ASG VersaoFinal2
ASG VersaoFinal2
ASG VersaoFinal2
desenvolvimento -
Júri
Presidente: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves
Orientador: Professor Doutor Jorge Manuel Lopes Baptista e Silva
Vogal: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa
Outubro de 2016
Dedico esta dissertação,
_____Nelson Mandela_____
i
Agradecimentos
Agradeço à Deus por me amparar nos momentos difíceis, me dar força interior para superar as
dificuldades, mostrar o caminho nas horas incertas e me suprir em todas minhas necessidades.
Aos meus orientadores, Prof. Jorge Batista e Silva, e Profª. Maria do Rosário Partidário, agradeço
pela confiança, pela oportunidade de poder trabalhar ao lado destes grandes profissionais, por todos
os ensinamentos, comentários, sugestões e pela disponibilidade manifestada, contribuindo
decisivamente para que este trabalho tenha chegado a bom termo.
Ao Prof. Alexandre Gonçalves pelo apoio prestado na obtenção de dados através do SIG. Á todos os
professores de Mestrado em Urbanismo e Ordenamento do Território, pela excelência nos
conhecimentos transmitidos que foram úteis para esta dissertação. À Erasmus Mundus, pela
1
concessão da bolsa de estudos, o meu sincero Khanimambo .
Ao Prof. Arq. Urbanista Domingos Macucule pelo material fornecido e pelas conversas tidas em torno
do planeamento urbano em Maputo, igualmente ao Thompson pelas conversas no mesmo âmbito, o
meu muito obrigado. Á Arq. Urbanista Vanessa de Melo pela sua espontânea vontade em ajudar-me
em contactos, material e pelo tempo cedido, vai o meu muito obrigado.
Aos meus colegas do mestrado, amigos e companheiros em Lisboa, vai o meu muito obrigado. Em
especial a Vanídia, Alberto, Alexandrina, Pascoal, Amiraldes, Dino, Clélia, Mere e Hélder. À minha
pessoa de contacto-Erasmus no IST, Ana Barbosa, pelo apoio prestado para integração, devo dizer
que ela foi muito prestativa e muito amiga.
À querida Idélcia Mapure por se mostrar disponível a distância para a busca de dados em falta, pelo
material conseguido, o meu sincero agradecimento.
Aos meus professores da Universidade Eduardo Mondlane, Prof Daniel Zacarias pela disponibilidade
demonstrada e leitura dos meus drafts, igualmente ao Prof. Helsio Azevedo, vai o meu muito
obrigado.
À minha família pelo apoio incondicional. Aos meus amigos que sempre acreditaram e depositaram
confiança em mim mesmo distante, o meu muito obrigado, em especial a Pires, Vanessa, Lércia,
Orlando, Quinita, Miller, Joshua-Pires, Sessy, Vando, Anabela, Melo e Beleza.
A todas as cursilhistas Nr. 467, pelos incentivos e por ter partilhado a mesma graça com elas,
ajudaram-me a ser forte e persistente nesta caminhada académica em Lisboa, a minha profunda
gratidão. À dona Luísa, expresso a minha gratidão pela motivação, e pelo exemplo de vida que ela
representa em minha vida, e por hoje a poder contar como família em Lisboa. E a todos aqueles para
os quais sou uma esperança, espero não vos desiludir. Muito obrigado.
1
Quer dizer obrigado em Shangana (uma das línguas tradicionais faladas em Maputo).
ii
Resumo
A presente dissertação aborda sobre os desafios da expansão urbana nos países em vias de
desenvolvimento, com particular estudo para o distrito da KaTembe localizado na Cidade de Maputo
em Moçambique. A análise feita partiu de um contexto na dimensão metropolitana de Maputo que
apesar de não estar instituído formalmente tem expressão funcional de uma área metropolitana. O
distrito da KaTembe é uma área de transição entre o rural e urbano, habitado por 1% da população
metropolitana. Com a construção da ponte Maputo-KaTembe, que antes constituía obstáculo à sua
expansão, foi desenhado para esta área um plano de urbanização de raiz com vista a regular e
disciplinar as formas de ocupação do território. A atual estrutura de ocupação urbana de Maputo é
reflexo de diferentes contextos históricos, a fase colonial (1876-1975), da pós-independência (1975-
1983) e a neoliberal (1983-2016). O principal objetivo do trabalho foi de procurar compreender os
processos de planeamento da expansão urbana em Maputo-KaTembe e os desafios associados à
esta expansão, através de revisão documental e bibliográfica e da realização do trabalho de campo.
Concluiu-se que o maior desafio colocado a esta expansão urbana é a inexistência de um Plano
Urbano Regional que sirva de referência para um modelo de desenvolvimento que salvaguarde uma
rede de infraestruturas básicas no processo de ocupação urbanística. Contudo, sugere-se um modelo
estrutural de ordenamento, com perspetiva regional, para tornar a expansão da KaTembe compatível
com a manutenção dos valores ambientais no geral e em particular, os recursos hídricos.
iii
Abstract
This dissertation focuses on the challenges of urban expansion in developing countries, with particular
emphasis on KaTembe district located in Maputo city in Mozambique. This analysis came from a
context in the metropolitan dimension of Maputo that although not formally set has the functional
expression of a metropolitan area. The KaTembe district is an area of transition between rural and
urban, inhabited by 1% of the metropolitan population. With the construction of Maputo-KaTembe
Bridge, which absence had constituted an obstacle to its expansion, a root urbanization plan it was
drawn to this area aiming to regulate and discipline the forms of occupation of the territory. The current
urban settlement structure in Maputo reflects different historical contexts, namely the colonial phase
(1876-1975), the post-independence (1975-1983) and neoliberal (1983-2016). The primary objective
was to understand the planning processes of urban expansion in Maputo-KaTembe and the
challenges associated with this development through document analysis, literature review and
fieldwork. As conclusion, the biggest challenge to this urban expansion is the lack of a Regional Urban
Plan that will serve as a reference for a development model that safeguards a network of basic
infrastructure in urban occupation process. Therefore, this study suggests a structural model of
planning and regional perspectives that make the expansion of KaTembe compatible with the
maintenance of environmental values in general and in particular water resources.
Keywords: Urban Planning, KaTembe, Maputo, the land use, urban sprawl
iv
ÍNDICE
Dedicatória................................................................................................................................................................i
Agradecimentos.......................................................................................................................................................ii
Resumo....................................................................................................................................................................iii
Abstract...................................................................................................................................................................iv
Índice........................................................................................................................................................................v
Lista de abreviaturas............................................................................................................................................viii
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................1
1.1.1 Enquadramento e justificação do tema.............................................................................................. 1
1.1.2 Objetivos e resultados esperados...................................................................................................... 4
1.2 Abordagem metodológica ...................................................................................................................... 5
1.3 Estrutura da dissertação ........................................................................................................................ 7
2 O PLANEAMENTO E GESTÃO URBANÍSTICA E AMBIENTAL–ASPETOS DE ENQUADRAMENTO
...........................................................................................................................................................................9
2.1 Sistema de planeamento e gestão territorial em Moçambique .............................................................. 9
2.2 O planeamento urbano no município de Maputo ................................................................................. 12
2.3 Lei de Terras e concessão de terreno.................................................................................................. 18
2.4 Enquadramento ambiental em Moçambique........................................................................................ 21
2.5 Recursos hídricos em Moçambique ..................................................................................................... 22
2.5.1 Quadro Legal e Institucional ............................................................................................................ 23
2.5.2 Gestão dos recursos hídricos em Moçambique ............................................................................... 23
2.6 Problemática dos recursos hídricos na AMM ....................................................................................... 26
3 ESTRUTURA DE OCUPAÇÃO E DINÂMICAS DO CRESCIMENTO URBANO NA AMM .....................35
3.1 Caracterização fisiográficas e ambiental da AMM ............................................................................... 35
3.1.1 Carta hipsométrica (Modelo digital do Terreno da AMM) ................................................................ 36
3.1.2 Carta de declives ............................................................................................................................. 37
3.1.3 Cartograma de exposição solar ....................................................................................................... 38
3.1.4 Cartograma de linhas de água e principais bacias hidrográficas ..................................................... 38
3.2 Crescimento demográfico de Moçambique .......................................................................................... 40
3.3 Sistema urbano em Moçambique......................................................................................................... 40
3.4 Evolução da população na AMM.......................................................................................................... 44
3.5 Ocupação urbana e tendências do seu crescimento ........................................................................... 45
3.5.1 Ocupação do solo na AMM ............................................................................................................. 47
3.5.2 Influências de ocupação do solo na AMM ....................................................................................... 51
3.5.3 Relação entre as características fisiográficas, problemáticas dos recursos hídricos e a ocupação 53
3.6 Planos urbanísticos Vs Projetos Urbanísticos ...................................................................................... 57
4 A KATEMBE ......................................................................................................................................61
5 PROJETO URBANÍSTICO DE KATEMBE ............................................................................................65
6 QUESTÕES HÍDRICAS NO PGUDMK EM KATEMBE ..............................................................................70
7 CONTRIBUTO PARA UM MODELO DE OCUPAÇÃO URBANA PARA MAPUTO-KATEMBE .......73
8 CONCLUSÕES ......................................................................................................................................79
BIBLIOGRAFIA
Anexos
v
Índice de figuras
vi
Figura 42: Bacias hidrográficas. ............................................................................................................................ 62
Figura 43: Imagens do Plano de Urbanização da nova centralidade de KaTembe.. ............................................. 65
Figura 44: População por distritos correspondente a AMM ................................................................................... 66
Figura 45: Demografia de Lisboa-evolução ........................................................................................................... 67
Figura 46: Ponte 25 de Abril, momento da sua construção(1962-1966).
Figura 47: Ilustração das formas de ocupação em KaTembe ............................................................................... 68
Figura 48: Habitação tradicional.. .......................................................................................................................... 69
Figura 49: Habitação convencional.. ..................................................................................................................... 69
Figura 50: Tipologia das vias rodoviárias.. ............................................................................................................ 69
Figura 51: Planta de Ordenamento do PGU do distrito de KaTembe.. .................................................................. 70
Figura 52: Planta de Condicionantes do distrito de KaTembe. .............................................................................. 71
Figura 53: Expansão urbana da Área Metropolitana de Maputo... ........................................................................ 74
Figura 54: Contributo para uma proposta de um modelo de ocupação territorial em Maputo-KaTembe. ............ 76
Figura 55: Contributo para uma proposta de uma Estrutura Ecológica Metropolitana.. ........................................ 77
Índice de Tabelas
vii
Lista de abreviaturas
viii
1 INTRODUÇÃO
Pode dizer-se que as periferias urbanas das grandes cidades africanas correspondem à
definição mais extrema de periferia, ou seja, áreas na periferia geográfica do centro da cidade; áreas
com elevada concentração de famílias e das suas correspondentes habitações (á imagem de áreas
urbanas) mas sem o correspondente nível de serviços e infraestruturas básicas nem a
autossuficiência alimentar que o espaço rural oferece; áreas onde se misturam formas de vida urbana
e rural.
2
Slum restringe-se a aspectos físicos e legais, excluindo dimensões sociais mais difíceis de avaliar, relacionados
com: o acesso inadequado a fontes de água potável, ao saneamento e a outras infra-estruturas; a baixa
qualidade da estrutura habitacional; a sobreocupação e a insegurança de propriedade,UN-Habitat (2003).
1
Moçambique (ver na Figura 1 a sua respectiva localização) tal como a maior parte dos países
da África, teve a formação das suas cidades através de centros de serviços/negócios que mantinham
uma estreita ligação, económica e política, com a metrópole colonial (CASTELLS, 1979). A população
urbana do país é de 35,%, sendo a rural de 65%, apresentando um crescimento anual de 3,2 a 5 %
(UN-HABITAT, 2007). Na AMM tinha cerca de 2.500.000 habitantes, o que representa pouco mais de
12 % da população moçambicana e pouco mais de 35% da sua população urbana. Esta área
contribui com mais de metade do PIB nacional (Macucule, 2015).
2
Em termos de superfície, o país tem 801 590 km e uma população de cerca de 20,5 milhões
de habitantes, de acordo com o censo de 2007, o que representa um aumento de 27,8% em relação
aos 16 milhões enumerados no censo de 1997 (INE-Moçambique, 2014). De acordo com os dados
atuais da última projeção da população indicam para o ano de 2014 uma população de cerca de 27
milhões de habitantes (Banco Mundial, 2016). A administração financeira e dos recursos do país está
centralizada na sua cidade capital.
Figura 1: Mapa de localização de Moçambique e das suas cidades. Fonte: Adaptado com base na divisão
administrativa do país, disponível em http://www.gadm.org/
2
1200000
1000000
800000
600000
400000
População
200000
Figura 2: Distribuição da população por cidades. Fonte: Adaptado a partir de dados do censo de 2007,
(INE, 2007)
3
1.2 Objetivos e resultados esperados
4
1.3 Abordagem metodológica
Nesta fase, devido ao pouco tempo da pesquisa e da permanência no local de estudo não foi
possível obter na íntegra o material espetável, a este fato junta-se também a excessiva burocracia
nas instituições para obtenção de informação. Contudo conseguiu-se obter alguns dados importantes
para o trabalho. Basicamente esta fase consistiu na recolha de material como planos de estrutura
urbana de Maputo (2001 e 2008), plano de urbanização da KaTembe, consulta de documentos sobre
a área de estudo e entrevistas. Foram feitas entrevistas não formais a profissionais da área de
urbanismo e ordenamento do território em Maputo. As entrevistas não formais foram feitas com intuito
de caracterizar a evolução da expansão urbana da AMM, colher informações sobre como tem sido
feita a articulação entre os planos urbanos com diferentes estruturas de gestão do território,
nomeadamente a articulação entre o planeamento urbano e ambiental, perceber sobre as dinâmicas
territoriais ao longo do tempo até aos dias de hoje através da identificação dos projetos de
transformação do território no município de Maputo.
