Coletânea de Poemas Eróticos - Vários Autores

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COLETÂNEA DE POEMAS ERÓTICOS – VÁRIOS


AUTORES
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Índice
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Introdução

LITERATURA ERÓTICA

Gênero literário que inclui toda a literatura licenciosa, dirigida para a libertação
do desejo sexual ou do amor sensual, independentemente do grau de licenciosidade,
o que levaria, como alguns entendem, a uma distinção entre literatura erótica (menos
licenciosa) e literatura pornográfica (abertamente licenciosa). Esta distinção está
longe de ser válida para toda a literatura que descreve experiências do desejo sexual e
do amor explícito. Se atendermos ao fato de que até ao final do século XIX, por força
da moral estabelecida canonicamente, toda a literatura que ofendesse os bons
costumes, excitasse claramente o apetite sexual ou cuja linguagem incluísse termos
licenciosos ou obscenos era considerada “erótica”, com uma forte carga pejorativa,
então não devemos ser nunca capazes de estabelecer um critério rigoroso para
distinguir o que é erotismo do que é pornografia. Por exemplo, uma busca na Internet
sobre literatura erótica levar-nos-á hoje a toda a espécie de sítios de pornografia
comercial, o que pode ajudar a compreender como é fácil confundir erotismo com
pornografia.
Por outro lado, a literatura erótica remete para as descrições estéticas do amor
sensual, rejeitando a exclusividade da procura do prazer explícito que resulta da
exibição pública ou privada desse amor. O nível de representação do amor sensual
tem servido também, com muitos riscos, para distinguir o erotismo (softcore, menos
explícito, menos descritivo, menos visual) da pornografia (hardcore, mais explícita,
mais descritiva, mais visual). Obviamente, encontraremos nas literaturas de todo o
mundo inúmeros exemplos que podem contrariar esta distinção. Uma outra distinção
tem a ver com o tipo de censura que o erotismo (menos censurável) e a pornografia
(mais censurável) podem veicular.
Como esta distinção depende do tipo de formação cultural e moral de cada
indivíduo, não vemos como pode funcionar como critério independente para avaliar
as diferenças entre os dois tipos de representação literária do amor sensual.
Finalmente, as mais recentes tentativas da crítica feminista para distinguir entre uma
arte menos opressora da figura da mulher enquanto objeto do desejo sexual
(erotismo) e uma arte que repugna por reduzir a mulher a um mero objeto sexual,
simbólico ou real (pornografia), encalham no fato de muitas representações literárias
não separarem os papéis sexuais de forma tão clara, colocando até a figura masculina
em funções pouco edificantes ou em posições de perda de poder.
Por estas razões, e porque a base de todo o desejo sexual é a relação amorosa (o
elogio de eros) e não necessariamente a relação pornográfica (do grego porné,
“cortesã, prostituta”, logo o elogio da prostituição), optamos por consagrar a entrada
deste verbete a partir da designação mais universal de literatura erótica, ficando
implícita a inclusão da literatura que se considere pornográfica, mas também
obscena, indecente, libidinosa, licenciosa, ultrajante, etc., adjetivos com os quais tem
convivido sinonimamente. Aceitemos que “a pornografia é o erotismo dos outros”
(pensamento atribuído a Chris Marker) ou que estamos a falar de “duas palavras que
designam as mesmas coisas como é evidente, conforme o olhar que incida sobre elas”
(Jean-Jacques Pauvert, A Literatura Erótica, Teorema, Lisboa, 2001, p. 9).
Prevalecendo a expressão literatura erótica, aceitemos ainda que ela represente uma
conquista da literatura decadentista do século XIX, tendo até aí sido dominante a
expressão literatura sotádica (do grego Sotadès, autor obsceno do séc.III, a.C.).
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Os primórdios da literatura mundial conhecem já variadíssimos exemplos de


