014 - Tania Mendonca Marques - Permanencia de Mulheres em Relacionamento Abusivo
014 - Tania Mendonca Marques - Permanencia de Mulheres em Relacionamento Abusivo
014 - Tania Mendonca Marques - Permanencia de Mulheres em Relacionamento Abusivo
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Mestrado
VIOLÊNCIA CONJUGAL:
Uberlândia
2005
TÂNIA MENDONÇA MARQUES
VIOLÊNCIA CONJUGAL:
Uberlândia
2005
Tânia Mendonça Marques
Banca Examinadora:
___________________________________________________
Prof. Drª Maria Alice Magalhães D Amorim URFJ
____________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Wilson Pagotti - UNITRI
___________________________________________________
Prof. Drª Marília Ferreira Dela Coleta - UFU
AGRADECIMENTOS
À Professora Drª Marília Dela Coleta, minha gratidão, por sua disponibilidade, interesse e
orientações, muito acima e além do dever.
Aos professores Drª Renata Ferrarez Fernandes Lopes e Dr. Sinésio Gomide Junior, membros
da banca do Exame de Qualificação, pelo incentivo e valiosos comentários e sugestões
apresentados.
À Ludimilla de Sousa Chaves e Rafaela Arantes Marengo pela inestimável ajuda na fase de
coleta de dados dos arquivos das instituições. Sem suas ajudas, ela dificilmente teria sido
realizada no período previsto.
Ao amigo Frederico Augusto Queiroz pela sua disponibilidade imediata e valiosa colaboração
com seus conhecimentos e domínio da informática.
À Maria Inês Bachin que cooperou comigo nesta pesquisa do começo ao fim na procura de
inúmeros artigos, revisão bibliográfica, por estar sempre disponível, por oferecer
encorajamento e por seu grande coração.
À psicóloga Sonia de Toledo Cezar, amiga, conselheira, incentivadora de primeira hora, pela
valiosa e efetiva ajuda, através do envio de livros e material necessários a este trabalho de
Amarillo, Texas EUA.
Finalmente agradeço muito especialmente a várias mulheres que não podem ser mencionadas
por seu nome mulheres que me confidenciaram suas experiências, seus problemas e
dificuldades e cuja privacidade prometi proteger.
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido em duas fases. A primeira teve como objetivo caracterizar as
mulheres que sofrem violência conjugal e seus parceiros agressores e determinar a
prevalência das diferentes queixas, tipos de violência e incidência penal. Para cumprir a
primeira etapa, foi realizado um levantamento nos arquivos da Delegacia da Mulher Adida ao
Juizado Especial Criminal e do Juizado Especial Criminal de Uberlândia. Foram examinados
876 registros encontrados nos Boletins de Ocorrência (BO) no primeiro semestre de 2004, e
390 casos em andamento nos Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO), no período de
janeiro de 2003 a maio de 2004. A análise dos resultados demonstrou que a idade média das
mulheres foi de 30,8 anos e de 32,31, respectivamente para BO e TCO, sendo que entre
amásias e ex-amásias encontra-se a maior concentração de mulheres vítimas de violência
conjugal. As mulheres residem em diferentes bairros de Uberlândia e suas ocupações variam
de desempregadas e do lar até empresárias e profissionais liberais. A prevalência das queixas
nos TCOs foi fim de relacionamento, e nos BOs foi motivos fúteis, seguido por ausência de
motivos. A ameaça à integridade física foi o mais freqüente crime denunciado, tanto nos
registros dos BOs quanto nos registros dos TCOs, respectivamente denominados, descrição da
violência e incidência penal. As denúncias de violência conjugal ocorreram para casais cujo
relacionamento variaram de um mês até 40 anos de vida em comum. A maior incidência de
BOs ocorreu com uma periodicidade de sete dias, revelando especificamente alta taxa de
violência nos finais de semana. Observou-se uma maior prevalência de ameaças devido à não
aceitação do fim de relacionamento, o que evidencia que é altamente justificado o temor de se
romper uma relação conjugal violenta.
Na segunda fase da pesquisa, foram avaliadas as atribuições causais para o primeiro e o
último episódio de violência em uma amostragem de 71 mulheres que procuraram
espontaneamente a Delegacia da Mulher de Uberlândia para registrar queixa crime contra o
parceiro conjugal (TCO). A idade média das mulheres foi de 34,69 anos, com idade variando
entre 17 e 59 anos, sendo a maioria branca, oriunda de diferentes religiões, profissões e
bairros, e com filhos. A fase do namoro já revelava a problemática da violência para 31% das
mulheres. Ciúmes, nervosismo, agressividade, uso de álcool, desconfiança de ser traído por
ela e traição dele foram os fatores mais referidos como desencadeantes das agressões. As
agressões físicas e psicológicas são uma rotina vivida pelas mulheres. Todas as mulheres
entrevistadas conviviam com parceiros violentos. Para o estudo das causas percebidas pelas
mulheres para as agressões foi apresentado um modelo proposto por Weiner que prevê que
um estímulo provoca as cognições sobre suas causas, as cognições ou atribuições causais
determinam respostas afetivas e expectativas de meta, assim como os comportamentos
subseqüentes. Foi verificado se o foco da atribuição, sentimentos e expectativas estariam
relacionados com a intenção da mulher permanecer ou romper o relacionamento conjugal. A
metodologia utilizada permitiu às entrevistadas classificar as categorias de atribuição
conforme preconizadas por Weiner, e também categorizar seus sentimentos. As atribuições
causais foram classificadas pelas mulheres como internas para a primeira e última agressão,
caracterizando-se como instáveis e controláveis para a primeira e estáveis e incontroláveis
para a última. Além disso, as mulheres exibiram uma alta freqüência de culpa do parceiro por
ambos os episódios de violência. As mulheres que atribuíram causas internas estáveis à
violência do parceiro, que manifestaram sentimentos contra o parceiro, que apresentaram
expectativas de que a situação ficaria pior caso permanecessem na relação, demonstrando
perceber intenções negativas no parceiro e, expectativas de vida digna se deixar o parceiro,
relataram ter intenção de romper o relacionamento. Os resultados sugerem que as mulheres
têm particular dificuldade em romper o relacionamento quando atribuem causas internas
instáveis e controláveis ao parceiro e mostram maior facilidade quando atribuem causas
internas estáveis incontroláveis à violência cometida pelo parceiro conjugal. Esses resultados
dão suporte aos modelos psicossociais que postulam que atribuições estão relacionadas ao
comportamento e, particularmente, ao que foi proposto neste estudo.
This work was developed in two phases. The first aimed to characterize women who suffer
abuse from their husbands/partners and determine the prevalence of the different complaints,
types of violence and penal incidence. To achieve the first phase, a survey of the files at the
Women s Police Station Attaché to the Special Criminal Judgeship and the Special Criminal
Judgeship of Uberlândia was performed. Eight hundred and seventy-six Police Reports (PRs),
from the first semester of 2004 as well as three hundred and ninety cases in progress in
Circumstanced Term Reports (CTRs) from January 2003 to May 2004 were examined.
Analysis revealed that the average age of the women was 30.8 years and 32.3 years for PRs
and CTRs, respectively. A higher concentration of violence was encountered in lovers and
former lovers who lived or had lived together with their partners. The women reside in
various neighborhoods in Uberlândia and their occupations varied from unemployed and
housewives to businesswomen and liberal professionals. The prevalence of complaints in the
CTRs was end of relationship, and in the PRs were futile motives, followed by lack of
motives. Threatening of physical integrity was the most frequent disclosed crime in the PRs as
well as in the CTRs. Accusations of violence committed by spouses occurred in couples
whose relationships varied from one month to forty years of living together. The greatest
incidence of PRs occurred within a periodicity of seven days and revealed a specifically
higher rate of violence on the weekends. A greater prevalence of threats due to non-
acceptance of ends of relationships was observed which makes it evident that the fear of
ending a violent relationship is justified.
In the second phase of the research, causal attributions of the first and last violent episodes
were evaluated in a sampling of seventy-one women who spontaneously sought out the
Women s Police Station of Uberlândia to press charges against partners (CTRs). The average
age of the women was de 34.69 years, varying from 17 to 59 years. The majority of the
women was white, had children and came from different religious, professional and
geographical backgrounds. The dating phases of these women revealed the problematic of
violence for 31% of them. Jealousy, angriness, aggressiveness, alcohol use, and suspicion of
being betrayed by female partner or the actual betrayal of the male partner were the factors
referred as to trigger the aggressions. Physical and psychological aggressions were routine for
the women. All of the women interviewed lived with their violent partners. For the study of
causes of the aggression perceived by the women, the model proposed by Weiner which
foresees that a stimulus provokes cognitions upon the causes of the stimulus and cognitions or
causal attributions determine affective responses and hopes of goals as well as subsequent
behaviors, was presented. It was verified if the focus of attribution, feelings and expectancies
would be related to the intention of the woman to remain or terminate the relationship. The
methodology used permitted the women interviewed to classify their attributions as proposed
by Weiner, and also categorize their feelings. Attributions of cause were classified by the
women as being internal for the first and last aggression characterized as unstable and
controllable for the first and stable and controllable for the last. Women also reported a high
frequency of partner s fault for both of the violent episodes. Women who reported stable
internal causes to partner s violence, who manifested feelings against their partners and who
presented expectancies that the situation would worsen if they remained in the relationship
revealing perceived negative intentions in their partners and hopes of dignifying lives if they
were to leave their them, reported intentions of ending their relationships. Results suggest that
women particularly have difficulty in terminating a relationship when they attribute unstable
and controllable internal causes to their partners and reveal greater facility when they attribute
stable and uncontrollable internal causes to the violence committed by the partner. These
results support psychosocial models, which assume that attributions are related to behavior
and particularly to the model proposed in this study.
11. Análise conjunta da incidência penal e tipo de queixas dos casos registrados
no Juizado de Uberlândia, relativos à violência conjugal......................................... 188
19. Início das agressões sofridas por mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 200
41. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com coping após a primeira
agressão..................................................................................................................... 232
43. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com a ação queixa, após a
primeira agressão...................................................................................................... 233
44. Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e reação de
coping, após a primeira agressão.............................................................................. 233
50. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida para a última agressão com
expectativas após a queixa........................................................................................ 240
54. Freqüências cruzadas das expectativas se continuar com ele com a intenção de
continuar com ele após a última agressão................................................................. 243
RESUMO ....................................................................................................... 05
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 16
c) Processos .................................................................................................... 66
seja o criminoso para roubar, o estudante para vingar-se dos colegas que o humilharam ou o
casos de guerras, crueldade, violência e morte causadas por seres humanos a seus
maioria das vezes permanecem juntos até que a morte os separe, como pode ser visto, por
exemplo, em Otelo de Shakespeare (1956, p.124) que falava dos ciúmes exagerados:
Desdêmona
Dia aziago, se nunca lhe dei motivo para tanto.
Emília
Para os ciumentos isso pouco importa,
pois eles não precisam de motivo
para terem ciúme. São ciumentos.
São porque são. É só. O ciúme é um monstro
que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce.
A permanência em uma relação altamente conturbada também pode ser vista no retrato
mítico mais famoso de relacionamento afetivo, o de Zeus e Hera, clássicos rei e rainha dos
catálogo de casos, temperados com ciúme, vingança e filhos ilegítimos, no entanto, de algum
modo seu casamento sobrevive. Depois de uma corte altamente romântica, Zeus casou-se com
Hera e parecia inebriado com ela. Entretanto, desde o início foi infiel à parceira, que se sentia
17
problemas em de vez em quando bater em Hera para silenciar suas acusações e protestos.
Hera passava a maior parte do tempo sentindo-se ferida e rejeitada. Concentrava suas
energias na elaboração de planos astuciosos para humilhá-lo e se vingar. Por vezes isso
parecia dar sentido à sua vida, já que ela fazia pouca coisa, além disso. No entanto, mesmo
com todos esses percalços, o relacionamento dos dois continuava e a paixão entre eles
ressuscitava periodicamente.
Zeus era tão ciumento quanto Hera e se mostrava adepto da postura dois pesos duas
medidas . Até onde se sabe, é possível que os dois ainda estejam brigando e se reconciliando,
Porque esses dois deuses tão poderosos, ambos perfeitamente capazes de se divorciar e
desses deuses, continuaremos perplexos com os casamentos em que essas estripulias míticas
que tem se convertido em alvo de políticas públicas e iniciativas privadas. É um problema que
afeta o cotidiano das cidades do país e do mundo e perpassa todas as classes sociais, todos os
tempos e todos os lugares e que possui proporções epidêmicas e custo social elevado.
As pesquisas nos Estados Unidos indicam que a violência contra a parceira conjugal é a
primeira causa de lesões entre mulheres e isto provoca mais atendimentos médicos do que
estupro, acidente de carro e assalto combinados; a cada dia quatro mulheres são assassinadas
18
por seu companheiro ou ex-companheiro (SOARES, 1999) e a cada quinze segundos uma
mulher é vítima de agressão. Cerca de dois milhões de mulheres são, anualmente, vítimas de
Aos danos físicos somam-se os psicológicos como perda de identidade, perda de auto-
estima, aniquilamento, depressão, medo, estresse, crises de angústia, insônia, dentre outros.
As formas típicas de violência contra a mulher são, segundo Soares (1999): abuso físico,
A violência física diz respeito à ação ou omissão que coloca em risco ou causa dano à
integridade física de uma pessoa; a violência psicológica refere-se a ações ou omissões que
visam degradar, dominar, humilhar outra pessoa, controlando seus comportamentos, crenças e
maus tratos e abuso sexual, entre outros. A violência patrimonial consiste em roubar ou
destruir objetos pessoais, maltratar animais domésticos, tomar dinheiro, negar necessidades
básicas como alimentação e vestuário (SOARES, 1999, p. 67). Por outro lado, existe
também a violência denominada assédio moral , divulgado pela primeira vez pela psiquiatra
até física do outro, através de agressões sutis, não raramente bem sucedidas. Neste tipo de
agressão a mensagem não-dita é: Eu não te amo! , mas ela permanece oculta para que o
outro não vá embora e atua sobre ele de maneira indireta (HIRIGOYEN, 2002, p. 22). Além
deveria ser evitar esta ocorrência. Entretanto, na situação conjugal observa-se a repetição
19
relacionamento abusivo.
Estudos realizados entre 1993 e 1999, em sete países (Canadá, Bangladesh, Camboja,
Chile, Egito, Irlanda e Moldávia), demonstraram como reagiram as mulheres que sofreram
violência por seu parceiro conjugal. Estes estudos verificaram que poucas são as mulheres que
procuram ajuda das autoridades. A maioria busca ajuda junto à família ou amigas/os ou
silencia por medo de represálias, preocupação com os filhos, falta de apoio de pessoas
próximas e esperanças de que a situação de violência venha a ter um fim (DOSSIÊ violência
No Brasil, ainda não se conhece a incidência desse fenômeno, principalmente pela falta de
estudos sistemáticos que permitam sua compreensão global, com exceção de algumas
ALMEIDA, 1995).
O drama da violência conjugal manifesta-se tanto nas relações entre cônjuges, ex-
namorados. Assim, é um tipo de violência que ocorre entre homens e mulheres que se amam
conhece bem os hábitos, os sentimentos e maneiras de agir e reagir de sua vítima, o que a
torna mais vulnerável aos seus ataques (TELES ; MELO, 2002). A maior prevalência de
violência entre o casal é praticada pelo homem contra a parceira, apesar de também ocorrerem
A expressão violência contra a mulher foi trazida à tona pelo movimento feminista, sendo
concebida inicialmente por ser praticada contra pessoa do sexo feminino, apenas e
contra a mulher e se deparam com várias indagações: como realizar intervenções efetivas e
preventivas nessa área? Por que as intervenções não atingem o objetivo proposto? O que
mantém mulheres em relações conjugais violentas? O que faz com que as mulheres desistam
doméstica?
Para Braghini (2000), conforme uma visão psicanalítica, as mulheres vítimas de violência
estão envolvidas em uma situação ambígua onde o amor e o ódio convivem lado a lado. Por
esta razão, elas não sabem se querem ficar com o companheiro ou não, sentindo-se
desta maneira, uma união entre estas mulheres e seus maridos violentos em nome de um laço
simbólico difícil de ser desfeito. Elas, por um lado, não querem ser espancadas, e por outro,
não querem perder o companheiro ideal projetado nele, aquele que vai amá-la em qualquer
Para Soares (1999), romper o ciclo da violência é um processo prolongado e, por natureza,
cheio de hesitações. Supor que o ato da denúncia às autoridades seja um momento definitivo
desse processo é não conhecer o ciclo da violência. É ignorar a dinâmica das relações
abusivas. Portanto, permanece a questão: porque uma mulher dá continuidade a uma relação
violenta, mesmo depois de já ter constatado que o ciclo é repetitivo, que as promessas não se
cumprem e que as fases de lua-de-mel são invariavelmente sucedidas por outro período de
Muitas são as abordagens para o estudo da agressão humana nas relações interpessoais,
entretanto ainda não foi possível o efetivo controle de suas manifestações. Faz-se necessária a
compreensão das variáveis preditoras do comportamento violento nas relações conjugais, bem
como uma análise do relacionamento violento sob o ponto de vista da vítima. Assim, este
21
estudo se propõe a abordar o problema com este último objetivo, buscando conhecer como se
relação com e sem o companheiro freqüentemente violento. Por que ela permanece como
vítima desta violência, sofre danos físicos e/ou psicológicos e não procura romper o ciclo da
agressão? Se ela tentou sem sucesso várias alternativas para resolver o problema, por que
continua em um relacionamento que outras pessoas evitariam naturalmente, até mesmo pela
desconfortáveis ou perniciosas?
Assim, seria possível supor, conforme a Teoria da Atribuição Causal desenvolvida por
Heider (1970), especificamente conforme as categorias causais propostas por Weiner (1972),
que a permanência da mulher em um relacionamento violento está relacionada à causa por ela
Dessa forma, fundamentada em uma perspectiva da psicologia social e tendo como base a
segundo a percepção de mulheres que passaram por este tipo de vivência e que procuraram a
delegacia da mulher para dar queixa de seus parceiros. De modo complementar, investigou-se
O conteúdo deste trabalho foi dividido em sete tópicos. No primeiro item intitulado
violência. Para tal, fez-se uma preliminar revisão teórica sobre as possibilidades geradoras de
agressividades e violências.
22
violência conjugal, aos processos psicológicos que constituem o tópico de discussão, como a
abusivos.
objetivos e hipóteses da presente investigação, bem como o modelo proposto nesse estudo.
para coleta de dados, fazendo-se também uma exposição a respeito dos procedimentos usados
RESULTADOS E DISCUSSÃO.
O ultimo capítulo foi reservado para uma breve discussão sobre as CONCLUSÕES E
Com os resultados desse estudo espera-se trazer maior conhecimento sobre a ocorrência
AGRESSÃO HUMANA
amplo. Esta apresentação aponta como diferentes estudiosos explicam a violência e demonstra
criminalidade, na brutalidade das relações de trabalho, na pobreza, nas relações entre casais
ordem legal e social, e deixa para trás a idéia bastante difundida de que é um fenômeno que
as contribuições das teorias clássicas e das teorias ambientais, constituiu importante aporte à
visto, por exemplo, através das explicações teóricas relativas à percepção da vítima sobre a
intenção do agressor, dada principalmente pela Psicologia Social conforme Berkowitz (1993
24
a); Geen (2001); Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) e propiciou o reconhecimento das
efeito da violência para quem a sofre, bem como da própria definição da violência.
A violência não é um fenômeno novo, e sua complexidade remete um número cada vez
área, contudo, pode-se assim dizer, encontram-se ainda em estágios iniciais. É difícil,
humano normal, uma vez que, mesmo agora, os tratados sobre psicologia raramente incluem
uma descrição de como a personalidade normal inclui uma propensão para a destrutividade.
problemática da violência. Charny (1998) sugere que existem duas razões básicas para isso,
para enfrentar o problema. Enquanto se julgar incapaz para limitar ou prevenir a violência, é
bom para sua estabilidade emocional não se tornar consciente demais da possibilidade, bem
A posteriori, o homem nega também as realidades da violência porque não pode suportar
energias que, de qualquer maneira, estejam comprometidos com a violência, ao reino do feio,
Nesse sentido, para Charny (1998), o homem tenta, tanto quanto possível, afastar da
consciência seu potencial destrutivo. Mesmo quando enfrenta por algum motivo a necessidade
25
de reconhecer a perigosa destrutividade à sua volta, ele ainda procura isolar a realidade desses
fatos de qualquer reconhecimento dos impulsos violentos que identifica em sua personalidade.
Ao longo dos anos existem tentativas de formular explicações sobre a violência humana,
que em sua grande maioria ocorrem através da compreensão de como forças históricas,
políticas e econômicas se reúnem para legitimar a violência. Esta colocação não tem a
Por conseguinte, as Ciências Sociais carecem de uma linguagem que torne possível pensar
em como um ser humano, que não está clinicamente louco nem é moralmente pervertido,
processos naturais, mas esses processos em si não são absolutamente idênticos aos atos
concretos de violência.
homem, conforme pode ser visto em Freud (1930); Lorenz (1973). A conclusão mais
simplista tirada desse pensamento pela maioria, no entanto, foi a de que, se é normal para o
homem ser violento, então para ele não há esperança. A suposição equivocada que
desencadeia essa reação é a crença em que se alguma coisa é natural ao homem, ela tem que
ser sempre expressada em sua totalidade e não pode ser regulada. Poucos vêem a
possibilidade alternativa de que possa haver processos naturais que sirvam a fins inteiramente
Segundo Charny (1998) a natureza introduz no ser humano tanto o sentimento natural de
querer destruir outros homens, quanto os desejos profundos de defender a vida e jamais
Campbel (1990), em O Poder do Mito, usa a linguagem alegórica - expressão típica dos
mitos -, a respeito da agressividade, alertando para a perda dos valores humanos, entre eles o
sentido de mundo, e a razão de existir. Para falar sobre essas questões, recorre à mitologia e a
Campbel (1990) responde, que sem esse conhecimento, seriamos todos um bando de bebês,
A milenar história religiosa cristã diz que os homens são concebidos no pecado, nascem
mais poderosos princípios relativos à perversidade do homem. Esta se caracteriza pela crença
de que a humanidade é pecadora e assim permanecerá por toda a eternidade, a não ser que
comportamento humanos.
Para explorar alguns caminhos teóricos faz-se necessário, em primeiro lugar, definir
Essas teorias manifestam-se claramente em duas esferas intelectuais. Uma diz respeito às
concepções sobre a natureza humana, isto é, sobre as propriedades pulsionais intrínsecas com
que os seres humanos vêm ao mundo. A segunda concerne às concepções sobre a sociedade e
agressão como vitalidade e energia e usam diferentes palavras para descrever as aplicações da
Para Johnson (1979) uma das dificuldades encontradas para o estudo da agressão é que os
disciplinas vizinhas. Isto faz com que os resultados de cada análise sejam uma abundância de
28
antecedente, como a dor ou a frustração; d) toda agressão é má, etc. Esta amplitude de
pode ser aplicada a uma resposta específica como matar; pode ser usada para se referir a
estados emocionais e atitudinais como raiva ou ódio; pode ser concebida como um traço de
bordoada, investida, ataque; provocação, hostilidade; ofensa; conduta caracterizada por intuito
ato. Violência, por sua vez é definida como qualidade de violento; ato violento; ato de
A dificuldade de concordar com uma definição exata e precisa da agressão revela algo
sobre sua natureza, indicando que não se está lidando com um processo unitário. Por um lado,
qualquer definição estreita e precisa, facilmente se depara com dificuldades. Por outro lado,
conceitos mais compreensivos são tão gerais que possuem pouca utilidade. Entretanto, as
dinâmica do comportamento agressivo, mesmo que não haja uma única e absoluta definição.
A agressão desafia definições, e em suas formas extremas é uma tragédia humana sem igual.
29
que significa mover-se ativamente, pode revestir-se de um sentido construtivo, como realizar
um bom trabalho, não tem que ser hostil e, reciprocamente, a hostilidade não precisa ser
raiva, porquanto a raiva reflete um sentimento transitório que pode ser compatível com o
amor.
Este autor considera que se pode, da forma mais completa, sem interrupção ou alteração,
amar alguém, a despeito de períodos de raiva, como bem o sabe todo marido, mulher, filho,
pais e amigos; isto porque, ele explica, a hostilidade é o mal fundamental no homem. Neste
sentido a agressão é entendida como força natural que pode ser aplicada de forma positiva ou
negativa.
inerente ao homem, mas frisa que os mecanismos de pacificação e controle são igualmente
`vis`, que significa força, energia, potência, valor, força vital. Entendendo que existe violência quando
Yentzen et al. (1994) afirmam que a violência é fruto de uma história de relações
hostilidade tem uma história de relações humanas. Assim, a violência tem suas raízes nos
hostilidade.
Amoretti (1992, p. 41), define violência como [...] o ato de violentar, determinar danos
físico, moral ou psicológico através da força ou da coação, exercer pressão ou tirania contra
De acordo com Costa (2003, p. 30) na teoria psicanalítica, a palavra violência [...] é
contextos ela é associada à agressividade instintiva do homem para matar ou fazer seus
semelhantes sofrer. Em outros contextos, a violência está associada a uma forma de resolução
de conflitos, ou seja, [...] não existe um instinto de violência, o que existe é um instinto
agressivo que pode coexistir perfeitamente com a possibilidade do homem desejar a paz e
Para o autor acima referido, existem muitos equívocos a respeito da diferença entre
violência e agressividade, onde, por vezes, um conceito é tomado pelo outro, como também é
violência com agressividade significa atribuir-lhe uma qualidade biológica, mesmo que sua
potência tenha suas raízes no instinto agressivo. Ainda, para ele, da mesma forma, existem
violência irracional, por sua vez, se dá através da substituição de objeto, como por exemplo,
por meio de desforra contra esposa e ou filhos, de alguma situação vivida com outras pessoas.
violência é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos [...] (COSTA, 2003,
31
p. 39). Ainda que de forma irracional, a violência traz a marca de um desejo que pode ser
deliberado e racional ou involuntário e irracional. Por sua vez, a ação agressiva não é
traduzida como violenta quando se manifesta com expressão do instinto e não exprime um
desejo de destruição.
No homem o instinto agressivo é uma marca de sua conduta animal. A agressividade, nesse
sentido, não implica em nenhum desejo de destruir o outro, ainda que possa destruir, para
provisórias e inferidas de casos particulares, sendo usado nos mais diferentes contextos e com
pensamento.
Costa (2003) condiciona que o caráter de violência é a representação que a vítima faz da
força coercitiva que o atinge. É porque o sujeito violentado (ou o observador externo `a
fazer sofrer) que a ação agressiva ganha o significado de ação violenta. (COSTA, 2003, p.
particularmente, posto que revela o aspecto subjetivo da mesma. Esta vista sob a ótica da
vítima, pode não coincidir necessariamente com seu aspecto objetivo, ou seja, não coincidir
com a ótica de quem a pratica. Quem pratica a violência faz uma representação que, apesar de
possuir um caráter violento, não é necessariamente captada como tal por quem a recebe.
Dessa forma tem-se uma violência que ocorreu objetivamente, da parte de quem a
praticou, mas não ocorreu subjetivamente por parte da vítima. Ou, ao contrário, é possível
atribuir uma representação de natureza violenta, quando, na realidade quem a exerceu não
Costa (2003) considera que a atribuição indevida se dá por razões tais como: a relação que
a vítima associa a experiências anteriores, ainda que de forma inconsciente, com a atual; a
representação que o autor faz da violência cometida - poderá representar a violência apenas
em nível inconsciente, e em nível consciente, esta será representada através das melhores
violência.
Neste sentido, segundo Costa (2003), é impossível considerar a violência no ser humano
evento.
seja, do desejo do mesmo transmitir estímulos nocivos a outro. Para o agredido, deve-se
considerar o sentimento de estar sendo agredido (percepção de intenção do agressor lhe causar
sendo [...] qualquer comportamento cuja finalidade é causar dano a outrem [...] . As noções
definir um ato agressivo. Se um ato praticado por uma pessoa A causa dano a uma pessoa B, é
devido a fatores não intencionais (causalidade impessoal). Um ato só poderá ser considerado
33
agressivo quando existir causalidade pessoal. Esta definição tem como elemento fundamental
tem sido definida como todo ato realizado com a intenção de provocar dano a um ser vivo,
parte do agressor, e caracterizam como agressivo apenas o ato deliberado com o objetivo de
causar danos físicos e psicológicos a alguém. Na ótica desta disciplina a agressão não precisa
ser necessariamente física. Neste tipo de agressão simbólica a vítima pode ser agredida por
insultos, calúnias ou impedida de atingir seu objetivo. O assédio, considerado uma forma de
Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) afirmam que nem sempre é possível avaliar a
De modo geral, a Psicologia Social distingue a agressão humana em função das intenções
emocionais fortes, como a raiva, e tem como objetivo básico causar dano a uma pessoa ou
207). Por sua vez, a agressão instrumental visa ferir, magoar ou prejudicar alguém apenas
(BERKOWITZ, 1993a).
Para Berkowitz (1993a); Baron e Richardson (1994); Bushman e Anderson (2001); Geen
finalidade é a de causar danos (ferir). Além disso, o agressor precisa acreditar que o
De acordo com Baumeister (1989), danos acidentais não são agressivos porque não são
intencionais. Danos que são um produto incidental, ações de ajuda também não são
agressivos, porque quem provocou o dano acredita que o alvo não está motivado a evitar a
ação, como por exemplo, uma dor causada durante uma intervenção odontológica.
vítima não está motivada a evitá-la - deveras, a dor é efetivamente solicitada a serviço de um
Por outro lado, a violência é a agressão que têm como objetivo causar danos extremos,
podendo levar à morte. Toda violência é agressão, mas muitas instâncias da agressão não são
violentas. Por exemplo, uma criança empurrando outra de um triciclo é um ato de agressão,
Ampliando este conceito, pode-se ainda falar de agressão hostil e agressão instrumental.
clara a intenção de causar danos como uma característica necessária a toda agressão, como em
modelos puros de agressão hostil. Segundo são identificados diferentes tipos de agressão em
termos do nível do objetivo definitivo. Assim, tanto o roubo quanto o ataque físico são atos de
agressão porque ambos incluem a intenção de causar danos à vítima em um nível imediato.
No entanto, eles tipicamente se diferenciam dos objetivos definitivos, com o roubo servindo
instrumental, ao mesmo tempo em que se percebe que as mesmas têm motivos mistos.
35
[...] podemos ter agressão com ou sem violência e, igualmente, violência com ou sem
Portanto, uma mulher pode, por exemplo, sentir-se agredida pelo silêncio do marido, caso
comentário hostil. O marido deve, por sua vez, ser consultado sobre suas intenções lesivas ao
optar pelo silêncio. O silêncio pode ser motivado tanto pelo fato do marido ser calmo e
amistoso, quanto por ele ter planejado ferir a mulher através do silêncio. Neste ultimo caso,
conforme Ballone (2003), estaríamos diante de um ato de agressão sem violência. Podemos
observar também que a mesma cena poderia não ter um resultado agressivo, caso a mulher
Assim, o constrangimento parece ser uma condição necessária da violência, mas não é
uma condição suficiente. Toda violência é um ato de constrangimento, mas nem todo
manifestar.
avassaladores.
Costuma-se definir a violência como sendo toda ação intencional que implique a morte de
Múltiplas visões com recortes diferenciados analisam a violência de acordo com o campo
que a definição de violência como ato que causa dor ou provoca ferimentos pode ser muito
36
limitada para este tema, uma vez que exclui determinadas formas de abuso, como o emocional
e sexual. Por outro lado, não é menos problemático incluir a negligência, a omissão, as
ameaças, no rol das manifestações de violência, uma vez que estas dependem do contexto em
que são proferidas e da dinâmica de cada relação. Conforme alertam Straus e Gelles (1990),
A definição de violência de forma geral envolve o uso da força física ou ações brutais
impostas sem consentimento. Contudo, de acordo com Lloyd (1994) violência e abuso
violência for ampliado. A diferença entre abuso e violência é que o abuso tem uma conotação
agressão física, como a negligência, a violência sexual e emocional. Entretanto, sua tradução é
sempre perigosa, pela conotação marcadamente sexual que a palavra têm em português.
