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CAPÍTULO
ANATOMIA DA
CAVIDADE ORAL
Miguel Carlos Madeira
Horácio Faig Leite
Roelf J. Cruz Rizzolo

1.1 ANATOMIA DESCRITIVA DA BOCA

A cavidade da boca ou cavidade oral é a parte inicial do sistema digestório. Localiza-


se no terço inferior da face e comunica-se com o exterior pela abertura oral e com a
parte oral da faringe (orofaringe) através de uma abertura ampla denominada istmo
da garganta (das fauces).
Quando totalmente fechada, é dividida pelos arcos dentais em duas por-
ções: uma anterior anterolateral, menor, o vestíbulo da boca, e a outra posterior
e maior, a cavidade própria da boca que apresenta uma forma ovalada. Com os
26 Sistema digestório: integração básico-clínica

dentes em oclusão, estas duas partes comunicam-se pelo espaço entre os últimos
molares e a borda anterior do ramo da mandíbula.
A cavidade da boca tem como limites: anterior e lateralmente os lábios e boche-
chas, posteriormente o istmo da garganta, superiormente o palato e inferiormente o
soalho da boca, onde encontramos fixada a língua.
São formações limitantes da cavidade da boca: os lábios, bochechas, palato, soa-
lho e istmo da garganta.

1.1.1 LÁBIOS

Como nas demais formações limitantes, os lábios apresentam-se estratifica-


dos, com várias camadas, entre as quais se encontram vasos e nervos. São cinco as
suas camadas, denominadas de fora para dentro: 1. camada cutânea, apresentando
glândulas sudoríferas e sebáceas; 2. tela subcutânea; 3. camada muscular; 4. ca-
mada submucosa com glândulas salivares e vasos sanguíneos; 5. camada mucosa.
Quando os lábios estão em contato, delimitam a rima da boca, cujas extre-
midades constituem os ângulos da boca (comissura labial). Normalmente, o lábio
superior apresenta menor mobilidade do que o inferior.
O lábio superior é limitado superiormente pelo nariz, ao qual se une por
meio de um sulco raso e largo denominado de filtro, é separado das bochechas, de
ambos os lados, por um sulco profundo e muitas vezes variável em comprimento
e profundidade, chamado de sulco nasolabial.
O lábio inferior apresenta como limite externo, inferiormente, um sulco que
o separa do mento denominado de sulco labiomentoniano, e outro que vai do
ângulo da boca à base da mandíbula, o sulco labiomarginal. Estes dois sulcos nas
pessoas de mais idade tornam-se bastante pronunciados. (Figura 1.1)

1. Rima da boca
2. Ângulo da boca
3. Filtro
4. Sulco nasolabial
5. Sulco labiomarginal

Figura 1.1 - Vista externa da boca


Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 27

A face interna dos lábios está relacionada com o vestíbulo da boca e com os
arcos dentais, sendo revestida por uma mucosa de coloração rósea e aspecto liso
brilhante. Esta face interna continua com a mucosa alveolar fazendo uma reflexão
em forma de fundo de saco, o fórnice do vestíbulo. No vestíbulo podemos notar
uma prega mucosa mediana, o frênulo (freio) do lábio; outras pregas podem apa-
recer como os freios laterais (Figuras 1.2 e 1.3). O frênulo do lábio superior é nor-
malmente mais pronunciado do que o inferior e algumas vezes pode necessitar de
uma redução cirúrgica (frenectomia). Na parte mucosa do lábio inferior, podemos
notar pequenas elevações das glândulas salivares menores aí encontradas e que
podem ser sentidas com a ponta da língua ou com a palpação digital. A camada
muscular dos lábios é formada pelo músculo orbicular da boca e por algumas
fibras musculares que convergem para as bordas livres dos lábios.

7. Mucosa alveolar
8. Fórnice do vestíbulo
9. Freio labial superior
10. Freio lateral

Figura 1.2 – Vestíbulo da boca, arco superior

7. Mucosa labial
8. Fórnice do vestíbulo
9. Freio labial inferior
10. Freio lateral

Figura 1.3 – Vestíbulo da boca, arco inferior


28 Sistema digestório: integração básico-clínica

1.1.2 BOCHECHA

A bochecha forma a parede lateral da cavidade da boca, apresentando as


mesmas camadas que encontramos nos lábios. Vários elementos anatômicos como
o músculo bucinador, o corpo adiposo da bochecha, o ducto parotídeo e alguns
músculos da expressão facial (mímicos) podem ser vistos na camada subcutânea.
Seu limite externo é extenso e não muito preciso; internamente este limite é menor
e está delimitado em sua porção superior e inferior pelo fórnice do vestíbulo e
posteriormente pela prega pterigomandibular. Esta prega é formada pelo ligamen-
to pterigomandibular recoberto por mucosa e é bastante visível quando se abre
amplamente a boca (Figura 1.4).
Internamente, na altura do segundo molar superior, abre-se o ducto paro-
tídeo que é protegido por uma saliência, normalmente de forma triangular, a
papila parotídea.

1. Dente superior
2. Dente inferior
3. Fórnice do vestíbulo
4. Bochecha
5. Prega pterigomandibular

Figura 1.4 – Face interna da bochecha

1.1.3 VESTÍBULO

O vestíbulo oral é delimitado externamente pelos lábios e bochechas e inter-


namente pelos dentes e processos alveolares recobertos pela mucosa. A mucosa
interna, tanto dos lábios como das bochechas, continua para cima e para baixo e
forma um sulco que os une, que é o fórnice do vestíbulo. Após a mucosa, se dobrar
no fórnice, esta passa a recobrir o osso alveolar e recebe o nome de mucosa alveolar.
Esta comunica-se com uma mucosa bastante especializada, espessa e mais cla-
ra chamada de gengiva. O limite entre estas duas mucosas é perceptível por meio
de uma linha sinuosa, a junção mucogengival (Fígura 1.5). Nos indivíduos negros,
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 29

a gengiva pode apresentar-se bastante pigmentada (escura) devido a alta presença


de melanina (Figura 1.6). A gengiva é dividida segundo suas características em
gengiva inserida e livre, pois é bem presa ao osso alveolar, mas tem a borda que
circunda cada dente não aderente, formando o sulco gengival de 1 a 2mm de
profundidade.
No vestíbulo da boca, encontramos pregas mucosas, que unem a mucosa à
gengiva dos lábios e da bochecha. São os freios labiais superior e inferior (estru-
turas medianas) e os freios laterais, menores, encontrados na região dos dentes
caninos e pré-molares.

1. Mucosa alveolar
2. Gengiva
3. Junção mucogengival
4. Freio labial superior

Figura 1.5 – Vestíbulo da boca, arco superior

Figura 1.6 – Gengiva pigmentada por melanina (1)


30 Sistema digestório: integração básico-clínica

1.1.4 PALATO

O palato ou teto da cavidade oral é divido em uma porção anterior ou pala-


to duro e outra posterior ou palato mole (véu palatino). A mucosa que reveste o
palato duro é espessa e unida ao periósteo (mucoperiósteo).
A rafe palatina é uma saliência linear encontrada na porção mediana do pa-
lato, vestígio da união embriológica das duas maxilas. Na linha mediana e atrás
dos dentes incisivos centrais superiores, encontramos a papila incisiva que recebe
este nome por sua localização e por estar em cima da fossa incisiva. Partindo la-
teralmente da papila incisiva, encontramos as pregas palatinas transversas (rugas
palatinas), que têm por função auxiliar na mastigação ao prender o alimento con-
tra a língua. Estas pregas são características de cada indivíduo, em número e forma
(Figura 1.7).

1. Papila incisiva
2. Pregas palatinas
transversas
3. Rafe palatina
4. Mucosa do palato

Figura 1.7 – Porção anterior do palato duro

Entre a mucosa e a parte posterior do palato ósseo, encontramos glândulas


salivares menores (glândulas palatinas) que se estendem em direção ao palato
mole, localizando-se entre a mucosa e a camada muscular.
O limite entre o palato duro e o palato mole pode ser reconhecido facilmente
no indivíduo vivo, devido a diferença de coloração entre ambas as regiões.
Na borda livre do palato mole (véu palatino), na sua porção mediana, en-
contramos uma projeção cônica de comprimento variável chamada de úvula. La-
teralmente, esta borda livre divide-se em duas pregas, uma de cada lado, que são
os arcos palatinos do istmo da garganta (Figura 1.8).
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 31

1. Palato mole
2. Úvula
3. Arco palatoglosso
4. Arco palatofaríngeo
5. Istmo da garganta

Figura 1.8 – Palato mole e istmo da garganta

O palato mole é formado, de ambos os lados, pelos músculos elevador e tensor


do véu palatino, palatoglosso, palatofaríngeo e da úvula. (A descrição anatômica
resumida desses músculos encontra-se na parte 2: anatomia funcional da boca)

1.1.5 ISTMO DA GARGANTA

O istmo da garganta é a comunicação entre a cavidade da boca com a parte


oral da faringe (orofaringe). Acima está delimitado pelo palato mole, abaixo pela
raiz da língua e lateralmente pelos arcos palatoglosso e palatofaríngeo. O arco
palatoglosso é formado pelo músculo do mesmo nome, sendo mais anterior e
lateral do que o arco palatofaríngeo (m. palatofaríngeo) que se evidencia mais
medialmente do que o anterior. Entre os dois arcos situa-se a fossa tonsilar, onde
se localiza a tonsila (amígdala) palatina. Esta tonsila é uma massa de tecido lin-
foide de tamanho variável e que muitas vezes acaba tendo que ser removida por
meio de cirurgia (tonsilectomia).

