A Africa Explicada Aos Meus Filhos - Alberto Da Costa e Silva PDF
A Africa Explicada Aos Meus Filhos - Alberto Da Costa e Silva PDF
A Africa Explicada Aos Meus Filhos - Alberto Da Costa e Silva PDF
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A Africa
e x p l i c a d a aos meus f i l h o s
A
A gir
O u tros títu lo s da coleção:
ASSISTENTE DE DESIGN
Amanda Newlands
COPIDESQUE
Rebeca Bolite
REVISÃO
Tais Monteiro
Damião Nascimento
PRODUÇÃO EDITORIAL
Juliana Romeiro
08 09 10 11 12 ~~ ” ~ 8 7 6 5 4 3 2 1
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Agi r
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P r im e ir a conversa, 9
Segunda conversa , 21
Terceira conversa, 35
Q uarta conversa, 53
Q uinta conversa, 67
Sexta conversa, S3
ras e tira n o s .
Uma visão não desmente a outra, e ambas são incompletas.
Se uma região da África foi atacada por nuvens de gafanhotos
que devoraram todas as plantações, e nela há fome, nas outras a
colheita se fez normalmente, os celeiros estão repletos e há abun-
dância de comida. Se em determinado lugar há uma feroz luta
armada, noutros as crianças vão regularmente à escola, de roupa
limpa e sapatos lustrados. E a vida familiar transcorre normal-
mente, sem faltar alegria. Todos trabalham e produzem.
A África é um continente enorme, com uma grande diversi-
dade geográfica. Nela há de tudo: altas montanhas — algumas,
como Kilimanjaro, com os picos permanentemente cobertos de
neve; grandes desertos, como 0 Saara; florestas que parecem
sem fim, como a do Congo; grandes extensões de matas baixas e
de estepes (nome que se dá a áreas cobertas por capim e outras
plantas rasteiras); e zonas que estão sempre alagadas. Cerca de
metade do continente é formada, porém, por savanas, uma pai-
A l b e r t o da Cost a e Si l v a υ
0 elefante e 0 h ipopótam o?
É verdade. O elefante vive tanto na floresta quanto nas sava-
nas. E 0 hipopótamo, onde haja rios e lagoas. A crescente deman-
da por marfim na Ásia e na Europa, desde a Idade Média, reduziu
muito o número desses dois animais — 0 dente do hipopótamo
era tão apreciado quanto a presa do elefante —, sobretudo depois
da introdução das armas de fogo pelos europeus. A caça preda-
tória fez enormes estragos entre outros mamíferos, felizmente
hoje protegidos em grandes reservas onde só se permite 0 uso
das máquinas fotográficas e das filmadoras.
Q u a n d o ex istiu 0 reino de G a n a ?
Gana aparece pela primeira vez num texto árabe do século
VIII, como o país do ouro. E é a abundância desse metal que fica
na nossa memória quando lemos a descrição do rei e de sua cor-
te, feita no século XI por Al-Bakri, outro árabe, natural de Córdo-
va, na Andaluzia. O soberano vestia uma ampla túnica e tinha na
cabeça um turbante encimado por um gorro bordado em ouro.
Trazia colares e pulseiras também de ouro. Atrás dele ficavam
dez escravos, com espadas e escudos ornamentados de ouro. De
ouro eram os arreios dos cavalos do rei. E as coleiras dos cachor-
A l b e r t 0 da Cost a t St i ua 25
Como a ssim ?
Os tecelões africanos produziam panos de algodão de ótima
qualidade, que desde 0 século XII eram exportados para a Europa
e, a partir do século XVI, para 0 Brasil — os famosos panos-da-
A l b e r t o da Costa e Si l v a 29
às européias?
Só em alguns setores. A África ao sul do Saara ignorava as
engrenagens, que nos moinhos substituíam, multiplicando, a
força hum ana e foram responsáveis, a partir do século IX, por
um a verdadeira revolução na vida econômica européia. Des-
conhecia, para dar um outro exemplo, a roldana, que permitia
até mesmo a um menino magricela tirar água de um poço. E
não sabia da engrenagem e da roldana porque não inventara a
roda nem a recebera de outros povos. Nenhum tipo de carro
rodava na África subsaariana. Em algumas poucas regiões, ha-
via asnos e bois de carga, mas, na maior parte do continente, o
que não descia ou subia os rios em canoas era levado à cabeça
das mulheres. Tampouco existiam na África ao sul do Saara
instrumentos corriqueiros como o serrote, a plaina, 0 tomo, 0
parafuso.
