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A MALDIÇÃO HEREDITÁRIA À LUZ DA BÍBLIA

Escrito por pentecostalismo em novembro 30, 2007

INTRODUÇÃO

Esse é um assunto muito polêmico, que tem ocupado espaço em revistas, livros e
jornais, bem como tem sido tema de palestras em muitos seminários,
principalmente nos que falam de “batalha espiritual”. A fim de que haja um melhor
entendimento sobre o tema, resolvemos estudá-lo na forma de perguntas e
respostas.

1. O PROBLEMA: Segundo os que crêem na transmissão da maldição hereditária,


mesmo os crentes em Jesus, nascidos de novo, estão sujeitos a sofrer as terríveis
conseqüências dos pecados e das maldades praticadas pelos ancestrais, tais como
doenças, insucessos na vida financeira, no trabalho, pecados sexuais, vícios, etc..

2. HÁ BASE BÍBLICA PARA TAL ENSINO ? Segundo os que aceitam essas idéias,
elas se baseiam em Deuteronômio Ex. 20.05; Dt 28.15. (Ler). Veremos mais
abaixo.

3. LITERATURA SOBRE O ASSUNTO. Um dos livros mais conhecidos sobre o assunto


tem por título “QUEBRE A CADEIA DA MALDIÇÃO HEREDITÁRIA”, escrito por
Marilyn Hickey, editado, no Brasil, pela Associação de Homens de Negócio do
Evangelho Pleno - ADHONEP. No livro, vemos, de início, a história de uma família,
que herdou uma fazenda, nos Estados Unidos e que se viu em grandes dificuldades:
nada dava certo; pragas na plantação; dívidas; doenças afetavam a família; lendo
a Bíblia, concluíram que estavam debaixo de uma maldição hereditária. Segundo o
livro, a família orou a Deus, e quebrou a maldição daquela terra, e ela produziu
como nunca houvera acontecido.

3.1. “ESTÁ AMARRADO?” Para vencer a maldição hereditária, dizem seus


defensores, é necessário que o crente amarre o valente e o expulse da terra, da
casa ou da vida de uma pessoa ou de uma família. Isso se baseia em Mt 12.29.
Para os ensinadores da quebra da maldição hereditária, casa pode significar
“geração”. Então, é preciso amarrar o valente, que é Satanás, para quebrar sua
cadeia de maldição sobre a família, e seus descendentes. Acontece que todo dia
“amarram” o inimigo e ele continua agindo. Na verdade, o diabo só será amarrado,
mesmo, no início do Milênio (Ver Ap 20.1,2).

3.2. O CASO JUKES-EDWARDS.

1) Da família de JUKES, o ateu, foram pesquisados 560 dos seus descendentes:


Desses, 310 morreram em extrema pobreza; 150 tornaram -se criminosos,
inclusive 7 assassinos; 100 descendentes foram beberrões; mais da metade das
mulheres se prostituiu. Segundo cálculos, os descendentes de Jukes custaram ao
Estado, com suas vidas desregradas, Um milhão e duzentos e cinquenta mil
dólares.

2) Quanto à família de Jonathan Edwards, cristão praticante, com sua família,


foram pesquisados 1394 dos seus descendentes, sendo constatado o seguinte: 295
receberam diplomas universitários, sendo que 23 chegaram a ser reitores de
universidades; 65 foram professores universitários; 3 senadores dos Estados
unidos; 3 governadores estaduais, e outros, ministros enviados a nações
estrangeiras; 130 foram juizes, 100, advogados, sendo um reitor de uma faculdade
de Direito, 56 médicos, sendo um reitor da faculdade de medicina; 75 oficiais na
carreira militar; 100 missionários e pregadores famosos, bem como autores
destacados; cerca de 80 desempenharam alguma função pública;3 foram prefeitos
de grandes cidades; um foi superintendente do Tesouro norte-americano; um deles
foi vice-presidente dos Estados Unidos.

4. REFLETINDO SOBRE O PROBLEMA

4.1. A VISITAÇÃO DA MALDADE dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração
por parte de Deus, é destinada aos que aborrecem a Deus e não a seus filhos. Com
efeito, no versículo 5 de Ex. 20, está escrito: “…Eu, o Senhor teu Deus, sou Deus
zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração
daqueles que me aborrecem. No versículo 6, de Ex. 20, lemos “E faço misericórdia
em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos”.

4.2. NUMA PRIMEIRA OBSERVAÇÃO Com base nos textos citados, vemos que eles
estão inseridos no contexto dos versículos 01 a 05, abrangendo o I e II.
Mandamentos da Lei de Moisés, ditada por Deus. O primeiro mandamento, refere-
se a não ter outros deuses além do Senhor; o segundo, diz que o seu povo não
deve fazer imagem de escultura, não se encurvar a elas nem lhes servir, pois o
Senhor visita a maldade dos descendentes dos que transgridem esse mandamento.