Esta fase, faz referência a todo o processo da redação da dissertação. Portanto, a análise de
dados baseou-se na sistematização e compilação das informações recolhidas por via de documentos,
teses e de entrevistas não formais.
Durante a revisão bibliográfica deparámo-nos com limitações de vária ordem como: o acesso
às informações cartográficas, quer no formato físico como digital; a indisponibilidade de dados em
alguns websites institucionais; documentos institucionais com informação incompleta. Neste contexto
do processo de recolha de dados, foi necessário o uso dos Sistemas de Informação Geográfica
5
3
(SIG) para produção de uma base de dados sobre a estrutura da AMM. Entretanto, foram aqui
aplicadas técnicas para a produção e posterior análise de dados com o auxílio de softwares como
ArcGIS, Google Earth Pro e AutoCAD (versão 2015). Igualmente foram acessados websites para o
download de dados brutos para a produção de informação necessária no desenvolvimento do
trabalho. O ArcGIS disponibiliza um conjunto de ferramentas para processamento de dados tais como
o ArcCatalog, o ArcMap, o ArcToolbox. Este último facilita o acesso a um maior número de
ferramentas de conversão, manutenção e análise de dados, processamento de mapas, definição e/ou
transformação de sistemas de coordenadas (Rocha, 2010). Neste sentido, para caraterizar a
evolução urbana da AMM foi necessário para além de fazer a descrição dos planos urbanos,
compreender sobre a orografia e as caraterísticas físicas do território, assim, procedeu-se com o
levantamento de dados em formato SRTM (Shuttle Radar Topography Mission) disponíveis no site
http://www.cgiar-csi.org/data/srtm-90m-digital-elevation-database-v4-1 e também os dados
administrativos da Global Administrative Areas (http://www.gadm.org/). Com estes dados foi possível
produzir o modelo digital do terreno, cartograma de declives, exposição solar e definir as linhas de
água e as principais bacias hidrográficas da área no ambiente ArcMap. O processamento consistiu
em fazer-se o mosaico dos tiles das imagens com vista a abranger toda a área de interesse. Em
seguida, fez-se o recorte das áreas de interesse. Os dados foram projetados para o sistema de
projeção Universal Transversa de Mercator (UTM), datum WGS-1984 tete-36S, que é o sistema
utilizado para a região Sul de Moçambique.
3
De acordo com Henriques (2008) citado por Melo (2015), a associação entre os SIG e as imagens aéreas é
particularmente relevante em países como África Austral, onde a informação geográfica disponível é limitada,
sendo poucos os que dispõem de cartografia actualizada à escala urbana ou de recursos para a fazer.
6
Figura 4: Processo metodológico.
1.4 Estrutura da dissertação
De um modo geral procura-se apresentar uma visão geral sobre os vários capítulos propostos
para o desenvolvimento da presente dissertação de mestrado, tendo em atenção a coerência e
coesão textual criando relação entre capítulos apresentados, desta forma a dissertação encontra-se
estruturada da seguinte maneira:
Capítulo 1 – Introdução;
Capítulo 4 – A KaTembe;
Capítulo 8 – Conclusões
7
Com vista ao alcance dos resultados esperados, descreve-se no capítulo 2 sobre o contexto
do planeamento e gestão urbanística e ambiental – aspetos de enquadramento, para se perceber
como é a arquitetura do sistema de planeamento em Moçambique, distribuição do poder,
instrumentos de planeamento urbanístico e de gestão ambiental mas na dimensão dos recursos
hídricos. O capítulo 3, 4, 5 e 6 faz análise sobre estrutura da ocupação e dinâmica do crescimento
urbano na AMM, a caracterização da KaTembe e das problemáticas dos recursos hídricos no
PGUDMK em KaTembe.
8
2 O PLANEAMENTO E GESTÃO URBANÍSTICA E AMBIENTAL – ASPETOS DE
ENQUADRAMENTO
Procura-se em primeiro neste capítulo fazer uma abordagem teórica sobre o planeamento,
gestão urbanística e ambiental por forma a se perceber como estes atuam no território moçambicano.
Em seguida far-se-á uma contextualização sobre a arquitetura do sistema de planeamento em
Moçambique, a distribuição do poder, instrumentos de planeamento urbanísticos e de gestão
ambiental. Outrossim, far-se-á uma descrição sobre o sistema de planeamento e gestão urbana da
área municipal de Maputo, desde a sua organização político-administrativa e a forma de atuação dos
IGTs, uma vez que a AMM não tem poder vinculativo próprio, ou seja não funciona como órgão com
poder administrativo, portanto, não dispõe de uma estrutura com poder legislativo. Posteriormente
será feita uma abordagem ambiental na dimensão dos problemas hídricos que afetam a AMM visto
que em todo o contexto ambiental esta representa a dimensão mais crítica do enquadramento
ambiental.
O SGT em Moçambique atua sobre 3 níveis: Governo Central, Governo Provincial, e governo
Distrital. Para além destes níveis a Lei nº8/2003 (AR, 2003) destaca os órgãos de
administração/organização territorial local do Estado em escalões seguintes: provincial, distrital,
postos administrativos, localidades e de povoações.
9
Figura 5: Divisão territorial de Moçambique. Fonte: Adaptado com base na divisão administrativa do país,
disponível em http://www.gadm.org/
A nível nacional
A nível provincial
A nível distrital
10
A nível autárquico há a considerar:
Tabela 1: : Instrumentos de gestão do território moçambicano. Fonte: Adaptado com base na Legislação
de base do Ordenamento do Território em Moçambique
Atuação
Âmbito IGT Natureza Programação
territorial
Plano Nacional de Desenvolvimento
do Território
Nacional Planos Especiais de Ordenamento
do Território Regional
Económico, Social
Planos Provinciais de P.Estratégico
Provincial e Espacial
Desenvolvimento do Território
Distrital Planos Distritais de Uso da Terra Urbano e Rural
Plano(s) de Estrutura Urbana
11
Hierarquização e complementaridade, estabelece a hierarquização dos planos, e institui a
4
obrigatoriedade da elaboração de planos de nível distrital e autárquico (municipal) .
A nível nacional os planos são aprovados pelo Conselho de Ministros, a nível provincial são
elaborados por iniciativa do Governo Provincial, a nível distrital são elaborados por iniciativa do
Governo Distrital e a nível municipal são elaborados pelos técnicos municipais, ou instituições
externas, mas mandatados e aprovados pelas assembleias municipais, sob proposta da
administração e do presidente do município. A Lei de Ordenamento do Território (Lei 19/2007, de 18
de Julho) é o principal instrumento que rege o planeamento e o ordenamento do território em
Moçambique. Esta lei veio clarificar o sistema de planeamento moçambicano e agregar um conjunto
de leis anteriores tidas como relevantes para o processo de planeamento moçambicano: Lei de
Terras nº19/97 de Outubro; Lei das Autarquias locais nº 2/97 de 18 de Fevereiro; Lei de Tutela
Administrativa do Estado nº 7/97 de 31 de Maio; Lei de Finanças Autárquicas nº de 11/97 de 31 de
Maio (Macucule, 2010).
É de referir que, todo o plano urbano elaborado por órgãos de poder local deve ter a
colaboração dos organismos centrais e provinciais e estar integrado nas políticas nacionais e
sectoriais. Portanto, as autarquias locais ainda não detém de força capaz de operar no território sem
a intervenção do governo central e provincial o que torna o processo de planeamento urbano frágil e
ineficaz.
4
A partir de 1998 Moçambique passou a ter autarquias locais, denominadas municípios. Todas as capitais de
província passaram a ser municípios. Lei 10/97, de 31 de Maio e Lei 3/2008 de 2 de Maio. Determinou a crição
de 43 municípios, sendo 23 de categoria de cidade (A a D) e 20 de categoria de vila, distribuída por 14 na região
norte, 16 na região centro e os restantes 13 na região sul.
5
Frente de Libertação Nacional.
6
Sobre o modelo de governação da Frelimo pode-se aprofundar mais em “BUSSOTTI, L.. A gestão do risco
político na democracia moçambicana: análise e perspectivas.” Disponível em:
<http://www.revista.ufpe.br/revsocio/index.php/revista/article/view/388/323>; Simione, Albino Alves. (2014). “A
modernização da gestão e a governança no setor público em Moçambique. Revista de Administração Pública”,
48(3), 551-570. Disponível em https://dx.doi.org/10.1590/0034-76121425, acesso em: 18 Ago. 2016.
12
n°19/97, de 1 de Outubro) regulamentada através do (Decreto n°66/98, de 8 de Dezembro), onde
foram introduzidas alterações que incorporavam dispositivos legais que reconheciam a existência de
outros atores nos processos de alocação e administração da terra (Sicola, 2014).
Figura 6: Planos urbanos do período antes da independência. Fonte: Adaptado a partir de PEEUMM,
2008; e Macucule, 2015.
13
A incidência no território destes planos foi marcada por várias transformações sociais, assim
eram implementados para resolver os problemas urbanos que a capital ia apresentando devido ao
aumento demográfico, consequentemente maior pressão sobre o território tornando as infraestruturas
básicas insuficientes para responder a demanda emergente.
Figura 7: Planos urbanos do período pós independência. Fonte: Adaptado a partir de PEUMM, 2008; e
Macucule, 2015.
Portanto, à medida que parecia haver um caminho para solucionar alguns problemas que vai
do urbano/micro para o regional/macro verifica-se um agravamento da expansão urbana nas
periferias e das suas problemáticas. A figura 8 ilustra a incidência dos planos no território de forma
sequenciada, de forma a se perceber o modelo urbano que o município de Maputo foi ganhando
forma.
14
Figura 8: Planta regional com incidência dos vários planos antes e pós a independência. Fonte: Adaptado
com base nos planos urbanos marcantes antes e pós a independência.
Anos depois, a vila começa a crescer rapidamente e com a chegada da expedição de Obras
Públicas para conquistar o pântano da cidade, os trabalhos levam mais dez anos. Em 1892 é
introduzido um novo plano denominado Plano Aguiar (aprovado oficialmente), foi considerado na
época o plano urbano mais regular da África do Sul e um dos melhores de qualquer parte do mundo
(CMM, 2008). Apresentava uma proposta de traçado rígido que marca a atual malha urbana da
cidade. Regista-se também neste período, a construção dos caminhos-de-ferro que traz uma nova
dinâmica à vila, levando assim à sua elevação na categoria de cidade a 10 de Novembro de 1887.
15
Portanto, em 1887 surge o Plano Geral de Urbanização de Lourenço de Marques de 1887 com vista a
resolução de problemas de ordem geográfica do aterro e secagem do pântano, entretanto, com a
gradual expansão da cidade, Maputo cresce na direção de Su-sueste para Norte através de uma
malha ortogonal de implantação. Foi também traçado para noroeste, um arco de circunferência de 2
017 metros (Vide em Anexo 11 os respetivos arcos de circunferência), definindo-se os novos limites
da zona suburbana por um arco de circunferência concêntrico ao primeiro traçado com uma abertura
de mais 5 000 metros (CMM, 2008). Assinala-se uma nova malha de menor dimensão que a de
expansão anterior, já com os traçados, demarcação de terrenos e com início de ocupação edificada.
16
Com o financiamento das Nações Unidas no mesmo período, por volta de 1987, foi iniciado
um projeto financiado pelo PNUD e implementado pelo UNCHS (Habitat) com o objetivo de assistir o
Governo na definição da Política Nacional de Habitação, tendo esse terminado em Junho de 1991. A
continuidade dessa iniciativa foi assegurada pelo projeto MOZ/91/010, que tinha em vista assistir o
governo na formulação do Programa Nacional de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (CMM,
2008).
Com o projeto de reabilitação urbana do Banco Mundial (PRU), também em 1987, iniciaram-
se estudos para a implementação do Projeto de Reabilitação Urbana (PRU) em Maputo e na Beira,
financiados pelo Banco Mundial. Estes projetos viriam também a contribuir para a elaboração das
linhas gerais da Política Nacional de Habitação. O desenvolvimento do projeto foi considerado
satisfatório, embora tenha havido alguns atrasos na construção de infraestruturas. O projeto forneceu
linhas de crédito para a compra de “kits” de materiais de construção, suficientes para a construção
em fases de uma habitação, que poderia ser desenvolvida conforme a capacidade financeira da
7
família . Entretanto, o Plano de Estrutura da Cidade de Maputo de 1985 pretendia orientar o
crescimento da cidade, dando linhas gerais para a expansão urbana e identificando áreas a serem
reservadas para usos especiais. Segundo (CMM, 2008) o plano tratou das cidades de Maputo e da
Matola considerando três hipóteses de expansão da cidade: desenvolvimento não controlado (status
quo), expansão concêntrica, e expansão linear. Foi também definido o enquadramento de um
conjunto de planos diretores distritais, a serem desenvolvidos posteriormente.
Foram propostas também normas de urbanização para a cidade, definindo as condições para
a ocupação do solo e reservando áreas significativas para habitação e para a expansão das
15
atividades produtivas, equipamentos urbanos e infra-estruturas .
7
Este assunto pode se ver com mais profundidade em “Moçambique, Melhoramento dos Assentamentos
Informais, Volume I – Análise da Situação, Cidades de Maputo, Nacala e Manica”.
8
Indeed.
