Estudos Sobre Jornalismo Político - Ebook Completo
Estudos Sobre Jornalismo Político - Ebook Completo
Estudos Sobre Jornalismo Político - Ebook Completo
Jornalismo Político
Francisco Paulo Jamil Marques
Emerson Urizzi Cervi
Camila Mont’Alverne
Fernanda Cavassana de Carvalho
(Organizadores)
Estudos sobre
Jornalismo Político
1ª edição
Curitiba
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-52992-00-4
CDD: 070.320
Editoração
Carvalho Comunicação
Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública - CPOP
Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia - PONTE
Revisão Textual
Camila Mont’Alverne e Felipe Autran
www.cpop.ufpr.br | www.ponte.ufpr.br
Sumário
Apresentação
Fernanda Cavassana de Carvalho e Camila Mont’Alverne 7
Capítulo I
A opinião da empresa no Jornalismo brasileiro: Um estudo
sobre a função e a influência política dos editoriais
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques 13
Capítulo II
Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre
Bachelet e Rousseff: Um comparativo a partir da análise crítica do
discurso na eleição a presidente no Chile em 2013 e no Brasil em 2014
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira 37
Capítulo III
‘O Mundo gira sem o Mercosul’: Um estudo sobre os editoriais
do jornal O Estado de S. Paulo
Yohanna Lara Barros Pinheiro e Francisco Paulo Jamil Marques 61
Capítulo IV
O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados
estaduais Nelson Justus e Alexandre Curi no Paraná em 2010
Renan Colombo 95
Capítulo V
A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná
na imprensa estadual (2010-2011)
Daniela Drummond 123
Capítulo VI
A cobertura jornalística em mídias legislativas: Um estudo
sobre a Agência Câmara
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques 149
Capítulo VII
O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança
Pública: Um estudo do jornal O Povo entre 2011 e 2013
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques 185
Capítulo VIII
A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012
e o escândalo político
Romer Mottinha Santos 215
Capítulo IX
Perspectivas para o Jornalismo Político
Francisco Paulo Jamil Marques, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart
Massuchin 239
7
Apresentação
de sonora traz uma visibilidade valiosa aos agentes políticos – quando esta é favo-
rável à construção de sua própria imagem pública.
Por outro lado, as cobranças de que as instituições do Jornalismo desempe-
nhem seu papel respeitando os princípios norteadores da atividade são crescentes,
inclusive pela possibilidade de contestar o conteúdo publicado. O Jornalismo se
vê, portanto, em meio a disputas, em busca de reforçar a própria legitimidade junto
à sociedade e aos agentes políticos. O diagnóstico de crise no Jornalismo também
é frequente, junto ao extenso inventário de problemas encontrados na atuação das
empresas. O campo jornalístico tem sido, deste modo, convocado a provar que
continua exercendo função relevante à sociedade, diante da concorrência facilitada
pelas ferramentas digitais e pela quantidade de informações ofertadas atualmente.
Diante desta realidade, multiplicam-se os estudos sobre Jornalismo políti-
co no Brasil. Esta coletânea soma-se aos esforços de constituir uma literatura sobre
o assunto no país, a partir de uma perspectiva empírica. O objetivo é possibilitar
afirmações sobre os conteúdos dos jornais a partir de consistentes análises e de
discussões aprofundadas sobre os dados e acerca dos resultados alcançados por
oito diferentes pesquisas na área.
Os capítulos que compõem esta obra são resultado do esforço de investi-
gação de dois grupos de pesquisa, atualmente sediados na Universidade Federal
do Paraná (UFPR). O Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia
(PONTE), cujos pesquisadores e pesquisadoras colaboram com quatro capítulos
do livro, iniciou suas atividades na Universidade Federal do Ceará (UFC). Os in-
teresses de pesquisa do grupo transitam na interface entre Comunicação e Demo-
cracia, com ênfase em Jornalismo político e em Democracia Digital, partindo da
preocupação em contribuir para o aperfeiçoamento das práticas democráticas. Já
o Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública (CPOP), há 16
anos, tem se dedicado a pesquisas na área de Mídias e Eleições, especialmente
voltadas ao papel do Jornalismo e da comunicação eleitoral nas disputas políticas
8
Apresentação
9
Apresentação
10
Apresentação
11
Apresentação
12
Capítulo I
A opinião da empresa no
Jornalismo brasileiro
Um estudo sobre a função e a influência política dos editoriais
Camila Mont’Alverne
Francisco Paulo Jamil Marques
13
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
ferentes oportunidades. Trata-se uma opção feita não só pelo redator da matéria,
mas, também, influenciada pela linha editorial e pelos interesses da empresa de
comunicação (BARROS FILHO, 1995; TRAQUINA, 2005).
É inegável, assim, que o Jornalismo contribui para a construção da realida-
de, em vez de simplesmente refleti-la (FISHMAN, 1980; TRAQUINA, 2005; TU-
CHMAN, 1972). O estabelecimento de determinadas diretrizes no que concerne,
por exemplo, à cobertura política (tema ao qual boa parte dos jornais dedica uma
editoria específica), acaba por reverberar na forma pela qual se compreendem os
agentes políticos e, consequentemente, nas imagens públicas que a audiência tem
deles (GOMES, 2004).
Assim, por um lado, é necessário considerar que a construção do produto
jornalístico se dá em um ambiente marcado por configurações bastante específi-
cas, bem como está sujeita a pressões de diversos níveis (BENETTI, 2007). Por
outro lado, é inegável que a ação dos jornais pode trazer contribuições à democra-
cia, ao abrir a possibilidade de que o campo político considere agendas de interesse
público ou ao fiscalizar os agentes representativos (COOK, 2005; GOMES, 2004;
SCHUDSON, 2008).
O editorial, espaço opinativo reservado à instituição jornalística, no qual
a empresa apresenta suas posições acerca de diversos assuntos, é, provavelmen-
te, o gênero que melhor ilustra a tensão entre interesses públicos e privados no
Jornalismo. Em outras palavras, o editorial se configura mais nitidamente como
um espaço para o jornal “fazer política” e pressionar o poder público, além de ser
uma forma de colocar assuntos na pauta coletiva de discussões (ARMAÑANZAS;
NOCÍ, 1996; AZEVEDO, 2006; MELO, 1985). Dessa forma, os editoriais atuam
não somente ao formatar traços da imagem pública – por exemplo, de agentes do
campo político (BOURDIEU, 2011) –, mas, também, ao oferecer elementos que
conformam a imagem do próprio jornal.
No Brasil, ainda são poucos os trabalhos dedicados a examinar, especifi-
14
Capítulo I - A opinião da empresa no Jornalismo brasileiro
1
Este capítulo foi publicado anteriormente na revista Estudos em Jornalismo e Mídia (v. 12, n° 1,
2015). Os autores são gratos à CAPES e ao CNPq pelos auxílios que tornaram a realização da
pesquisa possível.
15
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
16
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
É por isso que, para Eugenio Bucci (2000), deve haver uma completa se-
paração entre a redação e o departamento comercial da empresa jornalística, de
forma a tentar evitar que os interesses econômicos interfiram nas diretrizes de pro-
dução das informações. Marques, Miola e Siebra (2014, p. 4) lembram, no entanto,
que tal separação não garante completa isenção, pois, “mesmo indiretamente, veri-
fica-se a intromissão do departamento comercial quando uma pauta é ‘derrubada’
a fim de dar espaço a um anúncio de última hora”.
17
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
18
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
pontos de vista.
Questiona-se, ademais, não apenas a possibilidade de se alcançar uma efe-
tiva separação entre opinião e notícia, mas a própria utilidade dessa fragmentação.
Argumenta-se se o que o leitor espera do Jornalismo não seria justamente uma
mescla entre notícia e opinião, no sentido de orientar a audiência acerca da inter-
pretação de fenômenos da vida social, como ocorre em diversos blogs jornalísticos
(BAILEY; MARQUES, 2012).
O fato é que, mesmo diante de tais polêmicas e divergências ideológicas
ou teóricas, textos com clara ênfase opinativa continuam a ter seu espaço assegu-
rado. Para Beltrão (1980, p. 14), o jornal tem a obrigação de exercitar a opinião.
19
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
regras pré-estabelecidas.
Dentre os próprios subgêneros opinativos, a intenção e a forma de cons-
truir o texto se diferenciam. No caso do editorial, busca-se uma impessoalidade
na abordagem temática e nas estratégias de argumentação, uma vez que está em
evidência a voz da empresa (ALVES FILHO, 2006). Mas ressalte-se que não se
trata de uma divisão estanque: o texto opinativo pode se utilizar de recursos, a
princípio, concernentes às produções informativas. “A maioria dos gêneros jorna-
lísticos são complementares uns de outros. Como a notícia, gênero informativo por
excelência, complementa a reportagem, do mesmo modo, os gêneros de opinião
complementam a informação oferecida pelos gêneros informativos” (ESPINOSA,
2002, p. 225, tradução própria2).
Conforme dito anteriormente, a ênfase deste trabalho se dá sobre o gênero
“editorial”, categoria do Jornalismo opinativo. Antes de abordar especificamente
tal categoria, pretende-se realizar um breve apanhado histórico acerca da trajetória
da opinião no Jornalismo brasileiro, a fim oferecer uma visão mais ampla das mu-
danças pelas quais passou a cultura jornalística no país.
2
Todas as traduções de citações em língua estrangeira são de responsabilidade dos autores.
20
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
21
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
3
Disponível em <http://oglobo.globo.com/pais/apoio-editorial-ao-golpe-de-64-foi-um-erro-9771604>.
Acesso em 28 nov. 2013
22
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
Assim, o teor dos editoriais está intrinsecamente ligado aos princípios de-
fendidos pelo periódico, que são “as linhas mestras que marcam ideologicamente
os conteúdos jornalísticos e fundamentam a atividade empresarial de uma publica-
ção” (ARMAÑANZAS; NOCÍ, 1996, p. 171). Beltrão (1980) afirma que a política
editorial não é arbitrária: na verdade, ela obedece a princípios éticos e a normas
práticas, não sendo apenas definidas por questões comerciais.
Armañanzas e Nocí (1996, p. 102), por sua vez, veem o editorial como
23
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
um conselheiro dos leitores, que buscariam opiniões atualizadas sobre temas di-
versos. “(...) o periódico está comprometido a dizer o que pensa e o leitor espera
uma orientação”. O editorial, assim, aprofunda questões tratadas nas notícias, ou
pode até ir além delas (BELTRÃO, 1980), pautando a própria cobertura. “Com o
posicionamento acerca da atualidade, o jornal vai construir, a cada dia, uma visão
de mundo. É importante tratar o editorial ainda como um espaço de formação da
opinião pública, porque atua na tematização do debate” (MORAES, 2007, p. 3).
José Marques de Melo (1985, p. 80) complementa tal raciocínio:
24
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
5
A Pesquisa Brasileira de Mídia de 2015 aponta que 76% dos entrevistados afirmaram não ler jornal. 7%
deles declararam fazê-lo diariamente. Disponível em <http://bit.ly/1FAvjZC>. Acesso em 1 ago. 2016.
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Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
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Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
toriais de periódicos brasileiros, sugerem que, por mais que a cobertura midiática
possa ter contribuído para inflar o escândalo – colocando-o em pauta diariamente
e apresentando os “culpados” –, não há um maior questionamento acerca das bases
do sistema da política democrática.
Desta forma, pode-se dizer que o editorial acaba trabalhando com uma
concepção naturalizada do que é política e de como as ações políticas se desenro-
lam. Diagnosticar a concepção naturalizada de política exposta pelo Jornalismo,
contudo, não exime a instituição de uma ação partidária. Tal fenômeno é verifi-
cável quando as empresas manifestam “ativamente – e não apenas em posições
conjunturais ou disputas eleitorais – uma posição política situada. O Jornalismo é a
expressão de uma parte nas disputas mesmo quando não existe alinhamento políti-
co-partidário estável ou que funcione como motor para as ‘mensagens’” (BIROLI,
2012, p. 5). Isso significa que o Jornalismo reforça os limites da política na medida
em que os consagra e os naturaliza.
Por outro lado, pode-se questionar o quanto a ideia de política (em sentido
amplo) adotada pelo Jornalismo – e, consequentemente, pelos editoriais – está in-
fluenciada pela concepção que os cidadãos têm do termo. Ansolabehere et al. (2006,
p. 396), por exemplo, afirmam que, ao longo dos últimos 60 anos, a ênfase da cober-
tura dos jornais americanos deixou de ser o partido e passou a ser o candidato.
27
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
28
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
fluência da qual dispõem perante a audiência e aos agentes políticos. Mais que
isso: consideram importante utilizar-se dela. “‘Eu acredito profundamente que os
editoriais são um elemento central do mercado de ideias. Comentários fundamen-
tados escritos por pessoas informadas podem – e devem – ajudar a estabelecer os
parâmetros do debate’”.
Em pesquisa sobre editoriais de jornais dos EUA na época da invasão ao
Afeganistão, em 2001, Billeaudeaux et al. (2003) ressaltaram a importância de
os políticos conseguirem o apoio dos jornais em editoriais, pois estes funcionam
como gatekeepers e como definidores dos assuntos que estarão na agenda dos
media. No caso, os pesquisadores encontraram forte reverberação do discurso do
governo nos editoriais, ainda que isso possa ter acontecido por ser um contexto
singular.
Também em pesquisa sobre editoriais de jornais americanos quando da
ação militar no Afeganistão, Ryan (2004, p. 380) identifica um endosso às posi-
ções do governo e uma crítica à atuação das empresas de comunicação. “Escritores
de editoriais não só falharam em desafiar as visões oficiais, também as endossaram
e legitimaram”.
Em relação à cobertura e aos personagens envolvidos, é verdade que há
atores fiscalizados com mais afinco ou enquadrados de forma predominantemente
negativa, mas não se pode descartar o fato de determinadas regras de funciona-
mento do Jornalismo também serem responsáveis por limitar a pluralidade dos
enquadramentos presentes nos produtos (COOK, 2005).
A legitimidade da qual dispõe o campo do Jornalismo se evidencia não
apenas quando se confere autoridade a determinadas fontes, mas também durante
o processo de seleção do que será alvo de cobertura e a partir de quais parâmetros.
Os temas abordados pelos editoriais indicam o que a publicação acredita ser o
assunto de maior relevância naquele dia – e um estudo dos temas discutidos pode
esclarecer quais questões o jornal acredita serem as de maior destaque.
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Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
Sendo assim, a empresa tem de lidar com uma situação ambígua: se pode
utilizar o respaldo do qual dispõe perante a audiência para oferecer um ponto de
vista e pressionar os agentes políticos em direção às posições que julga mais ade-
quadas, também precisa lidar com as cobranças inerentes à prática do Jornalismo,
sob pena de comprometer a credibilidade, caso as desconsidere.
