiveram os seus 15 dias de fama. Mas há um que se apresenta há vários anos não apenas como ten-
dência mas antes como solução para as carências alimentares e problemas ecológicos: os insectos.
Sem grandes fãs na cultura ocidental, parece Ok, quase convencidos. Mas e o aspecto, alterar a percepção de valor desses animais,
que comer insectos está cada vez mais na or- como tornar apetecível a ideia de consumir através de uma estética depurada. “Não tens
dem do dia. Em Espanha há já uma empresa, insectos? Matilde Boelhouwer anda a traba- de comer os gafanhotos ou o bicho-da-fari-
a Insectfit, a comercializar barras energéticas, lhar na ideia há alguns anos. Apaixonada por nha na sua forma integral, desenvolvi uma
suplementos proteicos e farinhas compostas entomologia desde criança acabou por esco- série de caldos que contém o sabor desses
por grilos. Chocante? Se formos racionais, lher o percurso académico ligado ao design. insectos, mas que podem ser preparados
comer os bichinhos parece do mais lógico que Percebeu que podia e devia cruzar ambos os e servidos de diversas formas”, explica.
há. A empresa apresenta-os como “nutrição interesses, pois os insectos “são [animais] No caso dos seus doces, a esta mistura de
do futuro” e sustenta: os grilos oferecem 2 pouco valorizados, super interessantes insectos e feijão branco foram adicionados
vezes mais proteína do que a carne de vaca, o enquanto inspiração — pelas suas formas, ingredientes mais consensuais de forma a
dobro de cálcio do leite e 12 vezes mais vita- tamanhos, cores e detalhes — e também por conseguir um sabor refinado e equilibrado.
mina B12 do que o salmão. Porventura mais ser um tema que não tem sido muito usado Moldados cuidadosamente, os bombons são
interessante é a diminuição drástica de re- no âmbito do design”. servidos em colheres banhadas a ouro, para
cursos comparando-a com a criação de gado: Com a série de doces Insectology, o completar a experiência.
2000 vezes menos água, 200 vezes menos Atelier Boelhouwer quer elevar os insectos
terreno e 100 vezes menos pesticidas. no contexto do luxo e da alimentação ao matildeboelhouwer.com
08 Tendência
Não precisamos de mais heróis.
Texto — Hugo Filipe Lopes
* Numa altura em que os contornos de género estão cada vez mais esbatidos e a necessidade de ser definido como masculino ou feminino está a dissipar-se, exploramos a ideia do indefinido. Se a roupa é
usada como uma forma de autoexpressão, com esta coleção queremos preencher uma lacuna e criar uma plataforma neutra para as pessoas que se identificam com esta forma de estar.
The Marvel Age of Comics 1961–1978
Roy Thomas
Hardcover, 396 páginas
€39.99
Três quartos de século depois da Marvel ter nascido, a Taschen publica um livro em homenagem ao seu histo-
rial. Algo que faz sentido, não só porque a própria Taschen começou por publicar livros de BD, mas também
porque a editora é conhecida por dar atenção a fetiches e os super-heróis são um dos maiores fetiches do mun-
do moderno. E se esta edição vem provar alguma coisa, é que não são apenas crianças e trintões masturbado-
res solitários que ainda não superaram a adolescência quem vive para estas coisas. Com esta edição, o universo
da BD, primeiro com a DC e agora com a Marvel, passará a habitar o panteão de outros ilustres retratados pela
editora, de Bosch a Lichtenstein.
Apesar dos seus 75 anos, os filhos da Marvel não têm nem mais uma ruga do que tinham nos anos 30,
quando nasceram. Em 4 décadas, Peter Parker teve uma progressão de carreira quase tão lenta como qualquer
recém-graduado em Portugal, passando da faculdade para free-lancer num jornal. E nem o facto de ter sido
picado por uma aranha radioactiva que lhe conferiu super-poderes parece ajudá-lo. É precisamente devido a
esse humanismo dos super-heróis Marvel que nos conseguimos relacionar com eles e com as suas dores. Mesmo
que nenhum de nós seja capaz de gerar um sismo com um murro no chão, facilmente percebemos a dor do
Incrível Hulk, que precisamente por ser incrível só tem arranjado problemas, quando o que ele mais queria era
passar despercebido. E apesar de ser bimbo que nem um portuga em dia de bola, damos por nós a relacionar-
-nos com o sofrimento do Capitão América (pior nome de sempre) ao sentir-se totalmente deslocado num mundo IN A T IME W HE N GE NDE R L INE S ARE MOR E BL UR R E D THAN EVER A ND T HE
que avançou décadas enquanto esteve congelado. Mesmo o Homem de Ferro, que na essência mais não é do
NE E D TO BE DE F INE D AS EI T HE R MALE OR FEMALE IS DIS SIPAT ING, WE ARE
que um Steve Jobs que guarda os gadgets todos para si, nos seduz com o seu charme cavalheiresco na face do
perigo. INSPIR E D TO E X P L OR E T HE IDE A OF T HE UNDE F INE D. CL O T HING IS USE D AS A
Ao longo de quase 400 páginas é fácil perdermo-nos no universo da Marvel e pensar porque raio é que
F OR M OF SE L F -E X P R E S SION, WITH T HIS C OL L EC T ION WE IN T E ND TO BRIDGE
deixámos de seguir a vida dos nossos heróis preferidos.
T HE GAP A ND P ROV IDE A NE U T R A L P L AT F OR M F OR P EOP L E TO DO JUS T T H AT.