1.1.6 SOALHO DA BOCA

O soalho da boca é formado exclusivamente por tecidos moles, sendo total-


mente recoberto por uma mucosa delgada, vermelha, translúcida e apresentan-
do-se frouxamente fixada aos planos profundos. A mucosa do soalho da boca
continua com a mucosa da língua. Quando a ponta da língua é levantada em
direção ao palato, encontramos uma prega mucosa mediana que atinge em cima
a face inferior da língua, o frênulo da língua. Em alguns casos, este frênulo pode
se fixar muito alto na face lingual do processo alveolar mandibular, dificultando,
principalmente, a fonação e deve ser corrigido cirurgicamente. Próximo da extre-
32 Sistema digestório: integração básico-clínica

midade anterior de cada frênulo da língua, encontramos a carúncula sublingual,


onde se abrem os ductos das glândulas submandibulares. (Figura 1.9)

1. Face inferior da língua


2. Freio da língua
3. Carúncula sublingual
4. Prega franjada

Figura 1.9 – Soalho da boca com a língua erguida

Em direção lateroposterior, e mais ou menos paralela ao corpo da mandí-


bula, encontramos outra elevação denominada prega sublingual, que é formada
devido ao relevo da glândula sublingual e do ducto da glândula submandibular
(Figura 1.10).

1. Margem da língua
2. Freio da língua
3. Carúncula sublingual
4. Prega sublingual
5. Mucosa do soalho bucal

Figura 1.10 – Soalho da boca com a língua lateralizada

Abaixo da mucosa do soalho da boca encontramos os músculos milo-hiói-


deos, de ambos os lados, que formam um diafragma incompleto, permitindo a
comunicação entre as regiões sublingual e supra-hióidea.
No espaço entre o músculo milo-hióideo e a mucosa, encontramos vá-
rios elementos anatômicos importantes como a glândula sublingual, ducto da
glândula submandibular, músculo gênio-hióideo, nervos lingual e hipoglosso
e vasos sublinguais.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 33

1.1.7 LÍNGUA

A língua é um órgão muscular, localizada na cavidade própria da boca, presa


por sua base ao soalho da cavidade oral. Está constituída por músculos extrínse-
cos e intrínsecos. Os músculos extrínsecos a prendem à mandíbula, ao osso hioi-
de, ao processo estiloide e ao palato. Quando estes músculos se contraem, movi-
mentam a língua em todas as direções. Os músculos intrínsecos, por sua vez, estão
contidos inteiramente na língua, com origem e inserção nela e são responsáveis
pela alteração de sua forma. (A descrição anatômica resumida desses músculos
encontra-se na Parte 1.2: Anatomia funcional da boca)
A mucosa da língua adere fortemente a toda sua massa muscular e, dependendo
da parte da língua que reveste, apresenta coloração, inervação e função diferentes.
A língua é dividida em dois terços anteriores (dorso, margens, face inferior e
ápice) e um terço posterior (raiz da língua).
A face inferior da língua está voltada para diante e em contato com o soalho
da boca, sendo que sua mucosa adere intimamente e de forma contínua com a
musculatura lingual. Nesta face, encontramos na linha mediana uma prega muco-
sa, o freio lingual. Próximo da extremidade anterior e mais apical do freio lingual,
notamos o aparecimento de outra prega mucosa com bordas onduladas e irregu-
lares que recebe o nome de prega franjada. Ainda na porção do ápice da língua,
estão as glândulas salivares menores (glândula lingual anterior).
Devido à translucidez da mucosa que recobre a face inferior da língua, pode-
mos notar alguns vasos sanguíneos, principalmente a veia lingual.
A face dorsal da língua é dividida em terços. Os dois terços anteriores estão
separados do terço posterior por um sulco em forma de V, o sulco terminal. Este
sulco tem seu vértice mediano voltado para o terço posterior; nele encontramos
um forame de profundidade variável, o forame cego.
O terço posterior da língua, que também é sua raiz, está voltado para a parte
oral da faringe (orofaringe). Sua mucosa possiu bastantes saliências ou pequenas
massas de tecido linfoide que recebem o nome de tonsila lingual. Ainda cobertas
por esta mucosa, temos pequenas glândulas salivares linguais.
A raiz da língua limita-se com a epiglote por meio de pregas, sendo uma
mediana, a prega glossoepiglótica mediana, e duas laterais, as pregas glossoepi-
glóticas laterais. Entre a prega mediana e as laterais, há uma depressão chamada
valécula glossoepiglótica.
Espalhadas por todo dorso e bordas marginais da língua, temos as papilas
linguais, denominadas de papilas circunvaladas, fungiformes e filiformes e folha-
das.
34 Sistema digestório: integração básico-clínica

As papilas circunvaladas são as mais volumosas de todas, encontram-se enfi-


leiradas à frente do sulco terminal, paralelas a ele. Cada papila circunvalada está
mergulhada na mucosa lingual, apresenta a forma semelhante a um cogumelo,
sendo circundada por um valo (daí o seu nome), no qual se abrem os ductos de
glândulas linguais serosas cuja secreção mantém limpo este valo para a perfeita
ação dos calículos gustatórios, que também estão aí presentes, e que são impor-
tantes receptores do gosto.
As papilas fungiformes são menos volumosas do que as circunvaladas, apre-
sentam-se mais espaçadas na mucosa lingual, sendo lisas e avermelhadas. Apre-
sentam calículos gustatórios e no indivíduo vivo podem ser visualizadas como
pontos vermelhos luminosos.
Já as papilas filiformes, são longas e estreitas e estão distribuídas densamente
por todo o dorso da língua. São estas papilas que dão um aspecto piloso à língua.
Apresentam corpúsculos relacionados ao tato e não apresentam corpúsculos gus-
tativos como as anteriores. (Figura 1.11)

1. Doce
2. Salgado
3. Ácido
4. Amargo
5. Papilas circunvaladas
6. Papilas fungiformes
7. Sulco terminal
8. Tonsila lingual
9. Arco palatoglosso
10. Tonsila palatina
11. Valécula epiglótica
12. Prega glossoepiglótica
mediana

Figura 1.11 – Língua, com demarcação das zonas do gosto por linhas interrompidas

1.1.8 GLÂNDULAS SALIVARES

A cavidade oral é mantida umedecida devido à saliva produzida e lançada


nesta cavidade pelas glândulas salivares. Várias outras funções são atribuídas à
saliva, como será visto mais adiante.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 35

As glândulas salivares são divididas, segundo o seu tamanho, em glândulas sali-


vares menores e maiores. As glândulas salivares menores apresentam ductos excretores
pequenos e segundo a sua localização topográfica são denominadas de: labiais, bucais,
palatinas e linguais (como foi mencionado, quando da descrição da boca).
O grupo das glândulas salivares maiores, é formado por glândulas bilaterais de
maior tamanho, volume, e que apresentam ductos excretores grandes e geralmente
longos. Compreendem as glândulas parótidas, submandibulares e sublinguais.
A glândula parótida é a maior e a mais desenvolvida das glândulas salivares
maiores, situa-se por trás da borda posterior do ramo da mandíbula e adiante do
músculo esternocleidomastóideo. Acima mantém relações de proximidade com a
articulação temporomandibular (ATM) e o meato acústico cartilagíneo e abaixo
se estende até o nível do ângulo da mandíbula e a borda anterior do músculo es-
ternocleidomastóideo. Profundamente estende-se até a faringe.
Esta glândula é formada por uma parte superficial e outra profunda, sendo
unidas por um istmo. Devido a sua forma, ambas as partes da glândula abra-
çam as faces medial e lateral do ramo da mandíbula, onde estão inseridos os
músculos pterigóideo medial e masseter, respectivamente. Anteriormente, a parte
superficial, maior que a profunda, estende-se por sobre grande parte do músculo
masseter, normalmente apresentando uma extensão anterior localizada abaixo do
arco zigomático. Esta extensão anterior, por vezes destacada da glândula, recebe
o nome de glândula parótida acessória.
A parte profunda da glândula é menor e localiza-se entre o músculo pterigói-
deo medial e os músculos que se relacionam com o processo estiloide (estilo-hiói-
deo, estiloglosso e estilofaríngeo). No istmo, encontramos o nervo facial perfuran-
do-o horizontalmente e a veia retromandibular verticalmente. No lobo profundo,
temos a artéria carótida externa atravessando verticalmente a glândula, e a artéria
maxilar emergindo daí.
O nervo facial (VII par craniano) ramifica-se entre as duas partes e seus ra-
mos emergem pelas bordas da glândula parótida.
A glândula parótida está completamente envolvida por uma extensão da
fáscia cervical chamada de fáscia parotídea. Esta fáscia se prende ao arco zi-
gomático, ao processo estiloide e se fusiona com a fáscia massetérica e a fáscia
do esternocleidomastóideo.
O ducto parotídeo emerge da borda anterior da glândula, cruza paralela-
mente o músculo masseter em direção a sua borda anterior, onde, após contorná-
-la, passa ao lado do corpo adiposo da bochecha, atravessa a superfície externa
do músculo bucinador e abre-se no vestíbulo da boca, próximo ao segundo mo-
lar superior, numa saliência denominada papila parotídea. A glândula parótida é
inervada pelo nervo glossofaríngeo (IX par craniano).
36 Sistema digestório: integração básico-clínica