Ainda que o texto opinativo não esteja necessariamente sujeito à busca
pela imparcialidade e objetividade, a concepção acerca do que deve ter destaque
na cobertura costuma ser compartilhada pelos agentes do campo do Jornalismo.
Enquanto pode usar de seu capital social para pressionar os agentes políticos, a
empresa tem de lidar com a necessidade de oferecer à audiência um produto que
30
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
Conclusão
31
Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques
32
Capítulo I - A opinião no Jornalismo brasileiro
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36
Capítulo II
Os editoriais de El Mercurio e
O Estado de S. Paulo sobre
Bachelet e Rousseff
Um comparativo a partir da análise crítica do discurso na eleição a
presidente no Chile em 2013 e no Brasil em 2014
E sta pesquisa visa realizar uma análise comparativa dos editoriais pertencen-
tes aos jornais El Mercurio e O Estado de S. Paulo durante o período das
campanhas eleitorais do Chile em 2013 e do Brasil em 2014. O objetivo geral deste
estudo foi identificar os elementos textuais e contextuais, semelhantes e diferentes
que compuseram os discursos editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo em
torno das candidatas a presidente Michelle Bachelet e Dilma Rousseff, durante as
campanhas eleitorais citadas.
Os objetivos específicos foram: caracterizar e descrever os discursos
editoriais que citaram as candidatas Bachelet e Rousseff durante as campanhas
eleitorais; e analisar as estratégias semânticas e retóricas empregadas no trata-
mento das candidatas nos textos estudados. Busca-se responder à nossa pergunta
da pesquisa: como foram as representações dos editoriais de El Mercurio e O Es-
tado de S. Paulo em torno a Bachelet e Rousseff durante as campanhas eleitorais
de 2013 e 2014?
37
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
38
Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
Para Van Dijk (1996), numa análise ideológica adquire especial importân-
cia o critério de verdade e falsidade. Neste sentido, as opiniões são definidas como
crenças valorativas, opostas às crenças objetivas; pois as primeiras pressupõem
valorações, enquanto que as segundas, critérios de verdade, objetividade e expli-
cações mais completas.
Na análise discursiva dos artigos de opinião da imprensa, Van Dijk (1996)
se baseia na ciência cognitiva, é por isso que as opiniões são vistas como modelos
mentais, como padrões que podem estar expressos no texto e na conversação. Van
Dijk (1996) criou um resumo de observações analíticas para o estudo editorial que
integra basicamente os seguintes aspectos:
a) Polarização: As opiniões estão organizadas de acordo uma pauta ideo-
lógica de dois polos: Nós/Eles. Um exemplo é a dualidade Ocidente/Oriente,
onde a imprensa ocidental se auto apresenta com valores como a democracia, a
racionalidade e a não-violência, enquanto que se fala da inferioridade árabe, as-
sociada a conceitos como terrorismo, sequestros, assassinatos de inocentes, etc.
b) Coerência de opinião: É a sequência de ideias conectadas entre si so-
bre um tema, com uma coerência ideológica.
c) Atribuição: É a ação de atribuir ações negativas a nossos inimigos
“como agentes responsáveis, conhecedores de maneira consciente, intencional e
cínica de suas ações e das consequências destas, ainda quando tais ações possam
ser ao mesmo tempo tituladas de irracionais e inclusive de loucas” (VAN DIJK,
2005, p. 44). Essas três caracterizações são bastante esquemáticas, principal-
mente a de Polarização, pois marca a ideia global sobre o modelo dicotômico de
apresentação e interpretação dos grupos ideológicos.
Outras caracterizações vinculadas às anteriores são:
d) Descrição: É a forma em que se descrevem aos grupos ou instituições
39
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
40
Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
1
Além disso, os textos de opinião podem ser traduzidos como atos de representação mental que tentam
explicar a realidade de uma maneira lógica racional. A persuasão em textos argumentativos baseia-se,
como na velha imprensa de opinião, com o prestígio do escritor. Trata-se da prova do argumento de
autoridade, garantida pela sabedoria do experto e assinado pela influência do jornal (MORENO, 2003).
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Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
Análise Quantitativa
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Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
CATEGORIA DESCRIÇÃO
1. Campanha O texto indica disputa para o cargo de Presidente da República, Governa-
Eleitoral dor do Estado, Senador da República e Deputado Federal e Estadual.
2. Político Quando noticia temas envolvendo órgãos federais, estaduais ou munici-
Institucional pais, ou ainda, sobre os poderes do Executivo, Legislativo, Judiciário e
sociedade organizada.
3. Economia Quando trata de temas que mencionavam o movimento da bolsa de
valores e expectativa de produção agrícola, salários, empregos e etc.
4. Político Social Informações que envolvam o sistema público de saúde, educação e políti-
cas sociais.
5. Infraestrutura e Textos com predomínio de informações relacionadas a obras de
meio ambiente desenvolvimento, crescimento industrial, sistema de transporte, moradias,
vias urbanas e temas sobre a preservação do meio ambiente.
6. Violência e Textos que tratassem do crescimento da violência, índices, casos isolados,
segurança mortes, sistema presidiário, investimento em segurança e combate ao crime.
7. Ético-moral Temas que abordam debates éticos.
8. Política para Temas esportivos e instituições governamentais do esporte.
esporte
9. Cultura/ Informações do cotidiano de celebridades ou cultura.
Variedades
10. Política Assuntos políticos regionais ou de abrangência nacional.
Estadual/ Nacional
11. Política Textos que tratam de assuntos entre o país, suas entidades públicas e privadas
Internacional em relação com outras entidades de outros países ou apenas de outros países.
12. Outros Temas diversos.
Fonte: CPOP (2014).
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Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
VARIÁVEL CATEGORIAS
Valência Positiva, negativa ou neutra.
Abrangência Nacional, regional ou internacional
Visibilidade do candidato Michelle Bachelet e Dilma Rousseff.
Fontes citadas Ausência ou presença.
Fonte: CPOP (2014).
2
Ambos jornais publicam, aproximadamente, três editoriais por dia.
3
Como parte da nossa análise, obtivemos as frequências, os percentuais e a associação de algumas
variáveis, com a utilização do software de análise estatística SPSS. Os resultados foram apresenta-
dos em tabelas.
44
Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
45
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
Nota-se que a variável valência é uma das mais relevantes em nossa pes-
quisa, uma vez que nos permite reconhecer a tendência editorial em relação às can-
didatas, ou seja, o tratamento dos conteúdos sobre a apresentação das concorrentes
à presidência. Mais adiante essa variável tem uma correlação com as categorias
de nossa análise qualitativa (ver apêndice 1) pois a valência permite identificar
como se constroem as valorações sobre as candidatas. Consideramos como dados
mais significativos que nos dois casos predominam os valores negativos, porém,
para Dilma Rousseff se percebe uma tendência mais preponderante do que para
Michelle Bachelet. Outro aspecto muito importante foi que no caso de Dilma não
apareceram valências positivas, e no caso de Michelle apenas uma. Já as valências
neutras e equilibradas são maiores para Bachelet do que para Rousseff, como mos-
tra a tabela 3, a seguir.
Dilma Michelle
Freq. % Freq. %
Positiva 0 0,0 1 3,0
Negativa 82 88,2 22 66,7
Neutra 10 10,8 8 24,2
Equilibrada 1 1,1 2 6,1
Total 93 100 33 100
Fonte: Autora (2016).
Outra variável analisada em nossa pesquisa foi a fonte dos editoriais, com
o objetivo de reconhecer se os jornais citaram a sustentação argumentativa de suas
opiniões. Para isso, consideramos duas possibilidades: cita fonte ou não cita fonte.
No jornal brasileiro a maioria dos editoriais citaram (89,2%) fonte e somente 10,8%
não; já no diário chileno os dados foram mais equilibrados, pois 51% cita fonte e
48,5% não, isso significa que a metade dos textos opinativos não apresentam origem
em seus argumentos, pelos menos com referências explícitas (ver tabela 4).
46
Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
Por outro lado, realizamos uma tabela cruzada com duas variáveis: Posi-
ção e Valência. Isso nos permitiu analisar como foi a visibilidade das candidatas,
pois os editoriais ocupavam posições diferentes em cada página do jornal impresso
(principal, secundário ou terciário). Sabe-se que o principal tem mais visibilidade,
seguido do secundário e terciário respectivamente; portanto, a ideia era observar
quais eram as tendências que todos esses apresentavam.
Sendo assim, a posição apareceu nos casos analisados da seguinte forma:
no jornal O Estado de S. Paulo a posição principal concentrou a maioria das valên-
cias negativas de Dilma seguida da posição terciária; as neutras foram agrupadas
principalmente na posição principal. Em El Mercurio as principais valências são
negativas e se concentram nas posições primária e secundária; as neutras na posi-
ção secundária (ver tabelas 5 e 6).
47
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
Valência Michelle
Total
Positiva Negativa Neutra Equilibrada
Posição Principal Freq. 0 11 1 2 14
% 0,0 33,3 3,0 6,1 42,4
Secundário Freq. 0 7 4 0 11
% 0,0 21,2 12,1 0,0 33,3
Terciário Freq. 1 4 3 0 8
% 3,0 12,1 9,1 0,0 24,2
Freq. 1 22 8 2 33
Total
% 3,0 66,7 24,2 6,1 100,0
Fonte: Autora (2016).
Análise Qualitativa
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Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
4
Para efeitos desta pesquisa, os editoriais de El Mercurio foram traduzidos o mais fielmente possível à
língua portuguesa.
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Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
Editoriais de El Mercurio
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Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
a eliminação do FUT, que termina elevando sua carga tributária em quase 40%
e levando-a – como fração do PIB – a um dos valores mais altos entre os países
membros da OCDE.
A proposta de Bachelet sobre o aumento de impostos para financiar a
educação é apresentada de forma negativa. A escolha do termo “caro” (que tem
preço alto, elevado; cujo preço ultrapassa seu valor real - Houaiss, 2009) conota
que o custo a pagar ultrapassa um preço justo, o que implica um prejuízo. Outra
atribuição negativa é quando se diz que a proposta de Bachelet levaria a carga
tributária a um dos valores mais altos entre os países da OCDE. É importante
destacarmos que o texto foca suas expressões valorativas nas consequências em
torno dos contribuintes da proposta, e são claramente negativas.
[Parágrafo 5]. Obviamente, o que está em jogo é importante. Se são vá-
lidas as críticas, o programa de Bachelet seria incompatível com o 5% de cresci-
mento anual do PIB potencial e a criação de mais de 600 mil empregos que ela
planteia. São metas ambiciosas que exigem um clima econômico propicio. Caso
não se cumpram, o segundo governo da candidata centro-esquerdista não só es-
taria condenado a coletar profundas frustrações, mas também, ao subir os impos-
tos, careceria de recursos para tornar possível essa combinação de generosidade
fiscal com equilíbrio orçamentário auspiciosamente prometida hoje.
A expressão “o que está em jogo” (‘Estar em jogo’. Diz-se daquilo cujo
destino está dependente de circunstâncias, decisão, acaso; estar em causa –Da Sil-
va, 2013) é importante e implica que a reforma teria grandes repercussões. Neste
parágrafo também se observam atribuições negativas implícitas para Bachelet –
através de escolhas léxicas como “incompatível”, “condenado” e “frustrações”
–, ao apresentar hipoteticamente um panorama desfavorável, caso sua proposta
for aprovada. Encerra-se com a asserção de que a candidata “auspiciosamente
promete” uma “combinação de generosidade fiscal e equilíbrio orçamentário”.
Aqui a escolha do termo “auspiciosamente” embora tenha uma conotação posi-
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Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
tiva evoca o plano das predições, do abstrato mais do que do concreto; enquanto
que “promete” implica um compromisso verbal. Assim, a frase completa impli-
caria um compromisso pouco tangível da candidata.
54
Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
55
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
esquerda dura”.
Assim, depois de termos revisado alguns parágrafos dos editoriais de O
Estado de S. Paulo e El Mercurio nossas observações constatam basicamente o
seguinte: 1. Os textos do O Estado de S. Paulo mostraram uma polarização ideo-
lógica maior que os de El Mercurio; 2. Os editoriais do O Estado de S. Paulo são
mais explícitos em suas proposições negativas Dilma que os de El Mercurio com
respeito a Bachelet; 3. As expressões opinativas tendem a ser mais polidas em
El Mercurio, pois inclusive se observam caracterizações negativas de Bachelet
implícitas; já no O Estado de S. Paulo se identificaram vários insultos contra a
candidata Rousseff; 4. Nos dois jornais, observamos atribuições negativas contra
as candidatas mencionadas, em todos os casos analisados; 5. Os candidatos da
oposição (Aécio e Matthei), em ambos os países, quando mencionados, foram
apresentados de forma positiva e houve uma tendência a diminuir as suas falhas
e, 6. Nos editoriais do jornal brasileiro, se observou uma caracterização da Dil-
ma ou seu partido (PT) como pouco competente e inteligente; enquanto que, no
jornal chileno, as descrições de Bachelet têm a ver mais com a ‘ambiguidade’ ou
‘inviabilidade’ de suas propostas.
Considerações finais
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Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
das mais relevantes para este estudo, identificou que nos dois casos predomina-
ram os valores negativos: Dilma de forma mais acentuada (88,2%) que Bachelet
(66,7%). Além disso, no caso da Dilma não apareceram valências positivas (0%)
e para Michelle apenas uma (3,0%). Isso nos permitiu visualizar o comporta-
mento similar entre os dois casos, mas também um aspecto que determinou a
análise comparativa: na abordagem de uma candidata de oposição aos interesses
do jornal, O Estado de S. Paulo é mais radical nas suas expressões negativas que
El Mercurio. Em síntese, Dilma foi mais citada, porém essas citações foram mais
negativas em comparação com Michelle.
O mesmo se verificou na análise qualitativa na qual foram revisadas as
particularidades de nosso fenômeno, a partir do estudo das opiniões de vários
parágrafos dos editoriais. A polarização ideológica predominou no O Estado de
S. Paulo e, diferentemente de El Mercurio as expressões valorativas são mais
explícitas, pois, usou-se mais a ironia ou inclusive os insultos contra a candi-
data. Em El Mercurio observamos mais caracterizações negativas implícitas, a
partir de recursos discursivos e estilísticos que sugerem asserções de forma sutil.
Porém, também se encontraram atribuições explícitas. Em suma, ambos os jor-
nais se posicionaram negativamente contra as candidatas progressistas em seus
países; enquanto o jornal chileno se mostra mais flexível em reconhecer alguns
atributos positivos da Bachelet, o diário brasileiro se mostra discordante com
Dilma em todo momento.