17
i. Plano de Estrutura da Área Metropolitana de Maputo-1999 (PEAMM)
O PEUMM (atual instrumento de planeamento do município de Maputo) foi construído tendo como
base as seguintes prioridades:
9
Após a independência em Moçambique, ocorreu a nacionalização da terra decretada na 1ª Lei de Terras nº
6/1979 e reforçado na Resolução nº10/1995 da Política de Nacional de Terras e na Lei de Terras (1997).
18
12), enunciados na Lei de Terras de 1997. Em solo urbano, esta Lei de Terras prevê ainda a
concessão de títulos de Direito de Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT) apenas nas áreas cobertas
por planos de urbanização e serviços públicos de cadastro organizados (artigo 23).
Nos termos da legislação sobre terras em Moçambique existem três (3) formas de aquisição
do DUAT nomeadamente: I. Ocupação segundo as normas e práticas costumeiras no que não
contrarie a Constituição. Esta forma de ocupação só é conferida a pessoas singulares nacionais e as
comunidades locais; II. Ocupação por boa fé, este direito também só é conferido a pessoas
singulares nacionais que estejam a utilizar a terra há pelo menos 10 anos; III. Autorização formal,
10
este direito funciona para ambas categorias dos sujeitos (nacionais e estrangeiros) , desde que
reúnam os requisitos estabelecidos na Lei.
10
Sujeitos nacionais: podem ser sujeitos de DUAT as pessoas nacionais, colectivas e singulares, homens e
mulheres, bem como as comunidades locais. O legislador ao tornar expresso e bem vincado o direito dos
sujeitos singulares (homens e mulheres), quis realçar o direito da mulher à terra independentemente de qualquer
tutela masculina. Isto decorre do princípio de igualdade entre os cidadãos previsto, nos artigos 66 e 67 da
Constituição da República; Sujeitos estrangeiros: As pessoas singulares e colectivas estrangeiras podem ser
titulares do DUAT desde que tenham projecto de investimento devidamente aprovado ao abrigo da legislação
sobre investimento (Lei nº 3/93, de 24 de Julho e Decreto nº14/93, de 21 de Julho) e observem as seguintes
condições: a) Sendo pessoas singulares desde que residam há pelo menos cinco anos na República de
Moçambique (este requisito pode ser provado através do DIRE ou de um documento passado pelos Serviços de
Migração); b) Sendo pessoas colectivas desde que estejam constituidas ou registadas em Moçambique. De
referir que, no caso de habitação própria não é exigível que o sujeito estrangeiro apresente o projecto de
investimento devidamente aprovado, isto decorre do nº 2 do artigo 25 do Regulamento da Lei de Terras.
11
A Co-titularidade existe quando o DUAT, pertence a duas ou mais pessoas.
19
Na titularidade do DUAT, o Estado reconhece e protege os direitos adquiridos por ocupação
através das normas e práticas costumeiras, ocupação de boa fé, há mais de 10 anos e ocupação por
herança. O DUAT poderá ser transmitido de duas formas: a) Entre vivos através da compra e venda
de infraestruturas, construções e benfeitorias existentes no terreno autorizado; e b) Por herança.
A concessão pode ocorrer por deferimento dos pedidos de atribuição e ocupação de boa-fé,
outrossim ao disposto nos artigos 26 e 29 da Lei de Terras (1997), o sorteio, a hasta pública e
12
negociação particular entre Órgãos Locais do Estado , autarquias competentes e proponentes de
projetos especiais. O direito, de ocupação de boa-fé, tem vindo a ser reconhecido legalmente através
da emissão de títulos permanentes de uso e aproveitamento de terra, embora este processo de
concessão sofra vários problemas [falta de recursos técnicos e financeiros, burocracia, conflitos de
interesse (Chiziane, 2007)].
Nas áreas periféricas de Maputo, as ocupações de boa-fé são anteriores à execução dos
planos de urbanização. Entretanto, na altura da execução dos mesmos o Art.10 e 16 do Regulamento
do Solo Urbano obriga ao inquérito dos ocupantes e à auscultação dos representantes da
comunidade local para identificar e recensear os residentes, caracterizar a situação jurídica da
ocupação e decidir sobre reclamações e conflitos existentes. No caso em que a ocupação se insere
no plano, o ocupante tem de comprometer-se a respeitar as regras estabelecidas (artigo 29) e pode
candidatar-se à obtenção de título (artigo 11).
A Lei de Terras (artigo 18 al. b) e o Regulamento do Solo Urbano (artigo 30) preveem
também uma justa indemnização e/ou compensação quando da expropriação por utilidade pública.
12
A Governação Local em Moçambique compreende a existência de órgãos locais do Estado e os órgãos do
Poder Local (as Autarquias locais). De acordo com o disposto no artigo 262 da Constituição da República os
órgãos locais do Estado têm como função a representação do Estado ao nível local para a administração e o
desenvolvimento do respectivo território e contribuem para integração e unidade nacional.
20
Atualmente, se tem verificado que os conflitos na concessão de terra em Moçambique se tem
proliferado. Estes conflitos agravam-se devido às grandes dinâmicas que se têm verificado na
ocupação do espaço em Moçambique, exercendo maior pressão sobre a terra. Por um lado devido à
grandes investimentos registados, em particular na capital do país, por outro lado pelas atuais
infraestruturações (exemplo da circular de Maputo) que vem dar valor a estas terras.
É de notar que, os normativos que regulam a lei são muito antigos (tem mais de 20 anos) e se
perdem as vicissitudes que podem acontecer perante a terra. Repara-se que existem 4 diplomas que
regulam a terra nomeadamente: a Constituição da República, a Lei de Terras, o Regulamento de
Terra e o Código Penal (recente em relação aos outros normativos), este último vem criminalizar a
prática ilegal do uso e aproveitamento da terra. O sistema de terra deve ser olhado como algo
transitório, sendo que o conceito de terra pertencer ao estado deve ser revista na CRM, por exemplo
se houvesse a possibilidade de se hipotecar a terra haveria de se ter mais ganhos em investimentos,
tal como não faz muito sentido falar de DUAT nos centros urbanos.
No caso concreto de Moçambique, foi a partir da década de 80 em que começou a surgir uma
certa preocupação com o estado do ambiente nacional e criou-se uma Unidade de Gestão Ambiental
dentro do Instituto Nacional de Planeamento Físico (INPF), cujo objetivo fundamental era propor um
aparelho institucional capaz de integrar os princípios ambientais no processo de desenvolvimento do
país (MICOA, 1995).
Em 1985, com assistência do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) propôs-se a criação do Conselho
do Ambiente, de nível ministerial, constituído por um secretariado técnico e dotado de recursos
financeiros. Porém, só em 1987 é que foi designado ao Ministério dos Recursos Minerais a
institucionalização da gestão ambiental, sendo este assistido pelo Ministro da Construção e Águas
13
(MCAIPMA, 2009). Na sequência desses avanços, finalmente em 1990 a partir da CRM no art.90,
determina-se o Direito ao Ambiente, estabelecendo que, “todo o cidadão tem direito de viver num
13
Este Direito é posteriormente reforçada na revisão da CRM de 2004, através do art.117.
21
ambiente equilibrado e o dever de o defender”, e que, em consequência disso, “o Estado e as
autarquias locais, com a colaboração das associações de defesa do ambiente, adotam políticas de
defesa do ambiente e vela pela utilização racional de todos os recursos naturais...que o Estado
promove iniciativas para garantir o equilíbrio ecológico e a conservação e preservação do meio
ambiente visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”.
A vertente ambiental integra várias dimensões de estudo, importa referir que em todo o
enquadramento do contexto ambiental um dos aspetos mais críticos é a problemática dos recursos
hídricos na AMM e será dentro desta dimensão ambiental que o trabalho terá enfoque.
Moçambique possui treze bacias hidrográficas principais, sendo de Sul a Norte, as bacias dos
rios Maputo, Umbeluzi, Incomati, Limpopo, Save, Buzi, Pungoé, Zambeze, Licungo, Ligonha, Lúrio,
Messalo e Rovuma. Moçambique é um país de jusante, partilhando nove (9) das quinze (15) bacias
hidrográficas internacionais da região da SADC. Os rios são os maiores transportadores dos
principais recursos hídricos do país, dos quais mais de 50% são originados nos países de montante.
São de notar as diferenças que se verificam entre regiões no que se refere à variação da
precipitação, período húmido e seco e de ano para ano com cheias e secas (CM, 2007).
22
Metas de Desenvolvimento do Milénio, incluem água potável e saneamento, água para segurança
alimentar e desenvolvimento rural, prevenção da poluição da água, e conservação dos ecossistemas,
mitigação dos desastres e gestão do risco, gestão dos recursos hídricos transfronteiriços e partilha de
benefício (Albino, 2012).
De acordo com (CM, 2007), torna-se necessário e urgente desenvolver planos detalhados
relativos ao desenvolvimento dos recursos hídricos para promoção dos serviços de abastecimento de
água e saneamento, gestão de desastres e proteção dos ecossistemas, incluindo a prevenção da
intrusão salina nos estuários dos rios, da produção industrial, e da produção de energia hidroelétrica.
Os instrumentos legais para a gestão dos recursos hídricos incluem a Lei das Águas (1991); a
Política Nacional de Águas (1995), sendo posteriormente revisada em 2007; a Política Tarifária de
Águas (1998) e um conjunto de decretos (Albino, 2012). Este quadro legal reconhecendo que a
gestão de recursos hídricos é um assunto que envolve transversalmente vários sectores, a
coordenação intersectorial é essencial na gestão integrada dos recursos naturais. Deste modo,
harmoniza-se com outras leis relacionadas, nomeadamente: a legislação agrária, ambiental, mineira,
do mar, das pescas, da energia, relacionada com administração estatal e outras relevantes (CM,
2007).
O atual quadro legal estabelece que o Ministério das Obras Públicas e Habitação através da
Direcção Nacional de Águas, a nível central, é a principal instituição responsável pela gestão de
recursos hídricos do país (idem). Na sequência, é criado o Conselho Nacional de águas com o
objetivo de estabelecer a coordenação intersectorial e gestão integrada dos recursos hídricos.
A gestão dos recursos hídricos do país ocorre sob três níveis institucionais nomeadamente:
nacional, regional e local.
a) Nível nacional
O Conselho Nacional de Águas (CNA), criado sob a égide da Lei das Águas (1991), é um
órgão consultivo do Conselho de Ministros para a implementação das políticas da água e outros
aspetos relevantes para a gestão da água. Tomam parte deste conselho todos os Ministérios
interessados no setor da água, sendo presidido pelo Ministério das Obras Públicas e Habitação:
responsável pelo controle e direcionamento do setor das águas a nível superior, (Barros, 2009 citado
por Albino, 2012).
23
Dentro do Ministério das Obras Públicas e Habitação se encontra a Direção Nacional da Água
que é responsável pela elaboração e implementação das políticas da água, planeamento e gestão
dos recursos hídricos e promoção da cooperação em bacias de rios compartilhados (idem).
De a cordo com a Lei de Águas 16/91 foram estabelecidas cinco Administrações Regionais
de Águas (ARAs) que funcionam sob a tutela da Direção Nacional de Águas. Na sequência, a gestão
dos recursos hídricos da AMM é feita pela ARA-Sul.
14
Disponível em: http://www.ara-sul.co.mz/MenuPrincipal/SobreNos/CriacaoEAtribuicoes.html
24
Tabela 2: Quadro Legal e Político Ambiental em Moçambique. Fonte: Adaptado com base em (MICOA,
2011).
Em 2007, a nova política nacional de águas tem como objetivo disponibilizar água
Política Nacional de "em quantidade e qualidade adequadas para as gerações presentes e futuras, para o
Águas/Resolução Nº desenvolvimento sustentável, a redução da pobreza, a promoção do bem-estar e da
46/2007 de 21 de Agosto paz e a mitigação dos efeitos negativos das cheias e das secas”.
Política e Estratégia do Os objetivos da política de energia de 1998 incluem a garantia do fornecimento fiável
Sector de de energia ao mais baixo custo possível; o aumento da disponibilidade de energia a
Energia/Resolução Nº 5/98, partir de fontes não renováveis; a promoção de tecnologias de energias renováveis.
3 de Março –
Política/Resolução Nº.
24/2000 de 3 de Outubro –
25
Esta política de gestão das calamidades concentra-se na sua prevenção e especifica
Política de gestão das a contribuição para a conservação e preservação do ambiente como um dos seus
calamidades/Resolução Nº objetivos. A implementação da política de gestão das calamidades é da
18/99 de 10 de Junho responsabilidade do Instituto Nacional de Gestão das Calamidades (INGC).
A formulação da política da meteorologia expandiu a rede meteorológica de modo a
Política e Estratégia de proporcionar ao país avisos prévios sobre condições climáticas adversas extremas. o
Desenvolvimento da objetivo da estratégia é minimizar o impacto das calamidades naturais e outros
Meteorologia/Resolução Nº fatores climáticos no desenvolvimento de Moçambique. O Ministério dos Transportes
7/96, 2 de Abril – Política e Comunicações, através do Instituto Nacional de Meteorologia, é responsável pela
Resolução Nº 43/2006, de 26 sua implementação.
de Dezembro – Estratégia
“integração das ferramentas de uso da terra no desenvolvimento e planificação
económica das unidades territoriais político-administrativas a todos os níveis visando
Política Nacional do um melhor uso económico e social dos recursos, dependendo da sua localização, do
Planeamento do Uso da seu relacionamento com a infraestrutura existente ou a ser criada, a atual ocupação
Terra/Resolução Nº. 18/2007 da terra e os fatores de natureza espacial e ambiental”.
de 30 de Maio
O PNGA é o quadro de políticas que orienta o trabalho do MICOA. O programa tem
como tarefa garantir a sustentabilidade a longo prazo do desenvolvimento social e
económico e identifica áreas prioritárias para a gestão sustentável do
Programa Nacional de desenvolvimento, nomeadamente a silvicultura, agricultura, minas, pescas e turismo.