expressão literária do amor sensual. Aristófanes legou-nos Lisístrata (411 a.C.), uma
das primeiras obras importantes do erotismo antigo, história de uma jovem que
exorta as suas conterrâneas atenienses a uma greve de sexo para pôr fim à guerra do
Peloponeso. Os textos bíblicos contêm inúmeros exemplos que facilmente entram na
categoria de literatura erótica, como este passo de Isaías: “15- Naquele dia Tiro será
posta em esquecimento por setenta anos, conforme os dias dum rei; mas depois de
findos os setenta anos, sucederá a Tiro como se diz na canção da prostituta. 16- Toma
a harpa, rodeia a cidade, ó prostituta, entregue ao esquecimento; toca bem, canta
muitos cânticos, para que haja memória de ti. 17- No fim de setenta anos o Senhor
visitará a Tiro, e ela tornará à sua ganância de prostituta, e fornicará com todos os
reinos que há sobre a face da terra. 18- E será consagrado ao Senhor o seu comércio e
a sua ganância de prostituta;” (Isaías, 23: 15-18).
Aqui, mais do que em qualquer outro código de ética, fica já implícito que o
amor sensual implica a uma certa compostura (“Igualmente quanto à mulher com
quem o homem se deitar com sêmen ambos se banharão em água, e serão imundos
até a tarde.”, Levítico, 16: 18), cuja infração pode ser severamente punida, o que é
particularmente grave na “descoberta da nudez”, pecado maior que deve ser punido
exemplarmente (“Pois qualquer que cometer alguma dessas abominações, sim,
aqueles que as cometerem serão extirpados do seu povo.”, Levítico, 18: 29). Durante o
período Han, na China antiga, entre 206 e 220 a.C., circularam vários manuais
didáticos sobre a prática sexual, segundo a fórmula literária do diálogo entre um
Imperador e um dos seus preceptores ou professores de práticas sexuais. No século
IV, na nossa era, surge, na Índia, o mais universal de todos os manuais sexuais, o
Kama Sutra, ainda hoje lido e apreciado, escrito pelo letrado Vatsyayana para manter
uma antiga tradição de escrita de sutras (textos religiosos para o grande público de
fácil leitura e compreensão).
A Idade Média conserva uma importante literatura satírica que inclui inúmeras
espécies eróticas e pornográficas. Os poemas eróticos de Eustache Deschaws, o livro
De amore, de Andreas Capfillanus, o Decâmeron de Boccaccio, os Canterbury Tales,
de Geoffrey Chaucer, e, no espaço galego-português, as cantigas de escárnio e mal
dizer, por exemplo, constituem alguns bons exemplos de uma literatura erótica que
rompe com todas as regras do amor cortês. Esta herança medieval está bem vincada
numa das mais ricas literaturas européias, a francesa, que conhece nos século XVI
obras-primas do gênero como Pantagruel (1532) e La Vie très Horrificque du Grand
Gargantua (1534), de Rabelais, celebrações parodísticas de todos os excessos do
amor sensual. Neste mesmo contexto, um grupo de poetas franceses, conhecido por
La Pléiade, onde se destacam Pierre de Ronsard e Joachim du Bellay, privilegiou a
poesia amorosa de forte caráter libidinoso. Em 1553, Ronsard publicou Livret de
folastries, mas será o seu livro de sonetos Sonnets pour Hélène (1578) que o
distinguirá, ficando na memória histórica a figura simbólica do amor serôdio e
proibido de um velho que se apaixona por uma mulher muito mais nova, resumido no
célebre verso: “Quand Vous Serez Bien Vieille, le Soir, à la Chandelle”, mais tarde
parafraseado pelo poeta irlandês W. B. Yeats (“When You are Old and Grey and Full
of Sleep”).
A literatura erótica do século XVIII encontra no português Bocage um exemplo
de como é possível não estabelecer limites ao grau de licenciosidade no texto literário.
Na sua obra mais marginal, Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas (Marujo Editora,
Lisboa, [2001]), no soneto “Lá quando em mim perder a humanidade”, podemos ler
versos como estes que apresentam o Poeta como um sofredor de amor no mais alto
grau de licenciosidade: “Lavre-me este epitáfio mão piedosa: // ‘Aqui dorme Bocage,
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o putanheiro: / Passou a vida folgada, e milagrosa: / Comeu, bebeu, fodeu sem ter
dinheiro.’”. Pela mesma altura, o inglês John Cleland publica Fanny Hill: Memoirs of
a Woman of Pleasure, publicado em dois volumes em 1748 e 1749, o que lhe valeu de
imediato a prisão sob a acusação de ter publicado um livro pornográfico, ofensivo
para os bons costumes. O romantismo alemão também nos legou obras como a
coleção de poemas eróticos com que Goethe contribuiu para a revista dirigida por
Schiller, Die Horen, onde se incluem as Römische Elegien (1795; Elegias Romanas,
1876), poemas inspirados na relação amorosa de Goethe com Christiane Vulpius. Mas
neste século XVIII poucos ganharam lugar de maior destaque na história da literatura
erótica do que o exemplo do Marquês de Sade (1740-1814) escritor francês cuja obra
foi amaldiçoada publicamente enquanto viveu.
Os constantes atentados ao pudor, a prática quase selvagem de relações
sexuais que não conheceram limites, e as ofensas à moral levaram-no à prisão várias
vezes, onde escreveu a maior parte das suas obras, sob rigorosa censura. De salientar
os romances Cent vingt journées de Sodome (Cento e Vinte Dias de Sodoma, 1782-
1785) e Justine ou les malheurs de la vertue (Justina ou as Infelicidades da Virtude,
6 volumes, 1791-97). Cento e Vinte Dias de Sodoma, obra de esgotamento criativo,
onde Sade julgava ter alcançado o seu próprio limite, perdeu-se na Bastilha, onde
tinha estado preso durante dois anos. As mais de 300 páginas do livro foram
recuperadas mais tarde por um carcereiro, que as encontrou. Sade também soube
descrever, com rigor filosófico, as suas próprias experiências sexuais, bizarras,
agressivas, obscenas, pouco ortodoxas e sempre a roçar os limites do desejo
libidinoso. Tais práticas incluem a sodomia (sexo anal) a pedofilia e a macrofilia (sexo
com crianças e velhos) e a coprofilia (sexo com fezes).
À lista das suas reflexões teremos que juntar Le Philosophie dans le boudoir
