Resumo Quincas Borba

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Quincas Borba
Machado de Assis

O autor vas, o diálogo entre o narrador e o leitor. Este é,


também, personagem, um leitor virtual, explicita-
Machado de Assis (1839-1908) foi romancista, con- do ou não na narrativa.
tista, poeta e teatrólogo brasileiro, além de ter sido
o primeiro presidente da Academia Brasileira de Enfim, são diferentes as formas como Machado de
Letras, da qual foi um dos fundadores. Suas obras Assis estabelece o diálogo entre narrador - o per-
são marcadas pela mudança de opinião por parte sonagem que conta a história - e o leitor - persona-
do narrador ao longo da história, as mulheres dis- gem para quem se narram os fatos - antecipando,

r
simuladas, a profundidade psicológica e a crítica em quase cem anos, a importância desses elemen-

.b
implícita à natureza humana (sempre dando prio- tos na narrativa contemporânea e a participação do
ridade ao interesse individual). leitor implícito, intratextual, para a elaboração do

om
sentido do texto.
O autor e a obra
É considerado o mais objetivo dos romances de
Analisando-se a obra de Machado de Assis, a críti- Machado de Assis. Publicado em 1891, ou seja, 10

.c
ca divide-a em duas fases bem distintas cujo marco anos depois da mudança radical trazida por Me-
é o romance Memórias Póstumas de Póstumas de mórias Póstumas de Brás Cubas, o romance Quin-

eb
Brás Cubas, publicado em 1881. Até esta data, a cas Borba pode ser visto como irmão da obra que
obra machadiana é predominantemente romântica, inaugurou o Realismo Brasileiro. Não tem as ino-
e nela sobressai poesia, conto e romances como: vações deste, mas ainda se percebe, ainda que de
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Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1874), Helena forma menos intensa, o mesmo dom ao trabalhar
do
(1876) e Iaiá Garcia (1878). Pertencem à primeira com a digressão, ironia e metalinguagem. É um
fase todas essas obras. desdobramento da problemática e da narrativa de
Memórias Póstumas de Brás Cubas.
an

A partir de 1881, com a publicação de Memórias,


inicia uma nova fase, baseada na análise de carac- Outro ponto de contato é o fato de Quincas Borba
teres, numa verdadeira dissecação da alma huma- ser personagem que já fazia parte de Memórias
ul

na. É a segunda fase – marcadamente realista. A- Póstumas de Brás Cubas. Amigo de infância do
lém de contos, poesia, teatro, crítica, integram essa autor defunto, tinha decaído de abastado para
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fase os romances seguintes: Memórias Póstumas mendigo, depois, recebendo uma herança, tornara-
de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom se rico e criador de uma filosofia, o Humanitismo.
t

Casmurro (1900), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de


es

Aires (1908), seu último romance. Toda essa obra é Essa teoria é justamente o principal mote comum
marcadamente realista, embora reconheçamos que entre as duas obras. Há quem diga que se trata de
v

um escritor da categoria de Machado de Assis não uma paródia de Machado de Assis às inúmeras
w.

pode ficar preso às delimitações de um estilo de filosofias que surgiram no final do século XIX, em
época. que todos pareciam ter uma explicação sobre tudo.
No entanto, existe também a possibilidade de se
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O principal elemento da estrutura da narrativa de ver aqui uma metaforização do próprio ideário a
Machado de Assis é o narrador. Em Quintas Borba, que o grande autor realista se apegava.
w

também é um personagem dúplice, narrando em


primeira ou terceira pessoa, ele está fora da narra- Estilo de Época
tiva, mas às vezes, assume o “eu narrado. Ex.: “Es-
te Quincas Borba, se acaso me fizeste o favor de ler A base cultural e histórica do Realismo é a ciência
as...”. É onisciente, e interfere na história, fazendo que dominou as atenções na Segunda metade do
comentários e dirigindo-se ao leitor. Sua participa- século XIX. O positivismo de Comte, o psicologis-
ção é, portanto, interventiva. mo de Wundt, o evolucionismo de Darwin, o de-
terminismo de Taine, que alastra pelo espírito hu-
Machado de Assis foi um antecipador da chamada mano como uma verdadeira paixão, foram algu-
estética de receptação ao incluir em suas narrati- mas das filosofias da época. Surge então, a escrita
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objetiva, o gosto pela análise, observação, fidelida- que, cabalmente, a objetividade na ficção de Ma-
de, impassibilidade, impessoalidade... Em suma, a chado de Assis, é possível entrever este espírito de
literatura preocupa-se em captar a realidade como precisão e de objetividade, de frieza e impessoali-
ela é, formando-lhe um retrato fiel e preciso. Al- dade em Quincas Borba.
gumas das características da época podem ser as-
sim ilustradas: Em Machado de Assis, o enredo não é o mais im-
portante. A narrativa e o enredo estão subordina-
Descrição fidedigna das personagens dos aos estados de alma dos personagens. Os a-
contecimentos referidos não obedecem a uma or-
Assim como é característico do Realismo, o escritor dem de causa e efeito. Nota-se que não há uma
realista encara a realidade direta e objetivamente. preocupação em narrar uma estória, o importante
Ao realista interessa o que é e não o que deve ser. é o tipo de reflexão, de pensamento que sugere o

