Monografia o American Way of Life
Monografia o American Way of Life
Monografia o American Way of Life
PIRACICABA
JUN./2017
1
UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA
FACULDADE DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PIRACICABA
Dez./2017
2
BANCA EXAMINADORA
______________________________________
Profª. Drª. Sueli Mançanares Leme (Orientadora)
______________________________
Prof.
________________________________
Prof.
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus irmãos Wesley e Leia e meu padrinho Edmar por
também compartilharem desse orgulho e amor e principalmente por fazerem
parte ativa e constante da minha vida. Agradeço a meu sobrinho Felipe aos dias
que me distraiu e alegrou quando necessitei, além de sempre seguir meus
passos, buscando se tornar uma ótima pessoa, aluno e profissional.
Por fim, mas não menos importante, com uma intensidade gigantesca de
importância em minha vida, agradeço meu futuro marido Vinícius. Agradeço-o
por muitos motivos: pela paciência, pelo apoio emocional e financeiro, pelo
imenso amor, pelo carinho, por me ajudar a passar por momentos difíceis e por
momentos de intensa ansiedade. Agradeço-o também por ser a minha força
quando não restava mais nenhuma em mim, por ser minha esperança quando
dentro de mim não existia nem um pouco e pelos vários conselhos (que em
algumas vezes não escutados, mas deveriam ter sido).
4
DEDICATÓRIA
5
RESUMO
6
ABSTRACT
This work seeks to show the spread of US influence not only internally, but
also internationally, with a focus on Brazil. In addition, to identify the tools used
to propagate the North American ideals and to point out the consequences of this
propagation to the brazilian population. The identification of what was pointed out
above was made in the face of a historical analysis of North American society
and government, as well as external policies that brought the ideals and American
culture closer to Brazil. It was then verified that in the face of exposure to
American culture and ideals, Brazil was strongly but blindly affected. Thus
presenting the term "cultural invasion". Finally concluding that in view of the
exposure and integration of brazilians to a culture external to theirs, there is a
need to break with these ideals in order to expose a possible extinction of
brazilian culture that could occur if the population blindly follow ideals and
unnatural cultures to the country.
7
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...............................................................................................p.9
2 O AMERICAN WAY OF LIFE.....................................................................p.12
6 CONCLUSÃO..............................................................................................p.45
REFERÊNCIAS..............................................................................................p.47
8
1 INTRODUÇÃO
Os Estados Unidos se consideram “o centro do mundo”, porém, esse
termo não está nem um pouco ligado a questão geográfica, mas sim a questão
de poder econômico, militar, tecnológico, entre outros. Suas forças armadas
possuem o monopólio da bomba atômica e propagam bases militares por todo o
globo. O Estado dita a sua política e propaga a sua hegemonia ao resto do globo.
Também detêm a supremacia econômica, que foi alcançada por vários meios e
táticas, por exemplo, com a exportação de capitais, produtos industriais,
empresas, agrícolas e o mais importante tecnologia.
9
Entende-se que no sistema internacional os Estados são movidos pelos
seus interesses, agindo de maneira a manter sua sobrevivência e garantir sua
ascensão. Seus interesses estão ligados imensamente à detenção de poder no
sistema, usando de vários meios para obtê-lo.
11
2 O AMERICAN WAY OF LIFE
Como dito acima, existem pessoas que já deixaram seus países para
arriscar ter uma vida melhor na “américa”, mas esse sonho além de incluir o
mundo todo, também inclui quem está dentro dos EUA, os próprios americanos.
Mas, apesar das enormes incertezas que esse sonho traz, esse sonho é
o que guia a esperança do decorrer de nossas vidas. A esperança de
principalmente, obter êxito financeiro. Porém, essa ideia do estilo de vida
americana não foi criada, por nós, simples indivíduos com o sonho de uma vida
melhor. Esse ideal tem seu fundo histórico, e para compreendê-lo é necessário
12
voltar à época das grandes guerras e permear pela extensa expansão
econômica norte-americana e entender sua hegemonia.
13
crescimento. O desemprego, que havia marcado o período anterior
como herança da crise de 1893, estava em declínio. Havia um
otimismo e um dinamismo que todos os americanos pareciam
compartilhar. A rápida e dinâmica expansão da economia americana
deu-se em grande parte graças à mecanização da agricultura e da
indústria.
[...] Até o começo de 1917, os bancos americanos já haviam
emprestado mais de 2 bilhões de dólares para a França e para a
Inglaterra. A Alemanha também havia recebido empréstimos
americanos, embora em montantes bem menores. Mais por interesses
econômicos do que ideológicos, os EUA se aproximavam da causa dos
aliados. [...] o governo americano rompeu relações com a Alemanha.