Termos como violência e abuso em diferentes línguas tem diferentes significados, por isso a
precisão de comparar atos reais que ocorrem em uma cultura com os que ocorrem em outra se
torna mais difícil de ser obtida. Em vista disso, ao coletar dados é preciso descrever os atos
Isto posto, vale ressaltar que o conceito de violência pode ser desdobrado num outro
conceito: o de abuso. Por conseguinte, este é mais amplamente entendido com conotação
sexual, porém, para Osório (2004), o conceito de abuso engloba todos os tipos possíveis de
Em síntese, verifica-se que a agressividade humana tem sido objeto de estudo de muitas
em que ela se constitui. Para alguns teóricos, ela é considerada como tendo uma função de
37
adaptação na luta pela vida, e para outros, a agressividade não pertence à natureza humana em
seu estado natural, mas é uma criação da sociedade, mediante processo de aprendizagem
social.
Destarte, apesar de ser um tema difícil e vasto, na maioria das obras pesquisadas a
agressão tem sido apresentada como tendo dois significados. Por um lado, constitui, direta ou
indiretamente, uma reação à dor da frustração e dos fracassos; por outro, é uma das muitas
continua hoje, como nos séculos passados, sendo uma vítima de si mesmo. Assim, o homem
teme os outros homens e, para dominar esse medo, tem de compreender a espécie humana e o
Violência é um tema do presente e não apenas do passado. Além do mais, é um tema com
o qual se aprende uma verdade sobre a natureza real da espécie humana descobrindo-se o que
atingir essa meta. Deve ter parecido igualmente absurdo aos antigos
romanos ouvir dizer que os combates sangrentos e mortais entre
gladiadores deveriam ser proibidos.
formas pelas quais as diferentes teorias lidam com a questão da agressividade humana.
contemporâneos.
grandes tendências. Sigmund Freud e Konrad Lorenz figuram na linha de frente defendendo
situacionais desencadeantes.
A agressão se apresenta sob muitas nuances dentro de uma mesma perspectiva. Para
Freud, existe nos homens uma agressividade inata que os instiga a comportamentos
39
agressivos. Lorenz (1973) postula que o instinto agressivo é condição indispensável para o
Sigmund Freud
embora referido a um campo do saber, articula suas formulações a outros campos, como
História, Antropologia, Filosofia, Biologia, Física, dentre outros, dando a sua obra uma
principalmente quando escreve Por Que a Guerra (1914), O Futuro de uma Ilusão
Sua obra é marcada por um ceticismo em relação ao homem, posto que na sua visão, a
primeira infância.
Em sua teoria, enfatiza as pulsões em duas categorias: os instintos de vida (Eros), que
conflitos intrapsíquicos ou, de maneira mais geral, de interações dinâmicas entre forças
Freud (1930) mostra como o desamparo no qual o ser humano chega à vida é decisivo
para a estruturação de seu psiquismo e revela que na pulsão destrutiva, agressiva, advinda da
de grupo e análise do eu a metáfora dos porcos espinhos para afirmar que o homem não
suporta uma aproximação demasiado íntima com o próximo, principalmente porque a deseja.
Freud afirma que as relações amorosas estão carregadas de hostilidade, nem sempre
seu desconhecimento, sua perplexidade frente à morte. O laço social tem aí sua origem,
consciência moral, demonstrando que uma de suas funções consiste em manter a vigilância
um mandamento cultural, que é o de amar o próximo como a ti mesmo. Diante desta máxima,
Freud sugere que para amar uma pessoa ela tem que ser merecedora desse amor. Para merecer
o amor é necessário que ambos sejam de tal forma semelhantes que, em aspectos importantes,
um possa se amar através do outro, podendo assim amar o ideal de seu próprio eu. Assim, ele
descobre várias dificuldades relativas ao cumprimento desse preceito enunciado com tanta
solenidade e sugere outro mandamento para substituí-lo Ama o teu próximo como este te
ama (1930, p. 115), e critica um segundo mandamento que lhe parece ainda mais incorreto,
O amor é algo muito valioso que não pode ser jogado fora sem reflexão, um amor que não
discrimina é privado de uma parte de seu próprio valor e, além disso, nem todas as pessoas
são merecedoras de amor. Mais do que isso, muitas tem mais direito ao ódio e à hostilidade do
que ao amor. Por trás disso tudo está a noção de pulsão de morte, formulada em 1920 em
41
pensar a relação ao próximo. É depois desse estudo que Freud passa a falar mais
interpessoais.
[...] os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e
que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário,
são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma
poderosa cota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é,
para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual,
mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua
agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento,
apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento,
torturá-lo e matá-lo. __ 'Homo homini lupus .(FREUD, 1930, p.
116).
A autodetecção da existência de uma inclinação para a agressão leva a supor com justiça
que ela está presente nos outros. Isso constitui um fator que perturba os relacionamentos com
o próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio de energia. Para Freud, as paixões
instintivas são mais poderosas que a razão. Nesse sentido, revela que é necessário estabelecer
limites para os instintos agressivos do homem, mantendo-os sob controle, através de métodos
ao próximo, sendo ele plenamente justificado pelo fato de nada ir tão fortemente contra a
ultima teoria das pulsões, o autor mantém o dualismo pulsional, opondo pulsões de vida e
pulsões de morte, e, neste sentido, afirma que esse conflito é posto em ação sempre que os
agressividade está na base de toda relação de amor entre as pessoas e, ao ser recalcada,
para a agressão [...] adoto, portanto, o ponto de vista de que a inclinação para a agressão
agressividade humana, entendida como disposição inata, inclinação original do homem para a
crueldade e para o mal. Não vê, pois, a agressividade como um desvio, mas pensa a maldade
como constitutiva do ser humano, presente em cada um como uma disposição pulsional inata -
para o mal.
Enquanto Eros atua no sentido dos reforços dos laços, da união dos indivíduos, através da
identificação, a pulsão de morte atua no sentido oposto, como disjunção dessas unidades,
O mandamento ama a teu próximo como a ti mesmo é a base da mais forte defesa contra
a agressividade humana. Entretanto, os homens não prestam atenção a tudo isso, e o preceito,
No livro o Mal Estar na Civilização os instintos destrutivos do homem são tidos como
de morte poderia gerar a violência existente na natureza humana e na natureza das relações
sociais.
Freud foi o primeiro a sublinhar a autonomia fundamental dos instintos em geral, embora
só muito mais tarde tenha reconhecido o instinto da agressão. Mostrou igualmente que a falta
facilitam-na.
Comentando a obra o O mal estar na Civilização , Gay (1989), afirma que este foi o
livro mais sombrio de Freud, por estar baseado no dualismo instintivo e no sistema estrutural.
Os grandes antagonistas, o amor (Eros) e o ódio (Thanatos), lutam pelo controle da vida social
Peter Gay destaca que a principal preocupação de Freud era a forma como a cultura inibe a
Todavia, exalta que nem toda experiência surge do mundo exterior, e que a constituição inata,
inclusive a herança filogenética de uma pessoa, desempenha seu papel, refletindo assim sobre
autor refaz a pergunta de Freud, inquirindo se a civilização é capaz de conter a pulsão humana
sabe que o ser humano tem tanto a possibilidade de amar quanto a possibilidade de odiar.
Konrad Lorenz
A observação dos hábitos dos animais e a comparação do instinto de agressão animal com
natural do mal (LORENZ, 1973). Nesta obra, o autor ressalta que nos animais em geral a
O autor defende a tese de que a espécie humana traz uma forte herança de territorialidade
e agressividade, instintos estes que devem ser extravasados para se evitar distúrbios sociais.
Sugere que as espécies animais estão geneticamente construídas para aprenderem tipos
seguir a mãe, ou então, uma falsa mãe. O processo, que é chamado imprinting (gravação)
compreende sinais visuais e auditivos do objeto "mãe" que são gravados, mesmo que sejam
enganosos. Isto provoca uma resposta de acompanhamento que depois vai afetar o adulto.
organização dos instintos em vistas da proteção da vida. Mas isso é válido para qualquer outra
conservação da espécie, pode ser avaliado em todo o seu perigo, isto é, é a espontaneidade
Se ele fosse apenas uma reação contra certos fatores exteriores, como
pretendem numerosos sociólogos e psicólogos, a situação da
humanidade não seria tão perigosa como é, porque nesse caso os
fatores que suscitam tais reações poderiam ser estudados e
eliminados com alguma esperança de êxito. (LORENZ, 1973, p. 63).
Ao estudar o comportamento de peixes em aquário descobre que, para evitar que o macho
mesma espécie, para que o macho possa descarregar sua ira sobre o vizinho do mesmo sexo.
Segundo Lorenz (1973), pode-se verificar coisa parecida nos seres humanos, uma vez que o
45
específico sofrem um forte abaixamento de seu limiar. Para exemplificar, cita as reações
contra os movimentos dos melhores amigos, a sua tosse, a maneira de se assoarem, como se
tivesse recebido uma bofetada. Entender o mecanismo fisiológico deste fenômeno, impede o
assassinato do amigo, mas não diminui o sofrimento. A única solução para uma pessoa
qualquer objeto, fazê-lo voar em estilhas com o maior barulho possível. (LORENZ,1973, p.
prejudique seriamente a conservação da espécie, [...] sem que por esse fato sejam eliminadas
as suas funções indispensáveis ao interesse dessa espécie? (LORENZ, 1973, p.123) e sobre
o por que é que as espécies que tiram proveito de uma vida social não renunciam à agressão.
As respostas para tais questões evidenciam-se no fato de que a espécie mantém inalterada
a pulsão, de um modo geral útil, ou até indispensável. A solução deste problema poderia
residir, na instalação, nos casos particulares onde ela poderia ter um efeito nocivo, de um
mecanismo especial de inibição criado ad hoc. Neste ponto vê-se uma analogia com a
evolução cultural do homem, vislumbrada nos imperativos mais importantes da lei de Moisés
que, tal como qualquer outra lei, são interdições e não mandamentos.
natureza, opõe-se a ela como se fosse um ser de essência diferente, e em razão a isso,
humanidade.
46
São vários os exemplos que podem ser citados a este respeito: quando Darwin descobriu
que os homens descendiam dos animais, não faltaram tentativas para reduzi-lo ao silêncio.
Assim, falta humildade e todos os meios servem à humanidade para defender o seu amor
próprio.
Lorenz (1973, p. 247) afirma que um observador imparcial nunca [...] teria a idéia de
que o comportamento humano seria dirigido pela razão, e ainda menos por uma moral
responsável [...] . Para esse autor os fenômenos são causados pela natureza humana e, tal
provável que existam fatores poderosos para que os homens sejam capazes de ultrapassar os
Lorenz (1973) fala de inibições que controlam a agressão nos diferentes animais sociais que
impedem de ferir ou matar seus irmãos de raça. Na evolução do homem, tais mecanismos
contra o assassinato se mostraram supérfluos, uma vez que não havia possibilidade de matar
rapidamente, pois a vítima em potencial tinha muitas ocasiões para obter a graça do agressor
espécie humana, como em outros animais menos agressivos, o respeito ao gesto de submissão
Isso não significa que, numa fase desprovida de responsabilidade moral, o homem fosse o
mal em pessoa, já nessa fase ele era dotado de instintos sociais e das mesmas inibições de um
Lorenz (1973) critica alguns filósofos contemporâneos que compartilham a idéia de que
todo tipo de comportamento que serve para o bem estar da sociedade são ditados por um
pensamento racional. Não apenas esta opinião é errada, mas é a sua contrária que é
verdadeira. (LORENZ, 1973, p. 255). Explica ainda que se o homem não tivesse sido
dotado de instintos sociais, nunca se elevaria acima do mundo animal, posto que, as tradições,
se num ser que já vivia em sociedades organizadas antes do pensamento conceitual. A força
motriz que aciona a razão provém de mecanismos de comportamento instintivo muito mais
antigos que a própria razão, sendo eles a fonte do amor e da amizade, do calor afetivo, da
base nisso, o ser humano edificou uma enorme estrutura de normas e ritos sociais cuja função
pela cultura, as normas de comportamento representam para cada ser humano normal,
responsável, formam um todo organizado. Vale ressaltar que todos os sistemas de atividades e
reações inatas do homem foram construídos pela filogênese e calculados pela evolução de
maneira tal que necessitam de ser completados pela tradição cultural, isto é, o homem
modificações gradativas. Tal fenômeno pode ser observado na tendência existente, durante a
ritos e normas sociais, o que permite ao pensamento conceitual procurar novos ideais e talvez
estreitamente ligado e que luta por determinados ideais é tão forte que a questão de saber o
que são esses ideais não possuem valor intrínseco nem são essenciais. Neste sentido a
O autor citado exemplifica isso por meio do entusiasmo militante, ilustra como um
distinta das formas primitivas da agressão individual. Entretanto, toda pessoa exposta a
militante: fica pronto a abandonar tudo ao apelo daquilo que, no momento em que essa
emoção particular se produz, aparece como um dever sagrado; todos os obstáculos se tornam
insignificantes; a instintiva inibição de ferir ou matar o próximo perde muito de sua força; as
comportamento ditado pelo entusiasmo militante ficam reduzidos ao silêncio por uma
49
espantosa inversão de valores, fazendo surgir argumentos indefensáveis, baixos e vis. Não
Lorenz (1973) argumenta que a tensão dirigida para um único alvo que caracteriza essa
reação deve ter possuído um enorme valor de sobrevivência. Tal como o cerimonial do triunfo
é comparável ao instinto sexual e a outras necessidades imperiosas, além do que, gera uma
sensação especial de intensa satisfação. A sua força e a sua sedutora atração explicam porque
situações: 1) é necessário que a unidade social com a qual o sujeito se identifica seja
Diante de tudo isto, Lorenz (1973) recomenda que é necessário controlar, por uma sábia
reorientar a agressão para algum objeto de substituição, como a prática de esportes. Esse
purificadora, já era familiar aos gregos. Segundo esse autor, o método mais evidente para
Assim sendo, Lorenz (1973) descobriu que muitos dos mais importantes padrões de
está sujeito às mesmas leis causais da natureza. O critério para determinar que um certo
padrão de comportamento é inato, é que este seja mostrado por todos os indivíduos normais
da espécie, de determinada idade e sexo, sem nenhum aprendizado anterior e sem tentativas e
O autor explica o comportamento por causas naturais, o que não exclui ou afeta
-, nem mostra tampouco que os homens não sejam livres. Ao contrário, para Lorenz o
vontades. Quanto mais se compreende a causa material da agressão, mais aptos os indivíduos
Desta forma, Lorenz (1973), em seu livro A agressão: uma história natural do mal
trata do instinto do combate do animal e do homem dirigido a seu próprio congênere. Opõe-se
à noção de pulsão de morte, que segundo Freud, seria diametralmente oposta a todos os
condições naturais contribui como todos os outros, para a preservação da vida e da espécie.
Para ele, no homem que, pela sua própria ação modificou demasiado depressa as suas
condições de vida, o instinto da agressão produz muitas vezes efeitos nocivos, mas os outros
responsável pela formação da personalidade mais ou menos agressiva, ou seja, mais ou menos
explicam grande parte do comportamento agressivo exibido pelas pessoas. Dentre os fatores
Segundo Anderson e Bushman (2002), cinco teorias principais sobre agressão guiam a
maioria das pesquisas atuais em psicologia social. Nestas se inserem o segundo grupo
anteriormente citado. Suas teorias coincidem razoavelmente, como se poderá ver a seguir.
de Dollard e Milller (DOLLARD et al., 1939). Para tal, recorre ao conceito de instinto de
Tinbergen, que se refere a um mecanismo biológico interno que para manifestar-se exige um
objeto ou situação externa apropriada . Para Berkowitz (1993a), existe uma resposta
agressiva inata à frustração e à raiva e a outros estados emocionais que podem ter efeitos
similares à frustração, apenas quando estão presentes certos estímulos ou indícios. São eles:
52
alvos (pessoas ou grupo de pessoas), objetos (por exemplo, armas) e situações (um lugar, por
exemplo).
interação complexa entre as propensões inatas, respostas inibidoras aprendidas, bem como a
Berkowitz (1989, 1990, 1993a) propôs que eventos aversivos como as frustrações,
associadas tanto com as tendências de luta e de fuga. As associações de luta dão vida a
de medo. Além disto, a teoria da neoassociação cognitiva assume que as pistas presentes
tais como avaliações e atribuições. Se as pessoas são motivadas a fazê-lo, elas podem pensar
sobre como se sentem, fazendo atribuições causais para o que as levam a sentir-se de tal
ambos. Isto pode também suprimir ou aumentar as tendências da ação com estes sentimentos.
frustração-agressão (DOLLARD et al., 1939), mas também provê um mecanismo causal para
explicar porque eventos aversivos aumentam as inclinações agressivas, isto é, via afeto
agressão hostil.
da mesma forma que adquirem outras formas complexas de comportamento social - tanto por
processo de aprendizado pela observação das ações de outras pessoas designadas como
modelos , e provê uma útil gama de conceitos para entender e descrever as crenças e
repetir um comportamento que recebe reforçamento direto (como aprovação social, por
exemplo) é grande (BARON, 1974). Pode-se citar como exemplo, o trabalho de Patterson;
54
Debaryshe; Ramsey (1989); Patterson; Reid; Dishion (1992) sobre interações familiares e
Huesmann (1986, 1998) propôs que quando as crianças observam violência da mídia de
ou seja, a pessoa ativa ou seleciona um enredo para representar a situação e então assume um
papel neste enredo. Uma vez que um enredo foi aprendido, ele pode ser retomado algum
tempo depois e ser usado como um guia para comportamento. Este método pode ser visto
como uma consideração mais específica e detalhada dos processos de aprendizado social.
(ABELSON, 1981; SCHANK ; ABELSON, 1977). Quando itens são tão fortemente ligados
que formam um enredo, eles tornam-se um conceito unitário no esquema da memória.. Além
disto, mesmo um enredo pouco ensaiado pode mudar as expectativas e intenções de uma
ganha acessibilidade e força de dois jeitos. Múltiplos ensaios criam ligações adicionais para
outros conceitos na memória, aumentando assim um grande número de caminhos pelos quais
ele pode ser ativado. Ensaios múltiplos também aumentam a força das próprias ligações.
Assim, uma criança que testemunhou milhares de vezes o uso de armas para resolver uma
disputa na televisão é propensa a ter este tipo de enredo facilmente acessível sendo
percepção-julgamento-decisão-comportamental.
ficar mais agressiva do que as pessoas que não se encontram fisiologicamente excitadas.
Quanto maior o grau de excitação, maior a agressividade. Zillmann (1983) postulou que a
excitação gerada por uma situação pode ser transferida para outra e intensificar o estado
emocional subseqüente.
eventos excitantes são separados por um curto período de tempo, a excitação proveniente do
primeiro evento pode causar uma confusão de atribuição para o segundo. Se o segundo evento
é relacionado à raiva, então a excitação adicional deve deixar a pessoa ainda mais raivosa. A
noção de transferência de excitação também sugere que a raiva pode ser estendida através de
longos períodos de tempo se uma pessoa conscientemente atribuiu a sua alta excitação à raiva.
Assim, mesmo depois da excitação se dissipar, a pessoa continua pronta para agredir enquanto
situação atual. Conforme essa teoria a agressão depende de três fatores: das disposições
do estado de excitação.
56
como comportamentos influenciados socialmente, isto é, um ator usa ações coercivas para
produzir alguma mudança no comportamento de seu alvo. Ações coercivas podem ser usadas
por um ator para obter alguma coisa de valor, como por exemplo, informação, dinheiro, bens,
sexo, serviços e segurança, para estabelecer justiça retributiva de erros percebidos, etc. De
acordo com esta teoria, o ator é um tomador de decisões cujas escolhas são direcionadas por
A Teoria da Interação Social provê explicações de atos agressivos motivados por altos
níveis de objetivos definitivos ou últimos. Mesmo agressão hostil pode ter algum objetivo
racional por trás, tais como punir o provocador a fim de reduzir a probabilidade de futuras
pessoa. Tais estruturas se desenvolvem a partir da experiência, que por sua vez influenciam a
percepção em múltiplos níveis desde padrões visuais básicos até complexas seqüências
comportamentais; podem tornar-se automatizadas com o uso; são ligadas a estados afetivos e
crenças, e são usadas para orientar as interpretações e respostas comportamentais das pessoas.
57
Finalmente, existe ainda um outro grupo de teorias que sintetiza os dois anteriores, ou
psicológico e o social, de forma que toda atividade humana repercute nas relações sociais,
O enfoque bio-psico-social não crê que a violência resulte apenas dos problemas de
natureza econômica, como a pobreza, ou política (enfoque sociológico papel dos fatores
embora estejam presentes na criminalidade e, ainda, que a violência não se deve aos traumas
de pais separados, frustrações e conflitos com a educação infantil, etc. O enfoque bio-psico-
Em síntese, pode-se dizer que devido à ampla variedade de definições para a agressão,
explicações:
a) o ser humano está, de alguma forma, programado para a violência por sua natureza.
sociobiólogos. Destacam-se ainda outras teorias que, embora não qualificadas como
58
humana. Ainda numa perspectiva biológica, pesquisadores identificaram sistemas neurais que,
humana.
impulso básico eliciado por variáveis externas. Nesta categoria enquadram-se os psicólogos
uma resultante não dos instintos e dos objetos interiorizados, mas sim do interjogo
comportamento da vítima. A psicologia social estuda o indivíduo não como um ser isolado,
profunda, contribuiu pouco para o desenvolvimento de estudos na área da interação social, por
Através da psicologia social podemos obter um quadro dos motivos e das causas, em
termos gerais que levam uma pessoa a se comportar de forma violenta ou mesmo permanecer
enquanto que do ponto de vista da psicanálise o que mais interessa são os aspectos internos.
agressão humana, diferenciam-se apenas no grau em que consideram a agressão como algo
ambientais como instigadores de atos agressivos e, ainda quanto aos meios que sugerem para
violência consiste em ações que ocasionam a morte de seres humanos ou que afetam
prejudicialmente sua integridade física, moral, mental ou espiritual. O aspecto mais relevante
da violência não está necessariamente nas lesões físicas, que muitas vezes têm um
prognóstico razoavelmente bom, mas nas lesões emocionais que costumam evoluir de
de desenvolver algum transtorno emocional. Ações violentas sobre o psiquismo humano são
aquelas que afetam profundamente a vida psíquica do ser humano. Submetida a ações
ao aumentar o entendimento das causas da agressão e violência. Estas pesquisas mostram que
Os fatores que influenciam a agressão podem ser categorizados em função das características
processos fundamentais para examinar como vários inputs de variáveis pessoais e situacionais
a) Fatores Pessoais
Estes incluem todas as características que uma pessoa traz à situação, como características
consistência através do tempo, através das situações ou através de ambos. Tal consistência é o
(MISCHEL, 1999; MISCHEL ; SHODA, 1995). Esquema perceptivo é usado para identificar
fenômenos simples como os objetos comuns do dia a dia, tais como, cadeira e pessoa, ou
fenômenos complexos como eventos pessoais. Esquema de pessoa inclui crenças sobre uma
pessoa particular ou grupo de pessoas. Enredos contêm informações sobre como as pessoas
situações uma pessoa irá seletivamente procurar e quais situações ela evitará, o que contribui
para uma consistência das características pessoais. Juntos os fatores pessoais podem
Um recente avanço nesta área foi a descoberta de que certos tipos de pessoas que
freqüentemente agridem outros, o fazem em grande parte por causa de uma suscetibilidade em
Outro recente avanço contradiz crenças duradouras de muitos teóricos: um tipo de alta
auto-estima (e não baixa auto-estima) produz alta agressão. Especificamente, indivíduos com
auto-estima inflada ou instável (narcisistas) tendem a raiva e são altamente agressivos quando
BAUMEISTER 1998).
62
Outro aspecto mostra que homens e mulheres diferem nas tendências agressivas,
ataques agravados. A proporção de homens para mulheres assassinados nos Estados Unidos é
(OESTERMAN et al., 1998). Estudos sugerem que muitas destas diferenças resultam de
(entristecidos) por infidelidade sexual de suas parceiras do que por infidelidade emocional,
apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Aqueles que acreditam que podem cometer com
sucesso atos agressivos específicos (auto-eficácia), e que estes atos irão produzir os resultados
agressivos do que aqueles que não são tão confiantes na eficácia de atos agressivos. Crenças
63
Um quarto aspecto inclui as atitudes que são de forma geral avaliações que pessoas
em geral também preparam certos indivíduos para a agressão. Mais especificamente, atitudes
positivas sobre violência contra grupos de pessoas específicos também aumentam a agressão
contra estas pessoas. Por exemplo, atitudes sobre violência contra a mulher são positivamente
relacionadas à agressividade sexual contra a mulher (MALAMUTH et al., 1995). Homens que
tendem para agressão contra mulheres não são geralmente agressivos contra pessoas em todas
as situações; particularmente, eles vão contra as mulheres, mas não contra homens que os
Valores e crenças sobre o que se deve ou não deve fazer, também desempenham um papel
de se lidar com conflitos interpessoais, talvez seja até mesmo o método preferido. Por
exemplo, o sistema de valores em partes das regiões sul e oeste dos Estados Unidos dita que
afrontes contra a honra pessoal devem ser respondidos, preferivelmente, com violência
que a violência de jovens gangues, resultam de códigos similares de honra e respeito pessoal
agressão. Por exemplo, os objetivos principais de alguns membros de gangue são ser
uma ação. Similarmente, um objetivo pessoal de vida de obter riquezas pode aumentar
pessoa traz para situações sociais influenciam a disposição da pessoa para a agressão
(HUESMANN, 1988, 1998). Enredos são compostos de muitos dos elementos precedentes, na
estrutura do conhecimento.
b) Fatores Situacionais
presença de uma provocação ou uma pista agressiva. Como os fatores pessoais, os fatores
Pistas agressivas são os objetos que ativam conceitos relacionados à agressão na memória.
Por exemplo, Berkowitz e LePage (1967) descobriram que a mera presença de armas (versus
pesquisados. Mais recentemente, o entendimento do efeito de armas tem sido aumentado pelo
chegar a um importante objetivo e coisas assim. Uma linha emergente de pesquisas preocupa-
se com a violência no ambiente de trabalho, agressão e intimidação (COWIE et al., 2001 apud
BUSHMAN, 2002). Baron (1999) descobriu que a percepção de injustiça foi positivamente
parte das provocações pode ser vista como um tipo de frustração na qual uma pessoa foi
identificada como o agente responsável pela falha ao tentar alcançar um objetivo. Mesmo as
frustrações que são plenamente justificadas têm mostrado aumentar agressão contra o agente
frustrante (DILL ; ANDERSON, 1995) e contra uma pessoa que não foi responsável pela
falha ao tentar alcançar um objetivo (GEEN, 1968 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).
Pesquisas mais recentes mostraram que agressão deslocada, na qual o alvo da agressão não é a
Outro estudo mostrou que mesmo condições não-sociais aversivas tais como temperaturas
Condições aversivas agudas, como a dor produzida pela imersão de uma mão em um balde de
ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Desconforto geral, tal como o produzido por sentar-se
numa sala quente, pode também aumentar a agressão; este efeito é mediado ativamente por
Várias drogas tais como o álcool e a cafeína podem também aumentar a agressão
(BUSHMAN, 1993 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Estes efeitos são mais indiretos
que diretos; Bushman (1997 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002) descobriu que fatores
66
facilitadores da agressão, tais como provocação, frustração, pistas agressivas, têm um efeito
muito mais forte em pessoas que estão sob a influência de drogas do que em pessoas que não
estão.
Os tipos de incentivos que podem aumentar a violência são tão numerosos quanto o
tal como o dinheiro deixado em cima de uma mesa, pode também influenciar a agressão de
c) Processos
interno atual que elas criam. Por exemplo, a característica pessoal de hostilidade e a
(BUSHMAN, 1995 ). Os estados internos de maior interesse dizem respeito à cognição, afeto
e excitação.
ativação situacional resulta em fazer o conceito acessível por curto período (BARGH et al.,
grupo de fatores, tais como a violência na mídia, podem ativar pensamentos agressivos
hostil, característica tendenciosa, de crianças agressivas pode ser vista como instância de
enredos relacionados à hostilidade (CRICK ; DODGE, 1994; DODGE ; COIE, 1987 apud
Variáveis inputs podem também influenciar diretamente o afeto, produzindo a cena para
BUSHMAN, 1995).
com emoções específicas, principalmente na face. Mesmo na infância mais tenra, a dor
raiva por todo o rosto (IZARD, 1991 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Berkowitz
(1993a) postula que experiências aversivas ativam diretamente programas motores que vão
68
além de meras expressões faciais. Esta noção combina bem com o modelo de estrutura de
tendências de ação que são ativadas uma vez que a própria estrutura de conhecimento atingem
o limite.
forma instigada a agredir no momento em que ocorre um aumento da excitação, pode resultar
em altos níveis de agressão (GEEN; O NEAL, 1969 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002).
Em segundo lugar, a excitação produzida por origens irrelevantes (exercícios) pode ser
comportamento agressivo motivado na raiva. Este processo errôneo de rotulação tem sido
transferência de excitação.
A teoria da transferência de excitação sugere que este tipo de efeito da excitação pode
persistir por de um longo período. Mesmo depois da excitação dissipar-se, o indivíduo pode
manter uma agressividade potencial por tanto tempo quanto o rótulo autogerado de raiva
persistir. Uma terceira, e ainda não testada, possibilidade é que raramente altos e baixos níveis
de excitação podem ser estados aversivos, e podem por isso estimular a agressão do mesmo
excitação percebida. Isto sugere que o calor pode aumentar a agressão através do processo de
cognições e excitação sobre o afeto é uma idéia que remonta a muitas gerações anteriores,
como em Schachter e Singer (1962 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002) e William James
excitação (BOWER, 1981 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002). Estudos têm mostrado
que as pessoas freqüentemente usam seu estado afetivo para guiar os processos de inferência e
2002). Em um nível teórico, alguém pode ver o afeto como uma parte da memória semântica
que pode ser ativada via propagação do processo de ativação. Cognições hostis podem
Dessa forma, os resultados dos inputs entram nos processos de avaliação e decisão através
de seus efeitos na cognição, no afeto e na excitação. De acordo com Anderson et al. (1996
mais agressivo de acordo com a explicação causal construída pelo percebedor na dinâmica da
relação interpessoal. Além disso, não se pode concluir que o comportamento violento deva-se
apenas a uma causa. Como foi visto, recentes estudos sobre tal questão mostram que fatores
forma a violência pode ser entendida como um elemento intrínseco e fundante na constituição
do ser humano, favorecendo assim a existência de uma cultura da violência. A violência não é
humano, e nos traz novos desafios. Admitir a natureza humana, não significa endossar a
violência, nem negar que a cultura não é nada. Reconhecer a natureza humana pode por os
fenômenos da cultura em seu devido lugar, sem segregá-los e não implica em se obter os
resultados negativos que muitos temem. Pelo contrário podem ajudar na condução de um
tempo, pode-se falar também que o mundo interno é construído pela experiência externa. Em
razão a isso é fundamental descobrir como uma mulher se posiciona, diante da violência do
relacionamento a partir das causas atribuídas por elas que estão em contato direto com a
violento.
CAPÍTULO 2
VIOLÊNCIA CONJUGAL
as classes sociais, raças, etnias, graus de instrução e em quase todas as idades. Este fenômeno
tem sido conceitualizado com base na violência de gênero, também chamada violência
complexo e polissêmico, começando pela diversidade de termos que se utilizam para se referir
Segundo o Conselho Social e Econômico das Nações Unidas (1992), violência contra a
mulher consiste em "Qualquer ato de violência baseado na diferença de gênero, que resulte
atos, coerção e privação da liberdade seja na vida pública ou privada . (IPAS e a violência
comportamentos abusivos incluindo uma ampla gama de maus tratos físicos, sexuais e
psicológicos usados por uma pessoa para conquistar poder injustamente e ou manter o abuso
do poder, controle e autoridade, definição essa que está de acordo com a ótica do gênero, que
A violência praticada contra a mulher nessa ótica tem como base comum as desigualdades
sobre violência doméstica em áreas como: abuso de parceiros, violência em namoro, abuso
contra crianças, abuso contra idosos e adultos sobreviventes de violência infantil. Termos
violência doméstica incluem abuso contra as esposas, violência masculina contra parceiras,
doméstica para definir violência contra mulheres por seus parceiros, para serem mais
consistentes com as definições legais, a despeito dos problemas que surgem (WALKER,
1999).
