Viola de Lereno

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VIOLA
D E

LERENO:
COLLECCÃO
DAS S U A S C A N T I G A S ,

OFFERECIDAS-

A O S SEUS A M I G O S .

VOLUME / ,

x x ; < x : o x s o s - i o >cx>- x x
L I S B O A :
NA OFFICINA NUNESIANA.
Anno 1798.
Com licença da Meza do Dtse-.rd-avgo
do Pano.
* K 3 ••?*

NO DIA DE FESTEJAR-SE O NOME

D A

S E N H O R A

CONDEÇA D E POMBEIRO.

C A N T I G A S .

A MIRA formosa,
Escuta os louvores,
Que os simples Pastores
Vem hoje entoar:
O teu Nome illustre ,
Subindo ás Estrellas,
Nos Bosques de Bellas
Já vai resôar:
OfFren-
*K 4 #>
OfFrendas singelas
Das suas campinas,
Cheirosas boninas
Te vem ofFertar:
E o Pomo, que pende
Para ti nascido,
Para ti colhido
Te vem entregar

O Pomo da China ,
Que cresce em teus campos,
Cos figos que lampos
Eu ouço chamar :
Os Limões pontudos,
Esféricas Limas,
C o as nozes qu'estimas
Te dão a gostar.

Em
Em honra a teu Nome
Contentes trabalhão ,
N'um louro o entalhão
Por vê-lo durar :
Em honra a teus Filhos
Seis plantas creárão,
E a outras preparão
Bastante lugar.

Teu Nome tem feito


Que do canto gostem ,
T u fazes que apostem
T e u Nome cantar:
N o rude Psalteiro,
Na harmônica Lyra
O Nome de Araira
Se ouve resoar.

Assim
Assim tua vida
Durar sempre possa,
Que he vida q'adoça
O nosso pezar:
Seremos alegres,
N ã o digo mentira ,
O tempo em q'Araira
Bellas animar.

Moda de Tirce.

C A N T I G A S .

V, E , Lereno desgraçado,
O teu destino cruel ;
A m a r , e morrer de amores,
Por quem te não he fiel.

Vem
*y 7 x*
Vem os terríveis ciúmes
Rodear-te de tropel,
Has de contínuo sorTrellos
Por quera te não he fiel.

Dos Amantes desgraçados


Vê o terrível painel,
T a n t o tens que supportar
Por quem te não he fiel.

Verás as doces promessas


Converter-se amargo fel,
Desvanecer-se a esperança
Por quera te não he fiel.

A mão treme de assustada,


Cahe dos dedos o pincel,
Não pinto o que has de passar
Por quera te não he fiel.

Nun-
«K s ^*
Nunca belleza , e constância
Guardarão próprio nivel;
SoíFre por Lilia mas sofFre
Por quem te não he fiel.

Embora seja enganada


O néscio amante novel,
OJo tempo te desengana
Por quem te não fiel.

Mas Amor tem arte, e geito.


D'espalhar seu doce m e l ,
E te faz ser doce a morte
Por quem te nao he fiel.

Teu
*K 9 X*

Teu juramento.

C A N T I G A S .

N, As leves azas
Do vario vento
Voou, perdeo-se
Teu juramento:

Oh que tormento!
Lilia me jura,
h não conhece
Amor, ternura.
Chamas os Numes
Do Erhereo assento ,
E he seu opprobrio
Teu juramento :

Oh , &c.
Ao
*K io X*
Ao teu perjúrio
Cupido attento,
Punir proraette
Teu juramento:

Oh, &c.
Lá onde o Léthes
Vai somnolento
Chegou voando
Teu juramento:

Oh, &c
Nas frias agoas
Do esquecimento
Vai mergulhar-se
Teu juramento:

Oh, &c.
D'amor não tinhas
Conhecimento
Nem sahio d'alma
Teu juramento:

O h , &c.
*K " X*
Lereno triste
No seu lamento
Chora baldado
Teu juramento:

Oh , &c.

Bem fica.

C A N T I G A S .

A Deos bellas Nymfas,


Gentil Sociedade ,
O mal da Saudade
Começo a chorar,

Ai! que o meu pezar


Assim não se explica ;
Vai mal o que vai,
Bem fica , quera fica.
A
<*K !2 )&
A Deos, 6 Campinas y
A Deos, arvoredos,
Que d'alma os segredos
Me ouvisreis contar:

A i ! , &c.

O Fado me aparta
Dos olhos, que adoro ;
Dizei-lhe o que eu choro
De assim me ausentar :

A i ! , &c.

Meu Coração triste,


Partido em pedassos,
Só pôde os seus passos
Assim vigiar:

A i ! , &c.

Mas levo em rainha alma


Da ausência os temores,
E invejo os Pastores ,
Que podem ficar:

Ai! &c. Amor


<K 13 *5#
Amor por vingar-se
Do livre Lereno
D'ausencia o veneno
Assim faz provar;

A i ! , &c.

Recado.
O Ra a Deos, Senhora Ulina ;
Diga-me , como passou ;
Conte-me , teve saudades ?
Não , não ;
Nem de mira mais se lembrou :

O amor antigo
Já lhe passou,
E a fé jurada ?
Tudo gorou.
Di-
*y 14 ;>#>

Diga, passou bem no Campo?


Diverrio-se ! passeou !
Acaso lhe fiz eu falta ?
Não , não,
Nem , &c. . . . O amor, &c.

Era bom o seu Burrinho ,


Ou somente a pé andou?
Lembrou quera lhe dava o braço?
N ã o , não,

Nem, &c O amor, &c.

Houve muita Contradança?


E com quem contradançou ?
Lembrou-lhe este seu parceiro?
N á o , não,

Nem, &c O amor, &c.

Can-
«K ls X*
Cantou algumas Modinhas?
E que Modinhas cantou?
Lembrou-lhe alguma das minhas?
Não, não ,
Nem, &c O amor, &c.

Ha de dizer, que eu lembrava,


E que por mim suspirou j
Não ha tal: bem a conheço:
Não, não,
Nem, & c . . . . O amor, &c.
l6
*K X&

A dor do meu Coração.

M O D A .

D Isfarço no alegre rosto


Minha interior afflicção;
Porque os outros não conheção
A dôr do meu Coração:

Tenho ensinado a meus olhos


Dos segredos a lição;
Sabem dizer em segredo
A dôr do meu Coração:

Apparecem nos meus olhos


Dezejos , que vem e vão;
Comsigo levao , e trazem
A dôr do meu Coração:
Tal
*k '7 ^*
Talvez aquella, que adoro,
Que he minha consolação,
Não entenda , não conheça
A dôr do meu Coração:

Quando seus olhos não vejo,


Cresce mais minha affliçao;
Seus lindos olhos consolão
A dôr do meu Coração:

Vi hum dia , hum certo-dia;


Huns signaes de compaixão,
E dei por bem empregada
A dôr do meu Coração:

Vol. 1. Quem
l8
*K X*

Quem dd o que tem.

C A N T I G A S .

E U tenho que dar-te,


Alzira , meu Bem ,
O meu terno Amor,
Que assim me convém:

Não sei, minha amada,


Se muito m'explico;
Mas dá mais qu'hum Rico
Quem dá o que tem.

Em
<&K ip X*
Em vez de manadas,
E largos Currais ;
Serão os meus Ais
Offrendas também:

Não sei, &c.

Eu não te appareço
Com rico surrão;
Mas meu Coração
JMaior valor tem :

Não sei, &c.

Por chuva, por calma ,


De noite, e de dia ,
Farei companhia
Fiel a meu Bem:

Não sei, &c.

A
«K 20 )&

A' doce União de Amor.

C A N T I G A S .

D, Estinou-me a Natureza
Para ser seu Orador;
Deo-me por primeiro thema
A doce União de Amor:

Amor dá o tom
Para a Companhia,
Sem elle se vive
Em sera-sabedoria.

Nem
«X 21 X*
Nem fora ditoso o Mundo,
Nem tivera morador,
Quando nelle se acabasse
A doce União de Amor:

Amor, &c.
Dos desgostos desta vida
Peior fora o dissabor,
Se acaso os não temperasse
A doce União de Amor:

Amor , &c.

Talvez maior que o das Feras


Seria o nosso furor,
Se acaso o não moderasse
A doce União de Amor:

Amor, &c.

No
«X 22 K*
No mesmo Reino do pranto
Hum terno, amante Cantor
Susteve as penas cantando
A doce União de Amor:

Amor, &c.

Se entro no cerrado bosque


Ouço as Aves ao redor,
Que no seu gorgeio explicao
A doce União de Anipr:

Amor, &c.

Se cjepãera P fero monstro


O seu natural furor ,
He só quando o tem dpm.adp
A doce União de Amor :

Amor, SÍC.

CA-
*y H x%
Salta alegre ao lume d'agoa
O escamoso N a d a d o r ,
E talvez saltando explica
A doce União de Amor:

A m o r , &c.

Huma planta abraça hum tronco,


Huma flor beija outra flor ,
Mostra em tudo a Natureza
A doce União de Araor:

Amor, &c.

He bom tudo o que Amor d á ,


Seja prazer , seja dôr,
Tem certo azedo que agrada
A doce União de Amor:

A m o r , &c.

O que não ama não acha


A' Vida melhor sabor ,
Que hc o tempero da Vida
A do c e União de Amor :

Amor, &c.
«X 24 X*

Vou morrendo de vagar-

C A N T I G A S ,

J li U sei, cruel, que tu gostas,


Sim gostas de me matar ;
JVlorro , e por dar-te mais g o s t o ,
Vou morrendo de vagar :

Eu gosto morrer por t i ;


T u gostas vêr-me espirar ;
Como isto he morte de g o s t o ,
Vou morrendo de vagar:

Amor
«X 25 X*
Amor nos unio em vida,
Na morte nos quer juntar;
E u , para ver como morres,
Vou morrendo de vagar :

Perder a vida he perder-te;


Não tenho que me apressar;
Como te perco morrendo ,
Vou morrendo de vagar:

O veneno do ciúme
Já principia a lavrar;
Entre pungentes suspeitas
Vou morrendo de vagar:

Já me vai calando a? veias


Teu veneno de agradar;
E gostando eu de morrer,
Vou morrendo de vagar :

O uni-
«X * X*
Quando não vejo os teus olhos,
Sinto-me então espirar;
Sustentado d'esperanças ,
Vou morrendo de vagar:

Os Ciúmes , e as Saudades
Cruel morte me vem dar;
Eu vou morrendo aos pedaços ,
Vou morrendo de vagar:

He feliz entre as desgraças,


Quem logo pôde acabar;
E u , por ser mais desgraçado,
Vou morrendo de vagar :

A morte, emfira , vem prender-me,


Já lhe não posso escapar;
Mas abrigado a teu Nome,
Vou morrendo de vagar:

Mi-
*X *7 X*

Minuete.

L, filia , Oh Lilia ,
Tu não escutas
Soar nas grutas
O meu clamor!
Não me appareces,
Não te eterneces,
Da minha dôr?
Lilia , oh Lilia ,
Morro de amor,

Lilia , oh Lilia ,
Lá d'onde assistes ,
Ouve os ais tristes
Do teu Pastor:
Não
*X 28 x*
Não tardes mais,
Vem aos meus ais,
E ao meu clamor,
Lilia , oh Lilia ,
Morro de amor:

^S£~pOOOOQ3£^~
Nada de diívidas.

C A N T I G A S .

D Uvidou a minha Ulina ,


Quiz a minha fé provar;
Inda bem, desenganou-se,
Ah não torne a duvidar:

Porque Amor quando duvida ,


Principia a vacülar.

Não
«X 2p X*
Não acreditou meus Votos,
Ao depois de eu lho jurar;
Veja agora , que são puros,
Ah não torne a duvidar:

Porque, &c.

Aqui ponho a mão no fogo,


Que de amor arde no altar;
Eu repito o juramento;
Ah não torne a duvidar:

Porque, &c.

Se em tanto tempo de ausência,


Eu pude a fé conservar;
Que mais provas quer Ulina?
Ah não torne a duvidar:

Porque, &c.

Se
«X Io X*
Se em meio das outras Bellas,
O seu Nome eu fiz soar;
Náo tem de qüe desconfie,
Ah não torne a duvidar:

Porque, &c.

Haja paz, e cPnfiança ,


Que são delicias no amar;
Não amargure os meus dias,
Ah não torne a duvidar:

Porque, &c.
«X 3i X*

A' Madrugada.

C A N T A T A.

J A' surge a rubra Aurora


Por siraa deste Monte,
E o límpido Horizonte
O Sol já vem dourar:

O concavo Saveiro
Palemo põe em nado,
E o curvo anzol iscado
Já vai lançando ao M a r :

Meu
«X 32 X*
Meu alvo Cordeirinho
A esta parte salta ;
Só Lilia aqui me falta,
Por Lilia vou chamar:

Ah Lilia se me negas
A tua companhia,
Que pouco importa o dia,
Que fazes malograr.
m ora
* ' ! • l i l>i

VIOLA DE LERENO.

Foi. I. Num. 2 .

Perdi a Alegria.

C A N T I G A S .

^ ^ . U a n d o eu não amava,
Alegre vivia;
Agora, que eu amo,
Perdi a alegria :
Tudo m'entristéce ,
Tudo m'enfastiaj
Perdi o socego,
Perdi a aleQria.
«X 2 ) #
Dos outros amantes
tombando me ria;
Agora ehorando
Pago a zombaria:
T u d e , &c#
A lyra tocando,
Acs mais divertia ;
Choro hoje ao sóm delia
De noite e de dia:
Tudo r &c*
Foi bem desejada
Minha companhia;
O meu pezar hoje
A todos desvia:
Tudo , &C3

Com meu doce canto


A tudo atraída;
Agora já fogem:
Da minha agonia:
Tudo,&c.'
«K 3 X*
Que Os olhos de Lilia,
Com tal tvrannia,
Assim me tornassem,
Ninguém o diria:
Tudo, &c.
Amor quií vingar-se,
Do que f u lhe fazia;
Armou-se de Lilia,
Que só não podia :
Tudo, &c.
Cuidei que a razão
A Amor venceria ;
Que elle era mais forte,
Eu tal não sabia;
Tudo, &c.
Não sou já Lereno,
Qual era aJguan dia;
Pois choro cativo
Se livre me ria:
Tudo, &c«
«X 4 ) •?*

A huns lindos olhos.

C A N T I G A S .

O Lhos, que Amor anima


Com hum suave encanto
Ah ! Suspendei meu pranto,
Que eu já não posso mais.

Compadecei-vos ternos
Da niinha saudade
Lede nos meus verdade
De Amor que não negais.

% Olhos que Amor accende ±


D'huma suave chamma,
Q?o peito que não ama
Fazeis depreça amar.
*X s X*
Pois me accendestes tanto
Em doce, e vivo foyo,
Ardei nesta alma eu rogo
Qye a chamma ha de durar.

Ao Som da Lyr* a chorar*

C A N T I G A S . . . d'improvisai.

