Historia Psicología Social.
Historia Psicología Social.
Historia Psicología Social.
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ISSN 1646-6977
Documento publicado em 10.09.2017
PSICOLOGIA SOCIAL:
CONCEITOS, HISTÓRIA E ATUALIDADE
2017
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RESUMO
Este artigo consiste numa sucinta apresentação sobre a Psicologia Social, baseado em
revisão de literatura, envolvendo conceitos e dados históricos deste campo de atuação, bem como
o seu papel nos dias hodiernos. Visa, portanto, ser útil a professores, estudantes, entre outros que
buscam aprimoramento sobre o tema.
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MÉTODO
Para efetivação do trabalho, realizou-se uma entrevista por e-mail com a psicóloga Lauriane
dos Santos Moreira que possui graduação pelo Centro Universitário Luterano de Palmas
(CEULP/ULBRA), sendo especializada em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da
Família. Além disso, uma concisa revisão de literatura nas plataformas online Google, Google
Acadêmico e Scielo.
A Psicologia Social pode ser entendida como o estudo das relações humanas a partir de um
viés individual até uma perspectiva mais ampla, ou social, sendo que este ramo enfoca mais o
indivíduo. Como escreve Sousa (2011), trata-se de uma ponte entre a Psicologia e a Sociologia,
agregando valores dessas duas áreas científicas. Assim sendo, este ramo considera o indivíduo
como influenciado pelo meio que o forma e também o sujeito como elemento que altera o
ambiente em que vive.
A necessidade da atuação desse ramo está no fato de que as relações sociais influenciam a
conduta e os estados mentais dos indivíduos. Por outro lado, a consciência coletiva de uma
sociedade é um campo fértil para estudos, como assinala Regader (2015). Portanto, Cherry
(2016) ressalta que a Psicologia Social não observa apenas as influências do meio, mas também
estuda as percepções desse meio, tratando-o como uma entidade, visando compreender o
comportamento social; e analisa as interações que compreendem a sociedade.
Cherry (2016) escreve que é comum o fato de que a Psicologia Social seja confundida com
a sabedoria popular, Psicologia da personalidade e a Sociologia, e expõe as diferenças entre elas.
Enquanto a sabedoria popular, que também pode ser chamada de senso comum, é baseada em
observações anedóticas e interpretações subjetivas, a Psicologia Social emprega métodos
científicos e estudos empíricos sobre os fenômenos sociais. Os pesquisadores não apenas fazem
suposições sobre como as pessoas se comportam, eles planejam e fazem experimentos que
permitem destacar a relação entre diferentes variáveis.
Ao contrário da Psicologia da personalidade, que estuda os traços individuais,
características e pensamentos, a Psicologia Social estuda situações cotidianas, estando
interessada sobre o impacto dos ambientes sociais e interações sobre atitudes e comportamentos.
Há quem veja psicologia social em todos as áreas dos estudos do comportamento humano.
Sobre isso, a psicóloga Lauriane dos Santos ressalta:
Lane (1981) escreve que o início da Psicologia Social remonta ao século XIX, sendo o
filósofo francês Augusto Conte considerado o pai desta ciência. Para Conte, a Psicologia Social
seria subproduto da Sociologia e da Moral, sendo encarregada em dizer como o indivíduo
poderia ser, ao mesmo tempo, causa e consequência da sociedade. No entanto, só após a Primeira
Guerra Mundial, por volta de 1920, é que esse ramo se desenvolveria como estudo científico e
sistemático. Num mundo abalado por crises e conflitos, os pesquisadores encontraram um campo
a ser amplamente estudado, visando descobrir uma maneira de preservar os valores de liberdade
e os direitos humanos numa sociedade tensa e arregimentada.