(1795). Esta personalidade fortemente inclinada para o excesso da vida sexual, com
recurso a todo o tipo de perversão, fez com que o seu nome se consagrasse para
designar um tipo de neurose ou pulsão agressiva a que os psiquiatras chamam
sadismo. No lado oposto, o elogio do amor sensual pelo triunfo do poder único da
sedução, temos ainda Les Liaisons dangereuses (1782), de Pierre Choderlos de
Laclos. Como bem comenta um dos mais conhecidos teóricos do erotismo, Francesco
Alberoni, “Há uma estreita ligação entre a raiz coletiva do erotismo feminino e a
sedução como manipulação e intriga. Tudo o que é coletivo está inextricavelmente
ligado ao poder e à luta pelo poder. Nas cortes, nas sociedades aristocráticas como a
França do século XVIII, a sedução era um potente meio de afirmação social, de
prestígio, por último, de revolta.” (O Erotismo, 8ª ed., Bertrand, Venda Nova, 1995,
p.229).
A procura do prazer pela dor não é um exclusivo do sadismo. O austríaco
Leopold Franz Johann Ferdinand Maria Sacher-Masoch (1836-1895) ficou conhecido
por um outro tipo de perversão sexual, o prazer obtido pela dor física e pelo
sofrimento corporal, pulsão que foi imortalizada com o nome de masoquismo.
Masoch foi um aristocrata letrado, escritor de qualidade, tendo-nos legado histórias
eróticas de indivíduos que só alcançavam o prazer sexual se fossem chicoteados, por
exemplo: Eine Galizische Geschichte (Uma História Galega, 1846); Der Don Juan
von Kolomea (O Don Juan de Kolomea, 1866); Das Vermächtnis Kains (O Legado
de Caim, 1870-1877), que inclui o famoso romance erótico Venus im Pelz (A Vénus
das Peles, 1874).
Em França, o ano de 1857 é particularmente importante para a literatura
erótica: Gustave Flaubert publica o romance Madame Bovary, imediatamente
classificado como pornográfico por tomar como tema as experiências de adultério de
uma jovem provinciana casada com um viúvo medíocre, mas que há-de marcar o
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ponto de partida da época de ouro do romance realista. 1857 é ainda o ano de Les
Fleurs du mal, de Baudelaire, também acusado de imediato de imoralidade, pelo
satanismo, pela preocupação com o macabro e com as perversões sexuais. Este livro
de poemas tornar-se-ia no manifesto do decadentismo e persistirá nessa condição até
ao século XX. Em Portugal, será Eça de Queirós quem interpretará de forma mais
justa e à letra a tese naturalista com O Crime do Padre Amaro, onde concentrou a sua
atenção na descrição dos ambientes sociais, particularmente nas deficiências e nas
imperfeições da natureza humana, incapaz de ceder ao desejo carnal mais primitivo.
Um outro tipo de erotismo pode ser encontrado na poesia de Cesário Verde, como
exemplo de sublimação do amor sensual, sempre fingido ou sempre adiado.
No primeiro volume da História da Sexualidade, A Vontade de Saber, Michel
Foucault conclui na história do sentimento ocidental dois procedimentos
fundamentais para a realização da verdade do sexo: por um lado, as numerosas
sociedades (Roma, China, Índia, Japão, e sociedades arábico-muçulmanas) que
desenvolveram uma ars erotica, que extraiu a verdade do prazer em si mesmo, se
compreendido como uma prática, acumulável como experiência, onde não existe
lugar para as proibições, e prazer medido na sua intensidade pelos reflexos que
produz no corpo e no espírito. Há nesta arte erótica um segredo a perseverar, um
conhecimento que perderá a sua essência se se divulgar, por isso exige a instituição
de um mestre que detém esse segredo de vitalidade e só ele pode transmitir a sua
arte, de forma esotérica.
Pelo contrário, a civilização ocidental não possui qualquer ars erotica. É a única
civilização a praticar uma scientia sexualis, isto é, a única civilização a desenvolver
durante séculos as regras de procedimento que nos hão-de garantir a verdade do
sexo. Para isso, desenvolve-se o primado da confissão, em estreito contraste com a
arte da iniciação e do segredo esotérico. Foucault acaba por declarar que o homem
ocidental se tornou um animal confessor. A sexualidade é o resultado da prática
discursiva dessa atividade confessional e constitui-se em scientia sexualis, que o
cristianismo ocidental instituiu para produzir a verdade sobre o sexo. A poesia
feminina (isto é, virada para o objeto feminino) de Cesário Verde é a expressão
subjetiva da coita amorosa masculina, quase sempre determinada por um amor sem
possibilidades de realização libidinosa - uma poesia de mimos e nunca de jouissance
plena.
A coita do português arcaico vem do latim cogitare, que significa "ficar a
cismar", daí que ao trovador fique bem o atributo de coitado, isto é, aquele que está
pré-ocupado por alguma paixão. Veremos, como este estado se ajusta na perfeição ao
caso de Cesário, cuja poesia é bastante fixa, codificada num número restrito de
atitudes/posições sexuais, pouco inovadoras, a exemplo das cantigas de amor
medievais. A vassalagem sentimental, a mesura ou submissão do amante, o louvor
patético (relativo ao sofrimento e ao amor) da mulher divinizada e confundida num
panteísmo mal explicado, a saudade da "mia senhor" - entre todos estes temas do
amor cortês do lirismo provençal, encontramos exemplos na poesia para a mulher de
Cesário Verde.
Com mais insistência, vamos encontrar aquela atitude que se perde nos tempos
de talhar preito e menagem, que mais do que a promessa do namorado ser presente
na entrevista amorosa é uma promessa de submissão à mulher. Para mais, no sentido
de alcançar o favor supremo de quantas donas invoca na sua poesia, Cesário se
mostra um fraco amante não indo além do estádio do fenhedor que se consome em
suspiros. Nunca ousa pedir, nunca chega a corresponder-se ou a ser correspondido, e
muito menos ensaia os prazeres da jouissance feminina a que os trovadores
provençais aspiravam ao atingirem a maturidade do drut (amante). As convenções da
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poesia amorosa de Cesário saem do lirismo provençal e procuram obedecer


