Aula 1. Revisão - Equação Diferencial Da Linha Elástica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 16

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica


CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
CIV0418 – RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS II

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

1. Linha Elástica de uma viga

Definição: Linha Elástica de uma viga é a curva obtida dos deslocamentos


verticais dos pontos de sua superfície neutra, devidos ao encurvamento
longitudinal por ela sofrido após a deformação.

Ilustração 1:

Seja a viga solicitada abaixo:

A B x
S

a b
v
Situação inicial

1
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

A B
x
θ v

S L.E. da viga
v
Situação deformada

A Linha Elástica é a curva que representa o eixo da viga após a


deformação;

Cada ponto do eixo da viga ( por exemplo aquele que representa a


seção reta S) sofreu:

• Um deslocamento linear vertical, deflexão, representado por v;

• Um deslocamento angular (rotação), definido entre a direção horizontal


e a tangente à linha elástica no ponto considerado, representado por θ;

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Convenção de sinais:
Deflexões Rotações (em radianos)
x (+)
x (+)
v (+) θ (+)

v (+)
v (+)

OBSERVAÇÕES:
1) Efeitos da Flexão nas Vigas

Viga em Flexão MF nas seções retas

MF provoca um giro (ou rotação) da seção reta em torno da sua L.N.


(geralmente representado por θ)

O giro de cada seção reta encurvamento longitudinal de toda a peça

2
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Em consequência desse encurvamento longitudinal, a peça passa a


apresentar três regiões características:

I) Região que trabalha sob compressão, onde se tem:


- Fibras longitudinais sofrendo encurtamento
- Fibras transversais sofrendo estouramento lateral
II) Região que trabalha sob tração, onde se tem:

- Fibras longitudinais sofrendo alongamento


- Fibras transversais sofrendo afinamento lateral
III) Região da Superfície Neutra, onde nem as fibras longitudinais nem as
fibras transversais sofrem qualquer deformação
- A única modificação que ocorre com os pontos dessa superfície é um
deslocamento vertical sob forma de afundamento ou flexa que, por ocorrer
segundo à direção “y” é representado pelo símbolo “v”.

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Ilustração a: Encurvamento longitudinal de uma peça em flexão pura

3
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Ilustração b: Deformação da seção reta após o ecurvamento

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

2) Linha Elástica versus Linha de Flexão

Quando do encurvamento longitudinal de uma viga em flexão, a maioria


dos pontos de sua superfície neutra apresenta um deslocamento
horizontal e um deslocamento vertical, caracterizando-se por um
deslocamento real inclinado resultante dos dois deslocamentos
anteriores.
Assim, tem-se:
- Linha de flexão: Lugar geométrico definido pela extremidade final do
deslocamento real dos pontos da superfície neutra da viga em
consequência do seu encurvamento longitudinal.
- Linha elástica: Lugar geométrico definido pela extremidade final do
deslocamento vertical (ou seja, componente vertical do deslocamento
real) de todos os pontos da superfície neutra da viga em consequência do
seu encurvamento longitudinal.

4
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

3) Na teoria das estruturas, tem-se:

- deslocamento segundo a direção x é representado pelo símbolo “u”

- deslocamento segundo a direção y é representado pelo símbolo “v”

- deslocamento segundo a direção z é representado pelo símbolo “w”

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

2. Equação Diferencial da Linha Elástica


Considerando a mesma viga da ilustração 1, reapresentada abaixo:

A B x
S

a b
v
Situação inicial

A B
x
θ v

S
v Situação deformada

5
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Destacam-se os seguintes elementos:


O

ρ dθ
θ(i)
θ(f)
x
i ds
f
L.E. da viga
v
tangente à L.E pelo ponto i
tangente à L.E pelo ponto f

ds = arco de comprimento infinitesimal destacado sobre a L.E. da viga


dθ = ângulo central correspondente a ds, formado entre as tangentes
tiradas pelos extremos do arco ds
ρ = raio de curvatura das fibras longitudinais da viga (variável ao longo do
comprimento da L.E. mas considerado constante no trecho ds, entre i e f)

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Pelos elementos destacados:


1 dθ
ds = ρ ⋅ dθ ⇒ =
ds ρ
Entretanto, o ângulo θ decresce quando se passa de A até B. Assim, para
cada incremento positivo ds tem-se um dθ negativo e, portanto:
1 dθ dθ 1
=− ⇒ =−
ρ ds ds ρ
tangente pelo ponto médio
de ds (aproximadamente ds ponto médio de ds
igual ao próprio ds ao dv
longo de dx) θ
dx
A partir do triângulo ds, dx, dv, pode-se escrever:
dv
tgθ =
dx

6
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Como θ assume valores pequenos e é medido em radiano, tem-se:


dv
tg θ ≅ sen θ ≅ θ → θ =
dx
Na prática das deformações ds ≈ dx , assim :
dθ dθ
=
ds dx
dv
Dessa forma, como θ = :
dx  dv 
d 
dθ dθ d 2v
=  =
dx
=
ds dx dx dx 2
dθ 1
Como = − , resulta:
ds ρ
d 2v 1
=−
dx 2 ρ

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Durante a demonstração da expressão de σx na flexão, foi visto


(considerando-se a curvatura em módulo) que:
1 M
=
ρ EI ( LN )
d 2v 1 1 M , obtém-se finalmente:
Sendo =− e =
dx 2 ρ ρ EI( LN)
d 2v d 2v M
EI( LN) = −M ou =−
dx2 dx2 EI( LN)
Sendo esta a equação a se integrar para cálculo das deformações em
vigas. Em cada caso diferente de carregamento e de apoio, aplicam-se
as respectivas condições de contorno.

7
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

OBSERVAÇÕES:
1) Para qualquer viga, submetida a um dado carregamento, é possível
obter a partir dessa equação diferencial, por meio de duas integrações
sucessivas, sua Equação da Linha Elástica. Uma expressão da forma:

v= f (x)
2)Nos trechos homogêneos de carregamento ou total descarregamento
numa peça em flexão simples, tem-se:
dM
=Q
dx
 d 2v 
Sendo M = EI( LN ) .  , resulta então:
 2
 dx 
dM d   d 2v    3 
∴Q = −EI . d v 
Q= = − EI( LN) .
dx dx   2   ( LN )
 3 
  dx    dx 

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

3) Conhecida a equação v= f (x) referente à Linha Elástica da viga,


pode-se obter:

3.1) O afundamento v= f (x) em qualquer ponto da superfície neutra


da viga, situado à distância x da origem do eixo x.

dv
3.2) O ângulo de rotação θ = = v' de qualquer seção reta da viga
dx
situada à distância x da origem do eixo x.

8
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

4) A curvatura k do eixo longitudinal de uma viga deformada por flexão


é definida por:
k=
1 onde ρ é o raio de curvatura
ρ
Durante a demonstração da expressão de σx, e também na dedução
da Equação Diferencial da Linha Elástica, a curvatura (no plano xy) foi
tomada em módulo. Entretanto, admite-se, de um modo geral, a
seguinte convenção de sinais para k no plano xy:
x
x

-
- +
+
Mz>0
M >0z
Mz<0
M <0
z
y">0
y"<0
k<0 k>0
y
y

A consideração do sinal de k levaria ao mesmo resultado obtido para a


Equação Diferencial da Linha Elástica.

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

3. Aplicação 1: Equação da Linha Elástica de uma viga simplesmente


apoiada com carga uniformemente distribuída em o todo o comprimento
Considerando a viga abaixo (para a qual I(LN)=Iz):

q
A B
x
S

x
q .l q.l
RA = l RB =
2 v 2
Situação inicial
A B
θ x
v
S

Situação deformada
v

9
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

O momento fletor em uma seção S, distante x do apoio esquerdo é:

qlx qx 2
M ( x) = −
2 2
Assim, a equação diferencial da linha elástica será dada por:

d 2v qlx qx2
EI z 2 = − +
dx 2 2
Multiplicando-se ambos o membros por dx e integrando, obtém-se:

dv qlx 2 qx 3
EI z =− + + C1 (a)
dx 4 6
Onde C1 é uma constante de integração.

