014 - Tania Mendonca Marques - Permanencia de Mulheres em Relacionamento Abusivo

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Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de Psicologia
Programa de Pós-Graduação em Psicologia - Mestrado

VIOLÊNCIA CONJUGAL:

ESTUDO SOBRE A PERMANÊNCIA DA MULHER EM


RELACIONAMENTOS ABUSIVOS

TÂNIA MENDONÇA MARQUES

Uberlândia
2005
TÂNIA MENDONÇA MARQUES

VIOLÊNCIA CONJUGAL:

ESTUDO SOBRE A PERMANÊNCIA DA MULHER EM


RELACIONAMENTOS ABUSIVOS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós


Graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Psicologia.

Área de concentração: Psicologia Social e do


Trabalho.

Orientadora: Dra. Marília Ferreira Dela Coleta.

Uberlândia
2005
Tânia Mendonça Marques

Violência conjugal: estudo sobre a permanência da mulher em relacionamentos


abusivos.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós


Graduação em Psicologia da Universidade Federal
de Uberlândia, como requisito para obtenção do
título de Mestre em Psicologia.

Área de concentração: Psicologia Social e do


Trabalho.

Banca Examinadora:

Uberlândia, 31 de março de 2005.

___________________________________________________
Prof. Drª Maria Alice Magalhães D Amorim URFJ

____________________________________________________
Prof. Dr. Antônio Wilson Pagotti - UNITRI

___________________________________________________
Prof. Drª Marília Ferreira Dela Coleta - UFU
AGRADECIMENTOS

Ao Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia, pela oportunidade e apoio


à minha capacitação, em especial à prof. Drª Maria do Carmo Fernandez Martins, que
estimulou e valorizou minhas iniciativas como pesquisadora, e por ser a primeira
coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de
Uberlândia.

À Professora Drª Marília Dela Coleta, minha gratidão, por sua disponibilidade, interesse e
orientações, muito acima e além do dever.

A todos os funcionários da Delegacia Adida ao Juizado Especial Criminal, particularmente à


Delegada Drª Karine A. M. C. Oliveira, pela amizade e apoio oferecido durante todo o
período de realização deste trabalho, especialmente nas etapas de entendimentos institucionais
e ao escrivão Marcelo, ponto de apoio sempre disponível.

Aos professores Drª Renata Ferrarez Fernandes Lopes e Dr. Sinésio Gomide Junior, membros
da banca do Exame de Qualificação, pelo incentivo e valiosos comentários e sugestões
apresentados.

À Ludimilla de Sousa Chaves e Rafaela Arantes Marengo pela inestimável ajuda na fase de
coleta de dados dos arquivos das instituições. Sem suas ajudas, ela dificilmente teria sido
realizada no período previsto.

Ao amigo Frederico Augusto Queiroz pela sua disponibilidade imediata e valiosa colaboração
com seus conhecimentos e domínio da informática.

À Maria Inês Bachin que cooperou comigo nesta pesquisa do começo ao fim na procura de
inúmeros artigos, revisão bibliográfica, por estar sempre disponível, por oferecer
encorajamento e por seu grande coração.

À psicóloga Sonia de Toledo Cezar, amiga, conselheira, incentivadora de primeira hora, pela
valiosa e efetiva ajuda, através do envio de livros e material necessários a este trabalho de
Amarillo, Texas EUA.

Finalmente agradeço muito especialmente a várias mulheres que não podem ser mencionadas
por seu nome mulheres que me confidenciaram suas experiências, seus problemas e
dificuldades e cuja privacidade prometi proteger.
RESUMO

Este trabalho foi desenvolvido em duas fases. A primeira teve como objetivo caracterizar as
mulheres que sofrem violência conjugal e seus parceiros agressores e determinar a
prevalência das diferentes queixas, tipos de violência e incidência penal. Para cumprir a
primeira etapa, foi realizado um levantamento nos arquivos da Delegacia da Mulher Adida ao
Juizado Especial Criminal e do Juizado Especial Criminal de Uberlândia. Foram examinados
876 registros encontrados nos Boletins de Ocorrência (BO) no primeiro semestre de 2004, e
390 casos em andamento nos Termos Circunstanciados de Ocorrência (TCO), no período de
janeiro de 2003 a maio de 2004. A análise dos resultados demonstrou que a idade média das
mulheres foi de 30,8 anos e de 32,31, respectivamente para BO e TCO, sendo que entre
amásias e ex-amásias encontra-se a maior concentração de mulheres vítimas de violência
conjugal. As mulheres residem em diferentes bairros de Uberlândia e suas ocupações variam
de desempregadas e do lar até empresárias e profissionais liberais. A prevalência das queixas
nos TCOs foi fim de relacionamento, e nos BOs foi motivos fúteis, seguido por ausência de
motivos. A ameaça à integridade física foi o mais freqüente crime denunciado, tanto nos
registros dos BOs quanto nos registros dos TCOs, respectivamente denominados, descrição da
violência e incidência penal. As denúncias de violência conjugal ocorreram para casais cujo
relacionamento variaram de um mês até 40 anos de vida em comum. A maior incidência de
BOs ocorreu com uma periodicidade de sete dias, revelando especificamente alta taxa de
violência nos finais de semana. Observou-se uma maior prevalência de ameaças devido à não
aceitação do fim de relacionamento, o que evidencia que é altamente justificado o temor de se
romper uma relação conjugal violenta.
Na segunda fase da pesquisa, foram avaliadas as atribuições causais para o primeiro e o
último episódio de violência em uma amostragem de 71 mulheres que procuraram
espontaneamente a Delegacia da Mulher de Uberlândia para registrar queixa crime contra o
parceiro conjugal (TCO). A idade média das mulheres foi de 34,69 anos, com idade variando
entre 17 e 59 anos, sendo a maioria branca, oriunda de diferentes religiões, profissões e
bairros, e com filhos. A fase do namoro já revelava a problemática da violência para 31% das
mulheres. Ciúmes, nervosismo, agressividade, uso de álcool, desconfiança de ser traído por
ela e traição dele foram os fatores mais referidos como desencadeantes das agressões. As
agressões físicas e psicológicas são uma rotina vivida pelas mulheres. Todas as mulheres
entrevistadas conviviam com parceiros violentos. Para o estudo das causas percebidas pelas
mulheres para as agressões foi apresentado um modelo proposto por Weiner que prevê que
um estímulo provoca as cognições sobre suas causas, as cognições ou atribuições causais
determinam respostas afetivas e expectativas de meta, assim como os comportamentos
subseqüentes. Foi verificado se o foco da atribuição, sentimentos e expectativas estariam
relacionados com a intenção da mulher permanecer ou romper o relacionamento conjugal. A
metodologia utilizada permitiu às entrevistadas classificar as categorias de atribuição
conforme preconizadas por Weiner, e também categorizar seus sentimentos. As atribuições
causais foram classificadas pelas mulheres como internas para a primeira e última agressão,
caracterizando-se como instáveis e controláveis para a primeira e estáveis e incontroláveis
para a última. Além disso, as mulheres exibiram uma alta freqüência de culpa do parceiro por
ambos os episódios de violência. As mulheres que atribuíram causas internas estáveis à
violência do parceiro, que manifestaram sentimentos contra o parceiro, que apresentaram
expectativas de que a situação ficaria pior caso permanecessem na relação, demonstrando
perceber intenções negativas no parceiro e, expectativas de vida digna se deixar o parceiro,
relataram ter intenção de romper o relacionamento. Os resultados sugerem que as mulheres
têm particular dificuldade em romper o relacionamento quando atribuem causas internas
instáveis e controláveis ao parceiro e mostram maior facilidade quando atribuem causas
internas estáveis incontroláveis à violência cometida pelo parceiro conjugal. Esses resultados
dão suporte aos modelos psicossociais que postulam que atribuições estão relacionadas ao
comportamento e, particularmente, ao que foi proposto neste estudo.

Palavras chave: Violência conjugal, Mulher, Psicologia Social, Atribuição Causal.


ABSTRACT

This work was developed in two phases. The first aimed to characterize women who suffer
abuse from their husbands/partners and determine the prevalence of the different complaints,
types of violence and penal incidence. To achieve the first phase, a survey of the files at the
Women s Police Station Attaché to the Special Criminal Judgeship and the Special Criminal
Judgeship of Uberlândia was performed. Eight hundred and seventy-six Police Reports (PRs),
from the first semester of 2004 as well as three hundred and ninety cases in progress in
Circumstanced Term Reports (CTRs) from January 2003 to May 2004 were examined.
Analysis revealed that the average age of the women was 30.8 years and 32.3 years for PRs
and CTRs, respectively. A higher concentration of violence was encountered in lovers and
former lovers who lived or had lived together with their partners. The women reside in
various neighborhoods in Uberlândia and their occupations varied from unemployed and
housewives to businesswomen and liberal professionals. The prevalence of complaints in the
CTRs was end of relationship, and in the PRs were futile motives, followed by lack of
motives. Threatening of physical integrity was the most frequent disclosed crime in the PRs as
well as in the CTRs. Accusations of violence committed by spouses occurred in couples
whose relationships varied from one month to forty years of living together. The greatest
incidence of PRs occurred within a periodicity of seven days and revealed a specifically
higher rate of violence on the weekends. A greater prevalence of threats due to non-
acceptance of ends of relationships was observed which makes it evident that the fear of
ending a violent relationship is justified.
In the second phase of the research, causal attributions of the first and last violent episodes
were evaluated in a sampling of seventy-one women who spontaneously sought out the
Women s Police Station of Uberlândia to press charges against partners (CTRs). The average
age of the women was de 34.69 years, varying from 17 to 59 years. The majority of the
women was white, had children and came from different religious, professional and
geographical backgrounds. The dating phases of these women revealed the problematic of
violence for 31% of them. Jealousy, angriness, aggressiveness, alcohol use, and suspicion of
being betrayed by female partner or the actual betrayal of the male partner were the factors
referred as to trigger the aggressions. Physical and psychological aggressions were routine for
the women. All of the women interviewed lived with their violent partners. For the study of
causes of the aggression perceived by the women, the model proposed by Weiner which
foresees that a stimulus provokes cognitions upon the causes of the stimulus and cognitions or
causal attributions determine affective responses and hopes of goals as well as subsequent
behaviors, was presented. It was verified if the focus of attribution, feelings and expectancies
would be related to the intention of the woman to remain or terminate the relationship. The
methodology used permitted the women interviewed to classify their attributions as proposed
by Weiner, and also categorize their feelings. Attributions of cause were classified by the
women as being internal for the first and last aggression characterized as unstable and
controllable for the first and stable and controllable for the last. Women also reported a high
frequency of partner s fault for both of the violent episodes. Women who reported stable
internal causes to partner s violence, who manifested feelings against their partners and who
presented expectancies that the situation would worsen if they remained in the relationship
revealing perceived negative intentions in their partners and hopes of dignifying lives if they
were to leave their them, reported intentions of ending their relationships. Results suggest that
women particularly have difficulty in terminating a relationship when they attribute unstable
and controllable internal causes to their partners and reveal greater facility when they attribute
stable and uncontrollable internal causes to the violence committed by the partner. These
results support psychosocial models, which assume that attributions are related to behavior
and particularly to the model proposed in this study.

Key-words: Marriage violence, Woman, Social Psychology, Causal Attribution.


LISTA DE TABELAS

1. Faixa etária das vítimas de violência conjugal, registrados nos Boletins de


Ocorrência e nos Termos Circunstanciado de Ocorrência........................................ 174

2. Tipo de relacionamento entre vítima e agressor de violência conjugal,


registrados em Boletins de Ocorrências e Termo Circunstanciado de Ocorrência.. 175

3. Faixa etária dos autores de violência conjugal registrado nos Boletins de


Ocorrência e no Termo Circunstanciado de Ocorrência........................................... 177

4. Principais tipos de queixas das vítimas de violência conjugal, registradas nos


Boletins de ocorrências e Termos Circunstanciado de Ocorrência........................... 178

5. Descrições de violência sofrida pelas mulheres registradas nos Boletins de


Ocorrência e registros de Incidência penal conforme Termo Circunstanciado de
Ocorrência relativos à violência conjugal................................................................. 181

6. Análise conjunta da relação autor/vítima e descrição da violência conjugal


conforme Boletins de Ocorrências registrados na Delegacia da Mulher de
Uberlândia................................................................................................................. 183

7. Análise conjunta da relação autor/vítima e incidência penal dos casos


registrados no Juizado Especial Criminal de Uberlândia, relativos à violência
conjugal..................................................................................................................... 184

8. Análise conjunta da relação autor/vítima e queixa relativa à violência conjugal.


Boletins de Ocorrências registrados na Delegacia da Mulher de Uberlândia........... 185

9. Análise conjunta da relação vítima/autor e tipo de queixa dos casos registrados


no Juizado de Uberlândia, relativos à violência conjugal......................................... 186

10. Análise conjunta da descrição da violência e da queixa relativa a violência


conjugal registrados nos Boletins de Ocorrências.................................................... 187

11. Análise conjunta da incidência penal e tipo de queixas dos casos registrados
no Juizado de Uberlândia, relativos à violência conjugal......................................... 188

12. Distribuição de idade das mulheres vítimas de violência conjugal,


entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 192

13. Distribuição do estado civil das mulheres vítimas de violência conjugal,


entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 193

14. Distribuição da religião das mulheres vítimas de violência conjugal,


entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 194

15. Distribuição por freqüência do nível de escolaridade das mulheres vítimas de


violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............... 194
16. Distribuição da faixa etária dos parceiros das mulheres vítimas de violência
conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................... 196

17. Escolaridade dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal,


entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 197

18. Número de filhos das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas


na Delegacia da Mulher de Uberlândia..................................................................... 198

19. Início das agressões sofridas por mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 200

20. Freqüência da violência sofrida pelas mulheres entrevistadas na Delegacia da


Mulher de Uberlândia............................................................................................... 200

21. Porcentagem de ocorrência das causas gerais da violência sofrida, relatadas


por mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher
de Uberlândia............................................................................................................ 201

22. Classificação das causas da violência dos parceiros, segundo as mulheres


entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................................... 202

23. Porcentagem de ocorrência dos tipos de agressão utilizada pelo parceiro, na


violência conjugal, conforme entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia................................................................................................................. 203

24. Porcentagem de ocorrência dos tipos de agressão psicológica utilizada pelo


parceiro, relatadas por mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia................................................................................................................. 205

25. Causas da primeira e da última agressão relatadas por mulheres entrevistadas


na Delegacia da Mulher de Uberlândia..................................................................... 207

26. Freqüência e porcentagem das dimensões causais, lócus e estabilidade


classificadas por mulheres vítimas de violência conjugal entrevistadas na
Delegacia da Mulher................................................................................................. 209

27. Média, desvio padrão e porcentagem das categorias causais de culpa na


primeira e última agressão, classificada pelas mulheres vítimas de violência
conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia............................... 212

28. Intencionalidade atribuída à agressão do parceiro relativa à primeira e última


agressão pelas mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia
da Mulher de Uberlândia........................................................................................... 215
29. Evitabilidade atribuída à agressão sofrida, relativa à primeira e última
agressão, segundo entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.... 215

30. Distribuição percentual dos sentimentos da vítima após a primeira e ultima


agressão.................................................................................................................... 216

31. Distribuição de freqüência e porcentagem do comportamento das mulheres


após a primeira agressão........................................................................................... 219

32. Distribuição de freqüência e porcentagem das dimensões básicas de


enfrentamento (coping) adotado pelas mulheres, após a primeira agressão............ 220

33. Distribuição de freqüência e porcentagem dos motivos de permanência no


relacionamento após a primeira agressão, conforme narrativa das mulheres
entrevistadas na Delegacia da Mulher....................................................................... 221

34. Expectativas após a queixa (TCO) às autoridades, conforme entrevistas


realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.................................................... 223

35. Intenção da mulher e do parceiro em continuar o relacionamento conjugal


após a última agressão, conforme percepção das mulheres entrevistadas na
Delegacia da Mulher de Uberlândia.......................................................................... 223

36. Expectativas das mulheres diante de sua permanência no relacionamento


conjugal após a última agressão................................................................................ 224

37. Expectativas da mulher diante da possibilidade de romper o relacionamento


conjugal..................................................................................................................... 225

38. Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de


análises de variância para cada tipo de causa atribuída à primeira agressão ........... 229

39. Coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de


intenção e de evitabilidade da primeira agressão...................................................... 230

40. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com o comportamento da


mulher após a primeira agressão............................................................................... 231

41. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com coping após a primeira
agressão..................................................................................................................... 232

42. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas sobre a


qualidade do relacionamento (positivas ou negativas) após a primeira agressão..... 232

43. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com a ação queixa, após a
primeira agressão...................................................................................................... 233
44. Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e reação de
coping, após a primeira agressão.............................................................................. 233

45. Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e denunciar


o parceiro após a primeira agressão.......................................................................... 234

46. Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de


análises de variância para cada tipo de causa atribuída à última agressão............... 237

47. Coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de


intenção e de evitabilidade da última agressão......................................................... 238

48. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com a intenção de continuar


com ele após a última agressão................................................................................. 239

49. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com as expectativas se


continuar com ele após a última agressão................................................................. 239

50. Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida para a última agressão com
expectativas após a queixa........................................................................................ 240

51. Re-análise com calculo da correção de Yates das freqüências cruzadas da


direção dos sentimentos com a intenção de continuar com ele após a última
agressão..................................................................................................................... 241

52. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se


continuar com o parceiro após a última agressão..................................................... 241

53. Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se


deixar o parceiro após a última agressão................................................................... 242

54. Freqüências cruzadas das expectativas se continuar com ele com a intenção de
continuar com ele após a última agressão................................................................. 243

55. Freqüências cruzadas das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de


continuar com ele após a última agressão................................................................. 243

56. Re-análise do cruzamento das expectativas se deixar o parceiro com a


intenção de continuar com ele após a última agressão.............................................. 244
SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ................................................................................... 09

RESUMO ....................................................................................................... 05

INTRODUÇÃO ............................................................................................. 16

1. AGRESSÃO HUMANA ............................................................................ 23

1.1 Agressão, violência e abuso: definições ................................................... 27

1.2 As razões da violência: explicações teóricas para a agressão humana ..... 37

1.2.1 Teorias clássicas da agressividade humana .......................................... 38

1.2.2 Teorias psico-sociais da agressão .......................................................... 51

1. 2. 3 Variáveis relacionadas ao comportamento agressivo ........................ 60

a) Fatores pessoais .......................................................................................... 61

b) Fatores situacionais .................................................................................... 64

c) Processos .................................................................................................... 66

2. VIOLÊNCIA CONJUGAL ........................................................................ 71

2.1 Dados epidemiológicos da violência conjugal no exterior e no Brasil .... 77

2.2 Formas de abuso e agressão ..................................................................... 84

2.1.1 Abuso emocional ............................................................................... 85

2.1.2 Abuso físico ....................................................................................... 91

2.1.3 Abuso sexual ...................................................................................... 92

2.1.4 Abuso econômico ............................................................................... 94

2.3 Causas da violência contra a mulher ....................................................... 96

2.3.1 Causas psicológicas ............................................................................... 96

2.3.2 Causas culturais ..................................................................................... 101

2.4 Porque a mulher permanece no relacionamento abusivo ....................... 108


3. ATRIBUIÇÃO DE CAUSALIDADE ....................................................... 124

3.1 Teoria da atribuição de causalidade e percepção ..................................... 124

3.2 Atribuição de causalidade e reações emocionais ..................................... 135

3.3 Atribuição de causalidade e reações ao conflito interpessoal ................. 137

3.4 Atribuição de causalidade e reações comportamentais: um modelo


integrativo ....................................................................................................... 141
3.5 Atribuição de causalidade e violência conjugal ....................................... 146

4. JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS ........................................................... 155

4.1 Justificativa .............................................................................................. 155

4.2 Objetivos .................................................................................................. 156

5. MÉTODO ................................................................................................... 159

5.1 Amostra .................................................................................................... 159

5.1.1 Primeira fase .......................................................................................... 159

5.1.2 Segunda fase ......................................................................................... 162

5.2 Instrumentos ............................................................................................. 163

5.2.1 Instrumento utilizado na primeira fase .................................................. 163

5.2.2 Instrumento utilizado na segunda fase .................................................. 163

5.3 Procedimentos .......................................................................................... 166

5.3.1 Procedimentos de coleta de dados na primeira fase .............................. 166

5.3.2 Procedimento de análise dos dados na primeira fase ............................ 167

5.3.3 Procedimento de coleta de dados na segunda fase ................................ 167

a) Validação semântica ................................................................................... 167

b) Entrevistas .................................................................................................. 168

5.3.4 Procedimento de análise dos dados na segunda fase ............................ 169


6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................... 171

6.1 Caracterização dos casos de violência conjugal registrados nos boletins


de ocorrência e termos circunstanciados de ocorrência.................................. 171
6.1.1 Caracterização da vítima ....................................................................... 172

6.1.2 Caracterização do autor ......................................................................... 176

6.1.3 Magnitude da violência conjugal........................................................... 177

6.1.4 Tipo de relação entre vítima e agressor, e sua associação à descrição


da violência..................................................................................................... 182
6.1.5 Tipo de queixa e descrição penal / incidência penal.............................. 186

6.1.6 Proporção de boletins de ocorrências com violência contra a mulher


no período de janeiro a junho de 2004............................................................ 188
6.2 Caracterização dos casos de violência conjugal, conforme entrevistas
realizadas......................................................................................................... 191
6.2.1 Descrição das participantes das entrevistas ........................................... 191

6.2.2 Descrição dos parceiros ......................................................................... 195

6.2.3 Descrição das características comuns ao casal ...................................... 198

6.2.4 Descrição da violência ........................................................................... 199

6.3 Análise das atribuições, sentimentos, expectativas e reações dos


sujeitos após a agressão ................................................................................. 207
6.3.1 Análise comparativa à primeira e à última agressão.............................. 207

6.3.2 Análise das relações entre as variáveis do estudo ................................ 226

a) Atribuições de causalidade, de culpa, de intenção e de evitabilidade da


primeira agressão ............................................................................................ 227
b) Relação entre atribuições, sentimentos, expectativas e ações decorrentes
da primeira agressão ...................................................................................... 230
c) Atribuições de causalidade, de controlabilidade, de culpa, de intenção e
de evitabilidade da última agressão ................................................................ 235
d) Relação entre atribuições de causalidade, sentimentos, expectativas e
ações decorrentes da última agressão.............................................................. 238
7. CONCLUSÕES ......................................................................................... 245

7. 1 Conclusões a respeito da primeira fase ................................................... 245

7. 2 Conclusões a respeito da segunda fase .................................................... 251

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 264

ANEXO A Ficha de registro para transcrição dos dados de boletins de


ocorrência ....................................................................................................... 281
ANEXO B Questionário sobre violência conjugal ...................................... 282

ANEXO C Consentimento da instituição para realização da pesquisa ....... 289

ANEXO D Termo de esclarecimento e consentimento ............................... 290

ANEXO E Exemplos de categorização ....................................................... 291


INTRODUÇÃO

A violência faz parte da humanidade e é um fenômeno de difícil manejo e solução e

está presente na vida da maioria das pessoas em graus maiores ou menores.

Um dos grandes problemas sociais atuais é a violência praticada em todos os níveis,

seja o criminoso para roubar, o estudante para vingar-se dos colegas que o humilharam ou o

pai de família que espanca e mata esposa e filhos.

Há uma presença constante da violência ao longo de toda a história. A Bíblia relata

vários assassinatos e tentativas de homicídios. A poesia, a dramaturgia e a mitologia contam

casos de guerras, crueldade, violência e morte causadas por seres humanos a seus

semelhantes. Da mesma forma, historicamente a violência conjugal é personagem importante

na literatura. Cônjuges e amantes conspiram, condenam e se executam mutuamente, e na

maioria das vezes permanecem juntos até que a morte os separe, como pode ser visto, por

exemplo, em Otelo de Shakespeare (1956, p.124) que falava dos ciúmes exagerados:

Desdêmona
Dia aziago, se nunca lhe dei motivo para tanto.
Emília
Para os ciumentos isso pouco importa,
pois eles não precisam de motivo
para terem ciúme. São ciumentos.
São porque são. É só. O ciúme é um monstro
que a si mesmo se gera e de si mesmo nasce.

A permanência em uma relação altamente conturbada também pode ser vista no retrato

mítico mais famoso de relacionamento afetivo, o de Zeus e Hera, clássicos rei e rainha dos

deuses na mitologia grega (GREENE; SHARMAN-BRUKE, 2001). Sua vida conjugal é um

catálogo de casos, temperados com ciúme, vingança e filhos ilegítimos, no entanto, de algum

modo seu casamento sobrevive. Depois de uma corte altamente romântica, Zeus casou-se com

Hera e parecia inebriado com ela. Entretanto, desde o início foi infiel à parceira, que se sentia
17

magoada e furiosamente enciumada. Os dois brigavam constantemente, e Zeus não via

problemas em de vez em quando bater em Hera para silenciar suas acusações e protestos.

Hera passava a maior parte do tempo sentindo-se ferida e rejeitada. Concentrava suas

energias na elaboração de planos astuciosos para humilhá-lo e se vingar. Por vezes isso

parecia dar sentido à sua vida, já que ela fazia pouca coisa, além disso. No entanto, mesmo

com todos esses percalços, o relacionamento dos dois continuava e a paixão entre eles

ressuscitava periodicamente.

Zeus era tão ciumento quanto Hera e se mostrava adepto da postura dois pesos duas

medidas . Até onde se sabe, é possível que os dois ainda estejam brigando e se reconciliando,

magoando, enganando e quem sabe, amando um ao outro.

Porque esses dois deuses tão poderosos, ambos perfeitamente capazes de se divorciar e

escolher um parceiro menos estressante, continuavam juntos?

Não há solução no casamento de Zeus e Hera. A menos que se descubra o segredo

desses deuses, continuaremos perplexos com os casamentos em que essas estripulias míticas

são postas em prática.

Os anos recentes trouxeram novas informações sobre a alta incidência de conflitos e

violência entre casais e este problema começou a receber atenção científica.

A violência conjugal, também denominada violência na relação do casal, tem se

apresentado como um grave problema social. Trata-se de um assunto permanente na mídia e

que tem se convertido em alvo de políticas públicas e iniciativas privadas. É um problema que

afeta o cotidiano das cidades do país e do mundo e perpassa todas as classes sociais, todos os

tempos e todos os lugares e que possui proporções epidêmicas e custo social elevado.

As pesquisas nos Estados Unidos indicam que a violência contra a parceira conjugal é a

primeira causa de lesões entre mulheres e isto provoca mais atendimentos médicos do que

estupro, acidente de carro e assalto combinados; a cada dia quatro mulheres são assassinadas
18

por seu companheiro ou ex-companheiro (SOARES, 1999) e a cada quinze segundos uma

mulher é vítima de agressão. Cerca de dois milhões de mulheres são, anualmente, vítimas de

agressões graves (STRAUS; GELLES ; STEINMETZ, 1980; STRAUS, 1993).

Aos danos físicos somam-se os psicológicos como perda de identidade, perda de auto-

estima, aniquilamento, depressão, medo, estresse, crises de angústia, insônia, dentre outros.

As conseqüências afetam não só a mulher, mas o casamento, os filhos e outros que

convivem e sofrem indiretamente com as agressões.

As formas típicas de violência contra a mulher são, segundo Soares (1999): abuso físico,

violência psicológica, abuso sexual e violência patrimonial.

A violência física diz respeito à ação ou omissão que coloca em risco ou causa dano à

integridade física de uma pessoa; a violência psicológica refere-se a ações ou omissões que

visam degradar, dominar, humilhar outra pessoa, controlando seus comportamentos, crenças e

decisões através de intimidações e ameaças que impedem ou prejudicam o exercício da

autodeterminação e desenvolvimento pessoal; a violência sexual inclui estupro, violação,

maus tratos e abuso sexual, entre outros. A violência patrimonial consiste em roubar ou

destruir objetos pessoais, maltratar animais domésticos, tomar dinheiro, negar necessidades

básicas como alimentação e vestuário (SOARES, 1999, p. 67). Por outro lado, existe

também a violência denominada assédio moral , divulgado pela primeira vez pela psiquiatra

e psicanalista francesa Hirigoyen (2002). Trata-se de uma tentativa de destruição psíquica ou

até física do outro, através de agressões sutis, não raramente bem sucedidas. Neste tipo de

agressão a mensagem não-dita é: Eu não te amo! , mas ela permanece oculta para que o

outro não vá embora e atua sobre ele de maneira indireta (HIRIGOYEN, 2002, p. 22). Além

disso, é comum que essas manifestações de violência ocorram de forma simultânea.

A reação natural de um indivíduo diante da ameaça, da possibilidade de ser agredido,

deveria ser evitar esta ocorrência. Entretanto, na situação conjugal observa-se a repetição
19

cíclica dos eventos de violência contra a mulher, evidenciando a continuidade do

relacionamento abusivo.

Estudos realizados entre 1993 e 1999, em sete países (Canadá, Bangladesh, Camboja,

Chile, Egito, Irlanda e Moldávia), demonstraram como reagiram as mulheres que sofreram

violência por seu parceiro conjugal. Estes estudos verificaram que poucas são as mulheres que

procuram ajuda das autoridades. A maioria busca ajuda junto à família ou amigas/os ou

silencia por medo de represálias, preocupação com os filhos, falta de apoio de pessoas

próximas e esperanças de que a situação de violência venha a ter um fim (DOSSIÊ violência

contra a mulher, 2004).

No Brasil, ainda não se conhece a incidência desse fenômeno, principalmente pela falta de

estudos sistemáticos que permitam sua compreensão global, com exceção de algumas

pesquisas isoladas (SOARES, 1999; SCHRAIBER; D OLIVEIRA, 1999; SAFIOTI;

ALMEIDA, 1995).

O drama da violência conjugal manifesta-se tanto nas relações entre cônjuges, ex-

cônjuges ou ex-parceiros, como também em outras relações afetivas incluindo noivos ou

namorados. Assim, é um tipo de violência que ocorre entre homens e mulheres que se amam

ou se amaram, ou que se relacionam ou se relacionaram na intimidade. Em geral o agressor

conhece bem os hábitos, os sentimentos e maneiras de agir e reagir de sua vítima, o que a

torna mais vulnerável aos seus ataques (TELES ; MELO, 2002). A maior prevalência de

violência entre o casal é praticada pelo homem contra a parceira, apesar de também ocorrerem

casos em que a mulher é a agressora do homem.

A expressão violência contra a mulher foi trazida à tona pelo movimento feminista, sendo

concebida inicialmente por ser praticada contra pessoa do sexo feminino, apenas e

simplesmente pela sua condição de mulher (TELES ; MELO, 2002).


20

Alpert (1995); Saffioti e Almeida (1995) identificam o caráter endêmico da violência

contra a mulher e se deparam com várias indagações: como realizar intervenções efetivas e

preventivas nessa área? Por que as intervenções não atingem o objetivo proposto? O que

mantém mulheres em relações conjugais violentas? O que faz com que as mulheres desistam

de levar adiante um processo de separação conjugal, ou mesmo uma denúncia de violência

doméstica?

Para Braghini (2000), conforme uma visão psicanalítica, as mulheres vítimas de violência

estão envolvidas em uma situação ambígua onde o amor e o ódio convivem lado a lado. Por

esta razão, elas não sabem se querem ficar com o companheiro ou não, sentindo-se

impossibilitadas de tomar uma decisão e de agir em consonância com a mesma. Estabelece-se,

desta maneira, uma união entre estas mulheres e seus maridos violentos em nome de um laço

simbólico difícil de ser desfeito. Elas, por um lado, não querem ser espancadas, e por outro,

não querem perder o companheiro ideal projetado nele, aquele que vai amá-la em qualquer

circunstância (BRAGHINI, 2000, p.49).

Para Soares (1999), romper o ciclo da violência é um processo prolongado e, por natureza,

cheio de hesitações. Supor que o ato da denúncia às autoridades seja um momento definitivo

desse processo é não conhecer o ciclo da violência. É ignorar a dinâmica das relações

abusivas. Portanto, permanece a questão: porque uma mulher dá continuidade a uma relação

violenta, mesmo depois de já ter constatado que o ciclo é repetitivo, que as promessas não se

cumprem e que as fases de lua-de-mel são invariavelmente sucedidas por outro período de

tensão e de explosão de violência?

Muitas são as abordagens para o estudo da agressão humana nas relações interpessoais,

entretanto ainda não foi possível o efetivo controle de suas manifestações. Faz-se necessária a

compreensão das variáveis preditoras do comportamento violento nas relações conjugais, bem

como uma análise do relacionamento violento sob o ponto de vista da vítima. Assim, este
21

estudo se propõe a abordar o problema com este último objetivo, buscando conhecer como se

dá a relação entre agressor do sexo masculino e agredido do sexo feminino, mais

especificamente como a mulher percebe seu relacionamento, quais suas expectativas na

relação com e sem o companheiro freqüentemente violento. Por que ela permanece como

vítima desta violência, sofre danos físicos e/ou psicológicos e não procura romper o ciclo da

agressão? Se ela tentou sem sucesso várias alternativas para resolver o problema, por que

continua em um relacionamento que outras pessoas evitariam naturalmente, até mesmo pela

própria preservação da integridade do organismo, por serem relações perigosas,

desconfortáveis ou perniciosas?

Assim, seria possível supor, conforme a Teoria da Atribuição Causal desenvolvida por

Heider (1970), especificamente conforme as categorias causais propostas por Weiner (1972),

que a permanência da mulher em um relacionamento violento está relacionada à causa por ela

mesma atribuída, ao comportamento do parceiro violento.

Dessa forma, fundamentada em uma perspectiva da psicologia social e tendo como base a

Teoria da Atribuição de Causalidade, a presente pesquisa foi proposta para compreender-se

melhor as atribuições causais pessoais ou impessoais ao comportamento violento do parceiro

na relação de casal e a permanência da parceira e continuidade do relacionamento abusivo,

segundo a percepção de mulheres que passaram por este tipo de vivência e que procuraram a

delegacia da mulher para dar queixa de seus parceiros. De modo complementar, investigou-se

algumas variáveis biográficas relacionadas com a ocorrência da violência conjugal, conforme

dados coletados nos Boletins de Ocorrência e nos Termos Circunstanciados de Ocorrência.

O conteúdo deste trabalho foi dividido em sete tópicos. No primeiro item intitulado

AGRESSÃO HUMANA procurou-se não perder de vista a explicação do fenômeno da

violência. Para tal, fez-se uma preliminar revisão teórica sobre as possibilidades geradoras de

agressividades e violências.
22

O segundo capítulo denominado VIOLÊNCIA CONJUGAL, refere-se ao problema da

violência conjugal, aos processos psicológicos que constituem o tópico de discussão, como a

mulher experimenta esta situação e as razões de sua permanência em relacionamentos

abusivos.

No capítulo três deste estudo: ATRIBUIÇÃO CAUSAL foram abordadas as principais

contribuições de Fritz Heider e de Weiner. Foram esclarecidos o conceito de explicação

causal e o modelo de investigação de atribuição de Weiner. Contemplaram-se brevemente

estudos sobre atribuição de causalidade no âmbito da violência conjugal.

No capítulo quatro: JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS, apresentou-se as justificativas, os

objetivos e hipóteses da presente investigação, bem como o modelo proposto nesse estudo.

No capítulo cinco: MÉTODO descreveu-se a amostra, os instrumentos e procedimentos

para coleta de dados, fazendo-se também uma exposição a respeito dos procedimentos usados

para análise de dados.

Os resultados da pesquisa foram descritos e interpretados no capítulo seis:

RESULTADOS E DISCUSSÃO.

O ultimo capítulo foi reservado para uma breve discussão sobre as CONCLUSÕES E

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES FINAIS a respeito dos dados obtidos com a pesquisa.

Entende-se que abordar os obstáculos presentes no rompimento de uma relação conjugal

violenta constitui um desafio.

Com os resultados desse estudo espera-se trazer maior conhecimento sobre a ocorrência

da violência conjugal e sobre a manutenção do relacionamento abusivo, e, assim, oferecer

subsídios a profissionais que trabalham com essa importante questão.


CAPÍTULO 1

AGRESSÃO HUMANA

Uma das problemáticas de fundo, a ser discutida antes da questão principal

permanência da mulher em relações conjugais violentas é a violência em seu sentido mais

amplo. Esta apresentação aponta como diferentes estudiosos explicam a violência e demonstra

a existência de implicações e complicações vinculadas ao entendimento desse fenômeno. Este

aparece diluído nas relações subjetivas e interpessoais no trânsito, na vida em família, na

criminalidade, na brutalidade das relações de trabalho, na pobreza, nas relações entre casais

que se acentuam na realidade de nossos tempos.

Para melhor compreender a violência, existe a necessidade de ultrapassar o limite das

justificativas econômicas, pois ela se apresenta em múltiplas formas, sem reducionismos ou

expansionismos. A violência apresenta um entrelaçamento de inúmeros fatores que são

concorrentes. A violência ultrapassa os limites dos padrões de comportamento esperados pela

ordem legal e social, e deixa para trás a idéia bastante difundida de que é um fenômeno que

tem origem na pobreza ou em países de terceiro mundo.

A questão da violência é um desafio que ganhou atualidade, e neste estudo, ganha um

relevante significado. Buscar inicialmente esclarecer o fenômeno da violência, destacando-se

as contribuições das teorias clássicas e das teorias ambientais, constituiu importante aporte à

compreensão da permanência da mulher em relacionamentos violentos, conforme poderá ser

visto, por exemplo, através das explicações teóricas relativas à percepção da vítima sobre a

intenção do agressor, dada principalmente pela Psicologia Social conforme Berkowitz (1993
24

a); Geen (2001); Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) e propiciou o reconhecimento das

causas, motivações e objetivos do agente violento; das características da ação violenta; do

efeito da violência para quem a sofre, bem como da própria definição da violência.

A violência não é um fenômeno novo, e sua complexidade remete um número cada vez

maior de cientistas a estudá-lo. A qualidade e a profundidade do trabalho científico nessa

área, contudo, pode-se assim dizer, encontram-se ainda em estágios iniciais. É difícil,

portanto, saber se há realmente um interesse profundo pela destrutividade básica do ser

humano normal, uma vez que, mesmo agora, os tratados sobre psicologia raramente incluem

uma descrição de como a personalidade normal inclui uma propensão para a destrutividade.

Desse modo, questiona-se porque as análises apresentam um caráter que nega a

problemática da violência. Charny (1998) sugere que existem duas razões básicas para isso,

conforme explicações abaixo.

A priori, o homem nega a realidade da violência interminável porque se sente impotente

para enfrentar o problema. Enquanto se julgar incapaz para limitar ou prevenir a violência, é

bom para sua estabilidade emocional não se tornar consciente demais da possibilidade, bem

real, de manifestações da mesma, sobre as quais virtualmente nada poderá fazer.

A posteriori, o homem nega também as realidades da violência porque não pode suportar

sua própria destrutividade desconhecida. Esquiva-se de seu próprio potencial de cometê-la e

de praticar atos destrutivos. A civilização ocidental acostumou-se a banir todos os impulsos e

energias que, de qualquer maneira, estejam comprometidos com a violência, ao reino do feio,

doentio, perturbado e imoral. Se se chega a reconhecer que há raízes de violência na natureza,

ela é considerada como os aspectos mais primitivos ou patológicos, e em absoluto como

aspectos necessários e desejáveis do ser.

Nesse sentido, para Charny (1998), o homem tenta, tanto quanto possível, afastar da

consciência seu potencial destrutivo. Mesmo quando enfrenta por algum motivo a necessidade
25

de reconhecer a perigosa destrutividade à sua volta, ele ainda procura isolar a realidade desses

fatos de qualquer reconhecimento dos impulsos violentos que identifica em sua personalidade.

Ao longo dos anos existem tentativas de formular explicações sobre a violência humana,

que em sua grande maioria ocorrem através da compreensão de como forças históricas,

políticas e econômicas se reúnem para legitimar a violência. Esta colocação não tem a

intenção de ignorar ou minimizar de qualquer maneira a importância desses processos sócio-

históricos. O problema é que, em si mesmos, esses eventos jamais explicam realmente o

fenômeno do homem agredir seu semelhante.

Por conseguinte, as Ciências Sociais carecem de uma linguagem que torne possível pensar

em como um ser humano, que não está clinicamente louco nem é moralmente pervertido,

pode tornar-se violento. Em suas raízes, a violência do homem constitui o resultado de

processos naturais, mas esses processos em si não são absolutamente idênticos aos atos

concretos de violência.

Circulam numerosas opiniões no sentido de que a violência é natural e instintiva no

homem, conforme pode ser visto em Freud (1930); Lorenz (1973). A conclusão mais

simplista tirada desse pensamento pela maioria, no entanto, foi a de que, se é normal para o

homem ser violento, então para ele não há esperança. A suposição equivocada que

desencadeia essa reação é a crença em que se alguma coisa é natural ao homem, ela tem que

ser sempre expressada em sua totalidade e não pode ser regulada. Poucos vêem a

possibilidade alternativa de que possa haver processos naturais que sirvam a fins inteiramente

sadios e que se transformarão em processos patológicos ou destrutivos apenas se não forem

regulados e liberados corretamente.

Segundo Charny (1998) a natureza introduz no ser humano tanto o sentimento natural de

querer destruir outros homens, quanto os desejos profundos de defender a vida e jamais

liberar o potencial de destrutividade.


26

A natureza coloca uma série de dilemas, paradoxos e contradições interligados. A razão

mais importante para as pessoas aceitarem a indicação de si mesmas como agressivas é

encontrada na doutrina do pecado original.

Campbel (1990), em O Poder do Mito, usa a linguagem alegórica - expressão típica dos

mitos -, a respeito da agressividade, alertando para a perda dos valores humanos, entre eles o

sentido de mundo, e a razão de existir. Para falar sobre essas questões, recorre à mitologia e a

história da criação do gênesis:

Gênesis 1: No início Deus criou os céus e a terra. A terra era sem


forma e vazia, e a escuridão vagava sobre a face do abismo. E o
espírito de Deus se moveu sobre a face das águas. E Deus disse:
Faça-se a luz , e a luz se fez. Então Deus criou o homem à sua
própria imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.
E Deus os abençoou e Deus lhes disse: Sede férteis e multiplicai-
vos .
Gênesis 2: Então o céu e a terra ficaram prontos e todos os seus
hóspedes. E no sétimo dia Deus terminou o trabalho que tinha
realizado...
Gênesis 1: E Deus viu tudo o que tinha feito e eis que tudo era bom
Mas o Gênesis continua: Vós comestes da árvore da qual ordenei que
não comêsseis? O homem disse: A mulher que me destes para estar
comigo, essa mulher me deu o fruto da árvore e eu comi . Então o
Senhor Deus disse à mulher: Que fizestes vós? E a mulher disse: A
serpente me enganou e eu comi .
Na tradição bíblica, a vida é corrupta e todo impulso natural é
pecaminoso, a menos que tenha havido o batismo. A serpente traz o
pecado ao mundo. A mulher oferece a maçã ao homem. A idéia da
mulher como pecadora aparece na mitologia de Pandora, mas este
mito não trata dos mesmos aspectos tratados no Gênesis. Na tradição
bíblica, a idéia é que a natureza, tal como a conhecemos, é corrupta,
o sexo em si é corrupto, e a fêmea, como epítome do sexo, é um ser
corruptor. (CAMPBEL, 1990, p.49).

Ao questionar porque o conhecimento do bem e do mal foi proibido a Adão e Eva,

Campbel (1990) responde, que sem esse conhecimento, seriamos todos um bando de bebês,

ainda no Éden, sem nenhuma participação na vida.

A milenar história religiosa cristã diz que os homens são concebidos no pecado, nascem

em pecado, vivem e, finalmente, morrem em pecado. A doutrina do pecado original é um dos


27

mais poderosos princípios relativos à perversidade do homem. Esta se caracteriza pela crença

de que a humanidade é pecadora e assim permanecerá por toda a eternidade, a não ser que

seja salva pelo batismo.

O estudo da violência e da agressividade é um empreendimento difícil e complexo,

envolvendo uma variedade de técnicas, métodos e modos de conceitualizar a natureza e o

comportamento humanos.

Para explorar alguns caminhos teóricos faz-se necessário, em primeiro lugar, definir

agressividade e violência, suportes para a compreensão da natureza das teorias da

agressividade, que levam o ser humano a agir de forma violenta.

Essas teorias manifestam-se claramente em duas esferas intelectuais. Uma diz respeito às

concepções sobre a natureza humana, isto é, sobre as propriedades pulsionais intrínsecas com

que os seres humanos vêm ao mundo. A segunda concerne às concepções sobre a sociedade e

seu papel na moldagem da condição do homem.

1.1 Agressão, violência e abuso: definições

Numerosos profissionais, incluindo os de Saúde Mental e Ciência Política, usam a palavra

agressão para se referir a intenções hostis. Muitos pensadores, entretanto, consideraram a

agressão como vitalidade e energia e usam diferentes palavras para descrever as aplicações da

agressão, de maneira construtiva ou destrutiva.

Para Johnson (1979) uma das dificuldades encontradas para o estudo da agressão é que os

seus proponentes tendem a se concentrar em sua própria disciplina e ignorar contribuições de

disciplinas vizinhas. Isto faz com que os resultados de cada análise sejam uma abundância de
28

amplas generalizações, supersimplificadas, tais como: a) a agressão é um instinto universal; b)

a agressão é um processo motivacional único subjacente; c) a agressão tem uma causa ou

antecedente, como a dor ou a frustração; d) toda agressão é má, etc. Esta amplitude de

teorizações sobre o comportamento agressivo é, ao mesmo tempo, uma indicação de

ignorância, como também de preocupação. Reconhece-se que contribuições importantes

podem provir de muitos campos, incluindo a Biologia, a Psicologia, a Antropologia, a

Sociologia e as Ciências Políticas. A natureza do problema exige uma abordagem

interdisciplinar, tanto na conceitualização como na pesquisa. Existem limitações ao tratar a

agressão como um conceito estreito e unitário. Ele é um conceito multifacetado. A agressão

pode ser aplicada a uma resposta específica como matar; pode ser usada para se referir a

estados emocionais e atitudinais como raiva ou ódio; pode ser concebida como um traço de

personalidade, um hábito aprendido, um processo biológico subjacente, etc. Além de tudo,

existe a definição usual do dicionário agressão: ação ou efeito de agredir; pancada,

bordoada, investida, ataque; provocação, hostilidade; ofensa; conduta caracterizada por intuito

destrutivo (FERREIRA, 1986) que se preocupa principalmente com o aspecto moral de um

ato. Violência, por sua vez é definida como qualidade de violento; ato violento; ato de

violentar; constrangimento físico ou moral; uso da força; coação.

A dificuldade de concordar com uma definição exata e precisa da agressão revela algo

sobre sua natureza, indicando que não se está lidando com um processo unitário. Por um lado,

qualquer definição estreita e precisa, facilmente se depara com dificuldades. Por outro lado,

conceitos mais compreensivos são tão gerais que possuem pouca utilidade. Entretanto, as

definições podem ajudar a identificar a natureza geral do problema e a compreender a

dinâmica do comportamento agressivo, mesmo que não haja uma única e absoluta definição.

A agressão desafia definições, e em suas formas extremas é uma tragédia humana sem igual.
29

Em seus estudos, Saul (1956) estabelece diferença entre hostilidade e agressão,

determinando que a primeira é a tendência de um organismo de fazer qualquer coisa danosa a

outro ou a si mesmo. Não é simplesmente agressão: a agressão, palavra derivada do latim, e

que significa mover-se ativamente, pode revestir-se de um sentido construtivo, como realizar

um bom trabalho, não tem que ser hostil e, reciprocamente, a hostilidade não precisa ser

agressiva e pode ser manifestada passivamente. Tampouco a hostilidade é necessariamente

raiva, porquanto a raiva reflete um sentimento transitório que pode ser compatível com o

amor.

Este autor considera que se pode, da forma mais completa, sem interrupção ou alteração,

amar alguém, a despeito de períodos de raiva, como bem o sabe todo marido, mulher, filho,

pais e amigos; isto porque, ele explica, a hostilidade é o mal fundamental no homem. Neste

sentido a agressão é entendida como força natural que pode ser aplicada de forma positiva ou

negativa.

Eibl-Eibesfeldt (1974) aceita basicamente a premissa de que a tendência para a agressão é

inerente ao homem, mas frisa que os mecanismos de pacificação e controle são igualmente

inerentes à natureza humana.

Michaud (1989, p. 11) reconhece que, etimologicamente, a raiz da palavra violência é

`vis`, que significa força, energia, potência, valor, força vital. Entendendo que existe violência quando

[...] numa situação de interação, um ou vários atores agem de


maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a
uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade
física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas
participações simbólicas e culturais.

Yentzen et al. (1994) afirmam que a violência é fruto de uma história de relações

humanas, de frustrações e conflitos e, ao mesmo tempo, distingue agressividade de hostilidade

destrutiva, identificando hostilidade com violência. A agressividade tem raízes instintivas, a


30

hostilidade tem uma história de relações humanas. Assim, a violência tem suas raízes nos

conflitos e frustrações decorrentes das relações interpessoais, da mesma forma que a

hostilidade.

Amoretti (1992, p. 41), define violência como [...] o ato de violentar, determinar danos

físico, moral ou psicológico através da força ou da coação, exercer pressão ou tirania contra

a vontade e a liberdade do outro.

De acordo com Costa (2003, p. 30) na teoria psicanalítica, a palavra violência [...] é

empregada em contextos que tornam sua compreensão problemática [...] . Em alguns

contextos ela é associada à agressividade instintiva do homem para matar ou fazer seus

semelhantes sofrer. Em outros contextos, a violência está associada a uma forma de resolução

de conflitos, ou seja, [...] não existe um instinto de violência, o que existe é um instinto

agressivo que pode coexistir perfeitamente com a possibilidade do homem desejar a paz e

com a possibilidade do homem empregar a violência [...] (COSTA, 2003, p.35).

Para o autor acima referido, existem muitos equívocos a respeito da diferença entre

violência e agressividade, onde, por vezes, um conceito é tomado pelo outro, como também é

equivocada a idéia de que violência decorre imediatamente da agressividade. Identificar

violência com agressividade significa atribuir-lhe uma qualidade biológica, mesmo que sua

potência tenha suas raízes no instinto agressivo. Ainda, para ele, da mesma forma, existem

confusões relativas entre a violência e o irracional e entre a violência e o descontrole

emocional. A primeira não é algo necessariamente irracional e nem resulta necessariamente

de descontrole emocional. A violência racional é a que se dá de maneira premeditada. A

violência irracional, por sua vez, se dá através da substituição de objeto, como por exemplo,

por meio de desforra contra esposa e ou filhos, de alguma situação vivida com outras pessoas.

A distinção básica entre violência irracional e agressividade instintiva é que a [...]

violência é o emprego desejado da agressividade, com fins destrutivos [...] (COSTA, 2003,
31

p. 39). Ainda que de forma irracional, a violência traz a marca de um desejo que pode ser

deliberado e racional ou involuntário e irracional. Por sua vez, a ação agressiva não é

traduzida como violenta quando se manifesta com expressão do instinto e não exprime um

desejo de destruição.

O instinto agressivo destina-se à luta pela sobrevivência e é próprio da natureza animal.

No homem o instinto agressivo é uma marca de sua conduta animal. A agressividade, nesse

sentido, não implica em nenhum desejo de destruir o outro, ainda que possa destruir, para

atingir seu objetivo de sobrevivência. Trata-se, portanto, de necessidade e não de desejo.

As definições de violência, conforme visão do psicanalista Costa (2003), são sempre

provisórias e inferidas de casos particulares, sendo usado nos mais diferentes contextos e com

diferentes significados, inclusive em função das diferentes linhas ideológicas e teóricas do

pensamento.

Costa (2003) condiciona que o caráter de violência é a representação que a vítima faz da

força coercitiva que o atinge. É porque o sujeito violentado (ou o observador externo `a

situação) percebe no sujeito violentador o desejo de destruição (desejo de morte, desejo de

fazer sofrer) que a ação agressiva ganha o significado de ação violenta. (COSTA, 2003, p.

39). Para o objeto em estudo, a representação da violência é o que interessa mais

particularmente, posto que revela o aspecto subjetivo da mesma. Esta vista sob a ótica da

vítima, pode não coincidir necessariamente com seu aspecto objetivo, ou seja, não coincidir

com a ótica de quem a pratica. Quem pratica a violência faz uma representação que, apesar de

possuir um caráter violento, não é necessariamente captada como tal por quem a recebe.

Dessa forma tem-se uma violência que ocorreu objetivamente, da parte de quem a

praticou, mas não ocorreu subjetivamente por parte da vítima. Ou, ao contrário, é possível

atribuir uma representação de natureza violenta, quando, na realidade quem a exerceu não

teve nenhuma motivação neste sentido.


32

Costa (2003) considera que a atribuição indevida se dá por razões tais como: a relação que

a vítima associa a experiências anteriores, ainda que de forma inconsciente, com a atual; a

representação que o autor faz da violência cometida - poderá representar a violência apenas

em nível inconsciente, e em nível consciente, esta será representada através das melhores

intenções -, a vítima captará mesmo que inconscientemente esta última representação da

violência.

Uma definição adequada do termo violência deve, pois, justificar o julgamento ou a

atribuição que considera um ato violento.

Neste sentido, segundo Costa (2003), é impossível considerar a violência no ser humano

como um evento em si, emancipada das circunstâncias. Primeiramente precisa-se considerar a

agressão a partir do agente agressor, depois, a partir do agredido e, finalmente, a partir de um

observador. É muito provável que se encontre três representações diferentes de um mesmo

evento.

Em síntese, do ponto de vista do agressor, deve-se considerar a intencionalidade do ato, ou

seja, do desejo do mesmo transmitir estímulos nocivos a outro. Para o agredido, deve-se

considerar o sentimento de estar sendo agredido (percepção de intenção do agressor lhe causar

danos) ou prejudicado e, quanto ao observador, deve-se considerar seus sentimentos críticos a

respeito da possibilidade de ter havido nocividade no ato em questão, bem como a

intencionalidade de promover a violência.

Na perspectiva da Psicologia Social, Rodrigues (1981, p. 366) define agressão como

sendo [...] qualquer comportamento cuja finalidade é causar dano a outrem [...] . As noções

de causalidade pessoal e impessoal desempenham um papel de extrema relevância para se

definir um ato agressivo. Se um ato praticado por uma pessoa A causa dano a uma pessoa B, é

necessário que se estabeleça se o ato de A foi intencional (causalidade pessoal) ou se foi

devido a fatores não intencionais (causalidade impessoal). Um ato só poderá ser considerado
33

agressivo quando existir causalidade pessoal. Esta definição tem como elemento fundamental

a intencionalidade e a liberdade de escolha por parte do agente. De modo geral, a agressão

tem sido definida como todo ato realizado com a intenção de provocar dano a um ser vivo,

tanto em seu aspecto físico como psicológico.

A Psicologia Social, ao estudar o fenômeno da agressão, restringe seu foco de análise às

suas características psicossociais, e a considera em termos da interação entre agressor e

vítima. Investiga os processos cognitivos, afetivos e comportamentais das relações suscitadas

pelas interações sociais instigadoras de violência e de hostilidade de uns contra outros.

Os estudos da Psicologia Social sobre a agressão humana destacam a intencionalidade por

parte do agressor, e caracterizam como agressivo apenas o ato deliberado com o objetivo de

causar danos físicos e psicológicos a alguém. Na ótica desta disciplina a agressão não precisa

ser necessariamente física. Neste tipo de agressão simbólica a vítima pode ser agredida por

insultos, calúnias ou impedida de atingir seu objetivo. O assédio, considerado uma forma de

agressão psicológica, provoca ansiedade e depressão na vítima.

Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) afirmam que nem sempre é possível avaliar a

intencionalidade do agressor de forma inequívoca.

De modo geral, a Psicologia Social distingue a agressão humana em função das intenções

subjacentes a tais comportamentos. Refere-se à agressão hostil, que decorre de estados

emocionais fortes, como a raiva, e tem como objetivo básico causar dano a uma pessoa ou

objeto a fim de satisfazer impulsos hostis (RODRIGUES, ASSMAR; JABLONSKI, 2001, p.

207). Por sua vez, a agressão instrumental visa ferir, magoar ou prejudicar alguém apenas

para alcançar a finalidade de proporcionar algum objetivo ou ganho ao agressor

(BERKOWITZ, 1993a).

Para Berkowitz (1993a); Baron e Richardson (1994); Bushman e Anderson (2001); Geen

(2001), a agressão humana é qualquer comportamento direcionado a outro indivíduo cuja


34

finalidade é a de causar danos (ferir). Além disso, o agressor precisa acreditar que o

comportamento irá danificar o alvo e que este é motivado a evitar o comportamento.

De acordo com Baumeister (1989), danos acidentais não são agressivos porque não são

intencionais. Danos que são um produto incidental, ações de ajuda também não são

agressivos, porque quem provocou o dano acredita que o alvo não está motivado a evitar a

ação, como por exemplo, uma dor causada durante uma intervenção odontológica.

Similarmente, a dor administrada no masoquismo sexual também não é agressiva porque a

vítima não está motivada a evitá-la - deveras, a dor é efetivamente solicitada a serviço de um

objetivo maior (BAUMEISTER, 1989).

Por outro lado, a violência é a agressão que têm como objetivo causar danos extremos,

podendo levar à morte. Toda violência é agressão, mas muitas instâncias da agressão não são

violentas. Por exemplo, uma criança empurrando outra de um triciclo é um ato de agressão,

mas não é um ato de violência, segundo Anderson e Bushman (2002).

Ampliando este conceito, pode-se ainda falar de agressão hostil e agressão instrumental.

Análises recentes de Bushman e Anderson (2001) concebem estas definições em dois

sentidos. Primeiro, distinguindo os objetivos imediatos e dos definitivos ou últimos, deixando

clara a intenção de causar danos como uma característica necessária a toda agressão, como em

modelos puros de agressão hostil. Segundo são identificados diferentes tipos de agressão em

termos do nível do objetivo definitivo. Assim, tanto o roubo quanto o ataque físico são atos de

agressão porque ambos incluem a intenção de causar danos à vítima em um nível imediato.

No entanto, eles tipicamente se diferenciam dos objetivos definitivos, com o roubo servindo

primeiramente a objetivos relacionados ao lucro e o ataque servindo primariamente para ferir.

Em resumo, estas definições permitem discutir as semelhanças e as distinções entre

agressão hostil algumas vezes chamada de afetiva, impulsiva ou agressão reativa e

instrumental, ao mesmo tempo em que se percebe que as mesmas têm motivos mistos.
35

Outro elemento a ser considerado é se a violência está atrelada à agressão. Na verdade

[...] podemos ter agressão com ou sem violência e, igualmente, violência com ou sem

agressão [...] (BALLONE ; ORTOLANI IV, 2003a).

Portanto, uma mulher pode, por exemplo, sentir-se agredida pelo silêncio do marido, caso

estivesse ansiosamente esperando por algum comentário ou diálogo, mesmo em se tratando de

comentário hostil. O marido deve, por sua vez, ser consultado sobre suas intenções lesivas ao

optar pelo silêncio. O silêncio pode ser motivado tanto pelo fato do marido ser calmo e

amistoso, quanto por ele ter planejado ferir a mulher através do silêncio. Neste ultimo caso,

conforme Ballone (2003), estaríamos diante de um ato de agressão sem violência. Podemos

observar também que a mesma cena poderia não ter um resultado agressivo, caso a mulher

não se sinta agredida ou não atribua agressividade ao comportamento do marido, apesar da

eventual intencionalidade agressiva do mesmo.

Assim, o constrangimento parece ser uma condição necessária da violência, mas não é

uma condição suficiente. Toda violência é um ato de constrangimento, mas nem todo

constrangimento é violento. A violência não precisa necessariamente da força física para se

manifestar.

A violência sugere a idéia de ação, de atitude dirigida especificamente para fins

avassaladores.

Costuma-se definir a violência como sendo toda ação intencional que implique a morte de

uma ou mais pessoas, o constrangimento, o sofrimento ou lesões físicas ou psicológicas

contra a sua vontade.

Múltiplas visões com recortes diferenciados analisam a violência de acordo com o campo

conceitual onde esta se situa, seja este psíquico, social ou biológico.

É importante esclarecer ainda, que do ponto de vista psicológico, é necessário explicitar

que a definição de violência como ato que causa dor ou provoca ferimentos pode ser muito
36

limitada para este tema, uma vez que exclui determinadas formas de abuso, como o emocional

e sexual. Por outro lado, não é menos problemático incluir a negligência, a omissão, as

ameaças, no rol das manifestações de violência, uma vez que estas dependem do contexto em

que são proferidas e da dinâmica de cada relação. Conforme alertam Straus e Gelles (1990),

não são poucas as implicações metodológicas e conseqüentemente práticas das definições de

violência, abuso, negligência, etc.

