Historia Da Vida de Nossa Senhora - Antonio Maia CM
Historia Da Vida de Nossa Senhora - Antonio Maia CM
Historia Da Vida de Nossa Senhora - Antonio Maia CM
OBRAS DO AUTOR:
RELIGIAO
- PEQUENO DICIONARIO CATóLICO - Verbetes abordando Dogma, Moral,
Liturgia, Bíblia, Concílio e Seitas Protestantes, com a etimologia de
quase todos os vocábulos.
2 - A SAGRADA FACE NO SUDARIO DE TURIM - Histórico, teologia,
liturgia, pastoral, devocionário e hinário sobre a mais preciosa relí-
quia da Igreja, considerada uma das 3 "maiores" .
3 - PEQUENO DICIONARIO DE NOSSA SENHORA O primeiro que se
edita no gênero em língua portuguesa.
MARIANISMO
4 - PARA SER DIRIGENTE - Orientações técnicas e organlzativas para
as CC. MM.: fisionomia e características do Dirigente (Apresentação
do Card. D. Jayme de Barros Câmara).
5 - BREVE HISTóRIA DAS CC. MM. - Resenha resumida dos fatos his-
tóricos do movimento mariano, acontecimentos mais salientes no
mundo e no Brasil, elenco de perfis de congregados marianos céle-
bres. (Apresentação de D. Joseph Felix Gawlina, 1.' Diretor da Fed
Mundial das CC.MM., (Roma).
6 - CONGREGAÇÃO MARIANA FEMININA - História, organização e apos-
tolado próprio das Congregações Marianas Femininas. Apêndice: re-
sumo biográfico da vida de Tereza Gonzales-Ouevedo y Cadarso, e
resumo de alocuções de Pio XII sobre as CC . MM. Femininas .
LITURGIA
7 - A MISSA, Método Prático para Explicação aos Fiéis - Estudo teoló-
gico. histórico e litúrgico da Missa: normas técnicas para Explicado-
res e Comentadores, bem como subsídios para cursos, debates e con-
ferências.
8 - A MISSA AGORA I! ASSIM - "addendum" ao opúsculo supra, con-
. tendo comentários explicativos das reformas litúrgicas. Ordinário
da Missa com as novas rubricas e autocatequético sobre o Altar, ob-
jetos e paramentos.
9 - CURSO DE MISSA POR CORRESPONDENCIA - 25 lições com Ques-
tionários e Testes, _provas Parcial e Final.
10 - ESTRUTURA REFORMADA DA SANTA MISSA - "Croquis" e texto
das reformas conciliares do Santo Sacrifício.
11 - DICIONARIO DA MISSA - A primeira dicionarização que se faz do
Santo Sacrifício no Brasil.
HAGIOGRAFIA
12 - SÃO SEBASTIÃO, O defensor da Igreja - Vida do Padroeiro da Cidade.
(Com apreciação de historiador Vilhena de Moraes, Diretor do Arquivo
Nacional). Em 6.• adição.
13 - SAO FRANCI&CO DE ASSIS - Léxico e dados biográficos do santo que
Introduziu o presépio. (Apresentação de Théo Range I, ex-Secretário da
Adoração Noturna, membro do Serra Clube-TI]uca).
14- SANTA MARIA FRANCISCA XAVIER CABRINI - Vida da padroeira
dos Imigrantes.
15 - SAO CHARBEL MAKLHUF (maronltel - V(da do monge do Libano, ere-
mita em Annava. (Apresentação do jornalista Alves Pinheiro).
16 - SANTA JOANA FRANCISCA CHANTAL - Fundadora das Visitantinas
Sem editoração.
17 - SAO BENEDITO, o Sllllto Preto - (e pequena notícia histórica sobre
a lg. de N. S. do· Rosário, no Rio de Janeiro). Sem editoração.
-I-
ORAÇÃO ..... """"' ...
-li-
CRONOLOGIA HISTóRICO/BIOGRÁFICA DE NOSSA SENHORA Antonio Maia, c.m.
(da Academia Marial, Aparecida)
cerca de 900 anos antes do Visão do profeta Elias, no monte 1Rs 18,41ss/
nascimento de Nossa Senhora Carmelo, através de seu servo: Breviário/Liturgia
(ano 538 a.C.) reinos de lsraei/Judá, nuvens sobre o mar em forma de
queda dos Assírios e babilônios pegada- "Culto Profético".
(profetismo hebraico).
ano 731 a.C. - Judéia I Bet o profeta indica com precisão o Miquéias 5, 1-3
Gibrin (reinado de Acaz e lugar da Palestina onde a "Virgem"
Ezequias). (Maria) dará à luz: Éfrata (Belém).
ano 7 a.C. - Ain-Karin Maria visita sua prima Sta . Isabel, Lc 1' 39-56
(provavelmente, do início e Zacarias, permanecendo até o
de abril até junho logo após nascimento do precursor S. João
o dia 24) . Festa outrora estabe- Batista (3 meses) . Nesta visita entoou
lecida para 2 de julho, agora: seu cântico-oração Magnificat .
31 de maio.
- - --- - --
ano 7 a.C. (*) - Nazaré José, após a revelação divina, recebe, Mt 1, 18-25
então, como esposa, Maria, em sua
casa, pois não coabitara após
os esponsais.
- - -·
ano 6 a.C. - Belém Maria dá a luz ao Messias, Lc 2, 1-7
(numa gruta nos arredores da Cristo Jesus. - "plenitude dos Gal 4, 4-5
cidade) - festa estabelecida tempos " .
para 25 de dezembro.
< -I
ano 6 a.C. - Belém Maria e José recebem os Lc 2, 8-20
I (na mesma gruta) pastores sob o canto dos anjos
no Céu.
I') O monge Dionísio, o pequeno lt 550), fez coincidir o nascimento de Cristo no ano 754 da fundação de Roma, porém, estudos poste·
rlores verificaram o engano nos cálculos, firmando o nascimento de Jesus nos anos 747 ou 748 de Roma. l.é., 6/7 anos antes do
estabelecido pelo monge europeu ocidental; desta forma, o calendário cristão, ao invés de Iniciar-se no nascimento de Cristo.
começa na verdade 6/7 anos depois (observação de Mons. Galbiatl). - Há, porém, os que advogam o Inicio da Era Cristã no ano 753
de Roma.
e Um s6 Evangelho (harmonia conforme o texto original grego, com Indicação de tempo e lugar pare cada acontecimento) - Pe. Léo
Persch - Ed. Paullnas, - 1955.
e O Evangelho de Jesus - Assoe. MTMEP, sob direção de Mons. Enrlco Galbiati (Doutor em Ciências Bíblicas) - Pessano (Milano).
Itália, ed. brasileira , 1968.
• Blblle Segrsde - Tradução da Vulgata e anotação pelo Pe. Matos Soares - (Paulinas) - 10.• edição.
,_.__ Centro Mariológico/Cultural de Publicações -
- Núcleo Rio de Janeiro -
Filiado a Academia Marial (Aparecida/SP)
Sede provisória : R. Caruso, 22/202 - Tijuca (20270) - Rio/RJ
-VIII-
Antonio Maia, c .m .
Congregado Mariano
Adorador Noturno
Zelador do Apostolado da Oração
Serra Clube - Tijuca - (Rio)
da Associação dos Jornalistas Católicos (Rio)
Orientador do Círculo de Estudos Missa Est (Rio)
da Academia de Ciências e Letras São Tomás de Aquino (Rio)
da Academia Mariana (Nova Friburgo - RJ)
da Academia Marial - Aparecida (SP)
da Academia Matar Salvatoris (Bahia)
Ministro Extraordinário da Palavra
(processo em tramitação)
Apresentação .. u u u
Rio/RJ
1966/1989
(
APROVAÇAO ECLESIÁSTICA
NIHIL OBSTAT
Côn. João Corrêa Machado
Censor librorum ex deleg.
Aparecida, 24 de setembro de 1989
Nossa Senhora das Mercês
IMPRIMATUA
t Geraldo Maria de Morais Penido
Aparecida, 7 de outubro de 1989
Festa do Santo Rosário
FICHA TÉCNICA
Editoração:
Devotos de Maria Ssma. de di-
versas pastorais, movimentos c
associações religiosas.
Arte Gráfica:
Gerson Ritter
Ricardo de Souza
lto Oliveira Lopes
Revisão:
Fernando Camacho Pereira
Diagramação:
O Autor
Linotlpia:
Laércio José Costa
Paginação:
Joel de Almeida Couto
Encadernação:
Edelicio Mariano
Clichês:
"Garcia" (fotogravura, fotolito e
clicheria)
Traduções:
Prot. Joaquim Affonso de Oli-
veira e Odete Costabile
Partitura musical:
Cantora/Maestrina Maria Neves
Terra Cunha
Cantora/Organista !rene Naves
Terra
Caplstas:
Desellhista Alexandre Martins
e gravador Gilberto Soares (so-
bre croquis do Autor).
Capa:
Reprodução adaptada da capa do
"Boletim Sales/ano" (de maio de
19.87, N.• 8- Ano 111). Particular
da estátua de Maria Auxiliadora
colocada sobre a cúpula do San-
tuário de Turim. Foto: dom Sca-
labrino.
Hom-enagem
e
Oferecimentos:
e, conseqüentemente,
é de todos aqueles que A amam
e querem vê-IA glorificada nesta Terra
na maior extensão possível;
se se permite
(sem quaisquer direitos de reserva)
transcrições, no todo ou em parte,
é, na certeza de que seja feita
de forma fiel e indicada a fonte;
considerem-se co-editores,
com o Autor, todos que,
de uma forma ou de outra,
generosa e devotamente,
possibilitaram a publicação destas páginas.
dilatando o reinado
da Rainha do Céu e da Terra.
Editoração ao ensejo do
"Grande Advento Mariano".
preconizado pelo Papa João Paulo 11
em preparação aos 2.000 anos
do nascimento temporal de Cristo,
"inauguração" do século XXI.
Apresentação:
Privilégio é ter nas mãos esta sua 45.' Obra. Como o viajar, o
mapa indicativo da meta. Ápice da produção lítero-religiosa deste
escriba fecundo que vai tirando nova et vetera dos tesouros de es-
tudo e experiência ao seu alcance, aproximando-se este volume do
rosário de livros com que, ao longo de sua vida, exaltou sem cessar
a honra da Igreja, as glórias de Maria Santíssima, o Santo Nome de
Deus.
* * *
Era uma vez ...
5 .-
Aqui, no cena no do seu humilde quotidiano, cónvívemos ·com
Maria Santíssima acompanhando-A nos seus habituais afazeres, obe-
diente a Deus , a serviço do próximo, por montes e vales, ensinan-
do-nos seus usos e costumes, suas leis e idioma, no Templo e no
lar, tudo na singeleza de nosso conviver, dir-se-ia comensal à nossa
mesa. Estrela-companhia ao cair da noite e ao nascer do dia ...
Vemo-IA, aqui retratada, Maria-amor. Maria-esperança. Maria-
mestra. Maria-vítima, cumpridora do que nos prega: fazer a vontade
de Deus. A todos vai ensinando o caminho. Que o homem pode
ser sacerdote mas a mulher pode ser vítima e holocausto - hóstia
para Jesus-Hóstia! Ensinando que a primazia do amor vence a pri-
mazia do poder. Maria-mãe do Verbo e nossa, que nos ensina R
primeira lição, a balbuciar a primeira palavra de prece .
Nestas linhas despretenciosas. como são todos os livros de An-
tonio Maia em contraste com a riqueza, que ali põe, de todo o seu
cérebro e coração , páginas cheias de substancial doutrina e vigoroso
sentimento, está sempre presente a Misericordiosa, a co-autora do
primeiro milagre, a guia segura pelos páramos e profundezas dos
desígnios divinos que Ela ensina a amar; a Lua "mais brilhante que
o sol" terreno, espelho fúlgido do Sol Divino: Aquela que é para
nós o Sorriso do Paraíso.
Como do seu inspirado Cantor na Divina Comédia, ao exaltar a
"Virgem Mãe, filha do seu Filho, humilde e alta, que tanto n-J bilitou a
natureza humana que o Criador não desdenhou de se fazer criatu-
ra ... ", também recebeu Ela por certo, de Antonio Maia, a prece que
brota das páginas deste seu livro primaveril. E como a Dante Ali-
ghieri, conduzindo-o pela mão até o ponto final, te-lo-á convidado
também, no descansar a Pena. a passar do verso ao canto, da fé a
Ante-Visão, da sublimação à plenitude da contemplação divina, fa-
zendo deste "vale de lágrimas" um rosa! para a Imaculada.
Um trabalhão! Parabéns!
Nossa Senhora apareceu . . . radiante com o seu livro. Tive fran-
camente essa sensação ao ler a última palavra. Deus o ?lbençoe e
conserve assim sempre fi_el. Ave Maria!
Alice Gérín lsnard Távora, .jornalista e escritora, . tündadora da ACN '_(Agência Cató-
lica de .Notícias) é, com seu irmão, Comendador da Santa - Sé, João Baptista
lsnard.~ .incansável. promotora .no Brasil do ''D.ia· NaCi.ooal:. de ~ A'çãb·..tfe Çra<;as' ·.
• Epígrafe:
(*) in pgs. 116/7, "O roato de Maria", Thaaaurus, Brasília (DF) - 1987.
SAGRADO CORAÇAO DE JESUS
EU TENHO CONFIANÇA EM VóS.
(Jaculatória que o Pe. Jorge Van Peteghem (belga) começou a aconselhar aos seus
penitentes no confessionário, em 1898 , e em pouco tempo universalizou-se)
--a-
OVERTTURE
1) V. Bib. n.• 1.
-9-
como os ensinamentos da Liturgia, nos possibilitando
campo magnífico para uma segura cronologia, que republi-
camos aqui. Os próprios escritos apócrifos (:!) nos ofere-
cem boa base para um conhecimento histórico da Mãe do
Salvador, escoimados, é claro, de tudo o que a Igreja con-
dena nessas páginas como herético e tolo.
* * *
UM PARENTESES SOBRE OS APóCRIFOS
E NOSSA SENHORA
* * *
2) cf. "Peq. Dicionário de Nossa Senhora·· . Bib. n.' 1·3 . .:
"Para uma coisa ser verdadeira, exige-se que seja
conforme a realidade, o que nem sempre requer-se o
"testemunho histórico", muitas vezes impossível e outras
desnecessários".( ~ ) . Sim, "há fatos e questões sobre as
quais muita muitas vezes é impossível qualquer averi-
guação rigorosamente histórica"(''), mas nem por isso
carecem de valor .
As fontes, nos primeiros séculos, sobre Maria Ssma.,
são muito escassas porque . segundo afirmam · diversos
Autores, assim determinou sabiamente a Providência, pois
as idéias mitológicas pagãs reinantes à época, tornavam
temerário apresentar a Mãe de Cristo juntamente com o
seu Filho; fatalmente os neófitos a fariam uma divindade.
Prova é que os escritos apócrifos falam muito mais de
Maria que de Cristo. ('•)
A vida de Maria Ssma ., do nascimento [e mesmo an-
tes) à morte ou "dormitio ", sem lhe negar os privilégios
pessoais outorgados, histórica e humanamente foi - co-
mo não poderia deix:=~r de ter sido - em tudo bem seme-
lhante à de uma cidadã israelense pobre e temente a Deus,
"é a vida da mulher mãe, e coloca-nos continuamente no
ambiente das mulheres e das mães, com as suas preo-
cupações femininas de amor e de sacrifícios mater-
nais" . ( 6 )
E é esta história (ou cronologia histórica), que vamos
fazer desenrolar nas páginas que se seguirão. Assim co-
nheceremos, de certa forma como foi a vida de Nossa
Senhora no seu dia-a-dia .
Pela bibliografia não nos podem negar que estamos
em muito boa companhia, pois nos baseamos em Autores
dos mais autorizados, que por sua vez se estribam nos
Santos Padres, na Tradição e em escritores e historiadores
abalisados, sem contar a Sagrada Escritura, razão pela qual
encontrarão geralmente aspeadas todas as transcrições
"ipsis leteris" ou que apenas hajam sofrido ligeira adap·
tação para efeito de concordância gramatical, sem jamais,
porém, invalidar o conteúdo aprovado pela Censura Ecle-
siástica.
3) V. Bib. n.• 3 .
4) V. Bib. n.• 6.
5) V. Bib. n.• 5.
.... .... .. .
:. , .
G) V. Bih. n.".'.2 . . -. ...
- .11
Como é de justiça e para orientação do leitor, colo-
camos no rodapé, numeradas, as remetências (V. Bíb.).
Quando os trechos são de maior responsabilidade ou opi-
nativos vão com a fonte declarada no próprio contexto;
ver-se-á então que propriamente não criamos a Obra, mas
apenas coligimos (copydesk) dos mais autorizados Auto-
res, o que de mais interessante encontramos dentro do
esquema a que nos propuzemos seguir.
Declaramos por fim, como filhos obedientes da Santa
Madre Igreja, que os fatos miraculosos e expressões santo,
beato, milagre, ou prodígios, narrados nas lendas, como
ordenou o Papa Urbano VIII, (7 ) não pretendem adiantar-se
ao juízo e veredicto da Santa Sé, merecendo, portanto,
pura e exclusivamente fé humana.
reformulação de texto:
1984/6, nos 2.000 anos do nascimento de Nossa Senhora
2.• reformulação de texto e acréscimos,
"Ano Mariano", 1987-1988.
* * *
-- 1 2 -
INTRODUÇÃO
- 1-3-
• Já foi dito com muito acerto que a "biografia de
Deus está escrita na vida de Maria" . ( 8 ) Assim sendo, a
história da vida da Ssma. Virgem faz parte da história
da'vida de cada um de nós, porque Nossa Senhora é "re-
presentante oficial de Deus na história da Humanidade".(B)
·· • Com efeito, já antes do surgimento do Mundo-Uni-
verso, a "presença de Maria", não foi de forma diferente
daquela que toda criatura teve na mente divina, (1°) Maria,
porém, não apenas foi amada de modo ontológico, mas
predestinada, escolhida de forma particularíssima :
-14-
cia de Eva (mas respeitou a sua liberdade), já anunciava
a "presença de Maria" - é difícil para o homem. em sua
inteligência finita, em sua compreensão limitada, ter a to-
tal e plena percepção deste "mistério da presença de Ma-
na . Então, como simples criatura refugia-se no amor .le-
vado pela fé.
-15-
natus est ( . . . ) Ex Maria Vírgine : Et homo factus est (1 1' )
a Virgem Ssma. anuiu, com o seu "fiat",(1 7 ) em figurar na
História Salvífica (que é a do gênero humano). em ser o
elo entre Cristo e nós, o Povo de Deus peregrinante neste
"vale de lágrimas". (1 8 )
* * *
• Repetindo o que Ja dissemos: as pagmas que se
seguem - em número de 132 - não é nosso intuito
apresentar uma acabada e plena biografia (1 9 ) da Ssma .
Virgem porque, primeiro: somos faltos de capacidade, so-
mo carentes de meios e necessitados de tempo para tal
empresa; e, segundo, quis a Divina Providência nos seus
insondáveis desígnios que Nossa Senhora tivesse o mais
possível in abscondito, aquela presença em silêncio que
nos tira toda a possibilidade de uma biografia como cien-
tificamente se conceitua. Não foi Nossa Senhora como
muitas vezes tentam minimizá-IA simplesmente "uma mu-
lher hebréia como tantas outras do seu tempo", pois no
contexto histórico palestinense, Maria Ssma. esteve inse-
rida na sua época e no seu ambiente, não resta dúvida,
mas esteve como predestinada da Trindade Santa, vivendo
in abscondito, repetimos, o que já lhe dava vida diferente
em modos e moda, outro status que não aquele comum
de todo e qualquer mortal.
-16-
acomodações no Antigo Testamento (ver quadro sinótlco
-~ à .iJág: 18); cenas evangélicas ÇJ~~- os 4 "repórteres" de
, ,·- .-Deus . no Novo Testamento (ver quadro sinótico à pág. 72),
- narram ·nos episódios p-renhes de sign ific'ado; abordagens
- da Liturgia (lex orandi, lex credendi); tradição -cimentada
naquilo que nos legaram contemporâneos da Virgem -
historiadores e santos - ; estudos, pesquisas de devotos
de todos os tempos, de mariólogos modernos, de arqueó-
logos, bem como visões e locuções de almas privilegiadas
cuja aceitação a Igreja nos permite já que apenas fé hu-
mana- e não divina- nos merecem e podemos, assim,
depositar nossa crença devota.