73
doméstica realizada por uma comissão da APA (1996) mostrou que cada disciplina que estuda
o problema usa diferentes termos, para descrever violência doméstica. Isso atrasa a habilidade
considerada violência conjugal e, por sua vez, complica a comparação de um estudo ao outro.
Dessa forma, existem, dificuldades para a delimitação do fenômeno em questão, como foi
OMS (2002)
De acordo com Azevedo (1985); Gregori (1993); Grossi (1998); Saffioti (2002), o
ou violência contra a mulher, em razão de ocorrer na maioria das vezes no espaço doméstico e
rumos diversos.
Sob uma perspectiva feminista o problema da violência conjugal é recortado pelo ângulo
do gênero e, é um problema que está ligado ao poder onde, de um lado, impera o domínio dos
homens contra as mulheres e, de outro, uma ideologia que lhe dá sustentação (SOARES,
1999).
quanto mulheres podem ser vítimas ou agressores. Nesses termos, a violência conjugal
adquire sentido mais abrangente no que diz respeito à luz do referencial teórico da violência
Pode-se dizer que o ultimo enfoque apontado, é compatível com o modelo ecológico de
violência contra a mulher, proposto pela Organização Mundial de Saúde (2002), no qual
relacionamento que caracterizam a relação entre vítima e agressor e dos fatores culturais e
Ainda sobre o problema da definição, não há na literatura sobre o tema definições claras
sobre quais situações constituem e quais não constituem, violência doméstica contra a mulher.
Esta categorização tem sido, até agora, muito mais intuitiva do que formal (OSÓRIO, 2004).
De acordo com Osório (2004), a violência doméstica pode ser definida segundo duas
variáveis: quem agride, e onde agride. Para que a violência sofrida por uma mulher esteja
enquadrada na categoria CONJUGAL , é necessário que o agressor seja uma pessoa que
freqüente sua casa, ou cuja casa ela freqüenta, ou pessoa que more com ela e que seja
marido, noivo, namorado, amante, etc. O espaço doméstico, portanto, se torna a segunda
variável delimitando o agressor como pessoa que tem livre acesso ele.
É interessante ressaltar ainda que até os anos de 1970, pouca atenção era dada ao papel da
violência no espaço domestico; este era um assunto quase impensável. Quando, no entanto, os
ela era muito mais comum e muito mais severa do qualquer um poderia ter pensado
(BREHM, 1985)
Violência Contra a Mulher (IPAS e a violência contra a mulher, 2004). A partir daí, Políticas
75
públicas foram implementadas para trabalhar com o problema que atualmente é considerado
busca de solução à violência contra a mulher e especialmente à sua forma mais conhecida
que é a violência conjugal. O crime de violência conjugal é uma transgressão da norma social
Dentre os artigos do Código Penal Brasileiro (BRASIL, 1940) que descrevem a maioria
dos atos que se encaixam nos crimes de violência contra a mulher encontram-se:
instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxilio para que o faça (Capítulo I Dos
como crime; Artigo 139: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua
ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a
capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não
manda; Artigo 147: Ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou por qualquer
outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave; Artigo 148: Privar alguém
Do Dano)
grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso
No Brasil, a lei 9.099/95 do Código Penal determina que a violência contra a mulher é
crime doloso e estabelece penas alternativas para condenações. Estas penas são aplicadas aos
Esses crimes contra a mulher podem ser de Ação Penal Pública (quem oferece denuncia é
o Promotor de Justiça) ou Privada (a ação penal é encaminhada pela vítima). A lei 9099/95
que disciplina os delitos de pequeno potencial ofensivo, como lesão corporal leve e ameaça,
Além disso, violência conjugal é reconhecida pela Constituição Federal do Brasil em seu
parágrafo 8º., Artigo 226: O Estado assegurará assistência à família, na pessoa de cada um
dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações . O
Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o cumprimento do Brasil à convenção sobre a
Violência Contra a Mulher , aprovado na Assembléia Geral das nações Unidas em 1993
(SÃO PAULO, s. d.), evidenciam a magnitude do problema, que e em todas as suas formas
pode ter implicações para a saúde física e psíquica da mulher, tendo tanto efeitos de longo,
Neste trabalho o termo foi adotado de acordo com uma categoria mais ampla, presumindo
que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas ou agressores, e sendo compreendida
como relação de união estável formal ou informal, incluindo namoro. Neste sentido, violência
conjugal será conceituada como Ato agressivo perpetrado pelo parceiro(a) intimo(a), que
determina dano físico, moral, psicológico ou econômico, através da força ou da coação, que
se produz de uma forma contínua através do tempo. O conceito encerra o sujeito violento e o
Há milhares de mulheres que sofrem de alguma forma de violência nas mãos de seus
maridos, noivos e namorados a cada ano. São muito poucas as que contam a alguém, seja um
famílias americanas, desenvolvido pelos sociólogos Murray Straus, Richard Gelles e Suzanne
Steinmetz de New Hampshire (1980) em mais de um, de seis lares americanos, um cônjuge
agrediu fisicamente seu (sua) parceiro(a) pelo menos uma vez durante o ano de 1975
mulher é vítima de agressão; cerca de dois milhões de mulheres são anualmente, vítimas de
dias mulheres são assassinadas por seus parceiros ou ex-parceiros, o que significa mil e
quatrocentas mulheres mortas, por ano, nestas condições (SOARES, 1999). Nos Estados
Unidos, violência no lar é a maior causa isolada de ferimentos em mulheres, responsável por
1993, que 78,5% das mulheres que vivem com seus maridos ou companheiros sofrem maus
tratos. Destas, mais da metade foram vítimas de golpes no rosto. No entanto, menos que 5%
Calcula-se que 40% das mulheres assassinadas no Canadá foram vítimas de homicídio
pelo parceiro de relações amorosas e sexuais estáveis (THE TORONTO STAR, 1996 apud
WILLIAMS, 2004). Nos Estados Unidos esta porcentagem salta para 52%
2002, quase metade das mulheres que morrem por homicídio no mundo é assassinada por seus
saúde das mulheres entre 15 e 44 anos. Além de destruir centenas e milhares de vida, a
violência contra a mulher causa lesões físicas, dores crônicas, depressão, comportamentos
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002), foram agredidas fisicamente por seus
parceiros entre 19% a 52% das mulheres da América Latina em algum momento de sua vida,
enquanto que na Suíça, Canadá, e Nova Zelândia e outros países industrializados essas taxas
verdade, em 1989 o Worlwatch Institute declarou a violência contra a mulher como sendo o
coleta de dados.
80
Embora se tenha que ter cuidados com os resultados de pesquisas epidemiológicas, por
diversas razões metodológicas, estima-se que um quarto das mulheres de todo o mundo seja
vítima da violência em seus próprios lares (WILLIAMS, 2004). Dados específicos de cada
país apresentam altas diferenças entre seus índices até 50% na Tailândia, 60% em Papua,
elaborada através de metodologia que permite comparabilidade, foi produzida em 1988 pelo
IBGE, no âmbito da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD). Esse suplemento
mostrou que no conjunto das vítimas de agressões físicas (lesões corporais), cerca de 44,77%
81
eram mulheres. As grandes diferenças entre vítimas mulheres e vítimas homens dizem
respeito ao autor e ao local de ocorrência da agressão. Para as mulheres, 63% das agressões
A Câmara dos Deputados divulgou pesquisa feita de janeiro de 1991 a agosto de 1992,
país, onde se destacam os crimes de lesão corporal, ameaças e estupros como os mais
recorrentes.
únicos dados existentes são oriundos de organizações não governamentais ou das Secretarias
a magnitude das ocorrências mais comuns da violência contra a mulher: lesões corporais,
ameaças e estupro.
82
Tipos 1998
Lesão corporal dolosa 2.296
Estupro 410
Ameaças 1.573
Total 4.279
QUADRO 3 - Dados Estatísticos sobre Violência contra a Mulher Belo Horizonte
FONTE: Campaña Interagencial Contra La Violencia Hacia Las Mujeres Y Las Niñas,
(1998).
O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) apresentou dados que mostram
411.213 mulheres vítimas de agressões leves e graves em 1999. Comparando-se esse número
aos 123.131 registros obtidos pela CPI da Violência contra a Mulher em 1993, percebe-se um
aumento de 70% em apenas seis anos. Entre esses casos, a lesão corporal foi o crime mais
denunciado por mulheres, 113.727 ocorrências, sendo seguida pelos maus tratos psicológicos
com 107.999 casos (BRIGA de marido e mulher: chegou a hora de meter a colher, 2004).
A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (BRASIL, 2003) aponta que o número
estimado de mulheres que relatam ter sido agredidas por seus maridos ou companheiros é de
300.000 mulheres a cada ano. Conforme Heise (1994) mais da metade das mulheres
De acordo com a pesquisa A mulher brasileira nos espaços públicos e privados , que
entrevistou 2502 mulheres, distribuídas em uma amostra estratificada por cotas de idade e
áreas urbana e rural de 24 Estados brasileiros, realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA)
em 2001, calcula-se que perto de 6,8 milhões de mulheres já foram espancadas ao menos uma
vez na vida (11%), sendo a projeção da taxa de espancamento anual de 2,1 milhões. Estima-se
ainda que quatro mulheres sejam espancadas por minuto, uma em cada quinze segundos
indicam que dentre as formas mais comuns de violência destacam-se os tapas e empurrões, ou
seja, as agressões físicas mais brandas (20%); a violência psíquica como xingamentos e
83
ofensa à conduta moral com 18%, e as ameaças indiretas através de quebra de objetos e de
roupas rasgadas com 15%. As agressões físicas mais graves que provocam marcas, cortes ou
fraturas foram relatadas por 11% das mulheres que sofreram espancamento (LIANE ;
ROVINSKI, 2004).
De acordo com a pesquisa apresentada pela FPA ainda é muito pequeno o número de
mulheres que denunciam a ocorrência da violência, e na maioria dos casos, somente quando a
violência atinge números extremos. Segundo a pesquisa, 55% das denúncias informais se dão
por ameaça à integridade física; 53% por espancamento; 46% por ameaça de espancamento;
44% tapas e empurrões e 43% insinuações e xingamentos que ofendem a conduta moral. Já as
denuncias oficiais registradas em Delegacias de Polícia e da Mulher caem para 31% ameaça à
integridade física; 21% para espancamento com marcas, fraturas ou cortes e 19% para
O índice assustadoramente alto da violência conjugal faz com que a própria casa da
mulher seja o local em que ela mais corre perigo: é de senso comum o fato de que os homens
Apesar das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM s) e do aumento de denúncias que elas
propiciaram, a impunidade continua e muitos processos não são instaurados, poucos chegam a
comum, atinge cerca de 70% dos registros (BRANDÃO, 1996), e este é um fato recorrente
que vem minando a credibilidade da estratégia, já que reforça o mito de que as mulheres não
De acordo com Schraiber e D Oliveira (1999), as mulheres que procuram a DDM têm
uma visão global de seu problema, e dão um sentido bem mais complexo do que os crimes
tipificados em lei, como a lesão corporal. A agressão física para algumas delas pode não ser o
84
problema, já que a perturbação da ordem familiar indicada por elas pode ser bem mais
importante. Brandão (1996) nota, entretanto, que logo que as mulheres pesquisadas percebem
que sua queixa não pode ser reconhecida pela instituição policial, tratam de tentar adequar
sua demanda à linguagem jurídica do crime, denunciando, por exemplo, uma ameaça , para
Considerando a expressividade dos números, e por mais objetiva que seja a pesquisa sobre
a violência conjugal, esta não consegue abranger a totalidade do fenômeno, posto que os
ampla pode ser adquirida ao tratar dos vários tipos de abuso que acontecem em
relacionamento íntimos.
Neste trabalho, um ponto preliminar importante, diz respeito aos termos abuso e
contudo, autores que fazem uma diferença entre esses termos, que também são objetos de
debates e disputas, como considerado no capítulo 1. Aqui, eles serão utilizados para se referir
forma eles não estão envolvendo atos de omissão, a não ser que a motivação seja prejudicar.
abusivos terminam em mortes de um ou dos dois parceiros. Abusos não-letais podem cessar
85
quando o relacionamento termina. Isto pode acontecer tanto se o relacionamento termina por
Há diversas formas de abuso que ocorrem entre parceiros conjugais, tais como o físico e o
relacionamento. Tolman (1992), no entanto, sugere que de alguma maneira pode ser
superficial separar o abuso psicológico das formas físicas de abuso, dado que as formas físicas
possível que qualquer um destes tipos de abuso ocorram separadamente. Na verdade, o abuso
emocional ocorre freqüentemente na ausência dos outros tipos de abuso. Por isso, apesar de
A fim de otimizar o entendimento das formas de abuso e agressão elas serão desdobradas
em quatro categorias relacionais, a saber: abuso emocional, abuso físico, abuso sexual e abuso
econômico.
Straus (1979, p. 77) o conceitua como sendo o uso de atos verbais e não-verbais que
ferem simbolicamente outra pessoa, ou o uso de ameaças para ferir outra pessoa . Shepard e
86
que podem ser usados para aterrorizar a vítima... que não envolvam o uso de força física.
Gondolf (1987), argumenta que este é um processo que provoca a influição direta de danos
mentais através de ameaças ou limitações contra o bem-estar da vítima. Para Loring (1994,
Pode-se assim dizer que o abuso emocional ameaça os limites do bem estar da vítima,
Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa
forma importante de abuso porque muitas mulheres relatam que é tão ou mais danoso que o
abuso físico que elas sofrem (Follingstad et al., 1990; Walker, 1984 ).
vítima. Segundo Miller (1999), são diversas as técnicas de abuso psicológico, descritas a
seguir.
segurança da mulher com relação ao raciocínio lógico em que ela se baseou durante toda a sua
operante: mesmo não gostando, ela está condicionada a antecipar aquilo que agradará ao
87
marido, que não o irritará. O que o marido abusivo faz muitas vezes é desvirtuar o sistema de
O homem psicologicamente abusivo pode, também, tentar controlar a mulher por meio de
propaganda em relação à auto-imagem dela. Assim, dia após dia ele utiliza palavras de baixo
calão para referir-se a ela. Maximiza os erros da mulher e os cria quando não os encontra. Aos
A lavagem cerebral é outro meio de abuso psicológico. Esse método consiste em subjugar
a mente da pessoa, pelo controle coercivo à sua vontade. Para isso, destrói-se a saúde e a força
idéias de que se quer introjetar de forma repetida e finalmente mantendo-a sob ansiedade
constante, acabando por submeter-se ao apoio do capturador. Alterna-se o abuso verbal com a
esposa.
psicológico. O homem toma providências para que ela nunca tenha certeza se ele irá
machucá-la, se os seus esforços irão agradá-lo, enfurecê-lo, ou se pode cumprir suas ordens
forma sutil desestabiliza-a através de ameaças que nunca se sabe se serão verdadeiras ou serão
irreais. A ameaça pode ser dirigida aos pais da mulher, aos filhos, etc.
A privação do sono é comum. Homens não só acordam as mulheres à noite como também
muitos forçam-na a manter relações sexuais a noite inteira. Assim, a saúde e a força da mulher
aos poucos é deteriorada e praticamente destruída. Destrói-se a saúde tanto física como
88
mental. Mulheres que se convencem ser loucas aos poucos deixam de comer, entram em
depressão e perdem toda a esperança de obter saúde mental. A mulher enfraquecida pela
presa pelo desamparo aprendido, um estado mental no qual a mulher é incapaz de resistir às
aprendido, admitem, no entanto que a mulher vítima de abuso psicológico entra em depressão
incapacidade para lidar com as tarefas mais simples do dia-a-dia. Estando completamente
desorientada, a mulher busca apoio na parede mais próxima: o próprio homem que a levou
para o mundo da confusão. Dessa maneira a depressão é a única saída encontrada pela mente
para escapar da morte psicológica, torna-se, portanto, uma fuga para a sobrevivência.
abuso psicológico. Esta pode ser considerada uma sub categoria do abuso emocional, podendo
ser distinguida por seu foco em interferir e destruir ou danificar a rede de apoio social da
aumenta o poder do agressor sobre a vítima, mas também o protege. Se a vítima não tem
contato com outras pessoas o agressor terá uma probabilidade menor de ter que enfrentar
Rompem-se ligações com os amigos da mulher, com seus familiares e proíbem-na de ter
fica mais fácil o controle mental por parte do homem abusivo. O objetivo do isolamento
através dele perde-se as próprias forças para resistir e também não se pode recorrer a forças
local do encontro e aos poucos a afasta de sua família. Articulando as situações, desmarcando
o mundo da mulher a seu único mundo, obrigando-a a relacionar-se somente com os amigos
dele.
Se a manipulação não funciona, o homem usa o despotismo e dá ordens. Ele pode também
os filhos, etc. Somente o medo permite a manutenção do controle, não necessitando que o
homem cumpra nenhuma dessas ameaças e, dessa maneira, consegue isolá-la como deseja.
Devido à autonomia que é possível atingir-se por meio do trabalho, muitos maridos não
pelo homem, uma vez que adquirindo conhecimento, ela pode facilmente tornar-se
fora ou dentro de casa é muito usado pelo homem socialmente abusivo principalmente quando
ela viola alguma regra imposta. Outro meio de vingança utilizado caso haja desobediência é
privação do carro, símbolo associado à liberdade, tirando toda a gasolina, cortando fios do
Outros comportamentos que podem levar ao isolamento social incluem: agir com ciúmes
ou com suspeitas em relação aos contatos sociais da vítima; monitorar o tempo e aonde a
parceira vai; restringir o uso do telefone; agir de forma que visa colocar outras pessoas contra
90
a parceira; evitar que a parceira busque ajuda médica ou outros tipos de ajuda e ameaçar a
vida ou bem estar de outras pessoas com quem a parceira tem contato.
Para Russell (apud MILLER, 1999), o abuso emocional inclui o abuso social e
padrão da lavagem cerebral antes discutida e pode se tornar um outro meio de exercer o
decorrência de sua menor força física, a mulher tende a se especializar na violência verbal,
mas de fato, esse tipo de violência não é de monopólio das mulheres (BALONE; ORTOLANI
IV, 2003b).
infernizando a vida de outras, querendo ouvir, obsessivamente, confissões de coisas que não
Este tipo de violência existe até na ausência da palavra, ou seja, até em pessoas que
momento, se cala, emudece e, evidentemente, esse silêncio machuca mais que se tivesse
Sendo assim, a arte do agressor está, nesses casos, exatamente, em demonstrar que tem
mobílias e documentos pessoais, também são consideradas violência emocional, pois não
Dutton e Painter (1993); Loring (1994) consideram que o abuso emocional estabelece e
das relações íntimas tem sido definida como atos carregados com a intenção, de causar dor
ou injúrias físicas contra outra pessoa (STRAUS ; GELLES, 1986). Violência física é o uso
da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. Segundo Soares (1999),
no abuso físico são comuns: bater, esbofetear, empurrar, chutar, socar, queimar, sufocar,
impedir de sair de casa, usar instrumentos contundentes, tais como armas e facas. Além desses
aspectos apontados por Soares, o agressor pode ainda causar queimaduras por objetos e
líquidos quentes.
Os ataques físicos do agressor podem variar desde ferimentos até assassinatos. Começam
vítima, como esmurrar uma mesa ou uma parede, e danos a objetos e animais. Podem chegar a
privações, empurrões, dar um tapa ou um soco, atos dos quais procura se desculpar
chão. Finalmente, pode chegar a tal ponto que representa ameaça à vida ou ferimentos sérios,
como fraturas (ENTENDENDO a agressão, 2004). Pode ocorrer somente uma vez ou
de agressões físicas leves, que aumentam e tornam-se ataques mais freqüentes e sérios.
estado onde a pessoa que bebe pode tornar-se extremamente agressiva, às vezes nem
lembrando com detalhes o que tenha feito durante essas crises de furor e ira Nesses casos,
92
além das dificuldades práticas de coibir a violência, geralmente porque quando o agressor não
contumazes. Vale lembrar que estes dois tipos de transtorno podem ser tratados (BALLONE;
Outros fatores que podem intensificar o abuso físico estão associados a fatores
estressantes, como tensões no trabalho, desemprego, privações, doenças graves etc, e também
Caracteriza-se pela ação que inclui comportamentos que se encaixam nas definições legais
de estupro e ataques físicos a partes sexuais do corpo de uma pessoa e, a fazer demandas
sexuais excessivas, com as quais a parceira não está confortável (MARSHALL, 1992;
De acordo com Walker (1994), o abuso sexual dentro do contexto de uma relação de
indesejados, insistência em manter contato sexual forçado, violação dos genitais, seios ou
ânus da mulher.
O abuso sexual em relações onde existe violência ocorre tipicamente nas dimensões
entregam às demandas sexuais do homem numa tentativa de evitar mais violência física,
apesar de não ser incomum que afirmem ter experiências sexuais positivas com o mesmo
incapaz de prever se, num dado momento, ocorrerá um ato positivo ou negativo (WALKER,
1994).
Assim, considera-se violência sexual a ação que obriga uma pessoa a manter contato
chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite
a vontade pessoal. Considera-se também como violência sexual o fato de o agressor obrigar a
vítima a realizar atos sexuais com terceiros. Consta do Código Penal Brasileiro que: a
violência sexual pode ser caracterizada de forma física, psicológica ou com ameaça,
violência sexual em que a mulher é forçada a ter relações sexuais com o agressor ou até
Ainda, segundo Miller (1999) outra forma que o homem tem de exercer controle sobre a
mulher é através da supressão econômica. Esta forma de abuso pode ser considerada uma
subcategoria de abuso emocional uma vez que ele exerce muito das mesmas funções do abuso
emocional e tem alguns dos mesmos efeitos emocionais nas vítimas. No entanto, ele pode ser
distinguido por seu foco em evitar que a vítima possua ou mantenha qualquer tipo de auto-
parceiro abusivo. Assim, este comportamento intenciona fazer com que a vítima dependa
inteiramente do parceiro abusivo para suprir suas necessidades materiais básicas como
comida, roupas e abrigo ou para suprir os meios de satisfazê-las. Cabe ainda o esclarecimento
de que o desejo de isolar a vítima das outras pessoas também pode ser um dos motivos para o
abuso econômico. Alguns comportamentos que podem levar uma vítima de abuso à
dependência material do abusador já foram listados na categoria Abuso Emocional, mas não
se limitam a eles.
mulher é forçada a pedir mais. A humilhação aqui é a arma do controle. Torna a mulher
completamente dependente e a deixa indefesa. Muitos nem sequer dão qualquer quantia à
mulher, a qual permanece sem saber o quanto ele ganha e o porque, tendo uma vida financeira
aparentemente boa, o marido ainda se recusa a dar condições melhores para a criação dos
próprios filhos.
mulher dizendo que vai administrar o dinheiro. Nesse caso, o homem não proíbe a mulher de
trabalhar, mas exige dela o suplemento mensal de dinheiro em sua conta. O homem
95
economicamente abusivo exerce o controle deixando claro que pode privar sua mulher a
qualquer momento do lar, de alimentos e roupas, tornando-a submissa com uma única
dependência da vítima de seu agressor, de forma geral, a vítima os mantém em sigilo, e tem
Diante das várias modalidades do abuso, coloca-se ainda a questão das conseqüências do
abuso.
ambiente social. Além disso, a esses danos, também se associam perdas ou danos materiais e
econômicos.
cronificam, e os danos psicológicos causados pelo estresse constante, que podem levar à
depressão e ao suicídio.
De acordo com Cascardi; Langhinrichsen; Viviam (1992) a agressão dos homens contra
negativas para as mulheres. Segundo esses autores, mulheres que são vítimas de abuso e
agressão por parte de seus parceiros, apresentam seqüelas emocionais tais como: transtornos
desempenho diminui de forma significativa, chegando muitas vezes a abandonar seu emprego,
ou por uma decisão pessoal ou porque seu parceiro a proíbe. A violência conjugal também
ao abuso de esposas (GELLES, 1980 apud BREHM, 1985; STEINMETZ, 1978 apud
BREHM, 1985).
observam a violência entre seus pais ou que são elas mesmas abusadas por seus pais são mais
propensas a ter casamentos violentos. Esta história parece valer tanto para os maridos que
quando adulto. Em um dos poucos estudos que coletaram informação sobre maridos que se
reconheciam abusivos, Rosenbaum e O Leary (1981 apud BREHM, 1985) descobriram que
97
estes homens eram mais propensos a ter tido um lar violento quando crianças do que maridos
satisfeitos ou insatisfeitos que não eram violentos em seus casamentos. Os maridos que
abusaram de suas esposas tendiam mais a ter sido agredidos quando crianças e era maior a
Dados de uma pesquisa nacional analisados por Kalmuss (1984 apud BREHM, 1985) )
demonstraram um padrão similar: o nível de violência conjugal era maior para indivíduos
(tanto homens quanto mulheres) que cresceram em famílias onde eram agredidos e onde
Alguns dados coletados por Rosenbaum e O Leary (1981 apud BREHM, 1985) sugerem
que as crianças do sexo masculino de lares violentos podem se tornar maridos violentos
violência conjugal ocorre em todas as classes socioeconômicas, mas ela ocorre mais
O terceiro fator associado com a violência conjugal pode explicar, em algum grau, esta
associação entre status econômico e violência. A violência conjugal tende mais a ocorrer
quando o casal está sob estresse de eventos como o desemprego do marido, problemas
financeiros de qualquer tipo e gravidez da esposa. Finalmente, casais violentos são também
casais isolados; eles não têm muitos amigos e eles carecem de relações próximas com
parentes. Pode ser que os atos de isolamento social sejam tanto uma causa como um efeito da
violência conjugal. Estar isolado pode aumentar o estresse e provocar a violência; ter um
questionada por outros pesquisadores. Pinker (2004), por exemplo, afirma que pais agressivos
têm filhos agressivos com freqüência. No entanto, o referido autor refuta a conclusão de que a
que tendências violentas podem ser herdadas além de aprendidas (PINKER, 2004, p.421).
Para Miller (1999), não existe um perfil para homens abusivos. Psiquiatras admitem a
Narcisista e anti-social: esse homem é autocentrado, tomando dos outros e dando apenas
quando lhe convém; c) Compulsivo-dependente: esse homem é inflexível, tem baixa auto-
Ainda segundo Miller (1999), pode-se identificar oito tipos de homens abusivos:
infringem;
4. Agressivos e anti-sociais;
8. Que só apresentam pequenos sinais das outras sete características sem que
Mecanismos de defesa, segundo Miller (1999), são métodos pelos quais o ser humano
pode lidar com os conflitos da vida. Cada um utiliza uma defesa que funcione para si. Estes
são processos inconscientes e, portanto, não tem nada a ver com decisões conscientes. A
pessoa que atribui o seu fracasso a outra ou bate no filho para ficar livre desse sentimento de
fracasso tem total consciência do que faz, mas não sabe o porque faz. O importante é que isso
Defesas imaturas: fantasia, projeção, agressão passiva, hipocondria, acting out; Defesas
abusivos utilizam, geralmente, três mecanismos de defesa, sendo um neurótico e/ou outros
uma tensão libidinal extremamente intensa que pode ser expelida como uma erupção
vulcânica por meio da violência física e não-física que trazem alívio. Esse mecanismo pode se
Estatísticas indicam que uma grande quantidade de homens que sofreram abuso na
infância torna-se abusivos como meio de aliviar e expelir todas as tensões psíquicas,
apaziguando os conflitos do aparelho psíquico. Uma criança que sofreu abuso passa por um
No acting-out , para evitar a raiva, o homem vitimizador grita com a mulher, rasga suas
roupas, quebra janelas do seu carro, ou seja, fazem algo para não sentir a tensão criada pelos
seus sentimentos que no caso seriam demais para serem suportados. Um exemplo comum é o
Crianças que recebem educação com excesso de tolerância onde os pais são
superprotetores e nunca lhe negam nada, são incapazes de desenvolver habilidades maduras
para lidar com adversidades. Quando entram no mundo adulto, estes facilmente desenvolvem
esse mecanismo de defesa, revelado principalmente quando a sua mulher não lhe proporciona
formação da personalidade da criança. Os pais que negam, mas cedem em meios aos gritos e
chutes, estão contribuindo para que mais tarde essa criança recorra ao abuso físico e não-
Por outro lado, na projeção a pessoa mantém sua imagem íntegra e perfeita, atribuindo
seus erros e fracassos a outra pessoa. O homem abusivo atribui à mulher os próprios
sentimentos de fraqueza que ele não reconhece e, portanto, é capaz de agredi-la em vez de
Uma outra faceta de uma defesa inadequada está no território dos usuários de drogas,
posto que estas aumentam o grau de violência, mas não podem ser tomadas como desculpas
negando e projetando o abuso (na droga ou na falta de controle). Não é minha culpa . O
comportamento. É culpa da mulher ou ela é que não é boa esposa ou foi em autodefesa.
101
imagem por jogos de poder, incapacidade para projetar uma afetividade salutar e também
imaturidade para assumir seus próprios atos incluindo problemas pessoais e interpessoais.
Apesar destes fatores serem consistentemente citados como sendo associados à violência,
outros fatores podem ser usados para ajudar a entender o que causa e mantém a violência
mulher.
cavernas arrastava a sua mulher pelos cabelos para que ela cuidasse da fogueira e dos filhos.
paixões da vida e por isso o homossexualismo era uma prática tão normal, sendo que o
casamento com mulheres era visto como um mal necessário. Quando os romanos
conquistaram a Grécia, as mulheres foram rotuladas como servas e como uma propriedade do
homem, devendo-lhe obediência como uma escrava. Na Idade Média essa realidade
permaneceu e a mulher era vista ainda como um ser inferior. O abuso físico era permitido
desde que o homem espancasse a mulher com uma vara menos grossa do que o seu polegar.
Na América recém-colonizada a mulher era exposta a torturas por aborrecer o marido, não
tendo o direito de declarar posse de propriedades, não podendo solicitar divórcio onde o
adultério era somente condenado para elas e não para o homem. Aquelas que rompiam
relacionamentos eram vistas como tolas ou levianas. A história cuidou da perpetuação dessa
mentalidade em diversos níveis, dentre eles tem-se o casamento. Este vínculo era uma
relacionamento, sendo ela a responsável por fazer tudo o que agradasse ao marido. O fato de
ela renunciar ao nome de sua família e adotar o do marido é um indício forte desse
subjugamento.
jurídico. Estatísticas indicam que os homens recebem melhor tratamento nos tribunais do que
as mulheres. Não havia até recentemente uma Lei para a punição de estupro dentro do
casamento e até hoje muitos homens acham que o sexo, seja ele forçado ou consensual, é de
seu direito. Muitos advogados de defesa tentam transferir o papel de vítima da mulher para o
homem, pois se ela foi estuprada foi porque ela pediu e quis. Esses advogados tentam destruir
discursa a respeito da inveja que a mulher tem do pênis, símbolo de poder e autoridade.
Assim, atribuíam-se níveis mais elevados de maturidade aos homens que às mulheres.
Estudos demonstram que só após a década de setenta é que foi considerada a necessidade
de avaliar o abuso cometido contra esposas, sendo isto um reflexo da revolução feminista do
devido aos preconceitos machistas e paternalistas que elas vem sofrendo durante décadas.