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

A equação encontrada em (a) corresponde à expressão de cálculo


do ângulo de rotação θ de qualquer seção reta da viga, situada à distância
x do apoio esquerdo (origem do eixo x).
Para se encontrar o valor de C1, deve-se utilizar as condições de
compatibilidade da viga, ou seja, através de sua análise, obter-se valores
de θ em pontos específicos, os quais são compatíveis com a deformação
apresentada por ela, e proceder a substituição em (a).
Para a viga considerada, temos, pela simetria, que a tangente no meio do
vão é zero (o ângulo θ dessa seção é nulo, pois ela permanece com a
mesma inclinação nula de antes da deformação). Assim:
dv l
θ ( x) = =0 para x=
dx 2
Substituindo esta condição em (a) obtém-se:

ql 3
C1 =
24

10
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Dessa forma:
2
dv qlx qx 3 ql 3
EI z =− + + (b)
dx 4 6 24
Que representa a equação de cálculo de θ ao longo de x e pode
também ser escrita como:

θ ( x) =
q
24EI z
(
− 6lx2 + 4 x3 + l 3 )
Integrando-se novamente, obtém-se:

qlx 3 qx 4 ql 3 x
EI z v = − + + + C2 (c)
12 24 24

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Aplicando a condição de contorno em que a flecha no apoio esquerdo é


nula, ou seja, v=0 para x=0, e substituindo em (c), obtém-se C2 = 0. A
equação da linha elástica resulta, portanto:
q
v( x) = (l 3 x − 2lx3 + x 4 ) (d)
24EI z
Observando-se a viga, nota-se que a flecha máxima ocorre no meio do
l
vão. Fazendo x = em (d):
2 l 5 ql 4
v máx = v   =
 2  384 EI z
Também percebe-se que a tangente máxima ocorre no apoio esquerdo (é
máxima pois tem valor positivo devido ao sentido horário da rotação,
contudo, tem o mesmo módulo da tangente no apoio direito, onde a
rotação é negativa). Fazendo x=0 em (b):
ql 3
θ máx = θ ( 0 ) =
24 EI z

11
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

4. Aplicação 2: Equação da Linha Elástica de uma viga simplesmente


apoiada com força concentrada
Considerando a viga abaixo (para a qual I(LN)=Iz):
P
a b
A B
x
S
P.b P .a
RA = RB =
l v Situação inicial l
A B
θ x
v

v S
Situação deformada

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Neste caso, o momento fletor tem duas expressões de cálculo. Uma


para o bordo esquerdo, outra para o direito. Assim:

Pb
M (x) = x Para x ≤ a
l

Pb
M (x) = x − P(x − a) Para x ≥ a
l
As equações diferenciais da elástica de cada trecho serão, portanto:

d 2v Pb
EIz =− x Para x ≤ a
dx2 l
d 2v Pb
EIz = − x + P(x − a) Para x ≥ a
dx 2 l

12
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Integrando as equações, temos:

dv Pbx2
EI z =− + C1 Para x ≤ a
dx 2l
(a)
dv Pbx2 P( x − a) 2
EI z = − + + C2 Para x ≥ a
dx 2l 2

Integrando mais uma vez:

Pbx3
EI z v = − + C1 x + C3 Para x ≤ a
6l
(b)
Pbx3
P( x − a) 3
Para x ≥ a
EI z v = − + + C2 x + C4
6l 6

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Condições de contorno para cálculo dos deslocamentos:

v ( 0 ) = 0
v ( l ) = 0


θ ( a )1 ° trecho = θ ( a ) 2 ° trecho
v ( a )1 ° trecho = v ( a ) 2 ° trecho

Como os dois bordos possuem a mesma rotação em x=a, igualando-se
as equações obtidas em (a), e fazendo x=a em ambas, temos C1=C2.
Ambos os bordos possuem também a mesma deflexão em x=a, portanto,
igualando-se as equações obtidas em (b) com x=a, temos C3=C4.