A glândula submandibular apresenta uma forma ovoide ou de um corpo alon-


gado, tendo um tamanho que corresponde à metade da parótida. Está localizada no
compartimento ou triângulo submandibular formado em parte pela fáscia cervical,
sendo que esta fáscia está frouxamente aderida à glândula. A superfície da glândula
não é lisa, visto que é composta por um número variável de lóbulos unidos entre si
por tecido conjuntivo.
A glândula submandibular pode ser dividida em duas porções: uma superficial,
maior, arredondada e contínua com outra menor, que forma a porção profunda.
Parte da porção superficial da glândula relaciona-se com a face medial do corpo da
mandíbula, na fóvea submandibular, ficando desta forma oculta acima pela man-
díbula. Já a parte visível da glândula é coberta pelo músculo platisma e pela pele,
ocupando assim o importante triângulo submandibular. A porção medial da glându-
la relaciona-se com os músculos milo-hióideo e hioglosso, que formam entre si um
espaço ou interstício pelo qual se tem acesso à região sublingual. É justamente por
este espaço que passam o prolongamento profundo da glândula e o ducto subman-
dibular. O ducto da glândula submandibular abre-se ao lado do freio da língua, na
carúncula sublingual. A glândula recebe inervação do nervo facial (VII par craniano).
A glândula sublingual está em contato com a fóvea sublingual, depressão
óssea localizada na face interna da mandíbula. Está localizada no soalho da boca
e apresenta uma forma alongada e achatada. Na porção anterior e interna da
mandíbula, as duas glândulas entram em contato uma com a outra, por suas ex-
tremidades anteriores.
Repousa sobre o músculo milo-hióideo e sua presença provoca uma saliência
na mucosa do soalho da boca, a prega sublingual. Relaciona-se no compartimen-
to sublingual com o ducto da glândula submandibular, nervo lingual e músculo
genioglosso. Não apresentam ducto excretor único, mas sim aproximadamente
uma dúzia de ductos sublinguais menores, que se abrem separadamente na prega
sublingual. Algumas vezes podemos encontrar um ducto maior, chamado ducto
sublingual maior, que se une ao ducto submandibular ou se abre na carúncula
sublingual juntamente com o submandibular.
A glândula sublingual recebe inervação do nervo facial (VII par craniano)
(Figura 1.12).
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 37

1. Glândula parótida
2. Glândula parótida acessória
3. Ducto parotídeo
4. Glândula submandibular
5. Linfonodo submandibular

Figura 1.12 – Peça anatômica com glândula parótida, ducto parotídeo, glândula submandibular e linfonodos sub-
mandibulares

1.2 ANATOMIA FUNCIONAL DA BOCA

1.2.1 BOCA EM REPOUSO

Quando em repouso, a boca é uma cavidade fechada, isto é, permanece com


as suas aberturas anterior e posterior seladas pelos lábios, à frente, e pelo palato
mole ou véu palatino, atrás. Este desce verticalmente sobre a porção posterior do
dorso da língua como se fosse uma cortina (L. vellum, véu, cortina), fechando a
cavidade da boca e separando-a da faringe.
Nos indivíduos que respiram pela boca, as aberturas anterior e posterior
nunca estão cerradas e o ar passa por elas, provocando malposição dos dentes
anteriores e espaços entre eles, elevação e estreitamento do palato (palato ogival)
e ressecamento da mucosa da boca.
Ainda em posição de repouso, a ampla cavidade da boca é quase que total-
mente preenchida pela língua e dentes. O ápice da língua fica em contato com a
porção do palato atrás dos incisivos, as suas margens apoiam-se na face lingual
dos dentes e a face inferior na mucosa do soalho da boca. As bochechas e os lábios
reduzem qualquer espaço em razão do contato com os dentes anteriores e poste-
riores e, desta forma, o vestíbulo se anula pela redução do seu espaço.
38 Sistema digestório: integração básico-clínica

Neste estado habitual de repouso, os músculos mandibulares estão em con-


tração mínima, contraídos apenas o suficiente para manter a postura da man-
díbula, evitando assim que ela caia pela ação da gravidade (mecanismo reflexo
proprioceptivo). A cabeça da mandíbula, também chamada côndilo, está alojada
na fossa mandibular sem, entretanto, fazer pressão contra ela. Na realidade, ocu-
pa uma posição anterossuperior em relação ao centro da fossa mandibular. Esta
relação central é uma posição óssea (craniomandibular), independente de dentes,
que corresponde à retrusão não forçada da mandíbula. Os lábios estão em leve
contato, os dentes superiores e inferiores não se tocam e o espaço entre eles é cha-
mado espaço funcional livre ou interoclusal.
É claro que certos fatores podem interferir com a constância dessa posição;
por exemplo, a dor, o estresse físico e emocional e a postura da cabeça. A inclina-
ção da cabeça para trás faz aumentar o espaço funcional livre e a inclinação para
frente faz diminuir ou mesmo eliminar completamente esse espaço.

1.2.2 DINÂMICA DA BOCA

A passagem daquele estado estático, de descanso, para estados dinâmicos pode


se restringir a pequenas contrações de músculos labiais, mas pode chegar a gran-
des movimentações da mandíbula. Quando esta se movimenta, todas as formações
anatômicas da boca acompanham o movimento. Neste caso, todos os músculos
revelam seu dinamismo, principalmente os músculos da mastigação, os quais geram
os movimentos mandibulares, cujo fulcro é a articulação temporomandibular.
Articulação temporomandibular (ATM) – É a articulação entre os lados es-
querdo e direito da mandíbula e os dois ossos temporais. Como única articulação
sinovial da cabeça, possui todos os elementos constituintes de uma articulação
dessa natureza, com exceção de ligamentos intracapsulares. Diferente das demais,
no entanto, ela não é apenas uma articulação que movimenta ossos; é caracte-
rizada também pela sua relação de interdependência com a oclusão dos dentes,
o que a torna peculiar e funcionalmente complexa. Pelo exposto, como existe
interdependência das articulações dos dentes e dos ossos, para se ter boa ATM é
condição ter boa oclusão.
Outras peculiaridades da ATM, que a distinguem das demais articulações do
corpo, são: “o revestimento de fibrocartilagem e não de cartilagem hialina; a cabe-
ça da mandíbula cresce na superfície, sem cartilagem epifisial; as faces articulares
são bastante discordantes; um disco articular se coloca entre as faces articulares;
tem movimentos de rotação e de translação associados; impulsos proprioceptivos
são gerados também no nível dos dentes e estruturas bucais” (CRUZ RIZZOLO
& MADEIRA, 2010).
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 39

Os ossos maxilares e a ATM são adaptados para a mastigação molar. A área


óssea dessa região dos dentes molares é mais apropriada para absorver e para
escoar as forças mecânicas transmitidas dos dentes para ela. Grande parte dessa
carga é transferida para a ATM, que a suporta bem. Admitindo-se, no entanto,
que a mandíbula trabalhe tal qual uma alavanca, na mastigação incisiva, em que a
distância (braço de resistência) entre os dentes em ação (resistência) e a ATM (ful-
cro) é bem mais longa, a carga transferida para a ATM é quase duas vezes maior, o
que sobrecarrega e provoca alterações. É o que geralmente ocorre durante a vida
dos indivíduos desdentados posteriores.
Nos casos de um dente entrar em contato com outro antes dos demais por-
que está “mais alto” (contato prematuro), a oclusão pode sobrecarregar os pró-
prios dentes contactantes e aliviar a ATM. Assim, o côndilo passa a trabalhar
numa posição anômala, o que é motivo de alteração da função muscular. Com
esse funcionamento fora do normal, há um aumento do esforço dos músculos
(potência), os quais, sobrecarregados, desencadeiam sintomas indesejáveis como
a dor na cabeça, orelha e na própria articulação.
Palpando-se a dedo a ATM, à frente do trago da orelha, pode-se sentir a mo-
vimentação da cabeça da mandíbula durante a abertura e fechamento da boca. Os
movimentos de protrusão, retrusão e lateralidade também podem ser percebidos
pela mesma palpação ou então com o dedo dentro do meato acústico cartilagíneo.
Arcos dentais - Os dentes relacionam-se uns com os outros, por contiguidade,
enfileirando-se em forma de arco. O arco superior, imóvel, espera a toque do arco
inferior, que é móvel, para haver a chamada oclusão dental e daí a mastigação.
Na posição de oclusão, o arco dental superior, que é alguns milímetros mais
largo e mais longo, envolve ou sobrepõe-se ao inferior, de modo que as bordas
cortantes (incisais) dos seus incisivos e caninos ultrapassem e cubram as bordas
incisais dos inferiores. Nos dentes posteriores, as cúspides dos superiores também
ultrapassam as dos inferiores. A sobreposição é aumentada mais ainda porque
os incisivos se apresentam inclinados para a vestibular (labial), com inclinação
aproximada de 20º nos superiores e de 12º nos inferiores. Essa sobreposição ou
trespasse horizontal é chamada na clínica odontológica como sobressaliência. No
sentido vertical, o trespasse é conhecido como sobremordida. O trespasse vertical
de mais de três milímetros resulta na indesejável mordida profunda. Há casos
anômalos de incisivos superiores que não se sobrepõem aos inferiores; ao contrá-
rio, distanciam-se deles ocasionando um espaço que caracteriza a mordida aberta
anterior. Outra aberração da oclusão é a mordida cruzada anterior, em que o
trespasse horizontal e o vertical são invertidos, isto é, o arco dental inferior (todos
os dentes superiores ou alguns deles) trespassa ou sobrepõe-se ao arco superior
(MADEIRA & CRUZ RIZZOLO, 2010).
40 Sistema digestório: integração básico-clínica