Foi então que pesquisadores latinos prepararam um simpósio para trazer as principais
dificuldades enfrentadas nas investigações e possíveis soluções para os problemas que caiam
sobre eles. Então, cientistas de países como México, Peru e Brasil perceberam pontos similares
em suas visões, que apesar de serem semelhantes, tinham a mesma perspectiva devido todos
terem as mesmas condições de trabalho. Desde o simpósio entre países latino-americanos, que os
participantes decidiram dar um novo rumo para as pesquisas, onde o foco de cada uma seria a
necessidade do país onde seria realizada e não mais o indivíduo, ou seja, agora as buscas
focariam nas reais necessidades de cada país, independente da dinâmica econômica e geopolítica,
sem influência de contextos próprios de outras nacionalidades.
Jacques et al (2013, p. 39) discorre sobre os resultados desta crise
A psicologia no Brasil recebeu maior influência dos norte-americanos. Era para centro de
estudos na América que nossos cientistas e professores iam para aperfeiçoarem seus
conhecimentos, além disso, desses centros vinham professores dos Estados Unidos para
lecionarem em nossas universidades. Por exemplo, o professor Otto Klineberg, da Univerdade de
Columbia, introduziu a Psicologia Social na Universidade de São Paulo na década de 50. Lane
(1981, p. 80) acrescenta
E, por sinal, o primeiro livro de Psicologia Social publicado no Brasil foi a
tradução da obra de Klineberg, em 1959, contendo tópicos como Cultura e
Personalidade, Diferenças Individuais e Grupais, Atitudes e Opiniões, Interação
Social e Dinâmica de Grupo, Patologia Social e Política Interna e Internacional.
Eliezer Schneider entra para o ramo da psicologia antes mesmo desta ser reconhecida como
profissão, exercendo o cargo “Técnico em assuntos educacionais” como um “psicologista”,
termo este que era utilizado para o profissionais desta ciência. Trazendo uma visão crítica á
psicologia experimental, em seus mais de 100 artigos e um livro, Eliezer afirma que existe uma
psicologia cultural e histórica que não destoa das demais e pode ser usada para compreender os
fenômenos sociais, este seria a primeira manifestação de estudos relacionados à psi social.
Crítico também da forma que os estudos eram conduzidos nos EUA, ele traz uma visão que se
atenta para a problemática humana, tendo como foco os problemas enfrentados pelos brasileiros e
se abrindo para visões de outros cientistas que não tinham como objeto principal o indivíduo,
como os Americanos, mas sim as influências socioculturais que todos recebem (LIMA, 2009).
Aroldo Rodrigues foi o maior porta-voz da psicologia social norte americana, além de se
tornar mestre em psicologia na universidade do Kansas, trouxe consigo a visão e o método dos
cientistas de lá para aplica-las nas universidades brasileiras. Ele também foi professor da PUC no
Rio de Janeiro e constantemente criticava os métodos utilizados pelos que se encontravam no
movimento da “crise da psicologia social, pois a grande maioria eram críticos ferrenhos das
pesquisas e estudos vindos dos Estados Unidos. Aroldo foi reconhecido por suas contribuições e
foi convidado para ser presidente Associação Latino-americana de psicologia social, porém á
partir das discordâncias entre os novos métodos, houve um rompimento e Silvia Lane funda a
Associação Brasileira de Psicologia que tinha uma visão de embate contra as propostas de Aroldo
Rodrigues (LIMA, 2009).
A brasileira Sílvia Lane começou sua vida profissional na docência e, segundo relatos de
seus alunos, sempre teve a preocupação de procurar diferentes formas de pensar a psicologia,
envolvendo eles em aprendizados que serviriam não só para a vida profissional, mas também
para a vida pessoal. Instigava-os, trazendo vários jeitos de pesquisar, investigar e atuar com os
conhecimentos teóricos, como a introdução do teatro, música, histórias em quadrinhos e outras
expressões artísticas. Por esses e outros motivos, Silvia Foi tida como uma grande referência
entre seus alunos. Lane era marxista e fazia crítica á forma que o sistema socioeconômico
capitalista moldava as identidades e como isso contribui para as injustiças tão escancaradas em
nossa sociedade. Em “O que é psicologia social”, ela traz algumas dessas críticas, sendo a obra
uma referência em vários cursos de psicologia no Brasil (SOUSA,2009).