Nas Forças Armadas existe uma completa desconsideração pelo papel feminino. Nas mais
diversas guerras as mulheres são tidas como prêmios de conquista do território inimigo. O
abuso sexual de mulheres em convenções também é comum pelos militares que, na maioria
das vezes, saem impunes. Muitas mulheres são rotuladas de lésbicas simplesmente por rejeitar
médicos. Isso induz a pensar sempre que quando se faz uma cirurgia, quem ali estará é um
homem. Apesar das comprovações de que as mulheres são mais delicadas e cuidadosas para
fazer cirurgias, nunca se imagina ser uma mulher quem realiza esse trabalho. O preconceito
também atinge mulheres que são espancadas e que procuram o serviço médico para curar suas
feridas.
a apenas como a pessoa responsável por cuidar do esposo e dos filhos, seria este o único papel
religiosos reafirmam as diferenças sexuais por meio de ensinamentos e práticas. O mal teria
surgido pela mão feminina de Eva que induz o seu inocente homem ao pecado mortal. A
supremacia masculina é garantida depois que o papel feminino na história foi criado a partir
Uma das formas de discriminação mais comum imposta às mulheres ocorre no mercado
enquanto que a mulher somente foi considerada capaz de exercer um tipo de trabalho - o
doméstico.
Mesmo que atualmente a mulher tenha conseguido ampliar o seu espaço profissional, as
diferenças ainda existem, seja no salário menor, seja nos cargos que sempre são inferiores aos
dos homens. E mesmo quando estas estão em alguma posição semelhante à do homem, ainda
separação de brigas entre homens na rua, a briga de um homem com uma mulher somente
desperta a atenção, sem que nada venha a ser feito. A noção de que briga entre marido e
mulher ninguém "mete a colher" ainda permanece. Existe uma crença de que quando o
piada, quando o homem diz que quando está bravo ele simplesmente dá um murro na esposa,
Muitos crimes ainda são cometidos contra a mulher. Na China ainda se valoriza o
adultério só é ilegal para as mulheres. Mulheres são obrigadas a alongar seus pescoços com
sobre diferenças entre sexos. Leis e costumes puniam severamente as mulheres. Autoridades
pelas influências sociais, em especial pelas normas e valores no que se refere a quem é
105
dominante na família, e de que maneira a autoridade poderia ser impingida, foi amplamente
Diante de tudo isso, no decorrer das ultimas décadas o problema da violência contra a
mulher foi examinado, através da análise feminista de gênero, que aborda a questão de forma
Sommers (1994), distingue duas escolas do pensamento feminista. A escola que defende o
biologia. Por outro lado, a escola que defende o feminismo de gênero, é vinculada ao
dominância masculina e possui três pressupostos sobre a natureza humana. Pinker (2004, p.
Sob essa perspectiva, nas ciências sociais o conceito de violência de gênero, é entendido
como uma relação de abuso, dominação e de poder do homem sobre a mulher ao longo da
história e reforçado pelo processo de socialização. Essa ótica rejeita qualquer hipótese que
aprendizado masculino de que poderiam bater em suas parceiras para preservar sua posição
tradicionalmente superior. Os referidos autores sustentaram que Homens que agridem suas
física como um meio para reforçar esta dominância. Procurando ir mais além, alguns
poderoso e quem é fraco dentro da família, e vêem a violência doméstica como uma
patriarcalmente orientada.
Entretanto, mesmo sob a perspectiva social, a visão do tema mostra-se ainda muito
estreita. Para Berkowitz (1993b) pesquisadores e teóricos mostram atualmente uma crescente
ênfase na natureza interacional dos fatores que produzem violência no lar. As condições
exteriores à família, tais como desemprego, baixos salários, ou crenças e valores derivados
Até mesmo o comportamento da vítima pode ter uma influência significativa na conduta do
agressor. Além disso, sabe-se agora, entre outras coisas, que as mulheres tanto quanto os
homens podem ser agressivas, que a violência pode ser o resultado de conflitos dentro da
família, que uma proporção significativa de agressores foram, eles mesmos, expostos à
violência durante a infância, e que muitos dos que espancam tendem a ser agressivos com
Como tem também notado um crescente número de investigadores, uma boa parte do que
se tem aprendido sobre outros aspectos da agressão humana pode ajudar a explicar os motivos
basicamente culpam mais a sociedade do que os indivíduos que cometem o abuso. Sustentam,
que as mulheres sofrem brutalidades porque todos nós vivemos em um sistema patriarcal que
é governado por regras e padrões que apóiam a dominação do homem sobre a mulher. Nas
Segundo Berkowitz (1993b), pesquisas demonstram atualmente que a situação das pessoas
familiar, e até mesmo a situação imediata, podem operar conjuntamente para afetar as chances
de que um agrida o outro em casa. A hipótese é a de que muitos casos de violência doméstica
são basicamente semelhantes a outros atos de agressão que foram discutidos anteriormente no
capítulo 1. Muitas das mesmas condições que afetam a probabilidade de uma pessoa atacar
outra fora de casa, podem também influenciar as chances de que brigas e agressões ocorram
no lar.
abrangente da violência doméstica deve reconhecer que a agressão é precipitada pelo encontro
facilitadores. Essa facilidade tem que ser ativada por um evento desagradável. Embora poucos
disponíveis mostram que brigar constantemente leva a mais briga e que a agressão de uma
Apesar das contribuições de Berkowitz (1993b), os trabalhos sobre o tema ainda não
todo o mundo, onde mulheres e meninas são os primeiros alvos do abuso masculino. Para a
referida autora, a violência não pode ser erradicada sem olhar cuidadosamente os assuntos
relativos à socialização dos gêneros que mantém, se não facilitam realmente, tal violência nos
lares.
Uma Declaração das Nações Unidas sobre Eliminação da Violência Contra Mulheres
anunciou que a violência é parte de um processo histórico, e não é natural nem nascida do
108
Nesse contexto, parece justo dizer como uma regra geral, que homens têm mais poder que
suas parceiras. Este poder maior é baseado na autoridade masculina sustentada pela cultura,
A questão - Por quê uma mulher de quem o marido tem abusado fisicamente permanece
com ele? - é uma das mais freqüentemente formuladas tanto por profissionais como pelo
público leigo no curso de discussões sobre violência em família, e uma das mais difíceis de
surgem explicações superficiais e estereotipadas como: a mulher quer ser vítima ; a mulher
109
merece a violência ou a mulher gosta de apanhar . Estas são concepções populares que
sido espancado por outra pessoa, evitaria ser vitimado novamente, ou pelo menos evitaria o
agressor, inclusive por questões de sobrevivência. Infelizmente, o motivo pelo qual uma
mulher permanece com seu marido abusivo não é tão simples quanto a suposição subjacente à
questão.
De acordo com Gelles (1976) a decisão de ficar com um marido agressivo ou de procurar
mesmo agressões e simplesmente chamam o vizinho, enquanto outras chamam a polícia após
constrangimento externo que limita a habilidade de uma mulher de procurar ajuda de fora.
somente depois de uma história de conflito e reconciliação. De acordo com essa análise, uma
esposa toma a decisão de obter o divórcio de seu marido abusivo quando não mais pode
acreditar nas promessas dele de que não vai haver mais violência e nem esquecer os episódios
passados de violência. Truninger (1971) postula que algumas das razões pelas quais as
mulheres não rompem o relacionamento com os maridos abusivos são: (1) elas têm
autoconceito negativo; (2) acreditam que seus maridos mudarão; (3) dificuldade financeira;
(4) têm filhos que necessitam do suporte econômico do pai; (5) duvidam que conseguem
prosseguir sozinhas; (6) acreditam que o divórcio é estigmatizado; e (7) é difícil para
110
mulheres com filhos conseguir trabalho. Embora a análise de Truninger (1971) tente explicar
porque as mulheres permanecem com maridos abusivos, a lista não especifica quais fatores
relacionamento.
Segundo Miller (1999), existe uma lógica consciente ou inconsciente que, para a mulher,
recursos para a sobrevivência, o medo e outros fatores emocionais são explicações que
A mulher permanece em um relacionamento abusivo porque obtém alguma coisa que ela
deseja (permuta) e apesar de pagar caro, ela faz uma escolha consciente, considerando os prós
embora e se tornar livre dos sofrimentos. Outra permuta feita é a de evitar a solidão. Para
muitas o maior medo não é a pobreza, mas a solidão. Uma terceira permuta é realizada para a
garantia do bem estar dos filhos. O que estas mulheres não percebem é que, grandes traumas
No que diz respeito à falta de recursos para a sobrevivência, evidencia-se muitas vezes, o
despreparo econômico para sair de casa, a necessidade de uma fonte de renda, e a necessidade
de amparo social.
O medo do aumento do abuso caso deixe o marido é outro motivo pelo qual a mulher
permanece no relacionamento. A separação é temida pela mulher, dado que o homem abusivo
sente-se mais desafiado quando a mulher se liberta do seu controle. Ao sentir a perda da
autoridade, o homem abusivo fará o necessário para recuperar o controle, seja através de uma
111
briga, seja através do assassinato da mulher. Mais mulheres são mortas depois de abandonar o
O último fator apontado por Miller (1999) como explicação da permanência da mulher no
entorpecimento emocional, também contribuem para que a mulher não deixe seu
Não obstante tais explicações, as razões pelas quais as mulheres permanecem num
hipóteses explicativas.
agressor para a vítima, o que se torna uma condição famosa como também uma permissão. A
base para determinar que as mulheres são vítimas do abuso porque o desejam está, em grande
parte, em Sigmund Freud, que propôs a idéia de que as mulheres tendiam a desejar a dor.
necessidade de realização de uma mulher, acreditando que, na verdade, ela pode tê-lo
Dessa forma, a respeito do abuso permanece a idéia de que as mulheres dão continuidade
ao relacionamento para extrair dele algum tipo de prazer ou seriam mulheres moralmente
debilitadas, doentes ou perversas. Porém, há uma grande diferença entre submeter-se ao abuso
e desejá-lo.
112
Para Emerson e Dobasch (1995 apud MILLER, 1999), as afirmações que atribuem a
permanência de uma mulher numa situação abusiva ao masoquismo não somente apresentam
parceiras que tentam escapar à relação? Como explicar o comportamento das mulheres que,
mesmo depois de dar a queixa dos parceiros abusivos às autoridades das Delegacias da
membros da família. Straus (1980 apud BREHM, 1985), enfatiza que a maioria das mulheres
no cuidado com os filhos do que a maioria dos homens. Por isso, embora tanto o homem
quanto as mulheres sofram violência em seus casamentos, é mais difícil para as mulheres
escapar disso.
Nos estudos de Gelles (1976); Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985), a
Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985) descrevem como o comprometimento com o
casamento, pode se tornar uma armadilha para esposas abusadas. Em seu estudo, as mulheres
113
relativamente mais curto (quatro anos ou menos); elas também tendiam mais a deixar se não
citavam espontaneamente o amor como razão para ficar no relacionamento. Então, quanto
mais estas mulheres investiram no relacionamento em termos de tempo e afeto, mais difícil
era para abandoná-lo. Assim elas permaneciam, investiam mais e mais adiante eram abusadas.
Gelles (1976), considera que o ciclo de vitimação desempenha um papel vicioso: esposas
que permanecem num relacionamento abusivo e não procuram assistência tendem mais a
Existem duas razões inter-relacionadas pelas quais mulheres que foram expostas ou
foram vítimas de violência intrafamiliar estariam inclinadas a ser vítimas de violência familiar
como adultas. É possível que quanto mais experiência com a violência tenha uma mulher,
Ela pode crescer com a expectativa de que maridos devem bater em esposas, e esta
violência com ela. A outra explicação desses resultados integram a teoria da violência da
subcultura (Wolfgang e Ferracuti, 1967, apud GELLES, 1976) com a teoria homogâmica da
seleção do parceiro (Centers, 1949 apud GELLES, 1976; Ecklund, 1968 apud GELLES,
1976; HOLLINGSHEAD, 1950, apud GELLES 1976). Assim, pode-se argumentar que
mulheres que cresceram em ambientes que incluíram e aprovaram a violência familiar, têm
maior probabilidade de se casarem com uma pessoa que tende a usar violência.
Diante do fato de que a exposição e a experiência com a violência quando criança torna a
mulher mais vulnerável a se tornar vítima da violência conjugal, pode-se questionar, até que
Para Gelles (1976) há duas previsões alternativas que podem ser feitas. A primeira delas
enfatiza que quanto menos a mulher experimenta violência em sua família de orientação,
114
maior a probabilidade de que veja a violência intrafamiliar como desvio, e assim, mais
desejará buscar intervenção ou divórcio quando atacada por seu marido. A segunda destaca
que, a exposição à violência pode proporcionar um papel modelo para a mulher de como agir
quando atacada. Assim, quanto maior a violência a que foi exposta, mais saberá sobre como
Por outro lado, de acordo com Gelles (1976) algumas linhas sugerem que a exposição à
violência conjugal torna a mulher menos tolerante à violência familiar e mais desejosa de
finalizar um matrimônio violento, como se verá mais adiante nesta sessão. Contudo, os dados
não dão suporte à argumentação de que esta posição é generalizada entre as esposas que
Em seu trabalho, Gelles (1976) descobriu três fatores preponderantes que influenciam a
Primeiro, quanto menos severa e menos freqüente for a violência, mais a esposa
permanecerá com seu marido e não procurará socorro externo. Este resultado é quase auto-
evidente no que postula que as mulheres procuram intervenção quando são severamente
agredidas. Todavia, o problema é mais complexo, uma vez que severidade e freqüência da
Um segundo fator é quanta violência a esposa experimentou quando criança. Quanto mais
foi espancada pelos pais, mais inclinada é para permanecer com o marido abusivo. Parece que
a vitimação quando criança aumenta a tolerância da esposa para com a violência quando
adulta.
115
marido abusivo. As esposas que não procuram intervenção têm menor probabilidade de haver
completado o ensino médio e de estar desempregadas. Conclui-se que quanto menos recursos,
menos poder e mais presas as mulheres estiverem ao matrimônio, mais sofrem nas mãos de
Embora Gelles (1976) tenha apresentado alguns fatores que parcialmente explicam porque
mulheres que sofrem abuso permanecem com seus maridos, não foi proporcionada uma
resposta completa à questão levantada. A razão disto é que os fatores que influenciam as
reações de uma esposa agredida são tremendamente complexos. Não se trata simplesmente da
freqüência ou da severidade com que uma esposa é agredida, nem do nível de escolaridade ou
Algumas teorias tentam explicar as razões pelas quais uma mulher se mantém em uma
relação violenta.
Strube (1988 apud ECHEBURÚA, 1998), analisa a situação baseada em três modelos
teóricos que buscam dar respostas a esse fenômeno: a Teoria dos Custos e Benefícios, a
A Teoria dos Custos e Benefícios se baseia no modelo de Thibaut e Kelly (1959), o qual
sugere que a decisão de ficar em uma relação violenta depende de que o benefício total dessa
Strube (1988 apud ECHEBURÚA, 1998) sugere que uma mulher só sairá de uma relação
violenta assim que comparar as conseqüências positivas com as negativas e depois que
analisar as possibilidades de êxito percebidas, como através do apoio de seus entes queridos.
116
O modelo feminista, segundo Soares (1999), oferece duas soluções básicas para esse
problema.
Rangel (2004) afirma que, há que se levar em conta o processo histórico de opressão das
mulheres. Da mesma forma, razões de ordem econômica agravam as condições da vida das
mulheres diante da separação. No caso das mulheres de baixa renda, esta situação pode chegar
das facetas da opressão feminina. Rangel (2004) reconhece que é fundamental descobrir os
romper os laços de dependência que as mantêm oprimidas e comecem a tomar seus destinos
Bleichmar (s. d.) enfatiza que mulheres que superam a dependência econômica
levar em conta a dependência e a função maternal que existe em toda relação amorosa.
mulheres fazem isso em relação aos filhos, e os homens esperam que elas façam o mesmo em
relação a eles. Da mesma forma, as mulheres esperam a mesma atitude dos homens,
O trabalho realizado por Bleichmar (s.d.) indica que, não é difícil conceber que as
mulheres ao ver uma relação ameaçada, sejam capazes de mantê-la a qualquer preço.
Para Puget (1990 apud RANGEL, 2004) a violência destrói vínculos, mas também
constrói laços, e dessa forma acaba se tornando necessária, da mesma forma que a bebida o é
para o alcoólatra.
Assim, as explicações delineadas por Bleichmar (s.d.); Puget (1990 apud RANGEL,
2004), procuram explicar, as razões pelas quais ainda que um relacionamento intimo seja
Segundo Bleichmar (s.d.) o que mantém a mulher nessa condição de violência, e a faz
preferir manter uma relação mesmo que violenta a perdê-la é sua identidade feminina. Em
suas investigações Bleichmar (s.d.), sugere que a mulher ao romper uma relação sente que
falha enquanto pessoa e entra em depressão. Dessa forma, [...], não apenas se separa e
De acordo com essa ótica, as mulheres se valorizam em função dos sacrifícios que são
capazes de fazer pelos outros, e não por si mesmas, dado a inserção de valores patriarcais em
sua subjetividade.
conjugal, seria produzida pela própria relação abusiva: trata-se da Síndrome de Estresse Pós-
Traumático .
presença de um fator de estresse capaz de causar uma resposta traumática; 2) sintomas que
menos três sintomas mensuráveis de evitação; 5) pelo menos três sintomas mensuráveis de
Esta teoria foi utilizada para analisar o comportamento das mulheres vítimas de abuso por
Walker (1979).
espancamento e amor administrado a mulheres espancadas por seus agressores não teriam tido
1984). Para a referida pesquisadora, isto poderia explicar a aparente perda de fé das mulheres
espancadas em sua própria habilidade de prever se seus parceiros podem parar com a
violência. Como aqueles nos experimentos de Seligman, mulheres espancadas parecem perder
sua habilidade de escapar. No entanto, como nos animais de laboratório e nos sujeitos
humanos, elas se adaptam às situações aversivas e aumentam sua habilidade de lidar com
princípio tenha tentado controlar o abuso do parceiro, com o tempo, ela percebia que nada do
119
que fizesse alteraria o relacionamento ou a libertaria. Anos depois, Walker (1993) reafirmou
esta posição, e acrescentou que há mais do que desamparo aprendido na submissão de uma
mulher vítima de abusos. Para a autora, mulheres submetidas cronicamente ao abuso físico e
que aquelas habilidades de confronto não mais irão protegê-las ou à suas crianças, as
mulheres espancadas usualmente tentam escapar, algumas vezes com a percepção de ter que
matar o agressor para conseguir fazê-lo. Para Walker (1984), as percepções de mulheres
No decorrer desse processo, a mulher introjeta a nulificação que o parceiro tenta lhe impor
contestado por pesquisas que sugeriam que as mulheres vitimizadas não reproduziam
120
Não há uma resposta simples a esta questão, mas há um corpo crescente de informações a
respeito. De acordo com Walker (1994) algumas das barreiras mais comuns que impedem as
a) Medo de Retribuição:
Em casos de extrema violência, a mulher espancada pode ficar para manter as crianças, ou
porque teme o risco de violência maior se tentar fugir do relacionamento. Infelizmente, esse
medo é totalmente justificado. Dados indicam que o período mais perigoso para uma mulher
que sofre agressão é durante os dois primeiros anos após ter ido embora (BROWNE;
pelo Departamento de Justiça dos E.U.A., 70% dos incidentes relatados de espancamento
ocorrem após a separação. De acordo com Hart do National Coalition Against Domestic
Violence (1988, apud Walker, 1994), mulheres que abandonam seus agressores têm um risco
75% maior de serem assassinadas por eles do que aquelas que permanecem.
b) Mecanismos de Resistência:
diz coisas como poderia ter sido pior . Mesmo que a afirmativa seja objetivamente
também ocorrer quando o reconhecimento da verdade pode acarretar uma revolta para a qual
121
a mulher não está preparada, ou quando duas emoções conflitantes, tais como amar e ter medo
do agressor, não podem ser conciliadas. Mulheres que sofrem agressão e outras vítimas de
consciência.
personalidade tal, que eventos que envolvem a pessoa podem ser excluídos do estado de
consciência. Por exemplo, uma mulher que sofre agressão pode não vivenciar a dor de um
espancamento no momento em que este ocorre. Ou pode, num outro momento, recontar
estórias horríveis sobre o que ela tem sofrido como se estivesse descrevendo algo que assistiu
na TV ou que aconteceu com outra pessoa. A dissociação é comumente descrita como uma
Mulheres que são espancadas geralmente apresentam desculpas para o agressor, refletindo
sua crença de que são de alguma forma responsáveis ou culpadas pela violência.
Muitas acreditam que são as únicas a sofrer abusos, que são fracassadas, ou que não
merecem ajuda.
agressor com a própria experiência da mulher do acontecido podem levar a uma confusão
déficits na habilidade para processar a informação que pode, em conseqüência, levar a uma
inabilidade de ter atitudes realistas. Em casos de danos neurológicos, mulheres que apanham
122
podem também exibir tipos mais extremos de déficits na habilidade para processar
Devido à maneira pela qual as memórias são armazenadas, o ato de pensar a respeito do
abuso ou de contar o que aconteceu pode fazer com que o fato seja revivido, repleto de
Medo de não ser acreditada ou ter seus sentimentos com relação à importância dos
A tendência da vítima de culpar-se uma atribuição que ajuda a reter a ilusão de controle
sobre o futuro é comumente reforçada não somente pelo perpetrador, que tem um interesse
velado em que a mulher (a) não o abandone, ou (b) não mova uma ação legal contra ele, mas
também pela sociedade em geral, e muito freqüentemente pelos terapeutas. Segundo Walker
agressor ou de si mesma, a mulher agredida pode virar-se contra o terapeuta como uma forma
personalidade Dr. Jekyll / Sr. Hyde. Uma mulher espancada acredita que se de alguma forma
ela encontrar a forma certa de ajudar seu homem, com quem ela tem um forte laço de amor,
então a parte má dele desaparecerá. Esta crença é freqüentemente reforçada pelos ajudantes
maus informados. Uma mulher espancada pode tentar elucidar os lados bons do homem,
que é freqüente o único lado que ela observa durante uma relativamente curta, mas
123
emocionalmente intensa fase de flerte. Obviamente, isto não acontece; ao invés, o bom lado
Ela pode amar o bom parceiro, e temer o abusivo . Qualificá-lo como abusivo pode fazê-la
Desta forma, fica claro, que as mulheres que sofrem abuso são as primeiras a
A mulher vítima de abuso, que permanece lá não o faz porque deseja, mas porque se sente
incapaz de ir embora. Permanece a questão porque uma mulher fica por décadas ou anos em
Este cenário nos auxilia a pensar que embora exista pouca concordância quanto às causas
das dificuldades da mulher romper com o ciclo da violência e quanto à melhor maneira de
controlá-la, existe concordância de que este é um tema de considerável magnitude, uma vez
Diante disto, a investigação sobre as percepções das causas que levam um contingente
luzes a este problema. Nesta perspectiva, uma das vertentes teóricas em Psicologia Social que
ATRIBUIÇÃO DE CAUSALIDADE
70 e as suas recentes extensões para o campo da cognição social influenciaram muitos outros
Heider (1970) foi dos primeiros investigadores a defender a idéia de que o equilíbrio
Heider (1970) centra a sua análise em dois aspectos: a) a forma como os indivíduos
Esse autor sustenta que muitos dos princípios subjacentes à percepção dos objetos sociais,
isto é, das pessoas, tem paralelo na percepção de objetos não sociais. Quem percebe procura
preferencialmente busca por estados de harmonia ou equilíbrio. Dessa forma, as situações que
se caracterizam pela semelhança com as cognições são equilibradas. Por outro lado, quando
existe conflito entre a situação e a cognição, por exemplo, quando A tem um comportamento
do agente.
ambientais mais invariáveis, isto é, que não mudam, e quando mudam seguem leis
Heider (1970) esclarece que o processo de análise das causas de um evento depende de
ambientais.
Os fatos que tem origem na força pessoal, ou seja, os fatos em que a pessoa percebida
analisados através de dois fatores: fator poder e fator motivacional. Heider (1970) sugere que
o fator poder seja representado por capacidade, embora existam outras características como,
por exemplo, o temperamento que influem no poder, a capacidade (ser capaz) é aceita como
a mais importante. Por outro lado, o fator motivacional (tentar) diz respeito àquilo que a
pessoa tenta fazer (sua intenção) e à intensidade com que tenta fazê-lo (esforço) (HEIDER,
1970, p.100). Assim, na causalidade pessoal a causa dos fatos se localiza na pessoa.
causar x indicando o que p tenta fazer e até que ponto o faz, ou seja, indicando
são necessárias à ação e, portanto devem estar presentes, caso uma delas seja nula, a ação será
classificadas como Causalidade Impessoal, tem sua origem fora da pessoa percebida e
abrange
campo, e neste sentido, opostos aos autônomos, que tem sua origem na pessoa. Esse fator
pode ser representado pelo contraste entre ação pessoal versus o que acontece à pessoa:
empurrar ou ser empurrado, ser o malho ou bigorna. Neste caso, quem percebe raciocina em
termos dos fatos provocados por outra pessoa (elogiar, ajudar, ensinar, proteger e estimular,
por exemplo, são consideradas de forma geral como ações valiosas e benéficas, enquanto que
127
insultar, menosprezar, causar embaraço, impedir, servir de obstáculo, ferir, condenar, são
momento, ou seja, oportunidade e sorte, sendo estes últimos os fatores mais variáveis do
Neste sentido, o percebedor faz uma avaliação quando atribui o resultado da ação
entanto essa não é a única característica. Pode-se caracterizar a causalidade pessoal pela
equifinalidade, pela invariabilidade dos fins, das metas, e pela variabilidade dos meios
p.9).
Nesse sentido fala-se em uma causa local, o que implica dizer que a pessoa com intenção
muda os meios para atingir o efeito específico ou um fim invariável. A causa local de um
e causalidade local.
num acontecimento impessoal, não existe causalidade local, nem eqüifinalidade (excluindo o
caso especial de equifinalidade nos sistemas físicos) isto é, não existe a convergência de
diferentes meios pelos quais o mesmo objetivo pode ser alcançado. Na causalidade impessoal,
1970, p.121).
128
externa à situação não pode alterar, de maneira simples, o resultado. Outra pessoa só poderá
de uma circunstância que torne impossível para o agente, a criação do resultado. Nas palavras
de Heider, A causalidade pessoal caracteriza o tentar e é esse fato que dá grande peso às
nossas interpretações de ações e ao que fazemos para influenciar as ações dos outros
Para Heider (1970) Acima de tudo, é o objetivo de uma ação, sua origem na intenção da
pessoa, que determina freqüentemente, o que uma pessoa faz realmente, ou o que está
Desta forma, a intenção é o fator central na causalidade pessoal, e isto significa que [] as
pessoas são consideradas responsáveis por suas intenções e esforços, mas não por suas
contribuição de fatores originados na força ambiental e pessoal. A pessoa que percebe procura
identificar, qual entre as várias condições da ação recebe maior peso, a força pessoal ou a
Além das intenções da pessoa, dos fatores de poder pessoal ou das forças ambientais
(atribuição da ação), outras indicações que se referem menos à estrutura da ação, revelam
intenções, dado que as intenções também podem ser, por exemplo, inferidas do conhecimento
que se tem a respeito da pessoa, seu caráter, seus motivos usuais, seus desejos, suas
levar a uma ausência de correlação entre os dados da situação e a atribuição. Pode-se, por
129
exemplo, pensar erroneamente que outra pessoa pretende fazer alguma coisa, apenas porque
se deseja que isso aconteça. Nesses casos o percebedor seleciona o que é importante para ele,
e não o que na realidade orientou as ações do agente. Tal Como as idéias da pessoa quanto
ao que deve ser e ao que gostaria que fosse , bem como quanto ao que é a atribuição e a
cognição são influenciadas por simples forças subjetivas de necessidades e desejos [...]
Portanto, a percepção de pessoa não é uma via de mão única como a percepção das
Heider (1970) explica que uma pessoa não apenas reage ao que a outra pessoa faz, mas de
forma geral reage ao que pensa que a outra percebe, sente e pensa. Por essa razão, o que
interior do outro, isto é, as idéias que se tem a respeito das condições e das percepções da
interpessoal.
De acordo com a posição de Heider (1970), deve-se esperar uma correspondência entre a
percepção e o objeto distal, isto é, as coisas precisam ser percebidas com suas propriedades
130
invariantes. Entretanto, o percepto busca reduzir elementos que causam tensão, bem como
promover o equilíbrio interno. Dessa forma, a elaboração da imagem é mediada por variáveis
social através do efeito halo resultado da sugestão de gloria e prestígio que promove a
tendência para associar o valor de um comportamento a simpatia ou antipatia pelo ator tais
como: um ato é bom quando realizado por um amigo, é mau quando realizado por alguém que
não gostamos ou do impacto das primeiras impressões negativas nas interações subseqüentes.
Também nas relações interpessoais a percepção pode ser dificultada quando a situação
são mediadas por aquilo que outras pessoas dizem ou escrevem sobre elas, através de boatos;
quando se forma uma idéia da pessoa a partir daquilo que ela tem, desconhecendo as razões
que determinaram a propriedade das coisas em questão; e devido à tendência para integrar
novos dados comportamentais em falsas crenças. Tudo isso permite ao percebedor perpetuar a
crença de controle que se ajusta à sua necessidade de equilíbrio, bem como interferem
comportamento do outro.
131
do mundo, devido a estilos pessoais de perceber. Pode-se destacar alguns estilos perceptuais
autoritários versus não autoritários, otimista versus pessimista. Essa forma pessoal de
É necessário ressaltar que de forma geral a interpretação dos eventos se ajustam à imagem
que a pessoa faz de si mesma, dos outros e do ambiente, e em razão a isso, nem sempre elas se
ajustam à realidade objetiva. Entretanto à vezes a situação é tão inflexível que o percebedor
tem pouca possibilidade de não reconhecê-la. Nesta situação, quem percebe, procura mudar o
ser capaz e o tentar, tentando eliminar uma delas, com o objetivo de impedir uma ação
Heider (1970) afirma que são duas as condições para as possibilidades de p ser
Na situação em que o tem grande poder para fazer algo positivo ou negativo, mas sua
atitude é menos positiva em relação a p (canto inferior esquerdo), surgirão forças para
provocar o afastamento o não gosta de p , isto é, p desejará que o goste mais dele e pode
aproximar-se de o para conseguir isso. No caso em que as evidencias mostram que o não
gosta de p, a força será na direção de que o não seja capaz de maltratar p, ou para reduzir o
195). Neste sentido, a pessoa escolhe entre as possíveis causas subjacentes, que pertencem ao
nível das atitudes e traços relativamente invariáveis, a que melhor se ajusta às idéias e desejos
que tem tanto a seu respeito quanto a respeito das outras pessoas.Assim, as atitudes em
outras pessoas.
Na interação entre atribuição causal e sentido afetivo, a pessoa procura incluir fatores que
considera significativos de forma a elaborar uma atribuição aceitável. São dois os fatores que
acontecimento. A pessoa encontra uma razão que se ajuste aos desejos e necessidades de seu
espaço de vida, isto é, procura uma razão que seja pessoalmente aceitável. . Em segundo lugar
devem, portanto atender às exigências derivadas da razão a respeito de ligações entre motivos
atitudes, comportamento, etc. De acordo com Heider (1970, p. 197), O segundo fator é o da
Desse modo, o que influi nas ações da pessoa é aquilo que ela considera ser verdade, uma
Em síntese, a teoria de Heider traz, para a psicologia científica, a maneira pela qual o ser
atribuição sofre a influência do processo perceptivo, ela determina a direção das relações
interpessoais.
Seu estudo mostra que as pessoas tendem a utilizar causas internas (disposicionais,
da conseqüente ação do percebedor, pode depender do fato de ser feita uma atribuição causal
pessoal ou impessoal. A atribuição revela o tipo de pessoa que se acredita que o outro seja,
p.330) [...] tem muita importância para a interpretação do mundo social, a separação entre
fatores localizados nas pessoas e os que têm sua origem no ambiente das pessoas .
134
equilíbrio. No âmbito de uma teoria geral dos processos de atribuição, Jones e Davis (1965,
apud RODRIGUES 1981); Kelley (1973) foram os investigadores que mais marcaram esse
Jones e Davis (1965, apud RODRIGUES 1981), se detiveram no estudo dos mecanismos
através dos quais um observador realiza atribuições internas (disposições pessoais) para as
diferentes fenômenos em várias direções teóricas. Em razão a isso, conforme Kelley (1978,
apud MALUF, 1994), é mais indicado falar em teorias de base atribucional nos vários
comportamento, supõe que as pessoas tentam determinar porque as pessoas fazem o que
verificar as dimensões causais propostas por Weiner, e como essas dimensões afetarão as
reações emocionais e conflitos interpessoais, que serão tratados nos próximos tópicos.