r
Podemos afirmar, dando-se os devidos descontos, autor. Machado de Assis preocupa-se mais com o

.b
que as personagens realistas são autênticas criatu- caráter dos personagens do que com a trama da
ras de carne e osso que têm as virtudes e os defei- narrativa ou a descrição de costumes.

om
tos do ser humano. O realista não idealiza a reali-
dade, como faziam os românticos, mas pinta-a tal Às vezes, há antecipação, posposição ou intercor-
como ela se apresenta ante seus olhos: é um expec- rência de acontecimentos, pela necessidade de

.c
tador que contempla de fora a realidade que o desenvolvimento da narrativa, que ora se prende a
cerca. Assim são as personagens de Machado de um personagem, ora se liga a outro.

eb
Assis: Capitu, Sofia, Virgília, Quincas Borba, Brás
Cubas, Rubião e tantas outras que povoam seus Narrativa lenta e pormenorizada
romances de contradições, misérias, desgraças,
w
alegrias, virtudes, defeitos – enfim, de vida. Parece não haver melhor classificação do estilo de
Machado de Assis do que traçado por ele mesmo
do
Análise introspectiva das personagens nas memórias Póstumas de Brás Cubas, ao afirmar
pela boca do defunto autor: "Tu tens pressa de
Machado de Assis é, incontestavelmente, o mestre envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a nar-
an

da análise introspectiva, no que poderíamos cha- ração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e
mar de dissecação da alma humana. Uma das este livro e o meu estilo são como os ébrios, gui-
ul

principais características das suas obras de segun- nam à direita e à esquerda, andam e param, res-
da fase, como Quincas Borba, é a análise de carac- mungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, es-
ib

teres. Assim, Machado de Assis procura analisar o corregam e caem..." Assim, a narrativa realista é
interior das personagens e das situações dramáti- lenta e pormenorizada, cheia de paradas e vaivéns,
t

cas, psicológicas, sociais, cômicas... Deste modo, a ao contrário do romântico que se concentra mais
es

análise sobressai sobre o enredo da obra, assim na ação, na intriga que desenvolve.
como em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”. A
grande preocupação é a narração dos fatos e com No caso de Quincas Borba, se comparado às Me-
v

posterior análise dos mesmos. mórias Póstumas de Brás Cubas, podemos obser-
w.

var que os pormenores e reflexões que povoam


Objetividade e Impessoalidade este romance (as Memórias) são bem mais que
w

naquele (Quincas Borba). Parece que teve em mira


De um modo geral, ao subjetivismo romântico de escrever um romance para ser lido e não ser
w

opõe-se o objetivismo realista, pois aqui o escritor analisado. De qualquer modo, Quincas Borba não
procura evitar sempre as emoções subjetivas, con- foge a essa norma do romance realista. Se não pos-
duzindo a obra de maneira direta e objetiva. As- sui as interrupções e reflexões que caracterizam as
sim, raramente o escritor realista interfere nos Memórias, pelo menos não se pode dizer que Ma-
dramas vividos por suas personagens. São meros chado aqui ficou preso à história contada que “é
expectadores que, frios e impessoais, analisam trivial e comum, reduzindo-se a um adultério so-
esses dramas. É claro que, muitas vezes, alguma nhado, desejado, preparado, que, afinal, não se
coisa fica do artista, pois a criatura sempre revela consuma.”
algum traço do seu criador. Observa-se uma visão
niilista e pessimista da vida onde só vê “insanida-
de e imperfeições imanentes.” Embora não se apli-
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Assim, as reflexões, as paradas são constantes em Sim. “Ao vencedor as batatas”. Depois da morte de
Quincas Borba, como se podem ver no decorrer do Quincas Borba, Rubião sente-se dono das batatas.
romance. É um vencedor. As batatas, para ele, representa-
vam riqueza, posição social. Não sabia ele que, na
Predominância do tempo presente realidade, representavam, simplesmente, meras
batatas. Não tinham valor algum. Seriam, apenas,
O Realismo retrata a vida contemporânea. Enquan- o veículo de sua destruição. E ele que até então não
to o romântico se volta ao passado ou se projeta no entendera a exposição do filósofo, passa a compre-
futuro, o realista se fixa no presente, porque o que ender a fórmula:
lhe interessa é a vida que o rodeia. Deste modo, o
escritor realista encara o presente, muitas vezes Niilismo-pessimismo
descambando para os aspectos degradantes e de-

r
primentes da sociedade, como é o caso do romance O romance é uma visão fria e impassível da vida.

