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Igualdade Racial
Resumo
Linhas Críticas, Brasília, DF, v. 17, n. 34, p. 483-505, set./dez. 2011. 483
Human rights education and the promotion
of racial equality
The aim of this article is to discuss possible ways of articulation between human rights
education in Brazil and policies to promote ethnic and racial equality. To this end, we discuss
specific points of the National Program on Human Rights Education (PNEDH), linking it with
other major policies and some specific regulations for the promotion of racial equality, such
as the article 26 of the Brazilian Education Act (LDB) and the Letter from Durban. The article
concludes in support of the implementation of an education open to constant discussion
about differences and in permanent dialogue with social movements.
Este artículo tiene como objetivo discutir posibles formas de articular la educación en
derechos humanos en Brasil con políticas de promoción de la igualdad étnica y racial.
Con este fin, se discute el Programa Nacional de Educación en Derechos Humanos
(PNEDH) y su vinculación con el Programa Nacional de Derechos Humanos (PNDH) así
como con algunas de las normas específicas para la promoción de la igualdad racial.
Se llega a la conclusión sobre la necesidad de una educación abierta al diálogo sobre
y con las diferencias, como también el ejercicio de un diálogo permanente con los
movimientos sociales.
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albaneses na Itália; marroquinos na Espanha), aliada a uma tendência geral de
racializar imigrantes de países de fora da comunidade europeia que não gozem de alto
prestígio internacional. Estadunidenses, canadenses e suíços, por exemplo, não são
racializados e não entram na categoria racial “extracomunitário” utilizada na Itália
contemporânea (Dal Lago, 1999).
Alguns exemplos foram tomados somente como ilustração de que o racismo e a
racialização são fenômenos mundiais, mas passemos ao contexto brasileiro. Quais
grupos têm sistematicamente tratamento inferiorizante, cujo acesso a bens sociais e
pessoais é dificultado ou impedido no Brasil? Perguntando de outra forma, quais
grupos são racializados no país?
Analisando os diversos documentos relacionados aos Direitos Humanos no Brasil
teremos a resposta. Por exemplo, nas três versões do Programa Nacional de Direitos
Humanos (Brasil, 1996; 2002a; 2010) observam-se nas propostas de ações governa-
mentais uma série de itens relativos à população negra, a sociedades indígenas e a
ciganos. Negros/as, indígenas e ciganos/as são, portanto, os grupos que têm sistemati-
camente acesso negado a bens materiais e simbólicos no Brasil, a ponto de necessita-
rem de amparo específico na legislação e propostas de ações relativas aos direitos
humanos. Interpretamos que essas manifestações em tais documentos nos dão a res-
posta: são estes os grupos que em diversos contextos recebem tratamento diferenciado
baseado em suposto pertencimento a raças. São, conforme o conceito apresentado, os
grupos racializados no país.
No que se refere à racialização de negros/as no Brasil contemporâneo, foco mais
direto deste texto, assumimos a hipótese de que esse processo relaciona-se a um
fenômeno mais amplo de racialização que, ao mesmo tempo em que se expressa com
particularidades (o racismo à brasileira), vai muito além das fronteiras tupiniquins e
tem raízes históricas profundas. Na contemporaneidade, expressa-se de forma indubi-
tável na Europa, nas Américas e Caribe e na própria África. Ou seja, o racismo, outrora
considerado científico, é desacreditado na ciência, mas continua orientando o imaginário
ocidental de forma perseverante, em especial as ideias de racionalidade como caracte-
rística típica europeia, e de sua ausência, que alimenta as ideias de primitivo, incivilizado,
rude/rudimentar, corpo e sensação.