L Ereno , o fiel Lereno ,


Aqui se veio encostar ,
A* sombra deste alto frêxo
Ao som da Lyra a chorar.

Amor de longe o escutava ;


Equilibrado no ar;
Pareceo gostar de ouvillo
Ao, &c.
4 X ** )•**

O mesmo Deos tão cruel


Se ouvio eotlo soluçir;
Que fáz compaixão Lereio
Ao, &c.

Da sua Lilia traidora


Elle ouvio queixas formir;
Lilia, que ali o trojxen
Ao, &c.

Seu Amor, ou seu segredo s


Elle não quer arriscar ;
E vem aonde o não oição
Ao, &c.

Esta rápida corrente


Vio o seu pranto parar;
Tanto espanta ouvir Lereno
Ao, &c.
«X 7 K»
O alegre canto das Aves
Em pranto se ouvio trocar;
Imitando ao que lhe ouviao
Ao, &c.

O pobre manso rebanho


Xão foi a herva pastar;
Entretinha-se de ouvi Io.
Ao, &c.

Sahírão das,-verdes ondas


Os brados Peixes dr> M a r ;
Fora d'agua o escutavão. t
Ao, &c.

As Feras , 3? mesmas Feras »


Deixão então d^iviar-í
Procurando aquém ouviáo
Ao, &c.
O pranto só de Lereno
Podia tudo trocar;
E tudo queria ouvi-lo
Ao , &c.

Zefiro mesmo calado


Não se sentio voltear:
Mudo o ouvia dcentre as flores
A o , Scc.

Só a Iastimoza Echo
O tentou arremedar ;
Também se ouvio entre as Penhas
A o , &c.

O nome que S2 lhe ouvira


Ali via redobrar;
Lilia , Lilia , se repete
Ao, &c.
*K 9 )-5»
Então raivozo Cupide
Lhe prom^teo de o vingar,
E foi procurar a ingrata
Ao , &c.

Serei triste até morrer.

C A N T I G A S .

Ois assim o quer meu fido,


Pois Amor assim o quer;
Não espero ser contente ,
Serei triste até morrer :

Nem pdde fazer Amor ,


O que o destino não quer ;
S-; esta tristeza he destino ,
Serei ,_&c.
Sobre as aras de Cupidq
Renuncio ao meu prazer;
Protestando viver triste,
Serei, &c.

Para tornar-me contente


Só Elfina tem poder ;
Se ella não quer alegrar-me,
Serei, &c.

Os olhos, que me alegravao,


Não me deixa Elfina ver;
Kegada a minha alegria ,
Serei, &ç.

Entendo o meu coração,


Cesta no peito a bater;
E palpitando me açoira
Serei, &c.
Para me fizer alegre ,
Nem amor tem já poder;
Se Elfina me quer ver triste
Serei , &c.

Gostarei de viver triste,


Pois que Elfina assim o quer;
E só por dar-lhe este <*osro
Serei, &c.

O U T R A S .

Rodeou feia tristeza


Meu berço logo ao nascer,
Bafejou-me a triste vida ,
Serei, &c.

Ao abrir dos froxos olhos


Vi o dia escurecer f
Foi presagio da tristeza ,
Serei, &c.
«X IÍ )•?*

Falia o coração batendo ;


Bateu, que me quer dizer?
Talvez me diz palpitando
Serei, &c.

Nasce o dia acha-me triste»


Ve-me a noite entristecer;
Tristes horas me rodeião,
Serei, &c.

Lindos olhos de Jozina ,


Só vós sois o meu prazer ;
Se eu vos vejo hum dia tristes,
Serei, &c.

Vem essas lagrimas tristes


Minha alegria empecer;
Senão vos tornais alegres ,
Serei, &c.
«X 13 X*

Zabumba

C A N T I G A S .

A Mor ajustou com Marte


Vãos Mancebcs alistar,
Hum lhes dá trabalho honrozo;
Outro os faz rir e zombar:
T a n , tan, tan , tan tan ZabumbS
Bella vida Militar;
Defender o Rei e a Pátria
E depois rir, e folgar.
Toca Marte á Generala ,
Vai as Armas aprestar;
Amor tem prazeres doces,
Com que os males temperar:
Tan, &c.
Oiço o rufo dos Tambores,
Já dali toca a marchar ;
Os adeozes são ánreça ,
Não ha tempo de esperar:
Tan , &c.

Vai passando o Regimento


E as meninas a assenar;
Vão as armas perfiladas ,
Mal se pôde a furto olhar:
Tan, &c.
A mochila , que vai fofa
Pouco leva que pezar;
Pouco pão. e pouca roupa
Mas saudades a fartar:
Tan, &c.
A Cidade que he de Lona
Vejo apreça levantar;
Põem-se as Armas em sarilho
Vai a Tropa descançar:
T a n , &c.
Vigilantes Sentinelas
Vejo ákrta passear;
Quem vem lá! Quem vai! faç'al«>i
Sempre dlerta ouço gritar
Tan, &c.
Vejo alegres Camaradas
Os bara 1 hos apromptar;
Parão topáo , sujo cobre
A perder, eu a ganhar
Tan, &c.
Da-se hum beiio na borracha,'
Lá vão brindes a virar;
E co'a publica saúde
Vai tençâo particular:
Tan, &c.
Vem quartUho, vai Canada
Toca em fm a emborrachar;
A cabeçi banbaleia,
Ali ouço ressonar:
T a n , &c.
Corre o qus vigi\ o Campo
Vem peruo annunciar;
Peg'ás armas, pegcás ar nas,
Dobra a Marcha, e avançar:
T a n , &:,
Huma brigada em columnas
Marcha a outra aobliquar,
Os contrários fazem cará ,
Toca a morrer, e a matar:
Tan, &c;

Já fuzila a Artilharia
Sintft as bailas sibillar;
Nuvens já dce?pesso fumo
Vão a luz do Sol turbar:
Tan, &c.
Oiço o bum, bum bum das Pejas,
Vejo Espadas lampejar;
Lá vâo pernas, lá vão braços,
Lá cabeças pelo ar:
T a n , &c.'"
«K 17 >fr
A batalha está ganhada
Vão o Campo saquear;
Vem bandeiras arrastando
Toca em fim a retirar:
T a n , &c.
Venha a nós, viva quem vence
Quem morreu deixalo estar;
E da Pátria no regaçcf*.
f)s Heroes tem descançar-
T a n , &CJ
Os que salvão da pelei ja
Veiji a Amor as graças.dar;
E em signal da sua gloria
Juntão flores ao Cocar:
Tan, &cí
Osf olhos, que virão tristes
Vem agora consolar;
A saudade se esvoáça,
Torna a posse ao seu lugar:
Tan, &c:
Vah I N. *>
4K i« ) #
Vem família , vem VÍ2ÍnÍiciS
Boa vinda festejar;
È da bocca gloriosa
Grandes couzas escutar:
Tan, -Sécl
Despe a veste, mostra o peito,
Oüer sizuras procurar;
Mas o tempo sarou tudo,
Nem signal se pode achar:
T a n , &c.

Que affrontou sempre os perigos


Gentil Dama ha de escutar;
S'estimou guardar a vida,
He só para lha entregar:
Tan, &c
Hum merecimento nevo
Tem de novo a apresentar,
Vem mais rico de esperanças,
Tem despachos que esperar:
Tan, áci
«X 19 K*
Hade ter a fita verde
De huma Ordem Militar;
Soldo em ^òbto por trez mezes
Que a Senhora hade gastar:
*Tan,&c.'
Não criais. Meninas nestes,
Não he certo o seu amar;
Costumados sempre á marcha
Até amão a marchar :
Tan, &c;
«X 20 ) #

O JVtfWif »i(? t*?» Pastor.

C A N T I G A S .

' NI O tronco de hum verde Loiro


Me manda escrever Amor,
Misturado com teu nome,
Ò nome do teu Pastor:

Mil abelhas curiosas,


Revoando deredor,
Chupão teu nome , deixando
O nome, &c.

De hum raminho pendurado ;


Novo emplumado Cantor,
Suspirava ali defronte
Do nome, &c.
Ah! Lilia, soberba Lilia,
Donde vem tanto rancor?
Tu bem viste, mas não fêste
O nome, &c.
Já não se via o teu nome,
Bando o levou roubado!';
E ficou só desgraçado,
O nome, &c.
O teu nome que roubarão
A novo mel dá sabor
Sem o mixto d'amargura
Do nome dó teu Pastor,
*X « )4»

P w este preço quem não será Çatify,

C A N T I G A S .

G Raças aO Çeoí Sou Cativo,


E he feliz meu Captiveiro;
Amor me comprou por preço,
Que vale mais que o dinheiro:

Hims olhos lindos


Cabello loiro
Corpo bem feito

Digão todos, todos digão


Senão vale mais que o oirol
Vai a çubjçoza gente
Vender por oirO I vontade;
Mas eü dou por. melhor preço
Minha cara liberdade:
Huns olhos, &c.

O lindíssimo semblante
Ninguém vê da minha bella,
Que não ofFereça a Amor
Ser seu Escravo por ella :
Huns olhos, &c.
Eu não quero da Fortuna
Os bens, que em seu Cofre tem,
Que todos elles não valem
Ametade do meu bem:
Huns olhos, &c.

QMmporta o metal luzente,


Que tanto adora a ambição?
Senão ppde contentar
O meu terno coração:
Huns olhos, &c
*X »4 X*
Com as riqueza*? de Amor
Não ponha a sorte a riqueza;
Que he maior que o da Fortuna
O poder da Natureza:
Huns olhos, &c.

Soldado de Amor.

C A N T I G A S .

s Ou Soldado . sentei Praça


Na gentil Tropa de Amor,
Jurei as suas Bandeiras,
Nunca serei Dezertor :

Eu sou Soldado,
Eu sirvo Amor,
Jurei Bandeiras,
Nunca serei desertor.
De Cupido os Regimentos
Não tem Zabumba , ou Tambor ;
Tem hum certo mover d'olhos,
Que chama muito melhor :
Eu sou &c.
Dos Amorozos perigos
Eu não tenho nunca horror;
Tenho valor de soffrelos,
Cfciíanto mais, quanto melhor:
Eu sou, &c.
A fraqueza dfalgum Chefe
Aos Soldados faz temor
Eu nâo tenho que temer-me;
Sirvo a hum Nume vencedor
Eu sou, &c.
Em quanto Amor bem me pague
Heíde servir bem Amor
Elfina seja meu soldo
Nunca serei dezertor
Eu sou, &c.
« K 26 )<{*

Se do meu Augusto Chefe


Tenho honras, e favor
Eu devo fiel servi-lo
Seja o perigo qual for
Eu sou, &c.
Dezertem os mais embora
Quem tem coração traidor
Jurei fé, cumpro os meus votos
Nunca serei dezertor
Eu sou, &c.
«X *7 K»
«C

/f/Mir não be brinco.

C A N T I G A S .

V Ossê trata Amor em brinco


Amor o fará chorar
Veja lá com quero se mete
Que não he para zombar
ESTRJBILHO.

Ai Amor, Amor , Amor !


Vossês zombãp com Amor
E não he para zombar.

O Amor he multo serio


Mui serio se hade tratar
São^mui sérios seus prazeres
Mui serio he seu pezar.
«X 28 ) 4*

Aquellé que vive livre


E vai com Amor brincar
Vê nos pés, e vê nos pulsos
Os seus ferros apertar.

O Amor promette prêmios


Os prêmios começa a dar
Mas tudo o que trousse em rizos
Quer em lagrimas cobrar

Amor vem manso, mansinho


No coração habitar
E depois de estar de dentro
Quer só elle as regras dar

Amor quando entra no peito


Parece o vai consolar
Mas travesso em pouco tempo
Faz a gente palpitar
«X *9 X*
Com Amor nada de preças
Vamos muito de vagar
Jtorque cctno elle* te criança
Se correr hade cançar.

Marcha depois da vinda do Rou-


silbon.

,-Orrei ás Margem do Tejo


Generozos Portuguezes
Às Armas, e os Arnezes
Dos vossos vereis brilhar
E vóz adoradas Ninfas
Ide as vestes enxugar
Vem burrifadas do Sangue
Que a honra fez derramar.

E s T R E B I L H O .

ÍJide ipreça que os Tambores!


Já se escutão ressoar
* X 3 o )*>*
Nos hombros do amigo rio
Os transporta a leve Barca
E do Heroe que a arêa marca
Vem a Onda ò pé beijar
Não fez alheios costumes j
Próprios costumes mudar
Se os vistes partir amigos
Aiui&os vedes tornar
Hide, &c.

Fieis aos antigos votos


São dignos dcaltos louvores
A seus Augustos Senhores
Sabem servir, e calar

Se beijão a mão Augusta


Mão qüe os pôde premiar
Sabendo merecer prêmios
Não prccizao supplicar
Hide, &c.
«K3*)#
Fieis á sua aliança
No prazer ou nos perigos
A cs Amigos são Amigos
Aos mais dão que recear

Terri só por seu lucro a honra


Sem mais pertender lucrar
São poucos que valem muito
Em muito se hão de estimar
Hide, &c.

As respeitáveis Bandeiras
Vereis ao ar desfraldando
Elias mesmas vem mostrando
Quanto são de respeitar
Em toda a parte estimada
Gente brioza , e Guerreira
Em toda a parte a primeira
Affrontando a terra , e o mar
Hide, &c.
«K 3* )$
Vós qúe sofFresteis por elfes
A terna, e justa saudade
Que ou Amor, ou amizade
Ternos vos fez supporrar
Dai-lhe os braços recebeios
E nos mais ternos affagos
O Ceo vos torna assim pago
Do que a sorte quiz roubar
Hide, &c.
m

VIOLA DE LERENO.

Foi. I Num. $ . ,

Suspiros do coração.

CANTIGAS.

Mor ferio o meu peito


Com seu dourado farpão
Esahírão pelas fendas
Suspiros do coração
Aos Ouvidos do meu Bem»
Cher-arp minha affiicçso,
Porque nas azas a Jevão
Suspiros, &C-?
Devo ir ?ofr?ndo , e calando
A minha infeliz paixão-,
E em segredo voar devem
Suspiros, &c.

Quando o respeito embaraça


A minha livre expressão
Servem-me então de linguajem
Suspiros, &c.

A h meu bem . tu não reparas;


Porque não dás a*"tençao,
A preça com que te buscão
Suspiros, &ç»

Se teus olhos inquietos


Dizem sim, e dizem não ,
Vão de perto percebelos
Suspiros, Scci
# ( 3 W*
Se tu cuidas que eu te engano,
P6e sobre o meu peito a mão,
Verás ccmo fervem dentro
Suspiros, &c.

Se as veres que soltar quero


Vem embargar-me a razão ,
Não importa ; que me explicao
Suspiros, êcC»

Venhão teus s's escondidos;


Que rs mers escerdides vão,
E no caminho se encomrao
Suspiros, &c7

Vaj banVando hum meigo pranto


Meu duro férreo gnllão,
Soprão mais a minha chama
Sus-;nos, & c
«X 4 X*

Eu não posso acompanhar-te


Seguir-te não posso n?o ,
Mas hirao onde tu fores
Suspiros, &c.