A definição de violência de forma geral envolve o uso da força física ou ações brutais

impostas sem consentimento. Contudo, de acordo com Lloyd (1994) violência e abuso

subentendem um mesmo comportamento, sobretudo se o significado semântico da palavra

violência for ampliado. A diferença entre abuso e violência é que o abuso tem uma conotação

crônica de um comportamento não aceitável. O termo abuse, em inglês recobre tanto a

agressão física, como a negligência, a violência sexual e emocional. Entretanto, sua tradução é

sempre perigosa, pela conotação marcadamente sexual que a palavra têm em português.

Termos como violência e abuso em diferentes línguas tem diferentes significados, por isso a

precisão de comparar atos reais que ocorrem em uma cultura com os que ocorrem em outra se

torna mais difícil de ser obtida. Em vista disso, ao coletar dados é preciso descrever os atos

reais sobre os quais as informações serão requeridas.

Isto posto, vale ressaltar que o conceito de violência pode ser desdobrado num outro

conceito: o de abuso. Por conseguinte, este é mais amplamente entendido com conotação

sexual, porém, para Osório (2004), o conceito de abuso engloba todos os tipos possíveis de

agressão e violência, não sendo visto apenas com conotação sexual.

Em síntese, verifica-se que a agressividade humana tem sido objeto de estudo de muitas

disciplinas ou áreas do conhecimento, tais como Biologia, Medicina, Psicologia Social,

Psicanálise, dentre outras, decorrendo daí diferentes explicações do que é a agressividade, e

em que ela se constitui. Para alguns teóricos, ela é considerada como tendo uma função de
37

adaptação na luta pela vida, e para outros, a agressividade não pertence à natureza humana em

seu estado natural, mas é uma criação da sociedade, mediante processo de aprendizagem

social.

Destarte, apesar de ser um tema difícil e vasto, na maioria das obras pesquisadas a

agressão tem sido apresentada como tendo dois significados. Por um lado, constitui, direta ou

indiretamente, uma reação à dor da frustração e dos fracassos; por outro, é uma das muitas

fontes de energia do indivíduo. Assim, o impulso agressivo é comum a todos os seres

humanos e pode ser manobrado de maneiras distintas pelas pessoas.

1.2 As razões da violência: explicações teóricas para a agressão humana

Em tempo algum da história da humanidade foram tão generalizados e intensos a

preocupação e o interesse com os problemas da violência humana. O homem reconhece que

continua hoje, como nos séculos passados, sendo uma vítima de si mesmo. Assim, o homem

teme os outros homens e, para dominar esse medo, tem de compreender a espécie humana e o

que organiza seu comportamento.

Violência é um tema do presente e não apenas do passado. Além do mais, é um tema com

o qual se aprende uma verdade sobre a natureza real da espécie humana descobrindo-se o que

o homem é realmente capaz de fazer.

Para Berg (1965, p. 5 ):

O problema básico [...] da psicologia e de outras ciências do


comportamento consiste em como lidar com a violência. [...] Pode
parecer absurdo sugerir com seriedade que isso possa ser feito
mesmo que aceitemos uma ou duas gerações como necessárias para
38

atingir essa meta. Deve ter parecido igualmente absurdo aos antigos
romanos ouvir dizer que os combates sangrentos e mortais entre
gladiadores deveriam ser proibidos.

O objetivo dessa seção é apresentar algumas teorias da agressividade, e examinar as

formas pelas quais as diferentes teorias lidam com a questão da agressividade humana.

Serão comentados alguns autores importantes na história da psicologia e outros autores

contemporâneos.

1.2.1 Teorias clássicas da agressividade humana

A origem do comportamento agressivo para um primeiro grupo de estudiosos é instintiva.

Sob este prisma, o comportamento agressivo estaria relacionado a componentes biológicos e

psicológicos e a agressividade é vista como um fenômeno de caráter universal, independente

de movimentos classistas e históricos, estando atrelada ao ser humano, em sua essência.

Observa-se que a violência é um fenômeno pluridimensional, onde se destacam duas

grandes tendências. Sigmund Freud e Konrad Lorenz figuram na linha de frente defendendo

uma posição instintivista do comportamento agressivo. Nessa abordagem, o conflito humano

é decorrente da discrepância entre os anseios biológicos (normalmente em busca do prazer) e

as possibilidades sociais. Esse conflito resultaria na violência. A outra tendência explica o

comportamento agressivo como resultante da conjugação de aprendizagens e de fatores

situacionais desencadeantes.

A agressão se apresenta sob muitas nuances dentro de uma mesma perspectiva. Para

Freud, existe nos homens uma agressividade inata que os instiga a comportamentos
39

agressivos. Lorenz (1973) postula que o instinto agressivo é condição indispensável para o

próprio progresso do ser humano.

Sigmund Freud

A importância do pensamento de Freud em nosso universo cultural deriva do fato de que,

embora referido a um campo do saber, articula suas formulações a outros campos, como

História, Antropologia, Filosofia, Biologia, Física, dentre outros, dando a sua obra uma

pluridimensionalidade. Seu interesse para os fenômenos culturais e sociológicos é revelado

principalmente quando escreve Por Que a Guerra (1914), O Futuro de uma Ilusão

(1927), e O Mal Estar na Civilização (1930).

Sua obra é marcada por um ceticismo em relação ao homem, posto que na sua visão, a

natureza humana é determinada, sobretudo, por pulsões e forças irracionais, oriundas do

inconsciente, pela busca de um equilíbrio homeostático e pelas experiências vividas na

primeira infância.

Em sua teoria, enfatiza as pulsões em duas categorias: os instintos de vida (Eros), que

contribuem para a sobrevivência da pessoa e da espécie (por exemplo a sexualidade), e os

instintos de morte (Thanatos), que compreendem as forças autodestrutivas, passíveis de

voltarem-se para fora, em direção a outrem, e produtoras da agressão e da guerra. Desse

modo, a abordagem freudiana encara todo o comportamento como uma manifestação de

conflitos intrapsíquicos ou, de maneira mais geral, de interações dinâmicas entre forças

antagônicas existentes em seu interior.

Freud (1930) mostra como o desamparo no qual o ser humano chega à vida é decisivo

para a estruturação de seu psiquismo e revela que na pulsão destrutiva, agressiva, advinda da

pulsão de morte, está o maior perigo à civilização.


40

Em sua concepção, o homem está condenado a uma forma radical de intersubjetividade

que implica, a um só tempo, aproximação e afastamento. Freud (1921) utiliza na Psicologia

de grupo e análise do eu a metáfora dos porcos espinhos para afirmar que o homem não

suporta uma aproximação demasiado íntima com o próximo, principalmente porque a deseja.

Freud afirma que as relações amorosas estão carregadas de hostilidade, nem sempre

perceptível por causa do recalcamento. As relações sociais articulam-se no sentido da busca

da experiência de satisfação, dado as dificuldades da condição humana, com seu desamparo,

seu desconhecimento, sua perplexidade frente à morte. O laço social tem aí sua origem,

estabelecendo-se nele a regulamentação moral.

Em O mal estar na civilização , o autor estabelece uma verdadeira genealogia da

consciência moral, demonstrando que uma de suas funções consiste em manter a vigilância

sobre as ações e intenções do eu e julgá-las, exercendo censura (FREUD, 1930, p. 139).

No texto referido, é formulada a noção da impossibilidade de cumprir a ordem expressa de

um mandamento cultural, que é o de amar o próximo como a ti mesmo. Diante desta máxima,

Freud sugere que para amar uma pessoa ela tem que ser merecedora desse amor. Para merecer

o amor é necessário que ambos sejam de tal forma semelhantes que, em aspectos importantes,

um possa se amar através do outro, podendo assim amar o ideal de seu próprio eu. Assim, ele

descobre várias dificuldades relativas ao cumprimento desse preceito enunciado com tanta

solenidade e sugere outro mandamento para substituí-lo Ama o teu próximo como este te

ama (1930, p. 115), e critica um segundo mandamento que lhe parece ainda mais incorreto,

que é o que diz: Ama os teus inimigos (1930, p. 115).

O amor é algo muito valioso que não pode ser jogado fora sem reflexão, um amor que não

discrimina é privado de uma parte de seu próprio valor e, além disso, nem todas as pessoas

são merecedoras de amor. Mais do que isso, muitas tem mais direito ao ódio e à hostilidade do

que ao amor. Por trás disso tudo está a noção de pulsão de morte, formulada em 1920 em
41

Além do principio do prazer , que é incorporada sobre a forma de agressividade, para

pensar a relação ao próximo. É depois desse estudo que Freud passa a falar mais

enfaticamente da violência existente na natureza humana e na natureza das relações

interpessoais.

[...] os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e
que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário,
são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma
poderosa cota de agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é,
para eles, não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual,
mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua
agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento,
apoderar-se de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento,
torturá-lo e matá-lo. __ 'Homo homini lupus .(FREUD, 1930, p.
116).

A autodetecção da existência de uma inclinação para a agressão leva a supor com justiça

que ela está presente nos outros. Isso constitui um fator que perturba os relacionamentos com

o próximo e força a civilização a um tão elevado dispêndio de energia. Para Freud, as paixões

instintivas são mais poderosas que a razão. Nesse sentido, revela que é necessário estabelecer

limites para os instintos agressivos do homem, mantendo-os sob controle, através de métodos

destinados a incitar identificações entre as pessoas, daí a importância do mandamento de amar

ao próximo, sendo ele plenamente justificado pelo fato de nada ir tão fortemente contra a

natureza original do homem.

A coerção é um mal necessário à civilização, onde a moral atua na contenção da

agressividade mútua que caracteriza o relacionamento entre os homens. Ao elaborar sua

ultima teoria das pulsões, o autor mantém o dualismo pulsional, opondo pulsões de vida e

pulsões de morte, e, neste sentido, afirma que esse conflito é posto em ação sempre que os

homens se propõem a viverem em comum. O sentimento de culpa é inevitável, já que a


42

agressividade está na base de toda relação de amor entre as pessoas e, ao ser recalcada,

manifesta-se sob esta forma.

O sadismo e o masoquismo constituem claras manifestações da pulsão de morte mesclada

ao erotismo, entretanto, Freud não despreza a onipresença da agressividade e da

destrutividade não eróticas em toda parte.

Na obra O mal estar na civilização (1930), a pulsão de morte, é tomada como

destrutividade pura, distinta e autônoma em relação à libido, manifestando-se como inclinação

para a agressão [...] adoto, portanto, o ponto de vista de que a inclinação para a agressão

constitui, no homem, uma disposição pulsional original e auto-subsistente, e retorno à minha

opinião de que ela é o maior impedimento à civilização. (FREUD, p. 125).

Em decorrência dessa análise, dá ênfase à face invisível da pulsão de morte, que é a

agressividade humana, entendida como disposição inata, inclinação original do homem para a

crueldade e para o mal. Não vê, pois, a agressividade como um desvio, mas pensa a maldade

como constitutiva do ser humano, presente em cada um como uma disposição pulsional inata -

a natureza profundamente moral da humanidade está relacionada a esta inclinação humana

para o mal.

Enquanto Eros atua no sentido dos reforços dos laços, da união dos indivíduos, através da

identificação, a pulsão de morte atua no sentido oposto, como disjunção dessas unidades,

recusa da permanência, subvertendo a força conservadora de Eros.

O mandamento ama a teu próximo como a ti mesmo é a base da mais forte defesa contra

a agressividade humana. Entretanto, os homens não prestam atenção a tudo isso, e o preceito,

apenas tem o mérito de advertir sobre o quanto é difícil obedecê-lo.

No livro o Mal Estar na Civilização os instintos destrutivos do homem são tidos como

responsáveis pelo mal estar na civilização, e em Porque a Guerra , Freud emprega

freqüentemente a palavra violência associada à agressividade instintiva. Desta forma, a pulsão


43

de morte poderia gerar a violência existente na natureza humana e na natureza das relações

sociais.

Freud foi o primeiro a sublinhar a autonomia fundamental dos instintos em geral, embora

só muito mais tarde tenha reconhecido o instinto da agressão. Mostrou igualmente que a falta

de contatos sociais e, sobretudo a sensação de não ser amado, predispõem à agressão e a

facilitam-na.

Comentando a obra o O mal estar na Civilização , Gay (1989), afirma que este foi o

livro mais sombrio de Freud, por estar baseado no dualismo instintivo e no sistema estrutural.

Os grandes antagonistas, o amor (Eros) e o ódio (Thanatos), lutam pelo controle da vida social

do homem. A agressividade visível é a manifestação exterior da invisível pulsão de morte.

Peter Gay destaca que a principal preocupação de Freud era a forma como a cultura inibe a

agressividade, o que se constitui na fundação do que se convencionou chamar de superego.

Todavia, exalta que nem toda experiência surge do mundo exterior, e que a constituição inata,

inclusive a herança filogenética de uma pessoa, desempenha seu papel, refletindo assim sobre

as respectivas participações da constituição e do ambiente no desenvolvimento mental. O

autor refaz a pergunta de Freud, inquirindo se a civilização é capaz de conter a pulsão humana

para a agressão e a destruição.

É importante, entretanto, lembrar que Freud, ao formular os conceitos de Eros e Thanatos,

sabe que o ser humano tem tanto a possibilidade de amar quanto a possibilidade de odiar.

Konrad Lorenz

A observação dos hábitos dos animais e a comparação do instinto de agressão animal com

o comportamento humano foi a grande preocupação de Lorenz. Suas explicações para a

agressividade humana foram expostas principalmente no livro A Agressão: uma história


44

natural do mal (LORENZ, 1973). Nesta obra, o autor ressalta que nos animais em geral a

agressividade tem um papel positivo para a sobrevivência da espécie, e que também no

homem a agressividade poderia ser orientada para comportamentos socialmente úteis.

O autor defende a tese de que a espécie humana traz uma forte herança de territorialidade

e agressividade, instintos estes que devem ser extravasados para se evitar distúrbios sociais.

Sugere que as espécies animais estão geneticamente construídas para aprenderem tipos

específicos de informação que são importantes para a sobrevivência da espécie. Descreveu o

aprendizado de patos e gansos recém-nascidos: os filhotes, logo que nasciam, aprendiam a

seguir a mãe, ou então, uma falsa mãe. O processo, que é chamado imprinting (gravação)

compreende sinais visuais e auditivos do objeto "mãe" que são gravados, mesmo que sejam

enganosos. Isto provoca uma resposta de acompanhamento que depois vai afetar o adulto.

Para Lorenz (1973), a agressão intra-específica, longe de ser um princípio diabólico,

destruidor, como a psicanálise apresenta, é indubitavelmente uma parte essencial da

organização dos instintos em vistas da proteção da vida. Mas isso é válido para qualquer outra

função de qualquer outro sistema. Entretanto, o instinto da agressão destinado originalmente à

conservação da espécie, pode ser avaliado em todo o seu perigo, isto é, é a espontaneidade

desse instinto que o torna temível.

Se ele fosse apenas uma reação contra certos fatores exteriores, como
pretendem numerosos sociólogos e psicólogos, a situação da
humanidade não seria tão perigosa como é, porque nesse caso os
fatores que suscitam tais reações poderiam ser estudados e
eliminados com alguma esperança de êxito. (LORENZ, 1973, p. 63).

Ao estudar o comportamento de peixes em aquário descobre que, para evitar que o macho

mate a fêmea, é necessário deixar no aquário um "bode expiatório", ou seja, um peixe da

mesma espécie, para que o macho possa descarregar sua ira sobre o vizinho do mesmo sexo.

Segundo Lorenz (1973), pode-se verificar coisa parecida nos seres humanos, uma vez que o
45

recalcamento da agressão se torna mais perigoso quanto mais intimamente os membros de

uma espécie se conhecem, e quanto mais se compreendem e se gostam. Em tais situações,

todos os estímulos que podem desencadear a agressão e o comportamento combativo intra-

específico sofrem um forte abaixamento de seu limiar. Para exemplificar, cita as reações

contra os movimentos dos melhores amigos, a sua tosse, a maneira de se assoarem, como se

tivesse recebido uma bofetada. Entender o mecanismo fisiológico deste fenômeno, impede o

assassinato do amigo, mas não diminui o sofrimento. A única solução para uma pessoa

razoável é, no fundo, abandonar pé ante-pé a barraca (tenda ou igloo) dirigindo-se a

qualquer objeto, fazê-lo voar em estilhas com o maior barulho possível. (LORENZ,1973, p.

69). Isto é o que se chama de comportamento desviado ou reorientado.

O autor questiona sobre a possibilidade de impedir que a agressão intra-específica

prejudique seriamente a conservação da espécie, [...] sem que por esse fato sejam eliminadas

as suas funções indispensáveis ao interesse dessa espécie? (LORENZ, 1973, p.123) e sobre

o por que é que as espécies que tiram proveito de uma vida social não renunciam à agressão.

As respostas para tais questões evidenciam-se no fato de que a espécie mantém inalterada

a pulsão, de um modo geral útil, ou até indispensável. A solução deste problema poderia

residir, na instalação, nos casos particulares onde ela poderia ter um efeito nocivo, de um

mecanismo especial de inibição criado ad hoc. Neste ponto vê-se uma analogia com a

evolução cultural do homem, vislumbrada nos imperativos mais importantes da lei de Moisés

que, tal como qualquer outra lei, são interdições e não mandamentos.

O homem preserva-se no erro de não gostar de se imaginar fazendo parte do resto da

natureza, opõe-se a ela como se fosse um ser de essência diferente, e em razão a isso,

despreza o famoso Conhece-te a ti mesmo , atribuído a Sócrates, mas expressado por

Quilon. Neste sentido, a preocupação de Lorenz é de alertar sobre a falta de autocrítica da

humanidade.
46

São vários os exemplos que podem ser citados a este respeito: quando Darwin descobriu

que os homens descendiam dos animais, não faltaram tentativas para reduzi-lo ao silêncio.

Freud foi censurado ao tentar analisar o comportamento humano e torná-lo compreensível.

Assim, falta humildade e todos os meios servem à humanidade para defender o seu amor

próprio.

Lorenz (1973, p. 247) afirma que um observador imparcial nunca [...] teria a idéia de

que o comportamento humano seria dirigido pela razão, e ainda menos por uma moral

responsável [...] . Para esse autor os fenômenos são causados pela natureza humana e, tal

como se repetem sempre, não têm causas racionais.

O entendimento deste fato não é suficiente e torna-se necessário perguntar sobre os

motivos que levam os seres dotados de racionalidade a se comportar de maneira irracional. É

provável que existam fatores poderosos para que os homens sejam capazes de ultrapassar os

mandamentos da razão individual e sejam refratários à experiência e ao ensino.

Em capítulo sobre os mecanismos de comportamento funcionalmente análogos à moral,

Lorenz (1973) fala de inibições que controlam a agressão nos diferentes animais sociais que

impedem de ferir ou matar seus irmãos de raça. Na evolução do homem, tais mecanismos

contra o assassinato se mostraram supérfluos, uma vez que não havia possibilidade de matar

rapidamente, pois a vítima em potencial tinha muitas ocasiões para obter a graça do agressor

por gestos obsequiosos e atitudes de apaziguamento.

Portanto, durante a pré-história da humanidade, não existiu nenhuma pressão para se

produzir um mecanismo inibitório que impedisse o assassinato dos congêneres. Falta na

espécie humana, como em outros animais menos agressivos, o respeito ao gesto de submissão

feito pelo perdedor.


47

Isso não significa que, numa fase desprovida de responsabilidade moral, o homem fosse o

mal em pessoa, já nessa fase ele era dotado de instintos sociais e das mesmas inibições de um

chimpanzé, que apesar de sua irritabilidade, é uma criatura social e amável.

O comportamento agressivo e a inibição de matar representam um caso particular entre

tantos outros em que as rápidas transformações da ecologia e da sociologia humanas pelo

desenvolvimento cultural desequilibram mecanismos do comportamento que antes eram filo-

geneticamente adaptados. A função da moral é, portanto, restabelecer um equilíbrio aceitável

entre os instintos do homem e as necessidades de uma ordem social.

Lorenz (1973) critica alguns filósofos contemporâneos que compartilham a idéia de que

todo tipo de comportamento que serve para o bem estar da sociedade são ditados por um

pensamento racional. Não apenas esta opinião é errada, mas é a sua contrária que é

verdadeira. (LORENZ, 1973, p. 255). Explica ainda que se o homem não tivesse sido

dotado de instintos sociais, nunca se elevaria acima do mundo animal, posto que, as tradições,

a responsabilidade moral, dentre outras faculdades especificamente humanas, desenvolveram-

se num ser que já vivia em sociedades organizadas antes do pensamento conceitual. A força

motriz que aciona a razão provém de mecanismos de comportamento instintivo muito mais

antigos que a própria razão, sendo eles a fonte do amor e da amizade, do calor afetivo, da

apreciação da beleza, da insaciável curiosidade que aspira ao conhecimento científico. Com

base nisso, o ser humano edificou uma enorme estrutura de normas e ritos sociais cuja função

é estritamente análoga à ritualização filogenética. Quer tenham evoluído pela filogênese ou

pela cultura, as normas de comportamento representam para cada ser humano normal,

motivações, e são por eles sentidas como valores.

Neste sentido, para Lorenz (1973), a moral é apenas um mecanismo compensador de

eficácia limitada. Dessa maneira, a dinâmica das pulsões, os diferentes tipos de

comportamentos ritualizados pela filogênese ou cultura, em conjunto com a moral


48

responsável, formam um todo organizado. Vale ressaltar que todos os sistemas de atividades e

reações inatas do homem foram construídos pela filogênese e calculados pela evolução de

maneira tal que necessitam de ser completados pela tradição cultural, isto é, o homem

depende tanto da tradição cultural e da responsabilidade racional, assim como as funções

destas duas dependem da motivação instintiva.

No crescimento das culturas humanas existe um mecanismo incorporado em previsão de

modificações gradativas. Tal fenômeno pode ser observado na tendência existente, durante a

puberdade e imediatamente depois, nos seres humanos em afrouxar a obediência a todos os

ritos e normas sociais, o que permite ao pensamento conceitual procurar novos ideais e talvez

melhores. Neste período pós-púbere, a necessidade instintiva de pertencer a um grupo

estreitamente ligado e que luta por determinados ideais é tão forte que a questão de saber o

que são esses ideais não possuem valor intrínseco nem são essenciais. Neste sentido a

formação de um bando de jovens reconstitui provavelmente as sociedades primitivas.

O autor citado exemplifica isso por meio do entusiasmo militante, ilustra como um

comportamento filogeneticamente evoluído atua juntamente com as normas e ritos culturais e

que, embora seja necessário ao funcionamento do sistema composto, pode trazer

conseqüências trágicas se não for controlado por uma responsabilidade racional.

O entusiasmo militante é uma forma particular de agressão em comum, nitidamente

distinta das formas primitivas da agressão individual. Entretanto, toda pessoa exposta a

emoções fortes conhece os fenômenos subjetivos que acompanham as reações do entusiasmo

militante: fica pronto a abandonar tudo ao apelo daquilo que, no momento em que essa

emoção particular se produz, aparece como um dever sagrado; todos os obstáculos se tornam

insignificantes; a instintiva inibição de ferir ou matar o próximo perde muito de sua força; as

considerações de ordem racional, o espírito crítico e todos os argumentos racionais contra o

comportamento ditado pelo entusiasmo militante ficam reduzidos ao silêncio por uma
49

espantosa inversão de valores, fazendo surgir argumentos indefensáveis, baixos e vis. Não

obstante as atrocidades, há pessoas que têm a sensação de estarem absolutamente no seu

direito. O pensamento e a responsabilidade moral atingem o seu nível mais baixo.

Lorenz (1973) argumenta que a tensão dirigida para um único alvo que caracteriza essa

reação deve ter possuído um enorme valor de sobrevivência. Tal como o cerimonial do triunfo

no ganso cendrado, o entusiasmo militante do homem é um instinto autônomo verdadeiro, tem

seu próprio comportamento de apetência e os seus mecanismos de desencadeamento e, nisso,

é comparável ao instinto sexual e a outras necessidades imperiosas, além do que, gera uma

sensação especial de intensa satisfação. A sua força e a sua sedutora atração explicam porque

homens inteligentes se comportam, por vezes, de modo tão irracional e imoral.

Esse entusiasmo surge com a previsibilidade de um reflexo, diante das seguintes

situações: 1) é necessário que a unidade social com a qual o sujeito se identifica seja

ameaçada; 2) presença de um inimigo detestável do qual emana o perigo que ameaça os

valores do grupo; 3) a figura inspiradora de um líder; 4) presença de outros indivíduos

entregues à mesma emoção.

Diante de tudo isto, Lorenz (1973) recomenda que é necessário controlar, por uma sábia

responsabilidade moral, todas as adesões sentimentais, bem como é necessário anular as

outras pulsões. Recomendando métodos para aliviar a agressão. Sendo um deles o de

reorientar a agressão para algum objeto de substituição, como a prática de esportes. Esse

método é a muito conhecido pela humanidade. O conceito de catharsis, ou descarga

purificadora, já era familiar aos gregos. Segundo esse autor, o método mais evidente para

diminuir a agressão encontra-se aplicado ao adágio "conhece-te a ti mesmo".

Assim sendo, Lorenz (1973) descobriu que muitos dos mais importantes padrões de

comportamento dos animais - aqueles tradicionalmente chamados instintivos -, eram inatos e

não podiam ser explicados behavioristicamente.


50

O comportamento do homem é fundamentalmente semelhante ao dos outros animais e

está sujeito às mesmas leis causais da natureza. O critério para determinar que um certo

padrão de comportamento é inato, é que este seja mostrado por todos os indivíduos normais

da espécie, de determinada idade e sexo, sem nenhum aprendizado anterior e sem tentativas e

erros. E este é o caso do comportamento agressivo, entre outros.

O autor explica o comportamento por causas naturais, o que não exclui ou afeta

necessariamente a dignidade ou as escala de valores, - que os behavioristas consideram falsos

-, nem mostra tampouco que os homens não sejam livres. Ao contrário, para Lorenz o

crescente autoconhecimento aumenta o poder de autocontrole e assenta em bases sólidas as

vontades. Quanto mais se compreende a causa material da agressão, mais aptos os indivíduos

se tornam para tomar medidas racionais para controlá-la.

Desta forma, Lorenz (1973), em seu livro A agressão: uma história natural do mal

trata do instinto do combate do animal e do homem dirigido a seu próprio congênere. Opõe-se

à noção de pulsão de morte, que segundo Freud, seria diametralmente oposta a todos os

instintos conservadores da vida. Para o autor, a agressividade, cujos efeitos são

freqüentemente idênticos ao da pulsão de morte, é um instinto como qualquer outro e, em

condições naturais contribui como todos os outros, para a preservação da vida e da espécie.

Para ele, no homem que, pela sua própria ação modificou demasiado depressa as suas

condições de vida, o instinto da agressão produz muitas vezes efeitos nocivos, mas os outros

instintos têm resultados análogos, ainda que menos dramáticos.


51

1.2.2 Teorias psico-sociais da agressão

A segunda tendência, na explicação do comportamento agressivo, considera-o como

resultante do aprendizado e dos fatores situacionais. O fator aprendizagem funcionaria como

responsável pela formação da personalidade mais ou menos agressiva, ou seja, mais ou menos

pronta a reagir agressivamente diante de determinados fatores situacionais.

Os processos tradicionais de aprendizagem (condicionamento clássico e operante)

explicam grande parte do comportamento agressivo exibido pelas pessoas. Dentre os fatores

situacionais capazes de provocar comportamento agressivo destacam-se a frustração, a

provocação, dentre outros. As formulações teóricas de Berkowitz (1989) mostram-se bastante

úteis para o entendimento do que se segue psicologicamente a uma frustração.

Segundo Anderson e Bushman (2002), cinco teorias principais sobre agressão guiam a

maioria das pesquisas atuais em psicologia social. Nestas se inserem o segundo grupo

anteriormente citado. Suas teorias coincidem razoavelmente, como se poderá ver a seguir.

Teoria da neoassociação cognitiva

O modelo teórico de Berkowitz (1989) procura aperfeiçoar a teoria da frustração-agressão

de Dollard e Milller (DOLLARD et al., 1939). Para tal, recorre ao conceito de instinto de

Tinbergen, que se refere a um mecanismo biológico interno que para manifestar-se exige um

objeto ou situação externa apropriada . Para Berkowitz (1993a), existe uma resposta

agressiva inata à frustração e à raiva e a outros estados emocionais que podem ter efeitos

similares à frustração, apenas quando estão presentes certos estímulos ou indícios. São eles:
52

alvos (pessoas ou grupo de pessoas), objetos (por exemplo, armas) e situações (um lugar, por

exemplo).

Para Berkowitz (1993a) a manifestação do comportamento agressivo depende, de uma

interação complexa entre as propensões inatas, respostas inibidoras aprendidas, bem como a

natureza da situação social.

Berkowitz (1989, 1990, 1993a) propôs que eventos aversivos como as frustrações,

provocações, ruídos altos, temperaturas inconfortáveis e odores desagradáveis produzem afeto

negativo. O afeto negativo produzido por experiências desagradáveis automaticamente

estimula vários pensamentos, memórias, reações motoras expressivas e respostas psicológicas

associadas tanto com as tendências de luta e de fuga. As associações de luta dão vida a

sentimentos rudimentares de raiva, enquanto as associações de fuga fazem surgir sentimentos

de medo. Além disto, a teoria da neoassociação cognitiva assume que as pistas presentes

durante um evento aversivo acabam se associando ao evento e às respostas emocionais e

cognitivas desencadeadas por ele.

Na teoria da neoassociação cognitiva, pensamento agressivos, emoções e tendências

comportamentais são interligadas na memória (COLLINS ; LOFTUS, 1975). Conceitos com

significados similares - machucar, causar danos -, e conceitos que freqüentemente são

ativados simultaneamente - atirar, arma -, desenvolvem fortes associações. Quando um

conceito é carregado ou ativado, esta ativação estende-se a outros conceitos relacionados,

assim como aumenta sua ativação.

A teoria da neoassociação cognitiva também inclui processos cognitivos de ordem maior,

tais como avaliações e atribuições. Se as pessoas são motivadas a fazê-lo, elas podem pensar

sobre como se sentem, fazendo atribuições causais para o que as levam a sentir-se de tal

forma, e considerar as conseqüências de agir de acordo com seus sentimentos. Tal


53

pensamento deliberado produz mais claramente sentimentos diferenciados de raiva, medo, ou

ambos. Isto pode também suprimir ou aumentar as tendências da ação com estes sentimentos.

A teoria da neoassociação cognitiva não apenas soma-se à hipótese anterior da

frustração-agressão (DOLLARD et al., 1939), mas também provê um mecanismo causal para

explicar porque eventos aversivos aumentam as inclinações agressivas, isto é, via afeto

negativo (BERKOWITZ, 1989). Este modelo é particularmente apropriado para explicar a

agressão hostil.

Teoria da aprendizagem social

De acordo com as teorias da aprendizagem social (BANDURA, 1983; 2001;

MISCHEL,1973, 1999; MISCHEL ; SHODA, 1995), pessoas adquirem respostas agressivas

da mesma forma que adquirem outras formas complexas de comportamento social - tanto por

experiência direta quanto por aprendizagem por observação de outros.

A teoria da aprendizagem social explica a aquisição dos comportamentos agressivos via

processo de aprendizado pela observação das ações de outras pessoas designadas como

modelos , e provê uma útil gama de conceitos para entender e descrever as crenças e

expectativas que guiam o comportamento social. A teoria da aprendizagem social,

especialmente seus conceitos-chave a respeito do desenvolvimento e mudança de expectativas

e como construir o mundo social é particularmente útil para entender a aquisição do

comportamento agressivo e em explicar a agressão instrumental. A aprendizagem

instrumental ocorre de acordo com o princípio do reforço ou recompensa. A probabilidade de

repetir um comportamento que recebe reforçamento direto (como aprovação social, por

exemplo) é grande (BARON, 1974). Pode-se citar como exemplo, o trabalho de Patterson;
54

Debaryshe; Ramsey (1989); Patterson; Reid; Dishion (1992) sobre interações familiares e

desenvolvimento de padrões de comportamento anti-social.

Teoria do enredo (script)

Huesmann (1986, 1998) propôs que quando as crianças observam violência da mídia de

massa, aprendem enredos agressivos. Enredos definem situações e guiam o comportamento,

ou seja, a pessoa ativa ou seleciona um enredo para representar a situação e então assume um

papel neste enredo. Uma vez que um enredo foi aprendido, ele pode ser retomado algum

tempo depois e ser usado como um guia para comportamento. Este método pode ser visto

como uma consideração mais específica e detalhada dos processos de aprendizado social.

Enredos são grupos de particularmente bem ensaiados conceitos, altamente associados na

memória, freqüentemente envolvendo ligações causais, objetivos e planos de ação

(ABELSON, 1981; SCHANK ; ABELSON, 1977). Quando itens são tão fortemente ligados

que formam um enredo, eles tornam-se um conceito unitário no esquema da memória.. Além

disto, mesmo um enredo pouco ensaiado pode mudar as expectativas e intenções de uma

pessoa envolvendo comportamentos sociais importantes (ANDERSON, 1983; ANDERSON;

GODFREY, 1987; MARSH; HICKS; BINK, 1998). Um enredo freqüentemente ensaiado

ganha acessibilidade e força de dois jeitos. Múltiplos ensaios criam ligações adicionais para

outros conceitos na memória, aumentando assim um grande número de caminhos pelos quais

ele pode ser ativado. Ensaios múltiplos também aumentam a força das próprias ligações.

Assim, uma criança que testemunhou milhares de vezes o uso de armas para resolver uma

disputa na televisão é propensa a ter este tipo de enredo facilmente acessível sendo

generalizado para muitas situações. Em outras palavras, o enredo torna-se cronicamente

acessível. Esta teoria é particularmente útil considerando-se a generalização dos processos de


55

aprendizagem social e da automatização (e simplificação) dos complexos processos

percepção-julgamento-decisão-comportamental.

Teoria da transferência de excitação

De acordo com Zillmann (1983a) pessoas em estado de excitação fisiológica tendem a

ficar mais agressiva do que as pessoas que não se encontram fisiologicamente excitadas.

Quanto maior o grau de excitação, maior a agressividade. Zillmann (1983) postulou que a

excitação gerada por uma situação pode ser transferida para outra e intensificar o estado

emocional subseqüente.

Zillmann (1983b) notifica que a excitação fisiológica dissipa-se lentamente. Se dois

eventos excitantes são separados por um curto período de tempo, a excitação proveniente do

primeiro evento pode causar uma confusão de atribuição para o segundo. Se o segundo evento

é relacionado à raiva, então a excitação adicional deve deixar a pessoa ainda mais raivosa. A

noção de transferência de excitação também sugere que a raiva pode ser estendida através de

longos períodos de tempo se uma pessoa conscientemente atribuiu a sua alta excitação à raiva.

Assim, mesmo depois da excitação se dissipar, a pessoa continua pronta para agredir enquanto

o rótulo auto-gerado de raiva persistir.

A agressão ocorre quando o indivíduo reconhece a presença da excitação, mas a atribui à

situação atual. Conforme essa teoria a agressão depende de três fatores: das disposições

aprendidas ou hábitos, de uma fonte de energização da excitação e por ultimo da interpretação

do estado de excitação.
56

Teoria da interação social

Tedeschi e Felson (1994) interpretam o comportamento agressivo, ou ações coercivas,

como comportamentos influenciados socialmente, isto é, um ator usa ações coercivas para

produzir alguma mudança no comportamento de seu alvo. Ações coercivas podem ser usadas

por um ator para obter alguma coisa de valor, como por exemplo, informação, dinheiro, bens,

sexo, serviços e segurança, para estabelecer justiça retributiva de erros percebidos, etc. De

acordo com esta teoria, o ator é um tomador de decisões cujas escolhas são direcionadas por

recompensas esperadas, custos e probabilidades de obter diferentes resultados.

A Teoria da Interação Social provê explicações de atos agressivos motivados por altos

níveis de objetivos definitivos ou últimos. Mesmo agressão hostil pode ter algum objetivo

racional por trás, tais como punir o provocador a fim de reduzir a probabilidade de futuras

provocações. Esta teoria proporciona um excelente meio de entender os achados recentes de

que a agressão é freqüentemente o resultado de ameaças à auto-estima, especialmente para

uma alta auto-estima sem justificativa, como no caso do narcisismo (BAUMEISTER;

SMART; BODEN, 1996; BUSHMAN ; BAUMEISTER, 1998).

Assim, de acordo com os psicólogos sociais, os atos agressivos estão baseados em

múltiplos motivos e têm por característica fundamental as estruturas do conhecimento de uma

pessoa. Tais estruturas se desenvolvem a partir da experiência, que por sua vez influenciam a

percepção em múltiplos níveis desde padrões visuais básicos até complexas seqüências

comportamentais; podem tornar-se automatizadas com o uso; são ligadas a estados afetivos e

crenças, e são usadas para orientar as interpretações e respostas comportamentais das pessoas.
57

Finalmente, existe ainda um outro grupo de teorias que sintetiza os dois anteriores, ou

seja, compatibiliza o biológico com o psicológico e o social. Trata-se do enfoque bio-psico-

social. Essas teorias valorizam as descobertas da biologia, psicologia, genética e

neurofisiologia, fundamentais para a compreensão do aspecto sócio-filosófico do ser humano.

Igualmente, valorizam os mecanismos que resultam na transformação do biológico pelo

social, como apelo da adaptação do biológico às circunstâncias vivenciais, assim como as

adequações do psiquismo às exigências existenciais.

De acordo com esta tendência, há uma complementação dinâmica entre o biológico, o

psicológico e o social, de forma que toda atividade humana repercute nas relações sociais,

culturais e emocionais, afetando tanto a constituição biológica quanto a consciência humana.

O enfoque bio-psico-social não crê que a violência resulte apenas dos problemas de

natureza econômica, como a pobreza, ou política (enfoque sociológico papel dos fatores

sociológicos no comportamento agressivo), embora entenda que estas questões sejam

significativas. Desacredita também, que o aumento da violência no mundo seja

exclusivamente devido ao aumento dos casos de sociopatas, psicopatas ou congêneres,

embora estejam presentes na criminalidade e, ainda, que a violência não se deve aos traumas

de pais separados, frustrações e conflitos com a educação infantil, etc. O enfoque bio-psico-

social corrobora a fórmula Fenótipo = genótipo + ambiente (BALLONE, 2003 a).

Em síntese, pode-se dizer que devido à ampla variedade de definições para a agressão,

varias perspectivas teóricas respondem sobre a gênese deste comportamento. Psicólogos

sociais (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2001) agruparam três categorias gerais de

explicações:

a) o ser humano está, de alguma forma, programado para a violência por sua natureza.

A base biológica para os comportamentos agressivos é defendida por psicanalistas, etólogos e

sociobiólogos. Destacam-se ainda outras teorias que, embora não qualificadas como
58

instintivas, enfatizam a agressão como biologicamente determinada. A genética

comportamental põe em evidência o papel de fatores biológicos herdados na agressão

humana. Ainda numa perspectiva biológica, pesquisadores identificaram sistemas neurais que,

quando ativados, aumentam a agressão. Estudos demonstram a influência bioquímica (uso de

drogas, especialmente o álcool), bem como os efeitos da ação hormonal na agressividade

humana.

b) a agressão é uma resposta natural à frustração, a resposta agressiva é decorrente de um

impulso básico eliciado por variáveis externas. Nesta categoria enquadram-se os psicólogos

sociais, que concebem a agressão através da hipótese frustração-agressão, em primeira

formulação e suas revisões posteriores.

c) a agressão é resultado da aprendizagem, obtida através de normas sociais, culturais e de

experiências de socialização. Esta explicação situa-se na categoria dos teóricos da

aprendizagem instrumental e observacional.

Conforme foi descrito até aqui, as explicações para o comportamento agressivo

encontram-se relacionadas a diferentes fatores.

Diante das colocações acima se destacam a teoria de Lorenz e a teoria psicanalítica

predominantemente intrapsiquica, e as teorias psico-sociais que consideram o indivíduo como

uma resultante não dos instintos e dos objetos interiorizados, mas sim do interjogo

estabelecido entre o sujeito e os objetos internos e externos, em uma predominante relação de

interação, a qual se expressa através de certas condutas. Aproxima a investigação psicanalítica

da investigação da Psicologia social, no que diz respeito às representações e atribuições

relativas ao comportamento agressivo, as quais de uma maneira ou de outra influenciarão o

comportamento da vítima. A psicologia social estuda o indivíduo não como um ser isolado,

mas incluído dentro de um grupo, e empreende assim, sua investigação.


59

A agressividade configura uma estrutura que funciona acionada por motivações

psicológicas. A psicanálise ao estudá-la se ocupa mais do vínculo interno, enquanto que a

psicologia social se ocupa mais do externo.

A psicanálise, embora sendo o método com maiores possibilidades de investigação

profunda, contribuiu pouco para o desenvolvimento de estudos na área da interação social, por

lhe faltar a verificação e a confrontação necessárias para o desenvolvimento de estudos

concebidos a partir das relações sociais.

Através da psicologia social podemos obter um quadro dos motivos e das causas, em

termos gerais que levam uma pessoa a se comportar de forma violenta ou mesmo permanecer

em uma relação violenta enquanto vítima.

O que mais interessa do ponto de vista psicossocial é a interação (estímulos externos),

enquanto que do ponto de vista da psicanálise o que mais interessa são os aspectos internos.

Importante ressaltar que os psicólogos sociais, ao responder a questão da origem da

agressão humana, diferenciam-se apenas no grau em que consideram a agressão como algo

inato ou aprendido, na medida em que levam em conta a influencia de fatores pessoais ou

ambientais como instigadores de atos agressivos e, ainda quanto aos meios que sugerem para

o controle ou a prevenção da agressão.

A Psicologia social refuta a explicação da agressão em termos


exclusivamente biológicos, visto que, atos instintivos para a agressão
não são coerentes com a idéia da intenção do agente causar dano.
Porém, isto não significa que ela negue qualquer influência de base
biológica na deflagração do comportamento agressivo. Entre muitos
atos agressivos a Psicologia Social reconhece a influencia de alguns
fatores biológicos na predisposição de certos indivíduos para a
agressão . (RODRIGUES;
ASSMAR ; JABLONSKI 2001, p. 213).

Considerando-se as explicações em qualquer das abordagens desenvolvidas nas diferentes

áreas do conhecimento, seja no enfoque biológico, no psico-social, ou no bio-psico-social a


60

violência consiste em ações que ocasionam a morte de seres humanos ou que afetam

prejudicialmente sua integridade física, moral, mental ou espiritual. O aspecto mais relevante

da violência não está necessariamente nas lesões físicas, que muitas vezes têm um

prognóstico razoavelmente bom, mas nas lesões emocionais que costumam evoluir de

maneira negativa. As vítimas diretas ou indiretas (familiares, testemunhas) correm um risco

de desenvolver algum transtorno emocional. Ações violentas sobre o psiquismo humano são

aquelas que afetam profundamente a vida psíquica do ser humano. Submetida a ações

violentas, a pessoa deixa de se auto-governar e de se auto-determinar, perdendo

conseqüentemente, o domínio de seu ser e de sua liberdade.

1. 2. 3 Variáveis relacionadas ao comportamento agressivo

Pesquisas baseadas na teoria da agressão podem reduzir o nível de violência na sociedade

ao aumentar o entendimento das causas da agressão e violência. Estas pesquisas mostram que

fatores biológicos, ambientais, psicológicos e sociais influenciam o comportamento agressivo.

Os fatores que influenciam a agressão podem ser categorizados em função das características

da situação ou em função das características da pessoa na situação.

Anderson e Bushman (2002); Rodrigues; Assmar; Jablonski (2001) indicam os tipos de

processos fundamentais para examinar como vários inputs de variáveis pessoais e situacionais

levam ao comportamento agressivo.


61

a) Fatores Pessoais

Estes incluem todas as características que uma pessoa traz à situação, como características

pessoais, atitudes, e predisposições genéticas. Os fatores pessoais são estáveis e demonstram

consistência através do tempo, através das situações ou através de ambos. Tal consistência é o

resultado do uso de esquemas, de enredos, e de outras estruturas do conhecimento

(MISCHEL, 1999; MISCHEL ; SHODA, 1995). Esquema perceptivo é usado para identificar

fenômenos simples como os objetos comuns do dia a dia, tais como, cadeira e pessoa, ou

fenômenos complexos como eventos pessoais. Esquema de pessoa inclui crenças sobre uma

pessoa particular ou grupo de pessoas. Enredos contêm informações sobre como as pessoas

comportam-se sob variadas circunstâncias. As estruturas de conhecimento influenciam quais

situações uma pessoa irá seletivamente procurar e quais situações ela evitará, o que contribui

para uma consistência das características pessoais. Juntos os fatores pessoais podem

compreender uma disposição individual para a agressão.

Assim, certas características pessoais predispõem indivíduos a altos níveis de agressão.

Um recente avanço nesta área foi a descoberta de que certos tipos de pessoas que

freqüentemente agridem outros, o fazem em grande parte por causa de uma suscetibilidade em

direção à atribuição hostil, percepção, e expectativas preconceituosas (CRICK ; DODGE,

1994; DILL et al., 1997 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).

Outro recente avanço contradiz crenças duradouras de muitos teóricos: um tipo de alta

auto-estima (e não baixa auto-estima) produz alta agressão. Especificamente, indivíduos com

auto-estima inflada ou instável (narcisistas) tendem a raiva e são altamente agressivos quando

sua alta auto-imagem é ameaçada (BAUMEISTER ; SMART; BODEN, 1996; BUSHMAN ;

BAUMEISTER 1998).
62

Outro aspecto mostra que homens e mulheres diferem nas tendências agressivas,

especificamente no que diz respeito à maioria dos comportamentos violentos de homicídio e

ataques agravados. A proporção de homens para mulheres assassinados nos Estados Unidos é

cerca de 10:1 (FEDERAL BUREAU INVESTIGATION, 1999). Estudos de laboratório

freqüentemente mostram o mesmo tipo de efeito do gênero, mas a provocação

dramaticamente reduz as diferenças dos gêneros em agressão física e, especificamente, os

tipos de provocação diferencialmente afetam a agressão masculina e feminina

(BETTENCOURT ; MILLER, 1996).

Os tipos preferidos de agressão também diferem para homens e mulheres. Homens

preferem usar agressão direta, enquanto as mulheres preferem agressão indireta

(OESTERMAN et al., 1998). Estudos sugerem que muitas destas diferenças resultam de

experiências diferenciadas de socialização (OESTERMAN et al., 1998). No entanto,

explicações evolucionárias de algumas diferenças de gênero também receberam suporte

empírico (BUSS ; SHACKELFORD, 1997; CAMPBELL, 1999; GEARY, 1998 apud

ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Por exemplo, homens ficam mais preocupados

(entristecidos) por infidelidade sexual de suas parceiras do que por infidelidade emocional,

enquanto o padrão oposto ocorre com as mulheres (GEARY et al., 1995).

Em todos estes exemplos, os entendimentos sobre diferenças de gênero na agressão são

fortemente aumentados pela descoberta de diferenciadas reações afetivas.

Da mesma forma, muitos tipos de crenças desempenham um papel na disposição para

agressão. Crenças relacionadas à eficácia são particularmente importantes (BANDURA, 1977

apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Aqueles que acreditam que podem cometer com

sucesso atos agressivos específicos (auto-eficácia), e que estes atos irão produzir os resultados

desejados (eficácia de resultados), são muito mais propensos a selecionar comportamentos

agressivos do que aqueles que não são tão confiantes na eficácia de atos agressivos. Crenças
63

relacionadas à agressão significativamente prevêem futuros níveis de comportamento

agressivo (HUESMANN ; GUERRA, 1997). A origem de tais crenças em crianças é

freqüentemente a família (PATTERSON; DEBARSHE; RAMSEY, 1989; PATTERSON;

REID; DISHION, 1992).

Um quarto aspecto inclui as atitudes que são de forma geral avaliações que pessoas

mantêm delas mesmas, de outras pessoas, de objetos e de problemas (PETTY ; CACIOPPO

1986 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Atitudes positivas direcionadas à violência

em geral também preparam certos indivíduos para a agressão. Mais especificamente, atitudes

positivas sobre violência contra grupos de pessoas específicos também aumentam a agressão

contra estas pessoas. Por exemplo, atitudes sobre violência contra a mulher são positivamente

relacionadas à agressividade sexual contra a mulher (MALAMUTH et al., 1995). Homens que

tendem para agressão contra mulheres não são geralmente agressivos contra pessoas em todas

as situações; particularmente, eles vão contra as mulheres, mas não contra homens que os

provocaram (ANDERSON, 1996 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).

Valores e crenças sobre o que se deve ou não deve fazer, também desempenham um papel

na disposição à agressão. Para muitas pessoas, violência é um método perfeitamente aceitável

de se lidar com conflitos interpessoais, talvez seja até mesmo o método preferido. Por

exemplo, o sistema de valores em partes das regiões sul e oeste dos Estados Unidos dita que

afrontes contra a honra pessoal devem ser respondidos, preferivelmente, com violência

(NISBETT ; COHEN 1996 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Existem evidências de

que a violência de jovens gangues, resultam de códigos similares de honra e respeito pessoal

(BAUMEISTER ; BODEN, 1998 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002).

Em longo prazo, objetivos abstratos também influenciam a disposição do indivíduo para a

agressão. Por exemplo, os objetivos principais de alguns membros de gangue são ser

respeitados e temidos (HOROWITZ ; SCHWARTZ, 1974; KLEIN ; MAXSON, 1989 apud


64

ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Tais objetivos obviamente caracterizam as percepções de

episódios, valores, e crenças de alguém sobre a adequabilidade de vários direcionamentos de

uma ação. Similarmente, um objetivo pessoal de vida de obter riquezas pode aumentar

disposição da pessoa para agressão instrumental.

Da mesma forma, os enredos de interpretação e os enredos de comportamento que uma

pessoa traz para situações sociais influenciam a disposição da pessoa para a agressão

(HUESMANN, 1988, 1998). Enredos são compostos de muitos dos elementos precedentes, na

estrutura do conhecimento.

b) Fatores Situacionais

Fatores situacionais incluem quaisquer características importantes da situação, tais como a

presença de uma provocação ou uma pista agressiva. Como os fatores pessoais, os fatores

situacionais influenciam a agressão ao influenciar a cognição, o afeto e a excitação.

Pistas agressivas são os objetos que ativam conceitos relacionados à agressão na memória.

Por exemplo, Berkowitz e LePage (1967) descobriram que a mera presença de armas (versus

raquetes de beisebol) aumenta o comportamento agressivo de participantes raivosos

pesquisados. Mais recentemente, o entendimento do efeito de armas tem sido aumentado pelo

descoberta de que figuras de armas e palavras automaticamente ativam pensamentos

agressivos (ANDERSON et al., 1998). Outras variáveis situacionais que aumentam a

agressão, como a exposição a programas televisivos, filmes ou videogames violentos também

o fazem via cognitiva (ANDERSON ; DILL, 2000; BUSHMAN, 1998).

Talvez a causa mais importante da agressão humana seja a provocação interpessoal

(BERKOWITZ, 1993a; GEEN, 2001). Provocações incluem insultos e outras formas de

agressão verbal, agressões físicas, interferência nos esforços de alguém na tentativa de se


65

chegar a um importante objetivo e coisas assim. Uma linha emergente de pesquisas preocupa-

se com a violência no ambiente de trabalho, agressão e intimidação (COWIE et al., 2001 apud

ANDERSON; BUSHMAN, 2002; FOLGER; BARON, 1996 apud ANDERSON;

BUSHMAN, 2002). Baron (1999) descobriu que a percepção de injustiça foi positivamente

relacionada à agressão no espaço de trabalho.

A frustração pode ser definida como o empecilho na obtenção de um objetivo. A maior

parte das provocações pode ser vista como um tipo de frustração na qual uma pessoa foi

identificada como o agente responsável pela falha ao tentar alcançar um objetivo. Mesmo as

frustrações que são plenamente justificadas têm mostrado aumentar agressão contra o agente

frustrante (DILL ; ANDERSON, 1995) e contra uma pessoa que não foi responsável pela

falha ao tentar alcançar um objetivo (GEEN, 1968 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).

Pesquisas mais recentes mostraram que agressão deslocada, na qual o alvo da agressão não é a

pessoa que causou a frustração inicial, é um fenômeno sólido (MARCUS-NEWHALL et al.,

2000; PEDERSEN; GONZALES; MILLER, 2000). Se tais efeitos da frustração operam

primariamente influenciando as cognições, o afeto ou a excitação, isto ainda não é claro.

Outro estudo mostrou que mesmo condições não-sociais aversivas tais como temperaturas

quentes, barulhos altos, odores desagradáveis, aumentam a agressão (BERKOWITZ, 1993a).

Condições aversivas agudas, como a dor produzida pela imersão de uma mão em um balde de

água extremamente gelada, aumentam a agressão (BERKOWITZ et al., 1981 apud

ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Desconforto geral, tal como o produzido por sentar-se

numa sala quente, pode também aumentar a agressão; este efeito é mediado ativamente por

afeto negativo aumentado.

Várias drogas tais como o álcool e a cafeína podem também aumentar a agressão

(BUSHMAN, 1993 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Estes efeitos são mais indiretos

que diretos; Bushman (1997 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002) descobriu que fatores
66

facilitadores da agressão, tais como provocação, frustração, pistas agressivas, têm um efeito

muito mais forte em pessoas que estão sob a influência de drogas do que em pessoas que não

estão.

Os tipos de incentivos que podem aumentar a violência são tão numerosos quanto o

número de objetos que as pessoas querem ou desejam. Realmente, toda a indústria de

propaganda centra-se no objetivo de fazer as pessoas quererem mais coisas (KILBOURNE,

1999 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Ao aumentar o valor de um objeto, a pessoa

muda implícita ou explicitamente as proporções percebidas de custo/benefício, por isso,

aumenta a agressão premeditada e a instrumental. A aparição momentânea de um incentivo,

tal como o dinheiro deixado em cima de uma mesa, pode também influenciar a agressão de

uma forma menos premeditada.

c) Processos

Variáveis inputs influenciam o resultado do comportamento final através do estado-

interno atual que elas criam. Por exemplo, a característica pessoal de hostilidade e a

exposição a cenas violentas de filmes interativamente influenciam a acessibilidade a

pensamentos agressivos (ANDERSON, 1997), afeto agressivo e comportamento agressivo

(BUSHMAN, 1995 ). Os estados internos de maior interesse dizem respeito à cognição, afeto

e excitação.

Em relação à cognição, algumas variáveis inputs influenciam o comportamento agressivo

ao aumentar a relativa acessibilidade de conceitos agressivos na memória. Freqüentes

ativações de um conceito resultam em torná-lo cronicamente acessível, enquanto uma

ativação situacional resulta em fazer o conceito acessível por curto período (BARGH et al.,

1988 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002; SEDIKIDES ; SKOWRONSKI, 1990). O

aumento temporário em sua acessibilidade é freqüentemente chamado de preparação. Um


67

grupo de fatores, tais como a violência na mídia, podem ativar pensamentos agressivos

(ANDERSON ; DILL, 2000; BUSHMAN, 1998).

Huesmann (1998) descreveu em detalhes o processo básico que sustenta o

desenvolvimento de enredos agressivos altamente acessíveis. Similarmente, a atribuição

hostil, característica tendenciosa, de crianças agressivas pode ser vista como instância de

enredos relacionados à hostilidade (CRICK ; DODGE, 1994; DODGE ; COIE, 1987 apud

ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).

Variáveis inputs podem também influenciar diretamente o afeto, produzindo a cena para

efeitos posteriores de comportamentos agressivos. Por exemplo, a dor aumenta o estado de

hostilidade ou raiva (BERKOWITZ, 1993a; ANDERSON, et al., 1998). Temperaturas

desconfortáveis produzem um pequeno aumento no afeto negativo geral e um grande aumento

no afeto agressivo (ANDERSON; ANDERSON; DEUSER, 1996a apud ANDERSON;

BUSHMAN, 2002). Exposição a filmes violentos também aumenta os sentimentos hostis

(ANDERSON, 1997; BUSHMAN, 1995 ; BUSHMAN ; GEEN, 1990 apud ANDERSON ;

BUSHMAN, 2002; HANSEN ; HANSEN, 1990 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002).

Muitas variáveis da personalidade estão ligadas ao afeto relacionado à hostilidade. Por

exemplo, a característica pessoal de hostilidade medida por escalas auto-avaliadas (como as

PANAS) é positivamente relacionada ao estado de hostilidade (ANDERSON, 1997;

ANDERSON; BENJAMIN; BARTHOLOW, 1998 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002;

BUSHMAN, 1995).

Respostas motoras expressivas são as reações automáticas que ocorrem em conjunção

com emoções específicas, principalmente na face. Mesmo na infância mais tenra, a dor

inesperada (injeções de imunização) rapidamente produz uma palidez, e uma expressão de

raiva por todo o rosto (IZARD, 1991 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002). Berkowitz

(1993a) postula que experiências aversivas ativam diretamente programas motores que vão
68

além de meras expressões faciais. Esta noção combina bem com o modelo de estrutura de

conhecimento em suas muitas estruturas de conhecimento (tais como os enredos) incluindo

tendências de ação que são ativadas uma vez que a própria estrutura de conhecimento atingem

o limite.

Excitação pode influenciar a agressão de três modos diferentes. Em primeiro lugar, a

excitação proveniente de uma origem irrelevante pode energizar ou fortalecer as tendências

dominantes de ação, incluindo tendências agressivas. Se uma pessoa é provocada ou de outra

forma instigada a agredir no momento em que ocorre um aumento da excitação, pode resultar

em altos níveis de agressão (GEEN; O NEAL, 1969 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002).

Em segundo lugar, a excitação produzida por origens irrelevantes (exercícios) pode ser

rotulada erroneamente como raiva em situações envolvendo provocação, produzindo, assim,

comportamento agressivo motivado na raiva. Este processo errôneo de rotulação tem sido

demonstrado em muitos estudos de Zillmann (1983b), que nomeou o fenômeno de

transferência de excitação.

A teoria da transferência de excitação sugere que este tipo de efeito da excitação pode

persistir por de um longo período. Mesmo depois da excitação dissipar-se, o indivíduo pode

manter uma agressividade potencial por tanto tempo quanto o rótulo autogerado de raiva

persistir. Uma terceira, e ainda não testada, possibilidade é que raramente altos e baixos níveis

de excitação podem ser estados aversivos, e podem por isso estimular a agressão do mesmo

modo como outro estímulo aversivo ou doloroso.

Um grande número de variáveis situacionais influencia tanto a excitação fisiológica

quanto a psicológica. Exercícios aumentam ambos, enquanto o álcool diminui ambos.

Interessantemente, mudanças na excitação fisiológica e psicológica nem sempre coincidem.

Altas temperaturas aumentam a freqüência cardíaca enquanto simultaneamente diminuem a


69

excitação percebida. Isto sugere que o calor pode aumentar a agressão através do processo de

excitação (ANDERSON et al., 2000 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002).

Os conteúdos destes três processos são altamente interconectados. A influência das

cognições e excitação sobre o afeto é uma idéia que remonta a muitas gerações anteriores,

como em Schachter e Singer (1962 apud ANDERSON ; BUSHMAN, 2002) e William James

(1890 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002). O afeto também influencia a cognição e a

excitação (BOWER, 1981 apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002). Estudos têm mostrado

que as pessoas freqüentemente usam seu estado afetivo para guiar os processos de inferência e

julgamento (FORGAS, 1992; SCHWARZ; CLORE, 1996 apud ANDERSON; BUSHMAN,

2002). Em um nível teórico, alguém pode ver o afeto como uma parte da memória semântica

que pode ser ativada via propagação do processo de ativação. Cognições hostis podem

provocar sentimentos hostis mais acessíveis e vice-versa.

Dessa forma, os resultados dos inputs entram nos processos de avaliação e decisão através

de seus efeitos na cognição, no afeto e na excitação. De acordo com Anderson et al. (1996

apud ANDERSON; BUSHMAN, 2002) os processos de avaliação e decisão estão

relacionados aos processos de explicação e atribuição.