.b
naturalista de Aluísio Azevedo, O Cortiço. Lúcido como sempre, pessimista e niilista, Macha-
do de Assis vai dissecando com sua câmera lenta

om
Sem se prender às delimitações de tempo e espaço, toda a humanidade, corroída e carcomida pelo
pode-se afirmar que Quincas Borba é obra perene e câncer da hipocrisia e da falsidade, espalhando por
imune à ação corrosiva do tempo: "é uma grande toda a terra e suas criaturas a sua "bílis" de epilép-

.c
sátira da vida, de seus ingredientes e de suas ver- tico e de mestiço da sociedade. Tudo perpassado
dades. de uma visão irônica, de um humor niilista e pes-

eb
simista que sempre marca a literatura machadiana.
Humor - ironia: o humanitismo Em suma, é uma visão da vida que só a lucidez de
um espírito louco, como Quincas Borba, pode dar:
w
Pode-se notar que, em geral, o humorismo corta, a humanidade desenfreadamente louca a buscar
na obra de Machado de Assis, uma digressão que prazeres fáceis e fugazes, numa vida que só é o-
do
parecia querer estender-se e, justamente quando o próbrio e alienação, embora com toda a fisionomia
autor dá a impressão de querer desviar-se da pro- de verdade, porque aceita como convenção o im-
fundidade da idéia, é que nos leva a considerá-la. perativo moral da sociedade. No fim, a vida não
an

O humor, como fenômeno literário, teve início com passa de uma batatada: come-a a tribo vencedora -
as Memórias Póstumas de Brás Cubas. "ao vencedor as batatas". Ao cabo de tudo, os "he-
ul

róis" da vida pegam nada, levantam nada e cingem


Machado de Assis usa o humor, também, como nada, como aconteceu com o Rubião. Enfim, é as-
ib

arma para lutar contra o pessimismo. Humor em sim a vida humana; achamos que temos na cabeça
que a gente ri da gente mesmo. Rir para não cho- uma coroa de ouro, quando, na verdade, tudo não
t

rar. Riso com uma sobrecarga de amargura. passa de um chapéu velho ou coisa semelhante.
es

Surge, então, o Humanitismo. Que é esta filosofia? O pessimismo está presente em toda a obra. Isto é
devido, em grande parte, ao agravamento de sua
v

É uma visão irônica das filosofias que pregam ser a doença, a epilepsia, mal que, latente na infância,
w.

humanidade feita de uma só essência. A teoria dos acentua-se por volta dos 40 anos, determinando
Humanitas nasce em oposição ao Humanismo. então seu radical cepticismo.
w

Nesta, o homem é o centro de tudo e há uma total


valorização dele. No Humanitismo aparece o pen- Em Quincas Borba, Machado de Assis vai retratar
w

samento pessimista e absurdo. O homem não a- a sociedade pequeno-burguesa do Segundo Impé-


prece como um ser maravilhoso e perfeito, mas rio, onde o importante era a moda, o vestuário
cheio de falsidades, onde um cão pode ser mais luxuoso, os adornos, a habitação, os títulos honorí-
amigo e fiel do que ele. ficos. O valor das pessoas estavam, apenas, na sua
exterioridade.
O homem é menos valorizado, no Humanitismo,
não significa nada; é falso, instável e fraco. Pode- Mais uma característica poderá ser colocada ao
mos notar isto nos personagens machadianos. Tu- lado destas – a sátira.
do é igual. Na luta pela sobrevivência quem vence
é o mais forte. “Ao vencedor as batatas.” O que é uma sátira? É uma caricaturização de ti-
pos, situações políticas, situações amorosas, etc.
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Em Quincas Borba vamos encontrar vários exem- fechar o seu livro. A passagem se refere à morte do
plos. Dr. Camacho é o primeiro desta galeria, o Rubião e do cão Quincas Borba:
qual representa bem a caricatura do politiqueiro
demagogo. Estrutura do romance