As desigualdades no acesso a bens materiais e a bens simbólicos relacionam-se
(de forma assíncrona, não-linear) com tais hierarquias raciais e se expressam na
educação escolar pelo etnocentrismo e pela organização curricular numa lógica euro-
cêntrica. No plano das políticas curriculares, este imaginário racialmente hierarquizado
tem sido objeto de análise e críticas. Na perspectiva de estudo das políticas educacio-
nais, à qual este artigo se articula, adotamos a opção de examinar a educação em seus
Em função das limitações deste artigo não serão apresentados de forma pormeno-
rizada os aspectos específicos de documentos internacionais relativos à promoção de
igualdade racial e combate ao racismo dos quais o país é signatário. Alguns pontos de
documentos específicos serão apresentados e discutidos, em especial da Carta de
Durban, ao passo que outros somente citados ou apontados1.
1. Para mais informações, ver, por exemplo: Piovesan (2005) e o Estatuto da Igualdade Racial (Lei 12.288/2010), disponível
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12288.htm>. Acesso em: 25/08/2011.
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PNEDH e relações étnico-raciais2
Esse traço conjuntural resulta da conjugação de uma série de fatores, entre os quais
cabe destacar: [...] c) a adoção do princípio de empoderamento em benefício de
categorias historicamente vulneráveis (mulheres, negros(as), povos indígenas,
idosos(as), pessoas com deficiência, grupos raciais e étnicos, gays, lésbicas, bissexuais,
travestis e transexuais, entre outros). (Brasil, 2006, p. 15)
2. Uma versão anterior deste tópico também foi publicada em Silva (2010).
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culturalismo crítico (Giroux, 1999). O termo diversidade tem usos muito distintos e
muitas vezes é compreendido de forma a mascarar desigualdades raciais e sociais.
Numa acepção crítica, a proposição é que a diversidade é meta de reconfiguração de
distribuição de poder numa sociedade estruturalmente desigual. Outro aspecto da
citação do PNEDH relaciona-se com proposições de ações programáticas para a
Educação Básica, em específico a proposta de inclusão, no currículo escolar, da temá-
tica relativa à raça e à etnia (Brasil, 2006, p. 24).
Para tanto, a inserção da temática étnico-racial no currículo relaciona-se com o
tratamento na escola como efeito de ações conjuntas e articuladas. E, para realizá-lo,
nos parece significativo o trabalho balizado por outros documentos importantes:
• Lei 10.639/03, posteriormente alterada pela Lei 11.645/08 que modificou o artigo
26-A da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional para incluir no currículo
oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-
Brasileira e Indígena;
• Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (Resolução n º 01/04
e Parecer n º 03/04 do Conselho Nacional de Educação – CNE);
• Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-
brasileira e Africana (2009).
Tais documentos demandam leitura completa e detalhada, sendo somente alguns
pontos específicos aqui abordados. O Parecer nº 03/04 do CNE afirma que “as formas
de discriminação de qualquer natureza não têm o seu nascedouro na escola, porém o
racismo, as desigualdades e a discriminações correntes na sociedade perpassam por
ali” (Brasil, 2004, p. 9). Como forma de combater o racismo e a discriminação racial,
propõe a “educação das relações étnico-raciais” vinculada com reestruturação curricular:
o ensino de conteúdos sobre os processos de discriminação racial existentes no Brasil;
a busca da superação do etnocentrismo europeu que estrutura as mentalidades; a
articulação com os movimentos sociais, em especial com movimentos negros; o ensino
de História e cultura afro-brasileira e africana. Sobre esse último ponto, o referido
documento afirma que:
[...] pela afirmação das identidades étnicas, pela recuperação das memórias históricas,
pela valorização das línguas e conhecimentos dos povos indígenas, pela vital associação
entre escola/sociedade/identidade, e em consonância com os projetos societários
definidos autonomamente por cada povo indígena. O exercício, no dia-a-dia, de professores,
lideranças e seus aliados para a ressignificação da instituição escola – modelada
historicamente pela negação da diversidade sociocultural – em um espaço de construção
de relações interétnicas orientadas para a manutenção da pluralidade cultural, pelo
reconhecimento de diferentes concepções pedagógicas e pela afirmação dos povos
indígenas como sujeitos de direitos, sugeriu as diretrizes político-pedagógicas da inter-
culturalidade, do bilinguismo/multilinguismo, da diferenciação, da especificidade e da
participação comunitária, formando consensos sobre como seria uma educação escolar
protagonizada pelos povos indígenas e associada a seus próprios projetos societários.