Os contatos entre os dentes vizinhos de cada arco são muito importantes


para a manutenção do equilíbrio, e, na ausência desse contato, por fratura, cárie,
agenesia ou extração, os dentes podem mudar de posição. Com dentes em mal-
posição, principalmente aqueles que se inclinam em direção a falhas de dentes
vizinhos, a desorganização aumenta pela força das oclusões sucessivas.
Mesmo em condições normais, porém, existem forças aplicadas sobre os
dentes que podem alterar esse equilíbrio. É o caso daquelas exercidas pelos mús-
culos da mastigação, as quais determinam o contato de maior ou menor inten-
sidade entre os dentes antagonistas e que podem provocar, no sentido vertical,
a intrusão do dente no alvéolo, isto é, o aprofundamento deste no interior da
substância óssea esponjosa.
Outras forças ocorrem no sentido horizontal (direção vestíbulo-lingual). A
musculatura dos lábios e das bochechas exerce pressão na face vestibular dos den-
tes anteriores e posteriores, que deve ser equilibrada pela pressão exercida pela
língua na face lingual de todos os dentes. Se uma dessas forças é insuficiente para a
manutenção do equilíbrio, haverá desvios dentais com prejuízo funcional e estético.
Oclusão dental – A oclusão acontece quando, ao se fazer a elevação da man-
díbula através dos músculos elevadores, dá-se o contato entre os dentes anta-
gonistas. Trata-se de um engrenamento dental em que cada dente de um arco
deve ocluir com dois dentes do arco oposto; fazem exceção os incisivos centrais
inferiores e os terceiros molares superiores, que ocluem unicamente com os seus
homólogos antagonistas.
Em uma boa oclusão, as seguintes posições devem ocorrer: nos dentes ante-
riores, o terço incisal (livre) da face vestibular (labial) dos inferiores deve ocluir
com o terço incisal da face lingual dos superiores e nos dentes posteriores, as
cúspides vestibulares (bucais ou jugais) dos superiores também ultrapassam as
dos inferiores. Estas, por sua vez, se encaixam nas fossetas e nos sulcos das faces
oclusais (mastigatórias) dos dentes superiores e as cúspides linguais dos superio-
res também se encaixam nas fossetas e nos sulcos das faces oclusais dos dentes
inferiores. Esse encaixe recíproco entre dentes antagonistas leva à posição de má-
xima intercuspidação, dando estabilidade aos dentes no arco inferior contra o
arco dental superior e direcionando as forças provenientes da mastigação ao lon-
go eixo dos dentes (MADEIRA & CRUZ RIZZOLO, 2010).
A partir dessa relação estática entre os maxilares, que é a posição de máxima
intercuspidação, inicia-se a oclusão dinâmica com seus repetidos movimentos de
lateralidade, que caracterizam a mastigação molar.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 41

1.2.3 MOVIMENTOS DA MANDÍBULA

Desde a posição de repouso, os músculos elevadores da mandíbula podem se


contrair, ao ponto de elevá-la até que haja o contato máximo dos dentes inferiores
com os superiores. Ela fica assim na já referida posição de máxima intercuspida-
ção, também conhecida como posição de oclusão central, com o maior número
possível de contatos entre os dentes antagonistas. A manutenção desta posição
requer dispêndio de esforço, pois os músculos masseter, pterigóideo medial e tem-
poral, elevadores da mandíbula, devem permanecer contraídos (a descrição ana-
tômica resumida dos músculos da mastigação e outros como os da língua, do pa-
lato e peribucais e demais músculos que movem a boca ou suas partes encontra-se
em sequência próxima).
A boca em posição de oclusão é totalmente aberta com a participação do
músculo pterigóideo lateral em trabalho comum com o músculo digástrico, este
e também o gênio-hióideo e o milo-hióideo, que lhe são sinérgicos. O pterigóideo
lateral é um músculo protrusor da mandíbula e o digástrico é retrusor. Apesar
de serem antagônicos, estes músculos se ajudam e se completam em um trabalho
simultâneo de rotação da mandíbula. Se eles se inserissem em um mesmo nível,
um atrairia a mandíbula para frente e o outro para trás e com esse antagonismo
anulariam qualquer possibilidade de movimento; ao contrário, haveria equilíbrio
estático. Como, entretanto, o pterigóideo lateral se insere no alto da mandíbula
e o digástrico bem abaixo, portanto em níveis bem diferentes, eles deixam de ser
antagonistas para serem cooperadores no abaixamento da mandíbula (dupla for-
ça ou força conjugada).
Durante a abertura da boca, primeiro é realizado um movimento de rotação
pura na ATM: a cabeça da mandíbula, na posição mais retrusiva e sem se deslocar
para frente, gira em torno de um eixo horizontal transversal até o ponto em que
se pode colocar um dedo entre os incisivos.
O segundo movimento, para continuar a abertura, é duplo: enquanto a rota-
ção continua a ser realizada, a ela é associado um novo movimento, o de transla-
ção, em que a cabeça da mandíbula desliza para frente até ficar sob a eminência
articular do osso temporal e isto pode ser notado pela palpação. Os dois movi-
mentos em sequência provocam o abaixamento máximo da mandíbula, que desta
vez permitirá a colocação de três dedos entre os dentes.
No movimento de retrusão puro, enquanto se mantém os dentes em leve
contato, os côndilos da mandíbula protraída são trazidos de volta para a fossa
mandibular por uma dupla de músculos retrusores da mandíbula que age sinergi-
camente – o digástrico e o temporal. Este se prende no alto do ramo da mandíbula
e o digástrico na base do corpo, em nível bem mais baixo, portanto. Trabalhando
42 Sistema digestório: integração básico-clínica

em sinergia, um no alto e o outro em baixo, os músculos atraem toda a mandíbula


para trás, numa translação condilar bilateral de forma equilibrada.
Na protrusão simétrica da mandíbula a partir da oclusão central ocorre o
inverso: a ação passa a ser de ambos os pterigóideos laterais, músculos protrusores
da mandíbula, que a transladam para frente. Quando se trata de protrusão assimé-
trica, ou movimento de lateralidade, apenas um dos pterigóideos laterais traciona
o côndilo para frente. O côndilo oposto permanece em posição na fossa mandibu-
lar. Se o músculo em contração for o esquerdo, o movimento será o de translação
unilateral direita ou lateralidade direita e vice-versa (MADEIRA, 2010).

1.2.4 MASTIGAÇÃO

As considerações feitas sobre arcos dentais, oclusão e movimentos da mandí-


bula facilitarão o entendimento do mecanismo da mastigação.
A partir da relação estática entre os maxilares, como na posição de máxima
intercuspidação, os movimentos todos são realizados de maneira sincronizada e
semiconsciente durante a mastigação. O padrão típico tem início com a incisão do
alimento pelos dentes anteriores, se for necessário, e depois é levado pela língua
aos dentes posteriores para ser triturado, ao mesmo tempo em que é insalivado.
A trituração dos alimentos começa com a realização dos chamados “movi-
mentos excêntricos”, para a direita ou para a esquerda. As cúspides antagônicas
em ação entram em atrito. Com o passar do tempo, esse atrito contínuo produz
facetas de desgaste (desgaste fisiológico das cúspides), ou seja, áreas lisas devido
ao desaparecimento gradual das elevações e dos sulcos. Naturalmente, os movi-
mentos protrusivos, em que os incisivos inferiores deslizam contra a face lingual
dos incisivos superiores, para cortar o alimento, também determinam desgastes
(MADEIRA, 2010).
Na trituração, os ciclos mastigatórios se repetem até que o bolo alimentar
possa ser deglutido. Se decompostos, esses ciclos consistiriam daqueles movimen-
tos já citados de fechamento, lateralidade, abertura, combinados no final do ciclo
com fortes movimentos de retrusão e protrusão. Na realidade, porém, há grande
número de combinações de movimentos, de tal modo que as repetições dos ciclos
mastigatórios são feitas de maneiras muito complexas. Os músculos não agem
isoladamente, mas em associação.
Cada ciclo mastigatório dura menos de um segundo e é realizado unilateral-
mente. Durante a mastigação, os lados são trocados. Poucas são as vezes em que
a mastigação é feita somente do lado esquerdo ou então do direito.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 43

A pressão do alimento pela língua contra o palato duro ocorre como sendo
mais uma modalidade de mastigação, ou complementação da mastigação, mas
que toma pequena parte no processo.
São quase todos os músculos envolvidos na mastigação inervados por meio
dos ramos do nervo trigêmeo. As exceções ficam por conta do nervo facial (mús-
culos da expressão facial e estilo-hióideo e ventre posterior do digástrico), nervo
hipoglosso (músculos da língua e gênio-hióideo) e nervo vago, via plexo faríngeo
(levantador do véu palatino, palatoglosso, palatofaríngeo e da úvula). São, pois,
quatro nervos que determinam ações variadas, umas diferentes das outras, mas
em perfeita coordenação ou sincronia. Trabalhando assim, sob um largo espectro
de informações nervosas simultâneas e sincrônicas, são evitados movimentos ex-
temporâneos ou fora de sequência que venham a ferir a bochecha ou morder a
língua.
Citados como foram, nos movimentos gerais da mandíbula e no ato da mas-
tigação, os músculos mandibulares serão também citados na fala, na sucção, na
deglutição, por serem indispensáveis nessas ações. Até agora foram mencionados
apenas os músculos que dão dinâmica à articulação da mandíbula. Somente com
eles não seria possível realizar uma boa e completa mastigação. A movimentação
do alimento dentro da boca depende da contração dos músculos da língua, do
palato, das bochechas, dos lábios e do soalho da boca.
Por isso, todos esses músculos passam a ser agora sucintamente descritos.