[...]. No dia 2 de abril de 1917, Wilson, autorizado pelo Congresso,
declarou guerra à Alemanha. [...] Mesmo sem preparações, cerca de
dois milhões de americanos participaram da guerra na Europa. [...] O
esforço de guerra mobilizou o país. O poder da presidência tornou-se
autônomo e forte o suficiente para organizar diversas comissões e
agencias que mantinham o pais funcionando para a guerra.
14
extremo de produtividade, resultando em safras recorde. Com a estimulação da
expansão dos crediários provenientes da expansão do capitalismo, essas
indústrias produziam bens de consumo em um ritmo surpreendente. Esses bens
de consumo representavam para os americanos um verdadeiro sonho de
consumo (desejo desenfreado de consumo que acompanha os norte-
americanos até os dias de hoje), que através do crediário, deixaram de ser
apenas um sonho, fazendo com que os americanos comprassem esses bens,
mesmo sem ter certeza de que conseguiriam quitar essas dívidas.
15
“Esse “slogan” é uma citação atribuída a cada um de quatro presidentes
que servem entre 1920 e 1936, e está associado mais frequentemente com
Herbert Hoover. Na verdade, a frase tem suas origens na França do século XVII.
Henry IV (MAYER, 1967) supostamente desejava que cada um de seus
camponeses desfrutasse de "um frango em sua panela todos os domingos".
Embora Hoover nunca tenha pronunciado a frase, o Partido Republicano a usou
em uma propaganda de campanha de 1928, anunciando um período de
"prosperidade republicana" que proporcionara “um frango em cada panela e um
carro em cada quintal" (tradução nossa).
16
enfraquece a partir de 1929. O auge da produção automotiva fora atingido no
mês de março, pode-se então concentrar-se nos bens de consumo duráveis, dos
quais o automóvel é o símbolo. O crédito ao consumo foi uma das invenções que
favoreceu esses resultados de maior consumo. Gazier afirma que em 1927, 15%
das vendas aos consumidores se fazem a crédito – 85% dos móveis, 80% dos
fonógrafos, 75% das máquinas de lavar... são comprados a crédito. São esses
os produtos em primeiro plano na crise: em 1930, a queda do consumo pessoal
é de 6%, sendo de 20% para os bens duráveis com pagamento adiado; ela
atingirá os 50% entre 1929 e 1933. O crescimento dos estoques ao longo de
todo o ano de 1929 permite ver aqui um componente importante da queda da
demanda.
17
Apesar da enorme crise que afetou mundialmente a economia capitalista,
os EUA, buscavam diversos artifícios de recuperação dos efeitos dessa crise.
18
Federal Emergency Relief Administration (FERA), com o objetivo de
proporcionar emprego e renda a milhões de americanos afetados pela
Depressão.
19
3 O USO DA MÍDIA NA PROPAGAÇÃO DOS IDEAIS NORTE AMERICANOS
“O New Deal foi o instrumento político utilizado pelo presidente democrata
para salvar o american way of life. ” (TOTA, 2009, p.154). Com a crise de 29 e o
medo da depressão, se ampliou entre os americanos a incerteza, se perderam
os ideais americanos e a esperança que antes era tão presente entre eles. A
ideologia do crescimento econômico para aqueles que se esforçassem foi
trocada pelo medo do desemprego, da fome e, principalmente, medo do que
estaria por vir no futuro.
20
Pode-se perceber que, os EUA, dado o alcance da mídia, esta era
utilizada para alcançar muitos de seus objetivos.
21
povo triunfaria sobre a hipocrisia, o egoísmo e a corrupção dos políticos e
magnatas, temas propícios para o período. As mulheres eram retratadas como
profissionais ascendentes ou garotas ricas que descobriam a importância da
democracia. Os homens, normalmente vindos de pequenas cidades, passavam
por provações que ressaltavam os padrões éticos e morais do verdadeiro homem
norte-americano. Valores ideológicos permeavam variadas produções.