10 Capa Dura R V C A . C O M | # I N S P I R E D B Y R V C A
Portugal a andar de mota
Se as Vespas apaixonaram e fizeram viajar o ima- trajectos casa-café-casa de forma digna e compe-
ginário e o charme italiano ao longo de gerações tente. Até que seguiram a Estrada Nacional do
e de estradas pela nossa Europa fora, desde o seu Saudosismo até à Autoestrada do Kitsch e começa-
surgimento até aos nossos dias, as Casal Boss, as SIS ram a fazer-se notar aqui e ali no meio das cidades. A
Sachs Andorinha, as Confersil Dina 104, as Macal, fauna das motocicletas portuguesas começou então
as Famel, as Zundapp GT25, as Vilar, as V5 ou até as a ouvir-se em roncos estridentes e outrora apenas
Cinal Pachancho não podem nem devem ocupam escutados na província e hoje a procura destas
lugar menos romântico no imaginário coletivo motos, seja para adaptar e transformar, seja para se
português. É certo que de maneira mais tosca, mais passearem ainda como vieram ao mundo às mãos
bruta ou industrial e com uma unanimidade que foi daqueles cujo fanatismo não vem mascarado de
acontecendo mais devagar, estes veículos aceleraram moda, ainda acontece com fervor.
a sua produção nos anos 60 e 80 e assumiram-se A exposição “Motos de Portugal” sucede a
como meio de transporte de excelência do sector “Discos Orfeu — Imagens, Palavras, Sons” na progra-
operário, pela sua compatibilidade com os baixos mação da Casa do Design de Matosinhos, entidade
salários praticados na altura. O interior de Portugal que pretende preservar a memória da indústria por- hercúleo trabalho de investigação, reuniu e apresen-
e as portas de cafés centrais e tascas eram nos anos tuguesa. “É uma espécie de tubo de ensaio que per- ta um vasto espólio documental, algum dele inédito,
80 e 90 os parques naturais onde se podiam avistar mite ver como evoluiu a indústria nacional, os erros incluindo catálogos, cartazes, vídeos e fotografias de
estas relíquias, obras e engenhos portugueses. Nos e as coisas boas que foram feitas”. Palavras do cura- época. Mais do que a produção mecânica e industrial
anos 90 eram já conduzidas maioritariamente por dor Emanuel Barbosa, designer e docente da Escola deste certame, “Motos de Portugal” paraleliza ainda
sexagenários, cumprindo religiosamente inúmeros Superior de Artes e Design de Matosinhos que, num a evolução da sociedade portuguesa e do design de
produto desde o surgimento das primeiras máquinas
de duas rodas até aos dias de hoje.
A exposição é resultado do esforço levado a
cabo pela Casa do Design de Matosinhos em parceria
com a Câmara Municipal e com a ESAD IDEIA, com
vista a promover e trazer até aquela cidade o nervo
e o cérebro criativo nacional e internacional, culmi-
nando com a candidatura de Matosinhos à Rede de
Cidades Criativas da UNESCO. E o facto de tudo isto
acontecer em Matosinhos, fora das metrópoles, das
tendências, da moda e dos egos, só ajuda a encerrar
e a legitimar toda esta ideia de forma mais gloriosa.
Motos de Portugal
Casa do Design de Matosinhos
Até 27 de janeiro
12 Cultura Cultura 13
Denim ‘forever young’
Texto — Rita Castro
A Pepe Jeans London volta a apostar, para a lavagem índigo é à prova de desgaste e Jeans de Sonho
estação Outono/Inverno, no seu produto-es- mantém, por mais tempo, o efeito original da “Exibe orgulhosamente as tuas curvas” é o
trela, os jeans. ganga acabada de comprar. Mais: os novos lema impresso na nova tecnologia jeans-fit da
Numa coisa todos concordamos: o me- modelos contam com propriedades antibac- Pepe Jeans London aplicado a calças de ganga
lhor denim é, sem dúvida, aquele que não terianas, o que as torna mais resistentes a para mulher. Resultado da combinação das tec-
só sobrevive ao teste do tempo como até odores e portanto não precisam de ir à má- nologias push-up e re-shape, os jeans In Your
se torna melhor, mais confortável e bonito. quina tantas vezes. Ainda assim, quando é Dreams adaptam-se ao corpo, para dar prota-
Na verdade, para a maior parte de nós hora da lavagem, como tem a medida certa gonismo às curvas e realçar a figura feminina.
o denim é um investimento — não se torna de elasticidade, a probabilidade de encolher O nível de elasticidade adequado e as
apenas parte do guarda-roupa, mas também é muito baixa. características re-shape traduzem-se em pe-
parte de nós. E, apesar de ter um aspecto duro, ças à prova dos habituais franzidos e pregas,
Tudo isto deu um motivo à Pepe Jeans o Dry Cult é confortável e bastante elástico que surgem habitualmente com o desgaste do
London para criar o acabamento Dry Cult ao toque. É, sem dúvida, o melhor de dois denim. O nome não engana: são os jeans com
aplicada à sua colecção masculina, cuja mundos. que sempre sonhámos.
14 Moda
Regresso ao futuro com
o cobertor de papa
Texto — Tiago Loureiro
Até meados do século passado, era raro o lar beirão que não era aquecido
com um cobertor de papa. Hoje, é um artigo em extinção. Após o último te-
celão encerrar portas, a Escola de Artes e Ofícios de Maçaínhas, na Guarda,
decidiu revitalizar este produto. O cobertor é uma peça feita de feltro de
lã churra cardada e o seu fabrico é inteiramente artesanal. Aos poucos, os
designers portugueses estão a redescobri-lo. Em 2013, na plataforma labora-
torial do Portugal Fashion, Estelita Mendonça destacou-se com o uso deste
material em abrigos masculinos. Voltou ao cobertor para criar as propostas
que levou ao showcase Fashion Utopias, na London Collections Men, cuja
organização lhe atribuiu uma menção honrosa. Foi visitado por milhares de
buyers e jornalistas internacionais.