Amor tem para as auzencias


À guma consolação,
Excita por desafogo
Suspiros, &c.

Para ter mutuas notícias


Não faltro correios não,
Serviráò de portadores
Suspiros, &c.

O estrondo, o luto dos ares


Meu Bem não te assuste , não,
Turbão tudo, e estalão tanto
Suspiros, &c.
*X s K*
Se ao passear desses campos
Sentires ranger o chão,
He que a teus pés vão caindo
Suspiros, &c.

Já nas azas da saudade


Chega a morte , e estende a mão ,
Já me espreme os derradeiros
Suspiros do coração.

Inda sou tea.

C A N T I G A S .
D *' sde o orí nei**"» T» *i"?"ito,
Fm que vicre o ^es^o m*u ;
Desde então me estivasse?
Coai que gosto iniu s..u t^u!
Amor assim preparara
Este no/a estado meu;
Oa's-me escravo; terno escraVd,
Jj^sde enta» inla sou te a.

O teu C J M Ç I O batia ,
Barí-í í-ambsm o meu ;
Tu soceíaste , e estás livre,
Eu inquieto inda sou teu.

Ah qv.r foi mui frouxo o laço,


COTI que o Amor te prendeoj
Foi mal re r'1-i. fiqis-te;
Segurou-me, inda sou teu.

Finjo diante dos outros,


Calo o triste estado meu;
Bem que pareça estar livre,
Leu esjravOj inia sou teu.
«X 7 )•?»

N ã o , já não pôde extinguir-sc


Fogo que amor acendeo;
Entre as cinzas abafado
Arde ainda , inda sou teu.

A teu mei?o volver d'o! lios


Amor tantas forças deo,
Q u e , desde que me prenderão,
Som soltar-me, inda sou teu.

Tanto o meu amor desfarco.


One inda ninmem o entendeo ;
Nao o enrendão muito embora
Não importa; inda sou teu.

Ah ! meu bem, para mim vive,


Ou*-* para ti vivo eu;
N i presença, ou na distancia
Podes crer-me, inda sou teu.
«X 8 )<*

Do nosso destino a Urna


Traveço Amor revolveo ;
Vío, que tu vives mudando ,
E eu morrendo, inda sou teu.!

Vamos , cruel, fazer cintas


De teti amor , e do meu;
Eu nadando, nlo es nvnha ;
Tu devendo, inda sou teu.

^e tu v rês , qu-? eu te falto,'


Dize - Lereno morreo ;
Mas sabendo que in-la vivo;
Saberás, que inda sou teu.

Huma nova escravidão


Se queres, te juro eu,
Repetindo antigos votos ;
-Aqui juro, inda sou teu.
*X 9 K*
Sobre a' doce antiga chama;
Qie nosso amor accendeo ;
Jura, de quem es agora,
Vê jurar , que inda sou teu.

Ser teu ^"-nra, feramente


Amor nrsnno o nr-screveo ,
Fu de a-nor as leis seguindo ,'
Só teu fui, inda sou teu.

A mim ji me nlo pertenço;


Nem eu mesmo já sou meu ;
Amor fez , que teu eu fosse ;
Por amor inda sou teu.

He huma vida já nova


A vida, que amor me deo;
Fás ser tua a minha vida ,
Eu o cumpro, inda 60U teu.
*X io ) &

Debaixo da fria Campa ;


Existindo o corpo meu ;
Em quanto o coração dure -
Alli mesmo inia sou teu.

PRIMAVERA.

J A' Já vem a Primavera ,


Mostra o rosro animador;
Vem na sua companhia
O suave, e meigo Amor.

Já derrama sobre os campos


Brando crvalho criador;
K as campinas devastadas
Faz que anime hum novo amor.
J* dos ventos furiosos
Não ioa o rouco rstriior;
Os g:ii;rnos lisongeiros ,
S ó inspiráo paz , e amor.

Já das plantas nasce a planta


Ja das flores nasce a flor ;
Váo.^e os campos animando
Por hum doce, e meigo amor.

Já d'enrw os verdes ramrnhos


Ouço o implumado cautor ;
Que entoa nos seus gorgeos
Alegres h/mnos de amor.

Boya sobre as ondas mancas


O escamoso nadador.,
E festeja leves pulos
Doces effcitos de amor.
• X 12 )«$»

Vejo o rebanho contente


Saltar em torno ao Pastor;
E nos seus meigos balido s
Estão explicando amor.

Ac sombra deste alto frei.co ,


Que nos escuda ao calor
Elfina , formosa Elfina ,
Vamos nós tratar de amor,

Vou consultar minha sorte


Nesta breve, e linda flor;
Pen me queres , mal me queres,
Ah ! que não me tens amor.

Fssa ? que trazes no peito ,


Talvez si» ex"-'ique melhor;
Era hi-n -nO nir* marchou-se»
Ah! que dura pouco amor.
«X i3 K*

Vou colher outras de acaso;


Ba:e o peito com tenor ;
Trago martyrios, saudades,
Tanto me destina amor.

Tenho nas flores má sorte;


Terei nas plantas melhor;
Colho a planta sensitiva
T a l eu sou por teu amor.

Elfina formosa Elfina,


Que tens que mudas de côr l
Ou feliz, ou desgraçado,
Eu te juro eterno amor.
<£( 14 )&

Qutnão os Mortaes quer render.

CANTIGAS.

M Inha Lilia, vê o mundo


A teus pés todo tremer ;
Porque amor de ti se vale,
Quando os Mortaes quer render.

Ncs teus olhes, lindos olhos;


Tos íirrr tedo o poder,
São as armas de que elle usa
Quando' &c.
«X i* )&

Amor esconde os teus olhos j


Se nos quer entristecer,
E faz que elks afpareção,
Quando, &c.

Deixa Arrrr o arco e settas


Fste pczo mais não quer;
Os teus ®lhos só lhe bastão
Quando, &c.

Sinto já de froxo susto


O meu coração bater;
Movimento, que amor causa J
Quando, Scc.

A' luz viva de teus olhos


Chama de amor sinto arder,
Vivo fogo, que elie accende
Quando, &c.'
«* ( i6 ) ^

Promessas de Amor não creio,-


Fácil sempre em prometter ;
Efaculta mil venturas
Quando, &c.

Ninguém Amor acredita;


Deu-se muito a conhecer ;
Já se sabe como engana
Quando, &c.

Nega Lilia a Amcr teus olhos;


E veras a Arrcr trerrer:
Dos mortaes escarnecido,
Quando, &c.
A r?7no tem fAto a trtiros
Contra Arrpr endurecer;
Mas elle \9? de teu prsrto
Quando os merraes quer render.
«X 17 X*

Kl ••«•• a i i IP

Amor sabido vai gualdido.

Autela, Olhos, cautela,


Calai vossa inclinação;
Para que os mais não percebão
O que tem meu Coração:

Cuidado, Olhos, cuidado^


Porque o Amor percebido
Começa a ser maltratado.

Vol. I. N. 36
«X 18 x»
Ha gente que nos vigia ,
Por ver onde as vistas vão;
E por vós he que adevinhão
O que, &c.
Cuidado, &c.

Apenas se conhecer
Que tenho alguma paixão,
Começa a ralhar a Inveja
Do que , ^&c.
Cuidado, &c.

Não pôz nunca a Natureza


Ao sentir prolvbição ;
Porém o Mundo proliibe
O que , &C.
Cuidado, &c.
Se he minha a minha Vontade;
Pcsso sujf italla , ou não';
A-" mais gente que lhe importa
O que , &c.
Cuidado, &c.
*X J9 X*
Inda a mesma que adorais;
Por natural presmnpção,
Hade enfadar-se cm sabendo
O que, &c.
Cuidado, &c»

RAIVAS GOSTOSAS.

E U gosto muito de Armania,'


Que he mui dengue, he mui mimosa j
Que meiga a todos agrada ,
E até me agrada raivosa.
Vou enraivecer Armania ,
Que tem raiva graciosa;
As mais vencem por ser meigas s
EUa vence até raivosa.
«X 20 ) #

Gosto das suas raivinhas,


Que avivão a côr de Rosa;
Eu gosto de a ver córada,
Por isso a quero raivosa.

Eu com quatro palavrinhas


De idéa artificiosa,
Vou tiralla do seu serio ,
Eu quero vélla raivosa.

O seu terno Coração


Vigia mui caprichosa ;
E , ir.da que elle queira amar ,
EHa não quer de raivosa.

Tremei, A mores , tremei,


Tremei, turba presumpçosa;
Jurou a vossa ruina
Armania, que está raivosa.
•X si K*
Quer soffrer á sua custa
A raiva assim vituosa;
Não hade amar, porém hade
Ser amada , assim raivosa.

ESTRIBILHO.

O Ceo taes graças lhe deo,


Que ainda raivosa he bella;
E se não que o diga eu ,
Que gesto das raivas delia.

AO MEU PENSAMENTO.

B Asta» Pensamento, basta,


Deixa-me em fim descançar;
Hum bem, que ser meu não pôde
He hum tormento lembrar.
« X 22 ) &

EsTRlBlLHO.

Basta , sim , basta,


Meu Pensamento:
T u és agora
O meu tormento.

Que importa a minha ternura


Minha fé, minha lealdade;
Tendo a terrível mistura
Da minha infelicidade.
Basta, & a

Idéas vans, não me finjas


Do valor de huma fé pura ;
Que era m-lhor que eu tivesse
Menos amor, mais Ventura.
Basta, &Cc
Prsvar da Sorte a mudança
Meu Pensamento bem quiz ;
Mas a que muda nos outros
Sempre me quer infeliz.
Basta , &c.

Amor he gosto, e vontades


Sempre se define assim;
Fez-me a Desgraça gostar
De quem não gosta de mim.
Basta , &c„

Basta, Pensamento ousado ,


Vê que ninguém te desculpa ;
E vê que de hum desgraçada
Inda hum pensamento he culpa.
Basta, Scc.
# ( 24 M*

O*^* x|«5 querer-te eu mais.

IMPROVISO.

U gostas de meus suspiros,


E de ouvir meus tristes ais ;
Gostas de ver-me, morrendo,
Cada vez querer-te eu mais.

Se em meus olhos renarares ,


Has de ver de Amor sinais ;
E verás, quando mais vires,
Cada , &c.

Entrei no Templo de Amor


COTI poucos a mi-n iguais ;
E foi todo o juramento ,
Cada , &c.
«X 2 * X*

Tu já deste a meus desejos


Cruentos golpes fatais;
E a esperança me fazia
Cada, &c.

Loucamente me fugias
Para periuros rivais ;
Vinhas delles, e me vias
Cada , &c.

No meio dos meus enfados,


Dos meus ciúmes fatais ,
Me viste abrazado em zelos ,
Cada , &c.

Quando tu pões nos meus olhos


Os teus olhos divinais,
Fazes com doce renovo
Cada , &c.
Protesto não mais querer-te,
Quero disto dar signais;
E o meu coração me manda
Cada, Scc.

Se depois de vir a Morte


Podem amar os Mortais ;
No6 Elisios será visto
Cada , &c.
«X 27 )4*

P«r-?j- Votos eu jurei.

IMPROVISO.

J \ Lmena , gentil Almena ,


A quem a minha alma dei ;
E por quem , de Amor nas Aras ,'
Puros Votos eu jurei.

Por teu Nome, doce Nome ,


Sempre alegre eu chamarei ;
Por elle mesmo jurando ,
Puros, Sçc.
& ( 28 K*

Já de Amor tinha fugido;


Por ti a elle tornei ;
E supplicando piedade
Puios, &ç.

Roguei-lhe novas cadêds,


E os novos ferros beijei;
Vós , e vista, e mãos alçando
Puros, Scc.

Amor não queria ouvir-me ,


Lembrado de que o deixei;
E lembrado de que nunca
Puros , Scc.

Talvez queria punir-me


De alguns Votos, que eu quebrei
Fral falsos, mas agora
Purqs, &c.
«X 29 K »

Logo ao raiar deste diâ


O terno Apoio invoquei;
E á luz de seus mesmos raios
Puros, &c.

Que por ti a Arror servia;


A Amor mesmo protestei;
Sendo-me o Ceo testemunha
Puros, & c

Com vozes, que sahem da almaj


Pedaços da alma arranquei;
E assim , desfeito de amores a
Puros, &c.

Por t i , se for necessário,


A vida mesma eu darei;
Que de ser teu toda a vida
Puros, &c.
«K 30 X*

Vive, e bem que sejas de outro,


Sou teu , por ti morrerei;
Jurei-o, fiz os meus votos,
Puros, &c.

Viver só para te amar.

CANTIGAS.

vV Enha a Morte muito embora


Meus frouxos dias cortar,
Qye inda assim h a de a minha alma
Viver so para te amar.
*X 31 )4*

A vida vale de pouco


Eu pouco a sube estimar;
Quero viver por que quero,
Viver , &c.

Podéraó teus lindos olhos


Meu gosto antigo trocar;
Gosto viver, porque gosto
Viver, Scc.

Já suplico á cruel Morte


Queira meus dias poupar,
Que por mais tempo me deixe
Viver, &c.

Tu podes , se tu quizeres,
Cs meus dias dilatar:
Ah meu Bem ! faze que eu possa
Viver , &c.
*X 32 )<i*

Se eu morro, e por ti só morro,


Tu me podes animar:
Anima-me, qüe eu prometto
Viver, &c.
mmmmmtmaaÊÊamm

VIOLA DE LERENO.

Foi. I. Num. 4*

Inda sou teu.

C A N T I GAS.

D Esde os nossos Juramentos


Vê , meu bem , que succedeu;
Tu prometteste, e faltaste,
Eu jurei, ç inda sou teu.
*b (2 )#

Chamaste o Ceo testemunha $


E foi testemunha o Ceo;
Elle v ê , que já és de outro ;
Elle vê que inda sou teu.

Pudesre quebrar OS laços


Com que o Amor noS prendeu;
Da tua parte estás solta,
Mas da minha, inda sou teu.

Fm fim a chamma apagaste,


Que hum vivo Amor accendeu;
Vejo que tu te esfriaste,
Vê que eu ardo, e inda sou teu.

Amor ouvio nossos votos,


Nossos votos recebeu;
Tu os quebras não és minha,
Eu os cumpro inda sou teu.
*X 3 X*
A teu voto, e a meu voto
Benigno Amor attendeu;
O teu foi ser minha, e faltas;
Eu não falto, inda sou teu.

O teu Coração mudou-se;


Mas não se mudou o meu;
Entra dentro, anda, vem vello;
Vê , cruel, que ainda sou teu.

Mal soou teu juramento ,


Mesmo no ar se perdeu ;
O meu inda se conserva,
Tu bem vês qüe inda sou teu.