Por outro lado, também podemos concluir que a partir do ‘quadro ideo-
lógico’ (VanDijk, 1996) que aborda uma estrutura valorativa abstrata de pola-
rização (Eles/Nós), foi possível compreender aspectos sobressalentes de nosso
fenômeno, pois se observou constantemente que segue um modelo dual ideo-
lógico, no qual os jornais se colocaram de um lado, e as candidatas do outro.
Assim, quando elas foram caracterizadas, se seguiu, uma pauta de apresentação
favorável/desfavorável, em que os diários se auto apresentaram positivamente e
57
Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
as candidatas negativamente.
Por fim, é importante mencionarmos que este trabalho é apenas uma
aproximação sobre o estudo deste fenômeno. Assim, poderíamos indagar so-
bre futuras linhas de investigação: como continuação a este trabalho se poderia
ampliar o estudo qualitativo, tanto na quantidade dos jornais analisados como
nas técnicas interpretativas, pois se considera que com os resultados obtidos se
aprofundaria mais sobre o entendimento das opiniões nos jornais analisados. Por
outro lado, outras linhas que poderiam ser seguidas são as análises estruturais
dos textos, pragmáticas ou argumentativas. Assim também, poderia se aportar
desde uma perspectiva mais quantitativa, incrementando o número de jornais
estudados.
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Capítulo II - Os editoriais de El Mercurio e O Estado de S. Paulo sobre Bachelet e Rousseff
Referências bibliográficas
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VAN DIJK, T. A. El análisis crítico del discurso. Anthropos. Barcelona, v. 186, p. 23–36, 1999.
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Adriana Monserrat Cedillo Morales Moreira
APÊNDICE 1
Categorias analíticas para editoriais (baseado em Van Dijk, 1996)
CATEGORIA DESCRIÇÃO
Polarização As opiniões podem estar organizadas de acordo com uma pauta
ideológica que polariza ao próprio grupo e os alheios.
Nós contra Eles.
Coerência de É a aplicação de uma atitude geral do texto que pode dar lugar a opiniões
opinião específicas sobre personagens ou temas específicos, por exemplo, o
terrorismo.
Atribuição Em contextos explicativos, os atos podem se atribuir a atores, e se
explicar em termos de suas propriedades ou da situação.
As más ações serão atribuídas aos outros e as boas ações serão
geralmente auto assignadas a nós mesmos.
Descrição A apresentação dos personagens, grupos ou instituições, a partir de suas
denominações e exposições.
Podem ser concretas ou abstratas e seguir o princípio de polarização
ideológica (Nós/Eles).
Interesse As opiniões positivas ou negativas sobre Nossas ações ou Suas ações
seguem uma lógica valorativa baseada numa construção que define
melhor Nossos interesses (do jornal).
O implícito É possível inferir algumas proposições sobre a base de um modelo de
fatos ou um modelo de contexto. A presença ou ausência de informação
procedente de um modelo pode se constituir semanticamente como sua
qualidade explícita ou implícita.
Meta-opiniões As opiniões podem ser opiniões sobre outras opiniões. As opiniões
positivas sobre nossos adversários são desqualificadas.
Expressão A expressão de opiniões pode se intensificar recorrendo a vários
procedimentos estilísticos ou retóricos.
Omissões A informação negativa e, em consequência, as opiniões negativas sobre
Nós, assim como a autocrítica, podem ficar completamente omitidas na
confrontação ideológica
Argumentos As opiniões dos artigos editoriais e de opinião, frequentemente se
formulam para dar suporte valorativo que define o ponto programático ou
conclusão do artigo de opinião.
O recurso à Nas opiniões ideológicas se invoca ou se oculta seletivamente a História
História
Fonte: Autora.
60
Capítulo III
1
BRASIL investe no Mercosul para não ficar com o “osso” da Alca. Folha de S. Paulo. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/2001-alca-brasil.shtml>. Acesso em 19 set. 2015.
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2
Uma versão anterior deste trabalho foi publicada na revista InTexto (UFRGS) (n. 41, jan./abr. 2018). Os
autores são gratos à CAPES e ao CNPq pelos auxílios que tornaram a realização da pesquisa possível.
62
Capítulo III - ‘O Mundo gira sem o Mercosul’
3
Não obstante a escassez de estudos, deve-se considerar a contribuição de autores como Campos
(2010), sobre a cobertura da Guerra do Iraque por parte da Revista Veja, ou de Glaucio Dillon Soares
(2004), que estuda as notícias sobre a América Latina publicadas nos jornais Correio Braziliense,
Jornal do Brasil e Folha de S. Paulo entre os anos de 1990 e 1994.
4
Apenas mais recentemente as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Graduação em
Jornalismo mencionaram, ainda que de forma genérica, a importância dos egressos do bacharelado em
explorar, no eixo de formação humanística, as Relações Internacionais. O documento está disponível
no site do Ministério da Educação, em <http://goo.gl/77l7Ee>. Acesso em 21 out. 2015.
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a) A suspensão do Paraguai
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b) A entrada da Venezuela
5
De acordo com o Artigo 1º do Protocolo de Ushuaia (1998), “a plena vigência das instituições demo-
cráticas é condição essencial para o desenvolvimento dos processos de integração entre os Estados
Partes do presente Protocolo”.
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c) A questão argentina
6
Segundo Rodrigues e Paula (2008), a Rodada Doha, iniciada oficialmente em 2001 com a IV Confe-
rência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), teve o objetivo de estabelecer mo-
dalidades aptas a promoverem: 1) reduções substanciais no apoio interno ao comércio; 2) incremento
no acesso a mercados; 3) eliminação progressiva de todas as formas de subsídios à exportação; e 3)
tratamento especial e diferenciado operacional que leve em conta a segurança alimentar e de meios de
vida e as necessidades de desenvolvimento rural.
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mo para a veiculação de opiniões, mas gera desconfiança por parte do leitor quanto
à viabilidade de uma cobertura equilibrada na seção noticiosa. Para o autor, “a
opinião contida no editorial constitui um indicador que pretende orientar a opinião
pública” (MARQUES DE MELO, 2003, p. 104).
Mostra-se relevante, assim, a análise do editorial enquanto categoria do
Jornalismo opinativo, uma vez que é a partir dele que se pode compreender com
maior facilidade a imagem que determinada empresa constrói de governantes ou
de instituições.
7
De acordo com a Associação Nacional de Jornais (ANJ), a partir de dados do Instituto Verificador de
Circulação (IVC), o jornal O Estado de. S. Paulo foi o 7º periódico de maior média de circulação no
Brasil em 2014, com a tiragem média de 237.901 exemplares impressos e digitais (ver: <http://www.
anj.org.br/a-industria-jornalistica/jornais-no-brasil/maiores-jornais-do-brasil>. Acesso em: 19 de set.
de 2015). Também cabe ressaltar que o Estadão foi eleito o jornal mais admirado do país pela 12ª vez
em 2014, segundo pesquisa realizada pelo Grupo Troiano de Branding (ver: <http://economia.estadao.
com.br/noticias/geral,estado-e-jornal-mais-admirado-pela-12-vez,1600775>. Acesso em 19 set. 2015).
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8
Disponível em: <http://www.estadao.com.br/ext/codigoetica/codigo_de_etica_miolo.pdf>. Acesso em:
19 set. 2015.
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9
Disponível em: <www.estadao.com.br>. Acesso em: 19 de set de 2015.
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A partir das SDs acima destacadas, pode-se depreender que, para a publi-
cação em tela, a Argentina representa uma das grandes razões para o insucesso do
bloco. O país é retratado como “cada vez mais protecionista” (SD30) e “agressivo”
(SD33), dificultando as negociações e criando “obstáculos ao funcionamento do
próprio Mercosul” (SD30). O jornal dá a entender ainda que o governo argenti-
no ataca, particularmente, o Brasil (SD31), “arrancando [dele] mais vantagens”
(SD31), através de “fórmulas calculadas para dispensar aquele sócio [o Brasil] de
se tornar competitivo”.
Ao final do Editorial 02, “Pobreza de ideias”, o jornal desqualifica o go-
verno argentino, reforçando sua posição ao indagar o motivo pelo qual os europeus
continuam a tentar um acordo com “essa gente”.
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De acordo com o Governo brasileiro, o Brasil teve superávit maior que US$ 6 bilhões no comércio
10
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governos petista e kirchnerista ao afirmar que, para ambos, a Venezuela seria uma
“democracia exemplar” (SD53). Em suma, o jornal defende que a suspensão do
Paraguai foi um artifício planejado pelos outros membros do bloco para facilitar a
entrada da Venezuela, contribuindo para a desqualificação do bloco.
Quando boa parte dos editoriais caracteriza o presidente Nicolás Maduro
como incompetente ou truculento, o jornal apresenta suas visões de mundo (refor-
çando o compromisso que assumiu com o leitor por meio do que está publicado
no documento Código de Conduta e Ética, apresentado anteriormente), ao mesmo
tempo em que demanda de seus leitores uma compreensão prévia sobre o que tais
termos significam do ponto de vista político-histórico.
O jornal O Estado de S. Paulo, quando se define defensor da “liberdade”,
por exemplo, reivindica para si um posicionamento expresso por meio do uso da
língua, construindo, ao mesmo tempo, um princípio ideológico e uma relação (que
pode ser de aproximação ou de afastamento, caso a audiência discorde) com o lei-
tor. No caso, o editorial constrói um tipo de contrato singular, na medida em que o
texto opinativo não necessariamente clama pela objetividade e pela imparcialida-
de, o que localiza o material em outro tipo de projeto discursivo.
A este ponto, já é possível retomar a discussão proposta por Steinberger
(2005b, p. 24), para quem a comunicação de massa “tem hoje o poder de confi-
gurar mentalidades e, portanto, [pode angariar] o apoio necessário à consolidação
do projeto de qualquer liderança internacional”. Em outras palavras, as transações
entre os países e a imagem de líderes nacionais acabam sendo influenciadas pelos
“modos de apresentação do mundo” propiciados pela comunicação de massa (es-
pecialmente, pelo Jornalismo) (p. 184). O mesmo ocorre quando determinadas vi-
sões são oferecidas como a única alternativa, em detrimento de outras, o que dimi-
nui a possibilidade de que discursos hegemônicos sejam contestados. É o caso dos
modos através dos quais O Estado de S. Paulo caracteriza os vizinhos brasileiros,
sentindo-se mais à vontade para criticá-los em espaço dedicado exclusivamente à
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Capítulo III - ‘O Mundo gira sem o Mercosul’
opinião da empresa.
Restringir-se à opinião do periódico faz, então, com que o leitor acabe
rejeitando ou nem mesmo tendo a oportunidade de conhecer outras perspectivas –
descarta-se, por exemplo, o fato de que o Brasil poderia se tornar referência para
países em desenvolvimento, legitimando-se em outros fóruns de interesse para a
diplomacia nacional. A ideia de ganho promovida pelo jornal O Estado de S. Pau-
lo enfatiza o lucro na esfera econômica, deixando de lado o prestígio político que
pode ser tão importante quanto a geração de riquezas.
Para concluir
87
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Referências bibliográficas
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in the Social Sciences, 1990.
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94
Capítulo IV
Os nomes completos dos candidatos são Alexandre Maranhão Khury e Nelson Roberto Plácido Silva
1
Justus, mas este trabalho se refere a ambos como Alexandre Curi e Nelson Justus, respectivamente,
porque tais são os nomes pelos quais ambos são conhecidos no campo político.
95
Renan Colombo
ficou conhecido como “Diários Secretos” e que deu visibilidade negativa aos dois
deputados naquele ano, dada a posição que ocupavam na Mesa Diretora da Alep.
Cerca de 80% das chamadas de capa da Gazeta do Povo que fizeram referência a
Nelson Justus durante o escândalo2 tiveram valência negativa (ALVES, 2011).
Mesmo a série de reportagens tendo sido publicada em ano eleitoral e
criado um ambiente informativo desfavorável aos candidatos, ambos se reele-
geram em 2010 com pequena variação no número final de votos em relação a
2006. Houve crescimento de 850 votos (0,48%) na votação conjunta de ambos
no pleito mais recente. Essa expansão é resultado da votação de Alexandre Curi,
o único que somou mais votos em 2010 na comparação com a eleição anterior,
como se vê na tabela abaixo.
Votos
Candidato Saldo
2006 2010
Alexandre Curi 131.988 134.233 2.245
Nelson Justus 44.430 43.035 -1.395
Soma dos candidatos 176.418 177.268 850
2
Nelson Justus foi citado em 60 de 136 chamadas de capa analisadas, tendo visibilidade negativa em
49 (81,3%) delas. Esteve ainda em duas chamadas (3,3%) com valência neutra e em nove chamadas
(15,0%) com valência positiva.
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3
A Comunicação Política é entendida como um campo interdisciplinar entre a Comunicação e as
Ciências Sociais e Política que surge no Brasil, em formato contemporâneo, a partir da década de
1970 (RUBIM; AZEVEDO, 1998).
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Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
4
É possível ler todas reportagens da série no seguinte endereço eletrônico: www.gazetadopovo.com.br/
vida-publica/especiais/diarios-secretos/.
5
As investigações jornalísticas que precederam a publicação da primeira reportagem duraram cerca
de dois anos, período no qual os quatro jornalistas que assinam a série (Karlos Kohlbach, Katia
Brembatti, James Alberti e Gabriel Tabatcheik) consultaram em torno de 724 diários oficiais
da Assembleia Legislativa do Paraná, publicados entre 1998 e 31 de março de 2009. Assim, os
documentos revelam fatos ocorridos em um período de dez anos.
6
Trata-se do maior conglomerado de comunicação do Paraná, que, até o primeiro semestre de 2016,
possuía dois jornais diários (Gazeta do Povo e Tribuna), um portal de notícias (Paraná Online),
oito emissoras de TV afiliadas à Rede Globo (RPCTV) e duas rádios (98FM e Mundo Livre FM).
99
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Esse conjunto de dados revela como não apenas as notícias da série “Diá-
rios Secretos” estiveram em evidência nas capas e manchetes da Gazeta do Povo,
mas também como os deputados – principalmente Nelson Justus – tiveram seus
nomes ligados ao fato, com responsabilização e cobranças, gerando muita visibi-
lidade negativa.
A partir do reconhecimento que obteve, do autorreferenciamento que pro-
moveu e dos objetivos políticos que articulou e defendeu, a série “Diários Secre-
tos” acabou por praticar o que, em um neologismo, chamaremos de “jornalismo
de campanha”; ou seja: uma cobertura noticiosa que se afastou dos princípios de
imparcialidade e neutralidade, que formam o modelo vigente no Jornalismo co-
mercial brasileiro (BUCCI, 2000), para o uso extensivo de recursos interpretativos
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7
Contundente neste sentido é o editorial de 9 de março de 2010, três dias a publicação da primeira
denúncia contra Nelson Justus, acusado de manter uma rede de influências que se relacionava com as
contratações ilegais da Assembleia. “É urgente o afastamento do presidente da Assembleia Legislativa,
Nelson Justus (DEM), para que se possa obter êxito na apuração das denúncias que rondam o
Legislativo paranaense”, diz o texto.