135
A constante busca de explicações causais por parte do ser humano dirige-se a diferentes
eventos vivenciados por ele. Dentre estes, observa-se a necessidade das pessoas em saber
porque alguém por quem se interessam , ou se dedicam, não lhe correspondem a atenção e
modelo de atribuição aplicado ao ultimo aspecto acima citado, ou seja, à busca de explicações
básicas: capacidade, esforço, sorte e dificuldade da tarefa (WEINER et al., 1972). Estas
b) Estabilidade, que diz respeito à natureza temporal da causa, isto é, ao fato de ela
tarefa e ajuda estável estão relacionadas a fatores estáveis, enquanto esforço instável, estado
(incontrolável) ser exercida sobre a causa. A esse grupo são freqüentemente associados
esforços estáveis, esforço instáveis e ajuda como sendo controláveis, enquanto acaso,
Dessa forma, a habilidade constitui uma causa interna, estável e incontrolável; o esforço,
uma causa interna, instável e controlável; o acaso, uma causa externa, instável e incontrolável
Weiner (1995) postula que nem todas as pessoas sentem a mesma emoção quando
expostas a uma mesma situação (HASTORF; SCHNEIDER ; POLEFKA, 1973, apud DELA
COLETA; GODOY, 1986), o que mostra a importância dos aspectos cognitivos, bem como
da atribuição de causalidade com relação às emoções. Assim, conforme Dela Coleta e Godoy
(1986), diferentes atribuições a um mesmo evento são capazes de gerar variadas e até mesmo
realização de uma tarefa, visto que são influenciadas, direta ou indiretamente, por fatores de
sua história de vida (antecedentes) e pelas causas a que ele atribui o resultado, tomando-se em
consideração as dimensões em que se enquadram tais causas, e que exercem influência sobre
1978).
137
O conflito humano é uma área de estudo onde a teoria da atribuição tem muitas
Diversos problemas ocorrem nos conflitos interpessoais devido às atribuições, tema que
foi estudado inicialmente por teóricos da família (BATESON; JACKSON, 1964 apud
confusão de informações. Numa situação onde as ações de uma pessoa são baseadas em
acessar porque suas próprias ações são, da mesma forma, baseadas nas atribuições feitas ao
comportamento da primeira pessoa. Além disso, os principais envolvidos podem ter uma
e facilitar a ação.
138
conflitos interpessoais do que na maioria dos contextos sociais. Os sujeitos atores tendem a
pelo indivíduo.
estratégias integrativas terão pouca utilidade se for esperado que o parceiro resista a propostas
integrativas ou de compromissos e assim por diante. Desse modo, podemos supor que
(1981, p. 286) sugere que estratégias integrativas de conflito são mais prováveis quando os
conflitos são atribuídos à própria pessoa e estratégias distributivas são mais prováveis
passividade é, por conseguinte, uma estratégia plausível para lidar com o conflito. Assim,
139
mais prováveis quando os conflitos são atribuídos a fatores estáveis versus instáveis.
percebida dos conflitos foram maiores quando a satisfação foi menor, os conflitos foram mais
Isso parece sugerir que grandes diferenças entre ator e parceiro são indicativas de
pelas seguintes razões: (a) os conflitos mais importantes e intensos são mais uma ameaça à
auto-estima e, dessa forma, deve aumentar a tendência ego-defensiva; (b) conflitos mais
de fato ocorre pode ser usada para enganar ou coagir. Assim sendo, enquanto os conflitos se
descrédito.
Sillars (1981) conclui que as atribuições e tendências atribucionais podem afetar o ajuste
Outro modelo cognitivo para o estudo do conflito é apresentado por Brehm (1985). As
várias conexões que existem entre a perda do controle, atribuições causais, e esforços para
A respeito dos processos demonstrados na Figura 1, é possível perceber que, exceto pelas
atribuições a fatores situacionais controláveis, nenhuma das outras atribuições (até aquelas
direcionadas a outros fatores controláveis) estão fora de seus custos psicológicos. Quando o
raiva se pensar que o parceiro poderia ter controlado seu comportamento, porém não o fez.
Neste modelo Brehm (1985) propõe que a controlabilidade da causa atribuída ao conflito
integrativo
tarefa, e a sorte como os fatores mais importantes que afetam atribuições de realização.
e da controlabilidade.
desenvolvidos a partir dos anos 60. Destes estudos, Weiner (1972) concluiu que poderiam ser
expressão afetiva. Em um dos experimentos, (LAZARUS et al., 1965 apud WEINER, 1972),
foram obtidos resultados que confirmam a hipótese básica de que a cognição afeta as reações
estímulo.
Em resumo, Lazarus e seus associados mostraram que as reações emocionais são uma
função das cognições relacionadas ao estímulo percebido. Além disso, sugerem que a
vistas como respostas que seguem a avaliação cognitiva da situação de estímulo. As emoções,
142
Deste modo, Weiner et al. (1972) sugerem que um modelo de ação atribucional geral deva
atribuição causal ainda estão em processo de construção, sendo, portanto, este o motivo de
Embora pareça haver consenso de que uma atribuição é uma explicação dada para um
evento (FINCHAM, 1983; SILLARS, 1985), pouca atenção explícita foi devotada para a
143
especificação mais precisa no que concerne às dimensões necessárias para caracterizar uma
explicação causal. Isso talvez não seja surpreendente, pois são comuns na literatura básica
Pode-se argumentar, no entanto, que uma resolução para a confusão das atribuições
Weiner (1986, p. 44) voltou-se para essa tarefa, e através de uma revisão do corpo de
pesquisa e teoria concluiu que há uma agradável simplicidade para a estrutura atribucional
particular, parece que a taxonomia das atribuições causais abrange o lócus, a estabilidade e as
dimensões de controle de tal forma que uma causa é julgada de acordo com sua localização,
até que ponto flutua ou permanece constante, e até que grau é controlável ou incontrolável.
abrangente pode requerer inclusão das dimensões: específica versus global e não intencional
versus intencional. Entretanto, a dimensão específica versus global não emergiu em análises
empíricas das dimensões subjacentes das causas percebidas (WIMER; KELLEY, 1982), em
Por outro lado, a segunda dimensão considerada por Weiner (1986), não intencional
propriedade de uma causa, mas uma característica imputada a um indivíduo que realiza um
em sua taxonomia causal. É importante notar, contudo, que a ênfase do trabalho de Weiner é
responsabilidade e, além disso, distinguem ambas das atribuições de culpa. Assim, enquanto a
Para Shaver (1985) a responsabilidade é um julgamento feito antes que uma razão seja
dada e avaliada. A partir desta perspectiva a culpa não pode ser determinada veridicamente
sem se conhecer o motivo da pessoa para seu comportamento. Porém, para Bradbury e
improvável que esta seja uma característica distintiva relevante entre responsabilidade e culpa
responsabilidade e culpa podem ser fenômenos distintos, mas também são provavelmente
um julgamento avaliativo que envolve falta e imputabilidade para a censura. Assim, quem
atribui pode manter alguém responsável por um evento, mas não culpá-lo por isso. Essa
ultima característica realmente parece ser relevante para estudos sobre violência,
Weiner (1986), porém, explicitou não ser necessário manter a distinção entre atribuições
Entretanto, por ser a intenção uma dimensão central na determinação da violência, pode-
se argumentar que não deve ser vista como um elemento menor da atribuição causal, mas
como um elemento básico da atribuição nos estudos sobre violência. Dimensões adicionais de
atribuição que combinam com a intenção para definir o domínio da atribuição da violência
tais como evitabilidade e culpa devem ser consideradas da mesma forma. Essa contribuição
foi baseada nos estudos sobre de psicologia social sobre violência conforme capítulo 1.
Apesar das lacunas, estudos no campo da violência conjugal sob a base da teoria da
KELLEY, 1973). Por exemplo, Heider (1970) notou que a nossa reação a uma experiência
desagradável é fortemente influenciada pela atribuição a uma fonte, a qual podemos ver em
uma outra pessoa, nos trabalhos do acaso ou em nós mesmos. Quando um dano é atribuído a
um agente pessoal, é mais provável que leve a uma reação agressiva. Esta noção é básica
desenvolvimento são as atribuições ou explicações que os cônjuges fazem para eventos que
Segundo Bradbury e Fincham (1992), duas questões que guiaram quase todas as pesquisas
conjugal. Em particular o fenômeno da auto culpa atraiu atenção considerável para explicar
esposas como um processo atribucional para atos e eventos violentos do parceiro íntimo que
Como explica Eisikovits (1996), a teia de discursos criada pelas parceiras, envolvidas na
violência íntima, é funcional para a permanência da união e limita a violência de forma que se
torne suportável.
Tais pesquisas são relativamente limitadas e têm-se referido, por exemplo, a temas como:
justificativas discursos nos quais a pessoa aceita a responsabilidade pelo ato em questão,
mas nega a qualidade pejorativa associada a ele, como por exemplo a vítima mereceu e
desculpas, que são discursos nos quais a pessoa reconhece a impropriedade do ato, mas nega
totalmente a responsabilidade pela sua ocorrência. por ex. colocar a culpa nela.
neutralização, que equilibram o impacto negativo do ato violento alterando seu significado ou
Contudo, alguns estudos utilizam o termo discursos para comparar respostas de homens
e mulheres com relação aos tipos, às injúrias e à prevalência dos comportamentos violentos
A maior parte das pesquisas sobre violência íntima toca apenas indiretamente no tema dos
discursos. Os assuntos tratados que fornecem informações relevantes a tais discursos incluem:
MUNROE et al., 1992); assumindo responsabilidade pelas situações que levam conflitos à
BUCHBINDER; MOR, 1998; FERRARO; JOHNSON, 1983) ; fatores que levam uma
mulher sem antecedentes criminais a cometer um ato extremo como o assassinato de seu
Enquanto, vários relatos iniciais enfatizam que mulheres que sofrem abuso culparam a si
mesmas pela violência (WALKER, 1984), uma revisão dessa literatura concluiu que mulheres
espancadas sugere razões para que se façam previsões opostas sobre os tipos de atribuições
Isso pode ser evidenciado em pesquisas sobre antecedentes da atribuição relativa ao que
outra a culpar seu agressor. Embora uma das mais importantes pistas situacionais para culpar
perpetradores e observadores de culpar a vítima. Em tais situações, a auto culpa pode ser
reforçada pelas reações dos outros. A literatura evidencia que o abuso em família parece
ocorrer dentro de um contexto de exploração psicológica, em que os que abusam usam seu
149
poder para manipular a percepção de realidade das vítimas. Por exemplo, Walker (1979),
apresenta alguns aspectos que evidenciam que esposas que sofrem abuso podem ser
Frieze (1979); Andrews e Brewin (1990), encontraram que as mulheres são mais
caráter.
Bradbury e Fincham (1990), demonstraram que não gostar do cônjuge torna maior a
vitimação pode representar uma tentativa por parte da mulher de manter o relacionamento
emocional no relacionamento. Essas hipóteses são consistentes com pesquisa sobre mulheres
Uma possível explicação para esses resultados é de que há uma tendência à auto culpa
com relação ao primeiro episódio de violência, mas não em geral, conforme sugeriu Frieze
(1979).
A violência conjugal tende a envolver incidentes repetidos, e isso pode levar a alterações
da culpa no decorrer do tempo. Além disso, uma revisão indica que estudos existentes sobre
violência conjugal não distinguem entre atribuições feitas pelas mulheres que estão em
relacionamentos violentos daquelas feitas pelas mulheres que já não vivenciam mais a
Nessa perspectiva, poder-se-ia esperar que a pesquisa que enfoca a vitimação precoce
produza atribuições que indiquem causas externas para a violência do marido (externas a ele),
e que a pesquisa que enfoca a vitimação tardia produza atribuições que indiquem causas
Entretanto, vale lembrar ainda que muitos pesquisadores que trabalham a partir da
aos observadores de culpar as vítimas por seus destinos (COATES; WORTMAN; ABBEY,
1979 apud Shields; Hanneke, 1983 ; LERNER; MILLER, 1978 apud Shields e Hanneke,
HAMBURG, 1964 apud Shields; Hanneke, 1983; ROSS; DITECCO, 1975 apud Shields;
tendência geral de atribuir coisas boas a si mesmo e coisas ruins a fatores exteriores
(HEIDER, 1970; FRIEZE; WEINER, 1971), Cantos; Neidig; O Leary (1993) encontraram
que tanto homens quanto mulheres são mais inclinados a culpar o cônjuge (locus de atribuição
de culpa) com maior freqüência do que a si mesmos para o primeiro e o ultimo episódios de
violência. Contudo, significativamente mais maridos que mulheres culparam a si mesmos pelo
Cantos; Neidig; O Leary (1993) explicam ainda, que mulheres agredidas tendem a
designar menos culpa a si mesmas e mais aos maridos com o aumento da severidade da
violência a qual são sujeitas e foram mais inclinadas a ver as causas do abuso como estáveis
Os resultados apresentados pelos autores acima citados estão de acordo com as previsões
da teoria da atribuição, afirmando que comportamentos mais extremos são geralmente vistos
como mais prováveis de serem causados pelo agente e com maior intenção do agente
plausível, quando um casal precisa responder por violência severa por tentar permanecer
unido, é provável que dê uma explicação relacionada à perda de controle como causa de sua
ocorrência (por quê aconteceu). Apontam ainda, três condições preliminares para que sejam
caracterizado como uma característica inata transmitida de geração em geração e, que está
além do controle da pessoa, possui curta duração, proporciona alívio e dissipa-se após a
reação quando tudo volta ao normal; 2) vida estressante, sendo esta uma condição mais
difusa gerada por fatores interpessoais e sociais, tais como alcoolismo, conflitos íntimos, ou
desemprego e 3) fatores situacionais que por sua vez são relacionados a ouvintes e
segundo, a perda de controle ocorre e termina dentro de um curto período de tempo e dessa
geralmente considerado são e por isso um parceiro que vale a pena (GOLDBLATT, 1989
GOLDBLATT; WINSTOK, 1999). Para os referidos autores este tipo de discurso é mais
comumente formulado para explicar os problemas relacionados ao estresse, e uma vez que
tais atribuições causais são estabelecidas, os agentes incluem a violência e a redefinem como
um sintoma de angústia.
(1995) admitem que as pessoas que fazem uso desses discursos reconhecem a existência da
violência em suas vidas, mas por outro lado negam a responsabilidade por sua ocorrência, que
natureza: Por um lado, o casal chega a uma tentativa de acordo de que o perpetrador não pode
controlar seu comportamento; de outro lado, fatores situacionais, são considerados como
O fracasso em prover um discurso bem sucedido pode levar tanto ao aumento gradativo da
Enfim, nessa perspectiva Eisikovits; Goldblatt ; Winstok (1999) consideram que o tipo de
explicação causal dado pode tornar-se um refúgio para os parceiros, no sentido de possibilitar
Conclui-se, a partir dos aspectos levantados, que as atribuições que os cônjuges fazem
para a violência que ocorre em seu relacionamento conjugal podem estar associadas a sua
Dada a falta de concordância, em vários estudos que lidam com relacionamento conjugal
violento é de considerável interesse saber até que ponto tais mulheres culpam a si mesmas
153
pela violência, isto é, se se vêem pessoalmente responsáveis por sua vitimação ou não, e se
Em vista das ligações teórica proposta por Weiner (1985), entre atribuições e afetos seria
útil determinar se certas atribuições prevêem diferencialmente expressões afetivas, tais como
no caso da mulher ver as causas da violência conjugal como interna instável ao parceiro
poderia prever tristeza e angustia, enquanto que ver o parceiro comportar-se intencionalmente
e de forma egoísta, ou seja, ver as causas da violência como interna estável poderia prever
raiva.
relação conjugal violenta é uma função da variação nas atribuições da mulher abusada no
decorrer do tempo.
plausível, ainda que somente uns poucos estudos tenham tratado este tema (BRADBURY;
FINCHAM, 1992).
Um estudo realizado por Fincham; Beach; Nelson (1987) indicou que as atribuições dos
parceiros por suas ações. Resultados relacionados foram apresentados por Sillars (1985), que
154
encontrou que o grau em que os cônjuges culparam seus parceiros covariou com mais
evitabilidade e culpa são necessários e importantes para a avaliação das atribuições causais
JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS
4.1 Justificativa
assistemático, que as mulheres que buscam a Delegacia a fim de dar queixas contra os
à violência física e psicológica que ocorrem, quase sempre, desde o início do relacionamento.
Observa-se, também, que a maioria das mulheres que sofrem violencia acaba por retirar a
queixa e, tempos depois, retornam à Delegacia por estarem mais uma vez sofrendo ameaças,
MARQUES et al., 2001; MARQUES et. al., 2000; MARQUES ; PINTO JUNIOR., 1999).
Entender o processo que mantém as mulheres nesta relação pode subsidiar a prática de
profissionais que trabalham nesta área, espera-se, ainda, contribuir com sugestões que possam
4.2 Objetivos
sobre a mulher, e a permanência das mulheres nesse tipo de relação, o presente estudo
O primeiro deles foi obter informações sobre a violência conjugal contra mulheres
agredidas que recorrem ao apoio policial e/ou jurídico, através dos registros nos arquivos da
de 2004.
seus parceiros.
episódios de agressão, este trabalho teve como foco principal compreender como ocorre o
Para este objetivo foi adotada como base teórica a atribuição de causalidade e, como
referência, o modelo proposto por Weiner et al. (1972) e as sugestões de Sillars (1981) e
Brehm (1985).
(3)
Sentimentos
Violência Conjugal Atribuição Causal Ação
(1) (2) Expectativas (5)
(4)
primeiros eventos de violência conjugal e após a tomada de decisão sobre dar queixa na
(1) = Atos agressivos, físicos ou psicológicos perpetrados pelo companheiro. Agressão praticada
pelo parceiro de relações amorosas e sexuais estáveis que resultam em sofrimento físico,
(2) = Causa percebida pela mulher para o ato de agressão perpetrado contra ela pelo parceiro.
grau de culpa.
controlabilidade da causa.
a agressão:
tipo de sentimentos.
a seguir a segunda parte deste trabalho que tratará dos aspectos metodológicos, resultados,
discussão e conclusão.
CAPÍTULO 5
MÉTODO
5.1 Amostra
mulheres vítimas de violência conjugal que serão descritas a seguir. Assim, esse estudo foi
6.764 Boletins de Ocorrência revelou 876 casos com queixa de relacionamento conjugal
violento, os quais fizeram parte deste estudo. No período estudado as idades das mulheres
anos com desvio padrão de 9,37 anos. A idade mínima foi de 14 anos e a máxima foi de 69
anos. A análise do desvio padrão em relação à idade média (coeficiente de variação), mostra
idade das vítimas é relativamente alta, fato confirmado pelos valores de idade mínima e
máxima.
2003 a maio de 2004. Dos 1.368 Termos Circunstanciados de Ocorrência foram encontrados
390 referentes à violência conjugal, que fizeram parte desta pesquisa. A análise dos dados
relativos à idade da mulher registrados no Juizado revelou média de 32,31 anos com desvio
padrão de 9,45 anos, estes resultados se aproximam dos valores observados nos Boletins de
64 anos.
pesquisadas.
à violência contra a mulher, seja ela física moral ou sexual. Como agressão física tem-se
como exemplo: vias de fato, que é uma contravenção penal que consiste em violência
empregada contra a vítima sem acarretar dano a seu corpo (não há vestígios sensíveis à
violência), por outro lado, a lesão corporal é caracterizada pela ofensa à integridade corporal
humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental. A
lesão corporal pode ser leve, grave, gravíssima ou seguida de morte. Como agressão moral ou
161
2003).
julgamento e execução das infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, aquelas que a lei
determina pena máxima privativa de liberdade não superior a dois anos, ou pena de multa.
Tais crimes são orientados pela Lei 9099/ 95 que em síntese requerem:
descrever o histórico dos fatos, no qual deverão estar esclarecidos a materialidade dos fatos e
a autoria do delito, bem como as circunstâncias nas quais ocorreu o delito. Consta do TCO o
vítima, qualificação do autor do fato, bem como nome, possíveis dados de qualificação,
Juizado Especial Criminal (Poder Judiciário), onde será realizada uma audiência preliminar
com um Juiz e um Promotor de Justiça, ocasião em que será aplicado ao agressor pena
comunidade e outros.
pela Polícia Militar (polícia ostensiva e preventiva), e consiste apenas no registro de qualquer
infração penal, denominada Descrição Penal. Já o TCO, realizado pela Polícia Civil (polícia
judiciária, com função de apurar crimes), é a peça que dá inicio ao processo previsto na Lei
9099/95, onde se registra a Incidência Penal. O TCO, muitas vezes, origina-se de um BO, mas
nem sempre isso ocorre, pois há casos em que a vítima não aciona a polícia militar, podendo
162
procurar diretamente a Delegacia (Policia Civil) para confecção de TCO. Outras vezes, a
É importante esclarecer, ainda, que a maioria dos crimes de pequeno potencial ofensivo
confecção do TCO. Alguns crimes como ameaça, lesão corporal dependem dessa
representação, que só pode ser feita perante a autoridade policial, ou seja, na Delegacia.
Assim, nestes crimes, não basta fazer o BO com a Polícia Militar, sendo imprescindível o
Fizeram parte desta fase da pesquisa 71 mulheres com idade média de 34,69 anos (desvio
padrão igual 10,64 anos), que buscaram espontaneamente a Delegacia Adida ao Juizado
Especial de Uberlândia, no período de maio a julho de 2004, para dar queixa dos parceiros
Essa amostra pode ser caracterizada como de conveniência, não pretendendo ser
(CHEIN,1987). Neste tipo de pesquisa há o pressuposto de que o que está sendo investigado é
Kassin (1990), em Psicologia Social, a maioria das pesquisas utilizam este tipo de amostra,
163
hipóteses.
A pesquisa ocorreu com as mulheres que buscaram a Delegacia. Em razão a isso, é uma
amostra que limita a possibilidade de usar dados amostrais para estimar os valores reais da
população.
Por se tratar de uma amostra de conveniência, seus resultados não podem ser
generalizáveis para a população das mulheres agredidas por seus parceiros conjugais, visto
5.2 Instrumentos
Foi elaborada uma ficha de registros para coleta de dados nos arquivos das instituições.
bairro, idade e profissão do autor; relação entre vítima e autor; descrição penal e tipo de
queixa (ANEXO A). Estes dados foram observados tanto nos Boletins de Ocorrência quanto
Foi elaborado um roteiro de entrevista (ANEXO B), que combina questões fechadas (de
múltipla escolha) com outras que requerem respostas mais abertas, previamente submetido à
análise semântica, para se verificar a clareza e adequação das questões. O roteiro de entrevista
164
1ª. Parte: Dados Pessoais 12 questões que teve como objetivo descrever as
2ª. Parte: Dados sobre a violência conjugal 8 questões que permitem avaliar o início, a
evitabilidade pelo agente. Além dessas seguem 4 questões para identificar os sentimentos, os
4ª. Parte: Consta das mesmas questões sobre atribuição de causalidade e identificação dos
Além destas, havia questões nas partes 3 e 4 para introduzir o tema a ser abordado, e
perguntas versavam sobre as maneiras pelas quais os conflitos emergiam de acordo com
primeira e última agressão: o que aconteceu? Por que ele fez isso? Qual foi a causa principal?
Essas questões abertas forneceram material contextual importante para a compreensão dos
entrevistada apontasse as causas por ela percebida para a violência do parceiro. Tiveram,
165
portanto, como função maior, mobilizar nas mulheres o estado de prontidão e colaboração
5 pontos, em que extensão concordavam ou discordavam que seu parceiro havia atuado com
intenção negativa (de propósito), poderia ter evitado a agressão (se quisesse poderia se
controlar e ter evitado a agressão), e o quanto era culpado por seus atos (nada culpado a
totalmente culpado). No item culpa as respostas não foram mutuamente exclusivas, de forma
que a mulher poderia culpar a si mesma, ao parceiro, a outra pessoa e/ou à situação ao mesmo
tempo. Cada uma das possibilidades descritas possibilitou envolver um nível diferente de
culpa tanto para a própria mulher como para o parceiro, para outra pessoa ou para a situação.
A medida dos sentimentos foi composta por uma lista de 16 itens onde as classificações
medida formada para proporcionar um índice de sentimentos mais estáveis: sentimentos auto-
5.3 Procedimentos
Para a coleta de dados o primeiro passo foi obter a autorização da instituição para ter
acesso aos seus registros e desenvolver o estudo em suas dependências, como parte do serviço
informações sistemáticas sobre o serviço oferecido, o projeto foi aceito de imediato (ANEXO
C).
Foram transcritos para uma ficha de registro os dados que se referiam a casos de violência
conjugal em que a mulher era vítima. Num primeiro momento foram coletados os dados
coletados pela pesquisadora, auxiliada num primeiro momento por duas estudantes de
graduação de psicologia e num segundo momento, apenas por uma delas, respectivamente no
agressor assim como das queixas, incidência penal (TCO) e descrição da violência (BO).
ocorrência ao longo dos seis meses avaliados; da análise da densidade espectral para verificar
Para estas análises foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social
a) Validação Semântica
Inicialmente foi elaborada uma entrevista semi estruturada, com objetivo de coletar dados
como as mulheres explicavam as causas da violência cometidas pelo parceiro íntimo e de sua
seus parceiros agressores e que concordaram em colaborar com o estudo em questão. Das 10
168
entrevistas, quatro foram realizadas pela pesquisadora e seis por estudantes do décimo período
demais de até 3 anos. Em média as mulheres tinham dois filhos, e a metade não trabalhava.
b) Entrevistas
de Uberlândia. Não houve qualquer forma de interrupção. O horário foi o mais conveniente
para a entrevistada, ou seja, no dia e hora que a mulher compareceu à Delegacia para registrar
sua queixa. Todas as mulheres foram entrevistadas individualmente pela pesquisadora, que
algumas vezes repetindo parte das respostas para que elas fossem totalmente anotadas.
Quando as respostas pareciam superficiais a pesquisadora fazia intervenções, para que elas
explicassem o significado, ou falassem um pouco mais a respeito. A questão foi dada por
169
encerrada, após a segunda intervenção, nos casos em que a mulher repetia a mesma coisa,
demonstrando não poder explicar melhor. A pesquisadora procurou anotar o relato das
mulheres na integra, tentando preservar, de forma mais fiel possível, o que foi dito (como
Foi assegurado, às mulheres, sigilo completo de suas respostas. Sua identificação foi
preservada.
As entrevistas tiveram uma duração média de duas horas e cinqüenta minutos. O tempo de
duração da entrevista foi um fator crucial para a obtenção de dados confiáveis e válidos. De
acordo com Walker (1984) as mulheres espancadas precisam de tempo para perceber a
entrevistadora como interessadas nelas, e serem capazes de falar sobre a violência que elas
experimentaram. Os problemas previstos por causa da duração das entrevistas, como cansaço,
de categorias para cada uma das questões abertas, a partir da semelhança das respostas das
técnicas estatísticas:
170
atribuída;
RESULTADOS E DISCUSSÃO
análises relativas à distribuição dos casos de violência conjugal relativas aos Boletins de
conduzidas pela verificação das variáveis em nível e freqüência das diferentes categorias.
facilitando uma reflexão a respeito das condições e finalidade de seu próprio comportamento.
procurou-se traçar um perfil da mulher que sofre violência conjugal e de seu parceiro
agressor, além de se obter dados sobre a incidência dos vários crimes praticados contra a
Outro ponto a ser destacado é que não havia na Delegacia e no Juizado Especial Criminal
Conforme pode ser visto na Tabela 1, das 876 mulheres que denunciaram os parceiros, no
primeiro semestre de 2004, através dos Boletins de Ocorrência, predominou a faixa etária de
21 a 30 anos (41, 4%), seguida pela faixa de 31 a 40 anos com 29,2% dos casos registrados,
apresentando uma idade média de 30,8 anos, com desvio padrão de 9,37 anos. Esses
resultados são similares aos encontrados por Marques e Pinto Junior. (1999), que apontam que
a maioria das mulheres vítimas de violência (74,3%), encontram-se numa faixa etária que vai
Por outro lado, a análise dos dados registrados no Juizado (TCO) que visam um processo
penal, revela um aumento significativo de denúncias de vítimas com idade inferior a 21 anos,
tendo em vista que nos Boletins de Ocorrência em 14,2% dos casos registrados, a vítima
apresentava-se com menos de 21 anos e nos TCOs de 390 casos, 129 vítimas tinham menos
de 21 anos (Tabela 1), o que representa 33,1% dos registros. Encontra-se entre 21 e 40 anos
53,8% dos casos registrados nos TCOs (Tabela 1). A idade média encontrada foi de 32,31
173
anos com desvio padrão de 9,45 anos. Esses dados estão de acordo com as características da
população em geral. Saffioti (1997) trabalhando com dados do IBGE de 1990 observa que a
A Tabela 1 não oferece novidades em relação às idades das mulheres vítimas de violência.
Confirma-se mais uma vez que esta população possui uma alta concentração na faixa que vai
dos 21 aos 40 anos e apresenta uma idade média de aproximadamente 32 anos, com desvio
padrão aproximado de 9 anos, observando-se que as mulheres jovens até 30 anos (61,8%)
instauram mais ação penal (TCO) buscando uma reparação dos danos sofridos, do que as mais
velhas.
Esses dados estão aproximadamente de acordo com os dados do informe divulgado pela
OMS (2002), que mostram que a violência causa aproximadamente 7% dos problemas de
saúde das mulheres entre 15 e 44 anos. Neste estudo um detalhamento maior mostra que
existe uma grande concentração de violência contra a mulher na faixa etária que vai dos 18
aos 45 anos (85,6%), sendo que em apenas 8,9% dos casos registrados (BO) as mulheres
apresentavam idade superior a 45 anos (78 mulheres), em 5,5% (48 mulheres) tinham menos
TABELA 1
Faixa etária das vítimas de violência conjugal, registrados nos Boletins de Ocorrência e nos
Termos Circunstanciado de Ocorrência.
Termo Circunstanciado de
Boletim de Ocorrência Ocorrência
Faixa etária
da vítima (anos) f % f %
Ate 20 124 14,2 129 33,1
21 a 30 363 41,4 112 28,7
31 a 40 256 29,2 98 25,1
41 a 50 110 12,6 42 10,8
51 a 60 19 2,2 5 1,3
61 a 69 4 0,5 4 1,0
Total 876 100,0 390 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
Quanto ao estado civil, observa-se uma tendência que parece permanecer ao longo dos
anos. A relação observada entre a vítima de violência conjugal e o autor da violência (Tabela
2) revela que a maioria das mulheres que registraram suas queixas através do BO declarou-se
concentração das mulheres vítimas de violência (52%). Esses dados são difíceis de serem
comparados a outros, uma vez que muitas mulheres que convivem com o companheiro
declaram-se solteiras (45,7%) seguida por casadas (35,7%), como apontado por Deslandes;
Gomes; Silva (2000). Entretanto os dados da presente pesquisa são compatíveis com os
apresentados por Marques e Pinto Junior. (1999) que mostram que 46,2% de mulheres vítimas
TABELA 2
Nota-se que, seguindo a tendência observada nos dados contidos nos Boletins de
Ocorrência (Tabela 2), amásios e ex-amásios representam também mais de 50% dos registros
Esses dados mostram-se compatíveis com uma exaustiva revisão da literatura, realizada
relatos de violência pelas mulheres amasiadas do que pelas casadas. De fato, uma inspeção
dos resultados apresentados pelos respectivos autores, mostra que a prevalência de violência
contra as amasiadas é, tipicamente, entre uma ou duas vezes mais que para as casadas.