A sua linguagem é pomposa e enriquecida com Para estudarmos o romance Quincas Borba, fala-
constante uso do vocabulário latino. remos sobre a ação, o tempo, o lugar e os persona-
gens.
Carlos Maria – é a segunda caricatura da nossa
galeria. É o conquistador, galanteador, o próprio Ação
“don Juan”. O leitor que vir a obra apenas por seu recheio ro-
manesco, quer dizer, o enredo ou o entrecho, sairá

r
Há ainda caricaturas de parasitas (Freitas), amiza- desiludido da leitura, pois a história contada é

.b
des falsas (Palha), enfim, de todos os tipos de uma trivial e comum, reduzindo-se a um adultério so-
sociedade. nhado, desejado, preparado, que afinal não se con-

om
suma. Ao contrário de Memórias Póstumas de Brás
Outros aspectos do estilo de Machado de Assis, Cubas, Machado procurou escrever uma história
ponderáveis em Quincas Borba são: o diálogo com que pudesse agradar por si própria e não por as-

.c
o leitor; o gosto pelas citações, referências bíblicas, pectos marginais. Tanto é assim que diligenciou
referências a capítulos anteriores e uma predileção por limpar o texto daquele excesso de reflexões

eb
muito grande por personagens bem estabelecidas, morais e de interrupções no desenrolar das cenas,
financeiramente, que agem com muita freqüência, comuns no romance anterior. Parece que teve em
de forma maquinal e inconsciente. mira escrever um romance para ser lido e não para
w ser analisado, daí os poucos ou raros desvios do
Hipocrisia-ambição núcleo da obra, toda ela girando em torno duma
do
paixão que não se consuma em crime.
Dentro dessa perspectiva niilista e pessimista é que
Machado situa a sociedade que retrata - sociedade A ação se passa no Rio de Janeiro, havendo um
an

hipócrita e falsa, interesseira e fútil, incapaz de recuo no tempo até Barbacena, onde se passam
olhar mais a fundo no íntimo dos problemas. fatos importantes que dão origem ao romance.
ul

Em volta do Rubião formou-se a constelação de Na Corte é retratada a vida de um grupo de bur-


ib

parasitas e ambiciosos. Quem se salva entre eles? - gueses. Todas as exigências de uma falsa sociedade
Talvez apenas o cão, o único que era capaz de re- são descritas. Machado de Assis disseca a alma
t

ceber um pontapé e voltar correndo para o seu humana numa visão assistemática da vida. Coloca
es

dono. Acaso alguém se interessou, realmente, pelo a nu a ambição, a avareza, as hipocrisias da socie-
Rubião, quando este perdeu toda a sua fortuna? dade.
Entretanto, ele tivera "amigos". A casa vivia cheia
v

deles. A narrativa se fecha em Barbacena, onde Rubião


w.

aparece louco. É o círculo da vida. O fim de Rubião


Indiferença cósmica é o mesmo de Quincas Borba e tudo termina no
w

mesmo lugar onde inicia – Barbacena.


Acaba-se o mundo, chore quem quiser, ria, garga-
w

lhe a humanidade, que os astros do céu pouco A ação, portanto, se concentra em Rubião – Sofia.
estão ligando para os risos e lágrimas humanas. Mas há núcleos secundários, de real importância,
Ficarão sempre firmes e inabaláveis, longe das como é o próprio da estrutura do romance; Sofia-
intempéries do planeta dos homens. Assistirão,, Palha, Quincas Borba (cão e filósofo), Teófilo-
com a mesma indiferença e impassibilidade de Fernanda, Carlos Maria-Maria Benedita, Dr. Ca-
sempre, "às bodas de Jacó e ao suicídio de Lucré- macho, Major Siqueira-D. Tonica, Freitas, etc.
cia" (cap. XLVI).
Tempo
Este é outro aspecto marcante do romance: a indi- É outro aspeto ponderável no estudo de um ro-
ferença cósmica com que Machado de Assis vai mance a determinação do tempo. Como é fácil
observar, a ação decorre na Segunda metade do
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século XIX, como se pode aprender das diversas como projeção e prolongamento, por metempsico-
referências a personalidades políticas e fatos histó- se, do filósofo do mesmo nome.
ricos da época.
a) Quincas Borba: em síntese, Quincas Borba se
Não se pode dizer que o desenvolvimento do tem- destaca pelos seguintes atributos: filósofo doido,
po é rigorosamente cronológico, havendo, às ve- esquisito, “com freqüente alteração de humor”,
zes, recuos que podem lembrar o tempo psicológi- “ímpetos sem motivo”, “ternura sem proporção”,
co, como é o caso da história dos enforcados (cap. extravagante, bom, alegre, lutava contra o pessi-
XLVII) a que Rubião “assiste” muito tempo depois. mismo e desejava a sua continuidade através dos
tempos como comprova a sua filosofia “borbista”,
Portanto, os acontecimentos ocorrem na época do de natureza “humorística”, o Humanitismo. De-
segundo império e não evoluem numa cronologia pois que morreu, passou, por metempsicose, ao

r
exata. À medida que há necessidade de esclareci- corpo do seu cão, como sugerem as dúvidas de