22
também retrata em suas obras de 1936 e 1932, “Mr. Deeds goes to Town”
traduzido para O galante Mr. Deeds, e “American Madness”, traduzido para
Loucura Americana, nos quais “Capra demonstra como podem existir banqueiros
bondosos [...], prevendo as relações entre Roosevelt e alguns grandes homens
de negócios. ” (TOTA,2009, p.160). Ou seja, além de Capra defender as políticas
governamentais, também defendia o homem simples e honesto. Para o diretor,
“Os heróis [...] nunca conseguiram vencer os inimigos sem aliados e esses
aliados eram a gente honesta e inocente ou pessoas persuadidas a passar para
[...] o lado do bem. ” (TOTA, 2009, p.160)
Walt Disney foi tão importante quanto Capra, ou até mais. A diferença era
que Walt Disney, interpretava e apresentava o ideal americano por meio de
desenhos animados, que podem ter um alcance maior e moldar as ideias dos
indivíduos desde criança. Para representar o New Deal, tem-se como exemplo
sua obra de 1933, Os Três Porquinhos. Tota (2009, p.161), interpreta a obra da
seguinte maneira:
23
Outra obra significativa foi O Mágico de OZ, de 1939 escrito por Salman
Rushdie, que criam “elementos definitivos de exaltação da ordem, da
racionalidade e do método, constituintes do American way of life, aparecem com
especial destaque. ” (AZEVEDO JUNIOR; GONÇALVES, 2015, p.5)
24
sendo adotado pelas mais diferentes culturas. No Brasil, os meios de
comunicação tiveram papel fundamental na disseminação desse modo de vida,
apresentando suas características e seus procedimentos, de modo sedutor e
convincente. O cinema hollywoodiano tomou para si essa tarefa, de forma
enfática, no momento em que se consolidou como uma indústria produtora de
filmes no processo de linha de montagem. Os filmes hollywoodianos da década
de trinta, produto acabado da junção entre a ‘impressão de realidade’ e a ‘história
de sonho’, preconizados pela narrativa clássica – modelo narrativo criado por
Hollywood, fundamental para a transformação de seu cinema em um eficiente
veiculador de ideologia – possibilitaram a apresentação do modo norte-
americano de se viver a vida, sua maneira de encarar problemas, suas soluções
para eles, seu modo particular de alcançar a felicidade e o próprio conceito de
felicidade. As informações sobre esse modo norte-americano de estar no mundo
nos eram dadas tanto no roteiro dos filmes, nas falas dos personagens, em suas
atitudes, como também na própria organização da imagem exibida, nos
enquadramentos, na montagem. Os autores ainda dizem que a produção
cinematográfica norte-americana, consolidou-se na década de 1930, baseada
no oligopólio de grandes estúdios, nas celebridades hollywoodianas e na
autocensura. Para os autores, as celebridades, aproveitaram-se deste nicho de
publicações especializadas e com isso divulgavam o estilo de vida norte-
americana, que azeitava o funcionamento da indústria cinematográfica, tornando
a audiência atenta e cativa ao universo de Hollywood.
25
A partir da Segunda Guerra Mundial, os interesses do governo Americano
se inseriram mais ainda em Hollywood. Basicamente, eram mostrados os
esforços dos aliados com sua forte união contra e a infelicidade e não
concordância com as ações fascistas. Segundo Azevedo Junior e Gonçalves
(2015, p.7-8):
No período da Segunda Guerra Mundial, a interação entre governo e
Hollywood tornou-se mais explícita [...] com a luta pela democracia com
as nações aliadas contra as forças fascistas, representadas por
lideranças ditatoriais que escravizavam o povo; a importância do front
interno, retratando o funcionamento normal da sociedade mesmo em
tempos de guerra e; as forças de combate, mostrando o treinamento e
os batalhões multiétnicos das forças aliadas (PEREIRA, 2012 p.611).
O uso de estereótipos, fundamentais na linguagem audiovisual,
mostravam os fascistas caracterizados por lideranças autocráticas com
interesses imperialistas, fomentando guerras e disseminando o ódio
racial e religioso. São exemplos, filmes como: The Great Dictator
(Charles Chaplin, 1940); Der Fuehrer's Face (Walt Disney, 1942);
Casablanca (Michael Curtiz, 1943); Guadalcanal Diary (Lewis Sailer,
1943); Behind the Rising Sun (Edward Dmytryk, 1943).
No somatório da produção cinematográfica americana é notório que a
construção da identidade de defensores da democracia e justiça,
reconhecedores do esforço premiado com o consumo, ganhou o
mundo principalmente após a Segunda Guerra Mundial e tornou-se o
padrão do capitalismo global.
Com a ascensão fascista e a luta dos aliados para que o resto do mundo
aceitasse a causa e fosse, também, contra o fascismo, o alcance da mídia,
consequentemente, deveria maior. Ou seja, a mídia americana e o ideal do
american way of life, a partir desse momento, seria propagado de maneira mais
extensa para os outros países do globo, e principalmente, para a “outra américa”,
a nossa américa.