8
Os dados de circulação se referem a outubro de 2010, data das eleições estudadas neste trabalho, e
foram repassados ao pesquisador pela direção do jornal.
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del voto, en función del apoyo otorgado a los partidos políticos por parte del
electorado y la relación de dicha preferencia con las características demográfi-
cas, socioeconómicas y espaciales de la población” (GONZÁLES apud ZAVALA,
2012, p. 83). Não faremos testes tão amplos em nossa pesquisa empírica, que se
limitará a investigar os padrões espaciais de distribuição de votos dos candidatos.
Taylor relaciona quatro processos ou efeitos estruturais que podem in-
terferir na tomada de decisão do eleitor, e cabe aqui reproduzir um deles, que
tem relação com nosso objeto de estudo. Trata-se do “efeito de proteção local”,
que ocorre quando certo tema da eleição tem mais importância em determinado
local do que em outro(s) (apud TRIGAL; DEL POZO, 1999, p. 187). Tal efeito
é observado por Dellavigna e Kaplan (2007), que encontraram consistentes evi-
dências empíricas de que o acesso ao canal de televisão a cabo Fox News poten-
cializou as chances de eleitores votarem no candidato republicano nas eleições
presidenciais norte-americanas de 2000, em comparação com cidadãos que não
assistiam ao canal9.
A lógica do estudo é idêntica à nossa: a presença ou a ausência de um
veículo de comunicação em diferentes localidades tem como resultado, em face
da cobertura jornalística realizada e das diferenças produzidas pelo acesso ou
não ao veículo, influência na tomada de decisão do eleitor, reforçado a impor-
tância do fator geográfico.
O campo da Geografia Eleitoral evoca, assim, a teoria do contextualismo
geográfico, que, em contraposição à visão individualista, considera que o am-
biente sociogeográfico, por meio de processos complexos de interação entre os
indivíduos que a ele pertencem, pode exercer influência sobre a decisão do voto
9
Dellavigna e Kaplan (2007) priorizaram o fator geográfico, ao comparar a variação do percentual de
voto republicano, entre 1996 e 2000, período em que o canal Fox News ingressou no mercado, em
dois conjuntos de cidades: as que, em 2000, ofereciam o canal a seus moradores e as que, naquele
mesmo ano, não dispunham do serviço – a cobertura parcial de emissoras é comum nos Estados
Unidos, dada a estrutura comercial das empresas locais de televisão a cabo.
105
Renan Colombo
Radmann (2001) diagnostica que "o baixo grau de consistência ideológica do eleitorado brasileiro, não
10
sendo possível identificar um conjunto de opiniões e atitudes que se associem de maneira estável com
a preferência partidária dos eleitores" (p. 53) torna difícil a consolidação no campo das explicações
de caráter sociológica e psicológico, enquanto "a vigência de um alto nível de desinformação, apatia e
ceticismo dos eleitores em relação à política" (idem, p. 109) representa um problema para a teoria da
escolha racional.
106
Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
Análise empírica
Os outros dois fatores são as informações contidas nos discursos das elites políticas e as predisposi-
11
107
Renan Colombo
Gazeta do Povo
Tem Não tem Total
assinante assinante
Alexandre Perdeu N 49 99 148
Curi votos % 14,60% 29,50% 44,10%
Ganhou N 70 117 187
votos % 20,80% 34,90% 55,80%
N 119 216 335
Total
% 35,50% 6,40% 100%
Fonte: TSE (2011a, 2011b) e Gazeta do Povo.
108
Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
Gazeta do Povo
Tem Não tem Total
assinante assinante
Nelson Perdeu N 53 64 117
Justus votos % 19,70% 23,80% 43,60%
Ganhou N 59 92 151
votos % 22,00% 34,30% 56,30%
N 112 156 268
Total
% 41,70% 58,20% 100%
Fonte: TSE (2011a, 2011b).
109
Renan Colombo
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Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
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Renan Colombo
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Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
Nível de
Valor DF
significância
Qui-Quadrado de Pearson 1,051 1 0,305
Número de casos válidos 268
113
Renan Colombo
Diferença de Diferença de
votos de Curi votos de Justus
Correlação de
-0,592** -0,334**
Assinantes da Pearson
Gazeta do Povo Sig. (2-tailed) 0,000 0,000
N 346 272
Agora passamos à segunda fase de testes para medir a relação entre a va-
riável dependente (as mudanças no padrão geográfico de votação de Justus e Curi
entre 2006 e 2010) e a variável independente (o possível impacto do noticiário
negativo da Gazeta do Povo durante o escândalo dos “Diários Secretos”), em que
114
Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
Em linhas gerais, a tabela mostra uma divisão bastante clara: o jornal está
mais presente em bairros das zonas central e norte de Curitiba, como Água Verde,
Batel, Bigorrilho, Boa Vista e Bacacheri – regiões mais ricas. Por outro lado, a pre-
115
Renan Colombo
sença é baixa nas localidades situadas mais ao sul do município, como Cidade Indus-
trial de Curitiba (CIC), Pinheirinho, Sítio Cercado e Xaxim – bairros mais pobres.
Antes de iniciar os testes, faz-se necessária uma ressalva: nesta etapa da
análise não foi possível utilizar dados dicotômicos e dispostos em tabela quádru-
pla, como ocorreu na fase anterior, pois o total de casos considerados (as dez zo-
nais eleitorais de Curitiba) é excessivamente baixo e não contém o número mínimo
adequado de cinco unidades em casa quadrante. Isso inviabiliza a realização de
testes como Risco Relativo, Q de Yule e Qui-Quadrado, sob pena de obtenção de
dados sem consistência estatística.
A análise mais ampla da votação de Alexandre Curi em Curitiba mostra
uma acentuada perda de votos entre 2006 e 2010, com recuo de 10.653 votos para
3.174 votos de um ano para outro. Isso representa uma queda de 7.479 votos, ou
70,20%. Em outras palavras, o candidato perdeu, na cidade como um todo, aproxi-
madamente dois de cada três votos que obtivera quatro anos antes.
Tal queda acentuada de votos, aliada ao fato de a Gazeta do Povo con-
centrar 75% de seus assinantes no município, torna necessária esta análise mais
detalhada da realidade, tendo como foco exclusivo o município.
Nota-se que Alexandre Curi perdeu votos em todas as zonais eleitorais de
Curitiba. Em razão disso, não é possível comparar a média de assinantes dos locais
onde houve manutenção/ganho de votos e dos locais onde houve perdas, como se
fez quando o universo considerava os municípios do Paraná.
A queda mais significativa do candidato se deu nas zonais eleitorais em
que a Gazeta do Povo tem mais circulação. A perda média de votos neste grupo foi
de 901,8 votos, ante 594 votos médios perdidos no grupo das zonais eleitorais onde
o jornal menos circula. Isso significa que nas zonais eleitorais com mais assinantes
a perda de votos em 2010, frente a 2006, foi 1,5 maior do que nas zonais eleitorais
com menos assinantes.
A título de comparação, entre 2002 e 2006, a perda de votos de Curi fora
116
Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
menor em ambos os grupos e ocorreu com mais força nas zonas eleitorais com
menor presença da Gazeta do Povo: 344,8 votos médios perdidos na área de alta
circulação do jornal e 467 votos nas regiões com baixa circulação. Além disso, em
duas zonais eleitorais (145, com 44 votos; e 1, com 62 votos), o candidato teve
ganho de votos – fenômeno que não aconteceu entre 2006 e 2010. Tais dados mos-
tram que não apenas a perda de votos do candidato em Curitiba foi maior em 2010
do que em 2006 (ver tabela 5), como, no pleito mais recente, a perda se concentrou
nas áreas de circulação da Gazeta do Povo.
Em relação a Nelson Justus, a queda de votos em Curitiba também foi
acentuada: de 4.207 votos em 2006 para 2.383 votos em 2010. A perda totaliza
1.824 votos, ou 43,35% do que havia sido conquistado no primeiro pleito. De ma-
neira aproximada, metade dos eleitores que votaram em Justus em 2006 mudou o
voto na eleição seguinte.
Os dados apontam que, na média, a perda de votos de Justus se concentra
no conjunto de zonas eleitorais em que a Gazeta do Povo reúne seus assinantes: a
média de votos perdidos nesses locais foi de 291,8, frente a 73 nas zonais eleitorais
com menos assinantes. Assim, os dados mostram que nas áreas da cidade em que
há mais presença do jornal a perda de votos de Justus em 2010 foi quatro vezes
maior em relação aos bairros com menos leitores.
É preciso, porém, fazer uma ressalva importante. Em relação à variação de
votos entre 2002 e 2006, a perda de votos do candidato nas áreas de circulação da
Gazeta do Povo foi ainda mais forte, com 307,2 votos perdidos, em média (15,4
a mais que do entre 2006 e 2010, portanto). Já nas áreas com menor presença do
jornal, a perda de votos foi menor, comparativamente: 42,6 votos (cerca de 30
votos, em média, a menos do que no intervalo 2006/2010). Isso mostra que, no
intervalo 2002/2006, a perda de votos de Justus nas áreas de maior presença do
jornal foi mais intensa do que no intervalo 2006/2010, o que enfraquece, em al-
guma medida, o poder explicativo destes dados, a despeito da possibilidade de
117
Renan Colombo
Ainda em relação a Nelson Justus, o Teste T mostra que nas duas zonas
eleitorais em que ganhou votos em 2010, há uma média de 1.341 assinantes, ao
passo que, nas oito zonas onde se registrou perda de votos, a média de leitores do
jornal totaliza 4.438 – número três vezes maior, portanto.
118
Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
Conclusão
119
Renan Colombo
posto pelas dez zonais eleitorais de Curitiba. Nos dois casos, a perda de votos de
Alexandre Curi e Nelson Justus em 2010 foi mais acentuada nos distritos eleitorais
ou regiões onde havia mais assinantes da Gazeta do Povo – métrica utilizada para
representar empiricamente a variável independente, qual seja a série de reporta-
gens “Diários Secretos”.
Comparativamente, em nível estadual, o impacto da série de reportagens
sobre a votação de 2010 foi maior para Alexandre Curi do que para Nelson Justus.
Já na esfera municipal, os impactos eleitorais foram mais intensos no caso do can-
didato de Justus.
Nossos resultados se chocam com as conclusões a que havia chegado Al-
ves (2010), que, embora com menos profundidade, tinha analisado o mesmo ob-
jeto desta pesquisa. Para além do crescimento da votação conjunta dos dois can-
didatos em 2010, frente a 2006, no que Alves (idem) chamou de “efeito teflon”,
nós não apenas identificamos uma migração de votos entre municípios do Paraná e
entre zonas eleitorais de Curitiba, como também notamos que, em ambos os níveis
de análise, tal migração teve como característica a perda mais acentuada de votos
nas áreas em que a Gazeta do Povo tinha mais assinantes. Assim, os resultados de
Alves (ibidem) foram rejeitados por este artigo, que não comprovou haver “efeito
teflon” na votação dos candidatos em 2010.
Concluímos, por fim, que o sucesso do nosso modelo empírico para ava-
liar o impacto eleitoral da série “Diários Secretos” evidencia que o objeto não foi
esgotado. Fica a certeza de que o escândalo e suas implicações institucionais e
político-eleitorais merecem ser estudados continuamente, para que olhares conten-
do novos debates e novas reflexões lancem luz sobre este episódio, um dos mais
importantes da história da política paranaense.
120
Capítulo IV - O impacto da série ‘Diários Secretos’ nas reeleições dos deputados estaduais...
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122
Capítulo V
A visibilidade da Assembleia
Legislativa do Estado do Paraná
na imprensa estadual (2010-2011)
Daniela Drummond
123
Daniela Drummond
124
Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
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Daniela Drummond
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Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
são elaboradas, além disso, também analisa qual a valência (se positiva ou ne-
gativa) em relação aos candidatos e parlamentares, qual o tema das notícias e o
formato delas.
A hipótese de pesquisa é a de que as notícias são em sua maioria personali-
zadas e não institucionalizadas, isto é, enfatizam as ações dos parlamentares e não
os acontecimentos institucionais, sendo que as notícias favorecem a imagem dos
deputados em detrimento do desfavorecimento da instituição legislativa que fica
em segundo plano. Isso ocorreria para atrair a atenção do leitor aos parlamentares,
principalmente aqueles da região de abrangência dos jornais. Com isso, a contri-
buição dos meios de comunicação para o debate público seria minimizada.
Seguindo a ideia de chamar a atenção pelo inusitado, observaram-se quais
são os temas mais importantes, quais mais aparecem, quais os atores que possuem
maior espaço para apresentam suas opiniões e qual o espaço que ocupam nas pá-
ginas dos jornais impressos - além de que em alguns casos pode-se perceber a re-
gionalização e a ênfase aos parlamentares daquela base eleitoral em que o veículo
impresso faz parte.
A hipótese é que os veículos regionais priorizam em suas notícias os parla-
mentares de sua região dando maior visibilidade a eles, pois o tipo de enquadramen-
to (Eleitoral, Personalista, Temático ou Episódico) – destinado aos parlamentares
e à instituição Alep são distintos, sendo que as informações sobre os parlamenta-
res dão preferência aos atores individuais, focando a atenção no candidato ou em
dramas humanos relacionados a ele, deixando em segundo plano os aspectos da
política institucional; enfatizando a vida dos candidatos, descrevendo suas habili-
dades, qualidades e defeitos principalmente nas cidades em que possuem a maioria
dos seus eleitores. Acredita-se que isso ocorra devido à influência e ligação que
os parlamentares possuem com os veículos de comunicação, seja por serem bons
“anunciantes” em períodos eleitorais, ou mesmo pela relação que estabelecem com
os jornalistas que fazem a cobertura, denotando ausência de imparcialidade e obje-
127
Daniela Drummond
128
Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
sídios dos indivíduos a respeito dos temas de interesse público. Por isso, analisar
como determinados assuntos aparecem na mídia se justifica pela importância que
ela possui a partir do processo de agendamento dos temas que serão debatidos
na sociedade, principalmente quando se trata de estudar as notícias sobre uma
instituição legislativa estadual. (HABERMAS, 2006; MIGUEL, 2002; ARRU-
GUETE, 2005).