F _- -
ab aeterno (Prov 8,22) +
"mundo" dos fatos/coisas
(verificadas, explfclta e
realmente, no chio da {
gênero
literal
r Eclo 1 ,4ss - criaçAo do
mundo - Eva -
viventes - Gn 3,15 -
mãe dos
História)
l diversos Salmos - Dilúvio/
arca - arco-lrls , etc .
PRESENÇA
DE praticamente quase t odas
MARIA as mulheres blbllcas, das
SSMA. quais estas 5 formam um
acróstico:
NOS 4 M - arla, a Irmã de Molssé;
'"MUNDOS" A - na, a mãe de Samuel (e
DO também o nome da pró·
" mundo" das Instituições/ pria mãe da Virgem);
ANTIGO R - ute, mãe do evô de Davi;
figuras/tipos gênero
TESTAMENTO (significados e aplicações apocalfptlco/ I - udite. que llb9rou Betú·
- nem sempre de modo simbólico/ lia do feroz Holoférnes;
{ A - bigall, Irmã de Davi
pleníssimo - mas algo alegórico
em particular) (também o nome da
viúva de Narbal ).
astros/estre las - sol/lua -
manhã/aurora - chuva -
núvem - mar/céu - an i mais
(corça. pomba) - fru tas/
flores (uva, rosa, I ir lo -
alimento (mel) - perfume
(mirra) . exército, tropa , etc .
etc.
Nota: não poucas vezes há projeções da Ssma. VIrgem Maria (para mais de uma
centena de vezes) presente em mais de um dos 4 "mundos", Isto é, podem ser
classificadas simultaneamente nos 4 grupos desta "pedagogia divina" .
PREDESTINAÇAO "AB AETERNO"
2 - "IDADE" DO MUNDO
21) Gn 1.1 (em heb. tohú e bohú = "o deserto vazio", como as
trevas sobre o abismo, o "vento" e as "águas", trata-se de
imagens que, por seu caráter negativo, preparam a noção da
criação a partir do nada " ) - cfr. nota de rodapé "c" e "d" da
Bíblia de Jerusalém.
22) Todo o contido nas Escritu ras é de inspiração divina, mesmo se
dito pelo escritor sagrado , daí a expressão "boca de Deus",
dada aos textos dos Livros Sagrados, conforme se lê em Ex 4,16:
"O profeta é o mensageiro das Palavras de Deus; é sua "boca" .
23) cfr. sobretudo todo o Cap. VIII da Const. Dog. "Lumen Gentium " ,
-19-
J
• Nunca haverá um ponto de consenso nesta ou na-
quela data, em tal ou qual sistema de contagem; todos os
estudos tentados para determinar esta "idade", levando
em conta certos caracteres do Céu e pela posição das
estrelas, ou através de resíduos das eras ou períodos
"sideral", "telúrico", "glacial", "orgânico", têm sido bal-
dados (diz-se que o Sol - simples estrela - ainda não
chegou à sua perfeita forma e conclusão! e que o "co-
meta de Halley", (hipótese de pesquisadores), que perio-
dicamente - de 75/6 em 75/6 anos "passeava" perto da
Terra, constituía um dos poucos "resíduos" daquilo que
primeiramente foi criado! mais: que provavelmente é
aquele astro que, no presépio, aparece sobre o estreba-
ria/estábulo de Belém!!!)
3 - PROFETISMO B(BLICO
-20-
conhecido de outras religiões é até mesina .antedorrnente:
só que de forma muito diferente, com conotações diver-
sas: Hana/Orante (séc. VIII a.C.), Marí/Eufrates (séc. XVII
a.C.); o sacerdote Balaão que teve, no Monte Carmelo, a
confundir seus 450 profetas, a ação intimorata do profeta
Elias.
-21-
- Eli&s, não deixou nada escrito, portanto, não clas-
sificado nos grupos "maiores" nem "menores".( 27 )
Já 900 antes do nascimento de Nossa Senhora
(cerca do ano 558 a.C.) teve a visão, através do
seu servo, daquela nuvenzinha branca que saía do
mar fazendo chover copiosamente sobre a terra
castigada por severa estiagem; a forma de uma
[figura humana?] trouxe àquela bênção após terrí-
vel seca, prenúncio de fome para todo o povo. E os
eremitas do monte Carmelo (Carmelo, corruptela
de Carmo) iniciaram então neste monte o chamado
"culto profético" Aquela que viria a ser a mãe do
Messias. (2 8 )
-22-
dará à luz".( 30 ) As precisas indicações deste orá-
culo é que poss!bi!itaram aos Magos chegarem
até a casa onde encontraram o 1\~enino. com 1\A~
ria sua Mãe.( 31 )
4 - A ALMA DE MARIA
- 23-
.: · -• O .Pe. Perroy, S.J . nos diz:.-.
- .
'·' Visto que, por um favor Inaudito, Hvre de todo o
pecado e possuidora de pleno uso da razão, Ela
pôde, desde o primeiro vagido, conhecer, adorar
e agradecer à Deus, ninguém sabe as "comunica-
Ções" que existiram entre o Senhor e a Sua pe-
quenina eleita, tão privilegiada durante àqueles·
9 meses de silêncio e de obscuridade ."
-25 --
• Sirvam-nos - embora todas as imperfeições -
as abordagens que se seguirão , procurando revelar-nos
este ou aquele aspecto do espírito. do Interior psicoló-
gico, da alma da Virgem. Fazemo-lo por amor como poe-
ta-amante (o que é um devoto de Maria senão um poeta-
amante?) a quem tudo se perdoa, pois as ousadias de
amor são sempre puras, ingênuas e por isso dignas de
perdão.
• Com antiga e humilde prece latina é que aborda-
mos este difícil aspecto:
-26-
Jesus traria os traços do semblante de sua Mãe. Como
teria sido o rosto da Virgem Maria? f . .. ) O comporta-
mento das personagens, a construção do rosto, evocam
a transcendência. Não há, como escreve Pichard, procura
especial de expressão para o rosto, que é determinado
por normas ideais de construção . A expressão emana
da personagem toda, de suas proporções, do movimento
equilibrado que a anima ( ... ) Entre os protótipos trans-
mitidos na Arte Cristã, um dos mais importantes é a ima-
gem da Virgem, atribuído a São Lucas".( 33 )
6- TRAÇOS FISICOS
-27-
Magno: "Não se pode duvidar que do mesmo modo que o
Salvador foi o mais belo entre os filhos dos homens, Maria
também não foi excedida em beleza por nenhuma filha de ·
Eva ( ... ) dotada de todas as belezas naturais de que um
corpo mortal é susceptível". S. Bernardo: "Maria era dota-
da de beleza sem igual, tanto corporal como espiritual".
• Mãos - No contexto de corpo humano as mãos
constituem verdadeiro mundo-universo de movimentos,
gerando incontáveis gestos-utilidades, desde o fazer e de-
satar um simples nó (nunca máquina alguma conseguiu
isto) até a execução, ao piano ou violino, das páginas mais
lindas dos inspirados compositores, porém, de modo es-
pecial, acariciar os rostos dos que sofrem, dos velhos
solitários e das crianças desamparadas.
• Os 4 mil congregados marianos, reunidos em Ro-
ma, para homenagear os 50 anos de congregação do Papa
Mariano, Pio XII, ouviram-lhe dos lábios que estavam sem-
pre cheios de Nossa Senhora, ouviram estas palavras que
se tornaram célebres e tremendamente responsáveis aos
marianos.
• " ... pela sua consagração o congregado mariano
se torna ministro de Maria e como que suas mãos visíveis
sobre a Terra".( 34 ) E o Cone. Vat. 11, 16 anos depois, esten-
deu a todos os leigos cristãos esta atitude de consagra-
dos, no serviço da Igreja, portanto, de mãos visíveis de
Maria na Terra.[ 3 u) .
• Para o desempenho consciente e generoso dessas
funções das mãos visíveis de Maria é preciso, antes de
tudo, que sintonizemos com estas mesmas benditas mãos
nas posições em que elas se nos mostram desde o "Fiat"
ao "Stabat Mater", até mais além: até o Cenáculo de Je-
rusalém, onde, "com Maria, perseveravam em oração".( 36 )
• Mãos postas, para o Céu - Mãos que rezam, que
se enriquecem de graças, no encontro vertical com Deus.
Os artistas no-las apresentam como, p.ex., Nossa Senhora
da Conceição em outros títulos com que nós brasileiros
assim a veneramos entusiástica e filialmente- N. S. Apa-
recida- desde que foi "pescada", em 1717, pelos humil-
des pescadores Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pe-
droso, nas águas do rio Paraíba. - As mãos postas de
Maria em direção do Céu é aquela inefável realidade apon-
-28-
tada pelo seu grande devoto S. Bernardo: Onipotência su-
plicante.
• Mãos abertas, para a TQrra - Enriquecidas no en-
contro com Deus, essas mãos medianeiras, cheias de gra-
ças, desprendendo raios de luz e de paz, mãos abertas
para o mundo, mãos de orante antigo, prontas para dar,
para o serviço, para a luta, para a entrega. Sintetizam
aquela atitude dos cristãos de ontem, de hoje e de sem-
pre: oração e ação (ora et labora). - Grave é o erro, sé-
rio erro, o das mãos supostamente fechadas em Deus, mas
o fato é que abertas para o mundo, portanto, vazia de Deus.
- A contemplatividade não exclui a atividade; a oração
não elimina a ação, eis o que nos indicam as mãos de Ma-
ria postas e abertas.
• Mãos cruzadas sobre o peito, portadoras de Cristo
- Foram as mãos de Maria, cruzadas sobre o peito que,
na hora bendita daquele "fiat", assinalaram a coisa mais
importante acontecida no mundo: a vinda de Cristo, a en-
carnação do Verbo Divino, para nossa salvação. Faziam
as mãos de Maria, dali para frente, o que de mais trans-
cendente e sublime se pode conceber: carregar Cristo
Jesus . - Mãos cristóforas. São Cristóvão (padroe iro dos
motoristas) tem esse nome de grafia etimológica grega e
italiana que significa portador, carregador de Cristo, pois
piedosa lend a conta que em seus fortes ombros ajudava
aqueles que precisavam atravessar duma margem a outra
caudaloso rio, e um dia, como prêmio, transportou o Me-
nino Jesus. - Todo cristão autêntico, isto é, cristóforo,
só o é mesmo, dando continuidade , in abscondito ao tra-
balho das mãos de Maria sobre a Terra. - Quanto mais
formos mãos de Maria, mais seremos "cristóforos" neste
mundo tão carente de Deus.
• Mãos escondendo o rosto, a cobrir lágrimas que
rolam face abaixo porque refletem a tristeza e a dor de ver
o seu Divino Filho tão ofendido, vilipendiado, Ele que tanto
amou a Humanidade a ponto de sofrer e morrer por ela!
Mãos que antes e depois de esconder o rosto (em la Sa-
lette e n'outras aparições), se apressam em sustentar o
braço, evitar o castigo de Deus por tantos crimes, ingra-
tidões e ofensas ao Amor que não é amado. (37 )
--29 .-
• Pés/Calcanhar - Obviamente, em termos anatô-
micos, o calcanhar é uma das partes (a de trás) dos pés,
tida nas lendas como vulnerável (daí a expressão: "calca-
nhar de Aquiles", da Mitologia) -Conforme esta ou aque-
la versão da Bíblia, aparece ora o termo pés , ora calca-
nhar. Perto de uma centena de vezes falam as Escrituras
Sagradas sobre os pés, destacando-se obviamente pela
importânci a e sublimidade a cena da lavagem dos pés dos
discípulos pelo Divino Mestre e quando, noutro sítio, o
Divino Mestre t eve seus pés lavados pelas lágrimas de
Madalena que, em seguida, os enxugou com seus próprios
cabelos.
• Ao respigarmos algo alusivo a Maria Ssma., logo-
logo se nos depara àquela profecia saída diretamente da
"boca" de Deus na "inauguração" do mundo, quando o
Senhor vaticinou de modo terrível, que a serpente infernal
seria esmagada pelos pés da mulher. (Maria Ssma.). E
ligamos esta profecia do início do mundo aquela outra que
nos fala dos seus derradeiros dias, quando S. João, sob
véus, anuncia : "Depois apareceu no Céu um grande sinal:
uma mulher vestida de sol, com a lua debaixo de seus
pés ... "cas)
• Portanto, os pés benditos de Maria, as suas pas-
sadas, nos protejeram e protejerão sempre contra as arti-
manhas satânicas; eis porque não devemos jamais deixar
os seus caminhos , nunca abandonar suas veredas, não nos
desviar de suas estradas, aquelas que têm os sinais dos
seus pés. Contrariamente as pistas que encontraremos
serão as de outra mulher que a Bíblia nos previne:
• " ... Seus pés encaminham-se para a morte e os
seus passos penetram até os infernos. Não andam pela
vereda da vida".( 39 ) Ou então se nos depararão como que
os pés esmagadores daquela 4.• besta da visão de Da-
niel: " . . . despedaçava e calcava aos seus pés o que so-
brava". (7, 7)
• Os pés que sobre nuvens - algumas vezes des-
calços - já muitas vezes videntes o viram (mormente
inocentes crianças) em várias aparições da Virgem - esta
bendita visitadora do mundo que Ela tanto conhece pois
aqui passou, por cerca de 72 anos (segundo Niceforo), o
-30-
decurso de sua vida terrena, antes de ser levada em corpo
e alma aos céus - seus pés já repousaram sobre nuvens
em tantos lugares e numa azinheira, na Cova da Iria (Fá-
tima), pés que desde 24 de junho de 1981 - são vistos
por 4 mocinhas e 2 rapazes em Medjugorje (Iugoslávia).
E, de uma maneira inusitada : de ouro; sim, dourados, es-
tavam nas aparições de Natividade (RJ), ao Dr. Fausto .
De prata eles já eram para os devotos da cidadezinha de
Toul (França), onde desd e o séc. XV venera-se Notre Dame
ou Pied d'Argent (Nossa Senhora do Pé de Prata) . (40 )
• Projetam os pés de Maria - quer de prata ou de
ouro - nestas constantes e abençoadas " visitas de Mãe"
o que o profeta Isaías disse: "Que formosos são sobre
os montes os pés do que anuncia e prega a paz, que anun-
cia o bem, do que prega a salvação, do que diz a Sião: o
Deus está para reinar!" (52, 7)
• Em todas as aparições outra coisa, implícita ou
explicitamente, não t em feito Nossa Senhora; nesta agora
da Iugoslávia intitulou-se inclusive a "mensageira da Paz"
(Mir, em croata), confirmando a devoção espanhola do
séc. XI e a invocação lauretana aprovada em 1915 por
Bento XV. Então só podemos exclamar a tão Excelsa Mãe.
como implorou no seu cântico Zacarias: " ... para dirigir
os nossos pés no caminho da paz". (41 )
• Rosto/Semblante - "Se todo exterior do homem
é reflexo de sua alma, o é de um modo especial o "seu
rosto". (Juan Rey, S.J.) - Sim, a face, o semblante, é o
espelho d'alma, onde todos os sentimentos se manifes-
tam; o semblante, o rosto, reflete com fidelidade não ape-
nas o exterior, mas também o interior.
E como foi? como era? como é o rosto de Nossa Se-
nhora? Quem poderia dize-lo com precisão? Não poucos-
como por exemplo Sto. Ambrósio -tentaram "descrever"
o rosto da Ssma. Virgem, e, é claro, não conseguiram. Se
chamarmos para um depoimento pessoal a Irmã Lúcia, (a
vidente de Fátima, que ainda vive entre nós aos oitenta e
poucos anos) ou uma das 4 mocinhas iugoslavas - viden-
tes de Medjugorie quando das visões ainda jovens: Vicka
lvakvic (20 anos), Mirjana Dragicevic (21 anos), Marija
Pavlovic (21 anos). lvanka lvankovic (19 anos) e seus 2
patrícios Ivan Dragicevic (21 anos que não é, embora a
identidade do sobrenome, (14 anos), apesar de terem, es-
-31-
tes irmão de Mirjana), e Jakov Colo 8 videntes (passou
depois também a ver Nossa Senhora, a menina Jelena
,Vasjly), visto a rosto da Ssma. Virgem bem de perto - os
: da Iugoslávia, tridimensionalmente, o que não aconteceu
corn os de Fátima - nenhum deles. será capaz .de dizer
como exatamente viu o rosto de Maria Ssma .; ou melhor:
não saberão descrever a beleza resplandescente, infinita-
mente lindo de tal rosto, simplesmente porque é impos-
sível tal descrição.
• Os próprios anjos do Céu que vêem Nossa Senho-
ra de minuto a minuto, não saberiam dizê-lo. - Se o rosto
é o espelho d'alma, não existiu nem existirá rosto mais
belo do que o de Nossa Senhora, cuja alma, com o seu
sagrado corpo, está de forma gloriosa no Céu, ao lado de
Deus Nosso Senhor.
• Olhos - Na face, ou seja, na parte superior do
rosto , a mais nobre, sem dúvida alguma do corpo humano,
Deus colocou os olhos, distinguindo-os sobremaneira em
tudo, em nossa constituição física. Diz-se que os olhos
são os janelas do nosso ego, através deles revela-se, re-
flete-se a nossa alma.
• E como eram os olhos da Ssma. Virgem?- como
eram não, mas como são? (pois está viva, em corpo e
alma, na visão face-a-face de Deus). Devemos prescindir
se eram azuis turquesa tal qual o céu outonal; se eram
verdes esmeralda como as águas de calma praia; se eram
castanhos como as nozes, ou eram pretos como reman-
sosa noite de estio. Tenhamos certeza porém, que eram
- mais exatamente, são - de extrema beleza. Nenhum
vidente pôde até hoje descrevê-los com precisão, após as
aparições mas quedam-se extasiados diante do magnetis-
mo que expandem tal qual fachos de luz inebriantes.
• O Doutor da Igreja Sto. Ambrósio é quem, desde
o séc . IV nos forneceu descrição de como, certamente,
foram - são - os olhos de Maria, quando "pintando" o
seu retrato emprega duas frases sobre seus olhos; duas
observações mais importantes que a cor que possam ter:
Numa frase o Doutor da Igreja diz que refletiam o seu in-
terior e noutra fala que se defendiam do exterior.
• É preciso dizer alguma coisa mais para se ter
idéia da beleza dos olhos de Maria? Seus olhos jamais
espelharam a raiva, o aborrecimento, o enfado, a tristeza,
a inveja ou a menor atitude negativa, mas sempre se mos-
traram no esplendor do seu brilho, a serena doação, a sua-
-""""" 32-
ve ternurà, a pleníssima confiança, a doce paz. Assim,
eles eram ou são azuis, verdes, castanhos, negros porque
simplesmente belos em sua constituição intrínseca.
• Os olhos de Maria foram destinados a contemplar
Jes us, logo eram e são olhos onde o profano não emiti u
seus raios ao mundo, não lhe empanou o f also brilho da
impureza. Nos olhos de Maria estavam destinados a mirar
o Céu e se volviam para o chão da terra somente quando
Ela procedia a lida do lar.
• Os olhos de Maria se hoje nesta Terra estives-
sem não pousariam nos vídeos indecorosos , das TVs , nas
telas aberrantes dos cinemas, nas páginas peçonhentas
das revistas e jornais, nos palcos criminosos dos teatros e
tantas casas de espetáculos, mas se recolheriam nos li-
vros de devoção, volveriam, ternos, contemplativos ao
crucifixo onde seu Divino Filho pagou com a sua vida, até
a última gota do seu Sangue, o nosso resgate pelo pecado
dos nossos primeiros pa is, Adão e Eva .
• Os olhos da Virgem entre as muitas e santas vir-
tudes que refletiam, sem dúvida de forma eloqüente mos-
travam a da pureza , as portas ou janelas dos seus olhos
estavam sempre abertas para a contemplação do Belo e
do Santo. Nossos olhos devem imitar em tudo os da Vir-
gem. Ordenemos nosso interior a transmitir, pelos olhos,
nossos sentimentos puros e não deixemos que do mundo
exterior entrem pelos nossos olhos o mal do pecado. Di-
gamos como a congregada mariana, Maria Tereza Gonzalez-
Quevedo y Cadarso (1-4-1930/8-4-1950), cujo processo de
canonização se acha em curso: "Madre mia, que el que
me vea, te vea a Ti". (42)
• Olhar - Os olhos transmitem o olhar, irradiam
suas mensagens. Dizem os Autores antigos, inclusive mui-
t os que foram contemporâneos da Virgem, que jamais ai·
guém A vi u numa situação ou atitude cujo olhar não re-
fletisse seriedade. Sto. Ambrósio diz: jamais surpreen-
deu-se na Vi rgem um olhar turvo; o olhar da Virgem era
pudoroso. Podemos, muito de longe é claro, deduzir de
alg uns momentos da v ida de Nosso Senhor, como foi o
olhar de Nossa Senhora:
- de místico espanto - aquela "perturbação" de que
fala o evangelista, no instante verdadeiramente abismal
-33-
da mensagem do Anjo, convite que jamais mulher al-
_guma do mundo já teve .nem.terá: ser a mãe de Deus!
o tê-10 pequenino, indefeso como homem no seu colo,
enfaixando-O contra as intempéries;
- quando cruzou seu olhar com o de Simeão para ouvir
aquele terrível vaticínio!