Estelita Mendonça, AW16, Portugal Fashion
16 Moda www.bedivar.pt
Que vença o pior
Texto — Hugo Filipe Lopes
Esqueçam aqueles jogos de grupo que só liberais e que os liberais são a maioria. Mais não é paranóia se andam mesmo atrás de ti,
funcionam quanto todos estão perdidos de bê- grave ainda, por muito que despreze os libe- dizia Joseph Heller, autor de Catch 22.
bedos. Os dias das charadas já acabaram há rais, terá de trabalhar em conjunto com o seu Para terminar em grande e não perder
muito e ao pé de “Secret Hitler” não só o jogo presidente e entrar em duelos legais a fim de a actualidade, saiu recentemente um pacote
do Risco vai parecer uma estratégia dese- tentar aprovar decretos totalitários e reter as de “Secret Hitler” alusivo ao executivo de
nhada pelo batalhão dos gordos do Paintball leis dos freaks da esquerda. Não se sabe nesta Donald Trump, em que algumas das cartas
como o Twister vai perder toda e qualquer altura se a coisa pode chegar a vias-de-facto são referentes aos seus colaboradores. O que
possibilidade de provocar excitação sexual ao e passar da discussão para o confronto épico faz sentido, pois nas FAQs do site do jogo a
roçar no corpo mais próximo. entre duas facções como tem acontecido mun- sugestão para quem achar que com os nazis
Chegou a hora de abrir as comportas ao do fora. Mas pelo menos de início estaremos não se brinca, é de remeter uma queixa para
vosso desejo oculto de poder: finalmente há seguros, pois tal como na política de verdade, a Casa Branca.
uma maneira de cada um de nós libertar o seu todos começarão de olhos fechados. Do mes- Provavelmente alguns de nós somos
Hitler secreto à vista de toda a gente, sem so- mo modo, só os traidores se saberão identificar capazes de ficar demasiado embrenhados no
frer nenhum tipo de discriminação. Muito pelo uns aos outros, a ideia é que nenhum jogador papel pois nas eternas palavras do historia-
contrário, desde que o “Secret Hitler”, o novo seja descoberto como fascista e menos ainda dor Lord Acton “O poder corrompe e o poder
jogo do criador de “Cards Against Humanity”, se for ele o Hitler Secreto. Pronto, isto quer di- absoluto corrompe absolutamente, de modo
foi editado podemos esperar aplausos por ser zer que além de alimentar o nacional-socialista que os grandes homens são quase sempre
o melhor e mais secreto Hitler que for inuma- das nossas entranhas, também vamos abrir um homens maus.” Portanto, a pergunta que se
namente possível. As más notícias são que o buffet de mania-da-perseguição em que cada impõe é: Estão preparados para ser mesmo
nosso Führer interior vai ter de enfrentar os jogador fará tudo para não ser descoberto, e mesmo muito beras?
PALLADIUM PORTUGAL
18 Design PALLADIUMPORTUGAL
NOITES BRILHANTES
BEAUT Y KAT
O novo-clássico Black Opium
da Yves Saint Laurent assume De tatuadora a pop star, Kat Von
uma nova interpretação e D é também um ícone de beleza
um packaging de edição não convencional e um exemplo
limitada. Enquanto a de determinação. Agora lançou,
fórmula de café preto em exclusivo nas lojas Sephora,
rico, feijão de baunilha uma coleção de maquilhagem
e flores brancas per- completa para os olhos, pele e
manece a mesma, o lábios com produtos de longa
F LY L O N D O N N A S perfume Black duração, pigmentos intensos ou
ESTRELAS Opium Pure uma cobertura total. Kat Von D
Illusion ves- Beauty é uma marca audaz que
A FLY London apresenta, neste te-se para a rompe com a tradição até nas
Outono/Inverno de 2017, as suas noite da suas embalagens únicas dese-
primeiras botas de assinatura, forma nhadas pela própria.
desenhadas pela artista plástica mais
Cristina Rodrigues. Em quatro brilhante e sofis-
cores (azul, camel, castanho e ticada. Para coleciona-
preto), “Interstellar” destacam-se doras e verdadeiras fãs.
pelas fitas de cetim no lugar dos
tradicionais atacadores, um detalhe
diferenciador que prossegue o
legado estético da marca nacional,
marcado pela ousadia.
F LO R E S S E LVAG E N S
SUPRACOOL
COMO É O TEU TRUCKER?
Os Scissor da SUPRA são o resul-
tado da síntese entre os runners FILMES ILUSTRADOS A Levi’s está a celebrar os 50 anos do blusão de ganga 70505.
contemporâneos e o calçado de Por outras palavras, o icónico Trucker Jacket Type III,
skate, juntando as melhores carac- O formato não é propriamente novo mas os 101 filmes escolhidos por Ricardo Cavolo usado por rock stars, camionistas e rebeldes anda a fazer a
terísticas de ambos os universos. resultaram num livro bastante original. O registo é muito pessoal, na forma de diário e festa um pouco por todo o mundo. Rodeou-se dos nomes
O modelo foi concebido com mate- vem recheado das famosas ilustrações do criativo espanhol. Somos convidados a passear mais conhecidos da cultura pop e das mentes mais criativas
riais respiráveis e a sola composta pelo universo cinematográfico desde Tudo Bons Rapazes ao The Goonies, Harry Potter ou do panorama internacional e convidou-os a criar e customi-
por um material extra-suave, o Apocalipse Now. As escolhas são fundamentadas pela importância que tiveram na vida de zar o seu Trucker. Na imagem, a versão da designer chinesa
SUPRAFOAM. Cavolo bem como na sua geração. nobrow.net/shop de menswear Feng Chen Wang. #LiveinLevis
20 Kukies Kukies 21
BARBAS CUIDADAS
CAFÉ BRUTALIS TA
Sempre atenta às necessidades masculinas, a
marca de cosméticos JOHNNIE BLACK lançou Os designers da norueguesa Montaag
um Beard Oil que deixará os fios da barba macios, quiseram transformar o ritual do café
maleáveis e com um brilho natural. Indicado para num momento que é tudo menos banal.
todos os tipos de barba, este óleo proporciona a A máquina AnZa promete ser tema de
higienização e hidratação não só da barba como conversa seja em casa ou no escritório.
da pele do rosto deixando-os livres de oleosidade Foram necessários 4 anos de testes e
enquanto previne borbulhas e irritabilidade. protótipos para chegar ao que parece
A garantia é de um rosto limpo, saudável e leve- um simples quadrado de cimento,
mente perfumado. mas que está recheado de tecnologia,
incluindo um programador para que o
café esteja pronto mal ponhas o pé fora
da cama.