Pudeste , ingrata , deixar-me,


Deixar-te não posso eu;
Tu mudaste , e foste de outro,
Eu não mudo, inda sou teu.
«K 4 K*
Tu foste minha por força j
Fu sou teu por gosto meu;
Falta a força, o gosto dura ,
Tu és de outro, e inda sou teto

Era teu gosto matar-me,


Mas Amor me defendeu;
E mesmo contra o teu gosto
Inda vivo, inda sou teu*

Sempre unidos nossos voto»


Subirão da Terra ao Céo ;
O teu decipou-o o Vento,
O meu não, inda sou teu.

fvoubaste-me o Coração;
Que trocáras pelo meu ;
Não fica assim bem a troca ,
Na o és minha , c inda sou teu.
«X s)«»
Teu me fizerão teus olhos
Com hum brando mover seu;
Ah ! torna a olhar-me benigna,
Vê > meu bem, que inda sou teu*

Doença, e melhora de MARILIA.

C A N T I G A S ,

Astôres, que he isto;


Amor assustado ,
E as Graças ao lado
Com susto também :
Que mal tem as Graças,
Amor que mal tem ?
*X * K*
Do Deos dos Amantes
A meiga família
Em torno a Marilia
Meus olhos lá vem.
Que he isto; que he isto?
Não sabe ninguém?

Doença atrevida ;
Que esconde o seu passo,
Ergue o duro braço
Oh. Ceos ! contra quem ?
Os olhos o rirão,
E ainda o não crem„

Turbou da Saúde
A usada carreira ;
E em varia maneira
Seu passo detém.
Amor , já sei donde
.Teu susto provém.
«X 7 »
Apressa, ó Virtude ,
Ao Ceo dirigida,
Suplica esta Vida
Mais Vida de alguém:
O bem que troxeres
Será nisso bem.

Embora huma vez


Pareça ferina
A sa Medicina,
Que as Parcas sustem,
Pois contra os seus ferros
Tem ferros também.

A veia se rasga,
O sangue já corre,
Marilia não morre,
Oh Ceos ! inda bem :
Já dar-nos podemos
Geral parabém.
*X * )*•

Batteu as Azas •» voou»

C A N T I G A S .

D Os Olhos de Ulina beija


O Deos de Amor me espreitou ;
A hum volver de olhos ferio-me,
Batteu as azas , voou.

Tinha medo da Razão ,


Que sempre me acompanhou;
Ferio-me, mas foi a medo,
B',A'J , & c .
*X 9 M»

Já tinha tentado o golpe,


E nunca o golpe acertou;
Agora feito o seu tiro,
Batteu, & c

Nas leves azas librado


De longe me vigiou ;
Depois de haver-me rendido,
Batteu, &c.

A prender-me os pés, e os pulsos


Com os seus ferros tornou;
Depois de cingir-me os ferros
Batteu, &c.

Rio-se de ver-me captivo,


Dos seus estragos gostou ;
E cantando o seu triunfo,
patteu, &c.
«X io ) *

Não contente inda com isto,


Escarneceo , e zombou ;
Entre os meus tristes suspiros
Batteu, Sccc

Lisonjeiras esperanças
Nas lindas mãos me mostrou;
Quando eu hia a segurallas
Batteu , &c.

Rio-se Amor do meu Engano,


E dos meus ais motejou,
Das minhas magoas zombando
Batteu, Scc

Que sempre me maltratasse


J£uito a Ulina encomendou;
Decretando os meus tormentos
Eaíeu, &c.
«X i i )4*

A razão que me guiava


Contra elle em váo clamou;
Porque Amor sem attendella
Batteu, Scc.

Inda assim a meus gemidos


Hum pouco Amor se inclinou;
E temendo condoer-se
Batteu as azas voou
«X 12 )•*»

E que culpa teuho eu ?

C A N T I G A S.

Oração, pois tu quizeste


Amar por empenho teu;
Que morras, que vivas triste 5
E que culpa tenho eu ?
A' tua saudade
Não achas desailpa,
Qus se tu a sofres
Tu só tens a culpa.
«K 13 X*

Coração não te lembraste


Do que já te succedeu?
Tornaste outra vez a amar ,
E que, &c.

Esqueceo-te a antiga crramma^


Oue baldadamente ardeu ;
Tornas a chegar-te a© fogo,
E que, Scc.

Das dores , das saudades


Não tinhas exemplo, e teu ?
Quizeste outra vez sofrellas,
E que yScc.

Tu não sabias que Amor


Boa vida nunca deu ?
Inda teimas em servillo ?
E que, &c,
*X 14 X*

Sarcite com a razão,


Quando Amor te enlouqueceo;
Tornas à nova loucura ,
E que culpa renho eu ?

HUM TERNO AMADOR.

C A N T I G A S .

E Scuta , Cupido,
Meus ais magoados,
Que vão desgraçados
Pedir-te favor.
Tem dó de hum afflicto ~
Que triste assim morre;
Escuta , soccorre
Hum terno amador.
* X 15- H *

Vê como revoao
Meus terncs suspiros ,
Que a longos retiros
Os faço transpor.
Nas pálidas faces
O pranto já corre;
F?cuta , soccorre
Hum terno amador.

A rror-, vem salvar-me,


Das mães da Ventura;
Que a minha ternura
Tem o d í o , e rancor.
Ouve hum desgraçado j
Que a ti só recorre;
Escuta, soccorre
Hum terno amador.
*X 16 )-4*
Lereno não vive
Se tu não lhe açodes:
Ah ! salva, que podes
A afflicto Pastor.
Mortal frio galo \
Nas veias discorre;
Escuta, soccorre
Hum terno amador.

CRIME GOSTOSO.

C A N T I G A S .
w Uem quizer saber se eu amo,
Repare em meus olhos bem;
Que elles não sabem caiar
A paixão que o peito tem.
*X 17 H*

Inda bem ó meu cuidado;


Dizem que o amor he crime 5
Eu gosto de ser culpado.

Jurei não amar; eeu amo,-


Foi baldada a minha emprèza;
Mas quem pode resistir
Aos encantos da belleza ?
índa, 8tc:
Jurei não amar , e eu amo,
Confesso a minha fraqueza;
Mas não he meu todo o crime;
He também da Natureza.
Inda , fÀCé

Talvez sem razão me culpa


Quem ô meu amor crimina ,
Pôde ser que elle me inveje,
Quando vir que eu amo Elfina.
Inda, Scc;
Vol.L N>4>
«X 18 )4*
O que se gabar de livre;
Não zombe do estado meu ,
Que se vir a minha Elfina
Será cativo como eü.
Inda, &c.
Se he hum crime o ser amante,
Bem criminoso sou eu ;
Mas he tão gostoso o crime,
Oue eu gosto bem de ser réo.
Inda j &c.

Não cuides formosa Eitina^


Que Eu ímpias lições te dicte,
Hum puro amor he virtude,
He crime amar de appetite.
Inda, &e-

Quem não souber o que sáo


Amor , saudades , e zelos 9
Veja Elfina, e tudo fazem
Qs seus lindos olhos bellos.
Inda, 8cci
foe adorar seus lindos olhos J
Alguém me chega a culpar -,
Mas que venha hum dia vêllos,
E depois deixe de amar.
Inda, &c.
Gosto de amar, vou amando;
Que importa murmure a gente,
Se a gente que assim murmura ,
Talvez flao seja innoccnte í
Inda, &cí
Bem sei que não paga Elfina
Esta paixão que me estraga;
Mas hum amor que he só gosto;
Nem quer, nem precisa paga.
Inda , &C-?

Não se cança a Natureza


Em criar cousas em vão,
E senão for para amar,
De que serve o coração.
* X «o )4*

juramento de bum, è evtm

C A N T I G A S ,

S E huma doce simpáfhia


A amar nos vem obrigar»
Sigamos a Natureza
Para fé vamos jurar.
Vão nossos votos
Já sobre o vento ,
E amor recebe
Meu juramento
Teu juramento,
*K 21 )4>
Demos ao mundo hum exemplo
De constância singular,
Veja que ha gente que pôde
Amar sem mais fim que amar.
Vão, &c-
Se a moda he variedade,
Vamos da 115043 zombar :
E amor, que a inconstância offende ,
Deve a constância vingar.
Vão, Scc.
A mania dos ciúmes,
Nós devemos detestar
Na presença , na distancia,
Mutua fá vamos jurar.
Vão , Scc.
9(1 .._ IfcCXXX^OOJlAxa-^ .ii.aj#

T&OP/Í DE ^AÍOR,
Moda em huma Solfa de Player.

CANTIGAS.

A",Lerta Pastores
De amor inimigos ,
Q! os justos castigos
Já vejo chegar.
Amor escoltado
De mil Cupidinhos
Nos campos visinhos
Já sinto marchar.
Os fogos terríveis
Já perro chamejão ,
Já perto lampejão
Os ferros mortass.
•X 23 X *
Rebeldes Pastores,
Pagai-lhe o tributo,
Apressa, que escuto
Do ataque os sinaes.

De enganos volantes
A tropa ferina,
Primeiro a campina
Vem atalaiar.
Amor os armara
De ardentes desejos t
Com que malfazejos
Vem tudo assolar.

Fingida esperança;
Q! amor tem a soldo ;
Erguendo áureo toldo
Vos vem enganar.
AUi quer brindar-vos
Com paz affectada ,
E tem de emboscada
P e enganos milhar,
*K 24 X*

Raivoso ciúme
Lhe cebre a direita ,
Tem leve suspeita
No esquerdo lugar.
Dispostos nos ílancos
Vem duros cuidados,
Frenezins soldados
M.áqs de accommodar.

Debalde a razão
Valer-vos deseja ,
Que sempre fraqueja
Nas guerras de Amor.
Será meu conselho
Render-se a partido ,
Que oppôr-se a Cupido
Foi sempre o peior.

Dos trsres gemidos ,


Q i e o ar vão rompendo;
Estou percebendo
Que Amor já venceo.
• X 2-y M*
E vós presumidos
Pe livres, de bravos ,
Já sois hoje escravos
Cativos como eu.
Amor que castiga
Rebeldes vontades
Mandou que em saudades
Lereno imiteis.
Gomo elle vos cobe,
Ah tristes coitados ,
Não ser nunca amados
Por muito que ameis.
«X 26 X*

^í«f*r J#M interesse*

CANTIGAS.

A Formosa Ulina he d*outro,


E minha não pôde ser;
Assim mesmo a hei de amar,
Seja em fim de quem quizer.

Estribilho.
Hei de amar sem interesse;
Basta 53 ver que o merece ,
Merece, merece.
• * C 27 K*

Se eu a amar só sendo minha;


Pouco faço amando assim,
Que este amor» que então lhe mostro,
He mais por amor de mim.
Hei de, &c>
O tormento he todo meu,
E eu trato de o mitigar;
Bem que não pôde ser minha,
Mesmo assim a quero amar.
Hei de, Scc.

Huma belleza divim ;


Não julgo crime adorar ,
Se he crime he da Natureza,
E eu a não posso emendar.
Hei de, Scc.
Sendo do m?u Amor firme ,
Tão firme a base em que o fundo ;
Manda-me a Lei da razão ,
Que eu o esconda a todo o mundo.
Hei d e , &e.
I X 28 )->*

Não mostro a minha paixão;


Que do mundo tenho medo,
O mundo ralha de tudo,
Quero guardar-lhe segredo.
Hei de, &c.

Jurou Ulina ser d'outro ,


E d'outro Ulina ha de ser,
Se for perjura perdeo-se
Se Q não for, que hei de eu fazer?
Hei de, &c.
Não quero que o mundo entenda
Minha mal paga paixão ,
Só porque elle não me aceuse,
O gosto de amar em vão.
Hei de, &c«
Não quero que Ulina saiba,
Que me fere, e me maltrata ;
Só por poupar-lhe o desgosto,
De qus deve ser-me ingrata.
Hei de , Scc:
#X 29 x?
Q meu amor sempre puro;
Nem aspira, nem se atreve,
A obrigar a quem adoro,
Á fazer o que não deve.
Hei de, &c;.

Temo as Leis escrüpulosas i


Que o vaidoso mundo tem ;
Ê não quero fazer mal,
A quem he todo o meu bem.
Hei d e , & 3

Não hei de queixar-me nunca ;


D'adorada formosura,
Paço a ella os meus louvores;
As queixas faço á ventura.
Hei de , &tí^

Talvez que eu dê em amores


Huma prova singular ;
Que he successo nunca visto,
Amar sem mais fim , que amar:
Hei d e , &c:
*X 30 K*

Jd mal posso respirai

CANTIGAS.

V, Em Ulina s'inda queres ,


Òs meus dias dilatar;
Que abafado de saudades
Já mal posso respirar.

De chamar em vão teu Nome,


Minha vos sinto cançar,
Nfm Chamar-te mais eu posso,
Já , &c.
«X 3* K*

Sinto a luz destes meus olhos


Pouco a pouco ir-se apagar,
O coração desfalece,
Já, &c.

Mil idéas pavorosas,


Minha mente vem turbar,'
Entre sustos, e receios,
J a , &c.

Vem as horridas suspeitas;


Meu tormento accrescentar:
Pungem, ferem, e eu afflicto 3
já , &c.

Peza tanto na minh*alma;


O meu contínuo pezar,
Que se não me dcsafogas ,
Já, &c.
*X P )4«

Cuidados sobre cuidados,


Sinto em mim amontoar,
Já não tenho aonde caibão,
Já mal posso respirar.
VIOLA DE LERENO.

Foi I. Num 5 .

Cumprimento do voto*

C A N T I G A S .

O Voto que eu fiz a Amor,'


Não he hum Voto indiscreto y
Hei de cumprir o meu Voto,*
Eu não falto ao que prometto.

Quando eu prometto ternuráSj*


Eu ternuras não affecto,
Piometi amar, eu amoA
E u , Scc.
*X 2 x*
Prometi senão mudasses
Não mudar de amor , e objecto,
Tu mudaste, eu mudei-me*»
E u , &c.

Teme embora o ser julgada,-


Por Amor, que he Juiz recto,
File castiga quem falta,
E u , &c.

Talvez me deixas por outro


Mais gentil, e mais discreto,
Eu igual causa não acho,
Eu, &c.

Do juramento o sentido
A saber não interpetro;
Prometi ser firme, e basta ;
Eu não falto ao que prometto.
*X 3 X*

Diga o Mundo o que quizer:

C A N T I G A S.

A Eíistir a huns olhos lindos \


Em que amor pôz seu poder ;
Eu não posso, ou eu naó quero \
Diga o Mundo o que quizer.
Pagar amor com amor,
He hum natural dever ;
Quero pagar quem me ama^
Diga , &c.

Em quanto amar me quizeres *


Também te quero querer;
Dure entre nós a constância %
Diga, &c.
«K 4 )«*

Õ Mundo raíha de tudo,


Ora quer, ora não quer ;
Mas eu vou sempre querendo;
Diga, &c.

Amar sem que ralhe o mundo,


Menina , não pôde ser ;
Mas isso o que importa , amemos,
Diga, &c.