176
Faixa Etária
Com relação a idade do autor, conforme Boletim de Ocorrência foi verificado que estes
apresentavam, em média 33,2 anos, com um desvio padrão de 9,39 anos. Esta dispersão
da vítima uma dispersão de idade, em torno da média, relativamente alta. A idade do autor
etária do autor entre 21 e 40 anos (62,5%), mas nota-se também um aumento no percentual da
idade dos agressores na faixa de 60 a 69 anos quando comparado com a mesma faixa etária
Os dados relativos aos TCOs mostram que a idade média do autor foi de 38,08 anos com
desvio padrão de 10,27 anos. A idade do autor variou de 19 a 74 anos, apresentando, portanto
Com relação a faixa etária do autor das violências, verifica-se que nos casos registrados no
Juizado ocorre um predomínio das faixas etárias de 21 a 40 anos (64,6%), conforme revelam
TABELA 3
Faixa etária dos autores de violência conjugal registrado nos boletins de Ocorrência e no
Termo Circunstanciado de Ocorrência.
Esses dados corroboram com estudo realizado por Diniz et al. (2003) cujos resultados
revelaram que os agressores encontram-se numa faixa etária de 20 a 30 anos, seguida pela
Outras informações coletadas tais como bairro e profissão das vítimas e dos agressores
apresentaram uma alta variabilidade, indicando que as denúncias de violência contra a mulher
ocorrem em diversos bairros de Uberlândia e, tanto a profissão das vítimas quanto as dos
liberais.
apresentados na Tabela 4. Os dados registrados nos BOs indicam que 25,7% das queixas são
178
Na seqüência o maior percentual está associado ao uso de bebida e drogas (20,3%). Constam
motivos.
Por outro lado, a análise dos tipos de queixas contidos nos TCOs aponta como queixa
motivos (18,7%). Observa-se que há diferença nos percentuais, visto que praticamente a
metade (47,7%) dos casos de denúncia de violência conjugal estão relacionados à não
aceitação por parte de agressor do fim do relacionamento. Comparando-se estes dados com os
queixa (de 14,6% para 47,7%). O motivo fútil passa a ocupar o segundo lugar nos TCOs, em
contraposição ao primeiro lugar nos Boletins. É importante esclarecer que motivo fútil, é
aquele insignificante, frívolo, em que há desproporção entre o crime praticado e sua causa
TABELA 4
Principais tipos de queixas das vítimas de violência conjugal, registradas nos boletins de
ocorrências e Termos Circunstanciado de Ocorrência.
observa-se nos Boletins de Ocorrência que a ameaça à integridade física é o principal tipo de
violência, com 30,0% dos casos, seguida pela agressão (27,4%) e lesão corporal com 19,4%.
Por sua vez, os dados de incidência penal, registrados nos TCOs demonstram que
aproximadamente 30% das ocorrências que chegam no Juizado são também devido às
ameaças sofridas pelas vítimas e ao se associar a ameaça com outros tipos de ocorrências tem-
se 70% dos casos. A lesão corporal, que é a segunda causa, representou 19,5 % das
ocorrências e associada a outras incidências observa-se que no total 34,6% das mulheres
incidências penais, verifica-se que 25% das mulheres especificaram essa incidência nos
TCOs. Chama a atenção a grande associação existente entre ameaça e lesão corporal (12,1%),
e ameaça e vias de fato (16,2%) conforme Tabela 5. Portanto, pode-se inferir que geralmente
violência sofrida (BO) e a incidência penal (TCO), verifica-se grande semelhança, como
Em relação a esse quesito, Saffioti (1999) observa que em 1988, o número de denúncias
de agressão contra a mulher registradas na primeira e terceira DDM de São Paulo foi de 85%,
enquanto que o número de ameaças foi de 4,17%. Por outro lado nas mesmas delegacias, no
ano de 1992, a pesquisadora acima citada, verifica que as denúncias de agressão caíram para
contra a mulher registrados na DDM de São Carlos. Verificaram que a média anual de delitos
registrados tem sido em torno de 1411. Desses delitos, a média anual de casos de LC tem sido
180
de 466 casos. Afirmam, entretanto, que a média anual de ameaças (222 casos) vem
aumentando ao longo dos anos, chegando a 345 casos no ano de 2000 (WILLIAMS et al.,
1999).
181
TABELA 5
BO TCO
Descrição da violência e f % f %
Incidência Penal
Ameaça 263 30,0 116 29,7
Ameaça/Danos - - 2 0,5
Ameaça/Danos/Lesão Corporal - - 1 0,3
Ameaça/Invasão Domicílio - - 2 0,5
Ameaça/Lesão Corporal - - 47 12,1
Ameaça/Lesão Corporal/ Perturbação - - 1 0,3
da Tranqüilidade
Ameaça/Lesão Corporal/Vias de Fato - - 1 0,3
Ameaça/Perturbação Tranqüilidade - - 23 5,9
Ameaça/Vias de Fato - - 63 16,2
Ameaça/Vias de Fato/Danos - - 1 0,3
Ameaça/Vias de Fato/ Perturbação - - 1 0,3
Tranqüilidades
Danos/Ameaça - - 1 0,3
Danos/Via de Fato - - 2 0,5
Difamação - - 1 0,3
Difamação/Calúnia 2 0,2 1 0,3
Injúria - - 1 0,3
Lesão Corporal 170 19,4 76 19,5
Lesão Corporal/Ameaça - - 6 1,5
Lesão Corporal/Danos - - 1 0,3
Lesão Corporal/Invasão Domicílio - - 1 0,3
Perturbação Tranqüilidade 6 0,7 7 1,8
Perturbação Tranqüilidade/Ameaça - - 3 0,8
Perturbação Tranqüilidade/Difamação - - 1 0,3
Vias Fato 132 15,1 27 6,9
Vias Fato/Ameaça - - 4 1,0
Outras 6 0,7 - -
Violação de domicilio 1 0,1 - -
Homicídio tentado 1 0,1 - -
Embriagues 9 1,0 - -
Danos (patrimonial) 18 2,1 - -
Atrito verbal 28 3,2 - -
Agressão 240 27,4 - -
Total 876 100,0 390 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
182
Estes resultados estão de acordo com a pesquisa apresentada pela Fundação Perseu
Abramo (FPA, 2001, apud LIANE; ROVINSKI, 2004), segundo a qual, 31% das denúncias
nas Delegacias se dão por ameaça e 21% por espancamento com marcas, fraturas ou cortes
(Lesão Corporal).
6.1.4 Tipo de relação entre vítima e agressor, e sua associação à descrição da violência.
revela uma associação significativa, pelo teste de qui-quadrado (qui-quadrado = 112,66; p<
0,01), entre as variáveis, ou seja, neste caso ocorre dependência entre a relação do autor com a
vítima e a descrição da violência para as denúncias registradas nos BOs. Verifica-se que a
agressão é predominante nos casos em que a relação autor/vítima é de amásio ou esposo. Por
outro lado, a ameaça é prevalente nos casos em que houve rompimento do relacionamento,
como pode ser verificado nos casos relativos a ex-amásio, ex-esposo e ex namorado.
183
TABELA 6
Descrição da violência
Relação Lesão Vias de
Agressão Ameaça Outras Total
vítima/ autor corporal fato
Amásio f 94 58 69 54 25 300
% 10,7 6,6 7,9 6,2 2,9 34,2
Esposo f 59 39 42 38 16 194
% 6,7 4,5 4,8 4,3 1,8 22,1
Ex-amásio f 45 72 17 10 12 156
% 5,1 8,2 1,9 1,1 1,4 17,8
Ex-esposo f 21 49 7 10 16 103
% 2,4 5,6 0,8 1,1 1,8 11,8
Ex-namorado f 10 39 22 12 2 85
% 1,1 4,5 2,5 1,4 0,2 9,7
Namorado f 11 5 13 7 2 38
% 1,3 0,6 1,5 0,8 0,2 4,3
Total f 240 262 170 131 73 876
% 27,4 29,9 19,4 15,0 8,3 100,0
2
Teste de Qui- =
p < 0,01
Quadrado 112,66
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004.
mostram que dos 122 casos registrados como ameaça, praticamente a metade (N = 60), estava
cometido pelos amásios é a lesão corporal. Por outro lado, a ameaça, assim como ocorreu nos
BOs apresentou a maior incidência nos casos de separação do casal, como pode ser visto nas
relações entre ex-amásio, ex-esposo e ex-namorado. Interessante observar que o crime mais
denunciado nos TCOs pelas esposas foi o de ameaça, diferenciando-se do que pode ser
observado nas denúncias registradas nos Boletins de Ocorrência. Nas demais classes de
TABELA 7
Análise conjunta da relação autor/vítima e incidência penal dos casos registrados no Juizado
Especial Criminal de Uberlândia, relativos à violência conjugal.
Incidência Penal
Relação A A/LC A/PT A/VF LC LC/A Outros VF Total
vítima/
autor
Amásio f 21 14 1 18 27 2 2 6 91
% 5,4 3,6 0,3 4,6 6,9 0,5 0,5 1,5 23,3
Esposo f 21 6 1 12 12 2 2 10 66
% 5,4 1,5 0,3 3,1 3,1 0,5 0,5 2,6 16,9
Ex- f 39 19 11 21 15 - 7 9 121
amásio
% 10,0 4,9 2,8 5,4 3,8 - 1,8 2,3 31,0
Ex-esposo f 22 3 6 3 8 - 3 5 50
% 5,6 0,8 1,5 0,8 2,1 - 0,8 1,3 12,8
Ex- f 17 6 3 8 11 2 2 3 52
namorado
% 4,4 1,5 0,8 2,1 2,8 0,5 0,5 0,8 13,3
Namorado f 2 1 1 3 3 - - - 10
% 0,5 0,3 0,3 0,8 0,8 - - - 2,6
Total f 122 49 23 65 76 6 16 33 390
% 31,3 12,6 5,9 16,7 19,5 1,5 4,1 8,5 100,0
NOTA: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004. A = ameaça, A/LC = ameaça / lesão corporal, A/PT = ameaça /
perturbação da tranqüilidade, A/VF = ameaça / vias de fato, LC = lesão corporal, LC/A =
lesão corporal / ameaça, VF= vias de fato.
dependência entre essas duas variáveis. Observa-se o predomínio de motivos fúteis para a
violência perpetrada pelos amásios, bebida e drogas para os esposos e ciúmes para
relacionamento.
185
TABELA 8
vítima/autor e o tipo de queixa feita através do TCOs pela vítima. Nota-se mais uma vez que
motivos fúteis predominam como causa da violência quando a relação vítima autor é de
amásio, e da mesma forma que pode ser observado nos BOs, quando o tipo de relação entre
relacionamento.
Nota-se que fim de relacionamento representa quase a da metade dos tipos de queixas, e
esposos e ex-namorado.
186
TABELA 9
Análise conjunta da relação vítima/autor e tipo de queixa dos casos registrados no Juizado de
Uberlândia, relativos à violência conjugal.
Queixa
Relação Bebida Ciúmes Fim rel. M. fúteis Outros Total
vítima/autor
Amásio f 18 8 19 24 22 91
% 4,6 2,1 4,9 6,2 5,6 23,3
Esposo f 12 3 15 17 19 66
% 3,1 0,8 3,8 4,4 4,9 16,9
Ex-amásio f 2 4 82 19 14 121
% 0,5 1,0 21,0 4,9 3,6 31,0
Ex-esposo f 2 1 26 8 13 50
% 0,5 0,3 6,7 2,1 3,3 12,8
Ex- f
- 1 41 6 4 52
namorado
% - 0,3 10,5 1,5 1,0 13,3
Namorado f 1 2 3 3 1 10
% 0,3 0,5 0,8 0,8 0,3 2,6
Total f 35 19 186 77 73 390
% 9,0 4,9 47,7 19,7 18,7 100,0
NOTA: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004.
A Tabela 10 mostra a relação entre o tipo de denúncia feita pela vítima e a descrição penal
registrada nos BOs. Pode-se observar que a agressão, lesão corporal e vias de fato parece ser
TABELA 10
Na análise conjunta da incidência penal e o tipo de queixa (Tabela 11) registrados nos
TCOs, também se destaca o tipo de queixa fim de relacionamento como sendo, dentro de
todas as classes de incidência penal, a principal causa de queixa. Além disso, a ameaça que
aparece como o principal crime cometido contra a parceira está também relacionado a outros
tipos de incidência penal. Verifica-se que o crime de ameaça e de lesão corporal é mais
respectivamente.
188
TABELA 11
Análise conjunta da incidência penal e tipo de queixas dos casos registrados no Juizado de
Uberlândia, relativos à violência conjugal.
Incidência Penal
Queixa A A/LC A/PT A/VF LC LC/A OUTROS VF Total
Álcool f 6 8 - 9 8 - 2 2 35
% 1,5 2,1 - 2,3 2,1 - 0,5 0,5 9,0
Ciúmes f 6 3 - 2 6 1 - 1 19
% 1,5 0,8 - 0,5 1,5 0,3 - 0,3 4,9
Fim de f
76 22 20 30 19 3 9 7 186
relação
% 19,5 5,6 5,1 7,7 4,9 0,8 2,3 1,8 47,7
Motivos f
11 8 1 14 24 2 2 15 77
Fúteis
% 2,8 2,1 0,3 3,6 6,2 0,5 0,5 3,8 19,7
Outros f 23 8 2 10 19 - 3 8 73
% 5,9 2,1 0,6 2,6 4,9 - 0,8 2,1 18,7
Total f 122 49 23 65 76 6 16 33 390
% 31,3 12,6 5,9 16,7 19,5 1,5 4,1 8,5 100,0
NOTA: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004. A = ameaça, A/LC = ameaça / lesão corporal, A/PT = ameaça /
perturbação da tranqüilidade, A/VF = ameaça / vias de fato, LC = lesão corporal, LC/A =
lesão corporal / ameaça, VF= vias de fato.
Uberlândia.
189
inspeção nos dados obtidos pode-se constatar que estes picos ocorrem, geralmente em fins de
análise tem o objetivo de verificar se as ocorrências dos picos são significativas ao longo da
190
Fourier.
A Figura 5 confirma, estatisticamente, o que foi observado na inspeção visual dos dados,
sete dias, com uma densidade espectral acima de 1200 unidades enquanto os demais valores
que 163 dos 390 casos pesquisados (41,8% dos casos) não apresentavam essa informação.
Não obstante pode-se observar um baixo índice de registros para tempo de relacionamento
inferior a 1 ano e superior a 15 anos. A média de tempo de relacionamento foi de 8,57 anos
com desvio padrão de 7,71 anos, mostrando que ocorre uma alta variabilidade (desvio padrão
191
praticamente igual a média) no tempo de relacionamento dos casais, ou seja, nesta pesquisa
foi verificado que as denúncias de violência doméstica contra a mulher ocorreram para casais
realizadas.
Quanto à faixa etária as mulheres relataram ter idades variando entre 17 e 59 anos. A
idade média foi de 34,69 anos, com um desvio padrão de 10,64 anos. Na Tabela 12 é
apresentada a distribuição das idades das mulheres que foram classificadas em nove intervalos
Num primeiro momento pode se observar que havia uma maior concentração de mulheres
com idades entre 31 e 35 anos seguidas pela faixa de 36 a 40. Não obstante, percebe-se a
tendência de concentração de idades das mulheres entre 21 e 40 anos. Verifica-se que 64,8%
Estes dados se mostram compatíveis com aqueles verificados nas outras fases desta
pesquisa, ou seja, com o levantamento das informações dos Boletins de Ocorrências e dos
TABELA 12
Em relação à cor 75% as mulheres classificaram a si mesmas como sendo branca, 16,9%
revelaram oriundas de outras cidades de Minas Gerais, 19,7% do Estado de Goiás, 9,9% de
outros estados, isto pode estar associado à própria característica da cidade que recebe uma
imigração bastante acentuada por ser considerada cidade pólo do Triângulo Mineiro. Apenas
das mulheres são casadas oficialmente. Deve-se destacar, como visto nas outras fases desta
pesquisa, o alto índice de amasiadas (45,1%). Observa-se ainda que 5,6% declararam-se
TABELA 13
Estado civil f %
Casada 35 49,3
Amasiada 32 45,1
Solteira 4 5,6
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
Quanto ao bairro residencial, observa-se uma alta dispersão, 29 bairros foram citados
pelas mulheres, indicando que a violência contra a mulher ocorre em diversos bairros de
Uberlândia. Essa mesma característica é observada em relação à profissão das mulheres. Foi
enquanto, 18,3% apresentaram-se como domésticas. As profissões das vítimas são bastante
das mulheres. A Tabela 14 revela que há um predomínio da religião católica (53,5%) seguida
pela evangélica (21,1%). Somando-se estes dois segmentos têm-se 74,6% dos casos.
Entretanto, chama atenção o fato de 8 diferentes religiões terem sido citadas por 71 mulheres.
Além disso, 9,9% das mulheres declararam não terem religião. No quesito sobre a prática da
religião, verificou-se ainda que 47,9% das entrevistadas revelaram não serem praticantes.
194
TABELA 14
Religião f %
Católica 38 53,5
Espírita 3 4,2
Crente 4 5,6
Evangélica 15 21,1
Presbiteriana 1 1,4
Não tem 7 9,9
Testemunha de Jeová 1 1,4
Budista 1 1,4
Adventista 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
grande parcela das mulheres possui apenas o primeiro grau incompleto, mas foram
observados casos em todos os níveis de escolaridade, desde analfabeta até nível superior.
TABELA 15
Escolaridade da mulher f %
Primeiro grau incompleto 38 53,5
Primeiro grau completo 8 11,3
Segundo grau incompleto 5 7,0
Segundo grau completo 15 21,1
Superior incompleto 3 4,2
Superior Completo 1 1,4
Analfabeta 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
As mulheres entrevistadas declararam possuir uma renda pessoal que varia de zero a três
mil reais, ou seja, de zero a 11,5 salários mínimos. A média da renda pessoal foi de R$
370,85 reais. A mediana foi de R$ 270,00, ou seja, 50% das mulheres declaram renda inferior
agressores tinham idade entre 19 e 70 anos, apresentaram uma idade média de 39,06 anos e
desvio padrão de 11 anos. Os dados mostraram haver um maior número de agressores na faixa
de 41 a 45 anos (18,3%). Observou-se que as faixas etárias das vítimas e dos agressores não
Ocorrência, levantados no Juizado Especial Criminal que revelaram uma idade média do
agressor de 38,08 anos com desvio padrão de 10,27 anos, com idade variando de 19 a 74 anos.
Tais resultados estão em consonância com a literatura acerca da violência contra a mulher
conforme indicado na primeira fase da pesquisa, que descreve a idade das mulheres e dos
agressores.
196
TABELA 16
Distribuição da faixa etária dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
dispersão, assim como indicado no caso das mulheres. As profissões dos parceiros variam
numa faixa extensa, podendo ser observados profissionais como: empresário, advogado,
Mais uma vez constata-se que tanto a profissão das vítimas como as dos agressores são
Pode se verificar nesta pesquisa que entre os agressores, 81,7% (58 dos 71) estavam
Em sua maioria eles possuem baixa escolaridade, 53,5% possui apenas o primeiro grau
incompleto (Tabela 17). As mulheres declararam que 4,2% dos parceiros tinham o terceiro
grau completo. Curiosamente pode-se observar que 5,6% das entrevistadas não sabiam o grau
TABELA 17
Escolaridade do parceiro f %
Primeiro grau incompleto 38 53,5
Primeiro grau completo 6 8,5
Segundo grau incompleto 7 9,9
Segundo grau completo 4 5,6
Superior incompleto 2 2,8
Superior Completo 3 4,2
Não sabe 4 5,6
Analfabeto 7 9,9
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
com média de R$1.411,18 e desvio padrão de R$ 4.048,20. Nota-se que a renda declarada de
provocaram a alta dispersão avaliada pelo desvio padrão e que uma análise de outra medida
de posição, como a mediana de R$ 545,00 revelou com mais fidelidade à situação da renda do
companheiro.
possuem renda e grau de instrução elevado. Esses indicadores podem estar apontando para a
variados da sociedade. Ainda assim, nota-se que as denúncias ocorrem com menor freqüência
nas famílias de maior poder aquisitivo. Este dado pode estar apenas evidenciando que, para as
camadas mais altas, a violência conjugal não é denunciada. Se esta hipótese estiver correta, as
pesquisas sobre o tema não retratam com exatidão a realidade deste fenômeno.
Estes dados são compatíveis aos encontrados por Pazinoto (apud BRIGA de marido e
mulher, 2004) que afirma que embora haja uma tendência a atrelar a violência contra a mulher
198
policiais e de delegacias, enquanto que as de classes altas e médias procuram outros recursos:
pesquisa informaram que possuíam de zero a oito filhos, sendo que a média de filhos por casal
foi de 2,37 filhos com desvio padrão de 1,45 filhos. Estes dados mostram a tendência de
TABELA 18
Número de filhos f %
0 3 4,2
1 18 25,4
2 21 29,6
3 17 23,9
4 8 11,3
5 1 1,4
6 2 2,8
8 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
Em um estudo mais detalhado sobre a idade dos filhos, verificou-se que a idade
mínima do primeiro filho das vítimas era de alguns meses e a máxima de 36 anos, com média
de 14,49 anos e desvio padrão de 9,70 anos. Já para o segundo filho a idade mínima foi de 2
199
anos e a máxima de 34 anos (média de 15,16 anos e o desvio padrão de 8,14 anos). Para o
terceiro filho, observou-se idade mínima de 2 anos e máxima de 32 (média de 13,83 anos e
desvio padrão de 8,79 anos) e para o quarto filho a idade mínima de 4 e máxima de 31 (média
Assim hipotetiza-se que, o número de filhos e a idade dos filhos parece não exercer
influência sobre as ações da mulher. Entretanto Snell, Rosenwald e Robey (1964, apud Gelles,
1976) afirmam que a presença de um filho mais velho motiva as mulheres a levar seus
parceiros à corte.
Em relação à moradia, 47,9% das entrevistadas declararam residir em casa própria, 39,4%
compartilha a mesma residência, a média observada foi de 13,31 anos (desvio padrão de 9,48
entrevistadas revelaram que esta teve início ainda na fase de namoro ou logo no início do
casamento, conforme dados da Tabela 19. O tempo médio que as mulheres sofrem a agressão
foi de 12,2 anos (desvio padrão igual a 9,18 anos), com o mínimo de menos de 1 ano e
máximo de 38 anos.
agressão pode anteceder em um ano a moradia comum. Observa-se que a fase do namoro já
TABELA 19
Início das agressões sofridas por mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na
Delegacia da Mulher de Uberlândia.
A análise da periodicidade das agressões (Tabela 20) indica que as estas ocorrem
diária e semanalmente com maior freqüência (88,8%), sugerindo que as agressões são uma
TABELA 20
As causas das agressões são apresentadas na Tabela 21, com as respectivas percentagens
de ocorrência (respostas SIM ou NÃO para cada motivo). Verifica-se que: ciúmes,
principais causas apontadas pelas mulheres para as agressões do parceiro, todas com
freqüências superiores a 50%. Observa-se ainda que a acusação de traição da mulher pelo
201
parceiro (38,0%) e traição do próprio parceiro são freqüentemente percebidas pelas mulheres
TABELA 21
Porcentagem de ocorrência das causas gerais da violência sofrida, relatadas por mulheres
vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
Causas da agressão %
Sim Não
Uso de álcool 50,7 49,3
Drogas 14,1 85,9
Jogo 7,0 93,0
Falta de dinheiro 14,1 85,9
Ele a acusa de traí-lo 38,0 62,0
Traição dele 35,2 64,8
Ciúmes 70,4 29,6
As amizades dele 18,3 81,7
Preguiça dele 9,9 90,1
Falta de iniciativa dele 12,7 87,3
Ele é nervoso 57,7 42,3
A sogra 9,9 90,1
A família dele 7,0 93,0
A família dela 1,4 98,6
Ele é agressivo 54,9 45,1
Ele tem problemas psicológicos 32,4 67,6
A culpa é dela 7,0 93,0
Ele é impotente 2,8 97,2
Ele gosta de gay 2,8 97,2
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
importância, sendo classificados em primeiro lugar uso de álcool (33,8%) e ciúme (31,0%).
33,8% para 9,9% e ocorrendo a acusação de traição da mulher, que não apareceu no primeiro
caso e apresentou um percentual de 16,9%, ficando atrás apenas do ciúme que teve freqüência
de 19,7%. Em terceiro lugar, as mulheres destacaram o motivo ele é nervoso (19,7%). Além
disso, verifica-se ainda um aumento na quantidade dos motivos listados pelas vítimas.
202
TABELA 22
A análise dos percentuais relativos às causas das agressões contidas nas Tabelas 21 e 22
sugerem que a gênese das agressões é variada, sendo precipitado relacioná-la estritamente a
fatores externos ou internos. Por exemplo, 50% dos agressores fazem uso de álcool enquanto
percentual quase idêntico não o faz, então relacionar o consumo de bebidas alcoólicas ao ato
agressivo seria precoce. Por outro lado, características pessoais tais como ele é agressivo ,
nervoso , tem problemas psicológicos também são apontadas como causas que geram
agressão. Determinar de modo preciso à gênese da agressão conjugal requer investigações que
a um dado motivo.
203
destacados ciúmes, traição do parceiro e acusação de traição dela. Esse núcleo de causas
parece estar vinculado à relação propriamente dita, enquanto as demais causas estariam
ligadas a fatores internos, como por exemplo, características psicológicas. Tal argumentação
A seguir, na Tabela 23 os resultados relativos aos tipos de agressão utilizada pelo parceiro
são apresentados.
TABELA 23
Tipos de agressão %
Sim Não
Espancamento 62,0 38,0
Uso de objetos para infringir dor 49,3 50,7
Uso de armas de fogo 4,2 95,8
Enforcamento 66,2 33,8
Queimaduras 11,7 88,3
Esbofeteia 64,8 35,2
Empurrão 94,4 5,6
Tapas 85,9 14,1
Chutes 60,6 39,4
Socos 71,8 28,2
Outros 77,1 22,9
Nota: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
baixa, que é caracterizada por empurrar, agarrar e atirar algo contra o outro; média, que é
representada pelos atos de esbofetear, chutar, morder ou esmurrar, e alta que acontece através
do espancamento e da ameaça com faca ou arma ou uso delas, conforme sugere Straus (1980
Os dados relativos aos tipos de agressões sofridas pelas mulheres entrevistadas nesta
pesquisa revelam os 3 níveis de severidade como pode ser observado na Tabela 23. Entretanto
uma inspeção mais profunda nos dados mostra que os vários tipos de agressão ocorrem
204
que não há atos isolados, como por exemplo, apenas empurrão, mas empurrão e chutes. O
conjunto das respostas revela, portanto, dois níveis de severidade da violência: médio e alto.
ameaças com armamento como, por exemplo, a roleta russa , ameaças de cortar o pescoço.
Outra pratica usual nas agressões é o uso de cinto para espancar ou enforcar, bater a cabeça na
parede e puxar o cabelo. Vale destacar que embora agarrar ou puxar o cabelo seja considerado
usualmente uma violência de baixa severidade, uma das mulheres entrevistadas relatou ter
raspado a cabeça por não mais suportar ter freqüentemente os cabelos arrancados. Chama
Esses dados são compatíveis com os encontrados por Gelles (1976), que afirma que a
freqüência com que a esposa é atingida também influencia sua decisão de permanecer com o
polícia, enquanto as mulheres agredidas com menor freqüência (pelo menos uma vez por mês)
A Tabela 24, por sua vez, mostra os resultados sobre os vários tipos de violência
TABELA 24
Porcentagem de ocorrência dos tipos de agressão psicológica utilizada pelo parceiro, relatadas
por mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
Os resultados mostram que a violência toma várias formas, e que a agressão psicológica
assume no espaço conjugal, um drama vivido por todas as mulheres que participaram desta
pesquisa. Os dados apontam como regra geral, a ausência do diálogo, o que evidencia um
206
xingamentos, invenção de erros que a mulher não cometeu, ameaças de matar, se negar a
conversar e às vezes ser violento, às vezes ser bondoso, aparecem todos com uma freqüência
superior a 75%. Vale ressaltar que as mulheres que não marcaram o item às vezes é violento,
às vezes é bondoso , afirmaram que o parceiro é apenas violento, e que das 71 mulheres 10
relataram, que o parceiro queima as roupas dela. Observam-se ainda declarações de que o
nos quais as mulheres afirmam que o parceiro é duas pessoas, um é o oposto do outro .
agressão sexual, enquanto 51 das 71 (71,8) entrevistadas relataram que não sofrem abuso
sexual do parceiro.
A análise dos dados relativos ao abuso econômico mostrou que 39,4% das mulheres
sofrem este tipo de abuso contra 60,6% que revelaram não sofrer este tipo de abuso, sendo
que em 28,2% dos casos o parceiro não dá dinheiro à vítima, em 7,0% ele usa o dinheiro da
vítima, em 11,3% o parceiro gasta o dinheiro fora de casa, em 9,9% ele ameaça ir embora e
não dar ajuda financeira e em 14,1% dos casos o parceiro esconde o dinheiro.
207
após a agressão
amante, a sogra, provocação dela, rejeição sexual dela, o fato de ele não aceitar a separação e
TABELA 25
Não obstante, nas causas relativas à última agressão, aquela que levou a mulher a buscar
ambas como a terceira causa principal da última agressão com 16,9%. Entretanto numa
análise mais profunda, pode-se dizer que o ciúme em sua somatória com ciúmes e bebida
(42,3%) permanece como sendo a principal alegação para as causas das agressões, enquanto o
uso de álcool e drogas aliado a ciúmes e bebida (33,8%) subiria para a segunda posição,
Observa-se ainda em relação a esse quesito um destaque para a outra (a amante) que se
posiciona entre as primeiras quatro causas para as agressões sofridas. Importante ressaltar que
as causas das agressões relatadas pelas mulheres permanecem as mesmas, tendo apenas uma
pequena alteração quanto ao segundo e terceiro lugar, da primeira para a última agressão.
sobre a primeira vez que o companheiro a agrediu, o que aconteceu, e porque ele fez isso, de
forma que logo em seguida elas mesmas pudessem apontar as categorias causais relacionadas
ao lócus e à estabilidade da causa da violência, assim definidas por Weiner (1979): interna
nervoso -, estado de saúde, alcoolizado), externa estável (família dele ou dela, os filhos ...) e
externa instável (falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança, a situação). O mesmo foi
solicitado para a última agressão que a levou à procura de ajuda na Delegacia da Mulher.
primeira agressão foi a Interna Instável, com 81,7%. Estes resultados indicam que em relação
209
primeira agressão percebida como uma conseqüência do estado de ânimo do parceiro, estado
emocional, perda de controle, etc, ou seja, aquela agressão é atribuída a algo que não perdura
no tempo não se tratando de uma característica permanente do parceiro, dado que os fatores
das mulheres identificaram as causas como Interna Estável, contra 9,9% na primeira agressão
e, portanto, diferenciando-se da primeira atribuição que havia sido identificada como Interna
TABELA 26
violência, e não o façam quando percebem que a violência é uma característica estável do
Interessante notar que, as atribuições causais impessoais, isto é, aquelas que se referem a
através do meio sócio-cultural como família, amigos, amante, sogra, surgem apenas com 1,4%
No que se relaciona à atribuição de culpa, o exame da Tabela 27 indica que a maioria das
equivale a totalmente . Os resultados mostram que para a primeira agressão 73,2% das
mulheres não atribuíram nenhuma culpa a si mesmas, 78,9% revelaram que outra pessoa não
pelas mulheres em relação à última agressão. Os dados revelaram que 78,9% acreditam que
elas não tinham culpa alguma, sendo que o mesmo percentual de mulheres atribuiu culpa total
ao parceiro. Na seqüência, 87,37% das mulheres consideraram que outra pessoa, não tinha
culpa. Interessante notar que das 71 mulheres nenhuma atribuiu totalmente a culpa à situação,
primeira quanto para a última agressão, verifica-se uma reduzida porcentagem de atribuições
externas ao parceiro. Tais resultados mostram que, de forma geral, as mulheres culparam em
primeiro lugar o parceiro e, em segundo lugar numa porcentagem muito menor culparam
categorias causais. Culpa do agressor com médias de 4,45 (DP= 0,95) e 4,68 (DP= 0,75),
médias de outras categorias causais, cujos valores variam de 1,61 a 1,23 (Tabela 27) em uma
escala de 1 a 5 pontos.