1.2.5 MÚSCULOS MANDIBULARES

São os que se inserem na mandíbula, como os músculos da mastigação e os


supra-hióideos.
Músculos da mastigação – Existem quatro músculos pares pertencentes ao gru-
po da mastigação, que têm o controle de quase todos os movimentos da mandíbula:
três deles são elevadores (masseter, temporal e pterigóideo medial) , um dos eleva-
dores também é retrusor (temporal) e um é protrusor da mandíbula (pterigóideo
lateral). Dois são superficiais e de fácil palpação (masseter e temporal) e os outros
dois são profundos (pterigóideos medial e lateral). Ligam a mandíbula ao crânio,
isto é, tomam origem no crânio (ponto fixo) e inserem-se na mandíbula, para
movimentá-la (ponto móvel).
Atuam em grupo bem coordenado para produzir um movimento ou manter
a postura. Deslocam a mandíbula para todas as direções (Quadro 1.1).
Músculos supra-hióideos – Compõem um grupo de músculos pares acima
do osso hioide, que colaboram na mastigação: digástrico, milo-hióideo, gênio-
-hióideo e estilo-hióideo. Os três primeiros unem o osso hioide à mandíbula e o
44 Sistema digestório: integração básico-clínica

estilo-hióideo o une ao crânio. Fazem inserção (ponto móvel) no hioide, mas se


este estiver imobilizado por músculos infra-hióideos e pelo estilo-hióideo, o mi-
lo-hióideo e o gênio-hióideo são capazes de fazer o ponto móvel na mandíbula e
tracioná-la para trás. O digástrico, mais forte e mais independente, auxilia mús-
culos da mastigação nos movimentos de abaixamento e retrusão da mandíbula.
De um modo geral, os músculos supra-hióideos movem não apenas a mandíbula
e o osso hioide, mas também o soalho da boca (Quadro 1.1).
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 45

Quadro 1.1 – Resumo dos músculos da mastigação e supra-hióideos*

MÚSCULO ORIGEM INSERÇÃO INERVAÇÃO FUNÇÃO

Masseter - Margem inferior do - Nos dois terços inferiores - Nervo massetéri- - Levanta (com força)
osso zigomático (parte da face lateral do co, ramo do man- a mandíbula
superficial) e margem ramo da mandíbula dibular (trigêmeo)  
inferior do arco zigomático    
(parte profunda)

Temporal - Soalho da fossa - Bordas e face medial do - Nervos temporais - Levanta a mandíbula
temporal e super- processo coronoide (crista profundos, ramos (mais velocidade
fície medial da temporal) e borda anterior do mandibular do que potência)
fáscia temporal do ramo da mandíbula (trigêmeo) - Retrai a mesma com
    a porção posterior

Pterigóideo - Fossa pterigóidea - Face medial da re- - Nervo pterigóideo - Eleva a mandíbula;
medial   gião do ângulo medial, ramo do age como sinergista
da mandíbula mandibular (trigêmeo) do masseter

Pterigóideo - Face lateral de lâ- - Fóvea pterigóidea - Nervo pterigóideo - Protrai (e com os
lateral mina lateral do e margem anterior lateral, ramo do digástricos abaixa) a
  processo pterigoi- do disco da ATM mandibular (trigêmeo) mandíbula pela con-
de e superfície in-     tração bilateral
fratemporal da simultânea
asa maior do esfe- - Movimenta para um
noide dos lados pela
  contração unilateral
- Estabiliza o disco
articular

Digástrico - Incisura mastóidea - Fossa digástrica - Ventre anterior: nervo - Retrai (e com os
  - O tendão intermédio milo-hióideo, ramo pterigóideos laterais
prende-se pela alça do alveolar inferior, abaixa) a mandíbula
digástrica (indiretamente) que é ramo do  
ao osso hioide nervo mandibular
- Ventre posterior: ramo
digástrico, do nervo facial

Estilo-hióideo - Processo estiloide - Osso hioide - Ramo estilo-hióideo - Puxa o hioide para
do nervo facial cima e para trás

Milo-hióideo - Linha milo-hióidea - Rafe milo-hióidea - Nervo milo-hióideo, - Eleva o soalho da boca,
    e corpo do hioide ramo do alveolar hioide e língua Protrai
  inferior, que é ramo do o hioide ou retrai (e
mandibular (trigêmeo) abaixa) a mandíbula

Gênio-hióideo - Espinha mentonia- - Corpo do hioide - Primeiro nervo - Protrai o hioide ou


na inferior   cervical, através do retrai (e abaixa)
nervo hipoglosso a mandíbula

* Este Quadro 1.1, bem como os próximos Quadros 1.2 e 1.3, foram modificados dos originais que se encon-
tram nos livros de dois dos autores deste capítulo, CRUZ RIZZOLO & MADEIRA (2010).
46 Sistema digestório: integração básico-clínica

Músculos da língua – A língua se mexe para qualquer lado, alcançando to-


dos os dentes, todo o vestíbulo e grande parte do palato e do soalho da boca. Seu
contato com essas partes serve para explorá-las e limpá-las e para deslocar o bolo
alimentar repetidamente e a misturá-lo com saliva para ser deglutido. Além disso,
desempenha importante papel na deglutição e na fala.
Esses extensos deslocamentos dependem da grande quantidade de músculos
que compõem o órgão e que serão resumidos. Os maiores são aqueles extrínsecos,
cujas origens situam-se em ossos próximos e estendem-se até a língua para reali-
zar seus movimentos mais extensos. São apresentados resumidamente no Quadro
1.2.
Os demais são os músculos intrínsecos, de movimentos menores, que mo-
dificam a forma da língua. Estão confinados à própria língua, não se ligando
a estruturas vizinhas. São constituídos por feixes dispostos longitudinalmente –
músculos longitudinais superior e inferior – que ao se contraírem encurtam a
língua, tornando-a mais espessa e mais larga, e levam sua ponta para cima e para
trás.  Outros são dispostos transversalmente (músculo transverso) e verticalmente
(músculo vertical). Se o grupo de fibras transversais se contrai, a língua se estreita,
se espessa e se alonga. Se é o grupo de fibras verticais que entra em ação, a lín-
gua fica mais larga e mais longa. As formas e as posições variadas são tomadas
pelas ações combinadas dos músculos (CRUZ RIZZOLO & MADEIRA, 2010;
MADEIRA, 2010).
Músculos do palato – O palato mole tem um pequeno esqueleto fibroso que
se prende na borda livre da lâmina horizontal do osso palatino. É a aponeurose
palatina, uma expansão da inserção do músculo tensor do véu palatino, um dos
músculos do palato. Todos os demais músculos (levantador do véu palatino, pala-
toglosso, palatofaríngeo e o músculo da úvula) fixam-se na aponeurose palatina.
Os músculos atuam em conjunto e suas denominações já indicam suas principais
funções. O palatoglosso e o palatofaríngeo, por se estenderem do palato à língua e
à faringe, tanto movimentam a área de origem, quanto a de inserção (Quadro 1.2).
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 47

Quadro 1.2 – Resumo dos músculos da língua e do palato

MÚSCULO ORIGEM INSERÇÃO INERVAÇÃO FUNÇÃO

Intrínsecos da língua Língua Língua Nervo Hipoglosso Provocam formas e


posições variadas

Genioglosso Espinha mentoniana Ápice, dorso e raiz Nervo hipoglosso Abaixa a língua.
superior da língua Fibras médias e
posteriores protraem.
Fibras anteriores
retraem a ponta

Hioglosso Corno maior e corpo Aspecto lateral Nervo hipoglosso Abaixa e ajuda a
do osso hioide da língua retrair a língua

Estiloglosso Processo estiloide Aspecto postero- Nervo hipoglosso Retrai e levanta o


lateral da língua lado da língua

Palatoglosso Aponeurose palatina Aspecto postero- Nervo glossofaríngeo Eleva a língua ou


lateral da língua abaixa o palato
Ajuda a estreitar o
istmo das fauces

Palatofaríngeo Aponeurose palatina Superfície postero- Nervo vago Eleva a faringe e


lateral da faringe estreita o istmo
das fauces

Tensor do véu Fossa escafoide Contorna o hâmulo Ramo do nervo Torna tenso o
palatino pterigóideo e mandibular do palato mole
insere-se na trigêmeo
aponeurose palatina

Levantador do Aspecto inferior da Aponeurose palatina Nervo vago Eleva o palato mole
véu palatino parte petrosa do
temporal

Da úvula Espinha nasal posterior Mucosa da úvula Nervo vago Movimenta a úvula

Tal como ocorre com os da língua, outros músculos também intervêm na


mastigação. É o caso do milo-hióideo, já descrito, que, além de ajudar na movi-
mentação da mandíbula, também eleva o assoalho da boca para facilitar a mas-
tigação e a deglutição. São, no entanto, alguns músculos da expressão facial que
agem mais na mastigação.
Os músculos peribucais não apenas mantêm os lábios selados, como também
ajudam a esvaziar o vestíbulo a fim de que o alimento seja cortado ou dilacerado
entre os dentes. Continuamente, os bucinadores fazem o alimento retornar do
vestíbulo para nova trituração entre os molares.
48 Sistema digestório: integração básico-clínica

Vamos, pois, relembrar a anatomia desses músculos.