Vemos no mapa que a Arábia está quase colada à África. Por que
as técnicas e os instrumentos desenvolvidos pelos árabes ou por eles
conhecidos não atravessaram 0 mar Vermelho e 0 oceano Índico e se
difundiram pelo continente africano?
Os tripulantes dos barcos árabes, persas, indianos e indoné-
sios que comerciavam nos litorais africanos do Índico deixavam-
se ficar nas ilhas junto à costa. As populações mestiças, que se
formaram nessas ilhas e que se dedicaram principalmente ao
comércio, pouco influenciaram as do continente. Quanto aos
etíopes, que m antinham antiqüíssimas relações com a penínsu-
la Arábica, eles se isolaram, nas suas altas montanhas, do resto
da África.
Como eram as relações comerciais dos litorais da África banha-
dos pelo oceano Índico com os árabes, os persas, os indianos e os
indonésios?
No início da era cristã, um grego, ou egípcio convertido à cul-
tura grega, escreveu um livro, o Périplo do mar eritreu, com in-
formações para os navegadores e comerciantes sobre os portos
que havia na costa africana do Índico e as mercadorias que neles
se vendiam e compravam. Esse comércio vinha de muito antes,
envolvendo egípcios, gregos, etíopes e árabes.־E seria, depois, dis-
putado por romanos e persas.
Foi, porém, após a conversão da península Arábica e da Pérsia
ao credo de Maomé que esse comércio tomou maior vulto. É des־
sa época que as crônicas locais — como a Crônica de Quüoa, um
livro escrito provavelmente na primeira metade do século XVI
— datam a chegada dos primeiros grupos de imigrantes muçul-
manos e a fundação de colônias nas ilhas próximas ao litoral.
É possível que comerciantes estrangeiros já estivessem es-
tabelecidos em algumas delas, desde muito antes. E temos um
motivo para pensar assim. A navegação no oceano Índico era re-
guiada pelo fenômeno das monções ·גDe novembro a março, os
ventos sopram de nordeste para sudoeste; de maio a setembro,
no sentido inverso.
3S A Á f r i c a e x p l i c a d a aos meus f i l h o s
ocidente. Para o sul, 0 Atlântico era, porém, até 0 início das nave-
gações portuguesas, um oceano vazio de barcos a vela.
Você disse que os europeus eram sempre poucos nesses fortes efei~
tonas. Por quê?
Se estavam, como você disse, à mercê dos africanos, por que os eu-
ropeus insistiam em fortificar esses estabelecimentos comerciais?
Para se protegerem! principalmente de outros!europeus./ Esta-
vam preocupados com os inimigos que vinham pelo mar. Com
a gente da terra, aspiravam à amizade ou, pelo menos, ao bom
entendimento necessário ao comércio. Era, aliás, comum que os
europeus que neles viviam formassem família com as mulhe-
res locais. Elas e seus filhos serviam muitas vezes de intermediá-
rios entre a feitoria e a cidade ou aldeia africana que a cercava.
O mesmo se passava com aqueles aventureiros ou degredados
que os barcos portugueses deixavam nas costas da África, que
receberam os nomes dê lançados òti tangomãosj e cujas histórias,
sob muitos aspectos, se assemelham às dos nossos Caramuru e
João Ramalho. Casavam com mulheres da terra, africanizavam-
se, ao mesmo tempo que as europeizavam, e serviam de agentes
comerciais para os reis e mercadores africanos e para os entre-
postos europeus.
44 A A f r i c a e xpl i cada aos meus f i l h o s
E no Índico?
A situação não era muito diferente. Tanto a ilha de Moçambi-
que quanto Sofala, Quelimane, ínhambane, Lourenço Marques
e outras possessões portuguesas tinham de lidar com a benevo-
lência ou a hostilidade dos emires e xeques das várias cidades-
estados muçulmanas vizinhas e não esquecer a proximidade
protetora do sultão de Zanzibar. Sobre o Zambeze, duas cidades,
Sena e Tete, hasteavam a bandeira portuguesa, e, ao longo do rio,
sucediam-se os prazos.