212
TABELA 27
Média, desvio padrão e porcentagem das categorias causais de culpa na primeira e última agressão, classificada pelas mulheres vítimas de
violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.
Porcentagem
Ocasião da Média Desvio Nada Pouco Mais ou Muito Totalmente
agressão padrão menos
Culpa do Primeira 4,45 0,95 1,4 4,2 11,3 14,1 69,0
agressor
Última 4,68 0,75 1,4 1,4 4,2 14,1 78,9
Culpa Primeira 1,58 1,15 73,2 11,3 7,0 1,4 7,0
da vítima
Última 1,37 0,81 78,9 9,9 8,5 1,4 1,4
Culpa de Primeira 1,61 1,29 78,9 4,2 2,8 5,6 8,5
outra
pessoa
Última 1,34 0,97 87,3 1,4 5,6 1,4 4,2
Culpa da Primeira 1,23 0,72 90,1 1,4 4,2 4,2
situação
Última 1,24 0,85 91,5 1,4 1,4 2,8
agredidas são mais inclinadas a culpar o cônjuge do que a si mesmas pela violência à qual
1988).
Com relação à dimensão controlabilidade, que por sua vez, diz respeito ao grau em que a
(94,4%) acreditava que era possível controlar a violência do parceiro na época da primeira
ocorrência. Entretanto esta tendência, inverte-se em relação à ultima agressão, com a maioria
modificar a causa da ocorrência da violência. Apenas 9,9% das mulheres manifestaram que a
causa era controlável e 8,4% não souberam responder. Esse resultado mostra a diferença entre
55,9 (p< 0,0001), e para a segunda agressão foi de 77,3 (p< 0,0001).
Em relação à dimensão da intenção do agressor (Tabela 28), 28,2% das mulheres não
porque ele é de repente ou devido ao uso de álcool. Por outro lado, 59,2% das mulheres
atribuíram intenção total por parte do agressor, isto é, a agressão foi realizada
propositalmente, sendo decorrente de um ato deliberado, cujo objetivo final é provocar danos
à parceira. Vale ressaltar ainda, como já foi explicitado no capítulo 1, que do ponto de vista da
atribuição das mulheres entrevistadas está de acordo com os modelos de agressão hostil.
deliberado, pois este é o caráter que determina a agressão. Como pode ser observado mais da
metade das mulheres reconhecem desde o início a intenção do agressor em ferir e causar
danos, entretanto apesar desse reconhecimento acreditam que isso possa ser enfrentado e
ato franca e visivelmente hostil, e neste sentido atribuem a agressividade a uma dimensão
instável do parceiro.
atribuíram intenção hostil ao parceiro, ele fez de propósito , índice superior ao da primeira
agressão (59,2%). Importante ressaltar nesse quesito que a intenção de causar danos pode se
dar tanto através da agressão física quanto através da agressão psicológica, como nos casos de
insultos, calúnias e outros. Os resultados parecem sinalizar que com o passar do tempo, cada
vez mais, as mulheres atribuem intenção agressiva, de forma que o ataque do parceiro é
percebido como servindo primariamente para ferir, seja física ou psicologicamente. A média
para a intenção do agredir atribuída ao parceiro para a primeira agressão foi de 3,69 (DP=
1,78) e para a última foi de 4,55 (DP= 1,19) em uma escala de 5 pontos.
215
TABELA 28
possibilidade de evitar a primeira agressão, sendo que a maioria delas alegou desequilíbrio do
mesmo. Entre as mulheres pesquisadas 57,7% atribuíram que ele poderia ter evitado a
agressão inicial.
TABELA 29
Com relação à evitabilidade, observa-se que houve mudança do padrão de respostas das
mulheres do ponto 1 da escala (não podia evitar) para o ponto 5 (podia ter evitado), da
216
primeira para a última atribuição onde ocorre com a freqüência percentual de 71,8%.
Considerando-se a escala de 5 pontos, obteve-se uma média de 3,49 (DP= 1,47) e 3,94 (DP=
de raiva, de mágoa e de medo, todos com freqüência acima de 60%, conforme Tabela 30.
TABELA 30
intensidade nas mulheres são os de raiva e angústia, seguidos pelos de revolta e medo, todos
217
com freqüência acima de 70%. Nota-se ainda que sentimentos como nojo, rejeição e ódio
sentimento de medo, as vítimas relataram uma alta intensidade, por exemplo muito, muito,
muito, ... medo , tanto em relação à primeira, quanto em relação à última agressão. Sobre o
estes não tem o sentido de culpar a si mesmas pela violência sofrida, mas tem o sentido de
culpar a si mesmas por terem permanecido tanto tempo na situação. Neste sentido, as
sentem-se culpadas por não terem rompido o relacionamento, que de acordo com elas seria a
única maneira de poder ter evitado a situação de violência, por tanto tempo.
angústia, revolta e mágoa não foram afetados pelo tempo ocorrido entre a primeira e a ultima
agressão, e que esses sentimentos aliados a outros de maior intensidade como o medo e a
Esses dados confirmam a pesquisa de Roth e Coles (1995), de acordo com os quais os
parceiro pode levar a mulher a buscar o rompimento do relacionamento, momento este que a
Quando se analisa a primeira classificação feita pelas mulheres dos sentimentos advindos
(70,4%), seguido pelo sentimento contra ele com 13 dos 71 casos (18,3%), e por fim os
Em se tratando dos sentimentos relativos à última agressão observa-se que 71,8% das
entrevistadas classificaram o sentimento contra ele como o mais forte, enquanto 16,9%
na identificação dos sentimentos, esses dados também revelam uma diferença entre os
grandes diferenças percentuais. Aqui de uma forma intensa, ficou evidenciado que à medida
que a violência se repete os sentimentos que inicialmente se caracterizavam como não tendo
alvo (70,4%), passam a ter uma direção, cujo alvo específico é o parceiro (71,8%).
Nota-se que 31,0% das mulheres procuram dialogar enquanto 32,4% nada fizeram, isto é, não
apresentaram nenhum tipo de resistência frente à primeira agressão sofrida. Poucas mulheres
procuraram apoio social (12,9%) sendo que o tipo de ajuda utilizado foi amigos ou família.
219
TABELA 31
Comportamento f %
Procurou conversar com ele 22 31,0
Procurou ajuda amigos, familiares, psicólogos etc 9 12,7
Tentou deixá-lo 6 8,5
Reagiu e também brigou 10 14,1
Não fez nada 23 32,4
Chamou a polícia 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
Com relação às estratégias de coping, que se referem à ação de enfrentar e de fazer frente
a uma ameaça ou um perigo, estas foram diferenciadas, sob uma perspectiva cognitiva, em
lo, através da mudança do parceiro. Esta estratégia envolve a negociação e uma esperança
causais controlabilidade e instabilidade relativa à primeira agressão. Por outro lado, poucas
problema, e focaliza inclusive processos de evitação física. De acordo com Holahan, Moos e
ativas, exceto nos casos em que a pessoa carece de controle sobre o evento estressor e o
tempo em que se expõe a ele, ainda que o enfrentamento focalizado no problema conduza a
Não obstante, poder-se-ia concluir que o padrão de coping adotado pela maioria realizou
pouco para diminuir o impacto ou atenuara violência do parceiro, não conseguindo reduzi-la
esforços de luta na experiência de violência conjugal, dado que a ameaça de sua recorrência
Devem ser pesquisados, por exemplo, questões relativas à luta eficaz e ineficaz em termos
mais específicos. Assim, os estudos sobre coping em violência conjugal precisarão dar mais
TABELA 32
Coping f %
Focalizado no problema 47 66,2
Focalizado na emoção 8 11,3
Evitação 15 21,1
Não fez nada 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.
negativamente, sendo que apenas uma deu queixa através do Termo Circunstanciado de
Ocorrência após a primeira agressão e 60 não o fizeram, isto representa em termos percentuais
primeira agressão.
221
Das 71 mulheres entrevistadas verificou-se que 88,7% das mulheres acreditavam que após
a primeira agressão a situação poderia melhorar, 9,9% que poderia piorar e 1,4% que a
Quando foi perguntado Por que você continuou com ele? Por que permaneceu na
relação? , a narrativa das mulheres permitiu identificar motivos mistos, sendo que 45 das
entrevistadas (63,40% das 71das participantes), alegou amor. Foram apontados ainda, os
filhos por 19 mulheres (26,76%), a esperança de ele mudar por 19 (26,76%), os aspectos
comodismo e inexperiência por 15 (21,12%), os valores sociais, como não querer ser mãe
solteira, por questões de virgindade, religiosidade, por acreditar que o casamento não deve ser
desfeito e vergonha por 13 (18,30%), o medo por 10 (14,08%) e pena dele por 5 (7,04%)
TABELA 33
Motivos de permanência f %
Amor 45 63,40
Filhos 19 26,76
Esperança de ele mudar 19 26,76
Aspectos econômicos 18 25,35
Característica da mulher 15 21,12
Valores sociais 13 18,30
Medo 10 14,08
Pena dele 05 7,04
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
relacionamento violento e classificá-lo como multi-causal. Nesse sentido, parece que o amor,
tornam-se uma cilada para que a mulher permaneça em uma relação conjugal violenta, após a
primeira agressão.
Conforme indicado por outras pesquisas (GELLES, 1976; STRUBE; BARBOUR, 1983
apud BREHM, 1985), existe um grande número de fatores que determinam o não abandono
desse tipo de relacionamento, tal como a independência econômica e o afeto que aparece, em
destaque, nos resultados desta pesquisa como uma razão preponderante para continuar
investindo no relacionamento. Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985) relatam que as
são aquelas que citam espontaneamente o amor como razão para ficar.
A Tabela 34 apresenta as respostas à pergunta sobre o que a mulher espera que aconteça
após ter dado queixa do parceiro (TCO) após a última agressão. Verificou-se que 33,8% das
mulheres têm a expectativa de que ele saia de perto dela, o que de acordo com o relato das
mesmas significa não apenas a separação, mas também que ele não a perturbe mais; 16,9%
desejam que ele seja punido e corrigido, pagando pelo que fez através da prisão ou de uma
surra e ao mesmo tempo, que ele receba um corretivo para aprender a respeitar as pessoas e
a lei; 15,5% acreditam que continuarão sendo prejudicadas, isto é, que o parceiro a difamará,
humilhará, condenará, negará as acusações e a culpará por tudo, não dará sossego e que a
Importante ressaltar ainda que 22,5% das entrevistadas têm a expectativa de que ele
melhore após a queixa, acreditando que ele pode mudar e melhorar o comportamento, que
pare de beber, que se acalme, que se trate e se cuide, que não a xingue e não lhe bata mais.
Hipotetiza-se que muitas mulheres ao procurar uma delegacia não estão apenas em busca de
comportamento do parceiro.
223
TABELA 34
relação, outros 12,7% apresentaram dúvidas e esperança de ele mudar e 1,4% declararam não
conseguir romper o vínculo, conforme revela os dados da Tabela 35. Com relação à
67,6% das mulheres acreditam que o parceiro tem intenção de continuar, 14,1% não
TABELA 35
possíveis, revelando que 88,8% encontram-se entre continuar sofrendo muito (26,8%), correr
risco de vida (26,8%), piorar o sofrimento (25,4%), um matar o outro (5,6%), ela o matar
(2,8%), até ela suicidar-se (1,4%). Por outro lado, 8,5% das mulheres têm a expectativa de
que o parceiro mude o comportamento, e em razão a isso pretendem dar mais chances a ele,
enquanto que 2,8% pretendem mudar o seu próprio comportamento, através do controle dos
próprios impulsos.
TABELA 36
conjugal, que se apresentam através das crenças de que terão uma vida digna, ou uma vida
TABELA 37
A crença em uma vida digna (66,2%), apareceu de modo destacado na fala das mulheres
que acreditam que terão prazer de viver, poderão ser alguém na vida, que terão paz, que terão
sossego para dormir, que serão livres e não prisioneiras, que poderão conversar com as
pessoas, que terão alegria, serão felizes, terão uma vida normal e tranqüilidade para obter
algumas realizações. Essas mulheres pretendem voltar a estudar, realizar cursos em diversos
níveis, arrumar emprego ou continuar trabalhando, aprender a dirigir automóvel e viver a vida
com os filhos. Algumas dessas mulheres se dizem traumatizadas com a violência do parceiro,
razão pela qual relatam não pretender mais namorar ou ter outros relacionamentos.
Em contraposição à maioria das mulheres acima citadas, 11,3% acreditam que sem o
parceiro terão uma vida triste e solitária, que sentirão um vazio e sofrerão muito, não
acreditam que conseguirão viver sem ele. De acordo com o relato de algumas entrevistadas o
rompimento não seria positivo, pois elas ainda o amam e emocionalmente a separação para
elas, se tornará muito dolorosa. Parece que a proximidade emocional dessas mulheres em
relação ao parceiro as deixa no escuro, não apenas em relação ao que elas sentem, mas
Por outro lado, as mulheres que temem a perseguição e as ameaças 9,9%, manifestaram
que o parceiro continuará sendo um inferno em suas vidas, que não darão sossego, que
226
continuarão fazendo maldade. Algumas acreditam que terão de mudar de cidade, temem pela
trabalho. Importante ressaltar que para algumas dessas mulheres, a perspectiva de ter que
voltar para a casa dos pais, devido ao problema financeiro que enfrentará com a separação é
falta de noção do que virá, e o medo de enfrentar as dificuldades da vida em geral sem a
presença do parceiro. O medo dessas mulheres denota uma insegurança frente à vida.
pelas mulheres e, em seguida, à última agressão sofrida, que as levaram a dar queixa na
Delegacia de Mulheres.
atribuída;
227
agressão
A Figura 4 mostra que 77,5% das mulheres pesquisadas atribuíram causas internas,
da agressão este grupo dividiu-se, porém a maior parte atribuiu intencionalidade à agressão e
mulheres entrevistadas (9,9%), todas estas atribuíram intencionalidade máxima por parte do
agressões sofridas, a metade percebendo a causa como estável e outra metade como instável.
Desse modo, a amostra pode ser dividida predominantemente nos seguintes grupos de
CONTROLÁVEL= 9,9%
ESTÁVEL
= 9,9% INCONTROLÁVEL= 0
INTERNA
CONTROLÁVEL= 77,5%
INSTÁVEL
= 81,7 INCONTROLÁVEL= 4,2%
CAUSA
CONTROLÁVEL = 2,8%
ESTÁVEL
= 4,2% INCONTROLÁVEL = 1,4%
EXTERNA
CONTROLÁVEL = 4,2%
INSTÁVEL
= 4,2% INCONTROLÁVEL = 0
atribuições culpa dele, culpa dela, culpa da situação e evitabilidade, o teste F (análise de
variância) mostrou-se não significativo (p>0,05), portanto não existe diferença significativa
entre médias destas variáveis quando se comparam os grupos por atribuição de causalidade. Já
para as atribuições culpa de outro e intenção, o teste F foi significativo (p<0,05), sendo que a
maior média ocorreu para a causa externa (X = 3,17) e a menor para a interna instável (X
=1,43) quando se considera a culpa de outro e a maior média foi para interna estável (X = 5,0)
atribuída a uma causa interna estável, maior a intencionalidade atribuída ao parceiro (X = 5).
229
Conforme a teoria, quando a causa percebida é externa, a culpa é atribuída mais a outras
TABELA 38
contínuas.
Para verificar a magnitude das correlações entre as variáveis, foi utilizada a orientação de
Cohen (1988), segundo a qual coeficientes de 0,10, 0,30, 0,50 ou maior apresentam
seu coeficiente elevado evidenciando que quanto mais a mulher culpa o parceiro, menos culpa
a si mesma (r= -0,50; p<0,001). Verifica-se também que a percepção de intenção do parceiro
230
o que indica que quanto mais a mulher culpa outra pessoa, menos percebe a intenção do
parceiro lhe ferir e lhe causar danos (r = -0,25; p<0,05). A dimensão intenção de o parceiro
agredir associa-se positivamente (r = 0,30, p< 0,05) à dimensão culpa do parceiro, o que
indica que quanto mais a mulher percebe a intenção do parceiro em agredir, mais o culpa. Não
foi encontrada correlação significativa entre a evitabilidade e as outras variáveis nesta análise.
TABELA 39
1 2 3 4 6 7
1.Culpa dele -
4.Culpa da situação ns ns ns -
agressão
após a primeira agressão foi feito o cruzamento entre as freqüências nestas variáveis e se
231
aplicou o teste de Qui-Quadrado, exceto nos casos em que havia presença de células com
comportamento de não fazer nada, quando a mulher atribui causa interna instável à agressão
do parceiro.
ajuda , tentou deixá-lo e reagiu e brigou também (na coluna procurou ajuda),
permanecem as caselas com baixa freqüência, não se obtendo diferença significativa (qui-
quadrado = 6,95; p = 0,138), o que implica em somente falar das freqüências cruzadas e não
em qui-quadrado devido à baixa freqüência esperada no cruzamento das variáveis. Dado que
houve uma concentração de respostas na categoria causal interna e instável, não foi possível
utilizar o teste para verificar se a relação entre a causa e o comportamento após a primeira
TABELA 40
percebida com coping, mostram que existe um predomínio do coping focalizado no problema
característica (59,15%).
TABELA 41
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com coping após a primeira agressão.
qualidade do relacionamento são apresentados na Tabela 42. Verifica-se que a maioria das
TABELA 42
A direção dos sentimentos com a ação dar queixa, após a primeira agressão, pode ser
analisada na Tabela 43. Entre as 59 mulheres que não deram queixa, a maioria (N = 45)
corresponde àquelas que têm sentimentos sem alvo. Entre as 11 mulheres que deram queixa
233
sentimentos contra o parceiro. Esta variável satisfez os critérios para aplicação do qui-
TABELA 43
Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com a ação queixa, após a primeira
agressão.
Direção dos sentimentos Dar Queixa Não dar queixa Total
Sentimentos auto-dirigidos 2 6 8
Sentimentos contra o agressor 5 8 13
Sentimentos sem alvo 4 45 49
Total 11 59 70
NOTA: qui-quadrado = 7,71; p<0,05.
ao relacionamento e reação de coping à primeira agressão. Pode ser observado que a maior
parte da amostra (N = 63) acreditava que a situação iria melhorar (90,0%) e, entre estas, a
(71,4%). Estes resultados, podem estar apontando para uma tendência de relação entre coping
TABELA 44
relacionamento e denunciar o parceiro após a primeira agressão, mostra que das 7 mulheres
denunciaram o parceiro (43%) e 4 não o fizeram (57%). Das 62 mulheres que acreditavam
que a relação melhoraria, 7 (11,3%) denunciaram o parceiro, enquanto que 55 (88,7%) não o
denunciaram. Nota-se, portanto, que existe uma tendência maior de denúncia do parceiro,
quando a expectativa da mulher é de que a situação piore, enquanto que a não denúncia é
TABELA 45
internas para a última agressão sofrida e apenas uma atribuiu causa externa. Entre as causas
internas, 65,7% foram causas estáveis, sendo a maioria destas considerada incontrolável
(58,6%) e 32,9% foram consideradas causas instáveis, sendo também a maioria destas
máxima à agressão.
no seguinte:
Para as análises serão considerados os dois grupos com maior número de sujeitos.
236
CONTROLÁVEL= 2,9 %
ESTÁVEL
= 66,2% INCONTROLÁVEL= 58,6%
INTERNA .
CONTROLÁVEL = 7,1%
INSTÁVEL
= 32,4 % INCONTROLÁVEL = 22,9%
CAUSA
CONTROLÁVEL = 0%
ESTÁVEL
= 1,4% INCONTROLÁVEL = 1,4% (N=1)
EXTERNA
CONTROLÁVEL = 0%
INSTÁVEL
= 0% INCONTROLÁVEL = 0%
e evitabilidade para os dois grupos maiores de acordo com a classificação das causas em
A tabela seguinte (Tabela 46) mostra que a causa interna estável, em comparação com a
causa interna instável, está relacionada a culpar mais o agressor (F = 5,24; p<0,05), a atribuir
Os dados da Tabela 46 revelam que não há diferença significativa entre as médias nas
TABELA 46
(Tabela 47). Coeficientes significativos e moderados para as variáveis culpa dela e culpa dele,
intenção de agredir e culpa dele, culpa da situação e culpa dela, evitabilidade e intenção de
Verificou-se que quanto mais culpa atribuída ao agressor, menor a culpa atribuída a si
mesma (r = -0,29; p < 0,05), também é esperado que quanto mais culpa atribuída ao agressor,
maior a intencionalidade percebida no ato (r = 0,41; p< 0,001), assim como quanto mais culpa
atribuída a si mesma, maior a culpa da situação (r = 0,36; p<0,01) e quanto mais intenção
percebida, maior a percepção de que ele poderia ter evitado a agressão (r = 0,29; p < 0,05).
TABELA 47
1 2 3 4 6 7
1. Culpa dele -
Para a análise das relações entre as variáveis do modelo proposto foi feito o teste qui-
quadrado, quando os requisitos da técnica eram atendidos (VIEIRA, 1998). Importa esclarecer
ainda que algumas variáveis foram recodificadas, visando a execução das análises.
Os dados da Tabela 48 mostram que das 47 mulheres que atribuíram causa interna estável
atribui causa interna estável à agressão do parceiro, isto está relacionado com a decisão dela
TABELA 48
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com a intenção de continuar com ele após a
última agressão.
acreditavam que o relacionamento iria piorar, destas 45 atribuíram causa interna estável,
enquanto 17 atribuíram causa interna instável. Obteve-se nesse caso uma relação entre a causa
TABELA 49
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com as expectativas se continuar com ele
após a última agressão.
queixa na delegacia de que ele se afaste dela, mostrando que das 65 entrevistas utilizadas,
conforme categorização das entrevistas, 27 estavam enquadradas neste grupo. Vale ressaltar
que das 16 mulheres que acreditavam que o parceiro iria melhorar, 7 classificaram como
240
causa interna estável, ou seja, ocorreu uma incoerência entre a expectativa e a causa, aspecto
este que pode ser explicado através do otimismo ingênuo, conforme Rodrigues (2001). Já das
tendência é desejar que o parceiro se afaste, e também a mulher acredita que o parceiro vai
TABELA 50
Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida para a última agressão com expectativas
após a queixa.
agressor (44 das 71 entrevistas) não têm intenção de permanecer com o parceiro. Destaca-se
ainda que considerando a não intenção de permanecer com o parceiro (52 mulheres) apenas 2
comentário anterior.
Foi feita uma re-análise dos dados (Tabela 51) em que foram retiradas as opções
sentimento sem alvo e não sei , devido à baixa freqüência no cruzamento das variáveis na
primeira análise. Uma nova análise com as opções restantes, resultou em uma tabela 2 X 2,
241
para a qual foi calculada a correção de Yates, revelando que a relação entre a direção dos
sentimentos após a última agressão e a intenção de continuar com ele é significativa (p<
0,05), de modo que a maioria apresenta sentimentos negativos contra o agressor e não
TABELA 51
Re-análise com calculo da correção de Yates das freqüências cruzadas da direção dos
sentimentos com a intenção de continuar com ele após a última agressão.
a maioria das mulheres (50 em 51) que apresentaram sentimentos contra o agressor (raiva e
medo), acreditavam que a situação iria piorar no caso de permanecerem na relação (qui-
TABELA 52
Com relação a análise dos dados sobre a direção dos sentimentos e expectativa de deixar o
parceiro (Tabela 53), verifica-se que das 47 mulheres que acreditavam que teriam uma vida
Destaca-se ainda que todas as mulheres que manifestaram expectativas de ser perseguida se
foi feita uma segunda análise comparando a resposta vida digna com as outras respostas
menos otimistas, que foram denominadas expectativas negativas, porém não se encontrou
expectativas negativas (vida solitária e triste e medo de ser perseguida) caso a mulher deixe o
TABELA 53
Na análise da Tabela 54 nota-se que das 63 mulheres que acreditavam que a situação
pioraria se continuasse com o parceiro, 52 manifestaram a intenção de deixá-lo, mostrando
que a situação já estava insustentável, entretanto 5 mulheres tinham a intenção de continuar o
relacionamento e 6 estavam em dúvida, mostrando que provavelmente estas pessoas
procurariam a delegacia futuramente. Neste caso o teste mostrou que houve relação entre
expectativa e intenção, de modo que a expectativa negativa (vai piorar) está relacionada com a
intenção de não continuar no relacionamento (qui-quadrado = 25,99; p< 0,001).
243
TABELA 54
Freqüências cruzadas das expectativas se continuar com ele com a intenção de continuar com
ele após a última agressão.
expectativa de ter uma vida digna se deixar o parceiro, não tem intenção de continuar com ele.
Das 7 mulheres que tinham medo de perseguição caso deixasse o parceiro, 6 manifestaram a
intenção de não continuar com o parceiro e uma apresentou dúvidas quanto ao deixá-lo.
TABELA 55
Freqüências cruzadas das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de continuar com
ele após a última agressão.
deixá-lo (Tabela 55), foram encontradas muitas freqüências esperadas baixas. Por esta razão,
tentou-se analisar as mesmas variáveis comparando-se apenas as opções de intenção sim e não
categorias com este conteúdo e com correção de Yates. Esta re-análise resultou significativa
(qui-quadrado = 10,86; p< 0,01), indicando haver relação entre expectativas (positivas X
244
TABELA 56
outras análises feitas neste trabalho conduzem à confirmação do modelo proposto, como será
CONCLUSÕES
Este trabalho foi desenvolvido em duas fases. A primeira fase teve por objetivos
caracterizar mulheres que sofrem violência conjugal que recorrem ao apoio policial e seus
última agressão sofrida, de forma que as atribuições que mostram o parceiro sob uma
na maioria dos casos, o conjunto das informações possibilitou analisar aspectos relevantes
a faixas etárias diversas. As de idade pouco elevada são em número maior que as de idade
246
mais elevada. Isto revela um indicativo de que tanto a juventude, quanto a idade ativa da
mulher são importantes fatores de risco para a violência conjugal. As mulheres jovens e
maduras estão mais sujeitas à violência conjugal, que é repetida e continuada, perpetua-se
cronicamente por muitos anos e, até mesmo, pela vida toda, conforme indicado pela
A pesquisa revelou que comportamentos violentos são marcas de parceiros das mais
em idades muito elevadas quando comparada com a mesma faixa etária da vítima.
bairros de Uberlândia e, várias são as profissões das vítimas ou dos parceiros agressores,
periféricos, o que sugere que o status socioeconômico parece não interferir na violência
conjugal. Tais resultados são compatíveis com os de Pazinoto (apud BRIGA de marido e
mulher, 2004) que afirma que embora haja uma tendência a atrelar a violência contra a mulher
econômicos e de escolaridade.
As agressões ocorrem com maior freqüência nos finais de semana, supostamente quando o
casal está em situação de maior proximidade física. Assim, parece que o fator proximidade
cônjuge em relação ao outro, mais negativa a atitude de cada um em relação aos estímulos
percebidos no par, ou ainda que a interação pessoal do casal não é acompanhada de atribuição
de valor gratificante ao parceiro ou parceira. Poderia-se, ainda, levantar o uso de bebida nos
247
finais de semana como um fator gerador de mais violência. Sugere-se pesquisas futuras para
Verificou-se que a ameaça foi identificada como o mais freqüente tipo de violência,
seguida por agressão e lesão corporal e, em terceiro lugar vias de fato que consiste em
violência empregada que não deixa vestígios sensíveis ou danos ao corpo da vítima.
De forma geral, a prevalência da violência tende a ser maior nos casos da mulher
de violência pelo parceiro do que mulheres casadas. Do ponto de vista legal amasiadas são
tratadas da mesma forma que as casadas quando tem filhos e/ou quando estão vivendo juntos.
Apesar dos diferentes índices de violência nas uniões legais e amasiadas, as razões para
este fenômeno não foram bem entendidas. Sugere-se que se busque entender as diferenças de
violência nos diferentes status conjugais e se promova uma verificação desta estrutura.
Entre amasiadas e namoradas, a agressão (BO) e a lesão corporal (TCO) são predominantes,
enquanto que as esposas registram mais freqüentemente agressões nos BOs e ameaças nos
ameaças tanto nos BOs, quanto nos e TCOs. Diante deste fato, sugere-se esta diferenciação
Outro aspecto que chamou atenção refere-se ao tipo de queixa. Motivos fúteis, ausência de
motivos e, em terceiro lugar, bebida e drogas, mostraram-se como as principais causas das
queixas relativas aos Boletins de Ocorrência, enquanto por outro lado, a queixa por fim de
(TCO), seguida por motivos fúteis. Estes dados revelam que a mulher que decidiu romper ou
ao Juizado Especial Criminal, a fim de que o agressor seja apenado e ela tenha seus direitos
protegidos.
Parece, ainda, existir um diferencial entre o tipo de queixa e o status conjugal. A queixa
das amasiadas está mais associada a motivos fúteis, as das casadas a motivos fúteis e bebida e
predominou a queixa devida a fim do relacionamento, sendo, nesse caso, a ameaça o principal
modo que o ex-parceiro, não aceitando o rompimento, usa freqüentemente a ameaça como
presente trabalho, alerta para o drama de que a mulher não está segura mesmo após a
separação do parceiro, e que de forma geral a violência continua, e é mais severa quando o
relacionamento termina, razão pela qual estas mulheres formalizam queixa crime com mais
freqüência no momento da separação ou após a separação, o que indica que elas correm mais
risco nesse momento. Além disso, deve ser considerado que quando a mulher toma a decisão
de romper o relacionamento, ela não tem mais motivos para proteger o parceiro da acusação
legal, nem para manter a harmonia do relacionamento. O que a mulher ameaçada pelo ex-
Estes dados condizem com os observados por Browne e Williams (1989), que sugerem
que o período mais perigoso para uma mulher que sofre agressão é durante os dois primeiros
anos após a separação, e com os estudos de Walker (1994) que observou que o temor de risco
de violência maior quando se rompe a relação é totalmente justificado, e este medo é um dos
(1994), mulheres que abandonam seus agressores têm um risco maior de serem assassinadas
cometida pelos parceiros conjugais. A verificação de que a ameaça foi o crime mais
denunciado pelas mulheres difere de outras pesquisas (SAFFIOTI, 1999; WILLIAMS, et.al.,
1999), embora confirme que a média anual de ameaças vem aumentando ao longo dos anos,
assim como vem diminuindo as agressões, lesões corporais e vias de fato, apesar de ainda
expressar e poderem buscar intervenções nas delegacias especializadas, o que pode estar
É importante notar que a ameaça é considerada violência emocional, uma vez que não há
agressão física direta. Outros tipos de violência, na esfera psicológica, como humilhações,
Hipotetiza-se, diante disso, que existe um aumento na severidade das ameaças, e em razão a
isso sugere-se que o abuso não físico, especificamente a ameaça que aterroriza a vítima,
receba crescente atenção por parte dos pesquisadores e das autoridades das delegacias
especializadas. Ressalta-se ainda, que vários estudos indicam que o abuso emocional
acolhimento para que a mulher, que sofre violência, possa expressar suas angústias que não se
psicológico nas delegacias deve-se ao fato de que ouvir a demanda dessas mulheres é algo
o agressor, conforme verificado na segunda fase da pesquisa. O momento pelo qual a mulher
situação, exige, portanto, uma intervenção imediata ao exato momento de sua necessidade. A
situação da mulher deveria ser focada não apenas pelo prisma jurídico, deve se procurar
entender, por exemplo, o que exatamente a motiva a procurar ajuda? O que ela está buscando
naquele momento? Ser ouvida atenta e profundamente é fundamental, razão pela qual é
Além disso, nos casos de violência conjugal, não basta apenas a lei, porque a lei muitas
vezes é de uma impotência total frente à situação vivida pelas mulheres. Para que as mulheres
sejam bem sucedidas nas suas buscas de ajuda e intervenção às quais recorrem, é necessária a
Diferentes ciências e abordagens em psicologia têm algo a dizer sobre essa problemática,
dentre elas, a psicanálise, que considera que somos resultado de uma complexa interação entre
os impulsos sexuais e agressivos e as defesas que, desde a infância construímos para contê-
los, por meio do superego. Nesse sentido poderíamos dizer que a violência é provocada por
uma falta de distância entre os impulsos e os atos, como pode ser visto nas agressões dos
cônjuges em relação às suas parceiras, bem como na recusa em refletir sobre o que realmente
motiva as próprias ações e na atribuição aos outros, pais, parceiros íntimos, muitas vezes
indevida, da culpa pelos problemas vividos. A psicanálise afirma que a culpa não é sempre
dos outros, uma vez que sua atenção é focada na singularidade, e propõe um caminho de
medida que a pessoa lança mão de artifícios engenhosos para não reconhecê-la.
negação exime responsabilidade e culpa. Para Costa (1986), o maior prejuízo para indivíduos
(p.53).