Músculos da expressão facial (somente os peribucais) – Relacionam-se com
a alimentação (recepção do alimento, mastigação, sucção), fonação e piscar de
olhos, além é claro, com as manifestações faciais das emoções e dos sentimentos.
A contração deles move a área da cútis à qual estão fixados, produzindo depres-
sões em forma de linha (de fossa também) perpendiculares à direção das fibras
dos músculos, que com o tempo se transformam em pregas ou rugas permanentes.
Os feixes de fibras de um músculo são muitas vezes unidos aos de outro e nos
locais de inserção é comum estarem entrelaçados.
Por se tratar de uma abordagem sobre a boca, trataremos apenas dos mús-
culos peribucais, aqueles que circunscrevem a rima da boca ou se dispõem em
torno dos lábios.
Só um deles é constritor dos lábios (músculo orbicular da boca); os demais
são dilatadores (músculos levantador do lábio superior, levantador do lábio su-
perior e da asa do nariz, zigomático menor, levantador do ângulo da boca, zigo-
mático maior, risório, bucinador, abaixador do ângulo da boca, abaixador do
lábio inferior, mentoniano e platisma). Suas características fazem parte do resumo
expresso no Quadro 1.3, a seguir.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 49

Quadro 1.3 – Resumo dos músculos da expressão facial (somente os peribucais)

Orbicular da boca Quase todo cutâneo; fóveas Pele e mucosa dos Comprime os lábios contra
  incisivas da maxila e mandíbula lábios; septo nasal os dentes; fecha a boca;
protrai os lábios

Levantador do lábio superior Margem infra-orbital Lábio superior Levanta o lábio superior

Levantador do lábio superior Processo frontal Asa do nariz e Levanta o lábio superior e a
e da asa do nariz da maxila lábio superior asa do nariz (dilata a narina)

Zigomático menor Osso zigomático Lábio superior Levanta o lábio superior

Levantador do ângulo da boca Fossa canina da maxila Ângulo da boca Levanta o ângulo da boca

Zigomático maior Osso zigomático Ângulo da boca Levanta e retrai o


ângulo da boca

Risório Pele da bochecha e Ângulo da boca Retrai o ângulo da boca


fáscia massetérica

Bucinador Processos alveolares da maxila Ângulo da boca Distende a bochecha e a


e da mandíbula na região molar;   comprime de encontro aos
ligamento pterigomandibular dentes; retrai o ângulo da boca

Abaixador do ângulo da boca Base da mandíbula (da Ângulo da boca Abaixa o ângulo da boca
região molar ao tubér-    
culo mentoniano)

Abaixador do lábio inferior Base da mandíbula, acima Lábio inferior Abaixa o lábio inferior
da origem do abaixador    
do ângulo da boca

Mentoniano Fossa mentoniana acima Pele do mento Enruga a pele do mento;


do tubérculo mentoniano everte o lábio inferior

Platisma Base da mandíbula Pele do pescoço Enruga a pele do pescoço

1.2.6 DEGLUTIÇÃO

Durante a mastigação, as secreções das glândulas salivares umedecem, dis-


solvem, digerem parcialmente (com enzimas que iniciam a quebra química de
alimentos contendo amido) e unem as partículas do alimento, formando massa
única. A quantidade de secreção varia de acordo com o tipo de alimento; será
maior se o alimento for seco. Pode-se estimar a produção em cerca de um litro ou
pouco mais por dia (MARIEB & HOEHN, 2009).
50 Sistema digestório: integração básico-clínica

A saliva contém substâncias que inibem atividade bacteriana e que reduzem


o tempo de coagulação sanguínea. Seu pH é ligeiramente ácido; quando a acidez
diminui muito pode haver depósito de carbonato de cálcio e fosfato de cálcio
sobre os dentes, formando cálculos também conhecidos por tártaro (SCOTT &
SYMONS, 1964).
Completada a mastigação, as partículas do alimento, misturadas à saliva, são
juntadas sobre o dorso da língua como um corpo único, o bolo alimentar. Neste
ponto ele está pronto para ser deglutido a um só tempo. Isto se dá quando a lín-
gua o pressiona contra o palato e força seu deslocamento para trás.
Para chegar ao esôfago, o bolo tem de atravessar o istmo das fauces, ganhar
a faringe e atravessar o local da passagem de ar do nariz à laringe, que é tempo-
rariamente fechada no momento em que o bolo alimentar se desloca rapidamente
(menos de um segundo) em direção ao esôfago. Portanto, durante a deglutição, os
movimentos respiratórios são suspensos.
O fechamento da laringe dá-se pela elevação da laringe, ao mesmo tempo
em que a cartilagem epiglote é movimentada para trás pela ação da língua e dos
músculos aritenóideo oblíquo, ariepiglótico e tireoepiglótico para selar o ádito
da laringe. Previne assim a entrada de sólidos e líquidos nas vias respiratórias. O
bolo desliza sobre a face posterior da epiglote e o líquido de cada lado da epiglote
em direção ao recesso piriforme entre a faringe e o lado da laringe.
Uma série de músculos entra em ação durante a deglutição. Os músculos
intrínsecos da língua equilibram o bolo alimentar no dorso da língua. Os mús-
culos elevadores da mandíbula se contraem para colocar os dentes em oclusão.
Estes são músculos fixadores que manterão a mandíbula imóvel, enquanto outros
músculos trabalham para impelir o bolo alimentar para trás. Fixadores porque
formam uma base fixa, a partir da qual os demais músculos agem (tente engolir
com a boca aberta para ver como é difícil e descômodo). Ainda neste momento
preparatório que antecede a deglutição, os lábios se fecham, a poder do músculo
orbicular da boca, e o ápice da língua fica em contato com o palato duro, logo
atrás dos incisivos.
Ocorre então que a língua precisa ser erguida fortemente contra o palato duro
e mole. Os músculos linguais que participam dessa elevação são o estiloglosso, o
palatoglosso e os intrínsecos. Mas, também concorre para isso o músculo milo-hiói-
deo, que eleva todo o soalho da boca e com ele a língua, ajudado pelo digástrico
e pelo estilo-hióideo. Nesta posição, a língua impulsiona o bolo alimentar, com
pressão de frente para trás iniciada no ápice e progredindo pelo corpo, até o bolo
se deslocar para a faringe. Toda essa movimentação é feita de maneira voluntária.
Os músculos palatinos também agem para selar a parte nasal da faringe. Isto
é feito pelo elevador e pelo tensor do véu palatino que, ao levantar e distender o
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 51

palato mole, formam um diafragma bem fechado entre as partes nasal e oral da
faringe, ajudados pela contração das fibras mais superiores do constritor superior
da faringe. Desta maneira, o bolo alimentar fica impedido de adentrar a parte
nasal da faringe (MOORE, 1994; JOHNSON & MOORE, 1999).
“Se uma pessoa ri durante este estágio, os músculos do palato mole relaxam
e podem permitir a entrada de algum alimento na porção nasal da faringe. Nes-
ses casos, o alimento é expelido através do nariz, especialmente se for líquido”
(MOORE, 1994).
A faringe é levantada, junto com a laringe, pelos músculos estilofaríngeo e
palatofaríngeo de encontro à epiglote que, como já visto, se movimentam para
fechar a passagem de ar à laringe e evitar a invasão de fragmentos de comida.
Assim que o bolo alimentar chega à parte oral da faringe, pressiona certas
áreas mucosas, cuja inervação é estimulada para deflagrar reflexos. Iniciado o re-
flexo, os músculos constritores da faringe contraem-se uniforme e sucessivamente,
de cima para baixo, impelindo o bolo ao esôfago.

1.2.7 SUCÇÃO

Ao sugar, o lactente usa músculos da mastigação para movimentar a man-


díbula, os peribucais (da expressão facial), principalmente o orbicular da boca,
o bucinador e o mentoniano, e também aqueles utilizados na deglutição. Asso-
ciados a movimentos da língua, esses músculos em ação promovem uma pressão
negativa na cavidade da boca, o que facilita a transferência do leite do mamilo
ou da chupeta da mamadeira para a boca, a qual percorre rapidamente para ser
deglutido por meio do mecanismo já conhecido.
As gengivas de maxilar e mandíbula pressionam o mamilo ao mesmo tempo
em que a língua toma uma forma acanalada (um sulco ao longo dela) e fica sob ele,
distendendo-o e apertando-o contra o palato, cujos músculos também se contraem
e vedam o istmo das fauces. Estas ações musculares todas criam o vácuo próprio da
sucção. O leite escorre e a boca cheia é logo esvaziada com a deglutição. Enquanto
isto o mamilo é liberado, retoma sua forma normal, até o início de novo ciclo.
A sucção poderia introverter a bochecha, trazendo-a para entre as gengivas. Isto
não acontece porque o músculo bucinador se contrai e impede a introversão, assis-
tido pela bem desenvolvida massa (nas criancinhas) do corpo adiposo da bochecha.
Na sucção do leite materno, a respiração é dificultada e completamente sus-
pensa durante a deglutição. Na sucção de líquido por meio de um canudinho,
pode-se respirar pelo nariz porque a passagem da boca para a faringe fica fechada
(BOILEAU GRANT & BASMAJIAN, 1965).
52 Sistema digestório: integração básico-clínica

A regurgitação e a eructação, que frequentemente acompanham o ato de


amamentar, decorrem da ingestão de ar quando a sucção é muito rápida o quando
o contato (selamento) entre os lábios e a mama é quebrado.
“A fenda palatina dificulta a sucção porque o ar recolhido através da fenda impe-
de a formação de vácuo dentro da boca” (BOILEAU GRANT & BASMAJIAN, 1965).