- o olhar de dura, dolorosa, tormentosa, angustiosa fuga
apressada rumo à terras desconhecidas do Egito;
- ainda na infância, aquele olhar de suma alegria que
afugentou a aflição de 3 dias de procura por toda Je-
rusalém!
- as vezes, inúmeras, que mirou a garoto ir passando
a jovem, no lar de Nazaré, cheio de vida e tão "sub-
misso", anota o evangelista.
- já adulto feito, mirando-lhe a cabeleira vasta sobre os
ombros, ao retorno de suas pregações e noutras ati-
vidades como aquela numa festa de bodas - a de
Caná da Galiléia - quando o olhar terno de mãe, con-
seguiu de Jesus, apressar o seu primeiro milagre, antes
da hora!
- olhar que ninguém no mundo poderá fazer idéia da ter-
rível extensão: trocado, a distância, lá pela "hora ter-
ça" do dia 23 de Nisan, na Parasceve, quando, ao sinal
da trombeta, pôs-se em marcha, sob o comando do cen-
turião Cornélio, o cortejo levando o "condenado" até o
Calvário para a maior ignomia jamais perpetrata contra
um inocente!
- o olhar da Pietá, vendo morto no seu colo Aquele
que tantas vezes tivera pequenino e sorridente!
- que olhar de profundo sofrimento da Dolorosa no encer-
ramento no sepulcro de José de Arimatéia daquele
corpo sem vida!
- os outros olhares dali pra frente, só tiveram a cessar-
lhe a imensa dor quando após aquele bendito dia da
"dormitio" Jesus mandou que os anjos a levassem, em
corpo e alma para o Céu, onde está, com benévolo
olhar de mãe nos esperando, a todos que A queremos.
Escreveu Sto. Ambrósio e repetimos nós cheios de
respeitoso carinho:
"Jamais surpreendeu-se na Virgem um olhar tur-
vo; o olhar da Virgem era pudoroso ( ... ) os olhos
refletiam o seu interior ( ... ) defendiam-nA do ex·
terior".
• Voz/Palavra - Todos os estados ou atitudes ou
gestos ou formas da Virgem nos devem tender a imitá-los
-34-
potque se todos eles santificaram-na ou melhor, refletiam
a sua excelsa santidade, a nós nos servirão como baliza-
mento na senda da perfeição. . . · ·· .
• "Que a vida dos cristãos - exortou Pio XII ao pro-
clamar o "Ano Mariano" (1954) - se conforme, o mais
possível , com a imagem, o modelo, da Virgem Maria. -
Aconselhava-nos o saudoso Pontífice a "reproduzirmos em
nossas vidas, a vida da Virgem, copiarmos a sua imagem
em nós mesmos para a refletirmos nos outros".- Regis-
trado pelos evangelistas, só temos, diretamente brotadas
dos lábios de Maria, 166 palavras (claro que este número
varia conforme a versão da Bíblia consultada), em 4 pas-
sos :
1.
0
21 palavras no diálogo com o Anjo anunciando
)
-35-
• Notícias, anotações que temos sobre o sorriso
de Maria estão grandemente no depoimento dos videntes,
nas aparições; na documentação policial - portanto in-
suspeita - que o Cônego Hubert Pasquier, extraiu respei-
tante às aparições de Lourdes, anotações do Comissário
do Cantão, Jean-Dominique Jacomet:
" ... uma mocinha [ Bernadette Soubirous] anda
dizendo estar em comunicação com a Virgem
( ... ) convidamos esta criança para depor: ( ... )
"Encarei um instante, me ajoelhei e rezei. Aque-
ro [aquilo] sorriu para mim e entrou na gru-
ta ... "
• O Aquero (aquilo) nada mais era do que Nossa
Senhora que sorriu para a assustada Bernardette. E agora
nos vem de outro lugar, de Medjugorje (Iugoslávia), nas
aparições que lá acontecem desde 25-6-1981; consignando
a 3." aparição, escreve Dobro Od Angela (traduzido pelo
Pe. Jordão Maria Pessati):
-36-
• Escreveu o Pe. Juan Rey, S. J., dizendo da subida
gloriosa de Maria aos Céus:
--
Judá, clara ex extirpe David". ( 44 )
~-
• "Cornélio a Lápide afirma ser Maria descente de
Davi não só por parte de Joaquim, mas também por Ana.
Os descentes de Davi, observa um teólogo e mestre da
Sagrada Escritura, não faziam questão em dar suas filhas
em casamento a homens de outras tribos, mas eles mes-
mos só se casavam com mulheres descendentes de Davi.
E esta lei era observada rigorosamente, sobretudo quando
estavam próximos os dias da vinda do Messias. Ora, Joa-
quim, modelo de virtude, não pod ia desobedecer esta lei
ao desposar Ana." (4 5 ) Os ancestrais e parentes de Nossa
Senhora, como vimos e veremos ainda mais, eram dos
mais ilustres.
-37-
• Nada mais delicioso do que conhecermos bem de
perto, e largamente o quanto possível. os familiares __:_
começando pelos ancestrais da Ssma. Virgem, a Mãe
do Salvador. E para isso grandemente vamos utilizar
aquilo que nos deixou a estigmatizada alemã Anna Catarina
Emmerich. (4 6 ) Em alma assim piedosa e privilegiada po-
demos depositar - no que diz de forma tão surpreen-
dente - podemos depositar fé humana e teremos assim
nossa amorosa curiosidade grandemente elucidada.
• A éra, a época ou o tempo de Jesus Cristo co-
meça, como já vimos, pela chegada da "plenitude dos
tempos", tempo, éra predita pelos profetas quando se
cumpriram todas as predições e consumou-se a verdadeira
Aliança; os ancestrais da Mãe do Messias esperado nos
são apontados assim por Anna Catarina Emmerich:
- "Vi a linhagem do Messias dividir-se em Davi
em ramos;!al à direita passou a linha através de
Salomão,!bl acabando em Jas .ó.. pai de Jo.!~-·-· es-
poso de Maria. - - --
- A linha da esquerda passou de Davi por Natan
até Heli, !cl que é o verdadeiro nome de Joaquim,
pois recebeu este nome só mais tarde , como
Abrão o de Abraão.
- Sant'Ana descendeu, pelo pai, da td~Q ..de Levi,
-- pela mãe, da de Benjamin./ Vi alguns,..de seus
-38-
;_Embora Jesus tenha sido o "Santo dos Santos"
e também tenha por Mãe uma Virgem Imaculada
e por pai nutrício S. José, houve, todavia, peca-
dores e pecadoras entre os seus antepassados,
por exemplo, o rei Salomão, Asa, Joram, Achaz,
--~Manasses, Tamar e Betsabé; até duas pagãs:
:;./ Rachab e Rute. Com certeza Jesus assim o per-
mitiu, para manifestar a sua misericórdia e o seu
amor para com os pecadores e também a inten-
ção que tinha, de fazer participar da Redenção os
gentios e conduzi-los à eterna bem-aventurança.
- Foram as avós de Maria Santíssima piedosos
israelitas, que estavam em íntimas relações com
os essenios, os quais formavam uma espécie de
"ordem religiosa."
-Vi os avós da Ssma. Virgem, gente extraordi-
nariamente piedosa e simples, que alimentava se-
ct·etamente o vivo desejo da vinda do Messias
prometido. Vi-os ltvar uma vida mortificada; os
casados muitas vezes fizeram a promessa de mú-
tua continência durante certo tempo. Eram tão
piedosos, tão cheios de amor a Deus, que os vi
freqüentemente sozinhos no campo deserto, de
dia e também de noite, clamando por Deus com
um desejo tão veemente, que arrancavam as ves-
tes do peito, como para deixar que Deus entrasse
pelos raios do sol, ou como para saciar com o
brilho da lua e das estrelas a sêde que os devo-
rava, do cumprimento da promissão.
- Chamava-se Emo rum a avó de Sant' Ana e teve
do matrimônio com Stolanus 3 filhas, uma das
quais lsméria, foi mais tarde a mãe de Sant'Ana.
Ana tinha uma irmã mais velha, chamada Sobe e
uma mais moça, com o nome de Maharha e uma
terceira. que era casada com um pastor.
- O pai de Ana, cle nome Eliud, era da tribo de
evi , ao passo que a mãe pertencia a tribo de Ben-
ja ·n. Anã nasceu em Bel é~mas os pãis foram
1
depois viver em Séforis , perto de Nazaré. Após
a morte de lsméria, Eliud morava no vale de Za-
bulon. Ali se encontraram Ana e Joaquim e tra-
varam conhecimento.
- O pai de Joaquim, MaHhat, era o segundo ir-
mão de Ja ó, pai de S. Jo é. Joaquim, cujo no-
+ me legítimo era Heli e osé eram descendentes ,
-39- ;
I
8 - NASCIMENTO DE MARIA:
Circunstância, Local e Data
-40-
lher, tal família de seus planos. Dir-se-ia que um homem
I sem filhos ficava parado,- que não ia ao encontro do Sal-
vador" ( 51 ), tanto que "o sacerdote Rubem reprovou S.
'\· Joaquim por ser o único sem descendência entre as tribos
, de lsarel. A provação da esterilidade dos pais de Maria
Ssma., diz o Pe. Marc-Ramus, após haver consultado as
tradições, segundo as mais seguras opiniões, durou cerca
de 40 anos" ( 52 ).
• "Joaquim foi para o deserto onde jejuou por 40
dias; no fim deste retiro recebeu a visita de um anjo, e,
em sua casa Ana também teve idêntica visita, dizendo o
anjo que Deus se apiedara deles e atendera suas ora-
ções." ( 5 , ) "Após tantas orações, generosas esmolas e
prolongados jejuns, Joaquim e Ana, segundo diz Suarez, e
antes já o afirmara S. João Crisóstomo e S. Jerônimo, ti-
veram do Céu a revelação da concepção e nascimento
miraculoso de Maria. O argumento de Suarez é este: é
um princípio admitido como certo pela teologia católica,
que toda graça concedida aos santos, o foi também em
grau eminente à Ssma. Virgem, além daquelas graças
singulares, exclusivas e pessoais que do Céu recebeu para
a missão da maternidade divina. Ora , se o nascimento
de João Batista, destinado a ser o precursor, fôra anun-
ciado pelo Anjo a Zacarias, não o seria o da Mãe do Re-
dentor? Sara tivera do Céu revelação do fim de sua este-
rilidade, e Ana, que concebeu por milagre a maior das
criaturas nascidas de uma mulher, não seria avisada pelo
alto de tão grande graça?" ( 5 4 )
• Segundo a tradição, como vimos acima, "certo dia
um anjo foi enviado do Céu primeiramente a Joaqu im e
depois a Ana, mandando-os que se encontrassem sob a
Porta Áurea do Templo de Jerusalém, o que fizeram, obe-
dientes como eram. ( 55 ) Uma segunda vez apareceu a Ana
e escreveu na parede o nome MIRIAM (Maria) que em
hebraico significa "Senhora" ou "Amada de Deus." O no-
me Maria era muito comum e o Evangelho cita diversas
-41-
·mulheres assim chamadas: Maria, irmã de Moisés; Maria
·de Magdala ou Madalena; Maria de Betânia (irmã de lá·
zaro): Maria, esposa de Cleófas; na família de Heródes
.encontramos uma série de Marias .
• Opinião geral, baseada nas tradições que remon-
tam ao século 11, dizem que Maria Ssma. nasceu em Jeru-
salém, perto da Piscina Probática ou Siloé, onde se guar·
dava água para purificação das ovelhas destinadas ao sa-
crifício (a piscina Siloé ou Probática, como sabemos, era
aquela onde um anjo anualmente tocava a água e o pri·
meiro que nela mergulhasse ficava completamente curado).
Até hoje no local do nascimento da Virgem existe um
templo erguido em sua honra, centro de peregrinações e
visitas. Mas uma corrente há que defende como cidade
natal da Virgem, Nazaré. Mais fundado, porém, é o grupo
oposto, pois se baseia em diversos documentos da Santa
Sé, no Breviário Romano e na constante tradição do Orien-
te.
• "O nascimento de Maria Ssma., segundo opinião
dos antigos Padres da Igreja, deu-se sem causar a Sant'Ana
as dores do parto. S. Jerônimo, com autoridade de Doutor
da Igreja, fala disto como uma verdade conhecida de to·
dos os cristãos do seu tempo. Nenhuma dor, mas grande
alegria trouxe o nascimento de Nossa Senhora ao mundo,
e a Igreja canta: "Nativitate tua Dei Genetrix Virgo gau-
dium annuntiabit universo mundo." ( 56 )
• A data do nascimento da Virgem é estabelecida
pelos historiadores como tendo sido a da Festa dos Ta·
bernáculos (lembrava os benefícios no deserto) realizada
nos dias 15 a 21 de Tishri (princípio de outubro), 5 dias
depois da Festa da Expiação; 1O de Tis h ri no calendário
judaico; pelos anos 728-733 de Roma (20 anos a.C.). li·
turgicamente a Igreja comemora o nascimento da Virgem
Ssma. a 8 de setembro, data que deveria ser o "Dia das
Mães", pois é a da maternidade da Mãe das mães.( 57 )
embora não fique em desacordo o mês de maio, cogno-
minado "Mês de Maria", por ser dedicado, desde o séc. XIII
-42-
·(lg. de S. Maria della Vizitazione) à Virgem Mãe. (58) __;__
Ao entrar-se na cidade de Jerusalém propriamente (intra-
:muros) - Sitti Maryam - pr.óximo a Porta de Sto . Estê-
·vão (local onde sofreu o martírio por lapidação, apedreja-
mento). numa lápide de mármore está escrito em francês:
Nativité de la B. S. Vierge Marie. - Passando-se por um
jardim alcança-se a majestosa Igreja de Sant'Ana; monu-
mento dedicado ao nascimento da Ssma. Virgem (os apó-
crifos localizam este acontecimento perto do Templo, junto
da Piscina Probática). - Já no Séc. V, surgia nestes luga-
res uma igreja e era referida: "onde nasceu Santa Maria."
- Na Igreja de Sant'Ana - venturosa Mãe de Nossa Se-
nhora - o altar de granito da ábside central tem relevos
alusivos à vida de Maria; e na cripta, onde a tradição ve-
nera o lugar onde nasce u Maria Ssma., está, sob o altar,
uma efígie de Maria recém-nascida. De certa forma, é o
presépio do nascimento de Nossa Senhora que os Carme-
litas sugerem que se arme, e, achamos nós que poderia
ser de 8 a 12 de set . (da Natividade ao Santo Nome).
-43-
a tradição, foi levada ao Templo na idade de 3 anos e
oferecida generosamente por seus benditos pais ao ser-
viço da Casa de Deus. Este uso de consagrar os filhos
ao Templo era dos mais antigos e primitivos entre os ju-
deus. Piedosas jovens passavam em orações e jejuns,
ao lado do Tabernáculo e julgavam-se honradas em ador-
nar a Casa de Deus, preparar os objetos e alfaias para as
cerimônias do culto; era uma espécie de colégio e con-
vento." (~ll)
• A descrição da ida para a entrega no Templo, feita
por Sto. Afonso, baseada nas tradições, é das mais co-
moventes e belas: "Eis que Joaquim e Ana, generosamente
sacrificando a Deus a parte mais cara dos seus corações,
que na Terra possuíam, partem para Jerusalém, levando
ora um, ora outro, nos braços, a filha amada, pois não era
ela ainda capaz de uma viagem tão longa, como a de Na-
zaré a Jerusalém, de cêrca de 80 milhas, como dizem
muitos Autores. Caminhavam acompanhados dos de pou-
cos parentes, mas es·quadrões de anjos os seguiam. Che-
gada a comitiva ao Templo, a bela menina se voltou para
os seus pais e lhes pediu a bênção. Depois sobe os 15
degraus do Teúnplo e se apresenta ao sacerdote [ segundo
S. Germano, era Zacarias ] , despede-se do mundo, renun-
cia a todos os bens e se oferece e se consagra ao Criador.
Ana e Joaquim voltam para o silêncio, o trabalho e a ora-
ção da vida humilde, após haverem consagrado a Deus o
tesouro mais rico e mais precioso que receberam do Céu,
a custa de tantos sacrifícios e de longa espera cheia de
provações." (60 )
• Em que pese esta belíssima e piedosa descrição
de Sto. Afonso, historiadores ocidentais, contra a opinião
dos orientais, dizem que Nossa Senhora ficou em casa com
Joaquim e Ana, pois o ensino das crianças, que consistia
no conhecimento da Lei Mosáica e das Escrituras, era
administrado em casa pelos pais e, precipuamente nas
sinagogas. Maria foi sim, para o Templo, porém, mais
tarde. E mesmo no Templo, como veremos, dividia Nossa
Senhora suas obrigações de consagrada ao Templo com
os momentos de lazer em companhia de seus pais.
-44-
• A festa da Apresentação de Nossa Senhora no
Templo, a Igreja marcou no dia 21 de novembro, celebran-
do-se a Missa "Salve, Sancta Parens", cuja Oração Coleta
é cheia de santa esperança:
"ó Deus, que quizestes que neste dia Vos
fosse apresentada no Templo a Bem-aventurada
Virgem Maria, a morada do Espírito Santo, fazei,
Vos pedimos, que por sua intercessão, mereça-
mos ser apresentados no Templo de vossa Gló-
ria." ( 61 )
• E o Pe. Giuseppe Lo Giudice, com o respaldo de
Dom Antonio M. Travia, Arcebispo Titular de Termini (Mon-
senhor da Santa Sé, "Primo deii'Arcicta S. Maria Odigi-
tria"), ofereceu à aprovação da Igreja novos 35 Mistérios
do Rosário e, consta como 2. mistério vocacional (terças-
0
-45-
deavam essas 3 montanhas. As muralhas tinham diversas
pprtas e possuíam muitas torres de observação; 3 del~s;
edificadas ao Oeste, dominavam todas as demais, e seus
nomes eram Hippicus, Fasael e Mariane; atrás delas levan-
tava-se o belíssimo Palácio de Heródes. Ao Norte do
Monte Moriah, sobre uma rocha de 25 metros, erguia-se
a célebre Fortaleza Antônia, residência da guarnição ro-
mana na Palestina, sendo protegida por 4 torres (daí se
via tudo que se passava no Templo, medida de precaução
militar)." (63 )
• Tendo ainda H. Lesêtre como cicerone e por ou-
tras vezes Vittore Dalla Libera vejamos num "tour" breve
e apressado como são todos os "tours":
-46-
tos reservatórios construídos por Salomão, cujas
águas eram levadas até Jerusalém por um aquetudo
sinuo!o. (64 ) ·
* * *
• Quanto ao Templo, sabemos que sua construção,
- a segunda, - foi feita por Zorobabe!, na volta do cati-
veiro, sobre as ruínas do Templo de Salomão; Davi, tendo
transportado a Arca da Aliança para Jerusalém destinou-
lhe um Templo suntuoso, construído pelo seu filho Salo-
mão, para ali abrigá-la: "Esse segundo Templo, baixo e
estreito. Para captar a simpatia dos judeus, Heródes o
Grande, empreendeu muitas obras para aumentá-lo e con-
vertê-lo num monumento grandioso. Notando que os ju-
deus estavam desconfiados de que não atingisse a conse-
cussão dos seus planos, não iniciou logo a demolição an-
tes de juntar todo o material necessário a reconstrução.
Os trabalhos tiveram início no ano 18. do reino de Heró-
0
64)
65)
66)
V. Bib.
V. Bib.
n.• 1 e n.•
n.• 1.
10.
-47-
Dentro do Pátio dos Gentios erguiam-se os edifícios
do Templo, propriamente dito, e estes estavam rodeado
por um muro baixo, formando um recinto retangular,
com 13 portas e igual número de inscrições em latim
e grego, proibindo aos gentios, sob pena de morte, de
lá entrarem.
Em planos diversos existiam: o Pátio das Mulheres,
cuja porta monumental chamava-se Formosa ou Au-
rea, ( 67 ) o Pátio de Israel, cuja entrada principal era
recamada de ouro e prata e somente os sacerdotes ali
podiam entrar.