religiosamente ao código da cortesia, que dificilmente entrará na categoria de
literatura erótica. De outra espécie é a arte de Eça de Queirós, em O Crime do Padre
Amaro:

Quando descia para o seu quarto, à noite, ia sempre exaltado.


Punha-se então a ler os «Cânticos a Jesus», tradução do francês
publicada pela Sociedade das Escravas de Jesus. É uma
obrazinha beata, escrita com um lirismo equívoco, quase torpe -
que dá à oração a linguagem da luxúria: Jesus é invocado,
reclamado com as sofreguidões balbuciantes de uma
concupiscência alucinada: «Oh! Vem, amado do meu coração,
corpo adorável, minha alma impaciente quer-te! Amo-te com
paixão e desespero! Abrasa-me! Queima-me! Vem! Esmaga-me!
Possui-me!» E um amor divino, ora grotesco pela intenção, ora
obsceno pela materialidade, geme ruge, declama assim em cem
páginas inflamadas onde as palavras gozo, delícia, delírio,
êxtase, voltam a cada momento, com uma persistência histérica.
(Obras Completas de Eça de Queiroz, vol.4, Círculo de Leitores,
Lisboa, 1980, p.29)

Não admira a preferência de Amaro por estes cânticos, pois eles traduzem, sem
levantar suspeita, a linguagem do desejo libidinoso. Amaro conclui: "É beato e
excitante" — precisamente, essa é também a conclusão de todo o romance. Este passo
do romance contém, aliás, todos os termos da jouissance. "Concupiscência", ou
apetite sexual ou desejo intenso de gozo, é o termo de Eça que corresponderá à
jouissance. As palavras que Eça destaca — "gozo, delícia, delírio, êxtase" — são
significantes da jouissance e determinam não só toda a dialéctica do desejo n'O
Crime do Padre Amaro como pode ilustrar o léxico privilegiado do discurso amoroso
da literatura erótica.
O modernismo que inaugura o século XX teve nos seus poetas de vanguarda os
melhores intérpretes do erotismo, bem representado no grito "Rezai a Luxúria." —
exortação às gerações portuguesas do século XX pronunciado pelo pintor,
desenhador, poeta, romancista, declamador, dramaturgo, ensaísta, conferencista e
crítico de arte Almada Negreiros. Aquele grito de vanguarda pertence ao "Ultimatum"
que escreveu para o número único do Portugal Futurista, revista porta-voz do
futurismo literário português publicada em Lisboa, em 1917.
Ao texto de Almada seguia-se um «Manifesto Futurista da Luxúria» de
Madame Valentine de Saint-Point. Aqui podemos ler as coordenadas da sexualidade
da poesia de vanguarda de Almada Negreiros: “A Luxúria é a tentativa carnal do
desconhecido (...) A arte e a guerra são as grandes manifestações da sensualidade; a
luxúria é a sua flor. (...) A Luxúria estimula as energias e desencadeia as forças. É
preciso ser consciente na Luxúria. É preciso dispor da Luxúria como um ser
inteligente e raffiné dispõe de si próprio e da sua vida; é preciso fazer da Luxúria
uma obra de arte.” (Portugal Futurista, edição fac-similada, Contexto, Lisboa, 1990).
O poema de vanguarda de Almada Negreiros "A Cena do Ódio" (escrito em
1915, aos 22 anos, publicado em parte na revista Contemporânea, nº7), realiza uma
subversão daqueles que eram, no princípio do século XX, os valores morais, naturais
e sociais, sobretudo pelo recurso a imagens de pedofilia, bestialidade, prostituição,
adultério, sodomia e pela instituição de condições perversas de realização sexual,
como fetichismo, travestismo, voyeurismo e sadomasoquismo. A léxis da Luxúria no
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poema de Almada inclui quase todas as perversões e patologias sexuais: sodomia