Pobre do mundo , se acaso


O terno amor se perder;
Por amor he que elle existe,
Diga, &c.

Ralhão de vós os que amárã»;


E chamão crime ao querer;
He crime de que gostarão,
Diga, Scc.
«X s K*
Andar em bocas do mundo.
Só tu me podes fazer;
Eu porém não me arrependo ,
Diga , &c.

Teus olhos a amar me ensínão,


Os meus gostão de aprender;
A liçaô continuemos ,
Diga , Scc.
Esta doce Lei de Amor
Recebi logo ao nascer;
Vou cumprindo a L ç i , qu: he doce,
Diga , &c.
«X 6 x*

Do

Coração não gostes delia,


2//*? ella não gosta de ti.

C A N T I GAS.

c Oração, que tens com Lilia 3


Desde que seus olhos vi,
Pulas, e bates no peito,
Tape tape , tipe ti:

Coração não gostes delia ;


Qje ella não go3ta de ti.
« X 7 )«5*

Quando anda, quando falia ,


Quando chora, quando r i ;
Coxeio, tu não socegas ,
Tap; tape> tipe t i :
Coração, &c.

Já te disse, que era d'outro ;


Coração, não te menti;
Mas tu. coitado! te assustas,
Tape tape, tipe t i :
Coração, eco
Aquelle modo risonho
Não he, nem foi para t i ;
Basta, louco, e nlo estejas
Tape tape, tipe t i :
Coração, Scc.

Hum dia que me afFagava-


Zombava , eu bem percebi,
Era nor gostar de ver-te
Tape tape, tipe ti.
Coração, &c»
*X 8 x*
Coração, tu não me enganes;
Todo o teu mal vem dalli ;
Tu palpitando te explicas,
Tape tape , tipe ti :
Coração, &c.
He amável, mas não ama;
Eu já mesmo to adverti;
E tu mui néscio teimando,
Tape tape, tipe t i :
Coração, &c.
Se tu Ieres nos seus olhos,
O que eu com meus olhos li;
Talvez te não cances tanto,
Tape tape, tipe t i :
Coração > Scc.
*X 9 X*

O meu livre corscão..

C A N T I G A S .

J A' de todo abandonei


De amor a cruel paixão j
Tenho em socego no peito
0 meu livre coração :

Mostro a todos em pedaços


O antigo, e duro grilhão;
Tenho em doce liberdade
O meu , Scc.
Amor não torna a prender-me ,
Que me defende a razão;
A razão he quem ampara
O meu, &c.
«X io X*
Ouço os gemidos dos outros,
Vejo d'outros a afflicçao ;
Tenho dó , mas tenho livre
Q meu, &c.

Gosto da bella, que he bella ;


Quer s;ja ingrata, quer nlo;
Das ingratas r i , e zomba
O meu, &c.

Escapei das mios de Amor,


Dos s^us golpes estou são ;
Vivo livre, e em paz respira
P meuj Scc.
«X n X*

A Illurtre Am ira.

C A N T I G A S .

N, A fresca Bellas
Ao som da lyra;
A Illustre Amira
Quero eu cantar :
Amira , Amira, Amira
Ouça o Ceo, a Terra, e o Mar.

Com ella as graças


Sempre passeiâo ;
Sempre a rodeião
Se a vêm parar :
Amira, Scc>
*X 12 X*
Vão ás virtudes
Dados os braços;
Guiando os paços
Que ella ha de dar :
Amira, &c.

Viçosos campos
De que he Senhora ;
Lhe mandou Flora
Alcatifar :
Amira, &c

Lindas boninas
Plantas viçosas;
Ficão vaidosas
De ella as pizar:
Amira, &c.
A mole relva
Que isto entapiza;
O pé que a piza
Gosta beijar:
Amira, Scc.
*X 13 )4>

Vejo dobrar-se
Troncos hirsutos;
Porque ella os frutos
Lhe vá tomar:
Amira , Sccl
Freixos erguidos
A'coma estendem ;
Tanto a defendem
De ao Sol crestar t
Amira, &c*

As Aves mesmo
Tal gosto inspira ,
Que o neme Amira
Lhe ouço cantar :
Amira, Scoi
Todos em honra
Da Natureza ,
Sua belleza
Devem honrar ;
Amira, &e$
« K 14 X*

A Armania.

C A N T I G A S .

D Izei humanos
Se a Natureza ,
Melhor belleza
Pôde formar ?
Armania linda j
Vinde louvar.

Notai a graça
Dos seus cabellos,
E os olhos bellos
Vede raiar:
Armania, &c.
*X i$ X*
A cor das faces
He a da Aurora,
Que hum dia cora
Dá luz ao ar :
Armania &c.
Das graças cofre
A boca linda,
Onde Amor inda
Se vai fartar:
Armania, &c-j
Orfeo esqueça
Que com o seu canto,-
As pedras tanto
Fez abalar :
Armania, -Scc.

Sahe de huma boca


Tão peregrina ,
Voz mais Divina ,
Voz singular :
Armania, & c
«X ié x*
Maravilhoso
He Seu effei-to
Penetra o peito
Sem o rasgar:
Armania, Scc.
Torna contente
Quem está triste ,
Não lhe resiste
Nenhum pezar:
Armania, &c.
Os seus felizes
Preciosos dias ,
Mil alegrias
Tem de nos dar:
Armania, &c.
Pois he a nossa
Felicidade,
A sua idade
Vamos cantar:
Armania, &c.
*V( l7 X*
Mil a •gaOÒQOOUJ^.l-jrrrD-g

Ltreno melancólico.

C A N T I G A S :

Astoras não me chameis


Para vossa companhia ,
Que onde eu vou comigo levo
A mortal melancolia.
Coube-me por triste sorte
Eclipsada estrella impia,
Que em meus dias sempre influe
A mortal melancolia.

Logo ao dia de eu naster


Nesse mesmo infausto dia ?
Veio bafejar-me o berço
A mortal melancolia.
Voh L iVA 5.
«X i8 X*

Por cima da infeliz choça


Gralha agoreira se ouvia,
Que a meus dias agourara,
A mortal melancolia.

No meu innocente rosto


Quem o notava bem via,
Q^ em triste côr se marcava,
A mortal melancolia.

Que fiz eu á Natureza


A fortuna eu que faria,
Para inspirar*me tão cedo
A mortal melancolia!

De alegria ouço eu fallar


Não sei o que he alegria ,
Nunca me deixou sabello
A mortal melancolia.
«X 19 )&

Se *úm anno triste se acaba


Triste o outro principia ;
Marca as horas, dias , meZefj
A mortal melancolia.

Sou forçado a alegre càhto;


Faço esforços de alegria ,
E occulto no fundo d'alma
A mortal melancolia.

Enchugo o pranto nos olhos;


Cbrigo a que a boca ria,
P2ra disfarçar comVosco
A mortal melancolia.

Não quero com meus pezareí


Funestar a companhia;
Que he nuftva peste que h w a
A mortal melancolia.
* X 20 X*

Se os seus bens me mostra a sorte


Mostramos por zombaria;
Porque para mim só guarda
A mortal melancolia.

Sonhei que huma Augusta mão


Venturoso me fazia;
Foi sonho, e fica em verdade
A mortal melancolia.

Fui abranger as venturas


Que o sonho me oíFerecia ;
E despertei abraçando
A mortal melancolia.

Se hum prazer se me dirige


Occulta força o desvia ;
Só de mim se não separa
A mortal melancolia.
•X 21 x*

Ella me vai consumindo


De hora a hora, dia a dia;
Sinto-me ir desfalecendo
Da mortal melancolia.

O sangue vai-se gelando ;


O coração se me esfria;
Fica em paz Armênia, eu morro
Da mortal melancolia.

Inda quando o frio corpo


Se envolver na terra fria;
Ha de corroer meus ossos
A mortal melancolia.

Se acaso dura a tristeza


Dos Numes na companhia ;
Alli mesmo hei de ter na alma
A mortal melancolia.
*K « )•?*

Sobre a minha sepultura


Que escrevessem queria;
Hum Epirafi? em triunfo
A mortal melancolia.

Lereno alegrou os outros ,


E nunca teve alegria ;
Viveo, e morreo nos braços
Da mortal melancolia»
«X 2^ X*

Não se resiste a Amor.

C A N T I G A S .

E Mpreheodeo Amor vencer-me


O meu livre coração,
E eu que tanto resistia
Resistir não pude não.
Estribilho.
Quem terá forçns
Terá va'or
Com que resistão
Ao Deos de Amor.
Não se resiste ,
Ah ! não, não» não.
« X 24 )«?*'
Resistir ao Deos Cupido
He huma vá presumpção ,*
Eu mesmo que o presumia
Resistir não pude não:
Quem , Scc.
Chamo a razão em soccorro,
Desampara-me a razão;
Da razão desamparado
Resistir não pude não :
Quem , &c;
Mais não me venceo Cupido
Co1 as settas que traz na mão;
Mostrou-me huns olhos mui meigos
Resistir não puie não :
Quem , Scc.
Vejo o Heróe que larga a Clava ,
E toma o fuzo na mão ;
A quem Hercules se dera
Resistir não pude não :
Quem, & c
• X 25 )
Vi Amor ferir a Jove,
Vi tremer delle Plutao ;
Ao vencedor de altos Numes
Resistir não pude não.
Quem , Scc.

Lisongeiras esperanças
Mostra amor na esquerda mão
Com seus prêmios seduzido
Resistir não pude não :
Quem , Scc.

Clamor de Lereno.

A Serra de Cintra
Lereno trepava ;
K a sua Corila
Vãmente chamava:
Corila. Corila
Vãmente chamava.
*X 26 X*
Descia dos montes,
Os Valles buscava;
E os gritos saudosos;
E os ais redobrava :
Corila, &c.
A voz de Lereno
Cos ecos tornava;
Em vão que a Pastora
O não escutava:
Corila a &c<
O Zefyro brando
C£ alli suçurrava;
No mesmo suçurro
Lereno assustava :
Corila , Scc.

A fonte vizinha
Q então murmurava ;
A voz de Corila
Se lhe assemelhava:
Corila, Scc.
«X 27 »

O triste Serrano
Em vão se cançava;
Perdia o seu tempo
Seus gritos baldava '.
Coriia , Scc.

Qu;? ver se a fortuna


$: lhe apiedava ;
E a Deosa traveça
Mais delle zombava :
Corila , Scc.

Tornava a subir,
A descer tornava;
Se infeliz subia ,
Eu infeliz baixava :
Coriu j Scc.
«X 28 x*

A,krta que Amor faz guerra.

C A N T I G A S .

AiLerta livres Pastores


Q o Deos de Amor vos faz guerra;
E vos chama a desafio
Í<JQS Campos de Salvatcrra :
Nos lindos Campos
De Salvatcrra
Anda Cupido
Fazendo guerra.

J í solta o Pendão aos ares


O traveco , o cego Nume,
E traz por cruéis divisas
A saudade, e o ciúme :
Nos lindos ; &c.
*X 29 ) % ,

Marchão diante as suspeitas;


Que são a guarda avançada ;
Que explorão todo o caminho
Sem darem quartel a nada:
Nos lindos, &c.'
Vã© os havidos desejos
Os Rufos amiudando;
Seguem a marcha os amores
Sempre as settas apontando:
Nos lindos, &c.
A quanto os Campos passeião
Deixao de morte feridos;
Sexo , qualidade , estado ,
Não attendem os Cupidos :
Nos lindos , Scc:

Vem Armania , a linda Armania


Q£ arrasta troféos de gloria ;
Prostão se a seus olhos todos ;
He delia toda a victoria:
Nos lindos, &c2
»X 3° K*

PARTIDA
Traduccão , e Glosa da Portento ie

METASTAZ10.

C A N T I G A S .

P Ar to 6 Nize, e este adeos


Não sei se ultimo será;
Ah ! quem sabe se Lereno
Inda a ver-te tornará.
*X 3* tf*

Nize , ó Nize, adeos , adcos ;


Teu Lereno parte já ;
Quem lhe diz por piedade
S'inda a ver-te tornará.

O meu coração presago


Náo sei que annúncio me dá;
Vai Lereno, mas quem sabe
S'inda a ver-te tornará.

Frio susto prende o sangue


Sem que o triste peito v á ;
Teu Lereno desconfia
S'inda a ver-te tornará.

Ah! quem sabe se o ciúme


Os meus dias turbará ;
E se em braços de outro amante
Inda a ver-te tornará.
4K 32 M*

Ah! quem sabe linda Nize


Se a saudade o acsbará;
Ou se a ella resistindo
Inda a ver-te tornará.
VIOLA DE LERENO.

Foi I. Num.6.

S«bre as Azas dos Amores^

GLOSA.

CANTIGAS DE IMPROVISO.

Ois quereis , amigos Vares;


Escutar os meus clamores;
Reparai, como elles gyrão
Sobre as azas dos Amores,
«X 2 X*

Aproveito o privilegio
Dos Pindaricos Cantores;
Já começo a erguer-me ás nuvens
Sobre, &c.

Como a venenosa Sérpe


Se esconde entre as lindas flores;
Vôa o engano escondido
Sobre, &c.

Póe Lesbiraa os lindos olhos


Nos dos meus competidores,
E as desfeitas vem pungir-me
Sobre, &c.

Reparai na linda face


Como aviva, ou perde as cores,
Quando os remorsos a buscão
Sobre, Scc.
«X 3 M*

Deixo em fim na baixa terra


Os receios, e os temores ;
Vou soltar verdades ternas
Sobre , &c.

Lereno > que era o mais livre,


E o mais terno dos Pastores;
Vlo fugir a liberdade
Sobre , Scc.

Lesbina , a gentil Lesbina ;


Dos olhos encantadores,
Fez voar vivos desejos
Sobre , &c.

Ah! que em torno aos olhos lindos^


Que não tem competidores,
Voava a meiga esperança
Sobre, Scc.
«K 4 )4*

De meus inales esquecido,


E minhas antigas dores,
Os prazeres me cercavão
Sobre > &c.

Fugião meus dias tristes


Trazia o tempo os melhores
O tempo que só marchara
Sobre, &c.

Ai que meus Fados cruéis;


Sempre meus perseguidores,
Fazem voar as desgraças
Sobre, &c.

Por meus suspiros ardentes ;


Que levão meus dissabores ;
Tornão frios desenganos
Sobre, &c.
«X s X*
Ah ! de Amor não TOS fieis
Os innocentes Pastores,
Q ás vezes manda os ciúmes
Sobre , Scc.

Lesbina chamou-se minha,


Deo disto as provas melhores.
Seus votos aos Ceos subião
Sobre, Scc.

Mas o Ceo que reconhece ;


Que seus votos são traidores,
Pôde mandar-lhe o castigo
Sobre , &c.

Onde hirás meu coração,


Se aonde quer que tu fores,
Acharás sempre a desgraça
Sobre > &c.
Dispara sim bella ingrata
Teus cruentos passadores ,
Faze sahir a minha alma
Sobre, &c.