De acordo com esse autor, tenta-se explicar a violência para exorcizar o terror, porque,
quando ela é explicada deixa de existir como coisa primeira: é só conseqüência de uma outra,
252
que a provocou (p.45). A explicação tem como função garantir que, em suas bases o mundo
está em ordem.
Há, entretanto, outras leituras para o fenômeno em questão, o que nos interessa mais de
suscitadas, por exemplo, no agredido. Dentre as teorias oriundas da Psicologia Social, foram
oferecem para as causas dos eventos de que são participantes, ou como atores ou como
expectadores.
motivação da pessoa que o causou. A necessidade de buscar uma causa para o comportamento
de outrem faz parte de uma tendência humana de ir além da informação disponível. Tais
deduções são chamadas de atribuições causais, que é o processo pelo qual as pessoas usam de
vários tipos de informações para realizar inferências a respeito das causas de determinados
às causas reais do comportamento de uma pessoa do que às inferências que o observador faz
acerca dessas causas (DELA COLETA, 1982). Portanto, a teoria da atribuição lida com
causas percebidas da situação, não com causas reais. Assim, as interpretações causais podem
O estudo dos mecanismos utilizados pelas pessoas para explicarem suas próprias condutas
e ações, e a dos outros, assume particular relevância no contexto, pelo poder exploratório que
253
tornam-se, assim, ferramentas poderosas para a compreensão das reações frente à violência e
individuais.
Fundamentado nas proposições de Weiner (1972, 1986, 1995) e nos estudos de Sillars
mulheres que sofrem violência conjugal relativa à primeira agressão sofrida e à última que
motivou a formalização de um processo penal (TCO), como uma explicação para sua
Assim, em relação à segunda fase, o principal enfoque desse estudo buscou compreender
conjugal violento.
Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia, para dar queixa dos parceiros íntimos
católicas, não praticantes, que possuem o primeiro grau incompleto, e se declararam do lar,
intimidação e abuso verbal, sendo estas uma rotina na convivência do casal. As causas da
violência sofrida relatadas pelas mulheres são devidas aos ciúmes, ao fato de ele ter
problemas psicológicos, usar álcool, de ele ter amante, da combinação ciúmes e bebida, de ela
rejeitá-lo sexualmente, de ele não aceitar a separação, por provocação dela e por ele rejeitá-la.
das mulheres foram também qualificadas sob o prisma de outras dimensões conceituais
Dado que as atribuições utilizadas pelas mulheres para explicarem a violência do cônjuge
atribuição.
Com relação aos dados referentes às dimensões causais acima referidas, observou-se, no
explicarem a primeira agressão do parceiro. Neste sentido, pode se dizer que a causa interna
para a primeira agressão. Por outro lado neste primeiro momento, a causa interna estável foi
irrelevante para explicar a violência. As mulheres num primeiro momento não conseguem
imaginar que o parceiro seja fundamentalmente destruidor. Elas tentam encontrar explicações
lógicas para desfazer aquilo que não podem perceber: ele é ciumento. Alimentam assim as
255
arrependa.
Já, quando se observa o resultado referente a estas duas dimensões em discussão, verifica-
se uma inversão nas atribuições relativas à última agressão, para a qual, as mulheres
explicada através da causa interna estável incontrolável atribuída ao parceiro, isto é, como
Sob a perspectiva da mulher que sofre agressão, isto poderia significar, num primeiro
estariam acreditando que poderiam modificar tal resultado. Conforme a perspectiva teórica de
Weiner (1986, 1995), a atribuição a causas instáveis faz com que o indivíduo acredite que
pode modificar o resultado no futuro. Diante disso é lícito concluir que estas mulheres podem
estar atribuindo a violência do parceiro à causa interna e instável como uma forma de se
sofrida, pode-se admitir que de alguma forma as mulheres levam muito tempo para
mulheres uma esperança de solução, e especificamente, sua atribuição guia a maneira pela
A análise das reações das mulheres que atribuíram causa interna instável e controlável
para a primeira agressão, mostrou que estas procuraram conversar com o parceiro, ou
simplesmente não apresentaram nenhuma reação, acreditavam que a agressão era apenas uma
Os motivos alegados pelas mulheres para permanecer na relação foram em primeiro lugar
o amor, seguido pela esperança de ele mudar, os filhos, os aspectos econômicos, algumas
pena do parceiro. Tudo isso permite à mulher perpetuar a crença de controle da violência que
se ajusta à sua necessidade de equilíbrio, e interfere por um longo período nas interpretações
relação, Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985), encontraram que as mulheres mais
No que diz respeito ao julgamento de culpa da violência, tanto para a primeira quanto para
a última agressão, evidencia-se que as mulheres não viam a si mesmas como merecedoras,
parceiro estão relacionadas entre si e este resultado é evidente tanto na primeira, quanto na
última agressão. Estas relações são demonstradas pela análise de variância e pelas correlações
encontradas.
intencionalmente causado pelo parceiro, podendo ser classificado, portanto, como dentro da
Tais dados são consistentes com os resultados de estudos anteriores (CANTOS; NEIDIG;
O LEARY, 1993), que explicam que mulheres agredidas tendem a designar menos culpa a si
mesmas e mais aos maridos, tanto para o primeiro quanto para o ultimo episódios de
violência, e a ver as causas do abuso como estáveis se tiverem sido mais severamente
feridas.Também são condizentes com a tendência geral de atribuir coisas boas a si mesma e
coisas ruins a fatores externos (HEIDER, 1970; FRIEZE; WEINER, 1971) e, conforme
Além disso, a tendência de culpar os outros se caracteriza pelo fato de as pessoas darem a
afirmações de Weiner (1972). Da mesma forma, de acordo com Sillars (1981), existe uma
do próprio comportamento.
Diante destes aspectos, a questão que se coloca é se a violência poderia ser também
parceiro, isto é, a violência poderia ser fruto daquilo que um desperta no outro, podendo-se
argumentar que as mulheres também poderiam provocar reações hostis e negativas e que suas
próprio efeito que ela tem no parceiro. Esse argumento parece plausível, uma vez que
258
geralmente os aspectos essenciais da relação são determinados pela suposição que se tem a
respeito das condições e das percepções da outra pessoa. De acordo com Heider (1970) uma
pessoa não apenas reage ao que a outra pessoa faz, mas reage ao que pensa que a outra
percebe, sente e pensa. Além disso, Sillars (1981) sugere que os parceiros falham em perceber
a causalidade mútua dos conflitos no relacionamento, uma vez que esse tipo de relação
Por outro lado, uma vez que a maioria das mulheres atribuiu causas internas à violência do
parceiro, para a primeira e última agressão, sugerindo, por sua vez, que a essência da
violência conjugal tem sua origem nas características pessoais do parceiro, isto é, a algo
inerente a ele mesmo, questiona-se: os parceiros agressores são indivíduos com características
pessoais que apresentam alta predisposição à agressão? Será que eles agridem,
hostilidade em parceiros agressores através, por exemplo, de medida por escalas auto-
caracterizada pela angústia e pela tristeza, fica evidente que estes desvelam a situação de
com que a pessoa capta o fenômeno é atenuada (López-Ibor, 1969, apud SIERRA; ORTEGA;
os fatores cognitivos são muito reduzidos. Isto significa que, provavelmente, sequer, o
parceiro figure no sentimento. O único aspecto englobado no sentimento sem alvo é que algo
seja estancado.
O sentimento sem alvo ou não dirigido pode ser visto como simplesmente desviado de sua
direção original. Pode-se falar, então, que existe uma tensão geral para mudar algo, mas algo
indeterminado.
Dessa forma, os sentimentos sem alvo são carentes de objeto, e precisamente essa carência
é um nada contra o qual não cabe adotar uma atitude concreta de defesa nem de ataque, razão
pela qual as mulheres não dão queixa do parceiro, conforme ficou demonstrado através da
denunciar o agressor. Na primeira agressão mais mulheres com sentimentos dirigidos contra o
Atendo-se aos dados relativos aos sentimentos decorrentes da última agressão em que as
sentimentos contra o parceiro, caracterizados pela raiva, revolta, medo, rejeição e nojo que,
diferentemente dos sentimentos sem alvo, levou as mulheres a terem ações que buscassem
A maioria das mulheres que apresentaram sentimentos negativos contra o agressor, não
pretendem continuar vivendo com ele. Confirmou-se, portanto, a relação entre os sentimentos,
Foi também encontrada uma relação entre a direção dos sentimentos e as expectativas
manifestações afetivas das mulheres que sofrem violência conjugal. Atribuições internas
evidenciam, pode-se dizer, a expressão de um protesto contra o mesmo (raiva, por exemplo) e
maior intenção (teve propósito de agredir) foi relacionada com a percepção de que ele poderia
ter evitado, e a causa interna estável relacionou-se a expectativas negativas (risco de vida,
melhore, e com a esperança de que o parceiro se afaste, e medo que o parceiro continue
prejudicando.
a não dar queixa na Delegacia da Mulher e a maioria das mulheres adotaram estratégia de
consideram, num primeiro momento (atribuição interna instável controlável), que o processo
de violência poderia ser estancado, caso elas buscassem conversar com ele ou simplesmente
não fizessem nada, o que as levaram a não denunciar o parceiro, enquanto que ao atribuir
causas internas estáveis à última agressão, as mesmas consideram que no futuro continuariam
a ser agredidas através de uma violência ainda mais severa, o que conseqüentemente, levou
situação vai piorar) e expectativas positivas de romper a relação (vida digna), relacionaram-se
expectativa da mulher é de que a situação da violência piore, enquanto que a não denúncia é
mulheres entrevistadas, romper uma relação tem o sentido de antes de tudo prever
expectativas de um futuro digno sem o parceiro. Parece que a confiança na melhora do futuro
pessoal, a crença de se estar caminhando para uma vida melhor, a crença na possibilidade de
relação. As mulheres que apresentam tais expectativas futuras compreendem que é preciso
caracterizado pela internalidade. Foi possível constatar modificação nas dimensões instável e
controlável, seguindo a grande distância para estável e incontrolável, nos sentimentos nas
Atribuições internas instáveis controláveis podem levar a sentimentos sem alvo, à esperança
Assim, através deste estudo pode-se verificar que o estímulo violência conjugal contra a
mulher que sofre a violência. Observou-se que as cognições determinam as respostas afetivas
sobre o comportamento violento do parceiro constituiu fator responsável pelo tipo de ação ou
intenção de ação da mulher. Dessa forma aceita-se a existência de uma relação entre a
expressa nas diferenças entre as atribuições causais relatadas para a primeira e última agressão
por mulheres que desejam permanecer no relacionamento e aquelas que irão romper,
distorcidos pelo atual momento vivido pelas mulheres. Todavia, tomados em conjunto, esses
influenciadas pelo momento atual. As mulheres da amostra apresentaram, por exemplo, pouca
Isto se estende à habilidade delas em relatar as atribuições passadas, bem como as atuais com
facilidade.
263
futuros devem examinar violência conjugal e atribuições com diferentes intervalos entre
Outra tarefa para pesquisa futura é determinar o peso relativo das variáveis aqui estudadas
Além disso, este estudo enfocou somente as atribuições das mulheres em relação aos
anexado a intervenções terapêuticas, uma vez que os dados sugerem que as atribuições podem
ser significativas durante todo o relacionamento conjugal violento. Implícita nesta proposta
está a noção de que atribuições são um componente necessário mas, de maneira alguma
ALPERT, E. J. Violence in intimate relationships and the practicing internist: new disease" or
new agenda? Annals of Internal Medicine, Philadelphia, v. 123, n. 10, p. 37 746, 1995.
ANDERSON, C. A. Effects of violent movies and trait irritability on hostile feelings and
aggressive thoughts. Aggressive Behavior, New York, v. 23, p.161-78, 1997.
________. Imagination and expectation: the effect of imagining behavioral scripts on personal
intentions. Journal of Personality and Social Psychology, Arlington, v. 45, n. 2, p. 293
305, 1983.
ANDERSON, C. A.; DILL, K. E. Video games and aggressive thoughts, feelings, and
behavior in the laboratory and in life. Journal of Personality and Social Psychology,
Arlington, v. 78, p. 772-90, 2000.
ANDERSON C. A.; GODFREY S. S. Througts about actions: the effects of specificity and
availability of imagined behavioral scripts on expectatives about oneself and others. Social
Cognitions, New York, v. 5, n. 3, p. 238-258, 1987.
ANDERSON C. A. et al. The interactive relations between trait hostility, pain, and aggressive
thoughts. Agressive Behavior, New York, v. 24, p. 161 171, 1998.
BANDEIRA, L. O que faz da vítima, vítima? In: OLIVEIRA, D.D., GERALDES E.C. ; R.B.
LIMA (Orgs.). Primavera já partiu: retrato dos homicídios femininos no Brasil. Petrópolis:
Vozes, 1998. p.53-95.
BARON, R. A. Aggression as a function of victim s pain cues, level of prior anger arousal,
and exposure to an aggressive model. Journal of Personality and Social Psychology,
Arlington, v. 2, p.117-124, 1974.
________. Social and personal determinants of workplace aggression: evidence for the impact
of perceived injustice and the type a behavior pattern. Aggressive Behavior, New York,
v.25, p. 281-296, 1999.
BARON, R. A.; RICHARDSON, D. R. Human aggression. 2nd. ed. New York: Plenum,.
1994.
________. Pain and aggression: some findings and implications. Motivation Emotion, New
York, v. 17, p. 277 293, 1993a.
________ . Aggression: its causes, consequences, and control. New York: McGraw-Hill,
1993b.
BROWNE, A. Assault and homicide at home: When battered women kill. In: L. SAXE, L.;
SAKS, M. J. (Eds.). Advances in applied social psychology. Hillsdale: Lawrence Erlbaum,
1986. v. 3, p. 57-79.
BUSHMAN, B. J.; ANDERSON C. A. Is it time to pull the plug on the hostile versus
instrumental aggression dichotomy? Psychological Review, Washington, v. 108, p. 273
279, 2001.
CAMARGO, M. Violência e saúde: ampliando políticas públicas. Jornal da Rede Saúde, 22,
p.6-8, 2000.
CAMPBELL, J. O poder do mito. Tradução de Carlos Felipe Miosés. São Paulo: Palas
Athena, 1990.
CANTOS, A. L.,; NEIDIG, P. H.; O LEARY, K. D. Men and women s attributions of blame
for domestic violence. Journal of Family Violence, v. 8, n. 4, p. 289-302, Dec. 1993.
CAPEZ, F. Direito penal. Parte especial: apostila do curso do professor Damásio. 6. ed. São
Paulo: Paloma, 2003.
DOLLARD, J. et al. Frustration and aggression. New Haven: Yale University, 1939.
EIBL-EIBESFELDT, I. Love and hate: the natural history oh behavior patterns. New York:
Schocken, 1974.
EISIKOVITS Z.; BUCHBINDER, E.; MOR, M. What it was it won't be anymore: Reaching
the turning point in coping with intimate violence. Affilia, Thousand Oaks, v. 13, p. 411-434,
1998.
FEDERAL BUREAU INVESTIGATION 1951 1999. Uniform crime reports for the
United States. Washington, DC, 1999.
FREUD, S. Além do princípio do prazer (1920). In: ______ . Edição standard brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Comentários e notas de James Strachey;
em colaboração com Anna Freud; assistido por Alix Strachey: Alan Tyson, direção de Jayme
Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1987a. v. 28.
________. O Futuro de uma ilusão (1927). In: ______ . Edição standard brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Comentários e notas de James Strachey;
271
em colaboração com Anna Freud; assistido por Alix Strachey: Alan Tyson, direção de Jayme
Salomão.Rio de Janeiro: Imago, 1987b. v. 20.
________. O mal estar na civilização (1930). In: ______ . Edição standard brasileira das
obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Comentários e notas de James Strachey;
em colaboração com Anna Freud; assistido por Alix Strachey: Alan Tyson, direção de Jayme
Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1987c. v. 20.
________ .Porque a guerra (1914). In: ______ . Edição standard brasileira das obras
psicológicas completas de Sigmund Freud. Comentários e notas de James Strachey; em
colaboração com Anna Freud; assistido por Alix Strachey: Alan Tyson, direção de Jayme
Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1987e. v.23.
FRIEZE, I. Children s attributions for success and failure. In: BREHM, S.; KASSIN, S.;
GIBBONS, F. (Eds.). Developmental social psychology: theory and research. New York,
Oxford University , 1981.
FRIEZE, I. H.; WEINER, B. Cue utilization and attributional judgments for success and
failure. Journal of Personality, Durham, v. 39, p. 591-606, 1971.
GAY, P. Freud: uma vida para o nosso tempo. Tradução de Denise Bottman. São Paulo:
Companhia das Letras, 1989.
GEARY, D. C. et al. Sexual jealousy as a facultative trait: evidence from the pattern of sex
differences in adults from China and the United States. Ethology and Sociobiology,
Amsterdam, v. 16, p. 355-383, 1995.
GELLES, R. J. Abused wives: why do they stay? Journal of Marriage and the Family,
Menasha, v. 38, n. 4, p. 659-668,1976.
________. Evaluation program for men who batter: problems and prospects. Journal of
Family Violence, v. 2, p. 95-108, 1987.
GOODMAN, L. et al. Male violence against women: current research and future directions.
American Psychologist, Washington, v. 48, p. 1054-1087, 1993.
272
GRANT, J.P. (Org.). O pior dos abusos: a violência contra a mulher. Situação mundial da
infância. Brasília: Unicef. 1995.
GREENE, L.; SHARMAN-BURKE, J. Uma viagem através dos mitos: o significado dos
mitos como um guia para a vida. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
GREGORI, M.F. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática
feminista. Rio De Janeiro: Paz e Terra, 1993.
HEIDER, F. Psicologia das relações interpessoais. Tradução de Mario Tabarim. São Paulo:
Pioneira: 1970.
HEISE, L. Gender-based abuse: the global epidemic. Caderno de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 10, n. 1, p.135 145, 1994. Suplemento.
HOLAHAN, C.; MOSS, R.; SCHAEFER, J. Coping, Stress Ressistance, and Growth:
Conceptualizing Adaptative Functioning . HANDBOOK OF COPING. Compilado por
ZEIDNER, M.; ENDLER, N. New York- USA. Wiley Jhon & Sons, INC. 1996.
HUESMANN, L. R. The role of social information processing and cognitive schema in the
acquisition and maintenance of habitual aggressive behavior. In: GEEN, R. G. ;
DONNERSTEIN, E. Human aggression: theories, research and implications for policy. New
York: Academic , 1998. p. 73 109.
273
HYDEN, M. Woman battering as a marital act: Interviewing and analysis in context. In:
RIESSMAN, C. K. (Ed.). Qualitative studies in social work research Newbury Park: Sage,
1994. p. 95-111.
JONES, R. K. Female victim perceptions of the causes of male spouse abuse. Sociological
Inquiry, Austin, v. 63, n. 3, p. 351-361, 1993.
LAZARUS, R. & FOLKMAN, S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer, 1984.
LORENZ, K. A Agressão: uma história natural do mal. Tradução de Maria Isabel Tamen.
São Paulo: Martins Fontes. 1973.
274
MALAMUTH, N. et al. Using the confluence model of sexual aggression to predict men's
conflict with women: a 10-year follow-up study. Journal of Personality and Social
Psychology, Arlington, v. 69, p. 353-369, 1995.
MARQUES, T. M.; PINTO JUNIOR, H. A relação entre violência contra a mulher e sua
história de vida. Texto & Contexto-Enfermagem, Florianópolis, v. 8, n. 2, p. 326-329
maio/ago. 1999.
MILLER, M. S. Feridas invisíveis. Tradução de Denise Maria Bolanho. São Paulo: Summus,
1999.
PATTERSON, G. R.; REID, J. B.; DISHION, T.J. Antisocial boys. Eugene: Castalia, 1992.
PEDERSEN, W.C.; GONZALES, C.; MILLER, N. The moderating effect of trivial triggering
provocation on displaced aggression. Journal of Personality and Social Psychology,
Arlington, v. 78, p. 913-927, 2000.
ROTH, D. L.; COLES, E. M. Battered Woman Syndrome: a conceptual analysis of its status
vis à vis DSM IV Mental Disorder. Medicine and Law, Tel Aviv, v.14, p 641-658, 1995.
276
SÃO PAULO. Governo do Estado de São Paulo. Conselho Estadual da Condição Feminina,
Alguns homens conseguem marcar a vida de uma mulher: um problema de todos e de
todas.
SAUL, L. J. The hostile mind: the sources and consequences of rage and hate. Nova York:
Randon House, 1956.
SIERRA, J. C.; ORTEGA, V.; ZUBEIDAT I. Ansiedade, angustia y estrés: três conceptos a
diferenciar. Mal estar e subjetividade. Fortaleza, v. III, n. 1, p. 10-59, 2003.
SOMMERS, C. H. Who stole feminism? New York: Simon & Schuster, 1994.
STERNNBERG, K. J.; LAMB, M. E. Violent families in parenting and child developmeft. In:
AUTOR. Nontraditional families. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1999. p. 305-325.
STRAUS, M. A. Measuring intrafamily conflict and violence: the conflict tactcs (CT) scales.
Journal of Marriage and the Family, Menasha, v. 41, p. 75-88, 1979.
________. Physical assaults by wives: a major social problem. In: GELLES, R. J.; LOESKE,
D. R. (Eds). Current controversies on family violence. Newbury Park: Sage, 1993. p. 67-87.
________. Social stress and marital violence in a national sample of american families.
Annals of New York Academy of Science, v. 347, p. 229-250, 1980.
________. Physical violence in american families: risk factors and adaptations to violence
in 8,145 families. New Jersey: New Brunswick, 1990.
STRAUS, M. A. ; GELLES, R.. J. Societal change and change in family violence from 1975
to 1985 as revealed by two national surveys. Journal of Marriage and the Family,
Menasha, v. 48, p. 465-478, 1986.
278
TEDESCHI, J.T.; FELSON, R.B. Violence, aggression, and coercive actions. Washington,
DC: American Psychological Association, 1994.
TELES, M. A. A.; MELO, M. O que é violência contra a mulher. São Paulo: Brasiliense,
2002 . ( Primeiros passos).
TRUNINGER, E. Marital violence: the legal solutions. Hastimgs Law Journal, v. 23, p.
259-276, Nov. 1971.
WALKER, L. E. The battered woman. New York: Harper & Row. 1979.
WALKER, L. E., Psychology and domestic violence around the world. American
Psychologist , Washington, v. 54, n. 1, p. 21-29, 1999.
________. The abused woman: a survivor therapy approach . New York. Newbridge
Communications, 1994.
WATSON, D.; CLARK, L.A. Development and validation of brief measures of positive and
negative affect: The PANAS Scales. Journal of Personality and Social Psychology.
Arlington , v. 54, p. 1063-1070, 1988.
279
WEINER, B.; RUSSELL, D.; LERMAN, D. Afectives consequences of casual ascription. In:
HARVEY, J. H.; ICKES, W. J.; KIDD, R. F.(Eds.). New directions in attribution research.
New York: Lawrence Eribaum, 1978. v. 2.
WEINER, B. et al. Perceiving the causes of success and failure. In: JONES, E. E. et al. (Eds.).
Atribution: perceiving the causes of behavior. New Jersey: General Learning, 1972.
YENTZEN, J. et al. Destructive hostility: the Jeffrey Dahmer Case (A psychitric and forensic
study of a serial Killer). American Journal of Forensic Medicine and Pathology, New
York, v.15, n. 4, p. 283-294, 1994.
ANEXO A
caso Bairro Idade Profissão Idade do Profissão Tipo de Queixa Descrição da Incidência Número da Data da
residencial da da mulher parceiro do relação violência Penal ocorrência ocorrência
mulher parceiro vítima / BO TCO BO
autor
1
2
3
4
n
282
ANEXO B
5. Bairro: __________________________
7. Escolaridade:
8. Profissão: __________________________
9. Composição Familiar
Idade Escolaridade Profissão Trabalho atual
PARCEIRO
FILHOS Sexo
1.
2.
3.
4.
5.
6.
10. Salário
a. Renda pessoal (apenas da mulher)____________________________
b. Renda familiar (de todos, inclusive da mulher)__________________
( ) desrespeito
( ) punições exageradas
( ) tenta te convencer de que você é louca
( ) utiliza palavras de baixo calão para referir-se a você (te xinga)
( ) aumenta seus erros
( ) inventa erros que você não cometeu
( ) oferece a você apenas alimento suficiente para sua sobrevivência
( ) não deixa você dormir o suficiente, te acorda durante a noite
( ) não permite que você conviva com seus familiares
( ) não permite que você tenha convívio social
( ) te proíbe de ter emprego
( ) te proíbe de estudar
( ) às vezes é violento, às vezes é bondoso, isto é, altera fúria com proteção
( ) faz ameaça de te espancar
( ) faz ameaça de te matar
( ) faz ameaça de tirar seus filhos de você
( ) xinga os filhos para te atingir
( ) bate nos filhos para te atingir
( ) te tranca dentro de casa
( ) te tranca fora de casa
( ) te pressiona a confessar algo que você não fez
( ) se nega a conversar, ao ver que você espera que ele comente algo com você
( ) quebra utensílios domésticos
( ) quebra móveis
( ) rasga suas roupas
( ) rasga seus documentos pessoais
( ) rasga suas fotos, recordações, objetos pessoais
( ) outros. Quais? _______________________________________________
( ) não dá dinheiro
( ) usa seu dinheiro
( ) gasta o dinheiro fora de casa
( ) ameaça ir embora e não te ajudar financeiramente
( ) esconde o dinheiro
285
1.Qual foi a primeira vez que seu companheiro te agrediu? O que aconteceu?
2. Por que você acha que ele fez isso (agressão) da primeira vez?
Causa Principal?__________________________________________________________
4. Naquela época você achava que era capaz de mudar isso, de controlar a agressão?
5. Naquela hora, você achou que ele teve intenção de te agredir, ele fez de propósito?
Sem intenção Fez de propósito
1 2 3 4 5
6. Você achou que, se ele quisesse, poderia ter se controlado e não agredido? Ou era
impossível ele se controlar naquela hora?
7. Depois que ele te agrediu daquela vez, como você se sentiu ? Quais foram os sentimentos?
( ) raiva ( ) calma
( ) pena ( ) tristeza
( ) medo ( )depressão
( ) revolta ( ) ambivalência (às vezes pena, às vezes
( ) culpa raiva)
( ) ansiedade ( ) rejeição
( ) angustia ( ) às vezes você acha que ele está certo -
( ) ódio aprova
( ) mágoa ( ) nojo
12. Por que você continuou com ele? Por que permaneceu na relação?
287
1. Por que você decidiu procurar ajuda da Delegacia da Mulher, neste momento?
2. Por que você acha que ele fez isso? Por que ele te agrediu? Qual foi a causa?
4. E agora, você acha que é capaz de mudar isso? Sente-se capaz de controlar a causa das
agressões?
5. Você acha que desta vez ele teve intenção de te agredir, ele fez de propósito?
1 2 3 4 5
6. Você acha que, se ele quisesse, poderia ter se controlado e não agredido? Ou era impossível
ele se controlar naquela hora? Quanto?
Não podia evitar _______________________________________ Podia ter evitado
1 2 3 4 5
Não podia se controlar Se quisesse, podia se controlar
288
( ) raiva ( ) calma
( ) pena ( ) tristeza
( ) medo ( )depressão
( ) revolta ( ) ambivalência (às vezes pena, às vezes
( ) culpa raiva)
( ) ansiedade ( ) rejeição
( ) angustia ( ) às vezes você acha que ele está certo /
( ) ódio aprova
( ) mágoa ( ) nojo
8. O que você espera que aconteça após ter dado queixa de seu parceiro?
10. E ele, você acha que ele tem a intenção de continuar com você, ou não?
11. O que você acha que vai acontecer se você deixar o seu companheiro?
12. E se você continuar com ele, o que você acha que vai acontecer?
ANEXO C
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Conselho Nacional de Saúde
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP
SUJEITOS DA PESQUISA
9. Número de sujeitos 10. Grupos Especiais : <18 anos ( ) Portador de Deficiência Mental ( ) Embrião /Feto ( ) Relação de Dependência
No Centro : Total: 30 (Estudantes , Militares, Presidiários, etc ) ( ) Outros ( x ) Não se aplica ( )
PESQUISADOR RESPONSÁVEL
11. Nome: TÂNIA MENDONÇA MARQUES
Termo de Compromisso: Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados
coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não. Aceito as responsabilidades pela condução científica do
projeto acima.
Data: 06/ 02/ 2004 ______________________________________
Assinatura
ANEXO D
_________________________________________
Assinatura da Mulher Participante da Pesquisa
291
ANEXO E
O que você espera que aconteça após ter dado queixa de seu parceiro?
2. Que ele mude o 2. Que pare de beber. Não suporto mais ele
comportamento, que bêbado./ 4. Que mude. Que Deus resolva isso 16
ele melhore dessa vez./8. Que ele mude, não me agrida mais,/
11.Que ele mude, mas, mudar ele ninguém dá 23,53%
conta./16. Ele diz que vai mudar se ele não
mudar vou ter que me separar./21. Ele tem três
processos. Que melhorasse./22. Que ele mude. Já
que eu tenho que ficar com ele pra não aturar a
minha família. A minha mãe não conversa
comigo./24. Que ele me conquiste como mulher
que case comigo, que melhore, que pare de
beber./26. Que ele possa mudar, ou piorar./30.
Acho que quando ele souber que eu vim aqui, ele
vai ficar triste e falar que gosta de mim. Espero
que ele mude o comportamento dele./35. Que ele
tente melhorar um pouco. Porque se eu não
tivesse dado queixa poderia ter acontecido coisa
pior./38. Que ele pare de me agredir. Que ele se
trate, se cuide./39. Que ele se acalme. Senão vai
virar uma tentação na minha casa. Ele vai até lá,
arrebenta portão, machuca e agride o meu
pai./49. Que possa melhorar. Que o casamento
acabe da melhor forma, amigavelmente./52.
Acho que ele vai arrumar advogado. Eu penso
que ele vai ficar manso e não vai me agredir
mais./66. Que ele me dê sossego, que não me
xingue e não me bata./
3. Que ele saia de 5. Entrar os papéis para separação e ele sair de
perto de mim casa./7. Sei que o sofrimento dele é pior que o 24
meu e é triste o problema dele eu sei que ele
também sofre, que ele faça o tratamento dele e 33,80%
arrume o canto dele. Eu vou separar, cansei./9.
Parece que eu ia sair dessa, que eu estava tirando
uma pedra de cima de mim. Quero poder entrar
na minha casa e pegar as minhas coisas, me
separar dele, e voltar para minha terra./12. Eu
não quero lembrar que ele existiu, eu detesto
ele./17. Eu quero paz./18. Eu quero que ele saía
da casa, e me deixe com a neta de 14 anos./20.
Que eles tirem ele da minha casa e me deixem
sossegada./23. Que ele pare de me ameaçar e vá
viver a vida dele./25. Penso porque deixei
acontecer isso tudo. Porque não andei pra frente.
Que ele me deixe e vá viver a vida dele e não
perturbe a minha. Se bem, que ele sempre viveu a
dele. Ele não tinha hora de chegar e de sair./27.
Porque a minha amiga falou: - Se ficar o bicho
pega, se correr o bicho come. Eu quero sair da
casa./29. Que vocês tirem ele de perto de
293
O que você acha que vai acontecer se você deixar o seu companheiro?
O que você acha que vai acontecer se você continuar com ele?
FICHA CATALOGRÁFICA