(Brasil, 2009a).
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Escolar Indígena, definida como tendo ordenamento jurídico específico, sob a coorde-
nação do MEC e “[...] com a garantia do protagonismo dos povos indígenas em todos
os processos” (Brasil, 2009a, p. 4). Essa proposição relaciona-se com uma percepção
que dirige a abordagem do artigo: de que os Direitos Humanos e sua Educação neces-
sitam manter, numa acepção crítica, permanente diálogo com os movimentos sociais
como ponto de partida.
No que se refere ao PNEDH, as propostas estão nas ações programáticas para a
Educação Básica, relativas ao desenvolvimento de políticas públicas de Educação em
Direitos Humanos para povos indígenas, comunidades quilombolas, populações de
áreas rurais e ribeirinhas (Brasil, 2006, p. 25).
No caso da população negra, as proposições para comunidades quilombolas aproximam-
se mais da perspectiva de sistema diferenciado. No documento final da Conferência Nacional
de Educação (CONAE) algumas proposições relativas à Educação Quilombola são:
3. Abdias do Nascimento (1914-2011) teve sua atuação política marcada pela intensa luta contra a discriminação racial
e pela superação das baixas condições socioeconômicas da população negra no Brasil. Como ator, diretor e dramaturgo,
Abdias foi um dos responsáveis por fortalecer a identidade negra nas artes cênicas, bem como desenvolver formação
escolar para negros/as por meio da criação de cursos de alfabetização. Como parlamentar, assumiu uma postura
afirmativa frente às discussões raciais no Brasil e apresentou proposições legais que influenciaram grande parte dos
documentos atuais de promoção da igualdade racial. Também foi artista plástico, professor universitário e um dos maiores
representantes do pan-africanismo no Brasil.
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o Projeto de Lei (PL) 1.332 de 1983, que versava sobre “ações compensatórias” para a
população negra, entre as quais políticas de cotas no ensino superior e mercado de
trabalho. Na Assembleia Constituinte novas propostas foram apresentadas, mas o texto
aprovado da constituição apenas incorporou as cotas para deficientes no mercado de
trabalho. Em 1995 ocorreu uma grande mobilização dos movimentos negros para a
Marcha Zumbi dos Palmares contra o racismo, pela cidadania e a vida. O pronuncia-
mento da Presidência da República, ao receber a marcha, reconheceu que o Brasil é
um país no qual a discriminação racial é estrutural e institucional, demandando,
portanto, ações do Estado para combater as desigualdades raciais. A implantação de
políticas afirmativas para negros/as e indígenas passou, a partir do final dos anos 1990,
a ser reivindicada com maior intensidade. Foram importantes nesse processo os diversos
eventos relacionados com a preparação para a III Conferência Mundial das Nações
Unidas contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata
(realizada em Durban, em 2001). Nos eventos preparatórios eclodiram com grande
força as reivindicações de políticas afirmativas como forma de restituir a igualdade de
oportunidades (Silvério, 2001). No relatório do comitê nacional para a preparação da
participação brasileira na III Conferência, uma das propostas anotadas foi a “adoção
de cotas ou outras medidas afirmativas que promovam acesso de negros às universi-
dades públicas” (Brasil, 2001). No PNDH II, aprovado em 2002, a proposta relativa ao
ensino superior ganhou a seguinte redação: “estabelecer mecanismos de promoção
da equidade de acesso ao ensino superior, levando em consideração a necessidade de
que o contingente de alunos universitários reflita a diversidade racial e cultural da
sociedade brasileira” (Brasil, 2002, p. 36).