Venturosos meus suspiros ,


Meus suspiros voadores }
Se encontrão esses que tornao
Sobre, Scc.

Quando não vejo a teus olhos;


Teus olhos triunradores ,
O teu nome solto aos ares
Sobre, &c.

Vô.i sobre as negras azas


Dos zeios devoradores ,
Em quanto outros vão tranquillos
Sobre, Scc.
*X 7 X*
E a traidora que assim zomba
De meus sentidos clamores,
Manda a outro os seus aíFagos
Sobre» &c.

Pastores, morreo Lereno,


O melhor dos amadores,
Amor o leva em triunfo
Sobre as azas dos Amores.
*X 8 x*

Ais.

C A N T I G A S .

A Mor , ai Amor eu morro „


Eu não posso viver mais ;
Vão-me consumindo a vida
Os meus repetidos ais:
Amor basta basta ,
Não me firas mais;
Se meus ais desejas >
Aqui tens meus ais:

A minha ingrata despreza,


Da minha dor os sinais,
Meus ais lhe dizem que eu amo
Ella não ouve meus a i s :
Amor, Scc.
*X 9 x*
A minha paixão occulto
Com medo dos meus rivais;
E solto por desafogo
Medrosos aflictos ais:
A m o r , Scc.

Por mais que busco em seu losto


Da compaixão os sinais;
Nem se turba , nem se inclina
Ao triste som dos meus ais :
Amor , Scc.
Olhos cruéis , porém lindos ,
Que os meus olhos cativais ;
Recebei o meu tributo,
O meu tributo são ais:
Amor, tkc.

Quando por minha desdita»


Em outros vos empregais;
Corre dos meus triste pranto,
Voão do peito meus a i s :
Amor, Scc.
I0
«X X*
Se de ver-me padecer ;
Olhos cruéis vós gostais ;
Uninio-me a vosso gosto,
Darei por gosto meus ais :
Amor, Scc.

Ah! poupai-me , olhos cruéis,


Que a minha vida gastais ;
Eu a sinto pouco a pouco
Desfazer-se nos meus ais:
Amor, &c.

Se por soberba cruéis


Teimosos me maltrarais ;
Pode amor ainda hum dia
Vingar desprezados ais:
Amor, Scc.

Basti cruel não me queixo,


Não quero afdi .-ir-me mais;
Hirei 'ara muiro longe
Esconder meus tristes ais:
Amor, Scc:
*X ii X*

z=f«

A Tirqueia.

C A N T I G A S .

V y Uando solta a voz suave


A lindíssima Tirqueia ;
Na miúda, e branca areia
Vejo o Rio espreguiçar-se ;
Como quem quer demorar-se
Para a ver para a escutar :
Tirqueia, Gentil Pastora ;
Solta a vós doce, e canór3,
Se nos queres consolar.
«X 12 X*
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia ;
Desasombra a noite feia t
E a triste ave, que gemia ,-
Ca)a os gritos de agonia,
Nem se escuta mais piar :
Tirqueia, Scc.
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia,
Mudo o Zeflro passeia,
Entre as plantas, entre as flores,
Nem co' os vôos rugidores
Quer seu canto perturbar :
Tirqueia , Scc.
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia
Lindo enxame alli zumbeia,
K no ar, que ella adoçára ,
Bebe a essência , que prepara
Tara novo mel formar :
Tirqueia, Scc.
«X 13 X*
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia ,
Triste Nynfa, que vozeia
Dos cavados montes secos ;
Torna alegres os seus ecos ,
Q essa voz faz adocar:
Tirqueia, Scci
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia,
Filomela não gorgeia ,
Mas absorta em meigo pranto
Ouve muda o raro canto,
Que ao depois quer imitar:
Tirqueia, &cl
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia,
Terno Amor, que alli volteia;
Larga as settas, tanto usadas,
E co' as vozes delicadas
Vai o mundo sujeitar.
Tirqueia, &c.
*H 14 )
Quando solta a voz suave
A lindíssima Tirqueia,
Desce á nossa triste Aldêa
A suavíssima alegria,
Que nas azas da harmonia
Vem a todos consolar:
Tirqueia , &c.
«X ir x*

A minha amante paixão.

C A N T I G A S .

H Ei de offerecer a Amor
Minha humilde petição;
Esperando hum como pede
A minha amante paixão.
Hei de pedir-lhe que veja
A quem dei meu coração;
C£ em a vendo, logo approva
A minha amante paixão.
«X lé x*
Nunca Amor vio iguais olhos
Rosto igual nunca vio não;
Nem verá paixão que iguale
A n.inhg amante paixão.

Que os meus suspiros guiando


Lhe penetra o coração ;
De modo , que a interneça
A minha amante paixão.

Mostre-lhe os vivos desejos


Que com meus suspiros vão;
E com minha saudade
A minha amante paixão.

O meu bem compadecida


F?a minha terna afflicção;
Com igual paixão me pague
A minha amante paixão.
« X 17 X*

Aos que vão de Amor ao Templo


Serei exemplo , e lição ;
Sirva aos outros de modelo,
A minha amante paixão.

Muitos amão com loucura ,


Eu de amar tenho razão;
Que tem mil razoes amáveis
A minha amante paixão.

Não terás nas tuas aras


Huma mais digna oblação;
Se unes á sua constância
A minha amante paixão.

Coroa a minha fé pura ,


Não deixes que eu ame em vão ;
Que bem merece os teus prêmios
A minha amante paixão.
Vol.l. N.6.
*X 18 x*
Em torno dos teus altares
Os meus Hymnos voarão;
Ternos Hymnos, que te envia
A minha amante paixão.

Por honra do teu poder


Não me desampares não ,
Oiha, Amor, que te acredita
A minha amante paixão.
«X i9 K*

Nada de saudades.

C A N T I G A S .

A Mor, eu venho nedir-te


Hum favor por pied^A;
Dá-me dos teus ma'°s tolos,
Mas nunca me dês saudade.

Amor, eu viver não posso


Dividido em ametad"-*;
Junto a meu bem sofFro tudo
Mas nunca me dês saudade.
•fX 20 X*

Amor, se provar quizeres


Minha fé, minha lealdade ;
Dá-me suspeitas, ciúmes,
Mas nunca me dês saudade.

Amor, dos teus males todos


Constante eoffro a maldade;
Mas com saudades desmaio,
E nunca me dês saudade.

Amor, os olhos que eu amo


Tem de meus olhos piedade ;
Se os não vejo não me açodem,
Ai! nunca me dão saudade.

Amor , ajustemos hoje ;


Cumpre em mim tua vontade;
Mas não me negues ver LiUa ;
Ej nunca me dês saudade.
* X 21 K »
Amor os teus males juntos,
São de huma ausência metade;
Alli ha suspeitas , zelos ,
Ah! nunca me dês saudade.

Amor, eu te sirvo a munto;


Sempre de boa vontade;
N3o te fallo em pagamento 9
Mas nunca me dês saudade?
* X 22 )&

III "111 | l i |Ml| III •! ||l

E Então.

C A N T I G A S .

Lzira formosa,
Desgraça foi ver-te ,
Seguio-se o render-te
O meu coração.

Amor de render-me
Achou o motivo ,
Eu já sou cativo,
Eu amo; e então?
Então ?
4K 23 X*

Ao ver os teus olhos


Tso vivos , e bellos,
Eu tenho de vêllos
Maior ambição.

Por mais que eu os veja


Não farto a vontade;
Eu tenho saudade;
Eu amo; e então ?
Então ?

Se a outrem voltada
Tu fazes carinhos,
Ciúmes daninhos
Ferindo-me estão:
Mais triste me síâ-ío
Do que se presume ;
Já tenho ciúme;
Eu amo; c então?
Então ?
tX 24 X*
Â's vezes eu finjo
Os bens que eu mais quero;
Fingindo eu espero,
Que os bens chegaráÓA*

Vendo a tempestade
Espero a bonança;
Já tenho esperança,
E u amo: e então ?
Então?

Eu sinto nesta alma


Huma cousa nova,
Não tinha inda prova
Da doce paixão.

Do que outros dizião


Eu provo a verdade ,
Isto he novidade ,
Eu amo: e então?
Então ?
*X 25 X*

Apanhe para seu ensino^

C A N T I G A S .

I Enho ainda hum coração;


Qual já não devera ter;
Pois não querendo o que eu quero
Quer só tudo o que elle quer:

Hei de castigallo;
Ha de lhe doer;
Dar-lhei pancadas
Para a prender:

Apenas vé lindos rostos


Logo se lhe vai render;
Não quer o que a razão manda $
Quer só tudo o que elle quer:
Hei de, &c;
# C 26 ) #

Vê as barbas doVisinho,
Do ciúme cm fogo arder;
As suas nãò põem de molho ,
Quer só tudo o que elle quer:
Hei d e , Scc.

Não quer; quando he necessário,


Occultar o seu prazer ;
Diz nos olhos quanto sente ,
Quer só tudo o que elle quer:
Hei d e , &c.

Digo ás vezes que não ame ,


Que não ha de amado ser;
O teimoso não mC esíuta,
Quer só tudo o que elle quer:
Hei de , Scc»

Se he preciso contcntar-se
Com metade do prazer;
-Ao y contentao metades,
Quer só tudo o que elle quer:
Hei d e , Scc,
*K 27 X*
Ha mil destes corações,
Diga o mundo o que disser;
Quem ama não quer conselhos;
Quer só tudo o que elle quer:
Hei de, Scc:

Choro a minha desventura.


GLOSA.

C A N T I G A S .

D O meu triste amargo pranto Í


Quem razão saber procura ,
Saiba, que sou desgraçado,
Choro, Scc.
Desgraçado desde o berço
Serei té á sepultura;
Pois assim o quiz meu Fado;
Choro» &c.
*X 28 X*

A minha alma desgraçada,


Em vão socorros procura ;
Ninguém pôde socorrer-me,
Choro, &c.

Tenho, por maior desgraça,


Huma alma dada á ternura;
Serei infeliz amando,
Choro, &c.

Não posso esperar favor


Da adorada formosura;
Devo amar sem ser amado,
Choro, &c.

A que me jurou amar,


Por força ba de ser perjurQj
Assim o quer o meu Fado *
Choro, Scc.
* X 29 X*

Não posso lisongear-me


De esperar huma figura ;
Negão-me até a esperança ,
Choro, &c.

A torrente do meu pranto


Tem huma horrível mistura t
Entre saudades, e zelos,
Choro, &c.

Deve durar meu tormento ,


Em quanto a vida me dura;
Saibão que onde quer que eu Yiva ,
Choro, &c.
«K 30 x*

Queixas a Amor.

C A N T I G A S .

V, Enho Amor de ri queixar-me';


Ouve que eu tenho rizão ;
Principio por mostrar-te
Qual eu tenho o coração.

Isto Amor não he bem feito


N ã o , não he bem feito, não.

As doçuras promettidas
Fsnerei, traidor , em vão ;',
Diz", se acaso estes golpes
As tuas doçuras são ?
Isto, & c
<*X 31 )4»

Minha doce liberdade


Fuzeste em alheia mão;
E a preço de vãs promessas,
Cativaste q coração :
Isto , Scc.

Onde estão o? teus prazeres ?


Dize , cruel, onde estão ?
Sobre ciúmes , saudades ;
Astes vem, quando essas vão:
Isto, Scc,
De prazeres assaltado
Não tenho socego, não;
E apenas vem, logo foge
A escaça consolação :
Isto, Scc*
Fazes da cruel Ulina
Travessa repartição ;
Eu tenho as doces promessas;
Outro goza o coração :
Isto , Scc.
#X 32 X*
Eu tão prezo, ella tão solta;
Ouve a minha petição :
Eu me une mais a Ulina,
Ou me quebra este grilhão :
Isto, Scc.
VIOLA DE LERENO.

Foi. I. Num. 7«

Aonde está o meti bem.

C A N T I G A S ;

\J Meu coração palpita


Contínuos pulos me dá;
Elle pergunta inquieto
Aonde o meu bem está:
E onde está o meu bem l
Ao depois que eu não sei dellá
Também de mim não sei já ;
Voa amor, evai saber
Aonde o meu bem está :
E onde , etc
«X 2 X*
O caminho que ella piza
Aspro caminho será ;
Vai amor espalhar flores
Aonde o meu bem está :
E onde, &c.
O Sol c'os ardentes raios
A terra alli queimará ;
Vai amor cobrir c'o as azas
Aonde meu bem está :
E Onde, &c.
Pelas desertas campinas
O meu bem se assustará ;
Leva esta alma destemida
Aonde meu bem está :
E onde, &c.

De quem por ella suspira


Talvez não se lembrará ;
Leva amor os meus suspiros
Aonde meu bem está :
E onde, &c.
«X * tf*
A triste Melancolia
Tristemente a seguirá;
Leva amor doces prazeres
Aonde meu bem está :
E onde, &c;
Que tempo estarei sem vela!
Dize , amor, quanto será;
Traze o meu bem , ou me leva
Aonde o meu bem está :
E onde, &e</
«k 4 x»

Benifita.

C A N T I G A S .

V Içõsa Bemfica ,
Fez-te a natureza ;
Abrigo á saúde
Morada á belleza:

Não ha não ha
Terra mais rica;
Todos te invejão
Viçosa Bemfica.

As outras Aldêas
Já clamao raivosas;
Que tu lhes roubaste
As Ninfas formosas:
Não, &c.
* X 5 )•$»

Elias te enriquecem
Quem te honra são ellas;
E todas te chamão
O Paiz das bellas:
N ã o , &c.
Já deixa Cythera ,
E Pafos, e Gnido;
E faz em Bemfica
Morada Cupido :
Não, & c
Pastoras , cautella;
Cautella Pastores ,
Que está nestes campG9
O Deos dos Amores:
Não, &c.

D'hum lado a outro lado


Traveço elle gyrv,
Mas reina nos olhos
Da minha Belxira.
Não, Scc.
«X * X*
Quando ella passeia
Passeia com ella,
Rendendo aos que encontra ,
Que chega o a vela :
Não, &c.

Dalli nos sujeita


A. livre vontade ;
E a preço de gostos
Compra a liberdade:
Não , Scc.
Ferindo nao poupa
Pastora , ou Pastor ;
Ciúme , e Esperança
São armas de Amor:
Não, Scc.
Retinem contínuos
Os sons das cadêas
Por estas Aldêas
Que estão de redor :
Não, &c&
*V( 7 X*
O Numem terrível
Vaidoso se explica ;
Que funda em Bemfica
Seu Templo melhor:
Não, &c.

Mas esses despojos


Triunfo de amor,
Aos pés de Belmira
Sempre elle os vem oôr:
Não, &c.
*X 8 tf*

•fíw annos da linda Mareia.

C A N T I G A S .

V, Inde Graças, vinde Amores


Cortejar a Mareia linda ;
Amor chama, Amor vos brinda
A seus annos festejar.

Estribilho.
Nasceu Mareia linda Mareia,
Seu nome vamos Cantar.