RETRO DESPORTIVO
EXPLORADORES URBANOS
No final dos anos 70 surgiu um novo tipo
A Palladium continua as celebrações dos seus 70 anos com o lançamento de sportswear: os tecidos coloridos e
da nova coleção para este Outono-Inverno. Depois do regresso às origens — fibras artificiais mudaram para sempre a
Lyon, França —, a Palladium abraça o seu passado para desenhar o futuro. forma como essas peças são percepciona-
Os novos Pallasider (na imagem) são uma bota masculina inspirada nas das. A colecção Sports Authentic da Fred
montanhas e pensada para os habitantes das cidades. Numa fusão de mate- Perry reinventa as peças originais desta
riais e cores contrastantes, Pallasider é apresentado com gáspeas em pele e época tão peculiar. Exemplo são as cami-
painéis de nylon balístico em tons outonais. solas vintage de ciclismo em que o nome
da marca é bordado, de forma orgulhosa,
no peito das t-shirts e nas costas dos
casacos de fato-de-treino.
VESPA TECH
22 Kukies Kukies 23
Semear o American Dream
o próprio assinava, por desconhecimento,
o epíteto “Stanley Marsh The Third”), um
empresário multimilionário texano excên-
trico. Que justificava a obra de forma ora
Texto — Nuno Miguel Dias mirabolante, chegando a declarar que Evil
Knievel queria saltar sobre dez caddies, ora
objectiva, imodéstia aparte: “É a escultura
mais deslumbrante do Século XX”. Já a tripla
de criadores Lord, Marquez e Michaels não
se poupou a razões para justificar a sua
homenagem aos incontornáveis fiftees, a era
dourada de um país, quando a Route 66, que
levava à Califórnia, essa Meca, tinha sonhos
dentro. Cadillac Ranch é uma linha recta
de dez ícones norte-americanos traçada em
direcção ao lendário Oeste, visíveis da I-40
(nome actual do troço da Route 66 que passa
por Amarillo), plantados em solo texano
com uma inclinação idêntica às pirâmides de
Gizé. Os modelos correspondem ao período
em que a tailfin era imagem de marca (o
Club Coupé de 1948 inaugurou a opção
de design, que só terminou com o Sedan
de 1963). Mas essa barbatana e o próprio
Cadillac, símbolo maior de qualidade, de es-
tatuto do proprietário e do próprio american
dream, também representa os fiftees de uma
perspectiva cultural: o boom norte-ameri-
cano dá-se no pós-guerra de 1948 e cai por
terra a 22 de Novembro de 1963, juntamente
com um Kennedy assassinado. Hoje, Cadillac
Ranch é aquilo que sempre se propôs ser:
Um testemunho. Um sinal dos tempos é
o facto de cada exemplar estar coberto de
graffiti. Os inúmeros visitantes deixam a sua
marca e levam cromados, para recordação.
Há quem diga que é um dos lugares mais
poliglotas dos EUA, tal a taxa de visitas.
Diz-se, também, que o cheiro a tinta de spray
se sente, durante todo o dia, a quilómetros.
São já poucas as vezes que nos lembramos de Jazem algumas porções, amputadas de um East-West Não é assim com todos os lugares tão insóli-
“Arizona Dream”. É pena. Porque Depp é sempre cheio de cotos mal cicatrizados, ladeadas por diners tos como formidáveis?
Depp. Porque Vincent Gallo é ele próprio (inesque- caducos e gas stations abandonadas. Tétrico? Não.
cível, aquele O Mais Estranho Casting de Sempre). Porque de que vale ter uma Mother Road se esta já
Porque Faye Dunaway é a eterna Linda-a-Velha. E não pode “contracenar” com os Cadillac Sedan dos
porque o subconsciente de Emir Kusturica apaixona 60’s, com “barbatana traseira” (tailfin) bright cardi-
qualquer cinéfilo aspirante a psicanalista. E vice-ver- nal red?
sa. No auge do conflito que fendia a sua Serajevo, o De tudo o acima imbuíram-se Chip Lord,
jugoslavo substituiu o bando de gansos domésticos, Hudson Marquez e Doug Michaels, do colectivo de
transversais a toda a obra e simbolizando sabe-se lá artistas Ant Farm, sediado em São Francisco, quando
o quê, por um stand de Cadillacs, propriedade do seu ergueram Cadillac Ranch, em Amarillo, no Texas.
tio (o saudoso Jerry Lewis), empoeirados, decrépitos, Decorria o ano de 1974 e já ninguém acreditava no
por onde apenas passam, à western, as tumbleweeds, American Way of Life, aquela de cujo grande símbolo
como se não fosse preciso mais nada para figurar A eram os Cadillac descapotáveis, a obrigar ao uso de
Morte do Sonho Americano. Para o Mundo, porque lenços de seda envolvendo os cabelos de Marylin
para os norte-americanos também, o seccionamento Monroe e Audrey Hepburn. Essa linha de dez cad-
da Route 66 em centenas de Highway this e Interstate dies, “plantados” num terreno de pastagem de gado
that, foi o desmembramento de uma identidade. bovino, foi patrocinada por Stanley Marsh 3 (como
24 Retroculture Retroculture 25
da MPB, que perdura até hoje. Em Portugal, onde tal não
26 Música Música 27
Para fazer este artigo, obrigámo-nos ao visionamento de milhões de selfies egocêntricas, hastags
duvidosas e muita frivolidade. Vasculhámos incessantemente até encontrar quatro jovens fotógra-
fos portugueses que vale mesmo a pena seguir e a quem oferecemos os nossos mais sentidos likes.