Neste sentido os processos de explicação e atribuição se estabelecem sempre em função

da cognição, do afeto e da excitação. Assim, um relacionamento pode ser mais amoroso ou

mais agressivo de acordo com a explicação causal construída pelo percebedor na dinâmica da

relação interpessoal. Além disso, não se pode concluir que o comportamento violento deva-se

apenas a uma causa. Como foi visto, recentes estudos sobre tal questão mostram que fatores

biológicos, ambientais, psicológicos e sociais influenciam o comportamento agressivo. Dessa

forma a violência pode ser entendida como um elemento intrínseco e fundante na constituição

do ser humano, favorecendo assim a existência de uma cultura da violência. A violência não é

apenas produto da sociedade.


70

As descobertas do Projeto Genoma Humano abrem novas compreensões do intelecto e das

emoções, mostra que a hereditariedade tem um papel no pensamento e comportamento

humano, e nos traz novos desafios. Admitir a natureza humana, não significa endossar a

violência, nem negar que a cultura não é nada. Reconhecer a natureza humana pode por os

fenômenos da cultura em seu devido lugar, sem segregá-los e não implica em se obter os

resultados negativos que muitos temem. Pelo contrário podem ajudar na condução de um

humanismo realista e fundamentado na biologia (PINKER, 2004).

De qualquer maneira, pode-se falar em uma agressividade constitucional, e ao mesmo

tempo, pode-se falar também que o mundo interno é construído pela experiência externa. Em

razão a isso é fundamental descobrir como uma mulher se posiciona, diante da violência do

parceiro, procurando compreender ao mesmo tempo a permanência dessas mulheres no

relacionamento a partir das causas atribuídas por elas que estão em contato direto com a

violência do parceiro. Para tanto, o próximo capítulo abordará, o fenômeno da violência

conjugal apresentando conceitos, dados epidemiológicos, formas da violência, suas causas e

fatores que ajudam a explicar a permanência da mulher em um relacionamento conjugal

violento.
CAPÍTULO 2

VIOLÊNCIA CONJUGAL

O fenômeno da violência conjugal acontece no mundo inteiro e atinge mulheres em todas

as classes sociais, raças, etnias, graus de instrução e em quase todas as idades. Este fenômeno

tem sido conceitualizado com base na violência de gênero, também chamada violência

doméstica e violência contra a mulher.

A revisão inicial da literatura nos mostra que a violência de gênero é um fenômeno

complexo e polissêmico, começando pela diversidade de termos que se utilizam para se referir

a este tipo específico de violência. Violência contra a mulher, violência intrafamiliar,

violência conjugal, violência doméstica contra a mulher, mulher golpeada ou espancada ou

mais recentemente, violência de gênero, para citar somente alguns exemplos.

Conforme definição do Conselho da Europa, violência contra a mulher é:

Qualquer ato, omissão ou conduta que serve para infligir sofrimentos


físicos, sexuais ou mentais, direta ou indiretamente, por meio de
enganos, ameaças, coação ou qualquer outro meio, a qualquer
mulher, e tendo como objetivo e como efeito intimidá-la, puni-la ou
humilhá-la, ou mantê-la nos papeis estereotipados ligados ao seu
sexo, ou recusar-lhe dignidade humana, a autonomia sexual, a
integridade física, mental e moral, ou abalar a sua segurança pessoal,
o seu amor próprio, ou a sua personalidade, ou diminuir as suas
capacidades físicas ou intelectuais. (BALLONE, 2003b, p. 2-3)

Segundo o Conselho Social e Econômico das Nações Unidas (1992), violência contra a

mulher consiste em "Qualquer ato de violência baseado na diferença de gênero, que resulte

em sofrimentos e danos físicos, sexuais e psicológicos da mulher; inclusive ameaças de tais

atos, coerção e privação da liberdade seja na vida pública ou privada . (IPAS e a violência

contra a mulher, 2004).


72

A Comissão da APA sobre Violência e Família (AMERICAN PSYCHOLOGICAL

ASSOCIATION - APA, 1996) definiu violência doméstica como um padrão de

comportamentos abusivos incluindo uma ampla gama de maus tratos físicos, sexuais e

psicológicos usados por uma pessoa para conquistar poder injustamente e ou manter o abuso

do poder, controle e autoridade, definição essa que está de acordo com a ótica do gênero, que

é aceita em todo o mundo.

A violência praticada contra a mulher nessa ótica tem como base comum as desigualdades

predominantes na sociedade, e se apresenta num continuum que vai de desigualdades salariais

a tráfego internacional de mulheres e meninas (BRASIL, 2003).

Existe, portanto, um nódulo na prática e na literatura em torno da demarcação da violência

doméstica e conseqüentemente em torno da violência conjugal, tanto em relação aos termos,

quanto em relação às perspectivas teóricas. A APA (1996) focalizou pesquisas em psicologia

sobre violência doméstica em áreas como: abuso de parceiros, violência em namoro, abuso

contra crianças, abuso contra idosos e adultos sobreviventes de violência infantil. Termos

como violência conjugal, violência doméstica, violência contra a mulher e violência de

gênero, são utilizados indistintamente por estudiosos e ativistas, e eles se tornam

intercambiáveis e acabam com freqüência se confundindo.

Os termos originalmente utilizados nos estudos na América do Norte para identificar

violência doméstica incluem abuso contra as esposas, violência masculina contra parceiras,

abuso de mulheres, mulheres espancadas e abuso de parceiros (GOODMAN et al., 1993).

Alguns autores continuam a usar o termo violência familiar sinonimamente a violência

doméstica . Muitos psicólogos norte-americanos continuam a usar o termo violência

doméstica para definir violência contra mulheres por seus parceiros, para serem mais

consistentes com as definições legais, a despeito dos problemas que surgem (WALKER,

1999).
73

Análise da literatura de pesquisa e experiência clinica em psicologia sobre violência

doméstica realizada por uma comissão da APA (1996) mostrou que cada disciplina que estuda

o problema usa diferentes termos, para descrever violência doméstica. Isso atrasa a habilidade

de coletar estatísticas precisas devido à dificuldade de se identificar o que deveria ser

considerada violência conjugal e, por sua vez, complica a comparação de um estudo ao outro.

Dessa forma, existem, dificuldades para a delimitação do fenômeno em questão, como foi

constatado no panorama mundial, conforme apontado pela Organização Mundial de Saúde

OMS (2002)

De acordo com Azevedo (1985); Gregori (1993); Grossi (1998); Saffioti (2002), o

conceito de violência conjugal é freqüentemente usado como sinônimo de violência doméstica

ou violência contra a mulher, em razão de ocorrer na maioria das vezes no espaço doméstico e

da violência ser perpetrada principalmente pelos homens.

Da mesma forma, as diferentes perspectivas que definem e classificam a violência contra

a mulher, freqüentemente se superpõem e se confundem, mas apontam ao mesmo tempo para

rumos diversos.

Sob uma perspectiva feminista o problema da violência conjugal é recortado pelo ângulo

do gênero e, é um problema que está ligado ao poder onde, de um lado, impera o domínio dos

homens contra as mulheres e, de outro, uma ideologia que lhe dá sustentação (SOARES,

1999).

Os profissionais que trabalham dentro de um enfoque de violência familiar não

compartilham a visão feminista, para eles a violência é multidirecionada, e tanto homens

quanto mulheres podem ser vítimas ou agressores. Nesses termos, a violência conjugal

adquire sentido mais abrangente no que diz respeito à luz do referencial teórico da violência

de gênero (SOARES, 1999).


74

Pode-se dizer que o ultimo enfoque apontado, é compatível com o modelo ecológico de

violência contra a mulher, proposto pela Organização Mundial de Saúde (2002), no qual

qualquer tipo de violência é resultante de uma interligação de fatores individuais,

compreendidos pelos aspectos biológicos e de história de vida do sujeito, dos fatores de

relacionamento que caracterizam a relação entre vítima e agressor e dos fatores culturais e

ambientais, conforme comunidade e sociedade.

Ainda sobre o problema da definição, não há na literatura sobre o tema definições claras

sobre quais situações constituem e quais não constituem, violência doméstica contra a mulher.

Esta categorização tem sido, até agora, muito mais intuitiva do que formal (OSÓRIO, 2004).

De acordo com Osório (2004), a violência doméstica pode ser definida segundo duas

variáveis: quem agride, e onde agride. Para que a violência sofrida por uma mulher esteja

enquadrada na categoria CONJUGAL , é necessário que o agressor seja uma pessoa que

freqüente sua casa, ou cuja casa ela freqüenta, ou pessoa que more com ela e que seja

marido, noivo, namorado, amante, etc. O espaço doméstico, portanto, se torna a segunda

variável delimitando o agressor como pessoa que tem livre acesso ele.

É interessante ressaltar ainda que até os anos de 1970, pouca atenção era dada ao papel da

violência no espaço domestico; este era um assunto quase impensável. Quando, no entanto, os

investigadores começaram a examinar a violência familiar, eles rapidamente descobriram que

ela era muito mais comum e muito mais severa do qualquer um poderia ter pensado

(BREHM, 1985)

Dada a enunciação do problema da violência conjugal, que foi mantido em segredo

durante décadas, este passou a ser reconhecido e a exigir soluções (SCHRAIBER;

D OLIVEIRA, 1999). Em um Encontro Feminista Latino-americano e do Caribe (Bogotá,

Colômbia), o dia 25 de novembro de 1981 foi declarado o Dia Internacional de Não

Violência Contra a Mulher (IPAS e a violência contra a mulher, 2004). A partir daí, Políticas
75

públicas foram implementadas para trabalhar com o problema que atualmente é considerado

crime. As Delegacias de Defesa da Mulher foram os primeiros recursos encontrados como

busca de solução à violência contra a mulher e especialmente à sua forma mais conhecida

que é a violência conjugal. O crime de violência conjugal é uma transgressão da norma social

e, enquadra-se na lei, sendo passível de responsabilização e punição.

Dentre os artigos do Código Penal Brasileiro (BRASIL, 1940) que descrevem a maioria

dos atos que se encaixam nos crimes de violência contra a mulher encontram-se:

Título I Dos Crimes Contra a Pessoa

Homicídio Simples - Artigo 121: Matar alguém; Artigo 122: Induzir ou

instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxilio para que o faça (Capítulo I Dos

Crimes Contra a Vida)

Lesão corporal - Artigo 129: Ofender a integridade corporal ou a saúde de

outrem (Capítulo II Das Lesões Corporais)

Calúnia - Artigo 138: Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido

como crime; Artigo 139: Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua

reputação; Artigo 140: Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro

(Capítulo V Dos Crimes Contra a Honra)

Constrangimento ilegal Artigo 146: Constranger alguém, mediante violência

ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a

capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não

manda; Artigo 147: Ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou por qualquer

outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave; Artigo 148: Privar alguém

de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado (Capítulo VI Dos Crimes

Contra a Liberdade Individual: Seção I - Dos Crimes Contra a Liberdade Pessoal)


76

Título II Dos Crimes Contra o Patrimônio

Dano Artigo 163: Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia (Capítulo IV

Do Dano)

Título IV Dos Crimes Contra os Costumes

Estupro Artigo 213: Constranger mulher à conjunção carnal, mediante

violência ou grave ameaça; Artigo 214: Constranger alguém, mediante violência ou

grave ameaça, a praticar ou permitir que com ele se pratique ato libidinoso diverso

da conjunção carnal (Capítulo I Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual).

No Brasil, a lei 9.099/95 do Código Penal determina que a violência contra a mulher é

crime doloso e estabelece penas alternativas para condenações. Estas penas são aplicadas aos

agressores de mulheres e tem sido pago em dinheiro ou cesta básica.

Esses crimes contra a mulher podem ser de Ação Penal Pública (quem oferece denuncia é

o Promotor de Justiça) ou Privada (a ação penal é encaminhada pela vítima). A lei 9099/95

que disciplina os delitos de pequeno potencial ofensivo, como lesão corporal leve e ameaça,

depende da representação criminal da vítima contra o agressor.

Além disso, violência conjugal é reconhecida pela Constituição Federal do Brasil em seu

parágrafo 8º., Artigo 226: O Estado assegurará assistência à família, na pessoa de cada um

dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito das relações . O

Brasil é signatário de vários acordos internacionais que remetem, direta ou indiretamente, à

questão do abuso, da agressão ou violência conjugal. O primeiro relatório apresentado à

Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o cumprimento do Brasil à convenção sobre a

Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW, 1981 apud

BRASIL, 2003), destaca o compromisso do Brasil com o Programa de Prevenção, Assistência

e Combate à Violência Contra a Mulher. Em janeiro de 2003, foi constituída a Secretaria


77

Especial de Políticas para Mulheres SPM, da presidência da República, com status de

ministério, como referência governamental de elaboração e execução de políticas e

articulações da igualdade de gênero no governo federal. A Secretaria constituída, reafirma o

compromisso firmado no primeiro relatório acima citado apresentado à ONU.

Vários acordos internacionais, como, por exemplo, a Declaração da Eliminação da

Violência Contra a Mulher , aprovado na Assembléia Geral das nações Unidas em 1993

(SÃO PAULO, s. d.), evidenciam a magnitude do problema, que e em todas as suas formas

pode ter implicações para a saúde física e psíquica da mulher, tendo tanto efeitos de longo,

quanto de curto prazo.

A ONU em 1993 buscando unificar critérios estabeleceu o termo Violência Contra as

Mulheres , que tem por base o gênero (OMS, 2002).

Neste trabalho o termo foi adotado de acordo com uma categoria mais ampla, presumindo

que tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas ou agressores, e sendo compreendida

como relação de união estável formal ou informal, incluindo namoro. Neste sentido, violência

conjugal será conceituada como Ato agressivo perpetrado pelo parceiro(a) intimo(a), que

determina dano físico, moral, psicológico ou econômico, através da força ou da coação, que

se produz de uma forma contínua através do tempo. O conceito encerra o sujeito violento e o

sujeito violentado, sua reiteração no tempo e suas conseqüências imediatas e dramáticas.

Finalizada a discussão relativa ao conceito de violência conjugal, a seguir serão

apresentados dados epidemiológicos de vários paises incluindo o Brasil.

2.1 Dados epidemiológicos da violência conjugal no exterior e no Brasil


78

Há milhares de mulheres que sofrem de alguma forma de violência nas mãos de seus

maridos, noivos e namorados a cada ano. São muito poucas as que contam a alguém, seja um

amigo(a), um familiar, um vizinho(a) ou à polícia. Essas mulheres provêm de vários estilos de

vida, culturas, grupos, idades e religiões. Todas partilham de sentimentos de insegurança,

isolamento, medo e vergonha.

De acordo com a Avaliação Nacional sobre Violência em Família (National Family

Violence Survey) um estudo feito com uma amostragem nacionalmente representativa de

famílias americanas, desenvolvido pelos sociólogos Murray Straus, Richard Gelles e Suzanne

Steinmetz de New Hampshire (1980) em mais de um, de seis lares americanos, um cônjuge

agrediu fisicamente seu (sua) parceiro(a) pelo menos uma vez durante o ano de 1975

(STRAUS; GELLES; STEINMETZ, 1980).

Dados produzidos e divulgados nos Estados Unidos, onde a violência doméstica é

abundantemente pesquisada e quantificada, são eloqüentes: a cada quinze segundos uma

mulher é vítima de agressão; cerca de dois milhões de mulheres são anualmente, vítimas de

agressões graves (STRAUS; GELLES; STEINMETZ, 1980; STRAUS,1993) e a cada quatro

dias mulheres são assassinadas por seus parceiros ou ex-parceiros, o que significa mil e

quatrocentas mulheres mortas, por ano, nestas condições (SOARES, 1999). Nos Estados

Unidos, violência no lar é a maior causa isolada de ferimentos em mulheres, responsável por

mais internações hospitalares do que estupros, assaltos e acidentes de trânsito juntos .

(GRANT, 1995, p.25).

No Japão , a associação de investigação sobre a violência conjugal concluiu no ano de

1993, que 78,5% das mulheres que vivem com seus maridos ou companheiros sofrem maus

tratos. Destas, mais da metade foram vítimas de golpes no rosto. No entanto, menos que 5%

denunciaram a violência sofrida (CAMPAÑA INTERAGENCIAL CONTRA LA

VIOLENCIA HACIA LAS MUJERES Y LAS NIÑAS, 1998).


79

Calcula-se que 40% das mulheres assassinadas no Canadá foram vítimas de homicídio

pelo parceiro de relações amorosas e sexuais estáveis (THE TORONTO STAR, 1996 apud

WILLIAMS, 2004). Nos Estados Unidos esta porcentagem salta para 52%

(MEICHENBAUM, 1994) e no Brasil a incidência de homicídios femininos pelo parceiro é

mais alta ainda, sendo cerca de 66% (MACHADO, 1998).

Segundo informe divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em novembro de

2002, quase metade das mulheres que morrem por homicídio no mundo é assassinada por seus

maridos ou ex-companheiros. A violência causa aproximadamente 7% dos problemas de

saúde das mulheres entre 15 e 44 anos. Além de destruir centenas e milhares de vida, a

violência contra a mulher causa lesões físicas, dores crônicas, depressão, comportamentos

suicidas. (BALONE ; ORTOLANI IV, 2003b).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (2002), foram agredidas fisicamente por seus

parceiros entre 19% a 52% das mulheres da América Latina em algum momento de sua vida,

enquanto que na Suíça, Canadá, e Nova Zelândia e outros países industrializados essas taxas

variam entre 20 e 29% .

Dados epidemiológicos da violência contra a mulher são bastante expressivos. Na

verdade, em 1989 o Worlwatch Institute declarou a violência contra a mulher como sendo o

tipo de crime mais freqüente do mundo (MEICHENBAUM, 1994).

Estatísticas dão uma noção da prevalência ao redor do mundo e principalmente em alguns

países do continente americano, ainda que com importantes diferenças metodológicas de

coleta de dados.
80

País e autor Amostra Tipo de Achados


amostra
Canadá 2.300 mulheres de 18 Amostra 25% das mulheres (29% das
(Statistics Canada, anos ou mais nacional que alguma vez foram
1993) representativa casadas) informam haver sido
atacadas fisicamente por
companheiro atual ou anterior
desde os 16 anos de idade
Chile 1.000 mulheres entre 22 Amostra 60% foram abusadas por
e 55 anos em Santiago aleatória companheiro, 26,2% foram
(Larrain,1993)
envolvidas em uma estratificada fisicamente abusadas
relação por 2 ou mais
anos
Colômbia, 3.272 mulheres urbanas; Amostra 20% abusadas fisicamente,
1990 2.118 mulheres rurais nacional 33% abusadas
representativa psicologicamente, 10%
estupradas pelo marido
Nicarágua, 488 mulheres de 15 a 49 Amostra 52% de violência física
Leon (Ellsberg et anos representativa
al., 1998)
EUA, 1986 2.143 casais Amostra 28% reportam ao menos um
oficialmente casados ou probabilística a episódio de violência física
coabitando nível nacional
QUADRO 1 - Estatística da Prevalência da Violência Contra a Mulher em Países do
Continente Americano.
FONTE: Adaptado de Heise et al.(1994 apud SCHRAIBER ; D OLIVEIRA, 1999)

Embora se tenha que ter cuidados com os resultados de pesquisas epidemiológicas, por

diversas razões metodológicas, estima-se que um quarto das mulheres de todo o mundo seja

vítima da violência em seus próprios lares (WILLIAMS, 2004). Dados específicos de cada

país apresentam altas diferenças entre seus índices até 50% na Tailândia, 60% em Papua,

Nova Guiné e Coréia e 80% no Paquistão e no Chile (GRANT,1995).

No Brasil, conforme o Informe Nacional sobre a Situação da Violência de Gênero contra

as Mulheres de dezembro de 1998, a única pesquisa nacional sobre violência no país,

elaborada através de metodologia que permite comparabilidade, foi produzida em 1988 pelo

IBGE, no âmbito da Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD). Esse suplemento

mostrou que no conjunto das vítimas de agressões físicas (lesões corporais), cerca de 44,77%
81

eram mulheres. As grandes diferenças entre vítimas mulheres e vítimas homens dizem

respeito ao autor e ao local de ocorrência da agressão. Para as mulheres, 63% das agressões

foram majoritariamente praticadas por parentes e conhecidos, na maioria homens do círculo

afetivo da vítima (CAMPAÑA INTERAGENCIAL CONTRA LA VIOLENCIA HACIA

LAS MUJERES Y LAS NIÑAS, 1998).

A Câmara dos Deputados divulgou pesquisa feita de janeiro de 1991 a agosto de 1992,

apresentando um quadro de distribuição por tipo de violência registrada contra a mulher no

país, onde se destacam os crimes de lesão corporal, ameaças e estupros como os mais

recorrentes.

Tipo de crime cometido Representatividade no


contra a mulher conjunto da criminalidade contra
a mulher
Lesão corporal 26,2%
Ameaças 14,4%
Estupro 1,8%
Homicídios 0,5%
Outros 60%
QUADRO 2 - Dados da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Violência contra a
Mulher, 1991-1992.
FONTE: Campaña Interagencial Contra La Violencia Hacia Las Mujeres Y Las Niñas
(1998).

Na ausência de dados estatísticos nacionais oficiais sistematizados e mais atualizados, os

únicos dados existentes são oriundos de organizações não governamentais ou das Secretarias

de Segurança Pública dos estados brasileiros.

No estado de Minas Gerais, dados da Delegacia da Mulher de Belo Horizonte apresentam

a magnitude das ocorrências mais comuns da violência contra a mulher: lesões corporais,

ameaças e estupro.
82

Tipos 1998
Lesão corporal dolosa 2.296
Estupro 410
Ameaças 1.573
Total 4.279
QUADRO 3 - Dados Estatísticos sobre Violência contra a Mulher Belo Horizonte
FONTE: Campaña Interagencial Contra La Violencia Hacia Las Mujeres Y Las Niñas,
(1998).

O Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) apresentou dados que mostram

411.213 mulheres vítimas de agressões leves e graves em 1999. Comparando-se esse número

aos 123.131 registros obtidos pela CPI da Violência contra a Mulher em 1993, percebe-se um

aumento de 70% em apenas seis anos. Entre esses casos, a lesão corporal foi o crime mais

denunciado por mulheres, 113.727 ocorrências, sendo seguida pelos maus tratos psicológicos

com 107.999 casos (BRIGA de marido e mulher: chegou a hora de meter a colher, 2004).

A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (BRASIL, 2003) aponta que o número

estimado de mulheres que relatam ter sido agredidas por seus maridos ou companheiros é de

300.000 mulheres a cada ano. Conforme Heise (1994) mais da metade das mulheres

assassinadas no Brasil foram mortas por seus companheiros íntimos.

De acordo com a pesquisa A mulher brasileira nos espaços públicos e privados , que

entrevistou 2502 mulheres, distribuídas em uma amostra estratificada por cotas de idade e

áreas urbana e rural de 24 Estados brasileiros, realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA)

em 2001, calcula-se que perto de 6,8 milhões de mulheres já foram espancadas ao menos uma

vez na vida (11%), sendo a projeção da taxa de espancamento anual de 2,1 milhões. Estima-se

ainda que quatro mulheres sejam espancadas por minuto, uma em cada quinze segundos

(AGRAVAMENTO da violência de gênero, 2004). Os resultados da referida pesquisa

indicam que dentre as formas mais comuns de violência destacam-se os tapas e empurrões, ou

seja, as agressões físicas mais brandas (20%); a violência psíquica como xingamentos e
83

ofensa à conduta moral com 18%, e as ameaças indiretas através de quebra de objetos e de

roupas rasgadas com 15%. As agressões físicas mais graves que provocam marcas, cortes ou

fraturas foram relatadas por 11% das mulheres que sofreram espancamento (LIANE ;

ROVINSKI, 2004).

De acordo com a pesquisa apresentada pela FPA ainda é muito pequeno o número de

mulheres que denunciam a ocorrência da violência, e na maioria dos casos, somente quando a

violência atinge números extremos. Segundo a pesquisa, 55% das denúncias informais se dão

por ameaça à integridade física; 53% por espancamento; 46% por ameaça de espancamento;

44% tapas e empurrões e 43% insinuações e xingamentos que ofendem a conduta moral. Já as

denuncias oficiais registradas em Delegacias de Polícia e da Mulher caem para 31% ameaça à

integridade física; 21% para espancamento com marcas, fraturas ou cortes e 19% para

ameaças de espancamento da própria mulher e dos filhos. (VIOLÊNCIA contra a mulher: o

inimigo dorme ao lado, 2004).

O índice assustadoramente alto da violência conjugal faz com que a própria casa da

mulher seja o local em que ela mais corre perigo: é de senso comum o fato de que os homens

morrem nas ruas e as mulheres morrem em casa. (BANDEIRA, 1998, p.68).

Apesar das Delegacias de Defesa da Mulher (DDM s) e do aumento de denúncias que elas

propiciaram, a impunidade continua e muitos processos não são instaurados, poucos chegam a

julgamento e o número de condenados é ínfimo. A retirada da queixa, procedimento muito

comum, atinge cerca de 70% dos registros (BRANDÃO, 1996), e este é um fato recorrente

que vem minando a credibilidade da estratégia, já que reforça o mito de que as mulheres não

querem mudar a sua situação e gostam de apanhar .

De acordo com Schraiber e D Oliveira (1999), as mulheres que procuram a DDM têm

uma visão global de seu problema, e dão um sentido bem mais complexo do que os crimes

tipificados em lei, como a lesão corporal. A agressão física para algumas delas pode não ser o
84

problema, já que a perturbação da ordem familiar indicada por elas pode ser bem mais

importante. Brandão (1996) nota, entretanto, que logo que as mulheres pesquisadas percebem

que sua queixa não pode ser reconhecida pela instituição policial, tratam de tentar adequar

sua demanda à linguagem jurídica do crime, denunciando, por exemplo, uma ameaça , para

legitimar a reclamação de um marido que está perturbando a ordem doméstica, já que o

problema assim enunciado não se enquadra em nenhum crime previsto em lei.

Considerando a expressividade dos números, e por mais objetiva que seja a pesquisa sobre

a violência conjugal, esta não consegue abranger a totalidade do fenômeno, posto que os

dados subestimam a verdadeira extensão do problema. Contudo, uma compreensão mais

ampla pode ser adquirida ao tratar dos vários tipos de abuso que acontecem em

relacionamento íntimos.

2.2 Formas de abuso e agressão

Neste trabalho, um ponto preliminar importante, diz respeito aos termos abuso e

agressão que serão empregados de forma intercambiáveis ou equivalentes. Existem,

contudo, autores que fazem uma diferença entre esses termos, que também são objetos de

debates e disputas, como considerado no capítulo 1. Aqui, eles serão utilizados para se referir

a tentativas deliberadas de ferir alguém física, psicológica, sexual e economicamente. Desta

forma eles não estão envolvendo atos de omissão, a não ser que a motivação seja prejudicar.

O comportamento abusivo causa nos parceiros íntimos, e freqüentemente em outras

pessoas, sofrimento e injúrias emocionais e/ou físicas. Em casos extremos, comportamentos

abusivos terminam em mortes de um ou dos dois parceiros. Abusos não-letais podem cessar
85

quando o relacionamento acaba. No entanto, freqüentemente, o abuso continua ou piora

quando o relacionamento termina. Isto pode acontecer tanto se o relacionamento termina por

vontade de um dos parceiros quanto se termina por consenso.

Há diversas formas de abuso que ocorrem entre parceiros conjugais, tais como o físico e o

psicológico. É freqüente o caso em que dois ou mais tipos ocorram no mesmo

relacionamento. Tolman (1992), no entanto, sugere que de alguma maneira pode ser

superficial separar o abuso psicológico das formas físicas de abuso, dado que as formas físicas

de abuso também infligem danos emocionais e psicológicos às vítimas. Entretanto, também é

possível que qualquer um destes tipos de abuso ocorram separadamente. Na verdade, o abuso

emocional ocorre freqüentemente na ausência dos outros tipos de abuso. Por isso, apesar de

algumas coincidências conceituais e empíricas, as várias formas de abuso também são

separáveis conceitualmente e empiricamente. Além disso, os tipos de abusos são

freqüentemente tratados separadamente pela comunidade científica.

A fim de otimizar o entendimento das formas de abuso e agressão elas serão desdobradas

em quatro categorias relacionais, a saber: abuso emocional, abuso físico, abuso sexual e abuso

econômico.

2.1.1 - Abuso emocional.

O abuso emocional é também chamado abuso ou agressão psicológica, abuso ou agressão

verbal, abuso ou agressão simbólica e abuso ou agressão não física.

Straus (1979, p. 77) o conceitua como sendo o uso de atos verbais e não-verbais que

ferem simbolicamente outra pessoa, ou o uso de ameaças para ferir outra pessoa . Shepard e
86

Campbell (1992, p. 291) consideram que o abuso emocional compreende comportamentos

que podem ser usados para aterrorizar a vítima... que não envolvam o uso de força física.

Gondolf (1987), argumenta que este é um processo que provoca a influição direta de danos

mentais através de ameaças ou limitações contra o bem-estar da vítima. Para Loring (1994,

p.1), este é: [...] um processo contínuo no qual um indivíduo deprecia sistematicamente e

destrói o círculo pessoal de outra pessoa. As idéias essenciais, sentimentos, percepções e

características da personalidade da vítima são constantemente depreciados.

Pode-se assim dizer que o abuso emocional ameaça os limites do bem estar da vítima,

aterroriza e provoca danos mentais. É um processo em que o agressor sistematicamente

diminui e destrói o self do outro. As percepções, e as características essenciais da

personalidade da vítima são reduzidas constantemente.

A violência psicológica ou agressão emocional é tão ou mais prejudicial que a física. É

caracterizada por rejeição, depreciação, humilhação, desrespeito e punições exageradas.

Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa

cicatrizes indeléveis para toda a vida. O abuso psicológico/emocional é considerado uma

forma importante de abuso porque muitas mulheres relatam que é tão ou mais danoso que o

abuso físico que elas sofrem (Follingstad et al., 1990; Walker, 1984 ).

Em relacionamentos violentos, o agressor encontra múltiplas formas de subjugar sua

vítima. Segundo Miller (1999), são diversas as técnicas de abuso psicológico, descritas a

seguir.

Para a autora, as finalidades do abuso psicológico, conscientes ou não, são abalar a

segurança da mulher com relação ao raciocínio lógico em que ela se baseou durante toda a sua

vida. Num relacionamento abusivo, a mulher é visivelmente submetida a um condicionamento

operante: mesmo não gostando, ela está condicionada a antecipar aquilo que agradará ao
87

marido, que não o irritará. O que o marido abusivo faz muitas vezes é desvirtuar o sistema de

causa e efeito sobre o qual vivem, determinando um sentimento de auto-perda e de confusão.

O homem psicologicamente abusivo pode, também, tentar controlar a mulher por meio de

propaganda em relação à auto-imagem dela. Assim, dia após dia ele utiliza palavras de baixo

calão para referir-se a ela. Maximiza os erros da mulher e os cria quando não os encontra. Aos

poucos a propaganda do homem é enraizada profundamente na auto-percepção da mulher.

A lavagem cerebral é outro meio de abuso psicológico. Esse método consiste em subjugar

a mente da pessoa, pelo controle coercivo à sua vontade. Para isso, destrói-se a saúde e a força

da pessoa oferecendo apenas o alimento suficiente para a sua sobrevivência, privando-a de

sono adequado, isolando-a completamente do meio social em que vive, submetendo-a as

idéias de que se quer introjetar de forma repetida e finalmente mantendo-a sob ansiedade

constante, acabando por submeter-se ao apoio do capturador. Alterna-se o abuso verbal com a

bondade e a fúria com a proteção, com o intuito de desequilibrar a pessoa completamente. Os

maridos abusivos adaptam as técnicas de lavagem cerebral para manipular a vontade da

esposa.

Manter a mulher em estado de ansiedade é outro método utilizado para o controle

psicológico. O homem toma providências para que ela nunca tenha certeza se ele irá

machucá-la, se os seus esforços irão agradá-lo, enfurecê-lo, ou se pode cumprir suas ordens

adequadamente. A incerteza é uma maneira de desestabilizar a mulher psicologicamente.

Outra forma de criar ansiedade é o uso de ameaças. O homem faz-se assustador e de

forma sutil desestabiliza-a através de ameaças que nunca se sabe se serão verdadeiras ou serão

irreais. A ameaça pode ser dirigida aos pais da mulher, aos filhos, etc.

A privação do sono é comum. Homens não só acordam as mulheres à noite como também

muitos forçam-na a manter relações sexuais a noite inteira. Assim, a saúde e a força da mulher

aos poucos é deteriorada e praticamente destruída. Destrói-se a saúde tanto física como
88

mental. Mulheres que se convencem ser loucas aos poucos deixam de comer, entram em

depressão e perdem toda a esperança de obter saúde mental. A mulher enfraquecida pela

doença torna-se cada vez mais suscetível às influências do marido abusivo.

O cativeiro psicológico é outro tipo de abuso. Diferentemente dos seqüestros em que a

pessoa fica confinada a um recinto, o marido psicologicamente abusivo mantém a mulher

presa pelo desamparo aprendido, um estado mental no qual a mulher é incapaz de resistir às

pressões manipuladoras do homem. Alguns profissionais se opõem à tese do desamparo

aprendido, admitem, no entanto que a mulher vítima de abuso psicológico entra em depressão

clínica, com sintomas semelhantes ao desamparo aprendido: perda de iniciativa, resignação,

incapacidade para lidar com as tarefas mais simples do dia-a-dia. Estando completamente

desorientada, a mulher busca apoio na parede mais próxima: o próprio homem que a levou

para o mundo da confusão. Dessa maneira a depressão é a única saída encontrada pela mente

para escapar da morte psicológica, torna-se, portanto, uma fuga para a sobrevivência.

O isolamento da mulher de todos os seus ambientes sociais também é outra técnica de

abuso psicológico. Esta pode ser considerada uma sub categoria do abuso emocional, podendo

ser distinguida por seu foco em interferir e destruir ou danificar a rede de apoio social da

vitima, e fazê-la inteiramente, ou amplamente dependente do parceiro abusivo para obter

informações, interações sociais e satisfação de necessidades emocionais. O isolamento social

aumenta o poder do agressor sobre a vítima, mas também o protege. Se a vítima não tem

contato com outras pessoas o agressor terá uma probabilidade menor de ter que enfrentar

conseqüências legais ou sociais que podem encerrar o relacionamento.

Rompem-se ligações com os amigos da mulher, com seus familiares e proíbem-na de ter

emprego. Assim, pelo isolamento torna-se impossível a reconstrução de sua auto-imagem e

fica mais fácil o controle mental por parte do homem abusivo. O objetivo do isolamento

social é o controle. O confinamento é a maneira mais fácil de disciplinar o outro porque


89

através dele perde-se as próprias forças para resistir e também não se pode recorrer a forças

externas. O isolamento gera o desespero. A forma de o homem isolar a mulher baseia-se na

manipulação e arranjo de situações, tais como: proíbem-se os jantares de domingo, muda-se o

local do encontro e aos poucos a afasta de sua família. Articulando as situações, desmarcando

compromissos, cortando as reuniões de amigos, o homem socialmente abusivo passa a reduzir

o mundo da mulher a seu único mundo, obrigando-a a relacionar-se somente com os amigos

dele.

Se a manipulação não funciona, o homem usa o despotismo e dá ordens. Ele pode também

recorrer à intimidação para exercer o controle ameaçando-a de espancá-la, matá-la, seqüestrar

os filhos, etc. Somente o medo permite a manutenção do controle, não necessitando que o

homem cumpra nenhuma dessas ameaças e, dessa maneira, consegue isolá-la como deseja.

Devido à autonomia que é possível atingir-se por meio do trabalho, muitos maridos não

permitem que suas mulheres trabalhem. Já a escola representa outra ameaça ao

relacionamento abusivo, porque permite à mulher derrubar a parede do isolamento construída

pelo homem, uma vez que adquirindo conhecimento, ela pode facilmente tornar-se

independente financeiramente do marido, podendo arrumar empregos e se auto-sustentar.

O isolamento também se dá por meio de privação da liberdade. O ato de trancar a mulher

fora ou dentro de casa é muito usado pelo homem socialmente abusivo principalmente quando

ela viola alguma regra imposta. Outro meio de vingança utilizado caso haja desobediência é

privação do carro, símbolo associado à liberdade, tirando toda a gasolina, cortando fios do

sistema de partida, escondendo as chaves, ou furando o pneu.

Outros comportamentos que podem levar ao isolamento social incluem: agir com ciúmes

ou com suspeitas em relação aos contatos sociais da vítima; monitorar o tempo e aonde a

parceira vai; restringir o uso do telefone; agir de forma que visa colocar outras pessoas contra
90

a parceira; evitar que a parceira busque ajuda médica ou outros tipos de ajuda e ameaçar a

vida ou bem estar de outras pessoas com quem a parceira tem contato.

Para Russell (apud MILLER, 1999), o abuso emocional inclui o abuso social e

psicológico, e assemelham-se às técnicas coercitivas. O controle coercitivo assume o mesmo

padrão da lavagem cerebral antes discutida e pode se tornar um outro meio de exercer o

controle do abuso não-físico.

A violência verbal normalmente se dá concomitante à violência psicológica. Em

decorrência de sua menor força física, a mulher tende a se especializar na violência verbal,

mas de fato, esse tipo de violência não é de monopólio das mulheres (BALONE; ORTOLANI

IV, 2003b).

Por razões psicológicas íntimas, algumas pessoas utilizam a violência verbal

infernizando a vida de outras, querendo ouvir, obsessivamente, confissões de coisas que não

fizeram. Atravessam noites nessa tortura verbal sem fim.

Este tipo de violência existe até na ausência da palavra, ou seja, até em pessoas que

permanecem em silêncio. O agressor verbal, ao ver que um comentário é esperado para o

momento, se cala, emudece e, evidentemente, esse silêncio machuca mais que se tivesse

falado alguma coisa.

Sendo assim, a arte do agressor está, nesses casos, exatamente, em demonstrar que tem

algo a dizer e não diz.

As ameaças de agressão física ou de morte, bem como as crises de quebra de utensílios,

mobílias e documentos pessoais, também são consideradas violência emocional, pois não

houve agressão física direta.

Dutton e Painter (1993); Loring (1994) consideram que o abuso emocional estabelece e

mantém toda a dinâmica do abuso no relacionamento.


91

2.1.2 - Abuso físico

Também chamado de agressão ou abuso físico, violência ou abuso do parceiro íntimo,

violência conjugal, doméstica, marital, no namoro ou no flerte. A agressão física no contexto

das relações íntimas tem sido definida como atos carregados com a intenção, de causar dor

ou injúrias físicas contra outra pessoa (STRAUS ; GELLES, 1986). Violência física é o uso

da força com o objetivo de ferir, deixando ou não marcas evidentes. Segundo Soares (1999),

no abuso físico são comuns: bater, esbofetear, empurrar, chutar, socar, queimar, sufocar,

impedir de sair de casa, usar instrumentos contundentes, tais como armas e facas. Além desses

aspectos apontados por Soares, o agressor pode ainda causar queimaduras por objetos e

líquidos quentes.

Os ataques físicos do agressor podem variar desde ferimentos até assassinatos. Começam

freqüentemente com comportamentos como ameaças, xingamentos, violência na presença da

vítima, como esmurrar uma mesa ou uma parede, e danos a objetos e animais. Podem chegar a

privações, empurrões, dar um tapa ou um soco, atos dos quais procura se desculpar

inicialmente. A agressão pode incluir esfaqueamento, pontapés, mordidas, jogar a vítima no

chão. Finalmente, pode chegar a tal ponto que representa ameaça à vida ou ferimentos sérios,

como fraturas (ENTENDENDO a agressão, 2004). Pode ocorrer somente uma vez ou

esporadicamente e raramente em um relacionamento, mas em muitos relacionamentos é

repetitivo e crônico e aumenta em freqüência e severidade através do tempo. Passa-se assim

de agressões físicas leves, que aumentam e tornam-se ataques mais freqüentes e sérios.

O abuso do álcool e drogas é um forte agravante da violência física. A embriaguez é um

estado onde a pessoa que bebe pode tornar-se extremamente agressiva, às vezes nem

lembrando com detalhes o que tenha feito durante essas crises de furor e ira Nesses casos,
92

além das dificuldades práticas de coibir a violência, geralmente porque quando o agressor não

bebe é excelente pessoa , segundo as próprias esposas, ou porque é o esteio da família

(BALLONE; ORTOLANI IV, 2003b).

Também portadores de Transtorno Explosivo da Personalidade são agressores físicos

contumazes. Vale lembrar que estes dois tipos de transtorno podem ser tratados (BALLONE;

ORTOLANI IV, 2003b).

Outros fatores que podem intensificar o abuso físico estão associados a fatores

estressantes, como tensões no trabalho, desemprego, privações, doenças graves etc, e também

a fatores situacionais, como presença de crianças ou adolescentes, gravidez e eventos

associados a altos níveis de emoções desagradáveis e a frustração em relação ao agressor, até

mesmo feriados ou esportes televisionados podem influenciar a severidade e a freqüência do

abuso (WALKER, 1994).

2.1.3 - Abuso sexual

Caracteriza-se pela ação que inclui comportamentos que se encaixam nas definições legais

de estupro e ataques físicos a partes sexuais do corpo de uma pessoa e, a fazer demandas

sexuais excessivas, com as quais a parceira não está confortável (MARSHALL, 1992;

SHEPARD; CAMPBELL, 1992).

Também é definido como incluindo:

[...] sexo sem consentimento, ataque sexual, estupro, controle sexual


sobre os direitos reprodutivos e todas as outras formas de
manipulação impetradas pelo abusador com a intenção ou intenção
percebida de causar degradações emocionais, sexuais e físicas a
outra pessoa. (ABRAHAM, 1999, p. 592).
93

De acordo com Walker (1994), o abuso sexual dentro do contexto de uma relação de

espancamento inclui uma variedade de atividades coercitivas como gestos sexuais

indesejados, insistência em manter contato sexual forçado, violação dos genitais, seios ou

ânus da mulher.

O abuso sexual em relações onde existe violência ocorre tipicamente nas dimensões

físicas e psicológicas, mas não necessariamente ao mesmo tempo. Mulheres normalmente se

entregam às demandas sexuais do homem numa tentativa de evitar mais violência física,

apesar de não ser incomum que afirmem ter experiências sexuais positivas com o mesmo

homem que, em certos momentos as força a atos indesejados. A mulher normalmente é

incapaz de prever se, num dado momento, ocorrerá um ato positivo ou negativo (WALKER,

1994).

Assim, considera-se violência sexual a ação que obriga uma pessoa a manter contato

sexual ou a participar de relações sexuais com o uso da força, intimidação, coerção,

chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule ou limite

a vontade pessoal. Considera-se também como violência sexual o fato de o agressor obrigar a

vítima a realizar atos sexuais com terceiros. Consta do Código Penal Brasileiro que: a

violência sexual pode ser caracterizada de forma física, psicológica ou com ameaça,

compreendendo o estupro, a tentativa de estupro, a sedução, o atentado violento ao pudor e o

ato obsceno (DOSSIÊ Violência contra a mulher, 2004).

Ataques físicos pelo agressor são acompanhados freqüentemente por ou culminam em

violência sexual em que a mulher é forçada a ter relações sexuais com o agressor ou até

mesmo a participar em atividade sexual não desejada (ENTENDENDO a agressão, 2004).


94

2.1.4 - Abuso econômico

Ainda, segundo Miller (1999) outra forma que o homem tem de exercer controle sobre a

mulher é através da supressão econômica. Esta forma de abuso pode ser considerada uma

subcategoria de abuso emocional uma vez que ele exerce muito das mesmas funções do abuso

emocional e tem alguns dos mesmos efeitos emocionais nas vítimas. No entanto, ele pode ser

distinguido por seu foco em evitar que a vítima possua ou mantenha qualquer tipo de auto-

suficiência financeira ou recursos e forçar uma dependência material da vítima em relação ao

parceiro abusivo. Assim, este comportamento intenciona fazer com que a vítima dependa

inteiramente do parceiro abusivo para suprir suas necessidades materiais básicas como

comida, roupas e abrigo ou para suprir os meios de satisfazê-las. Cabe ainda o esclarecimento

de que o desejo de isolar a vítima das outras pessoas também pode ser um dos motivos para o

abuso econômico. Alguns comportamentos que podem levar uma vítima de abuso à

dependência material do abusador já foram listados na categoria Abuso Emocional, mas não

se limitam a eles.

O homem economicamente abusivo oferece quantias tão pequenas de dinheiro que a

mulher é forçada a pedir mais. A humilhação aqui é a arma do controle. Torna a mulher

completamente dependente e a deixa indefesa. Muitos nem sequer dão qualquer quantia à

mulher, a qual permanece sem saber o quanto ele ganha e o porque, tendo uma vida financeira

aparentemente boa, o marido ainda se recusa a dar condições melhores para a criação dos

próprios filhos.

Geralmente, o homem economicamente abusivo, ao casar, toma posse das economias da

mulher dizendo que vai administrar o dinheiro. Nesse caso, o homem não proíbe a mulher de

trabalhar, mas exige dela o suplemento mensal de dinheiro em sua conta. O homem
95

economicamente abusivo exerce o controle deixando claro que pode privar sua mulher a

qualquer momento do lar, de alimentos e roupas, tornando-a submissa com uma única

alternativa de ir para as ruas.

Em síntese, devido às circunstancias em que o abuso e a agressão ocorrem, e a freqüente

dependência da vítima de seu agressor, de forma geral, a vítima os mantém em sigilo, e tem

ainda grande dificuldade para denunciá-las.

Diante das várias modalidades do abuso, coloca-se ainda a questão das conseqüências do

abuso.

Ao sofrimento pessoal decorrente das várias modalidades do abuso, somam-se prejuízos

orgânicos e psíquicos, com graves conseqüências nas relações interpessoais, na família e no

ambiente social. Além disso, a esses danos, também se associam perdas ou danos materiais e

econômicos.

Camargo (2000) ao estudar as repercussões da violência nas mulheres revela que as

ocorrências mais freqüentes são os traumas, principalmente o neurológico, por pancada na

cabeça, queda ou empurrões; a gravidez indesejada, as doenças sexualmente transmissíveis; as

hemorragias, lesões e infecções ginecológicas e urinárias; os distúrbios gastrintestinais que se

cronificam, e os danos psicológicos causados pelo estresse constante, que podem levar à

depressão e ao suicídio.

De acordo com Cascardi; Langhinrichsen; Viviam (1992) a agressão dos homens contra

suas parceiras está associada a uma abundância de conseqüências psicológicas e físicas

negativas para as mulheres. Segundo esses autores, mulheres que são vítimas de abuso e

agressão por parte de seus parceiros, apresentam seqüelas emocionais tais como: transtornos

alimentícios, gastrintestinais e do sono; crises de choro e ansiedade; diminuição da auto-

estima, depressão e pensamentos suicidas. A medida em que o tempo transcorre, usualmente

descuidam de seu aspecto físico e recorrem ao álcool ou a drogas; no trabalho seu


96

desempenho diminui de forma significativa, chegando muitas vezes a abandonar seu emprego,

ou por uma decisão pessoal ou porque seu parceiro a proíbe. A violência conjugal também

ocasiona perturbações emocionais severas nos filhos, que se traduzem em dificuldades

escolares, alterações do sono, interações defeituosas, ansiedade e depressão.

Tais considerações enfatizam a importância do fenômeno estudado. Buscando

aprofundamento do estudo da violência conjugal, o próximo tópico tratará das causas da

violência conjugal, particularmente a contra a mulher.

2.3 Causas da violência contra a mulher

2.3.1 Causas psicológicas

Há um consenso considerável entre os investigadores sobre os grandes fatores associados

ao abuso de esposas (GELLES, 1980 apud BREHM, 1985; STEINMETZ, 1978 apud

BREHM, 1985).

Primeiro, o ciclo da violência parece desempenhar um papel maior. Crianças que

observam a violência entre seus pais ou que são elas mesmas abusadas por seus pais são mais

propensas a ter casamentos violentos. Esta história parece valer tanto para os maridos que

abusam, quanto para as mulheres que são vítimas.

A experiência de violência na infância é um indicador importante do uso da violência

quando adulto. Em um dos poucos estudos que coletaram informação sobre maridos que se

reconheciam abusivos, Rosenbaum e O Leary (1981 apud BREHM, 1985) descobriram que
97

estes homens eram mais propensos a ter tido um lar violento quando crianças do que maridos

satisfeitos ou insatisfeitos que não eram violentos em seus casamentos. Os maridos que

abusaram de suas esposas tendiam mais a ter sido agredidos quando crianças e era maior a

probabilidade de terem testemunhado violência entre seus pais.

Dados de uma pesquisa nacional analisados por Kalmuss (1984 apud BREHM, 1985) )

demonstraram um padrão similar: o nível de violência conjugal era maior para indivíduos

(tanto homens quanto mulheres) que cresceram em famílias onde eram agredidos e onde

presenciaram os pais agredindo um ao outro. Assim, vítimas e agressores, tanto homens

quanto mulheres, dividem o mesmo tipo de experiências com a violência na infância.

Alguns dados coletados por Rosenbaum e O Leary (1981 apud BREHM, 1985) sugerem

que as crianças do sexo masculino de lares violentos podem se tornar maridos violentos

porque não sabem nenhuma outra forma de lidar com conflitos.

A classe socioeconômica também é importante, sendo apontada como o segundo fator. A

violência conjugal ocorre em todas as classes socioeconômicas, mas ela ocorre mais

freqüentemente entre os pobres do que entre os ricos.

O terceiro fator associado com a violência conjugal pode explicar, em algum grau, esta

associação entre status econômico e violência. A violência conjugal tende mais a ocorrer

quando o casal está sob estresse de eventos como o desemprego do marido, problemas

financeiros de qualquer tipo e gravidez da esposa. Finalmente, casais violentos são também

casais isolados; eles não têm muitos amigos e eles carecem de relações próximas com

parentes. Pode ser que os atos de isolamento social sejam tanto uma causa como um efeito da

violência conjugal. Estar isolado pode aumentar o estresse e provocar a violência; ter um

casamento violento pode levar a um retraimento nos contatos sociais.

Teorias ambientais puras continuam prevalecendo para explicar as causa da violência, e

segundo essas teorias o comportamento violento é aprendido. Esta ótica, no entanto, é


98

questionada por outros pesquisadores. Pinker (2004), por exemplo, afirma que pais agressivos

têm filhos agressivos com freqüência. No entanto, o referido autor refuta a conclusão de que a

agressão é aprendida dos pais em um ciclo de violência , e leva em conta a possibilidade de

que tendências violentas podem ser herdadas além de aprendidas (PINKER, 2004, p.421).

Para Miller (1999), não existe um perfil para homens abusivos. Psiquiatras admitem a

existência de psicopatologias em homens abusivos. Identificando três tipos que levam ao

abuso: a) Borderline: distúrbio de personalidade que caracteriza o homem anti-social,

introvertido, temperamental e hipersensível ao desrespeito interpessoal. Ele reage

excessivamente, tem súbitas explosões de raiva e pode ter problemas de alcoolismo; b)

Narcisista e anti-social: esse homem é autocentrado, tomando dos outros e dando apenas

quando lhe convém; c) Compulsivo-dependente: esse homem é inflexível, tem baixa auto-

estima e exige apoio contínuo da acompanhante.

Ainda segundo Miller (1999), pode-se identificar oito tipos de homens abusivos:

1. Incapazes de controlar seus impulsos que mudam constantemente;

2. Que exigem obediência total às regras e aplicam castigos àqueles que as

infringem;

3. Rebeldes, hostis, dependentes, com baixa auto-estima;

4. Agressivos e anti-sociais;

5. Grandes e inexplicáveis mudanças de humor;

6. Externamente agradáveis, mas incapazes de lidar com a rejeição e agressivos

quando sentem decepção por parte de sua companheira;

7. Excessivamente, dependentes, ansiosos e deprimidos;

8. Que só apresentam pequenos sinais das outras sete características sem que

tenham nenhuma psicopatologia.


99

Embora traumas na infância possam resultar em psicopatologias, acredita-se que certos

comportamentos derivam da utilização de mecanismos de defesa imaturos e neuróticos para

atender a desejos que talvez nunca tenham sido atendidos.

Mecanismos de defesa, segundo Miller (1999), são métodos pelos quais o ser humano

pode lidar com os conflitos da vida. Cada um utiliza uma defesa que funcione para si. Estes

são processos inconscientes e, portanto, não tem nada a ver com decisões conscientes. A

pessoa que atribui o seu fracasso a outra ou bate no filho para ficar livre desse sentimento de

fracasso tem total consciência do que faz, mas não sabe o porque faz. O importante é que isso

lhe traz satisfação. Classifica-se os mecanismos de defesa em três níveis de maturidade.

Defesas imaturas: fantasia, projeção, agressão passiva, hipocondria, acting out; Defesas

neuróticas: intelectualização, repressão, formação reativa, deslocamento, dissociação; Defesas

maduras: altruísmo, contenção, humor, antecipação, sublimação. Deste modo, os homens

abusivos utilizam, geralmente, três mecanismos de defesa, sendo um neurótico e/ou outros

dois imaturos. A saber, repressão, acting-out e projeção.

A repressão é mecanismo neurótico que tira as representações sentimentais frustrantes e

ameaçadoras ao ego do consciente para o inconsciente. Entretanto, quando essa gama de

sentimentos não expressados vai aumentando no núcleo traumático do inconsciente, cria-se

uma tensão libidinal extremamente intensa que pode ser expelida como uma erupção

vulcânica por meio da violência física e não-física que trazem alívio. Esse mecanismo pode se

repetir continuamente pois é uma maneira de adquirir estabilidade no aparelho psíquico.

Estatísticas indicam que uma grande quantidade de homens que sofreram abuso na

infância torna-se abusivos como meio de aliviar e expelir todas as tensões psíquicas,

apaziguando os conflitos do aparelho psíquico. Uma criança que sofreu abuso passa por um

processo de identificação com o agressor.


100

No acting-out , para evitar a raiva, o homem vitimizador grita com a mulher, rasga suas

roupas, quebra janelas do seu carro, ou seja, fazem algo para não sentir a tensão criada pelos

seus sentimentos que no caso seriam demais para serem suportados. Um exemplo comum é o

chute na cadeira ou o murro na parede quando se está com raiva.

Crianças que recebem educação com excesso de tolerância onde os pais são

superprotetores e nunca lhe negam nada, são incapazes de desenvolver habilidades maduras

para lidar com adversidades. Quando entram no mundo adulto, estes facilmente desenvolvem

esse mecanismo de defesa, revelado principalmente quando a sua mulher não lhe proporciona

o mesmo nível de tolerância que a mãe lhe oferecia.

A inconsistência dos pais é outra maneira de proporcionar esse mecanismo de defesa na

formação da personalidade da criança. Os pais que negam, mas cedem em meios aos gritos e

chutes, estão contribuindo para que mais tarde essa criança recorra ao abuso físico e não-

físico para intimidar sua mulher.

Por outro lado, na projeção a pessoa mantém sua imagem íntegra e perfeita, atribuindo

seus erros e fracassos a outra pessoa. O homem abusivo atribui à mulher os próprios

sentimentos de fraqueza que ele não reconhece e, portanto, é capaz de agredi-la em vez de

agredir a si mesmo. Através desse mecanismo, conscientemente, o homem se considera o

marido perfeito e ao mesmo tempo alivia sua tensão no inconsciente.

Uma outra faceta de uma defesa inadequada está no território dos usuários de drogas,

posto que estas aumentam o grau de violência, mas não podem ser tomadas como desculpas

que livram o homem abusivo de sua culpa.

O agressor divide as explicações em dois grupos: desculpas e justificativas, sempre

negando e projetando o abuso (na droga ou na falta de controle). Não é minha culpa . O

espancador recorre a racionalizações padronizadas para dar sentido e normalizar seu

comportamento. É culpa da mulher ou ela é que não é boa esposa ou foi em autodefesa.
101

Em síntese, o perfil do vitimizador relaciona-se a: abusos na infância, excesso da

valorização masculina pela sociedade, baixa auto-estima, necessidade de reforçar a auto-

imagem por jogos de poder, incapacidade para projetar uma afetividade salutar e também

imaturidade para assumir seus próprios atos incluindo problemas pessoais e interpessoais.

Apesar destes fatores serem consistentemente citados como sendo associados à violência,

outros fatores podem ser usados para ajudar a entender o que causa e mantém a violência

conjugal. Muitas destas teorias ligam a violência ao poder masculino e à desvalorização da

mulher.

2.3.2 Causas culturais

Segundo Miller (1999), a desvalorização da mulher é pré-histórica. O homem das

cavernas arrastava a sua mulher pelos cabelos para que ela cuidasse da fogueira e dos filhos.

No Egito, os homens cuidavam de suas riquezas e quebravam os dentes da mulher se elas os

criticassem. Na Grécia antiga, somente ao homem era atribuída a capacidade de sentir as

paixões da vida e por isso o homossexualismo era uma prática tão normal, sendo que o

casamento com mulheres era visto como um mal necessário. Quando os romanos

conquistaram a Grécia, as mulheres foram rotuladas como servas e como uma propriedade do

homem, devendo-lhe obediência como uma escrava. Na Idade Média essa realidade

permaneceu e a mulher era vista ainda como um ser inferior. O abuso físico era permitido

desde que o homem espancasse a mulher com uma vara menos grossa do que o seu polegar.

Os colonizadores incentivavam o espancamento de mulheres com atitudes inaceitáveis.


102

Na América recém-colonizada a mulher era exposta a torturas por aborrecer o marido, não

tendo o direito de declarar posse de propriedades, não podendo solicitar divórcio onde o

adultério era somente condenado para elas e não para o homem. Aquelas que rompiam

relacionamentos eram vistas como tolas ou levianas. A história cuidou da perpetuação dessa

mentalidade em diversos níveis, dentre eles tem-se o casamento. Este vínculo era uma

maneira legal de subjugar a mulher, onde a mesma se via como a administradora do

relacionamento, sendo ela a responsável por fazer tudo o que agradasse ao marido. O fato de

ela renunciar ao nome de sua família e adotar o do marido é um indício forte desse

subjugamento.

Um outro fator que contribui para a desvalorização da mulher é o próprio tratamento

jurídico. Estatísticas indicam que os homens recebem melhor tratamento nos tribunais do que

as mulheres. Não havia até recentemente uma Lei para a punição de estupro dentro do

casamento e até hoje muitos homens acham que o sexo, seja ele forçado ou consensual, é de

seu direito. Muitos advogados de defesa tentam transferir o papel de vítima da mulher para o

homem, pois se ela foi estuprada foi porque ela pediu e quis. Esses advogados tentam destruir

a imagem da mulher, focalizando possíveis erros e atitudes promíscuas passadas.

Para as Ciências Humanas, parte do pensamento antifeminista é atribuída a Freud que

discursa a respeito da inveja que a mulher tem do pênis, símbolo de poder e autoridade.

Assim, atribuíam-se níveis mais elevados de maturidade aos homens que às mulheres.

Estudos demonstram que só após a década de setenta é que foi considerada a necessidade

de avaliar o abuso cometido contra esposas, sendo isto um reflexo da revolução feminista do

final dos anos sessenta.

As artes reforçam mais o trabalho de artistas masculinos, sendo pouco lembradas as

artistas do sexo feminino. A dificuldade de receber apoio é muito grande, principalmente


103

devido aos preconceitos machistas e paternalistas que elas vem sofrendo durante décadas.

Muitas tiveram que usar pseudônimos para publicar suas obras.

Nas Forças Armadas existe uma completa desconsideração pelo papel feminino. Nas mais

diversas guerras as mulheres são tidas como prêmios de conquista do território inimigo. O

abuso sexual de mulheres em convenções também é comum pelos militares que, na maioria

das vezes, saem impunes. Muitas mulheres são rotuladas de lésbicas simplesmente por rejeitar

as propostas dos oficiais.

No campo da Medicina há introjeção culturalmente estabelecida de que ela é feita somente

de mão-de-obra masculina, que os homens são os que melhor desempenham os serviços

médicos. Isso induz a pensar sempre que quando se faz uma cirurgia, quem ali estará é um

homem. Apesar das comprovações de que as mulheres são mais delicadas e cuidadosas para

fazer cirurgias, nunca se imagina ser uma mulher quem realiza esse trabalho. O preconceito

também atinge mulheres que são espancadas e que procuram o serviço médico para curar suas

feridas.

Tradicionalmente, as instituições religiosas reforçam a inferioridade da mulher colocando-

a apenas como a pessoa responsável por cuidar do esposo e dos filhos, seria este o único papel

da mulher na sociedade. Além disso, em certas crenças, como na judaico-cristã, os líderes

religiosos reafirmam as diferenças sexuais por meio de ensinamentos e práticas. O mal teria

surgido pela mão feminina de Eva que induz o seu inocente homem ao pecado mortal. A

supremacia masculina é garantida depois que o papel feminino na história foi criado a partir

da imagem de santa e frágil e de prostituta promíscua.