Traz os Rizos, e os Prazeres


Companheiros da alegria ,
E a memória deste dia
Quer cantando eternisar.
Estribilho , 6*5*.
«K 9 )•?*

Não tem setas , não tem arco ,


Nem aos hombros tem aljava ,
Nem a gente, sua escrava
Quer gemidos escutar.
Estribilho, &c.
Tristes ais, suspiros tristes
Nos seus antros aferrolha ;
Só de gostos nova escolha
Vem ao mundo h,oje espalhar,.
Estriibilho, &c.
Não quer hoje ouvir Cupido
Tristes magoas rouco pranto ;
E ensaiou hum novo canto
Para Mareia celebrar.
Estribilho , &c.
Dqs seus olhos engraçados
Sempre vivos, sempre bellos ;
Vãs suspeitas, duros zellos
Elle cuida de afastar.
Estribilho, Scc.
«K io x*
Tem na sua luz suave
Lisonjeiras esperanças
Mostra a paz, mostra as bonanças
Para a terra, e para o mar.
Estribilho, Stc.

Este dia, alegre dia


Deve ser por nós cantado ,
Sempre assim por nós lembrado
Ha de o Tejo , e o mundo honrar.
Estribilho, &c.
Venturosos os Pastores
De quem Mareia he linda filha,
Se lhe coube isto em partilha
Não tem mais que desejar.
Estribilho, &c.
Guarde o Ceo seus bellos dias ;
E vigie a sua idade J
Sem haver felicidade
Qie precise supplicar.
Estribilho , Scc.
«X i i 54*

Guarde amor sua alma bella


Para quem mereça tanto.
Que no laço jus'o, e santo
Hymineu a venha ata*-.
Estribilho, &c.
Dos viçosos tenros anno?
Sopre amor fogo de idade ,
E ajudado da amizade
Saiba os restos bafejar.
Estribilho , &c.
«X 12 x*

Assim como fai fai.

C A N T I G A S .

H Ei de amar-te le me amarcs ;
Querer-te se me quizeres ,
Deixar-te-hei se me deixares ,
Farei o que tu fizeres.
Estribilho.
Farei farei.. - que hei de fazer?
Farei o que tu fizeres.
Se gostares dos mais homens
Gostarei das mais mulheres ;
Hei de seguir o teu gosto,
Farei o qus tu fizeres.
Estr. Scc.
( Se ternura não mostrarei
Mais ternura não esperes,
Serei cruel se tu fores ,
Farei o que tu fizeres.
Estr. &c.

Se os meus prazeres tu fazes


Eu farei os teus prazeres,
Se te enfadas, eu me enfado;
Farei o que tu fizeres,
Estr. &c.
Este amor he hum contrato;
Quero em quanto ru me queres ;
Se me deixas também deixo,
Farei o que tu fizeres.
Estr. &c.
Mas, menina, eu serei firme
Se tu firme ser souberes ,
Seguirei sempre os teus passos ,
Farei o que tu fizeres.
Estr. &c.
* X 14 M*

$tão se morre de saudade.

C A N T I G A S .

v J Uvi Pastoras ouvi-me,


Que eu declaro huma verdade:
Os vossos amantes mentem,
Não se morre de saudade.
Estiibilho.
Se de saudade algut-m morrera
Pobre Lereno JJ nao vivera.

He verdade que se vive


Divid do em amttade;
Ma', v,vendo meia vida,
Não se more de saudade.
Estr.
«X i* tf*
Dizem que a saudade mata
Pela sua crueldade;
Mas como a esperança anima,
Não se morre de saudade.
Estr.

Vive-se quasi morrendo ,


Nem ha de viver vontade;
Mais quasi morto vivendo,
Não se morre de saudade.
EstrJ
Ameaça a crua morte
Com muita variedade,
Vive-se sempre em perigo,
Não se more de saudade.
Estr.

Em contínuo sofrimento
Ha contínua raridade,
Vivendo em quem se deseja ;
Não se morre de saudade.
Estr.
«K 16 tf*
He por' própria experiência;
Que eu conheço esta verdade,
Se eu vivo áem ver Belmira ,
Não se morre de saudade.
Estr.

Não tem mais que perguntar»

C A N T I G A S .

S c Uem me ouvir a suspirar


Não me pergunte o porque;
Se o meu bem aqui não vê,
Não tem mais que perguntar.
Estribilho.
Ah ! quem me ouvir a suspirar
Saiba qué eu amo,
Não tem mais qüe perguntar.
« X 17 X*
Quem acaso me encontrar
Caminhando ao meu retiro,
Oiça o nome que eu suspiro.
Não tem mais que perguntar.
Estribilho, Scc.

Se alguém quer advinhar •>


Quem meu coração governa ,
Fixe a vista em Mareia terna ,
Não tem mais que perguntar.
Estribilho , &c.

Se a Filomella parar
O seu suave reclamo,
He que canta , quem eu amo ,
Não tem mais que perguntar.
Estribilho , Scc,

Quem nossas Ninfas notar


Entre as bellas, a mais bella ,
Não duvide , he ella , he ella ,
Não tem mais que perguntar.
Estribilho, Scc.
Vol. L N. 7.
*H x8 tf*
I,
Quem me vir sempre afastar
Dos meus amigos Pastores,
He que busco os meus amores,
Não tem mais que perguntar.
Estribilho , &c.

Triste Lereno.

C A N T I G A S .

T: Ris te Lereno'
Perde o seu gado ,
Soffre esta perda
Firme. e callado.
Estribilho.
Porém não pôde
Soffrer , coitado ?
O perder Lilia ,
Seu bem amado.
«X 19 tf*

Tem-lhe a seara
O Sol crestado,
E a nova perda
Vio sem enfado.
Porém , Sccl

Ventos lhe arrancão


O olmo estimado ,
Elle em soccego
O tem notado.
Porém, Scc.
Quantas desgraças
Lhe manda o Fado;
SofFre sem nunca
Ter murmurado.
Porém, Scc.

Era prudente,
Era caliado ,
Nem hum gemido
Tinha soltado.
Porém , &<y
«X 20 X*
Hoje com vozes
Sobresaltado,
Grita Lereno
Dezassizado.
Estribilho.
Porque não pôde
Soffrer callado, &e.

Saibao os outros
Qjaem tem amado,
Elle o confessa ,
Que he desgraçado.
Porque , Scc
Bosques , Searas ,
Choupana , e Gado
Davao-lhe sempre,
Menos cuidado.
Porque, &c°
Pôde hum menino
Cego , e vendado
O seu segredo
Tornar baldado?
Porque, Scc.
*X 21 X*
Seja o exemplo
De hum desgraçado ,
Lição aos outros
Do mesmo estado.
Porque, Scc.

foca a recolher para a Cidade , Bando


de Amor.

C A N T I G A S .

s Entido, ternos Amantes,


Ouvi cs rufos de Amor;
Escutai seu novo bando ,
Segui-o ; he vosso senhor»
Estribilho.
A^ora eme os Camões perdem
Sua alegre amenidade ,
Correi todos á Cidade,
Que alii se recolhe Amor.
«X 22 tf*

Ajunta os ferros perdidos


Das desperdiçadas settas,
E faz das hastes vaquetas
Com que bate o seu tambor.

Estribilho.
Agora que os Campos perdem , &c.

Ferio brincando nos Campos


Doces feridas ligeiras,
Agora accende as fogueiras ,
Que lhe aproveitem melhor.
Estribilho.
Agora que 03 Campos perdem , Scc.

Entre a viva lavareda


Seu fogo occulto mistura ,
Fogo, que inspira ternura
A' bella , e seu amador.

Estribilho.'
Agora que os Campos perdem ; Scc.
«X 23 X*

He huma salva a belleza,


Quando nas brazas estoira ,
A íiza reborda loira ,
Que a seus pés se lhes vai pôr.

Estribilho.
Agora que os Campos perdem . &c.

Bacco espumante apparece


Ajudante de Cupido.
E alli nos tem prevenido
O seu mágico licor.

Estribilho.
Agora que os Campos perdem , Scc.

Com a devinal bebida


Faz voar rizos galantes,
E afugenta dos Amantes
O incomodo pudor.
Estribilho.
Agora que os Campos perdem , Scc .
«X 24 X*

Vem travessas Contradanças,


Precedidas d'alegria ,
Zombar da Estação que fria
A' Campina fa z horror.

Estribilho.
Agora que os Campos perdem , &c

Suas voltas estudadas,


Quando alli vos baralhais,
Vos aperta muito mais
Em cadeias só de Amor.

Estribilho.
Agora que os Campos perdem , &c

Não sintais perder por ora


Bosque ameno, e callador ,
Vinde ao tempo accomodar-vos ,
Que isto foi sempre o melhor.

Estribilho.
Agora que os Campos perdem Scc.
«X 25 tf*

M O T E .

Não há remédio senão morrer

Gloza improvizo.

E U venho
Onde os mais
achar os pezares ,
achao prazer ;
Amor que dá vida a todos,
Si a mim me faz morrer

Estribilho.

Amor , que pôde


Não quer valer,
Niio há remédio
Senão morrer.
«X 26 X*
Mostrou-me os olhos de Lilia ,
Fez-me o lindo rosto ver ;
Bebi nesta vista a morte,
Morro porque Amor o quer.

Estribilho.
Amor que pôde , &c.

Ao volver dos olhos bellos ,


Sinto o coração bater ;
São mortaes ancias que eu sinto,
Eu já me sinto morrer.

Estribilho.
Amor que pôde , Scc.

Tyranna , mata com magoas ,


Meiga, mata com prazer;
Morro de amores por ella ,
Até gosto de morrer.

Estribilho.
Amor que pc*de , ôcc.
«X 27 X*

Só temo na minha morte


O desgosto de a perder ;
Fique-lhe ao menos minha alma ,
Q'alma não pôde morrer.

Estribilho.
Amor que pôde, & c

Se com desgostos me mata ,


Com gosto faz reviver,
Por não nerder este gosto ,
Gosto mesmo de morrer.

Estribilho.
Amor que pôde , &c.

Zombam os livres mortaes


Do meu triste padecer
Que eu nao tro:o a sua vida
Por tão gostoso morrer.
Estribilho.
Amor que pôde, &c.
«X 28 tf»
A h ! Lilia formosa Lilia ,
Cumpra-se em mim teu prazer;
Se queres matar-me , mata-me,
Que eu por ti quero morrer.

Estribilho,
Amor que pôde, Scc.

Amor que pode, me quiz valer,.

C A N T I G A

A Teus olhos, lindos olhos


Eu me sinto reviver,
Elles me dao vida nova^
Se me fizerão morrer.

Estribilho.
Amor que rode ,
Mc quiz valer ,
Já não sou morto,
Torno a viver.
*X 29 X*

Meu coração já quieto


Torna de novo a bater ,
Tinha de todo esfriado,
Sinto de novo aquecer.

Estribilho.
Amor que pode , Scc,

A5 luz viva dos teus olhos


Se aviva antigo prazer;
Vejo fugir a saudade ,
Que me fez arcfecer.

Estribilho.
Amor que pode , & c

As murchas flores do campo


Já vejo reverdecer,
Dão-lhe outra vida teus olhos 9
Que a mim me fazem viver.

Estribilho.
Amor 1 Scc.
«X -3° X*
Hum Amante morre e vive
Como o piedoso Amor quer ;
Quiz-me morto, morri Jogo ;
Quer-me vivo , eu vou viver»

Estribilho.
Amor, Scc.

Esta vida he de teus olhos ,


De teus olhos devo eu ser;
Lm quanto elles me afhagarem 9-
Eu já não devo morrer.

Estribilho.
Amor, &c.

Não tornes mais a matar-me,


Deixa o teu cruel prazer ,
Porque duas vezes mono
Não poderei reviver.
Estribilho.
Amor, &Co
«X 3i X*

He para ti minha vida ,


Em quanto eu vida tiver ;
Nao queiras que a vida eu perca;
Que também vens a perder.

Estribilho.
Amor, &c.

Este milagre de Amor


Deixa em mim aparecer;
He prodígio, que te honra,
Também mostra o teu poder.

Estribilho.
Amor, & c

Talvez não entendão outros ,


O que me ouvirem dizer ,
He linguagem da minha alma,
Q i e tu só deves saber.
Estribilho.
Amor, &c.
«X 32 X*

Ajusta ser sempre minha,


Que eu sempre teu hei de ser;
Unè' à tua á minha vida,
Custe dobrado o morrer.

Estribilho.
Amor, Scc*

Mas , meu bem , haja silencio,


Não possa alguém perceber,
Que até faz inveja aos outros
Ver-me por ti reviver.

Estribilho.
Amor, Scc.
VIOLA DE LERENO.

Foi. I. -fr»m* O»

A. B. C. de Amor.
mm

H Uma
Qjer, que
Men:na
eu lhe dê
Lições de Amores
Por A. B. C.
A. — He amante,
Não ardilosa:
B. — He benigna,
Não boliçosá:
C.— He constante,
Kâo curiosa:
Tome, Menina ,
Lição gostosa.
Huma, &c.
«X i X*
D. -- Delicada
Não desdenhosar
E.--Engraçada,^
Não enganosaj
F.-Fiel,
Náo furiosa.
Tome, Menina f
Lição gostosa.
Huma, &c.

G . - H e galante,
Mas não golosai
I.'~He ser justa,
Não invejosa;
L. — Leal,
Não lacrimosa.
Tume* Menina,
Lição gostosa*
Huma, Scc*
M . - H e ser irielgá ,*
Nao mentirosa í
N. — Andar nedia,
Não nojosa:
Oi — Obediente ,
Nunca orgulhosa?
Tome, Menina,
Lição gostosa.
Huma, &c.

P. «•* He prudente ,(
Não perguiçosa*
Q.—He quieta,.
Nada queixosa:
R. — Rizonha ,
Não rigorosa,
Tome, Menina,
Lição gostosa.
Huma, &c,
«X 4 X*
S. *• He sincera ,
Não suspcitosaí
T,— He ser terna
Nunca teimosa:
V.-- Verdadeira ,
Nada vaidosa:
Tone, Menina,
Lipw goitosa.
Huma, &o.

X. — Xocarreira ,
Pouco xorosa ;
Z-r— Zombadeira
Pouco zelosa:
Tome, Menina,
Lição gostosa.

Huma, Scc.
«V( r X*
Derois d'as Letras
Bem decorar,
Quer, que eu lh*encine
A soletrar?
Tome sentido
Ví de vagar
A m, a, r ,
Soletre amar.

Quero ensinala
Tim por tím tim;
E lições dar-lhe
A^é ao fim :
Olhe, Menina,
Bem para mim ,
S i m,
Diga-me sim.
*X 6 )ü
Mas se lhe falia
Hum maganão ;
Entáo he outra
Nova lição:
A mão levante
Dê bofetão ;
N,a,6,
Diga-lhe nao.

Ter amor não he deffeita*

C A N T I G A S ,

D Esafoga pelas vozes


A paixão, que opprime o peito ,
Não te envergonhe a verdade ,
"Ter amor não he deffeito.
* 7 K*
Accefta de amor cadeias,
Do modo que eu as acceiro,
Os ferros de amor dão honra ,
Ter amor não he deffeito.