Para determinação das constantes C3 e C4, utilizamos a condição de


contorno em que a deflexão é nula nos apoios. Com v=0 para x=0 na
equação do 1º trecho (onde x ≤ a), obtida em (b), temos:

13
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

C3 =C4 = 0 (c)

Finalmente, fazendo v=0 para x=l na equação do 2º trecho (onde x ≥ a),


obtida em (b), temos:
Pbl Pb3 Pb(l 2 − b2 )
C1 = C2 = − = (d)
6 6l 6l
Substituindo-se os valores das constantes obtidos em (c) e (d) nas
equações da elástica obtidas em (b), resulta:

Pbx 2 2 2 (e)
EI z v = (l − b − x ) Para x ≤ a
6l

Pbx 2 2 2 P( x − a) 3
EI z v = (l − b − x ) + Para x ≥ a (f)
6l 6

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Substituindo o valor obtido em (d) nas equações de (a), obtém-se :

θ ( x) =
dv
dx
= v'=
6lEI z
(
P.b 2 2
l − b − 3x 2 ) Para x ≤ a (g)

θ ( x) =
dv
dx
= v' =
6lEI z
(
P.b 2 2
l − b − 3x 2 +) P
2EI z
( x − a) 2 Para x ≥ a (h)

Com as equações (e) e (f), é possível se calcular a deflexão (ou


afundamento) de qualquer ponto da linha elástica, bem como
através de (g) e (h) determina-se a tangente a elástica em qualquer
ponto.

14
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Para x=0 na equação (g) e x=l em (h), obtém-se θA e θB (nos


extremos da viga):

Pb (l 2 − b 2 ) Pab (l + a ) (i)
θA = e θB = −
6lEI z 6lEI z

A flecha máxima ocorre onde a tangente à elástica é horizontal. Se


a > b, a flecha máxima está no bordo esquerdo. Igualando-se a
equação (g) a zero:
l 2 − b2
l − b − 3x = 0
2 2 2 x= (j)
3
A flecha máxima, substituindo (j) em (e), será então:
3
Pb (l 2 − b 2 ) 2 (k)
v máx =
9 3lEI z

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Se a carga P estiver no meio do vão, a flecha máxima ocorre neste


l l
ponto. Seu valor se obtém fazendo b = e x = em (e).
2 2
Pl 3
v l = (l)
x= 48 EI z
2
a =b
De (j), percebe-se que para uma carga concentrada a flecha máxima
ocorre sempre próximo do centro da viga. No caso limite, quando b é
l
muito pequeno e P atua no apoio, a distância x dada por (j) é = 0,577 .l
l l 3
e o ponto de flecha máxima está a − = 0,077l do centro da viga.
3 2
Assim, a flecha ao centro é uma boa aproximação da flecha máxima.
l
Fazendo x = em (e), obtém-se: Pb
2 v = l (3l 2 − 4b 2 ) (m)
x= 48 EI z
2
a >b

15
Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

A diferença entre as flechas em (k) e (m), no caso mais desfavorável,


quando b tende a zero, é de somente cerca de 2,5% da flecha máxima,
confirmando que a flecha ao centro é uma boa aproximação da flecha
máxima.

OBSERVAÇÃO:

Explicação de porque vmáx ocorre à esquerda do ponto de aplicação de P


para a>b.

De A até B, o ângulo θ apresenta valores positivos, nulo e negativos.


Calculando o valor de θ(a) nesta situação, em que a>b, obtém-se:

P.b  2 2
θ (a) =  l − b − 3a 
2
6lEIz  

Revisão – Equação Diferencial da Linha Elástica

Esse valor é negativo, conforme verificação abaixo:

P.b 
θ (a) =
P.b  2 2
 l − b − 2a − a  ⇒ θ (a ) =
2 2
(a + b)2 −  a 2 + 2a 2 + b2 
6lEI z   6lEI z   

θ (a ) =
P .b
6lEI z
[( ) (
a 2 + 2a ⋅ b + b 2 − a 2 + 2a 2 + b 2 < 0 )]

Como [θ(a)]p/a>b é obrigatoriamente negativo, θ=0 ocorre à esquerda do

ponto de aplicação de P.

Assim, [vmáx]p/a>b ocorre na seção do 1º trecho que apresenta θ(x) =0, ou


l2 −b2
seja, como já foi visto, onde x = .
3

16

Você também pode gostar