Uma das formas de discriminação mais comum imposta às mulheres ocorre no mercado

de trabalho, já que durante longos períodos da história culturalmente instituiu-se o império

machista onde ao homem foram reservados os pagamentos mensais e as glórias trabalhistas,


104

enquanto que a mulher somente foi considerada capaz de exercer um tipo de trabalho - o

doméstico.

Mesmo que atualmente a mulher tenha conseguido ampliar o seu espaço profissional, as

diferenças ainda existem, seja no salário menor, seja nos cargos que sempre são inferiores aos

dos homens. E mesmo quando estas estão em alguma posição semelhante à do homem, ainda

permanecem recebendo salários inferiores aos deles.

Em suma, a história parece continuar. Enquanto muitos esforços são empreendidos na

separação de brigas entre homens na rua, a briga de um homem com uma mulher somente

desperta a atenção, sem que nada venha a ser feito. A noção de que briga entre marido e

mulher ninguém "mete a colher" ainda permanece. Existe uma crença de que quando o

homem bate na esposa é porque existe um bom motivo. O espancamento se transforma em

piada, quando o homem diz que quando está bravo ele simplesmente dá um murro na esposa,

um chute no cachorro e sai para a rua para refrescar a cabeça.

Muitos crimes ainda são cometidos contra a mulher. Na China ainda se valoriza o

nascimento de meninos e não de meninas. No Sudão e na Somália a mutilação do clitóris

ainda é feita. Em Burma e na Tailândia meninas são forçadas à prostituição. No Congo o

adultério só é ilegal para as mulheres. Mulheres são obrigadas a alongar seus pescoços com

aros de metal. A história e os costumes sempre prepararam o palco para os homens se

sentirem livres para espancar as mulheres e subjugá-las.

Assim, por séculos as mulheres sofreram um tratamento parcial baseado em suposições

sobre diferenças entre sexos. Leis e costumes puniam severamente as mulheres. Autoridades

tratavam com descaso vítimas de assédio, de perseguição e de espancamento, supondo que

tais crimes eram características da corte e do casamento.

A evidência de cada um dos aspectos descritos acima, relativa ao papel desempenhado

pelas influências sociais, em especial pelas normas e valores no que se refere a quem é
105

dominante na família, e de que maneira a autoridade poderia ser impingida, foi amplamente

reconhecida por pesquisadores.

Diante de tudo isso, no decorrer das ultimas décadas o problema da violência contra a

mulher foi examinado, através da análise feminista de gênero, que aborda a questão de forma

diferenciada por correntes do movimento feminista.

Sommers (1994), distingue duas escolas do pensamento feminista. A escola que defende o

feminismo da equidade que se opõe a qualquer forma de injustiça e discriminação contra

mulheres, apresenta uma doutrina de igualdade e não se envolve em questões de psicologia e

biologia. Por outro lado, a escola que defende o feminismo de gênero, é vinculada ao

marxismo, afirma que as mulheres continuam a serem escravizadas pelo sistema de

dominância masculina e possui três pressupostos sobre a natureza humana. Pinker (2004, p.

461) os coloca explicitamente:

1º) as diferenças entre homens e mulheres são construídas


socialmente; 2º) o poder é o único motivo social que o ser humano
possui, e a única maneira de compreender a vida social deve ser
baseada na forma como ele é exercido; 3º) a interação humana não
emerge dos motivos das pessoas em relação as outras como
indivíduos, mas de motivos de grupos, como o sexo masculino
dominando o feminino.

Sob essa perspectiva, nas ciências sociais o conceito de violência de gênero, é entendido

como uma relação de abuso, dominação e de poder do homem sobre a mulher ao longo da

história e reforçado pelo processo de socialização. Essa ótica rejeita qualquer hipótese que

possa ser considerada inata ou induzida biologicamente em função da diferença de sexo.

Dobash e Dobash (1979) explicam o espancamento às esposas em grande parte ao

aprendizado masculino de que poderiam bater em suas parceiras para preservar sua posição

tradicionalmente superior. Os referidos autores sustentaram que Homens que agridem suas

mulheres , estão na verdade mantendo vivas as prescrições compartilhadas na sociedade

agressividade, dominância masculina, e subordinação feminina e eles estão usando a força


106

física como um meio para reforçar esta dominância. Procurando ir mais além, alguns

pesquisadores da família argumentaram que as normas sociais definem, basicamente, quem é

poderoso e quem é fraco dentro da família, e vêem a violência doméstica como uma

manifestação de diferenças de poder numa sociedade dominada pelo sexo masculino,

patriarcalmente orientada.

Entretanto, mesmo sob a perspectiva social, a visão do tema mostra-se ainda muito

estreita. Para Berkowitz (1993b) pesquisadores e teóricos mostram atualmente uma crescente

ênfase na natureza interacional dos fatores que produzem violência no lar. As condições

exteriores à família, tais como desemprego, baixos salários, ou crenças e valores derivados

culturalmente, podem ser impingidos aos membros da família afetando-lhes o relacionamento.

Até mesmo o comportamento da vítima pode ter uma influência significativa na conduta do

agressor. Além disso, sabe-se agora, entre outras coisas, que as mulheres tanto quanto os

homens podem ser agressivas, que a violência pode ser o resultado de conflitos dentro da

família, que uma proporção significativa de agressores foram, eles mesmos, expostos à

violência durante a infância, e que muitos dos que espancam tendem a ser agressivos com

suas esposas e filhos.

Como tem também notado um crescente número de investigadores, uma boa parte do que

se tem aprendido sobre outros aspectos da agressão humana pode ajudar a explicar os motivos

pelos quais esposas apanham e sofrem abusos (Berkowitz ,1993b).

Os escritores que enfatizam o papel das expectativas sociais no espancamento de esposas,

basicamente culpam mais a sociedade do que os indivíduos que cometem o abuso. Sustentam,

que as mulheres sofrem brutalidades porque todos nós vivemos em um sistema patriarcal que

é governado por regras e padrões que apóiam a dominação do homem sobre a mulher. Nas

palavras de Dobash e Dobash (1979), o problema jaz na dominação da mulher .


107

Segundo Berkowitz (1993b), pesquisas demonstram atualmente que a situação das pessoas

na sociedade como um todo, a personalidade de cada membro da família, o relacionamento

familiar, e até mesmo a situação imediata, podem operar conjuntamente para afetar as chances

de que um agrida o outro em casa. A hipótese é a de que muitos casos de violência doméstica

são basicamente semelhantes a outros atos de agressão que foram discutidos anteriormente no

capítulo 1. Muitas das mesmas condições que afetam a probabilidade de uma pessoa atacar

outra fora de casa, podem também influenciar as chances de que brigas e agressões ocorram

no lar.

De acordo com afirmações de Berkowitz (1993b), qualquer abordagem realmente

abrangente da violência doméstica deve reconhecer que a agressão é precipitada pelo encontro

entre agressor e vítima. As predisposições pessoais e estresses situacionais são somente

facilitadores. Essa facilidade tem que ser ativada por um evento desagradável. Embora poucos

investigadores tenham dado atenção suficiente ao encontro precipitante, as pesquisas

disponíveis mostram que brigar constantemente leva a mais briga e que a agressão de uma

parte tem grande probabilidade de estimular a contra agressão da outra parte.

Apesar das contribuições de Berkowitz (1993b), os trabalhos sobre o tema ainda não

transpuseram os muros restritos de pesquisas com base em uma concepção feminista.

De acordo com Walker (1999), a perspectiva feminista na violência doméstica é aceita em

todo o mundo, onde mulheres e meninas são os primeiros alvos do abuso masculino. Para a

referida autora, a violência não pode ser erradicada sem olhar cuidadosamente os assuntos

relativos à socialização dos gêneros que mantém, se não facilitam realmente, tal violência nos

lares.

Uma Declaração das Nações Unidas sobre Eliminação da Violência Contra Mulheres

anunciou que a violência é parte de um processo histórico, e não é natural nem nascida do
108

determinismo biológico (PINKER, 2004, p. 418). Muitas explicações atribuem a violência à

cultura. Nessa perspectiva, o problema são as crenças culturais sobre masculinidade.

Nesse contexto, parece justo dizer como uma regra geral, que homens têm mais poder que

suas parceiras. Este poder maior é baseado na autoridade masculina sustentada pela cultura,

no controle sobre os recursos econômicos e na força física.

Entretanto, parece possível afirmar que a sociedade encontra-se num estágio de

transição do patriarcalismo para o igualitarismo. Mais e mais mulheres são empregadas e

ganham acesso a bem-estar e posições de prestígio na sociedade, tanto a autoridade masculina

quanto a base econômica do poder masculino estão sendo gradativamente reduzidos.

Considerando o conhecimento obtido a respeito da violência contra a mulher em termos

de conceitos, dados epidemiológicos, tipos de violência e causas, permanecem ainda várias

questões sem resposta. Uma delas refere-se à permanência da mulher no relacionamento

abusivo. O tópico seguinte tratará dessa questão.

2.4 Porque a mulher permanece no relacionamento abusivo

A questão - Por quê uma mulher de quem o marido tem abusado fisicamente permanece

com ele? - é uma das mais freqüentemente formuladas tanto por profissionais como pelo

público leigo no curso de discussões sobre violência em família, e uma das mais difíceis de

serem respondidas adequadamente.

A falta de conhecimento sobre esse assunto geralmente leva a interpretações errôneas, e

surgem explicações superficiais e estereotipadas como: a mulher quer ser vítima ; a mulher
109

merece a violência ou a mulher gosta de apanhar . Estas são concepções populares que

transferem a culpa do agressor para a vítima.

A questão em si deriva da suposição de que qualquer indivíduo racional tendo apanhado e

sido espancado por outra pessoa, evitaria ser vitimado novamente, ou pelo menos evitaria o

agressor, inclusive por questões de sobrevivência. Infelizmente, o motivo pelo qual uma

mulher permanece com seu marido abusivo não é tão simples quanto a suposição subjacente à

questão.

De acordo com Gelles (1976) a decisão de ficar com um marido agressivo ou de procurar

intervenção ou a dissolução de um matrimônio não está relacionada somente à extensão ou

severidade da agressão física. Algumas esposas sofrem seguidos espancamentos severos ou

mesmo agressões e simplesmente chamam o vizinho, enquanto outras chamam a polícia após

um gesto coercitivo do marido.

Para o pesquisador acima mencionado, a suposição de que a vítima fugiria de um agressor

conjugal é uma visão superficial do complexo significado subjetivo da violência intrafamiliar,

da natureza do comprometimento e do enredo com a família como um grupo social e do

constrangimento externo que limita a habilidade de uma mulher de procurar ajuda de fora.

Truninger (1971) encontrou que mulheres tentaram dissolver um matrimônio violento

somente depois de uma história de conflito e reconciliação. De acordo com essa análise, uma

esposa toma a decisão de obter o divórcio de seu marido abusivo quando não mais pode

acreditar nas promessas dele de que não vai haver mais violência e nem esquecer os episódios

passados de violência. Truninger (1971) postula que algumas das razões pelas quais as

mulheres não rompem o relacionamento com os maridos abusivos são: (1) elas têm

autoconceito negativo; (2) acreditam que seus maridos mudarão; (3) dificuldade financeira;

(4) têm filhos que necessitam do suporte econômico do pai; (5) duvidam que conseguem

prosseguir sozinhas; (6) acreditam que o divórcio é estigmatizado; e (7) é difícil para
110

mulheres com filhos conseguir trabalho. Embora a análise de Truninger (1971) tente explicar

porque as mulheres permanecem com maridos abusivos, a lista não especifica quais fatores

são mais relevantes na decisão da esposa de permanecer, ou buscar ajuda, ou romper o

relacionamento.

Há uma quantidade de outros fatores que ajudam a explicar a decisão da esposa de

permanecer, ou romper o relacionamento em casos de violência.

Segundo Miller (1999), existe uma lógica consciente ou inconsciente que, para a mulher,

justificam sua permanência no relacionamento abusivo. Nesse sentido, a permuta, a falta de

recursos para a sobrevivência, o medo e outros fatores emocionais são explicações que

justificam a submissão feminina ao marido abusivo.

A mulher permanece em um relacionamento abusivo porque obtém alguma coisa que ela

deseja (permuta) e apesar de pagar caro, ela faz uma escolha consciente, considerando os prós

e os contras.Uma das permutas feitas está relacionada ao dinheiro. A mulher coloca-se em

atitude de escolha entre desfrutar benefícios materiais e sofrer humilhação e dependência ou ir

embora e se tornar livre dos sofrimentos. Outra permuta feita é a de evitar a solidão. Para

muitas o maior medo não é a pobreza, mas a solidão. Uma terceira permuta é realizada para a

garantia do bem estar dos filhos. O que estas mulheres não percebem é que, grandes traumas

na infância derivam de brigas entre o casal.

No que diz respeito à falta de recursos para a sobrevivência, evidencia-se muitas vezes, o

despreparo econômico para sair de casa, a necessidade de uma fonte de renda, e a necessidade

de amparo social.

O medo do aumento do abuso caso deixe o marido é outro motivo pelo qual a mulher

permanece no relacionamento. A separação é temida pela mulher, dado que o homem abusivo

sente-se mais desafiado quando a mulher se liberta do seu controle. Ao sentir a perda da

autoridade, o homem abusivo fará o necessário para recuperar o controle, seja através de uma
111

briga, seja através do assassinato da mulher. Mais mulheres são mortas depois de abandonar o

relacionamento abusivo, do que quando aí permanecem.

O último fator apontado por Miller (1999) como explicação da permanência da mulher no

relacionamento são os obstáculos emocionais relativos à auto-imagem. Muitas mulheres,

cujas imagens foram completamente destruídas, costumam perpetuar seu sentimento de

fracasso, atribuindo o problema a si mesmas e não ao marido abusivo, outras simplesmente

sentem-se incapazes de ir embora devido a esse sentimento de inutilidade e de baixa auto-

estima. Fatores como a culpa introjetada, a esperança da resolução do problema, ou o

entorpecimento emocional, também contribuem para que a mulher não deixe seu

relacionamento abusivo e doloroso.

Não obstante tais explicações, as razões pelas quais as mulheres permanecem num

relacionamento abusivo são complexas e não compreendidas plenamente, gerando várias

hipóteses explicativas.

Segundo Miller (1999), o masoquismo é uma explicação popular, e transfere a culpa do

agressor para a vítima, o que se torna uma condição famosa como também uma permissão. A

base para determinar que as mulheres são vítimas do abuso porque o desejam está, em grande

parte, em Sigmund Freud, que propôs a idéia de que as mulheres tendiam a desejar a dor.

Assim, as pessoas estão prontas a considerar o homem abusivo como um instrumento da

necessidade de realização de uma mulher, acreditando que, na verdade, ela pode tê-lo

escolhido por causa de sua habilidade para fazer justamente isto.

Dessa forma, a respeito do abuso permanece a idéia de que as mulheres dão continuidade

ao relacionamento para extrair dele algum tipo de prazer ou seriam mulheres moralmente

debilitadas, doentes ou perversas. Porém, há uma grande diferença entre submeter-se ao abuso

e desejá-lo.
112

Para Emerson e Dobasch (1995 apud MILLER, 1999), as afirmações que atribuem a

permanência de uma mulher numa situação abusiva ao masoquismo não somente apresentam

uma explicação simplista como reforçam o direito do homem de cometer o abuso.

Se esta explicação é simplista, como justificar a permanência e o eterno retorno das

parceiras que tentam escapar à relação? Como explicar o comportamento das mulheres que,

mesmo depois de dar a queixa dos parceiros abusivos às autoridades das Delegacias da

Mulher, retiram as queixas e retornam ao velho e conhecido ciclo da violência?

O modelo de mudança de relações familiares de Scanzoni (1972) postula que a proporção

de recompensas às punições é definida subjetivamente pelas esposas e é o fator determinante

da decisão de ficarem ou não casadas. A decisão de buscar ou não intervenção ou dissolução

do matrimônio pode estar parcialmente baseada nas definições subjetivas arraigadas à

violência (punição) e parcialmente na proporção dessa punição a outras recompensas

conjugais (segurança, companheirismo, etc).

Straus (1973) afirma que o autoconceito e as expectativas de papel dos outros

freqüentemente influenciam o que é considerado um nível intolerável de violência pelos

membros da família. Straus (1980 apud BREHM, 1985), enfatiza que a maioria das mulheres

é muito mais presa ao casamento em termos de dependência econômica e responsabilidades

no cuidado com os filhos do que a maioria dos homens. Por isso, embora tanto o homem

quanto as mulheres sofram violência em seus casamentos, é mais difícil para as mulheres

escapar disso.

Nos estudos de Gelles (1976); Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985), a

independência econômica é crucial. Mulheres que deixam os relacionamentos abusivos são

mais propensas a conseguirem um emprego do que aquelas que permanecem.

Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985) descrevem como o comprometimento com o

casamento, pode se tornar uma armadilha para esposas abusadas. Em seu estudo, as mulheres
113

eram mais propensas a deixar um relacionamento abusivo se o relacionamento era

relativamente mais curto (quatro anos ou menos); elas também tendiam mais a deixar se não

citavam espontaneamente o amor como razão para ficar no relacionamento. Então, quanto

mais estas mulheres investiram no relacionamento em termos de tempo e afeto, mais difícil

era para abandoná-lo. Assim elas permaneciam, investiam mais e mais adiante eram abusadas.

Gelles (1976), considera que o ciclo de vitimação desempenha um papel vicioso: esposas

que permanecem num relacionamento abusivo e não procuram assistência tendem mais a

terem sido agredidas quando crianças.

Existem duas razões inter-relacionadas pelas quais mulheres que foram expostas ou

foram vítimas de violência intrafamiliar estariam inclinadas a ser vítimas de violência familiar

como adultas. É possível que quanto mais experiência com a violência tenha uma mulher,

maior seja sua tendência a aprovar o uso da violência na família.

Ela pode crescer com a expectativa de que maridos devem bater em esposas, e esta

expectativa de papel pode em contrapartida se tornar o motivador para o marido usar a

violência com ela. A outra explicação desses resultados integram a teoria da violência da

subcultura (Wolfgang e Ferracuti, 1967, apud GELLES, 1976) com a teoria homogâmica da

seleção do parceiro (Centers, 1949 apud GELLES, 1976; Ecklund, 1968 apud GELLES,

1976; HOLLINGSHEAD, 1950, apud GELLES 1976). Assim, pode-se argumentar que

mulheres que cresceram em ambientes que incluíram e aprovaram a violência familiar, têm

maior probabilidade de se casarem com uma pessoa que tende a usar violência.

Diante do fato de que a exposição e a experiência com a violência quando criança torna a

mulher mais vulnerável a se tornar vítima da violência conjugal, pode-se questionar, até que

ponto isto afeta as ações de uma esposa agredida.

Para Gelles (1976) há duas previsões alternativas que podem ser feitas. A primeira delas

enfatiza que quanto menos a mulher experimenta violência em sua família de orientação,
114

maior a probabilidade de que veja a violência intrafamiliar como desvio, e assim, mais

desejará buscar intervenção ou divórcio quando atacada por seu marido. A segunda destaca

que, a exposição à violência pode proporcionar um papel modelo para a mulher de como agir

quando atacada. Assim, quanto maior a violência a que foi exposta, mais saberá sobre como

obter ajuda externa e buscará mais esta ajuda.

Entretanto, nenhuma das previsões alternativas é fortemente corroborada pelos dados

sobre experiência e exposição à violência.

Por outro lado, de acordo com Gelles (1976) algumas linhas sugerem que a exposição à

violência conjugal torna a mulher menos tolerante à violência familiar e mais desejosa de

finalizar um matrimônio violento, como se verá mais adiante nesta sessão. Contudo, os dados

não dão suporte à argumentação de que esta posição é generalizada entre as esposas que

testemunharam a violência durante seu crescimento.

Em seu trabalho, Gelles (1976) descobriu três fatores preponderantes que influenciam a

decisão das mulheres de permanecer com o marido abusivo ou de procurar intervenção.

Primeiro, quanto menos severa e menos freqüente for a violência, mais a esposa

permanecerá com seu marido e não procurará socorro externo. Este resultado é quase auto-

evidente no que postula que as mulheres procuram intervenção quando são severamente

agredidas. Todavia, o problema é mais complexo, uma vez que severidade e freqüência da

violência explicam somente parte da variância no comportamento das esposas agredidas.

Um segundo fator é quanta violência a esposa experimentou quando criança. Quanto mais

foi espancada pelos pais, mais inclinada é para permanecer com o marido abusivo. Parece que

a vitimação quando criança aumenta a tolerância da esposa para com a violência quando

adulta.
115

Por último, fatores educacionais e ocupacionais estão associados à permanência com o

marido abusivo. As esposas que não procuram intervenção têm menor probabilidade de haver

completado o ensino médio e de estar desempregadas. Conclui-se que quanto menos recursos,

menos poder e mais presas as mulheres estiverem ao matrimônio, mais sofrem nas mãos de

seu marido sem pedir ajuda de fora da família.

Embora Gelles (1976) tenha apresentado alguns fatores que parcialmente explicam porque

mulheres que sofrem abuso permanecem com seus maridos, não foi proporcionada uma

resposta completa à questão levantada. A razão disto é que os fatores que influenciam as

reações de uma esposa agredida são tremendamente complexos. Não se trata simplesmente da

freqüência ou da severidade com que uma esposa é agredida, nem do nível de escolaridade ou

renda que tenha.

Algumas teorias tentam explicar as razões pelas quais uma mulher se mantém em uma

relação violenta.

Strube (1988 apud ECHEBURÚA, 1998), analisa a situação baseada em três modelos

teóricos que buscam dar respostas a esse fenômeno: a Teoria dos Custos e Benefícios, a

Teoria da Ação Racional e a Teoria da Dependência Psicológica.

A Teoria dos Custos e Benefícios se baseia no modelo de Thibaut e Kelly (1959), o qual

sugere que a decisão de ficar em uma relação violenta depende de que o benefício total dessa

decisão seja maior que o custo de permanecer na situação.

A Teoria da Dependência Psicológica assinala que uma mulher permanece em uma

relação violenta por seu compromisso estabelecido através do matrimonio.

Strube (1988 apud ECHEBURÚA, 1998) sugere que uma mulher só sairá de uma relação

violenta assim que comparar as conseqüências positivas com as negativas e depois que

analisar as possibilidades de êxito percebidas, como através do apoio de seus entes queridos.
116

O modelo feminista, segundo Soares (1999), oferece duas soluções básicas para esse

problema.

A primeira é de ordem social e diz respeito aos comportamentos-padrão das vítimas e às

atitudes e recursos da comunidade.

Rangel (2004) afirma que, há que se levar em conta o processo histórico de opressão das

mulheres. Da mesma forma, razões de ordem econômica agravam as condições da vida das

mulheres diante da separação. No caso das mulheres de baixa renda, esta situação pode chegar

a ser dramática. No entanto a dependência econômica, segundo a pesquisadora, é apenas uma

das facetas da opressão feminina. Rangel (2004) reconhece que é fundamental descobrir os

mecanismos psíquicos, sociais e econômicos que mantêm a submissão feminina,

particularmente a submissão de mulheres em situação de violência, para que estas possam

romper os laços de dependência que as mantêm oprimidas e comecem a tomar seus destinos

em suas próprias mãos, num processo de empoderamento.

Bleichmar (s. d.) enfatiza que mulheres que superam a dependência econômica

permanecem envolvidas em situação de violência. Como sinaliza, o referido autor, é preciso

levar em conta a dependência e a função maternal que existe em toda relação amorosa.

Homens, mulheres e crianças, necessitam ser ouvidos, compreendidos e reconhecidos. As

mulheres fazem isso em relação aos filhos, e os homens esperam que elas façam o mesmo em

relação a eles. Da mesma forma, as mulheres esperam a mesma atitude dos homens,

entretanto, os estereótipos da masculinidade se opõem a esta necessidade mútua.

O trabalho realizado por Bleichmar (s.d.) indica que, não é difícil conceber que as

mulheres ao ver uma relação ameaçada, sejam capazes de mantê-la a qualquer preço.

Trata-se de uma questão vital. Uma mulher é avaliada por sua


capacidade de criação (maternagem), de desenvolvimento (criação e
amor) e de cuidado (do casal, da família, dos doentes) do outro.
Tanto a identidade como a auto-estima feminina se constituem não em
117

torno do êxito pessoal, da execução de uma obra ou empresa, mas se


constituem e se matem através de relações interpessoais.
(BLEICHMAR, s.d., p. 49).

Para Puget (1990 apud RANGEL, 2004) a violência destrói vínculos, mas também

constrói laços, e dessa forma acaba se tornando necessária, da mesma forma que a bebida o é

para o alcoólatra.

Assim, as explicações delineadas por Bleichmar (s.d.); Puget (1990 apud RANGEL,

2004), procuram explicar, as razões pelas quais ainda que um relacionamento intimo seja

violento, ele pode permanecer por décadas.

Segundo Bleichmar (s.d.) o que mantém a mulher nessa condição de violência, e a faz

preferir manter uma relação mesmo que violenta a perdê-la é sua identidade feminina. Em

suas investigações Bleichmar (s.d.), sugere que a mulher ao romper uma relação sente que

falha enquanto pessoa e entra em depressão. Dessa forma, [...], não apenas se separa e

perde um vinculo, mas também se desequilibra, se desorganiza e se desvaloriza

completamente porque esta falhando enquanto pessoa (BLEICHMAR, s.d., p.50).

De acordo com essa ótica, as mulheres se valorizam em função dos sacrifícios que são

capazes de fazer pelos outros, e não por si mesmas, dado a inserção de valores patriarcais em

sua subjetividade.

A segunda solução oferecida pela perspectiva feminista se refere a uma patologia

desenvolvida como reação a experiências traumáticas repetidas e, nos casos de violência

conjugal, seria produzida pela própria relação abusiva: trata-se da Síndrome de Estresse Pós-

Traumático .

Segundo os critérios do DSM-III-R (MANUAL de diagnóstico e estatística de distúrbios

mentais, 1989) a síndrome de estresse pós-traumático engloba os seguintes critérios: 1)

presença de um fator de estresse capaz de causar uma resposta traumática; 2) sintomas que

prevalecem por mais de mês; 3) mudanças mensuráveis na memória e na cognição; 4) pelo


118

menos três sintomas mensuráveis de evitação; 5) pelo menos três sintomas mensuráveis de

excitação (WALKER, 1993). Essas síndromes e desordens vêm freqüentemente

acompanhadas do que se chamou de desamparo aprendido.

Seligman (1967 apud HUNZIKER, 1982), levou a teoria do condicionamento de Pavlov

um passo à frente e desenvolveu a Teoria do Desamparo Aprendido, de acordo com a qual os

maus-tratos intermitentes, durante um período de tempo tornam o indivíduo incapaz de fazer

valer a sua vontade e, como resultado, submetem-se à vontade do controlador.

Esta teoria foi utilizada para analisar o comportamento das mulheres vítimas de abuso por

Walker (1979).

Desamparo aprendido explica a perda da habilidade de prever resultados contingentes

depois da exposição a repetidas e variáveis aleatórias de estímulos aversivos inevitáveis. Este

modelo ajuda no entendimento das mudanças psicológicas em mulheres espancadas que

parcialmente contam para sua permanência em relacionamentos abusivos.

Walker (1984) mediu, se os padrões aleatórios e variáveis de tratamentos de

espancamento e amor administrado a mulheres espancadas por seus agressores não teriam tido

um impacto psicológico similar para as cuidadosamente medidas variáveis aleatórias de

estímulos aversivos administradas aos sujeitos nos laboratórios de Seligman (WALKER,

1984). Para a referida pesquisadora, isto poderia explicar a aparente perda de fé das mulheres

espancadas em sua própria habilidade de prever se seus parceiros podem parar com a

violência. Como aqueles nos experimentos de Seligman, mulheres espancadas parecem perder

sua habilidade de escapar. No entanto, como nos animais de laboratório e nos sujeitos

humanos, elas se adaptam às situações aversivas e aumentam sua habilidade de lidar com

estímulos aversivos e minimizar sua dor.

A análise de Walker sugeriu que a mulher presa a um padrão de abuso, embora a

princípio tenha tentado controlar o abuso do parceiro, com o tempo, ela percebia que nada do
119

que fizesse alteraria o relacionamento ou a libertaria. Anos depois, Walker (1993) reafirmou

esta posição, e acrescentou que há mais do que desamparo aprendido na submissão de uma

mulher vítima de abusos. Para a autora, mulheres submetidas cronicamente ao abuso físico e

psicológico, sofrem mudanças na percepção de suas possibilidades objetivas, e perdem a

capacidade plena de reagir e as esperanças de escapar das mãos do agressor.

Distorções cognitivas, tais como a minimização, negação, e dissociação, ou divisão da

mente e do corpo particularmente durante épocas ruins, parecem ajudar as mulheres

espancadas (e de fato ajudam, a maioria das vítimas de abusos e traumas) a enfrentar a

gravidade dos incidentes. Freqüentemente este comportamento é mal interpretado como

passividade, quando, de fato, mulheres espancadas têm gamas de habilidades de confronto

altamente desenvolvidas de aumentar a probabilidade de sobrevivência. Quando é percebido

que aquelas habilidades de confronto não mais irão protegê-las ou à suas crianças, as

mulheres espancadas usualmente tentam escapar, algumas vezes com a percepção de ter que

matar o agressor para conseguir fazê-lo. Para Walker (1984), as percepções de mulheres

espancadas de que a violência alcançou o estágio de escolha de vida ou morte, são

freqüentemente bem precisas.

No decorrer desse processo, a mulher introjeta a nulificação que o parceiro tenta lhe impor

e, acaba desenvolvendo, em relação a ele, um sentimento de gratidão e reconhecimento.

Assim, uma variante da desesperança aprendida, também aproximada à violência

doméstica na literatura feminista, é a chamada Síndrome de Estocolmo , segundo a qual

prisioneiros ou reféns recebendo tratamento sub-humano, temendo permanentemente por suas

vidas e seguranças, e vivendo em absoluto isolamento, tendem a desenvolver mecanismos de

identificação e de submissão voluntária aos seus algozes (SOARES, 1999).

O conceito de desamparo aprendido aplicado às vítimas de violência doméstica foi

contestado por pesquisas que sugeriam que as mulheres vitimizadas não reproduziam
120

eternamente um comportamento passivo, mas tendiam, crescentemente, a procurar ajuda, à

medida que a violência se tornava mais freqüente e intensa (GONDOLF, 1988).

Até mesmo algumas feministas criticaram o modelo de desamparo aprendido, por

considerar perigosa qualquer forma de patologização da mulher submetida à violência

mesmo que essa patologização se dê a posteriori.

Não há uma resposta simples a esta questão, mas há um corpo crescente de informações a

respeito. De acordo com Walker (1994) algumas das barreiras mais comuns que impedem as

mulheres de sair e/ou buscar ajuda são as seguintes:

a) Medo de Retribuição:

Em casos de extrema violência, a mulher espancada pode ficar para manter as crianças, ou

porque teme o risco de violência maior se tentar fugir do relacionamento. Infelizmente, esse

medo é totalmente justificado. Dados indicam que o período mais perigoso para uma mulher

que sofre agressão é durante os dois primeiros anos após ter ido embora (BROWNE;

WILLIAMS, 1989). De acordo com a Investigação Nacional do Crime realizada em 1994

pelo Departamento de Justiça dos E.U.A., 70% dos incidentes relatados de espancamento

ocorrem após a separação. De acordo com Hart do National Coalition Against Domestic

Violence (1988, apud Walker, 1994), mulheres que abandonam seus agressores têm um risco

75% maior de serem assassinadas por eles do que aquelas que permanecem.

b) Mecanismos de Resistência:

Minimização. Um sinal de que a mulher pode estar minimizando o abuso é quando

diz coisas como poderia ter sido pior . Mesmo que a afirmativa seja objetivamente

verdadeira, não significa que não estava em perigo.

Negação. Sendo uma solução de resistência mais extrema, a negação é um modo de

defender-se de um conhecimento que seria muito doloroso de admitir. A negação pode

também ocorrer quando o reconhecimento da verdade pode acarretar uma revolta para a qual
121

a mulher não está preparada, ou quando duas emoções conflitantes, tais como amar e ter medo

do agressor, não podem ser conciliadas. Mulheres que sofrem agressão e outras vítimas de

trauma freqüentemente oscilam entre os estados de negação e de reconhecimento.

Repressão. No caso da repressão, a lembrança de um evento doloroso é eliminada da

consciência.

Dissociação. Refere-se a uma alteração da consciência ou a uma ruptura da

personalidade tal, que eventos que envolvem a pessoa podem ser excluídos do estado de

consciência. Por exemplo, uma mulher que sofre agressão pode não vivenciar a dor de um

espancamento no momento em que este ocorre. Ou pode, num outro momento, recontar

estórias horríveis sobre o que ela tem sofrido como se estivesse descrevendo algo que assistiu

na TV ou que aconteceu com outra pessoa. A dissociação é comumente descrita como uma

ruptura do corpo com a mente.

c) Vergonha, Culpa, ou Falta de Confiança:

Mulheres que são espancadas geralmente apresentam desculpas para o agressor, refletindo

sua crença de que são de alguma forma responsáveis ou culpadas pela violência.

Muitas acreditam que são as únicas a sofrer abusos, que são fracassadas, ou que não

merecem ajuda.

d) Confusão ou Disfunção Cognitiva:

Confusão Cognitiva. As tentativas para conciliar as intenções não abusivas do

agressor com a própria experiência da mulher do acontecido podem levar a uma confusão

sobre o que é verdadeiro.

Disfunção Cognitiva. A diminuição da atenção e da concentração pode levar a

déficits na habilidade para processar a informação que pode, em conseqüência, levar a uma

inabilidade de ter atitudes realistas. Em casos de danos neurológicos, mulheres que apanham
122

podem também exibir tipos mais extremos de déficits na habilidade para processar

informação, tal como a perda total da memória de fatos recentes.

e) Medo de Perder o Controle.

Devido à maneira pela qual as memórias são armazenadas, o ato de pensar a respeito do

abuso ou de contar o que aconteceu pode fazer com que o fato seja revivido, repleto de

sentimentos de terror, confusão ou dor que acompanharam o evento real.

f) Medo de Não Ser Levada a Sério ou de que o Abuso seja Trivializado.

Medo de não ser acreditada ou ter seus sentimentos com relação à importância dos

eventos diminuídos. Por ignorância ou medo de tornarem-se vítimas, os ouvintes

freqüentemente minimizam os relatos de mulheres agredidas.

g) Medo de que a Culpem pelo Abuso.

A tendência da vítima de culpar-se uma atribuição que ajuda a reter a ilusão de controle

sobre o futuro é comumente reforçada não somente pelo perpetrador, que tem um interesse

velado em que a mulher (a) não o abandone, ou (b) não mova uma ação legal contra ele, mas

também pela sociedade em geral, e muito freqüentemente pelos terapeutas. Segundo Walker

(1994), para se defender de seus próprios medos de represália ou de vítimização ou do

agressor ou de si mesma, a mulher agredida pode virar-se contra o terapeuta como uma forma

de apaziguar o agressor enfurecido os terapeutas podem minimizar o perigo à mulher.

Mulheres espancadas freqüentemente descrevem os agressores como tendo uma

personalidade Dr. Jekyll / Sr. Hyde. Uma mulher espancada acredita que se de alguma forma

ela encontrar a forma certa de ajudar seu homem, com quem ela tem um forte laço de amor,

então a parte má dele desaparecerá. Esta crença é freqüentemente reforçada pelos ajudantes

maus informados. Uma mulher espancada pode tentar elucidar os lados bons do homem,

que é freqüente o único lado que ela observa durante uma relativamente curta, mas
123

emocionalmente intensa fase de flerte. Obviamente, isto não acontece; ao invés, o bom lado

se encolhe na medida em que o comportamento abusivo aumenta em freqüência e severidade.

Em razão a isso, a mulher geralmente tem sentimentos confusos a respeito do agressor.

Ela pode amar o bom parceiro, e temer o abusivo . Qualificá-lo como abusivo pode fazê-la

sentir que deve escolher um lado.

Desta forma, fica claro, que as mulheres que sofrem abuso são as primeiras a

minimizar o perigo e não a superestimá-lo.

A mulher vítima de abuso, que permanece lá não o faz porque deseja, mas porque se sente

incapaz de ir embora. Permanece a questão porque uma mulher fica por décadas ou anos em

uma relação violenta.

Este cenário nos auxilia a pensar que embora exista pouca concordância quanto às causas

das dificuldades da mulher romper com o ciclo da violência e quanto à melhor maneira de

controlá-la, existe concordância de que este é um tema de considerável magnitude, uma vez

que vários pesquisadores tentam desvendá-lo.

Diante disto, a investigação sobre as percepções das causas que levam um contingente

enorme de mulheres a permanecer em situações de violência conjugal poderá trazer novas

luzes a este problema. Nesta perspectiva, uma das vertentes teóricas em Psicologia Social que

teve significativo desenvolvimento a partir da segunda metade do século XX e que continua

gerando grande número de pesquisas é a Atribuição de causalidade. Baseando-se nesta

orientação, o próximo capítulo trará o desenvolvimento desse conceito, o modelo integrativo

de investigação de Weiner, e estudos de atribuição no campo da violência conjugal.


CAPÍTULO 3

ATRIBUIÇÃO DE CAUSALIDADE

A atribuição de causalidade, isto é, a busca de explicações a cerca do porquê das


ocorrências, seria elemento poderoso para que o ser humano pudesse compreender
e controlar seu comportamento, o comportamento do seu semelhante e seu próprio
mundo. (DELA COLETA, 1982, p.5).

3.1 Teoria da Atribuição de Causalidade e Percepção

A abordagem da temática da percepção das pessoas, especificamente pela forma como

elas explicam o seu comportamento e o dos outros, através do processo de imputação de

causalidade tem origens no trabalho pioneiro de Heider (1970).

A sua emergência como domínio de investigação, os seus desenvolvimentos nos anos

70 e as suas recentes extensões para o campo da cognição social influenciaram muitos outros

domínios de investigação, como por exemplo, a Psicologia do Desenvolvimento nos trabalhos

de Frieze (1981); a Psicologia Educacional, com os trabalhos de Weiner (1986); a Psicologia

Judicial, através dos trabalhos de Lloyd-Bostock (1979).

Heider (1970) foi dos primeiros investigadores a defender a idéia de que o equilíbrio

cognitivo depende em grande parte dos processos intelectuais, inscrevendo-se assim na

corrente cognitivista da Psicologia Social.

Heider (1970) centra a sua análise em dois aspectos: a) a forma como os indivíduos

ajustam internamente as suas cognições de forma a estar em equilíbrio consigo próprios, e, b)

os ajustamentos que fazem ao meio social em que se inserem.


125

Esse autor sustenta que muitos dos princípios subjacentes à percepção dos objetos sociais,

isto é, das pessoas, tem paralelo na percepção de objetos não sociais. Quem percebe procura

regularidades subjacentes aos fenômenos de forma a torná-los previsíveis e controláveis,

ainda que no domínio dos objetos sociais, o resultado seja imperfeito.

Vale dizer que no processo perceptivo, os aspectos principais da configuração da

estimulação são representados cognitivamente e sujeitos a uma interpretação. A interpretação,

preferencialmente busca por estados de harmonia ou equilíbrio. Dessa forma, as situações que

se caracterizam pela semelhança com as cognições são equilibradas. Por outro lado, quando

existe conflito entre a situação e a cognição, por exemplo, quando A tem um comportamento

negativo e o percebedor gostar de A, aquele que percebe reavaliará toda a configuração da

estimulação de forma a torná-la consonante às suas cognições.

Segundo Heider (1970), a imputação de causalidade é fundamental neste trabalho

cognitivo. Quem percebe, procura as razões que motivam o comportamento ou um

determinado efeito social, questiona-se sobre as capacidades pessoais e intenções do agente, o

contexto específico em que a ação se desenrolou, a desejabilidade social e os desejos pessoais

do agente.

Dessa forma, o processo de atribuição calca-se na busca de propriedades disposicionais

que possam explicar a ocorrência do evento, ou seja, na existência de fatores pessoais e

ambientais mais invariáveis, isto é, que não mudam, e quando mudam seguem leis

macroscopicamente visíveis (DELA COLETA, 1982).

Heider (1970) esclarece que o processo de análise das causas de um evento depende de

dois conjuntos de condições, isto é, de uma combinação de forças pessoais e de forças

ambientais.

Os fatos que tem origem na força pessoal, ou seja, os fatos em que a pessoa percebida

causa um acontecimento intencionalmente, classificada como Causalidade Pessoal, são


126

analisados através de dois fatores: fator poder e fator motivacional. Heider (1970) sugere que

o fator poder seja representado por capacidade, embora existam outras características como,

por exemplo, o temperamento que influem no poder, a capacidade (ser capaz) é aceita como

a mais importante. Por outro lado, o fator motivacional (tentar) diz respeito àquilo que a

pessoa tenta fazer (sua intenção) e à intensidade com que tenta fazê-lo (esforço) (HEIDER,

1970, p.100). Assim, na causalidade pessoal a causa dos fatos se localiza na pessoa.

O modelo teórico de Heider postula a existência de uma relação entre a capacidade (p é

capaz de causar x indicando a possibilidade de uma ação) e intenção e esforço (p tenta

causar x indicando o que p tenta fazer e até que ponto o faz, ou seja, indicando

respectivamente a direção e a intensidade da motivação). As duas forças dos fatores pessoais,

são necessárias à ação e, portanto devem estar presentes, caso uma delas seja nula, a ação será

explicada pelas forças ambientais.

Por outro lado, os acontecimentos estimulados pelas forças efetivas ambiental,

classificadas como Causalidade Impessoal, tem sua origem fora da pessoa percebida e

abrange

os acontecimentos concretos causados pelo ambiente e que a pessoa


deve enfrentar por exemplo, aquilo que a outra pessoa lhe faz, os
golpes de felicidade ou infelicidade, etc.. Deve ficar claro que os
acontecimentos que tem sua origem fora da pessoa incluem os
provocados por outra pessoa, bem como os que decorrem do
ambiente inanimado. (HEIDER, 1970, p. 188).

Neste caso os acontecimentos são heterônomos, governados de fora , induzidos pelo

campo, e neste sentido, opostos aos autônomos, que tem sua origem na pessoa. Esse fator

pode ser representado pelo contraste entre ação pessoal versus o que acontece à pessoa:

empurrar ou ser empurrado, ser o malho ou bigorna. Neste caso, quem percebe raciocina em

termos dos fatos provocados por outra pessoa (elogiar, ajudar, ensinar, proteger e estimular,

por exemplo, são consideradas de forma geral como ações valiosas e benéficas, enquanto que
127

insultar, menosprezar, causar embaraço, impedir, servir de obstáculo, ferir, condenar, são

casos típicos de maus-tratos), do grau da dificuldade da tarefa e das circunstâncias do

momento, ou seja, oportunidade e sorte, sendo estes últimos os fatores mais variáveis do

ambiente, do ambiente inanimado (barreiras, por exemplo), e da pressão potencial

(promessas de benefícios, ameaça de maus tratos).

Neste sentido, o percebedor faz uma avaliação quando atribui o resultado da ação

principalmente à pessoa, principalmente ao ambiente ou à conjunção das duas coisas.

O modelo teórico de Heider designa como causalidade pessoal a ação intencional. No

entanto essa não é a única característica. Pode-se caracterizar a causalidade pessoal pela

equifinalidade, pela invariabilidade dos fins, das metas, e pela variabilidade dos meios

utilizados para alcançá-las, onde a intenção do sujeito é o fator central e o esforço do

indivíduo pertence ao núcleo de causalidade pessoal, recebendo a capacidade uma

importância secundária atuando mais na periferia do fenômeno (DELA COLETA, 1982,

p.9).

Nesse sentido fala-se em uma causa local, o que implica dizer que a pessoa com intenção

muda os meios para atingir o efeito específico ou um fim invariável. A causa local de um

acontecimento é a pessoa. A essência da causalidade pessoal caracteriza-se por equifinalidade

e causalidade local.

De outro lado, na causalidade impessoal, os efeitos produzidos são diferentes, ou seja,

num acontecimento impessoal, não existe causalidade local, nem eqüifinalidade (excluindo o

caso especial de equifinalidade nos sistemas físicos) isto é, não existe a convergência de

diferentes meios pelos quais o mesmo objetivo pode ser alcançado. Na causalidade impessoal,

diferentes condições ambientais conduzirão a uma grande amplitude de efeitos (HEIDER,

1970, p.121).
128

Diferente de como ocorre na causalidade impessoal, na causalidade pessoal, uma fonte

externa à situação não pode alterar, de maneira simples, o resultado. Outra pessoa só poderá

influenciar o resultado final através da alteração da intenção do agente, ou através da criação

de uma circunstância que torne impossível para o agente, a criação do resultado. Nas palavras

de Heider, A causalidade pessoal caracteriza o tentar e é esse fato que dá grande peso às

nossas interpretações de ações e ao que fazemos para influenciar as ações dos outros

(HEIDER, 1970, p.128).

Para Heider (1970) Acima de tudo, é o objetivo de uma ação, sua origem na intenção da

pessoa, que determina freqüentemente, o que uma pessoa faz realmente, ou o que está

acontecendo (HEIDER, 1970, p.137)

Desta forma, a intenção é o fator central na causalidade pessoal, e isto significa que [] as

pessoas são consideradas responsáveis por suas intenções e esforços, mas não por suas

capacidades (HEIDER, 1970, p.132). A responsabilidade pessoal varia com a relativa

contribuição de fatores originados na força ambiental e pessoal. A pessoa que percebe procura

identificar, qual entre as várias condições da ação recebe maior peso, a força pessoal ou a

força ambiental. Assim, a questão da responsabilidade inclui a atribuição da ação.

Além das intenções da pessoa, dos fatores de poder pessoal ou das forças ambientais

(atribuição da ação), outras indicações que se referem menos à estrutura da ação, revelam

intenções, dado que as intenções também podem ser, por exemplo, inferidas do conhecimento

que se tem a respeito da pessoa, seu caráter, seus motivos usuais, seus desejos, suas

necessidades e suas emoções.

O referido pesquisador esclarece que a atribuição de uma ação a uma determinada

intenção pode estar condicionada pelas necessidades do percebedor. Nesse sentido,

expectativas, necessidades, desejos, afetos e emoções, determinam a atribuição, o que pode

levar a uma ausência de correlação entre os dados da situação e a atribuição. Pode-se, por
129

exemplo, pensar erroneamente que outra pessoa pretende fazer alguma coisa, apenas porque

se deseja que isso aconteça. Nesses casos o percebedor seleciona o que é importante para ele,

e não o que na realidade orientou as ações do agente. Tal Como as idéias da pessoa quanto

ao que deve ser e ao que gostaria que fosse , bem como quanto ao que é a atribuição e a

cognição são influenciadas por simples forças subjetivas de necessidades e desejos [...]

(HEIDER, 1970, P. 141).

Nas relações interpessoais, os acontecimentos psicológicos são representados em cada

um dos participantes. A esse respeito o autor enfatiza que:

Quando A observa o comportamento de B, lê esse comportamento


através de entidades psicológicas (e suas reações, como são
orientadas por seus sentimentos expectativas e emoções, só podem ser
entendidas em função de conceitos psicológicos). A, através de
processos psicológicos em si mesmo, percebe esses processos em B.
[...]. Evidentemente, essa análise dos processos separados existentes
na percepção de outra pessoa ignora a usual interação entre p e o, e
na qual as percepções que p tem de o são constantemente modificadas
por aquilo que p acredita serem as percepções que o tem dele, bem
como por outras questões. (HEIDER, 1970, P. 47-48).

Portanto, a percepção de pessoa não é uma via de mão única como a percepção das

coisas, na percepção de pessoa existe uma reciprocidade de perspectivas.

Heider (1970) explica que uma pessoa não apenas reage ao que a outra pessoa faz, mas de

forma geral reage ao que pensa que a outra percebe, sente e pensa. Por essa razão, o que

geralmente determina os aspectos essenciais da relação é a suposição daquilo que ocorre no

interior do outro, isto é, as idéias que se tem a respeito das condições e das percepções da

outra pessoa constituem a base de nossas cognições e ações em um relacionamento

interpessoal.

De acordo com a posição de Heider (1970), deve-se esperar uma correspondência entre a

percepção e o objeto distal, isto é, as coisas precisam ser percebidas com suas propriedades
130

invariantes. Entretanto, o percepto busca reduzir elementos que causam tensão, bem como

promover o equilíbrio interno. Dessa forma, a elaboração da imagem é mediada por variáveis

intervenientes, que se pode dizer, consistem em um sistema particular de conceitos e

esquemas interligados de forma complexa, e não apenas pelos estímulos proximais.

A explicação do outro, de si mesmo ou da situação pode ser resultado de distorções, erros

e diferentes formas de perceber, determinados por algumas variáveis do ambiente e do próprio

percebedor, que dificultam a cognição.

Fontes comuns de erro se encontram na inclusão deformadora como, por exemplo, na

ilusão de ótica que provoca julgamentos incorretos de comprimento de linhas, e na percepção

social através do efeito halo resultado da sugestão de gloria e prestígio que promove a

tendência para associar o valor de um comportamento a simpatia ou antipatia pelo ator tais

como: um ato é bom quando realizado por um amigo, é mau quando realizado por alguém que

não gostamos ou do impacto das primeiras impressões negativas nas interações subseqüentes.

Também nas relações interpessoais a percepção pode ser dificultada quando a situação

significativa é parcial ou totalmente ignorada; quando existe a falsa idéia da constância da

personalidade ou das motivações que persistem por trás da variabilidade comportamental;

quando a situação é percebida egocentricamente, ou seja, quando a situação do outro é

implicitamente suposta como igual a do percebedor; quando as propriedades de uma pessoa

são mediadas por aquilo que outras pessoas dizem ou escrevem sobre elas, através de boatos;

quando se forma uma idéia da pessoa a partir daquilo que ela tem, desconhecendo as razões

que determinaram a propriedade das coisas em questão; e devido à tendência para integrar

novos dados comportamentais em falsas crenças. Tudo isso permite ao percebedor perpetuar a

crença de controle que se ajusta à sua necessidade de equilíbrio, bem como interferem

conseqüentemente nas interpretações ou explicações dadas ao próprio comportamento ou ao

comportamento do outro.
131

Existe ainda a questão de que o processo perceptivo permite abordagens idiossincráticas

do mundo, devido a estilos pessoais de perceber. Pode-se destacar alguns estilos perceptuais

individuais através de alguns conceitos, por exemplo: niveladores versus acentuadores,

autoritários versus não autoritários, otimista versus pessimista. Essa forma pessoal de

perceber, por sua vez, também provoca a interpretação dos eventos.

Portanto, a percepção constitui a base para a elaboração das interpretações, e têm

fundamental importância tanto na determinação da ação do percebedor, quanto naquilo que

ocorre para ele mesmo.

É necessário ressaltar que de forma geral a interpretação dos eventos se ajustam à imagem

que a pessoa faz de si mesma, dos outros e do ambiente, e em razão a isso, nem sempre elas se

ajustam à realidade objetiva. Entretanto à vezes a situação é tão inflexível que o percebedor

tem pouca possibilidade de não reconhecê-la. Nesta situação, quem percebe, procura mudar o

ser capaz e o tentar, tentando eliminar uma delas, com o objetivo de impedir uma ação

indesejável. Nas palavras de Heider (1970):

Especificamente, se o é capaz de fazer x, p precisa fazer com que o


não deseje fazer x , a fim de que possa impedir x, ou, pelo menos, p
precisa impedir que o desejo se torne ativado como uma força na
direção de x. Ou, se p sabe que o deseja x, p precisa tomar cuidado
para impedir que o seja capaz de provocar x. (HEIDER, 1970, p.
141-142).

Heider (1970) afirma que são duas as condições para as possibilidades de p ser

maltratado: quando o é capaz de maltratar p e quando o tenta maltratar p . Se p puder

afastar uma delas estará seguro.

Importa explicar que as relações significativas podem ser representadas em uma

dimensão de graus de gostar, e graus do poder de o , conforme quadro 4.


132

O é capaz O não é capaz


O gosta de p ++ +
O não gosta de p __ _
QUADRO 4 Dimensões de grau de gostar, e graus de poder de o.
FONTE: HEIDER, 1970, p.142

Na situação em que o tem grande poder para fazer algo positivo ou negativo, mas sua

atitude é menos positiva em relação a p (canto inferior esquerdo), surgirão forças para

provocar o afastamento o não gosta de p , isto é, p desejará que o goste mais dele e pode

aproximar-se de o para conseguir isso. No caso em que as evidencias mostram que o não

gosta de p, a força será na direção de que o não seja capaz de maltratar p, ou para reduzir o

poder de o, p poderá ainda tentar lançar-se contra o, (canto inferior direito).

Os princípios que orientam os esforços de p se focalizam no ser capaz ou nas condições

de motivação, isto é, no tentar (intenção e esforço).

Assim, tal como em outros fenômenos psicológicos como percepções e ações a

atribuição aparece no caso de motivos e afetos.

Considerando-se que a atribuição causal e a significação afetiva de um acontecimento

exercem entre si influência mútua e são interdependentes, decorre-se que a significação

afetiva do acontecimento influi nitidamente em sua determinação causal (HEIDER, 1970, p.

195). Neste sentido, a pessoa escolhe entre as possíveis causas subjacentes, que pertencem ao

nível das atitudes e traços relativamente invariáveis, a que melhor se ajusta às idéias e desejos

que tem tanto a seu respeito quanto a respeito das outras pessoas.Assim, as atitudes em

relação ao eu também exercem influência fundamental para as interpretações das ações de

outras pessoas.

Na interação entre atribuição causal e sentido afetivo, a pessoa procura incluir fatores que

considera significativos de forma a elaborar uma atribuição aceitável. São dois os fatores que

determinam a escolha da atribuição aceitável. O primeiro refere-se à significação afetiva do


133

acontecimento. A pessoa encontra uma razão que se ajuste aos desejos e necessidades de seu

espaço de vida, isto é, procura uma razão que seja pessoalmente aceitável. . Em segundo lugar

o que é escolhido como aceitável precisa também se ajustar às expectativas cognitivas, e

devem, portanto atender às exigências derivadas da razão a respeito de ligações entre motivos

atitudes, comportamento, etc. De acordo com Heider (1970, p. 197), O segundo fator é o da

racionalidade em qualquer racionalização .

Desse modo, o que influi nas ações da pessoa é aquilo que ela considera ser verdade, uma

vez que a realidade só tem significação psicológica de forma indireta.

Em síntese, a teoria de Heider traz, para a psicologia científica, a maneira pela qual o ser

humano lida com os problemas de relações interpessoais.

As explicações que as pessoas oferecem para as causas de seus próprios comportamentos

ou do comportamento dos outros, denominado atribuição causal, é segundo Heider (1970)

construído no processo de percepção interpessoal. Assim, ao mesmo tempo em que a

atribuição sofre a influência do processo perceptivo, ela determina a direção das relações

interpessoais.

Seu estudo mostra que as pessoas tendem a utilizar causas internas (disposicionais,

próprias do indivíduo) ou externas (situacionais, conforme as circunstâncias físicas ou sociais)

para explicar os acontecimentos com os quais se confrontam em seu dia a dia.

Assim, o julgamento de uma situação, de suas perspectivas de desenvolvimento futuro, e

da conseqüente ação do percebedor, pode depender do fato de ser feita uma atribuição causal

pessoal ou impessoal. A atribuição revela o tipo de pessoa que se acredita que o outro seja,

como também determinará a aproximação ou o afastamento do outro. Para Heider (1970,

p.330) [...] tem muita importância para a interpretação do mundo social, a separação entre

fatores localizados nas pessoas e os que têm sua origem no ambiente das pessoas .
134

Muitas das idéias em matéria de atribuição sistematizadas por Heider foram

posteriormente desenvolvidas. Perdeu-se, no entanto, a articulação com o princípio do

equilíbrio. No âmbito de uma teoria geral dos processos de atribuição, Jones e Davis (1965,

apud RODRIGUES 1981); Kelley (1973) foram os investigadores que mais marcaram esse

campo da Psicologia Social.

Jones e Davis (1965, apud RODRIGUES 1981), se detiveram no estudo dos mecanismos

através dos quais um observador realiza atribuições internas (disposições pessoais) para as

ações de determinados atores, enquanto o modelo de covariação de Kelley (1967, apud

VALA; MONTEIRO, 1996), procurou analisar como os indivíduos processam as informações

disponíveis no mundo social e as combinam para chegar às causas dos eventos.

Segundo Kelley (1967, apud MALUF, 1994) os conceitos atribucionais foram

desenvolvidos em muitas áreas da Psicologia Social por pesquisadores que analisaram

diferentes fenômenos em várias direções teóricas. Em razão a isso, conforme Kelley (1978,

apud MALUF, 1994), é mais indicado falar em teorias de base atribucional nos vários

campos, ou então, é necessário

[...] que se faça a distinção entre teoria da atribuição (a teoria


sobre dados, regras, inferências, a parte cognitivo-inferencial do
processo) e teorias atribucionais (que admitem conceitos
atribucionais e especificam suas implicações nos vários domínios
sócio-psicológicos). (KELLEY, 1978 apud MALUF, 1994, p.40).

Finalizando, a teoria da atribuição está interessada em como os indivíduos interpretam

eventos, no âmbito da análise ingênua, e como isto se relaciona a seu pensamento e

comportamento, supõe que as pessoas tentam determinar porque as pessoas fazem o que

fazem, isto é atribuem causas ao comportamento.

Para os nossos propósitos, tão fundamental quanto conhecer a teoria da atribuição é

verificar as dimensões causais propostas por Weiner, e como essas dimensões afetarão as

reações emocionais e conflitos interpessoais, que serão tratados nos próximos tópicos.
135

3.2 Atribuição de causalidade e reações emocionais

A constante busca de explicações causais por parte do ser humano dirige-se a diferentes

eventos vivenciados por ele. Dentre estes, observa-se a necessidade das pessoas em saber

porque alguém por quem se interessam , ou se dedicam, não lhe correspondem a atenção e

o afeto, ou porque obtiveram fracasso ou sucesso na realização de uma tarefa (DELA

COLETA; GODOY, 1986)

Weiner (1972), tendo como referência o trabalho de Heider (1970), desenvolveu um

modelo de atribuição aplicado ao ultimo aspecto acima citado, ou seja, à busca de explicações

para o sucesso e o fracasso no desempenho de tarefas. De acordo com o autor, as explicações

causais para situações dessa natureza se enquadram freqüentemente em quatro categorias

básicas: capacidade, esforço, sorte e dificuldade da tarefa (WEINER et al., 1972). Estas

categorias resultariam da combinação de duas dimensões: locus da causa (interno ou externo)

e estabilidade da causa (estável ou instável). Posteriormente, Weiner (1979) classificou essas

explicações causais em três dimensões distintas. São elas:

a) Locus da causa, que se refere à localização da causa no próprio indivíduo (interna) ou

na situação (externa). Às causas internas são freqüentemente associados o esforço, a

capacidade e o estado de ânimo, enquanto ajuda de outras pessoas, dificuldade de tarefa e

acaso estão associadas às causas externas;

b) Estabilidade, que diz respeito à natureza temporal da causa, isto é, ao fato de ela

perdurar no tempo (estável) ou não (instável). Esforço estável, capacidade, dificuldade da

tarefa e ajuda estável estão relacionadas a fatores estáveis, enquanto esforço instável, estado

de ânimo, ajuda instável e acaso relacionam-se a fatores instáveis;


136

c) Controlabilidade, que se associa à influência volitiva que pode (controlável) ou não

(incontrolável) ser exercida sobre a causa. A esse grupo são freqüentemente associados

esforços estáveis, esforço instáveis e ajuda como sendo controláveis, enquanto acaso,

capacidade e ânimo como incontroláveis.

Dessa forma, a habilidade constitui uma causa interna, estável e incontrolável; o esforço,

uma causa interna, instável e controlável; o acaso, uma causa externa, instável e incontrolável

e a dificuldade da tarefa, uma causa externa, estável e incontrolável.

Weiner (1995) postula que nem todas as pessoas sentem a mesma emoção quando

expostas a uma mesma situação (HASTORF; SCHNEIDER ; POLEFKA, 1973, apud DELA

COLETA; GODOY, 1986), o que mostra a importância dos aspectos cognitivos, bem como

da atribuição de causalidade com relação às emoções. Assim, conforme Dela Coleta e Godoy

(1986), diferentes atribuições a um mesmo evento são capazes de gerar variadas e até mesmo

antagônicas reações emocionais.