Gestão Ambiental (PNGA) Identifica três áreas de enfoque que carecem de intervenção, nomeadamente
1996-2006 recursos naturais, zonas costeiras e zonas urbanas.
A problemática dos recursos hídricos na AMM sob ponto de vista dos impactes no território
merece uma especial atenção por parte dos organismos responsáveis pela sua gestão. Face ao
rápido crescimento demográfico na AMM, os distritos vizinhos estão a ser cada vez mais absorvidos,
obrigando deste modo mais esforço por parte do governo central e local em garantir uma maior
cobertura e expansão dos serviços e infraestruturas básicas para atender a essa demanda crescente.
A problemática dos recursos hídricos tem como causa principal e natural a chuva, para além das
grandes mudanças climáticas que ocorrem a nível global e em particular no país (vide a figura 9).
26
Figura 9: Zonas de risco de inundação. Fonte: INGC, 2014
A região sul do país, a qual a AMM faz parte apresenta-se num cenário de uma elevada
subida do nível do mar, em caso de degelo polar (prazo incerto) conduzindo a um aumento de 5
metros do nível das águas do mar. Na figura 9 na foto à direita, a cor amarela representa a área do
porto e dos caminhos-de-ferro que ficarão submersas; o verde ilustra a terra em risco (abaixo de
10m) e a nova linha de costa; a linha azul é a antiga linha costeira; a linha vermelha mostra as
infraestruturas existentes (INGC, 2012). No centro urbano da Matola onde localiza-se a maior parte
das indústrias da AMM, os problemas ambientais são mais agravantes pois a emissão dos gases das
fábricas que polui o ar e retém o calor, vão intensificando o efeito de estufa. Estas consequências
trazem a população residente e circunvizinha problemas de vária ordem como chuvas ácidas,
problemas respiratórios, ilhas de calor e inversão térmica.
27
Figura 10: Apresentação dos problemas dos recursos hídricos.
A foto 1 e 2 faz referência ao troço da Av Julius Nyere na cidade de Maputo; a foto 3 ilustra a
rua 21 304 do Bairro de Infulene A, na cidade da Matola e a foto 4 ilustra o Bairro da Polana Caniço A
na cidade de Maputo. É de notar que, por parte do governo central tem havido tentativas de ações
com vista a minimizar estes problemas mas sem muito impacto, por exemplo nos troços da Av Julius
Nyere (foto 1 e 2) foi feita a proteção das ravinas e taludes com material consistente, incluindo a
construção de valetas, coletores, aquedutos, assim como de sistemas de drenagem das águas da
15
zona alta para as valas existentes nas bermas , mas o problema de erosão naquela zona ainda
persiste.
15
http://www.moz.life/familias-perigo-erosao-na-julius-nyerere/.
28
Figura 11: Ocupação inadequada em Maputo, zona próxima ao Campo de Golfe da Polana (bairro da
Polana caniço A). Fonte: http://www.moz.life/familias-perigo-erosao-na-julius-nyerere/;
http://www.jornaldomingo.co.mz/index.php/reportagem/4655-municipes-e-edilidade-lutam-contra-
inundacoes; http://impactoerosao.blogspot.pt/
De forma anárquica muitas vezes com a cumplicidade das próprias autoridades municipais,
foram sendo erguidas infraestruturas residenciais e para outros fins em locais inapropriados para a
habitação humana. Em outros casos a ereção de tais infraestruturas só podia ser viável mediante o
desenvolvimento de ações de saneamento que nunca chegaram a ser feitas. O resultado é que a
maioria dos bairros periféricos da AMM, nas condições em que se encontram, não são locais
apropriados para serem habitados por seres humanos. Sem ruas asfaltadas, sem sistemas de
16
drenagem e esgotos, sem pulmões verdes ou parques de recreio, etc .
Os limites da AMM foram sofrendo expansão ao longo do tempo como forma de absorver a
crescente demanda da população às áreas urbanas, trazendo consigo impactes ao ambiente urbano,
por exemplo houve e ainda continua a haver uma crescente pressão rodoviária sobre uma
infraestrutura que originalmente foi concebida para servir uma pequena elite urbana colonial (no caso
da cidade de Maputo), este problema é também agravado pela excessiva concentração dos serviços
na chamada “cidade do cimento”. O que vem acontecendo desde então é que o caminho de
escoamento natural da água é cada vez mais longo (dado o crescimento do cais para o lado do
estuário) e difícil (mais construções, viaturas, etc) e os picos de água são cada vez mais intensos e
17
agudos (devido às mudanças climáticas e à impermeabilização dos solos na Baixa e a montante) ,
tal como se pode ver na foto 5, Av 25 de Setembro-baixa da cidade de Maputo.
16
http://saneamentonacidadedemaputo.blogs.sapo.pt/sistema-de-saneamento-na-cidade-de-807
17
http://housesofmaputo.blogspot.pt/2015/06/inundacoes-da-baixa-pantanos-de-1876.html.
29
Figura 12: Consequências do mau dimensionamento e localização das infraestruturas para a retenção
das águas pluviais afluentes. Fonte: http://www.jornaldomingo.co.mz/index.php/reportagem/4655-
municipes-e-edilidade-lutam-contra-inundacoes.
No caso de Matola, existiam 150 bacias de retenção de água que intercomunicavam entre si,
no entanto, nos locais onde se localizavam as bacias, existem lá hoje construções diversas, o que
significa que alguns bairros nasceram em locais impróprios (vide a foto 6, 7 e 8), há também
empresas que foram construídas sobre condutas que deviam permitir a passagem da água (ver a foto
7). A falta de valas de drenagem, sobretudo nos novos bairros, aliada à má delimitação de talhões
18
resulta na ocupação anárquica dos espaços (foto 4) .
A gestão de resíduos sólidos na AMM constitui um problema muito grave a nível sócio
ambiental, quer resultado dos padrões atuais insustentáveis de produção e consumo, e que provoca
impactes ambientais e de saúde pública, cuja solução não é encontrada, devido à justificação de falta
de meios para a sua remoção. Existem na AMM duas lixeiras (lixeiras a céu aberto), de Hulene com
17ha em Maputo, e a lixeira de Malhampsene na Matola, ambos em estado de saturação e com
menos de 2 anos de vida útil, considerando que ambas as cidades produzem cerca de 800 e
200Ton/dia, entretanto as entidades gestoras responsáveis pela gestão de resíduos sólidos
propuseram atualmente o encerramento destas duas lixeiras promovendo a melhoria das condições
de deposição e consequente a saúde pública (Mucavele, 2015). Nesta sequencia propôs-se um
projeto de aterro intermunicipal a localizar-se em Mathlemele, no município da Matola, com cerca de
100ha. Na zona do Hulene, na cidade de Maputo, residências e estabelecimentos comerciais
partilham espaços com o lixo, com os vários riscos associados, mas as pessoas afetadas dizem não
19
ter outra saída . Este problema também se alastra pela zona central da AMM (ver a foto 9, 10), outro
aspeto (ver a foto 9), é que mesmo com os depósitos presentes o lixo é colocado no chão. Todavia
18
http://www.jornalnoticias.co.mz/index.php/primeiro-plano/28492-cidade-e-provincia-de-maputo-chuvas-
destroem-e-desalojam.html.
19
Disponível em: http://housesofmaputo.blogspot.pt/2015/06/inundacoes-da-baixa-pantanos-de-1876.html.
30
este problema associado a um sistema deficitário na gestão de esgoto (foto11 e 12), que por sua vez
dificulta a circulação das águas nas drenagens devido aos resíduos sólidos ali lançados.
Figura 13: Deposição não controlada de lixo e entupimento das valas de drenagem em Maputo. Fonte:
http://www.mmo.co.mz/maputo-e-lixo-casados-para-sempre.
De acordo com (INGC, 2012), os rios do Sul de Moçambique caracterizam-se por longas e
vastas planícies de alagamento que são altamente suscetíveis à intrusão de água salina. Para o caso
da região de Maputo, o rio Maputo é afetado com uma profundidade de penetração de 11 km e uma
extensão de inundação de 5 km², tal como é apresentado na figura 14. Prevê-se que com o aumento
da população das bacias de Umbeluzi e Maputo haverá uma queda de 60-70% da disponibilidade da
água para consumo, por exemplo o aumento de aproximadamente 14 milhões em 2000 para aprox.
46 milhões em 2050. Se as taxas de consumo atuais e irregulares se mantiverem ou se as taxas de
consumo elevadas e uniformes forem adotadas em toda a região, o Umbeluzi secará durante a maior
parte do ano, pois as taxas de extração excedem a água disponível dos caudais naturais e os caudais
só podem ser mantidos num cenário de consumo médio e reduzido (INGC, 2012).
31
ii. Condicionantes existentes
32
intervenção ambiental bem como a fiscalização, para o uso racional da água e dos cuidados a ter
com as águas residuais, sobretudo pela saúde pública. O despejo de águas residuais, dejetos ou
outras substâncias, e quaisquer atividades suscetíveis de provocar a poluição ou degradação do
domínio público hídrico, está dependente de autorização a conceder pela instituição responsável pela
gestão dos recursos hídricos da bacia respetiva e outras autoridades competentes, a fiscalização
poderá tornar possível assegurar o bom regime de uso da águas.
Tabela 3: Quadro resumo dos instrumentos que regulam as problemáticas dos recursos hídricos. Fonte:
Adaptado com base na legislação vigente sobre os recursos hídricos
33
• O Artigo 7 da Lei das águas, estabelece na alínea c) a
compatibilização da política de gestão de águas com a
politica geral de ordenamento do território de
• Lei das águas 16/91 conservação ao do equilíbrio ambiental, de forma a
• Política Nacional do acabar com a ocupação em zonas hídricas;
Planeamento do Uso da • O Artigo 8 da Lei das águas, determina que ao
Terra/Resolução Nº. Estado competirá implementar... uma política de gestão
Intrusão salina 18/2007 de 30 de Maio de águas orientada para:.. f) a luta contra poluição
• Diploma Ministerial nº contra a deteriora, das águas pela intrusão de
134/93, de 17 de salinidade...
Novembro-Instituição da • É responsabilidade da ARA-Sul: Controlo do uso e
ARA-Sul aproveitamento de água superficial e subterrânea,
descarga de efluentes e de outras atividades que
afetam os recursos hídricos; Planeamento, garantia da
disponibilidade e distribuição equilibrada de recursos
hídricos (superficiais e subterrâneos)...
34
3 ESTRUTURA DE OCUPAÇÃO E DINÂMICAS DO CRESCIMENTO URBANO NA AMM
Para se ter uma perceção sobre a estrutura da ocupação e dinâmicas do crescimento urbano
da área de estudo, propusemo-nos numa primeira fase perceber o ambiente em que a área de estudo
(a KaTembe) se encontra inserida partindo de um olhar macro sobre a AMM. Assim, este capítulo
propõe-se descrever numa primeira fase a caracterização sobre os aspetos biofísicos e ambientais da
AMM, de modo que se tenha uma perceção abreviada sobre o território em estudo. Em seguida, faz-
se a descrição sobre o crescimento demográfico, o sistema urbano em Moçambique, bem como a
evolução da população. Na sequência, procura-se esboçar sobre a ocupação urbana, que marca o
modelo de estrutura/morfologia do território sobre a AMM, e como forma de perceber as razões desse
modelo de ocupação, analisam-se as possíveis influências dessa ocupação do solo e por fim
apresentam-se as tendências do seu crescimento. Importa referir que, para descrever sobre a
ocupação considerou-se a utilização de imagens referentes a 1986 para o período logo após a
independência, 2006 e 2016, de forma que fosse percetível a forma como foi ocorrendo a expansão
urbana. A escolha desse horizonte temporal deveu-se à qualidade das imagens disponíveis para a
área em estudo.
Figura 15: Enquadramento da área de estudo. Fonte: Adaptado com base em dados sobre a divisão
administrativa disponíveis em http://www.gadm.org/
35
20
3.1.1 Carta hipsométrica (Modelo digital do Terreno da AMM)
Designa-se por Modelo Digital de Terreno (MDT), qualquer conjunto de dados em suporte
númerico que para uma dada zona, permita associar a qualquer ponto definido sobre o plano
21
cartográfico um valor correspondente à sua altitude . São gerados em ambiente digital e
representam a superfície ao nível do terreno não sendo considerados valores altimétricos inerentes a
edificações, à vegetação e a outros acidentes artificiais. São representados sobre a forma de
22
estruturas matriciais com diferentes tipos de resolução espacial .
No âmbito do presente trabalho o MDT foi gerado em ambiente ArcGIS. O primeiro processo
foi a geração de uma TIN (Triangulated Irregular Network) recorrendo à extensão 3D Analyst através
da função “Convert TIN from Features”. Em seguida procedeu-se a conversão da TIN resultante para
o formato matricial. O valor de resolução adoptado é de 5m. O MDT gerado representa as
características do suporte físico do território que compõe a AMM, a sua altimetria, bem como a
orografia do território. Esta carta foi obtida através dos dados em formato SRTM 90m Digital Elevation
Database v4.1 referido anteriormente no subcapitulo que o antecede.