Cada um escolheu quatro fotografias que dizem muito sobre si e sobre a forma como vêem o mundo
e, desta vez, explicaram o que por lá se passa.
Davidson
“O vencedor da edição de 2017 do concurso Elite
Model Look, considerado o maior e de mais renome
TOMÁS MONTEIRO
28 Fotografia Fotografia 29
Pareces especialmente interessado em espaços vazios,
DIOGO ANDRADE pouco apelativos, baldios, edifícios feios. O que te impele?
O que queres mostrar?
Quem é o Diogo Andrade? Gosto de procurar a beleza na banalidade. Fascinam-me as
Licenciado em Design da Comunicação, o Diogo Andrade é áreas industriais, as periferias, as áreas de conflito e inter-
um rapaz de 32 anos, de Sintra, residente em Milão desde secção entre a natureza e a intervenção humana. A paisagem
2011. Em Portugal era técnico de som ao vivo. Divide a sua social e cultural que observo nestas áreas é, para mim, muito
vida entre a fotografia (food photography, eventos e projec- mais elucidativa sobre o que a espécie humana tem andado a
tos documentais) e o recente amor pelo gelado artesanal, o fazer ao/no Mundo do que nas cidades ou nos parques na-
que o torna possivelmente num dos poucos, senão no único, turais, onde cada coisa é harmoniosa (no caso da natureza)
fotógrafo-gelateiro do mundo. ou projectada e concebida para ser funcional ou agradável
à vista (no caso das cidades). Nas zonas de fronteira, nos
As tuas imagens preferidas e as que têm mais likes costu- subúrbios, nos parques industriais, há uma espécie de caos,
mam coincidir? Há um tipo de imagens que os teus segui- de aleatoriedade que me fascina e que me permite reflectir
dores preferem? Isso influencia o que publicas? acerca do que temos andado a fazer, enquanto espécie, ao
Normalmente coincidem. Noto, no entanto, que a genera- mundo no qual vivemos.
lidade dos seguidores prefere as fotografias nas quais puxo
mais pelo lado da estética e menos pelo lado da documenta- @diogoandrad3
ção mais crua. Tento conciliar as duas vertentes. Ao fim e ao
cabo, o sentido da fotografia materializa-se no instante em
que esta pode ser apreciada pelos outros.
30 Fotografia Fotografia 31
“Das experiências mais importantes foi trabalhar com o
Drake. Fomos responsáveis [a Daniela trabalha para
plataforma Nation Of Billions] pela sua entrevista exclu-
siva antes do lançamento do More Life, o que me deu a
oportunidade de captar esta fotografia. Não acho que
seja das minhas melhores de todo, mas a forma como
a fotografia foi utilizada na internet por milhares de
sites fez-me aperceber a importância do meu trabalho.”
32 Fotografia Fotografia 33
MARIANA ROCHA
Quem é a Mariana Rocha?
A Mariana Rocha é uma mulher de 23 anos, nascida no Porto.
Aos 13 anos, descobriu a fotografia e aos 15 decidiu começar
a estudá-la. Sempre com muitas coisas na cabeça e poucas “Esta fotografia faz parte de uma série relacionada com os meus laços
na prática. Sempre preocupada. As personagens que vêem familiares. Estou deitada com um robe que era da minha avó, semelhante
nas minhas fotografias poderão ser as várias facetas que nela até na cor ao que a minha mãe usou quando me deu à luz. Estou deitada
habitam. na cama da minha mãe com lençóis cor-de-rosa que eram da minha bisavó.
Várias gerações de mulheres da mesma família ali comigo.”
“Em 2014 viajei para Paris. No último dia, enquanto esperava no lobby do
hotel para fazer o check-out, roubaram-me a carteira de mão, com todos “Natureza morta de duas partes
os meus documentos, várias câmaras fotográficas, um fotómetro e uns (perfeitamente cortadas) da
artigos pessoais. Na esquadra, onde fiz a queixa, a polícia apelidou-me de mesma melancia, sem o coração.
Chat Noir (Gato Preto) por ser uma mulher de azares e por estar sempre Uma parte foi esmagada no chão.
vestida de preto. Uns meses depois e com as imagens e objectos que trazia Depois a minha cadela comeu-a
na mala de porão publiquei a minha primeira zine, Chat Noir.” toda.”