Com amor não ha fugir-lhe,


Nem por força, nem por geito,
Que importa amar, e servilo ?
Ter amor não he deffeiro.

He Gloria amar bum semblante,


Tão gentil, e tão perfeito;
Se he sem deffeito o motivo,
Ter amor não he deffeito.

Belisa, gentil Belisa ,


Eu te adoro, eu te respeito,
Não me castigues por isso
Ter amor não he defTeito.
«X S tf*
Em contemplar os teus olhos
O dia , e noite approveito,
Contemplar lie seção d'alma ,
Ter amor não he deffeito,
Eu acordo em ti cuidando ,
Em ti cuidando me deito ,
Não he deffeito o cuidado ,
Ter amor não he deffeito.

Aos homens a natureza ,


Impo/ de amor o preceito,
O deffeito está no modo,
Ter amor não he deffeitq.
«X 9 X*
ÍDQQQOOgg

Declaração de Lereno,

O
\ £ Ueres, que eu diga ,
Chara o meu nome
Chara inimiga,
Eu to direi.
Eu sou Lereno
De baixo estado,
Chossa nem gado
Dar poderei.
Mas se tu queres
Melhor morada ,
Vem, minha amada,
Que eu ta darei.
«X io x*
Entra em minha alma
Entra em segredo,
Contente, e ledo
Te adorarei.

Moda das Caldas*

^ L I de mira, que estou perdido ,


De mim mesmo, tenho horror;
Curei o meu mal antigo,
Porém temo hum mal maior,
Que sinto nas águas ?
Tão grande calor !
He que Amor he fogo ,
E aqui vive Amor.
«X ii tf*
Sinto dentro do meu peito
Hum motim perturbador,
§em saber o seu motivo
Cada vez se faz maior.
Que sinto , &c.

Vai lavrando veia em veia


Hum fogo devora dor ,
Nunca ergue viva chamma ,
Mas consome em seu calor.
Que sinto , Scc.

De hum mal que eu não conheço,


Huma dôr que não he dôr ,
Os signaes não são de morte
Seu effeito ind' he peior.
Que sinto , &c.
«X 12 tf*
He hum certo frenezi
Seja o motivo qual fôr,
Que tne faz perW o epo ,
E a razão me faz transoôr.
Qie sinto , &c.

Fiz , que o g ?to de Mari ia


Com no ler encantador,
Me torn-z de hum hom*m livre
Seu Escravo Adulador.
Que sir.to, Scç.

Agora já sei por prova ,


O de que eu fui zombador,
Já sei que Amor pode mu;to ,
O meu mal he todo Amor.
Que sinto, 5cc.
*X 13 X*

Amor Generoso.

C A N T I G A S .

L / E mais ventuross ,
Meu bem , Chego a ver-te ,
O mal de perder-te
Se torna em hum bem.
A Amor agradeço
Que assim te \ rocura
Fm outro a ventura
Que em mim não a tem.

O mal de perder-te
Se torna em hum bem.
t X 14 X*

Talvez me não ache


Amor companheiro ,
Serei o primeiro
Que saiba amar bem.
Os outros só querem
Do seu bem a posáe,
Eu acho- mais tíóce
O bem do meu bem*

O mal, Scc.

Comtigõ vaidoso
De Amor vou ao Templo ,
Servir de hum exemplo
Que o mundo não tem.
Abraço sem raiva
Meu próprio rival,
E estimo o meu mal
Porque he o teu bem.

O mal, &c;
«X i* X*
Não sigo dos zelos
A triste loucura,
E he tua ventura
A que me ccnvem.
He minha paixão
Mais justa, e mais forte,
Que faz tua sorte
A minha também.

O mal, &CÍ

Mas leva a minh'alma,


Não ma restituas,
Pois qu'inda a possuas
Assim nos convém.
Não só porque o gosto
Tem de acompanhar-te,
Mas para insinar-te
A amares mais bem.

O mal „ &c-
*H Í6 X*

Outras a mesma solfà.

C A N T I G A S *

S E ainda não sabes,


Meu bem, que és meu bem,
Perginta aos teus olhos,
O que nos meus vem.
Fu guardo segredo
Segredo convém ,
Dorila, 0 que eu sinto
Kúo digo a ninguém.
A h ! sabe Dorila
Que és todo o meu bem.
«X 17 )<*

Razão e respeito
A voz me sustem ,
E os ais receosos
Vão mudos, e vem.
Mas podem teus olhos,
Que a elles convém,
Nos meus achar quanto
Meu coração tem.
Ah! &c.
Os ternos Amofes
Meu pranto escutando,
Em torno voando
Aqui se detém.
E os ais , que se quebrão
Nestes troncos secos,
Os levão aos eccos,
Que os tornao também."
A h ! &C

Vol* 1. N. 8.
<& 18 tf*

Guerra de Amor.

C A N T I G A S .

A, .S Armas i Amor,
Amor , haja guerra ,
Que já do teu nome
Se zomba na terra.
E se já tens gasto
Os teus passadores ,
Elfina te empreste
Olhos vencedores.
Não haja mais livre
Hum só coração ,
Vai banir do mundo
A fria izenção.
E se j á , &c<>
«X 19 tf*
Do sangue dos ímpios
O chão seja tinto ,
E sintão os outros
Ò mesmo que eu sinto.
E se, Scc.

Os que blasfemarão
Q^expiem seus erros,
Humildes rojando
Os teus duros ferros.
E se, & c

Ressoem seus ais


Nas concavas grutas;
Nem tenhão rebeldes
As faces enchutas.
E se , Scc.
«X 20 tf*
Seus pés, e seus pulsos
Teus laços enleiem,
E as frias entranhas
Por ti se afogueíem.

E se, &c.

Confessem sentindo
Arder o teu lume,
Que devem guardar-te
Respeitos de Nume.
E se, &c.

Pois zombão de ver-me


Escravo de Elfina,
Povoa de Escravos
A vasta campina.

E se, Scc.
«X 21 tf*
Não haja Pastora,
Não haja Pastor,
Que zombe hum momento
Do nome de Amor.
E se , &c.

De Elfina o triunfo
De Amor gloria seja ,
E huns morrão de amores ,
E outrcs de inveja.
E se , &c.
m 22 tf*

Não o saiba ninguém mais*

C A N T I G A S .

.L: lindos olhos engraçados,


Que a ter amor me ensinais,
Isto , que de vós aprendo,
Não o saiba ninguém mais.
Lindos olhos engraçados,
Se eu vos vejo entre rivaes,
O ciúme que então sinto,
Não o saiba ninguém mais.
Lindos olhos engraçados,
Que os meus olhos captivais ,
Este novo captiveiro
Não o saiba ninguém mais.
*X 23 tf*
Lindos olhos engraçados ,
Quando vós me desprezais ,
Vou calando , o mal que sinto,
Não o saiba ninguém mais.

Lindos olhos engraçados ,


Que ciúme a outros dais ,
Basta que me contenteis ,
Não o saiba ninguém mais.

Lindos olhos engraçados,


Lindos olhos devinaes,
Sabei só que eu vos adoro,
Não o saiba ninguém mais.

Lindos olhes engraçados,


Sois vós só quem me matais,
Morrerei , mas em segredo ,
Nâo o saiba ninguém mais.
£ ( 24 ) £
Lindos olhos engraçados
Muitas vezes me assustais,
Mas a causa do meu susto
Não a saiba ninguém mais.

Retrato da minha linda Pastora.

V, Erdes campos , fonte fria ,


Fundo valle , altos rochedos ,
De quem amantes segredos
Lereno afflicto confia.

Troncos duros , e frondosos,


Tenras plantas , e florentes ,
Vede as lagrimas pendentes
D'uns tristes olhos saudosos:
«X 2? tf*
Vós nodosas carvalheiras ,
Murtas desta densa mata ,
Que no mal que me maltrata
Tendes sido companheiras.

Se algum dia conhecesseis


A minha linda Pastora ,
Da minha saudade agora
Talvez vos compadecesseis.

Lá no valle que ella habita ,


Que he daqui muito distante,
Não ha outra mais galante,
Mais discreta , e mais bonita.

Seus cabellos enlaçados


Nos lindíssimos listões ,
Tem prezo mais corações,
Do que fios lem atados.
«X 26* tf»
São seus olhos matadores,
Depois da testa engraçada,
A belíssima morada
Das graças, e dos Amores.

Engraçada cor morena ,


Tem redonda a face bella;
Não ha bocca como aquella ,
Nem melhor, nem mais pequena.

Mostra em riso moderado


Bellos , lizos , e alvos dentes ,
De que as frechas são que as Gentes
Vem vibrar o Deos vendado.

Da lindíssima garganta
Columna qu'isto segura,
Sahe a vós suave , e pura,
Que recreia, e que m'encanta.
«X 17 X*
No seu seio , que o pudor
Encobre sempre excessivo,
Eu bem vejo cheio o archivo
Dos mimosos bens de Amor.

Dos fornidos hombros pendem


Lizos feraços torneados ,
Onde os meus ternos cuidados
Achar seu prêmio pertendem.

São as mãos também morenas


As que á graça augmento dão ;
As validas de Amor são ,
Podem tanto tão pequenas.

A cintura delicada
Põe mil graças em aperto,
E o amante mais experto
Pára a l ü , não vê mais nada.
«X 28 tf*

Se ella deve ser julgada


Só pelo que se deviza ,
O que mostra a guardapiza
Pouco h e , ou quasi nada.

São huns pés á proporção


Do seu corpo delicado ,
Que não tem inda provado
De Amor o duro grilhão.

Tal he essa , que retrata


Meu amor, que ver desejo;
Do melhor valle do Tejo
A mais beila, a mais ingrata.

Chorando intento fazela


Compassiva á minha magoa ,
Dura a pedra he , e a água
Chega hum dia a amolecela.
*X 29 x*

Adeoses a Livia.

OUvi, ó campos
Ouvi, ó Ceos
Quanto me custa
Dezir Adeos.
Eu vou-me, eu parto
Dizendo Adeos.

Bosques, que ouvisteis


Segredos meus,
De vós me aparto,
Adeos, Adeos.
Eu , &c.
*H 30 )&
Os meus gemidos
Subao aos Ceos,
Oição os Numes
Meu terno Adeos.
Éu , &c.
Rottos do pejo
Os densos véos ,
Mostro o meu pranto
Dizendo Adeos.
E u , &c.
Olhos senhores
Dos olhos meus ,
Vede que eu triste
Vos digo Adeos.
E u , Scc.
Molha a saudade
Os olhos meus,
Em quanto a bocca
Repete Adeos.
E u , &c.
«X 31 tf*
Cortão soluços
Os gritos meus ,
É sahe partido
Meu triste Adeos.
Eu , &c.

Ajunta Livia
Clamores seus ,
E sahe d'entre ambos
Hum terno Adeos.
E u , Scc.

Custa a ver triste


Os olhos seus,
E a bocca linda
Dizendo Adeos.
E u , &c."

Bosque amoroso,
Nos troncos teus
Fique o meu nome ,
E O meu Adeos.
Eu , &c.
*K 32 tf»
A triste Ecco
Nos gritos seus
Repita sempre,
Adeos, Adeos.
EUi, &c.
Lembro Lereno,
E estes ais seus ,
Que triste solta
Dizendo Adeos.
E u , &c.
Sâo derradeiros
Suspiros meus,
Basta, não posso
Dizer Adeos.
Eu vou-me, eu parto,
Adeos, Adeos!
Í N D I C E
DAS CANTIGAS DESTE PRI-
MEIRO VOLUME.
NUMERO I.

A O nome da Senhora Condepa


de Pombeiro. Cattli^as. Pl'g- 3
Moda de Tnce 6
Teu juramento 9
Bem jica 11
Recado 13
A dôr do meu. coração 16
Quem dá o que tem ; 18
A% doce União de Amor . . . . 20
V(,:i morrendo de*vagar . . . . . 24
Minuete 27
Nada de dúvidas . . . . . . . 28
A> Madrugada 31

N U M E R O II.

Perdi a Alegria . . . . . . . 1
A huns lindos olhos . . . . . . 4
Ao Som da Lyra a chorar . . . . 5
Serei triste até morrer 9
Zabumba 13
O Nome de teu Pastor 20
2 Í N D I C E .

Por este preço quem não será Captivo 2?.


Soldado de Amor 24
Amar não he brinco 27
Marcha depois da vinda do Rousi.
Ihon 29

NUMERO III.

Suspiros do coração , . , . 1
Inda sou teu S
Primavera 10
Quando os mortaes quer render 14
Amor sabido vai gualdido . . 17
Raivas g o s t o s o s . . . . . . )í)
jio meu pensamento . . . . 21
Cada vez querer, te eu mais . 24
Puros Votos eu jurei . . . . 27
Viver só para te amar A . . 30

NUMERO IV.

Inda sou teu , l


Doença, c melhora de Marilia 5
JSateo as Azas , e voou . . - Í3
.E que culpa tenho eu . . . 12
Hum temo Amador . . . . 14
Crime gostoso ?«
Juramento de hum , e outro 20
Tropa de Amor: Moda em
huma Sol/a de Player 22
Í N D I C E . 3

Amar sem interesse. . . . . . . 26


Já mal posso respirar 30

NUMERO V.

Cumprimento do voto. , : . . . !
lAga o Mundo o que quizer . . . 3
Coração não gostes delia
Que cila não goita de ti . . . . 6
O meu livre coração . . . . . . 9
A illusire Amira 11
A Armania . 14
Lereno melancólico 17
Não se resista a Amor 23
Clamor de Lereno 25
A lerta que Amor faz guerra . . 28
Partida : Tradurção , e Glosa
da Partenza de Metastasio . . . 30

NUMERO VI.

Sobre as Azas dos Amores . . . . 1


Ais 8
A Tirqueii 11
A minha amante paixão . . . .15
Nada de saudades 19
E Então 22
Apanhe para seu ensino 25
Choro a minha desventura . . . . 27
Queixas a Amor . . . . . . . 30
Í N D I C E .

NUMERO VIL

Aonde está o meu bem . . . . 1


Bemjica . 4
Aos annos da linda Mareia . 8
Assim como fai fai . . . . ; 12
Não se morre de saudade . . 14
Não tem mais que perguntar . . 16
Triste Lereno .% . 18
Toca a recolher para a Cidade,
Bando de Amor . . . . . 21
Não ha remédio senão morrer. . 25
Amor que pôde, me quiz valer . 28

NUMERO VIII.

A, B. C. de Amor 1
Ter amor não he defeito. . . . . 6
Declaração de Lereno 9
Moda das Caldas 10
Amor generoso . . . . . . . 13
Outras d mesma solfa lfi
Guerra de Amor 18
Não o saiba ninguém mais . . . . 22
Retrato da minha linda Pastora . . 24
Adeoses a Liuia . . . . . . . 2$
íL^s

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