Pesquisas sobre atribuição de causalidade e reações emocionais têm demonstrado que as

conseqüências afetivas da obtenção de sucesso ou de fracasso na realização de uma tarefa

variam em intensidade, conforme a importância do evento, a expectativa do sujeito em relação

ao resultado e a atribuição causal que faz (WEINER, 1979).

As reações emocionais dos indivíduos variarão diante do sucesso ou fracasso na

realização de uma tarefa, visto que são influenciadas, direta ou indiretamente, por fatores de

sua história de vida (antecedentes) e pelas causas a que ele atribui o resultado, tomando-se em

consideração as dimensões em que se enquadram tais causas, e que exercem influência sobre

as expectativas e o comportamento futuro dos indivíduos (WEINER; RUSSELL; LERMAN,

1978).
137

3.3 Atribuição de causalidade e reações ao conflito interpessoal

O conflito humano é uma área de estudo onde a teoria da atribuição tem muitas

implicações por serem as atribuições extremamente evidentes no conflito (SILLARS, 1981).

Diversos problemas ocorrem nos conflitos interpessoais devido às atribuições, tema que

foi estudado inicialmente por teóricos da família (BATESON; JACKSON, 1964 apud

SILLARS, 1981; WATZLAWICK; BEAVIN; JACKSON, 1967 apud SILLARS, 1981).

Esses autores usam o termo pontuação para se referirem a exemplos


em que duas pessoas têm diferentes percepções no que diz respeito a
qual ato numa seqüência é estímulo e qual é resposta (i,e., quem está
iniciando um conflito). A designação de causa e efeito é assumida
pelos teóricos como arbitrária por causa da causalidade recíproca
em interações interpessoais. Ainda assim, pessoas são freqüentemente
cegas para a causalidade recíproca. Ambos os indivíduos de um par
podem perceber suas ações como provocadas por ações anteriores de
seu parceiro e , assim, demonstrar comportamentos que contribuem
pra um ciclo destrutivo ou disfuncional. (SILLARS, 1981, p. 282).

Por quê os parceiros falham em perceber a causalidade mútua dos conflitos no

relacionamento? Sillars (1981) sugere que as características da relação interpessoal criam

confusão de informações. Numa situação onde as ações de uma pessoa são baseadas em

atribuições à outra pessoa, as verdadeiras intenções e disposições desta serão difíceis de

acessar porque suas próprias ações são, da mesma forma, baseadas nas atribuições feitas ao

comportamento da primeira pessoa. Além disso, os principais envolvidos podem ter uma

necessidade de simplificar suas estruturas cognitivas para reduzir a sobrecarga de informações

e facilitar a ação.
138

Diferenças atribucionais ator-parceiro são provavelmente mais comuns e pronunciadas em

conflitos interpessoais do que na maioria dos contextos sociais. Os sujeitos atores tendem a

interpretar mal a intenção do parceiro, a superatribuir responsabilidade pelos conflitos ao

parceiro, a superestimar a estabilidade dos conflitos. As atribuições estáveis estão implícitas

na tendência de dar explicações negativas, estáveis para o comportamento do parceiro. As três

dimensões de atribuições afetarão tipicamente a escolha da estratégia de resolução do conflito

pelo indivíduo.

Atribuições de intenção foram definidas como um importante agente em conflitos

(intencionalidade da causa). Os estudos nesta área demonstram que a cooperatividade de um

indivíduo depende das intenções atribuídas ao parceiro ou oponente. Do mesmo modo,

estratégias integrativas terão pouca utilidade se for esperado que o parceiro resista a propostas

integrativas ou de compromissos e assim por diante. Desse modo, podemos supor que

estratégias de conflito integrativo serão utilizadas principalmente quando é esperado que o

parceiro coopere. (SILLARS, 1981).

O local percebido da causalidade ou responsabilidade pelo conflito (locus da causa) é um

fator determinante primário de reações emocionais e avaliativas. A esse respeito, Sillars

(1981, p. 286) sugere que estratégias integrativas de conflito são mais prováveis quando os

conflitos são atribuídos à própria pessoa e estratégias distributivas são mais prováveis

quando a responsabilidade é atribuída ao parceiro .

A atribuição de causalidade estável versus instável (estabilidade da causa) para o conflito

afeta o incentivo à comunicação entre os principais envolvidos. Causas de conflito estáveis,

tais como características da personalidade, são difíceis de mudar ou controlar.

Conseqüentemente, se as pessoas atribuírem os conflitos a fatores como conflito de

personalidade ou total incompatibilidade , haverá pouco incentivo para a comunicação. A

passividade é, por conseguinte, uma estratégia plausível para lidar com o conflito. Assim,
139

estratégias de conflito integrativas são menos prováveis, enquanto as passivo-indiretas são

mais prováveis quando os conflitos são atribuídos a fatores estáveis versus instáveis.

Os resultados de dois estudos de Sillars (1981) sobre conflitos entre companheiros de

quarto numa universidade indicaram que os sujeitos atores tendem a superatribuir a

responsabilidade pelo conflito ao parceiro ou adversário e a subestimar os efeitos do seu

próprio comportamento. Em ambos os estudos, a culpa direcionada ao outro e a estabilidade

percebida dos conflitos foram maiores quando a satisfação foi menor, os conflitos foram mais

importantes e a freqüência de conflitos entre companheiros de quarto foi maior.

Isso parece sugerir que grandes diferenças entre ator e parceiro são indicativas de

relacionamentos em deterioração e inabilidade para lidar com conflitos.

A intensidade dos conflitos pode aumentar as discrepâncias atribucionais ator-parceiro

pelas seguintes razões: (a) os conflitos mais importantes e intensos são mais uma ameaça à

auto-estima e, dessa forma, deve aumentar a tendência ego-defensiva; (b) conflitos mais

emocionais devem exagerar os efeitos evidentes do comportamento emocional; (c) a

comunicação é tipicamente constrangida em conflitos mais emocionais e a comunicação que

de fato ocorre pode ser usada para enganar ou coagir. Assim sendo, enquanto os conflitos se

intensificam, as discrepâncias informacionais ator-parceiro são exageradas porque os

participantes dividem menos informações e a informação que é compartilhada tenderá ao

descrédito.

Sillars (1981) conclui que as atribuições e tendências atribucionais podem afetar o ajuste

do relacionamento pela influência na maneira com que os indivíduos manipulam os conflitos.

Grandes diferenças atribucionais ator-parceiro provavelmente reduzem a habilidade do par na

condução de conflitos através de uma comunicação construtiva.


140

Outro modelo cognitivo para o estudo do conflito é apresentado por Brehm (1985). As

várias conexões que existem entre a perda do controle, atribuições causais, e esforços para

estabelecer o controle estão diagramados na Figura 1.

A respeito dos processos demonstrados na Figura 1, é possível perceber que, exceto pelas

atribuições a fatores situacionais controláveis, nenhuma das outras atribuições (até aquelas

direcionadas a outros fatores controláveis) estão fora de seus custos psicológicos. Quando o

sujeito ator acredita que o parceiro é o culpado pelo conflito no relacionamento,

provavelmente sentirá uma grande parcela de raiva. Particularmente, haverá sentimento de

raiva se pensar que o parceiro poderia ter controlado seu comportamento, porém não o fez.

FIGURA 1 - Controle e Atribuições Causais Durante o Conflito


FONTE: BREHM, 1985.

Neste modelo Brehm (1985) propõe que a controlabilidade da causa atribuída ao conflito

determina as emoções (culpa, raiva, etc.) e o comportamento subseqüente.

Na seqüência será apresentado o modelo integrativo proposto por Weiner.


141

3.4 Atribuição de causalidade e reações comportamentais: um modelo

integrativo

Weiner (1972) seguiu de perto as contribuições dos princípios teóricos de Heider, e

desenvolveu uma estrutura teórica que se tornou um paradigma de pesquisa de grande

importância na psicologia social.

A teoria de Weiner (2004) foi aplicada extensamente na educação, na lei, na psicologia

clinica e no domínio da saúde mental

Weiner (1974) como já citado, identificou a capacidade , o esforço, a dificuldade da

tarefa, e a sorte como os fatores mais importantes que afetam atribuições de realização.

Classificou as atribuições ao longo de três dimensões causais: lócus da causa, da estabilidade

e da controlabilidade.

Estudos sobre atribuição de causalidade relacionada ao comportamento foram

desenvolvidos a partir dos anos 60. Destes estudos, Weiner (1972) concluiu que poderiam ser

retirados dois paradigmas. Um dos paradigmas de pesquisa relaciona a atribuição causal à

expressão afetiva. Em um dos experimentos, (LAZARUS et al., 1965 apud WEINER, 1972),

foram obtidos resultados que confirmam a hipótese básica de que a cognição afeta as reações

emocionais. O estudo mostrou que as avaliações cognitivas diminuem a resposta emocional

ao filme exibido no experimento se comparadas ao grupo de controle, não exposto ao

estímulo.

Em resumo, Lazarus e seus associados mostraram que as reações emocionais são uma

função das cognições relacionadas ao estímulo percebido. Além disso, sugerem que a

seqüência emoção-motivação postulada seja alterada, e motivação e emoção sejam ambas

vistas como respostas que seguem a avaliação cognitiva da situação de estímulo. As emoções,
142

então, tornam-se importantes em si mesmas, e a motivação torna-se mais intimamente

associada à cognição do que ao afeto.

O segundo paradigma relaciona a atribuição causal à expectativa de sucesso.

Deste modo, Weiner et al. (1972) sugerem que um modelo de ação atribucional geral deva

incorporar a influência da atribuição causal em ambos, afeto e expectativa, assumindo a forma

conforme demonstrado na Figura 2.

FIGURA 2 - Modelo atribucional de ação (WEINER et al., 1972)

O modelo de Weiner indica que um estímulo provoca as cognições sobre as causas de um

resultado comportamental, as cognições determinam respostas afetivas e expectativas de meta

assim como comportamentos subseqüentes. Pode-se dizer que o estímulo envolve

as condições antecedentes, que por sua vez determinam ou co-


determinam a mediação cognitiva que resulta numa atribuição
causal, onde são identificadas as seguintes dimensões: lócus da
causa, estabilidade e controlabilidade, que terão efeitos primários
diferenciados a nível cognitivo, afetivo e da ação e que serão
acompanhados de outras conseqüências, como por exemplo
intensidade de desempenho, persistência e escolha (WEINER, 1979,
p. 18).
Vale ressaltar ainda que, de acordo com Weiner (1979) a conceituação das dimensões da

atribuição causal ainda estão em processo de construção, sendo, portanto, este o motivo de

controvérsias na análise das pesquisas.

Embora pareça haver consenso de que uma atribuição é uma explicação dada para um

evento (FINCHAM, 1983; SILLARS, 1985), pouca atenção explícita foi devotada para a
143

especificação mais precisa no que concerne às dimensões necessárias para caracterizar uma

explicação causal. Isso talvez não seja surpreendente, pois são comuns na literatura básica

sobre psicologia social controvérsias a respeito da conceituação e medida das atribuições.

Pode-se argumentar, no entanto, que uma resolução para a confusão das atribuições

causais, ou explicações para a ocorrência de um evento, adviria da definição de um conjunto

de dimensões irredutível e finito no qual todas as causas possam ser julgadas.

Weiner (1986, p. 44) voltou-se para essa tarefa, e através de uma revisão do corpo de

pesquisa e teoria concluiu que há uma agradável simplicidade para a estrutura atribucional

[...] umas poucas dimensões básicas subjazem à organização da explicação causal . Em

particular, parece que a taxonomia das atribuições causais abrange o lócus, a estabilidade e as

dimensões de controle de tal forma que uma causa é julgada de acordo com sua localização,

até que ponto flutua ou permanece constante, e até que grau é controlável ou incontrolável.

Weiner (1986) também reconheceu a possibilidade de que uma taxonomia causal

abrangente pode requerer inclusão das dimensões: específica versus global e não intencional

versus intencional. Entretanto, a dimensão específica versus global não emergiu em análises

empíricas das dimensões subjacentes das causas percebidas (WIMER; KELLEY, 1982), em

pesquisas realizadas em áreas de conteúdo relativamente circunscritas (por exemplo sucesso

e fracasso no domínio da realização).

Por outro lado, a segunda dimensão considerada por Weiner (1986), não intencional

versus intencional, diferente das dimensões de lócus, estabilidade e controlabilidade, não é

propriedade de uma causa, mas uma característica imputada a um indivíduo que realiza um

evento. Como conseqüência, Weiner(1986) designou à dimensão da intenção um papel menor

em sua taxonomia causal. É importante notar, contudo, que a ênfase do trabalho de Weiner é

nas dimensões da atribuição causal.


144

Sobre as dimensões de atribuição é importante esclarecer que alguns psicólogos

(BREWIN; ANTAKI, 1987 apud FINCHAM; BRADBURY, 1988; FINCHAM; JASPARS,

1980 apud FINCHAM; BRADBURY, 1988; SHULTZ; SCHLEIFER, 1983) na tentativa de

especificar os tipos de atribuição distinguem atribuições causais das atribuições de

responsabilidade e, além disso, distinguem ambas das atribuições de culpa. Assim, enquanto a

atribuição causal pertence aos fatores que produzem um evento, a atribuição de

responsabilidade envolve um julgamento relacionado à responsabilidade final de um

indivíduo pelo evento e, atribuição de culpa é um julgamento avaliativo que concerne à

imputabilidade do indivíduo implicado para a censura.

Para Shaver (1985) a responsabilidade é um julgamento feito antes que uma razão seja

dada e avaliada. A partir desta perspectiva a culpa não pode ser determinada veridicamente

sem se conhecer o motivo da pessoa para seu comportamento. Porém, para Bradbury e

Fincham (1990), no relacionamento intimo, os cônjuges prontamente designam culpa na

ausência de um input do parceiro e sem a aparente necessidade de tal input. É então

improvável que esta seja uma característica distintiva relevante entre responsabilidade e culpa

no relacionamento conjugal. Nesse sentido, a distinção entre responsabilidade e culpa no

relacionamento conjugal, parece repousar apenas na extensão em que o julgamento é

avaliativo com relação à falta e à imputabilidade para censura.

Além disso, Shultz e Schleifer (1983), argumentam que as atribuições de causa,

responsabilidade e culpa podem ser fenômenos distintos, mas também são provavelmente

desdobráveis em uma seqüência ordenada. Esse ordenamento é conhecido como o modelo do

vínculo ou da pressuposição (SHULTZ; SCHLEIFER, 1983), de forma que a designação da

culpa pressupõe um julgamento de responsabilidade que, em contrapartida, pressupõe uma

atribuição de causa. Ademais, questões referentes à responsabilidade tipicamente emergem


145

somente quando um indivíduo causou algum evento, e julgamentos de culpa tipicamente

emergem somente quando um indivíduo é considerado responsável pelo evento.

Diante do exposto, verifica-se que diferente da responsabilidade, a culpa é primariamente

um julgamento avaliativo que envolve falta e imputabilidade para a censura. Assim, quem

atribui pode manter alguém responsável por um evento, mas não culpá-lo por isso. Essa

ultima característica realmente parece ser relevante para estudos sobre violência,

especialmente a violência conjugal.

Weiner (1986), porém, explicitou não ser necessário manter a distinção entre atribuições

de causa, atribuições de responsabilidade e atribuições de culpa. Em seus estudos,

julgamentos de intenção e volição são identificados como atribuições causais em vez de

atribuições de responsabilidade (CAMPER et al., 1988).

Entretanto, por ser a intenção uma dimensão central na determinação da violência, pode-

se argumentar que não deve ser vista como um elemento menor da atribuição causal, mas

como um elemento básico da atribuição nos estudos sobre violência. Dimensões adicionais de

atribuição que combinam com a intenção para definir o domínio da atribuição da violência

tais como evitabilidade e culpa devem ser consideradas da mesma forma. Essa contribuição

foi baseada nos estudos sobre de psicologia social sobre violência conforme capítulo 1.

Apesar das lacunas, estudos no campo da violência conjugal sob a base da teoria da

atribuição serão apresentados a seguir alguns estudos nesse campo.


146

3.5 Atribuição de causalidade e violência conjugal

Uma suposição comum dos modelos de atribuição em psicologia social é que as

atribuições de um indivíduo afetarão seu comportamento subseqüente (HEIDER, 1970;

KELLEY, 1973). Por exemplo, Heider (1970) notou que a nossa reação a uma experiência

desagradável é fortemente influenciada pela atribuição a uma fonte, a qual podemos ver em

uma outra pessoa, nos trabalhos do acaso ou em nós mesmos. Quando um dano é atribuído a

um agente pessoal, é mais provável que leve a uma reação agressiva. Esta noção é básica

também para aplicações de modelos de atribuição, particularmente na área do matrimônio e

relacionamentos íntimos (BAUCOM ; EPSTEIN, 1990).

Só recentemente os pesquisadores começaram a estudar o papel potencial dos processos

cognitivos na violência conjugal. Um enfoque comum de pesquisa nessa literatura em

desenvolvimento são as atribuições ou explicações que os cônjuges fazem para eventos que

ocorrem em seu matrimônio. Especificamente tem havido um interesse em examinar as

atribuições causais oferecidas pelos próprios cônjuges.

Segundo Bradbury e Fincham (1992), duas questões que guiaram quase todas as pesquisas

em atribuições conjugais concernem se há uma associação entre as atribuições dos cônjuges

para eventos conjugais e satisfação conjugal e se essa associação é causal.

Um outro tema que emerge na investigação das atribuições é o problema da violência

conjugal. Em particular o fenômeno da auto culpa atraiu atenção considerável para explicar

eventos violentos ocorridos nos relacionamentos (ANDREWS ; BREWIN, 1990).

Algumas pesquisas desenvolvidas em torno desse problema tratam de discursos de

esposas como um processo atribucional para atos e eventos violentos do parceiro íntimo que

são usados com o propósito de manter o relacionamento.


147

Como explica Eisikovits (1996), a teia de discursos criada pelas parceiras, envolvidas na

violência íntima, é funcional para a permanência da união e limita a violência de forma que se

torne suportável.

Tais pesquisas são relativamente limitadas e têm-se referido, por exemplo, a temas como:

justificativas discursos nos quais a pessoa aceita a responsabilidade pelo ato em questão,

mas nega a qualidade pejorativa associada a ele, como por exemplo a vítima mereceu e

desculpas, que são discursos nos quais a pessoa reconhece a impropriedade do ato, mas nega

totalmente a responsabilidade pela sua ocorrência. por ex. colocar a culpa nela.

(ANDREWS; BREWIN, 1990; HOLTZWORTH-MUNROE; HUTCHINSON, 1993;

HOLTZWORTH-MUNROE et al., 1992; STAMP; SABOURIN, 1995); técnicas de

neutralização, que equilibram o impacto negativo do ato violento alterando seu significado ou

direcionando-o para a esperança de uma vida boa (HYDEN, 1994); racionalizações

(FERRARO, 1983; FERRARO; JOHNSON, 1983), e estratégias de resistência em

relacionamentos violentos (FERRARO, 1983; JONES, 1993).

Contudo, alguns estudos utilizam o termo discursos para comparar respostas de homens

e mulheres com relação aos tipos, às injúrias e à prevalência dos comportamentos violentos

(DOBASH et al., 1998).

A maior parte das pesquisas sobre violência íntima toca apenas indiretamente no tema dos

discursos. Os assuntos tratados que fornecem informações relevantes a tais discursos incluem:

permanecer ou deixar o relacionamento abusivo (GELLES, 1976; JONES, 1993); atribuição

da culpa pela decisão de permanecer ou sair (ANDREWS; BREWIN, 1990; BARNETT;

MARTINEZ; KEYSON, 1996) ; maneiras de lidar com a responsabilidade e de assumir a

culpa pela violência a outros (CANTOS; NEIDIG; O'LEARY, 1993; HOLTZWORTH-

MUNROE et al., 1992); assumindo responsabilidade pelas situações que levam conflitos à

violência (HOLTZWORTH-MUNROE et al., 1992; JONES, 1993); perda da esperança e


148

avaliação da decisão de deixar o relacionamento violento (BERGEN, 1995; EISIKOVITS;

BUCHBINDER; MOR, 1998; FERRARO; JOHNSON, 1983) ; fatores que levam uma

mulher sem antecedentes criminais a cometer um ato extremo como o assassinato de seu

parceiro (BROWNE, 1986).

Embora os estudos previamente mencionados proporcionem importantes informações

sobre as atribuições de mulheres em relacionamentos abusivos o pequeno corpo de pesquisa

conduzido sobre os processos de atribuição das mulheres envolvidas em violência conjugal

produziu resultados conflitantes.

Enquanto, vários relatos iniciais enfatizam que mulheres que sofrem abuso culparam a si

mesmas pela violência (WALKER, 1984), uma revisão dessa literatura concluiu que mulheres

fisicamente agredidas freqüentemente listam mais de uma causa para a violência, e

normalmente culpavam a si mesmas e ao parceiro ou algum aspecto de sua interação com o

parceiro (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988).

Frieze (1979), aponta que a literatura sobre os processos de atribuição de mulheres

espancadas sugere razões para que se façam previsões opostas sobre os tipos de atribuições

sustentadas por essas mulheres.

Isso pode ser evidenciado em pesquisas sobre antecedentes da atribuição relativa ao que

leva uma mulher envolvida em um relacionamento conjugal violento a culpar a si mesma e

outra a culpar seu agressor. Embora uma das mais importantes pistas situacionais para culpar

o parceiro quando a violência é experimentada possa ser sua severidade (HOLTZWORTH-

MUNROE, 1988), variáveis como as influências sociais também podem desempenhar um

papel importante na formação das atribuições, devido à tendência reportada pelos

perpetradores e observadores de culpar a vítima. Em tais situações, a auto culpa pode ser

reforçada pelas reações dos outros. A literatura evidencia que o abuso em família parece

ocorrer dentro de um contexto de exploração psicológica, em que os que abusam usam seu
149

poder para manipular a percepção de realidade das vítimas. Por exemplo, Walker (1979),

apresenta alguns aspectos que evidenciam que esposas que sofrem abuso podem ser

persuadidas por seus maridos de que são incompetentes, histéricas e frígidas.

Frieze (1979); Andrews e Brewin (1990), encontraram que as mulheres são mais

inclinadas a culpar a si mesmas enquanto estão no relacionamento do que após o terem

abandonado e quando realmente culpam a si mesmas, tendem a fazer atribuições instáveis ou

comportamentais, culpando algum aspecto modificável de seu comportamento em vez do

caráter.

Bradbury e Fincham (1990), demonstraram que não gostar do cônjuge torna maior a

probabilidade de se perceber a causa de eventos negativos como internas ao parceiro.

Shields e Hanneke (1983) reconheceram que a auto-culpa nos estágios iniciais de

vitimação pode representar uma tentativa por parte da mulher de manter o relacionamento

conjugal, enquanto que uma culpa-do-marido posterior pode representar um rompimento

emocional no relacionamento. Essas hipóteses são consistentes com pesquisa sobre mulheres

espancadas que encontra uma alteração de auto-culpa para culpa-do-marido no decorrer do

tempo (SHIELDS; HANNEKE, 1983).

Uma possível explicação para esses resultados é de que há uma tendência à auto culpa

com relação ao primeiro episódio de violência, mas não em geral, conforme sugeriu Frieze

(1979).

A violência conjugal tende a envolver incidentes repetidos, e isso pode levar a alterações

da culpa no decorrer do tempo. Além disso, uma revisão indica que estudos existentes sobre

violência conjugal não distinguem entre atribuições feitas pelas mulheres que estão em

relacionamentos violentos daquelas feitas pelas mulheres que já não vivenciam mais a

violência conjugal (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988). Dessa forma, a culpa pode ser

modificada uma vez que a mulher está fora do relacionamento violento.


150

Nessa perspectiva, poder-se-ia esperar que a pesquisa que enfoca a vitimação precoce

produza atribuições que indiquem causas externas para a violência do marido (externas a ele),

e que a pesquisa que enfoca a vitimação tardia produza atribuições que indiquem causas

internas para a violência do marido (internas a ele), e respectivamente apontem para a

permanência ou para o rompimento da relação.

Entretanto, vale lembrar ainda que muitos pesquisadores que trabalham a partir da

perspectiva de atribuição de um mundo justo encontraram uma tendência tanto em relação

aos observadores de culpar as vítimas por seus destinos (COATES; WORTMAN; ABBEY,

1979 apud Shields; Hanneke, 1983 ; LERNER; MILLER, 1978 apud Shields e Hanneke,

1983), quanto encontraram a auto culpa entre as vítimas (CHODOFF; FRIEDMAN;

HAMBURG, 1964 apud Shields; Hanneke, 1983; ROSS; DITECCO, 1975 apud Shields;

Hanneke, 1983; WORTMAN, 1976 apud SHIELDS; HANNEKE, 1983).

Por outro lado, condizente com alguns relatos (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988;

HOLTZWORTH-MUNROE et al., 1992; SHIELDS; HANNEKE, 1983) e condizente com a

tendência geral de atribuir coisas boas a si mesmo e coisas ruins a fatores exteriores

(HEIDER, 1970; FRIEZE; WEINER, 1971), Cantos; Neidig; O Leary (1993) encontraram

que tanto homens quanto mulheres são mais inclinados a culpar o cônjuge (locus de atribuição

de culpa) com maior freqüência do que a si mesmos para o primeiro e o ultimo episódios de

violência. Contudo, significativamente mais maridos que mulheres culparam a si mesmos pelo

último episódio de violência, por exemplo, 61% e 32% respectivamente.

Cantos; Neidig; O Leary (1993) explicam ainda, que mulheres agredidas tendem a

designar menos culpa a si mesmas e mais aos maridos com o aumento da severidade da

violência a qual são sujeitas e foram mais inclinadas a ver as causas do abuso como estáveis

se tiverem sido mais severamente feridas.


151

Os resultados apresentados pelos autores acima citados estão de acordo com as previsões

da teoria da atribuição, afirmando que comportamentos mais extremos são geralmente vistos

como mais prováveis de serem causados pelo agente e com maior intenção do agente

(JONES; DAVIS, 1965 apud CANTOS; NEIDIG; O LEARY, 1993).

Entretanto, no intuito de manter o relacionamento, os parceiros utilizam discursos

atribucionais mutuamente validados.

Eisikovits; Goldblatt; Winstok (1999) demonstraram que para tornar um discurso

plausível, quando um casal precisa responder por violência severa por tentar permanecer

unido, é provável que dê uma explicação relacionada à perda de controle como causa de sua

ocorrência (por quê aconteceu). Apontam ainda, três condições preliminares para que sejam

gerados discursos baseados na perda de controle. São eles: 1) temperamento explosivo,

caracterizado como uma característica inata transmitida de geração em geração e, que está

além do controle da pessoa, possui curta duração, proporciona alívio e dissipa-se após a

reação quando tudo volta ao normal; 2) vida estressante, sendo esta uma condição mais

difusa gerada por fatores interpessoais e sociais, tais como alcoolismo, conflitos íntimos, ou

desemprego e 3) fatores situacionais que por sua vez são relacionados a ouvintes e

participantes que tanto ajudam a controlar quanto a catalisar a perda do controle.

Os autores acima mencionados entendem que a percepção da violência como uma

conseqüência da perda de controle é funcional para a preservação da união em duas

dimensões: Em primeiro lugar, libera o homem de sua responsabilidade por seu

comportamento, na medida em que está temporariamente inconsciente do que faz. Em

segundo, a perda de controle ocorre e termina dentro de um curto período de tempo e dessa

forma não representa o comportamento do homem em geral. Conseqüentemente, o homem é

geralmente considerado são e por isso um parceiro que vale a pena (GOLDBLATT, 1989

apud EISIKOVITS; GOLDBLATT; WINSTOK, 1999; PTACEK, 1988 apud EISIKOVITS;


152

GOLDBLATT; WINSTOK, 1999). Para os referidos autores este tipo de discurso é mais

comumente formulado para explicar os problemas relacionados ao estresse, e uma vez que

tais atribuições causais são estabelecidas, os agentes incluem a violência e a redefinem como

um sintoma de angústia.

Na mesma perspectiva, Andrews (1992); Holtzworth-Munroe (1992); Stamp e Sabourin

(1995) admitem que as pessoas que fazem uso desses discursos reconhecem a existência da

violência em suas vidas, mas por outro lado negam a responsabilidade por sua ocorrência, que

é determinada por fatores que estão além do controle do perpetrador.

Os discursos baseados na perda de controle são paradoxais e contraditórios em sua

natureza: Por um lado, o casal chega a uma tentativa de acordo de que o perpetrador não pode

controlar seu comportamento; de outro lado, fatores situacionais, são considerados como

forças mitigantes da explosão de violência.

O fracasso em prover um discurso bem sucedido pode levar tanto ao aumento gradativo da

violência quanto a uma identificação de um discurso alternativo (p.e., centralizar em boas

intenções), ou a separação se nenhum discurso articulado é encontrado (EISIKOVITS;

GOLDBLATT; WINSTOK, 1999).

Enfim, nessa perspectiva Eisikovits; Goldblatt ; Winstok (1999) consideram que o tipo de

explicação causal dado pode tornar-se um refúgio para os parceiros, no sentido de possibilitar

a permanência em um relacionamento conjugal violento em que ambos se percebem como

vítimas: ele, de sua situação de vida caótica, e ela, da violência dele.

Conclui-se, a partir dos aspectos levantados, que as atribuições que os cônjuges fazem

para a violência que ocorre em seu relacionamento conjugal podem estar associadas a sua

intenção de permanecer ou de romper o relacionamento.

Dada a falta de concordância, em vários estudos que lidam com relacionamento conjugal

violento é de considerável interesse saber até que ponto tais mulheres culpam a si mesmas
153

pela violência, isto é, se se vêem pessoalmente responsáveis por sua vitimação ou não, e se

suas atribuições causais estão relacionadas às suas repostas comportamentais.

Apesar do progresso feito em direção à compreensão das atribuições dos cônjuges em

relacionamentos violentos, permanecem questões fundamentais com relação ao seu real

impacto para a permanência da vítima nesse tipo de relacionamento. De fato, um primeiro

motivo para o estudo das atribuições em relacionamentos conjugais violentos, precisa

proporcionar uma explicação para o que leva as mulheres a permanecer ou não no

relacionamento, examinando até que ponto as associações entre violência conjugal e

atribuições são alteradas quando a mulher decide romper o relacionamento.

Em vista das ligações teórica proposta por Weiner (1985), entre atribuições e afetos seria

útil determinar se certas atribuições prevêem diferencialmente expressões afetivas, tais como

no caso da mulher ver as causas da violência conjugal como interna instável ao parceiro

poderia prever tristeza e angustia, enquanto que ver o parceiro comportar-se intencionalmente

e de forma egoísta, ou seja, ver as causas da violência como interna estável poderia prever

raiva.

Da mesma forma pode-se prever que o comportamento de permanecer ou romper uma

relação conjugal violenta é uma função da variação nas atribuições da mulher abusada no

decorrer do tempo.

Uma associação entre atribuições e comportamento na interação conjugal parece

plausível, ainda que somente uns poucos estudos tenham tratado este tema (BRADBURY;

FINCHAM, 1992).

Um estudo realizado por Fincham; Beach; Nelson (1987) indicou que as atribuições dos

cônjuges estavam relacionadas as suas repostas comportamentais e afetivas relatadas, mas

somente quando os julgamentos da atribuição concerniam a responsabilidade final dos

parceiros por suas ações. Resultados relacionados foram apresentados por Sillars (1985), que
154

encontrou que o grau em que os cônjuges culparam seus parceiros covariou com mais

comportamento negativo e menos comportamento positivo na interação.

Em síntese, a literatura sugere que as dimensões de lócus, estabilidade, controle, intenção,

evitabilidade e culpa são necessários e importantes para a avaliação das atribuições causais

relativas à violência conjugal e para a permanência ou não da mulher no relacionamento.

Concluída a apresentação dos estudos relativos à atribuição causal, o próximo capítulo

apresentará as justificativas, os objetivos e a proposta de investigação deste estudo.


CAPÍTULO 4

JUSTIFICATIVAS E OBJETIVOS

4.1 Justificativa

O tema a ser investigado é decorrente da experiência no programa de extensão da

Faculdade de Psicologia na Delegacia da Mulher, onde se oferece acolhimento psicológico a

mulheres vítimas de violência. Durante o acolhimento tem sido observado, de modo

assistemático, que as mulheres que buscam a Delegacia a fim de dar queixas contra os

parceiros agressores vivem um relacionamento violento há vários anos. As queixas referem-se

à violência física e psicológica que ocorrem, quase sempre, desde o início do relacionamento.

Observa-se, também, que a maioria das mulheres que sofrem violencia acaba por retirar a

queixa e, tempos depois, retornam à Delegacia por estarem mais uma vez sofrendo ameaças,

surras, depreciações e todo tipo de violência (MARQUES; RAMOS ; RODRIGUES, 2001;

MARQUES et al., 2001; MARQUES et. al., 2000; MARQUES ; PINTO JUNIOR., 1999).

Entender o processo que mantém as mulheres nesta relação pode subsidiar a prática de

profissionais que trabalham nesta área, espera-se, ainda, contribuir com sugestões que possam

melhorar o atendimento oferecido na Delegacia da Mulher de Uberlândia e gerar hipóteses

para novas investigações.


156

4.2 Objetivos

Considerando que o tema em foco é a violência conjugal, especificamente do homem

sobre a mulher, e a permanência das mulheres nesse tipo de relação, o presente estudo

orientou-se por dois objetivos.

O primeiro deles foi obter informações sobre a violência conjugal contra mulheres

agredidas que recorrem ao apoio policial e/ou jurídico, através dos registros nos arquivos da

Delegacia da Mulher Adida ao Juizado Especial Criminal (Boletim de Ocorrência - BO) e

Juizado Especial Criminal de Uberlândia (Termo Circunstanciado de Ocorrência - TCO).

Desse modo, a primeira parte deste trabalho teve como objetivos:

Descrever as características demográficas das mulheres vítimas de violência e de

seus parceiros em casos de violência conjugal, registrados em Boletins de

Ocorrência da Delegacia da Mulher de Uberlândia e nos Termos Circunstanciados

de Ocorrência do Juizado Especial Criminal, que se encontravam em andamento,

respectivamente, nos períodos de janeiro a junho de 2004 e janeiro de 2003 a maio

de 2004.

Identificar a queixa que levou as mulheres agredidas a denunciar (Boletim de

Ocorrência) e ou formalizar a denúncia (Termo Circunstanciado de Ocorrência) de

seus parceiros.

Identificar o tipo de violência através da Descrição Penal e Incidência Penal ,

conforme denominação nos registros dos Boletins de Ocorrência e Termos

Circunstanciado de Ocorrência, respectivamente.

Num segundo momento, considerando os dados mundiais que demonstram a alta

freqüência da manutenção do relacionamento conjugal, mesmo após diversos e contínuos


157

episódios de agressão, este trabalho teve como foco principal compreender como ocorre o

processo decisório de insistir em manter ou desistir do relacionamento abusivo. Esta análise

focalizou as atribuições, sentimentos, expectativas e ações em dois momentos: após a

primeira (retrospectiva) e última agressão sofridas.

Para este objetivo foi adotada como base teórica a atribuição de causalidade e, como

referência, o modelo proposto por Weiner et al. (1972) e as sugestões de Sillars (1981) e

Brehm (1985).

Esta abordagem gerou a seguinte proposta de modelo (figura 3) para investigação:

(3)
Sentimentos
Violência Conjugal Atribuição Causal Ação
(1) (2) Expectativas (5)
(4)

FIGURA 3 - Modelo atribucional de violência conjugal.

Foram analisados as atribuições de causalidade (locus, estabilidade e controlabilidade, da

causa percebida), sentimentos, expectativas e comportamentos das mulheres agredidas nos

primeiros eventos de violência conjugal e após a tomada de decisão sobre dar queixa na

Delegacia da Mulher (TCO).

As variáveis do modelo são definidas a seguir:

(1) = Atos agressivos, físicos ou psicológicos perpetrados pelo companheiro. Agressão praticada

pelo parceiro de relações amorosas e sexuais estáveis que resultam em sofrimento físico,

psicológico, econômico ou sexual à mulher.


158

(2) = Causa percebida pela mulher para o ato de agressão perpetrado contra ela pelo parceiro.

Atribuição causal à violência sofrida:

lócus e estabilidade da causa.

grau de culpa.

controlabilidade da causa.

grau de intencionalidade do agente.

grau de evitabilidade da agressão pelo agente.

(3) = Sentimentos da mulher decorrentes da agressão sofrida. Sentimentos experimentados após

a agressão:

direção dos sentimentos.

tipo de sentimentos.

(4) = Expectativas da mulher relativas ao futuro com e sem o companheiro. Expectativas:

expectativas após ter dado queixa.

expectativas quanto a permanecer no relacionamento.

expectativas quanto a não permanecer no relacionamento.

(5) = Comportamentos da mulher após ter sido agredida (coping). Ação:

coping após agressão.

decisão de dar queixa na delegacia.

intenção de continuar versus abandonar o relacionamento.

Finda a exposição da literatura, dos objetivos e do modelo investigativo, será apresentado

a seguir a segunda parte deste trabalho que tratará dos aspectos metodológicos, resultados,

discussão e conclusão.
CAPÍTULO 5

MÉTODO

5.1 Amostra

O presente estudo baseou-se em três fontes de dados: levantamento de informações nos

arquivos da Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia e do Juizado Especial

Criminal de Uberlândia, a saber, Boletim de Ocorrência (BO) e Termo Circunstanciado de

Ocorrência (TCO) e entrevistas. Dessas fontes originaram-se três amostras distintas de

mulheres vítimas de violência conjugal que serão descritas a seguir. Assim, esse estudo foi

desenvolvido em duas fases, consistindo a primeira delas no levantamento de dados nas

instituições pesquisadas e a segunda, por sua vez, na realização de entrevistas.

5.1.1 Primeira fase

Levantamento dos arquivos da Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia e do

Juizado Especial Criminal de Uberlândia:

(1) Levantamento dos dados contidos em todos os Boletins de Ocorrência da Delegacia

Adida ao Juizado Especial de Uberlândia no período de janeiro a junho de 2004. O exame de

6.764 Boletins de Ocorrência revelou 876 casos com queixa de relacionamento conjugal

violento, os quais fizeram parte deste estudo. No período estudado as idades das mulheres

vítimas de violência conjugal registrada na Delegacia da Mulher revelaram média de 30,8


160

anos com desvio padrão de 9,37 anos. A idade mínima foi de 14 anos e a máxima foi de 69

anos. A análise do desvio padrão em relação à idade média (coeficiente de variação), mostra

uma variabilidade de aproximadamente 30% em torno da idade média, ou seja, a variação de

idade das vítimas é relativamente alta, fato confirmado pelos valores de idade mínima e

máxima.

(2) Levantamento dos dados contidos no Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO)

que se encontravam em andamento no Juizado Especial Criminal órgão competente para a

conciliação, processo, julgamento e execução de infrações relativos ao período de janeiro de

2003 a maio de 2004. Dos 1.368 Termos Circunstanciados de Ocorrência foram encontrados

390 referentes à violência conjugal, que fizeram parte desta pesquisa. A análise dos dados

relativos à idade da mulher registrados no Juizado revelou média de 32,31 anos com desvio

padrão de 9,45 anos, estes resultados se aproximam dos valores observados nos Boletins de

Ocorrência registrados na Delegacia da Mulher. A idade mínima foi de 16 anos e a máxima de

64 anos.

Faz-se, ainda necessário apresentar breves esclarecimentos a respeito das instituições

pesquisadas.

A Delegacia de Atendimento à mulher tem atribuições para apurar crimes relacionados

à violência contra a mulher, seja ela física moral ou sexual. Como agressão física tem-se

como exemplo: vias de fato, que é uma contravenção penal que consiste em violência

empregada contra a vítima sem acarretar dano a seu corpo (não há vestígios sensíveis à

violência), por outro lado, a lesão corporal é caracterizada pela ofensa à integridade corporal

ou saúde de alguém, ou seja, qualquer dano ocasionado à normalidade funcional do corpo

humano, quer do ponto de vista anatômico, quer do ponto de vista fisiológico ou mental. A

lesão corporal pode ser leve, grave, gravíssima ou seguida de morte. Como agressão moral ou
161

psicológica têm-se: ameaça, injúria, difamação, perturbação do sossego e outros (CAPEZ,

2003).

O Juizado Especial Criminal é o órgão competente para a conciliação, processo,

julgamento e execução das infrações de menor potencial ofensivo, ou seja, aquelas que a lei

determina pena máxima privativa de liberdade não superior a dois anos, ou pena de multa.

Tais crimes são orientados pela Lei 9099/ 95 que em síntese requerem:

1) Confecção do TCO na Delegacia da Mulher. O TCO é um procedimento destinado a

descrever o histórico dos fatos, no qual deverão estar esclarecidos a materialidade dos fatos e

a autoria do delito, bem como as circunstâncias nas quais ocorreu o delito. Consta do TCO o

artigo da incidência penal, conforme tipificação da autoridade policial, informações sobre a

vítima, qualificação do autor do fato, bem como nome, possíveis dados de qualificação,

endereços, e testemunhas. Ainda constam assinaturas da Delegada e do escrivão de polícia.

2) Estando a vítima com algum ferimento, ou marcas no corpo, a mesma será

encaminhada para exame de corpo delito.

3) O TCO será encaminhado, juntamente com o laudo do exame de corpo delito, ao

Juizado Especial Criminal (Poder Judiciário), onde será realizada uma audiência preliminar

com um Juiz e um Promotor de Justiça, ocasião em que será aplicado ao agressor pena

alternativa, que poderá consistir em pagamento de cestas básicas, prestações de serviço à

comunidade e outros.

Acerca da diferença entre BO e TCO, tem-se que o Boletim de Ocorrência é preenchido

pela Polícia Militar (polícia ostensiva e preventiva), e consiste apenas no registro de qualquer

infração penal, denominada Descrição Penal. Já o TCO, realizado pela Polícia Civil (polícia

judiciária, com função de apurar crimes), é a peça que dá inicio ao processo previsto na Lei

9099/95, onde se registra a Incidência Penal. O TCO, muitas vezes, origina-se de um BO, mas

nem sempre isso ocorre, pois há casos em que a vítima não aciona a polícia militar, podendo
162

procurar diretamente a Delegacia (Policia Civil) para confecção de TCO. Outras vezes, a

vítima aciona apenas a polícia militar para fazer o BO.

É importante esclarecer, ainda, que a maioria dos crimes de pequeno potencial ofensivo

depende da representação criminal, que consiste na manifestação expressa da vítima no

sentido de processar o agressor. Esta representação criminal é a autorização para o inicio da

confecção do TCO. Alguns crimes como ameaça, lesão corporal dependem dessa

representação, que só pode ser feita perante a autoridade policial, ou seja, na Delegacia.

Assim, nestes crimes, não basta fazer o BO com a Polícia Militar, sendo imprescindível o

comparecimento posterior da vítima na Delegacia para formalizar a representação.

5.1.2 Segunda fase

Fizeram parte desta fase da pesquisa 71 mulheres com idade média de 34,69 anos (desvio

padrão igual 10,64 anos), que buscaram espontaneamente a Delegacia Adida ao Juizado

Especial de Uberlândia, no período de maio a julho de 2004, para dar queixa dos parceiros

íntimos agressores. Essas mulheres foram informadas dos objetivos da pesquisa e

concordaram em participar da mesma, e então responderam a uma entrevista semi-estruturada.

Essa amostra pode ser caracterizada como de conveniência, não pretendendo ser

representativa da população de Uberlândia. Esse tipo de amostra também chamada de

intencional ou não-probabilística, não se presta a estimar algum valor da população, mas se

presta a obter idéias acerca da variedade de elementos disponíveis nessa população

(CHEIN,1987). Neste tipo de pesquisa há o pressuposto de que o que está sendo investigado é

um processo psicológico suficientemente universal e uniforme, a ponto de fazer com que

diferenças individuais dentro da amostra não se mostrem significativas. Segundo Brehm e

Kassin (1990), em Psicologia Social, a maioria das pesquisas utilizam este tipo de amostra,
163

que, guardadas as devidas proporções, se presta perfeitamente a estudos geradores de

hipóteses.

A pesquisa ocorreu com as mulheres que buscaram a Delegacia. Em razão a isso, é uma

amostra que limita a possibilidade de usar dados amostrais para estimar os valores reais da

população.

Por se tratar de uma amostra de conveniência, seus resultados não podem ser

generalizáveis para a população das mulheres agredidas por seus parceiros conjugais, visto

que possivelmente existem vítimas que não denunciam a violência.

5.2 Instrumentos

5.2.1 Instrumento utilizado na primeira fase

Foi elaborada uma ficha de registros para coleta de dados nos arquivos das instituições.

A ficha de registro continha: número da ocorrência, bairro, idade e profissão da vítima;

bairro, idade e profissão do autor; relação entre vítima e autor; descrição penal e tipo de

queixa (ANEXO A). Estes dados foram observados tanto nos Boletins de Ocorrência quanto

nos Termos Circunstanciados de Ocorrência.

5.2.2 Instrumento utilizado na segunda fase

Foi elaborado um roteiro de entrevista (ANEXO B), que combina questões fechadas (de

múltipla escolha) com outras que requerem respostas mais abertas, previamente submetido à

análise semântica, para se verificar a clareza e adequação das questões. O roteiro de entrevista
164

permitiu às participantes maior liberdade para expressar seus pensamentos e emoções, ao

mesmo tempo em que forneceu as informações pretendidas. O conteúdo versou sobre:

1ª. Parte: Dados Pessoais 12 questões que teve como objetivo descrever as

características sócio-demográficas da mulher (como idade, cor, naturalidade, religião, número

de filhos, renda) e de seu parceiro (idade, escolaridade, profissão, renda).

2ª. Parte: Dados sobre a violência conjugal 8 questões que permitem avaliar o início, a

freqüência, os motivos das agressões e os tipos de violência conjugal sofridos pela

entrevistada (física, psicológica, econômica e sexual).

3ª. Parte: Consta de 8 questões para identificar a atribuição de causalidade à primeira

agressão sofrida internalidade X externalidade, estabilidade X instabilidade, culpa dos

envolvidos, controlabilidade X incontrolabilidade, grau de intencionalidade, grau de

evitabilidade pelo agente. Além dessas seguem 4 questões para identificar os sentimentos, os

comportamentos e as expectativas decorrentes da primeira agressão e dos motivos para ter

permanecido no relacionamento após a agressão.

4ª. Parte: Consta das mesmas questões sobre atribuição de causalidade e identificação dos

sentimentos, comportamentos e expectativas, porém relativas a última agressão sofrida, a que

levou a entrevistada a procurar a Delegacia da Mulher.

Além destas, havia questões nas partes 3 e 4 para introduzir o tema a ser abordado, e

permitir uma reflexão da entrevistada sobre os episódios de violência. Particularmente as

perguntas versavam sobre as maneiras pelas quais os conflitos emergiam de acordo com

primeira e última agressão: o que aconteceu? Por que ele fez isso? Qual foi a causa principal?

Essas questões abertas forneceram material contextual importante para a compreensão dos

eventos violentos específicos, e foram fundamentais para o objetivo de que a própria

entrevistada apontasse as causas por ela percebida para a violência do parceiro. Tiveram,
165

portanto, como função maior, mobilizar nas mulheres o estado de prontidão e colaboração

para as tarefas proposta de classificação atribucional.

Assim, as partes 3 e 4 examinaram as atribuições das mulheres concernentes às

dimensões: lócus / estabilidade, controle, intencionalidade, evitabilidade e culpa. As

dimensões intencionalidade, evitabilidade e culpa solicitavam uma classificação em escalas de

5 pontos, em que extensão concordavam ou discordavam que seu parceiro havia atuado com

intenção negativa (de propósito), poderia ter evitado a agressão (se quisesse poderia se

controlar e ter evitado a agressão), e o quanto era culpado por seus atos (nada culpado a

totalmente culpado). No item culpa as respostas não foram mutuamente exclusivas, de forma

que a mulher poderia culpar a si mesma, ao parceiro, a outra pessoa e/ou à situação ao mesmo

tempo. Cada uma das possibilidades descritas possibilitou envolver um nível diferente de

culpa tanto para a própria mulher como para o parceiro, para outra pessoa ou para a situação.

A medida dos sentimentos foi composta por uma lista de 16 itens onde as classificações

eram dicotômicas, e objetivaram estabelecer a presença ou ausência de tais sentimentos. Além

disso, as próprias entrevistadas apontaram o tipo de sentimento predominante através de uma

medida formada para proporcionar um índice de sentimentos mais estáveis: sentimentos auto-

dirigidos, sentimentos contra ele e sentimentos sem alvo.

As questões referentes às expectativas contidas nas partes 3 e 4 foram abertas.


166

5.3 Procedimentos

5.3.1 Procedimentos de coleta de dados na primeira fase

Para a coleta de dados o primeiro passo foi obter a autorização da instituição para ter

acesso aos seus registros e desenvolver o estudo em suas dependências, como parte do serviço

de atendimento às vítimas de violência conjugal. Dada a necessidade da instituição em manter

um serviço de acolhimento psicológico para as vítimas de violência conjugal e obter maiores

informações sistemáticas sobre o serviço oferecido, o projeto foi aceito de imediato (ANEXO

C).

A etapa seguinte foi examinar os arquivos da instituição, selecionar e transcrever para a

ficha de registro, os dados contidos nos Boletins de Ocorrência e nos Termos

Circunstanciados de Ocorrência e, que se referiam a queixas de violência conjugal.

Foram transcritos para uma ficha de registro os dados que se referiam a casos de violência

conjugal em que a mulher era vítima. Num primeiro momento foram coletados os dados

contidos no Termo Circunstanciado de Ocorrência que se encontravam em andamento no

Juizado Especial Criminal, e em um segundo momento os dados referentes aos Boletins de

Ocorrência da Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia.

O trabalho de pesquisa foi realizado manualmente, e todos os dados obtidos foram

coletados pela pesquisadora, auxiliada num primeiro momento por duas estudantes de

graduação de psicologia e num segundo momento, apenas por uma delas, respectivamente no

levantamento dos TCOs e dos BOs.


167

5.3.2 Procedimento de análise dos dados na primeira fase

Os dados registrados nos Boletins de Ocorrência e nos Termos Circunstanciados de

Ocorrência foram analisados através de estatística descritiva, teste de contingência de Qui-

quadrado que possibilitaram a descrição das características sócio-demográficas da vítima e do

agressor assim como das queixas, incidência penal (TCO) e descrição da violência (BO).

Para os Boletins de Ocorrência registrados na Delegacia da Mulher as análises estatísticas

consistiram também, da representação da série temporal em um gráfico da proporção de

ocorrência ao longo dos seis meses avaliados; da análise da densidade espectral para verificar

a ocorrência de picos de registros ao longo da série. As metodologias estatísticas aplicadas

neste trabalho encontram-se em Vieira (1998); Arango (2001); Barbetta (2003).

Para estas análises foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social

Sciences), versão 10.0.

5.3.3 Procedimento de coleta de dados na segunda fase

a) Validação Semântica

Inicialmente foi elaborada uma entrevista semi estruturada, com objetivo de coletar dados

pessoais da amostra estudada, verificar a incidência da violência e obter informações sobre

como as mulheres explicavam as causas da violência cometidas pelo parceiro íntimo e de sua

permanência na situação. Após a construção da entrevista semi-estruturada surgiu a

necessidade de aplicar um número de entrevistas que permitisse decidir sobre a adequação da

quantidade e tipos de perguntas, que deveriam constituir o roteiro para a entrevista.

Foram entrevistadas 10 mulheres que compareceram à Delegacia para prestar queixa de

seus parceiros agressores e que concordaram em colaborar com o estudo em questão. Das 10
168

entrevistas, quatro foram realizadas pela pesquisadora e seis por estudantes do décimo período

de psicologia, previamente treinadas.

As entrevistadas tinham entre 18 e 41 anos, e seus parceiros encontravam-se na faixa entre

19 e 54 anos. O tempo de relacionamento de quatro mulheres variou entre 15 e 18 anos, e das

demais de até 3 anos. Em média as mulheres tinham dois filhos, e a metade não trabalhava.

Todas as questões elaboradas foram consideradas adequadas para compor a entrevista, a

partir da testagem do instrumento junto aos 10 sujeitos.

b) Entrevistas

As entrevistas foram realizadas em sala privativa na Delegacia Adida ao Juizado Especial

de Uberlândia. Não houve qualquer forma de interrupção. O horário foi o mais conveniente

para a entrevistada, ou seja, no dia e hora que a mulher compareceu à Delegacia para registrar

sua queixa. Todas as mulheres foram entrevistadas individualmente pela pesquisadora, que

permaneceu de plantão na Delegacia, no período da tarde, de segunda a sexta-feira, no

período de maio a julho de 2004.

Na aplicação da entrevista a pesquisadora, no primeiro momento, após a anuência da

mulher (ANEXO D), conversou aproximadamente 10 minutos, demonstrando o quanto

considerava importante a percepção dela para o presente estudo.

As entrevistas não foram gravadas devido às resistências observadas na sondagem inicial,

em razão a isso foram feitas anotações mediante o consentimento das entrevistadas. Em

contrapartida as mulheres procuram fazer um relato de forma a permitir todas as anotações,

algumas vezes repetindo parte das respostas para que elas fossem totalmente anotadas.

Quando as respostas pareciam superficiais a pesquisadora fazia intervenções, para que elas

explicassem o significado, ou falassem um pouco mais a respeito. A questão foi dada por
169

encerrada, após a segunda intervenção, nos casos em que a mulher repetia a mesma coisa,

demonstrando não poder explicar melhor. A pesquisadora procurou anotar o relato das

mulheres na integra, tentando preservar, de forma mais fiel possível, o que foi dito (como

erros gramaticais, uso de expressões coloquiais, etc).

Foi assegurado, às mulheres, sigilo completo de suas respostas. Sua identificação foi

preservada.

As entrevistas tiveram uma duração média de duas horas e cinqüenta minutos. O tempo de

duração da entrevista foi um fator crucial para a obtenção de dados confiáveis e válidos. De

acordo com Walker (1984) as mulheres espancadas precisam de tempo para perceber a

entrevistadora como interessadas nelas, e serem capazes de falar sobre a violência que elas

experimentaram. Os problemas previstos por causa da duração das entrevistas, como cansaço,

nunca se materializaram para as entrevistadas, mas sim para a entrevistadora.

Ao final da entrevistas todas as mulheres receberam orientações e encaminhamentos

necessários de acordo com a demanda de cada uma delas.

5.3.4 Procedimento de análise dos dados na segunda fase

No procedimento de análise da entrevista semi-estruturada foram realizadas dois tipos

de análise de respostas: estatística descritiva para as respostas às perguntas fechadas, e criação

de categorias para cada uma das questões abertas, a partir da semelhança das respostas das

entrevistadas. Essas categorias (ANEXO E) posteriormente foram lançadas na planilha de

dados e tiveram suas freqüências calculadas. Utilizou-se o teste de contingência do Qui-

quadrado para se realizar comparações entre variáveis do estudo.

Para a análise de relações entre as variáveis do estudo foram utilizadas as seguintes

técnicas estatísticas:
170

- Correlação r de Pearson para verificar a relação entre as variáveis contínuas;

- Análise de Variância F de Snedecor para comparar os grupos de acordo com a causa

atribuída;

- Qui-quadrado para examinar a relação entre as variáveis categoriais.


CAPÍTULO 6

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo serão apresentados, inicialmente considerando-se as

análises relativas à distribuição dos casos de violência conjugal relativas aos Boletins de

Ocorrência e Termos Circunstanciados de Ocorrência. Comparações descritivas foram

conduzidas pela verificação das variáveis em nível e freqüência das diferentes categorias.

Num segundo momento, serão considerados os resultados das entrevistas realizadas

pela pesquisadora na Delegacia Adida ao juizado Especial Criminal, onde se buscou

investigar o modo como as mulheres entendiam e explicavam a violência conjugal, seus

sentimentos, suas expectativas e suas ações após a primeira e última agressão.

Considera-se que conhecer as atribuições causais das mulheres às agressões sofridas,

possibilita a compreensão da leitura que fizeram sobre o comportamento violento do parceiro

facilitando uma reflexão a respeito das condições e finalidade de seu próprio comportamento.

6.1 Caracterização dos casos de violência conjugal registrados nos boletins

de ocorrência e termos circunstanciados de ocorrência.

Levando-se em consideração os dados disponíveis em todos os Boletins de Ocorrência

registrados no período de janeiro a junho de 2004 e Termos Circunstanciados de Ocorrência

que se encontravam em andamento relativos ao período de janeiro de 2003 a maio de 2004,


172

procurou-se traçar um perfil da mulher que sofre violência conjugal e de seu parceiro

agressor, além de se obter dados sobre a incidência dos vários crimes praticados contra a

mulher. Importa esclarecer que os TCOs correspondentes ao período pesquisado que já se

encontravam arquivados no Juizado Especial Criminal, não foram solicitados.

Outro ponto a ser destacado é que não havia na Delegacia e no Juizado Especial Criminal

de Uberlândia estatísticas específicas acerca da violência conjugal.

6.1.1 Caracterização da vítima

Faixa etária e estado civil

Conforme pode ser visto na Tabela 1, das 876 mulheres que denunciaram os parceiros, no

primeiro semestre de 2004, através dos Boletins de Ocorrência, predominou a faixa etária de

21 a 30 anos (41, 4%), seguida pela faixa de 31 a 40 anos com 29,2% dos casos registrados,

apresentando uma idade média de 30,8 anos, com desvio padrão de 9,37 anos. Esses

resultados são similares aos encontrados por Marques e Pinto Junior. (1999), que apontam que

a maioria das mulheres vítimas de violência (74,3%), encontram-se numa faixa etária que vai

dos 22 aos 40 anos (MARQUES ; PINTO JUNIOR, 1999).

Por outro lado, a análise dos dados registrados no Juizado (TCO) que visam um processo

penal, revela um aumento significativo de denúncias de vítimas com idade inferior a 21 anos,

tendo em vista que nos Boletins de Ocorrência em 14,2% dos casos registrados, a vítima

apresentava-se com menos de 21 anos e nos TCOs de 390 casos, 129 vítimas tinham menos

de 21 anos (Tabela 1), o que representa 33,1% dos registros. Encontra-se entre 21 e 40 anos

53,8% dos casos registrados nos TCOs (Tabela 1). A idade média encontrada foi de 32,31
173

anos com desvio padrão de 9,45 anos. Esses dados estão de acordo com as características da

população em geral. Saffioti (1997) trabalhando com dados do IBGE de 1990 observa que a

maior incidência de violência de agressões físicas contra a mulher se situa na faixa de 18 a 29

anos (28,7%) e 30 e 40 anos, com 25,3% (SAFFIOTI, 1997).

A Tabela 1 não oferece novidades em relação às idades das mulheres vítimas de violência.

Confirma-se mais uma vez que esta população possui uma alta concentração na faixa que vai

dos 21 aos 40 anos e apresenta uma idade média de aproximadamente 32 anos, com desvio

padrão aproximado de 9 anos, observando-se que as mulheres jovens até 30 anos (61,8%)

instauram mais ação penal (TCO) buscando uma reparação dos danos sofridos, do que as mais

velhas.

Esses dados estão aproximadamente de acordo com os dados do informe divulgado pela

OMS (2002), que mostram que a violência causa aproximadamente 7% dos problemas de

saúde das mulheres entre 15 e 44 anos. Neste estudo um detalhamento maior mostra que

existe uma grande concentração de violência contra a mulher na faixa etária que vai dos 18

aos 45 anos (85,6%), sendo que em apenas 8,9% dos casos registrados (BO) as mulheres

apresentavam idade superior a 45 anos (78 mulheres), em 5,5% (48 mulheres) tinham menos

de 18 anos, e 46% encontram-se na faixa que vai dos 18 aos 30 anos.


174

TABELA 1

Faixa etária das vítimas de violência conjugal, registrados nos Boletins de Ocorrência e nos
Termos Circunstanciado de Ocorrência.

Termo Circunstanciado de
Boletim de Ocorrência Ocorrência
Faixa etária
da vítima (anos) f % f %
Ate 20 124 14,2 129 33,1
21 a 30 363 41,4 112 28,7
31 a 40 256 29,2 98 25,1
41 a 50 110 12,6 42 10,8
51 a 60 19 2,2 5 1,3
61 a 69 4 0,5 4 1,0
Total 876 100,0 390 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.