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4 A POLÍTICA DE BOA VIZINHANÇA E A INVASÃO CULTURAL NORTE
AMERICANA NO BRASIL
Qualquer país cuja pessoas são bem dirigidas, pode contar com a
nossa sincera amizade. Se uma nação mostra que sabe como agir com
eficiência e decência racional em questões oficiais e políticas, se
mantem a ordem e satisfaz seus compromissos, não precisam temer a
intervenção dos Estados Unidos. O mau comportamento crónico ou
impotência pode trazer resultados na desvinculação geral dos laços da
sociedade civilizada ou pode finalmente forçar na América, ou outros
lugares, à intervenção de alguma nação civilizada, e no Hemisfério
Ocidental a adesão dos Estados Unidos à Doutrina Monroe pode forçar
os Estados Unidos a exercer, em casos flagrantes de tal conduta ou
impotência, a força policial internacional. (Tradução nossa)
27
comunicação dos Estados Unidos para “invadir” culturalmente os
países da América Latina. Foi nessa época a ida de Carmen Miranda
para Hollywood. E foi nessa época que Walt Disney criou em seus
desenhos animados alguns personagens em homenagem à América
Latina. O mais famoso, pelo menos para nós brasileiros, foi o
“nascimento” de Zé Carioca, que ainda hoje sobrevive em esparsas
publicações infantis.
Assim, os americanos estavam cumprindo os desígnios de transferir a
seus vizinhos os valores americanos. Os valores do americanismo
composto pela ideia de democracia, de progresso, de uma sociedade
mais justa. Em outras palavras, os americanos queriam persuadir, de
qualquer maneira, a América Latina a cerrar fileiras com a “grande
democracia” na luta contra a Alemanha”. (TOTA, 2015, p.164)
28
Carvalho (2013), identifica que a partir dessa introdução cultural norte
americana no Brasil, se pode perceber que se instaura no Brasil um debate entre
favoráveis e contrários à influência norte americana sobre o país. Azevedo Junior
e Gonçalves (2015) identificam fragmentos desses debates, tendo como
exemplo o escritor modernista Mario de Andrade, que escreveu na revista Klaxon
a propósito do filme brasileiro Do Rio a São Paulo para Casar, de José Medina:
[...] acender fósforos no sapato não é brasileiro. Apresentar-se um
rapaz à noiva, na primeira vez que a vê, em mangas de camisa, é
imitação de hábitos esportivos que não são nossos [...]. É preciso
compreender os norte-americanos e não macaqueá-los. Aproveitar
deles o que têm de bom sob o ponto de vista técnico e não sob o ponto
de vista dos costumes (RAMOS, 1987, p.105-6).
29
são construídas duas fotografias, a de um homem e a de uma mulher,
chamadas respectivamente de “O Homem Ideal” e de “A Mulher Ideal”,
formadas a partir de traços retirados de outras fotografias de astros e
estrelas de Hollywood. Em 21/05/1938, O Cruzeiro trazia um anúncio
Max Factor com foto da atriz Joan Bennett, estrelando o filme Vogas
de Nova York, então em cartaz no país, e com os seguintes dizeres:
“Quando assistir ao filme todo colorido “Vogas de Nova York” e admirar
a beleza natural, harmoniosa e suave de Joan Bennett, lembre-se de
que ela usa exclusivamente o make-up de Max Factor em Harmonia
de Côres”. Fazia-se, então, uma alusão direta não só à atriz, mas
também ao próprio filme de Hollywood.
Os hábitos alimentares do brasileiro também sofreram alterações
durante a década de trinta, com os novos produtos de origem norte-
americana introduzidos no mercado nacional e com o estímulo que o
cinema dava à aceitação dos costumes alimentares norte-americanos.
Cenas da família norte-americana reunida na mesa do breakfast como
em O Amor Encontra Andy Hardy (1938) consumindo suas panquecas
e ovos mexidos vinham ao encontro da comercialização no Brasil de
produtos como a Quaker Oats (a hoje tradicional Aveia Quaker) ou o
achocolatado Toddy. Na edição de 11/11/1933 de O Cruzeiro,
encontramos um artigo intitulado “Elles preferem estes pratos...” onde,
entre outros, Greta Garbo ensina como preparar uma omelete.