Mídia regional e local
129
Daniela Drummond
as grandes mídias externas ao grupo social” (CERVI, 2009, p.8). Assim, as notícias
dos jornais regionais analisados, por exemplo, do Jornal da Manhã, da cidade de
Ponta Grossa, tem mais importância para o eleitor daquele município do que um
jornal de circulação nacional que não fale dos candidatos daquela região.
Informação e agendamento
130
Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
131
Daniela Drummond
1
Framing refers to the process by which people develop a particular conceptualization of an issue or
reorient their thinking about an issue (CHONG; DRUCKMAN, 2007, p.104).
132
Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
Metodologia e análise
133
Daniela Drummond
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Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
O Diário
Folha de Gazeta do Jornal da
do Norte O Paraná Total
Londrina Povo Manhã
do PR
Chamada 1ª pg. 2 (2,4%) 2 (2,5%) 15 (8,2%) 4 (4,7%) 4 (2,1%) 27 (4,3%)
Reportagem/Nota 18 (21,4%) 16 (20%) 44 (23,9%) 19 (22,1%) 20 (10,5%) 117(18,8%)
Cita Deputados
135
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Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
137
Daniela Drummond
há mais notícias que se referem apenas aos parlamentares, de um total de 156 notí-
cias analisadas, 86 não citam a Assembleia Legislativa do Estado do Paraná e tem
um tamanho médio de 133,33 centímetros quadrados, somando um total de 11466
centímetros quadrados de notícias que não citam a Alep.
Finalmente no jornal O Paraná, 190 das 646 notícias não citam a Assem-
bleia, essas notícias tem um tamanho médio de 217,519 centímetros quadrados,
cuja soma da amostra representa 9861 centímetros quadrados. Das notícias que
citam a Assembleia na amostra analisada deste jornal de 453 entradas de notícias.
O desvio padrão calculado é a medida de variabilidade mais usada como
índice de dispersão, além de ser a mais confiável no que diz respeito à generaliza-
ção da amostra. “O desvio padrão é a raiz média quadrática dos desvios calculados
em relação à média aritmética da série” (CERVI, 2011, p.69). Quanto ao desvio
padrão foram obtidos os seguintes resultados nas notícias que citam apenas os
deputados: Gazeta do Povo = 197,878; O Diário do Norte do Paraná = 183,758;
Folha de Londrina= 203,542; Jornal da Manhã =190,651 e O Paraná = 130,815.
Isso representa que o jornal com maior heterogeneidade de tamanho dos textos é a
Folha de Londrina, que apresenta o maior desvio padrão, de 203,542. Já o veículo
com as notícias de tamanhos mais semelhantes, ou seja, mais homogêneo é O Pa-
raná, que tem o menor desvio padrão, de 130,815.
Em relação às notícias que citam a Assembleia Legislativa do Estado
do Paraná, os resultados dos desvios padrões obtidos foram: Gazeta do Povo=
561,841; O Diário do Norte do Paraná= 456,974; Folha de Londrina = 246,281;
Jornal da Manhã= 199,405 e O Paraná = 291,86. Isso representa que o jornal
com maior heterogeneidade de tamanho dos textos que citam a Casa de Leis é a
Gazeta do Povo, que apresenta o maior desvio padrão, de 561,841. O veículo com
as notícias de tamanhos mais semelhantes, ou seja, mais homogêneo é o Jornal da
Manhã, que tem o menor desvio padrão, de 199,405.
Também se analisou a valência dos textos, segundo critério estabelecido
138
Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
pelo IESP: 1. Positiva – texto sobre ou com candidato abordando ações de sua
iniciativa; auto declarações ou declarações de terceiros favoráveis (avaliações de
ordem moral, política ou pessoal) ao candidato ou a instituição; resultados de pes-
quisas ou estudos favoráveis; 2. Negativa - Texto que reproduz ressalvas, críticas
ou ataques (contendo avaliação de ordem moral, política ou pessoal) do autor ou
de terceiros a respeito da atuação do candidato ou de suas propostas; divulgação de
resultados de pesquisas ou estudos desfavoráveis; 3. Neutra - Agenda do candida-
to, citação sem avaliação moral, política ou pessoal. Simples reprodução de resul-
tados de campanha, sem nenhuma avaliação com respeito à posição do candidato;
4. Equilibrada- Texto que reproduz aspectos positivos e negativos do candidato
ou da instituição com intensidades muito semelhantes, gerando equilíbrio de opi-
niões/abordagens contidas nas entradas.
Tabela 2 – Tamanhos das notícias que citam a Alep e não citam nos jornais analisados
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Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
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Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
Conclusão
Com a análise de 2.583 notícias coletadas dos jornais Gazeta do Povo, Fo-
lha de Londrina, Jornal da Manhã, O Diário do Norte do Paraná e O Paraná foi
possível apresentar um panorama da produção noticiosa que os veículos fizeram
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Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
único jornal dos cinco analisados, que deu mais destaque para notícias que trata-
vam apenas dos parlamentares, sem citar a Assembleia Legislativa do Estado do
Paraná, pois 86 das 156 notícias falavam apenas dos parlamentares, contra 70 que
citava a instituição legislativa. É importante destacar que o jornal O Diário do
Norte do Paraná é o único jornal regional que não tem editoria de política.
O quinto jornal analisado foi O Paraná, de Cascavel. Nele há o predomí-
nio das notícias institucionalizadas, pois das 643 notícias da amostra, 453 citam a
Assembleia, contra menos na metade desse valor, ou seja, 190 que não citam. Nas
notícias institucionalizadas o formato predominante foi Reportagem ou nota, em
221 (48,8%).
Respondendo à pergunta da pesquisa “qual a visibilidade dada à Assem-
bleia Legislativa Estadual e seus parlamentares nas notícias dos jornais impressos
do Estado do Paraná?”, percebe-se que o gênero Informativo predomina nos jor-
nais Gazeta do Povo e Folha de Londrina, enquanto o Opinativo predomina nos
demais: Jornal da Manhã, O Diário do Norte do Paraná e O Paraná.
A Gazeta do Povo foi o jornal que mais disponibilizou espaço em sua
primeira página para noticiar a Alep, sendo que (6,7%) estavam nesta localiza-
ção. O segundo veículo que mais noticiou a Alep ou os deputados na primeira
página foi o Jornal da Manhã (5,6%) e o que menos deu espaço em suas capas
foi O Paraná (3,1%).
Dos cinco jornais analisados verificou-se que na Folha de Londrina as no-
tícias são predominantemente institucionalizadas, assim como na Gazeta do Povo,
e as notícias institucionalizadas também são maiores, no Jornal da Manhã a maior
parte das notícias também são institucionalizadas.
O Diário do Norte do Paraná é o único onde há mais notícias que se re-
ferem apenas aos parlamentares, de um total de 156 notícias analisadas, 86 não
citam a Alep. Entretanto, as notícias institucionais são maiores, embora em menor
volume. No O Paraná, também há o predomínio das notícias institucionalizadas,
145
Daniela Drummond
pois apenas 190 das 646 notícias não citam a Assembleia, mas o tamanho médio
das notícias é bem parecido.
Quanto à valência das notícias, na maioria dos jornais quando tratados
apenas os deputados, ou seja, nas notícias mais personalizadas a valência predo-
minante era a positiva e em maior volume, ao citar a instituição a valência positiva
diminui, o que traz a percepção de que a instituição está mais ligada a informações
negativas.
Em relação ao enquadramento das reportagens, verificou-se que quatro
dos cinco jornais analisados, quando a instituição não é citada, o enquadramento
predominante é o Personalista, ou seja, aquele que dá preferência aos atores indi-
viduais, focalizando a atenção no candidato ou em dramas humanos relacionados
a ele, deixando em segundo plano os aspectos da política institucional, enfatiza a
vida dos candidatos, descrevendo suas habilidades, qualidades e defeitos. O único
jornal enquadramento predominante temático quando trata dos deputados foi O
Paraná.
Assim, percebeu-se ao longo das análises que a hipótese de que as notícias
são personalizadas, dando ênfase aos dramas dos deputados ao invés da Assem-
bleia Legislativa como instituição se confirmou em volume apenas no jornal O
Diário do Norte do Paraná, de Maringá, mas no enquadramento em todos os jor-
nais que citam somente os parlamentares sem mencionar a Alep, exceto O Paraná.
146
Capítulo V - A visibilidade da Assembleia Legislativa do Estado do Paraná na imprensa estadual
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Capítulo VI
A cobertura jornalística
em mídias legislativas
Um estudo sobre a Agência Câmara
P ara Kovach e Rosenstiel (2004), o Jornalismo, não obstante ter passado por
várias mudanças nas últimas décadas, permanece fundamental para “fornecer
aos cidadãos as informações de que precisam para serem livres e se autogover-
narem” (p. 31). Para os autores, contudo, a função social de tal atividade estaria
ameaçada, no início do século XXI, por conta do “surgimento de um jornalismo
baseado no mercado, mais e mais divorciado da ideia de responsabilidade cívica”
(p. 49). Bucci (2008a) aponta um diagnóstico semelhante, destacando que o esfor-
ço agora se volta para manter o Jornalismo independente não somente de anun-
ciantes e de governos, mas, também, dos interesses estritamente econômicos dos
próprios donos das empresas noticiosas.
Na tentativa de evitar tais riscos e de fortalecer a ligação da imprensa
com o interesse público, um grupo de jornalistas e acadêmicos propôs o conceito
de “Jornalismo público”. De acordo com Moraes (2011), tal movimento – cujos
princípios ou nomenclaturas ainda hoje não são consensuais, sendo denominado, a
149
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
1
Uma versão anterior deste trabalho foi publicada na Revista Eletrônica de Ciência Política (RECP /
UFPR) (v. 7, n. 2, 2016). Os autores são gratos à CAPES e ao CNPq pelos auxílios que tornaram a
realização da pesquisa possível.
150
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
2
Ver: < http://goo.gl/OwPzc0 >. Acesso em 03 mai. 2015.
151
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
[...] não são todos os parlamentares que merecem atenção das mí-
dias legislativas. Geralmente, aparecem aqueles que são detentores
de cargos e de algum tipo de poder institucional dentro da instância
legislativa, com especial privilégio para o presidente da Câmara e
para os líderes partidários.
152
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Weber (2007), por sua vez, explica que o termo “comunicação pública”
pode ser utilizado tanto por agentes do campo do Jornalismo, quanto por estudiosos
e profissionais das Relações Públicas e do Marketing. Para a autora, entretanto, o
que definiria comunicação pública seria o ato de promover a “circulação de temas
de interesse público, nos modos de debater e repercutir esses temas” (p. 24).
Divergências teórico-conceituais à parte, o fato é que, principalmente a par-
tir da segunda metade do século XX, atores sociais que antes assumiam o papel de
fontes jornalísticas passaram a tentar interferir na agenda pública por meio da cria-
ção de suas próprias mídias, abrindo espaço para iniciativas que Sant’Anna (2009)
153
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
154
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
3
Resolução da Câmara dos Deputados nº 20, de 1971. Seção IV, “Da Assessoria de Divulgação e Rela-
ções Públicas”. Disponível em: < http://goo.gl/bb7dER >. Acesso em: 16 nov. 2015.
4
Disponível em: < http://goo.gl/mOQixs > Acesso em: 20 ago. 2015.
155
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
5
Para maior aprofundamento sobre a estrutura de funcionamento do setor de Comunicação da Câmara,
ver o Manual de Redação (<http://goo.gl/wdYwuv>) e o organograma da Casa (<http://goo.gl/8AP-
dhL >). Acesso em 04 mai. 2015.
156
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Ainda assim, o conceito em questão pode ser útil para elaborar uma análise
da cobertura providenciada pela Agência Câmara justamente ao ressaltar quesitos
que nem sempre são contemplados pelo Jornalismo comercial, a exemplo de “ape-
lar para um ideal republicano que coloca a política como um espaço de discussão
aberto a todos os cidadãos interessados” (GLASSER, 1999, p. 10).
Considerando, então, os conflitos e as limitações à atividade jornalística no
157
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
Estratégias metodológicas
158
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
seja, nem é dominado apenas por um discurso, nem se limita ao embate entre
dois lados). Na análise, a polifonia foi considerada apenas em relação às fontes
que “falam” diretamente.
Uma vez que cada suporte midiático implica a lida com dinâmicas e ro-
tinas específicas de produção, aponta-se que existem ditames sociais, históricos,
culturais e institucionais que ajudam a entender o próprio discurso construído
pela Agência Câmara. Isso significa que os textos que compõem o corpus não
podem ser pensados de maneira isolada, sendo essencial sua inserção em um
contexto ligado às estruturas, atores e ações por eles empreendidas na dialética
discursiva.
Justificada a abordagem, pretende-se verificar as nuances discursivas
presentes nos textos, sublinhando-se os aspectos a seguir: 1) quem são os agen-
tes principais desses discursos; 2) de que maneira a reforma política é abordada;
3) e com que profundidade os pontos dessa reforma são apresentados ao cidadão.
Para este último objetivo, são buscados os seguintes aspectos, considerando al-
gumas das orientações do Jornalismo público (MORAES, 2011): apresentação
dos valores centrais do problema, das causas para a sua existência, dos responsá-
veis, das alternativas para sua solução, bem como dos custos e benefícios envol-
vidos e das justificativas para a não resolução.
Delimitação do corpus
159
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
160
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
6
Notícia sem assinatura. Disponível em: <http://goo.gl/yZYPHg> Acesso em: 10 out. 2015
161
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Notícia 02: Congresso recebe hoje proposta de plebiscito sobre reforma política7
7
Notícia sem assinatura. Disponível em: <http://goo.gl/U0cpD2> Acesso em: 10 out. 2015
162
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Notícia 04: TSE informa prazo mínimo de 70 dias para organizar plebiscito9
8
Notícia assinada por repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/zeo8Re> Acesso em: 10 out. 2015.
9
Notícia sem assinatura. Disponível em: <http://goo.gl/YNHpCL> Acesso em: 10 out. 2015.
163
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/QPD46W> Acesso em: 10 out. 2015.
10
164
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
sidente. Tem-se, então, uma informação implícita: a base aliada apoia o plebiscito.
Chinaglia, contudo, nega enfaticamente, na matéria, que tenha havido uma imposi-
ção do Planalto quanto a ser favorável à consulta à população.
Em seguida, a notícia aponta a existência de uma posição divergente na
Câmara: “Em declarações à imprensa, por outro lado, líderes de oposição apoiam a
realização de um referendo.” Contudo, não se utiliza como fonte membro algum da
oposição para defender o referido ponto de vista, generalizando a posição de quem
é contra a iniciativa.
Assim, a matéria fica restrita à apresentação de argumentos favoráveis ao
plebiscito. Revela-se um discurso monofônico, uma vez que ele permanece centra-
do nas opiniões e nas declarações de um único deputado, que é líder do governo.