O Pátio dos Sacerdotes era o de maior dimensão, ali
se cumpriam todos os atos do que exigiam contínuas e
copiosas efusão de sangue e a consumição pelo fogo
de enorme quantidade de carne de animais. Via-se
então o Altar dos Holocaustos, feito de pedra tôsca
(ara) -daí a chamada "pedra d'ara dos nossos altares
de hoje". no culto cristão.
O Santuário, propriamente dito estava no Pátio dos Sa-
cerdotes a Oeste do Altar dos Holocaustos e era com-
posto de um Vestíbulo, um compartimento chamado
Santo e dentro um outro denominado Santo dos Santos .
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Neste complexo eram oferecidos 4 sacrlflclos: o latreutlco, o pacífico, o de
louvor e o i mpetrat6rlo.
-48-
Além desses havia o chamado sacrifício quotidiano
ou perpétuo prescrito pela lei mosaica. consistindo na
imolação de um cordeiro. pela manhã e. a tarde. outro.
Na festa dos Tabernáculos aumentava o número de víti-
mas: 14 cordeiros, 13 cabras, 2 carneiros e 1 bode que
eram mortos cada dia durante o oitavário.
I
-49-
• Antes de suas funções os sacerdotes, conforme
prescrição de Moisés, purificavam as mãos e só d~po is
podiam revestir-se da tún ica e outras vestes sacerdotais.
No Templo andavam sempre descalços . Pertenciam eles à
família de Aarão e exerciam a função de sacri f icadores,
dividindo-se em 24 classes. Cada classe, fazia durante
uma semana, os serviços do Templo. Os Levitas, também
divididos em classes, eram chamados para as funções
secundárias e como auxiliares.
• A administração do Templo era exercida por um
"Sagam" (= douto e prudente) e Subprefeitos, destacan-
do-se suas atividades mais importantes :
a) guarda das inúmeras riquezas;
b) vigilância sobre os atos do culto; e
c) preparação dos sacrifícios e execução de tudo que
dizia respeito as funções religiosas: canto, toques
dos instrumentos musicais, etc.
• O chefe supremo de tudo que se relacionava com
o culto era o Sumo Sacerdote que devia ser da raça de
Aarão. No tempo de Heródes, porém, eram indicados pelo
Poder Civil, imperando tremenda política (presidia ele o
Sinédrio ou Sanhedrim, uma assembléia aristocrática de
71 membros com o caráter de tribunal para interpretar as
leis religiosas e civis.
• Recebiam para seu sustento, parte daquilo que
rendiam os sacrifícios, as primícias da terra, os dízimos
de determinados produtos artesanais, os primogênitos dos
animais e o resgate dos filhos primogênitos, sem contar
os donativos extraordinários que não eram poucos, etc.
Os rendimentos do Templo eram acrescidos ainda do Tri-
buto (meia dracma) que todo israelita do sexo masculino
de mais de 20 anos, habitando ou não na Palestina, tinha
que entregar anualmente.
• Assim era a vida no Templo, e, assim transcorriam
os dias em Jerusalém. E todo este movimento Nossa
Senhora certamente presenciava; a expectação da vinda
do Messias aviva-se na de inúmeros corações e, assim,
muitos praticavam e tinham vida devota, Maria, porém, a to-
dos suplantava nesse comportamento de espera piedosa e
consagrada. No Magnificat que a Virgem viria a entoar a
gente como que antevê. Com muita propriedade Willam
-50-
observa: '' Para compreender Maria, é muito importante
ter uma idéia bem clara da vida que levava . [ no Templo)
v ivendo do espírito dos Livros Santos ."
-51-
mas é o pintor do gênero que se compraz em sw·preen-
der as cenas das crianças, como por exemplo aquela em
que apresenta o Menino Jesus acariciando uma pombinha
ou aquela outra em que se distrai com um cordeirinho
branco. E Murilo não deixou de retratar uma cena infan-
til de Nossa Senhora quando a surpreendeu, na casa de
seus pais - embora as roupas, móveis e objetos não cor-
respondam com rigor a época - estudando com Sant'Ana.
-52-
caem sacrificados sob o cutelo dos degoladores, ao som
dos tambores, cimbalos e trombetas. O sangue escorria
manchando as túnicas dos sacerdotes e impregnando o ar
do· ambiente. O espetáculo emocionava e entristecia a
Virgem. Segundo tradições palestinas, Joaquim e Ana,
após a entrega no Templo, deixaram Nazaré e foram resi-
dir em Jerusalém, onde, no Templo se achava a filha. En-
quanto Maria levava na Casa de Deus uma vida angélica,
eles progrediam também cada dia no amor a Deus e na-
prática de todas as virtudes."
-53-
sódios de Judite, de Ana, a profetisa, e das diaconisas.( 60 )
Mas estes estudos, estes trabalhos e as orações prepara-
vam as prendas, o nível cultural e religioso das jovens das
boas famílias de Israel. encaminhavam-nas para que sou-
bessem administrar mais tarde o lar que Deus lhes con-
fiaria, ensinava-lhes a ser boas esposas e mães que é a
missão precípua da mulher.
• "Ana viu durante alguns anos Maria crescer no
Templo cheia de graça e de sabedoria. Teve muitas ve-
zes a felicidade de se entreter na intimidade com sua fi-
lha, nas visitas ao Templo. Viu-a interpretar a Sagrada
Escritura e conhecer perfeitamente os oráculos dos pro-
fetas da Antiga Lei. A iconografia representa Ana a en-
sinar Maria Ssma. menina a Escritura Sagrada, mas na
verdade, Nossa Senhora possuía toda a sabedoria e inteli-
gência perfeita dos Livros Sagrados. Nada tinha a apren-
der de sua bendita mãe. Ambas liam e interpretavam a
Escritura Sagrada para cumprimento da lei e meditação
cotidiana das coisas celestes." (apud F. Willam)
• Ora no Templo, ora em casa de seus pais foi-se
passando a juventude de Nossa Senhora e diz a tradição
que ela ficou órfã cedo, já que Joaquim e Ana a tiveram
em avançada idade. "Não se pode saber com precisão,
diz o Pe. Marc-Ramus, quanto tempo viveu S. Joaquim,
mas há indícios seguros de que morreu antes êle"Sa rít 'Ana,
cheio de méritos, e chegou a ic@~_de SQ.-ª!}9~~..:--0uanto
a Ana consta que "depois de alguns a·nos, quando Maria
ainda- se encontrava no Templo, e antes do matrimônio
virginal com S. José, expirou suavemente, tendo atingido
a idade de 79 anos. Foi sepultada em Jerusalém, junto do
seu esposoJoaqwm", ainda segundo o Pe. Marc-Ramus.
• Uma corrente de historiadores, baseados em fon-
tes primitivas atestam que Joaquim e Ana morreram antes
-54-
do retorno da Sagrada Família do Egito, deixando antever,
portanto, que ambos chegaram a conhecer seu divino neto,
CrJ~to Nosso Senhor. Mas o fato seguro, é que··Mária não
se achava mais rio Templo de Jerusalém e já estava des-
posada quando o anjo S. Gabriel anunciou-lhe que seria a
M.ª~ de Deus. Vivia em Nazaré, certamente em casa de
parentes·: -porque não [email protected] S .• José,o que certa-
mente só aconteceu depois que Maria Võlfou da casa de
sua ~rJma Sta. Isabel. ~ ~---~-~,_ -
. --~- ----------·
-55-
- 1.") negociações dos interessados, i. é., pais ou
chefes de clãs (na falta destes, funcionavam os parentes
mais próximos ou tutores). ~ nesta fase inicial que, se-
gundo F. Willam, os noivos e seus familiares tinham que
pensar em três sérios tributos: o "patrimônio", o "dote" e
o "crédito da boda", requisitos indispensáveis; senão os
três, pelo menos dois, para iniciação das "negociações",
trocas ou verdadeiras compras e vendas de bens e proprie-
dades, tudo como num negócio qualquer. Esta fase poderia
durar meses e até mesmo um ano, com encontros, reu-
niões, demandas, sem necessidade ou obrigatoriedade do
conhecimento e -presença dos noivos.
• Explica F. Willam: "O 'patrimônio' tinha que ser
da parte do noivo e deveria ser o mais rico possível: mó-
veis, roupas, utensílios (para os pobres geralmente). acres-
centava-se dinheiro, jóias, escravos (para os ricos). Des-
ses bens o noivo só tinha usufruto. O 'dote' tanto podia
pertencer à mulher como ao varão e era regido por outras
condições jurídicas: o marido podia aumentá-lo e trans-
formá-lo e se o matrimônio se dissolvesse não era ele
obrigado a devolver senão o dote primitivo. Quanto ao
'crédito da boda', constituía-se uma soma que o marido
tinha que tirar dos seus ben5 pessoais e entregar a es-
posa, se a despedisse ; para os pobres consistia numa
'quota fixa' e para os ricos era adicionado um 'suplemento
proporcional' à posição do indivíduo, variando conforme o
'patrimônio' e o 'dote' . Essas obrigações tinham impor-
tância não só econômica mas também moral. pois muitas
vezes impediam que o marido despedisse a esposa por
aborrecimentos fortuitos ."
• As duas etapas seguintes completavam as dispo-
sições jurídico/religiosas:
- 2.") etapa dita qddushin (desponsório, i. é . , noiva-
do), geralmente consumava-se na Corte (Templo) perante
autoridade competente o compromisso formal, onde, im-
plícita e explicitamente constava a finalidade do casamen-
to a partir daquele contrato (ketubbah). Exemplo: só pelo
"decreto de repúdio" (= divórcio) poderia livrar-se da
noiva; esta, em caso de infidelidade, poderia ser apedre-
jada; em algumas cidades - Nazaré excluía-se da rela-
ção desde há 500 anos - a coabitação e união conjugal
era permitida no período qddushin. O comum, nesta 2.•
fase era, ao final dos atos, cada qual seguir para suas
próprias casas.
---,._ 56 -
• O cerimonial (qddushln) consistia no ato do jovem
depositar na mão da moça um objeto de um valor mínimo
de 5 centimos, como "arras do matrimônio", i. é., "sinal-
do-casamento" e declarar: "Com Isto ficas solenemente
ccmprometida como minha desposada", seguindo-se uma
fórmula de bênção. Deste momento em diante a noiva
ficava sendo a esposa, embora só dentro de 6 meses a 1
ano a cerimônia se completasse com a então chamada bo-
das: o noivo então conduzia a noiva para a casa que ele
preparara, a fim de coabitar com a agora então esposa.
Portanto, o noivado entre os judeus tinha o mesmo valor e
legalidade de um verdadeiro casamento. Pergunta-se en-
tão: para que as bodas, se os desponsórios tinham o mes-
mo valor e legalidade? Era um costume que obedecia, pro-
vavelmente, a uma experiência maior da vida, maior do
que nós geralmente supomos. Por uma parte, era conve-
niente que a mulher se ligasse cedo ao homem que havia
de ser seu marido e que este nela tivesse os seus pensa-
mentos; por outra, não devia esta submeter-se cedo de-
mais aos encargos do matrimônio. Daí a pressa nos des-
ponsórios, para estarem unidos com laços fortes, e a de-
mora no casamento, para que as jovens se desenvolves-
sem convenientemente (explicações de F. Willam).
- - 57-
a fixar este momento de Céu na Terra (eles pintam a cena
do lado de fora dum Templo, nas escadarias). A figura
extra-b íblica do jovem Agapo, também candidato a espo-
sar Maria. não escolhido, quebrou a vara (ver quadro de
Murilo). fato lembrado nurn trabalho de Adyr Amaral, no
Serra Clube-Tijuca.
• O episódio das bodas de Caná da Galiléia (Jo 2,
1-11), onde Maria Ssma. desempenharia papel tão impor-
tante, aconteceu justamente quando os noivos cumpriam
a 3.• e última etapa dos esponsais:
- 3.") chegava-se ao nissu'in, ou seja, bodas, de fato
o dia do casamento, quando o noivo (agora sim, esposo)
levava em cortejo festivo a sua mulher (esposa) para sua
casa, i. é., para a residência que ele preparara durante al-
gum tempo ("negociações" e qddushin). Faziam então,
mesmo os de menos posses, uma grande festa. Para tal
celebração escolhia-se de preferência a 4." feira, por ser
o dia da semana quase equidistante do sábado e a festa
começava pela tardezinha com a condução festiva da noi-
va à casa do noivo, geralmente num cavalo ou numa ju-
mentinha, seguindo-a alegremente o cortejo das colegas e
vizinhas bem como amigos do noivo, bailando e tocando
flauta, pandeiros e tambores, etc. Eis a descrição, por hi-
pótese, baseada nos costumes e tradições, que Vittore
Dalla Libera faz do nissu'in de José e Maria, cabendo res-
saltar aqui que isto aconteceu cerca de 3 meses após as
cerimônias do noivado (qddushin). após a Anunciação e
retorno de Maria de Ain-Karin (já tendo nascido o Pre-
cursor, João Batista).
• A derradeira formalidade do matrimônio seria cum-
prida: conduzir e fazer entrar solenemente a noiva na casa
do esposo, a fim de iniciar-se a coabitação legal dos côn-
juges. Portanto, José na qualidade de cabeça do casal
apressou-se no providenciar os últimos retoques na arru-
mação da casa, conforme lhe fôra recomendado não só no
rito dos esponsais, como, sobretudo, pelas palavras do
Anjo, nos sonhos que tivera:
-58-
concebido é [obra] do Espírito Santo. ( ... ) Ao
despertar José do sono, fez como lhe tinha man-
dado o anjo do Senhor, e recebeu em sua casa
[Maria]. sua esposa." (Mt 1, 18-24)_
-59-
noivos/nubentes (tornando-se esposos), num breve rito
recebem a bênção: sobre a cabeça deles estende-se o
"tallit" (uma longa tira de linho, onde, segundo as cir-
cunstâncias, está escrito um texto bíblico invocativo a
Deus à guisa de oração). Então, faltando os pais, um
rabino ou algum parente consangüíneo mais próximo de
Maria abeira-se (Zacarias?) e, pegando duma taça de vi-
nho novo pronuncia, de mãos erguidas, as "7 bênçãos do
esposo" ("séva berakot" ). que culmina com estas pala-
vras: " Que o Deus Abraão, de lsac e de Jacó seja com
vocês e os unrun; faca descer sobre vocês a sua bênção e
os permita ver os filhos e os netos até a 4." geração."
• O coração de Maria exulta de alegria porque esta
prece (depois terá o seu sentido inserido no rito do ma-
trimônio cristão), esta espécie de cântico lhe recorda
aquele que entoara em Ain-Karin - Magnificat - onde
profetisa Ela que "todas as gerações a chamarão bem-
aventurada". Ela verá os seus filhos, inseridos no "corpo
místico de Cristo", não apenas até o fim da 4.• geração,
mas até o fim da última geração da Terra, pois não é Ela
mãe de todos os homens? a "nova Eva"?
• A cerimônia prossegue com a entrega do bracelete
ou do anel; este é mostrado aos presentes pelo rabino
(ou um parente categorizado) e restituído ao noivo que
então o enfia no dedo indicador da mão esquerda daquela
que até então era simples noiva, dizendo: "Com este anel
(pode ser ta mbém bracelete) você se torna minha esposa,
segundo o rito de Moisés e de Israel." Geralmente este
anel era um belo trabalho de ourivezaria com símbolos e
inscrições augurais e a data. _O anel que José entregou
a Maria, era certamente muito modesto, como âo costu-
me da gente simples, mas de muito bom gosto. Segundo
o pesquisador mariano André Damino, esta jóia-relíquia se
encontra na região de Perúsia: " ... guarda-se aí o anel
que José pôs no dedo da Virgem: é um círculo de ame-
tista sobre o qual estão gravadas duas flores semidesa-
brochadas." (apud "Na Escola de Maria" - 4." edição -
Paulínas, 1962).
• Das últimas cerimônias do rito matrimonial em
casa da noiva, antes de conduzí-la a do noivo era a do cha-
mado "cálice da bênção", que ambos simultaneamente
bebiam, e, seguidamente os parentes, amigos, vizinhos e
presentes (teria sido este o vinho que 30 anos mais tarde,
nas bodas de Caná da Galiléia, caso não tivesse havido a
-60-
interferência de Maria?) Formulados os votos e augúrios
José, segundo o costume. atira o cálice por terra e des-
truindo-o totalmente pisa os fragmentos, jurando fideli -
dade a esposa. Nesta hora os convivas dansam em torno
dos esposos e cantam salmos jogando trigo e cevada so-
bre o feliz casal, símbolos da fertilidade.
• Encerrados estes ritos na casa da esposa, tem
início o cortejo nupcial que é animado pelos sons musi-
cais, dansas e vozerio dos acompanhantes; praticamente
a população de todo o vilarejo se põe na estrada seguindo
os esposos com vivas e palmas ritimadas. Chegados a
casa de José, Maria é solene e festivamente introduzida
na nova residência e prossegue o banquete de núpcias, no
qual todos participam, pois as portas da casa são abertas
a todo mundo: parentes, vizinhos, amigos, amigos dos
amigos, forasteiros e viajantes festejarão o feliz evento
não só no dia seguinte, mas até por uma semana em fora!
--..... -ô1 -
servas indígenas). em tendas ou barracas (beduinos no
areal do deserto), em palhoças/casebres (Nordeste) e até
sobre pontes e viadutos (mendigos), quando não ao re-
lento sobre trapos ou folha de jornal! O grande segredo
é lutar honesta e denodadamente para sair-se deste status
quo, pedindo e confiando em Deus por melhores dias.
• Nazaré, em gr. nazareth; em heb. naçret; em ara-
maico nasera; em siríaco naserath e em árabe en-nasirah,
etimologicamente significando a mesma coisa em todas
estas línguas: lugar verdejante (mantendo-se a terminação
feminina t/th ganha o sentido de protetora, guarita, devido
ao recôncavo, ao despinhadeiro do monte ao Norte da Ci-
dade. Dizem-na mais comumente: "flor da Galiléia". Inda-
gam alguns: Nezer = rebento em hebraico, não terá dado
origem ao nome Nazaré? (Jesus, rebento de Nazaré, o Na-
zareno). Mas o que deixa lugar a alguma dúvida é saber se
o esponsalício e as bodas tiveram lugar aí, exatamente em
Nazaré; certo, certíssimo, é que, sem necessidade de quais-
quer respaldo de pesquisadores, é evidente que a Virgem
Ssma. haja se transferido para Nazaré imediatamente e aí
vivia com seus parentes, pois "quando o anjo tranqüilizou
José sobre a gravidez de Maria, diz a Sagrada Escritura que
ele, José, a levou para sua casa, i.é., celebrou-se o ato
solene de condução festiva da esposa para a casa do es-
poso, ou seja, a etapa nissu'in.
• Se Jerusalém era orgulho e glória de todos os ju-
deus, o era de maneira especial para Maria; ali tiveram
~eus tronos_qs antepassados ~eus, os reis de Judá; ali
sua alma ansiou, no Templo, pela vinda do Messias; ali
viveu em casa de seus pais horas felizes; ali, perto da
Piscina Probática ou Siloé, passou sua infância e teve os
seus folguedos. Mas se Jerusalém era tudo isto, Nazaré
era a cidade de seus parentes mais próximos, onde noi-
vou, onde receberia a embaixada do anjo, cidade onde dis-
se o "fiat", marco de sua maternidade divina e espiritual
da Humanidade. "Maria, contraído o matrimônio com Jo-
sé, sentia-se segura e protegida. Deus lhe dera, em José,
um esposo que respeitava religiosamente o seu propósito
de levar vida consagrada ao Senhor, pois é certo que fizera
voto de virgindade perpétua e se acredita que o haja feito
tão depressa teve o uso da razão. A paz e a alegria inun-
davam seu coração e, com profundo agradecimento, pu-
nha-se a considerar a sua vida. Depois de algum tempo
seria levada à casa de José para viver ao seu lado e,
-62-
desde esse momento, tinha firme garantia de poder en-
tregar-se, em absoluto a Deus, às suas esperanças mes:
siânicas e à preparação para a vinda do Salvador. Jõse;
seu e·spõSo, representava-se-lhe como uma muralha que a
defendia exteriormente." {Willan) Mas donde vinha esta
certeza para Maria Ssma.? "Uma jovem ligada com votos
antes do matrimônio tinha obrigação de manifestá-lo ao
noivo; tanto mais se os votos se referiam ao mais íntimo
da vida matrimonial. Assim determinava a moral hebréa
e a razão natural confirmava que devia ser assim", (J. Rey)
e, "antes dos desponsórios Maria naturalmente deu conta
a José de tudo isto e ambos concordaram em viver como
irmãos." (Willan) Dalla Libera procura explicar ou mais
exato, situar o voto de Maria, referentemente ao sinal pre-
dito pelo profetismo no contexto de sua época; vejamos,
portanto, antes o que constituía voto:
-63-
• Urna senhora ebréia tinha como honroso e mes-
mo sagrado contrair núpcias, casar-se, cujo mais alto le-
gado seria o desiderato de, eventualmente, nascer dela o
esperado Messias. Diga-se que a figura do Messias era
concebida de forma um tanto confusa: um rei poderoso?
um excepcional soberano? um profeta? um conquistador?
um grande construtor de Israel? Não se definia muito
claramente a esperada figura. A infocar o contexto vi-
vencia! desta forma, o de virgindade soa um tanto extra-
nhamente, inconcebível mesmo; ainda se fosse o celibato
pelas razões ascéticas da seita dos essênios, mas as mu-
lheres sem marido eram mal vistas e até amaldiçoadas!