De acordo com o substracto territorial (figura 16) ocorrem na superficíe da AMM superficíes
aplanadas com altitudes compreendidas entre 5 a 120 metros, mas dominada por áreas de
superficíes de menos de 100 metros em toda a zona do município de Maputo. Percebe-se que esta
área conserva caraterísticas similares, embora apresente diferenças em termos de amplitudes
hipsométricas.
20
O Modelo Digital do Terreno é um modelo matemático utilizado para fazer a representação aproximada em
suporte digital da topografia de uma determinda superficíe.
21
In Aulas de SIG I, 2014/2015–IST.
22
http://www.dgterritorio.pt/cartografia_e_geodesia/cartografia/modelos_digitais_do_terreno_e_de_superficie/
36
É possível também observar que toda a zona da KaTembe é relativamente baixa, inferior a 60
m, apresentando toda a zona ribeirinha e a baixa aluvionar da linha de água que atravessa o território
com orientação Norte-Sul altimetrias abaixo dos 10 m. A maior parte da zona abrangida pela
KaTembe apresenta um relevo suave e aplanado, conforme a sedimentação costeira típica. A Zona
com elevação mais acentuda verifica-se a oeste da AMM (pertencente a província da Matola) e as
Zonas com elevação pouco acentuada em Maputo. Este substrato tem influência sobre o modelo
territorial de Maputo. Em Anexo 12, encontra-se o respectivo MDT.
Declives
Classes Características
0-5% Áreas planas (suave)
Edificação sem necessidade de terraceamento do
5-12%
terreno
12-16% Edificação com terraceamento do terreno
16-25%
Zonas com declive muito acentuado para edificar
>25%
É de referir que, face a altimetria da área de estudo, constata-se a distribuição das classes
estabelecidas para a declividade em termos proporcionais ao longo de toda a área metropolitana de
Maputo, observando-se grandes áreas planas com declividade até 5% (vide a figura 17).
Na região da KaTembe ocorrem zonas de declives moderados de 5% a 16%, sendo que nas
áreas mais declivosas há susceptibilidade à ocorrência de movimentos de massa de vertente, em
37
particular de tombamentos, escorregamentos de solos e detritos (Betar & Beta, 2012). As Zonas com
declives nulos a médios são as zonas mais baixas e as Zonas com declives médio a elevados
rondam entre 12% a 25%. Para melhor visualização vide em Anexo 13, a Carta de Declives.
O cartograma de exposição solar foi gerado a partir do MDT. Cada parte do território
apresenta diferentes orientações geográficas. Com base nessa orientação, as encostas recebem uma
maior ou menor quantidade de radiação solar, que influencia o conforto das edificações. A cidade de
Maputo é mais húmida do que Matola. Em termos de altitude Matola tem maior área elevada.
Portanto, a área municipal de Maputo no geral é predominantemente plana com boa exposição solar
(vide a figura 18), tendo uma orientação dominante para Norte e Este. O facto de no passado a zona
de Maputo ter sido um pântano que depois foi soterrado para dar lugar à cidade fez contribui para que
s zona seja mais húmida que Matola.
Em termos gerais a zona mais privilegiada é a Oeste da AMM, tendo uma boa exposição
solar. Em anexo 14, vide o respectivo Cartograma de exposição com maior visualização.
O cartograma hidrográfico é formado pela rede de drenagem das águas pluviais e pelas
cumeadas ou linhas de separação das águas, que delimitam as bacias hidrográficas. Este, pode ser
obtido a partir do MDT.
38
A Bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente, drenada por um curso de água ou
um sistema conectado de cursos de água, dispondo de uma simples saída para que toda vazão
efluente seja descarregada. Para este trabalho, limitou-se a bacia a partir de curvas de nível,
tomando pontos de cotas mais elevadas para comporem a linha da divisão topográfica. As principais
bacias que drenam a AMM são Matola, Tembe, Maputo, e Umbeluzi e o vale de Infulene, barragem
dos pequenos libombos a oeste de Matola (vide a figura 19), devido a configuração do relevo a maior
parte dos rios em Moçambique corre de oeste para leste, desaguando no Oceano Índico. Para além
do relevo a natureza dos solos também influencia o caudal, a estrutura e o padrão da rede
hidrográfica. Nas planícies formam meandros e depositam os seus aluviões ou formam lagoas e
pântanos.
39
crescimento das zonas urbanas, posteriormente nos permitirá estabelecer uma análise sobre a
relação destas características físicas com a ocupação do território mais adiante no subcapítulo 3.5.
Em anexo 15, encontra-se a Carta Hidrográfica.
45 000
40 000 41 553
35 000
33 165
30 000
25 000 25 728
20 000 19 580
15 000 15 945
10 000 13 324
10 627
5 000
0
1975 1985 1995 2005 2015* 2025* 2035*
40
mercadorias, a informação e as orientações de política pública. Esta interação quando tem lugar entre
várias cidades de uma dada região define o Sistema Urbano dessa região. Porém, da Teoria dos
Sistemas Complexos aplicada aos territórios aprendemos que não existem territórios fechados, os
territórios sofrem influências externas, às escalas local, regional e global (Macucule, 2015). A cidade,
enquanto sistema aberto, torna-se um subsistema de um sistema urbano mais vasto que por vezes
extravasa a própria região ou País em que se situa.
Em Moçambique as cidades estão classificadas com base nas funções que desempenham,
23
numa designação que parte de A à D tal como se pode observar na Tabela 1. Esta classificação de
cidades permitiu elaborar um esquema do sistema urbano de Moçambique (Tabela 5, figura 21).
Tabela 5: Classificação das cidades de Moçambique segundo BR n.º016. n.º041. Fonte: INE – Censo
populacional 2007.
23
Esta designação de cidades em níveis de A à D foi estabelecida pela Resolução nº 7/87 de 25 de Abril de
1987, publicada no Boletim da República nº 016, I Série, 2º Supl. de 25 de Abril de 1987, pág. 83(8) a 83(9),
excepto a cidade da Matola, elevada ao nível B pela Resolução nº 55/2007 de 16 de Outubro de 2007, publicada
no Boletim da República nº 041, I Série, 8º Supl. de 16 de Outubro de 2007, pág. 716-(19).
41
Figura 21: Sistema urbano de Moçambique. Fonte: Adaptado com base nos dados da Tabela 5.
24
Num sistema urbano metropolitano, apenas as cidades maiores (hubs) mantêm relações
diretas com várias outras, enquanto as menores estão apenas ligadas diretamente a uma cidade
principal tal como se pode observar na figura 21, onde o sistema obedece a mesma lógica das
relações do sistema urbano. Entretanto não há medidas claras que podem definir verdadeiramente
uma política da rede urbana; porém, podem identificar-se hierarquias e níveis de rede urbana, bem
como as suas áreas de influência e as suas funções e responsabilidades relativa a cada nível, pelo
menos no que se refere à definição das políticas sectoriais ancorados à divisão político-administrativa
(Macucule, 2010). Segundo o mesmo autor, o sistema urbano de Moçambique, divide-se nesta
condição em três níveis:
As cidades regionais (CR): constitui a rede das cidades médias. Na sua maioria dominadas
pelas capitais das províncias, concentram pequenos centros industriais e de serviços
urbanos.
24
Pode-se ver com mais profundidade em “Metapolis – acerca do futuro da cidade”, François Ascher, Celta,
1998, Oeiras, ministrado nas aulas de Planeamento Regional e Urbano 2014/2015.
42
O Interior rural (IR): é constituído por pequenas vilas sedes de distritos, uma economia de
base rural, constituem centros de extensas áreas rurais albergando serviços político
administrativos de seu nível e pequenas estabelecimentos comerciais de venda de produtos
básicos e uma pequena indústria dispersa.
Outrossim, o sistema de centros urbanos em Moçambique está muito marcado pela influência
da proximidade do mar – litoral (tal como em Portugal Continental), devido a importância que os seus
portos desempenham para a economia do país. Ora, se o litoral é mais povoado, o interior não só é
pouco acessível como é pouco urbanizado e dominado por uma população rural. As poucas redes de
acessibilidade de que beneficia o interior estão orientadas para a ligação do país com os países do
hinterland no âmbito dos corredores de desenvolvimento que têm os portos como a sua âncora
(Macucule, 2015). Outro aspeto interessante que se pode observar em relação a Lisboa/Portugal
continental é o seu posicionamento geográfico, cuja litoralização é comparável a Moçambique com
uma maior concentração da sua população nos núcleos urbanos litorais (vide a figura 22).
43
ocorrendo naquela situação geográfica, em particular a importância estratégica do porto de Maputo
cuja importância decorre já desde o período das descobertas portuguesas.
A AMM é caracterizada fundamentalmente por uma dispersão do seu território, movido pelo
acelerado crescimento da população. De 1997 à 2007 a população desta área teve um aumento de
30% e prevê-se que até 2027 venha a registar um crescimento de cerca de 68% (vide a figura 23).
Importa referir que grande parte da população encontra-se concentrada nos municípios de Maputo e
Matola, todavia é nas periferias de Matola e nos distritos de Marracuene e Boane onde o crescimento
da população é elevado e consequentemente a ocupação do seu território ocorre a um ritmo mais
acelerado (Macucule, 2015).
Figura 23: Evolução da população no Grande Maputo (AMM). Fonte: INE, 2013; CMCM, Banco Mundial
2015; UNHABITAT 2013, citados por Macucule 2015.
2
Segundo (INE, 2014), Maputo é composta por uma área apenas de 300 km , estima-se que
tenha tido, em 2014, uma população de 1.223.868 hab. É a cidade com a maior densidade
44
2
populacional de 4.033,3 hab/km e representa 4,9% da população total do país (INE, 2014). Registou
nos últimos 35 anos um aumento de 448.568 habitantes e calcula-se que tenha tido um crescimento
1.2% de 1997 a 2007. Observa-se, contudo, uma desaceleração no crescimento da mesma face as
emigrações, principalmente para a Província de Maputo.
Em 2011, foi considerada uma taxa de crescimento populacional de 1,3%, influenciada por: a
redução da taxa bruta de natalidade de 35,5 por cada mil nascimentos em 1997 para 24,6 em 2011; o
aumento da taxa bruta de mortalidade de 8,4 em cada mil mortes para 9,6 no mesmo período.
Adicionalmente, verificou-se uma redução da taxa de imigrantes no período em causa, tendo-se
verificado uma taxa de 39% e 34, respetivamente. Contribui maioritariamente para estes índices, as
imigrações internas, ou seja, de outras províncias. Importa, a este respeito, considerar que a Cidade
de Maputo apresenta a maior taxa de imigração, bastando, contudo, reconhecer que a média
nacional é de 11%. Contrariamente com o que se verificou em outras províncias, a migração contribui
negativamente para o crescimento populacional, pelo que se pode apurar que, no período de 1997 à
2011, registou uma taxa de crescimento natural de 2,1% e taxa migratória de -0,3%, significando
haver mais emigrações que imigrações (Arnaldo, Carlos; Muanamoha, 2014).
1600000
1400000 1 434 457
Com base nos números e projeções apresentados no gráfico acima pode-se notar que, em
cada dez anos a partir de 1997, a população da Cidade de Maputo verifica um crescimento médio de
148.838 habitantes e corresponde um crescimento na ordem de 11,7%. Todavia, a considerar as
novas infraestruturas implantadas na Cidade é correto estimar um crescimento mais acentuado, a
contar com imigrações de população vinda das províncias e a ocupação de novos espaços em
KaTembe, face à construção da ponte.
45
no final da década 80. Assim, ao longo do tempo os processos e dinâmicas de intervenção urbana
têm contribuído para ou sido capazes de contrariar, a dualidade socio espacial existente, acentuada
pela urbanização acelerada e agravada no presente contexto de globalização neoliberal (Jorge &
Melo, 2011). A ocupação urbana de Maputo atualmente encontra-se circundada por uma maior área
peri-urbana que segundo Raposo citado por Jorge & Melo (2011) assume uma importância crescente
na configuração do tecido urbano, pela densidade e extensão e se por um lado invade partes do
centro, por outro vai se urbanizando também.
Figura 25: Elementos estruturantes da AMM. Fonte: Adaptado com base em PEUMM-2008 e em street
map view disponível no ArcGis.
46
grande concentração na capital do país, marcando assim grandes assimetrias em termos de
distribuição equitativa dos serviços públicos. É de notar que, devido a essas assimetrias a população
não servida por estes bens públicos opta por se instalar nas proximidades como forma de poder
usufruir desses benefícios sociais. Assim, a maior parte das construções urbanas verificadas em
Maputo são informais, marcando grande distinção de cidade sobre tudo na capital, onde existe a
chamada “cidade de cimento” e “cidade do caniço” (ver a figura 26) que contribui na definição da
malha orgânica urbana da cidade.
Figura 26: Perfil habitacional da cidade do cimento e da cidade do caniço. Fonte: Google Earth Pro, 2016.
A ocupação urbana da AMM foi obtida através de imagens de satélite, isto devido a falta de
informação e de dados registados sobre a AMM. Assim, o método aplicado foi o de produção de
dados com base em técnicas de Deteção Remota. Esta técnica permite extrair informação de um
objeto, área, ou fenómeno (ocupação urbana, evolução de culturas, cheias, erosão, etc), através da
análise de dados adquiridos por um dispositivo que não esteja em contacto direto com o objeto, área,
ou fenómeno em estudo (in Aulas de SIG I-2014/2015-IST). Porém, é importante frisar que os
resultados na aplicação destas técnicas não são absolutos, por um lado dependem do modo como os
dados foram tratados, e por outro lado da qualidade das imagens obtidas, portanto há que considerar
alguns erros e alguma alteração dos resultados.