4.3. OS NASCIDOS DE NOVO Os filhos de Deus, salvos pelo sangue de Jesus, já


estão livres da maldição da Lei. Em Gl 3.13, lemos: “Cristo nos resgatou da
maldição da lei, fazendo-se maldição por nós: porque está escrito: Maldito todo
aquele que for pendurado no madeiro”. Esse texto deixa claro que com a morte de
Cristo, os que o aceitam ficam livres da maldição que era prevista para aqueles que
viviam no pecado, mas o aceitaram como salvador.

Outro texto interessante é o de 2 Co 5.17, que diz: “Eis que se alguém está em
Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. As
coisas velhas já passaram, graça a Deus. Que coisas velhas eram essas? Sem
dúvida são as coisas herdadas do passado, do velho homem, da velha vida, coisas
herdadas da família sem Deus: os maus hábitos, os maus costumes, a idolatria
(que é a causa principal da maldição, conf. Ex 20.5), as feitiçarias. Nada disso pode
atingir mais o crente fiel, pois ele está guardado debaixo da proteção de Deus, cf. O
Sl 9.1-7. “Não temerás espanto noturno nem seta que voe de dia, nem mortandade
que assole ao meio dia; ..mil cairão ao teu lado, dez mil à tua direita, mas tu não
serás atingido..”

Um outro texto para análise é o de Ne 13.2, que diz que Balaão saiu para
amaldiçoar o povo de Israel, mas “…o nosso Deus converteu a maldição em
bênção”. No Ev. s. João, Cap 5.24, lemos que a salvação de Cristo é tão grande,
que abrange toda a existência, no passado, no presente e no futuro, se
perseverarmos até o fim. No presente: quem crê, TEM a vida eterna; No futuro:
“não entrará mais em condenação” No passado: “Já passou da morte para a vida”
4.4. DEUS É O AGENTE DA MALDIÇÃO SOBRE OS QUE O ABORRECEM. Um outro
aspecto a se anotar é o seguinte: Em Ex 20.5 e em textos semelhantes, vemos que
Deus é o sujeito da visitação da maldade ou da maldição sobre os que lhe
desobedecem. Neste caso, perguntamos: Como Deus vai amaldiçoar a
descendência daqueles que já aceitaram a Cristo como salvador? Isso não condiz
com o caráter de Deus, revelado nas Escrituras.

Ele não pode se contradizer, nem anular sua própria palavra. Se tomarmos com
base Dt. 28, vemos , desde o v. 1 até o 14, as bênçãos previstas por Deus para
que lhe obedecem. Ora, perguntamos, como podem tais bênçãos ocorrerem, se, ao
mesmo tempo, por causa de pecados dos antepassados, a maldição persistir sobre
a família dos servos de Deus? Parece-nos que existe uma contradição e um
equívoco sobre os que ensinam sobre a maldição hereditária no que concerne aos
crentes em Jesus.

5. COMO ENTENDER, ENTÃO, CASOS DE DOENÇAS QUE PASSAM DE GERAÇÃO A


GERAÇÃO E DE PERTURBAÇÕES MALIGNAS SOBRE FAMÍLIAS DE CRENTES
SINCEROS E FIEIS? Na verdade, há casos em que famílias de crentes em Jesus,
formadas por pessoas dedicadas e sinceras, que sofrem problemas os mais
diversos, em termos de saúde, e adversidades financeiras e até de perturbações
por parte do maligno. Segundo entendemos, as consequências do pecado de um
pai podem passar para os seus descendentes.

1) Nos descrentes, sim, como maldição prevista por Deus, ou como consequência
natural do pecado sobre a descendência. Um pai alcoólatra, com sífilis, certamente
vai transmitir aos seus filhos as consequências do pecado, mas não o pecado em si.
Um pai ou uma mãe aidética passa a enfermidade para o filho no ventre. Esse é um
ponto importante: o que se transmite, hereditariamente, são os efeitos do pecado e
não o pecado, pois este, segundo a Bíblia, não é hereditário. É de responsabilidade
pessoal (Ver Ez 18). A Bíblia diz em Dt 24.16: “Os pais não morrerão pelos filhos,
nem os filhos pelos pais: cada qual morrerá pelo seu pecado”.