Alves (1998, p. 55,56) também identifica como Hollywood foi uma peça
importante para a inserção dos ideais americanos no Brasil, iniciando essa
identificação dando enfoque nos anos 1950 e 1960, que para ele foram, em
termos culturais, os “anos dourados” da invasão cultural norteamericana no
Brasil, iniciada antes da Segunda Guerra. A TV penetrou-se nos lares com
enlatados que propagavam sutil, mas intensamente, o american way of life, já
introduzido entre os brasileiros com os filmes sonoros feitos em Hollywood.
Conquistando o lugar de honra em suas salas de visita, foi lenta e gradualmente
nos convocando a engrossar as fileiras do grande exército mantenedor da
sociedade tecnológica e de consumo e defensor, muitas vezes
inconscientemente, do imperialismo yankee. Com seus noticiários de conteúdo
informativo selecionado por agências norte-americanas, com os super-heróis de
seus desenhos animados, filmes de cowboys, guerra e espionagem, os
brasileiros foram absorvendo algumas imagens preconcebidas, reducionistas,
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padronizantes (estereótipos) e mensagens de conteúdo notadamente ideológico.
O autor narra que, juntamente com o cinema, os quadrinhos e a música, a TV
encheu os indivíduos de ideias como, puros clichês, estereótipos, preconceitos,
mitos e mistificações:
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• Cidadãos e (raras vezes) algumas cidadãs eram dotados de
poderes mágicos, vindos de alguma força benéfica sobrenatural,
que os transformavam em trabalhadores incansáveis a serviço
do bem-estar das populações. Não tinham sequer tempo de
constituir sua própria família e dar vazão às suas necessidades
afetivas e sexuais mais básicas. (ALVES, 1998, p. 55,56)
32
gigantes que, a partir da empresa matriz, que age como centro
decisório no país de origem, atuam em vários países onde possuem
ramificações de seus negócios. As que no Brasil iniciaram suas
atividades tinham sede sobretudo nos USA, e foi sob a tutela do
capitalismo internacional, sobretudo yankee, que se desenvolveu
nosso próprio capitalismo industrial. Coincidindo esse momento com a
Segunda Guerra e a Guerra Fria, os USA usaram nossa dependência
econômica para garantir também o alinhamento político do Brasil,
primeiramente contra as potências do Eixo (Alemanha, Japão e Itália)
e depois contra a expansão do socialismo e do poder da então URSS.
Não foram, entretanto, só nossas indústrias de bens de consumo
materiais que surgiram ligadas ao capital norte-americano. Os setores
de comunicação de massa se constituíram, da mesma forma, ou por
investimentos diretos de multinacionais ou pela associação de
empresários yankees aos brasileiros, ou, ainda, quando originárias de
capital nacional, utilizando tecnologia e modelos de produção oriundos
dos USA. Além disso, a importação de filmes, músicas e quadrinhos
dos USA não parou de crescer desde os anos 1930, sobretudo nas
décadas de 1970, 1980 e 1990. Dessa maneira, sem que os norte-
americanos se apropriassem do nosso território, tivessem que vir
pessoalmente até o Brasil ou destruíssem fisicamente seus habitantes,
como no passado fizeram os portugueses, passamos a sofrer quase o
mesmo processo de invasão, dominação e colonialismo cultural
experimentado pelos índios após 1500. Tratava-se agora de uma
“invasão teleguiada”, sem a presença do invasor, que, mesmo lá da
América do Norte, fazia chegar até nós seus produtos culturais.
[...] de fato a ausência física do novo invasor e a imposição de sua
cultura através do consumo, e não da escravidão, nos dariam a ilusão
de estarmos preservando nossa liberdade e exercendo uma
autodeterminação. Além disso, a entrada no país desses novos
elementos culturais pareceria a muita bastante conveniente e até
natural, uma vez que nossos projetos “desenvolvimentistas” tinham
como meta levar o Brasil a atingir, o mais rápido possível, o estágio em
que se encontravam os USA. Tal como antes ocorrera com os nossos
índios, que para trabalhar e viver com os portugueses tiveram de
adotar os seus costumes, nós também, agora, como assalariados das
multinacionais norte-americanas ou importadores dos produtos de sua
ciência, arte e tecnologia, tivemos de aprender o inglês, manejar seus
artefatos e nos moldar aos seus padrões, a fim de produzir e consumir,
em primeiro lugar, o que lhes era mais favorável.