("Hei-de morder-te a ponta do rabo", p.50), prostituição ("não tenho sequer, irmãs
bonitas / nem uma mãe que se venda por mim", p.51), nudismo ("O nu d'aluguer / na
meia-luz dos cortinados corridos!", p.52), impotência ("as mulheres portuguesas /
são a minha impotência", 56) satiríase "de tanto se encharcar em gozos / o seu corpo
atrofiou", p.57), adultério ("Porque casaste com a tua mulher / se dormes mais vezes
co'a tua criada?", p.62), zooerastia ("Vem ver os chimpanzés! / Acorpanzila-te neles
te ousas!", p.63), sadismo ("Eu quero-te vivo, muito vivo, a sofrer!", p.63), frigidez
("Hei-de ser a mulher que tu gostes, / hei-de ser Ela sem te dar atenção!", p.66).
Não há aberrações sexuais mais chocantes para com as conveniências sociais e
religiosas do que a bestialidade e a sodomia. Durante muito tempo, a bestialidade foi
punida com a morte na fogueira, tanto para o homem como para o animal. Almada
quer agora levar para essa mesma fogueira a escória burguesa. A história indecente
desta escória parece pertencer a um dos Cento e Vinte Dias de Sodoma, que o não
menos perverso Sade narrou. Almada tentou fazer a história dos dias da Sodoma
moderna.
O inglês D. H. Lawrence (1885-1930) é o autor de um dos mais polémicos
romances eróticos da primeira metade do século XX: Lady Chatterley’s Lover, escrito
em 1928, publicado parcialmente em 1932, banido de imediato em Inglaterra, de
novo publicado pela Peguin Books em 1959 e de novo proibido, só por decisão de um
tribunal em 1960 o livro pode circular livremente. O romance é a história de
Constance Reid, uma mulher da nobreza, bela e sedutora, que se envolve sexualmente
com um empregado da mansão em que vive, depois de o seu marido ter ficado
inválido numa das frentes de batalha na Primeira Guerra Mundial.
Lawrence descreve com pormenor as relações sexuais de ambos, tentando
glorificar a força do amor sensual longe que não pode obedecer às leis castas da
sociedade, em termos que só podiam chocar a mentalidade puritana inglesa. O que
fica bem ilustrado neste romance, também estudado hoje como um texto anti-
feminista, é o elogio do triunfo do falo: “And afterwards, when they had been quite
still, the woman had to uncover the man again, to look at the mystery of the phallos.
`And now he's tiny, and soft like a little bud of life!' she said, taking the soft small
penis in her hand. `Isn't he somehow lovely! so on his own, so strange! And so
innocent! And he comes so far into me! You must never insult him, you know. He's
mine too. He's not only yours. He's mine! And so lovely and innocent!' And she held
the penis soft in her hand.” (cap. 14).
Outro escritor que também ficou marcado como maldito por causa dos seus
romances eróticos foi o americano Henry Miller (1891-1980), autor de obras tão
divulgadas mundialmente como Tropic of Cancer (Trópico de Câncer, França, 1934;
EUA, 1961), Tropic of Capricorn (Trópico de Capricórnio, França, 1939; EUA, 1961),
Sexus, Plexus e Nexus (publicados como um todo em 1965). Miller, que escolheu
Paris para viver e trabalhar na sua escrita, para onde traduziu as suas experiências
pessoais com prostitutas francesas, glorificando a pornografia (recordemos que a
etimologia grega desta palavra diz respeito à prostituição) como uma espécie de nova
religião, o que levou a que os seus livros, censurados e proibidos em muitos países,
constituíssem um fruto muito apetecido para a imaginação e curiosidade sexual de
muitos adolescentes e adultos.
O filme de Philip Kaufman, Henry & June (1990), baseado nos diários (1914-
1934) de uma escritora hoje referência obrigatória na literatura erótica, Anaïs Nin,
retrataram o caso amoroso entre Henry Miller e a sua mulher June. O filme levou a
que nos EUA se criasse uma nova categoria, ficando proibida a sua visualização a
menores de dezessete anos (NC-17). Dentro do mesmo tipo de glorificação da
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pornografia, são de referência obrigatória Emmanuelle Arsan, autor de Emmanuelle