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/4DGTUI> Acesso em: 10 out. 2015
11
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Notícia 07: Plebiscito sobre reforma política divide opiniões entre líderes partidários 12
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/ojYLmm> Acesso em: 10 out. 2015.
12
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Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Notícia 08: Presidente vai criar grupo de trabalho para fazer proposta de reforma
política13
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/KB0YlJ> Acesso em: 10 out. 2015
13
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Notícia 09: Comissão sobre plebiscito será instalada na terça, anuncia Fontana14
Notícia sem assinatura. Disponível em: <http://goo.gl/p9gwN0> Acesso em: 10 out. 2015
14
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Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Notícia 10: Plebiscito sobre reforma política só valerá para 2016, aponta base do
governo16
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/1Dm7vj> Acesso em: 10 out. 2015
16
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Notícia 11: Reforma política pode aumentar participação das mulheres, avalia
deputada17
Notícia sem assinatura. Disponível em: <http://goo.gl/f4sNpA> Acesso em: 10 out. 2015.
17
170
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
nagem aos 25 anos de fundação da ONG União Brasileira das Mulheres (UBM).
Na ocasião, o assunto “reforma política” é mencionado quando se apresenta o pro-
blema da baixa participação das mulheres na política brasileira.
A deputada Jô Moraes (PCdoB-MG) é apresentada como fonte relevante
por ter sido a primeira presidente da UBM. Curioso notar que, na maioria das
matérias que se analisou até aqui, as fontes da Câmara eram parlamentares que
ocupavam papeis de liderança na Casa. Neste caso, a ligação da deputada (que não
exercia liderança parlamentar) à entidade homenageada significa que a cobertura
não escapa aos critérios jornalísticos que conferem autoridade a fontes associadas
ao evento em questão.
No último tópico da matéria, o presidente do Senado, Renan Calheiros, faz
uma avaliação positiva dos avanços em relação aos direitos das mulheres, apontan-
do “votações recentes do Congresso que [as] beneficiaram”. Uma lista de tais leis
que teriam beneficiado as mulheres é apresentada, mas sem que a informação seja
atribuída ao senador. O jornalista, neste caso, torna-se responsável pela informa-
ção adicional, reforçando o que disse o presidente do Congresso. Têm-se, então,
indícios de interesses institucionais no processo de apuração da notícia.
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/9FnOjv> Acesso em: 10 out. 2015.
18
171
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
Notícia 13: PT, PSB, PDT e PCdoB colhem assinaturas para plebiscito sobre
reforma política19
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/Ykp4Bx>. Acesso em: 10 out. 2015.
19
172
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
so sobre esses três pontos e agora vamos à luta para conseguir as assinaturas”. A ex-
pressão “vamos à luta” acrescenta o sentido de que os deputados governistas estão
“batalhando” para conseguir fazer a reforma. O deputado André Figueiredo, por sua
vez, menciona a dificuldade para o plebiscito se concretizar para 2014, como queria
o governo: “[...] [André] reconheceu que as mudanças, se aprovadas, dificilmente
valerão para as eleições de 2014...”.
Vê-se, com o uso do verbo “reconheceu” e do advérbio “dificilmente”, que
a questão do tempo é tratada com cautela pelos deputados governistas, que parecem
estar admitindo algo a contragosto. No entanto, o deputado do PDT aponta um as-
pecto positivo, apesar do adiamento, que é o fato de o momento político ser propí-
cio a mudanças. Na matéria em questão, a discussão não é expandida, limitando-se
a noticiar a iniciativa de um grupo de parlamentares.
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/DBJ3KI>. Acesso em: 10 out. 2015.
20
173
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
Vê-se que o deputado assume uma postura de defesa, ao dizer que “em
mim [...] ninguém manda”. Ao afirmar também que “na maioria dos deputados [...]
ninguém manda”, Vaccarezza deixa uma parte dos deputados de fora desse argu-
mento. No entanto, ele se corrige no trecho seguinte, dizendo que não vê nenhum
político agir sob tal condição.
A UNE, por sua vez, prega o financiamento exclusivamente público de
campanhas. O argumento do representante da entidade, Thiago Aguiar, é o de que
“no sistema atual, quem elege não é quem tem o melhor programa, mas que tem
mais dinheiro”. Por último, tem-se o posicionamento da ONG Transparência Bra-
sil, por meio de seu diretor-executivo Cláudio Abramo, para quem o financiamento
deve continuar sendo misto.
Nesta matéria, foi privilegiada uma discussão mais aprofundada sobre os
aspectos envolvidos em um dos pontos da reforma política, e isto foi feito ampa-
rando-se nos argumentos apontados por entidades da sociedade civil. A matéria,
assim, confere maior profundidade ao debate sobre o tema, aproximando-se de uma
pluralidade de perspectivas enunciadas que caracteriza a polifonia reivindicada pela
proposta da Agência Câmara. Ademais, fica mais claro, nesse caso, em que medida
a rotina legislativa ajuda a direcionar os modos de abordagem dos acontecimentos
considerados relevantes pela Agência.
Notícia sem assinatura. Disponível em: <http://goo.gl/zCwTbp>. Acesso em: 30 ago. 2015.
21
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Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/JVX4PF>. Acesso em: 10 out. 2015.
22
175
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
meio de outras empresas. Atualmente, elas são proibidas de doar para campanhas.”
Destaca-se o uso da expressão “abre brecha”, que sugere a ideia de algo negativo,
como, por exemplo, uma doação não contabilizada diretamente. Tem-se, assim, um
indício de que a notícia procura “driblar” o caráter institucional da sua primeira par-
te, cumprindo a função jornalística de evidenciar aspectos envolvidos nas tomadas
de decisões políticas.
Notícia 17: GT da Reforma Política vai propor voto facultativo e teto de gastos na
campanha23
Notícia com assinatura de repórteres. Disponível em: <http://goo.gl/SHGPG8>. Acesso em: 10 out. 2015.
23
176
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Vê-se, na matéria sob análise, um formato quase que de relato sobre o tra-
balho dos parlamentares: apenas são descritas as mudanças propostas, sem ques-
tionamento ou problematização. Não há polifonia: a presença de uma voz discor-
dante no final da matéria não chega a mudar o teor da notícia. Em suma, o caráter
institucional, na forma de um relato descritivo, predomina.
177
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
Ver: < http://goo.gl/owVShH > e < http://goo.gl/qM3UK5 >. Acesso em 14 de outubro de 2015.
24
178
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
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Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
180
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
181
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
O projeto de investigação que originou este trabalho visa complementar os achados aqui apresentados
25
quando sugere, em um outro texto, uma análise comparativa entre a cobertura da Agência Câmara
e a cobertura oferecida por instituições do Jornalismo comercial (quality papers). Acredita-se que
tal providência ajudará o campo de estudos, em um futuro próximo, a encontrar outros fatores que
auxiliem os especialistas a mensurar as pressões políticas e econômicas sobre as práticas jornalísticas,
tomando como referência a ideia de que os sistemas de mídia em cada país têm características
singulares (HALLIN; MANCINI, 2004 e 2009).
182
Capítulo VI - A cobertura jornalística em mídias legislativas
Referências bibliográficas
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<http://g1.globo.com/politica/noticia/2013/06/dilma-propoe-5-pactos-e-plebiscito-para-
constituinte-da-reforma-politica.html> Acesso em 15 out. 2014.
HALLIN, D.; MANCINI, P. Comparing media systems: Three models of media and politics. New
York: Cambridge University Press, 2004.
HALLIN, D.; MANCINI, P. (Eds.). Comparing media systems beyond the western world. New
York, Cambridge University Press, 2012.
183
Leidyanne Viana Nogueira e Francisco Paulo Jamil Marques
PÊCHEUX, M. Análise automática do discurso. In: GADET, F.; HAK, T. (Orgs.). Por uma
Análise automática do discurso: uma introdução à obra de Michel Pêcheux. Campinas:
Editora da Unicamp, 1997.
SANT’ANNA, F. Mídia das fontes: um novo ator no cenário jornalístico brasileiro. Brasília:
Senado Federal, 2009.
VAN DIJK, T. A. Power and the news media. In: PALETZ, D. (Org.). Political communication
and action. Cresskill, NJ: Hampton Press, 1995. p. 9-36.
184
Capítulo VII
É curioso observar que, não obstante ter uma história permeada por conflitos
violentos (MELO, 2005; ZALUAR, 1999), a sociedade brasileira só passa a
perceber a violência urbana como uma questão social e como um problema de po-
lícia nos primórdios do século XX, quando se intensificam o processo de industria-
lização e o crescimento de cidades importantes (OLIVEN, 2010). Décadas depois,
já durante o período da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), a violência passa a ser
compreendida como uma questão de interesse público não somente por conta de
suas causas, vítimas e efeitos, mas, também, quando foi problematizado o papel do
Estado e da qualidade das políticas públicas brasileiras (ZALUAR, 1999). É mais
exatamente a partir dos anos 1990 que diferentes setores (inclusive os media) passam
a discutir a violência urbana como um problema social, produzindo-se investigações
mais aprofundadas acerca do tema da Segurança Pública (RAMOS; PAIVA, 2007).
A maior quantidade de trabalhos dedicados a entender a questão da vio-
lência em suas mais diferentes manifestações acabou por tornar tal conceito mais
185
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
complexo. Sodré (2006), por exemplo, propõe duas perspectivas ao definir o ter-
mo: (a) violência invisível, que se atém, por exemplo, à ineficiência do Estado e
dos órgãos burocráticos enquanto prestadores de serviços públicos (educação, dis-
tribuição de renda etc.); e a (b) violência visível, “entendida como a ruptura, pela
força desordenada e explosiva, da ordem jurídico-social, e que pode eventualmen-
te dar lugar à delinquência, à marginalidade ou aos muitos ilegalismos coibíveis
pelo poder de Estado” (SODRÉ, 2006, p. 16).
Esta última abordagem abrigaria os atos concernentes ao que é comumen-
te chamado de “violência urbana” e, por conseguinte, exerce um papel fundamen-
tal ao delimitar o escopo sobre o qual, deliberadamente, as políticas de Segurança
Pública se debruçam. Em outras palavras, as diretrizes brasileiras da área de segu-
rança ainda se restringem, em boa parte, à violência visível e direta, o que as im-
pele a tentar diminuir o problema através do uso da força física, atacando-se mais
as consequências do que as causas da questão (SOARES, 2006).
Os modos pelos quais a cobertura jornalística lida com os temas da Se-
gurança Pública e da violência têm sido objeto de reflexão tanto no âmbito das
pesquisas em Comunicação, quanto nos estudos dedicados à Sociologia. Um con-
senso entre os autores das duas áreas é o de que o Jornalismo desempenha o papel
fundamental de interlocutor entre, de um lado, os fatos e seus significados sociais
e, de outro, as respostas dadas pelas autoridades por meio da elaboração de políti-
cas (PORTO, 2009; SÓLIO, 2010).
Nesse contexto, é legítimo questionar: de que maneira o Jornalismo tem
se posicionado frente ao crescimento do debate sobre a violência e a Segurança
Pública no Brasil contemporâneo? Como os órgãos jornalísticos contribuem para
a elaboração das percepções que os cidadãos têm sobre a violência? Quais pers-
pectivas e quais atores predominam na cobertura acerca das políticas de Segurança
Pública? Ao tomar tais perguntas como ponto de partida, investiga-se de que forma
o jornal impresso O Povo abordou a temática da Segurança durante a gestão de
186
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
1
Uma versão anterior deste trabalho foi publicada na revista Ciberlegenda (UFF) (v. 34, 2016). Os
autores são gratos à CAPES e ao CNPq pelos auxílios que tornaram a realização da pesquisa possível.
2
Disponível em <http://goo.gl/8NXSsq>. Acesso em 24 out. 2015.
3
Disponível em <http://goo.gl/4CNgfX>. Acesso em 24 out. 2015.
187
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
188
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
189
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
tido, há autores que afirmam que parte relevante da imprensa (a variação decorre,
dentre outros fatores, do tipo de público e da proposta editorial da empresa) ex-
plora o assunto de forma sensacionalista e buscando meramente atrair visibilidade
por meio do grotesco (PORTO, 2002). A maior exposição da temática nos media
reforçaria, assim, uma esfera de espetacularização do real e de banalização da vio-
lência cotidiana (SÓLIO, 2010; PASTANA, 2007; PORTO, 2002; SODRÉ, 2006).
Não há consenso, nos trabalhos dedicados a examinar a interface entre
mídia e violência, acerca dos efeitos da divulgação de crimes de diversas ordens4.
Não é possível determinar de modo exato, por exemplo, se as 7 horas diárias de
programas policialescos transmitidos nas emissoras de televisão cearenses (IN-
TERVOZES, 2015) colaboram com o aumento dos índices de criminalidade ou
quais seriam as consequências de tais produtos sobre a “percepção de segurança”
refletida pelos espectadores. “Embora quase todos estejam prontos para admitir a
existência dessa relação, não se consegue demonstrá-la, pela própria complexida-
de envolvida” (PORTO, 2009, p. 227).
É importante, contudo, entender que, além de atuarem como um canal de
transmissão, os media consistem de instituições que adotam posturas editoriais res-
ponsáveis por direcionar o teor daquilo que é oferecido à audiência (MONT’AL-
VERNE; MARQUES, 2015). Em outras palavras, mais do que um mero instrumen-
to, o Jornalismo, quando colabora na construção da realidade social, organiza-se
empresarialmente e mercadologicamente – e a violência seria “uma mercadoria
que vende e vende bem” (PORTO, 2002, p. 165).
Discordando da noção de que a pauta violência é lucrativa, porém, Ramos
e Paiva (2007) argumentam que a abordagem da violência urbana por parte dos
jornais brasileiros vem se alterando desde a década de 1980. De acordo com as
4
Para uma boa revisão sobre o tema, ver Njaine e Minayo (2004), que propuseram uma revisão biblio-
gráfica sobre as pesquisas que abordam a relação existente entre violência e mídia e os efeitos sobre o
público infanto-juvenil.
190
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
(...) mesmo distante dos níveis ideais, essa fatia do jornalismo [que
cobre violência e Segurança Pública] oferece um noticiário mais
profissionalizado que há três ou quatro décadas, por exemplo. Hou-
ve um tempo em que as redações recebiam relatos vindos diretamen-
te das delegacias, cujos textos eram redigidos por policiais que se
ofereciam aquela tarefa.
Mas o diagnóstico não é consensual: Eugenio Bucci, por sua vez, afirma
que houve “um relaxamento nos limites do Jornalismo e do entretenimento mun-
dial no que diz respeito à violência. A morte real tornou-se um recurso que requer
menos cerimônia da parte dos programadores” (BUCCI, 2001, p. 70).