(como em parte ainda atualmente acontece).
• Não obstante sabemos, Maria fizera "voto de vir-
gindade"; confirma-o a resposta ao anjo anunciador: "Co-
mo se fará isso, pois eu não conheço varão?" (Lc 1,34) -
[ . . . eu não conheço varão ] foi o enfemismo usado por
Nossa Senhora para sublinhar o fato de que entre o anún-
cio que recebia e a realidade vivencial do seu ser, havia
um voto feito e a ser cumprido : ser virgem.
·.c.:.... 64-
rém, este termo na palavra grega parthenos, ou seja, "vir-
gem". Supõe-se, assim que corrente interpretativa do an-
tigo texto de Isaías ao tempo da tradução dos Setenta
fixasse "jovem senhora virgem". S. Jerônimo, também
profundo conhecedor da língua hebraica traduziu '"almah"
pela palavra latina "virgo" (= virgem). Substancialmente
se trata da concepção virginal de Jesus como está nos
evangelistas Mateus e Lucas . Assim, não se trata de
qualquer virgem que por tal ou qual método biológico-
científico pode, em teoria, conceber, mas de uma virgem
bem determinada [com voto de castidade ] que concebe
sem intervenção do homem . Este sinal de Deus [ o voto
de Maria] manifestar-se-á a Nossa Senhora (ls 7,14), cum-
prindo-se a promessa feita a dinastia de Davi (2Sam 7,16),
e até o lugar está indicado onde dará a luz aquela (vir-
gem) parturiente (Mq 5,12): Belém. Maria, portanto, na
idade do crescimento, sabedora de tudo isto - embora
não plenamente - se consagrou a Deus com voto de vir-
gindade perpétua. Onde tal aconteceu, se no Templo ou
na família, não é possível determiná-lo; da mesma forma,
não se pode estabelecer com precisão a data do voto.
Apenas estejamos certos de que este voto foi feito por
Maria antes do casamento com José.
• E, para desempenhar a excepcionalíssima missão
de protejer o voto daquela mãe-virgem, como seu castís-
simo esposo, a Divina Providência buscou a excelsitude
de um varão "justo" (biblicamente "justo" quer dizer san-
to), José, o carpinteiro. Dentro da definição de voto, S.
José é, sem dúvida alguma, um voto personificado: teve
ele a "paternidade virginal" de Jesus, no dizer do Pe. Ga-
briel Galache, S.J. - Se não teve a "paternidade-de-gera-
ção", recebeu, porém, a "paternidade jurídico-legal" (aque-
la segundo a Lei); se não teve a "paternidade físico-bioló-
gica", desempenhou, porém no escondimento - é com
que dignidade! - a "paternidade de criação". E quer a
tradição que S. José tenha proferido também voto (o que
não deixava de ser comum no Oriente àquela época); co-
mo quer que seja, Maria teve, por lei, obrigação de cienti-
ficá-lo do seu voto, antes do casamento. E devido a isto
São José viveu mais unido, mais perto de Deus através
da esposa Santíssima e Mãe Imaculada Virgem. Encerre·
mos este capítulo com os "alexandrinos" de Anchieta, o in-
signe missionário Jesuíta de nossa terra, que portava o
nome de José por ter nascido no dia do grande santo
~· 65 ..;:.....
(19/3/1534), ao redigir, em latim os 3.000 e poucos versos
do "Poema da Virgem". assim se referiu a S. José e ao
voto de Maria:
--:. 66 ~
• Caridade: A virtude da Caridade de Maria, que
abismo inexplorado e inexplorável! S. Francisco de Sales
diz que Ela foi Regina amoris (= Rainha do amor, i.é., de
Caridade). Nenhum coração foi tão abrasado de amor co-
mo o de Maria, foi com amor, de amor e pelo Amor que
Ela morreu.
• As virtudes, além das teologais, dividem-se ainda
nas cardeais (ou morais), cujo objeto são os bens criados
à saciedade, à família humana:
- Prudência; Justiça; Fortaleza; e Temperança.
• A nobilíssima virtude da Prudência em Maria, can-
tamos em superlativo, na Ladainha: Virgo Prudentíssima.
• A Justiça, considerada no mais rigoroso sentido
do termo, vem sempre acompanhada de outras virtudes,
sobretudo, a Obediência e a Religião. O ancila Domini
dos lábios de Maria revela, como num espelho, toda a be-
leza desta virtude que ornara sua alma e seu coração
na Terra e a glorifica no Céu.
• Quanto a Fortaleza, Ela, e quem mais do que Ela,
foi a "mulher forte" sublimado pelo sapientíssimo Salo-
mão. A Liturgia o proclama e canta no célebre hino Stailat
Mater esta força ante a dor, esta fortaleza de espírito no
Consummatum est, no grupo genial da escultura de Miguel
Angelo, Pietá.
• Finalmente, na Virgem resplandece, com aquele
brilho, com uma luz toda própria a virtude da Temperança,
i.é., a moderação exemplaríssima diante dos gozos, mes-
mos lícitos, estribado na sobriedade e, sobretudo, na pu-
reza, na castidade: Tota pulchra es Maria. Ressalte-se que
em conexão com a virtude da Temperança sempre está a
humildade.
• Quando formos, capítulos seguintes, tratar mais
"domesticamente" com a Ssma. Virgem, inculcaremos,
apontaremos as Virtudes de Maria para balisamento da
nossa vida espiritual moral, social. O cortejo destas 7 vir-
tudes que se nos deparam é para que Maria mesma . nos
ajude a que possamos imitá-la nestas práticas. (7 2 )
-67-
Anunciação: lc 1,2-38 S. Gabriel : 134 palavras
~
a entrev Ist a
(diálogo c/ an]o) (3 frases ) (155 pa lavras)
Nazaré { Maria Ssma.: 21 pa lavras mai s dec isiva
(2 frases) da História/Mundo
AS 166
"FALAS"
BIBLICAS
DE
NOSSA
SENHORA
73) Assinale-se que no Vol. N.o 3, desta Coleção arrolamos para mais
de 250 aparições, sanguinações e locuções interiores de Nossa Se-
nhora nos mais diversos sítios do mundo, inclusive Brasil, - "Vi-
sitas da Mãe" - a começar por aquela que lhe deu o primeiro
título ou invocação, no mundo, N. S. do Pilar (Saragosa/Espanha);
aconteceu à margem do Ebro, há 1900 anos (11 anos antes da
(assunção de Maria ao Céu) quando, em visão, apareceu a S. Tiago
sentada num pilar (= pedra) de mármore e indicando-lhe o lugar
onde se construiria uma igreja em louvor do Seu Divino Filho,
hoje a famosa Catedral Mariana de Saragosa),
-69-
era muito· diferente do hebraico. Por razões óbvias, po-
rém, o hebraico foi conservado como a língua sagrada,
tanto que nas ·sinagogas a leitura dos rôlos era· feita em
hebraico; aos poucos, paulatinamente foram traduzindo
trecho por trecho para o aramaico, para comodidade e
aproveitamento dos poucos que já não compreendiam mais
a língua primitiva." (H. Lesêtre).
-70-
A Ave-Maria em aramaico (caracteres siro-caldaicos) conforme
transcrição do Pe. Elias Maria Gorayeb, maronita, de quem fomos
"'coroinha .. nas Missas maronitas da viagem à Roma (Ano Santo
-1950). à bordo do navio "Jenny".
71
PRESENÇA DE NOSSA SENHORA NO NOVO TESTAMENTO
I
3,31-35 (ref. Mãe)
6,3-4 (ref. Miie)
14,12ss (preparaç~o última cela)?!
São 15,20-23 (vla-crucls)?!
l
Marcos 15,24-47 (crucificação, agonia, morte, desclmento da cruz e
sepultamento de Jesus)?!
16,1-14 (as santas mulheres no sepulcro vazlo)?l
16,19 (ascensão)?!
1,26-38 (anunclação/"fiat")
1,39-55 (vlsltação/"Magnificat"J
1,56-57 (estada de 3 meses em Aln-Karln até nasc. Batista)
2,4-6 (viagem p/Belém)
MARIA 2,7ss (nascimento Jesus/gruta/estábulo)
2,8-12 (presépio/pastores)
SSMA. 2,21-24 (circuns.fap. nome)
São 2,22-24 (apresent./purificação)
NA 2,25-35 (prol. Simeão: esp. dores)
Lucas
2,36-40 (profetisa Ana)
NOVA 2,39-40 (obediência do Menino Jesus à Maria)
2,41-42 (perda/encontro)
ALIANÇA
2,51 (obediência de Jesus)
3,23-38 (genealogia masc.: avô/pai de Maria)
8,19 (ref. Mã~l
11,27-28 (ref. Mãe: elogio)
Atos dos
Apóstolos { 1,13-14 (unidos c/Maria)
Ep. aos
Glilatss { 4.4 ("plenitude dos tempos")
Nota: 11os episódios/passagens onde os evangelistas (mormente São João) não men-
cionam Maria e os exegetas, bibllstas, pesquisadores consideram Impossível não haja
havido a "presença" da Ssma. Virgem, assinalamos com ?! e explicamos: os evange-
listas detiveram-se na Obra da Redenção, na história salvífica, cuja personagem principal
é Cristo Jesus; não escreveram, de modo algum, a "Vida de Maria"; esta transcorreu,
simplesmente unida e, in abscondito, a do Salvador. Maria é Lua e não Sol.
j PÉRSIA
A PALESTINA
NO TEMPO
DE MARIA
Q-l/.il!t..•/1
IS J0 4S ÓO 1S 90 lDS 120
-74-
,• A que horas?' e o que fazia a 'Virgem Ssma.? A
"entrevista" mais importante que a História registra (diá-
'logo de 5 frases e 55 palavras) não adianta nada sobre
estes pormenores. Uma coisa, porém, pode ser sublinha-
da: a grande maioria dos artistas pinta a cena em lugar,
em momento de oração. Certamente, portanto, estava
Nossa Senhora em oração, talvez até em contemplação no
instante da aparição de Arcanjo São Gabriel. É sabido que
"os judeus - observa H. Lesêtre - de manhã e à tarde,
liam à guisa de oração, cerca de 3 passagens da Lei que
eram exortações para ficarem fiéis a Deus. Havia outras
orações, como por exemplo, a chamada "as dezoito" por-
que se compunha de 18 fórmulas. Essa era rezada 3 ve-
zes ao dia, recomendando-se, porém, que se fizesse às
ocultas e sem muito palavreado." E F. Willan reforça:
"Quem sabe Nossa Senhora não estivesse recitando 'as
dezoito' ou algum salmo messiânico quando São Gabriel
lhe apareceu? Seja como for, o seu espírito estava sem-
pre recolhido e em qualquer instante Ela estava mais pre-
parada para receber um enviado do Céu do que qualquer
criatura na mais fervorosa oração." O Cardeal Barônio
tornou as 18 hs. como sendo a hora da Anunciação; e com o
nome de "Angelus" (ou da "Ave-Maria") tradicionalmente
este mistério é lembrado em todo o mundo.
• "Entrando o Arcanjo onde Ela estava ... " - Estas
palavras provam que o Arcanjo se apresentou em forma
visível, i.é., com formas humanas, tal como se apresen-
tara a Daniel em Babilônia e em tantas outras passagens
do Antigo Testamento. Fácil se percebe que o texto evan-
gélico faz supor que Maria reconheceu (de imediato) no
embaixador celeste, um ser espiritual, um enviado divino,
embora sob figura humana. E entre outras razões de per-
cepção, esta: certamente S. Gabriel apareceu num jacto
de luz ·prodigiosa e desde que Adão fora expulso do Pa-
raíso, era a primeira vez que um seu descendente era
assim saudado com expressões tão sublimes." (F. Willan)
Todas as palavras do Anjo estão calcadas em textos do
Ant. Testamento, observa L. Mckenzie, S. J.: Gn 16,11;
Jz 5, 24; 6,12; 13,3; 2Sm 7,12; ls 9,6; Dn 7,14; Mq 4,7.
• O evangelista diz que Maria turbou-se, ficou per-
plexa e que S. Gabriel se apressou em explicar-lhe dizendo
que não tivesse medo. Mas certamente não dever ter
sido o medo dos sentidos, como p. ex., o medo que senti-
mos na hora do perigo, de catástrofe, de angústia, não.
Explica um dos maiores mariólogos: "A perturbação era
-75-
de outro gênero, mais profunda do que tudo Isto. O evan-
gelista confirma-o, empregando uma expressão que indica
uma inquietação muito grande. Em seu espanto, Maria
ficou, a princípio, sem palavra, e procurava assegurar-se
contra o que se lhe representava muito confuso. E o Anjo
se apressou em tirá-la daquela perplexidade: " ... encon-
traste graça junto de Deus". llc 1,31) A expressão "en-
contraste graça junto de Deus" tinha um sentido muito
mais profundo do que "o Senhor é contigo" aos homens
que Deus escolheu para alguma missão especial. Assim
se fala na Bíblia de Noé, o "segundo pai da Humanidade";
assim de Abraão, "pai do povo de Israel "; assim de Davi,
"cabeça da Casa Real" do seu nome: todos estes "en-
contraram graça junto de Deus." (F. Willam)
• E assim, tranqüilizada pelo Arcanjo S. Gabriel, que
melhor do que ninguém - anjo e embaixador celeste -
mostrou que nada sofreria o seu voto, não se fez esperar
a firme decisão de Maria Ssma.: -"Eis aqui a escrava do
Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra." (Lc 1,38)
Deu o seu consentimento, o "fiat", sem querer saber se
isso lhe causaria alegria ou sofrimento, honra ou ignominia,
glória ou humilhação. A única vontade era cooperar com
os planos de Deus. E, deste modo, pronunciou a palavra
definitiva: "fiat", não só a seu respeito, mas também a
favor e em representação de toda a Hu manidade. Em, na-
quele justo momento do "fiat" Maria começava a ser a
Mãe de Deus, Cristo Jesus. . . "Qui propter nos homines ,
et propter nostram salutem descendit de caelis. Et incar-
natus est de Spiritu Sancto ex Maria Vírgine : Et homo
factus est." (o qual, por amor de nós, homens, e para a
nossa salvação desceu dos céus. E encarnou-se por obra
do Espírito Santo em Maria Virgem, e se fez homem). (7 4 )
O verbo fiat ( = faça-se, em latim, é costume traduzi-lo pelo
adjetivo sim: consentimento, aceitação, obediência, hu-
mildade, cooperação.
• E eis Maria mãe-virgem, a "'almah" dos profetas
escolhida, preservada "ab aeterno" para Mãe de Deus,
mas também a nossa Mãe, a segunda mãe dos homens ,
-76-
pois "a verdadeira maternidade- no dizer do Pe. J. Buys,
S. J.- não é apenas de ordem biológica, mas também e,
sobretudo, uma relação de ordem espiritual. Ao aceitar
ser Mãe do Filho de Deus, Nossa Senhora aceitou ao mes-
mo tempo, uma colaboração incondicional em toda a Obra
do seu Filho. Quando São Gabriel lhe anunciou, não pre-
viu Ela, por certo, tudo o que estava implícito em sua
missão, mas tudo aceitou com fé e caridade sem limites."
Eis a grandeza incomensurável do "fiat": não apenas hu-
mildade, mas fé; não apenas fé, mas amor. "Maria sus-
pirara ano após ano, pela salvação da Humanidade. Todos
os dias pedia a Deus apressasse a vinda do Redentor.
Para essa vinda se havia preparado cada vez com mais
fervor. Por isso deu o "fiat" para o Salvador descer no
seu seio puríssimo e nele estabelecer sua morada. A
maternidade espiritual de Maria começou, portanto, no
mesmo instante em que começou a corporal, a física. Po-
de-se dizer, até, que a espiritual tomou virtualmente a
frente da corporal, pelos sentimentos íntimos, que a ani-
mava, pelos anos que consagrava a Humanidade e pelos
anseios que tinha pela vinda do Redentor." (F. Willam)
• Querem muitos estudiosos e pesquisadores que o
relato da Anunciação se deve à informações da própria
Virgem, que certamente, de viva voz, narrou o que então
escreveu S. Lucas o único dos 4 evangelistas a fazê-lo lar-
gamente. E o que não se percebe de imediato, mas ressalta
de forma sublime e para a nossa imensa satisfação é que
no episódio da da Anunciação/Encarnação estão contidos,
ressaltam 3 dos 4 dogmas marianos: 1) Conceição Ima-
culada - 2) Maternidade divina - 3) Virgindade perpé-
tua. E vamos encontrar, com base ou com inspiração
neste central episódio da vida de Nossa Senhora pelo
menos para mais de 50 prerrogativas, privilégios, trata-
mentos, títulos, figuras/símbolos, paradigmas, primícias
e invocações (inclusive na tradição grego/latina, eslava,
etc.):
1 - Maternidade espiritual,
2 - Mater divinae gratie,
3 - Mater puríssima,
4 - Mater castíssima,
5 - Mater inviolata,
6 - Vaso espiritual,
7 - Esposa de José,
8 - Cheia de Graça (Kekhatoriméne),
-77-
9 - "Serva do Senhor".
10 - Virgem de Nazaré.
11 - Virgem Santíssima,
12 - Semper Virgo,
13 - Beata Virgem Maria (*)
14 - Anunciada,
15 - N. S. da Expectação,
16 - N. S. do Parto,
17 - N. S. da Luz,
18 - Mãe do Redentor,
19 - Mãe nutriz do Redentor,
20 - Geratriz do seu Genitor,
21 - Mãe dos homens (da Humanidade).
22 - Esposa do Divino Espírito Santo,
23 - Mediadora,
24 - Mãe dos cristãos,
25 - Figura da Igreja como (Esposa/Mãe),
26 - Modelo da Fé, da Esperança e da Caridade,
27 - Obediência na Fé,
28 - A que primeiro acreditou ,
29 - A primeira a testemunhar,
30 - Rainha do Universo,
31 - Coorredentora do gênero humano,
32 - Guia nos caminhos da verdade,
33 - Remida do modo mais sublime,
34 - Inestimável dom de Deus,
35 - Poderoso auxílio,
36 - Mística Rosa e Esposa Fiel,
37 - lntercessora magnífica,
38 - Dom de Cristo a cada um pessoalmente,
39 - Porta do Céu,
40 - Mulher extraordinária, e
41 - Luz do espírito humano.
Louvação em línguas orientais:
Deípara/Deigenitrix (= Mãe de Deus)
Theotókos (= Mãe de Deus)
Parthenon (= Virgem)
Odiguitria (= guia, caminho, via)
Déisis (= orante, intercessora, medianeira)
Pokróv (= protetora, refúgio)
Elousa (= misericordiosa, clemente)
Glycoufilousa (= terna, pia, dulce/doce).
-80-
prestar atenção à narração clara do evangelista: de Maria
diz que guardou silêncio absoluto a respeito de sua con-
ceição miraculosa; de José que pensou seriamente em
abandoná-la secretamente: por ter concebido antes de
coabitarem. "José ( ... ) sendo justo, e não a querendo di-
famar, resolveu repudiá-la secretamente. Andando ele com
isto no pensamento, eis que um anjo lhe aparece em so-
nhos e lhe disse: . . . não temas em receber Maria, sua
esposa . .. " (Mt 1, 18-20).