(1959) e Dominique Aury, que sob o pseudônimo de Pauline Réage publicou Histoire
d’O (A História d’O, 1954). Obras de extremo erotismo, todas marcadas pelo
escândalo, incluindo as suas adaptações cinematográficas, exploram os limites do
amor carnal e a relação de poder entre os parceiros sexuais.
Outros escritores preferiram glorificar outras formas de realização da
literatura erótica, como a pedofilia e o voyeurismo. Está, neste caso, o escritor russo-
americano Wladimir Nabokov, o célebre autor de Lolita (1955), onde se destaca o
anti-herói Humbert Humbert, Nabokov reclama a paternidade do termo ninfeta,
objeto sexuais proibidos, que o público associa hoje ao romance Lolita. Apesar de
insistir na originalidade do termo, “I am informed that a French motion picture
company is about to make a picture entitled ‘The Nymphet’s (‘Les Nymphettes’).
The use of this title is an infringement of my right since this term was
invented by me for the main character in my novel Lolita and has now become
completely synonymous with Lolita in the minds of readers throughout the world.”
(Selected Letters: 1940-1977, Harcourt, 1989, p. 312), sabemos que o já citado poeta
francês Ronsard, em Les Amours, utilizou essa expressão com sentido idêntico, sendo
um dos lexemas clássicos da literatura erótica: “Amourette / Petite Nymphe
folastre, / Nymphette que j'idolatre, / Ma mignonne dont les yeulx / Logent mon pis
et mon mieux;” (CCXI, in http://www.bibliopolis.fr). O livro de Nabokov foi adaptado
ao cinema por Stanley Kubrick em 1962.
Em 1965, Natália Correia publicou, selecionou, prefaciou e anotou uma
importante Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica (3ª ed., 1999), que
inclui autores como Martim Soares, Pero da Ponte, João Garcia de Guilhade, Gil
Vicente, Luís de Camões, Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Guerra Junqueiro,
José Régio, Leonor de Almeida, Jorge de Sena, Ana Harthetly, Maria Teresa Horta,
Herberto Helder. A própria autora publica um poema seu, “Cosmocópula”,
“Membro a pino / dia é macho / submarino / é entre coxas / teu mergulho / vício de
ostras. // O corpo é praia a boca é a nascente / e é na vulva que a areia é mais sedenta
/ poro a poro vou sentindo o curso de água / da tua língua demasiada e lenta / dentes
e unhas rebentam como pinhas / de carnívoras plantas te é meu ventre / abro-te as
coxas e deixo-te crescer / duro e cheiroso como o aloendro.”

http://www.fcsh.unl.pt/edtl/verbetes/L/literatura_erotica.htm

DECADENTISMO; DIFERENÇA SEXUAL; GINOCRÍTICA; FALOCENTRISMO;


ESTUDOS SOBRE HOMOSEXUALIDADE; MASCULINIDADE; SEXUALIDADE E
LITERATURA

Bib. : Alexandrian: História da Literatura Erótica (Lisboa, 1991); Afrânio Coutinho:


O Erotismo na Literatura: O Caso Rubem Fonseca (1979); Anthony Giddens:
Transformações da Intimidade: Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades
Modernas, 2ª ed . (Oeiras, 1996); Camille Paglia: Sexual Personae: Art Decadence
from Nefertiti to Emily Dickinson (1990); C. J. Schneider (ed.): The Encyclopedia of
Erotic Literature (1996); Frances Ferguson: “Pornography: The Theory”, Critical
Inquiry, Spring, 21:3 (1995); Francesco Alberoni: O Erotismo (Venda Nova, 8ª ed.,
1995); Georges Bataille: O Erotismo (3ª ed ., Lisboa, 1988); Gill Dines, Robert Jensen
e Ann Russo: Pornography: The Production and Consumption of Inequality (1998);
Jean Jacques Pauvert: A Literatura Erótica (Lisboa, 2001).
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http://www.uolsinectis.com.ar/biblioteca/especiales/literatura_erotica/
http://www.literatura.org/Steimberg/asTexto2.html
http://www.sagepub.co.uk/frame.html?
http://www.sagepub.co.uk/journals/details/j0065.html
http://www.fitzroydearborn.com/london/eros/intro.htm
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I. LITERATURA FRANCESA

1. GUILLAUME APPOLINAIRE

La Vaseline

Chez un pharmacien, place de l’Opéra,


Un monsieur fort bien mis en coup de vent entra:
“Vite, dit-il, donnez-mois de la vaseline!”
Le potard, empressé, demande à ce client
Impatient
A quel us il destine
Le gras ingrédient:
“Est-ce pour le vissage? Il em faut de la fine...
En voici
De si
Pure
Que sur votre figure
Sans danger vous pouvez l’étaler...
J’en ai de boriquée... et je la recommande”...
Le client, trépignant, répond: “Belle demande!
Je m’en fous bougrement, car c’est pour enculer!”

A vaselina

Praça da Ópera: por uma farmácia adentro


Entra um senhor bem-posto feito um pé-de-vento:
“Estou com pressa”, diz. “Eu quero vaselina”.
Gentil, o boticário indaga do cliente
Impaciente
A que se uso se destina
O graxo ingrediente:
“Se for para o rosto, é melhor levar da fina...
Qual?
Que tal
Este artigo
Que o senhor, sem perigo,
Pode no rosto usar?
Eu por mim recomendo sempre a boricada”.
E o cliente, a bufar: “Mas que papagaiada!
Pouco me importa qual, pois é para enrabar!”

2. RIMBAUD

Terceiro soneto de “Les stupra”

Obscur et froncé comme un oeillet violet


Il respire, humblement tapi parmi la mousse
Humide encor d’amour qui suit la rampe douce
Des fesses blanches jusqu’au coeur de son ourlet
12

Des filaments pareils à des larmes de lait


Ont pleuré sous le vent cruel qui les repousse
A travers de petits caillots de marne rousse,
Pour s’aller perdre où la pente les appelait.

Mon rêve s’aboucha souvent à sa ventouse.


Mon âme, du coït matériel jalouse,
Em fit son larmier fauve et son nid de sanglots.

C’est l’olive pâmée et la flûte câline,


Le tube d’où descend la cêleste praline,
Chanaan féminin dans les moiteurs enclos.