A partir da segunda metade dos anos 1990, alguns jornais deixaram de
produzir páginas destinadas unicamente às ocorrências policiais e passaram a dis-
cutir o fenômeno da violência em outras editorias, como Cidades ou Política. O
Jornal do Brasil (JB), inclusive, criou uma editoria específica sobre Segurança
Pública depois dos frequentes ataques realizados pelo grupo criminoso Primeiro
Comando da Capital (PCC), em 2006, reservando equipe e espaço para tratar do
tema (RAMOS; PAIVA, 2007).
Ramos e Paiva (2007), ademais, consideram o fim da editoria de Polícia em
alguns jornais um ponto positivo, já que tal mudança de postura (a) possibilita ao jorna-
lista associar a cobertura sobre Segurança Pública com temas paralelos (precariedade
na oferta de serviços sociais em áreas periféricas, por exemplo) e (b) exige maior infor-
mação e preparação do profissional, desfazendo o estereótipo do repórter que somente
transitaria pelas delegacias (RAMOS; PAIVA, 2007). Fica mais proeminente, assim, o
papel do Jornalismo como agente essencial no debate sobre o tema da Segurança.
191
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
Tendo discutido, ainda que de maneira breve, a interface mantida entre Jorna-
lismo, Violência e Segurança Pública, parte-se para a análise empírica da cobertura do
192
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
jornal O Povo sobre a questão, destacando-se o foco que a cobertura conferiu ao Poder
Executivo, a suas ações e a seus agentes. Acredita-se que tal abordagem permitirá re-
fletir sobre a importância do processo de seleção das fontes por parte do Jornalismo en-
quanto mecanismo legitimador das autoridades e das perspectivas por elas defendida.
5
De acordo com Lopes e Brasil (2008, p. 2), o projeto do Ronda do Quarteirão “trata-se da recuperação do
sistema de segurança pública no Ceará que inclui uma proposta de policiamento ostensivo a ser desenvol-
vido de forma permanente, interativa e essencialmente preventiva a partir da polícia comunitária, na qual os
policiais moldam suas operações de acordo com as necessidades específicas de cada comunidade”.
193
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
O Jornal O Povo
6
“Violência é o maior incômodo, diz Cid”, jornal O Povo, 11 abr. 2014. Disponível em <http://goo.
gl/8NXSsq>. Acesso em 24 out. 2015.
7
“Saúde, segurança pública e água são demandas recorrentes”, jornal O Povo, 15 dez. 2013. Disponível
em <http://goo.gl/QU36Mu>. Acesso em 24 out. 2015.
8
Disponível em: <http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil/>. Acesso em 20 fev. 2016.
194
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
9
Disponível em: <http://www.opovo.com.br/colunas/segurancapublica/>. Acesso em 24 out. 2015.
195
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
196
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
197
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
tigo se refere às matérias que trouxeram como fontes principais agentes do Poder Exe-
cutivo estadual. Quer-se compreender de que maneira as vozes e as versões defendidas
por atores oficiais são apresentadas pelo material jornalístico que integra a amostra. O
levantamento no banco de dados apontou um total de 25 matérias classificadas em tal
categoria (as coordenadas10 que apareceram em uma mesma página de um conteúdo
principal foram consideradas, juntamente ao principal, como um texto só).
Matéria coordenada é um texto curto que acompanha uma notícia ou reportagem principal. Geralmen-
10
te, tem como objetivo aprofundar ou esclarecer algum aspecto abordado na notícia/reportagem.
198
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
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Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
novo secretário, que destaca o “combate ao tráfico” como uma de suas prioridades
– mesmo sem apresentar estratégias de atuação mais precisas, o que não é questio-
nado na notícia (Jornal O Povo, 7 jan. 2011).
As notícias e reportagens com ênfase no Executivo vão se intercalando e
abordam os mais variados temas relacionados à Segurança Pública. Sobre as armas
de fogo em posse de civis, por exemplo, O Povo compara (na matéria intitulada
“Por que tanta arma nas ruas?”, de 19 jan. 2011) a política de apreensão de armas
da SSPDS a “enxugar o gelo”. Para legitimar tal visão, emprega-se a fala de Ro-
berto Monteiro, primeiro secretário de Segurança Pública a tomar posse durante
o primeiro mandato de Cid, que se disse “impressionado” com a quantidade de
armas apreendidas em sua gestão.
“Toda semana assinei portarias, até duas vezes por semana, dessas
premiações de soldados por apreensão de armas. Eu disse pra mim
‘meu Deus, que tanta arma é essa?”. Não foram poucas apreensões,
o que não significou ter brecado a matança por arma de fogo. (Jornal
O Povo, 19 jan. 2011).
200
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
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Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
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Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
Por mais que pareça adotar uma posição crítica, a matéria apenas repete
um padrão testemunhado, de forma geral, na cobertura de O Povo, a saber, a pre-
ferência em reproduzir declarações do secretário ou do governador sem verificar
números e estatísticas apresentados por eles. Para Cid Gomes, única fonte utiliza-
da na reportagem além do secretário Francisco Bezerra, mais uma vez o tráfico é
o causador da elevação das taxas de criminalidade, fenômeno que o governador
considera regional, ou seja, para além da sua responsabilidade. Ressalte-se que
não se trata de uma notícia factual, com pouco espaço de publicação, e sim de uma
reportagem especial, capa do caderno de Economia.
203
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
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Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
“os resultados – tão cobrados – não virão de imediato” (Jornal O Povo, 10 set. 2013).
Aqui, percebe-se um diferencial na cobertura: dessa vez, a reportagem
destaca a opinião de outros agentes sobre Servilho. Para o presidente da Asso-
ciação dos Delegados de Polícia Civil do Estado do Ceará, Milton Castelo, ele
seria “um profissional experiente”; já a coordenadora do Laboratório de Direitos
Humanos, Cidadania e Ética da Universidade Estadual do Ceará (Labvida-UE-
CE), Glaucíria Mota Brasil, classifica o novo secretário como “a melhor escolha
para o momento”. Legitimando a decisão do governador, portanto, são utilizadas
menções que, mesmo não partindo de fontes oficiais do Poder Executivo, vão ao
encontro do que este defende.
Interessante notar que, nesse mesmo dia, o jornal toma parte na divulgação
do discurso de despedida do antigo gestor. Na opinião do coronel Francisco Be-
zerra, que estava deixando o cargo para concorrer às eleições, Cid Gomes é classi-
ficado como “o maior governador de todos os tempos”. Sobre sua própria gestão,
Bezerra defende as medidas tomadas e volta a culpar o narcotráfico e o pouco rigor
do Código Penal como responsável pelos altos índices de homicídios.
Conforme pode ser observado, a diretriz governamental de abordar a vio-
lência pela lente do combate ao crime é regularmente acompanhada pelo periódico
em estudo, uma vez que as providências anunciadas pelas autoridades se resumem
ao incremento da ação da polícia nas ruas. Em outras palavras, verifica-se a im-
portância do Jornalismo ao circular signos e imagens que legitimam a postura de
racionalidade do poder dominante (SODRÉ, 2006).
Em tempo, sublinhe-se que não é necessariamente inapropriado o jornal
dar preferência a fontes do Executivo em sua cobertura. Afinal, é do governo esta-
dual de onde partem as ações de gerenciamento do sistema de Segurança Pública.
Ou seja, a lógica de produção jornalística exige que a versão das autoridades seja
ouvida. Contudo, o fato de boa parte das notícias trazer apenas fontes oficiais ou se
limitar a reproduzir o que elas dizem é prova de que O Povo pouco se preocupou
205
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
Discussão e conclusões
206
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
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Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
Uma das críticas mais comuns à polícia é a de que ela corre atrás do
crime, sem capacidade de preveni-lo com planejamento e inteligên-
cia. A cobertura jornalística, mesmo a dos melhores jornais do país,
padece em certa medida dos mesmos problemas. Na maior parte do
tempo, ela corre atrás da notícia do crime já ocorrido ou das ações
208
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
Claro que as autoridades devem ter voz nos relatos jornalísticos sobre Se-
gurança Pública. O problema é quando as fontes oficiais são as únicas considera-
das. Outras editorias costumam elaborar um trabalho detalhado de levantamento e
análise de dados, inclusive com o apoio cotidiano de especialistas que estão fora
do setor governamental.
Em outras palavras, ao se voltar à prática do Jornalismo declaratório (isto
é, baseado de forma quase que exclusiva em declarações e informações prestadas
pelas fontes), O Povo pouco se dedica a apresentar ao leitor quadros que abordem
a eficácia das ações do governo ou a verificar a veracidade dos números declarados
pelos agentes – como a informação de que 70% a 80% dos homicídios registrados
têm relação com narcotráfico. Para Kovach e Rosenstiel (2004, p. 77), a utilização
de uma voz neutra pelo jornalista, sem uma disciplina de verificação dos fatos e
dos dados, “cria um verniz que cobre algo oco”. Tambosi (2005, p. 36) reforça tal
argumento ao dizer que:
209
Raíssa Benevides Veloso e Francisco Paulo Jamil Marques
Ver: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/veraguimaraesmartins/2014/05/1452567-incontinencia-de-
11
210
Capítulo VII - O papel das fontes oficiais na cobertura sobre Segurança Pública
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214
Capítulo VIII
215
Romer Mottinha Santos
216
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
1
A primeira edição da “Pesquisa Brasileira de Mídia” traz um retrato representativo e preciso sobre
o uso que os brasileiros declaram fazer, atualmente, dos meios de comunicação social (A pesquisa
foi realizada em outubro e novembro de 2013 pela Secretaria de Comunicação Social (SECOM) da
Presidência da República). Continua sendo predominante a presença da TV nos lares do Brasil, ape-
sar do rápido crescimento da internet. Nada menos que 97% dos entrevistados afirmaram ver TV,
um hábito que une praticamente todos os brasileiros, com independência de gênero, idade, renda,
nível educacional ou localização geográfica. A internet e o rádio são meios de comunicação também
muito presentes na vida das pessoas, ainda que em menor grau: 61% têm o costume de ouvir rádio e
47% têm o hábito de acessar a internet. Já a leitura de jornais e revistas impressos é menos frequen-
te e alcança, respectivamente, 25% e 15% dos entrevistados. Quanto ao jornal impresso, a maioria
dos brasileiros não costuma consumir esse meio de comunicação: enquanto 75% dos entrevistados
afirmaram não ler jornal, apenas 6% utilizam todos os dias. Se considerados os respondentes que
leem jornal ao menos um dia por semana, o percentual de leitores sobe para 24%. Entre os meios
estudados nesta pesquisa, apenas a revista impressa tem presença menor que o jornal nos hábitos de
consumo de mídia da população brasileira. A frequência de uso do jornal tende a aumentar confor-
me o foco da análise se desloca dos estratos sociais de menor renda para os de maior renda familiar.
O mesmo ocorre quando se observam recortes feitos a partir da escolaridade e do porte do muni-
cípio. Ou seja, quanto maior a renda, a escolaridade ou o porte do município, maior tende a ser a
frequência de uso do jornal impresso (BRASIL, 2014).
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Romer Mottinha Santos
Comunicação e política
218
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
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Romer Mottinha Santos
O escândalo político-midiático
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Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
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Romer Mottinha Santos
Belinati, obteve 49,47% dos votos, tendo a seu favor a coligação majoritária “Lon-
drina Unida”2. Alexandre Kireeff sem ter ocupado cargos públicos e com discurso
de uma gestão técnica e sem coligação política conseguiu uma vitória similar ao
do ex-prefeito Nedson Micheleti (PT) eleito em 2000. Pois, tanto Kireeff quanto
Micheleti eram desconhecidos e começaram nos últimos lugares nas pesquisas de
intenção de voto avançando para um 2° turno vitorioso (FERREIRA, 2012).
Durante o primeiro turno também concorreram ao pleito os candidatos
Luiz Eduardo Cheida (PMDB), Márcia Lopes (PT), Valmor Venturini (PSOL)
e Homero Barbosa Neto (PDT). Cheida, ex-prefeito de Londrina (1993-1996),
apresentou quedas nas pesquisas eleitorais, enquanto que Márcia Lopes avançou
nas pesquisas, ficando atrás apenas dos candidatos que disputaram o 2° turno.
Venturini ficou na última posição durante todo o período eleitoral. Barbosa Neto,
ex-prefeito (2009-2012), iniciou a campanha eleitoral com percentuais de inten-
ção de voto na 2ª colocação, mas perdeu gradativamente esta vantagem durante
o decorrer do período da campanha, pois no dia 30/07/2012 teve seu mandato
cassado em sessão extraordinária ocorrida na Câmara Municipal e o jornal Folha
de Londrina cobriu o escândalo da corrupção em sua gestão da prefeitura.
Dos quatro prefeitos que assumiram o posto entre 2009 e 2012, dois foram
presidentes da Câmara Municipal, um foi preso e outro, cassado (Barbosa Neto).
Londrina enfrentou crises políticas nos últimos anos, causando assim, quatro pre-
feitos em quatro anos. Antonio Belinati (PP) venceu as eleições de 2008, mas não
assumiu o cargo porque teve o registro cassado pelo TSE (Tribunal Superior Elei-
toral). Enquanto uma nova eleição era realizada, assumiu interinamente o presi-
dente da Câmara à época, José Roque Neto (PTB)3. Homero Barbosa Neto (PDT),
2
Coligação Londrina Unida (PRB, PP, PTB, PSL, PSC, PR, DEM, PRTB, PHS, PMN, PSB, PRP,
PSDB e PTdoB)
3
A eleição suplementar aconteceu no dia 29 de março de 2009 com a vitória do pedetista. Esta foi a
primeira vez que houve a necessidade de um novo segundo turno durante a eleição municipal para a
prefeitura de Londrina (SOUZA; SOUZA, 2010).
222
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
que assumiu a prefeitura em maio de 2009 depois de uma eleição realizada para
suprir o vácuo de poder na cidade, foi investigado pelo Ministério Público e aca-
bou cassado no final de julho de 2012, acusado de pagar o serviço de vigilância
da rádio da família com dinheiro público. O vice de Barbosa Neto que assumiu
a prefeitura, José Joaquim Ribeiro (PSC), foi preso em 20 de setembro, acusado
de ter recebido R$ 150 mil em propinas de empresários em duas licitações pú-
blicas. No mesmo dia da prisão, Ribeiro renunciou e a administração ficou com
Gerson Moraes de Araújo (PSDB), presidente do Legislativo, prefeito interino
que repassou o cargo a Kireeff prefeito eleito nas eleições de 2012 (DIAS, 2013).
Devido ao longo período conturbado da política local a visibilidade negativa é
naturalmente esperada nos resultados da cobertura jornalística sobre a campanha
eleitoral para prefeitura em 2012.