.b
mento, volta-se atrás e quando nada acontece de Rubião ao longo da narrativa:
interessante há um salto sobre o tempo:

om
b) Rubião: de um modo geral, Rubião se caracteri-
Lugar za assim no romance: tem medo da opinião públi-
ca, é indeciso, volúvel, ambicioso, megalomaníaco,

.c
Como já foi dito, a ação inicia e termina em Barba- obsessivo, desequilibrado, tímido, acomodado,
cena, sendo que todos os fatos intermediários ocor- ciumento, influenciável, conflituoso, ocioso, ingê-

eb
rem na Corte. nuo.

É importante notarmos que, apesar de ser especifi- A sua megalomania, que o levará à sandice, tem
w
cado o local, este romance poderá ser enquadrado desenvolvimento sutil e velado ao longo da narra-
em qualquer parte do mundo. A temática é univer- tiva. Depois a megalomania vai aumentando cla-
do
sal. Há muitos “Palhas e Sofias” por este mundo... ramente, à medida que sua herança decresce: é a
Há muitas “Barbacenas” – princípio e fim de tudo, loucura que está chegando com Napoleão III e a
e muitas “Cortes” que, com seus encantos, envol- imperatriz Eugênia. Enfim, à proporção que vai
an

vem e destroem o ser humano, como Rubião e o “enlouquecendo”, Rubião vai ficando cada vez
Quincas Borba, cão e filósofo, esmagados pela mais “lúcido” – herdeiro da fortuna e do espírito
ul

loucura da humanidade. do filósofo Quincas Borba, escapando, assim, à


chacota e à sátira machadianas, a que são os únicos
ib

Personagens no livro, além do cão, que conseguem escapar. É


que Machado de Assis só sabe ver o mundo atra-
t

Na obra de Machado de Assis, o mais importante é vés da “loucura e do delírio”.


es

o caráter dos personagens. Eles não estão presos à


trama da narrativa. Movimentam-se num ambiente c) Sofia: em linhas gerais, o perfil de Sofia, no ro-
mais de reflexões do que de ação. mance, se delineia assim: vaidosa, orgulhosa, do-
v

minadora, fria, cautelosa, ambiciosa, sedutora,


w.

É interessante você notar que os personagens são caráter ambivalente, frívola, sensual e dissimulada.
levados por uma força maior que eles. Ficam sem-
w

pre passivos, e esta força determina-lhes as ações. Lembremos aqui a Capitu de Dom Casmurro com
Sempre é usada a expressão “deixou-se estar”, seus “olhos de ressaca” e natureza dissimulada,
w

“deixou-se ficar”. como fica explicitado ao longo do romance. Mas,


por falar em olhos, Machado dá extrema impor-
As personagens de um romance são, evidentemen- tância aos olhos de Sofia.
te, as pessoas que vivem situações e dramas dentro
da narrativa. Normalmente, só “gente” pode ser d) Palha: ambicioso, egocêntrico, vaidoso, bajula-
personagem de romance. Às vezes, “animais” dor, interesseiro, parasita, desonesto, astuto, torpe.
também participam de romances e contos, como "Rotulado por um nome que já lhe traduz o caráter
tem acontecido com freqüência na literatura mo- e a personalidade, também se atira ao dinheiro e à
derna. É o caso de Quincas Borba, o cão, elevado à posição social como se estivesse no caminho certo".
categoria de personagem do romance machadiano,
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e) Carlos Maria: vaidoso, altivo, vazio, galantea- Rio de Janeiro (esse momento de Quincas Borba é
dor: é a caricatura do conquistador de frases feitas narrado em Memórias Póstumas de Brás Cubas).
e lugares-comuns. Um aspecto que lhe é bastante
característico é o de divindade, que Machado iro- Deve-se lembrar que o cachorro é um elemento
niza a toda hora. Casou-se para ser "adorado" pela curioso na obra. Pode-se dizer que o título refere-
esposa. se a ele, num mecanismo que engana o leitor – o
livro não é, na verdade, sobre o homem Quincas
f) Maria Benedita: tímida, pacata, sem iniciativa, Borba. Pode-se, também, ver no animal uma exten-
passiva, resignada, influenciável, personalidade são, dentro dos próprios ditames do Humanitas,
fraca. Seu casamento com Carlos Maria que, à pri- do princípio do antigo dono. Tanto que algumas
meira vista, significou o encontro da felicidade tão vezes o Rubião tinha preocupações com suas ações
longamente sonhada, não passa de um ludíbrio, imaginando que o mestre havia sobrevivido na

r
em virtude do pouco amor que Carlos Maria lhe criatura. É uma observação que faz sentido, tanto