Terceiro soneto de “Les stupra”

Franzida e obscura como um ilhós violeta,


Ela respira, humilde, entre a relva rociada
Inda do amor que desce a branda rampa das
Alvas nádegas até o coração da greta.

Filamentos iguais a lágrimas de leite


Choraram sob o vento atroz que os arrecada
E os impele através de marnas arruivadas
Até perderem-se na fenda dos deleites.

Beijando-lhe a ventosa, o meu sonho o freqüenta.


A minha alma, do coito material ciumenta,
Qual lacrimal e ninho de soluços usa-a.

É a oliva esvaída e é a flauta agreste,


O tubo pelo qual desce a amêndoa celeste,
Feminil Canaã em seus rocios reclusa.

3. CHARLES BAUDELAIRE

Les promesses d’un visage

J’aime, ô pâle beauté, tes sourcils surbaissés,


D’où semblent couler les ténèbres;
Tes yeux, quoique très-noirs m’inspirent des pensers
Qui ne sont pas du tout fúnebres.

Tes yeux, qui sont d’accord avec tes noirs cheveux,


Avec ta crinière élastique,
Tes yeux, languissamment, me disent: “Si tu veux,
Amant de la muse plastique,

Suivre l’espoir qu’en toi nous avons excité,


Et tous les goûts que tu professes,
Tu pourras constater notre véracité
Depuis le nombril jusqu’aux fesses;
13

Tu trouveras, au bout de deux beaux seins bien lourds,


Deux larges médailles de bronze,
Et sous un ventre uni, doux comme du velours,
Bistré comme la peau d’un bronze,

Une riche toison qui, vraiment, est la soeur


De cette énorme chevelure,
Souple et frisée, et qui t’égale en épaisseur,
Nuit sans étoiles, Nuit obscure!”

As promessas de um rosto

Amo, ó pálida beleza, os teus cenhos curvados


Que dão às trevas todo o império;
Teus olhos, embora negros, me inspiram cuidados
Que não têm nada de funéreos.

Teus olhos, que imitam a negrura dos cabelos


Da tua longa crina elástica,
Teus olhos langues me dizem: “Amante, se o apelo
Queres seguir da musa plástica

Que infundimos no teu ser, ou tudo que contigo


Em matéria de gosto trazes,
Poderás ver, desde as nádegas até o umbigo,
Que nós te fomos bem verazes;

Encontrarás, sobre dois belos seios pontudos,


Dois grandes medalhões de bronze,
E sob o ventre liso, macio como veludo,
Amorenado como bronze,

Um rico tosão que à tua enorme cabeleira


Copia no negrume e na espessura;
De tão sedoso e encrespado, ele te iguala inteira,
Noite sem astros, Noite escura!”

4. LA FONTAINE

Épigramme

Aimons, foutons, ce sont plaisirs


Qu’il ne faut pas que l’on sépare;
La jouissance et les désirs
Sont ce que l’âme a de plus rare.
D’un vit, d’un con, et de deux coeurs,
Naît un accord plein de douceurs,
Que les dévôts blâment sans cause.
Amarillis, pensez-y bien:
Aimer sans foutre est peu de chose
14

Foutre sans aimer ce n’est rien.

Epigrama

Amar, foder: uma união


De prazeres que não separo.
A volúpia e os desejos são
O que a alma possui de mais raro.
Caralho, cona e corações
Juntam-se em doces efusões
Que os crentes censura, os loucos.
Reflete nisto, oh minha amada:
Amar sem foder é bem pouco,
Foder sem amar não é nada.

5. FRANÇOIS DE MALHERBE

Sonnet

J’avais passé quinze ans, les premiers de ma vie,


Sans avoir jamais sçeu quel estoit cet effort
Où le branle du cu fait que l’âme s’endort,
Quand l’homme a dans un con son ardeur assouvie.

Ce n’estoit pas pourtant qu’une éternelle envie


Ne me fit désirer une si douce mort,
Mais le vit que j’avois n’estoit pas assez fort
Pour rendre comme il faut une Dame servie.

Je travaille depuis, et de jour, et de nuit,


A regagner ma perte, et le temps qui s’enfuit,
Mais déjà l’Occident menace mes journées...

O Dieu! Je vous appelle, aydez à ma vertu:


Pour un acte si doux, allongez mes années,
Ou me rendez le temps que je n’ai pas foutu!

Soneto

Quinze anos eu passara, os primeiros da vida,


Sem ter sabido nunca o que era esse furor
Em que a dança do cu deixa na alma um torpor
Após a ânsia viril na cona ser remida.

Não que a morte tão doce e tão apetecida


Não me impelisse um forte, juvenil ardor,
Mas o membro que eu tinha, embora lutador,
Não chegava a deixar a Dama bem servida.

Trabalho desde então com pertinácia rara


Por compensar a perda e o tempo que não pára,
15

Pois o sol no Poente ameaça os meus dias.

Oh Deus, venho rogar-te, meu zelo ajudai:


Para tão doce agir, meus anos alongai
Ou devolvei-me o tempo em que inda eu não fodia!