Esses prazos eram grandes extensões de terra concedidas pelo
rei de Portugal, pelo monomotapa (ou rei dos xonas carangas) e
outros chefes africanos a colonos portugueses e que podiam ser
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herdadas por suasjilhas, óm geral mulatas, desde que se casas-
sem com portugueses. Os titulares dos prazos, prazeiros ou pra-
zeiras, comportavam-se, porém, como chefes africanos. Se po-
diam acudir ao governador português de Moçambique com suas
tropas privadas dè soldados-escravos, ou chicunâas, não hesita-
vam em desafiar-lhe a autoridade.
No que hoje é a Africa do Sul, havia quatro grandes enclaves
europeus. Os ingleses tinham ali duas possessões: a do Cabo da
Boa Esperança, em permanente expansão para o norte e para
o leste, e a de Natal, no oceano Índico. No interior, havia dois
estados bôeres: a República do Transvaal e o Estado Livre de
Orange. Esses bôeres eram os descendentes dos holandeses,
franceses e alemães que se haviam instalado na África do Sul
desde o século XVI.
52 A À f r i c a e xp l i ca d a aos meus f i l h o s
O homem, pelo visto, não fazia quase nada. Ficava vendo as mu-
lheres trabalharem.
Os homens derrubavam as matas para abrir espaço para as ro-
ças. Construíam as casas e lhes reformavam os tetos e as paredes,
antes da estação das chuvas. Escavavam barcos nos grandes tron-
cos de árvores. Remavam. Cuidavam do gado bovino. Caçavam. E
eram soldados. Ainda assim, penso que as mulheres eram respon-
sáveis pela maior parte das atividades produtivas. Além de produ-
toras, elas eram também reprodutoras: com os filhos aumentava
o número dos componentes do grupo. Daí 0 valor que tinham
dentro da família, que cobrava caro para cedê-las em casamento.
5* A A f r i c a e xpl i cada aos meus f i l h o s
Por que não podia ela dividir-se entre os cuidados com 0filho e as
atenções ao marido? Uma coisa, entre nós, não exclui a outra.
Porque na África um grande número de crianças morria, e
ainda morre, nos primeiros anos, quando não nos primeiros me-
60 A A f r i c a e x p l i c a d a aos meus f i l h o s
E 0 islamismo?
Como já disse, o islamismo chegou aos litorais africanos do
Índico muito cedo: possivelmente já no fim do século VII, cerca
de cinco décadas após a morte de Maomé. E talvez tenha através-
sado o Saara e começado a se difundir ao sul do grande deserto
cem anos mais tarde. Pouco a pouco, os muçulmanos foram ex-
pandindo a sua fé savana abaixo, até, já no século XIX, atravessa-
rem a floresta e chegarem às costas do Atlântico. Na África Indica
foram também ganhando espaço do litoral para o interior.
Todas?
Nem todas. Os escultores africanos faziam também peças
para o puro prazer estético. Como uma bela colher, a ter por cabo
11ma figura feminina. Além disso, nos grandes reinos, podiam
estar a serviço do Estado e do soberano e esculpir para a glória
destes. Como, porém, os reis eram seres sagrados, encarnações
de deuses ou intermediários entre as divindades e os homens,
é difícil, muitas vezes, considerar uma escultura de corte como
inteiramente despida de função religiosa.
No caso dos chamados bronzes do Benim, por exemplo, tudo
indicaria estarmos diante de uma arte de cprte, destinada a ce-
lebrar 0 poder e a grandeza do soberano. As grandes placas que
cobriam os pilares das varandas do palácio do obá nos mostram,
em alto-relevo e com uma profusão de pormenores, não só o rei
em seu esplendor, cercado por nobres e serviçais, mas também
guerreiros em plena batalha ou cenas da vida diária, como um
caçador a espreitar um passarinho no alto de uma árvore. Boa
parte da escultura do Benim, tanto em ligas de cobre quanto em
74 A A f r i c a e x p l i c a d a aos tneus f i l h o s
A in d a hoje é assim ?
se n ta v a m dançando?
Ou dançando ou em cortejos, a marchar em cadência, acompa-
nhados por diferentes tambores, agogôs, reco-recos, agüês, sansas,
pífaros, apitos e todo tipo de instrumentos musicais. Na maior par-
te da África, não há, aliás, momento algum de importância na vida
humana que não seja acompanhado de música e de dança.
sica e d a n ç a .