.b
dedicava. no aspecto “espiritualista” como na própria estru-
tura literária da obra, pois o cão fica como uma

om
g) Dr. Camacho: é caricatura do politiqueiro de- suposta consciência do filósofo, a incomodar Rubi-
magogo de frase feita e retórica excessiva; astuto e ão.
interesseiro.

.c
De posse da fortuna e tendo aprendido de Quincas
h) Major Siqueira: mexeriqueiro, inicialmente, e Borba alguns elementos de sua filosofia, o Huma-

eb
depois despeitado como se revela no cap. CXXX. nitismo, Rubião cai na mesma sanha da espécie
humana: quer fama, status. Para tanto, Barbacena
i) D. Tonica: o desespero desta "solteirona quaren- não o satisfaz e ele se muda para o Rio de Janeiro.
w
tona" já começa pelo nome: D. Tonica. Revela-se Durante a viagem de trem, conhece o casal Sofia-
invejosa, revoltada, infeliz e frustrada. Cristiano Palha. Encanta-se com a beleza da mu-
do
lher. E, ao ingenuamente confessar sua riqueza
j) D. Fernanda: casamenteira e um tanto fidalga. repentina, desperta o olhar de rapina do marido,
No mais, uma boa senhora e esposa dedicada que que rapidamente oferece sua casa e sua ajuda du-
an

sabe consertar a gravata do marido nas horas ne- rante a estada do mineiro na capital. Desabituado
cessárias... (modelo para as menininhas de hoje com a vida na cidade grande, cercado de pessoas
ul

que nem consertam gravatas nem colarinhos...). que vivem de seu dinheiro, Rubião apaixona-se
por Sofia, mulher de Cristiano Palha, agora seu
ib

k) Teófilo: é o marido da superesposa acima: ambi- sócio.


cioso, dinâmico e, às vezes, temperamental e mi-
t

nucioso. Ao saber da corte de Rubião à sua mulher, Palha


es

divide-se entre dois sentimentos: o ciúme que tem


m) Freitas: caricatura do parasita e dos glutões de da mulher fá-lo pensar em atitudes radicais, mas
jantares e de charutos alheios. Deus que o tenha na sua dependência econômica de Rubião o leva a não
v

sua santa glória! querer ofender o sócio. Os cônjuges sofrem de um


w.

mal típico na ficção machadiana: lutam por prestí-


Enredo gio social, por cavar um espaço no seu meio. Isso
w

justifica o fato de Rubião gostar de exibir sua espo-


A narrativa se passa em Barbacena. É a história de sa, apreciando os decotes atraentes que ela usa nos
w

um professor mineiro de primeiras letras, Rubião, salões. Sua vaidade é satisfeita ao saber que sua
para quem o filósofo Quincas Borba (personagem mulher é cobiçada. O mesmo se pode afirmar dela,
que já aparecera em Memórias Póstumas de Brás principalmente pelo esmero que tem com vestuá-
Cubas) deixa todos os seus bens, com a condição rio. Preocupam-se em serem bem vistos pela soci-
de que o herdeiro cuide de seu cachorro, também edade. O que não implica que tenham de fato valo-
chamado Quincas Borba. Quincas Borba é bajulado res – o que importa é a imagem, é o conceito e não
por Rubião, que quase se havia tornado cunhado. o fato.
O interesse é a riqueza do filósofo, solteiro, sem
parentes. Seus esforços mostram-se, no fim, frutífe- Aproveitando-se dos encantos de sua própria es-
ros. Já louco, Quincas morre enquanto estava no posa, Cristiano Palha consegue atrair a atenção de
Rubião, começando por adquirir dele um emprés-
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timo. Mas planeja ir mais adiante: quer, por meio que o episódio tinha gerado conseqüências mais
de uma sociedade, dinheiro para investir em seus terríveis. O primeiro foi Rubião, que se sente enci-
negócios e acabar enriquecendo. Está tão preocu- umado. Em sua mente, aceita dividir Sofia com
pado que quando sua esposa confessa que foi cor- Cristiano, marido. Mas não aceita com outro aman-
tejada pelo abastado (foi em uma festa, no jardim te. A outra personagem é Maria Benedita, prima de
da casa dos Palha, quando Rubião praticamente Sofia, criada no interior, alheia à civilização, mas
tenta, digamos, atacar Sofia) foi bruscamente inter- que desperta o desejo de evoluir graças ao interes-
rompido pelo Major Siqueira, personagem pânde- se que sente por Carlos Maria. Sente-se, pois, arra-
ga (não falava – produzia uma enxurrada de pala- sada ao pensar que a senhora Palha indignamente
vras), que flagrou a inconveniente cena. Mais uma havia-lhe passado a perna.
vez, as aparências suplantaram o fato. Achou que
estava havendo adultério, quando de fato não ha- Mas, se a menina mergulha na melancolia passiva,