6. PIERRE DE RONSARD

Sonnet

Je te salue, ô merveillette fente,


Qui vivement entre ces flancs reluis;
Je te salue, ô bienheureux pertuis,
Qui rend ma vie heureusement contente!

C’est toi qui fais que plus ne me tourmente


L’archer volant qui causait mes ennuis;
T’ayant tenu seulement quatre nuis,
Je sens sa force em moi déjà plus lente.

O petit trou, trou mignard, trou velu,


D’un poil folet mollement crespelu,
Qui à ton gré domptes les plus rebelles:

Tours vers galans devraient, pour t’honorer,


A beaux genoux te venir adorer,
Tenant au poin leurs flambantes chandelles!

Soneto

Eu te saúdo, fenda de portentos,


A luzir entre dois flancos macios;
Saúdo-te, buraco de amavios,
Que dás ao meu viver contentamento.

Enfim me libertaste dos tormentos


Do alado arqueiro e dos meus desvarios;
Só quatro noites eu te possuí e o
Poder do arqueiro fez-se em mim mais lento.

Pequeno furo, furo arteiro, furo


Tão bem guardado em matagal obscuro,
Que ao mais rebelde domas com presteza:

Todo vero galã, para te honrar,


Devia de joelhos te adorar,
Firme empunhando a sua vela acesa!

7. ÉTIENNE JODELLE
16

Touche de main mignonne...

Touche de main mignonne, fretillarde,


Sur l'Instrument le plus doux en amour,
Qui peut chasser la plaintive clamour,
Sous un accord de plaisance gaillarde.

Et, au tenter d'une ruse pillarde,


Pince et blandit mainte corde à l'entour,
En l'animant d'agile brusque tour,
Par la vertu de sa voix babillarde.

Assez, assez, pour jouir à plaisir


Et commencer me tente le desir:
Tiens la mesure, ou sur mon Luth fredonne

Les doux accords des accordants débats;


Ce temps pendant, du pouvoir que me donne
Le long repos, je fournirai le bas.

Toca con graciosa mano...

Toca com graciosa mano, vivaz,


El instrumento más dulce en amor,
Que puede ahuyentar el triste clamor,
Com su alegre armonía eficaz.

Y si te tienta un ardid de ladrona


Usa y puntea las cuerdas vecinas,
Pues la virtud de su voz parlanchina,
Em rápida acción anima y entona.

¡Basta ya! Por libremente gozar


El deseo me tienta a comenzar:
Guarda el compás, o con mi Laúd canta

Dulces acordes de acordados trabajos:


Mientras, por el poder que me adelanta
El largo reposo, vo pondré el bajo.

Tradução: Sonia Mabel Yebara

8. MARC ANTOINE DE PAPILLON

Ça, je veux fourniller...

Ça, je veux fourniller en ton joli fourneau;


Car j'ai de quoi éteindre et allumer la flamme,
Je vous veux chatouiller jusqu'au profond de l'âme
Et vous faire mourir avec un bon morceau.
17

Ma petonne, inventons un passe-temps nouveau.


Le chantre ne vaut rien qui ne dit qu'une gamme,
Faites donc le seigneur et je ferai la dame,
Serrez, poussez, entrez, et retirez tout beau.

Je remuerai à bonds d'une vitesse ardente,


Nos pieds entrelacés, notre bouche baisante:
La langue frétillarde ira s'entre-moillant.

Jouons assis, debout, à côté, par-derrière, –


Non à l'italienne, – et toujours babillant:
Cette diversité est plaisante à Cythère.

¡Vamos! Yo quiero enhornar...

¡Vamos! Yo quiero enhornar en tu horno hermoso;


Pues tengo con qué prender y ahogar la llama,
Quiero acariciarte en lo más hondo del alma,
Y quiero hacerte morir con un buen trozo.

Chiquita, creemos un nuevo pasatiempo.


Nada vale el cantor que sólo dice una gama,
Haced, pues, de señor, y yo seré la dama,
Aprieta, avanza, entra y sale con tiento.

Yo me moveré con ardiente salto apriesa,


Juntos nuestros pies, nuestra boca que se besa:
La lengua inquieta entre los dos se irá mojando.

Juguemos parados, de lado, por detrás,


 No a la italiana – y siempre conversando:
A Citerea place esta diversidad.

II. LITERATURA ESPANHOLA

1. PABLO NERUDA

Cuerpo de mujer...

Cuerpo de mujer, blancas colinas, muslos blancos,


te pareces al mundo en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego salvaje te socava
y hace saltar el hijo del fondo de la tierra.

Fui solo como un túnel. De mí huían los pájaros


y en mí la noche entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te forjé como un arma,
como una flecha en mi arco, como una piedra en mi honda.

Pero cae la hora de la venganza, y te amo.


18

Cuerpo de piel, de musgo, de leche ávida y firme.


¡Ah los vasos del pecho! ¡Ah los ojos de ausencia!
¡Ah las rosas del pubis! ¡Ah tu voz lenta y triste!

Cuerpo de mujer mía, persistiré en tu gracia.


Mi sed, mi ansia si límite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y el dolor infinito.

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