Também o PNDH III oferece elementos que convergem com o reconhecimento de
políticas afirmativas, como aponta o eixo orientador Universalizar Direitos em um
Contexto de Desigualdades:
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novos programas de reservas de vagas a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a
Universidade Federal do Paraná (UFPR). A UFBA instituiu reserva de 43% das vagas
para estudantes oriundos/as da escola pública, das quais 85% são reservadas para
negros/as (aproximadamente 37% do total de vagas), outros 2% são reservados para
índios-descendentes (além disso, cada curso oferece duas vagas para índios/as alde-
ados/as ou quilombolas). A UFPR reserva, na segunda fase do exame vestibular, 20%
de vagas para estudantes de escola pública, 20% para negros/as. Para indígenas, são
10 vagas anuais a serem preenchidas através de processo seletivo específico, segundo
demanda intermediada pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). As avaliações
realizadas até então apresentaram dados bastante positivos no que se refere à inclusão
racial e ao desempenho de estudantes, de forma que mais universidades, por iniciativas
próprias e baseadas na autonomia universitária, passaram a adotar algum tipo de
política afirmativa, chegando a mais de 50 instituições de educação superior (IES) com
algum tipo de acesso diferenciado como forma de política afirmativa.
Na Educação Básica a principal forma de estabelecimento de equidade reivindicada
é a mudança curricular por meio de uma efetiva formação sobre História e Cultura Afro-
Brasileira e Africana, ponto que será desenvolvido com mais detalhamento a seguir.
[...] de conceitos e de suas bases teóricas, tais como racismo, discriminações, intolerância,
preconceito, estereótipo, raça, etnia, cultura, classe social, diversidade, diferença, multi-
culturalismo; de práticas pedagógicas, de materiais e de textos didáticos, na perspectiva
da reeducação das relações étnico-raciais. (Brasil, 2004).
4. Uma versão anterior deste tópico também foi publicada em Silva (2010).
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III – Incorporar ao conteúdo dos cursos optativos de estudos religiosos o ensino dos
conceitos espirituais, filosóficos e epistemológicos das religiões de origem africana
(candomblé, umbanda, macumba, xangô, tambor de mina, batuque etc.);
IV – Eliminar de todos os currículos referências ao africano como ‘um povo apto para a
escravidão’, ‘submisso’ e outras qualificações pejorativas;
V – Eliminar a utilização de cartilhas ou livros escolares que apresentem o negro de
forma preconceituosa ou estereotipada;
VI – Incorporar ao material de ensino primário e secundário a apresentação gráfica da
família negra de maneira que a criança negra venha a se ver, a si mesma e a sua família,
retratadas de maneira igualmente positiva àquela que se vê retratada a criança branca;
VII – Agregar ao ensino das línguas estrangeiras europeias, em todos os níveis em que
são ensinadas, o ensino de línguas africanas (yorubá ou kiswahili) em regime opcional;
VIII – Incentivar e apoiar a criação de Departamentos, Centros ou Institutos de Estudos
e/ou Pesquisas Africanos e Afro-Brasileiros, como parte integral e normal da estrutura
universitária, particularmente nas universidades federais e estaduais. (Nascimento,
1983, p. 5.163)
5. Ainda que possamos reconhecer mudanças em curso no que se refere ao currículo e às práticas pedagógicas, é possível
também identificar que o processo de implementação da Lei 10.639/03 no interior das escolas brasileiras encontra-se
em curso e necessitará mais investimento na formação inicial e continuada para os/as profissionais da educação brasileira
(Gomes, 2011, p. 32).
O conteúdo da educação recebida por aquelas crianças negras que têm oportunidade
de estudar representa outro aspecto da desigualdade racial anticonstitucional na esfera
da educação [...], a civilização e história dos povos africanos, dos quais descendem as
crianças negras, estão ausentes do currículo escolar. A criança negra aprende apenas
que seus avós foram escravos; as realizações tecnológicas e culturais africanas, sobre-
tudo nos períodos anteriores à invasão e colonização europeia da África, são omitidas.