~
-= 81 ~
.J
"Maria contou agora a São José os sucessos e milagres
que tiveram lugar em Ain-Karin e anteriormente como o
anjo lhe anunciara o mistério da maternidade divina e co-
mo lhe ordenara puzesse o nome de Jesus no Menino. E
José, por sua vez, contou-lhe o que o anjo dissera: que
podia recebe-la por esposa porque tudo se dava por obra
do Espírito Santo e também mandou-lhe pôr no Menino o
nome de Jesus. E vieram outras novidades: devem ter
comentado a mudez de Zacarias, a lida de Isabel sem Ma-
ria perto, etc. Todas as trevas se dissiparam e começava
ali vida nova. "Nenhum casal de noivos dispôs os prepa-
rativos próximos do seu casamento com amor mais puro
nem mais santo que José e Maria naquela hora em que
se viram escolhidos para protetores do grande mistério
divino.
• Os antístites italianos, através da Conferência
Episcopal - noticiou a imprensa mundial - preconizam
o retorno ao noivado religiosamente mais consciente, di-
zendo aos jovens como será benéfico a "redescoberta da
aprendizagem pré-nupcial", o que, de certa forma, nos
recorda o noivado da Virgem Ssma. com S. José, achamos
nós; "essa etapa da vida - diz o oportuníssimo documen-
to - desde que caiu em desuso o noivado religioso, li-
túrgico e seus benéficos frutos deve ser prática redesco-
berta e posta em uso novamente como uma bela e impor-
tante apredizagem dos noivos, para amadurecimento es-
piritual de sua relação de amor" ;(7 5 ) os valores da união,
da fidelidade, da indissolubilidade do casamento - expres-
sos de modo tão eloqüente no referido documento dos
bispos italianos -foram luminosas pedra-de-toque na con-
vivência do santo casal de Nazaré. Maria teve em sua
vida de constante dores e instantes de infinita alegria,
mas este momento há de ter sido dos mais memoráveis,
dos mais sublimes. E José também. O par total e san-
tamente estabelecido, em via de ser aumentado de mais
um figurante, formando então uma família, a família sa-
grada: Jesus, Maria e José
-82-
18 - VISITA A STA. ISABEL E O "MAGNIFICAT"
-83-
mts. de altitude, uma bíblica estrada descia até a planície
de Esdrelon, subia a cordilheira de Samaria, atravessando
Dothain, Samaria, Siquem e por fim entrava na Judéia, em
cujo coração está Jerusalém, distante, contada à antiga,
cerca de 5.000 passos (= 150 Kms.).
• Maria já tinha conhecimento da estrada devido
às diversas vezes que tomara parte nas Festas do Templo,
em peregrinações à Terra Santa que duravam 4/5 dias ou
mesmo 1 semana. Juntou-se por certo a alguma caravana
das que por aí trafegavam ordinariamente, e, ao que muitos
querem, teve a companhia de S. José, pelo menos em
grande parte do percurso. É mais natural supor que josé
acompanhou Maria até Jerusalém, certamente integrado
n'alguma peregrinação para os festejos do Templo, e que
daí em diante Nossa Senhora continuou a viagem integrada
em comitiva que retornava a Ain-Karim, ou com algum pa-
rente. Praticamente durante a Virgem Maria não sentiu
nada dos incômodos, de tanto que seu espírito extasiado,
pensava, meditava no mistério que levava em seu seio.
Daí não ser temerário pensar que a Virgem Santa teria
começado neste momento a elaboração do "Magnificat"
para ulterior complementação em Ain-Karim.
• Muitos estudiosos acham que o encontro, após a
longa e cansativa viagem pela região montanhosa, se deu
numa casa de campo e não na residência propriamente de
Zacarias, pois Isabel se encondera por algum tempo, refu-
giara "por 5 meses." (Lc 1,24) em lugar longe da curiosi-
dade pública de ver uma senhora idosa em estado de gravi-
dez. Em escondimento, também agradeceria bem me-
lhor a Deus, em contínua oração o tornar-se mãe em
idade tão tardia, e levantava-lhe a maldição, o opróbio.
Para esta visita/encontro com sua parenta descendente
de Aarão, da estirpe de Abia, mulher do sacerdote Zaca-
rias, a Virgem fora movida pelo Espírito Santo; pois ne-
cessitava Isabel dos serviços da jovem, carinhosa e íntima
parente, acrescendo a determinação divina desta visita/
encontro entre as duas mães, cujos nascituros estavam
fortemente ligados ao mistério da Redenção e no ventre
materno se conheceram (Isabel disse que o Precursor pu-
lou de alegria na sua barriga (Lc 1,41-47); assinala com-
parativamente Dalla Libera: "Maria, nova Arca de Aliança,
sai de Nazaré para Judá como a Arca Santa foi levada por
Davi, de Kariatijm até Jerusalém, (2Sm 6,17) para a tenda
real que lhe preparara."
-84-
• São Lucas dá como sendo imediato, logo após os
cumprimentos de praxe e o conhecimento milagroso da
maternidade divina de Nossa Senhora, a recitação ou cân-
tico do "Magnificat". Maria prorrompeu num cântico de
louvor, dando livre curso aos sentimentos que tinha co-
movido seu coração durante o tempo que mediou entre a
Anunciação, a viagem a Ain-Karin e sua chegada a casa
do sacerdote Zacarias com sua esposa Isabel. - Outros,
porém, dão todo o espaço de tempo da permanência na
vila que foi do nascimento do Batista até sua circuncisão,
ou seja, 3 meses e pouco. - Exaramos, no vol. n.o 1 desta
Coleção - "Peq. Dic. de Nossa Senhora" - sobre este
cântico-oração de Maria:
• Magnificat, que Le Camus diz ser "a única página
do Evangelho que nos permite penetrar nos mistérios do
espírito de Maria ( ... ) Ela não fala, canta." - Sim, canta
imersa na mais profunda humildade exaltativa, o seu cân-
tico de agradecimento. - Di.sse, e disse-o bem Sto. Agos-
t[nho, ao afirmar que cantar é rezar duas vezes, e senti-
mos eloqüente prova disto quando entoamos este poema-
oracional que a Ssma. Virgem proferiu em sua língua ma-
terna - arameo/aramáico: Nascho dil tchabah lmorio -
e hoje é cantado em todas as línguas do mundo (em grego
o Magnificat tem 102 palavras; em latim 89 e em portu-
guês: 105).- Magnificat, conhecido com este nome latino
devido a versão Vulgata de S. Jerônimo: Magnificat anima
mea Dóminum (palavra inicial do 1.0 verso). é um hino ou
cântico-oração entoado pela Virgem nesta visita, tendo já
no sacrário virginal do seu seio, Jesus Cristo. - Observa
o Pe . Mckenzie, S.J., que "o cântico de Maria, tanto no
tema como no tom e na expressão, aproxima-se ampla-
mente do cântico de Ana (1Sm 2,1-10), com o qual pode
ser colocado em paralelo," quando expande sua alma em
louvor e agradecimento; lembra aqueles outros de heroí-
nas israelitas que, aliás foram "figuras" de Maria: Débora,
Judite, Maria, (a irmã de Moisés) e Lia. - O Magnificat
constitui~o padece dúvida , um poema, é jóia da poesia
hebraica, mas é, antes de tudo, o cântico-oração inspirado
pelo Espírito Santo. (76 ) Por oportuno, recomendamos um
dos mais interessantes estudos sobre o "Magnificat", que
é o livro do mestre e amigo Dom Geraldo Maria de Morais
Penido, lançado pela Ed. Santuário (Aparecida) em 1984.
- - 86 ~-
• Dormiam nas clareiras. a céu aberto, quando o
, sol se punha e a estrada ficava escura , ~_!!LQ@__:__q§é
erovidenciasse o lume da Jampari na de azeite; tendo ria-
cho próximo procurava abastecer-se de água (o odre de
vinho já estava no final). Via a provisão de alimentos,
mormente o pão, cuidava do jumento, o companheiro in-
separável. Mana, naturalmente com o ventre entumecido,
ajeitava-se do melhor modo possível, devido o peso da
criança . José, transbordante de ternura, todo atenções e
cuidados, molhava panos no rio Jordão e refrescava o
rosto, os braços, os pés da esposa que agradecia. Em
algumas ocasiões conversavam sobre suas famílias, há-
bitos, tradições, jeitos, enquanto se alimentavam, com a
típica comida, acompanhadas com "charoset", ervas e fru-
tos. Fazendo-se manhã, bem cedinho, com o sol por traz
das montanhas de Moab retomavam a caminhada de mis-
tura com peregrinos e comerciantes em demanda do Sul
e provindos de Jerusalém e até do Egito; pelo 4. dia, à
0
=87=
cortando o silêncio da noite; noite fria e ameno soprar da
brisa correndo do Sul; a escuridão da noite era rasgada
pelo brilho de estrelas no céu. Puxou, José, com um
pouco de mais pressa o jumento com as preciosas cargas:
Maria e no seu santíssimo seio, prestes a nascer, o Sal-
vador do mundo. E, finalmente, chegaram à Cidade de
Davi!
• A noite era escura e chovia; já aproximando-se da
hospedagem, José percebeu a desusada movimentação,
com gente dormindo à beira da estrada. A "Hospedaria
de Chamaã" ficava à esquerda, construída num penhasco
rochoso que se projetava sobre o vale. Deixando Maria
à pequena distância José procurou o proprietário e expli-
cou a difícil situação em que se encontrava: esposa pres-
tes a ser mãe, precisando, pois de um lugar com um pouco
de privacidade, não servindo dormitório coletivo como via:
pessoas que dormiam no chão da sala principal, vestidos
e com as cabeças apoiadas em sacos de viagem ou em-
brulhos à guisa de travesseiro; muitos procuravam dormir
em pé, encostados nas paredes! (cada côvado fora alugado
há 3 dias e muitos peregrinos estavam se revezando no
mesmo espaço!) José insistia e o estalajadeiro irritou-se;
chamou sua mulher e perguntou se ela conhecia algum
lugar para indicar ao forasteiro. "Lugar para ter um filho?
Só se fosse nas grutas, lá distante, perto do Campo dos
Pastores, onde ficavam animais (lá não quiseram fi~ar os
peregrinos). José agradeceu e voltou para onde deixara
a esposa, pois " ... aconteceu completarem-se os dias
em que devia dar à luz ... " (Lc 1,6)
• Por um dos dois caminhos que desciam do alto
da hospedagem penhasco abaixo, José foi ter na escavação
da caverna, espécie de gruta; notou grande fadiga em
Maria, e, de fato, Ela era toda cansaço e dores . Contem-
plou por instantes a José, e, sorrindo levemente agrade-
ceu-lhe tanto trabalho e preocupações, pedindo-lhe que se
afastasse, e, quando chamado voltasse com uma porção
de água quente. José, levando o ôdre foi cuidar de acen-
der, fóra da gruta, uma fogueira; antes, limpou rapida-
mente uma manjedoura que esta perto duma baia, en-
chendo-a de feno, o mais macio que encontrou por ali.
• A fogueira ardia lá fora, esquentando a água; Maria
chamou-o e pediu trapos de pano, e que acendesse, e pu-
zesse perto dela o lume da lamparina (velha companheira
de viagem que fora tão útil). Os animais, ou seja, umas
~ss-
ovelhas, boi, camelo, o jumentinho da viagem, ali estavam
ao abrigo da noite ; atiçado pela brisa fria que soprava
do Sul o fogo continuava a aquecer a água. Nenhuma
viva alma descera da hospedagem a fim de indagar se a
parturiente precisava de alguma coisa! Uma infinidade
de silêncio envolveu por instantes aquele futuro da Hu-
manidade! . . . Maria rezou ... José esgotara de há muito
tempo todas as suas reservas de orações. . . E piedosa
lenda conta: Maria Ssma., levantando o rosto para a saída
da gruta permitiu que seus olhos vissem o aparecimento
de 3 estrelas de brilho invulgar lá pelas montanhas de
Moab . .. e logo em seguida fundiram numa só Estrela de
mais e mais intenso brilho, algo excepcional , jamais pre-
senc iado; quando se fixava de modo total no que via, a
Virgem ouviu um gemido fininho, baixinho, um som
tênue de choro de crianç a! ... E o ambiente todo ilumi-
nou-se duma luz sem igual! ... Chamou com nervosa-ale-
gre aflição o esposo José, e apontou-lhe um bebê sobre
as palhas! - E deixemos concluir este quadro a pena do
escritor Jim Bishop, transcrito já linhas atrás :
-89-
CALENDÁRIO E FESTAS JUDAICAS
(na época de Maria Ssma.)
16121
TabefnKulo'
Sukkôt•Caban•• \
10/11
Yôm KippÜr
(Expioçlol -
1'?diedomês _
Trombetls
Rô•Hoohonáh _,
tononowol
Pentecostes
($hevuôt-colheital
50~ dia
-90-
20 - PURIFICAÇÃO DE NOSSA SENHORA/
APRESENTAÇÃO DO MENINO
I -91-
evangel ista São Lucas enf oca em dois pontos f unâamen-
ta is: a Purificação de Nossa Senhora, (" Quando se cumpriu
o tempo da sua purificação") e apresentação do Me nino
Jesus no Templo (" levaram-n'O a Jerusalém para O apre-
sentarem ao Senhor .. . " ).
• Para Israe l uma das coisas que tornava a mulher
impura legal mente era dar à luz uma criança. Por isso o
Levíticó, (obra sacerdotal e de caráter ritualista). diz que
a mulher parturiente deve apresentar-se ao sacerdote na
entrada da " ten da da reunião", (mais tarde será no Temp lo
de Jerusalém). 40 dias depois, se é um filho e 80 dias , se
é uma filha , para purificar-se. Deve levar consigo um cor-
deiro de um ano para oferecer em holocausto, como reco-
nheci ment o e homenagem a Deus e uma pomba ou uma
rola, em sacrifício pelo pecado, como expiação pessoal e
para purificação da impureza legal. Se for pobre levará
duas pombas ou duas rolas, uma para o holocausto e out ra
para o sacrifício . (Lv 12, 1-8) . Não se sabe ao certo qual
é a origem desta lei. Pode provir do paganismo mas fil-
trada pela fé do povo de Deus, ou ser fruto duma reação
deste povo de Deus, Israel, contra a divinização do sexo
professada pelos vizinhos idólatras e politeístas ; ou ainda
pode ter sido ditada pelo sentido do respeito para com as
fontes da vida da qual só Deus é o Senhor; se trata duma
lei puramente legal e ritual e não moral, muito embora com
sentido teológico profundo . De modo que a mulher que
de ra a luz , considerada impura pela lei, tampouco era per-
miti do entrar na comunidade santa do povo de Deus para
dar culto ao Senhor , sem antes se purificar, era onerada
em 5 ciclos de prata ao ter que levar animais para o ho-
locausto! E, "quando se cumpriu o tempo da sua purifica-
ção" Maria, subiu ao Templo de Jerusalém (Lc 12,22). não
estava ob rigada porque não tinha necessidade de purifi-
ca r-Se. Ninguém melhor do que Ela, que tivera um parto
Virg inal dis so sabia , mas humilde e obediente, quis igua-
lar-Se todas as out ras mu lheres.
• Com o Menino, José, seu pai nutrício, já cumprira
a tradição da circuncisão aos 8 dias de nascido, pois o apor
o nome, o pai ou o rabino poderia proceder o corte do
prepúcio, lei mais de higiene do que propriamente reli-
giosa. "A circuncisão, que em relação aos hebreus re-
presentava o nosso batismo quanto a incorporação ao povo
eleito." (cfr. nota-de-rodapé, comentário do Pe. Matos Soa-
res, na "Bíblia Sagrada" , dos Paulinos).
-92-
• Ao que se deduz a circuncisão do Menino foi pro-
cedido na sinagoga, no cruzamento principal de Belém :
"Depois que se completaram os 8 dias para ser circunci-
dado o Menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe
tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no ventré
[ materno ] ". llc 1_,_21)- Então José çpmp areceu diante do
rabino e alegando não ter prática, porque jamais ora pa1 ,
pediu ajuda para ofic1ar o n t ojcerimon1a (o que era per-
mitido) . O rabino guiou, então, a mão calosa do carpin-
teiro, e as primeiras gotas de sangue foram derramadas
pelo Filho de Maria .
-93-
pada, a fim de se descobrirem os pensamentos escondi-
dos nos corações de muitos". (Lc 2,35)
• Maria intrigara-se com estas coisas, e ainda refa-
zia-se quando surgiu da multidão uma mulher de aparên-
cia muito idosa. Era a profetisa Ana, filha de Fanuel, da
tribo de As er (deveria ter perto de 106 anos: era v1uva
há 84 anos. mais 7 de casamento e a idade ritual para
consoci ar-se: 15 antes das núpcias). Ao que parece,
fora preceptora de Nossa Senhora, quando interna (nazi-
rena) no Templo.
-94-
• Dão como primeiro lugar a hoje chamada "Gruta
do Leite", (piedosa tradição conta que a Puríssima Virgem
deixou cair ali uma gota de leite quando amamentava Je-
sus, e a pedra tornou-se esbranquiçada) onde está cons-
truído um antiquíssimo Santuário, cerca de 100 me-
tros da Basílica da Natividade, na colina dita "Daví-
dica". É indicado, porém, um segundo lugar, onde
também existe modesto santuário dedicado a S. José,
ao longo da estrada, cerca de 5 minutos caminhando-se a
pé; asseveram que ali morou a Sagrada Família. O fato
é que tão logo serenaram os problemas dos forasteiros a
Sagrada Família reestruturou-se numa casa-gruta, pensan-
do - quem sabe? - fixar-se para sempre na "Cidade de
Davi"; e a casa, possivelmente dispunha dum portão, cis-
terna ou poço, bancos, fogão-de-pedra e, indispensavel-
mente, a oficina-de-carpintaria.
-95-
Judeus". E empreenderam viagem, tomando o caminho
mais viável, que da fndia levava ao Egito, dito pelos roma-
nos ''Via - Maris", porque costeava o mar. Depois de vá-
rlos dias passaram pelos desfiladeiros de Moab para Je-
·ricó, oride o Mar Morto e o Rio Jordão se encontram.
Cruzaram o rio e subiram para Jerusalém; chegando ao
Templo se inteiraram com sacerdotes levíticos, sempre
.m uito prestativos no atendimento do povo. Estes mos-
traram outras profecias: Isaías falou de uma "virgem que
dará a luz" (7,14} e Miquéias apontava o lugar: "Você
Éfrata de Belém, Terra de Judá" (5, 1-3). E os 3 sábios,
depois de visita de cortezia a Heródes, que lhes ofereceu
uva e figos frescos, fez-lhes muitas perguntas veladamente
acadêmicas, pro-forma . . . pedindo que depois lhe infor-
massem, porque também queria adorar o novo rei! . . . Os
3 partiram para Belém, mas conheciam bem os antece-
dentes de Heródes, o mais cruel dos reis, o mais afastado
de Deus, com 35 anos de reinado tirânico. Como tolerar
que um recém-nascido se intrometesse em sua vida?
-96-
diversas quantidade: 2, 4, 6 e até 12. O texto do Salmo
71,11 há de ter sido a causa de julgá-los reis:
l -97-
• Estes 3 presentes mencionados no Evangelho: o
ouro puro, que também, extra-liturgia, simboliza o verda-
deiro amor; o incenso, de aroma agradável quando quei-
mado para afumação, assinala a fé, a oração, a adoração;
e, a mirra (outra resina da Arábia) mostra a fé viva em
Deus humanado que morreu pelos nossos pecados, estes
3 presentes não deixam de supor que tenha havido outros.
Do alforge os 3 sábios, após presentear o Menino, come-
çaram a depor dádivas para Maria e José: Tecidos finos,
potes de olibano (para armazenar alimentos), toalhas, un-
güentos vários. José está atordoado e agredecia sem
cessar. E já noitinha, não podendo aquiecer aos convites
de José e Maria, para permanecerem, os magos deram os
cumprimentos à maneira oriental, se foram como está dito
no Evangelho, não voltaram, pelos caminhos, pelos quais
encontrariam Heródes.
-98-
à Heliópolis (outrora cidade dita de On) e prossegumam
até à tranqüila aldeia de Matarich (cerca de 7/8 kms, do
Cairo). A população de Matarich (alguns grafam Matariê)
orgulhosamente venera no Jardim do Bálsamo, um sicôromo
(espécie de figueira) cognominado árvore da Virgem (origi-
na-se de outras que ali existiam) e diz-se que Nossa Se-
nhora à sombra dela repousou.