Quanto ao estado civil, observa-se uma tendência que parece permanecer ao longo dos

anos. A relação observada entre a vítima de violência conjugal e o autor da violência (Tabela

2) revela que a maioria das mulheres que registraram suas queixas através do BO declarou-se

amasiada (34,2%), sendo que entre as amasiadas e ex-amasiadas encontra-se a maior

concentração das mulheres vítimas de violência (52%). Esses dados são difíceis de serem

comparados a outros, uma vez que muitas mulheres que convivem com o companheiro

declaram-se solteiras (45,7%) seguida por casadas (35,7%), como apontado por Deslandes;

Gomes; Silva (2000). Entretanto os dados da presente pesquisa são compatíveis com os

apresentados por Marques e Pinto Junior. (1999) que mostram que 46,2% de mulheres vítimas

de violência conjugal são amasiadas, seguida pelas casadas (29,1%).


175

TABELA 2

Tipo de relacionamento entre vítima e agressor de violência conjugal, registrados em


Boletins de Ocorrências e Termo Circunstanciado de Ocorrência.

Boletim de Ocorrência Termo Circunstanciado de


Ocorrência
Tipo de f % f %
Relacionamento
Amásio 300 34,2 91 23,3
Esposo 194 22,1 66 16,9
Ex-amásio 156 17,8 121 31,0
Ex-esposo 103 11,8 50 12,8
Ex-namorado 85 9,7 52 13,3
Namorado 38 4,3 10 2,6
Total 876 100,0 390 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.

Nota-se que, seguindo a tendência observada nos dados contidos nos Boletins de

Ocorrência (Tabela 2), amásios e ex-amásios representam também mais de 50% dos registros

no Juizado Especial Criminal.

Esses dados mostram-se compatíveis com uma exaustiva revisão da literatura, realizada

por Brownridge e Halli (2002), que demonstraram um número consistentemente maior de

relatos de violência pelas mulheres amasiadas do que pelas casadas. De fato, uma inspeção

dos resultados apresentados pelos respectivos autores, mostra que a prevalência de violência

contra as amasiadas é, tipicamente, entre uma ou duas vezes mais que para as casadas.
176

6.1.2 Caracterização do autor

Faixa Etária

Com relação a idade do autor, conforme Boletim de Ocorrência foi verificado que estes

apresentavam, em média 33,2 anos, com um desvio padrão de 9,39 anos. Esta dispersão

representa uma variabilidade de aproximadamente 28 %, revelando, assim como para a idade

da vítima uma dispersão de idade, em torno da média, relativamente alta. A idade do autor

variou de 17 a 69 anos, apresentando, portanto uma amplitude total de 52 anos.

Verifica-se, conforme Tabela 3, que existe uma concentração de ocorrências na faixa

etária do autor entre 21 e 40 anos (62,5%), mas nota-se também um aumento no percentual da

idade dos agressores na faixa de 60 a 69 anos quando comparado com a mesma faixa etária

das vítimas, respectivamente 0,5% e 1%.

Os dados relativos aos TCOs mostram que a idade média do autor foi de 38,08 anos com

desvio padrão de 10,27 anos. A idade do autor variou de 19 a 74 anos, apresentando, portanto

uma amplitude total de 55 anos.

Comparando com as informações obtidas nos Boletins de Ocorrência, verifica-se aumento

na idade média do agressor.

Com relação a faixa etária do autor das violências, verifica-se que nos casos registrados no

Juizado ocorre um predomínio das faixas etárias de 21 a 40 anos (64,6%), conforme revelam

os dados apresentados na Tabela 3.


177

TABELA 3

Faixa etária dos autores de violência conjugal registrado nos boletins de Ocorrência e no
Termo Circunstanciado de Ocorrência.

Boletim de Ocorrência Termo Circunstanciado de


Ocorrência
Faixa etária dos f % f %
autores
Ate 20 38 4,3 16 4,1
21 a 30 291 33,2 120 30,8
31 a 40 257 29,3 132 33,8
41 a 50 118 13,5 75 19,2
51 a 60 32 3,7 26 6,7
61 a 70 140 16,0 20 4,0
71 a 74 - - 1 1,4
Total 876 100,0 390 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.

Esses dados corroboram com estudo realizado por Diniz et al. (2003) cujos resultados

revelaram que os agressores encontram-se numa faixa etária de 20 a 30 anos, seguida pela

faixa de 30 a 40 anos, conforme BOs. (DINIZ et al., 2003)

Outras informações coletadas tais como bairro e profissão das vítimas e dos agressores

apresentaram uma alta variabilidade, indicando que as denúncias de violência contra a mulher

ocorrem em diversos bairros de Uberlândia e, tanto a profissão das vítimas quanto as dos

autores são diversas, variando de desempregados e do lar até empresários e profissionais

liberais.

6.1.3 Magnitude da Violência conjugal.

Os principais tipos de queixas relatadas pelas mulheres vítimas de violência são

apresentados na Tabela 4. Os dados registrados nos BOs indicam que 25,7% das queixas são
178

decorrentes de motivos fúteis, seguidos de ausência de motivos (21,2%). A soma desses

percentuais (46,9%) sugere que a violência ocorre independentemente de motivos relevantes.

Na seqüência o maior percentual está associado ao uso de bebida e drogas (20,3%). Constam

ainda como fatores desencadeantes da violência, fim de relacionamento, ciúmes e outros

motivos.

Por outro lado, a análise dos tipos de queixas contidos nos TCOs aponta como queixa

principal o fim do relacionamento (47,7%), seguida de motivos fúteis (19,7%) e outros

motivos (18,7%). Observa-se que há diferença nos percentuais, visto que praticamente a

metade (47,7%) dos casos de denúncia de violência conjugal estão relacionados à não

aceitação por parte de agressor do fim do relacionamento. Comparando-se estes dados com os

apresentados nos Boletins de Ocorrência, verifica-se um aumento considerável deste tipo de

queixa (de 14,6% para 47,7%). O motivo fútil passa a ocupar o segundo lugar nos TCOs, em

contraposição ao primeiro lugar nos Boletins. É importante esclarecer que motivo fútil, é

aquele insignificante, frívolo, em que há desproporção entre o crime praticado e sua causa

moral e incapaz de dar ao ato uma explicação razoável (CAPEZ, s.d.).

TABELA 4

Principais tipos de queixas das vítimas de violência conjugal, registradas nos boletins de
ocorrências e Termos Circunstanciado de Ocorrência.

Tipos de queixas Boletim de Ocorrência Termo circunstanciado de


Ocorrência
Denúncia f % f %
Bebida/droga 178 20,3 35 9,0
Ciúme 77 8,8 19 4,9
Fim relacionamento 128 14,6 186 47,7
Motivos fúteis 225 25,7 77 19,7
Outros 82 9,4 73 18,7
Sem motivo 186 21,2 - -
Total 876 100,0 390 100
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
179

Examinando a Tabela 5, relativa às descrições da violência sofrida e à incidência penal,

observa-se nos Boletins de Ocorrência que a ameaça à integridade física é o principal tipo de

violência, com 30,0% dos casos, seguida pela agressão (27,4%) e lesão corporal com 19,4%.

As demais ocorrências responderam por aproximadamente 23%.

Por sua vez, os dados de incidência penal, registrados nos TCOs demonstram que

aproximadamente 30% das ocorrências que chegam no Juizado são também devido às

ameaças sofridas pelas vítimas e ao se associar a ameaça com outros tipos de ocorrências tem-

se 70% dos casos. A lesão corporal, que é a segunda causa, representou 19,5 % das

ocorrências e associada a outras incidências observa-se que no total 34,6% das mulheres

sofreram lesão corporal. De forma semelhante, se vincularmos vias de fato a outras

incidências penais, verifica-se que 25% das mulheres especificaram essa incidência nos

TCOs. Chama a atenção a grande associação existente entre ameaça e lesão corporal (12,1%),

e ameaça e vias de fato (16,2%) conforme Tabela 5. Portanto, pode-se inferir que geralmente

os casos mais graves são levados ao juizado.

Comparando os resultados obtidos nas duas fontes de dados, ou seja, a descrição da

violência sofrida (BO) e a incidência penal (TCO), verifica-se grande semelhança, como

pode-se observar nos casos de ameaça.

Em relação a esse quesito, Saffioti (1999) observa que em 1988, o número de denúncias

de agressão contra a mulher registradas na primeira e terceira DDM de São Paulo foi de 85%,

enquanto que o número de ameaças foi de 4,17%. Por outro lado nas mesmas delegacias, no

ano de 1992, a pesquisadora acima citada, verifica que as denúncias de agressão caíram para

68% dos casos, e as de ameaça subiram para 21,3% (SAFFIOTI, 1999).

Williams et al.(1999) também fizeram um levantamento dos tipos de delitos de violência

contra a mulher registrados na DDM de São Carlos. Verificaram que a média anual de delitos

registrados tem sido em torno de 1411. Desses delitos, a média anual de casos de LC tem sido
180

de 466 casos. Afirmam, entretanto, que a média anual de ameaças (222 casos) vem

aumentando ao longo dos anos, chegando a 345 casos no ano de 2000 (WILLIAMS et al.,

1999).
181

TABELA 5

Descrições de violência sofrida pelas mulheres registradas nos Boletins de Ocorrência e


registros de Incidência penal conforme Termo Circunstanciado de Ocorrência relativos à
violência conjugal.

BO TCO
Descrição da violência e f % f %
Incidência Penal
Ameaça 263 30,0 116 29,7
Ameaça/Danos - - 2 0,5
Ameaça/Danos/Lesão Corporal - - 1 0,3
Ameaça/Invasão Domicílio - - 2 0,5
Ameaça/Lesão Corporal - - 47 12,1
Ameaça/Lesão Corporal/ Perturbação - - 1 0,3
da Tranqüilidade
Ameaça/Lesão Corporal/Vias de Fato - - 1 0,3
Ameaça/Perturbação Tranqüilidade - - 23 5,9
Ameaça/Vias de Fato - - 63 16,2
Ameaça/Vias de Fato/Danos - - 1 0,3
Ameaça/Vias de Fato/ Perturbação - - 1 0,3
Tranqüilidades
Danos/Ameaça - - 1 0,3
Danos/Via de Fato - - 2 0,5
Difamação - - 1 0,3
Difamação/Calúnia 2 0,2 1 0,3
Injúria - - 1 0,3
Lesão Corporal 170 19,4 76 19,5
Lesão Corporal/Ameaça - - 6 1,5
Lesão Corporal/Danos - - 1 0,3
Lesão Corporal/Invasão Domicílio - - 1 0,3
Perturbação Tranqüilidade 6 0,7 7 1,8
Perturbação Tranqüilidade/Ameaça - - 3 0,8
Perturbação Tranqüilidade/Difamação - - 1 0,3
Vias Fato 132 15,1 27 6,9
Vias Fato/Ameaça - - 4 1,0
Outras 6 0,7 - -
Violação de domicilio 1 0,1 - -
Homicídio tentado 1 0,1 - -
Embriagues 9 1,0 - -
Danos (patrimonial) 18 2,1 - -
Atrito verbal 28 3,2 - -
Agressão 240 27,4 - -
Total 876 100,0 390 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004; Termo
Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro de 2003 a maio
de 2004.
182

Estes resultados estão de acordo com a pesquisa apresentada pela Fundação Perseu

Abramo (FPA, 2001, apud LIANE; ROVINSKI, 2004), segundo a qual, 31% das denúncias

nas Delegacias se dão por ameaça e 21% por espancamento com marcas, fraturas ou cortes

(Lesão Corporal).

6.1.4 Tipo de relação entre vítima e agressor, e sua associação à descrição da violência.

A Tabela 6 contém uma comparação entre o status conjugal e a descrição da violência, e

revela uma associação significativa, pelo teste de qui-quadrado (qui-quadrado = 112,66; p<

0,01), entre as variáveis, ou seja, neste caso ocorre dependência entre a relação do autor com a

vítima e a descrição da violência para as denúncias registradas nos BOs. Verifica-se que a

agressão é predominante nos casos em que a relação autor/vítima é de amásio ou esposo. Por

outro lado, a ameaça é prevalente nos casos em que houve rompimento do relacionamento,

como pode ser verificado nos casos relativos a ex-amásio, ex-esposo e ex namorado.
183

TABELA 6

Análise conjunta da relação autor/vítima e descrição da violência conjugal conforme Boletins


de Ocorrências registrados na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Descrição da violência
Relação Lesão Vias de
Agressão Ameaça Outras Total
vítima/ autor corporal fato
Amásio f 94 58 69 54 25 300
% 10,7 6,6 7,9 6,2 2,9 34,2
Esposo f 59 39 42 38 16 194
% 6,7 4,5 4,8 4,3 1,8 22,1
Ex-amásio f 45 72 17 10 12 156
% 5,1 8,2 1,9 1,1 1,4 17,8
Ex-esposo f 21 49 7 10 16 103
% 2,4 5,6 0,8 1,1 1,8 11,8
Ex-namorado f 10 39 22 12 2 85
% 1,1 4,5 2,5 1,4 0,2 9,7
Namorado f 11 5 13 7 2 38
% 1,3 0,6 1,5 0,8 0,2 4,3
Total f 240 262 170 131 73 876
% 27,4 29,9 19,4 15,0 8,3 100,0
2
Teste de Qui- =
p < 0,01
Quadrado 112,66
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004.

Os dados contidos nos registros do TCOs são apresentados na Tabela 7. Os resultados

mostram que dos 122 casos registrados como ameaça, praticamente a metade (N = 60), estava

relacionado a amásios ou ex-amásios. Observa-se, entretanto, que o crime mais freqüente

cometido pelos amásios é a lesão corporal. Por outro lado, a ameaça, assim como ocorreu nos

BOs apresentou a maior incidência nos casos de separação do casal, como pode ser visto nas

relações entre ex-amásio, ex-esposo e ex-namorado. Interessante observar que o crime mais

denunciado nos TCOs pelas esposas foi o de ameaça, diferenciando-se do que pode ser

observado nas denúncias registradas nos Boletins de Ocorrência. Nas demais classes de

Incidência Penal a tendência se mantém.


184

TABELA 7

Análise conjunta da relação autor/vítima e incidência penal dos casos registrados no Juizado
Especial Criminal de Uberlândia, relativos à violência conjugal.

Incidência Penal
Relação A A/LC A/PT A/VF LC LC/A Outros VF Total
vítima/
autor
Amásio f 21 14 1 18 27 2 2 6 91
% 5,4 3,6 0,3 4,6 6,9 0,5 0,5 1,5 23,3
Esposo f 21 6 1 12 12 2 2 10 66
% 5,4 1,5 0,3 3,1 3,1 0,5 0,5 2,6 16,9
Ex- f 39 19 11 21 15 - 7 9 121
amásio
% 10,0 4,9 2,8 5,4 3,8 - 1,8 2,3 31,0
Ex-esposo f 22 3 6 3 8 - 3 5 50
% 5,6 0,8 1,5 0,8 2,1 - 0,8 1,3 12,8
Ex- f 17 6 3 8 11 2 2 3 52
namorado
% 4,4 1,5 0,8 2,1 2,8 0,5 0,5 0,8 13,3
Namorado f 2 1 1 3 3 - - - 10
% 0,5 0,3 0,3 0,8 0,8 - - - 2,6
Total f 122 49 23 65 76 6 16 33 390
% 31,3 12,6 5,9 16,7 19,5 1,5 4,1 8,5 100,0
NOTA: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004. A = ameaça, A/LC = ameaça / lesão corporal, A/PT = ameaça /
perturbação da tranqüilidade, A/VF = ameaça / vias de fato, LC = lesão corporal, LC/A =
lesão corporal / ameaça, VF= vias de fato.

Os dados relativos ao tipo de relacionamento do autor com a vítima e o tipo de queixa

feita em Boletins de Ocorrência pela vítima é apresentado na Tabela 8. Foi verificada

dependência entre essas duas variáveis. Observa-se o predomínio de motivos fúteis para a

violência perpetrada pelos amásios, bebida e drogas para os esposos e ciúmes para

namorados. Já para ex-amásio, ex-namorado e ex-esposo, a violência é devida ao fim do

relacionamento.
185

TABELA 8

Análise conjunta da relação autor/vítima e queixa relativa à violência conjugal. Boletins de


Ocorrências registrados na De legacia da Mulher de Uberlândia.

Relação vítima/ autor


Ex- Ex- Ex-
Queixa Amásio Esposo Namorado Total
amásio esposo namorado
bebida/droga f 86 69 13 8 2 - 178
% 9,8 7,9 1,5 0,9 0,2 - 20,3
Ciúme f 27 12 10 5 9 14 77
% 3,1 1,4 1,1 0,6 1,0 1,6 8,8
Fim relac. f 6 6 46 29 40 1 128
% 0,7 0,7 5,3 3,3 4,6 0,1 14,6
Mot. Fúteis f 104 50 29 21 11 10 225
% 11,9 5,7 3,3 2,4 1,3 1,1 25,7
Outros f 20 17 20 18 4 3 82
% 2,3 1,9 2,3 2,1 0,5 0,3 9,4
Sem motivo f 57 40 38 22 19 10 186
% 6,5 4,6 4,3 2,5 2,2 1,1 21,2
Total f 300 194 156 103 85 38 876
% 34,2 22,1 17,8 11,8 9,7 4,3 100,0
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004.

Na Tabela 9 são apresentados os dados relativos à análise conjunta entre o a relação

vítima/autor e o tipo de queixa feita através do TCOs pela vítima. Nota-se mais uma vez que

motivos fúteis predominam como causa da violência quando a relação vítima autor é de

amásio, e da mesma forma que pode ser observado nos BOs, quando o tipo de relação entre

vítima e autor é de ex-amásio, ex-esposo e ex-namorado, há o predomínio do motivo fim de

relacionamento.

Nota-se que fim de relacionamento representa quase a da metade dos tipos de queixas, e

que há um predomínio dessa queixa quando a relação vítima/autor é de ex-amásios, ex-

esposos e ex-namorado.
186

TABELA 9

Análise conjunta da relação vítima/autor e tipo de queixa dos casos registrados no Juizado de
Uberlândia, relativos à violência conjugal.

Queixa
Relação Bebida Ciúmes Fim rel. M. fúteis Outros Total
vítima/autor
Amásio f 18 8 19 24 22 91
% 4,6 2,1 4,9 6,2 5,6 23,3
Esposo f 12 3 15 17 19 66
% 3,1 0,8 3,8 4,4 4,9 16,9
Ex-amásio f 2 4 82 19 14 121
% 0,5 1,0 21,0 4,9 3,6 31,0
Ex-esposo f 2 1 26 8 13 50
% 0,5 0,3 6,7 2,1 3,3 12,8
Ex- f
- 1 41 6 4 52
namorado
% - 0,3 10,5 1,5 1,0 13,3
Namorado f 1 2 3 3 1 10
% 0,3 0,5 0,8 0,8 0,3 2,6
Total f 35 19 186 77 73 390
% 9,0 4,9 47,7 19,7 18,7 100,0
NOTA: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004.

6.1.5 Tipo de queixa e descrição penal / incidência penal.

A Tabela 10 mostra a relação entre o tipo de denúncia feita pela vítima e a descrição penal

registrada nos BOs. Pode-se observar que a agressão, lesão corporal e vias de fato parece ser

predominantemente decorrente de motivos fúteis, enquanto que nos casos de ameaça o

predomínio observado decorre da denúncia relacionada ao fim do relacionamento.


187

TABELA 10

Análise conjunta da descrição da violência e da queixa relativa a violência conjugal


registrados nos Boletins de Ocorrências.

Queixa Descrição da violência


Lesão Vias de
Agressão Ameaça Outras Total
Corporal Fato
Bebida/droga f 59 32 28 36 23 178
% 6,7 3,7 3,2 4,1 2,6 20,3
Ciúme f 17 22 22 11 5 77
% 1,9 2,5 2,5 1,3 0,6 8,8
Fim relac. f 25 76 11 11 5 128
% 2,9 8,7 1,3 1,3 0,6 14,6
Motivos f
63 45 59 45 13 225
Fúteis
% 7,2 5,1 6,7 5,1 1,5 25,7
Outros f 26 23 11 6 16 82
% 3,0 2,6 1,3 0,7 1,8 9,4
Sem motivo f 50 64 39 22 11 186
% 5,7 7,3 4,5 2,5 1,3 21,2
Total f 240 262 170 131 73 876
NOTA: Boletim de Ocorrência relativo ao período de janeiro a junho de 2004.

Na análise conjunta da incidência penal e o tipo de queixa (Tabela 11) registrados nos

TCOs, também se destaca o tipo de queixa fim de relacionamento como sendo, dentro de

todas as classes de incidência penal, a principal causa de queixa. Além disso, a ameaça que

aparece como o principal crime cometido contra a parceira está também relacionado a outros

tipos de incidência penal. Verifica-se que o crime de ameaça e de lesão corporal é mais

denunciado quando se trata da queixa fim de relacionamento e da queixa motivos fúteis,

respectivamente.
188

TABELA 11

Análise conjunta da incidência penal e tipo de queixas dos casos registrados no Juizado de
Uberlândia, relativos à violência conjugal.

Incidência Penal
Queixa A A/LC A/PT A/VF LC LC/A OUTROS VF Total
Álcool f 6 8 - 9 8 - 2 2 35
% 1,5 2,1 - 2,3 2,1 - 0,5 0,5 9,0
Ciúmes f 6 3 - 2 6 1 - 1 19
% 1,5 0,8 - 0,5 1,5 0,3 - 0,3 4,9
Fim de f
76 22 20 30 19 3 9 7 186
relação
% 19,5 5,6 5,1 7,7 4,9 0,8 2,3 1,8 47,7
Motivos f
11 8 1 14 24 2 2 15 77
Fúteis
% 2,8 2,1 0,3 3,6 6,2 0,5 0,5 3,8 19,7
Outros f 23 8 2 10 19 - 3 8 73
% 5,9 2,1 0,6 2,6 4,9 - 0,8 2,1 18,7
Total f 122 49 23 65 76 6 16 33 390
% 31,3 12,6 5,9 16,7 19,5 1,5 4,1 8,5 100,0
NOTA: Termo Circunstanciado de Ocorrência em andamento relativo ao período de janeiro
de 2003 a maio de 2004. A = ameaça, A/LC = ameaça / lesão corporal, A/PT = ameaça /
perturbação da tranqüilidade, A/VF = ameaça / vias de fato, LC = lesão corporal, LC/A =
lesão corporal / ameaça, VF= vias de fato.

6.1.6 Proporção de boletins de ocorrências com violência contra a mulher no período de

janeiro a junho de 2004.

A Figura 4 mostra a série temporal da percentagem diária de casos de violência doméstica

contra a mulher registrada em relação ao total diário de boletins registrados na cidade de

Uberlândia.
189

FIGURA 4 - Série temporal da percentagem de Boletins de Ocorrência com violência


doméstica contra a mulher. Uberlândia MG janeiro a junho de 2004.

Nota-se a ocorrência significativa de picos aproximadamente eqüidistantes e uma

inspeção nos dados obtidos pode-se constatar que estes picos ocorrem, geralmente em fins de

semana, ou seja, com uma periodicidade de sete dias.

Na Figura 5 é apresentada a análise da densidade espectral dessa série. Este tipo de

análise tem o objetivo de verificar se as ocorrências dos picos são significativas ao longo da
190

série. Este procedimento se baseia na técnica matemática conhecida como transformada de

Fourier.

FIGURA 5 - Densidade espectral da percentagem de Boletins de Ocorrências com violência


doméstica contra a mulher.

A Figura 5 confirma, estatisticamente, o que foi observado na inspeção visual dos dados,

ou seja, a ocorrência de um pico significativo de porcentagem de violência doméstica a cada

sete dias, com uma densidade espectral acima de 1200 unidades enquanto os demais valores

ficaram sempre abaixo de 400 unidades.

Como informação complementar obteve-se ainda informações registradas nos Termos

Circunstanciados de Ocorrência de tempo de relacionamento do casal. Entretanto, verificou-se

que 163 dos 390 casos pesquisados (41,8% dos casos) não apresentavam essa informação.

Não obstante pode-se observar um baixo índice de registros para tempo de relacionamento

inferior a 1 ano e superior a 15 anos. A média de tempo de relacionamento foi de 8,57 anos

com desvio padrão de 7,71 anos, mostrando que ocorre uma alta variabilidade (desvio padrão
191

praticamente igual a média) no tempo de relacionamento dos casais, ou seja, nesta pesquisa

foi verificado que as denúncias de violência doméstica contra a mulher ocorreram para casais

com apenas um mês de relacionamento até 40 anos de relacionamento.

6.2 Caracterização dos casos de violência conjugal, conforme entrevistas

realizadas.

6.2.1 Descrição das participantes das entrevistas

Participaram desse estudo, 71 mulheres vítimas de violência conjugal, que foram

entrevistadas individualmente pela pesquisadora.

Quanto à faixa etária as mulheres relataram ter idades variando entre 17 e 59 anos. A

idade média foi de 34,69 anos, com um desvio padrão de 10,64 anos. Na Tabela 12 é

apresentada a distribuição das idades das mulheres que foram classificadas em nove intervalos

de cinco anos cada.

Num primeiro momento pode se observar que havia uma maior concentração de mulheres

com idades entre 31 e 35 anos seguidas pela faixa de 36 a 40. Não obstante, percebe-se a

tendência de concentração de idades das mulheres entre 21 e 40 anos. Verifica-se que 64,8%

das mulheres entrevistadas apresentavam idade neste intervalo.

Estes dados se mostram compatíveis com aqueles verificados nas outras fases desta

pesquisa, ou seja, com o levantamento das informações dos Boletins de Ocorrências e dos

Termos Circunstanciados de Ocorrência.


192

TABELA 12

Distribuição de idade das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia


da Mulher de Uberlândia.

Faixa etária (anos) f %


15 a 20 6 8,5
21 a 25 9 12,7
26 a 30 11 15,5
31 a 35 14 19,7
36 a 40 12 16,9
41 a 45 7 9,9
46 a 50 6 8,5
51 a 55 2 2,8
56 a 60 4 5,6
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Em relação à cor 75% as mulheres classificaram a si mesmas como sendo branca, 16,9%

como parda e 8,5% como negra.

Quanto à naturalidade, o predomínio é de mulheres de outras cidades, sendo que 39,4% se

revelaram oriundas de outras cidades de Minas Gerais, 19,7% do Estado de Goiás, 9,9% de

outros estados, isto pode estar associado à própria característica da cidade que recebe uma

imigração bastante acentuada por ser considerada cidade pólo do Triângulo Mineiro. Apenas

31% das entrevistadas tinham naturalidade de Uberlândia.

Os dados do estado civil apresentados na Tabela 13 mostram que aproximadamente 50%

das mulheres são casadas oficialmente. Deve-se destacar, como visto nas outras fases desta

pesquisa, o alto índice de amasiadas (45,1%). Observa-se ainda que 5,6% declararam-se

solteiras, apesar de conviverem maritalmente com o agressor.


193

TABELA 13

Distribuição do estado civil das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na


Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Estado civil f %
Casada 35 49,3
Amasiada 32 45,1
Solteira 4 5,6
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Quanto ao bairro residencial, observa-se uma alta dispersão, 29 bairros foram citados

pelas mulheres, indicando que a violência contra a mulher ocorre em diversos bairros de

Uberlândia. Essa mesma característica é observada em relação à profissão das mulheres. Foi

revelado, entretanto, número expressivo de mulheres que se declararam do lar (22,5%)

enquanto, 18,3% apresentaram-se como domésticas. As profissões das vítimas são bastante

amplas, podendo ser observadas profissões como estudante, professora, comerciante,

vendedora, ministra de igreja, gary, bordadeira, costureira, faxineira, dentre outras.

A tendência da dispersão é também verificada ao se analisar os dados relativos à religião

das mulheres. A Tabela 14 revela que há um predomínio da religião católica (53,5%) seguida

pela evangélica (21,1%). Somando-se estes dois segmentos têm-se 74,6% dos casos.

Entretanto, chama atenção o fato de 8 diferentes religiões terem sido citadas por 71 mulheres.

Além disso, 9,9% das mulheres declararam não terem religião. No quesito sobre a prática da

religião, verificou-se ainda que 47,9% das entrevistadas revelaram não serem praticantes.
194

TABELA 14

Distribuição da religião das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na


Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Religião f %
Católica 38 53,5
Espírita 3 4,2
Crente 4 5,6
Evangélica 15 21,1
Presbiteriana 1 1,4
Não tem 7 9,9
Testemunha de Jeová 1 1,4
Budista 1 1,4
Adventista 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

A Tabela 15 mostra as informações sobre a escolaridade das participantes e indica que

grande parcela das mulheres possui apenas o primeiro grau incompleto, mas foram

observados casos em todos os níveis de escolaridade, desde analfabeta até nível superior.

TABELA 15

Distribuição por freqüência do nível de escolaridade das mulheres vítimas de violência


conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Escolaridade da mulher f %
Primeiro grau incompleto 38 53,5
Primeiro grau completo 8 11,3
Segundo grau incompleto 5 7,0
Segundo grau completo 15 21,1
Superior incompleto 3 4,2
Superior Completo 1 1,4
Analfabeta 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

As mulheres entrevistadas declararam possuir uma renda pessoal que varia de zero a três

mil reais, ou seja, de zero a 11,5 salários mínimos. A média da renda pessoal foi de R$

264,13, o que corresponde a aproximadamente um salário mínimo e o desvio padrão é de R$


195

370,85 reais. A mediana foi de R$ 270,00, ou seja, 50% das mulheres declaram renda inferior

a R$ 270,00 e 50% declaram ter renda superior a este valor.

6.2.2 Descrição dos parceiros

Segundo as respostas das mulheres, conforme se observa na Tabela 16, os parceiros

agressores tinham idade entre 19 e 70 anos, apresentaram uma idade média de 39,06 anos e

desvio padrão de 11 anos. Os dados mostraram haver um maior número de agressores na faixa

de 41 a 45 anos (18,3%). Observou-se que as faixas etárias das vítimas e dos agressores não

coincidem, prevalecendo no caso das primeiras de 21 a 40 anos enquanto para os últimos a

faixa vai de 31 a 50 anos (62,0%).

Esses dados são similares àqueles verificados nos Termos Circunstanciados de

Ocorrência, levantados no Juizado Especial Criminal que revelaram uma idade média do

agressor de 38,08 anos com desvio padrão de 10,27 anos, com idade variando de 19 a 74 anos.

Tais resultados estão em consonância com a literatura acerca da violência contra a mulher

conforme indicado na primeira fase da pesquisa, que descreve a idade das mulheres e dos

agressores.
196

TABELA 16

Distribuição da faixa etária dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal,
entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Faixa etária (anos) f %


15 a 20 2 2,8
21 a 25 9 12,7
26 a 30 6 8,5
31 a 35 10 14,1
36 a 40 11 15,5
41 a 45 13 18,3
46 a 50 10 14,1
51 a 55 7 9,9
56 a 60 2 2,8
66 a 70 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Informações relativas às profissões dos agressores apresentaram também uma alta

dispersão, assim como indicado no caso das mulheres. As profissões dos parceiros variam

numa faixa extensa, podendo ser observados profissionais como: empresário, advogado,

militar, garçom, pedreiro, marceneiro, açougueiro, vendedor, publicitário, comerciante, moto-

taxista, auxiliar de depósito, empregado rural, dentre outras.

Mais uma vez constata-se que tanto a profissão das vítimas como as dos agressores são

bastante diversas variando de desempregados e do lar até empresários e profissionais liberais

com curso superior.

Pode se verificar nesta pesquisa que entre os agressores, 81,7% (58 dos 71) estavam

empregados, 15,5% estavam desempregados e 2,8% encontravam-se aposentados.

Em sua maioria eles possuem baixa escolaridade, 53,5% possui apenas o primeiro grau

incompleto (Tabela 17). As mulheres declararam que 4,2% dos parceiros tinham o terceiro

grau completo. Curiosamente pode-se observar que 5,6% das entrevistadas não sabiam o grau

de escolaridade de seus parceiros.


197

TABELA 17

Escolaridade dos parceiros das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na


Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Escolaridade do parceiro f %
Primeiro grau incompleto 38 53,5
Primeiro grau completo 6 8,5
Segundo grau incompleto 7 9,9
Segundo grau completo 4 5,6
Superior incompleto 2 2,8
Superior Completo 3 4,2
Não sabe 4 5,6
Analfabeto 7 9,9
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Com relação à renda do companheiro verificou-se que das 71 entrevistadas 68 declaram

conhecer a renda do companheiro e o valor variou de um mínimo de R$ 0,00 à R$ 32.000,00,

com média de R$1.411,18 e desvio padrão de R$ 4.048,20. Nota-se que a renda declarada de

R$ 32.000,00, seguida por R$ 10.000,00 e R$ 6.000,00 elevaram o valor da média e

provocaram a alta dispersão avaliada pelo desvio padrão e que uma análise de outra medida

de posição, como a mediana de R$ 545,00 revelou com mais fidelidade à situação da renda do

companheiro.

O paralelo entre a renda e escolaridade do parceiro indica o predomínio de níveis baixos

em ambos os casos, entretanto os dados também evidenciam a presença de agressores que

possuem renda e grau de instrução elevado. Esses indicadores podem estar apontando para a

hipótese de que a violência conjugal permeia níveis educacionais e sócio-econômicos

variados da sociedade. Ainda assim, nota-se que as denúncias ocorrem com menor freqüência

nas famílias de maior poder aquisitivo. Este dado pode estar apenas evidenciando que, para as

camadas mais altas, a violência conjugal não é denunciada. Se esta hipótese estiver correta, as

pesquisas sobre o tema não retratam com exatidão a realidade deste fenômeno.

Estes dados são compatíveis aos encontrados por Pazinoto (apud BRIGA de marido e

mulher, 2004) que afirma que embora haja uma tendência a atrelar a violência contra a mulher
198

contra as classes menos favorecidas, o problema atinge mulheres de diferentes níveis

econômicos, e escolaridade. As classes menos favorecidas procuram mais os serviços de

policiais e de delegacias, enquanto que as de classes altas e médias procuram outros recursos:

médicos, psicólogos e advogados particulares.

6.2.3 Descrição das características comuns ao casal

Considerando-se os resultados relativos à constelação familiar, as participantes da

pesquisa informaram que possuíam de zero a oito filhos, sendo que a média de filhos por casal

foi de 2,37 filhos com desvio padrão de 1,45 filhos. Estes dados mostram a tendência de

concentração do número de filhos entre 1 e 3, sendo confirmados através da distribuição

apresentada na Tabela 18.

TABELA 18

Número de filhos das mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da


Mulher de Uberlândia.

Número de filhos f %
0 3 4,2
1 18 25,4
2 21 29,6
3 17 23,9
4 8 11,3
5 1 1,4
6 2 2,8
8 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Em um estudo mais detalhado sobre a idade dos filhos, verificou-se que a idade

mínima do primeiro filho das vítimas era de alguns meses e a máxima de 36 anos, com média

de 14,49 anos e desvio padrão de 9,70 anos. Já para o segundo filho a idade mínima foi de 2
199

anos e a máxima de 34 anos (média de 15,16 anos e o desvio padrão de 8,14 anos). Para o

terceiro filho, observou-se idade mínima de 2 anos e máxima de 32 (média de 13,83 anos e

desvio padrão de 8,79 anos) e para o quarto filho a idade mínima de 4 e máxima de 31 (média

de 17,17 anos e desvio padrão de 8,85 anos).

Assim hipotetiza-se que, o número de filhos e a idade dos filhos parece não exercer

influência sobre as ações da mulher. Entretanto Snell, Rosenwald e Robey (1964, apud Gelles,

1976) afirmam que a presença de um filho mais velho motiva as mulheres a levar seus

parceiros à corte.

Em relação à moradia, 47,9% das entrevistadas declararam residir em casa própria, 39,4%

habitam em imóvel alugado e as demais (12,7%) em imóvel cedido.

Considerando o tempo de convivência do casal, ou seja, período no qual o casal

compartilha a mesma residência, a média observada foi de 13,31 anos (desvio padrão de 9,48

anos), variando entre o mínimo de menos de 1 ano a 37 anos.

6.2.4 Descrição da violência

Considerando-se a época de origem da violência no relacionamento, 73,3% das mulheres

entrevistadas revelaram que esta teve início ainda na fase de namoro ou logo no início do

casamento, conforme dados da Tabela 19. O tempo médio que as mulheres sofrem a agressão

foi de 12,2 anos (desvio padrão igual a 9,18 anos), com o mínimo de menos de 1 ano e

máximo de 38 anos.

Estas informações quando comparadas ao tempo de convívio mostram que o início da

agressão pode anteceder em um ano a moradia comum. Observa-se que a fase do namoro já

revelava a problemática da violência para 31,0% das mulheres.


200

TABELA 19

Início das agressões sofridas por mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na
Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Início das agressões f %


Namoro 22 31,0
Início do casamento 30 42,3
Durante a primeira gravidez 5 7,0
o
Após nascimento do 1 filho 6 8,5
Após nascimento do 2o filho 3 4,2
Após algum evento 5 7,0
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

A análise da periodicidade das agressões (Tabela 20) indica que as estas ocorrem

diária e semanalmente com maior freqüência (88,8%), sugerindo que as agressões são uma

rotina na convivência do casal.

TABELA 20

Freqüência da violência sofrida pelas mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de


Uberlândia.

Freqüência das agressões f %


Todos os dias 31 43,7
Semanalmente 32 45,1
Quinzenalmente 4 5,6
Mensalmente 3 4,2
Outros 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

As causas das agressões são apresentadas na Tabela 21, com as respectivas percentagens

de ocorrência (respostas SIM ou NÃO para cada motivo). Verifica-se que: ciúmes,

nervosismo do parceiro, agressividade do parceiro e uso de álcool, nesta ordem, são as

principais causas apontadas pelas mulheres para as agressões do parceiro, todas com

freqüências superiores a 50%. Observa-se ainda que a acusação de traição da mulher pelo
201

parceiro (38,0%) e traição do próprio parceiro são freqüentemente percebidas pelas mulheres

como causas das agressões.

TABELA 21

Porcentagem de ocorrência das causas gerais da violência sofrida, relatadas por mulheres
vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Causas da agressão %
Sim Não
Uso de álcool 50,7 49,3
Drogas 14,1 85,9
Jogo 7,0 93,0
Falta de dinheiro 14,1 85,9
Ele a acusa de traí-lo 38,0 62,0
Traição dele 35,2 64,8
Ciúmes 70,4 29,6
As amizades dele 18,3 81,7
Preguiça dele 9,9 90,1
Falta de iniciativa dele 12,7 87,3
Ele é nervoso 57,7 42,3
A sogra 9,9 90,1
A família dele 7,0 93,0
A família dela 1,4 98,6
Ele é agressivo 54,9 45,1
Ele tem problemas psicológicos 32,4 67,6
A culpa é dela 7,0 93,0
Ele é impotente 2,8 97,2
Ele gosta de gay 2,8 97,2
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

A Tabela 22 mostra as causas atribuídas pelas mulheres às agressões em ordem de

importância, sendo classificados em primeiro lugar uso de álcool (33,8%) e ciúme (31,0%).

Já em segundo lugar há uma redução no percentual do uso do álcool como motivo de

33,8% para 9,9% e ocorrendo a acusação de traição da mulher, que não apareceu no primeiro

caso e apresentou um percentual de 16,9%, ficando atrás apenas do ciúme que teve freqüência

de 19,7%. Em terceiro lugar, as mulheres destacaram o motivo ele é nervoso (19,7%). Além

disso, verifica-se ainda um aumento na quantidade dos motivos listados pelas vítimas.
202

TABELA 22

Classificação das causas da violência dos parceiros, segundo as mulheres entrevistadas na


Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Primeiro motivo Segundo motivo Terceiro motivo


f % f % f %
Uso de álcool 24 33,8 7 9,9 3 4,2
Drogas 2 2,8 2 2,8 2 2,8
Jogo 1 1,4 1 1,4 1 1,4
Falta de dinheiro - - 1 1,4 2 2,8
Ele a acusa de traí-lo - - 12 16,9 6 8,5
Traição dele 8 11,3 7 9,9 4 5,6
Ciúme 22 31,0 14 19,7 7 9,9
As amizades dele - - 1 1,4 1 1,4
Preguiça dele - - 2 2,8 3 4,2
Falta de iniciativa 1 1,4 1 1,4 2 2,8
dele
Ele é nervoso 7 9,9 8 11,3 14 19,7
A sogra - - 1 1,4 3 4,2
A família dele - - - - 3 4,2
Ele é agressivo 3 4,2 9 12,7 10 14,1
Ele tem problemas 2 2,8 3 4,2 4 5,6
psicológicos
A culpa é dela - - 2 2,8 - -
Ele é impotente 1 1,4 - - 1 1,4
Ele gosta de gay - - - - 1 1,4
Não informado - - - - 4 5,6
Total 71 100,0 71 100,0 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

A análise dos percentuais relativos às causas das agressões contidas nas Tabelas 21 e 22

sugerem que a gênese das agressões é variada, sendo precipitado relacioná-la estritamente a

fatores externos ou internos. Por exemplo, 50% dos agressores fazem uso de álcool enquanto

percentual quase idêntico não o faz, então relacionar o consumo de bebidas alcoólicas ao ato

agressivo seria precoce. Por outro lado, características pessoais tais como ele é agressivo ,

nervoso , tem problemas psicológicos também são apontadas como causas que geram

agressão. Determinar de modo preciso à gênese da agressão conjugal requer investigações que

envolvam a presença de fatores diversos, não atribuindo antecipadamente importância a priori

a um dado motivo.
203

Considerando ainda as causas geradoras da agressão, na percepção das mulheres, foram

destacados ciúmes, traição do parceiro e acusação de traição dela. Esse núcleo de causas

parece estar vinculado à relação propriamente dita, enquanto as demais causas estariam

ligadas a fatores internos, como por exemplo, características psicológicas. Tal argumentação

necessita de pesquisas que possam oferecer subsídios à mesma.

A seguir, na Tabela 23 os resultados relativos aos tipos de agressão utilizada pelo parceiro

são apresentados.

TABELA 23

Porcentagem de ocorrência dos tipos de agressão utilizada pelo parceiro, na violência


conjugal, conforme entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Tipos de agressão %
Sim Não
Espancamento 62,0 38,0
Uso de objetos para infringir dor 49,3 50,7
Uso de armas de fogo 4,2 95,8
Enforcamento 66,2 33,8
Queimaduras 11,7 88,3
Esbofeteia 64,8 35,2
Empurrão 94,4 5,6
Tapas 85,9 14,1
Chutes 60,6 39,4
Socos 71,8 28,2
Outros 77,1 22,9
Nota: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

É necessário esclarecer que a severidade da violência foi considerada em três níveis:

baixa, que é caracterizada por empurrar, agarrar e atirar algo contra o outro; média, que é

representada pelos atos de esbofetear, chutar, morder ou esmurrar, e alta que acontece através

do espancamento e da ameaça com faca ou arma ou uso delas, conforme sugere Straus (1980

apud BREHM, 1985).

Os dados relativos aos tipos de agressões sofridas pelas mulheres entrevistadas nesta

pesquisa revelam os 3 níveis de severidade como pode ser observado na Tabela 23. Entretanto

uma inspeção mais profunda nos dados mostra que os vários tipos de agressão ocorrem
204

concomitantemente, pois as mulheres ao responderem a questão sobre as agressões afirmaram

que não há atos isolados, como por exemplo, apenas empurrão, mas empurrão e chutes. O

conjunto das respostas revela, portanto, dois níveis de severidade da violência: médio e alto.

Ainda tentando esclarecer a severidade da violência, as mulheres relataram agressões ou

ameaças com armamento como, por exemplo, a roleta russa , ameaças de cortar o pescoço.

Outra pratica usual nas agressões é o uso de cinto para espancar ou enforcar, bater a cabeça na

parede e puxar o cabelo. Vale destacar que embora agarrar ou puxar o cabelo seja considerado

usualmente uma violência de baixa severidade, uma das mulheres entrevistadas relatou ter

raspado a cabeça por não mais suportar ter freqüentemente os cabelos arrancados. Chama

atenção ainda a agressão através de afogamento em piscina.

Os tipos de violência empregados pelos agressores em conjunto com a freqüência de atos

agressivos (diários ou semanais) acentuam a severidade do fenômeno. Possivelmente, o

aumento da severidade poderia ocasionar a queixa das agressões sofridas às autoridades

competentes, através do Termo Circunstanciado de Ocorrência.

Esses dados são compatíveis com os encontrados por Gelles (1976), que afirma que a

freqüência com que a esposa é atingida também influencia sua decisão de permanecer com o

marido, ou de chamar a polícia, ou de ir a um assistente social, ou de buscar a dissolução do

matrimônio Mulheres agredidas semanalmente a diariamente são mais propensas a chamar a

polícia, enquanto as mulheres agredidas com menor freqüência (pelo menos uma vez por mês)

têm maior inclinação a pedir o divórcio ou a separação legal.

A Tabela 24, por sua vez, mostra os resultados sobre os vários tipos de violência

psicológica apontados pelas mulheres.


205

TABELA 24

Porcentagem de ocorrência dos tipos de agressão psicológica utilizada pelo parceiro, relatadas
por mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Tipos de violência psicológica %


Sim Não
Pressão 66,2 33,8
Culpa você por tudo de errado 71,8 28,2
Mulher inferior 36,6 63,4
Insultos 81,7 18,3
Calúnia 78,9 21,1
Rejeição 33,8 66,2
Depreciação 71,8 28,2
Humilhação 90,1 9,9
Desrespeito 73,2 26,8
Punição Exagerada 47,9 52,1
Tenta te convencer que é louca 52,1 47,9
Te xinga 87,3 12,7
Aumenta seus erros 71,8 28,2
Inventa erros que você não cometeu 78,9 21,1
Oferece apenas alimento sobrevivência 33,8 66,2
Não deixa dormir 59,2 40,8
Não deixa conviver com familiares 49,3 50,7
Não permite convívio social 53,5 46,5
Proíbe de ter emprego 29,6 70,4
Proíbe de estudar 23,9 76,1
As vezes é violento, as vezes bondoso 81,7 18,3
Faz a ameaça de te espancar 73,2 26,8
Faz ameaça de te matar 81,7 18,3
Ameaça tirar os filhos de você 43,7 56,3
Xinga os filhos 38,0 62,0
Bate nos filhos 33,8 66,2
Te tranca dentro de casa 32,4 67,6
Te tranca fora de casa 36,6 63,4
Te pressiona a confessar algo 59,2 40,8
Se nega a conversar com você 80,3 19,7
Quebra utensílios domésticos 67,6 32,4
Quebra móveis 25,4 74,6
Rasga suas roupas 35,2 64,8
Rasga seus documentos 16,9 83,1
Rasga suas fotos 29,6 70,4
Estraga objetos pessoais 52,1 47,9
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Os resultados mostram que a violência toma várias formas, e que a agressão psicológica

assume no espaço conjugal, um drama vivido por todas as mulheres que participaram desta

pesquisa. Os dados apontam como regra geral, a ausência do diálogo, o que evidencia um
206

comprometimento da comunicação do casal. Observa-se que insultos, calúnia, humilhação,

xingamentos, invenção de erros que a mulher não cometeu, ameaças de matar, se negar a

conversar e às vezes ser violento, às vezes ser bondoso, aparecem todos com uma freqüência

superior a 75%. Vale ressaltar que as mulheres que não marcaram o item às vezes é violento,

às vezes é bondoso , afirmaram que o parceiro é apenas violento, e que das 71 mulheres 10

relataram, que o parceiro queima as roupas dela. Observam-se ainda declarações de que o

parceiro aterroriza inventando histórias; agridem e posteriormente levam flores. Há relatos

nos quais as mulheres afirmam que o parceiro é duas pessoas, um é o oposto do outro .

As agressões de natureza sexual e econômica também foram investigadas junto às

entrevistadas. Verificou-se que 20 das 71 mulheres (28,2%) manifestaram que sofrem

agressão sexual, enquanto 51 das 71 (71,8) entrevistadas relataram que não sofrem abuso

sexual do parceiro.

A análise dos dados relativos ao abuso econômico mostrou que 39,4% das mulheres

sofrem este tipo de abuso contra 60,6% que revelaram não sofrer este tipo de abuso, sendo

que em 28,2% dos casos o parceiro não dá dinheiro à vítima, em 7,0% ele usa o dinheiro da

vítima, em 11,3% o parceiro gasta o dinheiro fora de casa, em 9,9% ele ameaça ir embora e

não dar ajuda financeira e em 14,1% dos casos o parceiro esconde o dinheiro.
207

6.3 Análise das atribuições, sentimentos, expectativas e reações dos sujeitos

após a agressão

6.3.1 Análise comparativa da primeira e da última agressão.

Causas da primeira e última agressão.

Quando questionadas especificamente sobre as causas da primeira e última agressão,

as mulheres pronunciaram-se levantando primordialmente, os ciúmes, os problemas

psicológicos do parceiro, a questão do álcool e da droga, ciúmes e bebida ao mesmo tempo, a

amante, a sogra, provocação dela, rejeição sexual dela, o fato de ele não aceitar a separação e

por último rejeição dele, conforme Tabela 25.

TABELA 25

Causas da primeira e da ultima agressão relatadas por mulheres entrevistadas na Delegacia da


Mulher de Uberlândia.

Primeira agressão Última agressão


Causas da agressão f % f %
Problemas psicológicos 16 22,5 15 21,1
Álcool/droga 15 21,1 12 16,9
Ciúme 20 28,2 18 25,4
Ciúmes e bebida 5 7,0 12 16,9
Provocação dela 2 2,8 3 4,2
Rejeição sexual dela 3 4,2 - -
Rejeição dele 1 1,4 - -
A outra (amante) 6 8,5 9 12,7
Ele não aceita separar 3 4,2 - -
A sogra - - 2 2,8
Total 71 100,0 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.
208

Não obstante, nas causas relativas à última agressão, aquela que levou a mulher a buscar

ajuda na Delegacia, observa-se um empate entre álcool/drogas e ciúmes e bebida, ficando

ambas como a terceira causa principal da última agressão com 16,9%. Entretanto numa

análise mais profunda, pode-se dizer que o ciúme em sua somatória com ciúmes e bebida

(42,3%) permanece como sendo a principal alegação para as causas das agressões, enquanto o

uso de álcool e drogas aliado a ciúmes e bebida (33,8%) subiria para a segunda posição,

ficando em terceiro lugar os problemas psicológicos do parceiro no caso da última agressão.

Observa-se ainda em relação a esse quesito um destaque para a outra (a amante) que se

posiciona entre as primeiras quatro causas para as agressões sofridas. Importante ressaltar que

as causas das agressões relatadas pelas mulheres permanecem as mesmas, tendo apenas uma

pequena alteração quanto ao segundo e terceiro lugar, da primeira para a última agressão.

Causas Atribuídas pelas mulheres à violência do parceiro

Como já apontado anteriormente, inicialmente foi solicitado às mulheres que relatassem

sobre a primeira vez que o companheiro a agrediu, o que aconteceu, e porque ele fez isso, de

forma que logo em seguida elas mesmas pudessem apontar as categorias causais relacionadas

ao lócus e à estabilidade da causa da violência, assim definidas por Weiner (1979): interna

estável (personalidade, caráter, gênio, ruindade ), interna instável (estado emocional

nervoso -, estado de saúde, alcoolizado), externa estável (família dele ou dela, os filhos ...) e

externa instável (falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança, a situação). O mesmo foi

solicitado para a última agressão que a levou à procura de ajuda na Delegacia da Mulher.

Considerando-se os resultados relativos às duas dimensões, isto é, lócus e estabilidade da

causa da violência do parceiro constata-se na Tabela 26 que as principais causas percebidas na

primeira agressão foi a Interna Instável, com 81,7%. Estes resultados indicam que em relação
209

à primeira agressão, o lócus percebido pelas mulheres da causa da violência é atribuído ao

parceiro. Simultaneamente, as mulheres fizeram uma atribuição causal instável, sendo a

primeira agressão percebida como uma conseqüência do estado de ânimo do parceiro, estado

emocional, perda de controle, etc, ou seja, aquela agressão é atribuída a algo que não perdura

no tempo não se tratando de uma característica permanente do parceiro, dado que os fatores

instáveis se relacionam ao acaso, ainda que se refiram a estados internos do agressor.

Os resultados relativos à atribuição decorrente da última agressão mostraram que 66,2%

das mulheres identificaram as causas como Interna Estável, contra 9,9% na primeira agressão

e, portanto, diferenciando-se da primeira atribuição que havia sido identificada como Interna

Instável. Conseqüentemente, os resultados mostraram que no segundo momento as mulheres

continuaram a atribuir a causa da violência ao próprio parceiro (determinações causais

pessoais), mas passaram a considerar a violência como decorrente de características estáveis

da personalidade do parceiro, ao invés de instável.

TABELA 26

Freqüência e porcentagem das dimensões causais, lócus e estabilidade classificadas por


mulheres vítimas de violência conjugal entrevistadas na Delegacia da Mulher.

Primeira agressão Última agressão


Dimensão causal f % f %
Interna Estável 7 9,9 47 66,2
Interna Instável 58 81,7 23 32,4
Externa Estável 3 4,2 1 1,4
Externa Instável 3 4,2 0 0
Total 71 100,0 71 100,0
2 2
Qui-quadrado = 122,3 ; p 0,01 = 44,7; p 0,01
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Tais resultados conduzem a hipótese de que a mudança atribucional poderia se

constituir em uma das razões para o rompimento do relacionamento. É provável que as

mulheres permaneçam no relacionamento até o momento em que atribuam instabilidade à


210

violência, e não o façam quando percebem que a violência é uma característica estável do

parceiro, inerente à sua personalidade, caráter e temperamento.

Interessante notar que, as atribuições causais impessoais, isto é, aquelas que se referem a

uma localização da violência fora do parceiro, ou seja, as externas estáveis, identificadas

através do meio sócio-cultural como família, amigos, amante, sogra, surgem apenas com 1,4%

para a última agressão, enquanto as externas instáveis relativas às condições sócio-econômica

(desemprego e condições financeiras) bem como as relativas às condições ambientais

(vizinhança, locais freqüentados e exigências sociais), não constaram dentre as atribuições

realizadas. Os dados sugerem a necessidade de se investigar o lócus da causa da violência

conjugal em uma perspectiva pessoal.

No que se relaciona à atribuição de culpa, o exame da Tabela 27 indica que a maioria das

mulheres agredidas fez um julgamento avaliativo que envolve total imputabilidade ao

parceiro, respectivamente com 69,0% e 78,9% para a primeira e última agressão,

culpabilizando-o pela violência. Houve um acréscimo de aproximadamente 10 pontos

percentuais em relação à primeira agressão, especificamente no ponto cinco da escala que

equivale a totalmente . Os resultados mostram que para a primeira agressão 73,2% das

mulheres não atribuíram nenhuma culpa a si mesmas, 78,9% revelaram que outra pessoa não

teve culpa e 90,1% não culparam a situação.

Na Tabela 27 pode ainda ser visualizada a classificação da atribuição de culpa feita

pelas mulheres em relação à última agressão. Os dados revelaram que 78,9% acreditam que

elas não tinham culpa alguma, sendo que o mesmo percentual de mulheres atribuiu culpa total

ao parceiro. Na seqüência, 87,37% das mulheres consideraram que outra pessoa, não tinha

culpa. Interessante notar que das 71 mulheres nenhuma atribuiu totalmente a culpa à situação,

dados estes em consonância com o lócus da causa conforme Tabela 26.


211

Considerando as classificações das mulheres para atribuição de culpa, tanto para a

primeira quanto para a última agressão, verifica-se uma reduzida porcentagem de atribuições

externas ao parceiro. Tais resultados mostram que, de forma geral, as mulheres culparam em

primeiro lugar o parceiro e, em segundo lugar numa porcentagem muito menor culparam

outra pessoa, em terceiro a si mesmas, e por fim culparam parcialmente a situação.

Os resultados descritos acima foram confirmados quando se considera as médias das

categorias causais. Culpa do agressor com médias de 4,45 (DP= 0,95) e 4,68 (DP= 0,75),

respectivamente, para a primeira e última agressão se destacam quando comparadas com as

médias de outras categorias causais, cujos valores variam de 1,61 a 1,23 (Tabela 27) em uma

escala de 1 a 5 pontos.
212

TABELA 27

Média, desvio padrão e porcentagem das categorias causais de culpa na primeira e última agressão, classificada pelas mulheres vítimas de
violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Porcentagem
Ocasião da Média Desvio Nada Pouco Mais ou Muito Totalmente
agressão padrão menos
Culpa do Primeira 4,45 0,95 1,4 4,2 11,3 14,1 69,0
agressor
Última 4,68 0,75 1,4 1,4 4,2 14,1 78,9
Culpa Primeira 1,58 1,15 73,2 11,3 7,0 1,4 7,0
da vítima
Última 1,37 0,81 78,9 9,9 8,5 1,4 1,4
Culpa de Primeira 1,61 1,29 78,9 4,2 2,8 5,6 8,5
outra
pessoa
Última 1,34 0,97 87,3 1,4 5,6 1,4 4,2
Culpa da Primeira 1,23 0,72 90,1 1,4 4,2 4,2
situação
Última 1,24 0,85 91,5 1,4 1,4 2,8

NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.


213

Condizente com relatos anteriores (HOLTZWORTH-MUNROE, 1988; HOLTZWORTH-

MUNROE et al., 1990; SHIELDS; HANNEKE, 1983) encontrou-se que as mulheres

agredidas são mais inclinadas a culpar o cônjuge do que a si mesmas pela violência à qual

estão sujeitas (ANDREWS; BREWIN, 1990; FRIEZE, 1979; HOLTZWORTH-MUNROE,

1988).

Com relação à dimensão controlabilidade, que por sua vez, diz respeito ao grau em que a

causa é considerada controlável ou incontrolável, verificou-se que a maioria das entrevistadas

(94,4%) acreditava que era possível controlar a violência do parceiro na época da primeira

ocorrência. Entretanto esta tendência, inverte-se em relação à ultima agressão, com a maioria

(81,7%) considerando a causa incontrolável, não mais acreditando serem capazes de

modificar a causa da ocorrência da violência. Apenas 9,9% das mulheres manifestaram que a

causa era controlável e 8,4% não souberam responder. Esse resultado mostra a diferença entre

a primeira e a última agressão, passando de controlável a incontrolável, o mesmo que ocorreu

na dimensão estabilidade/instabilidade. Tal fato parece ser indicativo de uma mudança de

postura da mulher em relação ao parceiro. O qui-quadrado para a primeira agressão foi de

55,9 (p< 0,0001), e para a segunda agressão foi de 77,3 (p< 0,0001).

Em relação à dimensão da intenção do agressor (Tabela 28), 28,2% das mulheres não

atribuíram ao parceiro a intenção de causar danos na primeira agressão. Conforme

esclarecimento de algumas entrevistadas, o parceiro agride por que é descontrolado , ou

porque ele é de repente ou devido ao uso de álcool. Por outro lado, 59,2% das mulheres

atribuíram intenção total por parte do agressor, isto é, a agressão foi realizada

propositalmente, sendo decorrente de um ato deliberado, cujo objetivo final é provocar danos

à parceira. Vale ressaltar ainda, como já foi explicitado no capítulo 1, que do ponto de vista da

Psicologia Social a intencionalidade do ato é uma característica necessária a toda agressão


214

(RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2001) e que nesse caso, a violência conforme a

atribuição das mulheres entrevistadas está de acordo com os modelos de agressão hostil.

Sempre que se fala em violência, não se deve excluir a intencionalidade, ou o propósito

deliberado, pois este é o caráter que determina a agressão. Como pode ser observado mais da

metade das mulheres reconhecem desde o início a intenção do agressor em ferir e causar

danos, entretanto apesar desse reconhecimento acreditam que isso possa ser enfrentado e

modificado de alguma forma. Possuem assim, inicialmente uma consciência ingênua de um

ato franca e visivelmente hostil, e neste sentido atribuem a agressividade a uma dimensão

instável do parceiro.