r
via), faz todo o possível para relativizar qualquer Rubião é um pouco mais ativo. Começa a ter delí-

.b
arrufo de dignidade de Sofia. Não pode perder rios paranóicos. Imagina, com base numa história
uma escada social tão preciosa. Nota-se, aqui, a contada (e provavelmente inventada) por um co-

om
que ponto chega o desejo por status. cheiro, que Sofia se encontrava com Carlos Maria
num bairro distante. E o clímax é quando imagina
Sofia, astuciosamente, consegue manter intactos, ter como prova uma carta dela para o suposto a-

.c
tanto o interesse de Rubião, quanto a fidelidade mante, missiva que nem sequer abrira. Se tivesse,
conjugal. Aconselhada a não ser brusca com uma descobriria que era apenas um comunicado sobre a

eb
pessoa tão preciosa, Sofia acaba assumindo uma Comissão de Alagoas.
postura ambígua para Rubião. Não atende a seus
desejos, mas também não os nega enfaticamente, o Tocou-se, pois, num passo importante da narrati-
w
que alimenta nele esperanças, geradoras de certas va: a Comissão de Alagoas. Em primeiro lugar,
complicações. esse episódio vai lembrar a morte da avó de Quin-
do
cas Borba. Por causa do flagelo que houve na pro-
Tonica, filha do Major Siqueira e que atingiu o víncia nordestina, Sofia faz parte de um grupo de
posto perigoso de solteirona, vê no mineiro sua caridade composto de senhoras da alta sociedade
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última tábua de salvação. Mas percebe no homem da corte. Começa, pois, a fincar seu lugar ao sol,
o interesse por Sofia, o que lhe desperta desejos graças à desgraça alheia. É também por meio desse
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éticos de denúncia que, no fundo, são mera sede grupo que sai conseguir o casamento de Maria
de vingança e despeito. Mas não reage, apesar de Benedita com Carlos Maria, parente de D. Fernan-
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toda a expectativa criada. No fim, sofre um proces- da, mulher muito conceituada. Torna-se nítido,
so de empobrecimento, ao mesmo tempo em que nesse ponto, uma característica muito comum às
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ela e seu pai são desprezados pelo casal Palha, em narrativas machadianas: os mecanismos de favor.
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franca ascensão social. Acaba arranjando um noivo No Brasil da época de Machado de Assis, muitas
– um tanto desqualificado, mas, como dizia uma vezes a ascensão social não era obtida por meio da
outra personagem, D. Fernanda, “um mau marido competência. Entravam em campo tais mecanis-
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é melhor do que um sonho” – que termina por mos. Quem estava por baixo, geralmente gente da
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morrer dias antes do casamento (parece que o Ma- classe média, como profissionais liberais ou co-
jor Siqueira e Tonica servem para mostrar na nar- merciantes (o caso do casal Palha), esforça-se para
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rativa o lado dos perdedores, o que se contrapõe conquistar a simpatia de quem está por cima, ricos
com o Humanitismo defendido por Quincas Borba, proprietários da classe alta (o caso de D. Fernan-
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de acordo com o qual a opinião, o ponto de vista da).


dos perdedores não conta).
Eis, pois, o que enxergamos na relação entre a po-
Em outro baile, um jovem de nome Carlos Maria derosa D. Fernanda e Maria Benedita, que culmi-
passa a noite dançando com Sofia, o que deixa até nou no casamento desta, alavancando-a para a alta
no ar a possibilidade do surgimento de um adulté- esfera social. Vemos isso também na entrada de
rio. Mas houve apenas a satisfação de dois egos: Sofia na Comissão de Alagoas. É por meio desse
ela, por se sentir idolatrada; ele, por ter em suas grupo que angaria a simpatia das damas abasta-
mãos a mais bela mulher do salão. E tudo esfria, das, principalmente de D. Fernanda, mais uma vez
não surgindo mais nenhum laço forte além da (essa personagem, impositiva, adora exercer seu
dança. No entanto, duas personagens imaginaram
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poder de influência sobre as pessoas), tornando-se num mundo em que a aparência tem mais impor-
uma delas. tância que a essência.