• Nada relatam os evangelistas da viagem de ida e
retorno ao Egito e tão pouco algo sobre a estada. Estão
cheios sim, os apócrifos que narram numerosos episódios:
por exemplo, faltando alimentos, uma palmeira, certo dia,
curvou-se e parmitiu se tirassem dela deliciosas tâmaras;
os salteadores de estradas, vendo luminosa auréola sobre-
tudo circundando a cabeça de Menino Jesus defendiam-
nos; os animais ferozes, espalhados pelo deserto, serpen-
tes, chacais, leões, ienas não só não atacavam, mas os
seguiam pela estrada como um cortejo de mansos bichos
domésticos. Evidente que tudo isto não passa de pura
e inocente fantasia. Porém, outros episódios existem que
deturpam não só a história, mas a doutrina. Inúmeros te-
rão sido os momentos de unção e poesia familiar. Que
nos permitam este vôo imaginativo:
-99-
E os dromedários - pescoços erguidos -
Cruzavam a estepe como adormecidos;
Lançava um jasmim perfumes ligeiros,
Da mãe envolvendo seus sonhos primeiros . . .
E sempre que Cristo os olhos abria,
De amor era um hino à Virgem Maria!" (7 8 )
-100-
• E recomeçaria toda aquela agrura, fazendo José
pensar bem nos planos para o retorno: não poderia
usar os mesmos caminhos de quando veio, não poderia
vencer em média, mais do que 15 kms. por dia; o
caminho a percorrer, como supunha, era de muita
areia, logo, mais árduo e lento, o Menino, já um
tanto crescido, daria mais trabalho. Mas as lágrimas
do exílio terminaram! Maria cuidou das primeiras pro-
visões, o Menino saltitava com a novidade! Jamais
se exigira a um marido tão duras provas de amor
como estas ao humilde carpinteiro! O retorno - que foi
no tempo da Páscoa, obrigou José, por segurança, "evitar
a passagem pela região da Judéia, tomando ele, certamen-
te, às margens do Mediterrâneo por Gaza e Cesaréia da
Palestina. Esse caminho passa pelo Carmelo e quer a
tradição local que os viajantes tenham passado na caverna
chamada Escola dos Profetas ( ... ) e foram estabelecer
moradia em Nazaré da Galiléia.- Há, porém, os que ali-
mentam esta hipótese: podiam ter escolhido, quem sabe?
retornar direto a Nazaré, servindo-se da "estrada fluvial"
que é o Rio Nilo, pois pequenas embarcações os conduzi-
riam até Alexandria, depois, costeando o litoral palesti-
nense chegariam ao porto de Joppe e a Tolemaida. Deste
último porto até Nazaré, a distância é apenas de um dia
à pé. O fato é que findava a odisséia, acabou-se o exílio!
A casa da Sagrada Família, onde quer que estivessem:
Belém, Egito, Nazaré sempre foi lugar de encontro dos
chamados "anawin" (= pobres de espírito, ou seja, sem
ambição); Maria se sentia pertencer, por direto, a esta
categoria que um dia seu Divino Filho chamara "bem-aven-
turada" (Mt 5,3). porque, ante a dura prova do exílio (na
ida e no retorno), tudo aceitou sem reclamos e, sobretudo,
porque era Mãe de Deus, Aquele que viera salvar os opri-
midos e sofredores.
-102-
quando então tinham fim os festejos pascais secundários
(como se preparassem as coisas, dispondo as obrigações
de tal modo, a permanecerem, uns ficavam, outros não);
retornavam logo as mulheres e crianças.
• Tanto na ida como na volta - já o dissemos -
reuniam-se, de preferências, grupamentos de homens e de
mulheres (os homens tinham movimentação mais rápida,
ao passo que as mulheres tinham, por exemplo, os afa-
zeres próprios que continuavam: lavagem de roupa, cozi-
nhar. cuidar das crianças. Tanto na ida como na volta, o
Menino Jesus teria preferido o grupo onde estava S. José,
pois atingia a maioridade. Os grupos dos nazaretanos ou
nazarenos (oriundos de Nazaré) eram numerosos e muitos
retornaram cedo, isto é, antes dos derradeiros atos. O
Menino, naturalmente peralta nesta idade, distraía-se com
algum coleguinha e desgarrou-se do grupo de sua gente.
Ao chegarem de retorno, aqueles que eram da cidade de
Nazaré, ao ponto combinado de encontro para a merenda
e pernoite constatou-se a ausência do Menino! Pensa-
ram, cada um, Maria e José, que estivesse o Menino no
grupo deles! Constatavam porém, agora, que se enga-
naram e o Menino ficara no Templo! Que jeito? Voltar,
como voltaram, ao Templo, encontrando-o após 3 dias de
aflitíssima busca!
'• Como tudo que acontece na vida de todos nós, o
episódio da perda e encontro do Menino, com 12 anos, no
Templo, deu-se, temos de convir, por manifesta deliberação
divina e foi, segundo muitos Autores, "o único a causar no
coração da Virgem receios comparáveis aos que teria quan-
do Jesus a deixasse, definitivamente dentro de 18 anos,
início então de sua vida pública." Imagine-se a dor dum
coração de mãe que de repente constata a perda do filho
que consigo trazia com todo desvelo e carinho para uma
festa?! Eis uma outra "espada" de que falara o velho
Simeão. Ainda não cicatrizara a ferida daquela provocada
pela fuga e exílio no Egito. De forma alguma se poderá
acusar Maria e José de negligentes, ainda mais conhe-
cendo-se os hábitos tradicionais das caravanas que de-
mandavam, na Festa da Páscoa, a Jerusalém : muito natu-
ralmente supôs José estar o Menino no grupo de Maria,
enquanto Maria pensou estivesse ele no grupo dos homens
(com 12 anos, ainda uma criança, tanto podia ficar num
grupo como noutro). - Por vez primeira, dissemos já, es-
tava ele indo a uma Festa da Páscoa.
-103-
• De louvar, portanto, o cuidado de José e Maria,
providenciando a desobriga do Menino aos preceitos da lei
mosaica, embora sabedores - como sabiam - que estava
ele dela isento como Filho de Deus. Aliás, Jesus à isto
aludiu de certa forma quando, após estes 3 dias de aflita
procura foi encontrado a discutir com os doutores da lei:
"Filho, por que procedeste assim conosco? Teu pai e eu
te procurávamos ( ... ) Ele disse-lhes: por que me buscá-
veis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu
Pai?" (Lc 2, 48-49) Note-se ainda que ao referir-se ao
subseqüente em Nazaré, o evangelista assevera que "o
Menino era-lhes submisso", adiantando que ao mesmo
tempo que crescia em sabedoria e estatura, também cres-
cia "em graça diante de Deus e dos homens". (Lc 2, 51-52)
E diz São Bernardo no tocante a este passo das Escrituras:
"Em Nazaré, Aquele a Quem os espíritos celestes obede-
cem, e diante do Qual tremem, está submisso a duas cria-
turas; não se sabe o que admirar mais: se a obediência do
Filho ou a dignidade da mãe. Na obediência de Jesus há
uma humildade sem par; na autoridade de Maria sobre um
Deus há uma grandeza sem rival."
-105-
sair ou entrar em casa tocavam com os dedos no rolo e
depois na fronte (assim como fazemos nós com a água-
benta). O teto era chato (lage) e servia também como ter-
raço, pois tinham uma balaustrada (muitas vezes, no verão,
faziam-se ali as refeições, rezava-se e até mesmo, dormia-
se, armando tendas sobre catres, ditos "leitos" como no
episódio da cura do paralítico de Cafarnaúm, cujo "leito"
foi retirado pelo "teto"). (Me 2, 1-5) O piso era de terra ba-
tida [muito raramente forrado de tábuas).
• Tendo passado, assim como fazem altas autorida-
des civis/militares, "em revista à tropa" a Casa de Maria
no seu aspecto de construção, vejamos agora no que tem
de constituição, ou seja , móveis, utensílios, aparelhamen-
to/equipamentos e arrumação: móveis e utensílios da
mesma forma que a casa, naturalmente eram simples: num
canto da sala eram empilhados os colchões, não como os
nossos ocidentais, porém mais finos, quase parecidos com
esteiras. Após a última refeição eram estendidos no chão
para o sono reparador. Famílias de maiores posses pos-
suíam catre (espécie de cama portátil ou maca) que de-
pois de util izados eram co locados em pé, junto a parede .
[ver no aste r isco ant eri or " leito "). As almofadas , tam-
bém empilhadas serviam como travesseiros à noite e du-
rante o dia, postas no chão, para sobre elas sentar-se
para comer. As vezes, faziam da arca dos vestuários como
que mesa, pois estas só existiam nas residências ricas. Mas
estas arcas arrumavam-se num canto da sala, onde guar-
davam-se as roupas de festa, pois as de uso diário eram
dependuradas na parede, o mais escondido possível (con-
vém que se esclareça: as casas tinham apenas duas pe-
ças que eram uma espécie de sala-quarto e outra que
servia de cozinha-dispensa). O fogão, trempe sobre tijo-
los ou pedras, ficava a um canto do 2.0 compartimento, e,
em prateleiras o necessário para a cozinha e outras tare-
fas: ânforas, tijelas de barro , copos de madeira, pilão, e ,
sobretudo, o indsipensável moinho manual para triturar o
trigo; acompanhava o moinho duas pedras, uma com a
superfície superior convexa e a outra com a superfície
superior convexa e a outra com a superfície inferior côn-
cava, ajustáveis. O movimento quanto à técnica era feito
rotativamente por meio de um cabo vertical fixo na beira
do mó (pedra) moía o grão que, triturado, passava por uma
abertura já como farinha mais ou menos fina. Havia moi-
nhos grandes puxados por jumento, mas em famílias mais
- 106-
numerosas e ricas. Era, praticamente o instrumento mais
importante da casa (por isso descrevemo-lo com pormeno-
res). de uso diário e indispensável, pois necessário para a
farinha do pão de cada dia, dos bolos e biscoitos e demais
alimentos. O ôdre (feito de pele de cabra ou de ovelha)
servia para reservar o vinho, assim como o cantara ou
ânfora para a água . Não faltava. obviamente. a lamparina·
(vaso de barro ou metal com pavio embebido em óleo
(de peixe geralmente). Tinham as lâmpadas (lamparinas)
manuais, as de parede e as que pendiam do teto.
• A dona de casa é uma espécie de "ministro do
interior" do lar e sua missão é de uma diversidade imen-
sa; desdobra-se em mil cuidados a fim de que todos os
componentes da família sintam-se num ambiente ordena-
do, acolhedor, limpo, arrumado, em suma, que se sintam
todos felizes, acolhidos, em ordem, em santa harmonia
doméstica, mormente o esposo e filhos, bem como pa-
rentes, amigos e vizinhos. E, muito do como ser feito,
Maria Ssma. aprendeu desde menininha no Templo onde
ficou até casar-se. Sabido é que no Oriente, o trabalho
da dona de casa começa em horas bem matutinas: fazer
o pão, conduzir os animais domésticos para fora (muitos
deles, especialmente o jumentinho, dormem num canto da
cozinha, i.é., dentro de casa), arrumar o que se utilizou
para dormir, buscar água na fonte (bica pública), lavar a
"ketona" (= túnica longa) e outras roupas.
• Chegada a noitinha a Casa de Maria, como todos
os lares palestinos da época ganhava tintas, cores, beleza
de extraordinário valor: horas de intimidade familiar, equi-
vale dizer, de amor, de justiça, de carinho comunitário,
quando a figura e missão patriarcal sobressaia de forma
religiosamente sublime; era hora da instrução e oração,
já que o dia tinha sido de trabalho e luta, de suor e can-
saço . As mães tinham o dever de ler as Escrituras aos
filhos; ao chefe da casa cabia comentar as Letras Sagra-
das, entoar os salmos e hinos, proceder as preces e louva-
ção (especial de exame de consciência, pois consistia em
orações sobre o praticar-se ou não os preceitos divinos e
nas promessas e ameaças da Lei) . E vinham os dias, um
após outros que formavam extensa corrente de meses e
anos, muitos, muitos que Maria viveu em terras da Pa-
lestina, sempre como autêntica e exemplar dona de casa
do grupo das pessoas "anawin", i.é., pobre de espírito (=
sem ambição, humilde, obediente).
-107-
25 - BODAS DE CANÃ - VIDA SOCIAL DE MARIA
-108-
• Do episódio ressalta aquilo que todos sabemos e
devemos fazer mais uso, confiantes e agradecidos a Deus:
Maria, é, sem dúvida alguma a "onipotência suplicante",
Deus Nosso Senhor no-IA deu como "medianeira" e Ela
gosta imenso desta função, já nos disse e sabemo-lo.
Neste episódio de Caná Ela sai do seu habitual escondi-
menta o obtém de Jesus o seu primeiro milagre (pelo
menos aquele que primeiro é narrado em sua vida públi-
ca): 600 litros do mais delicioso vinho que jamais alguém
bebera (a capacidade das 6 talhas ou cântaros comumente
usadas cheias d'água para ablusão das mãos, rito higiê-
nico e religioso, era de 80/120 litros cada); o que não
nos obterá de graças espirituais para a nossa salvação,
quando tanto se preocupou para satisfação social? Está
na "Lumen Gentium", constituição dogmática e documento
central do Concílio Vaticano 11: "Na vida pública de Jesus
Sua Mãe aparece significativamente. Já no começo, quan-
do, para as núpcias em Caná da Galiléia, movida de mise-
ricórdia, conseguiu por sua intercessão o início dos sinais
[milagresj de Jesus, o Messias". (n.o 58)
• E, exaramos no Vol. n.o 1 desta Coleção - "Pe-
queno Dicionário de Nossa Senhora": "Hoje, próximo da
fonte onde se apanhou a água utilizada no milagre da trans-
formação nesse vinho, ergue-se, com sua cúpula vermelha,
(ali existiu um templo nos primórdios do Cristianismo) pa-
ra assinalar o episódio marcante da mediação da Virgem,
uma igreja entregue aos PP. Franciscanos. E, segundo
ainda a mesma tradição é, mais ou menos, no lugar onde
existiu a casa de Simão (nome que a tradição dá ao jovem
noivo), ergue-se uma outra igreja, de cúpula branca, dos
gregos.
-109-
de Maria, nos é narrada na vida pública de Jesus, após o
milagre das Bodas de Caná da Galiléia, até o derradeiro,
no cimo do Calvário. E Maria jamais, em tempo algum, se
apresentou pública e ostensivamente como Mãe de Deus,
mesmo em ocasiões em que imensa alegria invadira sua
alma (duas multiplicações dos pães) e infinita tristeza lhe
trespassara como "espada" o coração (ver o filho expulso
da sinagoga de sua pátria). o povo sim, é que, inúmeras
vezes, apontou Maria como Mãe de Jesus. (Mt 12, 46,50;
13, 54-55- Me 3, 31-35- Lc 11, 27-28- Jo 6,42).
• Somam 3 anos em que toda a Galiléia e a Judéia
foram palmilhadas em todas as suas cidades, vilas, aldeias
e caminhos (Cafarnaúm ficou como "2." pátria de Jesus"
e de "Sua Mãe"). estivesse chovendo ou fazendo sol, de
noite ou de dia, em sbbat ou outro dia. E para poder acom-
panhar Jesus teria a Ssma. Virgem deixado completamente
a sua casa de Nazaré? - Tudo faz crer que sim , para po-
/ der seguir o seu Divino Filho em suas freqüentes , longas
• e cansativas peregrinações, caminhadas inesperadas por
sítios difíceis.
• Fala-se de "santas mulheres" que da Galiléia se-
guiam a Jesus para servi-lO; que se dirá de Sua Mãe? Por
acaso não era este o apelativo pelo qual Maria era co-
nhecida em Cafarnaúm, a Mãe? E é claro, portanto, é im-
possível não tivesse Maria Ssma., a escolhida para ser a
co-Redentora, não tivesse ficado Ela junto de Jesus em
todos os lances anteriores, como esteve e agora, na "hora"
em que começava sua obra salvífica, em que completaria
a missão para a qual encarnara no seio puríssimo da Ima-
culada.- "Maria foi associada a Cristo no preparar a obra
redentora, por que, juntamente com Jesus foi prometida e
anunciada pelos profetas e esperada pelos antigos justos",
e, de fato, segundo a tradição, Maria, de modo muito fre-
qüente, juntava-se as "santas mulheres" naquele serviço
complementar feminino ao ministério público de Jesus.
(Lc 8, 19-21) - Quem melhor do que a Virgem poderia
orientá-las, ensinar-lhes sobremaneira que, antes de tudo,
seu Filho tinha como missão primeira a obediência ao Pai
Celeste?
• São 4, a rigor, as alusões que os evangelistas fa-
zem a Nossa Senhora neste longo espaço de 3 anos:
1.") no chamado 2.0 período das primeiras
atividades (julho/setembro do ano 29) pela Gali-
léia, tendo visitado a casa de Pedro (num sábado,
-110-
21 (?) de out.), em Cafarnaúm: "Tua mãe e teus
"irmãos" estão lá fora a tua procura ... "
2.") mesma época, na 2.• visita a Nazaré,
/ 1
num sábado na sinagoga local: "Não se chama a 1
sua mãe Maria? ... "
3.") na sinagoga de Cafarnaúm, desconfian-
ça à afirmação de Jesus de ser o "pão da vida"
(já dera milagrosamente as multidões o pão ma-
terial: "Por ventura não é este Jesus, o filho de
José, cujo pai e mãe nós conhecemos?"
4.") no 3. período, ano 29, Judéia, out.fnov.,
0
79) Pe. Matos Soares: Nota aos versículos 27/28 de Lc 19, na Bíblia
Sagrada (Ed. Paulinas).
- 111-
cobrir [conhecer a vida] Nossa Senhora é como
entrar num Continente maravilhoso e inexplorado,
de uma beleza e de uma fecundidade inexaurível,
porque a "biografia" de Deus está escrito Nela,
Livro Sagrado de letras escritas pela Trindade
Santa!
-112-
guntar com grande tristeza e João contou-lhe tudo o que
vira, desde a saída do Cenáculo até aquela hora. Leva-
ram, mais tarde, a Virgem para a casa de Lázaro, evitando
passar pelas vias onde levaram seu Divino Filho, pois
assim evitavam-lhe maiores sofrimentos. Enquanto o lodo
do povo judaico se agitava pelas ruas, ávidos de notícias
sensacionais, muitos amigos sinceros iam, chorando, hi-
potecar maior solidariedade à Maria. Apóstolos e discí-
pulos vagavam e se escondiam medrosos ... ) João foi ter
novamente com Maria, na casa de Marta, perto da Porta
do Angulo, onde Lázaro escondera Pedro, que chorava
muito".
• "No tribunal, em contínua e profunda compaixão,
sabia e sentia tudo que a Ele faziam ( ... ) rezava pelos
algozes, pedia por seus pecados. Mas o coração de Mãe
clamava a Deus, pedindo que não permitisse esses peca-
dos.. . que afastasse essas torturas [socos, punhadas,
cuspidelas, açoites, coroa de espinhos ... ] - A Mãe de
Jesus sofria muito ... Oh! Mãe dorida! Oh! Mãe, cheia de
tristeza! Mãe dolorosa do mais santo de Israel. - Maria
foi ter com S. Pedro, teve que passar junto do tribunal de
Caifáz, o que lhe causou grande dor. - Acompanhava-se
das "santas mulheres" e de João; conhecendo-A de ime-
diato, adiantou-se em abraçá-IA, mas não podia encará-IA
nos olhos. Maria aproximando ... -"Oh! Simão! que es-
tão fazendo com ·meu Filho!"- Pedro, sem nada falar aper-
tou-lhe as ·mãos; e chorava como criança!
·• "Sob o poder de Poncio Pilatos" recebe sentença
de morte o Filho de Deus e de Maria, Jesus; os Anjos va-
cil_am entre tristeza e alegria e desejariam suplicar diante
do Trono do Altíssimo a permissão de socorrer a Jesus,
mas só podem admirar e adorar o milagre da Justiça e Mi-
sericórdia divina, que já existia desde a Eternidade no
Santíssimo do Céu e começa a realizar-se agora no tem-
po ... Não sem sentido é denominado o caminho que vai
da Fortaleza Antonia ao cimo do Gólgota ou Calvário (=
craneojcaveira) de "via-crucis", ou seja, caminho de dores,
de sofrimento, pois foi o que Jesus passou nestes 800
metros de percurso, para ser crucificado.
• O "drama" .da cruz chegou ao epílogo e o Gólgota
era o triste e derradeiro cenário da obra que se consuma-
va, i.é., completava plenamente; e assim como esteve pre-
sente no seu "fiat" (concepção), no et homo factus esta
- 113-
(Natal). _nos 33 anos o mais diuturnamente que lhe foi per-
mitido, ei-IA firme no seu lugar: "Junto a cruz de Jesus
estava sua Mãe. Quando Jesus viu aí parada sua Mãe e o
discípulo a quem amava, disse a sua Mãe: -Mulher, eis
aí o teu filho. - E disse ao discípulo: Eis aí a tua Mãe.