Com recurso às técnicas de Deteção Remota, o primeiro passo consistiu em baixar imagens
25
de satélite Landsat TM , bandas 7, 4, 2 com referência aos anos de 1986, 2006 e 2016. O segundo
passo foi o processamento e análise dos dados em ambiente Arcmap, este processo permitiu eliminar
e fazer a escolha de imagens que apresentavam melhor qualidade visual, seguida de correções
geométricas, radiométricas e atmosféricas, numa projeção do sistema de coordenadas UTM datum
WGS-1984 tete-36S correspondente ao sistema utilizado em Moçambique para a zona Sul.
26
De seguida, procedeu-se com a classificação de imagens , supervisionadas e não
supervisionadas (vide a figura 27). Na classificação não supervisionada os pixels foram agrupados
25
Imagens disponíveis em http://earthexplorer.usgs.gov/
26
Processo que permite transformar uma imagem numérica multiespectral constituída por diferentes bandas – ou
multitemporal, formada por uma mesma banda de datas diferentes, numa carta temática, no decorrer do qual os
47
em classes de acordo com as suas características (3 cores, RGB). Dado que a área de estudo é
conhecida, procedeu-se com a classificação supervisionada
O índice bruto de ocupação do solo diz respeito ao espaço consumido pela ocupação
humana; corresponde ao quociente entre a área total de ocupação humana e a área de solo a que o
índice diz respeito, expressa em percentagem. Os resultados obtidos desse processamento e análise
de dados apresenta-se sob forma de uma matriz raster e vetorial, em seguida faz-se o cruzamento
dessas duas entidades de forma a dar origem a um único resultado, que é apresentado na figura 30.
A figura 28, faz referência a tentativa de análise e classificação da imagem do ano 1986 no
ArcMap sem sucessos. Portanto, o processamento no ArcMap da imagem satélite deste período não
trouxe resultados satisfatórios, devido a maior presença da cor branca que confundia na classificação
das cores, uma vez que as áreas ocupadas e não ocupadas estavam com a forte presença desta cor,
objetos sobre a superfície terrestre são agrupados e identificados, de acordo com as suas características
espectrais, espaciais, ou temporais, atribuindo cada pixel a uma determinada classe ou categoria previamente
definida (SIG I 2014/2015-IST).
48
entretanto, procurou-se supervisionar a imagem e o resultado que se pode obter foi que uma maior
área que correspondia a vegetação, área ocupada em alguns locais conhecidos como não habitáveis,
pondo deste modo em causa os resultados esperados.
Figura 28: Classificação da imagem satélite referente ao ano de 1986, em Anexo 16 vide a respetiva
imagem em formato jpeg.
Figura 29: Classificação da imagem satélite referente ao ano de 2006, em anexo 17, vide a respetiva
imagem em formato jpeg.
A imagem de 2006 não produziu dados fiáveis assim como as imagens de 1986, tal como se
pode observar na figura 29 o resultado do processamento no ambiente ArcMap, devido a qualidade
das cores dos pixels não foi possível ter uma clara distinção sobre o que estava ocupado e não
ocupado. A imagem apresentava uma cor escura que dificultou na supervisão da imagem, resultando
numa ocupação em áreas não ocupadas. Nesta sequência, as dificuldades de processamento desses
dados no ArcMap, não nos foi possível apresentar o índice de ocupação desta área nos períodos de
1986 e 2006 conforme o desejávamos apresentar, mas, importa referir que para as futuras
investigações é possível chegar aos resultados que aqui se pretendiam demonstrar através da
cartografia antiga da área que presentemente não nos foi possível obter devido à vários processos
burocráticos para a sua aquisição aliados ao curto espaço de tempo para a pesquisa.
49
Para o caso de 2016 (vide a figura 30), as imagens analisadas trouxeram-nos uma margem
de erro aceitável, pois, a qualidade destas permitiram-nos fazer uma classificação e supervisão mais
segura. Seguindo a lógica dos acontecimentos históricos, bem como a análise demográfica (feita no
número 3.4) em termos da ocupação, poucos anos a seguir à independência do país (1986 por
exemplo) a área urbana começou a registar um crescimento da sua população e consequentemente
a pressão da ocupação do seu território em forma de mancha de óleo. A tendência à ocupação do
território tem mostrado maior densificação ao longo da cidade, sobretudo no epicentro da cidade,
devido as valências de ocupação urbanística que se pode observar nas cidades, maior mobilidade e
acessibilidade aos bens e serviços, acesso ás infraestruturas básicas.
50
3.5.2 Influências de ocupação do solo na AMM
Depois de obtidos estes resultados, com o auxílio do Arcmap fez-se a sobreposição da figura
19 referente aos elementos estruturantes da AMM (georreferenciação da imagem), apenas com a
figura 30 devido aos resultados conseguidos na análise e processamento no ambiente ArcMap.
Portanto, procedeu-se com vista a análise dos possíveis fatores que podem ter contribuído para o
atual modelo de ocupação e expansão da AMM. Se tivéssemos obtido imagens com boa qualidade
de análise ter-se-ia mostrado interessante obter análises variadas com base em diferentes períodos
de tempo (1986 e 2006) de modo que se pudesse perceber as principais tendências de ocupação no
território. É de referir que para as próximas pesquisas é possível fazer-se essa análise com base na
cartografia de Maputo desses anos, bastando para tal ter acesso aos dados geográficos junto das
entidades competentes da cidade de Maputo, o que não nos foi possível obter para esta Tese devido
ao curto prazo de pesquisa no campo.
51
Se olharmos para este modelo de crescimento da cidade comparando-o com outros
territórios, por exemplo em Luanda (apesar da área metropolitana de Luanda apresentar uma
evolução abrupta da sua população quando comparado a AMM, vide a figura 33), em Angola que tal
como Moçambique sofreu um processo de descolonização que culminou com a independência de
ambos os países em 1975, posto isto segue-se a nacionalização da terra como forma de garantir o
direito de terra aos nativos. Em ambas as cidades capitais, Luanda e Maputo, deu-se um fortíssimo
fenómeno de migração regional a partir do interior, o que consequentemente ocasionou o rápido
crescimento da população em ambas as cidades. Estes fenómenos ocorreram sem que os governos
pudessem assegurar, com a indispensável rapidez e recursos, a sua adequada organização espacial,
infraestruturação e produção de habitação com um mínimo de qualidade. Isso teve reflexo sobre o
território ocupado, espelhado por uma ocupação em mancha de óleo (vide a figura 32) em torno do
centro da cidade, próxima das infraestruturas existentes, desordenada e desqualificada.
Estas cidades são por natureza caracterizadas por possuírem centros de atividade económica
e emprego, maior concentração das infraestruturas e serviços. As zonas rurais do país, mal
infraestruturadas e longe dos centros de emprego e de desenvolvimento tornaram-se
progressivamente menos atrativas para reter a população aí residente.
52
Evolução da população AM de Maputo vs AM de Luanda
16000000
14 202 601
14000000
13 337 289
12000000
10000000
8000000
6 542 944
6000000
3 240 841
4000000 2 533 063
1 928 200
1 478 192
2000000 475 328
50 588 61 028 141 647 224 540
0
1925 1945 1965 1985 2005 2025 2045
Figura 33: Evolução da população na AM de Maputo vs AM de Luanda. Fonte: Adaptado com base em
(Chissola, 2015) e (Macucule, 2015).
3.5.3 Relação entre as características fisiográficas, problemáticas dos recursos
hídricos e a ocupação no território
Com base no diagnóstico feito sobre a fisiográfica da AMM no subcapítulo 3.1, será feito
nesta etapa uma análise sobre os aspetos que condicionam ou potenciam a ocupação do território e
selecionar os espaços fisicamente mais aptos aos diferentes usos.
53
condicionadas à ocupação. Em altitudes com valores entre 10 a 20 m, 40 a 60 m são boas para a
ocupação. As zonas entre 0 a 5 m (muitas delas próximas aos leitos de cheias) estão condicionadas
a uma ocupação compatível com o uso (mais na cidade de Maputo, zona este na, na faixa costeira e
também na zona do estuário em KaTembe) e nas zonas de valores entre 5-10 m à uma ocupação
menos densificada e apoiada por coberto vegetal urbano.
Com base nesta sobreposição (ver a figura 35) é possível observar que ao longo das linhas
de água verifica-se ocupação urbana densificada em índices que partem de 49 à 100% de ocupação
o que constitui uma sobrecarga muito grande para essas áreas, trazendo consequências de cheias,
escorrências e intrusão salina (problemáticas já apresentadas no capítulo 2). Em épocas chuvosas
devido a impermeabilização do solo as águas não se infiltram e aceleram perigosamente.
Figura 35: Sobreposição das linhas de água, bacias hidrográficas e ocupação urbana.
Estudos feitos por (Matos, 2015) para a AMM em vista a solucionar problemáticas desta
natureza podem ser equacionadas medidas como:
54
E para o caso do problema de intrusão salina recomenda o (INGC, 2012) a
diminuição/redução do uso da água dos rios desenvolvendo outras alternativas de água, definição de
locais de captação de água subterrânea costeira doce a nível do planeamento e gestão do território,
por exemplo o licenciamento de novas construções urbanas deve atender aos efeitos nefastos da
impermeabilização no escoamento e infiltração e a construção de zonas de lazer não deve degradar
a qualidade da água (Silva & Haie, 2000). Portanto, as medidas estruturais apresentadas por (Matos,
2015) são também aqui equacionadas para a redução da intrusão salina.
Figura 36: Uso do coberto vegetal para proteger leitos de cheias e a multifuncionalidade do espaço com
base em usos compatíveis. Fonte: (PRU, MUOT 2014/2015)
Os declives tem uma relação direta com as questões hídricas sobretudo com as condições de
drenagem, de deslocações de pessoas e veículos, e as condições de erosão do solo. Por exemplo de
para um declive de 0-2% haverá dificuldade de drenagem de águas pluviais (alagamento), valas de
saneamento muito profundas para assegurar inclinações necessárias para o escoamento por
gravidade (PRU, MUOT 2014/2015). Para o caso da AMM nota-se que as áreas que sofrem essas
dificuldades de drenagem das águas pluviais estão entre 0-5% (ver a figura 37).
55
Figura 37: Sobreposição do cartograma de declives com Linhas de água e bacias hidrográficas.
Num declive de um intervalo >25% caracterizam-se por elevados riscos de erosão do solo, na
zona Oeste da AMM junto a zona da bacia dos pequenos libombos, a zona norte junto a zona
costeira da cidade de Maputo; deve proceder-se à utilização de um coberto vegetal de proteção para
facilitar a infiltração das águas e evitar as escorrências. São avançadas medidas por (Matos, 2015)
com vista a solucionar a problemática da drenagem urbana em Maputo, que tem como consequência
as cheias:
Para promover a maior permeabilidade dos solos , podem-se implementar várias soluções
nomeadamente:
Figura 38: Possíveis soluções para minimizar o problema da impermeabilização do solo. Fonte: Matos,
2015.
56
Segundo (Matos, 2015) nesta área podem ser também implementadas medidas estruturais,
precisamente:
57
populacional e a promoção da descentralização de atividades, assentes na densificação, no
desenvolvimento de centralidades já existentes na periferia e na criação de novas; (3) a melhoria da
rede de acessibilidades e transportes, incluindo a reabilitação de várias artérias da cidade e a
construção de novas; e (4) na contenção da construção de condomínios fechados (ver a figura 40).
Alguns aspetos destas medidas e outras relativas à melhoria do território já consolidado dão
proteção especial à população de menores recursos e às suas intervenções e visam promover a
eliminação “das assimetrias sociais e dos privilégios na escolha dos locais para a distribuição das
redes de infraestruturas, de serviços e dos equipamentos sociais” (idem, artigo 4 n.º 1). No âmbito
dos projetos urbanos, foram criados como alternativas para absorção do crescimento populacional,
através da criação de novas áreas urbanizadas e da densificação, como previsto no PEUMM 2008,
nomeadamente: (1) a Urbanização do Zimpeto, na sua fase inicial composta por quatro edifícios
plurifamiliares, promovida pelo CMM, pela entidade bancária Millennium ; (2) a Casa Jovem, na Costa
do Sol, cuja primeira fase é composta por 19 edifícios plurifamiliares; e o (3) projeto da KaTembe,
este último que interessa-nos debruçar sobre ele neste trabalho, será acompanhado com mais
pormenores no capítulo a seguir.
Legenda: 1: planta de cadastro de Magoanine C; 2: planta de abastecimento de água de Albazine; 3: proposta parcial para a
nova centralidade do Zimpeto; 4: imagem do plano de urbanização da nova centralidade da KaTembe; 4a e 4b imagens da
ligação da ponte; 5a: proposta de qualificação urbana de Maxaquene A não aceite pelo CMM; 5b: proposta de renovação
urbana de Maxaquene A.
Figura 40: Planta de ordenamento síntese do PEUMM e exemplos de planos. Fonte: (Melo, 2015)
Segundo Melo (2015) em áreas valorizadas, como ao longo do bairro Costa do Sol,
constroem-se também alguns conjuntos de habitações unifamiliares, com maior ou menor
58
envolvimento do CMM, contudo, contrariando o PEUMM, a maioria destas intervenções funcionam
como condomínios fechados, destinam-se a uma classe média emergente ou alta, não constituindo
alternativa para a maior parte da população, e alguns localizam-se em áreas ambientalmente
sensíveis.
27
Acompanhado através do Jornal da Noite da STV do dia 04-06-2016, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=RvReySfAQmI).
28
Para mais detalhes sobre este assunto pode-se acompanhar no Jornal da Noite da STV do dia 22-05-2016,
disponível em https://www.youtube.com/watch?v=CrcCPDQvIHI.