O dinheiro adquirido graças à sociedade com Ru- Mas o fato é que Sofia, tempos depois, desfaz para
bião é investido, originando progresso financeiro. Rubião o mal entendido. Na cabeça dele, tal esfor-
O enriquecimento fica notório na seqüência de ço indicaria que ela tem interesse em não perder o
mudança de residências: de Santa Teresa vão para respeito e quem sabe algo mais diante dele. Para
a praia do Flamengo e de lá finalmente instalam-se ela, não quer perder a reputação e, quem sabe, a
no Palacete do Botafogo. admiração dele lavando-lhe o ego.

Rubião é destinado à exploração, à derrota. É o Confirmando a discrepância entre aparência e


gastador. É o sugado. Sua riqueza esvai-se em essência, Rubião vai à falência enquanto imagina

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empréstimos a fundo perdido, em investimentos ser Napoleão. Chega a receber a ajuda caritativa de

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no jornal do político Camacho, no grupo de co- D. Fernanda e do casal Palha (estes, mais preocu-
mensais que freqüentam sua casa, aproveitando-se pados com a imagem social, pois já nem havia

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de jantares, charutos e demais benesses. mais sociedade, desfeita providencialmente às
vésperas da derrocada). Arruinado, Rubião deixa
O mais incrível é que no momento em que a derro- de ser útil e é abandonado pela roda de parasitas

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cada do protagonista se mostra mais nítida é que que o cercava. Palha e Sofia afastam-se cada vez
ele assume delírios de grandeza, provavelmente mais e ele acaba sendo internado num asilo de

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provocados pela situação incoerente entre não ter o onde foge para voltar a Minas. Morre lá, em pleno
seu amor por Sofia correspondido e não ser clara- delírio de grandeza, acompanhado de seu cão
mente dispensado por ela (o que pode explicar Quincas Borba e repetindo uma frase do Humani-
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essa incoerência é a vaidade de Sofia. Sente-se tismo: - "Ao vencedor, as batatas".
lisonjeada ao saber que alguém a venera, por isso
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não corta os laços, desde que não se comprometa No fim, o protagonista foge do hospício em que
sua reputação (mais uma vez a vaidade). É o que fora internado. Volta para Barbacena, em compa-
aconteceu com Carlos Maria. Enquanto ele a corte- nhia de seu inseparável cão (pode ser vista aqui
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java, ela sentia-se bem. Abandonada, pois este se uma representação do princípio da eternidade do
casa com Maria Benedita, sente despeito. Não ia Humanitismo, que sobrevive a tudo. Quincas filó-
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praticar o adultério, mas se incomoda em muito sofo teria sido transferido para o Quincas cão, a-
com a idéia de ser passada para trás). Chega até a companhando Rubião. Mas também deve-se notar
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desenvolver um ciúme doentio, imaginando em que este era o único ser que esteve ao lado do pro-
suas mãos não uma prova do adultério de sua tagonista, tanto na riqueza, quanto na pobreza).
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amada com Carlos Maria: a carta fechada que esta Expõe-se à chuva da madrugada, o que o conduz à
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havia mandado ao jovem e que fora desleixada- pneumonia, que lhe é fatal. Três dias depois o seu
mente perdida por um empregado em frente à casa cão morre.
de Rubião.
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Tudo cai no esquecimento, na indiferença do tem-


w.

O interessante é que, num momento de mistura po. Humanitas mais uma vez garantia sua sobre-
entre ciúme e decência (mais uma vez, a mistura vivência, dando vida ao forte, eliminando os mais
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de elementos dilemáticos orientando as ações hu- fracos.


manas), entrega a missiva à Sofia, com a intenção
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de passar-lhe uma lição de moral. A mulher chega


até a ficar corada, mas imediatamente recompõe o
domínio da situação, mostrando-se tranqüila. Ati-
tude típica das heroínas machadianas.

Para Rubião, tudo era prova substanciosa do adul-


tério. Mas consistia só em aparência. A carta nada
mais era do que um convite a Carlos Maria para
contribuir na famosa Comissão de Alagoas. Note
como uma ampla realidade foi montada em cima
apenas da aparência. Vivemos desgraçadamente

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