E desde aquela hora o discípulo a levou para sua casa."
(Jo 19, 25-27)
• Querer-se-á outro e maior motivo para amarmos
Maria, nossa Mãe? - "Um célebre orador, interpretando
essa crença unânime diz: Jesus Cristo não se deu por sa-
tisfeito nem repartindo conosco a sua sabedoria, nem en-
riquecendo-nos com a sua graça, nem derramando para nos-
sa salvação todo o seu Sangue. Para que a Redenção
fosse, sob todos os aspectos abundante, a fim de que ín-
tima e perfeita fosse a união com Deus, a fim de que a
troca que fizera, assumindo a natureza humana e comuni-
cando-nos a divina, fosse completa, Ele nos legou ainda
seus direitos de Filho que pareciam intransmissíveis, tor-
nando-nos com Ele e Nele, filhos de um mesmo Pai e de
u'a mesma Mãe, Maria." (8°)
- 114-
• O grande Cardeal Bossuet imagina que belíssimos
colóquios deviam ter Nossa Senhora e S. João! "Podemos
ter uma vaga idéia; porém, exatamente saber como fo-
ram estes momentos, nem mesmo os serafins! Que belo!
Santo! Formoso era aquele momento de conversação da
Mãe e do discípulo predileto de Jesus! Sto. Agostinho em
Ostia, sentado ao lado da mãe, e contemplando o céu,
diante do Mar Tyrrenio; S. Bento e a irmã, ao pé da mon-
tanha, enfrentando uma noite de tempestade, a falar das
coisas da vida futura, darão pálida idéia desses coló-
quios." ( 82 )
- 115-
lhe apresenta para comungar, ( 84 ) a Hóstia Santa, repetin-
do-lhe a palavra que o Senhor dirigiu-lhe .do alto da Cruz :
':Mulher, eis aí teu Filho!"
• ~ deveras improvável que Maria haja vivido tora
deste contexto oracional de Jerusalém, onde Tiago o me-
nor foi Bispo 30 anos (filho de Cléotas, unidíssimo a João
e a Maria de quem era sobrinho), (8 5 ) lugar, portanto, feito
a talhar. Difícil tivesse acompanhado o Apóstolo nas suas
andanças Ásia adentro e fora, bem como residido em
Éfeso onde a Virgem, inclusive, - terrível questão! -
dizem que morreu e foi sepultada, como se reivindica!
- quanto às viagens: Tillemont, que de início fora
favorável a tese, escreve: "Não pensamos que São João
tenha estado muito tempo em ~teso, pelo menos antes
do ano 65, supondo que a Ssma. Virgem tivesse 15 anos
quando deu à luz o Senhor, 4 anos antes da Era Cristã,
teria então 84 anos, e não parece provável que Ela haja
vindo a ~feso em idade tão avançada"; (8 6)
- quanto a ter residido em ~teso: "Esta opinião, em
geral menos aceita, baseia-se principalmente num texto
da Carta Sinodal, em que os PP. do Concílio de ~teso,
em 431, enumerando as magnificências desta cidade, fa-
lam do seguinte modo: Aí, João, o teólogo, e a Ssma .
Virgem, Mãe de Deus . .. " - Falta o verbo, mas poder-se-ia
substituí-lo pela palavra residiram . Mas, não se trata an-
tes aqui dos 2 célebres santuários de João e de Maria ,
que eram, com efeito, as duas grandes Igrejas desta me-
trópole?" (87 )
-quanto ao óbito da Ssma. Virgem: nada, mas nada
mesmo se encontra na Escritura Sagrada, nem n'outros
quaisquer documentos que nos assegure ter ela morrido
- 116-
ou não, daí sermos completamente livres de aceitar esta
ou aquela corrente opinativas; o _dogma diz apenas e tão
somente quanto a assunção em corpo e alma; (ver Cap. 30)
- quanto ao túmulo: sem qualquer apoio a esta
reivindicação, inclusive ao esforço, até louvável, de um
missionário lazarista, utilizando-se de revelações da reli-
giosa Catharina Emmerich e pesquisas em ruínas da ci-
dade. (ver Cap. 30)
• O que devemos creditar a Éfeso, e que no mundo
projeta esta cidade até os páramos da glória, não é o ter
possuído atrações das mais valiosas como o Ginasium, o
Estadium, o Teatro (com 24 mil lugares sentados), a Bi·
blioteca, o Forum, o Mercado, os famosos magos (astró-
logos de mistura com sábios e adivinhos), a 7." Mara-
vilha do Mundo Antigo, o Templo Artemision, onde se
cultuava a deusa Artemis, hoje em ruínas e o Museion
(dedicado às 9 musas). A glória de Éfeso há de vir, sem
dúvida alguma, por ter abrigado o Concílio Ecumênico -
4.0 da história da Igreja- que definiu o 1.0 dogma mariano:
Maria, mãe de Deus (Theotókos). Éfeso é muito citada nos
Atos dos Apóstolos, louvada é sua Igreja pela sua ortodoxia.
• A tese da permanência de S. João e de Maria Ssma.
em Éfeso tem substancioso desenvolvimento nos livros
dos Capuchinhos, "Ephese, ville marianne" (1974). Pe. P.
Filibert, e "Le mystere de la Maison de la Vierge", Pe. Elise
Rêmy Thierry (1978), edições da "Meryen Ana (= Casa de
Maria, em turco) que já se chamou "Panaya Kapulu Derne-
gi", representante judiciária do santuário no Monte do
Roxinol (Bülbül Dag) C.P. 537, Esmirna, Turquia. No Brasil
os direitos autorais estão reservados ao tradutor Napoleão
Lopes Filho e editor G. R. Dorea (Edições GRD) - Rua
Topazio, 478/41- Aclimação- CEP 04105- S. Paulo/SP.
- E em Natividade (Estado do Rio de Janeiro), pode-se
ver a única réplica no mundo da casa onde Maria teria
residido, distinguida, no original, já por 3 Papas: João XXIII
ali chegou de helicóptero, deixando como "souvenir" da
sua visita um dos inúmeros candelabros de madeira que
recebem as velas dos fiéis (traz o seu brasão esculpido);
Paulo VI, ao visitar a Terra Santa por ali passou e deteve-se
e rezou piedoso (ofertou outro candelabro para fazer par
com o do seu antecessor); e João Paulo 11, ao passar por .;
lá; deixou o seu cálice e paramentos de celebração. /
-118-
mo Cenáculo da instituição da Eucaristia, preside agora
Ela a primeira reunião da Igreja, o primeiro encontro ofi-
cial e aclesial de oração.
~ 119-
30 - DE QUE? COMO? ONDE? MORREU
NOSSA SENHORA?
- 120-
Terra; Ela terminou, portanto, sua carreira terrena aos 72
anos.
- • Cerca dos anos 56/58 d.C., estando, pois, a Ssma.
Virgem pelos seus 72/75 anos (12/15 após a Ascensão)
é que a maioria dos Autores colocam o termo do "decurso
de sua vida terrena". (89)
• São João, sob cujo guarda ficara após o Calvário,
é quem melhor que ninguém nos poderia ter dito como foi
a morte de Nossa Senhora; mas nada deixou. Do ponto de
vista físico-biológico é aceito que, o final da vida de Maria
Ssma. não foi como o de qualquer outro mortal , não morreu
Ela (se é que morreu) exalando o chamado "último sus-
piro ", mas quer-se que tenha tido um sono diferente, um
suave sono, dormitio, ou seja "dormição."
• A morte de Nossa Senhora é, até hoje, uma parti-
cularidade ainda passível de discussão, porque não está
exarada como dogma de fé. Verdadeiramente não se sabe
(e provavelmente nunca se ficará sabendo) se Maria mor-
reu ou se não morreu.
• Se morreu, teve imediata ressurreição? (tentou-se
até estabelecer o número de horas ou dias). e foi elevada
ao Céu, em corpo e alma onde está, obviamente. viva (aí,
sim, é que reside a verdade de fé).
• Se não morreu, chegado o momento derradeiro de
sua vida terrestre, Deus, como que transfigurando-lhe o
corpo e elevou-A gloriosamente à Pátria Celeste.
• Sabido é que um texto dogmático tem sempre
interpretação literal. Nas palavras da Bula Munificentis-
simus Deus (definitória da assunção corpórea) não se
exclui, evidentemente, a possibilidade dum período de tem-
po entre o fim do "decurso da vida terrestre" e a elevação
ao Céu.
• Temos de convir, porém, que o sentido mais di-
reto não é esse. A definição pontífica parece - salvo
melhor juízo - indicar que a elevação se seguiu imedia-
tamente à vida terrestre, sem nada haver de permeio.
- 121-
Neste particular, porém, livre é a nossa crença e os únicos
textos que falam da morte de Maria (sem se deterem na
"causa mortis") fundamentam-se no testemunho dos apó-
crifos/extra-bíblicos.
• "Preservada do pecado original, deveria não mor-
rer. Se morreu foi, não por necessidade da natureza, mas
unicamente por semelhança com o seu Divino Filho. E,
tal como o Filho não havia de conhecer a decomposição
do túmulo. A sua carne virginal tornava-se irmã dos anjos.
• A tradição denomina o trânsito, o passamento da
Virgem (e não morte). Pelo menos não como a vemos e
entendemos (se de fato houve morte). São João Damas-
ceno em seu "2. sermão sobre a Dormição" aventa a pos-
0
-,..- 122 -
profunda e sincera piedade amorosa, mas não vazadas no
rigor científico-histórico-documental .
- -e O lugar do óbito é ignorado, embora muitos rei-
vindiquem o privilégio de terem acolhido Maria nos seus
derradeiros dias de vida e terem ali seu corpo depositado
antes da Assunção.
• Após os funerais ou exéquias (cerimônias e ritos
mortuários), segue-se a deposição do corpo da pessoa fa-
lecida, num túmulo ou tumba, numa sepultura (cova) ou
mausoléu, transportando-se em cortejo (féretro). Quanto
à Maria Ssma., como aconteceram os fatos?
• Após ter Ela estado ora em Jerusalém, ora em Sé-
foris, ora em Éfeso, sob a guarda carinhosa do Apóstolo e
Evangelista S. João, a quem Jesus incumbira dessa missão
honrosa: "ecce Mater tua (mais que missão honrosa, le-
gado precioso), chegou a "hora" de Maria Ssma.
• Avisados todos os Apóstolos, vieram eles para o
"passamento", "transito" que foi suave, como o tinha sido
a sua vida; Ela vivera de amor, Ela morreu de amor. Che-
gada ao cume da mais elevada santidade, a sua alma de-
sapegou-se calmamente do seu santíssimo corpo. O seu
"último suspiro" foi uma aspiração de amor que A levou
como que naturalmente até as alturas do Céu."
• Seguiram-se 3 dias nos quais sentiram todos sua- "
víssimo perfume impregnar as coisas, dizem os Autores
da corrente que admite tenha a Virgem mo~rido.
• Os jerusalemitanos reivindicam como lugar do
trânsito a sua cidade de Jerusalém. No monte Sión a
lembrança da "dormição" foi localizada na Basílica bizan-
tina, ue ali venerava o Cenácu lo e suas relíqui as; hoje,
entregue aos ene itinos a emaes ereta em 1898 Ba-
SI 1ca a orm1çao esta num prédio próximo, dividido
em 2 corpos: a parte superior é a igreja propriamente:
redonda, luminosa, com belos mosaicos na abside e alta-
res laterais; escadas conduzem à cripta onde é venerada
uma imagem jacente da Virgem, representada no suave
momento da "dormição". Capela especial de altar armênio
também aí está, dedicada a S. Joaquim e Sant'Ana.
• O cortejo (féretro) e acontecências correlatas do
"enterro" da Virgem que se lêem em documentos extra-
bíblicos ou os historiadores e nos Padres da Igreja,
- 123-
são peças, como já o dissemos, exaradas por "co-
rações levados e enlevados em profunda e sincera piedade
amorosa, mas não vazados no rigor cientrfico-histórico-
documental."
• Localizam a tumba (túmulo) de Nossa Senhora nu-
ma gruta no Getsemani e esta gruta mede 17 x 9 ms.
com 3 ms. e meio de alto; hoje, com ligeiras diferenças,
conserva o aspecto original (para se ter uma idéia, veja-se
a Igreja de Bom Jesus, na Bahia) - Na gruta mariana, bem
ao fundo, num braço mais largo da galeria (30 ms.), em
altar armênio, se encontra a "edicula", quase quadrada,
que recolheu o corpo da Ssma. Virgem.
• A tradição que menciona como local da tumba de
Nossa Senhora a região do Getsemani (ao fundo do Vale
de Josafá), aí apontam também, uma primeira igreja, ereta
no ano 455, depois do Concílio de Macedônia, sob o incre-
mento da devoção mariana alicerçada com a proclamação
de "Maria Mãe de Deus" (Theotókos).
• Escreve o Pe. Miguéns, ofm: "O proprietário do
olival no Getsemani que permitia a Nosso Senhor o uso
da gruta [existente no Horto], por razões de amizade ou
consaguinidade, pode também ter cedido um túmulo em
sua propriedade para sepulcro da Virgem, como fez José
de Arimatéia com Jesus."
- 124-
31 - ASSUNÇAO: RAINHA DO C~U E DA TERRA
- 125-
de agost o de 1945, diri gindo-se às senhoras sindicalizadas :
" . . . nest e dia a I re·a comemora a assun ão de Maria em
_c orpo e a ma ao Céu '.
- 126-
mo como homem, e Senhor de todas as coisas". A rea-
leza de Maria é uma participação analógica e limitada da
e na Realeza e senhorio universal de Jesus Cristo .
-127-
e, novamente, anjos preveniram José da perigosa es-
tada em Belém, dizendo-lhe da fuga com Maria e o
Menino para o Egito, e quando seria seu retorno, nas
viagens e permanência no exílio são inúmeros os epi-
sódios nos extra-bíblicos encontráveis de anjos pres-
tando serviços e homenagens a Maria e ao Menino;
em piedosa lenda se diz que foi avisada pelos anjos
do seu trânsito/dormição;
finalmente, os coros de anjos, presentes na "dormi-
ção" ou "trânsito", no cortejo que a levou, em corpo e
alma à glória celeste para receber a coroa de Rainha
do Céu e da Terra, dos anjos e dos Santos, já que fora
e é Mãe de Deus e dos homens, formam-IE a corte .
* "' *
~ •128-
tiiNO OOS 2.000 ANOS DO NASCIMENTO OE MAAI A
Letr.J e Música:
Antônio Maia. c.m
ii*
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IJ 2.000 anos faz
Marian~la
Tr.ando a paz
E noaaalegrta;
Que t..ta no Céu I
Na Tarra que dia I
O lar da Joaquim
E Senho,_ Sant' Ana.
aua data hl nwll
De unta alagrial
De luz e de pal
Morlo. 6 Moriol
i
O Virgem 8endi1a! Recebe e binç&o -..IAvol
O Mio deJesuol O.Oe\.8, deJM Marte a 01 2.0001
Fazel-not r.tlz.s. A mie da Jesut, bl1 Aval Awl
Moacrei·not e Luzi NasddsjA I! ~a ria B o Rrslll
- com 3 anos Maria foi entre- dez e ficando com ela até o
gue no Templo; nascimento de João Batista
- após 12 anos, portanto, com (3 meses); então, ao retor-
15, deixou o Templo; nar estava Maria com 15/16
anos e 3 meses de gravidez;
- recém-sarda do Templo, nos
·- nascimento de Jesus, por-
seus 15/16 aos, foi esposada
tanto, Maria se torna Mãe
por S. José;
aos 15/16 e 9 meses;
- anunciada no perfodo de noi- agora é simples questão de
vado pelo Anjo, com seu cálculo, em cotejo com o
"fiat" concebeu por obra do "ano 2.000 do ascimento de
Espfrito Santo; logo, nos Cristo", ou infclo do 3." mi-
seus 15/16 anos; lênio do Cristianismo: Nossa
--- visitou Isabel quando esta já Senhora asceu há 1.984/5
estava no 6." mês de gravl- anos atrás.
4 - "RETRATOS DE LA VIRGEN"
(I - Ecce Matar Tua)
Pe. Juan Rey, S.J.
Censor: Dr. Franciscus Pajares
lmprimatur: Josephus, Episcopus Santandericensis
Espanha - 1954
6 - "SANT'ANA"
Mons. Ascânio Brandão
Reimprimatur
Conhapeyette (ex-delegatlone)
S. Paulo - 30-9,54
- 130-
8 - "A VIDA DE MARIA"
[encarte policrômico) na
Bfhlla Sagrada (edição de luxo da ·Enciclopédia BARSA)
Pe. Pereira de Figueiredo
Notas, Dicionário Prático e Supervisão de
D. José Alberto L. de Castro Pinto
Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro
Aprovação do Exmo. Cardeal Arcebispo D. Jaime de Barros
Câmara e Carta autógrafa de recomendação [em separata) de
S. Santidade o Papa Paulo VI
Censor: D. Estevão Bettencourt, OSB
lmprlmatur: Mons. Caruso - VIgário Geral
Rio de Janeiro - 30-8-58
9 - "VIDA DA SSMA. VIRGEM MARIA" [1862)
De Anna Catharina Emmeriche [Inserida In "Vida, Paixão e
Glorificação de Cordeiro de Deus"), c/ anotações de Clemente
Brentano - Pelo Pe. H. Auf der Heide, svd - 2.' edição -
Liv. Lar Católico- Juiz de Fora- MG- 1946.
Nota: Jornais, revistas e outras publicações, destacadamente:
"Estrela do Mar" e "A Cruz"
[quando da reformulação do texto primitivo: 1984/9)
10- "MARIA NELLA SUA TERRA"
Vlttore Dalla Libera
(não menciona censura eclesiástica}
Figlie di San Paolo, 1986
Milano/Torino - Itália
11 - "PALESTINA SAG•RADA"
Pe. M. Miguens, o.f.m.
(espanhol/casteliano)
Top. PP. Franciscanos
Jerusalém - 1936
12- "A VIRGEM MARIA"
Pe. Luis Perroy, S.J.
2.' ed. Vozes Ltda.
Petrópolis - RJ
13- "PEQUENO DICIONARIO DE NOSSA SENHORA"
Antonio Maia, c.m.
Apresentação e lmprlmatur de
D. Geraldo Maria de Moraes Penido,
Arcebispo Metropolitano de Aparecida - SP
Rlo/RJ - 1984/85 (2.000 do nascimento da Virgem Ssma.)
14 - "BfBLIA DE JERUSALa;M"
Edições Paulinas - 1980.
15 - "O ROSTO DE MARIA"
Luiz Plva
Thesaurus Editora, Brasflla [DF) 1987.
16 - "O APOSTO LO SAO JOAO"
· Mons. Baunard
Reitor da Universidade Católica de Lllle
I 1.' edição (1865) - Tlp. Amérlcã, RJ ~. 1924.
I
- 131-
..
fNDICE
(Cronologia Hlstórlco/B.Iográfica . de Nossa Senhora, encarte da abertura)
Pág . Pág.
ESCOTISMO
18 - SEMPRE ALERTAI - Coletânea de colaborações em jornais, revistas,
congressos e jamborls : depoimentos , experiências e sugestões sobre o
movimento como Chefe de Grupo e membro-fundador do "Ciii Paulo
de Tarso" (Assistência Religiosa Católica ao Escotismo) .
JORNALISMO /COBERTURAS
1S - INTRODUÇAO AO JORNALISMO - Curso prático Intensivo de Ini-
ciação ao jornalismo (falado, escrito e televisado), diagramação, revisão
e clicheria (Súmulas) .
20 - JOAO PAULO 11 - PUEBLA - MARIA - enfoques marianos nos dis-
cursos do Papa quando das visitas pelas Américas (Apresentação do
Pe. César Dalnese . S.J.).
POESIAS
31 - LAGRIMAS - Versos da adolescência .
32 - CARICIAS - Versos da mocidade.
33 - CANTICOS DO CLAUSTRO - Versos religiosos (Apresentação do Card.
O. Carlos Cermelo de Vasconcelos Motta) .
34 - MINIATURAS - Trovas.
35 - MOSAICOS - Versos da maturidade .
A SAIR
36 - O SANTO SUD.4RIO, retrato físico de Cristo - Pesqulaa. (Apresentaç4o
do COn . Dr. Emlllo Silva)
:rT - ARQUEOLOGIA DA CRUZ E DA PAIXAO - Ensaio histórico.
38 - QUEM TEM MEDO DO SANTO SUDARIO? - Alerta ao complô armado
Internacionalmente contra esta magna rellqula.
ANTONIO MAIA
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