Vemos aí a justiça de Deus, não permitindo que os filhos, sem culpa, herdem as
maldades dos pais, em termos espirituais, a ponto de morrerem por causa de seus
antepassados. A responsabilidade moral e espiritual é individual perante Deus. Em
Ezequiel , Cap 18, 20-22: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a
maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho; a justiça do justo ficará sobre
ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele. Mas se o ímpio se converter de todos os
seus pecados que cometeu, e guardar todos os meus estatutos, e fizer juízo e
justiça, certamente viverá; não morrerá. De todas suas transgressões que cometeu
não haverá lembrança contra ele; pela sua justiça que praticou, viverá”.

Com isso, vemos que o pecado não passa de pai para filho. O que pode passar são
os efeitos genéticos e também a influência moral dos pais sobre os filhos; estes
tendem a seguir os exemplos bons ou maus de seus pais.

2) Nos crentes em Jesus, como consequência natural, genética e que pode ser
curadas por Deus. Não tem sentido Deus, que é justo, continuar a amaldiçoar a
família de alguém que aceitou a Jesus, sendo nova criatura, para quem “as coisas
velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. De igual modo, mesmo sem ser
maldição de Deus, os efeitos do pecado podem ser transmitidos de pais não-crentes
para os filhos crentes em Jesus.

Nunca, porém, a maldição, pois quem está em Cristo, nova criatura é; as coisas
velhas já passaram. Eis que tudo se fez novo. Em Rm 8.1, lemos: “Portanto, agora
nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam
segundo a carne, mas segundo o espírito”. Assim, não mais condenação ou
maldição para os que estão em Cristo Jesus.. Em Rm 8.33-39, lemos que o crente
pode passar por situações as mais adversas, tais como por tribulação, angústia,
perseguição, fome, nudez, perigo, espada, mas, diz S.Paulo: “Em todas essas
coisas somos mais do que vencedores , por aquele que nos amou” . Ora, em todas
essas coisas, até passando por fome, nudez (que não é nenhuma prosperidade),
até nisto, somos mais do que vencedores e não amaldiçoados.

Nem toda doença é fruto do pecado da pessoa nem é maldição. Vemos o caso do
cego de nascença, em Jo 9. “E passando Jesus, viu um homem cego de nascença. E
os seus discípulos lhe perguntaram, dizendo: rabi, quem pecou, este ou seus pais,
para que nascesse cego? Jesus respondeu: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi
assim para que se manifestem nele as obras de Deus”. Vemos aí um caso o
interessante: Nem os ancestrais pecaram, nem o homem cego. A doença ocorrera
para que se manifestassem a s obras de Deus. Jesus curou o cego e seu nome foi
glorificado. 3) No caso de perturbações malignas, elas tem origem na ação do
Inimigo contra o crente e sua família e não como maldição de Deus sobre os
descendentes. tais perturbações podem ser desfeitas pelo poder maravilhoso e na
autoridade do Nome de Jesus. No exemplo do livro, em que a fazenda dos crentes
era prejudicada pela ação dos espíritos maus, originários na feitiçaria dos índios,
antigos proprietários das terras, vemos que se tratavam de ações do maligno e não
da maldade visitada por Deus.

Quando oraram ao Senhor, ele desfez o efeito daquelas maldades. No caso dos
JUKES, sua descendência foi prejudicada pela maldade dos pais, cujos efeitos
passaram para os filhos. Sem dúvida alguma, todos eles aborreceram ao Senhor,
conforme está em Ex 20.5. Por isso, Deus visitou a maldade deles nas suas
gerações. É um caso bem típico de maldição familiar herdada. Se um deles
houvesse aceitado a Jesus como salvador, tudo se faria novo. As coisas velhas da
família seriam anuladas em sua descendência, em termos espirituais. Em termos
físicos, poderiam se beneficiar da cura divina ou dos recursos médicos, colocados à
disposição do homem pelo próprio Deus.

No caso dos descendentes de Jonathan Edwards, vemos que eles aceitaram a Jesus
como Salvador. Como consequência, a influência benéfica do exemplo dos pais se
fez sentir sobre os filhos, bem como a bênção e a misericórdia de Deus de geração
a geração.

6. CONCLUINDO: Cremos que a visitação da maldade por Deus, sobre a terceira e


quarta geração é para os que aborrecem a Deus, e não para os nascidos de novo;
para estes, Deus tem prometido fazer misericórdia a milhares de seus
descendentes. A maldição não é transmitida diretamente e sim os efeitos do pecado
sobre os filhos. Se alguém aceita a Jesus, é nascido de novo, sua vida está debaixo
da proteção divina, não cabendo mais nenhuma condenação ou maldição. Que Deus
nos abençoe , que possamos entender as verdades espirituais à luz da Bíblia e não
de especulações doutrinárias sensacionalistas e equivocadas.

Autor: Elinaldo Renovato de Lima, pastor assembleiano, mestre em


Administração, formado em Economia e Teologia. Exerceu o cargo de pró-
reitor e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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