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capitalista há chances para todos, que dinheiro não traz felicidade (…
mas ajuda), garante que o socialismo morreu, assiste a reality shows,
embora não preste muita atenção aos dramas sociais vividos
intensamente por compatriotas brasileiros, bem mais próximos e mais
reais, ali mesmo em sua cidade. Ou, se presta, acha que isso não tem
nada a ver com ele. Enfim, estamos falando da disseminação de
elementos produzidos fora do Brasil, muitas vezes inadequados às
nossas reais condições e necessidades sociais, e que não está restrita
apenas a alguns segmentos sociais ou regionais da população, mas à
grande maioria de brasileiros, embora seja mais marcante no eixo
Rio—São Paulo, onde se concentram as transnacionais e grandes
empresas de comunicação. O brasileiro não tem consciência plena de
que essa imposição de hábitos, modas e valores se realiza por
processos artificiais, beneficiando o capitalismo e o imperialismo norte-
americanos e garantindo nosso alinhamento político aos USA. Trata-
se, enfim, de uma penetração cultural, fruto de um planejamento
cuidadosamente elaborado pelo governo dos USA (mas
essencialmente pacífica, porque não há utilização de força ou material
bélico), da qual nem sempre nos damos conta, mas que cerra nossos
olhos e ouvidos e nos anestesia a razão e os sentidos para outras
formas estrangeiras de arte, literatura, tecnologia, lazer etc. Trata-se,
principalmente, de uma invasão que fecha amplos espaços para a
criatividade e produção cultural mais ligada à nossa brasilidade. Em
outras palavras, é da hegemonia dos padrões e valores da cultura
norte-americana em alguns de nossos setores e da sua influência
extremamente marcante em outros. [...] A hegemonia que transforma
atitudes, valores, hábitos estrangeiros em algo tão habitual, tão
aparentemente natural em nosso meio, que às vezes nem mesmo é
reconhecido como importado. (ALVES, 1988, p.18 -19)
Freire (1978) define, explica e analisa o termo invasão cultural. Para ele,
a invasão cultural é a penetração que fazem os invasores no contexto cultural
dos invadidos, impondo a estes, sua visão do mundo, enquanto lhes freiam a
criatividade, ao inibirem sua expansão. Neste sentido, Freire explica que a
invasão cultural, é indiscutivelmente alienante, realizada maciamente ou não, é
sempre uma violência ao ser da cultura invadida, que perde sua originalidade ou
se vê ameaçado de perdê-la. Por isto é que, na invasão cultural, os invasores
são os autores e os atores do processo, já os invadidos, seus objetos. Os
invasores modelam, os invadidos são modelados. Os invasores optam, os
invadidos seguem sua opção. Os invasores atuam e os invadidos têm a ilusão
de que atuam, na atuação dos invasores.
Freire narra que a invasão cultural tem dupla face. De um lado, é já
dominação; de outro, é tática de dominação. Na verdade, toda dominação
implica numa invasão, não apenas física, visível, mas às vezes camuflada, em
que o invasor se apresenta como se fosse o amigo que ajuda. No fundo, a
invasão é uma forma de dominar econômica e culturalmente ao invadido. Invasão
realizada por uma sociedade matriz, metropolitana, numa sociedade
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dependente, ou invasão implícita na dominação de uma classe sobre a outra,
numa mesma sociedade. Segundo o autor, os invasores, na sua ânsia de
dominar, de amoldar os invadidos a seus padrões, a seus modos de vida, só
interessa saber como pensam os invadidos seu próprio mundo para dominá- los
mais.