34 Fotografia Fotografia 35
Foto g raf ia JOÃO
A n t ó ni o Mede i ros Camis a H&M
St yl i n g Calças New Era
S é r g i o Onze Calçado M er rell
M a ke u p e Cab e los B o ina da P r o dução
To m Pe rdi gão
FRANCISCO
M o d elo s
T- s hir t Fred Per r y
Fra n ci s co Guer reiro
( We Ar e Model s) Cavas P r o dução
Joã o Li ma Calças D a v id C at alán
( C e ntral Mode l s) B lus ão à cint ur a L ev i’s
FRANCISCO FRANCISCO
S ob r et u d o Cas aco D a v id C atalán
I nês To r ca t o Go la alta N yco le
Ca lç a s N yco le T- s hir t Fila
Ca s a c o (à c in t u r a ) Calças M iguel V ieira
e meia s Fr ed Per r y Sapato s D o c M ar t ens
B ota s F ly L o nd o n M o chila Fred Per r y
B oin a e c a va s d a
p r od u ç ã o
JOÃO
Casac o New Era
Calças La cos t e
Téni s C onver s e
38
JOÃO
B l us ão Levi ’s
P ó l o Fr ed Per r y
C a l ç as Da vi d Ca ta lán
FRANCISCO
So b r etu do I nê s Torca to
C a va s e b o in a da produção JOÃO
Fato M iguel V ieira
Saco Fred Per r y
JOÃO
Cas aco e calças H&M
Ténis M er rell
FRANCISCO
Camis a e calças N yco le
T- s hir t L ev i’s
Ténis M er rell
JOÃ O
B l u s ão Bi l l abong
C a m is a Nyc ol e
C a l ç as Da vi d Cata lán
S a p a to s Doc Mar tens
Respira-se um novo fluxo na cidade, são ocupados novos espaços, há cada vez mais inaugurações e artistas emergentes, é a atitu-
de de uma nova geração de arte em Lisboa. Foi precisamente em 1964 que a galeria mais antiga da capital, Galeria 111, dedicada
ao movimento contemporâneo português, foi inaugurada perante uma não-existência de mercado no país. Hoje, 53 anos depois,
44
em apenas seis meses, abriram dez novas galerias na cidade. Os campos das artes estendem-se, há casas dedicadas a uma ou mais
expressões artísticas e ao mesmo tempo um foco em comum é circunscrito: a centralização da “Cidade das Sete Colinas” no mapa
das artes — uma afirmação cultural com destaque internacional. Inevitavelmente não se podem deixar de referir os preços atrac-
tivos que os galeristas e o mecenato cobiçam, mas é sobre esta procura que é criada uma nova dinâmica para lá do coração da
cidade e onde o campo artístico contemporâneo ganha uma nova expansão. A DIF abordou cinco galerias, algumas recém-inau-
guradas, todas elas com menos de um ano de actividade e com objectivos bem díspares entre si. “Nova Berlim” ou não, como tem
vindo a ser classificada, uma coisa é certa: há um movimento em Lisboa que promete não parar.
© Nuno Almeida
Arte
2
3
Arte
© Mike Ghost
© Concha Sacchetti
4
5
45
1
46
Shiki Miki Gallery
2 Localizada na Rua do Conde, a dois passos do Museu Nacional de Arte Antiga, nasceu da
vontade do artista Ivo Bassanti. Um projecto destinado a cruzar várias manifestações
artísticas que, para além da função comercial, é um abrigo de criação a artistas cujo os
trabalhos não se encontram tão facilmente nos espaços galerísticos. “Lisboa está em
crescimento e a questão artística também se desenvolve e traz holofotes para o nosso país.
Temos bons artistas por cá, mas a situação socioeconómica do país fragiliza esse desta-
que”. Shiki Miki, slang alemão para kitsch, pretende dar espaço às mais variadas epifanias
e vertentes expressivas, acreditando nos artistas que representam: “o artista não é alheio
à sua realidade social e cultural, interpreta o material e imaterial do mundo em que vive e
comunica à medida do seu tempo.”
shikimikigallery.com
Próxima inauguração: Project For A Great Show de Ivo Bassanti a 09.11.2017
Balcony
A Balcony começou como um projecto de três amigos e entu-
siastas de arte, Pedro Magalhães, Luís Neiva e Paulo Caetano.
Situada em Alvalade, onde já estão instaladas as galerias 111,
Appleton Square, Maisterravalbuena, Quadrado Azul, Quadrum,
Vera Cortês e a Fundação Leal Rios, a Balcony é um novo ponto
num mapa cultural em alargamento. “Acreditamos que é uma boa 3
altura para investir em arte em Portugal, em especial na cidade
de Lisboa. Estruturas como o Maat, a feira ARCO, novas galerias
a abrir de portugueses, mas também de galeristas estrangeiros, o
próprio crescimento do turismo e a visibilidade que a cidade tem
angariado nos circuitos internacionais, são indicadores muito
positivos.” Neste momento a galeria planeia trazer artistas mulhe-
res e artistas oriundos ou muito activos fora de Portugal — “só faz
Arte
sentido estarmos na arte contemporânea se a entendermos como
um sistema global e plural.”
balcony.pt
© Vera Marmelo
TARA Gallery
4 Nascida sob a vontade de trabalhar com artistas não vinculados aos meios galerísticos,
a TARA estabelece uma maior ligação à fotografia por cunho dos seus fundadores, não
fechando os seus horizontes a outras áreas. “Há sem dúvida uma maior tendência à
prática e exibição artísticas e começa logo por não ser apenas física, mas principalmente
Arte
virtual, essa sim é a ferramenta do novo século”, explica a curadora Marta Cruz. Sem um
espaço físico definido, adapta-se ao lugar podendo assim ser classificada como uma galeria
nómada — não é necessariamente preciso um espaço “white cube” para dar a ver os seus
artistas. “A TARA é um projecto que é gerido como se estivéssemos em ‘economia de
guerra’, não há rede por baixo do trapézio. Não pode haver erros e é tudo feito de alma e
coração como se fosse a última vez.”
taragallery.pt
© Rui Calçada Bastos
Próxima Inauguração: Exposição de João Gabriel Pereira (finalista do Prémio Novos Artistas Fundação
EDP 2017). Novembro (data a confirmar).