Cherry (2016) mostra que uma simples conferida nas notícias jornalísticas diárias é
suficiente para termos a dimensão de quão profundos são os impactos dos problemas sociais
sobre as pessoas. Portanto, um psicólogo social, a fim de entender tais questões, estuda e procura
prevenir, identificar e remediar os problemas que não só atingem um indivíduo como também
afetam a saúde da sociedade como um todo.
Assim sendo, de acordo com a psicóloga Lauriane dos Santos, a Psicologia Social atua desde
a adaptação social, indo de um modelo supostamente ideal de cidadão, até uma psicologia crítica,
em prol dos movimentos sociais e da garantia de direito. As atuações se dão conforme as
necessidades de um local e os interesses de psicólogos e instituições.
A entrevistada relata que, no Brasil, a profissão alcança desde a clínica, passando pela área
organizacional até chegar aos campos vinculados a políticas públicas. Ela citou como exemplos:
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS); Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS); organizações não governamentais e movimentos sociais diversos.
No entanto, segundo a psicóloga em questão, há desafios que a profissão precisa vencer. Ela
explica dizendo o seguinte
O CRAS, como já exemplificado, é um local de notória atuação dos psicólogos sociais, lá são
recebidos casos emergenciais dos mais variados tipos e em sua grande maioria, pessoas com baixa
ou nenhuma renda. O objetivo central dos profissionais que atuam nessa área é fortalecer seus
usuários como sujeitos de direitos, promovendo terapias grupais, acompanhamento junto ás
famílias e auxílio em momentos de dificuldade. Lamentavelmente há inúmeras dificuldades nessa
honrada atuação, quase todas vindo do desinteresse e omissão do poder público.
Sobre esta política pública e suas dificuldades, Zaith (2012) escreve:
[...] Criado para aliviar as reflexões da pobreza imediata, [...] para proteger seus
usuários de maiores riscos relacionados à qualidade de vida, uma vez que já se
encontram em situação de vulnerabilidade, passa a ser considerado o espaço o
qual torna o trabalho do psicólogo social comunitário acessível ao seu objeto de
estudo: a comunidade. Por isso suscita que estudos sejam realizados sobre as
práticas envolvidas nessas unidades. O trabalho no CRAS é constituído por
serviços burocráticos, visitas domiciliares, atendimentos descontínuos,
dificuldade em obter recursos e verbas e intervenções em locais inusitados que
convocam os psicólogos para fora do setting tradicional. Dessa forma, o foco se
baseia em práticas grupais e a intervenção grupal se torna necessária para o
desenvolvimento da consciência, no qual o componente do grupo se descobre no
outro.
REFERÊNCIAS
SOUSA, Felipe de. O que é Psicologia Social? Psicologia MSN. Disponível em:
<http://www.psicologiamsn.com/>. Acesso em 21 abril 2017.
LANE, Silvia T. Maurer. O que é Psicologia Social. 1 ed. São Paulo: Brasiliense, 1981,
88 p.
LIMA, Renato Sampaio. História da Psicologia Social no Rio de Janeiro: Dois grandes
personagens. Fractal: Revista de Psicologia. Rio de Janeiro, v. 21, n. 2, mai/ago 2009.
Disponível em: <http://www.scielo.com.br/>. Acesso em 26 maio 2017.
SOUSA, Esther Alves de. Silvia Lane: Uma contribuição aos estudos sobre a Psicologia
Social no Brasil. Temas em Psicologia. Ribeirão Preto, v. 17, n. 1, 2009. Disponível em:
<http://www.pepsic.bvsalud.org/>. Acesso em 26 maio 2017.