35
países de língua espanhola e convivamos com imigrantes de várias
nacionalidades, cujas “falas”, aliás, a maioria dos brasileiros tem
dificuldade até mesmo de identificar a origem. Além de ser
praticamente o único idioma estrangeiro ensinado hoje nas escolas
oficiais (o espanhol começa a entrar nos currículos de algumas poucas
instituições), a presença do inglês é maciça e constante nas músicas
mais tocadas pelas fms e nos filmes em cartaz nos cinemas, exibidos
nas tvs por assinatura ou à disposição nas locadoras, em videocassete
ou em dvd. Objetos os mais diversos têm nomes ou marcas de fantasia
em inglês, e, às vezes, esses nomes não correspondem a nenhum
vocábulo que realmente exista nessa língua, mas parecem a ela
pertencer por causa da forma como são escritos. As coisas se passam
como se dessa maneira a palavra adquirisse um novo status, ou
tivesse o poder de melhorar até mesmo a qualidade do produto que ela
representa. Proliferam-se por isso palavras que não passam de
hibridismos criados pela mistura do português com algumas
características gráficas da língua inglesa, que lhes conferem um certo
“sotaque” norteamericanizado, tão ao gosto da classe média brasileira
atual. Para tanto são utilizados intensamente os sufixos -ax, -ex, -ox e
-lândia, as letras k, y, w, consoantes dobradas ou mudas (em
terminações de palavras), além do designativo de posse (ou genitive
case) e o famoso up. E assim é que usamos panex, neutrox, kibon,
success e close-up, compramos na gurilândia, comemos no antonio’s
etc. Como, no entanto, algumas palavras inglesas já foram há muito
tempo abrasileiradas em sua escrita, muitos jovens talvez nem se
dêem conta de sua origem estrangeira. É o caso, por exemplo, destas
citadas em grafia original para que melhor se evidencie a sua
procedência: basket, football, hello, beef, cocktail e muitas mais. Há
outras que também são bastante utilizadas, mas nunca foram
traduzidas para o português, como se sua forma de designação em
língua inglesa fosse a única possível. É o caso de close, drive-in, show,
slogan, office-boy etc. E ainda há aquelas que têm sua correspondente
em nossa língua, mas que insistimos ainda em usá-las no inglês por
acharmos que dessa forma elas “soam” melhor. Dizemos muito mais
drink quando nos referimos a aperitivo ou a uma bebidinha rápida
qualquer, free lancer para trabalhador independente ou autônomo,
playground em vez de parquinho, overdose quando poderíamos falar
em dose excessiva, e assim por diante.
37
Segundo Fróis (2004, p.4):
38
5 O COLONIALISMO CULTURAL: A SUBORDINAÇÃO CEGA DO BRASIL
AOS EUA
39
dominada, a fim de se garantirem “portas abertas” ao capital
estrangeiro e alinhamento incondicional a esse país.
Daí a aliança da nação dominante com governos conservadores
e autoritários e sua oposição e repressão às tentativas de
emancipação nacional e de revoluções sociais nos países
periféricos. O apoio ao governo de Batista (ex-ditador de Cuba)
e de Somoza (ex-ditador da Nicarágua), a repressão à revolução
cubana, ao governo de Allende (Chile) e aos sandinistas
(revolucionários nicaraguenses) são alguns exemplos da forte
presença norte-americana na vida política de todo o continente.
Campanhas publicitárias, operações secretas de “segurança” e
intervenções militares diretos são também táticas muito usadas.
No entanto, formas sutis e camufladas de interferência podem
ser mais eficientes e desejáveis. É aí que entra, então, o
interesse na divulgação de modelos ideológicos que conduzam
os povos dominados a não perceberem a dominação, aceitando-
a e até desejando-a. Nesse caso entramos já no campo do
colonialismo cultural.
Portanto, o colonialismo cultural ocorre toda vez que uma cultura original
de um país sair em prejuízo diante de outra cultura impositiva. “Trata-se, no
sentido literal da expressão, de pura dominação ideológica e não de simples
intercâmbio bilateral e igualitário de influências”. (ALVES, 1998, p.54)
Para Alves (1998) no colonialismo cultural a nação imperialista é a
emissora, produtora e transmissora de cultura, competindo à outra ser simples
receptora, consumidora e reprodutora. A imposição de valores da nação
dominante implica necessariamente a destruição da cultura da que é dominada.
Isso significa que padrões estéticos, morais e práticos, originados durante o
processo histórico da nação dominada como reflexo de suas necessidades e
experiências reais, são substituídos por outros gerados em esquemas de
realidade e necessidade totalmente diferentes. Alves ainda destaca que a
artificialidade acaba criando uma defasagem, uma distância muito grande entre
o que o colonizado pensa que é, o que desejaria ser e o que ele é realmente. Ou
seja, origina um desnível bastante significativo entre a identidade real e a
imaginária do povo em questão.
40
Segundo Freire, (1978, p.11) “os dominadores mantêm o monopólio da
palavra, com que mistificam, massificam e dominam”. A questão é que isso tem
sido feito de maneira mascarada, onde os dominados não identificam a
dominação e a constante inserção da cultura americana no Brasil.
Segundo Alves (1998, p.54):
A base do processo da invasão cultural é a crença por parte dos
invadidos de sua inferioridade intrínseca, ao mesmo tempo que
acreditam na superioridade do invasor, nascendo daí o desejo de se
parecerem com ele, andando, vestindo-se, falando à sua maneira etc.
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condições de acesso universal aos bens simbólicos,
proporcionar condições necessárias para a criação e a produção
de bens culturais, “sejam eles artefatos ou mentefatos” e
promover o desenvolvimento cultural geral da sociedade, pois o
acesso à cultura é um direito básico de cidadania, assim como o
direito à educação, à saúde, à vida num ambiente saudável.