The Room
— Video 5
Project
Profundamente direcionada para a vi-
deoarte, uma das áreas de maior interesse
do seu fundador, João Chaves, a The Room
situa-se em Marvila que, a par de Alvalade,
tem manifestado uma forte efervescência
galerística com a presença das galerias AR
Sólido, Baginski, Francisco Fino, Múrias
Centeno e Underdogs. “O vídeo e as novas
tecnologias não podem ser ignoradas. A
tendência existe há muito, é preciso é dar-
-lhe mais visibilidade.” João Chaves propõe WOZEN GALLERY
apostar numa arte que até então não
tinha casa em Lisboa, numa cidade onde Acrónimo para World Citizenship e sob o comando das mentes portuguesas e cariocas Kiki Caldas, Felipe Kopanski,
ocorrem festivais como o FUSO — Anual João Marcus Calvacanti e Rique Inglez, vizinhos da já referida Shiki Miki Gallery, a Wozen Gallery concentra-se na
de Vídeo Arte Internacional de Lisboa e o verdadeira imersão da actividade artística como arte-consciência. “Há também um fator cíclico que vários outros
LOOPS.LISBOA. “Há uma nova geração em países do mundo já experimentaram: a atracção de criativos, principalmente jovens, de todo o mundo, para cidades
que alguns tentam romper com a norma com custo de vida barato.” A galeria restrutura-se para receber, em períodos de três meses, mais de um artista
e com o que as galerias querem, mas a sob residência, tendo estes toda a liberdade para utilizar o espaço de exibição como bem entenderem. “A nossa
maioria continua a seguir fórmulas que estrutura permite que não sejamos dependentes apenas da venda directa de obras, o que foi essencial para a nossa
47
se materializam nas expressões clássicas sobrevivência num país como Portugal, com pouco dinheiro em circulação”, reflecte Rique Inglez.
como a pintura, o desenho e a escultura.”
fb.com/wozenstudio
theroom.pt Em Exposição: LUUANDA RISING de Francisco Vidal. Até 22.11.2017
Vamos Contar do Galo
Looking at the grass
48 Ilustração Ilustração 49
emprestar uma universalidade tão grande para que chovam colaborações
para o The Hollywood Reporter, Flipboard, National Geographic Travel,
Penguin Random House, Financial Times, Canadian Business Magazine e
Condé Nast Traveler? O próprio explica: “Procuro criar um universo sólido
e meio surrealista com as minhas ilustrações. Sentir que estas personagens
podem viver no mesmo mundo é o objectivo de cada ilustração (sem des-
curar briefings, claro). Ao mesmo tempo, e talvez por a maior parte do meu
trabalho se destinar a publicações internacionais, procuro que a minha lin-
guagem não se refira apenas a uma cidade ou a um local, mas que seja global.
Mas, sim Lisboa pode ser também uma grande fonte de inspiração e quem
sabe não surjam ilustrações mais lisboetas no futuro”. É o talento, pois! Se
referirmos uma das colaborações em território nacional, teremos que a
“imagem” da Casa da Música é, em tantos momentos, inconfundível.
Como é que tudo começou? É muito mais simples do que estão a pensar:
“Banda desenhada. Quando era adolescente era um ávido leitor de BD. Dos
X-Men do Chris Claremont e do Jim Lee ao Ghost World do Daniel Clowes.
Até começar a desenhar as minhas próprias BDs foi um pequeno salto e na
altura o único meio para isso era publicar pequenos fanzines. Tudo parecia
encaminhado por aí, até àquele momento fatídico da escolha de um curso e
a arquitectura pareceu na altura ser um meio que talvez me permitisse ex-
plorar várias coisas no campo artístico (à la Bauhaus). Não podia estar mais
enganado. Ainda assim trabalhei uns bons anos em arquitectura, até que um
pouco por acaso decidi concorrer ao prémio de BD da Amadora e ganhei. A
partir daí decidi encarar isso como um qualquer sinal divino e decidi dedi-
car-me à ilustração”, revela.
wasted
50 Ilustração Ilustração 51
Foto g raf ia Mari a Rita
St yl i n g Mi gue l Silva Veiga
Ma keu p e Cab e los Sand ra Alves
Mo d e lo Maf al da Fer reira Alves
VISUAL FLIRT
Fa to M i gu e l V ieira
P ó l o RVC A
Ac e s s ó r i o s da P ro dução
C a miso la e Es to la Twin Se t
Un d er we ar Pe pe Jea ns Lond on
Sa i a COS
To p Tw i n Se t
J e a n s L ev i ’s
Re l ó g i o Ni xo n
Ficha Técnica
“A D I S TÂ N C I A E N T R E O PA S S A D O E O P R E S E N T E
Conversas Falsas
É A M E S M A” Direcção
Trevenen Morris-Grantham
Nesta edição usamos o passado como alavanca para o futuro. [email protected]
Fomos ver as motas de fabrico nacional feitas no último século, Editora
agarrámos o volante de dez(!) Cadillacs, ouvimos os Lavoisier a Marta González
[email protected]
lembrar-nos que tudo se transforma e nada se cria,
Texto os bonecos
— Miguel Afonso do
Design Gráfico
Tiago Galo recordam-nos técnicas de impressão Ilustração —antigas, o editorial
Tiago Franco dos Reis Eva Gonçalves
masculino teve como inspiração o Bronx do final dos anos 70 que www.unfinishedinventory.com
a fotógrafa Martha Cooper imortalizou e no editorial feminino os Colaboradores desta edição
acessórios são artesanato das Caldas da Rainha, emblemáticos António Medeiros, Hugo Filipe Lopes, João Moura,
João Pedro Fonseca, Maria Rita, Miguel Afonso,
falos com mais de 100 anos. Será que andamos todos obcecados Miguel Silva Veiga, Nuno Miguel Dias, Rafael Vieira,
pelo passado? O proeminente crítico Simon Reynolds no seu livro Rita Castro, Sandra Alves, Sérgio Onze,
Tiago Franco dos Reis, Tiago Loureiro,
“Retromania: Pop Culture’s Addiction to its Own Past” estudou a Tom Perdigão.
produção O musical das últimas
Miguel Afonso e o John décadas
Cassavetes para
cruzamchegar
a ponte a uma
quem teoria
não tem outra hipótese,Redacção
mas como se fosse
e Departamento Comercial
muito interessante:
sobre o Tejo.com o advento da internet, o passado a tuaéprimeira
tão escolha. Isto é uma corda bamba de
[email protected]
visitável como—oEu presente. Basta
percebo isso, ir ao
Miguel Youtube
— disse John para ter que
acesso ao cair para a tristeza ouwww.difmag.com
só podemos para a morte.