Quanto à intencionalidade da última agressão, verifica-se que 85,9% das mulheres

atribuíram intenção hostil ao parceiro, ele fez de propósito , índice superior ao da primeira

agressão (59,2%). Importante ressaltar nesse quesito que a intenção de causar danos pode se

dar tanto através da agressão física quanto através da agressão psicológica, como nos casos de

insultos, calúnias e outros. Os resultados parecem sinalizar que com o passar do tempo, cada

vez mais, as mulheres atribuem intenção agressiva, de forma que o ataque do parceiro é

percebido como servindo primariamente para ferir, seja física ou psicologicamente. A média

para a intenção do agredir atribuída ao parceiro para a primeira agressão foi de 3,69 (DP=

1,78) e para a última foi de 4,55 (DP= 1,19) em uma escala de 5 pontos.
215

TABELA 28

Intencionalidade atribuída à agressão do parceiro relativa à primeira e última agressão pelas


mulheres vítimas de violência conjugal, entrevistadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Primeira agressão Última agressão


Intencionalidade f % f %
1 (sem intenção) 20 28,2 6 8,5
2 1 1,4 1 1,4
3 2 2,8 2 2,8
4 6 8,5 1 1,4
5 (fez de propósito) 42 59,2 61 85,9
Total 71 100,0 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Apurou-se também a atribuição de evitabilidade da agressão. Do exame da Tabela 29

extraiu-se a informação de que 33,8% das entrevistadas não atribuíram ao parceiro a

possibilidade de evitar a primeira agressão, sendo que a maioria delas alegou desequilíbrio do

mesmo. Entre as mulheres pesquisadas 57,7% atribuíram que ele poderia ter evitado a

agressão inicial.

TABELA 29

Evitabilidade atribuída à agressão sofrida, relativa à primeira e última agressão, segundo


entrevistas realizadas na Delegacia da Mulher de Uberlândia.

Primeira agressão Última agressão


Evitabilidade f % f %
1 (não podia evitar) 24 33,8 18 25,4
2 1 1,4 0 0,0
3 3 4,2 1 1,4
4 2 2,8 1 1,4
5 (podia ter evitado) 41 57,7 51 71,8
Total 71 100,0 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

Com relação à evitabilidade, observa-se que houve mudança do padrão de respostas das

mulheres do ponto 1 da escala (não podia evitar) para o ponto 5 (podia ter evitado), da
216

primeira para a última atribuição onde ocorre com a freqüência percentual de 71,8%.

Considerando-se a escala de 5 pontos, obteve-se uma média de 3,49 (DP= 1,47) e 3,94 (DP=

1,75), respectivamente na primeira e última agressão.

Sentimentos das mulheres decorrentes às agressões sofridas

Considerando-se os sentimentos conseqüentes às agressões sofridas, ressalta-se que em

relação à primeira agressão, predominaram os sentimentos de angústia, de revolta, de tristeza,

de raiva, de mágoa e de medo, todos com freqüência acima de 60%, conforme Tabela 30.

TABELA 30

Distribuição percentual dos sentimentos da vítima após a primeira e última agressão.

Primeira agressão Última agressão


Sentimentos Sim Não Sim Não
Raiva 66,2 33,8 81,7 18,3
Pena 18,3 81,7 32,4 67,6
Medo 60,6 39,4 70,4 29,6
Revolta 76,1 23,9 78,9 21,1
Culpa 21,1 78,9 14,1 85,9
Ansiedade 47,9 52,1 53,5 46,5
Angústia 81,7 18,3 80,3 19,7
Ódio 36,6 63,4 50,7 49,7
Mágoa 64,8 35,2 67,6 32,4
Calma 1,4 98,6 2,8 97,2
Tristeza 67,6 32,4 53,5 46,5
Depressão 35,2 64,8 53,5 46,5
Ambivalência 29,6 70,4 26,8 73,2
Rejeição 19,7 80,3 56,3 43,7
Aprova 4,2 95,8 4,2 95,8
Nojo 11,3 88,7 49,3 50,7
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.

Em relação à última agressão os sentimentos despertados, que apareceram com maior

intensidade nas mulheres são os de raiva e angústia, seguidos pelos de revolta e medo, todos
217

com freqüência acima de 70%. Nota-se ainda que sentimentos como nojo, rejeição e ódio

tiveram um acréscimo bastante expressivo da primeira para a última agressão.

Cabe comentar que as mulheres fizeram algumas declarações espontâneas em relação a

alguns sentimentos despertados pela violência do parceiro. Especificamente quanto ao

sentimento de medo, as vítimas relataram uma alta intensidade, por exemplo muito, muito,

muito, ... medo , tanto em relação à primeira, quanto em relação à última agressão. Sobre o

sentimento de culpa experimentado pelas vítimas, de acordo com as participantes da pesquisa,

estes não tem o sentido de culpar a si mesmas pela violência sofrida, mas tem o sentido de

culpar a si mesmas por terem permanecido tanto tempo na situação. Neste sentido, as

mulheres não se sentem responsáveis ou culpadas pelas agressões sofridas, entretanto,

sentem-se culpadas por não terem rompido o relacionamento, que de acordo com elas seria a

única maneira de poder ter evitado a situação de violência, por tanto tempo.

Ao se comparar as duas situações pesquisadas, os dados sugerem que os sentimentos de

angústia, revolta e mágoa não foram afetados pelo tempo ocorrido entre a primeira e a ultima

agressão, e que esses sentimentos aliados a outros de maior intensidade como o medo e a

tristeza subsidiam a permanência da mulher no relacionamento abusivo, dado o estado

psicológico decorrente desses sentimentos. A violência que é severa e recorrente deixa as

vítimas sentindo-se deprimidas e desmoralizadas.

Esses dados confirmam a pesquisa de Roth e Coles (1995), de acordo com os quais os

sintomas decorrentes dos sentimentos de ansiedade, tristeza, depressão contribuem para

manter a mulher no relacionamento abusivo.

Como se verá em seguida, parece que o acréscimo de sentimentos negativos contra o

parceiro pode levar a mulher a buscar o rompimento do relacionamento, momento este que a

mulher se torna capaz de reconhecer no parceiro apenas um agressor.


218

Quando se analisa a primeira classificação feita pelas mulheres dos sentimentos advindos

da violência verifica-se que o sentimento sem alvo apresentou-se em 50 das 71 entrevistas

(70,4%), seguido pelo sentimento contra ele com 13 dos 71 casos (18,3%), e por fim os

sentimentos auto-dirigidos com 11,3% dos casos (8 em 71).

Em se tratando dos sentimentos relativos à última agressão observa-se que 71,8% das

entrevistadas classificaram o sentimento contra ele como o mais forte, enquanto 16,9%

apontaram os sentimentos auto-dirigidos e 11,3% os sentimentos sem alvo . Assim como

na identificação dos sentimentos, esses dados também revelam uma diferença entre os

sentimentos da primeira e última agressão. Além disso, confirmam o aumento expressivo de

sentimentos de nojo, rejeição e ódio que são dirigidos contra o parceiro.

Esses sentimentos identificados nos dois momentos pesquisados mostraram entre si

grandes diferenças percentuais. Aqui de uma forma intensa, ficou evidenciado que à medida

que a violência se repete os sentimentos que inicialmente se caracterizavam como não tendo

alvo (70,4%), passam a ter uma direção, cujo alvo específico é o parceiro (71,8%).

Expectativas das mulheres quanto ao relacionamento conjugal

Na Tabela 31 são apresentados os comportamentos das mulheres à primeira agressão.

Nota-se que 31,0% das mulheres procuram dialogar enquanto 32,4% nada fizeram, isto é, não

apresentaram nenhum tipo de resistência frente à primeira agressão sofrida. Poucas mulheres

procuraram apoio social (12,9%) sendo que o tipo de ajuda utilizado foi amigos ou família.
219

TABELA 31

Distribuição de freqüência e porcentagem do comportamento das mulheres após a primeira


agressão.

Comportamento f %
Procurou conversar com ele 22 31,0
Procurou ajuda amigos, familiares, psicólogos etc 9 12,7
Tentou deixá-lo 6 8,5
Reagiu e também brigou 10 14,1
Não fez nada 23 32,4
Chamou a polícia 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.

Com relação às estratégias de coping, que se referem à ação de enfrentar e de fazer frente

a uma ameaça ou um perigo, estas foram diferenciadas, sob uma perspectiva cognitiva, em

três categorias: coping focalizado no problema, coping focalizado na emoção (LAZARUS;

FOLKMAN, 1984), e coping de evitação.

A Tabela 32 mostra os padrões de luta apontados pelas mulheres para o propósito de

enfrentar as agressões do parceiro. Verificou-se que o esforço da maioria (66,2%) concentrou-

se no problema a fim de modificá-lo, ou seja, as mulheres relataram tentativas de solucioná-

lo, através da mudança do parceiro. Esta estratégia envolve a negociação e uma esperança

otimista que esta ligada à redução, ou eliminação de problemas futuros.

Os resultados demonstram que as mulheres acreditavam que o parceiro poderia modificar

o comportamento. Tal resultado é compatível com as atribuições relativas às dimensões

causais controlabilidade e instabilidade relativa à primeira agressão. Por outro lado, poucas

mulheres adotaram a estratégia de coping focalizado na emoção (11,3%), em uma tentativa de

aliviar o estado afetivo associado ou resultante da agressão, e 21,1% utilizaram as estratégias

de coping evitativo que se contrapõe ao enfrentamento de aproximação e resolução do

problema, e focaliza inclusive processos de evitação física. De acordo com Holahan, Moos e

Schaefer (1996), a estratégia de evitação e a focalizada na emoção são menos eficientes e


220

ativas, exceto nos casos em que a pessoa carece de controle sobre o evento estressor e o

tempo em que se expõe a ele, ainda que o enfrentamento focalizado no problema conduza a

um melhor ajuste e adaptação ante os eventos estressores.

Não obstante, poder-se-ia concluir que o padrão de coping adotado pela maioria realizou

pouco para diminuir o impacto ou atenuara violência do parceiro, não conseguindo reduzi-la

ou eliminá-la. É, portanto, necessário saber como a ameaça da violência condiciona os

esforços de luta na experiência de violência conjugal, dado que a ameaça de sua recorrência

provavelmente venha afetar os processos de enfrentamento da violência.

Devem ser pesquisados, por exemplo, questões relativas à luta eficaz e ineficaz em termos

mais específicos. Assim, os estudos sobre coping em violência conjugal precisarão dar mais

atenção ao modo como as mulheres administram seu relacionamento.

TABELA 32

Distribuição de freqüência e porcentagem das dimensões básicas de enfrentamento (coping)


adotado pelas mulheres, após a primeira agressão.

Coping f %
Focalizado no problema 47 66,2
Focalizado na emoção 8 11,3
Evitação 15 21,1
Não fez nada 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.

Em relação a dar queixa após a primeira agressão, 70 mulheres responderam

negativamente, sendo que apenas uma deu queixa através do Termo Circunstanciado de

Ocorrência. Entretanto, verificou-se que 11 participantes da pesquisa fizeram o Boletim de

Ocorrência após a primeira agressão e 60 não o fizeram, isto representa em termos percentuais

15,7% e 84,3%, respectivamente e mostra o baixo índice de notificação policial após a

primeira agressão.
221

Das 71 mulheres entrevistadas verificou-se que 88,7% das mulheres acreditavam que após

a primeira agressão a situação poderia melhorar, 9,9% que poderia piorar e 1,4% que a

situação permaneceria a mesma.

Quando foi perguntado Por que você continuou com ele? Por que permaneceu na

relação? , a narrativa das mulheres permitiu identificar motivos mistos, sendo que 45 das

entrevistadas (63,40% das 71das participantes), alegou amor. Foram apontados ainda, os

filhos por 19 mulheres (26,76%), a esperança de ele mudar por 19 (26,76%), os aspectos

econômicos por 18 (25,35%), as características pessoais das mulheres como paciência,

ingenuidade, imaturidade, dificuldades de avaliar a situação, insegurança existencial,

comodismo e inexperiência por 15 (21,12%), os valores sociais, como não querer ser mãe

solteira, por questões de virgindade, religiosidade, por acreditar que o casamento não deve ser

desfeito e vergonha por 13 (18,30%), o medo por 10 (14,08%) e pena dele por 5 (7,04%)

mulheres (Tabela 33).

TABELA 33

Distribuição de freqüência e porcentagem dos motivos de permanência no relacionamento


após a primeira agressão, conforme narrativa das mulheres entrevistadas na Delegacia da
Mulher.

Motivos de permanência f %
Amor 45 63,40
Filhos 19 26,76
Esperança de ele mudar 19 26,76
Aspectos econômicos 18 25,35
Característica da mulher 15 21,12
Valores sociais 13 18,30
Medo 10 14,08
Pena dele 05 7,04
NOTA: Entrevistas realizadas no período de maio a julho de 2004.

A Tabela 33 permite observar a complexidade do problema da permanência em um

relacionamento violento e classificá-lo como multi-causal. Nesse sentido, parece que o amor,

os filhos, a esperança de ele mudar, os aspectos econômicos, as características das mulheres,


222

os valores sociais o medo, e até mesmo a necessidade da mulher em proteger o agressor

tornam-se uma cilada para que a mulher permaneça em uma relação conjugal violenta, após a

primeira agressão.

Conforme indicado por outras pesquisas (GELLES, 1976; STRUBE; BARBOUR, 1983

apud BREHM, 1985), existe um grande número de fatores que determinam o não abandono

desse tipo de relacionamento, tal como a independência econômica e o afeto que aparece, em

destaque, nos resultados desta pesquisa como uma razão preponderante para continuar

investindo no relacionamento. Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985) relatam que as

mulheres mais propensas a ter um comprometimento em um relacionamento conjugal violento

são aquelas que citam espontaneamente o amor como razão para ficar.

A Tabela 34 apresenta as respostas à pergunta sobre o que a mulher espera que aconteça

após ter dado queixa do parceiro (TCO) após a última agressão. Verificou-se que 33,8% das

mulheres têm a expectativa de que ele saia de perto dela, o que de acordo com o relato das

mesmas significa não apenas a separação, mas também que ele não a perturbe mais; 16,9%

desejam que ele seja punido e corrigido, pagando pelo que fez através da prisão ou de uma

surra e ao mesmo tempo, que ele receba um corretivo para aprender a respeitar as pessoas e

a lei; 15,5% acreditam que continuarão sendo prejudicadas, isto é, que o parceiro a difamará,

humilhará, condenará, negará as acusações e a culpará por tudo, não dará sossego e que a

violência poderá ficar pior.

Importante ressaltar ainda que 22,5% das entrevistadas têm a expectativa de que ele

melhore após a queixa, acreditando que ele pode mudar e melhorar o comportamento, que

pare de beber, que se acalme, que se trate e se cuide, que não a xingue e não lhe bata mais.

Hipotetiza-se que muitas mulheres ao procurar uma delegacia não estão apenas em busca de

proteção policial, mas estão também eminentemente em busca de conseguir mudanças no

comportamento do parceiro.
223

TABELA 34

Expectativas após a queixa (TCO) às autoridades, conforme entrevistas realizadas na


Delegacia da Mulher de Uberlândia.

O que espera após queixa f %


Ele vai continuar prejudicando 11 15,5
Que ele melhore 16 22,5
Que ele saia de perto de mim 24 33,8
Punição e correção 12 16,9
Meus direitos 3 4,2
Não sabe 4 5,6
Que ela se modifique 1 1,4
Total 71 100,0
Nota: Período maio a julho de 2004.

Interrogadas sobre a intenção de continuar o relacionamento com o agressor, 73,2%

manifestaram a intenção de deixar o parceiro enquanto 12,7% disseram pretender manter a

relação, outros 12,7% apresentaram dúvidas e esperança de ele mudar e 1,4% declararam não

conseguir romper o vínculo, conforme revela os dados da Tabela 35. Com relação à

intencionalidade do parceiro em manter o relacionamento com a vítima, percebe-se que

67,6% das mulheres acreditam que o parceiro tem intenção de continuar, 14,1% não

acreditam que o parceiro queira permanecer no relacionamento e 18,3% não souberam

responder (Tabela 35).

TABELA 35

Intenção da mulher e do parceiro em continuar o relacionamento conjugal após a última


agressão, conforme percepção das mulheres entrevistadas na Delegacia da Mulher de
Uberlândia.

Intenção da mulher Intenção do parceiro


Intenção em continuar a f % f %
relação
Sim 9 12,7 48 67,6
Não 52 73,2 10 14,1
Não sei 3 4,2 13 18,3
Só se ele mudar 6 8,5 - -
Não consegue romper 1 1,4 - -
vínculo
Total 71 100,0 71 100,0
NOTA: Período maio a julho de 2004.
224

Na Tabela 36 encontram-se as crenças das mulheres em relação à sua permanência no

relacionamento conjugal. Os resultados mostram que as expectativas da maioria são as piores

possíveis, revelando que 88,8% encontram-se entre continuar sofrendo muito (26,8%), correr

risco de vida (26,8%), piorar o sofrimento (25,4%), um matar o outro (5,6%), ela o matar

(2,8%), até ela suicidar-se (1,4%). Por outro lado, 8,5% das mulheres têm a expectativa de

que o parceiro mude o comportamento, e em razão a isso pretendem dar mais chances a ele,

enquanto que 2,8% pretendem mudar o seu próprio comportamento, através do controle dos

próprios impulsos.

TABELA 36

Expectativas das mulheres diante de sua permanência no relacionamento conjugal após a


última agressão.

O que vai acontecer se continuar com ele f %


Correrá risco de vida 19 26,8
Ela o mata 2 2,8
Um pode matar o outro 4 5,6
Vai piorar 18 25,4
Continuará sofrendo muito 19 26,8
Vou ter que esforçar e ter paciência 2 2,8
Vamos tentar para ver se dá certo 6 8,5
Eu me suicido 1 1,4
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.

Em outra perspectiva, ao examinar a Tabela 37, verifica-se que as participantes da

pesquisa possuem diferentes expectativas em relação ao rompimento do relacionamento

conjugal, que se apresentam através das crenças de que terão uma vida digna, ou uma vida

solitária e triste, ou de incerteza, outras ainda demonstram medo de perseguição e outras,

medo de dificuldades econômicas.


225

TABELA 37

Expectativas da mulher diante da possibilidade de romper o relacionamento conjugal.

Expectativa ao deixar o companheiro f %


Vida digna 47 66,2
Vida solitária e triste 8 11,3
Vida incerta 3 4,2
Medo de perseguição 7 9,9
Dificuldade econômica 6 8,5
Total 71 100,0
NOTA: Entrevistas realizadas na Delegacia, no período de maio a julho de 2004.

A crença em uma vida digna (66,2%), apareceu de modo destacado na fala das mulheres

que acreditam que terão prazer de viver, poderão ser alguém na vida, que terão paz, que terão

sossego para dormir, que serão livres e não prisioneiras, que poderão conversar com as

pessoas, que terão alegria, serão felizes, terão uma vida normal e tranqüilidade para obter

algumas realizações. Essas mulheres pretendem voltar a estudar, realizar cursos em diversos

níveis, arrumar emprego ou continuar trabalhando, aprender a dirigir automóvel e viver a vida

com os filhos. Algumas dessas mulheres se dizem traumatizadas com a violência do parceiro,

razão pela qual relatam não pretender mais namorar ou ter outros relacionamentos.

Em contraposição à maioria das mulheres acima citadas, 11,3% acreditam que sem o

parceiro terão uma vida triste e solitária, que sentirão um vazio e sofrerão muito, não

acreditam que conseguirão viver sem ele. De acordo com o relato de algumas entrevistadas o

rompimento não seria positivo, pois elas ainda o amam e emocionalmente a separação para

elas, se tornará muito dolorosa. Parece que a proximidade emocional dessas mulheres em

relação ao parceiro as deixa no escuro, não apenas em relação ao que elas sentem, mas

também à sua memória emocional.

Por outro lado, as mulheres que temem a perseguição e as ameaças 9,9%, manifestaram

que o parceiro continuará sendo um inferno em suas vidas, que não darão sossego, que
226

continuarão fazendo maldade. Algumas acreditam que terão de mudar de cidade, temem pela

própria vida, e pensam que nada poderá colocar limite no parceiro.

Outras mulheres (8,5%) temem dificuldades econômicas decorrentes da separação,

principalmente devido aos filhos, à perda de conforto, às dificuldades de assumir sozinha as

responsabilidades exigidas em uma casa, e mesmo por temer as vicissitudes do mercado de

trabalho. Importante ressaltar que para algumas dessas mulheres, a perspectiva de ter que

voltar para a casa dos pais, devido ao problema financeiro que enfrentará com a separação é

tão aterrorizadora, quanto a de permanecer com o parceiro.

Finalmente, 4,2% evidenciam a crença em uma vida essencialmente incerta. Aparece a

falta de noção do que virá, e o medo de enfrentar as dificuldades da vida em geral sem a

presença do parceiro. O medo dessas mulheres denota uma insegurança frente à vida.

6.3.2 Análise das relações entre as variáveis do estudo

Nesta seção serão analisadas as relações entre as variáveis atribuições de causalidade,

de culpa, de intenção e de evitabilidade da agressão e posteriormente as relações entre as

atribuições, sentimentos, expectativas e ações.

As análises referem-se à primeira agressão sofrida, reportadas retrospectivamente

pelas mulheres e, em seguida, à última agressão sofrida, que as levaram a dar queixa na

Delegacia de Mulheres.

Para efetuar estas análises foram utilizadas as seguintes técnicas estatísticas:

- Correlação r de Pearson para verificar a relação entre as variáveis contínuas;

- Análise de Variância F de Snedecor para comparar os grupos de acordo com a causa

atribuída;
227

- Qui-quadrado para examinar a relação entre as variáveis categoriais.

A seguir as análises realizadas serão apresentadas e discutidas.

a) Atribuições de causalidade, de culpa, de intenção e de evitabilidade da primeira

agressão

A partir do modelo proposto neste estudo, foram calculadas as percentagens das

atribuições relativas às dimensões lócus, estabilidade e controlabilidade da causa para a

primeira e última agressões sofridas.

A Figura 4 mostra que 77,5% das mulheres pesquisadas atribuíram causas internas,

instáveis e controláveis para a primeira agressão. Quanto à intencionalidade e a evitabilidade

da agressão este grupo dividiu-se, porém a maior parte atribuiu intencionalidade à agressão e

possibilidade de evitação da mesma pelo agressor.

Em segundo lugar estão as causas internas, estáveis e controláveis, atribuídas por 7

mulheres entrevistadas (9,9%), todas estas atribuíram intencionalidade máxima por parte do

agressor e evitabilidade máxima (ele poderia ter evitado).

Apenas 6 mulheres (8,4%) da amostra atribuíram causas externas para as primeiras

agressões sofridas, a metade percebendo a causa como estável e outra metade como instável.

Desse modo, a amostra pode ser dividida predominantemente nos seguintes grupos de

acordo com a atribuição de causalidade às primeiras agressões sofridas:

Causa interna, estável e controlável 7 mulheres

Causa interna, instável e controlável 55 mulheres

Causa externa 6 mulheres


228

CONTROLÁVEL= 9,9%
ESTÁVEL
= 9,9% INCONTROLÁVEL= 0
INTERNA

CONTROLÁVEL= 77,5%
INSTÁVEL
= 81,7 INCONTROLÁVEL= 4,2%

CAUSA
CONTROLÁVEL = 2,8%
ESTÁVEL
= 4,2% INCONTROLÁVEL = 1,4%

EXTERNA

CONTROLÁVEL = 4,2%
INSTÁVEL
= 4,2% INCONTROLÁVEL = 0

FIGURA 4 - Porcentagem de percepção das causas classificadas de acordo com a


internalidade, estabilidade e controlabilidade para a primeira agressão.

O exame da Tabela 38 relativa às médias de atribuição revela que considerando as

atribuições culpa dele, culpa dela, culpa da situação e evitabilidade, o teste F (análise de

variância) mostrou-se não significativo (p>0,05), portanto não existe diferença significativa

entre médias destas variáveis quando se comparam os grupos por atribuição de causalidade. Já

para as atribuições culpa de outro e intenção, o teste F foi significativo (p<0,05), sendo que a

maior média ocorreu para a causa externa (X = 3,17) e a menor para a interna instável (X

=1,43) quando se considera a culpa de outro e a maior média foi para interna estável (X = 5,0)

e a menor para externa (X = 1) ao se considerar a intenção. Assim, quando a agressão é

atribuída a uma causa interna estável, maior a intencionalidade atribuída ao parceiro (X = 5).
229

Do mesmo modo, quando as mulheres atribuem causas externas à violência, nenhuma

intencionalidade ( X = 1) é atribuída ao parceiro (F = 11,6; p< 0,001).

Conforme a teoria, quando a causa percebida é externa, a culpa é atribuída mais a outras

pessoas do que ao agressor ou a ela mesma (F = 5,57; p< 0,01).

TABELA 38

Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de análises de variância


para cada tipo de causa atribuída à primeira agressão

Causa N Culpa Culpa Culpa Culpa Intenção Evitar


dele dela de outro situação
X X X X X X
Interna estável 7 4,86 1,00 1,71 1,43 5,0 4,47

Interna instável 58 4,48 1,69 1,43 1,14 3,81 3,33

Externa 6 3,67 1,17 3,17 1,83 1,0 3,67

F 2,842 1,553 5,573 2,999 11,601 1,777


p ns ns 0,006 ns 0,000 ns

A Tabela 39 mostra os coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as variáveis

contínuas.

Para verificar a magnitude das correlações entre as variáveis, foi utilizada a orientação de

Cohen (1988), segundo a qual coeficientes de 0,10, 0,30, 0,50 ou maior apresentam

respectivamente correlações baixa, média ou moderada e elevada.

O exame da Tabela 39 revela três coeficientes de correlação significativos, cujos índices

podem ser considerados moderados e elevados, variando de -0,25 (p 0,05) a -0,50 (p

0,01), que serão analisados a seguir.

A correlação entre culpabilidade da mulher e culpabilidade do parceiro é negativa, sendo

seu coeficiente elevado evidenciando que quanto mais a mulher culpa o parceiro, menos culpa

a si mesma (r= -0,50; p<0,001). Verifica-se também que a percepção de intenção do parceiro
230

em agredir se correlaciona negativamente com a percepção de culpabilidade de outra pessoa,

o que indica que quanto mais a mulher culpa outra pessoa, menos percebe a intenção do

parceiro lhe ferir e lhe causar danos (r = -0,25; p<0,05). A dimensão intenção de o parceiro

agredir associa-se positivamente (r = 0,30, p< 0,05) à dimensão culpa do parceiro, o que

indica que quanto mais a mulher percebe a intenção do parceiro em agredir, mais o culpa. Não

foi encontrada correlação significativa entre a evitabilidade e as outras variáveis nesta análise.

TABELA 39

Coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de intenção e de


evitabilidade da primeira agressão.

1 2 3 4 6 7
1.Culpa dele -

2.Culpa dela -0,50** -

3. Culpa de outro ns n.s -

4.Culpa da situação ns ns ns -

6. Intenção de agredir 0,30* ns -0,25* ns -


(dele)
7.Ele poderia ter ns ns ns ns ns -
evitado agressão
NOTA:** p<0,01; *p<0,05; ns = não significativo; N= 71.

b) Relação entre atribuições, sentimentos, expectativas e ações decorrentes da primeira

agressão

Para verificar a relação entre atribuição de causalidade, sentimentos, expectativas e ações

após a primeira agressão foi feito o cruzamento entre as freqüências nestas variáveis e se
231

aplicou o teste de Qui-Quadrado, exceto nos casos em que havia presença de células com

freqüência esperada menor do que 5 (Vieira, 1998, p.112).

A Tabela 40 mostra os resultados da análise entre o tipo de causa percebida e o

comportamento da mulher. Verifica-se que as maiores freqüências 19 e 20 ocorrem

respectivamente para o comportamento de procurar conversar com ele e para o

comportamento de não fazer nada, quando a mulher atribui causa interna instável à agressão

do parceiro.

Uma re-análise da Tabela 40 demonstrou que reunindo os comportamentos procurou

ajuda , tentou deixá-lo e reagiu e brigou também (na coluna procurou ajuda),

permanecem as caselas com baixa freqüência, não se obtendo diferença significativa (qui-

quadrado = 6,95; p = 0,138), o que implica em somente falar das freqüências cruzadas e não

em qui-quadrado devido à baixa freqüência esperada no cruzamento das variáveis. Dado que

houve uma concentração de respostas na categoria causal interna e instável, não foi possível

utilizar o teste para verificar se a relação entre a causa e o comportamento após a primeira

agressão é significativa ou não.

TABELA 40

Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com o comportamento da mulher após a


primeira agressão.

Comportamentos Causa Total

Interna estável Interna instável Externa estável


Procurou conversar com ele 2 19 1 22
Procurou ajuda 0 9 0 9
Tentou deixá-lo 2 2 2 6
Reagiu e brigou também 0 7 3 10
Não fez nada 3 20 0 23
Total 7 57 6 70
232

Os dados apresentados na Tabela 41, relativa ao cruzamento do tipo de causa

percebida com coping, mostram que existe um predomínio do coping focalizado no problema

com a causa interna instável, observando-se, em 71 entrevistas, 42 casos com esta

característica (59,15%).

TABELA 41

Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com coping após a primeira agressão.

Coping Causa Total


Interna estável Interna instável Externa estável
Focalizado no problema 3 42 2 47
Focalizado na emoção 0 7 1 8
Coping de evitação 4 9 3 16
Total 7 58 6 71

Os resultados da análise conjunta entre direção dos sentimentos e expectativas sobre a

qualidade do relacionamento são apresentados na Tabela 42. Verifica-se que a maioria das

mulheres que acreditam na possibilidade da melhora da situação do casal apresenta

sentimentos sem alvo, tais como tristeza e angústia.

TABELA 42

Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas sobre a qualidade do


relacionamento (positivas ou negativas) após a primeira agressão.

Expectativas Direção dos sentimentos Total


Auto-dirigidos Contra o agressor Sem alvo
Piorar a relação 3 3 1 7
Melhorar a situação 5 9 49 63
Total 8 12 50 70
Nota: para este teste foi excluído um sujeito que respondeu a alternativa de expectativa ficar
igual

A direção dos sentimentos com a ação dar queixa, após a primeira agressão, pode ser

analisada na Tabela 43. Entre as 59 mulheres que não deram queixa, a maioria (N = 45)

corresponde àquelas que têm sentimentos sem alvo. Entre as 11 mulheres que deram queixa
233

em decorrência da primeira agressão a maior porcentagem corresponde àquelas que têm

sentimentos contra o parceiro. Esta variável satisfez os critérios para aplicação do qui-

quadrado (qui-quadrado = 7,71; p< 0,05). Portanto, os sentimentos estão relacionados à

decisão de denunciar ou não denunciar o agressor.

TABELA 43

Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com a ação queixa, após a primeira
agressão.
Direção dos sentimentos Dar Queixa Não dar queixa Total
Sentimentos auto-dirigidos 2 6 8
Sentimentos contra o agressor 5 8 13
Sentimentos sem alvo 4 45 49
Total 11 59 70
NOTA: qui-quadrado = 7,71; p<0,05.

Na Tabela 44 é apresentada a análise das freqüências de respostas das expectativas quanto

ao relacionamento e reação de coping à primeira agressão. Pode ser observado que a maior

parte da amostra (N = 63) acreditava que a situação iria melhorar (90,0%) e, entre estas, a

maioria (N = 45) reagiu à agressão usando estratégia de coping focalizado no problema

(71,4%). Estes resultados, podem estar apontando para uma tendência de relação entre coping

focalizado no problema e expectativa de melhorar o relacionamento do casal.

TABELA 44

Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e reação de coping, após a


primeira agressão.

Expectativas Reação de coping Total

Focalizado no Focalizado na Coping de


problema emoção evitação
Piorar a relação 2 3 2 7
Melhorar a relação 45 5 13 63
Total 47 8 15 70
NOTA: para o teste foi excluído um sujeito que respondeu a alternativa de expectativa ficar
igual
234

O exame da Tabela 45, relativa à análise conjunta entre as expectativas quanto ao

relacionamento e denunciar o parceiro após a primeira agressão, mostra que das 7 mulheres

que tinham expectativas de que o relacionamento piorasse após a primeira agressão, 3

denunciaram o parceiro (43%) e 4 não o fizeram (57%). Das 62 mulheres que acreditavam

que a relação melhoraria, 7 (11,3%) denunciaram o parceiro, enquanto que 55 (88,7%) não o

denunciaram. Nota-se, portanto, que existe uma tendência maior de denúncia do parceiro,

quando a expectativa da mulher é de que a situação piore, enquanto que a não denúncia é

significativamente maior quando a expectativa é de que a relação do casal melhore.

TABELA 45

Freqüências cruzadas das expectativas quanto ao relacionamento e denunciar o parceiro após


a primeira agressão.

Expectativas Denunciar o parceiro Total


Sim Não
Piorar a relação 3 4 7
Melhorar a relação 7 55 62
Total 10 59 69
Nota: para o teste foi excluído um sujeito que respondeu a alternativa de expectativa ficar
igual .
235

c) Atribuições de causalidade, de controlabilidade, de culpa, de intenção e de

evitabilidade da última agressão.

A Figura 5 mostra que das 71 mulheres pesquisadas, 70 (98,6%) atribuíram causas

internas para a última agressão sofrida e apenas uma atribuiu causa externa. Entre as causas

internas, 65,7% foram causas estáveis, sendo a maioria destas considerada incontrolável

(58,6%) e 32,9% foram consideradas causas instáveis, sendo também a maioria destas

(22,9%) considerada incontrolável.

Entre as 41 mulheres que atribuíram causas interna, estável e incontrolável, a maioria (N =

39) atribuiu intencionalidade máxima e também a maioria (N = 33) atribuiu evitabilidade

máxima à agressão.

Para as 23 mulheres que atribuíram causas internas instáveis, a maioria atribuiu

evitabilidade máxima (62,5%) e intencionalidade máxima (65,2%) no ato do agressor.

Apenas uma mulher atribuiu causalidade externa (instável e incontrolável) à agressão e 5

mulheres não souberam avaliar a controlabilidade da causa.

Considerando os sub-grupos formados, a amostra pode ser dividida predominantemente

no seguinte:

Causa interna, estável e incontrolável 41 mulheres

Causa interna, instável e incontrolável 16 mulheres

Causa interna, instável e controlável 5 mulheres

Para as análises serão considerados os dois grupos com maior número de sujeitos.
236

CONTROLÁVEL= 2,9 %
ESTÁVEL
= 66,2% INCONTROLÁVEL= 58,6%

INTERNA .
CONTROLÁVEL = 7,1%
INSTÁVEL
= 32,4 % INCONTROLÁVEL = 22,9%

CAUSA

CONTROLÁVEL = 0%
ESTÁVEL
= 1,4% INCONTROLÁVEL = 1,4% (N=1)

EXTERNA

CONTROLÁVEL = 0%
INSTÁVEL
= 0% INCONTROLÁVEL = 0%

FIGURA 5 - Porcentagem de percepção das causas atribuídas para a última agressão,


classificadas de acordo com a internalidade, estabilidade e controlabilidade.

Através de análises de variância one-way foram comparadas as médias de culpa, intenção

e evitabilidade para os dois grupos maiores de acordo com a classificação das causas em

internas estáveis (N= 41) e internas instáveis (N= 16).

A tabela seguinte (Tabela 46) mostra que a causa interna estável, em comparação com a

causa interna instável, está relacionada a culpar mais o agressor (F = 5,24; p<0,05), a atribuir

menos culpa a si mesma (F = 12,32; p<0,01), à atribuição de intenção na agressão (F = 10,61;

p<0,01) e à atribuição de evitabilidade da agressão (F = 5,42; p<0,05).


237

Os dados da Tabela 46 revelam que não há diferença significativa entre as médias nas

atribuições de culpa de outro e culpa da situação a se comparar as categorias de causa interna

estável e interna instável.

TABELA 46

Médias em atribuição de culpa, intenção e evitabilidade e resultados de análises de variância


para cada tipo de causa atribuída à última agressão.

Causa N Culpa Culpa Culpa Culpa Intenção Evitar


dele dela de outro situação
M M M M M M
Interna estável 47 4,81 1,15 1,26 1,26 4,87 4,29

Interna instável 23 4,35 1,91 1,52 1,13 4,09 3,26

F 5,24 12,32 10,61 5,42


p 0,02 0,001 n.s. n.s. 0,002 0,02
NOTA: n.s. não significativo

Buscando conhecer as relações entre as variáveis contínuas deste grupo (culpa,

intencionalidade, evitabilidade) os dados foram correlacionados através do r de Pearson

(Tabela 47). Coeficientes significativos e moderados para as variáveis culpa dela e culpa dele,

intenção de agredir e culpa dele, culpa da situação e culpa dela, evitabilidade e intenção de

agredir, foram verificados.

Verificou-se que quanto mais culpa atribuída ao agressor, menor a culpa atribuída a si

mesma (r = -0,29; p < 0,05), também é esperado que quanto mais culpa atribuída ao agressor,

maior a intencionalidade percebida no ato (r = 0,41; p< 0,001), assim como quanto mais culpa

atribuída a si mesma, maior a culpa da situação (r = 0,36; p<0,01) e quanto mais intenção

percebida, maior a percepção de que ele poderia ter evitado a agressão (r = 0,29; p < 0,05).

Entre as outras variáveis não houve correlação significativa.


238

TABELA 47

Coeficientes de correlação (r de Pearson) entre as atribuições de culpa, de intenção e de


evitabilidade da última agressão.

1 2 3 4 6 7
1. Culpa dele -

2. Culpa dela -0,29* -

3. Culpa de outro n.s. n.s. -

4. Culpa da situação n.s. 0,36** n.s. -

6. Intenção de agredir 0,41** n.s. n.s. n.s. -


(dele)
7. Ele poderia ter n.s. n.s. n.s. n.s. 0,29* -
evitado a agressão
NOTA:** p<0,01; *p<0,05; ns = não significativo; N = 71

d) Relação entre atribuições de causalidade, sentimentos, expectativas e ações

decorrentes da última agressão.

Para a análise das relações entre as variáveis do modelo proposto foi feito o teste qui-

quadrado, quando os requisitos da técnica eram atendidos (VIEIRA, 1998). Importa esclarecer

ainda que algumas variáveis foram recodificadas, visando a execução das análises.

Os dados da Tabela 48 mostram que das 47 mulheres que atribuíram causa interna estável

à agressão do parceiro, 39 pretendem deixá-lo, 4 tem dúvidas quanto a romper o

relacionamento e 4 pretendem continuar com o parceiro. Verificou-se que quando a mulher

atribui causa interna estável à agressão do parceiro, isto está relacionado com a decisão dela

de não continuar no relacionamento (qui-quadrado = 7,45; p<0,05).


239

TABELA 48

Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com a intenção de continuar com ele após a
última agressão.

Intenção de continuar com Causa Total


ele
Interna estável Interna instável
Sim 4 6 10
Não 39 12 51
Não sei 4 5 9
Total 47 23 70
NOTA: qui-quadrado = 7,45; p<0,05.

A análise dos dados da Tabela 49 indica a concentração de freqüência de mulheres que

classificaram a causa como interna estável e que tinham expectativas de piora no

relacionamento caso continuassem com o parceiro. Ressalta-se que 62 das 70 entrevistadas

acreditavam que o relacionamento iria piorar, destas 45 atribuíram causa interna estável,

enquanto 17 atribuíram causa interna instável. Obteve-se nesse caso uma relação entre a causa

estável e as expectativas de continuar no relacionamento (qui-quadrado = 7,27; p<0,01)

TABELA 49

Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida com as expectativas se continuar com ele
após a última agressão.

Expectativas se continuar com ele Causa Total


Interna estável Interna instável
Vai piorar 45 17 62
Vamos tentar para ver se dá certo 2 6 8
Total 47 23 70
NOTA: qui-quadrado = 7,27; p<0,01.

Na Tabela 50 destaca-se a atribuição de causa interna estável com a expectativa após a

queixa na delegacia de que ele se afaste dela, mostrando que das 65 entrevistas utilizadas,

conforme categorização das entrevistas, 27 estavam enquadradas neste grupo. Vale ressaltar

que das 16 mulheres que acreditavam que o parceiro iria melhorar, 7 classificaram como
240

causa interna estável, ou seja, ocorreu uma incoerência entre a expectativa e a causa, aspecto

este que pode ser explicado através do otimismo ingênuo, conforme Rodrigues (2001). Já das

10 que acreditavam na continuidade das agressões, nenhuma classificou a causa da agressão

como interna instável. A percepção a respeito da estabilidade da causa está relacionada às

expectativas após a queixa (qui-quadrado = 9,01; p<0,01). Quando a causa é estável, a

tendência é desejar que o parceiro se afaste, e também a mulher acredita que o parceiro vai

continuar lhe prejudicando.

TABELA 50

Freqüências cruzadas do tipo de causa percebida para a última agressão com expectativas
após a queixa.

Expectativas após a queixa Causa Total


Interna estável Interna instável
Ele vai continuar 10 0 10
prejudicando
Que ele melhore 7 9 16
Que ele se afaste de mim 27 12 39
Total 44 21 65
NOTA: qui-quadrado = 9,01; p<0,01.

No cruzamento das variáveis direção dos sentimentos e intenção de continuar no

relacionamento, verifica-se que as mulheres que apresentaram sentimentos dirigidos contra o

agressor (44 das 71 entrevistas) não têm intenção de permanecer com o parceiro. Destaca-se

ainda que considerando a não intenção de permanecer com o parceiro (52 mulheres) apenas 2

apresentaram sentimentos sem alvo e 6 relataram sentimentos auto-dirigidos, reforçando o

comentário anterior.

Foi feita uma re-análise dos dados (Tabela 51) em que foram retiradas as opções

sentimento sem alvo e não sei , devido à baixa freqüência no cruzamento das variáveis na

primeira análise. Uma nova análise com as opções restantes, resultou em uma tabela 2 X 2,
241

para a qual foi calculada a correção de Yates, revelando que a relação entre a direção dos

sentimentos após a última agressão e a intenção de continuar com ele é significativa (p<

0,05), de modo que a maioria apresenta sentimentos negativos contra o agressor e não

pretende continuar vivendo com ele (qui-quadrado = 13,92; p< 0,01).

TABELA 51

Re-análise com calculo da correção de Yates das freqüências cruzadas da direção dos
sentimentos com a intenção de continuar com ele após a última agressão.

Direção dos sentimentos Total


Intenção de continuar Auto-dirigidos Contra o agressor
com ele
Sim 5 2 7
Não 6 44 50
Total 11 46 57
NOTA: qui-quadrado = 13,92; p< 0,01.

Os resultados expostos na Tabela 52 estão de acordo com os resultados anteriores, ou seja,

a maioria das mulheres (50 em 51) que apresentaram sentimentos contra o agressor (raiva e

medo), acreditavam que a situação iria piorar no caso de permanecerem na relação (qui-

quadrado = 17,02; p<0,001), verificando-se a relação da direção dos sentimentos com as

expectativas caso continue no relacionamento.

TABELA 52

Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se continuar com o


parceiro após a última agressão.

Expectativas se continuar com ele Direção dos sentimentos Total


Auto-dirigidos Contra o agressor Sem alvo
Vai piorar 7 50 6 63
Vamos tentar para ver se dá certo 5 1 2 8
Total 12 51 8 71
NOTA: qui-quadrado = 17,02; p<0,001.
242

Com relação a análise dos dados sobre a direção dos sentimentos e expectativa de deixar o

parceiro (Tabela 53), verifica-se que das 47 mulheres que acreditavam que teriam uma vida

digna, 38 apresentam sentimento contra o agressor, 7 sentimentos auto-dirigidos e 2 sem alvo.

Destaca-se ainda que todas as mulheres que manifestaram expectativas de ser perseguida se

deixá-lo, apresentaram sentimentos contra o agressor.

No cruzamento de variáveis da Tabela 53, houve muitas freqüências esperadas baixas e

foi feita uma segunda análise comparando a resposta vida digna com as outras respostas

menos otimistas, que foram denominadas expectativas negativas, porém não se encontrou

relação significativa entre a direção dos sentimentos e expectativas de vida digna e

expectativas negativas (vida solitária e triste e medo de ser perseguida) caso a mulher deixe o

parceiro após o último episódio de agressão.

TABELA 53

Freqüências cruzadas da direção dos sentimentos com as expectativas se deixar o parceiro


após a última agressão.

Expectativas se deixá-lo Direção dos sentimentos Total


Auto-dirigidos Contra o agressor Sem alvo
Vida digna 7 38 2 47
Vida solitária e triste 3 4 4 11
Medo de perseguição 0 7 0 7
Total 10 49 6 65

Na análise da Tabela 54 nota-se que das 63 mulheres que acreditavam que a situação
pioraria se continuasse com o parceiro, 52 manifestaram a intenção de deixá-lo, mostrando
que a situação já estava insustentável, entretanto 5 mulheres tinham a intenção de continuar o
relacionamento e 6 estavam em dúvida, mostrando que provavelmente estas pessoas
procurariam a delegacia futuramente. Neste caso o teste mostrou que houve relação entre
expectativa e intenção, de modo que a expectativa negativa (vai piorar) está relacionada com a
intenção de não continuar no relacionamento (qui-quadrado = 25,99; p< 0,001).
243

TABELA 54

Freqüências cruzadas das expectativas se continuar com ele com a intenção de continuar com
ele após a última agressão.

Expectativas se continuar com ele Intenção de continuar com ele Total


Sim Não Não sei
Vai piorar 5 52 6 63
Vamos tentar para ver se dá certo 5 0 3 8
Total 10 52 9 71
NOTA: qui-quadrado = 25,99; p< 0,001.

Na Tabela 55 destaca-se, conforme resultados anteriores, que as mulheres que têm a

expectativa de ter uma vida digna se deixar o parceiro, não tem intenção de continuar com ele.

Das 7 mulheres que tinham medo de perseguição caso deixasse o parceiro, 6 manifestaram a

intenção de não continuar com o parceiro e uma apresentou dúvidas quanto ao deixá-lo.

TABELA 55

Freqüências cruzadas das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de continuar com
ele após a última agressão.

Expectativas se deixá-lo Intenção de continuar com ele Total


Sim Não Não sei
Vida digna 3 42 2 47
Vida solitária e triste 5 3 3 11
Medo de perseguição 0 6 1 7
Total 8 51 6 65

Entretanto, no cruzamento da intenção de continuar com o parceiro com a expectativa se

deixá-lo (Tabela 55), foram encontradas muitas freqüências esperadas baixas. Por esta razão,

tentou-se analisar as mesmas variáveis comparando-se apenas as opções de intenção sim e não

com as opções de expectativa vida digna e expectativas negativas , através da reunião de

categorias com este conteúdo e com correção de Yates. Esta re-análise resultou significativa

(qui-quadrado = 10,86; p< 0,01), indicando haver relação entre expectativas (positivas X
244

negativas) e intenção de continuar no relacionamento (não X sim), conforme pode ser

visualizado na Tabela 56.

TABELA 56

Re-análise do cruzamento das expectativas se deixar o parceiro com a intenção de continuar


com ele após a última agressão.

Intenção de continuar com ele Total


Expectativas se Sim Não
deixá-lo
Vida digna 3 42 45
Expectativas 7 10 17
negativas
Total 10 52 62
NOTA: qui-quadrado = 10,86; p < 0,01.

Todos esses cruzamentos entre as variáveis relacionadas com as atribuições causais,

sentimentos, expectativas e ações decorrentes da primeira e última agressão, bem como as

outras análises feitas neste trabalho conduzem à confirmação do modelo proposto, como será

comentado no próximo capítulo, onde serão apresentadas algumas conclusões, visando a

identificação de suas contribuições e novas possibilidades investigativas.


CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES

Este trabalho foi desenvolvido em duas fases. A primeira fase teve por objetivos

caracterizar mulheres que sofrem violência conjugal que recorrem ao apoio policial e seus

parceiros agressores segundo suas peculiaridades demográficas, identificar as queixas que

levaram as mulheres a denunciar a violência e identificar a descrição da violência conjugal e

incidência penal, respectivamente conforme registros dos Boletins de Ocorrência e Termo

Circunstanciado de Ocorrência. A segunda fase teve como propósito investigar se as

atribuições das mulheres para com a violência do parceiro estariam relacionadas a

sentimentos, expectativas e comportamentos que exibiram após a primeira (retrospectiva) e

última agressão sofrida, de forma que as atribuições que mostram o parceiro sob uma

perspectiva negativa covariariam com o comportamento da mulher de romper a relação.

7.1 Conclusões a respeito da 1ª. fase.

Em relação à primeira investigação, apesar da pouca informação contida nos registros de

violência conjugal, como ausência do número de filhos e tempo de relacionamento do casal,

na maioria dos casos, o conjunto das informações possibilitou analisar aspectos relevantes

sobre a violência conjugal.

Os pontos marcantes neste levantamento foram os seguintes:

As mulheres agredidas são, com maior freqüência, amasiadas e ex-amasiadas e pertencem

a faixas etárias diversas. As de idade pouco elevada são em número maior que as de idade
246

mais elevada. Isto revela um indicativo de que tanto a juventude, quanto a idade ativa da

mulher são importantes fatores de risco para a violência conjugal. As mulheres jovens e

maduras estão mais sujeitas à violência conjugal, que é repetida e continuada, perpetua-se

cronicamente por muitos anos e, até mesmo, pela vida toda, conforme indicado pela

variabilidade de duração do tempo de relacionamento do casal.

A pesquisa revelou que comportamentos violentos são marcas de parceiros das mais

variadas idades. Observou-se, entretanto, um aumento no percentual da idade dos agressores

em idades muito elevadas quando comparada com a mesma faixa etária da vítima.

No que se refere à moradia e profissão das mulheres e de seus parceiros agressores,

constatou-se alta variabilidade. As denúncias de violência conjugal ocorrem em diversos

bairros de Uberlândia e, várias são as profissões das vítimas ou dos parceiros agressores,

variando de desempregados e do lar até empresários e profissionais liberais. Neste sentido, a

violência não é um fato exclusivo de mulheres mal remuneradas e residentes em bairros

periféricos, o que sugere que o status socioeconômico parece não interferir na violência

conjugal. Tais resultados são compatíveis com os de Pazinoto (apud BRIGA de marido e

mulher, 2004) que afirma que embora haja uma tendência a atrelar a violência contra a mulher

contra as classes menos favorecidas o problema atinge mulheres de diferentes níveis

econômicos e de escolaridade.

As agressões ocorrem com maior freqüência nos finais de semana, supostamente quando o

casal está em situação de maior proximidade física. Assim, parece que o fator proximidade

pode exacerbar as diferenças do casal, agravando os conflitos e, conduzindo a mais violência.

Neste sentido, poderia hipotetizar-se que, quanto maior a freqüência de exposição de um

cônjuge em relação ao outro, mais negativa a atitude de cada um em relação aos estímulos

percebidos no par, ou ainda que a interação pessoal do casal não é acompanhada de atribuição

de valor gratificante ao parceiro ou parceira. Poderia-se, ainda, levantar o uso de bebida nos
247

finais de semana como um fator gerador de mais violência. Sugere-se pesquisas futuras para

esclarecimento deste tema.

Constatou-se que, o maior índice de queixas de violência conjugal entre Boletins de

Ocorrência e Termos Circunstanciados de Ocorrência, foi por motivos de término de

relacionamento, motivos fúteis, bebida e drogas, ausência de motivos e ciúmes.

Verificou-se que a ameaça foi identificada como o mais freqüente tipo de violência,

seguida por agressão e lesão corporal e, em terceiro lugar vias de fato que consiste em

violência empregada que não deixa vestígios sensíveis ou danos ao corpo da vítima.

De forma geral, a prevalência da violência tende a ser maior nos casos da mulher

amasiada ou ex-amásia, do que para as esposas ou ex-esposas e namoradas Os dados

mostraram, consistentemente, que as mulheres amasiadas eram mais freqüentemente vítimas

de violência pelo parceiro do que mulheres casadas. Do ponto de vista legal amasiadas são

tratadas da mesma forma que as casadas quando tem filhos e/ou quando estão vivendo juntos.

Dessa forma legalmente é difícil diferenciar entre amasiadas e mulheres casadas.

Apesar dos diferentes índices de violência nas uniões legais e amasiadas, as razões para

este fenômeno não foram bem entendidas. Sugere-se que se busque entender as diferenças de

violência nos diferentes status conjugais e se promova uma verificação desta estrutura.

Entender por exemplo características do parceiro e da parceira e o que levaram ambos a

união, buscando-se um entendimento sobre o processo que ocorre nestas uniões.

Verificou-se, também, uma diferenciação no tipo de violência relativa ao status conjugal.

Entre amasiadas e namoradas, a agressão (BO) e a lesão corporal (TCO) são predominantes,

enquanto que as esposas registram mais freqüentemente agressões nos BOs e ameaças nos

TCOs. Curioso notar que entre ex-amasiadas, ex-casadas e ex-namoradas predominam as

ameaças tanto nos BOs, quanto nos e TCOs. Diante deste fato, sugere-se esta diferenciação

como um tema para futuras pesquisas.


248

Outro aspecto que chamou atenção refere-se ao tipo de queixa. Motivos fúteis, ausência de

motivos e, em terceiro lugar, bebida e drogas, mostraram-se como as principais causas das

queixas relativas aos Boletins de Ocorrência, enquanto por outro lado, a queixa por fim de

relacionamento é prevalente nos casos em que a mulher registra procedimento criminal

(TCO), seguida por motivos fúteis. Estes dados revelam que a mulher que decidiu romper ou

rompeu o relacionamento formaliza, com maior freqüência, a apresentação da queixa-crime

ao Juizado Especial Criminal, a fim de que o agressor seja apenado e ela tenha seus direitos

protegidos.

Parece, ainda, existir um diferencial entre o tipo de queixa e o status conjugal. A queixa

das amasiadas está mais associada a motivos fúteis, as das casadas a motivos fúteis e bebida e

as queixas das namoradas a ciúmes. Entre ex-amasiadas, ex-casadas e ex-namoradas

predominou a queixa devida a fim do relacionamento, sendo, nesse caso, a ameaça o principal

crime cometido. Constatou-se uma vinculação entre ameaça e fim de relacionamento, de

modo que o ex-parceiro, não aceitando o rompimento, usa freqüentemente a ameaça como

estratégia para reverter a situação.

O quadro extraído dos resultados relativos às ex-amásias, ex-esposas e ex-namoradas do

presente trabalho, alerta para o drama de que a mulher não está segura mesmo após a

separação do parceiro, e que de forma geral a violência continua, e é mais severa quando o

relacionamento termina, razão pela qual estas mulheres formalizam queixa crime com mais

freqüência no momento da separação ou após a separação, o que indica que elas correm mais

risco nesse momento. Além disso, deve ser considerado que quando a mulher toma a decisão

de romper o relacionamento, ela não tem mais motivos para proteger o parceiro da acusação

legal, nem para manter a harmonia do relacionamento. O que a mulher ameaçada pelo ex-

parceiro deseja é mantê-lo longe, que ele se afaste .


249

Estes dados condizem com os observados por Browne e Williams (1989), que sugerem

que o período mais perigoso para uma mulher que sofre agressão é durante os dois primeiros

anos após a separação, e com os estudos de Walker (1994) que observou que o temor de risco

de violência maior quando se rompe a relação é totalmente justificado, e este medo é um dos

motivos pelo qual a mulher permanece no relacionamento. Conforme indicações de Walker

(1994), mulheres que abandonam seus agressores têm um risco maior de serem assassinadas

por eles do que aquelas que permanecem.

Ressalta-se ainda, a ocorrência de uma mudança nas características do tipo de violência

cometida pelos parceiros conjugais. A verificação de que a ameaça foi o crime mais

denunciado pelas mulheres difere de outras pesquisas (SAFFIOTI, 1999; WILLIAMS, et.al.,

1999), embora confirme que a média anual de ameaças vem aumentando ao longo dos anos,

assim como vem diminuindo as agressões, lesões corporais e vias de fato, apesar de ainda

elevadas. Talvez isso se dê como decorrência da atual visibilidade social da violência

conjugal e devido ao fato de as mulheres, em situação de violência terem a oportunidade de se

expressar e poderem buscar intervenções nas delegacias especializadas, o que pode estar

inibindo a ação dos parceiros agressores.

É importante notar que a ameaça é considerada violência emocional, uma vez que não há

agressão física direta. Outros tipos de violência, na esfera psicológica, como humilhações,

difamação, calúnias, injúria, desqualificações, de forma geral não são denunciadas.

Hipotetiza-se, diante disso, que existe um aumento na severidade das ameaças, e em razão a

isso sugere-se que o abuso não físico, especificamente a ameaça que aterroriza a vítima,

receba crescente atenção por parte dos pesquisadores e das autoridades das delegacias

especializadas. Ressalta-se ainda, que vários estudos indicam que o abuso emocional

estabelece e mantém toda a dinâmica do abuso no relacionamento (DUTTON; PAINTER,

1993; LORING, 1994).


250

Diante da identificação de diversos cenários de risco de violência, pode-se propor o

desenvolvimento de intervenções, tratamento e prevenção, considerando-se o status conjugal,

bem como os tipos de queixas.

Sugere-se, ainda, que os serviços prestados pelas delegacias criem um local de

acolhimento para que a mulher, que sofre violência, possa expressar suas angústias que não se

resumem apenas à aproximação policial e jurídica, dadas as conseqüências da violência física

e não física, especialmente as ameaças. Sugere-se que seja possível a realização de

acolhimento psicológico nas delegacias para posterior encaminhamento a ajuda especializada,

conforme necessidade de cada mulher. A importância da criação deste espaço de acolhimento

psicológico nas delegacias deve-se ao fato de que ouvir a demanda dessas mulheres é algo

bastante complexo, devido ao constrangimento, vergonha e à própria necessidade de proteger

o agressor, conforme verificado na segunda fase da pesquisa. O momento pelo qual a mulher

se dirige a uma delegacia exige acolhimento, compreensão e esclarecimentos sobre sua

situação, exige, portanto, uma intervenção imediata ao exato momento de sua necessidade. A

situação da mulher deveria ser focada não apenas pelo prisma jurídico, deve se procurar

entender, por exemplo, o que exatamente a motiva a procurar ajuda? O que ela está buscando

naquele momento? Ser ouvida atenta e profundamente é fundamental, razão pela qual é

necessário o acolhimento psicológico nas delegacias especializadas.

Além disso, nos casos de violência conjugal, não basta apenas a lei, porque a lei muitas

vezes é de uma impotência total frente à situação vivida pelas mulheres. Para que as mulheres

sejam bem sucedidas nas suas buscas de ajuda e intervenção às quais recorrem, é necessária a

conjugação de esforços de profissionais de diferentes áreas de atuação. É disso também, que

depende o sucesso de suas tentativas de romper a sua permanência na situação de violência.


251

7. 2 Conclusões a respeito da segunda fase

O homem moderno enfrenta incontáveis desafios, sendo o principal deles o relativo à

violência. A violência não é um comportamento novo, ele pertence à história da humanidade e

podem ser encontrados relatos na filosofia, na literatura, nas manifestações culturais e na

religião. Os problemas relacionados com a violência são imensos e universais.

Diferentes ciências e abordagens em psicologia têm algo a dizer sobre essa problemática,

dentre elas, a psicanálise, que considera que somos resultado de uma complexa interação entre

os impulsos sexuais e agressivos e as defesas que, desde a infância construímos para contê-

los, por meio do superego. Nesse sentido poderíamos dizer que a violência é provocada por

uma falta de distância entre os impulsos e os atos, como pode ser visto nas agressões dos

cônjuges em relação às suas parceiras, bem como na recusa em refletir sobre o que realmente

motiva as próprias ações e na atribuição aos outros, pais, parceiros íntimos, muitas vezes

indevida, da culpa pelos problemas vividos. A psicanálise afirma que a culpa não é sempre

dos outros, uma vez que sua atenção é focada na singularidade, e propõe um caminho de

autoconhecimento que depende da própria pessoa.

Do ponto de vista da psicanálise, a violência se mantém e se recria, constantemente, na

medida que a pessoa lança mão de artifícios engenhosos para não reconhecê-la.

Conseqüentemente ao invés de ser reconhecida, a violência passa a ser representada, a

negação exime responsabilidade e culpa. Para Costa (1986), o maior prejuízo para indivíduos

inseridos em ambientes violentos é o obscurecimento do que é fantasia e do que é realidade

(p.53).

De acordo com esse autor, tenta-se explicar a violência para exorcizar o terror, porque,

quando ela é explicada deixa de existir como coisa primeira: é só conseqüência de uma outra,
252

que a provocou (p.45). A explicação tem como função garantir que, em suas bases o mundo

está em ordem.

Há, entretanto, outras leituras para o fenômeno em questão, o que nos interessa mais de

perto, especificamente a da Psicologia Social, que enfatiza a interação do indivíduo com o

ambiente, e exige que se contemple a existência ou não da intencionalidade de causar danos,

por parte do agressor, bem como os processos cognitivos afetivos e comportamentais

suscitadas, por exemplo, no agredido. Dentre as teorias oriundas da Psicologia Social, foram

utilizadas neste estudo as contribuições da Teoria da Atribuição Causal para a análise da

permanência da mulher em um relacionamento conjugal violento.

Como já esclarecido no capítulo 3, tal teoria estuda as explicações que os indivíduos

oferecem para as causas dos eventos de que são participantes, ou como atores ou como

expectadores.