29
A Trans African Concessions é um consórcio de empresas sul-africanas e moçambicanas, nomeadamente
Basil Read, Stocks & Stocks, HSBC Investment Bank, Letabe Consultants, Msele Corporate and Merchant Bank,
Investec, Equator Bank e Mozambique Gestores, que em 2005 ganhou um contrato de 3,5 mil milhões de randes
para construir e explorar em regime de concessão durante 30 anos a auto-estrada entre Witbank e Maputo.
59
No âmbito destes projetos tem-se verificado cada vez mais um número elevado de famílias
30
afetadas por este tipo de intervenções urbanas. Segundo notícias de Maputo dá-se conta que o
reassentamento das famílias afetadas pelo projeto da KaTembe (plano de assentamento para 300
famílias) no distrito de Boane, localidade de Mahubo a população queixa-se da falta de condições
básicas no local indicado, mas a Maputo-Sul garantia que em 45 dias criaria as infraestruturas
básicas desde a limpeza do local (mas pelo que se pôde observar do noticiário o local ainda é mata, e
o tempo estipulado é evidentemente fictício), água, energia e arruamento. Ainda assim, existem
algumas famílias residentes do bairro da Malanga à centro de Maputo (local que dará lugar a
construção da ponte Maputo-KaTembe) continuam à espera de indeminizações.
30
Acompanhado no Jornal da Noite do dia 14-06-2016, disponível em
https://www.youtube.com/watch?v=WPzOhAuRPes.
60
4 A KATEMBE
Figura 41: Localização do distrito municipal da KaTembe. Fonte: Adaptado com base nas imagens de
street view disponíveis no ArGis, 2016.
KaTembe é uma área periurbana de transição entre a área urbanizada e o meio rural, em que
cerca de 45% da população com ocupação e com 15 ou mais anos vive do sector primário (INE,
61
2013). A classe do uso do solo dominante corresponde aos terrenos agrícolas ou de uso
agropecuário.
Estes recursos hídricos são principais alvos da poluição em KaTembe nomeadamente, no Rio
Tembe, verifica-se aglomerados urbanos sem sistemas de tratamento, com descargas diretas de
produtos de combustão de biomassa e de produtos de lavagem e higiene pessoal; poluição difusa
decorrente das práticas agrícolas e pecuárias; no Rio Umbeluzi: efluente da ETA da Barragem dos
pequenos Libombos; no Rio Matola: efluente da fábrica Mozal; Rio infulene; efluentes de várias
indústrias (entre as quais a fábrica de cerveja 2M), e efluente da ETAR da Cidade de Maputo;
Estuário do Espírito Santo e Baía de Maputo; drenagem de águas residuais sem tratamento dos
centros urbanos; tecido industrial de Matola e Maputo; infraestrutura portuária do pontão de
KaTembe; operação do porto de Maputo; poluição difusa resultante das atividades pecuárias e
agrícolas. Portanto, a má gestão dos resíduos sólidos, assim como a desadequação dos sistemas de
gestão das águas residuais tem consequência na saúde pública e no ambiente urbano (Betar & Beta,
2012).
Mas de um lado a baía de Maputo representa uma das importantes partes da paisagem de
KaTembe e arredores. Nas águas do litoral há presença de ervas marinhas onde se desenvolve uma
62
fauna de peixes pelágicos e mariscos com grande valor comercial com destaque para o camarão,
caranguejo e lagosta (CMCM, 2001). Os solos predominantes na área de estudo são arenosos
amarelados, com características dominantes de areia castanha, solos muito profundos. Apresentam
uma baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de água (Muchangos, 1994). Em relação a
água subterrânea devido às caraterísticas hidrogeológicas de KaTembe não é muito favorável,
excetuando em alguns vales aluvionares, na faixa dunar e na região dos aquíferos profundos (Ferro
B. & Bouman D. 1987 apud Lopes, 2005). A vegetação no litoral é de mangal e estepes, no interior
encontram-se sebes vivas em terras outrora cultivadas, mata com presença de árvores nativas
isoladas que albergam algumas espécies de aves, répteis e roedores (CMCM, 2001).
b) Características demográficas
Segundo os resultados dos censos de 1997, citado por (Lopes, 2005) à escala distrital, a
população de KaTembe encontrava-se distribuído da seguinte forma:
Tabela 6: Distribuição da população em KaTembe por bairros com base no recenseamento de 1997.
Fonte: (Lopes, 2005)
Bairros Total % Homens % Mulheres %
Chali 4 425 27 2 094 47,3 2 331 52,7
Chamissava 2 064 13 952 46,1 1 112 53,9
Guachene 3 583 23 1 814 50,6 1 769 49,4
Incassane 3 419 22 1 637 47,9 1 782 52,1
Inguide 2 362 15 1 061 44,6 1 301 55,1
Total 15 853 100 7558 - 8 295 -
O bairro mais populoso no distrito municipal da KaTembe é o Chali com cerca de 27% do total
da população residente na área de estudo, devido às características urbanas que este bairro
apresenta como vias rodoviárias, infraestruturas administrativas e sociais. O segundo mais populoso
é Guachene com 23%. Neste bairro a atividade principal praticada pelos habitantes é a pesca e nos
restantes se pratica a agricultura. E o menos povoado é o bairro de Chamissa, que ocupa maior
extensão do território, estima-se que neste bairro tenha havido um aumento de população visto que
boa parte da população que sofreu por cheias do ano 2000 foi alocada neste bairro (Lopes, 2005).
No bairro de Guachene também verifica-se um registo um elevado número de habitantes, uma vez
que é o segundo bairro no qual existem algumas infraestruturas municipais, durante a guerra
albergou alguma população, seguida de Incassane e Inguide.
c) Atividades económicas
63
d) Educação
Tabela 7: Taxas de analfabetismo da população de 15 e mais anos de idade por sexo, segundo distritos
de Maputo Cidade. Fonte: (INE, 2007).
A habitação é uma das necessidades básicas que toda a população procura satisfazer e é
considerada como uma necessidade social elementar na maioria das sociedades. As características
do parque habitacional duma sociedade, especialmente o material usado na sua construção,
constituem um indicador bastante relevante do nível de desenvolvimento socioeconómico (INE,
2013). Em KaTembe os habitantes são organizados em famílias extensas, onde 50,8% da população
vive em habitação de bloco e cimento, 43,3% em caniço, paus, bambú e palmeira e os restantes
5,9% vivem em casas de madeira, zinco, papel e casca (INE, 2013). Atualmente o distrito da
KaTembe conta com 3 Centros de Saúde disponíveis mas com fraca prestação de serviços. Em
termos de acesso à energia elétrica em KaTembe, apenas 42,4% usam a eletricidade para
iluminação, os restantes 57,6% utilizam candeeiro a petróleo, vela, lenha, e baterias (INE, 2013).
De acordo com (INE, 2013), quanto ao acesso à água potável apenas 4,1% tem água
canalizada dentro de casa, 11,7% água canalizada fora de casa, 41,4% tiram água em poços ou furos
protegidos e os restantes 14,5% em poços ao céu aberto.
64
5 PROJETO URBANÍSTICO DE KATEMBE
A inserção deste projeto é justificado pela necessidade de poder dar resposta ao grave
problema social atual que se vive em Maputo, face ao crescimento e aumento da população na
capital moçambicana. A procura de novas áreas seria atendida principalmente pela extensão
da área urbana em direção a Boane, Moamba, Marracuene e KaTembe, permitindo uma
melhor gestão do uso do solo. Igualmente a abertura de novas áreas permitiria
descongestionar algumas áreas excessivamente densas e responder a demanda de terrenos
para urbanização dos espaços, numa primeira fase, ao longo das vias rodoviárias. Também
seria desenvolvida uma nova área habitacional em KaTembe, usufruindo da sua proximidade
ao centro metropolitano.
31
Assim, uma vez que, mais a Norte da capital já se fez a expansão , a KaTembe
aparece como resposta positiva para a expansão a Sul, através de um potencial urbanístico a
Sul de Maputo, fazendo uma ligação entre as duas margens da Baía de Maputo, permitindo
deste modo o desenvolvimento urbano para Sul (Betar & Promontório Planning, 2012). Este
projeto também pretende corrigir a forma de organização do espaço em KaTembe,
caracterizado por uma urbanização não planeada.
Figura 43: Imagens do Plano de Urbanização da nova centralidade de KaTembe. Fonte: Maputo-
Sul, EP ( 2012). Vide em Anexo 18, 19, 20 e 21 as imagens em maior resolução.
31
A cidade de Maputo geograficamente está encaixada entre a Cidade da Matola e o distrito de
Marracuene, ao longo do seu processo de expansão a cidade foi migrando do seu núcleo urbano para as
áreas ainda não ocupadas da sua dimensão territorial, actualmente a expansão urbana já está no limite
territorial da cidade da Matola e no distrito de Marracuene não existindo condições para a expansão a
norte (distrito de Marracuene), sudoeste a oeste (cidade da Matola), restanto apenas a expansão para o
sul (distrito da KaTembe).
65
de 19 371 habitantes em 2007 (ver a figura 44), quando comparado com os distritos urbanos
do município, prevendo-se que até 2040, esta nova área urbana comporte cerca de 400.000
habitantes (Betar Consultores and Promontório Planning, 2012).
Figura 44: População por distritos correspondente a AMM. Fonte: Adaptado com base na Figura
16.
O efeito da construção da ponte pode também ser visto sob ponto de vista de outros
territórios do mundo como é caso do efeito que trouxe a construção da ponte 25 de Abril. A
ponte 25 de Abril foi construída em 1966, tendo sido iniciado a sua construção em 1962. Com
base nos dados do censo da população apresentados na figura 45, o período entre 1960 e até
1966 o crescimento da população era linear quando comparado ao crescimento registado após
a ligação de Lisboa com a margem sul. A partir de 1966 com a ponte já construída verifica-se
um assinalável crescimento da população, particularmente na margem Sul (AML, 2013).
66
Figura 45: Demografia de Lisboa-evolução. Fonte: AML, 2013
32
Segundo o Arquivo Municipal de Lisboa , a seguir à 2ª Guerra Mundial (1939 a 1945),
a construção da ponte sobre o Tejo passou a ser desejada para responder ao grande afluxo
migratório para a região de Lisboa. A construção da Ponte 25 de Abril, que tornou a travessia
entre as duas margens do rio Tejo mais fácil e rápida, envolveu cerca de três mil trabalhadores
e teve uma "grande inovação técnica" para a época.
32
http://www.dn.pt/sociedade/interior/ponte-25-de-abril-um-sonho-que-demorou-90-anos-a-realizar-
5317672.html
67
comparação com a futura construção de uma nova Ponte em Maputo com consequências na
KaTembe. Embora os contextos do nível de desenvolvimento das duas cidades sejam muito
diferentes serão de esperar na KaTembe impactos urbanísticos muito significativos e
imparáveis: por um lado pelo acréscimo de acessibilidade que a nova Ponte vai dar à Região
de Maputo; a continua atratividade desta região e a migração de populações rurais para
Maputo; a esperável ocupação de terras na KaTembe que, com uma nova Ponte, facilitará o
acesso ao centro de Maputo, aos seus serviços e locais de potencial emprego.
Não será arriscado dizer que uma nova Ponte em Maputo poderá provocar a prazo
uma explosão demográfica e reforço da atividade económica a Sul de Maputo e o
impulsionar das migrações rurais para esta área metropolitana.
O Instituto Nacional de Planeamento Físico (INPF) em 1999, propôs para a KaTambe uma
forma de crescimento e expansão da área de forma radial, ao longo das principais vias de
acesso já existentes (vide a imagem 1 na figura 50). Os bairros de Guachene e Chali (ver a
figura 33, imagens 3 e 4) tem a forma de ocupação ordenada do espaço e uma parte do bairro
de Incassane (vide a imagem 1), localizados na zona costeira de KaTembe. O parcelamento
destas áreas foi feito na época colonial e é caracterizada por uma razoável cobertura de
infraestruturas socioeconómicas como mercado, escolas, unidades sanitárias, postos de
combustível, padarias e estâncias turísticas e serviços urbanos.
Figura 47: Ilustração das formas de ocupação em KaTembe. Fonte: Google Earth Pro, 2016.
68
A forma desordenada de ocupação do espaço caracteriza-se por uma precariedade
das condições de habitação e de salubridade e representam problemas tanto sob o ponto de
vista ambiental como social. Quanto as tipologias habitacionais na área de estudo, as
construções são de material convencional do tipo moradias simples e algumas moradias de 2 a
3 andares, com água canalizada e energia elétrica.
No interior dos bairros Guachene, Chali, uma parte do bairro Incassane e toda área dos
bairros Chamissava e Inguide, apresenta duas características distintas: uma com tendência
agrupada, apresentando apenas uma estrada principal, sem ruas, onde as habitações são
construídas num sistema de autoconstrução, quer seja com uso de material precário (vide a
figura 48) quer de material convencional (vide a figura 49).
Figura 50: Tipologia das vias rodoviárias. Fonte: Google Earth Pro, 2016.
A população residente nesta área, uma parte dela fixou-se durante a época colonial
tendo-se refugiado na área urbanizada durante a guerra civil e com o fim desta voltaram para
as zonas de origem. No entanto, atualmente tem-se notado uma substituição gradual das
habitações de caniço por habitações construídas com material convencional, mas sem o grau
técnico exigido para as características físicas da área (Araújo, 1999).
69
6 QUESTÕES HÍDRICAS NO PGUDMK EM KATEMBE
Figura 51: Planta de Ordenamento do PGU do distrito de KaTembe. Fonte: Maputo-Sul, EP (2012).