Também se omite qualquer referência à história da heróica luta dos afro-brasileiros
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contra a escravidão e o racismo, tanto nos quilombos como através de outros meios de
resistência. Comumente, o negro é retratado de forma pejorativa nos textos escolares,
o que resulta na criança negra em efeitos psicológicos negativos amplamente documen-
tados. O mesmo quadro tende a encorajar, na criança branca, um sentimento de superiori-
dade em relação ao negro. O art. 8º deste projeto de lei objetiva a correção desta anomalia
e a implementação do direito à isonomia assegurada pela constituição. (Nascimento, 1983).
6. Termo que emprestamos de Edna Roland, então Coordenadora da Área de Combate ao Racismo e Discriminação da
UNESCO no Brasil (2006).
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Palavras finais
Este artigo trouxe algumas informações sobre o projeto em curso no Brasil de uma
Educação das Relações Étnico-Raciais inserida numa perspectiva ampla e crítica de
Educação em Direitos Humanos. Crítica significa que considera as desigualdades
raciais (e as de gênero, de orientação sexual, de identidade de gênero, de classe social,
de idade) como estruturais e estruturantes nessa sociedade contemporânea. Crítica
tem também o sentido de identificar e denunciar ataques aos direitos humanos, os
quais vitimam a população negra, sobretudo aquela inserida em espaços de resistência
como nas comunidades remanescentes de quilombos e nos terreiros. Outrossim,
crítica é evidenciar, nas políticas públicas, a constante necessidade de considerar os
indicadores de desemprego, homicídios, miserabilidade, vulnerabilidade, sexismo e
outros que atingem diretamente esse grupo social.
As contribuições possíveis por parte da educação são de mudanças na lógica
excludente das instituições escolares. Um ponto central seria uma reorganização dos
currículos escolares em uma perspectiva multicultural, implantando uma educação
aberta para o diálogo constante sobre e com as diferenças. Em função desse ponto de
vista, o artigo buscou a interlocução com normativas que foram organizadas de forma
aberta para a efetiva participação dos movimentos sociais, como são os casos dos
programas de direitos humanos e das diversas conferências, tanto as nacionais quanto
a mundial. Logo, estudar e conhecer esses documentos pode ser exercitar o diálogo
com os movimentos sociais que participaram dos processos de definição das suas
prioridades.
De forma geral, a documentação é vasta e as proposições são contrastantes com
um contexto em que as violações dos direitos são rotineiras nas relações sociais.
O desafio, então, é romper com tais violações e estruturar, de forma coletiva e partici-
pativa, escolas que operem para a promoção de igualdade étnico-racial. Uma possibili-
dade para a Educação em Direitos Humanos é operar numa perspectiva que compreenda
e busque superar as desigualdades raciais (e as de gênero, de orientação sexual e de
identidade de gênero) e que priorize a interlocução com movimentos sociais.
O exame das normativas em vigor, relativas a Direitos Humanos e Educação em
Direitos Humanos, desvenda amplo leque de proposições que revelam possibilidades
de articulação em prol da promoção da igualdade racial.
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Paulo Vinicius Baptista da Silva, doutor em Psicologia (Psicologia Social) pela Pontifícia Universi-
dade Católica de São Paulo. É professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal do Paraná, exercendo atualmente a função de coordenador. Coordena o
Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB-UFPR), é bolsista de produtividade em pesquisa do
CNPQ, vice-coordenador do Grupo de Trabalho Educação e Relações Raciais da ANPED e repre-
sentante da Região Sul na diretoria da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros(as) (ABPN).
Publicação recente: Racial Inequalities in the Symbolic Realm: The Brazilian Context (Revue
Canadienne d’Études du Développement, v. 29, p. 245-266. 2010). E-mail: [email protected]
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