Procedimentos Metodológicos
223
Romer Mottinha Santos
4
O autor agradece aos alunos pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião
Pública da Universidade Federal do Paraná (CPOP/UFPR), coordenado pelo professor Emerson Urizzi
Cervi, e aos alunos pesquisadores de iniciação científica do Grupo de Pesquisa Os Meios de Comuni-
cação e as Eleições (UNINTER), coordenado pelo professor Doacir Gonçalves de Quadros, os quais
tornaram possível o acompanhamento da cobertura eleitoral dos jornais locais do Paraná em 2012.
5
A aplicação para análise das notícias não é utilizada em todas as notícias, apenas nas que classificamos
como Reportagens. então Chamadas de 1ª página, Fotos, Charges / Infográficos / Ilustrações, Colunas
Assinadas, Artigos Assinados, Carta ao Leitor e Editorial são quantificadas na pesquisa, mas não são
atribuídas com Enquadramentos.
224
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
6
A aplicação para análise de Valência para a Candidatura é atribuída em todos os tipos de matéria cole-
tadas nesta pesquisa, em que algum candidato a prefeito é citado.
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Romer Mottinha Santos
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Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
227
Romer Mottinha Santos
Formato Frequência %
Chamada de 1ª página 27 9,78
Reportagem 147 53,26
Charge/Infográfico/Ilustração 2 0,72
Foto 13 4,71
Coluna Assinada 65 23,55
Editorial 10 3,62
Carta do leitor 12 4,35
Total 276 100
Fonte: CPOP/UFPR e Grupo Os Meios de Comunicação e as Eleições (Uninter).
228
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
com a aparição de 121 frequências (43,84%). A soma destes dois temas gerais to-
taliza 255 frequências, ou seja, 92,39 % das notícias em que os candidatos foram
citados durante o período eleitoral. Também é preciso notar que em 13 frequências
(4,71%) o tema geral identificado foi o Ético-moral, que envolve assuntos de va-
lores abordando corrupção.
Formato Frequência %
Campanha Eleitoral 134 48,55
Político-institucional 121 43,84
Economia 1 0,36
Infraestrutura e meio 4 1,45
Ético-moral 13 4,71
Cultura e variedades 1 0,36
Outros 2 0,72
Total 276 100
Fonte: CPOP/UFPR e Grupo Os Meios de Comunicação e as Eleições (Uninter).
Após verificarmos quais temas gerais tiveram mais frequências nas ma-
térias selecionadas da Folha de Londrina, abordamos a distribuição de temas es-
pecíficos sobre a cobertura eleitoral identificando assim quais os temas com mais
cobertura durante a campanha eleitoral. Se no acompanhamento da cobertura foi
possível identificar que as notícias em que os candidatos foram citados predomi-
naram os temas gerais de Campanha Eleitoral e Político-institucional, podemos
analisar de forma minuciosa qual o direcionamento da cobertura por temas espe-
cíficos, que foram distribuídos na cobertura jornalística da Folha de Londrina no
período eleitoral de 2012, conforme a tabela 3.
229
Romer Mottinha Santos
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Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
de 2012. Pois neste período o candidato Homero Barbosa Neto (PDT) vinha sen-
do investigado pelo Ministério Público e foi cassado o seu mandato pela Câmara
Municipal.
Como a Folha de Londrina utilizou os enquadramentos sobre a campanha
de 2012? Já verificamos que o formato Reportagem foi o mais utilizado pela Fo-
lha de Londrina. Estas reportagens têm quatro classificações de enquadramentos,
conforme a tabela 4. O enquadramento Corrida de Cavalos está relacionado à cor-
rida dos candidatos nas campanhas eleitorais e as pesquisas de intenções de voto.
Todavia, a Folha de Londrina aplicou apenas 8 entradas (5,44% dos enquadra-
mentos), especificamente, sobre este enquadramento, do total de 147 reportagens.
O enquadramento que predominou durante a cobertura foi o Episódico, com 104
entradas (37,68% dos enquadramentos), que nas notícias tem como característica
informar os últimos fatos, os quais não são necessariamente relacionados à cam-
panha eleitoral.
Enquadramento Frequência %
Corrida de Cavalos 8 5,44
Personalista 26 17,69
Temático 9 6,12
Episódico 104 70,75
Total 147 100
231
Romer Mottinha Santos
seja, em uma notícia podemos ter mais de uma citação de vários candidatos.
Então, conforme a tabela 5 a seguir, a visibilidade dos candidatos foi a se-
guinte: Cheida (PMDB) 68 citações; Marcia Lopes (PT) 65 citações; Alexandre Ki-
reeff (PSD) 97 citações; Marcelo Belinati (PP) 125 citações; e Barbosa Neto (PDT)
com 191 citações. Todavia, é importante observar a atribuição de valência sobre
a visibilidade de cada candidato, pois um volume de citações com predominância
negativa pode ter impactos significantes sobre a visibilidade dos candidatos.
Candidato
Luiz Eduardo Marcia Alexandre Marcelo Barbosa Valmor
Valência Cheida Lopes Kireeff Belinati Neto Venturini
(PMDB) (PT) (PSD) (PP) (PDT) (PSOL)
Positiva Freq. 18 16 17 30 12 8
% 26,50% 24,60% 17,50% 24% 6,30% 15,10%
Negativa Freq. 5 0 2 9 100 2
% 7,40% 0 2,10% 7,20% 52,40% 3,80%
Neutra Freq. 43 47 71 77 76 42
% 63,20% 72,30% 73,20% 61,60% 39,80% 79,30%
Equilibrada Freq. 2 2 7 9 3 1
% 2,90% 3,10% 7,20% 7,20% 1,60% 1,90%
Total Freq. 68 65 97 125 191 53
% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
232
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
diferença, pois Alexandre Kireeff (PSD) teve uma cobertura de 2,1% negativa,
enquanto que Marcelo Belinati (PP) 7,2%. Vale destacar que Marcelo Belinati é
sobrinho de Antonio Belinati, ex-prefeito de Londrina, que também já passou por
processo de cassação de mandato, então considerando a comparação com a visibi-
lidade negativa de Barbosa Neto, verifica-se que foi uma visibilidade negativa de
pouco volume atribuída a Marcelo Belinati.
Esta visibilidade negativa dos candidatos pode ser comparada com as
pesquisas de opinião para análise da rejeição dos candidatos nas intenções de voto.
Com isso verificamos se a visibilidade negativa no jornal tem referência com a re-
jeição dos candidatos. O que constatamos é que Barbosa Neto ao final do primeiro
turno de 2012 apresentou 49% de rejeição, um índice muito elevado ao comparar
com Marcelo Belinati, com 19% de rejeição, o segundo candidato com maior ín-
dice de rejeição. A relação de visibilidade negativa com a rejeição do candidato
foi correspondente também para Alexandre Kireeff, pois sua visibilidade negativa
foi baixa no jornal, de 2,1%, e o percentual de rejeição foi o menor apresentado
entre os candidatos a prefeito de Londrina, com apenas 8% de rejeição por parte
dos eleitores.
Não é apenas a visibilidade negativa de Barbosa Neto (PDT) e seu alto
índice de rejeição que podemos destacar no período eleitoral, pois as pesquisas de
intenção de voto demonstraram uma redução durante a campanha para Barbosa
Neto, enquanto que os candidatos Alexandre Kireeff (PSD) e Marcia Lopes (PT)
apresentaram percentuais de intenção de voto ascendente no mesmo período, con-
forme demonstra o Gráfico 1. De acordo com as pesquisas do Ibope os percentuais
das intenções de voto para Barbosa Neto estavam em 14% em agosto e reduziram
para 10% e depois 9% nos meses de setembro e outubro. Ou seja, a intenção de
voto para Barbosa Neto teve redução progressiva, alta rejeição e alta visibilidade
negativa no principal jornal impresso de Londrina.
233
Romer Mottinha Santos
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Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
Isso demonstra que a linha da Folha de Londrina não priorizou a cobertura sobre
os candidatos com preferência de intenção de voto entre os eleitores, mas optou por
informar os leitores/eleitores sobre as denúncias da má gestão anterior da prefeitura.
Considerações finais
235
Romer Mottinha Santos
236
Capítulo VIII - A cobertura da Folha de Londrina sobre a eleição de 2012 e o escândalo político
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238
Capítulo IX
Perspectivas para
o Jornalismo Político
239
Francisco Paulo Jamil Marques, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart Massuchin
240
Capítulo IX - Perspectivas para o Jornalismo Político
The news media as well as the entertainment media adapt the role
of political actors when [...] They try to change the beliefs of mass
and/or elite audiences by voicing specific partisan opinions, by
expressing the interests of societal groups, or by the endorsement
of some candidate, party, or issue.
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Francisco Paulo Jamil Marques, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart Massuchin
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Capítulo IX - Perspectivas para o Jornalismo Político
243
Francisco Paulo Jamil Marques, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart Massuchin
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Capítulo IX - Perspectivas para o Jornalismo Político
jornalista e sociólogo norte-americano Robert Park faz desse tema, Conde (2000,
p. 249) relembra que
245
Francisco Paulo Jamil Marques, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart Massuchin
246
Capítulo IX - Perspectivas para o Jornalismo Político
coisas que importa para o debate público. A partir dela, são apresentados os prin-
cipais temas de interesse público, os laços entre atores e instituições públicas, as
regras e formas de ação, assim como os resultados ou consequências possíveis. É
essa maneira de tratar os temas públicos que apresenta maior consequência para
o futuro da sociedade. No entanto, quando o Jornalismo passa a se preocupar
mais com as coisas da política, perde o sentido de futuro e se concentra apenas
ao presente. Isso reduz a relevância do próprio Jornalismo para o debate público.
Dar importância para as coisas da política é a consequência natural do
Jornalismo de espera, pois trata centralmente de aspectos que dizem respeito aos
interesses específicos dos integrantes da arena política, daquilo que os atores
fazem e dizem, não das consequências sociais de suas ações. Um exemplo disso
são as coberturas sobre as eleições, nas quais a maior parte da produção é de-
pendente de informações manufaturadas pelas equipes de campanha e que geram
apenas o que denominamos como Jornalismo declaratório e que apresenta nada
mais do que a agenda dos candidatos, reduzindo outros aspectos das disputas.
As instituições, os temas, as regras, os trâmites e as ações são apenas meios para
contar as histórias daqueles que fazem parte da política e têm interesses especí-
ficos na cobertura jornalística.
A justificativa para o novo padrão de Jornalismo é a racionalização de
custos. Ao esperar os fatos e não os investigar com maior independência dos
interesses da elite política, há uma economia de recursos para acessar os conteú-
dos que serão transformados em notícias. Além disso, como fontes tradicionais,
a elite política pode usar as tecnologias para se comunicar diretamente com o
público, já que reproduzir o mesmo formato reduz os custos de concorrência
com outras fontes de conteúdo não jornalístico. É um processo parecido com
aquele de adaptação de um produto pelo fabricante a um formato mais próximo
do apresentado pelos concorrentes, para tentar manter parcelas do mercado. No
entanto, isso acarreta impactos no debate público, na formação da opinião e, de
247
Francisco Paulo Jamil Marques, Emerson Urizzi Cervi e Michele Goulart Massuchin
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Capítulo IX - Perspectivas para o Jornalismo Político
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bertura em dois novos âmbitos: fora do cenário das eleições e imbricados na pla-
taforma online, indicando a importância da dimensão “tecnológica” para o Jor-
nalismo Político. Na primeira linha, aparecem estudos de questões específicas
nas coberturas – como a visibilidade de personalidades políticas, do parlamento,
da corrupção e dos escândalos políticos. A mediação da imprensa atua – direta e
indiretamente – como expressão de visibilidade e credibilidade aos atores políti-
cos e instituições que aparecem na cobertura. Pesquisas que analisam a produção
sobre feminismo, Comissão da Verdade e Lava Jato mostram-se como exemplos
de temas que se destacaram nos estudos recentes do campo, indicando a ampli-
tude de possibilidades que englobam o Jornalismo Político, no que diz respeito
àquilo que é produzido.
Em um segundo momento, as pesquisas passam a observar novas pla-
taformas que dividem espaço com os formatos convencionais, como os blogs
(ALDÉ; CHAGAS, 2005) e os portais de notícia (BORGES, 2008). Neste senti-
do, tem-se uma expansão dos estudos sobre a produção no campo do Jornalismo
político, com novos objetos e temáticas. Também se alinham neste novo leque
de trabalhos, as preocupações com os posicionamentos tomados pelos veículos,
a partir dos estudos sobre o gênero opinativo, englobando editoriais, colunas e a
carta do leitor.
Os estudos sobre circulação ainda são escassos neste ramo da comunica-
ção política, mas têm se destacado com as investigações sobre redes sociais digi-
tais, as quais são usadas pelos veículos para ampliarem o processo de circulação
e recirculação de conteúdo (ZAGO; BASTOS, 2013). Assim sendo, as redes
passam – consequentemente – a ter um papel importante para distribuir conteúdo
de interesse público e, especialmente, sobre campanha eleitoral. Neste cenário,
a variável tecnologia ganha novamente destaque dentro dos estudos sobre Jor-
nalismo político, seja pela observação das fanpages dos jornais ou dos perfis no
Twitter de instituições jornalísticas.
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Sobre os autores
Camila Mont’Alverne
Doutoranda no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade
Federal do Paraná. Mestra em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará.
Integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE/
UFPR). Bolsista Capes. E-mail: [email protected].
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Sobre os autores
Daniela Drummond
Doutoranda e mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Graduada em Comunicação Social - Jornalismo pela PUC-PR (2008) e em
Ciências Sociais pela UFPR (2011) - Bacharelado e Licenciatura. Pesquisa sobre
comunicação e política, jornalismo político, instituições legislativas, Assembleia
Legislativa do Estado do Paraná, mídia regional, questão racial, midiaculturas,
telenovelas, séries de televisão e gênero. E-mail: [email protected]
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Sobre os autores
Renan Colombo
Jornalista (Universidade Positivo), especialista em Mídias Digitais (UniCesumar)
e mestre em Ciência Política (Universidade Federal do Paraná). No campo
profissional, trabalhou por seis anos como repórter e editor da Gazeta do Povo.
Atualmente, é professor de Jornalismo da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná (PUCPR), de Curitiba, e também trabalha como jornalista freelancer..
E-mail: [email protected].
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Sobre os autores
Yohanna Pinheiro
Bacharela em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela
Universidade Federal do Ceará (UFC). É repórter do jornal Diário do Nordeste.
E-mail: [email protected].
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Os capítulos que compõem esta obra são resultado do esforço de
que contribui com quatro capítulos deste livro, tem como agendas de pesquisa
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