Até porque a África influenciou fortemente a música con-
temporânea, tanto a popular quanto a chamada erudita ou dás-
sica. Quase todos os ritmos populares difundidos do continente
americano para o resto do mundo — a começar pelo samba, a
rumba, o calipso, a salsa e o jazz — têm raízes africanas. Ou
melhor, foram criações, nas Américas, dos africanos e de seus
descendentes. O que esses só raramente preservaram neste lado
do Atlântico — e 0 fizeram na música dos candomblés e no jazz
— foi a riquíssima polirritmia de tantos povos africanos.
A música desses povos se assenta na percussão. Na variedade
extraordinária desses instrumentos. Sobretudo de tambores, de
todos os tamanhos e dos mais variados registros. Há tambores
que vão da mais aguda das vozes para a mais grave. E aqueles que
cantam e, cantando, falam. Como os tambores-falantes dos ioru-
bás, nos quais um bom músico consegue reproduzir a entonação
das palavras e das frases do iorubano. Como o iorubano é um
idioma tonal, quem ouve o tambor sabe o que ele está dizendo,
ou melhor, cantando.
80 A A f r i c a e xpl i cada aos meus f i l h o s
C om o é esse ta m b o r fa la n te ?
Claro que sim. E não se pode esquecer que muitos dos que
eram submetidos ao cativeiro ficavam na África subsaariana,
como escravos. Sobretudo as mulheres e as crianças pequenas. Já
se calculou, aliás, que, para cada pessoa vendida para as Améri-
cas e para o mundo muçulmano, duas ou três permaneciam com
os seus captores ou eram comercializadas ao sul do Saara.
A l b e r t o da Cost a e S i l v a 8y
países m u ç u lm a n o s .
ra m co m 0 tráfico?
C om o f o i isso?
a zeite de dendê?
p a n h a r 0 rei?
Havia. E não só para acompanhar o rei. Ou os aristocratas.
Entre algnns povos, um chefe de família que fosse dono de es-
cravos teria alguns deles sacrificados no seu túmulo. E, se não os
possuísse, não seria de se estranhar que os seus parentes com-
prassem ao menos um, para ser enterrado com ele.
Esses chefes africanos p o r m eio dos quais a Coroa b ritâ n ica gover-
n a v a 0 seu im p ério n a Á frica era m os m esm os que se h a v ia m oposto
pelas a rm a s à conquista européia?
E os alem ães?
os respeitavam ...
Não só não os respeitavam como muitas vezes escolhiam, en-
tre os que, por nascimento, tinham direito a reinar e a chefiar, um
rei ou chefe oculto, cuja identidade era mantida em segredo para
os europeus. A ele pagavam, escondido e de bom grado, tributo,
submetiam-lhe os seus problemas, para que os aconselhassem,
e as suas disputas, para que as julgasse, e dele esperavam que
sacrificasse aos deuses e aos ancestrais e que cumprisse todos os
ritos que asseguravam a prosperidade do povo.
\ 1'ך״
cionários das suas colônias. A palavra fsarô’\ se aplica também
aos seus descendentes.
E os “a guâás”?
E n a agricultura, fo r a m m u ita s as m u d a n ç a s?
E as cidades? T a m b ém se m o d ifica ra m ?
las a rm as?
Houve. Na Argélia, com uma guerra que durou oito anos, de
1954 a 1962. O conflito armado se alongou ainda mais nas co-
lônias portuguesas. Em Angola, a guerra anticolonial estendeu-
se de 1961 até a independência, em 1974. Na Guiné-Bissau, as
ações armadas de vulto começaram em 1963. Em Moçambique,
em 1964. E foram guerras duríssimas.
f:Na maior parte da África, porém, como já disse, as indepen-
dências foram obtidas pela ação política. Pacificamente. E repre-
sentaram um momento de grande euforia no continente. Tudo
parecia possível com a libertação. Até mesmo aqueles países com
poucos recursos naturais apostavam num futuro de progresso.
Os anos do pós-guerra, que antecederam a maioria das inde-
pendências, e os que vieram imediatamente depois delas foram
— digamos assim — felizes para a maior parte da África. A sua
população aumentou consideravelmente, com a diminuição da
mortalidade infantil, a erradicação da varíola e os novos conhe-
cimentos médicos de prevenção e combate à malária, à doença
do sono, à tuberculose, à sífilis, à febre amarela, à xistossomose,
ao verme-da־guiné, à cegueira dos rios e a outras enfermidades.