Cassavetes.
maior arquivo que alguma vez esteve ao serviço da Humanidade. E é aí que temos de dançar, dançar com
facebook prazer, com
www.fb.com/difmag.pt
Seguíamos pela faixa mais rápida da ponte 25 de entusiasmo; se for preciso, exagerar no entusiasmo,
Bandas de hoje poderiam deixar-se influenciar por movimentos Propriedade
Abril. O Golf branco descapotável de 1992 fazia com falar demais, errar. Alguém te disse que a vida era
Publicards, Publicidade Lda.
contemporâneos, como oespecifica
que inalássemos o autor
fumo dos escapes “buscar
e deixava que referências
ordem, tranquilidade e felicidade?
no grime da Inglaterra ou no funk
sentíssemos o calor do sol. carioca. Mas existe a mesma
Cassavetes ficou calado.
Distribuição
Publicards
probabilidade—destas bandas
Mas nunca se basearem
vai melhorar em música obscura
— continuou. — Nãodosme vais responder? — disse-me, de súbi-
[email protected]
anos 70 ou—funk e blues
O ruído, pré-Segunda
o remoinho… — A mãoGuerra porque
que seguia no a distância
to, num tom irritado.
Registo ERC 125233
manípulo
entre o passado e das mudanças éergueu-se
o presente a mesma.” para desenhar — Pensei que era uma pergunta
Estimulante perspectiva. retórica.
Número de Depósito Legal
círculos repetidos. — Isso é o que é a constante, a — E? 185063/02 ISSN 1645-5444
Esta ida ao passado não trava o futuro, não cheira a mofo, não é
base da vida: esse atrito. Por isso é que temos de — Não, ninguém me disse que a vida era ordem,
saudosistabeber,
é, pela primeira
de fumar, de nosvez na História,
amarmos simplesmente
e magoarmos uns possível.e felicidade.
tranquilidade
Copyright
Publicards, Publicidade Lda.
aos outros. Por que é que havemos de cansar-nos — E sabes porquê?
Martaa tentar
González
viver na sanidade completa? Não vale a — Porque…
Tiragem média 10 000
pena. As nossas ferramentas, como espécie, não nos — Porque a vida não é nada disso — inter-
permitem viver nessa perfeição. Isso é que é loucura, rompeu-me —, a vida é só uma coisa: o oposto de
Índ ice 16 causa
tentar viver sem defeitos, sofrer por — Moda disso. não-vida. E o que é que é36 — Moda
não-vida?
— Vira aqui à direita. Regresso ao futuro com o — É o… Playground
06 — Design — Aqui, nesta? cobertor de papa — Eu não faço ideiaFotografia António
do que seja, Medeiros
mas tenho a
Indefinição concreta
— Sim. Texto Tiago Loureiro Styling Sérgio Onze
certeza que não inclui fazer amor nem esperar na
e definida — Ok. O que é que eu te estava a dizer? fila para pagar a Segurança Social!
Texto Rafael Vieira 18 — Design
Desculpa, achas que estou a falar demais? Mas se 44 — Arte
Agora Cassavetes parecia alterado. Falava ainda
Que vença
calhar eu estar a falar demais já é um bocado umao pior As (novas)
mais alto do que antes, como se nãoGalerias comoaExpansão Cultural
se dirigisse
08 — Tendência Texto Hugo Filipe
resposta ao teu problema. Tu sentes-te a enjoar no Lopesmim mas a si próprio. Texto João Pedro Fonseca
Insectos com remoinho
açúcar e no ruído e eu digo-te: Toma um com- — Por isso, há que festejar. Festejar tudo, até
Texto Marta González 20 — Kukies 48 — Ilustração
primido para o enjoo, se tiver de ser, mas atira-te de os dias cinzentos e apáticos!
Vamos AtéContar
as dores
do mais
Galo
10 — Capa Dura 24 sentir
cabeça. Se só vês o enjoo e deixas de — Retroculture
a excita- lancinantes! Festejar atéTexto
a velhice
Nunodesgastar-te,
Miguel Dias até a
ção de
Não precisamos da mais
velocidade, Semear
heróis Miguel, isso é meia o American
morte. Temos Dream morte dos teus amigos!
Lopesas expectativas e olhar para o mundo sem Dias
de baixar
Texto Hugo Filipe Texto Nuno Miguel — John, estás bem?52 —— Moda
cortei-o.
romantismos. É aí que começa. Um olhar frio, sem Ele acalmou. VISUAL FLIRT
26falsos.
12 — Culturafacilitar, sem simplificar, sem ideais — Música
E não Fotografia
— Esquece. É o que é. Que é que Maria Rita a
fazemos
Portugal a andar de mota Lavoisier. É nosso.
é enganares-te a ti próprio e convenceres-te que a seguir? Styling Miguel Silva Veiga
Texto João Moura Texto Nuno
vida é um mar de rosas a 26ºC para tornares mais Miguel Dias — Não íamos comer ameijoas?
agradável a ideia de mergulhar. É o oposto. É ver o 58 — Conto
— Sim, mas e a seguir a isso? Apetecia-me fazer
28 — Fotografia
14 — Moda mar de lama e amor e prazer e dor, e mesmo assim Conversas Falsas
Show and Tell um musical. O “Crime e Castigo” do Dostoievski em
Denim ‘forever young’
teres força para te atirares com vontade, não como Texto Miguel Afonso
Texto Rita Castro Texto Marta González musical, por exemplo. O que é que achas?
Ilustração Tiago Franco dos Reis
Por decisão editorial, cada artigo nesta DIF foi mantido na sua ortografia original.
58 Conto