1.2.8 FALA

Os sons são produzidos pela laringe (fonação) durante a expiração, mas mo-
dificam-se quando o ar passa pela boca e/ou pelo nariz. Durante a fala normal,
o ar escapa livremente pela cavidade da boca na produção das vogais. Mesmo
assim, o grau de abertura da boca determina maior ou menor ressonância da voz,
com variação do timbre. Este pode ser mais aberto ou mais fechado nas vogais,
definindo a entonação própria de cada uma delas.
Boca aberta totalmente, no entanto, inclui a elevação do palato mole; se
estiver abaixado, parte do ar é desviada pela cavidade nasal, provocando, como
efeito acústico, o tom anasalado da voz.
Ligeira e rápida obstrução do ar pelo palato mole ocorre na emissão de
consoantes. Contudo, maior obstrução é dada pela língua, dentes e lábios, verda-
deiros responsáveis pela produção das letras consoantes, com exceção do fonema
H. O impedimento temporário é breve, mas suficiente para a formulação das con-
soantes chamadas labiais ou bilabiais (M, P, B), labiodentais (F, V), linguodentais
(D, T), linguopalatinas (Z, Q, G).
Assim, o som é emitido quando o ar expelido passa pela laringe em fluxos
oscilantes (e não uniforme como na respiração normal) determinados pela adução/
abdução das pregas vocais em frequências variáveis e em maior ou menor volume,
pressão e rapidez, que regulam a sonoridade. Depois, o som é articulado por bar-
reiras naturais que se abrem ou se fecham acionadas pelos músculos do palato, da
língua, da boca e, obviamente, os músculos da mastigação. A estes músculos devem
ser adicionados os do tórax e da laringe, onde a fonação se inicia.

1.3 INERVAÇÃO DA BOCA

A boca é inervada fundamentalmente por quatro pares de nervos cranianos,


os nervos trigêmeo (V par), facial (VII par), glossofaríngeo (IX par) e hipoglosso
(XII par), e em menor medida pelo nervo vago (X par). O conjunto fornece iner-
vação motora para toda a musculatura da região mandibular, bucal, peribucal,
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 53

da língua, palato e da faringe, assim como inervação sensitiva e autonômica, esta


última destinada basicamente à inervação glandular.

1.3.1 NERVO TRIGÊMEO (V)

Desses quatro pares, o n. trigêmeo[1] é o que tem maior participação. É um


nervo misto, de componentes motores e sensitivos. Surge do encéfalo (origem
aparente) pela região anterolateral da ponte. Neste local podem ser observados
dois troncos. O tronco mais calibroso representa a raiz sensitiva, que traz toda
a informação somestésica da face. O mais fino contém fibras motoras. Os dois
troncos alcançam a porção petrosa do temporal, na qual se encontra uma peque-
na depressão, a impressão trigeminal, sobre a qual se localiza o gânglio trigemi-
nal. O gânglio contém os corpos celulares dos neurônios sensitivos primários. Os
axônios distais desses neurônios formam as três divisões do n. trigêmeo, que tra-
zem informação sensorial da face, mucosa bucal, gengiva, dentes etc. Os axônios
proximais penetram o tronco encefálico e fazem sinapse em núcleos trigeminais
sensitivos. O componente motor origina-se de motoneurônios localizados dentro
do tronco encefálico. Estes formam um núcleo denominado núcleo motor do n.
trigêmeo. Deles partem axônios que formarão a raiz motora e, posteriormente,
nervos motores para os músculos da mastigação, entre outros.
A partir do gânglio trigeminal, os prolongamentos periféricos se agrupam for-
mando três grandes nervos: o oftálmico (ou V1), responsável por trazer ao encéfalo
informação somestésica do terço superior da face; o maxilar (ou V2) com a mesma
função que o V1, mas responsável pela sensibilidade do terço médio da face, e fi-
nalmente o n. mandibular (ou V3) que, além levar ao encéfalo informação sensorial
do terço inferior da face, fornece fibras motoras para os músculos da mastigação.
Assim, a boca é inervada pela segunda e terceira divisão do V par craniano[2].

1.3.2 NERVO FACIAL (VII)

O VII par craniano fornece à boca inervação motora, sensorial e autonômica.


Na sua origem aparente no sulco bulbopontino podem ser observadas duas raízes
nervosas (n. facial e n. intermédio) que penetram a parte petrosa do temporal
através do meato acústico interno, onde se fundem em tronco único (motivo deste
nervo também ser denominado facial-intermédio). Dentro do osso temporal, esse
tronco se situa no canal facial até sua terminação no forame estilomastóideo.
Nesse percurso, ele muda abruptamente de direção, formando o joelho do nervo
facial, local onde se expande para formar o gânglio geniculado. Nesse gânglio
estão os corpos neuronais da raiz sensitiva, ou seja, do n. intermédio, nervo que
54 Sistema digestório: integração básico-clínica

também contém as fibras parassimpáticas que se relacionam com os gânglios pte-


rigopalatino e submandibular.
As fibras motoras do VII par abandonam a porção petrosa do temporal pelo
forame estilomastóideo. Suas primeiras ramificações motoras se dirigem para o
ventre posterior do m. digástrico e para o m. estilo-hióideo. Ao alcançar a glândula
parótida, divide-se em vários ramos os quais se comunicam para formar o plexo
intraparotídeo. Os ramos terminais são conhecidos como temporais, zigomáticos,
bucais, marginal da mandíbula e cervical e destinam-se aos músculos da expressão
facial situados nas regiões indicadas pelos próprios nomes dos ramos nervosos.
O componente sensorial do n. facial é responsável pela sensibilidade gusta-
tiva dos dois terços anteriores da língua, onde suas fibras terminam em conexão
com as papilas ali existentes (lembrar que a sensibilidade somestésica está rela-
cionada com o n. lingual, ramo do V par), e um pequeno contingente que capta
informação somestésica da orelha externa. A partir das papilas linguais, delica-
dos filetes nervosos unem-se formando o n. corda do tímpano. Este se associa
ao n. lingual, ramo do n. mandibular (do V par), compartilhando um só tronco
nervoso que só se separa na fossa infratemporal. Aí ele se desprende do n. lingual
e atravessa a fissura petrotimpânica para penetrar o osso temporal. Dentro desse
osso as fibras gustativas percorrem o canal facial, atravessam o meato acústico
interno e penetram o tronco encefálico, fazendo sinapse no núcleo do trato solitá-
rio, onde a informação gustativa começa a ser processada. 
O n. corda do tímpano contém fibras parassimpáticas também, que se ori-
ginam no núcleo salivatório superior no tronco do encéfalo. Próximo ao gânglio
submandibular localizado no soalho da cavidade bucal, essas fibras pré-ganglio-
nares se separam do tronco principal e fazem sinapse dentro do gânglio com os
neurônios pós-ganglionares, cujos axônios inervam as glândulas salivares sublin-
gual e submandibular, linguais e lingual anterior.
Outra parte do componente parassimpático do VII par origina-se também
do núcleo salivatório superior. Fibras pré-ganglionares juntam-se ao n. intermédio
formando posteriormente o n. petroso maior. Junto com o n. petroso profundo
–que possui fibras simpáticas- formam o n. do canal pterigóideo, o qual alcança
a fossa pterigopalatina. Dentro dessa fossa, as fibras pré-ganglionares parassim-
páticas fazem sinapse com os neurônios pós-ganglionares localizados no gânglio
pterigopalatino. Fibras desses neurônios inervam a glândula lacrimal, glândulas
salivares palatinas e glândulas mucosas da cavidade nasal, associando-se geral-
mente a fibras trigeminais destinadas a essas regiões.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 55

1.3.3 NERVO GLOSSOFARÍNGEO (IX)

Semelhante ao VII par craniano, o n. glossofaríngeo apresenta componentes


motores, sensoriais e autonômicos. Tem origem aparente no bulbo e emerge do
crânio após atravessar o forame jugular, junto com os nervos vago e acessório.
Nesse nível, ele se expande em dois gânglios (superior e inferior), onde se loca-
lizam os corpos celulares de suas fibras aferentes (gustativas e somestésicas). As
fibras motoras inervam o m. estilofaríngeo, e junto com fibras do n. vago os mús-
culos constritores da faringe e o m. palatofaríngeo. O componente sensorial capta
informação somestésica da tonsila palatina, mucosa faríngea e terço posterior da
língua, e também informação gustativa dessa região posterior da língua e adja-
cências. Já o componente parassimpático origina-se no núcleo salivatório inferior
no tronco encefálico. Fibras pré-ganglionares percorrem o n. timpânico e depois
formam o n. petroso menor, alcançando o gânglio ótico. Aí ocorre a sinapse com
os neurônios parassimpáticos pós-ganglionares, cujas fibras incorporam-se ao n.
auriculotemporal (do V par) para assim inervar a glândula parótida.

1.3.4 NERVO HIPOGLOSSO (XII)

É o nervo motor da musculatura da língua. Origina-se no núcleo motor do


n. hipoglosso, no bulbo, e dele originam-se os axônios que formam o nervo. Após
atravessar o canal do hipoglosso, atinge o pescoço e posteriormente a língua, dan-
do ramos para os músculos extrínsecos e intrínsecos.
56 Sistema digestório: integração básico-clínica

NERVO FUNÇÃO PRINCIPAL (EM RELAÇÃO


À INERVAÇÃO DA BOCA)

N. trigêmeo (V) Componente sensitivo - Sensibilidade geral de pele e mucosa.

Componente motor - Motricidade para mm da mastigação

N. facial-intermédio (VII) Componente sensitivo - Sensibilidade gustativa dos dois terços anteriores da língua

Componente motor - Motricidade para os mm da expressão facial

Componente autonômico - Inervação parassimpática das glândulas submandibular, sublingual, e outras


pequenas glândulas salivares (via gânglios submandibular e pterigopalatino)

N. glossofaríngeo (IX) Componente sensitivo - Somestésica: tonsila palatina, mucosa faríngea, base da língua

- Gustativa: terço posterior da língua e áreas vizinhas

Componente motor - m estilofaríngeo


- mm constritores da faringe (+ n. vago)
- m palatofaríngeo (+ n. vago)

Componente autonômico - Inervação parassimpática da gl.parótida (via gânglio ótico)

N. Vago (X)* Componente sensitivo - Orelha externa e meato acústico


- Mucosa da parte inferior da faringe
- Mucosa da laringe

Componente motor - Musculatura faríngea (plexo faríngeo junto com o IX par)


- Musculatura do palato mole (m. levantador do véu palatino e m. da úvula)

Componente autonômico - Sem inervação na face (vísceras torácicas e abdominais)

N. hipoglosso (XII) Componente motor - Músculos extrínsecos e intrínsecos da língua

*Em razão de sua pequena participação na inervação da boca, a descrição do n. vago foi omitida deste texto.