70
De acordo com a Planta de Ordenamento do PGUDMK e da Planta de Condicionantes
do distrito de KaTembe (ver a figura 52), são delimitadas Áreas Húmidas e Inundáveis; Faixas
de Proteção das Linhas de Água; as Áreas de Proteção e Conservação e as áreas alagáveis e
suscetíveis de inundações, que tem que ver com as problemáticas dos recursos hídricos.
Sobre estas áreas o Regulamento do PGUDMK no seu Artigo 11 na alínea a), estabelece que
estas áreas visam a garantir a proteção dos ecossistemas e a permanência dos processos
biológicos que garantem e sustentam o equilíbrio do território, e que a faixa correspondente às
“Áreas de Proteção e Conservação” visa em particular proteger toda a faixa de contacto com as
zonas húmidas e alagáveis, caracterizada por zonas declivosas com grande risco de erosão.
Em termos dos usos desses espaços o Artigo 55, indica para usos preferenciais os
seguintes: a) No Sistema Húmido os usos preferenciais a instalar são os de espaços verdes,
nomeadamente jardins e parques urbanos. Quando estas áreas se localizarem nas faixas
adjacentes às futuras vias, assumirão a função de integração paisagística das mesmas; c) Nos
corredores admitem-se todos os usos compatíveis com as infra-estruturas a que estão
afectados assim como aos espaços públicos urbanos a serem criados, devendo ser
implementadas sempre que possível faixas arborizadas ao longo das vias. Portanto, nas zonas
de máxima infiltração não se prevê ocupação urbana mas sim medidas de proteção destas
zonas através da criação de uma estrutura ecológica.
71
perspetiva estritamente técnica, económica e ambiental na lógica dos “3R’s”, isto é Reduzir,
Reutilizar e Reciclar, como forma de minimizar o esforço que será necessário desenvolver para
a resolução do problema da eliminação dos resíduos sólidos (Betar Consultores & Promontório
Planning, 2012).
Outra questão que o Plano não faz menção é acerca dos problemas advindos dos
principais afluentes ao estuário e baía de Maputo: rio Umbeluzi, rio Matola, rio Infulene, e rio
Incomáti fontes de poluição em KaTembe atuais que afetam as linhas de água em KaTembe,
identificadas pela (Betar & Beta, 2012).
Em síntese se pode dizer que com o PGUDMK abarca a maior parte dos problemas
causados pelas recursos hídricos constituindo deste modo o maior desafio do plano a
fiscalização e controlo das medidas apresentadas.
72
7 CONTRIBUTO PARA UM MODELO DE OCUPAÇÃO URBANA PARA MAPUTO-
KATEMBE
Neste capítulo, com base nos aspetos abordados nos capítulos anteriores dar-se-á um
possível contributo a nível do modelo de estrutura de ocupação urbana e ambiental em
KaTembe numa abordagem regional, tendo em conta as dinâmicas territoriais analisadas na
AMM em particular, e também nas áreas de influência da área de estudo. A proposta do
modelo de estrutura de ocupação territorial que será aqui apresentada espelha-se no modelo
de crescimento de Maputo antes apresentado no plano de 1968 (vide a primeira imagem da
figura 53) de Lourenço Marques (atual Maputo). Ao lado direito encontra-se a proposta de
estrutura para a AMM, baseado numa rede viária radio-concêntrica (em vez de apenas radial
como o do plano de 1968) e em seguida propõe-se uma Estrutura Ecológica Metropolitana que
defenda a rede hidrográfica em articulação com um conjunto de corredores verdes interligados
com o estuário e mar, precisamente este modelo visa a contribuir para enquadrar a expansão
da área urbana para o distrito municipal da KaTembe numa perspetiva regional de forma
compatível com a manutenção dos valores ambientais em particular os recursos hídricos.
Em planeamento urbano não existe uma fórmula mágica capaz de controlar o rápido
crescimento da população, assim como o crescimento acelerado de ocupação das áreas
urbanas, mas sim existem territórios que melhor se adaptaram à essas dinâmicas territoriais
através da flexibilidade dos seus planos para responder às necessidades emergentes. A
organização do espaço é um constante processo, que depende de vários elementos integrados
na constituição da sociedade. Desde antigamente que as áreas peri-urbanas acompanharam o
crescimento das grandes cidades, porém teve-se que se adotar modelos de planeamento
capazes de resolver os problemas emergentes.
De acordo com o plano de 1968 (vide a figura 53), já se previa o modelo de expansão
regional em Maputo mas numa perspetiva radial. É notório que a expansão para a margem sul
(KaTembe e direção Durban) não ocorreu com a mesma intensidade que aconteceu a norte da
AMM, por um lado devido a barreira de acessibilidade física imposta, que com a construção da
ponte será ultrapassada, por outro lado devido as próprias características de natureza
territorial, zona de transição entre o rural e urbano, pois à ocupação da população num
determinado local está diretamente relacionado com às valências urbanísticas a ter no local,
inserção social, justiça, saúde, e também o acesso aos meios de subsistência.
73
Figura 53: Expansão urbana da Área Metropolitana de Maputo.
É de realçar que a Ponte sobre o Tejo em Lisboa foi apoiada por um Plano Regional
(PDRL 1964) que procurou enquadrar as necessidades de infraestruturação a nível regional e
propor um modelo de ordenamento. É um facto que este modelo de ordenamento falhou e os
planos regionais e municipais que lhe sucederam tiveram de fazer readaptações à evolução
das novas dinâmicas emergentes. Mas aquilo que era estruturante e dependia da
Administração ficou salvaguardado (nova autoestrada para sul, novo comboio na ponte,
estrutura viária radio concêntrica a Norte) tendo sido possível concretizar alguns desses
investimentos só 30-40 anos mais tarde após adesão à CEE em 1986. A salvaguarda de uma
infraestrutura verde foi iniciada no PDRL com a classificação de Parques e Reserva e áreas de
valor natural e ecológico, que depois teve sequência no PROT da AML de 2002 com a defesa
de corredores ecológicos metropolitanos.
No caso da KaTembe também se pode precaver em torno dos planos já feitos para a
gestão do espaço planeado, de modo que os planos sejam flexíveis para dar resposta ao que
pode ocorrer para além do previsto.
A Figura 53, sugere uma expansão de forma radial em KaTembe, assim como na sua
área envolvente, como uma mancha de óleo. Com base na forma a ocupação se sucede na
AMM é notório que um dos distritos que terá mudanças imediatas após a construção da ponte
74
é o distrito de Matutuíne (na zona sul da KaTembe), inclusive a Oeste concretamente no distrito
de Boane haverá intensificação em termos da ocupação do espaço bem como de movimentos
comerciais. Portanto, é crucial que se tenha uma visão regional no âmbito de planeamento e
ordenamento territorial, exigindo uma profunda reflexão para a elaboração de um plano de
nível metropolitano ou regional que possa assegurar um enquadramento sustentável na
expansão urbana de Maputo para KaTembe.
75
Figura 54: Contributo para uma proposta de um modelo de ocupação territorial em Maputo-
KaTembe. Fonte: Adaptado pela autora com base no modelo atual de ocupação.
Este contributo para proposta (vide a figura 54 e com maior resolução vide em Anexo
23) sustenta que o PGUDMK por si só não é suficiente para assegurar as dinâmicas que a
KaTembe com construção da Ponte irá vivenciar. Sendo que, a nova Ponte em KaTembe deve
ser acompanhada por um Plano que lhe dê suporte em termos de ordenamento do território à
escala regional que permita pelo menos defender:
76
permitirá a eficiência na mobilidade de pessoas até ao arco ribeirinho que faz a ligação Matola,
KaTembe e Maputo.
Figura 55: Contributo para uma proposta de uma Estrutura Ecológica Metropolitana. Fonte: A
autora com base nas características físicas da AMM.
As zonas de contenção urbana são constituídas por vegetação verde urbano para
áreas fortemente urbanizadas e as previstas à ocupação urbana, verde florestal que à partida
deve ser classificada como de verde de proteção ambiental e de valorização dos recursos
hídricos, esta zona é proposta como área de defesa dos lençois freáticos e inibir que as
77
pessoas construam nessas áreas. É também proposta uma continuidade de contenção urbana
mais a norte da AMM, essa contenção pode ser melhor definida a nível de outras escalas de
planeamento, mas o importante é que esta zona deve ser considerada na estrutura ecológica
metropolitana. As zonas costeiras também tem se mostrado frágeis e são aqui consideradas de
modo que não sejam esquecidas, desde a faixa da Av Marginal de Maputo até à margem sul
em KaTembe que tem constituído um forte ponto turístico sob ponto de vista de
enquadramento ecológico e paisagístico.
É também importante referir que esta proposta de estrutura ecológica deve ser
equacionada com medidas estruturais como as referidas por (Matos, 2015) no melhoramento e
reestruturação das infraestruturas de saneamento e drenagem urbana, portanto é crucial que
esse planeamento seja de nível metropolitano para uma gestão mais integrada, eficaz e
eficiente na resolução das problemáticas emergentes na AMM.
Outro grande desafio resvala sobre a implementação das leis e regulamentos, ligados a
administração territorial/ocupação regrada dos espaços, gestão de cobrança de taxas
municipais, etc. Também é preciso que se realce de forma clara, o que está realmente
planificado para o planeamento urbano da KaTembe, de modo que diminua a especulação
imobiliária
78
8 CONCLUSÕES
Este capítulo marca o fim da presente pesquisa, apresentar-se-á de uma forma geral
as conclusões do trabalho realizado face à questão base de pesquisa, objetivos propostos e
lições que se podem aprender, bem como possíveis pistas para os futuros trabalhos.
A inserção deste plano é também justificado pela necessidade de poder dar resposta
ao grave problema social atual que se vive em Maputo, face ao crescimento e aumento da
população na capital moçambicana.
79
cobrança de taxas municipais, etc. É necessário que se realce de forma clara, o que está
realmente planificado em KaTembe, para que se evitem casos como aqueles que se assistiram
através dos órgãos sociais de comunicação que o assentamento das famílias desalojadas para
dar lugar ao processo da construção da ponte foram realocadas em lugares desumanos, sem
nenhuma condição básica de assentamento.
E por fim o último objetivo foi satisfeito à medida em que se conseguiu compreender as
problemáticas dos recursos hídricos no território da KaTembe e da AMM no geral através da
sua caracterização bem como da descrição dos problemas lá existentes, e de que forma o
PGUDMK contempla essas problemáticas através da verificação e análise dos
condicionamentos existentes para as potenciais de risco nos problemas de escorrências,
cheias e a intrusão salina.
Como integrar de forma eficaz as políticas ambientais nas políticas urbanas para
resolver os problemas emergentes da ocupação do território/espaço Maputo-KaTembe
assim como na sua área envolvente?
Que KaTembe se projeta para o futuro e como se enquadra numa estrutura futura da
AMM?
Quem são os reais beneficiários do desenvolvimento urbano na AMM?
Como mitigar e controlar o efeito da ocupação urbanística que já se anuncia sobre
áreas sensíveis, sobre a biodiversidade e no risco de alagamentos?
Estas questões, podem ser vistas como algumas pistas para futuras pesquisas.
80
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ISBN 978-972-772-760-5. p. 105-138
83
Anexos
Anexo 2: Plano Geral de urbanização de Lourenço Marques-1887. Fonte: Mendes 1985, citado por
Macucule, 2015.
84
Anexo 3: Planta de Lourenço Marques-1925. Fonte: Mendes 1985, citado por Macucule, 2015.
85
Anexo 5: Planta de enquadramento do PDMLM-1969. Fonte: Revista do Centro de Estudos de Urbanismo
e Habitação Engenheiro Duarte Pacheco 1970, citado por Macucule, 2015.
86
Anexo 7: Plano da Estrutura Suburbana-1969. Fonte: Revista do Centro de Estudos de Urbanismo e
Habitação Engenheiro Duarte Pacheco 1970, citado por Macucule, 2015.
87
Anexo 9: Plano de Estrutura da AMM-1999. Fonte: CMM, 2008.
Anexo 10: Planta de Ordenamento do Território da cidade de Maputo-2008 (actual). Fonte: CMM, 2008
88
Anexo 11 : Traçados dos arcos de circunferência. Fonte: CMM, 2008.
89
Anexo 13: Carta de declives da AMM.
90
Anexo 15: Carta de linhas de água e principais bacias hidrográficas. Fonte: Adaptado com base em
dados da Global Administrative Areas, disponível em http://www.gadm.org/
91
Anexo 17: Imagem satélite-2006. Fonte: Imagens disponíveis em http://earthexplorer.usgs.gov/
92
Anexo 19: Imagem de enquadramento do projecto de urbanização da KaTembe. Fonte: Disponível em
http://clubofmozambique.com/news/maputo-katembe-bridge-a-project-that-inspires-noticias/
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Anexo 21: Vista da ponte projetada sobre KaTembe. Fonte: Disponível em
http://clubofmozambique.com/news/maputo-katembe-bridge-a-project-that-inspires-noticias/ e
http://afrique.lepoint.fr/economie/afrique-croissance-inclusive-maputo-sort-ses-atouts-economiques-08-12-2015-
1988310_2258.php
Anexo 22: Estado atual da ponte Maputo-KaTembe, na sua fase de construção-2016. Fonte: Disponível
em http://clubofmozambique.com/news/maputo-katembe-bridge-a-project-that-inspires-noticias/; e
http://buluhe.com/galeria/fotografias
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Anexo 23: Proposta de contibuto para uma proposta de estrutura da Área Metropolitana de Maputo (incluindo zona da KaTembe).
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Anexo 24: Contributo para uma proposta de estrutura ecológica metropolitana.
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