As pessoas explicam porque ocorre um determinado evento considerando, usualmente, a

motivação da pessoa que o causou. A necessidade de buscar uma causa para o comportamento

de outrem faz parte de uma tendência humana de ir além da informação disponível. Tais

deduções são chamadas de atribuições causais, que é o processo pelo qual as pessoas usam de

vários tipos de informações para realizar inferências a respeito das causas de determinados

comportamentos ou acontecimentos. As atribuições são uma conjectura, diz respeito menos

às causas reais do comportamento de uma pessoa do que às inferências que o observador faz

acerca dessas causas (DELA COLETA, 1982). Portanto, a teoria da atribuição lida com

causas percebidas da situação, não com causas reais. Assim, as interpretações causais podem

ser precisas ou erradas, funcionais ou disfuncionais. Faz se uma atribuição em consonância

com os próprios conteúdos cognitivos, tais como crenças, valores ou conhecimentos.

O estudo dos mecanismos utilizados pelas pessoas para explicarem suas próprias condutas

e ações, e a dos outros, assume particular relevância no contexto, pelo poder exploratório que
253

ele permite na análise das situações de longo tempo de permanência em um relacionamento

conjugal violento. As atribuições ou explicações causais aos comportamentos e/ou eventos

tornam-se, assim, ferramentas poderosas para a compreensão das reações frente à violência e

ao abuso vivido, em função de seu papel mediador entre os estímulos e as respostas

individuais.

Dessa forma, as atribuições feitas às causas do comportamento agressivo determinam o

tipo de resposta que será dada à provocação.

Fundamentado nas proposições de Weiner (1972, 1986, 1995) e nos estudos de Sillars

(1981) e Brehm (1985), que colocaram em evidência as intenções atribuídas, a

controlabilidade e a culpa do parceiro nas reações ao conflito interpessoal, o presente estudo

pretendeu realizar uma comparação entre os mecanismos atribucionais utilizados por

mulheres que sofrem violência conjugal relativa à primeira agressão sofrida e à última que

motivou a formalização de um processo penal (TCO), como uma explicação para sua

permanência ou rompimento do relacionamento.

Assim, em relação à segunda fase, o principal enfoque desse estudo buscou compreender

como as mulheres explicam o comportamento violento de seu cônjuge e, se estas explicações

causais estariam relacionadas à intenção de permanecer ou de romper um relacionamento

conjugal violento.

Fizeram parte desta fase da pesquisa mulheres que buscaram espontaneamente a

Delegacia Adida ao Juizado Especial de Uberlândia, para dar queixa dos parceiros íntimos

agressores e responderam a uma entrevista semi-estruturada.

Verificou-se que a prevalência da violência é mais freqüente em mulheres da cor branca,

católicas, não praticantes, que possuem o primeiro grau incompleto, e se declararam do lar,

com filhos e oriundas de diferentes bairros de Uberlândia. Observou-se, entretanto, mulheres

de diferentes religiões, profissões e níveis de escolaridade. A maioria das mulheres


254

entrevistadas reportou sofrer violência já na fase do namoro ou no inicio do relacionamento.

Em todos os casos, a violência física veio acompanhada da psicológica em forma de

intimidação e abuso verbal, sendo estas uma rotina na convivência do casal. As causas da

violência sofrida relatadas pelas mulheres são devidas aos ciúmes, ao fato de ele ter

problemas psicológicos, usar álcool, de ele ter amante, da combinação ciúmes e bebida, de ela

rejeitá-lo sexualmente, de ele não aceitar a separação, por provocação dela e por ele rejeitá-la.

Analisando os resultados obtidos relativos à atribuição causal, evidencia-se a

predominância do uso de causas internas do agressor, em detrimento das externas, nas

atribuições relativas às duas situações (primeira e última agressão). Entretanto, as atribuições

das mulheres foram também qualificadas sob o prisma de outras dimensões conceituais

preconizadas por Weiner (1972, 1986,1995), a estabilidade e controlabilidade.

Dado que as atribuições utilizadas pelas mulheres para explicarem a violência do cônjuge

foram eminentemente internas, atribuídas ao parceiro, as considerações relativas às outras

duas dimensões causais, estabilidade e controlabilidade, permitiram a distinção qualitativa da

atribuição.

Com relação aos dados referentes às dimensões causais acima referidas, observou-se, no

que diz respeito à estabilidade X instabilidade e controlabilidade X incontrolabilidade, que as

mulheres adotaram, prioritariamente, a instabilidade e a controlabilidade da violência para

explicarem a primeira agressão do parceiro. Neste sentido, pode se dizer que a causa interna

instável atribuída ao parceiro manteve-se como explicação básica da violência do parceiro

para a primeira agressão. Por outro lado neste primeiro momento, a causa interna estável foi

irrelevante para explicar a violência. As mulheres num primeiro momento não conseguem

imaginar que o parceiro seja fundamentalmente destruidor. Elas tentam encontrar explicações

lógicas para desfazer aquilo que não podem perceber: ele é ciumento. Alimentam assim as
255

esperanças de que o parceiro mude e compreenda o sofrimento que está infringindo e se

arrependa.

Já, quando se observa o resultado referente a estas duas dimensões em discussão, verifica-

se uma inversão nas atribuições relativas à última agressão, para a qual, as mulheres

atribuíram causas estáveis e incontroláveis. Portanto, a última agressão foi eminentemente

explicada através da causa interna estável incontrolável atribuída ao parceiro, isto é, como

sendo decorrente da personalidade do mesmo.

Sob a perspectiva da mulher que sofre agressão, isto poderia significar, num primeiro

momento, que as mulheres ao atribuírem a violência a causas internas, instáveis e controláveis

estariam acreditando que poderiam modificar tal resultado. Conforme a perspectiva teórica de

Weiner (1986, 1995), a atribuição a causas instáveis faz com que o indivíduo acredite que

pode modificar o resultado no futuro. Diante disso é lícito concluir que estas mulheres podem

estar atribuindo a violência do parceiro à causa interna e instável como uma forma de se

defenderem do fracasso do relacionamento, na medida que, fazendo esse tipo de atribuição

estariam se preparando para reverter a situação da violência. Levando-se em conta, ainda, as

características disposicionais (personalidade) como a causa atribuída à última agressão

sofrida, pode-se admitir que de alguma forma as mulheres levam muito tempo para

compreender que essa situação não é resultante de um comportamento ocasional do parceiro,

e sim de um comportamento repetido continuamente.

Os dados aqui obtidos revelaram a adoção sistemática da causa disposicional, interna,

instável e controlável, por parte das mulheres que permanecem no relacionamento. As

mulheres atribuem a violência a estados transitórios do parceiro e acreditam que podem

controlar a ocorrência da agressão. Quando a violência é recente existe, ainda, para as

mulheres uma esperança de solução, e especificamente, sua atribuição guia a maneira pela

qual ela se comporta para alterar a dificuldade.


256

A análise das reações das mulheres que atribuíram causa interna instável e controlável

para a primeira agressão, mostrou que estas procuraram conversar com o parceiro, ou

simplesmente não apresentaram nenhuma reação, acreditavam que a agressão era apenas uma

crise e que passaria (instável / controlável), adotaram mecanismos de enfrentamento mais

focalizado no problema, numa tentativa de aproximação e busca de solução, apresentaram

expectativas de que o relacionamento melhoria, não denunciaram o parceiro e manifestaram

sentimentos sem alvo, tais como angústia e tristeza.

Os motivos alegados pelas mulheres para permanecer na relação foram em primeiro lugar

o amor, seguido pela esperança de ele mudar, os filhos, os aspectos econômicos, algumas

características pessoais das mulheres, os valores sociais, o medo e finalmente sentimentos de

pena do parceiro. Tudo isso permite à mulher perpetuar a crença de controle da violência que

se ajusta à sua necessidade de equilíbrio, e interfere por um longo período nas interpretações

ou explicações dadas ao comportamento do parceiro.

Especificamente sobre a alegação de amar o parceiro como motivo de permanência na

relação, Strube e Barbour (1983 apud BREHM, 1985), encontraram que as mulheres mais

propensas a deixar um relacionamento abusivo, não citavam espontaneamente o amor como

razão para ficar no relacionamento.

Por outro lado, observa-se que a busca de rompimento da relação é decorrente de

atribuição de causa interna estável e incontrolável à violência do parceiro, de sentimentos

negativos contra ele, de expectativas de vida digna se deixá-lo e de que o relacionamento

piore caso seja continuado.

No que diz respeito ao julgamento de culpa da violência, tanto para a primeira quanto para

a última agressão, evidencia-se que as mulheres não viam a si mesmas como merecedoras,

culpadas ou provocadoras da violência. Observou-se que, maior culpa e maior intenção é

atribuída ao agressor quando as causas são internas e estáveis. A culpa e a intenção do


257

parceiro estão relacionadas entre si e este resultado é evidente tanto na primeira, quanto na

última agressão. Estas relações são demonstradas pela análise de variância e pelas correlações

encontradas.

Constata-se assim, que a mulher percebe a violência conjugal como um acontecimento

intencionalmente causado pelo parceiro, podendo ser classificado, portanto, como dentro da

causalidade pessoal, conforme teoria da atribuição.

Tais dados são consistentes com os resultados de estudos anteriores (CANTOS; NEIDIG;

O LEARY, 1993), que explicam que mulheres agredidas tendem a designar menos culpa a si

mesmas e mais aos maridos, tanto para o primeiro quanto para o ultimo episódios de

violência, e a ver as causas do abuso como estáveis se tiverem sido mais severamente

feridas.Também são condizentes com a tendência geral de atribuir coisas boas a si mesma e

coisas ruins a fatores externos (HEIDER, 1970; FRIEZE; WEINER, 1971) e, conforme

previsões da teoria da atribuição, revelam que para as mulheres o comportamento violento do

parceiro é visto como intencionalmente causado.

Além disso, a tendência de culpar os outros se caracteriza pelo fato de as pessoas darem a

si próprias o mérito do sucesso e negarem a responsabilidade por suas falhas, conforme

afirmações de Weiner (1972). Da mesma forma, de acordo com Sillars (1981), existe uma

tendência a superatribuir a responsabilidade pelo conflito ao parceiro e a subestimar os efeitos

do próprio comportamento.

Diante destes aspectos, a questão que se coloca é se a violência poderia ser também

resultante da relação do casal e não apenas da culpa ou das características pessoais do

parceiro, isto é, a violência poderia ser fruto daquilo que um desperta no outro, podendo-se

argumentar que as mulheres também poderiam provocar reações hostis e negativas e que suas

atribuições causais e principalmente suas atribuições de culpa poderiam estar refletindo o

próprio efeito que ela tem no parceiro. Esse argumento parece plausível, uma vez que
258

geralmente os aspectos essenciais da relação são determinados pela suposição que se tem a

respeito das condições e das percepções da outra pessoa. De acordo com Heider (1970) uma

pessoa não apenas reage ao que a outra pessoa faz, mas reage ao que pensa que a outra

percebe, sente e pensa. Além disso, Sillars (1981) sugere que os parceiros falham em perceber

a causalidade mútua dos conflitos no relacionamento, uma vez que esse tipo de relação

interpessoal cria confusão de informações.

Por outro lado, uma vez que a maioria das mulheres atribuiu causas internas à violência do

parceiro, para a primeira e última agressão, sugerindo, por sua vez, que a essência da

violência conjugal tem sua origem nas características pessoais do parceiro, isto é, a algo

inerente a ele mesmo, questiona-se: os parceiros agressores são indivíduos com características

pessoais que apresentam alta predisposição à agressão? Será que eles agridem,

freqüentemente, por causa de uma característica pessoal hostil? Para melhores

esclarecimentos do tema sugere-se estudos a respeito da existência de característica pessoal de

hostilidade em parceiros agressores através, por exemplo, de medida por escalas auto-

avaliadas, como as PANAS (WATSON; CLARK, 1988).

Quanto aos sentimentos, especificamente ao predomínio dos sentimentos sem alvo

relativos à primeira agressão, em sua maioria decorrente da atribuição interna instável,

caracterizada pela angústia e pela tristeza, fica evidente que estes desvelam a situação de

infelicidade e de desamparo na qual a violência mergulha as mulheres.

Importa esclarecer que, na angústia, a reação do organismo é de paralisação e a nitidez

com que a pessoa capta o fenômeno é atenuada (López-Ibor, 1969, apud SIERRA; ORTEGA;

ZUBEIDAT, 2003). A angústia é um sentimento vinculado a situações de desespero, e sua

característica principal é a perda da capacidade de atuar voluntária e livremente para dirigir os

próprios atos (SIERRA; ORTEGA; ZUBEIDAT, 2003).


259

Conforme observado, os sentimentos sem alvo referem-se a um tipo de sentimento no qual

os fatores cognitivos são muito reduzidos. Isto significa que, provavelmente, sequer, o

parceiro figure no sentimento. O único aspecto englobado no sentimento sem alvo é que algo

seja estancado.

O sentimento sem alvo ou não dirigido pode ser visto como simplesmente desviado de sua

direção original. Pode-se falar, então, que existe uma tensão geral para mudar algo, mas algo

indeterminado.

Dessa forma, os sentimentos sem alvo são carentes de objeto, e precisamente essa carência

é um nada contra o qual não cabe adotar uma atitude concreta de defesa nem de ataque, razão

pela qual as mulheres não dão queixa do parceiro, conforme ficou demonstrado através da

análise de variância. Assim, os sentimentos estão relacionados à decisão de denunciar ou não

denunciar o agressor. Na primeira agressão mais mulheres com sentimentos dirigidos contra o

agressor deram queixa na Delegacia da Mulher.

Atendo-se aos dados relativos aos sentimentos decorrentes da última agressão em que as

mulheres atribuíram causas internas estáveis à violência, verificou-se a manifestação de

sentimentos contra o parceiro, caracterizados pela raiva, revolta, medo, rejeição e nojo que,

diferentemente dos sentimentos sem alvo, levou as mulheres a terem ações que buscassem

eliminar as fontes desses sentimentos, no caso, o parceiro e sua violência.

A maioria das mulheres que apresentaram sentimentos negativos contra o agressor, não

pretendem continuar vivendo com ele. Confirmou-se, portanto, a relação entre os sentimentos,

e as ações e intenções, conforme hipotetizado.

Foi também encontrada uma relação entre a direção dos sentimentos e as expectativas

caso permaneça no relacionamento, de modo que os sentimentos contra o agressor se

associam a expectativas de um relacionamento cada vez pior.


260

Neste sentido parece que a atribuição interna estável prevê diferencialmente as

manifestações afetivas das mulheres que sofrem violência conjugal. Atribuições internas

estáveis prevêem: sentimentos contra o parceiro, intenção de romper o relacionamento e

expectativas de que o relacionamento piore, dado que os sentimentos contra o agressor

evidenciam, pode-se dizer, a expressão de um protesto contra o mesmo (raiva, por exemplo) e

a percepção de risco (medo) que a mulher corre no relacionamento.

Através da análise das expectativas, verificou-se que, na primeira agressão, maior

intenção atribuída ao agressor relacionou-se a expectativas negativas, na última agressão

maior intenção (teve propósito de agredir) foi relacionada com a percepção de que ele poderia

ter evitado, e a causa interna estável relacionou-se a expectativas negativas (risco de vida,

piorar a situação, continuar sofrendo), com a falta de esperança de que o relacionamento

melhore, e com a esperança de que o parceiro se afaste, e medo que o parceiro continue

prejudicando.

Na primeira agressão a expectativa positiva, de que a situação iria melhorar, relacionou-se

a não dar queixa na Delegacia da Mulher e a maioria das mulheres adotaram estratégia de

coping focalizado no problema.

Com referência à postura de enfrentamento adotado pelas mulheres, as mesmas

consideram, num primeiro momento (atribuição interna instável controlável), que o processo

de violência poderia ser estancado, caso elas buscassem conversar com ele ou simplesmente

não fizessem nada, o que as levaram a não denunciar o parceiro, enquanto que ao atribuir

causas internas estáveis à última agressão, as mesmas consideram que no futuro continuariam

a ser agredidas através de uma violência ainda mais severa, o que conseqüentemente, levou

todas as mulheres a denunciar o parceiro.


261

Finalmente, para a última agressão, as expectativas negativas de permanecer na relação (a

situação vai piorar) e expectativas positivas de romper a relação (vida digna), relacionaram-se

à intenção de não continuar no relacionamento.

Na última agressão, a causa interna estável e a maior intenção percebida na agressão

relacionaram-se com a intenção pessoal de não continuar no relacionamento com o parceiro.

As análises mostram ainda uma tendência maior de denúncia do parceiro, quando a

expectativa da mulher é de que a situação da violência piore, enquanto que a não denúncia é

significativamente maior quando a expectativa é de que a relação do casal melhore.

Em relação às expectativas, foi possível perceber ao longo do trabalho que, para as

mulheres entrevistadas, romper uma relação tem o sentido de antes de tudo prever

expectativas de um futuro digno sem o parceiro. Parece que a confiança na melhora do futuro

pessoal, a crença de se estar caminhando para uma vida melhor, a crença na possibilidade de

conquistas e avanços pessoais caso deixe o parceiro, relaciona-se à intenção de romper a

relação. As mulheres que apresentam tais expectativas futuras compreendem que é preciso

tempo e empenho (trabalhar, estudar) para alcançar tais objetivos e demonstram um

compromisso com o próprio desenvolvimento.

Tomando em conjunto os resultados da presente pesquisa, evidenciou-se que o padrão

atribucional que as mulheres utilizam ao explicar a violência do parceiro conjugal é

caracterizado pela internalidade. Foi possível constatar modificação nas dimensões instável e

controlável, seguindo a grande distância para estável e incontrolável, nos sentimentos nas

expectativas e nas ações das mulheres.

Esta investigação mostrou relações significativas entre as variáveis do modelo proposto, e

apresentou tendências nas atribuições relativas a ficar ou deixar um parceiro violento.

Atribuições internas instáveis controláveis podem levar a sentimentos sem alvo, à esperança

da resolução do problema, e à permanência da mulher em um relacionamento abusivo e


262

doloroso, enquanto que as atribuições internas estáveis incontroláveis relacionam-se a

sentimentos contra o parceiro, a expectativas negativas junto a ele e a expectativas positivas

longe dele e ao desejo de romper o relacionamento.

Assim, através deste estudo pode-se verificar que o estímulo violência conjugal contra a

parceira determinou ou co-determinou a mediação cognitiva que resultou numa atribuição

causal, onde foram identificadas as seguintes dimensões: lócus da causa, estabilidade e

controlabilidade, que tiveram efeitos diferenciados a nível cognitivo, afetivo e da ação da

mulher que sofre a violência. Observou-se que as cognições determinam as respostas afetivas

e as expectativas, assim como os comportamentos subseqüentes.

Na investigação das atribuições causais verificou-se que a atribuição causal da mulher

sobre o comportamento violento do parceiro constituiu fator responsável pelo tipo de ação ou

intenção de ação da mulher. Dessa forma aceita-se a existência de uma relação entre a

explicação causal da mulher e sua permanência ou não no relacionamento violento, que se

expressa nas diferenças entre as atribuições causais relatadas para a primeira e última agressão

por mulheres que desejam permanecer no relacionamento e aquelas que irão romper,

conforme este estudo pretendia demonstrar.

Pode-se, entretanto, argumentar que relatos retrospectivos de atribuições tenham sido

distorcidos pelo atual momento vivido pelas mulheres. Todavia, tomados em conjunto, esses

resultados sugerem que as atribuições retrospectivas não estão relacionadas ou foram

influenciadas pelo momento atual. As mulheres da amostra apresentaram, por exemplo, pouca

dificuldade para responder questões sobre atribuições causais, culpa, intencionalidade e

evitabilidade e deram todos os indícios de haverem considerado o assunto minuciosamente.

Isto se estende à habilidade delas em relatar as atribuições passadas, bem como as atuais com

facilidade.
263

Seria interessante, contudo, que futuras investigações procurassem aprofundar a

compreensão desses mecanismos.

Embora promissores esses resultados precisam ser replicados. Estudos longitudinais

futuros devem examinar violência conjugal e atribuições com diferentes intervalos entre

avaliações para determinar quão vigorosa é a associação que prevê.

Outra tarefa para pesquisa futura é determinar o peso relativo das variáveis aqui estudadas

na explicação da variância da resposta comportamental.

Além disso, este estudo enfocou somente as atribuições das mulheres em relação aos

parceiros violentos, futuras pesquisas podem examinar as atribuições oferecidas pelos

parceiros para a violência cometida.

Os dados disponíveis para avaliar a premissa de que as atribuições influenciam a

permanência ou o rompimento em um relacionamento conjugal violento são promitentes.

Pode se supor que as atribuições poderiam compreender um componente adicional a ser

anexado a intervenções terapêuticas, uma vez que os dados sugerem que as atribuições podem

ser significativas durante todo o relacionamento conjugal violento. Implícita nesta proposta

está a noção de que atribuições são um componente necessário mas, de maneira alguma

suficientes para a compreensão da violência conjugal.


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WEINER, B. et al. Perceiving the causes of success and failure. In: JONES, E. E. et al. (Eds.).
Atribution: perceiving the causes of behavior. New Jersey: General Learning, 1972.

WILLIAMS, L. C. A. Violência doméstica: há o que fazer? Disponível em:


<http://www.Ufscar.br/~cech/ aprev/vd.pdf>. Acesso em: 25 jan. 2004.

WILLIAMS, L. C. A. et al. Um mapeamento da violência denunciada na Delegacia da


Mulher. In: REUNIÀO ANUAL DE PSICOLOGIA, 29., 1999, Campinas. Resumos de
Comunicação Científica.. Campinas: SBP, 1999.

WIMER, S.: KELLEY, H. H. An investigation of the dimensions of causal attribution.


Journal of Personality and Social Psychology, Arlington, v. 43, n. 6, p. 1142 1162, 1982.
280

YENTZEN, J. et al. Destructive hostility: the Jeffrey Dahmer Case (A psychitric and forensic
study of a serial Killer). American Journal of Forensic Medicine and Pathology, New
York, v.15, n. 4, p. 283-294, 1994.

ZILLMANN, D. Transfer of excitation in emotional behavior. In: CACIOPPO, J. T. ;


PETTY, R. E. (Eds.). Social psychophysiology. New York: Guildford, 1983a. p. 215-240.

ZILLMANN, D. Arousal and aggression. In: GEEN, R. G.; DONNERSTEIN, E.


Aggression: theoretical and empirical reviews. New York: Academic, 1983b. p. 75 102.
281

ANEXO A

FICHA DE REGISTRO PARA TRANSCRIÇÃO DOS DADOS DE BOLETINS DE OCORRÊNCIA E TERMOS


CIRCUNSTANCIADOS DE OCORRÊNCIA EM CASOS DE VIOLÊNCIA CONJUGAL.

caso Bairro Idade Profissão Idade do Profissão Tipo de Queixa Descrição da Incidência Número da Data da
residencial da da mulher parceiro do relação violência Penal ocorrência ocorrência
mulher parceiro vítima / BO TCO BO
autor
1
2
3
4

n
282

ANEXO B

QUESTIONÁRIO SOBRE VIOLÊNCIA CONJUGAL

1ª PARTE: DADOS PESSOAIS


1. Idade: ( )
2. Cor: _____________
3. Naturalidade: ___________________

4. Estado Civil: ( ) Casada ( )Amasiada ( )Solteira Outros __________

5. Bairro: __________________________

6. Religião _________________________ Praticante? ( ) Sim ( ) Não

7. Escolaridade:

1o grau incompleto ( ) 2o grau completo ( )


1o grau completo ( ) superior incompleto ( )
2o grau incompleto ( ) superior completo ( )

8. Profissão: __________________________

9. Composição Familiar
Idade Escolaridade Profissão Trabalho atual
PARCEIRO

FILHOS Sexo
1.
2.
3.
4.
5.
6.

10. Salário
a. Renda pessoal (apenas da mulher)____________________________
b. Renda familiar (de todos, inclusive da mulher)__________________

11. Moradia: ( )Casa Própria ( )Alugada ( )Cedida

12. Há quanto tempo você vive com ele?


_________ anos
283

2ª PARTE: DADOS SOBRE A VIOLÊNCIA CONJUGAL

1. Em que época começaram as agressões?


( ) namoro ( ) no início do casamento ( ) durante a 1ª. gravidez
( ) após o nascimento do 1º., 2º. .. filho ( ) após acontecer - - - - - - - - - - - - -
( ) após ________ anos de união

2. Há quanto tempo você sofre agressão?________ anos.

3. Com que freqüência vocês brigam?


( ) todos os dias
( ) semanalmente
( ) quinzenalmente
( ) mensalmente ( ) outros ___________________________________________

4. Quais são os motivos das brigas?


( )Uso de álcool ( ) drogas ( ) jogo
( )Falta de dinheiro ( ) traição sua ( ) traição dele
( ) Ciúmes ( ) as amizades dele ( ) preguiça dele
( ) falta de iniciativa dele ( ) ele é nervoso ( ) a sogra
( ) a família dele ( ) a sua família ( ) ele é agressivo
( ) ele tem problemas psicológicos e por isso agride ( ) a culpa é sua
Outro motivo. Qual? _________________________________________________

5. Quais são os tipos de agressão (física) utilizada por seu parceiro?


( ) espancamento
( ) uso de objetos para te infringir dor (facas etc). Quais? _______________
( ) uso de armas de fogo (revolver, espingarda)
( ) enforcamento
( ) queimaduras
( ) esbofeteia
( ) empurrão
( ) tapas
( ) chutes
( ) socos
( ) outros. Quais? _________________________________________

6. Ele usa outras formas de agredir? (agressão psicológica)


( ) pressão ( seu parceiro controla o que você faz, como por ex. verifica se você arrumou a
casa, etc)
( ) culpa você por tudo o que acontece de errado
( ) considera a mulher inferior ( desconsidera a avaliação da realidade que você faz )
( ) insultos
( ) calúnia
( ) rejeição
( ) depreciação
( ) humilhação
284

( ) desrespeito
( ) punições exageradas
( ) tenta te convencer de que você é louca
( ) utiliza palavras de baixo calão para referir-se a você (te xinga)
( ) aumenta seus erros
( ) inventa erros que você não cometeu
( ) oferece a você apenas alimento suficiente para sua sobrevivência
( ) não deixa você dormir o suficiente, te acorda durante a noite
( ) não permite que você conviva com seus familiares
( ) não permite que você tenha convívio social
( ) te proíbe de ter emprego
( ) te proíbe de estudar
( ) às vezes é violento, às vezes é bondoso, isto é, altera fúria com proteção
( ) faz ameaça de te espancar
( ) faz ameaça de te matar
( ) faz ameaça de tirar seus filhos de você
( ) xinga os filhos para te atingir
( ) bate nos filhos para te atingir
( ) te tranca dentro de casa
( ) te tranca fora de casa
( ) te pressiona a confessar algo que você não fez
( ) se nega a conversar, ao ver que você espera que ele comente algo com você
( ) quebra utensílios domésticos
( ) quebra móveis
( ) rasga suas roupas
( ) rasga seus documentos pessoais
( ) rasga suas fotos, recordações, objetos pessoais
( ) outros. Quais? _______________________________________________

7. Ele te agride sexualmente? ( ) sim ( )não

( ) te força a ter relações


( ) outros. Quais? _ _ _ _ _ _

8. Ele controla o dinheiro? ( ) sim ( )não

( ) não dá dinheiro
( ) usa seu dinheiro
( ) gasta o dinheiro fora de casa
( ) ameaça ir embora e não te ajudar financeiramente
( ) esconde o dinheiro
285

3ª PARTE: CAUSAS DA AGRESSÃO, SENTIMENTOS, EXPECTATIVAS E


COMPORTAMENTOS DECORRENTES DA 1A AGRESSÃO

1.Qual foi a primeira vez que seu companheiro te agrediu? O que aconteceu?

2. Por que você acha que ele fez isso (agressão) da primeira vez?

Causa Principal?__________________________________________________________

CLASSIFICAÇÃO DA CAUSA PERCEBIDA :


1. Interna Estável ( ) Ex: personalidade, caráter, gênio, ruindade , ...
2. Interna Instável ( ) Ex: estado emocional (nervoso...), estado de saúde, alcoolizado,
...
3. Externa Estável ( ) Ex: família dele ou dela, os filhos,...
4. Externa Instável ( ) Ex: falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança, a situação...

3. Você acha que alguém teve culpa? Quanto?


a) Culpa dele? Nada( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )
b) Culpa sua? Nada( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpada ( )

Ou a causa foi outra?


c) culpa foi de outra pessoa?
Nada( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )

d) culpa da situação, ambiente, circunstâncias


Nada( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )

4. Naquela época você achava que era capaz de mudar isso, de controlar a agressão?

5. Naquela hora, você achou que ele teve intenção de te agredir, ele fez de propósito?
Sem intenção Fez de propósito

1 2 3 4 5

6. Você achou que, se ele quisesse, poderia ter se controlado e não agredido? Ou era
impossível ele se controlar naquela hora?

Não podia evitar Podia ter evitado


1 2 3 4 5

Não podia se controlar Se quisesse, podia se controlar


286

7. Depois que ele te agrediu daquela vez, como você se sentiu ? Quais foram os sentimentos?

( ) raiva ( ) calma
( ) pena ( ) tristeza
( ) medo ( )depressão
( ) revolta ( ) ambivalência (às vezes pena, às vezes
( ) culpa raiva)
( ) ansiedade ( ) rejeição
( ) angustia ( ) às vezes você acha que ele está certo -
( ) ódio aprova
( ) mágoa ( ) nojo

CLASSIFICAÇÃO DOS SENTIMENTOS


1. sentimentos auto-dirigidos? ( ) Ex: culpa, raiva de mim,...
2. contra ele? ( ) Ex: raiva dele, medo dele, ...
3. sentimentos sem alvo? ( ) Ex: tristeza, angústia, ...

8. O que você fez?

( ) Procurou conversar com ele


( ) Procurou ajuda amigos, familiares, psicólogos etc
( ) Tentou deixá-lo
( ) Reagiu e também brigou
( ) Não fez nada
( ) Outra opção. Qual? _____________________________________

CLASSIFICAR POR REAÇÃO DE COPING


Coping focalizado no problema ( ) = mudar uma pessoa, ambiente ou uma relação
Coping focalizado na emoção ( ) = administrar as emoções negativas relacionadas com o
estresse
Coping de evitação ( ) = afastamento, fuga,...

9. Você deu queixa da primeira vez? ( ) Sim ( ) Não

10. Por que?


Achei que não fosse acontecer mais ( ) Achei que ele ia continuar me agredindo ( )

11. O que você esperava que acontecesse?


Piorar a relação ( ) ficar igual ( ) melhorar ( )

12. Por que você continuou com ele? Por que permaneceu na relação?
287

4ª PARTE: CAUSAS DA AGRESSÃO, SENTIMENTOS E EXPECTATIVAS ATUAIS


(atribuição de causalidade para a agressão que levou a mulher à delegacia)

1. Por que você decidiu procurar ajuda da Delegacia da Mulher, neste momento?
2. Por que você acha que ele fez isso? Por que ele te agrediu? Qual foi a causa?

CLASSIFICAÇÃO DA CAUSA PERCEBIDA


a) Interna Estável ( ) Ex: personalidade, caráter, gênio, ruindade , ...
b) Interna Instável ( ) Ex: estado emocional (nervoso...), estado de saúde, alcoolizado,
c) Externa Estável ( ) Ex: família dele ou dela, os filhos,...
d) Externa Instável ( ) Ex: falta de dinheiro, emprego ruim, vizinhança,...

3. Você acha que alguém teve culpa? Quanto?


a) Culpa dele? Nada ( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )
b) Culpa sua? Nada ( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpada ( )

Ou a causa foi outra?


c) culpa foi de outra pessoa?
Nada ( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )
d) culpa da situação, ambiente, circunstâncias
Nada ( ) pouco ( ) +ou- ( ) muito ( ) totalmente culpado ( )

4. E agora, você acha que é capaz de mudar isso? Sente-se capaz de controlar a causa das
agressões?

5. Você acha que desta vez ele teve intenção de te agredir, ele fez de propósito?

Sem intenção _______________________________________ Fez de propósito

1 2 3 4 5

6. Você acha que, se ele quisesse, poderia ter se controlado e não agredido? Ou era impossível
ele se controlar naquela hora? Quanto?
Não podia evitar _______________________________________ Podia ter evitado

1 2 3 4 5
Não podia se controlar Se quisesse, podia se controlar
288

7. Como você se sentiu quando ele te agrediu? Quais foram os sentimentos?

( ) raiva ( ) calma
( ) pena ( ) tristeza
( ) medo ( )depressão
( ) revolta ( ) ambivalência (às vezes pena, às vezes
( ) culpa raiva)
( ) ansiedade ( ) rejeição
( ) angustia ( ) às vezes você acha que ele está certo /
( ) ódio aprova
( ) mágoa ( ) nojo

CLASSIFICAÇÃO DOS SENTIMENTOS


1. sentimentos auto-dirigidos? ( ) Ex: culpa, raiva de mim, queria morrer
2. contra ele? ( ) Ex: raiva dele, medo dele
3. sentimentos sem alvo? ( ) Ex: tristeza, angustia

8. O que você espera que aconteça após ter dado queixa de seu parceiro?

9. Você tem a intenção de continuar com ele?

10. E ele, você acha que ele tem a intenção de continuar com você, ou não?

11. O que você acha que vai acontecer se você deixar o seu companheiro?

12. E se você continuar com ele, o que você acha que vai acontecer?

13. Você quer me dizer alguma coisa que eu não perguntei?

14. Como você está se sentindo agora?


289

ANEXO C

MINISTÉRIO DA SAÚDE
Conselho Nacional de Saúde
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa - CONEP

FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS ( versão


outubro/99 )
1. Projeto de Pesquisa:
VIOLÊNCIA CONJUGAL: ESTUDO SOBRE A PERMANÊNCIA DA MULHER EM RELACIONAMENTOS ABUSIVOS.

2. Área do Conhecimento Ciências Humanas 3. Código: 7. 07 4. Nível: (D) diagnóstico


5. Área(s) Temática(s) Especial (s) Psicologia 6. Código(s): 7. Fase: (Só área temática 3) I ( ) II ( )
III ( ) IV ( )
8. Unitermos: ( 3 opções ) Violência Conjugal, Psicologia Social, Permanência em relacionamentos abusivos.

SUJEITOS DA PESQUISA
9. Número de sujeitos 10. Grupos Especiais : <18 anos ( ) Portador de Deficiência Mental ( ) Embrião /Feto ( ) Relação de Dependência
No Centro : Total: 30 (Estudantes , Militares, Presidiários, etc ) ( ) Outros ( x ) Não se aplica ( )

PESQUISADOR RESPONSÁVEL
11. Nome: TÂNIA MENDONÇA MARQUES

12. Identidade: 7.820.841 13. CPF: 004.688.838-19 19.Endereço: Rua Bernardo


SSP/SP Cupertino n. 1356
14. Nacionalidade: 15. Profissão: 20. CEP: 38.400 - 444 21. Cidade: 22. U.F.
Brasileira Psicóloga Uberlândia M. G.
16. Maior Titulação: 17. Cargo: Docente 23. Fone: (34) 3231-1256 24. Fax
Especialista
18. Instituição a que pertence: Universidade Federal de Uberlândia 25. Email: [email protected]

Termo de Compromisso: Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas complementares. Comprometo-me a utilizar os materiais e dados
coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo e a publicar os resultados sejam eles favoráveis ou não. Aceito as responsabilidades pela condução científica do
projeto acima.
Data: 06/ 02/ 2004 ______________________________________
Assinatura

INSTITUIÇÃO ONDE SERÁ REALIZADO


26. Nome: Delegacia de Atendimento à Mulher Adida ao Juizado 29. Endereço: Rua João Pinheiro n. 1728 - Bairro Aparecida
Especial Criminal
27. Unidade/Órgão: Policia Civil de Minas Gerais 30. CEP: 38.400 - 712 31. Cidade: 32. U.F.
Uberlândia M. G.
28. Participação Estrangeira: Sim ( ) Não ( x ) 33. Fone: (34) 3212-5610 34. Fax:

35. Projeto Multicêntrico: Sim ( x ) Não ( ) Nacional ( ) Internacional ( ) ( Anexar a lista de


todos os Centros Participantes no Brasil )
Termo de Compromisso ( do responsável pela instituição ) :Declaro que conheço e cumprirei os requisitos da Res. CNS 196/96 e suas Complementares e como esta
instituição tem condições para o desenvolvimento deste projeto, autorizo sua execução
Nome: Dra Karine Aparecida Maia Costa Oliveira Cargo Delegada de Polícia
Data: 06/ 02/ 2004 ___________________________________
Assinatura
PATROCINADOR Não se aplica ( x )
290

ANEXO D

TERMO DE ESCLARECIMENTO E CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO


EM PESQUISA

Estamos desenvolvendo um estudo sobre violência conjugal. Gostaria de saber se você


poderia responder algumas perguntas que fazem parte dessa pesquisa para que possamos
entender as brigas do casal. É importante que você saiba que seu nome não aparecerá na
pesquisa e você não terá nenhum tipo de risco físico ou psicológico e suas respostas serão
analisadas juntamente com as respostas de outras pessoas, de forma que é impossível saber
quem respondeu. A pesquisa tem como objetivo entender os motivos que levam uma mulher a
permanecer em um relacionamento conjugal violento. A sua participação não implicará em
nenhum custo financeiro. Você poderá se retirar a qualquer momento da pesquisa, sem
prejuízo do acolhimento psicológico realizado na Delegacia da mulher Qualquer dúvida você
poderá ligar para:
Profa. Tânia Mendonça Marques Tel.: 3231-1256 (Pesquisadora responsável)
Faculdade de Psicologia - Tel.: 3218-2235
Delegacia da Mulher - Tel.: 3236-1600 / 32125610
Comitê de Ética em Pesquisa/UFU Tel.: 3239-4131

_________________________________________
Assinatura da Mulher Participante da Pesquisa
291

ANEXO E

O que você espera que aconteça após ter dado queixa de seu parceiro?

CATEGORIA RESPOSTAS FREQÜÊNCIA


1. Ele vai continuar 1. Ele vai tentar me prejudicar por isso. Vai me
prejudicando difamar, mas desta vez eu não volto atrás. Das 11
outras vezes não gerou processo./3 Tenho medo
que ele me mate ou mande alguém me matar. 15,49%
Espero as ameaças por telefone, depois dele
receber a intimação./6. O meu medo é esse. Eu
quero um laudo pra ele ver o que é dele e é meu.
Não sei como a cabeça dele vai reagir. Acho que
ele não vai dar sossego. Sempre que ele fez isso
eu voltei./28. Ele vai ficar com raiva, por eu ter
dado queixa./34. Não sei o que vai acontecer. Ele
vai ficar com raiva de mim. Mas ele me está
acusando de algo que eu não fiz./46. Ele vai me
humilhar muito até eu resolver separar dele. Até
chegar o papel, ele vai beber e me xingar, e dizer
que não tem medo de polícia. Eu já dei uma
queixa./51. Acho que ele vai continuar do mesmo
jeito, por causa das pingas. Quando ele não bebe,
ele não aparece lá em casa./53. Não sei. Eu nunca
fiz isso. Estou com medo dele me matar./57.
Acho que ele vai pedir DNA, vai negar as
acusações e tentar tirar o filho, por raiva./70. Ele
vai ficar pior, e mesmo assim eu dou a queixa,
porque eu não gosto dele mais. Ele vai tentar
aproximar de mim./71. Ele vai me culpar por
tudo o que aconteceu. E vai tentar me condenar.
292

2. Que ele mude o 2. Que pare de beber. Não suporto mais ele
comportamento, que bêbado./ 4. Que mude. Que Deus resolva isso 16
ele melhore dessa vez./8. Que ele mude, não me agrida mais,/
11.Que ele mude, mas, mudar ele ninguém dá 23,53%
conta./16. Ele diz que vai mudar se ele não
mudar vou ter que me separar./21. Ele tem três
processos. Que melhorasse./22. Que ele mude. Já
que eu tenho que ficar com ele pra não aturar a
minha família. A minha mãe não conversa
comigo./24. Que ele me conquiste como mulher
que case comigo, que melhore, que pare de
beber./26. Que ele possa mudar, ou piorar./30.
Acho que quando ele souber que eu vim aqui, ele
vai ficar triste e falar que gosta de mim. Espero
que ele mude o comportamento dele./35. Que ele
tente melhorar um pouco. Porque se eu não
tivesse dado queixa poderia ter acontecido coisa
pior./38. Que ele pare de me agredir. Que ele se
trate, se cuide./39. Que ele se acalme. Senão vai
virar uma tentação na minha casa. Ele vai até lá,
arrebenta portão, machuca e agride o meu
pai./49. Que possa melhorar. Que o casamento
acabe da melhor forma, amigavelmente./52.
Acho que ele vai arrumar advogado. Eu penso
que ele vai ficar manso e não vai me agredir
mais./66. Que ele me dê sossego, que não me
xingue e não me bata./
3. Que ele saia de 5. Entrar os papéis para separação e ele sair de
perto de mim casa./7. Sei que o sofrimento dele é pior que o 24
meu e é triste o problema dele eu sei que ele
também sofre, que ele faça o tratamento dele e 33,80%
arrume o canto dele. Eu vou separar, cansei./9.
Parece que eu ia sair dessa, que eu estava tirando
uma pedra de cima de mim. Quero poder entrar
na minha casa e pegar as minhas coisas, me
separar dele, e voltar para minha terra./12. Eu
não quero lembrar que ele existiu, eu detesto
ele./17. Eu quero paz./18. Eu quero que ele saía
da casa, e me deixe com a neta de 14 anos./20.
Que eles tirem ele da minha casa e me deixem
sossegada./23. Que ele pare de me ameaçar e vá
viver a vida dele./25. Penso porque deixei
acontecer isso tudo. Porque não andei pra frente.
Que ele me deixe e vá viver a vida dele e não
perturbe a minha. Se bem, que ele sempre viveu a
dele. Ele não tinha hora de chegar e de sair./27.
Porque a minha amiga falou: - Se ficar o bicho
pega, se correr o bicho come. Eu quero sair da
casa./29. Que vocês tirem ele de perto de
293

mim./32. Que agilize a minha separação./33. Que


ele me deixe em paz./40. Que ele saia da minha
vida./41. Que ele separe de mim./44. Não sei.
Espero que ele saia e vá embora./48. Que tome as
providências. Primeiro, uma intimação. Que
tivesse uma lei, de que ele não possa chegar perto
de mim./50. Pegar o filho de volta e não ter que
vê-lo mais./56. Espero que a solução seja separar
para que eu possa viver em paz./60. Quero a
separação./63. Não quero mais ficar com ele./64.
Que ele deixe, eu viver minha vida./67. Que ele
me deixe em paz. Quero ter o direito de sair,
namorar, e que ele ajude os filhos como pai./68.
Espero que o relacionamento tenha um fim, que a
gente entre num acordo./
4. Puniçao e correção 10. Quero que ele seja punido e aprenda a
(corretivo) respeitar as pessoas./31 Que ele seja punido o 12
mais rápido para não aprontar mais./36. Quero
que ele pague por tudo o que ele fez comigo. Se 16,90%
ele não pagar o que fez comigo, ele vai fazer com
outra. O que ele fez comigo é covardia./42. Que
ele pague pelo que fez. Meus filhos estão em
estado de choque, ele quebrou a casa toda./43. Eu
quero mudar a minha vida. Quero que ele leve
um corretivo./45. Que a polícia prenda ele. Pra
dar um basta nele tem que prender./47. Não vai
ser preso. Mas a intenção é que ele já me agrediu
tanto e eu nunca fiz nada. E que se ele fizer de
novo, ele vai ter agravante. Vai dar uma dor de
cabeça para ele pegar advogado./54. Que o juiz
chame ele e explique pra ele que existe lei. Ele
não tem respeitado autoridade, eu não quero
mais./55. Que ele seja punido. Se bem que não
acontece nada./58. Espero que dêem um
corretivo nele (uma surra)./59. Que o prendam e
não soltem./62. Que ele fosse preso, pagasse pelo
que fez, e que não pudesse ver o filho, e que ele
se tratasse do alcoolismo./
294

5. Direitos 13. Eu não larguei por medo dele, e dele não me


dar meus direitos. E por ele ser doente eu me 03
sentia obrigada a cuidar dele porque ele é doente.
Quero sair da casa, porque ele manda eu sair, 4,22%
mas eu não vou ficar sem direito a casa./ 14. A
minha intenção, esperança é que se um dia eu
precisar eu seja atendida e tenha proteção. Ele fez
todas as ameaças./69. Espero que as autoridades
vejam isso./
6. Não sabe 15. Não sabe./65. Não sei./ 37. Estou com medo 04
de seguir em frente. Estou deprimida, 20 anos de
pancada. Quando penso que tenho que encontrar 5,63%
com ele é a mesma coisa de ter morrido alguém,
meu coração fecha. Ele pegou tudo que ela tinha
e vendeu. Eu tinha casa, meu dinheirinho. Tive
que vender até minhas máquinas de costura./61.
Eu não sei. Eu não estou bem. Primeiro preciso
de um tratamento./
7. Que ela mude o 19. Eu é que tenho que ser forte fazer tudo 01
próprio certinho. Acho que tenho que ser mais paciente. 1,41%
comportamento
Total 71
295

O que você acha que vai acontecer se você deixar o seu companheiro?

CATEGORIA RESPOSTAS FREQÜÊNCIA


1. Vou ser feliz. Vou morar num apartamento do filho 46
1. Vida digna mais velho e devagar vou levando o caçula./ 3. Tudo de
bom, vou ter mais prazer de viver, sair, ser alguém na
vida, penso em estudar. /4. Minha vida vai ser
maravilhosa, vou viajar e meu filho me ajuda./5.
Terminar meus estudos. Fazer curso de Enfermagem.
Minhas filhas vão arrumar emprego. Vou continuar
trabalhando./ 9. Volto pra minha terra, vou estudar,
trabalhar, já amadureci idéias. /10. Minha vida vai ser
boa, não vou mais ser agredida. Me sinto como um
passarinho que saiu da gaiola que ninguém vai me
trancar. /11. Que vai melhorar, penso em ir a luta
procurar um serviço, fazer curso, estudar./12. Vai ser
normal, vou trabalhar e tocar o barco pra frente. / 15 Vou
ficar mais sossegada, sem ninguém para jogar as coisas
na minha cara. /17. Vou ter paz, vou viver uma vida
digna, trabalhar e viver livre. Eu fui muito oprimida com
ele. /18. A vida vai ser melhor. Vou trabalhar e ajudar
minha neta. /20. Vou viver uma vida mais sossegada, e
trabalhar em roça, não de doméstica./ 25. Primeiro
preciso sair do relacionamento. Vou trabalhar, continuar
trabalhando. Tenho vontade de fazer curso e também
dirigir, entrar numa outra escola./ 26. Vai melhorar, vou
viver minha vida com meus filhos e vou continuar
trabalhando. /27. Boa demais (sorri), vou poder
trabalhar, chegar em casa, não ter briga, vou poder
educar meus filhos. Minha mãe vai poder me visitar, vou
poder conversar com as pessoas. Vou comprar carro pra
andar com meus filhos./ 28. Vai ser melhor. Vou ter
sossego, privacidade. Vou poder sair de casa, ir a um
vizinho. Meus filhos vão ter mais liberdade. Minha
família melhora comigo./ 29. Boa, vou ter paz. Vou
chegar do serviço, fazer um leite quente e ninguém mexe
comigo./ 30. Vai ser uma vida normal se ele não tirar
nada de dentro de casa. Eu quero paz./ 31. Melhorar.
Vou entregar papel na rua./ 32. Vou me livrar dele, ser
independente. Penso em estudar, continuar trabalhando.
Uma mulher não nasceu pra ser, maltratada, humilhada
dentro do lar./ 33. Boa demais durmo bem, não tomo
mais remédio, trabalho./36. Tudo de bom! Vou criar
meus filhos, por eles bonitinhos, trabalhar muito, vencer
e crescer na vida e ser feliz, porque nunca fui. Sei que
vou chegar em casa e não ter ninguém pra me espancar./
37. Eu não vou depender dele pra nada. Eu trabalho.
Acho que vou viver mais, não vou ter uma pessoa me
prejudicando. Eu não tenho alegria./38. Difícil, mas bem
melhor, bem mais tranqüila pra viver. Mais espaço,
296

liberdade de falar e de rir. Arrumar serviço e cuidar dos


filhos./39. Vai ficar, às mil maravilhas. Vai ficar boa.
Arrumo um serviço, coloco alguém pra olhar minha
filha./ 40. Eu vou passar com dificuldade, mas vou ser
mais feliz. É melhor do que ser maltratada./ 41. Terminar
a faculdade continuar trabalhando e seguindo a vida./43.
Eu quero trabalhar, cuidar dos meus filhos melhor./ 44.
Vai melhorar demais. Vou ter sossego pra dormir,
comer, trabalhar. Eu fico no serviço com a cabeça quente
pensando o que vai acontecer em casa./ 45. Será uma
maravilha. Vou poder ser feliz, ter minha vida. Quero
encontrar um namorado./46. Se eu largar ele, ele vai
morrer. Eu dou conta de sobreviver financeiramente. Só
acho ruim de ter de vender a casa pra dividir, e o serviço
ficar longe. Vou me sacrificar./ 47. Vou ter tranqüilidade
pra estudar sossegada, vou ter sossego. Sou amparada na
casa da minha mãe, lá eu tenho harmonia./ 49. Penso que
vai ser melhor. Que não vou ter alguém pra me agredir e
chamar a atenção o tempo todo. Pretendo trabalhar e
ajudar os meus filhos./ 50. Tranqüila, trabalhar, cuidar
do filho, terminar a casa./ 51. Viver melhor. Cuidar bem
dos meus filhos e ter uma bela vida./53 Mudança de
vida. Vou voltar a estudar, vou ter mais segurança.
Porque eu, com a experiência que eu tive, eu quero me
corrigir. Estou com trauma, não quero namorar, nem
casar./ 56. Felicidade e sucesso / e o mesmo pra ele./ 57.
Já deixei! Vida digna./ 58. Nada. A vida vai melhorar./
59. Já deixei! / 60. Uma paz, alegria. Vou ter maus
pedaços financeiramente. Vou ter liberdade, poder
receber a família em casa. Vou trabalhar e estudar. Vou
curtir os meus filhos que eu não curti./ 63. Vou pra
frente, ele só me derruba./ 67. Financeiramente não vai
ser fácil. Tenho o objetivo de fazer um curso de
segurança, entrar em outra profissão pra ganhar mais.
Esse é o meu objetivo: ser feliz e criar meus filhos.
Gosto de rir./ 69. Vai ser excelente, excelente. Eu vou
trabalhar e viver pros meus filhos, porque homem eu não
quero mais./ 70. Vai ser melhor. Eu vou arrumar um
emprego, e vou começar a estudar o ano que vem. Vou
comprar as coisas pro meu filho. Eu tenho um filho com
problemas e ele nunca ajudou. Ele fala que vai tirar a
filha da escola pra ela não sair de casa./ 71. Vou ter paz,
sossego. Vou lutar, trabalhar e criar os filhos. Pretendo
estudar.
297

2. Vida 8. Não sei, vai ser uma vida sozinha, eu e minha 8


solitária e triste filha./19. Vai ser difícil minha vida por causa do
e sofrida cotidiano./21. Um vazio./24. Vou me sentir inútil e
muito triste./34. Eu dou conta, trabalho, ele não me dá
nada mesmo. Vou ficar chateada./ 55. Eu vou sofrer, mas
vou viver melhor. Mas acho que eu não dou conta de
ficar sem ele./ 62. Vai ser difícil financeira e
emocionalmente. Ainda o amo. Também a preocupação
de mãe é grande. Não vejo lado positivo./64. Ele não vai
superar, ele vai morrer de beber. Eu já socorri ele uma
vez. Eu vou continuar sofrendo o resto da vida./
3. Medo 6. Vai ser difícil, não vai ser fácil. Não tenho noção./7. 3
existencial, Não sei o que vai ser. Acho que vou sair por uns tempos
vida incerta pra dar uma descansada. Vou viajar pra Brasília./61.
Tenho medo de não dar conta de enfrentar a vida aí fora
sem um marido. Só que ele não quer me respeitar./
4. Medo de ser 13. Depois que vi que posso ter uma vida digna, que seja 8
perseguida a vontade de Deus. Ele vai continuar fazendo
ameaça./14. Se ele me der sossego, vou ter uma vida
normal com meus filhos./16. Tenho medo dele me
perseguir. Eu não tenho intenção de viver errada, queria
que ele confiasse em mim./ 23. Vou ficar com muito
medo dele. Depois vai ser maravilhoso. Vou estar livre
dele, de coisa de apanhar e falar em bater./ 42. Ele vai
ser um inferno na minha vida. Não vai me dar sossego e
não vai me ajudar. Vou Ter que arrumar um
emprego./48. Tudo de bom, uma maravilha. Se ele
deixar de me perseguir./52. Sem ele vai ser um mar de
rosas, vou respirar fundo, vou ter sossego, vou dormir e
comer sossegada. Ele só não me persegue quando ele
está tontinho. Separada dele eu tinha que mudar de
cidade./ 68. Não vai ser fácil em todos os sentidos. Ele
pode querer fazer maldade comigo. Ele sempre me
ameaça. Se eu largar ele, ele me mata. Ele não tem medo
de nada./
298

2. Agora vai pesar por causa do bebê de dois meses, mas 6


eu sou responsável, trabalhadeira./ 22. Vou ter que voltar
pra casa dos meus pais, perder a liberdade, ver o pai
bater na mãe, tudo que acontece é briga. Quando sai, o
6. Dificuldades pai tranca na rua e tenho um irmão drogado. Lá não tem
econômicas liberdade, até pra tomar banho. Tudo o meu pai pega de
pau./ 35. Não vai ser fácil. É difícil criar uma filha
sozinha. Pagar aluguel, escola pra ela. Votar pra casa dos
pais não é a mesma coisa. Talvez possa achar um
companheiro e criar minha filha. Ele é carinhoso com a
filha. Ele tem medo do que pode acontecer se eu arrumar
outro, e eu também. Padrasto pode estuprar a filha de
outro./54. Um pouco complicado. Ele é o meu
companheiro há 18 anos. Ele dá conforto pra nós. Mas
entre ele beber e eu ficar com ele bêbado, eu prefiro
passar fome./ 65. Eu não consigo as assumir
responsabilidades, pagar conta, ir no médico./ 66. Não
faço a mínima idéia. Pensei que eu ia continuar
trabalhando, que ele fosse me dar pensão, mas eu estou
desempregada, e ele me tomou um filho.
Total 71
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O que você acha que vai acontecer se você continuar com ele?

CATEGORIA RESPOSTAS FREQÜÊNCIA


1. Corre risco de Ele vai chegar a ponto de me matar / ele já tentou me 20
vida ele a mata matar / Eu vou pro caminho da morte. A frieza dele,
ele pode me matar / O pior ele me matar / De certo
modo, vou morrer. Porque, do jeito que ele faz! pode
me matar / Ele vai me matar / Vai sair morte. Vai me
matar / /Eu vou morrer. É morte na certa. Ou ele me
mata com as próprias mãos, ou eu caio de infarto /
Desde que começou só piorou. Eu vou ser personagem
do Linha Direta / Acho que ele pode até me matar. O
pior vai acontecer / , me bater, até me matar / Uma
tragédia. Eu não posso continuar. Ele vai me matar / É
capaz dele me matar, com a queixa / Ele ia me matar /
Ele vai me matar / Ele vai me matar, ele está
desequilibrado / ele me mata porque ele é doido / Corro
risco de vida / Ele pode até me matar /
2. Ela o mata Eu vou matar ele quando ele me fizer raiva / Não sei, 2
às vezes penso em matar ele. Eu fico lembrando das
coisas que ele já fez comigo. Sinto ódio, ódio, ódio /
3. Um pode Um acaba matando o outro / Um vai matar o outro / Ou 4
matar o outro ele me mata, ou eu mato ele, e o meu lado emocional
vai acabar / Ou ele me mata, ou eu mato ele /
4. Vai piorar Vai ser um inferno, cada vez pior / Vai ser cada vez 17
pior / Vai ser um inferno / Ele vai ficar bonzinho dois
meses e depois vai continuar e aumenta as agressões/
Pode não me matar, mas vai deixar meu corpo todo
cheio de cicatriz / A tendência é piorar. Ele vai me
bater mais. A liberdade acaba 100% / Piorar. Ia ter
briga, não ia poder sair / Nossa muito ruim, triste /
Mudança não vai ter. Vai ter briga igual a todos esses
anos. Pode haver uma tragédia / O mundo vai acabar,
vai ser angústia, tristeza e amargura. Vai ser vida
sofrida / As coisas iriam piorar e eu não daria conta de
me livrar dele / Não quero nem saber mais dele. Essa
possibilidade não existe / A gente vai brigar mais do
que brigava / Chegar à loucura / Vai piorar / Vou
continuar na angústia, uma nuvem escura em cima de
mim e de meus filhos / Tenho medo dele me agredir e
de meu filho matar ele / Tudo de ruim. Vou apanhar e
ser prisioneira no cativeiro. Ele me segue, me tortura.
300

5. continuará Vou ficar presa, vou à igreja, e continuar trabalhando/ 19


sofrendo muito Acho que ia continuar do mesmo jeito, ele quando bebe
fica agressivo. E a doença dele vai e volta. Eu tenho
pena dele, mas se eu ficar eu vou sofrer o resto da vida
/ As mesmas coisas que aconteceram estes anos todos:
sofrimento, a vida foi um calvário / Vai ser essa vida,
vou continuar a trabalhar pro pai dele. E ele vai
continuar me batendo / Eu vou apanhar, ele vai judiar
de mim / Continuando ou não a ameaça vai ser do
mesmo jeito / Vai continuar do mesmo jeito: as brigas,
a bebida e o ciúme por causa da impotência / Vai
continuar do mesmo jeito existindo os atritos / Vai ficar
na mesma bagunça. Falta de respeito / Vai ser um
transtorno. Ele vai brigar do mesmo jeito / Vai ser
briga constante e agressividade/ Pra viver com ele tem
que viver só em casa, lavando, passando. Ele não vai
dar nada para ela mesmo / Vou viver a mesma vida
sofrida, que vivi estes 14 anos / Já que ele é agressivo,
vai continuar bebendo, agredindo, ameaçando / Ele vai
continuar me batendo e minha filha vai crescer vendo
isso / A mesma coisa. Ele vai ficar me traindo sempre /
Eu acho que vou morrer. Eu estou me apagando
interiormente. Minha filha pediu pra eu me arrumar /
Vai continuar igual tá. Briga e mais briga, e ciúmes / /
Eu vou ter que engolir tudo, vou ter que aceitar transar
com ele.
6. Vou ter que Eu vou ter que mudar, passar a entender ele controlar 2
mudar meus impulsos / Eu vou ter que esforçar, ter paciência.
7. Vamos tentar Que ele melhore, pare de usar droga / Penso que ele 6
pra ver se dá muda, que os problemas podem acabar. Vamos mudar
certo de casa. Não vai ter telefone e a ex-mulher não vai
ligar / Se ele parar de beber e jogar no bicho, vai ser
boa. Se ele não parar de beber e jogar não dá pra ficar
junto / Eu não vou querer que ele fique no boteco
bebendo mais / Não sei como vai ser. Eu saí de casa e
não voltei para lá ainda. Vamos tentar mais uma vez
pra ver se dá certo. Também eu vejo que ele gosta de
mim / Está difícil pra ele melhorar. Mas eu vou dar
mais uma chance pra ele. Se ele continuar na
galinhagem eu desquito.
8. Suicídio da Ou eu faço uma coisa comigo, me suicido. Ou ele me 1
mulher perseguirá, até ficar me atormentando a vida toda /
Total 71
301

FICHA CATALOGRÁFICA

M357v Marques, Tânia Mendonça, 1956-


Violência conjugal : estudo sobre a permanência da mulher em
relacionamentos abusivos / Tânia Mendonça Marques. Uberlândia,
2005.
300f. : il.
Orientador: Marília Ferreira Dela Coleta
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Uberlândia, Progra-
Ma de Pós-Graduação em Psicologia.
Inclui biliografia.
1. Mulheres Aspectos psicológicos Teses. 2. Violência conjugal
Teses. 3. Atribuição de causalidade Teses. 4. psicologia social Teses.
I. Dela Coleta, Marília Ferreira. II. Universidade Federal de Uberlândia.
Programa de Pós-Graduação em Psicologia. III. Título.

CDU: 396.1:159.9 (041.3)


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