1.3.5 OS NÚCLEOS TRIGEMINAIS E A SENSIBILIDADE SOMÁTICA

O aparelho mastigador representa uma unidade na qual estruturas periféri-


cas estão intrinsecamente associadas com estruturas centrais. O controle neural
desse aparelho é exercido pelo sistema nervoso central (SNC), o qual é capaz de
receber todas as informações que vêm da periferia (captadas pelos receptores es-
pecíficos), processar essas informações e enviar uma resposta adequada por meio
de contração muscular ou secreção glandular.
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 57

Receptores localizados na pele e nas mucosas da cabeça são capazes de captar


distintos tipos de estímulos (dor, tato discriminativo, pressão, temperatura etc.)
e enviar essa informação ao SNC. Como vimos, nessa tarefa participam quatro
pares de nervos cranianos: trigêmeo, facial, glossofaríngeo e vago. Os três últimos
levam informação, fundamentalmente, de estruturas profundas como faringe, la-
ringe, cavidade nasal, seios paranasais e orelha média. Em relação às estruturas
externas, a participação desses três pares de nervos é muito modesta, limitando-se
a inervar parte do pavilhão da orelha e do meato acústico externo. O restante da
face e a cavidade bucal são inervados pelo n. trigêmeo.
O complexo nuclear trigeminal localiza-se no tronco encefálico. Estende-se
desde a região rostral do mesencéfalo e alcança, em direção caudal, os primeiros
segmentos da medula espinal. Desde o ponto de vista morfofuncional, pode ser
dividido em quatro núcleos: mesencefálico, sensitivo principal, espinal e motor.
Por sua vez, o núcleo espinal divide-se em sentido rostrocaudal em um subnúcleo
oral, interpolar e caudal.
Estudos experimentais indicam que, dependendo do tipo de estímulo, dis-
tintos núcleos trigeminais são preferencialmente ativados. Assim, os estímulos
dolorosos e térmicos provenientes da face e mucosa bucal parecem ser fundamen-
talmente processados pelo subnúcleo caudal do núcleo espinal; já os estímulos
dolorosos provenientes da polpa dental parecem ser processados fundamental-
mente pelos subnúcleos interpolar e caudal do núcleo espinal; estímulos de tato
discriminativo (epicrítico) provenientes também da face e mucosa bucal acredi-
ta-se que sejam processados fundamentalmente pelo núcleo sensitivo principal e
subnúcleos oral e interpolar do núcleo espinal. Os estímulos relacionados ao tato
pouco discriminativo (protopático) parecem alcançar os diversos núcleos trige-
minais. Finalmente, o núcleo mesencefálico processa estímulos proprioceptivos
provenientes dos músculos da face.
A informação recebida e codificada pelos neurônios dos núcleos trigeminais é
transmitida através de seus axônios a neurônios dos núcleos talâmicos específicos.
A maior parte desses axônios de neurônios trigeminais cruza em direção contrala-
teral e ascende pelo lemnisco trigeminal ventral com as fibras do lemnisco medial,
que trazem informação sensitiva do resto do corpo, contatando sinapticamente
com neurônios localizados no núcleo ventral posteromedial do tálamo. Alguns
axônios, entretanto, ascendem ipsilateralmente, de forma que cada hemitálamo
recebe e envia ao córtex cerebral informação sensorial proveniente de ambos os
lados da face e da cavidade bucal.
Esses neurônios talâmicos (neurônio III na sequência hierárquica de processa-
mento da informação sensorial; é preciso lembrar que o neurônio I estava localizado
no gânglio trigeminal e o neurônio II nos núcleos trigeminais), por sua vez, fazem si-
58 Sistema digestório: integração básico-clínica

napse com neurônios localizados no córtex somestésico localizado no giro pós-central


e na profundidade do sulco central. Os axônios dos neurônios talâmicos alcançam o
córtex cerebral por meio da cápsula interna, um importante feixe de fibras onde se
localiza a maior parte dos axônios que alcançam ou se originam no córtex cerebral.
Como tem sido demonstrado por uma série de estudos clínicos e experimen-
tais, na área somestésica primária (SI) existe uma representação topográfica preci-
sa, porém distorcida. A representação cortical destinada à face é desproporcional-
mente grande, o que confirma a regra geral indicativa de importância funcional e
não o tamanho de determinada região do corpo que determina sua representação
no córtex cerebral.
Os neurônios corticais da região SI parecem processar, segundo estudos re-
centes, aspectos relacionados a textura, forma, consistência, localização periférica,
direção de inclinação, início, terminação, amplitude, velocidade, duração e frequên-
cia de repetição e padrão temporal dos estímulos somestésicos, entretanto, para
que se tome consciência do estímulo sensorial específico a informação recebida e
processada em SI deve alcançar outras áreas corticais vizinhas (córtex associativo).
Nessas áreas, o estímulo somestésico integra-se a estímulos relacionados com ou-
tras modalidades sensoriais que também levam, por vias independentes, informação
relativa à informação sensorial específica. Esse conjunto de informações sensoriais,
que “constroem” nossa imagem subjetiva, é enriquecido e valorizado pela compa-
ração com situações precedentes que foram “armazenadas” na memória. Essa com-
paração pode permitir associar o estímulo a uma sensação de satisfação ou prazer.
Assim, podemos agora valorizar e catalogar o estímulo inicial, atribuir-lhe um valor
emocional preciso e responder de modo mais adequado.

1.3.6 DINÂMICA BUCOFARÍNGEA

Embora desde um ponto de vista didático seja apropriado dividir a inervação


da boca a partir daquela fornecida pelos cinco pares de nervos citados, é evidente
que o correto funcionamento do sistema estomatognático depende do funciona-
mento harmônico e cooperativo entre eles. A integração, muitas vezes reflexa,
entre estímulos sensitivos e respostas motoras, incluindo as glandulares, ocorre
em diversos níveis dentro do SNC.
Ao mastigar, por exemplo, os movimentos se iniciam com o abaixamento
da mandíbula pela ação dos músculos pterigóideo lateral, milo-hióideo e ventre
anterior do m. digástrico, controlados pelo V par, mas também deve ocorrer a
separação dos lábios, resultado do relaxamento do m. orbicular da boca, con-
trolado pelo VII par, e relaxamento dos músculos elevadores da mandíbula (V
par). A posterior elevação da mandíbula que leva à oclusão ocorre pela ação de
Reinaldo Barreto Oriá & Gerly Anne de Castro Brito 59

músculos elevadores, como masseter, temporal e pterigóideo medial (V par). O


bolo alimentar é mantido na área mastigatória pela ação da língua (XII par) e do
m. bucinador (VII par). A localização precisa do bolo alimentar dentro da boca é
captada pelos receptores somestésicos que recobrem a mucosa da língua, palato
etc., todos relacionados com o V e IX pares. Esta ação mastigatória é repetida
enquanto o bolo alimentar apresentar uma consistência imprópria para a deglu-
tição. Essa consistência é captada pelos receptores localizados nos músculos, liga-
mento periodontal e ATM, todos também conectados ao V par craniano. Quando
esta é adequada, o bolo é propelido em direção posterior e inicia-se a deglutição.
Quando alcança o terço posterior da língua, receptores somestésicos dessa
região (IX par) desencadeiam uma série de movimentos reflexos nos músculos
da língua (XII par), véu palatino e constritores da faringe (V, IX e X pares) que
dificilmente podem ser inibidos, levando o bolo em direção ao esôfago. Ao mesmo
tempo, a mandíbula é mantida em oclusão pela contração dos músculos elevado-
res (V par), permitindo assim que os músculos supra-hióideos (V, VII, IX) elevem
o complexo osso hioide-laringe. A parte nasal da faringe é fechada pelos músculos
do véu palatino (V, IX e X pares) e o óstio da tuba auditiva abre (X par). A abertu-
ra laríngea diminui como resultado da elevação do complexo osso hioide-laringe,
e o esfíncter esofágico superior se abre (X par). Constantemente, informações so-
mestésicas sobre a passagem do alimento são captadas pelos receptores relaciona-
dos com o V e IX pares e enviadas ao SNC de modo a coordenar a ação muscular.
Enquanto isso ocorre, receptores gustativos (VII e IX pares) informam ao
SNC os aspectos relacionados ao sabor do alimento, o que interfere de forma
consciente no ato de continuar ou não o processo mastigação/ingestão, e de forma
inconsciente pela produção de saliva mediante as glândulas sublingual, subman-
dibular (VII par), parótida (IX par) e glândulas salivares menores.
Assim, embora automático, o processo é muito complexo. Programas moto-
res geridos e monitorados por áreas específicas do SNC permitem que a dinâmica
mastigatória que envolve grupos musculares diversos controlados por distintos
pares cranianos ocorra de modo reflexo. Essa complexidade passa a ser percebi-
da, por exemplo, quando acidentes vasculares ou outras lesões do SNC alteram o
funcionamento desses centros e exigem um demorado processo de reaprendizado.
Claro que essa dinâmica neuromuscular não controla apenas as ações mastiga-
tórias e da deglutição. Outras ações, como fala e sucção, dependem de dinâmi-
cas e programas motores semelhantes que também são controlados por centros
localizados no SNC e envolvem o funcionamento desses cinco pares de nervos
cranianos.
60 Sistema digestório: integração básico-clínica

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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