Multiplicaram-se as escolas primárias e secundárias e surgiram
várias universidades. Aumentaram as tiragens dos jornais, e as
estações de rádio podiam ser ouvidas até mesmo nas pequenas
124 A A f r i c a e x p l i c a d a aos meus f i l h o s
nos}que contrastava com 0 fato, cada vez mais evidente, de que era
nas Regiões Leste e Oeste que se geravam as riquezas do país.
Dentro de cada uma das três Regiões havia, por sua vez, um
forte descontentamento: os povos minoritários sentiam que ti־
nham nelas uma voz muito fraca — ou não tinham voz alguma.
Além disso, viam-se desfavorecidos, num sistema social em que
a primeira fidelidade e a primeira obrigação eram para com a
família, a aldeia, a linhagem e 0 clã. Sabiam-se excluídos das dá-
divas do poder. E essas cedo se mostraram generosas, pois todos
esperavam de quem estivesse no mundo que premiasse os seus.
Os povos minoritários começaram a reclamar uma nova divisão
política do país, na qual pudessem ter o seu lugar.
A euforia da independência não demorou a ser corroída pela
insatisfação. A anunciada prosperidade custava a chegar, e a luta
política degenerava repetidamente em violência.
Em janeiro de 1966, um grupo de sete majores do exército,
dos quaisfseis eram íboá^ deu um golpe militar extremamente
sangrento, com o assassinato do primeiro-ministro, Abubakar
Tafawa Balewa, de vários políticos importantes, inclusive do prin-
cipal líder nortista, 0 Sardauna de Socotô, e de suas famílias. Um
dos objetivos do golpe era terminar com o federalismo na Nigé-
ria, que se transformaria numa república unitária. Com isso não
podiam concordar os hauçás, nem os iorubás, nem os demais
povos, que interpretaram 0 movimento militar como uma tenta-
tiva ibo de monopolizar o poder.
Os ibos, que não cabiam, de tão numerosos, nos seus terri-
tórios tradicionais a leste do rio Niger, haviam-se espalhado por
quase toda a Nigéria. Por toda parte, prosperaram, como artífi-
A l b e r t o da Cost a e Si l v a ip
Por quê?
Ou, melhor: que só está em casa quem não pode estar na rua.
pressa.
Essas im agens de alegria nas ruas co n tra sta m co m o utras, que nos
m o stra m crianças fa m in ta s , quase re d u zid a s a olhos e ossos, e fa m í-
lias vivendo refugiadas das guerras d v is e n a m a io r das m isérias.
antepassados africanos. Isso não quer dizer que não tenham sido
trazidos de outras regiões. De Moçambique, é claro, e de outras
partes da África Oriental, sobretudo depois de 1750. Mas, se en-
contrarmos alguém que veio da Etiópia ou da atual República do
Sudão, será motivo de surpresa.
A migração forçada mais numerosa e mais estendida no tem-
po — cobrindo três séculos — teve por origem os Congos e An-
gola. Dessa ampla região, vieram para o Brasil congos, ambun-
dos, angicos, iacas, libolos, imbangalas, lubas, lundas, luchazes,
luluas, holos, quis sarnas, ovimbundos, ganguelas, lovales, lózis e
membros de muitos outros povos a que chamamos bantos. Cada
um deles fala uma língua distinta e tem costumes diferentes dos
demais. Mas são considerados bantos porque os idiomas que fa-
lam pertencem à mesma família lingüística, a banta, do mesmo
modo que os que se expressam em português, castelhano, cata-
lão, francês, italiano e romeno são denominados latinos.
Outra área importante de migração para o Brasil, principal-
mente no século XVIII e primeira metade do XIX, foi o golfo do
Benim, a região formada por Togo, República do Benim e Nigé-
ria. Dali e de seu vasto interior vieram pão só fons e iorubás, mas
também guns, gás, evés, mahis, hauçás, baribas, nupes, gruncès,
bornus e um grande número de povos .menores. Da chamada
\ 1
Costa do Ouro recebemos fontes è axantes.
Mais antiga foi a participação do Senegal, da Gâmbia e dos pa-
íses da Alta Guiné (as duas Guinés e a Serra Leoa). Ela começa no
século XVI, perde vulto no decorrer do XVII e volta a ter algum
relevo na segunda metade do XVIII. De lá vieram, sobretudo
para o Maranhão e 0 Pará, mandingas, jalofos, sereres, bfjagós,
pepeis, susus, limbas, banhuns, balantas e beafadas.
1$4 A A f r i c a e xp l i ca d a aos meus f i l h o s
história,
de nossas vidas.
A 9 789688 874103
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