[...] Se, por um lado, não cabe ao Estado fazer cultura, por outro
o Ministério “não pode ser apenas uma caixa de repasse para
uma clientela preferencial”. Ele deve intervir, [...] “para clarear
caminhos, abrir clareiras, estimular, abrigar[...]”.
[...] Nesse caminhar em busca do reconhecimento e da
afirmação de nosso valor como povo, o que poderemos fazer
como cidadãos?
Cada um de nós precisa avaliar até que ponto está sofrendo e
reforçando os esquemas de dominação ideológica.
Que mensagens estamos veiculando através de nosso próprio
corpo e dos objetos que portamos diariamente? Que critérios
usamos para apreciar uma manifestação cultural, escolher um
programa, orientar o lazer ou presentear nossas crianças? Que
chances temos dado a nós mesmos [...] de conhecer produções
alternativas? Como profissionais, a que interesses temos
servido e que finalidades temos dado às ciências, técnicas e
artes com que trabalhamos? Como estudantes, somos críticos
ou passivos diante do tipo de formação e informação que
recebemos? Com quem estamos, afinal de contas,
compromissados e em que tipo de luta estamos envolvidos?
Preservar nossa identidade cultural é defender o direito de
sermos donos do nosso próprio destino e garantia também de
que poderemos construir nossa própria história. Só então
poderemos passar de meros consumidores a produtores de
cultura em caráter mundial.
Essa não é obviamente uma tarefa fácil, rápida ou simples, mas
é um destino muito bonito, se o escolhermos para nós.
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Alves finaliza mostrando o fato de que a cultura não só expressa as
condições materiais de um povo, como também pode se converter em arma
importante no seu processo de transformação. Para isso precisa ser orientada
para o questionamento das estruturas vigentes, a denúncia e análise de
problemas nacionais e o auto esclarecimento da população a respeito de seus
próprios interesses, capacidades e possibilidades de superação.
Na mesma obra, Alves (1998) mostra, que ainda existem indivíduos que
não acreditam nessa invasão cultural norte americana no Brasil, e nem na
modificação da nossa identidade cultural e costumes diante da realidade trazida
por essa invasão. E ainda existem indivíduos que afirmam que ao menos se tem
uma identidade cultural. Diante dessas afirmações, a autora lembra que àqueles
que consideram que os brasileiros não têm sequer uma identidade cultural
definida para defender da invasão dos padrões norte-americanos, será
interessante lembrar mais um trecho do discurso de posse. A multiplicidade
cultural brasileira é um fato. Ainda afirma que se pode dizer que a diversidade
interna é, hoje, um dos traços identitários mais nítidos do Brasil. É o que faz com
que um habitante da favela carioca, vinculado ao samba e à macumba, e um
caboclo amazônico, cultivando carimbós e encantados, sintam-se, e, de fato,
sejam igualmente brasileiros. Alves explicita que os brasileiros são um povo
mestiço que vem criando, ao longo dos séculos, uma cultura essencialmente
sincrética. Uma cultura diversificada, plural, mas que é como um verbo
conjugado por pessoas diversas, em tempos e modos distintos. Porque, ao
mesmo tempo, essa cultura é uma: cultura tropical sincrética ao abrigo e à luz
da língua portuguesa. A autora ainda comenta que, de fato a identidade cultural
brasileira é marcada ora pela presença da cultura de raízes africanas, ora das
culturas indígenas, sempre (de alguma forma) pela presença da portuguesa, e,
às vezes, também da francesa, italiana, alemã, japonesa, árabe, judaica etc.,
todas elas se inter-relacionando como resultado dos deslocamentos internos de
nossas populações.
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6 CONSIDERAÇÔES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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– da Legação Argentina em Washington, 07.12.1904.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 16. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2001.
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GAZIER, Bernard. A Crise de 1929. Porto Alegre: L&PM, 2009
GLIK, Monica Sol. El hogar de la victoria: la promesa del american way of life
para américa latina: (Estados Unidos –Brasil- Argentina, 1940-1945). 2015. 301
f. Tese (Doutorado) - Curso de História, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, 2015.
MILLETT, Stephen M.. What will happen to the “American Dream”?: Four
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Publishing Limited, Columbus, v. 44, n. 2, p.17-24, abr. 2016.
PEREIRA, Wagner Pinheiro. O poder das imagens. São Paulo, Alameda, 2012.
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